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Métodos experimentais e quais-experimentais em

Economia

Professor: Guilherme Nunes Pires

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2  Economia Política: uma ciência não experimental

 Ciência moderna: uso de experimentos isolados na construção da ciência (Galileu);

 Clássicos da economia política eram céticos quanto ao uso de experimentos isolados na Economia;

 John Stuart Mill: impossibilidade de realizar experimentos isolados como nas ciências naturais;
experimentum crucis e causas perturbadoras;

 Karl Marx: diferentemente do físico, o cientista social é incapaz de isolar fenômenos em


experimentos isolados (prefácio de O Capital);
3  O nascimento da Economia Experimental:

 Influência da teoria dos jogos (John Von Neumann);

 Primeira geração (década de 1930-40): Louis Thurstone realiza experimentos sobre curvas de
indiferença individuais; Maurice Allais tomada de decisões em situação de risco;

 Segunda geração (década de 1950): Dilema dos prisioneiros - Flood-Dresher em dois trabalhos
consecutivos desviaram-se do resultado de equilíbrio, bem como, de outro lado, do resultado
esperado na hipótese de uma perfeita cooperação;

 Terceira geração: Edward Chamberlin simulou experimentalmente em laboratório condições de


mercado, possibilitando posteriores experimentos de oligopólio.
 Fundamentos:

 Experimento econômico: cria um contexto de interação simples e neutro no qual sujeitos guiados
por motivos econômicos induzidos tomam decisões bastante abstratas;

 O experimento serve para projetar e aplicar o conjunto de regras que regulam as ações dos
participantes no curso do experimento e a estrutura de recompensa que induz o valor monetário
prescrito nas ações dos participantes;
 Por exemplo, em experimentos de leilão duplo (Smith, 1962, 1964), os sujeitos recebem
aleatoriamente os papéis de vendedores ou compradores. Os vendedores são dotados de uma
unidade de uma mercadoria fictícia e informados de que podem ganhar a diferença entre o preço
pelo qual essa unidade é vendida e seu preço de reserva (estabelecido pelo experimentador). Da
mesma forma, os compradores são informados de que as compras dessa mercadoria podem resultar
em ganhos iguais à diferença entre o preço de reserva (estabelecido pelo experimentador) e o preço
real pago. Os sujeitos são então convidados a se envolver em negociações multilaterais declarando
oralmente intenções de comprar ou vender uma unidade da mercadoria para todo o grupo de
comerciantes. Sempre que uma correspondência é alcançada, um contrato vinculativo é fechado
pelo preço do contrato acordado. As mesmas condições se aplicam a cada assunto em cada período
de negociação. Quando o experimento termina, cada sujeito recebe os ganhos obtidos com a
negociação.
 Fundamentação metodológica:

 Modelo HD;

 Falsificacionismo ou verificacionismo: precisamos conhecer não apenas as condições sob as quais a


teoria existente é falsificada, mas também as condições sob as quais ela é verificada;

 Tese Duhem-Quine: impossibilidade de testar hipóteses isoladas. Todos os testes de uma teoria
requerem várias hipóteses auxiliares que são necessárias para interpretar as observações como um
teste da teoria. Essas hipóteses auxiliares recebem vários nomes: condições iniciais, cláusulas ceteris
paribus, informações básicas e assim por diante;

 Quando uma teoria funciona bem, eles se esforçam imaginativamente para encontrar experimentos
deliberadamente destrutivos que revelarão seus limites de validade, preparando o terreno para uma
melhor teoria e uma melhor compreensão dos fenômenos. Quando uma teoria funciona mal, eles
reexaminam as instruções por falta de clareza, aumentam o nível de experiência dos sujeitos, tentam
aumentar os retornos e exploram fontes de “erro” na tentativa de encontrar os limites das condições
falsificadoras.
6  Economia Experimental:

 Leilões duplos: Vernon Smith;

 Importância das regras de mercado tanto para o comportamento individual quanto para o
desempenho do mercado. Em suma, fez Smith reconhecer que “as instituições importam”.

 Economistas experimentais têm se interessado particularmente em estudar a compatibilidade de


incentivos dos mecanismos de mercado, ou seja, se o conjunto de regras de mercado leva cada
agente econômico a escolher a ação que é a melhor resposta maximizadora de utilidade para os
outros agentes. ' ações, e se um ótimo social é obtido no sentido de que ninguém pode aumentar
sua utilidade sem diminuir a de outros (em outras palavras, se o mercado é capaz de gerar um
equilíbrio de Nash cujos resultados são ótimos de Pareto).
7  Experimentos Comportamentais: Daniel Kahneman, Amos Tversky e Richard Thaler

 Foco na tomada de decisão individual;

 Confronta a teoria convencional a partir das anomalias do compartamento individual;

 Estuda os processos pelos quais as pessoas selecionam e aplicam regras, estratégias ou normas
sociais para lidar com problemas individuais e coletivos particulares, e como essas decisões são
influenciadas pelo contexto geral da interação social;
 Economia Computacional Baseada em Agentes (Agent-Based Computational Economics – ACE):

 Expoente: Leigh Tesfatsion (desde anos 90, mas Agent- based Computational Economics: Growing
Economies from the Bottom Up (2002) e Handbook of Computational Economics (2006));

 Visão indutiva: simulações não fornecem provas gerais de teorias, mas fornecem insights sobre
padrões generativos a partir da interação de agentes em ambientes complexos;

 Objetivos: (1) compreender a persistência de regularidades empíricas; (2) design normativo de


estruturas, instituições e políticas; (3) insights qualitativos e geração de teorias; (4) avanço do
método/ferramentas.
 Desenho Quasi-experimental:

 Similaridades: o pesquisador explora as diferenças nos resultados entre um grupo de tratamento e um


grupo de controle, assim como em um experimento clássico;

 Diferença: o status do tratamento em um quasi-experimento é determinado pela natureza,


política, acidente ou alguma outra ação além do controle do pesquisador;

 Apesar da atribuição não aleatória do status do tratamento, ainda pode ser possível tirar inferências
válidas das diferenças nos resultados entre os grupos de tratamento e controle. A validade da
inferência baseia-se na suposição de que a atribuição aos grupos de tratamento e controle não está
relacionada a outros determinantes dos resultados. Nesse caso, não é necessário especificar e
controlar corretamente todas as variáveis de confusão, como é o caso da abordagem mais tradicional
de seleção por observáveis
 Usos:

 Desenvolvimento: efeitos das leis antidiscriminação nos ganhos e saúde dos afro-americanos;

 Economia do trabalho: as consequências da oferta de trabalho dos benefícios do seguro-desemprego;


o efeito das leis do salário mínimo sobre o emprego;

 Economia Ecológica (nos últimos anos): Efeitos da poluição na saúde humana, etc.
 Objetivos e tipificações dos experimentos (Vernon Smith):

 Testar ou discriminar teorias;

 Explorar causas das falhas de uma teoria;

 Estabelecer regularidades empíricas como base para novas teorias;

 Comparar ambientes com mesmas instituições;

 Comparar instituições;

 Avaliar propostas políticas;

 Testagem para desenho de instituições.


 Vantagens:

 Testagem direta de hipóteses: experimentos de laboratório têm a vantagem de permitir um teste


mais direto de hipóteses comportamentais, resolvendo parcialmente o problema com obtenção de
dados para testes desse tipo. Por exemplo, uma das lições mais importantes da pesquisa laboratorial
é a importância de regras de troca e instituições na determinação do resultado de mercado

 O pesquisador possui substancialmente mais informação sobre o ambiente de experimentação do


que no campo;

 O controle do experimento em laboratório permite ao pesquisador variar os parâmetros de maneira


sistemática, com facilidade, e ainda pode coletar informações as quais os pesquisadores de campo
não tem acesso;

 Replicabilidade (reproduzir o experimento) e controle (manipular as condições de comportamento).


 Aprendizados com os experimentos (Vernon Smith):

 Importância das instituições;

 Otimização em interações de mercado;

 Papel da informação: informações completas podem piorar a situação ótimo do mercado;

 Informação comum: não há garantia de que um anúncio público gerará expectativas comuns entre os
jogadores, uma vez que cada pessoa ainda pode estar incerta sobre como os outros usarão as
informações;

 Efeito dotação (Endowment effect): viés cognitivo que leva pessoas a atribuir maior valor a coisas de
sua posse;
 Controvérsias:

 Moral (já superada): criação de situações artificias que limitem o livre arbítrio dos indivíduos
participantes;

 Técnica e metodológica:

• Dificuldade em controle de uma situação complexa como a escolha individual;


• Sensibilidade ao contexto: situações artificiais, com regras pré-estabelecidas, limita em enviesa o
comportamento;
• Validação externa: Experimentos artificiais isolados não são capazes de captar a complexidade da
tomada de decisão no mundo real.
• Incentivo monetário reduzido: jogadores acabam não se dispondo a realizar os cálculos necessários
para definir qual estratégia fornece o maior retorno.

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