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DESDOBRAMENTOS DA EVOLUÇÃO DO ETNOCENTRISMO DE AXELROD &

HAMMOND: UM MODELO COM AGENTES DE RACIONALIDADE INDUTIVA


Pedro Vitor Ramos Halbout Carrão1 - 2018
RESUMO
Estudos a respeito do comportamento social e das decisões de cooperação dos indivíduos intra e entre
diferentes grupos étnicos ou culturais têm ganhado crescente importância nas ciências econômicas, em
especial no campo da economia comportamental. Axelrod e Hammond (2006) desenvolveram um modelo
de simulação baseado em agentes para se tentar entender melhor os fundamentos desse fenômeno. O
presente estudo visa expandir o modelo criado pelos autores adicionando um processo de racionalidade
indutiva para a tomada de decisão dos agentes. As principais inspirações para a nova modelagem foram
as teorias de Thales e Dawes (1998) e Brian (1994) sobre a estratégia de comportamento tit-for-that e a
racionalidade indutiva respectivamente. Os resultados essenciais encontrados foram que indivíduos que
compreendem e interpretam parte do ambiente que estão inseridos e reagem de forma indutiva ao meio
são mais cooperativos em detrimento da estratégia discriminatória e etnocêntrica encontrada no modelo
original.
Palavras-chave: Economia comportamental; dilema dos prisioneiros; racionalidade indutiva; modelos
baseados em agentes.
ABSTRACT
Studies on the social behavior and cooperation decisions of individuals within and between different ethnic
or cultural groups have gained increasing importance in economic sciences, especially in the field of
behavioral economics. Axelrod and Hammond (2006) developed an agent-based simulation model to better
understand the fundamentals of this phenomenon. The present study aims to expand the model created by
the authors adding a process of inductive rationality for the decision making of the agents. The main
inspirations for the new modeling were the theories of Thales and Dawes (1998) and Brian (1994) on the
strategy of tit-for-that behavior and inductive rationality. The essential results found were that individuals
who understand and interpret part of the environment that are inserted and react inductively to it tend to be
more cooperative to the detriment of the discriminatory and ethnocentric strategy found in the original
model.
Keywords: Behavioral economics; prisoner's' dilemma; inductive reasoning; agent-based modeling.

Classificação JEL: C73, Z13.

Indicado para a área Área 7: Microeconomia e Organização Industrial

1
Aluno do curso de mestrado em Ciências Econômicas da Universidade Federal do Paraná.
1 INTRODUÇÃO

A divisão social, muitas vezes impulsionada por características étnicas e culturais, é um fenômeno
frequente na organização das sociedades humanas. O fenômeno do etnocentrismo é estudado por Axerod
e Hammond (2006) utilizando técnicas de modelagem baseada em agentes para melhor entender o mesmo.
O etnocentrismo é caracterizado pelos mesmos como um comportamento onde atitudes discriminatórias de
um grupo que se considera com valores virtuosos e superiores a de outros grupos. Dessa forma o
comportamento etnocêntrico se forma com maiores taxas de cooperação intra grupo enquanto as interações
com grupos externos são não-cooperativas.

Pesquisas recentes em economia comportamental se aprofundam, frequentemente baseadas na psicologia,


nesses temas e nos fundamentos do comportamento humano. Autores como Gordon Allport (1954),
Yamamoto e Araújo (2009), Masuda (2012) Pettigrew (1997, 1998) e Axelrod (1984) sugerem que as
interações entre grupos distintos podem modificar as percepções dos agentes e modificar, inclusive, as
atitudes dos mesmos com pessoas de organizações sociais distintas.

Trabalhos empíricos como de Powers e Ellison (1995), Desforges et. al (1991), Werth (1992) corroboram
com essa ideia realizando experimentos e desenvolvendo hipóteses a respeito do fenômeno da cooperação
intra e entre grupos sociais. Destaque deve ser dado à Sherif (1961) com um experimento clássico
desenvolvido onde resultados apontam que a interação cooperativa acontece de maneira mais intensa
quando os envolvidos estão sujeitos a um objetivo em comum.

Thaler e Dawes (1998) também apresentam teorias sobre o comportamento humano e a tomada de decisão
a respeito de cooperação com outros. É apontado que o raciocínio indutivo é a forma de tomada de decisões
mais comum no pensamento humano. Através dela o ser é capaz de formular hipóteses e a partir de
experiências observadas e as mesmas determinam diretamente as ações futuras dos indivíduos. Em seguida,
as novas experiências geram novas hipóteses e ações diferentes nos períodos subsequentes. Os autores
destacam que o pensamento indutivo é muito mais presente do que o raciocínio dedutivo.

Pesquisas notórias realizadas por Simon (1959) também apontam que o raciocínio humano é limitado e que
a capacidade de armazenar e obter informações não seria completa. O indivíduo não seria capaz de
identificar, processar, armazenar e concluir a respeito de todas as informações disponíveis. Na nossa
estratégia de modelagem buscamos incorporar essa característica limitando a informação que o agente é
capaz de absorver e guardar.

A modelagem desenvolvida inicialmente por Axelrod e Hammond (2006) para se estudar o fenômeno do
etnocentrismo se baseia em agentes estáticos cujos comportamentos são definidos na sua criação. Se torna
interessante, portanto, adaptar o modelo desenvolvido pelos autores de acordo com as teorias desenvolvidas
pela economia comportamental. Dessa forma teríamos um comportamento que se altera ao longo da vida
do indivíduo de acordo com as suas experiências passadas, se adequando melhor à nossa realidade e
trazendo resultados mais adequados.

O trabalho busca, então, através de um modelo de simulação baseado em agentes, encontrar algumas
reflexões a respeito da convivência entre diferentes grupos sociais. Nos focamos em entender sobre a
possibilidade de que uma maior convivência entre grupos possa aumentar a tolerância e as taxas de
cooperação entre os mesmos. Esses resultados podem contribuir com as discussões, inclusive, de políticas
públicas que buscam trazer maior interação entre grupos sociais diferentes, como a criação de escolas com
cotas para diferentes etnias ou classes sociais, em prol de aumentar a tolerância entre esses grupos.

2 METODOLOGIA
Nosso estudo propõe construir um modelo de simulação baseado em agentes, onde as unidades enfrentam
decisões baseadas em um jogo no formato do dilema dos prisioneiros onde determinam suas chances de
reprodução e, portanto, sua sobrevivência no universo simulado. A estratégia de modelagem se baseia
fortemente no livro The Evolution of Ethnocentrism, publicada por Axelrod e Hammond (2006). Uma
modificação fundamental será feita ao modelo original visando representar um agente capaz de fazer uma
nova decisão adaptativa, onde o mesmo reage indutivamente às interações passadas modificando sua
estratégia de interação inicial. A ideia tem como base o argumento de que a percepção que um agente tem
de outros grupos sociais pode ser formada e modificada pela interação com esses outros grupos ao longo
de sua vida e não é uma característica fixa determinada em seu nascimento, como é sugerido pela literatura
estudada.

2.1 O modelo original

Em The Evolution of Ethnocentrism Axelrod e Hammond (2006) criam um modelo com quatro etapas
principais: imigração, interação, reprodução e morte. Na primeira etapa, os agentes são gerados de acordo
com uma taxa de imigração fixa e distribuídos aleatoriamente no espaço. O grupo em que o agente pertence
também é determinado aleatoriamente entre quatro possibilidades e permanece o mesmo até sua morte.
Outra característica determinada na criação dos elementos simulados é a sua estratégia de interação,
existem quatro possibilidades formadas pela combinação de dois traços: ajudar ou não com agentes do
mesmo grupo e ajudar ou não com agentes de outros grupos. Em seguida, os agentes interagem em um jogo
no formato do dilema dos prisioneiros onde os mesmos podem escolher entre perder chances de se
reproduzir para aumentar as chances de reproduzir do outro jogador em maior proporção(ajudar), essas
decisões são baseadas na estratégia definida no primeiro passo de modelo. No terceiro passo, os agentes se
reproduzem, dada uma probabilidade definida por uma porcentagem fixa (12% no modelo base) somada
ao resultado estabelecido pela interação anterior. Os descendentes pertencem ao mesmo grupo que seus
pais e tem a mesma estratégia de interação, com a exceção de alguns agentes que modificam suas
características de acordo com uma taxa de mutação baixa e fixa (0.5% no modelo base). Finalmente, os
agentes morrem a uma taxa, também, baixa e fixa para abrir espaço para novos na segunda rodada da
simulação (5% no modelo base).

É notável que o espaço de interação dos agentes tem o formato toroidal de 50x50, ou seja, o número máximo
de agentes presentes simultaneamente no modelo é de 2500. As crias dos mesmos podem surgir
aleatoriamente em todas as quatro direções pois não existe limite para nenhuma direção. As interações
também são feitas sempre com até quatro outros vizinhos, dependendo apenas se os vizinhos existem (não
morreram em rodadas recentes). A necessidade de movimentação aleatória no espaço das unidades
simuladas parece ser suprida devido ao fato de que os agentes se reproduzem várias vezes ao longo da
simulação e gerando seus filhotes nas quatro direções levando a uma dinâmica similar a um movimento
aleatório no espaço.

2.2 Reação

Nosso modelo procura trazer um contributo adicionando um passo a mais em que as unidades podem reagir
modificando sua estratégia de interação inicial. É importante enfatizar que o objetivo do estudo é ter um
caráter complementar à pesquisa realizada anteriormente por Axelrod e Hammond (2006) com uma nova
adição em uma estratégia de reação indutiva para os agentes. Enquanto os autores originais utilizam uma
estratégia fixa de interação e focam nos resultados dessas estratégias, tentamos analisar com mais detalhes
a formação das mesmas e sua viabilidade e, principalmente, identificar quais tem maior potencial de
sobrevivência em um ambiente onde os agentes modificam seu comportamento de forma indutiva e não
são formados de maneira totalmente aleatória.

Intitulamos o novo estágio proposto para o modelo de reação, nele os agentes terão uma probabilidade de
trocar a parte da estratégia de interação definida em sua criação. Essa característica é correspondente ao
fato do elemento simulado cooperar ou não com os elementos de outros grupos. A probabilidade de reação
será dada por uma função baseada na última interação que o agente teve com outros grupos. Um agente
que não ajuda estrangeiros terá maior probabilidade de se tornar propenso a ajudar outros grupos se teve
boas relações com os mesmos nessa rodada, ou seja, se interagiu com uma unidade e recebeu ajuda da
mesma. O inverso também acontece, um agente que tem relações ruins com agentes de outros grupos tem
maior probabilidade de modificar sua estratégia e se tornar um agente que não ajuda estrangeiros.

Devemos detalhar melhor, portanto, a função que determina a probabilidade. Ela foi modelada como uma
função linear que multiplica o coeficiente “Chance de Reação” (CR) pela quantidade de interações
realizadas na rodada na qual o agente recebeu um tratamento diferente da escolha que realizou na rodada.
Ou seja, um agente cuja estratégia é de não ajudar estrangeiros e interage com dois agentes estrangeiros
que o ajudaram terá duas vezes o coeficiente CR de probabilidade de modificar sua estratégia e passar a
cooperar com estrangeiros. O inverso também pode acontecer fazendo um agente que ajuda estrangeiros
passar a não ajudar os mesmos se não receber o mesmo tratamento. Dessa forma quanto maior a quantidade
de vizinhos influenciando o agente maior a chance de o mesmo reagir modificando sua estratégia inicial.

2.3 Estratégia de modelagem

Brian (1994) observa que, em situações complexas, o raciocínio dedutivo humano é limitado e a presença
de um raciocínio indutivo é mais frequente. O ser humano seria extremamente competente para ver,
reconhecer ou combinar padrões. Com o modelo proposto buscamos trazer um raciocínio indutivo para os
agentes, que tomariam suas decisões baseadas em informações adquiridas ao longo de sua existência e
criaram hipóteses sobre qual estratégia é a mais adequada para sua sobrevivência. Esse processo influencia
as decisões e ações do indivíduo fazendo, possivelmente, a mudança de estratégia de interação com outros
grupos sociais.

Nosso modelo procura incorporar uma estratégia inspirada no tit-for-that sugerido por Thaler e Dawes
(1998). Nesse modelo de comportamento o agente busca retribuir uma ação em um jogo repetido da mesma
forma que o seu oponente agiu com ele, ou seja, iria não ajudar(ajudar) um agente que não ajudou(ajudou)
ele no último período. No nosso modelo o indivíduo reagiria às interações passadas para decidir qual
estratégia adotar. Um grupo social que ajuda muito estrangeiros os influencia a ajudar de volta outros
grupos estrangeiros, inclusive o próprio. É importante destacar que a estratégia adotada não é perfeitamente
tit-for-that já que os agentes não reagem necessariamente à ajuda com a ajuda na próxima interação. O que
acontece é que a ajuda aumenta a probabilidade dos agentes a formar uma nova hipótese que possa
influenciar suas decisões de ajudar outros no futuro.

Thaler e Dawes (1998) também apontam que as pessoas tendem a cooperar entre si quando acreditam que
pertencem ao mesmo grupo social. Deve ser dada ênfase ao fato de que a cooperação existe até o momento
em que os indivíduos interpretam que estão sendo injustiçados, ou seja, quando estão ajudando outros e
não recebendo ajuda em resposta. Depois desse momento, eles reagem e deixam de cooperar. Buscamos
incorporar essa reação no modelo pois é possível que a mudança de estratégia ocorre quando os indivíduos
não recebem ajuda de outros grupos e passam a não ajudar os mesmos. A situação onde um indivíduo ajuda
outros grupos, mas não recebe ajuda em troca é pouco provável de acontecer por muito tempo dada a
probabilidade do mesmo modificar sua estratégia a cada rodada que esse fenômeno acontece.

Tesfatsion (2005) apresenta três definições para sistemas adaptativos complexos, nosso artigo procura se
incluir na terceira definição proposta. Nesta definição sistemas adaptativos complexos incluem agentes que
reagem e se adaptam de acordo com unidades direcionadas a objetivos e que procuram ter um certo controle
de seu ambiente para alcançar as finalidades traçadas no processo. Buscamos modelar os elementos para
que eles planejem suas ações para formar alianças com os membros de outros grupos sociais. O objetivo é
representar o fato de que os mesmos acreditariam que é mais provável prosperar quando cooperam, ou seja,
quando se ajudam mutuamente, logo estariam tomando suas ações em prol de um objetivo final que é a
sobrevivência, logo as escolhas diferentes de escolhas totalmente aleatórias como no modelo original. Os
agentes também atuam de acordo apenas com as informações percebidas por eles e possuem características
adaptativas, pois somente os mais adequados ao meio ambiente têm maiores chances de se reproduzir pois
a probabilidade de reprodução é uma função direta da ajuda recebida e, consequentemente, prosperar.

Um destaque importante deve ser dado à forma como os indivíduos modelados percebem e armazenam a
informação no modelo. As unidades só estão conscientes de suas interações com os vizinhos. Não se
conhece nem toma em consideração as decisões e as estratégias de cooperação dos vizinhos nem suas ações
com os outros, apenas se percebe se o vizinho ajudou ou não na última interação. A memória dos agentes
é limitada e eles podem armazenar informações por um período definido. Esta modelagem busca ser
consistente com a teoria da racionalidade limitada de Simon (1959) pois os indivíduos apenas possuem
informações possíveis de serem obtidas e não possuem armazenamento e processamento ilimitados de
informações.
3 Resultados

3.1 Teste geral dos parâmetros

Para analisar os resultados de forma robusta devemos adotar uma estratégia similar à adotada na literatura
sobre modelagem baseada em agentes. Portanto o modelo foi testado com variações nos parâmetros
fundamentais, sendo eles: variação no custo em termos de chances de reprodução de dar ajuda, na taxa de
mutação das unidades, na taxa de imigração dos agentes (quantos agentes são criados por rodada), na
quantidade de etnias diferentes representadas pelos grupos, na taxa de mortalidade e, principalmente, no
parâmetro CR que representa a sensibilidade do agente à interação com outros grupos. Temos que destacar
que apesar de variar o custo de ajudar a estrutura do jogo se mantêm no formato do dilema dos prisioneiros.
A variação no custo da ajuda também dispensa a variação nos benefícios da ajudado dado que o interessante
é a proporção entre esses dois parâmetros. Variar o tamanho do espaço onde os agentes interagem também
é pouco interessante devido a característica toroidal do mesmo, tendo sempre espaços disponíveis para a
interação nas quatro direções para todas as unidades do modelo.

Os parâmetros básicos utilizados estão representados na Quadro 1 – Parâmetros básicos. O valor de cada
coeficiente principal foi variado para se testar a tendência do modelo em diferentes circunstâncias. Para tal,
também utilizamos o CR nos valores 0 ou 0.25, sendo o primeiro modelo onde não existe nenhuma
possibilidade de reação dos agentes (CR = 0) e o segundo onde ela é alta (CR = 0.25). O coeficiente 0.25
foi escolhido pois o agente pode ser influenciado por até outros 4 vizinhos em cada rodada e nesse caso a
influência total seria de 1. Ou seja, no caso onde quatro vizinhos influenciam um agente a trocar de
estratégia o mesmo teria 100% de chances de fazê-lo, representando a reação máxima ou o tit-for-that.
Após analisar os efeitos dos parâmetros básicos e as tendências gerais do modelo investigaremos mais a
fundo os efeitos do parâmetro CR, por fim, incorporamos no modelo a possibilidade de mobilidade no
espaço sugerida por De et. al (2015). Os testes da variação dos parâmetros básicos todos foram feitos com
10 simulações de 2000 períodos e se avaliaram as proporções das estratégias dos indivíduos sobreviventes
simulados.

Tabela 1 - Influência do custo de ajudar


CR = 0 CR = 0.25
Custo de ajudar Estratégias Proporção média Desvio-padrão Proporção média Desvio-padrão
0,005 CC 0.18 0.03 0.76 0.04
0,005 CD 0.73 0.03 0.16 0.04
0,005 DC 0.02 0.01 0.06 0.02
0,005 DD 0.06 0.01 0.01 0.01
0,01 CC 0.14 0.03 0.67 0.03
0,01 CD 0.75 0.03 0.23 0.04
0,01 DC 0.02 0.01 0.07 0.02
0,01 DD 0.08 0.01 0.03 0.01
0,015 CC 0.10 0.03 0.57 0.05
0,015 CD 0.74 0.04 0.28 0.05
0,015 DC 0.02 0.01 0.10 0.02
0,015 DD 0.13 0.02 0.05 0.01
0,02 CC 0.10 0.02 0.44 0.05
0,02 CD 0.65 0.05 0.34 0.05
0,02 DC 0.04 0.01 0.13 0.03
0,02 DD 0.21 0.05 0.10 0.02
Nota: As siglas das estratégias correspondem ao agente ajudar o próprio grupo e outros grupos
respectivamente.
Sendo: cc - ajuda todos, cd - ajuda apenas o próprio grupo, dc - ajuda apenas outros grupos e dd -
não ajuda.
Fonte: Elaboração própria utilizando o software Netlogo 6.0.2

A tabela 1 acima mostra os resultados médios e desvios entre os experimentos simulados para cada uma
das variações do custo da ajuda. Os resultados apresentam uma diminuição drástica da estratégia CC
quando o custo de ajudar se aumenta. A redução é similar em termos relativos tanto para o modelo com
alta reação quanto para o modelo original, sem reação. Esse é um resultado bastante intuitivo pois com o
aumento do custo de ajuda, mesmo mantendo o paradigma do dilema dos prisioneiros, a estratégia de ajudar
o vizinho tem menos chances de sobrevivência.

Destaque deve ser dado para o comportamento etnocêntrico (CD) que é menos estável no modelo com
reação em relação ao modelo original. Um dos principais argumentos em Axelrod e Hammond (2006) é de
que essa estratégia é estável mesmo quando a variação dos parâmetros existe. É notável que, com a variação
do custo de ajudar entre 0.005 e 0.01 a mesma se reduz em uma proporção pequena no modelo original
enquanto no modelo com reação ela mais que dobra de valor com o aumento do custo. Isso pode acontecer
devido ao fato de que uma das vantagens evolutivas da estratégia etnocêntrica é a de suprimir indivíduos
de grupos diferentes dentro de sua área de domínio. Com a adição da reação essa vantagem perde força e,
consequentemente a estratégia perde sua estabilidade em relação às variações no custo e se comporta como
as outras estratégias (DC e DD) absorvendo a variação negativa da estratégia CC. A forte predominância
da estratégia CC, principalmente em valores baixos para o custo da ajuda, também é influência fundamental
no baixo valor da estratégia CD. Também deveremos evidenciar que o modelo com reação é muito menos
estável em relação ao original com a variação do parâmetro.
Tabela 2 - Influência da taxa de mutação
CR = 0 CR = 0.25
Taxa de mutação Estratégias Proporção média Desvio-padrão Proporção média Desvio-padrão
0.0025 CC 0.11 0.03 0.74 0.08
0.0025 CD 0.83 0.04 0.19 0.09
0.0025 DC 0.01 0.00 0.06 0.01
0.0025 DD 0.05 0.01 0.02 0.01
0.005 CC 0.12 0.03 0.66 0.05
0.005 CD 0.77 0.02 0.24 0.04
0.005 DC 0.02 0.01 0.07 0.01
0.005 DD 0.09 0.02 0.03 0.01
0.0075 CC 0.18 0.03 0.65 0.06
0.0075 CD 0.68 0.04 0.21 0.06
0.0075 DC 0.03 0.01 0.11 0.03
0.0075 DD 0.10 0.02 0.03 0.01
0.01 CC 0.20 0.02 0.58 0.07
0.01 CD 0.63 0.02 0.27 0.06
0.01 DC 0.04 0.01 0.10 0.01
0.01 DD 0.12 0.03 0.05 0.01
Nota: As siglas das estratégias correspondem ao agente ajudar o próprio grupo e outros grupos
respectivamente.
Sendo: cc - ajuda todos, cd - ajuda apenas o próprio grupo, dc - ajuda apenas outros grupos e dd - não
ajuda.
Fonte: Elaboração própria utilizando o software Netlogo 6.0.2

Na tabela 2 temos a variação da taxa de mutação. Podemos notar que para maiores valores da mesma o
caráter aleatório aumenta, aproximando as proporções a um resultado equivalente para cada estratégia.
Para ambos os modelos, com e sem reação, temos o destaque inicial de uma estratégia que diminui ao se
aumentar a taxa de mutação dos agentes. Nota-se que, apesar de em ambos os modelos a estratégia
dominante perder destaque com aumento da mutação no modelo com reação essa diferença é
ligeiramente menor em termos relativos. Uma possível explicação é a de que a estratégia etnocêntrica
depende de a capacidade dos agentes cooperarem apenas com os do próprio grupo e uma maior
quantidade de agentes com características aleatórias pode gerar mais interações entre grupos distintos
diminuindo a efetividade da estratégia. Já a estratégia CC, dominante no modelo com reação, é efetiva
quando grande parte da população adota a mesma e, consequentemente, muitos ganham os benefícios de
receber ajuda apesar de também pagarem os custos de ajudar. Quando a aleatoriedade do modelo
aumenta a presença generalizada de agentes CC diminui fazendo com que a estratégia perca efetividade.
Tabela 3 - Influência da taxa de imigração
CR = 0 CR = 0.25
Taxa de imigração Estratégias Proporção média Desvio-padrão Proporção média Desvio-padrão
1 CC 0.11 0.03 0.65 0.05
1 CD 0.83 0.04 0.20 0.04
1 DC 0.01 0.00 0.12 0.02
1 DD 0.05 0.01 0.04 0.01
2 CC 0.12 0.03 0.57 0.05
2 CD 0.77 0.02 0.24 0.04
2 DC 0.02 0.01 0.14 0.01
2 DD 0.09 0.02 0.06 0.01
3 CC 0.18 0.03 0.55 0.05
3 CD 0.68 0.04 0.23 0.04
3 DC 0.03 0.01 0.15 0.02
3 DD 0.10 0.02 0.06 0.01
4 CC 0.20 0.02 0.50 0.03
4 CD 0.63 0.02 0.23 0.03
4 DC 0.04 0.01 0.18 0.02
4 DD 0.12 0.03 0.09 0.02
Nota: As siglas das estratégias correspondem ao agente ajudar o próprio grupo e outros grupos
respectivamente.
Sendo: cc - ajuda todos, cd - ajuda apenas o próprio grupo, dc - ajuda apenas outros grupos e dd - não
ajuda.
Fonte: Elaboração própria utilizando o software Netlogo 6.0.2

Os resultados para a taxa de imigração são similares devido ao mesmo fator e podem ser observados na
tabela 3. Maior taxa de imigração inclui com maior frequência agentes aleatórios no modelo diminuindo
a tendência da predominância das estratégias CD e CC nos modelos sem e com reação, respectivamente.

A influência da taxa de mortalidade, por sua vez, é bem pequena nas proporções das estratégias em
ambos os modelos como pode ser notado na tabela 4. É notável que uma maior taxa de mortalidade
aumenta a predominância da estratégia CD no modelo sem reação e da estratégia CC no modelo com
reação. Podemos argumentar que isso acontece decorrente da maior necessidade de cooperação devido ao
menor número de interações que veio a levar a uma diminuição na estratégia DD e um aumento nas
demais para ambos os modelos.
Tabela 4 - Influência da taxa de mortalidade
CR = 0 CR = 0.25
Taxa de Desvio-
mortalidade Estratégias Proporção média Desvio-padrão Proporção média padrão
0.025 CC 0.14 0.03 0.57 0.05
0.025 CD 0.66 0.05 0.22 0.05
0.025 DC 0.04 0.01 0.15 0.03
0.025 DD 0.15 0.03 0.06 0.02
0.05 CC 0.11 0.02 0.63 0.04
0.05 CD 0.75 0.03 0.23 0.05
0.05 DC 0.03 0.01 0.11 0.02
0.05 DD 0.12 0.03 0.04 0.01
0.075 CC 0.12 0.03 0.70 0.04
0.075 CD 0.77 0.04 0.17 0.04
0.075 DC 0.02 0.01 0.10 0.02
0.075 DD 0.10 0.02 0.02 0.01
0.1 CC 0.15 0.04 0.66 0.07
0.1 CD 0.75 0.04 0.24 0.07
0.1 DC 0.02 0.01 0.07 0.01
0.1 DD 0.08 0.01 0.03 0.01
Nota: As siglas das estratégias correspondem ao agente ajudar o próprio grupo e outros grupos
respectivamente.
Sendo: cc - ajuda todos, cd - ajuda apenas o próprio grupo, dc - ajuda apenas outros grupos e dd - não
ajuda.
Fonte: Elaboração própria utilizando o software Netlogo 6.0.2

Por fim temos a variação do número de grupos e sua influência geral nos resultados do modelo
representada pela tabela 5. Assim como na taxa de mortalidade a influência desse parâmetro é pouca em
ambos os modelos que continuam com uma grande concentração nas estratégias CD e CC nos modelos
com e sem reação nessa ordem. Podemos notar uma pequena diferença em ambos modelos quando o
número de grupo se reduz para apenas 2, isso acontece devido ao fato de que interações entre grupos
distintos diminuem drasticamente para o número reduzido. É interessante notar que, mesmo nesse caso
onde as interações entre grupos são baixas o resultado do modelo com reação é drasticamente diferente
do modelo sem reação mostrando a importância dessa mudança para a modelagem.
Tabela 5 – Influência do número de grupos
CR = 0 CR = 0.25
Número de grupos Estratégias Proporção média Desvio-padrão Proporção média Desvio-padrão
2 CC 0.17 0.03 0.57 0.02
2 CD 0.62 0.05 0.23 0.03
2 DC 0.06 0.02 0.15 0.03
2 DD 0.15 0.03 0.05 0.01
4 CC 0.11 0.02 0.65 0.07
4 CD 0.73 0.03 0.20 0.06
4 DC 0.03 0.01 0.11 0.02
4 DD 0.13 0.02 0.04 0.02
8 CC 0.10 0.02 0.67 0.07
8 CD 0.78 0.02 0.21 0.06
8 DC 0.02 0.01 0.09 0.02
8 DD 0.09 0.01 0.03 0.01
16 CC 0.13 0.13 0.66 0.06
16 CD 0.75 0.15 0.21 0.06
16 DC 0.03 0.02 0.09 0.01
16 DD 0.09 0.01 0.03 0.01
Nota: As siglas das estratégias correspondem ao agente ajudar o próprio grupo e outros grupos
respectivamente.
Sendo: cc - ajuda todos, cd - ajuda apenas o próprio grupo, dc - ajuda apenas outros grupos e dd - não
ajuda.
Fonte: Elaboração própria utilizando o software Netlogo 6.0.2

3.2. Análise da sensibilidade da Chance de Reação (CR)

Com a adição da etapa de reação temos uma mudança na tendência geral do modelo. Como podemos
notar o modelo com reação dos agentes traz uma tendência maior para a estratégia onde todos ajudam
todos. Isso se dá por dois motivos principais, o primeiro é de que a capacidade de um grupo se diferenciar
através da estratégia etnocêntrica diminui, pois, os agentes de outros grupos tendem a retribuir a não
cooperação com não cooperação e o grupo etnocêntrico acaba recebendo pouca cooperação de fora.
Outro motivo possível é o fato de que um grupo que ajuda com estrangeiros passa a receber maior ajuda
de estrangeiros tendo uma sobrevivência maior do que a dos grupos etnocêntricos. Torna-se importante
estudar mais a fundo a influência do parâmetro CR nessa mudança de tendência.
Figura 1 – Variação do parâmetro CR2

Sendo: cc-percent - ajuda todos, cd-percent - ajuda apenas o próprio grupo, dc-percent - ajuda apenas outros
grupos e dd-percent - não ajuda, todos em termos percentuais.
Fonte: Elaboração própria utilizando o software Netlogo 6.0.2

Na figura 1 temos no eixo horizontal a variação do coeficiente CR entre 0 e 0.25 e no eixo vertical a
porcentagem média de cada estratégia. Podemos notar que a dinâmica é sensível ao parâmetro CR se
modificando com o mesmo a uma taxa marginal decrescente. A principal diferença está na decisão dos
agentes em cooperar com estrangeiros, o que modifica a estratégia dominante de CD para CC e diminui a
importância da estratégia DD em favor da estratégia DC.

Podemos dividir as estratégias em dois grupos principais, as cooperativas intragrupo (CC e CD) e as não
cooperativas intragrupo (DD e DC). A partir disso é notável que a proporção das mesmas se mantém ao
longo do modelo, mostrando a vantagem evolutiva da cooperação intragrupo. A variação do CR modifica
apenas a decisão de ajuda entre grupos aumentando a ajuda em detrimento da não ajuda entre grupos.
Percebe-se também que para valores baixos do coeficiente, abaixo de 0.05, a dinâmica já se modifica
indicando uma maior vantagem para a cooperação entre grupos.

Na figura 2 temos a quantidade média de agentes por grupo no final de 2000 períodos pela variação do
CR. O número médio se mantém relativamente estável dividindo igualmente entre os 4 grupos os 2500
espaços, nota-se que quase todo o espaço está preenchido por agentes no final da simulação para todos os
valores de CR. É interessante reparar na tendência de diminuição do desvio padrão com o aumento do
CR. Isso pode nos indicar uma distribuição mais igualitária entre os grupos no final do experimento,
trazendo uma sociedade simulada mais diversa em comparação com uma sociedade com um grupo
hegemônico mais intenso nos valores baixos do CR.

2
Para se avaliar a porcentagem de cada estratégia foi feita a média da participação de cada uma nos 100 últimos períodos e o
modelo foi simulado 50 vezes para cada uma das 26 possibilidades. Cada simulação utilizou 2000 rodadas e os parâmetros
básicos foram: custo da ajuda: 1%; benefício da ajuda: 3%; taxa base de reprodução: 12%; taxa de imigração: 1 agente p/
rodada; taxa de mortalidade: 5%; taxa de mutação: 0,5% e 4 grupos sociais.
Figura 2 – Quantidade média de agentes e desvio padrão por grupo3

3.3 Migração

De et. al (2015) apresentam uma outra variação do modelo original de Axelrod e Hammond (2006). Nele,
os autores incluem uma etapa adicional no final de cada rodada onde os agentes têm uma chance de
migrar para qualquer outro espaço aleatório no universo dada por um parâmetro “m”. Incorporamos essa
chance de migração no nosso modelo e apresentamos os resultados na tabela 6.

Podemos notar que a medida que a migração aumenta o modelo nos revela menos vantagem nas
estratégias que visam cooperação intragrupo (CD e CC). No modelo sem reação a estratégia etnocêntrica
perde espaço para uma estratégia individualista, sem cooperação entre os agentes (DD). Um fenômeno
similar acontece no modelo com reação, onde a estratégia de cooperação irrestrita perde espaço para uma
estratégia de cooperação apenas com membros de outros grupos (DC). Isso acontece porque a maior
mobilidade dos agentes faz com que as identidades de grupo sejam menos importantes devido ao fato de
que os grupos são menos capazes de se concentrar no espaço e cooperar entre si.

3
Para gerar os dados foram utilizados os mesmos parâmetros básicos, 2000 períodos simulados e foram realizadas 50
repetições do modelo e calculadas as médias.
Tabela 6 - Influência da mobilidade
CR = 0 CR = 0.25
Taxa de migração Estratégias Proporção média Desvio-padrão Proporção média Desvio-padrão
0 CC 0,11 0,03 0,63 0,07
0 CD 0,73 0,03 0,22 0,06
0 DC 0,03 0,01 0,11 0,02
0 DD 0,13 0,02 0,04 0,01
0,02 CC 0,05 0,01 0,67 0,07
0,02 CD 0,59 0,14 0,11 0,05
0,02 DC 0,04 0,03 0,19 0,04
0,02 DD 0,32 0,12 0,03 0,02
0,04 CC 0,04 0,01 0,58 0,07
0,04 CD 0,45 0,08 0,07 0,03
0,04 DC 0,05 0,01 0,30 0,07
0,04 DD 0,47 0,08 0,04 0,02
0,08 CC 0,03 0,01 0,48 0,06
0,08 CD 0,37 0,11 0,07 0,03
0,08 DC 0,06 0,03 0,40 0,09
0,08 DD 0,55 0,10 0,06 0,02
Nota: As siglas das estratégias correspondem ao agente ajudar o próprio grupo e outros grupos
respectivamente.
Sendo: cc - ajuda todos, cd - ajuda apenas o próprio grupo, dc - ajuda apenas outros grupos e dd - não
ajuda.
Fonte: Elaboração própria utilizando o software Netlogo 6.0.2
Outro fenômeno interessante que podemos observar com a migração são as proporções entre os grupos
sociais. Quando a mobilidade é alta a distribuição dos grupos sociais no espaço se afasta de uma
distribuição uniforme. Na figura 3 observamos a quantidade média de agentes em um dos quatro grupos
simulados e seu desvio padrão para os modelos com e sem reação.

Figura 3 – Quantidade média de agentes pelo coeficiente de mobilidade4


CR = 0 CR = 0.25
1400 1400
1200 1200
1000 1000
800 800
600 600
400 400
200 200
0 0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8
Média de agentes do grupo Desvio padrão Média de agentes do grupo Desvio padrão

4
Para gerar os dados foram utilizados os mesmos parâmetros básicos, 2000 períodos simulados e foram realizadas 50
repetições do modelo e calculadas as médias.
Podemos notar que o desvio padrão da média do grupo aumenta com a mobilidade até um momento que
decresce junto com média de grupos. O que acontece é que a cooperação se torna uma estratégia menos
viável, como visto anteriormente, com maior mobilidade e níveis altos de mobilidade geram uma
quantidade menor de agentes sobrevivendo no universo simulado devido a essa baixa cooperação (menor
média de agentes em cada grupo) e uma distribuição igualitária entre os sobreviventes (menor desvio
padrão).

Entretanto, para níveis medianos de mobilidade encontramos um desvio padrão e uma média altos o que
significa que muitos agentes sobrevivem e são distribuídos de forma não uniforme pelo espaço. Esse
fenômeno se dá pelo fato de que a mobilidade permite que grupos etnocêntricos se espalhem pelo universo
e tornem o ambiente simulado um ambiente dominado apenas por um grande grupo etnocêntrico. Isso
acontece de forma similar no modelo com reação, com a diferença de que o grupo dominante apresenta
uma estratégia de cooperação irrestrita ao invés da estratégia etnocêntrica como evidenciado na seção
anterior.

A figura 4 apresenta as proporções dos grupos sociais nos modelos com e sem reação para um nível
mediano de mobilidade (m = 0,4) e nos ajuda a entender melhor o fenômeno, no eixo horizontal temos
5000 rodadas do modelo e no eixo vertical as quantidades de agentes sobreviventes em cada grupo.
Podemos observar na mesma um comportamento cíclico entre as proporções dos grupos indicando que
existe uma espécie de revezamento no grupo dominante ao longo do tempo, mostrando que um grupo com
maior quantidade de agentes tem mais chances de prosperar, entretanto, devido a características aleatórias
internas ao modelo essa prosperidade não é insuperável e o grupo dominante pode se modificar com o
tempo
Figura 4 – Proporções entre os grupos no modelo com mobilidade média5

Nota-se que o fenômeno é observado tanto no modelo com reação quanto no modelo sem reação. Porém
no modelo com reação, devido a menor predominância da estratégia etnocêntrica o grupo dominante não
consegue se destacar tanto. No modelo com mobilidade mediana e sem reação temos valores extremos
maiores para o número de agentes sobreviventes no grupo dominante, enquanto no modelo com reação
esses valores são menores e a instabilidade é maior.

3.4 Distribuição não uniforme dos grupos sociais

Em sociedades modernas a distribuição de grupos sociais não é sempre homogênea como no modelo
simulado por Axelrod e Hammond (2006). Torna-se necessário estudar a influência de uma sociedade
não homogênea na tendência dos modelos simulados neste estudo. Para o modelo com migração, uma
distribuição inicial não uniforme apenas modifica o grupo hegemônico inicial dos ciclos observados na
sessão anterior.

5
Para gerar os dados foram utilizados os mesmos parâmetros básicos e 10000 períodos simulados.
Na tabela 7 encontramos os resultados proporcionais de cada estratégia em sociedades não-homogêneas
após, novamente, 2000 períodos. Nela temos no momento inicial da simulação um ambiente com o
espaço totalmente preenchido e diferentes proporções fixas para um dos grupos simulados.

Tabela 7 - Grupos distribuídos de forma não uniforme


CR = 0 CR = 0.25
Número de Proporção Desvio- Proporção Desvio-
grupos Estratégias média padrão média padrão
40% CC 0.10 0.02 0.66 0.05
40% CD 0.76 0.03 0.19 0.06
40% DC 0.03 0.01 0.11 0.01
40% DD 0.11 0.02 0.04 0.01
60% CC 0.10 0.02 0.65 0.05
60% CD 0.75 0.03 0.19 0.04
60% DC 0.03 0.01 0.12 0.03
60% DD 0.12 0.02 0.03 0.01
80% CC 0.10 0.02 0.66 0.05
80% CD 0.75 0.03 0.19 0.04
80% DC 0.03 0.01 0.11 0.02
80% DD 0.12 0.03 0.04 0.01
Nota: As siglas das estratégias correspondem ao agente ajudar o próprio grupo e outros grupos
respectivamente.
Sendo: cc - ajuda todos, cd - ajuda apenas o próprio grupo, dc - ajuda apenas outros grupos e
dd - não ajuda.
Fonte: Elaboração própria utilizando o software Netlogo 6.0.2

Podemos observar que os padrões não se modificam após 2000 períodos. Isso nos indica que essa
quantidade de rodadas é suficiente para diluir os efeitos de uma sociedade inicialmente não uniforme e
levar a simulação para a tendência observada anteriormente. Na figura 5 podemos reparar na evolução da
distribuição das estratégias ao longo do tempo no modelo com reação e CR igual a 0.25. À esquerda
temos a evolução para um modelo com a sociedade distribuída inicialmente de forma uniforme e à direita
encontramos o modelo com uma sociedade onde, inicialmente, 80% da população pertencia a um único
grupo étnico. É notável que nas primeiras rodadas do modelo a estratégia etnocêntrica (CD) ainda
concorria com a estratégia de cooperação irrestrita (CC) no modelo com hegemonia, entretanto a mesma
logo se torna dominante, no modelo com distribuição uniforme o destaque acontece antes.

Figura 5 – Distribuição uniforme e não uniforme dos grupos sociais6

6
Para essa simulação foram utilizados os parâmetros básicos, 2000 rodadas do modelo e CR = 0.25.
Esses resultados sugerem que políticas públicas que visam trazer uma maior convivência entre grupos
distintos diminuindo a hegemonia de um grupo teriam resultados positivos apenas em um curto prazo.
Em períodos mais longos a vantagem da estratégia de cooperação irrestrita se torna clara independente do
estágio inicial que a sociedade se encontra. Entretanto políticas públicas que busquem criar uma maior
mistura étnica podem acelerar o processo e levar a sociedade para um estágio cooperativo em um menor
período.
4 Considerações Finais

Procuramos trazer uma adição ao modelo de comportamento social entre grupos de Axelrod e Hammond
(2006) introduzindo agentes com uma racionalidade indutiva. Foi dada a devida atenção para não
modelar os mesmo de forma que apenas aumente ou diminua, por definição do modelo, uma das
estratégias e, para isso, criamos uma etapa adicional onde os agentes podem se tornar mais ou menos
cooperativos.

Devido ao caráter do jogo do dilema dos prisioneiros a estratégia de cooperação irrestrita (CC) passou a
ser a dominante no modelo. Isso aconteceu principalmente devido ao fim da vantagem da estratégia
etnocêntrica (DC) ao segregar outros grupos. Essa característica perde importância quando a interação
entre grupos tem um grau mínimo de reação onde os mesmos retribuem ações favoráveis da mesma
forma. O jogo do dilema dos prisioneiros é parte fundamental do novo resultado e do motivo da
cooperação ser dominante, em consequência disso temos um modelo ligeiramente mais sensível a
variações no jogo representadas por variações nos custos de ajuda.

A adição de apenas uma nova etapa no modelo original de Axelrod e Hammond (2006) foi suficiente para
uma mudança drástica nos resultados. A contribuição feita por De et. al (2015) também foi significante
para encontrar um novo resultado. Podemos argumentar que a estabilidade da estratégia etnocêntrica como
vantajosa em termos evolutivos apresentada é questionável, se torna interessante analisar os resultados
encontrados com dados empíricos encontrados pelas ciências sociais para gerar melhores interpretações da
realidade. Estudos futuros podem calibrar melhor o modelo e apresentar novas hipóteses para o
comportamento e distribuição dos grupos sociais em prol de trazer uma representação mais apurada do
comportamento social e desvendar melhor as dinâmicas envolvidas no processo.
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