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Nº7 ⋅ 1º semestre de 2011 ⋅ ano 4 ⋅ ISSN: 1647-5496

EUTRO À TERRA Revista Técnico-Científica |Nº7| Julho de 2011


http://www.neutroaterra.blogspot.com

“A revista “Neutro-à-Terra” celebra agora três anos de vida e seis


publicações já realizadas. Os objectivos que se pretendiam
inicialmente com a publicação desta revista, e que se mantêm,
assentam fundamentalmente na divulgação de assuntos de carácter
técnico-científico, com uma abordagem crítica, mas construtiva, de
forma que esta publicação seja uma referência em assuntos
relacionados com a Engenharia Electrotécnica.”
Doutor Beleza Carvalho

Instalações Máquinas Telecomunicações Segurança Energias Eficiência Domótica


Eléctricas Eléctricas Renováveis Energética
Pág.5 Pág. 63 Pág. 115 Pág. 149 Pág. 195 Pág.215 Pág. 265

Instituto Superior de Engenharia do Porto – Engenharia Electrotécnica – Área de Máquinas e Instalações Eléctricas
Índice
EUTRO À TERRA

3| Editorial

5| Instalações Eléctricas

63| Máquinas Eléctricas

115| Telecomunicações

149| Segurança

195| Energias Renováveis

215| Eficiência Energética

265| Domótica

304| Autores

FICHA TÉCNICA DIRECTOR: Doutor José António Beleza Carvalho


SUB-DIRECTORES: Engº António Augusto Araújo Gomes
Engº Roque Filipe Mesquita Brandão
Engº Sérgio Filipe Carvalho Ramos

PROPRIEDADE: Área de Máquinas e Instalações Eléctricas


Departamento de Engenharia Electrotécnica
Instituto Superior de Engenharia do Porto
CONTACTOS: jbc@isep.ipp.pt ; aag@isep.ipp.pt
PUBLICAÇÃO SEMESTRAL: ISSN: 1647-5496
EDITORIAL

Estimados leitores

A revista “Neutro-à-Terra” celebra agora três anos de vida e seis publicações já realizadas. A sua publicação é da
responsabilidade de um grupo de docentes e investigadores do Departamento de Engenharia Electrotécnica do Instituto
Superior de Engenharia do Porto, que trabalham diariamente na área das Instalações e Máquinas Eléctricas, quer na leccionação
de unidades curriculares desta área de especialização, quer em actividades de projecto, ou em actividades de investigação. Os
objectivos que se pretendiam inicialmente com a publicação desta revista, e que se mantêm, assentam fundamentalmente na
divulgação de assuntos de carácter técnico-científico, com uma abordagem crítica, mas construtiva, de forma que esta
publicação seja uma referência em assuntos relacionados com a Engenharia Electrotécnica. Neste âmbito, a revista “Neutro-à-
Terra” destina-se a todos os profissionais na área da Engenharia Electrotécnica, especialmente aos engenheiros projectistas de
instalações eléctricas, mas também a todos os alunos de cursos de engenharia electrotécnica. Os incentivos recebidos ao longo
dos últimos anos deram a motivação necessária para a sua continuação. Nesta edição, que celebra os três anos de vida e as seis
publicações realizadas, decidiu-se elaborar uma colectânea com todas as publicações das edições anteriores, agrupadas pelas
diversas áreas de especialização da Engenharia Electrotécnica em que a revista se propõe intervir, ou seja: as instalações
eléctricas, as máquinas eléctricas, as infra-estruturas de telecomunicações, a segurança, a domótica, as energias renováveis e a
eficiência energética. Pretende-se assim, criar um documento que seja uma referência e um guia para engenheiros
electrotécnicos com intervenção nas referidas áreas, mas também um manual de apoio aos alunos que frequentam cursos de
engenharia electrotécnica, particularmente dos cursos afectos ao Departamento de Engenharia Electrotécnica do ISEP. Como
também foi habitual nos últimos três anos, faz-se a divulgação dos laboratórios do Departamento de Engenharia Electrotécnica
do ISEP, onde foram realizados vários dos trabalhos correspondentes aos artigos publicados nas várias edições da revista.

Desejando que esta edição comemorativa dos três anos da publicação da revista “Neutro-à-Terra” possa satisfazer novamente
as expectativas dos nossos leitores, apresento os meus cordiais cumprimentos.

Porto, Julho de 2011


José António Beleza Carvalho

3
DIVULGAÇÃO

4
ARTIGO TÉCNICO

Instalações Eléctricas

Após o reconhecido sucesso da publicação das anteriores seis edições da Revista Neutro à Terra esta sétima edição reúne os
artigos técnicos publicados nas diversas áreas, e, naturalmente, também na área das Instalações Eléctricas.
Nesta compilação de artigos é feita uma exposição crítica, mas construtiva, dos assuntos de carácter técnico-científico das
Instalações Eléctricas com especial relevo para as temáticas menos abordadas, tais como a análise da secção técnica versus
secção económica das canalizações eléctricas, problemática das correntes de curto-circuito nas instalações eléctricas, influência
dos harmónicos nas instalações, protecção das pessoas, queda de tensão, entre outros.
Estes temas, embora com menor visibilidade, assumem um papel preponderante para o correcto dimensionamento e
exploração das instalações eléctricas.

5
ARTIGO TÉCNICO

Índice

O Aquecimento dos Condutores na Situação de Curto-Circuito 7


Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008

Harmónicos em Instalações Eléctricas. Causas, efeitos e normalização 11


Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008

Projecto de Instalações Eléctricas. Secção Técnica Vs Secção Económica de Canalizações Eléctricas 23


Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva, António Augusto Araújo Gomes
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009

Protecção das Pessoas em Instalações Eléctricas de Baixa Tensão. Cálculo dos Dispositivos de Protecção 29
José António Beleza Carvalho
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009

FASES DE REALIZAÇÃO E TIPOS DE PROJECTOS DE INSTALAÇÕES ELÉCTRICAS 37


Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva; António Augusto Araújo Gomes
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010

Técnicas de Manutenção em Linhas de Transmissão de Energia 45


Arlindo Francisco, Hugo Miguel Sousa, Teresa Alexandra F. M. Pinto Nogueira
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010

QUEDAS DE TENSÃO EM INSTALAÇÕES ELÉCTRICAS DE BAIXA TENSÃO 51


Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva; António Augusto Araújo Gomes
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010

6
ARTIGO TÉCNICO Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008

O Aquecimento dos Condutores na Situação de Curto-Circuito

Do calor gerado uma parte vai elevar a temperatura do


condutor e a outra vai ser dissipada por radiação, convecção
ou condução.

Podemos, então, escrever a seguinte relação:

P=UI=RI2=P1 + P2
Eq. 1

As Regras Técnicas das Instalações Eléctricas em Baixa em que P1 representa a potência responsável pelo
Tensão, RTIEBT, apresentam no parágrafo 434.3.2 uma aquecimento do condutor e P2 a fracção restante que é
expressão que determina o tempo máximo de exposição de dissipada.
um condutor a uma corrente de curto-circuito, expressão
esta conhecida por curva de fadiga térmica da canalização, Em termos energéticos, considerando um intervalo de
função de diversas grandezas entre as quais a variável K por tempo infinitesimal, a equação que traduz o processo
sua vez dependente da natureza da alma condutora e do termodinâmico que decorre da passagem da corrente pode
isolamento. ser detalhado da forma seguinte:

Os valores de K vêm tabelados no mesmo parágrafo. RI 2 dt = P1dt + P2 dt = mcdϑc + KS dϑ dt


Eq. 2
Vejamos como podemos obter esses valores mediante um
estudo analítico dos fenómenos envolvidos. Onde:
m – massa do condutor
Consideremos um condutor cilíndrico de secção S, c– calor específico
comprimento l, resistividade ρ, submetido a uma tensão U e Θc – temperatura do condutor
percorrido pela corrente I, figura 1. K– constante de Newton que traduz a potência dissipada
por unidade de área e grau centígrado
U
Sd – área lateral de dissipação do calor
Θ – sobreelevação de temperatura do condutor, isto é, θ =
θc – θa, em que θa é a temperatura ambiente que se
I
S considera inalterável (reservatório térmico de
capacidade infinita)

L (A fórmula correspondente ao termo P2 apenas contempla a


potência dissipada por convecção.)
Figura 1 – Condutor cilíndrico homogéneo
A situação de curto-circuito é uma ocorrência anómala
A potência eléctrica fornecida ao condutor P=UI é caracterizada por elevadas correntes devidas normalmente a
transformada em calor pela conhecida lei de Joule P= RI2. defeitos de isolamento.

7
ARTIGO TÉCNICO

Assim é necessário, para evitar danos maiores, que as Onde:


protecções intervenham em tempos muito reduzidos. A ρ0 – resistividade a 0ºC
legislação impõe que o corte se faça num tempo quando α- coeficiente de termorresistividade do material
muito igual a 5 s.
O aquecimento do condutor não depende do seu
Nestas condições é lícito supor que a transformação comprimento.
termodinâmica seja adiabática, isto é, que não haja
permutação de calor com o exterior – o calor gerado servirá S 2 cv
dt = dϑ
apenas para elevar a temperatura do próprio condutor. Esta ρ0 (1+ αθ c ) I 2 c
é também a situação mais desfavorável, do ponto de vista dτ
τ = 1 + αθc dτ = α dϑc dϑc=
das temperaturas atingidas, uma vez que com a passagem do α
tempo as trocas com o exterior serão inevitáveis, pelo que o
dimensionamento segundo este pressuposto favorece a Eq. 6
segurança da protecção.

S 2 cv
Retomemos a eq. 2 dt = dτ
ρ 0α I 2τ

Eq. 7
RI 2 dt = V γ cdϑc + KSdϑ dt = Slcv dϑc + KS dϑ dt

Eq. 3 Com a mudança de variável operada podemos prosseguir


para integração:
O produto γc, massa específica do material pelo seu calor
específico, é designado por calor específico volumétrico cv. S 2cv
t= ln τ + k1
ρ0α I 2
Onde:
V– volume do condutor Eq. 8
γ– massa específica
S– secção do condutor em que k1 é uma constante de integração.
cv – calor específico volumétrico
Neste ponto vamos fazer uma hipótese de trabalho que
Uma vez que consideramos o aquecimento adiabático, a consiste em considerar que para o instante t=0 de ocorrência
parcela correspondente a P2 pode ser desprezada. do curto-circuito a temperatura do condutor é a sua
temperatura de regime θz.
ρ0 (1 + αθ c )l
I 2 dt = Slc v d ϑc
S
Eq. 4 S 2 cv
0= ln τ z + k1
ρ 0α I 2
ρ 0 (1 + αθc ) I 2 dt = S 2cv dϑc t = 0 ⇒ ϑc = ϑz ⇒ τ = τ z

Eq. 5 Eq. 9

8
ARTIGO TÉCNICO

Procedendo à substituição, obter-se-á:


S 2cv
k1 = − ln τ z
ρ 0α I 2 ρ 20 = ρ0 (1 + α 20)
Eq. 10 ρ 20
ρ0 =
1 + α 20
Substituindo este resultado na eq. 8: c ( β + 20) β + θc
k= v (ln )
ρ20 β + θz
S 2cv
t= (ln τ − ln τ z )
ρ 0α I 2 Eq. 15

S 2cv τ
t= 2
(ln ) Uma vez que
ρ 0α I τz

Eq. 11 β (1 + α 20) = (β + 20)

Usando agora a definição de τ: Eq. 16

De notar que a expressão de k a que se chegou, eq. 15, se


S 2cv 1 + αθc
t= 2
(ln ) desenvolveu a partir da eq. 4 que considerava a resistividade
ρ 0α I 1 + αθ z
a 0ºC. Se se tivesse partido com o seu valor a 20ºC, chegar-
Eq. 12 se-ia a uma expressão um pouco diferente:

Se introduzirmos a grandeza β como sendo o inverso de α,


cv β β + θc − 20
obteremos: k= (ln )
ρ20 β + θ z − 20

S 2 cv β β + θc Eq. 17
t= 2
(ln )
ρ0 I β + θz
É fácil verificar que os kk determinados pelas eq. 15 e 17 dão
Eq. 13 valores ligeiramente diferentes.
A razão prende-se com a fórmula da variação da
A eq. 13 pode ser reescrita na forma dada no parágrafo das resistividade com a temperatura.
Regras Técnicas acima citado. De facto, a expressão geral da fórmula vem expressa por:

k 2S2 ρϑ = ρ ϑ [1+ α (ϑ − ϑ1 )] = ρϑ + ρϑ α (ϑ − ϑ1 )
t= 1 1 1

I2
cv β β + θc Eq. 18
k= (ln )
ρ0 β +θ z
Ora esta fórmula não é senão a expansão em série de Taylor,
Eq. 14 considerados somente os dois primeiros termos, de ρθ em
torno do ponto θ1. O produto ρθ1.α corresponde à derivada
O k assim definido usa o valor da resistividade a 0º C, ρ0. de ρθ em θ1. A linearização da função implica que o declive
Normalmente a fórmula utiliza o valor a 20º, ρ20. da recta seja constante, ou seja os produtos ρθ.α, pelo que o

9
ARTIGO TÉCNICO

coeficiente de termorresistividade α deve variar


cv (β 0 + 20) β0 + θ c
inversamente com ρ. k= (ln )
ρ 20 β0 + θ z
Assim sendo, a eq. 15 deverá ser escrita sob a forma mais Eq. 15’
correcta:
Natureza do condutor Cu Al
Natureza do isolamento PVC XLPE PVC XLPE
cv ( β 0 + 20) β + θc Temperatura máxima de regime 70º 90º 70º 90º
k= (ln 0 ) Temperatura máxima de curto-circuito 160º 250º 160º 250º

ρ 20 β0 + θ z Tab.1 Temperaturas de regime e de curto-circuito


Eq. 15’
Contudo, a norma CEI IEC 60 986 – Short-circuit temperature
em que β0 é o inverso do coeficiente de termorresistividade limits of electric cables with rated voltages from 6 kV (Um =
α a 0ºC. 7,2 kV) up to 30 kV (Um = 36 kV), (Out. 2000), faz uma
distinção para o caso de cabos isolados a Policloreto de
A eq. 15’ está também em acordo com a norma CEI IEC 60 Vinilo, PVC:
949 – Calculation of thermally permissible short-circuit
PVC (PVC/B) Temperatura máxima de cc (ºC)
currents, taking into account non-adiabatic heating effects S ≤ 300 mm2 160
S > 300 mm2 140
(1ª ed. 1988).
Tab. 2 Temperaturas máx. de cc para o PVC
No entanto, normalização de alguns países usa a expressão:
Natureza do condutor Cu Al
Calor específico volumétrico 3,45.10-3 2,5.10-3
J/ºC.mm3
cv (β 20 + 20) β 20 +θ c Resistividade a 20º C 17,241.10-6 28,264.10-6
k= (ln ) Ω.mm
Resistividade a 0º C 15,885.10 -6
26.10-6
ρ 20 β 20 + θ z Ω.mm
(calculado)
Coeficiente de termorresistividade a 20ºC 3,93.10-3 4, 034.10-3
Eq. 15’’ /ºC
-3
Coeficiente de termorresistividade a 0ºC 4,265.10 4,386.10-3
/ºC
(calculado)

Ou seja, usando o valor de α a 20ºC. Tab. 3 Características físicas do cobre e do alumínio

A expressão de k pode também apresentar-se numa forma A Tab. 3 – a menos dos valores calculados – encontra-se
simplificada como segue: definida como na citada norma CEI IEC 60 949.
A temperatura final do condutor será feita igual à máxima de

cv (θc − ϑz ) curto-circuito e a inicial à máxima de regime permanente.


k=
ρeq Natureza do condutor
Natureza do isolamento PVC
Cu
XLPE PVC
Al
XLPE
Valor de k (Eq. 15’) 114,83 142,87 76,08 94,55
Valor de k (parágrafo 434.3.2 RTIEBT) 115 143 76 94
Eq. 19 Valor de k (artº 580º DL 740/74) 115 135 74 87

Tab. 4 Comparação dos valores de k


em que ρeq é um valor médio da resistividade, tomado para
uma temperatura intermédia. Como se pode apreciar pela Tab. 4 os novos valores de k
dados pelas RTIEBT estão bastante mais próximos dos
Cálculo dos KK valores teóricos calculados pela Eq. 15’ que os valores
anteriormente fornecidos pelo Regulamento de Instalações,
Vamos usar a eq. 15’ do k para calcular os seus valores para o célebre 740/74, valores estes que ainda são os do
os cabos mais utilizados: Regulamento de Redes de BT, o DR nº 90/84.

10
ARTIGO TÉCNICO Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008

Harmónicos em Instalações Eléctricas


Causas, efeitos e normalização

1. Análise harmónica O princípio de Fourier é basicamente o seguinte: sendo dado


um sinal (função) periódico representá-lo como série de
Jean Baptiste Joseph, barão de Fourier, publicou em Paris no senos e co-senos. Obviamente que se o sinal já for um seno
ano de 1822 a sua ópera magna “Théorie Analytique de la ou co-seno nada mais haverá para dizer (eventualmente, um
Chaleur”. Nesta obra Fourier demonstrava que a condução termo médio não-nulo); mas o nosso intuito é o de extrair
do calor nos corpos sólidos podia ser descrita através de uma informação de onde a haja, i.e., de funções não-sinusoidais.
série infinita de senos e co-senos. O trabalho estimulou Aos vários termos da série de Fourier, cada um deles de
investigações nos mais variados campos da ciência e da argumento múltiplo inteiro do período da função original,
técnica, tendo ressaltado que o tipo de formulação dá-se-lhes o nome de harmónicos, sendo a ordem destes
matemática empregada por Fourier era um pré-requisito precisamente o valor desse múltiplo.
para a solução de fenómenos que exibiam natureza
periódica. 2. Harmónicos em sistemas eléctricos
O método de exprimir funções periódicas em termos de
somas de senos e co-senos recebe o nome de Análise Um sistema é dito linear quando é possível descrevê-lo
Harmónica. mediante um conjunto de equações diferenciais lineares de
coeficientes constantes.
Isso significa que num sistema eléctrico linear, alimentado
com tensões sinusoidais, as correntes dos diversos ramos
serão igualmente sinusóides da mesma frequência (regime
permanente).
Caso tal não suceda, as correntes virão distorcidas e, assim,
também as tensões de alimentação se desviarão da forma
sinusoidal desejada, uma vez que a rede sempre comportará
uma impedância não desprezável.
De um modo geral estes harmónicos serão de ordem
superior, múltiplos inteiros da frequência fundamental, mas,
devido às características especiais dos sistemas não-lineares,
em especial para cargas assimétricas e variáveis no tempo,
poderão surgir outros harmónicos não-característicos, inter-
Fig. 1 Frontispício da Théorie Analytique de la Chaleur harmónicos,sub-harmónicos e mesmo um espectro contínuo.

11
ARTIGO TÉCNICO

No início dos anos 70 sobrevieram dois acontecimentos que De um modo geral os equipamentos geradores de
concorreram para a constante preocupação que desde então harmónicos, quando considerados individualmente,
o conteúdo harmónico das redes eléctricas tem suscitado provocam distorção em escala reduzida, exceptuando certas
entre a comunidade electrotécnica - o embargo petrolífero, grandes cargas não-lineares como fornos a arco,
que teve como consequência a busca da eficiência cicloconversores, sistemas electrónicos de grande potência
energética, e o domínio da técnica de controle de velocidade com regulação de fase, rectificadores não-controlados com
de motores com dispositivos do estado sólido. condensadores de filtragem (smoothing): é a extensão do
A proliferação de cargas não-lineares, que desde então se seu número que causa sérios problemas.
tem verificado, tem conduzido ao aumento do conteúdo
harmónico existente e consequentemente ao agravamento
das perturbações da rede eléctrica.
E U ɶ
Carga nao-poluente/
20
Z
10

0
carga sensível
3. Cargas responsáveis pela geração de harmónicos -1 0

-2 0
30

20

0. 00 5 0 .01 0.01 5 0 .02 0.02 5 10

Tensão da fonte U = E − ZI
-10

-20

-30

0.005 0.01 0.01 5 0.02 0. 025

I
20

15

Dentre as cargas geradoras de perturbação harmónica


10

-5

- 10

- 15

- 20

contam-se:
0 .002 0 .00 4 0.0 06 0.0 08 0 .01 0 .01 2 0.0 14 0 .0 16 0 .01 8 0.02

Carga não-linear

1. sistemas de rectificação na indústria, transportes, Fig. 2 Acção das cargas poluidoras sobre a qualidade da tensão

transporte de energia e equipamento electrodoméstico;


2. compensadores estáticos; De um modo geral os equipamentos geradores de
3. fornos a arco de CA e CC; harmónicos, quando considerados individualmente,
4. cicloconversores; provocam distorção em escala reduzida, exceptuando certas
5. inversores; grandes cargas não-lineares como fornos a arco,
6. iluminação com lâmpadas de descarga, por ex. cicloconversores, sistemas electrónicos de grande potência
fluorescentes, vapor de sódio, vapor de mercúrio, com com regulação de fase, rectificadores não-controlados com
halogéneos metálicos, etc; condensadores de filtragem (smoothing): é a extensão do
7. variadores de velocidade em motores de CC e CA; seu número que causa sérios problemas.
8. fontes comutadas (switch mode power supplies);
9. fontes ininterruptíveis (uninterruptible power supplies); Estas fontes de distorção, de acordo com o impacto dos seus
10. balastros electrónicos e de núcleo de ferro (saturados); efeitos, podem ser definidas como fontes identificadas,
11. equipamento electrónico de controle de processos, grandes cargas não-lineares, e fontes não-identificadas,
controladores lógicos programáveis (PLCs), etc; pequenas cargas dispersas mas numerosas.
12. computadores pessoais, impressoras, etc;
13. variadores de luminosidade (dimmers); 4. Efeitos dos harmónicos em redes eléctricas
14. equipamento de aquecimento por indução;
15. equipamento eléctrico de soldadura; Os efeitos negativos da ocorrência dos harmónicos podem
16. funcionamento de transformadores nos limites da ser integrados em duas categorias:
saturação;
17. geradores; - Efeitos instantâneos
18. motores de indução com rotor em gaiola; Etc. - Efeitos de longa duração

12
ARTIGO TÉCNICO

4.1.Efeitos instantâneos harmónica de corrente. Os harmónicos provocam aumento


da dissipação térmica e podem levar à deterioração do
Estes efeitos estão associados a falhas, mau funcionamento dieléctrico. De um modo geral, os condensadores estão
ou degradação do desempenho dos equipamentos ou habilitados para suportar sobretensões de exploração de
dispositivos devido à perda de sincronismo por alteração da longa duração de 10%, sobretensões de curta duração de
passagem por zero da onda de tensão. Os aparelhos de 20% e sobreintensidades devidas aos harmónicos de 30%. As
regulação, equipamento electrónico e computadores são- normas internacionais da CEI/IEC e da ANSI/IEEE especificam
lhes particularmente sensíveis. as características destes dispositivos, medidas de instalação,
Elevadas amplitudes dos harmónicos com frequências filtragem anti-ressonante e outras acções a tomar para o seu
próximas da frequência de controle podem perturbar o uso correcto.
funcionamento de relés detectores de picos usados em
grandes redes de energia para controle centralizado. 3. Disjuntores e fusíveis
Os harmónicos podem prejudicar a capacidade de
4.2.Efeitos de longa duração interrupção para o caso dos disjuntores mercê de elevados
di/dt no cruzamento por zero. A produção suplementar de
Estes efeitos são sobretudo de natureza térmica e estão calor nos solenoides dos relés magnéticos em disjuntores
ligados, pelas perdas adicionais e sobreaquecimento, ao magnetotérmicos, devida às frequências elevadas, podem
envelhecimento prematuro e mesmo avaria de reduzir até 20% o limiar de disparo destes aparelhos.
condensadores, máquinas rotativas e transformadores. Relativamente aos fusíveis, pela razão térmica do seu
princípio de funcionamento, parecem não ser afectados pela
Sir William Thomson, Lorde Kelvin, dizia que se começava a distorção harmónica.
saber alguma coisa de um assunto quando se era capaz de
descrevê-lo através de números. Observação muito judiciosa 4. Condutores
pois que sabendo-se dos problemas causados pelos Os harmónicos de corrente provocam sobreaquecimento
harmónicos a sua quantificação encontra-se longe de estar além do esperado pelo valor eficaz da corrente
feita. Daí que, para certos equipamentos, apenas se poderá essencialmente por duas ordens de razão: uma devido ao
dar uma informação qualitativa. efeito pelicular e ao efeito de proximidade, por um lado e,
Assim: por outro, em redes com neutro distribuído a produção de
harmónicos múltiplos de três, por se encontrarem em fase -
1. Variadores de velocidade são de sequência homopolar (sequência zero), somam-se em
Estes equipamentos são sempre geradores de harmónicos vez de se anularem dando origem a correntes elevadas no
mas igualmente sujeitos aos seus efeitos: múltipla detecção condutor neutro. Valores estes que podem atingir até 1,7
de cruzamento por zero, elevados valores de dv/dt, etc. vezes, mesmo mais, dependendo do valor dos harmónicos, a
corrente eficaz das fases. Geralmente estas instalações têm
2. Condensadores o neutro reduzido o que implica uma dupla preocupação: o
Estes aparelhos não são geradores de harmónicos mas sobreaquecimento do condutor e a elevada queda de tensão
podem constituir malhas para circuitos de ressonância o que nele produzida, questão preocupante se o sistema de
pode ser um problema grave para a integridade da rede. A protecção de pessoas escolhido for o TN-C, terra pelo
sua inserção deve pois merecer atenção e estudo cuidados. neutro, condutores neutro e protecção comuns. Nesta
Os condensadores por possuírem impedância inversamente situação, o sistema TN-C é altamente desaconselhável.
proporcional à frequência são amplificadores de distorção A duplicação da sua secção relativamente à das fases,

13
ARTIGO TÉCNICO

pressupondo o mesmo modo de instalação, é uma medida continuamente aplicada reduz o tempo médio de vida das
para obstar o problema do aquecimento excessivo lâmpadas de 47%. Relativamente às lâmpadas de descarga
referem-se o ruído audível e possíveis ressonâncias
5. Equipamentos e instrumentos electrónicos envolvendo as lâmpadas, balastros e condensadores usados
A detecção múltipla de passagem por zero, para sistemas na rectificação do factor de potência.
que usam a passagem por zero como medida do tempo,
pode provocar funcionamento desajustado dos sistemas. Em 7. Aparelhagem de medida e contadores
particular, todos os dispositivos que sincronizam com a Amperímetros e voltímetros que baseiam o seu
passagem por zero são considerados vulneráveis à distorção funcionamento nos valores eficazes das grandezas a medir
harmónica. Semicondutores comutados à passagem por zero são relativamente imunes à distorção da forma de onda dos
da tensão, para reduzir a interferência electromagnética, são sinais. Pelo contrário, os medidores sensíveis ao valor médio
também sensíveis à múltipla detecção e sujeitos a mau absoluto ou ao valor de pico e calibrados para indicar
funcionamento. Equipamento electrónico, como fontes de valores eficazes não devem ser empregados na presença de
tensão, que usam o pico da tensão de entrada para carregar distorção harmónica. Erros podem atingir valores de 13% e
condensadores e estabilizar o seu valor de saída, mais. Os contadores de energia de indução, os mais
dependendo do conteúdo harmónico da mesma, podem frequentes, sob condições de tensão e corrente distorcidas
encontrar-se a operar acima ou abaixo do valor de entrada podem apresentar erros de até –20%, subcontagem, e com
embora possa manter-se o valor eficaz nominal da tensão na tensão sinusoidal e corrente distorcida de até +5%,
mesma. Certos fabricantes especificam valores máximos sobrecontagem. Este tipo de contadores não são
para o factor de crista (entendido como o quociente entre o apropriados para instalações com forte distorção de tensão e
valor de pico do sinal e o seu valor eficaz, o que para corrente devido quer aos erros de contagem quer às
sinusóides vale 2 ) de, por exemplo, 2 ± 0,1 . possíveis ressonâncias mecânicas na gama dos 400 a 1000
Outro problema é a quebra de tensão (voltage notch) Hz. Os contadores electrónicos têm normalmente
produzida pela comutação de semicondutores em desempenho excelente em redes poluídas.
conversores (quebra de comutação). Estas quedas são
expressas através da taxa dv/dt. Podem produzir mau 8. Relés de protecção
funcionamento dos equipamentos e se cruzarem o zero As distorções nas formas de onda afectam o desempenho
interferem com os sistemas de detecção de zero como dos relés, podem causar mau funcionamento ou impedi-los
explicado antes. Harmónicos fraccionários, isto é, de funcionar quando devido. Variando o ângulo de fase
harmónicos cuja ordem não é um número inteiro, e sub- entre as componentes fundamental e harmónicas da tensão
harmónicos podem afectar televisores e monitores de vídeo. ou corrente pode significativamente alterar a característica
Tão-somente 0,5% de um harmónico fraccionário, amplitude de resposta dos relés.
referida à fundamental, produz modulação de amplitude do
sinal fundamental responsável pelo alargamento e 9. Máquinas rotativas
contracção periódicos da imagem num TRC (tubo de raios Os harmónicos aplicados a máquinas rotativas podem causar
catódicos). aquecimento, vibrações, binários pulsantes ou ruído. O
sobreaquecimento rotórico é o principal problema associado
6. Iluminação à distorção da tensão. As perdas nas máquinas eléctricas
Redução da vida útil das lâmpadas incandescentes uma vez dependem do espectro da tensão de alimentação. As perdas
que são sensíveis à sobretensão aplicada. Estudos referem no núcleo podem tornar-se significativas para motores de
que uma sobretensão,devidaa harmónicos,de valor eficaz 5% indução alimentados por inversores que produzem

14
ARTIGO TÉCNICO

harmónicos de frequências elevadas. O aumento da 11. Transformadores


temperatura de funcionamento dos motores reduzirá o O primeiro efeito dos harmónicos nos transformadores é o
tempo de vida médio dos mesmos. Neste âmbito, os aquecimento adicional gerado por efeito das correntes de
motores monofásicos são os mais afectados. A interacção Foucault induzidas no núcleo destas máquinas. Outros
entre o fluxo principal do entreferro, maioritariamente de problemas incluem eventual ressonância entre a indutância
componente fundamental, com os fluxos produzidos pelas do transformador e capacidades do sistema, tensões
correntes harmónicas darão lugar ao aparecimento de mecânicas nos isolamento dos enrolamentos e do núcleo por
binários pulsantes. No caso de motores com controle de efeito das variações de temperatura e eventuais pequenas
velocidade deverá ser feita uma análise de possíveis vibrações do núcleo laminado. O sobreaquecimento causado
ocorrências de fenómenos de ressonância mecânica, no pela presença dos harmónicos, correntes de remoinho ou de
sentido de precaver avarias, por efeito de amplificação dos Foucault, sendo proporcionais ao quadrado da frequência,
binários pulsantes. Os harmónicos também contribuem para obrigam à redução da potência estipulada (potência
a geração de ruído audível. nominal) dos transformadores. A norma IEEE/ANSI Standard
C57.110, “IEEE Recommended Practice for Establishing
10. Telecomunicações Transformer Capability when Supplying Nonsinusoidal Load
A proximidade de linhas de energia e de telecomunicações Currents“, estipula como máxima distorção à plena carga o
cria condições para interferências com estes sistemas, valor de 5%. Contempla ainda formas para determinar o
interferências motivadas pela irradiação de campos abaixamento da potência por efeito da presença dos
electromagnéticos gerados pelos harmónicos das redes de harmónicos. Para tal é definido um factor K dependendo da
potência. A frequência fundamental, para redes telefónicas, ordem do harmónico e do valor da corrente harmónica. As
normalmente não é causadora de problemas, como normas contemplam ainda a máxima sobretensão (valor
resultado da resposta em frequência do ouvido humano. A eficaz) permitida sendo de 5% à plena carga e de 10% para
indução pelos harmónicos de ruído nos canais de dados funcionamento em vazio (de referir que as correntes de
pode adulterar a informação transmitida. Existem vários Foucault são proporcionais ao quadrado da indução máxima
mecanismos pelos quais se pode gerar acoplamento entre as e, como tal, proporcionais ao quadrado do valor máximo da
redes de energia e de telecomunicações. Medidas para tensão aplicada). Por outro lado para transformadores com
atenuar os seus efeitos consistem na transposição das linhas secundários ligados em triângulo, as correntes de frequência
de energia (para redes aéreas), escolha de cabos com múltipla de três, por serem de natureza homopolar,
blindagens electromagnéticas, de pares trançados, realização podendo circular nestes enrolamentos, não se transmitem
de terras adequadas para os sistemas de energia, evitando para o primário o que pode dar indicação errónea da carga
assim a propagação de potenciais, e, naturalmente, a do transformador para medições efectuadas nos condutores
utilização de filtros adequados. destes enrolamentos.

15
ARTIGO TÉCNICO

5. Características das grandezas não-sinusoidais 5.2 Taxa de distorção

De acordo com a decomposição de Fourier qualquer De acordo com a definição da CEI, a taxa total de
grandeza periódica não-sinusoidal pode ser representada harmónicos, ou factor de distorção, representa a razão entre
por uma série infinita de termos composta de: o valor eficaz dos harmónicos, n ≥ 2, e o valor eficaz da
grandeza alternada.
1. uma sinusóide de frequência fundamental

∑Y
2
2. sinusóides cujas frequências são múltiplas da frequência
n
n =2
fundamental - harmónicos THD % =100 eq. 4

∑Y
3. eventualmente de um termo constante - componente 2
n
contínua n =1

A expressão que discrimina a série de Fourier de uma ou como


grandeza y(t) vem dada por:


Y 2
− Y 12
(
y (t ) = Y 0 + ∑ 2 Y n sen nω t − ϕ
n
) eq. 1 THD% = 100
Y
eq. 5
n =1

em que: A CIGRÉ, por outro lado, define a taxa global de distorção


como sendo:
Y0 - é o valor da componente contínua, normalmente nula ∞

∑Y
2
Yn - o valor eficaz do harmónico de ordem n n eq. 6
n =2
ω - a velocidade angular da frequência fundamental D % =100
ϕn - o esfasamento inicial do harmónico de ordem n Y 1

5.1 Valor eficaz de uma grandeza não-sinusoidal 5.3 Taxa individual harmónica

O valor eficaz (valor médio quadrático) de uma grandeza de Este parâmetro representa a razão entre o valor eficaz de um
forma de onda qualquer é obtido a partir da expressão geral harmónico de ordem n e o valor eficaz da grandeza
de definição alternada, segundo a CEI

1
T
2 eq. 2 Y eq. 7
∫ y (t )dt
n
= Hn % = 100
Y ef
T

∑Y
2
0
n
n =1

Em função dos valores eficazes dos harmónicos, a expressão


virá dada por: ou entre o valor eficaz do termo fundamental, segundo a
CIGRÉ

∑Y
2
Y = eq. 3
Hn % = 100 Y n
ef n
n =1
eq. 8
Y 1

16
ARTIGO TÉCNICO

6. Recomendações e normalização em Baixa Tensão e Média Tensão tais como:


- frequência
Os problemas potenciais levantados pela existência de - amplitude
harmónicos nas redes eléctricas levaram as organizações de - forma de onda
normalização a estudar meios de prover especificações que - cavas de tensão
servissem os utilizadores e engenheiros aquando da - sobretensões
instalação de equipamentos de conversão, rectificação e - tensões harmónicas
outros em redes que continham condensadores. - tensões inter-harmónicas
- simetria das tensões trifásicas
No âmbito da Comunidade Europeia, no sentido da - transmissão de sinais de informação pelas redes de
harmonização da legislação, sem a qual ficaria afectada a energia
livre troca de bens e serviços, várias directivas foram
publicadas tendentes a eliminar as diferenças na legislação O âmbito desta norma não é a compatibilidade
desses Estados. electromagnética mas sim a definição de um produto - as
características da tensão, especificando os seus valores
Uma dessas directivas é a nº 85/374 sobre responsabilidade máximos ou variações que, sob condições normais de
por produtos defeituosos. exploração, os consumidores esperarão encontrar em
qualquer ponto da rede.
O seu Artº 2º define electricidade como produto e como tal
tornou-se necessário definir as suas características. Daqui Para as redes de Baixa Tensão, relativamente às tensões
resultou a norma europeia NE/EN 50 160 - Características da harmónicas, nas condições normais de exploração, durante
Tensão Fornecida pelas Redes Públicas de Distribuição. cada período de uma semana, 95% dos valores eficazes de
cada tensão harmónica, valores médios em cada 10
A EN 50 160 CÉNÉLEC (NP EN 50 160) - define, no ponto de minutos, não devem ultrapassar os valores indicados na
fornecimento ao consumidor, as características principais da tabela abaixo.
tensão para as redes públicas de abastecimento de energia

Harmónicos ímpares
Harmónicos pares
Não múltiplos de 3 Múltiplos de 3

Ordem n Tensão relativa % Ordem n Tensão relativa % Ordem n Tensão relativa %

5 6,0 3 5,0 2 2,0


7 5,0 9 1,5 4 1,0
11 3,5 15 0,5 6 - 24 0,5
13 3,0 21 0,5
17 2,0
19 1,5
23 1,5
25 1,5

Nota: Os valores correspondentes aos harmónicos de ordem superior a 25 por serem geralmente fracos e muito imprevisíveis pelo facto dos
efeitos da ressonância, não são indicados nesta tabela

Tab. 1 Valores das tensões harmónicas nos pontos de fornecimento até à ordem 25 expressas em percentagem da tensão nominal UN

17
ARTIGO TÉCNICO

Além disso, a taxa total de distorção harmónica da tensão internacional CEI/IEC 60050(161) VEI, quando aplicável:
fornecida (até à ordem 40) não deverá ultrapassar 8%.
O limite à ordem 40 considerado na norma é convencional. • Nível de Emissão - máximo nível permitido para um
consumidor de uma rede pública ou para um aparelho
Para as redes de Média Tensão aplica-se a mesma tabela, (equipamento)
com os valores relativos referidos à tensão nominal UC e • Nível de Compatibilidade - nível máximo especificado de
com a observação de que o valor do harmónico de ordem 3, perturbação que se pode esperar num dado ambiente
dependendo da concepção da rede, pode ser muito mais • Nível de Imunidade - nível de perturbação suportado
baixo. Tensões mais elevadas para uma dada ordem poderão por um aparelho ou sistema
dever-se a efeitos de ressonância. • Nível de Susceptibilidade - nível a partir do qual um
aparelho ou sistema começa a funcionar
De igual modo, a taxa total de distorção harmónica, até à deficientemente.
ordem 40, está limitada a 8%.
Nível de perturbação (não definido no VEI)
A CEI/IEC 61 000 – a série 61 000 de normas CEI diz respeito
à compatibilidade electromagnética e compreende as
seguintes partes:

1. Generalidades. Considerações gerais, definições,


Nível
Nível dede Susceptibilidade
Susceptibilidade

terminologia, etc: 61000-1-x


2. Ambiente. Descrição do ambiente. Características do
ambiente onde vai ser instalado o equipamento. Níveis
de compatibilidade: 61 000-2-x Nível
Nível dede Imunidade
Imunidade
3. Limites. Limites de emissão definindo os níveis de
perturbação permitidos pelos equipamentos ligados à
rede de energia eléctrica. Limites de imunidade: 61000-
3-x Nível
Nível dede Compatibilidade
Compatibilidade

4. Ensaios e medidas. Técnicas de medida e técnicas de


ensaio de modo a assegurar a conformidade com as
outras partes da norma: 61000-4-x
5. Guias de instalação e de atenuação. Provê guias na Nível
Nível dede Emissão
Emissão
aplicação de equipamento tal como filtros, equipamento
de compensação, descarregadores de sobretensões, etc.,
para resolver problemas de qualidade da energia: 61000- 0

5-x
Fig. 3 Os vários níveis de perturbação para compatibilidade cargas
6. Normas gerais e de produto. Definem os níveis de
não-lineares/equipamento sensível
imunidade requeridos pelo equipamento em geral ou
para tipos específicos de equipamento: 61000-6-x

Os níveis de compatibilidade electromagnética são definidos


como segue de acordo o vocabulário electrotécnico

18
ARTIGO TÉCNICO

A norma CEI 61000-2-2 define os níveis de compatibilidade (à rede pública), VEI 161-07-15, e aos pontos de ligação
para as tensões harmónicas em BT de acordo com a tabela 2. interna no ambiente industrial em geral. Os níveis de
compatibilidade desta classe são idênticos aos das redes
Por sua vez a norma CEI 61000-2-4 estabelece os níveis de públicas, pelo que os equipamentos destinados à utilização
compatibilidade para redes industriais. Em termos dos nestas redes podem ser usados nesta classe de ambiente
ambientes electromagnéticos possíveis são definidas três industrial.
classes com exigências de compatibilidade diferentes.
Classe 3
Classe 1 Esta classe aplica-se somente aos pontos de ligação interna
Aplica-se a redes protegidas e tem níveis de compatibilidade dos ambientes industriais. Os níveis de compatibilidade são
mais baixos que os das redes públicas. Diz respeito à superiores aos da classe 2 para certas perturbações. Por ex.,
utilização de aparelhos muito sensíveis às perturbações da esta classe deve ser considerada quando uma das seguintes
rede eléctrica, por ex. instrumentação de laboratórios condições é satisfeita:
tecnológicos, certos equipamentos de automatização e de • a maior parte das cargas são alimentadas através de
protecção, certos computadores, etc. conversores
• existem máquinas de soldar
Classe 2 • frequentes arranques de motores de grande potência
Esta classe aplica-se aos PAC , ponto de acoplamento comum • as cargas variam rapidamente

Harmónicos ímpares não múltiplos de 3 Harmónicos ímpares múltiplos de 3 Harmónicos pares

Ordem do Tensão harmónica Ordem do Tensão harmónica Ordem do Tensão harmónica


harmónico % harmónico % harmónico %
n n n
5 6 3 5 2 2
7 5 9 1,5 4 1
11 3,5 15 0,3 6 0,5
13 3 21 0,2 8 0,5
17 2 >21 0,2 10 0,5
19 1,5 12 0,2
23 1,5 >12 0,2
25 1,5
>25 0,2 + 0,5 x 25/n

Tab. 2 Níveis de compatibilidade para as tensões harmónicas individuais em redes públicas de BT

Classe 1 Classe 2 Classe 3


Distorção harmónica total
5% 8% 10%

Tab. 3 Níveis de compatibilidade para harmónicos

19
ARTIGO TÉCNICO

Ordem Classe 1 Classe 2 Classe 3


n Tensão harmónica % Tensão harmónica % Tensão harmónica %
5 3 6 8
7 3 5 7
11 3 3,5 5
13 3 3 4,5
17 2 2 4
19 1,5 1,5 4
23 1,5 1,5 3,5
25 1,5 1,5 3,5
>25 0,2 + 12,5/n 0,2 + 12,5/n 5x
Tab. 4 Componentes da tensão harmónica, ímpares, não múltiplos de três

Ordem Classe 1 Classe 2 Classe 3


n Tensão harmónica % Tensão harmónica % Tensão harmónica %
3 3 5 6
9 1,5 1,5 2,5
15 0,3 0,3 2
21 0,2 0,2 1,75
>21 0,2 0,2 1
Tab. 5 Componentes da tensão harmónica, ímpares, múltiplos de três

Ordem Classe 1 Classe 2 Classe 3


n Tensão harmónica % Tensão harmónica % Tensão harmónica %
2 2 2 3
4 1 1 1,5
6 0,5 0,5 1
8 0,5 0,5 1
10 0,5 0,5 1
>10 0,2 0,2 1
Tab. 6 Componentes da tensão harmónica, ordem par

Ordem Classe 1 Classe 2 Classe 3


n Tensão inter- harmónica % Tensão inter-harmónica % Tensão inter-harmónica %

<11 0,2 0,2 2,5


11 a 13 inclusive 0,2 0,2 2,25
13 a 17 inclusive 0,2 0,2 2
17 a 19 inclusive 0,2 0,2 2
19 a 23 inclusive 0,2 0,2 1,75
23 a 25 inclusive 0,2 0,2 1,5
> 25 0,2 0,2 1
Tab. 7 Componentes da tensão inter-harmónica

20
ARTIGO TÉCNICO

7. Observações finais emitidas (níveis de emissão) pelos aparelhos e


equipamentos considerados quer individualmente quer
Como se pode verificar pela análise dos valores das tensões como conjunto de cargas ligadas à rede no ponto de
harmónicas dados pelas tabelas, os limites máximos acoplamento comum.
individuais e taxa total de distorção impostos pela norma
europeia NE/EN 50 160 coincidem com os valores das Assim a norma CEI/IEC 61000-3-2 especifica os limites para
normas CEI/IEC 61000-2-2 e 61000-2-4, classe 2 de as emissões de corrente harmónica para aparelhos com
ambientes industriais. corrente estipulada (corrente nominal) por fase até 16A e a
norma 61000-3-4 fixa os limites para emissão de correntes
De modo a assegurar que estes níveis de distorção não sejam harmónicas para aparelhos com corrente estipulada
atingidos, têm de ser fixados limites para as perturbações (corrente nominal) por fase superior a 16A, em baixa tensão.

21
DIVULGAÇÃO

Instituto Superior de Engenharia do Porto


Departamento de Engenharia Electrotécnica
Laboratório de Instalações Eléctricas
O laboratório de Instalações eléctricas do Departamento de Engenharia Electrotécnica do Instituto Superior de Engenharia do
Porto, enquadra as valências de Instalações Eléctricas, Telecomunicações, Domótica e Sistemas Automáticos de Segurança.

Apoia a leccionação de diversas unidades curriculares do curso de Licenciatura em Engenharia Electrotécnica - Sistemas
Eléctricos de Energia - Bolonha, da Pós-Graduação em Infra-Estruturas de Telecomunicações, Segurança e Domótica e da Pós-
Graduação em Eficiência Energética e Utilização Racional de Energia Eléctrica.

Está equipado com diversas bancadas de testes e ensaios e equipamentos modulares nas áreas técnicas anteriormente
referidas.

Possui diversos equipamentos de medição essenciais à execução de certificações ITED, equipamentos no âmbito da
certificação, exploração e manutenção das instalações eléctricas e equipamentos no âmbito da realização de auditorias
energéticas e da monitorização da qualidade de serviço.

22
ARTIGO TÉCNICO Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva, António Augusto Araújo Gomes
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009

Projecto de Instalações Eléctricas


Secção Técnica Vs Secção Económica de Canalizações Eléctricas

1. Introdução A abordagem dum projecto eléctrico eficiente sob o ponto


de vista energético deverá contemplar os seguintes pontos:
O projecto das instalações eléctricas deve responder a a) Minimização de perdas no sistema de distribuição
critérios de ordem técnica, nomeadamente no que se refere b) Redução das perdas devido ao desperdício na utilização
à garantia da protecção das pessoas e instalações, mas do equipamento eléctrico
contrapõem-se necessariamente os aspectos de ordem c) Redução das perdas associadas aos problemas
económica; resultará do compromisso entre estas duas associados à qualidade da energia
posições contrastantes a definição daquela que será a d) Prever as instalações para incorporarem aparelhagem de
solução mais acertada para uma dada instalação. contagem e medida para fins de monitorização e de
realização de auditorias eléctricas
No capítulo dos custos associados a uma instalação eléctrica
tem um peso crucial a energia desperdiçada durante o 2. A Secção Técnica dos Condutores
funcionamento da mesma, duração esta que pode em média
considerar-se compreendida entre 20 e 30 anos. A definição técnica de canalizações em instalações de
utilização de energia eléctrica, deve ser realizada de acordo
Este desperdício tem duas origens: perdas excessivas por com o definido nas Regras Técnicas de Instalações Eléctricas
ineficiente concepção das instalações e selecção não de Baixa Tensão, e assenta na verificação das seguintes
criteriosa de equipamentos que utilizam a energia eléctrica e condições:
malbaratamento da energia eléctrica por funcionamento - Critério do Aquecimento;
além do necessário. - Critério da protecção contra sobreintensidades

Põe-se, portanto, também neste domínio a questão da 3. A Secção Económica dos Condutores Calculada a Partir
eficiência energética. da Norma CEI/IEC60287-3-2

Assim, o responsável pela concepção de uma instalação Os métodos de cálculo económico dos condutores levam em
eléctrica deverá procurar não somente a solução técnica linha de conta não somente o custo inicial dos mesmos e da
funcional da mesma mas preocupar-se que essa solução seja sua instalação mas também os custos associados à
igualmente eficiente do ponto de vista energético. exploração, isto é, os custos das perdas por efeito Joule.

23
ARTIGO TÉCNICO

A norma CEI/IEC 60 287-3-2 – Electric cables – Calculation of A norma considera uma temperatura média igual a:
the current rating –Economic optimization of power cable θ − θa
size (CEI, 1995) apresenta duas metodologias de cálculo – θm = + θa (3)
3
uma baseada na determinação de gamas económicas de
corrente, para diferentes cabos empregados, e uma outra, Onde:
conhecida a corrente de projecto, que determina a secção
θ = temperatura correspondente a Iz
que minimiza a função custo total.
θa = temperatura ambiente
T = nº de horas de utilização das perdas
CT = CI + CE (1)

Onde: O número de horas de utilização das perdas é dado pela


CT – custo total relação:
CI – custo de investimento 8760
I 2 (t )
CE – custo de exploração T = ∫ Im2 á x
dt (4)
0

Perda de energia no 1º ano:


Na Fig. 1 podemos apreciar um diagrama de carga diário, que
traduz a variação da corrente com o tempo.
E=
2
(Imax × R × L × Np × Nc )T (2)
60

50
Onde:
40
Imax – corrente de pico do diagrama
30
R – resistência CA por unidade de comprimento
20
L – comprimento da canalização
10
Np – nº de condutores sob idênticas condições
0

Nc – nº de circuitos idênticos
T – nº de horas de utilização das perdas
Figura 1 - Diagrama de carga I(t)

A resistência unitária R é definida através do seu valor em CC


A Fig. 2 representa o chamado diagrama normalizado π(t)
e leva em consideração quer os efeitos pelicular e de
que resulta do precedente dividindo-o por Imáx. A ordenada
proximidade – yS e yP, quer as perdas em ecrãs metálicos e
máxima passa a ser obviamente 1.
armaduras - λ1 e λ2.
1,2

1
Em virtude da variação da corrente, factor de carga≠1, e da
0,8
possibilidade de incremento da mesma, a temperatura do
0,6
condutor será diferente da correspondente à corrente
0,4
máxima admissível θ(θz).
0,2

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

Figura 2 - Diagrama normalizado π(t)

24
ARTIGO TÉCNICO

A Fig. 3 corresponde ao diagrama π2(t). Custo da potência de perdas:

1,2

1
CEP = (Imax
2
× R × L × N p × Nc ) × D (9)
0,8

0,6
Onde:
0,4
CEP = custo de exploração por solicitação de potência
0,2

adicional
0

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 D = custo anual da potência


Figura 3 - Diagrama normalizado π2(t)

Custos de exploração (1º ano):


Como se trata da elevação ao quadrado de valores quando
muito iguais a 1 virá mais cavado.
CE = (Imax
2
× R × L × Np × Nc )(TP + D) (10)
8760

T = ∫ π 2 (t ) dt (5)
Considerando-se os pagamentos feitos no fim do ano, os
0

custos no iésimo ano virão dados por:


O nº de horas de utilização das perdas é referido ao período
de 8760 h (1 ano). A estimação deste valor vem
normalmente dada através da fórmula: CEi = CE[(1 + a) 2 (1 + b)]i −1 (11)

T = µ × 8760 (6) Admitindo-se crescimento percentual anual da carga de a e


dos custos de energia e potência de b.

µ = p × fc + (1 − p) × fc2 (7)
Há duas abordagens para lidar com pagamentos feitos em

Onde: tempos diferentes, o investimento no início da exploração da


instalação e os custos durante o tempo de vida da mesma:
µ = factor de carga das perdas
- método das anuidades ;
fc = factor de carga
- método da actualização.
p = coeficiente

(igual a 0,3 - redes de transporte, e igual a 0,2 - redes de


distribuição (IEEE, 1990) O método da actualização é mais geral e é o usado na norma.

(1 + a)2 (1 + b) (12)
Custo das perdas no 1º ano: r=
(1 + i)
1− r N
CEE = (Imax
2
× R × L × Np × Nc )T × P (8)
Q= (13)
1− r

Onde: Onde:

CEE= custo de exploração por perda de energia no 1º ano i = taxa de actualização

P = custo do Wh N = nº de anos de vida média da instalação

25
ARTIGO TÉCNICO

4. Método de fixação dos valores máximos de perdas


Q admissíveis nas canalizações
CEa = ( I 2
× R × L × N p × Nc )(TP + D) × (14)
max
1+ i

Este método é preconizado pela Região Administrativa de


Onde:
Hong-Kong, que através do Departamento Eléctrico e
CEa = custo de N anos de exploração da instalação, referidos
Mecânico do Governo (EMSD) definiu uma abordagem no
ao início do empreendimento, isto é, actualizados.
domínio da baixa tensão, até 2008 de carácter voluntário,
mas que a partir de 2009 será integrado na legislação,
Seja F uma variável auxiliar dada por: tornando-se, por conseguinte de carácter obrigatório (EMSD,
1997).
Q
F = Np × Nc (TP + D) × (15)
1+ i
A metodologia sugerida pelo presente método conduziu a
resultados significativos no que se refere à poupança de
A função custo total virá então com a forma:
energia eléctrica, comprovados pelo EMSD, no decorrer de
estudos realizados nos últimos 30 anos, junto dos
CT = CI + I máx
2
RLF (16)
operadores que voluntariamente adoptaram este

ρ20 × B 1 + α20 (θm − 20) procedimento (EMSD, 1997), (Hui, 2003).
R= × 106 Ω/m (17)
S
A metodologia consiste em fixar os valores máximos de
B = (1 + y s + y p )(1 + λ1 + λ2 ) (18) perdas admissíveis nas canalizações, ou seja, a de impor
rendimentos mínimos das linhas.

Onde:
Para além das condições técnicas de temperatura e queda de
ρ20 = resistividade do condutor a 20º C em CC
tensão a máxima perda de potência passa a ser critério de
θm = temperatura média
dimensionamento.

Admitindo um custo de investimento dado por: Consideram-se duas situações:


- circuitos trifásicos lineares equilibrados;

CI = ( A × S + C ) × L (19) - trifásicos não-lineares.

1º caso - Circuito trifásico linear equilibrado


Onde:

A = termo dependente da secção do cabo


Potência transportada e perdas nos condutores do circuito:
C = termo constante

P = 3 × U c × I b × cos ϕ (21)
A secção económica virá dada pela fórmula:

p = 3 × I b2 × r × L
F × ρ20 × B 1 + α20 (θm − 20) (22)
Sec = 1000 × Imáx mm2 (20)
A

Onde:
A secção económica será normalizada para o valor comercial
Ib = corrente do circuito
mais próximo.

26
ARTIGO TÉCNICO

L = comprimento dos condutores α0 = coeficiente de termorresistividade a 0ºC


r = resistência em CA por metro de canalização à
temperatura de funcionamento Donde:

Rc 1 + α0 × θc 234, 4 + θc (27)
O valor percentual pr das perdas vem dado pela relação: = =
Rz 1 + α0 × θz 234, 4 + θz
3 × I b2 × r × L
pr = (23)
3 × U c × I b × cos ϕ 2º caso - Circuito trifásico não-linear, equilibrado, com
valores conhecidos de corrente Ib e de taxa de distorção
Donde, definido o valor percentual que se admite para as
harmónica THD
perdas, se determinará o máximo valor para a resistência r.

A potência aparente transportada pelo circuito será dada


pr ×U c × cos ϕ ×1000
rmáx = mΩ/m (24) por:
3 × Ib × L

Encontrado o valor de rmáx, as tabelas fornecerão a secção a S = 3 × Uc × Ib (28)

utilizar.
Onde:


Correcção das perdas nos cabos devido às diferentes
temperaturas de funcionamento.
Ib = ∑I 2
h = I12 + I22 + I32... (29)
h =1


A temperatura do condutor pode ser aproximada através da ∑I 2
h
h= 2
seguinte fórmula: THD = (30)
I1
Ib2
2 ( z
θc = θa + θ − 30) (25)
I zT
Ib = I1 1 + THD2 (31)

Onde:
Ib
θc = temperatura do condutor I1 =
θa = temperatura ambiente 1 + THD2 (32)

IzT = corrente máxima admissível no cabo dada pelas tabelas

θz = temperatura máxima admissível nos condutores Admitindo baixa distorção da tensão, o que é razoável, a
potência activa transportada terá por expressão:
A resistência à temperatura θc pode ser expressa a partir da
relação: P = 3 × Uc × I1 × cos ϕ (33)

Onde:
Rc = R0 (1 + α0 × θc ) (26)
I1 = componente fundamental da corrente
cos ϕ = factor de potência do circuito
Onde:

R0 = resistência do condutor a 0º C

27
ARTIGO TÉCNICO

Desprezando os efeitos pelicular e de proximidade, as perdas 5. Conclusões


nos condutores, incluindo o condutor neutro, será:
A busca da eficiência e da utilização racional de energia
p = (3 × Ib2 + m × IN2 ) × r × L (34) (URE), particularmente nos sistemas eléctricos, leva a
considerar todos aqueles aspectos que concorrem para

IN = 3 × I + I + I ...
2
3
2
6
2
9
(35) realizar esse fim. A consideração do rendimento das
canalizações, já contemplada nas áreas do transporte e
S (36) grande distribuição, faz todo o sentido aplicada às redes de
m= F
SN baixa tensão, até pela sua enorme extensão.
Que é a relação entre as secções de fase e de neutro.
Em Hong-Kong, onde o sistema de fixação de perdas
máximas se encontra implementado há alguns anos, o
As perdas percentuais (pr) na canalização virão então dadas
por: dimensionamento económico de condutores insere-se num
programa mais vasto de URE em edifícios de serviços,

pr =
(3× I 2
b )
+ m × I N2 × r × L
contemplando vertentes tais como instalações de
3 × U c × I1 × cos ϕ (37)
iluminação, sistemas de aquecimento, ventilação e ar

E a máxima resistência unitária a atribuir ao cabo: condicionado, transporte por elevadores, monta-cargas e
escadas rolantes e o desempenho energético de edifícios
pr × 3 × Uc × I1 × cos ϕ × 1000 apresentando resultados tangíveis significativos.
rmáx =
(3 × I )× L
(38)
2
b + m× I 2
N
Fontes de Informação Relevantes
As tabelas especificarão a secção do cabo a considerar. [CEI, 1995] CEI IEC 60 287-3-2, Electric cables, Calculation of
the current rating – Part 3 – Section 2, Suiça, 1995.
A correcção de temperatura poderá ser feita mediante a
fórmula aproximada seguinte: [Cooper, 1997] Copper Development Association, Electrical
Energy Efficiency, U.K., 1997.
(3 × I + m × I )
2
[EMSD, 1997] Electrical and Mechanical Services Department
(θ − 30)
b N
θc = θa + (39)
( )
2 z
(EMSD), Code of Practice for Energy Efficiency of Electrical
3 × I zT
Installations, Hong-Kong, 2005.
Alguns valores de referência para pr: [Anders, 1997] Anders J George, Rating of Electric Power
Cables, McGraw-Hill, Nova Iorque, 1997.
Tabela I - Valores máximos das perdas percentuais para diferentes
tipos de circuitos [Hui, 2003] Hui, Sam C. M., Energy Efficiency and

Tipo de circuito pr Environmental Assessment for Buildings in Hong Kong,

Ligações entre transformadores de distribuição Máx. MECM LEO Seminar, Advances on Energy Efficiency and
e Quadros Gerais 0,5% Sustainability in Buildings, pag, 21-22, 2003, Kuala Lumpur,
Canalizações entre Quadros Gerais e Quadros 1,5% Malaysia.
Parciais
[Silva, 2009] Silva H.J., Gomes A.A., Ramos S.C., “A definição
Circuitos terminais: iluminação, tomadas ou 1% do valor máximo das perdas nas canalizações eléctricas como
outros usos com correntes acima de 32 A
medida de eficiência energética”, JLBE09 - Jornadas Luso-
Colunas montantes e entradas, (até 2,5% para 1,5%
utilizações domésticas) Brasileiras de Ensino e Tecnologia em Engenharia 2009, 10 a
13 de Fevereiro de 2009, Instituto Superior de Engenharia do
Alimentações de grandes cargas como motores 2,5%
de potência apreciável Porto, Porto, Portugal.

28
ARTIGO TÉCNICO José António Beleza Carvalho
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009

Protecção das Pessoas em Instalações Eléctricas de Baixa Tensão


Cálculo dos Dispositivos de Protecção
RESUMO 1. CÁLCULOS NO REGIME DE NEUTRO “TN”

O correcto dimensionamento dos dispositivos de protecção Este regime de neutro caracteriza-se por todas as massas da
das pessoas contra contactos indirectos em instalações instalação serem ligadas ao ponto da alimentação ligado à
eléctricas de Baixa Tensão (BT), é uma das condições terra, próximo do transformador ou do gerador da
fundamentais para que uma instalação possa ser utilizada e alimentação da instalação, por meio de condutores de
explorada com conforto e em perfeitas condições de protecção.
segurança. De acordo com a normalização em vigor, é,
também, uma das condições essenciais para a certificação ou O ponto da alimentação ligado à terra é, em regra, o ponto
licenciamento das instalações eléctricas por parte das neutro.
entidades ou organismos responsáveis, a quem estão
atribuídas estas competências. De acordo com a legislação em vigor, nas instalações fixas
pode-se utilizar um só condutor com as funções de condutor
A função dos dispositivos de protecção das pessoas contra os de protecção e de condutor neutro (designado por condutor
contactos indirectos será o corte automático da alimentação PEN) desde que o condutor de protecção tenha uma secção
da instalação eléctrica, que, em caso de defeito, e em não inferior a 10mm2, se de cobre ou a 16mm2, se de
consequência do valor e da duração da tensão de contacto, alumínio e, a parte da instalação comum (esquema TN-C)
evitará o risco de se produzirem efeitos fisiopatológicos não esteja localizada a jusante de um dispositivo diferencial.
perigosos nas pessoas. Esta medida de protecção obriga à
coordenação entre o Regime de Neutro (ou Esquema de Este regime de neutro encontra-se representado na Figura 1.
Ligação à Terra (ELT)) adoptado na instalação, e as
características dos condutores de protecção e dos respectivos Neste regime de neutro um defeito de isolamento é similar a
dispositivos de protecção. um curto-circuito entre fase e neutro, e o corte deve ser
assegurado pelo dispositivo de protecção contra curtos-
Neste artigo são apresentados alguns exemplos de cálculo circuitos, com um tempo máximo de corte especificado que
dos dispositivos de protecção das pessoas contra contactos é função da tensão limite convencional (UL) admissível para
indirectos, de acordo com o Regime de Neutro adoptado o local da instalação, ou seja, 25V ou 50V em corrente
para a instalação eléctrica. alternada, sendo o valor definido pela classificação do local
quanto às influências externas.

PE

Figura 1: Regime terra pelo neutro, ou esquema TN (Fonte Schneider Electric)

29
ARTIGO TÉCNICO

Segundo a norma CEI 364 o tempo de corte do dispositivo de A curva deste dispositivo de protecção é apresentada na
protecção deverá ser de 0,4s para UL=50V e, 0,2s para figura 3.
UL=25V.

Seguidamente, apresenta-se um circuito de uma instalação


eléctrica de BT, trifásica (400V), onde é adoptado o regime
de neutro TN-C, ou seja, a função de neutro e de protecção
estão combinadas num único condutor (PEN).

Este circuito é apresentado na figura 2.

Figura 3: Curva de disparo TM250D.


(Fonte Schneider Electric)

Como se pode verificar, a actuação do disparador magnético


deste disjuntor poderá ser regulada para funcionar entre 5 a

Figura 2: Exemplo de cálculo. Regime TN-C 10 vezes o valor nominal (In), ou seja, entre 1250 e 2500A.

O circuito tem um comprimento de 40m, a secção do Neste regime de neutro a impedância da malha de defeito Zs
condutor de fase é de 95mm2 e a do condutor de protecção será:
é de 50mm2. K .U 0
Zs = (1)
Id
O circuito está protegido com disjuntor NS 250N (Merlin
Gerin) equipado com disparador magnetotérmico TM 250 em que K toma o valor de 0,8 para instalações eléctricas, U0
curva D. é a tensão simples nominal da instalação e Id é a corrente de
defeito.
Pretende-se verificar se neste regime de neutro, a protecção
das pessoas contra contactos indirectos está efectivamente Para que a protecção contra curtos-circuitos também
garantida com este dispositivo de protecção. garanta a protecção contra contactos indirectos, é necessário
para os disjuntores que:
Uma condição fundamental para o correcto K .U 0
dimensionamento do dispositivo de protecção, é conhecer a Zs ≤ (2)
Im
sua curva de actuação, de maneira a obter-se o valor da
corrente correspondente ao limiar de funcionamento do em que Im é a corrente de actuação do disparador magnético
disparador magnético do aparelho de protecção. do dispositivo.

30
ARTIGO TÉCNICO

Para a protecção por fusíveis, é necessário que: Para o circuito apresentado na figura 2, o comprimento
máximo protegido do circuito, para uma regulação do
K .U 0
Zs ≤ (3) disparador magnético de 5xIn (Im=1250A) será de:
If
0,8.230.95
em que If é a corrente convencional de funcionamento do
l≤ ≤ 214m (9)
0,0225.(1 + 19).1250
fusível.
para uma regulação do disparador magnético de 10xIn

Atendendo a que neste regime de neutro um defeito é (Im=2500A) será de:

efectivamente um curto-circuito entre uma fase e o 0,8.230.95


condutor de protecção, a impedância da malha de defeito l≤ ≤ 107 m (10)
0,0225.(1 + 19).2500
será então:

Atendendo que o comprimento do circuito é de 40m,


l l
Z s ≈ Rs = ρ f + ρ PE (4) verifica-se que em qualquer dos casos o disjuntor garante a
sf s PE
protecção das pessoas contra contactos indirectos.

em que ρf é a resistividade de condutor de fase, ρPE a


resistividade do condutor de protecção, l é o comprimentos No entanto, deve-se também verificar se o tempo de
dos condutores, sf a secção do condutor de fase e sPE a actuação do dispositivo é compatível com o especificado
secção do condutor de protecção. pelas curvas de segurança, para a tensão limite convencional
definida para o local da instalação, que como já foi referido,

Considerando que os condutores de fase e de protecção têm segundo a norma CEI 364 deverá ser de 0,4s para UL=50V e,

as mesmas características, a impedância da malha de defeito 0,2s para UL=25V.

será então:
Assim, torna-se importante calcular o valor da tensão de
l
Z s ≈ Rs = ρ .(1 + m) (5) contacto em caso de defeito.
sf
U c = RPE .I d
em que ; (11)

em que:
sf (6) K .U 0 K .U 0
m= Id = =
s PE Zs i (12)
ρ . .(1 + m)
O comprimento máximo protegido do circuito será então, sf
para disjuntores: então:

K .U 0 .s f
K .U 0 .s f U c = RPE . (13)
l≤ (7) ρ .l.(1 + m)
ρ .(1 + m).I m
l
e para fusíveis será de: RPE = ρ
s PE
K .U 0 .s f m
l≤ (8)
U c = K .U 0 .
ρ .(1 + m).I f 1+ m (14)

31
ARTIGO TÉCNICO

Para o exemplo em consideração, representado na figura 2, Neste regime de neutro, a presença de um primeiro defeito
tem-se: não origina valores de tensão de contacto perigosos para as
pessoas.
1,9
U c = 0,8 * 230 * = 120,6V (15)
1 + 1,9 No entanto, é obrigatório a presença de um Controlador
Pelas curvas de segurança, e para a tensão limite Permanente de Isolamento (CPI), de maneira a sinalizar o
convencional de 25V, o dispositivo deve actuar num tempo defeito e permitir a sua eliminação o mais rapidamente
inferior a 180ms. possível.

Como se pode verificar na curva de funcionamento do A manifestação de um segundo defeito, sem que tenha sido
disjuntor, apresentada na figura 3, o dispositivo actuará num eliminado o primeiro, implicaria agora a existência de
tempo inferior ao referido e compatível com o especificado tensões de contacto muito perigosas, devendo ser tomadas
pela norma CEI 364. as medidas adequadas de forma a evitar riscos de efeitos
fisiopatológicos perigosos nas pessoas susceptíveis de ficar
Assim, para esta instalação, e para este regime de neutro, em contacto com partes condutoras simultaneamente
pode-se garantir que o disjuntor apresentado protege acessíveis.
efectivamente as pessoas contra contactos indirectos.
Como tal, a protecção das pessoas neste regime de neutro é
orientada para o dimensionamento dos dispositivos de
protecção actuarem na situação de segundo defeito.

Figura 4: Painel de regulação do relé electrónico TM250D. Também se devem eliminar todas as situações que possam
(Fonte Schneider Electric) contribuir para diminuir a fiabilidade do sistema. Assim, não
se deve distribuir o condutor neutro, pois poderá correr-se o
2. CÁLCULOS NO REGIME DE NEUTRO “IT”
risco de manifestar-se um segundo defeito sem que o
primeiro tenha sido sinalizado, actuando a protecção e
Este esquema de ligação à terra apresenta como principal
perdendo-se todas as vantagens inerentes à utilização deste
vantagem, a garantia de continuidade de serviço em
regime de neutro.
presença de um primeiro defeito de isolamento.

Figura 5: Esquema de Ligação à Terra IT. (Fonte Schneider Electric)

32
ARTIGO TÉCNICO

Este regime de neutro caracteriza-se por as partes activas da O circuito tem um comprimento de 76m, a secção do
instalação eléctrica serem isoladas da terra ou ligadas a esta condutor de fase e de protecção é de 25mm2. O circuito está
através de uma impedância de valor elevado. As massas dos protegido com disjuntor especifico para protecção de saídas
aparelhos de utilização são ligadas à terra, individualmente motor NS 80H (Merlin Gerin) equipado com disparador
ou por grupos. “motor” integrado MA 80.

A situação mais comum nas instalações onde é adoptado Pretende-se verificar se neste regime de neutro, a protecção
este regime de neutro, é todas as massas, incluindo as da das pessoas contra contactos indirectos está efectivamente
fonte, estarem ligadas a um mesmo eléctrodo de terra garantida com este dispositivo de protecção.
(figura 5). Assim, as condições de eliminação da corrente de
um segundo defeito são então garantidas pelas mesmas Também no caso deste regime de neutro é fundamental
condições indicadas para o esquema TN. para o correcto dimensionamento do dispositivo de
protecção, conhecer a curva de actuação do dispositivo, de
Neste regime de neutro IT, a protecção das pessoas contra maneira a obter-se o valor da corrente correspondente ao
contactos indirectos é fundamentalmente garantida por dois limiar de funcionamento do disparador magnético do
tipos de equipamentos: aparelho de protecção.
• pelos CPI, essencialmente destinados à vigilância do
primeiro defeito, embora possam também ser utilizados A curva deste dispositivo de protecção é apresentada na
como dispositivos de protecção nas situações em que for figura 7.
necessário provocar o corte ao primeiro defeito;
• pelos dispositivos de protecção contra sobreintensidades
(disjuntores e fusíveis). Estes dispositivos são utilizados
nas situações em que ao segundo defeito são aplicadas
as condições de protecção definidas para o esquema TN;

Seguidamente, apresenta-se um circuito de uma instalação


eléctrica de BT, trifásica (400V), onde é adoptado o regime
de neutro IT, sem neutro distribuído (situação comum neste
regime de neutro) . Este circuito é apresentado na figura 6.

Figura 7: Curva de disparo MA80.


(Fonte Schneider Electric)

Como se pode verificar, a actuação do disparador magnético


deste disjuntor verifica-se entre 6 a 14 vezes o valor nominal
Figura 6: Exemplo de cálculo. Regime IT (In=80A), ou seja, entre 480 e 1120A.

33
ARTIGO TÉCNICO

Também neste regime de neutro, tal como no regime TN, Para uma regulação do disparador magnético de 14xIn
um defeito é efectivamente um curto-circuito entre uma (Im=1120A) será de:
fase e o condutor de protecção.
0,8. 3.230.25 (22)
l≤ ≤ 79m
Então, para este circuito, sem neutro distribuído, a 2.0,0225.(1 + 1).1120
impedância da malha de defeito será:
Atendendo que o comprimento do circuito é de 76m,
K . 3.U 0
Zs ≤ (16) verifica-se que para qualquer regulação do disparador MA (6
Im a 14xIn), o disjuntor garante a protecção das pessoas contra
em que Im é a corrente de actuação do disparador magnético contactos indirectos.
do dispositivo.
No entanto, tal como no regime de neutro TN, também se
Neste regime de neutro considera-se como boa aproximação deve verificar se o tempo de actuação do dispositivo é
que ao segundo defeito, o comprimento da malha de defeito compatível com o especificado pelas curvas de segurança,
é duplo em relação ao primeiro defeito. para a tensão limite convencional definida para o local da
instalação, que como já foi referido, segundo a norma CEI
Então, a impedância da malha de defeito será neste caso: 364 deverá ser de 0,4s para UL=50V e, 0,2s para UL=25V.

l l
Z s ≈ Rs = 2 * ( ρ f + ρ PE ) (17) Assim, torna-se importante calcular o valor da tensão de
sf s PE
contacto em caso de segundo defeito.
Considerando também que os condutores de fase e de
protecção têm as mesmas características, a impedância da U c = RPE .I d (23)
malha de defeito será então:
em que, através de uma dedução idêntica à efectuada para o
l
Z s ≈ Rs = 2 * ( ρ .(1 + m)) (18) regime de neutro TN, obtêm-se:
sf
em que ; m (24)
U c = K . 3.U 0 .
sf 2.(1 + m)
m= =1 (19)
s PE
Para o exemplo em consideração, representado na figura 6,
O comprimento máximo protegido deste circuito será então, tem-se:
para disjuntores:
1
U c = 0,8 * 3 * 230 * = 79,7V (25)
K . 3.U 0 .s f 2 * (1 + 1)
(20)
l≤
2.ρ .(1 + m).I m Pelas curvas de segurança, e para a tensão limite
convencional de 25V, o dispositivo deve actuar num tempo
Para o circuito apresentado na figura 6, o comprimento inferior a 280ms.
máximo protegido do circuito, para uma regulação do
disparador magnético de 6xIn (Im=480A) será de: Como se pode verificar na curva de funcionamento do
disjuntor, apresentada na figura 7, o dispositivo actuará num
0,8. 3.230.25
l≤ ≤ 184m (21) tempo inferior ao referido e compatível com o especificado
2.0,0225.(1 + 1).480 pela norma CEI 364.

34
ARTIGO TÉCNICO

Assim, também para esta instalação, e para este regime de como tensão de contacto limite, 25V ou 50V. Assim, torna-se
neutro, pode-se garantir que o disjuntor apresentado importante calcular o valor da tensão de contacto em caso
protege efectivamente as pessoas contra contactos de defeito e, através da curva de segurança dos 25V ou 50V,
indirectos. conforme o caso, obter o tempo máximo de actuação do
dispositivo para que a tensão de contacto nunca ultrapasse o
3. CONCLUSÕES valor da tensão limite convencional.

Neste artigo apresentou-se dois exemplos de cálculo e Este facto obriga, também, a conhecer muito bem as curvas
dimensionamento dos dispositivos de protecção das pessoas de funcionamento dos dispositivos de protecção, para
contra contactos indirectos. Um exemplo para o regime de verificar se esta regra do tempo de actuação também é
neutro TN, e outro para o regime de neutro IT. garantida. No caso dos disjuntores, a zona de funcionamento
magnético dos disparadores é quase instantânea, não sendo
Atendendo a que nestes regimes de neutro, e para o caso a regra do tempo de actuação problemática para este tipo de
dos exemplos apresentados, uma situação de defeito é equipamento de protecção.
sempre uma situação de curto-circuito entre um condutor
activo e a massa do equipamento de utilização, ou seja, um O facto torna-se mais importante quando os dispositivos de
curto-circuito entre um condutor activo e o condutor de protecção são fusíveis.
protecção, são, normalmente, os dispositivos de protecção
contra sobreintensidades que terão a função de também O regime de neutro TT, para o dimensionamento dos
garantir a protecção das pessoas contra contactos indirectos. dispositivos de protecção das pessoas contra contactos
indirectos, não obriga necessariamente a conhecer todas as
Na realidade, nos exemplos que são apresentados, o que se características da instalação.
teve que fazer foi verificar se realmente o dispositivo de
protecção contra curtos-circuitos também verificava as A análise do dimensionamento dos dispositivos de protecção
condições necessárias à protecção das pessoas contra para o regime TT será efectuada num próximo artigo.
contactos indirectos.

Bibliografia
Este facto foi analisado através da verificação do máximo
[1] Regras Técnicas das Instalações Eléctricas de Baixa Tensão" -
comprimento protegido.
(Decreto-Lei n.º 226/2005 de 28 de Dezembro)

Efectivamente, nestes dois regimes de neutro, para se poder


[2] Técnicas e Tecnologias em Instalações Eléctricas" - L. M. Vilela
dimensionar correctamente os dispositivos de protecção, é
Pinto – Edição Certiel
fundamental conhecer bem as características do circuito,
nomeadamente comprimento da instalação, tipo de [3] Instalações Eléctricas de Baixa Tensão. A Concepção e o
condutores, trajecto dos cabos, secção dos condutores, etc. Projecto" – Aulas de IELBT, José Beleza Carvalho, ISEP

Outro factor importante, é verificar se o dispositivo actua


[4] Instalações Eléctricas Industriais" - João Mamede Filho - Editora
num tempo compatível com especificado pelas normas de
LTC 5ª Edição
segurança. Este facto depende das condições do local da
instalação eléctrica.
[5] Esquemas de Ligação à Terra em BT (Regimes de Neutro)”
Caderno Técnico nº 172 - Bernard Lacroix e Roland Calvas.
De acordo com estas condições, a legislação em vigor impõe Edição: Schneider Electric

35
CURIOSIDADE

36
ARTIGO TÉCNICO Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva; António Augusto Araújo Gomes
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010

FASES DE REALIZAÇÃO
E TIPOS DE PROJECTOS DE INSTALAÇÕES ELÉCTRICAS

1 INTRODUÇÃO - Decreto-Lei nº 517/80, de 31 de Outubro - Estabelece


normas a observar na elaboração dos projectos das
A realização do projecto eléctrico de uma instalação requer, instalações eléctricas de serviço particular
além do domínio técnico dos assuntos particulares que a - Decreto Regulamentar nº 31/83, de 18 de Abril - Aprova
esta digam respeito, sistematização na sua abordagem e o Estatuto do Técnico Responsável por Instalações
programação, necessária tanto no faseamento da sua Eléctricas de Serviço Particular
concepção como na elaboração processual dos seus - Portaria nº 344/89, de 13 de Maio - Altera os artigos
documentos. 19.º e 20.º do Decreto-Lei n.º 26 852 de 30 de Julho de
Neste sentido a publicação da portaria nº 701-H/2008, de 29 1936. Revoga a Portaria n.º 24/80 de 9 de Janeiro
de Julho, através do seu anexo I - Instruções para a - Decreto-Lei nº 272/92, de 3 de Dezembro - Estabelece
Elaboração de Projectos de Obras - representa um salto normas relativas às associações inspectoras de
qualitativo significativo no processo de realização do instalações eléctricas
projecto, visando uma concepção de mais elevada qualidade - Decreto-Lei nº 315/95, de 28 de Novembro - Regula a
do mesmo, ao definir a metodologia a seguir na sua instalação e o funcionamento dos recintos de
elaboração, com discriminação das suas fases, seus espectáculos e divertimentos públicos e estabelece o
conteúdos e objectivos. regime jurídico dos espectáculos de natureza artística
Embora a portaria se destine expressamente a projectos de - Decreto-Lei nº 59/99, de 2 Março - Estabelece o regime
obras públicas e uma vez que a caracterização das obras do contrato administrativo de empreitada de obras
particulares se rege, de um modo geral, pelas regras das públicas.
obras públicas, a transposição dos seus princípios para - Decreto-Lei nº 555/99, de 16 de Dezembro (com as
aquele tipo de obras representa uma mais-valia significativa alterações subsequentes)- Estabelece o regime jurídico
para o projectista e para a consequente melhoria do projecto da urbanização e da edificação
electrotécnico. - Portaria nº 454/2001, de 5 de Maio - Aprova o novo
Este artigo faz uma ligeira incursão nos aspectos das contrato-tipo de concessão de distribuição de energia
Instruções para a Elaboração e revêem-se alguns princípios eléctrica em baixa tensão
formais da estruturação do projecto de licenciamento. - Portaria nº 1110/2001, de 19 de Setembro - Determina
quais os elementos que devem instruir os pedidos de
2 LEGISLAÇÃO APLICÁVEL informação prévia, de licenciamento e de autorização
referentes a todos os tipos de operações urbanísticas
- Decreto-Lei nº 26 852, de 30 de Julho de 1936 – Aprova - Decreto-Lei n.º 5/2004, de 6 de Janeiro - Aprova a
o Regulamento de Licenças para Instalações Eléctricas orgânica das direcções regionais da economia
- Portaria nº 401/76, de 6 de Julho - Estabelece as normas - Portaria nº 193/2005, de 17 de Fevereiro - Actualiza a
a que deverão obedecer os projectos destinados a relação das disposições legais e regulamentares a
instruírem os pedidos de licença de instalações eléctricas observar pelos técnicos responsáveis dos projectos de
de serviço público obras e a sua execução
- Decreto-Lei nº 446/76, de 5 de Junho - Dá nova redacção - Decreto-Lei nº 229/2006, de 24 de Novembro - Altera o
a alguns artigos do Regulamento de Licenças para Decreto Regulamentar n.º 31/83 de 18 de Abril, que
Instalações Eléctricas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º aprova o Estatuto do Técnico Responsável por
26852 de 30 de Julho de 1936 Instalações Eléctricas de Serviço Particular, e derroga

37
ARTIGO TÉCNICO

parcialmente o disposto na alínea e) do n.º 3 do artigo - Dono da Obra – pessoa colectiva ou individual que
3.º do Decreto-Lei n.º 5/2004, de 6 de Janeiro promove o projecto ou obra
- Decreto-Lei nº 101/2007, de 2 de Abril - Simplifica o Os donos de obra podem classificar-se em dois tipos:
licenciamento de instalações eléctricas, quer de serviço donos de obra pública e de obra particular
público quer de serviço particular, alterando os Os donos de obra pública são as entidades que se
Decretos-Lei n.os 26 852, de 30 de Julho de 1936, encontram sujeitas ao Regime Jurídico de Obras Públicas,
517/80, de 31 de Outubro, e 272/92, de 3 de Dezembro conforme define o art.º 3.º do Decreto-Lei n.º 59/99, de
- Lei nº 60/2007, de 4 de Setembro - Procede à sexta 2 de Março. Alguns donos de obra pública encontram-se
alteração ao Decreto -Lei n.º 555/99, de 16 de sujeitos ao Regime de Licenciamento Urbano (Decreto-
Dezembro, que estabelece o regime jurídico da Lei n.º 555/99 de 16 de Dezembro)
urbanização e edificação Os donos de obra particular encontram-se sujeitos, nas
- Decreto-Lei nº 18/2008, de 29 de Janeiro - Aprova o operações de licenciamento de urbanizações e de
Código dos Contratos Públicos, que estabelece a edificações, às disposições do Decreto-Lei n.º 555/99 de
disciplina aplicável à contratação pública e o regime 16 de Dezembro
substantivo dos contratos públicos que revistam a - Estudo prévio - o documento elaborado pelo Projectista,
natureza de contrato administrativo depois da aprovação do programa base, visando a opção
- Portaria nº 232/2008, de 11 de Março - Determina quais pela solução que melhor se ajuste ao programa,
os elementos que devem instruir os pedidos de essencialmente no que respeita à concepção geral da
informação prévia, de licenciamento e de autorização obra
referentes a todos os tipos de operações urbanísticas, e - Peças do projecto - os documentos, escritos ou
revoga a Portaria n.º 1110/2001 de 19 de Setembro desenhados que caracterizam as diferentes partes de um
- Portaria nº 701-H/2008, de 29 de Julho - Aprova o projecto
conteúdo obrigatório do programa e do projecto de - Programa base - o documento elaborado pelo
execução, bem como os procedimentos e normas a Projectista a partir do programa preliminar resultando da
adoptar na elaboração e faseamento de projectos de particularização deste, visando a verificação da
obras públicas, designados «Instruções para a elaboração viabilidade da obra e do estudo de soluções alternativas,
de projectos de obras», e a classificação de obras por o qual, depois de aprovado pelo Dono da Obra, serve de
categorias base ao desenvolvimento das fases ulteriores do
projecto
3 DEFINIÇÕES - Programa preliminar - o documento fornecido pelo
Dono da Obra ao Projectista para definição dos
- Anteprojecto ou Projecto Base - o documento a elaborar objectivos, características orgânicas e funcionais e
pelo Projectista, correspondente ao desenvolvimento do condicionamentos financeiros da obra, bem como dos
Estudo prévio aprovado pelo Dono da Obra, destinado a respectivos custos e prazos de execução a observar
estabelecer, em definitivo, as bases a que deve obedecer - Projecto - o conjunto de documentos escritos e
a continuação do estudo sob a forma de Projecto de desenhados que definem e caracterizam a concepção
execução. funcional, estética e construtiva de uma obra,
(Ao Projecto Base também se dá o nome de Projecto de compreendendo, designadamente, o projecto de
Licenciamento, pois nesta fase o projectista prepara as arquitectura e projectos de engenharia.
peças escritas e as peças desenhadas para entregar o - Projecto de execução - o documento elaborado pelo
projecto para aprovação). Projectista, a partir do estudo prévio ou do anteprojecto
aprovado pelo Dono da Obra, destinado a facultar todos

38
ARTIGO TÉCNICO

os elementos necessários à definição rigorosa dos trabalhos e) Dados básicos relativos às exigências de comportamento,
a executar funcionamento, exploração e conservação da obra,
Telas finais - o conjunto de desenhos finais do projecto, tendo em atenção as disposições regulamentares;
integrando as rectificações e alterações introduzidas no f) Estimativa de custo e respectivo limite dos desvios e,
decurso da obra e que traduzem o que foi efectivamente eventualmente, indicações relativas ao financiamento do
construído empreendimento;
g) Indicação geral dos prazos para a elaboração do projecto
4 FASES DO PROJECTO e para a execução da obra.

A realização do Projecto deve seguir um cronograma - Programa Base


específico, caracterizado pela definição de etapas sucessivas, O Programa base é apresentado de forma a proporcionar ao
em número dependente da importância e complexidade da Dono da Obra a compreensão clara das soluções propostas
obra, de pormenorização crescente e tendente à fixação pelo Projectista, com base nas indicações expressas no
definitiva das soluções, culminando na elaboração do programa preliminar, incluindo:
Projecto de Licenciamento e no de Execução. a) Esquema da obra e programação das diversas operações
a realizar, quando aplicável;
Estas fases podem ser enumeradas do modo seguinte de b) Definição dos critérios gerais de dimensionamento das
acordo com a portaria citada: diferentes partes constitutivas da obra;
- Programa Base c) Peças escritas e desenhadas e outros elementos
- Estudo Prévio informativos necessários para o perfeito esclarecimento
- Anteprojecto (Projecto Base ou Projecto de do Programa Base, no todo ou em qualquer das suas
Licenciamento) partes, incluindo as que porventura se justifiquem para
- Projecto de Execução definir as alternativas de solução propostas pelo
Estas seguem-se cronologicamente às especificações Projectista e avaliar a sua viabilidade, em função das
fornecidas pelo Dono da Obra ao Projectista e traduzidas no condições de espaço, técnicas, de custos e de prazos;
Programa Preliminar. d) Estimativa geral do custo da obra, tomando em conta os
Como características que estas fases devem conter, incluem- encargos mais significativos com a sua realização e
se as seguintes: análise comparativa dos custos de manutenção e
consumos da obra nas soluções propostas;
- Programa preliminar e) Informação sobre a necessidade de obtenção de
O Programa preliminar contém, além de elementos elementos topográficos, geológicos, geotécnicos,
específicos constantes da legislação e regulamentação hidrológicos, climáticos, características da componente
aplicável, os seguintes elementos, podendo alguns destes acústica do ambiente, redes de infra-estruturas ou de
ser dispensados consoante a obra a projectar: qualquer outra natureza que interessem à elaboração do
a) Objectivos da obra; projecto, bem como sobre a realização de estudos em
b) Características gerais da obra; modelos, ensaios, maquetes, trabalhos de investigação e
c) Dados sobre a localização do empreendimento; quaisquer outras actividades ou formalidades que
d) Elementos topográficos, cartográficos e geotécnicos, podem ser exigidas, quer para a elaboração do projecto,
levantamento das construções existentes e das redes de quer para a execução da obra.
infra-estruturas locais, coberto vegetal, características
ambientais e outros eventualmente disponíveis, a
escalas convenientes;

39
ARTIGO TÉCNICO

- Estudo Prévio técnicas e funcionais dos materiais, elementos de


1- O Estudo prévio desenvolve as soluções aprovadas no construção, sistemas e equipamentos;
Programa Base, sendo constituído por peças escritas e b) Avaliação das quantidades de trabalho a realizar por
desenhadas e por outros elementos informativos, de grandes itens e respectivos mapas;
modo a possibilitar ao Dono da Obra a fácil apreciação c) Estimativa de custo actualizada;
das soluções propostas pelo Projectista e o seu confronto d) Peças desenhadas a escalas convenientes e outros
com os elementos constantes naquele. elementos gráficos que explicitem a localização da
2- Se outras condições não forem fixadas no contrato, o obra, a planimetria e a altimetria das suas diferentes
Estudo prévio contém, para cada uma das soluções partes componentes e o seu dimensionamento bem
alternativas apresentadas à aprovação do Dono da Obra, como os esquemas de princípio detalhados para cada
e sem prejuízo dos elementos constantes da uma das Instalações Técnicas, garantindo a sua
regulamentação aplicável, os elementos seguintes: compatibilidade;
a) Memória descritiva e justificativa, incluindo capítulos e) Identificação de locais técnicos, centrais interiores e
respeitantes a cada um dos objectivos relevantes do exteriores, bem como mapa de espaços técnicos
estudo prévio; verticais e horizontais para instalação de
b) Elementos gráficos elucidativos sob a forma de equipamentos terminais e redes.
plantas, alçados, cortes, perfis, esquemas de f) Os elementos de estudo que serviram de base às
princípio e outros elementos, em escala apropriada; opções tomadas, de preferência constituindo anexos
c) Dimensionamento aproximado e características ou volumes individualizados identificados nas
principais dos elementos fundamentais da obra; memórias;
d) Estimativa do custo da obra e do seu prazo de g) Programa geral dos trabalhos.
execução.
- Projecto de execução
- Anteprojecto ou Projecto base (Projecto para 1- O Projecto de execução desenvolve o Projecto base
Licenciamento) aprovado, sendo constituído por um conjunto
1- O Anteprojecto, ou Projecto base, desenvolve a solução coordenado das informações escritas e desenhadas de
do Estudo prévio aprovado, sendo constituído por peças fácil e inequívoca interpretação por parte das entidades
escritas e desenhadas e outros elementos de natureza intervenientes na execução da obra, obedecendo ao
informativa que permitam a conveniente definição e disposto na legislação e regulamentação aplicável.
dimensionamento da obra, bem como o esclarecimento 2- Se outras condições não forem fixadas no contrato, o
do modo da sua execução. Projecto de execução inclui, além de outros elementos
2- Se outras condições não forem fixadas no contrato, o constantes de regulamentação aplicável, as seguintes
anteprojecto deve conter, para além dos elementos peças:
constantes da regulamentação aplicável os seguintes: a) Memória descritiva e justificativa, incluindo a
a) Memórias descritivas e justificativas da solução disposição e descrição geral da obra, evidenciando
adoptada, incluindo capítulos especialmente quando aplicável a justificação da implantação da
destinados a cada um dos objectivos especificados obra e da sua integração nos condicionamentos
para o anteprojecto, onde figuram designadamente locais existentes ou planeados; descrição genérica da
descrições da solução orgânica, funcional e estética solução adoptada com vista à satisfação das
da obra, dos sistemas e dos processos de construção disposições legais e regulamentares em vigor;
previstos para a sua execução e das características indicação das características dos materiais, dos

40
ARTIGO TÉCNICO

elementos da construção, dos sistemas, 6) Instalações eléctricas de serviço particular do tipo C cuja
equipamentos e redes associadas às Instalações potência a alimentar pela rede seja superior a 50 kVA;
Técnicas; 7) Redes particulares de distribuição de energia eléctrica
b) Cálculos relativos às diferentes partes da obra em baixa tensão e respectivas instalações de iluminação
apresentados de modo a definirem, pelo menos, os exterior.
elementos referidos na regulamentação aplicável a
cada tipo de obra e a justificarem as soluções A pormenorização e alcance de cada fase variará de acordo
adoptadas; com as características particulares associadas ao tipo de
c) Medições e mapas de quantidade de trabalhos, empreendimento a projectar. Assim, teremos
dando a indicação da natureza e da quantidade dos sucessivamente:
trabalhos necessários para a execução da obra; - Instalações, Equipamentos e Sistemas em Edifícios
d) Orçamento baseado nas quantidades e qualidades - Instalações, Equipamentos e Sistemas de Comunicação
de trabalho constantes das medições; em Edifícios
e) Peças desenhadas de acordo com o estabelecido - Instalações, Equipamentos e Sistemas de Aquecimento,
para cada tipo de obra na regulamentação aplicável, ventilação e ar condicionado (AVAC)
devendo conter as indicações numéricas - Instalações, Equipamentos e Sistemas de transporte de
indispensáveis e a representação de todos os pessoas e cargas
pormenores necessários à perfeita compreensão, - Sistemas de Segurança Integrada
implantação e execução da obra; - Produção, transformação, transporte e distribuição de
f) Condições técnicas, gerais e especiais, do caderno de Energia Eléctrica
encargos. - Redes de comunicações

Caso a instalação não careça de projecto, do Estudo Prévio Para cada tipo de instalação enunciada se procede à
passar-se-ádirectamente para o Projecto de Execução. pormenorização dos objectivos a alcançar em cada uma das
fases do projecto cuja satisfação será levada à consideração
O anexo I do Decreto-Lei nº 517/80, de 31 de Outubro, na do Dono da Obra para aprovação.
redacção actual do Decreto-Lei nº 101/2007, de 2 de Abril,
lista as instalações eléctricas que carecem de projecto: Exemplificando com a primeira das obras consideradas,
1) Instalações eléctricas de serviço particular do tipo A; teremos, como elementos especiais das diversas fases, os
2) Instalações eléctricas de serviço particular do tipo B; seguintes:
3) Instalações eléctricas de serviço particular do tipo C
situadas em recintos públicos ou privados destinados a - Programa Preliminar
espectáculos ou outras diversões, incluindo-se, a) Identificação de aspectos específicos do edifício ou zonas
nomeadamente, teatros, cinemas, praças de touros, do edifício, em termos de energia eléctrica, ambiente,
casinos, circos, clubes, discotecas, piscinas públicas, utilização, segurança e outros e ligações a redes ou
associações recreativas ou desportivas, campos de sistemas exteriores.
desporto, casas de jogo, autódromos e outros recintos b) Condicionamentos à localização dos equipamentos e das
de diversão; instalações necessárias ao seu funcionamento.
4) Instalações eléctricas estabelecidas em locais sujeitos a c) Identificação dos níveis de qualidade, disponibilidade,
risco de explosão; redundância e autonomia pretendidos.
5) Instalações de parques de campismo e portos de recreio d) Condicionamentos a nível de manutenção, exploração e
(marinas); expansão.

41
ARTIGO TÉCNICO

- Programa Base d) Caracterização das instalações e equipamentos


a) Identificação das diferentes instalações e equipamentos principais.
a considerar e suas configurações gerais justificadas a e) Dimensionamentos dos equipamentos e redes principais
partir dos condicionamentos e imposições do Programa das instalações.
Preliminar. f) Enumeração dos principais artigos que constituem o
b) Bases de dimensionamento consideradas para as mapa de quantidades de trabalho, dividido nos principais
diferentes instalações e equipamentos. capítulos constituintes das instalações e equipamentos,
c) Discriminação e justificação das necessidades em termos de forma a permitir a elaboração da estimativa do custo
de energia eléctrica, segurança e outras. preliminar da obra.
d) Interligações com outras especialidades e respectivas g) Justificação dos níveis de conforto luminotécnico, de
condições ou exigências. segurança e outros, bem como de produção e consumo
de energia eléctrica que suportem a solução proposta;
- Estudo Prévio h) Verificação do cumprimento das regulamentações
a) Representação gráfica geral das instalações e técnicas aplicáveis.
equipamentos em concordância com o desenvolvimento
das outras especialidades e com a definição das - Projecto de Execução
condições regulamentares de segurança, sob a forma de a) Memória descritiva e justificativa, incluindo a análise
plantas e outros elementos, a escala apropriada. prospectiva de desempenhos, descrevendo e
b) Esquemas de princípio necessários à definição justificando as soluções projectadas, tendo em atenção o
esquemática da concepção dos sistemas e redes que Anteprojecto aprovado e as disposições legais em vigor.
integram as instalações e equipamentos e da sua b) Condições técnicas, gerais e especiais, especificando as
interligação espacial e funcional. condições de execução ou montagem e as características
c) Caracterização genérica das instalações e equipamentos técnicas das instalações e equipamentos previstos.
principais. c) Planta geral dos locais servidos pelas instalações e
d) Pré-dimensionamento dos equipamentos e das redes equipamentos, em escala apropriada, quando não
principais das instalações. definida em regulamento aplicável, contendo os
e) Condições de ligação às redes de energia eléctrica elementos de referência e de orientação necessários à
(produção, consumo) e outras, de funcionamento e fácil localização das instalações e equipamentos.
utilização das instalações e equipamentos e da sua d) Plantas em escala apropriada, quando não definida em
eventual expansão. regulamento aplicável, com o traçado e constituição das
redes e localização dos equipamentos, com a indicação
- Anteprojecto (Projecto Base, Projecto de dos elementos indispensáveis à sua conveniente
Licenciamento) apreciação.
a) Plantas, em escalas apropriadas, onde se indiquem os e) Alçados e cortes dos edifícios ou partes dos edifícios,
traçados das redes principais das diversas instalações, sempre que isso seja necessário à boa compreensão do
com indicação da localização aproximada dos projecto, a escala apropriada, quando não definida em
equipamentos. regulamento aplicável.
b) Cortes, esquemas e diagramas, sempre que isso seja f) Pormenores necessários à definição detalhada e boa
necessário à boa compreensão da solução proposta. execução das instalações e equipamentos projectados, a
c) Esquemas de princípio das instalações e da sua escalas apropriadas quando não definidas em
interligação espacial e funcional. regulamento aplicável.

42
ARTIGO TÉCNICO

g) Esquemas de princípio das instalações e da sua elaboração das peças de alteração do projecto
interligação espacial e funcional, quando necessárias à necessárias à respectiva correcção e à integral e
sua perfeita compreensão. correcta caracterização dos trabalhos a executar no
h) Dimensionamento das instalações e dos equipamentos, âmbito da referida correcção;
incluindo os cálculos necessários para o efeito. b) Apreciação de documentos de ordem técnica
i) Medições e mapas de quantidade de trabalhos, divididos apresentados pelo empreiteiro ou Dono da Obra,
nos diversos capítulos constituintes da obra. incluindo, quando apropriado, a sua compatibilidade
j) Orçamento de projecto da obra. com o projecto;
c) Proceder, concluída a execução da obra, à
Além das fases enunciadas, há uma outra não menos elaboração das Telas Finais a ela respeitantes,
importante que é a Assistência Técnica, prestada e solicitada verificando a conformidade das mesmas com o
pelo Projectista ao Dono da Obra. Esta é requerida antes e projecto de execução e das eventuais alterações nele
durante a execução da obra: introduzidas, de acordo com as informações
1- Na fase do procedimento de formação do contrato, e até fornecidas pelo Dono da Obra.
à adjudicação da obra, a Assistência técnica do
Projectista ao Dono da Obra compreende as actividades 5 ELABORAÇÃO DO PROJECTO DE LICENCIAMENTO
seguintes:
a) Esclarecimento de dúvidas relativas ao projecto O projecto de licenciamento é um documento técnico
durante a preparação do processo do concurso para destinado a instruir um pedido de licença de
adjudicação da empreitada ou fornecimento; estabelecimento de uma instalação eléctrica, por ex. uma
b) Prestação de informações e esclarecimentos linha aérea de alta tensão com mais de 1000 m de extensão,
solicitados por candidatos a concorrentes, sob a ou a fazer parte, na qualidade de projecto de engenharia de
forma escrita e exclusivamente por intermédio do especialidade, de um projecto de arquitectura de uma obra
Dono da Obra, sobre problemas relativos à que careça de licença municipal de construção, como por ex.
interpretação das peças escritas e desenhadas do um prédio de habitações e escritórios.
projecto; O projecto pode ainda ser de obra que não careça de licença
c) Prestação do apoio ao Dono da Obra na apreciação e municipal1 ou de estabelecimento2 . De todos os modos é
comparação das condições da qualidade das soluções um documento apresentado a aprovação.
técnicas das propostas de molde a permitir a sua Daí a sua constituição ser objecto de legislação específica
correcta ponderação por aquele, incluindo a pois tratando-se de um documento a ser sujeito a apreciação
apreciação de compatibilidade com o projecto de técnica e à análise da observância do disposto nos
execução, constante do caderno de encargos, de Regulamentos de Segurança aplicáveis a sua forma necessita
variantes ou alterações que sejam apresentadas; ser adequada à transmissão da informação requerida e
2- Durante a execução da obra, a assistência técnica organizada de tal maneira que a consulta seja fácil,
compreende: elucidativa, tanto quanto possível exaustiva e inequívoca.
a) Esclarecimento de dúvidas de interpretação de A estrutura básica do projecto é composta de uma parte
informações complementares relativas a preliminar e de um corpo, constituído este por uma parte
ambiguidades ou omissões do projecto, bem como textual e uma outra de desenhos.

1 As obras que não carecem de concessão de licença administrativa, passada pela Câmara Municipal respectiva, são as referidas no DL nº 555,
Regime Jurídico da Urbanização e Edificação, art. 6º, com as alterações introduzidas pelo DL n.º 177/2001, de 4/06 e Lei n.º 60/2007, de 04/09
2 As instalações eléctricas que não carecem de licença de estabelecimento são as referidas nos arts. 9º, 27º e 28º do DL nº 26 852, de 30 de

Julho de 1936, com as alterações introduzidas pelos DL nº 446/76, de 05/06 e DL nº 101/2007, de 02/04

43
ARTIGO TÉCNICO

À parte textual dá-se o nome de Peças Escritas e ao conjunto observância dos regulamentos em vigor e às regras inerentes
de desenhos, plantas, alçados, cortes, perfis, diagramas, à boa técnica de execução dos diversos trabalhos.
outras representações gráficas o de Peças Desenhadas. Especiais - Definição de modo exaustivo e tão completo
quanto possível de todos os componentes da instalação e
- Corpo do Projecto dos trabalhos relativos à sua implantação.
Como partes em que o projecto se divide podemos
considerar as seguintes: - Medições e Orçamento
- Memória descritiva e justificativa Determinação, com o rigor possível, das quantidades dos
- Caderno de encargos materiais a empregar e dos trabalhos a realizar e atribuição

- Medições e orçamento dos valores correspondentes à instalação de cada unidade de


material e execução de cada espécie de trabalho.
- Peças desenhadas

- Peças Desenhadas
- Memória Descritiva e Justificativa
Conjunto de esquemas eléctricos e outros desenhos relativos
A memória descritiva e justificativa do projecto deve conter à obra em questão feitos a escalas convenientes e
todos os elementos e esclarecimentos necessários para permitindo a perfeita compreensão dos pormenores,
darem uma ideia perfeita da natureza, importância, função e estabelecimento e localização da instalação.
características das instalações e do equipamento.

No entanto, a forma final a dar ao Projecto de Licenciamento


- Caderno de Encargos (CE) não necessita ter todos estes componentes, pelo menos ao
seu nível mais pormenorizado.

 Condições Jurídicas e administrativas


6 CONCLUSÕES
CE

 Gerais
A existência de um projecto, deve conferir, por si só, uma
 Condições Técnicas garantia de qualidade, segurança e funcionalidade das
 Especiais instalações, assim como a diminuição dos custos de
execução e exploração das mesmas, uma vez que o técnico

Condições Jurídicas e Administrativas - Condições que a tem de ter a consciência de que o exercício da sua profissão
entidade compradora, o Adjudicante, formaliza à entidade o obriga não só a cumprir a lei, o preceituado nos

fornecedora, o Adjudicatário, relativa a aspectos tais como Regulamentos de Segurança, como também, dominar o
cauções, garantias, obrigações, prazos, facturação e estado da arte no âmbito das Instalações Eléctricas.

condições de pagamento, seguros, cessões, incumprimentos O projecto é uma actividade complexa e exigente pela
e penalidades. diversidade das suas áreas e número de intervenientes no
mesmo.
As Instruções para a Elaboração de Projectos de Obras,
Condições Técnicas:
anexas à portaria nº 701-H/2008, de 29 de Julho, ao
Gerais - Referência ao objecto e extensão da empreitada,
sistematizarem a sua abordagem introduziram no processo
contemplando o fornecimento e montagem de todos os
um mecanismo de regulação que constitui uma mais-valia
materiais e equipamentos eléctricos, e às condições que
sensível para a actividade de projectista.
devem reger as tarefas a realizar no que diz respeito à

44
ARTIGO TÉCNICO Arlindo Francisco, Hugo Miguel Sousa, Teresa Alexandra F. M. Pinto Nogueira
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010

TÉCNICAS DE MANUTENÇÃO EM LINHAS DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA

RESUMO trabalhos de manutenção. Os dados fornecidos por


oscilógrafos dependem de complexas análises que podem
A manutenção das linhas de transporte e distribuição de levar horas ou mesmo dias, e geralmente não possuem a
energia eléctrica é um serviço fundamental prestado pelas precisão adequada para as equipas de campo.
empresas de transporte e distribuição. A aplicação de Assim sendo, para a melhoria da segurança e o aumento da
técnicas eficientes na actividade de manutenção das linhas, fiabilidade do sistema eléctrico, é imprescindível o
define a qualidade de serviço prestado pelas empresas. desenvolvimento de soluções que melhorem os dados
Indicadores como o tempo e número de intervenções para quantitativos fornecidos às equipas de manutenção, tanto
restabelecer as condições normais de funcionamento, são correctiva como preventiva. Este trabalho apresenta e
reveladores da qualidade de serviço prestado por essas analisa os benefícios de duas técnicas modernas de
empresas que, no caso de incumprimento das regras manutenção em linhas de transmissão que vêm ao encontro
estabelecidas no Regulamento da Qualidade de Serviço, das necessidades expostas.
podem implicar em elevados prejuízos. A primeira técnica descrita, aplicada nos serviços de
A disponibilidade de informação apropriada ao pessoal manutenção correctiva, é a localização de falhas em linhas
técnico torna-se essencial e contribui para uma maior transmissão através do princípio das ondas viajantes.
eficácia dos serviços de manutenção, tanto ao nível da Trata-se de uma configuração simples, capaz de localizar
manutenção correctiva como na manutenção preventiva. defeitos fase-terra e identificar as secções afectadas com
Este trabalho descreve a aplicação de duas técnicas grande precisão e rapidez, trazendo assim informação
modernas na manutenção das linhas eléctricas que, além de preciosa para os serviços de manutenção correctiva.
incrementarem a segurança e a fiabilidade do sistema A segunda tecnologia apresentada é a detecção de corrosão
eléctrico, garantem uma melhoria dos dados quantitativos nos condutores em linhas de transmissão aéreas, com
fornecidos às equipas de manutenção . aplicação nas actividades de manutenção preventiva. O
sistema pode funcionar com a linha activa e efectua o
1 INTRODUÇÃO diagnóstico das condições de corrosão dos cabos
condutores, incluindo as partes internas, permitindo desta
A segurança e fiabilidade do sistema eléctrico estão forma que as equipas de manutenção actuem
fortemente relacionadas com o bom funcionamento das preventivamente evitando acidentes e a interrupção do
linhas de transmissão. fornecimento de energia. Esta técnica tem uma aplicação
Enquanto as centrais de produção, subestações primárias e intensiva em ambientes agressivos como zonas litorais ou
de distribuição possuem controlo e monitorização com com incidência de chuva ácida (zonas industriais).
tecnologias avançadas, como sistemas computadorizados e
SCADA (Supervisory Control And Data Acquisition), a 2 LOCALIZADOR DE DEFEITOS POR ONDAS VIAJANTES
protecção principal e as informações para manutenção das
linhas de transmissão são baseadas nos dados fornecidos por 2.1 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO
relés ou oscilógrafos.
Apesar de estes dispositivos serem extremamente fiáveis e Na ocorrência duma falha numa linha de transmissão radial,
eficientes no âmbito da protecção, os relés apenas fornecem surge um surto de corrente induzindo ondas
informações qualitativas, e dificilmente fornecem electromagnéticas que se propagam nas três fases por toda
informações quantitativas relevantes para a execução dos extensão da linha.

45
ARTIGO TÉCNICO

A localização do ponto de defeito consiste em detectar a e antecipando as acções a tomar (“the aware home”).
diferença de tempo que essas ondas viajantes levam para
chegar aos seus extremos. b) AS FUNÇÕES DA CASA INTELIGENTE
Este princípio está representado na figura 1.
Actualmente as habitações podem estar equipadas com
a) TIPOS DE CASAS INTELIGENTES sistemas que associam diversas funcionalidades nas áreas de
segurança, conforto, gestão de energia e comunicações.
De facto, há problemas com a conceptualização da “casa Funcionalidades principais: detecção de incêndio, intrusão,
inteligente”! Parece haver pouca concordância sobre como fuga de água ou gás, avisos, comandos e controlo remotos,
uma casa inteligente deve ser e sobre que tecnologias ela “Anything, Anytime, Anywere”.
deve incorporar. As capacidades da domótica podem ser um auxiliar precioso
para contornar as dificuldades temporárias ou permanentes,
físicas ou mentais do ser humano. Além disso, estes sistemas
permitem facilitar as tarefas a idosos que assim vêem
minimizados algumas limitações a que estão expostos.

Figura 1 – Principio das ondas viajantes

Figura 2 – Visão geral de um localizador de defeitos por ondas


O comprimento da linha L e a velocidade de propagação do viajantes

surto v fazem parte dos aspectos construtivos da linha, são


valores conhecidos. Medindo a diferença de tempo entre a Pela análise da equação (1), concluímos que a precisão da
chegada das ondas aos pontos A (início da linha) e B (final da medida de tempo está directamente relacionada com a
linha) é possível calcular a localização exacta da falha, localização exacta da falha. Por isso, os sistemas de
através do cálculo do valor de X: localização de defeitos por ondas viajantes utilizam as
informações de tempo dos satélites do GPS para manter a
(1) precisão necessária dos seus contadores e sincronizar os
relógios das estações locais.
Assim, cada estação local de um sistema localizador de
2.2 LOCALIZAÇÃO POR SISTEMA GPS defeitos por ondas viajantes recebe dados dos satélites para
a sincronização dos seus contadores, através de uma antena
Um localizador de defeitos por ondas viajantes basicamente e receptor GPS. Ao utilizar o GPS é possível manter uma
é composto por um ou mais pares de estações locais, contagem de tempo de alta definição com imprecisão menor
sensores de campo magnético e antenas GPS (Global que 1μs, permitindo uma localização de defeitos com
Positioning System) ligados entre si e com a estação incerteza menor que 300 metros, mesmo em linhas com
principal, conforme mostra a fig. 2. compensação série.

46
ARTIGO TÉCNICO

Também na estação local, um processador de sinais recebe


as informações dos sensores de campo magnético instalados
nas fases. Na ocorrência de uma falha, armazena-se o valor
dos contadores e envia-se um sinal de informação para a
estação principal.
Nesse momento, a estação principal confirma o sinal de
informação da estação local e armazena os dados do surto,
com os quais o software de análise fará o cálculo da
distância. Este software de análise também deve ter em
consideração as deformações da onda de surto durante a sua Figura 3 – Princípio de funcionamento do detector de corrosão
propagação para melhorar a precisão do cálculo.
Para isso, é comum que se execute um processo de As bobines Z e Z’ estão interligadas em forma de ponte de
compensação dessa distorção que é baseado na correcção da indutâncias como mostra a figura 3, na bobine Z é colocada
forma de onda do surto recebida das estações locais. uma amostra do cabo original funcionando esta como
No final do processo, a estação principal indica a distância e referência.
o ponto de referência mais próximo do defeito, bem como a Aos terminais da ponte surge uma tensão de
oscilografia da corrente de sequência zero da falha, através desbalanceamento cujo a magnitude dessa tensão é
da qual é possível identificar o tipo de defeito. directamente proporcional à secção do cabo condutor
avaliado, já que quanto pior o estado de corrosão do
3 DETECTOR DE CORROSÃO EM CABOS CONDUTORES mesmo, menor será sua condutividade. Consequentemente,
menor será a corrente Foucault e maior será a tensão de
3.1 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO desbalanceamento nos terminais da ponte de indutâncias.
Numa situação em que o cabo se encontre em estado de
O funcionamento do detector de corrosão em cabos corrosão é ainda possível avaliar qual a tensão mecânica que
condutores é relativamente simples, baseando-se no o condutor pode suportar. Para tal é incorporada uma
princípio das correntes de Foucault e numa ponte de câmara com sensor CCD (charged coupled device) que faz o
indutâncias. registo da imagem para que seja avaliada pelo conjunto dos
As correntes de Foucault são um fenómeno eléctrico que dados guardados no sistema.
ocorre quando um campo magnético variável intercepta um Através de uma recta ajustada de forma empírica, a qual
material condutor fixo ou vice-versa. O movimento relativo depende apenas do material usado (aço ou alumínio),
causa uma corrente de circulação no condutor, que segundo obtém-se a percentagem remanescente da secção original
a Lei de Lenz gera um campo magnético que se opõe ao do cabo. Com este dado definido, consegue-se estimar
efeito do campo aplicado. Quanto maior for a condutividade também através de forma empírica a tensão mecânica
do condutor, mais forte for o campo magnético aplicado ou máxima suportável pelo cabo.
mais rápido for o movimento relativo, maior será a corrente O procedimento de avaliação das condições do condutor é
gerada e consequentemente maior o campo que se opõe. mostrado na figura 4.
Conforme mostra o esquema da figura 3, ao aplicar um
campo magnético paralelo ao condutor que possui uma 3.2 IMPLEMENTAÇÃO UTILIZANDO UM CARRINHO DE LINHA VIVA
velocidade v conhecida, é gerada uma corrente de Foucault
marginal ao condutor, que induz um campo magnético Para executar a inspecção da linha de transmissão, o circuito
oposto ao aplicado e que pode ser medido utilizando uma mostrado na figura 3 é montando sobre um carrinho de linha
bobina activa Z’. activa, que pode utilizar tanto auto propulsão como ser

47
ARTIGO TÉCNICO

Além disso, a câmara CCD é posicionada próxima da bobine


activa para registar visualmente as condições do condutor.
Os detalhes do sistema podem ser vistos na figura 5.
O peso do equipamento é de 50 kg e a velocidade
aproximada de 10 m/min, sendo o ângulo máximo de
catenária suportado de 20º.
Na versão com auto-propulsão, são adicionados 20 kg devido
às baterias que conseguem realizar até 1000 m de inspecção
sem recarregar.
Figura 4 – Procedimento para estimar quantitativamente o estado Após percorrer a linha, o equipamento emite um relatório
de corrosão de um condutor
completo e referenciado com as condições do condutor, que
associado às gravações da câmara CCD, identifica as secções
deslocado por um técnico devidamente treinado para o críticas dos condutores. Para cabos ACSR é possível,
serviço em linha activa. As bobines são implementadas inclusive, detectar separadamente a condição dos fios de
através de acopladores indutivos do tipo bipartido que alumínio e dos fios de aço que compõem o mesmo.
suportam bitolas entre 160 e 810 mm2. Um exemplo deste relatório pode ser visto na figura 6.

Figura 5 – Detalhes construtivos do sistema detector de corrosão

Figura 6 – Informações fornecidas pelo sistema detector de corrosão

48
ARTIGO TÉCNICO

4 APLICAÇÕES NO ÂMBITO DA MANUTENÇÃO os enormes transtornos que uma ocorrência deste tipo pode
trazer. Também permite que as equipas de manutenção
4.1 MANUTENÇÃO CORRECTIVA tenham tempo hábil para se preparar e mobilizar recursos
para resolver o problema da maneira mais eficiente possível.
As aplicações no âmbito da manutenção correctiva do Além disso, ao identificar secções específicas da linha com
localizador de defeitos por ondas viajantes são imediatas. alto índice de corrosão mas sem perigo de rompimento,
Com uma configuração simples o sistema é capaz de localizar torna-se possível abordar o problema de forma preditiva,
curto-circuitos defeitos fase-terra e identificar as secções estudando soluções como substituição dos condutores por
afectadas com grande precisão e rapidez. Com uma incerteza cabos resistentes à corrosão ou aplicação de produtos anti-
menor que 300 metros, o defeito fica restrito a dois vãos na corrosão em novos cabos do mesmo tipo, de forma a realizar
maior parte das linhas de transmissão existentes. uma intervenção programada no sistema para a solução do
Isso significa que a fonte do defeito pode ser localizada com problema.
maior rapidez, muitas vezes numa simples inspecção visual a
partir do solo. Essa informação mais precisa facilita o 5 CONCLUSÕES
trabalho das equipas de campo, principalmente em áreas
sujeitas a alagamento, regiões montanhosas ou de selva, já A localização de defeitos por ondas viajantes e a detecção de
que é possível identificar antes mesmo da saída das equipas corrosão são duas técnicas que pretendem disponibilizar
para o campo o melhor local de acesso ao ponto de defeito. informações quantitativas às equipas de manutenção.
Além de auxiliar na localização dum ponto de defeito que Apesar de os seus princípios já serem conhecidos há muito
causou o desligamento da linha, o sistema também pode tempo, apenas recentemente, através do desenvolvimento
identificar fontes de defeitos intermitentes. Como as ondas de novos materiais e uso de sistemas modernos como o GPS,
viajantes são geradas sempre que há um transitório na linha, foi possível desenvolver equipamentos que gerassem
ocorrências de difícil localização como defeitos fase-terra informações precisas sobre defeitos que ocorrem numa linha
causados por falhas em isoladores, presença de vegetação de transmissão.
ou excrementos de pássaros podem ser restritas a uma área O resultado é imediato na área de manutenção, já que uma
delimitada e estudada detalhadamente em menor tempo, localização precisa de defeitos traz uma maior eficácia,
gerando economia de tempo e recursos para as reduzindo o tempo no deslocamento da equipa e na
concessionárias. identificação do defeito, permitindo a identificação de fontes
intermitentes, um maior tempo para a solução do problema
4.2 MANUTENÇÃO PREVENTIVA e a programação na realização dos serviços.
Isso traz benefícios directos tanto para as concessionárias
O detector de corrosão em cabos condutores tem aplicação como para as populações, já que a energia não distribuída
voltada para a manutenção preventiva. Ao realizar uma engloba duas parcelas: o lucro cessante, que é o prejuízo da
inspecção aos condutores, é possível obter informações companhia pela energia não facturada e o custo social, o que
valiosas sobre o estado de conservação dos cabos. a sociedade em geral perde quando há falta de energia.
Através dos dados fornecidos pelo equipamento, como Apesar de em Portugal não existir um estudo relacionado
secção de condutor remanescente e tensão mecânica com as quebras de energia, em países como o Brasil alguns
suportável, torna-se relativamente fácil recalcular a carga estudos apontam que o custo social é da ordem de 35 a 50
máxima do sistema. Desta forma, através da restrição vezes o preço médio do kWh facturado, para regiões menos
temporária da corrente máxima da linha para valores abaixo industrializadas, e de 50 a 100 vezes, para regiões mais
do nominal, evita-se um possível rompimento do condutor e industrializadas.

49
ARTIGO TÉCNICO

Por isso, embora os equipamentos tradicionais se


demonstrem eficazes no âmbito da protecção, torna-se
necessária a aplicação de novas técnicas e equipamentos
para disponibilizar informações quantitativas às equipas de
manutenção, de forma a manter um sistema eléctrico seguro
e confiável.

Bibliografia

[1] Regulamento da Qualidade de Serviço, ERSE – Entidade


Reguladora dos Serviços Energéticos, Março 2006
[2] Motta, S. e Colosimo, E., Impactos da Manutenção e dos
Custos da não Confiabilidade de Equipamentos sobre as
Receitas de Serviços de Transmissão de Energia Eléctrica.
Anais do XVII SNPTEE - Seminário Nacional de Produção e
Transmissão de Energia Eléctrica
[3] Relatório do Comitê Nacional Brasileiro nº B2 da CIGRÉ –
Conference Internationale dês Grands Réseaux
Electrique a Haute Tension, Belo Horizonte, Outubro
2003
[4] REN – Rede Energética Nacional, disponível em
www.ren.pt
[5] Esmo - 95 Proceedings, The Seventh International
Conference on Transmission and Distribution
Construction and Live Line Maintenance, October 29-
November 3, International Conference on Transmission
and Distribution Construction and Live Line
Maintenance, 1995, Ohio
[6] Documento técnico elaborado pelo Departamento de
Gestão e Economia da Universidade da Madeira
publicado em:
http://www.uma.pt/sbudria/Blackout_project_Jan09.pdf

Imagem adaptada de: www.siemens.com

50
ARTIGO TÉCNICO Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva; António Augusto Araújo Gomes
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010

QUEDAS DE TENSÃO
EM INSTALAÇÕES ELÉCTRICAS DE BAIXA TENSÃO

1 ENQUADRAMENTO - Apenas se levam em conta as impedâncias longitudinais,


resistências e indutâncias, desprezando-se as
Numa instalação eléctrica, por motivos técnicos e funcionais, admitâncias transversais, perditâncias e capacitâncias.
a tensão aplicada aos terminais das cargas, isto é, dos Em instalações de Baixa Tensão, o comprimento das
equipamentos de utilização, deve manter-se dentro de canalizações não vai além das poucas centenas de
determinados limites. metros e sendo a frequência utilizada a frequência
industrial de 50Hz é possível desprezar, para as mais
Cada equipamento possui uma tensão estipulada, fixada pela baixas secções, os efeitos da indutância, capacitância e
norma respectiva. A aplicação de tensões abaixo dos limites pelicular, considerando-se assim os condutores como
definidos, pode prejudicar o desempenho desses resistências puramente hómicas. Daí termos:
equipamentos, podendo reduzir a sua vida útil ou mesmo
Z = R + jX L ≅ R Y = G + JBc ≅ 0
impedir o seu funcionamento.
- Tomar-se-á uma temperatura do condutor igual à
As quedas de tensão nas instalações devem ser calculadas máxima admissível em regime permanente.
durante a fase de projecto, devendo ser cumpridos os limites
máximos fixados pelos respectivos regulamentos aplicáveis. Para o receptor da Fig. 1, a queda de tensão que importa
observar é a diferença entre os valores absolutos das
2 QUEDA DE TENSÃO tensões à partida e à chegada, isto é,

Na dedução de uma fórmula aplicável à determinação da U 0 − U1


queda de tensão num circuito ter-se-ão em conta os
seguintes pontos: Da figura 1 depreende-se que, atendendo à desigualdade
- Consideram-se sistemas trifásicos em regime triangular, a diferença entre as leituras dos voltímetros V0 e
equilibrado; V1 há-de ser menor que a indicação do voltímetro Vz. Daí
que esta tensão não nos interesse muito para o objectivo em
vista, isto é, o do dimensionamento do cabo.

R jω L −
I

− −
V V1 V
V0

Fig. 1 – Circuito monofásico RL

51
ARTIGO TÉCNICO

Assim:

− − − −
V0 = ( R + jX ) I + V1 I = Ie − jϕ = I cos ϕ − jIsenϕ

V0 = RI cos ϕ − jRIsenϕ + jXI cos ϕ + XIsenϕ + V1

V0 = ( RI cos ϕ + XIsenϕ + V1 ) + j ( XI cos ϕ − RIsenϕ )


V0
− −
f
ZI
q d
− f −
f V1 − jX I
− RI
I

2
Z I 
V1 = V0 cosθ − ZI cos δ V1 = V0 1 −  senδ  − ZI cos δ
2
 V0 
ZI  ZI 
senθ = senδ cos θ = 1 −  senδ 
V0  V0  k

Aplicando o teorema de Taylor ao desenvolvimento da raiz, resulta que:

1 1 1 5 4
1+ k = 1+ k − k 2 + k3 − k + ... k <1
2 8 16 128

( ZIsenδ )2 ( ZIsenδ )4 ( ZIsenδ )6 5 × ( ZIsenδ )8


V0 − V1 = ZI cos δ + + + + + ...
2V0 8V03 16V05 128V07

( XI a − RI r )2 ( XI a − RI r )4 ( XI a − RI r )6 5 × ( XI a − RI r )8
V0 − V1 = RI a + XI r + + + + + ...
2V0 8V03 16V05 128V07

ε
Com Ia = Icosφ e Ir = Isenφ −
V0
− −
ZI

− −
V1 −
jX I
− RI
I
RI cos ϕ XIsenϕ
52
ARTIGO TÉCNICO

Para correntes em atraso relativamente à tensão, ϕ Como se observa pelo quadro de resultados a fórmula
positivos, e tendo em consideração que a queda de tensão
máxima terá um valor pequeno, imposto pelos regulamentos ∆V = RIa+XIr
técnicos, os termos não-lineares de I são desprezáveis face
aos termos lineares. dá-nos valores bastante aproximados, fixando já os dois
primeiros algarismos significativos.
Quando a corrente se encontra em avanço nada se pode
dizer acerca da transcurabilidade dessas parcelas. Para um resultado mais correcto pode usar-se a fórmula .

2
Exemplo: ( XI -RI )
ΔV=RI +XI + a r
a r
Pretende-se calcular a queda de tensão no extremo de um 2V0
cabo trifásico do tipo VV, 4 mm2 de secção, comprimento 80
m, percorrido por uma corrente de 30 A, tensão de A expressão ∆V = RIa, apesar da sua simplicidade, pode
alimentação 400 V e as características do cabo, indicadas na empregar-se com vantagem em muitos casos,
tabela 1. particularmente na BT e para secções de cabos
suficientemente baixas, por permitir relacionar directamente
A tabela 2, apresenta os resultados (análise monofásica) a queda de tensão máxima com a secção do cabo a atribuir.
obtidos.

Tab. 1 – Características do cabo

Tipo Secção Comprimento Resistividade Coeficiente Resistência Resistência a Reactância


mm2 m a 20°C temperatura a 20°C 70°C Ω
Ωmm2/m °C-1 Ω Ω

VV 4 80 17,241.10-3 3,93.10-3 0,3448 0,41257 6,4.10-3

Tab. 2 – Resultados do exemplo

∆V (real) ∆V (aproximação)
V0 V1
(V) (V)
(V) RIa RIa+XIr
% % % %
(V) (V) (V)

230 219,867 10,132 4,4 9,902 4,305 10,017 4,35 10,132 4,4

53
ARTIGO TÉCNICO

A expressão aproximada ∆V = RIa+XIr pode ser reescrita de A partir da expressão


modo a contemplar quer a situação da sua aplicação a um ∆V = RI cosϕ + XIsenϕ
circuito trifásico, quer a um circuito monofásico, quer = rLI cosϕ + xLIsenϕ
mesmo ao caso de um circuito de corrente contínua.
= rM f + xMq

 L  define-se a queda de tensão como a soma do produto do


∆V = b ×  ρ1 × × cos ϕ + λ × L × senϕ  × Ib
 S  momento da componente em fase da corrente pela
resistência linear com o produto do momento da
Onde: componente em quadratura da mesma corrente pela
∆ V queda de tensão em V; reactância linear do cabo.
B coeficiente igual a 1 para circuitos trifásicos e a 2 para
monofásicos ou de corrente contínua; M f = LI cosϕ
ρ1 resistividade eléctrica dos condutores em serviço Mq = LIsenϕ
normal, em Ωmm2/m;
L comprimento simples da canalização, em m; Donde:
S secção recta dos condutores, em mm2;
ϕ ângulo de esfasamento entre a tensão simples ∆V = ∆Vf + ∆Vq = ∆Va + ∆Vr
respectiva e a corrente (para corrente contínua  = 0) ∆Va = RI cosϕ = RIa
λ reactância linear dos condutores (igual a 0 para ∆Vr = XI senϕ = XIr
circuitos de corrente contínua), em Ω/m;
Ib corrente de serviço, em A. Por aplicação do método da sobreposição é possível
decompormos a obtenção da queda de tensão mediante a

A queda de tensão percentual virá referida à tensão nominal resolução de dois circuitos:

do sistema:

∆V
∆Vr = × 100%
U

U = U0 , tensão simples em CA ou U = UN ,em CC

∆Va = rM f = RIa
3 × ∆V
∆Vr = × 100%
U

U = Uc , tensão composta em CA

Para a situação comum de uma linha alimentando uma carga


na sua extremidade:

∆Vr = xMq = XIr



I

54
ARTIGO TÉCNICO

- Características da Impedância de um Cabo

A resistência e a reactância de um cabo são função da secção do condutor - R=R(S) e X=X(S).

Daí que sendo:

∆V= ∆ V(R,X) ∆ V= ∆ V(S) (para uma dada corrente)

l
R=ρ θ = const.
s
Andamento hiperbólico

X - praticamente constante (para um dado tipo de


canalização)

A figura abaixo apresenta a variação da resistência e reactância com a secção para o cabo VAV 0,6/1 kV, 4 condutores, a uma
temperatura de cerca de 80° C. Impedâncias em mΩ/m e secções em mm2.

2,5

1,5

0,5

0
0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 300

Fig. 2 – variação da resistência e reactância com a secção para o cabo VAV 0,6/1 kV, 4 condutores, a uma temperatura de cerca de 80° C

55
ARTIGO TÉCNICO

3. QUEDAS DE TENSÃO MÁXIMAS ADMISSÍVEIS Portaria n.º 949-A/2006 de 11 de Setembro a queda de


tensão máxima entre a origem da instalação2 e qualquer
3.1 REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉCTRICA EM BAIXA ponto de utilização, expressa em função da tensão nominal
TENSÃO da instalação, não deve ser superior aos valores indicados na
tabela 1.
Tendo em consideração o disposto no Regulamento de
Seguranças de Redes de Distribuição de energia eléctrica em Ao abrigo do mesmo regulamento, em Instalações Colectivas
baixa tensão, aprovado pelo Decreto Regulamentar 90/84 de e Entradas as secções dos condutores usados nos diferentes
26 de Dezembro e os documentos normativos do troços das instalações colectivas e entradas devem ser tais
concessionário da rede de distribuição, DIT-C11-010/N, Maio que não sejam excedidos os valores de queda de tensão
2006 - Guia Técnico de Urbanizações e DIT-C14-100/N MAI seguintes:
2007 – Ligação de Clientes de Baixa Tensão, a queda de a) 1,5 %, para o troço da instalação entre os ligadores da
tensão total, desde o Posto de Transformação Público MT/BT saída da portinhola e a origem da instalação eléctrica (de
até ao final da rede de Baixa Tensão, isto é, à Portinhola ou, utilização), no caso das instalações individuais;
quando esta não existir, ao Quadro de Colunas de um b) 0,5 %, para o troço correspondente à entrada ligada a
edifício ou aos terminais de entrada do contador, não deve uma coluna (principal ou derivada) a partir de uma caixa
ser superior a 8 %, sendo que a queda de tensão máxima no de coluna, no caso das instalações não individuais;
ramal1 não deve ser superior a 2% da tensão nominal. c) 1,0 %, para o troço correspondente à coluna, no caso
das instalações não individuais;
3.2 INSTALAÇÕES DE UTILIZAÇÃO DE ENERGIA ELÉCTRICA EM BAIXA
TENSÃO No entanto, quando for técnica e economicamente
justificado, os valores de queda de tensão indicados
Tendo em consideração o disposto nas Regras Técnicas de anteriormente para a coluna e entradas, podem ser
Instalações Eléctricas de Baixa Tensão, aprovadas pela ultrapassados, desde que, no seu conjunto (coluna mais
entrada), não seja ultrapassado o valor de 1,5%.

Tab. 3 - Queda de tensão máxima entre a origem da instalação e qualquer ponto de utilização

Utilização Iluminação Outros usos

Instalações alimentadas directamente a partir de uma rede de distribuição (pública) em 3% 5%


baixa tensão

Instalações alimentadas a partir de um Posto de Transformação MT/BT (*) 6% 8%

(*) Sempre que possível, as quedas de tensão nos circuitos finais não devem exceder os valores indicados para a situação A. As
quedas de tensão devem ser determinadas a partir das potências absorvidas pelos aparelhos de utilização com os factores
de simultaneidade respectivos ou, na falta destes, das correntes de serviço de cada circuito.

1 Ramal - Canalização eléctrica, sem qualquer derivação, que parte do quadro de um posto de transformação, do quadro de uma central
geradora ou de uma canalização principal e termina numa portinhola, quadro de colunas ou aparelho de corte de entrada de uma instalação de
utilização.

56
ARTIGO TÉCNICO

Ao abrigo do mesmo regulamento, para as instalações b coeficiente igual a 1 para os circuitos trifásicos e a 2
colectivas e entradas deverão ser observados ainda os para os monofásicos (os circuitos trifásicos com o
seguintes pontos: neutro completamente desequilibrado, isto é, com
- Quando existir “troço comum 3” , a queda de tensão uma só fase carregada, são considerados como sendo

neste troço deve ser afectada ao ramal e não à instalação monofásicos);


colectiva. r1 resistividade dos condutores à temperatura em serviço

- A queda de tensão, no caso das entradas trifásicas, deve normal,

ser calculada a partir da potência prevista para L comprimento simples da canalização, expresso em

alimentação dos equipamentos normais previstos para metros;

as instalações eléctricas (de utilização) por elas S secção dos condutores, expressa em milímetros

alimentadas, suposta uniformemente repartida pelas quadrados;

diferentes fases. O cálculo deve ser feito fase a fase, cosϕ factor de potência;

como se de uma entrada monofásica se tratasse, Nas instalações de utilização às quais se aplicam as

considerando que apenas a fase em análise está em RTIEBT pode ser usado o valor cos j =0,8.

serviço. Para efeitos do cálculo das quedas de tensão nas


entradas das instalações, deve ter-se em consideração
os valores de potências nominais definidos para essas
3.3 CÁLCULO DA QUEDA DE TENSÃO
entradas, os quais, na falta de elementos mais
precisos, devem ser considerados como resistivos (cos
Para canalizações em que a secção do condutor de fase seja j = 1).
igual à do condutor neutro, as quedas de tensão podem ser λ reactância linear dos condutores.
determinadas a partir da expressão seguinte: Nas instalações de utilização às quais se aplicam as
RTIEBT, na falta de outras indicações mais precisas,
 l 
u = b ×  ρ 1 × × cosϕ + λ × l × senϕ  × Ib pode ser usado o valor 0,08 mW/m.
 S 
u Relativamente à determinação da resistividade dos
∆ u=100
U0 condutores à temperatura em serviço normal, dever-se-á ao
valor da resistividade a 20°C (0,0225 W.mm²/m para o cobre
em que:
e 0,036 W.mm²/m para o alumínio), efectuar a correcção
u queda de tensão, expressa em volts;
para a temperatura máxima de funcionamento dos
∆u queda de tensão relativa, expressa em percentagem;
condutores/cabos.
Uo tensão entre fase e neutro, expressa em volts;

2Origem das instalações eléctricas de utilização


Considera-se que as instalações eléctricas objecto das Regras Técnicas têm por origem um dos pontos indicados nas alíneas seguintes:
a) nas instalações alimentadas directamente por uma rede de distribuição (pública) em baixa tensão:
- os ligadores de saída da portinhola;
- os ligadores de entrada do quadro de colunas, no caso de não existir portinhola;
- os ligadores de entrada do equipamento de contagem ou os do aparelho de corte da entrada, quando este estiver a montante do
equipamento de contagem, no caso de não existir portinhola nem quadro de colunas.
No que se refere às instalações eléctricas (de utilização), alimentadas, pelas instalações colectivas e entradas, estas têm, no caso de serem
alimentadas por uma rede de distribuição (pública) em baixa tensão, por origem um dos pontos seguites:
a) os ligadores de saída do aparelho de corte da entrada da instalação eléctrica (de utilização);
b) os ligadores de saída do sistema de contagem, se o aparelho de corte da entrada não existir.
b) nas instalações alimentadas por um posto de transformação privativo, os ligadores de entrada do(s) quadro(s) de entradaTroço comum -
Canalização eléctrica da instalação colectiva que tem início na portinhola e que termina no quadro de colunas.

3Troço comum - Canalização eléctrica da instalação colectiva que tem início na portinhola e que termina no quadro de colunas.

57
ARTIGO TÉCNICO

A tabela 4, apresenta as temperaturas máximas de em que:


funcionamento de diversos tipos de isolamentos de Rθ resistência eléctrica à temperatura θ °C
condutores: R20 resistência eléctrica à temperatura 20 °C
α20 coeficiente de temperatura a 20 °C
A correcção da resistividade é realizada através da seguinte θ temperatura final em °C
expressão:
As RTIEBT recomendem a utilização de um factor 1,25 para
Rθ = R20 [1 + α 20 (θ − 20)] Ω /km correcção geral do valor da resistividade para a temperatura
de serviço, independente do tipo de isolamento dos
condutores/cabos, sendo uma aproximação ao cálculo
anteriormente apresentado.

Tab. 4 – Temperatura máxima de funcionamento dos condutores em função do tipo de isolamento

Tipo de isolamento Temperatura máxima de


funcionamento (1)
(°C)

Policloreto de vinilo (PVC) Condutor: 70

Polietileno reticulado (XLPE) Condutor: 90


Ou
etileno-propileno (EPR)

Mineral (com bainha em PVC ou nu e acessível) Bainha metálica: 70

Mineral (nu, inacessível e sem estar em contacto com materiais combustíveis) Bainha metálica: 105 (2)

(1) - Segundo as Normas NP 2356, NP 2357 e NP 2365.


(2) - Para este tipo de condutores podem ser admitidas temperaturas superiores em serviço contínuo, de acordo com a
temperatura do cabo e das terminações e com as condições ambientais e outras influências externas.

Tab. 5 - Resistência à Temperatura do condutor/cabo a 20°C

``
Resistência à Temperatura do condutor/cabo a 20°C
R 20

θ Temperatura máxima de funcionamento do condutor/cabo

α20 coeficiente de variação da resistividade com a temperatura a 20°C

αCu20 C = 3,93.10−3 C −1


α Al 20 C = 4,03.10−3 C −1


58
ARTIGO TÉCNICO

4. METODOLOGIAS DE VERIFICAÇÃO EM OUTROS PAÍSES Para a resistividade dos condutores em serviço normal
apresenta os valores, indicados na tabela 4.

França – A norma NF C 15-100, publicada pela Union


Technique de l’Electricité (UTE), trata e define os requisitos O coeficiente 1,25 leva a determinar a queda de tensão a
técnicos e de segurança das instalações eléctricas de baixa uma temperatura do condutor de cerca de 82 °C.
tensão. A norma sofre actualização regular para ter em conta
a evolução da técnica e das necessidades de consumo de A norma remete ainda para o guia da UTE C 15-105, GUIDE
electricidade. PRATIQUE Détermination des sections de conducteurs et
choix des dispositifs de protection Méthodes pratiques, onde

O artigo 525 da NF C 15-100 fixa os valores máximos da são detalhadas outras informações bem como, em

queda de tensão, conforme indicado na tabela 3. particular, quadros com valores de reactância linear para
outras configurações de canalizações a serem consultados
para a determinação da queda de tensão.
No comentário ao Artº 525 da norma é indicada a fórmula a
empregar para cálculo da queda de tensão que resulta ser a
mesma usada pelas RTIEBT.

Tab. 6 - Queda de tensão máxima nas instalações de utilização

Iluminação Outros usos

Tipo A – instalações alimentadas directamente por uma derivação em BT a partir 3% 5%


de uma rede pública de distribuição em BT

Tipo B – Instalações alimentadas por um posto de entrega(1) ou por um posto de


transformação a partir duma instalação de AT e instalações do tipo A em que o 6% 8%
ponto de entrega se situa no QGBT dum posto de distribuição público.

Quando as canalizações principais da instalação tiverem um comprimento superior a 100 m, as quedas de tensão podem ser
aumentadas de 0,005 % por metro de canalização acima de 100 m, sem todavia superar 0,5 %.
As quedas de tensão são determinadas a partir das potências absorvidas pelos aparelhos de utilização, aplicando, sendo o
caso, factores de simultaneidade, ou, por omissão, a partir dos valores das correntes de serviço dos circuitos.

Tab. 7 – Resistividade corrigida do cobre e alumínio para a temperatura de funcionamento dos condutores

Cobre Alumínio

Resistividade ρ1 = 1,25×ρ20°C Ωmm2/m 0,023 0,037

Obs Em França não se faz distinção entre postos de transformação e subestações de transformação. A sua designação genérica é poste de

transformation, contemplando ambas as instalações. Quando as instalações de BT são alimentadas por uma rede de distribuição pública em AT,
por intermédio de um posto de transformação, observando a norma NF C 13-100 a 13-103, o posto de transformação é chamado poste de
livraison, posto de entrega. Quando forem alimentadas por uma instalação de AT por intermédio de uma instalação de transformação
observando a norma NF C 13-200, a sua designação é poste de transformation, posto de transformação.

59
ARTIGO TÉCNICO

Reino Unido – Neste país a norma BS 7671: 2008 Onde:


Requirements for Electrical Installations IEE Wiring
Regulations, Seventeenth Edition é o padrão normativo r – queda de tensão resistiva em mV/A/m
adoptado no domínio das instalações eléctricas em BT x – queda de tensão reactiva em mV/A/m
quando em 1992 a British Standards Institution (BSI) fez das
regras técnicas IEE Wiring Regulations, 16th Edition, A norma prevê a correcção da temperatura dos condutores
publicadas pela Institution of Electrical Enginneers (IEE), sua para uma melhor aproximação do cálculo da queda de
norma. A BS 7671 é também usada noutros países de língua tensão.
inglesa.
Assim a temperatura de serviço vem determinada pela
Os requisitos respeitantes à queda de tensão são tratados expressão seguinte:
nos pontos 525.1 a 525.3. Para uma instalação em BT
alimentada directamente a partir de uma rede de  I2 
distribuição em BT, a queda de tensão máxima, especificada
θ b = θ z −  C g2C a2 − 2b  (θ z − θa )
 Izt 
no Apêndice 12, relativamente à tensão nominal, é:
Θb = temperatura do cabo ou condutor, °C
Equipamento de Outros
Iluminação Usos Θz = temperatura máxima em regime normal, °C
Θa = temperatura ambiente, °C
Queda de tensão máxima 3% 5% Cg = factor de correcção de agrupamento
Ca = factor de correcção da temperatura ambiente
Ib = corrente de serviço, A
O Apêndice 4 da norma contém uma série de tabelas Izt = corrente máxima admissível nas condições da tabela, A
fornecendo, para vários tipos de cabos e condutores, os
valores das quedas de tensão, quer resistivas, quer reactivas, A temperatura θb permite agora determinar o factor de
quer totais, dadas em mV/m/A, calculadas para a correcção de temperatura Ct:
temperatura máxima permitida pelos condutores em regime
230 + θ b
normal de funcionamento. Ct =
230 + θ z

A queda de tensão é então calculada da forma seguinte:


Com
mV / m / A tabelados × cos ϕ × Ib × L
Vd =
1000 1
β0 = ≅ 230 C valor médio para Cu e Al
α0
Quando a secção dos condutores for maior que 16 mm2
deverão considerar-se a queda de tensão resistiva bem como Para secções até 16 mm2, teremos:
a queda reactiva.
Vd = C t cosϕ (mV / A / m ) × L × Ib × 10 −3
Teremos então:
Para secções acima de 16 mm2:
( cosϕ × r + senϕ × x )mV / A / m × L × Ib
Vd = Vd = (C t cosϕ × r + senϕ × x) × L × Ib × 10−3
1000

60
ARTIGO TÉCNICO

Os valores médios das resistividades do Cu e Al a 20°C tramos do circuito usa-se como corrente de serviço o valor
usados na norma são: da corrente estipulada do aparelho de protecção contra

ρCu20°C = 18,3 ×10-3 Ωmm2/m sobreintensidades localizado imediatamente a montante.

ρAl20°C = 30,4 ×10-3 Ωmm2/m


Outra disposição aplicável às instalações de BT prende-se

Alemanha – Várias são as normas e disposições aplicáveis às com as especificações próprias das Associações de Energia

instalações de BT. A norma DIN VDE 0100 – Errichten von Estaduais - Technischen Anschlussbedingungen für den

Niederspannungsanlagen, Estabelecimento de Instalações de Anschluss an das Niederspannungsnetz, Condições Técnicas

BT, contempla na sua parte 520 as prescrições em termos de para a Ligação à Rede de BT, conhecidas por TAB. De acordo

quedas de tensão máximas permitidas nas instalações. com as TAB, as máximas quedas de tensão entre a portinhola

Assim, entre a portinhola e o ponto electricamente mais e o contador vêm dadas em correspondência com o quadro

afastado da instalação a norma fixa, para a máxima queda de seguinte:

tensão tolerada, um valor de 4% da tensão nominal. Potência Queda de tensão Disposição


em kVA admissível em %
Até 100 0,5 AVBEltV(1)
Às instalações residenciais aplica-se igualmente a norma DIN
18015 – Elektrische Anlagen in Wohngebäuden, Instalações De 100 a 250 1,0 TAB
Eléctricas em Edifícios Residenciais. De acordo com esta
Mais de 250 a 400 1,25 TAB
norma a queda máxima entre o contador e o aparelho
electricamente mais afastado deve ser 3% da tensão Acima de 400 1,5 TAB
nominal.

A figura abaixo sintetiza as diversas condições e disposições


Para a determinação da queda de tensão nos diversos
aplicáveis:

Fonte: Siedelhofer ABB

Fig. 3 – Máxima queda de tensão e disposições aplicáveis na Alemanha

(1)
Verordnung über Allgemeine Bedingungen für die Elektrizitätsversorgung von Tarifkunden, Portaria sobre as Condições Gerais para o
Abastecimento de Electricidade a Clientes.

61
ARTIGO TÉCNICO

A queda de tensão é calculada pela expressão simplificada Bibliografia


para as secções condutoras acima dos 16 mm2. Abaixo deste
valor calcula-se somente a queda resistiva. Os dados [4] Regras Técnicas de Instalações Eléctricas de Baixa
seguintes são habitualmente empregados no cálculo da Tensão, Decreto-Lei 226/2005, de 28 de Dezembro e
resistência: Portaria N.º 949-A/2006, de 11 de Setembro, 2006;

[5] Regulamento de Segurança de Redes de Distribuição


Condutividade Cu Al
de Energia Eléctrica em Baixa Tensão, Decreto-
σ Sm/mm2
Regulamentar n.º 90 / 84 de 26 de Dezembro.
20°C 56 35
circuitos ligeiramente carregados
[6] Guia Técnico de Urbanizações, DIT-C11-010/N, EDP –
50°C 50 31
Distribuição – Energia SA, DNT – Direcção de
circuitos moderadamente carregados
Normalização e Tecnológica, Maio 2006;
70°C 47 29
circuitos carregados
[7] Ligação de Clientes de Baixa Tensão, DIT-C14-100/N,
EDP – Distribuição – Energia SA, DNT – Direcção de
5. CONCLUSÕES Normalização e Tecnológica, Maio 2007;

O cálculo das quedas de tensão é fundamental na fase de [8] SIEDELHOFER Bernd - Hauptstromversorgung in
projecto de instalações eléctricas, por um lado, de modo a Gebäuden [em linha]. [Consult. 06 Dez 2010]
garantir que as infra-estruturas definidas cumpram os Disponível em
requisitos regulamentares e, por outro lado, o bom www:<url:http://www.elektrogemeinschaft-
funcionamento e a longevidade dos equipamentos e halle.de/Vortrag/ Hauptstromversorgung.pdf>
instalações.
[9] SCHULTKE Hans – Aktuelles aus der Welt der Normen
Bibliografia [em linha]. [Consult. 06 Dez 2010]
Disponível em
[1] UNION TECHNIQUE DE L'ELECTRICITE – UTE C 15-105. www:<url:http://www.enbw-
Fontenay-aux-Roses: UTE, 2003. eg.de/~upload/enbweg/veranstaltungen2009/herbstv
eranstaltung2009/vortraege/DIN18015-1-4.pdf>

[2] UNION TECHNIQUE DE L'ELECTRICITE – NF C 15-100.


[10] VEWSaar e. V. - Erläuterungen des Verbandes zu den
Puteaux: UTE, 2002.
Technischen Anschlussbedingungen für den Anschluss
an das Niederspannungsnetz (TAB) [em linha].
[3] STOKES Geoffrey, Bradley John - A Practical Guide to
[Consult. 06 Dez 2010]
the Wiring Regulations: 17th Edition IEE Wiring
Disponível em
Regulations (BS 7671:2008). 4ª Ed. Chichester: John
www:<url:http://www.vewsaar.de/fileadmin/dokume
Wiley & Sons Ltd, 2009. ISBN: 978-1-405-17701-6.
nte/Installateure/pdf/erlaeuterungen_tab2007_07201
0.pdf>

62
ARTIGO TÉCNICO

Máquinas Eléctricas

Após o reconhecido sucesso da publicação das anteriores seis edições da Revista Neutro à Terra esta sétima edição reúne os
artigos técnicos publicados nas diversas áreas, e, naturalmente, também na área das Máquinas Eléctricas.
As máquinas eléctricas são os equipamentos mais relevantes nas instalações industriais sendo, por isso, um dos sectores em que
se tem prioritariamente tornar mais eficiente. É dado especial ênfase aos assuntos relativos à utilização racional de energia
eléctrica em instalações industriais e eficiência energética em equipamentos de força motriz, bem como à área relacionada com
as características mais relevantes dos principais sistemas de conversão de energia, fundamentalmente no que se refere aos
geradores e conversores estáticos de potência. Assuntos emergentes, como a tecnologia dos veículos eléctricos são igualmente
destacados nesta secção.

63
ARTIGO TÉCNICO

Índice

Sistemas Geradores em Aproveitamentos Eólicos 65


Pedro Miguel Azevedo de Sousa Melo
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008

Eficiência Energética em Equipamentos de Força Motriz 73


José António Beleza Carvalho, Roque Filipe M. Brandão
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009

Veículos Eléctricos Características e Tipos de Motores 81


Pedro Miguel Azevedo de Sousa Melo
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009

ACCIONAMENTOS EFICIENTES DE FORÇA-MOTRIZ. NOVA CLASSIFICAÇÃO 91


José António Beleza Carvalho, Roque Filipe Mesquita Brandão
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010

Detecção de Avarias em Motores Assíncronos de Indução 99


António Manuel Luzano de Quadros Flores, José António Beleza Carvalho
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010

ESTRUTURAS E CARACTERÍSTICAS DE VEÍCULOS HÍBRIDOS ELÉCTRICOS 105


PEDRO MIGUEL AZEVEDO DE SOUSA MELO
INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DO PORTO
ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA NEUTRO À TERRA, Nº6, DEZEMBRO DE 2010

64
ARTIGO TÉCNICO Pedro Miguel Azevedo de Sousa Melo
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008

Sistemas Geradores em Aproveitamentos Eólicos

Resumo actualmente em uso, fundamentalmente, ao nível dos


geradores, incluindo algumas referências aos conversores de
No presente artigo pretende-se focar as características mais potência. Também são mencionadas as principais vantagens
relevantes dos principais sistemas de conversão de energia e desvantagens dos diferentes sistemas e, por último, uma
eólica, fundamentalmente, no que se refere aos geradores e breve referência a algumas tendências na sua evolução.
conversores estáticos de potência. Começa-se por referir os
princípios de base associados à conversão eólica. Em 2. Potência Eólica
seguida, faz-se uma abordagem aos sistemas de velocidade
constante (baseados no gerador de indução com rotor em A expressão seguinte traduz a potência mecânica disponível
gaiola) e velocidade variável (gerador de indução no veio de uma turbina eólica: [1], [2]
duplamente alimentado e sistemas sem caixa de
velocidades, baseados em geradores síncronos com 1 3 (1)
P= ρ ar C p A r Vvento
enrolamento de excitação e de imanes permanentes). 2
Referem-se as principais vantagens e inconvenientes dos sendo:
diferentes sistemas e, no final, uma breve abordagem acerca ρar – massa específica do ar [kg/m3];
das tendências futuras. Cp – rendimento aerodinâmico;
Ar – secção de varrimento das pás da turbina
1. Introdução (transversal ao eixo rotórico) [m2];
Vvento – velocidade do vento no centro do rotor da
As crises petrolíferas mundiais, desde a década de 70 do turbina[m/s].
século XX e o aumento da consciência ambiental das
opiniões públicas têm motivado o interesse e crescimento da Ar=πR2 (2)
exploração das energias renováveis. Em particular, a energia
eólica é aquela onde se tem verificado o maior crescimento em que R corresponde ao raio do rotor, igual ao
em termos de aproveitamentos. Actualmente, a sua comprimento de uma pá da turbina.
tecnologia encontra-se num elevado nível de
desenvolvimento, principalmente na Europa e nos EUA. [1] Cp, associado às características aerodinâmicas das pás da
turbina, traduz a relação entre a potência eólica
Neste artigo, começa-se por referir alguns dos princípios efectivamente convertida pela turbina e a potência contida
básicos da captação da energia eólica. Pretende-se focar as na massa de ar que atravessa a turbina – potência disponível
características eléctricas dos principais sistemas eólicos no vento.

65
ARTIGO TÉCNICO

O rendimento aerodinâmico (Cp) é função de 2 parâmetros: 3. Regulação da Potência da Turbina

• razão de velocidades na pá (λ), definida como o A figura 1 ilustra a característica mecânica típica de uma
quociente entre a velocidade de rotação da extremidade turbina eólica, estando evidenciadas 4 zonas distintas de
das pás e a velocidade do vento no centro do rotor condições de vento:
(Vvento):

ωr R
λ= (3)
Vvento

ωr - velocidade angular rotórica;

• ângulo de passo (θ): ângulo entre o plano de rotação das


pás do rotor e da respectiva linha de corda do seu perfil
alar.
Figura 1 – Característica Mecânica Turbina Eólica (linha a cheio:

As turbinas eólicas são projectadas para gerarem a máxima velocidade variável; linha a tracejado: velocidade constante) [2]

potência para uma determinada velocidade do vento. Os


valores desta potência e da velocidade do vento são Zona 1: valores baixos da energia cinética do vento, não
designados, respectivamente, potência nominal (Pnominal) e permite a conversão de energia;
velocidade nominal do vento (ωr) – figura 1. [1] Zona 2: os valores das potências convertidas são inferiores
à potência nominal; é aqui fundamental garantir
Existem turbinas eólicas que funcionam a velocidade que o valor de Cp é máximo, o que só é possível
constante e velocidade variável; as primeiras estão nos sistemas de velocidade variável (λ constante);
associadas às tecnologias iniciais de aproveitamentos Zona 3: a potência convertida corresponde ao valor
eólicos, sendo as turbinas de velocidade variável o resultado nominal da turbina; o conteúdo energético do
de tecnologias mais recentes. Neste último caso, verifica-se vento é agora superior à potência nominal pelo
que o valor máximo de Cp está associado a uma razão que, o valor de Cp deverá ser reduzido, sob pena
constante entre a velocidade angular do rotor (ωr) e a do sistema entrar em sobrecarga;
velocidade do vento (Vvento), com  constante. Deste modo, Zona 4: cenário oposto ao da zona 1, isto é, o valor elevado
nas turbinas eólicas de velocidade variável o valor de λ é da velocidade do vento poderá danificar a turbina,
constante – expressão 3. sendo esta normalmente desligada.

66
ARTIGO TÉCNICO

A regulação da potência convertida na zona 3 é efectuada de década de 80 e inícios da década de 90 do século passado. [4]
dois modos distintos, consoante se tratem de turbinas com
velocidade constante ou variável.

No primeiro caso, a regulação é feita de forma passiva: as


características aerodinâmicas das pás são fundamentais
neste modo de controlo da potência convertida – a partir de
um valor pré-definido da velocidade do vento, o rendimento
da turbina decresce – “stall effect” –, mantendo-se
aproximadamente constante a potência fornecida pela
turbina ao gerador eléctrico. [2]

Nas turbinas com velocidade variável, a regulação da


potência convertida é feita de forma activa. A posição das
pás relativamente ao seu plano de rotação é ajustável – Figura 2 – Tipos de Geradores Eólicos [3]

ângulo de passo (θ) regulável (“pitch angle”). Deste modo, é


também possível reduzir o valor de Cp. Normalmente, para O estator do gerador de indução (gaiola de esquilo) é
velocidades do vento superiores ao valor nominal, as directamente ligado à rede; A ligação mecânica do veio do
turbinas passam a funcionar com velocidade constante rotor da turbina e do veio rotor do gerador é efectuada
(nestas situações, a regulação de θ actua directamente no através de uma caixa de velocidades, devido à necessidade
valor do binário). [2] da velocidade deste último ter de ser superior à velocidade
de sincronismo imposta pela frequência da rede (50 ou 60
4. Geradores Eléctricos em Sistemas Eólicos Hz). O controlo da potência na turbina é normalmente
efectuado com base no comportamento aerodinâmico das
Na figura 2 estão indicadas diferentes configurações de suas pás (“stall effect”) [2].
sistemas geradores. No que se refere ao tipo de gerador
eléctrico, são sistemas baseados em máquinas de indução O funcionamento da máquina de indução com rotor em
trifásicas (rotor em gaiola de esquilo nas primeiras gerações; gaiola como gerador está associado a deslizamentos (s)
posteriormente, geradores de rotor bobinado) e em negativos, isto é, velocidades de rotação rotóricas superiores
máquinas síncronas trifásicas (c/ enrolamento de excitação à velocidade de sincronismo – figura 3.
e, posteriormente, de imanes permanentes).
A gama de funcionamento do gerador está compreendida
Os sistemas 1,2,3 e 4 são actualmente os mais relevantes, entre s=0 (n=ns) e o deslizamento nominal, s=sn (n=nn), uma
pelo que serão descritos apenas estes. vez que correspondem a regimes de funcionamento nos
quais a corrente no estator não excede o valor nominal. Os
4.1.Gerador de Indução com Rotor em Gaiola de Esquilo baixos valores dos deslizamentos nominais – característicos
(sistema 1) das máquinas de indução – explicam a utilização destes
sistemas em turbinas com velocidade praticamente
Este sistema, para turbinas com velocidade constante, constante. Não obstante, é de referir a possibilidade de
pertence às primeiras gerações de aproveitamentos eólicos – alguma capacidade de adaptação às flutuações do vento,
em Portugal, o seu aparecimento remonta aos finais da decorrente da natureza assíncrona do gerador.

67
ARTIGO TÉCNICO

De notar neste último algumas semelhanças, apenas em


termos de princípio, com os dos sistemas baseados em
geradores de indução duplamente alimentados.

Posteriormente, em finais da década de 90, surgiram novos


sistemas, dos quais se destacam os referidos como 2, 3 e 4.

4.2. Gerador de Indução Duplamente Alimentado (sistema 2)

O estator do gerador é também directamente ligado à rede.


O rotor é ligado à rede (naturalmente, máquinas de rotor
bobinado) através de um conversor estático de potência. O
Figura 3 – Característica Mecânica da Máquina de Indução princípio deste sistema é o de aproveitamento da energia de
Trifásica (U,f constantes) deslizamento, associada à dissipação de energia na
resistência do rotor (Rr). Tal como ilustrado na figura 4, o
Um dos inconvenientes bem conhecidos das máquinas de valor desta resistência condiciona o deslizamento da
indução é o de não serem capazes de desenvolver o campo máquina, isto é, a velocidade do rotor.
magnético necessário ao seu funcionamento , fundamental
no processo de conversão electromecânica de energia (neste
caso, mecânica - eléctrica). A máquina necessita de absorver
energia reactiva para criar o campo magnético referido,
sendo aquela fornecida pela rede. Assim, estes sistemas
exigem a inclusão de baterias de condensadores de modo a
compensarem o factor de potência da máquina.
Normalmente, os fabricantes permitem a compensação para
valores unitários, através de baterias de condensadores com
2 escalões. [4]

Este sistema possui algumas variantes que permitem uma


melhor adaptação às inevitáveis flutuações do vento, sendo Figura 4 – Influência da Resistência Rotórica na Velocidade da
de destacar: [2] Máquina de Indução Trifásica (U,f constantes)

• geradores equipados com dois enrolamentos estatóricos No entanto, a regulação da velocidade da máquina através
com números de pólos distintos – possibilidade de da alteração da resistência rotórica, implica um aumento da
funcionamento em duas velocidades distintas. energia aí dissipada. A inclusão do conversor de potência
mencionado permite a regulação do deslizamento, sendo
• geradores equipados com sistema de variação que, uma parte da energia que seria dissipada no rotor passa
electrónica da resistência rotórica, permitindo maiores a ser injectada na rede. (De notar que o controlo da
variações de velocidade – turbinas de velocidade semi- velocidade de um motor de indução trifásico por regulação
variável. do deslizamento assenta neste mesmo conceito).

68
ARTIGO TÉCNICO

Deste modo, é possível ter o gerador a funcionar com (Insulated Gate Bipolar Transistor). Os sistemas de controlo
diferentes velocidades rotóricas, melhorando também o seu dos dois conversores baseiam-se na modulação da largura de
rendimento, uma vez que a injecção da energia na rede se impulso (Pulse Width Modulation – PWM).
faz através do estator e do rotor. Naturalmente, este sistema
está associado a turbinas com velocidade variável. O conversor ligado aos terminais do rotor (AC/DC) regula a
O controlo da potência na turbina é realizado através da corrente rotórica (módulo e argumento). Significa que o
regulação do ângulo de passo (“pitch angle”), anteriormente conversor pode fornecer energia reactiva à máquina,
referido. A manutenção de Cp no valor máximo é efectuada permitindo a sua magnetização.
até ser atingido o valor nominal da corrente do gerador. O conversor do lado da rede (DC/AC) regula a tensão do
É também necessária a inclusão de uma caixa de velocidades andar DC, podendo também injectar energia reactiva na
de modo a adaptar as velocidades dos eixos rotóricos da rede. Deste modo, estes sistemas podem contribuir para a
turbina e do gerador. estabilidade da tensão da própria rede.
A capacidade de regulação dos valores da potência activa e
4.2.1. Conversor Estático de Potência reactiva trocadas com a rede é conseguida através do
controlo vectorial no gerador, permitindo ajustar o módulo e
A figura 5 ilustra a estrutura do conversor de potência usado argumento das correntes alternadas (AC) dos conversores.
nestes sistemas – andar de rectificação, andar DC e andar [2], [4]
inversor –, bem como os módulos de controlo.
Os sistemas baseados em geradores de indução necessitam
de caixa de velocidades para o acoplamento do veio da
turbina e do veio do gerador. Com efeito, são comuns
valores de velocidade no veio da turbina entre 30 a 60 rpm;
dependendo da frequência da rede (50 ou 60 Hz) e do
número de pólos magnéticos do gerador (usualmente, 4 ou 6
pólos), são frequentes valores da sua velocidade rotórica
Figura 5 – Conversor de Potência entre 1000 e 1800 rpm. Nos sistemas de geração eólica mais
recentes tem-se procurado a eliminação da caixa de
O rectificador (controlado) e o inversor apresentam velocidades, pois a sua inclusão acarreta um aumento
estruturas semelhantes (figura 6): substancial do custo total do sistema, bem como operações
de manutenção mais frequentes.

4.3. Máquina Síncrona de Velocidade Variável (sem caixa


de velocidades) (sistemas 3 e 4)

Estes sistemas referem-se a aproveitamentos eólicos


equipados com máquinas síncronas. As respectivas turbinas
Figura 6 – Estrutura do Rectificador e Inversor são de velocidade variável e, contrariamente aos sistemas
anteriormente referidos, não existe caixa de velocidades.
Basicamente, são constituídos por pontes de 6 elementos Assim, o gerador síncrono (com enrolamento de excitação
semicondutores de potência (interruptores controlados, convencional – sistema 3 – e, mais recentemente, de imanes
indicado pelas setas a vermelho), tipicamente IGBT´s permanentes – sistema 4) é ligado à rede através de um

69
ARTIGO TÉCNICO

conversor de potência, de modo a converter o valor da 5. Comparação Entre os Sistemas [2]


frequência aos terminais do gerador na frequência da rede
(figura 7). As considerações aqui apresentadas baseiam-se nos
seguintes critérios:

5.1. Custo, dimensão e peso

Em termos médios, o custo dos geradores de indução com


rotor em gaiola é cerca de 25% inferior aos geradores de
rotor bobinado usados nos sistemas duplamente
alimentados.
Os conversores de potência dos sistemas com gerador de
indução duplamente alimentado têm menores dimensões e

Figura 7 – Estrutura dos Sistemas Baseados na Máquina Síncrona são mais baratos do que nos sistemas com geradores
de Velocidade Variável [Enercon] síncronos.

O controlo da potência na turbina é realizado através da O custo dos geradores síncronos (convencionais e de imanes
regulação do ângulo de passo (“pitch angle”). [2], [4] permanentes) é superior ao dos geradores de indução
(aqueles têm maiores dimensões e são mais pesados, para
4.3.1. Conversor Estático de Potência além de se tratarem de máquinas com particularidades
próprias para aproveitamentos eólicos, tais como, elevado
O conversor de potência apresenta uma estrutura número de pólos, estatores hexafásicos,...). No entanto, é de
semelhante à descrita na secção anterior; apenas o andar de referir a ausência de caixa de velocidades, o que atenua de
rectificação controlada é usualmente constituído por uma forma significativa as diferenças anteriores.
ponte de tiristores.
5.2. Rendimentos da Captação Eólica
A tensão na entrada do andar inversor (DC/AC) – figura 5 – é
regulada para um valor constante. É de referir que para Obtém-se melhores rendimentos na captação de potência
baixos valores da velocidade de rotação, a excitação do eólica nos sistemas de velocidade variável, uma vez que,
gerador não consegue manter o valor de tensão DC referido. garantido a proporcionalidade entre a velocidade do rotor da
Nessas situações, torna-se necessário recorrer a um turbina e a velocidade do vento, o rendimento aerodinâmico
conversor DC/DC (“chopper”) instalado entre a saída do mantém-se no valor máximo em toda a gama de velocidades
andar rectificador e o andar DC, de modo a garantir que a da zona 2 da figura 1. Nos sistemas de velocidade constante,
tensão DC se mantém no valor pretendido; para velocidades o rendimento máximo ocorre apenas para uma velocidade
de rotação mais elevadas o “chopper” é desligado. do vento fixa. De notar ainda a diminuição do rendimento
das caixas de velocidades e dos conversores de potência
O inversor (lado da rede) é constituído por uma ponte de 6 para regimes de carga inferiores ao nominal.
IGBT (figura 6), controlada por modulação da largura de No que se refere aos geradores, nos sistemas com máquinas
impulso (PWM), tornando também possível regular a síncronas, a ausência de caixa de velocidades (acoplamento
injecção de potência activa, bem como a potência reactiva directo) implica naturalmente velocidades rotóricas mais
trocada com a rede (controlo vectorial). [4] baixas (na ordem das dezenas de rpm) do que nos geradores

70
ARTIGO TÉCNICO

de indução pelo que os binários desenvolvidos são muito Quanto aos sistemas de velocidade variável baseados em
superiores. Por este motivo, o rendimento nos geradores geradores síncronos, o interesse pelas máquinas de imanes
síncronos eólicos é inferior ao dos geradores de indução. [2] permanentes tem aumentado nos últimos 10 anos,
essencialmente, pela diminuição do preço dos materiais
5.3. Fiabilidade e manutenção magnéticos, tornando-as mais competitivas do ponto de
vista económico. Em relação aos geradores com
Os geradores de indução de rotor bobinado e os geradores enrolamento de excitação, apresentam melhor rendimento –
síncronos com enrolamento de excitação (clássicos) são eliminação das perdas rotóricas – e são mais leves. No
dotados de anéis e escovas. Deste modo, as acções de entanto, a capacidade de controlo é menor, uma vez que a
manutenção e inspecções periódicas são mais frequentes, excitação é fixa.
relativamente aos geradores de indução com rotor em gaiola
e geradores síncronos de imanes permanentes. Como referido anteriormente, os geradores síncronos
A inclusão da caixa de velocidades diminui significativamente aplicado a aproveitamentos eólicos apresentam
a fiabilidade do sistema, fazendo aumentar as operações de características próprias. Como tal, o desenvolvimento de
manutenção. novas configurações de máquinas para acoplamentos
directos (por ex., geradores de fluxo axial e transversal)
Nos sistemas de velocidade constante, variações bruscas da reveste-se de elevado interesse, quer na actualidade, quer
velocidade do vento implicam variações do binário no futuro próximo.
desenvolvido, bastante menores nos sistemas de velocidade
variável. Assim, as turbinas de velocidade constante sofrem Fontes de Informação Relevantes
solicitações mecânicas mais intensas, conduzindo a
aumentos de fadiga e manutenção. [1] Castro, Rui M. G., “Introdução à Energia Eólica”, Instituto
Superior Técnico, edição 2, Janeiro de 2004.
6. Tendências Futuras dos 3 Sistemas [2]
[2] Polinder, Henk et al., “Basic Operation Principles and
Nos últimos anos, os sistemas de velocidade variável têm Electrical Conversion Systems of Wind Turbines”, EPE
vindo a substituir os sistemas de velocidade constante. As Journal, Vol. 15, nº4, December 2005.
razões encontram-se descritas nas secções anteriores.
[3] CIGRE, TF 38.0110
Relativamente aos sistemas de velocidade variável baseados
no gerador de indução duplamente alimentado, há a referir, [4] Ferreira de Jesus, J.M., Castro, Rui M. G., “Equipamento
como vantagens, tratarem-se de máquinas convencionais e o Eléctrico dos Geradores Eólicos”, Instituto Superior
facto destes sistemas (últimas gerações) terem maior Técnico, edição 1.0, Abril de 2008.
capacidade de se manterem em funcionamento quando
ocorrem falhas na rede. É igualmente de realçar a
capacidade de contribuição para a estabilidade da tensão e
frequência da rede, através do controlo, respectivamente,
das potências reactiva e activa.

Como referido, a grande desvantagem reside na necessidade


da caixa de velocidades.

71
DIVULGAÇÃO

LABORATÓRIO DE MÁQUINAS ELÉCTRICAS


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELECTROTÉCNICA
INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DO PORTO
O Laboratório de Máquinas Eléctricas (LME) é uma instalação de apoio ao ensino e aos trabalhos de investigação e
desenvolvimento no âmbito dos cursos de Licenciatura e Mestrado de Engenharia Electrotécnica do Departamento de
Engenharia Electrotécnicado Instituto Superior de Engenharia do Porto.

O LME é utilizado por uma equipa constituída por docentes, técnico e alunos da área dos Sistemas Eléctricos de Energia
(Licenciatura e Mestrado), Electrónica e Computadores (Licenciatura) e Mecânica (Licenciatura), que dispõem de equipamento
técnico e laboratorial que proporciona a realização de ensaios simulados e reais de conversão de energia, que contribui
positivamente para a preparação prática dos estudantes.

Esta infra-estrutura é constituída por equipamentos de controlo (velocidade, binário e posição) e instrumentação que permite a
realização de ensaios de máquinas eléctricas (transformadores, motores e geradores), segundo as normas vigentes, incluindo
variadores de velocidade, sensores dinâmicos de binário, cargas mecânicas dinâmicas e analisadores de qualidade de energia.

Director Laboratório
TRABALHOS REALIZADOS NO LABORATÓRIO: Doutor António Andrade
• Ensaios de transformadores monofásicos e trifásicos
• Ensaios de máquinas de indução trifásicas
• Ensaios de máquinas síncronas trifásicas
• Ensaios de máquinas de corrente continua
• Ensaios de servomotores
• Ensaios de tracção eléctrica
• Simulação computacional (Matlab) de funcionamento de máquinas eléctricas

|72
72
ARTIGO TÉCNICO José António Beleza Carvalho, Roque Filipe M. Brandão
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009

Eficiência Energética
em Equipamentos de Força Motriz
1. Introdução Também a nível Europeu, os motores eléctricos representam
uma das fontes mais consumidoras de energia: 70% do
A produção de energia mecânica, através da utilização de consumo eléctrico na indústria e cerca de 1/3 do consumo
motores eléctricos, absorve cerca de metade da energia eléctrico no sector dos serviços.
eléctrica consumida no nosso País, da qual apenas metade é
energia útil. Este sector é, pois, um daqueles em que é Nos últimos anos, muitos fabricantes de motores investiram
preciso tentar fazer economias, prioritariamente. O êxito fortemente na pesquisa e desenvolvimento de novos
neste domínio depende, em primeiro lugar, da melhor produtos com o objectivo de colocarem no mercado motores
adequação da potência do motor à da máquina que ele mais eficientes.
acciona. Quando o regime de funcionamento é muito
variável para permitir este ajustamento, pode-se equipar o 2. Eficiência dos Motores
motor com um conversor electrónico de variação de
velocidade. Outra possibilidade é a utilização dos motores Os motores eléctricos convertem a energia eléctrica em
“de perdas reduzidas” ou de “alto rendimento”, que energia mecânica. No entanto o rendimento desta conversão
permitem economias consideráveis. não é de 100%. A energia eléctrica é convertida em energia

73
ARTIGO TÉCNICO

mecânica e em perdas. Estas perdas são devidas aos diversos


elementos que estão presentes na conversão e podem ser
divididas em quatro tipos:
o Perdas eléctricas;
o Perdas magnéticas;
o Perdas mecânicas;
o Perdas parasitas.

As perdas eléctricas são provocadas pela resistência não nula


dos condutores das bobines que ao serem percorridos pela
corrente provocam perdas caloríficas. As perdas magnéticas
ocorrem nas lâminas de ferro do estator e do rotor devido à
histerese e às correntes de Foucault. As perdas mecânicas
são provocadas pela rotação das peças móveis, ventilação e
atrito do ar. As perdas parasitas são devidas a fugas e
irregularidades de fluxo e, também, distribuição de corrente
não uniforme.

Para se quantificar o valor do rendimento de um motor é


necessário conhecer certos parâmetros, tais como as perdas
e a potência mecânica disponibilizada para a carga. Também
é necessário conhecer algumas características da máquina Figura 1 – Perdas nos equipamentos de força motriz
para que se possa fazer a sua modelização e simulação em
vários regimes de carga. Os testes e estudos a efectuar para Os sistemas de força motriz não são apenas constituídos pelo
se determinar o rendimento de um motor de indução são motor eléctrico. Outros componentes do sistema, para além
descritos na norma CEI 34-2. do motor, podem ser o Variador Electrónico de Velocidade, a
Transmissão Mecânica e o Dispositivo de Uso Final. Na
A eficiência de um motor é dada pelo seu rendimento, ou realidade, os equipamentos de força motriz podem integrar
seja, pela relação entre a quantidade de energia eléctrica estes 4 módulos, como se ilustra na figura 2. Deve-se actuar
que absorve e a quantidade de energia mecânica que produz ao nível de cada módulo, de forma a optimizar a eficiência
e pode ser calculada pela expressão seguinte. do sistema global. Neste âmbito, merece particular atenção
a utilização sempre que possível de Variadores Electrónicos
Pmec Pmec
η= (%) = (1) de Velocidade (VEV).
Pabs Pmec + Pperdas

ENERGIA VARIADOR DISPOSITIVO


ELECTRÓNICO MOTOR TRANSMISSÃO DE USO FINAL
DE VELOCIDADE ELÉCTRICO Pmotor MECÂNICA Ptrans Psaída(útil)
Pentrada PVEV
(VEV)
Pperdas
Pperdas Pperdas Pperdas

Figura 2 – Sistemas de Força Motriz

74
ARTIGO TÉCNICO

3. Classificação da Eficiência Energética para metade até 2003. Este objectivo foi alcançado e a venda
de motores EFF3 terminou pouco tempo depois.
Na Europa a classificação dos motores CA (Corrente
Alternada) de baixa tensão foi estabelecida em 1998 com o Todos os fabricantes que assinaram este acordo estão
acordo dos principais fabricantes de motores Europeus. autorizados a colocar a etiqueta de eficiência nos motores e
em toda a documentação que os acompanhe, o que torna
De uma forma resumida, o acordo estabelecido entre a mais fácil a identificação da classe do motor.
Comissão Europeia (CE) e o Comité Europeu de Fabricantes
de Máquinas Eléctricas e de equipamentos e sistemas de
Electrónica de Potência (CEMEP) estabelecia que os motores
de 1,1 a 90kW de potência nominal, 50 ou 60Hz, com 2 e 4 Figura 4 – Etiquetas de eficiência dos motores.
pólos magnéticos, serão classificados de acordo com os
valores dos respectivos rendimentos. Com base no acordo voluntário anteriormente referido, foi
também criada uma base de dados europeia EuroDEEM, que
As classes de rendimento estabelecidas foram as seguintes: foi projectada pelo centro de pesquisa da Comissão Europeia
o EFF1: Motores de elevado rendimento; (CE/JRC), com o objectivo de reunir num só suporte as
o EFF2: Motores de rendimento melhorado; informações mais importantes sobre os motores eléctricos
o EFF3: Motores de rendimento normal. disponíveis no mercado. Desta forma pretende-se que os
utilizadores desta ferramenta possam fazer uma escolha
No acordo CE/CEMEP ficou ainda estabelecido que as bem fundamentada em termos técnicos e económicos dos
vendas, na União Europeia, de motores EFF3 diminuiriam seus sistemas (CARLOS GASPAR, 2004).

Figura 3 – Classes de eficiência de motores. [Rennie, 2000]

75
ARTIGO TÉCNICO

A tabela I mostra o rendimento dos motores para cada uma Os construtores aumentaram a massa de materiais activos
das classes de eficiência estabelecidas. (cobre e ferro) de forma a diminuir as induções, as
densidades de corrente e, assim, reduzir as perdas no cobre
4. Características dos motores de elevado rendimento e no ferro. Utilizam chapas magnéticas de perdas mais
reduzidas, entalhes especiais em certos casos e
Actualmente, encontra-se já disponível no mercado os reformularam a parte mecânica, com especial incidência
chamados motores de “perdas reduzidas”, ou de “alto sobre a ventilação, para reduzir a potência absorvida por
rendimento”, mais caros que os motores clássicos, mas cuja esta e diminuir o nível de ruído. Daí resulta, para idêntica
utilização se revela rentável quando o seu tempo anual de dimensão, um aumento de peso da ordem de 15%, e de
utilização for suficientemente longo. Basicamente, o preço da ordem de 20 a 25%. Contudo, a melhoria do
acréscimo de eficiência dos motores está associado a uma rendimento, compreendida entre 2 e 4,5%, e do cosφ,
redução das suas perdas, que foi conseguida à custa, quer da permite amortizar rapidamente este aumento de preço. As
utilização de materiais construtivos de melhor qualidade e melhorias típicas que são efectuadas a nível construtivo da
com melhores acabamentos, quer por alteração das suas máquina podem ser visualizadas na figura seguinte e são
características dimensionais. resumidas na Tabela II.

Tabela I – Definição das diversas classes de eficiência

kW EFF3 EFF2 EFF1 EFF1


2 e 4 pólos 2 e 4 pólos 2 pólos 4 pólos
ηn (%) ηn (%) ηn (%) ηn (%)
1,1 <76,2 ≥76,2 ≥82,2 ≥83,8
1,5 <78,5 ≥78,5 ≥84,1 ≥85,0
2,2 <81,0 ≥81,0 ≥85,6 ≥86,4
3 <82,6 ≥82,6 ≥86,7 ≥87,4
4 <84,2 ≥84,2 ≥87,6 ≥88,3
5,5 <85,7 ≥85,7 ≥88,6 ≥89,3
7,5 <87,0 ≥87,0 ≥89,5 ≥90,1
11 <88,4 ≥88,4 ≥90,5 ≥91,0
15 <89,4 ≥89,4 ≥91,3 ≥91,8
18,5 <90,0 ≥90,0 ≥91,8 ≥92,2
22 <90,5 ≥90,5 ≥92,2 ≥92,6
30 <91,4 ≥91,4 ≥92,9 ≥93,2
37 <92,0 ≥92,0 ≥93,3 ≥93,6
45 <92,5 ≥92,5 ≥93,7 ≥93,9
55 <93,0 ≥93,0 ≥94,0 ≥94,2
75 <93,6 ≥93,6 ≥94,6 ≥94,7
90 <93,9 ≥93,9 ≥95,0 ≥95,0

Tabela II – Resumo das alterações nos motores de elevado rendimento

Alteração Efectuada Efeito produzido


Tratamento térmico do rotor. Redução da resistência.
Uso de ferro laminado por camada. Redução das perdas no ferro.
Melhoria do circuito magnético. Redução das perdas no ferro.
Redução das bobines do circuito indutor. Redução das perdas por efeito de Joule.
Melhor qualidade dos rolamentos. Redução das perdas mecânicas.
Maior quantidade de cobre. Diminuição de perdas e do calor gerado.
Redução do entre-ferro. Diminuição das perdas parasitas.
Rotor mais largo. Reactância de fugas menor.
Sistema de ventilação melhorado. Diminuição de ruídos e da temperatura.

76
ARTIGO TÉCNICO

Apesar de este tipo de motores possuir uma eficiência correctamente, por um motor de elevado rendimento se
melhorada, quando inseridos num sistema, a eficiência total torna economicamente vantajosa. Essa hipótese poderá ser
do mesmo sistema depende de todos os outros considerada se o motor tiver um elevado número de horas
componentes que o compõem. Por este motivo, não se deve de funcionamento anual.
apenas investir na compra de um motor de elevada
eficiência, quando existirem problemas de eficiência nos A equação seguinte permite calcular a poupança que se
outros componentes do sistema. obtém com um motor de elevado rendimento em
comparação com um motor standard.
5. Estudo económico, em motores de elevado rendimento
 1 1 
Poupança =  −  × PN × N × € (2)
η η kWh
 STD EE 
Como foi referido anteriormente, a opção por motores de
elevado rendimento acarreta custos de investimentos em que,
sempre superiores ao investimento em motores standard. η EE representa o rendimento do motor standard
Por esse motivo só se torna economicamente vantajosa a η STD representa o rendimento do motor de elevada
aposta neste tipo de motores quando existe a necessidade eficiência
de substituição de um motor ou quando se está a PN representa a potência nominal do motor
dimensionar uma nova instalação. Quase nunca a
N indica o número de horas de funcionamento anual
substituição de um motor standard, a funcionar €
kWh traduz o preço da energia eléctrica.

Figura 5 – Alterações nos motores de elevado rendimento [WEG]

77
ARTIGO TÉCNICO

O acréscimo de custos dos motores de alto rendimento é Apesar de este ser apenas um exemplo e que usa
recuperado através da economia de energia eléctrica que pressupostos previamente estabelecidos, os valores
proporcionam. O tempo de recuperação N do investimento encontrados são da mesma ordem de grandeza dos valores
suplementar devido à instalação de motores de alto que se podem atingir na realidade. Para qualquer
rendimento, pode ser calculado através da seguinte investimento em motores eléctricos efectuado, pelo menos,
expressão: para 10 anos, os modelos de perdas reduzidas são
fortemente competitivos.
∆Ι (3)
N=
∆Ρ.Κ .t 6. Controlo de velocidade dos equipamentos de força motriz

em que, Uma grande parte das aplicações em que se utiliza força


∆Ι diferença de custos motriz beneficiaria, em termos de consumo de electricidade
∆P variação das perdas entre os dois motores e desempenho global, se a velocidade do motor se ajustasse
K preço do kWh às necessidades do processo. As aplicações com carga
t tempo de utilização (horas) variável ou parcial representam cerca de 60% das aplicações
de força motriz na indústria, e 80% no sector terciário.
Se por exemplo considerarmos um motor de 30kW a Assim, adaptar a velocidade do motor à carga conduz em
funcionar à plena carga durante 4000 horas anuais. geral a uma poupança substancial de energia. Os sistemas
Considerando um custo médio para a energia de 0,09€/kWh mais eficientes e mais utilizados no controlo e regulação de
e que o rendimento dos motores EFF1 e EFF3 é velocidade dos equipamentos de força motriz são os
respectivamente 93,2% e 91,4%, então a poupança anual de Variadores Electrónicos de Velocidade (VEV).
energia é de cerca de 228,2 €.
Os VEVs convertem a tensão alternada da rede de 50 Hz
Considerando agora que a diferença de preço entre os dois numa tensão contínua e em seguida numa tensão com
motores é de 450€, então tempo de recuperação do capital frequência variável sob controlo externo do utilizador que
devido à instalação do motor de elevado rendimento é de pode ir de 0 a 150 Hz consoante o tipo de aplicações. Na
aproximadamente 2 anos. figura 6 apresenta-se a estrutura de blocos de um VEV para
um motor assíncrono de indução trifásico.

Ligação
DC linkDC

Inverter:
DC to
Rectificador Inversor
3φ CA AC
para CC variable
CC para CA
to DC Filtro voltage
AC
Alimentação Filter com Motor
input
trifásica converter & e
Frequência
frequency
tensão variável
AC
Motor

Figura 6– Diagrama de blocos de um Variador Electrónico de Velocidade

78
ARTIGO TÉCNICO

As principais vantagens inerentes à utilização de um VEV são Os acoplamentos directos no veio são o tipo de transmissão
as seguintes: mais utilizado (cerca de 50% das aplicações).
o Elevado rendimento (96 a 98%) e elevada fiabilidade
o Elevado factor de potência Acoplamentos directos:
o Adaptação do motor à carga , em binário e velocidade Os acoplamentos directos, se forem alinhados com precisão,
o Arranques suaves (poupança de energia) e frenagem possuem um rendimento muito elevado (99%).
controlada
o Protecção do motor contra curto-circuitos, sobrecargas, Engrenagens:
sobretensões, falta de fase, etc. Vantagem técnica e As engrenagens simples ou redutoras, são tipicamente
económica utilizados em cargas que requerem velocidades baixas
o Poupança substancial de energia e tempo de retorno do (abaixo de 1200 rpm) e binário muito elevado (que utilizando
investimento reduzido, especialmente em aplicações de correias poderia resultar em escorregamento). Existem
controlo da caudais de bombas, ventiladores e vários tipos de engrenagens: helicoidais, de dentes direitos,
compressores centrífugos cónicas e com sem-fim.
o Menor desgaste de componentes e equipamentos
mecânicos. Correntes:
Tal como as correias síncronas, as correntes não têm
7. Transmissão Mecânica nos Equipamentos de Força deslizamento. Normalmente são usadas em aplicações onde
Motriz é requerido uma velocidade reduzida e binário elevado,
suportam ambientes com temperaturas elevadas e cargas de
Tipicamente são usados 3 tipos de transmissão mecânica: choque e têm um tempo de vida elevado se forem
o Acoplamentos directos no veio; apropriadamente lubrificadas. O seu rendimento ascende
o Engrenagens; aos 98% se forem sujeitas a uma manutenção periódica.
o Correias.

(c)

(a)

(d) (e)
(b)

Figura 7 – Transmissão Mecânica em equipamentos de força motriz.

79
ARTIGO TÉCNICO

Correias: sua utilização. Como se demonstrou neste artigo, os ganhos


Estas permitem mais flexibilidade no posicionamento do de eficiência com os motores de alto rendimento, vão desde
motor em relação à carga, e usando polias de diferentes 1% a 5%, o que se pode traduzir por importantes reduções
tamanhos permitem reduzir/aumentar a velocidade. Existem do seu consumo eléctrico; contudo, pela sua concepção, são
vários tipos de correias: (a) Correias em V, (b) Correias com naturalmente motores que exigem um investimento inicial
dentes, (c) correias síncronas, (d) correias lisas. superior ao dos motores standard (cerca de 25% a 30%).
Face a este acréscimo de custos de investimento, é
conveniente efectuar-se uma análise económica prévia;
pode no entanto, considerar-se tipicamente que, em
situações de aquisição de novos motores, a sua utilização é
normalmente justificada, sendo o sobrecusto amortizado em
1 a 2 anos, para um período de laboração da ordem das 4000
h/ano, e em cerca de 3 anos, para 2000 h/ano de
funcionamento.

Atender às necessidades de manutenção dos motores, que


são essencialmente a limpeza da carcaça, a fim de reduzir a
temperatura, e nalguns casos a lubrificação dos rolamentos.

Figura 8 – Tipos de correias: 1-correias trapezoidais 2-


Fontes de Informação Relevantes
correias síncronas
- BELEZA CARVALHO, J. A., MESQUITA BRANDÃO,
8. Considerações Finais Eficiência Energética em Equipamentos de Força Motriz.
Jornadas Luso-Brasileiras de Ensino e Tecnologia em
A produção de energia mecânica, através da utilização de Engenharia. ISEP, Porto, Fevereiro de 2009.
motores eléctricos, absorve cerca de metade da energia - BELEZA CARVALHO, J. A., MESQUITA BRANDÃO, R. F.,
eléctrica consumida no nosso País, da qual apenas metade é Efficient Use of Electrical Energy in Industrial
energia útil. Este sector é, pois, um daqueles em que é Installations. 4TH European Congress Economics and
preciso tentar fazer economias, prioritariamente. Como se Management of Energy in Industry. Porto, Novembro de
apresentou neste artigo, os pontos fundamentais em que se 2007.
deve intervir são os seguintes: - CARLOS GASPAR, Eficiência Energética na Industria-
o Dimensionar correctamente os equipamentos de força ADENE, Cursos de Utilização Racional de Energia, 2004.
motriz, fazendo os motores funcionar com cargas da - GARCIA, A. G. Impacto da Lei de Eficiência Energética
ordem dos 70 a 80%. para Motores Eléctricos no Potencial de Conservação de
o Adaptar a velocidade do motor às necessidades do Energia na Indústria. 2003. Dissertação (Mestrado em
processo, utilizando sempre que necessário dispositivos Planeamento Energético) - Universidade Federal do Rio
electrónicos de variação de velocidade. de Janeiro-COPPE, Rio de Janeiro.
- IAN RENNIE, Improving Motor Efficiency for a Better
o Utilizar os novos motores de “alto rendimento”, que já Environment . ABB Review, 1/2000.
provaram a sua competitividade apesar do seu custo - WEG, Catálogo de Motores Eléctricos, disponível em
superior, devendo-se ponderar sempre que necessário a http://www.weg.com.br/.

80
ARTIGO TÉCNICO Pedro Miguel Azevedo de Sousa Melo
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009

Veículos Eléctricos
Características e Tipos de Motores
RESUMO obtidos no motor de combustão interna – maiores potências
e mais baratos, com menores custos de produção [1].
Os impactos ambientais e económicos dos combustíveis
fósseis têm uma forte proveniência do sector dos As sucessivas crises energéticas nos finais do século XX, as
transportes. Este facto tem motivado, nas últimas décadas, crescentes preocupações ambientais e a tomada de
um aumento do desenvolvimento dos veículos eléctricos, consciência dos limites das reservas de combustíveis fósseis
principalmente, das soluções híbridas. Tais desenvolvimentos colocaram em evidência os veículos eléctricos como
resultam da integração de diversos domínios da engenharia, alternativa aos transportes convencionais. Paralelamente, o
sendo de destacar os novos materiais e concepções de sector dos transportes é responsável por enormes
motores eléctricos, a electrónica de potência, os sistemas de quantidades de energia consumida, cujos valores aumentam
controlo e os sistemas de armazenamento de energia. consideravelmente todos os anos.

Neste artigo procura-se apresentar as principais Em particular, nos meios urbanos, a substituição dos meios
características dos sistemas de propulsão eléctrica actuais. de transporte actuais por veículos eléctricos trará enormes
Começa-se fazer uma comparação entre os veículos reduções nos níveis de poluição atmosférica, bem como nos
eléctricos e os convencionais, baseados nos motores térmicos índices de ruído.
de combustão interna. Pela sua importância, é feita uma
referência sucinta aos sistemas de armazenamento de Também em termos gerais, as emissões das centrais
energia. eléctricas, baseadas em combustíveis fósseis, associadas à
generalização dos veículos eléctricos serão muito inferiores
São comparadas as características da propulsão eléctrica e ao somatório das emissões dos motores de combustão
térmica, sob a perspectiva das exigências dos sistemas de interna, actualmente em circulação.
tracção. São referidos os principais tipos de sistemas de
propulsão eléctrica (motor, conversor e controlador), As razões assentam nos rendimentos muito superiores dos
vantagens e desvantagens relativas. motores eléctricos, bem como na capacidade de efectuarem
frenagens regenerativas.
Por último, uma abordagem acerca das tendências futuras
dos veículos eléctricos. Neste cenário, é de referir também o contributo das fontes
renováveis de energia eléctrica na redução das emissões de
1. INTRODUÇÃO poluentes para a atmosfera.

Embora o tema dos veículos eléctricos tenha conhecido uma A tabela 1 apresenta uma comparação entre veículos
divulgação alargada, sobretudo nas duas últimas décadas, eléctricos e convencionais (baseados em motores térmicos)
não se trata de uma novidade propriamente dita. No final [2].
do século XIX eram relativamente populares e, até finais da
década de 1910, as suas vendas tiveram alguma expressão. A proliferação dos veículos eléctricos será ditada pela
Somente a partir da década de 30, os veículos eléctricos aceitação dos utilizadores dos actuais meios de transportes
desapareceram, devido aos desenvolvimentos (nos designados países desenvolvidos trata-se da
generalidade dos seus cidadãos).

81
ARTIGO TÉCNICO

Tabela 1 – Características de Veículos Eléctricos e Convencionais

Veículos Eléctricos Veículos c/ Motores Térmicos

Tipo de Motor Motor Eléctrico Motor de Combustão Interna

Baterias, super condensadores,


Fonte de Energia Gasolina e Gasóleo
células de combustível
Elevado (fundamentalmente,
Peso Próprio Leves, em termos comparativos
devido às baterias)
Pode prescindir de caixa de Sistema de Engrenagens (caixa
Transmissão de Potência
velocidades de velocidades)

Frenagem Regenerativa Dissipativa

Rendimento Elevado Baixo

Impactos Ambientais Reduzidos Elevados

Custo Inicial Elevado Médio

Custos de Manutenção Reduzidos Muito Elevados

Tal significa que, no mínimo, os veículos eléctricos têm de 2.1. Sistema de Gestão de Energia
apresentar características semelhantes às dos actuais,
baseados em motores térmicos, tais como: segurança, O sistema de gestão de energia (implementado pelo
conforto, fiabilidade, robustez e desempenhos, com preços controlador) assume importância fundamental, uma vez que
competitivos. o fluxo de energia, quer no “modo motor” – baterias→
motor, quer no “modo regenerativo” – motor→ baterias,
Para tal, muito têm contribuído os progressos obtidos, nos deverá ter sempre associado elevados rendimentos.
últimos anos, nos seguintes domínios: electrónica de
potência (novas arquitecturas de conversores), máquinas No funcionamento em modo regenerativo (períodos de
eléctricas (novas concepções de motores e evolução dos desaceleração do veículo), a diminuição da energia cinética
materiais), sistemas de controlo (gestão optimizada dos do veículo não se traduz em dissipação, mas antes em
fluxos de energia, com bons desempenhos na tracção) e armazenamento de energia.
sistemas de armazenamento de energia.
2.2. Sistema de Armazenamento de Energia
2. CARACTERÍSTICAS DOS VEÍCULOS ELÉCTRICOS
Actualmente, na questão da autonomia dos veículos
Em termos básicos, um veículo eléctrico assenta na eléctricos reside o seu principal ponto fraco.
integração dos seguintes componentes (Figura 1):
- sistema de gestão de energia; Este facto explica a razão da generalidade dos fabricantes de
- sistema de armazenamento de energia; automóveis disponibilizarem apenas veículos híbridos
- sistema de propulsão eléctrica. (motor térmico + motor(es) eléctrico(s)).

82
ARTIGO TÉCNICO

Figura 1 – Estrutura de um Veículo Eléctrico (baseado em [3])

Não obstante a necessidade de grandes melhorias nas primeiros mas têm valores superiores aos das células de
características dos sistemas de armazenamento de energia, combustível.
há a registar evoluções importantes nos últimos anos.
São de referir os desenvolvimentos nas baterias baseadas
Embora se afaste do tema principal a tratar neste artigo, é em níquel (Ni) e iões de lítio (Li), principalmente nestas
feita, em seguida, uma breve referência ao estado actual últimas (elevada densidade de energia).
daqueles sistemas [2], [4].
b) Super Condensadores
As principais características destes sistemas são:
- energia específica (Wh/Kg); Apresentam valores muito elevados de potência específica.,
- potência específica (W/Kg); no entanto, têm valores baixos de energia específica, pelo
- densidade de energia (Wh/volume); que são usados como complemento das baterias ou células
- densidade de potência (W/volume); de combustível.
- vida útil (nº de ciclos);
- temperatura de funcionamento ; Têm tempos de carga muito curtos.
- custo.
Possuem características importantes para permitir bons
a) Baterias comportamentos dinâmicos (potência suficiente para as
acelerações e capacidade de recuperação de energia nas
Têm valores de energia específica superiores aos super frenagens).
condensadores e inferiores às células de combustível.
Têm ciclos de funcionamento mais elevados do que as
No que se refere à potência específica, são inferiores aos baterias.

83
ARTIGO TÉCNICO

c) Células de Combustível A Figura 2 ilustra a sua constituição:


- motor eléctrico;
Estes sistemas produzem energia eléctrica, através da - conversor de potência;
reacção química do hidrogénio e oxigénio, sendo o vapor de - - controlador;
água o único produto da reacção. - sistema de transmissão mecânica.

O seu impacto ambiental é nulo, apresentado rendimentos As exigências impostas pelos veículos eléctricos implicam
elevados. Têm elevados valores de energia específica motores com características particulares, sendo de destacar:
(superiores aos das baterias e super condensadores), mas elevadas densidades de potência e de binário, rendimentos
baixos valores de potência específica (inferiores aos altos em diferentes regimes de carga (não apenas o nominal)
daqueles). e custos moderados.

Continuam a ser alvo de pesquisas, com vista a melhorar as O sistema de propulsão eléctrica deverá permitir dispor de
suas características e custos. elevadas potências instantâneas, com bons rendimentos, em
todos os modos de funcionamento [3], [5].

2.3. Sistema de Propulsão Eléctrica Na Figura 3 estão representadas as características mecânica


(Tel(nr)) e de potência (Pel(nr)) típicas dos sistemas de
Os sistemas de propulsão eléctrica (“drives”) apresentam propulsão eléctrica.
estruturas semelhantes às das “drives” industriais, em uso há
já vários anos. No entanto, atendendo às especificidades dos Está também incluída a característica mecânica típica de um
veículos eléctricos – arranques e paragens sucessivas, motor térmico (tracejado).
regimes de carga e condições ambientais distintas, etc. –, as
suas características são, em geral, muito diferentes das É visível a excelente adaptação dos sistemas eléctricos aos
“drives” industriais [5]. É sobre este sistema que se procurará requisitos de qualquer veículo de tracção.
incidir com mais detalhe.

Figura 2 – Estrutura Básica do Sistema de Propulsão Eléctrica (setas a cinzento: fluxo de energia)

84
ARTIGO TÉCNICO

Actualmente, as principais escolhas são as seguintes:


- Motor de Corrente Contínua (DC);
- Motor de Indução Trifásico;
- Motor Síncrono de Ímanes de Permanentes;
- Motor “Brushless”DC;
- Motor de Relutância Comutada.

3.1. Motor de Corrente Contínua (DC)

Historicamente, o início da tracção eléctrica esteve


intimamente associado ao motor série (DC).
Figura 3 – Características de Veículos Eléctricos e Convencionais

As razões prendem-se com a sua característica mecânica,


No sistema eléctrico são obtidos elevados binários nas baixas vocacionada para as exigências inerentes aos sistemas de
velocidades; normalmente, acima da velocidade nominal do tracção, e com a simplicidade dos respectivos sistemas de
motor, o binário desenvolvido decresce, mantendo-se controlo e da sua implementação (controlo independente do
aproximadamente constante a potência desenvolvida. Esta campo magnético e do binário).
zona de funcionamento – zona de enfraquecimento do
campo – é crucial em termos da gama de velocidades São também de referir a utilização de outras variantes
permitida. É, pois, uma zona importante do funcionamento clássicas de motores DC: excitação independente e “shunt”.
dos motores eléctricos dos sistemas de propulsão [3].
No entanto, os motores de corrente contínua convencionais
Comparando com a característica de um motor de apresentam rendimentos relativamente baixos, bem como
combustão, há a salientar que o binário desenvolvido no baixas densidades de potência, para além de exigirem
arranque é inferior neste último. elevados níveis de manutenção (fiabilidade reduzida). Para
tal, muito contribui a existência do sistema colector/escovas,
A zona de funcionamento com potência constante é o qual impõe também limites nas velocidades.
conseguida, no caso dos motores térmicos, somente com a
inclusão de um sistema de transmissão múltipla, não sendo Em certos casos, são usados motores DC de ímanes
necessário nos sistemas eléctricos. permanentes (não têm enrolamento de excitação, este é
substituído por ímanes permanentes).
De notar também que o valor nominal da potência do motor
de combustão é necessariamente mais elevado, ou seja, um Embora apresentem melhores rendimentos, não eliminam
veículo eléctrico cujo funcionamento está circunscrito à zona os inconvenientes do comutador mecânico (colector), para
das baixas velocidades, terá associado um motor com menor além das limitações de potência e preço, associados aos
potência nominal [6]. ímanes permanentes. A título de exemplo [7]: carro de golfe,
sem controlo no modo de enfraquecimento de campo
3. TIPOS DE SISTEMAS DE PROPULSÃO ELÉCTRICA (apenas baixas velocidades).

Os sistemas de propulsão eléctrica são caracterizados pelo


tipo de motor associado.

85
ARTIGO TÉCNICO

Normalmente, ambos os enrolamentos dos motores DC são A capacidade de processamento necessária à implementação
equipados com conversores de potência – “Choppers” dos sistemas de controlo por orientação de campo é elevada,
baseados em MOSFET’s (Metal Oxide Semiconductor Field- uma vez que estes se baseiam em modelos dinâmicos do
Effect Transistor) –, permitindo o funcionamento em modo motor, fortemente não lineares, expressos em referenciais
regenerativo (conversor ligado à armadura) e na zona de distintos. Também a variação dos parâmetros do motor (em
enfraquecimento de campo (conversor ligado à excitação) particular, a resistência rotórica) tem importância
[7]. determinante na eficácia destes sistemas de controlo.

Os avanços verificados na electrónica de potência Os conversores de potência mais utilizados baseiam-se em


(principalmente, a partir da década de 80 do século IGBT´s (Insulated Gate Bipolar Transistor), sendo as tensões
passado), permitiram a implementação de sistemas de aplicadas ao motor obtidas por modulação de largura de
controlo para máquinas de corrente alternada (AC), embora impulsos (PWM).
mais complexos do que no caso DC.
Os sistemas de controlo são actualmente baseados em
Uma vez que são motores com concepções mais simples e processadores digitais de sinal (DSP).
robustas (menor manutenção e preço), com maiores
densidades de potência e rendimentos, tornaram-se A Figura 4 apresenta a estrutura dos inversores mais
preferenciais aos tradicionais sistemas DC. comuns.

3.2. Motor de Indução Trifásico

São muito utilizados, atendendo à sua simplicidade


construtiva e robustez, principalmente a variante em gaiola
de esquilo, apresentando rendimentos mais elevados
relativamente aos motores DC.
Figura 4 – Inversor de Motor de Indução Trifásico

Embora não possuam características naturais para a tracção (setas a vermelho: semicondutores de potência controlados)

eléctrica, a implementação de sistemas baseados no


controlo vectorial – controlo por orientação de campo – Como referido, aos comportamentos dinâmicos exigidos,

permitiram melhorar os desempenhos dinâmicos deste tipo acresce também os elevados rendimentos associados aos

de motores, possibilitando o funcionamento nas duas zonas fluxos de energia – modo motor e frenagem regenerativa.

indicadas na Figura 3: binário constante e potência


constante. São características fundamentais a garantir pelos sistemas de
controlo, que continuam a ser alvo de investigação.

O controlo por orientação de campo assenta numa filosofia


semelhante à dos motores DC (controlo independente do 3.3. Motor Síncrono de Ímanes de Permanentes

fluxo e do binário). No entanto, a sua implementação é


muito mais complexa, uma vez que, no motor de indução Estes motores, designados na literatura anglo-saxónica por

trifásico não existe um circuito próprio para a excitação – “permanent magnet brushless AC motors”, apresentam uma

ausência de “desacoplamento” natural das grandezas físicas configuração estatórica semelhante à das máquinas AC

(correntes) que controlam o campo magnético e o binário. polifásicas convencionais.

86
ARTIGO TÉCNICO

A principal diferença reside no rotor, onde o enrolamento de Onde:


excitação não existe, bem como o sistema de anéis e Ld coeficiente de auto-indução longitudinal do enrolamento
escovas, sendo substituído por ímanes permanentes com induzido;
elevadas densidades de energia, em resultado dos Lq coeficiente de auto-indução transversal do enrolamento
progressos obtidos nas últimas décadas neste domínio. induzido.

Actualmente, são de destacar os ímanes baseados em Deste modo, o binário desenvolvido tem duas componentes:
elementos de terras raras, em particular, ligas de neodímio, uma resultante da interacção do campo magnético fixo e do
ferro e boro (Nd-Fe-B). campo de reacção do induzido; uma segunda componente
resultante do binário de anisotropia.
Relativamente aos motores síncronos convencionais, têm
maiores densidades de potência (redução de peso e Assim, na zona de funcionamento com binário constante
volume), melhores rendimentos (eliminação das perdas (baixas velocidades) – Figura 3 – são obtidos elevados
rotóricas), maior robustez e fiabilidade (ausência de anéis e valores de binários.
escovas).
Estes são motores com elevadas densidades de binário.
Em relação a estas últimas, estão ao nível dos motores de
indução trifásicos, tendo ainda melhores rendimentos e Os conversores de potência mais usuais assemelham-se aos
maiores densidades de potência [8]. anteriores, com tensões de alimentação reguladas pela
tecnologia PWM.
A Figura 5 apresenta dois cortes seccionais de configurações
destes motores. Os sistemas de controlo são baseados no controlo vectorial –
controlo do ângulo de binário.

A presença do campo constante do rotor não torna possível


o funcionamento no modo de enfraquecimento de campo,
através dos sistemas de controlo usuais nas máquinas
síncronas convencionais. Assim, o funcionamento na zona de
velocidades elevadas (Figura 3) implica controlar a
componente desmagnetizante do campo de reacção do
induzido, em fase com a posição do campo rotórico
Figura 5 – Motor Síncrono de Ímanes Permanentes [8] (componente longitudinal – eixo d).

Os ímanes são colocados no interior da estrutura rotórica. O desenvolvimento de novas estratégias de controlo das
componentes da reacção do induzido – eixos d, q – (por ex.,
Por um lado, torna possíveis velocidades mais elevadas, uma com maior imunidade às variações dos parâmetros do
vez que a fixação dos ímanes permite suportar forças motor), que podem incluir novas configurações de máquinas
centrifugas mais elevadas; por outro lado, esta configuração de ímanes permanentes, continua a ser alvo de interesse da
dota este tipo de motores de características anisotrópicas investigação, com vista a melhorar as suas características [8].
(Ld≠Lq), mais concretamente, anisotropia inversa (Ld<Lq).

87
ARTIGO TÉCNICO

3.4. Motor “Brushless” DC As características referidas das correntes estatóricas, bem


como a comutação electrónica, implicam a inclusão de
Do ponto de vista construtivo, este tipo de motores têm uma conversores de potência e sistemas de controlo dedicados.
estrutura semelhante aos motores DC convencionais, sendo
eliminados o enrolamento da armadura e o sistema Estes últimos são bastante mais simples do que no caso dos
colector/escovas. motores síncronos de ímanes permanentes [8], [9].

No rotor são colocados ímanes permanentes, à semelhança 3.5. Motor de Relutância Comutada
dos motores anteriores.
Estes motores são muito semelhantes aos motores de passo
Os enrolamentos do estator são alimentados por uma fonte de relutância variável, necessitando de um conversor e
exterior, sendo através destes que se dá a entrada de controlador dedicados.
energia eléctrica.
Com efeito, os enrolamentos do estator são alimentados
Há dois aspectos fundamentais a referir: com impulsos de corrente (uma fase de cada vez), em função
da posição do rotor, o que implica também a inclusão de
- A função de comutação do colector/escovas é sensores de posicionamento rotórico.
substituída por um sistema de comutação electrónica: a
comutação das correntes nos enrolamentos do estator é Apresentam uma construção simples, robusta e fiável, à
feita em função do conhecimento, em cada instante, da semelhança dos motores AC anteriores.
posição do campo magnético rotórico. Normalmente,
são utilizados sensores de efeito de Hall para este fim. A Figura 6 apresenta um corte seccional de uma
configuração real deste tipo de motor.
- Atendendo à configuração deste tipo de motores, a
distribuição espacial do campo magnético do rotor no
entreferro é, em cada instante, do tipo rectangular (mais
precisamente, trapezoidal). As correntes que circulam
nos enrolamentos estatóricos têm uma evolução
temporal do tipo rectangular (trapezoidal). Em
comparação com distribuições de campos magnéticos e
correntes sinusoidais, com os mesmos valores de pico
(motores anteriores), os binários desenvolvidos são
consideravelmente mais elevados, atendendo aos Figura 6 – Motor Trifásico de Relutância Comutada ( 6 pólos no

maiores valores eficazes. No entanto, existirá uma maior estator e 4 pólos no rotor) [10]

componente alternada no binário desenvolvido.


Os circuitos magnéticos do estator e do rotor são formados

Deste modo, para além das vantagens comuns aos motores por empilhamentos de chapas de materiais ferromagnéticos.

síncronos de ímanes permanentes – robustez, fiabilidade,


elevados rendimentos – há a salientar as elevadas Os enrolamentos do estator são colocados em torno dos

densidades de potência, superiores às dos motores respectivos núcleos polares. De notar que na estrutura

anteriores. rotórica (pólos salientes) não existem enrolamentos nem


ímanes permanentes.

88
ARTIGO TÉCNICO

Tal como os motores “brushless” DC, caracterizam-se por Como tal, far-se-á em seguida, uma síntese das
distribuições de campo no espaço rectangulares. São características dos sistemas baseados em motores AC,
máquinas anisotrópicas, cujo princípio de funcionamento anteriormente apresentados.
assenta no desenvolvimento de um binário de relutância.
a) Robustez e simplicidade
Apresentam excelentes características para a tracção – Os sistemas com motores de indução trifásico e de relutância
binários muito elevados nas baixas velocidades e zona de comutada apresentam maior robustez e fiabilidade, com
funcionamento com potência constante caracterizada por menor necessidade de operações de manutenção.
intervalos alargados de velocidades.
b) Rendimento, densidade de Potência e binário

Os conversores de potência utilizados apresentam Os motores de ímanes permanentes têm os melhores

características próprias: usualmente, existem dois rendimentos, bem como densidades de potência e binário,

semicondutores de potência por fase (por ex., IGBT´s, em particular, o motor “brushless” DC. De destacar também

MOSFET´s), o que poderá implicar um elevado número de o motor de relutância comutada em termos de densidade de

semicondutores no conversor, no caso de motores com binário.

elevado número de fases. No entanto, como as correntes do


c) Custo
estator têm forma rectangular (trapezoidal), as perdas de
Os motores de ímanes permanentes são os mais caros,
comutação nestes conversores são bastante inferiores às
essencialmente, devido ao custo dos ímanes permanentes.
que ocorrem nos motores de indução e síncronos de ímanes
permanentes. Isto permite a utilização de semicondutores
d) Conversores de potência e sistema de controlo
com valores nominais mais baixos, podendo compensar o
Os conversores dos motores de indução trifásicos e dos
acréscimo do número.
motores síncronos de ímanes permanentes apresentam
estruturas semelhantes; os seus sistemas de controlo
Os sistemas de controlo são bastante complexos, atendendo
assentam no controlo vectorial, embora nos primeiros
aos níveis de saturação que ocorrem no circuito magnético,
(controlo por orientação de campo) a sua implementação
particularmente, nas extremidades dos pólos do estator.
seja mais complexa, atendendo à influência que a variação
dos parâmetros do motor tem na sua eficácia. Nos motores
O binário desenvolvido não é constante; existe uma
de ímanes permanentes, o funcionamento no modo de
componente alternada (“ripple”), principalmente nas
enfraquecimento de campo implica a utilização de
velocidades baixas, que tende a diminuir com o número de
estratégias próprias.
fases do motor. Uma outra desvantagem é o ruído acústico.
Os conversores dos motores de relutância comutada
Aqui, as componentes mecânicas do motor têm também um
incluem, normalmente, um maior número de
papel importante na sua diminuição [10].
semicondutores de potência (interruptores controlados),
considerando o mesmo número de fases. Atendendo às não
3.6. Análise Comparativa dos Diferentes Sistemas
linearidades do circuito magnético destes motores, os
sistemas de controlo são bastante complexos.
Pelas razões já apresentadas, a utilização dos motores DC
convencionais nos veículos eléctricos encontra-se cada vez
e) Desempenhos
mais limitada, praticamente nas aplicações de pequena
Os motores DC “brushless” e os motores de relutância
potência.
comutada desenvolvem binários mais elevados nas baixas
velocidades, com grandes intervalos de velocidade no

89
ARTIGO TÉCNICO

funcionamento com potência constante. Apresentam A aceitação e proliferação dos veículos eléctricos
excelentes desempenhos dinâmicos, podendo prescindir da dependerão de múltiplos factores, sendo de destacar os
caixa de velocidades. sociais, ambientais, económicos e tecnológicos. O papel dos
estados de cada país (por ex., através de incentivos fiscais
Como foi referido, a classificação dos sistemas DC, com base para aquisição de veículos eléctricos) e dos fabricantes de
nos critérios apresentados, é muito inferior à dos sistemas automóveis (segurança, fiabilidade, conforto, desempenhos)
AC, com excepção para os custos e conversores de potência. assumirá importância crucial.

4. CONCLUSÕES A revitalização dos veículos eléctricos implica necessidades


de desenvolvimentos em múltiplos domínios científicos e
Os constrangimentos energéticos presentes nas últimas tecnológicos, tais como: autonomia de alimentação,
décadas, quer ao nível da limitação de recursos, quer pelos electrónica de potência, máquinas eléctricas e sistemas de
impactos ambientais associados às fontes convencionais, controlo.
tornam as alternativas de transportes baseadas na propulsão
eléctrica cada vez mas consistentes. O desenvolvimento de sistemas de armazenamento de
energia com maior autonomia será determinante para a
Os motores DC foram os primeiros a ser aplicados na tracção proliferação, a curto prazo, dos veículos híbridos e, a
eléctrica, devido às suas características naturais e médio/longo prazo, dos veículos puramente eléctricos.
simplicidade dos sistemas de controlo. Os elevados níveis de
Bibliografia
manutenção exigidos, densidades de potência e
rendimentos relativamente baixos, a par da evolução dos [1] Situ, Lixin, “Electric Vehicle Development: The Past, Present &
Future”, 3rd International Conference on Power Electronics
conversores de potência e sistemas de controlo de motores
Systems and Applications, 2009.
AC, conduziram à preferência por estes últimos.
[2] Gulhane, Mr. Vidyadhar , et al., “A Scope for the Research and
Development Activities on Electric Vehicle Technology in Pune
O motor de indução trifásico, amplamente utilizado no City”, IEEE, 2006.
sector industrial pela sua robustez, fiabilidade e custo, é [3] Chan, C.C., “An Overview of Electric Vehicle Technology”,
também uma opção clara para a tracção, atendendo aos Proceedings of the IEEE, Vol. 81, Nº9, September 1993.
bons desempenhos dinâmicos conseguidos através do [4] Chan, C.C., “The State of the Art of Electric, Hybrid, and Fuel Cell

controlo vectorial. Vehicles”, Proceedings of the IEEE, Vol. 95, Nº4, April 2007.
[5] Nanda, Gaurav, Kar, Narayan, “A Survey and Comparison of
Characteristics of Motor Drives Used in Electric Vehicles”, IEEE,
Os motores de ímanes permanentes e de relutância
2006.
comutada têm vindo a ganhar terreno em relação ao motor
[6] Naunin, Dietrich, “Electric Vehicles”, IEEE, 1996.
de indução trifásico. Com efeito, aliam a fiabilidade deste a [7] Weiss, Helmut, “Revitalization, Performance Measurement, and
melhores rendimentos, densidades de potência e binário, e Improvement of Electric Vehicles”, IEEE, 2008.
elevadas gamas de velocidade de funcionamento. Como [8] Krishnan, R., “Electric Motor Drives – Modeling, Analysis and
desvantagens, o custo (motores de ímanes permanentes) e Control”, Prentice Hall, 2001.

sistemas de controlo complexos (motores de relutância [9] Chan, C.C, et al., “Novel Permanent Magnet Motor Drives for
Electric Vehicles”, IEEE Transactions on Industrial Electronics,
comutada). Os sistemas baseados nestes motores
vol.43, nº2, April 1996.
apresentam, actualmente, o maior potencial de
[10] Bill Drury, “The Control Techniques Drives and Control
desenvolvimento e de aplicações futuras.
Handbook”, The Institution of Electrical Engineers, 2001.

90
ARTIGO TÉCNICO José António Beleza Carvalho, Roque Filipe Mesquita Brandão
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010

ACCIONAMENTOS EFICIENTES DE FORÇA-MOTRIZ


NOVA CLASSIFICAÇÃO
1 INTRODUÇÃO Os motores foram classificados de acordo com o seu
rendimento:
Os motores eléctricos, particularmente o motor assíncrono - EFF1 – Motores de alto rendimento;
de indução, são o tipo de máquina mais utilizada na indústria - EFF2 – Motores de rendimento aumentado;
em virtude da sua grande versatilidade, gama de potências, - EFF3 – Motores sem qualquer requisito especial.
robustez, duração, reduzida manutenção, baixa poluição,
facilidade de produção e custos de aquisição relativamente No seguimento da directiva "Eco-design Directive
baixos. Como qualquer máquina, o motor eléctrico, (2005/32/CE) “ publicada em 2005 para Produtos que
responsável pela conversão de energia eléctrica em consomem energia (EUP), a Comissão Europeia aprovou em
mecânica, apresenta perdas. O rendimento (ou eficiência) é Julho de 2009 um regulamento de aplicação dos requisitos
definido como sendo a razão entre a potência de saída (ao de concepção ecológica para os motores eléctricos, com
nível do veio de saída do accionamento) e a potência efeitos a partir de meados de 2011, dando aos fabricantes de
eléctrica absorvida à entrada. cerca de 2 anos para garantir que seus produtos cumprem a
A produção de energia mecânica, através da utilização de referida directiva. O lote 11 da Directiva EUP (Energy Using
motores eléctricos, absorve cerca de 60% da energia Products) descreve as orientações de design, a
eléctrica consumida no sector industrial do nosso País, da compatibilidade ambiental, o impacte ambiental e o
qual apenas metade é energia útil. Este sector é, pois, um consumo de energia de máquinas / motores eléctricos
daqueles em que é preciso tentar fazer economias, rotativos de alto rendimento. A directiva abrange os motores
prioritariamente. Os sistemas de accionamentos têm que ser de 2, 4 e 6 pólos, na gama de potências de 0,75 a 375 kW.
abordados como um todo, já que a existência de um Neste âmbito, os motores passam a ser classificados por:
componente de baixo rendimento influencia drasticamente - IE1 (igual a EFF2) – com utilização proibida;
o rendimento global. - IE2 (igual a EFF1) – com utilização obrigatória;
O êxito neste domínio depende, em primeiro lugar, da - IE3 (igual a Premium) – com utilização voluntária;
melhor adequação da potência do motor à da máquina que - IE4 (ainda não aplicável a accionamentos assíncronos).
ele acciona. Quando o regime de funcionamento é muito
variável para permitir este ajustamento, pode-se equipar o 2 CARACTERÍSTICAS DOS MOTORES DE ELEVADA EFICIÊNCIA
motor com um conversor electrónico de variação de
velocidade. Outra possibilidade é a utilização dos motores “ A eficiência dos motores está associada a uma redução das
de perdas reduzidas”, de “alto rendimento”, ou “elevada suas perdas, que é conseguida à custa, quer da utilização de
eficiência”, que permitem economias energéticas materiais construtivos de melhor qualidade e com melhores
consideráveis. acabamentos, quer por alteração das suas características
Nos últimos anos, muitos fabricantes de motores investiram dimensionais. Estas perdas são devidas aos diversos
fortemente na pesquisa e desenvolvimento de novos elementos que estão presentes na conversão
produtos com o objectivo de colocarem no mercado electromecânica de energia e podem ser divididas em quatro
motores mais eficientes. O acordo voluntário obtido em tipos:
1999 entre a CEMEP (Associação Europeia de Fabricantes de - Perdas eléctricas;
Motores Eléctricos) e a Comissão Europeia sobre o - Perdas magnéticas;
rendimento de motores de 2 e 4 pólos, na gama de - Perdas mecânicas;
potências 1,1 a 90 kW, foi revisto em 2004. - Perdas parasitas.

91
ARTIGO TÉCNICO

As perdas eléctricas são provocadas pela resistência não nula As melhorias típicas que são efectuadas a nível construtivo
dos condutores das bobines que ao serem percorridos pela da máquina podem ser visualizadas na Figura 1 e são
corrente provocam perdas caloríficas. As perdas magnéticas resumidas na seguinte tabela:
ocorrem nas lâminas de ferro do estator e do rotor devido à
Tab. 1 – Resumo das alterações nos motores de elevada eficiência
histerese e às correntes de Foucault. As perdas mecânicas
são provocadas pela rotação das peças móveis, ventilação e Alteração Efectuada Efeito produzido
atrito do ar. As perdas parasitas são devidas a fugas e
Tratamento térmico do
irregularidades de fluxo e, também, distribuição de corrente Redução da resistência
rotor
não uniforme.
Uso de ferro laminado por
Redução das perdas no ferro
Para melhorar a eficiência dos motores eléctricos, os camada
construtores aumentaram a massa de materiais activos Melhoria do circuito
Redução das perdas no ferro
(cobre e ferro) de forma a diminuir as induções, as magnético

densidades de corrente e, assim, reduzir as perdas no cobre Redução das bobines do Redução das perdas por efeito
circuito indutor de Joule
e no ferro. Utilizam-se chapas magnéticas de perdas mais
Melhor qualidade dos
reduzidas, entalhes especiais em certos casos e reformulou- Redução das perdas mecânicas
rolamentos
se a parte mecânica, com especial incidência sobre a
Diminuição de perdas e do
ventilação, para reduzir a potência absorvida por esta e Maior quantidade de cobre
calor gerado
diminuir o nível de ruído. Daí resulta, para idêntica
Diminuição das perdas
Redução do entre-ferro
dimensão, um aumento de peso da ordem de 15%, e de parasitas
preço da ordem de 20 a 25%.
Rotor mais largo Reactância de fugas menor
Contudo, a melhoria da eficiência, compreendida entre 2 e
4,5%, e do cosφ, permite amortizar rapidamente este Sistema de ventilação Diminuição de ruídos e da
melhorado temperatura
aumento de preço.

Figura 1 – Alterações nos motores para obter elevada eficiência [WEG]

92
ARTIGO TÉCNICO

Apesar de este tipo de motores possuir uma eficiência 1,1 a 90 kW de potência nominal, 50 ou 60 Hz, com 2 e 4
melhorada, quando inseridos num sistema, a eficiência total pólos magnéticos, seriam classificados de acordo com os
do mesmo sistema depende de todos os outros valores dos respectivos rendimentos.
componentes que o compõem. Por este motivo, não se deve As classes de rendimento estabelecidas foram as seguintes:
apenas investir na compra de um motor de elevada - EFF1: Motores de elevado rendimento;
eficiência, quando existirem problemas de eficiência nos - EFF2: Motores de rendimento melhorado;
outros componentes do sistema. - EFF3: Motores de rendimento normal.

3 CLASSIFICAÇÃO DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA No acordo CE/CEMEP ficou ainda estabelecido que as


vendas, na União Europeia, de motores EFF3 diminuiriam
Na Europa a classificação dos motores de corrente alternada para metade até 2003.
de baixa tensão, foi estabelecida em 1998 com o acordo Este objectivo foi alcançado e a venda de motores EFF3
voluntário dos principais fabricantes de motores Europeus. terminou pouco tempo depois.
De uma forma resumida, o acordo estabelecido entre a Todos os fabricantes que assinaram este acordo ficaram
Comissão Europeia (CE) e o Comité Europeu de Fabricantes autorizados a colocar a etiqueta de eficiência nos motores e
de Máquinas Eléctricas e de equipamentos e sistemas de em toda a documentação que os acompanhe, o que tornou
Electrónica de Potência (CEMEP) definia que os motores de mais fácil a identificação da classe do motor.

Figura 2 – Classes de eficiência de motores [SEW-Eurodrive]

Figura 3 – Etiquetas de eficiência dos motores

93
ARTIGO TÉCNICO

Com base no acordo voluntário anteriormente referido, foi equipamentos de força-motriz. Este novo regime abrange os
também criada uma base de dados europeia EuroDEEM, que motores de indução trifásicos, de velocidade simples, até
foi elaborada pelo centro de pesquisa da Comissão Europeia 375 kW. Entrará em vigor em três fases a partir de meados
(CE/JRC), com o objectivo de reunir num só suporte as de 2011. Sob este novo regime os fabricantes são obrigados
informações mais importantes sobre os motores eléctricos a apresentar a classe e valores de eficiência do motor na
disponíveis no mercado. A tabela 2 apresenta os valores respectiva chapa de características e na documentação do
limite para a eficiência dos motores, estabelecidos no acordo produto, que deve indicar claramente o método de teste
com a CEMEP com base na norma CEI 60034-2. usado na determinação da eficiência.

Tabela 2 – Definição das diversas classes de eficiência. Standard de 1996

EFF3 EFF2 EFF1 EFF1


kW 2 e 4 pólos 2 e 4 pólos 2 pólos 4 pólos
ηn (%) ηn (%) ηn (%) ηn (%)
1,1 <76,2 ≥76,2 ≥82,2 ≥83,8
1,5 <78,5 ≥78,5 ≥84,1 ≥85,0
2,2 <81,0 ≥81,0 ≥85,6 ≥86,4
3 <82,6 ≥82,6 ≥86,7 ≥87,4
4 <84,2 ≥84,2 ≥87,6 ≥88,3
5,5 <85,7 ≥85,7 ≥88,6 ≥89,3
7,5 <87,0 ≥87,0 ≥89,5 ≥90,1
11 <88,4 ≥88,4 ≥90,5 ≥91,0
15 <89,4 ≥89,4 ≥91,3 ≥91,8

18,5 <90,0 ≥90,0 ≥91,8 ≥92,2

22 <90,5 ≥90,5 ≥92,2 ≥92,6


30 <91,4 ≥91,4 ≥92,9 ≥93,2
37 <92,0 ≥92,0 ≥93,3 ≥93,6
45 <92,5 ≥92,5 ≥93,7 ≥93,9
55 <93,0 ≥93,0 ≥94,0 ≥94,2
75 <93,6 ≥93,6 ≥94,6 ≥94,7

90 <93,9 ≥93,9 ≥95,0 ≥95,0

4 NOVAS NORMAS PARA CLASSIFICAÇÃO DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

A União Europeia, através do organismo EU MEPS (European


Minimum Energy Performance Standard), definiu um novo
regime obrigatório para os níveis mínimos de eficiência dos
motores eléctricos que sejam introduzidos no mercado
europeu. O objectivo visa reduzir o consumo de energia e
outros impactos ambientais negativos de produtos que
consomem energia eléctrica. Ao mesmo tempo, pretende-se
melhorar a uma escala global o nível de harmonização
regulamentar em assuntos relacionados com a eficiência em
Figura 4 – Chapa de características de motor ABB, de acordo com as
novas normas

94
ARTIGO TÉCNICO

O organismo EU MEPS baseia-se em duas normas CEI. A comparáveis se forem medidos utilizando o mesmo método.
norma CEI/EN 600034-2-1, disponível desde Setembro de A norma CEI/EN 60034-30:2008 define três classes de
2007, introduz novas regras relativas aos métodos de teste eficiência IE (International Eficiency) para motores
que devem ser usados na determinação das perdas e da assíncronos de indução trifásicos, rotor em gaiola de esquilo,
eficiência dos motores eléctricos. e velocidade simples:
A norma CEI/EN 600034-30,disponível desde Outubro de - IE1: Eficiência Standard (EFF2 do antigo sistema Europeu
2008, especifica as classes de eficiência que devem ser de classificação)
adoptadas. - IE2: Eficiência Elevada (EFF1 do antigo sistema Europeu
A norma CEI/EN 600034-2-1:2007 define duas formas de de classificação e idêntica à EPAct nos EUA para motores
determinar a eficiência dos motores eléctricos, o método de 60Hz)
directo e os métodos indirectos. A norma especifica os - IE3: Eficiência Premium (idêntica ao "NEMA Premium"
seguintes parâmetros para determinar a eficiência pelo nos E.U.A. para motores de 60Hz)
método indirecto: - IE4: futuramente o nível de eficiência superior a IE3
- Temperatura de referência; Os níveis de eficiência definidos na norma CEI/EN 60034-
- Três opções para determinar as perdas adicionais em 30:2008 baseiam-se em métodos de ensaio especificados na
carga: medição, estimativas e cálculo matemático. norma CEI/EN 600034-2-1:2007.
Os valores de eficiência resultantes diferem daqueles Comparando com as anteriores classes de rendimento
obtidos sob o padrão anterior de teste baseados na norma Europeias, definidas pelo acordo CEMEP (norma CEI/EN
CEI/EN 60034-2:1996. 60034-2:1996), o leque foi ampliado.
Deve-se notar que os valores de eficiência só são

Figura 5 – Novas classes de eficiência de motores [SEW-Eurodrive]

95
ARTIGO TÉCNICO

A norma CEI/EN 60034-30 abrange quase todos os motores - Motores feitos exclusivamente para funcionarem
(por exemplo: motores standard, motores para ambientes imersos em líquidos.
perigosos, motores para embarcações e marinas, motores - Motores totalmente integrados em máquinas que não
usados como freio), nomeadamente: podem ser testados separadamente da máquina (por
- Motores de velocidade simples, trifásicos, 50 Hz e 60 Hz exemplo, bombas, ventiladores ou compressores).
- Motores de 2, 4 ou 6 pólos - Motores especificamente concebidos para funcionarem
- Motores com potência nominal entre 0,75 - 375 kW a altitudes superiores a 1000 metros. Onde as
- Motores de tensão nominal até 1000 V temperaturas do ar possam ultrapassar os 40 °C. Em
- Motores do tipo Duty S1 (funcionamento em contínuo) temperaturas máximas superiores a 400 °C. Onde a
ou S3 (funcionamento intermitente ou periódico) com temperatura ambiente for inferior a -15 °C (qualquer
um factor de duração cíclica nominal de 80 porcento ou motor) ou inferior a 0 °C (motores refrigerados a ar).
superior. Onde a temperatura da água de arrefecimento na
Os motores que estão excluídos das normas CEI/EN 60034-30 entrada de um produto é inferior a 5 °C ou superior a 25
são os seguintes: °C. Em atmosferas potencialmente explosivas, tal como
- Motores feitos exclusivamente para funcionarem como definido na Directiva 94/9/CE.
conversores.

IE Classes – 4 pole

Figura 6 – Novas classes IE de eficiência de motores eléctricos

96
ARTIGO TÉCNICO

Na tabela 3 apresenta-se os valores limite para a eficiência 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS


dos motores com base na norma CEI 60034-30:2008,e CEI/EN
600034-2-1. A produção de energia mecânica, através
da utilização de motores eléctricos,
Tabela 3– Definição das diversas classes de eficiência
Normas CEI 60034-30:2008,e CEI/EN 600034-2-1 [ABB] absorve cerca de 60% da energia eléctrica
consumida no sector industrial do nosso
País, da qual apenas metade é energia
útil. Este sector é, pois, um daqueles em
que é preciso tentar fazer economias,
prioritariamente. Os sistemas de
accionamentos electromecânicos têm que
ser abordados como um todo, já que a
existência de um componente de baixo
rendimento influencia drasticamente o
rendimento global. Os pontos
fundamentais em que se deve intervir são
os seguintes:
- Dimensionar correctamente os
equipamentos de força motriz,
fazendo os motores funcionar com
cargas da ordem dos 70 a 80%.
- Adaptar a velocidade do motor às
necessidades do processo, utilizando
sempre que necessário dispositivos
electrónicos de variação de
velocidade.
- Atender às necessidades de
manutenção dos motores, que são
essencialmente a limpeza da carcaça,
a fim de reduzir a temperatura, e
nalguns casos a lubrificação dos
rolamentos.
- Utilizar os novos motores de “alto
rendimento”, que já provaram a sua
competitividade apesar do seu custo
superior, devendo-se ponderar
sempre que necessário a sua
utilização.

Figura 7 – Variação do rendimento com a potência. [SEW-Eurodrive]

97
ARTIGO TÉCNICO

A União Europeia, através do organismo EU MEPS (European A implementação das novas normas em cada estado
Minimum Energy Performance Standard) definiu um novo membro de EU será realizada em três fases:
regime obrigatório para os níveis mínimos de eficiência dos - Fase 1: até 16 de Julho de 2011. Todos os motores
motores eléctricos que sejam introduzidos no mercado devem satisfazer o nível de eficiência IE2;
europeu. O novo regime abrange motores de indução - Fase 2: até 1 de Janeiro de 2015. Todos os motores com
trifásicos até 375 kW, de velocidade simples. Entrará em uma potência nominal entre 7,5 - 375 kW devem
vigor em três fases a partir de meados de 2011. Sob este satisfazer o nível de eficiência IE3 ou o nível IE2 se
novo regime os fabricantes são obrigados a apresentar os equipados com um variador electrónico de velocidade;
valores IE (International Eficiency) classe de eficiência nas - Fase 3: até 1 de Janeiro de 2017. Todos os motores com
placas do motor e na documentação do produto. uma potência nominal entre 0,75-375 kW devem
O organismo EU MEPS assenta em duas normas CEI. A norma satisfazer o nível de eficiência IE3 ou o nível IE2 se
CEI/EN 600034-2-1, disponível desde Setembro de 2007, equipados com um variador electrónico de velocidade.
introduz novas regras relativas aos métodos de teste que
devem ser usados na determinação das perdas e da Bibliografia
eficiência dos motores eléctricos. A norma CEI/EN 600034-
30,disponível desde Outubro de 2008, especifica as classes [1] BELEZA CARVALHO, J. A., MESQUITA BRANDÃO,
de eficiência que devem ser adoptadas. De acordo com estas Eficiência Energética em Equipamentos de Força Motriz.
normas os motores passam a ser classificados por: Jornadas Luso-Brasileiras de Ensino e Tecnologia em
- IE1 (equivalente a EFF2 na norma CEI/EN 600034-2:1996) Engenharia. ISEP, Porto, Fevereiro de 2009.
– com utilização proibida; [2] BELEZA CARVALHO, J. A., MESQUITA BRANDÃO, R. F.,
- IE2 (equivalente a EFF1 na norma CEI/EN 600034-2:1996) Efficient Use of Electrical Energy in Industrial
– com utilização obrigatória; Installations. 4TH European Congress Economics and
- IE3 (Premium) – com utilização voluntária; Management of Energy in Industry. Porto, Novembro de
- IE4 (ainda não aplicável a accionamentos assíncronos). 2007.
Os motores de eficiência (IE1) não podem ser colocados no [3] CARLOS GASPAR, Eficiência Energética na Industria-
mercado europeu a partir de 16 de Junho de 2011. Até ADENE, Cursos de Utilização Racional de Energia, 2004.
aquela data todos os novos motores em avaliação na Europa [4] BELEZA CARVALHO, J. A., MESQUITA BRANDÃO, R. F.
terão de cumprir a eficiência IE2. Eficiência Energética em Equipamentos de Força-Motriz.
As regras não se aplicam fora da Europa. Por isso, será Revista Neutro à Terra Nº 3, Abril de 2009.
possível que os fabricantes produzam motores com [5] ABB, Low Voltage Industrial Performance Motors.
eficiência IE1 para os mercados que não exijam estes Catálogo ABB 2009.
requisitos mínimos de eficiência. [6] WEG, Catálogo de Motores Eléctricos, disponível em
A conformidade com os padrões de eficiência exigidos é http://www.weg.com.br/
verificada por ensaios. Cabe a cada estado membro da UE a
vigilância relativa aos procedimentos de verificação e
implementação das normas.

98
ARTIGO TÉCNICO António Manuel Luzano de Quadros Flores, José António Beleza Carvalho
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010

DETECÇÃO DE AVARIAS
EM MOTORES ASSÍNCRONOS DE INDUÇÃO

RESUMO 2 CASO EM QUE A AVARIA PROVOCA PARAGEM DO MOTOR

O motor assíncrono de indução é, de facto, a máquina Quando a avaria leva à paragem do motor o diagnóstico
actualmente preferida para a grande maioria dos deve atender às especificidades de acessibilidade e
accionamentos, graças à sua fiabilidade, robustez e baixo dimensão numa primeira fase.
custo. Dado que ocupa um lugar preponderante no processo Não é demais lembrar, que o primeiro passo numa situação
produtivo têm-se desenvolvido diversos métodos de detecção de paragem de um motor, deve iniciar não, pela análise do
de avarias que permitem diagnosticar qualquer tipo de motor, como parece lógico, mas pela análise das grandezas
defeito e quantificar o seu grau de severidade. de alimentação do mesmo e do bom estado das protecções
eléctricas, fusíveis e relé térmico.
1 INTRODUÇÃO De seguida devem ser levados a cabo testes eléctricos e
mecânicos fundamentais:
Quando se aborda a temática do diagnóstico de avarias dos
motores de indução não podemos deixar de ter presente - Verificação dos valores das resistências dos
que a forma de tratar o assunto está intimamente ligada à enrolamentos que deverão apresentar valores
dimensão da máquina, à sua localização e à função que semelhantes nas três fases; medição da resistência de
desempenha no processo em que está inserida. isolamento entre enrolamentos e entre os enrolamentos
Assim, como é óbvio, os custos de paragem de um motor de e a carcaça da máquina.
grande dimensão podem justificar a existência dos meios de Os resultados destes testes podem dar indicações úteis
diagnóstico mais sofisticados, no sentido de evitar a relativamente à existência de curto-circuitos entre
interrupção de serviço. espiras e entre espiras e a massa. Além disso, testa
Por outro lado, motores de menor dimensão podem também a possibilidade do circuito eléctrico de um
também desempenhar um papel tal que a sua interrupção enrolamento estar interrompido.
pode ter custos elevadíssimos de reinicialização do processo,
como por exemplo, no caso de linhas de produção em que o - No caso do veio do rotor estar acessível, rodá-lo para
processo inclui accionamentos que estão relacionados com a verificar se existe atrito anormal ou demasiada prisão,
formação e solidifição da alma condutora dos cabos analisando-se assim, se o rotor atrita no estator, se a
eléctricos. Se houver uma paragem súbita o metal solidifica carga oferece demasiado binário resistivo e se os
ao longo do processo sendo necessário desmontar todo um rolamentos estão gripados.
sistema complexo levando à perda de produção de várias
horas ou dias. Além dos testes acima descritos, não é de desprezar a
A acessibilidade pode ser o factor determinante na verificação da existência de “cheiro a queimado” junto ao
estratégia de diagnóstico, como é o caso de ventiladores em motor que pode indiciar um sobreaquecimento da máquina
condutas, bombas submersíveis ou máquinas em ambientes com consequente deteriorização dos isolamentos
perigosos. nomeadamente dos vernizes utilizados.
O método de diagnóstico a implementar depende também
do facto da máquina ter parado por avaria ou continuar em
funcionamento.

99
ARTIGO TÉCNICO

3 CASO EM QUE A AVARIA NÃO PROVOCA PARAGEM DO MOTOR figura de Lissajou em forma de circunferência dada pelas
componentes do vector de Park simplificadas:
A avaria que não obriga à paragem do motor pode (3)
manifestar-se de diversas formas como aumento de
temperatura, perda de potência, binário ou velocidade
oscilantes, aumento de consumo, ruído, vibração, etc.. (4)
Nesse caso, os métodos indirectos de diagnóstico podem ser
úteis na identificação do tipo de avaria podendo mesmo Sendo iM o valor máximo da corrente por fase (A), ω a
constituir um meio de acompanhamento da sua evolução, frequência angular (rad/s) e t a variável tempo (s).
controlando o nível de severidade até ser possível uma A representação XY das componentes do Vector de Park
interrupção programada para reparação. permite detectar a existência de espiras em curto-circuito
Para esse efeito, têm sido desenvolvidos vários métodos que nos enrolamentos do estator (Fig. 1).
recorrem à monitorização de diversas grandezas associadas Este método de diagnóstico “on-line” baseia-se no
ao funcionamento do motor, como por exemplo, a aparecimento de uma forma elíptica da representação XY
intensidade de corrente de alimentação, o fluxo magnético, das componentes do Vector de Park da corrente do motor,
as vibrações, o ruído, o binário, a velocidade e a cujo alongamento elíptico é proporcional ao grau de
temperatura. severidade da avaria e a orientação do eixo maior está
Seguidamente serão apresentados alguns métodos de associada à fase avariada [1].
diagnóstico mais utilizados na pesquisa de avarias eléctricas É de referir que a representação das componentes do vector
no estator e no rotor, assim como de avarias mecânicas no de Park da corrente de alimentação do motor sem avaria
rotor, nos rolamentos e na carga mecânica acoplada. (Fig. 1 – esquerda), não é uma circunferência perfeita devido
à existência de harmónicos na rede.
3.1 DIAGNÓSTICO DE AVARIAS ELÉCTRICAS

3.1.1 AVARIAS NO ESTATOR

A detecção de espiras em curto-circuito nos enrolamentos


do estator pode ser feita por análise das correntes de
alimentação do motor representadas a duas dimensões a
partir da mudança de referencial do sistema trifásico para o
sistema de coordenadas P Q através da transformada de
Figura 1- Vector de Park da corrente de alimentação de um motor:
Park. sem avaria (esquerda) e com curto-circuito de 18 espiras do
estator (direita) [1]
As componentes do vector de Park iD e iQ podem ser obtidas
das correntes de alimentação i1, i2 e i3 a partir das seguintes 3.1.2 AVARIAS NO ROTOR
expressões:
3.1.2.1 MÉTODO DAS COMPONENTES ESPECTRAIS DA CORRENTE
(1)
A detecção de barras do rotor partidas ou fissuradas pode
(2) ser feita através da inspecção das componentes espectrais
da corrente absorvida pelo motor [2] nas seguintes
No caso de um sistema de alimentação ideal com cargas frequências:
equilibradas, obtêm-se a representação no plano XY de uma (5)

100
ARTIGO TÉCNICO

Sendo fSB a frequência (Hz) das bandas laterais resultantes da


avaria no rotor, s o deslizamento (%) e f a frequência da
tensão de alimentação (50 Hz).

Na Figura 2 é fácil identificar o aparecimento de bandas


laterais que surgem nas frequências características
correspondentes à ruptura de espiras (“barras”) do circuito
rotórico.
Figura 4 – Detecção de defeito no circuito rotórico através da
medição do fluxo magnético: espectro de frequências do campo
magnético de fugas [3]

3.2 DIAGNÓSTICO DE AVARIAS MECÂNICAS

3.2.1 DEFEITO DE ALINHAMENTO


Figura 2 – Espectro de frequências da corrente absorvida pelo
motor mostrando claramente a existência de bandas laterais que
indiciam uma avaria nas barras do rotor [2]
O defeito de alinhamento do rotor traduz-se no facto da
folga entre o rotor e o estator (“entreferro”) não ser
3.1.2.2 MÉTODO DAS COMPONENTES ESPECTRAIS DO FLUXO DE FUGAS constante ao longo de toda a periferia do rotor, originando
variações da relutância do circuito magnético com a rotação
A aquisição de dados do campo magnético de fugas com do rotor e consequente formação de harmónicos na força
vista à análise do seu espectro pode ser feita facilmente magnetomotriz.
colocando sensores de campo magnético no exterior da Daí resulta o aparecimento de frequências típicas deste
máquina como mostra a Figura 3. fenómeno no espectro do fluxo de fugas do motor, como
evidencia a Figura 5, que servem de meio de diagnóstico
deste defeito [4].

Figura 3 – Detecção de defeito no circuito rotórico através da


medição do fluxo magnético: motor com transdutor de fluxo
magnético [3]

O defeito devido a barras do rotor defeituosas também pode


ser detectado por identificação de determinadas frequências Figura 5 – Detecção de defeito de alinhamento do rotor: defeito de
alinhamento longitudinal (figura esquerda em cima);
no espectro do campo magnético de fugas medido no desalinhamento axial (figura direita em cima); espectro de
frequências da corrente de alimentação revelando o defeito de
exterior da máquina (Figura 4) [3] alinhamento do rotor, excentricidade estática (“SE”) (figura em
baixo )[4].

101
ARTIGO TÉCNICO

3.2.2 DEFEITOS NOS ROLAMENTOS conhece a sua composição em funcionamento normal [6].

Sendo os rolamentos a causa referenciada que provoca


maior taxa de avarias no motor de indução, têm-se
desenvolvido diversas técnicas de detecção deste tipo de
defeito recorrendo a diferentes métodos de análise espectral
da corrente de alimentação e de vibrações mecânicas.
Os defeitos nos rolamentos podem ser detectados a partir da
análise do espectro de frequências da corrente do motor
como evidencia a Figura 6.
Também neste caso surgem novas frequências que
evidenciam a existência de defeito nos rolamentos assim
como o seu nível de severidade [5].
Figura 7 – Utilização de acelerómetros para aquisição de dados de
vibração de um ventilador [6]

Figura 8 – Amplitude das componentes espectrais do binário (Nm)


para o caso do mesmo ventilador [6]

A monitorização do valor eficaz da corrente de alimentação


do motor de um elevador pode fornecer indicações úteis
relativamente a variações de carga que indiciam a existência
de defeitos nas partes mecânicas accionadas.
O caso apresentado na Figura 9 e 10 ilustra a detecção de um
Figura 6 – Avarias nos rolamentos e sua detecção: defeito no anel
interior (figura esquerda em cima); defeito no anel exterior (figura defeito existente nos dentes da roda dentada de um redutor
direita em cima); decomposição em frequências da corrente de
alimentação do motor mostrando o espectro no caso de um motor do tipo “sem fim” [7].
saudável e no caso de existir um defeito nos rolamentos (figura em
baixo) [5].

3.2.3 DEFEITOS NA CARGA ACCIONADA

A Figura 7 apresenta o caso da aplicação de acelarómetros


para aquisição de dados de vibração de um ventilador.
A análise das componentes espectrais de vibração e de Figura 9 – Detecção de defeitos nas rodas dentadas do redutor de
binário (Figura 8 ) pode ser um meio complementar de apoio um elevador: motor de elevador com redutor de velocidade
acoplado (esquerda); roda dentada do redutor (direita) com dente
ao diagnóstico de um sistema electromecânico do qual se defeituoso [7]

102
ARTIGO TÉCNICO

Bibliografia

[1] A. J. Marques Cardoso, S. M. A. Cruz, D. S. B. Fonseca,


"Inter-turn stator winding fault diagnosis in three-phase
induction motors, by Park's vector approach", IEEE
Transactions on Energy Conversion, vol. 14, pp. 595-598,
1999.
[2] G. G. Acosta, C. J. Verucchi, E. R. Gelso, "A current
Figura 10 – Valor eficaz da corrente de alimentação do motor [7]
monitoring system for diagnosing electrical failures in

4 CONCLUSÕES induction motors", Mechanical Systems and Signal


Processing, vol. 20, pp. 953-965, 2006.

Apesar do motor de indução ser considerado uma máquina [3] A. Yazidi, H. Henao, G. A. Capolino, "Broken rotor bars

robusta e muito fiável está sujeito a diversos tipos de avarias fault detection in squirrel cage induction machines", IEEE

causadas principalmente pelo envelhecimento, desgaste e International Conference on Electric Machines and

fadiga mecânica dos materiais. Drives, 2005, pp. 741-747.

Dado o seu importante papel, muitos trabalhos de [4] L. Xiaodong, W. Qing, S. Nandi, "Performance analysis of

investigação têm sido feitos oferecendo metodologias para a three-phase induction machine with inclined static

um diagnóstico cada vez mais eficiente. eccentricity", IEEE Transactions on Industry Applications,

A aplicação destas técnicas em ambiente fabril tem as suas vol. 43, pp. 531-541, 2007.

limitações devido a diversos factores, como por exemplo, a [5] M. Blodt, P. Granjon, B. Raison, G. Rostaing, "Models for

existência de poluição harmónica proveniente de outras bearing damage detection in induction motors using

máquinas e a falta de registos históricos das componentes stator current monitoring," IEEE International

espectrais. Symposium on Industrial Electronics, 2004, pp. 383-388

As ferramentas de diagnóstico apresentadas não são vol. 1.

invasivas e podem ser aplicadas durante o funcionamento [6] E. Wiedenbrug, D. Doan, "Comparison of duct-mounted

normal, contribuindo para uma manutenção preventiva vibration and instantaneous airgap torque signals for

eficiente através da monitorização regular do motor. predictive maintenance of vane axial fans", International

Além disso, se criteriosamente utilizadas, constituem uma Conference on Measurement and Control, 2004, pp. 209-

mais-valia, melhorando a eficiência da equipa de 213.

manutenção e minimizando os custos de indisponibilidade e [7] A. Q. Flores, A. J. M. Cardoso, J. B. Carvalho, "The

de interrupção. induction motor as a mechanical fault sensor in elevator

Assim, para além da sua função principal de fornecer energia systems " apresentado na conferência “11CHLIE”, 11ª.

mecânica à carga, o motor de indução pode desempenhar Conferencia Hispano-Lusa de Ingeniería Eléctrica,

um segundo papel, como transdutor eficaz e Saragoça, Espana, 2009.

permanentemente ligado, ajudando a detectar avarias no


seu interior e também na carga mecânica a ele acoplada.

103
CURIOSIDADE

104
ARTIGO TÉCNICO Pedro Miguel Azevedo de Sousa Melo
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010

ESTRUTURAS E CARACTERÍSTICAS
DE VEÍCULOS HÍBRIDOS E ELÉCTRICOS
RESUMO autonomia – questão determinante para o desenvolvimento
dos veículos eléctricos [1].
Nas últimas décadas tem-se assistido a um forte A partir da década de 1920, a enorme evolução verificada
desenvolvimento dos veículos eléctricos, sobretudo das nos motores a gasolina (principalmente, no aumento da
soluções híbridas, como resposta aos impactos ambientais e potência disponível e rendimento, com menores dimensões)
económicos dos combustíveis fósseis. Os desafios que se tornou-os preponderantes face aos motores eléctricos. A
colocam no campo da engenharia são múltiplos e exigentes, maior dificuldade no seu controlo (baseado em contactos
motivados pela necessidade de integrar diversas áreas, tais mecânicos e resistências, com baixos níveis de eficácia,
como, novos materiais e concepções de motores eléctricos, comprometendo o próprio desempenho do veículo), a
electrónica de potência, sistemas de controlo e sistemas de reduzida autonomia, peso e custo mais elevados, são os
armazenamento de energia. principais motivos que explicam aquela supremacia [1].
Neste artigo procura-se apresentar as principais
características dos veículos híbridos eléctricos (VH) e dos As crises energéticas ocorridas na década de 1970 e o
veículos puramente eléctricos (VE). aumento das preocupações ambientais (principalmente nas
Começa-se por uma breve referência à origem e evolução sociedades ocidentais), juntamente como desenvolvimento
destes veículos. Segue-se uma abordagem às diferentes da electrónica de potência, que permitiu a criação de
configurações de VH e VE – principalmente no que se refere sistemas eficazes de controlo de motores eléctricos,
aos sistemas de propulsão e armazenamento de energia –, despertaram interesse para o desenvolvimento de veículos
realçando as suas vantagens e desvantagens. Por fim, puramente eléctricos, de que é exemplo a grande
referem-se alguns dos factores mais relevantes para a quantidade de protótipos construídos na década de 1980.
evolução tecnológica e aceitação destes veículos. Na década de 1990 as concepções híbridas foram ganhando
interesse, face à tomada de consciência das dificuldades em
1 INTRODUÇÃO superar as limitações dos veículos eléctricos, relativamente
aos veículos convencionais com MCI. Nesse sentido, vários
Os conceitos de veículo eléctrico e híbrido eléctrico fabricantes de automóveis desenvolveram diversos
remontam às origens do desenvolvimento do próprio protótipos de versões híbridas, não tendo, no entanto,
automóvel, em finais do séc. XIX. Numa época onde as atingido a fase de comercialização.
preocupações ambientais e de eficiência não existiam, a O maior esforço no desenvolvimento e comercialização de
finalidade era incrementar os níveis de desempenho dos veículos híbridos eléctricos foi feito por fabricantes
motores de combustão interna (MCI) ou melhorar a japoneses: em 1997, a Toyota lançou o modelo Prius e a
autonomia dos veículos baseados em motores eléctricos. Honda lançou as versões híbridas dos modelos Insight e
Com efeito, o desenvolvimento destes motores encontrava- Civic. Actualmente, estes e outros modelos híbridos –
se ainda numa fase inicial, estando a tecnologia associada às entretanto lançados por outros fabricantes –, são
máquinas eléctricas num nível superior. É nesta época que se comercializados em todo o mundo, apresentando bons
regista a implementação de sistemas de frenagem desempenhos dinâmicos e níveis de consumo [1], [2].
regenerativa, que permitem recuperar a energia cinética que Quanto ao desenvolvimento dos veículos eléctricos, o maior
o veículo perde, em consequência de uma travagem, sendo obstáculo à sua comercialização e difusão reside no estado
armazenada nas baterias. Trata-se de uma contribuição em que se encontra a tecnologia das baterias.
fundamental para a eficiência destes veículos e respectiva

105
ARTIGO TÉCNICO

Não obstante os progressos e esforços que têm sido feitos Por outro lado, procura-se superar também as limitações de
no seu desenvolvimento, o desempenho das baterias mais ambos: no caso dos MCI, utilização de grandes quantidades
recentes continua aquém das exigências requeridas pelos de combustíveis fósseis e emissão de gases de efeito de
veículos eléctricos, principalmente, ao nível da densidade de estufa; para os VE há a referir as autonomias reduzidas,
energia (por unidade de peso e volume) e densidade de elevados tempos de carregamento do sistema de
potência. Atendendo às distâncias relativamente curtas que armazenamento de energia e maior custo inicial [2], [3].
caracterizam os trajectos nos centros urbanos, será aqui que Na utilização de motores eléctricos nos VH há dois objectivos
reside o maior potencial de aceitação destes veículos. bem vincados: o primeiro é a optimização do rendimento do
Nas últimas décadas, vários fabricantes de automóveis têm MCI; a recuperação da energia cinética na frenagem do
feito alguns investimentos no desenvolvimento da veículo (armazenada nas baterias) é o segundo objectivo.
tecnologia das células de combustível, com vista à aplicação Este apenas é possível pela presença do(s) motor(es)
em veículos eléctricos. Os maiores desafios ao seu eléctrico(s).
desenvolvimento e proliferação residem na capacidade de Existem vários modos de funcionamento possíveis,
produção, armazenamento e distribuição de hidrogénio. A associados às características dos próprios motores [1]:
evolução desta tecnologia tem ainda um longo caminho a  O MCI propulsiona integralmente o veículo. Esta situação
percorrer, sendo também incerta a opção futura por esta pode ocorrer quando as baterias estão praticamente
solução. descarregadas e a potência disponível no veio do MCI é
integralmente necessária para a tracção; estando as
2 CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DOS VH E VE baterias à plena carga, um cenário semelhante ocorre no
caso da potência de tracção exigida corresponder a um
As alternativas aos veículos convencionais, baseados em regime de funcionamento óptimo do MCI;
MCI, podem ser classificadasdo seguinte modo:  Propulsão puramente eléctrica (MCI desligado). Justifica-
se para os regimes de funcionamento do MCI com baixos
Veículos híbridos (VH) – Em termos gerais, um veículo rendimento (ex., nas baixas velocidades) ou em
híbrido é caracterizado por incluir dois ou mais sistemas de ambientescom limitações de emissões elevadas;
propulsão. Os mais usuais são os veículos híbridos eléctricos  Propulsão híbrida (MCI+ME), se no esforço de tracção
– combinação de dois sistemas de propulsão: um baseado no são exigidas elevadas potências (por ex., em subidas e
MCI, o segundo assente em um ou vários motores eléctricos elevadas acelerações);
(ME). Existem várias configurações possíveis para estes  Frenagem regenerativa, na qual a energia cinética do
veículos: série, paralelo e série-paralelo (esta última com veículo é recuperada – o motor funciona agora como
duas variantes); gerador – e armazenada nas baterias, podendo ser
Veículos eléctricos (VE) – apenas incluem motores posteriormente utilizada na tracção do veículo;
eléctricos. Em termos de fontes de energia empregues há a  O MCI efectua o carregamento das baterias, havendo
distinguir as baterias das células de combustível. diferentes cenários a considerar: veículo imobilizado ou
numa descida sem modos de tracção e frenagem nos
2.1 VEÍCULOS HÍBRIDOS sistemas de propulsão;
 O MCI e o(s) ME(s) – em modo regenerativo –, carregam
A concepção de base dos veiculos híbridos assenta na simultaneamente as baterias do veículo;
conjugação das vantagens dos veículos convencionais (MCI)  O MCI propulsiona o veículo, bem como efectua o
e dos veiculos eléctricos: elevada autonomia e densidades carregamento das baterias;
de energia e potência (MCI); elevados rendimentos e  O MCI carrega as baterias e estas alimentam o(s) ME(s);
emissões nulas a nível local (VE).

106
ARTIGO TÉCNICO

O elevado número de modos de funcionamento nos veículos  Energia de propulsão/Carregamento das baterias: o
híbridos, tornam-os muito flexíveis; no entanto, acresce a sistema MCI/gerador fornece a energia para
complexidade do sistema de propulsão, o que implica a propulsionar o veículo e carrega as baterias;
necessidade de sistemas complexos de controlo, bem como  Frenagem regenerativa: o MCI é desligado; o ME
o desenvolvimento de sistemas de gestão dos fluxos de funciona como gerador, efectuando o carregamento das
energia, capazes de optimizarem a eficiência dos modos de baterias;
funcionamento anteriores.  Carregamento das baterias: o(s) ME(s) não são
alimentados; o sistema MCI/gerador somente carrega as
Em seguida, descrevem-se as três configurações baterias;
mencionadas para os VH, as quais se distinguem pelo modo  Carregamento híbrido das baterias: o sistema
como o MCI é inserido no sistema de propulsão eléctrica. MCI/gerador e o(s) ME(s) – funcionando como
gerador(es) – efectuam o carregamento das baterias.
Configuração Série – O MCI apenas acciona um gerador que
alimenta o ME de tracção do veículo; o gerador também Não existindo ligação mecânica entre o MCI e o sistema de
efectua o carregamento das baterias. Em termos de transmissão de potência, os seus regimes de funcionamento
concepção, trata-se de um VE assistido por um MCI [2] – tornam-se mais flexíveis, permitindo optimizar o
Figura 1. funcionamento do MCI (referido anteriormente). No
entanto, a existência de três máquinas (MCI, gerador e ME)
tornam o sistema de propulsão do veículo mais complexo,
normalmente mais pesado e com menores rendimentos em
relação às outras configurações.

Configuração Paralela – Existe a possibilidade do MCI e do


ME fornecerem potência, em paralelo, às rodas de tracção
do veículo. Conceptualmente, trata-se de um veículo
convencional (MCI) com assistência eléctrica (MEs) [2]. Desta
forma, ambos os motores estão acoplados ao veio de
transmissão através de duas embraiagens independentes,
pelo que a propulsão pode ser efectuada pelo MCI, pelo ME
ou por ambos (Figura 2).
Figura 1 – VH: Configuração Série

Em princípio, podem ser considerados os seguintes modos


de funcionamento [1], [2]:
 Energia de propulsão – baterias: o MCI é desligado, a
energia de propulsão provém unicamente das baterias;
 Energia de propulsão – MCI: a energia de propulsão é
somente garantida pelo sistema MCI/gerador; não há
qualquer fluxo de energia nas baterias;
 Energia de propulsão – modo híbrido: a potência de
tracção é garantida pelo MCI e pelas baterias;
Figura 2 – VH: Configuração Paralela

107
ARTIGO TÉCNICO

Também aqui a optimização do funcionamento do MCI é Para desempenhos semelhantes é também de referir o uso
conseguida. O motor eléctrico pode funcionar como gerador de MCI e ME de menores potências, relativamente à
para carregar as baterias, havendo duas possibilidades: configuração série.
- Frenagem regenerativa;
- No caso da potência mecânica disponível no veio do MCI Configuração Série-Paralela – Esta estrutura integra as
ser superior ao necessário para o esforço de tracção, o características das duas anteriores, procurando assimilar as
excedente é fornecido ao gerador. vantagens de ambas. A figura 3 apresenta esta configuração.

Os modos de funcionamento possíveis são os seguintes:


 Propulsão ME: o MCI é desligado; o veículo é
propulsionado apenas pelo ME;
 Propulsão MCI: o contrário do anterior, o veículo é
propulsionado apenas pelo MCI;
 Propulsão Híbrida: ambos os motores (MCI e ME)
contribuem para a propulsão do veículo;
 Propulsão MCI dividida: uma parte da potência no veio
do MCI é usada na propulsão; a outra parte carrega as
baterias, o que implica ter o ME a funcionar como
gerador;
 Fenagem simples (apenas regenerativa): o MCI é Figura 3 – VH: Configuração Série-Paralela

desligado; o ME funciona como gerador, efectuando o


carregamento das baterias; Em comparação com a estrutura série, há mais uma ligação
 Frenagem regenerativa e mecânica: ME funciona como mecânica ao veio de transmissão; relativamente à estrutura
gerador; MCI funciona como freio mecânico. paralela, existe mais uma máquina eléctrica. O acoplamento
mecânico das três máquinas pode ser efectuado através da
Na configuração paralela há apenas duas máquinas (MCI e inclusão de um sistema de engrenagens planetário [1], [4].
ME). A figura 4 ilustra a sua estrutura.

Figura 4 – Sistema de Engrenagens Planetário

108
ARTIGO TÉCNICO

Este sistema tem a vantagem de permitir o funcionamento


do MCI num regime de velocidade constante (permitindo a
sua optimização): a variação da velocidade no veio de
transmissão do veículo é conseguida através da regulação da
potência debitada pelo gerador.
Trata-se, pois, de um sistema de transmissão variável de
potência em modo contínuo, mais concretamente, um
sistema electrónico de transmissão variável.
Comparativamente aos sistemas puramente mecânicos de
transmissão contínua, este sistema electrónico é mais
simples, fiável e com melhores rendimentos, uma vez que
não existem embraiagens, conversores de binário e caixa de
engrenagens. Figura 5 – VH: Configuração Série-Paralela “Complexa”

Com vista ao aumento do rendimento, fiabilidade e


robustez, novas concepções de sistemas electrónicos de 2.2 Veículos Eléctricos
transmissão foram desenvolvidas, as quais assentam na
eliminação do sistema de engrenagens planetário. Nesse Na figura 6 está representada a estrutura básica deste tipo
sentido refere-se: de veículo [1].
- Combinação de duas máquinas eléctricas concêntricas
[3]; Existem três componentes fundamentais:
- Uma única máquina com dois rotores [4], [5].  Sistema de propulsão eléctrica;
 Sistema de alimentação/armazenamento de energia;
Configuração Série-Paralela “Complexa” - A configuração  Sistema auxiliar.
representada na figura 5 apresenta semelhanças com a
estrutura série-paralela (1 MCI e 2 ME). O sistema de propulsão eléctrica é composto pelos seguintes
Há, no entanto, uma diferença importante na máquina elementos:
eléctrica ligada mecanicamente ao MCI: a possibilidade de - controlador do veículo
fluxo de energia bidireccional, ou seja, o funcionamento - conversor estático de potência de tracção
como motor ou gerador. - motor eléctrico
O potencial e versatilidade desta estrutura são superiores à - transmissão mecânica
configuração série-paralela, pois acrescenta um modo de - rodas de tracção.
funcionamento com três motores, o qual não existe naquela
configuração. O sistema de fornecimento/armazenamento de energia
Naturalmente, também o nível de complexidade do(s) inclui os seguintes elementos:
sistema(s) de propulsão é grande, o que torna o seu custo - fonte de energia e/ou sistema de armazenamento de
mais elevado, juntamente com maiores exigências ao nível energia
do controlo do veículo, bem como do sistema de gestão de - sistema de gestão de energia
energia. Não obstante, é de referir a opção por esta - unidade de reabastecimento.
configuração em algumas das séries mais recentes de VH [1],
[2]. O sistema auxiliar inclui múltiplas unidades, tais como: a
direcção assistida, climatização, etc.

109
ARTIGO TÉCNICO

Trata-se de um sistema comum a qualquer tipo de veículo, Tal como nos VH, o sistema de gestão de energia é
seja convencional, híbrido ou eléctrico. fundamental neste tipo de veículos.
Os sinais emitidos pelos pedais do acelerador e travão O sistema auxiliar fornece a energia necessária às unidades
(accionados pelo condutor do veículo) são recebidos pelo já referidas (tipicamente com vários níveis de tensão).
controlador do veículo, o qual actua no sistema de controlo Como referido, a estrutura apresentada na figura 6 é
do conversor de tracção de modo a regular os fluxos de elementar.
energia entre o motor eléctrico e o sistema de Existem várias configurações possíveis para o sistema de
armazenamento de energia. A actuação do controlador do propulsão dos VE, atendendo à grande flexibilidade de
veículo é também função dos sinais recebidos pelo sistema funcionamento dos motores eléctricos. Na figura seguinte
de gestão de energia. São várias as funções deste sistema, são apresentados alguns exemplos, que se julgam ser
sendo de referir o controlo do modo de frenagem representativos dessa variedade de configurações [1].
regenerativa e respectivo armazenamento de energia, a Actualmente, este é um assunto que continua a merecer a
regulação das operações de reabastecimento e a atenção de fabricantes e investigadores.
monitorização dos estados do sistema de armazenamento de
energia.

Figura 6 – Configuração Básica de um VE

110
ARTIGO TÉCNICO

Figura 7 – Sistemas de Propulsão para VE

a) Atendendo às zonas possíveis de funcionamento dos As exigências colocadas a estes motores são várias,
motores eléctricos – binário constante (baixas nomeadamente, a capacidade de desenvolver elevados
velocidades); potência constante (gama ampla de binários no arranque. De referir que uma abordagem às
velocidades) – o sistema habitual de engrenagens com tendências actuais dos tipos de motores eléctricos
múltiplas relações (várias velocidades) pode ser aplicados em VE foi apresentada num artigo anterior.
substituído por um sistema com uma relação fixa. Deste
modo, a embraiagem é eliminada, reduzindo o peso e Neste tipo de veículos, as emissões locais associadas são
tamanho do sistema de transmissão mecânica; o nulas. Naturalmente, esta afirmação não considera as fontes
controlo do sistema de propulsão torna-se mais simples. de energia utilizadas no carregamento das baterias. Com
b) Nesta configuração, o diferencial mecânico é substituído efeito, as emissões globais podem ser consideráveis,
por dois motores eléctricos. Naturalmente, são os dependendo da proveniência da energia armazenada nas
respectivos sistemas de controlo que garantem baterias.
velocidades distintas em trajectos curvilíneos. No momento actual, as principais desvantagens destes
c) Com vista a tornar mais simples o sistema de propulsão, veículos residem no elevado peso e custo inicial das baterias,
os motores eléctricos são fixados à própria roda de autonomias limitadas, tempos longos de carregamento e
tracção, através de engrenagens (sistema in-wheel). Esta densidades de potência reduzidas. Não obstante, nos últimos
concepção coloca desafios vários ao motor (dimensões, anos têm sido empreendidos elevados esforços, no meio
peso, robustez, fiabilidade, ...). académico e industrial, com vista ao desenvolvimento de
d) Relativamente à concepção anterior, é eliminado o novos tipos de baterias [6], bem como de estruturas híbridas
sistema de engrenagens: os rotores dos motores são de armazenamento de energia – baterias, super-
montados directamente nas rodas de tracção, pelo que o condensadores e flywheels (esta última em menor grau).
controlo da velocidade do veículo corresponde ao
controlo directo da velocidade dos motores.

111
ARTIGO TÉCNICO

Como foi referido, actualmente há a considerar duas diminuição da sua capacidade de armazenamento e
variantes de VE, associadas ao tipo de alimentação do aumento da resistência interna. [9]
veículo. As principais características de ambas são
apresentadas a seguir. O sistema de gestão das baterias (Battery Management
System) é fundamental, não apenas na monitorização do
2.2.1 Tipos de Baterias estado das baterias e sua protecção, mas também para
permitir as operações de carga e descarga, em coordenação
Actualmente, as baterias mais usadas nos VE (e também nos com o sistema de gestão de energia. O modo de
VH) são as de chumbo/ácido (PB) convencionais, de hidratos funcionamento em frenagem regenerativa é dos mais
metálicos de níquel (NiMH) e de iões de lítio (Li Ion). críticos a considerar, uma vez que as correntes envolvidas e
Particularmente nestas últimas, têm sido obtidos aumentos respectivos gradientes podem destruir as baterias. Em
consideráveis nos valores da densidade de energia (de particular, as baterias de lítio exigem condições de
momento apresentam valores muito superiores aos funcionamento muito bem controladas, sob pena de se
restantes tipos de baterias). Há uma clara tendência para a danificarem. Com efeito, são muito sensíveis a sobretensões,
sua integração com super-condensadores, aproveitando os sobrecorrentes e à temperatura de funcionamento.
elevados valores de densidade de potência destes últimos
[3], [7]. Tais sistemas híbridos de armazenamento de energia 2.2.2 Células de Combustível
são mais complexos, necessitando da inclusão de
conversores estáticos de potência e de sistemas de gestão de São dispositivos geradores de energia eléctrica, resultante de
energia específicos. De acordo com [8] há diversas vantagens reacções electroquímicas baseadas em hidrogénio
a considerar nestes sistemas, sendo de realçar o (combustível não poluente, com elevada densidade de
desacoplamento do controlo dos requisitos de energia e energia). Sublinha-se o facto de se tratar de geradores de
potência (esta última é essencial nas frenagens); também a energia, enquanto as baterias são armazenadores de
eficiência na gestão de energia do sistema de energia. Uma característica importante a referir é que o
armazenamento vem melhorada. produto das reacções é apenas vapor de água. As principais
vantagens residem na elevada eficiência energética das
Existem diversos factores que condicionam os desempenhos reacções electroquímicas, emissões locais nulas e tempos
das baterias, dos quais se enumeram alguns dos mais curtos de abastecimento (depósito de hidrogénio). [2], [3]
relevantes: A energia eléctrica produzida nas células de combustível é
 Nível de carga – State of Charge (SOC); usada na propulsão do veículo ou no carregamento das
 Capacidade de armazenamento; baterias e super-condensadores para uso futuro.
 Tensões e correntes;
 Frequência das cargas e descargas; 3 Alimentação Externa de Energia Eléctrica (Plug-in)
 Temperatura de funcionamento;
 Idade da bateria. Estes veículos podem ser ligados a um sistema de
carregamento exterior das baterias.
As baterias usadas nos veículos de tracção estão sujeitas a Os veículos híbridos Plug-in têm sistemas de propulsão
ambientes e condições de funcionamento muito agressivos semelhantes aos híbridos convencionais. Para distâncias
(amplas variações de temperatura, ciclos de carga exigentes, curtas, o veículo funciona em modo puramente eléctrico,
choques e vibrações mecânicas). Estes aspectos podem com as baterias a fornecer a energia necessária à propulsão.
contribuir para um envelhecimento precoce, traduzido pela

112
ARTIGO TÉCNICO

Nas distâncias longas, quando a carga das baterias é inferior 4 Conclusões


a um valor especificado, o veículo passa a funcionar no modo
híbrido. Deste modo, conseguem-se funcionamentos que se Os custos e limitações das reservas de combustíveis fósseis e
aproximam mais dos veículos puramente eléctricos [10]. os impactos ambientais decorrentes da sua utilização
intensa, conduziram a um aumento no interesse e
É de referir que as baterias usadas nos VH Plug-in têm de ter desenvolvimento dos veículos eléctricos e híbridos, não
características semelhantes às exigidas para os VE. De modo apenas por parte da comunidade científica mas também ao
geral, os VE são sempre do tipo Plug-in. nível dos governos e opiniões públicas mundiais.

Os veículos Plug-in poderão também interagir com a rede Até ao momento, os veículos híbridos têm conhecido um
pública de energia, podendo contribuir para uniformizar o maior grau de desenvolvimento, que se reflecte na
diagrama de cargas: durante o período nocturno (menor variedade de modelos comercialmente disponibilizados
procura de energia) efectua-se o carregamento; nas horas pelos principais fabricantes e automóveis. Os principais
diurnas (maior procura de energia), havendo excedente de desafios que continuam a ser enfrentados estão no controlo
energia armazenada nos veículos, este pode ser injectado na e optimização das diferentes fontes de energia (o que
rede [10], [11]. implica desenvolver sistemas de gestão de energia eficazes,
com capacidade de actuação em tempo real) e no custo final
A Tabela 1 apresenta uma síntese das características dos do veículo.
tipos de veículos considerados.

Tabela 1 – Características de VH e VE [2]

VH VE (baterias) VE (cél. de combust.)

- Motores eléctricos - Motores


Sistema de Propulsão - Motores eléctricos
- MCI eléctricos
Sistema de Armazenamento - Baterias - Baterias
- Depósito de H2
de Energia - Super-condensadores - Super-condensadores
- Baterias
- Combustíveis fósseis ou
- Super-condensadores
alternativos
Fontes de Energia e Infra- - Estações de gasolina - Pontos de carregamento de - H2
estruturas - Pontos de carregamento de energia (“Plug-in”) -Produção de H2; infra-
energia (“Plug-in” híbrido) estruturas de transporte
Características - Emissões locais baixas - Emissões locais nulas - Emissões locais nulas
- Elevada economia de -Rendimentos elevados -Rendimentos elevados
combustível -Não depende directam. de - Não depende directamente
- Dependente de combustíveis fósseis de combustíveis fósseis
combustíveis fósseis - Autonomia limitada - Em desenvolvimento
- Autonomia longa - Disponível
- Disponível
Principais Desvantagens - Desempenhos das baterias - Desempenhos e tempos de - Custo elevado das células
- Controlo e optimização de vida útil das baterias de combustível, ciclos de
consumos; gestão de várias - Disponibilidade de pontos vida curtos, fiabilidade
fontes de energia de carregamento de energia -Produção de H2; criação de
- Custo superior ao dos - Elevado custo inicial infra-estruturas de
veículos convencionais transporte
(MCI) - Custo elevado do veículo

113
ARTIGO TÉCNICO

Nos últimos anos, os veículos eléctricos têm vindo a Bibliografia


conhecer um maior desenvolvimento dos seus subsistemas,
sendo de destacar: novas concepções de máquinas eléctricas [1] Ehsani, Mehrdad, Gao,Yimin, E. Gay, Sebastien, Emadi,
e conversores de potência, estruturas híbridas nos sistemas Ali (2005). “Modern Electric, Hybrid Electric and Fuel Cell
de armazenamento de energia (baterias integradas com Vehicles – Fundamentals, Theory and Design”, CRC Press.
super-condensadores e respectivos conversores de [2] Chan, C.C. (2007). “The State of the Art of Electric,
potência). O grande obstáculo continua a residir nas Hybrid, and Fuel Cell Vehicles”, Proceedings of the IEEE,
características das baterias disponíveis (densidades de Vol. 95, No. 4, pp. 704-718.
energia, ciclos de carga/descarga, custos). Também aqui o [3] Chan, C.C. et al. (2010). “Electric, Hybrid and Fuel- Cell
desenvolvimento de sistemas de gestão de energia em Vehicles: Architectures and Modeling”, IEEE Transactions
tempo real será um factor determinante no sucesso destes on Vehicular Technology, Vol.59, No2, pp. 589-598.
veículos. [4] K. T. Chau and C. C. Chan (2007). “Emerging energy-
efficient technologies for Hybrid Electric Vehicle”, Proc.
A opção pelas células de combustível é ainda uma incógnita IEEE, vol. 95, no. 4, pp. 821–835.
grande: não só a sua tecnologia se encontra numa fase muito [5] Hoeijmakers, Martin J., Ferreira, Jan A. (2006). “The
inicial, como também esta via implicará a disseminação em Electric Variable Transmission”, IEEE Transactions on
larga escala de infra-estruturas para a produção, distribuição Industry Applications, Vol.42, No4, pp. 1092-1100.
e armazenamento de hidrogénio. [6] Affanni, Antonio et al. (2005). “Battery Choice and
Management for New-Generation Electric Vehicles”, IEEE
A necessidade de integração de múltiplos domínios Transactions on Industrial Electronics, Vol.52, No5, pp.
científicos e tecnológicos, tais como, indústria automóvel, 1343-1349.
máquinas eléctricas e respectivo controlo, electrónica de [7] Sun, Liqing et al. (2008). “State of Art of Energy System
potência e sistemas de armazenamento de energia, com for New Energy Vehicles”, IEEE Vehicle Power and
desempenhos semelhantes aos dos veículos convencionais Propulsion Conference (VPPC), September 3-5, China.
(MCI), coloca elevados níveis de exigência à concepção dos [8] Miller, John M., Startorelli, Gianni (2010). “Battery and
VH e VE. Como tal, a modelização e simulação destes Ultracapacitor Combinations – Where Should the
sistemas assume um papel determinante no seu Converter Go?”, IEEE Vehicle Power and Propulsion
desenvolvimento, uma vez que permite a concepção e teste Conference (VPPC), September 1-3, France.
de novas estruturas e sistemas de controlo, sem grandes [9] http://www.mpoweruk.com
exigências em termos materiais e de tempo. Também no [10]Amjad, Shaik al. (2010). “Review of Design
campo do diagnóstico de avarias é de salientar a mais-valia Considerations and Technological Challenges for
conseguida com ferramentas de modelização e simulação. Successful Development and Deployment of Plug-in
Hybrid Electric Vehicles”, Renewable and Sustainable
Por último, o futuro dos VH e VE passará seguramente pela Energy Reviews, No14, pp. 1104-1110, Elsevier.
integração das opiniões públicas mundiais e respectivos [11]Somayajula, Deepak et al. (2009). “Designing Efficient
governos com os interesses de múltiplos sectores, tais como, Hybrid Electric Vehicles”, IEEE Vehicular Technology
indústria automóvel, transportes, comunidade académica e Magazine, Vol.4, no.2, pp. 65-72.
empresas do ramo energético.

114
ARTIGO TÉCNICO

Telecomunicações

Após o reconhecido sucesso da publicação das anteriores seis edições da Revista Neutro à Terra esta sétima edição reúne os
artigos técnicos publicados nas diversas áreas, e, naturalmente, também na área das telecomunicações.
Nos últimos anos, o sector das telecomunicações em Portugal sofreu profundas alterações decorrentes da introdução de
mudanças significativas ao nível das prescrições especificações técnicas das infra-estruturas de telecomunicações em edifícios
(ITED).
Com efeito, a introdução do DL 59/2000 de 19 de Abril abriu caminho a uma verdadeira revolução nas infra-estruturas de
telecomunicações em edifícios, tendo-se observado, a partir de Janeiro de 2005, à aplicação efectiva das prescrições e
especificações técnicas de telecomunicações em edifícios (1ª Edição Manual ITED) ao nível da realização de projectos e,
consequentemente, na posterior execução das instalações.
Decorridos poucos anos, e em resposta a uma procura cada vez maiores de serviços de maiores larguras de banda, bem como
pela necessidade de harmonização e adaptação da legislação vigente à legislação europeia, no início de 2009 é encetado todo
um trabalho de modernização e adequação do Manual ITED a uma nova realidade que se espera poder perdurar durante vários
anos. Nesse mesmo ano, e pela primeira vez, é iniciado o estudo de soluções técnicas a aplicar a infra-estruturas de
telecomunicações em urbanizações de cariz pública e privada. O Departamento de Engenharia Electrotécnica do Instituto
Superior de Engenharia do Porto teve uma contribuição activa e reconhecida com o grupo de consultores da ANACOM na
proposta de elaboração dos novos manuais de telecomunicações.
Assim, em Novembro de 2009 são editados a 2ª Edição do Manual ITED e a 1ª Edição do Manual ITUR, preenchendo esta última
edição um vazio legal ao nível das infra-estruturas de telecomunicações em urbanizações em Portugal, decorrentes da
publicação do DL 123/2009 de 21 de Maio, tendo em conta a redacção conferida pelo DL258/2009 de 25 de Setembro.
Assim, esta compilação de artigos, que vão desde a aplicação das infra-estruturas de telecomunicações em edifícios aplicados à
1ª e 2ª edição do Manual ITED, evidenciação das potencialidades do estabelecimento de infra-estruturas de fibra óptica bem
como referência às infra-estruturas de telecomunicações em urbanizações, visa contribuir para o enriquecimento do
conhecimento acerca das mudanças técnicas e tecnológicas sofridas ao longo dos últimos anos no sector das telecomunicações
em Portugal.

115
ARTIGO TÉCNICO

Índice

Infra-estruturas de Telecomunicações em Edifícios. O Estado da Arte 117


Manuel Cunha
Responsável Departamento de Certificações ITED no Porto da Portugal Telecom
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008

ITED – Infra-Estruturas de Telecomunicações em Edifícios. Novos Horizontes Alcançados 119


Sérgio Filipe Carvalho Ramos
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008

Redes “Fiber To The Home – FTTH”. O Despertar de Novos Serviços de Telecomunicações 127
Sérgio Filipe Carvalho Ramos
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009

INFRA-ESTRUTURAS DE TELECOMUNICAÇÕES EM EDIFÍCIOS (ITED). O QUE MUDARÁ COM O ITEDRNG? 133


LUÍS PEIXOTO, SÉRGIO FILIPE CARVALHO RAMOS
TELEVÉS/INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DO PORTO
ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA NEUTRO À TERRA, Nº4, OUTUBRO DE 2009

FIBRA ÓPTICA. NOVAS AUTO-ESTRADAS DE TELECOMUNICAÇÕES EM URBANIZAÇÕES 137


SÉRGIO FILIPE CARVALHO RAMOS , ROQUE FILIPE MESQUITA BRANDÃO
INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DO PORTO
ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA NEUTRO À TERRA, Nº5, JUNHO DE 2010

FIBRAS ÓPTICAS. O PARADIGMA 143


EDUARDO SÉRGIO CORREIA
IEMS – INSTALAÇÕES DE ELECTRÓNICA MANUTENÇÃO E SERVIÇOS, LDA
ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA NEUTRO À TERRA, Nº6, DEZEMBRO DE 2010

116
ARTIGO TÉCNICO Manuel Cunha
Responsável Departamento de Certificações ITED no Porto da Portugal Telecom
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008

Infra-estruturas de Telecomunicações em Edifícios. O Estado da Arte

Hoje em dia quando se fala em ITED, não se fala apenas num RITA era já pois um regulamento que não servia as
regulamento de infra-estrutura de telecomunicações em necessidades dos seus utilizadores e amplamente desfasado
edifícios. Quando se fala em ITED fala-se, também, de das novas tecnologias.
mudança, das novas tecnologias e, sobretudo, de novos
horizontes. Nos últimos anos, com o acumular de experiências tem-se
verificado uma constante melhoria na qualidade dos
As mudanças tiveram início com a publicação do Decreto-Lei projectos realizados. No entanto, ainda existe uma gama de
59/2000 de 19 de Abril, em que, por exemplo, deixou de ser projectistas que, pelo seu minimalismo, hábito
obrigatório o licenciamento do projecto, impondo assim aos provavelmente adquirido pelos anos que passaram a
projectistas a total responsabilidade pela arquitectura das projectar pelo regulamento RITA, assim como pelos
infra-estruturas. apertados orçamentos previstos para a instalação, tendem a
elaborar projectos pouco flexíveis, não preparando as
Por outro lado, liberalizou-se o mercado das certificações, instalações para as novas tecnologias que se adivinham,
criando assim espaço ao aparecimento de novas empresas nomeadamente a IPTV.
no sector, sendo neste momento mais de 140 empresas a
certificar. Neste capítulo, as instituições de ensino superior terão um
papel fundamental a desempenhar, reservando algum
Em termo das Infra-estruturas, a grande mudança aconteceu espaço nas cadeiras de projecto para as ITED, promovendo
em Julho de 2004, altura em que foi publicada a primeira mesmo um relacionamento entre os alunos e empresas do
edição do Manual ITED, que vigorou em fase de sector, quer ao nível de projecto, de instalação, ou mesmo
implementação até Dezembro do mesmo ano em ao nível da Certificação.
simultâneo com o RITA, passando em Janeiro de 2005 a ser o
único regulamento aceite. Também na qualidade da instalação se tem verificado uma
curva ascendente bastante positiva, em que os técnicos
Se o novo manual se apresentou como um documento algo instaladores sem formação que se arriscam em cumprir um
ambíguo em determinados pontos, teremos de lhe projecto com regras diferentes das que estão habituados dão
reconhecer o devido valor, na medida em que veio dar uma lugar a técnicos com formação adequada, e com vontade de
lufada de ar fresco num sector que se fazia reger por um se aperfeiçoarem a cada obra que realizam.
regulamento com quase 20 anos, sem que nesse período de
tempo tivesse sofrido qualquer actualização. O regulamento No capítulo da instalação, há que salientar que também os

117
ARTIGO TÉCNICO

fabricantes que se mostraram atentos às novas exigências do como condições obrigatórias.


mercado, renovando as suas ofertas ou desenvolvendo
novos produtos dando assim uma resposta de encontro às O processo ITED, embora ainda esteja a dar os seus
novas exigências de mercado. primeiros passos, já demonstra algum amadurecimento, as
primeiras poeiras já assentaram, e consequentemente, já é
Com a abertura do mercado das Certificações ITED, surgiram possível tirar as primeiras e mais importantes conclusões.
muitas empresas, e com elas, alguns desajustes, resultantes
do fraco “know how” de algumas dessas novas empresas, Com base numa análise do que se tem verificado e das
mas também aqui já se verifica os resultados do trabalho experiências acumulados é pois tempo da ANACOM cumprir
desenvolvido pela ANACOM na procura de seriedade, o que inicialmente prometeu, ou seja, rever e actualizar o
profissionalismo e rigor, exigido pela entidade certificadora Manual ITED.

118
ARTIGO TÉCNICO Sérgio Filipe Carvalho Ramos
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008

ITED – Infra-Estruturas de Telecomunicações em Edifícios


Novos Horizontes Alcançados

Introdução Apenas na década de 80 do século passado foram


fixadas as regras básicas, com o objectivo de dotar os
Ao longo das últimas décadas, o nosso estilo e hábitos de edifícios de infra-estruturas de telecomunicações,
vida tem vindo, paulatinamente, a ser alterados e nomeadamente telefone, telex e dados, com acesso
melhorados, a par do desenvolvimento das economias, e dos através de redes físicas, mediante a publicação do
progressos tecnológicos, contribuindo, sobremaneira para Decreto-Lei 146/87 de 24 de Março – Instalações
uma melhoria generalizada das condições sociais. Telefónicas de Assinante (ITA). Em execução do regime
Com desenvolvimento do sector económico tem-se assistido fixado, em 8 de Abril de 1987 foi editado o Decreto
em Portugal à implementação de ambientes liberalizados em Regulamentar n.º 25/87, o Regulamento de Instalações
áreas tradicionalmente controladas pelo estado e, assim, Telefónicas de Assinante (RITA), que estabeleceu as
sujeitas a um verdadeiro regime de monopólio, como eram condições técnicas a que deveriam obedecer os
os casos do sector energético e das telecomunicações. projectos, as instalações e a conservação das infra-
A publicação do Decreto-Lei n.º 59/2000, de 19 de Abril e a estruturas de telecomunicações, bem como os
subsequente publicação das Prescrições Técnicas de procedimentos legais a seguir para a elaboração de
Instalações e Especificações Técnicas de Equipamentos e projectos e solicitação de vistorias às instalações
Materiais, projectou Portugal para a vanguarda de um executadas. Em complemento do RITA, o despacho n.º
verdadeiro ambiente concorrencial ao nível das 42 de 11 de Novembro de 1990, homologou o
telecomunicações. Regulamento de Aprovação de Materiais, bem como o
O presente artigo visa, sucintamente, reflectir sobre o novo Regulamento de Inscrição de Técnicos Responsáveis.
enquadramento das Infra-estruturas de Telecomunicações “Assim, as soluções técnicas instituídas inseriam-se
em Edifício (ITED) criado pelo DL n.º 59/2000, de 19 de Abril, num contexto de exploração da rede pública de
assim como, evidenciar os aspectos mais específicos desse telecomunicações e oferta de serviço fixo de telefone
mesmo enquadramento. em regime de monopólio.” (Diário da República – I
Série A, 19 de Abril de 2000).
Enquadramento Legislativo
Mais tarde, em 1997 e pelo Decreto-Lei n.º249/97 de
Na década de 50 do século passado foi editado o Decreto 23 de Setembro, foi estabelecido o regime de
n.º41486 de 30 de Dezembro de 1957 que regulamentou as Instalação, em edifícios, de sistemas de distribuição de
estações receptoras de radiodifusão, decorrentes da sinais de radiodifusão sonora e televisiva para uso
evolução da “caixa que mudou o mundo”, a televisão. privativo, por via hertziana terrestre (tipo A), por via de

119
ARTIGO TÉCNICO

satélites de radiodifusão (tipo B), ou por cabo (CATV), como armários e caixas de entrada para ligação a sistemas de
devidamente complementado por Prescrições Técnicas de acesso via rádio (FWA), sendo, também, obrigatória a
instalação e por Prescrições Técnicas de equipamentos e instalação das infra-estruturas de redes de cabos (RCC e
materiais, revogando o anterior diploma DL 41486. RIC), para ligação física às redes públicas de
telecomunicações. Estas infra-estruturas devem permitir o
Com os avanços tecnológicos verificados na área da acesso ao serviço fixo telefónico, distribuição de sinais
electrónica e das telecomunicações, e devido às novas sonoros e televisivos do tipo A e distribuição por cabo.
exigências emergentes do estabelecimento de medidas
legislativas que determinaram a liberalização do sector das Sendo a obrigatoriedade de instalação destas infra-
telecomunicações em Portugal, impuseram a necessidade de estruturas para distribuição de sinais sonoros e televisivos do
formular novas regras para a instalação das infra-estruturas tipo A, aplicável aos edifícios com 4 ou mais fracções
de telecomunicações em edifícios, bem como para as autónomas (artigo 4º do DL 59/2000, de 19 de Abril).
actividades de certificação das instalações e avaliação de
conformidade de infra-estruturas, materiais e equipamentos. A instalação das infra-estruturas das ITED deve obedecer a
um projecto técnico especializado, realizado por um
Assim, e com o aparecimento actual de legislação foram projectista devidamente credenciado, inscrito na Autoridade
estabelecidos os regimes das ITED’s e respectivas ligações às Nacional de Comunicações (ANACOM).
redes públicas de telecomunicações, assim como o regime
de actividade de certificação das instalações e avaliação de Projectista ITED – Quais as suas obrigações
conformidade de materiais e equipamentos.
Cabe ao dono de obra escolher livremente o projectista de

Caracterização das ITED infra-estruturas de telecomunicações. O projectista tem


como obrigações executar o projecto ITED em conformidade

O artigo 2º do DL 59/2000 considera que as infra-estruturas com o estado da arte e legislação em vigor, prestando todos

de telecomunicações em edifícios destinam-se a: os esclarecimentos necessários ao promotor da obra, ao


instalador e à entidade certificadora para a correcta
1. Ao acesso aos serviços de telecomunicações fixas interpretação do projecto. O projectista deverá, também,
(serviço telefónico e de dados), ligadas a rede públicas dar os esclarecimentos necessários sobre o projecto
de acesso físicas e a redes públicas de acesso via rádio realizado, a assistência técnica ao instalador e dono de obra
(FWA – Fixed Wired Access); na selecção dos componentes e materiais a serem utilizados,
2. Às redes de cabos constituída pela rede de cabos assim como, acompanhar a execução das obras, colaborar
colectiva (RCC) e pela rede de cabos individual (RCI), para nas acções realizadas pelas entidades responsáveis por
posterior ligação física às redes de telecomunicações; fiscalização e vistorias, disponibilizar ao dono de obra, bem
3. Aos sistemas de recepção e distribuição de sinais de como à entidade certificadora o projecto técnico ITED. Os
radiodifusão sonora ou televisiva (Tipo A e B); projectistas, deverão, ainda, emitir um termo de
4. Aos sistemas de uso exclusivo do edifício, responsabilidade que ateste a observância das normas gerais
nomeadamente videoportarias e televigilância. e específicas constantes das disposições legais e
regulamentares aplicáveis, que dispensará a apreciação
Em todos os edifícios novos ou a reconstruir é obrigatória a prévia dos projectos por parte dos serviços municipais.
instalação das infra-estruturas necessárias para a instalação Finalmente, o projectista deverá endereçar uma cópia do
dos diversos equipamentos, cabos e outros dispositivos, bem termo de responsabilidade à ANACOM.

120
ARTIGO TÉCNICO

O Projecto Técnico ITED que o projecto defina o tipo, a capacidade, a quantidade e a


localização desses equipamentos. O projecto deverá ter em

O projecto técnico das instalações ITED tem como objectivo conta o aspecto estético exterior das instalações,

a definição da arquitectura da rede (e seus percursos), a privilegiando a não existência de cablagem à vista.

definição e respectiva caracterização da rede de cabos e da


rede de tubagens (quer se tratem de rede colectivas ou As novas infra-estruturas de telecomunicações em edifícios
individuais), definição e dimensionamento de equipamentos conduzem a uma procura de uma maior qualidade dos
e materiais a usar, permitindo a instalação das redes de serviços prestados aos utilizadores. Assim, com vista a
tubagens, cabos e equipamentos, com total clareza, de promover ao aperfeiçoamento tecnológico das instalações
modo a não suscitar dúvidas aos técnicos instaladores. surgem os Níveis de Qualidade (NQ) dos seus constituintes.
Com efeito, as necessidades de acesso dos utilizadores a

De acordo com o consagrado no artigo 12.º do Decreto-Lei serviços de telecomunicações a larguras de banda cada vez

59/2000, de 19 de Abril, o projecto técnico ITED deve incluir maiores conduziram à subdivisão por frequências de

obrigatoriamente os seguintes elementos: trabalho e pelos diversos tipos de cablagem,


nomeadamente:
- Cabos de par de cobre;
a) Informação identificadora do projectista, do edifício a
que se destina, nomeadamente da sua finalidade; - Cabo coaxial;
- Fibra óptica.

b) Memória descritiva, contendo os esclarecimentos


necessários à correcta interpretação do projecto, os A cada grupo corresponde um NQ distinto. Assim é atingida
pressupostos que foram considerados, nomeadamente uma melhor caracterização dos requisitos obrigatórios
as características dos interfaces técnicos de acesso de decorrentes do DL 59/2000. A tabela 1, referente a cabos de
redes públicas de telecomunicações, os cálculos técnicos pares de cobre, indica a correspondência entre a classe de
dos parâmetros principais da infra-estrutura, referência ligação que o percurso de transmissão suporta, a categoria
ao modo como o projecto assegura a não interferência do cabo e a frequência máxima para que são especificados.
com outras infra-estruturas do edifício, as características
técnicas a que devem obedecer os equipamentos e Classe Categoria dos Frequência
da Componentes Máxima
materiais que irão ser utilizados na infra-estrutura.
Ligação (Cabo) (MHz)

A 1 0,1
O projecto ITED deverá ainda ter em conta o estabelecido no
B 2 1
nº2 do artigo 40º, do DL 59/2000, de 19 de Abril, ou seja, as
C 3 16
instalações ITED devem respeitar os parâmetros técnicos da
- 4 20
interface de acesso às redes públicas de telecomunicações
D 5 100
devendo, também, respeitar o designado nos guias de
E 6 250
instalação dos fabricantes dos materiais e equipamento. O
F 7 600
projecto deve contemplar obrigatoriamente os Pontos
Terminais (PT) de todas as redes das ITED.
Tabela 1 – Categorias de cabos e componentes de par de cobre e
classes correspondentes
Quanto aos equipamentos terminais de cliente, é desejável (Adap.: Prescrições e Especificações Técnicas – Manual ITED)

121
ARTIGO TÉCNICO

A tabela 2 indica os meios de transmissão utilizados que A tabela 3 enuncia os diversos níveis de qualidade da
deverão satisfazer os diversos níveis de qualidade. cablagem a instalar nos diferentes edifícios e, define os NQ
mínimos e recomendados decorrentes, respectivamente dos
O NQ 0, ao abrigo de antigos regulamentos, foi abandonado requisitos mínimos estabelecidos no DL 59/2000, e nas
em termos de solução para a instalação de infra-estruturas sugestões tecnicamente mais avançadas emitidas pela
de telecomunicações em edifícios. ANACOM.

Em função das infra-estruturas de telecomunicações a Também é previsto a coexistência de soluções mínimas e


instalar, é necessário diferenciar os diversos edifícios. recomendadas.

Tipo Categorias dos


Níveis Classe ou Frequência
Sub-Nível de Cabos Par Cobre
(NQ) suportada
Cablagem Fibra Óptica

0 - Par Cobre Classes A e B Categorias 1 e 2

a Classe C Categoria 3
Pares
1 b de Classe D Categoria 5
Cobre
c Classe E e F Categoria 6 e 7

a Frequência até 1 GHz Não se aplica


2 Coaxial
b Frequência até 2150 MHz Não se aplica

3 - Fibra óptica (depende tipo fibra) OM1, OM2, OM3 E OS1


Tabela 2 – Definição dos Níveis de Qualidade
(Adaptado de Prescrições e Especificações Técnicas – Manual ITED)

Nível de Qualidade (NQ) da Cablagem Cablagem a Instalar (Tipo / Número)


EDIFÍCIOS
Rede Colectiva Rede Individual Rede Colectiva Rede Individual
MÍNIMO
Moradia Unifamiliar não existe não existe
NQ1b Par Cobre /1
2 e 3 fracções Par Cobre /1
autónomas NQ1a NQ2a Cabo Coaxial /1 Cabo Coaxial /1

4 ou mais fracções NQ2a Par Cobre /1


autónomas Cabo Coaxial /2
RECOMENDADO
Moradia Unifamiliar não existe não existe Par de Cobre /1
Cabo Coaxial /1
2 ou mais fracções NQ1b NQ1b Par de Cobre /1 Par de Cobre /1
autónomas NQ2a e NQ2b NQ2a e NQ2b Cabo Coaxial (NQ2a) /2 Cabo Coaxial (NQ2a) /1
Cabo Coaxial (NQ2a) /1

Tabela 3 – Tabela dos níveis de qualidade da cablagem e da cablagem a instalar, consoante o tipo de edifícios
(Adaptado de Prescrições e Especificações Técnicas – Manual ITED)

122
ARTIGO TÉCNICO

Assim, para os edifícios de 1 a 3 fracções autónomas devem tipologia em estrela, até às tomadas de cliente. Estas
ser instaladas, pelo menos, 2 redes de cablagem, uma em ligações são tipicamente efectuadas por cabos de 4 pares de
par de cobre (PC) e uma outra em cabo coaxial (CC). Para os cobre (UTP - Unshielded Twisted Pair, por exemplo).
edifícios de 4 ou mais fracções autónomas devem ser Todas as tomadas de cliente podem ser interligadas entre si,
instaladas, pelo menos, 3 redes de cablagem na rede no DDC, por intermédio de chicotes adequados, permitindo
colectiva, uma em par de cobre, outra em cabo coaxial e distribuir o sinal das entradas por todas as tomadas.
ainda uma outra (também em cabo coaxial) para a recepção
e distribuição de sinais de radiodifusão sonora e televisiva do Aquando da previsão da quantidade mínima de pares de
tipo A (MATV). Finalmente, as redes individuais (fracção cobre da rede colectiva, prevendo necessidades acrescidas
autónoma) são compostas por 2 redes de cablagem, uma em ou avarias, dever-se-á, obrigatoriamente considerar 4 pares
par de cobre e outra em cabo coaxial. de cobre por fracção autónoma, e prever um
sobredimensionamento de 20% no valor total de pares de
O Projecto Técnico ITED – Critérios de concepção cobre. A folga de 20% é justificada pela ANACOM como uma
medida de facilitação na ligação rápida a novos clientes, com
Em termos de concepção de projecto de ITED para fracções um mínimo de intervenção.
residenciais, e relativamente a PC, deve prever-se no
mínimo: Relativamente à rede colectiva de cabos coaxiais, nos
- 1 Tomada telefónica por quarto; edifícios com 3 ou mais fracções autónomas, deverá ser
- 1 Tomada por sala; constituída, no mínimo por um 1 sistema de cabo coaxial,
- 1 Tomada por cozinha. adaptado ao NQ2a, conforme a tabela 3. Por sua vez, nos
edifícios com mais de 4 fracções autónomas, deverá, no
Como a tomada da cozinha poderá estar sujeita a condições mínimo, ser constituída por 2 sistemas de cabos coaxial,
especiais deverá existir um cuidado especial na sua adaptado ao NQ2a, sendo um deles destinado à recepção de
localização de modo a minorar essa situação, sinal CATV (Community Antenna Television) e o segundo à
nomeadamente o mais possível afastada de fontes de vapor recepção de sinal MATV (Master Antenna Television –
e calor. Deverão ser utilizadas tomadas e cabos adaptados a sistema de distribuição e recepção Tipo A).
essas situações.
Nas redes de cabo coaxial é recomendado a utilização de
Para fracções de uso profissional ou não residencial o critério cabos coaxiais flexível dos tipos RG11, RG7, RG6 ou RG59,
de concepção da rede de cabos de par de cobre deve devendo-se respeitar as atenuações típicas de cada tipo de
contemplar: cabo. Os níveis de sinal na entrada deverão estar
- 1 Tomada por cada posto de trabalho ou por cada 10 m². compreendidos entre 75 e 100 dBµV.

No caso de outras fracções autónomas em locais específicos, A rede individual de cabos é, normalmente, constituída por
tais como industrias, estabelecimentos públicos, etc, o um único sistema de cabo coaxial, adaptado a frequências
projectista deve ter em conta as necessidades específicas do até 1GHz. Aquando da elaboração da rede individual de
cliente. cabos coaxiais, dever-se-á ter em atenção os critérios de
dimensionamento já mencionados no primeiro parágrafo
Na elaboração da rede de pares de cobre, por exemplo numa desta secção.
fracção para uso residencial, a distribuição a partir do
Dispositivo de Derivação do Cliente (DDC) apresenta uma Ainda nas fracções residenciais, é recomendada a existência

123
ARTIGO TÉCNICO

de uma Zona de Acesso Privilegiado (ZAP), que é da rede de terra ITED e electricidade deverá ser feita apenas
caracterizada pela existência, no mesmo local, de 2 tomadas no ligador geral de terras. A título de exemplo, o condutor
coaxiais a uma distância máxima de, aproximadamente, de terra do circuito de alimentação da tomada de um ATI
30cm uma da outra (se possível, integradas no mesmo não deve ser ligado ao barramento de terra da ATI mas sim
espelho). Embora a localização da ZAP esteja ao critério do ao barramento de terra do quadro eléctrico da fracção
projectista ela é colocada usualmente na sala de estar. A ZAP autónoma respectiva.
permitirá, assim, a ligação a um mesmo dispositivo terminal
de 2 sinais distintos provenientes de redes coaxiais. As figuras 1 e 2 representam um esquema resumido da rede
individual de tubagem e de cabos, respectivamente. Cada
O projecto ITED contempla, ainda, o projecto da respectiva uma das redes individuais é composta por tubagem e caixas.
instalação eléctrica das ITED. Assim, dever-se-á prever a A rede de cabos é composta pelos dispositivos de ligação e
instalação de 4 tomadas de potência monofásicas com terra distribuição dos Pares de Cobre e Cabo Coaxial e pelos
no Armário de Telecomunicações do Edifício (ATE), diferentes tipos de cabos, por exemplo, cabo par de cobre
proveniente do Quadro de Serviços Comuns do Edifício (QSC) tipo UTP-4’’ Categoria 5 e cabo coaxial tipo RG6.
e 1 tomada no Armário de Telecomunicações Individual A categoria mínima de par de cobre pertencente a uma rede
(ATI), proveniente do quadro eléctrico da fracção autónoma. individual deve ser da Categoria 5 e o Nível de Qualidade do
A rede de terras das ITED deverá ser estabelecida de forma cabo coaxial deve ser NQ2a, ou seja, frequências até 1 GHz
independente da rede de terras da electricidade. A ligação (recepção de sinal sonoro televisivo Tipo A e CATV).

QE PAT
40mm Ø
I1
≥ 25mm Ø
≥ 20mm Ø ≥ 20mm Ø
pares de cobre
CEMU
ATI
25mm Ø
≥ 32mm Ø coaxial/fibra óptica
50mm Ø
Moradia
Figura 1 – Moradia Unifamiliar – Rede individual de tubagem

QE
I1 PAT
Entrada de
cabos aérea
≥ 25mm Ø (pares de cobre) ATI UTP
D
CEMU
D
TC
≥ 32mm Ø (coaxial/fibra óptica) C
RG59/ RJ45
RG6/ h ≥ 2,5 m
RG7 Moradia
Entrada de cabos subterrânea
Profundidade ≥ 0,6 m

Figura 2 – Moradia Unifamiliar – Rede individual de cabos

124
ARTIGO TÉCNICO

A figura 3 representa o esquema da rede colectiva e Nos edifícios com 3 ou menos fracções autónomas, a rede
individual de tubagem de uma instalação colectiva. Cada colectiva deve ser constituída no mínimo por 1 sistema de
uma das redes é composta por tubagem (a qual se deve cabo coaxial, adaptado ao NQ2a. Nos edifícios com 4 ou mais
respeitar a determinação do diâmetro mínimo interno) e fracções autónomas, a rede de cabo coaxial deve ser
pelas respectivas caixas. A categoria mínima de par de cobre constituída, no mínimo, por 2 sistemas de cabo coaxial,
pertencente a uma rede colectiva deve ser da Categoria 3. adaptados ao NQ2a (MATV e CATV).

Sistemas de antenas
(MATV, SMATV, FWA)
PAT - Passagem aérea de
topo (obrigatória)

ATE - Armário de As redes


Telecomunicações de individuais de
Edifício (superior) cabos seguem uma
Permite a ligação dos topologia em
sistemas de antenas estrela (obrigatório)

Os componentes e os
cabos em pares de cobre Rede Individual de
das RIC são de categoria 5 Cliente (RIC) -
ou superior residencial ou escritório

Os componentes e os
cabos coaxiais das RIC ATI ATI
suportam sinais, no
mínimo, até 1GHz
Armário de Tomadas de cliente
Telecomunicações (par de cobre e cabo
Individual coaxial)
Coluna Montante de
cabos de pares de cobre Na rede individual os
de categoria 3 ou cabos partilham a
superior (+ reserva) mesma tubagem

ATI ATI
Coluna Montante de
sistemas de cabos
coaxiais (+ reserva)

(num edifício de 4 ou mais


fracções é obrigatória a
existência de 2 sistemas, Tubos de entrada
que partilham a mesma de cabos de
tubagem) operadores
ATE (inferior)

Ponto de ligação
Entrada Caixa de dos operadores
subterrânea entrada de das redes fixas
cabos
(obrigatória) (opcional)

Câmaras de
Visita de
operadores

Figura 3 – Exemplo dos espaços e redes de tubagens de uma ITED


(Adaptado de Prescrições e Especificações Técnicas – Manual ITED)

125
ARTIGO TÉCNICO

Certificação, Vistorias e Fiscalização Considerações finais

Durante a execução das infra-estruturas de As Infra-estruturas de Telecomunicações em Edifícios e


telecomunicações ou no seu término, são efectuadas respectiva legislação, não são especificações fixas ao longo
“análises” às instalações, com o principal objectivo de do tempo, pelo contrário, as soluções técnicas adoptadas
certificar a conformidade das instalações, de acordo com as para cada um dos projectos, a par das evoluções
Prescrições e Instruções Técnicas e, sobretudo, de acordo tecnológicas, contribuem para que ao nível das ITED’s haja
com o projecto apresentado, bem como certificar a uma constante actualização de conhecimento e soluções
conformidade dos materiais e a sua adequação ao ambiente técnicas. Todo este processo é, pois, dinâmico requerendo,
do local a instalar. As instalações são verificadas por uma por isso, uma constante necessidade de formação nos
entidade certificadora ou instalador-certificador. Com efeito, domínios das ITED’s.
e segundo o número 2 do artigo 22º do DL 59/2000, no caso
da instalação ter sido realizada por um instalador- O projectista é soberano na escolha dos diferentes Níveis de
certificador, pode o mesmo proceder à auto certificação da Qualidade para as instalações, salvaguardando-se sempre a
obra, com emissão do correspondente certificado. Por outro obrigatoriedade de cumprimento de Níveis de Qualidade
lado, no caso da instalação ter sido realizada por um mínimo exigidos. Porém, e de forma a dotar as infra-
instalador devidamente inscrito como tal no ICP-ANACOM, estruturas de melhores desempenhos, a escolha e selecção
mas não qualificado para proceder à certificação, esta deve desses mesmos Níveis de Qualidade poderão ser superiores
ser efectuada por um instalador-certificador ou por uma aos especificados regulamentarmente, aliás, e ao nível da
entidade certificadora. concepção do projecto ITED bem se poderá dizer que... o céu
é o limite!
É da competência do instalador-certificador ou entidade
certificadora emitir certificados de conformidade das A elaboração deste artigo surge no seguimento da segunda
instalações, fiscalizar (em fase de execução) as instalações, publicação da revista técnica “Neutro à Terra”, da área de
Alertar o director de obra para qualquer facto relevante Máquinas e Instalações Eléctricas, do grupo de disciplinas de
relativo à execução da instalação e participar na vistoria que Sistemas Eléctricos de Energia, do Departamento de
conduz à emissão de licença ou à autorização de utilização Engenharia Electrotécnica do Instituto Superior de
do edifício. A posterior conservação da ITED e os respectivos Engenharia do Porto e visa, fundamentalmente, contribuir
encargos são da responsabilidade dos proprietários ou das para o enriquecimento do conhecimento das competências
administrações dos edifícios, artigo 32º do DL 59/2000, no âmbito de actuação do projecto ITED.
podendo ser efectuada por um instalador escolhido pelo
dono de obra.

126
ARTIGO TÉCNICO Sérgio Filipe Carvalho Ramos
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009

Redes “Fiber To The Home – FTTH”


O Despertar de Novos Serviços de Telecomunicações
1. Enquadramento 2. Novos Serviços de Telecomunicações

Se há poucos anos não imaginávamos as nossas vidas sem o Esta nova oferta de serviços de telecomunicações apenas
conforto proporcionado pela iluminação artificial, fruto do tem sido possível pelos enormes investimentos realizados
desenvolvimento e proliferação da produção, transporte e pelos operadores, de forma a dar uma resposta cabal às
distribuição de energia eléctrica, seguramente que nos dias necessidades de operabilidade e de inovação de serviços aos
de hoje é indissociável juntar a esse mesmo conforto e estilo consumidores domésticos e empresariais.
de vida a utilização dos meios de telecomunicações actuais. Tem-se assistido a uma estratégia comum por parte dos
diversos operadores em fornecer aos seus clientes “pacotes”
Com efeito, a vulgarização do uso de telemóveis, a recepção de serviços de telecomunicações. A oferta desses serviços,
e transmissão de dados a velocidades cada vez maiores, o denominados por “Triple Play”, disponibiliza numa única
aparecimento de televisão de alta definição (TVAD) em plataforma: telefone, internet de banda larga, “vídeo on
substituição do actual formato PAL, a surgimento de ofertas demand” e televisão. Do ponto de vista económico estes
de novos serviços como o Vídeo on Demand a par da serviços disponibilizados pelos operadores poderá ser
emergente televisão digital terrestre constituem, vantajoso na medida em que os clientes, tendencialmente,
seguramente, uma nova revolução nas infra-estruturas de pagarão menos pelo conjunto de todos os serviços do que
telecomunicações domésticas e profissionais. pagaria por eles em separado.
Assim, e para que estes serviços possam chegar ao
O sector das telecomunicações tem sido aquele que se consumidor final, no seu potencial máximo de exploração, é
encontra em pleno crescimento, com os fabricantes e necessário criar e dotar as infra-estruturas de
operadores a lançarem novos produtos e soluções de forma telecomunicações que suportem tais serviços.
continuada, bem como uma atenta e perspicaz reacção por A crescente inovação tecnológica no sector das
parte dos legisladores. Assiste-se verdadeiramente na telecomunicações origina, forçosamente, mudanças
indústria das telecomunicações a um movimento sucessivas ao nível das redes e dos serviços dos operadores,
relacionado com a convergência para as redes IP (“Internet e ainda nas infra-estruturas individuais (dentro das fracções
Protocol”, ou Protocolo de Internet). autónomas). De facto, é necessário dotar as fracções de
novos meios que possibilitem recepcionar os novos serviços
de telecomunicações. A par da utilização de cabos em par de
cobre de classes cada vez maiores, e da utilização de cabos
coaxiais de maiores frequências, a utilização de fibra óptica
poderá constituir uma nova realidade para dotar as infra-
estruturas de telecomunicações interiores.
Dada a crescente tendência dos operadores chegarem a casa
dos clientes em fibra óptica para disponibilização de serviços
“Triple Play”, a extensão desta tecnologia poderá, pois,
entrar pelas nossas casas de forma a dinamizar e
proporcionar cada vez mais melhores serviços de
telecomunicações.

127
ARTIGO TÉCNICO

3. “Fiber To The Home ” Pelo facto de serem redes passivas apresentam como grande
vantagem a redução com os custos de exploração e
Fiber To The Home (FTTH) é uma tecnologia de interligação manutenção, quando comparadas com as redes de CATV e
de residências através de fibras ópticas para o fornecimento xDSL (tecnologia avançada de transmissão analógica a qual
de serviços de comunicação de dados, TV digital, internet e permite transportar informação digital a elevadas
telefone, conforme ilustrado na a figura 1. velocidades através de pares de cobre, mediante sistemas de
modulação-desmodulação complexos).
Paulatinamente, os operadores têm substituído os cabos de
par de cobre e coaxiais (no caso de serviços de “Community A rede GPON é uma rede óptica ponto-multiponto que
Antenna Television” – CATV) pela fibra óptica, levando-a até compartilha numa única fibra óptica diversos pontos finais
às nossas casas. usuários. Uma rede GPON consiste na ligação de
As residências são ligadas a um ponto do operador (ponto 3 equipamentos OLT, de um lado, e do outro lado conectados
da figura 1), designada por terminal de fibra ou “Tap em vários outros equipamentos ONT, conforme a figura 1, e
Closure”. que poderão estar localizados em condomínios (ONU –
“Optical Network Units”) ou residências (ONT). O sinal óptico
Os operadores têm apostado na instalação das redes FTTH é, pois, transmitido pelo OLT por uma única fibra e nessa
cuja tecnologia mais utilizada é a GPON (“Gigabit Passive mesma fibra são feitas derivações mediante a utilização de
Optical Network”). Neste tipo de redes a distribuição de sinal divisores ópticos passivos de forma a possibilitar a sua
é feita por equipamentos sem qualquer electrónica, conectorização às ONT's ou ONU’s. Cada ONT transmite e
passivos, portanto, conforme a figura 1. Usualmente, os recebe um canal óptico independente e disponibiliza para o
equipamentos activos encontram-se localizados no edifício cliente final entre 1Mbit/s e 1Gbit/s, para as aplicações de
técnico central (ponto 1 da figura 1 – “Central Office” – OLT – voz, dados e vídeo.
“Optical Line Terminal”). Na fracção respeitante ao cliente
encontra-se instalado o ONT – “Optical Network Terminal”.

Figura 1 – Exemplo de uma rede “Online Service Provider” (OSP Network)

128
ARTIGO TÉCNICO

Existe, ainda uma outra possibilidade de projecto para FTTH, Com o FTTH, a rede de acesso será baseada na fibra e capaz
denominada FTTH em modo dedicado (D-FTTH). Num de promover velocidades de 100Mb/s, 1Gb/s, podendo
projecto FTTH em modo dedicado a fibra óptica funciona mesmo chegar-se aos 40Gb/s. Com certeza que tal feito
directamente de centro técnico a um cliente final. A fibra criará uma rede de acesso com inúmeras possibilidades e
dedicada fornece a maioria de largura de banda uma vez que potencialidades. Esta tecnologia suportará um modelo
entrega toda a largura de banda de uma única fibra. aberto completo pelo qual o consumidor terá total liberdade
Contudo, o custo de D-FTTH é ainda considerado por grande de escolha do seu fornecedor de serviço contribuíndo,
parte dos operadores como altamente proibitiva. decisivamente, para a solidificação da livre concorrência
neste sector.
A figura 2 apresenta uma ilustração esquemática de como a
arquitectura de uma FTTH varia relativamente às distâncias Em virtude das suas características, as fibras ópticas
de fibra óptica utilizada entre o centro técnico e o cliente apresentam vantagens inquestionáveis sobre os demais
final. sistemas, nomeadamente:
• Apresentação de dimensões reduzidas;
Fiber to the Home é a tecnologia de banda larga para o • Capacidade para transportar grandes quantidades de
mercado de massa do futuro, em termos de informação num par de fibra óptica;
telecomunicações. O FTTH disponibiliza o transporte • Atenuação muito baixa, o que promove grandes
simultâneo de uma série de serviços, tais como internet com distâncias entre regeneradores de sinal, com distância
acesso cada vez mais rápido, telefone e televisão através de entre regeneradores superiores a algumas centenas de
uma única fibra óptica. quilómetros;
• Excelente imunidade às interferências
electromagnéticas;
• Matéria-prima abundante;
• Custo cada vez mais reduzido,
• Material que não sofrem qualquer inconveniente a
descargas eléctricas e/ou atmosféricas.

Legenda:
FTTN - Fiber to the node / neighborhood
FTTC – Fiber to the curb
FTTB – Fiber to the building
FTTH – Fiber to the home (FTTH)

Figura 2 – Exemplo de várias arquitecturas FTTH

129
ARTIGO TÉCNICO

No entanto, a utilização e manuseamento de fibra óptica 4. Fibra Óptica: Suas Potencialidades


requer técnicas especializas, designadamente no que
respeita aos aspectos referentes com a junção, terminação e O aumento da procura por serviços com cada vez maiores
ensaio, pelo que deverá ser manuseado por técnicos com larguras de banda impele a que sejam utilizadas infra-
formação específica nesta área. O custo de converter um estruturas adequadas. A fibra óptica surge como resposta
sinal óptico em eléctrico ou vice-versa, é ainda mais oneroso aos sistemas de comunicação, pois oferece por fibra uma
do que transmitir esse mesmo sinal, por exemplo, num par largura de banda na ordem das centenas de GHz, o que
de cobre, pese embora seja expectável que este cenário se equivale a mais de 6 milhões de canais telefónicos
modifique a curto prazo. convencionais. Daí as vantagens competitivas que os
operadores poderão advir com a utilização das infra-
Finalmente, não se poderá esquecer o risco de estruturas de fibra óptica.
vulnerabilidade associada à utilização da fibra óptica. Com
efeito, e dado que as fibras apresentam grandes capacidades O aumento crescente entre os requisitos de aplicações e as
de transmissão, poderá haver a tendência para veicular capacidades técnicas (por exemplos dos computadores)
muita informação numa única fibra. O risco de acontecer um fomentam a utilização de maiores larguras de banda.
desastre e, consequentemente, a perda de grandes A figura 3 mostra o aumento exponencial na procura de
quantidades de informação e comunicação poderão ser maior largura de banda resultante da inovação tecnológica
elevadas. nos produtos e serviços disponibilidades aos clientes finais.
Assim, o investimento por parte dos operadores na
No entanto, e dada as vantagens acrescidas da utilização das instalação de redes FTTH, a par com a devida dotação
fibras ópticas, combinando acções de segurança em caso de interior dos edifícios, ao nível da recepção e transmissão de
catástrofe, são, com toda a certeza uma realidade ao dispor sinal, conduzirá a que, ao nível dos serviços de
dos serviços de telecomunicações. telecomunicações, sejam disponibilizadas larguras de banda
cada vez mais elevadas o que contribuirá fortemente para o
desenvolvimento da economia, da difusão da informação e,
consequentemente, da formação das pessoas do país.

Figura 3 – Tendência da evolução da procura da Largura de Banda

130
ARTIGO TÉCNICO

5. Considerações Finais A elaboração deste artigo surge no seguimento da terceira


edição da Revista Técnica “Neutro à Terra”, do grupo de
As redes de fibra óptica são, há já algum tempo, uma Instalações Eléctricas, do grupo de disciplinas de Sistemas
realidade no nosso país. Para isso, a contribuição dos Eléctricos de Energia, do Departamento de Engenharia
operadores tem sido decisiva. Uma eventual futura exigência Electrotécnica do Instituto Superior de Engenharia do Porto
desta tecnologia, ao nível do projecto e execução de infra- e visou, fundamentalmente, contribuir para uma maior
estruturas de telecomunicações, reforçaria ainda mais a familiarização da tecnologia FTTH e para despertar a atenção
visão de inovação e aproveitamento tecnológico que estas das enormes potencialidades que estas infra-estruturas
“auto-estradas”das telecomunicações têm para oferecer. podem oferecer, bem como pela mudança significativa que
poderá ocorrer nas nossas vidas, tal como a conhecemos
pois, o futuro…é já amanhã!

Imagem adaptada de: http://www.proscend.com/

131
CURIOSIDADE

132
ARTIGO TÉCNICO Luís Peixoto, Sérgio Filipe Carvalho Ramos
Televés/Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009

Infra-Estruturas de Telecomunicações em Edifícios (ITED)


O que mudará com o ITEDRNG?
A defesa dos interesses dos consumidores de comunicações Sendo permitida a aplicação de apenas uma Caixa de Coluna,
electrónicas passa por infra-estruturas de telecomunicações por piso, que albergará os cabos e equipamentos referentes
modernas, fiáveis e adaptadas aos serviços dos operadores às três tecnologias Cabo Coaxial (CC), Fibra óptica (FO) e Par
públicos. de Cobre (PC). Espera-se que o instalador organize com rigor
a colocação dos mesmos na caixa evitando os possíveis
É com este parágrafo que se iniciam as prescrições técnicas cruzamentos, respeitando raios de curva e identificando
do novo Manual de Infra-estruturas de Telecomunicações claramente todos os cabos.
em Edifícios (ITED) alterado e renovado de acordo com as
Novas Normas Europeias e sobretudo com a necessidade de Duas Fibras, dois Cabos coaxiais e um cabo Par de cobre na
se adaptarem os edifícios às Redes de Nova Geração. entrada do Armário de Telecomunicações Individual (ATI)
são as cablagens mínimas obrigatórias para fracções
O novo manual ITED não sendo um manual de ruptura autónomas presentes numa Instalação Colectiva.
relativamente ao 1º é mesmo assim bastante inovador tanto
em conceitos de infra-estrutura como de equipamentos e No caso de uma Moradia na ligação entre a Caixa de Entrada
respectivas especificações. Moradia Unifamiliar (CEMU) e o ATI torna-se apenas
obrigatória a passagem de Cabo par de cobre Categoria 6,
Afirmar que o novo manual ITED se relaciona com a sendo facultativa a instalação de cabo das restantes
obrigação de instalar fibra óptica nos edifícios trata-se de tecnologias, Fibra e Cabo Coaxial.
uma afirmação bastante redutora daquilo que representa na
realidade o novo Manual ITED. Por fogo habitacional, em cada divisão – Quartos, e Sala -
será obrigatória a instalação de uma Tomada Mista ( TV
Para além da introdução da fibra óptica, o novo manual 5…2150 MHz + RJ45 Cat. 6 ) e ainda um Tomada RJ45. Na
introduz melhoras nas condutas, nos equipamentos, Cozinha reserva-se a obrigatoriedade de apenas uma
respectivas aplicações e métodos de comprovação, cujas Tomada Mista.
principais diferenças para o anterior se pretendem destacar
neste artigo.

Desde de logo se obriga à instalação de um sistema colectivo


de Antenas SMATV (Satellite Master Antenna Television) e
um outro de CATV (Cable Television, ou Community Antenna
Television) em edifícios que possuam 2 ou mais fogos.

A rede de CATV tem que obrigatoriamente partir em estrela


desde o Armário de Telecomunicações do Edifício (ATE)
inferior enquanto que a rede de SMATV seguirá a tipologia
que melhor se adeqúe ao edifício, partindo normalmente do
ATE superior em cascata de derivadores.
Tabela 1 – Caracterização das Classes e das Categorias em PC

133
ARTIGO TÉCNICO

A Zona de Acesso Privilegiada (ZAP) passa a ser obrigatória -Fibra Óptica;


de colocação em qualquer fogo sendo no mínimo constituída - Cabo Coaxial;
por: - Cabo Par de Cobre .
• Duas Tomadas Mistas (TV 5…2150 MHz + RJ45 Cat. 6);
• Duas Tomadas Fibra Óptica. A fibra óptica a instalar nas ITED será Monomodo e a
conéctica a utilizar será SC/APC.

O cabo coaxial deverá cumprir especificações perfeitamente


definidas até aos 3GHz e pelos limites especificados para a
resistência óhmica, o condutor central terá que ser
integralmente em Cobre.
Figura 1 – Exemplo de uma tomada ZAP

A cablagem estruturada para o interior do edifício deverá


Esta pequeníssima abordagem sobre o Novo Manual ITEDRNG garantir a Classe E de ligação em cabo de Cat6.
não poderia concluir-se sem uma breve referência aos
limites de qualidade dos mais influentes equipamentos que A figura 2 apresenta um diagrama ilustrativo do manual
compõem uma infra-estrutura ITED: ITEDRNG num edifício colectivo.

ITEDRNG – Nova e diferente concepção de condutas

Figura 2 - Diagrama redes ITED num edifício colectivo.

134
ARTIGO TÉCNICO

O novo paradigma da obrigatoriedade da instalação das três


tecnologias obrigará à reestruturação das caixas, armários,
bastidores ou espaço dedicados à recepção e derivação da
cablagem.

Com efeito, haverá cada vez mais uma preocupação


Tabela 2 – Caracterização das TCD-C (Tecnologias de Comunicação
crescente em dotar os edifícios com espaço suficiente para o
por Difusão, em cabo coaxial)
alojamento dos equipamentos activos que serão necessários
alojar no seu interior.

O Armário de Telecomunicações de Edifício (ATE), que


constitui a fronteira entre a entrada dos diferentes
operadores e a rede colectiva terá de ser convenientemente
projectada de modo a alojar as três categorias. Essa solução
poderá passar pela previsão de um espaço (sala técnica),
armário único ou multi-armário.

Relativamente ao Armário de Telecomunicações Interior


(ATI), que faz parte da rede individual de tubagens, poderá
ser constituído por uma ou duas caixas e pelos seus
equipamentos (activos e passivos), de interligação entre a
rede colectiva e a rede individual de cabos. O ATI poderá ser
Tabela 3 – Classes de Fibra Óptica constituído por um armário bastidor, ficando a solução ao
critério do projectista.
No que respeita à utilização específica de tubos de secção
circular, dever-se-ão considerar a tubagem que consta das No que concerne à execução dos projectos de infra-
Normas EN 50086-2-2 ou EN 50086-2-4 onde são estruturas de telecomunicações, os projectistas vêem
especificados os tipos de tubos, bem como a respectiva reconhecidas e incrementadas as suas obrigações e
adaptação ao local de instalação. responsabilidades.

Ao projectista será, pois, exigida responsabilidade pelo seu


projecto até ao final da obra devendo efectuar o
acompanhamento da execução, dar todo o apoio ao
instalador e dono de obra e, após reconhecimento dos
ensaios de funcionalidades por parte do instalador, assinar o
livro de obra. A semelhança do que foi vertido pelo decreto-
lei 59/2000, o projecto ITED entregue nos serviços

Tabela 4 – Tipos de Tubos a usar nas ITED’s municipais não carece de aprovação ou verificação prévia.

135
ARTIGO TÉCNICO

Para cada tipo de edifício, nomeadamente no que se refere à - Memória Descritiva;


sua utilização, prever-se-ão soluções mínimas a adoptar em - Medições e mapa de quantidades dos trabalhos;
cada caso. - Orçamento;
- Fichas técnicas.
Caberá, no entanto, ao projectista, conjuntamente com o
dono de obra, aferir das desejáveis necessidades de Com entrada em vigor do Novo Manual de Infra-estruturas
telecomunicações para os diversos tipos de edifícios tendo de Telecomunicações em Edifícios (Janeiro / Fevereiro de
em conta o cumprimento dos requisitos mínimos 2010), haverá a obrigatoriedade para todos os técnicos que
estabelecidospara cada um deles. trabalham nesta área, projectistas e instaladores, em obter
formação reconhecida nesta área.
O projecto de Infra-estruturas de Telecomunicações em
Edifícios deverá ser, tipicamente, um projecto de execução, A actualização de conhecimentos, aliado ao estrito
devendo obedecer ao artigo 70.º do Decreto-Lei 123/2009, cumprimento da legislação em vigor contribuirá, sem
de 21 de Maio, ou seja, deverá ser constituído por: precedentes, para a edificação de edifícios dotados de infra-
- Informação identificadora do projectista ITED; estruturas adequadas às actuais e futuras tecnologias de
- Identificação do edifício a que se destina, telecomunicações.
nomeadamente a sua finalidade;

136
ARTIGO TÉCNICO Sérgio Filipe Carvalho Ramos , Roque Filipe Mesquita Brandão
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010

FIBRA ÓPTICA
NOVAS AUTO-ESTRADAS DE TELECOMUNICAÇÕES EM URBANIZAÇÕES

RESUMO Este novo enquadramento regulamentar que estabelece as


regras para o projecto, instalação, e exploração das
“…O Manual ITUR define as condições de elaboração de instalações, reveste-se como um elemento promotor das
projectos e construção da rede de tubagem e redes de cabos novas mudanças verificadas ao nível das técnicas e
em urbanizações, garantindo a segurança de pessoas e bens tecnologias de telecomunicações.
e a defesa do interesse publico. Com efeito, uma das especificações da 1ª edição do Manual
As regras técnicas de projecto e instalação das ITUR devem ITUR – PRIVADA será a da obrigação de instalação de
ser entendidas como objectivos mínimos a cumprir, podendo cablagem de Par de Cobre (PC), Cabo Coaxial (CC) e Fibra
os intervenientes prever outras soluções, desde que Óptica (FO), proporcionando num futuro próximo a oferta de
devidamente justificadas, tendo sempre em vista soluções serviços de nova geração a velocidades de transmissão e
tecnicamente mais evoluídas.” larguras de banda cada vez maiores.
Em particular, a fibra óptica constitui já hoje, um pilar basilar
1 INTRODUÇÃO na revolução das tecnologias de telecomunicações que
entrarão, naturalmente, pelas nossas casas.
A 1ª edição do Manual ITUR (Infra-estruturas de O presente artigo visa, sucintamente, expor e reflectir sobre
Telecomunicações em Urbanizações), na qual o a importância da fibra óptica nas infra-estruturas de
Departamento de Engenharia Electrotécnica do Instituto telecomunicações em urbanizações.
Superior de Engenharia do Porto teve uma participação
activa como consultor externo, foi extraordinariamente 2 ENQUADRAMENTO LEGISLATIVO
inovador tanto em conceitos de infra-estrutura como de
equipamentos e respectivas especificações. A defesa dos Decorrente do crescimento económico verificado em
interesses dos consumidores de comunicações electrónicas meados da década de 80 do século passado, o que
que passa por infra-estruturas de telecomunicações promoveu um aumento galopante ao nível da construção em
modernas, fiáveis e adaptadas aos serviços dos operadores Portugal, foram fixadas as regras básicas, com o objectivo de
públicos foi devidamente salvaguardada. dotar os edifícios de infra-estruturas de telecomunicações,
A 1ª Edição do Manual ITUR constitui a concretização de um designadamente telefone, telex e dados, com acesso através
desejo há muito esperado pois, até então, havia um vazio de redes físicas, mediante a publicação do DL 146/87 –
legal no que se refere ao projecto e execução deste tipo de Instalações Telefónicas de Assinante (ITA). Ao abrigo do
instalações que eram, essencialmente, baseados no disposto no n.º 1 do artigo 1.º do DL 146/87 o Decreto
conhecimento empírico armazenado ao longo dos anos pelos Regulamentar n.º 25/87, de 8 de Abril, vem aprovar e
projectistas, instaladores e pelo operador que actuava em publicar o Regulamento de Instalações Telefónicas de
regime de monopólio, a Portugal Telecom, detentora da Assinante (RITA), que estabeleceu as condições técnicas a
exploração das infra-estruturas de telecomunicações em que deveriam obedecer os projectos, as instalações e a
urbanizações. Esta nova legislação veio, assim, impor regras conservação das infra-estruturas de telecomunicações, bem
claramente definidas para as infra-estruturas de como os procedimentos legais a seguir para a elaboração de
telecomunicações em loteamentos quer sejam de âmbito projectos e solicitação de vistorias às instalações executadas.
privado ou público. O Regulamento RITA esteve em vigor durante 13 anos!

137
ARTIGO TÉCNICO

O desenvolvimento das actividades económicas, os avanços Os diversos operadores têm tido um papel meritório no que
tecnológicos, assim como as novas exigências emergentes do respeita aos grandes investimentos realizados no
estabelecimento de medidas legislativas que determinaram estabelecimento de infra-estruturas de forma a dar uma
a liberalização do sector das telecomunicações em Portugal, resposta cabal às necessidades de operacionalidade e de
impuseram a necessidade de formular novas regras para a inovação de serviços aos consumidores empresariais e
instalação das infra-estruturas de telecomunicações em domésticos.
edifícios, bem como para as actividades de certificação das Os diversos operadores têm seguido uma estratégia de
instalações e avaliação de conformidade de infra-estruturas, propor e fornecer aos seus clientes “pacotes” de serviços de
materiais e equipamentos. telecomunicações. A oferta desses serviços (“Triple Play”),
Em Abril de 2000 foi publicado o DL 59/2000, o qual disponibiliza numa única plataforma:
estabeleceu o regime ITED e respectivas ligações às redes - Telefone (voz);
públicas de telecomunicações, assim como o regime de - Internet de banda larga (dados);
actividade de certificação das instalações e avaliação de - “vídeo on demand” e Televisão
conformidade de materiais e equipamentos. Relativamente Do ponto de vista económico, estes serviços disponibilizados
às infra-estruturas de telecomunicações em urbanizações pelos operadores poderão ser vantajosos na medida em que
nada foi feito, continuando a elaboração dos projectos com os clientes, tendencialmente, pagarão menos pelo conjunto
base na informação, não oficial, de regras de boa prática de todos os serviços do que pagariam por eles em separado.
fornecidas pela Portugal Telecom. Assim, e para que estes serviços possam chegar ao
O rápido desenvolvimento e crescimento do “mundo” das consumidor final, é necessário criar e dotar as infra-
comunicações electrónicas e o aparecimento de novos estruturas de telecomunicações que suportem tais serviços.
produtos e serviços, cada vez mais inovadores e com Dada a crescente tendência dos operadores chegarem aos
maiores larguras de banda, impôs a necessidade imperiosa diversos clientes em fibra óptica a extensão desta tecnologia
de preparar e dotar os edifícios com infra-estruturas capazes entrará pelas nossas casas de forma a dinamizar e
de satisfazer essas novas exigências. proporcionar cada vez melhores serviços de
Após 5 anos da edição do Manual ITED, é publicada a 2ª telecomunicações.
edição desse mesmo Manual acompanhado, desta feita, da
1ª edição do Manual ITUR, decorrentes do novo 4 ITUR – CARACTERIZAÇÃO
enquadramento criado pelo DL 123/1009 com as alterações
conferidas na redacção do DL 258/2009. Ao abrigo do definido no Artigo 28º do DL 123/2009 as infra-
Foi, assim, dado um passo importante e há muito reclamado, estruturas de Telecomunicações em Urbanizações são,
no estabelecimento de regras claras e precisas para a genericamente, constituídas por:
elaboração do projecto e execução da nova geração de infra- 1. Espaços para a instalação de tubagem, cabos, caixas e
estruturas de telecomunicações. câmaras de visita, armários para repartidores e para
instalação de equipamentos e outros dispositivos;
3 PARA QUÊ NOVAS INFRA-ESTRUTURAS DE TELECOMUNICAÇÕES? 2. Rede de tubagens ou tubagem para a instalação dos
diversos cabos, equipamentos e outros dispositivos,
Vivenciamos uma época de uma autêntica “revolução incluindo, nomeadamente, armários de
tecnológica” ao nível da oferta de novos serviços de telecomunicações, caixas e câmaras de visita;
telecomunicações, subsequentes da ávida procura por cada 3. Cablagem, nomeadamente, em par de cobre, em cabo
vez maiores larguras de banda. coaxial e em fibra óptica para ligação às redes públicas
de comunicações;

138
ARTIGO TÉCNICO

4. Sistemas de cablagem do tipo A; A bainha tem um índice de refracção superior ao do núcleo,


5. Instalações eléctricas de suporte a equipamentos e impedindo desta forma a fuga da luz para o exterior por um
sistema de terra; mecanismo que pode ser descrito, em primeira
6. Sistemas de cablagem para uso exclusivo do loteamento, aproximação, como a reflexão total na superfície de
urbanização ou conjunto de edifícios, nomeadamente separação. A bainha é revestida com um polímero para
domótica, videoportaria e sistemas de segurança. proteger a fibra de eventuais danos.
Nas ITUR há a distinguir claramente dois tipos de infra- A utilização da FO apresenta claramente várias vantagens em
estruturas de Telecomunicações em Loteamentos: comparação com a utilização dos cabos metálicos,
- As ITUR Públicas, situadas em áreas públicas, as quais são designadamente:
obrigatoriamente constituídaspor tubagem; - Grande Capacidade de Transmissão: um sistema de
- As ITUR Privadas, situadas em conjuntos de edifícios, as transmissão por FO pode apresentar uma largura de
quais são constituídas por tubagem e cablagem. banda na ordem das centenas de GHz, o que é
Nos loteamentos de iniciativa pública (infra-estrutura de equivalente a mais de 6.000.000 canais telefónicos
acesso de comunicações electrónicas a um conjunto de convencionais;
edifícios integrando um domínio municipal – Artigo 31º do - Longas Distâncias de Transmissão: permite enviar sinais
DL 123/2009) são basicamente projectados e executados (luminosos) a algumas dezenas de quilómetros sem
rede de tubagem e caixas de passagem para a instalação necessidade de regeneração de sinal. Apresentam, pois,
futura das respectivas cablagens pelos diversos operadores níveis de atenuação muito baixos, normalmente 10.000
de telecomunicações, bem como a instalação de caixas de vezes inferior aos cabos de par de cobre;
visita multi-operadores (CVM), cabendo aos respectivos - Imunidade: apresentam imunidade total às
municípios a gestão e conservação dessas infra-estruturas. interferências electromagnéticas, o que significa que os
Nos loteamentos de natureza Privada (ITUR que integram dados não serão corrompidos durante a transmissão;
conjuntos de edifícios de acesso restrito – Artigo 32º do DL - Segurança: as FO não irradiam qualquer sinal para o
123/2009) são detidas em compropriedade por todos os ambiente exterior (no seu modo de funcionamento
proprietários cabendo-lhes a si, ou à respectiva normal). Apresentam, assim, imunidade a qualquer
administração, a sua gestão e conservação. Estas infra- tentativa de intrusão. Do ponto de vista da
estruturas além de serem constituídas por redes de tubagem Compatibilidade Electromagnética (CEM) não causam
e caixas de visita são ainda constituídas por um Armário de perturbação nos equipamentos electrónicos
Telecomunicações de Urbanização (ATU) que faz a fronteira circundantes.
entre a entrada dos operadores e a rede ITUR e de cablagem - Leves e Compactos: os cabos de FO apresentam um
associada às três tecnologias exigidas: Par de Cobre, Cabo volume e peso mais baixo que os cabos de comunicações
Coaxial e Fibra Óptica. em cobre. A título ilustrativo, um cabo composto por 864
fibras apresenta um diâmetro aproximado de uma cabo
5 MANUAL ITUR – FIBRA ÓPTICA – NOVO PARADIGMA de 100 pares de cobre.
Não obstante todas estas valências a FO apresenta, ainda
De uma forma sucinta, uma fibra óptica (FO) é constituída assim, algumas desvantagens, designadamente:
por um fio muito fino de material transparente, - Necessidade de Pessoal Especializado: ao nível da
normalmente de vidro (por vezes de material plástico), que instalação, operação e manutenção de cablagens de FO
transmite luz a longa distância. são necessários técnicos especializados, designadamente
A fibra tem um núcleo central, onde a luz é “guiada”, no que se refere aos aspectos relacionados com a junção,
revestido de uma, ou mais, bainhas transparentes. terminação e ensaio;

139
ARTIGO TÉCNICO

- Custo Equipamento de Transmissão: o custo associado à O aumento crescente entre os requisitos de aplicações e as
conversão do sinal óptico em eléctrico, e vice-versa, capacidades técnicas (por exemplos dos computadores)
apresenta ainda um custo relativamente elevado quando fomentam a utilização de maiores larguras de banda.
comparado com a transmissão do mesmo sinal num par Assim, o investimento por parte dos operadores na
de cobre. No entanto, e dada a vulgarização da utilização instalação de redes de fibra óptica (tipicamente em
desta tecnologia, os custos poderão baixar configuração FTTH – “Fiber To The Home”), a par com a
consideravelmente; devida dotação interior dos edifícios, ao nível da recepção e
- Vulnerabilidade: devido à grande capacidade de transmissão de sinal, conduz a que, ao nível dos serviços de
transmissão que as FO apresentam, existe a tendência telecomunicações, sejam disponibilizadas larguras de banda
para incluir muita informação numa única fibra. Deste cada vez mais elevadas o que contribui, seguramente, para o
modo, o risco de acontecer uma catástrofe e a desenvolvimento da economia, da difusão da informação e,
consequente perda de grandes quantidades de naturalmente, da formação das pessoas do país pelo fácil
informação é bastante elevado. acesso à informação e conhecimento que lhe são
O tipo de fibra óptica a utilizar é, obrigatoriamente, disponibilizados.
Monomodo, em que o diâmetro do núcleo é diminuído cerca A 1ª Edição das Prescrições e Especificações Técnicas de
de 5 vezes menos, comparadas com as fibras Multimodo, o Infra-estruturas de Telecomunicações em Urbanizações
número de modos que poderão ser guiados e conduzidos (Privada) obriga a que cada fracção seja servida por duas
pela fibra será de um, daí a sua denominação de fibras.
Monomodo. Com efeito, as fibras ópticas permitidas (tipo Monomodo –
A largura de banda nesta fibra é fortemente dominada pela OS1 e OS2) deverão cumprir o emanado na norma EN60793-
dispersão cromática da mesma. 2-50:2004.
As fibras do tipo Monomodo estão especialmente Todos os cabos de fibra óptica deverão igualmente cumprir
vocacionadas para operarem com débitos binários da ordem os requisitos da norma EN 60794-1-1.
das dezenas a centenas de Gbit/s, com atenuações que O projecto técnico das instalações ITUR tem como objectivo
permitem o envio de sinais a largas dezenas de quilómetros primordial definir a arquitectura da rede (tubagens e/ou
prescindindo regeneração de sinal intermédio. cablagem) bem como os seus percursos, definindo e
caracterizando o sistema de cablagem (quando aplicável), as
tubagens, equipamentos e os materiais a utilizar, bem como
o seu dimensionamento, com a devida clareza, para não
suscitar dúvidas aos técnicos instaladores.
Figura 1 – Exemplo de uma fibra óptica Monomodo
O Armário de Telecomunicações de Urbanizações (ATU) é o
O aumento da procura por serviços com cada vez maiores ponto de interligação das redes públicas de comunicações
larguras de banda invoca a necessidade de infra-estruturas electrónicas, com as redes de cabos da ITUR privada, sendo,
adequadas. ainda, o ponto interligação com a rede colectiva dos edifícios
A fibra óptica surge como resposta aos sistemas de no ATE, ou CEMU, no caso de moradias, caso não exista uma
comunicação electrónica pois oferece, por fibra, uma largura rede privada.
de banda na ordem das centenas de GHz, o que equivale a O ATU deve ser um espaço que possa albergar as três
mais de 6 milhões de canais telefónicos convencionais. Daí tecnologias de telecomunicações previstas no manual ITUR
as vantagens competitivas que os operadores poderão advir (PC, CC e FO).
com a utilização das infra-estruturas de fibra óptica.

140
ARTIGO TÉCNICO

Para cada uma das tecnologias deverá existir um Repartidor esquemas da rede de tubagem e cablagem, quadros de

de Urbanização (RU) individual, constituído por dois dimensionamento, cálculos de níveis de sinal, esquemas

primários por tecnologia, cujo dimensionamento e instalação de instalação eléctrica e terras das infra-estruturas,

é da responsabilidade da entidade que ligar a rede de cabos análise das especificidades das ligações às infra-

das ITUR à rede pública de comunicações electrónicas, e por estruturas de telecomunicações das empresas de

um secundário por tecnologia, onde se inicia a rede de cabos comunicações electrónicas.

da ITUR. A colocação de cablagem PC, CC e FO é inovadora, no caso

Repartidor de Urbanização de Fibra Óptica (RU-FO): das ITUR privada. No caso específico da instalação de

- Primário, cujo dimensionamento e instalação é da tecnologia em FO, além de requer pessoal técnico altamente

responsabilidade da entidade que ligar a rede de cabos especializado requer, igualmente, a realização de ensaios de

da ITUR à rede pública de comunicações electrónicas. carácter obrigatório, designadamente:

Poderá ser constituído, por exemplo, por um painel de - Atenuação (Perdas de Inserção);

adaptadores do tipo SC/APC; - Comprimento.

- Secundário, onde se inicia a rede de cabos de fibras Para a medida destes parâmetros deverão ser efectuados os

ópticas da ITUR. A rede deve obedecer à topologia em ensaios seguintes:

estrela com recurso, por exemplo, a cabos multi-fibras. - Ensaio de perdas totais;

As fibras são terminadas em conectores SC/APC ligados - Ensaios de reflectometria, quando considerado

em painéis de adaptadores. adequado.

Como o ATU pode conter equipamentos activos, há a Os ensaios deverão ser efectuados desde o RU-FO do ATE

necessidade de existirem circuitos de alimentação eléctrica, inferior de cada edifício.

nomeadamente 2 circuitos de 230 VAC, com 3 tomadas cada,


protegidos por disjuntor diferencial com um valor de 6 CONCLUSOES

sensibilidade não superior a 300 mA e ligados ao circuito de


terra do ATU. A elaboração deste artigo pretende contribuir, embora de

O barramento geral de terra do ATU deverá ter capacidade uma forma lisonjeira, para o enriquecimento do

para ligar, pelo menos 10 condutores de terra. conhecimento das potencialidades da instalação de fibra

Em concordância com o consagrado no Art. 39 do DL óptica nas Infra-estruturas de Telecomunicações em

258/2009 o projecto técnico ITUR deve incluir Urbanizações à luz do novo contexto legislativo criado pela

obrigatoriamente os seguintes elementos: 1ª Edição do Manual ITUR, não dispensado, naturalmente,

1. Informação identificadora do projectista ITUR que uma consulta detalhada e rigorosa do documento integral.

assume a responsabilidade pelo projecto;


2. Identificação da operação de loteamento, obra de Bibliografia

urbanização, ou conjunto de edifícios a que se destina, [1] Decreto-Lei n.º123/2009 de 21 de Maio, Diário da República, 1ª

nomeadamente da sua finalidade; Série-N.º98-21 de Maio de 2009.

3. Memória descritiva; [2] Decreto-Lei n.º258/2009 de 25 de Setembro, Diário da


República, 1ª Série-N.º187-25 de Setembro de 2009.
4. Medições e mapas de quantidade de trabalhos, dando a
[3] Manual ITED, Prescrições e Especificações Técnicas das Infra-
indicação da natureza e quantidade dos trabalhos
estruturas de Telecomunicações em Edifícios, 2ª Edição,
necessários para a execução da obra;
Novembro de 2009.
5. Orçamento baseado na espécie e quantidade de
[4] Manual ITUR, Infra-estruturas de Telecomunicações em
trabalhos constantes das medições;
Loteamentos Urbanizações e Conjuntos de Edifícios, 1ª Edição,
6. Outros elementos estruturantes do projecto, Novembro de 2009.
nomeadamente fichas técnicas, plantas topográficas,

141
CURIOSIDADE

142
ARTIGO TÉCNICO Eduardo Sérgio Correia
IEMS – Instalações de Electrónica Manutenção e Serviços, Lda
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010

FIBRAS ÓPTICAS
O PARADIGMA

1 INTRODUÇÃO Optical Network (GE-PON) nas FTTH (Fiber To The Home),


por outro temos as redes locais de Complexos Empresariais e
Com a obrigatoriedade de dotar todos os edifícios e Fabris ou mesmo edifícios comerciais, cuja distribuição
urbanizações com instalações de fibra óptica devido ao interior inter-bastidores, continua a ser implementada em
Decreto-Lei 123/2009, todos os projectistas, retalhistas, fibras multimodo de última geração, pois a nível de custos
instaladores e promotores deparam-se com a necessidade dos conversores electro-ópticos (ONT) ainda há uma
de implementar algo ainda estranho para muitos. diferença substancial de valor entre os monomodo e os
multimodo.
Se, por um lado a legislação obriga ao uso das fibras
monomodo, indo de encontro à compatibilização com as Tendo em vista a constante evolução, os fabricantes tendem
tecnologias que os operadores de telecomunicações já a desenvolver produtos optimizados para as necessidades de
estavam a implementar ( ex: Gigabit Ethernet – Passive agora e as que se perspectivam para um futuro próximo.

Figura 1 – Exemplo de Solução de Transporte IP baseada em GEPON

143
ARTIGO TÉCNICO

2 A FIBRA ÓPTICA NAS INSTALAÇÕES ITED As distâncias de transmissão num link (ligação entre dois
activos) estão limitadas quer pela atenuação, quer pela
As principais razões para a utilização da fibra óptica são: largura de banda. Nas instalações cujo limite é a atenuação,
- Segurança na transmissão de dados: a fibra óptica não a perda individual de cada componente deve ser somado
emite radiação electromagnética, como tal não é para todos os componentes do link e o valor da atenuação
possível interceptar as comunicações remotamente. deve ficar dentro do limite de perda para o canal (definido
- Largura de banda: A fibra óptica tem uma capacidade de na norma).
transmissão de dados muito superior ao cobre.
- Distância na transmissão: A atenuação dos sistemas Na figura apresenta-se um resumo das distâncias possíveis
ópticos é muito inferior aos sistemas de cobre, logo os em links de fibra óptica baseado em protocolos específicos
dados podem ser transmitidos a distâncias mais longas. utilizando 2 Conectores / Emendas (fusões). Componentes e
- Sem risco de interferências (EMI e RFI): A fibra óptica é cabos com melhores características de desempenho, que as
construída maioritariamente em vidro, logo é imune a definidas nas normas (standards) podem ser necessários
influências electromagnéticas (EMI) e de rádio para atingir as distâncias máximas indicadas.
frequência (RFI).

O fabricante europeu Brand-Rex, é um dos líderes de


mercado na tecnologia dos cabos de fibra óptica. Os seus
produtos excedem todos os parâmetros das normas que são
definidas para estes cabos e ainda desenvolvem sistemas
inovadores e revolucionários, como veremos a seguir.

A gama de produtos FibrePlus tem aplicação tanto em


cablagens estruturadas convencionais, como em sistemas
centralizados de instalações de fibra óptica. Esta gama de
produtos suporta os 2000m em instalações de redes locais
conforme descrito na norma ISO 11801:2002, bem com os
300m descritos na norma TSB72 (Directrizes sobre sistemas
de centralizados de fibra óptica) e na TIA568B/EIA.

Figura 2 – Identificação da Distância de Transmissão Figura 3 – Distância de Transmissão em cata tipo de fibra óptica

144
ARTIGO TÉCNICO

Os imites de atenuação definidos na norma, são os indicados O UFS 01 (Optical Unitube Fire Survival Cable) é usado nos
na figura 4. locais onde a transmissão de informação crítica deve
continuar mesmo que o edifício ou a estrutura onde está
instalado esteja em chamas. Por essa razão, o seu uso em
grandes edifícios públicos, tais como data-centers,
aeroportos, estações ferroviárias, estádios e estruturas
industriais está a tornar-se cada vez mais comum.

O uso do cabo nos sistemas de gestão do edifício, sistemas


de segurança e incêndio, significa que estes sistemas vitais
permanecerão em funcionamento em caso de incidentes
que ponham a vida humana em risco e obriguem à
evacuação do edifício.

O cabo UFS 01 Fire Survival Cable foi desenhado para


Figura 4 – Limites de atenuação definidos na norma cumprir as normas IEC60794 e exceder as norma IEC60331 –
part25.
No actual ambiente de negócios, a manutenção em
funcionamento dos sistemas críticos do negócio, em caso de
emergência é um pré-requisito fundamental. Nesse sentido
já está disponível no mercado o cabo de fibra óptica
resistente ao fogo.

Figura 6 – Teste de fogo IEC60331

O teste de fogo IEC60331, vulgarmente conhecido por teste


de sobrevivência ao fogo, foi definido para cabos eléctricos.
Mas a “part25”, publicada em 1999 já refere os cabos de
fibra óptica.

Esta norma define o teste a uma temperatura mínima de


chama de 750°C, com uma duração de aplicação
recomendada de 90min., mais 15min. para arrefecimento. A
norma só define como critério de aprovação, a manutenção
da integridade do circuito.

O fabricante (Brand-Rex) foi mais além e definiu como


critério extra para aprovação, não exceder 1.5dB no
aumento da atenuação nestas condições de teste.

Figura 5 – Composição do UFS 01

145
ARTIGO TÉCNICO

Para demonstrar o desempenho ao teste de


sobrevivência ao fogo prolongado, o
fabricante (Brand-Rex) testou o cabo
segundo a norma BS8434-2.

Esta norma define o teste do cabo a uma


temperatura de 930°C por 120min.,
incluindo o choque mecânico e jactos de
água como define a BSEN 50200, provando
que o cabo UFS 01 Fire Survival Cable pode
superar os testes mais rigorosos.

Figura 7 - Alteração da atenuação ao longo do tempo


(IEC60331)

Já a norma BSEN 50200:2000 Classe PH120


define o teste do cabo a uma temperatura
maior (830°C), choques mecânicos
adicionais e spray de água durante o
período de "chama”.

Este reforço de exigência simula uma


situação real de fogo com sistemas de
compartimentação em funcionamento e
potenciais impactos de detritos caindo
sobre o cabo.

Figura 8 – Alteração da atenuação ao longo do tempo


(BSEN 50200:2000)

Figura 9 – Comparação dos testes IEC60331, BSEN 50200 e BS 8434-2

146
ARTIGO TÉCNICO

Sistema de fibra óptica Pré-Conecterizado MT Connect A tecnologia do conector MT

MT Connect é um sistema de cabos fibra óptica de alto O conector MPO é a parte mais importante do sistema MT
desempenho, pré-conecterizados, modulares, baseado na Connect.
tecnologia do conector MPO.
Este conector acomoda até 12 fibras graças à alta precisão de
Este sistema poderá ser usado em projectos convencionais fabrico das partes de termoplástico e guias metálicas, que
para diminuir o tempo de instalação dos links de backbone garantem o alinhamento e a manutenção da polaridade das
(ligações entre bastidores), em distribuição horizontal na fibras, sendo a sua ligação ao painel por encaixe, com um
fibra ao posto de trabalho ou data-centers onde as multiplas Click audivel para garantir que as ligações estão bem
ligações ponto-a-ponto em fibra óptica entre bastidores de efectuadas.
distribuição e bastidores de equipamentos activos podem
ser rápida e eficientemente instaladas, mantidas e alteradas Instalação
conforme as necessidades.
O sistema MT Connect é de instalação simples e rápida.
1. Coloca-se os cabos de backbonne no lugar.
2. Instala-seos paineis nos bastidores.
3. Liga-se os cabos dentro das caixas LGX.
4. Monta-se as caixas LGX nos paineis.

O tempo de instalação deste sistema é uma fracção do


tempo de instalação de um sistema de fibra convencional.
Ligar 12 fibras pré-conecterizadas é muito mais simples e
rápido que fundir 12 pigtails em cada ponta do cabo.

Figura 10 – MT Connect Pre-Terminated Fibre Cabling Systems

O sistema MT Connect tem vantagens únicas em relação aos


sistemas convencionais:
• Cabos pré-conecterizados com 12 fibras por conector
MPO assegura uma instalação mais rápida de vários links
de fibra.
• Cabos com menor secção poupam espaço nos caminhos
de cabos e bastidores favorecendo a circulação de ar
• Construção modular favorece a simples e rápida Figura 11 – MT Connect Pre-Terminated Fibre Cabling Systems

manutenção e reparação.
• Link ponta-a-ponta assegurado com os melhores A manutenção e acrescentos ao sistema é também mais
desempenhos obtidos através de conecterização de simples graças à sua concepção modular.
fábrica.

147
ARTIGO TÉCNICO

Cabos do Sistema MT Connect O painel de bastidor do sistema MT connect é modular, pelo


que permite a utilização dos diversos componentes num só
O fabrico de um cabo MT Connect é feito com até 12 fibras painel. Pode ser equipado com 3 modulos, sejam eles caixas
LSOH num só cabo terminando nas duas pontas com um LGX (para conectores LC ou SC em OM3, OM3(Z50) ou OS1),
conector MPO (sem pinos). Estes cabos são usados nos placa de 6 acopoladores MPO ou tampas cegas.
backbones ou na interligação horizontal de bastidores de Com este sistema podemos ter até 216 fibras num só painel
distribuição. de 1U/19” (usando 3 x 6 MPO), ou 36 LC duplex usando as
Estão disponívei para fibras OM3, OM3 melhorada (Z50) e caixas LGX.
OS1(008) e com comprimentos standard de 1, 3, 5, 10, 20, 50
e 100mts.
6 way MPO Adaptor plate

Blanking plate

Figura 12 – Cabo de fibra do Sistema MT Connect


19” Panel LGX Module

Figura 15 – Painel de bastidor do sistema MT Connect

3 OBSERVAÇÕES FINAIS

Observando que o desenvolvimento tecnológico nos


produtos de fibra óptica não se centra só nas fibras
monomodo, podemos concluir que as fibras multimodo
Figura 13 – Cabo de inter-ligação tipo “C” do sistema MT Connect
ainda terão uma grande aplicação nos próximos anos nas
Para a ligação do sistema MT Connect aos equipamentos infra-estruturas de comunicações.
activos nos bastidores é necessário usar este cabo hibrido
constituíido por até 12 fibras LSOH num só cabo terminado Bibliografia
numa ponta com o conector MPO e na outra ponta por 1. Documentação técnica do fabricante Brand-Rex (www.brand-

conetores LC ou SC após as fibras terem sido separadas na rex.com)


2. Documentação técnica do integrador IEMS (www.iems.pt)
unidade de divisão.

Figura 14 – Cabo Hibrido do Sistema MT Connect

148
ARTIGO TÉCNICO

Sistemas Segurança

Após o reconhecido sucesso da publicação das anteriores seis edições da Revista Neutro à Terra esta sétima edição reúne os
artigos técnicos publicados nas diversas áreas, e, naturalmente, também na área da Segurança.
Os edifícios devem satisfazer requisitos arquitectónicos, funcionais, ecológicos, de segurança e económicos. A utilização e o fim a
que se destina cada edifício determinam a instalação e implementação de diferentes medidas de protecção e segurança, de
forma a assegurar e controlar os aspectos de segurança das instalações, equipamentos e ocupantes.
A implementação de sistemas integrados de protecção e segurança, baseados em sistemas coerentes de detecção e extinção de
incêndios, detecção de gases combustíveis e monóxido de carbono, evacuação de emergência, alarme contra roubo e intrusão,
controlo de acessos, vídeo vigilância por circuito fechado de televisão, gestão de alarmes técnicos e gestão técnica centralizada,
são um aspecto fundamental na segurança de edifícios.
Dada a extrema importância deste sector são apresentados vários artigos, desde a descrição e apresentação de soluções técnicas
até à legislação sobre esta temática.

149
ARTIGO TÉCNICO

Índice

Sistemas Automáticos de Detecção de Incêndio. Projecto e Execução 151


António Augusto Araújo Gomes
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008

Legislação de Segurança Contra Incêndio em Edifícios. Presente e Futuro 157


António Augusto Araújo Gomes
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008

Segurança em Edifícios. Sistemas de Circuito Fechado de Televisão 167


António Augusto Araújo Gomes
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009

Sistemas Automáticos de Segurança 173


Detecção de Monóxido de CarbonoAntónio Augusto Araújo Gomes
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009

Sistemas de Controlo de Acesso 179


António Augusto Araújo Gomes
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010

Segurança Contra Intrusão. Habitação 183


António Augusto Araújo Gomes; Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010

150
ARTIGO TÉCNICO António Augusto Araújo Gomes
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008

Sistemas Automáticos de Detecção de Incêndio – Projecto e Execução

Enquadramento as informações correspondentes a uma central de sinalização


e comando (CDI - central de detecção de incêndios), dar o
Durante milhares de anos o fogo foi considerado um alarme automaticamente, quer local e restrito, quer geral,
fenómeno da natureza, sendo olhado como um mistério, quer à distância (alerta) e accionar todos os comandos
provocando medo, superstição e adoração. (imediatos ou temporizados) necessários à segurança contra
incêndios dos ocupantes e do edifício onde está instalado:
O domínio do fogo por parte do homem permitiu a utilização fechar portas corta-fogo, parar elevadores, fechar registos
do mesmo para aquecimento, cozinhar e mesmo para sua corta-fogo, comandar sistemas automáticos de extinção de
protecção. Contudo, o fogo, grande elemento de evolução incêndios (SAEI), parar/ligar ventiladores, desligar energia
do homem, é também, em potencial, um dos seus maiores eléctrica, etc.
inimigos. Muitos são os fogos florestais e urbanos, que
ocorrem diariamente, provocando mortes e avultados Para que um SADI consiga cumprir de uma forma eficaz a sua
prejuízos materiais. missão é necessário que o projecto e a posterior execução
das instalações sejam realizados em conformidade com os
As causas principais dos incêndios são a deficiência nas requisitos próprios da instalação.
canalizações eléctricas, a má utilização de equipamentos
eléctricos, nomeadamente ferros, fogões, fornos e O presente artigo pretende sistematizar a informação mais
aquecedores eléctricos, bem como a negligência na relevante no âmbito do projecto e execução das instalações
utilização do fogo. de detecção automática de incêndio.

Os Sistemas Automáticos de Detecção de Incêndio (SADI) são 1 Central de Sinalização e Comando


hoje encarados como fazendo (quase) obrigatoriamente
parte dos sistemas aplicados no sector da habitação, Deve estar localizada de forma a que:
serviços, comércio e indústria. - As sinalizações e comandos estejam facilmente
acessíveis ao pessoal responsável do edifício e aos
A instalação de um SADI torna-se, assim, fundamental como bombeiros no caso de ser necessária a sua intervenção;
elemento de garantia do bem-estar e da segurança das - O nível de ruído de fundo deve permitir a audição das
pessoas, velando pela sua salvaguarda e dos seus bens. indicações sonoras;
- O meio ambiente seja limpo e seco;
Um SADI é uma instalação técnica capaz de registar um - O risco de danos mecânicos para o equipamento seja
princípio de incêndio, sem a intervenção humana, transmitir baixo;

151
ARTIGO TÉCNICO

- O risco de incêndio seja baixo e a zona protegida com 4 Sinalização do Alarme


pelo menos um detector, integrada no sistema;
- A iluminação ambiente permita que etiquetas e O método de transmitir o alarme aos ocupantes dos edifícios
indicações visuais sejam facilmente visíveis e legíveis. deve estar de acordo com os requisitos da estratégia da
resposta a um alarme de incêndio.
2 Painéis Repetidores de Comando e de Sinalização
Nalguns casos, os procedimentos de segurança podem
São utilizados quando o edifício tiver mais do que uma requerer que o alarme seja dado inicialmente ao pessoal
entrada principal, quando houver possibilidade dos treinado que poderá tomar a seu cargo as operações
responsáveis pela segurança poderem estar longe da central subsequentes no edifício. Nesses casos não será necessário
e quando a distância entre a CDI e o elemento mais distante dar de imediato alarme geral de incêndio, deve, no entanto,
for considerável. deve ser providenciado um dispositivo que permita um
alarme geral.
3 Botões Manuais de Alarme
Qualquer alarme de incêndio, para ser reconhecido por
Devem encontra-se claramente visíveis e identificáveis e ser pessoas não treinadas (como público em geral), deve ser
posicionados de forma que possam ser fácil e rapidamente dado, pelo menos, por meios audíveis que poderão ser
accionados por qualquer pessoa que detecte um princípio de dispositivos de alarme acústico ou sistemas de alarme por
incêndio. voz (tais como sistemas de chamada de pessoas).

Devem estar devidamente sinalizados e em locais em que Em zonas nas quais o sinal sonoro possa não ser eficaz,
não sejam ocultados por quaisquer elementos decorativos devido, por exemplo à existência de ruído de fundo
ou outros, nem por portas, quando abertas. excessivo, ocupantes com dificuldades auditivas, ou locais
que obriguem a utilização de protecção auricular, deve ser
Devem ser posicionados em caminhos de evacuação, junto a usada sinalização óptica e/ou táctil como complemento da
cada porta de acesso a escadas de emergência (dentro ou sinalização sonora.
fora) e em cada saída para o exterior e colocados junto a
locais sujeitos a riscos especiais e junto dos extintores 4.1 Sinais Sonoros
manuais.
Devem permitir a audição do sinal de alarme em qualquer
Devem ser localizados de modo a que nenhuma pessoa local da instalação.
dentro das instalações tenha que percorrer mais de 30 m
para chegar a um botão. Os sinais sonoros de alarme devem ser inconfundíveis com
qualquer outro sinal sonoro, ter um nível de som que seja
Em locais em que os previsíveis utilizadores possam ser imediatamente audível acima de qualquer ruído ambiente e
deficientes motores a distância deve ser reduzida. audível em todos os locais do edifício ou recinto a que seja
destinado.
Devem ser colocados entre 1,2 a 1,6m acima do chão, a uma
altura recomendada de 1,5m. O som utilizado para alarme de incêndio deverá ser contínuo
e o mesmo em todas as partes do edifício.

152
ARTIGO TÉCNICO

O número e tipo de equipamentos de alarme de incêndio seleccionados proporcionar mais rapidamente um aviso
usados devem ser suficientes para produzir o nível de som fiável nas condições ambientais dos locais em que serão
recomendado, devendo ser instaladas num edifício pelo instalados.
menos duas sirenes, mesmo que o nível de som
recomendado possa ser alcançado com uma única sirene. Embora existam no mercado, diversos tipos de detectores
automáticos, os detectores de fumos e de temperatura, são
Os equipamentos de alarme de incêndio, em geral devem, os mais utilizados, permitindo dar resposta à quase
sempre que possível, ser instalados fora do alcance dos totalidade das necessidades de detecção, assim, no presente
ocupantes e, no caso de se situarem a uma altura do trabalho apenas serão referidos estes dois tipos de
pavimento inferior a 2,25m, ser protegidos por elementos detectores automáticos.
que os resguardem de danos acidentais;
5.1 Detectores de Fumos (Ópticos)
O som de alarme de incêndio deve ter um nível mínimo de
65 dB(A), mas devendo ser sempre 5 dB(A) superior a São rápidos na detecção de um fogo e têm uma resposta
qualquer outro ruído que possa persistir por um período suficientemente vasta para permitir uma utilização
superior a 30 segundos. generalizada.

4.2 Dispositivos Visuais de Alarme de Incêndio Responde a fumo visível, sendo bom para fogos onde não há
chamas (fogos latentes), como é o caso de fogos com
Devem apenas ser usados como complemento dos alarmes tecidos, mobília, móveis, etc.
sonoros, não devendo ser usados isoladamente, devendo
qualquer dispositivo visual de alarme de incêndio São ideais para espaços amplos, onde a presença de fumo é
deve ser claramente visível e distinto de quaisquer outros mais facilmente detectada do que a elevação de
sinais visuais existentes nas instalações. temperatura, pois o calor dissipa-se mais facilmente. Não são
apropriados para locais onde se verifique a permanente
5 Detectores Automáticos existência de fumos, vapor ou pó, como é o caso de
garagens, cozinhas e industrias transformadoras de
Os principais factores que condicionam a selecção do tipo de madeiras, devido à possibilidade de ocorrência de falsos
detector automático são: alarmes.
- Requisitos legais;
- Materiais existentes no local e as manifestações da sua 5.2 Detector de Temperatura (Térmicos)
combustão;
- Configuração do local (particularmente o pé direito); São geralmente considerados como os menos sensíveis dos
- Efeitos da ventilação e do aquecimento; vários tipos de detectores disponíveis.
- Condições ambientais no interior dos compartimentos
vigiados; Os detectores termovelocimétricos são mais adequados em
- Possibilidadede falsos alarmes. locais onde as temperaturas ambientes são baixas ou variam
lentamente, enquanto que os detectores de temperatura
Nenhum tipo de detector é mais adequado para qualquer fixa são mais adequados em locais onde se prevê que a
situação, e a escolha final deverá depender das temperatura ambiente possa variar rapidamente em curtos
circunstâncias individuais, devendo os detectores espaços de tempo.

153
ARTIGO TÉCNICO

Regra geral, os detectores de temperatura têm uma maior Os detectores devem ser colocados de modo a que os seus
resistência a condições ambientais adversas do que outros elementos sensitivos se situem nos 5% superiores do pé
tipos de detectores. direito dos espaços.

São apropriados para locais: Para prevenir a possível existência de uma camada
- De humidade do ar ≥95%; envolvente fria, os detectores não devem ser embebidos no
- Onde se preveja que o incêndio não liberte fumo; tecto.
- Onde exista forte risco de engorduramento;
- Onde se possam desenrolar trabalhos que libertem fumo A tabela 1, indica os limites de altura dos tectos e o raio de
ou vapor; acção, para detectores instalados na zona dos 5% superiores.
- Cozinhas;
- Aquecedores com combustíveis sólidos; b) Detectores em Tectos Inclinados
- Pequenas garagens para estacionamento de veículos de
motor de combustão. Para detectores instalados em tectos inclinados, o raio
indicado na tabela 1 pode ser aumentado em 1% por cada 1o
Não são apropriados para locais: de inclinação do tecto, até um aumento máximo de 25%.
- Com altura> 7,5m;
- Onde se prevejam fogos lentos e encobertos; Em tectos curvos a inclinação deve ser obtida através da
- Onde, face aos riscos, a detecção precoce é necessária. média da inclinação total em toda a área.

5.3 Localização e Distribuição No caso do espaço protegido ter um tecto em escada os


detectores devem ser instalados em cada um dos vértices.
Os detectores automáticos devem ser posicionados de forma
que os produtos resultantes de qualquer incêndio dentro da No caso da diferença de altura entre o cimo e a base de cada
área protegida possam chegar aos detectores sem grande vértice ser inferior a 5% da altura total do vértice acima do
dissipação, atenuação ou demora. chão, a sala deve ter o tratamento de uma sala de tecto
plano.
As características específicas das instalações, requerem
particular atenção aquando do projecto e da execução das c) Paredes, Divisórias e Obstáculos
mesmas, sob pena de os sistemas previstos não garantirem a
completa e eficaz protecção dessas mesmas instalações. Os detectores (excepto os detectores ópticos de feixe) não
devem ser instalados a menos de 0,5 m de qualquer parede
Assim, e relativamente à utilização de detectores ou divisória.
automáticos térmicos e de fumo, será necessário atender às
seguintes considerações: No caso do espaço ter menos de 1,2 m, o detector deve ser
instalado no terço do meio.
a) Detectores em Tectos Planos
Quando as salas estão divididas em secções por paredes,
Na generalidade o desempenho de detectores térmicos ou divisórias ou estantes de armazenagem que fiquem a uma
de fumo depende da existência de um tecto fechado por distância inferior a 0,3 m do tecto, as divisórias devem ser
cima dos detectores. consideradas tal como se chegassem ao tecto e as secções
devem ser consideradas como salas diferentes.
154
ARTIGO TÉCNICO

Altura do tecto (m)

≤4,5 >4,5 >6 >8 >11 >25


≤6 ≤8 ≤11 ≤25

Tipo de Detector Raio de acção (m)

Térmicos (EN 54-5: Grau 1) 5 5 5 NN NU NU

Fumo – Pontual (EN 54-7) 7,5 7,5 7,5 7,5 NN NU

Fumo – Feixe (EN54-12) 7,5 7,5 7,5 7,5 7,5 (a) NU

NU - Não utilizável para esta gama de alturas.


NN - Normalmente não utilizável, mas pode ser utilizado em aplicações especiais.
a) Será normalmente necessária uma segunda camada de detectores a aproximadamente metade da altura do tecto.

Tabela 1 – Limites de altura dos tectos e raio de acção

Deve existir um espaço desobstruído mínimo de 0,5 m à O volume interno das células cobertas por um só detector
volta de cada detector. não deve exceder:
- Detectores Temperatura: V= 6 m2 x (H-h)
d) Irregularidades do Tecto - Detectores Fumo: V = 12 m2 x (H-h)

Os tectos que tenham irregularidades com alturas inferiores e) Detecção Acima de Tectos Falsos
a 5% do pé direito devem ser tratados como se fossem lisos
e devem ser aplicados os seguintes limites radiais, Quando uma sala tem um tecto falso perfurado, a colocação
constantes da tabela 1. dos detectores deve ter em consideração dois objectivos:

Qualquer irregularidade do tecto (tal como uma viga) com - Protecção contra fogos que comecem abaixo do tecto
uma altura superior a 5% do pé direito deve ser tratada falso;
como uma parede e devem ser aplicados os seguintes - Protecção contra fogos que comecem acima do tecto
requisitos: falso.
- D > 0,25 x (H-h) ⇒ Um detector em todas as células;
- D < 0,25 x (H-h) ⇒ Um detector em células alternadas; No caso das perfurações do tecto falso serem pequenas, e
- D < 0,13 x (H-h) ⇒ Um detector em cada três células. não exista ventilação pressurizada que empurre o fumo
através deste, a protecção contra fogos que comecem abaixo
Em que: do tecto falso requer a colocação de detectores abaixo do
D – Distância entre vigas (m), medida fora a fora; tecto falso.
H – Pé direito da sala; Caso não exista qualquer risco do fogo começar abaixo do
h – Altura da viga. tecto falso, os detectores devem ser colocados acima deste.

Se a disposição do tecto for de modo a formar séries de No caso das perfurações perfazerem mais do que 40% em
pequenas células (como num favo de mel), então, dentro qualquer secção de 1m x 1m do tecto, as dimensões de cada
dos limites radiais da Tabela 1, um único detector pode orifício excederem 10mm x 10mm, e a espessura do tecto
cobrir um grupo de células. não exceder três vezes a dimensão mínima de uma furação,

155
ARTIGO TÉCNICO

os detectores acima do tecto falso podem ser utilizados para - Portas corta-fogo;
detectar um fogo que comece abaixo do tecto falso, e - Sistemas de controlo de fumo;
podem ser dispensados detectores abaixo deste. - Registos corta-fogo;
- Paragem de ventilação;
f) Detecção Abaixo do Chão Falso - Controlo de elevadores;
- Portas de segurança.
Quando as salas têm chão falso, devem ser instalados
detectores por baixo do chão tal como se o vazio abaixo do 7 Canalizações
chão falso fosse outro compartimento.
As canalizações devem satisfazer quaisquer requisitos
Dispensa-se a colocação de detectores por baixo do chão especificados pelo fabricante ou fornecedor do
falso, quando se verificar, pelo menos, uma das seguintes equipamento, devendo ser dada particular atenção à
condições: capacidade condutora e à atenuação do sinal.
- o chão falso seja perfurado; Devem ser respeitadas as recomendações existentes em
- o chão falso seja de um material que tenha uma reacção regulamentos nacionais relativamente a tipos de cabo e sua
ao fogo classificada como A1, A2 ou B1 (Anexos II e III do instalação.
RG-SCIE) e não exista carga térmica debaixo.
8) Conclusão
g) Detectores que não estejam debaixo de tecto
Este artigo visou abordar aspectos técnicos e conceptuais, ao
Na ausência de um tecto ou de um plano estratificado, os nível do projecto e da instalação de Sistemas Automáticos de
produtos da combustão confinam-se à coluna ascendente Detecção de Incêndios pretendendo e, fundamentalmente,
acima do fogo. contribuir para o enriquecimento do conhecimento das
Caso se utilizem detectores de fumo ou calor para detectar competências no âmbito de actuação do projecto de
os produtos da combustão na coluna ascendente (tal como segurança.
quando são utilizados nos átrios detectores de feixe em
níveis baixos, ou quando são utilizados detectores sem Fontes de Informação Relevantes
tecto), os limites em altura para a operação são os indicados
na Tabela 1, e o raio de operação efectivo (tanto para Segurança Contra Incêndio em Edílicos, NT12: Nota Técnica
detectores de fumo como de calor) deve ser calculado como Complementar do RG-SCIE / Refª VII.III.01, Sistemas
sendo 12,5% da altura medida do previsível foco de incêndio Automáticos de Detecção de Incêndio, Autoridade Nacional
que esteja mais alto até ao detector acima. de Protecção Civil, 2007

Cada sala protegida ou espaço fechado deve conter no Regulamento Geral de Segurança Contra Incêndio em
mínimo um detector. Edílicos, Autoridade Nacional de Protecção Civil, Versão
aprovada na Generalidade na RCM, 25 de Janeiro de 2007
6 Comandos
EN54 - Sistemas de detecção e de alarme de incêndio –
A sinalização do alarme deve ser usada também para Parte3-4-5-7-11-12-20
accionar, equipamentos auxiliares, tais como:
- Equipamento de extinção;

156
ARTIGO TÉCNICO António Augusto Araújo Gomes
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008

Legislação de Segurança Contra Incêndio em Edifícios


Presente e Futuro

Resumo parte de todos de todos os agentes envolvidos (projectistas,


instaladores...), da aplicação dos regulamentos estabelecidos
A regulamentação de segurança das instalações reveste-se para as instalações de Segurança.
da maior relevância, não só em consideração à vida humana,
como à própria actividade económica. Esta tarefa apenas poderá ser conseguida se houver um
conhecimento completo e profundo dos diplomas legais que
Motivada pela constante evolução da tecnologia, do enquadram a área de segurança dos edifícios.
surgimento de novos materiais e equipamentos e das
exigências funcionais dos espaços, a regulamentação de O presente trabalho tem, pois, por objectivo, sistematizar e
segurança requer uma constante actualização e adaptação a apresentar a presente regulamentação contra incêndios em
essa novas necessidades e exigências. edifícios, bem como apresentar o futuro Regulamento de
Segurança Contra Incêndio em Edifícios, que vem criar um
Cada vez mais a segurança de pessoas e bens é uma directriz inovador enquadramento nesta área, por forma a serem
fundamental aquando da realização dos projectos e garantidas as exigências mínimas de protecção de pessoas,
execução dos edifícios, dos mais diversos fins. instalações e bens.

De forma a precaver situações que possam colocar em risco 1. Enquadramento


pessoas e bens, são consideradas medidas activas e passivas
de protecção, das quais poderemos destacar os sistemas de A maioria da legislação portuguesa sobre segurança contra
detecção automática de incêndio, detecção automática de incêndio em edifícios é relativamente recente e encontra-se
intrusão, sinalização de saída, etc. dispersa por diversos diplomas legais criando regras para as
instalações e preconizando especificações para os sistemas
Assim, a especial preocupação com a segurança de pessoas e activos e passivos de segurança.
bens justifica a importância ocupada pela segurança, a qual
exige a necessidade de se assegurar a forma como são A base histórica inicial desta estrutura de leis de protecção
projectadas, executadas, exploradas e conservadas, em geral contra incêndio em edifícios parte do Decreto-Lei n.º 38 382,
as instalações e em particular as instalações de segurança de 7 de Agosto de 1951, que aprovou o Regulamento Geral
dos edifícios. das Edificações Urbanas (RGEU), com particular referência no
Título V - Condições especiais relativas à segurança das
Torna-se, pois, imperioso garantir-se o cumprimento, por edificações, Capítulo III - Segurança contra incêndios.

157
ARTIGO TÉCNICO

Quase quatro décadas depois, através do Decreto-Lei 426/89 Justifica-se assim a pertinência da criação de um diploma,
de 06 de Dezembro, foram publicadas as Medidas Cautelares que consolide toda a legislação de segurança contra incêndio
de Segurança Contra Riscos de Incêndio em Centros Urbanos em edifícios num único regulamento, que seja tronco
Antigos. Posteriormente foram publicados outros diplomas normativo comum de aplicação geral a todos os edifícios,
enquadrando outros tipos de instalações. sem prejuízo de nele se incluírem disposições específicas
complementares julgadas convenientes a cada utilização-
Actualmente existe um conjunto significativo de tipo.
regulamentos de Segurança Contra Incêndio dispersos por
tipo de ocupação, Normas de Segurança Contra Incêndio e De forma a dar cumprimento a este objectivo, no futuro,
Medidas de Segurança Contra Incêndio, dos quais uns toda a legislação de segurança contra incêndio em edifícios,
apresentam excessiva minúcia, mas outros raramente assentará no Regulamento Geral de Segurança Contra
ultrapassam o plano genérico. Incêndio em Edifícios (RG-SCIE), que se espera seja aprovado
e publicado ainda durante o ano de 2008.
Assim, a actual legislação de segurança contra incêndios em
edifícios encontra-se dispersa por um número excessivo de 2. Actual Legislação de Segurança Contra Incêndio
diplomas avulso, mas mesmo assim ainda incompleta, no
espaço e no tempo, é parcialmente incoerente e repetitiva, A actual legislação de segurança contra incêndio encontra-se
volumosa e de manuseamento complicado, por vezes, de dispersa por diversos Regulamentos, Normas e Medidas de
interpretação problemática, em particular em edifícios de Segurança Contra Incêndio, de aplicação específica aos
utilização mista, heterogénea em termos jurídicos e técnicos edifícios de utilização objecto dos diplomas.
e, parcialmente incoerente.
2.1. Edifícios de Habitação
Verifica-se ainda que uma vasta área de edifícios não dispõe
de regulamentos específicos de segurança contra incêndios, O Decreto-Lei n.º 64/90 de 21 Fevereiro, Rectificado por
como é, designadamente, o caso das instalações industriais, Declaração publicada no DR - I Série n.º 99 de 30 de Abril de
armazéns, gares de transporte, parques de campismo, lares 1990, aprovou e publicou o Regulamento de Segurança
de idosos, museus, bibliotecas, arquivos e locais de culto. Contra incêndio em Edifícios de Habitação.

Nestes casos, apenas é aplicável o Regulamento Geral das O Regulamento de Segurança Contra incêndio em Edifícios
Edificações Urbanas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 38 382, de Habitação, tem por objecto definir as condições a que
de 7 de Agosto de 1951, manifestamente insuficiente para a devem satisfazer os edifícios destinados a habitação, com
salvaguarda da segurança. vista a limitar o risco de ocorrência e de desenvolvimento de
incêndio, a facilitar a evacuação dos ocupantes e a favorecer
Assim, além de incompleta e demasiado dispersa por a intervenção dos bombeiros.
diversos diplomas, a actual legislação de segurança contra
incêndio em edifícios, é dificilmente harmonizável entre si e Este Decreto-Lei revogou relativamente a edifícios de
geradora de dificuldades na sua compreensão, sendo habitação, o capítulo III do título V do Regulamento Geral
particularmente difícil obter, por parte das várias entidades das Edificações Urbanas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 38
responsáveis pela aplicação da lei, uma visão sistematizada e 382, de 7 de Agosto de 1951.
uma interpretação uniforme, com evidente prejuízo da
autoridade técnica que deve assistir às suas normas.

158
ARTIGO TÉCNICO

2.2. Parques de Estacionamento Cobertos Decreto Regulamentar n.º 34/95, de 16 de Dezembro,


aprova e publica o regulamento das condições técnicas e de

O Decreto-Lei n.º 66/95, de 08 Abril, aprovou e publicou o segurança dos recintos de espectáculos e divertimentos

Regulamento de segurança contra incêndio em parques de públicos.

estacionamentocobertos.
Revoga o Decreto n.º 42 662, de 20 de Novembro de 1959.

O Regulamento de segurança contra incêndio em parques de


estacionamento cobertos estabelece as medidas de 2.4. Edifícios do Tipo Hospitalar
segurança contra incêndio a observar em parques de
estacionamento cobertos que ocupam a totalidade do O Decreto-Lei n.º 409/98, de 23 de Dezembro, Rectificado
edifício e em parques de estacionamento cobertos que pela DR nº7-H/99, I Série-A nº49 de 27 de Fevereiro, aprovou
ocupam apenas parte de um edifício cuja parte restante tem e publicou o Regulamento de segurança contra incêndio em
ocupação diferente, nomeadamente habitações e edifícios do tipo hospitalar (Hospitais e centros de saúde,
estabelecimentos que recebem público, de área bruta total Unidades privadas de saúde, Unidades de saúde das
superior a 200 m2. instituiçõesprivadas de solidariedade social).

Este Decreto-Lei revogou relativamente a espaços ocupados Este Decreto-Lei revogou relativamente aos edifícios de tipo
para recolha de veículos automóveis e seus reboques, as hospitalar, as disposições do capítulo III do título V do
disposições constantes nos art.º 23.º e 24.º, n.º 4,5 e 7 do Regulamento Geral das Edificações Urbanas, aprovado pelo
art.º 51.º e art.º 81.º do Regulamento de Segurança Contra Decreto-Lei n.º 38 382, de 7 de Agosto de 1951.
Incêndio em Edifícios de Habitação, aprovado pelo Decreto-
Lei n.º 64/90, de 15 de Fevereiro.
A Portaria n.º 1275/2002, de 19 de Setembro, aprovou as
Normas de segurança contra incêndio a observar na
2.3. Recintos de Espectáculos e de Divertimento Público exploração dos estabelecimentos de tipo hospitalar, de
acordo com o disposto no artigo 4.º do Decreto-Lei n.º
O Decreto Regulamentar n.º 315/95, de 16 de Dezembro, 409/98, de 23 de Dezembro, que aprovou o Regulamento de
publicou o Regulamento das condições técnicas e de Segurança contra Incêndio em Edifícios de Tipo Hospitalar.
segurança dos recintos de espectáculos e de divertimentos
públicos. 2.5. Edifícios do Tipo Administrativo

O Decreto-Lei n.º 309/2002, de 16 Dezembro, regula a O Decreto-Lei n.º 410/98, de 23 de Dezembro, Rectificado
instalação e o funcionamento dos recintos de espectáculos e pelo DR n.º 44/99, Série I-A, de 27 de Fevereiro, aprovou e
de divertimentos públicos. publicou o Regulamento de segurança contra incêndios em
edifícios do tipo administrativo.
Revoga os artigos 20º a 23º do Decreto -Lei n.º 315/95, de 28
de Novembro. São ainda revogados os artigos 1.º, 2.º, 3.º, Revogou relativamente aos edifícios de tipo administrativo,
35.º, 37.º e 43.º a 46.º do Decreto-Lei n.º 315/95, de 28 de as disposições do capítulo III do título V do Regulamento
Novembro, na parte relativa aos recintos de espectáculos e Geral das Edificações Urbanas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º
de divertimentos públicos previstos no referido diploma. 38382, de 7 de Agosto de 1951.

159
ARTIGO TÉCNICO

A Portaria n.º 1276/2002, de 19 de Setembro, aprovou as Revoga os artigos 57.º e 260.º do Regulamento das
Normas de segurança contra incêndio a observar na Condições Técnicas e de Segurança dos Recintos de
exploração dos estabelecimentos de tipo Administrativo, de Espectáculos e Divertimentos Públicos anexo ao Decreto
acordo com o artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 410/98, de 23 de Regulamentar n.º 34/95, de 16 de Dezembro.
Dezembro, que aprovou o Regulamento de Segurança contra
Incêndio em Edifícios de Tipo Administrativo. O Decreto Regulamentar Nº 5/97 de 31 de Março, aprova o
Regulamento das Condições Técnicas de Segurança dos
2.6. Edifícios Escolares Recintos de Diversões Aquáticas.

O Decreto-Lei n.º 414/98 de 31 de Dezembro, Rectificado 2.9 Estabelecimentos de fabrico e armazenagem de

pelo DR nº44/99, Série I-A de 27 de Fevereiro aprovou e produtos explosivos


publicou o Regulamento de segurança contra incêndio em
edifícios escolares. O Decreto-Lei n.º 87/05 de 23 Maio define normas relativas a
à emissão de alvarás e licenças para estabelecimentos de
Revogou relativamente aos edifícios escolares, as fabrico e armazenagem de produtos explosivos.
disposições do capítulo III do título V do Regulamento Geral
das Edificações Urbanas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º Revoga os artigos 2.º e 3.º do Decreto-Lei n.º 139/2002, de
38382, de 7 de Agosto de 1951. 17 de Maio e o n.º 1 do artigo 3.º e o n.º 2 do artigo 12.º do
Regulamento de Segurança dos Estabelecimentos de Fabrico
A Portaria nº1444/2002 de 07 de Novembro, publica as e de Armazenagem de Produtos Explosivos, aprovado pelo
Normas de segurança contra incêndio a observar na Decreto-Lei n.º 139/2002, de 17 de Maio.
exploração dos estabelecimentos escolares, de acordo com o
artigo 4º do Decreto-Lei nº 414/98, de 31 de Dezembro, que O Decreto-Lei n.º 139/2002, de 17 de Maio, aprovou o
aprovou o Regulamento de Segurança contra Incêndio em Regulamento da segurança nas instalações de fabrico e de
Edifícios Escolares. armazenagem de produtos explosivos.

2.7. Estádios Revoga o Decreto-Lei n.º 142/79, de 23 de Maio, a Portaria


n.º 29/74, de 16 de Janeiro, a Portaria n.º 831/82, de 1 de
O Decreto-Lei nº 317/97, de 25 de Novembro, criou o regime Setembro e a Portaria n.º 506/85, de 25 de Julho.
de instalação e funcionamento de instalações desportivas.
O Decreto-Lei n.º 164/2001 de 23 de Maio, determina as
O Decreto Regulamentar nº 10/2001, de 7 de Junho, de medidas de prevenção de acidentes graves que envolvam
acordo com o disposto no artigo 7º do Decreto-Lei nº substâncias perigosas e a limitação das suas consequências
317/97, de 25 de Novembro, aprovou e publicou o para o homem e para o ambiente.
Regulamento das condições técnicas de segurança nos
estádios. Revoga o Decreto-Lei n.º 204/93, de 3 de Junho.

2.8 Recintos de Diversões Aquáticas 2.10 Centros Urbanos Antigos

O Decreto-Lei n.º 65/97 de 31 de Março, regula a Instalação O Decreto-Lei n.º 426/89, de 6 Dezembro, aprovou e
e Funcionamento dos Recintos com Diversões Aquáticas. publicou as medidas cautelares de segurança contra riscos

160
ARTIGO TÉCNICO

de incêndio em centros urbanos antigos. 2.13 Empreendimentos de Restauração e Bebidas

As medidas cautelares de segurança contra riscos de A Portaria nº1063/97 de 21 Outubro, publicou as Medidas de
incêndio em centros urbanos antigos contém as disposições segurança aplicadas na construção, instalação e
genéricas a observar em operações de beneficiação de funcionamento dos empreendimentos turísticos e dos
edifícios e outras acções a realizar em centros urbanos estabelecimentos de restauração e de bebidas.
antigos destinadas a reduzir o risco de eclosão de incêndio, a
limitar a propagação de incêndio, a possibilitar a evacuação Deu cumprimento ao definido no n.º 3 do artigo 21.º do
dos edifícios e a facilitar a intervenção dos bombeiros. Decreto-Lei n.º 167/97, de 4 de Julho, que aprovou o novo
regime jurídico de instalação e funcionamento dos
2.11 Instalações de armazenamento de produtos do empreendimentos turísticos e no n.º 3 do artigo 6.º do
petróleo e instalações de abastecimento de Decreto-Lei n.º 168/97, de 4 de Julho, que aprovou o novo
combustíveis líquidos e gasosos. regime jurídico de instalação e funcionamento dos
estabelecimentos de restauração e de bebidas.
O Decreto-Lei n.º 267/02 de 26 de Novembro, estabelece os
procedimentos e define as competências para efeitos de 2.14 Estabelecimentos Comerciais (A≥300m2)
licenciamento e fiscalização de instalações de
armazenamento de produtos do petróleo e instalações de O Decreto-Lei n.º 368/99, de 18 Setembro, aprovou e
postos de abastecimento de combustíveis. publicou as medidas de segurança contra risco de incêndio
aplicáveis aos estabelecimentos comerciais com área igual
Portaria nº 1188/03 de 10 de Outubro, regula os pedidos de ou superior a 300m2 ou de substâncias perigosas
licenciamento de combustíveis. Pormenorização de certos independentemente da área.
aspectos do processo de licenciamento e fiscalização de
instalações de armazenamento de produtos do petróleo e de Revogou o Decreto-Lei n.º 61/90, de15 de Fevereiro, que
abastecimento de combustíveis de acordo com o disposto no aprovou as normas de segurança contra riscos de incêndio a
n.º2 do artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 267/2002, de 26 de aplicar em estabelecimentos comerciais.
Dezembro.
2.15 Estabelecimentos Comerciais (A<300m2)
2.12 Empreendimentos Turísticos
A Portaria n.º 1299/2001, de 21 de Novembro, aprovou as
O Decreto-Lei n.º 167/97, de 04 de Julho, Rectificado pelo medidas de segurança contra Incêndio a observar em
Decreto-Lei n.º 305/99, de 06 de Agosto e o Decreto-Lei n.º estabelecimentos comerciais ou prestação de serviços com
55/02, de 11 de Março aprovou o Regime jurídico dos área < 300m2.
empreendimentos turísticos.
Deu cumprimento ao definido no artigo 4º do artigo 1.º do
A Portaria nº 1063/97 de 21 Outubro, de acordo com o n.º 3 Decreto-Lei nº 368/99, de 18 de Setembro.
do artigo 21.º do Decreto-Lei n.º 167/97, de 4 de Julho, e n.º
3 do artigo 6.º do Decreto-Lei n.º 168/97, aprovou e publicou 2.16 Edifícios de Serviços Públicos
as Medidas de segurança aplicadas na construção, instalação
e funcionamento dos empreendimentos turísticos e dos A Resolução do Concelho de Ministros nº31/89 de 15 de
estabelecimentos de restauração e de bebidas. Setembro, publicado no DR - I série nº 213, aprovou e

161
ARTIGO TÉCNICO

publicou as medidas cautelares mínimas contra riscos de


incêndio a aplicar nos locais e seus acessos integrados em
edifícios onde estejam instalados serviços públicos da
administração central, regional e local e instituições de
interesse público e entidades tuteladas pelo Estado.

3. Futura Legislação de Segurança Contra Incêndio

Dadas as fragilidades da actual legislação de segurança


contra incêndio, anteriormente expostas, está prevista a
publicação do Regulamento Geral de Segurança Contra
Incêndio em Edifícios, já aprovado na generalidade em
conselho de Ministros e fazendo parte dos objectivos do
governo para o ano de 2008, conforme as "Grandes Opções
do Plano para 2008" (Lei n.º 31/2007 de 10 de Agosto).

O Regulamento Geral de Segurança Contra Incêndio em


Edifícios apresenta um conjunto amplo de exigências
técnicas aplicáveis à segurança contra incêndio, no que se
refere à concepção geral da arquitectura dos edifícios e
recintos a construir ou remodelar, às disposições
construtivas, às instalações técnicas e aos sistemas e
equipamentos de segurança. Será um único regulamento, de
utilização mais fácil, homogéneo e coerente e cobrindo todo
o ciclo de vida dos edifícios. Congrega os 16 diplomas
dispersos e reduz 1200 artigos a 334.

Engloba as disposições regulamentares de segurança contra


incêndio aplicáveis a todos os edifícios e recintos,
distribuídos por 12 utilizações-tipo, sendo cada uma delas,
por seu turno, estratificada por quatro categorias de risco de
incêndio. São considerados não apenas os edifícios de
utilização exclusiva, mas também os edifícios de ocupação
mista.

No diploma encontram-se estruturadas um conjunto amplo


de exigências técnicas aplicáveis à segurança contra
incêndio, no que se refere à concepção geral da arquitectura
dos edifícios e recintos a construir ou remodelar, às
disposiçõesconstrutivas, às instalaçõestécnicas,aos sistemas

162
ARTIGO TÉCNICO

e equipamentos de segurança, para além das necessárias Para cumprimentos dos seus objectivos o RG-SCIE:
medidas de auto-protecção e de organização de segurança - É de aplicação universal;
contra incêndio, aplicáveis quer em edifícios existentes, quer - Cobre todo o ciclo de vida dos edifícios e dos recintos;
em novos edifícios a construir. - As medidas de segurança são graduadas em função da
classificação do risco;
Do mesmo modo, são estabelecidas as necessárias medidas - Explicita as competências, as responsabilidades e os
de auto-protecção e de organização de segurança contra mecanismos de fiscalização de SCIE.
incêndio, aplicáveis quer em edifícios existentes, quer em
novos edifícios a construir, e define-se um regime 3.2 Campo de Aplicação
sancionatório para o incumprimento das novas regras.
O RG-SCIE aplica-se a:
3.1 Objectivo - Novos edifícios, partes de edifícios e recintos, a
construir, montar ou implantar;
Protecção, face ao risco de incêndio em edifícios, - Reconstruções e ampliações de edifícios e recintos já
estabelecimentos e recintos itinerantes ou ao ar livre: existentes ou de suas partes;
- Da vida humana; - Mudanças de uso permanente de edifícios e recintos já
- Do ambiente; existentes ou de suas partes;
- Do património cultural; - As medidas de auto-protecção e de gestão de segurança
- De meios essenciais à continuidade de actividades sociais constantes no diploma aplicam-se também a edifícios e
relevantes. recintos já existentes.

163
ARTIGO TÉCNICO

3.3 Estrutura n.º 44, série I-A de 27-02-99, que aprovou o regulamento de
segurança contra incêndios em edifícios do tipo

O Regulamento Geral de Segurança Contra Incêndio em Administrativo, e respectiva Portaria n.º 1276/2002, de 19 de

Edifícios desenvolve-se nos seguintes 9 capítulos: Setembro, publicada no DR - I série-B n.º 217, que aprovou
as normas de segurança contra incêndio a observar na
exploração dos estabelecimentos de tipo Administrativo.
I. Disposições gerais e fiscalização;
- Decreto-Lei n.º 414/98, de 31 de Dezembro, publicado
II. Caracterizaçãodo risco de incêndio;
no DR - I série-A n.º 301, rectificado pelo DR n.º 44/99,
III. Condições exteriores comuns; Série I-A de 27 de Fevereiro, que aprovou o regulamento
IV. Condições gerais de comportamento ao fogo, isolamento de segurança contra incêndio em edifícios Escolares, e
e protecção; respectiva Portaria n.º 1444/2002, de 07 de Novembro,
V. Condições gerais de evacuação; publicada no DR - I Série-B n.º 257, que aprovou as

VI. Condições gerais das instalações eléctricas; normas de segurança contra incêndio a observar na
exploração dos estabelecimentos Escolares.
VII. Condições gerais dos equipamentos e sistemas de
- Decreto-Lei n.º 368/99, de 18 Setembro, publicado no DR
segurança;
- I Série-A n.º 219, que aprovou a protecção contra
VIII. Condições gerais de organização e gestão da segurança;
incêndio em Estabelecimentos Comerciais com área igual
IX. Condições específicas das utilizações-tipo.
ou superior a 300m2 ou de substâncias perigosas
independentemente da área, e respectiva Portaria n.º
3.4 Diplomas Revogados 1299/2001, de 21 de Novembro, publicada no DR - I
Série-B n.º 5270, que aprovou as medidas de segurança
A entrada em vigor do Regulamento Geral de Segurança contra incêndio a observar em Estabelecimentos
Contra Incêndio em Edifícios revoga os seguintes diplomas: Comerciais ou Prestação de Serviços com área inferior a

- As disposições do capítulo III do título V do Regulamento 300 m2.

Geral das Edificações Urbanas, aprovado pelo Decreto- - As disposições relativas à segurança contra incêndio

Lei n.º 38 382, de 7 de Agosto de 1951; constantes do Decreto Regulamentar n.º 34/95, de 16 de
Dezembro, publicado no DR - I série-B n.º 289, que
- A Resolução do Concelho de Ministros n.º 31/89, de 15
aprovou o regulamento das condições técnicas e de
de Setembro, publicado no DR - I série n.º 213;
segurança dos Recintos de Espectáculos e de
- O Decreto-Lei n.º 64/90, de 21 Fevereiro, publicado no
Divertimentos Públicos, e do Decreto-Lei n.º 309/2002,
DR - I série n.º 44, rectificado por Declaração publicada
de 16 de Dezembro, publicado no DR - I Série A n.º 290,
no DR - I Série n.º 99 de 30-04-90;
que aprovou a revisão do regime geral aplicável aos
- O Decreto-Lei n.º 66/95, de 08 Abril, publicado no DR - I
Recintos de Espectáculos e de Divertimentos Públicos da
série-A n.º 84;
competência das autarquias locais.
- A Portaria n.º 1063/97, de 21 Outubro, publicada no DR - – As disposições relativas à segurança contra incêndio
I série-B n.º 244; constantes do Decreto Regulamentar n.º 10/2001, de 7
- O Decreto-Lei n.º 409/98, de 23 de Dezembro, publicado de Junho, publicado no DR – I série-B n.º 132, que
no DR - I série-A n.º 295, e a Portaria n.º 1275/2002, de aprovou o regulamento das condições técnicas e de
19 de Setembro, publicada no DR - I série-B n.º 217; segurança dos Estádios, e do Decreto-Lei n.º 317/97, de
- Decreto-Lei n.º 410/98, de 23 de Dezembro, publicado 25 de Novembro, publicado no DR - I série-A n.º 273, que
no DR - I série-A n.º 295, rectificado pelo DR - I série-A aprovou o regime de instalação e funcionamento das

164
ARTIGO TÉCNICO

InstalaçõesDesportivas de uso público.


- As disposições relativas à segurança contra incêndio
constantes do Decreto Regulamentar n.º 5/97, de 13 de
Março, publicado no DR – I série-B n.º 75, que aprovou o
regulamento das condições técnicas e de segurança dos
Recintos com Diversões Aquáticas.

4. Conclusão

A necessidade de constante actualização de conhecimentos,


imposta quer pela evolução técnica, tecnológica e
concepcional das instalações, quer pela evolução
regulamentar nos diversos domínios de projecto é um
desafio para os diversos agentes interveniente na área da
segurança de pessoas e bens.

A actual existência de um conjunto significativo de


Regulamentos de Segurança, Normas de Segurança e
Medidas de Segurança Contra Incêndio, traduz-se na
dispersão da regulamentação por um número excessivo de
diplomas, o que a torna volumosa e de interpretação
problemática e mesmo, em alguns casos, parcialmente
incoerente e repetitiva.

A futura publicação do Regulamento Geral de Segurança


Contra Incêndio em Edifícios e consequente revogação dos
diversos diplomas actualmente em vigor, vêm realizar um
novo enquadramento regulamentar de segurança contra
incêndio, mais coerente e completo, e abrangendo a
totalidade de edifícios existentes.

No presente artigo pretendeu-se sistematizar a actual


legislação de segurança contra incêndio em edifícios, assim
como apresentar o futuro Regulamento de Segurança Contra
Incêndio em Edifícios, de forma a permitir antecipar o
conhecimento do diploma por parte dos diversos agentes
intervenientes na temática da protecção de pessoas,
instalações e bens.

165
ARTIGO TÉCNICO

166
ARTIGO TÉCNICO António Augusto Araújo Gomes
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009

Segurança em Edifícios
Sistemas de Circuito Fechado de Televisão
1. Enquadramento 2. A Videovigilância como Valência de Segurança em
Edifícios
Para que os ocupantes e operadores possam usufruir na
plenitude dos edifícios, estes devem satisfazer requisitos É cada vez mais frequente o recurso à videovigilância através
arquitectónicos, funcionais, ecológicos, económicos e de de sistemas de circuitos fechados de televisão (Closed Circuit
segurança. Television – CCTV), quer como elementos isolados de
vigilância, quer como elementos de complemento dos
O fim e a utilização a que se destina cada edifício sistemas de segurança, em geral, e, em particular, dos
determinam a selecção, instalação e implementação de sistemas de detecção automática de intrusão e controlo de
diferentes medidas de protecção e segurança, de forma a acessos.
assegurar e controlar os aspectos de segurança das diversas
valências das instalações, equipamentos e ocupantes. Embora existam dispositivos pertencentes ao CCTV que
podem realizar a detecção automática de intrusão, os
Independentemente do risco ou complexidade de cada sistemas de CCTV não são, habitualmente, designados de
instalação, deverão ser estudados, desenvolvidos e sistemas de segurança, mas sim, sistemas de vigilância. Não
implementados sistemas de protecção e segurança, capazes tendo por isso, normalmente, uma missão de vigilância com
de garantir o conforto e a segurança dos ocupantes e a detecção automática de intrusão, mas sim a vigilância como
protecção de bens. elemento de suporte ao controlo e à intervenção humana.

A segurança contra incêndios, nas áreas de redução e Além da visualização de imagem, em tempo real, os sistemas
protecção do risco, são a principal vertente da segurança em de CCTV permitem a gravação e arquivo dessas mesmas
edifícios. A segurança contra intrusão, controlo de acessos, imagens, que posteriormente poderão ser consultadas, se tal
videovigilância e alarmes técnicos são outras vertentes for necessário.
fundamentais no garante da segurança em edifícios.
A instalação de sistemas de CCTV é, assim, hoje em dia, um
facto generalizado motivado, por um lado, pela necessidade
de proceder ao controlo e à protecção de pessoas e bens e,
por outro, pelo reduzido custo destes sistemas.

Fonte: www.siemens.com

167
ARTIGO TÉCNICO

3. Áreas de Intervenção dos Sistemas de Videovigilância - Vigilância de veículos de transporte público (comboios,
metro, barcos, …);
A utilização dos sistemas de videovigilância através de - Vigilância de zonas públicas em hotéis, casinos;
sistemas de Circuito Fechado de Televisão encontra-se, - Vigilância de parques de estacionamento;
actualmente, generalizada a todas as áreas de actividade, - Vigilância de zonas pedonais;
desde a comercial, industrial, serviços, recintos desportivos, - Análise facial para identificação de pessoas;
estabelecimentos de ensino, actividade portuária e - Sondas médicas;
aeroportuária, vias de circulação até à área residencial.
4. Arquitectura de um Sistema de Videovigilância
De entre as inúmeras vantagens da utilização de sistemas de
CCTV, podemos destacar A arquitectura de um sistema de videovigilância pode ser
- Aumento da segurança física das instalações; dividida em quatro grupos principais:
- Aumento da segurança e do conforto dos utilizadores
das instalações; - Recolha de imagem
- Facilidade no controlo dos acessos de pessoas internas e
externas às organizações; Corresponde às unidades que fazem a transformação do
- Facilidade no controlo de viaturas próprias e externas às sinal óptico (imagem) em sinal eléctrico, sendo constituída
organizações; pelos elementos de conversão da zona visualizada num sinal
- Supervisão de pontos de venda e atendimento a clientes; de vídeo.
- Controlo e gestão eficaz em processos produtivos;
- Controlo mais eficaz das instalações; É composto essencialmente pelas câmaras, lentes, suportes
- Possibilidade de acesso remoto via internet, de qualquer e caixas.
ponto do mundo, em tempo real;
- Flexibilidade na utilização do sistema. - Transmissão do sinal

Como utilização mais comum dos sistemas de CCTV, Responsável pelo transporte do sinal recolhido pelo grupo
podemos destacar a vídeo vigilância e segurança em: anterior, até à zona de processamento, controlo e comando
- Estabelecimentoscomerciais; e monitorização da imagem.
- Bancos;
- Oficinas; A transmissão do sinal é realizada, essencialmente, por cabo
- Edifícios públicos; coaxial, par troçado ou cabo de fibra-óptica.
- Portos e aeroportos;
- Moradias. - Processamento do sinal, controlo, comando e gravação
da imagem
Outras aplicações, mais específicas da utilização de sistemas
de CCTV são: Constituído pelo conjunto de equipamentos responsáveis
- Monitorização de tráfego em pontes e estradas; pelo processamento, controlo e comando e gravação da
- Monitorização de processos industriais; imagem, proveniente do grupo de recolha.
- Vigilância de áreas interditas à presença humana tais
como: fornos, zonas tóxicas, submersas, etc. É composto essencialmente selectores, multiplexadores e
- Vigilância de sítios sem iluminação; gravadores.

168
ARTIGO TÉCNICO

- Monitorizarão da Imagem - Tipos de Lentes

Constituído pelos equipamentos de recepção do sinal de o Focagem variável ou fixa;

vídeo, que voltam a fazer a transformação do sinal eléctrico o Íris manual ou automática

em sinal óptico, observável pelo olho humano e que permite o Filtros IR

a visualização das imagens.

A monitorização da imagem é realizada em monitores


dedicados ou em monitores de computadores.

Figura 2 – Diversos tipos de lentes de um sistema de videovigilância

- Tipos de Câmaras

o Fixas
o MiniDome
o SpeedDome
Figura 1 – Vista Geral de uma Sala de Segurança

Podendo ser a preto e branco, cor ou day/night.


5. Tecnologia dos Sistemas de Videovigilância

- Tipo de Sistemas

o Analógico
o Digital

Nos sistemas digitais, destacamos o sistema IP (Internet


Protocol), que pode-se dizer, veio revolucionar os sistemas
de videovigilância, uma vez que permite novas
funcionalidades como o acesso ao sistema, através de uma Figura 3 – Diversos tipos de câmaras de um sistema de
rede interna, ou à distância, via internet. videovigilância

Fonte: www.siemens.com

169
ARTIGO TÉCNICO

- Suportes e caixas - Gravador

Os suportes são os elementos de fixação das câmaras. É o elemento responsável pela gravação das imagens, para
posterior visualização.
As caixas são os elementos de protecção e, por vezes, de
dissimulação das câmaras. o Gravadores Analógicos

São a solução tradicional para a gravação do sinal de


vídeo. São aparelhos que permitem a gravação do
sinal de vídeo em fitas magnéticas, bastante
semelhantes aos aparelhos domésticos.
Com o surgimento dos sistemas digitais este tipo de
solução de gravação da imagem está a cair em
desuso .

Figura 4 – Suportes e caixas

- Monitores
Figura 6 – Gravador analógico

Embora ainda se encontrem em utilização monitores do tipo


o Gravadores digitais
CRT (cathode ray tube), os monitores mais largamente
utilizados hoje em dia são do tipo TFT (Thin Film
Actualmente, com o surgimento do digital e dos
Transmitter).
sistemas IP, a gravação é realizada em discos duros
de sistemas dedicados (gravadores digitais
Os monitores podem ser monocromáticos ou policromáticos.
autónomos) ou nos discos dos computadores.

Figura 5 – Monitores CRT e TFT Figura 7 – Gravador digital

170
ARTIGO TÉCNICO

6. Arquitectura Geral dos Sistemas de Videovigilância

De seguida apresentam-se alguns exemplos de configurações gerais de sistemas de CCTV, envolvendo as diversas tecnologias
anteriormente descritas.

- Sistema tradicional

Quadri
Câmaras Multiplexer Gravador
Sequenciador

Monitor

- Sistema com Gravador Digital Simples

Sequenciador
Câmaras Monitor
Gravador

- Sistema com Transmissão por TCP/IP

Sequenciador
Câmaras Monitor
Gravador

 ADSL
 ISDN
 PSTN
 Ethernet

Acesso
Remoto

171
ARTIGO TÉCNICO

7. Conclusão

Os sistemas de videovigilância são cada vez mais uma importante valência na segurança dos edifícios, de forma a garantir a
segurança de pessoas instalações e bens.

A instalação de sistemas de Circuito Fechado de Televisão é, hoje em dia, um facto generalizado motivado, por um lado, pela
necessidade de proceder à protecção de pessoas e bens e, por outro, pela flexibilidade e baixo preço destes sistemas.

Actualmente os sistemas de Circuito Fechado de Televisão estão presentes em todas as áreas de actividade, desde o comércio,
industria, até ao sector habitacional.

Imagem adaptada de: http://www.solid-state-logic.com/broadcastsound/C100%20HD%20Range/C100_HD_gallery.asp

172
ARTIGO TÉCNICO António Augusto Araújo Gomes
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009

Sistemas Automáticos de Segurança


Detecção de Monóxido de Carbono
Resumo expostas a uma atmosfera susceptível de lhes provocar
intoxicações e, até, mesmo a morte.
A segurança de pessoas e bens é um aspecto fundamental na
qualidade de vida das pessoas.
O Monóxido de Carbono não se vê, não se cheira, não se
ouve, mas mata.
Os sistemas automáticos de segurança em geral, e os sistemas
automáticos de detecção de Monóxido de Carbono (CO) em
particular, visam assegurar a protecção das pessoas em locais cuja 2. Principais Fontes de Monóxido de Carbono
qualidade atmosférica as possa por em perigo.
O Monóxido de Carbono (CO), que constitui a maior parte da
O Monóxido de Carbono é um gás inflamável, que se mistura poluição do ar, é resultado, essencialmente, da combustão
facilmente no ar ambiente, muito perigoso devido à sua elevada
incompleta de combustíveis fósseis.
toxicidade e que sendo inodoro, incolor e insípido, não permite que
os ocupantes das instalações tenham consciência de estar expostas
Os incêndios florestais e o tráfego rodoviário são os
a uma atmosfera susceptível de lhes provocar intoxicações e, até,
principais exemplos de fontes de poluição por Monóxido de
mesmo a morte.
Carbono, podendo ser, também, formado por oxidação de
O Monóxido de Carbono, que constitui a maior parte da poluição poluentes orgânicos, tais como o metano.
do ar, é resultado, essencialmente, da combustão incompleta de
combustíveis fósseis. No sector residencial, muitos aparelhos usados no dia-a-dia
funcionam com base em combustíveis – sólidos (lenhas,
O Monóxido de Carbono forma com a hemoglobina do sangue, um
carvão), líquidos (petróleo, gasóleo) ou gasosos (gás natural,
composto mais estável do que hemoglobina e o oxigénio, podendo
propano, butano ou GPL), cuja queima pode, também, ser
levar à morte por asfixia. Concentrações abaixo de 400 ppm (parte
fonte de CO, nomeadamente:
por milhão – medida de concentração) no ar causam dores de
cabeça e acima deste valor são potencialmente mortais. - Caldeiras (a lenha, carvão, gás e gasóleo)
- Salamandras (a lenha ou carvão)
O presente artigo aborda, em geral, a temática da detecção de - Esquentadores(a gás)
monóxido de carbono, no que se refere aos aspectos - Aquecedores portáteis (a GPL, ou a petróleo)
regulamentares, técnicas e tecnológicos da mesma, que possam
- Fogões (a lenha, carvão e gás)
servir as pessoas em geral e os projectistas e instaladores em
- Braseiras (a carvão)
particular.

As condutas e chaminés obstruídas ou mal dimensionadas,


1. Monóxido de Carbono provocando uma deficiente saída dos produtos da
combustão, podem igualmente, motivar o aumento da
O Monóxido de Carbono (CO) é formado pela combinação de concentração de monóxido carbono.
um átomo de carbono e um átomo de oxigénio.

As garagens e aparcamentos de veículos automóveis


É um gás extremamente perigoso devido à sua elevada cobertos são, igualmente, locais com elevado potencial
toxidade, que se mistura facilmente no ar ambiente, e que produção e concentração de Monóxido de Carbono e, por
sendo inodoro, incolor e insípido, não permite que os conseguinte, de perigo potencial para as pessoas que os
ocupantes das instalações tenham consciência de estar utilizam.
173
ARTIGO TÉCNICO

3. Efeitos do Monóxido de Carbono na Saúde Os grupos mais susceptíveis aos efeitos do CO são as
crianças, as pessoas idosas e as pessoas com doenças
O Monóxido de Carbono (CO) penetra no organismo através cardíacas, respiratórias ou anemia. Os trabalhadores de
da respiração e entra nos pulmões e no sangue, garagens e polícias de trânsito estão muito expostos à
combinando-se com a hemoglobina, diminuindo a presença deste gás, pois os automóveis libertam para a
capacidade de transporte de oxigénio dos pulmões até aos atmosfera elevadas quantidades de monóxido de carbono.
tecidos. As nossas casas podem, igualmente, ter problemas de
acumulação de CO, sendo que em Portugal entre os anos de
A exposição a este poluente traduz-se em dificuldades 1995 e 2003, o número de mortes ocorridas por efeito tóxico
respiratórias e asfixia, principalmente para os indivíduos com de monóxido de carbono foi de 268, o que corresponde a
problemas cardiovasculares. Para além disso este poluente quase 30 mortes por ano.
provoca também a diminuição da percepção visual, destreza
manual e capacidade de trabalho. 4. Protecção Geral Contra a Intoxicação por Monóxido de
Carbono
Existem dois tipos de intoxicação por monóxido de carbono:
- A intoxicação crónica, cujos sintomas são dores de Caso se verifique uma intoxicação por inalação de Monóxido
cabeça, náuseas, vómitos e cansaço, a qual se poderá de Carbono, deverão de imediato ser tomadas algumas
desenvolver de forma lenta e afecta pessoas medidas para protecção da vítima, nomeadamente:
habitualmente expostas às concentrações elevadas de - Arejar o local;
CO; - Desligar os aparelhos que possam estar na origem do
- A intoxicação aguda, que provoca vertigens, fraqueza acidente;
muscular, distúrbios visuais, taquicardia, perturbações - Evacuar a vítima para fora da atmosfera tóxica, o mais
de comportamento, desmaios e, no limite, o coma e rapidamente possível, e colocá¬-la em repouso,
mesmo a morte. preferencialmente, deitada;
- Chamar os serviços médicos de emergência
No que se refere ao sector residencial, a análise dos
acidentes resultantes de intoxicações com CO, efectuadas Contudo, dever-se-á sempre tomar medidas que permitam
com base nos dados do sistema EHLASS / Sistema Europeu prevenir a ocorrência deste tipo de acidentes que poderão
de Vigilância de Acidentes Domésticos e de Lazer, entre os passar por:
anos de 1987 e 1999 mostra que a maioria dos - Garantir que os aparelhos de queima são instalados de
acidentes/intoxicações por gás ou Monóxido de Carbono acordo com as normas e especificações técnicos em vigor
ocorrem no Outono/Inverno e têm a sua origem em e por entidades reconhecidas;
equipamentos para aquecimento (por exemplo salamandras - Proceder à manutenção regular dos aparelhos que
e caldeiras) que, normalmente por esquecimento, são utilizem combustíveis fósseis, recorrendo aos serviços de
deixadas acesas durante a noite. entidades reconhecidas;
- Providenciar, periodicamente, inspecções às instalações
A perigosidade destes acidentes reflecte-se no elevado de gás, realizadas por entidades devidamente
número de hospitalizações e óbitos registados anualmente, reconhecidas para o efeito.
com origem no Monóxido de Carbono (9% dos acidentes - Proceder à limpeza regular dos queimadores dos fogões
ocorridos por intoxicação / envenenamento). A taxa de a gás, caso estes apresentarem sinais de estarem
letalidade (relação entre o numero de óbitos e o número de obstruídos, no caso da mistura ar-gás não se efectuar nas
vítimas) também é elevada: 5%. melhores condições, originando maior produção de CO;
174
ARTIGO TÉCNICO

- Não manter em funcionamento o motor do automóvel Edifícios (SCIE), no seu artigo 185.º, determina as
dentro de uma garagem fechada, uma vez que a características dos sistemas automáticos de detecção de gás
quantidade de CO libertada pode tornar-se perigosa. combustível, nomeadamente no que se refere à constituição
- Não adquirir aparelhos que não respeitem as normas de dos mesmos.
segurança;
Assim um sistema de detecção automática de Monóxido de
As medidas anteriormente mencionadas poderão ser Carbono será constituído pelos seguintes elementos,
complementadas com a instalação de um Sistema de devidamente homologados e compatíveis entre si:
Detecção Automática de Monóxido de Carbono, que de uma - Unidade de controlo e sinalização;
forma autónoma e automática detecta as concentrações - Detectores;
perigosas de monóxido de carbono e, de acordo com essas - Sinalizadores óptico-acústicos;
concentrações, promove medidas de sinalização e de - Transmissores de dados;
redução desses níveis de concentração, por extracção e/ou - Cabos
insuflação de ar. - Canalizações

5. Detecção Automática de Monóxido de Carbono A figura 1, mostra a arquitectura geral de um sistema de


detecção de monóxido de carbono:
5.1. Definição
Gestão Técnica
Centralizada
Um sistema de detecção e alarme de Monóxido de Carbono
(CO) é uma instalação técnica com a capacidade de medir e
comparar automaticamente a concentração de Monóxido de
Sinalizadores
Carbono, e quando essas concentrações atingirem valores Ópticos-
Detectores Unidade de Acústicos
acima dos valores pré-estabelecidos, sinalizar e executar Automáticos Controlo e
Sinalização
todas as acções definidas como necessárias, para garantir o
Sistemas de
aviso e a protecção dos seres vivos. Extracção/Insu
flação Ar

5.2. Enquadramento Regulamentar Outros


Imputs Outros
Outputs
O enquadramento regulamentar de segurança contra
incêndio em edifícios, encontra-se definido pela Portaria n.º
1532/2008 de 29 de Dezembro aprovou e publicou o
Alimentação Alimentação
Regulamento Técnico de Segurança contra Incêndio em Rede Emergência
Edifícios (SCIE), conforme determinado no artigo 15ª do
Decreto-Lei n.º 220/2008 de 12 de Novembro que aprovou o
regime jurídico da segurança contra incêndios em edifícios Figura 1 – Arquitectura Geral de um Sistema Automático de
(SCIE) e, que, entre outros aspectos, aborda a questão da Detecção de Monóxido de Carbono
detecção de gases e do controlo da poluição do ar.
- Unidade de Controlo e Sinalização
5.3. Constituição Geral do Sistema
A Unidade de Controlo e Sinalização (Central de Detecção e
O Regulamento Técnico de Segurança Contra Incêndio em Alarme) é o “cérebro” do sistema.
175
ARTIGO TÉCNICO

É um equipamento electrónico programável, capaz de técnicas dos fabricantes dos equipamentos, de modo a
interpretar correctamente as informações vindas dos verificar quais as áreas de protecção efectivas dos mesmos.
detectores automáticos e de outros tipos de inputs, de
monitorizar o funcionamento dos diversos elementos e c) Altura de Colocação
respectivos circuitos, gerar sinalização e executar comandos,
em conformidade com a programação predefinida. O Monóxido de carbono é um gás menos denso que o ar,
pelo que tem tendência para subir e, por conseguinte,
As Unidade de Controlo e Sinalização podem ser, em termos acumular-se na parte superior das instalações.
funcionais, divididas em dois grupos principais:
Gás Fórmula Volume Molar Densidade em
- Sistema de Zonas;
Relação ao Ar
São sistemas de pequenas dimensões em que as acções
Monóxido CO 22,40 0,967
são definidas por zona.
Carbono
- Sistema Endereçável.
São sistemas de grandes dimensões em que as acções Tabela 1 – Características do Monóxido de Carbono

podem ser definidas por elemento.


O Regulamento Técnico de Segurança contra Incêndio em
- Detectores Edifícios (SCIE), no seu artigo 180.º determina que os
detectores do sistema automático de monóxido de carbono
Tem como função realizar a medição dos níveis de devem ser instalados a uma altura de 1,5 m do pavimento.
concentração de monóxido de carbono e de transmitir essa
informação à central. d) Sinalizadores Óptico-Acústicos

a) Tecnologias O Regulamento Técnico de Segurança contra Incêndio em


Edifícios (SCIE), no seu artigo 180.º determina quando for
As tecnologias detecção, varia de fabricantes pata fabricante atingida a concentração de 200 ppm de monóxido de
de equipamento, mas, de um modo geral, as mais utilizadas carbono, as pessoas devem ser avisadas através de um
são as seguintes: alarme óptico e acústico colocado junto às entradas do
- Electroquímicos; espaço em questão, por cima das portas de acesso e no
- Pelistor; interior nos nós de circulação.
- Catalitico
- Semicondutor. A referida sinalização é realizada através de sinalizadores
óptico-acústicos, normalmente construídos em caixa
b) Área de Protecção metálica, que possuirão no visor frontal a inscrição
«Atmosfera Saturada-CO», a qual será iluminada em caso de
O Regulamento Técnico de Segurança contra Incêndio em alarme e possuirão também, um avisador acústico
Edifícios (SCIE), no seu artigo 180.º, determina que os incorporado, com som intermitente.
detectores do sistema automático de monóxido de carbono
devem ser distribuídos uniformemente de modo a cobrir e) Canalizações
áreas inferiores a 400 m² por cada detector.
Neste particular salienta-se o disposto no Artigo 77.º -
Dever-se-á, no entanto, ter em atenção as especificações Protecção dos circuitos das instalações de segurança,

176
ARTIGO TÉCNICO

do Regulamento de Segurança Contra Incêndio em Edifícios. No caso particular do Monóxido de Carbono, quanto mais
. rápido for detectada a sua presença, menores serão os
f) Alimentação de Energia Eléctrica perigos e danos provocados por ele, podendo mesmo
poupar-se vidas.
O sistema de detecção automática de monóxido de carbono
deve, em situação normal de funcionamento, ser alimentado No projecto e instalação de sistemas de segurança, em geral
pela rede eléctrica 230V/50 Hz. e, de detecção automática de Monóxido de Carbono, em
particular, é fundamental o conhecimento profundo dos
O Regulamento Técnico de Segurança contra Incêndio em aspectos regulamentares que enquadram a área, assim como
Edifícios (SCIE), no seu artigo 180.º determina que o sistema o conhecimento técnico e tecnológicos sobre os
automático de detecção de monóxido de carbono deverá equipamentos disponíveis no mercado, de modo a garantir
dispor de uma fonte local de energia, capaz de garantir o que os equipamentos especificados são os mais indicados,
funcionamento do mesmo por um período não inferior a 60 quer em termos características e qualidade, quer em termos
minutos em caso de falha de energia da rede. económicos.

g) Simbologia de Projecto Cada vez mais, existem parques de estacionamento cobertos


e os espaços para actividades de lazer e de compras são,
A simbologia a utilizar no projecto de Sistemas de Detecção também, dotados de parques de estacionamento cobertos,
Automática de Monóxido de Carbono é a seguinte: potenciando o perigo de concentrações de CO perigosos
para as pessoas.
Central de Detecção de Monóxido
de Carbono
A existência de equipamentos de detecção automática da
Sinalizador de Atmosfera Perigosa
presença de gases tóxicos confere às pessoas uma maior
(CO)
confiança nos espaços de utilização e, consequentemente,
Detector de Monóxido de Carbono
uma maior qualidade de vida.

Devendo, em cada peça desenhada, constar da legenda os A qualidade de vida e a protecção das pessoas constituem,
símbolos utilizados nessa peça. cada vez mais, um processo concomitante das sociedades
modernas, para isso contribuindo em geral os sistemas
6. Considerações Finais automáticos de segurança e, em particular, os sistemas
automáticos de detecção de Monóxido de Carbono.
Este artigo visou abordar aspectos regulamentares, técnicos,
Fontes de Informação Relevantes
tecnológicos e conceptuais, ao nível do projecto e da
instalação de Sistemas Automáticos de Detecção de [1] Decreto-Lei n.º 220/2008 de 12 de Novembro, regime
Monóxido de Carbono. jurídico da segurança contra incêndios em edifícios.
[2] Portaria n.º 1532/2008 de 29 de Dezembro, Regulamento
Uma segura, fiável e rápida detecção de presença de gases Técnico de Segurança contra Incêndio em Edifícios.
tóxicos, que possam colocar em perigo a vida de pessoas e [3] www.dgge.pt
animais, é um componente crucial de um conceito geral de [4] www.fichet.pt
sistemas de segurança e protecção. [5] Fire Protection Handbook, NFPA
[6] www.nfpa.org

177
DIVULGAÇÃO

LABORATÓRIO DE SISTEMAS DE ENERGIA


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELECTROTÉCNICA
INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DO PORTO

O Laboratório de Sistemas de Energia (LSE) é uma instalação de apoio ao ensino e aos trabalhos de investigação e
desenvolvimento no âmbito do curso de Engenharia Electrotécnica do Departamento de Engenharia Electrotécnica do Instituto
Superior de Engenharia do Porto.

Esta infra-estrutura é utilizada por uma equipa constituída por docentes, técnicos e alunos da área dos Sistemas Eléctricos de
Energia, que dispõem de equipamento técnico e laboratorial que proporciona a simulação dos diversos efeitos eléctricos e
electrónicos, o que constitui uma contribuição decisiva para a tão necessária preparação prática dos estudantes.

O LSE é constituído por equipamento que incorpora inovação tecnológica e funcionalidades avançadas, incluindo analisadores
de energia, kits de células de combustível e painéis fotovoltaicos, bancadas experimentais, simuladores de defeitos e outros
equipamentos de monitorização de energia em redes eléctricas.

TRABALHOS REALIZADOS NO LABORATÓRIO DE SISTEMAS DE ENERGIA


• Medição da resistência de Terra
• Simulação da Compensação do Factor de Potência num Sistema de
Energia
• Simulação no Simulink de um Sistema Trifásico com Cargas RL e RC
• Manobras de Ligação de Alternadores num SEE sem Interrupção de
Serviço
• Pilha de combustível
• Utilização de Contactores no arranque Estrela-Triângulo e Inversão do
seu sentido marcha
Doutora Teresa Alexandra Nogueira • Simulação computacional da colocação em serviço de uma linha de
Directora Laboratório Sistemas Energia
transporte que alimenta uma carga indutiva
• Observação das componentes harmónicas da onda de corrente
• Verificação experimental e computacional do efeito Ferranti
• Ensaio de uma linha de transporte: Curto-circuito simétrico trifásico e
Curto-circuitoassimétrico: bifásico e monofásico
• Simulação da geração de energia eléctrica em rede isolada
• Simulação em MatLab-Simulink de Fenómenos Transitórios em
Circuitos Eléctricos

|178
178
ARTIGO TÉCNICO António Augusto Araújo Gomes
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010

SISTEMAS DE CONTROLO DE ACESSO

RESUMO

A segurança, o conforto, a funcionalidade e a fiabilidade dos


sistemas que integram as instalações são aspectos
fundamentais na qualidade de vida das pessoas.
Os sistemas de controlo de acessos são, cada vez mais, um
elemento facilitador da gestão dos espaços essenciais à
dinâmica funcional das instalações e um meio imprescindível
Imagem adaptada de: www.boydelectronics.co.uk
de controlo da actividade nas organizações.
O presente artigo aborda a temática do controlo de acessos, 3 PRINCIPAIS VANTAGENS
no que se refere, essencialmente, aos aspectos técnicos e
tecnológicos dos mesmos. As principais vantagens de um sistema de controlo de
acessos são:
1 INTRODUÇÃO - Segurança
- Fiabilidade
Os sistemas de controlo de acesso visam a permissão de - Conforto
acesso, em função de parâmetros pré-ajustados, tais como, - Flexibilidade
locais de acessos, horários de acesso,.... - Integração
A sua base de funcionamento é a permissão de acesso
apenas a utilizadores autorizados. 4 CONSTITUIÇÃO GERAL DO SISTEMA
O sistema de controlo de acessos pode ser interligado a
sistemas de gestão técnica centralizada, sistemas A figura 1, mostra a arquitectura geral de um sistema de
automáticos de detecção de intrusão e sistemas de vídeo controlo de acessos:
vigilância, integrando e complementando o funcionamento
Gestão Técnica Software de
destes sistemas. Centralizada Gestão

2 FUNÇÕES PRINCIPAIS Leitores Trincos


Eléctricos
Sensores
As funções principais de um sistema de controlo de acessos Automáticos
são: Botões Unidade de
Manuais Sinalização
- Definição de áreas de acesso; Controlo

- Definição de direitos de acesso por área; Contactos


- Definição de horários de acesso;
Outros
Outros
- Definição de percursos de acesso; Outputs
Inputs
- Seguimento e localização;
- Registo automático de entradas e saídas; Alimentação Alimentação
da Rede de Socorro
- Alarme em caso de entrada forçada em zonas com
acesso condicionado.
Figura 1 – Constituição geral de sistema de controlo de acessos

179
ARTIGO TÉCNICO

4.1 UNIDADE DE CONTROLO 4.3 CONTACTOS

A Unidade de Controlo é o “cérebro” do sistema. É neste São os elementos de informação do estado do sistema.
equipamento que são ligados todos os periféricos (leitores, Podem ser de dois tipos:
sensores, botões, trincos eléctricos,…) e a partir do qual - Magnéticos;
sairá, ou não, uma ordem de abertura, dependendo das - Mecânicos.
definições de acessos e da validade dos dados recebidos
pelos elementos periféricos. 4.4 BOTÕES MANUAIS

Os sistemas de controlo de acessos dividem-se em dois São utilizados normalmente como elementos de saída,
grupos principais: quando não se justifique a utilização de leitores nos dois
- Sistemas em Rede; lados das portas.
- Sistemas Stand Alone. Estes botões quando pressionados, actuam um contacto que
vai gerar o pedido de abertura à central de controlo de
4.2 LEITORES acessos.

São o meio de interacção do utilizador com o sistema. 4.5 CARTÕES


Podem ser de diversos tipos:
- Teclado; São utilizados em alguns dos sistemas anteriormente
- Banda Magnética; referidos. Para esses sistemas, os cartões são as chaves do
- Proximidade; sistema.
- Códigos de barras;
- Ópticos;
- Biométricos (leitura da íris, impressão digital)
Podem ainda combinar duas ou mais das tecnologias acima
referidas.

Imagem: www.engineeringnews.co.za Imagem adaptada de: www.siemens.com

180
ARTIGO TÉCNICO

4.6 TRINCOS ELÉCTRICOS 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

São as fechaduras do sistema. Permitem, para utilizadores Este artigo visou abordar aspectos técnicos, tecnológicos e
autorizados, a abertura das portas e o acesso aos espaços. conceptuais, dos sistemas de controlo de acessos.

4.7 ALIMENTAÇÃO DO SISTEMA Os sistemas de controlo de acesso são sistemas


tecnologicamente maduros e que cada vez mais são uma
A alimentação de energia eléctrica do sistema em condições realidade nas instalações, potenciando uma mais eficaz
normais de funcionamento deverá ser realizada através da gestão dos espaços e dos utentes desses mesmos espaços,
rede de energia eléctrica devendo para o efeito ser prevista de uma forma segura, simples, fiável e económica.
uma alimentação vinda do Quadro Eléctrico da instalação.
O sistema deverá ainda ter uma alimentação própria de Em instalações com sistemas de controlo de acessos, a
socorro que garanta o seu funcionamento em caso de falha alteração das condições de acesso de um utilizador, é
da alimentação normal da rede. realizada de uma forma simples, rápida, cómoda e
económica, contrariamente às instalações tradicionais.
4.8 SOFTWARES DE GESTÃO

Destinam-se, essencialmente, a controlar e gerir a totalidade


do sistema de controlo de acessos a partir de um ou
diversos postos.
Através de interfaces gráficas, o utilizador, gere de uma
forma simples e intuitiva a totalidade do(s) sistema(s).
Para além da gestão e supervisão de funcionamento dos
sistemas que recebe, permitem a geração de relatórios com
os eventos recebidos pelo sistema, tornando-se numa
ferramenta muito útil para gestores e responsáveis de
empresas e entidades.

4.9 GESTÃO TÉCNICA CENTRALIZADA

A Gestão Centralizada consiste na integração dos diversos


sistemas existentes numa instalação para que o seu
comando, controlo e operação possam ser realizados de uma
forma centralizada num sistema de gestão.
A gestão centralizada normalmente só é utilizada em
instalações grandes e complexas, de forma a facilitar o
comando, controlo e operação dos diversos sistemas.

Imagem adaptada de: www.siemens.com (Jin Mao Tower )

181
CURIOSIDADE

Imagem adaptada de: www.siemens.com (Jin Mao Tower )

182
ARTIGO TÉCNICO António Augusto Araújo Gomes; Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010

SEGURANÇA CONTRA INTRUSÃO


HABITAÇÃO
1 INTRODUÇÃO

O crescente aumento da criminalidade, com especial É um equipamento ou conjunto de equipamentos integrados


incidência nos crimes contra a propriedade, levou a um forte entre si, com o intuito de vigiar determinado espaço e, que
incremento na procura e instalação de Sistemas Automáticos em caso de intrusão (tentativa de entrada concretizada ou
de Detecção de Intrusão (SADI). não), accione meios sonoros (Sirene), luminosos (Flash) ou
ainda electrónicos (Comunicadores Telefónicos, ligados ou
A instalação de um SADI não pode ser analisada numa não a Centrais de Recepção de Alarmes, etc), com vista à
perspectiva exclusivamente monetária, ignorando-se uma dissuasão dos actores do acto.
série de outros aspectos, como por exemplo, o facto de,
aquando de um assalto, além do roubo e/ou vandalismo de Tipicamente, um SADI para uma moradia é constituído por
bens de elevado valor comercial, poder ocorrer também o uma central de intrusão por zonas, com um número de zonas
roubo e/ou vandalismo de bens de baixo valor comercial, de acordo com as dimensões e características
mas de elevado valor sentimental, além de que podem arquitectónicas da instalação, um ou vários painéis de
também ocorrer danos físicos e/ou psicológicos nos comando do sistema localizados nas entradas/saídas,
ocupantes das instalações. detectores automáticos normalmente passivos de
infravermelhos ou de dupla tecnologia, contactos de alarme
A instalação de um SADI torna-se, assim, fundamental como e meios de sinalização, regra geral uma sirene óptico
elemento de garantia do bem-estar e da segurança das acústica auto alimentada de exterior e uma sirene acústica
pessoas, velando pela sua salvaguarda e pela salvaguarda de interior, bem como, um sistema de transmissão do
dos seus bens, fazendo hoje (quase), obrigatoriamente, alarme, normalmente um comunicador telefónico.
parte dos sistemas aplicados no sector da habitação,
serviços, comércio e indústria. A figura 1, mostra a arquitectura geral de um sistema de
detecção automática de intrusão.
A instalação de sistemas automáticos de detecção de
Gestão Técnica Painel de
intrusão tornou-se, deste modo, hoje em dia, uma Centralizada Operação

necessidade e um facto generalizado, em todos os sectores


Detectores
de actividade, desde o comércio, serviços, industria até á Automáticos Sinalização
Óptico/Acústica
habitação, motivado, por um lado, pela necessidade de
Contactos
proceder à protecção de pessoas e bens, mas também, pela
confiabilidade e baixo preço destes sistemas. Botões de Unidade Sinalização à
Alrme de Distância
Controlo
Pedais de
2 CONSTITUIÇÃO DE UM SISTEMA DE DETECÇÃO DE INTRUSÃO Alarme

Outros Outros Outputs


Um sistema automático de detecção de intrusão é um Inputs

sistema que automaticamente detecta e sinaliza uma


tentativa de intrusão. Alimentação Alimentação de
da Rede Socorro

Figura 1 – Constituição geral de sistema um SADI

183
ARTIGO TÉCNICO

2.1 CENTRAL DE INTRUSÃO zonas por meio de interfaces de endereçamento


conseguindo-se, assim, soluções mais funcionais e mais
A Central de Intrusão (CI) é o cérebro de todo o sistema. É a fáceis de gerir. Embora este equipamento seja mais caro,
este equipamento que são ligados todos os periféricos quando comparado com o equipamento dos sistemas de
(Detectores, Painéis de Operação, Sirenes, …) e, a partir do zonas, a possibilidade de economia em cablagem e em mão-
qual poderá ser enviada uma ordem de acção, em função de-obra, aquando da realização da instalação, contribui para
dos dados recebidos dos periféricos. uma atenuação do diferencial de custos.

2.1.1 SELECÇÃO DO TIPO DE CENTRAL 2.1.2 LOCALIZAÇÃO

A selecção do tipo de Central de Intrusão é um aspecto A localização da CI dependerá essencialmente do facto de


fundamental para realizar uma eficaz protecção das esta ter, ou não, painel de comando incorporado.
instalações e deverá ser realizada de acordo com o tipo de
instalação que se está a projectar. Se a CI não tiver painel de controlo incorporado, que é o caso
mais frequente, esta poderá e deverá ser instalada numa
Os principais elementos a ter em conta na escolha da central zona técnica, em local seguro e protegido, já que depois de
de intrusão, são: o número de zonas de base, a possibilidade realizada a sua cablagem e programação, todas as restantes
de expansão do número de zonas, o número de painéis de operações estarão disponíveis nos painéis de controlo.
operação necessários, a capacidade de registo em memória
de eventos, a possibilidade de integração com sistemas de Se a CI tiver painel de comando incorporado, como é o caso
gestão centralizada, a fiabilidade e, obviamente, o preço de pequenos sistemas, esta deverá ficar localizada num lugar
bem como a estética do equipamento. de fácil acesso que permita, além da sua cablagem e
programação, um acesso fácil aos futuros utilizadores do
O tipo e a capacidade da CI deverão, assim, ser escolhidos sistema.
em função dos parâmetros anteriormente mencionados,
destacando-se de entre todos a dimensão da instalação a 2.1.3 SELECÇÃO DO TIPO D E ZONA
proteger e o número de zonas requeridas pelo sistema.
Embora possam variar de fabricante para fabricante de
Com efeito, para instalações de pequena/média dimensão, equipamento, de uma forma geral, são consideradas as
são normalmente utilizadas centrais por zonas, onde cada seguintes funcionalidades das zonas de detecção:
zona deverá corresponder a uma área protegida. Existem no • Zona de Intrusão
mercado variadas gamas com 4, 6, 8, 10, 12 e 16 zonas, - Instantânea
podendo mesmo chegar às centenas de zonas. Quando o sistema se encontra “activado” esta zona tem
um funcionamento instantâneo.
Para instalações de média/grande dimensão, cujos sistemas - Entrada/saída
requeridos são, normalmente, de maior dimensão e mais - Seguimento de zonas de entrada/saída
complexos, sendo necessárias um número bastante elevado • Zona de Pânico
de zonas e em que as distâncias dos locais a proteger à • Zona de Ataque
Central de Intrusão possam ser significativas, será vantajosa • Zona de Incêndio
a utilização de sistemas endereçáveis. Estes sistemas • Zona de Sabotagem
contemplam a existência e um bus onde estarão ligadas as • Zona Técnica (Gás, Inundação, Humidade,
Temperatura,...)

184
ARTIGO TÉCNICO

A programação da funcionalidade da zona deverá ser 2.3 DETECTORES AUTOMÁTICOS


realizada de acordo com a finalidade da mesma.
Dependendo do tipo de equipamento, esta poderá ser Os Detectores automáticos são os “olhos” do sistema, são
realizada através do painel de operação e/ou através de eles os elementos responsáveis pela detecção da tentativa
software via computador. de intrusão e respectiva comunicação à Central de Intrusão.

2.2 PAINEL DE OPERAÇÃO O princípio de funcionamento dos detectores e a filosofia de


detecção a utilizar, vai determinar a escolha correcta dos
Os Painéis de Operação são os equipamentos que permitem detectores de intrusão.
o acesso ao sistema, quer para programação, quer para
utilização. 2.3.1 CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO

Em pequenos sistemas, os Painéis de Operação podem Os detectores automáticos agrupam-se em dois grandes
encontrar-se integrados na própria Central de Intrusão, grupos de acordo com o seu princípio de funcionamento:
reunindo-se desta forma a central e o painel de operação • Passivos, que funcionam como receptores e que através
num só equipamento. No entanto, o mais vulgar é que a de um sensor, registam alterações na sua área de
central e os painéis se encontrem separados, sendo estes cobertura. São exemplo deste tipo de detectores, os
interligados e instalados em diversos locais da instalação. detectores passivos de infravermelhos, detectores
acústicos de quebra de vidros e os detectores sísmicos.
O acesso aos Painéis de Operação deve ser protegido por • Activos, que funcionam como um transmissor e um
códigos de segurança, que inibam as entradas indevidas no receptor, sendo que o transmissor envia um sinal ao
sistema. Normalmente, existem códigos diferenciados para receptor, que o recebe e avalia, determinado nível de
“Código Mestre”, que tem acesso a todas as funções, com variação em relação a um valor padrão origina o envio de
excepção da programação do sistema, “Código Engenheiro”, um sinal para a central. Transmissor e receptor, podem
com acesso à programação e testes do sistema e “Códigos de constituir elementos separados, ou estar incluídos numa
Utilizador” que usualmente tem acesso a armar e desarmar o mesma unidade. São exemplo deste tipo de detectores,
sistema, leitura de incidências, alarme parcial e inibição de as Barreiras de infravermelhos, os detectores ultra-
zonas. sónicos e os detectores de micro-ondas.

Existe também a possibilidade de, em situações particulares, 2.3.2 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO


permitir o aceso ao sistema através de chave, dispositivo
codificado via rádio ou via infravermelhos.  Detectores Passivos de Infravermelhos

O número de Painéis de Controlo que poderão ser utilizados São os detectores automáticos, mais utilizados, pois
depende das características da CI que estiver a ser utilizada. permitem realizar a protecção de uma forma eficiente em
Sendo Os Painéis de Controlo o interface utilizador/sistema, praticamente todas as situações.
são uma parte importantíssima do sistema. Por isso, deverão
estar localizados em locais com acesso fácil e rápido, dentro O seu princípio de funcionamento baseia-se no facto de
do(s) percurso(s) normais de entrada (entrada principal, todos os elementos (paredes, mobiliário, animais, corpo
garagem, etc. ), de forma a que o tempo necessário para humano, etc.) irradiarem energia na zona do infravermelho,
activação e desactivação do alarme seja o mais curto de acordo com a temperatura das suas superfícies.
possível.

185
ARTIGO TÉCNICO

Essa energia é recebida por um sensor piroeléctrico colocado O princípio de funcionamento do detector passivo de infra-
no detector, através de zonas de vigilância, criando aquando vermelhos já foi referido anteriormente. Relativamente ao
do arme do sistema uma imagem da quantidade de princípio de funcionamento de um ultra-sónico de
infravermelho no espaço de vigilância. movimento, baseia-se na existência de um transmissor que
envia continuamente ondas sonoras a frequências não
Quando alguém penetra na zona de vigilância do detector, a audíveis para a área de detecção.
temperatura medida sofre alteração, gerando-se então o
sinal de alarme. Um receptor dotado de um microfone, recebe e avalia a
frequência detectada.
A geração do sinal de alarme, é feita pela temperatura
medida e pela taxa de variação desta temperatura. Se algum elemento (pessoa, animal, objecto, etc.), penetrar
na área de protecção do detector, devido ao Efeito Doppler,
Estes detectores, embora sendo os mais baratos, poderão, vai verificar-se um aumento de frequência do sinal emitido,
em certas situações particulares, não garantir o melhor se o intruso se aproximar do detector e uma diminuição,
funcionamento do sistema e provocar alarmes caso se esteja a afastar. O detector ao detectar a alteração
intempestivos, como é o caso da protecção de locais em que da frequência do sinal, gera a informação de alarme.
possam existir fontes de calor (lareiras, radiadores) ou
janelas com a incidência directa do sol que poderão variar  Detectores Acústicos de Quebra de Vidros
bruscamente de temperatura.
Para situações particulares, nomeadamente para protecção
A existência de falsos alarme é um factor decisivo para a periféricam, poderá ser utilizado outro tipo de detectores,
perda de confiança e descrédito no sistema, pelo que deverá sendo os mais usuais os detectores acústicos de quebra de
ser sempre minimizado, através da escolha certa do tipo de vidros.
detector a utilizar, em função das suas condições particulares
de implementação. O seu princípio de funcionamento baseia-se na existência de
uma superfície em contacto com o vidro, por onde são
Assim, em instalações onde se possam verificar qualquer transmitidas a um sensor piezoeléctrico, as vibrações desse
uma das situações anteriormente descritas, recomenda-se a mesmo vidro.
utilização de detectores de dupla tecnologia (Passivos de
Infravermelhos e de Micro Ondas), que permitem minimizar Aquando de uma tentativa de intrusão, quando o vidro se
a possibilidade de falsos alarmes. parte, gera frequências entre os 0,1 MHz e 1 MHz. O sensor
do detector avalia a amplitude, frequência e duração desse
 Detectores de Dupla Tecnologia (Passivos de sinal, gerando o alarme, quando se ultrapassam certos
Infravermelhos e de Micro-Ondas) valores, pré-definidos.

A actuação de um detector de dupla tecnologia, assenta na  Barreiras de Infra-vermelhos


combinação dos dois sinais de alarme, do detector passivos
de Infravermelhos e do detector de micro-ondas, reduzindo São constituídas por um transmissor e um receptor. O
assim o risco dos falsos alarmes anteriormente referidos. receptor emite para o receptor, um feixe de luz na zona do
infravermelho, modulado, para protecção contra luz
exterior.

186
ARTIGO TÉCNICO

O receptor mede a intensidade e frequência do feixe, - Detectores de pressão para vitrinas


podendo ainda medir também a sua fase. - Sistema de protecção de quadros
- Detectores quebra-vidros
Ao haver interposição de um corpo entre o transmissor e o - Detectores de vibrações
receptor, as características do feixe são alteradas ou o feixe é - Detectores de metais
interrompido, o que gera sinalização de alarme. - Sistemas de raio X

São normalmente utilizadas para a vigilância de corredores, De entre este conjunto de detectores, os normalmente, mais
passagens, paredes, janelas, portas, etc.. utilizados são os detectores passivos de infravermelhos e os
detectores de dupla tecnologia (Passivos de Infravermelhos
Existem, também, versões para utilização no exterior, para a e de Micro Ondas), pois permitem realizar a protecção de
realização de uma protecção perimétrica, mas a sua uma forma eficiente em praticamente todas as situações.
utilização pode originar falsos alarmes, por exemplo, devido
à presença de nevoeiro. Contudo, para situações particulares poderá ser utilizado
outro tipo de detectores, sendo os mais usuais os detectores
 Cabo Electrostático Subterrâneo acústicos de quebra de vidros, detectores sísmicos ou
detectores de pressão.
É composto por um par de cabos enterrados, em cuja malha
existem pontos favoráveis ao estabelecimento de um campo Os detectores passivos de infravermelhos, embora sendo
electromagnético (sinal de 40 MHz), que se estabelece ente mais baratos que os de dupla tecnologia, poderão, em certas
os dois, um o transmissor e outro o receptor. situações particulares, não garantir o melhor funcionamento,
como é o caso da protecção de locais em que possam existir
A entrada de um intruso, provoca alteração no corpo fontes de calor (lareiras, radiadores) ou janelas com a
electromagnético, que conduz á sinalização de alarme. incidência directa do sol que poderão variar bruscamente de
temperatura. Estas condições poderão provocar alarmes
É utilizado para protecção perimétrica, sendo imune aos intempestivos.
fenómenos atmosféricos, como por exemplo o nevoeiro e o
vento. A localização e instalação dos detectores automáticos serão
outros dos aspectos a estudar cuidadosamente, na fase de
 Outros Detectores Automáticos projecto, pois a sua localização será um factor determinante
no correcto funcionamento de todo o sistema.
Além dos detectores anteriormente descritos, ocupam um
lugar privilegiado na detecção de intrusão, existe, no Conforme foi referido, há que analisar potenciais fontes de
mercado uma vasta gama de detectores, nomeadamente, calor que poderão interferir no funcionamento do sensor,
para detecção em condições muito especificas, para as quais causando falsos alarmes. Também a presença de animais e
os detectores anteriormente descritos não são apropriados. as janelas ou vidraças são também aspectos a ter em conta.
Dentre esses detectores destacamos:
- Barreiras de micro-ondas A especificação e instalação de um detector deverá atender
- Detectores ultra-sónicos de movimento aos requisitos mencionados na sua ficha técnica,
- Detectores movimento por microondas nomeadamente, no que se refere à sua área de protecção,
- Detectores sísmicos altura de instalação e distância a outros objectos.

187
ARTIGO TÉCNICO

Normalmente os detectores são instalados a uma altura de Assim, os Contactos Magnéticos e Contactos de Pressão,
2,20 metros e na interligação de duas paredes do volume a além de elementos de detecção poderão, também, ter a
proteger. função acessória de detecção, como complemento à
detecção realizada pelos detectores automáticos. No caso de
Relativamente à sua ligação, os detectores possuem a entradas/saídas deverão, assim, ser utilizados os contactos
ligação da alimentação vinda da CI, três contactos de ligação de alarme nas portas para definição da temporização da
do relé de alarme, “Comum”, “Normalmente Aberto” e zona de entrada/saída de forma a que os detectores
“Normalmente Fechado” que irão mudar de estado em caso automáticos dessa zona só tenham uma temporização de
de intrusão e comunicar esse alarme à CI e ainda um actuação se antes for actuado o contacto da porta. Este
contacto de tamper que se destina a impedir a sabotagem procedimento visa garantir que se a zona de entrada/saída
do detector, quando o sistema se encontra em não for a definida previamente (por exemplo se uma janela
funcionamento “modo dia” e por conseguinte com a for arrombada) o sistema instantaneamente dê o alarme,
informação de alarme inibida na CI. minimizando os efeitos da tentativa de intrusão ou da
intrusão.
2.4 CONTACTOS DE ALARME
2.5 BOTÕES MANUAIS E PEDAIS DE ALARME
São, normalmente, utilizados para realizar uma protecção
localizada em portas, janelas ou objectos, como Os Botões e Pedais de Alarme são elementos
complemento à protecção volumétrica de interior, realizada complementarres de protecção, de actuação manual, de
pelos detectores automáticos de intrusão. complemento à detecção realizada pelos outros elementos
de detecção, cuja actuação será realizada pelos próprios
São baratos e não provocam falsos alarmes. utilizadores do sistema em caso de necessidade, por pânico
ou emergência, mesmo quando o sistema se encontra
2.4.1 CONTACTOS MAGNÉTICOS desarmado.

São constituídos por um magnete permanente e por um São dispositivos que quando pressionados, actuam um
interruptor. Quando o magnete está posicionado junto ao contacto que vai gerar o alarme.
interruptor, este está fechado, não havendo alarme, se o
magnete se afastar, o interruptor abre, gerando alarme. São elementos acessórios de protecção, de actuação manual,
de complemento à detecção realizada pelos outros
2.4.2 CONTACTOS DE VIGILÂNCIA elementos de detecção, cuja actuação será realizada pelos
próprios utilizadores do sistema em caso de necessidade.
São constituídos por um micro-interruptor, que quando
pressionado, mantém o circuito fechado, não existindo 2.6 OUTROS INPUTS
alarme. Se deixar de existir esta pressão, ele abre, gerando o
alarme. Além dos detectores automáticos, contactos de alarme e
botões e pedais de alarme o sistema pode receber outros
Os contactos de alarme são normalmente utilizados para tipos de informações, caso o utilizador entenda poderem
realizar uma protecção localizada em portas, janelas ou servir de complemento aos elementos descritos.
objectos e definir temporizações para actuação dos
detectores localizados nos percursos de entrada/saída.

188
ARTIGO TÉCNICO

2.6 SINALIZADORES DE ALARME - Se pretender alertar os proprietários quando estes se


encontrem ausentes
Existem, basicamente, dois tipos de sinalizadores de alarme: - Se pretenda a realização de um contrato de vigilância
os sinalizadores óptico-acústicos auto-alimentados de com uma empresa de segurança
exterior e os sinalizadores acústicos de interior. - Se pretenda a comunicação da intrusão ou da tentativa
de intrusão às forças policiais.
Existem em diversas formas, tamanhos e cores e a sua
finalidade é, em caso de alarme, emitirem sinais sonoros Assim, esta sinalização poderá ser realizada recorrendo a
e/ou luminosos, sinalizando assim uma situação meios de transmissão do alarme, dos quais destacamos:
potencialmente anormal.
• Comunicador telefónico
Os sinalizadores de alarme óptico-acústicos auto-
alimentados de exterior têm como função dar um alarme no É o meio mais generalizado e económico de transmissão do
exterior das instalações para que alguém possa tomar alarme à distância. Em caso de alarme a Central de Intrusão
conhecimento do alarme e agir em conformidade com essa envia um sinal ao comunicador telefónico que
mesma situação. Deverão ser instalados em locais bem posteriormente efectua uma ou várias chamadas telefónicas
visíveis e de difícil acesso. Na maioria das instalações é para números pré-definidos para transmissão da informação
suficiente a instalação de um destes dispositivos. de alarme. Desta forma, se existir um alarme, o cliente será
alertado pelo próprio sistema, podendo assim tomar a
Para sinalização do alarme no interior da instalação deverá atitude que considerar mais adequada (telefonar à polícia,
ser prevista a colocação de sirenes interiores, devidamente alertar o vizinho, etc.).
distribuídas, para que o alarme seja audível em todos os
locais da instalação. • Sistema Transmissor/Receptor

A instalação de um alarme sonoro, pressupõe a Declaração É um sistema para aviso à distância de qualquer situação de
de Instalação de Alarme Sonoro, nos termos do DL 297/99, alarme ou avaria, via par telefónico privativo. Embora exija
de 04 de Agosto, que refere que após a instalação do sistema uma linha telefónica dedicada, pode em algumas
de alarme sonoro, e antes da sua colocação em circunstâncias, ser mais fiável do que o comunicador
funcionamento, o proprietário ou o utilizador deverá telefónico, pois não há forma de interromper o sinal sem
proceder à entrega da Declaração de Instalação de Alarme que tal seja detectado.
Sonoro, devendo para isso dirigir-se ao Governo Civil do
Distrito onde foi instalado o alarme e entregar a respectiva É constituído por um órgão emissor de sinal instalado junto
declaração. da Central de Intrusão e por uma unidade receptora
instalada na entidade receptora de alarmes.
2.7 SINALIZAÇÃO DE ALARME À DISTÂNCIA
O órgão receptor é alimentado pelo órgão emissor via par
Tão importante como o alarme local poderá ser a telefónico privativo, o qual tem energia de socorro garantida
transmissão à distância desse alarme. pela Central de Intrusão. Incorpora, ainda, uma bateria
alcalina para que, em caso de corte de linha telefónica,
A sinalização do alarme à distância dever-se-á utilizar nas sinalize óptica e acusticamente a situação. Dispõe, também,
seguintes situações: de um botão de impulso para paragem do acústico.
- A instalação se encontrar isolada

189
ARTIGO TÉCNICO

De acordo com o tipo de comunicador utilizado as Além dos meios de sinalização de alarme descritos, podemos
necessidades ao nível do projecto serão: ter outros tipos meios, ou o desencadear de outro tipo de
- Utilização da rede fixa acções, caso a instalação assim o exija.
Prever a existência de um comunicador e uma linha
telefónica 2.8 ALIMENTAÇÃO
- Utilização da rede móvel
Prever a existência de um comunicador de GSM A alimentação de energia eléctrica do sistema em condições
- Utilização de um sistema emissor/receptor normais de funcionamento deverá ser realizada através da
Prever a existência de uma linha dedicada e um sistema rede de energia eléctrica devendo para o efeito ser prevista
emissor/receptor uma alimentação vinda do Quadro Eléctrico da instalação.

Estes sistemas de transmissão de alarme à distância são O sistema deverá ainda ter uma alimentação própria de
normalmente colocados junto da central de detecção de emergência que garanta o seu funcionamento em caso de
intrusão, em zona técnica prevista para esse efeito. falha da alimentação normal da rede.

Figura 2 – Equipamento diverso de um sistema de detecção automática de intrusão

190
ARTIGO TÉCNICO

2.9 CABLAGEM dos cabos possuam cerca de 20 cm excedentes, para


realização das respectivas ligações.
O tipo e número de condutores a utilizar para a interligação
dos diversos equipamentos anteriormente apresentados, Igualmente, deverão ser previstas pontas com o
dependerá do tipo de equipamento que estiver a ser comprimento suficiente para a realização das cablagens no
utilizado e, por conseguinte, deverá ser verificado nos interior da CI, considerando que a sua base se deve situar a
manuais de instalação dos equipamentos disponibilizados 1,40 metros do solo.
pelos fabricantes dos mesmos.
Não são permitidas emendas entre condutores nos
No entanto, é usual a utilização dos seguintes condutores: percursos entre equipamentos e entre estes e a CI, devendo
as interligações entre aqueles equipamentos ser realizadas
- Painéis de Comando unicamente a partir dos terminais existentes nas respectivas
Cabos do tipo TVHV, JY(st)Y, ou equivalentes, com bases para esse efeito, não devendo se usadas caixas de
condutores de secções de 0,5 ou 0,8 mm2. Como exemplos derivação, mas apenas caixas de passagem, quando
teremos os cabos TVHV 6x2x0,5 mm2 ou JY(st)Y 3x2x0,8 necessárias.
mm2.
Deverá ser prevista uma alimentação de energia eléctrica
- Rede de distribuição de detectores automáticos monofásica, para a CI, realizada, normalmente, em condutor
Cabos do tipo TVHV, JY(st)Y, ou equivalentes condutores de H07V-U3G1,5mm2.
secções de 0,5 ou 0,8 mm2. Como exemplos teremos os
cabos TVHV 3x2x0,5 mm2 ou JY(st)Y 2x2x0,8 mm2. 3 INTEGRAÇÃO DE VALÊNCIAS NO SISTEMA AUTOMÁTICO DE

DETECÇÃO DE INTRUSÃO

- Sirene auto-alimentada de exterior


Cabos do tipo TVHV, JY(st)Y, ou equivalentes, com Cada vez mais os edifícios são centros integrados de
condutores de secções de 0,5 ou 0,8 mm2. Como exemplos tecnologia e sistemas, que visam dar resposta aos requisitos
teremos os cabos TVHV 6x2x0,5 mm2 ou JY(st)Y 3x2x0,8 de segurança, de funcionalidade, fiabilidade, flexibilidade,
mm2. eficiência energética, conforto e de integração, requiridos na
sua utilização, mas nos quais a redução dos custos de
- Sirene acústica de interior execução e exploração são cada vez mais determinantes no
Cabos do tipo TVHV, JY(st)Y, ou equivalentes, com sucesso dos mesmos.
condutores de secções de 0,5 ou 0,8 mm2. Como exemplos
teremos os cabos TVHV 3x2x0,5 mm2 ou JY(st)Y 2x2x0,8 As moradias não fogem à regra desta evolução, tendo, cada
mm2. vez mais, uma participação activa na vida das pessoas, sendo
cada vez maiores as exigências nos domínios referidos.
Estes circuitos deverão ser, normalmente, enfiados em tubo
VD, embebidos em paredes, tectos e pavimento, à vista em Neste sentido, no que se refere à segurança, a protecção de
abraçadeiras em zonas técnicas, à vista em abraçadeiras pessoas e bens numa moradia não se deve, nem pode,
sobre tectos falsos, se acessíveis, ou em calha técnica, de circunscrever somente à protecção contra tentativas de
acordo com as característicasda instalação em causa. intrusão, mas também outras áreas importantes como a
detecção de incêndio, inundação, gases combustíveis e
Nos locais de montagem dos detectores, sirenes de alarme e monóxido de carbono.
painéis de comando, deverá prever-se que as extremidades

191
ARTIGO TÉCNICO

A crescente utilização do gás como fonte de energia, quer Essa ou essas zonas da central d eintrusão, deverão ser
para fogões, quer para aquecimento de água e aquecimento programadas como zonas de fogo. Desta forma, conseguir-
ambiente, implica também o crescente perigo da existência se-á detectar e sinalizar um incêndio na sua fase inicial
de fugas as quais poderão trazer graves consequências quer facilitando, assim, o combate e extinção do mesmo,
para os utilizadores quer para as próprias moradias, pois minimizando os riscos do mesmo.
uma fuga de gás pode conduzir a uma intoxicação ou a uma
explosão. A detecção automática de presença de gás poderá ser
realizada através da colocação de um ou vários detectores
Um outro perigo, que nem sempre é encarado de gás que, encontrando-se interligados a uma ou várias
conscientemente como um perigo real e presente, é o risco zonas da central de intrusão, informam esta da ocorrência de
de incêndio, motivado pela enorme quantidade de uma fuga de gás, a qual realizará a sinalização do alarme.
substâncias combustíveis que se encontram dentro das Adicionalmente, à sinalização do alarme, poderão ser
habitações bem como ao crescente número de desencadeadas acções de comando, nomeadamente o fecho
equipamentos eléctricos que equipam as mesmas. de uma electroválvula de corte de gás.

A possibilidade de ocorrência de inundações devido ao A detecção automática de inundação poderá ser realizada
rebentamento de canos de água ou ao mau funcionamento através da colocação de detectores de inundação nos locais
de equipamentos como máquinas de lavar, máquinas de com maior risco de fugas de água, como casas de banho e
secar ou ainda pelo esquecimento de uma simples torneira cozinhas. A integração desta valência pode ser realizada
aberta, constitui também uma situação de risco. através da utilização de módulos de interface, aos quais são
ligados os detectores de inundação ou através de detectores
Este tipo de situações de risco está sempre presente no de inundação, autonomos, com contacto “seco” de alarme. A
nosso dia-a-dia e, não havendo possibilidade de as excluir, informação de inundação é transmitida a uma ou várias
podemos com a adopção de sistemas adequados criar zonas da central de detecção de intrusão, que sinalizará o
condições para que, caso se verifiquem, sejam detectadas e evento. Em complemento com a sinalização da ocorrência
sinalizadas o mais cedo possível de forma a que os danos poderão ser, também, desencadeadas acções de comando
materiais e pessoais que possam vir a causar sejam como por exemplo o fecho de uma electroválvula de corte
minimizados. da alimentação de água.

Para que se consiga alcançar esse objectivo de forma simples As zonas da central de intrusão previstas para a detecção de
e a baixo custo poder-se-á optar pela integração no sistema presença de gás e inundação deverão ser programadas como
de detecção automática de intrusão das diferentes áreas de zonas “24 horas” de modo a garantir que a protecção se
segurança anteriormente referidas. encontra activa 24 horas por dia, independentemente da
protecção de intrusão se encontrar activada ou desactivada.
A detecção automática de incêndios pode ser integrada
neste sistema mediante a utilização de um ou vários Deste modo consegue-se a integração no sistema de
detectores automáticos de fumos ou termovelocimétricos, detecção automática de intrusão as valências de detecção de
do tipo colectivo, acoplados a uma interface de incêndio, ou incêndio, gás combustível, monóxido de carbono e
através de detectores com contacto “seco” de alarme, inundação de uma forma simples, fiável e económica.
ligados a uma ou várias zonas da central de intrusão.

192
ARTIGO TÉCNICO

4 CONCLUSÕES A consciencialização da necessidade de protecção de pessoas


e bens, a par da evolução tecnológica dos equipamentos,
Este artigo visou abordar aspectos técnicos e conceptuais, ao proporcionam formas eficazes de detecção e sinalização
nível do projecto e da instalação de Sistemas Automáticos de precoce de tentativas de intrusão e, consequentemente, a
Detecção de Intrusão. protecção dos bens materiais das populações.

A escolha e implementação destes sistemas são, hoje em Embora estes sistemas representem um pequeno custo
dia, um elemento dissuasor e inibidor da criminalidade adicional ao valor global da instalação deverá ser sempre
contra pessoas e bens. equacionada a sua instalação uma vez que é relativamente
diminuto quando comparado com os potenciais prejuízos
Actualmente, existe uma panóplia de sistemas e decorrentes dos actos que o sistema pretende evitar.
equipamentos em que a sua correcta utilização e instalação
requer, à priori, uma colaboração estreita com técnicos Salienta-se ainda que sempre que se vai projectar, construir
devidamente credenciados, nomeadamente Engenheiros ou remodelar uma moradia, além da consideração no
Electrotécnicose empresas especializadas neste sector. sistema de detecção automática de intrusão, da função
detecção de intrusão, é fundamental a integração de outras
A escolha do melhor sistema e equipamentos requer uma valências de segurança, como a detecção de incêndio, gases
análise cuidada das pretensões do requerente, bem como combustíveis, monóxido de carbono e inundação.
das especificidades próprias da instalação.
Essa integração pode ser realizada de uma forma simples e
Assim, cada projecto é tratado individualmente, sendo alvo económica, aumentando significativamente a protecção dos
de uma análise cuidada por parte dos técnicos utilizadores das instalações e a salvaguarda dos seus bens.
especializados, podendo diferir dos demais projectos.

193
DIVULGAÇÃO

LABORATÓRIO DE DE ENERGIAS RENOVÁVEIS


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELECTROTÉCNICA
INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DO PORTO
O Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) possui desde 2008 um laboratório de energias renováveis (LABNER)
composto por um sistema híbrido de produção de energia em rede isolada. O sistema é constituído por um aerogerador de 900
W e 4 painéis fotovoltaicos de 150 Wp cada, estando o sistema fotovoltaico equipado com um sistema capaz de fazer o
seguimento solar de forma mono axial. Possui também todo o equipamento de regulação e controlo necessário ao
funcionamento de cada um dos sistemas, criando assim uma micro rede a funcionar de forma isolada.

Para além do sistema híbrido eólico/fotovoltaico, o laboratório de energias renováveis do ISEP possui uma bancada de fuel cels
onde é possível fazer experiências com esta tecnologia.

|194
194
ARTIGO TÉCNICO

Energias Renováveis

Após o reconhecido sucesso da publicação das anteriores seis edições da Revista Neutro à Terra esta sétima edição reúne os
artigos técnicos publicados nas diversas áreas, e, naturalmente, também na área das Energias Renováveis.
A utilização das energias renováveis foi uma das maiores apostas dos últimos anos constituindo, por isso, um sector estratégico
para a economia portuguesa.
As formas alternativas de produção de energia eléctrica dominam a actualidade sendo, cada vez mais, temas de investigação e
projecto no âmbito da Engenharia Electrotécnica. Neste âmbito, são apresentados um conjunto de artigos técnico-científicos
sobre os sistemas de conversão de energia mais relevantes, nomeadamente energia eólica, fotovoltaica e hídrica.
A legislação que regula este sector é também alvo de análise nos diversos artigos publicados.

195
ARTIGO TÉCNICO

Índice

Centrais Fotovoltaicas para a Microprodução 197


Roque Filipe Mesquita Brandão
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009

Dimensionamento de Centrais Fotovoltaicas para a Microprodução 204


Roque Filipe Mesquita Brandão
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010

Tipos de Tecnologias de Turbinas utilizadas nas Centrais Mini-Hídricas 209


Pedro Daniel S. Gomes , Pedro Gerardo M. Fernandes , Nelson Ferreira da Silva
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010

196
ARTIGO TÉCNICO Roque Filipe Mesquita Brandão
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009

Centrais Fotovoltaicas
para a Microprodução
1. Enquadramento e reflecte-se no ambiente, devido à produção crescente de
Gases com Efeito de Estufa (GEE).
Portugal, produz apenas uma pequena parte da energia que
consome, toda a restante energia consumida é importada. No ano de 2008 a potência instalada em Portugal era de
14916 MW, sendo que 30,7% dessa potência é da
Portugal apresenta uma forte dependência energética do responsabilidade das centrais hidroeléctricas, 39,01% da
exterior, das maiores da UE. responsabilidade de centrais termoeléctricas e 30,29% é
referente a produção em regime especial (P.R.E.). De entre
Não explorando quaisquer recursos energéticos fósseis no os P.R.E. destacam-se os 2624 MW da responsabilidade de
seu território desde 1995 (quando deixou de extrair carvão), produtores eólicos e apenas 50 MW instalados em sistemas
a sua própria produção de energia assenta exclusivamente fotovoltaicos[1].
no aproveitamento dos recursos renováveis, como sendo a
água, o vento, a biomassa e outros em menor escala. No entanto Portugal, à excepção do Chipre, tem a melhor
insolação anual de toda a Europa, com valores 70%
Esta situação tem consequências directas na nossa superiores aos verificados na Alemanha. Esta diferença leva
economia, uma vez que o custo dos combustíveis fósseis a que o custo da electricidade produzida em condições
importados encarece a produção de bens e serviços em idênticas seja 40% menor em Portugal. Este aspecto é uma
território nacional. Para além disso tem também implicações enorme vantagem que tem de ser capitalizada.
sociais, pois representa custos acrescidos para o consumidor

Fig.1 Irradiação solar (kWh/m2)

197
ARTIGO TÉCNICO

2. Produção Descentralizada Entre 1990 e 1995 promoveu um programa de instalação de


painéis fotovoltaicos ligados à rede em 1.000 telhados, vindo
Em Portugal, a produção de energia eléctrica através de a atingir a marca de 2.250 equipamentos, com potência
instalações de pequena escala, utilizando fontes renováveis média de 2,6 kWp por telhado, abrangendo mais de 40
de energia ou processos de conversão de elevada eficiência cidades. Este projecto foi um sucesso, o que deu origem a
energética, pode contribuir para uma alteração do panorama um novo programa. O “100.000 telhados solares” foi
energético português, de forte dependência do exterior. lançado, com o objectivo de alcançar 500 MW de geração de
energia solar [2]. No final de 2008 a Alemanha tinha mais de
Com a entrada em vigor do Decreto-Lei nº 363/2007 de 2 de 5GW de potência instalada de origem fotovoltaica,
Novembro, cujo objecto é o de estabelecer o regime jurídico apresentando taxas de crescimento de 1,5 GW/ano.
aplicável à produção de electricidade por unidades de
microprodução, a produção descentralizada, nomeadamente 3. Componentes de uma Central Fotovoltaica
a produção através de centrais fotovoltaicas, atingiu uma
grande dinâmica. Como o dimensionamento de centrais de microprodução
fotovoltaicas é um assunto ainda novo mas em rápida
Com a produção mais próxima dos locais de consumo evolução, nomeadamente em termos de necessidade de
energético consegue reduzir-se os custos de transporte e instalação, a formação de todos os agentes envolvidos no
distribuição, permitindo a autonomia e redundância processo é ainda uma lacuna.
energética.
É normal verem-se cometidos alguns erros de
Com a ligação destes equipamentos de produção às redes de dimensionamento, instalação e operação dos sistemas.
baixa tensão, o paradigma do sistema energético muda.
Aspectos como a localização, a escolha do inversor, a escolha
As redes de baixa tensão passam a assumir um protagonismo do tipo de painel fotovoltaico a instalar, o estudo da
cada vez maior em termos da obtenção de uma maior estrutura de suporte, a análise da potência à entrada (DC) e a
eficiência económica e energética. injectar (AC) e a simulação do sistema antes da instalação
A nível mundial também há a preocupação da produção são muitas vezes descurados pelos técnicos e projectistas,
descentralizada, salientando-se a Alemanha que foi um dos mas que assumem uma importância extrema para que o
países pioneiros na utilização da energia fotovoltaica sistema escolhido funcione nas condições óptimas.
distribuída.

Fig.2 Microprodução descentralizada

198
ARTIGO TÉCNICO

a) Localização direcção do Sul e a projecção da linha do sol, próximo do


intervalo compreendido entre 150° Este e 208° Oeste.
O sistema fotovoltaico pode ser instalado em qualquer
superfície com boa exposição solar. O mesmo se passa se em vez de se analisar a radiação, se
analisar a energia recebida. É facilmente perceptível pela
Para optimizar o rendimento do sistema fotovoltaico, este é figura 4 que o ponto de orientação em que a energia
adaptado às características arquitectónicas do edifício, recebida é maior é com uma inclinação de 30° e orientada a
podendo ser instalado em telhados inclinados ou planos, Sul. No entanto é possível com uma inclinação e orientação
integrados nas fachadas ou em campo aberto. A orientação diferentes obter a mesma energia.
dos painéis também é um aspecto muito importante. Como
Portugal está situado no hemisfério Norte a orientação ideal
é voltada para sul.

A localização da instalação é muito importante para se poder


realizar um projecto mais coerente e real. Cada local tem
uma incidência do sol distinta, alterando assim a produção
de energia eléctrica.

O estudo realizado na Alemanha, no Institut für Solare


Energiesysteme (ISE), em Fraunhofer [3] consegue dar uma
perfeita noção da variação da radiação solar com o ângulo de Fig. 4- Variação da energia produzida.

inclinação e a sua orientação (figura 3). De salientar que o


referido instituto trabalha no estudo de sistemas b) Inversor

fotovoltaicoshá mais de 20 anos.


Nos sistemas conectados à rede, a corrente DC produzida

A radiação tem o seu ponto máximo de incidência quando pelos painéis fotovoltaicos não pode ser ligada directamente

orientado a Sul com uma inclinação de 30°, mas consegue-se à rede eléctrica.

ter praticamente a mesma radiação com variações de ângulo


de inclinação entre aproximadamente os 17° e os 43°, bem Para tal existem equipamentos, denominados por

como um ângulo azimutal, isto é, ângulo formado entre a inversores, que fazem a conversão de corrente contínua em
corrente alternada, com características similares à da rede
eléctrica, no que diz respeito à tensão, frequência, forma de
onda, distorção harmónica, etc.

Os inversores, como qualquer outro componente de um


sistema fotovoltaico, devem dissipar o mínimo de potência,
produzir uma tensão com uma taxa de distorção harmónica
baixa e em sincronismo com a rede eléctrica, quando o
sistema estiver conectado à rede.

Fig. 3 – Variação da Radiação solar kWh/m2

199
ARTIGO TÉCNICO

No caso de inversores conectados à rede eléctrica, estes


podem ser classificados em dois tipos, os que são comutados
pela própria rede, que utilizam o sinal da mesma para se
sincronizarem e os auto-comutados, onde um circuito
electrónico no inversor controla e sincroniza o sinal ao sinal
da rede.

Um dos critérios mais importantes na escolha do inversor é o


seu rendimento. Sendo este o elemento que converte a
energia continua vinda dos painéis fotovoltaicos em energia Fig. 5- Inversor de rede
alternada, quanto maior for o seu rendimento menores
serão as perdas da conversão.
Algumas marcas desenvolveram inversores específicos para c) Painel Fotovoltaico
serem usados em Portugal, no entanto deverá ser escolhido
um inversor com um rendimento superior a 95%, com A escolha dos painéis fotovoltaicos a instalar deve atender a
invólucro resistente (aconselhável IP 65) e com um bom vários factores, o primeiro deles é o custo por Wp.
sistema de refrigeração.
O site www.renovaveisnahora.pt disponibiliza uma lista de Com a elevada concorrência que existe hoje em dia no
inversores que se encontram certificados em Portugal. O mercado, uma análise atenta aos painéis disponíveis poderá
produtor pode instalar um outro inversor, mas a certificação trazer alguns ganhos nos custos de aquisição. No entanto,
da instalação ficará pendente até ser apresentado o factores como o rendimento e o espaço disponível para a
certificado de conformidade do equipamento. instalação, são também aspectos a ter em conta aquando da
escolha dos painéis fotovoltaicos a instalar.
Existem vários aspectos condicionantes da escolha dos
inversores, mas no caso da microgeração um dos maiores Outro aspecto importante na escolha dos painéis
factores que limitam a escolha dos inversores e o fotovoltaicos, são as perdas por efeito de “mismatch”. Estas
rendimento do sistema são as perdas por “mismatch”. A perdas são causadas pela interligação entre as células solares
tensão DC máxima permitida à entrada do inversor, a ou entre os painéis que não possuem características iguais,
corrente máxima, o número de seguidores MPP e o número ou estão sujeitas(os) a condições diferentes. Estas perdas são
máximo de “strings” permitidas pelo inversor, importante um sério problema nos painéis fotovoltaicos pois, a saída
para limitar a influência das perdas por mismatch, são deste vai ser limitada pela célula ou células com as condições
também dados que assumem elevada importância aquando mais desfavoráveis.
da selecção do inversor a aplicar na instalação.

Fig. 6 – Efeito do sombreamento nos sistemas fotovoltaicos.

200
ARTIGO TÉCNICO

Este fenómeno também acontece na interligação entre Um outro aspecto importante, no caso de instalação em
painéis, sendo a série de painéis limitada em corrente pelo telhados é o peso do sistema. É preciso garantir que o peso
painel que tem menor valor de corrente e em tensão pelo da estrutura, painéis e inversor não causem colapso da
menor valor de tensão das “strings” ligadas em paralelo. estrutura do edifício.

Por exemplo quando um painel de uma “string” está coberto Se a opção da central passar pela instalação de seguidores
por sombras, o valor da corrente da série de painéis em que solares, para movimentação mono axial ou bi axial, a
este está colocado vai ser limitado pela corrente deste, logo estrutura de suporte terá que ser dimensionada para
fica limitada a potência da série. permitir a instalação dos motores necessários à realização
das deslocações. Embora haja estudos que garantam ganhos
Desta forma a potência superior produzida pelos painéis não de produção na ordem dos 25% com a instalação de sistemas
atingidos pelo sombreamento tem de ser dissipada o que dotados de seguidores solares, questões como o aumento da
leva a que existam locais nos painéis em que a dissipação de manutenção do sistema terão que ser ponderadas.
potência provoca aquecimento que pode danificar
irreversivelmente um painel. A resistência aos ventos é também uma característica a ter
em conta no dimensionamento da estrutura de suporte.
Normalmente as estruturas são dimensionadas para suportar
ventos até 150 Km/h e por isso nenhum dos apoios da
estrutura de suporte deverá ter menos de 10 cm² de
superfície.

Fig. 7 – Sombreamento de painéis

d) Estrutura de Suporte

As estruturas de suporte são fundamentais para a instalação


de uma central fotovoltaica, exigindo algum cuidado na
escolha de entre as diversas variedades disponíveis no
mercado.

Uma análise cuidada ao local de instalação da central para


aferir se o terreno é regular ou irregular, ou no caso de ser
para instalação em telhado se ele é inclinado ou não, é
essencial para o correcto dimensionamento da estrutura de
suporte. Fig. 8- Exemplos de estruturas de suporte

201
ARTIGO TÉCNICO

e) Potência DC Vs Potência AC Com este software é possível simular o funcionamento da


central e aferir qual o melhor posicionamento dos painéis
Os painéis fotovoltaicos são caracterizados pela sua potência por forma a minimizar o efeito do sombreamento e a
nominal máxima. maximizar a energia produzida.

Essa potência, que obrigatoriamente deve constar na ficha


técnica do produto, é obtida em condições STC (Standard
Test Conditions), ou seja, com uma radiação de 1000 W/m2,
25° C e AM=1,5.

Como essas condições quase nunca não se verificam em


condições reais de instalação e como existem perdas nos
equipamentos, é aceitável fazer-se um
sobredimensionamento da potência instalada por forma a se
ter disponível na saída a máxima potência permitida para a
instalação.

Em instalações reais é normal sobredimensionar-se o


número de painéis a instalar, como forma de compensar este
efeito.

No entanto, é preciso ter algum cuidado com o


sobredimensionamento por forma a não se ultrapassar a
máxima potência permitida à entrada do inversor.

f) Simulação
Fig.9 – Exemplo de dados obtidos do simulador

A simulação do sistema dimensionado e a análise dos


relatórios produzidos pelo simulador deverão assumir Informação sobre a energia prevista ser produzida e sobre as
importância crucial pois, é possível inferir daí informações perdas do sistema, são também informações muito
sobre a viabilidade técnica e económica do projecto. importantes de analisar porque são informações válidas para
o cálculo dos indicadores de viabilidade económica do
Existem inúmeros simuladores disponibilizados no mercado, projecto em estudo.
uns em versão freeware, outros em que é necessária licença Um outro indicador importante dado pelo software é o
de instalação e utilização. Performance Ratio (PR) do sistema fotovoltaico. Este
indicador dá informação sobre a relação de energia
Um dos programas mais completos é o PVSyst [4]. efectivamente produzida pelo sistema e a energia que seria
Desenvolvido pelo Institut of Environmental Sciences da produzida por um sistema “ideal”, a trabalhar nas condições
Universidade de Genebra, este software permite o estudo, STC. De salientar que sistemas com PR superiores a 70%
dimensionamento, simulação e análise de dados de podem já ser considerados eficientes.
projectos fotovoltaicos.

202
ARTIGO TÉCNICO

Normalmente este tipo de softwares disponibiliza uma base comercializadores e instaladores deste tipo de sistemas de
de dados muito completa sobre as condições meteorológicas produção de energia.
dos diversos locais do planeta e possui informação sobre as
características dos componentes dos inúmeros fabricantes Neste artigo foram abordados os aspectos aos quais se deve
existentes no mercado. dar atenção aquando do dimensionamento de centrais
fotovoltaicas.
A qualidade e fiabilidade dos resultados obtidos pela
simulação tornam esta ferramenta indispensável no Dada a necessidade de se projectar e instalar estes sistemas
dimensionamento deste tipo de sistemas. com a máxima rapidez, alguns dos assuntos aqui abordados
são descurados na prática. No entanto, ficou provada a
necessidade de um estudo cuidado de todos os
componentes do sistema pois só assim se consegue obter o
máximo proveito das instalações.

5. REFERÊNCIAS

[1] REN, Dados Técnicos Electricidade, Valores provisórios


2008
[2] WAED, www.localpower.org
Fig. 10 - Energia produzida/ perdas mensais [3] Burger, Bruno, “Auslegung und Dimensionierung von
Wechselrichtern für netzgekoppelte PV-Anlagen”, ISE,
4. CONCLUSÕES www.ise.fraunhofer.de
[4] PVsyst, www.pvsyst.com
Dado o recente aumento de instalações de microprodução,
nomeadamente de centrais fotovoltaicas, e a rápida
evolução que se tem verificado nesta área obrigam a uma
cada vez maior necessidade de formação dos projectistas,

203
Roque Filipe Mesquita Brandão ARTIGO TÉCNICO
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010

DIMENSIONAMENTO DE CENTRAIS FOTOVOLTAICAS


PARA A MICROPRODUÇÃO

1 INTRODUÇÃO Considerando que os painéis fotovoltaicos, por si só, já


possuem rendimentos bastante baixos, a optimização do
Desde que foi publicado o Decreto-Lei nº 363/2007 de 2 de rendimento das instalações é um factor que assume uma
Novembro, que tem por objecto estabelecer o regime importância extrema. Para apoio dos projectistas, existem
jurídico aplicável à produção de electricidade por intermédio diversos softwares de simulação que dão uma ajuda
de unidades de microprodução, este tipo de instalações de importante sobre a viabilidade técnica e económica dos
pequena potência tem aumentado muito em Portugal. Dos projectos. No entanto é necessário também ter
diversos tipos de energia renovável previstos no referido conhecimento sobre dois factores importantes que
Decreto-Lei, tem sido a energia solar a que mais tem influenciam o rendimento dos painéis fotovoltaicos,
motivado os utilizadores a instalarem centrais de nomeadamente a temperatura e os sombreamentos.
microprodução. A este facto não é com certeza alheia a tarifa Nos módulos cristalinos o efeito da temperatura faz-se sentir
aplicável à energia produzida através desta fonte de energia, com mais intensidade do que nos módulos de silício amorfo.
à qual é aplicável 100% da tarifa de referência. A temperatura tem um efeito importante sobre a tensão do
A tabela 1 apresenta as instalações e as diversas potências módulo, não se fazendo sentir muito sobre a corrente. Ao
de centrais de microprodução com origem em fontes haver redução do valor da tensão continuando o valor da
renováveis registadas e instaladas desde a saída do Decreto- corrente quase inalterado, a potência do módulo diminui.
Lei.
Tabela 1 - Instalações de microprodução [Fonte: www.renovaveisnahora.pt]

Dos valores apresentados na tabela anterior, mais de 90% Como se pode ver na figura 1, a tensão baixa muito com o
são referentes a centrais fotovoltaicas, por esse motivo o aumento da temperatura. O factor de variação da tensão
elevado número de instalações justifica a importância do com a temperatura é uma das características que deve ser
correcto dimensionamento das mesmas. indicada na ficha de características dos painéis fotovoltaicos
No número anterior da revista Neutro à Terra foi feita uma e que por isso não deve ser descurada.
abordagem aos equipamentos que se devem usar no
dimensionamento de uma central fotovoltaica, neste artigo
será feito um exemplo prático de aplicação da metodologia
de dimensionamento.
.
2 FACTORES QUE INFLUENCIAM O RENDIMENTO DAS CENTRAIS

Quando se pretende dimensionar uma central fotovoltaica é


necessário ter em consideração diversos factores que podem
influenciar o rendimento das instalações. Figura 1 - Efeito da temperatura na curva I-V

204
ARTIGO TÉCNICO

O aumento da temperatura pode ser responsável também


pelo aparecimento de falhas e degradação dos módulos,
devido à dilatação dos materiais.

Figura 4 - Módulo destruído

Fazendo uma simulação do efeito do sombreamento nas


Figura 2 - Termografia de
. um módulo fotovoltaico curvas I-V e P-V e determinando o ponto de máxima
Devido à constituição física dos módulos fotovoltaicos, o potência é possível ter uma ideia do efeito que
sombreamento é também um problema importante. Os sombreamento tem nos módulos. A figura 5 mostra as
módulos fotovoltaicos são constituídos por um certo número referidas curvas num painel sem sombras e a figura 6 mostra
de células em série, normalmente 60 ou 72. Como cada o desempenho do mesmo painel com cerca de 60% de área
célula gera um valor de corrente de cerca de 7 A e uma sombreada.
tensão de 0,5 V, ao serem colocadas em série produzem-se
módulos com uma corrente igual à corrente de uma célula e
um valor de tensão resultante da soma da tensão de cada
célula. Quando uma célula está sombreada, a fonte de
corrente extingue-se e comporta-se como uma resistência
que é atravessada pela corrente produzida pelas outras
células, ficando sujeita a uma tensão inversa e provocando
aquecimento que eleva a temperatura para valores que
nalguns casos destroem a célula.
Figura 5 - Curva IV e P-V num módulo sem sombra

Figura 3 - Efeito da sombra nas células

Este fenómeno também acontece na interligação entre


painéis, sendo a serie de módulos limitada em corrente pelo
módulo que tem menor valor de corrente e em tensão pelo
menor valor de tensão das “strings” ligadas em paralelo.
Se os terminais do módulo estiverem ligados, a potência
produzida pelas células sem sombra é dissipada na célula
sombreada criando “hot-spots” que podem levar à Figura 6 - Curva IV e P-V num módulo sem sombreado
destruição do módulo.

205
ARTIGO TÉCNICO

3 EXEMPLO DE DIMENSIONAMENTO rede e por isso o sistema fica isolado e sem possibilidade de
ser utilizado.
Para se fazer um correcto dimensionamento de uma central Para instalações ligadas à rede, é necessária a instalação de
de microprodução fotovoltaica com ligação à rede eléctrica, um inversor de rede que esteja certificado.
é necessário seguir uma série de etapas, enumeradas de No site www.renovaveisnahora.pt está disponível uma lista
seguida: com mais de 160 inversores certificados, por isso aconselha-
1- Análise das condições de terreno e de instalação; se a utilização de um desses equipamentos.
2- Escolha do inversor; Para este exemplo vai ser usado o inversor da marca SMA,
3- Escolha dos painéis; modelo SB 3800/V, com uma potência de saída AC de
4- Determinar o número de módulos e a potência dos 3680 W e um rendimento de 95,6%.
painéis; 3- Escolha dos painéis
5- Determinar o número de módulos por fileira; Existem inúmeros fabricantes de painéis fotovoltaicos
6- Determinar o número mínimo de módulos por fileira; disponíveis no mercado, o que levou a um considerável
7- Definir o número de fileiras em paralelo; abaixamento do preço dos mesmos. No entanto o preço não
8- Apresentar a configuração do sistema; deve ser o factor principal de escolha dos painéis pois,
A potência da central será de 3,68 kWp. factores que têm a ver com a qualidade de fabricação, as
garantias de potência e a certificação dos painéis por
1- Análise das condições de terreno e de instalação entidades reconhecidas são aspectos mais importantes que
A visita ao local de instalação é um factor preponderante o preço por Wp.
para uma correcta instalação da central. Uma análise cuidada Neste caso serão usados painéis de silício monocristalino de
do local de instalação permite verificar se poderão existir 220 Wp ou de 230 Wp, fabricados pela empresa Goosun, que
sombreamentos aos painéis, permite definir a estrutura de estão certificados segundo as normas europeias e
suporte mais adequada e também a configuração da central, internacionais IEC/EN 61215 e cumprem os requisitos da
nomeadamente em termos de número de fileiras de painéis classe de protecção II.
e a sua orientação. Aquando da simulação do sistema, alguns Estes módulos garantem uma potência nominal mínima de
dados necessários introduzir no simulador, são obtidos pela 90% a 10 anos e 80% a 25 anos.
visita ao local, por isso é imprescindível a correcta avaliação Se os módulos estiverem colocados num local com as
das condições de instalação. condições ideais é possível obter deles a sua máxima
2- Escolha do inversor potência, no entanto como na realidade isso não se verifica e
O inversor é o equipamento que converte a energia contínua porque também existem perdas nos equipamentos,
produzida pelos painéis, em energia alternada com nomeadamente no inversor (4,4%) e nos próprios painéis
características similares à da rede eléctrica. É um que têm uma tolerância de ±3 %, é aconselhável instalar uma
equipamento que possui, geralmente, um rendimento potência superior a 3680 kW. No entanto é preciso verificar
elevado e que desempenha um papel fundamental em todo qual a máxima potência DC suportada pelo inversor.
o sistema. Consultando as características do inversor escolhido, o valor
Se o inversor não funcionar, a energia não é injectada na indicado é de 4040 W.

Figura 7 - Características do inversor SMA

206
ARTIGO TÉCNICO

Este é um valor a ter em atenção pois com valores de O limite máximo da tensão de circuito aberto do módulo é
potência de entrada superiores, o inversor desligar-se-á. atingido quando a temperatura é muito baixa (- 10 ºC).
4- Determinar o número de módulos e a potência dos Nessa situação se o inversor sair de serviço, a tensão de
painéis circuito aberto será demasiado elevada para se poder voltar
No ponto 2 indicou-se que se iriam utilizar painéis com a ligar o sistema sem que daí advenham danos para o
220Wp ou 230Wp. inversor. Esta tensão deve ser menor do que a tensão DC
Considerando a potência máxima DC do inversor (4040 W) e máxima admissível do inversor. Limitando o número de
fazendo a divisão dessa potência pela potência dos painéis módulos por fileira consegue-se obter um valor de tensão de
conclui-se: circuito aberto calculado pela associação em serie dos
diversos módulos, que não seja demasiado elevada.
Tabela 2 - Cálculo do número de módulos
A fórmula seguinte permite calcular a tensão de circuito
aberto para uma temperatura de -10 oC, a partir da tensão
do circuito aberto do módulo obtida nas condições de
referência STC.

(1)

Como se pode verificar, o número de módulos de 230Wp é Verificando as especificações técnicas dos módulos
17 que é um número que não se pode distribuir escolhidos para este projecto, verifica-se que a o coeficiente
equilibradamente pelas fileiras. térmico dado pelo fabricante (ΔU) é -0,33%/oC e que Vca(STC)
Como o inversor não permite ligação de fileiras com número vale 35,8 V. Aplicando a equação anterior obtém-se,
de painéis diferentes, ou seja com valor de tensão diferentes
nas fileiras, é necessário reduzir para 16 o número de painéis (2)
de 230Wp, dado que 18 painéis de 230Wp levariam a uma
potência DC de entrada superior a 4040W. O número máximo de módulos por fileira (NMm) é então
obtido através da relação entre a tensão máxima admitida
Tabela 3 - Comparação entre o número de módulos
pelo inversor (VMi) e a tensão máxima de circuito aberto (-
10oC), obtendo-se:

(3)

O resultado obtido informa que deveremos colocar por


fileira, no máximo 10 módulos fotovoltaicos em série.
Como é possível concluir a instalação de 18 módulos de De relembrar que todos os valores necessários ao cálculo são
220 Wp cada é a melhor solução. obtidos através das especificações técnicas dadas pelos
5- Determinar o número de módulos por fileira fabricantes dos equipamentos.
O número de módulos fotovoltaicos a colocar em cada fileira 6- Determinar o número mínimo de módulos por fileira
é limitado pela tensão DC máxima admissível para a ligação No verão verificam-se elevados níveis de radiação e estima-
de módulos em série e pela tensão máxima à entrada do se que os módulos colocados nos telhados podem estar
inversor. sujeitos a temperaturas que poderão atingir os 70 oC.

207
ARTIGO TÉCNICO

Nessas condições o sistema fotovoltaico terá uma tensão aos A configuração do sistema será:
seus terminais inferior àquela que se verifica nas condições Tabela 4 - Configuração final do sistema
de referência STC. Se a tensão do sistema fotovoltaico descer
para valores abaixo da tensão MPP mínima do inversor (Vmi),
a eficiência global do sistema ficará condicionada, podendo
provocar a saída de serviço do inversor. Para evitar este
problema, deve-se calcular o número mínimo de módulos
ligados em série numa fileira.
Analisando as características do inversor verifica-se que Vmi = O esquema da configuração do sistema é apresentado na
200 V e a tensão na máxima potência dos painéis, dada pelo figura seguinte.
fabricante dos painéis, é Vmp = 28,1 V.

(4)

Deste modo o número mínimo de módulos (Nmm) por fileira


é calculado pela relação entre Vmi e Vmp(70ºC)

(5)

7- Definir o número de fileiras em paralelo


O número de fileiras em paralelo está limitado pelo número
de entradas do inversor. No caso do inversor escolhido o
valor é 3. No entanto é necessário verificar se a corrente
máxima do sistema fotovoltaico ultrapassa o limite máximo
da corrente de entrada do inversor (20 A).
O número máximo de fileiras (NMf) deverá ser calculado Figura 8 - Esquema de ligação

através da seguinte fórmula. Apesar de estruturalmente existirem 3 fileiras elas estão


ligadas de forma a que apenas existam 2 fileiras em paralelo.
(6) A colocação das 3 fileiras deveu-se à falta de espaço no local
de instalação para colocar os 9 módulos seguidos.

8- Apresentar a configuração do sistema 4 CONCLUSÕES


Após o cálculo de todos os valores anteriormente
apresentados é necessário fazer um resumo e apresentar a Neste artigo foi apresentado um exemplo de
configuração final do sistema. dimensionamento de uma central de microprodução
- Número máximo de módulos por fileira: 10 fotovoltaica para ligação à rede eléctrica. Falta ainda definir
- Número mínimo de módulos por fileira: 8 todo o cálculo das cablagens DC e protecções que o sistema
- Número de fileiras em paralelo: 2 deverá possuir, mas que não fazia parte daquilo que era
- Total de módulos: 18 pretendido neste artigo. Podendo ser abordado esse tema
numa próxima edição da Revista Neutro à Terra.

208
Pedro Daniel S. Gomes , Pedro Gerardo M. Fernandes , Nelson Ferreira da Silva
ARTIGO TÉCNICO Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010

TIPOS DE TECNOLOGIAS DE TURBINAS


UTILIZADAS NAS CENTRAIS MINI-HÍDRICAS

RESUMO 2 TURBINAS DE ACÇÃO OU IMPULSO

De todos os elementos que constituem uma central mini- Como turbinas de acção para aproveitamentos
hídrica as turbinas e os geradores são os que mais dizem hidroeléctricos de pequena escala, referem-se as turbinas
respeito à engenharia electrotécnica. Este artigo pretende Pelton e Banki-Mitchell, as quais se adequam a uma
apresentar os tipos de turbinas utilizadas nas centrais mini- utilização caracterizada por quedas relativamente elevadas e
hídricas. Estas podem ser classificadas por duas tecnologias baixos caudais [2]. Nestas, a roda é actuada pela água à
distintas: turbinas de acção ou turbinas de reacção. As pressão atmosférica.
turbinas de acção podem ser do tipo Pelton ou Banki-
Mitchell. As turbinas de reacção podem ser do tipo Francis, As turbinas de acção em comparação com as de reacção
Kaplan ou Hélice. apresentam um maior número de vantagens: são mais
tolerantes a areias e outras partículas existentes na água; a
1 INTRODUÇÃO sua estrutura permite maior facilidade de fabrico e melhor
acesso em caso de manutenção; são menos sujeitas ao
De entre os elementos constituintes de uma central mini- fenómeno de cavitação (embora em aproveitamentos com
hídrica, as turbinas são dos equipamentos que mais dizem grandes quedas torna-se difícil evitar tal fenómeno).
respeito à área da engenharia electrotécnica.
Aquando a existência de um dispositivo regulador de fluxo
A escolha da turbina é crucial para o bom rendimento da ou variador do número de jactos, estas possuem um
central e deverá ter sempre em conta três parâmetros: a rendimento mais elevado e uniforme.
queda, o caudal e a potência.
A maior desvantagem das turbinas de acção é que são, na
As turbinas podem ser divididas em turbinas de acção (ou maioria dos casos, desadequadas para aproveitamentos de
impulso) ou de reacção, consoante o seu princípio de pequena queda [4].
operação. Estas são máquinas primárias que têm por missão
converter a energia potencial gravítica e/ou cinética em 2.1 TURBINAS PELTON
energia mecânica e necessitam de uma grande manutenção
periódica uma vez que sofrem um grande desgaste devido à As turbinas Pelton são turbinas de acção porque utilizam a
acção da água. velocidade do fluxo da água para provocar o movimento de
rotação.
A turbina hidráulica corresponde a uma parcela muito
significativa do custo de uma central mini-hídrica pelo que se A sua constituição física consiste num rotor, em torno do
torna essencial e se reveste de particular interesse estudar qual estão fixadas as conchas, por uma tubagem forçada de
criteriosamente qual o tipo de tecnologia de turbina a adução contendo um ou mais injectores e por blindagens
implementar em cada solução [1]. metálicas. O jacto de água que incide nas conchas é
tangencial, motivo que leva a que estas turbinas se
denominem tangenciais. Os injectores podem ser reguláveis.

209
.
ARTIGO TÉCNICO

A figura 1 apresenta o esquema e uma fotografia de uma Estas turbinas apenas apresentam veios horizontais e uma
turbina Pelton no seu campo de trabalho. velocidade de rotação diminuta, sendo frequente a
necessidade de utilização de multiplicadores de velocidade
As vantagens deste tipo de turbinas são a facilidade com que entre elas e os geradores.
se pode trocar peças, a facilidade de reduzir as
sobrepressões nas tubagens e a exigência de pouco caudal. Em máquinas mais sofisticadas alcançam-se eficiências na
A potência mecânica fornecida por estas turbinas é regulada ordem dos 85 % e nas máquinas mais simples na ordem dos
pela actuação nas válvulas de agulha dos injectores [5]. 60 a 75%. A sua eficiência pode ser mantida elevada em
situações de caudal parcial, até cerca de 50% do caudal [6].
As turbinas Pelton podem ser de eixo vertical ou horizontal e Para tal é necessária ou a inclusão de um dispositivo
são utilizadas em aproveitamentos hidroeléctricos repartidor de caudal, que determina que partes da turbina
caracterizados por pequenos caudais e elevadas quedas são usadas ou através da orientação de um direccionador de
úteis. Nos pequenos aproveitamentos hidroeléctricos caudal, que poderá fazer uma gestão do caudal que será
costuma-se utilizar turbinas de eixo horizontal, porque assim turbinado.
utiliza-se um gerador de eixo que tem um custo menor.
É possível afirmar que esta máquina se torna bastante
São caracterizadas por terem um baixo número de rotações, apelativa para aproveitamentos de pequena escala devido a
tendo, no entanto, um rendimento até 93%. dois motivos. Apresenta um design ajustado para uma vasta
gama de quedas e potências, e são de fácil construção. Ao
2.2 TURBINAS BANKI-MITCHELL poderem ser implementadas recorrendo a técnicas simples
de construção tornam-se uma solução interessante para
Este tipo de turbina é usado principalmente na gama de países em desenvolvimento.
baixas potências [3].
O seu design simples torna-a barata e fácil de reparar,
O seu rendimento é inferior aos das turbinas de projecto especialmente no caso de o rotor ser danificado devido ao
convencional, mas mantém-se elevado ao longo de uma elevado stress mecânico a que é sujeito.
extensa gama de caudais. Esta característica torna-a
adequada à operação num espectro largo de caudais.

.
Figura 1 – Turbina Pelton

210
ARTIGO TÉCNICO

As turbinas Banki-Mitchell possuem uma baixa eficiência Nas turbinas de reacção distinguem-se dois grandes grupos:
quando comparadas com outras turbinas, e a elevada perda Turbinas radiais, do tipo Francis, que são turbinas
de queda útil, devido ao espaço entre o rotor e a água a adequadas para operação com condições intermédias de
jusante. Estes factores devem ser tidos em conta quando se queda e de caudal;
lida com quedas baixas ou médias. No caso de altas quedas Turbinas axiais, do tipo Kaplan e Hélice, que são indicadas
as turbinas podem também sofrer problemas de fiabilidade, para funcionamento sob queda baixa e caudais elevados.
devido ao ainda mais elevado stress mecânico a que são
sujeitas. Em comparação com as turbinas de acção, as de reacção
possuem alguns elementos comuns, como a câmara de
Representam uma alternativa interessante para quando se entrada, o distribuidor, o rotor e o difusor. No entanto, o seu
possui água suficiente, necessidades de potência bem fabrico é mais sofisticado devido ao facto da alta qualidade
definidas e fracos poderes de investimento, como no caso de nas lâminas. No entanto, a despesa extra é compensada pela
programas de electrificação rural [6]. elevada eficiência e pelas altas velocidades de rotação
obtidas em aproveitamentos de pequenas quedas e com
A figura 2 apresenta o esquema de uma turbina Banki- máquinas relativamente compactas.
Mitchell.
As turbinas de reacção possuem por norma uma velocidade
3 TURBINAS DE REACÇÃO específica elevada, advindo daí uma vantagem, visto que
permitem o acoplamento directo ao gerador, tornando-se
Neste tipo de turbinas, a água circula entre as pás, variando desnecessáriosos sistemas reguladores de velocidade.
a velocidade e a pressão. Esta, por não ser constante, obriga
a variação da secção transversal aproveitando-se, assim, a As turbinas de reacção estão no entanto sujeitas ao
energia da água, uma parte na forma de energia cinética e o fenómeno de cavitação, contribuindo para o decréscimo da
resto na forma de energia de pressão. sua eficiência se não forem tomadas medidas resolução.

Figura 2 – Turbina Banki-Mitchell

211
ARTIGO TÉCNICO

3.1 TURBINAS FRANCIS

As turbinas Francis são turbinas de reacção porque o


escoamento na zona da roda se processa a uma pressão
inferior à pressão atmosférica.

Esta turbina caracteriza-se por ter uma roda formada por


uma coroa de aletas fixas, que constituem uma série de
canais hidráulicos que recebem a água radialmente e a
orientam para a saída do rotor numa direcção axial. Os
outros componentes desta turbina são a câmara de entrada,
o distribuidor, constituído por uma roda de aletas fixas ou
móveis, que regulam o caudal, e o tubo de saída da água.

Figura 3 - Turbina Francis


Estas turbinas utilizam-se em quedas úteis superiores aos 20
metros, e possuem uma grande adaptabilidade a diferentes
quedas e caudais e, relativamente às Pelton, têm um As turbinas Kaplan são reguladas através da acção do
rendimento máximo mais elevado, velocidades maiores e distribuidor e com auxílio da variação do ângulo de ataque
menores dimensões [5]. das pás do rotor o que lhes confere uma grande capacidade
de regulação.
A figura 3 apresenta o esquema de uma turbina Francis.
As turbinas Kaplan e Hélice têm normalmente o eixo vertical,
3.2 TURBINAS KAPLAN E HÉLICE mas podem existir turbinas deste tipo com eixo horizontal,
as quais se designam por turbinas Bolbo [5].
São turbinas de reacção, adaptadas às quedas fracas e
caudais elevados. A figura 4 apresenta o esquema de uma turbina Kaplan.

São constituídas por uma câmara de entrada


que pode ser aberta ou fechada, por um
distribuidor e por uma roda com quatro ou
cinco pás em forma de hélice.

Quando estas pás são fixas diz-se que a


turbina é do tipo Hélice.

Se as pás são móveis o que permite variar o


ângulo de ataque por meio de um
mecanismo de orientação que é controlado
pelo regulador da turbina, diz-se que a
turbina é do tipo Kaplan.

Figura 4 - Turbina Kaplan

212
ARTIGO TÉCNICO

4 SÍNTESE GRÁFICA DE APLICAÇÃO DE CADA TURBINA No que diz respeito a turbinas de acção estas podem ser do
tipo Pelton ou Banki-Mitchell. As turbinas Pelton são
Na figura 5, apresenta-se um gráfico que resume o campo de utilizadas em aproveitamentos hidroeléctricos
aplicação de cada tipo de turbina e que relaciona a altura da caracterizados por pequenos caudais e elevadas quedas
queda com o caudal disponível. úteis.

As turbinas Banki-Mitchell
aplicam-se numa gama de
baixas potências. As turbinas de
reacção podem ser do tipo
Francis, Kaplan ou Hélice.

As turbinas Francis têm


aplicação nos aproveitamentos
hidroeléctricos com condições
intermédias de queda e caudal
e o seu rendimento é maior
quanto maior for a potência.

As turbinas Kaplan e Hélice são


turbinas aplicáveis em
condições de queda baixa e
caudal elevado.

Figura 5 - Campo de aplicação de cada tipo de turbina


Bibliografia
5 CONCLUSÕES
[1] Rui M. G. Castro, “Energias Renováveis e Produção
As turbinas são máquinas primárias que têm por missão Descentralizada – Introdução à Energia Mini-Hídrica”, Instituto

converter a energia (potencial gravítica e/ou cinética) Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa, Março 2008
[2] Teixeira da Costa, David Santos e Rui Lança, “Turbo Máquinas
armazenada na água ou em qualquer outro fluído em
Hidráulicas (Turbinas)”, Escola Superior de Tecnologia da
energia mecânica.
Universidade do Algarve, Fev. 2001
[3] Teresa Nogueira, “Estudo da Energia Mini-Hídrica – Produção
Necessitam de uma grande manutenção periódica uma vez Distribuída e Mercados de Energia”, Instituto Superior de
que sofrem um grande desgaste devido à acção da água, Engenharia do Porto, 2010
deixando em alguns anos de funcionar de forma rentável. [4] Aníbal Traça de Almeida, “Hidroelectricidade –
Desenvolvimento Sustentável”, Faculdade de Ciências e

A escolha da turbina é crucial para o bom rendimento da Tecnologia da Universidade de Coimbra


[5] Paulo Moisés Almeida da Costa, “As Máquinas Primárias”, Escola
central. Cada caso terá que ser estudado ao pormenor para
Superior de Tecnologia de Viseu, 1999
não se cometer erros na escolha da turbina.
[6] João P. Rocha, “Metodologia de projecto de sistemas de
produção de electricidade descentralizada baseados em Energia
As turbinas podem ser de acção ou reacção. Hídrica”, FEUP, Julho de 2008

213
CURIOSIDADE

214
ARTIGO TÉCNICO

Eficiência Energética

Após o reconhecido sucesso da publicação das anteriores seis edições da Revista Neutro à Terra esta sétima edição reúne os
artigos técnicos publicados nas diversas áreas, e, naturalmente, também na área da Eficiência Energética.
A Eficiência Energética nos Edifícios, esta relacionada directamente com a Utilização Racional da Energia, visando,
essencialmente, gastar menos energia para fornecer a mesma quantidade de valor energético. Em virtude da sua especificidade
e abrangência, é-lhe dedicada aqui uma área exclusiva de conteúdos relativos ao desempenho energético dos edifícios e
inerente legislação, bem como à optimização energética de equipamentos.

215
ARTIGO TÉCNICO

Índice

A Concepção e Projecto de Instalações Eléctricas e o Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade 217
do Ar Interior em Edifícios
Luís Filipe Caeiro Castanheira
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008

Utilização Racional de Energia Eléctrica em Instalações Industriais. O caso da Força Motriz. 219
José António Beleza Carvalho
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008

Desempenho Energético dos Edifícios e a sua Regulamentação 223


Roque Filipe Mesquita Brandão
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009

Ascensores. Optimização Energética 229


José Jacinto Ferreira, Miguel Leichsenring Franco
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009

Optimização Energética em Novos Ascensores 241


José Jacinto Ferreira, Miguel Leichsenring Franco
Schmitt - Elevadores
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010

Extinção das Tarifas Reguladas no Sector Eléctrico 259


José Marílio Oliveira Cardoso
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010

216
AARTIGO
RTIGO TÉCNICO
TÉCNICO Luís Filipe Caeiro Castanheira
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008

A Concepção e Projecto de Instalações Eléctricas e o Sistema Nacional


de Certificação Energética e da Qualidade do Ar Interior em Edifícios
O novo sistema nacional de certificação energética e da concepção e projecto de instalações eléctricas, para a
qualidade do ar interior em edifícios (SCE), que decorre da relevância da sua actividade no contexto do SCE, pela sua
publicação dos DL, 78 a 80, de 4 de Abril de 2006, vêm impor influência no parâmetro Qout, na selecção e
um novo enquadramento regulamentar para a utilização de dimensionamento de equipamento não afecto à função de
energia em edifícios no território nacional. Em particular climatização.
para o caso dos grandes edifícios de serviços e para aqueles,
de serviços ou residenciais, cujos sistemas de climatização ou De facto, a partir de agora, as preocupações com as medidas
de aquecimento de águas sanitárias (AQS) tenham uma de eficiência energética a este nível, podem determinar num
potência superior a 25kw, o rsece-energia (DL 79/2006, de 4 primeiro nível uma classificação de eficiência energética
de Abril), impõe indicadores de consumo específico máximo diferente, ou até o eventual não cumprimento
a verificar, denominados de indicadores de eficiência regulamentar, pelo que o técnico electrotécnico tem uma
energética (IEE). responsabilidadeacrescida neste contexto.

O IEE, em função do processo em causa, pode ser calculado a Uma análise de sensibilidade detalhada, em face de
partir dos consumos efectivos de energia de um edifício, ou situações concretas, poderá auxiliar na determinação de
através de ferramentas de simulação, sendo em ambos os quais os sectores/tecnologias electrotécnicos de maior
casos calculado através da expressão 1: impacto no IEE, mas certamente que entre estes de
encontrará o sector da iluminação.

Qout Neste contexto, da análise da figura 1, retirada do anexo XV


IEE = IEEI + IEEV +
Ap do Regulamento dos Sistemas Energéticos de Climatização
de Edifícios (RSECE), e que diz respeito aos padrões de
Expressão 1 – Indicador de Eficiência Energética referência para a utilização dos edifícios (que neste caso é o
de um supermercado), a utilizar nas simulações para
Em que: determinação do IEE, esta tem como único elemento da
IEE Indicador de eficiência energética (kgep/m2.ano); estrutura de consumos “em aberto”, precisamente o
IEEI Indicador de eficiência energética de aquecimento consumo com os sistema de iluminação, situação que
(kgep/m2.ano); acontece em todas as tipologias de edifícios previstas no
IEEV Indicador de eficiência energética de arrefecimento regulamento.
(kgep/m2.ano);
Qout Consumo de energia não ligado aos processos de Desta forma, o papel do técnico electrotécnico pode fazer
aquecimento e arrefecimento (kgep/ano); toda a diferença em termos de colocar um edifício em
Ap Área útil de pavimento (m2); situação regulamentar, por via de uma acção de concepção e
projecto que considere a utilização de tecnologia mais
Não sendo objecto deste artigo o detalhar das definições e eficientes ao nível da iluminação. Sem a necessidade de
mecanismos de cálculo que estão por trás de cada um dos intervenções mais dogmáticas e inflexíveis, como as decisões
parâmetros atrás referidos, o mesmo pretende sensibilizar recentemente tomadas na Austrália e no Reino Unido, de se
os diversos agentes que intervêm nos processos de banirem a curto prazo as lâmpadas incandescentes, o novo

217
ARTIGO
ARTIGO TÉCNICO
TÉCNICO

enquadramento legislativo para a Eficiência Energética e a elementos que contribuem para um projecto mais racional e
Qualidade do Ar Interior em Edifícios, comporta assim que tenha em linha de conta a sustentabilidadedas opções.

Figura 1 - Padrões de referência de utilização dos edifícios - Supermercados

218
ARTIGO TÉCNICO José António Beleza Carvalho
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008

Utilização Racional de Energia Eléctrica em Instalações Industriais


O caso da Força Motriz

A produção de energia mecânica, através da utilização de


motores eléctricos, absorve cerca de metade da energia
eléctrica consumida no nosso País, da qual apenas metade é
energia útil. Este sector é, pois, um daqueles em que é
preciso tentar fazer economias, prioritariamente. O êxito
neste domínio depende, em primeiro lugar, da melhor
adequação da potência do motor à da máquina que ele
acciona. Quando o regime de funcionamento é muito
variável para permitir este ajustamento, pode-se equipar o
motor com um conversor electrónico de variação de
velocidade. Outra possibilidade é a utilização dos motores “
de perdas reduzidas” ou de “alto rendimento”, que
permitem economias consideráveis.
ϕ com a carga
Figura 1: Variação do rendimento e do cosϕ
(Fonte: documentos técnicos da E.D.P.)
Os motores mais utilizados na indústria apresentam
características de rendimento praticamente constantes
acima da meia carga. Mas o seu cosϕ continua a crescer para Um método rápido para determinar o regime de carga de
além deste valor, como se pode ver na figura 1. Abaixo da um motor assíncrono, consiste na comparação da velocidade
meia carga os motores consomem demasiada energia. Perto de funcionamento (medida com um taquímetro) com a
da plena carga em regime permanente, o aquecimento velocidade à plena carga (indicado na chapa de
limita a sua longevidade. características), através da seguinte expressão:

ns − nm
Assim, os motores devem ser dimensionados de modo a Regime de Carga (%) = ×100
ns − nn
funcionarem acima de 75% da sua carga nominal, obtendo-
se as seguintes vantagens: em que:
- melhor rendimento; ns : é a rotação síncrona do motor, e que depende do
- factor de potência mais elevado; número de pólos da máquina
- menor investimento no motor e aparelhagem de nm : é a rotação medida no veio da máquina
comando e protecção. nn : é a rotação nominal da máquina

219
ARTIGO TÉCNICO

Na tabela seguinte apresenta-se os valores típicos das sensíveis de energia. Trata-se muito globalmente do
velocidades de sincronismo, para uma frequência da rede de accionamento das máquinas rotativas receptoras (bombas,
50 Hz. ventiladores, sopradores e compressores). Estas máquinas

Número de Pólos 2 4 6 8 10 12 requerem, com efeito, a maior parte das vezes, uma

Velocidade 3000 1500 1000 750 600 500 regulação do ponto de funcionamento em função dos
de sincronismo (rpm) parâmetros de exploração do processo. Nestes casos, os
Tabela 1 – Número de pólos e rotação síncrona para 50Hz métodos clássicos de regulação de velocidade traduzem-se
em aumentos significativos da potência consumida em
Por exemplo, um motor assíncrono de 4 pólos com 110kW, relação à necessidade real. São, pois, soluções vorazes em
apresenta uma velocidade de funcionamento de 1495 rpm, energia. A adopção de variadores electrónicos para regular a
uma velocidade de sincronismo de 1500 rpm e de plena velocidade das máquinas rotativas é, actualmente, a solução
carga de 1480 rpm. Nesta situação, o seu regime de carga mais eficiente, apresentando os seguintes benefícios:
será: - economia de energia

1500 − 1495 - aumento da produtividade


Regime de Carga (%) = × 100 = 25% - melhoria da qualidade do produto
1500 − 1480
- menor desgaste mecânico
A carga que está acoplada terá uma potência de:
P=110 x 0,25 = 27,5 kW Assim, em aplicações onde sejam requeridas apenas duas ou
três velocidades, é aconselhável a utilização de motores
Nestas condições, é preferível utilizar um motor de 30 kW. assíncronos de velocidades variáveis, disponíveis com
diversos tipos de características de binário/velocidade, e por
Para as situações de carga variável ao longo do dia, deve-se isso adaptáveis a diversos tipos de carga. Nestes sistemas, a
determinar um valor médio e dimensionar o motor em aplicação de variadores electrónicos de velocidade, bem
função do mesmo, de acordo com a figura seguinte. como de equipamentos mais eficientes do ponto de vista
energético, permite elevar o rendimento global dos sistemas
de 31% para 72%, com tempos de recuperação do
investimento normalmente inferiores a três anos. Por outro
lado, os variadores electrónicos de velocidade possuem
diversos tipos de protecções para o motor, que deixam assim
Figura 2: Diagrama do consumo de potência de um motor de ser adquiridas isoladamente e oferecem uma maior
(Fonte: documentos técnicos da E.D.P.) flexibilidade de colocação, podendo facilmente ser
integrados em sistemas automáticos de gestão da produção.
Para um grande número de actividades industriais, a
utilização de motores de velocidade variável é indispensável Actualmente, encontra-se já disponível no mercado os
ao processo de fabrico. É o caso, por exemplo, do chamados motores de “perdas reduzidas”, ou de “alto
accionamento dos laminadores, misturadores, rendimento”, mais caros que os motores clássicos, mas cuja
centrifugadores, fornos rotativos, máquinas ferramentas ou utilização se revela rentável quando o seu tempo anual de
na tracção eléctrica. O seu uso tornou-se clássico e as utilização for suficientemente longo. Os construtores
soluções evoluem a par e passo com os progressos técnicos. aumentaram a massa de materiais activos (cobre e ferro) de
Existe, por outro lado, um domínio de aplicações novas onde forma a diminuir as induções, as densidades de corrente e,
a adopção da velocidade variável permite obter economias assim, reduzir as perdas no cobre e no ferro. Utilizam chapas

220
ARTIGO TÉCNICO

magnéticas de perdas mais reduzidas, entalhes especiais em ∆P : variação das perdas entre os dois motores
certos casos e reformularam a parte mecânica, com especial K : preço do kWh
incidência sobre a ventilação, para reduzir a potência t : tempo de utilização (horas)
absorvida por esta e diminuir o nível de ruído. Daí resulta,
para idêntica dimensão, um aumento de peso da ordem de
Conclusão
15%, e de preço da ordem de 20 a 25%. Contudo, a melhoria
do rendimento, compreendida entre 2 e 4,5%, e a do cosϕ,
permite amortizar rapidamente este aumento de preço. Para A situação energética portuguesa é caracterizada por uma

qualquer investimento em motores eléctricos efectuado, forte dependência externa (importamos cerca de 90% da

pelo menos, para 10 anos, os modelos de perdas reduzidas energia que consumimos), pela dependência

são fortemente competitivos. fundamentalmente em relação a uma única forma de


energia (o petróleo), apesar dos esforços que se têm feito
nos últimos anos para alterar esta situação, por um nível de
Na figura 3, apresenta-se uma análise comparativa entre os
consumo fraco em comparação ao de outros países
motores convencionais e os motores de alto rendimento.
membros da CEE e por uma forte intensidade energética do
Produto Interno Bruto (PIB).

A valorização das economias de energia, em particular da


energia eléctrica, possíveis de realizar pela via da gestão e da
sua utilização racional, conduz a benefícios que se podem
repercutir, de forma global, a nível nacional e, de forma
directa e imediata, a nível do consumidor com as seguintes
vantagens:
- Aumento da eficácia do sistema energético;

ϕ
Figura 3: Análise comparativa do rendimento e cosϕ - Redução da factura energética;

para motores convencionais e de alto rendimento, de 55kW - Acréscimo de produtividade da empresa em quaisquer
(Fonte: documentos técnicos da E.D.P.) sectores de actividade;
- Aumento da competitividade no mercado interno e

O acréscimo de custos dos motores de alto rendimento é externo ou aumento da disponibilidade de energia para

recuperado através da economia de energia eléctrica que outros fins;

proporcionam. - Conhecimento mais profundo das instalações e do custo


energético de cada fase, processo ou sistema.

O tempo de recuperação N do investimento suplementar


devido à instalação de motores de alto rendimento, pode ser No caso da força motriz é fundamental dimensionar

calculado através da seguinte expressão: correctamente estes equipamentos, fazendo os motores


funcionar com cargas da ordem dos 70 a 80%. Por outro
∆Ι
N= lado, e sempre que necessário, deve-se utilizar dispositivos
∆Ρ.Κ.t
electrónicos de variação de velocidade, que permitem um
em que: desempenho mais eficiente dos motores em diferentes
∆Ι : diferença de custos regimes de carga. Também a utilização de motores de “alto

221
ARTIGO TÉCNICO

rendimento”, que já provaram a sua competitividade, apesar a qualquer política de utilização racional de energia eléctrica
do seu custo superior, deve ser equacionada para diversos em instalações industriais, consiste no conhecimento dos
tipos de aplicações. consumos por meio de medida e na detecção de forma
eficaz das principais perdas de energia que possam existir na
Finalmente, lembrar que a regra fundamental, indispensável instalação industrial.

Fontes de Informação Relevantes


[01] “Efficient Use of Electrical Energy in Industrial Installations” – José António Beleza Carvalho, Roque Filipe Mesquita
Brandão. 4TH European Congress Economics and Management of Energy in Industry. Porto, Novembro de 2007.
[02] " Política Energética e Plano Energético Nacional" – Eng. Mira Amaral - Cadernos de Divulgação do Ministérios da
Indústria e Energia.
[03] " Economia de Energia" – Brochuras publicadas pela Direcção Geral de Geologia e Energia. Edição: Ministério da
Economia
[04] "Racionalização da força Motriz" Documento Técnico da EDP Edição: EDP.
[05] "A Gestão da Energia e o Regulamento de Gestão do Consumo de Energia" – Brochura publicada pela Direcção Geral de
Geologia e Energia. Edição: Ministério da Economia
[06] "Economias de Energia nas Utilizações Industriais" - Documento Técnico da EDP. Edição: EDP.
[07] “Manual do Gestor de Energia” – Centro para a Conservação de Energia, Direcção Geral de Geologia e Energia. Edição:
Ministério da Economia

222
ARTIGO TÉCNICO Roque Filipe Mesquita Brandão
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009

Desempenho Energético dos Edifícios


e a sua Regulamentação
1. Directiva 2002/91/CE matéria de clima interior e a rentabilidade económica.
Contudo o estabelecimento das medidas nunca poderá ir
Em 16 de Dezembro de 2002 foi aprovada pelo Parlamento contra outros requisitos considerados essenciais relativos
Europeu e pelo Conselho da União Europeia a Directiva aos edifícios, tais como a acessibilidade, as regras de boa
2002/91/CE, relativa ao desempenho energético dos arte e a utilização prevista do edifício.
edifícios.
De uma forma muito resumida, a Directiva 2002/91/CE faz
Na base desta directiva estiveram uma serie de um enquadramento da metodologia de cálculo, a aplicar
considerações que enfatizam a necessidade de se pelos Estados–Membros, do desempenho energético
estabelecer medidas que visem melhorar o desempenho integrado dos edifícios. No Anexo que acompanha a referida
energético dos edifícios. Directiva, são descritos os pontos que a metodologia de
cálculo deve conter na análise do cálculo da eficiência, que
Numa das considerações está escrito “O sector residencial e deve ser expresso de modo transparente, podendo incluir
terciário, a maior parte do qual constituído por edifícios, um indicador de emissão de CO2.
absorve mais de 40% do consumo final de energia da
Comunidade e encontra-se em expansão, tendência que A Directiva impõe que os Estados-Membros deverão
deverá vir a acentuar o respectivo consumo de energia e, por estabelecer requisitos mínimos para o desempenho
conseguinte, as correspondentes emissões de dióxido de energético dos edifícios novos e dos grandes edifícios
carbono.”. Analisando este ponto, percebe-se que era existentes que sejam sujeitos a importantes obras de
urgente promover a melhoria do desempenho energético remodelação. Foi ainda previsto que no estabelecimento dos
dos edifícios, tendo em conta as condições climáticas requisitos se possa fazer uma distinção entre, edifícios novos
externas e as condições locais, bem como as exigências em e existentes e entre diferentes categorias de edifícios.

223
ARTIGO TÉCNICO

Os requisitos devem ser sujeitos a revisão e actualização adequação da sua capacidade em função dos requisitos de
regulares. Para os novos edifícios com área superior a 1000 aquecimento pretendidos. Os peritos devem fornecer aos
m2, devem ser estudadas formas alternativas de utilizadores recomendações sobre a substituição das
fornecimento de energia eléctrica, baseadas em energias caldeiras por outras mais eficientes ou a adopção de outras
renováveis ou co-geração e privilegiado o uso de sistemas soluções alternativas.
urbanos ou colectivos de aquecimento ou arrefecimento.
Para os sistemas de ar condicionado com potência nominal
Estes estudos, que contemplarão aspectos de viabilidade útil superior a 12 kW deve ser feita uma avaliação do
técnica, económica e ambiental, deverão ser tomados em desempenho do sistema e a adequação da sua potência em
consideração antes de se iniciar a construção. Quanto aos função dos requisitos de climatização do edifício. Os peritos
edifícios existentes e com área superior a 1000 m2, sempre deverão também fornecer aos utilizadores recomendações
que sofram obras de renovação importantes deve ser sobre possíveis melhorias ou a substituição do sistema de ar
melhorado o seu desempenho energético, desde que condicionado, ou soluções alternativas. Com estas medidas
possível do ponto de vista técnico, económico e funcional. pretende-se uma redução do consumo de energia e a
limitação das emissões de dióxido de carbono pelos Estados-
Um dos objectivos que também faz parte da Directiva é o da Membros.
criação de um certificado energético do edifício, necessário
aquando da construção, venda ou arrendamento e fornecido A Directiva impôs a data de 4 de Janeiro de 2006 para que os
ao proprietário ou por este ao potencial comprador ou Estados-Membros colocassem em vigor as disposições legais,
arrendatário. Com este certificado deve ser possível aos regulamentares e administrativas necessárias para dar
consumidores comparar e avaliar o desempenho energético cumprimento à referida Directiva, devendo dar
do edifício. Deve ser parte integrante do certificado um conhecimento à Comissão desse facto. O prazo poderia ser
conjunto de recomendações que visem a melhoria da alargado por mais 3 anos se os Estados-Membros não
eficiência energética bem como o estudo de viabilidade dispusessem de peritos qualificados em número suficiente.
económica da sua aplicação. Estes certificados deverão ter
um prazo de validade nunca superior a 10 anos. Por forma a cumprir o imposto pela Directiva 2002/91/CE e
também como forma de adequação da anterior
Por último esta Directiva impôs a necessidade de inspecção regulamentação, Portugal aprovou no conselho de ministros
regular de caldeiras e instalações de ar condicionado nos de 26 de Janeiro de 2006 a nova regulamentação para o
edifícios e, complementarmente, avaliação da instalação de Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade
aquecimento quando as caldeiras tenham mais de 15 anos. do Ar Interior nos Edifícios (SCE), o Regulamento das
Todas as caldeiras com potência nominal útil, isto é, com Características de Comportamento Térmico dos Edifícios
potência calorífica máxima fixada e garantida pelo (RCCTE) e o Regulamento dos Sistemas Energéticos e de
construtor, de 20 a 100 kW e alimentadas por combustíveis Climatização dos Edifícios (RSECE). Em 4 de Abril de 2006
não renováveis, devem ser sujeitas a inspecção periódica. foram publicados em Diário da República os respectivos
Para caldeiras com potência nominal útil superior a 100 kW a Decreto-Lei.
inspecção deve ser feita de 2 em 2 anos, podendo o prazo
ser aumentado para 4 anos se o combustível usado for o gás
natural. Todas as caldeiras com mais de 15 anos e com
potência nominal útil superior a 20 kW devem ser alvo de
inspecção que deverá analisar o rendimento da caldeira e a

224
ARTIGO TÉCNICO

2. Sistema Nacional de Certificação Energética e da SCE foi atribuída à Agência para a Energia (ADENE), que tem
Qualidade do Ar Interior os Edifícios (SCE) como objectivos o de assegurar o funcionamento do sistema,
aprovar o modelo de certificados de desempenho

Através do decreto-lei nº 78/2006 de 4 de Abril, Portugal energético, criar uma bolsa de peritos qualificados do SCE e

transpôs parcialmente para ordem jurídica nacional a disponibilizar, online, o acesso a toda a informação relativa

Directiva nº 2002/91/CE, cumprindo assim os prazos aos processos de certificação aos peritos.

impostos pela mesma. Com este decreto-lei, o Estado


assegura a melhoria do desempenho energético e da No DL 78/2006 estão ainda definidos os requisitos
qualidade do ar interior através do Sistema Nacional de necessários para o exercício da função de perito qualificado,
Certificação Energética e da Qualidade do Ar interior nos as competências dos mesmos, as obrigações dos promotores
edifícios (SCE). ou proprietários dos edifícios ou equipamentos e o prazo de
validade dos certificados que foi fixado em 10 anos. O

O SCE tem 3 finalidades principais sendo que a primeira mesmo DL define ainda as taxas a pagar pelo registo dos

delas é a de assegurar a correcta aplicação das disposições certificados na ADENE, contra-ordenações, coimas e sanções

contidas no Regulamento das Características de acessórias a pagar sempre que haja incumprimentos dos

Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE) e no regulamentos. As sanções acessórias podem passar pela

Regulamento dos Sistemas Energéticos e de Climatização dos suspensão de licença ou de autorização de utilização;

Edifícios (RSECE). A segunda finalidade é o de certificar o encerramento do edifício ou a suspensão do exercício da

desempenho energético e a qualidade do ar interior nos actividade de perito qualificado. Quanto ao produto das

edifícios. Por último fazer a identificação de medidas coimas é repartido entre os cofres do Estado (60%) e a

correctivas ou de melhoria de desempenho energético nos entidade que instruiu o processo de contra-ordenação e

edifícios. aplicou a coima.

Classe Energética Consumo


Portugal com esta legislação impôs a aplicação do SCE aos
Menos que 25% do
A+
edifícios novos e aos existentes quando sujeitos a renovação, consumo de referência
estando ou não sujeitos a licenciamento. Aos edifícios de
A Entre 25% e 50%
serviços existentes, sujeitos periodicamente a auditorias e
aos edifícios existentes para habitação ou serviços, sempre B Entre 50% e 75%
que sejam celebrados contratos de venda e de locação.
Nesses casos o proprietário terá que apresentar ao potencial B- Entre 75% e 100%

comprador ou locatário ou arrendatário, o certificado


C Entre 100% e 150%
emitido no âmbito do SCE.

D Entre 150% e 200%


O certificado energético atribui uma etiqueta que traduz o
desempenho energético do edifício. Essa etiqueta está E Entre 200% e 250%

organizada por uma escala de eficiência que varia entre A+ e


F Entre 250% e 300%
G, da forma ilustrada na tabela 1.
Superior a 300% do
G
consumo de referência
A supervisão do SCE é compartilhada entre a Direcção-Geral
de Geologia e Energia e o Instituto do Ambiente. A gestão do Tabela 1 – Etiqueta de eficiência energética

225
ARTIGO TÉCNICO

3. Regulamento dos Sistemas Energéticos e de Define ainda as condições de manutenção dos sistemas de
Climatização dos Edifícios (RSECE) climatização, as condições de monitorização e de auditoria
de funcionamento dos edifícios em termos dos consumos de
Em Portugal já existia um regulamento dos Sistemas energia e da qualidade do ar interior e especifica os
Energéticos e de Climatização dos Edifícios desde 1992, requisitos a que devem obedecer os técnicos responsáveis
aprovado pelo decreto-lei nº 156/92, de 29 de Julho e que pelo projecto, instalação e manutenção dos sistemas de
nunca chegou a ser aplicado. climatização.

Seis anos volvidos, foi aprovado o decreto-lei nº 118/98, de 7 O novo RSECE impõe uma limitação efectiva dos consumos
de Maio que veio substituir o decreto-lei anterior e que se energéticos globais do edifício, entrando em consideração
manteve em vigor até 2006, ano em que Portugal reviu o com os consumos da climatização, iluminação, entre outros,
RSECE tendo como objectivo, também, ir ao encontro das quer para os edifícios novos quer para os existentes. Para os
exigências da Directiva nº 2002/91/CE, que como já se edifícios novos o projectista é ainda obrigado a detalhar os
referiu impunha aos Estados-Membros a revisão periódica métodos de previsão dos consumos energéticos, na fase de
dos regulamentos. projecto. Após a verificação da conformidade regulamentar
na fase de projecto e no final da obra, são passadas as
A revisão do anterior RSECE impunha a definição de licenças de construção ou de utilização.
condições de conforto térmico e de higiene nos diferentes
espaços dos edifícios, melhorar a eficiência energética global Para os edifícios existentes a verificação dos consumos será
dos edifícios, impor regras de eficiência aos sistemas de feito através de auditorias energéticas periódicas. Sempre
climatização e monitorizar periodicamente as práticas de que sejam verificadas inconformidades regulamentares,
manutenção dos sistemas de climatização. Neste sentido é deverão ser propostas e implementadas medidas
aprovado o Regulamento dos Sistemas Energéticos e de correctivas, desde que seja garantida a viabilidade
Climatização dos Edifícios (RSECE) que é publicado como económica das mesmas.
anexo ao decreto-lei 79/2006, de 4 de Abril.
Neste regulamento são ainda definidos os requisitos para a
Este novo regulamento estabelece as condições a observar manutenção da qualidade do ar interior, nesse sentido os
aquando do projecto de novos sistemas de climatização, novos edifícios a construir e que se encontrem abrangidos
definindo os requisitos em termos de conforto térmico e de pelo RSECE, devem ser dotados de meios naturais,
qualidade do ar interior, bem como os requisitos mínimos de mecânicos ou híbridos que garantam as taxas de renovação
renovação e tratamento de ar que devem ser assegurados de ar de referência fixadas. Aos edifícios de serviços
em condições de eficiência energética; Os requisitos em existentes, abrangidos pelo RSECE e que possuam sistemas
termos da concepção, instalação e do estabelecimento das de climatização devem ser efectuadas auditorias à qualidade
condições de manutenção a que devem obedecer os do ar interior (QAI). Nestas auditorias devem ser medidos os
sistemas de climatização; A observância dos princípios da agentes poluentes no interior dos edifícios. Sempre que nas
utilização racional da energia como forma de auditorias sejam detectadas concentrações acima das
sustentabilidade ambiental. permitidas, o proprietário, ou locatário ou arrendatário do
edifício deve preparar um plano de acções correctivas da
No novo RSECE são ainda definidos os limites máximos de QAI, no prazo máximo de 30 dias após a conclusão da
consumo de energia nos grandes edifícios de serviços auditoria. Este prazo pode ser reduzido se a QAI estiver
existentes; No cálculo dos consumos de energia para todo o gravemente comprometida, podendo, em casos extremos,
edifício deve ser dada especial atenção à climatização. ser decretado o encerramento imediato do edifício.

226
ARTIGO TÉCNICO

Nos edifícios de serviços, ou fracções autónomas, abrangidos Com o aumento significativo do uso de equipamentos de
pelo RSECE, deve existir um técnico responsável pelo bom climatização, em especial dos sistemas de ar condicionado,
funcionamento dos sistemas energéticos de climatização, mesmo no sector residencial e também devido às
incluindo a sua manutenção, e pela qualidade do ar interior. imposições decorrentes da Directiva 2002/91/CE, é aprovado
em Portugal o Regulamento das Características de
O referido técnico é ainda responsável pela gestão da Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE), que é
respectiva informação técnica. As qualificações do técnico publicado em anexo ao decreto-lei nº 80/2006, de 4 de Abril.
estão definidas no decreto-lei nº 78/2006 de 4 de Abril.
Neste decreto-lei estão também definidas as qualificações O RCCTE estabelece as regras a observar no projecto de
dos técnicos de instalação e manutenção de sistemas de todos os edifícios de habitação e dos edifícios de serviços
climatização e QAI, bem como todas as coimas e sanções sem sistemas de climatização centralizados de modo a que,
aplicadas em caso de incumprimentos regulamentares. sem dispêndio excessivo de energia, sejam garantidas as
exigências de conforto térmico e de ventilação necessárias
4. Regulamento das Características de Comportamento para a qualidade do ar interior, bem como as necessidades
Térmico dos Edifícios (RCCTE) de águas quentes sanitárias.

O primeiro instrumento legal que em Portugal impôs Para a garantia deste último aspecto, o novo RCCTE impõe a
requisitos ao projecto de novos edifícios e de grandes obrigatoriedade do recurso a sistemas solares para
remodelações, com o objectivo de salvaguardar a satisfação aquecimento de água em edifícios que tenham cobertura
das condições de conforto térmico sem necessidade de com exposição solar adequada. Podem ser usados outros
recorrer ao uso excessivo de energia, foi aprovado pelo sistemas renováveis, alternativos aos colectores solares,
decreto-lei nº 40/90 de 6 de Fevereiro. desde que sejam mais eficientes.

227
ARTIGO TÉCNICO

Ao nível do projecto devem ainda ser minimizadas as 5. Conclusão


situações patológicas nos elementos de construção
provocadas pela ocorrência de condensações superficiais ou A reformulação dos Regulamentos descritos impôs
internas, que levam a uma diminuição da durabilidade dos mecanismos mais eficientes de comprovação das
elementos construtivos e da qualidade do ar interior. conformidades regulamentares e aumentou o grau de
exigência e responsabilidade de todos os elementos
O RCCTE apresenta metodologias de cálculo das envolvidos, desde projectistas a instaladores e técnicos
necessidades de aquecimento e de arrefecimento de uma responsáveis. Estes Regulamentos fazem parte da Estratégia
fracção autónoma ou de um edifício e o método de cálculo Nacional para a Energia, aprovada em 2005 e que por sua vez
das necessidades de energia para preparação da água se insere numa estratégia europeia que visa o aumento da
quente sanitária. Factores como a zona climática onde se eficiência energética e redução das emissões de CO2.
situa o edifício, a altitude em relação ao nível do mar, o grau
de exposição aos ventos e a adequação das caixilharias a esta Neste artigo foi feito um pequeno resumo dos diversos
exposição, são factores importantes ao método de cálculo do decretos que regulam este sector, pelo que se recomenda a
novo RCCTE. leitura atenta dos decreto-lei referidos, por todos aqueles
que são, ou pretendem vir a ser, intervenientes nesta área.
A responsabilidade pela demonstração do cumprimento das
exigências impostas pelo Regulamento tem de ser assumida
por um arquitecto, um engenheiro ou um engenheiro
técnico, reconhecidos pelas respectivas Ordens ou
Associações, com qualificações para o efeito.

228
ARTIGO TÉCNICO José Jacinto Ferreira, Miguel Leichsenring Franco
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009

Ascensores
Optimização Energética
1. ENQUADRAMENTO Performance of Buildings” (Desempenho Energético de
Edifícios)2 , transposta parcialmente para o direito nacional
Segundo um estudo recente da União Europeia1 , o sector pelo Decreto-Lei nº 78/2006 de 04 de Abril, e a Directiva
dos edifícios será responsável por cerca de 40% do consumo 2005/32/CE de 06 de Julho de 2005 – “EuP – Energy Using
total de energia neste espaço geográfico. Products” (Requisitos de concepção ecológica dos produtos
que consomem energia)3 .
Cerca de 70% do consumo de energia deste sector verificar-
se-á nos edifícios residenciais. Os ascensores não são referidos explicitamente nestas duas
directivas, quando se aborda a temática do aumento da
Em Portugal, mais de 28% da energia final e 60% da energia eficiência energética.
eléctrica é consumida em edifícios.
Na Directiva EPB são referidos essencialmente equipamentos
Por forma a dar cumprimento ao Protocolo de Kyoto, no qual técnicos dos edifícios como sistemas de aquecimento,
se definiu uma drástica redução da emissão de CO2, a climatização e iluminação, bem como sistemas de
Comunidade Europeia emanou várias directivas que se isolamento térmico dos edifícios.
relacionam directa ou indirectamente com a temática da
utilização de energia. Na EuP, por sua vez, também não se indicam
especificamente os ascensores, embora sejam referidos por
As mais importantes são entre outras, a Directiva exemplo motores eléctricos, que farão parte integrante de
2002/91/CE de 16 de Dezembro de 2002 - “EPB - Energy um ascensor.

1 Ver Directiva 2002/91/CE de 16.12.2002.

2O objectivo desta directiva passa pela promoção da melhoria do desempenho energético dos edifícios na Comunidade, tendo em conta as condições climáticas
externas e as condições locais, bem como as exigências em matéria de clima interior e a rentabilidade económica. Esta Directiva estabelece requisitos em termos
de:
a) enquadramento geral para uma metodologia de cálculo do desempenho energético integrado dos edifícios;
b) aplicação de requisitos mínimos para o desempenho energético de novos edifícios;
c) aplicação de requisitos mínimos para o desempenho energético dos grandes edifícios existentes que sejam sujeitos a importantes obras de renovação;
d) certificação energética dos edifícios;
e) inspecção regular de caldeiras e instalações de ar condicionado nos edifícios e, complementarmente, avaliação da instalação de aquecimento quando as
caldeiras tenham mais de 15 anos.
O Decreto-Lei nº 78/2006 de 04 de Abril – Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade do Ar (SCE), transpõe parcialmente para a ordem jurídica
nacional esta directiva comunitária, tendo como finalidade assegurar a aplicação regulamentar, nomeadamente no que respeita às condições de eficiência
energética, à utilização de sistemas de energias renováveis e, ainda, às condições de garantia da qualidade do ar interior, de acordo com as exigências e
disposições contidas em:
a) Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE) – Decreto-Lei 80/2006 de 04 de Abril, e
b) Regulamento dos Sistemas Energéticos e de Climatização dos Edifícios (RSECE) – Decreto-Lei 79/2006 de 04 de Abril.

3 Esta directiva cria um quadro de definição dos requisitos comunitários de concepção ecológica dos produtos consumidores de energia com o objectivo de
garantir a livre circulação destes produtos nos mercado interno.
Prevê ainda a definição de requisitos a observar pelos produtos consumidores de energia abrangidos por medidas de execução, com vista à sua colocação no
mercado e/ou colocação em serviço. Contribui para o desenvolvimento sustentável, na medida em que aumenta a eficiência energética e o nível de protecção do
ambiente, e permite ao mesmo tempo aumentar a segurança do fornecimento de energia.
Nota: a presente directiva não é aplicável a meios de transporte de pessoas ou mercadorias.

229
ARTIGO TÉCNICO

De acordo com um estudo da S.A.F.E – “Agência Suiça para a 2. O MODELO DE APOIO PARA A DETERMINAÇÃO DO
Utilização Eficiente da Energia”, realizado em 2005, os CONSUMO ANUAL
ascensores podem representar uma parte significativa do
consumo de energia num edifício (o consumo energético de Com o objectivo de desenvolver sugestões de optimização
um ascensor poder representar em média 5% do consumo energética num dado ascensor já existente, com base no
total de energia de um edifício de escritórios). Na Suiça consumo energético medido, optou-se por recorrer à norma
estima-se que o somatório do consumo de energia dos cerca alemã VDI 4707:2009, publicada em Março de 2009 pela
de 150.000 ascensores instalados represente cerca de 0,5% Associação dos Engenheiros Alemães (Verein Deutscher
do total de 280 GWh de consumo energético do país. Ingenieure). É assim possível realizar uma avaliação e
classificação universal e transparente da eficiência
A redução do consumo de energia nos edifícios poderá ser energética de ascensores, com base em critérios
obtida através da melhoria das características construtivas, standardizados.
reduzindo dessa forma as necessidades energéticas, através
de medidas de gestão da procura, no sentido de reduzir os 2.1 Objectivos da norma
consumos na utilização e através do recurso a equipamentos
energeticamentemais eficientes. 1. Permitir uma avaliação e classificação universal e
transparente da eficiência energética de ascensores,
No preâmbulo da Directiva EuP refere-se que “a melhoria da baseada em métodos de cálculo e teste dos seus
eficiência energética – de que uma das opções disponíveis consumos energéticos;
consiste na utilização final mais eficiente da electricidade – é 2. Disponibilizar a construtores civis, arquitectos,
considerada um contributo importante para a realização dos projectistas, empresas instaladoras e de manutenção de
objectivos de redução das emissões de gases com efeito de ascensores e a operadores um enquadramento que lhes
estufa na Comunidade.” permita incluir a procura de energia de ascensores na
sua avaliação da eficiência energética do edifício e assim
Daí que seja importante estudar também a optimização seleccionar os equipamentos mais adequados;
energética de ascensores. 3. Servir de base para um rating energético de ascensores
no âmbito da eficiência energética total do edifício,
No presente artigo será apresentado um resumo do estudo dando origem à elaboração de um certificado energético.
sobre o consumo energético realizado a uma amostra
composta por 20 ascensores eléctricos instalados pela 2.2 Âmbito da norma
Schmitt-Elevadores, Lda. em Portugal.
A Norma VDI 4707:2009 aplica-se à avaliação e classificação
Para a determinação do consumo anual de energia a partir de novos ascensores de pessoas e de cargas, quanto à sua
dos dados obtidos, foi utilizado um modelo, desenvolvido eficiência energética. Pode igualmente ser utilizada para a:
com base na norma alemã VDI 4707:20094. a. determinação da eficiência energética de ascensores já
instalados;
Com base nos dados obtidos foram então identificadas b. comprovação dos parâmetros fornecidos pelos
diversas hipóteses de optimização, que poderão e deverão fabricantes de ascensores;
ser implementadas. c. determinação do consumo energético estimado.

4 Para uma descrição mais detalhada consultar o ponto 2.

230
ARTIGO TÉCNICO

2.3 Valores característicos Estes dois valores de necessidade energética determinam a


classe de eficiência energética do ascensor, dependendo da
A necessidade energética, isto é, o valor esperado de sua intensidade de utilização.
consumo de energia, calculado com base em determinadas
premissas, pode ser caracterizada com base na: Existem sete classes de necessidade energética e de
1. Necessidade energética de stand-by eficiência energética, representadas pelas letras A a G. A
e classe A representa a menor necessidade energética, e logo a
2. Necessidade energética de manobra. melhor eficiência energética.

A necessidade energética de stand-by é a necessidade A necessidade energética global de um ascensor depende,


energética total do ascensor, quando este se encontra em para além da sua concepção, especialmente da sua
modo stand-by, isto é, quando o sistema de tracção se utilização. Dependente do tipo de edifício, da utilização do
encontra desligado. ascensor e do número de passageiros, são definidas 5
categorias de utilização que diferem entre si devido ao
Só serão consideradas as partes do equipamento eléctrico e tempo médio de manobra diário. Dependendo da parcela
os componentes que contribuem para a prontidão de temporal entre a necessidade energética de stand-by e de
reacção e de funcionamento do ascensor (por exemplo, a manobra, podem ser calculadas várias classes de eficiência
iluminação da casa de máquinas e da caixa do ascensor não energética para as 5 categorias de utilização.
são consideradas).
Na tabela 1 seguinte são apresentadas as 5 categorias de
A necessidade energética de manobra é a necessidade utilização, os tempos médios de manobra e de stand-by,
energética total do ascensor durante a manobra para um bem como exemplos de ascensores que se enquadram
ciclo de manobras previamente definido e com uma nessas categorias.
determinada carga específica.
2.4 Determinação das especificações e dos valores
O valor resultante da necessidade energética específica em característicos
mWh/(kg.m) está relacionada com a distância percorrida em
metros e com a carga nominal em kg. As necessidades energéticas de stand-by podem ser
determinadas por medição ou pela soma dos valores de
A utilização de cargas distintas da carga nominal para cálculo necessidades energéticas individuais, desde que
da necessidade energética específica devem ser suficientemente conhecidos.
documentadas.
As necessidades energéticas de stand-by são determinadas 5
Estes valores de necessidade energética específica podem minutos após a conclusão da última manobra.
ser utilizados para comparar a eficiência energética de
diferentes ascensores. As necessidades energéticas de manobra são determinadas
para manobras de referência utilizando-se cargas individuais
Dependendo dos valores de necessidade energética, os com referência à carga nominal de acordo com a seguinte
ascensores são divididos em classes de necessidade tabela 2.
energética de stand-by e de manobra.

231
ARTIGO TÉCNICO

Tabela 1 - Categorias de Utilização

Categoria de Utilização 1 2 3 4 5

Intensidade de Utilização Muito baixa Baixa Média Elevada Muito elevada

Frequência de Utilização Muito rara Rara Pontualmente Elevada Muito elevada

Tempo Médio de Manobra 0,2 (≤0,3) 0,5 (>0,3-1) 1,5 (>1-2) 3(>2-4,5) 6(>4,5)
(horas / por dia)

Tempo Médio de Stand-by 23,8 23,5 22,5 21 18


(horas / por dia)

Tipo de Edifício e de Edifício de Edifício de Edifício de Edifício de habitação


Utilização habitação com até habitação com até habitação com até com mais de 50
6 apartamentos 20 apartamentos 50 apartamentos apartamentos

Pequeno edifício de Pequeno edifício de Pequeno edifício de Pequeno edifício de Pequeno edifício de
escritórios e de escritórios e de escritórios e de escritórios e de serviços escritórios e de serviços em
serviços com pouco serviços com 2 a 5 serviços com até 10 em altura com mais de altura com mais de 100 m
movimento pisos pisos 10 pisos

Pequeno hotel Hotel de dimensão Grande hotel


média

Hospital de pequena Grande Hospital


ou média dimensão

Ascensor de carga Ascensor de carga Ascensor de carga Ascensor de carga integrado


com pouco com movimento integrado no processo no processo produtivo com
movimento médio produtivo com 1 turno vários turnos

As manobras de referência são constituídas pelo seguinte realizadas com uma cabina vazia.
ciclo de manobra:
Para corrigir os valores em relação ao espectro de cargas
1. Início da manobra de referência com a porta do ascensor apresentados na tabela em cima, as necessidades
aberta; energéticas de manobra determinadas com a cabina vazia
2. Fechar a porta do ascensor; são multiplicados pelos seguintes factores de carga:
3. Viagem para cima ou para baixo utilizando todo o curso • 0,7 para ascensores com contrapeso (peso da cabina
do ascensor; mais 40% ou 50% da carga nominal);
4. Abrir e fechar imediatamente a porta do ascensor; • 1,2 para ascensores sem qualquer compensação ou com
5. Viagem para baixo ou para cima utilizando todo o curso uma compensação até 30% do peso da cabina;
do ascensor;
6. Abrir a porta; Nota: o factor de carga não é utilizado quando as
7. Fim da manobra de referência. necessidades energéticas de manobra são determinadas
tomando por base o espectro de cargas indicado na tabela 2.
As manobras de referência são somadas de acordo com o
rácio temporal indicado na tabela 1. Tabela 2 - Espectro de Cargas

Carga em % da carga nominal % de Manobras

Para ascensores com uma massa de contrapeso igual ao peso 0% 50%

da cabina mais 40% ou 50% da carga nominal, ou para 20% 30%

ascensores com uma massa de compensação inferior a 30% 50% 10%

do peso da cabina ou para ascensores sem qualquer 75% 10%

compensação, as manobras de referência podem ser 100% 0%

232
ARTIGO TÉCNICO

As necessidades energéticas de manobra podem ser necessidades energéticas por dia e os dias de operação por
determinadas por medição ou pelo somatório de valores ano.
conhecidos de necessidades energéticas individuais.
Procedimento de cálculo:
As necessidades energéticas de manobra em Watt-hora (Wh) 1. Carga nominal Q em kg
determinadas nas manobras de referência são divididas pela 2. Necessidade energética Pstand-by em W
carga nominal da cabina e pela distância percorrida durante 3. Necessidade energética Emanobra em mWh/(kg.m)
a manobra de referência. Para garantir uma boa qualidade 4. Tempo de utilização tmanobra em horas por dia
de dados, as manobras de referência deverão ser realizadas 5. Distância percorrida snominal em m durante o tempo de
diversas vezes. utilização por dia
6. Snominal = Vnominal x tmanobra [1]
As medições dos valores de consumo de energia devem ser
feitas a seguir ao interruptor principal do circuito de E s tan d −by = Ps tan d −by × t s tan d −by [2]
potência e a seguir ao interruptor para os circuitos de
iluminação. Obtém-se assim a necessidade energética diária:

A iluminação da casa de máquinas e da caixa do ascensor E manobra = E manobra ,especifico × s no min al × Q [3]
não serão consideradas, para a determinação do consumo de
energia. E dia = E s tan d −by + E manobra [4]

Dever-se-ão ter em conta também para efeitos de medição As necessidades energéticas nominais anuais são dadas por:
os circuitos eléctricos de interligação de ascensores em
grupo, devendo-se somar esses valores aos consumos em E Ano = E dia × 365 [6]
stand-by (proporcionalmente para cada ascensor do grupo).
2.5 Necessidades energéticas e classes de eficiência
Para além dos circuitos e das cargas já mencionadas, podem energética
existir ainda outros circuitos independentes para alimentar
cargas necessárias para o funcionamento do ascensor (por Ao ascensor é atribuído uma classe de necessidade
exemplo aquecimento ou arrefecimento). Os valores de energética tomando por base as tabelas 1 e 2, e de acordo
consumo de energia para estas cargas têm de ser igualmente com as necessidades energéticas de stand-by e de manobra.
determinados e documentados separadamente.
As classes de eficiência energética para um ascensor são
As medições devem ocorrer em condições reais de determinadas a partir dos valores de consumo de energia em
funcionamento do ascensor, não se podendo desligar stand-by e em manobra, projectando a potência em stand-by
quaisquer cargas, que normalmente estejam activas durante e a necessidade energética em manobra com os tempos
o normal funcionamento do ascensor. médios de stand-by e viagem para a obtenção do consumo
diário, de acordo com a tabela 1 e dividindo o valor obtido
As necessidades energéticas esperadas para operação de um pelo número de metros percorridos e pela carga nominal.
ascensor podem ser projectadas calculando as necessidades
energéticas por ano usando os valores de necessidade Obtém-se assim a energia necessária total específica para o
energética de stand-by e de manobra de acordo com a ascensor.
parcela temporal na categoria de utilização do ascensor, as

233
ARTIGO TÉCNICO

Para a atribuição das necessidades específicas de energia a Tabela 4 - Classes de eficiência energética - manobra

classes de eficiência energética, os valores limite para a Classes de necessidades energéticas – manobra
manobra e para as necessidades de stand-by pertencentes a Consumo ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ >
uma mesma classe são combinados de acordo com as energético 0,56 0,84 1,26 1,89 2,80 4,20 4,20
específico
tabelas 3 e 4 utilizando-se a seguinte equação: (mWh/(kg.m))

Classe A B C D E F G

Ps tan d −by , max × t s tan d −by ×1000


E Ascensor , max = E manobra ,max +
Q × vno min al × t manobra × 3600 2.6 Certificado Energético
[7]
Os valores característicos poderão ser entregues pelo
Pstand-by deverá ser indicado em mW e tmanobra em h. fabricante ao construtor ou utilizador do ascensor no âmbito
de um orçamento. Se não foi indicada nenhuma categoria de
Tabela 3 - Classes de necessidade energéticas – stand-by utilização, o fabricante poderá apresentar valores
característicos para diferentes categorias. Estes valores
Classes de necessidades energéticas – stand-by
podem ser apresentados num certificado energético.
Potência ≤50 ≤100 ≤200 ≤400 ≤800 ≤1600 >1600
/Output
(W)
Na figura 1 apresenta-se um exemplo de um certificado
Classe A B C D E F G
energético para um ascensor já existente:

Certificado Energético para Ascensores segundo a norma VDI 4707 (Versão 03-2009)
Classe de Eficiência Energética (VDI 4707):
Número Ascensor: VN106072
Tipo de Ascensor: Sem casa de máquinas, suspensão central A 0
Descrição: Edíficio Douro
Local de Instalação: Rua da Boavista, 232 B 0
Cód. Postal 4150-322 Porto
Carga Nominal: 630 kg C C
Velocidade: 1,0 m/s
Curso: 15,00 m Dias utilização: 365
D 0
Nº Pisos 6 Factor de carga: 0,7

Valores medidos: Potência em stand-by 54,00 W E 0


Necessidade energética para
uma manobra de referência F 0
seg. VDI 4707: 36,50 Wh 1,3518519

Necessidade Energética Necessidade Energética G 0


de Stand-by (VDI 4707): de Manobra (VDI 4707):

≤ 100 W ≤ 1,89 mWh/(m·kg) Necessidades energéticas anuais nominais de circuitos independentes: 3771 kWh
(Classe B) (Classe D)
365 Dias de operação por ano
414 kWh 3357 kWh

Categoria de Utilização (VDI 4707) 4 1,518518519 Só é possível comparar classes energéticas dentro da mesma categoria de utilização!
Intensidade de Utilização: elevada - elevada

Tempo médio Tempo médio Edifício de habitação com mais de 50 apartamentos; Edifício de escritórios
de Manobra 3 de stand-by Tipo de Edifício e de em altura com mais de 10 pisos; Grande Hotel; Hospital de pequena ou
(horas por dia): (> 2 ... 4,5) (horas por dia): 21 utilização típica: média dimensão; Ascensor de carga integrado no processo produtivo com
um turno

Certificado elaborado em 28-06-2009 por


Data Nome Assinatura e carimbo da empresa

Figura 1 – O Certificado Energético

234
ARTIGO TÉCNICO

3. IDENTIFICAÇÃO DE HIPÓTESES DE OPTIMIZAÇÃO 2. Os Displays nos patamares: os sinalizadores, com


indicação do piso em que se encontra
Para se poderem adoptar as diferentes hipóteses de momentaneamente o ascensor, bem como as setas de
optimização que são em baixo propostas, ter-se-á de medir o sinalização estão continuamente com as lâmpadas ou
seu impacto no consumo de energia, bem como determinar com os segmentos ligados.
o seu impacto em termos económicos.
Solução: Recurso a leds para os displays nos patamares e
3.1 Ascensor em Stand-by dentro da cabina, eliminando dessa forma as pequenas
lâmpadas incandescentes. Todos os ascensores
Diz-se no preâmbulo da Directiva Comunitária EuP que produzidos actualmente pela Schmitt-Elevadores
“como princípio geral, o consumo de energia dos produtos possuem já esta solução implementada.
que consomem energia em estado de vigília ou desactivados
deverá ser reduzido ao mínimo necessário para o seu 3. Painel de botoneira de cabina: situação idêntica à dos
funcionamento normal.” displays nos patamares, porquanto dentro da cabina
também existem sinalizadores com indicação do piso em
O consumo em stand-by é provocado por vários sistemas do que a cabina se encontra no momento
ascensor:
1. O Comando do Ascensor: mesmo com a máquina Solução: ver ponto anterior.
imobilizada, o autómato do ascensor está sempre activo
para poder reagir de imediato a um qualquer comando 4. Variador de frequência: quando o ascensor é dotado de
do exterior. Paralelamente estará a controlar um sistema de variação de frequência, o variador estará
continuamente todas as seguranças do ascensor. O(s) sempre activo, mesmo quando o ascensor não se
transformador(es) normalmente utilizados têm perdas, encontra em movimento.
apesar de não haver qualquer solicitação directa.
Solução: Após análise do padrão de tráfego do ascensor,
Solução: Após análise do padrão de tráfego do ascensor, temporizar um período da noite em que o variador de
desligar durante as “horas mortas”, algumas das funções frequência é colocado em modo sleep. Num prédio de
do comando, introduzindo um modo sleep. Desta forma, habitação, este período será tipicamente entre a 1.00
será possível por exemplo selectivamente desligar alguns horas e as 6.00 horas da manhã. O variador ficará
pisos do edifício – solução aplicável por exemplo num durante esse perído em modo “sleep”, sendo reactivado
edifício de escritórios, que funciona em pleno apenas quando ocorrer um comando externo. O tempo de
entre as 08.00 horas e as 20.00 horas. Poder-se-á desligar reacção do ascensor, perante um comando externo será
também algumas das funções de controlo e supervisão maior do que em modo contínuo de utilização.
do comando. Ter-se-á, contudo, de admitir um tempo de Consegue-se obter uma poupança de até 50% no
reacção maior, quando durante o modo sleep ocorrer consumo energético provocado pelo variador de
algum comando externo. Quanto aos transformadores, frequência. Este sistema já se encontra implantado em
prevê-se a instalação de fontes de alimentação mais todos os novos sistemas de elevação da Schmitt-
eficientes, por exemplo através da aplicação de Elevadores, Lda.
componentes de electrónica de potência. Ambas as
soluções estão já contempladas na última geração de 5. Cortina fotoeléctrica ou célula fotoeléctrica: sistema de
comandos electrónicos, modelo Schmitt+Sohn protecção dos utentes, instalado na porta de cabina do
Microtronic MC10. ascensor.

235
ARTIGO TÉCNICO

Solução: Desligar o sistema de cortina fotoeléctrica ou Solução: Temporizar o extractor, isto é, ele só deverá ser
cortina fotoeléctrica quando a porta de cabina se activado quando a cabina iniciar uma manobra e deverá
encontra fechada. desligar-se 30 segundos após a última manobra.

6. Luz de cabina: em muitos ascensores, principalmente 10. Sistema de comunicação bi-direccional: desde 1998,
em ascensores sem porta de cabina, a luz de cabina com a introdução da Directiva Ascensores, é obrigatória
encontra-se permanentemente acesa, mesmo quando o a instalação de um sistema de comunicação bi-
ascensor não se encontra em movimento. direccional entre a cabina do ascensor e uma central de
atendimento permanente, 24 horas por dia, 365 dias
Solução 1: Eliminar a iluminação permanentemente por ano, para todos os ascensores instalados a partir
acesa na cabina. Através de um temporizador, desligar a dessa data.
iluminação 3 minutos após a última manobra realizada.
Solução: dado se tratar de um sistema de segurança,
Solução 2: Recurso a leds para iluminação da cabina, recomenda-se que o sistema não seja desligado ou
substituindo as lâmpadas fluorescentes, incandescentes colocado em modo sleep. A poupança energética poderá
ou de halogéneo existentes. Estas lâmpadas led têm o ser obtida através da aplicação de sistemas com fontes
mesmo formato das lâmpadas de halogéneo ou das de alimentação mais eficientes, o que já está a ocorrer
lâmpadas fluorescentes (leds em forma tubolar). nos novos sistemas da Schmitt-Elevadores, Lda.

7. Motor da porta de cabina: está constantemente em 3.2 Ascensor em movimento


carga, para garantir que a porta de cabina se mantém
fechada. Hipóteses para a redução do consumo de energia com o
ascensor em movimento:
Solução: A porta de patamar manter-se-á fechada,
mesmo que a porta de cabina não esteja em carga. Logo, 1. Modernização de ascensores existentes, através da
poder-se-á desligar o motor da porta de cabina 2 substituição de máquinas com redutor (de 1 ou 2
minutos após a última manobra realizada. Desta forma o velocidades) por máquinas sem redutor (geearlss), mas
motor da porta de cabina deixa de estar com controlo por variação de frequência.
permanentemente em carga e a consumir energia.
2. A aplicação de variadores de velocidade por variação de
8. Sistema de excesso de carga: sistema electrónico que frequência em ascensores com sistemas de tracção por
controla a carga máxima que pode entrar na cabina, máquinas de 1 ou 2 velocidades permitirá uma redução
estando continuamente ligado. (estimada pelos fabricantes de máquinas) de até 30% no
consumo de energia. Paralelamente aumenta-se o
Solução: Desligar o sistema de excesso de carga 3 conforto de utilização do ascensor (menores ruídos e
minutos após a última manobra; menores vibrações), garante-se uma paragem mais
nivelada ao piso e um menor desgaste mecânico do
9. Extractor instalado no tecto da cabina: quando o ascensor (os arranques e as paragens do ascensor são
ascensor for dotado de um extractor, este poderá estar muito menos bruscas). Deverá recorrer-se a variadores
continuamente ligado. de frequência de última geração (VEV – Variadores
Electrónicos Regenerativos), que produzirão menores
perdas.

236
ARTIGO TÉCNICO

Este sistema de gestão de tráfego disponibilizará então


3. Prever sistemas de reinjecção de energia gerada pela o(s) ascensor(es) necessário(s), optimizando o número
máquina na rede (Recuperação de Energia). de manobras a realizar pelos ascensores e distribuindo
os passageiros a transportar pelos diferentes ascensores
Um ascensor ideal deveria reinjectar na rede, em existentes no edifício.
movimento ascendente, a mesma energia que consumiu
anteriormente à descida (carga mínima e carga máxima, 3.3 Outras acções
respectivamente, em ascensores eléctricos).
Apresentam-se em seguida outras acções, que embora não
A relação energia reinjectada face à energia absorvida estando relacionadas directamente com o funcionamento do
seria então de 1:1. Mas um ascensor real tem perdas ascensor, permitirão uma redução do consumo de energia
devido à aceleração, à travagem, à paragem, aos atritos e no edifício e não só especificamente no ascensor:
ao próprio sistema de tracção. Esta energia não é
recuperável. Assim, o grau de recuperação de energia 1. Instalação de luminárias de baixo consumo na casa de
(relação entre a energia reinjectada durante a viagem máquinas do ascensor (quando esta existir);
ascendente dividida pela energia necessária para ambas
as manobras – subida e descida) não ultrapassa 2. Instalação de luminárias de baixo consumo na caixa do
normalmente os 50%. Em ascensores de dimensões ascensor;
reduzidas o grau de recuperação de energia não
ultrapassará os 30%. Logo, só fará sentido (do ponto de 3. Sistema de arrefecimento da casa de máquinas
vista económico e energético) a instalação de um controlado por termóstato;
sistema de reinjecção em ascensores de grandes cargas e
que realizem muitas manobras. 4. Sistema de ventilação forçada da caixa do ascensor
controlado por termóstato, para minimizar as perdas
4. Recurso a comandos electrónicos, que adaptem o seu caloríficas;
funcionamento a uma melhor gestão do tráfego, por
exemplo, através do funcionamento em grupo. 5. Instalação de luminárias de baixo consumo nos
patamares, podendo o seu accionamento ser
Em edifícios de habitação, com dois ou mais ascensores comandado por sensores de movimento;
numa mesma caixa instalados antes dos anos 90,
tipicamente cada ascensor funciona em autonomia. 4. CONCLUSÕES
Através da modernização do comando, mediante a
instalação de um comando electrónico em grupo, será 4.1 Conclusões Gerais
possível fazer a gestão de funcionamento da bateria.
Desta forma será enviado apenas um ascensor de cada Em termos gerais é possível extrair as seguintes conclusões:
vez a cada solicitação, colocando-se em movimento o
ascensor que se encontrar mais próximo do local onde 1. A concepção de ascensores eficientes em termos de
foi enviado o comando externo. A avaliação do padrão energia contribuirá para um menor impacto ambiental;
de tráfego poderá ser feita no próprio ascensor ou por
um sistema de gestão de tráfego centralizado no edifício, 2. Para se atingir o objectivo universal de utilização racional
quando este tem vários ascensores instalados. de energia (eléctrica) num edifício, não se deverá

237
ARTIGO TÉCNICO

analisar apenas a eficiência energética, mas também o Efficient Energy Use), vários estudos sobre a eficiência
balanço energético. Assim, no caso dos ascensores, energética de ascensores;
dever-se-á ter em conta, para além do período de
operação, também o fabrico e a manutenção dos 5. Verificam-se diversas barreiras à adopção de ascensores
mesmos, o fornecimento de matérias-primas, bem como eficientes em termos energéticos:
a sua reciclagem: a análise do ciclo de vida do produto.
a) O Comprador e o utilizador do ascensor não têm
3. A norma VDI4707:2009 apenas analisa a eficiência interesses coincidentes: Na grande maioria das
energética de ascensores. Contudo, para a avaliação da situações, o ascensor não é fornecido directamente
eficiência energética do sistema “edifício com ao cliente final, mas a uma empreiteiro geral que o
ascensor(es)” dever-se-ão considerar ainda outros incorpora no edifício. Este orienta-se
critérios (não abrangidos pela referida norma), como por fundamentalmente pelo preço de aquisição do
exemplo as perdas caloríficas através da ventilação ascensor e não pelos custos de energia eléctrica e de
(obrigatória) da caixa do ascensor. operação que este venha a provocar no futuro, que
será sempre suportado pelo utilizador.
4. Verificou-se que a temática da eficiência energética é
ainda pouco explorada pela indústria de ascensores, seja b) Em edifícios existentes, ocorre uma grande
através da incorporação nos ascensores das novas resistência à incorporação de novos componentes
tecnologias já disponíveis em outras aplicações, seja que possam por em causa a operação e a
através da divulgação de informação relevante em disponibilidade dos ascensores existentes. Em novos
termos do desempenho energético dos equipamentos edifícios é mais fácil incorporar as novas tecnologias.
comercializados. Existem ainda muito poucos estudos
realizados neste âmbito na Europa, com uma notável Pelo que se recomenda uma sensibilização do cliente
excepção da Suíça que tem vindo a patrocinar, através de final bem como de projectistas (arquitectos e gabinetes
uma organização estatal (a SAFE - Swiss Agency for de engenharia).

Distribuição de consumos em função da


categoria de utilização
5

Standby
2 Manobra

0% 20% 40% 60% 80% 100%

1 2 3 4 5
Manobra 34,8% 44,4% 69,4% 88,4% 88,3%
Standby 65,2% 55,6% 30,6% 11,6% 11,7%

Figura 2 – Distribuição de consumos anuais em função da categoria de utilização

238
ARTIGO TÉCNICO

6. Recomenda-se que o consumo energético dos sistemas de reinjecção de energia: o consumo em stand-
ascensores seja considerado também no âmbito do by representa “apenas” cerca de 12% do consumo total.
Regulamento dos Sistemas Energéticos e de Climatização
dos Edifícios (RSECE) – Decreto-Lei 79/2006 de 04 de 2. Do total dos 20 ascensores eléctricos estudados apenas 2
Abril. Dessa forma existiria desde logo uma maior apresentam uma classe de eficiência energética “A”. São
atenção na fase de projecto por parte dos projectistas precisamente os 2 ascensores que são equipados com
relativamente à aplicação de ascensores eficientes máquinas com redutor, mas com apenas uma velocidade
energeticamente, para que pudessem ver aprovado o e sem velocidade variável por variação de frequência.
seu projecto. Estando numa categoria de utilização “1”, ambos os
ascensores têm um baixo consumo de stand-by. Contudo
4.2 Conclusões Específicas do ponto de vista do conforto, da segurança – devido ao
facto de terem uma máquina com apenas uma
A partir do estudo da amostra de 20 ascensores eléctricos é velocidade, não se consegue uma paragem nivelada ao
possível identificar as seguintes conclusões: piso, havendo normalmente um degrau à saída da cabina
– do ruído (actuação dos contactores e dos travões) e do
1. O consumo do ascensor em stand-by (estado em que se desgaste do material recomendar-se-ia a substituição da
encontra o ascensor quando não está em movimento, máquina e a aplicação de um sistema de variação de
ascendente ou descendente), pode variar entre 12% e velocidade por variação de frequência.
65% do consumo total de energia anual do mesmo
ascensor, em função da categoria de utilização do 3. Do estudo realizado, pode-se concluir ainda que é muito
mesmo. difícil, se não impossível, atingir a classe de eficiência
energética “A”, em ascensores com categorias de
Do gráfico é possível concluir que quanto menor for a utilização de 1 a 3. Para as categorias mais elevadas só se
categoria de utilização, mais relevante se torna o conseguirá atingir a classe de eficiência energética “A”,
consumo energético de um ascensor em stand-by ao recorrendo a um sistema de reinjecção de energia.
longo de um ano, pelo que o investimento a realizar na
melhoria da eficiência energética se deve concentrar em 4. Para além da avaliação da optimização energética deverá
todas as medidas que possam reduzir o consumo em ser realizada também a avaliação económica. Para a
stand-by. Assim, para a categoria de utilização 1 grande maioria das situações estudadas o investimento
(intensidade de utilização muito baixa e frequência de só se amortiza passados mais de 5 anos, pelo que a
utilização muito baixa) a que corresponde, por exemplo, realização desse investimento fará sentido quando se
um edifício de habitação (que representará a situação pretender modernizar o equipamento (por fadiga dos
com o maior número de ascensores instalados em materiais, por exemplo) ou como forma de aumentar o
Portugal), o consumo anual de energia em stand-by conforto, a segurança e diminuir o ruído e o desgaste do
representa 65% do consumo energético total do ascensor, ou por alguma imposição legal.
ascensor. Por outro lado, quanto maior for a intensidade
de utilização e a frequência de utilização, maior é o 5. Estima-se que em Portugal, dos cerca de 120.000
consumo energético durante a manobra. Na categoria de ascensores instalados, cerca de 90% ainda foram
utilização 5 (correspondente a um grande hospital ou um instalados com tecnologias menos eficientes do ponto de
grande edifício de escritórios) valerá a pena concentrar vista energético, pelo que existe um grande potencial de
os esforços de investimento em melhorias no poupança no consumo de energia eléctrica.
desempenho energético das máquinas de tracção e em

239
ARTIGO TÉCNICO

6. Os resultados obtidos poderão contribuir para a [4] CASTANHEIRA, Luís; BORGES GOUVEIA, Joaquim –
formação de um critério de qualidade para ascensores e Energia, Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.
para a sua operação, e dessa forma para uma gestão Porto, Spi – Sociedade Portuguesa de Inovação, 2004.
sustentável. ISBN 972-8589-45-X.
[5] CÓIAS, Vítor; FERNANDES, Susana – Reabilitação
5. BIBLIOGRAFIA Energética dos Edifícios: Porquê? Oz – Diagnóstico
Levantamento e Controlo de Qualidade em Estruturas
[1] ALMEIDA, Aníbal, PATRÃO, Carlos, FONSECA, Paula, e Fundações, Lda, 2006.
MOURA, Pedro – Manual de boas práticas de eficiência [6] KÜNTSCHER, Dietmar – Energiesparende
energética. Lisboa, ISR – Departamento de Engenharia Aufzugsysteme – Lift-Report nº2 – Ano 32, 2006.
Electrotécnica e de Computadores Universidade de [7] FITZGERALD, A.; KINGSLEY, Charles; UMANS, Stephen –
Coimbra e BCSD Portugal – Conselho Empresarial para Electric Machinery. Nova Iorque, McGraw Hill, 2003.
o Desenvolvimento Sustentável, 2005. ISBN 0-07-123010-6.
[2] BARNEY, Gina – Elevator Traffic Handbook – Theory [8] FRANCHI, C. – Acionamentos Eléctricos. Editora Érica,
and Practice. Nova Iorque, Spon Press, 2003. ISBN 0- Ltda, 2007. ISBN 978-85-365-0149-9.
415-27476-I. [9] GAMBOA, José – Ascensores e Elevadores. Lisboa, Rei
[3] BOLLA, Mario – Verbesserung der Energieeffizienz von dos Livros, 2005. ISBN 972-51-1007-2.
Aufzügen und Förderanlagen durch Entwicklung eines [10] JANOVSKY, Lumomír – Elevator Mechanical Design. 3ª
Neuartigen Frequenzumformers – Jahresbericht 2007. Edição. Mobile USA, Elevator World, Inc., 1999. ISBN 1-
Seftigen, Bundesamt für Energie, Suiça, 2007. 886-536-26-0.

240
ARTIGO TÉCNICO José Jacinto Ferreira, Miguel Leichsenring Franco
Schmitt - Elevadores
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010

OPTIMIZAÇÃO ENERGÉTICA EM NOVOS ASCENSORES

1 ENQUADRAMENTO Para o estudo de optimização energética na fase de


desenvolvimento de novos ascensores desenvolveu-se um
De acordo com um estudo da S.A.F.E – “Agência Suíça para a modelo de simulação que permitiu analisar diversos cenários
Utilização Eficiente da Energia”, realizado em 2005, os e apresentar soluções a ter em conta na fase de definição de
ascensores podem representar uma parte significativa do um novo ascensor.
consumo de energia num edifício (o consumo energético de
um ascensor poder representar em média 5% do consumo 2.1 FUNCIONAMENTO DO SISTEMA DE ACCIONAMENTO

total de energia de um edifício de escritórios). Na Suíça ELECTROMECÂNICO E A SUA MODELIZAÇÃO

estima-se que o somatório do consumo de energia dos cerca


de 150.000 ascensores instalados represente cerca de 0,5% Segundo Palma (2008) as partes móveis dos accionamentos
do total de 280 GWh de consumo energético do país. envolvem quase sempre fenómenos complexos, quer pela
A redução do consumo de energia nos edifícios poderá ser multiplicidade dos seus detalhes, quer pela sua própria
obtida através da melhoria das características construtivas, natureza, muitas vezes, não linear.
reduzindo dessa forma as necessidades energéticas, através Contudo, como o objectivo da modelação é a utilização em
de medidas de gestão da procura, no sentido de reduzir os sistemas de controlo onde intervêm diversos outros
consumos na utilização e através do recurso a equipamentos subsistemas, com destaque para os eléctricos, os
energeticamentemais eficientes. electrónicos e os mecânicos, procuram-se modelos
No preâmbulo da Directiva 2005/32/CE de 06 de Julho de matemáticos tão simples quanto possível para cada um
2005 – “EuP – Energy Using Products” (Requisitos de deles.
concepção ecológica dos produtos que consomem energia)1 Para muitos dos sistemas electromecânicos que se pretende
refere-se que “a melhoria da eficiência energética – de que modelizar pode-se considerar simplificadamente a seguinte
uma das opções disponíveis consiste na utilização final mais equação de comportamento dinâmico, baseada na lei
eficiente da electricidade – é considerada um contributo fundamental da dinâmica para um sistema rotativo:
importante para a realização dos objectivos de redução das
dw
emissões de gases com efeito de estufa na Comunidade.” Tm − Tr = J (1)
dt
Daí que seja importante estudar também a optimização
energética em novos ascensores. Onde Tm representa o binário motor (expresso em Nm), Tr o
binário resistente (expresso em Nm), J o momento de inércia
2 DESENVOLVIMENTO DO MODELO EM MATLAB-SIMULINK do sistema (expresso em kgm2) e dw a aceleração angular
dt
(rad.s-2).
De acordo com a Directiva 2005/32/CE de 06 de Julho acima O momento de inércia será calculado a partir de:
referida, “deverá actuar-se na fase de concepção do [2]
dω dω dω
T .ω = F ⋅ v ⇔ J ω = m ⋅ a ⋅v ⇔ J ω = m⋅ r ⋅ω ⋅ r
produto, já que é aí que a poluição originada no seu ciclo de dt dt dt
vida é determinada e que a maior parte dos custos surgem”. (2)
⇔ J = m⋅ r2

1Esta directiva cria um quadro de definição dos requisitos comunitários de concepção ecológica dos produtos consumidores de energia com o
objectivo de garantir a livre circulação destes produtos nos mercado interno. Prevê ainda a definição de requisitos a observar pelos produtos
consumidores de energia abrangidos por medidas de execução, com vista à sua colocação no mercado e/ou colocação em serviço. Contribui
para o desenvolvimento sustentável, na medida em que aumenta a eficiência energética e o nível de protecção do ambiente, e permite ao
mesmo tempo aumentar a segurança do fornecimento de energia

241
ARTIGO TÉCNICO

Onde m representa a massa suportada pela roda de tracção Ainda segundo Palma (2008), um sistema de accionamento
e r o raio da roda de tracção da máquina. electromecânico de velocidade variável, que permite o
A potência mecânica do sistema será obtida a partir de: ajuste de velocidade, de posição ou de binário, dentro de
certas gamas de variação, é constituído por diversos
F ⋅v
P = F ⋅ v = T ⋅ω ⇒ T = (3) componentes:
ω
1. Fonte de energia eléctrica;
Sendo a velocidade linear v, dada por: 2. Conversor estático de potência;
3. Máquina eléctrica, incluindo a transmissão;
v = ω ⋅r (4) 4. Sistema mecânico movido, ou carga;
5. Órgãos electrónicos de controlo e de comando do
Como sob o ponto de vista electrotécnico todo o sistema de conversor.
accionamento electromecânico está subordinado ao motor
eléctrico ter-se-á de reduzir as diferentes grandezas 2.2 O MODELO DO ASCENSOR EM MATLAB-SIMULINK
mecânicas envolvidas ao eixo motor. Nessa redução utiliza-
se o Princípio da Conservação da Energia. Na concepção do modelo simulink separou-se cada um dos
A energia cinética é dada por: componentes do sistema, eléctrico e mecânico (elevador),
para uma maior facilidade de parametrização e
1
Ec = Jω 2 (5)
2 interpretação de resultados, conforme as figuras 2 e 3.
Foram ainda concentrados todos os outputs das grandezas
Então para o todo o sistema será válida a seguinte relação: mecânicas consideradas, num mesmo bloco (caixa redutora),
que simula o acoplamento mecânico com o motor eléctrico.
1 1
Ec1 = Ec 2 ⇒ J 1ω12 = J 2 ω 22 ⇔ J 1ω12 = J 2 ω 22 (6) As grandezas eléctricas de monitorização são retiradas do
2 2
próprio bloco variador/motor (AC2).
As equações [1] a [6] foram então transpostas para o modelo Desta forma, o modelo foi dividido em três blocos principais
em Matlab-Simulink. – Bloco Mecânico, Bloco Eléctrico e Blocos de medições de
Apresenta-se na figura 1 o modelo de base do ascensor grandezas eléctricas e mecânicas -, que por sua vez se
eléctrico com roda de aderência e máquina com redutor. subdividem em outros blocos secundários, conforme a
seguir se descreve.

Figura 1 – Modelo de base do ascensor eléctrico com roda de aderência e máquina com redutor

242
ARTIGO TÉCNICO

Figura 2 – Diagrama geral de blocos do ascensor com variação de velocidade PWM

Figura 3 – Diagrama geral de blocos do ascensor – Arranque directo

243
ARTIGO TÉCNICO

Figura 4 – Diagrama geral de blocos do ascensor – Modelo mecânico

2.2.1 BLOCO MECÂNICO (ASCENSOR) Na janela de parametrização da cabine do ascensor são


introduzidas as massas do conjunto cabine/contrapeso. O
O bloco mecânico foi dividido em três sub-blocos, bloco simulink faz a soma das massas da carga e da cabine e
correspondentes a cada um dos componentes mecânicos do finalmente subtrai a massa do contrapeso2. Se o resultado
sistema: for positivo o sistema vai criar um binário resistente positivo
1. A cabine do ascensor; na subida da cabine e negativo na descida da mesma,
2. A roda de tracção; conforme tabela 1. Considerou-se ainda o rendimento da
3. A caixa redutora. cabine, que representa as perdas por atrito das roçadeiras da
cabina nas guias, eventuais oscilações dos cabos, etc.
2.2.1.1 CABINE DO ASCENSOR

A cabina do ascensor pode ser modelizada a partir do


seguinte conjunto de sub-blocos:

Figura 5 – Diagrama de blocos Simulink da cabine Figura 6 – Janela de parametrização da cabine/contrapeso

2É prática na indústria de ascensores que o contrapeso seja dimensionado para contrabalançar a massa da cabina + 50% da carga nominal da
cabina. Assim, para uma cabina com uma carga útil de 630 kg e um peso próprio de 850 kg, o contrapeso terá de ter uma massa de 1165 kg.
Procurar-se-á através de uma análise de cenários verificar se esta é a solução óptima em termos de consumo energético.

244
ARTIGO TÉCNICO

Tabela 1 – Sentido do binário resistente em função do movimento da cabine e das massas

Binário Resistente

Massas (kg)
Movimento da Cabine
(Carga+Cabine) > Contrapeso (Carga+Cabine) < Contrapeso

Subida positivo negativo

Descida negativo positivo

O output deste bloco será a massa resultante do sistema Como já foi dito anteriormente, outro dos inputs é a massa
cabine/contrapeso responsável pela força vertical do sistema resultante do sistema cabine/contrapeso, responsável por
(peso), que poderá ser positiva ou negativa e será um dos parte do momento de inércia do sistema que influenciará o
inputs do bloco da roda de tracção. binário transitório (arranques/paragens) e pelo binário
permanente, quando a cabina atinge a velocidade nominal.
2.2.1.2 RODA DE TRACÇÃO No bloco simulink da roda de tracção será calculado o binário
resistente permanente referido ao seu eixo, bem como o
A roda de tracção da máquina elevadora pode ser momento de inércia resultante da carga total do sistema
modelizada a partir do conjunto de sub-blocos indicados na cabine/contrapeso, sendo este referido também ao mesmo
figura 7. eixo. Estas duas grandezas associadas ao rendimento da roda
Na janela de parametrização, são introduzidos os dados de tracção e ao seu raio, integrarão um bus de dados de
relativos à roda de tracção, nomeadamente o momento de output, que será um dos inputs do bloco da caixa redutora.
inércia, o rendimento e o raio da roda de tracção.

Figura 7 - Diagrama de blocos Simulink da roda de tracção

245
ARTIGO TÉCNICO

2.2.1.3 CAIXA REDUTORA

A caixa redutora da máquina elevadora pode ser modelizada


a partir do conjunto de sub-blocos, indicados na figura 9,
para a situação de variação de velocidade e arranque
directo.
Na modelização do arranque directo, o motor roda sempre
no mesmo sentido de tal forma que para distinguir a subida
da descida da cabine, foi necessário implementar algumas
modificações para que o bloco identificasse ambas as
Figura 8 – Janela de parametrização da roda de tracção situações, conforme indicado na figura 10.

Figura 9 - Diagrama de blocos Simulink da caixa redutora com variador de velocidade

Figura 6 – Janela de parametrização da cabine/contrapeso

Figura 10 - Diagrama de blocos Simulink da caixa redutora para o arranque directo

246
ARTIGO TÉCNICO

O input de dados do bloco simulink da caixa redutora divide- quer à descida. Pretende-se simular uma viagem completa
se pelo bus de dados proveniente da roda de tracção, pelos da cabina3.
parâmetros introduzidos pelo utilizador, tais como o O Tempo de arranque/paragem foi definido com o sendo de
momento de inércia, rendimento e a relação da caixa um segundo.
redutora e finalmente pela velocidade de rotação (rad/s) no
veio do motor (rotação efectiva do motor) e pelo Setpoint de
velocidade. A velocidade de rotação vai permitir o cálculo do
binário transitório, bem como a potência solicitada e a
velocidade linear da cabine.
De referir ainda que o Setpoint de velocidade neste bloco
tem uma actuação indirecta, permitindo unicamente definir
o sentido do binário resistente. Os outputs deste bloco são o
binário resistente, referido ao veio do motor, que será o
input mecânico do motor de indução, que por sua vez vai Figura 12 – Setpoint de velocidade do motor com variação de
velocidade
gerar a velocidade de rotação que serve de input ao mesmo
bloco. São ainda outputs, a potência solicitada pelo sistema e 2.2.2 BLOCO ELÉCTRICO
a velocidade linear da cabine, sendo estas duas grandezas só
para monitorização, não tendo por isso qualquer Este bloco é constituído por dois sub-blocos:
interferência com o sistema.
2.2.2.1 FONTE DE ALIMENTAÇÃO

Este bloco estabelece as condições da rede eléctrica (400V


AC 50Hz), conforme os parâmetros introduzidos na janela de
parametrização.

Figura 11 – Janela de parametrização da caixa redutora

2.2.1.4 SETPOINT DE VELOCIDADE DO MOTOR

Através desta função define-se a curva de aceleração,


desaceleração e velocidade nominal da carga, quer à subida Figura 13 – Janela de parametrização da fonte de alimentação
(input de dados pelo utilizador)

3Viagem com a cabina em vazio, em sentido descendente e ascendente, vencendo todo o curso, isto é, a cabina deve ser movimentada entre os
pisos extremos do edifício.

247
ARTIGO TÉCNICO

2.2.2.2 BLOCO SIMULINK AC2 Optou-se por adoptar o binário resistente como input
mecânico. Como num elevador a velocidade é imposta, o
O bloco AC2 incorpora dois equipamentos, o variador de que vai variar no sistema é o binário resistente que depende
frequência e o motor de indução e ainda inputs e outputs, da carga total e poderá variar em cada viagem do elevador.
que servem para controlar e monitorizar o sistema. O bloco AC2 vai gerar a velocidade de rotação que serve de
Relativamente aos inputs de controle, faz-se referência ao input ao bloco da caixa redutora, que é velocidade real do
Setpoint de velocidade que foi já indicado na figura 12, que sistema. A velocidade real depende de todas as grandezas
vai servir de base à aceleração/desaceleração do sistema, mecânicas e eléctricas do sistema, bem como do Setpoint de
bem como à sua velocidade permanente e ainda o binário velocidade. Existem ainda vários outputs de controlo ou
resistente, gerado pelo sistema mecânico (output da caixa meramente indicativos e para monitorização do sistema.
redutora). Na janela de parametrização do motor assíncrono, são
O bloco AC2 permite ainda escolher o input mecânico, que introduzidos todos os dados que caracterizam a máquina,
poderia ser a velocidade de rotação ou binário resistente. eléctricos e mecânicos. Foram considerados os parâmetros
recolhidos do ascensor real estudado.

Figura 14 – Janela de parametrização do motor de indução trifásico

248
ARTIGO TÉCNICO

Na janela de parametrização do conversor e


barramento DC, indicada na figura 15, faz-se especial
referência à capacidade do barramento que é a
responsável pelo filtro dos harmónicos e consequente
estabilização de correntes, e à frequência de
comutação do chopper.
Quanto mais elevada for esta frequência de
comutação, mais precisa será a onda gerada pelo
conversor e consequente maior será a estabilidade
mecânica do sistema.

No bloco de parametrização do controlador, indicado


na figura 16, será definida a forma como irá actuar o
variador no motor, ou seja, a rapidez de resposta a
alterações de velocidade provocadas pelo binário
resistente e Setpoint de velocidade. De referir o
controlador PI, a tensão no barramento DC, a
aceleração e a desaceleração do motor, os limites de
output de frequência e a relação tensão/frequência.
Figura 16 – Janela de parametrização do controlador do sistema
variador/motor

2.2.3 BLOCOS DE MEDIÇÕES DE GRANDEZAS ELÉCTRICAS E

MECÂNICAS

Para efectuar medições aplicaram-se blocos do tipo


scope (visualização de outputs) na caixa redutora,
com os seguintes agrupamentos de variáveis:
SCOPE 1
- Velocidade linear da cabine (m/s)
SCOPE 2
- Binário resistente / binário electromagnético
(N.m)
- Binário transitório (arranque/paragem do
sistema) (N.m)
- Potência do sistema mecânico (W)
SCOPE 3
- Corrente no estátor (A)
- Velocidade parametrizada/real (rpm)
- Binário electromagnético (N.m)

Figura 15 – Janela de parametrização do conversor e barramento DC


SCOPE 4
- Corrente RMS absorvida pelo conjunto
variador/motor/sistema mecânico (A)

249
ARTIGO TÉCNICO

3 VALIDAÇÃO DO SIMULADOR ii. Para ascensores com máquina sem redutor e


suspensão central, o rendimento da caixa do
O ascensor que serviu de base para a modelização em ascensor será de aproximadamente 85% e o
Simulink e para as respectivas medições, é o ascensor rendimento da máquina (apenas motor) será de
número 3 de uma bateria dupla de ascensores produzidos e aproximadamente 100%, pelo que o rendimento
instalados em 2007 no Alfena Trade Center, em Alfena – global do sistema será de aproximadamente 85%;
Ermesinde. Conclusão: O ascensor com suspensão central (e com
O ascensor seleccionado é um ascensor eléctrico com roda máquina gearless só consome 60% da energia (quociente
de aderência, com casa de máquinas em cima na vertical, entre 0,5/0,85) do ascensor com suspensão lateral;
sobre a caixa. A escolha deste tipo de ascensor resulta da lei b. Recurso a roçadeiras ou rodas que gerem menos atrito
actualmente em vigor (DL 163/2006 de 08.08), que nas guias;
determina que os ascensores a instalar tenham de ser c. Recurso a cabinas executadas em materiais mais leves,
dimensionados para uma carga de pelo menos 630 kg / 8 isto é, cabinas menos pesadas, que implicarão
pessoas, por forma a garantir o acesso a pessoas com contrapesos com menor massa;
mobilidade reduzida (resulta da imposição das dimensões da d. Recurso a um número reduzido de rodas de desvio. Cada
cabina que deverá ter no mínimo uma largura de 1,1 m e uma destas deverá ter uma baixa inércia;
uma profundidade de 1,4 m).
Os dados medidos e os simulados vão de encontro às 2. Optimização do peso do contrapeso. De acordo com
mesmas conclusões, com a excepção do modo de frenagem dados da indústria, o grau de ocupação normal médio da
do motor, dado que nas medições não se verifica a cabina representa apenas 20% da carga nominal.
reinjecção de energia na rede (uma vez que o variador de Contudo, os contrapesos estão dimensionados para uma
frequência utilizado na realidade não o permite). ocupação média da cabina de 50% da carga nominal.
Uma optimização para cargas mais pequenas, levaria a
4 HIPÓTESES DE OPTIMIZAÇÃO um melhor balanceamento, e logo a uma poupança da
energia necessária;
4.1 NO DESENVOLVIMENTO DE NOVOS ASCENSORES:
3. Recurso a máquinas gearless (sem redutor) ou então a
1. Aplicação de soluções construtivas mecânicas que máquinas de indução com elevado rendimento;
permitam reduzir o consumo de energia:
a. Cabinas suspensas ao centro da cabina, pois reduzem o 4. Aplicação do motor linear. Contudo, o estado da arte
atrito gerado sobre as guias. De acordo com um artigo ainda não corresponde actualmente aos graus de
publicado por Küntscher em 2006, intitulado “Sistemas exigência em termos de segurança e perfomance
de Ascensores que poupam energia” em que se pretendidos;
comparam diferentes soluções de tracção, será possível
fazer a seguinte avaliação energética de ascensores: 5. Aplicação de um sistema de reinjecção de energia. Para
i. Para ascensores com máquina com redutor e além da redução do consumo energético directo, este
suspensão lateral, o rendimento da caixa do ascensor sistema reduz a emissão de calor para a casa de
será de aproximadamente 70% e o rendimento da máquinas (elimina-se a energia calorífica libertada na
máquina (motor + redutor) também será de resistência regenerativa) reduzindo os custos com a
aproximadamente 70%, pelo que o rendimento instalação de um sistema de climatização da casa de
global do sistema será de aproximadamente 50%; máquinas;

250
ARTIGO TÉCNICO

6. Utilização de cabos de suspensão com diâmetros 4.2 DIMENSIONAMENTO E PROJECTO DE EDIFÍCIOS


inferiores, bem como formas de gornes nas rodas de
tracção que possibilitem a sua aplicação. Esta solução Também será possível intervir na fase de projecto de novos
permite a aplicação de diâmetros de rodas de tensão edifícios, apresentando informações sobre os consumos
menores, que requerem momentos menores (mas energéticos de ascensores aos projectistas.
motores com um número de rotações mais elevado); Actualmente a escolha do tipo (essencialmente o sistema de
tracção, a carga nominal e a velocidade) e da quantidade de
7. Instalação de ascensores com uma carga nominal ascensores para um dado edifício é feita por recurso a
inferior, naturalmente tendo em atenção as imposições modernos programas de cálculo de tráfego, que se baseiam
legais: a NP EN 81-70:2003 indica que um ascensor de em critérios de qualidade de serviço que se pretende
450 kg é adequado para o transporte de pessoas em garantir.
cadeiras de rodas. Contudo o Decreto-Lei 163/2006 De acordo, por exemplo, com a Norma Portuguesa NP4267 –
obriga à instalação de ascensores com um mínimo de “Critérios de escolha de ascensores a instalar em edifícios
630 kg; não destinados a habitação”, deverão ser utilizados os
seguintes parâmetros (que serão calculados através de
8. Recurso a velocidades nominais inferiores: v=0,4 a 0,63 modelos matemáticos igualmente definidos na mesma
m/s. Muitas das vezes, principalmente em edifícios de norma) para a aferição dos critérios de qualidade de serviço:
habitação com um número de pisos reduzido, os
ascensores têm velocidades de 1,0 m/s, o que implica a - A duração máxima do percurso teórico (TD), ou seja o
instalação de máquinas mais potentes, quando uma tempo de percurso teórico entre pisos extremos.
velocidade inferior seria mais do que suficiente; - O Intervalo máximo no piso principal (I), ou seja, o
tempo médio entre as partidas sucessivas da mesma
9. Verificação contínua da qualidade da montagem, cabina do piso principal;
nomeadamente a colocação das guias – evitar - A capacidade de transporte (C5), que representa a
desaprumos e prisões nas guias, bem como a percentagem da população do edifício acima do piso
parametrização do variador de frequência e optimização principal que pode ser transportada em 5 minutos pela
das curvas de andamento; bateria de ascensores;

10. Instalação de sistemas centralizados de gestão de tráfego o projectista dimensiona, então os ascensores em função
informatizados que realizem uma avaliação automática dos valores obtidos pelo cálculo, por comparação com
do padrão de tráfego. Este sistema de gestão de tráfego critérios tabelados (por exemplo a TD deverá ser de 20
disponibilizará então o(s) ascensor(es) necessário(s), segundos, no máximo, para que a qualidade do serviço possa
optimizando o número de manobras a realizar pelos ser considerada excelente), sem ter em conta a eficiência
ascensores e distribuindo os passageiros a transportar energética dos mesmos.
pelos diferentes ascensores existentes no edifício. Perante a instalação cada vez maior de ascensores, mesmo
em edifícios com baixo número de pisos (para facilitar a
11. Incorporar o Estado da Arte de Componentes analisados mobilidade de pessoas com mobilidade reduzida), dever-se-
no artigo anterior sobre optimização energética de á ter um cuidado especial no seu planeamento (projecto),
ascensores para se obter uma boa solução, quer do ponto de vista
técnico, legal4 e económico, quer do ponto de vista
energético.

251
ARTIGO TÉCNICO

A partir do simulador apresentado também no artigo contrapeso assume um peso de 78% de 1165 kg, que é a
anterior, deverá ser possível obter informação sobre os solução inicialmente estudada).
consumos energéticos das diferentes soluções estudadas e Os 910 kg correspondem à situação em que não há consumo
incorporá-las nos estudos de tráfego a realizar. Igualmente de energia à subida na manobra com a cabina vazia5.
deverão ser elaboradas tabelas com informação sobre o Para cenários com e sem reinjecção de energia, a eficiência
desempenho energético das diferentes soluções oferecidas, torna-se efectiva para massas do contrapeso superiores a
que deverão ser disponibilizadas aos projectistas. 73% e inferiores a 100% da massa do contrapeso de
referência.
5 RESULTADOS A melhor solução ocorre quando o contrapeso pesa 910 kg.
Contudo, esta solução implicará a aplicação de uma máquina
1. Impacto de diferentes massas do contrapeso sobre o mais potente do que a que seria necessária na solução base
consumo energético (1165 kg).
Se fosse possível reaproveitar toda a energia nas manobras
Para a verificação do impacto de diferentes massas do que o permitem, o contrapeso poderia assumir qualquer
contrapeso sobre o consumo energético estudaram-se 3 massa acima dos 50% (ou seja 582,5 kg). Para este cenário a
cenários: solução óptima passaria por um contrapeso com uma massa
a. cenário ideal - 100% da energia é reinjectada; de 1165 kg, porque implicaria uma máquina de menor
b. cenário real - 30% da energia é reinjectada; potência.
c. cenário real - não existe reinjecção. Se fosse possível reaproveitar toda a energia nas manobras
Tomou-se como base o ascensor de 630 kg a que que o permitem, o contrapeso poderia assumir qualquer
corresponde uma cabina com 850 kg de peso e um massa acima dos 50% (ou seja 582,5 kg).
contrapeso com 1165 kg. Utilizou-se a manobra de Para este cenário a solução óptima passaria por um
referência indicada na norma VDI 4707. contrapeso com uma massa de 1165 kg, porque implicaria
A solução óptima da massa do contrapeso ocorre, para todos uma máquina de menor potência.
os cenários considerados, aos 910 kg (ou seja quando o

Tabela 2 - Resultados: Impacto de diferentes massas do contrapeso sobre o consumo energético

Carga Energia da Manobra de Referência em Função da Massa do Contrapeso


Contrapeso=Cabine
Contrapeso 0% Contrapeso 25% Contrapeso 50% Contrapeso 68% (a) Contrapeso 75% Contrapeso 78% (b) Contrapeso 95% Contrapeso 100% (c)
73%
Massa %
0kg 291,25kg 582,5kg 790kg 850kg 873,75kg 910kg 1102kg 1165 kg
Subida Descida Subida Descida Subida Descida Subida Descida Subida Descida Subida Descida Subida Descida Subida Descida Subida Descida
0,0 kg 0% 34,16 Wh -28,41 Wh 23,10 Wh -18,10 Wh 12,17 Wh -7,58 Wh 4,55 Wh 0,00 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh 1,35 Wh 3,11 Wh 0,00 Wh 4,45 Wh -7,02 Wh 11,59 Wh -9,31 Wh 13,94 Wh
157,5 kg 25% 40,20 Wh -33,81 Wh 29,06 Wh -23,71 Wh 18,06 Wh -13,29 Wh 10,30 Wh -5,76 Wh 8,07 Wh -0,57 Wh 7,19 Wh -2,70 Wh 5,84 Wh -1,37 Wh -1,26 Wh 5,73 Wh -3,57 Wh 8,07 Wh
315,0 kg 50% 46,28 Wh -34,64 Wh 35,06 Wh -29,24 Wh 24,00 Wh -18,95 Wh 16,19 Wh -11,49 Wh 13,94 Wh -9,31 Wh 13,05 Wh -8,45 Wh 11,70 Wh -7,13 Wh 4,56 Wh -0,10 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh
472,5 kg 75% 52,40 Wh -39,29 Wh 41,11 Wh -34,58 Wh 29,96 Wh -24,55 Wh 22,10 Wh -17,16 Wh 19,85 Wh -15,00 Wh 18,96 Wh -14,15 Wh 17,59 Wh -12,84 Wh 10,41 Wh -5,87 Wh 8,07 Wh -3,57 Wh
630,0 kg 100% 58,57 Wh -50,72 Wh 47,20 Wh -34,28 Wh 35,97 Wh -30,07 Wh 28,07 Wh -22,78 Wh 25,79 Wh -20,65 Wh 24,89 Wh -19,80 Wh 23,52 Wh -18,50 Wh 16,30 Wh -11,59 Wh 13,94 Wh -9,31 Wh

Média ponderada 39,008 Wh -31,741 Wh 27,885 Wh -22,545 Wh 16,899 Wh -12,129 Wh 9,195 Wh -4,593 Wh 6,914 Wh -1,487 Wh 6,031 Wh -1,514 Wh 4,681 Wh -0,181 Wh -2,389 Wh 6,917 Wh -4,695 Wh 9,257 Wh
VDI 4707
Ideal - 100%
7,267 Wh 5,340 Wh 4,770 Wh 4,601 Wh 5,428 Wh 4,517 Wh 4,500 Wh 4,528 Wh 4,562 Wh
Reinjecção
159,31% 117,06% 104,57% 100,87% 118,98% 99,02% 98,65% 99,27% 100,00%

30% Reinjecção 29,486 Wh 21,122 Wh 13,260 Wh 7,817 Wh 6,468 Wh 5,577 Wh 4,627 Wh 6,201 Wh 7,848 Wh
375,69% 269,12% 168,96% 99,59% 82,42% 71,06% 58,95% 79,00% 100,00%

Sem Reinjecção 39,008 Wh 27,885 Wh 16,899 Wh 9,195 Wh 6,914 Wh 6,031 Wh 4,681 Wh 6,917 Wh 9,257 Wh
421,39% 301,23% 182,56% 99,33% 74,69% 65,15% 50,57% 74,72% 100,00%

4 Existem normas que definem determinados requisitos mínimos que têm de ser cumpridos pelos ascensores, por exemplo em termos de
capacidade de carga. Assim, desde Fevereiro de 2007, todos os novos ascensores devem obedecer à nova legislação (DL163/2006), que regula
as acessibilidades a pessoas com mobilidade reduzida. Esta norma obriga à instalação de ascensores com uma cabina mínima de
1.100mmx1.400mm (largura x profundidade), a que corresponde uma carga nominal mínima de 8 pessoas-630 kg. Para unidades de saúde,
como hospitais existem outras normas portuguesas que sugerem a instalação de ascensores monta-camas para uma carga nominal de 21
pessoas - 1.600 kg.
5 Como se verá adiante, esta solução não poderá ser adoptada, por não cumprir os requisitos de aderência impostos pela norma NP EN 81-

1:2000.

252
ARTIGO TÉCNICO

Energia da manobra de referência em função da massa do contrapeso

44,000 Wh
Energia da Manobra de Referência

39,000 Wh

34,000 Wh

29,000 Wh

24,000 Wh

19,000 Wh

14,000 Wh

9,000 Wh

4,000 Wh
0kg

291,25kg

582,5kg

790kg

910kg

1165 kg
850kg

873,75kg

1102kg
Massa do Contrapeso

Ideal - 100% Reinjecção 30% Reinjecção Sem Reinjecção

Figura 17 – Impacto de diferentes massas do contrapeso sobre o consumo energético

2. Impacto da optimização do peso das cabinas sobre o


consumo energético:

Local da casa das máquinas: Em cima na vertical, sobre a caixa


Tomou-se por base um ascensor idêntico ao utilizado para Carga nominal: 630 Kg / 8 Pessoas
Curso: 20,79 m
validar o modelo em Matlab-Simulink, com as características Velocidade nominal: 1,0 m/s VVVF
ao lado indicadas. Tipo de Suspensão: 1:1
Diâmetro dos cabos 8 mm
Verificou-se que não é suficiente analisar apenas o impacto Diâmetro da roda de tracção: 400 mm
Abraçamento: 165 º
que implicará a redução da massa da cabina, de per se. Tipo de gorne: em U
Ângulo do gorne: 25 º
Ter-se-á de ter em conta também as recomendações em Ângulo do gorne subtalhado: 90,88 º
termos de aderência na roda de tracção da máquina, Relação diâmetro cabo vs diâmetro roda de tracção: 50
Diâmetro da roda de desvio: 320 mm
indicadas pela norma NP EN 81-1:2000 – Anexo M6.
Com base nestas duas premissas foram obtidos os resultados
indicados na tabela 3.

Tabela 3: Resultados: Impacto da optimização do peso das cabinas sobre o consumo energético
Contrapeso Peso Mínimo Peso do Quantidade Diferença face
% da carga nominal Cabina Contrapeso Cabos à solução base
da cabina (kg) (kg) (kg)
100 1750 2380 7 2015
90 1550 2117 6 1552
80 1400 1904 6 1189
70 1250 1691 6 826
60 1050 1428 5 363
50 900 1215 5 0
40 800 1052 4 -263
30 1050 1239 5 174
20 1300 1426 6 611
10 1500 1563 6 948
0 1750 1750 7 1385
6 O Anexo M desta norma, descreve a metodologia a seguir para calcular a aderência dos cabos na roda de tracção, tendo em conta o curso, o

carregamento da cabina, a desaceleração motivada por uma paragem de emergência, o tipo de gorne, o ângulo do gorne, o coeficiente de
atrito, o diâmetro da roda de tracção, o diâmetro da roda de desvio, o ângulo do gorne subtalhado, etc.

253
ARTIGO TÉCNICO

Peso Mínim o da Cabina

2000
1800
Peso mínimo da cabina (kg)

1600
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Contrapeso (% da carga nom inal)

Figura 18 – Peso mínimo da cabina

Pode-se concluir, que o ponto que permitirá optimizar o Ou seja com a optimização do peso da cabina, conseguir-se-á
peso da cabina e o consumo energético do ascensor ocorre, não só uma redução do consumo energético, mas também
quando a cabina pesar 800 kg e o contrapeso 1052 kg. uma redução no custo dos materiais a aplicar.
Ou seja dever-se-á adoptar uma solução em que o
contrapeso compense o peso da cabina + 40% da carga 3. Suspensão lateral vs suspensão central
nominal da mesma, e não a solução utilizada presentemente
nos ascensores produzidos maioritariamente pela indústria, Pretendeu-se avaliar o impacto que o tipo de suspensão da
que prevê um contrapeso que compensa o peso da cabina + cabina tem sobre o consumo energético.
50% da carga nominal da mesma (pesando a cabina 900 kg e
o contrapeso 1215 kg). Viu-se no ponto 4.1, que num estudo publicado por
Para um ascensor com um contrapeso que compense o peso Küntscher (2006), o rendimento da caixa do ascensor será de
da cabina + 40% da carga nominal da cabina, o consumo aproximadamente 70%, quando a cabina é suspensa
energético será de 6,917 Wh para uma manobra de lateralmente e de aproximadamente 85%, quando a cabina é
referência, em vez de 9,257 Wh, na solução adoptada suspensa centralmente.
actualmente. Ou seja, conseguir-se-á uma redução de
aproximadamente 26 % no consumo de energia. Recorrendo ao simulador desenvolvido verificou-se que a
Com esta solução seria igualmente possível poupar 263 kg de solução da suspensão central, por permitir uma redução do
aço, em todo o sistema (cabina e contrapeso). Acresce ainda atrito nas guias, implicou uma poupança de 16% em termos
o facto de acordo com a norma EN81:2000 – Anexo M, ser energéticos em relação à solução da suspensão lateral da
possível para esta solução aplicar 4 cabos de 8mm2 em vez cabina, para o ascensor de 630 kg estudado, pelo que se
dos 5 cabos de 8 mm2 que são normalmente aplicados. recomenda a sua adopção.

254
ARTIGO TÉCNICO

Tabela 4 - Resultados: suspensão lateral vs suspensão central

Energia da Manobra de Referência em Função da


Carga
Suspensão da Cabine

Suspensão lateral Suspensão Central


Massa %
70% 85%
Subida Descida Subida Descida
0,0 kg 0% -11,76 Wh 16,47 Wh -9,31 Wh 13,94 Wh
157,5 kg 25% -4,80 Wh 9,33 Wh -3,57 Wh 8,07 Wh
315,0 kg 50% 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh
472,5 kg 75% 9,33 Wh -4,80 Wh 8,07 Wh -3,57 Wh
630,0 kg 100% 16,47 Wh -11,76 Wh 13,94 Wh -9,31 Wh
Média ponderada
com base na -6,166 Wh 10,775 Wh -4,695 Wh 9,257 Wh
VDI 4707
Ideal - 100% 4,610 Wh 4,562 Wh
Reinjecção 101,05% 100,00%
30% Reinjecção 8,925 Wh 7,848 Wh
113,72% 100,00%
0,000 Wh 10,775 Wh 0,000 Wh 9,257 Wh
Sem Reinjecção 10,775 Wh 9,257 Wh
116,40% 100,00%

Energia da Manobra de Referência em Função da Suspensão


da Cabine

12,000 Wh

11,000 Wh
Energia da Manobra de Referência

10,000 Wh

9,000 Wh

8,000 Wh

7,000 Wh

6,000 Wh

5,000 Wh
Tabela
4,000 Wh3: Resultados: Impacto da optimização do peso das cabinas sobre o consumo energético
Suspensão Suspensão
lateral Central
Tipo de Suspensão

Ideal - 100% Reinjecção 30% Reinjecção Sem Reinjecção

Figura 19 – Suspensão lateral vs suspensão central

255
ARTIGO TÉCNICO

4. Impacto da redução da velocidade linear do ascensor no comparação a uma velocidade nominal de v = 1,0 m/s,
consumo energético: conseguir-se-á uma redução de 46% no consumo energético
se a velocidade for reduzida para v= 0,4 m/s, ceteris paribus.
Mantendo todas as características técnicas do ascensor, com Na tabela 4 é possível verificar a poupança que se conseguirá
excepção da velocidade (o que implicou uma mudança na obter mediante a redução da velocidade.
relação da caixa redutora, mantendo o mesmo diâmetro da Se fosse possível a reinjecção de toda a energia gerada
roda de tracção), verifica-se que quanto menor for a durante a manobra de referência, não se verificariam
velocidade nominal do ascensor (ou seja, a velocidade linear variações no consumo energético, com a variação da
da cabina), menor é o consumo energético. Assim, e por velocidade linear da cabina.

Tabela 5 - Resultados: Impacto da redução da velocidade linear no consumo energético

Carga Energia da Manobra de Referência em Função da Velocidade Linear da Cabine

Velocidade Linear da Cabine


Massa %
0,4m/s 0,5m/s 0,63m/s 0,8m/s 1m/s
Subida Descida Subida Descida Subida Descida Subida Descida Subida Descida
0,0 kg 0% -2,30 Wh 6,78 Wh -3,41 Wh 7,90 Wh -4,87 Wh 9,39 Wh -6,82 Wh 11,38 Wh -9,31 Wh 13,94 Wh
157,5 kg 25% -0,04 Wh 4,50 Wh -0,60 Wh 5,06 Wh -1,33 Wh 5,80 Wh -2,31 Wh 6,79 Wh -3,57 Wh 8,07 Wh
315,0 kg 50% 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh
472,5 kg 75% 4,50 Wh -0,04 Wh 5,06 Wh -0,60 Wh 5,80 Wh -1,33 Wh 6,79 Wh -2,31 Wh 8,07 Wh -3,57 Wh
630,0 kg 100% 6,78 Wh -2,30 Wh 7,90 Wh -3,41 Wh 9,39 Wh -4,87 Wh 11,38 Wh -6,82 Wh 13,94 Wh -9,31 Wh

Média ponderada -0,487 Wh 4,958 Wh -1,154 Wh 5,634 Wh -2,030 Wh 6,523 Wh -3,200 Wh 7,720 Wh -4,695 Wh 9,257 Wh
com base na
VDI 4707
Ideal - 100%
4,471 Wh 4,480 Wh 4,493 Wh 4,520 Wh 4,562 Wh
Reinjecção
98,01% 98,20% 98,50% 99,08% 100,00%

30% Reinjecção 4,812 Wh 5,287 Wh 5,914 Wh 6,760 Wh 7,848 Wh


61,31% 67,37% 75,36% 86,13% 100,00%
0,000 Wh 4,958 Wh 0,000 Wh 5,634 Wh 0,000 Wh 6,523 Wh 0,000 Wh 7,720 Wh 0,000 Wh 9,257 Wh
Sem Reinjecção 4,958 Wh 5,634 Wh 6,523 Wh 7,720 Wh 9,257 Wh
53,56% 60,86% 70,47% 83,39% 100,00%

Energia da Manobra de Referência em Função da Velocidade


Linear da Cabine

9,500 Wh
Energia da Manobra de Referência

9,000 Wh
8,500 Wh
8,000 Wh
7,500 Wh
7,000 Wh
6,500 Wh
6,000 Wh
5,500 Wh
5,000 Wh
4,500 Wh
4,000 Wh
0,4m/s

0,5m/s

0,63m/s

0,8m/s

1m/s

Velocidade da Cabine

Ideal - 100% Reinjecção 30% Reinjecção Sem Reinjecção

Figura 20 – Impacto da redução da velocidade do ascensor sobre o consumo energético

Em edifícios residenciais com curso reduzido, recomenda-se, por isso, a instalação de ascensores com velocidade reduzida.

256
ARTIGO TÉCNICO

6 CONCLUSÕES 5. Recomenda-se que o consumo energético dos


ascensores seja considerado também no âmbito do
1. A concepção de ascensores eficientes em termos de Regulamento dos Sistemas Energéticos e de Climatização
energia contribuirá para um menor impacto ambiental; dos Edifícios (RSECE) – Decreto-Lei 79/2006 de 04 de
2. Para se atingir o objectivo universal de utilização racional Abril. Dessa forma existiria desde logo uma maior
de energia (eléctrica) num edifício, não se deverá atenção na fase de projecto por parte dos projectistas
analisar apenas a eficiência energética, mas também o relativamente à aplicação de ascensores eficientes
balanço energético. Assim, no caso dos ascensores, energeticamente, para que pudessem ver aprovado o
dever-se-á ter em conta, para além do período de seu projecto.
operação, também o fabrico e a manutenção dos
mesmos, o fornecimento de matérias-primas, bem como Bibliografia
a sua reciclagem: a análise do ciclo de vida do produto.
3. Verificou-se que a temática da eficiência energética é [1] ALMEIDA, Aníbal, PATRÃO, Carlos, FONSECA, Paula,
ainda pouco explorada pela indústria de ascensores, seja MOURA, Pedro – Manual de boas práticas de eficiência
através da incorporação nos ascensores das novas energética. Lisboa, ISR – Departamento de Engenharia
tecnologias já disponíveis em outras aplicações, seja Electrotécnica e de Computadores Universidade de
através da divulgação de informação relevante em Coimbra e BCSD Portugal – Conselho Empresarial para o
termos do desempenho energético dos equipamentos Desenvolvimento Sustentável, 2005.
comercializados. Existem ainda muito poucos estudos [2] BARNEY, Gina – Elevator Traffic Handbook – Theory and
realizados neste âmbito na Europa, com uma notável Practice. Nova Iorque, Spon Press, 2003. ISBN 0-415-
excepção da Suiça que tem vindo a patrocinar, através 27476-I.
de uma organização estatal (a SAFE - Swiss Agency for [3] BOLLA, Mario – Verbesserung der Energieeffizienz von
Efficient Energy Use), vários estudos sobre a eficiência Aufzügen und Förderanlagen durch Entwicklung eines
energética de ascensores; Neuartigen Frequenzumformers – Jahresbericht 2007.
4. Verificam-se diversas barreiras à adopção de ascensores Seftigen, Bundesamt für Energie, Suiça, 2007.
eficientes em termos energéticos: [4] CASTANHEIRA, Luís; BORGES GOUVEIA, Joaquim –
a) O Comprador e o utilizador do ascensor não têm Energia, Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.
interesses coincidentes: Na grande maioria das Porto, Spi – Sociedade Portuguesa de Inovação, 2004.
situações, o ascensor não é fornecido directamente ISBN 972-8589-45-X.
ao cliente final, mas a uma empreiteiro geral que o [5] CÓIAS, Vítor; FERNANDES, Susana – Reabilitação
incorpora no edifício. Este orienta-se Energética dos Edifícios: Porquê? Oz – Diagnóstico
fundamentalmente pelo preço de aquisição do Levantamento e Controlo de Qualidade em Estruturas e
ascensor e não pelos custos de energia eléctrica e de Fundações, Lda, 2006.
operação que este venha a provocar no futuro, que [6] KÜNTSCHER, Dietmar – Energiesparende Aufzugsysteme
será sempre suportado pelo utilizador – Lift-Report nº2 – Ano 32, 2006.
b) Em edifícios existentes, ocorre uma grande [7] FITZGERALD, A.; KINGSLEY, Charles; UMANS, Stephen –
resistência à incorporação de novos componentes Electric Machinery. Nova Iorque, McGraw Hill, 2003.
que possam por em causa a operação e a ISBN 0-07-123010-6.
disponibilidade dos ascensores existentes. Em novos [8] FRANCHI, C. – Acionamentos Eléctricos. Editora Érica,
edifícios é mais fácil incorporar as novas tecnologias. Ltda, 2007. ISBN 978-85-365-0149-9.
Pelo que se recomenda uma sensibilização do cliente
final bem como de projectistas.

257
ARTIGO TÉCNICO

Bibliografia (Cont.) Directivas, Leis e Normas

[9] GAMBOA, José – Ascensores e Elevadores. Lisboa, Rei [1] DIRECTIVA 1995/16/CE do Parlamento Europeu e do
dos Livros, 2005. ISBN 972-51-1007-2. Conselho de 29 de Junho de 1995 – Directiva Ascensores.
[10]JANOVSKY, Lumomír – Elevator Mechanical Design. 3ª Jornal Oficial das Comunidades Europeias.
Edição. Mobile USA, Elevator World, Inc., 1999. ISBN 1- [2] DIRECTIVA 2002/91/CE do Parlamento Europeu e do
886-536-26-0. Conselho de 16 de Dezembro de 2002 – EPB – Energy
[11]MATIAS, José – Máquinas Eléctricas. 5ª Edição. Lisboa, Performance of Buildings – Desempenho Energético de
Didáctica Editora, 2005. ISBN 972-650-124-5. Edifícios. Jornal Oficial das Comunidades Europeias.
[12]MEIRELES, Vitor – Circuitos Eléctricos. 3ª Edição revista. [3] DIRECTIVA 2005/32/CE do Parlamento Europeu e do
Lisboa, Lidel – Edições Técnicas, Lda, 2005. ISBN 972-757- Conselho de 06 de Julho de 2005 – EuP – Energy Using
386-X. Products – Requisitos de Concepção Ecológica dos
[13]NIPKOW, Jürg, SCHALCHER, Max – Energy consumption Produtos que Consomem Energia. Jornal Oficial das
and efficiency potentials of lifts – Zurique. - SAFE – Swiss Comunidades Europeias.
Agency for Efficient Energy Use, 2005. [4] DECRETO-LEI nº 513/70 de 24 de Setembro.
[14]NIPKOW, Jürg – Elektrizitätsverbrauch und Einspar- [5] DECRETO-LEI nº 295/98 de 22 de Setembro
Potenziale bei Aufzügen – Bundesamt für Energie, 2005. [6] DECRETO-LEI nº 78/2006 de 04 de Abril.
[15]PALMA, João – Accionamentos Electromecânicos de [7] DECRETO-LEI nº 79/2006 de 04 de Abril.
Velocidade Variável. 2ª Edição. Lisboa, Fundação [8] DECRETO-LEI nº 80/2006 de 04 de Abril.
Calouste Gulbenkian – Serviço de Educação e Bolsas, [9] DECRETO-LEI nº 176/2008 de 26 de Agosto.
2008. ISBN 978-972-31-0839-2. [10]NORMA PORTUGUESA NP 2058:1993 de Abril de 1993.
[16]PAIVA, J. Sucena – Redes de Energia Eléctrica – Uma Instituto Português da Qualidade.
Análise Sistémica. Lisboa, IST Press, 2005. ISBN 972-8469- [11]NORMA PORTUGUESA NP 4267:1994 de Maio de 1994.
34-9. Instituto Português da Qualidade.
[17]RODRIGUES, José; MATIAS, José – Máquinas Eléctricas – [12]NORMA PORTUGUESA NP 3661:1989 de Agosto 1989.
Transformadores. Lisboa, Didáctica Editora, 2005. ISBN Instituto Português da Qualidade.
972-650-183-0. [13]NORMA PORTUGUESA NP EN 81-1:2000 – Regras de
Segurança para o Fabrico e Instalação de Elevadores –
Parte 1: Ascensores Eléctricos. Fevereiro de 2001.
Instituto Português da Qualidade.
[14]NORMA PORTUGUESA NP EN 81-2:2000 – Regras de
Segurança para o Fabrico e Instalação de Elevadores –
Parte 2: Ascensores Hidráulicos. Fevereiro de 2001.
Instituto Português da Qualidade.
[15]NORMA SUIÇA SIA 380/4:2006 – Electricity in Buildings
(2006), Swiss Society of Engineers and Architects (SIA).
[16]NORMA ALEMÃ VDI 4707:2009 – Ascensores – Eficiência
Energética (2009), Verein Deutscher Ingenieure (VDI)

258
ARTIGO TÉCNICO José Marílio Oliveira Cardoso
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010

EXTINÇÃO DAS TARIFAS REGULADAS NO SECTOR ELÉCTRICO

1 ENQUADRAMENTO 2 MERCADO REGULADO

O sector eléctrico foi, historicamente, um sector de Também em Portugal a EDP funcionou, durante muito
monopólio natural, controlado por uma única entidade a tempo, como a empresa vertical, que actuando em toda a
qual assegurava as diversas actividades relacionadas com o cadeia, assegurava a produção, o transporte, a distribuição e
fornecimento da energia eléctrica, desde a sua produção, a comercialização da energia eléctrica.
transporte e distribuição até ao abastecimento ao
consumidor final. Esta é uma realidade que tem vindo a ser Esta realidade teve um ponto de inflexão significativo após a
radicalmente alterada nas últimas décadas. adesão de Portugal à, então, CEE. Em 1988 foi publicado um
importante pacto legislativo que, entre outras inovações,
Após longos anos de actuação em regime de monopólio consagrou a possibilidade de acesso ao sector pelos
(público, privado ou misto) verticalmente integrado, pequenos produtores privados na área da produção
verificaram-se em diversos países, em diferentes latitudes, hidroeléctrica (mini-hídricas) e cogeração, obrigando a EDP a
várias experiências que resultaram em processos de adquirir toda a energia por eles produzida a um preço
desverticalização do sector com separação das suas regulado.
actividades. O primeiro destes exemplos ocorreu no Chile no
final da década de 70 do século XX, tendo as alterações É também nesse período que cessa a exclusividade da
consistido, basicamente, no fim dos monopólios da energia concessão à EDP, sendo liberalizadas algumas das
eléctrica e na introdução duma lógica de concorrência no actividades do sector. Tal teve como objectivo a abertura do
mercado da electricidade. Esta passou a verificar-se na investimento no sector à iniciativa privada, permitindo
produção e na comercialização, mantendo-se como canalizar verbas públicas para outros investimentos e,
monopólios as actividades ligadas a infra-estruturas de rede funcionando o mercado, permitir uma redução de preços
como são o transporte e a distribuição. com benefícios para os consumidores.

Fig. 1 - Actividades tradicionais no sector eléctrico

259
ARTIGO TÉCNICO

Com uma progressiva abertura do sector a um ambiente de 3 MERCADO LIBERALIZADO


mercado concorrencial, emergiu o papel das entidades
reguladoras como garantia de condições de igualdade de O processo de liberalização do sector eléctrico ocorreu, na
tratamento, de transparência e de não discriminação no maior parte dos países europeus, de modo faseado. Estes
acesso de produtores e de consumidores às redes de processos começaram tipicamente por contemplar os
transporte e de distribuição. Em 1995 é criada a ERSE clientes dos níveis de tensão mais elevados e com maiores
(Entidade Reguladora do Sector Eléctrico) pela publicação do consumos. Também em Portugal, ainda na década de 90 do
Decreto-Lei n.º 187/95, de 27 de Julho. século passado, foi publicada legislação que abria o mercado
apenas aos maiores clientes, tendo o processo sido
Das suas competências constam: progressivamente estendido a todos os clientes.
• O estabelecimento dos valores das tarifas e preços para a
energia eléctrica a aplicar anualmente A abertura do mercado concorrencial teve como objectivo
• A protecção dos interesses dos consumidores em relação dinamizar o sector e impor-se como solução para o encontro
a preços, serviços e qualidade do abastecimento entre a oferta e a procura, reflectindo-se numa expectável
• Fomentar a concorrência descida dos preços e melhoria da qualidade de serviço.
• Contribuir para uma utilização eficiente da energia
eléctrica Este é um novo paradigma onde é concedida a cada
consumidor a possibilidade de escolha do fornecedor,
Em 2002 são aprovados novos estatutos da ERSE pela implicando alterações profundas em todo o enquadramento
publicação do Decreto-Lei nº 97/2002 de 12 de Abril. A ERSE legislativo e regulatório bem como no modo de actuação das
vê as suas competências alargadas com a inclusão da diversas entidades intervenientes. Potencia ainda o
regulação das actividades relativas ao gás natural, passando aparecimento de novos produtores e comercializadores,
a designar-se Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos, aumentando o número de intervenientes no sector e a
embora mantendo a sigla original. complexidade de funcionamento do mesmo.

Fig. 2 - Calendário de abertura do mercado em Portugal (ERSE)

260
ARTIGO TÉCNICO

A Directiva n.º 2003/54/CE, de 26 de Junho, definiu como seu fornecedor de energia eléctrica.
data limite o dia 1 de Julho de 2007, para abertura do
mercado a todos os clientes, independentemente dos seus Este foi um processo que apresentou alguns percalços,
consumos e da tensão de alimentação. A Directiva foi nomeadamente, no final de 2007 com vários
transposta para a ordem jurídica nacional pela publicação do comercializadores a não aceitarem novos contratos de
Decreto-Lei n.º 29/2006, de 15 de Fevereiro. Aí, no âmbito fornecimento de energia eléctrica nem renovarem contratos
da protecção dos consumidores, consagra-se a figura do já existentes, alegando impossibilidade de concorrência com
comercializador de último recurso o qual assume o papel de as tarifas reguladas. No final de 2008 e, principalmente, em
garante do fornecimento de electricidade aos consumidores. 2009 e assistiu-se a um retorno de muitos clientes ao
Para Portugal continental foi estabelecida a data de 4 de mercado liberalizado. Actualmente a adesão de novos
Setembro de 2006 como aquela a partir da qual todos os clientes ao mercado apresenta-se como uma forte
clientes de energia eléctrica poderiam escolher livremente o tendência.

Fig. 3 - Evolução do consumo no mercado liberalizado (ERSE)

Fig. 4 - Número total de clientes no mercado liberalizado (ERSE)

261
ARTIGO TÉCNICO

2.2.1.3 CAIXA REDUTORA

Fig. 5 - Consumo (GWh) no mercado liberalizado (ERSE)

Figura 9 - Diagrama de blocos Simulink da caixa redutora com variador de velocidade

Fig. 6 - Peso relativo do consumo do mercado liberalizado (ERSE)

4 NOVO MODELO tensão especial (BTE). Significa que todos os clientes, com
excepção daqueles que são alimentação em baixa tensão
Com a recente publicação do Decreto-Lei n.º 104/2010 de 29 normal (BTN), deverão, no próximo ano, passar a ser
de Setembro verifica-se uma nova “revolução” no sector abastecidos no âmbito do mercado liberalizado.
eléctrico, com a extinção das tarifas reguladas de
fornecimento de energia eléctrica em Portugal continental, a Esta é uma nova mudança de paradigma alterando, em
partir de 1 de Janeiro de 2011. Por este diploma são pouco anos, o fornecimento no mercado liberalizado de um
abrangidos os clientes cuja alimentação seja em muito alta direito do consumidor para uma obrigação.
tensão (MAT), alta tensão (AT), média tensão (MT) ou baixa

262
ARTIGO TÉCNICO

A legislação prevê que os clientes que, à data de entrada em Deverão ainda ser tomados em conta outros aspectos como,
vigor do diploma, tivessem como fornecedor um por exemplo, que o ciclo mais adequado (semanal ou diário)
comercializador de último recurso (CUR) e que entretanto ao funcionamento das instalações é o que consta na
não estabeleçam um contrato no mercado liberalizado, proposta, ou a explicitação de a quem competirá suportar
possam continuar a ser abastecido pelo CUR até à data limite eventuais alterações de custos com as tarifas de acesso às
de 31 de Dezembro de 2011. Para esse fim serão definidas redes no decorrer da vigência do contrato.
pela ERSE tarifas transitórias determinadas pela soma das
tarifas de energia, comercialização e acesso às redes, sendo 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
agravada por uma percentagem a definir pela ERSE.
O sector eléctrico tem vindo a sofrer diversas alterações ao
O CUR deverá notificar por carta registada todos os seus longo da sua existência tendencialmente no sentido do
clientes até 30 dias após a entrada em vigor do Decreto-Lei fomento da concorrência.
n.º 104/2010 prestando-lhes toda a informação necessária à
mudança de comercializador. Este não é um processo Em Portugal a manifestação mais recente dessa tendência é
automático cabendo a cada cliente consultar o mercado e corporizada na publicação do Decreto-Lei n.º 104/2010 que
optar por um comercializador do mercado liberalizado. determina a extinção de tarifas reguladas com excepção dos
consumidores domésticos. Esta é uma realidade que impõe
Os comercializadores autorizados a actuar no mercado aos clientes a procura de um comercializador em mercado
liberalizado em Portugal obtém licenciamento junto da liberalizado. Este é um desafio que poderá potenciar a
Direcção-Geral de Geologia e Energia. A ERSE disponibiliza na oportunidade de cada cliente dedicar mais atenção aos
sua página de Internet (www.erse.pt) a lista com a aspectos relacionados com a energia eléctrica que consome,
identificação e os contactos dos comercializadores que se eventualmente conseguindo obter condições mais
encontram a actuar no mercado. vantajosas e incrementar a eficiência energética e a
utilização racional da energia nas suas instalações.
A mudança de comercializador pode ser efectuada até
quatro vezes em cada doze meses consecutivos, não Esta não é contudo a única novidade no sector, havendo
podendo ser invocadas razões de ordem técnica para alterações ao nível da introdução de escalões no consumo de
impedir essa mudança, nomeadamente as características dos energia reactiva, já no início de 2011. Prevê-se ainda que,
contadores de energia. num futuro mais longínquo, se possam verificar alterações
significativas no que diz respeito à qualidade de serviço e à
De notar que, sendo o mercado livre, cada comercializador poluição da responsabilidade de cada consumidor.
pode apresentar uma proposta comercial que poderá não
ser facilmente comparável com a de um seu concorrente.
www.galpenergia.com
Referências

Cabe a cada cliente obter junto de cada comercializador os www.erse.pt


esclarecimentos necessários à sua decisão, garantindo que www.edp.pt
estão acautelados os seus interesses e que esses serão www.dgge.pt
vertidos no contrato a estabelecer. www.unionfenosa.pt
www.dre.pt

263
CURIOSIDADE

|264
264
ARTIGO TÉCNICO

Domótica

Após o reconhecido sucesso da publicação das anteriores seis edições da Revista Neutro à Terra esta sétima edição reúne os
artigos técnicos publicados nas diversas áreas, e, naturalmente, também na área da Domótica.
A Domótica é uma tecnologia recente que permite a gestão de todos os recursos habitacionais, satisfazendo as necessidades de
comunicação, de conforto e segurança.
Apesar de ainda ser pouco conhecida e divulgada, mas pelo conforto e comodidade que pode proporcionar, a domótica promete
vir a ser uma das áreas mais procuradas no âmbito das instalações eléctricas.
As diversas tecnologias e soluções técnicas para este sector são descritas nos vários artigos que compõem esta secção, bem
como soluções específicas para possibilitar o comando de iluminação, a requalificação dos edifícios e a gestão técnica
centralizada.

265
ARTIGO TÉCNICO

Índice

A Domótica ao Serviço da Sociedade 267


Roque Filipe Mesquita Brandão
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008

A Solução POWERLINE Para o Sector Residencial 270


Roque Filipe Mesquita Brandão
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008

Gestão Técnica de Edifícios com KNX 274


Domingos Salvador Gonçalves dos Santos
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009

Sistema de Gestão de Iluminação LUTRON 279


Sónia Viegas
Astratec, Lighting Consultant
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009

A Criação de Valor no Binómio “Casa Inteligente” / Consumidor 284


António Manuel Luzano de Quadros Flores
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010

Domótica e a Requalificação de Edifícios 295


José Luís Faria
Touchdomo, Lda, Porto, Portugal
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010

266
ARTIGO TÉCNICO Roque Filipe Mesquita Brandão
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008

A Domótica ao Serviço da Sociedade

Introdução criação de cenários ou ainda a simulação da presença de


pessoas em casa, permitem diminuir os consumos de energia
Com a elevada evolução dos sistemas electrónicos e e aumentar a protecção das habitações e bens. Outra das
computacionais, associados a tecnologias de comunicação funções mais vulgares de controlo é o da climatização dos
cada vez mais evoluídas, alcançou-se um novo domínio de edifícios. A este nível, o controlo dos aparelhos de
aplicação tecnológica que tem por objectivo satisfazer as condicionamento de ar traduzem-se em elevados ganhos em
cada vez maiores necessidades de utilização racional da termos de eficiência energética e de conforto.
energia e proporcionar uma maior sensação de conforto aos
utilizadores das instalações. Esta integração da electrónica Ainda a nível das funções de gestão é possível, através dos
com as tecnologias de comunicação de dados está na base sistemas domóticos, controlar estores e toldos, sistemas de
de um conceito que começou a emergir no início dos anos 80 rega, controlar e monitorizar piscinas, etc..
do século passado.

Esta conjugação das tecnologias aplicada a ambientes


residenciais, permite a realização de uma vasta gama de
aplicações de gestão local ou remota, a nível de segurança,
conforto, gestão de energia, etc.

Assim apareceu o conceito de DOMÓTICA.

Funções da domótica

As necessidades de dotar os edifícios com sistemas


centralizados de controlo puramente informáticos, em
detrimento dos tradicionais sistemas electromecânicos, Figura 1 – Funcionalidades da Domótica

levaram a um maior controlo de certas funções, permitindo


assim uma maior funcionalidade das instalações e uma A integração de sistemas de segurança é uma das funções
optimização dos recursos energéticos. mais interessantes da domótica.

Funções como o controlo da iluminação, permitindo ligar ou A possibilidade de ter sistemas de alarme de intrusão,
desligar os aparelhos de iluminação automaticamente ou a incêndio, inundação, fugas de gás e vigilância a interagir com

267
ARTIGO TÉCNICO

os sistemas de gestão de energia e com os sistemas de O sistema European Home System (EHS) foi desenvolvido na
comunicação permitem o aumento da eficiência destes Europa e tem como grande vantagem ser um sistema aberto,
sistemas. permitindo assim que equipamentos de vários fabricantes
possam ser instalados, comunicando entre si, com uma taxa
Sistemas domóticos de transmissão dependente do meio de transmissão
utilizado. Este sistema permite a utilização de diversos meios
A grande diversidade de sistemas existentes, cada um com o físicos de transmissão tais como, a rede eléctrica ou o cabo
seu protocolo de comunicação, levou à existência de coaxial.
problemas quanto à compatibilidade ao nível da integração
dos diversos sistemas. No entanto, desde os primeiros O sistema CEBus, desenvolvido nos Estados Unidos da
sistemas domóticos até aos evoluídos sistemas dos dias de América, surgiu com o objectivo de solucionar problemas na
hoje, esses problemas têm vindo a ser ultrapassados. automação doméstica, nomeadamente resolver a
incompatibilidade de ligação entre dispositivos de diversos
Os primeiros sistemas domóticos foram desenvolvidos nos fabricantes e da falta de um meio único de comunicação. O
Estados Unidos da América (EUA), tendo depois disso sido CEBus cria uma rede lógica onde o emissor e receptor estão
exportados para a Europa onde países como a França e a colocados independentemente do meio de comunicação.
Alemanha foram os grandes impulsionadores destes
sistemas. O sistema BatiBus, desenvolvido em França, foi o primeiro
sistema de comunicação bus a ser desenvolvido. Usando um
Um dos primeiros sistemas a ser desenvolvido foi o “X-10”. bus único, permite a ligação de diversos módulos. O bus é
Desenvolvido pela Pico Electronics, foi um sistema com realizado através de um par entrelaçado, permitindo
muita aceitação nos EUA onde se estima existirem milhões alimentar directamente dispositivos que não tenham um
de casas equipadas com este tipo de domótica. A grande consumo superior a 3mA.
vantagem deste sistema é a sua simplicidade de instalação.
Os equipamentos são ligados à rede de distribuição de O sistema European Installation Bus (EIB) foi criado na
energia eléctrica da instalação e usam a referida rede para Europa com o objectivo desenvolver um sistema standard
comunicarem. Este sistema pode apresentar uma topologia europeu que possibilite a comunicação entre todos os
em anel, em estrela ou em árvore, o que permite uma dispositivos existentes numa instalação. O EIB usa um bus
grande flexibilidade. Hoje em dia já existem módulos que se único de comunicação que permite uma comunicação
podem incorporar e que permitem a recepção de sinais de elemento a elemento. O bus de comunicação, onde são
rádio frequência dando ainda uma maior flexibilidade ao ligados todos os sensores e actuadores, é independente do
sistema. bus de alimentação dos equipamentos. O EIB apresenta uma
grande flexibilidade e permite interligação de mais de 10000
Um outro sistema, desenvolvido na década de 90, foi o dispositivos.
LonWorks.
É um sistema de aplicação exclusiva para a industria e que O sistema KONNEX (KNX), baseado na associação dos
tenta solucionar os problemas de controlo existentes nesse sistemas BatiBus, EIB e EHS, surgiu com o objectivo de criar
sector. Esta tecnologia permite a integração fácil e rápida da um sistema internacional standard para a automação de
rede dos dispositivos. Fazendo uso de uma cablagem residências e edifícios.
comum, é criada uma rede de dispositivos que podem Actualmente o KNX é o único sistema aberto a nível
comunicar através da utilização de mensagens. mundial, utilizando um software de concepção, modificação

268
ARTIGO TÉCNICO

bus de potência

bus EIB

Interruptores Detectores Sensores Botões de


pressão

Figura 2 – Arquitectura de uma Instalação EIB-KNX

e instalação único, o ETS. O EIB/KNX permite a utilização de


diversos meios físicos de comunicação. A comunicação pode Fontes de Informação relevantes

ser feita sobre o par de condutores (EIB.TP) ou usando a


power line (EIB.PL) ou fazendo uso da rede Ethernet (EIB.net) Intelligent Buildings, Carter Myers, 1996, UpWord Publishing Inc.

ou transmitindo sinais por radiofrequência (EIB.RF) ou por


Building Control Systems, Vaughn Bradshaw, John Wiley & Sons
transmissão por infravermelhos (EIB.IR). A grande panóplia
de meios de comunicação entre equipamentos confere ao La ingenieria en edificios de alta tecnologia, C.J. Díaz Olivares,

sistema uma grande flexibilidade de utilização. Este é sem 1999, McGraw Hill

dúvida o sistema com mais potencialidades e que mais tem


www.acasainteligente.com
evoluído a nível mundial.
www.siemens.com

Conclusão
www.cebus.org

Neste artigo foram apresentadas, sumariamente, as funções www.ehsa.com

gerais de um sistema de domótica bem como uma descrição


www.eiba.com
de alguns dos sistemas mais importantes. Existem e
existiram no mercado outros sistemas que aqui não foram www.konnex.org

referidos, mas que também contribuíram para o objectivo


http://engenium.wordpress.com/
final que é o de conseguir um sistema cada vez mais versátil,
que permita a utilização eficiente da energia, que faça uma
gestão técnica centralizada e que consiga elevar os níveis de
conforto e fiabilidade das instalações.

269
Roque Filipe Mesquita Brandão ARTIGO TÉCNICO
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008

A Solução POWERLINE Para o Sector Residencial

Introdução tecnológica permitiu desenvolver soluções para este tipo de


situações. Hoje em dia não é necessário reconstruir a
Apesar de muito utilizada no sector industrial, a automação habitação para instalar sistemas domóticos. Existem
ainda não atingiu o mesmo patamar de implementação no soluções que usam a rede eléctrica já instalada e que
sector doméstico. A evolução tecnológica leva a que quase permitem instalar funções domóticas na habitação.
todos os dias apareçam novos produtos que visam a
implementação de sistemas domóticos que possibilitem o Funções usuais
conforto, a segurança e a eficiência nas habitações. Contudo,
quando se pretende instalar um sistema domótico com o Não é preciso ter uma casa totalmente automatizada para
objectivo de simplificar os processos numa habitação, a que ela seja considerada “inteligente”. Muitas vezes a busca
palavra que surge não é “simplicidade”, mas sim por mais e mais automatização dos processos leva ao
“complicação”. aumento da complexidade e ao inerente aumento do preço
do sistema instalado. Quando se pretende dotar uma
Para além de a grande maioria das pessoas não estar instalação com um sistema domótico, a primeira coisa que se
familiarizada com as funcionalidades que um sistema deverá fazer é perceber o que realmente se pretende. Saber
domótico permite, existe sempre o pensamento que esses quais são as funções que realmente fazem sentido dotar de
sistemas têm um custo elevado, o que de certa forma não é alguma “inteligência”.
um pensamento errado. Se quanto ao aspecto do preço, não
há muito a fazer, ele depende das leis do mercado e do custo Um dos sistemas que numa habitação faz algum sentido ser
da inovação, quanto à complexidade da instalação e comandado é o do sistema de estores e toldes.
utilização dos sistemas, trata-se de um pensamento induzido
nas pessoas que não conhecem os sistemas domóticos e que
facilmente se consegue desmistificar.

Os projectos de domótica nas habitações deveriam ser


pensados aquando do projecto da habitação. No entanto, a
realidade não é essa. A grande maioria das habitações não
foi pensada para a instalação desses sistemas e só depois da
instalação eléctrica estar efectuada e a habitação habitada é
que se percebe que se precisava de ter mais alguma
flexibilidade e funcionalidade na instalação. A evolução Fig.1 – Comando de estores com sistema PLC

270
ARTIGO TÉCNICO

Poder abrir ou fechar os estores individualmente ou por A instalação de alarmes técnicos tais como a detecção de
grupos, ou fazer o comando de acordo com a quantidade de gases combustíveis, a detecção de monóxido de carbono, a
luz natural ou vento existente. Esta é uma função que para detecção de inundação e a detecção de incêndios são
além do conforto que introduz, leva também ao aumento da funções que devem ser implementadas. A possibilidade de
eficiência energética da habitação. em caso de fuga de gás ou de inundação se poder actuar nas
electroválvulas para se efectuar o corte do gás ou da água,
A iluminação é outro dos sistemas que se deve dotar de ou em caso de incêndio de fazer soar um alarme sonoro, são
alguma automatização. funções muito úteis numa habitação.

Fig.2 – Cenários de iluminação

A criação de cenários de iluminação ou a variação da Os três sistemas que se falaram anteriormente são os que
iluminação de acordo com as necessidades ou de acordo usualmente são dotados de “inteligência” numa habitação.
com a iluminação natural existente cria uma sensação de Também começa a ser usual querer comandar alguns
conforto, flexibilidade e eficiência da instalação. circuitos de potência, por exemplo o circuito em que está
ligada a televisão ou as máquinas de lavar roupa ou louça, ou
A segurança é um outro sistema que deve ser considerado. pode ter interesse comandar algumas tomadas, ou até a
difusão sonora, ou o aquecimento. Contudo, apesar de
quase todas as funções poderem ser dotadas de
“inteligência”, é preciso ter em atenção que quanto mais
funções se pretenderem automatizar, mais cara ficará a
instalação e a complexidade da mesma também aumenta.

Tecnologia POWER LINE

A tecnologia Powerline Carrier (PLC) usa a cablagem


tradicional de uma instalação (circuitos de tomadas e
iluminação) para enviar as mensagens entre os emissores e
os receptores. É enviado um sinal modulado em frequência

Detector de gás Detector de inundação (normalmente superior a 100kHz) pelos condutores


eléctricos da instalação e apenas os receptores programados
Fig.3 – Alarmes técnicos para esses sinais poderão actuar de acordo com esse sinal.

271
ARTIGO TÉCNICO

Como esta tecnologia usa a cablagem da instalação eléctrica ideia de que este tipo de sistemas são demasiadamente
da habitação, é preciso ter em atenção que como as caros. Como não é necessário aplicar a tecnologia a toda a
instalações estão ligadas pela mesma cablagem eléctrica, um instalação, ela pode ser aplicada de acordo com as
sistema instalado numa habitação poderá comunicar com a necessidades ou de acordo com a disponibilidade monetária
instalação do vizinho. Para evitar esse tipo de situações é do proprietário da instalação.
conveniente a instalação de filtros no quadro eléctrico de
entrada da habitação. Existem já sistemas desenvolvidos em Como se tenta demonstrar na figura 5, apenas na sala está
que os aparelhos são dotados de um endereço, um código aplicado o sistema de domótica para comando da iluminação
único para cada aparelho. Nesse tipo de sistemas a e criação de cenários de iluminação, a restante instalação
necessidade de filtros é menor. Os sistemas mais actuais eléctrica continua a ser a tradicional.
também combinam a tecnologia de infra vermelhos (IR) e
rádio frequencia (RF) com a tecnologia PLC. Com esta Uma limitação de alguns destes sistemas PLC é que a
combinação de sistemas a flexibilidade da instalação transmissão do sinal pode ser feito através do condutor
aumenta. Por exemplo é possivel com um comando IR ou RF neutro, o que implica a iunstalação de mais um condutor de
dar ordem a um estore para abrir ou fechar ou gerar um neutro em algumas situações.
cenário de iluminação numa sala.
Quanto ao design e estética dos aparelhos, que antigamente
eram diferentes dos aparelhos de comando da instalação
tradicional, hoje em dia esse problema desapareceu. Os
fabricantes destes produtos investiram bastante neste
aspecto e é fácil encontrar aparelhos de comando com
design modernos e que não se diferenciam esteticamente da
aparelhagem tradicional. Em algumas marcas, as diferenças
existentes na aparelhagem não se conseguem notar
Fig.4 – Comunicação PLC exteriormente, pois quer os espelhos quer as teclas são as
mesmas. A diferença está no mecanismo interno.
Uma vantagem deste tipo de instalações é que elas não são
estáticas, isto é, se num determinado momento quisermos
que um determinado comando deixe de fazer a sua função
para passar a fazer outra, não é necessário alterar a
aparelhagem mas apenas alterar a sua programação. Como
não são sistemas muito complicados, a programação
também é fácil de entender e efectuar. Geralmente é feita
com recurso a apenas a uma chave de fendas e à manobra
de alguns switchs.

Uma outra vantagem deste tipo de sistemas é que não é


necessário alterar toda a instalação. É possível dotar de
“inteligência” apenas algumas divisões de uma habitação,
continuando o resto da habitação a usar a instalação
tradicional. Esta é uma vantagem importante porque anula a Fig.5 – Instalação tradicional e sistema PLC

272
ARTIGO TÉCNICO

Conclusão haver um bus dedicado à passagem da informação. As


mensagens são enviadas pela cablagem tradicional da
Neste artigo foi referido o sistema Powerline Carrier como instalação eléctrica.
alternativa aos sistemas de domótica pura.
Apesar de estes sistemas poderem ser utilizados como
Este sistema, apesar de não ter todas as funcionalidades que upgrades às instalações tradicionais, sem haver a
um sistema de domótica baseado na tecnologia EIB/KONNEX necessidade de fazer uma nova instalação eléctrica, para se
possibilita, conseguem automatizar e controlar as funções tirar todo o partido das vantagens que estes sistemas
mais úteis numa instalação, tais como a iluminação, o permitem, o ideal seria os projectistas eléctricos
comando de estores, o aquecimento e os alarmes técnicos. dimensionarem as instalações para este tipo de sistemas ao
Uma vantagem dos sistemas PLC é a não necessidade de nível do projecto eléctrico.

273
Domingos Salvador Gonçalves dos Santos ARTIGO TÉCNICO
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009

Gestão Técnica de Edifícios


com KNX
1. Enquadramento A escolha um protocolo proprietário de um único fabricante,
obriga a uma dependência que poderia ser problemática
A eficiência energética dos edifícios é cada vez mais uma das durante o ciclo de vida de um sistema.
prioridades nas agendas dos gestores comercias dos edifícios
e proprietários. Em parte deve-se ao processo de certificação Com o KNX, se um determinado produto já não está
energética dos edifícios, que entrou em vigor em 2007, disponível, existe a garantia que haverá uma alternativa de
através dos Decretos de Lei 78/2006, 79/2006 e 80/2006. A substituição.
solução passa agora pela poupança contínua de energia
através de uma eficiente Gestão Técnica de Edifícios. Como o KNX abrange uma diversidade de aplicações que
utilizam o mesmo protocolo de comunicações, a ligação em
2. Standard KNX rede dos dispositivos é muito simples. Um único cabo par
entrançado pode, em muitas vezes, ser suficiente para
O Standard KNX (anteriormente EIB) é um sistema para o interligar vários dispositivos que operam em conjunto numa
controlo e automação de todo tipo de Edifícios, totalmente única rede. O KNX utiliza como suporte físico o cabo verde J-
compatível com a Norma Europeia EN50090. Y(st)Y2x2x0.8mm2 (i.e. par entrançado TP), podendo
contudo usar outros meios, tais como, Rádio (RF), Ethernet,
Grande parte dos proprietários de edifícios comerciais, ao Fibra Óptica ou Linha de Potência.
nível mundial, rapidamente aceitou esta tecnologia como
suporte para alcançar a máxima eficiência energética, uma Como exemplo de integração do KNX, já existem vários
vez que tem uma série de vantagens em relação a soluções dispositivos no mercado, designados por “gateways”, que
alternativas. Por exemplo, num momento em que é proporcionam a interligação com outros protocolos de
esperado que a Gestão Técnica de Edifícios (BEMS - Building controlo, tais como DALI (Digital Addressable Lighting
Energy Management Systems) seja cada vez mais a solução Intelligence). Estes dispositivos, são utilizados para expandir
adoptada, o KNX tem a capacidade de ser integrado em a capacidade dos sistemas de controlo KNX e fornecer a
qualquer tipo de BEMS. Uma vez integrado, outras solução de gestão completa de um edifício.
vantagens do KNX entram em jogo no controlo local em cada
área do edifício. KNX também tem trabalhado com protocolos ao nível da
gestão, como o BACnet, para permitir o interfuncionamento
A vantagem do KNX cobrir praticamente todas as áreas entre estas duas normas, sempre que o projecto exige
funcionais de um edifício, oferece-nos uma abordagem gestão centralizada.
holística da utilização eficiente da energia. O KNX não está
limitado à iluminação, aquecimento ou medição, ou Consultores, especialistas e utilizadores finais à procura de
qualquer outra função específica. soluções abertas para Gestão Técnica de Edifícios, estão cada
vez mais a considerar KNX como tecnologia base em
A plataforma KNX tem sido adoptada por muitos e altamente detrimento de soluções proprietárias ou de vários controlos
respeitados fabricantes, oferecendo uma vasta escolha de baseados em hardware.
produtos que abrangem todas as áreas funcionais dos
edifícios.

274
ARTIGO TÉCNICO

O que também contribui para escolha do KNX, é que um - Inglaterra, Heathrow Airport, Terminal 5
produto que é colocado no mercado, é totalmente testado e
certificado por um organismo regulador independente e só No terminal 5 do aeroporto de Heathrow, o KNX controla a
depois é que o produto pode ter o logótipo KNX. gestão dos sistemas de iluminação, de forma a proporcionar
aos passageiros um ambiente bem iluminado nas diversas
A KNX Association é o organismo internacional responsável áreas do terminal, incluindo o terminal ferroviário, o pátio
pela certificação. Este processo, garante total confiança na principal do edifício e a ligação dos passageiros (TTS -
fiabilidade e interoperabilidade dos produtos KNX, Tracked Transit System) entre o edifício principal e os
independentemente dos dispositivos e fabricantes. edifícios utilizados para o embarque.

O novo paradigma da gestão energética, faz com que seja Também controla a iluminação dos vários andares do parque
extremamente importante tornar mais eficiente a utilização de estacionamento, do centro climatização e da torre de
da energia. controlo de tráfego aéreo.

Por exemplo, um sistema de controlo da iluminação pode ser


simplesmente configurado para acender as luzes somente
quando alguém está presente na sala, mas também pode
monitorar níveis luminosidade e regular a iluminação
(escurecer ou clarear) em função da luz natural. Este é um
exemplo muito simples de eficiência energética.

O controlo eficaz da iluminação pode resultar em economias


de energia muito significativas. Se o sistema for integrado
com o controlo de estores e persianas, climatização e
monitorização, poderá proporcionar enormes poupanças. A
beleza do KNX é a capacidade de possibilitar a inclusão de
mais soluções de poupança de energia, sem condicionar o Figura 1 - Inglaterra, Heathrow Airport, Terminal 5
normal funcionamento do edifício. Mais, sendo o KNX uma
tecnologia distribuída, a avaria ou falha de um elemento não Embora não tenha sido desenvolvido para comunicar
compromete o funcionamento dos restantes. directamente com o Sistema de Gestão Técnica (SGT), sendo
a plataforma KNX é uma tecnologia aberta, foi possível
3. Alguns Exemplos de Utilização do KNX integrar o sistema KNX no SGT.

Hoje em dia, o KNX é uma tecnologia adoptada em todo Esta solução permite à manutenção acompanhar a evolução
mundo, desde da China aos Estados Unidos, bem como da dos sistemas de iluminação em todo o terminal e
Austrália ao Médio Oriente. rapidamente identificar eventuais falhas através do Sistema
Central de Gestão Técnica, incluindo a sua localização
Seguidamente apresentam-se alguns exemplos que precisa. Desta forma, garante-se que todas as áreas do
representam alguns dos projectos mundiais realizados com terminal estão constantemente bem iluminada, facilitando
KNX. ainda a sua manutenção.

275
ARTIGO TÉCNICO

O sistema de iluminação reage de acordo com as condições - Pequim, Terminal 3 do Aeroporto


climáticas, regulando automaticamente a iluminação
artificial em função da iluminação natural exterior. Mais de 11.000 dispositivos KNX entraram na construção do
Terminal 3 do Aeroporto Internacional de Pequim, para o
Ao todo, foram instalados mais de 400 actuadores KNX para controlo da iluminação, climatização e transmissão de
o controlo da iluminação. Em algumas áreas, existem botões mensagens de erro.
de pressão que fornecem um controlo manual do sistema de
iluminação, sobrepondo-se ao sistema automático de O Terminal 3 do Aeroporto de Pequim, que possui uma área
controlo. Ao anoitecer e ao amanhecer, quando o aeroporto de 986.000 m² e é o maior edifício num aeroporto no
é menos movimentado, o sistema de iluminação reduzirá mundo, foi inaugurado em Fevereiro 2008. Actualmente, os
automaticamenteiluminação níveis. dois mais importantes aeroportos da China - Xangai e
Pequim - estão equipados com a tecnologia KNX.
- China, Estádio Olímpico de Pequim

As principais arenas utilizadas nos Jogos Olímpicos de


Pequim estão automatizadas com a tecnologia KNX.

Figura 3- Terminal 3 do Aeroporto de Pequim

- Turquia, Hotel Kempinski, “The Dome”

Figura 2- China, Estádio Olímpico de Pequim O novo e luxuoso Hotel Kempinski, “The Dome”, na
paradisíaca praia de Antalya na Turquia, apresenta-se como
No espectacular "Ninho de Pássaros", o todo sistema de um sonho das 1001 Noites. A arquitectura de um complexo
iluminação é controlado por KNX, incluindo a deslumbrante edifício moderno faz lembrar o estilo Seljukian.
iluminação exibida durante a abertura e encerramento da
29.ª edição dos Jogos Olímpicos de Verão.

A mesma tecnologia foi instalada no maior centro Aquático


do mundo, no qual os organizadores dos Jogos investiram
100 milhões de euros.

Este edifício, utiliza a tecnologia KNX, por exemplo, para


tempo de controlo e regulação do consumo de energia,
assim como para os efeitos de iluminação na fachada do
edifício. Figura 4- Turquia, Hotel Kempinski - The Dome, Antalya

276
ARTIGO TÉCNICO

O complexo hoteleiro com 157 quartos, 16 moradias, seis - Áustria, Cidade de Salzburgo
restaurantes e três bares está localizado sobre uma área de
aproximadamente 1.250.000m². A cidade de Salzburgo cobre uma área de 65,65km² e tem
150.269 habitantes (conforme dados de 2007).
Os quartos foram concebidos com base nas cores
Mediterrâneas e estão equipados com o mais recente O sistema de iluminação pública da Cidade de Salzburgo
tecnologia. Não existem os típicos sinais "Por favor, não inclui 19.000 luminárias com um total de 2,9 MW de
perturbar" em qualquer lugar do Kempinski. Esta potência e uma rede de 600km de comprimento.
informação, é por sua vez exibida na porta por um display
LED, que pode ser convenientemente controlado pelo Os custos da energia por hora de funcionamento (0,11€ por
hóspede junto à cama. kW/h) são 319 euros.

Quartos com Pensamento - Conforto Funções O novo sistema KNX liga as luzes quando a luminosidade
baixa os 180 lux e desliga a 40 lux na parte de manhã.
Uma tecnologia avançada e normalizada, sem um Comutações devido ao mau tempo (tempestades, neve,
compromisso de um único fabricante e que proporciona-se nuvens) são ultrapassadas através do modo de longo tempo.
conforto elevado ao utilizador e eficiência energética, foram
as razões que levaram os investidores e operadores do Os algoritmos do KNX verificam o desenvolvimento da luz
Kempinski Hotels a optar pela tecnologia KNX. Durante o natural em Salzburgo e só permitem que as luzes se liguem
check-in dos hóspedes, a recepção poderá activar as após um alargado período de escuridão, poupando assim
seguintes funções do quarto seleccionado: A climatização uma grande quantidade de energia. A alta estabilidade do
definida para modo de conforto, luzes de boas-vindas e TV sistema KNX garante a segurança do sistema.
ligada. Todas as outras funções estarão operacionais mal o
hóspede introduza o cartão no leitor do seu quarto. O sistema está construído em redundância. Existem dois
sistemas idênticos a correr em paralelo, segundo o qual o
Ajuda Rápida em Caso de Emergência sistema o primeiro sistema é executado como sistema
primário. Se este sistema entra em modo de erro, o segundo
Todas as casas de banho estão equipadas com um sistema de sistema assume o controlo. Cada sistema auto verifica-se
chamada de emergência. Isso garante que a recepção será através da transmissão cíclica de mensagens de todos os KNX
alertada através do sistema KNX com um alarme sonoro e a componentes para detectar avarias.
exibição do número do quarto no caso de uma emergência.

Figura 5 – Áustria, Central Publica de Iluminação de Salzburg

277
ARTIGO TÉCNICO

Os algoritmos de controlo foram implementados módulos de O navio tem mais de 100 cabines em diferentes categorias e
funções KNX. Dois sensores luz estão localizados numa caixa tem capacidade para mais de 200 passageiros.
metrológica aquecida e com a temperatura controlada. O
circuito de equipamentos sensíveis à luz envia à noite um Para além do elevado conforto, um grande navio de cruzeiro
pré-aviso de 4 quatro minutos para a companhia eléctrica. deve satisfazer todas as exigências no que diz respeito à
Este pré-aviso é necessário para que o arranque e segurança. A comutação da iluminação nos quartos, salões e
sincronização de um gerador de 4 MW. Todas as comutações corredores para a energia de emergência tem de ser
seguintes serão desfasadas em 10 minutos para evitar picos efectuado num tempo muito curto. A tripulação do navio
de arranque e prevenir religações de iluminação. deve ter o controlo sobre esta funcionalidade em qualquer
momento. Sendo a tecnologia KNX um sistema
Cada sistema permite um controlo manual, que se sobrepõe descentralizado, é o ideal para este tipo de aplicação.
ao modo normal, durante a manutenção ou em
circunstâncias especiais. 4. Conclusões

Benefícios do Sistema KNX Em edifícios utilizados para fins comerciais, a flexibilidade e a


eficiência de custos desempenham um papel importante.
• Comutação automática do sistema de iluminação
pública, poupando energia e aumentando os intervalos Neste enquadramento, o KNX apresenta-se como solução
de manutenção para a mudança luzes. em virtude da sua flexibilidade e integração.
• A automatização foi implementada com o KNX, porque
um sistemas industriais equivalente SPS teria um custo Factores como, flexibilidade, economia, segurança e
muito superior. Os investimentos para componentes e conforto são alguns dos argumentos de KNX.
engenharia foram de apenas 10.250€.
Funcionalidades tais como, gestão automática da iluminação,

- França, Cruzeiro MS Belle de l’Adriatique climatização, monitorização entre outras são soluções de
integrantes do KNX.

O MS Belle de l'Adriatique percorre o Mar Mediterrâneo


desde da Costa da Croácia até às Ilhas Canárias.

Figura 6- França, Cruzeiro MS Belle de l’Adriatique

278
ARTIGO TÉCNICO Sónia Viegas
Astratec, Lighting Consultant
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009

Sistema de Gestão de Iluminação


LUTRON
1. INTRODUÇÃO 2. ILUMINAÇÃO

Os custos da construção dos edifícios e posteriormente a sua Para os que possuem o sentido da visão, a iluminação é um
manutenção, são cada vez mais elevados. bem essencial, esta pode ser natural ou artificial, sendo
sempre benéfico privilegiar a iluminação natural, a
A dimensão e a densidade de ocupação, que hoje iluminação artificial tem sofrido evoluções tecnológicas com
caracterizam os edifícios, os objectivos de flexibilidade de o passar dos anos, com origem na descoberta do fogo e
utilização e contenção de custos de funcionamento, são cada desenvolvimento da energia eléctrica, sendo que a
vez mais uma necessidade, tornando indispensável a iluminação foi o primeiro serviço disponibilizado pelas
racionalização do projecto e a optimização da exploração dos empresas produtoras de electricidade.
edifícios.
A iluminação pode ser definida como o efeito visual obtido
Quer sejam através de imposições legais, como os recentes no cérebro dos observadores, resultante da luz ali existente,
diplomas relativos ao Sistema de Certificação Energética ou seja é o nível energético existente nesse local, que é o
(SCE), Regulamento das Características de Comportamento resultado da soma de todas as radiações electromagnéticas
Térmico dos Edifícios (RCCTE) e Regulamento dos Sistemas que lá existem e cujas frequências são visíveis pelos seres
Energéticos de Climatização em Edifícios (RSECE), quer humanos.
surjam das próprias necessidades de evolução da actual
sociedade, assistimos a uma exigência cada vez maior dos Para se fazer bom uso da iluminação, esta deve estar no local
requisitos de conforto, de segurança e flexibilidade. Esta correcto, no tempo preciso, na intensidade e quantidade
preocupação não se pode esgotar no correcto e eficaz certa e com a cor e qualidade ideal, oferecendo condições de
projecto dos sistemas implementados, mas é importante não salubridade, conforto, segurança e eficiência energética.
descurar a sua performance ao longo do seu tempo de vida
útil dos Sistemas. O melhor ou pior desempenho energético de um Sistema de
iluminação depende essencialmente dos seguintes factores:
A automatização e integração de sistemas nos edifícios é um • Eficiência dos diferentes componentes do sistema:
tema actual e que se vem tornando obrigatório dadas as lâmpadas, balastros e armaduras;
necessidades actuais de cumprir os requisitos energéticos, • A utilização dada à instalação, sendo muito importante
de segurança, de conforto, de sustentabilidade e adequar o tipo de controlo utilizado e a luz natural
adaptabilidade em todas as fazes da vida de uma edificação: disponível;
projecto, construção e utilização, englobando a sua • A manutenção efectuada nas instalações.
manutenção e remodelações. De acordo com estas
necessidades as características tecnológicas evoluíram desde Um dos grandes avanços tecnológicos baseados em
os tempos em que não existia nenhuma automatização nos microprocessadores, foi criar a possibilidade de se efectuar
edifícios, passando pelos sistemas centralizados em que, um “controlo inteligente” da iluminação, proporcionando
num único ponto, era possível saber o estado dos uma maior flexibilidade e oferecendo uma melhor gestão da
equipamentos do edifício e exercer controlo sobre eles, mas iluminação. Através deste controlo é possível criar um
sem integração dos vários sistemas, até aos sistemas de ambiente esteticamente agradável e, ao mesmo tempo,
gestão integrados com arquitecturas distribuídas. poupar energia.

279
ARTIGO TÉCNICO

Os factores que têm influência neste controlo podem ser o 3. O SISTEMA DE GESTÃO DE ILUMINAÇÃO - LUTRON
tipo de ocupação, as funções desenvolvidas no espaço, a
hora do dia e os níveis de iluminação exterior. Sendo um O Sistema de Controlo de Iluminação da LUTRON, que tem
sistema de controlo dotado de “inteligência”, este tem a sido um dos pioneiros na regulação de iluminação, desde a
capacidade de memorização dos níveis de iluminação para década de 60, após Joel Spira ter inventado o seu primeiro
efectuar ajustes automáticos, ou seja, a programação dos regulador em 1959.
cenários de iluminação.
Algumas características do Sistema LUTRON:
O controlo de iluminação pode ser realizado com uma
arquitectura independente ou em rede centralizada ou • Poupança de energia com a regulação da potência de
distribuída, sendo que uma arquitectura em rede tem mais fluxo;
vantagens, inclusive a da integração com os restantes • Capacidade para regular os vários tipos de iluminação,
sistemas de gestão e controlo existentes no edifício e assim como:
flexibilidade da instalação. 1. Incandescência e Halogéneo (230V, transformador
magnético, transformador electrónico de fase
Os reguladores de iluminação permitem o chamado directa, transformador electrónico de fase inversa –
“arranque suave” que por exemplo para as lâmpadas ELVI)
incandescentes lhe pode prolongar o tempo de vida útil que 2. Fluorescência - Balastro electrónico regulável
tendem a apresentar falhas de funcionamento quando são (analógico 1-10v, DSI ou DALI)
ligadas e o filamento sofre um choque térmico, podendo 3. Néon (transformador magnético) e LED´s
também oferecer protecção contra picos de corrente. • Programação de vários cenários de iluminação;
• Transição gradual entre os vários cenários de iluminação,
Regular a iluminação também origina poupanças indirectas, proporcionando maior conforto e também valorizando
com a redução da carga térmica da iluminação e os aspectos decorativos;
consequente economia energética relacionada com os • Possibilidade de utilização de comando à distância por
sistemas AVAC. meio de infravermelhos;

280
ARTIGO TÉCNICO

• Possibilidade de integração com outros sistemas (ex. Quando as luzes estão desligadas, não há consumo de
Comandos de cortinas); energia, logo a utilização de TRIAC's para regulação do fluxo
• Possibilidade de gravação de cenários para posterior luminoso irá gerar poupanças energéticas, relativamente ao
simulação de presença, sendo que esta função poderá tempo de vida útil da lâmpada, este não é afectado pelo
estar interligada com os sistemas de segurança; número de vezes que esta liga e desliga, mas sim pela
• Possibilidade de regulação automática da iluminação temperatura que atinge, reduzir a temperatura aumenta o
através de relógio astronómico, detectores de presença tempo de vida útil da lâmpada, tabela 1.
e sensores de iluminação;
• Filtro RTISS, RTISS-TE e SOFTSWITCH para estabilidade da Tabela 1 − Relação de poupança com uma lâmpada incandescente

iluminação (extraído de LUTRON)

% de Luz Poupança Vida Útil da


A LUTRON efectua a regulação da iluminação através de
Energética Lâmpada
TRIAC's, um TRIAC é um interruptor de estado sólido que
90% 10% 2 vezes mais
abre e fecha 120 vezes/segundo.

75% 20% 4 vezes mais


A regulação é efectuada controlando a proporção do tempo
da luz ligada versus desligada, quanto mais tempo o TRIAC
50% 40% 20 vezes mais
está aberto mais brilhante é a luz visível, pelo contrário,
quanto mais tempo o TRIAC está fechado, mais ténue está a 25% 60% > 20 vezes mais
luz, ver figura 1.

Figura 1 – Relação da iluminação com a posição do triac (extraído de LUTRON)

281
ARTIGO TÉCNICO

Utilizando este sistema de regulação e apesar de se ligarem A escolha do método de controlo da luz eléctrica (lâmpadas)
e desligarem as luzes, este processo acontece de uma forma tem um papel importante para a regulação eficaz da
tão rápida que não é perceptível para o olho humano, por iluminação.
outro lado a nossa percepção da luz é superior ao real, ver
figura 2. Se se utilizar um controlo do tipo on/off, este não será o
método mais eficaz, por outro lado um controlo
proporcional permite saídas de sinal adaptativas ao longo do
tempo (dia), normalmente este é o método mais indicado
para o controlo e regulação da iluminação, sendo assumido
que a principal fonte de iluminação é a da luz solar, nos
casos que a fonte de luz é uma mistura de luz solar com luz
eléctrica/artificial - loop de controlo proporcional fechado,
existem métodos que permitem filtrar e eliminar totalmente
o contributo da luz eléctrica – loop de controlo proporcional
aberto. Assim, o posicionamento, a direcção e da área de
vista do sensor de iluminação, são factores relevantes para a
escolha do método de controlo.

A Lutron usa o método de controlo proporcional, o que pode


ser configurado como em loop aberto ou fechado.
Figura 2 – Relação entre luz perceptível e real
(extraído de LUTRON) Quando se controla no mesmo sistema a regulação de
cortinas/persianas e de luz eléctrica (lâmpadas), as cortinas
Para controlo da iluminação natural são utilizados sensores /persianas têm uma saída de controlo on/off, enquanto que
de luz (iluminação), que avaliam continuamente a luz do dia a iluminação eléctrica é regulada em loop de controlo
disponível, para garantir o nível de luz dentro um intervalo proporcional, sendo que não é fornecida ordem de
pré-determinado. De modo geral, os sensores de iluminação abertura/fecho das cortinas/persianas enquanto os valores
respondem à luz que é incidente na superfície do sensor, do sensor de iluminação se encontrarem no intervalo pré-
além da luz directa do sol, que na maioria dos casos não se definido (banda morta do sistema), se o sinal do sensor de
quer que seja reflectida nas superfícies, a outra fonte de luz iluminação ultrapassar este intervalo, então as
natural é proveniente da reflexão (e relativamente difusa) da cortinas/persianas são actuadas para obter o valor central do
luz solar no céu e nas nuvens. intervalo, para garantir que não são dadas ordens constantes
de actuação aos motores (vistos que esta acção seria muito
Para um controlo eficiente da luz natural dentro dos desagradável para os utilizadores do espaço e desgastante
edifícios, é necessário orientar o sensor de iluminação (luz) para os motores).
de forma a que consiga medir a luz solar reflectida na
proporção exacta em que varia nas superfícies que se O sensor de iluminação converte a quantidade de luz
pretendem controlar. O local ideal será aquele em que o detectada num sinal de corrente contínua que pode variar,
sensor consegue medir o máximo de iluminação solar, mas por exemplo, entre 0 e 3 mA ao longo do dia, sendo que o
não é influenciado por outras fontes exteriores de brilho sinal de saída do controlador proporcional que determina os
(luz). níveis de regulação das lâmpadas é proporcional a este sinal,

282
ARTIGO TÉCNICO

quanto mais elevado o sinal do sensor, mais baixo o nível de • Utilizam correcção de co-seno espacial, o que representa
iluminação eléctrica. No controlo on/off são definidos três correctamente as fontes de luz em vários ângulos de
níveis que correspondem à luz incidente no sensor, que incidência;
podem ser definidos como “valor desejado”, “elevado” e • Ângulo de visão vertical de 60 graus e 180 graus na
“fraco”, o intervalo de valores entre estes níveis deve ser horizontal fornecem um amplo ângulo de visão
grande o suficiente para fornecer a histerese do sistema adequada para sistemas de controlo proporcional;
(diferença máxima obtida entre as leituras de um ciclo de • A visão é orientada para o lado, proporcionando direcção
calibração, expressa em percentagem do alcance), quando ao sensor e tornando-o facilmente adaptável a uma
um determinado limiar é ultrapassado, o sistema de controlo variedade de locais de montagem;
actua de forma a obter de novo valores aceitáveis. • Grande alcance dinâmico (0 a 20000 Lx) e resposta linear
dentro deste intervalo.
A relação entre a iluminação fornecida pelos candeeiros de
tecto e pelos candeeiros de pé ou secretária, nem sempre é Com sistemas de controlo centralizado de iluminação é
muito boa, mas melhora à medida que nos afastamos das possível efectuar comutação, regulação e gestão de energia
janelas, então deve escolher-se como localização e controle de sombra de forma centralizada ou localizada,
preferencial para o sensor de iluminação uma distância de gerir todo o sistema, incluindo a gestão da manutenção de
cerca de “duas janelas” para o interior da sala. Quando se agendamento, sistema de diagnóstico e relatórios do estado
controla simultaneamente as luzes e as cortinas, o sensor da instalação, bem como a integração com o SGIT de outros
deve estar localizado mais próximo da janela para receber a fabricantes pode ser realizada através de BACnet, Lonworks,
influência directa da janela a ser controlada, devendo então RS232, ou CCI/CCO (entradas e saídas de contactos).
localizar-se o sensor à distância de cerca de “uma janela”.
A hora do nascer e do pôr-do-sol mudar todos os dias, o
Antes de dar por terminada a instalação do sistema de relógio astronómico integrado no sistema permite
controlo de iluminação, este deve ser calibrado, é necessário programar eventos para o amanhecer e/ou anoitecer,
dizer ao sistema qual o nível de iluminação desejado e enquanto que um programador horário normal apenas
definir o nível a contribuição da iluminação artificial permite criação de eventos a horas fixas.
requerida para um dia típico de iluminação natural, os
valores medidos durante a noite ou com as As possibilidades de programação deste sistema têm as
cortinas/persianas fechadas (se forem do tipo blackout seguintes características:
total), que definimos a contribuição da iluminação artificial • Programação de sequências: sequências de iluminação
sem influência de qualquer iluminação natural, com toda a automáticas disponíveis para cada espaço, as sequências
iluminação ligada, os valores medidos pelo sensor são podem ter vários passos e cada passo pode ter uma
registados, esta informação pode então ser utilizada durante temporização programada de 0,2 segundos a 90 minutos
o dia para subtrair a contribuição da iluminação artificial com incremento de 0,1 segundos;
medida continuamente pelo sensor, tornando o sistema • Partições: Controlo adaptativo da iluminação em espaços
dotado de um controlo proporcional em loop aberto. configuráveis;
• Compensação da iluminação exterior: Selecção
Os sensores de iluminação da LUTRON têm as seguintes automática de cenas pré-programadas com regulação da
características: iluminação artificial (lâmpadas) e natural
• Uma resposta espectral que está perto de resposta do (cortinas/persianas).
olho humano;

283
António Manuel Luzano de Quadros Flores ARTIGO TÉCNICO
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010

A CRIAÇÃO DE VALOR NO BINÓMIO


“CASA INTELIGENTE” / CONSUMIDOR
RESUMO Tentamos permanentemente ajustá-la à nossa maneira de
estar, de modo a ser cada vez mais confortável, mais segura
Este trabalho tem como objectivo entender a criação de valor e mais agradável.
no binómio casa inteligente/consumidor, esperando assim Tornamo-la mais inteligente, preparando-a para assumir
contribuir para um novo equilíbrio procura/oferta tendente a novas funcionalidades: “how far you go with your smart
que uma casa inteligente fique acessível a mais lares home depends on your lifestyle, budget and tastes” [01].
portugueses. Esses são os limites actuais: “lifestyle, budget and tastes”! A
O método utilizado baseou-se na pesquisa do mercado tecnologia deixou de ser o limite! Agora o limite está em nós.
português de sistemas de domótica e posteriormente no Tecnicamente, os sistemas evoluíram e proliferaram. Hoje
estudo das motivações do consumidor recorrendo ao método em dia, a oferta é diversa e o consumidor, que
quantitativo de análise de inquéritos. anteriormente tinha que aceitar o que o mercado lhe
Do cruzamento do conhecimento dos sistemas disponibilizava, agora tem de fazer opções e seleccionar uma
disponibilizados para casas inteligentes e das motivações dos solução com a qual terá de conviver. A lógica do mercado
consumidores poderá resultar uma melhor aproximação à inverteu-se nos últimos anos: anteriormente a oferta era
solução que conduz à satisfação do consumidor. escassa e por isso produzia-se para stock, agora a lógica de
Neste estudo concluiu-se que, actualmente, em Portugal, mercado passou a ser comandada pela procura.
estão disponíveis sistemas domóticos capazes de satisfazer Estudar os diferentes sistemas de domótica para casas
as necessidades e motivações dos diferentes consumidores. inteligentes é pensar num cliente exigente, criativo e que
Assim, os sistemas baseados no protocolo EIB com excelentes procura na tecnologia a concretização dos seus sonhos: uma
características enquadram-se no segmento mais exigente e casa segura, confortável e atractiva. Neste contexto, para
com maior investimento. que os clientes de casas inteligentes sintam a satisfação que
O protocolo X10 oferecendo uma elevada flexibilidade a as tecnologias lhes podem oferecer, sondamos os seus
baixo custo, disponibilizando pequenos kits de inicialização interesses e motivações e decidimos cruzá-los com a oferta
acessíveis e facilitando a sua instalação, dado utilizarem a de sistemas domóticos existentes em Portugal.
rede eléctrica para comunicação e interligação, parece dar
resposta ao segmento de mercado de menor investimento 2 O CONCEITO DE CASA INTELIGENTE
nesta área.
O segmento intermédio encontra uma resposta diversificada Diversas empresas promovem, em termos de marketing, o
nas soluções oferecidas baseados em sistemas proprietários nome de "casa inteligente", quando apenas utilizam alguns
desenhados para responder às exigências mais comuns dos automatismos isolados, sem qualquer possibilidade de
consumidores. integração ou expansão.
O resultado provoca a desconfiança e saturação entre os
1 INTRODUÇÃO clientes particulares ou profissionais, ainda à procura de
elementos de referência numa tecnologia que ainda não
A casa, a nossa habitação, é um pouco de nós, pois nela conhecem. [08]
passamos grande parte da nossa vida. Quando se aborda o tema das casas inteligentes tem-se
Por isso, ela é algo de muito delicado e reflecte um pouco da normalmente o cuidado de definir previamente esse
nossa personalidade. conceito.

284
ARTIGO TÉCNICO

Dado a designação de “casa inteligente” ter um termo Um ponto de partida poderá ser a sistematização de Gann
controverso, resultam normalmente definições, no mínimo, (1999) referida por Harper [04] que consiste na distinção
curiosas. entre casas que simplesmente contêm aparelhos
Senão, vejamos: inteligentes e aquelas que permitem computação interactiva
- Franco [03] afirma que “uma casa inteligente deve ser dentro e para fora da casa.
como um mordomo invisível, capaz de observar, tomar Assim mantendo a atenção na funcionalidade disponível
decisões e actuar sobre o meio envolvente”. para o utilizador podemos identificar cinco tipos de casa
- Segundo Roseta [12] “talvez a melhor casa do futuro seja inteligentes:
aquela que for capaz de transmitir uma lição de - Contains intelligent objects: Contém dispositivos e
harmonia entre memória e sonho, que a faça resistir à electrodomésticos que funcionam de um modo
prova do tempo que passa. Mas há também que abrir as inteligente.
portas à imaginação criadora e construtora do homem, - Contains intelligent, communicating objects: Contém
capaz de fazer do seu habitat um mundo maravilhoso e dispositivos inteligentes que comunicam entre si,
mágico, onde ao alcance de um botão podem estar as trocando informação e aumentando assim a sua
mais diversas possibilidades de realizar as suas funcionalidade.
aspirações”. - Connected home: A casa tem uma rede interna
- Soares [14] considera que “a “Casa do Futuro” deve ser o interligada com a rede externa, permitindo o controle
espaço por excelência da vida moderna, onde a família interactivo dos sistemas, e o acesso aos serviços e à
no seu todo, e cada membro do agregado familiar em informação, quer de dentro, quer do exterior.
particular (crianças, jovens, adultos e idosos), encontra - Learning home: Os padrões de utilização são gravados e
as diversas instalações especiais úteis e necessárias ao os dados acumulados são usados para antecipar as
seu “contacto com o mundo”. A “Casa do Futuro” deve necessidades dos utilizadores. Por exemplo, a casa que
também estar preparada para permitir o acesso fácil a aprende padrões da utilização do aquecimento e da
todos os cidadãos, incluindo os deficientes”. iluminação (“the adaptative home”).
- No “Logar Digital Conectado los PCs y otros equipos - Alert home: As actividades das pessoas e dos objectos
electrónicos de consumo trabajan de forma conjunta são constantemente monitoradas alertando e
para ofrecer contenido digital en todos los lugares de la antecipando as acções a tomar (“the aware home”).
casa. La gestión de este contenido se realiza de forma
fácil y cómoda, con los distintos dispositivos en red y b) AS FUNÇÕES DA CASA INTELIGENTE
desde cualquier lugar de la casa”. [06]
Em termos de conclusão, Oliveira [11] acrescenta que se Actualmente as habitações podem estar equipadas com
perspectiva que “a «Casa do Futuro» vai reinventar a função sistemas que associam diversas funcionalidades nas áreas de
do habitáculo doméstico e as sociabilidades individuais ou segurança, conforto, gestão de energia e comunicações.
colectivas à sua volta”! Funcionalidades principais: detecção de incêndio, intrusão,
fuga de água ou gás, avisos, comandos e controlo remotos,
a) TIPOS DE CASAS INTELIGENTES “Anything, Anytime, Anywere”.
As capacidades da domótica podem ser um auxiliar precioso
De facto, há problemas com a conceptualização da “casa para contornar as dificuldades temporárias ou permanentes,
inteligente”! Parece haver pouca concordância sobre como físicas ou mentais do ser humano. Além disso, estes sistemas
uma casa inteligente deve ser e sobre que tecnologias ela permitem facilitar as tarefas a idosos que assim vêem
deve incorporar. minimizados algumas limitações a que estão expostos.

285
ARTIGO TÉCNICO

3 A OFERTA consumidores, os sistemas analisados neste estudo foram


apenas aqueles que têm tido uma representação mais
a) A OFERTA DE SISTEMAS PARA CASAS INTELIGENTES notória nas feiras internacionais em Portugal. Analisaremos
os protocolos X10 e EIB e os sistemas proprietários Vivimat,
“Various industry groups and technology companies have Domus, Simon, Hometronic e Cardio.
tried (and mainly failed) to come up with next-generation
protocols to help automate a home”. (2003) [01] 1) Protocolo X10 : “This is something that's been around for
a long time. It’s fought long and hard to earn some of its
Existem vários estudos que referem protocolos que improvements in reliability, and has a definite place in
tecnicamente parecem ser interessantes, mas que na prática your home. A real purist may object to some of the
não são implementados, não estando assim disponíveis no potential problems with it, but unless money is no object
mercado. Por exemplo um estudo científico [03] ressalta o to you, you can’t beat the affordability and practical
particular interesse das redes tipo CEBus [02] que permitem flexibility of X10”. [05] A tecnologia X10 usa a rede
o transporte de dados através de redes eléctricas eléctrica como meio de comunicação entre os vários
convencionais podendo operar em redes wireless. dispositivos. Este é um aspecto chave desta tecnologia e
Relativamente a esse protocolo Briere refere que nos anos é a sua maior vantagem face a outras soluções, pois
90, “a bunch of companies grouped together with a standard permite o seu uso em casas já existentes. Os dispositivos
called CEBus (or Consumer Electronics Bus), which was podem ser ligados directamente nas tomadas e serem
designed to be a replacement of X10 and other in-home usados para ligar ou desligar equipamentos, lâmpadas
communications protocols. There was a lot of fanfare, but at ou regular a sua intensidade luminosa. O grande sucesso
the end of the day, we never saw any products hit the deste sistema reside no seu baixo custo, flexibilidade e
market that used the CEBus Home Plug & Play standard”! na sua facilidade de instalação. Dado que a patente
[01] (2003) deste protocolo já expirou há alguns anos, diversos
Do mesmo modo, a tecnologia DomoBus corresponde a um fabricantes contribuíram para a existência no mercado
desenvolvimento académico, não existindo produtos de uma elevada variedade de dispositivos que
comerciais disponíveis. [13] Este protocolo foi desenvolvido contemplam as mais variadas funcionalidades Para evitar
com o objectivo de servir de ferramenta didáctica e permitir que os sinais actuem os dispositivos das habitações
o desenvolvimento e avaliação de novas funcionalidades vizinhas existem filtros que bloqueiam a passagem
sem restrições dos produtos comerciais [10]. Além disso, destes para fora da sua rede de energia. Quando é
diversos protocolos de comunicação constam de necessário vencer distâncias consideráveis estão
publicações técnicas e científicas estando implementadas no também disponíveis módulos que repetem e amplificam
mercado americano com sucesso (homologadas pelo os sinais. O X-10 é de momento a tecnologia mais
American National Standards Institute - ANSI). Porém, acessível para a realização de uma instalação domótica
devido a não serem conformes com os standards CE, não não muito complexa.
penetram no nosso mercado. 2) Protocolo EIB: Este protocolo, tal como o X10, baseia-se
numa arquitectura descentralisada sendo considerado
b) A OFERTA EM PORTUGAL de elevada fiabilidade. Possibilita a execução de
qualquer projecto graças à enorme diversidade de
Para que, de facto, este estudo tenha alguma realidade equipamentos que os seus associados disponibilizam.
prática relativamente ao mercado, no qual participamos Pode usar diferentes meios de comunicação: bus de 2
como stakeholders, quer como técnicos, quer como condutores, rede eléctrica ou rádio frequência.

286
ARTIGO TÉCNICO

Este sistema permite que um único par entrançado seja O telecontrolo via teclado do telefone permite, quer
usado para alimentar um dispositivo e para comunicar actuar qualquer dispositivo, quer saber qual é o seu
com ele. Este protocolo conduz normalmente a soluções estado. O sistema pode ser acedido remotamente por
de investimento relativamente elevado. computador via linha telefónica.
3) Sistema proprietário Vivimat: O sistema domótico 6) Sistema proprietário Hometronic: O sistema Hometronic
VIVIMAT, é um sistema centralizado que pode ser usa a radio-frequência para a comunicação entre a
ampliado com a introdução de módulos adicionais central e os vários sensores e actuadores espalhados
interligados por um bus de comunicação. Ajusta-se às pela casa. As suas acções podem ser activadas
necessidades de todo o tipo de casas de nova localmente, automaticamente através da central, por
construção. Permite o controlo e manutenção local e telefone ou por Internet.
remota através de teclado, computador, painel de 7) Sistema proprietário Cardio. O sistema CARDIO dispõe de
visualização, telefone, WAP e Internet. uma sonda no ecrã táctil que permite o controle da
4) Sistema proprietário Domus/Inteligente: Este sistema temperatura da habitação e pode ser remotamente
baseia-se num ecrã táctil que incorpora o processamento controlado por telefone. Além disso, permite controlar
da informação. A este painel é ligado um cabo bifilar ao qualquer dispositivo X10, injectando sinais na rede
qual estão ligados em anel os “módulos de sensor”. Em eléctrica através da interface X10.
cada divisão da casa é instalado um destes módulos que
incorpora como entradas um receptor de De modo a evidenciar as potencialidades oferecidas por
infravermelhos, um sensor de movimento, um sensor se todos estes sistemas organizaram-se na tabela 1 as suas
luminosidade e um sensor de temperatura e como saídas características, nas seguintes áreas: campo de aplicação do
um emissor de infravermelhos, dois contactos secos para sistema domótico, expansibilidade, capacidade de
controlo de iluminação e um outro para controlo de interligação com outros sistemas, rapidez de resposta,
aquecimento. As persianas são controladas por módulos facilidade e versatilidade de utilização, interfaces de controlo
centralizados num quadro próprio (com uma ligação bus e custo global para uma vivenda modelo.
ao painel táctil). Pode ser controlado por painel táctil,
SMS e a visualização do estado do sistema pode ser feita 4 A PROCURA
na televisão. As suas limitações são a impossibilidade de
regulação da intensidade luminosa. a) COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR
5) Sistema proprietário Simon: O sistema SIMON VIS é um
sistema semi-centralizado radial. Tem uma unidade De acordo com a perspectiva da tomada de decisão, a
central de processamento, “módulo de controlo” que adesão a um sistema inteligente para a sua habitação
interliga com os módulos de saída e entrada. Em cada resulta, primeiramente, da percepção do consumidor de que
piso de uma habitação cada interruptor liga ao módulo existe uma necessidade, em seguida, da transição, por uma
de entrada (situado num quadro parcial) através de um série de etapas, em direcção a um processo racional da
par de condutores. Do mesmo modo, cada lâmpada é satisfação dessa necessidade. Entre essas etapas estão o
alimentada a partir do módulo de saídas. Como o reconhecimento do problema, a busca, a avaliação de
controlo é feito por software qualquer saída pode ser alternativas, a escolha e a avaliação pós-aquisição. A
temporizada. O sistema inclui a possibilidade de cada perspectiva experimental sobre o comportamento do
botão de pressão poder ter duas funcionalidades consumidor sugere que, em alguns casos, os consumidores
distintas: uma com toque curto e outra com toque longo. não fazem as suas compras de acordo com um processo de
tomada de decisão estritamente racional.

287
ARTIGO TÉCNICO

Em vez disso, às vezes, as pessoas compram produtos e Assim, as pessoas podem adquirir uma casa inteligente para
serviços apenas para se divertirem, para criarem fantasias ou expressar a terceiros certas ideias e significados a respeito
obterem emoções e sentimentos. de si mesmas [09].
Deste modo, tornar a casa inteligente pode constituir, para o Mais do que nunca a nossa casa revelará os nossos valores, o
consumidor, um meio de este sentir prazer ao ter controlo nosso conceito de vida e a nossa relação com a família e com
sobre as variáveis da sua habitação, ou apenas satisfazer a o mundo.
sua necessidade de reconhecimento e valorização pela No futuro poderemos afirmar: "Mostra-me a tua casa, dir-
sociedade. te-ei quem és”. [08]

Tabela 1 – Características dos sistemas domóticos analisados

SISTEMA: X10 EIB VIVIMAT DOMUS-INT SIMON OMTRONIC CARDIO

Fabricante: - - DINITEL JG SIMON HONEYWELL SECANT


Origem - - E P E G USA
Localização
Assistência P P P P P P P
Apartamentos S S S S S S S
Vivendas S S S S S S S
Aplicação
Edifícios N S N S S N N
Indústria N N N S S N N
Nova S S S S S S S
Construção
Existente S N N N N S N
EIB N - N N N N N
Interligação
X10 - N N N N S S
Nr. Max de enderços 256 12.000 48 IN + 56 OUT ILIMITADO 128IN+128OUT 100 200
Expansibilidade Outras Limitações N N N ILIMITADO N S 160Lamp+40plug
Expansibilidade futura S N N DIFÍCIL DIFÍCIL S N
Rapidez Tempo de resposta a 1 ordem 1 seg 0 0 0 0 0 0
Facilidade ELEVADO MÉDIA EXCELENTE ELEVADA ELEVADA EXCELENTE S
Utilização Versatilidade ELEVADO MÉDIA BAIXA ELEVADA MÉDIA EXCELENTE S
Eficácia ELEVADO ELEVADA ELEVADA ELEVADA MÉDIA EXCELENTE S
Por voz S N N N N N N
Voz S S S N N S N
Teclas S N S S S N S
Telefone SMS N N S S N N N
WAP S N N S N N N
Recebe imagens S N S N N N N
Local S S S N S N S
PC Lig. telefone S N S N N N S
Internet S N S S N N S
Módulo Macros S S S 7 /ROOM S S 50
programável Nr. de timers ELEVADO S ILIMITADO 7 /ROOM 128 ILIMITADO ILIMITADO
Controlo
Relógio despertad. com timers S ILIMITADO S N S S S
Infravermelhos S S N S S N S
Telecomando
Rádio-freq. S S N N N S N
Botões S S S N N S N
Táctil S S S S N N S
Ecran A cores N S S N N N N
Diagomal (mm) 130 120 120 135 N N 120
Resolução MÉDIA ELEVADA MÉDIA MÉDIA N N MÉDIA
WI-FI N N S S N N N
Regulação S S S N S S S
Iluminação
Cenários S S S S S S S
Valor mínimo aprox. € 2.000 7.000 4.000 3.500 7.500 3.000 5.000
Valor max. aprox. € 5.000 20.000 7.000 70.000 15.000 6.000 15.000
Orçamento global 5.709 7.112 5.700 4.629 5948
Preços (€) para vivenda média
com 3 pisos 13.700 9.628 6.480

288
ARTIGO TÉCNICO

b) METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO 2.1)Bloco B - Consideramos neste bloco as dimensões


satisfação e insatisfação do cliente.
Pretendendo conhecer a opinião dos consumidores
relativamente às casas inteligentes, optamos por um estudo 2.1.1) “Se tem uma casa inteligente, está satisfeito?”
quantitativo, (questionário por inquérito), que nos permitiu Destaca-se a satisfação da maioria dos clientes
obter um número significativo de respostas, que admitimos utilizadores de uma casa inteligente. A insatisfação é
constituírem uma base aceitável para extrapolação de apresenta somente por um utilizador que a atribui à
resultados, sendo os seus resultados apenas aproximados. incompetência do fornecedor inicial como
O critério de selecção da população alvo baseou-se na responsável pelo facto.
escolha de profissionais de classe média e alta.
Assim o inquérito foi enviado via e-mail, para endereços 2.1.2) “Se tem uma casa inteligente, o que mais o satisfaz”?
colectivos, estimando-se que terão chegado a cerca de 4000 Das funções típicas domóticas, são a rega automática
pessoas de diversas partes do país. e a detecção de intrusão as mais significativas na
Foram recebidos 90 inquéritos no período de uma semana. satisfação dos utilizadores inquiridos, seguidas da
Seguidamente apresentam-se os resultados dos inquéritos, detecção de fuga de gás e de incêndio e do facto de
poderem controlar as persianas, iluminação e
1) Bloco A: A questão inicial tenta captar qual é o conceito alarmes através do computador.
que o inquirido já tem (ou não) de casa inteligente: Das funções domóticas apresentadas pelos inquiridos
são elegidas as funções que proporcionam conforto e
”Que ideia tem de uma casa inteligente”? comodidade e aquelas que facilitam as rotinas
domésticas.
Da análise das respostas constata-se que uma casa
inteligente é sobretudo uma casa que apresenta 2.2) “Se tem uma casa inteligente, que funções inteligentes
automatismos, que gere da melhor forma os seus tem na sua habitação?
recursos energéticos e ecológicos, que é programada, A rega automática e a detecção de intrusão são as
que pode ser comandada à distância, que tem funções que existem em maior número nas casas
componentes electrónicos que auxiliam a gestão de inteligentes da população que diz possuir este tipo de
tarefas domésticas e, tudo isto, para melhorar a habitação. Também elas foram as mais representativas
qualidade de vida dos seus utilizadores. Registaram-se na satisfação dos utilizadores. Seguem-se as funções de
expressões curiosas que retractam uma casa inteligente controlo de persianas, de iluminação e de alarmes
em várias perspectivas: “casa prática”, “gere de forma através do computador, de detecção de incêndio e de
eficiente” “casa com vida própria”, “tem memória, noção gás. São também estas, as funções eleitas como as que
temporal, há interligação com o utilizador”, “permite mais os satisfazem, com excepção da protecção contra
poupar tempo, ganhar segurança e economia de electrocussão que eventualmente não é conhecida por
energia”, “resolve os problemas de quem a habita” e muita gente. Parece-nos que temos aqui uma relação
“melhora a qualidade de vida”, entre outras. Porém, entre a satisfação do cliente e as funções procuradas
paralelamente, há expressões reveladoras de dúvidas, de para instalar na sua casa.
preocupações e até de desânimo: “sujeita a avarias”, Das funções apresentadas pelos inquiridos é o
“não sei se é de confiança”, “pouco funcional”, “se tudo aquecimento central a função mais comum nas casas
funcionar é óptimo”, “até tudo funcionar, dá mais inteligentes.
trabalho que uma casa normal”.

289
ARTIGO TÉCNICO

2.3) “Se tem uma casa inteligente, quais são as dificuldades Parece-nos que há um certo consenso nas respostas dos
com que se depara no seu dia a dia”? nossos inquiridos, ou seja, os que possuem uma casa
A maioria dos inquiridos afirmam que as dificuldades não inteligente dizem que estão satisfeitos e que não
são relevantes. Apresentam de facto algumas apresentam dificuldades relevantes. Os que conhecem
dificuldades, mas eventualmente ultrapassam-nas com utilizadores de casas inteligentes confirmam esta
facilidade. Este resultado parece-nos significativo na opinião. Os inquiridos retractam-na, mais uma vez, como
medida em que a maioria dos utilizadores de casas uma casa “fantástica” e que dá “prazer”. As experiências
inteligentes desta amostra afirma estar satisfeito com a são “boas e más”, mas “os problemas resolvem-se”. Eis a
sua casa. razão por que se sentem satisfeitos os seus donos.
Constata-se, porém, uma preocupação do consumidor
relativamente à fiabilidade do sistema eléctrico. Como já 4) Bloco D: Este bloco é referente à valorização que o
foi referido anteriormente neste estudo, existem inquirido atribui a uma série de funções domóticas
sistemas que centralizam o processamento numa única típicas apresentadas no inquérito.
unidade correndo o risco, em caso de avaria ou de erro A marca triangular (Fig.1), relativa a cada função,
fatal do software, de deixarem os seus habitantes às representa o valor médio das valorizações que os
escuras, mas já há sistemas que funcionam em paralelo respondentes lhe atribuíram numa escala de 0 a 100%.
com a instalação eléctrica tradicional sem nada De modo a conhecer a dispersão das respectivas
perturbarem o seu funcionamento. valorizações atribuídas, determinou-se o desvio padrão
de cada função e assinalou-se no gráfico a
3) Bloco C: Seguidamente pretende-se detectar qual é a correspondente variação, para mais e para menos,
imagem que as pessoas captam de quem tem uma casa relativamente ao valor médio. Assim, o traço vertical
inteligente.. assinalado para cada função representa a variação da
valorização atribuída correspondente a dois terços da
3.1) “Se conhece alguém que tenha uma casa inteligente, amostra.
como é que a descreve”? Segundo o gráfico apresentado, praticamente todas as
Segundo as opiniões recebidas a casa inteligente é funções domóticas apresentam uma valorização média
sobretudo confortável e segura. É programada, tem rega superior a 50%.
automática e detecção de movimento. Mas também é É de destacar que as funções de segurança (detecção de
importante verificar que os “amigos” dos utilizadores de intrusão, detecção de gás, detecção de inundação e
uma casa inteligente ficam com a ideia de que ela é, por detecção de incêndio) são aquelas que apresentam um
um lado “espectacular”, “ boa e útil” e “tem tudo o que valor médio na ordem dos 80% e com um desvio padrão
é necessário para se sentirem bem” e reconhecem que apertado, o que quer dizer que cerca de dois terços da
ela é “atractiva perante os amigos”; por outro lado, é amostra se situam nesta faixa. Recorde-se que estas
“complexa”, “complicada quando não está o dono” e funções foram ditas pelos utilizadores de casas
“fica aquém da propaganda”. Estas duas facetas poderão inteligentes como as que os satisfazem mais e verificou-
ser uma consequência do sucesso do sistema se, por sua vez, que são ainda as mesmas funções as que
implementado ou da limitada capacidade do instalador. se encontram em maior número nas casas inteligentes,
ou seja, parece confirmar-se que as funções relativas à
3.2) “Se conhece alguém que tenha uma casa inteligente, segurança, que os respondentes dizem ter instaladas,
qual é a experiência que os moradores dessa casa têm”? são as mesmas que eles valorizam mais, e também as
A experiência dos moradores das casas inteligentes é que mais satisfação lhes dão.
francamente positiva.

290
ARTIGO TÉCNICO

Como o consumidor valoriza as funções domóticas

125

100
Valorização 0 a 100%

75

50

25

0
D.Intrusao

D.Portas

D.exterior

D. gás

D.água

D.fogo

D.Q. vidros

Alarme congelador

Câmaras

Gravador

P.electrocussão

Telecontrol ILU

Telecontrol aquec.

Telecontrol sirene

Telecontrol fogão

Tele Escuta

Recepção alarmes

Controlar c/ PC

Simulação presença

Telecomandos

Rega
Figura 1 – Nível de valorização das funções domóticas por parte do consumidor

5) Bloco E - A questão seguinte pretende que os inquiridos, 50


46
45
após a reflexão anterior, possam manifestar o interesse 42
39
40
41
Nr. total de interessados

em incluir as funções domóticas referidas, na sua 35


32
34
30
habitação actual. 29 25
25
21
20
15
“Se decidisse tornar a sua casa inteligente, que 12
11 10
10
modificações faria na sua casa actual”? 5
0
0 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000 6.000 7.000 8.000 9.000 10.000
6) Bloco F: Este bloco diz respeito ao nível de investimento Investimento disponível (€)

(em euros) que o consumidor está disposto a aplicar com Figura 2 – Percepção de valor de um sistema domótico

vista à satisfação das necessidades que entretanto lhe


foram estimuladas. Transcrição de algumas das observações mais relevantes:
Na figura 2 apresenta-se o número total de interessados
(acumulado) para cada nível de investimento. “Acho que a designação de “casa inteligente” não passou e
precisa de ser repensada!!!”
7) No fim do inquérito, sobre a designação de observações,
permitiu-se que as pessoas manifestassem livremente as “As pessoas estão pouco informadas sobre o que é uma casa
suas opiniões e os seus receios sobre este tema tão inteligente. Além disso, esta expressão assusta muita gente
polémico das casas inteligentes. pelo automatismo que ela envolve e pelo investimento que
se imagina que ela carece.

291
ARTIGO TÉCNICO

Penso que há necessidade de desmistificar este assunto para Para este patamar de “esforço económico”, como se pode
que as pessoas compreendam que se pode ter algo concluir da análise do resumo das fichas técnicas de cada
inteligente na casa por pouco por pouco dinheiro e de forma sistema analisado, estes teriam várias soluções possíveis:
simplificada, que se usa da mesma maneira como qualquer - Sistema Cardio
aparelho eléctrico.” - Simon Vis
- Domus
“Julgo que ainda estamos na fase de mercado em que reinam - Vivimat
os improvisadores e as soluções dirigidas a quem tem muito - Omtronic
dinheiro. A tecnologia está mais que madura, acho eu, logo - X10.
há espaço para quem não seja ganancioso e perceba do Estes sistemas, com excepção do X10, são todos sistemas
tema.” centralizados e proprietários.
Além disso, qualquer deles oferece possivelmente melhores
“Todos os contributos nesta área são de facto importantes, características e fiabilidade que o X10.
ainda mais se tivermos em consideração o ritmo de vida que Portanto, para a faixa de investimento dos 5.000 euros o
a maioria da população leva. Parece-me fundamental consumidor tem uma grande oferta de sistemas de
democratizar o acesso a, pelo menos, algumas das domótica.
funcionalidades que tornam uma casa numa Casa A fase seguinte deveria ser uma análise detalhada de cada
Inteligente” característica para determinar qual seria a solução que
melhor “integraria cada sistema domótico com o seu dono”,
5 O CRUZAMENTO DA OFERTA COM A PROCURA resultando daí, concerteza, uma maximização da sua
satisfação pós-venda.
Há que reconhecer que a maior parte das soluções Dado os interesses e motivações de cada um serem
domóticas que o mercado apresenta estão algo fora do diferentes, a ponderação de cada especificação é um factor
alcance da maioria dos portugueses. O mesmo não acontece pessoal e consequentemente a “melhor solução” dependerá
nos Estados Unidos ou noutros países da Europa onde o de critérios subjectivos.
poder de compra é bem superior ao nosso. Se analisarmos o caso, de um nível de investimento
Os interesses que o consumidor manifestou relativamente às disponível inferior, por exemplo 1500 euros, já teríamos
casas inteligentes foram essencialmente os seguintes: cerca de 34 consumidores nesse grupo.
- Na área da segurança: detecção de intrusão no interior Assim, se segmentarmos a procura em três faixas, podem daí
da casa, com detectores de movimento; detecção de resultar três tipos de soluções que satisfazem a maior parte
incêndio, de inundação e de fuga de gás. dos inquiridos procurados:
- Na área do conforto: controlar persianas, iluminação e a) Sistema de 5.000 euros para 21 respondentes
alarmes através do computador; ligar, desligar e b) Sistema de 1.500 euros para 13 respondentes
controlar o aquecimento central; ligar ou desligar o c) Sistema de 500 euros para 7 respondentes
fogão através do telefone; rega automática dos jardins. Para satisfazer o grupo representativo dos “13” inquiridos
que disponibilizariam um investimento de 1.500 euros para
Claro está que a selecção de qualquer solução domótica está terem a sua casa mais inteligente, poderia considerar-se um
intrinsecamente associada ao nível de investimento sistema híbrido em que se proporia uma central de intrusão
disponível. Como se pode inferir da análise do gráfico do inteligente que acumularia funções de comunicação e
”número total de interessados por cada nível de controlo bidireccional, associada a uma aplicação criteriosa
investimento” vinte e um dos inquiridos estão dispostos a do sistema X10 que permitiria um escalonamento
investir 5.000 euros para tornar a sua casa inteligente”. progressivo à medida do interesse do consumidor.

292
ARTIGO TÉCNICO

Assim, os alarmes técnicos seriam geridos pela central de ser solucionados pela aplicação de um
intrusão e o conforto ficaria a cargo do sistema X10. A rega repetidor/amplificador, disponibilizado por diversos
automática ficaria, opcionalmente, isolada com um fabricantes de dispositivos X10.
controlador dedicado, dado estes terem elevada fiabilidade
e serem de baixo custo, evitando-se assim, o perigo de 6 CONCLUSÕES
inundação provocado pela baixa fiabilidade do sistema X10.
Relativamente ao terceiro grupo que apenas disponibilizava “Se a introdução da concorrência teve o mérito de fazer
500€ o mercado também oferece um sistema domótico que passar o consumidor de Utilizador a Cliente, a prática de
pode ser escalonado em várias fases, sendo mesmo possível criação de valor para o cliente, tem como efeito fazer
aplicá-lo apenas numa única sala: sistema X10. De modo a passar o consumidor de Cliente a Amigo”. [07]
tornar este produto mais acessível, a cadeia de valor que
inclui todos os processos desde a produção, distribuição, As casas inteligentes, quando instaladas com sucesso,
retalho, instalação e cliente, foi reduzido apenas a 2 níveis: proporcionam aos seus utilizadores a satisfação como
Produtor e consumidor. clientes e todo o prazer que a tecnologia actual lhes pode
Dado o sistema X10 ser muito fácil de instalar o nível técnico oferecer. Daí lhes advém a verdadeira percepção de valor da
do “instalador” pode ser abolido, podendo incluir-se este domótica.
sistema no sector “faça você mesmo” e ser a sua instalação Compreender as motivações dos consumidores, no âmbito
encarada como um trabalho de bricolage. da casa inteligente e o processo de consumo, proporciona
Assim, para o grupo dos “investidores dos 500 euros”, o uma série de vantagens. Entre elas destacam-se o auxílio aos
sistema X10 tem kits económicos, que vão desde um sistema gestores nas suas decisões, o fornecimento de uma base de
compacto de detecção de intrusão telecomandado com conhecimento a partir da qual os pesquisadores de
telecomando de rádio frequência compatível com os sinais marketing podem analisar os consumidores e, ainda, o
X10 e que avisa telefonicamente o dono em caso de intrusão auxílio ao consumidor na tomada de melhores decisões de
(a Portugal Telecom comercializa este produto), até kits de compra.
automação, que incluem um módulo X10 para controlar Acresce ainda que, num mercado tecnológico cada vez mais
electrodomésticos, um módulo X0 de casquilho para exigente, a lógica da relação Fornecedor-Cliente mudou,
intercalar no circuito eléctrico do candeeiro junto à lâmpada, estando a ser substituída por uma relação Amigo-Amigo
um receptor de rádio frequência que injecta o sinal de X10 como resultado de uma relação de cooperação “win-win”.
na rede e um telecomando de rádio frequência que pode Relativamente à casa inteligente, corre um certo misticismo
controlar os referidos módulos que recebem o sinal X10 pela como sendo “muito cara” e só para quem “percebe muito de
rede eléctrica. computadores”, necessitando quase de um técnico
É de referir a grande vantagem desse sistema em ser fácil de permanentemente ao seu lado. É necessário clarificar este
incluir posteriormente, mais funcionalidades, pois apenas é conceito. Actualmente as casas inteligentes são, de facto,
necessário ligar mais módulos às tomadas; estes passam a muito caras para clientes exigentes e que estão dispostos a
estar interligados pela rede eléctrica e a responder de investir nelas para concretizar os seus desejos mais
acordo com o código com o qual foram programados por sofisticados. No entanto, mostrou-se que o mercado
simples selecção de uma letra e de um número em dois também oferece outros sistemas fiáveis, mais económicos,
selectores, por meio de uma chave de fenda. Quando a ou seja, permite que o cliente vá comprando os
instalação atingir uma dimensão maior, quer pelo número de equipamentos à sua medida e vá lentamente construindo a
módulos ligados, quer pelas distâncias que os sinais têm que sua casa inteligente por partes.
vencer, todos os problemas de falha de comunicação podem

293
ARTIGO TÉCNICO

Acresce ainda, que também a tecnologia dos equipamentos


foi amadurecendo ao longo do tempo. Hoje em dia, tal como Bibliografia
se liga a televisão, as aparelhagens de som, ou outras por
telecomando, também, com a mesma facilidade, pega-se no [01] BRIERE, Danny e HURLEY, Pat, “Smart Homes for

mesmo comando e “clica-se” na tecla de levantar a persiana, Dummies”, Wiley Publishing, Inc., 2003

acender a luz ou qualquer outra função que o cliente [02] CEBus – Consumer Electronics Bus (EIA-600),

imaginou. Parece-nos, deste modo, que os sistemas das http://www.cebus.org.

casas inteligentes estão disponíveis para todas as “bolsas” e [03] FRANCO, Ivan, “A Casa do Futuro Interactiva”, Cap.

preparados para finalmente entrarem na casa do “Sensores e Actuadores: os Sentidos e Músculos da Casa

consumidor comum. Esta ainda não é uma realidade da Inteligente”, 2003

esmagadora maioria dos lares portugueses. [04] HARPER, Richard,”Inside the Smart Home”, Springer-
Verlag London Limited, 2003, PAG. 299, 229

Apesar das limitações deste trabalho, pelo facto de se ter [05] JACKSON, Andy, “Integrating the smart home with its

baseado numa amostra relativamente limitada, parece owner”, Integratorpo, 2003

poder concluir-se que, actualmente, existem todas as [06] JUNESTRAND, Stefan, “Hogar Digital Conectado”, El

condições para um perfeito encontro da oferta com a SIMO TCI, feria internacional de informática, multimedia

procura no domínio da domótica, constituindo assim o seu y comunicaciones.

conhecimento uma nítida vantagem para todos os players: [07] MICHEL, H.,”Criação de valor para o cliente”, Monitor,

para os consumidores na medida em que estes poderão 2003.

usufrir da tecnologia “à sua medida” e para todos os outros [08] MOTA, José Augusto, “Casas inteligentes”, Centro

também, dado existir, actualmente, um potencial elevado de Atlântico Lda, 2003

oportunidades de negócio. [09] MOWEN, John C. e MINOR, Michael S.,


“Comportamento do Consumidor”, Pearson Education,

A constante subida dos preços dos imóveis, e a crescente 2003

dificuldade em vender as casas e os apartamentos novos, [10] NUNES, Renato, "DomoBus - A New Approach to Home

associada à presente crise económica, originaram um Automation", 8CLEEE"-

excesso de construção que dificilmente o mercado [11] OLIVEIRA, José Manuel Paquete, “A Casa do Futuro

português absorverá. Estes factores levaram a que os Interactiva”, Cap. "Estar em Casa, Estar no Mundo", 2003

construtores recorram cada vez mais à Domótica como [12] ROSETA, Helena, “A Casa do Futuro Interactiva”, Cap.

factor diferenciador, sendo já vulgar verem-se “outdoors” "CASA DO FUTURO", 2003

aliciando os consumidores para as “Casas de Sonho [13] SANTOS, José Armando, “Meios para melhorar a

Inteligentes”. qualidade de vida e a autonomia de pessoas com

Espero com este trabalho ter contribuído para desmistificar necessidades especiais”, Tese de Mestrado da

o conceito de casa inteligente e faço votos que a sua leitura Universidade Técnica de Lisboa – Instituto superior

sirva de estímulo para que mais alguns lares portugueses Técnico, 2004

beneficiem da magia e das maravilhas que a tecnologia [14] SOARES, Francisco Sousa, “A Casa do Futuro

actual nos oferece. Interactiva”, Cap. "CASA DO FUTURO", 2003

294
ARTIGO TÉCNICO José Luís Faria
Touchdomo, Lda, Porto, Portugal
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010

DOMÓTICA
E A REQUALIFICAÇÃO DE EDIFÍCIOS

RESUMO 1 INTRODUÇÃO

Para a elaboração deste artigo técnico foi necessário adoptar “Os edifícios que são planeados e funcionam de forma eficaz
uma estrutura que possibilitasse fornecer um estudo teórico- ao nível energético já não são novidades exclusivas. Até a
prático, transversal e equilibrado, das diferentes tecnologias designação um edifício inteligente começa a perder a sua
domóticas. natureza exótica.

Inicialmente realizou-se um pequeno estudo teórico das Ambas as tendências estão agora a revolucionar a
tecnologias domóticas mais relevantes, de uma forma arquitectura cada vez mais ambiciosa e a abrir caminho na
transversal e resumida (Capítulo 2). luta mundial contra as alterações climáticas.”

Em função do estudo teórico do capítulo anterior, no As tecnologias de domótica (também conhecida como
Capítulo 3 realizou-se uma análise mais prática, em que ao “automação de edifícios”) existem já há algumas décadas.
invés de abordar um caso prático existente, de grandes Contudo, essas tecnologias sempre estiveram associadas a
instalações com o seu valor emblemático, optou-se por habitações particulares de alto nível ou a edifícios e
utilizar como modelo o edifício F do Instituto Superior de instalações fabris de grandes empresas.
Engenharia do Porto e apresentar uma das soluções possíveis
de implementação de tecnologias domóticas em edifícios já Mas a partir do momento em que ocorreu a actual crise
existentes (aplicação do conceito de requalificação de energética (início do séc. XXI), em que o aumento da procura
edifícios). dos combustíveis fósseis não acompanhava a oferta, a
domótica ganhou mais relevância, pelas vantagens que
Depois da exposição do caso prático, expôs-se o futuro e apresenta a nível de poupança energética e de gestão. Por
oportunidades de mercado da domótica ou sistema de isso mesmo, tornou-se mais rentável implementá-la nos
gestão técnica centralizada, mais focalizado para o mundo edifícios actuais, construídos de raiz ou requalificados.
académico (Capítulo 4).
As vantagens que a domótica apresenta serviram como
Por fim, são tecidas as conclusões e considerações finais do reforço motivador da elaboração da dissertação:
artigo (capitulo 5). • Edifícios/empresas: eficiência energética, segurança,
etc.;
Esse artigo foi elaborado sob o ponto de vista de integrador. • Habitações particulares: conforto, segurança e
Por outras palavras, procurou-se realizar uma aproximação incremento do valor das habitações, devido ao luxo e
da realidade prática a nível de implementação das ostentação que exibem.
tecnologias domóticas em edifícios, ao dar uma linha de
conhecimento abrangente e ao mesmo acessível aos leitores, Actualmente a área da domótica (automação de casas e
que muitas das vezes esse tema acaba por transmitir edifícios) encontra-se em franca expansão, com principal
conceitos errados. relevância nos países mais desenvolvidos, com um
crescimento de mercado de mais de 10% ao ano.

295
ARTIGO TÉCNICO

2 ESTADO DA ARTE DAS TECNOLOGIAS DOMÓTICAS climatização, iluminação, persianas/lamelas, segurança, etc.,
podem ser baseadas num sistema de rede conveniente,
Quer se trate do Terminal 5 do aeroporto de Heathrow, ou rentável e muito flexível, ao garantir em qualquer momento
de uma habitação comum, uma norma uniforme para o a sua interoperabilidade.
controlo de diversos dispositivos existente dentro de um
edifício facilitaria imenso a implementação de Uma das outras grandes vantagens é a sua topologia de
funcionalidades inovadoras e complexas. Aqui o rede, em que ao utilizar um único cabo de par entrançado,
funcionamento em rede, máximo de abrangência de que na maioria dos casos prova ser o suficiente para realizar
funcionalidades possíveis e elevado índice de fiabilidade, a interligação de inúmeros dispositivos numa só rede. Sendo
bem como a utilização económica da energia, são critérios assim, a nível de topologia de rede, existem quatro tipos
importantes para a rentabilidade desses edifícios. para o meio TP (mais utilizado):
• Topologia em linha (Fig. 1– Ponto 1);
Como tal, as instalações eléctricas/electrónicas padrão só • Topologia de estrela (Fig. 1– Ponto 2);
podem cumprir estes requisitos até um certo ponto, • Topologia em anel, sendo apenas para a tecnologia
exigindo além disso mais trabalho e diferentes tipos de LonWorks (Fig. 1– Ponto 3);
materiais e instalações. • Topologia mista, sendo a mais utilizada em edifícios,
porque é a que apresenta menos obstáculos para
Assim, os projectistas e investidores escolhem cada vez mais expansões futuras da rede (Fig. 1– Ponto 4).
diferentes tecnologias de domótica para edifícios com base
em protocolos normalizados internacionais (p. ex.: KNX,
LonWorks, BACnet, etc.), com provas comprovadas das suas
vantagens e potencialidades nos diferentes tipos de
mercados. Também é razão de escolha das tecnologias KNX e
LonWorks ao apresentarem respectivamente, cerca de 300 e
4200 fabricantes afiliados, mostrando o seu grande nível de
interoperabilidade.

Um outro factor referente à existência do elevado número


de fabricantes afiliados às tecnologias baseiam-se destas Figura 1 – Diferentes tipos de topologia de rede

serem denominadas como tecnologias de protocolos


abertos, em que qualquer fabricante é livre de desenvolver e Como tal, cada vez mais as empresas de construção civil e
comercializar novos produtos, desde que sejam cumpridas clientes finais estão a mostrar um aumento da
os requisitos das tecnologias de domótica em questão. Este implementação em edifícios novos e requalificados.
grande facto acaba por criar uma outra grande
particularidade dessas tecnologias, em que para uma A flexibilidade de utilização é muito importante por vários
qualquer funcionalidade que seja necessário cumprir ou motivos. Frequentemente, durante o planeamento da
satisfazer de uma dado edifício, terá sempre um ou mais construção, não são considerados a utilização subsequente e
produtos que conseguirão corresponder às expectativas. futuros requisitos de modificação e optimização do espaço.
Esta neglicência pode tornar-se rapidamente dispendiosa,
O seu conceito base consiste em utilizar módulos actuadores pois as alterações subsequentes envolvem normalmente
e sensores com várias funcionalidades, as instalações de custos elevados.

296
ARTIGO TÉCNICO

Ao implementar um sistema com um elevado nível de Ao invés de apresentar casos práticos em instalações com
flexibilidade, permite que o sistema de bus seja altamente sistemas de domóticas implementadas (p. ex. Terminal 5 do
flexível e ser simplesmente reprogramado a baixo custo. aeroporto de Heathrow, Estádio Olímpico de Pequim, etc.),
que por um lado já foram apresentados em artigos
Contudo quando não é suficiente o cabo entrançado (TP – anteriores da revista “Neutro à Terra”, casos esses que são
Y(st)Y 2x2x0,8 mm2), pode-se utilizar outros meios tais como bastante conhecidos (devido à sua projecção), por vezes
radiofrequência (RF), PowerLine (PL), rede Ethernet ou até sente-se um distanciamento considerável desses casos com
mesmo fibra óptica. a maioria das instalações de domóticas existentes em todo o
mundo e com a percepção genérica do público em geral. Por
Quando necessário podemos expandir ainda mais a rede ao outras palavras, o principal mercado da domótica, por
interligar na mesma rede várias tecnologias de domótica ou motivos históricos confina-se ao utilizador particular
de automação (DALI, DMX, LonWorks, Bacnet, etc.). (habitações).

Todos os produtos de diferentes tecnologias de domótica Contudo é necessário relembrar que cada vez mais as
(KNX e LonWorks), antes de serem lançados para o mercado instalações de domótica são instaladas em edifícios de
são devidamente testados e certificados, por organismos serviços, industrias, hospitais, etc. A principal razão é pelo
independentes, e se aprovados são lançados para o mercado facto desse tipo de edifícios possuírem uma elevada taxa de
com a sua certificação visível nos produtos (inclusão do utilização, que aliada à eficiência energética que a domótica
logótipo). Ou seja, além dos diferentes protocolos serem oferece, o retorno do seu custo de implementação pode
fiáveis e funcionais, todos os produtos que funcionam em ocorrer num espaço de alguns anos.
redor dos protocolos também transmitem a sua fiabilidade e
segurança. Para terminar as notas genéricas sobre os edifícios, segundo
alguns estudos, o custo construção de um edifício face ao
Por fim, uma outra característica que as tecnologias de seu custo global (custo de construção e manutenção
domótica apresentam é que a sua base de funcionamento é continuada durante a sua vida útil) raramente ultrapassa os
de modo distribuído. Ou seja, todos os produtos funcionam 45%.
de forma independente, que ao falhar um dado dispositivo
não implica a paragem de funcionamento da restante rede. Como todos nós sabemos, a eficiência energética é uns dos
factores de peso (senão o maior) para a adopção ou
3 CASO PRÁTICO: EDIFÍCIO F DO INSTITUTO SUPERIOR DE implementação de uma instalação de domótica num edifício
ENGENHARIA DO PORTO como o caso do edifício F do ISEP.

Antes de começar a abordar o caso prático iremos expor as É de realçar que não se pretende de forma alguma,
razões que levaram a uma instalação de uma instituição incentivar ou forçar a instalação de qualquer tipo de sistema
pública de renome. no edifício em estudo. O que deseja é mostrar a sua
Em primeiro lugar, é preciso referir que actualmente não aplicabilidade a um edifício português, permitindo aos
existe nenhuma instalação de domótica ou de gestão técnica leitores terem umas noções mais precisas e intuitivas e claro,
centralizada no Edifício F do Instituto Superior de Engenharia uma parte dos leitores são de alguma forma, frequentadores
do Porto. do local em estudo.

297
ARTIGO TÉCNICO

3.1 Metodologia de Estudo Essa consola central actual possui um grande problema, de
não apresentar o estado dos circuitos de iluminação (ligado
O edifício é constituído por 7 níveis/pisos, estando incluído a ou desligado), o que em certos casos pode induzir ao
garagem/cave, constituídos basicamente por laboratórios, accionamento errado de certos circuitos por parte dos
salas de ensino e gabinetes de docentes. seguranças presentes. Por exemplo não é pouco comum ver
alguns circuitos de iluminação em funcionamento de forma
Para o estudo ser mais simples de compreender iremos inadequada durante a noite ou durante o dia. Foi também
dividir o estudo em duas partes: realizado um estudo baseado no programa de estágio para
• Implementação de uma solução de gestão técnica estudar a viabilidade financeira de tornar operacional a
centralizada; apresentação dos diferentes estados dos circuitos de
• Implementação do sistema de domótica num laboratório iluminação, mas por questões financeiras não se avançou
típico. com a solução.

A implementação será realizada com o objectivo de Para o/s segurança/s responsável/eis poderão realizar o
requalificar o edifício, ao aproveitar ao máximo possível as controlo de todo o edifício quer a nível de:
tubagens existentes. • Circuitos de iluminação;
• Circuitos de aquecimento (radiadores de parede)
A questão das tubagens, sempre problemática, só permitirá • Sistema HVAC presente no edifício;
uma instalação integral de um sistema de domótica (nível de • Controlo dos portões da garagem;
campo) depois de fazer um levantamento detalhado e actual • Sistema de acessos às salas e laboratórios, incluindo
de toda a instalação, de forma a elaborar um projecto saber o local de presença de cada docente e/ou alunos
preciso e sem derrapagens orçamentais (e ao mesmo tempo (uma boa ferramenta de informação);
permitirá saber as limitações a nível de actualizações futura, • Gastos de energia (electricidade, gás natural, etc) e de
a nível de equipamento). água (que poderá ser uma excelente forma de detecção
de fugas ou gastos desnecessários);
3.1.1 Implementação de uma Solução de Gestão Técnica • Elevadores (p. ex. em função da afluência activar o
Centralizada numero de elevadores necessário para menor uso
desnecessário);
Um sistema de gestão centralizada significa gerir o máximo • Monitorização de janelas abertas, por motivos
de funcionalidades presentes no edifício baseado num ou energéticos (fugas de calor) e por motivos de segurança;
mais sistemas de automação (KNX, LonWorks, BACnet, etc.). • Etc.
Mas a palavra “gestão” não exclui o controlo, monitorização
e optimização de todas as funcionalidades presentes. As funcionalidades atrás referidas são apenas algumas que é
possível implementar. Mais outras funcionalidades podem
Voltando para o edifício em estudo, ao invés de existir a ser implementadas sem requerem a compra a fornecedores
consola central, presente na entrada principal do edifício F, terceiros. Poderão ser desenvolvidas internamente, pelos
em que permite uma gestão muito básica de todos os laboratórios de investigação ou pelos programas de estágios
circuitos de iluminação, todo o controlo é realizado através para alunos para aquisição de uma maior experiencia nessa
de qualquer computador com ligação à rede local ou à área em crescimento (ver Cap. 4).
Internet (ver Fig. 2).

298
ARTIGO TÉCNICO

A nível de monitorização podemos terminar com a definição centralizada no edifício F proposto no subcapítulo 3.1.1
de níveis de acesso de controlo/monitorização. Por exemplo, permite gerir, monitorizar e controlo todas as
o/s segurança/s poderão proceder apenas ao controlo e funcionalidades do edifício (interligadas com o sistema),
monitorização da maioria dos circuitos de diferentes incluindo todas as salas de ensino, laboratórios e gabinetes
funcionalidades, mas os altos responsáveis do universo ISEP dos docentes.
ou IPP poderão realizar uma gestão global e sem restrições
de toda a instalação. Asrazões para aprofundar na solução de domótica para um
laboratório típico são:
3.1.2 Implementação do Sistema de Domótica num • São as divisões onde a taxa de ocupação é a mais
Laboratório Típico elevada;
• Em muito dos casos é onde ocorrem maior desperdício
Depois de se abordar a implementação de uma solução de de energia (em termos de percentagens, em relação às
gestão técnica centralizada no edifício F, iremos abordar a áreas comuns presentes nos edifícios);
implementação de domótica num laboratório típico • Permitem, ao adaptar os hábitos de cada utilizador ou
(baseada na tecnologia KNX). grupo de utilizadores, ajustar da melhor forma os gastos,
sem sacrificar o conforto, qualidade de ensino e de
Antes de iniciar o estudo da implementação em causa, é concentração.
preciso referir que a solução equacionada de gestão técnica • Etc.

Figura 2 – Esquema de rede de gestão técnica centralizada

299
ARTIGO TÉCNICO

Irá ser exposta uma das soluções possíveis de implementar, as janelas estão abertas) e para controlo de segurança.
dividida em vários parâmetros: Normalmente a esse tipo de controlo recorre-se ao uso de
contactos magnéticos.
- Iluminação
Possivelmente a variável mais significativa no gasto global de Por fim, o terceiro controlo, menos utilizado, é o controlo
utilização (não se pode confundir com os gastos de materiais remoto da abertura das janelas. A sua grande utilidade
de laboratórios, de manutenção e outros) mas ao mesmo reflecte-se para manutenção dos níveis de CO2 e como forma
tempo é a variável mais ajustável ou mais susceptível a de controlo adicional para os sistema de climatização,
maior capacidade de controlo com o sistema de domótica. sempre que for necessário.

Ao incluir um ou mais detectores de movimento de presença - Climatização


(depende da dimensão do laboratório) permite fazer uma O sistema de climatização a ser controlado será separado em
gestão automática de iluminação em função da existência de dois tipos.
movimento no seu interior (p. ex. presença de alunos) com a
luminosidade interior. Mas o detector permite ainda realizar O primeiro tipo de climatização, aquecimento por caldeira,
os seus cálculos matemáticos de forma a realizar a regulação que irá fornecer água quente aos radiadores presentes no
contínua da iluminação de forma a manter uma iluminação laboratório.
constante1.
O segundo tipo de climatização, HVAC, procederá ao
Por fim, a regulação da iluminação pode ser feita arrefecimento e aquecimento (menos eficiente que o
directamente ou através da tecnologia 1-10V ou DALI, aquecimento por caldeira). Para um correcto funcionamento
podendo em qualquer momento ser desabilitada/habilitada do sistema HVAC em todas as divisões, essas têm que
o controlo automático através de umas das teclas de pressão comunicar com o sistema de gestão técnica centralizada para
presentes na entrada do laboratório. que accione o sistema HVAC central (controlado através de
controladores baseados na tecnologia BACnet ou LonWorks)
- Janelas sempre que for necessário (através de cálculos matemáticos
Poderão ser realizados três tipos de controlos. e de históricos de utilização anteriores).

O controlo mais comum é o controlo das persianas de O sistema de climatização é controlado com base nos valores
lamelas (que apesar do investimento inicial ser mais elevado apresentados pelo/s sensor/es de temperatura presentes na
que as persianas normais), permitem um controlo da divisão. O valor de setpoint (valor de temperatura interior
entrada de iluminação natural e também um controlo da que se pretenda) poderá ou não ser ajustado em tempo real,
entrada de luz directa, de onde provém a radiação pelos docentes ou outro tipo de pessoal autorizado.
infravermelhos como uma das formas de aquecimento do
laboratório sempre que a temperatura interior seja baixa. - Níveis de CO2
Ao monitorizar os valores de CO2 permitem usufruir de duas
O segundo tipo de controlo que poderá ser feito é o estado grandes mais-valias. A mais notória é controlar os níveis de
das janelas (aberta ou fechada), em que é muito útil para o CO2 , de forma que as condições de aprendizagem e de estar
sistema de climatização (que não irá funcionar sempre que nos laboratórios sejam as ideais (evitando o muito conhecido
efeito de “ar abafado” ou “saturado”).

1Esta ao realizar a regulação de iluminação, permite um menor consumo de energia eléctrica, aumentando o tempo de vida útil das lâmpadas.
Por exemplo, uma dada lâmpada a 50% de luminosidade pode durar até 20 vezes mais que uma lâmpada em funcionamento pleno

300
ARTIGO TÉCNICO

A outra vantagem que poderá apresentar é ser considerado Por outro lado pretende-se referir que um sistema de
como mais uma variável de controlo por parte do sistema de domótica ou gestão técnica centralizada por si só não é uma
climatização. Por exemplo, em função dos diferentes níveis solução eficaz e significativa para redução da factura
de prioridades das diferentes variáveis de controlo do energética de um edifício (uns dos factores mais
sistema de climatização (apenas HVAC por permitir significativos para o sucesso ou fracasso no factor de decisão
circulação de ar) e eventualmente controlo das janelas de implementação), devido à solução arquitectónica a nível
poderá contribuir para uma maior poupança energética. de estrutura e de materiais de construção.

- Controlo de acessos Por fim, apesar de ser um caso teórico, permite dar uma
Apesar do sistema de controlo de acessos existir, ao reportar outra sensibilidade aos leitores o leque de funcionalidades
a presença dos diferentes utilizadores, não possui outras que poderão ser implementadas, que forma e as suas razões.
funcionalidades. Ao interligar com o sistema de gestão
técnica centralizada permite usufruir de inúmeras vantagens. 4 FUTURO E OPORTUNIDADES DE MERCADO A DOMÓTICA OU

Por exemplo, o accionamento dos diferentes circuitos de SISTEMA DE GESTÃO TÉCNICA CENTRALIZADA
iluminação, persianas e climatização só será realizado
sempre que o docente der como entrada na divisão, Depois de fazer uma análise do caso pratico, irão ser
evitando accionamento indevido por terceiros. expostas as tendências futuras da área da domótica e da
área da gestão técnica centralizada.
Possibilita também, referido no capítulo 3.1.1, saber em
tempo real onde está um dado utilizador (docente, aluno ou Actualmente a área da domótica (automação de casas e
outro tipo de utilizadores) para uma maior facilidade de edifícios) encontra-se em franca expansão, com principal
encontro. relevância nos países mais desenvolvidos, com um
crescimento de mercado de mais de 10% ao ano.
- Medição de energia
Em qualquer altura, dependendo da existência do medidores Existem inúmeras razões para a crescente implantação da
de energia na divisão (energia eléctrica e do sistema de domótica em edifícios, entre as quais a maior eficiência
climatização em unidades British Thermal Unit - BTU), poder- energética, o aumento da segurança e a redução do custo de
se-á utilizar os seus valores para controlo de custos em aquisição das tecnologias. No que diz respeito às habitações
tempo real, identificar os valores de gastos de energia por particulares, acrescenta-se essencialmente o aumento do
utilizador ou até mesmo monitorizar a qualidade da rede conforto devido ao grau de automação trazido pela
eléctrica. domótica.

3.2 Considerações Finais A nível de previsões futuras, prevê um crescimento cada vez
mais acelerado de implementação, embora haja ainda hoje
Pretende-se relembrar que foi proposto uma das muitas muita falta de informação, que por vezes totalmente errada.
soluções possíveis de implementar, mostrando a Uma outra vertente muito cativante (oportunidade de
versatilidade da implementação de uma sistema de mercado) é a nível académico (opinião baseada no universos
domótica num dado ambiente (edifício F pertencente ao dos alunos universitários) que há um grande interesse na
ISEP). continuação do estudo dessas tecnologias mais é muito
pouco apostado no mundo académico nacional.

301
ARTIGO TÉCNICO

Umas das vertentes a explorar, é por exemplo, a continuação • Relativamente ao ponto anterior, devido ao actual
em desenvolver ou melhorar as tecnologias de domóticas panorama financeiro nacional, cujo ensino superior
actuais. acaba de sofrer um corte significativo no seu orçamento,
para o ISEP continuar ou melhorar o seu nível de ensino,
Antes de se expor as diferentes alternativas serão ao desenvolver novos produtos para o mercado (com
justificadas as razões que levaram a abordar esse assunto. vantagens competitivas a nível de prestigio e financeiro),
Em primeiro lugar espera-se que seja considerado como um fomenta na globalidade do ISEP (alunos e docentes) ao
"incentivo” para que os diferentes pólos de investigação criarem novos produtos. Por outro lado, a facilidade de
presentes no ISEP e outras faculdades existentes em obter financiamento face às empresas privadas para a
Portugal comecem a olhar para o mercado da domótica criação de um projecto de produção e venda de produtos
como uma aposta na área da investigação. de uma área em crescimento é outro facto de peso,
acaba por ser uma forma de obter fundos para
É preciso realçar que uma solução completa ou não de manutenção e melhoramento do universo ISEP;
domótica não pode ser considerada como uma solução de • Como se referiu anteriormente, o desenvolvimento de
elevado retorno devido a sua eficiência energética e outros produtos envolve a engenharia electrónica (que podem
factores. Ou seja, uma verdadeira solução de domótica ou ou não estar envolvidos os laboratórios LSA, CISTER,
gestão técnica centralizada além de possuir uma rede a nível etc.), engenharia mecânica (acondicionamento e
de campo, a nível de rede e quando necessário também a formatos mais adequados a nível mecânico dos produtos
nível de supervisão todos os sistemas que estejam a operar ou até mesmo conhecimentos termodinâmicos –
em concordância com o sistema de domótica (tais como sistemas de climatização), engenharia informática
sistemas de iluminação, sistemas de climatização, sistemas (software de gestão, de supervisão, etc.), engenharia civil
de persianas/lamelas, etc) têm que ser igualmente (estudo da concepção de edifícios mais ecológicos e/ou
eficientes. optimização dos edifícios actuais), engenharia de
sistemas eléctricos, etc.;
Para ser visto como um foco de investigação, a domótica tem • Continuação do desenvolvimento da tecnologia sem-fios
que ser estudada sob várias frentes. Estas poderão ser, ao ZigBee, pelo laboratório CISTER, que ao interligar com os
utilizar como linha de referência os diferentes pólos de sistemas de domótica permitirá aumentar a versatilidade
investigação existentes no ISEP. de implementação da domótica e de aplicações
SmartGrid (rede de sensores sem fios);
As (algumas) alternativas/frentesque existem são: • Etc.
• Apesar de existirem imensas tecnologias de domótica,
cada vez mais o mercado está inclinado para tecnologia 6 CONCLUSÕES FINAIS
baseadas em protocolos abertos (tais como KNX,
LonWorks, etc), cujo seu sucesso comercial está mais que Depois de realizar um breve estado da arte das tecnologias
comprovado. Em vez se focar no desenvolvimento de domóticas,de seguida elaborou-se uma exposição a um caso
novos protocolos de domótica, proceder ao prático, pondo em prática a aplicação das diferentes
desenvolvimento de novos produtos ou novos tipos de tecnologias domóticas (KNX, LonWorks e BACnet).
produtos aplicáveis em contextos e ambiente, que até ao
momento não foram satisfeitos;

302
ARTIGO TÉCNICO

Em jeito de conclusão geral, findo este trabalho, poderá-se-


ão tecer as seguintes considerações: Bibliografia
• Em função do contexto da sua aplicação, as vantagens [1] Echelon Corporation
das tecnologias domóticas são evidentes ao reduzirem a http://www.echelon.com/
factura energética de um edifício, fornecendo o mesmo [2] ECHELON - LonWorksEngeneering Bulletin 005-0025-
nível de conforto, oferecendo uma versatilidade mais 01D, 1996
elevada na utilização das diferentes funcionalidades [3] KNX Organization - KNX Handbook for Home and
existente no edifício face a um edifício tradicional e entre Building Control. 3º Release. Bélgique, 1999
outros; [4] KNX Organization
• Por outro lado, ao oferecer um nível elevado de http://knx.org/
escalabilidade (maior facilidade de futuras expansões de [5] LonMarkInternacional
rede), é criado um nível elevado de segurança, http://www.lonmark.org/
fiabilidade e diferentes tipos de topologias de rede; [6] LonMark of Germany
• A nível da interoperabilidade, as tecnologias KNX e http://www.lno.de
LonWorks ao apresentarem respectivamente, cerca de [7] Partner’s KNX
300 e 4200 fabricantes afiliados, oferecem uma grande http://www.knx.org/knx-partners/knxeib-partners/list/
versatilidade. [8] SCADA
http://www.scadaengine.com/
Por outro lado podemos concluir que além de se provar um [9] SYSMIK GmBH DRESDEN
claro crescimento das tecnologias domóticas nos mercados, http://www.sysmik.co
devido à aceitação crescentes das vantagens que estas [10] ZIGBEE ALLIANCE
oferecem, podem ser consideradas como uma excelente http://www.zigbee.org/
área de investigação para as faculdades e politécnicos
portugueses.

Instituto Superior de Engenharia do Porto


(Edifício F)

303
Autores

304
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO:
António Augusto Araújo Gomes (aag@isep.ipp.pt)
Mestre (pré-bolonha) em Engenharia Electrotécnica e Computadores, pela Faculdade de
Engenharia da Universidade do Porto.
Doutorando na Área Científica de Sistemas Eléctricos de Energia (UTAD).
Docente do Instituto Superior de Engenharia do Porto desde 1999.
Coordenador de Obras na CERBERUS - Engenharia de Segurança, entre 1997 e 1999.
Prestação, para diversas empresas, de serviços de projecto de instalações eléctricas,
telecomunicações e segurança, formação, assessoria e consultadoria técnica.
Investigador do GECAD (Grupo de Investigação em Engenharia do Conhecimento e Apoio à
Decisão), do ISEP, desde 1999.

António Manuel Luzano de Quadros Flores (aqf@isep.ipp.pt)


Mestre em Engenharia Electrotécnica e de Computadores, na Área Científica de Produção
Transporte e Distribuição de Energia pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto;
"M.B.A." em Gestão na Escola de Gestão do Porto da Universidade do Porto.
Aluno de doutoramento na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
Docente do Instituto Superior de Engenharia do Porto desde 19993
Desenvolveu actividade profissional na SOLIDAL no controlo de qualidade e manutenção, na
EFACEC na área comercial de exportação de máquinas eléctricas, na British United Shoe Machinery
na área de manutenção, na ALCATEL-Austrália na área de manutenção, na ELECTROEXPRESS, em
Sidney, na área de manutenção e instalações eléctricas.
Bolseiro da F.C.T., Fundação para a Ciência e Tecnologia desde 2008.

Arlindo Ferreira Francisco (1060991@isep.ipp.pt)


Finalista do curso de Engenharia Electrotécnica, área Científica de Sistemas Eléctricos de Energia,
no Instituto Superior Engenharia do Porto.
Colaborador na empresa Grohe-Portugal (Fábrica de Componentes Sanitários em Albergaria-a-
Velha) desde 1998, desempenhando funções na área da Manutenção e Projectos Especiais.
Larga experiência na área de Automação e Controlo.
Recentementea desenvolver projecto sobre Gestão de Energia.

Domingos Salvador Gonçalves dos Santos (dss@isep.ipp.pt)

Licenciado e Mestre em Engenharia Electrotécnica.


Docente do Departamento de Engenharia Electrotécnica do Instituto Superior de Engenharia do
Porto.

Eduardo Sérgio Correia (SCorreia@iems.pt)


Engº Técnico Electrotécnico– Sistemas de Energia (ISEP 1995), inscrito na ANET (1555).
Director de Operações da Delegação Norte da IEMS – Instalações de Electrónica Manutenção e
Serviços, Lda desde 2000.
Nota curricular da empresa:
Fundada em 1993, a IEMS, começou a operar como uma empresa fornecedora de acessórios para
sistemas de cablagem e prestadora de serviços associados. A IEMS tem acompanhado o rápido
desenvolvimento da indústria das tecnologias de informação, evoluindo ao longo dos anos, para a
comercialização de produtos nas áreas de cablagem estruturada, de telecomunicações,
equipamentos activos de rede, tendo-se especializado em adaptar soluções de fabricantes
mundiais, líderes no mercado, às realidades e exigências nacionais. Neste âmbito, tem uma vasta
experiência em instalação e manuseamento das Redes de Fibra Óptica, estando sempre na
vanguarda com os produtos mais avançados disponíveis no mercado.

305
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO:
Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva (hjs@isep.ipp.pt)
Licenciado em Engenharia Electrotécnica, em 1979, pela Faculdade de Engenharia da Universidade
do Porto, opção de Produção, Transporte e Distribuição de Energia.
Diploma de Estudos Avançados em Informática e Electrónica Industrial pela Universidade do
Minho. Mestre em Ciências na área da Electrónica Industrial.
Professor Adjunto Equiparado do ISEP, leccionando na área da Teoria da Electricidade e Instalações
Eléctricas.

Hugo Miguel Ferreira de Sousa (1060992@isep.ipp.pt)


Finalista do curso de Engenharia Electrotécnica, Sistemas Eléctricos de Energia, no instituto
superior de Engenharia do Porto.
A desempenhar funções como Técnico de Manutenção Industrial, na empresa Socitrel – Sociedade
Industrial de Trefilaria S.A., desde 1997.

José Luís Almeida Marques de Faria (jlamfaria@gmail.com)


Mestre em Engenharia Electrónica e de Computadores, na área de Sistemas e Planeamento
Industrial (Plano de estudos Bolonha - 120ECTS), Instituto Superior de Engenharia do Porto).
Director técnico na empresa Touchdomo.
Fornece serviços à Industria Azevedos, com a função de integrador KNX e EnOcean.
Formador na área da domótica e engenharia electrónica/eléctrica.
Funcionário da empresa Intelbus, Soluções para edifícios, Lda, com a função de integrador KNX e
LonWorks, desde Agosto de 2008 até Junho de 2010.

José Marílio Oliveira Cardoso (joc@isep.ipp.pt)


Licenciado em Engenharia Electrotécnica - Sistemas Eléctricos de Energia, pelo Instituto Superior
de Engenharia do Porto.
Doutorando da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro na Área Cientifica de Sistemas
Eléctricos de Energia.
Docente do Instituto Superior de Engenharia do Porto desde 2003 e investigador do GECAD (Grupo
de Investigação em Engenharia do Conhecimento e Apoio à Decisão).
Docente no ensino secundário, na área da electrotecnia entre 2001 e 2004.
Formador no Curso de Especialização Pós-Graduada em Eficiência Energética e Utilização Racional
de Energia Eléctrica, do ISEP. Formador na Pós-Graduação em Gestão de Energia – Eficiência
Energética, no Instituto de Soldadura e Qualidade (ISQ), Taguspark, Oeiras e em Grijó, V.N. Gaia.

José António Beleza Carvalho (jbc@isep.ipp.pt)


Nasceu no Porto em 1959. Obteve o grau de B.Sc em engenharia electrotécnica no Instituto
Superior de Engenharia do Porto, em 1986, e o grau de M.Sc e Ph.D. em engenharia electrotécnica
na especialidade de sistemas de energia na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, em
1993 e 1999, respectivamente.
Actualmente, é Professor Coordenador no Departamento de Engenharia Electrotécnica do
Instituto Superior de Engenharia do Porto, desempenhando as funções de Director do
Departamento.

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COLABORARAM NESTA EDIÇÃO:
José Jacinto Gonçalves Ferreira (jacintoferreira@googlemail.com)

Engenheiro Electrotécnico na Área de Sistemas Eléctricos de Energia, pelo Instituto Superior de


Engenharia do Porto.
Chefe de Serviço Após-Venda na Schmitt - Elevadores, Lda

Luís Filipe Caeiro Castanheira (lcc@isep.ipp.pt)

Licenciado e Mestre em Engenharia Electrotécnica.


Docente do Departamento de Engenharia Electrotécnica do Instituto Superior de Engenharia do
Porto.

Luís António Sequeira Peixoto

Bacharelato em Engenharia Electrotécnica


Director de Formação, Assistência Técnica e Gestor de Produto , Televés.

Manuel José Rodrigues Cunha (manuel-r-cunha@telecom.pt)

Licenciado em Engenharia Electrotecnia - Sistemas Eléctricos de Energia pelo Instituto Superior de


Engenharia do Porto
Coordenador da área técnica norte do Canal Imobiliário, Portugal Telecom.

Miguel Leichsenring Franco (m.franco@schmitt-elevadores.com)

Licenciado em Engenharia Electrotécnica – Sistemas Eléctricos de Energia, pelo Instituto Superior


de Engenharia do Porto.
Master in Business Administration (MBA) com especialização em Marketing pela Universidade
Católica Portuguesa – Lisboa.
Licenciado em Administração e Gestão de Empresas pela Universidade Católica Portuguesa –
Porto.
Administrador da Schmitt-Elevadores, Lda.

307
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO:
Nelson Ferreira da Silva (1071169@isep.ipp.pt)

Licenciado em Engenharia Electrotécnicade Sistemas Eléctricos de Energia no ISEP.


Encontra-sea frequentar o Mestrado em Sistemas Eléctricos de Energia no ISEP.

Pedro Daniel Soares Gomes (1071106@isep.ipp.pt)

A frequentar o 1º ano do Mestrado em Engenharia Electrotécnica – Sistemas Eléctricos de Energia,


no Instituto Superior de Engenharia do Porto (2010/2011)
Licenciado em Engenharia Electrotécnica - Sistemas Eléctricos de Energia pelo Instituto Superior de
Engenharia do Porto (2007/2008 - 2009/2010)

Pedro Gerardo Maia Fernandes (1070172@isep.ipp.pt)

Licenciado em Engenharia Eléctrotécnica - Sistemas Eléctricos de Energia, no Instituto Superior de


Engenharia do Porto.
Encontra-se a frequentar o curso Mestrado em Engenharia Electrotécnica - Sistemas Eléctricos de
Energia.

Pedro Miguel Azevedo de Sousa Melo (pma@isep.ipp.pt)


Mestre em Automação, Instrumentação e Controlo pela Faculdade de Engenharia da Universidade
do Porto.
Aluno do Programa Doutoral em Engenharia Electrotécnica e de Computadores, na Faculdade de
Engenharia da Universidade do Porto.
Docente do Instituto Superior de Engenharia do Porto desde 2001.
Desenvolveu actividade de projectista de instalações eléctricas de BT na DHV-TECNOPOR.

Roque Filipe Mesquita Brandão (rfb@isep.ipp.pt)


Mestre em Engenharia Electrotécnica e de Computadores, na Área Científica de Sistemas Eléctricos
de Energia, pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Aluno de doutoramento em Engenharia Electrotécnica e de Computadores na Faculdade de
Engenharia da Universidade do Porto.
Investigador do INESC Porto, Laboratório Associado. Bolseiro da FCT.
Desde 2001 é docente no Departamento de Engenharia Electrotécnica do Instituto Superior de
Engenharia do Porto.
Consultor técnico de alguns organismos públicos na área da electrotecnia.

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COLABORARAM NESTA EDIÇÃO:
Sérgio Filipe Carvalho Ramos (scr@isep.ipp.pt)
Mestre em Engenharia Electrotécnica e de Computadores, na Área Científica de Sistemas Eléctricos
de Energia, pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa.
Aluno de doutoramento em Engenharia Electrotécnica e de Computadores no Instituto Superior
Técnico de Lisboa.
Docente do Departamento de Engenharia Electrotécnica do curso de Sistemas Eléctricos de
Energia do Instituto Superior de Engenharia do Porto desde 2001.
Prestação, para diversas empresas, de serviços de projecto de instalações eléctricas,
telecomunicações e segurança, formação, assessoria e consultadoria técnica.
Investigador do GECAD (Grupo de Investigação em Engenharia do Conhecimento e Apoio à
Decisão), do ISEP, desde 2002.
Sónia Viegas
Licenciatura em Engenharia de Gestão Industrial no Ramo de Instrumentação e Controlo pelo
Instituto Politécnico de Setúbal / Escola Superior de Tecnologia.
Pós-Graduação em Energias Renováveis em Edifícios. Instituto Politécnico de Setúbal / Escola
Superior de Tecnologia
Eng.ª de Integração de Sistemas, Astratec (1 de Julho de 2009).
Eng.ª de Gestão da Manutenção e Projecto, Gestimótica – Gestão Integrada de Edifícios (15 de
Janeiro de 2001 – 28 de Fevereiro de 2009)
Gestora de Produto de automação e sistemas de controlo e supervisão, Tecnilab Portugal (15 de
Novembro de 1999 – 5 de Janeiro de 2001)
Eng.ª Projectista de Automação Industrial, Nessie – Soluções em Automação (23 de Fevereiro de
1998 – 31 de Maio de 1999)
Eng.ª Projectista de Automação Industrial, Eurobótica Automação (1 de Novembro de 1995 – 20 de
Fevereiro de 1998)

Teresa Alexandra Ferreira Mourão Pinto Nogueira (tan@isep.ipp.pt)


Licenciatura e mestrado em Engenharia Electrotécnica e de Computadores, área científica de
Sistemas de Energia, pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Doutoramento em Engenharia Electrotécnica e Computadores, pela Universidade de Trás-os-
Montes e Alto Douro.
Docente do Departamento de Engenharia Electrotécnica, curso de Sistemas Eléctricos de Energia
do ISEP – Instituto Superior de Engenharia do Porto. Investigadora no GECAD – Grupo de
Investigação em Engenharia do Conhecimento e Apoio à Decisão, desde 2003.
O percurso profissional inclui o dimensionamento e projecto de transformadores de distribuição –
EFACEC, empresa fabril de máquinas eléctricas.
Subdirectora no Departamento de Engenharia Electrotécnica no ISEP.

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