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EUTRO À TERRA Revista Técnico-Científica |Nº3| Abril 2009

http://www.neutroaterra.blogspot.com

“…Os assuntos relacionados com as instalações


eléctricas, a domótica, os sistemas de segurança, as
telecomunicações e a eficiência energética,
particularmente na utilização da força motriz,
merecem particular destaque nesta edição…”
Doutor Beleza Carvalho

Eficiência Sistemas Telecomunicações Domótica Máquinas Instalações


Energética Segurança Eléctricas Eléctricas
Pág. 6 Pág. 12 Pág. 18 Pág. 23 Pág. 27 Pág. 37

Instituto Superior de Engenharia do Porto – Engenharia Electrotécnica – Área de Máquinas e Instalações Eléctricas
EDITORIAL

Doutor José António Beleza Carvalho


Instituto Superior de Engenharia do Porto

ARTIGOS TÉCNICOS
EUTRO À TERRA
06| Desempenho Energético dos Edifícios e a sua Regulamentação
Engº Roque Filipe Mesquita Brandão
Instituto Superior de Engenharia do Porto
12| Segurança em Edifícios
Sistemas de Circuito Fechado de Televisão
Engº António Augusto Araújo Gomes
Instituto Superior de Engenharia do Porto

18| Redes “Fiber To The Home – FTTH”


O Despertar de Novos Serviços de Telecomunicações
Engº Sérgio Filipe Carvalho Ramos
Instituto Superior de Engenharia do Porto

23| Gestão Técnica de Edifícios com KNX


Engº Domingos Salvador Gonçalves dos Santos
Instituto Superior de Engenharia do Porto

27| Eficiência Energética em Equipamentos de Força Motriz


Doutor José António Beleza Carvalho
Engº Roque Filipe Mesquita Brandão
Instituto Superior de Engenharia do Porto

37| Projecto de Instalações Eléctricas


Secção Técnica Vs Secção Económica de Canalizações Eléctricas
Engº Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva
Engº António Augusto Araújo Gomes
Instituto Superior de Engenharia do Porto

EVENTOS

43| Workshop “Discussão do Manual ITED-NG e da 1.ª edição do Manual ITUR”

FICHA TÉCNICA
DIRECTOR: Doutor José António Beleza Carvalho

PRODUÇÃO GRÁFICA: António Augusto Araújo Gomes

PROPRIEDADE: Área de Máquinas e Instalações Eléctricas


Departamento de Engenharia Electrotécnica
Instituto Superior de Engenharia do Porto

CONTACTOS: jbc@isep.ipp.pt ; aag@isep.ipp.pt


EDITORIAL

Caros leitores

A publicação “Neutro à Terra” volta novamente à vossa presença, com novos e interessantes artigos na área da Engenharia
Electrotécnica em que nos propomos intervir. Os assuntos relacionados com as instalações eléctricas, a domótica, os sistemas
de segurança, as telecomunicações e a eficiência energética, particularmente na utilização da força motriz, merecem particular
destaque nesta edição.

O desempenho energético dos edifícios é hoje uma questão incontornável que, de uma forma directa ou indirecta, a todos nos
afecta actualmente. Nesta edição, apresenta-se um artigo que faz o estado da arte relativamente à legislação Europeia e
Portuguesa aplicável à certificação energética de edifícios, fazendo-se uma análise sintética ao Regulamento dos Sistemas
Energéticos e de Climatização de Edifícios (RSECE) e ao Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos
Edifícios (RCCTE).

Outro assunto de grande interesse apresentado nesta publicação, tem a ver com necessidade de garantir a segurança das
pessoas e dos bens. Este assunto é actualmente de grande importância, sendo objecto de legislação recentemente publicada,
que o tornam obrigatoriamente considerado no âmbito da concepção e projecto das instalações eléctricas. No artigo
apresentado faz-se um enquadramento geral sobre os sistemas de circuito fechado de televisão (CCTV), abordando-se as
estruturas mais comuns destes sistemas e referindo-se os principais aspectos tecnológicos inerentes a estes sistemas.

No âmbito das telecomunicações, apresenta-se um artigo relacionado com o fornecimento de novos serviços nesta área da
engenharia. A tecnologia das fibras ópticas tem-se imposto de uma forma cada vez mais consistente, verificando-se que
paulatinamente os operadores têm substituído os cabos de par de cobre e coaxiais pela fibra óptica. No artigo que é
apresentado analisa-se as novas infra-estruturas de telecomunicações em fibra óptica, na maior parte das vezes disponibilizada
por iniciativa particular dos operadores privados, de forma a oferecer serviços e soluções a velocidades de transmissão cada vez
maiores.

Nesta terceira publicação, pode-se ainda encontrar artigos relacionados com outros assuntos reconhecidamente importantes e
actuais, como o dimensionamento e utilização eficiente de equipamentos de força motriz, o dimensionamento da secção
técnica versus secção económica em redes de distribuição de energia eléctrica, e a domótica, com uma abordagem detalhada à
gestão técnica de edifícios baseado no sistema KNX.

Estando certo que esta terceira publicação da “Neutro à Terra” vai novamente satisfazer as expectativas dos nossos leitores,
apresento os meus cordiais cumprimentos.

Porto, Abril de 2009


José António Beleza Carvalho

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Engº António Augusto Araújo Gomes
EM DESTAQUE Instituto Superior de Engenharia do Porto

Segurança Contra Incêndio em Edifícios


Novo Enquadramento Regulamentar

A regulamentação de segurança contra incêndio em edifícios foi recentemente objecto de revisão, através da publicação em
Diário da República de um conjunto de diplomas legislativos, que vieram revogar o anterior enquadramento de segurança
contra incêndio em edifícios, constituído por todo um conjunto de Regulamentos de Segurança Contra Incêndio, Normas de
Segurança Contra Incêndio e Medidas de Segurança Contra Incêndio, que embora volumoso, mesmo assim era incompleto, no
espaço e no tempo, repetitivo, de manuseamento complicado e, por vezes, de interpretação problemática. Justifica-se assim a
pertinência desta revisão, que consolida toda a legislação de segurança contra incêndio em edifícios num único regulamento, e
define o novo regime de credenciação de entidades envolvidas ao nível de projecto, execução e exploração dos edifícios.

- Decreto-Lei n.º 220/2008, de 12 de Novembro

Estabelece o regime jurídico da segurança contra incêndios em edifícios .

- Portaria n.º 1532/2008, de 29 de Dezembro

Aprova e publica o Regulamento Técnico de Segurança contra Incêndio em Edifícios (SCIE), dando cumprimento ao disposto
no artigo 15.º do Decreto -Lei n.º 220/2008, de 12 de Novembro, que aprovou o regime jurídico de segurança contra
incêndio em edifícios, que determinava que seriam regulamentadas por portaria do membro do Governo responsável pela
área da protecção civil as disposições técnicas gerais e específicas de SCIE referentes às condições exteriores comuns, às
condições de comportamento ao fogo, isolamento e protecção, às condições de evacuação, às condições das instalações
técnicas, às condições dos equipamentos e sistemas de segurança e às condições de autoprotecção.

- Portaria n.º 64/2009, de 22 de Janeiro

Estabelece o regime de credenciação de entidades para a emissão de pareceres, realização de vistorias e de inspecções das
condições de segurança contra incêndio em edifícios (SCIE), motivado pelo novo enquadramento definido pelo Decreto -Lei
n.º 75/2007, de 29 de Março.

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Engº Roque Filipe Mesquita Brandão
ARTIGO TÉCNICO Instituto Superior de Engenharia do Porto

Desempenho Energético dos Edifícios


e a sua Regulamentação
1. Directiva 2002/91/CE matéria de clima interior e a rentabilidade económica.
Contudo o estabelecimento das medidas nunca poderá ir
Em 16 de Dezembro de 2002 foi aprovada pelo Parlamento contra outros requisitos considerados essenciais relativos
Europeu e pelo Conselho da União Europeia a Directiva aos edifícios, tais como a acessibilidade, as regras de boa
2002/91/CE, relativa ao desempenho energético dos arte e a utilização prevista do edifício.
edifícios.
De uma forma muito resumida, a Directiva 2002/91/CE faz
Na base desta directiva estiveram uma serie de um enquadramento da metodologia de cálculo, a aplicar
considerações que enfatizam a necessidade de se pelos Estados–Membros, do desempenho energético
estabelecer medidas que visem melhorar o desempenho integrado dos edifícios. No Anexo que acompanha a referida
energético dos edifícios. Directiva, são descritos os pontos que a metodologia de
cálculo deve conter na análise do cálculo da eficiência, que
Numa das considerações está escrito “O sector residencial e deve ser expresso de modo transparente, podendo incluir
terciário, a maior parte do qual constituído por edifícios, um indicador de emissão de CO2.
absorve mais de 40% do consumo final de energia da
Comunidade e encontra-se em expansão, tendência que A Directiva impõe que os Estados-Membros deverão
deverá vir a acentuar o respectivo consumo de energia e, por estabelecer requisitos mínimos para o desempenho
conseguinte, as correspondentes emissões de dióxido de energético dos edifícios novos e dos grandes edifícios
carbono.”. Analisando este ponto, percebe-se que era existentes que sejam sujeitos a importantes obras de
urgente promover a melhoria do desempenho energético remodelação. Foi ainda previsto que no estabelecimento dos
dos edifícios, tendo em conta as condições climáticas requisitos se possa fazer uma distinção entre, edifícios novos
externas e as condições locais, bem como as exigências em e existentes e entre diferentes categorias de edifícios.

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ARTIGO TÉCNICO

Os requisitos devem ser sujeitos a revisão e actualização adequação da sua capacidade em função dos requisitos de
regulares. Para os novos edifícios com área superior a 1000 aquecimento pretendidos. Os peritos devem fornecer aos
m2, devem ser estudadas formas alternativas de utilizadores recomendações sobre a substituição das
fornecimento de energia eléctrica, baseadas em energias caldeiras por outras mais eficientes ou a adopção de outras
renováveis ou co-geração e privilegiado o uso de sistemas soluções alternativas.
urbanos ou colectivos de aquecimento ou arrefecimento.
Para os sistemas de ar condicionado com potência nominal
Estes estudos, que contemplarão aspectos de viabilidade útil superior a 12 kW deve ser feita uma avaliação do
técnica, económica e ambiental, deverão ser tomados em desempenho do sistema e a adequação da sua potência em
consideração antes de se iniciar a construção. Quanto aos função dos requisitos de climatização do edifício. Os peritos
edifícios existentes e com área superior a 1000 m2, sempre deverão também fornecer aos utilizadores recomendações
que sofram obras de renovação importantes deve ser sobre possíveis melhorias ou a substituição do sistema de ar
melhorado o seu desempenho energético, desde que condicionado, ou soluções alternativas. Com estas medidas
possível do ponto de vista técnico, económico e funcional. pretende-se uma redução do consumo de energia e a
limitação das emissões de dióxido de carbono pelos Estados-
Um dos objectivos que também faz parte da Directiva é o da Membros.
criação de um certificado energético do edifício, necessário
aquando da construção, venda ou arrendamento e fornecido A Directiva impôs a data de 4 de Janeiro de 2006 para que os
ao proprietário ou por este ao potencial comprador ou Estados-Membros colocassem em vigor as disposições legais,
arrendatário. Com este certificado deve ser possível aos regulamentares e administrativas necessárias para dar
consumidores comparar e avaliar o desempenho energético cumprimento à referida Directiva, devendo dar
do edifício. Deve ser parte integrante do certificado um conhecimento à Comissão desse facto. O prazo poderia ser
conjunto de recomendações que visem a melhoria da alargado por mais 3 anos se os Estados-Membros não
eficiência energética bem como o estudo de viabilidade dispusessem de peritos qualificados em número suficiente.
económica da sua aplicação. Estes certificados deverão ter
um prazo de validade nunca superior a 10 anos. Por forma a cumprir o imposto pela Directiva 2002/91/CE e
também como forma de adequação da anterior
Por último esta Directiva impôs a necessidade de inspecção regulamentação, Portugal aprovou no conselho de ministros
regular de caldeiras e instalações de ar condicionado nos de 26 de Janeiro de 2006 a nova regulamentação para o
edifícios e, complementarmente, avaliação da instalação de Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade
aquecimento quando as caldeiras tenham mais de 15 anos. do Ar Interior nos Edifícios (SCE), o Regulamento das
Todas as caldeiras com potência nominal útil, isto é, com Características de Comportamento Térmico dos Edifícios
potência calorífica máxima fixada e garantida pelo (RCCTE) e o Regulamento dos Sistemas Energéticos e de
construtor, de 20 a 100 kW e alimentadas por combustíveis Climatização dos Edifícios (RSECE). Em 4 de Abril de 2006
não renováveis, devem ser sujeitas a inspecção periódica. foram publicados em Diário da República os respectivos
Para caldeiras com potência nominal útil superior a 100 kW a Decreto-Lei.
inspecção deve ser feita de 2 em 2 anos, podendo o prazo
ser aumentado para 4 anos se o combustível usado for o gás
natural. Todas as caldeiras com mais de 15 anos e com
potência nominal útil superior a 20 kW devem ser alvo de
inspecção que deverá analisar o rendimento da caldeira e a

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ARTIGO TÉCNICO

2. Sistema Nacional de Certificação Energética e da SCE foi atribuída à Agência para a Energia (ADENE), que tem
Qualidade do Ar Interior os Edifícios (SCE) como objectivos o de assegurar o funcionamento do sistema,
aprovar o modelo de certificados de desempenho

Através do decreto-lei nº 78/2006 de 4 de Abril, Portugal energético, criar uma bolsa de peritos qualificados do SCE e

transpôs parcialmente para ordem jurídica nacional a disponibilizar, online, o acesso a toda a informação relativa

Directiva nº 2002/91/CE, cumprindo assim os prazos aos processos de certificação aos peritos.

impostos pela mesma. Com este decreto-lei, o Estado


assegura a melhoria do desempenho energético e da No DL 78/2006 estão ainda definidos os requisitos
qualidade do ar interior através do Sistema Nacional de necessários para o exercício da função de perito qualificado,
Certificação Energética e da Qualidade do Ar interior nos as competências dos mesmos, as obrigações dos promotores
edifícios (SCE). ou proprietários dos edifícios ou equipamentos e o prazo de
validade dos certificados que foi fixado em 10 anos. O

O SCE tem 3 finalidades principais sendo que a primeira mesmo DL define ainda as taxas a pagar pelo registo dos

delas é a de assegurar a correcta aplicação das disposições certificados na ADENE, contra-ordenações, coimas e sanções

contidas no Regulamento das Características de acessórias a pagar sempre que haja incumprimentos dos

Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE) e no regulamentos. As sanções acessórias podem passar pela

Regulamento dos Sistemas Energéticos e de Climatização dos suspensão de licença ou de autorização de utilização;

Edifícios (RSECE). A segunda finalidade é o de certificar o encerramento do edifício ou a suspensão do exercício da

desempenho energético e a qualidade do ar interior nos actividade de perito qualificado. Quanto ao produto das

edifícios. Por último fazer a identificação de medidas coimas é repartido entre os cofres do Estado (60%) e a

correctivas ou de melhoria de desempenho energético nos entidade que instruiu o processo de contra-ordenação e

edifícios. aplicou a coima.

Classe Energética Consumo


Portugal com esta legislação impôs a aplicação do SCE aos
Menos que 25% do
A+
edifícios novos e aos existentes quando sujeitos a renovação, consumo de referência
estando ou não sujeitos a licenciamento. Aos edifícios de
A Entre 25% e 50%
serviços existentes, sujeitos periodicamente a auditorias e
aos edifícios existentes para habitação ou serviços, sempre B Entre 50% e 75%
que sejam celebrados contratos de venda e de locação.
Nesses casos o proprietário terá que apresentar ao potencial B- Entre 75% e 100%

comprador ou locatário ou arrendatário, o certificado


C Entre 100% e 150%
emitido no âmbito do SCE.

D Entre 150% e 200%


O certificado energético atribui uma etiqueta que traduz o
desempenho energético do edifício. Essa etiqueta está E Entre 200% e 250%

organizada por uma escala de eficiência que varia entre A+ e


F Entre 250% e 300%
G, da forma ilustrada na tabela 1.
Superior a 300% do
G
consumo de referência
A supervisão do SCE é compartilhada entre a Direcção-Geral
de Geologia e Energia e o Instituto do Ambiente. A gestão do Tabela 1 – Etiqueta de eficiência energética

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ARTIGO TÉCNICO

3. Regulamento dos Sistemas Energéticos e de Define ainda as condições de manutenção dos sistemas de
Climatização dos Edifícios (RSECE) climatização, as condições de monitorização e de auditoria
de funcionamento dos edifícios em termos dos consumos de
Em Portugal já existia um regulamento dos Sistemas energia e da qualidade do ar interior e especifica os
Energéticos e de Climatização dos Edifícios desde 1992, requisitos a que devem obedecer os técnicos responsáveis
aprovado pelo decreto-lei nº 156/92, de 29 de Julho e que pelo projecto, instalação e manutenção dos sistemas de
nunca chegou a ser aplicado. climatização.

Seis anos volvidos, foi aprovado o decreto-lei nº 118/98, de 7 O novo RSECE impõe uma limitação efectiva dos consumos
de Maio que veio substituir o decreto-lei anterior e que se energéticos globais do edifício, entrando em consideração
manteve em vigor até 2006, ano em que Portugal reviu o com os consumos da climatização, iluminação, entre outros,
RSECE tendo como objectivo, também, ir ao encontro das quer para os edifícios novos quer para os existentes. Para os
exigências da Directiva nº 2002/91/CE, que como já se edifícios novos o projectista é ainda obrigado a detalhar os
referiu impunha aos Estados-Membros a revisão periódica métodos de previsão dos consumos energéticos, na fase de
dos regulamentos. projecto. Após a verificação da conformidade regulamentar
na fase de projecto e no final da obra, são passadas as
A revisão do anterior RSECE impunha a definição de licenças de construção ou de utilização.
condições de conforto térmico e de higiene nos diferentes
espaços dos edifícios, melhorar a eficiência energética global Para os edifícios existentes a verificação dos consumos será
dos edifícios, impor regras de eficiência aos sistemas de feito através de auditorias energéticas periódicas. Sempre
climatização e monitorizar periodicamente as práticas de que sejam verificadas inconformidades regulamentares,
manutenção dos sistemas de climatização. Neste sentido é deverão ser propostas e implementadas medidas
aprovado o Regulamento dos Sistemas Energéticos e de correctivas, desde que seja garantida a viabilidade
Climatização dos Edifícios (RSECE) que é publicado como económica das mesmas.
anexo ao decreto-lei 79/2006, de 4 de Abril.
Neste regulamento são ainda definidos os requisitos para a
Este novo regulamento estabelece as condições a observar manutenção da qualidade do ar interior, nesse sentido os
aquando do projecto de novos sistemas de climatização, novos edifícios a construir e que se encontrem abrangidos
definindo os requisitos em termos de conforto térmico e de pelo RSECE, devem ser dotados de meios naturais,
qualidade do ar interior, bem como os requisitos mínimos de mecânicos ou híbridos que garantam as taxas de renovação
renovação e tratamento de ar que devem ser assegurados de ar de referência fixadas. Aos edifícios de serviços
em condições de eficiência energética; Os requisitos em existentes, abrangidos pelo RSECE e que possuam sistemas
termos da concepção, instalação e do estabelecimento das de climatização devem ser efectuadas auditorias à qualidade
condições de manutenção a que devem obedecer os do ar interior (QAI). Nestas auditorias devem ser medidos os
sistemas de climatização; A observância dos princípios da agentes poluentes no interior dos edifícios. Sempre que nas
utilização racional da energia como forma de auditorias sejam detectadas concentrações acima das
sustentabilidade ambiental. permitidas, o proprietário, ou locatário ou arrendatário do
edifício deve preparar um plano de acções correctivas da
No novo RSECE são ainda definidos os limites máximos de QAI, no prazo máximo de 30 dias após a conclusão da
consumo de energia nos grandes edifícios de serviços auditoria. Este prazo pode ser reduzido se a QAI estiver
existentes; No cálculo dos consumos de energia para todo o gravemente comprometida, podendo, em casos extremos,
edifício deve ser dada especial atenção à climatização. ser decretado o encerramento imediato do edifício.

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ARTIGO TÉCNICO

Nos edifícios de serviços, ou fracções autónomas, abrangidos Com o aumento significativo do uso de equipamentos de
pelo RSECE, deve existir um técnico responsável pelo bom climatização, em especial dos sistemas de ar condicionado,
funcionamento dos sistemas energéticos de climatização, mesmo no sector residencial e também devido às
incluindo a sua manutenção, e pela qualidade do ar interior. imposições decorrentes da Directiva 2002/91/CE, é aprovado
em Portugal o Regulamento das Características de
O referido técnico é ainda responsável pela gestão da Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE), que é
respectiva informação técnica. As qualificações do técnico publicado em anexo ao decreto-lei nº 80/2006, de 4 de Abril.
estão definidas no decreto-lei nº 78/2006 de 4 de Abril.
Neste decreto-lei estão também definidas as qualificações O RCCTE estabelece as regras a observar no projecto de
dos técnicos de instalação e manutenção de sistemas de todos os edifícios de habitação e dos edifícios de serviços
climatização e QAI, bem como todas as coimas e sanções sem sistemas de climatização centralizados de modo a que,
aplicadas em caso de incumprimentos regulamentares. sem dispêndio excessivo de energia, sejam garantidas as
exigências de conforto térmico e de ventilação necessárias
4. Regulamento das Características de Comportamento para a qualidade do ar interior, bem como as necessidades
Térmico dos Edifícios (RCCTE) de águas quentes sanitárias.

O primeiro instrumento legal que em Portugal impôs Para a garantia deste último aspecto, o novo RCCTE impõe a
requisitos ao projecto de novos edifícios e de grandes obrigatoriedade do recurso a sistemas solares para
remodelações, com o objectivo de salvaguardar a satisfação aquecimento de água em edifícios que tenham cobertura
das condições de conforto térmico sem necessidade de com exposição solar adequada. Podem ser usados outros
recorrer ao uso excessivo de energia, foi aprovado pelo sistemas renováveis, alternativos aos colectores solares,
decreto-lei nº 40/90 de 6 de Fevereiro. desde que sejam mais eficientes.

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ARTIGO TÉCNICO

Ao nível do projecto devem ainda ser minimizadas as 5. Conclusão


situações patológicas nos elementos de construção
provocadas pela ocorrência de condensações superficiais ou A reformulação dos Regulamentos descritos impôs
internas, que levam a uma diminuição da durabilidade dos mecanismos mais eficientes de comprovação das
elementos construtivos e da qualidade do ar interior. conformidades regulamentares e aumentou o grau de
exigência e responsabilidade de todos os elementos
O RCCTE apresenta metodologias de cálculo das envolvidos, desde projectistas a instaladores e técnicos
necessidades de aquecimento e de arrefecimento de uma responsáveis. Estes Regulamentos fazem parte da Estratégia
fracção autónoma ou de um edifício e o método de cálculo Nacional para a Energia, aprovada em 2005 e que por sua vez
das necessidades de energia para preparação da água se insere numa estratégia europeia que visa o aumento da
quente sanitária. Factores como a zona climática onde se eficiência energética e redução das emissões de CO2.
situa o edifício, a altitude em relação ao nível do mar, o grau
de exposição aos ventos e a adequação das caixilharias a esta Neste artigo foi feito um pequeno resumo dos diversos
exposição, são factores importantes ao método de cálculo do decretos que regulam este sector, pelo que se recomenda a
novo RCCTE. leitura atenta dos decreto-lei referidos, por todos aqueles
que são, ou pretendem vir a ser, intervenientes nesta área.
A responsabilidade pela demonstração do cumprimento das
exigências impostas pelo Regulamento tem de ser assumida
por um arquitecto, um engenheiro ou um engenheiro
técnico, reconhecidos pelas respectivas Ordens ou
Associações, com qualificações para o efeito.

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Engº António Augusto Araújo Gomes
ARTIGO TÉCNICO Instituto Superior de Engenharia do Porto

Segurança em Edifícios
Sistemas de Circuito Fechado de Televisão
1. Enquadramento 2. A Videovigilância como Valência de Segurança em
Edifícios
Para que os ocupantes e operadores possam usufruir na
plenitude dos edifícios, estes devem satisfazer requisitos É cada vez mais frequente o recurso à videovigilância através
arquitectónicos, funcionais, ecológicos, económicos e de de sistemas de circuitos fechados de televisão (Closed Circuit
segurança. Television – CCTV), quer como elementos isolados de
vigilância, quer como elementos de complemento dos
O fim e a utilização a que se destina cada edifício sistemas de segurança, em geral, e, em particular, dos
determinam a selecção, instalação e implementação de sistemas de detecção automática de intrusão e controlo de
diferentes medidas de protecção e segurança, de forma a acessos.
assegurar e controlar os aspectos de segurança das diversas
valências das instalações, equipamentos e ocupantes. Embora existam dispositivos pertencentes ao CCTV que
podem realizar a detecção automática de intrusão, os
Independentemente do risco ou complexidade de cada sistemas de CCTV não são, habitualmente, designados de
instalação, deverão ser estudados, desenvolvidos e sistemas de segurança, mas sim, sistemas de vigilância. Não
implementados sistemas de protecção e segurança, capazes tendo por isso, normalmente, uma missão de vigilância com
de garantir o conforto e a segurança dos ocupantes e a detecção automática de intrusão, mas sim a vigilância como
protecção de bens. elemento de suporte ao controlo e à intervenção humana.

A segurança contra incêndios, nas áreas de redução e Além da visualização de imagem, em tempo real, os sistemas
protecção do risco, são a principal vertente da segurança em de CCTV permitem a gravação e arquivo dessas mesmas
edifícios. A segurança contra intrusão, controlo de acessos, imagens, que posteriormente poderão ser consultadas, se tal
videovigilância e alarmes técnicos são outras vertentes for necessário.
fundamentais no garante da segurança em edifícios.
A instalação de sistemas de CCTV é, assim, hoje em dia, um
facto generalizado motivado, por um lado, pela necessidade
de proceder ao controlo e à protecção de pessoas e bens e,
por outro, pelo reduzido custo destes sistemas.

Fonte: www.siemens.com

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ARTIGO TÉCNICO

3. Áreas de Intervenção dos Sistemas de Videovigilância - Vigilância de veículos de transporte público (comboios,
metro, barcos, …);
A utilização dos sistemas de videovigilância através de - Vigilância de zonas públicas em hotéis, casinos;
sistemas de Circuito Fechado de Televisão encontra-se, - Vigilância de parques de estacionamento;
actualmente, generalizada a todas as áreas de actividade, - Vigilância de zonas pedonais;
desde a comercial, industrial, serviços, recintos desportivos, - Análise facial para identificação de pessoas;
estabelecimentos de ensino, actividade portuária e - Sondas médicas;
aeroportuária, vias de circulação até à área residencial.
4. Arquitectura de um Sistema de Videovigilância
De entre as inúmeras vantagens da utilização de sistemas de
CCTV, podemos destacar A arquitectura de um sistema de videovigilância pode ser
- Aumento da segurança física das instalações; dividida em quatro grupos principais:
- Aumento da segurança e do conforto dos utilizadores
das instalações; - Recolha de imagem
- Facilidade no controlo dos acessos de pessoas internas e
externas às organizações; Corresponde às unidades que fazem a transformação do
- Facilidade no controlo de viaturas próprias e externas às sinal óptico (imagem) em sinal eléctrico, sendo constituída
organizações; pelos elementos de conversão da zona visualizada num sinal
- Supervisão de pontos de venda e atendimento a clientes; de vídeo.
- Controlo e gestão eficaz em processos produtivos;
- Controlo mais eficaz das instalações; É composto essencialmente pelas câmaras, lentes, suportes
- Possibilidade de acesso remoto via internet, de qualquer e caixas.
ponto do mundo, em tempo real;
- Flexibilidade na utilização do sistema. - Transmissão do sinal

Como utilização mais comum dos sistemas de CCTV, Responsável pelo transporte do sinal recolhido pelo grupo
podemos destacar a vídeo vigilância e segurança em: anterior, até à zona de processamento, controlo e comando
- Estabelecimentos comerciais; e monitorização da imagem.
- Bancos;
- Oficinas; A transmissão do sinal é realizada, essencialmente, por cabo
- Edifícios públicos; coaxial, par troçado ou cabo de fibra-óptica.
- Portos e aeroportos;
- Moradias. - Processamento do sinal, controlo, comando e gravação
da imagem
Outras aplicações, mais específicas da utilização de sistemas
de CCTV são: Constituído pelo conjunto de equipamentos responsáveis
- Monitorização de tráfego em pontes e estradas; pelo processamento, controlo e comando e gravação da
- Monitorização de processos industriais; imagem, proveniente do grupo de recolha.
- Vigilância de áreas interditas à presença humana tais
como: fornos, zonas tóxicas, submersas, etc. É composto essencialmente selectores, multiplexadores e
- Vigilância de sítios sem iluminação; gravadores.

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ARTIGO TÉCNICO

- Monitorizarão da Imagem - Tipos de Lentes

Constituído pelos equipamentos de recepção do sinal de o Focagem variável ou fixa;

vídeo, que voltam a fazer a transformação do sinal eléctrico o Íris manual ou automática

em sinal óptico, observável pelo olho humano e que permite o Filtros IR

a visualização das imagens.

A monitorização da imagem é realizada em monitores


dedicados ou em monitores de computadores.

Figura 2 – Diversos tipos de lentes de um sistema de videovigilância

- Tipos de Câmaras

o Fixas
o MiniDome
o SpeedDome
Figura 1 – Vista Geral de uma Sala de Segurança

Podendo ser a preto e branco, cor ou day/night.


5. Tecnologia dos Sistemas de Videovigilância

- Tipo de Sistemas

o Analógico

o Digital

Nos sistemas digitais, destacamos o sistema IP (Internet


Protocol), que pode-se dizer, veio revolucionar os sistemas
de videovigilância, uma vez que permite novas
funcionalidades como o acesso ao sistema, através de uma Figura 3 – Diversos tipos de câmaras de um sistema de
rede interna, ou à distância, via internet. videovigilância

Fonte: www.siemens.com

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ARTIGO TÉCNICO

- Suportes e caixas - Gravador

Os suportes são os elementos de fixação das câmaras. É o elemento responsável pela gravação das imagens, para
posterior visualização.
As caixas são os elementos de protecção e, por vezes, de
dissimulação das câmaras. o Gravadores Analógicos

São a solução tradicional para a gravação do sinal de


vídeo. São aparelhos que permitem a gravação do
sinal de vídeo em fitas magnéticas, bastante
semelhantes aos aparelhos domésticos.
Com o surgimento dos sistemas digitais este tipo de
solução de gravação da imagem está a cair em
desuso .

Figura 4 – Suportes e caixas

- Monitores
Figura 6 – Gravador analógico

Embora ainda se encontrem em utilização monitores do tipo


o Gravadores digitais
CRT (cathode ray tube), os monitores mais largamente
utilizados hoje em dia são do tipo TFT (Thin Film
Actualmente, com o surgimento do digital e dos
Transmitter).
sistemas IP, a gravação é realizada em discos duros
de sistemas dedicados (gravadores digitais
Os monitores podem ser monocromáticos ou policromáticos.
autónomos) ou nos discos dos computadores.

Figura 5 – Monitores CRT e TFT Figura 7 – Gravador digital

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ARTIGO TÉCNICO

6. Arquitectura Geral dos Sistemas de Videovigilância

De seguida apresentam-se alguns exemplos de configurações gerais de sistemas de CCTV, envolvendo as diversas tecnologias
anteriormente descritas.

- Sistema tradicional

Quadri
Câmaras Multiplexer Gravador
Sequenciador

Monitor

- Sistema com Gravador Digital Simples

Sequenciador
Câmaras Monitor
Gravador

- Sistema com Transmissão por TCP/IP

Sequenciador
Câmaras Monitor
Gravador

 ADSL
 ISDN
 PSTN
 Ethernet

Acesso
Remoto

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ARTIGO TÉCNICO

7. Conclusão

Os sistemas de videovigilância são cada vez mais uma importante valência na segurança dos edifícios, de forma a garantir a
segurança de pessoas instalações e bens.

A instalação de sistemas de Circuito Fechado de Televisão é, hoje em dia, um facto generalizado motivado, por um lado, pela
necessidade de proceder à protecção de pessoas e bens e, por outro, pela flexibilidade e baixo preço destes sistemas.

Actualmente os sistemas de Circuito Fechado de Televisão estão presentes em todas as áreas de actividade, desde o comércio,
industria, até ao sector habitacional.

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Engº Sérgio Filipe Carvalho Ramos
ARTIGO TÉCNICO Instituto Superior de Engenharia do Porto

Redes “Fiber To The Home – FTTH”


O Despertar de Novos Serviços de Telecomunicações
1. Enquadramento 2. Novos Serviços de Telecomunicações

Se há poucos anos não imaginávamos as nossas vidas sem o Esta nova oferta de serviços de telecomunicações apenas
conforto proporcionado pela iluminação artificial, fruto do tem sido possível pelos enormes investimentos realizados
desenvolvimento e proliferação da produção, transporte e pelos operadores, de forma a dar uma resposta cabal às
distribuição de energia eléctrica, seguramente que nos dias necessidades de operabilidade e de inovação de serviços aos
de hoje é indissociável juntar a esse mesmo conforto e estilo consumidores domésticos e empresariais.
de vida a utilização dos meios de telecomunicações actuais. Tem-se assistido a uma estratégia comum por parte dos
diversos operadores em fornecer aos seus clientes “pacotes”
Com efeito, a vulgarização do uso de telemóveis, a recepção de serviços de telecomunicações. A oferta desses serviços,
e transmissão de dados a velocidades cada vez maiores, o denominados por “Triple Play”, disponibiliza numa única
aparecimento de televisão de alta definição (TVAD) em plataforma: telefone, internet de banda larga, “vídeo on
substituição do actual formato PAL, a surgimento de ofertas demand” e televisão. Do ponto de vista económico estes
de novos serviços como o Vídeo on Demand a par da serviços disponibilizados pelos operadores poderá ser
emergente televisão digital terrestre constituem, vantajoso na medida em que os clientes, tendencialmente,
seguramente, uma nova revolução nas infra-estruturas de pagarão menos pelo conjunto de todos os serviços do que
telecomunicações domésticas e profissionais. pagaria por eles em separado.
Assim, e para que estes serviços possam chegar ao
O sector das telecomunicações tem sido aquele que se consumidor final, no seu potencial máximo de exploração, é
encontra em pleno crescimento, com os fabricantes e necessário criar e dotar as infra-estruturas de
operadores a lançarem novos produtos e soluções de forma telecomunicações que suportem tais serviços.
continuada, bem como uma atenta e perspicaz reacção por A crescente inovação tecnológica no sector das
parte dos legisladores. Assiste-se verdadeiramente na telecomunicações origina, forçosamente, mudanças
indústria das telecomunicações a um movimento sucessivas ao nível das redes e dos serviços dos operadores,
relacionado com a convergência para as redes IP (“Internet e ainda nas infra-estruturas individuais (dentro das fracções
Protocol”, ou Protocolo de Internet). autónomas). De facto, é necessário dotar as fracções de
novos meios que possibilitem recepcionar os novos serviços
de telecomunicações. A par da utilização de cabos em par de
cobre de classes cada vez maiores, e da utilização de cabos
coaxiais de maiores frequências, a utilização de fibra óptica
poderá constituir uma nova realidade para dotar as infra-
estruturas de telecomunicações interiores.
Dada a crescente tendência dos operadores chegarem a casa
dos clientes em fibra óptica para disponibilização de serviços
“Triple Play”, a extensão desta tecnologia poderá, pois,
entrar pelas nossas casas de forma a dinamizar e
proporcionar cada vez mais melhores serviços de
telecomunicações.

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ARTIGO TÉCNICO

3. “Fiber To The Home ” Pelo facto de serem redes passivas apresentam como grande
vantagem a redução com os custos de exploração e
Fiber To The Home (FTTH) é uma tecnologia de interligação manutenção, quando comparadas com as redes de CATV e
de residências através de fibras ópticas para o fornecimento xDSL (tecnologia avançada de transmissão analógica a qual
de serviços de comunicação de dados, TV digital, internet e permite transportar informação digital a elevadas
telefone, conforme ilustrado na a figura 1. velocidades através de pares de cobre, mediante sistemas de
modulação-desmodulação complexos).
Paulatinamente, os operadores têm substituído os cabos de
par de cobre e coaxiais (no caso de serviços de “Community A rede GPON é uma rede óptica ponto-multiponto que
Antenna Television” – CATV) pela fibra óptica, levando-a até compartilha numa única fibra óptica diversos pontos finais
às nossas casas. usuários. Uma rede GPON consiste na ligação de
As residências são ligadas a um ponto do operador (ponto 3 equipamentos OLT, de um lado, e do outro lado conectados
da figura 1), designada por terminal de fibra ou “Tap em vários outros equipamentos ONT, conforme a figura 1, e
Closure”. que poderão estar localizados em condomínios (ONU –
“Optical Network Units”) ou residências (ONT). O sinal óptico
Os operadores têm apostado na instalação das redes FTTH é, pois, transmitido pelo OLT por uma única fibra e nessa
cuja tecnologia mais utilizada é a GPON (“Gigabit Passive mesma fibra são feitas derivações mediante a utilização de
Optical Network”). Neste tipo de redes a distribuição de sinal divisores ópticos passivos de forma a possibilitar a sua
é feita por equipamentos sem qualquer electrónica, conectorização às ONT's ou ONU’s. Cada ONT transmite e
passivos, portanto, conforme a figura 1. Usualmente, os recebe um canal óptico independente e disponibiliza para o
equipamentos activos encontram-se localizados no edifício cliente final entre 1Mbit/s e 1Gbit/s, para as aplicações de
técnico central (ponto 1 da figura 1 – “Central Office” – OLT – voz, dados e vídeo.
“Optical Line Terminal”). Na fracção respeitante ao cliente
encontra-se instalado o ONT – “Optical Network Terminal”.

Figura 1 – Exemplo de uma rede “Online Service Provider” (OSP Network)

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ARTIGO TÉCNICO

Existe, ainda uma outra possibilidade de projecto para FTTH, Com o FTTH, a rede de acesso será baseada na fibra e capaz
denominada FTTH em modo dedicado (D-FTTH). Num de promover velocidades de 100Mb/s, 1Gb/s, podendo
projecto FTTH em modo dedicado a fibra óptica funciona mesmo chegar-se aos 40Gb/s. Com certeza que tal feito
directamente de centro técnico a um cliente final. A fibra criará uma rede de acesso com inúmeras possibilidades e
dedicada fornece a maioria de largura de banda uma vez que potencialidades. Esta tecnologia suportará um modelo
entrega toda a largura de banda de uma única fibra. aberto completo pelo qual o consumidor terá total liberdade
Contudo, o custo de D-FTTH é ainda considerado por grande de escolha do seu fornecedor de serviço contribuíndo,
parte dos operadores como altamente proibitiva. decisivamente, para a solidificação da livre concorrência
neste sector.
A figura 2 apresenta uma ilustração esquemática de como a
arquitectura de uma FTTH varia relativamente às distâncias Em virtude das suas características, as fibras ópticas
de fibra óptica utilizada entre o centro técnico e o cliente apresentam vantagens inquestionáveis sobre os demais
final. sistemas, nomeadamente:
• Apresentação de dimensões reduzidas;
Fiber to the Home é a tecnologia de banda larga para o • Capacidade para transportar grandes quantidades de
mercado de massa do futuro, em termos de informação num par de fibra óptica;
telecomunicações. O FTTH disponibiliza o transporte • Atenuação muito baixa, o que promove grandes
simultâneo de uma série de serviços, tais como internet com distâncias entre regeneradores de sinal, com distância
acesso cada vez mais rápido, telefone e televisão através de entre regeneradores superiores a algumas centenas de
uma única fibra óptica. quilómetros;
• Excelente imunidade às interferências
electromagnéticas;
• Matéria-prima abundante;
• Custo cada vez mais reduzido,
• Material que não sofrem qualquer inconveniente a
descargas eléctricas e/ou atmosféricas.

Legenda:
FTTN - Fiber to the node / neighborhood
FTTC – Fiber to the curb
FTTB – Fiber to the building
FTTH – Fiber to the home (FTTH)

Figura 2 – Exemplo de várias arquitecturas FTTH

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ARTIGO TÉCNICO

No entanto, a utilização e manuseamento de fibra óptica 4. Fibra Óptica: Suas Potencialidades


requer técnicas especializas, designadamente no que
respeita aos aspectos referentes com a junção, terminação e O aumento da procura por serviços com cada vez maiores
ensaio, pelo que deverá ser manuseado por técnicos com larguras de banda impele a que sejam utilizadas infra-
formação específica nesta área. O custo de converter um estruturas adequadas. A fibra óptica surge como resposta
sinal óptico em eléctrico ou vice-versa, é ainda mais oneroso aos sistemas de comunicação, pois oferece por fibra uma
do que transmitir esse mesmo sinal, por exemplo, num par largura de banda na ordem das centenas de GHz, o que
de cobre, pese embora seja expectável que este cenário se equivale a mais de 6 milhões de canais telefónicos
modifique a curto prazo. convencionais. Daí as vantagens competitivas que os
operadores poderão advir com a utilização das infra-
Finalmente, não se poderá esquecer o risco de estruturas de fibra óptica.
vulnerabilidade associada à utilização da fibra óptica. Com
efeito, e dado que as fibras apresentam grandes capacidades O aumento crescente entre os requisitos de aplicações e as
de transmissão, poderá haver a tendência para veicular capacidades técnicas (por exemplos dos computadores)
muita informação numa única fibra. O risco de acontecer um fomentam a utilização de maiores larguras de banda.
desastre e, consequentemente, a perda de grandes A figura 3 mostra o aumento exponencial na procura de
quantidades de informação e comunicação poderão ser maior largura de banda resultante da inovação tecnológica
elevadas. nos produtos e serviços disponibilidades aos clientes finais.
Assim, o investimento por parte dos operadores na
No entanto, e dada as vantagens acrescidas da utilização das instalação de redes FTTH, a par com a devida dotação
fibras ópticas, combinando acções de segurança em caso de interior dos edifícios, ao nível da recepção e transmissão de
catástrofe, são, com toda a certeza uma realidade ao dispor sinal, conduzirá a que, ao nível dos serviços de
dos serviços de telecomunicações. telecomunicações, sejam disponibilizadas larguras de banda
cada vez mais elevadas o que contribuirá fortemente para o
desenvolvimento da economia, da difusão da informação e,
consequentemente, da formação das pessoas do país.

Figura 3 – Tendência da evolução da procura da Largura de Banda

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ARTIGO TÉCNICO

5. Considerações Finais A elaboração deste artigo surge no seguimento da terceira


edição da Revista Técnica “Neutro à Terra”, do grupo de
As redes de fibra óptica são, há já algum tempo, uma Instalações Eléctricas, do grupo de disciplinas de Sistemas
realidade no nosso país. Para isso, a contribuição dos Eléctricos de Energia, do Departamento de Engenharia
operadores tem sido decisiva. Uma eventual futura exigência Electrotécnica do Instituto Superior de Engenharia do Porto
desta tecnologia, ao nível do projecto e execução de infra- e visou, fundamentalmente, contribuir para uma maior
estruturas de telecomunicações, reforçaria ainda mais a familiarização da tecnologia FTTH e para despertar a atenção
visão de inovação e aproveitamento tecnológico que estas das enormes potencialidades que estas infra-estruturas
“auto-estradas” das telecomunicações têm para oferecer. podem oferecer, bem como pela mudança significativa que
poderá ocorrer nas nossas vidas, tal como a conhecemos
pois, o futuro…é já amanhã!

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Engº Domingos Salvador Gonçalves dos Santos
Instituto Superior de Engenharia do Porto ARTIGO TÉCNICO

Gestão Técnica de Edifícios


com KNX
1. Enquadramento A escolha um protocolo proprietário de um único fabricante,
obriga a uma dependência que poderia ser problemática
A eficiência energética dos edifícios é cada vez mais uma das durante o ciclo de vida de um sistema.
prioridades nas agendas dos gestores comercias dos edifícios
e proprietários. Em parte deve-se ao processo de certificação Com o KNX, se um determinado produto já não está
energética dos edifícios, que entrou em vigor em 2007, disponível, existe a garantia que haverá uma alternativa de
através dos Decretos de Lei 78/2006, 79/2006 e 80/2006. A substituição.
solução passa agora pela poupança contínua de energia
através de uma eficiente Gestão Técnica de Edifícios. Como o KNX abrange uma diversidade de aplicações que
utilizam o mesmo protocolo de comunicações, a ligação em
2. Standard KNX rede dos dispositivos é muito simples. Um único cabo par
entrançado pode, em muitas vezes, ser suficiente para
O Standard KNX (anteriormente EIB) é um sistema para o interligar vários dispositivos que operam em conjunto numa
controlo e automação de todo tipo de Edifícios, totalmente única rede. O KNX utiliza como suporte físico o cabo verde J-
compatível com a Norma Europeia EN50090. Y(st)Y2x2x0.8mm2 (i.e. par entrançado TP), podendo
contudo usar outros meios, tais como, Rádio (RF), Ethernet,
Grande parte dos proprietários de edifícios comerciais, ao Fibra Óptica ou Linha de Potência.
nível mundial, rapidamente aceitou esta tecnologia como
suporte para alcançar a máxima eficiência energética, uma Como exemplo de integração do KNX, já existem vários
vez que tem uma série de vantagens em relação a soluções dispositivos no mercado, designados por “gateways”, que
alternativas. Por exemplo, num momento em que é proporcionam a interligação com outros protocolos de
esperado que a Gestão Técnica de Edifícios (BEMS - Building controlo, tais como DALI (Digital Addressable Lighting
Energy Management Systems) seja cada vez mais a solução Intelligence). Estes dispositivos, são utilizados para expandir
adoptada, o KNX tem a capacidade de ser integrado em a capacidade dos sistemas de controlo KNX e fornecer a
qualquer tipo de BEMS. Uma vez integrado, outras solução de gestão completa de um edifício.
vantagens do KNX entram em jogo no controlo local em cada
área do edifício. KNX também tem trabalhado com protocolos ao nível da
gestão, como o BACnet, para permitir o interfuncionamento
A vantagem do KNX cobrir praticamente todas as áreas entre estas duas normas, sempre que o projecto exige
funcionais de um edifício, oferece-nos uma abordagem gestão centralizada.
holística da utilização eficiente da energia. O KNX não está
limitado à iluminação, aquecimento ou medição, ou Consultores, especialistas e utilizadores finais à procura de
qualquer outra função específica. soluções abertas para Gestão Técnica de Edifícios, estão cada
vez mais a considerar KNX como tecnologia base em
A plataforma KNX tem sido adoptada por muitos e altamente detrimento de soluções proprietárias ou de vários controlos
respeitados fabricantes, oferecendo uma vasta escolha de baseados em hardware.
produtos que abrangem todas as áreas funcionais dos
edifícios.

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ARTIGO TÉCNICO

O que também contribui para escolha do KNX, é que um - Inglaterra, Heathrow Airport, Terminal 5
produto que é colocado no mercado, é totalmente testado e
certificado por um organismo regulador independente e só No terminal 5 do aeroporto de Heathrow, o KNX controla a
depois é que o produto pode ter o logótipo KNX. gestão dos sistemas de iluminação, de forma a proporcionar
aos passageiros um ambiente bem iluminado nas diversas
A KNX Association é o organismo internacional responsável áreas do terminal, incluindo o terminal ferroviário, o pátio
pela certificação. Este processo, garante total confiança na principal do edifício e a ligação dos passageiros (TTS -
fiabilidade e interoperabilidade dos produtos KNX, Tracked Transit System) entre o edifício principal e os
independentemente dos dispositivos e fabricantes. edifícios utilizados para o embarque.

O novo paradigma da gestão energética, faz com que seja Também controla a iluminação dos vários andares do parque
extremamente importante tornar mais eficiente a utilização de estacionamento, do centro climatização e da torre de
da energia. controlo de tráfego aéreo.

Por exemplo, um sistema de controlo da iluminação pode ser


simplesmente configurado para acender as luzes somente
quando alguém está presente na sala, mas também pode
monitorar níveis luminosidade e regular a iluminação
(escurecer ou clarear) em função da luz natural. Este é um
exemplo muito simples de eficiência energética.

O controlo eficaz da iluminação pode resultar em economias


de energia muito significativas. Se o sistema for integrado
com o controlo de estores e persianas, climatização e
monitorização, poderá proporcionar enormes poupanças. A
beleza do KNX é a capacidade de possibilitar a inclusão de
mais soluções de poupança de energia, sem condicionar o Figura 1 - Inglaterra, Heathrow Airport, Terminal 5
normal funcionamento do edifício. Mais, sendo o KNX uma
tecnologia distribuída, a avaria ou falha de um elemento não Embora não tenha sido desenvolvido para comunicar
compromete o funcionamento dos restantes. directamente com o Sistema de Gestão Técnica (SGT), sendo
a plataforma KNX é uma tecnologia aberta, foi possível
3. Alguns Exemplos de Utilização do KNX integrar o sistema KNX no SGT.

Hoje em dia, o KNX é uma tecnologia adoptada em todo Esta solução permite à manutenção acompanhar a evolução
mundo, desde da China aos Estados Unidos, bem como da dos sistemas de iluminação em todo o terminal e
Austrália ao Médio Oriente. rapidamente identificar eventuais falhas através do Sistema
Central de Gestão Técnica, incluindo a sua localização
Seguidamente apresentam-se alguns exemplos que precisa. Desta forma, garante-se que todas as áreas do
representam alguns dos projectos mundiais realizados com terminal estão constantemente bem iluminada, facilitando
KNX. ainda a sua manutenção.

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ARTIGO TÉCNICO

O sistema de iluminação reage de acordo com as condições - Pequim, Terminal 3 do Aeroporto


climáticas, regulando automaticamente a iluminação
artificial em função da iluminação natural exterior. Mais de 11.000 dispositivos KNX entraram na construção do
Terminal 3 do Aeroporto Internacional de Pequim, para o
Ao todo, foram instalados mais de 400 actuadores KNX para controlo da iluminação, climatização e transmissão de
o controlo da iluminação. Em algumas áreas, existem botões mensagens de erro.
de pressão que fornecem um controlo manual do sistema de
iluminação, sobrepondo-se ao sistema automático de O Terminal 3 do Aeroporto de Pequim, que possui uma área
controlo. Ao anoitecer e ao amanhecer, quando o aeroporto de 986.000 m² e é o maior edifício num aeroporto no
é menos movimentado, o sistema de iluminação reduzirá mundo, foi inaugurado em Fevereiro 2008. Actualmente, os
automaticamente iluminação níveis. dois mais importantes aeroportos da China - Xangai e
Pequim - estão equipados com a tecnologia KNX.
- China, Estádio Olímpico de Pequim

As principais arenas utilizadas nos Jogos Olímpicos de


Pequim estão automatizadas com a tecnologia KNX.

Figura 3- Terminal 3 do Aeroporto de Pequim

- Turquia, Hotel Kempinski, “The Dome”

Figura 2- China, Estádio Olímpico de Pequim O novo e luxuoso Hotel Kempinski, “The Dome”, na
paradisíaca praia de Antalya na Turquia, apresenta-se como
No espectacular "Ninho de Pássaros", o todo sistema de um sonho das 1001 Noites. A arquitectura de um complexo
iluminação é controlado por KNX, incluindo a deslumbrante edifício moderno faz lembrar o estilo Seljukian.
iluminação exibida durante a abertura e encerramento da
29.ª edição dos Jogos Olímpicos de Verão.

A mesma tecnologia foi instalada no maior centro Aquático


do mundo, no qual os organizadores dos Jogos investiram
100 milhões de euros.

Este edifício, utiliza a tecnologia KNX, por exemplo, para


tempo de controlo e regulação do consumo de energia,
assim como para os efeitos de iluminação na fachada do
edifício. Figura 4- Turquia, Hotel Kempinski - The Dome, Antalya

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ARTIGO TÉCNICO

O complexo hoteleiro com 157 quartos, 16 moradias, seis - Áustria, Cidade de Salzburgo
restaurantes e três bares está localizado sobre uma área de
aproximadamente 1.250.000m². A cidade de Salzburgo cobre uma área de 65,65km² e tem
150.269 habitantes (conforme dados de 2007).
Os quartos foram concebidos com base nas cores
Mediterrâneas e estão equipados com o mais recente O sistema de iluminação pública da Cidade de Salzburgo
tecnologia. Não existem os típicos sinais "Por favor, não inclui 19.000 luminárias com um total de 2,9 MW de
perturbar" em qualquer lugar do Kempinski. Esta potência e uma rede de 600km de comprimento.
informação, é por sua vez exibida na porta por um display
LED, que pode ser convenientemente controlado pelo Os custos da energia por hora de funcionamento (0,11€ por
hóspede junto à cama. kW/h) são 319 euros.

Quartos com Pensamento - Conforto Funções O novo sistema KNX liga as luzes quando a luminosidade
baixa os 180 lux e desliga a 40 lux na parte de manhã.
Uma tecnologia avançada e normalizada, sem um Comutações devido ao mau tempo (tempestades, neve,
compromisso de um único fabricante e que proporciona-se nuvens) são ultrapassadas através do modo de longo tempo.
conforto elevado ao utilizador e eficiência energética, foram
as razões que levaram os investidores e operadores do Os algoritmos do KNX verificam o desenvolvimento da luz
Kempinski Hotels a optar pela tecnologia KNX. Durante o natural em Salzburgo e só permitem que as luzes se liguem
check-in dos hóspedes, a recepção poderá activar as após um alargado período de escuridão, poupando assim
seguintes funções do quarto seleccionado: A climatização uma grande quantidade de energia. A alta estabilidade do
definida para modo de conforto, luzes de boas-vindas e TV sistema KNX garante a segurança do sistema.
ligada. Todas as outras funções estarão operacionais mal o
hóspede introduza o cartão no leitor do seu quarto. O sistema está construído em redundância. Existem dois
sistemas idênticos a correr em paralelo, segundo o qual o
Ajuda Rápida em Caso de Emergência sistema o primeiro sistema é executado como sistema
primário. Se este sistema entra em modo de erro, o segundo
Todas as casas de banho estão equipadas com um sistema de sistema assume o controlo. Cada sistema auto verifica-se
chamada de emergência. Isso garante que a recepção será através da transmissão cíclica de mensagens de todos os KNX
alertada através do sistema KNX com um alarme sonoro e a componentes para detectar avarias.
exibição do número do quarto no caso de uma emergência.

Figura 5 – Áustria, Central Publica de Iluminação de Salzburg

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ARTIGO TÉCNICO

Os algoritmos de controlo foram implementados módulos de O navio tem mais de 100 cabines em diferentes categorias e
funções KNX. Dois sensores luz estão localizados numa caixa tem capacidade para mais de 200 passageiros.
metrológica aquecida e com a temperatura controlada. O
circuito de equipamentos sensíveis à luz envia à noite um Para além do elevado conforto, um grande navio de cruzeiro
pré-aviso de 4 quatro minutos para a companhia eléctrica. deve satisfazer todas as exigências no que diz respeito à
Este pré-aviso é necessário para que o arranque e segurança. A comutação da iluminação nos quartos, salões e
sincronização de um gerador de 4 MW. Todas as comutações corredores para a energia de emergência tem de ser
seguintes serão desfasadas em 10 minutos para evitar picos efectuado num tempo muito curto. A tripulação do navio
de arranque e prevenir religações de iluminação. deve ter o controlo sobre esta funcionalidade em qualquer
momento. Sendo a tecnologia KNX um sistema
Cada sistema permite um controlo manual, que se sobrepõe descentralizado, é o ideal para este tipo de aplicação.
ao modo normal, durante a manutenção ou em
circunstâncias especiais. 4. Conclusões

Benefícios do Sistema KNX Em edifícios utilizados para fins comerciais, a flexibilidade e a


eficiência de custos desempenham um papel importante.
• Comutação automática do sistema de iluminação
pública, poupando energia e aumentando os intervalos Neste enquadramento, o KNX apresenta-se como solução
de manutenção para a mudança luzes. em virtude da sua flexibilidade e integração.
• A automatização foi implementada com o KNX, porque
um sistemas industriais equivalente SPS teria um custo Factores como, flexibilidade, economia, segurança e
muito superior. Os investimentos para componentes e conforto são alguns dos argumentos de KNX.
engenharia foram de apenas 10.250€.
Funcionalidades tais como, gestão automática da iluminação,

- França, Cruzeiro MS Belle de l’Adriatique climatização, monitorização entre outras são soluções de
integrantes do KNX.

O MS Belle de l'Adriatique percorre o Mar Mediterrâneo


desde da Costa da Croácia até às Ilhas Canárias.

Figura 6- França, Cruzeiro MS Belle de l’Adriatique

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Doutor José António Beleza Carvalho, Eng.º Roque Filipe M. Brandão
Instituto Superior de Engenharia do Porto ARTIGO TÉCNICO

Eficiência Energética
em Equipamentos de Força Motriz
1. Introdução Também a nível Europeu, os motores eléctricos representam
uma das fontes mais consumidoras de energia: 70% do
A produção de energia mecânica, através da utilização de consumo eléctrico na indústria e cerca de 1/3 do consumo
motores eléctricos, absorve cerca de metade da energia eléctrico no sector dos serviços.
eléctrica consumida no nosso País, da qual apenas metade é
energia útil. Este sector é, pois, um daqueles em que é Nos últimos anos, muitos fabricantes de motores investiram
preciso tentar fazer economias, prioritariamente. O êxito fortemente na pesquisa e desenvolvimento de novos
neste domínio depende, em primeiro lugar, da melhor produtos com o objectivo de colocarem no mercado motores
adequação da potência do motor à da máquina que ele mais eficientes.
acciona. Quando o regime de funcionamento é muito
variável para permitir este ajustamento, pode-se equipar o 2. Eficiência dos Motores
motor com um conversor electrónico de variação de
velocidade. Outra possibilidade é a utilização dos motores Os motores eléctricos convertem a energia eléctrica em
“de perdas reduzidas” ou de “alto rendimento”, que energia mecânica. No entanto o rendimento desta conversão
permitem economias consideráveis. não é de 100%. A energia eléctrica é convertida em energia

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ARTIGO TÉCNICO

mecânica e em perdas. Estas perdas são devidas aos diversos


elementos que estão presentes na conversão e podem ser
divididas em quatro tipos:
o Perdas eléctricas;
o Perdas magnéticas;
o Perdas mecânicas;
o Perdas parasitas.

As perdas eléctricas são provocadas pela resistência não nula


dos condutores das bobines que ao serem percorridos pela
corrente provocam perdas caloríficas. As perdas magnéticas
ocorrem nas lâminas de ferro do estator e do rotor devido à
histerese e às correntes de Foucault. As perdas mecânicas
são provocadas pela rotação das peças móveis, ventilação e
atrito do ar. As perdas parasitas são devidas a fugas e
irregularidades de fluxo e, também, distribuição de corrente
não uniforme.

Para se quantificar o valor do rendimento de um motor é


necessário conhecer certos parâmetros, tais como as perdas
e a potência mecânica disponibilizada para a carga. Também
é necessário conhecer algumas características da máquina Figura 1 – Perdas nos equipamentos de força motriz
para que se possa fazer a sua modelização e simulação em
vários regimes de carga. Os testes e estudos a efectuar para Os sistemas de força motriz não são apenas constituídos pelo
se determinar o rendimento de um motor de indução são motor eléctrico. Outros componentes do sistema, para além
descritos na norma CEI 34-2. do motor, podem ser o Variador Electrónico de Velocidade, a
Transmissão Mecânica e o Dispositivo de Uso Final. Na
A eficiência de um motor é dada pelo seu rendimento, ou realidade, os equipamentos de força motriz podem integrar
seja, pela relação entre a quantidade de energia eléctrica estes 4 módulos, como se ilustra na figura 2. Deve-se actuar
que absorve e a quantidade de energia mecânica que produz ao nível de cada módulo, de forma a optimizar a eficiência
e pode ser calculada pela expressão seguinte. do sistema global. Neste âmbito, merece particular atenção
a utilização sempre que possível de Variadores Electrónicos
Pmec Pmec
η= (%) = (1) de Velocidade (VEV).
Pabs Pmec + Pperdas

ENERGIA VARIADOR DISPOSITIVO


ELECTRÓNICO MOTOR TRANSMISSÃO DE USO FINAL
DE VELOCIDADE ELÉCTRICO Pmotor MECÂNICA Ptrans Psaída(útil)
Pentrada PVEV
(VEV)
Pperdas
Pperdas Pperdas Pperdas

Figura 2 – Sistemas de Força Motriz

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ARTIGO TÉCNICO

3. Classificação da Eficiência Energética para metade até 2003. Este objectivo foi alcançado e a venda
de motores EFF3 terminou pouco tempo depois.
Na Europa a classificação dos motores CA (Corrente
Alternada) de baixa tensão foi estabelecida em 1998 com o Todos os fabricantes que assinaram este acordo estão
acordo dos principais fabricantes de motores Europeus. autorizados a colocar a etiqueta de eficiência nos motores e
em toda a documentação que os acompanhe, o que torna
De uma forma resumida, o acordo estabelecido entre a mais fácil a identificação da classe do motor.
Comissão Europeia (CE) e o Comité Europeu de Fabricantes
de Máquinas Eléctricas e de equipamentos e sistemas de
Electrónica de Potência (CEMEP) estabelecia que os motores
de 1,1 a 90kW de potência nominal, 50 ou 60Hz, com 2 e 4 Figura 4 – Etiquetas de eficiência dos motores.
pólos magnéticos, serão classificados de acordo com os
valores dos respectivos rendimentos. Com base no acordo voluntário anteriormente referido, foi
também criada uma base de dados europeia EuroDEEM, que
As classes de rendimento estabelecidas foram as seguintes: foi projectada pelo centro de pesquisa da Comissão Europeia
o EFF1: Motores de elevado rendimento; (CE/JRC), com o objectivo de reunir num só suporte as
o EFF2: Motores de rendimento melhorado; informações mais importantes sobre os motores eléctricos
o EFF3: Motores de rendimento normal. disponíveis no mercado. Desta forma pretende-se que os
utilizadores desta ferramenta possam fazer uma escolha
No acordo CE/CEMEP ficou ainda estabelecido que as bem fundamentada em termos técnicos e económicos dos
vendas, na União Europeia, de motores EFF3 diminuiriam seus sistemas (CARLOS GASPAR, 2004).

Figura 3 – Classes de eficiência de motores. [Rennie, 2000]

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ARTIGO TÉCNICO

A tabela I mostra o rendimento dos motores para cada uma Os construtores aumentaram a massa de materiais activos
das classes de eficiência estabelecidas. (cobre e ferro) de forma a diminuir as induções, as
densidades de corrente e, assim, reduzir as perdas no cobre
4. Características dos motores de elevado rendimento e no ferro. Utilizam chapas magnéticas de perdas mais
reduzidas, entalhes especiais em certos casos e
Actualmente, encontra-se já disponível no mercado os reformularam a parte mecânica, com especial incidência
chamados motores de “perdas reduzidas”, ou de “alto sobre a ventilação, para reduzir a potência absorvida por
rendimento”, mais caros que os motores clássicos, mas cuja esta e diminuir o nível de ruído. Daí resulta, para idêntica
utilização se revela rentável quando o seu tempo anual de dimensão, um aumento de peso da ordem de 15%, e de
utilização for suficientemente longo. Basicamente, o preço da ordem de 20 a 25%. Contudo, a melhoria do
acréscimo de eficiência dos motores está associado a uma rendimento, compreendida entre 2 e 4,5%, e do cosφ,
redução das suas perdas, que foi conseguida à custa, quer da permite amortizar rapidamente este aumento de preço. As
utilização de materiais construtivos de melhor qualidade e melhorias típicas que são efectuadas a nível construtivo da
com melhores acabamentos, quer por alteração das suas máquina podem ser visualizadas na figura seguinte e são
características dimensionais. resumidas na Tabela II.

Tabela I – Definição das diversas classes de eficiência

kW EFF3 EFF2 EFF1 EFF1


2 e 4 pólos 2 e 4 pólos 2 pólos 4 pólos
ηn (%) ηn (%) ηn (%) ηn (%)
1,1 <76,2 ≥76,2 ≥82,2 ≥83,8
1,5 <78,5 ≥78,5 ≥84,1 ≥85,0
2,2 <81,0 ≥81,0 ≥85,6 ≥86,4
3 <82,6 ≥82,6 ≥86,7 ≥87,4
4 <84,2 ≥84,2 ≥87,6 ≥88,3
5,5 <85,7 ≥85,7 ≥88,6 ≥89,3
7,5 <87,0 ≥87,0 ≥89,5 ≥90,1
11 <88,4 ≥88,4 ≥90,5 ≥91,0
15 <89,4 ≥89,4 ≥91,3 ≥91,8
18,5 <90,0 ≥90,0 ≥91,8 ≥92,2
22 <90,5 ≥90,5 ≥92,2 ≥92,6
30 <91,4 ≥91,4 ≥92,9 ≥93,2
37 <92,0 ≥92,0 ≥93,3 ≥93,6
45 <92,5 ≥92,5 ≥93,7 ≥93,9
55 <93,0 ≥93,0 ≥94,0 ≥94,2
75 <93,6 ≥93,6 ≥94,6 ≥94,7
90 <93,9 ≥93,9 ≥95,0 ≥95,0

Tabela II – Resumo das alterações nos motores de elevado rendimento

Alteração Efectuada Efeito produzido


Tratamento térmico do rotor. Redução da resistência.
Uso de ferro laminado por camada. Redução das perdas no ferro.
Melhoria do circuito magnético. Redução das perdas no ferro.
Redução das bobines do circuito indutor. Redução das perdas por efeito de Joule.
Melhor qualidade dos rolamentos. Redução das perdas mecânicas.
Maior quantidade de cobre. Diminuição de perdas e do calor gerado.
Redução do entre-ferro. Diminuição das perdas parasitas.
Rotor mais largo. Reactância de fugas menor.
Sistema de ventilação melhorado. Diminuição de ruídos e da temperatura.

|32
ARTIGO TÉCNICO

Apesar de este tipo de motores possuir uma eficiência correctamente, por um motor de elevado rendimento se
melhorada, quando inseridos num sistema, a eficiência total torna economicamente vantajosa. Essa hipótese poderá ser
do mesmo sistema depende de todos os outros considerada se o motor tiver um elevado número de horas
componentes que o compõem. Por este motivo, não se deve de funcionamento anual.
apenas investir na compra de um motor de elevada
eficiência, quando existirem problemas de eficiência nos A equação seguinte permite calcular a poupança que se
outros componentes do sistema. obtém com um motor de elevado rendimento em
comparação com um motor standard.
5. Estudo económico, em motores de elevado rendimento
 1 1 
Poupança =  −  × PN × N × € (2)
 η STD η EE 
kWh
Como foi referido anteriormente, a opção por motores de
elevado rendimento acarreta custos de investimentos em que,
sempre superiores ao investimento em motores standard. η EE representa o rendimento do motor standard
Por esse motivo só se torna economicamente vantajosa a η STD representa o rendimento do motor de elevada
aposta neste tipo de motores quando existe a necessidade eficiência
de substituição de um motor ou quando se está a PN representa a potência nominal do motor
dimensionar uma nova instalação. Quase nunca a
N indica o número de horas de funcionamento anual
substituição de um motor standard, a funcionar €
kWh traduz o preço da energia eléctrica.

Figura 5 – Alterações nos motores de elevado rendimento [WEG]

33|
ARTIGO TÉCNICO

O acréscimo de custos dos motores de alto rendimento é Apesar de este ser apenas um exemplo e que usa
recuperado através da economia de energia eléctrica que pressupostos previamente estabelecidos, os valores
proporcionam. O tempo de recuperação N do investimento encontrados são da mesma ordem de grandeza dos valores
suplementar devido à instalação de motores de alto que se podem atingir na realidade. Para qualquer
rendimento, pode ser calculado através da seguinte investimento em motores eléctricos efectuado, pelo menos,
expressão: para 10 anos, os modelos de perdas reduzidas são
fortemente competitivos.
∆Ι
N= (3)
∆Ρ.Κ.t 6. Controlo de velocidade dos equipamentos de força motriz

em que, Uma grande parte das aplicações em que se utiliza força


∆Ι diferença de custos motriz beneficiaria, em termos de consumo de electricidade
∆P variação das perdas entre os dois motores e desempenho global, se a velocidade do motor se ajustasse
K preço do kWh às necessidades do processo. As aplicações com carga
t tempo de utilização (horas) variável ou parcial representam cerca de 60% das aplicações
de força motriz na indústria, e 80% no sector terciário.
Se por exemplo considerarmos um motor de 30kW a Assim, adaptar a velocidade do motor à carga conduz em
funcionar à plena carga durante 4000 horas anuais. geral a uma poupança substancial de energia. Os sistemas
Considerando um custo médio para a energia de 0,09€/kWh mais eficientes e mais utilizados no controlo e regulação de
e que o rendimento dos motores EFF1 e EFF3 é velocidade dos equipamentos de força motriz são os
respectivamente 93,2% e 91,4%, então a poupança anual de Variadores Electrónicos de Velocidade (VEV).
energia é de cerca de 228,2 €.
Os VEVs convertem a tensão alternada da rede de 50 Hz
Considerando agora que a diferença de preço entre os dois numa tensão contínua e em seguida numa tensão com
motores é de 450€, então tempo de recuperação do capital frequência variável sob controlo externo do utilizador que
devido à instalação do motor de elevado rendimento é de pode ir de 0 a 150 Hz consoante o tipo de aplicações. Na
aproximadamente 2 anos. figura 6 apresenta-se a estrutura de blocos de um VEV para
um motor assíncrono de indução trifásico.

Ligação
DC linkDC

Inverter:
DC to
Rectificador Inversor
3φ CA AC
para CC variable
CC para CA
to DC Filtro voltage
AC
Alimentação Filter com Motor
input
trifásica converter & e
Frequência
frequency
tensão variável
AC
Motor

Figura 6– Diagrama de blocos de um Variador Electrónico de Velocidade

|34
ARTIGO TÉCNICO

As principais vantagens inerentes à utilização de um VEV são Os acoplamentos directos no veio são o tipo de transmissão
as seguintes: mais utilizado (cerca de 50% das aplicações).
o Elevado rendimento (96 a 98%) e elevada fiabilidade
o Elevado factor de potência Acoplamentos directos:
o Adaptação do motor à carga , em binário e velocidade Os acoplamentos directos, se forem alinhados com precisão,
o Arranques suaves (poupança de energia) e frenagem possuem um rendimento muito elevado (99%).
controlada
o Protecção do motor contra curto-circuitos, sobrecargas, Engrenagens:
sobretensões, falta de fase, etc. Vantagem técnica e As engrenagens simples ou redutoras, são tipicamente
económica utilizados em cargas que requerem velocidades baixas
o Poupança substancial de energia e tempo de retorno do (abaixo de 1200 rpm) e binário muito elevado (que utilizando
investimento reduzido, especialmente em aplicações de correias poderia resultar em escorregamento). Existem
controlo da caudais de bombas, ventiladores e vários tipos de engrenagens: helicoidais, de dentes direitos,
compressores centrífugos cónicas e com sem-fim.
o Menor desgaste de componentes e equipamentos
mecânicos. Correntes:
Tal como as correias síncronas, as correntes não têm
7. Transmissão Mecânica nos Equipamentos de Força deslizamento. Normalmente são usadas em aplicações onde
Motriz é requerido uma velocidade reduzida e binário elevado,
suportam ambientes com temperaturas elevadas e cargas de
Tipicamente são usados 3 tipos de transmissão mecânica: choque e têm um tempo de vida elevado se forem
o Acoplamentos directos no veio; apropriadamente lubrificadas. O seu rendimento ascende
o Engrenagens; aos 98% se forem sujeitas a uma manutenção periódica.
o Correias.

(c)

(a)

(d) (e)
(b)

Figura 7 – Transmissão Mecânica em equipamentos de força motriz.

35|
ARTIGO TÉCNICO

Correias: sua utilização. Como se demonstrou neste artigo, os ganhos


Estas permitem mais flexibilidade no posicionamento do de eficiência com os motores de alto rendimento, vão desde
motor em relação à carga, e usando polias de diferentes 1% a 5%, o que se pode traduzir por importantes reduções
tamanhos permitem reduzir/aumentar a velocidade. Existem do seu consumo eléctrico; contudo, pela sua concepção, são
vários tipos de correias: (a) Correias em V, (b) Correias com naturalmente motores que exigem um investimento inicial
dentes, (c) correias síncronas, (d) correias lisas. superior ao dos motores standard (cerca de 25% a 30%).
Face a este acréscimo de custos de investimento, é
conveniente efectuar-se uma análise económica prévia;
pode no entanto, considerar-se tipicamente que, em
situações de aquisição de novos motores, a sua utilização é
normalmente justificada, sendo o sobrecusto amortizado em
1 a 2 anos, para um período de laboração da ordem das 4000
h/ano, e em cerca de 3 anos, para 2000 h/ano de
funcionamento.

Atender às necessidades de manutenção dos motores, que


são essencialmente a limpeza da carcaça, a fim de reduzir a
temperatura, e nalguns casos a lubrificação dos rolamentos.

Figura 8 – Tipos de correias: 1-correias trapezoidais 2-


Fontes de Informação Relevantes
correias síncronas
- BELEZA CARVALHO, J. A., MESQUITA BRANDÃO,
8. Considerações Finais Eficiência Energética em Equipamentos de Força Motriz.
Jornadas Luso-Brasileiras de Ensino e Tecnologia em
A produção de energia mecânica, através da utilização de Engenharia. ISEP, Porto, Fevereiro de 2009.
motores eléctricos, absorve cerca de metade da energia - BELEZA CARVALHO, J. A., MESQUITA BRANDÃO, R. F.,
eléctrica consumida no nosso País, da qual apenas metade é Efficient Use of Electrical Energy in Industrial
energia útil. Este sector é, pois, um daqueles em que é Installations. 4TH European Congress Economics and
preciso tentar fazer economias, prioritariamente. Como se Management of Energy in Industry. Porto, Novembro de
apresentou neste artigo, os pontos fundamentais em que se 2007.
deve intervir são os seguintes: - CARLOS GASPAR, Eficiência Energética na Industria-
o Dimensionar correctamente os equipamentos de força ADENE, Cursos de Utilização Racional de Energia, 2004.
motriz, fazendo os motores funcionar com cargas da - GARCIA, A. G. Impacto da Lei de Eficiência Energética
ordem dos 70 a 80%. para Motores Eléctricos no Potencial de Conservação de
o Adaptar a velocidade do motor às necessidades do Energia na Indústria. 2003. Dissertação (Mestrado em
processo, utilizando sempre que necessário dispositivos Planeamento Energético) - Universidade Federal do Rio
electrónicos de variação de velocidade. de Janeiro-COPPE, Rio de Janeiro.
- IAN RENNIE, Improving Motor Efficiency for a Better
o Utilizar os novos motores de “alto rendimento”, que já Environment . ABB Review, 1/2000.
provaram a sua competitividade apesar do seu custo - WEG, Catálogo de Motores Eléctricos, disponível em
superior, devendo-se ponderar sempre que necessário a http://www.weg.com.br/.

|36
Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva, António Augusto Araújo Gomes, Eng.ºs
Instituto Superior de Engenharia do Porto ARTIGO TÉCNICO

Projecto de Instalações Eléctricas


Secção Técnica Vs Secção Económica de Canalizações Eléctricas

1. Introdução A abordagem dum projecto eléctrico eficiente sob o ponto


de vista energético deverá contemplar os seguintes pontos:
O projecto das instalações eléctricas deve responder a a) Minimização de perdas no sistema de distribuição
critérios de ordem técnica, nomeadamente no que se refere b) Redução das perdas devido ao desperdício na utilização
à garantia da protecção das pessoas e instalações, mas do equipamento eléctrico
contrapõem-se necessariamente os aspectos de ordem c) Redução das perdas associadas aos problemas
económica; resultará do compromisso entre estas duas associados à qualidade da energia
posições contrastantes a definição daquela que será a d) Prever as instalações para incorporarem aparelhagem de
solução mais acertada para uma dada instalação. contagem e medida para fins de monitorização e de
realização de auditorias eléctricas
No capítulo dos custos associados a uma instalação eléctrica
tem um peso crucial a energia desperdiçada durante o 2. A Secção Técnica dos Condutores
funcionamento da mesma, duração esta que pode em média
considerar-se compreendida entre 20 e 30 anos. A definição técnica de canalizações em instalações de
utilização de energia eléctrica, deve ser realizada de acordo
Este desperdício tem duas origens: perdas excessivas por com o definido nas Regras Técnicas de Instalações Eléctricas
ineficiente concepção das instalações e selecção não de Baixa Tensão, e assenta na verificação das seguintes
criteriosa de equipamentos que utilizam a energia eléctrica e condições:
malbaratamento da energia eléctrica por funcionamento - Critério do Aquecimento;
além do necessário. - Critério da protecção contra sobreintensidades

Põe-se, portanto, também neste domínio a questão da 3. A Secção Económica dos Condutores Calculada a Partir
eficiência energética. da Norma CEI/IEC60287-3-2

Assim, o responsável pela concepção de uma instalação Os métodos de cálculo económico dos condutores levam em
eléctrica deverá procurar não somente a solução técnica linha de conta não somente o custo inicial dos mesmos e da
funcional da mesma mas preocupar-se que essa solução seja sua instalação mas também os custos associados à
igualmente eficiente do ponto de vista energético. exploração, isto é, os custos das perdas por efeito Joule.

37|
ARTIGO TÉCNICO

A norma CEI/IEC 60 287-3-2 – Electric cables – Calculation of A norma considera uma temperatura média igual a:
the current rating –Economic optimization of power cable θ − θa
size (CEI, 1995) apresenta duas metodologias de cálculo – θm = + θa (3)
3
uma baseada na determinação de gamas económicas de
corrente, para diferentes cabos empregados, e uma outra, Onde:
conhecida a corrente de projecto, que determina a secção
θ = temperatura correspondente a Iz
que minimiza a função custo total.
θa = temperatura ambiente

T = nº de horas de utilização das perdas


CT = CI + CE (1)

Onde: O número de horas de utilização das perdas é dado pela


CT – custo total relação:
CI – custo de investimento 8760
I 2 (t )
CE – custo de exploração T = ∫ Im2 á x
dt (4)
0

Perda de energia no 1º ano:


Na Fig. 1 podemos apreciar um diagrama de carga diário, que
traduz a variação da corrente com o tempo.
E=
2
(Imax × R × L × Np × Nc )T (2)
60

50
Onde:
40
Imax – corrente de pico do diagrama
30
R – resistência CA por unidade de comprimento
20
L – comprimento da canalização
10
Np – nº de condutores sob idênticas condições
0

Nc – nº de circuitos idênticos
T – nº de horas de utilização das perdas
Figura 1 - Diagrama de carga I(t)

A resistência unitária R é definida através do seu valor em CC


A Fig. 2 representa o chamado diagrama normalizado π(t)
e leva em consideração quer os efeitos pelicular e de
que resulta do precedente dividindo-o por Imáx. A ordenada
proximidade – yS e yP, quer as perdas em ecrãs metálicos e
máxima passa a ser obviamente 1.
armaduras - λ1 e λ2.
1,2

1
Em virtude da variação da corrente, factor de carga≠1, e da
0,8
possibilidade de incremento da mesma, a temperatura do
0,6
condutor será diferente da correspondente à corrente
0,4

máxima admissível θ(θz).


0,2

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

Figura 2 - Diagrama normalizado π(t)

|38
ARTIGO TÉCNICO

A Fig. 3 corresponde ao diagrama π2(t). Custo da potência de perdas:

1,2

1
CEP = (Imax
2
× R × L × Np × Nc ) × D (9)
0,8

0,6
Onde:
0,4

CEP = custo de exploração por solicitação de potência


0,2

adicional
0

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 D = custo anual da potência


Figura 3 - Diagrama normalizado π2(t)

Custos de exploração (1º ano):


Como se trata da elevação ao quadrado de valores quando
muito iguais a 1 virá mais cavado.
CE = (Imax
2
× R × L × Np × Nc )(TP + D) (10)
8760

T = ∫ π 2 (t ) dt (5)
Considerando-se os pagamentos feitos no fim do ano, os
0

custos no iésimo ano virão dados por:


O nº de horas de utilização das perdas é referido ao período
de 8760 h (1 ano). A estimação deste valor vem
normalmente dada através da fórmula: CEi = CE[(1 + a ) 2 (1 + b)]i −1 (11)

T = µ × 8760 (6) Admitindo-se crescimento percentual anual da carga de a e


dos custos de energia e potência de b.

µ = p × fc + (1 − p) × fc2 (7)
Há duas abordagens para lidar com pagamentos feitos em

Onde: tempos diferentes, o investimento no início da exploração da


instalação e os custos durante o tempo de vida da mesma:
µ = factor de carga das perdas
- método das anuidades ;
fc = factor de carga
- método da actualização.
p = coeficiente

(igual a 0,3 - redes de transporte, e igual a 0,2 - redes de


distribuição (IEEE, 1990) O método da actualização é mais geral e é o usado na norma.

(1 + a) 2 (1 + b)
Custo das perdas no 1º ano: r= (12)
(1 + i )
1− r N
CEE = (Imax
2
× R × L × Np × Nc )T × P Q= (13)
(8)
1− r

Onde: Onde:

CEE= custo de exploração por perda de energia no 1º ano i = taxa de actualização

P = custo do Wh N = nº de anos de vida média da instalação

39|
ARTIGO TÉCNICO

4. Método de fixação dos valores máximos de perdas


Q admissíveis nas canalizações
CE a = (Imax
2
× R × L × Np × Nc )(TP + D) × (14)
1+i

Este método é preconizado pela Região Administrativa de


Onde:
Hong-Kong, que através do Departamento Eléctrico e
CEa = custo de N anos de exploração da instalação, referidos
Mecânico do Governo (EMSD) definiu uma abordagem no
ao início do empreendimento, isto é, actualizados.
domínio da baixa tensão, até 2008 de carácter voluntário,
mas que a partir de 2009 será integrado na legislação,
Seja F uma variável auxiliar dada por: tornando-se, por conseguinte de carácter obrigatório (EMSD,
1997).
Q
F = Np × Nc (TP + D) × (15)
1+ i
A metodologia sugerida pelo presente método conduziu a
resultados significativos no que se refere à poupança de
A função custo total virá então com a forma:
energia eléctrica, comprovados pelo EMSD, no decorrer de
estudos realizados nos últimos 30 anos, junto dos
CT = CI + I máx
2
RLF (16)
operadores que voluntariamente adoptaram este

ρ20 × B 1 + α20 (θm − 20) procedimento (EMSD, 1997), (Hui, 2003).
R= × 10 Ω/m
6
(17)
S
A metodologia consiste em fixar os valores máximos de

B = (1 + y s + y p )(1 + λ1 + λ2 ) (18) perdas admissíveis nas canalizações, ou seja, a de impor


rendimentos mínimos das linhas.

Onde:
Para além das condições técnicas de temperatura e queda de
ρ20 = resistividade do condutor a 20º C em CC
tensão a máxima perda de potência passa a ser critério de
θm = temperatura média
dimensionamento.

Admitindo um custo de investimento dado por: Consideram-se duas situações:


- circuitos trifásicos lineares equilibrados;

CI = ( A × S + C ) × L (19) - trifásicos não-lineares.

1º caso - Circuito trifásico linear equilibrado


Onde:

A = termo dependente da secção do cabo


Potência transportada e perdas nos condutores do circuito:
C = termo constante

P = 3 × U c × I b × cos ϕ (21)
A secção económica virá dada pela fórmula:

p = 3 × I b2 × r × L
F × ρ20 × B 1 + α20 (θm − 20) (22)
Sec = 1000 × Imáx mm2 (20)
A

Onde:
A secção económica será normalizada para o valor comercial
Ib = corrente do circuito
mais próximo.

|40
ARTIGO TÉCNICO

L = comprimento dos condutores α0 = coeficiente de termorresistividade a 0ºC


r = resistência em CA por metro de canalização à
temperatura de funcionamento Donde:

Rc 1 + α0 × θc 234, 4 + θc (27)
O valor percentual pr das perdas vem dado pela relação: = =
Rz 1 + α0 × θz 234, 4 + θz
3 × I b2 × r × L
pr = (23)
3 × U c × I b × cos ϕ 2º caso - Circuito trifásico não-linear, equilibrado, com
valores conhecidos de corrente Ib e de taxa de distorção
Donde, definido o valor percentual que se admite para as
harmónica THD
perdas, se determinará o máximo valor para a resistência r.

A potência aparente transportada pelo circuito será dada


pr × U c × cos ϕ ×1000
rmáx = mΩ/m (24) por:
3 × Ib × L

Encontrado o valor de rmáx, as tabelas fornecerão a secção a S = 3 × Uc × Ib (28)

utilizar.
Onde:


Correcção das perdas nos cabos devido às diferentes
temperaturas de funcionamento.
Ib = ∑I
h =1
2
h = I12 + I22 + I32... (29)


A temperatura do condutor pode ser aproximada através da ∑I
h =2
2
h

seguinte fórmula: THD = (30)


I1
Ib2
θc = θa + 2 (θz − 30) (25)
IzT
Ib = I1 1 + THD2 (31)

Onde:

θc = temperatura do condutor
Ib
I1 =
θa = temperatura ambiente 1 + THD2 (32)

IzT = corrente máxima admissível no cabo dada pelas tabelas

θz = temperatura máxima admissível nos condutores Admitindo baixa distorção da tensão, o que é razoável, a
potência activa transportada terá por expressão:
A resistência à temperatura θc pode ser expressa a partir da
relação: P = 3 × Uc × I1 × cos ϕ (33)

Onde:
Rc = R0 (1 + α0 × θc ) (26)
I1 = componente fundamental da corrente
cos ϕ = factor de potência do circuito
Onde:

R0 = resistência do condutor a 0º C

41|
ARTIGO TÉCNICO

Desprezando os efeitos pelicular e de proximidade, as perdas 5. Conclusões


nos condutores, incluindo o condutor neutro, será:
A busca da eficiência e da utilização racional de energia
p = (3 × Ib2 + m × IN2 ) × r × L (34) (URE), particularmente nos sistemas eléctricos, leva a
considerar todos aqueles aspectos que concorrem para

IN = 3 × I32 + I62 + I92... (35) realizar esse fim. A consideração do rendimento das
canalizações, já contemplada nas áreas do transporte e
S (36) grande distribuição, faz todo o sentido aplicada às redes de
m= F
SN baixa tensão, até pela sua enorme extensão.
Que é a relação entre as secções de fase e de neutro.
Em Hong-Kong, onde o sistema de fixação de perdas
máximas se encontra implementado há alguns anos, o
As perdas percentuais (pr) na canalização virão então dadas
por: dimensionamento económico de condutores insere-se num
programa mais vasto de URE em edifícios de serviços,

pr =
(3× I 2
b )
+ m × I N2 × r × L
contemplando vertentes tais como instalações de
3 × U c × I1 × cos ϕ (37)
iluminação, sistemas de aquecimento, ventilação e ar

E a máxima resistência unitária a atribuir ao cabo: condicionado, transporte por elevadores, monta-cargas e
escadas rolantes e o desempenho energético de edifícios
pr × 3 × Uc × I1 × cos ϕ × 1000 apresentando resultados tangíveis significativos.
rmáx =
(3 × I )× L
(38)
2
b + m× I 2
N
Fontes de Informação Relevantes
As tabelas especificarão a secção do cabo a considerar. [CEI, 1995] CEI IEC 60 287-3-2, Electric cables, Calculation of
the current rating – Part 3 – Section 2, Suiça, 1995.
A correcção de temperatura poderá ser feita mediante a
fórmula aproximada seguinte: [Cooper, 1997] Copper Development Association, Electrical
Energy Efficiency, U.K., 1997.
(3 × I + m × I )
2
[EMSD, 1997] Electrical and Mechanical Services Department
(θ − 30)
b N
θc = θa + (39)
(3 × I )
2 z
(EMSD), Code of Practice for Energy Efficiency of Electrical
zT
Installations, Hong-Kong, 2005.
Alguns valores de referência para pr: [Anders, 1997] Anders J George, Rating of Electric Power
Cables, McGraw-Hill, Nova Iorque, 1997.
Tabela I - Valores máximos das perdas percentuais para diferentes
tipos de circuitos [Hui, 2003] Hui, Sam C. M., Energy Efficiency and

Tipo de circuito pr Environmental Assessment for Buildings in Hong Kong,

Ligações entre transformadores de distribuição Máx. MECM LEO Seminar, Advances on Energy Efficiency and
e Quadros Gerais 0,5% Sustainability in Buildings, pag, 21-22, 2003, Kuala Lumpur,
Canalizações entre Quadros Gerais e Quadros 1,5% Malaysia.
Parciais
[Silva, 2009] Silva H.J., Gomes A.A., Ramos S.C., “A definição
Circuitos terminais: iluminação, tomadas ou 1% do valor máximo das perdas nas canalizações eléctricas como
outros usos com correntes acima de 32 A
medida de eficiência energética”, JLBE09 - Jornadas Luso-
Colunas montantes e entradas, (até 2,5% para 1,5%
utilizações domésticas) Brasileiras de Ensino e Tecnologia em Engenharia 2009, 10 a
13 de Fevereiro de 2009, Instituto Superior de Engenharia do
Alimentações de grandes cargas como motores 2,5%
de potência apreciável Porto, Porto, Portugal.

|42
EVENTOS

Workshop
Discussão do Manual ITED-NG e da 1.ª edição do Manual ITUR

• Objectivos do evento:
Apresentação e Discussão da Proposta de Revisão do Manual ITED (Infra-estruturas de Telecomunicações em Edifícios) e da
1.ª edição do Manual ITUR (Infra-estruturas de Telecomunicações de Loteamentos e Urbanizações)

• Organização
Profº Beleza Carvalho, António Gomes, Roque Brandão, Sérgio Ramos
Instituto Superior de Engenharia do Porto, Departamento de Engenharia Electrotécnica

• Informação geral

• Dia/Hora: 01 Julho 2009 / das 14h30m às 19h00m

• Local:
Auditório E do Instituto Superior de Engenharia do Porto
Rua Dr. António Bernardino de Almeida, 431, 4200-072 Porto
T. 228 340 500 F. 228 321 159

• Número Máximo de participantes: 200

• Público-alvo: Projectistas; Instaladores; Certificadores de ITED; Alunos Engenharia Electrotécnica

• Inscrição
As inscrições serão consideradas por ordem cronológica de chegada e só serão consideradas válidas após ter sido
efectuado o pagamento.
• Ficha de Inscrição disponível em : http://ave.dee.isep.ipp.pt/~see/workshop
• Preço: 5€
• Data limite de inscrição: 30 Junho 2009

• Informações:
http://ave.dee.isep.ipp.pt/~see/workshop
Professor Beleza Carvalho - jbc@isep.ipp.pt

• Emissão de certificado de presença

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