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SUMÁRIO
QUESTÕES
CLASSES DE PALAVRAS.................................................................................................................4
COLOCAÇÃO PRONOMINAL.........................................................................................................45
CRASE............................................................................................................................................100
INTERPRETAÇÃO.........................................................................................................................122
PONTUAÇÃO.................................................................................................................................252
REGÊNCIA.....................................................................................................................................291
SINÔNIMOS E ANTÔNIMO.........................................................................................................373
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GABARITO
CLASSES DE PALAVRAS..............................................................................................................412
COLOCAÇÃO PRONOMINAL.......................................................................................................412
CRASE............................................................................................................................................413
INTERPRETAÇÃO.........................................................................................................................414
PONTUAÇÃO.................................................................................................................................415
REGÊNCIA.....................................................................................................................................415
SINONIMOS E ANTÔNIMO.........................................................................................................417
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CLASSES DE PALAVRAS
“A saúde não é um brinquedo político, ela deve ser usada para promover o bem-estar e a qualidade
de vida. E isso só vai acontecer quando nos comprometermos a fazer da atenção primária à saúde
a base da assistência universal(B).”
A afirmação é do diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghe-
breyesus, durante a assinatura nesta quinta (25/10/2018) de um acordo internacional em Astana,
capital do Cazaquistão, em que 194 países membros da OMS, incluindo o Brasil, comprometeram-
-se a fortalecer a atenção primária.
Chamado de “Declaração de Astana”, o acordo também comemora o 40º aniversário da histórica
Declaração de Alma Alta, que exortou o mundo a fazer dos cuidados primários de saúde o pilar da
cobertura universal de saúde em 1978.
Ocorre que, embora nos últimos 40 anos a expectativa de vida tenha aumentado e a mortalidade
infantil, caído pela metade, por exemplo, o progresso em saúde tem sido desigual(C) e injusto
entre países e dentro dos países.
“Devemos reconhecer que não alcançamos esse objetivo [saúde para todos]. Em vez de saúde
para todos, conseguimos saúde para alguns. Temos ficado muito focados em combater doenças
específicas, muito focados no tratamento, em detrimento da prevenção de doenças”(D), disse Ghe-
breyesus.
Quase metade da população mundial não tem acesso(A) a serviços essenciais de saúde e, se-
gundo a OMS, 100 milhões de pessoas são empurradas para a pobreza a cada ano por causa de
gastos catastróficos em saúde. A atenção primária à saúde pode fornecer de 80% a 90% das ne-
cessidades de saúde de uma pessoa durante sua vida.
A Declaração de Astana aponta a necessidade de uma ação multissetorial que inclua tecnologia,
conhecimento científico e tradicional, juntamente com profissionais de saúde bem treinados e
remunerados, e participação das pessoas e da comunidade(E) para que seja alcançada a tão so-
nhada saúde para todos com qualidade.
(Cláudia Collucci, Saúde não é brinquedo político, diz diretor da OMS. Em: Folha de S.Paulo, 25.10.2018. Adaptado)
Assinale a alternativa que traz, respectivamente, um substantivo cujo plural se faz a exemplo de
“bem-estar” (termo presente no 1º primeiro parágrafo); e outro substantivo, destacado em expres-
são do texto, com sentido de coletivo.
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QUESTÃO 2: VUNESP - CONT (CM ORLÂNDIA)/CM ORLÂNDIA/2019
Assunto: Conjugação. Reconhecimento e emprego dos modos e tempos verbais
A(s) forma(s) verbal(is) destacada(s) na seguinte passagem do texto remete(m) à ideia de recorrên-
cia dos eventos relatados pelo narrador:
A)... os sons da máquina de escrever vindos do quarto ao lado.
B)... meu pai (...) trabalhava depois que todos haviam ido dormir.
C)... a sineta do carro tilintando ao ser devolvido à posição inicial.
D) ... mesmo em meio à confusão poderia haver harmonia.
E)... o mundo desaparecia, sem violência, depois voltava a existir.
Essa é a frase que mais tenho ouvido recentemente. Passada a euforia de uma notícia qualificada
como “bomba”, logo os atores de uma das partes corriam a público para disponibilizar a íntegra
daquilo que antes foi veiculado em partes.
É preciso saber de tudo e entender de tudo. É preciso tirar as próprias conclusões para não depen-
der de ninguém, e é esse o grande e contraditório imperativo dos nossos tempos. É uma ordem a
uma experimentação libertária, e uma quase contradição do termo. O imperativo que liberta tam-
bém aprisiona: você só passa a ser, ou a pertencer, se tiver uma conclusão. Sobre qualquer coisa.
Nas últimas décadas psicanalistas se debruçaram sobre as mudanças nos arranjos produtivos e
sociais de cada período histórico para compreender e nomear as formas de sofrimento decorrentes
delas. A revolução industrial, a divisão social do trabalho, a urbanização desenfreada e as guerras,
por exemplo, fizeram explodir o número de sujeitos impacientes, irritadiços e perturbados com a
velocidade das transformações e suas consequentes perdas de referências simbólicas.
Pensando sobre o imperativo “Leia/Veja/Assista” e “Tire suas próprias conclusões”, começo a des-
confiar de que estamos diante de uma nova forma de sofrimento relacionado a um mal-estar ainda
não nomeado.
Afinal, que tipo de sujeito está surgindo de nossa nova organização social? O que a vida em rede
diz sobre as formas como nos relacionamos com o mundo? Que tipos de valores surgem dali? E,
finalmente, que tipo de sofrimento essa vida em rede tem causado?
Vou arriscar e sair correndo, já sob o risco de percorrer um campo que não é meu: estamos vendo
surgir o sujeito preso à ideia da obrigação de ter algo a dizer. Ao longo dos séculos essa angústia
era comum aos chamados formadores de opinião e artistas, responsáveis por reinterpretar o mun-
do. Hoje basta ter um celular com conexão 3G para ser chamado a opinar sobre qualquer coisa.
Pensamos estar pensando mesmo quando estamos apenas terceirizando convicções ao comparti-
lhar aquilo que não escrevemos.
É uma nova versão de um conflito descrito por Clarice Lispector a respeito da insuficiência da lin-
guagem. Algo como: “Não só não consigo dizer o que penso como o que penso passa a ser o que
digo”. Se vivesse nas redes que atribuem a ela frases que jamais disse, o “dizer” e o “pensar” teriam
a interlocução de um outro verbo: “compartilhar”.
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(Matheus Pichonelli, Carta Capital. 18.03.2016. www.cartacapital.com.br. Adaptado)
LIVROS
Tropeçavas nos astros desastrada Quase não tínhamos livros em casa E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram São como a radiação de um corpo negro Apontando pra
expansão do Universo Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo.
(https://www.letras.mus.br/caetano-veloso, acessado em 09.11.2018)
Assinale a alternativa correta quanto à conjugação e/ou à correlação entre os tempos verbais.
A) Se Caetano dispusesse de livros é porque sua família adquire cultura.
B) Se a cidade tivesse livrarias, as pessoas obteriam mais conhecimento.
C) Como não entrassem livros nas casas, as pessoas não expandirão o conhecimento.
D) Quando as cidades dispuserem livros a todos, ninguém mais permaneceu na escuridão.
E) Por mais que se obtenham livros, as cidades não adquiririam cultura.
Os incidentes planetários na internet não devem causar espanto. Todos sabem que quanto mais
avançada é uma tecnologia, melhor ela se presta ao atentado.
O automóvel que dirijo agora faz coisas que o velho carro com o qual obtive minha carteira nem
sequer sonhava, mas, se tivesse começado a dirigir então com meu carro de hoje, já teria me ar-
rebentado em alguma esquina. Por sorte, cresci com meu carro, adaptando-me pouco a pouco ao
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aumento de sua potência.
Com o computador, ao contrário, ainda nem tive tempo de aprender todas as possibilidades da má-
quina e do programa quando modelos mais complexos chegam ao mercado. Tampouco posso con-
tinuar com o velho computador, que talvez fosse suficiente para mim, porque algumas melhorias
indispensáveis só rodam nas novas máquinas. O mesmo acontece com os celulares, gravadores,
palm tops e com todo o digital em geral.
Esse drama não atinge apenas o usuário comum, mas também os que precisam controlar o fluxo
telemático, inclusive agentes do FBI, bancos e até o Pentágono.
Quem é que tem 24 horas por dia para entender as novas possibilidades do próprio meio? O ha-
cker, que é uma espécie de anacoreta, de eremita do deserto que dedica todas as horas de seu
dia à meditação (eletrônica). Sendo os únicos especialistas totais de uma inovação em ritmo insus-
tentável, eles têm tempo de entender tudo o que podem fazer com a máquina e a rede, mas não
de elaborar uma nova filosofia e de estudar suas aplicações positivas, de modo que se dedicam à
única ação imediata que sua desumana competência permite: desviar, bagunçar, desestabilizar o
sistema global.
Nesta ação, é possível que muitos deles pensem que atuam no “espírito de Seattle”*, ou seja, a
oposição ao novo Moloch**. Na verdade, acabam por ser os melhores colaboradores do sistema,
pois para neutralizá-los é preciso inovar mais ainda e com maior rapidez. É um círculo diabólico, no
qual o contestador potencializa aquilo que acredita estar destruindo.
(Umberto Eco, Pape Satàn Aleppe: crônicas de uma sociedade líquida. Adaptado)
* Referência a protestos contra a globalização e o capitalismo, ocorridas em Seattle em 1999.
** Moloch, divindade que exigia sacrifícios humanos.
Na passagem – O automóvel que dirijo agora faz coisas que o velho carro com o qual obtive minha
carteira nem sequer sonhava, mas, se tivesse começado a dirigir
então com meu carro de hoje, já teria me arrebentado em alguma esquina. – as expressões des-
tacadas exprimem, em relação ao momento da produção do texto,
A) tempo contemporâneo e ação que se perfez no passado.
B) conclusão e ação possível no futuro.
C) conclusão e fato hipotético no passado.
D) tempo anterior e fato hipotético no passado.
E) tempo presente e fato provável no presente.
A cada governo que entra, o assunto educação deixa os holofotes provisórios da campanha
eleitoral, onde costuma desfilar na linha de frente das promessas dos candidatos, e volta à
triste prateleira dos problemas que se arrastam sem solução. Desta vez foi diferente: encerra-
da a votação, a educação prosseguiu na pauta de discussões acirradas. Infelizmente, o saldo da
agitação não gira em torno de nenhuma providência capaz de pôr o ensino do Brasil nos trilhos da
excelência – a real prioridade.
A questão da hora é o projeto que pretende legislar sobre o que o professor pode ou, principalmen-
te, não pode falar em sala de aula. Com o propósito de impedir a doutrinação, por professores, em
classe, o projeto ameaça alimentar o oposto do que propõe: censura, patrulhamento, atitudes re-
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trógradas e pensamento estreito. Segundo o especialista em educação Claudio de Moura Castro,
não há como definir o que é variedade de pensamento e o que é proselitismo.
Fruto do ambiente polarizado da sociedade brasileira, a discussão entrou pela porta da frente das
escolas. Nesse clima de paixões exaltadas, no entanto, é preciso um esforço adicional para separar
o joio do trigo. A doutrinação em sala de aula é condenável sob todos os aspectos – seja de es-
querda ou de direita, religiosa ou ateia, ou de qualquer outra natureza. A escola é um lugar para
o debate livre das ideias, e não para o proselitismo.
Todo conhecimento é socialmente construído e, portanto, a aventura humana, por definição, nunca
é neutra ou isenta de valores. A saída é discutir e chegar a um consenso sobre o que precisa ser
apresentado ao aluno, e não vigiar e punir.
Doutrinar é expor ideias e opiniões com o propósito de convencer o outro. A todo bom professor
cabe estimular o confronto de ideias e o livre pensar, inclusive expressando seu ponto de vista,
mas não catequizar – uma linha fina que exige discernimento constante.
O mundo é diverso em múltiplos aspectos, e a escola é o lugar adequado para que essa diversida-
de seja discutida livremente. A melhor escola ainda é a que faz pensar – sem proselitismo.
(Fernando Molica, Luisa Bustamante e Maria Clara Vieira, Meia-volta, volver. Veja, 14.11.2018. Adaptado)
Há, no texto, ocorrência do verbo “pôr” e dois de seus derivados – “propor” e “expor”. Tomando-os
por referência, assinale a alternativa em que derivados daquele verbo estão empregados de acordo
com a norma-padrão.
A) Eles se disporão a colaborar com a campanha, caso a gente se compõe com eles.
B) Se eu lhes propunha um acordo, por certo se predispuseram a analisá-lo.
C) Eu me predisporei a negociar com ele, mesmo se ele se indispuser comigo.
D) Insisto para que componham uma nova música, mesmo que ele se indisporem a isso.
E) Se ele a compor, será um sucesso, que o público certamente se disporá a cantar.
De princípio a interessou o nome da aeronave: não “zepelim” nem dirigível; o grande fuso de me-
tal brilhante chamava-se modernissimamente blimp. Pequeno como um brinquedo, independente,
amável. A algumas centenas de metros da sua casa ficava a base aérea dos soldados americanos
e o poste de amarração dos dirigíveis. E de vez em quando eles deixavam o poste e davam uma
volta, como pássaros mansos que abandonassem o poleiro num ensaio de voo. Assim, aos olhos
da menina, oblimp1 existia como um animal de vida própria; fascinava-a como prodígio mecânico
que era, e principalmente ela o achava lindo, todo feito de prata, librando − se2 majestosamente
pouco abaixo das nuvens. Não pensara nunca em entrar nele; não pensara sequer que
pudesse alguém andar dentro dele. Verdade que via lá dentro umas cabecinhas espiando,
mas tão minúsculas que não davam impressão de realidade.
O seu primeiro contato com a tripulação do dirigível começou de maneira puramente ocasional.
Acabara o café da manhã; a menina tirara a mesa e fora à porta que dá para o laranjal, sacudir da
toalha as migalhas de pão. Lá de cima um tripulante avistou aquele pano branco tremulando entre
as árvores espalhadas e a areia, e o seu coração solitário comoveu-se. Vivia naquela base como
um frade no seu convento – sozinho entre soldados e exortações patrióticas. E ali estava, juntinho
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ao oitão da casa, sacudindo um pano, uma mocinha de cabelo ruivo. O marinheiro agitou-se todo
com aquele adeus. Várias vezes já sobrevoara aquela casa, vira gente entrando e saindo; e pen-
sara quão distantes uns dos outros vivem os homens, quão indiferentes passam entre si, cada um
trancado na sua vida. Ele estava voando por cima das pessoas, vendo-as e, se algumas erguiam
os olhos, nenhuma pensava no navegador que ia dentro; queriam só ver a beleza prateada vogan-
do3 pelo céu.
Mas agora aquela menina tinha para ele um pensamento, agitava no ar um pano, como uma ban-
deira; decerto era bonita – o sol lhe tirava fulgurações de fogo do cabelo. Seu coração atirou-se
para a menina num grande impulso agradecido; debruçou-se à janela, agitou os braços, gritou:
“Amigo!, amigo!” – embora soubesse que o vento, a distância, o ruído do motor não deixariam ou-
vir-se nada. Gostaria de lhe atirar uma flor, um mimo. Mas que podia haver dentro de um dirigível
da Marinha que servisse para ser oferecido a uma pequena? O objeto mais delicado que encontrou
foi uma grande caneca de louça branca, pesada como uma bala de canhão. E foi aquela caneca
que o navegante atirou; atirou, não: deixou cair a uma distância prudente da figurinha iluminada,
num gesto delicado, procurando abrandar a força da gravidade, a fim de que o objeto não chegasse
sibilante como um projétil, mas suavemente, como uma dádiva.
(Os cem melhores contos brasileiros do século. Org. Italo Moriconi – Objetiva, 2001. Adaptado)
1. blimp: dirigível
2. librando-se: flutuando, equilibrando-se
3. vogando: flutuando
A) foi e seria.
B) foi e constatou.
C) ter sido e passou.
D) teria e ter sido.
E) seria e teria.
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QUESTÃO 9: VUNESP - DIR DF (CM JALES)/CM JALES/2018
Assunto: Conjugação. Reconhecimento e emprego dos modos e tempos verbais
Emoções são uma construção social. Essa é, numa frase, a tese central de Lisa Feldman Barrett
em “How Emotions Are Made” (“Como são feitas as emoções”). Não haveria nada de surpreen-
dente se Barrett fosse professora em algum departamento de estudos de gênero, mas ela é uma
neurocientista e afirma que suas conclusões estão amparadas em sólida evidência empírica.
O ponto forte do livro é justamente a parte em que Barrett mostra que há problemas nos modelos
tradicionais que fazem com que cada emoção corresponda à ativação de um circuito neural
específico. Por esse paradigma, emoções seriam universais e teriam uma assinatura biológica
inconfundível.
O problema, diz Barrett, é que ela passou anos num laboratório em busca dessas assinaturas e não
as encontrou. Não temos dificuldade para reconhecer a emoção medo num ator fazendo uma ca-
reta estereotipada, mas isso não passa de uma convenção cultural. Nem todos que sentem medo
apresentam as mesmas expressões faciais e nem sequer os mesmos sinais fisiológicos.
A partir daí — e essa é a parte em que o livro fica aquém do que promete —, Barrett conclui que o
modelo tradicional está errado e propõe outro no qual as emoções são construídas pelo cérebro no
instante em que ele classifica as sensações positivas ou negativas que experimenta. A cultura e a
própria linguagem seriam parte indispensável desse processo.
Minha impressão é de que Barrett foi com muita sede ao pote. Seus achados fragilizam as versões
mais fortes do modelo tradicional, mas não bastam para pôr abaixo um edifício construído com a
colaboração da maior parte dos filósofos ocidentais, do próprio Charles Darwin e de um número
ainda maior de neurocientistas contemporâneos. Até pode ser que Barrett tenha razão, mas ain-
da é cedo para decretá-lo.
(Hélio Schwartsman. “Como são feitas as emoções”. Folha de S.Paulo. 04.03.2018. Adaptado)
No que respeita à correspondência entre as formas verbais, de acordo com a norma-padrão, assi-
nale a alternativa que completa a seguinte reescrita dessa frase.
O problema, diz Barrett, foi ela
A) tendo passado anos num laboratório em busca dessas assinaturas sem que as encontraria.
B) passar anos num laboratório em busca dessas assinaturas sem que as teria encontrado.
C) haver passado anos num laboratório em busca dessas assinaturas sem que as encontrara.
D) ter passado anos num laboratório em busca dessas assinaturas sem que as encontrasse.
E) passar anos num laboratório em busca dessas assinaturas sem que as tinha encontrado.
A nossa democracia é laica, mas nossas decisões políticas são tomadas sob a premissa de que
Deus é – e sempre será – brasileiro. Queremos benefícios sem custos (e quem em sã consciência
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não quereria?).
Exigimos que seja assim. Os custos hão de ser empurrados para algum momento indeterminado
do futuro e cair sobre as costas de alguma entidade benévola não especificada, sem machucar
ninguém. Algum dia alguém dá algum jeito e fica tudo certo. Deus resolve.
A maioria dos brasileiros concorda com o controle de preço do diesel, e quer ainda o controle de
preço da gasolina e do gás natural. Só não aceita ter que pagar a conta. A Petrobras que tenha
um prejuízo. E quem vai cobri-lo? O Tesouro, essa entidade superior e fonte de riquezas.
Não é um caso isolado. Todos pedem por mais gasto para suas causas e setores de preferência,
sem nunca especificar quem vai ficar com a conta; essa fica para uma figura oculta, alguém com
um bolso vasto e generoso. Há quem diga, inclusive, que o aumento de gastos vai aumentar a
arrecadação; multiplicação milagrosa dos pães.
Essa é a lógica que governa o Brasil desde 1500, consagrada na Constituição de 1988, tão pródiga
em direitos para todo mundo. O direito é a manifestação do fiat* divino entre os homens: uma
obrigação incondicional que a realidade – alguém – terá de dar algum jeito de cumprir.
O problema é que acabou o “milagre econômico” – um crescimento acelerado e sem causas co-
nhecidas, que ocorre apesar de todas as deficiências e entraves, esses sim muito bem conhecidos.
Deus parece ter conseguido o green card** e nos abandonou.
O que fazer? Uma alternativa é seguir confiando na intervenção divina até o fim, deixando o ajuste
ao deus-dará. A corda estoura para o lado mais fraco, e voltamos ao caos primordial. A outra é ser
impiedoso e olhar para a realidade com olhos de descrença.
Para que alguns continuem ganhando, pessoas de carne e osso terão que pagar. E aí sim pode-
remos responder à pergunta que o Brasil é mestre em evitar: quem? O problema é que para as
escamas caírem de nossos olhos também será necessário um milagre...
(Joel Pinheiro da Fonseca, Folha de S.Paulo, 12.06.2018. Adaptado)
Assinale a alternativa que apresenta o verbo conjugado no modo subjuntivo, dando sequência cor-
reta à frase – Talvez ...
A) Deus resolvia.
B) algum dia alguém dava um jeito.
C) queiramos benefícios sem custos.
D) a maioria dos brasileiros concorda.
E) poderíamos responder à pergunta.
Organograma
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Mania oriunda de uma sensibilidade estética o seu tanto exacerbada, capaz de exteriorizar-se em
requintes de planejamento burocrático. Aparentemente, essa marca de sua personalidade condi-
zia com as altas funções que já lhe cabiam.
Mas só aparentemente: a primazia do fator estético, feito de equilíbrio, proporção e harmonia,
passou a ser a determinante principal de todos os seus atos – tudo mais no Ministério que se
danasse. Como no remédio para nascer cabelo: não nascia, mas dava brilho.
Dizem que, quando tomou posse do cargo, a primeira coisa que fez foi encomendar a confecção de
um artístico organograma. Quando lhe trouxeram o trabalho, encomendado no Departamento do
Pessoal, que por sua vez o encomendou a um desenhista particular, o Ministro não fez mais nada
a não ser estudar a galharia daquela árvore geométrica, em função da qual as atividades de sua
Pasta passariam a desenvolver-se.
– Este organograma está uma droga. Não posso dependurar uma coisa destas na parede de meu
gabinete.
Pôs-se imediatamente a inventar novas repartições, serviços disso e daquilo – tudo fictício, irreal,
imaginário – para estabelecer o equilíbrio organogramático com departamento disso, departamento
daquilo.
O certo é que o novo organograma foi executado, e todo aquele que tivesse a ventura de penetrar
em seu gabinete podia admirá-lo.
– Para você ver, meu filho: se não fosse eu, todo esse complexo administrativo já teria desabado
para um lado, como uma árvore desgalhada. Dizem, mesmo, que até hoje o magnífico organogra-
ma figura no tal Ministério, como uma das mais importantes realizações de sua gestão.
(Fernando Sabino, A mulher do vizinho. Adaptado)
Assinale a alternativa em que os verbos destacados nas passagens – Aparentemente, essa marca
de sua personalidade condizia com as altas funções que lhe cabiam. / se não fosse eu, todo
esse complexo administrativo já teria desabado para um lado... – estão em correlação adequada,
segundo a norma-padrão.
A) condisse ... couberam ... formos nós ... desabará
B) condiz ... couberem ... eram vocês ... desaba
C) condiria ... cabem ... era eu ... desabava
D) condirá ... coubessem ... fôramos nós ... desabou
E) condissera ... caberiam ... seriam eles ... desabaria
Há 28 anos um grupo de pessoas se reúne semanalmente na sede da ONG (organização não go-
vernamental) Anjos da Noite, em um sobrado no bairro de Artur Alvim, na Zona Leste de São Paulo.
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Os voluntários dedicam-se a aplacar as carências dos moradores de rua. Além de entregar cober-
tores e roupas, o grupo tem como principal incumbência a distribuição de refeições. Aos sábados,
os colaboradores se organizam para preparar 200 quilos de comida. A distribuição de 800 marmitas
tem início ao cair da noite. Anteriormente, os voluntários rodavam quatro horas pelas ruas da região
central até entregar a última quentinha. Hoje, o trabalho é feito em menos de uma hora. Basta
estacionar o carro, e um grupo de pessoas carentes faz fila para ganhar o alimento.
A experiência dos Anjos da Noite confirma a percepção que tem qualquer cidadão dos maiores cen-
tros urbanos brasileiros: o número de pessoas que vivem nas ruas elevou-se, e muito, nos últimos
anos. As estatísticas são esporádicas e, por isso, não é fácil saber com exatidão a proporção desse
crescimento.
(Giovanni Magliano. A rua como único refúgio. Veja, 6.12.2017. Adaptado)
Há emprego correto das formas verbais e correlação adequada entre tempos e modos, conforme
a norma -padrão, em:
A) Talvez seja válido considerar que o que nos desagradasse na adaptação de determinado livro
seja a ausência de nossa própria leitura, pois sempre esperarmos ver nossas expectativas cor-
respondidas na tela.
B) Por mais que uma adaptação se proposse a ser fiel à obra em que se baseou, sempre haveria
aspectos de divergência, uma vez que o filme tivera uma linguagem própria e traduzira uma leitura
particular.
C) Considerando que os leitores tenham modos peculiares de pensar e sentir, a apreensão de um
texto literário não será a mesma para todos, ainda que determinadas interpretações possam ser
partilhadas.
D) Se as pessoas manterem o hábito de ler textos literários,teriam muito a ganhar, pois a literatura
não apenas é fundamental para que desenvolvêssemos nosso intelecto mas também é importante
para expandirmos a imaginação.
E) Quando as pessoas passassem a dedicar mais tempo à leitura e à introspecção, será possível
ampliar suas potencialidades intelectuais e emocionais, de modo que isso alterará a maneira como
elas executariam todas as suas atividades cotidianas
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QUESTÃO 14: VUNESP - ESC POL (PC SP)/PC SP/2018
Assunto: Correlação verbal
Debaixo da ponte
Moravam debaixo da ponte. Oficialmente, não é lugar onde se more, porém eles moravam. Nin-
guém lhes cobrava aluguel, imposto predial, taxa de condomínio: a ponte é de todos, na parte de
cima; de ninguém, na parte de baixo. Não pagavam conta de luz e gás porque luz e gás não con-
sumiam. Não reclamavam da falta d’água, raramente observada por baixo de pontes. Problema
de lixo não tinham; podia ser atirado em qualquer parte, embora não conviesse atirá-lo em parte
alguma, se dele vinham muitas vezes o vestuário, o alimento, objetos de casa. Viviam debaixo da
ponte, podiam dar esse endereço a amigos, receber amigos, fazer os amigos desfrutarem como-
didades internas da ponte.
À tarde surgiu precisamente um amigo que morava nem ele mesmo sabia onde, mas certamente
morava: nem só a ponte é lugar de moradia para quem não dispõe de outro rancho. Há bancos
confortáveis nos jardins, muito disputados; a calçada, um pouco menos propícia; a cavidade na
pedra, o mato. Até o ar é uma casa, se soubermos habitá-lo, principalmente o ar da rua. O que
morava não se sabe onde vinha visitar os de debaixo da ponte e trazer-lhes uma grande posta de
carne.
(Carlos Drummond de Andrade. A bolsa e a vida. Adaptado)
Assinale a alternativa que reescreve os trechos destacados nas passagens – ... embora não con-
viesse atirá-lo em parte alguma... / ... a ponte é lugar de moradia para quem não dispõe de outro
rancho. –, conjugando correta e respectivamente seus verbos.
A) embora não convenha / caso eles não disporem
B) porque não convinha / quando ninguém dispor
C) se não convir / se alguém não dispor
D) se não convier / se alguém não dispuser
E) quando não convir / porque eles não dispunham
Levantamento feito pela Folha de São Paulo ao final de 2017 mostrou que, em boa parte dos cur-
sos universitários, alunos que ingressam por meio de cotas se formam com notas próximas dos
demais. O estudo usou os resultados de mais de 250 mil estudantes nas três últimas edições do
Enade e constatou que alunos cotistas chegam a ter notas melhores que os outros, por exemplo,
em odontologia.
É refrescante dispormos de dados objetivos sobre um assunto tantas vezes poluído por ideologias.
É inegável que ações afirmativas, como as cotas, são importantes mecanismos de justiça social em
um país tão profundamente injusto como o nosso. E as conclusões do levantamento indicam que
tais ferramentas são válidas também no plano acadêmico: não se confirmam os prognósticos de
que o ingresso de alunos cotistas resultaria em degradação da qualidade dos cursos.
O perigo é alguém acreditar que cotas resolvem alguma coisa no médio prazo. Nosso sistema edu-
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cacional está doente, e cotas são como um antitérmico, que reduz o desconforto do paciente, mas
não ataca as causas da febre. O que precisamos é que a escola pública, democrática e gratuita,
ofereça formação de qualidade, para que as cotas se tornem desnecessárias. Não é uma utopia:
acontece em muitos outros países, inclusive mais pobres que o Brasil.
Ações afirmativas não podem servir de álibi para continuarmos oferecendo formação inferior aos
filhos das classes mais desfavorecidas. Até porque propiciar acesso à universidade a alguns des-
ses jovens deixa muita coisa por resolver. O mesmo levantamento mostra que as notas de cotistas
são sim inferiores à média nos cursos de exatas, possivelmente os mais críticos para o desenvol-
vimento do país.
Não é difícil aventar uma explicação. Em matemática, cada etapa prepara a seguinte, não é pos-
sível pular. Quem não aprendeu multiplicação, não vai nunca entender frações. Se a matemática
não é ensinada na escola, na faculdade é simplesmente tarde demais. E aí os benefícios da ação
afirmativa foram desperdiçados.
Na virada do ano, outra notícia alvissareira: a Unicamp, talvez a mais inovadora de nossas universi-
dades, aprovou a criação de até 10% de vagas extras em seus cursos para candidatos premiados
em competições escolares, como as Olimpíadas Brasileiras de Matemática e Física. Uma espécie
de “cotas por mérito”.
Como todas as ideias inteligentes e com potencial para fazer diferença, essa também desperta
oposição. Inclusive de setores que advogam as cotas sociais, o que talvez não seja surpreendente,
mas é certamente lamentável. Tomara que a inteligência prevaleça.
(Marcelo Viana. Folha de S.Paulo, 21.01.2018. Adaptado)
Alterando-se a frase – É refrescante dispormos de dados objetivos sobre um assunto tantas vezes
poluído por ideologias. –, ela permanece correta quanto ao emprego dos verbos, conforme a
norma-padrão da língua portuguesa, em:
A) Se dispuséssemos de dados objetivos sobre um assunto tantas vezes poluído por ideologias,
estaríamos aliviados.
B) Se dispuséssemos de dados objetivos sobre um assunto tantas vezes poluído por ideologias,
estaremos aliviados.
C) Se dispomos de dados objetivos sobre um assunto tantas vezes poluído por ideologias, estaría-
mos aliviados.
D) Se dispusermos de dados objetivos sobre um assunto tantas vezes poluído por ideologias, es-
távamos aliviados.
E) Se dispormos de dados objetivos sobre um assunto tantas vezes poluído por ideologias, esta-
ríamos aliviados.
15
(Charles M. Schulz. Minduim. O Estado de S. Paulo, 29.03.2018. http://cultura.estadao.com.br)
O verbo ir está empregado com o mesmo sentido e a mesma função que o verificado na fala do
primeiro quadrinho na seguinte frase:
A) Vai-se mais um ano, e a obra ainda não foi concluída como o planejado.
B) A rodovia que vai de uma cidade a outra terá a instalação de um pedágio.
C) Ele vai ao evento de transporte público, porque não gosta de usar carro.
D) O museu permanecerá fechado no próximo mês, pois vai haver uma reforma.
E) A economia da região vai bem, apesar da crise global dos últimos anos.
Progresso, enfim
Em atraso nas grandes reformas da Previdência Social e do sistema de impostos, o Brasil tem ob-
tido avanços em uma agenda que(C, tomada em seu conjunto, mostra-se igualmente essencial – a
da melhora do ambiente de negócios.
Trata-se de objetivos tão diferentes quanto facilitar a criação de empresas, reduzir o custo de licen-
ças ou ampliar o acesso ao crédito. Grande parte dessas providências não depende de votações
no Congresso, mas sim do combate persistente a empecilhos burocráticos e ineficiências do setor
público.
A boa notícia é que o país subiu 16 posições no mais conhecido ranking dessa modalidade, di-
vulgado a cada ano pelo Banco Mundial. A má é que a 109a colocação, num total de 190 nações
consideradas, permanece vergonhosa.
O progresso ocorreu, basicamente, em quatro indicadores(D – fornecimento de energia elétrica,
prazo para abertura de empresa com registro eletrônico, acesso à informação de crédito e certifi-
cação eletrônica de origem para importações.
Pela primeira vez em 16 anos de publicação do relatório, o desempenho brasileiro se destacou na
América Latina. Os países mais bem posicionados da região, casos de México (54º lugar), Chile
(56o) e Colômbia (65o), apresentaram pouca ou nenhuma melhora.
16
Numa perspectiva mais ampla, o ambiente de negócios vai se tornando mais amigável na maior
parte do mundo(A. A edição mais recente do ranking catalogou número recorde de 314 reformas
realizadas em 128 economias desenvolvidas e emergentes no período 2017/2018.
Fica claro, no documento, que o maior atraso relativo do Brasil se dá no pagamento de impostos,
dados a carga elevada e o emaranhado de regras dos tributos incidentes sobre o consumo.
Nesse quesito em particular, o país ocupa um trágico 184º lugar no ranking(E.
O caminho óbvio a seguir nesse caso é uma reforma ambiciosa(B, que racionalize essa modalidade
de taxação. Mesmo que não seja possível abrir mão de receitas, a simplificação já traria ganhos
substanciais em eficiência ao setor produtivo.
(Editorial, Folha de S.Paulo, 06.11.2018. Adaptado)
Redes sociais têm sido cada vez mais consideradas como elementos importantes na construção de
uma grande variedade de processos, desde a mobilização política em movimentos sociais ou par-
tidos políticos, até as ações e a estrutura de relações formais e informais entre as elites políticas e
econômicas ou na estruturação de áreas de políticas públicas, entre muitos outros temas. Número
significativo de estudos tem examinado as redes pessoais, aquelas que cercam os indivíduos em
particular. Essas análises visam a estudar os efeitos da sociabilidade de diversos grupos sociais,
para compreender como os laços sociais são construídos e transformados e suas consequências
para fenômenos como integração social, imigração e apoio social.
No caso específico da pobreza, a literatura tem estabelecido de forma cada vez mais eloquente
como tais redes medeiam o acesso a recursos materiais e imateriais e, ao fazê-lo, contribuem de
forma destacada para a reprodução das condições de privação e das desigualdades sociais. A
integração das redes ao estudo da pobreza pode permitir a construção de análises que escapem
dos polos analíticos da responsabilização individual dos pobres por sua pobreza (e seus atributos),
assim como de análises sistêmicas que foquem apenas os macroprocessos e constrangimentos
estruturais que cercam o fenômeno.
17
A literatura brasileira sobre o tema tem sido marcada por uma oposição entre enfoques centrados
nesses dois campos, embora os últimos anos tenham assistido a uma clara hegemonia dos es-
tudos baseados em atributos e ações individuais para a explicação da pobreza. Parece-nos evi-
dente que tanto constrangimentos e processos supraindividuais (incluindo os econômicos) quanto
estratégias e credenciais dos indivíduos importam para a constituição e a reprodução de situações
de pobreza. Entretanto, essas devem ser analisadas no cotidiano dos indivíduos, de maneira que
compreendamos de que forma medeiam o seu acesso a mercados, ao Estado e às trocas sociais
que provêm bem-estar.
(Eduardo Marques, Gabriela Castello e Renata M. Bichir. Revista USP, no 92, 2011-2012. Adaptado)
Black Friday? Levantamento feito pela Folha* mostrou que boa parte dos “descontos” oferecidos
nesta sexta-feira não passa de manipulações até meio infantis de preços, com o objetivo de iludir
o consumidor.
Antes, porém, de imprecar contra a ganância dos capitalistas, convém perguntar se os consumi-
dores não desejam ser enganados. E há motivos para acreditar que pelo menos uma parte deles
queira.
No recém-lançado Dollars and Sense (dinheiro e juízo), Dan Ariely e Jeff Kreisler relatam um expe-
rimento natural que mostra que pessoas podem optar por ser “ludibriadas” voluntariamente e que,
em algum recôndito do cérebro, isso faz sentido.
A JCPenney é uma centenária loja de departamentos dos EUA que se celebrizou por jogar seus
preços na lua para depois oferecer descontos “irresistíveis”. Ao fim e ao cabo, os preços efetiva-
mente praticados estavam em linha com os da concorrência, mas os truques utilizados proporcio-
navam aos consumidores a sensação, ainda que ilusória, de ter feito um bom negócio, o que lhes
dava prazer.
Em 2012, o então novo diretor executivo da empresa Ron Johnson, numa tentativa de moderni-
zação, resolveu acabar com a ginástica de remarcações e descontos e adotar uma política de
preços “justa e transparente”.
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Os clientes odiaram. Em um ano, a companhia perdera US$ 985 milhões e Johnson ficou sem
emprego. Logo em seguida, a JCPenney remarcou os preços de vários de seus itens em até 60%
para voltar a praticar os descontos irresistíveis. Como escrevem Ariely e Kreisler, “os clientes da
JCPenney votaram com suas carteiras e escolheram ser manipulados”.
Num mundo em que o cliente sempre tem razão, não é tão espantoso que empresas se dediquem
a vender-lhe as fantasias que deseja usar, mesmo que possam ser desmascaradas com um clique
de computador.
* Jornal Folha de São Paulo
(‘Caveat emptor’. Hélio Schwartsman. http://www1.folha.uol.com.br/ colunas/helioschwartsman/2017/11/1937658-caveat-emptor.shtml
24.11.2017. Adaptado)
Assinale a alternativa em que a forma verbal em destaque no trecho expressa a ideia de possibili-
dade de que um fato ou evento se realize.
A) E há motivos para acreditar que pelo menos uma parte deles queira.
B) ... os preços efetivamente praticados estavam em linha com os da concorrência...
C) ... resolveu acabar com a ginástica de remarcações e descontos...
D) Em um ano, a companhia perdera US$ 985 milhões...
E) Num mundo em que o cliente sempre tem razão...
Marieta
Marieta fez 90 anos.
Não resisto à tentação de revelar a idade de Marieta.
Sei que é falta de educação (mas pouca gente sabe hoje o que quer dizer falta de educação, ou
mesmo educação) falar em idade de mulher.
São múltiplas as teorias sobre idade feminina. Eu envelheceria ainda mais, se fosse anotar aqui
todos os conceitos alusivos a essa matéria; enquanto isso, as mulheres ficariam cada vez mais jo-
vens. Depois, não estou interessado em compendiar a incerta sabedoria em torno do tema incerto.
Meu desejo é só este: contar a idade de Marieta, por estranho que pareça.
E não é nada estranho, afinal. Marieta fazer 90 anos é tão simples quanto ela fazer 15. No fundo,
está fazendo seis vezes 15 anos, esta é talvez sua verdadeira idade, por uma graça da natureza
que assim o determinou e assim o fez. Privilégio.
Ah, Marieta, que inveja eu sinto de você, menos pelos seus 90, perdão, 6 x 15 anos, do que pelo
sinal que iluminou seu nascimento, sinal de alegria serena, de firmeza e constância, de leve com-
preensão da vida, que manda chorar quando é hora de chorar, rir o riso certo, curtir uma forma de
amor com a seriedade e a naturalidade que todo amor exige.
Sei não, Marieta (de batismo e certidão, Maria Luísa), mas você é a mais agradável combinação de
gente com gente que eu conheço.
(Carlos Drummond de Andrade, Boca de Luar. Adaptado)
Na passagem “Eu envelheceria ainda mais, se fosse anotar aqui todos os conceitos alusivos a
19
essa matéria; enquanto isso, as mulheres ficariam cada vez mais jovens.”, tal como estão flexio-
nados, os verbos
A) exprimem incerteza ou dúvida acerca de fatos ocorridos em tempo próximo.
B) expressam possibilidades, referindo-se a fatos não ocorridos.
C) indicam ação que se produzirá em certo momento do futuro.
D) asseveram que uma ação futura estará realizada antes de outra.
E) indicam, entre ações simultâneas, a que estava em processo quando a outra ocorreu.
A revolução digital fortalece as previsões de que as casas ou lares inteligentes oferecerão mais
conveniência e menos dispêndio de energia em um futuro.
A definição de conveniência para esses novos lares tecnológicos, com redução ou eliminação de
trabalhos domésticos. Portanto, para que as edificações inteligentes tenham sucesso, elas deve-
20
rão se estruturar com base nessa visão de conveniência como solução para os que vivem em um
mundo acelerado e estar ancoradas em uma grande variedade de sistemas tecnológicos acessí-
veis e fáceis de operar, tornando a vida das pessoas mais simples.
Além da conveniência, outro relevante benéfico das casas inteligentes, para os consumidores é a
sua capacidade de incorporar aspectos relacionados à administração do gasto de energia, prin-
cipalmente com iluminação, condicionamento de ar eletrodomésticos. Um conjunto de sensores,
adequadamente configurados para gerenciar esses sistemas, pode gerar diminuição considerável
nos gastos com energia, com reflexos ambientais e econômicos importantes.
O departamento de engenharia da computação da Academia Árabe de Ciências e Tecnologia de-
senvolveu um estudo para avaliar a economia no consumo de energia gerada com o uso de sen-
sores inteligentes, em um apartamento de um dormitório, cozinha, sala de estar, sala de jantar e
banheiro. O estudo concluiu que a economia pode chegara quase 40% do consumo médio mensal
de energia.
A tendência de crescimento desse mercado é clara. A empresa de pesquisa Zion Research prevê
que a tecnologia das casas inteligentes deve alcançar um faturamento de US$ 53 bilhões (R$170
bi) em 2022. O crescimento estará calcado, principalmente, na conexão da casa com os ambientes
digitais externos, como por exemplo, a conexão do refrigerador com os equipamentos dos fornece-
dores de alimentos.
Naturalmente, a tecnologia das casas inteligentes continuará a evoluir, tornando-se acessível e ba-
rata. Com isso, mais pessoas poderão utilizar-se dela, e novos padrões, modelos e estilos de vida
devem se consolidar, principalmente nas áreas urbanas.
( Claudio Bernades. Casas inteligentes trarão conveniência e reduzirão gasto de energia. Folha de S. Paulo. www.folha.uol.com.br. 22.01.18.
Adaptado)
Considere a frase:
A empresa de pesquisa Zion Research prevê que a tecnologia das casas inteligentes deve alcan-
çar, um faturamento de US$ 53 bilhões (R$ 170 bi) em 2002.
Nas escolas da Catalunha, a separação da Espanha tem apoio maciço. É uma situação que con-
trasta com outros lugares de Barcelona, uma cidade que vive hoje em duas dimensões. De um
lado, há a Barcelona dos turistas, que se cotovelam nos pontos turísticos da cidade, fazem fila para
entrar nos museus e buscam mesa nos restaurantes. Para a maioria deles, a capital da Catalunha
segue seu ritmo normal. Nos bairros afastados do centro turístico, onde se concentram os mora-
dores de Barcelona, todas as conversas tratam da tensa situação política – e há muita divisão em
relação à independência. Segundo a última pesquisa feita pelo jornal El Mundo, 33% dos catalães
são a favor da criação de um estado independente, enquanto 58% são contra. A divisão pode ser
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verificada pelas bandeiras penduradas nas sacadas e janelas. Chama a atenção ver as esteladas,
como são conhecidas as bandeiras independentistas, disputando o espaço com as bandeiras da
Espanha.
Nesse quadro de cisão, o separatismo tem nas escolas suas grandes aliadas para propagar as
ideias nacionalistas. Isso ocorre desde a redemocratização espanhola, no fim dos anos 1970.
Antes disso, durante a ditadura comandada pelo general Francisco Franco, que governou a Es-
panha entre 1938 e 1973, os colégios públicos eram proibidos de ensinar em catalão. Somente
os privados ofereciam aulas nessa língua. Em sua maioria, essas escolas tinham perfil inovador e
vanguardista, se comparadas às tradicionais escolas católicas da época. Com a queda do gene-
ral Franco, as escolas catalãs privadas foram incorporadas à rede pública e tornaram-se o modelo
principal do sistema educacional, que hoje abriga 1,5 milhão de alunos e 71 mil professores. Como
a educação pública na Espanha está a cargo dos governos regionais, os diretores dos centros
escolares são escolhidos a dedo pelo governo catalão – que toma o cuidado de selecionar somen-
te diretores separatistas. “A manipulação dos jovens é central para o independentismo catalão. É
assim com qualquer movimento supremacista na Europa”, diz a historiadora espanhola Maria Elvira
Roca. “É mais fácil convencer estudantes a apaixonarem-se por uma causa do que trabalhadores
que estão encerrados num escritório”.
(Época, 13.11.2017. Adaptado)
Leia as frases.
• Observe-se que, na ditadura do general Franco, o governo não para que as escolas
particulares deixassem de oferecer o catalão em seus currículos.
• Ainda que bandeiras independencistas espalhadas por Barcelona, é fato que muitos
catalães se à ideia de separação.
• Se a Catalunha a se tornar independente, como ficará sua relação com a Espanha?
Em conformidade com a norma-padrão, as lacunas dos enunciados devem ser preenchidas, corre-
ta e respectivamente, com:
A) interveio … haja … opõem … vier
B) interviu … hajam … oporam … vim
C) intervinha … haja … opuseram … vir
D) interviu … haja … opõem … vier
E) interveio … hajam … opuseram … vir
Medo de injeção
Descartes disse que o bom senso é a coisa mais bem repartida do mundo. Descartes estava errado
também nisso. Visto que não faltam provas empíricas de que o bom senso não foi tão bem repartido
assim.
Um caso eloquente é o da vacinação contra a febre amarela em São Paulo. Assim que as notícias
sobre o recrudescimento do surto ganharam destaque, a porção mais ansiosa dos paulistas correu
aos postos de saúde, provocando megafilas e espalhando um pouco de caos no sistema.
Agora, esgotados os mais aflitos, autoridades sanitárias têm tido dificuldade para fazer com que o
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contingente mais desencanado da população se vacine. Pelos dados oficiais, apenas 50% do pú-
blico-alvo foram imunizados. Por que a resistência?
Minha hipótese é que ficamos mal-acostumados. Algumas décadas com um razoável arsenal de
vacinas à disposição nos fizeram esquecer quão letais e devastadoras podem ser as epidemias
que campanhas de imunização previnem. Hoje é preciso ir ao interior da África para ver uma crian-
ça com pólio e as mortes por sarampo se tornaram uma raridade, mas moléstias infecciosas foram,
desde o surgimento da agricultura, um dos maiores assassinos da humanidade, perdendo apenas
para a fome e superando em muito as guerras.
A ciência, ao desenvolver imunizantes, mudou essa história. Extinguimos a varíola e reduzimos
drasticamente os óbitos por doenças infecciosas em todo o mundo. A OMS estima que, hoje, va-
cinações previnam entre 2 milhões e 3 milhões de mortes por ano. Daria para acrescentar mais
1,5 milhão de vidas poupadas, desde que a taxa de cobertura, atualmente estacionada nos 86%,
melhorasse.
Por falta de bom senso, porém, grupos ideologicamente tão díspares quanto fundamentalistas islâ-
micos do interior da África e liberais da classe média alta dos países desenvolvidos uniram esforços
para fazer campanhas contra a vacinação. Pior, há quem os ouça.
(Helio Schwartsman. Medo de injeção. Disponível em: https:// www1.folha.uol.com.br/colunas/ Acesso em 10.03.2018. Adaptado)
Assinale a alternativa em que a forma verbal em destaque no trecho expressa a ideia de possibili-
dade de que um fato ou evento se realize.
A) Visto que não faltam provas empíricas de que o bom senso não foi tão bem repartido assim.
B)Pelos dados oficiais, apenas 50% do público-alvo foram imunizados.
C) Extinguimos a varíola e reduzimos drasticamente os óbitos por doenças infecciosas em todo
o mundo.
D) ... liberais da classe média alta dos países desenvolvidos uniram esforços para fazer campa-
nhas contra a vacinação.
E) Daria para acrescentar mais 1,5 milhão de vidas poupadas, desde que a taxa de cobertura,
atualmente estacionada nos 86%, melhorasse.
O caso do veículo autônomo que atropelou e matou uma pedestre em março, no Arizona, Estados
Unidos, ainda não acabou. Agora, um relatório da polícia diz que o acidente poderia ter sido evita-
do. Contudo, o motorista, no momento, assistia apresentação de um episódio de “The Voice”,
um show de talentos musical. Como os carros autônomos da companhia ainda estão em testes,
todos levam um motorista que pode intervir na direção, se necessidade. Um
vídeo, já divulgado pela polícia, mostra que o carro não fez a leitura da mulher como um potencial
alvo e seguiu o caminho sem tomar qualquer ação evasiva. Além disso, o motorista não
.
(https://jornaldocarro.estadao.com.br. Adaptado)
Em conformidade com a norma-padrão, as lacunas do texto devem ser preenchidas, respectiva-
mente, com:
A) à ... haver ... intervira
B) a ... haver ... interveio
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C) à ... há ... interviu
D) a ... houver ... interviu
E) à ... houver ... interveio
Sinha Vitória tinha amanhecido nos seus azeites. Fora de propósito, dissera ao marido umas in-
conveniências a respeito da cama de varas. Fabiano, que não esperava semelhante desatino, ape-
nas grunhira: – “Hum! hum!” E amunhecara, porque realmente mulher é bicho difícil de entender,
deitaras-e na rede e pegara no sono. Sinha Vitória andara para cima e para baixo, procurando em
que desabafar. Como achasse tudo em ordem, queixara-se da vida. E agora vingava-se em Baleia,
dando-lhe um pontapé.
Avizinhou-se da janela baixa da cozinha, viu os meninos, entretidos no barreiro, sujos de lama,
fabricando bois de barro, que secavam ao sol, sob o pé de turco, e não encontrou motivo para re-
preendê-los. Pensou de novo na cama de varas e mentalmente xingou Fabiano. Dormiam naquilo,
tinham-se acostumado, mas seria mais agradável dormirem numa cama de lastro de couro, como
outras pessoas.
Fazia mais de um ano que falava nisso ao marido. Fabiano a princípio concordara com ela, masti-
gara cálculos, tudo errado. Tanto para o couro, tanto para a armação. Bem. Poderiam adquirir o
móvel necessário economizando na roupa e no querosene. Sinha Vitória respondera que isso era
impossível, porque eles vestiam mal, as crianças andavam nuas, e recolhiam-se todos ao anoi-
tecer. Para bem dizer, não se acendiam candeeiros na casa. Tinham discutido, procurando cortar
outras despesas. [...]
Um mormaço levantava-se da terra queimada. Estremeceu lembrando-se da seca, o rosto more-
no desbotou, os olhos pretos arregalaram-se. Diligenciou afastar a recordação, temendo que ela
virasse realidade. Rezou baixinho uma avemaria, já tranquila, a atenção desviada para um buraco
que havia na cerca do chiqueiro das cabras. Esfarelou a pele de fumo entre as palmas das mãos
grossas, encheu o cachimbo de barro, foi consertar a cerca.
(Graciliano Ramos. Vidas Secas. Adaptado)
Nas passagens “Fazia mais de um ano que falava nisso ao marido.” e “Estremeceu lembrando-se
da seca...”, os verbos em destaque diferenciam- se porque o primeiro expressa
A) ação contínua e o segundo expressa ação anterior a outra, ambas no passado.
B) ação contínua e o segundo expressa ação concluída, ambas no passado.
C) ação contínua no passado e o segundo expressa ação no presente.
D) ação concluída no passado e o segundo expressa ação no presente.
E) ação concluída e o segundo expressa ação anterior a outra no passado.
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De acordo com a norma-padrão, as duas respostas do rapaz às perguntas da menina podem ser
substituídas, respectivamente, por
No pouco ortodoxo modelo de ensino que levou a Finlândia ao topo dos rankings globais de edu-
cação, uma inovadora inversão de papéis começa a tomar corpo: alunos estão dando aulas aos
professores, para ensinar os mestres a otimizar o uso de tecnologias de informação e comunicação
nas escolas.
O projeto OppilasAgentti (“Agentes Escolares”, em tradução livre) está sendo conduzido em cerca
de cem escolas finlandesas, e a ideia é levar a nova experiência a um número cada vez maior do
universo de 3.450 instituições de ensino do país.
Trata-se de um modelo para desenvolver as competências tecnológicas não apenas dos profes-
sores, mas de toda a comunidade escolar — e também do seu entorno: os alunos da escola Hä-
meenkylä, por exemplo, também estão dando aulas aos idosos de um asilo local sobre como usar
redes sociais, iPads e outros dispositivos eletrônicos.
“Acreditamos que é importante ensinar nossas crianças a descobrir seus potenciais e a desenvol-
ver seus valores, e mostrar a elas o impacto positivo que cada indivíduo pode exercer na socieda-
de”, observa Pasi Majasaari, diretor da escola Hämeenkylä, na cidade de Vantaa, próxima à capital
Helsinki.
Os alunos do projeto têm entre 10 e 16 anos de idade. Pelo sistema, os estudantes interessados
em participar se apresentam como voluntários e relatam suas competências e habilidades em
determinadas áreas. As escolas também oferecem treinamento aos alunos, em aulas ministradas
por especialistas de diferentes empresas finlandesas que revendem soluções tecnológicas para o
sistema de ensino do país.
A partir daí, os estudantes produzem um mapeamento das necessidades digitais da escola, sob a
orientação de um professor. Eles fazem então um planejamento das atividades necessárias e pas-
25
sam a atuar em três frentes. Na sala dos professores, os alunos dão aulas ocasionais sobre como
usar diferentes dispositivos e aplicativos. Professores também podem contatar os estudantes para
pedir assistência individual, a fim de solucionar pequenos problemas. E os alunos-mestres também
atuam como professores assistentes nas salas de aula, para prestar ajuda tanto aos professores
quanto a outros colegas de classe quando determinada lição envolve o uso de tecnologia.
Inverter o papel tradicional dos alunos nas escolas é mais um pensamento fora da caixa do cele-
brado sistema finlandês, que conquistou resultados invejáveis nos
rankings mundiais de educação com um receituário que inclui menos horas de aulas, poucas lições
de casa, férias mais longas e uma baixa frequência de provas.
(Claudia Wallin. www.bbc.com. Adaptado)
O pronome que substitui a expressão destacada em conformidade com a regência padrão da lín-
gua está indicado entre colchetes em:
A) ... ensinar nossas crianças a descobrir seus potenciais... [lhes]
B) ... mostrar a elas o impacto positivo... [lhes]
C) As escolas também oferecem treinamento aos alunos... [lhe]
D) Professores também podem contatar os estudantes... [lhes]
E) ... quando determinada lição envolve o uso de tecnologia. [lhe]
No livro Vidas Secas, Graciliano Ramos descreve uma cena em que Fabiano, o sertanejo do ro-
mance, perde uma aposta para o Soldado Amarelo. Quando percebe, está só, sentado na sarjeta,
falido, bêbado e sem argumento para explicar em casa que o dinheiro para os mantimentos fora
gasto em finalidades menos nobres. É a chegada ao inferno sem escaladas: em silêncio, Fabiano
busca um resquício de bom pensamento para se acalmar. Em vão, conclui: a vida seria mais su-
portável se houvesse ao menos uma boa lembrança. Ele não tinha. Sua vida era seca. Infrutífera.
Vulnerável. Como ele.
Em tempos de secura do ar, de reservatórios, de ideias ou desculpas convincentes sobre nossas
faltas, eu deveria voltar a Graciliano Ramos, mas confesso que ando ocupado demais matando o
tempo que juro não ter. Todos os meus objetos pontiagudos estão empenhados em matar o tempo
na internet, mais especificamente no Facebook, espécie de redutor do muro que antes separava o
que sentíamos e o que pronunciávamos.
Com ele, não faz o menor sentido ter uma ideia e não compartilhá-la. As ideias trancafiadas nos
pesam: elas nos levam ao silêncio e às desconfianças, entre elas a de que não são originais,
não valem ser ditas. Tarde demais: quando pensamos em dizer, já dissemos. Em conjunto, essa
produção industrial de bobagens e reduções explícitas da realidade replicadas na rede nos dá a
sensação de preenchimento. De tempo encurtado. De tempo útil.
Vai ver é por isso que, em um estudo recente publicado na revista Science, as pessoas diziam pre-
ferir causar dor a si mesmas do que passar 15 minutos em um quarto sem nada para fazer além de
pensar. No experimento, os cientistas das Universidades da Virgínia e de Harvard confinaram cerca
de 200 pessoas em um quarto sem celular nem material para ler ou escrever e concluíram: mais
de 57% das pessoas acharam difícil se concentrar; 80% disseram que seus pensamentos vagaram;
metade achou a experiência desagradável. E, o mais estarrecedor: dois terços, sem ter o que fazer
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diante do silêncio, resolveram se entreter dando choques em si mesmos – um deles estraçalhou o
próprio tédio com 190 choques. Nada poderia ser mais revelador dos nossos dias.
Pois ontem passei uma hora e quarenta minutos parado num ponto de ônibus à espera de um
ônibus que não veio. Passaria uma hora e quarenta minutos me autoimolando se não fosse meu
celular. Foram quase cem minutos contatando meio mundo que me desse uma palha de conversa,
em aplicativos de mensagem instantânea, sobre a vida, sobre a seca, sobre o tempo que nos resta
e não concede tempo para
nada, nem para ler os livros e as revistas que apodreciam em conjunto na minha mochila.
(Matheus Pichonelli. “Vidas Secas”. www.cartacapital.com.br. 08.08.2014. Adaptado)
Assinale a alternativa em que a forma entre colchetes substitui o trecho destacado obedecendo à
norma-padrão de emprego e colocação do pronome.
A) ... o tempo que nos resta e não concede tempo para nada... [concede-o]
B) ... um deles estraçalhou o próprio tédio... [lhe estraçalhou]
C) ... confinaram cerca de 200 pessoas... [confinaram- nas]
D) ... empenhados em matar o tempo... [matar-lhe]
E) Passaria uma hora e quarenta minutos me autoimolando... [Passaria-as]
Assassinos culturais
Sou um assassino cultural, e você também é. Sei que é romântico chorar quando uma livraria fe-
cha as portas. Mas convém não abusar do romantismo – e da hipocrisia. Fomos nós que matamos
aquela livraria e o crime não nos pesa muito na consciência.
Falo por mim. Os livros físicos que entram lá em casa são cada vez mais ofertas – de amigos ou
editoras.
Aos 20, quando viajava por territórios estranhos, entrava nas livrarias locais como um faminto na
capoeira. Comprava tanto e carregava tanto que desconfio que o meu problema de ciática é, na sua
essência, um problema livresco.
Hoje? Gosto da flânerie*. Mas depois, fotografo as capas com o meu celular antes de regressar
para o psicanalista – o famoso dr. Kindle. Culpado? Um pouco. E em minha defesa só posso
afirmar que pago pelos meus vícios.
E quem fala em livrarias, fala em todo o resto. Eu também ajudei a matar a Tower Records e a Virgin
Megastore. Havia lá dentro uma bizarria chamada CD – você se lembra?
Hoje, com alguns aplicativos, tenho uma espécie de discoteca de Alexandria onde, a meu bel-pra-
zer, escuto meus clássicos e descubro novos. Se juntarmos ao pacote o iTunes e a Netflix, você
percebe por que eu também tenho o sangue dos cinemas e dos blockbusters nas mãos.
Eis a realidade: vivemos a desmaterialização da cultura. Mas não é apenas a cultura que se des-
materializa e tem deixado as nossas salas e estantes mais vazias. É a nossa relação com ela.
Não somos mais proprietários de “coisas”; somos apenas consumidores e, palavra importante,
assinantes.
O livro “Subscribed”, de Tien Tzuo, analisa a situação. É uma reflexão sobre a “economia de as-
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sinaturas” que conquista a economia global. Conta o autor que mais de metade das empresas da
famosa lista da “Fortune” já não existiam em 2017. O que tinham em comum? O objetivo meritório
de vender “coisas” – muitas coisas, para muita gente, como sempre aconteceu desde os primór-
dios do capitalismo.
Já as empresas que sobreviveram e as novas que entraram na lista souberam se adaptar à econo-
mia digital, vendendo serviços (ou, de forma mais precisa, acessos).
Claro que na mudança algo se perde. O desaparecimento das livrarias não acredito que seja total
no futuro (e ainda bem). Além disso, ler no papel não é o mesmo que ler na tela.
Mas o interesse do livro de Tzuo não está apenas nos números; está no retrato de uma nova gera-
ção para quem a experiência cultural é mais importante do que a mera posse de objetos.
Há quem veja aqui um retrocesso, mas também é possível ver um avanço – ou, para sermos bem
filosóficos, o triunfo do espírito sobre a matéria. E não será essa, no fim das contas, a vocação mais
autêntica da cultura?
(João Pereira Coutinho. Folha de S.Paulo, 28.08.2018. Adaptado)
Acabo de levantar-me; logo serão cinco horas da manhã; procuro não fazer barulho, vou até a co-
zinha e preparo uma xícara de chá enquanto tento resgatar fragmentos de meus entressonhos,
esses entressonhos que, aos 86 anos, aparecem- me atemporais, misturados com lembranças da
infância. Nunca tive boa memória, sempre sofri essa desvantagem; mas talvez seja um modo de
recordar apenas o que se deve, talvez a maior coisa que nos aconteceu na vida, a que tem algum
significado profundo, a que foi decisiva – para o bem e para o mal – nesta complexa, contraditória
e inexplicável viagem rumo à morte que é a vida de toda pessoa. Por isso minha cultura é tão ir-
regular, repleta de enormes lacunas, como que construída com restos de belíssimos templos cujos
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pedaços se encontram entre detritos e plantas selvagens. Os livros que li, as teorias que frequentei,
deveram-se a meus próprios tropeços com a realidade.
Quando me param na rua, numa praça ou no trem, para perguntar-me que livros é preciso ler, res-
pondo sempre: “Leiam o que os apaixone, apenas isso os ajudará a suportar a existência”.
(Ernesto Sabato. Antes do fim. Trad. Sérgio Molina. São Paulo: Companhia das Letras, 2000)
Na passagem “Nunca tive boa memória, sempre sofri essa desvantagem; mas talvez seja um
modo de recordar apenas o que se deve, talvez a maior coisa que nos aconteceu na vida, a que tem
algum significado profundo, a que foi decisiva...”, os termos destacados introduzem no contexto,
respectivamente, as ideias de
A) negação, afirmação e reciprocidade.
B) causa, consequência e conformidade.
C) dúvida, condição e condição.
D) intensidade, intensidade e concessão.
E) tempo, tempo e dúvida.
Médicos sempre ocuparam uma posição de prestígio na sociedade. Afinal, cuidar do maior bem
do indivíduo – a vida – não é algo trivial. Embora a finalidade do ofício seja a mesma, o modus
operandi mudou drasticamente com o tempo.
O que se pode afirmar é que o foco da atuação médica deve ser cada vez menos o controle sobre
o destino do paciente e mais a mediação e a interpretação de tecnologias, incluindo a famigerada
inteligência artificial. Já o lado humanístico, que perdeu espaço para os exames e as máquinas,
tende a recuperar cada vez mais sua importância(A). De meados do século 20 até agora, concomi-
tantemente às novas especialidades, houve avanço tecnológico e a proliferação de modalidades de
exames. Cresceu o catálogo dos laboratórios e também a dependência do médico em relação a
exames. A impressão dos pacientes passou a ser a de que o cuidado é ruim, caso o médico não
os solicite. O tema é caro a Jayme Murahovschi, referência em pediatria no país. “Tem que haver
progressão tecnológica, claro, mas mais importante(D) que isso é a ligação emocional com o pa-
ciente. Hoje médicos pedem muitos exames(C) e os pacientes também.”
Murahovschi está entre os que acreditam que a profissão está sofrendo uma nova reviravolta, qua-
se que voltando às origens clássicas, hipocráticas: “Os médicos do futuro, os que sobrarem, vão
ter que conhecer o paciente a fundo, dar toda a atenção que ele precisa, usando muita tecnologia,
mas com foco no paciente.”
Alguns profissionais poderão migrar para uma medicina mais técnica, preveem analistas.
Esses doutores teriam uma função diferente, atuando na interface entre o conhecimento biomédico
e a tecnologia por trás de plataformas de diagnóstico e reabilitação. Ou ainda atuariam alimen-
tando com dados uma plataforma de inteligência artificial, tornando-a mais esperta(E).
Outra tecnologia já presente é a telemedicina, que descentraliza a realização de consultas e exa-
mes. Clínicas e médicos generalistas podem, rapidamente e pela internet, contar com laudos de
especialistas situados em diferentes localidades; uma junta médica pode discutir casos(B) de
pacientes e seria possível até a realização, a distância, de consultas propriamente ditas, se não
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existissem restrições do CFM nesse sentido.
Até cirurgias podem ser feitas a distância, com o advento da robótica. O tema continua fascinando
médicos e pacientes, mas, por enquanto, nada de droides médicos à la Star Wars – quem controla
o robô ainda é o ser humano.
(Gabriela Alves. Folha de S.Paulo, 19.10.2018. Adaptado)
No trecho do último parágrafo – quem controla o robô ainda é o ser humano –, o termo destacado
apresenta circunstância adverbial de
A) afirmação, como em: “tende a recuperar cada vez mais sua importância”.
B) tempo, como em: “pode discutir, remotamente, diversos casos”.
C) tempo, como em: “Hoje médicos pedem muitos exames”.
D) afirmação, com em: “progressão tecnológica, claro, mas mais importante”.
E) intensidade, como em: “tornando-a mais esperta”.
Já houve muita discussão sobre a autenticidade de uma das fotos mais famosas de todos os tempos:
Lunch atop a skyscraper (algo como Almoço no topo de um arranha- céu). A teoria mais escandalosa
é que a foto seria uma montagem. Não é. Nos anos 30, quando foi tirada, não havia tecnologia para
forjar os personagens num fundo falso. O negativo é de vidro e encontra-se nos cofres da Agência
Corbis.
Outra teoria: os onze operários estariam ali protegidos por redes. Não. Estão correndo risco, ainda
que tenham topado posar para a foto. Ou seja, não apareceu um fotógrafo do nada ao meio-dia de
20 de setembro de 1932 e simplesmente flagrou o almoço da rapaziada. Até porque fotógrafos e
modelos estão a quase 250 m de altura, na estrutura de um edifício na Rua 48, em Nova York.
Naquele dia, três fotógrafos estiveram na construção, segundo Ken Johnston, diretor de fotos his-
tóricas da Corbis.
A foto, hoje atribuída a Charles C. Ebbets, foi publicada no dia 2 de outubro de 1932, no jornal The
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New York Herald Tribune, e trazia a legenda: “Enquanto milhares de nova-iorquinos se apressam
em restaurantes e lanchonetes fervilhantes de clientes, esses trabalhadores intrépidos obtêm todo
o ar e liberdade que querem almoçando sobre uma viga de aço”.
(Aventuras na História, dezembro de 2012. Adaptado)
Na frase “A teoria mais escandalosa é que a foto seria uma montagem.”, o termo mais expressa a
mesma circunstância adverbial presente na expressão destacada em:
A) Almoço realizado diariamente no topo de um arranha-céu.
B) Almoço, bastante inusitado, realizado no topo de um arranha-céu.
C) Almoço com os colegas de trabalho realizado no topo de um arranha-céu.
D) Almoço realizado irreverentemente no topo de um arranha-céu.
E) Almoço realizado, talvez uma única vez, no topo de um arranha-céu.
A arte mostra-se presente na história da humanidade desde os tempos mais remotos. Sem dúvida,
ela pode ser considerada como sendo uma necessidade de expressão do ser humano, surgindo
como fruto da relação homem/mundo. Por meio da arte a humanidade expressa suas necessida-
des, crenças, desejos, sonhos. Todos têm uma história, que pode ser individual ou coletiva. As
representações artísticas nos oferecem elementos que facilitam a compreensão da história dos
povos em cada período.
(Rosane K. Biesdorf e Marli F. Wandscheer. Arte, uma necessidade humana: função social e educativa. Itinerarius re-
flectionis.)
A expressão Sem dúvida, em destaque no texto, pode ser substituída, sem prejuízo do sentido, por
A) Seguramente.
B) Eventualmente.
C) Porventura.
D) Sobretudo.
E) Usualmente.
Uma velha amiga minha de São Paulo – nem tão velha assim, e muito bonita – me diz que seu
filho, de 39 anos, mora com ela. Não é que “ainda” more com ela. Ele apenas mora, desde o dia
em que nasceu, e não há indícios de que esteja planejando se emancipar e morar sozinho. A mãe,
a essa altura, já desistiu de fazê-lo desconfiar de que ela, sim, gostaria de espaço e privacidade
para viver sua própria vida.
Ao ouvir isso, levei um susto. Aos 39 anos, eu já tinha saído não só da casa de meus pais como de
dois casamentos, e morado em dez endereços de quatro cidades em dois continentes. Era só no
que os garotos da minha geração pensavam – jogar-se à vida, longe da saia materna ou da mesada
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paterna. Supunha-se que, enquanto se morasse com a família, estava-se dispensado de ser adulto.
Um desses endereços, em 1967, foi o Solar da Fossa, um casarão colonial em Botafogo, perto do
túnel Novo. Nele tinham ido parar rapazes e moças de fora e de dentro do Rio, todos em busca
de liberdade para criar, trabalhar, namorar ou não fazer nada, enfim, viver. Ali, um dos moradores,
Caetano Veloso, compôs “Alegria, Alegria”; outro, Paulinho da Viola, “Sinal Fechado”. Grupos
como o Momento 4 e o Sá, Rodrix & Guarabyra se formaram em seus quartos.
Três de nossas lindas vizinhas estrelaram nas páginas de revistas: Betty Faria, Ítala Nandi e Tania
Scher. Paulo Leminsky escrevia seu romance “Catatau”. O pessoal do Teatro Jovem, que estava
revolucionando o teatro brasileiro, morava lá, assim como metade do elenco da peça “Roda Viva”,
em ensaio no outro lado do túnel. Os namoros eram a mil. Até o autor francês Jean Genet, de pas-
sagem pelo Solar, viveu ali uma aventura amorosa.
Se aquela turma morasse com a mãe, nada disso teria acontecido.
(Ruy Castro. Folha de S.Paulo. Adaptado)
Considere os trechos do texto.
• ... nem tão velha assim, e muito bonita...
• ... desistiu de fazê-lo desconfiar de que ela, sim, gostaria de espaço e privacidade...
• ... nossas lindas vizinhas estrelaram nas páginas de revistas...
Black Friday? Levantamento feito pela Folha* mostrou que boa parte dos “descontos” oferecidos
nesta sexta-feira não passa de manipulações até meio infantis de preços, com o objetivo de iludir
o consumidor.
Antes, porém, de imprecar contra a ganância dos capitalistas, convém perguntar se os consumi-
dores não desejam ser enganados. E há motivos para acreditar que pelo menos uma parte deles
queira.
No recém-lançado Dollars and Sense (dinheiro e juízo), Dan Ariely e Jeff Kreisler relatam um expe-
rimento natural que mostra que pessoas podem optar por ser “ludibriadas” voluntariamente e que,
em algum recôndito do cérebro, isso faz sentido.
A JCPenney é uma centenária loja de departamentos dos EUA que se celebrizou por jogar seus
preços na lua para depois oferecer descontos “irresistíveis”. Ao fim e ao cabo, os preços efetiva-
mente praticados estavam em linha com os da concorrência, mas os truques utilizados proporcio-
navam aos consumidores a sensação, ainda que ilusória, de ter feito um bom negócio, o que lhes
dava prazer.
Em 2012, o então novo diretor executivo da empresa Ron Johnson, numa tentativa de moderni-
zação, resolveu acabar com a ginástica de remarcações e descontos e adotar uma política de
32
preços “justa e transparente”.
Os clientes odiaram. Em um ano, a companhia perdera US$ 985 milhões e Johnson ficou sem
emprego. Logo em seguida, a JCPenney remarcou os preços de vários de seus itens em até 60%
para voltar a praticar os descontos irresistíveis. Como escrevem Ariely e Kreisler, “os clientes da
JCPenney votaram com suas carteiras e escolheram ser manipulados”.
Num mundo em que o cliente sempre tem razão, não é tão espantoso que empresas se dediquem
a vender-lhe as fantasias que deseja usar, mesmo que possam ser desmascaradas com um clique
de computador.
* Jornal Folha de São Paulo
(‘Caveat emptor’. Hélio Schwartsman. http://www1.folha.uol.com.br/ colunas/helioschwartsman/2017/11/1937658-caveat-emptor.shtml
24.11.2017. Adaptado)
Na frase – ... um experimento natural que mostra que pessoas podem optar por ser “ludibriadas”
voluntariamente... –, o termo voluntariamente, em destaque, expressa circunstância de
A) modo, e pode ser corretamente substituído pela expressão “às pressas”.
B) afirmação, e pode ser corretamente substituído pela expressão “de fato”.
C) intensidade, e pode ser corretamente substituído pela expressão “de todo”.
D) afirmação, e pode ser corretamente substituído pela expressão “com certeza”.
E) modo, e pode ser corretamente substituído pela expressão “de maneira espontânea”.
Nos EUA, a psicanálise lembra um pouco certas seitas – as ideias do fundador são instituciona-
lizadas e defendidas por discípulos ferrenhos, mas suas instituições parecem não responder às
necessidades atuais da sociedade. Talvez porque o autor das ideias não esteja mais aqui para
atualizá-las.
Freud era um neurologista, e queria encontrar na Biologia as bases do comportamento. Como a
tecnologia de então não lhe permitia avançar, passou a elaborar uma teoria, criando a psicanálise.
Cientista que era, contudo, nunca se apaixonou por suas ideias, revisando sua obra ao longo da
vida. Ele chegou a afirmar: “A Biologia é realmente um campo de possibilidades ilimitadas do qual
podemos esperar as elucidações mais surpreendentes. Portanto, não podemos imaginar que res-
postas ela dará, em poucos decêndios, aos problemas que formulamos. Talvez essas respostas
venham a ser tais que farão o edifício de nossas hipóteses colapsar”. Provavelmente, é sua frase
menos citada. Por razões óbvias.
(Galileu, novembro de 2017. Adaptado)
Nos trechos – … Talvez porque o autor das ideias não esteja mais aqui… – ; – … nunca se apai-
xonou por suas ideias… – ; – A Biologia é realmente um campo de possibilidades ilimitadas… – e
– Provavelmente, é sua frase menos citada. –, os advérbios destacados expressam, correta e
respectivamente, circunstância de:
A) lugar; tempo; modo; afirmação.
B) lugar; tempo; afirmação; dúvida.
C) lugar; negação; modo; intensidade.
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D) afirmação; negação; afirmação; afirmação.
E) afirmação; negação; modo; dúvida.
Muitos adjetivos, permanecendo imóveis na sua flexão de gênero e número, podem passar a fun-
cionar como advérbio. O critério formal de diferenciação das duas classes de modificador é a va-
riabilidade do primeiro e a invariabilidade do segundo.
(Evanildo Bechara, Moderna Gramática Portuguesa. Adaptado)
A análise do autor, citando o contexto em que um adjetivo pode funcionar como advérbio, está
exemplificada com o termo destacado na seguinte passagem:
A) … mais do que o rigor ou o tamanho da pena, é o principal fator de dissuasão.
B) … levou o país a abrigar a terceira maior população carcerária do mundo…
C) Deve-se caminhar, ainda, no sentido da integração com a criação de bases de dados…
D) Tudo isso depende, claro, da superação da crise orçamentária…
E) Parte considerável das prisões resulta de casos de flagrante…
O vocábulo assim, na fala do tigre, exprime em suas duas ocorrências, respectivamente, circuns-
tâncias de
A) tempo e efeito.
B) causa e efeito.
C) condição e causa.
D) condição e modo.
E) modo e tempo.
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QUESTÃO 40: VUNESP - Adv (Pref Registro)/Pref Registro/2018
Assunto: Advérbio
Eram dez da noite, estava escuro, e a americana Elaine Herzberg, de 49 anos, resolveu atravessar
uma avenida em Tempe, cidade de 160 mil habitantes no sul dos EUA. Ela estava fora da faixa,
o sinal estava aberto para os carros, e logo aconteceu o pior. Elaine foi atropelada por um veículo
utilitário esportivo de 2 000 quilos, a 61 km/h. Morreu no ato. Seria apenas mais uma vítima do
trânsito, não fosse por um motivo: um robô estava dirigindo o veículo. Elaine foi a primeira pedestre
morta por um carro autônomo. Eles provavelmente vão atropelar mais pessoas. E, toda vez que
isso acontecer, a opinião pública ficará assustada (a empresa dona do carro que matou Elaine
interrompeu seus testes após o acidente) Mas já existe uma tecnologia que promete erradicar os
acidentes com veículos autônomos e mudar outros aspectos da vida humana: a quinta geração da
telefonia celular, ou 5G.
Ela é tão importante que o governo dos EUA chegou a cogitar a construção de uma rede 5G estatal,
só para não ficar atrás dos chineses (que vão inaugurar a sua no final deste ano). As operadoras
americanas se mexeram, e agora prometem montar redes 5G em 30 cidades do país até dezembro
– antes mesmo dos celulares compatíveis com essa tecnologia, que só vão começar a chegar ao
mercado ano que vem.
A grande novidade das redes 5G é que elas trabalham em frequências mais altas, ou seja, nas
quais as ondas eletromagnéticas oscilam mais vezes por segundo. Graças a isso, o 5G promete
três vantagens: mais velocidade, maior número de conexões e menor latência.
Essa terceira novidade das redes 5G, a baixa latência, consiste no tempo que cada antena ou pon-
to de rede leva para processar – e, se for o caso, repassar – os dados. As ondas eletromagnéticas
usadas para transmitir informações (seja no 5G, no Wi-Fi, ou qualquer outra rede sem fio) viajam
sempre na mesma velocidade: a da luz. Porém, na prática, a transmissão de dados sempre é mais
lenta. Na tecnologia 5G, a latência é 50 vezes menor. A transmissão é praticamente instantânea – e
isso abre várias possibilidades.
Mas talvez o benefício mais imediato de todos seja o fim das franquias de dados. A capacidade da
rede 5G é tão enorme que as operadoras poderão oferecer planos sem limites de dados – e você
poderá usar seu celular à vontade, como hoje usa a internet da sua casa.
(Superinteressante, maio de 2018. Adaptado)
No último parágrafo do texto “Mas talvez o benefício mais imediato de todos seja o fim das fran-
quias de dados. A capacidade da rede 5G é tão enorme que as operadoras poderão oferecer pla-
nos sem limites de dados – e você poderá usar seu celular à vontade, como hoje usa a internet
da sua casa.”, as expressões destacadas reportam, correta e respectivamente, aos sentidos de:
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QUESTÃO 41: VUNESP - PAEPE (UNICAMP)/UNICAMP/Bibliotecário/2019
Assunto: Preposição
Página infeliz
O mercado editorial no Brasil nunca pareceu tão próximo de uma catástrofe – com as duas prin-
cipais redes de livrarias do país, Saraiva e Cultura, em uma crise profunda, reduzindo o número
de lojas e com dívidas que parecem sem fim.
Líder do mercado, a Saraiva, que já acumula atrasos de pagamentos a editores nos últimos anos,
anunciou nesta semana o fechamento de 20 lojas. Em nota, a rede afirma que a medida tem a ver
com “desafios econômicos e operacionais”, além de uma mudança na “dinâmica do varejo”.
Na semana anterior, a Livraria Cultura entrou em recuperação judicial. No pedido à Justiça, a rede
afirma acumular prejuízos nos últimos quatro anos, ter custos que só crescem e vendas menores.
Mesmo assim, diz a petição enviada ao juiz, não teria aumentado seus preços.
O enrosco da Cultura está explicado aí. Diante da crise, a empresa passou a pegar dinheiro em-
prestado com os bancos – o tamanho da dívida é de R$ 63 milhões. Com os atrasos nos paga-
mentos das duas redes, editoras já promoveram uma série de demissões ao longo dos últimos dois
anos.
O cenário de derrocada, contudo, parece estar em descompasso com os números de vendas.
Desde o começo do ano, os dados compilados pela Nielsen, empresa de pesquisa de mercado,
levantados a pedido do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, mostravam que o meio livreiro
vinha dando sinais de melhoras pela primeira vez, desde o início da recessão econômica que abala
o país.
Simone Paulino, da Nós, editora independente de São Paulo, enxerga um descompasso entre as
vendas em alta e a crise. Nas palavras dela, “um paradoxo assustador.” A editora nunca vendeu
tanto na Cultura quanto nesses últimos seis meses”, diz. E é justamente nesse período que eles
não têm sido pagos.
“O modelo de produção do livro é muito complicado. Você investe desde a compra do direito autoral
ou tradução e vai investindo ao longo de todo o processo. Na hora que você deveria receber, esse
dinheiro não volta”, diz Paulino.
“Os grandes grupos têm uma estrutura de advogados que vão ter estratégia para tentar receber. E
para os pequenos? O que vai acontecer?”
Mas há uma esperança para os editores do país: o preço fixo do livro. Diante do cenário de crise, a
maior parte dos editores aposta em uma carta tirada da manga no apagar das luzes do atual gover-
no – a criação, no país, do preço fixo do livro – norma a ser implantada por medida provisória – nos
moldes de boa parte de países europeus, como França e Alemanha.
Os editores se inspiram no pujante mercado europeu. Por lá, o preço fixo existe desde 1837, quan-
do a Dinamarca criou a sua lei limitando descontos, abolida só em 2001. A crença é a de que a
crise atual é em parte causada pela guerra de preço. Unificar o valor de capa permitiria um flores-
cimento das livrarias independentes, uma vez que elas competiriam de forma mais justa com as
grandes redes.
(Folha de S. Paulo, 03.11.2018. Adaptado)
36
A) nas duas ocorrências a preposição indica modo.
B) na primeira indica causa, na segunda, modo.
C) na primeira indica modo, na segunda, tempo.
D) nas duas ocorrências indica tempo.
E) na primeira indica modo, na segunda, causa.
De princípio a interessou o nome da aeronave: não “zepelim” nem dirigível; o grande fuso de me-
tal brilhante chamava-se modernissimamente blimp. Pequeno como um brinquedo, independente,
amável. A algumas centenas de metros da sua casa ficava a base aérea dos soldados americanos
e o poste de amarração dos dirigíveis. E de vez em quando eles deixavam o poste e davam uma
volta, como pássaros mansos que abandonassem o poleiro num ensaio de voo. Assim, aos olhos
da menina, o blimp1existia como um animal de vida própria; fascinava-a como prodígio mecânico
que era, e principalmente ela o achava lindo, todo feito de prata, librando − se2 majestosamente
pouco abaixo das nuvens. Não pensara nunca em entrar nele; não pensara sequer que
pudesse alguém andar dentro dele. Verdade que via lá dentro umas cabecinhas espiando,
mas tão minúsculas que não davam impressão de realidade.
O seu primeiro contato com a tripulação do dirigível começou de maneira puramente ocasional.
Acabara o café da manhã; a menina tirara a mesa e fora à porta que dá para o laranjal, sacudir da
toalha as migalhas de pão. Lá de cima um tripulante avistou aquele pano branco tremulando entre
as árvores espalhadas e a areia, e o seu coração solitário comoveu-se. Vivia naquela base como
um frade no seu convento – sozinho entre soldados e exortações patrióticas. E ali estava, juntinho
ao oitão da casa, sacudindo um pano, uma mocinha de cabelo ruivo. O marinheiro agitou-se
todo com aquele adeus. Várias vezes já sobrevoara aquela casa, vira gente entrando e saindo; e
pensara quão distantes uns dos outros vivem os homens, quão indiferentes passam entre si, cada
um trancado na sua vida. Ele estava voando por cima das pessoas, vendo-as e, se algumas er-
guiam os olhos, nenhuma pensava no navegador que ia dentro; queriam só ver a beleza prateada
vogando3 pelo céu.
Mas agora aquela menina tinha para ele um pensamento, agitava no ar um pano, como uma ban-
deira; decerto era bonita – o sol lhe tirava fulgurações de fogo do cabelo. Seu coração atirou-se
para a menina num grande impulso agradecido; debruçou-se à janela, agitou os braços, gritou:
“Amigo!, amigo!” – embora soubesse que o vento, a distância, o ruído do motor não deixariam ou-
vir-se nada. Gostaria de lhe atirar uma flor, um mimo. Mas que podia haver dentro de um dirigível
da Marinha que servisse para ser oferecido a uma pequena? O objeto mais delicado que encontrou
foi uma grande caneca de louça branca, pesada como uma bala de canhão. E foi aquela caneca
que o navegante atirou; atirou, não: deixou cair a uma distância prudente da figurinha iluminada,
num gesto delicado, procurando abrandar a força da gravidade, a fim de que o objeto não chegasse
sibilante como um projétil, mas suavemente, como uma dádiva.
(Os cem melhores contos brasileiros do século. Org. Italo Moriconi – Objetiva, 2001. Adaptado)
1. blimp: dirigível
2. librando-se: flutuando, equilibrando-se
3. vogando: flutuando
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Na frase a seguir, as preposições destacadas contribuem para formar locuções adjetivas.
O objeto mais delicado que encontrou foi uma grande caneca de louça branca, pesada como uma
bala de canhão. (3º parágrafo)
As preposições destacadas foram empregadas com essa mesma função nos trechos da alternativa:
A) todo feito de prata, igual a uma joia; Mas que podia haver dentro de um dirigível.
B) o grande fuso de metal brilhante; o poste de amarração dos dirigíveis.
C) o grande fuso de metal brilhante; começou de maneira puramente ocasional.
D) estava voando por cima das pessoas; distância prudente da figurinha iluminada.
E) estava voando por cima das pessoas; uma mocinha de cabelo ruivo.
Destruindo Riqueza
A economia cresce encontrando soluções, em geral tecnológicas, para reduzir ineficiências e, nes-
se processo, libera mão de obra.
Um exemplo esclarecedor é o do emprego agrícola nos EUA. Até 1800, a produção de alimentos
exigia o trabalho de 95% da população do país. Em 1900, a geração de comida para uma população
já bem maior mobilizava 40% da força de trabalho e, hoje, essa proporção mal chega a 3%. Quem
abandonou a roça foi para cidades, integrando a força de trabalho da indústria e dos serviços.
Esse processo pode ser cruel para com indivíduos que ficam sem emprego e não conseguem se
reciclar, mas é dele que a sociedade extrai sua prosperidade. É o velho fazer mais com menos.
A internet, com sua incrível capacidade de conectar pessoas, abriu novos veios de ineficiências a
eliminar. Se você tem um carro e não é chofer de praça nem caixeiro viajante, ele passa a maior
parte do dia parado, o que é uma ineficiência. Se você tem um imóvel vago ou mesmo um dormitó-
rio que ninguém usa, está sendo improdutivo. O mesmo vale para outros apetrechos que você pos-
sa ter, mas são subutilizados. Os aplicativos de compartilhamento, ao ligar de forma instantânea
demandantes a ofertantes, permitem à sociedade fazer muito mais com aquilo que já foi produzido
(carros, prédios, tempo disponível etc.), que é outro jeito de dizer que ela fica mais rica.
É claro que isso só dá certo se não forem criadas regulações desnecessárias que embaracem os
acertos voluntários entre as partes. A burocratização da oferta de serviços de aplicativos torna-os
indistinguíveis. Dá para descrever isso como a destruição de riqueza.
(Hélio Schwartsman. Folha de S.Paulo. 31.10.2017. Adaptado)
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QUESTÃO 44: VUNESP - PROF (SME BARRETOS)/PREF BARRETOS/I/2018
Assunto: Preposição
Leia o texto para responder à questão.
Black Friday? Levantamento feito pela Folha* mostrou que boa parte dos “descontos” oferecidos
nesta sexta-feira não passa de manipulações até meio infantis de preços, com o objetivo de iludir
o consumidor.
Antes, porém, de imprecar contra a ganância dos capitalistas, convém perguntar se os consumi-
dores não desejam ser enganados. E há motivos para acreditar que pelo menos uma parte deles
queira.
No recém-lançado Dollars and Sense (dinheiro e juízo), Dan Ariely e Jeff Kreisler relatam um expe-
rimento natural que mostra que pessoas podem optar por ser “ludibriadas” voluntariamente e que,
em algum recôndito do cérebro, isso faz sentido.
A JCPenney é uma centenária loja de departamentos dos EUA que se celebrizou por jogar seus
preços na lua para depois oferecer descontos “irresistíveis”. Ao fim e ao cabo, os preços efetiva-
mente praticados estavam em linha com os da concorrência, mas os truques utilizados proporcio-
navam aos consumidores a sensação, ainda que ilusória, de ter feito um bom negócio, o que lhes
dava prazer.
Em 2012, o então novo diretor executivo da empresa Ron Johnson, numa tentativa de moderni-
zação, resolveu acabar com a ginástica de remarcações e descontos e adotar uma política de
preços “justa e transparente”.
Os clientes odiaram. Em um ano, a companhia perdera US$ 985 milhões e Johnson ficou sem
emprego. Logo em seguida, a JCPenney remarcou os preços de vários de seus itens em até 60%
para voltar a praticar os descontos irresistíveis. Como escrevem Ariely e Kreisler, “os clientes da
JCPenney votaram com suas carteiras e escolheram ser manipulados”.
Num mundo em que o cliente sempre tem razão, não é tão espantoso que empresas se dediquem
a vender-lhe as fantasias que deseja usar, mesmo que possam ser desmascaradas com um clique
de computador.
* Jornal Folha de São Paulo
(‘Caveat emptor’. Hélio Schwartsman. http://www1.folha.uol.com.br/ colunas/helioschwartsman/2017/11/1937658-caveat-emptor.shtml
24.11.2017. Adaptado)
O termo destacado na frase – ... é uma centenária loja de departamentos dos EUA que se celebri-
zou por jogar seus preços na lua... – forma uma expressão com sentido de
A) modo.
B) causa.
C) origem.
D) oposição.
E) finalidade.
Alguém ainda se lembra do telefone de todas as tias, dos tios, dos primos, dos avós ou dos vizi-
nhos? Na minha casa era assim. Minha mãe, por exemplo, sabia o telefone de todo mundo. Pare-
39
cia até que o Catálogo Telefônico era o seu livro de cabeceira.
— Mãe, qual é o telefone de tia Lili?
— 2-4036.
Sim, os números eram mais curtos, mas, mesmo assim, eu ficava impressionado ao ver como ela
sabia de cor, como ela tinha na cabeça o telefone de todos os parentes e também do açougue,
do armazém, da farmácia, do Colégio Marista e do Colégio Sion.
Hoje, todos nós ficamos preguiçosos. Quando roubaram o meu smartphone, só fui contar o ocorrido
em casa, porque não sabia o telefone de ninguém, da mulher, dos filhos, nem mesmo o fixo que
fica no meu escritório.
Mas lembrar número de telefone não é nada. Ficamos preguiçosos pra tudo. Pra subir escada, pra
rodar a manivela do vidro do carro, pra levantar e mudar o canal da TV.
Ficamos preguiçosos pra ir de um lugar pra outro sem usar o Waze*. Já reparou que não se vê mais
ninguém abrindo o vidro do carro e perguntando pro pedestre:
Para você ir do início da Avenida Paulista até o final dela, é só seguir reto, mas você coloca no
Waze. E o pior é que às vezes ao invés de ele dizer “siga em frente toda vida”, como um bom mi-
neiro, ele informa:
Foi o que aconteceu comigo dentro de um taxi. O motorista argumentou que era pra evitar o trân-
sito. Passamos por Pinheiros, pela Vila Madalena, por Perdizes pra ir do início ao fim da Avenida
Paulista.
(Alberto Villas. “Você chegou ao seu destino!”. www.cartacapital.com.br. 02.03.2018. Adaptado)
40
Às segundas-feiras pela manhã, os usuários do Spotify (serviço de transferência de dados via in-
ternet que dá acesso a músicas e outros conteúdos de artistas) recebem uma lista personalizada
de músicas que lhes permite descobrir novidades. O sistema se baseia em um algoritmo cuja evo-
lução e usos aplicados ao consumo cultural são infinitos. De fato, plataformas de transmissão de
dados cinematográficos, como a Netflix, começam a desenhar suas séries de sucesso rastreando
os dados gerados por todos os movimentos dos usuários para analisar o que os satisfaz. O algorit-
mo constrói assim um universo cultural adequado e complacente com o gosto do consumidor, que
pode avançar até chegar sempre a lugares reconhecíveis.
O algoritmo, sustentam seus críticos, nos torna chatos, previsíveis, e empobrece nossa curiosidade
por explorar o acervo cultural. Ramón Sangüesa, coordenador do Data Transparency Lab (Labora-
tório de Transparência de Dados), consegue ver vantagens, mas também riscos. “Esses sistemas
se baseiam no passado para predizer o futuro. A primeira dificuldade é conseguir a massa crítica
para que tenhamos mais dados e as projeções sejam melhores. Mas sempre se corre o risco de
ficar em uma mesma área de recomendação. No consumo cultural, o perigo está na uniformiza-
ção do gosto, o que chamamos de filtro bolha. E assim vão sendo criados comportamentos
padronizados”, afirma.
A questão, no entanto, é se os limites impostos na aprendizagem pelos sistemas fechados de com-
putação são equiparáveis aos erros e possíveis idiotices que cometemos durante anos formando
nosso próprio gosto. O escritor Eloy Fernández Porta não vê grande diferença. Segundo ele, antes
do Spotify e fora dele o gosto já vinha determinado por critérios de acesso, aceitação, atualidade e
distinção. “Sempre vivemos a música em um algoritmo, o que acontece é que em vez de chamá-lo
de matemática o chamamos de espontaneidade. O algoritmo do Spotify não me parece menos con-
fiável do que a fórmula caótica que cada ouvinte inventou. Nem menos humano: quando fazemos
analogias erradas ou nos empenhamos em recomendar o primeiro disco de Vincent Gallo, nossas
sinapses estão dando os mesmos maus passos”, afirma.
(Daniel Verdú. https://brasil.elpais.com/brasil/. 09.07.2016. Adaptado)
A relação entre tecnologia e emprego sempre foi conflituosa. Se, do ponto de vista do observador
imparcial, a tecnologia enriquece a sociedade e apenas transforma o emprego, do ponto de vista
do sujeito que recebia todo mês um contracheque e foi demitido porque suas funções passaram a
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ser executadas por um robô, ela mata mesmo.
Os primeiros prejudicados foram os trabalhadores menos qualificados, que desempenhavam tare-
fas pouco criativas, pesadas e repetitivas. Mas a coisa não parou por aí e máquinas, robôs e com-
putadores continuaram a transformar a produção, tirando o emprego de muita gente.
Do alto de sua soberba, trabalhadores do topo da pirâmide social, que exerciam funções criativas
e que exigiam o domínio de grande volume de conhecimento específico, achavam que estavam
protegidos. “Minha profissão jamais poderá ser exercida por uma máquina que soma zeros e uns”,
pensavam. Mas aí vieram a inteligência artificial e o “big data”.
Hoje, até a medicina está perdendo atribuições para algoritmos inteligentes. Computadores já diag-
nosticam cânceres melhor do que médicos de carne e osso. Também podem superá-los na prescri-
ção do tratamento, como é o caso do braço oncológico do supercomputador Watson da IBM, que
faz análises genéticas comparativas dos tumores como nenhum humano é capaz de fazer.
Algo parecido começa a ocorrer na cardiologia, na oftalmologia e até na psiquiatria, com o desen-
volvimento de algoritmos que facilitam diagnósticos e dispositivos que alteram profundamente as
práticas correntes.
Parece exagero afirmar que os médicos vão ficar sem emprego, porém eles decerto terão cada vez
mais de dividir tarefas com os computadores.
(Hélio Schwartsman. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/ Acesso em: 11.03.2018.)
42
contribuições econômicas. Como observa Galston, no espaço de dois séculos, a criação de filhos
deixou de ser um bem privado para tornar -se um bem público.
Embora a paternidade possa trazer recompensas emocionais, do ponto de vista estritamente eco-
nômico, ela favorece a sociedade como um todo, enquanto a maior parte dos custos recai sobre
os genitores.
E por que crianças beneficiam a sociedade? A crer na análise de economistas como Julian Simon,
riqueza são pessoas. Quanto mais gente, melhor, já que são indivíduos que têm ideias (além de
consumir produtos) e são as novas ideias que vêm assegurando o brutal aumento de produtividade
a que assistimos nos últimos 200 anos.
E isso nos coloca diante de um dos grandes dilemas dos tempos modernos. Para assegurar a sus-
tentabilidade da exploração dos recursos naturais do planeta, precisaríamos estabilizar ou até
reduzir a população. Só que fazê-lo é uma espécie de suicídio econômico, já que ficaria muito
difícil manter taxas positivas de crescimento, sem as quais instituições como previdência e até
democracia representativa podem entrar em colapso.
(Hélio Schwartsman. Folha de S.Paulo. 18.11.2018. Adaptado)
A frase do quarto parágrafo “Hoje, contudo, crianças ficaram caras.” estabelece, em relação ao que
é enunciado no parágrafo anterior, relação com sentido de
A) causa.
B) condição.
C) contraste.
D) finalidade.
E) proporção.
Médicos sempre ocuparam uma posição de prestígio na sociedade. Afinal, cuidar do maior bem do
indivíduo – a vida – não é algo trivial. Embora a finalidade do ofício seja a mesma, o modus ope-
randi mudou drasticamente com o tempo.
O que se pode afirmar é que o foco da atuação médica deve ser cada vez menos o controle sobre
o destino do paciente e mais a mediação e a interpretação de tecnologias, incluindo a famigerada
inteligência artificial. Já o lado humanístico, que perdeu espaço para os exames e as máquinas,
tende a recuperar cada vez mais sua importância.
De meados do século 20 até agora, concomitantemente às novas especialidades, houve avanço
tecnológico e a proliferação de modalidades de exames. Cresceu o catálogo dos laboratórios e
também a dependência do médico em relação a exames. A impressão dos pacientes passou a ser
a de que o cuidado é ruim, caso o médico não os solicite.
O tema é caro a Jayme Murahovschi, referência em pediatria no país. “Tem que haver progressão
tecnológica, claro, mas mais importante que isso é a ligação emocional com o paciente. Hoje mé-
dicos pedem muitos exames e os pacientes também.”
Murahovschi está entre os que acreditam que a profissão está sofrendo uma nova reviravolta, qua-
se que voltando às origens clássicas, hipocráticas: “Os médicos do futuro, os que sobrarem, vão
ter que conhecer o paciente a fundo, dar toda a atenção que ele precisa, usando muita tecnologia,
43
mas com foco no paciente.”
Alguns profissionais poderão migrar para uma medicina mais técnica, preveem analistas.
Esses doutores teriam uma função diferente, atuando na interface entre o conhecimento biomédico
e a tecnologia por trás de plataformas de diagnóstico e reabilitação. Ou ainda atuariam alimentando
com dados uma plataforma de inteligência artificial, tornando-a mais esperta.
Outra tecnologia já presente é a telemedicina, que descentraliza a realização de consultas e exa-
mes. Clínicas e médicos generalistas podem, rapidamente e pela internet, contar com laudos de es-
pecialistas situados em diferentes localidades; uma junta médica pode discutir casos de pacientes
e seria possível até a realização, a distância, de consultas propriamente ditas, se não existissem
restrições do CFM nesse sentido.
Até cirurgias podem ser feitas a distância, com o advento da robótica. O tema continua fascinando
médicos e pacientes, mas, por enquanto, nada de droides médicos à la Star Wars – quem controla
o robô ainda é o ser humano.
(Gabriela Alves. Folha de S.Paulo, 19.10.2018. Adaptado)
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COLOCAÇÃO PRONOMINAL
Progresso, enfim
Em atraso nas grandes reformas da Previdência Social e do sistema de impostos, o Brasil tem ob-
tido avanços em uma agenda que, tomada em seu conjunto, mostra-se igualmente essencial – a
da melhora do ambiente de negócios.
Trata-se de objetivos tão diferentes quanto facilitar a criação de empresas, reduzir o custo de
licenças ou ampliar o acesso ao crédito. Grande parte dessas providências não depende de vo-
tações no Congresso, mas sim do combate persistente a empecilhos burocráticos e ineficiências
do setor público.
A boa notícia é que o país subiu 16 posições no mais conhecido ranking dessa modalidade, di-
vulgado a cada ano pelo Banco Mundial. A má é que a 109ª colocação, num total de 190 nações
consideradas, permanece vergonhosa.
O progresso ocorreu, basicamente, em quatro indicadores – fornecimento de energia elétrica,
prazo para abertura de empresa com registro eletrônico, acesso à informação de crédito e certi-
ficação eletrônica de origem para importações.
Pela primeira vez em 16 anos de publicação do relatório, o desempenho brasileiro se destacou na
América Latina. Os países mais bem posicionados da região, casos de México (54º lugar), Chile
(56o) e Colômbia (65o), apresentaram pouca ou nenhuma melhora.
Numa perspectiva mais ampla, o ambiente de negócios vai se tornando mais amigável na maior
parte do mundo. A edição mais recente do ranking catalogou número recorde de 314 reformas
realizadas em 128 economias desenvolvidas e emergentes no período 2017/2018.
Fica claro, no documento, que o maior atraso relativo do Brasil se dá no pagamento de impostos,
dados a carga elevada e o emaranhado de regras dos tributos incidentes sobre o consumo. Nes-
se quesito em particular, o país ocupa um trágico 184º lugar no ranking.
O caminho óbvio a seguir nesse caso é uma reforma ambiciosa, que racionalize essa modalidade
de taxação. Mesmo que não seja possível abrir mão de receitas, a simplificação já traria ganhos
substanciais em eficiência ao setor produtivo.
(Editorial, Folha de S.Paulo, 06.11.2018. Adaptado)
A) Se vê, pelos dados do ranking do Banco Mundial, que o Brasil destacou-se basicamente em
quatro indicadores.
B) O ambiente de negócios atualmente tem tornado -se mais amigável, o que vê-se pelas reformas
realizadas.
C) Ainda que se tenha destacado o desempenho do Brasil no relatório do Banco Mundial, sabe-se
que o país precisa avançar nos negócios.
D) Deve racionalizar-se quanto aos pagamentos de impostos para que não condenem-se os países
a um retrocesso econômico.
E) Quando analisa-se o ranking do Banco Mundial, se constata que alguns países da América La-
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tina apresentaram pouca ou nenhuma melhora
Assassinos culturais
Sou um assassino cultural, e você também é. Sei que é romântico chorar quando uma livraria fe-
cha as portas. Mas convém não abusar do romantismo – e da hipocrisia. Fomos nós que matamos
aquela livraria e o crime não nos pesa muito na consciência.
Falo por mim. Os livros físicos que entram lá em casa são cada vez mais ofertas – de amigos ou
editoras.
Aos 20, quando viajava por territórios estranhos, entrava nas livrarias locais como um faminto na
capoeira. Comprava tanto e carregava tanto que desconfio que o meu problema de ciática é, na sua
essência, um problema livresco.
Hoje? Gosto da flânerie*. Mas depois, fotografo as capas com o meu celular antes de regressar
para o psicanalista – o famoso dr. Kindle. Culpado? Um pouco. E em minha defesa só posso
afirmar que pago pelos meus vícios.
E quem fala em livrarias, fala em todo o resto. Eu também ajudei a matar a Tower Records e a Virgin
Megastore. Havia lá dentro uma bizarria chamada CD – você se lembra?
Hoje, com alguns aplicativos, tenho uma espécie de discoteca de Alexandria onde, a meu bel-pra-
zer, escuto meus clássicos e descubro novos. Se juntarmos ao pacote o iTunes e a Netflix, você
percebe por que eu também tenho o sangue dos cinemas e dos blockbusters nas mãos.
Eis a realidade: vivemos a desmaterialização da cultura. Mas não é apenas a cultura que se des-
materializa e tem deixado as nossas salas e estantes mais vazias. É a nossa relação com ela.
Não somos mais proprietários de “coisas”; somos apenas consumidores e, palavra importante,
assinantes.
O livro “Subscribed”, de Tien Tzuo, analisa a situação. É uma reflexão sobre a “economia de as-
sinaturas” que conquista a economia global. Conta o autor que mais de metade das empresas da
famosa lista da “Fortune” já não existiam em 2017. O que tinham em comum? O objetivo meritório
de vender “coisas” – muitas coisas, para muita gente, como sempre aconteceu desde os primór-
dios do capitalismo.
Já as empresas que sobreviveram e as novas que entraram na lista souberam se adaptar à econo-
mia digital, vendendo serviços (ou, de forma mais precisa, acessos).
Claro que na mudança algo se perde. O desaparecimento das livrarias não acredito que seja total
no futuro (e ainda bem). Além disso, ler no papel não é o mesmo que ler na tela.
Mas o interesse do livro de Tzuo não está apenas nos números; está no retrato de uma nova gera-
ção para quem a experiência cultural é mais importante do que a mera posse de objetos. Há quem
veja aqui um retrocesso, mas também é possível ver um avanço – ou, para sermos bem filosóficos,
o triunfo do espírito sobre a matéria. E não será essa, no fim das contas, a vocação mais autêntica
da cultura?
(João Pereira Coutinho. Folha de S.Paulo, 28.08.2018. Adaptado)
* Flânerie: ato de passear, de caminhar sem compromisso.
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De acordo com a norma-padrão, a expressão destacada no trecho do texto está corretamente
substituída pela expressão entre parênteses na alternativa:
A) O objetivo meritório de vender “coisas” – muitas coisas... (vender-lhes)
B) E em minha defesa só posso afirmar que pago pelos meus vícios. (pago-os)
C) É uma reflexão sobre a “economia de assinaturas” que conquista a economia global. (a con-
quista)
D) ... que se desmaterializa e tem deixado as nossas salas e estantes mais vazias. (tem deixa-
do-as)
E) Mas depois, fotografo as capas com o meu celular antes de regressar para o psicanalista...
(lhes fotografo)
Mundo arriscado
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Assinale a alternativa correta quanto à colocação pronominal, de acordo com a norma-padrão.
A) Na China, agora tomam-se decisões difíceis entre conter as dívidas já existentes e estimular o
crescimento do país.
B) A Comissão Europeia, tendo decidido-se pela rejeição da proposta orçamentária italiana, mostra
um cenário econômico europeu pouco animador.
C) Caso se imponha uma terceira rodada de tarifas à China, provavelmente se aumentará o risco
de escalada nos conflitos mundiais.
D) Não tardará até que investidores hoje aparentemente otimistas movimentarão-se e cobrarão
resultados concretos.
E) Não espera-se que a zona do euro cresça mais que 1,5% neste ano, ainda que tenham-se os
juros perto de zero.
Assinale a alternativa em que o pronome que substitui a expressão destacada está em conformida-
de com a norma- padrão de uso e de colocação dos pronomes.
A) A pergunta do título comporta vários níveis de resposta. / A pergunta do título lhes comporta.
B) A paternidade também encerra dimensões culturais... / A paternidade também encerra-lhes...
C) ... demoram muito até começar a trazer contribuições econômicas. / ... demoram muito até
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começar a trazer-nas.
D) Para assegurar a sustentabilidade... / Para lhe assegurar...
E) ... ficaria muito difícil manter taxas positivas de crescimento... / ... ficaria muito difícil mantê-
-las...
Redes sociais têm sido cada vez mais consideradas como elementos importantes na construção de
uma grande variedade de processos, desde a mobilização política em movimentos sociais ou par-
tidos políticos, até as ações e a estrutura de relações formais e informais entre as elites políticas e
econômicas ou na estruturação de áreas de políticas públicas, entre muitos outros temas. Número
significativo de estudos tem examinado as redes pessoais, aquelas que cercam os indivíduos em
particular. Essas análises visam a estudar os efeitos da sociabilidade de diversos grupos sociais,
para compreender como os laços sociais são construídos e transformados e suas consequências
para fenômenos como integração social, imigração e apoio social.
No caso específico da pobreza, a literatura tem estabelecido de forma cada vez mais eloquente
como tais redes medeiam o acesso a recursos materiais e imateriais e, ao fazê-lo, contribuem de
forma destacada para a reprodução das condições de privação e das desigualdades sociais. A
integração das redes ao estudo da pobreza pode permitir a construção de análises que escapem
dos polos analíticos da responsabilização individual dos pobres por sua pobreza (e seus atributos),
assim como de análises sistêmicas que foquem apenas os macroprocessos e constrangimentos
estruturais que cercam o fenômeno.
A literatura brasileira sobre o tema tem sido marcada por uma oposição entre enfoques centrados
nesses dois campos, embora os últimos anos tenham assistido a uma clara hegemonia dos es-
tudos baseados em atributos e ações individuais para a explicação da pobreza. Parece-nos evi-
dente que tanto constrangimentos e processos supraindividuais (incluindo os econômicos) quanto
estratégias e credenciais dos indivíduos importam para a constituição e a reprodução de situações
de pobreza. Entretanto, essas devem ser analisadas no cotidiano dos indivíduos, de maneira que
compreendamos de que forma medeiam o seu acesso a mercados, ao Estado e às trocas sociais
que provêm bem-estar.
(Eduardo Marques, Gabriela Castello e Renata M. Bichir. Revista USP, no 92, 2011-2012. Adaptado)
Assinale a alternativa em que o trecho destacado está reescrito de acordo com a norma-padrão de
emprego de pronomes.
A) ... constrangimentos estruturais que cercam o fenômeno [cercam-lo].
B) ... como tais redes medeiam o acesso [medeiam-no].
C) Número significativo de estudos tem examinado as redes pessoais [tem examinado elas].
D) ... trocas sociais que provêm bem-estar [provêm-lhe].
E) Essas análises visam a estudar os efeitos da sociabilidade [estudar eles].
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QUESTÃO 6: VUNESP - Adm (UFABC)/UFABC/2019
Assunto: Colocação pronominal
Leia o texto, para responder a questão abaixo.
Organograma
gabinete.
Pôs-se imediatamente a inventar novas repartições, serviços disso e daquilo – tudo fictício, irreal,
imaginário – para estabelecer o equilíbrio organogramático com departamento disso, departamento
daquilo.
O certo é que o novo organograma foi executado, e todo aquele que tivesse a ventura de penetrar
em seu gabinete podia admirá-lo.
– Tudo isso sob seu controle, Ministro?
– Para você ver, meu filho: se não fosse eu, todo esse complexo administrativo já teria desabado
para um lado, como uma árvore desgalhada. Dizem, mesmo, que até hoje o magnífico organogra-
ma figura no tal Ministério, como uma das mais importantes realizações de sua gestão.
(Fernando Sabino, A mulher do vizinho. Adaptado)
A passagem do texto em que, de acordo com a norma-padrão, o pronome destacado pode ser co-
locado antes ou depois do verbo a que se vincula é:
A) ... capaz de exteriorizar-se em requintes de planejamento...
B) ... essa marca de sua personalidade condizia com as altas funções que já lhe cabiam.
C) Quando lhe trouxeram o trabalho, encomendado no Departamento do Pessoal...
D) Pôs-se imediatamente a inventar novas repartições...
E) ... tudo mais no Ministério que se danasse...
Nada me deixava mais tranquilo do que os sons da máquina de escrever vindos do quarto ao lado.
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Era meu pai, escritor, que trabalhava depois que todos haviam ido dormir. O batuque no teclado,
o ronco grave do rolo girando com o papel e a sineta do carro tilintando ao ser devolvido à posição
inicial – plim! – me garantiam a presença de um adulto, ali ao lado: se não ao alcance das mãos,
ao menos dos ouvidos. O ritmo caótico, mas contínuo – como chuva no telhado –, era ainda melhor
do que a música de ninar, cadenciada, pois sugeria que mesmo em meio à confusão poderia haver
harmonia. Sob esse cafuné auditivo, o mundo desaparecia, sem violência, depois voltava a existir,
quando eu menos esperasse, iluminado: plim!
Prata, Antonio. Nu, de botas p.15 – 1ª ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2013. (Excerto adaptado)
A seguinte redação está em conformidade com a norma -padrão de uso e de colocação de prono-
me:
A) Para que se sentisse mais tranquilo, ficava atento aos sons da máquina de escrever.
B) Quando sentia-o por perto, tinha a garantia de que o mundo não desapareceria para sempre.
C) Acreditava, na infância, que tudo traria-lhe tranquilidade, desde que viesse de um adulto.
D) Os barulhos do teclado, do rolo e da sineta, escutava -lhes, do quarto ao lado.
E) Ninguém sugeria-o que os sons da máquina de escrever não fossem a harmonia produzida pelo
pai.
Acabo de levantar-me; logo serão cinco horas da manhã; procuro não fazer barulho, vou até a co-
zinha e preparo uma xícara de chá enquanto tento resgatar fragmentos de meus entressonhos,
esses entressonhos que, aos 86 anos, aparecem- me atemporais, misturados com lembranças da
infância. Nunca tive boa memória, sempre sofri essa desvantagem; mas talvez seja um modo de
recordar apenas o que se deve, talvez a maior coisa que nos aconteceu na vida, a que tem algum
significado profundo, a que foi decisiva – para o bem e para o mal – nesta complexa, contraditória
e inexplicável viagem rumo à morte que é a vida de toda pessoa. Por isso minha cultura é tão ir-
regular, repleta de enormes lacunas, como que construída com restos de belíssimos templos cujos
pedaços se encontram entre detritos e plantas selvagens. Os livros que li, as teorias que frequentei,
deveram-se a meus próprios tropeços com a realidade.
Quando me param na rua, numa praça ou no trem, para perguntar-me que livros é preciso ler, res-
pondo sempre: “Leiam o que os apaixone, apenas isso os ajudará a suportar a existência”.
(Ernesto Sabato. Antes do fim. Trad. Sérgio Molina. São Paulo: Companhia das Letras, 2000)
Assinale a alternativa que apresenta reescrita de um trecho do texto de acordo com a norma-pa-
drão de emprego e de colocação de pronome.
A) Embora fizesse-o, evitava o barulho assim que levantava-se.
B) Tratava-se de uma cultura irregular, descrevia-na com enormes lacunas.
C) Se ruma para a morte a vida de toda pessoa, nesta complexa viagem.
D) Os livros que lera deviam-se a seus próprios tropeços com a realidade.
E) Dizia que lessem o que apaixonasse-os, apenas aquilo ajudar-lhes-ia a suportar.
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QUESTÃO 9: VUNESP - MJ (TJ SP)/TJ SP/2019
Assunto: Colocação pronominal
Médicos sempre ocuparam uma posição de prestígio na sociedade. Afinal, cuidar do maior bem
do indivíduo – a vida – não é algo trivial. Embora a finalidade do ofício seja a mesma, o modus
operandi mudou drasticamente com o tempo.
O que se pode afirmar é que o foco da atuação médica deve ser cada vez menos o controle sobre
o destino do paciente e mais a mediação e a interpretação de tecnologias, incluindo a famigerada
inteligência artificial. Já o lado humanístico, que perdeu espaço para os exames e as máquinas,
tende a recuperar cada vez mais sua importância.
De meados do século 20 até agora, concomitantemente às novas especialidades, houve avanço
tecnológico e a proliferação de modalidades de exames. Cresceu o catálogo dos laboratórios e
também a dependência do médico em relação a exames. A impressão dos pacientes passou a ser
a de que o cuidado é ruim, caso o médico não os solicite.
O tema é caro a Jayme Murahovschi, referência em pediatria no país. “Tem que haver progressão
tecnológica, claro, mas mais importante que isso é a ligação emocional com o paciente. Hoje mé-
dicos pedem muitos exames e os pacientes também.”
Murahovschi está entre os que acreditam que a profissão está sofrendo uma nova reviravolta, qua-
se que voltando às origens clássicas, hipocráticas: “Os médicos do futuro, os que sobrarem, vão
ter que conhecer o paciente a fundo, dar toda a atenção que ele precisa, usando muita tecnologia,
mas com foco no paciente.”
Alguns profissionais poderão migrar para uma medicina mais técnica, preveem analistas.
Esses doutores teriam uma função diferente, atuando na interface entre o conhecimento biomédico
e a tecnologia por trás de plataformas de diagnóstico e reabilitação. Ou ainda atuariam alimentando
com dados uma plataforma de inteligência artificial, tornando-a mais esperta.
Outra tecnologia já presente é a telemedicina, que descentraliza a realização de consultas e exa-
mes. Clínicas e médicos generalistas podem, rapidamente e pela internet, contar com laudos de es-
pecialistas situados em diferentes localidades; uma junta médica pode discutir casos de pacientes
e seria possível até a realização, a distância, de consultas propriamente ditas, se não existissem
restrições do CFM nesse sentido.
Até cirurgias podem ser feitas a distância, com o advento da robótica. O tema continua fascinando
médicos e pacientes, mas, por enquanto, nada de droides médicos à la Star Wars – quem controla
o robô ainda é o ser humano.
(Gabriela Alves. Folha de S.Paulo, 19.10.2018. Adaptado)
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B) ocuparam-na; perdeu-o; teriam-na.
C) ocuparam-lhe; o perdeu; a teriam.
D) a ocuparam; o perdeu; teriam-na.
E) ocuparam-na; perdeu-lhe; a teriam.
Tempo incerto
Os homens têm complicado tanto o mecanismo da vida que já ninguém tem certeza de nada: para
se fazer alguma coisa é preciso aliar a um impulso de aventura grandes sombras de dúvida. Não
se acredita mais na existência de gente honesta; e os bons têm medo de exercitarem sua bondade,
para não serem tratados de hipócritas ou de ingênuos.
Vivemos um momento em que a virtude é ridícula e os mais vis sentimentos se mascaram de gran-
diosidade, simpatia, benevolência. A observação do presente leva-nos até a descer dos exemplos
do passado: os varões ilustres de outras eras terão sido realmente ilustres? Ou a História nos está
contando as coisas ao contrário, pagando com dinheiros dos testemunhos a opinião dos escribas?
Se prestarmos atenção ao que nos dizem sobre as coisas que nós mesmos presenciamos – ou
temos que aceitar a mentira como a arte mais desenvolvida do nosso tempo, ou desconfiamos do
nosso próprio testemunho, e acabamos no hospício!
Pois assim, é, meus senhores! Prestai atenção às coisas que vos contam, em família, na rua, nos
cafés, em várias letras de forma, e dizei-me se não estão incertos os tempos e se não devemos
todos andar de pulga atrás da orelha!
Agora, pensam os patrões, os empregados, os amigos e inimigos de uns e de outros e todo o resto
da massa humana. E não só pensam, como também pensam que pensam! E além de pensarem
que pensam, pensam que têm razão! E cada um é o detentor exclusivo da razão!
Pois de tal abundância de razão é que se faz a loucura. E a vocação das pessoas, hoje em dia, não
é para o diálogo com ou sem palavras, mas para balas de diversos calibres. Perto disso, a carestia
da vida é um ramo de flores. O que anda mesmo caro é alma. E o Demônio passeia pelo mundo,
glorioso e imune.
(Cecília Meireles, Tempo incerto. Em: Escolha o seu Sonho. Adaptado)
53
QUESTÃO 11: VUNESP - PAEPE (UNICAMP)/UNICAMP/BIBLIOTECÁRIO/2019
Assunto: Colocação pronominal
Página infeliz
O mercado editorial no Brasil nunca pareceu tão próximo de uma catástrofe – com as duas prin-
cipais redes de livrarias do país, Saraiva e Cultura, em uma crise profunda, reduzindo o número
de lojas e com dívidas que parecem sem fim.
Líder do mercado, a Saraiva, que já acumula atrasos de pagamentos a editores nos últimos anos,
anunciou nesta semana o fechamento de 20 lojas. Em nota, a rede afirma que a medida tem a ver
com “desafios econômicos e operacionais”, além de uma mudança na “dinâmica do varejo”.
Na semana anterior, a Livraria Cultura entrou em recuperação judicial. No pedido à Justiça, a rede
afirma acumular prejuízos nos últimos quatro anos, ter custos que só crescem e vendas menores.
Mesmo assim, diz a petição enviada ao juiz, não teria aumentado seus preços.
O enrosco da Cultura está explicado aí. Diante da crise, a empresa passou a pegar dinheiro em-
prestado com os bancos – o tamanho da dívida é de R$ 63 milhões. Com os atrasos nos paga-
mentos das duas redes, editoras já promoveram uma série de demissões ao longo dos últimos dois
anos.
O cenário de derrocada, contudo, parece estar em descompasso com os números de vendas.
Desde o começo do ano, os dados compilados pela Nielsen, empresa de pesquisa de mercado,
levantados a pedido do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, mostravam que o meio livreiro
vinha dando sinais de melhoras pela primeira vez, desde o início da recessão econômica que abala
o país.
Simone Paulino, da Nós, editora independente de São Paulo, enxerga um descompasso entre as
vendas em alta e a crise. Nas palavras dela, “um paradoxo assustador.” A editora nunca vendeu
tanto na Cultura quanto nesses últimos seis meses”, diz. E é justamente nesse período que eles
não têm sido pagos.
“O modelo de produção do livro é muito complicado. Você investe desde a compra do direito autoral
ou tradução e vai investindo ao longo de todo o processo. Na hora que você deveria receber, esse
dinheiro não volta”, diz Paulino.
“Os grandes grupos têm uma estrutura de advogados que vão ter estratégia para tentar receber. E
para os pequenos? O que vai acontecer?”
Mas há uma esperança para os editores do país: o pre-
ço fixo do livro. Diante do cenário de crise, a maior parte dos editores aposta em uma carta tirada da
manga no apagar das luzes do atual governo – a criação, no país, do preço fixo do livro – norma a
ser implantada por medida provisória – nos moldes de boa parte de países europeus, como França
e Alemanha.
Os editores se inspiram no pujante mercado europeu. Por lá, o preço fixo existe desde 1837, quan-
do a Dinamarca criou a sua lei limitando descontos, abolida só em 2001. A crença é a de que a
crise atual é em parte causada pela guerra de preço. Unificar o valor de capa permitiria um flores-
cimento das livrarias independentes, uma vez que elas competiriam de forma mais justa com as
grandes redes.
(Folha de S. Paulo, 03.11.2018. Adaptado)
Assinale a alternativa em que a segunda frase substitui, corretamente, por um pronome pessoal,
com sua devida colocação, a expressão em destaque na primeira.
A) No pedido à Justiça, a rede afirma acumular prejuízos./ No pedido à Justiça, a rede afirma lhes
54
acumular.
B) Saraiva e Cultura reduziram o número de lojas./ Saraiva e Cultura lhe reduziram.
C) A Cultura não teria aumentado seus preços./ A Cultura não teria aumentado-nos.
D) Na hora em que você deveria receber o dinheiro, ele não volta./ Na hora em que você deveria
recebê-lo, ele não volta.
E) O que vai acontecer às pequenas editoras?/ O que vai acontecê-las?
As palavras e as coisas
Confesso que, de início, não acreditava que Moana, aos 9 anos, pudesse se interessar pela leitura
da versão integral do clássico de J.R.R. Tolkien, O Hobbit. É verdade que se trata de uma aventura
povoada por magos e repleta de objetos encantados. Mas é um romance longo, com descrições
densas e vocabulário sofisticado. Para minha surpresa, no entanto, seu envolvimento com a obra
crescia a cada noite que a líamos juntos.
Ao terminarmos a leitura do décimo capítulo, Moana não me desejou boa-noite. Com olhos ainda
despertos, me perguntou se não podíamos comentar aquilo que mais havia agradado até então.
Pensei que o pedido não passasse de mais uma de suas estratégias para adiar a hora de dormir.
Recusei, mas ela argumentou: “Não é assim que vocês fazem, você e a mamãe, quando leem
Arendt e Paul Ricoeur em seus grupos de estudos?”. Jamais imaginara que, quando a levamos a
esses encontros – premidos por alguma necessidade – ela pudesse prestar qualquer atenção ao
que se passava. Sempre a via absorta em suas tarefas, desenhos e leituras. Mas, em seu silêncio,
ela se dava conta do sentido de uma leitura partilhada.
Falamos, então, das transformações que ocorreram no personagem central, que abandonara sua
vida confortável e pacata de hobbit, para se tornar um aventureiro épico. Mas foi só no dia seguinte
que percebi a profundidade contida em seu pedido para que partilhássemos as impressões de nos-
sas leituras. Lembrei-me de uma bela passagem de Homens em tempos sombrios, na qual Hannah
Arendt afirma que o “mundo não é humano simplesmente por ter sido feito por mãos humanas, nem
se torna humano meramente porque a voz humana nele ressoa. Por mais afetados que sejamos
pelas coisas do mundo [como um livro], por mais profundamente que elas possam nos instigar e
estimular, essas coisas só se tornam humanas para nós quando podemos discuti-las com nossos
companheiros”.
É porque a fala humaniza as obras que gostamos tanto de comentar um filme, de compartilhar a
interpretação de um livro ou fazer uma refeição com nossos amigos. São as expressões do discur-
so humano que transformam uma coisa – como um livro – em objeto de um legado simbólico que
nos humaniza.
Na escola, é por meio das trocas discursivas entre professores e alunos que um romance ou um
programa computacional deixam de ser coisas inertes para se transformarem em objetos que de-
sempenham uma função educativa e, assim, adquirem seu sentido humanizador. São as palavras
– e não as coisas – que conferem sentido às experiências humanas.
(José Sérgio Fonseca de Camargo, “As palavras e as coisas”. Em: http://www.revistaeducacao.com.br. Adaptado)
Assinale a alternativa em que a frase, reescrita a partir das informações textuais, está correta quan-
55
to à colocação pronominal, segundo a norma-padrão.
A) Moana pediu para comentarmos o livro, e eu recusei-me a atender o pedido, pensando ser uma
de suas estratégias.
B) Para minha surpresa, o envolvimento de Moana com a obra crescia quando reuníamo-nos para
ler juntos.
C) Meu pai acreditava que eu não interessaria-me pela leitura da versão integral de O Hobbit, disse
Moana.
D) Tínhamos nossas impressões de leitura, e evidentemente partilhamos-as ao falar das transfor-
mações do personagem central.
E) Me dei conta, no dia seguinte, da profundidade contida no pedido de Moana e do sentido que
ela via na leitura.
QUESTÃO 13: VUNESP - COOR PEDA (PERUÍBE)/PREF PERUÍBE/2019
Assunto: Colocação pronominal
Leia o texto de Rubem Alves
A arte de educar
Educar é mostrar a vida a quem ainda não a viu. O educador diz: “Veja!” e, ao falar, aponta. O
aluno olha na direção apontada e vê o que nunca viu. Seu mundo se expande. Ele fica mais rico
interiormente… E ficando mais rico interiormente ele pode sentir mais alegria – que é a razão pela
qual vivemos.
Já li muitos livros sobre Psicologia da Educação, Sociologia da Educação, Filosofia da Educação…
Mas, por mais que me esforce, não consigo me lembrar de qualquer referência à Educação do
Olhar. Ou à importância do olhar na educação, em qualquer um deles.
A primeira tarefa da Educação é ensinar a ver… É através dos olhos que as crianças tomam con-
tato com a beleza e o fascínio do mundo… Os olhos têm de ser educados para que nossa alegria
aumente.
A educação se divide em duas partes: Educação das Habilidades e Educação das Sensibilidades.
Sem a Educação das Sensibilidades, todas as habilidades são tolas e sem sentido. Os conheci-
mentos nos dão meios para viver. A sabedoria nos dá razões para viver.
Quero ensinar às crianças. Elas ainda têm olhos encantados. Seus olhos são dotados daquela
qualidade que, para os gregos, era o início do pensamento: a capacidade de se assombrar diante
do banal.
Para as crianças tudo é espantoso: um ovo, uma minhoca, uma concha de caramujo, o voo
dos urubus, os pulos dos gafanhotos, uma pipa no céu, um pião na terra. Coisas que os eru-
ditos não veem.
Na escola eu aprendi complicadas classificações botânicas, taxonomias, nomes latinos – mas es-
queci. E nenhum professor jamais chamou a minha atenção para a beleza de uma árvore… Ou
para o curioso das simetrias das folhas. Parece que naquele tempo as escolas estavam mais preo-
cupadas em fazer com que os alunos decorassem palavras que com a realidade para a qual elas
apontam.
As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor. Aprendemos palavras para me-
lhorar os olhos. Há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem… O ato de ver não é coisa
natural. Precisa ser aprendido. Quando a gente abre os olhos, abrem-se as janelas do corpo e o
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mundo aparece refletido dentro da gente. São as crianças que, sem falar, nos ensinam as razões
para viver. Elas não têm saberes a transmitir. No entanto, elas sabem o essencial da vida. Quem
não muda sua maneira adulta de ver e sentir e não se torna como criança, jamais será sábio.
(Disponível em:< https://psicologiaacessivel.net>.Acesso em: 18.11.2018)
Assinale a alternativa que reescreve livremente passagem do texto, de acordo com a norma-padrão
de emprego e colocação dos pronomes.
A) E nenhum professor jamais me chamou a atenção para a beleza de uma árvore.
B) As palavras teriam sentido e ajudariam-nos a ver o mundo melhor.
C) E nenhum professor tinha chamado-me a atenção para a beleza de uma árvore.
D) Se abrem as janelas do corpo, quando se abrem os olhos.
E) Quando abrimos nossos olhos sempre abrem-se as janelas do corpo.
QUESTÃO 14: VUNESP - DIR ESC (PERUÍBE)/PREF PERUÍBE/2019
Assunto: Colocação pronominal
Uma garotinha sobe em uma árvore. De galho em galho, ela se diverte, até que pede ajuda, não
consegue descer. “Se subiu, desce”, diz o homem. Ela tenta, tenta e por fim consegue. Em poucos
segundos, está no alto novamente: aprendeu a descer. Em torno dela, dezenas de crianças brin-
cam com pedaços de madeira velha e canos, escalam grades, andam de patinete e dão cambalho-
tas – os adultos não reprimem. Essa grande bagunça é o recreio das crianças da Swanson Primary
School, em Auckland, Nova Zelândia, e o homem é Bruce McLachlan, diretor que implementou na
escola a política de zero regras.
“Nós queremos que as crianças estejam seguras e queremos cuidar delas, mas acabamos embru-
lhando-as em algodão enquanto elas deveriam poder cair“, diz Mclachlan ao criticar a forma com
que tratamos as crianças.
A iniciativa do intervalo sem regras partiu de um experimento feito por duas universidades locais.
A ideia é que ao dar às crianças a responsabilidade de cuidar de si mesmas, dá-se também a
oportunidade de aprenderem com seus próprios erros. “Quando você olha para o nosso parquinho,
parece um caos. De uma perspectiva adulta, parece que as crianças vão se machucar, mas elas
não se machucam”, afirma.
Ao manter as crianças livres para se divertir, foram registrados menos acidentes, casos de bullying
e vandalismo, enquanto que a concentração das crianças nas aulas e a vontade de ir à escola au-
mentaram.
O experimento deu tão certo que se tornou uma política permanente da escola.
(Bruna Rasmussen. https://www.hypeness.com.br/2015/01/conheca-aescola- sem-regras-e-seu-impacto-na-vida-dos-
-estudantes/ Adaptado)
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B) lhe pede; lhe implementou.
C) pede-a; lhe implementou.
D) a pede; implementou-a.
E) a pede; a implementou.
Creio que muito de nossa insistência, enquanto professoras e professores, em que os estudantes
“leiam”, num semestre, um sem-número de capítulos de livros, reside na compreensão errônea que
às vezes temos do ato de ler. Em minha andarilhagem pelo mundo, não foram poucas as vezes
em que jovens estudantes me falaram de sua luta às voltas com extensas bibliografias a serem
muito mais “devoradas” do que realmente lidas ou estudadas. Verdadeiras “lições de leitura” no
sentido mais tradicional desta expressão, a que se achavam submetidos em nome de sua forma-
ção científica e de que deviam prestar contas através do famoso controle de leitura. Em algumas
vezes cheguei mesmo a ler, em relações bibliográficas, indicações em torno de que páginas deste
ou daquele capítulo de tal ou qual livro deveriam ser lidas: “Da página 15 à 37”.
A insistência na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreen-
didos, e não mecanicamente memorizados, revela uma visão mágica da palavra escrita. Visão
que urge ser superada. A mesma, ainda que encarnada desde outro ângulo, que se encontra, por
exemplo, em quem escreve, quando identifica a possível qualidade de seu trabalho, ou não, com
a quantidade de páginas escritas. No entanto, um dos documentos filosóficos mais importantes de
que dispomos, As teses sobre Feuerbach, de Marx, tem apenas duas páginas e meia...
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Parece importante, contudo, para evitar uma compreensão errônea do que estou afirmando, subli-
nhar que a minha crítica à magicização da palavra não significa, de maneira alguma, uma posição
pouco responsável de minha parte com relação à necessidade que temos, educadores e educan-
dos, de ler, sempre e seriamente, os clássicos neste ou naquele campo do saber, de nos aden-
trarmos nos textos, de criar uma disciplina intelectual, sem a qual inviabilizamos a nossa prática
enquanto professores e estudantes.
(Paulo Freire. A importância do ato de ler)
Os bens dos tataravós libaneses: tecidos e aviamentos. Linho, algodão, chita. Botões de todos os
tipos, linhas, alfinetes, agulhas e o metro dobrável. Montado em seu jegue, o tataravô ia sozinho
comerciar de casa em casa, sítio em sítio, fazenda em fazenda, onde recebia pouso, contava e ou-
via histórias. Com o nascimento dos filhos brasileiros, passou a levar consigo o mais velho, bisavô
de Félix, quando ele tinha sete anos.
De noite, na sua casa em Belo Horizonte, o pai de Félix lhe contava a história dos antepassados
enquanto consertava joias das clientes da sua loja de antiguidades. Durante as tardes solitárias,
a bisavó lhe mostrava o bauzinho de veludo bordô e contava a história de cada joia que ele já tinha
guardado e a situação em que havia sido vendida para o estabelecimento da família no Brasil. Um
anel de brilhante se foi na compra do jegue e da primeira leva de mercadoria; um bracelete, na
reforma da casa antes do nascimento do terceiro filho.
Depois dos acidentes vasculares, ela não conseguia falar mais do que poucas palavras, e estas
serviam de evocação para as histórias que Félix conhecia de cor. Ele era pequeno, carregava o
baú pela casa, cheio de vidros coloridos, e o exibia dizendo: “meu tesouro”. Era um bauzinho feito
de cedro, com tiras de latão, e o estofamento interno, de veludo bordô, era o que mais encantava
Félix. Protegido da luz ao longo dos anos, ele continuava brilhante e macio.
As joias foram o bilhete de entrada do casal no Brasil. O que veio depois foi trabalho, trabalho e
trabalho; e filhos. Mas então já tinham um jegue e a primeira leva de mercadorias.
E aconteceu de Félix ter puxado a voz aveludada do outro ramo da família, de portugueses para
quem aquela terra já era antiga quando os libaneses chegaram: já tinham tirado dela pau, pedra e
ouro, criado gado e plantado cana e café. Já tinham sido donos de escravos, matado e sido mortos
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por eles. Abriram fazendas, ergueram escolas, construíram ferrovias e cemitérios. Terra de homens
brutos, domados, esfalfados, trabalho, trabalho e trabalho; e filhos.
(Beatriz Bracher. Anatomia do Paraíso. Editora 34. Adaptado)
A mudança climática continua sendo percebida como a maior ameaça global, diz o Pew Research
Center. Realizado no ano passado com mais de 27 mil pessoas em 26 países, o estudo indicou um
fortalecimento dessa percepção.
Em 2013, 56% viam o aquecimento global como uma grande ameaça. Em 2017, eram 63%. No
ano passado, o porcentual foi de 67%. No Brasil, 72% apontaram a mudança climática como uma
relevante ameaça global.
Confirma-se, assim, que o mundo está cada vez mais preocupado com a sustentabilidade do pla-
neta, o que tem muitas consequências sociais, políticas e econômicas. Por exemplo, os governos
que se mostrarem alheios ou contrários a essa preocupação estarão contrariando os sentimentos
de sua própria população, além de se colocarem na contramão da história. Outro inegável efeito
é que, com populações cada vez mais atentas a questões ambientais, ampliar o acesso a novos
mercados exige o compromisso de melhorar as práticas ambientais. Ser indiferente ao meio am-
biente é um meio de um país se isolar na esfera internacional.
Além do aquecimento global, o terrorismo foi outra grande preocupação constatada na pesquisa.
Em oito países, entre eles, Rússia, França, Indonésia e Nigéria, o Estado Islâmico foi visto como o
maior risco global. Também cresceu a preocupação com os ataques cibernéticos.Em quatro países,
incluindo Estados Unidos e Japão, o risco cibernético foi a preocupação internacional mais citada.
No mundo inteiro, cresceu a preocupação com o poder e a influência dos Estados Unidos. Em dez
países, metade ou mais das pessoas entrevistadas afirmou que o poder americano é uma grande
ameaça ao seu país. Foi a maior mudança de sentimento entre as ameaças globais avaliadas. Na
Alemanha, o crescimento foi de 30%; na França, de 29%; no Brasil e no México, de 26%.
O estudo revelou um dado interessante a respeito da percepção sobre o risco envolvendo a situa-
ção da economia global. Embora seja citado em muitos lugares como uma ameaça significativa,
tal perigo não é visto em nenhum país como a principal ameaça. O Pew Research Center destacou
que isso ocorreu mesmo naqueles países em que as economias nacionais tiveram avaliações es-
pecialmente negativas, como a Grécia e o Brasil.
60
Tem-se, assim, que a avaliação que a população de um país faz sobre as ameaças globais pode
não ser muito objetiva. Às vezes, há perigos que as pessoas não querem ver. Tal fato mostra a im-
portância de os governos atuarem de forma responsável, com base em dados empíricos e estudos
consistentes. Nesta situação, ideologias não são um bom parâmetro para a análise de riscos.
(O Estado de S. Paulo. 17.02.2019. Adaptado)
De acordo com o emprego e a colocação dos pronomes estabelecidos pela norma-padrão, os tre-
chos destacados podem ser substituídos, correta e respectivamente, por:
A) havia realizado-o … comprovaram-no … lhe demonstram
B) havia realizado-o … lhe comprovaram … o demonstram
C) o havia realizado … comprovaram-no … o demonstram
D) o havia realizado … comprovaram-lhe … demonstram- no
E) o havia realizado … o comprovaram … demonstram-lhe
Os millennials – pessoas que têm, hoje, entre 18 e 35 anos –, também conhecidos por Geração
Y, têm impactado a forma de a sociedade consumir. Esse grupo, cuja maioria trabalha ou estuda,
além de ser engajada em causas sociais e ambientais, segundo levantamento da startup de pes-
quisas MindMiners, deve atingir seu auge em 2020.
Os objetos de desejo desses indivíduos variam de acordo com a classe social. Segundo a sociólo-
ga e pesquisadora da Antenna Consultoria e Pesquisa, Marilene Pottes, enquanto as mais baixas
priorizam bens duráveis e conforto, as mais altas – que contam com maior suporte financeiro dos
pais – valorizam vivências.
Embora os especialistas concordem que esse público é exigente e autêntico, há divergências sobre
o recorte exato das idades. Uma pesquisa do Statista, portal alemão líder de estatísticas inter-
nacionais na internet, por exemplo, considera consumidores que eram adolescentes na virada
do milênio. Já a empresa de pesquisas Kantar Worldpanel abrange pessoas nascidas de 1979 a
1996. Outro contorno engloba nascidos no início dos anos 80 até meados de 90: nesse caso, te-
riam recebido a denominação de millennials por atingirem idade de discernimento a partir dos anos
2000, ou se tornarem consumidores na época. Esses jovens se reconhecem como trabalhadores
e ambiciosos. Apesar disso, uma grande parte ainda mora com os pais ou outros parentes, depen-
dendo financeiramente da família.
– É uma geração que pôde estudar mais e ingressar no mercado de trabalho mais tarde. Alguns os
consideram mimados, mas, na verdade, eles apenas não querem aceitar qualquer tipo de traba-
lho – explica a gerente de marketing da MindMiners, Danielle Almeida.
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A Bridge Research também fez um estudo sobre os hábitos desses jovens adultos:
– Essas pessoas são multitarefas, conseguem trabalhar olhando para o celular, por exemplo. Tam-
bém são menos leais a marcas do que pessoas de outras idades – destaca Renato Trindade,
diretor da empresa de pesquisa. Para o professor da FGV, Roberto Kanter, a principal razão de
agradar à geração Y é seu inédito poder de influência:
– Devido às mídias sociais, os consumidores, e não mais os meios de comunicação, têm sido a
Para estar de acordo com a norma-padrão de regência e de emprego de pronome, a passagem – ...
enquanto as [classes] mais baixas priorizam bens duráveis e conforto, as mais altas – que con-
tam com maior suporte financeiro dos pais – valorizam vivências ... – deverá ter como sequência:
A) e as dão importância.
B) e atribuem-nas prestígio.
C) e priorizam-lhes.
D) e prestigiam-nas.
E) e fazem elas serem prioritárias.
Destruindo Riqueza
A economia cresce encontrando soluções, em geral tecnológicas, para reduzir ineficiências e, nes-
se processo, libera mão de obra.
Um exemplo esclarecedor é o do emprego agrícola nos EUA. Até 1800, a produção de alimentos
exigia o trabalho de 95% da população do país. Em 1900, a geração de comida para uma população
já bem maior mobilizava 40% da força de trabalho e, hoje, essa proporção mal chega a 3%. Quem
abandonou a roça foi para cidades, integrando a força de trabalho da indústria e dos serviços.
Esse processo pode ser cruel para com indivíduos que ficam sem emprego e não conseguem se
reciclar, mas é dele que a sociedade extrai sua prosperidade. É o velho fazer mais com menos.
A internet, com sua incrível capacidade de conectar pessoas, abriu novos veios de ineficiências a
eliminar. Se você tem um carro e não é chofer de praça nem caixeiro viajante, ele passa a maior
parte do dia parado, o que é uma ineficiência. Se você tem um imóvel vago ou mesmo um dormitó-
rio que ninguém usa, está sendo improdutivo. O mesmo vale para outros apetrechos que você pos-
sa ter, mas são subutilizados. Os aplicativos de compartilhamento, ao ligar de forma instantânea
demandantes a ofertantes, permitem à sociedade fazer muito mais com aquilo que já foi produzido
(carros, prédios, tempo disponível etc.), que é outro jeito de dizer que ela fica mais rica.
É claro que isso só dá certo se não forem criadas regulações desnecessárias que embaracem os
acertos voluntários entre as partes. A burocratização da oferta de serviços de aplicativos torna-os
indistinguíveis. Dá para descrever isso como a destruição de riqueza.
(Hélio Schwartsman. Folha de S.Paulo. 31.10.2017. Adaptado)
Considere a seguinte passagem do texto:
• É claro que isso só dá certo se não forem criadas regulações desnecessárias que embaracem os
A)É claro que isso só dá certo se não forem criadas regulações desnecessárias que embaracem-
-lhes.
B) É claro que isso só dá certo se não forem criadas regulações desnecessárias que lhes emba-
racem.
C) É claro que isso só dá certo se não forem criadas regulações desnecessárias que os embara-
cem.
D) É claro que isso só dá certo se não forem criadas regulações desnecessárias que embaracem-
-os.
E) É claro que isso só dá certo se não forem criadas regulações desnecessárias que embaracem-
-nos.
De acordo com a norma-padrão, as lacunas da tira devem ser preenchidas, respectivamente, com:
A) me interessa ... O que me importa ... têm
B) interessa a mim ... Me importa ... tem
C) interessa-me ... O que importa à mim ... têm
D) me interessa ... O que mim importa ... tem
E) interessa à mim ... O que importa-me ... têm
Assinale a alternativa em que o pronome em destaque está colocado em conformidade com a nor-
ma-padrão da língua.
A) Meus amigos disseram que surpreenderam-se com a sujeira.
B) Os estudantes tinham manifestado-se em massa contra o governo.
C) Em Paris, as ruas e calçadas encontravam-se cheias de lixo.
D) Meu amigo não mostrou-se nada informado sobre o que houve.
E) Quando encontraram-se, João Gilberto e meu amigo falaram de música.
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QUESTÃO 23: VUNESP - DIR (PREF GARÇA)/PREF GARÇA/2018
Assunto: Colocação pronominal
Leia um trecho da entrevista com Haroldo Rocha, secretário estadual de Educação do Espírito
Santo.
Apesar dos bons resultados, o Estado avançou menos nos anos finais do ensino fundamental.
Quais as barreiras?
De fato, isso é um fenômeno nacional. Do 1º ao 5º ano, há uma melhoria mais acelerada, e do 6º
ao 9º, com menos potência.
Há dois fenômenos. Um é interno: do 6º ao 9º ano muita coisa muda para a criança. Está passando
para a adolescência e deixa de ter uma professora para ter dez. E a escola não tem uma metodo-
logia bem articulada para que todos os conhecimentos ali passados façam sentido.
Há também uma questão externa. Adultos e crianças hoje são muito afetados por tecnologia, re-
des sociais, trocas de informação. O mundo está muito dispersivo, e a aprendizagem exige foco e
concentração.
É um desafio adicional para a escola. Além do desenvolvimento acadêmico e cognitivo – ler, escre-
ver, fazer contas, interpretar história –, a escola terá que se preocupar com o desenvolvimento de
competências socioemocionais: metodologia para que as crianças aprendam a administrar suas
emoções, trabalhar em equipe, ter foco, persistência, resiliência.
O governo capixaba coordenou pesquisa para descobrir por que jovens de 14 a 29 anos deixaram a
escola. Que política esse diagnóstico inspirou?
Esses jovens foram alunos de nossas escolas públicas e as abandonaram porque precisavam tra-
balhar, engravidaram, não gostavam de estudar ou achavam a escola chata.
O que mais temos discutido é como envolver o jovem com a escola. Recentemente introduzimos o
líder de turma, escolhido pelos colegas para discutir soluções pela ótica dos alunos.
Por que projetos-piloto nem sempre dão os mesmos resultados na sala de aula?
Falta de treinamento é um motivo. O professor é absolutamente estratégico. É fundamental capaci-
tar de um ponto de vista bem operacional como ele trabalha com o aluno. O mundo mudou muito,
as exigências são outras.
O trabalho do professor hoje é totalmente diferente, e as instituições formadoras ainda trabalham
de forma tradicional. Fazemos pesquisa e estamos gastando muita energia para definir a formação
do professor do século 21.
Não nos cabe achar que hoje está pior ou melhor que no passado, mas nos programarmos para
atender a criança no mundo de hoje, diverso, em que tudo é muito rápido, em que nada se sus-
tenta, com profissões que nem existem mais e outras que a gente nem imagina.
Como motivar se falamos de coisas de antigamente? É um desafio diferente. Os professores preci-
sam ser capazes de ler o mundo desses alunos.
(Ana Estela de Sousa Pinto e Érica Fraga. Folha de S.Paulo, 09.12.2017. Adaptado)
Assinale a alternativa em que o pronome, indicado entre parênteses, substitui corretamente a ex-
pressão destacada e está adequadamente colocado na frase.
A) As escolas normalmente não praticam uma metodologia bem articulada. (praticam-na.)
B) É imprescindível pensar como envolver o jovem com a escola. (envolver-lhe.)
C) Muitos alunos desistem dos estudos, visto que consideram a escola monótona. (consideram-
-na.)
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D) Recentemente as escolas introduziram o líder de turma. (lhe introduziram)
E) A aprendizagem eficiente exige foco e concentração. (exige-os)
As crianças e os adolescentes estão vivendo boa parte de seu tempo no mundo virtual, principal-
mente por meio de seus aparelhos celulares. Em relatório divulgado em dezembro de 2017, o UNI-
CEF usou a expressão “cultura do quarto” para indicar um dos efeitos desse fenômeno. Os mais
novos têm escolhido o isolamento do espaço privado em detrimento do uso do espaço público para
se dedicarem à imersão nas redes.
Você certamente já viu agrupamentos de adolescentes que interagiam mais com seu celular do
que uns com os outros, não é? Pois bem: esse comportamento gera consequências, sendo que
algumas delas não colaboram para o bom desenvolvimento dos mais novos. Como eles aprendem
a se relacionar, por exemplo? Relacionando- se com seus pares! Acontece que o relacionamento
no mundo virtual é radicalmente diferente daquele que ocorre na vida real, o que nos faz levantar a
hipótese de que eles têm se desenvolvido com deficit no processo de socialização.
E como se aprenderia a ter – e a proteger – privacidade? Primeiramente sabendo a diferença entre
intimidade e convívio social. Explorar o mundo social simultaneamente ao real cria uma grande difi-
culdade nessa diferenciação. Não é à toa que já se expôs na rede a privacidade de tantas crianças
e jovens, com grande prejuízo pessoal!
(Rosely Sayão, As crianças e as tecnologias. Veja, 28-02-2018. Adaptado)
Assinale a alternativa em que a mudança na posição do pronome destacado, como consta nos
colchetes, está de acordo com a norma-padrão de colocação pronominal.
A) Eles têm se desenvolvido... [Eles têm desenvolvido- -se...]
B) E como se aprenderia a ter – e a proteger – a privacidade? [E como aprenderia-se a ter – e a
proteger – a privacidade?]
C) ... não é à toa que já se expôs na rede a privacidade de tantas crianças e jovens... [não é à toa
que já expôs-se na rede a privacidade de tantas crianças e jovens...]
D) Como eles aprendem a se relacionar, por exemplo? [Como eles aprendem a relacionar-se, por
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exemplo?]
E) Relacionando-se com seus pares! [Se relacionando com seus pares!]
Moravam debaixo da ponte. Oficialmente, não é lugar onde se more, porém eles moravam. Nin-
guém lhes cobrava aluguel, imposto predial, taxa de condomínio: a ponte é de todos, na parte de
cima; de ninguém, na parte de baixo. Não pagavam conta de luz e gás porque luz e gás não con-
sumiam. Não reclamavam da falta d’água, raramente observada por baixo de pontes. Problema
de lixo não tinham; podia ser atirado em qualquer parte, embora não conviesse atirá-lo em parte
alguma, se dele vinham muitas vezes o vestuário, o alimento, objetos de casa. Viviam debaixo da
ponte, podiam dar esse endereço a amigos, receber amigos, fazer os amigos desfrutarem como-
didades internas da ponte.
À tarde surgiu precisamente um amigo que morava nem ele mesmo sabia onde, mas certamente
morava: nem só a ponte é lugar de moradia para quem não dispõe de outro rancho. Há bancos
confortáveis nos jardins, muito disputados; a calçada, um pouco menos propícia; a cavidade na
pedra, o mato. Até o ar é uma casa, se soubermos habitá-lo, principalmente o ar da rua. O que
morava não se sabe onde vinha visitar os de debaixo da ponte e trazer-lhes uma grande posta de
carne.
(Carlos Drummond de Andrade. A bolsa e a vida. Adaptado)
Assinale a alternativa que substitui por pronomes, correta e respectivamente, as expressões des-
tacadas na passagem – ... podiam dar esse endereço a amigos, receber
amigos, fazer os amigos desfrutarem comodidades internas da ponte.
A) dar-lhes ... recebê-los ... fazê-los
B) dar-lhes ... receber-lhes ... fazer eles
C) dá-los ... recebê-los ... fazer eles
D) dar-lhes ... receber-lhes ... fazê-los
E) dá-los ... recebê-los ... fazer-lhes
Às segundas-feiras pela manhã, os usuários do Spotify (serviço de transferência de dados via in-
ternet que dá acesso a músicas e outros conteúdos de artistas) recebem uma lista personalizada
de músicas que lhes permite descobrir novidades. O sistema se baseia em um algoritmo cuja evo-
lução e usos aplicados ao consumo cultural são infinitos. De fato, plataformas de transmissão de
dados cinematográficos, como a Netflix, começam a desenhar suas séries de sucesso rastreando
os dados gerados por todos os movimentos dos usuários para analisar o que os satisfaz. O algorit-
mo constrói assim um universo cultural adequado e complacente com o gosto do consumidor, que
66
pode avançar até chegar sempre a lugares reconhecíveis.
O algoritmo, sustentam seus críticos, nos torna chatos, previsíveis, e empobrece nossa curiosidade
por explorar o acervo cultural. Ramón Sangüesa, coordenador do Data Transparency Lab (Labora-
tório de Transparência de Dados), consegue ver vantagens, mas também riscos. “Esses sistemas
se baseiam no passado para predizer o futuro. A primeira dificuldade é conseguir a massa crítica
para que tenhamos mais dados e as projeções sejam melhores. Mas sempre se corre o risco de
ficar em uma mesma área de recomendação. No consumo cultural, o perigo está na uniformiza-
ção do gosto, o que chamamos de filtro bolha. E assim vão sendo criados comportamentos
padronizados”, afirma.
A questão, no entanto, é se os limites impostos na aprendizagem pelos sistemas fechados de com-
putação são equiparáveis aos erros e possíveis idiotices que cometemos durante anos formando
nosso próprio gosto. O escritor Eloy Fernández Porta não vê grande diferença. Segundo ele, antes
do Spotify e fora dele o gosto já vinha determinado por critérios de acesso, aceitação, atualidade e
distinção. “Sempre vivemos a música em um algoritmo, o que acontece é que em vez de chamá-lo
de matemática o chamamos de espontaneidade. O algoritmo do Spotify não me parece menos con-
fiável do que a fórmula caótica que cada ouvinte inventou. Nem menos humano: quando fazemos
analogias erradas ou nos empenhamos em recomendar o primeiro disco de Vincent Gallo, nossas
sinapses estão dando os mesmos maus passos”, afirma.
(Daniel Verdú. https://brasil.elpais.com/brasil/. 09.07.2016. Adaptado)
Em “uma lista personalizada de músicas que lhes permite descobrir novidades”, a expressão des-
tacada pode ser substituída, conforme a norma-padrão, por:
A) os concede.
B) lhes induz a.
C) os possibilita.
D) lhes estimula a.
E) os leva a.
Às segundas-feiras pela manhã, os usuários do Spotify (serviço de transferência de dados via in-
ternet que dá acesso a músicas e outros conteúdos de artistas) recebem uma lista personalizada
de músicas que lhes permite descobrir novidades. O sistema se baseia em um algoritmo cuja evo-
lução e usos aplicados ao consumo cultural são infinitos. De fato, plataformas de transmissão de
dados cinematográficos, como a Netflix, começam a desenhar suas séries de sucesso rastreando
os dados gerados por todos os movimentos dos usuários para analisar o que os satisfaz. O algorit-
mo constrói assim um universo cultural adequado e complacente com o gosto do consumidor, que
pode avançar até chegar sempre a lugares reconhecíveis.
O algoritmo, sustentam seus críticos, nos torna chatos, previsíveis, e empobrece nossa curiosidade
por explorar o acervo cultural. Ramón Sangüesa, coordenador do Data Transparency Lab (Labora-
tório de Transparência de Dados), consegue ver vantagens, mas também riscos. “Esses sistemas
se baseiam no passado para predizer o futuro. A primeira dificuldade é conseguir a massa crítica
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para que tenhamos mais dados e as projeções sejam melhores. Mas sempre se corre o risco de
ficar em uma mesma área de recomendação. No consumo cultural, o perigo está na uniformiza-
ção do gosto, o que chamamos de filtro bolha. E assim vão sendo criados comportamentos
padronizados”, afirma.
A questão, no entanto, é se os limites impostos na aprendizagem pelos sistemas fechados de com-
putação são equiparáveis aos erros e possíveis idiotices que cometemos durante anos formando
nosso próprio gosto. O escritor Eloy Fernández Porta não vê grande diferença. Segundo ele, antes
do Spotify e fora dele o gosto já vinha determinado por critérios de acesso, aceitação, atualidade e
distinção. “Sempre vivemos a música em um algoritmo, o que acontece é que em vez de chamá-lo
de matemática o chamamos de espontaneidade. O algoritmo do Spotify não me parece menos con-
fiável do que a fórmula caótica que cada ouvinte inventou. Nem menos humano: quando fazemos
analogias erradas ou nos empenhamos em recomendar o primeiro disco de Vincent Gallo, nossas
sinapses estão dando os mesmos maus passos”, afirma.
(Daniel Verdú. https://brasil.elpais.com/brasil/. 09.07.2016. Adaptado)
Em busca do outro
Não é à toa que entendo os que buscam caminho. Como busquei arduamente o meu! E como hoje
busco com sofreguidão e aspereza o meu melhor modo de ser, o meu atalho, já que não ouso mais
falar em caminho. Eu que tinha querido. O Caminho, com letra maiúscula, hoje me agarro ferozmen-
te à procura de um modo de andar, de um passo certo. Mas o atalho com sombras refrescantes
e reflexo de luz entre as árvores, o atalho onde eu seja finalmente eu, isso não encontrei. Mas sei
de uma coisa: meu caminho não sou eu, é outro, é os outros. Quando eu puder sentir plenamente
o outro estarei salva e pensarei: eis o meu porto de chegada.
(LISPECTOR, Clarice. Aprendendo a viver. Rio de Janeiro, Rocco Digital, 2013, p. 48.)
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A) os … o
B) lhes … o
C) os … lhe
D) lhes … lhe
E) nos … lhe
A) Tem observado-se uma relação entre a depressão e o uso excessivo das redes sociais.
B) A internet nunca mostrou-se um problema para quem sabe organizar bem o seu tempo.
C) As pessoas que viciam-se nas redes sociais devem consultar um profissional da saúde.
D) Encontros presenciais são adiados enquanto dedicamo- nos à interação via internet.
E) Com atrativos infindáveis, a internet encanta-nos e toma grande parte do nosso tempo.
A relação entre tecnologia e emprego sempre foi conflituosa. Se, do ponto de vista do observador
imparcial, a tecnologia enriquece a sociedade e apenas transforma o emprego, do ponto de vista
do sujeito que recebia todo mês um contracheque e foi demitido porque suas funções passaram a
ser executadas por um robô, ela mata mesmo.
Os primeiros prejudicados foram os trabalhadores menos qualificados, que desempenhavam tare-
fas pouco criativas, pesadas e repetitivas. Mas a coisa não parou por aí e máquinas, robôs e com-
putadores continuaram a transformar a produção, tirando o emprego de muita gente.
Do alto de sua soberba, trabalhadores do topo da pirâmide social, que exerciam funções criativas
e que exigiam o domínio de grande volume de conhecimento específico, achavam que estavam
protegidos. “Minha profissão jamais poderá ser exercida por uma máquina que soma zeros e uns”,
pensavam. Mas aí vieram a inteligência artificial e o “big data”.
Hoje, até a medicina está perdendo atribuições para algoritmos inteligentes. Computadores já diag-
nosticam cânceres melhor do que médicos de carne e osso. Também podem superá-los na prescri-
ção do tratamento, como é o caso do braço oncológico do supercomputador Watson da IBM, que
faz análises genéticas comparativas dos tumores como nenhum humano é capaz de fazer.
Algo parecido começa a ocorrer na cardiologia, na oftalmologia e até na psiquiatria, com o desen-
volvimento de algoritmos que facilitam diagnósticos e dispositivos que alteram profundamente as
práticas correntes.
Parece exagero afirmar que os médicos vão ficar sem emprego, porém eles decerto terão cada vez
mais de dividir tarefas com os computadores.
(Hélio Schwartsman. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/ Acesso em: 11.03.2018.)
Eram dez da noite, estava escuro, e a americana Elaine Herzberg, de 49 anos, resolveu atravessar
uma avenida em Tempe, cidade de 160 mil habitantes no sul dos EUA. Ela estava fora da faixa,
o sinal estava aberto para os carros, e logo aconteceu o pior. Elaine foi atropelada por um veículo
utilitário esportivo de 2 000 quilos, a 61 km/h. Morreu no ato. Seria apenas mais uma vítima do
trânsito, não fosse por um motivo: um robô estava dirigindo o veículo. Elaine foi a primeira pedestre
morta por um carro autônomo. Eles provavelmente vão atropelar mais pessoas. E, toda vez que
isso acontecer, a opinião pública ficará assustada (a empresa dona do carro que matou Elaine
interrompeu seus testes após o acidente) Mas já existe uma tecnologia que promete erradicar os
acidentes com veículos autônomos e mudar outros aspectos da vida humana: a quinta geração da
telefonia celular, ou 5G.
Ela é tão importante que o governo dos EUA chegou a cogitar a construção de uma rede 5G estatal,
só para não ficar atrás dos chineses (que vão inaugurar a sua no final deste ano). As operadoras
americanas se mexeram, e agora prometem montar redes 5G em 30 cidades do país até dezembro
– antes mesmo dos celulares compatíveis com essa tecnologia, que só vão começar a chegar ao
mercado ano que vem.
A grande novidade das redes 5G é que elas trabalham em frequências mais altas, ou seja, nas
quais as ondas eletromagnéticas oscilam mais vezes por segundo. Graças a isso, o 5G promete
três vantagens: mais velocidade, maior número de conexões e menor latência.
Essa terceira novidade das redes 5G, a baixa latência, consiste no tempo que cada antena ou pon-
to de rede leva para processar – e, se for o caso, repassar – os dados. As ondas eletromagnéticas
usadas para transmitir informações (seja no 5G, no Wi-Fi, ou qualquer outra rede sem fio) viajam
sempre na mesma velocidade: a da luz. Porém, na prática, a transmissão de dados sempre é mais
lenta. Na tecnologia 5G, a latência é 50 vezes menor. A transmissão é praticamente instantânea – e
isso abre várias possibilidades.
Mas talvez o benefício mais imediato de todos seja o fim das franquias de dados. A capacidade da
rede 5G é tão enorme que as operadoras poderão oferecer planos sem limites de dados – e você
poderá usar seu celular à vontade, como hoje usa a internet da sua casa.
(Superinteressante, maio de 2018. Adaptado)
70
Assinale a alternativa que atende à norma-padrão de colocação pronominal e de regência.
A) Hoje se usa a internet à vontade em casa, e as pessoas anseiam por usá-la assim em seus
celulares.
B) É provável de que atropelarão-se ainda muitas pessoas nos testes com os carros autônomos.
C) Acredita-se de que as redes 5G sejam capazes para erradicar os acidentes com veículos autô-
nomos.
D) Cabe lembrar de que têm repassado-se os dados sempre com a mesma velocidade: a da luz.
E) Nos surpreendeu a notícia que um carro autônomo tenha atropelado uma mulher nos EUA
Quando estreou, em 1966, a série “Jornada nas Estrelas” exibia um futuro que parecia realmente
improvável e distante. A série era ambientada no século 23 e acompanhava as aventuras dos
tripulantes da nave espacial Enterprise, com a missão de explorar o espaço e ir “aonde nenhum
homem jamais esteve”.
O teletransporte ainda não virou realidade, mas muitos gadgets* da série passaram a integrar o co-
tidiano. Sempre que o capitão Kirk estava em apuros, abria seu comunicador e entrava em contato
com a equipe. Trinta anos depois, a Motorola lançou o StarTAC, popularizando o uso da telefonia
móvel. Os acertos não pararam por aí: da impressora 3D à televisão de tela plana, dos disquetes
aos dispositivos USB, a série previu com surpreendente exatidão a relação do homem com a tec-
nologia.
“Jornada nas Estrelas” era transgressora em sua diversidade: a equipe tinha homens e mulheres
de diferentes etnias trabalhando em igualdade. Hoje, ainda não existem habitantes de Vulcano
morando entre nós, mas a ideia de que pessoas de gêneros e etnias diferentes possam cumprir as
mesmas funções não é mais algo utópico.
(Aventuras na História, outubro de 2014. Adaptado)
71
QUESTÃO 34: VUNESP - ASJ (TJ SP)/TJ SP/2017
Assunto: Colocação pronominal
Leia a charge.
Assinale a alternativa em que a reescrita da frase da personagem expressa a ideia do texto original
e está de acordo com a norma-padrão.
A) Preocupo-me seriamente com a aposentadoria – alheia...
B) Me preocupa seriamente a aposentadoria... Alheia...
C) Seriamente preocupo-me com a aposentadoria alheia...
D) Me preocupa seriamente a aposentadoria? Nem a alheia...
E) Tenho preocupado-me seriamente com isso: a aposentadoria alheia.
A moléstia conservou durante muitos dias – dias angustiosos e terríveis – um caráter de excessiva
gravidade; durante longo tempo, Fadinha, que estava com todo o corpo cruelmente invadido pela
medonha erupção, teve a existência por um fio.
Entretanto, os cuidados da ciência e a ciência dos cuidados triunfaram do mal, e Fadinha ficou boa,
completamente boa, depois de ter estado suspensa entre a vida e a morte.
Ficou boa, mas desfigurada: a moça mais bonita do Rio de Janeiro transformara-se num monstro.
Aquele rosto intumescido e esburacado não conservara nada, absolutamente nada da beleza cé-
lebre de outrora. Ela, porém, consolou-se vendo que o amor de Remígio, longe de enfraquecer,
crescera, fortificado pelo espetáculo do seu martírio.
A mãe, conquanto insensível às boas ações, não pôde disfarçar a admiração e o prazer que o moço
lhe causou no dia em que lhe pediu a filha em casamento, dizendo:
– Só havia um obstáculo à minha felicidade: era a formosura – de Fadinha. Agora que esse obs-
táculo desapareceu, espero que a senhora não se oponha a um enlace que era o desejo de seu
marido.
Realizou-se o casamento. D. Firmina, desprovida sempre de todo o senso moral, entendeu que
devia ser aproveitado o rico enxoval oferecido pelo primeiro noivo; Remígio, porém, teve o cui-
dado de fazer com que o restituíssem ao barão. A cerimônia efetuou-se com toda a simplicidade,
na matriz do Engenho Novo.
Um ano depois do casamento, Fadinha estava outra vez bonita, não da boniteza irradiante e espe-
taculosa de outrora, mas, enfim, com um semblante agradável, o quanto bastava para regalo
dos olhos enamorados do esposo. Remígio dizia, sinceramente, quem sabe? que a achava assim
72
mais simpática, e os sinais das bexigas lhe davam até um “não sei quê”, que lhe faltava dantes.
– Não é bela que me inquiete, nem feia que me repugne. Era assim que eu a desejava.
O caso é que ambos foram muito felizes. Ainda vivem. Remígio é atualmente um alto funcionário,
pai de cinco filhos perfeitamente educados.
(Arthur Azevedo, “A moça mais bonita do Rio de Janeiro”. Em: Seleção de Contos, 2014. Adaptado)
Sou um assassino cultural, e você também é. Sei que é romântico chorar quando uma livraria fe-
cha as portas. Mas convém não abusar do romantismo – e da hipocrisia. Fomos nós que matamos
aquela livraria e o crime não nos pesa muito na consciência.
Falo por mim. Os livros físicos que entram lá em casa são cada vez mais ofertas – de amigos ou
editoras.
Aos 20, quando viajava por territórios estranhos, entrava nas livrarias locais como um faminto na
capoeira. Comprava tanto e carregava tanto que desconfio que o meu problema de ciática é, na sua
essência, um problema livresco.
Hoje? Gosto da flânerie*. Mas depois, fotografo as capas com o meu celular antes de regressar
para o psicanalista – o famoso dr. Kindle. Culpado? Um pouco. E em minha defesa só posso
afirmar que pago pelos meus vícios.
E quem fala em livrarias, fala em todo o resto. Eu também ajudei a matar a Tower Records e a Virgin
Megastore. Havia lá dentro uma bizarria chamada CD – você se lembra?
Hoje, com alguns aplicativos, tenho uma espécie de discoteca de Alexandria onde, a meu bel-pra-
zer, escuto meus clássicos e descubro novos. Se juntarmos ao pacote o iTunes e a Netflix, você
percebe por que eu também tenho o sangue dos cinemas e dos blockbusters nas mãos.
Eis a realidade: vivemos a desmaterialização da cultura. Mas não é apenas a cultura que se des-
materializa e tem deixado as nossas salas e estantes mais vazias. É a nossa relação com ela. Não
somos mais proprietários de “coisas”; somos apenas consumidores e, palavra importante, assinan-
tes.
O livro “Subscribed”, de Tien Tzuo, analisa a situação. É uma reflexão sobre a “economia de as-
73
sinaturas” que conquista a economia global. Conta o autor que mais de metade das empresas da
famosa lista da “Fortune” já não existiam em 2017. O que tinham em comum? O objetivo meritório
de vender “coisas” – muitas coisas, para muita gente, como sempre aconteceu desde os primór-
dios do capitalismo.
Já as empresas que sobreviveram e as novas que entraram na lista souberam se adaptar à econo-
mia digital, vendendo serviços (ou, de forma mais precisa, acessos).
Claro que na mudança algo se perde. O desaparecimento das livrarias não acredito que seja total
no futuro (e ainda bem). Além disso, ler no papel não é o mesmo que ler na tela.
Mas o interesse do livro de Tzuo não está apenas nos números; está no retrato de uma nova gera-
ção para quem a experiência cultural é mais importante do que a mera posse de objetos.
Há quem veja aqui um retrocesso, mas também é possível ver um avanço – ou, para sermos bem
filosóficos, o triunfo do espírito sobre a matéria. E não será essa, no fim das contas, a vocação mais
autêntica da cultura?
(João Pereira Coutinho. Folha de S.Paulo, 28.08.2018. Adaptado)
* Flânerie: ato de passear, de caminhar sem compromisso.
Mundo arriscado
O próximo governo não encontrará um ambiente econômico internacional sereno. Dúvidas sobre
a continuidade do crescimento do Produto Interno Bruto global, juros em alta nos EUA, riscos de
conflitos comerciais e de queda do fluxo de capitais para países emergentes são apenas alguns
dos itens de um cardápio de problemas potenciais.
Tudo indica, assim, que o governo brasileiro terá de lidar de pronto com as fragilidades domésticas,
em especial o rombo das contas públicas. Não tardará até que investidores hoje aparentemente
otimistas comecem a cobrar resultados concretos.
As projeções para o avanço do PIB mundial têm sido reduzidas nos últimos meses. O Fundo Mo-
netário Internacional cortou sua previsão para 2018 e 2019 em 0,2 ponto percentual – 3,7% em
ambos os anos – e apontou um cenário de menor sincronia entre os principais motores regionais.
Se até o início deste ano EUA, Europa e China davam sinais de vigor, agora acumulam-se decep-
ções nos dois últimos casos.
Mesmo com juros ainda perto de zero, a zona do euro não deverá crescer mais que 1,5% neste ano.
74
Há crescente insegurança no âmbito político, neste momento centrada na Itália e seu governo de
direita populista, que propõe expansão do déficit de um setor público já endividado em excesso.
Não é animador que a Comissão Europeia tenha tomado a decisão inédita de rejeitar a proposta
orçamentária da administração italiana. Embora o país ainda conserve o selo de bom pagador, os
juros cobrados no mercado para financiar sua dívida dispararam.
Quanto à China, sua economia mostra menos vigor, e as autoridades precisam tomar decisões
difíceis entre conter as dívidas já exageradas e estimular o crescimento.
O risco de escalada nos conflitos comerciais também é concreto, dado que o governo americano
ameaça impor uma terceira rodada de tarifas, desta vez sobre os US$ 270 bilhões em vendas
anuais chinesas que ainda não foram taxadas.
Nos EUA, a alta dos juros, num contexto de emprego elevado e inflação perto da meta, já leva parte
do mercado a temer uma desaceleração abrupta do PIB em 2019. A vantagem do Brasil, hoje,
é que há ampla ociosidade nas empresas, baixa inflação e, portanto, espaço para uma retomada
mais forte.
(Editorial. Folha de S.Paulo, 01.11.2018. Adaptado)
De acordo com a norma-padrão, as lacunas dos enunciados devem ser preenchidas, respectiva-
mente, com:
A) Surgem ... reduziram ... têm sido exagerados
B) Ocorre ... reduziram ... têm sido exagerados
C) Existem ... reduziu ... tem sido exagerado
D) Aparece ... reduziu ... tem sido exagerados
E) Há ... reduziram ... têm sido exagerado
Redes sociais têm sido cada vez mais consideradas como elementos importantes na construção
de uma grande variedade de processos, desde a mobilização política em movimentos sociais ou
partidos políticos, até as ações e a estrutura de relações formais e informais entre as elites polí-
ticas e econômicas ou na estruturação de áreas de políticas públicas, entre muitos outros te-
mas. Número significativo de estudos tem examinado as redes pessoais, aquelas que cercam os
indivíduos em particular. Essas análises visam a estudar os efeitos da sociabilidade de diversos
grupos sociais, para compreender como os laços sociais são construídos e transformados e suas
consequências para fenômenos como integração social, imigração e apoio social.
No caso específico da pobreza, a literatura tem estabelecido de forma cada vez mais eloquente
como tais redes medeiam o acesso a recursos materiais e imateriais e, ao fazê-lo, contribuem de
75
forma destacada para a reprodução das condições de privação e das desigualdades sociais. A
integração das redes ao estudo da pobreza pode permitir a construção de análises que escapem
dos polos analíticos da responsabilização individual dos pobres por sua pobreza (e seus atributos),
assim como de análises sistêmicas que foquem apenas os macroprocessos e constrangimentos
estruturais que cercam o fenômeno.
A literatura brasileira sobre o tema tem sido marcada por uma oposição entre enfoques centrados
nesses dois campos, embora os últimos anos tenham assistido a uma clara hegemonia dos es-
tudos baseados em atributos e ações individuais para a explicação da pobreza. Parece-nos evi-
dente que tanto constrangimentos e processos supraindividuais (incluindo os econômicos) quanto
estratégias e credenciais dos indivíduos importam para a constituição e a reprodução de situações
de pobreza. Entretanto, essas devem ser analisadas no cotidiano dos indivíduos, de maneira que
compreendamos de que forma medeiam o seu acesso a mercados, ao Estado e às trocas sociais
que provêm bem-estar.
(Eduardo Marques, Gabriela Castello e Renata M. Bichir. Revista USP, no 92, 2011-2012. Adaptado)
Assinale a alternativa em que a concordância, nominal e verbal, está de acordo com a norma-pa-
drão.
A) Foi observado, muito recentemente, a importância das redes sociais quando se tratam de vários
processos sociais.
B) Já houveram evidências de que as redes sociais são o meio melhor indicado para fornecer in-
formações sobre a pobreza.
C) Tanto as desigualdades sociais quanto a reprodução das condições de privação vem sendo as-
sociada à ação das redes sociais.
D) Graças aos estudos atuais, o fenômeno da pobreza têm sido o menos possível associados a
ações individuais.
E) Constataram-se cerca de 50% dos estudos atuais examinando as redes pessoais, mas não há
ainda conclusões bastantes sobre o tema.
O Paraguai foi certificado por ter eliminado a malária de seu território em junho deste ano. A Argen-
tina está trilhando o caminho para obter sua certificação em 2019. Belize, Costa Rica, Equador, El
Salvador, México e Suriname têm o potencial de alcançar a eliminação até 2020. Outros países, no
entanto, registraram aumento no número de casos, o que põe em risco a consecução das metas de
redução e eliminação da doença na região até 2030.
No Dia de Luta contra a Malária nas Américas (6 de novembro), a Organização Pan-Americana
da Saúde (OPAS) insta os países da região a tomar medidas urgentes para conter o aumento de
casos, manter as conquistas e libertar o continente da doença que, durante o último século, foi a
principal causa de morte em quase todas as nações do mundo.
“A eliminação da malária está mais próxima do que nunca”, disse a diretora da OPAS, Carissa F.
Etienne. No entanto, ela também advertiu que “não podemos confiar nem relaxar nas ações já
tomadas”. “Os esforços devem ser intensificados onde a incidência da doença aumentou”, acres-
centou.
76
Desde 2015, os casos de malária nas Américas aumentaram em 71%; 95% do número total destes
casos estão concentrados em cinco países, principalmente em áreas específicas onde os esforços
contra a doença estão enfraquecidos. Muitos dos afetados são populações indígenas, pessoas que
vivem em situação de vulnerabilidade, trabalhadores mineiros e migrantes.
“Se queremos eliminar a malária, precisamos melhorar o investimento e ampliar o acesso a preven-
ção, diagnóstico e tratamento oportunos da doença em comunidades onde a maioria dos casos
está concentrada”, afirmou Marcos Espinal, diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis e
Determinantes Ambientais da Saúde na OPAS.
(Agência da ONU insta países das Américas a livrar continente da malária. ONU Brasil. https://nacoesunidas.org/agencia-da-o-
nu-insta-paises- -das-americas-a-livrar-continente-da-malaria/amp/. 06.11.18. Acesso em 07/11/2018)
Assinale a alternativa que, mantendo o sentido original do texto, reescreve passagem de acordo
com a norma -padrão de regência e de concordância.
A) A diretora da OPAS está otimista, mas advertiu serem necessário estarmos alerta em relação a
malária.
B) Nas Américas, os casos de malária circunscreve-se as áreas específicas de cinco países.
C) Mais vulnerável, indígenas, trabalhadores mineiros e migrantes integra a maior parte dos afeta-
dos.
D) No último século, foi atribuído a malária a principal causa de morte nas quase totalidade de na-
ções do mundo.
E) Com um aumento em 71%, a malária concentrou-se em áreas em que o combate à doença é
mais frágil.
Literatura no cárcere
Desde 2013, quando o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) autorizou a remição da pena pela lei-
tura, 5.547 detentos foram beneficiados por esse projeto no Brasil. É um número baixo, se compa-
rado com as quase 700 mil pessoas privadas de liberdade em todo o país.
A recomendação do CNJ determina que, a cada livro lido, é possível reduzir quatro dias da pena.
Para isso, o leitor deve escrever um resumo da obra que deve ser aprovado por um parecerista.
Esses documentos seguem para o juiz responsável, que julga o pedido de remição.
Medir os benefícios dessa proposta tem feito florescer debates acalorados entre os que veem na
leitura ganhos efetivos para a reintegração do indivíduo à sociedade e os que a avaliam como um
privilégio concedido a pessoas que, de algum modo, causaram danos à população. Sem entrar no
mérito dessa discussão, é fato que, dentro ou fora da prisão, as benesses da leitura são muitas e
difíceis de mensurar.
Uma pesquisa feita em 2017 pela editora Companhia das Letras, que em parceria com a Fundação
Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel (Funap) subsidia um projeto de clubes de leitura e remição de
pena, indicou que os ganhos são mais concretos do que se pode imaginar.
Durante um ano, 177 detentos se reuniram mensalmente para discutir uma obra selecionada pela
curadoria do projeto.
Quando perguntados sobre as eventuais mudanças percebidas em si próprios, a resposta mais
77
frequente foi que os envolvidos conseguiram perceber uma “ampliação de conhecimentos”. Em se-
gundo, que se sentiam mais motivados “para traçar planos para o futuro”. Na sequência, aparecem
motivações como “capacidade de reflexão” e de “expressar sentimentos”, possibilidade de “dizer
o que pensa”, “maior criatividade” e, por último, “maior criticidade”.
Por qualquer prisma que se procure observar, esses ganhos já seriam significativos, pois no am-
biente prisional revelam uma extraordinária mudança na chave da autoestima.
(Vanessa Ferrari, Rafaela Deiab e Pedro Schwarcz. Folha de S. Paulo, 25.06.18. Adaptado)
Assinale a alternativa em que a concordância verbal e a grafia das palavras estão em conformidade
com a norma -padrão.
A) Desde 2013, o Conselho Nacional de Justiça mantêm projetos de remição de pena ligados à
iniciativa privada.
B) As considerações feitas pelo parecerista, que deve agir concienciosamente, segue para o de-
ferimento do juiz.
C) Após a escolha de uma obra pelos responsáveis pelo projeto, ocorreu reuniões em que os de-
tentos expontaneamente expuseram seu ponto de vista.
D) Os detentos que quizeram participar dos clubes de leitura relataram que se sentiram motivados
a traçar planos futuros.
E) A capacidade de reflexão bem como a de expressar os sentimentos figuram na lista das benes-
ses advindas da leitura.
Os brasileiros estão otimistas com o impacto da transformação digital em suas carreiras, mas supe-
restimam as suas capacidades digitais, que serão chave no mercado de trabalho nos próximos
anos. A constatação está em pesquisa realizada por Tera, Scoop&Co e Época Negócios, apoiada
por Love Mondays. O estudo mostra que mais de 80% dos brasileiros se dizem empolgados com a
chegada das novas tecnologias no trabalho e 87% estão confiantes de que vão se adaptar à nova
realidade.
Essa percepção positiva da maioria, contudo, não condiz com a realidade do mercado. Quando
apresentados a uma lista de habilidades mais demandadas, 42% afirmaram não conhecer as 14
competências digitais desejadas por empregadores, de acordo com lista do LinkedIn para 2018. “A
lista traz funções não exigidas nas empresas há cinco anos. Esse cenário descrito pela pesquisa é
um retrato de que a renovação das competências aconteceu rápido demais. As pessoas não viram
isso acontecer”, diz Leandro Herrera, fundador da Tera.
(Barbara Bigarelli. Época Negócios. 14.11.2018. https://epocanegocios.globo.com. Adaptado)
O vocábulo chave, em destaque no primeiro parágrafo, tem substituto correto quanto à concordân-
cia e adequado ao significado, no contexto, em
A) “essenciais”, e está empregado com sentido figurado.
B) “importante”, e está empregado com sentido próprio.
C) “excessivo”, e está empregado com sentido figurado.
78
D) “requeridos”, e está empregado com sentido próprio.
E) “novidade”, e está empregado com sentido próprio.
Os brasileiros estão otimistas com o impacto da transformação digital em suas carreiras, mas supe-
restimam as suas capacidades digitais, que serão chave no mercado de trabalho nos próximos
anos. A constatação está em pesquisa realizada por Tera, Scoop&Co e Época Negócios, apoiada
por Love Mondays. O estudo mostra que mais de 80% dos brasileiros se dizem empolgados com a
chegada das novas tecnologias no trabalho e 87% estão confiantes de que vão se adaptar à nova
realidade. Essa percepção positiva da maioria, contudo, não condiz com a realidade do mercado.
Quando apresentados a uma lista de habilidades mais demandadas, 42% afirmaram não conhecer
as 14 competências digitais desejadas por empregadores, de acordo com lista do LinkedIn para
2018. “A lista traz funções não exigidas nas empresas há cinco anos. Esse cenário descrito pela
pesquisa é um retrato de que a renovação das competências aconteceu rápido demais. As pessoas
não viram isso acontecer”, diz Leandro Herrera, fundador da Tera.
(Barbara Bigarelli. Época Negócios. 14.11.2018. https://epocanegocios.globo.com. Adaptado)
A frase em que a forma verbal está empregada com sentido idêntico ao do verbo haver em – A lista
traz funções não exigidas nas empresas há cinco anos. (2o parágrafo) – é:
A) Há de tudo um pouco naquela feira de tecnologia que visitamos com o pessoal da empresa.
B) Há cerca de um mês, o documento foi encaminhado ao departamento responsável.
C) Há que se realizar uma série de ajustes para que as reformas sejam implementadas.
D) Há 50% dos trabalhadores que já fizeram cursos para ampliar suas capacidades digitais.
E) Há um prazo de dois meses para a construtora terminar a obra sem que seja multada.
79
QUESTÃO 9: VUNESP - ENFJ (TJ SP)/TJ SP/2019
Assunto: Concordância (Verbal e Nominal)
“A saúde não é um brinquedo político, ela deve ser usada para promover o bem-estar e a qualidade
de vida. E isso só vai acontecer quando nos comprometermos a fazer da atenção primária à saúde
a base da assistência universal.”
A afirmação é do diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghe-
breyesus, durante a assinatura nesta quinta (25/10/2018) de um acordo internacional em Astana,
capital do Cazaquistão, em que 194 países membros da OMS, incluindo o Brasil, comprometeram-
-se a fortalecer a atenção primária.
Chamado de “Declaração de Astana”, o acordo também comemora o 40º aniversário da histórica
Declaração de Alma Alta, que exortou o mundo a fazer dos cuidados primários de saúde o pilar da
cobertura universal de saúde em 1978.
Ocorre que, embora nos últimos 40 anos a expectativa de vida tenha aumentado e a mortalidade
infantil, caído pela metade, por exemplo, o progresso em saúde tem sido desigual e injusto entre
países e dentro dos países.
“Devemos reconhecer que não alcançamos esse objetivo [saúde para todos]. Em vez de saúde
para todos, conseguimos saúde para alguns. Temos ficado muito focados em combater doenças
específicas, muito focados no tratamento, em detrimento da prevenção de doenças”, disse Ghe-
breyesus.
Quase metade da população mundial não tem acesso a serviços essenciais de saúde e, segundo a
OMS, 100 milhões de pessoas são empurradas para a pobreza a cada ano por causa de gastos
catastróficos em saúde. A atenção primária à saúde pode fornecer de 80% a 90% das necessida-
des de saúde de uma pessoa durante sua vida.
A Declaração de Astana aponta a necessidade de uma ação multissetorial que inclua tecnologia,
conhecimento científico e tradicional, juntamente com profissionais de saúde bem treinados e re-
munerados, e participação das pessoas e da comunidade para que seja alcançada a tão sonhada
saúde para todos com qualidade.
(Cláudia Collucci, Saúde não é brinquedo político, diz diretor da OMS. Em: Folha de S.Paulo, 25.10.2018. Adaptado)
80
E) revelam ... têm ... focado ... é necessário
O Marajá
A família toda ria de dona Morgadinha e dizia que ela estava sempre esperando a visita de alguém
ilustre. Dona Morgadinha não podia ver uma coisa fora do lugar, uma ponta de poeira em seus mó-
veis ou uma mancha em seus vidros e cristais. Gemia baixinho quando alguém esquecia um sapato
no corredor, uma toalha no quarto ou – ai, ai, ai – uma almofada fora do sofá da sala. Baixinha,
resoluta, percorria a casa com uma flanela na mão, o olho vivo contra qualquer incursão do pó, da
cinza, do inimigo nos seus domínios.
Dona Morgadinha era uma alma simples. Não lia jornal, não lia nada. Achava que jornal sujava os
dedos e livro juntava mofo e bichos. O marido de dona Morgadinha, que ela amava com devo-
ção apesar do seu hábito de limpar a orelha com uma tampa de caneta Bic, estabelecera um limite
para sua compulsão por limpeza. Ela não podia entrar em sua biblioteca. Sua jurisdição acabava na
porta. Ali dentro só ele podia limpar, e nunca limpava. E, nas raras vezes em que dona Morgadinha
chegava à porta do escritório proibido para falar com o marido, esse fazia questão de desafiá-la.
Botava os pés em cima dos móveis. Atirava os sapatos longe. Uma vez chegara a tirar uma meia e
jogar em cima da lâmpada só para ver a cara da mulher. Sacudia a ponta do charuto sobre um cin-
zeiro cheio e errava deliberadamente o alvo. Dona Morgadinha então fechava os olhos e, incapaz
de se controlar, lustrava com a sua flanela o trinco da porta.
(Luis Fernando Veríssimo. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008. Adaptado)
A concordância das palavras está em conformidade com a norma-padrão da língua portuguesa em:
A) A dona de casa não suportava ver sujo ou desorganizado seus móveis, vidros e cristais.
B) Costumava ser constante a insatisfação da dona de casa com os maus hábitos do marido.
C) As almofadas do sofá da sala fora de seu lugar de origem tirava a senhora do sério.
D) A dona de casa não gostava de jornais por achar que suas folhas continha fungos e outras su-
jeiras.
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E) Para desespero da mulher, os pés do marido estavam frequentemente colocado em cima dos
móveis.
Essa é a frase que mais tenho ouvido recentemente. Passada a euforia de uma notícia qualificada
como “bomba”, logo os atores de uma das partes corriam a público para disponibilizar a íntegra
daquilo que antes foi veiculado em partes.
É preciso saber de tudo e entender de tudo. É preciso tirar as próprias conclusões para não depen-
der de ninguém, e é esse o grande e contraditório imperativo dos nossos tempos. É uma ordem a
uma experimentação libertária, e uma quase contradição do termo. O imperativo que liberta tam-
bém aprisiona: você só passa a ser, ou a pertencer, se tiver uma conclusão. Sobre qualquer coisa.
Nas últimas décadas psicanalistas se debruçaram sobre as mudanças nos arranjos produtivos e
sociais de cada período histórico para compreender e nomear as formas de sofrimento decorrentes
delas. A revolução industrial, a divisão social do trabalho, a urbanização desenfreada e as guerras,
por exemplo, fizeram explodir o número de sujeitos impacientes, irritadiços e perturbados com a
velocidade das transformações e suas consequentes perdas de referências simbólicas.
Pensando sobre o imperativo “Leia/Veja/Assista” e “Tire suas próprias conclusões”, começo a des-
confiar de que estamos diante de uma nova forma de sofrimento relacionado a um mal-estar ainda
não nomeado.
Afinal, que tipo de sujeito está surgindo de nossa nova organização social? O que a vida em rede
diz sobre as formas como nos relacionamos com o mundo? Que tipos de valores surgem dali? E,
finalmente, que tipo de sofrimento essa vida em rede tem causado?
Vou arriscar e sair correndo, já sob o risco de percorrer um campo que não é meu: estamos vendo
surgir o sujeito preso à ideia da obrigação de ter algo a dizer. Ao longo dos séculos essa angústia
era comum aos chamados formadores de opinião e artistas, responsáveis por reinterpretar o mun-
do. Hoje basta ter um celular com conexão 3G para ser chamado a opinar sobre qualquer coisa.
Pensamos estar pensando mesmo quando estamos apenas terceirizando convicções ao comparti-
lhar aquilo que não escrevemos.
É uma nova versão de um conflito descrito por Clarice Lispector a respeito da insuficiência da lin-
guagem. Algo como: “Não só não consigo dizer o que penso como o que penso passa a ser o que
digo”. Se vivesse nas redes que atribuem a ela frases que jamais disse, o “dizer” e o “pensar” teriam
a interlocução de um outro verbo: “compartilhar”.
(Matheus Pichonelli, Carta Capital. 18.03.2016. www.cartacapital.com.br. Adaptado)
82
cadas que]
D) Que tipos de valores surgem dali? [são possível surgir]
E) Pensamos estar pensando mesmo quando estamos apenas terceirizando convicções... [hou-
verem apenas convicções sendo terceirizadas]
Pela primeira vez na história de nossa espécie, foi-nos oferecida a possibilidade de comer à larga
em todas as refeições e de ganhar a vida sentados o dia inteiro(A). Obesidade e sedentarismo se
tornaram as principais epidemias nos países de renda média e alta(B), nos quais a praga mortífera
do tabagismo começa a ser a duras penas controlada.
Na esteira dessas duas pandemias, caminham a passos apressados hipertensão arterial, diversos
tipos de câncer, diabetes, doenças cardiovasculares, problemas ortopédicos, articulares, renais e
outras complicações que sobrecarregam o sistema de saúde, encarecem o atendimento e fazem
sofrer milhões de pessoas(C). Nas capitais, 19% dos brasileiros adultos estão obesos e outros
35% têm sobrepeso(D), ou seja, menos da metade da população cai na faixa do peso considerado
saudável.
Na contramão de outros ramos da economia, a incorporação de tecnologia na área médica aumen-
ta o custo do produto final. A assistência a uma população que envelhece mal como a brasileira
exigirá recursos(E) de que não dispomos no SUS nem na saúde suplementar.
Esperar as pessoas adoecerem para tratá-las em hospitais e unidades de pronto atendimento é
política suicida. Não há saída: ou investimos na prevenção ou, cada vez mais, só os privilegiados
terão acesso à medicina moderna.
Nos anos 1960, cerca de 60% dos nossos adultos fumavam, hoje não passam de 10%. Se con-
seguimos resultado tão impressionante com a dependência química mais feroz que a medicina
conhece, não é impossível convencer mulheres, crianças e homens a comer um pouco menos e a
andar míseros 40 minutos num dia de 24 horas.
(Drauzio Varella. Folha de S. Paulo, 11.11.2018. www.folha.uol.com.br. Adaptado)
Uma expressão que pode ser substituída, sem prejuízo do sentido e em conformidade com a nor-
ma-padrão de concordância, pelo que se encontra entre colchetes está destacada em:
A) ... foi-nos oferecida a possibilidade de comer à larga em todas as refeições e de ganhar a vida
sentados o dia inteiro. [ofertado]
B) Obesidade e sedentarismo se tornaram as principais epidemias nos países de renda média e
alta... [acabou sendo]
C) ... complicações que sobrecarregam o sistema de saúde, encarecem o atendimento e fazem
sofrer milhões de pessoas. [deixa]
D) ... 19% dos brasileiros adultos estão obesos e outros 35% têm sobrepeso... [apresentam]
E) A assistência a uma população que envelhece mal como a brasileira exigirá recursos... [deman-
darão].
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QUESTÃO 14: VUNESP - PEB I (PREF ITAPEVI)/PREF ITAPEVI/PEB I/2019
Assunto: Concordância (Verbal e Nominal)
Leia o texto para responder a questão.
As palavras e as coisas
Confesso que, de início, não acreditava que Moana, aos 9 anos, pudesse se interessar pela leitura
da versão integral do clássico de J.R.R. Tolkien, O Hobbit. É verdade que se trata de uma aventura
povoada por magos e repleta de objetos encantados. Mas é um romance longo, com descrições
densas e vocabulário sofisticado. Para minha surpresa, no entanto, seu envolvimento com a obra
crescia a cada noite que a líamos juntos.
Ao terminarmos a leitura do décimo capítulo, Moana não me desejou boa-noite. Com olhos ainda
despertos, me perguntou se não podíamos comentar aquilo que mais havia agradado até então.
Pensei que o pedido não passasse de mais uma de suas estratégias para adiar a hora de dormir.
Recusei, mas ela argumentou: “Não é assim que vocês fazem, você e a mamãe, quando leem
Arendt e Paul Ricoeur
em seus grupos de estudos?”. Jamais imaginara que, quando a levamos a esses encontros – pre-
midos por alguma necessidade – ela pudesse prestar qualquer atenção ao que se passava. Sem-
pre a via absorta em suas tarefas, desenhos e leituras. Mas, em seu silêncio, ela se dava conta do
sentido de uma leitura partilhada.
Falamos, então, das transformações que ocorreram no personagem central, que abandonara sua
vida confortável e pacata de hobbit, para se tornar um aventureiro épico. Mas foi só no dia seguinte
que percebi a profundidade contida em seu pedido para que partilhássemos as impressões de nos-
sas leituras. Lembrei-me de uma bela passagem de Homens em tempos sombrios, na qual Hannah
Arendt afirma que o “mundo não é humano simplesmente por ter sido feito por mãos humanas, nem
se torna humano meramente porque a voz humana nele ressoa. Por mais afetados que sejamos
pelas coisas do mundo [como um livro], por mais profundamente que elas possam nos instigar e
estimular, essas coisas só se tornam humanas para nós quando podemos discuti-las com nossos
companheiros”.
É porque a fala humaniza as obras que gostamos tanto de comentar um filme, de compartilhar a
interpretação de um livro ou fazer uma refeição com nossos amigos. São as expressões do discur-
so humano que transformam uma coisa – como um livro – em objeto de um legado simbólico que
nos humaniza.
Na escola, é por meio das trocas discursivas entre professores e alunos que um romance ou um
programa computacional deixam de ser coisas inertes para se transformarem em objetos que de-
sempenham uma função educativa e, assim, adquirem seu sentido humanizador. São as palavras
– e não as coisas – que conferem sentido às experiências humanas.
(José Sérgio Fonseca de Camargo, “As palavras e as coisas”. Em: http://www.revistaeducacao.com.br. Adaptado)
84
ções em que coisas inertes se transformam em objetos.
D) Descrições densas e vocabulário sofisticado permeia o romance longo de J.R.R. Tolkien, que
despertou o interesse da pequena Moana.
E) Eu e Moana falamos das transformações que houveram no personagem central, que abandona-
ra seu modo de vida pacato de hobbit.
A propagação de notícias falsas já mostrou seu poder de influenciar eleições e dividir sociedades,
potencializando preconceitos e ódios. Que efeito terá em crianças e jovens que não receberam
uma formação para a leitura de notícias?
Sem entender o que se passa ao redor, as crianças não se sentem parte da sociedade. Elas ou-
vem, principalmente pela televisão, e leem na internet o que está circulando no momento. Perce-
bem quando algo de grave ocorre, até porque podem viver em casa o problema estampado nas
manchetes dos jornais, como o desemprego dos pais.
Já ouviram falar de fake news, mas não sabem em quem confiar nem como identificar a credibilida-
de de uma informação, além de que diferenciar informação de opinião é difícil para elas.
Como muitos adultos também se mostram incapazes de detectar uma notícia falsa, as crianças
acabam muitas vezes sem orientação, ficam à margem do debate.
Encontra-se aí um grave problema: se elas não tiverem formação para ler notícias e não exercita-
rem o senso crítico para se protegerem de informações mentirosas, iremos perder uma geração
inteira que poderia (e deveria) promover as mudanças que tanto queremos.
As crianças são curiosas por natureza e querem se informar. Além disso, têm o direito de acesso
às mídias e de participação no debate público assegurado pela Convenção Internacional sobre os
Direitos da Criança.
A experiência mostra que, tendo acesso a notícias adequadas aos seus repertórios e contextuali-
zadas, sentem-se parte da sociedade e tornam-se mais autônomas.
Em várias ocasiões, impressionei-me com o protagonismo dos leitores mirins. Crianças de uma
região carente do interior de São Paulo, que leram os textos sobre a crise dos refugiados sírios,
organizaram um brechó com suas próprias roupas e entregaram o dinheiro a algumas famílias de
refugiados que estão no Brasil.
Outras, tendo lido sobre o problema da obesidade infantil no Brasil, mobilizaram-se para orga-
nizar uma olimpíada. Algumas explicaram a seus pais o que significa impeachment.
O problema das fake news é mais grave do que se imagina. Caso não seja combatido desde a
base, teremos crianças e jovens deixando de ler ou descrentes até de veículos com credibilidade.
Isso os deixará paralisados, sem saber como agir e vulneráveis a toda espécie de manipulação.
Jovens e crianças bem informados entendem o que se passa ao redor, formam as próprias opiniões
e se tornam cidadãos críticos e ativos.
Não há maneira de controlar o que nossos filhos leem ou veem, mas podemos incluí-los no debate,
compartilhar e discutir notícias com eles, ensinando-os a buscar fontes confiáveis e a exercitar o
85
senso crítico.
Se perdermos essa geração para as fake news, que líderes teremos e o que eles farão pelo Brasil
daqui a 20 anos?
(Stéphanie Habrich, diretora executiva do jornal “Joca”, voltado para jovens e crianças. Folha de S.Paulo, 19.02.2018.
Adaptado)
Eles venceram
Em A vingança dos nerds, comédia de 1984, um grupo de jovens feiosos e um tanto estranhos,
vítimas da agressividade e do bullying de colegas fortões e quase idiotas, decide ir para a revan-
che com um festival de estripulias bem-sucedidas. Ao som de We Are the Champions, clássico do
Queen, eles celebraram a vitória. O filme foi premonitório. Os nerds não deixaram pedra sobre
pedra. Fizeram suas apostas e quebraram a banca. Na lista das pessoas mais ricas do mundo,
três deles nas cinco primeiras posições, todos pais e filhos da revolução digital: Jeff Bezos, da Ama-
zon, na primeiríssima colocação; Bill Gates, da Microsoft, no segundo lugar; e Mark Zuckerberg,
do Facebook, no quinto posto. Para efeito de comparação, em 1982, tempo em que os nerds ainda
eram ridicularizados, a figura mais rica do mundo era o dono de um estaleiro naval (Daniel K. Lu-
dwig) que fizera fortuna vendendo embarcações para a indústria de petróleo.
Um olhar para os dois momentos, o de três décadas atrás e o de agora, comprova como a econo-
mia mudou, e hoje isso soa óbvio. Menos óbvia é a constatação de que a cultura nerd venceu, e
por ter vencido virou padrão. “Seja legal com os nerds, provavelmente você vai acabar trabalhando
para um deles” vaticinou Gates, não muito depois de 1977, quando ele foi detido por dirigir sem
documentos. A Microsoft acabara de nascer e, por trás daqueles óculos genuinamente nerds, na
foto da detenção, brotavam um novo mundo e novas concepções do que é ser bacana. A aparente
fragilidade de Gates era só aparência mesmo – e o leve sorriso irônico anunciava um salto des-
tinado a dar um contr+alt+del nada metafórico em quem ainda achava possível andar ao modo da
velha indústria.
A atual hegemonia nerd é a prova, também, de que todo estereótipo é tolo. como nerds as
pessoas muito inteligentes, em geral tímidas que cismam com um tema e dele não saem. Somos
todos nerds – ou queremos ser, porque a força está com eles, ao menos a força econômica, e o que
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andava à margem, em quartos fechados e garagens, hoje virou padrão.
(Fábio Altman. Veja, 26.09.2018. Adaptado)
As lacunas do primeiro e do último parágrafo devem ser preenchidas, de acordo com a norma-pa-
drão e respectivamente, com:
A) existem ... Se classifica
B) tem ... Se classificam
C) encontram-se ... Costuma-se classificar
D) encontra-se ... Costumam-se classificar
E) têm ... Vê-se
Roma
O filme Roma está constantemente entre dois caminhos. É pessoal e grandioso, popular e intelec-
tual, tecnológico – rodado em 65 mm digital – e clássico – feito em preto e branco com a mesma
ousadia dos movimentos cinematográficos das décadas de 1950 e 1960. O título, uma referência a
Colonia Roma, bairro da Cidade do México, também remete a Roma, Cidade Aberta, filme-símbolo
do neorrealismo italiano assinado por Roberto Rossellini.
Ao revisitar a própria memória, o cineasta Alfonso Cuarón escolhe olhar para Cleo, a empregada,
de origem indígena, de uma família branca de classe média. Resgata, assim, não apenas os seus
anos de formação, mas todas as particularidades do passado do país. O México no início dos anos
1970 fervilhava entre revoluções sociais e a influência da cultura estrangeira. Cleo, porém, se man-
tinha ingênua, centrada nas suas obrigações: lavar o pátio, buscar as crianças na escola, lavar a
roupa, colocar os pequenos para dormir.
Até que tudo se transforma. A família perfeita desmorona, com o pai que sai de casa, a mãe que
não se conforma com o fim do casamento e os filhos jogados de um lado para o outro na con-
fusão dos adultos. Enquanto isso, Cleo se apaixona, engravida, é enganada e deixada à própria
sorte. Duas mulheres de diferentes origens compartilham a dor do abandono. Juntas, reencontram
a resiliência que segura o mundo frente às paixões autocentradas.
O cineasta, que além da direção e do roteiro assina a fotografia e a montagem (ao lado de Adam
Gough), retrata sua história, entrelaçada com a de seu país, como se na vida adulta reencontrasse
o olhar da infância, cujo fascínio por cada descoberta aumenta o tamanho e a importância de tudo.
O que Cuarón faz em Roma é raro. São camadas e camadas sobrepostas para reproduzir a com-
plexidade do seu imaginário afetivo e das relações sociais de um país. Entre muitas inspirações,
referências e técnicas, sua assinatura está na sinceridade com que olha para si mesmo e para os
seus personagens, encontrando beleza e verdade no que muitos menosprezam. Esse é um filme
simples e complicado, como a própria vida.
(Natália Bridi. Omelete. 11.01.2019. www.omelete.com.br. Adaptado)
Assinale a alternativa que completa a lacuna da frase a seguir, em conformidade com a concordân-
cia da norma-padrão da língua. No México no início dos anos 1970, revoluções sociais e a
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influência da cultura estrangeira.
A) existia
B) havia
C) ocorria
D) abundava
E) surgia
Roma
O filme Roma está constantemente entre dois caminhos. É pessoal e grandioso, popular e intelec-
tual, tecnológico – rodado em 65 mm digital – e clássico – feito em preto e branco com a mesma
ousadia dos movimentos cinematográficos das décadas de 1950 e 1960. O título, uma referência a
Colonia Roma, bairro da Cidade do México, também remete a Roma, Cidade Aberta, filme-símbolo
do neorrealismo italiano assinado por Roberto Rossellini.
Ao revisitar a própria memória, o cineasta Alfonso Cuarón escolhe olhar para Cleo, a empregada,
de origem indígena, de uma família branca de classe média. Resgata, assim, não apenas os seus
anos de formação, mas todas as particularidades do passado do país. O México no início dos anos
1970 fervilhava entre revoluções sociais e a influência da cultura estrangeira. Cleo, porém, se man-
tinha ingênua, centrada nas suas obrigações: lavar o pátio, buscar as crianças na escola, lavar a
roupa, colocar os pequenos para dormir.
Até que tudo se transforma. A família perfeita desmorona, com o pai que sai de casa, a mãe que
não se conforma com o fim do casamento e os filhos jogados de um lado para o outro na confusão
dos adultos. Enquanto isso, Cleo se apaixona, engravida, é enganada e deixada à própria sorte.
Duas mulheres de diferentes origens compartilham a dor do abandono. Juntas, reencontram a re-
siliência que segura o mundo frente às paixões autocentradas.
O cineasta, que além da direção e do roteiro assina a fotografia e a montagem (ao lado de Adam
Gough), retrata sua história, entrelaçada com a de seu país, como se na vida adulta reencontrasse
o olhar da infância, cujo fascínio por cada descoberta aumenta o tamanho e a importância de tudo.
O que Cuarón faz em Roma é raro. São camadas e camadas sobrepostas para reproduzir a com-
plexidade do seu imaginário afetivo e das relações sociais de um país. Entre muitas inspirações,
referências e técnicas, sua assinatura está na sinceridade com que olha para si mesmo e para os
seus personagens, encontrando beleza e verdade no que muitos menosprezam. Esse é um filme
simples e complicado, como a própria vida.
(Natália Bridi. Omelete. 11.01.2019. www.omelete.com.br. Adaptado)
Assinale a alternativa em que a frase a seguir está reescrita em conformidade com as regras de
concordância da norma-padrão da língua. O cineasta assina a fotografia e a montagem do filme.
A) A fotografia e a montagem do filme é assinado pelo cineasta.
B) A fotografia e a montagem do filme são assinados pelo cineasta.
C) A fotografia e a montagem do filme são assinadas pelo cineasta.
D) A fotografia e a montagem do filme é assinada pelo cineasta.
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E) A fotografia e a montagem do filme são assinado pelo cineasta.
A cada governo que entra, o assunto educação deixa os holofotes provisórios da campanha
eleitoral, onde costuma desfilar na linha de frente das promessas dos candidatos, e volta à
triste prateleira dos problemas que se arrastam sem solução. Desta vez foi diferente: encerra-
da a votação, a educação prosseguiu na pauta de discussões acirradas. Infelizmente, o saldo da
agitação não gira em torno de nenhuma providência capaz de pôr o ensino do Brasil nos trilhos da
excelência – a real prioridade.
A questão da hora é o projeto que pretende legislar sobre o que o professor pode ou, principalmen-
te, não pode falar em sala de aula. Com o propósito de impedir a doutrinação, por professores, em
classe, o projeto ameaça alimentar o oposto do que propõe: censura, patrulhamento, atitudes re-
trógradas e pensamento estreito. Segundo o especialista em educação Claudio de Moura Castro,
não há como definir o que é variedade de pensamento e o que é proselitismo.
Fruto do ambiente polarizado da sociedade brasileira, a discussão entrou pela porta da frente das
escolas. Nesse clima de paixões exaltadas, no entanto, é preciso um esforço adicional para se-
parar o joio do trigo. A doutrinação em sala de aula é condenável sob todos os aspectos – seja de
esquerda ou de direita, religiosa ou ateia, ou de qualquer outra natureza. A escola é um lugar para
o debate livre das ideias, e não para o proselitismo.
Todo conhecimento é socialmente construído e, portanto, a aventura humana, por definição, nunca
é neutra ou isenta de valores. A saída é discutir e chegar a um consenso sobre o que precisa ser
apresentado ao aluno, e não vigiar e punir.
Doutrinar é expor ideias e opiniões com o propósito de convencer o outro. A todo bom professor
cabe estimular o confronto de ideias e o livre pensar, inclusive expressando seu ponto de vista,
mas não catequizar – uma linha fina que exige discernimento constante.
O mundo é diverso em múltiplos aspectos, e a escola é o lugar adequado para que essa diversida-
de seja discutida livremente. A melhor escola ainda é a que faz pensar – sem proselitismo.
(Fernando Molica, Luisa Bustamante e Maria Clara Vieira, Meia-volta, volver. Veja, 14.11.2018. Adaptado)
Assinale a alternativa que reescreve livremente passagem do texto, de acordo com a norma-padrão
de concordância e de pontuação.
A) Não parece existir possibilidades de definir, se é questão de variedade de pensamento ou de
proselitismo, segundo Claudio de Moura Castro – especialista em educação.
B) No entanto, o clima de paixões exaltadas acabam por exigir, esforços adicionais, para separar
o joio do trigo.
C) Sabemos que cabe a todo bom professor várias tarefas, entre as quais: estimular o confronto de
ideias e o livre pensar.
D) Houve, desta vez, algumas diferenças: tão logo se encerraram as eleições, a pauta de discus-
sões acirradas acerca da educação se manteve.
E) Como todo conhecimento se constrói socialmente, por definição não se isentam de valores a
aventura humana, que é neutra.
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QUESTÃO 20: VUNESP - COOR PEDA (PERUÍBE)/PREF PERUÍBE/2019
Assunto: Concordância (Verbal e Nominal)
Assinale a alternativa em que a concordância nominal e verbal se apresenta de acordo com a nor-
ma-padrão.
A) É atribuído ao professor, entre outras responsabilidades, a tarefa de mostrar a vida ao aluno.
B) Solicita-se que encaminhem, anexas ao projeto, as planilhas nas quais há previsão das despe-
sas.
C) Cabe à escola ensinar os educandos a estarem alertas, observando tudo que os cercam.
D) Contamos com pessoas bastante para dar conta das tarefas que nos cabem cumprir.
E) É ensinado, no âmbito escolar, a importância do conhecimento pelo olhar, algo que nunca se
perde.
Uma garotinha sobe em uma árvore. De galho em galho, ela se diverte, até que pede ajuda, não
consegue descer. “Se subiu, desce”, diz o homem. Ela tenta, tenta e por fim consegue. Em poucos
segundos, está no alto novamente: aprendeu a descer. Em torno dela, dezenas de crianças brin-
cam com pedaços de madeira velha e canos, escalam grades, andam de patinete e dão cambalho-
tas – os adultos não reprimem. Essa grande bagunça é o recreio das crianças da Swanson Primary
School, em Auckland, Nova Zelândia, e o homem é Bruce McLachlan, diretor que implementou na
escola a política de zero regras.
“Nós queremos que as crianças estejam seguras e queremos cuidar delas, mas acabamos embru-
lhando-as em algodão enquanto elas deveriam poder cair“, diz Mclachlan ao criticar a forma com
que tratamos as crianças.
A iniciativa do intervalo sem regras partiu de um experimento feito por duas universidades locais.
A ideia é que ao dar às crianças a responsabilidade de cuidar de si mesmas, dá-se também a
oportunidade de aprenderem com seus próprios erros. “Quando você olha para o nosso parquinho,
parece um caos. De uma perspectiva adulta, parece que as crianças vão se machucar, mas elas
não se machucam”, afirma.
Ao manter as crianças livres para se divertir, foram registrados menos acidentes, casos de bullying
e vandalismo, enquanto que a concentração das crianças nas aulas e a vontade de ir à escola au-
mentaram.
O experimento deu tão certo que se tornou uma política permanente da escola.
(Bruna Rasmussen. https://www.hypeness.com.br/2015/01/conheca-aescola- sem-regras-e-seu-impacto-na-vida-dos-
-estudantes/ Adaptado)
90
vai se machucar.
E) Esta prática educacional, diferentemente de muitas outras, trouxe apenas resultados positivos,
portanto deveriam se tornar modelo para outros países.
No front da alfabetização, a rede municipal de educação da cidade de São Paulo obteve conquista
apreciável: 92% dos alunos sabiam ler e escrever ao término do segundo ano, ante não mais de
77% em 2017. Com isso, a prefeitura estipulou a meta de 85% de alfabetização no primeiro ano,
quando as crianças em geral têm seis anos.
Uma ousadia, quando se tem em vista que, até recentemente, a diretriz nacional se limitava a
preconizar leitura e escrita até o final do terceiro ano. Só em 2018, com a Base Nacional Comum
Curricular, esse objetivo foi antecipado para o segundo ano, algo que a rede paulistana já havia
adotado com um ano de antecedência.
Fica assim comprovado, na experiência de São Paulo, que metas ambiciosas nada têm de incom-
patível com progresso de aprendizado – ao contrário. Em particular no campo da alfabetização,
base de tudo que virá a seguir, um nível alto de exigência dará motivação extra para educadores e
estudantes se aplicarem mais.
Conforme se avança no ensino fundamental, contudo, os descaminhos e a leniência do passado se
fazem manifestar nos parcos resultados obtidos por estudantes em provas padronizadas.
A deficiência manifesta-se em todas as grandes áreas de conhecimento. Quando concluem o quin-
to ano, final da fase 1 do fundamental, só 39% das meninas e dos meninos alcançam desempenho
satisfatório em língua portuguesa. Pior, são apenas 27% em matemática e 20% em ciências.
A perda agrava-se na fase seguinte. Quando saem do fundamental 2, no nono ano, apenas 25%
dos estudantes estão no nível adequado de língua. E há inaceitáveis 10% e 9% nessa faixa de
desempenho, respectivamente, nas áreas de matemática e ciências naturais, o que torna fácil de
entender o desastre que hoje se observa no ensino médio.
Não deixa de ser animador constatar que ao menos nos fundamentos do aprendizado – a alfabe-
tização – houve avanço em São Paulo. Mas a cidade mais populosa e rica do país ainda precisa
fazer mais e melhor por suas crianças e jovens.
(Editorial. Folha de S.Paulo, 02.01.2019. Adaptado)
Jogar-se à vida
91
Uma velha amiga minha de São Paulo – nem tão velha assim, e muito bonita – me diz que seu
filho, de 39 anos, mora com ela. Não é que “ainda” more com ela. Ele apenas mora, desde o dia
em que nasceu, e não há indícios de que esteja planejando se emancipar e morar sozinho. A mãe,
a essa altura, já desistiu de fazê-lo desconfiar de que ela, sim, gostaria de espaço e privacidade
para viver sua própria vida.
Ao ouvir isso, levei um susto. Aos 39 anos, eu já tinha saído não só da casa de meus pais como de
dois casamentos, e morado em dez endereços de quatro cidades em dois continentes. Era só no
que os garotos da minha geração pensavam – jogar-se à vida, longe da saia materna ou da mesada
paterna. Supunha-se que, enquanto se morasse com a família, estava-se dispensado de ser adulto.
Um desses endereços, em 1967, foi o Solar da Fossa, um casarão colonial em Botafogo, perto do
túnel Novo. Nele tinham ido parar rapazes e moças de fora e de dentro do Rio, todos em busca
de liberdade para criar, trabalhar, namorar ou não fazer nada, enfim, viver. Ali, um dos moradores,
Caetano Veloso, compôs “Alegria, Alegria”; outro, Paulinho da Viola, “Sinal Fechado”. Grupos
como o Momento 4 e o Sá, Rodrix & Guarabyra se formaram em seus quartos.
Três de nossas lindas vizinhas estrelaram nas páginas de revistas: Betty Faria, Ítala Nandi e Tania
Scher. Paulo Leminsky escrevia seu romance “Catatau”. O pessoal do Teatro Jovem, que estava
revolucionando o teatro brasileiro, morava lá, assim como metade do elenco da peça “Roda Viva”,
em ensaio no outro lado do túnel. Os namoros eram a mil. Até o autor francês Jean Genet, de pas-
sagem pelo Solar, viveu ali uma aventura amorosa.
Se aquela turma morasse com a mãe, nada disso teria acontecido.
(Ruy Castro. Folha de S.Paulo. Adaptado)
Os bens dos tataravós libaneses: tecidos e aviamentos. Linho, algodão, chita. Botões de todos os
tipos, linhas, alfinetes, agulhas e o metro dobrável. Montado em seu jegue, o tataravô ia sozinho
comerciar de casa em casa, sítio em sítio, fazenda em fazenda, onde recebia pouso, contava e ou-
via histórias. Com o nascimento dos filhos brasileiros, passou a levar consigo o mais velho, bisavô
de Félix, quando ele tinha sete anos.
De noite, na sua casa em Belo Horizonte, o pai de Félix lhe contava a história dos antepassados
enquanto consertava joias das clientes da sua loja de antiguidades. Durante as tardes solitárias, a
bisavó lhe mostrava o bauzinho de veludo bordô e contava a história de cada joia que ele já tinha
guardado e a situação em que havia sido vendida para o estabelecimento da família no Brasil. Um
anel de brilhante se foi na compra do jegue e da primeira leva de mercadoria; um bracelete, na
reforma da casa antes do nascimento do terceiro filho.
92
Depois dos acidentes vasculares, ela não conseguia falar mais do que poucas palavras, e estas
serviam de evocação para as histórias que Félix conhecia de cor. Ele era pequeno, carregava o
baú pela casa, cheio de vidros coloridos, e o exibia dizendo: “meu tesouro”. Era um bauzinho feito
de cedro, com tiras de latão, e o estofamento interno, de veludo bordô, era o que mais encantava
Félix. Protegido da luz ao longo dos anos, ele continuava brilhante e macio.
As joias foram o bilhete de entrada do casal no Brasil. O que veio depois foi trabalho, trabalho e
trabalho; e filhos. Mas então já tinham um jegue e a primeira leva de mercadorias.
E aconteceu de Félix ter puxado a voz aveludada do outro ramo da família, de portugueses para
quem aquela terra já era antiga quando os libaneses chegaram: já tinham tirado dela pau, pedra e
ouro, criado gado e plantado cana e café. Já tinham sido donos de escravos, matado e sido mortos
por eles. Abriram fazendas, ergueram escolas, construíram ferrovias e cemitérios. Terra de homens
brutos, domados, esfalfados, trabalho, trabalho e trabalho; e filhos.
(Beatriz Bracher. Anatomia do Paraíso. Editora 34. Adaptado)
93
(Bill Watterson. O melhor de Calvin. O Estado de S. Paulo, 17.03.2019)
Analise as alternativas elaboradas com base nos quadrinhos e assinale a correta quanto à concor-
dância verbal padrão.
A) Nas páginas do jornal que Calvin e Haroldo folheiam, existe informações sobre filmes de dife-
rentes gêneros.
B) De acordo com Haroldo, nos filmes de temática adulta, aborda-se questões como trabalhar, pa-
gar contas, assumir responsabilidades.
C) Para Calvin, deve haver boas razões para um filme ser classificado na categoria de temática
adulta.
D) Na opinião de Haroldo, parecem que esses filmes, apesar do conteúdo, conseguem gerar mui-
tos lucros aos produtores.
E) Quem é menor de 18 anos, segundo Calvin, não deveriam assistir a esse tipo de filme.
A) Entretanto, registram-se divergências sobre o recorte exato das idades dos millennials.
B) Os especialistas concordam que se tratam de pessoas exigentes e autênticas.
C) Nesse grupo, os que trabalham ou estudam é maioria, além de estar engajado em causas so-
ciais.
D) Evidenciam-se que pesquisas sobre a Geração Y a considera importante para definir perfis de
consumo.
E) É bastante variável, de acordo com o grupo social, os objetos de desejo desses indivíduos.
94
QUESTÃO 27: VUNESP - PROF (SME BARRETOS)/PREF BARRETOS/I/2018
Assunto: Concordância (Verbal e Nominal)
Leia a tira para responder à questão.
(Bill Watterson. O mundo é mágico: as aventuras de Calvin e Haroldo. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2010. Adaptado)
Assinale a alternativa cuja redação, escrita a partir do texto da tira, está correta quanto à concor-
dância, conforme a norma-padrão da língua.
A) Disseminados indiscriminadamente em programas de TV, valores culturais distorcidos são incor-
porados durante nossa formação.
B) Assistido por um grande número de espectadores, alguns programas de TV são inclusive forma-
dores de opinião.
C) Não raro, algumas músicas tem letras contaminadas por um forte apelo à violência, além de
pregarem o consumismo.
D) Os valores e a arte são cada vez menos frequente nos filmes, dada a necessidade de estarem
alinhados à cultura de massa.
E) A realidade e a ficção acaba se misturando, sendo por vezes difícil entender qual dos dois in-
fluencia ou sofre influência.
O sociólogo Pierre Bourdieu foi meu grande guru. Ele mostrou como a linguagem é usada como
instrumento de poder na sociedade. Portanto, é importante dar às pessoas esse instrumento. As
camadas populares têm que lutar muito contra a discriminação e a injustiça, e a linguagem é um
instrumento fundamental. Alfabetização e letramento têm esse objetivo: dar às pessoas o domínio
da língua como instrumento de inserção na sociedade e de luta por direitos fundamentais. Em rela-
ção à língua escrita, a criança tem que aprender duas coisas. Uma é o sistema de representação,
que é o sistema alfabético. Esse é um processo que trabalha determinadas operações cognitivas
e tem que levar em conta as características do sistema alfabético, é saber decodificar o que está
escrito, ou codificar o que deseja escrever. Mas isso deve ser feito em contexto de letramento, com
textos reais, não com o clássico exemplo “Eva viu a uva”. Que Eva? Que uva? Tradicionalmente a
alfabetização se resumia a codificar e decodificar, porque o foco era a criança aprender apenas o
código. Mas a questão é que a criança precisa aprender o código sabendo para o que ele serve.
A escrita é uma tecnologia como outras. É importante aprender a escrever, conhecer a relação
fonema-letra, saber que se escreve de cima para baixo, da esquerda para a direita, aprender as
95
convenções da escrita. Mas essa tecnologia, como toda tecnologia, só tem sentido para ser usada:
para saber interpretar textos, fazer inferências, ler diferentes gêneros, o que significa outra coisa e
exige outras habilidades e competências. Aprender o sistema de escrita é alfabetização. Aprender
os usos sociais do sistema de escrita é letramento.
(http://revistapesquisa.fapesp.br. Adaptado)
Há 28 anos um grupo de pessoas se reúne semanalmente na sede da ONG (organização não go-
vernamental) Anjos da Noite, em um sobrado no bairro de Artur Alvim, na Zona Leste de São Paulo.
Os voluntários dedicam-se a aplacar as carências dos moradores de rua. Além de entregar cober-
tores e roupas, o grupo tem como principal incumbência a distribuição de refeições. Aos sábados,
os colaboradores se organizam para preparar 200 quilos de comida. A distribuição de 800 marmitas
tem início ao cair da noite. Anteriormente, os voluntários rodavam quatro horas pelas ruas da re-
gião central até entregar a última quentinha. Hoje, o trabalho é feito em menos de uma hora. Basta
estacionar o carro, e um grupo de pessoas carentes faz fila para ganhar o alimento.
A experiência dos Anjos da Noite confirma a percepção que tem qualquer cidadão dos maiores cen-
tros urbanos brasileiros: o número de pessoas que vivem nas ruas elevou-se, e muito, nos últimos
anos. As estatísticas são esporádicas e, por isso, não é fácil saber com exatidão a proporção desse
crescimento.
(Giovanni Magliano. A rua como único refúgio. Veja, 6.12.2017. Adaptado)
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QUESTÃO 30: VUNESP - CI (PAULIPREV)/PAULIPREV/2018
Assunto: Concordância (Verbal e Nominal)
Leia o texto para responder à questão.
Psiquiatras em pé de guerra
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QUESTÃO 31: VUNESP - PROF (SME BARRETOS)/PREF BARRETOS/II/ARTES/2018
Assunto: Concordância (Verbal e Nominal)
Leia a tira para responder à questão.
O trecho destacado na frase – Com sorte, talvez tenha alguma coisa sobre ele hoje na TV. – está
reescrito conforme a concordância padrão em:
A) se veiculem informações
B) seja dado alguma informação
C) surja informações
D) exista qualquer informações
E) possam haver informações
A) Ruas esburacadas, pedras pelo chão, vidros quebrados, lixo acumulado, tudo isso deixou meus
amigos decepcionados.
B) O confronto entre os estudantes e os policiais deixaram rastros de destruição pelas ruas de Pa-
ris, o que impressionaram meus amigos.
C) Quando duas horas já tinha se passado, meu amigo voltou para casa e só então soube que os
militares havia assumido o poder.
D) As lojas fechadas e o prédio da UNE em chamas não foram suficiente para dar pistas ao meu
amigo do que tinha acontecido.
E) Meu amigo e João Gilberto se conheceram antes mesmo que as composições deste o tornasse
um dos principais músicos do Brasil.
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QUESTÃO 33: VUNESP - DELEG (PC BA)/PC BA/2018
Assunto: Concordância (Verbal e Nominal)
A concordância está em conformidade com a norma-padrão na seguinte frase:
A) São comuns que a adaptação de livros para o cinema suscitem reações negativas nos fãs do
texto escrito.
B) Cabem aos leitores completar, com a imaginação, as lacunas que fazem parte da estrutura sig-
nificativa do texto literário.
C) Aos esforços envolvidos na leitura soma-se a imaginação, a que a linguagem literária apela
constantemente.
D) Algumas pessoas mantém o hábito de só assistirem à adaptação de uma obra depois de as te-
rem lido, para não ser influenciadas.
E) Há livros que dispõe de uma infinidade de adaptações para o cinema, as quais tende a compor
seu repertório de leituras.
Algoritmos e desigualdade
Virginia Eubanks, professora de ciências políticas de Nova York, é autora de Automating Inequality
(Automatizando a Desigualdade.), um livro que explora a maneira como os computadores estão
mudando a prestação de serviços sociais nos Estados Unidos. Seu foco é o setor de serviços
públicos, e não o sistema de saúde privado, mas a mensagem é a mesma: com as instituições
dependendo cada vez mais de algoritmos preditivos para tomar decisões, resultados peculiares – e
frequentemente injustos – estão sendo produzidos.
Virginia Eubanks afirma que já acreditou na inovação digital. De fato, seu livro tem exemplos de
onde ela está funcionando: em Los Angeles, moradores de rua que se beneficiaram dos algoritmos
para obter acesso rápido a abrigos. Em alguns lugares, como Allegheny, houve casos em que “da-
dos preditivos” detectaram crianças vulneráveis e as afastaram do perigo.
Mas, para cada exemplo positivo, há exemplos aflitivos de fracassos. Pessoas de uma mesma
família de Allegheny foram perseguidas por engano porque um algoritmo as classificou como pro-
pensas a praticar abuso infantil. E em Indiana há histórias lastimáveis de famílias que tiveram
assistência de saúde negada por causa de computadores com defeito. Alguns desses casos
resultaram em mortes.
Alguns especialistas em tecnologia podem alegar que esses são casos extremos, mas um padrão
similar é descrito pela matemática Cathy O’Neill em seu livro Weapons of Math Destruction. “Mode-
los matemáticos mal concebidos agora controlam os mínimos detalhes da economia, da propagan-
da às prisões”, escreve ela.
Existe alguma solução? Cathy O’Neill e Virginia Eubanks sugerem que uma opção seria exigir que
os tecnólogos façam algo parecido com o julgamento de Hipócrates: “em primeiro lugar, fazer o
bem”. Uma segunda ideia – mais custosa – seria forçar as instituições a usar algoritmos para con-
tratar muitos assistentes sociais humanos para complementar as tomadas de decisões digitais.
Uma terceira ideia seria assegurar que as pessoas que estão criando e rodando programas de
computador sejam forçadas a pensar na cultura, em seu sentido mais amplo.
99
Isso pode parecer óbvio, mas até agora os nerds digitais das universidades pouco contato tiveram
com os nerds das ciências sociais – e vice-versa. A computação há muito é percebida como uma
zona livre de cultura e isso precisa mudar.
(Gillian Tett. www.valor.com.br. 23.02.2018. Adaptado)
Em “[…] há exemplos aflitivos de fracassos.”, a forma verbal destacada pode ser substituída, res-
peitando-se a concordância da norma-padrão, por:
A) registram-se
B) tomam-se nota de
C) soma-se
D) é observado
E) surge
100
por exclusão, nos leva ao raciocínio de que o “a” da construção é apenas a preposição “a”.
Assinale a alternativa em que a primeira frase confirma e a segunda frase nega o contido na pas-
sagem final do texto.
A) Quando cheguei à repartição, percebi que ali foram feitas algumas mudanças. / A nova funcio-
nária foi encaminhada à direção do setor.
B) Durante a reunião do departamento, lemos, com atenção, a ata da anterior. / Emprestei o livro
importado a quem não deveria.
C) Oferecemos a todos os participantes do evento um exemplar do livro. / Na reunião, eles se re-
feriram a essa nova lei.
D) Analisando a documentação, conclui-se que está tudo em ordem. / Pedimos atenção à nova
legislação do condomínio.
E) Encontrei o autor a cujo livro nos referimos na última bienal. / A foto do acidente à qual tive aces-
so me deixou chocada.
Leia o texto.
Graças leitura de “A vida invisível de Eurídice Gusmão”, romance de Martha Batalha, referente
angústias de duas irmãs na década de 1940, um homem de 42 anos, preso em São Paulo,
decidiu reatar com a filha. O livro chegou essa pessoa por meio do Programa Clubes de Lei-
tura e Remição de Pena.
(Mariana Vick. Folha de S.Paulo, 26.06.2018. Adaptado)
De acordo com a norma-padrão, as lacunas do texto devem ser preenchidas, respectivamente, por:
A) a ... as ... a
B) a ... às ... à
C) à ... às ... a
D) à ... as ... à
E) à ... às ... à
A regência verbal e o emprego do sinal indicativo de crase estão em conformidade com a norma-
-padrão dalíngua em:
A) É preciso dar atenção à ela.
B) Ele criticou à certas convenções.
C) O médico tentou dissuadi-lo à trabalhar.
D) Lá deu vida àquelas obras literárias.
E) Karl defendia à uma revolução.
QUESTÃO 6: VUNESP - ASS INF (CM TATUÍ)/CM TATUÍ/2019
Assunto: Crase
O Marajá
A família toda ria de dona Morgadinha e dizia que ela estava sempre esperando a visita de alguém
ilustre. Dona Morgadinha não podia ver uma coisa fora do lugar, uma ponta de poeira em seus mó-
veis ou uma mancha em seus vidros e cristais. Gemia baixinho quando alguém esquecia um sapato
no corredor, uma toalha no quarto ou – ai, ai, ai – uma almofada fora do sofá da sala. Baixinha,
resoluta, percorria a casa com uma flanela na mão, o olho vivo contra qualquer incursão do pó, da
cinza, do inimigo nos seus domínios.
Dona Morgadinha era uma alma simples. Não lia jornal, não lia nada. Achava que jornal sujava os
dedos e livro juntava mofo e bichos. O marido de dona Morgadinha, que ela amava com devoção
apesar do seu hábito de limpar a orelha com uma tampa de caneta Bic, estabelecera um limite para
sua compulsão por limpeza. Ela não podia entrar em sua biblioteca. Sua jurisdição acabava na
porta. Ali dentro só ele podia limpar, e nunca limpava. E, nas raras vezes em que dona Morgadinha
chegava à porta do escritório proibido para falar com o marido, esse fazia questão de desafiá-la.
Botava os pés em cima dos móveis. Atirava os sapatos longe. Uma vez chegara a tirar uma meia
e jogar em cima da lâmpada só para ver a cara da mulher. Sacudia a ponta do charuto sobre um
cinzeiro cheio e errava deliberadamente o alvo. Dona Morgadinha então fechava os olhos e, inca-
paz de se controlar, lustrava com a sua flanela o trinco da porta.
(Luis Fernando Veríssimo. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008. Adaptado)
Assinale a alternativa em que o acento indicativo da crase está empregado em conformidade com
a norma-padrão da língua portuguesa.
A) À visita de alguém ilustre parecia ser sempre aguardada por Dona Morgadinha.
B) À qualquer sinal de mancha nos vidros e cristais, punha-se a reclamar baixinho.
C) À vista do menor sinal de poeira, a mulher percorria a casa com uma flanela na mão.
D) À busca constante por limpeza e organização era o objetivo diário de dona de casa.
E) À devoção de Dona Morgadinha pelo marido esbarrava nos maus hábitos do homem.
Pela primeira vez na história de nossa espécie, foi-nos oferecida a possibilidade de comer à larga
em todas as refeições e de ganhar a vida sentados o dia inteiro. Obesidade e sedentarismo se
tornaram as principais epidemias nos países de renda média e alta, nos quais a praga mortífera do
tabagismo começa a ser a duras penas controlada.
Na esteira dessas duas pandemias, caminham a passos apressados hipertensão arterial, diversos
tipos de câncer, diabetes, doenças cardiovasculares, problemas ortopédicos, articulares, renais e
outras complicações que sobrecarregam o sistema de saúde, encarecem o atendimento e fazem
103
sofrer milhões de pessoas. Nas capitais, 19% dos brasileiros adultos estão obesos e outros 35%
têm sobrepeso, ou seja, menos da metade da população cai na faixa do peso considerado saudá-
vel.
Na contramão de outros ramos da economia, a incorporação de tecnologia na área médica aumen-
ta o custo do produto final. A assistência a uma população que envelhece mal como a brasileira
exigirá recursos de que não dispomos no SUS nem na saúde suplementar.
Esperar as pessoas adoecerem para tratá-las em hospitais e unidades de pronto atendimento é
política suicida. Não há saída: ou investimos na prevenção ou, cada vez mais, só os privilegiados
terão acesso à medicina moderna.
Nos anos 1960, cerca de 60% dos nossos adultos fumavam, hoje não passam de 10%. Se con-
seguimos resultado tão impressionante com a dependência química mais feroz que a medicina
conhece, não é impossível convencer mulheres, crianças e homens a comer um pouco menos e a
andar míseros 40 minutos num dia de 24 horas.
(Drauzio Varella. Folha de S. Paulo, 11.11.2018. www.folha.uol.com.br. Adaptado)
Assinale a alternativa em que um trecho do texto está corretamente reescrito, no que respeita ao
emprego do sinal indicativo de crase.
A)... foi oferecida à nós a possibilidade de comer...
B)... causam sofrimento à milhões de pessoas.
C)... menos da metade da população ajusta-se à faixa do peso considerado saudável.
D) Em oposição à outros ramos da economia...
E)... hoje não são superiores à 10%.
104
QUESTÃO 10: VUNESP - PEBII (PREF ITAPEVI)/PREF ITAPEVI/PEB II/EDUCAÇÃO
ESPECIAL/2019
Assunto: Crase
A propagação de notícias falsas já mostrou seu poder de influenciar eleições e dividir sociedades,
potencializando preconceitos e ódios. Que efeito terá em crianças e jovens que não receberam
uma formação para a leitura de notícias?
Sem entender o que se passa ao redor, as crianças não se sentem parte da sociedade. Elas ou-
vem, principalmente pela televisão, e leem na internet o que está circulando no momento. Perce-
bem quando algo de grave ocorre, até porque podem viver em casa o problema estampado nas
manchetes dos jornais, como o desemprego dos pais.
Já ouviram falar de fake news, mas não sabem em quem confiar nem como identificar a credibilida-
de de uma informação, além de que diferenciar informação de opinião é difícil para elas.
Como muitos adultos também se mostram incapazes de detectar uma notícia falsa, as crianças
acabam muitas vezes sem orientação, ficam à margem do debate.
Encontra-se aí um grave problema: se elas não tiverem formação para ler notícias e não exercita-
rem o senso crítico para se protegerem de informações mentirosas, iremos perder uma geração
inteira que poderia (e deveria) promover as mudanças que tanto queremos.
As crianças são curiosas por natureza e querem se informar. Além disso, têm o direito de acesso
às mídias e de participação no debate público assegurado pela Convenção Internacional sobre
os Direitos da Criança.
A experiência mostra que, tendo acesso a notícias adequadas aos seus repertórios e contextuali-
zadas, sentem-se parte da sociedade e tornam-se mais autônomas.
Em várias ocasiões, impressionei-me com o protagonismo dos leitores mirins. Crianças de uma
região carente do interior de São Paulo, que leram os textos sobre a crise dos refugiados sírios,
organizaram um brechó com suas próprias roupas e entregaram o dinheiro a algumas famílias de
refugiados que estão no Brasil.
Outras, tendo lido sobre o problema da obesidade infantil no Brasil, mobilizaram-se para orga-
nizar uma olimpíada. Algumas explicaram a seus pais o que significa impeachment.
O problema das fake news é mais grave do que se imagina. Caso não seja combatido desde a
base, teremos crianças e jovens deixando de ler ou descrentes até de veículos com credibilidade.
Isso os deixará paralisados, sem saber como agir e vulneráveis a toda espécie de manipulação.
Jovens e crianças bem informados entendem o que se passa ao redor, formam as próprias opiniões
e se tornam cidadãos críticos e ativos.
Não há maneira de controlar o que nossos filhos leem ou veem, mas podemos incluí-los no debate,
compartilhar e discutir notícias com eles, ensinando-os a buscar fontes confiáveis e a exercitar
o senso crítico.
Se perdermos essa geração para as fake news, que líderes teremos e o que eles farão pelo Brasil
daqui a 20 anos?
(Stéphanie Habrich, diretora executiva do jornal “Joca”, voltado para jovens e crianças. Folha de S.Paulo, 19.02.2018.
105
Adaptado)
Sem entender o que ocorre no mundo, crianças e jovens são levados uma atitude de passivida-
de, pois, sem as ferramentas para analisar os fatos criteriosamente, não chegarão ser cidadãos
ativos. Não podemos perder essa nova geração, qual atribuímos o futuro do país.
Em conformidade com as regras de emprego do sinal indicativo de crase, as lacunas do texto de-
vem ser preenchidas, respectivamente, por:
A) à … a … à
B) à … à … à
C) à … à … a
D) a … a … à
E) a … à … a
Em A vingança dos nerds, comédia de 1984, um grupo de jovens feiosos e um tanto estranhos,
vítimas da agressividade e do bullying de colegas fortões e quase idiotas, decide ir para a revan-
che com um festival de estripulias bem-sucedidas. Ao som de We Are the Champions, clássico
do Queen, eles celebraram a vitória. O filme foi premonitório. Os nerds não deixaram pedra sobre
pedra. Fizeram suas apostas e quebraram a banca. Na lista das pessoas mais ricas do mundo,
encontram-se três deles nas cinco primeiras posições, todos pais e filhos da revolução digital:
Jeff Bezos, da Amazon, na primeiríssima colocação; Bill Gates, da Microsoft, no segundo lugar; e
Mark Zuckerberg, do Facebook, no quinto posto. Para efeito de comparação, em 1982, tempo em
que os nerds ainda eram ridicularizados, a figura mais rica do mundo era o dono de um estaleiro
naval (Daniel K. Ludwig) que fizera fortuna vendendo embarcações para a indústria de petróleo.
Um olhar para os dois momentos, o de três décadas atrás e o de agora, comprova como a econo-
mia mudou, e hoje isso soa óbvio. Menos óbvia é a constatação de que a cultura nerd venceu, e
por ter vencido virou padrão. “Seja legal com os nerds, provavelmente você vai acabar trabalhando
para um deles” vaticinou Gates, não muito depois de 1977, quando ele foi detido por dirigir sem
documentos. A Microsoft acabara de nascer e, por trás daqueles óculos genuinamente nerds, na
foto da detenção, brotavam um novo mundo e novas concepções do que é ser bacana. A aparente
fragilidade de Gates era só aparência mesmo – e o leve sorriso irônico anunciava um salto desti-
nado a dar um contr+alt+del nada metafórico em quem ainda achava possível andar ao modo da
velha indústria.
A atual hegemonia nerd é a prova, também, de que todo estereótipo é tolo. Costuma-se classificar
como nerds as pessoas muito inteligentes, em geral tímidas que cismam com um tema e dele
não saem. Somos todos nerds – ou queremos ser, porque a força está com eles, ao menos a força
econômica, e o que andava à margem, em quartos fechados e garagens, hoje virou padrão.
(Fábio Altman. Veja, 26.09.2018. Adaptado)
Assinale a alternativa que reescreve a passagem – ... pessoas muito inteligentes, em geral tímidas
que cismam com um tema e dele não saem. –, de acordo com a norma-padrão de regência e em-
106
prego do sinal indicativo de crase.
A) ... pessoas muito inteligentes, em geral tímidas que implicam num tema, agarram-se à ele, ne-
gam-se em deixar-lhe.
B) ... pessoas muito inteligentes, em geral tímidas que se apegam em um tema, devotam-se aquele
tema, não se dignam à evitá-lo.
C) ... pessoas muito inteligentes, em geral tímidas que se aferram à certo tema, perseveram nele,
hesitam a apartar-se dele.
D) ... pessoas muito inteligentes, em geral tímidas que se dedicam à determinado tema, vinculam-
-se nele, não se permitem renunciar a ele.
E) ... pessoas muito inteligentes, em geral tímidas que insistem em um tema, aferram-se àquele
tema, recusam- se a abandoná-lo.
Roma
O filme Roma está constantemente entre dois caminhos. É pessoal e grandioso, popular e intelec-
tual, tecnológico – rodado em 65 mm digital – e clássico – feito em preto e branco com a mesma
ousadia dos movimentos cinematográficos das décadas de 1950 e 1960. O título, uma referência a
Colonia Roma, bairro da Cidade do México, também remete a Roma, Cidade Aberta, filme-símbolo
do neorrealismo italiano assinado por Roberto Rossellini.
Ao revisitar a própria memória, o cineasta Alfonso Cuarón escolhe olhar para Cleo, a empregada,
de origem indígena, de uma família branca de classe média. Resgata, assim, não apenas os seus
anos de formação, mas todas as particularidades do passado do país. O México no início dos anos
1970 fervilhava entre revoluções sociais e a influência da cultura estrangeira. Cleo, porém, se man-
tinha ingênua, centrada nas suas obrigações: lavar o pátio, buscar as crianças na escola, lavar a
roupa, colocar os pequenos para dormir.
Até que tudo se transforma. A família perfeita desmorona, com o pai que sai de casa, a mãe que
não se conforma com o fim do casamento e os filhos jogados de um lado para o outro na confusão
dos adultos. Enquanto isso, Cleo se apaixona, engravida, é enganada e deixada à própria sorte.
Duas mulheres de diferentes origens compartilham a dor do abandono. Juntas, reencontram a re-
siliência que segura o mundo frente às paixões autocentradas.
O cineasta, que além da direção e do roteiro assina a fotografia e a montagem (ao lado de Adam
Gough), retrata sua história, entrelaçada com a de seu país, como se na vida adulta reencontrasse
o olhar da infância, cujo fascínio por cada descoberta aumenta o tamanho e a importância de tudo.
O que Cuarón faz em Roma é raro. São camadas e camadas sobrepostas para reproduzir a com-
plexidade do seu imaginário afetivo e das relações sociais de um país. Entre muitas inspirações,
referências e técnicas, sua assinatura está na sinceridade com que olha para si mesmo e para os
seus personagens, encontrando beleza e verdade no que muitos menosprezam. Esse é um filme
simples e complicado, como a própria vida.
(Natália Bridi. Omelete. 11.01.2019. www.omelete.com.br. Adaptado)
Assinale a alternativa em que o sinal indicativo de crase está empregado em conformidade com a
107
norma-padrão da língua.
A) Segundo Cuarón, o cinema deve voltar seu olhar à todos aqueles para quem ninguém olha.
B) Roma chegou à receber o Oscar de melhor filme estrangeiro, o que gerou certa polêmica.
C) Em 2019, o Oscar de melhor direção foi concedido à Alfonso Cuarón, por Roma.
D) O cineasta mostrou-se grato por terem dado valor à um filme centrado em uma mulher indígena.
E) Cuarón agradeceu às atrizes Yalitza Aparicio e Marina de Tavira, dizendo que elas “são o filme”.
Ao chegar idade de 5 anos, o poeta viveu experiência marcante, quando seu pai deu a mão
ele e o apresentou pessoas quais o pai dedicava respeito.
As lacunas dessa frase devem ser preenchidas, respectivamente e em conformidade com a nor-
ma-padrão, por:
A) a ... a ... à ... as
B) a ... à ... a ... às
C) à ... a ... à ... às
D) à ... à ... a ... as
E) à ... a ... a ... às
Creio que muito de nossa insistência, enquanto professoras e professores, em que os estudantes
“leiam”, num semestre, um sem-número de capítulos de livros, reside na compreensão errônea que
às vezes temos do ato de ler. Em minha andarilhagem pelo mundo, não foram poucas as vezes
em que jovens estudantes me falaram de sua luta às voltas com extensas bibliografias a serem
muito mais “devoradas” do que realmente lidas ou estudadas. Verdadeiras “lições de leitura” no
sentido mais tradicional desta expressão, a que se achavam submetidos em nome de sua forma-
ção científica e de que deviam prestar contas através do famoso controle de leitura. Em algumas
vezes cheguei mesmo a ler, em relações bibliográficas, indicações em torno de que páginas deste
ou daquele capítulo de tal ou qual livro deveriam ser lidas: “Da página 15 à 37”.
A insistência na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreen-
didos, e não mecanicamente memorizados, revela uma visão mágica da palavra escrita. Visão
que urge ser superada. A mesma, ainda que encarnada desde outro ângulo, que se encontra, por
exemplo, em quem escreve, quando identifica a possível qualidade de seu trabalho, ou não, com
a quantidade de páginas escritas. No entanto, um dos documentos filosóficos mais importantes de
que dispomos, As teses sobre Feuerbach, de Marx, tem apenas duas páginas e meia...
Parece importante, contudo, para evitar uma compreensão errônea do que estou afirmando, subli-
108
nhar que a minha crítica à magicização da palavra não significa, de maneira alguma, uma posição
pouco responsável de minha parte com relação à necessidade que temos, educadores e educan-
dos, de ler, sempre e seriamente, os clássicos neste ou naquele campo do saber, de nos aden-
trarmos nos textos, de criar uma disciplina intelectual, sem a qual inviabilizamos a nossa prática
enquanto professores e estudantes.
(Paulo Freire. A importância do ato de ler)
Com base no emprego do sinal indicativo de crase, assinale a alternativa que completa correta-
mente a frase a seguir:
109
QUESTÃO 16: VUNESP - PROC (PREF. POÁ)/PREF POÁ/2019
Assunto: Crase
Ameaças globais
A mudança climática continua sendo percebida como a maior ameaça global, diz o Pew Research
Center. Realizado no ano passado com mais de 27 mil pessoas em 26 países, o estudo indicou um
fortalecimento dessa percepção.
Em 2013, 56% viam o aquecimento global como uma grande ameaça. Em 2017, eram 63%. No
ano passado, o porcentual foi de 67%. No Brasil, 72% apontaram a mudança climática como uma
relevante ameaça global.
Confirma-se, assim, que o mundo está cada vez mais preocupado com a sustentabilidade do pla-
neta, o que tem muitas consequências sociais, políticas e econômicas. Por exemplo, os governos
que se mostrarem alheios ou contrários a essa preocupação estarão contrariando os sentimentos
de sua própria população, além de se colocarem na contramão da história. Outro inegável efeito
é que, com populações cada vez mais atentas a questões ambientais, ampliar o acesso a novos
mercados exige o compromisso de melhorar as práticas ambientais. Ser indiferente ao meio am-
biente é um meio de um país se isolar na esfera internacional.
Além do aquecimento global, o terrorismo foi outra grande preocupação constatada na pesquisa.
Em oito países, entre eles, Rússia, França, Indonésia e Nigéria, o Estado Islâmico foi visto como o
maior risco global. Também cresceu a preocupação com os ataques cibernéticos.Em quatro países,
incluindo Estados Unidos e Japão, o risco cibernético foi a preocupação internacional mais citada.
No mundo inteiro, cresceu a preocupação com o poder e a influência dos Estados Unidos. Em dez
países, metade ou mais das pessoas entrevistadas afirmou que o poder americano é uma grande
ameaça ao seu país. Foi a maior mudança de sentimento entre as ameaças globais avaliadas. Na
Alemanha, o crescimento foi de 30%; na França, de 29%; no Brasil e no México, de 26%.
O estudo revelou um dado interessante a respeito da percepção sobre o risco envolvendo a situa-
ção da economia global. Embora seja citado em muitos lugares como uma ameaça significativa,
tal perigo não é visto em nenhum país como a principal ameaça. O Pew Research Center destacou
que isso ocorreu mesmo naqueles países em que as economias nacionais tiveram avaliações es-
pecialmente negativas, como a Grécia e o Brasil.
Tem-se, assim, que a avaliação que a população de um país faz sobre as ameaças globais pode
não ser muito objetiva. Às vezes, há perigos que as pessoas não querem ver. Tal fato mostra a im-
portância de os governos atuarem de forma responsável, com base em dados empíricos e estudos
consistentes. Nesta situação, ideologias não são um bom parâmetro para a análise de riscos.
(O Estado de S. Paulo. 17.02.2019. Adaptado)
110
E) Quanto à diferentes posicionamentos das nações, há países que ressaltam a interferência dos
Estados Unidos no cenário político internacional.
Assinale a alternativa que preenche as lacunas do texto a seguir, de acordo com a norma-padrão
de regência e de crase.
Consultorias fazem fortunas ensinando como manejar digitais protagonizadas pelos
membros da geração Y. O que vem inquietando muitos executivos, agora, é críticas públicas
dos próprios funcionários.
(Veja, 01.05.2019. Adaptado)
111
Leia as frases:
• Com a BNCC, busca-se chegar um modo preciso de progressão do ensino.
• A BNCC assemelha-se Constituição de 1988: detalhista, arrojada e generosa.
• Desigualdades do aprendizado podem ser corrigidas partir da existência de um padrão.
• Estados e municípios se dedicarão elaboração de seus respectivos currículos.
Destruindo Riqueza
A economia cresce encontrando soluções, em geral tecnológicas, para reduzir ineficiências e, nes-
se processo, libera mão de obra.
Um exemplo esclarecedor é o do emprego agrícola nos EUA. Até 1800, a produção de alimentos
exigia o trabalho de 95% da população do país. Em 1900, a geração de comida para uma população
já bem maior mobilizava 40% da força de trabalho e, hoje, essa proporção mal chega a 3%. Quem
abandonou a roça foi para cidades, integrando a força de trabalho da indústria e dos serviços.
Esse processo pode ser cruel para com indivíduos que ficam sem emprego e não conseguem se
reciclar, mas é dele que a sociedade extrai sua prosperidade. É o velho fazer mais com menos.
A internet, com sua incrível capacidade de conectar pessoas, abriu novos veios de ineficiências a
eliminar. Se você tem um carro e não é chofer de praça nem caixeiro viajante, ele passa a maior
parte do dia parado, o que é uma ineficiência. Se você tem um imóvel vago ou mesmo um dor-
mitório que ninguém usa, está sendo improdutivo. O mesmo vale para outros apetrechos que
você possa ter, mas são subutilizados. Os aplicativos de compartilhamento, ao ligar de forma ins-
tantânea demandantes a ofertantes, permitem à sociedade fazer muito mais com aquilo que já foi
produzido (carros, prédios, tempo disponível etc.), que é outro jeito de dizer que ela fica mais rica.
É claro que isso só dá certo se não forem criadas regulações desnecessárias que embaracem os
acertos voluntários entre as partes. A burocratização da oferta de serviços de aplicativos torna-os
indistinguíveis. Dá para descrever isso como a destruição de riqueza.
(Hélio Schwartsman. Folha de S.Paulo. 31.10.2017. Adaptado)
Assinale a alternativa em que, no trecho que completa a frase a seguir, o acento indicativo da crase
está empregado corretamente, de acordo com a norma-padrão da língua.
A internet tem se consolidado como uma ferramenta indispensável na sociedade atual, especial-
mente no que diz respeito
A) à algumas atividades mais recentes do mercado de trabalho.
112
B) à quem pretende ingressar em novos campos de trabalho.
C) à novas formas de produção e de geração de riquezas.
D) à capacidade da rede em diminuir distâncias entre pessoas e empresas.
E) à eliminar ineficiências que impedem a produtividade.
Novo Analfabetismo
O Instituto de Estatísticas da Unesco alerta, em informe recente, que grande parte dos jovens da
América Latina não alcança níveis apropriados de proficiência em leitura. São 19 milhões de ado-
lescentes que concluem o ensino fundamental sem conseguir ler parágrafos simples e deles extrair
informações, num fenômeno que Silvia Montoya, dirigente do instituto, chama de “nova definição
do analfabetismo”.
A preocupação da diretora procede, pois a falta de competência leitora fragiliza a cidadania. Afinal,
quem não consegue ler jornais ou livros depende do que a televisão lhe recomenda como condutas
corretas e não consegue formular seus próprios juízos.
Além disso, em tempos em que o mundo do trabalho extermina postos baseados em tarefas roti-
neiras, que não demandam capacidade de concepção, as chances de sucesso profissional e de
realização pessoal de quem tem letramento insuficiente se tornam muito limitadas.
Aqui, só 30% dos alunos saem do 9o ano com aprendizado adequado em leitura e interpretação,
de acordo com dados do Inep. É menos que a média da América Latina, que tanto chocara Silvia
Montoya.
Ora, num país de elites não leitoras, o fato de tantos jovens não estarem aptos a ler livros talvez
não choque.
Não é mais suficiente ter um nível mínimo de alfabetização. Não ter competência leitora traz obstá-
culos para a vida em sociedade, especialmente no tocante à dificuldade em compreender os pró-
prios direitos e deveres como cidadão, ainda mais num mundo em turbulência como o que vivemos.
(Claudia Costin. Folha de S.Paulo, 27.10.2017. Adaptado)
Assinale a alternativa em que, no trecho reescrito a partir do texto que completa a frase a seguir,
o acento indicativo da crase está empregado corretamente, de acordo com a norma-padrão da
língua.
Uma competência leitora insuficiente acaba criando obstáculos para a vida em sociedade, espe-
cialmente quanto
A) à algumas atividades requeridas por novas formas de trabalho.
B) à ser capaz de praticar a leitura eficiente de livros e de jornais.
C) à compreensão eficiente de responsabilidades e de direitos sociais.
D) à novas exigências praticadas no mercado de trabalho atual.
E) à uma aprendizagem escolar rica e plenamente satisfatória.
113
QUESTÃO 21: VUNESP - PEB I (PREF GARÇA)/PREF GARÇA/2018
Assunto: Crase
Leia o trecho da entrevista da professora Magda Soares à Pesquisa Fapesp para responder à
questão.
O sociólogo Pierre Bourdieu foi meu grande guru. Ele mostrou como a linguagem é usada como
instrumento de poder na sociedade. Portanto, é importante dar às pessoas esse instrumento. As
camadas populares têm que lutar muito contra a discriminação e a injustiça, e a linguagem é um
instrumento fundamental. Alfabetização e letramento têm esse objetivo: dar às pessoas o domínio
da língua como instrumento de inserção na sociedade e de luta por direitos fundamentais. Em rela-
ção à língua escrita, a criança tem que aprender duas coisas. Uma é o sistema de representação,
que é o sistema alfabético. Esse é um processo que trabalha determinadas operações cognitivas
e tem que levar em conta as características do sistema alfabético, é saber decodificar o que está
escrito, ou codificar o que deseja escrever. Mas isso deve ser feito em contexto de letramento, com
textos reais, não com o clássico exemplo “Eva viu a uva”. Que Eva? Que uva? Tradicionalmente a
alfabetização se resumia a codificar e decodificar, porque o foco era a criança aprender apenas o
código. Mas a questão é que a criança precisa aprender o código sabendo para o que ele serve.
A escrita é uma tecnologia como outras. É importante aprender a escrever, conhecer a relação fo-
nema-letra, saber que se escreve de cima para baixo, da esquerda para a direita, aprender as
convenções da escrita. Mas essa tecnologia, como toda tecnologia, só tem sentido para ser usada:
para saber interpretar textos, fazer inferências, ler diferentes gêneros, o que significa outra coisa
e exige outras habilidades e competências. Aprender o sistema de escrita é alfabetização. Aprender
os usos sociais do sistema de escrita é letramento.
(http://revistapesquisa.fapesp.br. Adaptado)
Leia as frases:
• A criança precisa aprender o código sabendo que ele se destina.
• Não basta que a criança obedeça tecnologia da escrita: ela só tem sentido para ser usada.
• Magda Soares refere-se Pierre Bourdieu como seu grande guru.
De acordo com a norma-padrão, as lacunas devem ser preenchidas, respectivamente, com:
A) a ... à ... à
B) à ... a ... à
C) a ... à ... a
D) à ... à ... a
E) a ... a ... à
114
E) Há normas que poucos obedecem, mesmo estando sujeitos à sanções severas.
Para responder à questão, leia os quadrinhos em que aparecem o garoto Calvin e seu amigo, o
tigre Haroldo.
Assinale a alternativa em que na frase elaborada a partir dos quadrinhos ocorre o emprego correto
do sinal indicativo de crase.
A) Calvin dirige-se à seu amigo Haroldo para comentar como está o dia.
B) Haroldo junta-se a Calvin e ambos se entregam à aventuras de verão.
C) Para o garoto, seria melhor uma brisa fresca à passar um dia sem um ventinho.
D) Ao descrever o dia, Calvin faz alusão à grande quantidade de insetos que circulam pelo ar.
E) Está calor, mas o verão proporciona à oportunidade de muita diversão.
115
QUESTÃO 25: VUNESP - ASR I (ARSESP)/ARSESP/RELAÇÕES INSTITUCIONAIS,
RECURSOS HUMANOS, PROTOCOLO E ADMINISTRATIVO/2018
Assunto: Crase
Assinale a alternativa em que o sinal indicativo de crase está empregado corretamente, conforme
a norma- padrão.
A) Atribui-se à timidez uma certa dificuldade em fazer amizades.
B) Muita gente relaciona timidez à uma certa atitude arrogante.
C) Para os tímidos, pedir aumento assemelha-se à alguma tortura.
D) Vincula-se erroneamente aos tímidos à falta de coragem.
E) Normalmente, não se associa ousadia à pessoas tímidas.
Nos EUA, a psicanálise lembra um pouco certas seitas – as ideias do fundador são instituciona-
lizadas e defendidas por discípulos ferrenhos, mas suas instituições parecem não responder às
necessidades atuais da sociedade. Talvez porque o autor das ideias não esteja mais aqui para
atualizá-las.
Freud era um neurologista, e queria encontrar na Biologia as bases do comportamento. Como a
tecnologia de então não lhe permitia avançar, passou a elaborar uma teoria, criando a psicanálise.
Cientista que era, contudo, nunca se apaixonou por suas ideias, revisando sua obra ao longo da
vida. Ele chegou a afirmar: “A Biologia é realmente um campo de possibilidades ilimitadas do qual
podemos esperar as elucidações mais surpreendentes. Portanto, não podemos imaginar que res-
postas ela dará, em poucos decêndios, aos problemas que formulamos. Talvez essas respostas
venham a ser tais que farão o edifício de nossas hipóteses colapsar”. Provavelmente, é sua frase
menos citada. Por razões óbvias.
(Galileu, novembro de 2017. Adaptado)
Embora Freud tenha saído campo para testar suas ideias, seu método não tinha o mesmo
rigor científico atual, em que não basta confirmar h i -
póteses – é preciso tentar negá-las. Se elas resistirem tentativa de refutação, provisoriamente man-
temos nossa crença.
(Galileu, novembro de 2017. Adaptado)
De acordo com a norma-padrão, as lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e respectiva-
mente, com:
A) à … às … a
B) a … as … a
C) à … as … à
D) a … às … à
E) a … as … à
116
QUESTÃO 27: VUNESP - ESC POL (PC SP)/PC SP/2018
Assunto: Crase
As crianças e os adolescentes estão vivendo boa parte de seu tempo no mundo virtual, principal-
mente por meio de seus aparelhos celulares. Em relatório divulgado em dezembro de 2017, o UNI-
CEF usou a expressão “cultura do quarto” para indicar um dos efeitos desse fenômeno. Os mais
novos têm escolhido o isolamento do espaço privado em detrimento do uso do espaço público para
se dedicarem à imersão nas redes.
Você certamente já viu agrupamentos de adolescentes que interagiam mais com seu celular do
que uns com os outros, não é? Pois bem: esse comportamento gera consequências, sendo que
algumas delas não colaboram para o bom desenvolvimento dos mais novos. Como eles aprendem
a se relacionar, por exemplo? Relacionando- se com seus pares! Acontece que o relacionamento
no mundo virtual é radicalmente diferente daquele que ocorre na vida real, o que nos faz levantar a
hipótese de que eles têm se desenvolvido com deficit no processo de socialização.
E como se aprenderia a ter – e a proteger – privacidade? Primeiramente sabendo a diferença entre
intimidade e convívio social. Explorar o mundo social simultaneamente ao real cria uma grande difi-
culdade nessa diferenciação. Não é à toa que já se expôs na rede a privacidade de tantas crianças
e jovens, com grande prejuízo pessoal!
(Rosely Sayão, As crianças e as tecnologias. Veja, 28-02-2018. Adaptado)
Assinale a alternativa que reescreve a passagem – Os mais novos têm escolhido o isolamento do
espaço privado em detrimento do uso do espaço público... – de acordo com a norma-padrão de
regência e do emprego do sinal indicativo de crase.
A) Os mais novos têm preferência pelo isolamento do espaço privado à usar o espaço público...
B) Os mais novos preferem o isolamento do espaço privado à usar o espaço público...
C) Os mais novos têm preferido o isolamento do espaço privado a usar o espaço público...
D) Os mais novos vêm preferindo ao isolamento do espaço privado a usar o espaço público...
E) Os mais novos dão preferência no isolamento do espaço privado do que a usar o espaço públi-
co...
117
Às segundas-feiras pela manhã, os usuários do Spotify (serviço de transferência de dados via in-
ternet que dá acesso a músicas e outros conteúdos de artistas) recebem uma lista personalizada
de músicas que lhes permite descobrir novidades. O sistema se baseia em um algoritmo cuja evo-
lução e usos aplicados ao consumo cultural são infinitos. De fato, plataformas de transmissão de
dados cinematográficos, como a Netflix, começam a desenhar suas séries de sucesso rastreando
os dados gerados por todos os movimentos dos usuários para analisar o que os satisfaz. O algorit-
mo constrói assim um universo cultural adequado e complacente com o gosto do consumidor, que
pode avançar até chegar sempre a lugares reconhecíveis.
O algoritmo, sustentam seus críticos, nos torna chatos, previsíveis, e empobrece nossa curiosidade
por explorar o acervo cultural. Ramón Sangüesa, coordenador do Data Transparency Lab (Labora-
tório de Transparência de Dados), consegue ver vantagens, mas também riscos. “Esses sistemas
se baseiam no passado para predizer o futuro. A primeira dificuldade é conseguir a massa crítica
para que tenhamos mais dados e as projeções sejam melhores. Mas sempre se corre o risco de
ficar em uma mesma área de recomendação. No consumo cultural, o perigo está na uniformiza-
ção do gosto, o que chamamos de filtro bolha. E assim vão sendo criados comportamentos
padronizados”, afirma.
A questão, no entanto, é se os limites impostos na aprendizagem pelos sistemas fechados de com-
putação são equiparáveis aos erros e possíveis idiotices que cometemos durante anos formando
nosso próprio gosto. O escritor Eloy Fernández Porta não vê grande diferença. Segundo ele, antes
do Spotify e fora dele o gosto já vinha determinado por critérios de acesso, aceitação, atualidade e
distinção. “Sempre vivemos a música em um algoritmo, o que acontece é que em vez de chamá-lo
de matemática o chamamos de espontaneidade. O algoritmo do Spotify não me parece menos con-
fiável do que a fórmula caótica que cada ouvinte inventou. Nem menos humano: quando fazemos
analogias erradas ou nos empenhamos em recomendar o primeiro disco de Vincent Gallo, nossas
sinapses estão dando os mesmos maus passos”, afirma.
(Daniel Verdú. https://brasil.elpais.com/brasil/. 09.07.2016. Adaptado)
No que se refere ao emprego do sinal indicativo de crase, o trecho “pode avançar até chegar sem-
pre a lugares reconhecíveis” permanecerá correto caso a expressão destacada seja substituída
por:
a) às seleções compatíveis com escolhas prévias.
b) à uma combinação considerada apropriada.
c) à alguns achados que podem agradar muito.
d) à certas músicas parecidas com o que já se ouve.
e) à qualquer tipo de composição que poderá interessar.
CIDADE DO MÉXICO, 13 MAR. O abacate está se convertendo no novo “ouro” do México, ultra-
passando o petróleo como produto de exportação que mais gera lucros para o país, de acordo
com os números mais recentes divulgados pelo Ministério da Economia do Estado. No entanto,
ecologistas se queixam de que o crescimento na demanda do fruto, abundante em vitamina E, está
causando um grande estrago ao meio-ambiente mexicano. A polpa do fruto costuma ser usada
118
como acompanhamento dos principais “snacks” dos norte americanos em competições esportivas,
como o Super Bowl. Durante os intervalos da partida, aliás, grandes companhias e produtoras da
fruta difundem anúncios publicitários. No dia 5 de fevereiro, por exemplo, o custo de uma propagan-
da de apenas 30 segundos no estádio, que foi vista por 130 milhões de espectadores, chegou a
US$ 5 milhões. A Associação de Produtores e Empacotadores de Abacate do México (Apeam) é
a encarregada de financiar essa mensagem, transmitida pela emissora de televisão Fox, na qual
são exaltados os benefícios do abacate mexicano. Estima-se que cerca de 100 mil toneladas do
popular molho “guacamole”, que é feito com a fruta, são consumidas apenas durante esse jogo de
futebol americano. A maioria do abacate que se consome nos Estados Unidos é produzido nos
campos do estado de Michoacán, o que é criticado por ecologistas, que acreditam que o “boom” da
produção do fruto no país está causando danos ao meio ambiente, já que muitas terras florestais
estão sendo dizimadas para ampliar os campos de abacate, mais rentáveis.
(https://istoe.com.br. Adaptado)
A) Estamos nos habituando à acessar a internet com uma regularidade cada vez maior.
B) Muitos têm aderido à prática da meditação para ampliar o poder de concentração.
C) Permanecer desconectado do meio virtual é uma espécie de tortura à muitas pessoas.
D) Controlar o próprio pensamento é um desafio à quem busca o autoconhecimento.
E) O uso desregrado das redes sociais impõe-se como um problema à esta sociedade.
Levantamento feito pela Folha de São Paulo ao final de 2017 mostrou que, em boa parte dos cur-
sos universitários, alunos que ingressam por meio de cotas se formam com notas próximas dos
demais. O estudo usou os resultados de mais de 250 mil estudantes nas três últimas edições do
Enade e constatou que alunos cotistas chegam a ter notas melhores que os outros, por exemplo,
em odontologia.
119
É refrescante dispormos de dados objetivos sobre um assunto tantas vezes poluído por ideologias.
É inegável que ações afirmativas, como as cotas, são importantes mecanismos de justiça social em
um país tão profundamente injusto como o nosso. E as conclusões do levantamento indicam que
tais ferramentas são válidas também no plano acadêmico: não se confirmam os prognósticos de
que o ingresso de alunos cotistas resultaria em degradação da qualidade dos cursos.
O perigo é alguém acreditar que cotas resolvem alguma coisa no médio prazo. Nosso sistema edu-
cacional está doente, e cotas são como um antitérmico, que reduz o desconforto do paciente, mas
não ataca as causas da febre. O que precisamos é que a escola pública, democrática e gratuita,
ofereça formação de qualidade, para que as cotas se tornem desnecessárias. Não é uma utopia:
acontece em muitos outros países, inclusive mais pobres que o Brasil.
Ações afirmativas não podem servir de álibi para continuarmos oferecendo formação inferior aos
filhos das classes mais desfavorecidas. Até porque propiciar acesso à universidade a alguns des-
ses jovens deixa muita coisa por resolver. O mesmo levantamento mostra que as notas de cotistas
são sim inferiores à média nos cursos de exatas, possivelmente os mais críticos para o desenvol-
vimento do país.
Não é difícil aventar uma explicação. Em matemática, cada etapa prepara a seguinte, não é pos-
sível pular. Quem não aprendeu multiplicação, não vai nunca entender frações. Se a matemática
não é ensinada na escola, na faculdade é simplesmente tarde demais. E aí os benefícios da ação
afirmativa foram desperdiçados.
Na virada do ano, outra notícia alvissareira: a Unicamp, talvez a mais inovadora de nossas universi-
dades, aprovou a criação de até 10% de vagas extras em seus cursos para candidatos premiados
em competições escolares, como as Olimpíadas Brasileiras de Matemática e Física. Uma espécie
de “cotas por mérito”.
Como todas as ideias inteligentes e com potencial para fazer diferença, essa também desperta
oposição. Inclusive de setores que advogam as cotas sociais, o que talvez não seja surpreendente,
mas é certamente lamentável. Tomara que a inteligência prevaleça.
(Marcelo Viana. Folha de S.Paulo, 21.01.2018. Adaptado)
Assinale a alternativa em cuja frase o acento indicativo da crase está corretamente empregado,
conforme a norma- padrão da língua portuguesa.
A) Não há indícios de que a entrada de cotistas seja danosa à alguns cursos, como se pensava.
B) Estudiosos do assunto divergem quanto aos benefícios das cotas à médio e longo prazos.
C) O acesso às universidades é apenas um primeiro passo para democratização do ensino de
qualidade.
D) A falta de conhecimentos básicos de matemática torna-se prejudicial à quem almeja o ensino
superior.
E) Segundo pesquisa recente, boa parte dos brasileiros é favorável à ações afirmativas como cotas
sociais.
Assinale a alternativa que preenche as lacunas do trecho a seguir, de acordo com a norma-padrão
de emprego do sinal indicativo de crase.
120
Esclareço Vossa Senhoria que todo aquele que aspira carreira pública, deve estar cien-
te de que terá de obedecer normas legais, para melhor desempenhar suas
funções. que não se dispõem enfrentar decisões difíceis, aconselha- se desistir.
partir de bons princípios, será fácil chegar consecução de seus ideais.
A) a … à … as … Àqueles … à … À … a
B) a … a … as … Aqueles … a … À … a
C) à … a … às … Aqueles … a … À … à
D) a … à … às … Àqueles … a … A … à
E) à … a … as … Aqueles … à … A … a
Comunidade e personalidade
Ao refletir sobre minha existência e minha vida social, vejo claramente minha estrita dependência
intelectual e prática. Dependo integralmente da existência e da vida dos outros. E descubro ser
minha natureza semelhante em todos os pontos à natureza do animal que vive em grupo. Como
um alimento produzido pelo homem, visto uma roupa fabricada pelo homem, habito uma casa
construída por ele. O que sei e o que penso, eu o devo ao homem. E para comunicá-los utilizo a
linguagem criada pelo homem. Mas quem sou eu realmente, se minha faculdade de pensar ignora
a linguagem? Sou, sem dúvida, um animal superior, mas sem a palavra a condição humana é digna
de lástima.
Portanto reconheço minha vantagem sobre o animal nesta vida de comunidade humana. E, se um
indivíduo fosse abandonado desde o nascimento, seria irremediavelmente um animal em seu cor-
121
po e em seus reflexos. Posso concebê-lo, mas não posso imaginá-lo.
Eu, enquanto homem, não existo somente como criatura individual, mas me descubro membro de
uma grande comunidade humana. Ela me dirige, corpo e alma, desde o nascimento até a morte.
Meu valor consiste em reconhecê-lo. Sou realmente um homem quando meus sentimentos, pen-
samentos e atos têm uma única finalidade: a comunidade e seu progresso. Minha atitude social
portanto determinará o juízo que têm sobre mim, bom ou mau.
Contudo, esta afirmação primordial não basta. Tenho de reconhecer nos dons materiais, intelec-
tuais e morais da sociedade o papel excepcional, perpetuado por inúmeras gerações, de alguns
homens criadores de gênio. Sim, um dia um homem utiliza o fogo pela primeira vez; sim, um dia ele
cultiva plantas alimentícias; sim, ele inventa a máquina a vapor.
O homem solitário pensa sozinho e cria novos valores para a comunidade. Inventa assim novas
regras morais e modifica a vida social. A personalidade criadora deve pensar e julgar por si mes-
ma, porque o progresso moral da sociedade depende exclusivamente de sua independência. A não
ser assim, a sociedade estará inexoravelmente votada ao malogro, e o ser humano privado da
possibilidade de comunicar.
Defino uma sociedade sadia por esse laço duplo. Somente existe por seres independentes, mas
profundamente unidos ao grupo. Assim, quando analisamos as civilizações antigas e descobrimos
o desabrochar da cultura europeia no momento do Renascimento italiano, reconhecemos estar a
Idade Média morta e ultrapassada, porque os escravos se libertam e os grandes espíritos conse-
guem existir.
(Albert Einstein. Como vejo o mundo. Trad. H. P. de Almeida)
Atendo-se à norma-padrão da língua no que respeita à regência ou, ainda, ao emprego do sinal
indicativo de crase, assinale a alternativa em que o segmento destacado está corretamente subs-
tituído por uma expressão pronominal.
A) … vejo claramente minha estrita dependência intelectual e prática… (1º parágrafo) / … vejo-a
claramente…
B) Dependo integralmente da existência e da vida dos outros. (1º parágrafo) / Dependo-lhes
integralmente.
C) … um dia um homem utiliza o fogo pela primeira vez… (5º parágrafo) / … um dia um homem
utiliza-lhe pela primeira vez…
D) … um dia ele cultiva plantas alimentícias… (5º parágrafo) / … um dia ele às cultiva…
E) … profundamente unidos ao grupo. (7º parágrafo) / … profundamente unidos à ele.
INTERPRETAÇÃO
Em atraso nas grandes reformas da Previdência Social e do sistema de impostos, o Brasil tem obti-
do avanços em uma agenda que, tomada em seu conjunto, mostra-se igualmente essencial – a da
melhora do ambiente de negócios.
Trata-se de objetivos tão diferentes quanto facilitar a criação de empresas, reduzir o custo de licen-
ças ou ampliar o acesso ao crédito. Grande parte dessas providências não depende de votações
122
no Congresso, mas sim do combate persistente a empecilhos burocráticos e ineficiências do setor
público.
A boa notícia é que o país subiu 16 posições no mais conhecido ranking dessa modalidade, di-
vulgado a cada ano pelo Banco Mundial. A má é que a 109a colocação, num total de 190 nações
consideradas, permanece vergonhosa.
O progresso ocorreu, basicamente, em quatro indicadores – fornecimento de energia elétrica, pra-
zo para abertura de empresa com registro eletrônico, acesso à informação de crédito e certifica-
ção eletrônica de origem para importações.
Pela primeira vez em 16 anos de publicação do relatório, o desempenho brasileiro se destacou na
América Latina. Os países mais bem posicionados da região, casos de México (54º lugar), Chile
(56o) e Colômbia (65o), apresentaram pouca ou nenhuma melhora.
Numa perspectiva mais ampla, o ambiente de negócios vai se tornando mais amigável na maior
parte do mundo. A edição mais recente do ranking catalogou número recorde de 314 reformas rea-
lizadas em 128 economias desenvolvidas e emergentes no período 2017/2018.
Fica claro, no documento, que o maior atraso relativo do Brasil se dá no pagamento de impostos,
dados a carga elevada e o emaranhado de regras dos tributos incidentes sobre o consumo. Nesse
quesito em particular, o país ocupa um trágico 184º lugar no ranking.
O caminho óbvio a seguir nesse caso é uma reforma ambiciosa, que racionalize essa modalidade
de taxação. Mesmo que não seja possível abrir mão de receitas, a simplificação já traria ganhos
substanciais em eficiência ao setor produtivo.
(Editorial, Folha de S.Paulo, 06.11.2018. Adaptado)
É muito comum o brasileiro sofrer com o acento grave, sinal que serve para indicar crase, ou seja,
a fusão de “a + a”. Ele é apenas um sinalzinho com inclinação à esquerda, tem seus encantos,
porém deixa muita gente boa em situação delicada.
Quando alguém me pergunta como faz para aprender a “crasear”, digo para começar pelo avesso:
primeiro aprenda a não colocar o acento em lugar proibido. Há certas construções em que ele não
cabe, pois falta metade: um dos “a + a” não comparece. Por exemplo, o artigo definido feminino “a”
não pode ser usado em determinadas situações, o que, por exclusão, nos leva ao raciocínio de que
123
o “a” da construção é apenas a preposição “a”.
(Dica do professor João Bolognesi, texto editado por Talita Abrantes. Em: https://exame.abril.com.br)
Assassinos culturais
Sou um assassino cultural, e você também é. Sei que é romântico chorar quando uma livraria fe-
cha as portas. Mas convém não abusar do romantismo – e da hipocrisia. Fomos nós que matamos
aquela livraria e o crime não nos pesa muito na consciência.
Falo por mim. Os livros físicos que entram lá em casa são cada vez mais ofertas – de amigos ou
editoras.
Aos 20, quando viajava por territórios estranhos, entrava nas livrarias locais como um faminto na
capoeira. Comprava tanto e carregava tanto que desconfio que o meu problema de ciática é, na sua
essência, um problema livresco.
Hoje? Gosto da flânerie*. Mas depois, fotografo as capas com o meu celular antes de regressar
para o psicanalista – o famoso dr. Kindle. Culpado? Um pouco. E em minha defesa só posso
afirmar que pago pelos meus vícios.
E quem fala em livrarias, fala em todo o resto. Eu também ajudei a matar a Tower Records e a Virgin
Megastore. Havia lá dentro uma bizarria chamada CD – você se lembra?
Hoje, com alguns aplicativos, tenho uma espécie de discoteca de Alexandria onde, a meu bel-pra-
zer, escuto meus clássicos e descubro novos. Se juntarmos ao pacote o iTunes e a Netflix, você
percebe por que eu também tenho o sangue dos cinemas e dos blockbusters nas mãos.
Eis a realidade: vivemos a desmaterialização da cultura. Mas não é apenas a cultura que se des-
materializa e tem deixado as nossas salas e estantes mais vazias. É a nossa relação com ela.
Não somos mais proprietários de “coisas”; somos apenas consumidores e, palavra importante,
assinantes.
O livro “Subscribed”, de Tien Tzuo, analisa a situação. É uma reflexão sobre a “economia de as-
sinaturas” que conquista a economia global. Conta o autor que mais de metade das empresas da
famosa lista da “Fortune” já não existiam em 2017. O que tinham em comum? O objetivo meritório
de vender “coisas” – muitas coisas, para muita gente, como sempre aconteceu desde os primór-
124
dios do capitalismo.
Já as empresas que sobreviveram e as novas que entraram na lista souberam se adaptar à econo-
mia digital, vendendo serviços (ou, de forma mais precisa, acessos).
Claro que na mudança algo se perde. O desaparecimento das livrarias não acredito que seja total
no futuro (e ainda bem). Além disso, ler no papel não é o mesmo que ler na tela.
Mas o interesse do livro de Tzuo não está apenas nos números; está no retrato de uma nova gera-
ção para quem a experiência cultural é mais importante do que a mera posse de objetos.
Há quem veja aqui um retrocesso, mas também é possível ver um avanço – ou, para sermos bem
filosóficos, o triunfo do espírito sobre a matéria. E não será essa, no fim das contas, a vocação mais
autêntica da cultura?
(João Pereira Coutinho. Folha de S.Paulo, 28.08.2018. Adaptado)
Assassinos culturais
Sou um assassino cultural, e você também é. Sei que é romântico chorar quando uma livraria fe-
cha as portas. Mas convém não abusar do romantismo – e da hipocrisia. Fomos nós que matamos
aquela livraria e o crime não nos pesa muito na consciência.
Falo por mim. Os livros físicos que entram lá em casa são cada vez mais ofertas – de amigos ou
editoras.
Aos 20, quando viajava por territórios estranhos, entrava nas livrarias locais como um faminto na
capoeira. Comprava tanto e carregava tanto que desconfio que o meu problema de ciática é, na sua
essência, um problema livresco.
Hoje? Gosto da flânerie*. Mas depois, fotografo as capas com o meu celular antes de regressar
para o psicanalista – o famoso dr. Kindle. Culpado? Um pouco. E em minha defesa só posso
afirmar que pago pelos meus vícios.
E quem fala em livrarias, fala em todo o resto. Eu também ajudei a matar a Tower Records e a Virgin
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Megastore. Havia lá dentro uma bizarria chamada CD – você se lembra?
Hoje, com alguns aplicativos, tenho uma espécie de discoteca de Alexandria onde, a meu bel-pra-
zer, escuto meus clássicos e descubro novos. Se juntarmos ao pacote o iTunes e a Netflix, você
percebe por que eu também tenho o sangue dos cinemas e dos blockbusters nas mãos.
Eis a realidade: vivemos a desmaterialização da cultura. Mas não é apenas a cultura que se des-
materializa e tem deixado as nossas salas e estantes mais vazias. É a nossa relação com ela.
Não somos mais proprietários de “coisas”; somos apenas consumidores e, palavra importante,
assinantes.
O livro “Subscribed”, de Tien Tzuo, analisa a situação. É uma reflexão sobre a “economia de as-
sinaturas” que conquista a economia global. Conta o autor que mais de metade das empresas da
famosa lista da “Fortune” já não existiam em 2017. O que tinham em comum? O objetivo meritório
de vender “coisas” – muitas coisas, para muita gente, como sempre aconteceu desde os primór-
dios do capitalismo.
Já as empresas que sobreviveram e as novas que entraram na lista souberam se adaptar à econo-
mia digital, vendendo serviços (ou, de forma mais precisa, acessos).
Claro que na mudança algo se perde. O desaparecimento das livrarias não acredito que seja total
no futuro (e ainda bem). Além disso, ler no papel não é o mesmo que ler na tela.
Mas o interesse do livro de Tzuo não está apenas nos números; está no retrato de uma nova gera-
ção para quem a experiência cultural é mais importante do que a mera posse de objetos.
Há quem veja aqui um retrocesso, mas também é possível ver um avanço – ou, para sermos bem
filosóficos, o triunfo do espírito sobre a matéria. E não será essa, no fim das contas, a vocação mais
autêntica da cultura?
(João Pereira Coutinho. Folha de S.Paulo, 28.08.2018. Adaptado)
Na frase do terceiro parágrafo – Comprava tanto e carregava tanto que desconfio que o meu pro-
blema de ciática é, na sua essência, um problema livresco. –, o autor
A) expressa uma crítica e analisa uma contradição.
B) faz uma suposição e cita uma consequência.
C) levanta uma hipótese e ressalta uma concessão.
D) desfaz um equívoco e apresenta uma conclusão.
E) expõe uma convicção e faz uma reiteração.
QUESTÃO 5: VUNESP - ADM JUD (TJ SP)/TJ SP/2019
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Leia o texto e responda à questão.
Assassinos culturais
Sou um assassino cultural, e você também é. Sei que é romântico chorar quando uma livraria fe-
cha as portas. Mas convém não abusar do romantismo – e da hipocrisia. Fomos nós que matamos
aquela livraria e o crime não nos pesa muito na consciência.
Falo por mim. Os livros físicos que entram lá em casa são cada vez mais ofertas – de amigos ou
editoras.
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Aos 20, quando viajava por territórios estranhos, entrava nas livrarias locais como um faminto na
capoeira. Comprava tanto e carregava tanto que desconfio que o meu problema de ciática é, na sua
essência, um problema livresco.
Hoje? Gosto da flânerie*. Mas depois, fotografo as capas com o meu celular antes de regressar
para o psicanalista – o famoso dr. Kindle. Culpado? Um pouco. E em minha defesa só posso
afirmar que pago pelos meus vícios.
E quem fala em livrarias, fala em todo o resto. Eu também ajudei a matar a Tower Records e a Virgin
Megastore. Havia lá dentro uma bizarria chamada CD – você se lembra?
Hoje, com alguns aplicativos, tenho uma espécie de discoteca de Alexandria onde, a meu bel-pra-
zer, escuto meus clássicos e descubro novos. Se juntarmos ao pacote o iTunes e a Netflix, você
percebe por que eu também tenho o sangue dos cinemas e dos blockbusters nas mãos.
Eis a realidade: vivemos a desmaterialização da cultura. Mas não é apenas a cultura que se des-
materializa e tem deixado as nossas salas e estantes mais vazias. É a nossa relação com ela.
Não somos mais proprietários de “coisas”; somos apenas consumidores e, palavra importante,
assinantes.
O livro “Subscribed”, de Tien Tzuo, analisa a situação. É uma reflexão sobre a “economia de as-
sinaturas” que conquista a economia global. Conta o autor que mais de metade das empresas da
famosa lista da “Fortune” já não existiam em 2017. O que tinham em comum? O objetivo meritório
de vender “coisas” – muitas coisas, para muita gente, como sempre aconteceu desde os primór-
dios do capitalismo.
Já as empresas que sobreviveram e as novas que entraram na lista souberam se adaptar à econo-
mia digital, vendendo serviços (ou, de forma mais precisa, acessos).
Claro que na mudança algo se perde. O desaparecimento das livrarias não acredito que seja total
no futuro (e ainda bem). Além disso, ler no papel não é o mesmo que ler na tela.
Mas o interesse do livro de Tzuo não está apenas nos números; está no retrato de uma nova gera-
ção para quem a experiência cultural é mais importante do que a mera posse de objetos.
Há quem veja aqui um retrocesso, mas também é possível ver um avanço – ou, para sermos bem
filosóficos, o triunfo do espírito sobre a matéria. E não será essa, no fim das contas, a vocação mais
autêntica da cultura?
(João Pereira Coutinho. Folha de S.Paulo, 28.08.2018. Adaptado)
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QUESTÃO 6: VUNESP - ADM JUD (TJ SP)/TJ SP/2019
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Leia o texto para responder à questão.
A recente onda de escândalos de corrupção levou as empresas brasileiras a investir em uma área
ainda pouco conhecida no mercado: o compliance.
O profissional que atua nesse setor é responsável por receber denúncias, combater fraudes, rea-
lizar investigações internas e garantir que a companhia cumpra leis, acordos e regulamentos da
sua área de atuação. Ele tem o papel importante de auxiliar a empresa a se proteger de eventuais
problemas de corrupção.
“Nos últimos anos, a área de compliance assumiu protagonismo nas empresas. É uma profissão
com salários altos já que as pessoas com experiência ainda são escassas no mercado”, diz o
advogado Thiago Jabor Pinheiro, 35.
“Como não existem cursos de graduação específicos de compliance, o estudante que se interesse
pela área pode direcionar seu curso para questões de auditoria, prevenção de fraude, direito ad-
ministrativo e governança corporativa”, diz Pinheiro.
Apesar de sobrarem vagas nesse mercado, conseguir um emprego não é fácil. “É fundamental que
a pessoa seja atenta aos detalhes, entenda como funciona uma organização e tenha fluência em
inglês porque as melhores práticas vêm de fora do país, sobretudo dos EUA e da Inglaterra”, diz o
advogado.
Para Caroline Cadorin, diretora de uma consultoria, os candidatos precisam ter jogo de cintura
para lidar com as mais diversas situações. “Estamos falando de profissionais com forte conduta
ética, honestidade e que buscam a promoção da transparência. Hoje as empresas estão cientes
de seus papéis ativos no combate à corrupção, especialmente aquelas envolvidas em projetos de
órgãos públicos. As companhias que mantêm departamentos de compliance são vistas como mais
transparentes”, diz Cadorin.
(Larissa Teixeira. Folha de S.Paulo, 28.09.2017. Adaptado)
Assinale a alternativa que completa corretamente o trecho a seguir. A recente onda de escândalos
de corrupção levou as empresas...
A) à acertadamente buscar maior transparência nas relações comerciais.
B) à incorporação de área técnica de responsabilidade do compliance.
C) à projetos com órgãos públicos que envolvam combate a fraudes.
D) à uma nova dinâmica de governança e gerenciamento de contratos.
E) à alguns ajustes para a adaptação ao mercado atual.
Mundo arriscado
O próximo governo não encontrará um ambiente econômico internacional sereno. Dúvidas sobre
128
a continuidade do crescimento do Produto Interno Bruto global, juros em alta nos EUA, riscos de
conflitos comerciais e de queda do fluxo de capitais para países emergentes são apenas alguns
dos itens de um cardápio de problemas potenciais.
Tudo indica, assim, que o governo brasileiro terá de lidar de pronto com as fragilidades domésticas,
em especial o rombo das contas públicas. Não tardará até que investidores hoje aparentemente
otimistas comecem a cobrar resultados concretos.
As projeções para o avanço do PIB mundial têm sido reduzidas nos últimos meses. O Fundo Mo-
netário Internacional cortou sua previsão para 2018 e 2019 em 0,2 ponto percentual – 3,7% em
ambos os anos – e apontou um cenário de menor sincronia entre os principais motores regionais.
Se até o início deste ano EUA, Europa e China davam sinais de vigor, agora acumulam-se decep-
ções nos dois últimos casos.
Mesmo com juros ainda perto de zero, a zona do euro não deverá crescer mais que 1,5% neste ano.
Há crescente insegurança no âmbito político, neste momento centrada na Itália e seu governo de
direita populista, que propõe expansão do déficit de um setor público já endividado em excesso.
Não é animador que a Comissão Europeia tenha tomado a decisão inédita de rejeitar a proposta
orçamentária da administração italiana. Embora o país ainda conserve o selo de bom pagador, os
juros cobrados no mercado para financiar sua dívida dispararam.
Quanto à China, sua economia mostra menos vigor, e as autoridades precisam tomar decisões
difíceis entre conter as dívidas já exageradas e estimular o crescimento.
O risco de escalada nos conflitos comerciais também é concreto, dado que o governo americano
ameaça impor uma terceira rodada de tarifas, desta vez sobre os US$ 270 bilhões em vendas
anuais chinesas que ainda não foram taxadas.
Nos EUA, a alta dos juros, num contexto de emprego elevado e inflação perto da meta, já leva parte
do mercado a temer uma desaceleração abrupta do PIB em 2019. A vantagem do Brasil, hoje,
é que há ampla ociosidade nas empresas, baixa inflação e, portanto, espaço para uma retomada
mais forte.
(Editorial. Folha de S.Paulo, 01.11.2018. Adaptado)
129
QUESTÃO 8: VUNESP - CONTJ (TJ SP)/TJ SP/2019
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Leia o texto para responder à questão.
Mundo arriscado
O próximo governo não encontrará um ambiente econômico internacional sereno. Dúvidas sobre
a continuidade do crescimento do Produto Interno Bruto global, juros em alta nos EUA, riscos de
conflitos comerciais e de queda do fluxo de capitais para países emergentes são apenas alguns
dos itens de um cardápio de problemas potenciais.
Tudo indica, assim, que o governo brasileiro terá de lidar de pronto com as fragilidades domésticas,
em especial o rombo das contas públicas. Não tardará até que investidores hoje aparentemente
otimistas comecem a cobrar resultados concretos.
As projeções para o avanço do PIB mundial têm sido reduzidas nos últimos meses. O Fundo Mo-
netário Internacional cortou sua previsão para 2018 e 2019 em 0,2 ponto percentual – 3,7% em
ambos os anos – e apontou um cenário de menor sincronia entre os principais motores regionais.
Se até o início deste ano EUA, Europa e China davam sinais de vigor, agora acumulam-se decep-
ções nos dois últimos casos.
Mesmo com juros ainda perto de zero, a zona do euro não deverá crescer mais que 1,5% neste ano.
Há crescente insegurança no âmbito político, neste momento centrada na Itália e seu governo de
direita populista, que propõe expansão do déficit de um setor público já endividado em excesso.
Não é animador que a Comissão Europeia tenha tomado a decisão inédita de rejeitar a proposta
orçamentária da administração italiana. Embora o país ainda conserve o selo de bom pagador, os
juros cobrados no mercado para financiar sua dívida dispararam.
Quanto à China, sua economia mostra menos vigor, e as autoridades precisam tomar decisões
difíceis entre conter as dívidas já exageradas e estimular o crescimento.
O risco de escalada nos conflitos comerciais também é concreto, dado que o governo americano
ameaça impor uma terceira rodada de tarifas, desta vez sobre os US$ 270 bilhões em vendas
anuais chinesas que ainda não foram taxadas.
Nos EUA, a alta dos juros, num contexto de emprego elevado e inflação perto da meta, já leva parte
do mercado a temer uma desaceleração abrupta do PIB em 2019. A vantagem do Brasil, hoje,
é que há ampla ociosidade nas empresas, baixa inflação e, portanto, espaço para uma retomada
mais forte.
(Editorial. Folha de S.Paulo, 01.11.2018. Adaptado)
130
Carta-Poema
Excelentíssimo Prefeito Senhor Hildebrando de Góis, Permiti que, rendido o preito A que faz jus por
quem sois,
Um poeta já sexagenário, Que não tem outra aspiração Senão viver de seu salário Na sua limpa
solidão,
Peça vistoria e visita
A este pátio para onde dá
O apartamento que ele habita No Castelo há dois anos já.
É um pátio, mas é via pública, E estando ainda por calçar, Faz a vergonha da República Junto à
Avenida Beira-Mar!
Indiferentes ao capricho Das posturas municipais,
A ele jogam todo o seu lixo Os moradores sem quintais.
(Manuel Bandeira, As cidades e as musas. Org. Antonio Carlos Secchin)
Assinale a alternativa que contém informações coerentes com o poema, organizadas em confor-
midade com norma-padrão.
A) O eu lírico, um senhor que mora na Avenida Beira-Mar, anseia por uma solução para os proble-
mas que o afetam cotidianamente, a saber, a falta de calçamento do pátio e os lixos ali deposi-
tados.
B) O eu lírico sente-se já velho pois seu dia a dia é de solidão, já que ele não aspira mais nada na
vida, senão que o prefeito mande vistoriar o pátio de seu edifício, lugar que têm acesso os mora-
dores sem quintais.
C) O eu lírico, por ser já velho como o prefeito, recorre a este para que mande vistoria e visita ao
pátio que ele mora, local onde os moradores sem quintais jogam lixo, com o que ele discorda.
D) O eu lírico, amigo de sessenta anos do prefeito, solicita-o na vistoria e visita no prédio o qual
mora, uma vez que o local ainda carece de calçamento e aonde os moradores sem quintais têm
jogado lixo.
E) O eu lírico exige do velho prefeito da cidade que este se dedique em vistoriar e visitar o pátio
aonde ele mora, pois existe ali muito lixo devido ação dos moradores sem quintais na região.
Carta-Poema
Excelentíssimo Prefeito Senhor Hildebrando de Góis, Permiti que, rendido o preito A que faz jus por
quem sois,
Um poeta já sexagenário, Que não tem outra aspiração Senão viver de seu salário Na sua limpa
solidão,
Peça vistoria e visita
A este pátio para onde dá
131
O apartamento que ele habita No Castelo há dois anos já.
É um pátio, mas é via pública, E estando ainda por calçar, Faz a vergonha da República Junto à
Avenida Beira-Mar!
Indiferentes ao capricho Das posturas municipais,
A ele jogam todo o seu lixo Os moradores sem quintais.
(Manuel Bandeira, As cidades e as musas. Org. Antonio Carlos Secchin)
Carta-Poema
Excelentíssimo Prefeito Senhor Hildebrando de Góis, Permiti que, rendido o preito A que faz jus por
quem sois,
Um poeta já sexagenário, Que não tem outra aspiração Senão viver de seu salário Na sua limpa
solidão,
Peça vistoria e visita
A este pátio para onde dá
O apartamento que ele habita No Castelo há dois anos já.
É um pátio, mas é via pública,
E estando ainda por calçar, Faz a vergonha da República Junto à Avenida Beira-Mar!
Indiferentes ao capricho Das posturas municipais,
A ele jogam todo o seu lixo Os moradores sem quintais.
(Manuel Bandeira, As cidades e as musas. Org. Antonio Carlos Secchin)
No verso “É um pátio, mas é via pública”, o poeta reforça o fato de o local ser
A) uma via pública, usando uma construção de período também presente em: “A Avenida Beira-Mar
faz a vergonha da República, conquanto moradores sem quintais joguem nela todo o seu lixo”.
B) um pátio, usando uma construção de período também presente em: “Como são indiferentes ao
capricho das posturas municipais, os moradores sem quintais jogam lixo na Avenida Beira-Mar”.
C) uma via pública, usando uma construção de período também presente em: “A Avenida Beira-Mar
132
é muito bonita, no entanto vem sofrendo com o descaso da administração pública”.
D) uma via pública, usando uma construção de período também presente em: “Os moradores sem
quintais ignoram o capricho das posturas municipais, por isso sujam a Avenida Beira-Mar”.
E) um pátio, usando uma construção de período também presente em: “A Avenida Beira-Mar sofre
com alguns problemas localizados, pois os moradores do local não lhe dão o devido valor”.
Segundo o texto:
A) a paternidade representa hoje, assim como nos séculos passados, a certeza de auxílio domés-
tico e a expectativa de futura aposentadoria.
B) os filhos simbolizaram, ao longo dos séculos passados, um investimento caro, que poderia in-
clusive comprometer a aposentadoria dos pais.
C) a percepção sobre o papel dos filhos manteve-se historicamente inalterada, já que continuam
sendo vistos como essenciais para o bem-estar da família.
D) economicamente, a geração de crianças é atualmente vista como um bem público, já que elas
beneficiam a sociedade de diferentes maneiras.
E) a mentalidade segundo a qual crianças trazem benefícios econômicos para a sociedade vem
sendo questionada, já que eles demoram a gerar riquezas
133
QUESTÃO 13: VUNESP - ANA LEG (CM SERRANA)/CM SERRANA/2019
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Por que temos filhos?
A frase “E isso nos coloca diante de um dos grandes dilemas dos tempos modernos.” refere-se à
seguinte informação:
A) a recompensa pela paternidade estaria resumida aos laços de afetividade familiar.
B) a geração de novas crianças onera igualmente as famílias, o estado e toda a sociedade.
C) a falta de consenso entre os economistas quanto aos efeitos do aumento populacional.
D) a análise segundo a qual pessoas geram riquezas, então, quanto mais pessoas, melhor.
E) a necessidade de aumentar a baixa produtividade registrada nos últimos 200 anos.
134
doméstico, colaborando para o bem-estar da família, e ainda faziam as vezes de plano de aposen-
tadoria para os pais.
Hoje, contudo, crianças ficaram caras. E, para piorar, elas demoram muito até começar a trazer
contribuições econômicas. Como observa Galston, no espaço de dois séculos, a criação de filhos
deixou de ser um bem privado para tornar -se um bem público.
Embora a paternidade possa trazer recompensas emocionais, do ponto de vista estritamente eco-
nômico, ela favorece a sociedade como um todo, enquanto a maior parte dos custos recai sobre
os genitores.
E por que crianças beneficiam a sociedade? A crer na análise de economistas como Julian Simon,
riqueza são pessoas. Quanto mais gente, melhor, já que são indivíduos que têm ideias (além de
consumir produtos) e são as novas ideias que vêm assegurando o brutal aumento de produtividade
a que assistimos nos últimos 200 anos.
E isso nos coloca diante de um dos grandes dilemas dos tempos modernos. Para assegurar a sus-
tentabilidade da exploração dos recursos naturais do planeta, precisaríamos estabilizar ou até
reduzir a população. Só que fazê-lo é uma espécie de suicídio econômico, já que ficaria muito
difícil manter taxas positivas de crescimento, sem as quais instituições como previdência e até
democracia representativa podem entrar em colapso.
(Hélio Schwartsman. Folha de S.Paulo. 18.11.2018. Adaptado)
Redes sociais têm sido cada vez mais consideradas como elementos importantes na construção de
uma grande variedade de processos, desde a mobilização política em movimentos sociais ou par-
tidos políticos, até as ações e a estrutura de relações formais e informais entre as elites políticas e
econômicas ou na estruturação de áreas de políticas públicas, entre muitos outros temas. Número
significativo de estudos tem examinado as redes pessoais, aquelas que cercam os indivíduos em
particular. Essas análises visam a estudar os efeitos da sociabilidade de diversos grupos sociais,
para compreender como os laços sociais são construídos e transformados e suas consequências
para fenômenos como integração social, imigração e apoio social.
135
No caso específico da pobreza, a literatura tem estabelecido de forma cada vez mais eloquente
como tais redes medeiam o acesso a recursos materiais e imateriais e, ao fazê-lo, contribuem de
forma destacada para a reprodução das condições de privação e das desigualdades sociais. A
integração das redes ao estudo da pobreza pode permitir a construção de análises que escapem
dos polos analíticos da responsabilização individual dos pobres por sua pobreza (e seus atributos),
assim como de análises sistêmicas que foquem apenas os macroprocessos e constrangimentos
estruturais que cercam o fenômeno.
A literatura brasileira sobre o tema tem sido marcada por uma oposição entre enfoques centrados
nesses dois campos, embora os últimos anos tenham assistido a uma clara hegemonia dos es-
tudos baseados em atributos e ações individuais para a explicação da pobreza. Parece-nos evi-
dente que tanto constrangimentos e processos supraindividuais (incluindo os econômicos) quanto
estratégias e credenciais dos indivíduos importam para a constituição e a reprodução de situações
de pobreza. Entretanto, essas devem ser analisadas no cotidiano dos indivíduos, de maneira que
compreendamos de que forma medeiam o seu acesso a mercados, ao Estado e às trocas sociais
que provêm bem-estar.
(Eduardo Marques, Gabriela Castello e Renata M. Bichir. Revista USP, no 92, 2011-2012. Adaptado)
Redes sociais têm sido cada vez mais consideradas como elementos importantes na construção
de uma grande variedade de processos, desde a mobilização política em movimentos sociais ou
partidos políticos, até as ações e a estrutura de relações formais e informais entre as elites polí-
ticas e econômicas ou na estruturação de áreas de políticas públicas, entre muitos outros te-
mas. Número significativo de estudos tem examinado as redes pessoais, aquelas que cercam os
indivíduos em particular. Essas análises visam a estudar os efeitos da sociabilidade de diversos
grupos sociais, para compreender como os laços sociais são construídos e transformados e suas
consequências para fenômenos como integração social, imigração e apoio social.
No caso específico da pobreza, a literatura tem estabelecido de forma cada vez mais eloquente
como tais redes medeiam o acesso a recursos materiais e imateriais e, ao fazê-lo, contribuem de
forma destacada para a reprodução das condições de privação e das desigualdades sociais. A
integração das redes ao estudo da pobreza pode permitir a construção de análises que escapem
dos polos analíticos da responsabilização individual dos pobres por sua pobreza (e seus atributos),
assim como de análises sistêmicas que foquem apenas os macroprocessos e constrangimentos
estruturais que cercam o fenômeno.
136
A literatura brasileira sobre o tema tem sido marcada por uma oposição entre enfoques centrados
nesses dois campos, embora os últimos anos tenham assistido a uma clara hegemonia dos es-
tudos baseados em atributos e ações individuais para a explicação da pobreza. Parece-nos evi-
dente que tanto constrangimentos e processos supraindividuais (incluindo os econômicos) quanto
estratégias e credenciais dos indivíduos importam para a constituição e a reprodução de situações
de pobreza. Entretanto, essas devem ser analisadas no cotidiano dos indivíduos, de maneira que
compreendamos de que forma medeiam o seu acesso a mercados, ao Estado e às trocas sociais
que provêm bem-estar.
(Eduardo Marques, Gabriela Castello e Renata M. Bichir. Revista USP, no 92, 2011-2012. Adaptado)
De acordo com o texto, um dos aspectos positivos do recurso às redes pessoais para análise da
pobreza está em
A) desvincular-se da perspectiva analítica de estudos que atribuem a responsabilidade pela pobre-
za ao pobre ou à ação de elementos acima do plano individual.
B) condensar informações pessoais e grupais, para conhecer os benefícios à disposição dos cida-
dãos e possibilitar-lhes melhores recursos materiais e imateriais.
C) desfazer a crença de que a sociabilidade é um fenômeno que depende de o indivíduo abando-
nar as condições de pobreza e buscar a própria felicidade.
D) facilitar a mobilização de grupos de interesse (econômico, político) com o objetivo social definido
de remover obstáculos à ascensão social.
E) possibilitar aos menos favorecidos acesso a recursos econômicos, além de promover a integra-
ção deles a outros grupos.
Organograma
– Este organograma está uma droga. Não posso dependurar uma coisa destas na parede de meu
137
gabinete.
Pôs-se imediatamente a inventar novas repartições, serviços disso e daquilo – tudo fictício, irreal,
imaginário – para estabelecer o equilíbrio organogramático com departamento disso, departamento
daquilo.
O certo é que o novo organograma foi executado, e todo aquele que tivesse a ventura de penetrar
em seu gabinete podia admirá-lo.
– Para você ver, meu filho: se não fosse eu, todo esse complexo administrativo já teria desabado
para um lado, como uma árvore desgalhada. Dizem, mesmo, que até hoje o magnífico organogra-
ma figura no tal Ministério, como uma das mais importantes realizações de sua gestão.
(Fernando Sabino, A mulher do vizinho. Adaptado)
O Paraguai foi certificado por ter eliminado a malária de seu território em junho deste ano. A Argen-
tina está trilhando o caminho para obter sua certificação em 2019. Belize, Costa Rica, Equador, El
Salvador, México e Suriname têm o potencial de alcançar a eliminação até 2020. Outros países, no
entanto, registraram aumento no número de casos, o que põe em risco a consecução das metas
de redução e eliminação da doença na região até 2030.
No Dia de Luta contra a Malária nas Américas (6 de novembro), a Organização Pan-Americana
da Saúde (OPAS) insta os países da região a tomar medidas urgentes para conter o aumento de
casos, manter as conquistas e libertar o continente da doença que, durante o último século, foi a
principal causa de morte em quase todas as nações do mundo.
“A eliminação da malária está mais próxima do que nunca”, disse a diretora da OPAS, Carissa F.
Etienne. No entanto, ela também advertiu que “não podemos confiar nem relaxar nas ações já
tomadas”. “Os esforços devem ser intensificados onde a incidência da doença aumentou”, acres-
centou.
Desde 2015, os casos de malária nas Américas aumentaram em 71%; 95% do número total destes
casos estão concentrados em cinco países, principalmente em áreas específicas onde os esforços
contra a doença estão enfraquecidos. Muitos dos afetados são populações indígenas, pessoas que
vivem em situação de vulnerabilidade, trabalhadores mineiros e migrantes.
“Se queremos eliminar a malária, precisamos melhorar o investimento e ampliar o acesso a preven-
138
ção, diagnóstico e tratamento oportunos da doença em comunidades onde a maioria dos casos
está concentrada”, afirmou Marcos Espinal, diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis e
Determinantes Ambientais da Saúde na OPAS.
(Agência da ONU insta países das Américas a livrar continente da malária. ONU Brasil. https://nacoesuni-
das.org/agencia-da-onu-insta-paises- -das-americas-a-livrar-continente-da- malaria/amp/. 06.11.18. Acesso
em 07/11/2018)
Nada me deixava mais tranquilo do que os sons da máquina de escrever vindos do quarto ao lado.
Era meu pai, escritor, que trabalhava depois que todos haviam ido dormir. O batuque no teclado,
o ronco grave do rolo girando com o papel e a sineta do carro tilintando ao ser devolvido à posição
inicial – plim! – me garantiam a presença de um adulto, ali ao lado: se não ao alcance das mãos,
ao menos dos ouvidos. O ritmo caótico, mas contínuo – como chuva no telhado –, era ainda melhor
do que a música de ninar, cadenciada, pois sugeria que mesmo em meio à confusão poderia haver
harmonia. Sob esse cafuné auditivo, o mundo desaparecia, sem violência, depois voltava a existir,
quando eu menos esperasse, iluminado: plim!
Prata, Antonio. Nu, de botas p.15 – 1ª ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2013. (Excerto adaptado)
Conforme o texto, os sons da máquina de escrever de seu pai trabalhando à noite produziam no
narrador uma sensação
A) de incômodo, já que o som repetitivo do teclado e do rolo girando com o papel impediam-no de
dormir.
B) de preocupação com a rotina do seu pai, que permanecia trabalhando enquanto todos na casa
já dormiam.
C) de tranquilidade pela presença do pai, mas de desconforto com o barulho caótico e contínuo da
máquina.
D) de segurança, já que o barulho contínuo da máquina representava a certeza da presença de um
adulto.
139
E) confusa, pois os sons, agradáveis estando acordado, pareciam-lhe caóticos quando era desper-
tado por eles.
É correto afirmar que a última fala da segunda personagem da tira expressa um ponto de vista
A) indulgente quanto a blogs que adulteram a verdade, em função da notícia.
B) crítico em relação ao modo como a ideia de verdade pode ser manipulada na internet.
C) tolerante em relação às inversões entre “notícia” e “verdade” nas redes sociais.
D) complacente quanto às chamadas fake news veiculadas na internet.
E) neutro quanto à ética de certos sites que desenvolvem as próprias verdades.
Vejo a literatura como um instrumento excepcional da nossa civilização. Ela ajuda a esclarecer o
mundo. Quem nós somos? Quem nós fomos? Lendo a Ilíada, você pode imaginar quais foram os
sentimentos de Aquiles ou de Príamo. Você se pergunta: “Por que esse fervor pela narrativa?”.
Porque o ser humano precisou narrar, para que os fatos da vida, da poética do cotidiano, não
desaparecessem. Enquanto o ser humano forjava a sua civilização, dava combate aos deuses e
procurava entender em que caos estava imerso, ele contava histórias. Para que nada se perdesse.
Não havia bibliotecas. No caso de Homero, os aedos – e quase podíamos intitulá-los os poetas da
memória – memorizavam tudo para que os fatos humanos não se perdessem. E, assim, a angústia
em relação à apreensão da vida real, o real humano, visível, intangível, esteve presente em todas
as civilizações. Nas nossas Américas, por exemplo, houve entre os incas uma categoria social, a
dos amautas, que tinha por finalidade única memorizar. Memorizar para que os povos não se es-
quecessem das suas próprias histórias. Quer dizer, a literatura não foi uma invenção dos escritores,
140
gosto muito de enfatizar isso. Foi uma invenção humana.
Milhões de pessoas já leram Dom Quixote. Milhões, em diferentes línguas. Mas é o mesmo livro
para diferentes leitores. Isso prova que a literatura dá visibilidade a quem somos, a nossos senti-
mentos mais secretos, mais obscuros, mais desesperados, às esperanças mais condicionais do ser
humano. E a literatura conta histórias porque os sentimentos precisam de uma história para que
você se dê conta deles. Então, a literatura pensou em dar conta de quem somos, dessa nossa
complexidade extraordinária. Porque somos seres fundamentalmente singulares. E, por isso, a
literatura é singular.
(Nélida Piñon. Uma invenção humana – depoimento ao escritor e jornalista José Castello. Rascunho nº 110. Curitiba: 2009. In http://
rascunho.com.br/wp-content/uploads/2012/02/ Book_Rascunho_110.pdf. Acesso em 15.11.18. Adaptado)
Vejo a literatura como um instrumento excepcional da nossa civilização. Ela ajuda a esclarecer o
mundo. Quem nós somos? Quem nós fomos? Lendo a Ilíada, você pode imaginar quais foram os
sentimentos de Aquiles ou de Príamo. Você se pergunta: “Por que esse fervor pela narrativa?”.
Porque o ser humano precisou narrar, para que os fatos da vida, da poética do cotidiano, não
desaparecessem. Enquanto o ser humano forjava a sua civilização, dava combate aos deuses e
procurava entender em que caos estava imerso, ele contava histórias. Para que nada se perdesse.
Não havia bibliotecas. No caso de Homero, os aedos – e quase podíamos intitulá-los os poetas da
memória – memorizavam tudo para que os fatos humanos não se perdessem. E, assim, a angústia
em relação à apreensão da vida real, o real humano, visível, intangível, esteve presente em todas
as civilizações. Nas nossas Américas, por exemplo, houve entre os incas uma categoria social, a
dos amautas, que tinha por finalidade única memorizar. Memorizar para que os povos não se es-
quecessem das suas próprias histórias. Quer dizer, a literatura não foi uma invenção dos escritores,
gosto muito de enfatizar isso. Foi uma invenção humana.
Milhões de pessoas já leram Dom Quixote. Milhões, em diferentes línguas. Mas é o mesmo livro
para diferentes leitores. Isso prova que a literatura dá visibilidade a quem somos, a nossos senti-
mentos mais secretos, mais obscuros, mais desesperados, às esperanças mais condicionais do ser
humano. E a literatura conta histórias porque os sentimentos precisam de uma história para que
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você se dê conta deles. Então, a literatura pensou em dar conta de quem somos, dessa nossa
complexidade extraordinária. Porque somos seres fundamentalmente singulares. E, por isso, a
literatura é singular.
(Nélida Piñon. Uma invenção humana – depoimento ao escritor e jornalista José Castello. Rascunho nº 110. Curitiba: 2009. In http://
rascunho.com.br/wp-content/uploads/2012/02/ Book_Rascunho_110.pdf. Acesso em 15.11.18. Adaptado)
Vejo a literatura como um instrumento excepcional da nossa civilização. Ela ajuda a esclarecer o
mundo. Quem nós somos? Quem nós fomos? Lendo a Ilíada, você pode imaginar quais foram os
sentimentos de Aquiles ou de Príamo. Você se pergunta: “Por que esse fervor pela narrativa?”.
Porque o ser humano precisou narrar, para que os fatos da vida, da poética do cotidiano, não
desaparecessem. Enquanto o ser humano forjava a sua civilização, dava combate aos deuses e
procurava entender em que caos estava imerso, ele contava histórias. Para que nada se perdesse.
Não havia bibliotecas. No caso de Homero, os aedos – e quase podíamos intitulá-los os poetas da
memória – memorizavam tudo para que os fatos humanos não se perdessem. E, assim, a angústia
em relação à apreensão da vida real, o real humano, visível, intangível, esteve presente em todas
as civilizações. Nas nossas Américas, por exemplo, houve entre os incas uma categoria social, a
dos amautas, que tinha por finalidade única memorizar. Memorizar para que os povos não se es-
quecessem das suas próprias histórias. Quer dizer, a literatura não foi uma invenção dos escritores,
gosto muito de enfatizar isso. Foi uma invenção humana.
Milhões de pessoas já leram Dom Quixote. Milhões, em diferentes línguas. Mas é o mesmo livro
para diferentes leitores. Isso prova que a literatura dá visibilidade a quem somos, a nossos senti-
mentos mais secretos, mais obscuros, mais desesperados, às esperanças mais condicionais do ser
humano. E a literatura conta histórias porque os sentimentos precisam de uma história para que
você se dê conta deles. Então, a literatura pensou em dar conta de quem somos, dessa nossa
complexidade extraordinária. Porque somos seres fundamentalmente singulares. E, por isso, a
literatura é singular.
(Nélida Piñon. Uma invenção humana – depoimento ao escritor e jornalista José Castello. Rascunho nº 110. Curitiba: 2009. In http://
rascunho.com.br/wp-content/uploads/2012/02/ Book_Rascunho_110.pdf. Acesso em 15.11.18. Adaptado)
O título do texto
A) sugere que os aedos inventaram a literatura.
B) adianta uma ideia que será defendida pela autora.
C) refuta a ideia de que a oralidade está na origem da literatura.
142
D) questiona a noção de que literatura é produto da cultura.
E) promove certa crítica ao aspecto fantasioso inerente às narrativas.
Médicos sempre ocuparam uma posição de prestígio na sociedade. Afinal, cuidar do maior bem
do indivíduo – a vida – não é algo trivial. Embora a finalidade do ofício seja a mesma, o modus
operandi mudou drasticamente com o tempo.
O que se pode afirmar é que o foco da atuação médica deve ser cada vez menos o controle sobre
o destino do paciente e mais a mediação e a interpretação de tecnologias, incluindo a famigerada
inteligência artificial. Já o lado humanístico, que perdeu espaço para os exames e as máquinas,
tende a recuperar cada vez mais sua importância.
De meados do século 20 até agora, concomitantemente às novas especialidades, houve avanço
tecnológico e a proliferação de modalidades de exames. Cresceu o catálogo dos laboratórios e
também a dependência do médico em relação a exames. A impressão dos pacientes passou a ser
a de que o cuidado é ruim, caso o médico não os solicite.
O tema é caro a Jayme Murahovschi, referência em pediatria no país. “Tem que haver progressão
tecnológica, claro, mas mais importante que isso é a ligação emocional com o paciente. Hoje mé-
dicos pedem muitos exames e os pacientes também.”
Murahovschi está entre os que acreditam que a profissão está sofrendo uma nova reviravolta, qua-
se que voltando às origens clássicas, hipocráticas: “Os médicos do futuro, os que sobrarem, vão
ter que conhecer o paciente a fundo, dar toda a atenção que ele precisa, usando muita tecnologia,
mas com foco no paciente.”
Alguns profissionais poderão migrar para uma medicina mais técnica, preveem analistas.
Esses doutores teriam uma função diferente, atuando na interface entre o conhecimento biomédico
e a tecnologia por trás de plataformas de diagnóstico e reabilitação. Ou ainda atuariam alimen-
tando com dados uma plataforma de inteligência artificial, tornando-a mais esperta.
Outra tecnologia já presente é a telemedicina, que descentraliza a realização de consultas e exa-
mes. Clínicas e médicos generalistas podem, rapidamente e pela internet, contar com laudos de es-
pecialistas situados em diferentes localidades; uma junta médica pode discutir casos de pacientes
e seria possível até a realização, a distância, de consultas propriamente ditas, se não existissem
restrições do CFM nesse sentido.
Até cirurgias podem ser feitas a distância, com o advento da robótica. O tema continua fascinando
médicos e pacientes, mas, por enquanto, nada de droides médicos à la Star Wars – quem controla
o robô ainda é o ser humano.
(Gabriela Alves. Folha de S.Paulo, 19.10.2018. Adaptado)
Segundo Jayme Murahovschi, a profissão está passando por uma reviravolta cuja consequência
será:
A) o surgimento de novas modalidades de exames que tornarão o médico mais dependente desses
recursos.
B) o crescimento, no país, do número de médicos interessados em praticar uma medicina mais
143
técnica.
C) a retomada dos conceitos hipocráticos que se opõem à prática dos médicos generalistas.
D) o relacionamento entre médico e paciente, que se dará exclusivamente por meios tecnológicos.
E) a necessidade de associar tratamento clínico e envolvimento humano no contato entre médico
e paciente.
Médicos sempre ocuparam uma posição de prestígio na sociedade. Afinal, cuidar do maior bem do
indivíduo – a vida – não é algo trivial. Embora a finalidade do ofício seja a mesma, o modus ope-
randi mudou drasticamente com o tempo.
O que se pode afirmar é que o foco da atuação médica deve ser cada vez menos o controle sobre
o destino do paciente e mais a mediação e a interpretação de tecnologias, incluindo a famigerada
inteligência artificial. Já o lado humanístico, que perdeu espaço para os exames e as máquinas,
tende a recuperar cada vez mais sua importância.
De meados do século 20 até agora, concomitantemente às novas especialidades, houve avanço
tecnológico e a proliferação de modalidades de exames. Cresceu o catálogo dos laboratórios e
também a dependência do médico em relação a exames. A impressão dos pacientes passou a ser
a de que o cuidado é ruim, caso o médico não os solicite.
O tema é caro a Jayme Murahovschi, referência em pediatria no país. “Tem que haver progressão
tecnológica, claro, mas mais importante que isso é a ligação emocional com o paciente. Hoje mé-
dicos pedem muitos exames e os pacientes também.”
Murahovschi está entre os que acreditam que a profissão está sofrendo uma nova reviravolta, qua-
se que voltando às origens clássicas, hipocráticas: “Os médicos do futuro, os que sobrarem, vão
ter que conhecer o paciente a fundo, dar toda a atenção que ele precisa, usando muita tecnologia,
mas com foco no paciente.”
Alguns profissionais poderão migrar para uma medicina mais técnica, preveem analistas.
Esses doutores teriam uma função diferente, atuando na interface entre o conhecimento biomédico
e a tecnologia por trás de plataformas de diagnóstico e reabilitação. Ou ainda atuariam alimen-
tando com dados uma plataforma de inteligência artificial, tornando-a mais esperta.
Outra tecnologia já presente é a telemedicina, que descentraliza a realização de consultas e exa-
mes. Clínicas e médicos generalistas podem, rapidamente e pela internet, contar com laudos de es-
pecialistas situados em diferentes localidades; uma junta médica pode discutir casos de pacientes
e seria possível até a realização, a distância, de consultas propriamente ditas, se não existissem
restrições do CFM nesse sentido.
Até cirurgias podem ser feitas a distância, com o advento da robótica. O tema continua fascinando
médicos e pacientes, mas, por enquanto, nada de droides médicos à la Star Wars – quem controla
o robô ainda é o ser humano.
(Gabriela Alves. Folha de S.Paulo, 19.10.2018. Adaptado)
144
prir plataformas de inteligência artificial.
B) faculta a interação entre diferentes profissionais que, trabalhando on-line, podem trocar parece-
res relativos aos casos que analisam.
C) ampliou o catálogo de medicamentos dos laboratórios internacionais e contribuiu para o surgi-
mento de novas especialidades médicas.
D) espera a autorização dos órgãos públicos a fim de que robôs tenham autonomia para realizar
cirurgias complexas.
E) corrobora a opinião de pacientes que consideram improdutiva a consulta, quando o médico não
requisita vários exames.
Literatura no cárcere
Desde 2013, quando o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) autorizou a remição da pena pela lei-
tura, 5.547 detentos foram beneficiados por esse projeto no Brasil. É um número baixo, se compa-
rado com as quase 700 mil pessoas privadas de liberdade em todo o país.
A recomendação do CNJ determina que, a cada livro lido, é possível reduzir quatro dias da pena.
Para isso, o leitor deve escrever um resumo da obra que deve ser aprovado por um parecerista.
Esses documentos seguem para o juiz responsável, que julga o pedido de remição.
Medir os benefícios dessa proposta tem feito florescer debates acalorados entre os que veem na
leitura ganhos efetivos para a reintegração do indivíduo à sociedade e os que a avaliam como um
privilégio concedido a pessoas que, de algum modo, causaram danos à população. Sem entrar no
mérito dessa discussão, é fato que, dentro ou fora da prisão, as benesses da leitura são muitas e
difíceis de mensurar.
Uma pesquisa feita em 2017 pela editora Companhia das Letras, que em parceria com a Fundação
Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel (Funap) subsidia um projeto de clubes de leitura e remição de
pena, indicou que os ganhos são mais concretos do que se pode imaginar.
Durante um ano, 177 detentos se reuniram mensalmente para discutir uma obra selecionada pela
curadoria do projeto.
Quando perguntados sobre as eventuais mudanças percebidas em si próprios, a resposta mais
frequente foi que os envolvidos conseguiram perceber uma “ampliação de conhecimentos”. Em se-
gundo, que se sentiam mais motivados “para traçar planos para o futuro”. Na sequência, aparecem
motivações como “capacidade de reflexão” e de “expressar sentimentos”, possibilidade de “dizer
o que pensa”, “maior criatividade” e, por último, “maior criticidade”.
Por qualquer prisma que se procure observar, esses ganhos já seriam significativos, pois no am-
biente prisional revelam uma extraordinária mudança na chave da autoestima.
(Vanessa Ferrari, Rafaela Deiab e Pedro Schwarcz. Folha de S. Paulo, 25.06.18. Adaptado)
145
C) O projeto divide opiniões, uma vez que alguns veem positivamente esse meio de reintegração,
enquanto outros o consideram um prêmio injusto.
D) A redução da pena em quatro dias por ano depende de um parecerista que aprova a resenha
feita pelo detento e redige o pedido de remição.
E) Entre as respostas dadas, constatou-se que o primordial para os detentos foi aprender a se ex-
pressar com confiança.
É preciso levar a sério a filha de Marx, Eleanor, quando disse que seu pai “era o mais alegre e diver-
tido de todos os homens”. Em outubro de 1837, com apenas dezenove anos, o jovem Karl compôs
uma peça de teatro e um breve romance satírico, inacabados, nos quais ridiculariza e condena as
convenções burguesas, o moralismo filisteu, a aristocracia e o pedantismo intelectual.
Naquele ano, por indicação médica – pois adoecera por excesso de trabalho –, Marx deixou Berlim
e estabeleceu- se, para repousar, em Stralow, uma vila de pescadores. Mas, em vez do descanso,
optou por trabalhar intensamente. Foi nesse momento que escreveu as duas operetas contidas no
livrinho que a Boitempo oferece agora aos leitores brasileiros: Escorpião e Félix e Oulanem.
Essas pequenas obras remetem à atmosfera cultural da Alemanha no período posterior ao Con-
gresso de Viena, com a rejeição romântica do classicismo e a grande difusão da obra de Lau-
rence Sterne, principalmente do seu Tristram Shandy. Esse romance, publicado entre 1759 e 1767,
cobre de ridículo os estereótipos literários então dominantes. É dessa fonte literária, além de
pitadas de E. T. A. Hoffmann, que o jovem Karl bebe em seu romance Escorpião e Félix, dissolven-
do os lugares comuns narrativos num divertido desprezopela lisura formal do romance clássico.
Já Oulanem é um drama fantástico em versos, um suspense gótico. Na criação desse poema-tra-
gédia, ambientado numa aldeia na Itália, o jovem filósofo estava sob a influência dominante de
Goethe e, sob essa luz, delineava sua visão da história e sua ideia de que o mundo precisava ser
completamente revolucionado.
Esse Karl ainda não é o Marx que conhecemos melhor, mas são claros os indícios do futuro filósofo
materialista que despontam.
(Carlos Eduardo Ornelas Berriel. https://blogdaboitempo.com.br. Adaptado)
De acordo com o texto, as obras Escorpião e Félix e Oulanem, de Karl Marx, têm em comum o fato
de serem
A) burlescas e tratarem de temas metafísicos.
B) empoladas e desenvolverem teses filosóficas.
C) classicistas e reproduzirem estereótipos burgueses.
D) incompletas e atacarem a tradição acadêmica.
E) regionalistas e terem a Itália como cenário.
146
Karl Marx romancista e dramaturgo?
É preciso levar a sério a filha de Marx, Eleanor, quando disse que seu pai “era o mais alegre e diver-
tido de todos os homens”. Em outubro de 1837, com apenas dezenove anos, o jovem Karl compôs
uma peça de teatro e um breve romance satírico, inacabados, nos quais ridiculariza e condena as
convenções burguesas, o moralismo filisteu,a aristocracia e o pedantismo intelectual.
Naquele ano, por indicação médica – pois adoecera por excesso de trabalho –, Marx deixou Berlim
e estabeleceu- se, para repousar, em Stralow, uma vila de pescadores. Mas, em vez do descanso,
optou por trabalhar intensamente. Foi nesse momento que escreveu as duas operetas contidas no
livrinho que a Boitempo oferece agora aos leitores brasileiros: Escorpião e Félix e Oulanem.
Essas pequenas obras remetem à atmosfera cultural da Alemanha no período posterior ao Con-
gresso de Viena, com a rejeição romântica do classicismo e a grande difusão da obra de Laurence
Sterne, principalmente do seu Tristram Shandy. Esse romance, publicado entre 1759 e 1767, cobre
de ridículo os estereótipos literários então dominantes. É dessa fonte literária, além de pitadas de E.
T. A. Hoffmann, que o jovem Karl bebe em seu romance Escorpião e Félix, dissolvendo os lugares
comuns narrativos num divertido desprezopela lisura formal do romance clássico. Já Oulanem é um
drama fantástico em versos, um suspense gótico. Na criação desse poema-tragédia, ambientado
numa aldeia na Itália, o jovem filósofo estava sob a influência dominante de Goethe e, sob essa
luz, delineava sua visão da história e sua ideia de que o mundo precisava ser completamente
revolucionado.
Esse Karl ainda não é o Marx que conhecemos melhor, mas são claros os indícios do futuro filósofo
materialista que despontam.
(Carlos Eduardo Ornelas Berriel. https://blogdaboitempo.com.br. Adaptado)
“A saúde não é um brinquedo político, ela deve ser usada para promover o bem-estar e a qualidade
de vida. E isso só vai acontecer quando nos comprometermos a fazer da atenção primária à saúde
a base da assistência universal.”
A afirmação é do diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghe-
breyesus, durante a assinatura nesta quinta (25/10/2018) de um acordo internacional em Astana,
capital do Cazaquistão, em que 194 países membros da OMS, incluindo o Brasil, comprometeram-
-se a fortalecer a atenção primária.
Chamado de “Declaração de Astana”, o acordo também comemora o 40º aniversário da histórica
Declaração de Alma Alta, que exortou o mundo a fazer dos cuidados primários de saúde o pilar da
cobertura universal de saúde em 1978.
147
Ocorre que, embora nos últimos 40 anos a expectativa de vida tenha aumentado e a mortalidade
infantil, caído pela metade, por exemplo, o progresso em saúde tem sido desigual e injusto entre
países e dentro dos países.
“Devemos reconhecer que não alcançamos esse objetivo [saúde para todos]. Em vez de saúde
para todos, conseguimos saúde para alguns. Temos ficado muito focados em combater doenças
específicas, muito focados no tratamento, em detrimento da prevenção de doenças”, disse Ghe-
breyesus.
Quase metade da população mundial não tem acesso a serviços essenciais de saúde e, segundo a
OMS, 100 milhões de pessoas são empurradas para a pobreza a cada ano por causa de gastos
catastróficos em saúde. A atenção primária à saúde pode fornecer de 80% a 90% das necessida-
des de saúde de uma pessoa durante sua vida.
A Declaração de Astana aponta a necessidade de uma ação multissetorial que inclua tecnologia,
conhecimento científico e tradicional, juntamente com profissionais de saúde bem treinados e re-
munerados, e participação das pessoas e da comunidade para que seja alcançada a tão sonhada
saúde para todos com qualidade.
(Cláudia Collucci, Saúde não é brinquedo político, diz diretor da OMS. Em: Folha de S.Paulo, 25.10.2018. Adaptado)
“A saúde não é um brinquedo político, ela deve ser usada para promover o bem-estar e a qualidade
de vida. E isso só vai acontecer quando nos comprometermos a fazer da atenção primária à saúde
a base da assistência universal.”
A afirmação é do diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghe-
breyesus, durante a assinatura nesta quinta (25/10/2018) de um acordo internacional em Astana,
capital do Cazaquistão, em que 194 países membros da OMS, incluindo o Brasil, comprometeram-
-se a fortalecer a atenção primária.
Chamado de “Declaração de Astana”, o acordo também comemora o 40º aniversário da histórica
Declaração de Alma Alta, que exortou o mundo a fazer dos cuidados primários de saúde o pilar da
cobertura universal de saúde em 1978.
Ocorre que, embora nos últimos 40 anos a expectativa de vida tenha aumentado e a mortalidade
148
infantil, caído pela metade, por exemplo, o progresso em saúde tem sido desigual e injusto entre
países e dentro dos países.
“Devemos reconhecer que não alcançamos esse objetivo [saúde para todos]. Em vez de saúde
para todos, conseguimos saúde para alguns. Temos ficado muito focados em combater doenças
específicas, muito focados no tratamento, em detrimento da prevenção de doenças”, disse Ghe-
breyesus.
Quase metade da população mundial não tem acesso a serviços essenciais de saúde e, segundo a
OMS, 100 milhões de pessoas são empurradas para a pobreza a cada ano por causa de gastos
catastróficos em saúde. A atenção primária à saúde pode fornecer de 80% a 90% das necessida-
des de saúde de uma pessoa durante sua vida.
A Declaração de Astana aponta a necessidade de uma ação multissetorial que inclua tecnologia,
conhecimento científico e tradicional, juntamente com profissionais de saúde bem treinados e re-
munerados, e participação das pessoas e da comunidade para que seja alcançada a tão sonhada
saúde para todos com qualidade.
(Cláudia Collucci, Saúde não é brinquedo político, diz diretor da OMS. Em: Folha de S.Paulo, 25.10.2018. Adaptado)
a) ganha destaque nas políticas, garantindo a atenção à prevenção de doenças e o acesso a ser-
viços essenciais de saúde.
b) pode ser conseguida de forma bem simples, priorizando- se métodos tradicionais e profissionais
com formação mais humanizada.
c) está prejudicada pela baixa atenção à prevenção de doenças, o que ainda pode piorar caso se
use politicamente a saúde.
d) caminha para atingir um número maior de pessoas, já que se tem abandonado o combate a
doenças específicas.
e) exige políticas mais voltadas à tecnologia, o que demandará menos profissionais em um traba-
lho mais eficiente para a população.
Tempo incerto
Os homens têm complicado tanto o mecanismo da vida que já ninguém tem certeza de nada: para
se fazer alguma coisa é preciso aliar a um impulso de aventura grandes sombras de dúvida. Não
se acredita mais na existência de gente honesta; e os bons têm medo de exercitarem sua bondade,
para não serem tratados de hipócritas ou de ingênuos.
Vivemos um momento em que a virtude é ridícula e os mais vis sentimentos se mascaram de gran-
diosidade, simpatia, benevolência. A observação do presente leva-nos até a descer dos exemplos
do passado: os varões ilustres de outras eras terão sido realmente ilustres? Ou a História nos está
contando as coisas ao contrário, pagando com dinheiros dos testemunhos a opinião dos escribas?
Se prestarmos atenção ao que nos dizem sobre as coisas que nós mesmos presenciamos – ou
temos que aceitar a mentira como a arte mais desenvolvida do nosso tempo, ou desconfiamos do
nosso próprio testemunho, e acabamos no hospício!
149
Pois assim, é, meus senhores! Prestai atenção às coisas que vos contam, em família, na rua, nos
cafés, em várias letras de forma, e dizei-me se não estão incertos os tempos e se não devemos
todos andar de pulga atrás da orelha!
Agora, pensam os patrões, os empregados, os amigos e inimigos de uns e de outros e todo o resto
da massa humana. E não só pensam, como também pensam que pensam! E além de pensarem
que pensam, pensam que têm razão! E cada um é o detentor exclusivo da razão!
Pois de tal abundância de razão é que se faz a loucura. E a vocação das pessoas, hoje em dia, não
é para o diálogo com ou sem palavras, mas para balas de diversos calibres. Perto disso, a carestia
da vida é um ramo de flores. O que anda mesmo caro é alma. E o Demônio passeia pelo mundo,
glorioso e imune.
(Cecília Meireles, Tempo incerto. Em: Escolha o seu Sonho. Adaptado)
Por quê?
“Correlação não é causa” é um mantra que todos aqueles que já entraram numa aula de estatística
ou de metodologia científica ouviram. E de fato não é. O canto do galo e o nascer do sol estão forte-
mente correlacionados, mas ninguém deve achar que é o som emitido pelo galináceo que provoca
o surgimento do astro todas as manhãs.
O problema é que, durante muito tempo, estatísticos e cientistas se deixaram cegar pelo mantra e
renunciaram a investigar melhor a causalidade e desenvolver ferramentas matemáticas para lidar
com ela, o que é perfeitamente possível. Essa pelo menos é a visão do cientista da computação
Judea Pearl, exposta em “The Book of Why” (O livro do porquê), obra que escreveu com o mate-
mático e jornalista científico Dana Mackenzie.
Os prejuízos foram grandes. Muitas vidas se perderam porque, por várias décadas, a ciência julgou
não ter meios para estabelecer com segurança se o cigarro causava ou não câncer, incerteza
que a indústria do tabaco foi hábil em explorar. Em “The Book of Why”, Pearl e Mackenzie explicam
de forma razoavelmente didática quais são as novas técnicas que permitem responder a perguntas
causais como “qual a probabilidade de esta onda de calor ter sido provocada pelo efeito estufa?”
ou “foi a droga X que curou a doença Y?”. Mais até, os autores falam em usar a estatística para
destrinchar o obscuro mundo dos contrafactuais1.
Uma advertência importante que os autores fazem a entusiastas do “big data”2 é que não podemos
nos furtar a entender as questões estudadas e formular teorias. Não se chega a lugar nenhum só
150
com dados e sem hipóteses.
Minha sensação, pela retórica empregada (não tenho competência para avaliar tecnicamente), é
que Pearl exagera um pouco. Ele faz um uso pouco comedido de termos como “revolução” e “mi-
lagre”. Mas é um cientista de primeira linha e, mesmo que ele esteja aumentando as coisas em até
30%, ainda sobram muitas ideias fascinantes no livro.
(Hélio Schwartsman. 19.08.2018. www.folha.uol.com.br. Adaptado)
Por quê?
“Correlação não é causa” é um mantra que todos aqueles que já entraram numa aula de estatística
ou de metodologia científica ouviram. E de fato não é. O canto do galo e o nascer do sol estão forte-
mente correlacionados, mas ninguém deve achar que é o som emitido pelo galináceo que provoca
o surgimento do astro todas as manhãs.
O problema é que, durante muito tempo, estatísticos e cientistas se deixaram cegar pelo mantra e
renunciaram a investigar melhor a causalidade e desenvolver ferramentas matemáticas para lidar
com ela, o que é perfeitamente possível. Essa pelo menos é a visão do cientista da computação
Judea Pearl, exposta em “The Book of Why” (O livro do porquê), obra que escreveu com o mate-
mático e jornalista científico Dana Mackenzie.
Os prejuízos foram grandes. Muitas vidas se perderam porque, por várias décadas, a ciência julgou
não ter meios para estabelecer com segurança se o cigarro causava ou não câncer, incerteza que
a indústria do tabaco foi hábil em explorar. Em “The Book of Why”, Pearl e Mackenzie explicam de
forma razoavelmente didática quais são as novas técnicas que permitem responder a perguntas
causais como “qual a probabilidade de esta onda de calor ter sido provocada pelo efeito estufa?”
ou “foi a droga X que curou a doença Y?”. Mais até, os autores falam em usar a estatística para
destrinchar o obscuro mundo dos contrafactuais1.
Uma advertência importante que os autores fazem a entusiastas do “big data”2 é que não podemos
nos furtar a entender as questões estudadas e formular teorias. Não se chega a lugar nenhum só
com dados e sem hipóteses.
Minha sensação, pela retórica empregada (não tenho competência para avaliar tecnicamente), é
que Pearl exagera um pouco. Ele faz um uso pouco comedido de termos como “revolução” e “mi-
lagre”. Mas é um cientista de primeira linha e, mesmo que ele esteja aumentando as coisas em até
30%, ainda sobram muitas ideias fascinantes no livro.
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(Hélio Schwartsman. 19.08.2018. www.folha.uol.com.br. Adaptado)
Por quê?
“Correlação não é causa” é um mantra que todos aqueles que já entraram numa aula de estatística
ou de metodologia científica ouviram. E de fato não é. O canto do galo e o nascer do sol estão forte-
mente correlacionados, mas ninguém deve achar que é o som emitido pelo galináceo que provoca
o surgimento do astro todas as manhãs.
O problema é que, durante muito tempo, estatísticos e cientistas se deixaram cegar pelo mantra e
renunciaram a investigar melhor a causalidade e desenvolver ferramentas matemáticas para lidar
com ela, o que é perfeitamente possível. Essa pelo menos é a visão do cientista da computação
Judea Pearl, exposta em “The Book of Why” (O livro do porquê), obra que escreveu com o mate-
mático e jornalista científico Dana Mackenzie.
Os prejuízos foram grandes. Muitas vidas se perderam porque, por várias décadas, a ciência julgou
não ter meios para estabelecer com segurança se o cigarro causava ou não câncer, incerteza
que a indústria do tabaco foi hábil em explorar. Em “The Book of Why”, Pearl e Mackenzie explicam
de forma razoavelmente didática quais são as novas técnicas que permitem responder a perguntas
causais como “qual a probabilidade de esta onda de calor ter sido provocada pelo efeito estufa?”
ou “foi a droga X que curou a doença Y?”. Mais até, os autores falam em usar a estatística para
destrinchar o obscuro mundo dos contrafactuais1.
Uma advertência importante que os autores fazem a entusiastas do “big data”2 é que não podemos
nos furtar a entender as questões estudadas e formular teorias. Não se chega a lugar nenhum só
com dados e sem hipóteses.
Minha sensação, pela retórica empregada (não tenho competência para avaliar tecnicamente), é
que Pearl exagera um pouco. Ele faz um uso pouco comedido de termos como “revolução” e “mi-
lagre”. Mas é um cientista de primeira linha e, mesmo que ele esteja aumentando as coisas em até
30%, ainda sobram muitas ideias fascinantes no livro.
(Hélio Schwartsman. 19.08.2018. www.folha.uol.com.br. Adaptado)
152
1contrafactual: simulação (sentido aproximado)
2 big data: grande banco de dados
No contexto do primeiro parágrafo, a passagem – O canto do galo e o nascer do sol estão forte-
mente correlacionados, mas ninguém deve achar que é o som emitido pelo galináceo que provoca
o surgimento do astro todas as manhãs. – serve ao propósito de
A) enumerar o que foi dito anteriormente.
B) resumir o que foi dito anteriormente.
C) refutar o que foi dito anteriormente.
D) ressalvar o que foi dito anteriormente.
E) ilustrar o que foi dito anteriormente.
O futuro do trabalho
153
dades humanas deve-se à
A) recente adoção de políticas públicas educacionais direcionadas ao enfrentamento dos desafios
impostos pelas transformações nos modos de produção.
B) necessidade de encontrar soluções que possam minimizar o impacto dos problemas sociais
para a população mais idosa que têm origem no desemprego.
C) emergência de se adotarem medidas para conter o processo acelerado de automação e de
robotização, responsável pelo avanço das mudanças climáticas.
D) demanda pelo desenvolvimento de novas competências, diante da previsão do fim de ocupa-
ções em decorrência da intensa automação e robotização.
E) necessidade de aceleração da automação da indústria nacional, indispensável para atender a
demanda de um mercado consumidor em crescimento constante.
O futuro do trabalho
154
serão extintas enquanto outras serão criadas envolve
A) o trabalho constante de pesquisa voltada para a identificação das profissões com potencial para
serem extintas e daquelas que permanecerão em alta.
B) o desenvolvimento da consciência política sobre a necessidade da adoção de medidas para
fazer frente aos novos desafios impostos à humanidade.
C) o reconhecimento do nível de capacitação pessoal, o que impõe aceitar desempenhar desde
atividades mais básicas até aquelas que dependem de reflexão crítica.
D) a capacidade de reinventar-se continuamente, fundamental para o desempenho de atividades
que requerem reflexão crítica e aptidão para resolução de problemas.
E) um sistema educacional que despreze os conhecimentos prévios dos estudantes e direcione o
ensino à capacitação deles para desempenhar uma única profissão.
O futuro do trabalho
155
Considere a seguinte passagem do 4º parágrafo, para responder a questão.
Isso envolve trabalhar com o conceito de aprendizagem ao longo da vida, ou seja, desde a primei-
ra infância, a fim de desenvolver competências basilares, necessárias para promover autonomia
para que todos possam aprender a aprender.
A família toda ria de dona Morgadinha e dizia que ela estava sempre esperando a visita de alguém
ilustre. Dona Morgadinha não podia ver uma coisa fora do lugar, uma ponta de poeira em seus mó-
veis ou uma mancha em seus vidros e cristais. Gemia baixinho quando alguém esquecia um sapato
no corredor, uma toalha no quarto ou – ai, ai, ai – uma almofada fora do sofá da sala. Baixinha,
resoluta, percorria a casa com uma flanela na mão, o olho vivo contra qualquer incursão do pó, da
cinza, do inimigo nos seus domínios.
Dona Morgadinha era uma alma simples. Não lia jornal, não lia nada. Achava que jornal sujava os
dedos e livro juntava mofo e bichos. O marido de dona Morgadinha, que ela amava com devoção
apesar do seu hábito de limpar a orelha com uma tampa de caneta Bic, estabelecera um limite para
sua compulsão por limpeza. Ela não podia entrar em sua biblioteca. Sua jurisdição acabava na
porta. Ali dentro só ele podia limpar, e nunca limpava. E, nas raras vezes em que dona Morgadinha
chegava à porta do escritório proibido para falar com o marido, esse fazia questão de desafiá-la.
Botava os pés em cima dos móveis. Atirava os sapatos longe. Uma vez chegara a tirar uma meia
e jogar em cima da lâmpada só para ver a cara da mulher. Sacudia a ponta do charuto sobre um
cinzeiro cheio e errava deliberadamente o alvo. Dona Morgadinha então fechava os olhos e, inca-
paz de se controlar, lustrava com a sua flanela o trinco da porta.
(Luis Fernando Veríssimo. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008. Adaptado)
A expressão presente no texto que melhor sintetiza a principal característica da personagem dona
Morgadinha é:
A) ... sempre esperando a visita...
B) Gemia baixinho...
C) Não lia jornal, não lia nada.
D) ... compulsão por limpeza.
E) ... incapaz de se controlar...
156
QUESTÃO 39: VUNESP - ANA (PREF ITAPEVI)/PREF ITAPEVI/AMBIENTAL/2019
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Leia o texto para responder a questão.
Essa é a frase que mais tenho ouvido recentemente. Passada a euforia de uma notícia qualificada
como “bomba”, logo os atores de uma das partes corriam a público para disponibilizar a íntegra
daquilo que antes foi veiculado em partes.
É preciso saber de tudo e entender de tudo. É preciso tirar as próprias conclusões para não depen-
der de ninguém, e é esse o grande e contraditório imperativo dos nossos tempos. É uma ordem a
uma experimentação libertária, e uma quase contradição do termo. O imperativo que liberta tam-
bém aprisiona: você só passa a ser, ou a pertencer, se tiver uma conclusão. Sobre qualquer coisa.
Nas últimas décadas psicanalistas se debruçaram sobre as mudanças nos arranjos produtivos e
sociais de cada período histórico para compreender e nomear as formas de sofrimento decorrentes
delas. A revolução industrial, a divisão social do trabalho, a urbanização desenfreada e as guerras,
por exemplo, fizeram explodir o número de sujeitos impacientes, irritadiços e perturbados com a
velocidade das transformações e suas consequentes perdas de referências simbólicas.
Pensando sobre o imperativo “Leia/Veja/Assista” e “Tire suas próprias conclusões”, começo a des-
confiar de que estamos diante de uma nova forma de sofrimento relacionado a um mal-estar ainda
não nomeado.
Afinal, que tipo de sujeito está surgindo de nossa nova organização social? O que a vida em rede
diz sobre as formas como nos relacionamos com o mundo? Que tipos de valores surgem dali? E,
finalmente, que tipo de sofrimento essa vida em rede tem causado?
Vou arriscar e sair correndo, já sob o risco de percorrer um campo que não é meu: estamos vendo
surgir o sujeito preso à ideia da obrigação de ter algo a dizer. Ao longo dos séculos essa angústia
era comum aos chamados formadores de opinião e artistas, responsáveis por reinterpretar o mun-
do. Hoje basta ter um celular com conexão 3G para ser chamado a opinar sobre qualquer coisa.
Pensamos estar pensando mesmo quando estamos apenas terceirizando convicções ao comparti-
lhar aquilo que não escrevemos.
É uma nova versão de um conflito descrito por Clarice Lispector a respeito da insuficiência da lin-
guagem. Algo como: “Não só não consigo dizer o que penso como o que penso passa a ser o que
digo”. Se vivesse nas redes que atribuem a ela frases que jamais disse, o “dizer” e o “pensar” teriam
a interlocução de um outro verbo: “compartilhar”.
(Matheus Pichonelli, Carta Capital. 18.03.2016. www.cartacapital.com.br. Adaptado)
Na opinião do autor, o mal-estar provado pelos indivíduos atualmente está relacionado com
A) a obrigação de produzir conteúdos que sejam instigantes e inéditos.
B) o imperativo de consultar fontes de informação dignas de credibilidade.
C) a exigência de ter de emitir uma opinião sobre qualquer assunto.
D) a perda de referências simbólicas que impulsionou a revolução industrial.
E) o fato de não haver valores éticos sólidos balizando os formadores de opinião.
157
QUESTÃO 40: VUNESP - ANA (PREF ITAPEVI)/PREF ITAPEVI/AMBIENTAL/2019
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Leia o texto para responder a questão.
Essa é a frase que mais tenho ouvido recentemente. Passada a euforia de uma notícia qualificada
como “bomba”, logo os atores de uma das partes corriam a público para disponibilizar a íntegra
daquilo que antes foi veiculado em partes.
É preciso saber de tudo e entender de tudo. É preciso tirar as próprias conclusões para não depen-
der de ninguém, e é esse o grande e contraditório imperativo dos nossos tempos. É uma ordem a
uma experimentação libertária, e uma quase contradição do termo. O imperativo que liberta tam-
bém aprisiona: você só passa a ser, ou a pertencer, se tiver uma conclusão. Sobre qualquer coisa.
Nas últimas décadas psicanalistas se debruçaram sobre as mudanças nos arranjos produtivos e
sociais de cada período histórico para compreender e nomear as formas de sofrimento decorrentes
delas. A revolução industrial, a divisão social do trabalho, a urbanização desenfreada e as guerras,
por exemplo, fizeram explodir o número de sujeitos impacientes, irritadiços e perturbados com a
velocidade das transformações e suas consequentes perdas de referências simbólicas.
Pensando sobre o imperativo “Leia/Veja/Assista” e “Tire suas próprias conclusões”, começo a des-
confiar de que estamos diante de uma nova forma de sofrimento relacionado a um mal-estar ainda
não nomeado.
Afinal, que tipo de sujeito está surgindo de nossa nova organização social? O que a vida em rede
diz sobre as formas como nos relacionamos com o mundo? Que tipos de valores surgem dali? E,
finalmente, que tipo de sofrimento essa vida em rede tem causado?
Vou arriscar e sair correndo, já sob o risco de percorrer um campo que não é meu: estamos vendo
surgir o sujeito preso à ideia da obrigação de ter algo a dizer. Ao longo dos séculos essa angústia
era comum aos chamados formadores de opinião e artistas, responsáveis por reinterpretar o mun-
do. Hoje basta ter um celular com conexão 3G para ser chamado a opinar sobre qualquer coisa.
Pensamos estar pensando mesmo quando estamos apenas terceirizando convicções ao comparti-
lhar aquilo que não escrevemos.
É uma nova versão de um conflito descrito por Clarice Lispector a respeito da insuficiência da lin-
guagem. Algo como: “Não só não consigo dizer o que penso como o que penso passa a ser o que
digo”. Se vivesse nas redes que atribuem a ela frases que jamais disse, o “dizer” e o “pensar” teriam
a interlocução de um outro verbo: “compartilhar”.
(Matheus Pichonelli, Carta Capital. 18.03.2016. www.cartacapital.com.br. Adaptado)
Da menção ao conflito descrito por Clarice Lispector, no último parágrafo, deduz-se o seguinte:
A) para o autor, Clarice Lispector estava equivocada ao ignorar a importância do “compartilhar”
como intermediário entre o “dizer” e o “pensar”.
B) ao se exprimir com exatidão o pensamento, a insuficiência da linguagem é superada, ainda que
provisoriamente.
C) quando o pensamento é traduzido em palavras, e essas palavras são partilhadas, exaltam-se os
valores morais da sociedade.
D) não é possível expressar com exatidão o que pensamos, e nos iludimos ao crer que o que dize-
mos equivale ao que pensamos.
158
E) o “pensar” adquire valor a partir do momento em que encontra um equivalente no “dizer” e assu-
me forma ao ser compartilhado.
Pela primeira vez na história de nossa espécie, foi-nos oferecida a possibilidade de comer à larga
em todas as refeições e de ganhar a vida sentados o dia inteiro. Obesidade e sedentarismo se
tornaram as principais epidemias nos países de renda média e alta, nos quais a praga mortífera do
tabagismo começa a ser a duras penas controlada.
Na esteira dessas duas pandemias, caminham a passos apressados hipertensão arterial, diversos
tipos de câncer, diabetes, doenças cardiovasculares, problemas ortopédicos, articulares, renais e
outras complicações que sobrecarregam o sistema de saúde, encarecem o atendimento e fazem
sofrer milhões de pessoas. Nas capitais, 19% dos brasileiros adultos estão obesos e outros 35%
têm sobrepeso, ou seja, menos da metade da população cai na faixa do peso considerado saudá-
vel.
Na contramão de outros ramos da economia, a incorporação de tecnologia na área médica aumen-
ta o custo do produto final. A assistência a uma população que envelhece mal como a brasileira
exigirá recursos de que não dispomos no SUS nem na saúde suplementar.
Esperar as pessoas adoecerem para tratá-las em hospitais e unidades de pronto atendimento é
política suicida. Não há saída: ou investimos na prevenção ou, cada vez mais, só os privilegiados
terão acesso à medicina moderna.
Nos anos 1960, cerca de 60% dos nossos adultos fumavam, hoje não passam de 10%. Se con-
seguimos resultado tão impressionante com a dependência química mais feroz que a medicina
conhece, não é impossível convencer mulheres, crianças e homens a comer um pouco menos e a
andar míseros 40 minutos num dia de 24 horas.
(Drauzio Varella. Folha de S. Paulo, 11.11.2018. www.folha.uol.com.br. Adaptado)
Pela primeira vez na história de nossa espécie, foi-nos oferecida a possibilidade de comer à larga
em todas as refeições e de ganhar a vida sentados o dia inteiro. Obesidade e sedentarismo se
tornaram as principais epidemias nos países de renda média e alta, nos quais a praga mortífera do
tabagismo começa a ser a duras penas controlada.
Na esteira dessas duas pandemias, caminham a passos apressados hipertensão arterial, diversos
tipos de câncer, diabetes, doenças cardiovasculares, problemas ortopédicos, articulares, renais e
outras complicações que sobrecarregam o sistema de saúde, encarecem o atendimento e fazem
sofrer milhões de pessoas. Nas capitais, 19% dos brasileiros adultos estão obesos e outros 35%
têm sobrepeso, ou seja, menos da metade da população cai na faixa do peso considerado saudá-
vel.
160
Na contramão de outros ramos da economia, a incorporação de tecnologia na área médica aumen-
ta o custo do produto final. A assistência a uma população que envelhece mal como a brasileira
exigirá recursos de que não dispomos no SUS nem na saúde suplementar.
Esperar as pessoas adoecerem para tratá-las em hospitais e unidades de pronto atendimento é
política suicida. Não há saída: ou investimos na prevenção ou, cada vez mais, só os privilegiados
terão acesso à medicina moderna.
Nos anos 1960, cerca de 60% dos nossos adultos fumavam, hoje não passam de 10%. Se con-
seguimos resultado tão impressionante com a dependência química mais feroz que a medicina
conhece, não é impossível convencer mulheres, crianças e homens a comer um pouco menos e a
andar míseros 40 minutos num dia de 24 horas.
(Drauzio Varella. Folha de S. Paulo, 11.11.2018. www.folha.uol.com.br. Adaptado)
Pela primeira vez na história de nossa espécie, foi-nos oferecida a possibilidade de comer à larga
em todas as refeições e de ganhar a vida sentados o dia inteiro. Obesidade e sedentarismo se
tornaram as principais epidemias nos países de renda média e alta, nos quais a praga mortífera do
tabagismo começa a ser a duras penas controlada.
Na esteira dessas duas pandemias, caminham a passos apressados hipertensão arterial, diversos
tipos de câncer, diabetes, doenças cardiovasculares, problemas ortopédicos, articulares, renais e
outras complicações que sobrecarregam o sistema de saúde(A), encarecem o atendimento e fa-
zem sofrer milhões de pessoas(B). Nas capitais, 19% dos brasileiros adultos estão obesos e outros
35% têm sobrepeso(C), ou seja, menos da metade da população cai na faixa do peso considerado
saudável.
Na contramão de outros ramos da economia, a incorporação de tecnologia na área médica aumen-
ta o custo do produto final. A assistência a uma população que envelhece mal como a brasileira
exigirá recursos de que não dispomos no SUS nem na saúde suplementar(D).
Esperar as pessoas adoecerem para tratá-las em hospitais e unidades de pronto atendimento é
política suicida. Não há saída: ou investimos na prevenção ou, cada vez mais, só os privilegiados
terão acesso à medicina moderna.
161
Nos anos 1960, cerca de 60% dos nossos adultos fumavam, hoje não passam de 10%. Se con-
seguimos resultado tão impressionante com a dependência química mais feroz que a medicina
conhece, não é impossível convencer mulheres, crianças e homens a comer um pouco menos e a
andar míseros 40 minutos num dia de 24 horas.
(Drauzio Varella. Folha de S. Paulo, 11.11.2018. www.folha.uol.com.br. Adaptado)
Uma palavra que, no contexto, explicita uma opinião pessoal do autor está destacada em:
A) ... outras complicações que sobrecarregam o sistema de saúde...
B) ... outras complicações que [...] encarecem o atendimento...
C) ... outros 35% têm sobrepeso...
D) ... recursos de que não dispomos [...] na saúde suplementar.
E) ... andar míseros 40 minutos num dia de 24 horas.
Página infeliz
O mercado editorial no Brasil nunca pareceu tão próximo de uma catástrofe – com as duas prin-
cipais redes de livrarias do país, Saraiva e Cultura, em uma crise profunda, reduzindo o número
de lojas e com dívidas que parecem sem fim.
Líder do mercado, a Saraiva, que já acumula atrasos de pagamentos a editores nos últimos anos,
anunciou nesta semana o fechamento de 20 lojas. Em nota, a rede afirma que a medida tem a ver
com “desafios econômicos e operacionais”, além de uma mudança na “dinâmica do varejo”.
Na semana anterior, a Livraria Cultura entrou em recuperação judicial. No pedido à Justiça, a rede
afirma acumular prejuízos nos últimos quatro anos, ter custos que só crescem e vendas menores.
Mesmo assim, diz a petição enviada ao juiz, não teria aumentado seus preços.
O enrosco da Cultura está explicado aí. Diante da crise, a empresa passou a pegar dinheiro em-
prestado com os bancos – o tamanho da dívida é de R$ 63 milhões. Com os atrasos nos paga-
mentos das duas redes, editoras já promoveram uma série de demissões ao longo dos últimos dois
anos.
O cenário de derrocada, contudo, parece estar em descompasso com os números de vendas.
Desde o começo do ano, os dados compilados pela Nielsen, empresa de pesquisa de mercado,
levantados a pedido do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, mostravam que o meio livreiro
vinha dando sinais de melhoras pela primeira vez, desde o início da recessão econômica que abala
o país.
Simone Paulino, da Nós, editora independente de São Paulo, enxerga um descompasso entre as
vendas em alta e a crise. Nas palavras dela, “um paradoxo assustador.” A editora nunca vendeu
tanto na Cultura quanto nesses últimos seis meses”, diz. E é justamente nesse período que eles
não têm sido pagos.
“O modelo de produção do livro é muito complicado. Você investe desde a compra do direito autoral
ou tradução e vai investindo ao longo de todo o processo. Na hora que você deveria receber, esse
dinheiro não volta”, diz Paulino.
“Os grandes grupos têm uma estrutura de advogados que vão ter estratégia para tentar receber. E
para os pequenos? O que vai acontecer?”
162
Mas há uma esperança para os editores do país: o preço fixo do livro. Diante do cenário de crise, a
maior parte dos editores aposta em uma carta tirada da manga no apagar das luzes do atual gover-
no – a criação, no país, do preço fixo do livro – norma a ser implantada por medida provisória – nos
moldes de boa parte de países europeus, como França e Alemanha.
Os editores se inspiram no pujante mercado europeu. Por lá, o preço fixo existe desde 1837, quan-
do a Dinamarca criou a sua lei limitando descontos, abolida só em 2001. A crença é a de que a
crise atual é em parte causada pela guerra de preço. Unificar o valor de capa permitiria um flores-
cimento das livrarias independentes, uma vez que elas competiriam de forma mais justa com as
grandes redes.
(Folha de S. Paulo, 03.11.2018. Adaptado)
Página infeliz
O mercado editorial no Brasil nunca pareceu tão próximo de uma catástrofe – com as duas prin-
cipais redes de livrarias do país, Saraiva e Cultura, em uma crise profunda, reduzindo o número de
lojas e com dívidas que parecem sem fim.
Líder do mercado, a Saraiva, que já acumula atrasos de pagamentos a editores nos últimos anos,
anunciou nesta semana o fechamento de 20 lojas. Em nota, a rede afirma que a medida tem a ver
com “desafios econômicos e operacionais”, além de uma mudança na “dinâmica do varejo”.
Na semana anterior, a Livraria Cultura entrou em recuperação judicial. No pedido à Justiça, a rede
afirma acumular prejuízos nos últimos quatro anos, ter custos que só crescem e vendas menores.
Mesmo assim, diz a petição enviada ao juiz, não teria aumentado seus preços.
O enrosco da Cultura está explicado aí. Diante da crise, a empresa passou a pegar dinheiro em-
prestado com os bancos – o tamanho da dívida é de R$ 63 milhões. Com os atrasos nos paga-
mentos das duas redes, editoras já promoveram uma série de demissões ao longo dos últimos dois
anos.
O cenário de derrocada, contudo, parece estar em descompasso com os números de vendas.
Desde o começo do ano, os dados compilados pela Nielsen, empresa de pesquisa de mercado,
levantados a pedido do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, mostravam que o meio livreiro
vinha dando sinais de melhoras pela primeira vez, desde o início da recessão econômica que abala
163
o país.
Simone Paulino, da Nós, editora independente de São Paulo, enxerga um descompasso entre as
vendas em alta e a crise. Nas palavras dela, “um paradoxo assustador.” A editora nunca vendeu
tanto na Cultura quanto nesses últimos seis meses”, diz. E é justamente nesse período que eles
não têm sido pagos.
“O modelo de produção do livro é muito complicado. Você investe desde a compra do direito autoral
ou tradução e vai investindo ao longo de todo o processo. Na hora que você deveria receber, esse
dinheiro não volta”, diz Paulino.
“Os grandes grupos têm uma estrutura de advogados que vão ter estratégia para tentar receber. E
para os pequenos? O que vai acontecer?”
Mas há uma esperança para os editores do país: o preço fixo do livro. Diante do cenário de crise, a
maior parte dos editores aposta em uma carta tirada da manga no apagar das luzes do atual gover-
no – a criação, no país, do preço fixo do livro – norma a ser implantada por medida provisória – nos
moldes de boa parte de países europeus, como França e Alemanha.
Os editores se inspiram no pujante mercado europeu. Por lá, o preço fixo existe desde 1837, quan-
do a Dinamarca criou a sua lei limitando descontos, abolida só em 2001. A crença é a de que a
crise atual é em parte causada pela guerra de preço. Unificar o valor de capa permitiria um flores-
cimento das livrarias independentes, uma vez que elas competiriam de forma mais justa com as
grandes redes.
(Folha de S. Paulo, 03.11.2018. Adaptado)
Página infeliz
O mercado editorial no Brasil nunca pareceu tão próximo de uma catástrofe – com as duas prin-
cipais redes de livrarias do país, Saraiva e Cultura, em uma crise profunda, reduzindo o número de
lojas e com dívidas que parecem sem fim.
Líder do mercado, a Saraiva, que já acumula atrasos de pagamentos a editores nos últimos anos,
anunciou nesta semana o fechamento de 20 lojas. Em nota, a rede afirma que a medida tem a ver
com “desafios econômicos e operacionais”, além de uma mudança na “dinâmica do varejo”.
Na semana anterior, a Livraria Cultura entrou em recuperação judicial. No pedido à Justiça, a rede
afirma acumular prejuízos nos últimos quatro anos, ter custos que só crescem e vendas menores.
164
Mesmo assim, diz a petição enviada ao juiz, não teria aumentado seus preços.
O enrosco da Cultura está explicado aí. Diante da crise, a empresa passou a pegar dinheiro em-
prestado com os bancos – o tamanho da dívida é de R$ 63 milhões. Com os atrasos nos paga-
mentos das duas redes, editoras já promoveram uma série de demissões ao longo dos últimos dois
anos.
O cenário de derrocada, contudo, parece estar em descompasso com os números de vendas.
Desde o começo do ano, os dados compilados pela Nielsen, empresa de pesquisa de mercado,
levantados a pedido do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, mostravam que o meio livreiro
vinha dando sinais de melhoras pela primeira vez, desde o início da recessão econômica que abala
o país.
Simone Paulino, da Nós, editora independente de São Paulo, enxerga um descompasso entre as
vendas em alta e a crise. Nas palavras dela, “um paradoxo assustador.” A editora nunca vendeu
tanto na Cultura quanto nesses últimos seis meses”, diz. E é justamente nesse período que eles
não têm sido pagos.
“O modelo de produção do livro é muito complicado. Você investe desde a compra do direito autoral
ou tradução e vai investindo ao longo de todo o processo. Na hora que você deveria receber, esse
dinheiro não volta”, diz Paulino.
“Os grandes grupos têm uma estrutura de advogados que vão ter estratégia para tentar receber. E
para os pequenos? O que vai acontecer?”
Mas há uma esperança para os editores do país: o preço fixo do livro. Diante do cenário de crise, a
maior parte dos editores aposta em uma carta tirada da manga no apagar das luzes do atual gover-
no – a criação, no país, do preço fixo do livro – norma a ser implantada por medida provisória – nos
moldes de boa parte de países europeus, como França e Alemanha.
Os editores se inspiram no pujante mercado europeu. Por lá, o preço fixo existe desde 1837, quan-
do a Dinamarca criou a sua lei limitando descontos, abolida só em 2001. A crença é a de que a
crise atual é em parte causada pela guerra de preço. Unificar o valor de capa permitiria um flores-
cimento das livrarias independentes, uma vez que elas competiriam de forma mais justa com as
grandes redes.
(Folha de S. Paulo, 03.11.2018. Adaptado)
165
O mercado editorial no Brasil nunca pareceu tão próximo de uma catástrofe – com as duas prin-
cipais redes de livrarias do país, Saraiva e Cultura, em uma crise profunda, reduzindo o número
de lojas e com dívidas que parecem sem fim.
Líder do mercado, a Saraiva, que já acumula atrasos de pagamentos a editores nos últimos anos,
anunciou nesta semana o fechamento de 20 lojas. Em nota, a rede afirma que a medida tem a ver
com “desafios econômicos e operacionais”, além de uma mudança na “dinâmica do varejo”.
Na semana anterior, a Livraria Cultura entrou em recuperação judicial. No pedido à Justiça, a rede
afirma acumular prejuízos nos últimos quatro anos, ter custos que só crescem e vendas menores.
Mesmo assim, diz a petição enviada ao juiz, não teria aumentado seus preços.
O enrosco da Cultura está explicado aí. Diante da crise, a empresa passou a pegar dinheiro em-
prestado com os bancos – o tamanho da dívida é de R$ 63 milhões. Com os atrasos nos paga-
mentos das duas redes, editoras já promoveram uma série de demissões ao longo dos últimos dois
anos.
O cenário de derrocada, contudo, parece estar em descompasso com os números de vendas.
Desde o começo do ano, os dados compilados pela Nielsen, empresa de pesquisa de mercado,
levantados a pedido do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, mostravam que o meio livreiro
vinha dando sinais de melhoras pela primeira vez, desde o início da recessão econômica que abala
o país.
Simone Paulino, da Nós, editora independente de São Paulo, enxerga um descompasso entre as
vendas em alta e a crise. Nas palavras dela, “um paradoxo assustador.” A editora nunca vendeu
tanto na Cultura quanto nesses últimos seis meses”, diz. E é justamente nesse período que eles
não têm sido pagos.
“O modelo de produção do livro é muito complicado. Você investe desde a compra do direito autoral
ou tradução e vai investindo ao longo de todo o processo. Na hora que você deveria receber, esse
dinheiro não volta”, diz Paulino.
“Os grandes grupos têm uma estrutura de advogados que vão ter estratégia para tentar receber. E
para os pequenos? O que vai acontecer?”
Mas há uma esperança para os editores do país: o preço fixo do livro. Diante do cenário de crise, a
maior parte dos editores aposta em uma carta tirada da manga no apagar das luzes do atual gover-
no – a criação, no país, do preço fixo do livro – norma a ser implantada por medida provisória – nos
moldes de boa parte de países europeus, como França e Alemanha.
Os editores se inspiram no pujante mercado europeu. Por lá, o preço fixo existe desde 1837, quan-
do a Dinamarca criou a sua lei limitando descontos, abolida só em 2001. A crença é a de que a
crise atual é em parte causada pela guerra de preço. Unificar o valor de capa permitiria um flores-
cimento das livrarias independentes, uma vez que elas competiriam de forma mais justa com as
grandes redes.
(Folha de S. Paulo, 03.11.2018. Adaptado)
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QUESTÃO 49: VUNESP - PAEPE (UNICAMP)/UNICAMP/BIBLIOTECÁRIO/2019
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Página infeliz
O mercado editorial no Brasil nunca pareceu tão próximo de uma catástrofe – com as duas princi-
pais redes de livrarias do país, Saraiva e Cultura, em uma crise profunda, reduzindo o número de
lojas e com dívidas que parecem sem fim.
Líder do mercado, a Saraiva, que já acumula atrasos de pagamentos a editores nos últimos anos,
anunciou nesta semana o fechamento de 20 lojas. Em nota, a rede afirma que a medida tem a ver
com “desafios econômicos e operacionais”, além de uma mudança na “dinâmica do varejo”.
Na semana anterior, a Livraria Cultura entrou em recuperação judicial. No pedido à Justiça, a rede
afirma acumular prejuízos nos últimos quatro anos, ter custos que só crescem e vendas menores.
Mesmo assim, diz a petição enviada ao juiz, não teria aumentado seus preços.
O enrosco da Cultura está explicado aí. Diante da crise, a empresa passou a pegar dinheiro em-
prestado com os bancos – o tamanho da dívida é de R$ 63 milhões. Com os atrasos nos paga-
mentos das duas redes, editoras já promoveram uma série de demissões ao longo dos últimos dois
anos.
O cenário de derrocada, contudo, parece estar em descompasso com os números de vendas.
Desde o começo do ano, os dados compilados pela Nielsen, empresa de pesquisa de mercado,
levantados a pedido do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, mostravam que o meio livreiro
vinha dando sinais de melhoras pela primeira vez, desde o início da recessão econômica que abala
o país.
Simone Paulino, da Nós, editora independente de São Paulo, enxerga um descompasso entre as
vendas em alta e a crise. Nas palavras dela, “um paradoxo assustador.” A editora nunca vendeu
tanto na Cultura quanto nesses últimos seis meses”, diz. E é justamente nesse período que eles
não têm sido pagos.
“O modelo de produção do livro é muito complicado. Você investe desde a compra do direito autoral
ou tradução e vai investindo ao longo de todo o processo. Na hora que você deveria receber, esse
dinheiro não volta”, diz Paulino.
“Os grandes grupos têm uma estrutura de advogados que vão ter estratégia para tentar receber. E
para os pequenos? O que vai acontecer?”
Mas há uma esperança para os editores do país: o preço fixo do livro. Diante do cenário de crise, a
maior parte dos editores aposta em uma carta tirada da manga no apagar das luzes do atual gover-
no – a criação, no país, do preço fixo do livro – norma a ser implantada por medida provisória – nos
moldes de boa parte de países europeus, como França e Alemanha.
Os editores se inspiram no pujante mercado europeu. Por lá, o preço fixo existe desde 1837, quan-
do a Dinamarca criou a sua lei limitando descontos, abolida só em 2001. A crença é a de que a
crise atual é em parte causada pela guerra de preço. Unificar o valor de capa permitiria um flores-
cimento das livrarias independentes, uma vez que elas competiriam de forma mais justa com as
grandes redes.
(Folha de S. Paulo, 03.11.2018. Adaptado)
167
A) Todas as palavras em destaque apresentam compatibilidade de sentido com a ideia contida no
título – Página infeliz.
B) As palavras – esperança e florescimento – sinalizam um cenário promissor para os grupos edi-
toriais saírem da crise.
C) As palavras – enrosco, florescimento e esperança – atestam a problemática vivida pelos grandes
grupos editoriais do país.
D) Todas as palavras em destaque expressam a ideia de que o mercado editorial do país está em
alta, apesar da recessão econômica.
E) As palavras – catástrofe, enrosco e derrocada – evidenciam que os grupos editoriais poderão
sair da crise, com a ajuda dos bancos.
Página infeliz
O mercado editorial no Brasil nunca pareceu tão próximo de uma catástrofe – com as duas princi-
pais redes de livrarias do país, Saraiva e Cultura, em uma crise profunda, reduzindo o número de
lojas e com dívidas que parecem sem fim.
Líder do mercado, a Saraiva, que já acumula atrasos de pagamentos a editores nos últimos anos,
anunciou nesta semana o fechamento de 20 lojas. Em nota, a rede afirma que a medida tem a ver
com “desafios econômicos e operacionais”, além de uma mudança na “dinâmica do varejo”.
Na semana anterior, a Livraria Cultura entrou em recuperação judicial. No pedido à Justiça, a rede
afirma acumular prejuízos nos últimos quatro anos, ter custos que só crescem e vendas menores.
Mesmo assim, diz a petição enviada ao juiz, não teria aumentado seus preços.
O enrosco da Cultura está explicado aí. Diante da crise, a empresa passou a pegar dinheiro em-
prestado com os bancos – o tamanho da dívida é de R$ 63 milhões. Com os atrasos nos paga-
mentos das duas redes, editoras já promoveram uma série de demissões ao longo dos últimos dois
anos.
O cenário de derrocada, contudo, parece estar em descompasso com os números de vendas.
Desde o começo do ano, os dados compilados pela Nielsen, empresa de pesquisa de mercado,
levantados a pedido do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, mostravam que o meio livreiro
vinha dando sinais de melhoras pela primeira vez, desde o início da recessão econômica que abala
o país.
Simone Paulino, da Nós, editora independente de São Paulo, enxerga um descompasso entre as
vendas em alta e a crise. Nas palavras dela, “um paradoxo assustador.” A editora nunca vendeu
tanto na Cultura quanto nesses últimos seis meses”, diz. E é justamente nesse período que eles
não têm sido pagos.
“O modelo de produção do livro é muito complicado. Você investe desde a compra do direito autoral
ou tradução e vai investindo ao longo de todo o processo. Na hora que você deveria receber, esse
dinheiro não volta”, diz Paulino.
“Os grandes grupos têm uma estrutura de advogados que vão ter estratégia para tentar receber. E
para os pequenos? O que vai acontecer?”
Mas há uma esperança para os editores do país: o preço fixo do livro. Diante do cenário de crise, a
maior parte dos editores aposta em uma carta tirada da manga no apagar das luzes do atual gover-
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no – a criação, no país, do preço fixo do livro – norma a ser implantada por medida provisória – nos
moldes de boa parte de países europeus, como França e Alemanha.
Os editores se inspiram no pujante mercado europeu. Por lá, o preço fixo existe desde 1837, quan-
do a Dinamarca criou a sua lei limitando descontos, abolida só em 2001. A crença é a de que a
crise atual é em parte causada pela guerra de preço. Unificar o valor de capa permitiria um flores-
cimento das livrarias independentes, uma vez que elas competiriam de forma mais justa com as
grandes redes.
(Folha de S. Paulo, 03.11.2018. Adaptado)
O segmento frasal – carta tirada da manga no apagar das luzes do atual governo – indica, no con-
texto:
A) uma indiferença do governo que termina em ajudar a resolver o problema dos grupos editoriais.
B) uma solução de última hora para as redes livreiras, se o atual governo aprovar a norma do preço
fixo do livro.
C) uma possibilidade de as redes livreiras entrarem em acordo com os bancos para resolver a si-
tuação.
D) um voto de confiança no governo disposto a estancar a crise financeira das redes livreiras.
E) a falta de perspectiva na busca de solução para as redes livreiras, por causa da atual crise eco-
nômica do país.
LIVROS
Tropeçavas nos astros desastrada Quase não tínhamos livros em casa E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram São como a radiação de um corpo negro Apontando pra
expansão do Universo Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo.
(https://www.letras.mus.br/caetano-veloso, acessado em 09.11.2018)
169
LIVROS
Tropeçavas nos astros desastrada Quase não tínhamos livros em casa E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram São como a radiação de um corpo negro Apontando pra
expansão do Universo Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo.
Entre outros fatores, o humor da tira deve-se à ideia sugerida de que
170
B) as crianças estão mais predispostas para a leitura do que os adultos.
C) o rapaz reconhece estar velho, pois não consegue comunicar-se com a menina.
D) o livro é um artefato cultural ultrapassado para as novas gerações.
E) a menina acabou ofendendo o rapaz por cognominá-lo velho.
As palavras e as coisas
Confesso que, de início, não acreditava que Moana, aos 9 anos, pudesse se interessar pela leitura
da versão integral do clássico de J.R.R. Tolkien, O Hobbit. É verdade que se trata de uma aventura
povoada por magos e repleta de objetos encantados. Mas é um romance longo, com descrições
densas e vocabulário sofisticado. Para minha surpresa, no entanto, seu envolvimento com a obra
crescia a cada noite que a líamos juntos.
Ao terminarmos a leitura do décimo capítulo, Moana não me desejou boa-noite. Com olhos ainda
despertos, me perguntou se não podíamos comentar aquilo que mais havia agradado até então.
Pensei que o pedido não passasse de mais uma de suas estratégias para adiar a hora de dormir.
Recusei, mas ela argumentou: “Não é assim que vocês fazem, você e a mamãe, quando leem
Arendt e Paul Ricoeur
em seus grupos de estudos?”. Jamais imaginara que, quando a levamos a esses encontros – pre-
midos por alguma necessidade – ela pudesse prestar qualquer atenção ao que se passava. Sem-
pre a via absorta em suas tarefas, desenhos e leituras. Mas, em seu silêncio, ela se dava conta do
sentido de uma leitura partilhada.
Falamos, então, das transformações que ocorreram no personagem central, que abandonara sua
vida confortável e pacata de hobbit, para se tornar um aventureiro épico. Mas foi só no dia seguinte
que percebi a profundidade contida em seu pedido para que partilhássemos as impressões de nos-
sas leituras. Lembrei-me de uma bela passagem de Homens em tempos sombrios, na qual Hannah
Arendt afirma que o “mundo não é humano simplesmente por ter sido feito por mãos humanas, nem
se torna humano meramente porque a voz humana nele ressoa. Por mais afetados que sejamos
pelas coisas do mundo [como um livro], por mais profundamente que elas possam nos instigar e
estimular, essas coisas só se tornam humanas para nós quando podemos discuti-las com nossos
companheiros”.
É porque a fala humaniza as obras que gostamos tanto de comentar um filme, de compartilhar a
interpretação de um livro ou fazer uma refeição com nossos amigos. São as expressões do discur-
so humano que transformam uma coisa – como um livro – em objeto de um legado simbólico que
nos humaniza.
Na escola, é por meio das trocas discursivas entre professores e alunos que um romance ou um
programa computacional deixam de ser coisas inertes para se transformarem em objetos que de-
sempenham uma função educativa e, assim, adquirem seu sentido humanizador. São as palavras
– e não as coisas – que conferem sentido às experiências humanas.
(José Sérgio Fonseca de Camargo, “As palavras e as coisas”. Em: http://www.revistaeducacao.com.br. Adaptado)
171
A) o pai e a filha participavam dos encontros de leitura partilhada com o fim específico de se tor-
narem leitores críticos e proficientes, perfil que ele logo identificou na filha pelo gosto pela leitura.
B) a observação que Moana fazia dos encontros de leitura compartilhada dos adultos passou des-
percebida para o pai, o que justifica o fato de ela ter o seu pedido de comentário de leitura negado
por ele.
C) a filha tinha um plano para adiar a hora de dormir, valendo-se da referência às leituras partilha-
das do pai com outros adultos, plano esse que acabou sendo facilmente identificado por ele.
D) a leitura de O Hobbit foi uma forma encontrada pelo pai para mostrar à filha que as leituras
devem ser partilhadas e, mais que isso, é preciso que cada leitor enxergue um sentido próprio do
texto.
E) o pedido de Moana surpreendeu o pai que, inicialmente, não soube lidar com a situação, já que
para ele o papel das crianças deveria ser diferente do papel dos adultos, sem discussão sobre o
que foi lido.
As palavras e as coisas
Confesso que, de início, não acreditava que Moana, aos 9 anos, pudesse se interessar pela leitura
da versão integral do clássico de J.R.R. Tolkien, O Hobbit. É verdade que se trata de uma aventura
povoada por magos e repleta de objetos encantados. Mas é um romance longo, com descrições
densas e vocabulário sofisticado. Para minha surpresa, no entanto, seu envolvimento com a obra
crescia a cada noite que a líamos juntos.
Ao terminarmos a leitura do décimo capítulo, Moana não me desejou boa-noite. Com olhos ainda
despertos, me perguntou se não podíamos comentar aquilo que mais havia agradado até então.
Pensei que o pedido não passasse de mais uma de suas estratégias para adiar a hora de dormir.
Recusei, mas ela argumentou: “Não é assim que vocês fazem, você e a mamãe, quando leem
Arendt e Paul Ricoeur
em seus grupos de estudos?”. Jamais imaginara que, quando a levamos a esses encontros – pre-
midos por alguma necessidade – ela pudesse prestar qualquer atenção ao que se passava. Sem-
pre a via absorta em suas tarefas, desenhos e leituras. Mas, em seu silêncio, ela se dava conta do
sentido de uma leitura partilhada.
Falamos, então, das transformações que ocorreram no personagem central, que abandonara sua
vida confortável e pacata de hobbit, para se tornar um aventureiro épico. Mas foi só no dia se-
guinte que percebi a profundidade contida em seu pedido para que partilhássemos as impressões
de nossas leituras. Lembrei-me de uma bela passagem de Homens em tempos sombrios, na qual
Hannah Arendt afirma que o “mundo não é humano simplesmente por ter sido feito por mãos hu-
manas, nem se torna humano meramente porque a voz humana nele ressoa. Por mais afetados
que sejamos pelas coisas do mundo [como um livro], por mais profundamente que elas possam
nos instigar e estimular, essas coisas só se tornam humanas para nós quando podemos discuti-las
com nossos companheiros”.
É porque a fala humaniza as obras que gostamos tanto de comentar um filme, de compartilhar a
interpretação de um livro ou fazer uma refeição com nossos amigos. São as expressões do discur-
so humano que transformam uma coisa – como um livro – em objeto de um legado simbólico que
172
nos humaniza.
Na escola, é por meio das trocas discursivas entre professores e alunos que um romance ou um
programa computacional deixam de ser coisas inertes para se transformarem em objetos que de-
sempenham uma função educativa e, assim, adquirem seu sentido humanizador. São as palavras
– e não as coisas – que conferem sentido às experiências humanas.
(José Sérgio Fonseca de Camargo, “As palavras e as coisas”. Em: http://www.revistaeducacao.com.br. Adaptado)
A situação vivida com a filha, que pediu para discutir o livro com o pai, desencadeou neste, no dia
seguinte, uma reflexão relativa
A) ao processo de humanização que se efetiva nas interações significativas com as palavras.
B) à busca pela forma ideal de interação humana, dando- se valor tanto às palavras quanto às
coisas.
C) à supremacia que as coisas têm em relação às palavras, o que normalmente é esquecido.
D) ao fato de que os humanos precisam isolar-se, calando suas palavras e negando as coisas.
E) à forma pouco democrática como as experiências humanas reproduzem as coisas com as pa-
lavras.
As palavras e as coisas
Confesso que, de início, não acreditava que Moana, aos 9 anos, pudesse se interessar pela leitura
da versão integral do clássico de J.R.R. Tolkien, O Hobbit. É verdade que se trata de uma aventura
povoada por magos e repleta de objetos encantados. Mas é um romance longo, com descrições
densas e vocabulário sofisticado. Para minha surpresa, no entanto, seu envolvimento com a obra
crescia a cada noite que a líamos juntos.
Ao terminarmos a leitura do décimo capítulo, Moana não me desejou boa-noite. Com olhos ainda
despertos, me perguntou se não podíamos comentar aquilo que mais havia agradado até então.
Pensei que o pedido não passasse de mais uma de suas estratégias para adiar a hora de dormir.
Recusei, mas ela argumentou: “Não é assim que vocês fazem, você e a mamãe, quando leem
Arendt e Paul Ricoeur
em seus grupos de estudos?”. Jamais imaginara que, quando a levamos a esses encontros – pre-
midos por alguma necessidade – ela pudesse prestar qualquer atenção ao que se passava. Sem-
pre a via absorta em suas tarefas, desenhos e leituras. Mas, em seu silêncio, ela se dava conta do
sentido de uma leitura partilhada.
Falamos, então, das transformações que ocorreram no personagem central, que abandonara sua
vida confortável e pacata de hobbit, para se tornar um aventureiro épico. Mas foi só no dia seguinte
que percebi a profundidade contida em seu pedido para que partilhássemos as impressões de nos-
sas leituras. Lembrei-me de uma bela passagem de Homens em tempos sombrios, na qual Hannah
Arendt afirma que o “mundo não é humano simplesmente por ter sido feito por mãos humanas, nem
se torna humano meramente porque a voz humana nele ressoa. Por mais afetados que sejamos
pelas coisas do mundo [como um livro], por mais profundamente que elas possam nos instigar e
estimular, essas coisas só se tornam humanas para nós quando podemos discuti-las com nossos
173
companheiros”.
É porque a fala humaniza as obras que gostamos tanto de comentar um filme, de compartilhar a
interpretação de um livro ou fazer uma refeição com nossos amigos. São as expressões do discur-
so humano que transformam uma coisa – como um livro – em objeto de um legado simbólico que
nos humaniza.
Na escola, é por meio das trocas discursivas entre professores e alunos que um romance ou um
programa computacional deixam de ser coisas inertes para se transformarem em objetos que de-
sempenham uma função educativa e, assim, adquirem seu sentido humanizador. São as palavras
– e não as coisas – que conferem sentido às experiências humanas.
(José Sérgio Fonseca de Camargo, “As palavras e as coisas”. Em: http://www.revistaeducacao.com.br. Adaptado)
Observe as passagens do texto:
• Jamais imaginara que, quando a levamos a esses encontros – premidos por alguma necessi-
dade – ela pudesse prestar qualquer atenção ao que se passava. (2º parágrafo)
• São as expressões do discurso humano que transformam uma coisa – como um livro – em
objeto de um legado simbólico que nos humaniza. (4º parágrafo)
• São as palavras – e não as coisas – que conferem sentido às experiências humanas. (5º pa-
rágrafo)
174
Entre outros fatores, o efeito de humor na tira está associado ao uso de
A) termos em linguagem figurada, como “o professor severo dos adultos”.
B) palavras de duplo sentido, tais como os substantivos “Lei” e “adultos”.
C) termos em sentido próprio, como “a professora” e “o professor”.
D) pergunta retórica, no 2º quadrinho, para a qual não há uma resposta esperada.
E) expressão em linguagem coloquial, como em “É o cartão de crédito”.
A propagação de notícias falsas já mostrou seu poder de influenciar eleições e dividir sociedades,
potencializando preconceitos e ódios. Que efeito terá em crianças e jovens que não receberam
uma formação para a leitura de notícias?
Sem entender o que se passa ao redor, as crianças não se sentem parte da sociedade. Elas ou-
vem, principalmente pela televisão, e leem na internet o que está circulando no momento. Perce-
bem quando algo de grave ocorre, até porque podem viver em casa o problema estampado nas
manchetes dos jornais, como o desemprego dos pais.
Já ouviram falar de fake news, mas não sabem em quem confiar nem como identificar a credibilida-
de de uma informação, além de que diferenciar informação de opinião é difícil para elas.
Como muitos adultos também se mostram incapazes de detectar uma notícia falsa, as crianças
acabam muitas vezes sem orientação, ficam à margem do debate.
Encontra-se aí um grave problema: se elas não tiverem formação para ler notícias e não exercita-
rem o senso crítico para se protegerem de informações mentirosas, iremos perder uma geração
inteira que poderia (e deveria) promover as mudanças que tanto queremos.
As crianças são curiosas por natureza e querem se informar. Além disso, têm o direito de acesso
às mídias e de participação no debate público assegurado pela Convenção Internacional sobre
os Direitos da Criança.
A experiência mostra que, tendo acesso a notícias adequadas aos seus repertórios e contextuali-
zadas, sentem-se parte da sociedade e tornam-se mais autônomas.
Em várias ocasiões, impressionei-me com o protagonismo dos leitores mirins. Crianças de uma
região carente do interior de São Paulo, que leram os textos sobre a crise dos refugiados sírios,
organizaram um brechó com suas próprias roupas e entregaram o dinheiro a algumas famílias de
refugiados que estão no Brasil.
Outras, tendo lido sobre o problema da obesidade infantil no Brasil, mobilizaram-se para organizar
uma olimpíada. Algumas explicaram a seus pais o que significa
impeachment.
O problema das fake news é mais grave do que se imagina. Caso não seja combatido desde a
base, teremos crianças e jovens deixando de ler ou descrentes até de veículos com credibilidade.
Isso os deixará paralisados, sem saber como agir e vulneráveis a toda espécie de manipulação.
Jovens e crianças bem informados entendem o que se passa ao redor, formam as próprias opiniões
e se tornam cidadãos críticos e ativos.
175
Não há maneira de controlar o que nossos filhos leem ou veem, mas podemos incluí-los no debate,
compartilhar e discutir notícias com eles, ensinando-os a buscar fontes confiáveis e a exercitar o
senso crítico.
Se perdermos essa geração para as fake news, que líderes teremos e o que eles farão pelo Brasil
daqui a 20 anos?
(Stéphanie Habrich, diretora executiva do jornal “Joca”, voltado para jovens e crianças. Folha de S.Paulo, 19.02.2018.
Adaptado)
176
modelos estão a quase 250 m de altura, na estrutura de um edifício na Rua 48, em Nova York.
Naquele dia, três fotógrafos estiveram na construção, segundo Ken Johnston, diretor de fotos his-
tóricas da Corbis.
A foto, hoje atribuída a Charles C. Ebbets, foi publicada no dia 2 de outubro de 1932, no jornal The
New York Herald Tribune, e trazia a legenda: “Enquanto milhares de nova-iorquinos se apressam
em restaurantes e lanchonetes fervilhantes de clientes, esses trabalhadores intrépidos obtêm todo
o ar e liberdade que querem almoçando sobre uma viga de aço”.
(Aventuras na História, dezembro de 2012. Adaptado)
De acordo com as informações do texto, duas hipóteses descartadas a respeito da foto são:
A) os operários, a princípio, recusaram-se a posar para a foto; cenários falsos em fotos eram inviá-
veis tecnologicamente.
B) a Agência Corbis selecionou os três profissionais que tiraram a foto; a foto foi publicada com fins
publicitários.
C) os operários foram fotografados à frente de um fundo falso; a segurança dos operários estava
garantida por redes.
D) o objetivo de Ebbets era captar uma situação inusitada; a autoria da imagem gerou desavenças
entre os três fotógrafos.
E) a qualidade do negativo feito de vidro estava comprometida; o trabalho era uma adulteração
fotográfica da cena.
Os incidentes planetários na internet não devem causar espanto. Todos sabem que quanto mais
avançada é uma tecnologia, melhor ela se presta ao atentado.
O automóvel que dirijo agora faz coisas que o velho carro com o qual obtive minha carteira nem
sequer sonhava, mas, se tivesse começado a dirigir então com meu carro de hoje, já teria me ar-
rebentado em alguma esquina. Por sorte, cresci com meu carro, adaptando-me pouco a pouco ao
aumento de sua potência.
Com o computador, ao contrário, ainda nem tive tempo de aprender todas as possibilidades da má-
quina e do programa quando modelos mais complexos chegam ao mercado. Tampouco posso con-
tinuar com o velho computador, que talvez fosse suficiente para mim, porque algumas melhorias
indispensáveis só rodam nas novas máquinas. O mesmo acontece com os celulares, gravadores,
palm tops e com todo o digital em geral.
Esse drama não atinge apenas o usuário comum, mas também os que precisam controlar o fluxo
telemático, inclusive agentes do FBI, bancos e até o Pentágono.
Quem é que tem 24 horas por dia para entender as novas possibilidades do próprio meio? O ha-
cker, que é uma espécie de anacoreta, de eremita do deserto que dedica todas as horas de seu
dia à meditação (eletrônica). Sendo os únicos especialistas totais de uma inovação em ritmo insus-
tentável, eles têm tempo de entender tudo o que podem fazer com a máquina e a rede, mas não
de elaborar uma nova filosofia e de estudar suas aplicações positivas, de modo que se dedicam à
única ação imediata que sua desumana competência permite: desviar, bagunçar, desestabilizar o
177
sistema global.
Nesta ação, é possível que muitos deles pensem que atuam no “espírito de Seattle”*, ou seja, a
oposição ao novo Moloch**. Na verdade, acabam por ser os melhores colaboradores do sistema,
pois para neutralizá-los é preciso inovar mais ainda e com maior rapidez. É um círculo diabólico, no
qual o contestador potencializa aquilo que acredita estar destruindo.
(Umberto Eco, Pape Satàn Aleppe: crônicas de uma sociedade líquida. Adaptado)
Os incidentes planetários na internet não devem causar espanto. Todos sabem que quanto mais
avançada é uma tecnologia, melhor ela se presta ao atentado.
O automóvel que dirijo agora faz coisas que o velho carro com o qual obtive minha carteira nem
sequer sonhava, mas, se tivesse começado a dirigir então com meu carro de hoje, já teria me ar-
rebentado em alguma esquina. Por sorte, cresci com meu carro, adaptando-me pouco a pouco ao
aumento de sua potência.
Com o computador, ao contrário, ainda nem tive tempo de aprender todas as possibilidades da má-
quina e do programa quando modelos mais complexos chegam ao mercado. Tampouco posso con-
tinuar com o velho computador, que talvez fosse suficiente para mim, porque algumas melhorias
indispensáveis só rodam nas novas máquinas. O mesmo acontece com os celulares, gravadores,
palm tops e com todo o digital em geral.
Esse drama não atinge apenas o usuário comum, mas também os que precisam controlar o fluxo
telemático, inclusive agentes do FBI, bancos e até o Pentágono.
Quem é que tem 24 horas por dia para entender as novas possibilidades do próprio meio? O ha-
cker, que é uma espécie de anacoreta, de eremita do deserto que dedica todas as horas de seu
dia à meditação (eletrônica). Sendo os únicos especialistas totais de uma inovação em ritmo insus-
tentável, eles têm tempo de entender tudo o que podem fazer com a máquina e a rede, mas não
de elaborar uma nova filosofia e de estudar suas aplicações positivas, de modo que se dedicam à
178
única ação imediata que sua desumana competência permite: desviar, bagunçar, desestabilizar o
sistema global.
Nesta ação, é possível que muitos deles pensem que atuam no “espírito de Seattle”*, ou seja, a
oposição ao novo Moloch**. Na verdade, acabam por ser os melhores colaboradores do sistema,
pois para neutralizá-los é preciso inovar mais ainda e com maior rapidez. É um círculo diabólico, no
qual o contestador potencializa aquilo que acredita estar destruindo.
(Umberto Eco, Pape Satàn Aleppe: crônicas de uma sociedade líquida. Adaptado)
Os incidentes planetários na internet não devem causar espanto. Todos sabem que quanto mais
avançada é uma tecnologia, melhor ela se presta ao atentado.
O automóvel que dirijo agora faz coisas que o velho carro com o qual obtive minha carteira nem
sequer sonhava, mas, se tivesse começado a dirigir então com meu carro de hoje, já teria me ar-
rebentado em alguma esquina. Por sorte, cresci com meu carro, adaptando-me pouco a pouco ao
aumento de sua potência.
Com o computador, ao contrário, ainda nem tive tempo de aprender todas as possibilidades da má-
quina e do programa quando modelos mais complexos chegam ao mercado. Tampouco posso con-
tinuar com o velho computador, que talvez fosse suficiente para mim, porque algumas melhorias
indispensáveis só rodam nas novas máquinas. O mesmo acontece com os celulares, gravadores,
palm tops e com todo o digital em geral.
Esse drama não atinge apenas o usuário comum, mas também os que precisam controlar o fluxo
telemático, inclusive agentes do FBI, bancos e até o Pentágono.
Quem é que tem 24 horas por dia para entender as novas possibilidades do próprio meio? O ha-
cker, que é uma espécie de anacoreta, de eremita do deserto que dedica todas as horas de seu
dia à meditação (eletrônica). Sendo os únicos especialistas totais de uma inovação em ritmo insus-
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tentável, eles têm tempo de entender tudo o que podem fazer com a máquina e a rede, mas não
de elaborar uma nova filosofia e de estudar suas aplicações positivas, de modo que se dedicam à
única ação imediata que sua desumana competência permite: desviar, bagunçar, desestabilizar o
sistema global.
Nesta ação, é possível que muitos deles pensem que atuam no “espírito de Seattle”*, ou seja, a
oposição ao novo Moloch**. Na verdade, acabam por ser os melhores colaboradores do sistema,
pois para neutralizá-los é preciso inovar mais ainda e com maior rapidez. É um círculo diabólico, no
qual o contestador potencializa aquilo que acredita estar destruindo.
(Umberto Eco, Pape Satàn Aleppe: crônicas de uma sociedade líquida. Adaptado)
O conteúdo do terceiro parágrafo leva a concluir, corretamente, que o autor está fazendo referên-
cia ao fenômeno da
A) insolvência sistêmica.
B) obsolescência programada.
C) decadência restritiva.
D) interconexão tecnológica.
E) globalização intensiva.
Os incidentes planetários na internet não devem causar espanto. Todos sabem que quanto mais
avançada é uma tecnologia, melhor ela se presta ao atentado.
O automóvel que dirijo agora faz coisas que o velho carro com o qual obtive minha carteira nem
sequer sonhava, mas, se tivesse começado a dirigir então com meu carro de hoje, já teria me ar-
rebentado em alguma esquina. Por sorte, cresci com meu carro, adaptando-me pouco a pouco ao
aumento de sua potência.
Com o computador, ao contrário, ainda nem tive tempo de aprender todas as possibilidades da má-
quina e do programa quando modelos mais complexos chegam ao mercado. Tampouco posso con-
tinuar com o velho computador, que talvez fosse suficiente para mim, porque algumas melhorias
indispensáveis só rodam nas novas máquinas. O mesmo acontece com os celulares, gravadores,
palm tops e com todo o digital em geral.
Esse drama não atinge apenas o usuário comum, mas também os que precisam controlar o fluxo
telemático, inclusive agentes do FBI, bancos e até o Pentágono.
Quem é que tem 24 horas por dia para entender as novas possibilidades do próprio meio? O ha-
cker, que é uma espécie de anacoreta, de eremita do deserto que dedica todas as horas de seu
dia à meditação (eletrônica). Sendo os únicos especialistas totais de uma inovação em ritmo insus-
tentável, eles têm tempo de entender tudo o que podem fazer com a máquina e a rede, mas não
de elaborar uma nova filosofia e de estudar suas aplicações positivas, de modo que se dedicam à
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única ação imediata que sua desumana competência permite: desviar, bagunçar, desestabilizar o
sistema global.
Nesta ação, é possível que muitos deles pensem que atuam no “espírito de Seattle”*, ou seja, a
oposição ao novo Moloch**. Na verdade, acabam por ser os melhores colaboradores do sistema,
pois para neutralizá-los é preciso inovar mais ainda e com maior rapidez. É um círculo diabólico, no
qual o contestador potencializa aquilo que acredita estar destruindo.
(Umberto Eco, Pape Satàn Aleppe: crônicas de uma sociedade líquida. Adaptado)
Considerando a organização do conteúdo nos balões de cada quadrinho, pode-se afirmar que no
segundo, no terceiro e no quarto quadrinhos são expressos, respectivamente,
A) um projeto, uma reprovação e uma reclamação.
181
B) uma indagação, uma recordação e um gracejo.
C) um ideal, um alerta e um lamento.
D) um desejo, uma retificação e uma crítica.
E) uma constatação, uma recomendação e um deboche.
A arte mostra-se presente na história da humanidade desde os tempos mais remotos. Sem dúvida,
ela pode ser considerada como sendo uma necessidade de expressão do ser humano, surgindo
como fruto da relação homem/mundo. Por meio da arte a humanidade expressa suas necessida-
des, crenças, desejos, sonhos. Todos têm uma história, que pode ser individual ou coletiva. As
representações artísticas nos oferecem elementos que facilitam a compreensão da história dos
povos em cada período.
(Rosane K. Biesdorf e Marli F. Wandscheer. Arte, uma necessidade humana: função social e educativa. Itinerarius re-
flectionis.)
Roma
O filme Roma está constantemente entre dois caminhos. É pessoal e grandioso, popular e intelec-
tual, tecnológico – rodado em 65 mm digital – e clássico – feito em preto e branco com a mesma
ousadia dos movimentos cinematográficos das décadas de 1950 e 1960. O título, uma referência a
Colonia Roma, bairro da Cidade do México, também remete a Roma, Cidade Aberta, filme-símbolo
do neorrealismo italiano assinado por Roberto Rossellini.
Ao revisitar a própria memória, o cineasta Alfonso Cuarón escolhe olhar para Cleo, a empregada,
de origem indígena, de uma família branca de classe média. Resgata, assim, não apenas os seus
anos de formação, mas todas as particularidades do passado do país. O México no início dos anos
1970 fervilhava entre revoluções sociais e a influência da cultura estrangeira. Cleo, porém, se man-
tinha ingênua, centrada nas suas obrigações: lavar o pátio, buscar as crianças na escola, lavar a
roupa, colocar os pequenos para dormir.
Até que tudo se transforma. A família perfeita desmorona, com o pai que sai de casa, a mãe que
não se conforma com o fim do casamento e os filhos jogados de um lado para o outro na confusão
dos adultos. Enquanto isso, Cleo se apaixona, engravida, é enganada e deixada à própria sorte.
Duas mulheres de diferentes origens compartilham a dor do abandono. Juntas, reencontram a re-
182
siliência que segura o mundo frente às paixões autocentradas.
O cineasta, que além da direção e do roteiro assina a fotografia e a montagem (ao lado de Adam
Gough), retrata sua história, entrelaçada com a de seu país, como se na vida adulta reencontrasse
o olhar da infância, cujo fascínio por cada descoberta aumenta o tamanho e a importância de tudo.
O que Cuarón faz em Roma é raro. São camadas e camadas sobrepostas para reproduzir a com-
plexidade do seu imaginário afetivo e das relações sociais de um país. Entre muitas inspirações,
referências e técnicas, sua assinatura está na sinceridade com que olha para si mesmo e para os
seus personagens, encontrando beleza e verdade no que muitos menosprezam. Esse é um filme
simples e complicado, como a própria vida.
(Natália Bridi. Omelete. 11.01.2019. www.omelete.com.br. Adaptado)
De acordo com a autora, a singularidade da linguagem que Alfonso Cuarón adota em Roma está
A) na comicidade da caracterização de personagens pouco realistas e até caricaturais.
B) na indignação com que o cineasta denuncia a desigualdade entre as classes sociais.
C) no orgulho nacionalista com que se apresentam momentos cruciais da história do México.
D) na sinceridade do relato, valorizando o que para muitos costuma passar despercebido.
E) no modo irrealista com que os dramas das personagens femininas são resolvidos.
Roma
O filme Roma está constantemente entre dois caminhos. É pessoal e grandioso, popular e intelec-
tual, tecnológico – rodado em 65 mm digital – e clássico – feito em preto e branco com a mesma
ousadia dos movimentos cinematográficos das décadas de 1950 e 1960. O título, uma referência a
Colonia Roma, bairro da Cidade do México, também remete a Roma, Cidade Aberta, filme-símbolo
do neorrealismo italiano assinado por Roberto Rossellini.
Ao revisitar a própria memória, o cineasta Alfonso Cuarón escolhe olhar para Cleo, a empregada,
de origem indígena, de uma família branca de classe média. Resgata, assim, não apenas os seus
anos de formação, mas todas as particularidades do passado do país. O México no início dos anos
1970 fervilhava entre revoluções sociais e a influência da cultura estrangeira. Cleo, porém, se man-
tinha ingênua, centrada nas suas obrigações: lavar o pátio, buscar as crianças na escola, lavar a
roupa, colocar os pequenos para dormir.
Até que tudo se transforma. A família perfeita desmorona, com o pai que sai de casa, a mãe que
não se conforma com o fim do casamento e os filhos jogados de um lado para o outro na confusão
dos adultos. Enquanto isso, Cleo se apaixona, engravida, é enganada e deixada à própria sorte.
Duas mulheres de diferentes origens compartilham a dor do abandono. Juntas, reencontram a re-
siliência que segura o mundo frente às paixões autocentradas.
O cineasta, que além da direção e do roteiro assina a fotografia e a montagem (ao lado de Adam
Gough), retrata sua história, entrelaçada com a de seu país, como se na vida adulta reencontrasse
o olhar da infância, cujo fascínio por cada descoberta aumenta o tamanho e a importância de tudo.
O que Cuarón faz em Roma é raro. São camadas e camadas sobrepostas para reproduzir a com-
plexidade do seu imaginário afetivo e das relações sociais de um país. Entre muitas inspirações,
183
referências e técnicas, sua assinatura está na sinceridade com que olha para si mesmo e para os
seus personagens, encontrando beleza e verdade no que muitos menosprezam. Esse é um filme
simples e complicado, como a própria vida.
(Natália Bridi. Omelete. 11.01.2019. www.omelete.com.br. Adaptado)
Roma
O filme Roma está constantemente entre dois caminhos. É pessoal e grandioso, popular e intelec-
tual, tecnológico – rodado em 65 mm digital – e clássico – feito em preto e branco com a mesma
ousadia dos movimentos cinematográficos das décadas de 1950 e 1960. O título, uma referência a
Colonia Roma, bairro da Cidade do México, também remete a Roma, Cidade Aberta, filme-símbolo
do neorrealismo italiano assinado por Roberto Rossellini.
Ao revisitar a própria memória, o cineasta Alfonso Cuarón escolhe olhar para Cleo, a empregada,
de origem indígena, de uma família branca de classe média. Resgata, assim, não apenas os seus
anos de formação, mas todas as particularidades do passado do país. O México no início dos anos
1970 fervilhava entre revoluções sociais e a influência da cultura estrangeira. Cleo, porém, se man-
tinha ingênua, centrada nas suas obrigações: lavar o pátio, buscar as crianças na escola, lavar a
roupa, colocar os pequenos para dormir.
Até que tudo se transforma. A família perfeita desmorona, com o pai que sai de casa, a mãe que
não se conforma com o fim do casamento e os filhos jogados de um lado para o outro na confusão
dos adultos. Enquanto isso, Cleo se apaixona, engravida, é enganada e deixada à própria sorte.
Duas mulheres de diferentes origens compartilham a dor do abandono. Juntas, reencontram a re-
siliência que segura o mundo frente às paixões autocentradas.
O cineasta, que além da direção e do roteiro assina a fotografia e a montagem (ao lado de Adam
Gough), retrata sua história, entrelaçada com a de seu país, como se na vida adulta reencontrasse
o olhar da infância, cujo fascínio por cada descoberta aumenta o tamanho e a importância de tudo.
O que Cuarón faz em Roma é raro. São camadas e camadas sobrepostas para reproduzir a com-
plexidade do seu imaginário afetivo e das relações sociais de um país. Entre muitas inspirações,
referências e técnicas, sua assinatura está na sinceridade com que olha para si mesmo e para os
seus personagens, encontrando beleza e verdade no que muitos menosprezam. Esse é um filme
simples e complicado, como a própria vida.
(Natália Bridi. Omelete. 11.01.2019. www.omelete.com.br. Adaptado)
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(1) O filme Roma está constantemente entre dois caminhos. (2) É pessoal e grandioso, popular
e intelectual, tecnológico – rodado em 65 mm digital – e clássico – feito em preto e branco com a
mesma ousadia dos movimentos cinematográficos das décadas de 1950 e 1960.
Um vocábulo que pode ser usado para qualificar a palavra caminhos, no sentido de explicitar a
relação de sentido que se estabelece entre os períodos (1) e (2), é
A) contrários.
B) idênticos.
C) inviáveis.
D) irreais.
E) exagerados.
Roma
O filme Roma está constantemente entre dois caminhos. É pessoal e grandioso, popular e intelec-
tual, tecnológico – rodado em 65 mm digital – e clássico – feito em preto e branco com a mesma
ousadia dos movimentos cinematográficos das décadas de 1950 e 1960. O título, uma referência a
Colonia Roma, bairro da Cidade do México, também remete a Roma, Cidade Aberta, filme-símbolo
do neorrealismo italiano assinado por Roberto Rossellini.
Ao revisitar a própria memória, o cineasta Alfonso Cuarón escolhe olhar para Cleo, a empregada,
de origem indígena, de uma família branca de classe média. Resgata, assim, não apenas os seus
anos de formação, mas todas as particularidades do passado do país. O México no início dos anos
1970 fervilhava entre revoluções sociais e a influência da cultura estrangeira. Cleo, porém, se man-
tinha ingênua, centrada nas suas obrigações: lavar o pátio, buscar as crianças na escola, lavar a
roupa, colocar os pequenos para dormir.
Até que tudo se transforma. A família perfeita desmorona, com o pai que sai de casa, a mãe que
não se conforma com o fim do casamento e os filhos jogados de um lado para o outro na con-
fusão dos adultos. Enquanto isso, Cleo se apaixona, engravida, é enganada e deixada à própria
sorte. Duas mulheres de diferentes origens compartilham a dor do abandono. Juntas, reencontram
a resiliência que segura o mundo frente às paixões autocentradas.
O cineasta, que além da direção e do roteiro assina a fotografia e a montagem (ao lado de Adam
Gough), retrata sua história, entrelaçada com a de seu país, como se na vida adulta reencontrasse
o olhar da infância, cujo fascínio por cada descoberta aumenta o tamanho e a importância de tudo.
O que Cuarón faz em Roma é raro. São camadas e camadas sobrepostas para reproduzir a com-
plexidade do seu imaginário afetivo e das relações sociais de um país. Entre muitas inspirações,
referências e técnicas, sua assinatura está na sinceridade com que olha para si mesmo e para os
seus personagens, encontrando beleza e verdade no que muitos menosprezam. Esse é um filme
simples e complicado, como a própria vida.
(Natália Bridi. Omelete. 11.01.2019. www.omelete.com.br. Adaptado)
As informações “rodado em 65 mm digital” e “feito em preto e branco com a mesma ousadia dos
185
movimentos cinematográficos das décadas de 1950 e 1960”, destacadas com travessões no pri-
meiro parágrafo, ligam-se, respectivamente, aos vocábulos tecnológico e clássico com o propó-
sito de
A) mostrar que são sinônimos.
B) ilustrar a que se referem.
C) contestar seus sentidos.
D) apresentá-los como hipotéticos.
E) distorcer seus significados.
Chris Bolin, engenheiro de software da Formidable, empresa de Seattle (EUA), criou uma página de
internet cujo conteúdo só pode ser lido offline – ou seja, você tem que desconectar sua internet
no PC ou celular e só assim a página mostrará o texto. Se você ainda não está pronto para desligar
sua internet por dois minutos, a gente te ajuda: Veja abaixo o manifesto de Chris Bolin:
Você quer ser produtivo? Basta desligar, pois manter uma conexão constante com a internet é man-
ter uma conexão constante com interrupções, tanto externas como internas.
As interrupções externas são uma legião e bem documentadas: você tem uma nova mensagem
no Gmail, Slack, Twitter, Facebook, Instagram, Snapchat, LinkedIn. Amigos, familiares, colegas de
trabalho e spammers: cada um tem acesso direto à sua preciosa atenção.
Mas são as distrações internas verdadeiramente perniciosas. Você pode silenciar as notificações
do Twitter e sair do Slack, mas como você impede sua própria mente de descarrilar sua atenção?
Passei horas capturadas em teias da minha própria curiosidade. O mais perigoso é o capricho di-
vidido, a propósito do nada: ‘Eu me pergunto qual é o segundo idioma mais falado?’ Aqueles 500
186
milissegundos poderiam mudar seu dia, porque nunca é apenas uma pesquisa no Google, apenas
um artigo da Wikipédia. A desconexão da internet faz um curto-circuito desses caprichos, permitin-
do que você se mova sem embaraços.
Esta página em si é um experimento nesta veia: e se certo conteúdo nos obrigasse a desconectar?
E se os leitores tivessem acesso a essa gloriosa atenção que faz devorar um romance por horas
de uma forma tão gratificante? E se os criadores pudessem emparelhar isso com o poder dos apa-
relhos modernos? Nossos telefones e laptops são incríveis plataformas para novos conteúdos – se
apenas pudéssemos aproveitar nossa própria atenção.
O conteúdo offline apenas obrigaria os criadores a pensar de forma diferente. Olhe para esta pági-
na: não há um único link, nenhuma oferta de nota de rodapé para distrair os leitores. Quantos bons
artigos você deixou a metade da leitura porque você caçou um cintilante link sublinhado? Quando
você está offline, aqui é o único lugar em que você pode estar.
Eu já posso ouvir os gemidos: ‘Mas eu tenho que estar online para o meu trabalho.’ Eu não ligo.
Crie tempo. Aposto que o que o torna valioso não é a sua capacidade para o Google, mas a sua
capacidade de sintetizar informações. Faça suas pesquisas online, mas crie offline.
Agora volte para sua internet acessada regularmente. Apenas lembre-se de se dar um presente
ocasional de desconexão.”
(https://uoltecnologia.blogosfera.uol.com.br. Adaptado)
Chris Bolin, engenheiro de software da Formidable, empresa de Seattle (EUA), criou uma página de
internet cujo conteúdo só pode ser lido offline – ou seja, você tem que desconectar sua internet
no PC ou celular e só assim a página mostrará o texto. Se você ainda não está pronto para desligar
sua internet por dois minutos, a gente te ajuda: Veja abaixo o manifesto de Chris Bolin:
Você quer ser produtivo? Basta desligar, pois manter uma conexão constante com a internet é man-
ter uma conexão constante com interrupções, tanto externas como internas.
As interrupções externas são uma legião e bem documentadas: você tem uma nova mensagem
187
no Gmail, Slack, Twitter, Facebook, Instagram, Snapchat, LinkedIn. Amigos, familiares, colegas de
trabalho e spammers: cada um tem acesso direto à sua preciosa atenção.
Mas são as distrações internas verdadeiramente perniciosas. Você pode silenciar as notificações
do Twitter e sair do Slack, mas como você impede sua própria mente de descarrilar sua atenção?
Passei horas capturadas em teias da minha própria curiosidade. O mais perigoso é o capricho divi-
dido, a propósito do nada: ‘Eu me pergunto
qual é o segundo idioma mais falado?’ Aqueles 500 milissegundos poderiam mudar seu dia, porque
nunca é apenas uma pesquisa no Google, apenas um artigo da Wikipédia. A desconexão da inter-
net faz um curto-circuito desses caprichos, permitindo que você se mova sem embaraços.
Esta página em si é um experimento nesta veia: e se certo conteúdo nos obrigasse a desconectar?
E se os leitores tivessem acesso a essa gloriosa atenção que faz devorar um romance por horas
de uma forma tão gratificante? E se os criadores pudessem emparelhar isso com o poder dos apa-
relhos modernos? Nossos telefones e laptops são incríveis plataformas para novos conteúdos – se
apenas pudéssemos aproveitar nossa própria atenção.
O conteúdo offline apenas obrigaria os criadores a pensar de forma diferente. Olhe para esta pági-
na: não há um único link, nenhuma oferta de nota de rodapé para distrair os leitores. Quantos bons
artigos você deixou a metade da leitura porque você caçou um cintilante link sublinhado? Quando
você está offline, aqui é o único lugar em que você pode estar.
Eu já posso ouvir os gemidos: ‘Mas eu tenho que estar online para o meu trabalho.’ Eu não ligo.
Crie tempo. Aposto que o que o torna valioso não é a sua capacidade para o Google, mas a sua
capacidade de sintetizar informações. Faça suas pesquisas online, mas crie offline.
Agora volte para sua internet acessada regularmente. Apenas lembre-se de se dar um presente
ocasional de desconexão.”
(https://uoltecnologia.blogosfera.uol.com.br. Adaptado)
Chris Bolin, engenheiro de software da Formidable, empresa de Seattle (EUA), criou uma página de
internet cujo conteúdo só pode ser lido offline – ou seja, você tem que desconectar sua internet
no PC ou celular e só assim a página mostrará o texto. Se você ainda não está pronto para desligar
sua internet por dois minutos, a gente te ajuda: Veja abaixo o manifesto de Chris Bolin:
Você quer ser produtivo? Basta desligar, pois manter uma conexão constante com a internet é man-
ter uma conexão constante com interrupções, tanto externas como internas.
188
As interrupções externas são uma legião e bem documentadas: você tem uma nova mensagem no
Gmail, Slack, Twitter, Facebook, Instagram, Snapchat, LinkedIn. Amigos, familiares, colegas de
trabalho e spammers: cada um tem acesso direto à sua preciosa atenção.
Mas são as distrações internas verdadeiramente perniciosas. Você pode silenciar as notificações
do Twitter e sair do Slack, mas como você impede sua própria mente de descarrilar sua atenção?
Passei horas capturadas em teias da minha própria curiosidade. O mais perigoso é o capricho divi-
dido, a propósito do nada: ‘Eu me pergunto qual é o segundo idioma mais falado?’ Aqueles 500
milissegundos poderiam mudar seu dia, porque nunca é apenas uma pesquisa no Google, apenas
um artigo da Wikipédia. A desconexão da internet faz um curto-circuito desses caprichos, permitin-
do que você se mova sem embaraços.
Esta página em si é um experimento nesta veia: e se certo conteúdo nos obrigasse a desconectar?
E se os leitores tivessem acesso a essa gloriosa atenção que faz devorar um romance por horas
de uma forma tão gratificante? E se os criadores pudessem emparelhar isso com o poder dos apa-
relhos modernos? Nossos telefones e laptops são incríveis plataformas para novos conteúdos – se
apenas pudéssemos aproveitar nossa própria atenção.
O conteúdo offline apenas obrigaria os criadores a pensar de forma diferente. Olhe para esta pági-
na: não há um único link, nenhuma oferta de nota de rodapé para distrair os leitores. Quantos bons
artigos você deixou a metade da leitura porque você caçou um cintilante link sublinhado? Quando
você está offline, aqui é o único lugar em que você pode estar.
Eu já posso ouvir os gemidos: ‘Mas eu tenho que estar online para o meu trabalho.’ Eu não ligo.
Crie tempo. Aposto que o que o torna valioso não é a sua capacidade para o Google, mas a sua
capacidade de sintetizar informações. Faça suas pesquisas online, mas crie offline.
Agora volte para sua internet acessada regularmente. Apenas lembre-se de se dar um presente
ocasional de desconexão.”
(https://uoltecnologia.blogosfera.uol.com.br. Adaptado)
Observe o parágrafo do texto: “Esta página em si é um experimento nesta veia: e se certo conteú-
do nos obrigasse a desconectar? E se os leitores tivessem acesso a essa gloriosa atenção que
faz devorar um romance por horas de uma forma tão gratificante? E se os criadores pudessem
emparelhar isso com o poder dos aparelhos modernos? Nossos telefones e laptops são incríveis
plataformas para novos conteúdos – se apenas pudéssemos aproveitar nossa própria atenção.”
Com relação ao modo como as informações estão apresentadas, é correto afirmar que Bolin
A) levanta uma série de hipóteses para instigar os leitores a pensarem em uma forma alternativa
de se relacionarem com as informações, livres dos conteúdos
online.
B) incita os leitores a raciocinarem a favor dos recursos tecnológicos que, do seu ponto de vista,
sustentam a melhor forma de aproveitar a atenção de cada um.
C) condena a visão que ora mostra a conectividade como produtiva, ora como improdutiva, suge-
rindo que cada pessoa decida o que é melhor para si.
D) mostra posicionamentos contundentes acerca dos prejuízos de estar conectado, defendendo
que qualquer atividade humana deve prescindir da tecnologia.
E) reconhece a impossibilidade de defender a desconexão como uma forma gloriosa de se relacio-
nar com os conteúdos, que nascem da relação entre homem e tecnologia.
189
QUESTÃO 74: VUNESP - COOR PEDA (PERUÍBE)/PREF PERUÍBE/2019
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
A cada governo que entra, o assunto educação deixa os holofotes provisórios da campanha
eleitoral, onde costuma desfilar na linha de frente das promessas dos candidatos, e volta à
triste prateleira dos problemas que se arrastam sem solução. Desta vez foi diferente: encerra-
da a votação, a educação prosseguiu na pauta de discussões acirradas. Infelizmente, o saldo da
agitação não gira em torno de nenhuma providência capaz de pôr o ensino do Brasil nos trilhos da
excelência – a real prioridade.
A questão da hora é o projeto que pretende legislar sobre o que o professor pode ou, principalmen-
te, não pode falar em sala de aula. Com o propósito de impedir a doutrinação, por professores, em
classe, o projeto ameaça alimentar o oposto do que propõe: censura, patrulhamento, atitudes re-
trógradas e pensamento estreito. Segundo o especialista em educação Claudio de Moura Castro,
não há como definir o que é variedade de pensamento e o que é proselitismo.
Fruto do ambiente polarizado da sociedade brasileira, a discussão entrou pela porta da frente das
escolas. Nesse clima de paixões exaltadas, no entanto, é preciso um esforço adicional para separar
o joio do trigo. A doutrinação em sala de aula é condenável sob todos os aspectos – seja de es-
querda ou de direita, religiosa ou ateia, ou de qualquer outra natureza. A escola é um lugar para
o debate livre das ideias, e não para o proselitismo.
Todo conhecimento é socialmente construído e, portanto, a aventura humana, por definição, nunca
é neutra ou isenta de valores. A saída é discutir e chegar a um consenso sobre o que precisa ser
apresentado ao aluno, e não vigiar e punir.
Doutrinar é expor ideias e opiniões com o propósito de convencer o outro. A todo bom professor
cabe estimular o confronto de ideias e o livre pensar, inclusive expressando seu ponto de vista,
mas não catequizar – uma linha fina que exige discernimento constante.
O mundo é diverso em múltiplos aspectos, e a escola é o lugar adequado para que essa diversida-
de seja discutida livremente. A melhor escola ainda é a que faz pensar – sem proselitismo.
(Fernando Molica, Luisa Bustamante e Maria Clara Vieira, Meia-volta, volver. Veja, 14.11.2018. Adaptado)
A cada governo que entra, o assunto educação deixa os holofotes provisórios da campanha
eleitoral, onde costuma desfilar na linha de frente das promessas dos candidatos, e volta à
triste prateleira dos problemas que se arrastam sem solução. Desta vez foi diferente: encerra-
da a votação, a educação prosseguiu na pauta de discussões acirradas. Infelizmente, o saldo da
agitação não gira em torno de nenhuma providência capaz de pôr o ensino do Brasil nos trilhos da
excelência – a real prioridade.
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A questão da hora é o projeto que pretende legislar sobre o que o professor pode ou, principalmen-
te, não pode falar em sala de aula. Com o propósito de impedir a doutrinação, por professores, em
classe, o projeto ameaça alimentar o oposto do que propõe: censura, patrulhamento, atitudes re-
trógradas e pensamento estreito. Segundo o especialista em educação Claudio de Moura Castro,
não há como definir o que é variedade de pensamento e o que é proselitismo.
Fruto do ambiente polarizado da sociedade brasileira, a discussão entrou pela porta da frente das
escolas. Nesse clima de paixões exaltadas, no entanto, é preciso um esforço adicional para se-
parar o joio do trigo. A doutrinação em sala de aula é condenável sob todos os aspectos – seja de
esquerda ou de direita, religiosa ou ateia, ou de qualquer outra natureza. A escola é um lugar para
o debate livre das ideias, e não para o proselitismo.
Todo conhecimento é socialmente construído e, portanto, a aventura humana, por definição, nunca
é neutra ou isenta de valores. A saída é discutir e chegar a um consenso sobre o que precisa ser
apresentado ao aluno, e não vigiar e punir.
Doutrinar é expor ideias e opiniões com o propósito de convencer o outro. A todo bom professor
cabe estimular o confronto de ideias e o livre pensar, inclusive expressando seu ponto de vista,
mas não catequizar – uma linha fina que exige discernimento constante.
O mundo é diverso em múltiplos aspectos, e a escola é o lugar adequado para que essa diversida-
de seja discutida livremente. A melhor escola ainda é a que faz pensar – sem proselitismo.
(Fernando Molica, Luisa Bustamante e Maria Clara Vieira, Meia-volta, volver. Veja, 14.11.2018. Adaptado)
a) a certeza de que ele prioriza as políticas públicas apenas para um percentual insignificante da
população.
b) o risco de ver o tema da diversidade cultural pontificar entre os temas de discussão nas escolas
brasileiras.
c) o propósito de ele acentuar ainda mais a contraposição de ideias presente na sociedade bra-
sileira hoje.
d) a possibilidade de ele incentivar mecanismos que cerceiem a liberdade de pensamento e de
expressão.
e) a indefinição acerca do que são os reais valores da sociedade brasileira, estimulando a adesão
a ideias pouco convencionais.
191
C) a exploração, no texto verbal, de variações de sentido de uma mesma expressão.
D) a combinação de expressões verbais que contradizem o sentido global do texto.
E) a incoerência da sequência das ideias manifestas pela personagem em sua fala.
A arte de educar
Educar é mostrar a vida a quem ainda não a viu. O educador diz: “Veja!” e, ao falar, aponta. O
aluno olha na direção apontada e vê o que nunca viu. Seu mundo se expande. Ele fica mais rico
interiormente… E ficando mais rico interiormente ele pode sentir mais alegria – que é a razão pela
qual vivemos.
Já li muitos livros sobre Psicologia da Educação, Sociologia da Educação, Filosofia da Educação…
Mas, por mais que me esforce, não consigo me lembrar de qualquer referência à Educação do
Olhar. Ou à importância do olhar na educação, em qualquer um deles.
A primeira tarefa da Educação é ensinar a ver… É através dos olhos que as crianças tomam con-
tato com a beleza e o fascínio do mundo… Os olhos têm de ser educados para que nossa alegria
aumente.
A educação se divide em duas partes: Educação das Habilidades e Educação das Sensibilidades.
Sem a Educação das Sensibilidades, todas as habilidades são tolas e sem sentido. Os conheci-
mentos nos dão meios para viver. A sabedoria nos dá razões para viver.
Quero ensinar às crianças. Elas ainda têm olhos encantados. Seus olhos são dotados daquela
qualidade que, para os gregos, era o início do pensamento: a capacidade de se assombrar diante
do banal.
Para as crianças tudo é espantoso: um ovo, uma minhoca, uma concha de caramujo, o voo
dos urubus, os pulos dos gafanhotos, uma pipa no céu, um pião na terra. Coisas que os eru-
ditos não veem.
Na escola eu aprendi complicadas classificações botânicas, taxonomias, nomes latinos – mas es-
queci. E nenhum professor jamais chamou a minha atenção para a beleza de uma árvore… Ou
192
para o curioso das simetrias das folhas. Parece que naquele tempo as escolas estavam mais preo-
cupadas em fazer com que os alunos decorassem palavras que com a realidade para a qual elas
apontam.
As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor. Aprendemos palavras para me-
lhorar os olhos. Há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem… O ato de ver não é coisa
natural. Precisa ser aprendido. Quando a gente abre os olhos, abrem-se as janelas do corpo e o
mundo aparece refletido dentro da gente. São as crianças que, sem falar, nos ensinam as razões
para viver. Elas não têm saberes a transmitir. No entanto, elas sabem o essencial da vida. Quem
não muda sua maneira adulta de ver e sentir e não se torna como criança, jamais será sábio.
(Disponível em:< https://psicologiaacessivel.net>.Acesso em: 18.11.2018)
A afirmação – Há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem… – é marcada por uma incoe-
rência, com a qual o autor
A) chama a atenção para a distinção entre apenas dirigir o olhar e dar sentido ao que se vê.
B) aponta a necessidade de dar novos sentidos ao que há no mundo, graças ao aprendizado.
C) leva o leitor a refletir sobre o que aprendeu de fato no ambiente da escola tradicional.
D) sugere que há pessoas empenhadas em ver o mundo como as crianças o veem.
E) atenua a ideia de que as palavras têm vínculos com nosso conhecimento do mundo.
De princípio a interessou o nome da aeronave: não “zepelim” nem dirigível; o grande fuso de me-
tal brilhante chamava-se modernissimamente blimp. Pequeno como um brinquedo, independente,
amável. A algumas centenas de metros da sua casa ficava a base aérea dos soldados americanos
e o poste de amarração dos dirigíveis. E de vez em quando eles deixavam o poste e davam uma
volta, como pássaros mansos que abandonassem o poleiro num ensaio de voo. Assim, aos olhos
da menina, o blimp1 existia como um animal de vida própria; fascinava-a como prodígio mecânico
que era, e principalmente ela o achava lindo, todo feito de prata, librando − se2 majestosamente
pouco abaixo das nuvens. Não pensara nunca em entrar nele; não pensara sequer que
pudesse alguém andar dentro dele. Verdade que via lá dentro umas cabecinhas espiando,
mas tão minúsculas que não davam impressão de realidade.
O seu primeiro contato com a tripulação do dirigível começou de maneira puramente ocasional.
Acabara o café da manhã; a menina tirara a mesa e fora à porta que dá para o laranjal, sacudir da
toalha as migalhas de pão. Lá de cima um tripulante avistou aquele pano branco tremulando entre
as árvores espalhadas e a areia, e o seu coração solitário comoveu-se. Vivia naquela base como
um frade no seu convento – sozinho entre soldados e exortações patrióticas. E ali estava, juntinho
ao oitão da casa, sacudindo um pano, uma mocinha de cabelo ruivo. O marinheiro agitou-se todo
com aquele adeus. Várias vezes já sobrevoara aquela casa, vira gente entrando e saindo; e pen-
sara quão distantes uns dos outros vivem os homens, quão indiferentes passam entre si, cada um
trancado na sua vida. Ele estava voando por cima das pessoas, vendo-as e, se algumas erguiam
os olhos, nenhuma pensava no navegador que ia dentro; queriam só ver a beleza prateada vogan-
do3 pelo céu.
193
Mas agora aquela menina tinha para ele um pensamento, agitava no ar um pano, como uma ban-
deira; decerto era bonita – o sol lhe tirava fulgurações de fogo do cabelo. Seu coração atirou-se
para a menina num grande impulso agradecido; debruçou-se à janela, agitou os braços, gritou:
“Amigo!, amigo!” – embora soubesse que o vento, a distância, o ruído do motor não deixariam ou-
vir-se nada. Gostaria de lhe atirar uma flor, um mimo. Mas que podia haver dentro de um dirigível
da Marinha que servisse para ser oferecido a uma pequena? O objeto mais delicado que encontrou
foi uma grande caneca de louça branca, pesada como uma bala de canhão. E foi aquela caneca
que o navegante atirou; atirou, não: deixou cair a uma distância prudente da figurinha iluminada,
num gesto delicado, procurando abrandar a força da gravidade, a fim de que o objeto não chegasse
sibilante como um projétil, mas suavemente, como uma dádiva.
(Os cem melhores contos brasileiros do século. Org. Italo Moriconi – Objetiva, 2001. Adaptado)
1. blimp: dirigível
2. librando-se: flutuando, equilibrando-se
3. vogando: flutuando
De princípio a interessou o nome da aeronave: não “zepelim” nem dirigível; o grande fuso de me-
tal brilhante chamava-se modernissimamente blimp. Pequeno como um brinquedo, independente,
amável. A algumas centenas de metros da sua casa ficava a base aérea dos soldados americanos
e o poste de amarração dos dirigíveis. E de vez em quando eles deixavam o poste e davam uma
volta, como pássaros mansos que abandonassem o poleiro num ensaio de voo. Assim, aos olhos
da menina, o blimp1existia como um animal de vida própria; fascinava-a como prodígio mecânico
que era, e principalmente ela o achava lindo, todo feito de prata,
librando − se2 majestosamente pouco abaixo das nuvens. Não pensara nunca em en-
trar nele; não pensara sequer que pudesse alguém andar dentro dele. Verdade que via
lá dentro umas cabecinhas espiando, mas tão minúsculas que não davam impressão de
realidade.
O seu primeiro contato com a tripulação do dirigível começou de maneira puramente ocasional.
Acabara o café da manhã; a menina tirara a mesa e fora à porta que dá para o laranjal, sacudir da
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toalha as migalhas de pão. Lá de cima um tripulante avistou aquele pano branco tremulando entre
as árvores espalhadas e a areia, e o seu coração solitário comoveu-se. Vivia naquela base como
um frade no seu convento – sozinho entre soldados e exortações patrióticas. E ali estava, juntinho
ao oitão da casa, sacudindo um pano, uma mocinha de cabelo ruivo. O marinheiro agitou-se todo
com aquele adeus. Várias vezes já sobrevoara aquela casa, vira gente entrando e saindo; e pen-
sara quão distantes uns dos outros vivem os homens, quão indiferentes passam entre si, cada um
trancado na sua vida. Ele estava voando por cima das pessoas, vendo-as e, se algumas erguiam
os olhos, nenhuma pensava no navegador que ia dentro; queriam só ver a beleza prateada vogan-
do3 pelo céu.
Mas agora aquela menina tinha para ele um pensamento, agitava no ar um pano, como uma ban-
deira; decerto era bonita – o sol lhe tirava fulgurações de fogo do cabelo. Seu coração atirou-se
para a menina num grande impulso agradecido; debruçou-se à janela, agitou os braços, gritou:
“Amigo!, amigo!” – embora soubesse que o vento, a distância, o ruído do motor não deixariam ou-
vir-se nada. Gostaria de lhe atirar uma flor, um mimo. Mas que podia haver dentro de um dirigível
da Marinha que servisse para ser oferecido a uma pequena? O objeto mais delicado que encontrou
foi uma grande caneca de louça branca, pesada como uma bala de canhão. E foi aquela caneca
que o navegante atirou; atirou, não: deixou cair a uma distância prudente da figurinha iluminada,
num gesto delicado, procurando abrandar a força da gravidade, a fim de que o objeto não chegasse
sibilante como um projétil, mas suavemente, como uma dádiva.
(Os cem melhores contos brasileiros do século. Org. Italo Moriconi – Objetiva, 2001. Adaptado)
1. blimp: dirigível
2. librando-se: flutuando, equilibrando-se
3. vogando: flutuando
De princípio a interessou o nome da aeronave: não “zepelim” nem dirigível; o grande fuso de me-
tal brilhante chamava-se modernissimamente blimp. Pequeno como um brinquedo, independente,
amável. A algumas centenas de metros da sua casa ficava a base aérea dos soldados americanos
e o poste de amarração dos dirigíveis. E de vez em quando eles deixavam o poste e davam uma
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volta, como pássaros mansos que abandonassem o poleiro num ensaio de voo. Assim, aos olhos
da menina, o blimp1 existia como um animal de vida própria; fascinava-a como prodígio mecânico
que era, e principalmente ela o achava lindo, todo feito de prata, librando − se2 majestosamente
pouco abaixo das nuvens. Não pensara nunca em entrar nele; não pensara sequer que
pudesse alguém andar dentro dele. Verdade que via lá dentro umas cabecinhas espiando,
mas tão minúsculas que não davam impressão de realidade.
O seu primeiro contato com a tripulação do dirigível começou de maneira puramente ocasional.
Acabara o café da manhã; a menina tirara a mesa e fora à porta que dá para o laranjal, sacudir da
toalha as migalhas de pão. Lá de cima um tripulante avistou aquele pano branco tremulando entre
as árvores espalhadas e a areia, e o seu coração solitário comoveu-se. Vivia naquela base como
um frade no seu convento – sozinho entre soldados e exortações patrióticas. E ali estava, juntinho
ao oitão da casa, sacudindo um pano, uma mocinha de cabelo ruivo. O marinheiro agitou-se todo
com aquele adeus. Várias vezes já sobrevoara aquela casa, vira gente entrando e saindo; e pen-
sara quão distantes uns dos outros vivem os homens, quão indiferentes passam entre si, cada um
trancado na sua vida. Ele estava voando por cima das pessoas, vendo-as e, se algumas erguiam
os olhos, nenhuma pensava no navegador que ia dentro; queriam só ver a beleza prateada vogan-
do3 pelo céu.
Mas agora aquela menina tinha para ele um pensamento, agitava no ar um pano, como uma ban-
deira; decerto era bonita – o sol lhe tirava fulgurações de fogo do cabelo. Seu coração atirou-se
para a menina num grande impulso agradecido; debruçou-se à janela, agitou os braços, gritou:
“Amigo!, amigo!” – embora soubesse que o vento, a distância, o ruído do motor não deixariam ou-
vir-se nada. Gostaria de lhe atirar uma flor, um mimo. Mas que podia haver dentro de um dirigível
da Marinha que servisse para ser oferecido a uma pequena? O objeto mais delicado que encontrou
foi uma grande caneca de louça branca, pesada como uma bala de canhão. E foi aquela caneca
que o navegante atirou; atirou, não: deixou cair a uma distância prudente da figurinha iluminada,
num gesto delicado, procurando abrandar a força da gravidade, a fim de que o objeto não chegasse
sibilante como um projétil, mas suavemente, como uma dádiva.
(Os cem melhores contos brasileiros do século. Org. Italo Moriconi – Objetiva, 2001. Adaptado)
1. blimp: dirigível
2. librando-se: flutuando, equilibrando-se
3. vogando: flutuando
No texto, a escritora
A) expressa várias ideias por meio de comparações.
B) relata um acontecimento inverossímil.
C) não segue a ordem cronológica dos acontecimentos.
D) mostra desinteresse pelo mundo interior das personagens.
E) narra os eventos de forma predominantemente objetiva.
196
A vez que tive mais idade foi aos cinco anos. Meu pai, com solenidade que eu desconhecia, perante
seus superiores hierárquicos, apontou e disse:
– Este é meu filho! E deu-me a mão coroando-me rei.
Com base nos três primeiros versos, é correto afirmar que o poeta
A) não esperava o gesto casual e despretensioso do pai.
B) notou que o pai exercia profissionalmente uma função subalterna.
C) percebeu, pela primeira vez, que o pai se orgulhava de tê-lo como filho.
D) admite ter sido um filho mimado, sempre tratado como um rei pelos familiares.
E) percebeu, aos cinco anos, que os superiores hierárquicos adulavam seu pai.
Supondo que o diálogo ocorra entre pai e filho, é correto afirmar que as reticências e o ponto de
exclamação, empregados no segundo quadrinho, indicam, respectivamente:
A) a dúvida do filho quanto à palavra ideal para finalizar a frase; a atitude imperativa do pai que
exige obediência.
B) a dúvida do filho quanto à palavra ideal para finalizar a frase; a atenção dada pelo pai às expli-
cações do garoto.
C) a ocorrência de um momento de silêncio na comunicação entre os dois; a rispidez com que o pai
responde à indagação do garoto.
D) a interrupção da fala do garoto; o tom intransigente com que o pai expõe seu ponto de vista ao
filho.
E) a interrupção da fala do garoto; a hesitação do pai em relação aos questionamentos feitos pelo
filho.
QUESTÃO 84: VUNESP - DIR ESC (PERUÍBE)/PREF PERUÍBE/2019
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Uma garotinha sobe em uma árvore. De galho em galho, ela se diverte, até que pede ajuda, não
consegue descer. “Se subiu, desce”, diz o homem. Ela tenta, tenta e por fim consegue. Em poucos
segundos, está no alto novamente: aprendeu a descer. Em torno dela, dezenas de crianças brin-
cam com pedaços de madeira velha e canos, escalam grades, andam de patinete e dão cambalho-
tas – os adultos não reprimem. Essa grande bagunça é o recreio das crianças da Swanson Primary
School, em Auckland, Nova Zelândia, e o homem é Bruce McLachlan, diretor que implementou na
escola a política de zero regras.
“Nós queremos que as crianças estejam seguras e queremos cuidar delas, mas acabamos embru-
lhando-as em algodão enquanto elas deveriam poder cair“, diz Mclachlan ao criticar a forma com
que tratamos as crianças.
197
A iniciativa do intervalo sem regras partiu de um experimento feito por duas universidades locais.
A ideia é que ao dar às crianças a responsabilidade de cuidar de si mesmas, dá-se também a
oportunidade de aprenderem com seus próprios erros. “Quando você olha para o nosso parquinho,
parece um caos. De uma perspectiva adulta, parece que as crianças vão se machucar, mas elas
não se machucam”, afirma.
Ao manter as crianças livres para se divertir, foram registrados menos acidentes, casos de bullying
e vandalismo, enquanto que a concentração das crianças nas aulas e a vontade de ir à escola au-
mentaram.
O experimento deu tão certo que se tornou uma política permanente da escola.
(Bruna Rasmussen. https://www.hypeness.com.br/2015/01/conheca-aescola- sem-regras-e-seu-impacto-na-vida-dos-
-estudantes/ Adaptado)
198
D) contradizem a ideia de que a personagem esteja estudando desenho.
E) expõem algo que a personagem já anunciara nos primeiros quadrinhos.
No front da alfabetização, a rede municipal de educação da cidade de São Paulo obteve conquista
apreciável: 92% dos alunos sabiam ler e escrever ao término do segundo ano, ante não mais de
77% em 2017. Com isso, a prefeitura estipulou a meta de 85% de alfabetização no primeiro ano,
quando as crianças em geral têm seis anos.
Uma ousadia, quando se tem em vista que, até recentemente, a diretriz nacional se limitava a
preconizar leitura e escrita até o final do terceiro ano. Só em 2018, com a Base Nacional Comum
Curricular, esse objetivo foi antecipado para o segundo ano, algo que a rede paulistana já havia
adotado com um ano de antecedência.
Fica assim comprovado, na experiência de São Paulo, que metas ambiciosas nada têm de incom-
patível com progresso de aprendizado – ao contrário. Em particular no campo da alfabetização,
base de tudo que virá a seguir, um nível alto de exigência dará motivação extra para educadores e
estudantes se aplicarem mais.
Conforme se avança no ensino fundamental, contudo, os descaminhos e a leniência do passado se
fazem manifestar nos parcos resultados obtidos por estudantes em provas padronizadas.
A deficiência manifesta-se em todas as grandes áreas de conhecimento. Quando concluem o quin-
to ano, final da fase 1 do fundamental, só 39% das meninas e dos meninos alcançam desempenho
satisfatório em língua portuguesa. Pior, são apenas 27% em matemática e 20% em ciências.
A perda agrava-se na fase seguinte. Quando saem do fundamental 2, no nono ano, apenas 25%
dos estudantes estão no nível adequado de língua. E há inaceitáveis 10% e 9% nessa faixa de
desempenho, respectivamente, nas áreas de matemática e ciências naturais, o que torna fácil de
entender o desastre que hoje se observa no ensino médio.
Não deixa de ser animador constatar que ao menos nos fundamentos do aprendizado – a alfabe-
tização – houve avanço em São Paulo. Mas a cidade mais populosa e rica do país ainda precisa
fazer mais e melhor por suas crianças e jovens.
(Editorial. Folha de S.Paulo, 02.01.2019. Adaptado)
199
QUESTÃO 87: VUNESP - CDEM (PREF ARUJÁ)/PREF ARUJÁ/2019
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Leia o texto para responder à questão.
No front da alfabetização, a rede municipal de educação da cidade de São Paulo obteve conquista
apreciável: 92% dos alunos sabiam ler e escrever ao término do segundo ano, ante não mais de
77% em 2017. Com isso, a prefeitura estipulou a meta de 85% de alfabetização no primeiro ano,
quando as crianças em geral têm seis anos.
Uma ousadia, quando se tem em vista que, até recentemente, a diretriz nacional se limitava a
preconizar leitura e escrita até o final do terceiro ano. Só em 2018, com a Base Nacional Comum
Curricular, esse objetivo foi antecipado para o segundo ano, algo que a rede paulistana já havia
adotado com um ano de antecedência.
Fica assim comprovado, na experiência de São Paulo, que metas ambiciosas nada têm de incom-
patível com progresso de aprendizado – ao contrário. Em particular no campo da alfabetização,
base de tudo que virá a seguir, um nível alto de exigência dará motivação extra para educadores e
estudantes se aplicarem mais.
Conforme se avança no ensino fundamental, contudo, os descaminhos e a leniência do passado se
fazem manifestar nos parcos resultados obtidos por estudantes em provas padronizadas.
A deficiência manifesta-se em todas as grandes áreas de conhecimento. Quando concluem o quin-
to ano, final da fase 1 do fundamental, só 39% das meninas e dos meninos alcançam desempenho
satisfatório em língua portuguesa. Pior, são apenas 27% em matemática e 20% em ciências.
A perda agrava-se na fase seguinte. Quando saem do fundamental 2, no nono ano, apenas 25%
dos estudantes estão no nível adequado de língua. E há inaceitáveis 10% e 9% nessa faixa de
desempenho, respectivamente, nas áreas de matemática e ciências naturais, o que torna fácil de
entender o desastre que hoje se observa no ensino médio.
Não deixa de ser animador constatar que ao menos nos fundamentos do aprendizado – a alfabe-
tização – houve avanço em São Paulo. Mas a cidade mais populosa e rica do país ainda precisa
fazer mais e melhor por suas crianças e jovens.
(Editorial. Folha de S.Paulo, 02.01.2019. Adaptado)
No front da alfabetização, a rede municipal de educação da cidade de São Paulo obteve conquista
apreciável: 92% dos alunos sabiam ler e escrever ao término do segundo ano, ante não mais de
77% em 2017. Com isso, a prefeitura estipulou a meta de 85% de alfabetização no primeiro ano,
quando as crianças em geral têm seis anos.
Uma ousadia, quando se tem em vista que, até recentemente, a diretriz nacional se limitava a
200
preconizar leitura e escrita até o final do terceiro ano. Só em 2018, com a Base Nacional Comum
Curricular, esse objetivo foi antecipado para o segundo ano, algo que a rede paulistana já havia
adotado com um ano de antecedência.
Fica assim comprovado, na experiência de São Paulo, que metas ambiciosas nada têm de incom-
patível com progresso de aprendizado – ao contrário. Em particular no campo da alfabetização,
base de tudo que virá a seguir, um nível alto de exigência dará motivação extra para educadores e
estudantes se aplicarem mais.
Conforme se avança no ensino fundamental, contudo, os descaminhos e a leniência do passado se
fazem manifestar nos parcos resultados obtidos por estudantes em provas padronizadas.
A deficiência manifesta-se em todas as grandes áreas de conhecimento. Quando concluem o quin-
to ano, final da fase 1 do fundamental, só 39% das meninas e dos meninos alcançam desempenho
satisfatório em língua portuguesa. Pior, são apenas 27% em matemática e 20% em ciências.
A perda agrava-se na fase seguinte. Quando saem do fundamental 2, no nono ano, apenas 25%
dos estudantes estão no nível adequado de língua. E há inaceitáveis 10% e 9% nessa faixa de
desempenho, respectivamente, nas áreas de matemática e ciências naturais, o que torna fácil de
entender o desastre que hoje se observa no ensino médio.
Não deixa de ser animador constatar que ao menos nos fundamentos do aprendizado – a alfabe-
tização – houve avanço em São Paulo. Mas a cidade mais populosa e rica do país ainda precisa
fazer mais e melhor por suas crianças e jovens.
(Editorial. Folha de S.Paulo, 02.01.2019. Adaptado)
No front da alfabetização, a rede municipal de educação da cidade de São Paulo obteve conquista
apreciável: 92% dos alunos sabiam ler e escrever ao término do segundo ano, ante não mais de
77% em 2017. Com isso, a prefeitura estipulou a meta de 85% de alfabetização no primeiro ano,
quando as crianças em geral têm seis anos.
Uma ousadia, quando se tem em vista que, até recentemente, a diretriz nacional se limitava a
preconizar leitura e escrita até o final do terceiro ano. Só em 2018, com a Base Nacional Comum
Curricular, esse objetivo foi antecipado para o segundo ano, algo que a rede paulistana já havia
adotado com um ano de antecedência.
Fica assim comprovado, na experiência de São Paulo, que metas ambiciosas nada têm de incom-
patível com progresso de aprendizado – ao contrário. Em particular no campo da alfabetização,
base de tudo que virá a seguir, um nível alto de exigência dará motivação extra para educadores e
estudantes se aplicarem mais.
Conforme se avança no ensino fundamental, contudo, os descaminhos e a leniência do passado se
201
fazem manifestar nos parcos resultados obtidos por estudantes em provas padronizadas.
A deficiência manifesta-se em todas as grandes áreas de conhecimento. Quando concluem o quin-
to ano, final da fase 1 do fundamental, só 39% das meninas e dos meninos alcançam desempenho
satisfatório em língua portuguesa. Pior, são apenas 27% em matemática e 20% em ciências.
A perda agrava-se na fase seguinte. Quando saem do fundamental 2, no nono ano, apenas 25%
dos estudantes estão no nível adequado de língua. E há inaceitáveis 10% e 9% nessa faixa de
desempenho, respectivamente, nas áreas de matemática e ciências naturais, o que torna fácil de
entender o desastre que hoje se observa no ensino médio.
Não deixa de ser animador constatar que ao menos nos fundamentos do aprendizado – a alfabe-
tização – houve avanço em São Paulo. Mas a cidade mais populosa e rica do país ainda precisa
fazer mais e melhor por suas crianças e jovens.
(Editorial. Folha de S.Paulo, 02.01.2019. Adaptado)
Creio que muito de nossa insistência, enquanto professoras e professores, em que os estudantes
“leiam”, num semestre, um sem-número de capítulos de livros, reside na compreensão errônea que
às vezes temos do ato de ler. Em minha andarilhagem pelo mundo, não foram poucas as vezes
em que jovens estudantes me falaram de sua luta às voltas com extensas bibliografias a serem
muito mais “devoradas” do que realmente lidas ou estudadas. Verdadeiras “lições de leitura” no
sentido mais tradicional desta expressão, a que se achavam submetidos em nome de sua forma-
ção científica e de que deviam prestar contas através do famoso controle de leitura. Em algumas
vezes cheguei mesmo a ler, em relações bibliográficas, indicações em torno de que páginas deste
ou daquele capítulo de tal ou qual livro deveriam ser lidas: “Da página 15 à 37”.
A insistência na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreen-
didos, e não mecanicamente memorizados, revela uma visão mágica da palavra escrita. Visão
que urge ser superada. A mesma, ainda que encarnada desde outro ângulo, que se encontra, por
exemplo, em quem escreve, quando identifica a possível qualidade de seu trabalho, ou não, com
a quantidade de páginas escritas. No entanto, um dos documentos filosóficos mais importantes de
que dispomos, As teses sobre Feuerbach, de Marx, tem apenas duas páginas e meia...
Parece importante, contudo, para evitar uma compreensão errônea do que estou afirmando, subli-
nhar que a minha crítica à magicização da palavra não significa, de maneira alguma, uma posição
202
pouco responsável de minha parte com relação à necessidade que temos, educadores e educan-
dos, de ler, sempre e seriamente, os clássicos neste ou naquele campo do saber, de nos aden-
trarmos nos textos, de criar uma disciplina intelectual, sem a qual inviabilizamos a nossa prática
enquanto professores e estudantes.
(Paulo Freire. A importância do ato de ler)
Creio que muito de nossa insistência, enquanto professoras e professores, em que os estudantes
“leiam”, num semestre, um sem-número de capítulos de livros, reside na compreensão errônea que
às vezes temos do ato de ler. Em minha andarilhagem pelo mundo, não foram poucas as vezes
em que jovens estudantes me falaram de sua luta às voltas com extensas bibliografias a serem
muito mais “devoradas” do que realmente lidas ou estudadas. Verdadeiras “lições de leitura” no
sentido mais tradicional desta expressão, a que se achavam submetidos em nome de sua forma-
ção científica e de que deviam prestar contas através do famoso controle de leitura. Em algumas
vezes cheguei mesmo a ler, em relações bibliográficas, indicações em torno de que páginas deste
ou daquele capítulo de tal ou qual livro deveriam ser lidas: “Da página 15 à 37”.
A insistência na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreen-
didos, e não mecanicamente memorizados, revela uma visão mágica da palavra escrita. Visão
que urge ser superada. A mesma, ainda que encarnada desde outro ângulo, que se encontra, por
exemplo, em quem escreve, quando identifica a possível qualidade de seu trabalho, ou não, com
a quantidade de páginas escritas. No entanto, um dos documentos filosóficos mais importantes de
que dispomos, As teses sobre Feuerbach, de Marx, tem apenas duas páginas e meia...
Parece importante, contudo, para evitar uma compreensão errônea do que estou afirmando, subli-
nhar que a minha crítica à magicização da palavra não significa, de maneira alguma, uma posição
pouco responsável de minha parte com relação à necessidade que temos, educadores e educan-
dos, de ler, sempre e seriamente, os clássicos neste ou naquele campo do saber, de nos aden-
trarmos nos textos, de criar uma disciplina intelectual, sem a qual inviabilizamos a nossa prática
enquanto professores e estudantes.
(Paulo Freire. A importância do ato de ler)
De acordo com o autor, a visão que é necessário afastar, com urgência, diz respeito
A) à criação de uma disciplina intelectual, que norteia os processos de leitura.
B) à insistência no adentramento dos textos, independentemente de sua qualidade.
C) à leitura superficial de textos, que em geral são mecanicamente memorizados.
D) à falta de controle de leituras realizadas pelos estudantes em formação científica.
E) à leitura dos clássicos de diversos campos do saber pelos educadores e educandos.
203
QUESTÃO 92: VUNESP - PROF EF (PREF ARUJÁ)/PREF ARUJÁ/2019
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Jogar-se à vida
Uma velha amiga minha de São Paulo – nem tão velha assim, e muito bonita – me diz que seu
filho, de 39 anos, mora com ela. Não é que “ainda” more com ela. Ele apenas mora, desde o dia
em que nasceu, e não há indícios de que esteja planejando se emancipar e morar sozinho. A mãe,
a essa altura, já desistiu de fazê-lo desconfiar de que ela, sim, gostaria de espaço e privacidade
para viver sua própria vida.
Ao ouvir isso, levei um susto. Aos 39 anos, eu já tinha saído não só da casa de meus pais como de
dois casamentos, e morado em dez endereços de quatro cidades em dois continentes. Era só no
que os garotos da minha geração pensavam – jogar-se à vida, longe da saia materna ou da mesada
paterna. Supunha-se que, enquanto se morasse com a família, estava-se dispensado de ser adulto.
Um desses endereços, em 1967, foi o Solar da Fossa, um casarão colonial em Botafogo, perto do
túnel Novo. Nele tinham ido parar rapazes e moças de fora e de dentro do Rio, todos em busca
de liberdade para criar, trabalhar, namorar ou não fazer nada, enfim, viver. Ali, um dos moradores,
Caetano Veloso, compôs “Alegria, Alegria”; outro, Paulinho da Viola, “Sinal Fechado”. Grupos
como o Momento 4 e o Sá, Rodrix & Guarabyra se formaram em seus quartos.
Três de nossas lindas vizinhas estrelaram nas páginas de revistas: Betty Faria, Ítala Nandi e Tania
Scher. Paulo Leminsky escrevia seu romance “Catatau”. O pessoal do Teatro Jovem, que estava
revolucionando o teatro brasileiro, morava lá, assim como metade do elenco da peça “Roda Viva”,
em ensaio no outro lado do túnel. Os namoros eram a mil. Até o autor francês Jean Genet, de
passagem pelo Solar, viveu ali uma aventura amorosa.
Se aquela turma morasse com a mãe, nada disso teria acontecido.
(Ruy Castro. Folha de S.Paulo. Adaptado)
Para defender a ideia de que os jovens devem deixar a casa dos pais, o cronista argumenta que
A) proteger demasiadamente os filhos é conduta inadequada praticada pela maioria dos pais.
B) prolongar a dependência dos pais significa retardar o próprio amadurecimento.
C) aceitar a recusa de alguns jovens de se jogar à vida e correr riscos é plausível.
D) viajar pelo mundo e se casar várias vezes é imprescindível para se tornar adulto.
E) morar com outros jovens é importante, mesmo com o suporte financeiro garantido pelos pais.
Jogar-se à vida
Uma velha amiga minha de São Paulo – nem tão velha assim, e muito bonita – me diz que seu
filho, de 39 anos, mora com ela. Não é que “ainda” more com ela. Ele apenas mora, desde o dia
em que nasceu, e não há indícios de que esteja planejando se emancipar e morar sozinho. A mãe,
a essa altura, já desistiu de fazê-lo desconfiar de que ela, sim, gostaria de espaço e privacidade
para viver sua própria vida.
Ao ouvir isso, levei um susto. Aos 39 anos, eu já tinha saído não só da casa de meus pais como de
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dois casamentos, e morado em dez endereços de quatro cidades em dois continentes. Era só no
que os garotos da minha geração pensavam – jogar-se à vida, longe da saia materna ou da mesada
paterna. Supunha-se que, enquanto se morasse com a família, estava-se dispensado de ser adulto.
Um desses endereços, em 1967, foi o Solar da Fossa, um casarão colonial em Botafogo, perto do
túnel Novo. Nele tinham ido parar rapazes e moças de fora e de dentro do Rio, todos em busca
de liberdade para criar, trabalhar, namorar ou não fazer nada, enfim, viver. Ali, um dos moradores,
Caetano Veloso, compôs “Alegria, Alegria”; outro, Paulinho da Viola, “Sinal Fechado”. Grupos
como o Momento 4 e o Sá, Rodrix & Guarabyra se formaram em seus quartos.
Três de nossas lindas vizinhas estrelaram nas páginas de revistas: Betty Faria, Ítala Nandi e Tania
Scher. Paulo Leminsky escrevia seu romance “Catatau”. O pessoal do Teatro Jovem, que estava
revolucionando o teatro brasileiro, morava lá, assim como metade do elenco da peça “Roda Viva”,
em ensaio no outro lado do túnel. Os namoros eram a mil. Até o autor francês Jean Genet, de
passagem pelo Solar, viveu ali uma aventura amorosa.
Se aquela turma morasse com a mãe, nada disso teria acontecido.
(Ruy Castro. Folha de S.Paulo. Adaptado)
Leia a resenha do livro Solar da Fossa, escrito por Toninho Vaz, para responder à questão:
Misto de pensão e apart-hotel da zona sul carioca, o lendário Solar da Fossa serviu, entre 1964
e 1971, de moradia e ponto de encontro para jovens artistas e intelectuais oriundos de diversos
cantos do país.
Estes o procuravam não só pelo aluguel acessível, mas também pela considerável liberdade que
desfrutavam ali, em pleno regime militar. Paulinho da Viola, Gal Costa, Tim Maia, Ítala Nandi e
Paulo Leminski estão entre as dezenas de personagens do livro, cuja narrativa transita pelos 85
apartamentos, revelando detalhes do cotidiano dos moradores, inconfidências e causos divertidos,
além de traçar um painel cultural da época.
(Carlos Calado. Guia Folha. Adaptado)
Comparando os textos a respeito do Solar da Fossa, é correto afirmar que ambos
A) apresentam informações históricas; porém, na crônica, diferentemente da resenha, o autor é
mais subjetivo no relato dos fatos.
B) expõem informações precisas sobre os anos 70; porém a crônica faz críticas à experiência no
Solar da Fossa, ao passo que a resenha se limita a elogios.
C) estão escritos em linguagem coloquial e retratam o período de moradia compartilhado entre os
autores da crônica e da resenha e artistas hoje famosos.
D) se opõem à demolição desse local histórico do Rio de Janeiro e comentam as aventuras dos
jovens que ali residiram na década de 60.
E) empregam predominantemente expressões em sentido figurado; porém a resenha, diferente-
mente da crônica, objetiva promover o livro.
Os bens dos tataravós libaneses: tecidos e aviamentos. Linho, algodão, chita. Botões de todos os
tipos, linhas, alfinetes, agulhas e o metro dobrável. Montado em seu jegue, o tataravô ia sozinho
205
comerciar de casa em casa, sítio em sítio, fazenda em fazenda, onde recebia pouso, contava e ou-
via histórias. Com o nascimento dos filhos brasileiros, passou a levar consigo o mais velho, bisavô
de Félix, quando ele tinha sete anos.
De noite, na sua casa em Belo Horizonte, o pai de Félix lhe contava a história dos antepassados
enquanto consertava joias das clientes da sua loja de antiguidades. Durante as tardes solitárias,
a bisavó lhe mostrava o bauzinho de veludo bordô e contava a história de cada joia que ele já tinha
guardado e a situação em que havia sido vendida para o estabelecimento da família no Brasil. Um
anel de brilhante se foi na compra do jegue e da primeira leva de mercadoria; um bracelete, na
reforma da casa antes do nascimento do terceiro filho.
Depois dos acidentes vasculares, ela não conseguia falar mais do que poucas palavras, e estas
serviam de evocação para as histórias que Félix conhecia de cor. Ele era pequeno, carregava o
baú pela casa, cheio de vidros coloridos, e o exibia dizendo: “meu tesouro”. Era um bauzinho feito
de cedro, com tiras de latão, e o estofamento interno, de veludo bordô, era o que mais encantava
Félix. Protegido da luz ao longo dos anos, ele continuava brilhante e macio.
As joias foram o bilhete de entrada do casal no Brasil. O que veio depois foi trabalho, trabalho e
trabalho; e filhos. Mas então já tinham um jegue e a primeira leva de mercadorias.
E aconteceu de Félix ter puxado a voz aveludada do outro ramo da família, de portugueses para
quem aquela terra já era antiga quando os libaneses chegaram: já tinham tirado dela pau, pe-
dra e ouro, criado gado e plantado cana e café. Já tinham sido donos de escravos, matado e sido
mortos por eles. Abriram fazendas, ergueram escolas, construíram ferrovias e cemitérios. Terra de
homens brutos, domados, esfalfados, trabalho, trabalho e trabalho; e filhos.
(Beatriz Bracher. Anatomia do Paraíso. Editora 34. Adaptado)
De acordo com o texto, os imigrantes libaneses e portugueses, de quem Félix é descendente, têm
em comum:
A) uma sequência de embates cruéis para se estabelecerem no país.
B) um apego desmedido às tradições e histórias dos antepassados.
C) uma vida de muita labuta e a formação da prole na nova pátria.
D) a convivência harmoniosa entre esses imigrantes decorrente da vinda ao Brasil à mesma épo-
ca.
E) a coragem de enfrentar um trabalho árduo e o consequente enriquecimento financeiro imediato.
Ameaças globais
A mudança climática continua sendo percebida como a maior ameaça global, diz o Pew Research
Center. Realizado no ano passado com mais de 27 mil pessoas em 26 países, o estudo indicou um
fortalecimento dessa percepção.
Em 2013, 56% viam o aquecimento global como uma grande ameaça. Em 2017, eram 63%. No
ano passado, o porcentual foi de 67%. No Brasil, 72% apontaram a mudança climática como uma
relevante ameaça global.
Confirma-se, assim, que o mundo está cada vez mais preocupado com a sustentabilidade do pla-
neta, o que tem muitas consequências sociais, políticas e econômicas. Por exemplo, os governos
206
que se mostrarem alheios ou contrários a essa preocupação estarão contrariando os sentimentos
de sua própria população, além de se colocarem na contramão da história. Outro inegável efeito
é que, com populações cada vez mais atentas a questões ambientais, ampliar o acesso a novos
mercados exige o compromisso de melhorar as práticas ambientais. Ser indiferente ao meio am-
biente é um meio de um país se isolar na esfera internacional.
Além do aquecimento global, o terrorismo foi outra grande preocupação constatada na pesquisa.
Em oito países, entre eles, Rússia, França, Indonésia e Nigéria, o Estado Islâmico foi visto como o
maior risco global. Também cresceu a preocupação com os ataques cibernéticos.Em quatro países,
incluindo Estados Unidos e Japão, o risco cibernético foi a preocupação internacional mais citada.
No mundo inteiro, cresceu a preocupação com o poder e a influência dos Estados Unidos. Em dez
países, metade ou mais das pessoas entrevistadas afirmou que o poder americano é uma grande
ameaça ao seu país. Foi a maior mudança de sentimento entre as ameaças globais avaliadas. Na
Alemanha, o crescimento foi de 30%; na França, de 29%; no Brasil e no México, de 26%.
O estudo revelou um dado interessante a respeito da percepção sobre o risco envolvendo a situa-
ção da economia global. Embora seja citado em muitos lugares como uma ameaça significativa,
tal perigo não é visto em nenhum país como a principal ameaça. O Pew Research Center destacou
que isso ocorreu mesmo naqueles países em que as economias nacionais tiveram avaliações es-
pecialmente negativas, como a Grécia e o Brasil.
Tem-se, assim, que a avaliação que a população de um país faz sobre as ameaças globais pode
não ser muito objetiva. Às vezes, há perigos que as pessoas não querem ver. Tal fato mostra a im-
portância de os governos atuarem de forma responsável, com base em dados empíricos e estudos
consistentes. Nesta situação, ideologias não são um bom parâmetro para a análise de riscos.
(O Estado de S. Paulo. 17.02.2019. Adaptado)
Os millennials – pessoas que têm, hoje, entre 18 e 35 anos –, também conhecidos por Geração
207
Y, têm impactado a forma de a sociedade consumir. Esse grupo, cuja maioria trabalha ou estuda,
além de ser engajada em causas sociais e ambientais, segundo levantamento da startup de pes-
quisas MindMiners, deve atingir seu auge em 2020.
Os objetos de desejo desses indivíduos variam de acordo com a classe social. Segundo a sociólo-
ga e pesquisadora da Antenna Consultoria e Pesquisa, Marilene Pottes, enquanto as mais baixas
priorizam bens duráveis e conforto, as mais altas – que contam com maior suporte financeiro dos
pais – valorizam vivências.
Embora os especialistas concordem que esse público é exigente e autêntico, há divergências sobre
o recorte exato das idades. Uma pesquisa do Statista, portal alemão líder de estatísticas inter-
nacionais na internet, por exemplo, considera consumidores que eram adolescentes na virada do
milênio. Já a empresa de pesquisas Kantar Worldpanel abrange pessoas nascidas de 1979 a 1996.
Outro contorno engloba nascidos no início dos anos 80 até meados de 90: nesse caso, teriam re-
cebido a denominação de millennials por atingirem idade de discernimento a partir dos anos 2000,
ou se tornarem consumidores na época. Esses jovens se reconhecem como trabalhadores e ambi-
ciosos. Apesar disso, uma grande parte ainda mora com os pais ou outros parentes, dependendo
financeiramente da família.
– É uma geração que pôde estudar mais e ingressar no mercado de trabalho mais tarde. Alguns os
consideram mimados, mas, na verdade, eles apenas não querem aceitar qualquer tipo de traba-
lho – explica a gerente de marketing da MindMiners, Danielle Almeida.
A Bridge Research também fez um estudo sobre os hábitos desses jovens adultos:
– Essas pessoas são multitarefas, conseguem trabalhar olhando para o celular, por exemplo. Tam-
bém são menos leais a marcas do que pessoas de outras idades – destaca Renato Trindade,
diretor da empresa de pesquisa. Para o professor da FGV, Roberto Kanter, a principal razão de
agradar à geração Y é seu inédito poder de influência:
– Devido às mídias sociais, os consumidores, e não mais os meios de comunicação, têm sido a
É correto afirmar que o texto faz referência aos millennials, enfocando características dessa gera-
ção, tais como:
A) aspirações, hábitos de consumo e dispersão no desempenho de atividades profissionais.
B) condição socioeconômica privilegiada, discernimento precoce e independência financeira.
C) poder de influenciar o consumo, adesão a causas sociais e capacidade de se dedicar a múltiplas
atividades.
D) experiência de vida, padronização da faixa etária do grupo e adiamento dos estudos.
E) desapego a marcas, predileção por acúmulo de bens e ingresso precoce no mercado de traba-
lho.
Os millennials – pessoas que têm, hoje, entre 18 e 35 anos –, também conhecidos por Geração
Y, têm impactado a forma de a sociedade consumir. Esse grupo, cuja maioria trabalha ou estuda,
além de ser engajada em causas sociais e ambientais, segundo levantamento da startup de pes-
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quisas MindMiners, deve atingir seu auge em 2020.
Os objetos de desejo desses indivíduos variam de acordo com a classe social. Segundo a sociólo-
ga e pesquisadora da Antenna Consultoria e Pesquisa, Marilene Pottes, enquanto as mais baixas
priorizam bens duráveis e conforto, as mais altas – que contam com maior suporte financeiro dos
pais – valorizam vivências.
Embora os especialistas concordem que esse público é exigente e autêntico, há divergências sobre
o recorte exato das idades. Uma pesquisa do Statista, portal alemão líder de estatísticas inter-
nacionais na internet, por exemplo, considera consumidores que eram adolescentes na virada do
milênio. Já a empresa de pesquisas Kantar Worldpanel abrange pessoas nascidas de 1979 a 1996.
Outro contorno engloba nascidos no início dos anos 80 até meados de 90: nesse caso, teriam re-
cebido a denominação de millennials por atingirem idade de discernimento a partir dos anos 2000,
ou se tornarem consumidores na época. Esses jovens se reconhecem como trabalhadores e ambi-
ciosos. Apesar disso, uma grande parte ainda mora com os pais ou outros parentes, dependendo
financeiramente da família.
– É uma geração que pôde estudar mais e ingressar no mercado de trabalho mais tarde. Alguns os
consideram mimados, mas, na verdade, eles apenas não querem aceitar qualquer tipo de traba-
lho – explica a gerente de marketing da MindMiners, Danielle Almeida.
A Bridge Research também fez um estudo sobre os hábitos desses jovens adultos:
– Essas pessoas são multitarefas, conseguem trabalhar olhando para o celular, por exemplo. Tam-
bém são menos leais a marcas do que pessoas de outras idades – destaca Renato Trindade,
diretor da empresa de pesquisa. Para o professor da FGV, Roberto Kanter, a principal razão de
agradar à geração Y é seu inédito poder de influência:
– Devido às mídias sociais, os consumidores, e não mais os meios de comunicação, têm sido a
Os millennials – pessoas que têm, hoje, entre 18 e 35 anos –, também conhecidos por Geração
Y, têm impactado a forma de a sociedade consumir. Esse grupo, cuja maioria trabalha ou estuda,
além de ser engajada em causas sociais e ambientais, segundo levantamento da startup de pes-
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quisas MindMiners, deve atingir seu auge em 2020.
Os objetos de desejo desses indivíduos variam de acordo com a classe social. Segundo a sociólo-
ga e pesquisadora da Antenna Consultoria e Pesquisa, Marilene Pottes, enquanto as mais baixas
priorizam bens duráveis e conforto, as mais altas – que contam com maior suporte financeiro dos
pais – valorizam vivências.
Embora os especialistas concordem que esse público é exigente e autêntico, há divergências sobre
o recorte exato das idades. Uma pesquisa do Statista, portal alemão líder de estatísticas inter-
nacionais na internet, por exemplo, considera consumidores que eram adolescentes na virada do
milênio. Já a empresa de pesquisas Kantar Worldpanel abrange pessoas nascidas de 1979 a 1996.
Outro contorno engloba nascidos no início dos anos 80 até meados de 90: nesse caso, teriam re-
cebido a denominação de millennials por atingirem idade de discernimento a partir dos anos 2000,
ou se tornarem consumidores na época. Esses jovens se reconhecem como trabalhadores e ambi-
ciosos. Apesar disso, uma grande parte ainda mora com os pais ou outros parentes, dependendo
financeiramente da família.
– É uma geração que pôde estudar mais e ingressar no mercado de trabalho mais tarde. Alguns os
consideram mimados, mas, na verdade, eles apenas não querem aceitar qualquer tipo de traba-
lho – explica a gerente de marketing da MindMiners, Danielle Almeida.
A Bridge Research também fez um estudo sobre os hábitos desses jovens adultos:
– Essas pessoas são multitarefas, conseguem trabalhar olhando para o celular, por exemplo. Tam-
bém são menos leais a marcas do que pessoas de outras idades – destaca Renato Trindade,
diretor da empresa de pesquisa. Para o professor da FGV, Roberto Kanter, a principal razão de
agradar à geração Y é seu inédito poder de influência:
– Devido às mídias sociais, os consumidores, e não mais os meios de comunicação, têm sido a
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A adaptação feita na pirâmide de Maslow, que define a hierarquia das necessidades humanas, tem
seu efeito de sentido crítico decorrente de:
A) situar a tecnologia de rede sem fio como fundamental em relação às demais necessidades.
B) tratar a comunicação em redes como desimportante em relação às demais necessidades.
C) associar todas as necessidades, descaracterizando a ideia de uma gradação entre elas.
D) reconhecer que os recursos tecnológicos permitem galgar as etapas representadas na pirâmide.
E) descaracterizar as necessidades, negando os valores postos no topo da pirâmide.
A destruição da humanidade por uma guerra nuclear está prestes a ser detonada por uma “pirraça
impulsiva”, alertou neste domingo [10.12.2017] a Campanha Internacional para Abolir Armas Nu-
cleares (Ican), vencedora do Nobel da Paz deste ano.
“Será o fim das armas nucleares ou será o nosso fim?”, afirmou a líder da Ican, Beatrice Fihn, em
discurso ao receber o prêmio, em Oslo, na Noruega.
Também discursou em Oslo Setsuko Thurlow, 85, sobrevivente do ataque atômico de Hiroshima,
em 1945 no Japão, durante a Segunda Guerra Mundial. Hoje ela é ativista da Ican.
Ela foi resgatada dos escombros de um prédio a 1,8 km do epicentro da bomba. A maioria de seus
colegas morreu queimada viva.
(Mundo. Folha de S.Paulo, 10.12.2017. Adaptado)
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QUESTÃO 101: VUNESP - ANA GP (IPSM SJC)/IPSM SJC/CONTABILIDADE/2018
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Leia o texto para responder à questão a seguir. Ensino com diretriz
Está quase pronto o documento que definirá o padrão nacional para o que crianças e jovens devem
aprender até o 9° ano do ensino fundamental. Trata-se da quarta versão da Base Nacional Comum
Curricular (BNCC).
Caso aprovada até janeiro, a diretriz deve começar a ser implementada nos próximos dois anos.
A BNCC define conteúdos a serem estudados e competências e habilidades que os alunos devem
demonstrar a cada passo da vida escolar. Soa como obviedade, mas não existe norma válida em
todo o país que estabeleça de modo preciso a progressão do ensino e o que se deve esperar como
resultado.
Note-se ainda que a base curricular não especifica como alcançar seus objetivos – isso será papel
dos currículos a serem elaborados por estados e municípios, que podem fazer acréscimos confor-
me necessidades regionais.
A existência de um padrão pode permitir a correção de desigualdades do aprendizado e avalia-
ções melhores. A partir de um limiar mediano de clareza, inteligência pedagógica e pragmatismo,
qualquer modelo é melhor do que nenhum. Nesse aspecto, a nova versão da BNCC está perto de
merecer nota de aprovação.
O programa ainda se mostra extenso em demasia, não muito diferente do que se viu nas escolas
das últimas décadas, quando raramente foi cumprido. O excesso de assuntos dificulta abordagens
mais aprofundadas e criativas.
A BNCC lembra a Constituição de 1988. Detalhista, arrojada e generosa, mas de difícil aplicação
imediata e integral. É indiscutível, de todo modo, a urgência de pôr em prática esse plano que pode
oferecer educação decente e igualitária às crianças.
(Editorial. Folha de S.Paulo, 10.12.2017. Adaptado)
Está quase pronto o documento que definirá o padrão nacional para o que crianças e jovens devem
aprender até o 9° ano do ensino fundamental. Trata-se da quarta versão da Base Nacional Comum
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Curricular (BNCC).
Caso aprovada até janeiro, a diretriz deve começar a ser implementada nos próximos dois anos.
A BNCC define conteúdos a serem estudados e competências e habilidades que os alunos devem
demonstrar a cada passo da vida escolar. Soa como obviedade, mas não existe norma válida em
todo o país que estabeleça de modo preciso a progressão do ensino e o que se deve esperar como
resultado.
Note-se ainda que a base curricular não especifica como alcançar seus objetivos – isso será papel
dos currículos a serem elaborados por estados e municípios, que podem fazer acréscimos confor-
me necessidades regionais.
A existência de um padrão pode permitir a correção de desigualdades do aprendizado e avalia-
ções melhores. A partir de um limiar mediano de clareza, inteligência pedagógica e pragmatismo,
qualquer modelo é melhor do que nenhum. Nesse aspecto, a nova versão da BNCC está perto de
merecer nota de aprovação.
O programa ainda se mostra extenso em demasia, não muito diferente do que se viu nas escolas
das últimas décadas, quando raramente foi cumprido. O excesso de assuntos dificulta abordagens
mais aprofundadas e criativas.
A BNCC lembra a Constituição de 1988. Detalhista, arrojada e generosa, mas de difícil aplicação
imediata e integral. É indiscutível, de todo modo, a urgência de pôr em prática esse plano que pode
oferecer educação decente e igualitária às crianças.
(Editorial. Folha de S.Paulo, 10.12.2017. Adaptado)
De acordo com o editorial, a implementação da BNCC:
A) pode comprometer a qualidade da educação, com o excesso de assuntos nela previstos.
B) fortalece uma ação cidadã, com o objetivo de ofertar educação decente e igualitária às crianças.
C) merece ser aprovada, com a convicção de que é melhor ter essa base do que nenhuma.
D) ameaça a qualidade do ensino, com base na ideia de que raramente será cumprida.
E) recupera a esperança de uma educação de qualidade, com sua semelhança à Constituição.
213
A) os internautas têm sido cada vez mais cautelosos com relação ao teor das postagens nas redes
sociais.
B) as possíveis consequências das publicações em redes sociais deixaram de ser uma preocupa-
ção na atualidade.
C) os internautas vêm recorrendo sistematicamente ao anonimato para fazer comentários consi-
derados ofensivos.
D) a disseminação do acesso às redes sociais, diferentemente do que se esperava, fez com que
se perdesse o interesse por elas.
E) os comentários considerados agressivos vêm perdendo espaço na internet para mensagens
que pregam tolerância e respeito.
QUESTÃO 104: VUNESP - DIR (CM 2 CÓRREGOS)/CM 2 CÓRREGOS/CONTÁBIL LE-
GISLATIVO/2018
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Destruindo Riqueza
A economia cresce encontrando soluções, em geral tecnológicas, para reduzir ineficiências e, nes-
se processo, libera mão de obra.
Um exemplo esclarecedor é o do emprego agrícola nos EUA. Até 1800, a produção de alimentos
exigia o trabalho de 95% da população do país. Em 1900, a geração de comida para uma população
já bem maior mobilizava 40% da força de trabalho e, hoje, essa proporção mal chega a 3%. Quem
abandonou a roça foi para cidades, integrando a força de trabalho da indústria e dos serviços.
Esse processo pode ser cruel para com indivíduos que ficam sem emprego e não conseguem se
reciclar, mas é dele que a sociedade extrai sua prosperidade. É o velho fazer mais com menos.
A internet, com sua incrível capacidade de conectar pessoas, abriu novos veios de ineficiências a
eliminar. Se você tem um carro e não é chofer de praça nem caixeiro viajante, ele passa a maior
parte do dia parado, o que é uma ineficiência. Se você tem um imóvel vago ou mesmo um dormitó-
rio que ninguém usa, está sendo improdutivo. O mesmo vale para outros apetrechos que você pos-
sa ter, mas são subutilizados. Os aplicativos de compartilhamento, ao ligar de forma instantânea
demandantes a ofertantes, permitem à sociedade fazer muito mais com aquilo que já foi produzido
(carros, prédios, tempo disponível etc.), que é outro jeito de dizer que ela fica mais rica.
É claro que isso só dá certo se não forem criadas regulações desnecessárias que embaracem os
acertos voluntários entre as partes. A burocratização da oferta de serviços de aplicativos torna-os
indistinguíveis. Dá para descrever isso como a destruição de riqueza.
(Hélio Schwartsman. Folha de S.Paulo. 31.10.2017. Adaptado)
Conforme o texto, as soluções encontradas pela economia, em geral tecnológicas, para reduzir
ineficiências:
A) são socialmente condenáveis, na medida em que a produção de riquezas passa a depender
menos de mão de obra, causando desemprego.
B) constituem um retrocesso, já que prejudicam especialmente a força de trabalho que veio do
campo, e que não está adaptada a tecnologias.
C) não provocam grandes impactos, uma vez que a totalidade dos trabalhadores oriundos da agri-
cultura e da indústria acabam sendo absorvidos.
214
D) são muito positivas econômica e socialmente, pois exigem que os trabalhadores se reciclem e
requerem grande volume de mão de obra especializada.
E) podem ser danosas aos trabalhadores que, não conseguindo se adaptar a essa realidade, ficam
sem emprego, mas necessárias para a prosperidade social.
Destruindo Riqueza
A economia cresce encontrando soluções, em geral tecnológicas, para reduzir ineficiências e, nes-
se processo, libera mão de obra.
Um exemplo esclarecedor é o do emprego agrícola nos EUA. Até 1800, a produção de alimentos
exigia o trabalho de 95% da população do país. Em 1900, a geração de comida para uma população
já bem maior mobilizava 40% da força de trabalho e, hoje, essa proporção mal chega a 3%. Quem
abandonou a roça foi para cidades, integrando a força de trabalho da indústria e dos serviços.
Esse processo pode ser cruel para com indivíduos que ficam sem emprego e não conseguem se
reciclar, mas é dele que a sociedade extrai sua prosperidade. É o velho fazer mais com menos.
A internet, com sua incrível capacidade de conectar pessoas, abriu novos veios de ineficiências a
eliminar. Se você tem um carro e não é chofer de praça nem caixeiro viajante, ele passa a maior
parte do dia parado, o que é uma ineficiência. Se você tem um imóvel vago ou mesmo um dor-
mitório que ninguém usa, está sendo improdutivo. O mesmo vale para outros apetrechos que
você possa ter, mas são subutilizados. Os aplicativos de compartilhamento, ao ligar de forma ins-
tantânea demandantes a ofertantes, permitem à sociedade fazer muito mais com aquilo que já foi
produzido (carros, prédios, tempo disponível etc.), que é outro jeito de dizer que ela fica mais rica.
É claro que isso só dá certo se não forem criadas regulações desnecessárias que embaracem os
acertos voluntários entre as partes. A burocratização da oferta de serviços de aplicativos torna-os
indistinguíveis. Dá para descrever isso como a destruição de riqueza.
(Hélio Schwartsman. Folha de S.Paulo. 31.10.2017. Adaptado)
Segundo as informações do texto, a afirmação de que parte dos consumidores agem como se de-
sejassem ser enganados é:
A) contestável, pois o experimento comprovou que esses consumidores são vítimas de uma políti-
ca obscura de maquiagem de preços pelas empresas.
B) justificável, já que ficou comprovado que alguns consumidores não resistem ao prazer experi-
mentado nessas situações de desconto aparente.
C) procedente, mas o experimento mostrou que os consumidores deixam de comprar quando as
lojas tentam fazer os descontos parecerem grandes demais.
D) controversa, pois a política de remarcações de preços para forjar descontos trouxe grande pre-
juízo a uma loja de departamentos nos EUA.
E) falsa, já que ficou demonstrado que os consumidores tendem a preferir situações em que os
preços são apresentados de forma transparente.
216
(Bill Watterson. O mundo é mágico: as aventuras de Calvin e Haroldo. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2010. Adaptado)
Novo Analfabetismo
O Instituto de Estatísticas da Unesco alerta, em informe recente, que grande parte dos jovens da
América Latina não alcança níveis apropriados de proficiência em leitura. São 19 milhões de ado-
lescentes que concluem o ensino fundamental sem conseguir ler parágrafos simples e deles extrair
informações, num fenômeno que Silvia Montoya, dirigente do instituto, chama de “nova definição
do analfabetismo”.
A preocupação da diretora procede, pois a falta de competência leitora fragiliza a cidadania. Afinal,
quem não consegue ler jornais ou livros depende do que a televisão lhe recomenda como condutas
corretas e não consegue formular seus próprios juízos.
Além disso, em tempos em que o mundo do trabalho extermina postos baseados em tarefas roti-
neiras, que não demandam capacidade de concepção, as chances de sucesso profissional e de
realização pessoal de quem tem letramento insuficiente se tornam muito limitadas.
Aqui, só 30% dos alunos saem do 9o ano com aprendizado adequado em leitura e interpretação,
de acordo com dados do Inep. É menos que a média da América Latina, que tanto chocara Silvia
Montoya.
Ora, num país de elites não leitoras, o fato de tantos jovens não estarem aptos a ler livros talvez
não choque.
Não é mais suficiente ter um nível mínimo de alfabetização. Não ter competência leitora traz obstá-
culos para a vida em sociedade, especialmente no tocante à dificuldade em compreender os pró-
prios direitos e deveres como cidadão, ainda mais num mundo em turbulência como o que vivemos.
(Claudia Costin. Folha de S.Paulo, 27.10.2017. Adaptado)
Conforme o texto, o frágil e insuficiente desenvolvimento da competência leitora dos jovens que
217
concluem o ensino fundamental na América Latina impacta diretamente:
A) nas políticas educacionais da Unesco para a região, que passa a pressionar governantes a fim
de que adotem medidas capazes de reverter esse quadro.
B) na cidadania de milhões desses jovens, que desistem da escola em face à dificuldade para
extrair informações de contextos de leitura simples.
C) na formação desses leitores enquanto cidadãos, já que a proficiência em leitura é fundamental
para a formação da capacidade de julgamento.
D) na formação social desses jovens, que não conseguem se apropriar de normas de conduta di-
vulgadas pela televisão indispensáveis para esse fim.
E) no modo como informações são transmitidas em livros e jornais, que acabam tendo de adaptar
sua linguagem ao nível de entendimento dos leitores.
Novo Analfabetismo
O Instituto de Estatísticas da Unesco alerta, em informe recente, que grande parte dos jovens da
América Latina não alcança níveis apropriados de proficiência em leitura. São 19 milhões de ado-
lescentes que concluem o ensino fundamental sem conseguir ler parágrafos simples e deles extrair
informações, num fenômeno que Silvia Montoya, dirigente do instituto, chama de “nova definição
do analfabetismo”.
A preocupação da diretora procede, pois a falta de competência leitora fragiliza a cidadania. Afinal,
quem não consegue ler jornais ou livros depende do que a televisão lhe recomenda como condutas
corretas e não consegue formular seus próprios juízos.
Além disso, em tempos em que o mundo do trabalho extermina postos baseados em tarefas roti-
neiras, que não demandam capacidade de concepção, as chances de sucesso profissional e de
realização pessoal de quem tem letramento insuficiente se tornam muito limitadas.
Aqui, só 30% dos alunos saem do 9o ano com aprendizado adequado em leitura e interpretação,
de acordo com dados do Inep. É menos que a média da América Latina, que tanto chocara Silvia
Montoya.
Ora, num país de elites não leitoras, o fato de tantos jovens não estarem aptos a ler livros talvez
não choque.
Não é mais suficiente ter um nível mínimo de alfabetização. Não ter competência leitora traz obstá-
culos para a vida em sociedade, especialmente no tocante à dificuldade em compreender os pró-
prios direitos e deveres como cidadão, ainda mais num mundo em turbulência como o que vivemos.
(Claudia Costin. Folha de S.Paulo, 27.10.2017. Adaptado)
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não compromete o futuro de quem tem letramento insuficiente.
D) a constatação do quadro de competência leitora abaixo do esperado tem obrigado o mercado
de trabalho a adequar suas exigências a essa realidade.
E) o baixo nível de letramento, embora crie dificuldades para a leitura de livros e jornais, não chega
a constituir um empecilho para a vida em sociedade.
O sociólogo Pierre Bourdieu foi meu grande guru. Ele mostrou como a linguagem é usada como
instrumento de poder na sociedade. Portanto, é importante dar às pessoas esse instrumento. As
camadas populares têm que lutar muito contra a discriminação e a injustiça, e a linguagem é um
instrumento fundamental. Alfabetização e letramento têm esse objetivo: dar às pessoas o domínio
da língua como instrumento de inserção na sociedade e de luta por direitos fundamentais. Em rela-
ção à língua escrita, a criança tem que aprender duas coisas. Uma é o sistema de representação,
que é o sistema alfabético. Esse é um processo que trabalha determinadas operações cognitivas
e tem que levar em conta as características do sistema alfabético, é saber decodificar o que está
escrito, ou codificar o que deseja escrever. Mas isso deve ser feito em contexto de letramento, com
textos reais, não com o clássico exemplo “Eva viu a uva”. Que Eva? Que uva? Tradicionalmente a
alfabetização se resumia a codificar e decodificar, porque o foco era a criança aprender apenas o
código. Mas a questão é que a criança precisa aprender o código sabendo para o que ele serve.
A escrita é uma tecnologia como outras. É importante aprender a escrever, conhecer a relação
fonema-letra, saber que se escreve de cima para baixo, da esquerda para a direita, aprender as
convenções da escrita. Mas essa tecnologia, como toda tecnologia, só tem sentido para ser usada:
para saber interpretar textos, fazer inferências, ler diferentes gêneros, o que significa outra coisa
e exige outras habilidades e competências. Aprender o sistema de escrita é alfabetização. Aprender
os usos sociais do sistema de escrita é letramento.
(http://revistapesquisa.fapesp.br. Adaptado)
O sociólogo Pierre Bourdieu foi meu grande guru. Ele mostrou como a linguagem é usada como
instrumento de poder na sociedade. Portanto, é importante dar às pessoas esse instrumento. As
camadas populares têm que lutar muito contra a discriminação e a injustiça, e a linguagem é um
219
instrumento fundamental. Alfabetização e letramento têm esse objetivo: dar às pessoas o domínio
da língua como instrumento de inserção na sociedade e de luta por direitos fundamentais. Em rela-
ção à língua escrita, a criança tem que aprender duas coisas. Uma é o sistema de representação,
que é o sistema alfabético. Esse é um processo que trabalha determinadas operações cognitivas
e tem que levar em conta as características do sistema alfabético, é saber decodificar o que está
escrito, ou codificar o que deseja escrever. Mas isso deve ser feito em contexto de letramento, com
textos reais, não com o clássico exemplo “Eva viu a uva”. Que Eva? Que uva? Tradicionalmente a
alfabetização se resumia a codificar e decodificar, porque o foco era a criança aprender apenas o
código. Mas a questão é que a criança precisa aprender o código sabendo para o que ele serve.
A escrita é uma tecnologia como outras. É importante aprender a escrever, conhecer a relação
fonema-letra, saber que se escreve de cima para baixo, da esquerda para a direita, aprender as
convenções da escrita. Mas essa tecnologia, como toda tecnologia, só tem sentido para ser usada:
para saber interpretar textos, fazer inferências, ler diferentes gêneros, o que significa outra coisa e
exige outras habilidades e competências. Aprender o sistema de escrita é alfabetização. Aprender
os usos sociais do sistema de escrita é letramento.
(http://revistapesquisa.fapesp.br. Adaptado)
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nema-letra, saber que se escreve de cima para baixo, da esquerda para a direita, aprender as
convenções da escrita. Mas essa tecnologia, como toda tecnologia, só tem sentido para ser usada:
para saber interpretar textos, fazer inferências, ler diferentes gêneros, o que significa outra coisa
e exige outras habilidades e competências. Aprender o sistema de escrita é alfabetização. Aprender
os usos sociais do sistema de escrita é letramento.
(http://revistapesquisa.fapesp.br. Adaptado)
Na passagem - “Eva viu a uva”. Que Eva? Que uva? - as perguntas indicam que
A) o entendimento do texto pode ser realizado, mesmo sem um contexto de letramento.
B) a falta de alguns elementos textuais não deve impedir que o exemplo seja usado na escola.
C) a característica fundamental de um texto não está atrelada a um contexto de letramento.
D) o exemplo não pode ser considerado texto, porque lhe falta um contexto de letramento.
E) o exemplo mostra que um texto serve tanto à alfabetização quanto ao letramento.
Marieta
221
São múltiplas as teorias sobre idade feminina. Eu envelheceria ainda mais, se fosse anotar aqui
todos os conceitos alusivos a essa matéria; enquanto isso, as mulheres ficariam cada vez mais jo-
vens. Depois, não estou interessado em compendiar a incerta sabedoria em torno do tema incerto.
Meu desejo é só este: contar a idade de Marieta, por estranho que pareça.
E não é nada estranho, afinal. Marieta fazer 90 anos é tão simples quanto ela fazer 15. No fundo,
está fazendo seis vezes 15 anos, esta é talvez sua verdadeira idade, por uma graça da natureza
que assim o determinou e assim o fez. Privilégio.
Ah, Marieta, que inveja eu sinto de você, menos pelos seus 90, perdão, 6 x 15 anos, do que pelo
sinal que iluminou seu nascimento, sinal de alegria serena, de firmeza e constância, de leve com-
preensão da vida, que manda chorar quando é hora de chorar, rir o riso certo, curtir uma forma de
amor com a seriedade e a naturalidade que todo amor exige.
Sei não, Marieta (de batismo e certidão, Maria Luísa), mas você é a mais agradável combinação de
gente com gente que eu conheço.
(Carlos Drummond de Andrade, Boca de Luar. Adaptado)
Ao tratar os 90 anos de Marieta como seis vezes 15 anos, o narrador intenta destacar na persona-
gem:
A) a vaidade tipicamente feminina, que não gosta de revelar a verdadeira idade.
B) a generosidade de aceitar que sua idade seja finalmente revelada por ele.
C) um dom especial, que garante a ela um toque de jovialidade diante da vida.
D) um certo desapego em relação à verdade acerca de sua idade avançada.
E) o privilégio de poder comemorar seus 15 anos quando, efetivamente, faz 90.
Marieta
222
gente com gente que eu conheço.
(Carlos Drummond de Andrade, Boca de Luar. Adaptado)
O trecho entre parênteses introduz um comentário do narrador que se caracteriza como manifes-
tação de:
A) ressalva em relação a comportamentos socialmente convencionados que podem estar se per-
dendo na atualidade.
B) concordância com a modernização de certas atitudes vistas como inadequadas em relações
interpessoais.
C) indiferença em relação a gestos de cordialidade que só se impõem entre pessoas de mais ida-
de.
D) pesar diante da constatação de que atitudes socialmente recrimináveis não foram abandona-
das.
E) julgamento negativo da indiscrição que há em revelar publicamente a idade das mulheres mais
velhas.
Marieta
223
(Carlos Drummond de Andrade, Boca de Luar. Adaptado)
A frase que se relaciona à precedente pela relação de sentido de causa é a destacada em:
A) ... curtir uma forma de amor com a seriedade e a naturalidade que todo amor exige.
B) Meu desejo é só este: contar a idade de Marieta, por estranho que pareça.
C) Eu envelheceria ainda mais, se fosse anotar aqui todos os conceitos alusivos a essa ma-
téria...
D) ... esta é talvez sua verdadeira idade, por uma graça da natureza que assim o determinou e
assim o fez.
E) Marieta fazer 90 anos é tão simples quanto ela fazer 15.
224
(André Dahmer. Malvados. Disponível em:http://www.malvados.com.br)
Psiquiatras em pé de guerra
225
separação entre psiquiatria e política.
Os autores da obra sobre Trump estão cientes da norma. Ela é objeto de longo debate na parte
dois do livro. O que alegam é que, por vezes, a obrigação do médico de alertar a comunidade para
riscos que ela corre prevalece sobre a privacidade. Se o médico desconfia de que seu paciente
psicótico planeja assassinar alguém, precisa alertar a vítima potencial, mesmo que isso implique
violação do sigilo profissional.
A discussão é boa, e ambos os lados têm argumentos. Penso que, em teoria, a necessidade de se
fazer um alerta sobre a saúde mental de pacientes sobrepuja a regra Goldwater. Mas seria preciso
encontrar um modo de reduzir um pouco as investidas políticas dos psiquiatras. Se deixarmos que
a prática médica e a política se misturem, é quase certo que a medicina sairá perdendo.
(Hélio Schwartsman. Folha de S.Paulo, 21.01.2018. Adaptado)
Conforme o texto, o conflito em que estão envolvidos os profissionais de saúde mental americanos
se deve:
A) à divulgação, pela imprensa, de informações sobre a saúde mental do presidente Donald Trump,
extraídas de um estudo ainda em andamento.
B) ao debate quanto ao direito desses profissionais de levar a público seu conhecimento e à ques-
tão ética de se manifestar sobre casos que não examinaram.
C) à disputa entre jornalistas e advogados, favoráveis e contrários à publicação do livro sobre Do-
nald Trump, sem levar em conta a opinião dos psiquiatras.
D) à tentativa de advogados e de jornalistas de desacreditar o trabalho organizado pela psiquiatra
Bandy Lee, por considerá-lo essencialmente político.
E) ao fato de o trabalho desenvolvido por esses profissionais não ter convencido jornalistas de que
Donald Trump tem a saúde mental comprometida.
Psiquiatras em pé de guerra
226
regra foi reforçada em 2017. A ideia é evitar diagnósticos pela TV, bem como tornar mais robusta a
separação entre psiquiatria e política.
Os autores da obra sobre Trump estão cientes da norma. Ela é objeto de longo debate na parte
dois do livro. O que alegam é que, por vezes, a obrigação do médico de alertar a comunidade para
riscos que ela corre prevalece sobre a privacidade. Se o médico desconfia de que seu paciente
psicótico planeja assassinar alguém, precisa alertar a vítima potencial, mesmo que isso implique
violação do sigilo profissional.
A discussão é boa, e ambos os lados têm argumentos. Penso que, em teoria, a necessidade de se
fazer um alerta sobre a saúde mental de pacientes sobrepuja a regra Goldwater. Mas seria preciso
encontrar um modo de reduzir um pouco as investidas políticas dos psiquiatras. Se deixarmos que
a prática médica e a política se misturem, é quase certo que a medicina sairá perdendo.
(Hélio Schwartsman. Folha de S.Paulo, 21.01.2018. Adaptado)
O trecho do texto em que o autor aponta o que considera ser um aspecto negativo da obra The
Dangerous Case of Donald Trump é:
a) Os psiquiatras americanos estão em pé de guerra, e o motivo é Donald Trump, mais especifi-
camente seu estado mental.
b) Já durante a campanha eleitoral, alguns profissionais de saúde mental diziam que Trump não
batia bem.
c) ... essas vozes se multiplicaram e culminaram, em outubro, na publicação de The Dangerous
Case of Donald Trump...
d) ... profissionais de saúde, advogados e jornalistas tentam mostrar que o presidente não estaria
apto a exercer suas funções.
e) Os textos trazem considerações interessantes e muita informação, mas não dá para ignorar que
a obra é acima de tudo política.
Psiquiatras em pé de guerra
227
técnico, mas considera antiético que deem opinião sobre pessoas que não tenham examinado. A
regra foi reforçada em 2017. A ideia é evitar diagnósticos pela TV, bem como tornar mais robusta a
separação entre psiquiatria e política.
Os autores da obra sobre Trump estão cientes da norma. Ela é objeto de longo debate na parte
dois do livro. O que alegam é que, por vezes, a obrigação do médico de alertar a comunidade para
riscos que ela corre prevalece sobre a privacidade. Se o médico desconfia de que seu paciente
psicótico planeja assassinar alguém, precisa alertar a vítima potencial, mesmo que isso implique
violação do sigilo profissional.
A discussão é boa, e ambos os lados têm argumentos. Penso que, em teoria, a necessidade de se
fazer um alerta sobre a saúde mental de pacientes sobrepuja a regra Goldwater. Mas seria preciso
encontrar um modo de reduzir um pouco as investidas políticas dos psiquiatras. Se deixarmos que
a prática médica e a política se misturem, é quase certo que a medicina sairá perdendo.
(Hélio Schwartsman. Folha de S.Paulo, 21.01.2018. Adaptado)
228
(M. Schulz. “Minduim Charles”. http://cultura.estadao.com.br/quadrinhos, 14.11.2017)
229
redes sociais, iPads e outros dispositivos eletrônicos.
“Acreditamos que é importante ensinar nossas crianças a descobrir seus potenciais e a desenvol-
ver seus valores, e mostrar a elas o impacto positivo que cada indivíduo pode exercer na socieda-
de”, observa Pasi Majasaari, diretor da escola Hämeenkylä, na cidade de Vantaa, próxima à capital
Helsinki.
Os alunos do projeto têm entre 10 e 16 anos de idade. Pelo sistema, os estudantes interessados
em participar se apresentam como voluntários e relatam suas competências e habilidades em
determinadas áreas. As escolas também oferecem treinamento aos alunos, em aulas ministradas
por especialistas de diferentes empresas finlandesas que revendem soluções tecnológicas para o
sistema de ensino do país.
A partir daí, os estudantes produzem um mapeamento das necessidades digitais da escola, sob a
orientação de um professor. Eles fazem então um planejamento das atividades necessárias e pas-
sam a atuar em três frentes. Na sala dos professores, os alunos dão aulas ocasionais sobre como
usar diferentes dispositivos e aplicativos. Professores também podem contatar os estudantes para
pedir assistência individual, a fim de solucionar pequenos problemas. E os alunos-mestres também
atuam como professores assistentes nas salas de aula, para prestar ajuda tanto aos professores
quanto a outros colegas de classe quando determinada lição envolve o uso de tecnologia.
Inverter o papel tradicional dos alunos nas escolas é mais um pensamento fora da caixa do cele-
brado sistema finlandês, que conquistou resultados invejáveis nos
rankings mundiais de educação com um receituário que inclui menos horas de aulas, poucas lições
de casa, férias mais longas e uma baixa frequência de provas.
(Claudia Wallin. www.bbc.com. Adaptado)
No pouco ortodoxo modelo de ensino que levou a Finlândia ao topo dos rankings globais de edu-
cação, uma inovadora inversão de papéis começa a tomar corpo: alunos estão dando aulas aos
professores, para ensinar os mestres a otimizar o uso de tecnologias de informação e comunicação
nas escolas.
O projeto OppilasAgentti (“Agentes Escolares”, em tradução livre) está sendo conduzido em cerca
de cem escolas finlandesas, e a ideia é levar a nova experiência a um número cada vez maior do
universo de 3.450 instituições de ensino do país.
Trata-se de um modelo para desenvolver as competências tecnológicas não apenas dos profes-
sores, mas de toda a comunidade escolar — e também do seu entorno: os alunos da escola Hä-
230
meenkylä, por exemplo, também estão dando aulas aos idosos de um asilo local sobre como usar
redes sociais, iPads e outros dispositivos eletrônicos.
“Acreditamos que é importante ensinar nossas crianças a descobrir seus potenciais e a desenvol-
ver seus valores, e mostrar a elas o impacto positivo que cada indivíduo pode exercer na socieda-
de”, observa Pasi Majasaari, diretor da escola Hämeenkylä, na cidade de Vantaa, próxima à capital
Helsinki.
Os alunos do projeto têm entre 10 e 16 anos de idade. Pelo sistema, os estudantes interessados
em participar se apresentam como voluntários e relatam suas competências e habilidades em
determinadas áreas. As escolas também oferecem treinamento aos alunos, em aulas ministradas
por especialistas de diferentes empresas finlandesas que revendem soluções tecnológicas para o
sistema de ensino do país.
A partir daí, os estudantes produzem um mapeamento das necessidades digitais da escola, sob a
orientação de um professor. Eles fazem então um planejamento das atividades necessárias e pas-
sam a atuar em três frentes. Na sala dos professores, os alunos dão aulas ocasionais sobre como
usar diferentes dispositivos e aplicativos. Professores também podem contatar os estudantes para
pedir assistência individual, a fim de solucionar pequenos problemas. E os alunos-mestres também
atuam como professores assistentes nas salas de aula, para prestar ajuda tanto aos professores
quanto a outros colegas de classe quando determinada lição envolve o uso de tecnologia.
Inverter o papel tradicional dos alunos nas escolas é mais um pensamento fora da caixa do cele-
brado sistema finlandês, que conquistou resultados invejáveis nos
rankings mundiais de educação com um receituário que inclui menos horas de aulas, poucas lições
de casa, férias mais longas e uma baixa frequência de provas.
(Claudia Wallin. www.bbc.com. Adaptado)
À nossa volta
Dois amigos meus desceram no aeroporto de Orly, em Paris. Deixaram as malas no hotel e foram
dar uma volta pelo Quartier Latin. Decepcionaram-se com as ruas esburacadas, pedras pelo chão,
vidros quebrados, lixo acumulado — nunca tinham visto Paris tão suja e desmazelada. E só foram
entender o que estava acontecendo ao ler a manchete de um jornal na banca. Os estudantes es-
tavam em guerra contra o poder. Era maio de 1968.
Outro amigo, músico e muito, muito alienado, pegou seu carro bem cedo em Copacabana e tocou
para a zona norte, onde estava gravando um LP. Lá chegando, encontrou o estúdio fechado. Es-
perou duas horas, ninguém apareceu e ele foi embora. Estranhou que as lojas do Centro também
231
estivessem fechadas e, ao passar pelo Flamengo, viu o prédio da UNE em chamas. E só ao chegar
em casa soube que estava em curso no país um golpe militar. Era 1º de abril de 1964.
E, em 1956, mais um amigo, também músico, mas amador, passava férias em Diamantina (MG)
quando soube que dona Dadainha, senhora baiana muito respeitada na cidade, estava hospedan-
do um irmão que tocava violão dia e noite e nunca saía à rua. O amigo foi procurá-lo. Tocou a cam-
painha e o próprio rapaz abriu a porta. Ao ouvir que o outro igualmente tocava violão, convidou-o
a entrar e mostrou-lhe um samba “diferente” que estava criando. Meu amigo gostou, despediu-se
e não voltou a vê-lo. Dois anos depois, escutou no rádio aquele “samba diferente” e reconheceu
o violonista e cantor: João Gilberto. O que ele ouvira em Diamantina era a bossa nova, só que
antes de ela existir.
É famosa a passagem de “A Cartuxa de Parma”, de Stendhal, em que o herói se junta a um exército
sem saber que está no meio da guerra de Waterloo. É o risco que corremos por não ficarmos de
olho à nossa volta.
(Ruy Castro. www.folha.uol.com.br, 25.11.2017)
Ao descrever seu amigo como muito, muito alienado, no segundo parágrafo, o autor dá a enten-
der que
A) a apreensão do real pressupõe o exercício da fantasia.
B) os músicos são, de modo geral, individualistas.
C) a mídia não era um meio de comunicação confiável.
D) o golpe militar foi amplamente divulgado.
E) os cariocas não costumam se interessar por política.
À nossa volta
Dois amigos meus desceram no aeroporto de Orly, em Paris. Deixaram as malas no hotel e foram
dar uma volta pelo Quartier Latin. Decepcionaram-se com as ruas esburacadas, pedras pelo chão,
vidros quebrados, lixo acumulado — nunca tinham visto Paris tão suja e desmazelada. E só foram
entender o que estava acontecendo ao ler a manchete de um jornal na banca. Os estudantes es-
tavam em guerra contra o poder. Era maio de 1968.
Outro amigo, músico e muito, muito alienado, pegou seu carro bem cedo em Copacabana e tocou
para a zona norte, onde estava gravando um LP. Lá chegando, encontrou o estúdio fechado. Es-
perou duas horas, ninguém apareceu e ele foi embora. Estranhou que as lojas do Centro também
estivessem fechadas e, ao passar pelo Flamengo, viu o prédio da UNE em chamas. E só ao chegar
em casa soube que estava em curso no país um golpe militar. Era 1º de abril de 1964.
E, em 1956, mais um amigo, também músico, mas amador, passava férias em Diamantina (MG)
quando soube que dona Dadainha, senhora baiana muito respeitada na cidade, estava hospedan-
do um irmão que tocava violão dia e noite e nunca saía à rua. O amigo foi procurá-lo. Tocou a cam-
painha e o próprio rapaz abriu a porta. Ao ouvir que o outro igualmente tocava violão, convidou-o
a entrar e mostrou-lhe um samba “diferente” que estava criando. Meu amigo gostou, despediu-se
e não voltou a vê-lo. Dois anos depois, escutou no rádio aquele “samba diferente” e reconheceu
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o violonista e cantor: João Gilberto. O que ele ouvira em Diamantina era a bossa nova, só que
antes de ela existir.
É famosa a passagem de “A Cartuxa de Parma”, de Stendhal, em que o herói se junta a um exército
sem saber que está no meio da guerra de Waterloo. É o risco que corremos por não ficarmos de
olho à nossa volta.
(Ruy Castro. www.folha.uol.com.br, 25.11.2017)
Ao tratar da bossa nova no terceiro parágrafo, o autor demonstra crer que seu surgimento
A) possui relevância histórica, na medida em que tem impacto sobre o contexto social.
B) é culturalmente insignificante, por não representar um evento com repercussão nacional.
C) deve ser interpretado como consequência imediata dos demais acontecimentos citados no texto.
D) tem importância nula em termos coletivos, visto que não promove alteração social.
E) constitui um fato desencadeador dos movimentos históricos mencionados.
Nunca o mais forte o é tanto para ser sempre senhor, se não converte a força em direito, e em dever
a obediência; eis donde vem o direito do mais forte, direito que irônica e aparentemente se tomou,
e na realidade se estabeleceu em princípios. A força é um poder físico, não imagino qual moralida-
de possa resultar de seus efeitos; ceder à força é ato preciso, e não voluntário, ou quando muito
prudente: em que sentido pode ser uma obrigação?
Suponhamos por um momento esse pretendido direito. Eu afirmo que dele só dimana o caos inex-
plicável; pois logo que a força faz o direito, com a causa muda o efeito, e toda força que excede a
primeira toma o lugar de direito dela. Logo que a salvo podes desobedecer, legitimamente o fazes,
e, como tem sempre razão o mais forte, tratemos só de o ser. Qual é, pois, o direito que resta,
quando cessa a força? Se por força cumpre obedecer, desnecessário é o direito; e se não somos
forçados a obedecer, que obrigação nos resta de o fazer? Logo, está claro que a palavra direito
nada ajunta à força, e não tem aqui significação alguma.
(Jean-Jacques Rousseau. Do contrato social. Adaptado)
233
QUESTÃO 128: VUNESP - DELEG (PC BA)/PC BA/2018
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Vamos partir de uma situação que grande parte de nós já vivenciou. Estamos saindo do cinema,
depois de termos visto uma adaptação de um livro do qual gostamos muito. Na verdade, até que
gostamos do filme também: o sentido foi mantido, a escolha do elenco foi adequada, e a trilha so-
nora reforçou a camada afetiva da narrativa. Por que então sentimos que algo está fora do lugar?
Que está faltando alguma coisa?
O que sempre falta em um filme sou eu. Parto dessa ideia simples e poderosa, sugerida pelo teórico
Wolfgang Iser em um de seus livros, para afirmar que nunca precisamos tanto ler ficção e poesia
quanto hoje, porque nunca precisamos tanto de faíscas que ponham em movimento o mecanismo
livre da nossa imaginação. Nenhuma forma de arte ou objeto cultural guarda a potência escondida
por aquele monte de palavras impressas na página.
Essa potência vem, entre outros aspectos, do tanto que a literatura exige de nós, leitores. Não falo
do esforço de compreender um texto, nem da atenção que as histórias e os poemas exigem de
nós – embora sejam incontornáveis também. Penso no tanto que precisamos investir de nós, como
sujeitos afetivos e como corpos sensíveis,para que as palavras se tornem um mundo no qual pe-
netramos.
Somos bombardeados todo dia, o dia inteiro, por informações. Estamos saturados de dados e de
interpretações. A literatura – para além do prazer intelectual, inegável – oferece algo diferente. Tra-
ta-se de uma energia que o teórico Hans Ulrich Gumbrecht chama de “presença” e que remete a
um contato com o mundo que afeta o corpo do indivíduo para além e para aquém do pensamento
racional.
Muitos eventos produzem presença, é claro: jogos e exercícios esportivos, shows de música, en-
contros com amigos, cerimônias religiosas e relações amorosas e sexuais são exemplos óbvios.
Por que, então, defender uma prática eminentemente intelectual, como a experiência literária, com
o objetivo de “produzir presença”, isto é, de despertar sensações corpóreas e afetos? A resposta
está, como já evoquei mais acima, na potência guardada pela ficção e pela poesia para disparar a
imaginação. Mas o que é, afinal, a imaginação, essa noção tão corriqueira e sobre a qual refletimos
tão pouco?
Proponho pensar a imaginação como um espaço de liberdade ilimitada, no qual, a partir de estímu-
los do mundo exterior, somos confrontados (mas também despertados) a responder com memó-
rias, sentimentos, crenças e conhecimentos para forjar, em última instância, aquilo que faz de cada
um de nós diferente dos demais. A leitura de textos literários é uma forma privilegiada de disparar
esse mecanismo imenso, porque demanda de nós todas essas reações de modo ininterrupto, exige
que nosso corpo esteja ele próprio presente no espaço ficcional com que nos deparamos, sob pena
de não existir espaço ficcional algum.
(Ligia G. Diniz. https://brasil.elpais.com. 22.02.2018. Adaptado)
234
percepções motivadas pelo instinto.
D) Somos incapazes de ver aspectos positivos na adaptação de um filme do qual gostamos muito,
pois nosso julgamento é puramente emocional.
E) Inseridos em um contexto impregnado de informação, precisamos da literatura mais do que nun-
ca para aguçar nossa imaginação.
Algoritmos e desigualdade
Virginia Eubanks, professora de ciências políticas de Nova York, é autora de Automating Inequality
(Automatizando a Desigualdade.), um livro que explora a maneira como os computadores estão mu-
dando a prestação de serviços sociais nos Estados Unidos. Seu foco é o setor de serviços públicos,
e não o sistema de saúde privado, mas a mensagem é a mesma: com as instituições dependendo
cada vez mais de algoritmos preditivos para tomar decisões, resultados peculiares – e frequente-
mente injustos – estão sendo produzidos.
Virginia Eubanks afirma que já acreditou na inovação digital. De fato, seu livro tem exemplos de
onde ela está funcionando: em Los Angeles, moradores de rua que se beneficiaram dos algoritmos
para obter acesso rápido a abrigos. Em alguns lugares, como Allegheny, houve casos em que “da-
dos preditivos” detectaram crianças vulneráveis e as afastaram do perigo.
Mas, para cada exemplo positivo, há exemplos aflitivos de fracassos. Pessoas de uma mesma
família de Allegheny foram perseguidas por engano porque um algoritmo as classificou como pro-
pensas a praticar abuso infantil. E em Indiana há histórias lastimáveis de famílias que tiveram
assistência de saúde negada por causa de computadores com defeito. Alguns desses casos
resultaram em mortes.
Alguns especialistas em tecnologia podem alegar que esses são casos extremos, mas um padrão
similar é descrito pela matemática Cathy O’Neill em seu livro Weapons of Math Destruction. “Mode-
los matemáticos mal concebidos agora controlam os mínimos detalhes da economia, da propagan-
da às prisões”, escreve ela.
Existe alguma solução? Cathy O’Neill e Virginia Eubanks sugerem que uma opção seria exigir que
os tecnólogos façam algo parecido com o julgamento de Hipócrates: “em primeiro lugar, fazer o
bem”. Uma segunda ideia – mais custosa – seria forçar as instituições a usar algoritmos para con-
tratar muitos assistentes sociais humanos para complementar as tomadas de decisões digitais.
Uma terceira ideia seria assegurar que as pessoas que estão criando e rodando programas de
computador sejam forçadas a pensar na cultura, em seu sentido mais amplo.
Isso pode parecer óbvio, mas até agora os nerds digitais das universidades pouco contato tiveram
com os nerds das ciências sociais – e vice-versa. A computação há muito é percebida como uma
zona livre de cultura e isso precisa mudar.
(Gillian Tett. www.valor.com.br. 23.02.2018. Adaptado)
Ao aproximar os pontos de vista de Virginia Eubanks e de Cathy O’Neill, o autor defende a tese de
que os algoritmos preditivos:
A) necessitam manter-se restritos à economia e a áreas afins.
B) devem ser abandonados pois ainda não beneficiaram os cidadãos.
235
C) podem levar à tomada de decisões equivocadas e injustas.
D) são bem-sucedidos no setor privado, mas não no setor público.
E) precisam ser confiáveis ao ponto de substituir as escolhas humanas.
Há, no texto, menção a três especialistas que tratam do tema da “licença moral”. Esse recurso con-
siste em estratégia argumentativa que:
A) reforça a confiabilidade das ideias apontadas pela autora, demonstrando que ela conhece o
assunto abordado.
B) especifica o assunto, deixando claro ao leitor que a autora tem pontos de vista discordantes da-
queles dos autores citados.
C) esclarece pontos controversos nas definições da autora, com ideias mais atuais do que as dela
própria sobre o tema.
D) mostra que a autora domina pouco o assunto, já que ela apresenta ideias alheias não compa-
tíveis com o tema.
E) acaba por desviar a atenção do leitor porque traz à tona informações descontextualizadas e
sem comprovação.
237
Leia o texto, para responder à questão.
É o consentimento que autoriza as pessoas que praticam uma boa ação a compensá- A passagem
do texto caracterizada pelo emprego de palavras expressando ideias de modo categórico, sem ad-
mitir possibilidade de exceções, é:
A) É o consentimento que autoriza as pessoas que praticam uma boa ação a compensá-la com o
avesso.
B) “No Brasil, muitas das empresas que são investigadas em esquemas de corrupção têm o seu
instituto e sua fundação com ações filantrópicas…”
C) … quando alguém está certo de ter feito o bem, com compaixão
D) “Nenhum corrupto é inconsciente. A pessoa sempre sabe o que está fazendo”. e generosidade,
pode sentir-se liberado para fazer o mal…
E) … os desvios costumam cair como baldes de água fria e decepção – e estão longe de represen-
tar uma raridade.
238
QUESTÃO 133: VUNESP - ANA LEG (CMSJC)/CM SJC/CONTADOR/2018
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Leia o texto, para responder à questão.
É correto afirmar que, com esses sinais de pontuação, a autora tem o objetivo de:
a) em (I) introduzir uma informação nova no contexto; em (II) expressar antecipadamente a reação
que o leitor terá diante do assunto tratado.
b) em (I e II) explicar uma passagem anterior obscura, levando o leitor a concordar com os pontos
de vista dela.
c) em (I) apresentar uma nova versão para fato anteriormente relatado; em (II) expressar a possi-
bilidade de seu ponto de vista chocar o leitor.
239
d) em (I) detalhar uma ideia anteriormente expressa; em (II) intercalar a expressão de uma reação
pessoal diante do comportamento que comenta.
e) em (I e II) apontar a possibilidade de os fatos serem contraditórios, embora estejam associados
pela ideia de corrupção.
Apesar dos bons resultados, o Estado avançou menos nos anos finais do ensino fundamental. Quais as
barreiras?
De fato, isso é um fenômeno nacional. Do 1º ao 5º ano, há uma melhoria mais acelerada, e do 6º
ao 9º, com menos potência.
Há dois fenômenos. Um é interno: do 6º ao 9º ano muita coisa muda para a criança. Está passando
para a adolescência e deixa de ter uma professora para ter dez. E a escola não tem uma metodo-
logia bem articulada para que todos os conhecimentos ali passados façam sentido.
Há também uma questão externa. Adultos e crianças hoje são muito afetados por tecnologia, re-
des sociais, trocas de informação. O mundo está muito dispersivo, e a aprendizagem exige foco e
concentração.
É um desafio adicional para a escola. Além do desenvolvimento acadêmico e cognitivo – ler, escre-
ver, fazer contas, interpretar história –, a escola terá que se preocupar com o desenvolvimento de
competências socioemocionais: metodologia para que as crianças aprendam a administrar suas
emoções, trabalhar em equipe, ter foco, persistência, resiliência.
O governo capixaba coordenou pesquisa para descobrir por que jovens de 14 a 29 anos deixaram a
escola. Que política esse diagnóstico inspirou?
Esses jovens foram alunos de nossas escolas públicas e as abandonaram porque precisavam tra-
balhar, engravidaram, não gostavam de estudar ou achavam a escola chata.
O que mais temos discutido é como envolver o jovem com a escola. Recentemente introduzimos o
líder de turma, escolhido pelos colegas para discutir soluções pela ótica dos alunos.
Por que projetos-piloto nem sempre dão os mesmos resultados na sala de aula?
Falta de treinamento é um motivo. O professor é absolutamente estratégico. É fundamental capaci-
tar de um ponto de vista bem operacional como ele trabalha com o aluno. O mundo mudou muito,
as exigências são outras.
O trabalho do professor hoje é totalmente diferente, e as instituições formadoras ainda trabalham
de forma tradicional. Fazemos pesquisa e estamos gastando muita energia para definir a formação
do professor do século 21.
Não nos cabe achar que hoje está pior ou melhor que no passado, mas nos programarmos para
atender a criança no mundo de hoje, diverso, em que tudo é muito rápido, em que nada se sus-
tenta, com profissões que nem existem mais e outras que a gente nem imagina.
Como motivar se falamos de coisas de antigamente? É um desafio diferente. Os professores preci-
sam ser capazes de ler o mundo desses alunos.
(Ana Estela de Sousa Pinto e Érica Fraga. Folha de S.Paulo, 09.12.2017. Adaptado)
Segundo Haroldo Rocha, entre os fatores que comprometem o avanço nas séries finais do ensino
240
fundamental, estão:
A) o aumento do número de professores que atendem aos alunos e o abandono da escola por alu-
nos que necessitam trabalhar.
B) a ausência de articulação entre os conteúdos acadêmicos e o incentivo ao desenvolvimento de
habilidades socioemocionais.
C) a transição das crianças para a adolescência e a grande influência da internet no dia a dia de
alunos de diferentes faixas etárias.
D) a falta de concentração nos estudos, decorrente da limitação intelectual dos alunos, e o excesso
de disciplinas acadêmicas.
E) a dificuldade de os alunos se adaptarem a novos professores e o descaso dos Estados com a
qualidade da educação.
Apesar dos bons resultados, o Estado avançou menos nos anos finais do ensino fundamental.
Quais as barreiras?
De fato, isso é um fenômeno nacional. Do 1º ao 5º ano, há uma melhoria mais acelerada, e do 6º
ao 9º, com menos potência.
Há dois fenômenos. Um é interno: do 6º ao 9º ano muita coisa muda para a criança. Está passando
para a adolescência e deixa de ter uma professora para ter dez. E a escola não tem uma metodo-
logia bem articulada para que todos os conhecimentos ali passados façam sentido.
Há também uma questão externa. Adultos e crianças hoje são muito afetados por tecnologia, re-
des sociais, trocas de informação. O mundo está muito dispersivo, e a aprendizagem exige foco e
concentração.
É um desafio adicional para a escola. Além do desenvolvimento acadêmico e cognitivo – ler, escre-
ver, fazer contas, interpretar história –, a escola terá que se preocupar com o desenvolvimento de
competências socioemocionais: metodologia para que as crianças aprendam a administrar suas
emoções, trabalhar em equipe, ter foco, persistência, resiliência.
O governo capixaba coordenou pesquisa para descobrir por que jovens de 14 a 29 anos deixaram a
escola. Que política esse diagnóstico inspirou?
Esses jovens foram alunos de nossas escolas públicas e as abandonaram porque precisavam tra-
balhar, engravidaram, não gostavam de estudar ou achavam a escola chata.
O que mais temos discutido é como envolver o jovem com a escola. Recentemente introduzimos o
líder de turma, escolhido pelos colegas para discutir soluções pela ótica dos alunos.
Por que projetos-piloto nem sempre dão os mesmos resultados na sala de aula?
Falta de treinamento é um motivo. O professor é absolutamente estratégico. É fundamental capaci-
tar de um ponto de vista bem operacional como ele trabalha com o aluno. O mundo mudou muito,
as exigências são outras.
O trabalho do professor hoje é totalmente diferente, e as instituições formadoras ainda trabalham
de forma tradicional. Fazemos pesquisa e estamos gastando muita energia para definir a formação
do professor do século 21.
Não nos cabe achar que hoje está pior ou melhor que no passado, mas nos programarmos para
241
atender a criança no mundo de hoje, diverso, em que tudo é muito rápido, em que nada se sus-
tenta, com profissões que nem existem mais e outras que a gente nem imagina.
Como motivar se falamos de coisas de antigamente? É um desafio diferente. Os professores preci-
sam ser capazes de ler o mundo desses alunos.
(Ana Estela de Sousa Pinto e Érica Fraga. Folha de S.Paulo, 09.12.2017. Adaptado)
Ao afirmar que – Os professores precisam ser capazes de ler o mundo desses alunos. –, o secre-
tário de Educação entende que:
A) os professores deixaram de ter importância na sala de aula, pois as redes sociais informam
corretamente os alunos a respeito de todos os assuntos.
B) a rapidez das mudanças caracteriza o mundo atual, e os docentes devem atentar para essas
mudanças a fim de estabelecer um diálogo produtivo com os educandos.
C) os cursos de capacitação não surtem o efeito esperado,pois são poucos os educadores que têm
condições de participar desses eventos.
D) a ausência de estudos pedagógicos que discutam como deve ser a formação dos futuros pro-
fessores é um entrave no processo educacional.
E) as disciplinas devem priorizar o conhecimento dos fatos passados, pois é esse caminho que
levará os alunos a compreenderem o mundo atual.
A revolução digital fortalece as previsões de que as casas ou lares inteligentes oferecerão mais
conveniência e menos dispêndio de energia em um futuro.
A definição de conveniência para esses novos lares tecnológicos, com redução ou eliminação de
trabalhos domésticos. Portanto, para que as edificações inteligentes tenham sucesso, elas deve-
rão se estruturar com base nessa visão de conveniência como solução para os que vivem em um
mundo acelerado e estar ancoradas em uma grande variedade de sistemas tecnológicos acessí-
veis e fáceis de operar, tornando a vida das pessoas mais simples.
Além da conveniência, outro relevante benéfico das casas inteligentes, para os consumidores é a
sua capacidade de incorporar aspectos relacionados à administração do gasto de energia, prin-
cipalmente com iluminação, condicionamento de ar eletrodomésticos. Um conjunto de sensores,
adequadamente configurados para gerenciar esses sistemas, pode gerar diminuição considerável
nos gastos com energia, com reflexos ambientais e econômicos importantes.
O departamento de engenharia da computação da Academia Árabe de Ciências e Tecnologia de-
senvolveu um estudo para avaliar a economia no consumo de energia gerada com o uso de sen-
sores inteligentes, em um apartamento de um dormitório, cozinha, sala de estar, sala de jantar e
banheiro. O estudo concluiu que a economia pode chegara quase 40% do consumo médio mensal
de energia.
A tendência de crescimento desse mercado é clara. A empresa de pesquisa Zion Research prevê
que a tecnologia das casas inteligentes deve alcançar um faturamento de US$ 53 bilhões (R$170
bi) em 2022. O crescimento estará calcado, principalmente, na conexão da casa com os ambientes
digitais externos, como por exemplo, a conexão do refrigerador com os equipamentos dos forne-
cedores de alimentos.
242
Naturalmente, a tecnologia das casas inteligentes continuará a evoluir, tornando-se acessível e ba-
rata. Com isso, mais pessoas poderão utilizar-se dela, e novos padrões, modelos e estilos de vida
devem se consolidar, principalmente nas áreas urbanas.
( Claudio Bernades. Casas inteligentes trarão conveniência e reduzirão gasto de energia. Folha de S. Paulo. www.folha.uol.com.br. 22.01.18.
Adaptado)
A revolução digital fortalece as previsões de que as casas ou lares inteligentes oferecerão mais
conveniência e menos dispêndio de energia em um futuro.
A definição de conveniência para esses novos lares tecnológicos, com redução ou eliminação de
trabalhos domésticos. Portanto, para que as edificações inteligentes tenham sucesso, elas deve-
rão se estruturar com base nessa visão de conveniência como solução para os que vivem em um
mundo acelerado e estar ancoradas em uma grande variedade de sistemas tecnológicos acessí-
veis e fáceis de operar, tornando a vida das pessoas mais simples.
Além da conveniência, outro relevante benéfico das casas inteligentes, para os consumidores é a
sua capacidade de incorporar aspectos relacionados à administração do gasto de energia, prin-
cipalmente com iluminação, condicionamento de ar eletrodomésticos. Um conjunto de sensores,
adequadamente configurados para gerenciar esses sistemas, pode gerar diminuição considerável
nos gastos com energia, com reflexos ambientais e econômicos importantes.
O departamento de engenharia da computação da Academia Árabe de Ciências e Tecnologia de-
senvolveu um estudo para avaliar a economia no consumo de energia gerada com o uso de sen-
sores inteligentes, em um apartamento de um dormitório, cozinha, sala de estar, sala de jantar e
banheiro. O estudo concluiu que a economia pode chegara quase 40% do consumo médio mensal
de energia.
A tendência de crescimento desse mercado é clara. A empresa de pesquisa Zion Research prevê
que a tecnologia das casas inteligentes deve alcançar um faturamento de US$ 53 bilhões (R$170
bi) em 2022. O crescimento estará calcado, principalmente, na conexão da casa com os ambientes
digitais externos, como por exemplo, a conexão do refrigerador com os equipamentos dos fornece-
dores de alimentos.
Naturalmente, a tecnologia das casas inteligentes continuará a evoluir, tornando-se acessível e ba-
243
rata. Com isso, mais pessoas poderão utilizar-se dela, e novos padrões, modelos e estilos de vida
devem se consolidar, principalmente nas áreas urbanas.
( Claudio Bernades. Casas inteligentes trarão conveniência e reduzirão gasto de energia. Folha de S. Paulo. www.folha.uol.com.br. 22.01.18.
Adaptado)
Há pessoas que têm vergonha de viver: são os tímidos, entre os quais me incluo. Desculpem, por
exemplo, estar tomando lugar no espaço.Desculpem eu ser eu. Quero ficar só! grita a alma do
tímido que só se liberta na solidão. Contraditoriamente quer o quente aconchego das pessoas.
E para pedir aumento de salário- a tortura. Como começar? Apresentar-se com fíngida segurança
de quem sabe quanto vale em dinheiro - ou apresentar-se como se é, desajeitado e excessivamen-
te humilde.
O que faz então? Mas é que há a grande ousadia dos tímidos. E de repente cheio de audácia pelo
aumento com um tom reivindicativo que parece contundente. Mas logo depois, espantado, sente-se
mal, julga imerecido o aumento, fica todo infeliz.
( Clarice Lispector, Vergonha de viver, Aprendendo a viver. Rio de Janeiro, Rocco Digital, 2013, Adaptado)
A contradição que a autora identifica no comportamento dos tímidos diz respeito ao fato de
A) se portarem de modo desajeitado na hora de pedir aumento.
B) camuflagem uma segurança ao pedirem aumento de salário.
C) desejarem permanecer igualmente isolados e acompanhados
D) se sentirem oprimidos mesmo quando estão sozinhos.
E) ficarem envergonhados diante do próprio fato de existirem
Apesar dos sinais de recuperação da economia, o número de brasileiros endividados chegou a 61,7
milhões em fevereiro passado – o equivalente a 40% da população adulta. O número é alto porque
o hábito de manter as contas em dia não é apenas uma questão financeira decorrente do estado
geral da economia – pode ser uma questão comportamental. Por isso, há grupos especializados
244
que promovem reuniões semanais com devedores, com a finalidade de trocar experiências sobre
consumo impulsivo e propensão a viver no vermelho. Uma dessas organizações é o Devedores
Anônimos (DA), que funciona nos mesmos moldes do Alcoólicos Anônimos (AA).
Pertencer a uma classe social mais alta não livra ninguém do problema. As pessoas de maior renda
são justamente as que têm maior resistência em admitir a compulsão. Pior. É comum que, diante
dos apuros, como a perda do emprego, algumas tentem manter o mesmo padrão de vida em lugar
de cortar gastos para se encaixar na nova realidade. Pedir um empréstimo para quitar outra dívida
é um comportamento recorrente entre os endividados.
Para sair do vermelho, aceitar o vício é o primeiro passo. Uma vez que o devedor reconhece o pro-
blema, a próxima etapa é se planejar.
(Felipe Machado e Tatiana Babadobulos, Veja, 04.04.2018. Adaptado)
245
Analisando as falas das personagens, conclui-se corretamente que o aluno:
a) se submete passivamente à explicação dada pela professora, por isso prefere não questioná-la.
b) se coloca em uma condição de submissão à professora para ganhar mais um dia de folga da
escola.
c) se ressente com a professora e passa a pedir-lhe que haja uma reforma no calendário escolar.
d) se sente ludibriado pela professora, que lhe dá informações insuficientes sobre os feriados.
e) se vale do oportunismo para tentar convencer a professora de que é possível ter mais folgas.
Analisando-se a fala do aluno no último quadrinho – Vai dizer que o Brasil também não tá “enforca-
do”? –, conclui-se corretamente que ela se estrutura em uma frase:
A) declarativa negativa, em tom de sátira, funcionando como uma explicação de que o país está
saudável economicamente.
B) imperativa, em tom respeitoso, funcionando como um desabafo para mostrar a difícil situação
do Brasil.
C) interrogativa, de tom retórico, funcionando como uma afirmação para convencer a professora
sobre o que ele diz.
D) interrogativa, em tom exclamativo, funcionando como uma confirmação da explicação da pro-
fessora.
E) interrogativa, em tom hesitante, funcionando como um questionamento à professora sobre a
situação do país.
O português é a língua oficial de nove países e tem mais de 260 milhões de falantes. De acordo
com o instituto americano SIL International, há mais de 7 000 idiomas no mundo, e o português é
o sétimo mais falado.
Parte do grupo das línguas românicas, que inclui o espanhol e o italiano, entre outras, o português é
246
derivado do latim – idioma que teve origem na Itália, na pequena região do Lácio, onde está Roma.
O latim disseminou-se na Europa juntamente com a expansão do domínio do Império Romano.
Foi com as tropas romanas que o latim chegou à face sul do continente europeu (onde hoje estão
os territórios de Portugal e Espanha), entre os séculos 3º e 2º a.C.
Devido a ocupações anteriores, a Península Ibérica já tinha a presença de outros povos (e suas
línguas, por consequência), como os celtas. Ao longo do tempo, o latim falado foi incorporando
elementos linguísticos dessas e de outras populações.
Quando o Império Romano ruiu, no século 5º d.C., a Península Ibérica já estava totalmente latini-
zada, e o idioma manteve-se em uso por seus habitantes.
No século 15, com a expansão marítima de Portugal, a língua foi espalhada por suas colônias. O
uso de outros idiomas ou dialetos locais era, muitas vezes, proibido. Hoje há muito mais falantes de
português fora de Portugal, que tem apenas 10 milhões de habitantes.
(https://www1.folha.uol.com.br. Adaptado)
O português é a língua oficial de nove países e tem mais de 260 milhões de falantes. De acordo
com o instituto americano SIL International, há mais de 7 000 idiomas no mundo, e o português é
o sétimo mais falado.
Teresa
247
(Manuel Bandeira, Libertinagem)
(http://atarde.uol.com.br)
Nos EUA, a psicanálise lembra um pouco certas seitas – as ideias do fundador são instituciona-
lizadas e defendidas por discípulos ferrenhos, mas suas instituições parecem não responder às
necessidades atuais da sociedade. Talvez porque o autor das ideias não esteja mais aqui para
atualizá-las.
Freud era um neurologista, e queria encontrar na Biologia as bases do comportamento. Como a
tecnologia de então não lhe permitia avançar, passou a elaborar uma teoria, criando a psicanáli-
se. Cientista que era, contudo, nunca se apaixonou por suas ideias, revisando sua obra ao longo
da vida. Ele chegou a afirmar: “A Biologia é realmente um campo de possibilidades ilimitadas do
qual podemos esperar as elucidações mais surpreendentes. Portanto, não podemos imaginar que
respostas ela dará, em poucos decêndios, aos problemas que formulamos. Talvez essas respostas
248
venham a ser tais que farão o edifício de nossas hipóteses colapsar”. Provavelmente, é sua frase
menos citada. Por razões óbvias.
(Galileu, novembro de 2017. Adaptado)
De acordo com o texto, a frase provavelmente menos citada de Freud revela uma:
A) abordagem muito ampla do homem e do mundo, o que chegou a abalar as convicções científi-
cas do cientista e o fez optar pela Biologia.
B) teoria frágil que, por essa razão, foi abandonada pelo cientista, que preferiu investigar algo mais
dinâmico por meio da psicanálise.
C) busca para relacionar a psicanálise à Biologia, de tal forma que se institucionalizasse a verdade
científica nos EUA.
D) visão dinâmica da ciência, o que, em certa medida, se choca com a institucionalização das
ideias nessa área, comum nos EUA.
E) concepção retrógrada, já que as percepções do cientista sugerem que há como controlar os
dados científicos no campo da Biologia.
Nos EUA, a psicanálise lembra um pouco certas seitas – as ideias do fundador são instituciona-
lizadas e defendidas por discípulos ferrenhos, mas suas instituições parecem não responder às
necessidades atuais da sociedade. Talvez porque o autor das ideias não esteja mais aqui para
atualizá-las.
Freud era um neurologista, e queria encontrar na Biologia as bases do comportamento. Como a
tecnologia de então não lhe permitia avançar, passou a elaborar uma teoria, criando a psicanálise.
Cientista que era, contudo, nunca se apaixonou por suas ideias, revisando sua obra ao longo da
vida. Ele chegou a afirmar: “A Biologia é realmente um campo de possibilidades ilimitadas do qual
podemos esperar as elucidações mais surpreendentes. Portanto, não podemos imaginar que res-
postas ela dará, em poucos decêndios, aos problemas que formulamos. Talvez essas respostas
venham a ser tais que farão o edifício de nossas hipóteses colapsar”. Provavelmente, é sua frase
menos citada. Por razões óbvias.
(Galileu, novembro de 2017. Adaptado)
249
QUESTÃO 148: VUNESP - INV POL (PC SP)/PC SP/2018
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Leia trecho do editorial para responder à questão.
Combate ao crime
Houve, no Brasil, uma escalada do aprisionamento que, nos últimos anos, levou o país a abrigar a
terceira maior população carcerária do mundo, atrás de EUA e China.
Parte considerável das prisões resulta de casos de flagrante, e salta aos olhos a parcela de encar-
cerados por delitos menores (em especial o pequeno tráfico de drogas) e em regime provisório
(40%).
Há anos este jornal manifesta opinião favorável à aplicação de sanções alternativas, de modo a
reservar o cárcerepara autores de crimes violentos, que representam ameaça à sociedade.
Tal correção de rumos, fique claro, não corresponde à complacência. Especialistas são praticamen-
te unânimes em considerar que a certeza da punição, mais do que o rigor ou o tamanho da pena,
é o principal fator de dissuasão.
Deve-se caminhar, ainda, no sentido da integração, com a criação de bases de dados e canais ins-
tantâneos de comunicação entre as polícias e outras instituições. Não menos importante, há que
investir em redução da evasão escolar e políticas voltadas para a juventude.
Tudo isso depende, claro, da superação da crise orçamentária, em especial na esfera estadual.
(Folha de S.Paulo, 24.04.2018. Adaptado)
O objetivo do editorial é:
A) enfatizar a necessidade de rigor com os delinquentes, uma vez que a sociedade não quer que
se alimente a impunidade.
B) manifestar apoio às políticas carcerárias do país, que têm demonstrado resultados surpreenden-
tes nos últimos anos.
C) enaltecer as políticas públicas que vêm mudando os rumos das prisões, limitando-as àqueles
que apresentam ameaça à sociedade.
D) minimizar os argumentos contrários às prisões, mostrando que, no final das contas, todos as
infrações precisam ser severamente punidas.
E) discutir a questão do aprisionamento, aventando possibilidades de penas alternativas em razão
da natureza dos delitos cometidos.
As crianças e os adolescentes estão vivendo boa parte de seu tempo no mundo virtual, principal-
mente por meio de seus aparelhos celulares. Em relatório divulgado em dezembro de 2017, o UNI-
CEF usou a expressão “cultura do quarto” para indicar um dos efeitos desse fenômeno. Os mais
novos têm escolhido o isolamento do espaço privado em detrimento do uso do espaço público para
se dedicarem à imersão nas redes.
Você certamente já viu agrupamentos de adolescentes que interagiam mais com seu celular do
que uns com os outros, não é? Pois bem: esse comportamento gera consequências, sendo que
algumas delas não colaboram para o bom desenvolvimento dos mais novos. Como eles aprendem
250
a se relacionar, por exemplo? Relacionando- se com seus pares! Acontece que o relacionamento
no mundo virtual é radicalmente diferente daquele que ocorre na vida real, o que nos faz levantar a
hipótese de que eles têm se desenvolvido com deficit no processo de socialização.
E como se aprenderia a ter – e a proteger – privacidade? Primeiramente sabendo a diferença entre
intimidade e convívio social. Explorar o mundo social simultaneamente ao real cria uma grande difi-
culdade nessa diferenciação. Não é à toa que já se expôs na rede a privacidade de tantas crianças
e jovens, com grande prejuízo pessoal!
(Rosely Sayão, As crianças e as tecnologias. Veja, 28-02-2018. Adaptado)
Do ponto de vista da autora, a grande dedicação a interações no mundo virtual pode levar a
a) progressos no desenvolvimento de habilidades tecnológicas inerentes aos novos tempos.
b) avanços na formação de grupos de interesse que se comuniquem com mais eficiência.
c) perdas significativas no processo de integração ao grupo social e na preservação da intimidade.
d) novas perspectivas de inclusão social, graças ao compartilhamento de dados em tempo real.
e) renovação dos meios de comunicação interpessoal e construção de novos grupos sociais.
As crianças e os adolescentes estão vivendo boa parte de seu tempo no mundo virtual, principal-
mente por meio de seus aparelhos celulares. Em relatório divulgado em dezembro de 2017, o UNI-
CEF usou a expressão “cultura do quarto” para indicar um dos efeitos desse fenômeno. Os mais
novos têm escolhido o isolamento do espaço privado em detrimento do uso do espaço público para
se dedicarem à imersão nas redes.
Você certamente já viu agrupamentos de adolescentes que interagiam mais com seu celular do
que uns com os outros, não é? Pois bem: esse comportamento gera consequências, sendo que
algumas delas não colaboram para o bom desenvolvimento dos mais novos. Como eles aprendem
a se relacionar, por exemplo? Relacionando- se com seus pares! Acontece que o relacionamento
no mundo virtual é radicalmente diferente daquele que ocorre na vida real, o que nos faz levantar a
hipótese de que eles têm se desenvolvido com deficit no processo de socialização.
E como se aprenderia a ter – e a proteger – privacidade? Primeiramente sabendo a diferença entre
intimidade e convívio social. Explorar o mundo social simultaneamente ao real cria uma grande difi-
culdade nessa diferenciação. Não é à toa que já se expôs na rede a privacidade de tantas crianças
e jovens, com grande prejuízo pessoal!
(Rosely Sayão, As crianças e as tecnologias. Veja, 28-02-2018. Adaptado)
É correto afirmar que a expressão “cultura do quarto”, utilizada no relatório do UNICEF, exprime a
ideia de:
a) ressentimento.
b) ajustamento.
c) coparticipação.
d) retraimento.
e) dedicação.
251
PONTUAÇÃO
Progresso, enfim
Em atraso nas grandes reformas da Previdência Social e do sistema de impostos, o Brasil tem obti-
do avanços em uma agenda que, tomada em seu conjunto, mostra-se igualmente essencial – a da
melhora do ambiente de negócios.
Trata-se de objetivos tão diferentes quanto facilitar a criação de empresas, reduzir o custo de licen-
ças ou ampliar o acesso ao crédito. Grande parte dessas providências não depende de votações
no Congresso, mas sim do combate persistente a empecilhos burocráticos e ineficiências do setor
público.
A boa notícia é que o país subiu 16 posições no mais conhecido ranking dessa modalidade, di-
vulgado a cada ano pelo Banco Mundial. A má é que a 109ª colocação, num total de 190 nações
consideradas, permanece vergonhosa.
O progresso ocorreu, basicamente, em quatro indicadores – fornecimento de energia elétrica, pra-
zo para abertura de empresa com registro eletrônico, acesso à informação de crédito e certifica-
ção eletrônica de origem para importações.
Pela primeira vez em 16 anos de publicação do relatório, o desempenho brasileiro se destacou na
América Latina. Os países mais bem posicionados da região, casos de México (54º lugar), Chile
(56o) e Colômbia (65o), apresentaram pouca ou nenhuma melhora.
Numa perspectiva mais ampla, o ambiente de negócios vai se tornando mais amigável na maior
parte do mundo. A edição mais recente do ranking catalogou número recorde de 314 reformas rea-
lizadas em 128 economias desenvolvidas e emergentes no período 2017/2018.
Fica claro, no documento, que o maior atraso relativo do Brasil se dá no pagamento de impostos,
dados a carga elevada e o emaranhado de regras dos tributos incidentes sobre o consumo.
Nesse quesito em particular, o país ocupa um trágico 184º lugar no ranking.
O caminho óbvio a seguir nesse caso é uma reforma ambiciosa, que racionalize essa modalidade
de taxação. Mesmo que não seja possível abrir mão de receitas, a simplificação já traria ganhos
substanciais em eficiência ao setor produtivo.
(Editorial, Folha de S.Paulo, 06.11.2018. Adaptado)
Assinale a alternativa em que a reescrita de passagem do texto está correta quanto à norma-pa-
drão de pontuação.
A) O Brasil, segundo a boa notícia, subiu 16 posições no ranking do Banco Mundial; se bem que,
ainda está na 109ª colocação, num total de 190 nações consideradas.
B) Quanto ao pagamento de impostos em particular, o Brasil, conforme o documento do Banco
Mundial, ocupa o 184º lugar no ranking, que abrange 190 nações.
C) México, Chile e Colômbia, apresentaram pouca ou nenhuma melhora mas são os países mais
bem posicionados da América Latina.
D) Considerando-se: a carga elevada e o emaranhado de regras dos tributos incidentes sobre o
consumo; o ranking do Banco Mundial deixa claro, que o maior atraso relativo do Brasil se dá no
252
pagamento de impostos.
E) O progresso brasileiro ocorreu, em quatro indicadores; fornecimento de energia elétrica, prazo
para abertura de empresa com registro eletrônico, acesso à informação de crédito e certificação
eletrônica de origem para importações.
Assassinos culturais
Sou um assassino cultural, e você também é. Sei que é romântico chorar quando uma livraria fe-
cha as portas. Mas convém não abusar do romantismo – e da hipocrisia. Fomos nós que matamos
aquela livraria e o crime não nos pesa muito na consciência.
Falo por mim. Os livros físicos que entram lá em casa são cada vez mais ofertas – de amigos ou
editoras.
Aos 20, quando viajava por territórios estranhos, entrava nas livrarias locais como um faminto na
capoeira. Comprava tanto e carregava tanto que desconfio que o meu problema de ciática é, na sua
essência, um problema livresco.
Hoje? Gosto da flânerie*. Mas depois, fotografo as capas com o meu celular antes de regressar
para o psicanalista – o famoso dr. Kindle. Culpado? Um pouco. E em minha defesa só posso
afirmar que pago pelos meus vícios.
E quem fala em livrarias, fala em todo o resto. Eu também ajudei a matar a Tower Records e a Virgin
Megastore. Havia lá dentro uma bizarria chamada CD – você se lembra?
Hoje, com alguns aplicativos, tenho uma espécie de discoteca de Alexandria onde, a meu bel-pra-
zer, escuto meus clássicos e descubro novos. Se juntarmos ao pacote o iTunes e a Netflix, você
percebe por que eu também tenho o sangue dos cinemas e dos blockbusters nas mãos.
Eis a realidade: vivemos a desmaterialização da cultura. Mas não é apenas a cultura que se des-
materializa e tem deixado as nossas salas e estantes mais vazias. É a nossa relação com ela.
Não somos mais proprietários de “coisas”; somos apenas consumidores e, palavra importante,
assinantes.
O livro “Subscribed”, de Tien Tzuo, analisa a situação. É uma reflexão sobre a “economia de as-
sinaturas” que conquista a economia global. Conta o autor que mais de metade das empresas da
famosa lista da “Fortune” já não existiam em 2017. O que tinham em comum? O objetivo meritório
de vender “coisas” – muitas coisas, para muita gente, como sempre aconteceu desde os primór-
dios do capitalismo.
Já as empresas que sobreviveram e as novas que entraram na lista souberam se adaptar à econo-
mia digital, vendendo serviços (ou, de forma mais precisa, acessos).
Claro que na mudança algo se perde. O desaparecimento das livrarias não acredito que seja total
no futuro (e ainda bem). Além disso, ler no papel não é o mesmo que ler na tela.
Mas o interesse do livro de Tzuo não está apenas nos números; está no retrato de uma nova gera-
ção para quem a experiência cultural é mais importante do que a mera posse de objetos.
Há quem veja aqui um retrocesso, mas também é possível ver um avanço – ou, para sermos bem
filosóficos, o triunfo do espírito sobre a matéria. E não será essa, no fim das contas, a vocação mais
autêntica da cultura?
253
(João Pereira Coutinho. Folha de S.Paulo, 28.08.2018. Adaptado)
Assinale a alternativa em que a pontuação foi empregada para separar a oração subordinada ad-
verbial.
A) Se juntarmos ao pacote o iTunes e a Netflix, você percebe por que eu também tenho o sangue
dos cinemas e dos blockbusters nas mãos.
B) E quem fala em livrarias, fala em todo o resto.
C) Havia lá dentro uma bizarria chamada CD – você se lembra?
D) Sou um assassino cultural, e você também é.
E) Eis a realidade: vivemos a desmaterialização da cultura.
Mundo arriscado
O próximo governo não encontrará um ambiente econômico internacional sereno. Dúvidas sobre
a continuidade do crescimento do Produto Interno Bruto global, juros em alta nos EUA, riscos de
conflitos comerciais e de queda do fluxo de capitais para países emergentes são apenas alguns
dos itens de um cardápio de problemas potenciais.
Tudo indica, assim, que o governo brasileiro terá de lidar de pronto com as fragilidades domésticas,
em especial o rombo das contas públicas. B) Não tardará até que investidores hoje aparentemente
otimistas comecem a cobrar resultados concretos.
As projeções para o avanço do PIB mundial têm sido reduzidas nos últimos meses. O Fundo Mone-
tário Internacional cortou sua previsão para 2018 e 2019 em 0,2 ponto percentual E) – 3,7% em am-
bos os anos – e apontou um cenário de menor sincronia entre os principais motores regionais. E)
Se até o início deste ano EUA, Europa e China davam sinais de vigor, agora acumulam-se decep-
ções nos dois últimos casos.
Mesmo com juros ainda perto de zero, a zona do euro não deverá crescer mais que 1,5% neste ano.
C) Há crescente insegurança no âmbito político, neste momento centrada na Itália e seu governo
de direita populista, que propõe expansão do déficit de um setor público já endividado em excesso.
Não é animador que a Comissão Europeia tenha tomado a decisão inédita de rejeitar a proposta
orçamentária da administração italiana. Embora o país ainda conserve o selo de bom pagador, os
juros cobrados no mercado para financiar sua dívida dispararam.
Quanto à China, sua economia mostra menos vigor, e as autoridades precisam tomar decisões
difíceis entre conter as dívidas já exageradas e estimular o crescimento.
O risco de escalada nos conflitos comerciais também é concreto, dado que o governo americano
ameaça impor uma terceira rodada de tarifas, desta vez sobre os US$ 270 bilhões em vendas
anuais chinesas que ainda não foram taxadas.
Nos EUA, a alta dos juros, num contexto de emprego elevado e inflação perto da meta, já leva parte
do mercado a temer uma desaceleração abrupta do PIB em 2019. A)
A vantagem do Brasil, hoje, é que há ampla ociosidade nas empresas, baixa inflação e, portanto,
254
espaço para uma retomada mais forte. D)
(Editorial. Folha de S.Paulo, 01.11.2018. Adaptado)
Assinale a alternativa em que a reescrita de passagem do texto está correta quanto à norma-pa-
drão de pontuação e mantém o sentido original.
A) Nos EUA, a alta dos juros, num contexto de emprego elevado e inflação perto da meta, já leva
parte do mercado a temer uma desaceleração abrupta do PIB em 2019. (9º parágrafo) = Num con-
texto de emprego elevado e inflação perto da meta, a alta dos juros, já leva parte do mercado a
temer uma desaceleração abrupta do PIB em 2019, nos EUA.
B) Tudo indica, assim, que o governo brasileiro terá de lidar de pronto com as fragilidades domés-
ticas, em especial o rombo das contas públicas. (2º parágrafo) = Assim, tudo indica, que o governo
brasileiro terá de lidar de pronto com as fragilidades domésticas, o rombo das contas públicas em
especial.
C) Mesmo com juros ainda perto de zero, a zona do euro não deverá crescer mais que 1,5% neste
ano. (5º parágrafo) = A zona do euro mesmo com juros ainda perto de zero, não deverá crescer
mais que 1,5% neste ano.
D) A vantagem do Brasil, hoje, é que há ampla ociosidade nas empresas, baixa inflação e, portanto,
espaço para uma retomada mais forte. (10º parágrafo) = Hoje, a vantagem do Brasil é que há
ampla ociosidade nas empresas, baixa inflação. Portanto, existe espaço para uma retomada mais
forte.
E) O Fundo Monetário Internacional cortou sua previsão para 2018 e 2019 em 0,2 ponto percentual
[...] e apontou um cenário de menor sincronia entre os principais motores regionais. (3º parágrafo)
= O Fundo Monetário Internacional que cortou sua previsão para 2018 e 2019 em 0,2 ponto percen-
tual, apontou um cenário de menor sincronia entre os principais motores regionais.
255
riqueza são pessoas. Quanto mais gente, melhor, já que são indivíduos que têm ideias (além de
consumir produtos) e são as novas ideias que vêm assegurando o brutal aumento de produtividade
a que assistimos nos últimos 200 anos.
E isso nos coloca diante de um dos grandes dilemas dos tempos modernos. Para assegurar a sus-
tentabilidade da exploração dos recursos naturais do planeta, precisaríamos estabilizar ou até
reduzir a população. Só que fazê-lo é uma espécie de suicídio econômico, já que ficaria muito
difícil manter taxas positivas de crescimento, sem as quais instituições como previdência e até
democracia representativa podem entrar em colapso.
(Hélio Schwartsman. Folha de S.Paulo. 18.11.2018. Adaptado)
Assinale a alternativa que reescreve as falas da tira preservando tanto o sentido do diálogo estabe-
lecido entre as personagens quanto o respeito à norma de pontuação.
A) Mesmo que se possa escolher, na web, o que é verdade e passá-la adiante, há notícias que se
afastam dos fatos.
B) Há fatos, que se aproximam do absurdo. Ainda que, uma notícia não conduza a uma única ver-
dade.
C) Só é possível, admitir certos absurdos nos noticiários quando a verdade passa a ser apenas
uma escolha, de quem lê.
D) Quando a verdade pode ser determinada, por quem reporta um fato, o noticiário, passa a ser
um absurdo.
E) A verdade é hoje, fruto da escolha. Assim, cada um imprime aos fatos, a versão que considerar
256
mais conveniente.
Vejo a literatura como um instrumento excepcional da nossa civilização. Ela ajuda a esclarecer o
mundo. Quem nós somos? Quem nós fomos? Lendo a Ilíada, você pode imaginar quais foram os
sentimentos de Aquiles ou de Príamo. Você se pergunta: “Por que esse fervor pela narrativa?”.
Porque o ser humano precisou narrar, para que os fatos da vida, da poética do cotidiano, não
desaparecessem. Enquanto o ser humano forjava a sua civilização, dava combate aos deuses e
procurava entender em que caos estava imerso, ele contava histórias. Para que nada se perdesse.
Não havia bibliotecas. No caso de Homero, os aedos – e quase podíamos intitulá-los os poetas da
memória – memorizavam tudo para que os fatos humanos não se perdessem. E, assim, a angústia
em relação à apreensão da vida real, o real humano, visível, intangível, esteve presente em todas
as civilizações. Nas nossas Américas, por exemplo, houve entre os incas uma categoria social, a
dos amautas, que tinha por finalidade única memorizar. Memorizar para que os povos não se es-
quecessem das suas próprias histórias. Quer dizer, a literatura não foi uma invenção dos escritores,
gosto muito de enfatizar isso. Foi uma invenção humana.
Milhões de pessoas já leram Dom Quixote. Milhões, em diferentes línguas. Mas é o mesmo livro
para diferentes leitores. Isso prova que a literatura dá visibilidade a quem somos, a nossos senti-
mentos mais secretos, mais obscuros, mais desesperados, às esperanças mais condicionais do ser
humano. E a literatura conta histórias porque os sentimentos precisam de uma história para que
você se dê conta deles. Então, a literatura pensou em dar conta de quem somos, dessa nossa
complexidade extraordinária. Porque somos seres fundamentalmente singulares. E, por isso, a
literatura é singular.
(Nélida Piñon. Uma invenção humana – depoimento ao escritor e jornalista José Castello. Rascunho nº 110. Curitiba: 2009. In http://
rascunho.com.br/wp-content/uploads/2012/02/ Book_Rascunho_110.pdf. Acesso em 15.11.18. Adaptado)
A alternativa que reescreve trecho do depoimento preservando tanto o sentido das reflexões apre-
sentadas como o respeito à norma-padrão de emprego da pontuação é:
A) Gosto muito de enfatizar, que a literatura não foi uma invenção dos escritores, mas uma inven-
ção humana.
B) A literatura, gosto muito de enfatizar isso, foi uma invenção humana, não tendo sido, uma inven-
ção dos escritores.
C) A literatura, gosto muito de enfatizar, não tendo sido invenção dos escritores, foi uma invenção
humana.
D) A literatura não foi o quê? Uma invenção dos escritores, gosto muito de enfatizar que foi uma
invenção humana.
E) A literatura, gosto muito de enfatizar. Foi uma invenção humana, não sendo portanto dos escri-
tores.
Médicos sempre ocuparam uma posição de prestígio na sociedade. Afinal, cuidar do maior bem do
indivíduo – a vida – não é algo trivial. Embora a finalidade do ofício seja a mesma, o modus operan-
di mudou drasticamente com o tempo.
O que se pode afirmar é que o foco da atuação médica deve ser cada vez menos o controle sobre
o destino do paciente e mais a mediação e a interpretação de tecnologias, incluindo a famigerada
inteligência artificial. Já o lado humanístico, que perdeu espaço para os exames e as máquinas,
tende a recuperar cada vez mais sua importância.
De meados do século 20 até agora, concomitantemente às novas especialidades, houve avanço
tecnológico e a proliferação de modalidades de exames. Cresceu o catálogo dos laboratórios e
também a dependência do médico em relação a exames. A impressão dos pacientes passou a ser
a de que o cuidado é ruim, caso o médico não os solicite.
O tema é caro a Jayme Murahovschi, referência em pediatria no país. “Tem que haver progressão
tecnológica, claro, mas mais importante que isso é a ligação emocional com o paciente. Hoje mé-
dicos pedem muitos exames e os pacientes também.”
Murahovschi está entre os que acreditam que a profissão está sofrendo uma nova reviravolta, qua-
se que voltando às origens clássicas, hipocráticas: “Os médicos do futuro, os que sobrarem, vão
ter que conhecer o paciente a fundo, dar toda a atenção que ele precisa, usando muita tecnologia,
mas com foco no paciente.”
Alguns profissionais poderão migrar para uma medicina mais técnica, preveem analistas.
Esses doutores teriam uma função diferente, atuando na interface entre o conhecimento biomédico
e a tecnologia por trás de plataformas de diagnóstico e reabilitação. Ou ainda atuariam alimentando
com dados uma plataforma de inteligência artificial, tornando-a mais esperta.
Outra tecnologia já presente é a telemedicina, que descentraliza a realização de consultas e exa-
mes. Clínicas e médicos generalistas podem, rapidamente e pela internet, contar com laudos de es-
pecialistas situados em diferentes localidades; uma junta médica pode discutir casos de pacientes
e seria possível até a realização, a distância, de consultas propriamente ditas, se não existissem
restrições do CFM nesse sentido.
Até cirurgias podem ser feitas a distância, com o advento da robótica. O tema continua fascinando
médicos e pacientes, mas, por enquanto, nada de droides médicos à la Star Wars – quem controla
o robô ainda é o ser humano.
(Gabriela Alves. Folha de S.Paulo, 19.10.2018. Adaptado)
No título do texto, a vírgula separa a expressão adverbial – Após avanços tecnológicos – da se-
quência do enunciado. A vírgula foi empregada com essa mesma função na alternativa:
a) O tema é caro a Jayme Murahovschi, referência em pediatria no país.
b) De meados do século 20 até agora, concomitantemente às novas especialidades...
c) Esses doutores teriam uma função diferente, atuando na interface entre conhecimento...
d) Outra tecnologia já presente é a telemedicina, que descentraliza a realização de consultas e
exames.
e) Alguns profissionais poderão migrar para uma medicina mais técnica, preveem analistas.
258
QUESTÃO 8: VUNESP - AUL (CM SERTÃOZINHO)/CM SERTÃOZINHO/INFORMÁTI-
CA/2019
Assunto: Pontuação (ponto, vírgula, travessão, aspas, parênteses etc)
É preciso levar a sério a filha de Marx, Eleanor, quando disse que seu pai “era o mais alegre e diver-
tido de todos os homens”. Em outubro de 1837, com apenas dezenove anos, o jovem Karl compôs
uma peça de teatro e um breve romance satírico, inacabados, nos quais ridiculariza e condena as
convenções burguesas, o moralismo filisteu, a aristocracia e o pedantismo intelectual.
Naquele ano, por indicação médica – pois adoecera por excesso de trabalho –, Marx deixou Berlim
e estabeleceu- se, para repousar, em Stralow, uma vila de pescadores. Mas, em vez do descanso,
optou por trabalhar intensamente. Foi nesse momento que escreveu as duas operetas contidas no
livrinho que a Boitempo oferece agora aos leitores brasileiros: Escorpião e Félix e Oulanem.
Essas pequenas obras remetem à atmosfera cultural da Alemanha no período posterior ao Con-
gresso de Viena, com a rejeição romântica do classicismo e a grande difusão da obra de Laurence
Sterne, principalmente do seu Tristram Shandy. Esse romance, publicado entre 1759 e 1767, cobre
de ridículo os estereótipos literários então dominantes. É dessa fonte literária, além de pitadas de E.
T. A. Hoffmann, que o jovem Karl bebe em seu romance Escorpião e Félix, dissolvendo os lugares
comuns narrativos num divertido desprezopela lisura formal do romance clássico. Já Oulanem é um
drama fantástico em versos, um suspense gótico. Na criação desse poema-tragédia, ambientado
numa aldeia na Itália, o jovem filósofo estava sob a influência dominante de Goethe e, sob essa
luz, delineava sua visão da história e sua ideia de que o mundo precisava ser completamente
revolucionado.
Esse Karl ainda não é o Marx que conhecemos melhor, mas são claros os indícios do futuro filósofo
materialista que despontam.
(Carlos Eduardo Ornelas Berriel. https://blogdaboitempo.com.br. Adaptado)
Tempo incerto
Os homens têm complicado tanto o mecanismo da vida que já ninguém tem certeza de nada: para
se fazer alguma coisa é preciso aliar a um impulso de aventura grandes sombras de dúvida. Não
se acredita mais na existência de gente honesta; e os bons têm medo de exercitarem sua bondade,
para não serem tratados de hipócritas ou de ingênuos.
259
Vivemos um momento em que a virtude é ridícula e os mais vis sentimentos se mascaram de gran-
diosidade, simpatia, benevolência. A observação do presente leva-nos até a descer dos exemplos
do passado: os varões ilustres de outras eras terão sido realmente ilustres? Ou a História nos está
contando as coisas ao contrário, pagando com dinheiros dos testemunhos a opinião dos escribas?
Se prestarmos atenção ao que nos dizem sobre as coisas que nós mesmos presenciamos – ou
temos que aceitar a mentira como a arte mais desenvolvida do nosso tempo, ou desconfiamos do
nosso próprio testemunho, e acabamos no hospício!
Pois assim, é, meus senhores! Prestai atenção às coisas que vos contam, em família, na rua, nos
cafés, em várias letras de forma, e dizei-me se não estão incertos os tempos e se não devemos
todos andar de pulga atrás da orelha!
Agora, pensam os patrões, os empregados, os amigos e inimigos de uns e de outros e todo o resto
da massa humana. E não só pensam, como também pensam que pensam! E além de pensarem
que pensam, pensam que têm razão! E cada um é o detentor exclusivo da razão!
Pois de tal abundância de razão é que se faz a loucura. E a vocação das pessoas, hoje em dia, não
é para o diálogo com ou sem palavras, mas para balas de diversos calibres. Perto disso, a carestia
da vida é um ramo de flores. O que anda mesmo caro é alma. E o Demônio passeia pelo mundo,
glorioso e imune.
(Cecília Meireles, Tempo incerto. Em: Escolha o seu Sonho. Adaptado)
O futuro do trabalho
260
É importante lembrar que, segundo pesquisadores, haverá em poucos anos a extinção de profis-
sões e de tarefas dentro de várias ocupações, diante da automação e da robotização aceleradas.
Outras serão criadas, demandando, porém, competências distintas das que estavam em alta até
pouco tempo. O cenário exige grande investimento nas pessoas. Por isso, o relatório clama por
uma agenda econômica centrada em seres humanos, especialmente uma ampliação em suas
capacidades.
Isso envolve trabalhar com o conceito de aprendizagem ao longo da vida, ou seja, desde a primeira
infância, a fim de desenvolver competências basilares, necessárias para promover autonomia
para que todos possam aprender a aprender.
Afinal, numa vida em que tarefas vão sendo extintas e assumidas por máquinas, teremos que nos
reinventar continuamente, passando a desempenhar atividades que demandam capacidade de
resolução criativa e colaborativa de problemas complexos, reflexão crítica e maior profundidade de
análise.
Teremos também que contar com um ecossistema educacional que inclua modalidades ágeis de
cursos para capacitação, recapacitação e requalificação. A certificação de conhecimentos previa-
mente adquiridos ganha força e sentido de urgência, além de um investimento maior em escolas
técnicas e profissionais que fomentem a aquisição das competências necessárias não só para
exercer uma profissão específica, mas também para obter outra rapidamente, se necessário.
(Claudia Costin. Folha de S.Paulo, 25.01.2019. Adaptado)
Assinale a alternativa em que, após a inserção das vírgulas, a frase do texto estará em conformida-
de com a norma-padrão da língua portuguesa.
A) ... uma visão centrada, em políticas públicas, para enfrentar desafios que o século trouxe para
a humanidade.
B)... programas para evitar, o crescimento da desigualdade, e melhorar a preparação das gerações
futuras...
C)... haverá, em poucos anos, a extinção de profissões e de tarefas dentro de várias ocupações...
D) Teremos também que contar, com um ecossistema educacional, que inclua modalidades ágeis
de cursos para capacitação...
E) A certificação de, conhecimentos previamente adquiridos, ganha força e sentido de urgência...
Essa é a frase que mais tenho ouvido recentemente. Passada a euforia de uma notícia qualificada
como “bomba”, logo os atores de uma das partes corriam a público para disponibilizar a íntegra
daquilo que antes foi veiculado em partes.
É preciso saber de tudo e entender de tudo. É preciso tirar as próprias conclusões para não depen-
der de ninguém, e é esse o grande e contraditório imperativo dos nossos tempos. É uma ordem a
uma experimentação libertária, e uma quase contradição do termo. O imperativo que liberta tam-
bém aprisiona: você só passa a ser, ou a pertencer, se tiver uma conclusão. Sobre qualquer coisa.
Nas últimas décadas psicanalistas se debruçaram sobre as mudanças nos arranjos produtivos e
sociais de cada período histórico para compreender e nomear as formas de sofrimento decorrentes
261
delas. A revolução industrial, a divisão social do trabalho, a urbanização desenfreada e as guerras,
por exemplo, fizeram explodir o número de sujeitos impacientes, irritadiços e perturbados com a
velocidade das transformações e suas consequentes perdas de referências simbólicas.
Pensando sobre o imperativo “Leia/Veja/Assista” e “Tire suas próprias conclusões”, começo a des-
confiar de que estamos diante de uma nova forma de sofrimento relacionado a um mal-estar ainda
não nomeado.
Afinal, que tipo de sujeito está surgindo de nossa nova organização social? O que a vida em rede
diz sobre as formas como nos relacionamos com o mundo? Que tipos de valores surgem dali? E,
finalmente, que tipo de sofrimento essa vida em rede tem causado?
Vou arriscar e sair correndo, já sob o risco de percorrer um campo que não é meu: estamos vendo
surgir o sujeito preso à ideia da obrigação de ter algo a dizer. Ao longo dos séculos essa angústia
era comum aos chamados formadores de opinião e artistas, responsáveis por reinterpretar o mun-
do. Hoje basta ter um celular com conexão 3G para ser chamado a opinar sobre qualquer coisa.
Pensamos estar pensando mesmo quando estamos apenas terceirizando convicções ao comparti-
lhar aquilo que não escrevemos.
É uma nova versão de um conflito descrito por Clarice Lispector a respeito da insuficiência da lin-
guagem. Algo como: “Não só não consigo dizer o que penso como o que penso passa a ser o que
digo”. Se vivesse nas redes que atribuem a ela frases que jamais disse, o “dizer” e o “pensar” teriam
a interlocução de um outro verbo: “compartilhar”.
(Matheus Pichonelli, Carta Capital. 18.03.2016. www.cartacapital.com.br. Adaptado)
A passagem do texto que, após o acréscimo da vírgula, está de acordo com a norma-padrão é:
A) Essa é a frase que, mais tenho ouvido recentemente. (1º parágrafo)
B) É preciso tirar as próprias conclusões, para não depender de ninguém… (2º parágrafo)
C) Nas últimas décadas psicanalistas se debruçaram, sobre as mudanças nos arranjos produtivos
e sociais de cada período histórico... (3º parágrafo)
D) Ao longo dos séculos essa angústia era comum aos chamados, formadores de opinião e artis-
tas, responsáveis por reinterpretar o mundo. (6º parágrafo)
E) Hoje basta ter um celular com conexão 3G para ser chamado, a opinar sobre qualquer coisa. (6º
parágrafo)
Pela primeira vez na história de nossa espécie, foi-nos oferecida a possibilidade de comer à larga
em todas as refeições e de ganhar a vida sentados o dia inteiro.(A) Obesidade e sedentarismo se
tornaram as principais epidemias nos países de renda média e alta(B), nos quais a praga mortífera
do tabagismo começa a ser a duras penas controlada.
Na esteira dessas duas pandemias, caminham a passos apressados hipertensão arterial, diversos
tipos de câncer, diabetes, doenças cardiovasculares, problemas ortopédicos, articulares, renais e
outras complicações que sobrecarregam o sistema de saúde, encarecem o atendimento e fazem
sofrer milhões de pessoas. Nas capitais, 19% dos brasileiros adultos estão obesos e outros 35%
têm sobrepeso, ou seja, menos da metade da população cai na faixa do peso considerado saudá-
262
vel.
Na contramão de outros ramos da economia, a incorporação de tecnologia na área médica aumen-
ta o custo do produto final. A assistência a uma população que envelhece mal como a brasileira
exigirá recursos de que não dispomos no SUS nem na saúde suplementar(C).
Esperar as pessoas adoecerem para tratá-las em hospitais e unidades de pronto atendimento(D) é
política suicida. Não há saída: ou investimos na prevenção ou, cada vez mais, só os privilegiados
terão acesso à medicina moderna.
Nos anos 1960, cerca de 60% dos nossos adultos fumavam, hoje não passam de 10%. Se con-
seguimos resultado tão impressionante com a dependência química mais feroz que a medicina
conhece(E), não é impossível convencer mulheres, crianças e homens a comer um pouco menos
e a andar míseros 40 minutos num dia de 24 horas.
(Drauzio Varella. Folha de S. Paulo, 11.11.2018. www.folha.uol.com.br. Adaptado)
Assinale a alternativa em que, com a introdução das vírgulas, o trecho do texto está em conformi-
dade com a norma- padrão de pontuação, embora com sentido original ligeiramente alterado.
A) ... foi-nos oferecida, a possibilidade de comer à larga, em todas as refeições e de ganhar a vida
sentados o dia inteiro.
B) Obesidade e sedentarismo se tornaram, as principais epidemias, nos países de renda média e
alta...
C) A assistência a uma população que envelhece mal, como a brasileira, exigirá recursos de que
não dispomos no SUS nem na saúde suplementar.
D) Esperar as pessoas, adoecerem para tratá-las em hospitais, e unidades de pronto atendimento...
E) Se conseguimos, resultado tão impressionante, com a dependência química mais feroz que a
medicina conhece...
Página infeliz
O mercado editorial no Brasil nunca pareceu tão próximo de uma catástrofe – com as duas prin-
cipais redes de livrarias do país, Saraiva e Cultura, em uma crise profunda, reduzindo o número
de lojas e com dívidas que parecem sem fim.
Líder do mercado, a Saraiva, que já acumula atrasos de pagamentos a editores nos últimos anos,
anunciou nesta semana o fechamento de 20 lojas. Em nota, a rede afirma que a medida tem a ver
com “desafios econômicos e operacionais”, além de uma mudança na “dinâmica do varejo”.
Na semana anterior, a Livraria Cultura entrou em recuperação judicial. No pedido à Justiça, a rede
afirma acumular prejuízos nos últimos quatro anos, ter custos que só crescem e vendas menores.
Mesmo assim, diz a petição enviada ao juiz, não teria aumentado seus preços.
O enrosco da Cultura está explicado aí. Diante da crise, a empresa passou a pegar dinheiro em-
prestado com os bancos – o tamanho da dívida é de R$ 63 milhões. Com os atrasos nos paga-
mentos das duas redes, editoras já promoveram uma série de demissões ao longo dos últimos dois
anos.
O cenário de derrocada, contudo, parece estar em descompasso com os números de vendas.
Desde o começo do ano, os dados compilados pela Nielsen, empresa de pesquisa de mercado,
263
levantados a pedido do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, mostravam que o meio livreiro
vinha dando sinais de melhoras pela primeira vez, desde o início da recessão econômica que abala
o país.
Simone Paulino, da Nós, editora independente de São Paulo, enxerga um descompasso entre as
vendas em alta e a crise. Nas palavras dela, “um paradoxo assustador.” A editora nunca vendeu
tanto na Cultura quanto nesses últimos seis meses”, diz. E é justamente nesse período que eles
não têm sido pagos.
“O modelo de produção do livro é muito complicado. Você investe desde a compra do direito autoral
ou tradução e vai investindo ao longo de todo o processo. Na hora que você deveria receber, esse
dinheiro não volta”, diz Paulino.
“Os grandes grupos têm uma estrutura de advogados que vão ter estratégia para tentar receber. E
para os pequenos? O que vai acontecer?”
Mas há uma esperança para os editores do país: o preço fixo do livro. Diante do cenário de crise, a
maior parte dos editores aposta em uma carta tirada da manga no apagar das luzes do atual gover-
no – a criação, no país, do preço fixo do livro – norma a ser implantada por medida provisória – nos
moldes de boa parte de países europeus, como França e Alemanha.
Os editores se inspiram no pujante mercado europeu. Por lá, o preço fixo existe desde 1837, quan-
do a Dinamarca criou a sua lei limitando descontos, abolida só em 2001. A crença é a de que a
crise atual é em parte causada pela guerra de preço. Unificar o valor de capa permitiria um flores-
cimento das livrarias independentes, uma vez que elas competiriam de forma mais justa com as
grandes redes.
(Folha de S. Paulo, 03.11.2018. Adaptado)
Assinale a alternativa em que as duas primeiras barras da frase devem ser substituídas por vírgu-
las, e a terceira, por dois-pontos.
a) Na tentativa de recuperar/ o mercado livreiro os editores se inspiram no mercado europeu para
adotar lei criada/ na Dinamarca/ a fixação do preço fixo do livro.
b) Na tentativa de recuperar o mercado livreiro os editores/ se inspiram no mercado europeu/ para
adotar lei criada na Dinamarca/ a fixação do preço fixo do livro.
c) Na tentativa de recuperar o mercado livreiro os editores/ se inspiram no mercado europeu para
adotar/ lei criada na Dinamarca/ a fixação do preço fixo do livro.
d) Na tentativa de recuperar o mercado livreiro/ os editores se inspiram no mercado europeu/ para
adotar lei criada na Dinamarca/ a fixação do preço fixo do livro.
e) Na tentativa/ de recuperar o mercado livreiro os editores se inspiram/ no mercado europeu para
adotar lei criada na Dinamarca/ a fixação do preço fixo do livro.
As palavras e as coisas
Confesso que, de início, não acreditava que Moana, aos 9 anos, pudesse se interessar pela leitura
da versão integral do clássico de J.R.R. Tolkien, O Hobbit. É verdade que se trata de uma aventura
povoada por magos e repleta de objetos encantados. Mas é um romance longo, com descrições
densas e vocabulário sofisticado. Para minha surpresa, no entanto, seu envolvimento com a obra
264
crescia a cada noite que a líamos juntos.
Ao terminarmos a leitura do décimo capítulo, Moana não me desejou boa-noite. Com olhos ainda
despertos, me perguntou se não podíamos comentar aquilo que mais havia agradado até então.
Pensei que o pedido não passasse de mais uma de suas estratégias para adiar a hora de dormir.
Recusei, mas ela argumentou: “Não é assim que vocês fazem, você e a mamãe, quando leem
Arendt e Paul Ricoeur em seus grupos de estudos?”. Jamais imaginara que, quando a levamos a
esses encontros – premidos por alguma necessidade – ela pudesse prestar qualquer atenção ao
que se passava. Sempre a via absorta em suas tarefas, desenhos e leituras. Mas, em seu silêncio,
ela se dava conta do sentido de uma leitura partilhada.
Falamos, então, das transformações que ocorreram no personagem central, que abandonara sua
vida confortável e pacata de hobbit, para se tornar um aventureiro épico. Mas foi só no dia se-
guinte que percebi a profundidade contida em seu pedido para que partilhássemos as impressões
de nossas leituras. Lembrei-me de uma bela passagem de Homens em tempos sombrios, na qual
Hannah Arendt afirma que o “mundo não é humano simplesmente por ter sido feito por mãos hu-
manas, nem se torna humano meramente porque a voz humana nele ressoa. Por mais afetados
que sejamos pelas coisas do mundo [como um livro], por mais profundamente que elas possam
nos instigar e estimular, essas coisas só se tornam humanas para nós quando podemos discuti-las
com nossos companheiros”.
É porque a fala humaniza as obras que gostamos tanto de comentar um filme, de compartilhar a
interpretação de um livro ou fazer uma refeição com nossos amigos. São as expressões do discur-
so humano que transformam uma coisa – como um livro – em objeto de um legado simbólico que
nos humaniza.
Na escola, é por meio das trocas discursivas entre professores e alunos que um romance ou um
programa computacional deixam de ser coisas inertes para se transformarem em objetos que de-
sempenham uma função educativa e, assim, adquirem seu sentido humanizador. São as palavras
– e não as coisas – que conferem sentido às experiências humanas.
(José Sérgio Fonseca de Camargo, “As palavras e as coisas”. Em: http://www.revistaeducacao.com.br. Adaptado)
Na passagem “… pela leitura da versão integral do clássico de J.R.R. Tolkien, O Hobbit.”, a vírgula
é empregada porque a expressão “O Hobbit” especifica o sentido da informação anterior, que é
mais amplo – clássico de J.R.R. Tolkien. Esse mesmo uso da vírgula está presente na passagem:
a) Para minha surpresa, no entanto, seu envolvimento com a obra crescia a cada noite que a lía-
mos juntos.
b) Ao terminarmos a leitura do décimo capítulo, Moana não me desejou boa-noite.
c) “Não é assim que vocês fazem, você e a mamãe, quando leem Arendt e Paul Ricoeur em seus
grupos de estudos?”.
d) Na escola, é por meio das trocas discursivas entre professores e alunos que um romance ou
um programa computacional deixam de ser coisas inertes…
e) … para se transformarem em objetos que desempenham uma função educativa e, assim, ad-
quirem seu sentido humanizador.
265
A arte mostra-se presente na história da humanidade desde os tempos mais remotos. Sem dúvida,
ela pode ser considerada como sendo uma necessidade de expressão do ser humano, surgindo
como fruto da relação homem/mundo. Por meio da arte a humanidade expressa suas necessida-
des, crenças, desejos, sonhos. Todos têm uma história, que pode ser individual ou coletiva. As
representações artísticas nos oferecem elementos que facilitam a compreensão da história dos
povos em cada período.
(Rosane K. Biesdorf e Marli F. Wandscheer. Arte, uma necessidade humana: função social e educativa. Itinerarius re-
flectionis.)
Assinale a alternativa em que o período do texto está repontuado em conformidade com a norma-
-padrão da língua.
a) A arte mostra-se, presente na história da humanidade, desde os tempos mais remotos.
b) Sem dúvida ela pode ser considerada, como sendo uma necessidade, de expressão do ser
humano, surgindo como fruto da relação homem/mundo.
c) Por meio da arte, a humanidade expressa suas necessidades, crenças, desejos, sonhos.
d) Todos têm uma história que, pode ser individual, ou coletiva.
e) As representações artísticas, nos oferecem elementos que facilitam, a compreensão da história
dos povos, em cada período.
A arte de educar
Educar é mostrar a vida a quem ainda não a viu. O educador diz: “Veja!” e, ao falar, aponta. O
aluno olha na direção apontada e vê o que nunca viu. Seu mundo se expande. Ele fica mais rico
interiormente… E ficando mais rico interiormente ele pode sentir mais alegria – que é a razão pela
qual vivemos.
Já li muitos livros sobre Psicologia da Educação, Sociologia da Educação, Filosofia da Educação…
Mas, por mais que me esforce, não consigo me lembrar de qualquer referência à Educação do
Olhar. Ou à importância do olhar na educação, em qualquer um deles.
A primeira tarefa da Educação é ensinar a ver… É através dos olhos que as crianças tomam con-
tato com a beleza e o fascínio do mundo… Os olhos têm de ser educados para que nossa alegria
aumente.
A educação se divide em duas partes: Educação das Habilidades e Educação das Sensibilidades.
Sem a Educação das Sensibilidades, todas as habilidades são tolas e sem sentido. Os conheci-
mentos nos dão meios para viver. A sabedoria nos dá razões para viver.
Quero ensinar às crianças. Elas ainda têm olhos encantados. Seus olhos são dotados daquela
qualidade que, para os gregos, era o início do pensamento: a capacidade de se assombrar diante
do banal.
Para as crianças tudo é espantoso: um ovo, uma minhoca, uma concha de caramujo, o voo
dos urubus, os pulos dos gafanhotos, uma pipa no céu, um pião na terra. Coisas que os eru-
ditos não veem.
266
Na escola eu aprendi complicadas classificações botânicas, taxonomias, nomes latinos – mas es-
queci. E nenhum professor jamais chamou a minha atenção para a beleza de uma árvore… Ou
para o curioso das simetrias das folhas. Parece que naquele tempo as escolas estavam mais preo-
cupadas em fazer com que os alunos decorassem palavras que com a realidade para a qual elas
apontam.
As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor. Aprendemos palavras para me-
lhorar os olhos. Há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem… O ato de ver não é coisa
natural. Precisa ser aprendido. Quando a gente abre os olhos, abrem-se as janelas do corpo e o
mundo aparece refletido dentro da gente. São as crianças que, sem falar, nos ensinam as razões
para viver. Elas não têm saberes a transmitir. No entanto, elas sabem o essencial da vida. Quem
não muda sua maneira adulta de ver e sentir e não se torna como criança, jamais será sábio.
(Disponível em:< https://psicologiaacessivel.net>.Acesso em: 18.11.2018)
Observe a pontuação do trecho destacado. É correto afirmar que, nele, os dois-pontos anunciam
a) uma enumeração de elementos independentes no sentido e com diferentes funções, separados
por vírgulas.
b) uma síntese do que foi mencionado anteriormente; as vírgulas separam elementos dessa sín-
tese, em sequência.
c) expressões que estão resumidas no pronome “tudo”; as vírgulas separam elementos que exer-
cem a mesma função no enunciado.
d) sequência de elementos, separados por vírgulas, os quais têm a função de expor contradições
de sentido entre uns outros.
e) informações que especificam o termo “crianças”, enunciado anteriormente; as vírgulas isolam
essas informações com função enumerativa.
As reticências e as aspas estão respectivamente empregadas na frase da tira para indicar que o
personagem
A) interrompe brevemente a fala antes de mencionar a consequência dos fatos; e para ressaltar a
incoerência expressa pela palavra choques.
B) interrompe brevemente a fala antes de mencionar a consequência dos fatos; e para ressaltar o
duplo sentido da palavra choques.
C) interrompe a fala motivado por incertezas; e para ressaltar o sentido irônico atribuído à palavra
choques.
D) interrompe a fala motivado por incertezas; e para ressaltar o sentido literal da palavra choques.
E) interrompe a fala para criar suspense para o interlocutor; e para ressaltar o sentido impreciso
267
dado à palavra choques.
Os millennials – pessoas que têm, hoje, entre 18 e 35 anos –, também conhecidos por Geração
Y, têm impactado a forma de a sociedade consumir. Esse grupo, cuja maioria trabalha ou estuda,
além de ser engajada em causas sociais e ambientais, segundo levantamento da startup de pes-
quisas MindMiners, deve atingir seu auge em 2020.
Os objetos de desejo desses indivíduos variam de acordo com a classe social. Segundo a sociólo-
ga e pesquisadora da Antenna Consultoria e Pesquisa, Marilene Pottes, enquanto as mais baixas
priorizam bens duráveis e conforto, as mais altas – que contam com maior suporte financeiro dos
pais – valorizam vivências.
Embora os especialistas concordem que esse público é exigente e autêntico, há divergências sobre
o recorte exato das idades. Uma pesquisa do Statista, portal alemão líder de estatísticas inter-
nacionais na internet, por exemplo, considera consumidores que eram adolescentes na virada do
milênio. Já a empresa de pesquisas Kantar Worldpanel abrange pessoas nascidas de 1979 a 1996.
Outro contorno engloba nascidos no início dos anos 80 até meados de 90: nesse caso, teriam re-
cebido a denominação de millennials por atingirem idade de discernimento a partir dos anos 2000,
ou se tornarem consumidores na época. Esses jovens se reconhecem como trabalhadores e ambi-
ciosos. Apesar disso, uma grande parte ainda mora com os pais ou outros parentes, dependendo
financeiramente da família.
– É uma geração que pôde estudar mais e ingressar no mercado de trabalho mais tarde. Alguns os
consideram mimados, mas, na verdade, eles apenas não querem aceitar qualquer tipo de traba-
lho – explica a gerente de marketing da MindMiners, Danielle Almeida.
A Bridge Research também fez um estudo sobre os hábitos desses jovens adultos:
– Essas pessoas são multitarefas, conseguem trabalhar olhando para o celular, por exemplo. Tam-
bém são menos leais a marcas do que pessoas de outras idades – destaca Renato Trindade,
diretor da empresa de pesquisa. Para o professor da FGV, Roberto Kanter, a principal razão de
agradar à geração Y é seu inédito poder de influência:
– Devido às mídias sociais, os consumidores, e não mais os meios de comunicação, têm sido a
Assinale a alternativa em que as vírgulas são empregadas com a mesma função do travessão du-
plo na passagem – ...enquanto as mais baixas priorizam bens duráveis e conforto, as mais altas
– que contam com maior suporte financeiro dos pais – valorizam vivências.
A) Essas pessoas são multitarefas, conseguem trabalhar olhando para o celular, por exemplo.
B) Alguns os consideram mimados, mas, na verdade, eles apenas não querem aceitar qualquer tipo
de trabalho.
C) Uma pesquisa do Statista, portal alemão líder de estatísticas internacionais na internet, por
exemplo, considera consumidores que eram adolescentes na virada do milênio.
D) ... nesse caso, teriam recebido a denominação de millennials por atingirem idade de discerni-
mento a partir dos anos 2000, ou se tornarem consumidores na época.
268
E) Apesar disso, uma grande parte ainda mora com os pais ou outros parentes, dependendo finan-
ceiramente da família.
Destruindo Riqueza
A economia cresce encontrando soluções, em geral tecnológicas, para reduzir ineficiências e, nes-
se processo, libera mão de obra.
Um exemplo esclarecedor é o do emprego agrícola nos EUA. Até 1800, a produção de alimentos
exigia o trabalho de 95% da população do país. Em 1900, a geração de comida para uma população
já bem maior mobilizava 40% da força de trabalho e, hoje, essa proporção mal chega a 3%. Quem
abandonou a roça foi para cidades, integrando a força de trabalho da indústria e dos serviços.
Esse processo pode ser cruel para com indivíduos que ficam sem emprego e não conseguem se
reciclar, mas é dele que a sociedade extrai sua prosperidade. É o velho fazer mais com menos.
A internet, com sua incrível capacidade de conectar pessoas, abriu novos veios de ineficiências a
eliminar. Se você tem um carro e não é chofer de praça nem caixeiro viajante, ele passa a maior
parte do dia parado, o que é uma ineficiência. Se você tem um imóvel vago ou mesmo um dor-
mitório que ninguém usa, está sendo improdutivo. O mesmo vale para outros apetrechos que
você possa ter, mas são subutilizados. Os aplicativos de compartilhamento, ao ligar de forma ins-
tantânea demandantes a ofertantes, permitem à sociedade fazer muito mais com aquilo que já foi
produzido (carros, prédios, tempo disponível etc.), que é outro jeito de dizer que ela fica mais rica.
É claro que isso só dá certo se não forem criadas regulações desnecessárias que embaracem os
acertos voluntários entre as partes. A burocratização da oferta de serviços de aplicativos torna-os
indistinguíveis. Dá para descrever isso como a destruição de riqueza.
(Hélio Schwartsman. Folha de S.Paulo. 31.10.2017. Adaptado)
Assinale a alternativa em que a reescrita da frase “A internet, com sua incrível capacidade de co-
nectar pessoas, abriu novos veios de ineficiências a eliminar” permanece coerente com as ideias
do texto e correta quanto à pontuação, de acordo com a norma-padrão da língua.
a) Com sua incrível capacidade de conectar pessoas, a internet abriu novos veios de ineficiências
a eliminar.
b) Com sua incrível capacidade de conectar pessoas a internet, abriu novos veios de ineficiências
a eliminar.
c) Com sua incrível capacidade de conectar pessoas a internet abriu, novos veios de ineficiências
a eliminar.
d) Com sua incrível capacidade de conectar pessoas a internet abriu novos, veios de ineficiências
a eliminar.
e) Com sua incrível capacidade de conectar pessoas a internet abriu novos veios, de ineficiências
a eliminar.
270
QUESTÃO 21: VUNESP - PROF (SME BARRETOS)/PREF BARRETOS/I/2018
Assunto: Pontuação (ponto, vírgula, travessão, aspas, parênteses etc)
Leia o texto para responder à questão.
Black Friday? Levantamento feito pela Folha* mostrou que boa parte dos “descontos” oferecidos
nesta sexta-feira não passa de manipulações até meio infantis de preços, com o objetivo de iludir
o consumidor.
Antes, porém, de imprecar contra a ganância dos capitalistas, convém perguntar se os consumi-
dores não desejam ser enganados. E há motivos para acreditar que pelo menos uma parte deles
queira.
No recém-lançado Dollars and Sense (dinheiro e juízo), Dan Ariely e Jeff Kreisler relatam um expe-
rimento natural que mostra que pessoas podem optar por ser “ludibriadas” voluntariamente e que,
em algum recôndito do cérebro, isso faz sentido.
A JCPenney é uma centenária loja de departamentos dos EUA que se celebrizou por jogar seus
preços na lua para depois oferecer descontos “irresistíveis”. Ao fim e ao cabo, os preços efetiva-
mente praticados estavam em linha com os da concorrência, mas os truques utilizados proporcio-
navam aos consumidores a sensação, ainda que ilusória, de ter feito um bom negócio, o que lhes
dava prazer.
Em 2012, o então novo diretor executivo da empresa Ron Johnson, numa tentativa de moderni-
zação, resolveu acabar com a ginástica de remarcações e descontos e adotar uma política de
preços “justa e transparente”.
Os clientes odiaram. Em um ano, a companhia perdera US$ 985 milhões e Johnson ficou sem
emprego. Logo em seguida, a JCPenney remarcou os preços de vários de seus itens em até 60%
para voltar a praticar os descontos irresistíveis. Como escrevem Ariely e Kreisler, “os clientes da
JCPenney votaram com suas carteiras e escolheram ser manipulados”.
Num mundo em que o cliente sempre tem razão, não é tão espantoso que empresas se dediquem
a vender-lhe as fantasias que deseja usar, mesmo que possam ser desmascaradas com um clique
de computador.
* Jornal Folha de São Paulo
(‘Caveat emptor’. Hélio Schwartsman. http://www1.folha.uol.com.br/ colunas/helioschwartsman/2017/11/1937658-caveat-emptor.shtml
24.11.2017. Adaptado)
Assinale a alternativa em que a frase reescrita está correta quanto ao emprego da vírgula, confor-
me a norma-padrão da língua.
A) Não é tão espantoso que, num mundo, em que o cliente sempre tem razão, empresas se dedi-
quem a vender-lhe as fantasias que deseja usar, mesmo que possam ser desmascaradas...
B) Não é tão espantoso que, num mundo em que o cliente, sempre tem razão, empresas se dedi-
quem a vender-lhe as fantasias que deseja usar, mesmo que possam ser desmascaradas...
C) Não é tão espantoso que, num mundo em que o cliente sempre tem razão, empresas se dedi-
271
quem a vender-lhe, as fantasias que deseja usar, mesmo que possam ser desmascaradas...
D) Não é tão espantoso que, num mundo em que o cliente sempre tem razão, empresas se dedi-
quem a vender-lhe as fantasias que deseja usar, mesmo que possam ser desmascaradas...
E) Não é tão espantoso que num mundo em que, o cliente sempre tem razão, empresas se dedi-
quem a vender-lhe, as fantasias que deseja usar, mesmo que possam ser desmascaradas...
O sociólogo Pierre Bourdieu foi meu grande guru. Ele mostrou como a linguagem é usada como
instrumento de poder na sociedade. Portanto, é importante dar às pessoas esse instrumento. As
camadas populares têm que lutar muito contra a discriminação e a injustiça, e a linguagem é um
instrumento fundamental. Alfabetização e letramento têm esse objetivo: dar às pessoas o domínio
da língua como instrumento de inserção na sociedade e de luta por direitos fundamentais. Em rela-
ção à língua escrita, a criança tem que aprender duas coisas. Uma é o sistema de representação,
que é o sistema alfabético. Esse é um processo que trabalha determinadas operações cognitivas
e tem que levar em conta as características do sistema alfabético, é saber decodificar o que está
escrito, ou codificar o que deseja escrever. Mas isso deve ser feito em contexto de letramento, com
textos reais, não com o clássico exemplo “Eva viu a uva”. Que Eva? Que uva? Tradicionalmente a
alfabetização se resumia a codificar e decodificar, porque o foco era a criança aprender apenas o
código. Mas a questão é que a criança precisa aprender o código sabendo para o que ele serve.
A escrita é uma tecnologia como outras. É importante aprender a escrever, conhecer a relação fo-
nema-letra, saber que se escreve de cima para baixo, da esquerda para a direita, aprender as
convenções da escrita. Mas essa tecnologia, como toda tecnologia, só tem sentido para ser usada:
para saber interpretar textos, fazer inferências, ler diferentes gêneros, o que significa outra coisa
e exige outras habilidades e competências. Aprender o sistema de escrita é alfabetização. Aprender
os usos sociais do sistema de escrita é letramento.
(http://revistapesquisa.fapesp.br. Adaptado)
272
QUESTÃO 23: VUNESP - CI (PAULIPREV)/PAULIPREV/2018
Assunto: Pontuação (ponto, vírgula, travessão, aspas, parênteses etc)
Leia o texto para responder à questão.
Psiquiatras em pé de guerra
Assinale a alternativa em que a reescrita do trecho está de acordo com a norma-padrão de pontua-
ção e conserva o sentido original do texto.
a) Reforçada em 2017 a ideia da regra, é evitar diagnósticos pela TV, bem como tornar mais ro-
busta, a separação entre psiquiatria e política.
b) A regra, cuja ideia é evitar diagnósticos pela TV, bem como tornar mais robusta a separação
entre psiquiatria e política, foi reforçada em 2017.
c) Foi reforçada em 2017, a regra que tem, a finalidade de evitar diagnósticos pela TV, bem como
273
tornar mais robusta a separação entre psiquiatria e política.
d) Em 2017, foi reforçada a regra cuja ideia, é evitar diagnósticos pela TV, bem como tornar mais
robusta a separação entre psiquiatria e política.
e) A regra que tem a finalidade, de evitar diagnósticos pela TV, bem como tornar mais robusta a
separação entre psiquiatria e política foi reforçada, em 2017.
Nunca o mais forte o é tanto para ser sempre senhor, se não converte a força em direito, e em dever
a obediência; eis donde vem o direito do mais forte, direito que irônica e aparentemente se tomou,
e na realidade se estabeleceu em princípios. A força é um poder físico, não imagino qual moralida-
de possa resultar de seus efeitos; ceder à força é ato preciso, e não voluntário, ou quando muito
prudente: em que sentido pode ser uma obrigação?
Suponhamos por um momento esse pretendido direito. Eu afirmo que dele só dimana o caos inex-
plicável; pois logo que a força faz o direito, com a causa muda o efeito, e toda força que excede
a primeira toma o lugar de direito dela. Logo que a salvo podes desobedecer, legitimamente o fa-
zes, e, como tem sempre razão o mais forte, tratemos só de o ser. Qual é, pois, o direito que resta,
quando cessa a força? Se por força cumpre obedecer, desnecessário é o direito; e se não somos
forçados a obedecer, que obrigação nos resta de o fazer? Logo, está claro que a palavra direito
nada ajunta à força, e não tem aqui significação alguma.
(Jean-Jacques Rousseau. Do contrato social. Adaptado)
Assinale a alternativa em que a vírgula é utilizada segundo o mesmo princípio que determina seu
emprego na passagem “Logo que a salvo podes desobedecer, legitimamente o fazes...”
a) ... eis donde vem o direito do mais forte, direito que irônica e aparentemente se tomou...
b) ... ceder à força é ato preciso, e não voluntário...
c) ... com a causa muda o efeito, e toda força que excede a primeira toma o lugar de direito dela...
d) Se por força cumpre obedecer, desnecessário é o direito...
e) Logo, está claro que a palavra direito nada ajunta à força...
274
Vamos partir de uma situação que grande parte de nós já vivenciou. Estamos saindo do cinema,
depois de termos visto uma adaptação de um livro do qual gostamos muito. Na verdade, até que
gostamos do filme também: o sentido foi mantido, a escolha do elenco foi adequada, e a trilha so-
nora reforçou a camada afetiva da narrativa. Por que então sentimos que algo está fora do lugar?
Que está faltando alguma coisa?
O que sempre falta em um filme sou eu. Parto dessa ideia simples e poderosa, sugerida pelo teórico
Wolfgang Iser em um de seus livros, para afirmar que nunca precisamos tanto ler ficção e poesia
quanto hoje, porque nunca precisamos tanto de faíscas que ponham em movimento o mecanismo
livre da nossa imaginação. Nenhuma forma de arte ou objeto cultural guarda a potência escondida
por aquele monte de palavras impressas na página.
Essa potência vem, entre outros aspectos, do tanto que a literatura exige de nós, leitores. Não falo
do esforço de compreender um texto, nem da atenção que as histórias e os poemas exigem de
nós – embora sejam incontornáveis também. Penso no tanto que precisamos investir de nós, como
sujeitos afetivos e como corpos sensíveis, para que as palavras se tornem um mundo no qual pe-
netramos.
Somos bombardeados todo dia, o dia inteiro, por informações. Estamos saturados de dados e de
interpretações. A literatura – para além do prazer intelectual, inegável – oferece algo diferente. Tra-
ta-se de uma energia que o teórico Hans Ulrich Gumbrecht chama de “presença” e que remete a
um contato com o mundo que afeta o corpo do indivíduo para além e para aquém do pensamento
racional.
Muitos eventos produzem presença, é claro: jogos e exercícios esportivos, shows de música, en-
contros com amigos, cerimônias religiosas e relações amorosas e sexuais são exemplos óbvios.
Por que, então, defender uma prática eminentemente intelectual, como a experiência literária, com
o objetivo de “produzir presença”, isto é, de despertar sensações corpóreas e afetos? A resposta
está, como já evoquei mais acima, na potência guardada pela ficção e pela poesia para disparar a
imaginação. Mas o que é, afinal, a imaginação, essa noção tão corriqueira e sobre a qual refletimos
tão pouco?
Proponho pensar a imaginação como um espaço de liberdade ilimitada, no qual, a partir de estímu-
los do mundo exterior, somos confrontados (mas também despertados) a responder com memó-
rias, sentimentos, crenças e conhecimentos para forjar, em última instância, aquilo que faz de cada
um de nós diferente dos demais. A leitura de textos literários é uma forma privilegiada de disparar
esse mecanismo imenso, porque demanda de nós todas essas reações de modo ininterrupto, exige
que nosso corpo esteja ele próprio presente no espaço ficcional com que nos deparamos, sob pena
de não existir espaço ficcional algum.
(Ligia G. Diniz. https://brasil.elpais.com. 22.02.2018. Adaptado)
275
e) Mas afinal o que é, a imaginação? Essa noção tão corriqueira, e sobre a qual refletimos, tão
pouco?
Apesar dos bons resultados, o Estado avançou menos nos anos finais do ensino fundamental.
Quais as barreiras?
De fato, isso é um fenômeno nacional. Do 1º ao 5º ano, há uma melhoria mais acelerada, e do 6º
ao 9º, com menos potência.
Há dois fenômenos. Um é interno: do 6º ao 9º ano muita coisa muda para a criança. Está passando
para a adolescência e deixa de ter uma professora para ter dez. E a escola não tem uma metodo-
logia bem articulada para que todos os conhecimentos ali passados façam sentido.
Há também uma questão externa. Adultos e crianças hoje são muito afetados por tecnologia, re-
des sociais, trocas de informação. O mundo está muito dispersivo, e a aprendizagem exige foco e
concentração.
É um desafio adicional para a escola. Além do desenvolvimento acadêmico e cognitivo – ler, escre-
ver, fazer contas, interpretar história –, a escola terá que se preocupar com o desenvolvimento de
competências socioemocionais: metodologia para que as crianças aprendam a administrar suas
emoções, trabalhar em equipe, ter foco, persistência, resiliência.
O governo capixaba coordenou pesquisa para descobrir por que jovens de 14 a 29 anos deixaram a
escola. Que política esse diagnóstico inspirou?
Esses jovens foram alunos de nossas escolas públicas e as abandonaram porque precisavam tra-
balhar, engravidaram, não gostavam de estudar ou achavam a escola chata.
O que mais temos discutido é como envolver o jovem com a escola. Recentemente introduzimos o
líder de turma, escolhido pelos colegas para discutir soluções pela ótica dos alunos.
Por que projetos-piloto nem sempre dão os mesmos resultados na sala de aula?
Falta de treinamento é um motivo. O professor é absolutamente estratégico. É fundamental capaci-
tar de um ponto de vista bem operacional como ele trabalha com o aluno. O mundo mudou muito,
as exigências são outras.
O trabalho do professor hoje é totalmente diferente, e as instituições formadoras ainda trabalham
de forma tradicional. Fazemos pesquisa e estamos gastando muita energia para definir a formação
do professor do século 21.
Não nos cabe achar que hoje está pior ou melhor que no passado, mas nos programarmos para
atender a criança no mundo de hoje, diverso, em que tudo é muito rápido, em que nada se sus-
tenta, com profissões que nem existem mais e outras que a gente nem imagina.
Como motivar se falamos de coisas de antigamente? É um desafio diferente. Os professores preci-
sam ser capazes de ler o mundo desses alunos.
(Ana Estela de Sousa Pinto e Érica Fraga. Folha de S.Paulo, 09.12.2017. Adaptado)
276
b) Já que os alunos apresentam diferentes necessidades é fundamental, capacitar o professor em
nível operacional, para atender a essa demanda.
c) É comum que, muitos jovens, por causa do trabalho, da gravidez e do desinteresse pelos estu-
dos, abandonem a escola.
d) Além do desenvolvimento cognitivo, tradicionalmente a cargo dos professores, a escola tem de
promover, sempre que possível, a sociabilização.
e) Obter foco e concentração das crianças, é um desafio adicional para a escola atual, afinal, nos-
sa realidade é marcada por constantes transformações.
A revolução digital fortalece as previsões de que as casas ou lares inteligentes oferecerão mais
conveniência e menos dispêndio de energia em um futuro.
A definição de conveniência para esses novos lares tecnológicos, com redução ou eliminação de
trabalhos domésticos. Portanto, para que as edificações inteligentes tenham sucesso, elas deve-
rão se estruturar com base nessa visão de conveniência como solução para os que vivem em um
mundo acelerado e estar ancoradas em uma grande variedade de sistemas tecnológicos acessí-
veis e fáceis de operar, tornando a vida das pessoas mais simples.
Além da conveniência, outro relevante benéfico das casas inteligentes, para os consumidores é a
sua capacidade de incorporar aspectos relacionados à administração do gasto de energia, prin-
cipalmente com iluminação, condicionamento de ar eletrodomésticos. Um conjunto de sensores,
adequadamente configurados para gerenciar esses sistemas, pode gerar diminuição considerável
nos gastos com energia, com reflexos ambientais e econômicos importantes.
O departamento de engenharia da computação da Academia Árabe de Ciências e Tecnologia de-
senvolveu um estudo para avaliar a economia no consumo de energia gerada com o uso de sen-
sores inteligentes, em um apartamento de um dormitório, cozinha, sala de estar, sala de jantar e
banheiro. O estudo concluiu que a economia pode chegara quase 40% do consumo médio mensal
de energia.
A tendência de crescimento desse mercado é clara. A empresa de pesquisa Zion Research prevê
que a tecnologia das casas inteligentes deve alcançar um faturamento de US$ 53 bilhões (R$170
bi) em 2022. O crescimento estará calcado, principalmente, na conexão da casa com os ambientes
digitais externos, como por exemplo, a conexão do refrigerador com os equipamentos dos fornece-
dores de alimentos.
Naturalmente, a tecnologia das casas inteligentes continuará a evoluir, tornando-se acessível e ba-
rata. Com isso, mais pessoas poderão utilizar-se dela, e novos padrões, modelos e estilos de vida
devem se consolidar, principalmente nas áreas urbanas.
( Claudio Bernades. Casas inteligentes trarão conveniência e reduzirão gasto de energia. Folha de S. Paulo. www.folha.uol.com.br. 22.01.18.
Adaptado)
Após o deslocamento da expressão destacada, permanece de acordo com a norma- padrão a fra-
se:
a) A tecnologia das casas inteligentes naturalmente, continuará a evoluir tornando-se acessível
e barata.
b) A tecnologia das casas inteligentes continuará e evoluir tornando-se naturalmente, acessível
277
e barata
c) A tecnologia das casas inteligentes continuará a evoluir tornando-se naturalmente acessível
e barata.
d) A tecnologia das casas inteligentes continuará, naturalmente a evoluir tornando-se acessível
e barata
e) A tecnologia das casas inteligentes continuará a evoluir, naturalmente, tornando-se acessível
e barata
A autora utiliza um recurso com a finalidade comunicativa de simular um diálogo com o leitor e de
marcar a presença dela no texto. Trata-se do emprego de frases, respectivamente,
a) imperativas e declarativas.
b) imperativas e interrogativas.
c) declarativas e interrogativas.
d) exclamativas e declarativas.
e) interrogativas e exclamativas.
278
QUESTÃO 31: VUNESP - ESC POL (PC SP)/PC SP/2018
Assunto: Pontuação (ponto, vírgula, travessão, aspas, parênteses etc)
Debaixo da ponte
Moravam debaixo da ponte. Oficialmente, não é lugar onde se more, porém eles moravam. Nin-
guém lhes cobrava aluguel, imposto predial, taxa de condomínio: a ponte é de todos, na parte de
cima; de ninguém, na parte de baixo. Não pagavam conta de luz e gás porque luz e gás não con-
sumiam. Não reclamavam da falta d’água, raramente observada por baixo de pontes. Problema
de lixo não tinham; podia ser atirado em qualquer parte, embora não conviesse atirá-lo em parte
alguma, se dele vinham muitas vezes o vestuário, o alimento, objetos de casa. Viviam debaixo da
ponte, podiam dar esse endereço a amigos, receber amigos, fazer os amigos desfrutarem como-
didades internas da ponte.
À tarde surgiu precisamente um amigo que morava nem ele mesmo sabia onde, mas certamente
morava: nem só a ponte é lugar de moradia para quem não dispõe de outro rancho. Há bancos
confortáveis nos jardins, muito disputados; a calçada, um pouco menos propícia; a cavidade na
pedra, o mato. Até o ar é uma casa, se soubermos habitá-lo, principalmente o ar da rua. O que
morava não se sabe onde vinha visitar os de debaixo da ponte e trazer-lhes uma grande posta de
carne.
(Carlos Drummond de Andrade. A bolsa e a vida. Adaptado)
É correto afirmar que, na passagem – Ninguém lhes cobrava aluguel, imposto predial, taxa de con-
domínio: a ponte é de todos, na parte de cima; de ninguém, na parte de baixo. –, os dois-pontos
são empregados para introduzir uma
a) condição, podendo ser substituídos pela conjunção “se”.
b) comparação, podendo ser substituídos pela conjunção “como”.
c) conclusão, podendo ser substituídos pela conjunção “portanto”.
d) concessão, podendo ser substituídos pela conjunção “embora”.
e) explicação, podendo ser substituídos pela conjunção “pois”.
279
(Bill Watterson, As aventuras de Calvin e Haroldo)
Acerca do emprego de aspas no primeiro e no segundo quadrinho da tira, é correto afirmar que,
a) no primeiro, as aspas sinalizam a citação de uma frase; no segundo, dão destaque a uma pa-
lavra.
b) em ambos, as aspas sinalizam expressões empregadas em sentido figurado pelo menino Cal-
vin.
c) em ambos, as aspas sinalizam a fala da personagem que faz a pergunta ao tigre Haroldo.
d) no primeiro, as aspas sinalizam uma frase que está sendo lida; no segundo, marcam uma ex-
pressão de gíria.
e) no primeiro, as aspas sinalizam uma frase que a personagem quer destacar; no segundo, mar-
cam o emprego de palavra descontextualizada.
Emoções são uma construção social. Essa é, numa frase, a tese central de Lisa Feldman Barrett
em “How Emotions Are Made” (“Como são feitas as emoções”). Não haveria nada de surpreen-
dente se Barrett fosse professora em algum departamento de estudos de gênero, mas ela é uma
neurocientista e afirma que suas conclusões estão amparadas em sólida evidência empírica.
O ponto forte do livro é justamente a parte em que Barrett mostra que há problemas nos modelos
tradicionais que fazem com que cada emoção corresponda à ativação de um circuito neural
específico. Por esse paradigma, emoções seriam universais e teriam uma assinatura biológica
inconfundível.
O problema, diz Barrett, é que ela passou anos num laboratório em busca dessas assinaturas e não
as encontrou. Não temos dificuldade para reconhecer a emoção medo num ator fazendo uma ca-
reta estereotipada, mas isso não passa de uma convenção cultural. Nem todos que sentem medo
280
apresentam as mesmas expressões faciais e nem sequer os mesmos sinais fisiológicos.
A partir daí — e essa é a parte em que o livro fica aquém do que promete —, Barrett conclui que o
modelo tradicional está errado e propõe outro no qual as emoções são construídas pelo cérebro no
instante em que ele classifica as sensações positivas ou negativas que experimenta. A cultura e a
própria linguagem seriam parte indispensável desse processo.
Minha impressão é de que Barrett foi com muita sede ao pote. Seus achados fragilizam as versões
mais fortes do modelo tradicional, mas não bastam para pôr abaixo um edifício construído com a
colaboração da maior parte dos filósofos ocidentais, do próprio Charles Darwin e de um número
ainda maior de neurocientistas contemporâneos. Até pode ser que Barrett tenha razão, mas ain-
da é cedo para decretá-lo.
(Hélio Schwartsman. “Como são feitas as emoções”. Folha de S.Paulo. 04.03.2018. Adaptado)
Nas escolas da Catalunha, a separação da Espanha tem apoio maciço. É uma situação que con-
trasta com outros lugares de Barcelona, uma cidade que vive hoje em duas dimensões. De um
lado, há a Barcelona dos turistas, que se cotovelam nos pontos turísticos da cidade, fazem fila para
entrar nos museus e buscam mesa nos restaurantes. Para a maioria deles, a capital da Catalunha
segue seu ritmo normal. Nos bairros afastados do centro turístico, onde se concentram os morado-
res de Barcelona, todas as conversas tratam da tensa situação política – e há muita divisão em
relação à independência. Segundo a última pesquisa feita pelo jornal El Mundo,
33% dos catalães são a favor da criação de um estado independente, enquanto 58% são contra. A
divisão pode ser verificada pelas bandeiras penduradas nas sacadas e janelas. Chama a atenção
ver as esteladas, como são conhecidas as bandeiras independentistas, disputando o espaço com
as bandeiras da Espanha.
Nesse quadro de cisão, o separatismo tem nas escolas suas grandes aliadas para propagar as
ideias nacionalistas. Isso ocorre desde a redemocratização espanhola, no fim dos anos 1970.
Antes disso, durante a ditadura comandada pelo general Francisco Franco, que governou a Es-
panha entre 1938 e 1973, os colégios públicos eram proibidos de ensinar em catalão. Somente
os privados ofereciam aulas nessa língua. Em sua maioria, essas escolas tinham perfil inovador e
vanguardista, se comparadas às tradicionais escolas católicas da época. Com a queda do gene-
ral Franco, as escolas catalãs privadas foram incorporadas à rede pública e tornaram-se o modelo
principal do sistema educacional, que hoje abriga 1,5 milhão de alunos e 71 mil professores. Como
281
a educação pública na Espanha está a cargo dos governos regionais, os diretores dos centros
escolares são escolhidos a dedo pelo governo catalão – que toma o cuidado de selecionar somen-
te diretores separatistas. “A manipulação dos jovens é central para o independentismo catalão. É
assim com qualquer movimento supremacista na Europa”, diz a historiadora espanhola Maria Elvira
Roca. “É mais fácil convencer estudantes a apaixonarem-se por uma causa do que trabalhadores
que estão encerrados num escritório”.
(Época, 13.11.2017. Adaptado)
No trecho do primeiro parágrafo do texto – Nas escolas da Catalunha, a separação da Espanha tem
apoio maciço. É uma situação que contrasta com outros lugares de Barcelona, uma cidade que
vive hoje em duas dimensões. De um lado, há a Barcelona dos turistas, que se cotovelam nos
pontos turísticos da cidade, … –, empregam-se as vírgulas para separar as expressões desta-
cadas porque elas
a) acrescem às informações precedentes comentários que lhes ampliam o sentido.
b) sintetizam as ideias centrais das informações precedentes.
c) apresentam informações que se opõem às informações precedentes.
d) retificam as informações precedentes, dando-lhes o correto matiz semântico.
e) estabelecem certas restrições de sentido às informações precedentes.
Às segundas-feiras pela manhã, os usuários do Spotify (serviço de transferência de dados via in-
ternet que dá acesso a músicas e outros conteúdos de artistas) recebem uma lista personalizada
de músicas que lhes permite descobrir novidades. O sistema se baseia em um algoritmo cuja evo-
lução e usos aplicados ao consumo cultural são infinitos. De fato, plataformas de transmissão de
dados cinematográficos, como a Netflix, começam a desenhar suas séries de sucesso rastreando
os dados gerados por todos os movimentos dos usuários para analisar o que os satisfaz. O algorit-
mo constrói assim um universo cultural adequado e complacente com o gosto do consumidor, que
pode avançar até chegar sempre a lugares reconhecíveis.
O algoritmo, sustentam seus críticos, nos torna chatos, previsíveis, e empobrece nossa curiosidade
por explorar o acervo cultural. Ramón Sangüesa, coordenador do Data Transparency Lab (Labora-
tório de Transparência de Dados), consegue ver vantagens, mas também riscos. “Esses sistemas
se baseiam no passado para predizer o futuro. A primeira dificuldade é conseguir a massa crítica
para que tenhamos mais dados e as projeções sejam melhores. Mas sempre se corre o risco de
ficar em uma mesma área de recomendação. No consumo cultural, o perigo está na uniformiza-
ção do gosto, o que chamamos de filtro bolha. E assim vão sendo criados comportamentos
padronizados”, afirma.
A questão, no entanto, é se os limites impostos na aprendizagem pelos sistemas fechados de com-
putação são equiparáveis aos erros e possíveis idiotices que cometemos durante anos formando
nosso próprio gosto. O escritor Eloy Fernández Porta não vê grande diferença. Segundo ele, antes
do Spotify e fora dele o gosto já vinha determinado por critérios de acesso, aceitação, atualidade e
distinção. “Sempre vivemos a música em um algoritmo, o que acontece é que em vez de chamá-lo
282
de matemática o chamamos de espontaneidade. O algoritmo do Spotify não me parece menos con-
fiável do que a fórmula caótica que cada ouvinte inventou. Nem menos humano: quando fazemos
analogias erradas ou nos empenhamos em recomendar o primeiro disco de Vincent Gallo, nossas
sinapses estão dando os mesmos maus passos”, afirma.
(Daniel Verdú. https://brasil.elpais.com/brasil/. 09.07.2016. Adaptado)
O acréscimo da vírgula, embora altere ligeiramente o sentido da frase do texto, não prejudica a
correção gramatical em:
a) O sistema se baseia em um algoritmo, cuja evolução e usos aplicados ao consumo cultural são
infinitos.
b) O algoritmo constrói, assim um universo cultural adequado e complacente com o gosto do con-
sumidor…
c) A primeira dificuldade é conseguir a massa crítica para que tenhamos, mais dados e as proje-
ções sejam melhores.
d) Mas sempre se corre, o risco de ficar em uma mesma área de recomendação.
e) O algoritmo do Spotify não me parece menos, confiável do que a fórmula caótica que cada ou-
vinte inventou.
CIDADE DO MÉXICO, 13 MAR. O abacate está se convertendo no novo “ouro” do México, ultra-
passando o petróleo como produto de exportação que mais gera lucros para o país, de acordo
com os números mais recentes divulgados pelo Ministério da Economia do Estado. No entanto,
ecologistas se queixam de que o crescimento na demanda do fruto, abundante em vitamina E, está
causando um grande estrago ao meio-ambiente mexicano. A polpa do fruto costuma ser usada
como acompanhamento dos principais “snacks” dos norte americanos em competições esportivas,
como o Super Bowl. Durante os intervalos da partida, aliás, grandes companhias e produtoras da
fruta difundem anúncios publicitários. No dia 5 de fevereiro, por exemplo, o custo de uma propa-
ganda de apenas 30 segundos no estádio, que foi vista por 130 milhões de espectadores, chegou
a US$ 5 milhões. A Associação de Produtores e Empacotadores de Abacate do México (Apeam) é
a encarregada de financiar essa mensagem, transmitida pela emissora de televisão Fox, na qual
são exaltados os benefícios do abacate mexicano. Estima-se que cerca de 100 mil toneladas do
popular molho “guacamole”, que é feito com a fruta, são consumidas apenas durante esse jogo de
futebol americano. A maioria do abacate que se consome nos Estados Unidos é produzido nos
campos do estado de Michoacán, o que é criticado por ecologistas, que acreditam que o “boom” da
produção do fruto no país está causando danos ao meio ambiente, já que muitas terras florestais
estão sendo dizimadas para ampliar os campos de abacate, mais rentáveis.
(https://istoe.com.br. Adaptado)
Na oração – O abacate está se convertendo no novo “ouro” do México… –, as aspas estão empre-
gadas para marcar
a) a impropriedade de sentido da palavra.
b) a imprecisão do sentido da palavra.
c) o sentido irônico atribuído à palavra.
283
d) o sentido figurado da palavra.
e) o sentido pejorativo da palavra.
O cansaço democrático
Quem disse que a democracia era eterna? Ninguém. Mas palpita ainda no coração do homem civi-
lizado a crença de que essa forma de governo estará entre nós até ao fim dos tempos.
Uma ideia tão otimista seria risível à luz da história do pensamento político. Platão é o exemplo
mais extremo: a democracia faz parte de um movimento cíclico de regimes – e, para ele, é uma
forma degenerada de governo.
Depois da democracia, haverá um tirano para pôr ordem no pardieiro; e, depois do tirano, haverá
novamente uma aristocracia, que será suplantada por uma timocracia, que será suplantada por
uma oligarquia, até a democracia regressar.
Nada perdura.
É precisamente esse pensamento lúgubre que percorre uma moda editorial recente – livros sobre
o fim, real ou imaginário, da democracia liberal.
Em seu recente “How Democracy Ends”, David Runciman lida com os contornos desse hipotéti-
co fim: se a democracia chegar ao seu termo, não teremos uma repetição da década de 1930,
defende. Não teremos violência de massas, movimentos armados, tanques nas ruas. Vivemos em
sociedades radicalmente diferentes – mais afluentes, envelhecidas, conectadas. E, além disso,
conhecemos o preço da brutalidade autoritária e totalitária. As nostalgias reacionárias são coisa de
jovens: eles desejam o que ignoram e ignoram o que desejam.
284
Mas se os “golpes tradicionais” são improváveis, há formas invisíveis de conseguir o mesmo obje-
tivo: pela gradual suspensão da ordem legal; pelo recurso a eleições fraudulentas; pela marginali-
zação dos freios e contrapesos do regime.
A democracia só sobrevive porque somos capazes de gerir as nossas frustrações quando os resul-
tados nos são desfavoráveis. Essa tolerância diminui de ano para ano. E diminui sob o chicote das
redes sociais. Runciman acredita que o principal problema do mundo virtual está no poder pratica-
mente ilimitado que os gigantes tecnológicos exercem sobre os usuários.
Pessoalmente, o meu temor é outro: o poder praticamente ilimitado que os usuários exercem sobre
os poderes Executivo, Legislativo e até Judiciário. A democracia representativa, como a expressão
sugere, sempre foi um compromisso feliz entre a vontade do povo e a capacidade dos mais prepa-
rados de filtrar as irracionalidades do povo.
O filtro perdeu-se com essa espécie de “democracia direta” que é exercida pela multidão sobre os
agentes políticos.
Para que não restem dúvidas: não acredito em formas de governo eternas. Mas, até prova em con-
trário, a democracia liberal é o único regime que garante a liberdade política e a dignidade pessoal
dos indivíduos, bem como a prosperidade sustentada das suas sociedades. A história ilustra a tese.
Mas a história do presente também nos mostra que cresce no Ocidente um certo “cansaço demo-
crático”. E que partes crescentes do eleitorado, por ignorância ou desespero, estão dispostas a tro-
car a liberdade e a dignidade da democracia por expedientes mais radicais e securitários. Por quê?
Devolvo a palavra a David Runciman. Para o autor, a democracia disseminou-se nos últimos dois
séculos porque havia uma narrativa aspiracional a cumprir.
Era necessário dar voz política a todos os cidadãos (pobres, mulheres, negros etc.) e integrá-los na
mesma rede de direitos e deveres (a grande tarefa do pós-Segunda Guerra). Os Estados tinham
ainda recursos materiais e institucionais para cumprir com razoável êxito esse programa. Eis a iro-
nia: o cansaço democrático explica-se pelo sucesso da própria experiência democrática.
Ninguém sabe como será o futuro dessa experiência – para Runciman, a democracia vive a crise
da meia-idade. Resta saber se essa crise destrói o casamento ou o torna mais forte.
É uma boa metáfora. Que convida a outra: o casamento só irá sobreviver se a maioria conseguir
redescobrir, com novos olhos, as virtudes que permanecem no lar.
(João Pereira Coutinho. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/>. Acesso em: 24 jul 2018. Adaptado)
Em passagens de vários parágrafos do texto o autor emprega dois-pontos. É correto afirmar que
ele se vale desse recurso de pontuação para
a) apresentar ideias que contrastam com outras precedentes, tal como ocorre nas passagens em
que se emprega travessão.
b) introduzir esclarecimentos acerca de ideias que apresenta, tal como ocorre nas passagens em
que se empregam travessão e parênteses.
c) fazer retificações necessárias para orientação do leitor, tal como ocorre nas passagens em que
se empregam parênteses.
d) pôr em xeque pontos de vista defendidos por outrem, tal como ocorre nas passagens em que
se empregam travessão e parênteses.
e) inserir comentários cuja pertinência é questionável no contexto, tal como ocorre nas passagens
em que se emprega travessão.
285
QUESTÃO 39: VUNESP - ADV (PREF REGISTRO)/PREF REGISTRO/2018
Assunto: Pontuação (ponto, vírgula, travessão, aspas, parênteses etc)
Eram dez da noite, estava escuro, e a americana Elaine Herzberg, de 49 anos, resolveu atravessar
uma avenida em Tempe, cidade de 160 mil habitantes no sul dos EUA. Ela estava fora da faixa,
o sinal estava aberto para os carros, e logo aconteceu o pior. Elaine foi atropelada por um veículo
utilitário esportivo de 2 000 quilos, a 61 km/h. Morreu no ato. Seria apenas mais uma vítima do
trânsito, não fosse por um motivo: um robô estava dirigindo o veículo. Elaine foi a primeira pedestre
morta por um carro autônomo. Eles provavelmente vão atropelar mais pessoas. E, toda vez que
isso acontecer, a opinião pública ficará assustada (a empresa dona do carro que matou Elaine
interrompeu seus testes após o acidente) Mas já existe uma tecnologia que promete erradicar os
acidentes com veículos autônomos e mudar outros aspectos da vida humana: a quinta geração da
telefonia celular, ou 5G.
Ela é tão importante que o governo dos EUA chegou a cogitar a construção de uma rede 5G estatal,
só para não ficar atrás dos chineses (que vão inaugurar a sua no final deste ano). As operadoras
americanas se mexeram, e agora prometem montar redes 5G em 30 cidades do país até dezembro
– antes mesmo dos celulares compatíveis com essa tecnologia, que só vão começar a chegar ao
mercado ano que vem.
A grande novidade das redes 5G é que elas trabalham em frequências mais altas, ou seja, nas
quais as ondas eletromagnéticas oscilam mais vezes por segundo. Graças a isso, o 5G promete
três vantagens: mais velocidade, maior número de conexões e menor latência.
Essa terceira novidade das redes 5G, a baixa latência, consiste no tempo que cada antena ou pon-
to de rede leva para processar – e, se for o caso, repassar – os dados. As ondas eletromagnéticas
usadas para transmitir informações (seja no 5G, no Wi-Fi, ou qualquer outra rede sem fio) viajam
sempre na mesma velocidade: a da luz. Porém, na prática, a transmissão de dados sempre é mais
lenta. Na tecnologia 5G, a latência é 50 vezes menor. A transmissão é praticamente instantânea – e
isso abre várias possibilidades.
Mas talvez o benefício mais imediato de todos seja o fim das franquias de dados. A capacidade da
rede 5G é tão enorme que as operadoras poderão oferecer planos sem limites de dados – e você
poderá usar seu celular à vontade, como hoje usa a internet da sua casa.
(Superinteressante, maio de 2018. Adaptado)
Na passagem “Seria apenas mais uma vítima do trânsito, não fosse por um motivo: um robô estava
dirigindo o veículo.”, o sinal de dois-pontos é empregado para
286
A nossa democracia é laica, mas nossas decisões políticas são tomadas sob a premissa de que
Deus é – e sempre será – brasileiro. Queremos benefícios sem custos (e quem em sã consciência
não quereria?).
Exigimos que seja assim. Os custos hão de ser empurrados para algum momento indeterminado
do futuro e cair sobre as costas de alguma entidade benévola não especificada, sem machucar
ninguém. Algum dia alguém dá algum jeito e fica tudo certo. Deus resolve.
A maioria dos brasileiros concorda com o controle de preço do diesel, e quer ainda o controle de
preço da gasolina e do gás natural. Só não aceita ter que pagar a conta. A Petrobras que tenha
um prejuízo. E quem vai cobri-lo? O Tesouro, essa entidade superior e fonte de riquezas.
Não é um caso isolado. Todos pedem por mais gasto para suas causas e setores de preferência,
sem nunca especificar quem vai ficar com a conta; essa fica para uma figura oculta, alguém com
um bolso vasto e generoso. Há quem diga, inclusive, que o aumento de gastos vai aumentar a
arrecadação; multiplicação milagrosa dos pães.
Essa é a lógica que governa o Brasil desde 1500, consagrada na Constituição de 1988, tão pródiga
em direitos para todo mundo. O direito é a manifestação do fiat* divino entre os homens: uma
obrigação incondicional que a realidade – alguém – terá de dar algum jeito de cumprir.
O problema é que acabou o “milagre econômico” – um crescimento acelerado e sem causas co-
nhecidas, que ocorre apesar de todas as deficiências e entraves, esses sim muito bem conhecidos.
Deus parece ter conseguido o green card** e nos abandonou.
O que fazer? Uma alternativa é seguir confiando na intervenção divina até o fim, deixando o ajuste
ao deus-dará. A corda estoura para o lado mais fraco, e voltamos ao caos primordial. A outra é ser
impiedoso e olhar para a realidade com olhos de descrença.
Para que alguns continuem ganhando, pessoas de carne e osso terão que pagar. E aí sim pode-
remos responder à pergunta que o Brasil é mestre em evitar: quem? O problema é que para as
escamas caírem de nossos olhos também será necessário um milagre...
(Joel Pinheiro da Fonseca, Folha de S.Paulo, 12.06.2018. Adaptado)
287
(Gazeta do Povo, 01.12.2016)
O motivo pelo qual se separa entre vírgulas o termo “Baiano” também está presente na seguinte
frase:
a) Era um lugar estranho, ou melhor, onde coisas sem explicação aconteciam.
b) Foi em Curitiba, capital do Paraná, que seu coração ganhou companhia.
c) A jovem Veridiana, que estava em viagem, acabou sem saber da tragédia.
d) Eu lhe disse, meu amigo, que esta cidade tem belezas e encantamentos.
e) Ficava a pensar em coisas absurdas, por exemplo, nos sonhos das formigas.
Muita gente não gosta de Floriano Peixoto, o “Marechal de Ferro”. Em 1892, um senador-almirante
e políticos sediciosos . Ele avisara: “Vão dis-
cutindo, que eu vou mandando prender”. Encheu a cadeia, e o advogado Rui Barbosa bateu às
portas do Supremo Tribunal Federal para . Floriano avisou: “Se
os juízes concederem habeas corpus aos políticos, eu não sei quem amanhã o habeas corpus de
que, por sua vez, necessitarão”.
(Élio Gaspari. Folha de S.Paulo, 11.12.2016. Adaptado)
A regra de pontuação que determina o emprego da vírgula em “Muita gente não gosta de Floriano
Peixoto, o ‘Marechal de Ferro’.” também se aplica ao trecho adaptado do editorial “Nem tão livres”
(Folha de S.Paulo, 04.04.2017):
a) Passou o tempo, diz o ativista Joel Simon, em que se acreditava ser impossível censurar ou
controlar a informação na internet.
b) Todavia, a própria sensação de que exista uma tão ampla liberdade se vê passível de contes-
tações.
c) A guerra da informação e da contrainformação, se não ameaça diretamente a vida de jornalis-
tas, não deixa, entretanto, de pôr em risco a verdade dos fatos.
d) Notícias falsas e quantidade nauseante de calúnias e ofensas circulam pelas redes sociais –
tornando-as, ainda que livres, inconfiáveis em larga medida.
e) O diretor do Comitê de Proteção aos Jornalistas, ONG com sede em Nova York, talvez sur-
preenda quem comemora as facilidades dos meios eletrônicos.
B)Nos últimos anos, o que afinal anda acontecendo com o mundo. E futuramente o que virá?
– A obra de Abranches caro leitor, formula repostas, diabolicamente complicadas.
C) Nos últimos anos o que afinal anda acontecendo, com o mundo! E, futuramente, o que virá?
– A obra de Abranches, caro leitor formula, repostas, diabolicamente complicadas.
D) Nos últimos anos, o que, afinal, anda acontecendo com o mundo? E futuramente o que virá?
– A obra de Abranches, caro leitor, formula repostas diabolicamente complicadas.
289
E) Nos últimos anos o que, afinal anda acontecendo com o mundo? E, futuramente o que virá.
– A obra de Abranches caro leitor formula, repostas, diabolicamente, complicadas.
Considere o trecho: Nem pensar, amigo. Aqui no depósito só temos cadeiras de luxo, para geren-
tes. Essa fala do segundo quadrinho está corretamente reescrita, no que se refere à pontuação
e sem prejuízo do sentido, em:
a) Amigo nem pensar. Aqui no depósito temos cadeiras de luxo só, para gerentes.
b) Amigo, nem pensar. Aqui no depósito temos só cadeiras de luxo, para gerentes.
c) Amigo, nem pensar. Só aqui no depósito, temos cadeiras de luxo para gerentes.
d) Amigo nem pensar! Aqui no depósito temos cadeiras só de luxo, para gerentes.
e) Amigo, nem pensar! Aqui no depósito temos, só cadeiras de luxo para gerentes.
Considerando o papel que a mídia ocupa na política contemporânea, somos obrigados a perguntar:
em que espécie de democracia estamos pensando quando desejamos que nossa sociedade seja
democrática? Permitam que eu comece contrapondo duas concepções diferentes
de democracia. Uma delas considera que uma sociedade democrática é aquela em que o povo dis-
põe de condições de participar de maneira significativa na condução de seus assuntos pessoais e
na qual os canais de informação são acessíveis e livres. Se você consultar no dicionário o verbete
“democracia”, encontrará uma definição parecida com essa.
Outra concepção de democracia é aquela que considera que o povo deve ser impedido de conduzir
seus assuntos pessoais e os canais de informação devem ser estreita e rigidamente controlados.
Esta pode parecer uma concepção estranha de democracia, mas é importante entender que ela é
a concepção predominante. Vou dizer algumas palavras sobre essa noção de democracia.
Consideremos a primeira operação de propaganda governamental de nossa era, que aconteceu no
governo de Woodrow Wilson, eleito presidente dos Estados Unidos em 1916, bem na metade da
290
Primeira Guerra Mundial. A população estava extremamente pacifista e não via motivo algum que
justificasse o envolvimento numa guerra europeia. O governo Wilson estava, na verdade, compro-
metido com a guerra e tinha de fazer alguma coisa a respeito disso. Foi constituída uma comissão
de propaganda governamental, a Comissão Creel, que conseguiu, em seis meses, transformar
uma população pacifista numa população que queria destruir tudo o que fosse alemão, entrar na
guerra e salvar o mundo.
Entre os que participaram ativa e entusiasticamente na campanha liderada por Wilson estavam
intelectuais progressistas, que lançaram mão dos instrumentos mais diversos para conduzir à
guerra uma população relutante, por meio do terror e da indução a um fanatismo xenófobo. Inven-
taram, por exemplo, que os hunos cometiam uma série de atrocidades, como arrancar os braços
de bebês belgas, e toda sorte de fatos horripilantes que ainda podem ser encontrados em alguns
livros de história.
(Noam Chomsky. Mídia: propaganda política e manipulação. Trad. Fernando Santos. São Paulo, Martins Fontes, 2013. Adaptado)
REGÊNCIA
291
e) com a ... com a ... com o ... com as
A recente onda de escândalos de corrupção levou as empresas brasileiras a investir em uma área
ainda pouco conhecida no mercado: o compliance.
O profissional que atua nesse setor é responsável por receber denúncias, combater fraudes, rea-
lizar investigações internas e garantir que a companhia cumpra leis, acordos e regulamentos da
sua área de atuação. Ele tem o papel importante de auxiliar a empresa a se proteger de eventuais
problemas de corrupção.
“Nos últimos anos, a área de compliance assumiu protagonismo nas empresas. É uma profissão
com salários altos já que as pessoas com experiência ainda são escassas no mercado”, diz o
advogado Thiago Jabor Pinheiro, 35.
“Como não existem cursos de graduação específicos de compliance, o estudante que se interesse
pela área pode direcionar seu curso para questões de auditoria, prevenção de fraude, direito admi-
nistrativo e governança corporativa”, diz Pinheiro.
Apesar de sobrarem vagas nesse mercado, conseguir um emprego não é fácil. “É fundamental que
a pessoa seja atenta aos detalhes, entenda como funciona uma organização e tenha fluência em
inglês porque as melhores práticas vêm de fora do país, sobretudo dos EUA e da Inglaterra”, diz o
advogado.
Para Caroline Cadorin, diretora de uma consultoria, os candidatos precisam ter jogo de cintura
para lidar com as mais diversas situações. “Estamos falando de profissionais com forte conduta
ética, honestidade e que buscam a promoção da transparência. Hoje as empresas estão cientes
de seus papéis ativos no combate à corrupção, especialmente aquelas envolvidas em projetos de
órgãos públicos. As companhias que mantêm departamentos de compliance são vistas como mais
transparentes”, diz Cadorin.
(Larissa Teixeira. Folha de S.Paulo, 28.09.2017. Adaptado)
292
QUESTÃO 3: VUNESP - ADM JUD (TJ SP)/TJ SP/2019
Assunto: Regência Nominal e Verbal (casos gerais)
Leia o texto para responder à questão.
A recente onda de escândalos de corrupção levou as empresas brasileiras a investir em uma área
ainda pouco conhecida no mercado: o compliance.
O profissional que atua nesse setor é responsável por receber denúncias, combater fraudes, rea-
lizar investigações internas e garantir que a companhia cumpra leis, acordos e regulamentos da
sua área de atuação. Ele tem o papel importante de auxiliar a empresa a se proteger de eventuais
problemas de corrupção.
“Nos últimos anos, a área de compliance assumiu protagonismo nas empresas. É uma profissão
com salários altos já que as pessoas com experiência ainda são escassas no mercado”, diz o
advogado Thiago Jabor Pinheiro, 35.
“Como não existem cursos de graduação específicos de compliance, o estudante que se interesse
pela área pode direcionar seu curso para questões de auditoria, prevenção de fraude, direito ad-
ministrativo e governança corporativa”, diz Pinheiro.
Apesar de sobrarem vagas nesse mercado, conseguir um emprego não é fácil. “É fundamental
que a pessoa seja atenta aos detalhes, entenda como funciona uma organização e tenha fluência
em inglês porque as melhores práticas vêm de fora do país, sobretudo dos EUA e da Inglaterra”,
diz o advogado.
Para Caroline Cadorin, diretora de uma consultoria, os candidatos precisam ter jogo de cintura
para lidar com as mais diversas situações. “Estamos falando de profissionais com forte conduta
ética, honestidade e que buscam a promoção da transparência. Hoje as empresas estão cientes
de seus papéis ativos no combate à corrupção, especialmente aquelas envolvidas em projetos de
órgãos públicos. As companhias que mantêm departamentos de compliance são vistas como mais
transparentes”, diz Cadorin.
(Larissa Teixeira. Folha de S.Paulo, 28.09.2017. Adaptado)
No quinto parágrafo, em – Apesar de sobrarem vagas nesse mercado... –, o verbo sobrar tem a
mesma predicação do verbo destacado em:
a) As companhias que mantêm departamentos de compliance...
b) Ele tem o papel importante de auxiliar a empresa a se proteger...
c) ... garantir que a companhia cumpra leis, acordos...
d) ... porque as melhores práticas vêm de fora do país...
e) ... as pessoas com experiência ainda são escassas no mercado...
É muito comum que, ao longo do dia, as pessoas fiquem preocupadas demais com coisas que não
podem ser mudadas e dependem de fatores externos e variáveis que não podem ser controlados
293
– como o clima, o estado de saúde de algum parente ou o trânsito. Pior ainda: algumas pessoas
ficam remoendo coisas do passado que trazem dor, pensando em situações e pessoas, o que só
traz sofrimento.
Quem tem esse tipo de atitude geralmente fica pensando e reclamando das situações, mesmo
sabendo que não pode fazer nada em relação a esses “problemas”. Isso faz com que uma quan-
tidade enorme de energia seja gasta, sendo que poderia ser melhor aplicada em situações que
realmente dependem de decisão ou ação pessoal.
(<htttp://www.sbi.com.br> Acesso em 20.11.2018. Adaptado)
294
reduzir a população. Só que fazê-lo é uma espécie de suicídio econômico, já que ficaria muito
difícil manter taxas positivas de crescimento, sem as quais instituições como previdência e até
democracia representativa podem entrar em colapso.
(Hélio Schwartsman. Folha de S.Paulo. 18.11.2018. Adaptado)
Com a substituição do verbo destacado na frase “ ... são as novas ideias que vêm assegurando
o brutal aumento de produtividade a que assistimos nos últimos 200 anos.”, a redação atende a
norma-padrão de regência verbal em:
a) ... assegurando o brutal aumento de produtividade à que percebemos nos últimos 200 anos.
b) ... assegurando o brutal aumento de produtividade que constatamos nos últimos 200 anos.
c) ... assegurando o brutal aumento de produtividade de que verificamos nos últimos 200 anos.
d) ... assegurando o brutal aumento de produtividade em que presenciamos nos últimos 200
anos.
e) ... assegurando o brutal aumento de produtividade com que acompanhamos nos últimos 200
anos.
Millennials são iguais aos pais, porém mais pobres, conclui Fed
A turma nascida entre 1981 e 1997 não tem tantas particularidades assim na análise dos gastos
com automóveis, alimentação e moradia. Aos olhos da opinião pública americana, os jovens da
geração Millennial são assassinos em série — responsabilizados pela morte lenta do queijo proces-
sado, do cartão de crédito, do táxi, do peru de Ação de Graças e até do divórcio. Poucos setores
saíram ilesos da matança cultural promovida pela juventude americana.
Agora surgiram argumentos em sua defesa. Um novo estudo do banco central dos EUA (Federal
Reserve) afirma que a turma nascida entre 1981 e 1997 — famosa por adorar aplicativos — não
é tão diferente dos pais. Essa geração é apenas mais pobre nesta mesma etapa da vida, já que
muitos de seus integrantes chegaram à idade adulta durante a crise financeira.
“Encontramos pouca evidência de que lares de millennials têm gostos e preferências de consumo
inferiores aos de gerações passadas, quando se leva em conta idade, renda e uma maior varieda-
de de características demográficas”, escreveram os autores Christopher Kurz, Geng Li e Daniel J.
Vine. As conclusões deles se baseiam em uma análise de gastos, renda, endividamento, patrimô-
nio líquido e fatores demográficos de várias gerações.
A impressão de que os millennials não têm tantas particularidades assim também se revela na
análise granular dos gastos deles com automóveis, alimentação e moradia. “São principalmente
as diferenças de idade média e então as diferenças de renda média que explicam grande parte da
diferença de consumo entre os millennials e outros grupos”, segundo o estudo.
(Jeremy Herron e Luke Kawa. Exame. 01.12.2018. https://exame.abril.com.br. Adaptado)
No trecho “As conclusões deles se baseiam em uma análise…” (3º parágrafo), o segmento des-
tacado pode ser substituído, com o sentido preservado e com a regência correta de acordo com a
norma-padrão da língua, por
295
a) encontram suporte contra.
b) têm como fundamento.
c) se referem com.
d) se apoiam de.
e) se alicerçam sob.
QUESTÃO 7: VUNESP - ESCR (UNIFAI)/UNIFAI/2019
Assunto: Regência Nominal e Verbal (casos gerais)
Bartleby, o escriturário
Não é à toa que Bartleby, o escriturário (ou o escrivão ou Uma história de Wall Street) é uma obra
tão debatida e que deixa tantas pessoas confusas quando de seu desfecho: há no livro um espaço
extremamente propício a especulações e discussões de toda a sorte, que, de certo modo, parecem
conduzir todas, em maior ou menor medida, a um beco sem saída.
Vamos aos fatos para tentar clarear a situação a respeito do misterioso desfecho de Bartleby. O
conto foi publicado na revista literária Putnam’s Magazine, pelos idos de 1853, sendo posterior-
mente incorporado à coletânea de contos The piazza tales, de 1856. Seu autor, Herman Melville, é
conhecido do grande público pela obra Moby Dick.
Quem nos narra a história é o patrão de Bartleby, um advogado de carreira de Wall Street, que, com
elegância e alguma pompa, digna-se a narrar a estranha história de um de seus funcionários (ele
emprega outros três: Nippers, Turkey e Ginger Nut) e de como a história dele também o atormenta
e confunde profundamente.
Tendo Bartleby ido trabalhar no escritório do narrador da história, ficamos conhecendo seu excêntri-
co e aparentemente depressivo comportamento, de modo que começa já aí a se delinear a bruma
de mistério em torno de sua figura. Cabisbaixo, quieto e sofrendo do que parece ser uma falta de
motivação ou vontade de realizar algo, Bartleby estranhamente segue à risca as exigências de
seu trabalho, com exceção das revisões de documentos em que seu patrão ou algum dos outros
funcionários lê em voz alta o texto para que os outros confiram as cópias.
Com o passar do tempo, porém, Bartleby começa a recusar- se a cumprir suas obrigações, dizendo
sempre a mesma frase, “Prefiro não fazê-lo”, atraindo a insatisfação do patrão, que começa a pres-
sioná-lo a respeito de sua cada vez menos produtiva labuta. Sem coragem de demiti-lo, o advogado
o deixa continuar “trabalhando” e chega a encontrá-lo trancafiado sozinho nos dias de folga nas
dependências do escritório.
A perturbação recai sobre o advogado, que decide mudar -se dali, visto que Bartleby se recusa a
deixar o escritório, e seu aspecto fantasmagórico está deixando seus nervos à flor da pele.
O nó da história se dá quando, voltando para onde seu escritório se localizava, o advogado encon-
tra Bartleby morto, ao que parecia, por inanição. Devido à quase mudez do empregado acerca de
suas escolhas e à sua insistência em preferir não fazer nada, pouco se sabe (e muito se especula)
sobre os motivos e as razões subjacentes a suas escolhas e sua existência moribunda.
(Lucas Deschain. https://www.posfacio.com.br. Adaptado)
296
c) O patrão discordava com a negativa de Bartleby para realizar suas tarefas.
d) Indo no escritório, o advogado encontrou Bartleby morto por inanição talvez.
e) Talvez Bartleby sofresse por não se encontrar motivado a realizar tarefas diferentes.
QUESTÃO 8: VUNESP - MJ (TJ SP)/TJ SP/2019
Assunto: Regência Nominal e Verbal (casos gerais)
Literatura no cárcere
Desde 2013, quando o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) autorizou a remição da pena pela lei-
tura, 5.547 detentos foram beneficiados por esse projeto no Brasil. É um número baixo, se compa-
rado com as quase 700 mil pessoas privadas de liberdade em todo o país.
A recomendação do CNJ determina que, a cada livro lido, é possível reduzir quatro dias da pena.
Para isso, o leitor deve escrever um resumo da obra que deve ser aprovado por um parecerista.
Esses documentos seguem para o juiz responsável, que julga o pedido de remição.
Medir os benefícios dessa proposta tem feito florescer debates acalorados entre os que veem na
leitura ganhos efetivos para a reintegração do indivíduo à sociedade e os que a avaliam como um
privilégio concedido a pessoas que, de algum modo, causaram danos à população. Sem entrar no
mérito dessa discussão, é fato que, dentro ou fora da prisão, as benesses da leitura são muitas e
difíceis de mensurar.
Uma pesquisa feita em 2017 pela editora Companhia das Letras, que em parceria com a Fundação
Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel (Funap) subsidia um projeto de clubes de leitura e remição de
pena, indicou que os ganhos são mais concretos do que se pode imaginar.
Durante um ano, 177 detentos se reuniram mensalmente para discutir uma obra selecionada pela
curadoria do projeto.
Quando perguntados sobre as eventuais mudanças percebidas em si próprios, a resposta mais
frequente foi que os envolvidos conseguiram perceber uma “ampliação de conhecimentos”. Em se-
gundo, que se sentiam mais motivados “para traçar planos para o futuro”. Na sequência, aparecem
motivações como “capacidade de reflexão” e de “expressar sentimentos”, possibilidade de “dizer
o que pensa”, “maior criatividade” e, por último, “maior criticidade”.
Por qualquer prisma que se procure observar, esses ganhos já seriam significativos, pois no am-
biente prisional revelam uma extraordinária mudança na chave da autoestima.
(Vanessa Ferrari, Rafaela Deiab e Pedro Schwarcz. Folha de S. Paulo, 25.06.18. Adaptado)
297
Assinale a alternativa em que a regência das palavras está de acordo com a norma-padrão da lín-
gua portuguesa.
a) A técnica de fabricação é muito favorável com o meio ambiente exigindo muito menos água do
que o cultivo de algodão.
b) Atividades diárias, como lavar roupas, contribuem significativamente para a poluição que asfixia
nossos oceanos.
c) Os resíduos produzidos se caracterizam pela sua elevada toxicidade, implicando pela elevação
dos riscos associados à sua destinação final.
d) As preocupações em obedecer das exigências legais da qualidade do efluente ou resíduo in-
dustrial produzido foram superadas por novas metas de qualidade.
e) As empresas precisam ser responsáveis com o ciclo de vida completo de seus produtos, incluin-
do a coleta e a reutilização.
QUESTÃO 10: VUNESP - ENFJ (TJ SP)/TJ SP/2019
Assunto: Regência Nominal e Verbal (casos gerais)
“A saúde não é um brinquedo político, ela deve ser usada para promover o bem-estar e a qualidade
de vida. E isso só vai acontecer quando nos comprometermos a fazer da atenção primária à saúde
a base da assistência universal.”
A afirmação é do diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghe-
breyesus, durante a assinatura nesta quinta (25/10/2018) de um acordo internacional em Astana,
capital do Cazaquistão, em que 194 países membros da OMS, incluindo o Brasil, comprometeram-
-se a fortalecer a atenção primária.
Chamado de “Declaração de Astana”, o acordo também comemora o 40º aniversário da histórica
Declaração de Alma Alta, que exortou o mundo a fazer dos cuidados primários de saúde o pilar da
cobertura universal de saúde em 1978.
Ocorre que, embora nos últimos 40 anos a expectativa de vida tenha aumentado e a mortalidade
infantil, caído pela metade, por exemplo, o progresso em saúde tem sido desigual e injusto entre
países e dentro dos países.
“Devemos reconhecer que não alcançamos esse objetivo [saúde para todos]. Em vez de saúde
para todos, conseguimos saúde para alguns. Temos ficado muito focados em combater doenças
específicas, muito focados no tratamento, em detrimento da prevenção de doenças”, disse Ghe-
breyesus.
Quase metade da população mundial não tem acesso a serviços essenciais de saúde e, segundo
a OMS, 100 milhões de pessoas são empurradas para a pobreza a cada ano por causa de gastos
catastróficos em saúde. A atenção primária à saúde pode fornecer de 80% a 90% das necessida-
des de saúde de uma pessoa durante sua vida.
A Declaração de Astana aponta a necessidade de uma ação multissetorial que inclua tecnologia,
conhecimento científico e tradicional, juntamente com profissionais de saúde bem treinados e re-
munerados, e participação das pessoas e da comunidade para que seja alcançada a tão sonhada
saúde para todos com qualidade.
(Cláudia Collucci, Saúde não é brinquedo político, diz diretor da OMS. Em: Folha de S.Paulo, 25.10.2018. Adaptado)
298
Assinale a alternativa em que a regência está em conformidade com a norma-padrão.
a) Embora as nações aspirem cobertura universal de saúde, precisamos reconhecer de que ela
ainda não chegou em todos os habitantes do planeta.
b) Embora as nações aspirem na cobertura universal de saúde, precisamos reconhecer de que
ela ainda não chegou a todos os habitantes do planeta.
c) Embora as nações aspirem pela cobertura universal de saúde, precisamos reconhecer que ela
ainda não chegou em todos os habitantes do planeta.
d) Embora as nações aspirem à cobertura universal de saúde, precisamos reconhecer que ela
ainda não chegou a todos os habitantes do planeta.
e) Embora as nações aspirem por cobertura universal de saúde, precisamos reconhecer que ela
ainda não chegou com todos os habitantes do planeta.
Por quê?
“Correlação não é causa” é um mantra que todos aqueles que já entraram numa aula de estatística
ou de metodologia científica ouviram. E de fato não é. O canto do galo e o nascer do sol estão forte-
mente correlacionados, mas ninguém deve achar que é o som emitido pelo galináceo que provoca
o surgimento do astro todas as manhãs.
O problema é que, durante muito tempo, estatísticos e cientistas se deixaram cegar pelo mantra e
renunciaram a investigar melhor a causalidade e desenvolver ferramentas matemáticas para lidar
com ela, o que é perfeitamente possível. Essa pelo menos é a visão do cientista da computação
Judea Pearl, exposta em “The Book of Why” (O livro do porquê), obra que escreveu com o mate-
mático e jornalista científico Dana Mackenzie.
Os prejuízos foram grandes. Muitas vidas se perderam porque, por várias décadas, a ciência julgou
não ter meios para estabelecer com segurança se o cigarro causava ou não câncer, incerteza que
a indústria do tabaco foi hábil em explorar. Em “The Book of Why”, Pearl e Mackenzie explicam de
forma razoavelmente didática quais são as novas técnicas que permitem responder a perguntas
causais como “qual a probabilidade de esta onda de calor ter sido provocada pelo efeito estufa?”
ou “foi a droga X que curou a doença Y?”. Mais até, os autores falam em usar a estatística para
destrinchar o obscuro mundo dos contrafactuais1.
Uma advertência importante que os autores fazem a entusiastas do “big data”2 é que não podemos
nos furtar a entender as questões estudadas e formular teorias. Não se chega a lugar nenhum só
com dados e sem hipóteses.
Minha sensação, pela retórica empregada (não tenho competência para avaliar tecnicamente), é
que Pearl exagera um pouco. Ele faz um uso pouco comedido de termos como “revolução” e “mi-
lagre”. Mas é um cientista de primeira linha e, mesmo que ele esteja aumentando as coisas em até
30%, ainda sobram muitas ideias fascinantes no livro.
(Hélio Schwartsman. 19.08.2018. www.folha.uol.com.br. Adaptado)
299
Considerando as regras de regência da norma padrão, a expressão destacada em – ... não pode-
mos nos furtar a entender... – pode ser substituída por
a) abster por
b) abster em
c) abster de
d) abster sobre
e) abster contra
QUESTÃO 12: VUNESP - AUX LEG (CM TATUÍ)/CM TATUÍ/2019
Assunto: Regência Nominal e Verbal (casos gerais)
Texto 1
Filósofo da internet sugere pagar ou sair das redes sociais
Jaron Lanier não poupa críticas ao modelo de negócios baseado em publicidade, que sustenta a
maior parte do que conhecemos por internet hoje. Serviços gratuitos como Facebook, Google e
WhatsApp, no fundo, cobram caro. Na visão de Lanier, manipulam, mudam comportamentos e,
muitas vezes, nos tornam babacas.
Em seu quinto livro, “Dez Argumentos para Você Deletar Agora suas Redes Sociais”, recém-lança-
do no Brasil, o cientista da computação e precursor da realidade virtual encoraja as pessoas cuja
vida financeira não depende das redes sociais a abandoná-las – ao menos por seis meses –, para
retomarem a “consciência de si próprias”.
Lanier afirma que, se cometeram muitos erros na internet, um deles era a ideia de que a única
forma de inovar e manter o serviço livre era com um modelo baseado em publicidade, o que nos
levou a um contexto de vigilância universal. Ele defende um sistema em que as pessoas possam
ser pagas pelo que fazem on line e paguem pelo que gostam de fazer on line, o que tornaria a
relação mais direta e honesta.
Lanier explica: “Quando você olhava para o anúncio da TV, ele não estava te olhando de volta. Na
internet, é diferente: há mais informação sendo tirada de você do que oferecida. Ferramentas em
qualquer site captam como seu corpo se mexe, onde você está e tudo sobre seus dispositivos. O
que você vê é a menor parte do que acontece. Toda informação tirada de você é usada para mudar
sua experiência on line e criar uma sistemática que te prenda. Isso é chamado de engajamento.
Chamo de vício. É quase como vício em jogo, há busca por satisfação, e a punição é severa.”
Jaron Lanier recomenda ficar atento aos 10 argumentos para você deletar suas redes sociais:
300
10. As redes sociais odeiam sua alma
(Folha de S. Paulo, 20.10.2019, Adaptado)
301
a) Por isso, o relatório impõe por uma agenda econômica focada com seres humanos...
b) Por isso, o relatório reivindica uma agenda econômica ajustada para seres humanos...
c) Por isso, o relatório reclama de uma agenda econômica dirigida de seres humanos...
d) Por isso, o relatório postula com uma agenda econômica aplicada por seres humanos...
e) Por isso, o relatório requer de uma agenda econômica destinada a seres humanos...
Essa é a frase que mais tenho ouvido recentemente. Passada a euforia de uma notícia qualificada
como “bomba”, logo os atores de uma das partes corriam a público para disponibilizar a íntegra
daquilo que antes foi veiculado em partes.
É preciso saber de tudo e entender de tudo. É preciso tirar as próprias conclusões para não depen-
der de ninguém, e é esse o grande e contraditório imperativo dos nossos tempos. É uma ordem a
uma experimentação libertária, e uma quase contradição do termo. O imperativo que liberta tam-
bém aprisiona: você só passa a ser, ou a pertencer, se tiver uma conclusão. Sobre qualquer coisa.
Nas últimas décadas psicanalistas se debruçaram sobre as mudanças nos arranjos produtivos e
sociais de cada período histórico para compreender e nomear as formas de sofrimento decorrentes
delas. A revolução industrial, a divisão social do trabalho, a urbanização desenfreada e as guerras,
por exemplo, fizeram explodir o número de sujeitos impacientes, irritadiços e perturbados com a
velocidade das transformações e suas consequentes perdas de referências simbólicas.
Pensando sobre o imperativo “Leia/Veja/Assista” e “Tire suas próprias conclusões”, começo a des-
confiar de que estamos diante de uma nova forma de sofrimento relacionado a um mal-estar ainda
não nomeado.
Afinal, que tipo de sujeito está surgindo de nossa nova organização social? O que a vida em rede
diz sobre as formas como nos relacionamos com o mundo? Que tipos de valores surgem dali? E,
finalmente, que tipo de sofrimento essa vida em rede tem causado?
Vou arriscar e sair correndo, já sob o risco de percorrer um campo que não é meu: estamos vendo
surgir o sujeito preso à ideia da obrigação de ter algo a dizer. Ao longo dos séculos essa angústia
era comum aos chamados formadores de opinião e artistas, responsáveis por reinterpretar o mun-
do. Hoje basta ter um celular com conexão 3G para ser chamado a opinar sobre qualquer coisa.
Pensamos estar pensando mesmo quando estamos apenas terceirizando convicções ao comparti-
lhar aquilo que não escrevemos.
É uma nova versão de um conflito descrito por Clarice Lispector a respeito da insuficiência da lin-
guagem. Algo como: “Não só não consigo dizer o que penso como o que penso passa a ser o que
digo”. Se vivesse nas redes que atribuem a ela frases que jamais disse, o “dizer” e o “pensar” teriam
a interlocução de um outro verbo: “compartilhar”.
(Matheus Pichonelli, Carta Capital. 18.03.2016. www.cartacapital.com.br. Adaptado)
Considere o trecho: O imperativo que liberta também aprisiona: você só passa a ser, ou a pertencer,
se tiver uma conclusão. Sobre qualquer coisa. (2º parágrafo)
Respeitando-se as regras de regência nominal e preservando- se o sentido original, o vocábulo
destacado pode ser substituído por:
302
a) De acordo com
b) De encontro a
c) Acima de
d) Em virtude de
e) A respeito de
a) Telejornais apresentam à população um resumo dos eventos que lhe despertaram interesse nas
redes sociais.
b) Indivíduos são chamados à tirar suas conclusões sobre fatos que os são apresentados diaria-
mente.
c) Cada vez mais têm chegado à mim frases das quais me fazem refletir sobre os valores da so-
ciedade atual.
d) É inegável que às redes sociais influenciam o modo como interagimos com o mundo e o damos
sentido.
e) Tem sido comum pessoas compartilharem informações de maneira instantânea, sem analisar-
-lhes à fundo.
QUESTÃO 16: VUNESP - ASS SOC (TRANSERP)/TRANSERP/2019
Assunto: Regência Nominal e Verbal (casos gerais)
Pela primeira vez na história de nossa espécie, foi-nos oferecida a possibilidade de comer à larga
em todas as refeições e de ganhar a vida sentados o dia inteiro. Obesidade e sedentarismo se
tornaram as principais epidemias nos países de renda média e alta, nos quais a praga mortífera do
tabagismo começa a ser a duras penas controlada.
Na esteira dessas duas pandemias, caminham a passos apressados hipertensão arterial, diversos
tipos de câncer, diabetes, doenças cardiovasculares, problemas ortopédicos, articulares, renais e
outras complicações que sobrecarregam o sistema de saúde, encarecem o atendimento e fazem
sofrer milhões de pessoas. Nas capitais, 19% dos brasileiros adultos estão obesos e outros 35%
têm sobrepeso, ou seja, menos da metade da população cai na faixa do peso considerado saudá-
vel.
Na contramão de outros ramos da economia, a incorporação de tecnologia na área médica aumen-
ta o custo do produto final. A assistência a uma população que envelhece mal como a brasileira
exigirá recursos de que não dispomos no SUS nem na saúde suplementar.
Esperar as pessoas adoecerem para tratá-las em hospitais e unidades de pronto atendimento é
política suicida. Não há saída: ou investimos na prevenção ou, cada vez mais, só os privilegiados
terão acesso à medicina moderna.
Nos anos 1960, cerca de 60% dos nossos adultos fumavam, hoje não passam de 10%. Se con-
seguimos resultado tão impressionante com a dependência química mais feroz que a medicina
303
conhece, não é impossível convencer mulheres, crianças e homens a comer um pouco menos e a
andar míseros 40 minutos num dia de 24 horas.
(Drauzio Varella. Folha de S. Paulo, 11.11.2018. www.folha.uol.com.br. Adaptado)
Atendendo às regras de regência verbal e de colocação pronominal da norma-padrão da língua, a
expressão destacada em “recursos de que não dispomos no SUS nem na saúde suplementar”
pode ser substituída por
a) que não nos ofertam.
b) que não ofertam-nos.
c) de que não nos ofertam.
d) de que não ofertam-nos.
e) em que não ofertam-nos.
Página infeliz
O mercado editorial no Brasil nunca pareceu tão próximo de uma catástrofe – com as duas prin-
cipais redes de livrarias do país, Saraiva e Cultura, em uma crise profunda, reduzindo o número de
lojas e com dívidas que parecem sem fim.
Líder do mercado, a Saraiva, que já acumula atrasos de pagamentos a editores nos últimos anos,
anunciou nesta semana o fechamento de 20 lojas. Em nota, a rede afirma que a medida tem a ver
com “desafios econômicos e operacionais”, além de uma mudança na “dinâmica do varejo”.
Na semana anterior, a Livraria Cultura entrou em recuperação judicial. No pedido à Justiça, a rede
afirma acumular prejuízos nos últimos quatro anos, ter custos que só crescem e vendas menores.
Mesmo assim, diz a petição enviada ao juiz, não teria aumentado seus preços.
O enrosco da Cultura está explicado aí. Diante da crise, a empresa passou a pegar dinheiro em-
prestado com os bancos – o tamanho da dívida é de R$ 63 milhões. Com os atrasos nos paga-
mentos das duas redes, editoras já promoveram uma série de demissões ao longo dos últimos dois
anos.
O cenário de derrocada, contudo, parece estar em descompasso com os números de vendas.
Desde o começo do ano, os dados compilados pela Nielsen, empresa de pesquisa de mercado,
levantados a pedido do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, mostravam que o meio livreiro
vinha dando sinais de melhoras pela primeira vez, desde o início da recessão econômica que abala
o país.
Simone Paulino, da Nós, editora independente de São Paulo, enxerga um descompasso entre as
vendas em alta e a crise. Nas palavras dela, “um paradoxo assustador.” A editora nunca vendeu
tanto na Cultura quanto nesses últimos seis meses”, diz. E é justamente nesse período que eles
não têm sido pagos.
“O modelo de produção do livro é muito complicado. Você investe desde a compra do direito autoral
ou tradução e vai investindo ao longo de todo o processo. Na hora que você deveria receber, esse
dinheiro não volta”, diz Paulino.
“Os grandes grupos têm uma estrutura de advogados que vão ter estratégia para tentar receber. E
para os pequenos? O que vai acontecer?”
Mas há uma esperança para os editores do país: o preço fixo do livro. Diante do cenário de crise, a
maior parte dos editores aposta em uma carta tirada da manga no apagar das luzes do atual gover-
304
no – a criação, no país, do preço fixo do livro – norma a ser implantada por medida provisória – nos
moldes de boa parte de países europeus, como França e Alemanha.
Os editores se inspiram no pujante mercado europeu. Por lá, o preço fixo existe desde 1837, quan-
do a Dinamarca criou a sua lei limitando descontos, abolida só em 2001. A crença é a de que a
crise atual é em parte causada pela guerra de preço. Unificar o valor de capa permitiria um flores-
cimento das livrarias independentes, uma vez que elas competiriam de forma mais justa com as
grandes redes.
(Folha de S. Paulo, 03.11.2018. Adaptado)
As palavras e as coisas
Confesso que, de início, não acreditava que Moana, aos 9 anos, pudesse se interessar pela leitura
da versão integral do clássico de J.R.R. Tolkien, O Hobbit. É verdade que se trata de uma aventura
povoada por magos e repleta de objetos encantados. Mas é um romance longo, com descrições
densas e vocabulário sofisticado. Para minha surpresa, no entanto, seu envolvimento com a obra
crescia a cada noite que a líamos juntos.
Ao terminarmos a leitura do décimo capítulo, Moana não me desejou boa-noite. Com olhos ainda
despertos, me perguntou se não podíamos comentar aquilo que mais havia agradado até então.
Pensei que o pedido não passasse de mais uma de suas estratégias para adiar a hora de dormir.
Recusei, mas ela argumentou: “Não é assim que vocês fazem, você e a mamãe, quando leem
Arendt e Paul Ricoeur em seus grupos de estudos?”. Jamais imaginara que, quando a levamos a
esses encontros – premidos por alguma necessidade – ela pudesse prestar qualquer atenção ao
que se passava. Sempre a via absorta em suas tarefas, desenhos e leituras. Mas, em seu silêncio,
ela se dava conta do sentido de uma leitura partilhada.
Falamos, então, das transformações que ocorreram no personagem central, que abandonara sua
vida confortável e pacata de hobbit, para se tornar um aventureiro épico. Mas foi só no dia se-
guinte que percebi a profundidade contida em seu pedido para que partilhássemos as impressões
305
de nossas leituras. Lembrei-me de uma bela passagem de Homens em tempos sombrios, na qual
Hannah Arendt afirma que o “mundo não é humano simplesmente por ter sido feito por mãos hu-
manas, nem se torna humano meramente porque a voz humana nele ressoa. Por mais afetados
que sejamos pelas coisas do mundo [como um livro], por mais profundamente que elas possam
nos instigar e estimular, essas coisas só se tornam humanas para nós quando podemos discuti-las
com nossos companheiros”.
É porque a fala humaniza as obras que gostamos tanto de comentar um filme, de compartilhar a
interpretação de um livro ou fazer uma refeição com nossos amigos. São as expressões do discur-
so humano que transformam uma coisa – como um livro – em objeto de um legado simbólico que
nos humaniza.
Na escola, é por meio das trocas discursivas entre professores e alunos que um romance ou um
programa computacional deixam de ser coisas inertes para se transformarem em objetos que de-
sempenham uma função educativa e, assim, adquirem seu sentido humanizador. São as palavras
– e não as coisas – que conferem sentido às experiências humanas.
(José Sérgio Fonseca de Camargo, “As palavras e as coisas”. Em: http://www.revistaeducacao.com.br. Adaptado)
a) Moana ia nos grupos de estudos com os pais e ficava atenta de todas as coisas que aconteciam
ali.
b) Moana, antes de dormir, queria falar com o pai sobre aquilo de que mais havia gostado na leitura
de O Hobbit.
c) As transformações no personagem central mostram que o hobbit aspirava em ser um aventu-
reiro épico.
d) Quando Moana pediu para comentar a leitura, o pai discordou com ela, achando que não que-
ria dormir.
e) O pai pensava de que Moana não estava apta em ler a versão integral do clássico de J.R.R.
Tolkien, O Hobbit.
QUESTÃO 19: VUNESP - PEBII (PREF ITAPEVI)/PREF ITAPEVI/PEB II/EDUCAÇÃO
ESPECIAL/2019
Assunto: Regência Nominal e Verbal (casos gerais)
Considere o texto e a foto seguintes para responder a questão.
306
Almoço com as estrelas
Já houve muita discussão sobre a autenticidade de uma das fotos mais famosas de todos os tempos:
Lunch atop a skyscraper (algo como Almoço no topo de um arranha- céu). A teoria mais escandalosa
é que a foto seria uma montagem. Não é. Nos anos 30, quando foi tirada, não havia tecnologia para
forjar os personagens num fundo falso. O negativo é de vidro e encontra-se nos cofres da Agência
Corbis.
Outra teoria: os onze operários estariam ali protegidos por redes. Não. Estão correndo risco, ainda
que tenham topado posar para a foto. Ou seja, não apareceu um fotógrafo do nada ao meio-dia de
20 de setembro de 1932 e simplesmente flagrou o almoço da rapaziada. Até porque fotógrafos e
modelos estão a quase 250 m de altura, na estrutura de um edifício na Rua 48, em Nova York.
Naquele dia, três fotógrafos estiveram na construção, segundo Ken Johnston, diretor de fotos his-
tóricas da Corbis.
A foto, hoje atribuída a Charles C. Ebbets, foi publicada no dia 2 de outubro de 1932, no jornal The
New York Herald Tribune, e trazia a legenda: “Enquanto milhares de nova-iorquinos se apressam
em restaurantes e lanchonetes fervilhantes de clientes, esses trabalhadores intrépidos obtêm todo
o ar e liberdade que querem almoçando sobre uma viga de aço”.
(Aventuras na História, dezembro de 2012. Adaptado)
Supondo uma outra legenda para a foto, ela estará em conformidade com a regência padrão se
redigida da seguinte forma:
a) Uma cena com que muitos não creem: insensíveis do medo, operários descansam a quase 250
metros de altura.
b) Uma cena a que muitos duvidam: expostos ao perigo, operários descansam a quase 250 metros
de altura.
c) Uma cena em que muitos se espantam: indefesos diante à cidade, operários descansam a qua-
se 250 metros de altura.
d) Uma cena de que muitos não se convencem: desprovidos com equipamentos de segurança,
operários descansam a quase 250 metros de altura.
e) Uma cena de que muitos se maravilham: indiferentes aos riscos, operários descansam a quase
250 metros de altura.
307
QUESTÃO 20: VUNESP - IFR (PREF GRU)/PREF GRU/2019
Assunto: Regência Nominal e Verbal (casos gerais)
Leia o texto e responda a questão.
Roma
O filme Roma está constantemente entre dois caminhos. É pessoal e grandioso, popular e intelec-
tual, tecnológico – rodado em 65 mm digital – e clássico – feito em preto e branco com a mesma
ousadia dos movimentos cinematográficos das décadas de 1950 e 1960. O título, uma referência a
Colonia Roma, bairro da Cidade do México, também remete a Roma, Cidade Aberta, filme-símbolo
do neorrealismo italiano assinado por Roberto Rossellini.
Ao revisitar a própria memória, o cineasta Alfonso Cuarón escolhe olhar para Cleo, a empregada,
de origem indígena, de uma família branca de classe média. Resgata, assim, não apenas os seus
anos de formação, mas todas as particularidades do passado do país. O México no início dos anos
1970 fervilhava entre revoluções sociais e a influência da cultura estrangeira. Cleo, porém, se man-
tinha ingênua, centrada nas suas obrigações: lavar o pátio, buscar as crianças na escola, lavar a
roupa, colocar os pequenos para dormir.
Até que tudo se transforma. A família perfeita desmorona, com o pai que sai de casa, a mãe que
não se conforma com o fim do casamento e os filhos jogados de um lado para o outro na con-
fusão dos adultos. Enquanto isso, Cleo se apaixona, engravida, é enganada e deixada à própria
sorte. Duas mulheres de diferentes origens compartilham a dor do abandono. Juntas, reencontram
a resiliência que segura o mundo frente às paixões autocentradas.
O cineasta, que além da direção e do roteiro assina a fotografia e a montagem (ao lado de Adam
Gough), retrata sua história, entrelaçada com a de seu país, como se na vida adulta reencontrasse
o olhar da infância, cujo fascínio por cada descoberta aumenta o tamanho e a importância de tudo.
O que Cuarón faz em Roma é raro. São camadas e camadas sobrepostas para reproduzir a com-
plexidade do seu imaginário afetivo e das relações sociais de um país. Entre muitas inspirações,
referências e técnicas, sua assinatura está na sinceridade com que olha para si mesmo e para os
seus personagens, encontrando beleza e verdade no que muitos menosprezam. Esse é um filme
simples e complicado, como a própria vida.
(Natália Bridi. Omelete. 11.01.2019. www.omelete.com.br. Adaptado)
Em “Cleo, porém, se mantinha ingênua, centrada nas suas obrigações...” (2º parágrafo), o trecho
destacado pode ser corretamente substituído, conforme as regras de regência da norma-padrão da
língua, por
a) dedicada das.
b) absorta sob as.
c) aplicada com as.
d) empenhada nas.
e) comprometida das.
308
O filme Roma está constantemente entre dois caminhos. É pessoal e grandioso, popular e intelec-
tual, tecnológico – rodado em 65 mm digital – e clássico – feito em preto e branco com a mesma
ousadia dos movimentos cinematográficos das décadas de 1950 e 1960. O título, uma referência a
Colonia Roma, bairro da Cidade do México, também remete a Roma, Cidade Aberta, filme-símbolo
do neorrealismo italiano assinado por Roberto Rossellini.
Ao revisitar a própria memória, o cineasta Alfonso Cuarón escolhe olhar para Cleo, a empregada,
de origem indígena, de uma família branca de classe média. Resgata, assim, não apenas os seus
anos de formação, mas todas as particularidades do passado do país. O México no início dos anos
1970 fervilhava entre revoluções sociais e a influência da cultura estrangeira. Cleo, porém, se man-
tinha ingênua, centrada nas suas obrigações: lavar o pátio, buscar as crianças na escola, lavar a
roupa, colocar os pequenos para dormir.
Até que tudo se transforma. A família perfeita desmorona, com o pai que sai de casa, a mãe que
não se conforma com o fim do casamento e os filhos jogados de um lado para o outro na con-
fusão dos adultos. Enquanto isso, Cleo se apaixona, engravida, é enganada e deixada à própria
sorte. Duas mulheres de diferentes origens compartilham a dor do abandono. Juntas, reencontram
a resiliência que segura o mundo frente às paixões autocentradas.
O cineasta, que além da direção e do roteiro assina a fotografia e a montagem (ao lado de Adam
Gough), retrata sua história, entrelaçada com a de seu país, como se na vida adulta reencontrasse
o olhar da infância, cujo fascínio por cada descoberta aumenta o tamanho e a importância de tudo.
O que Cuarón faz em Roma é raro. São camadas e camadas sobrepostas para reproduzir a com-
plexidade do seu imaginário afetivo e das relações sociais de um país. Entre muitas inspirações,
referências e técnicas, sua assinatura está na sinceridade com que olha para si mesmo e para os
seus personagens, encontrando beleza e verdade no que muitos menosprezam. Esse é um filme
simples e complicado, como a própria vida.
(Natália Bridi. Omelete. 11.01.2019. www.omelete.com.br. Adaptado)
A expressão verbal que apresenta, conforme a norma-padrão da língua, a mesma regência da des-
tacada em “O título [...] remete a Roma, Cidade Aberta, filme-símbolo do neorrealismo italiano...”
(1o parágrafo) e que, por essa razão, pode substituí-la sem que se realize qualquer outra alteração
no trecho é:
a) se refere.
b) se evoca.
c) retoma.
d) recupera.
e) ecoa.
Chris Bolin, engenheiro de software da Formidable, empresa de Seattle (EUA), criou uma página de
internet cujo conteúdo só pode ser lido offline – ou seja, você tem que desconectar sua internet
no PC ou celular e só assim a página mostrará o texto. Se você ainda não está pronto para desligar
sua internet por dois minutos, a gente te ajuda: Veja abaixo o manifesto de Chris Bolin:
“2017. 2 minutos de leitura.
309
Você quer ser produtivo? Basta desligar, pois manter uma conexão constante com a internet é man-
ter uma conexão constante com interrupções, tanto externas como internas.
As interrupções externas são uma legião e bem documentadas: você tem uma nova mensagem no
Gmail, Slack, Twitter, Facebook, Instagram, Snapchat, LinkedIn. Amigos, familiares, colegas de
trabalho e spammers: cada um tem acesso direto à sua preciosa atenção.
Mas são as distrações internas verdadeiramente perniciosas. Você pode silenciar as notificações
do Twitter e sair do Slack, mas como você impede sua própria mente de descarrilar sua atenção?
Passei horas capturadas em teias da minha própria curiosidade. O mais perigoso é o capricho divi-
dido, a propósito do nada: ‘Eu me pergunto qual é o segundo idioma mais falado?’ Aqueles 500
milissegundos poderiam mudar seu dia, porque nunca é apenas uma pesquisa no Google, apenas
um artigo da Wikipédia. A desconexão da internet faz um curto-circuito desses caprichos, permitin-
do que você se mova sem embaraços.
Esta página em si é um experimento nesta veia: e se certo conteúdo nos obrigasse a desconectar?
E se os leitores tivessem acesso a essa gloriosa atenção que faz devorar um romance por horas
de uma forma tão gratificante? E se os criadores pudessem emparelhar isso com o poder dos apa-
relhos modernos? Nossos telefones e laptops são incríveis plataformas para novos conteúdos – se
apenas pudéssemos aproveitar nossa própria atenção.
O conteúdo offline apenas obrigaria os criadores a pensar de forma diferente. Olhe para esta pági-
na: não há um único link, nenhuma oferta de nota de rodapé para distrair os leitores. Quantos bons
artigos você deixou a metade da leitura porque você caçou um cintilante link sublinhado? Quando
você está offline, aqui é o único lugar em que você pode estar.
Eu já posso ouvir os gemidos: ‘Mas eu tenho que estar online para o meu trabalho.’ Eu não ligo.
Crie tempo. Aposto que o que o torna valioso não é a sua capacidade para o Google, mas a sua
capacidade de sintetizar informações. Faça suas pesquisas online, mas crie offline.
Agora volte para sua internet acessada regularmente. Apenas lembre-se de se dar um presente
ocasional de desconexão.”
(https://uoltecnologia.blogosfera.uol.com.br. Adaptado)
Chris Bolin, engenheiro de software da Formidable, empresa de Seattle (EUA), criou uma página de
310
internet cujo conteúdo só pode ser lido offline – ou seja, você tem que desconectar sua internet
no PC ou celular e só assim a página mostrará o texto. Se você ainda não está pronto para desligar
sua internet por dois minutos, a gente te ajuda: Veja abaixo o manifesto de Chris Bolin:
“2017. 2 minutos de leitura.
Você quer ser produtivo? Basta desligar, pois manter uma conexão constante com a internet é man-
ter uma conexão constante com interrupções, tanto externas como internas.
As interrupções externas são uma legião e bem documentadas: você tem uma nova mensagem no
Gmail, Slack, Twitter, Facebook, Instagram, Snapchat, LinkedIn. Amigos, familiares, colegas de
trabalho e spammers: cada um tem acesso direto à sua preciosa atenção.
Mas são as distrações internas verdadeiramente perniciosas. Você pode silenciar as notificações
do Twitter e sair do Slack, mas como você impede sua própria mente de descarrilar sua atenção?
Passei horas capturadas em teias da minha própria curiosidade. O mais perigoso é o capricho divi-
dido, a propósito do nada: ‘Eu me pergunto qual é o segundo idioma mais falado?’ Aqueles 500
milissegundos poderiam mudar seu dia, porque nunca é apenas uma pesquisa no Google, apenas
um artigo da Wikipédia. A desconexão da internet faz um curto-circuito desses caprichos, permitin-
do que você se mova sem embaraços.
Esta página em si é um experimento nesta veia: e se certo conteúdo nos obrigasse a desconectar?
E se os leitores tivessem acesso a essa gloriosa atenção que faz devorar um romance por horas
de uma forma tão gratificante? E se os criadores pudessem emparelhar isso com o poder dos apa-
relhos modernos? Nossos telefones e laptops são incríveis plataformas para novos conteúdos – se
apenas pudéssemos aproveitar nossa própria atenção.
O conteúdo offline apenas obrigaria os criadores a pensar de forma diferente. Olhe para esta pági-
na: não há um único link, nenhuma oferta de nota de rodapé para distrair os leitores. Quantos bons
artigos você deixou a metade da leitura porque você caçou um cintilante link sublinhado? Quando
você está offline, aqui é o único lugar em que você pode estar.
Eu já posso ouvir os gemidos: ‘Mas eu tenho que estar online para o meu trabalho.’ Eu não ligo.
Crie tempo. Aposto que o que o torna valioso não é a sua capacidade para o Google, mas a sua
capacidade de sintetizar informações. Faça suas pesquisas online, mas crie offline.
Agora volte para sua internet acessada regularmente. Apenas lembre-se de se dar um presente
ocasional de desconexão.”
(https://uoltecnologia.blogosfera.uol.com.br. Adaptado)
Quando estão conectados, os internautas dão muita atenção mensagens que recebem em
seus e-mails e nas redes sociais. De mais mais, ainda muitas distrações internas de cada
um. Frente tudo isso, como as pessoas devem começar pensar sua forma de se relacionar
com a conectividade?
De acordo com a norma-padrão, as lacunas do enunciado devem ser preenchidas, respectivamen-
te, com
A) às ... à ... a ... a ... a
B) as ... à ... a ... a ... à
C) às ... a ... à ... à ... a
D) as ... à ... há ... à ... à
E) às ... a ... há ... a ... a
311
QUESTÃO 24: VUNESP - COOR PEDA (PERUÍBE)/PREF PERUÍBE/2019
Assunto: Regência Nominal e Verbal (casos gerais)
Querido Martins, a portadora é Tereza Batista, com amizade. de arruaceira, atrevida e obs-
tinada, de não respeitar autoridade e de se meter não é chamada. Mas tendo com ela convi-
vido longo tempo, praticamente juntos dia e noite de março novembro neste ano de 72, sei
de suas boas qualidades.
(Trecho de carta de Jorge Amado, que consta na orelha da capa de seuromance Tereza Batista cansada de guerra.)
Uma garotinha sobe em uma árvore. De galho em galho, ela se diverte, até que pede ajuda, não
consegue descer. “Se subiu, desce”, diz o homem. Ela tenta, tenta e por fim consegue. Em poucos
segundos, está no alto novamente: aprendeu a descer. Em torno dela, dezenas de crianças brin-
cam com pedaços de madeira velha e canos, escalam grades, andam de patinete e dão cambalho-
tas – os adultos não reprimem. Essa grande bagunça é o recreio das crianças da Swanson Primary
School, em Auckland, Nova Zelândia, e o homem é Bruce McLachlan, diretor que implementou na
escola a política de zero regras.
“Nós queremos que as crianças estejam seguras e queremos cuidar delas, mas acabamos embru-
lhando-as em algodão enquanto elas deveriam poder cair“, diz Mclachlan ao criticar a forma com
que tratamos as crianças.
A iniciativa do intervalo sem regras partiu de um experimento feito por duas universidades locais.
A ideia é que ao dar às crianças a responsabilidade de cuidar de si mesmas, dá-se também a
oportunidade de aprenderem com seus próprios erros. “Quando você olha para o nosso parquinho,
parece um caos. De uma perspectiva adulta, parece que as crianças vão se machucar, mas elas
não se machucam”, afirma.
Ao manter as crianças livres para se divertir, foram registrados menos acidentes, casos de bullying
e vandalismo, enquanto que a concentração das crianças nas aulas e a vontade de ir à escola au-
mentaram.
O experimento deu tão certo que se tornou uma política permanente da escola.
(Bruna Rasmussen. https://www.hypeness.com.br/2015/01/conheca-aescola- sem-regras-e-seu-impacto-na-vida-dos-
-estudantes/ Adaptado)
312
d) predispostas para as aulas e mostraram-se menos alheias à vida escolar.
e) aplicadas das aulas e mostraram-se menos aborrecidas com a vida escolar.
Imigração é um fenômeno estranho. Do ponto de vista puramente racional, ela é a solução para
vários problemas globais. Mas, como o mundo é um lugar menos racional do que deveria, pessoas
que buscam refúgio em outros países costumam ser recebidas com desconfiança quando não com
violência, o que diminui o valor da imigração como remédio multiuso.
No plano econômico, a plena mobilidade da mão de obra seria muito bem-vinda. Segundo algumas
estimativas, ela faria o PIB mundial aumentar em até 50%. Mesmo que esses cálculos estejam in-
flados, só uma fração de 10% já significaria um incremento da ordem de US$ 10 trilhões (uns cinco
Brasis).
Uma das principais razões para o mundo ser mais pobre do que poderia é que enormes contin-
gentes de humanos vivem sob sistemas que os impedem de ser produtivos. Um estudo de 2016
de Clemens, Montenegro e Pritchett estimou que só tirar um trabalhador macho sem qualificação
de seu país pobre de origem e transportá-lo para os EUA elevaria sua renda anual em US$ 14 mil.
A imigração se torna ainda mais tentadora quando se considera que é a resposta perfeita para paí-
ses desenvolvidos que enfrentam o problema do envelhecimento populacional.
Não obstante tantas virtudes, imigrantes podem ser maltratados e até perseguidos quando cruzam
a fronteira, especialmente se vêm em grandes números. Isso está acontecendo até no Brasil, que
não tinha histórico de xenofobia. Desconfio de que estão em operação aqui vieses da Idade da Pe-
dra, tempo em que membros de outras tribos eram muito mais uma ameaça do que uma solução.
De todo modo, caberia às autoridades incentivar a imigração, tomando cuidado para evitar que a
chegada dos estrangeiros dê pretexto para cenas de barbárie. Isso exigiria recebê-los com in-
teligência, minimizando choques culturais e distribuindo as famílias por regiões e cidades em que
podem ser mais úteis. É tudo o que não estamos fazendo.
(Hélio Schwartsman. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/.28.08.2018. Adaptado)
No trecho do quarto parágrafo – ... é a resposta perfeita para países desenvolvidos que enfrentam
o problema do envelhecimento populacional. –, a substituição da expressão em destaque resulta
em regência e emprego de pronome adequados em:
a) dos quais precisam resolver.
b) cujos se dispõem em enfrentar.
c) de que não conseguem solucionar.
d) aos quais procuram por resolver.
e) nos quais há empenho em enfrentar.
313
Como as crianças são naturalmente agitadas, cabe aos adultos impor às crianças limites que ga-
rantam às crianças um desenvolvimento saudável.
Para eliminar as repetições da frase, as expressões destacadas devem ser substituídas, em con-
formidade com a norma-padrão da língua, respectivamente, por
a) impor-nas ... lhes garantam
b) impor-lhes ... as garantam
c) impô-las ... lhes garantam
d) impô-las ... as garantam
e) impor-lhes ... lhes garantam
QUESTÃO 28: VUNESP - SEC ESC (PERUÍBE)/PREF PERUÍBE/2019
Assunto: Regência Nominal e Verbal (casos gerais)
Atendendo às regras de regência nominal segundo a norma- padrão da língua, a preposição que
substitui a destacada na frase – Você tem apego a suas lembranças da infância? –, com o mesmo
sentido, é
a) por
b) de
c) em
d) com
e) sobre
COMENTÁRIO
→ Quem tem certeza, tem certeza DE alguma coisa (de que);
→ quer ia a algum lugar (a+o= ao cinema).
314
→ assistir com sentido de “ver” é transitivo indireto e rege a preposição “a” (a+o= ao Aquaman).
GABARITO D
Leia a resenha do livro Solar da Fossa, escrito por Toninho Vaz, para responder à questão.
Misto de pensão e apart-hotel da zona sul carioca, o lendário Solar da Fossa serviu, entre 1964
e 1971, de moradia e ponto de encontro para jovens artistas e intelectuais oriundos de diversos
cantos do país.
Estes o procuravam não só pelo aluguel acessível, mas também pela considerável liberdade que
desfrutavam ali, em pleno regime militar. Paulinho da Viola, Gal Costa, Tim Maia, Ítala Nandi e
Paulo Leminski estão entre as dezenas de personagens do livro, cuja narrativa transita pelos 85
apartamentos, revelando detalhes do cotidiano dos moradores, inconfidências e causos diverti-
dos, além de traçar um painel cultural da época.
(Carlos Calado. Guia Folha. Adaptado)
O amor no tempo das cartas era belo e romântico, com suas longas e dolorosas esperas e dúvidas,
com cartas roubadas, indispensáveis em qualquer novela. Mas o WhatsApp, o Skype e o e-mail,
além do telefone, tornaram viver um amor em algo muito diferente. E muito melhor.
Acabou a distância e o tempo entre as mensagens. Na verdade, o que os olhos veem o coração
sente. Falar vendo os olhos e as expressões do ser amado na tela é quase tão bom quanto ao vivo.
Uma das melhores novidades é a DR1 digital. Esfrie a cabeça, pense bem no que o incomoda,
provoca dúvidas e o faz sofrer, escreva com cuidado. Receba as queixas, os medos e as dúvidas
do outro com atenção, leia várias vezes. Responda pensando bem, revisando e equilibrando o que
escreveu, frequentemente há exageros. Só mande no dia seguinte, depois de reler com cuidado
315
o que disse: vale o escrito!
Uniões são salvas e brigas feias de casal são evitadas pelo e-mail ou pelo zap, que ainda criam a
garantia de promessas, acordos e desculpas por escrito. Para serem lidos e relidos e eventual-
mente cobrados ou discutidos. É bem mais fácil admitir erros por escrito do que no calor de uma
discussão, e muito mais eficiente.
(Nelson Motta. https://oglobo.globo.com, 12.04.2019. Adaptado)
A expressão “pense bem no que o incomoda” estará corretamente substituída, quanto à regência
verbal da norma-padrão da língua portuguesa, por
a) reflita bem sobre o que o causa incômodo
b) reflita bem ao que lhe causa incômodo
c) reflita bem com o que o causa incômodo
d) reflita bem no que lhe causa incômodo
e) reflita bem do que o causa incômodo
QUESTÃO 32: VUNESP - ALUN OF (PM SP)/PM SP/2019
Assunto: Regência Nominal e Verbal (casos gerais)
Considere a tira para responder à questão.
a) Não estamos habituados de nos comportar com mais respeito à natureza e aos animais.
b) Muitas são as mudanças de que o ser humano necessita para poder continuar sobrevivendo
neste planeta.
c) Muitos seres humanos estão descontentes da maneira como os animais são tratados para ser-
vir de alimento às pessoas.
d) Aquelas são ideias nas quais duvidamos que possam ajudar a diminuir os impactos ambientais.
e) Esses são de fato os ideais aos quais acreditamos que poderão salvar a humanidade de um
colapso ambiental.
No passado, a mão de obra oriunda do campo era absorvida indústria. Em um passado mais
recente, o setor de serviços encarregou-se ocupar boa parte dos trabalhadores que perderam
317
espaço na indústria, que tem investido sistematicamente automatização e outras tecnologias.
Atualmente, dispersos diferentes campos de atuação, o desafio dos trabalhadores consiste
se adaptar à era da internet e da informática.
Progresso, enfim
Em atraso nas grandes reformas da Previdência Social e do sistema de impostos, o Brasil tem obti-
do avanços em uma agenda que, tomada em seu conjunto, mostra-se igualmente essencial – a da
melhora do ambiente de negócios(A.
Trata-se de objetivos tão diferentes quanto facilitar a criação de empresas, reduzir o custo de licen-
ças ou ampliar o acesso ao crédito. Grande parte dessas providências não depende de votações
no Congresso, mas sim do combate persistente a empecilhos burocráticos e ineficiências do setor
público.
A boa notícia é que o país subiu 16 posições no mais conhecido ranking dessa modalidade, di-
vulgado a cada ano pelo Banco Mundial. A má é que a 109a colocação, num total de 190 nações
consideradas, permanece vergonhosa.
O progresso ocorreu, basicamente, em quatro indicadores – fornecimento de energia elétrica, pra-
zo para abertura de empresa com registro eletrônico, acesso à informação de crédito e certificação
eletrônica de origem para importações.
Pela primeira vez em 16 anos de publicação do relatório, o desempenho brasileiro se destacou na
América Latina. Os países mais bem posicionados da região, casos de México (54º lugar), Chile
(56o) e Colômbia (65o), apresentaram pouca ou nenhuma melhora.
Numa perspectiva mais ampla, o ambiente de negócios vai se tornando mais amigável na maior
parte do mundo. A edição mais recente do ranking catalogou número recorde de 314 reformas(B
realizadas em 128 economias desenvolvidas e emergentes no período 2017/2018.
Fica claro, no documento, que o maior atraso relativo do Brasil se dá no pagamento de impostos(C,
dados a carga elevada e o emaranhado de regras dos tributos incidentes sobre o consumo. Nesse
quesito em particular, o país ocupa um trágico 184º lugar no ranking(D.
O caminho óbvio a seguir nesse caso é uma reforma ambiciosa, que racionalize essa modalidade
de taxação. Mesmo que não seja possível abrir mão de receitas, a simplificação já traria ganhos
substanciais em eficiência ao setor produtivo(E.
(Editorial, Folha de S.Paulo, 06.11.2018. Adaptado)
318
Há termo empregado em sentido figurado na passagem:
a) ... mostra-se igualmente essencial – a da melhora do ambiente de negócios.
b) A edição mais recente do ranking catalogou número recorde de 314 reformas...
c) ... o maior atraso relativo do Brasil se dá no pagamento de impostos...
d) Nesse quesito em particular, o país ocupa um trágico 184º lugar no ranking.
e) ... a simplificação já traria ganhos substanciais em eficiência ao setor produtivo.
Mundo arriscado
O próximo governo não encontrará um ambiente econômico internacional sereno. Dúvidas sobre
a continuidade do crescimento do Produto Interno Bruto global, juros em alta nos EUA, riscos de
conflitos comerciais e de queda do fluxo de capitais para países emergentes são apenas alguns
dos itens de um cardápio de problemas potenciais.
Tudo indica, assim, que o governo brasileiro terá de lidar de pronto com as fragilidades domésticas,
em especial o rombo das contas públicas. Não tardará até que investidores hoje aparentemente
otimistas comecem a cobrar resultados concretos.
As projeções para o avanço do PIB mundial têm sido reduzidas nos últimos meses. O Fundo Mo-
netário Internacional cortou sua previsão para 2018 e 2019 em 0,2 ponto percentual – 3,7% em
ambos os anos – e apontou um cenário de menor sincronia entre os principais motores regionais.
Se até o início deste ano EUA, Europa e China davam sinais de vigor, agora acumulam-se decep-
ções nos dois últimos casos.
Mesmo com juros ainda perto de zero, a zona do euro não deverá crescer mais que 1,5% neste ano.
Há crescente insegurança no âmbito político, neste momento centrada na Itália e seu governo de
direita populista, que propõe expansão do déficit de um setor público já endividado em excesso.
Não é animador que a Comissão Europeia tenha tomado a decisão inédita de rejeitar a proposta
orçamentária da administração italiana. Embora o país ainda conserve o selo de bom pagador, os
juros cobrados no mercado para financiar sua dívida dispararam.
Quanto à China, sua economia mostra menos vigor, e as autoridades precisam tomar decisões
difíceis entre conter as dívidas já exageradas e estimular o crescimento.
O risco de escalada nos conflitos comerciais também é concreto, dado que o governo america-
no ameaça impor uma terceira rodada de tarifas, desta vez sobre os US$270 bilhões em vendas
anuais chinesas que ainda não foram taxadas.
Nos EUA, a alta dos juros, num contexto de emprego elevado e inflação perto da meta, já leva par-
te do mercado a temer uma desaceleração abrupta do PIB em 2019. A vantagem do Brasil, hoje,
é que há ampla ociosidade nas empresas, baixa inflação e, portanto, espaço para uma retomada
mais forte.
(Editorial. Folha de S.Paulo, 01.11.2018. Adaptado)
Assinale a alternativa em que está transcrita do texto uma expressão em sentido figurado, acompa-
nhada da correta indicação do seu sentido.
a) “cardápio de problemas potenciais” (1º parágrafo) → indica que os países não devem se preo-
319
cupar com problemas que não existem.“os principais motores regionais” (3º parágrafo) → indi-
ca que alguns países propulsionam o desenvolvimento econômico da região a que pertencem.
b) “ampla ociosidade nas empresas” (10º parágrafo) → indica que as empresas brasileiras agem
com precaução em um momento delicado da economia mundial.
c) “as fragilidades domésticas” (2º parágrafo) → indica que cada país deve estar atento ao que
acontece com os seus pares comerciais.
d) “menos vigor” (7º parágrafo) → indica que a China tem deixado de investir para que a sua eco-
nomia volte a crescer como em outros tempos.
A pergunta do título comporta vários níveis de resposta. No plano biológico, a reprodução é um im-
perativo, fazendo parte de várias das definições de vida. Mas a biologia é só parte da história(A.
A paternidade também encerra dimensões culturais, econômicas e emocionais.
Inspirado em “Anti-Pluralism”, de William Galston, arrisco algumas reflexões sobre a matéria.
Até o começo do século 19, filhos eram um ativo econômico. Ajudavam desde cedo com o traba-
lho doméstico(B, colaborando para o bem-estar da família, e ainda faziam as vezes de plano de
aposentadoria para os pais.
Hoje, contudo, crianças ficaram caras. E, para piorar, elas demoram muito até começar a trazer
contribuições econômicas(C. Como observa Galston, no espaço de dois séculos, a criação de filhos
deixou de ser um bem privado para tornar -se um bem público.
Embora a paternidade possa trazer recompensas emocionais, do ponto de vista estritamente eco-
nômico, ela favorece a sociedade como um todo, enquanto a maior parte dos custos recai sobre
os genitores.
E por que crianças beneficiam a sociedade?(D A crer na análise de economistas como Julian
Simon, riqueza são pessoas. Quanto mais gente, melhor, já que são indivíduos que têm ideias
(além de consumir produtos) e são as novas ideias que vêm assegurando o brutal aumento de pro-
dutividade a que assistimos nos últimos 200 anos.
E isso nos coloca diante de um dos grandes dilemas dos tempos modernos. Para assegurar a
sustentabilidade da exploração dos recursos naturais do planeta, precisaríamos estabilizar ou até
reduzir a população. Só que fazê-lo é uma espécie de suicídio econômico(E, já que ficaria muito
difícil manter taxas positivas de crescimento, sem as quais instituições como previdência e até de-
mocracia representativa podem entrar em colapso.
(Hélio Schwartsman. Folha de S.Paulo. 18.11.2018. Adaptado)
320
QUESTÃO 4: VUNESP - ADM (UFABC)/UFABC/2019
Assunto: Denotação e Conotação
Leia o texto, para responder a questão abaixo.
Organograma
gabinete.
Pôs-se imediatamente a inventar novas repartições, serviços disso e daquilo – tudo fictício, irreal,
imaginário – para estabelecer o equilíbrio organogramático com departamento disso, departamento
daquilo.
O certo é que o novo organograma foi executado, e todo aquele que tivesse a ventura de penetrar
em seu gabinete podia admirá-lo.
– Tudo isso sob seu controle, Ministro?
– Para você ver, meu filho: se não fosse eu, todo esse complexo administrativo já teria desabado
para um lado, como uma árvore desgalhada. Dizem, mesmo, que até hoje o magnífico organogra-
ma figura no tal Ministério, como uma das mais importantes realizações de sua gestão.
(Fernando Sabino, A mulher do vizinho. Adaptado)
O Paraguai foi certificado por ter eliminado a malária de seu território em junho deste ano(A). A
321
Argentina está trilhando o caminho para obter sua certificação em 2019(B). Belize, Costa Rica,
Equador, El Salvador, México e Suriname têm o potencial de alcançar a eliminação até 2020. Ou-
tros países, no entanto, registraram aumento no número de casos, o que põe em risco a consecu-
ção das metas de redução e eliminação da doença na região até 2030(C).
No Dia de Luta contra a Malária nas Américas (6 de novembro), a Organização Pan-Americana
da Saúde (OPAS) insta os países da região a tomar medidas urgentes para conter o aumento de
casos, manter as conquistas e libertar o continente da doença que, durante o último século, foi a
principal causa de morte em quase todas as nações do mundo.
“A eliminação da malária está mais próxima do que nunca(E)”, disse a diretora da OPAS, Carissa
F. Etienne. No entanto, ela também advertiu que “não podemos confiar nem relaxar nas ações já
tomadas”. “Os esforços devem ser intensificados onde a incidência da doença aumentou”, acres-
centou.
Desde 2015, os casos de malária nas Américas aumentaram em 71%; 95% do número total destes
casos estão concentrados em cinco países, principalmente em áreas específicas onde os esforços
contra a doença estão enfraquecidos. Muitos dos afetados são populações indígenas, pessoas que
vivem em situação de vulnerabilidade(D), trabalhadores mineiros e migrantes.
“Se queremos eliminar a malária, precisamos melhorar o investimento e ampliar o acesso a preven-
ção, diagnóstico e tratamento oportunos da doença em comunidades onde a maioria dos casos
está concentrada”, afirmou Marcos Espinal, diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis e
Determinantes Ambientais da Saúde na OPAS.
(Agência da ONU insta países das Américas a livrar continente da malária. ONU Brasil. https://nacoesunidas.org/agencia-da-o-
nu-insta-paises- -das-americas-a-livrar-continente-da- malaria/amp/. 06.11.18. Acesso em 07/11/2018)
Literatura no cárcere
Desde 2013, quando o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) autorizou a remição da pena pela lei-
tura, 5.547 detentos foram beneficiados por esse projeto no Brasil. É um número baixo, se compa-
rado com as quase 700 mil pessoas privadas de liberdade em todo o país.
A recomendação do CNJ determina que, a cada livro lido, é possível reduzir quatro dias(A) e (D) da
pena. Para isso, o leitor deve escrever um resumo da obra que deve ser aprovado por um parece-
rista. Esses documentos seguem para o juiz responsável, que julga o pedido de remição.
Medir os benefícios dessa proposta tem feito florescer debates acalorados(B) e (E) entre os que
veem na leitura ganhos efetivos para a reintegração do indivíduo à sociedade e os que a avaliam
322
como um privilégio concedido a pessoas que, de algum modo, causaram danos à população. Sem
entrar no mérito dessa discussão, é fato que, dentro ou fora da prisão, as benesses da leitura são
muitas(B) e difíceis de mensurar.
Uma pesquisa feita em 2017 pela editora Companhia das Letras, que em parceria com a Fundação
Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel (Funap) subsidia um projeto de clubes de leitura(C) e remição de
pena, indicou que os ganhos são mais concretos do que se pode imaginar.
Durante um ano, 177 detentos se reuniram mensalmente(A) e (B) para discutir uma obra selecio-
nada pela curadoria do projeto.
Quando perguntados sobre as eventuais mudanças percebidas(C) e (D) em si próprios, a resposta
mais frequente foi que os envolvidos conseguiram perceber uma “ampliação de conhecimentos”.
Em segundo, que se sentiam mais motivados “para traçar planos para o futuro”. Na sequência, apa-
recem motivações como “capacidade de reflexão” e de “expressar sentimentos”, possibilidade de
“dizer o que pensa”, “maior criatividade” e, por último, “maior criticidade”.
Por qualquer prisma que se procure observar(A) e (E), esses ganhos já seriam significativos, pois
no ambiente prisional revelam uma extraordinária mudança na chave da autoestima(C) e (D), (E) .
(Vanessa Ferrari, Rafaela Deiab e Pedro Schwarcz. Folha de S. Paulo, 25.06.18. Adaptado)
Por quê?
“Correlação não é causa” é um mantra que todos aqueles que já entraram numa aula de estatísti-
ca ou de metodologia científica ouviram. E de fato não é. O canto do galo e o nascer do sol estão
fortemente correlacionados(A), mas ninguém deve achar que é o som emitido pelo galináceo que
provoca o surgimento do astro todas as manhãs.
O problema é que, durante muito tempo, estatísticos e cientistas se deixaram cegar pelo mantra(B)
e renunciaram a investigar melhor a causalidade e desenvolver ferramentas matemáticas para lidar
com ela(C), o que é perfeitamente possível. Essa pelo menos é a visão do cientista da computação
Judea Pearl, exposta em “The Book of Why” (O livro do porquê), obra que escreveu com o mate-
mático e jornalista científico Dana Mackenzie.
323
Os prejuízos foram grandes. Muitas vidas se perderam porque, por várias décadas, a ciência julgou
não ter meios para estabelecer com segurança se o cigarro causava ou não câncer, incerteza que
a indústria do tabaco foi hábil em explorar. Em “The Book of Why”, Pearl e Mackenzie explicam de
forma razoavelmente didática quais são as novas técnicas(D) que permitem responder a perguntas
causais como “qual a probabilidade de esta onda de calor ter sido provocada pelo efeito estufa?”
ou “foi a droga X que curou a doença Y?”. Mais até, os autores falam em usar a estatística para
destrinchar o obscuro mundo dos contrafactuais1.
Uma advertência importante que os autores fazem a entusiastas do “big data”2 é que não podemos
nos furtar a entender as questões estudadas e formular teorias. Não se chega a lugar nenhum só
com dados e sem hipóteses.
Minha sensação, pela retórica empregada (não tenho competência para avaliar tecnicamente)(E),
é que Pearl exagera um pouco. Ele faz um uso pouco comedido de termos como “revolução” e
“milagre”. Mas é um cientista de primeira linha e, mesmo que ele esteja aumentando as coisas em
até 30%, ainda sobram muitas ideias fascinantes no livro.
(Hélio Schwartsman. 19.08.2018. www.folha.uol.com.br. Adaptado)
Está empregada com sentido figurado a palavra destacada na seguinte passagem do texto:
a) O canto do galo e o nascer do sol estão fortemente correlacionados...
b) ... durante muito tempo, estatísticos e cientistas se deixaram cegar pelo mantra...
c) ... investigar melhor a causalidade e desenvolver ferramentas matemáticas para lidar com ela...
d) ... Pearl e Mackenzie explicam de forma razoavelmente didática quais são as novas técnicas...
e) ... não tenho competência para avaliar tecnicamente...
O Marajá
A família toda ria de dona Morgadinha e dizia que ela estava sempre esperando a visita de alguém
ilustre. Dona Morgadinha não podia ver uma coisa fora do lugar, uma ponta de poeira em seus mó-
veis ou uma mancha em seus vidros e cristais. Gemia baixinho quando alguém esquecia um sapato
no corredor, uma toalha no quarto ou – ai, ai, ai – uma almofada fora do sofá da sala. Baixinha,
resoluta, percorria a casa com uma flanela na mão, o olho vivo contra qualquer incursão do pó, da
cinza, do inimigo nos seus domínios.
Dona Morgadinha era uma alma simples. Não lia jornal, não lia nada. Achava que jornal sujava os
dedos e livro juntava mofo e bichos. O marido de dona Morgadinha, que ela amava com devo-
ção apesar do seu hábito de limpar a orelha com uma tampa de caneta Bic, estabelecera um limite
para sua compulsão por limpeza. Ela não podia entrar em sua biblioteca. Sua jurisdição aca-
bava na porta. Ali dentro só ele podia limpar, e nunca limpava. E, nas raras vezes em que dona
Morgadinha chegava à porta do escritório proibido para falar com o marido, esse fazia questão de
desafiá-la. Botava os pés em cima dos móveis. Atirava os sapatos longe. Uma vez chegara a tirar
uma meia e jogar em cima da lâmpada só para ver a cara da mulher. Sacudia a ponta do charuto
sobre um cinzeiro cheio e errava deliberadamente o alvo. Dona Morgadinha então fechava os olhos
e, incapaz de se controlar, lustrava com a sua flanela o trinco da porta.
(Luis Fernando Veríssimo. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008. Adaptado)
325
Almoço com as estrelas
Já houve muita discussão sobre a autenticidade de uma das fotos mais famosas de todos os tempos:
Lunch atop a skyscraper (algo como Almoço no topo de um arranha- céu). A teoria mais escandalosa
é que a foto seria uma montagem. Não é. Nos anos 30, quando foi tirada, não havia tecnologia para
forjar os personagens num fundo falso. O negativo é de vidro e encontra-se nos cofres da Agência
Corbis.
Outra teoria: os onze operários estariam ali protegidos por redes. Não. Estão correndo risco, ainda
que tenham topado posar para a foto. Ou seja, não apareceu um fotógrafo do nada ao meio-dia
de 20 de setembro de 1932 e simplesmente flagrou o almoço da rapaziada. Até porque fotógrafos
e modelos estão a quase 250 m de altura, na estrutura de um edifício na Rua 48, em Nova York.
Naquele dia, três fotógrafos estiveram na construção, segundo Ken Johnston, diretor de fotos his-
tóricas da Corbis.
A foto, hoje atribuída a Charles C. Ebbets, foi publicada no dia 2 de outubro de 1932, no jornal The
New York Herald Tribune, e trazia a legenda: “Enquanto milhares de nova-iorquinos se apressam
em restaurantes e lanchonetes fervilhantes de clientes, esses trabalhadores intrépidos obtêm todo
o ar e liberdade que querem almoçando sobre uma viga de aço”.
(Aventuras na História, dezembro de 2012. Adaptado)
326
Eles venceram
Em A vingança dos nerds, comédia de 1984, um grupo de jovens feiosos e um tanto estranhos,
vítimas da agressividade e do bullying de colegas fortões e quase idiotas, decide ir para a revan-
che com um festival de estripulias bem-sucedidas. Ao som de We Are the Champions, clássico
do Queen, eles celebraram a vitória. O filme foi premonitório. Os nerds não deixaram pedra sobre
pedra. Fizeram suas apostas e quebraram a banca. Na lista das pessoas mais ricas do mundo,
encontram-se três deles nas cinco primeiras posições, todos pais e filhos da revolução digital:
Jeff Bezos, da Amazon, na primeiríssima colocação; Bill Gates, da Microsoft, no segundo lugar; e
Mark Zuckerberg, do Facebook, no quinto posto. Para efeito de comparação, em 1982, tempo em
que os nerds ainda eram ridicularizados, a figura mais rica do mundo era o dono de um estaleiro
naval (Daniel K. Ludwig) que fizera fortuna vendendo embarcações para a indústria de petróleo.
Um olhar para os dois momentos, o de três décadas atrás e o de agora, comprova como a econo-
mia mudou, e hoje isso soa óbvio. Menos óbvia é a constatação de que a cultura nerd venceu, e
por ter vencido virou padrão. “Seja legal com os nerds, provavelmente você vai acabar trabalhando
para um deles” vaticinou Gates, não muito depois de 1977, quando ele foi detido por dirigir sem
documentos. A Microsoft acabara de nascer e, por trás daqueles óculos genuinamente nerds, na
foto da detenção, brotavam um novo mundo e novas concepções do que é ser bacana. A aparente
fragilidade de Gates era só aparência mesmo – e o leve sorriso irônico anunciava um salto des-
tinado a dar um contr+alt+del nada metafórico em quem ainda achava possível andar ao modo da
velha indústria.
A atual hegemonia nerd é a prova, também, de que todo estereótipo é tolo. Costuma-se classificar
como nerds as pessoas muito inteligentes, em geral tímidas que cismam com um tema e dele
não saem. Somos todos nerds – ou queremos ser, porque a força está com eles, ao menos a força
econômica, e o que andava à margem, em quartos fechados e garagens, hoje virou padrão.
(Fábio Altman. Veja, 26.09.2018. Adaptado)
A arte mostra-se presente na história da humanidade desde os tempos mais remotos. Sem dúvida,
ela pode ser considerada como sendo uma necessidade de expressão do ser humano, surgindo
como fruto da relação homem/mundo. Por meio da arte a humanidade expressa suas necessida-
327
des, crenças, desejos, sonhos. Todos têm uma história, que pode ser individual ou coletiva. As
representações artísticas nos oferecem elementos que facilitam a compreensão da história dos
povos em cada período.
(Rosane K. Biesdorf e Marli F. Wandscheer. Arte, uma necessidade humana: função social e educa-
tiva. Itinerarius reflectionis.)
Está empregado com sentido figurado o vocábulo destacado no trecho
Chris Bolin, engenheiro de software da Formidable, empresa de Seattle (EUA), criou uma página de
internet cujo conteúdo só pode ser lido offline – ou seja, você tem que desconectar sua internet no
PC ou celular e só assim a página mostrará o texto(A). Se você ainda não está pronto para desligar
sua internet por dois minutos, a gente te ajuda: Veja abaixo o manifesto de Chris Bolin:
“2017. 2 minutos de leitura.
Você quer ser produtivo? Basta desligar, pois manter uma conexão constante com a internet é man-
ter uma conexão constante com interrupções(B), tanto externas como internas.
As interrupções externas são uma legião e bem documentadas: você tem uma nova mensagem no
Gmail, Slack, Twitter, Facebook, Instagram, Snapchat, LinkedIn. Amigos, familiares, colegas de
trabalho e spammers: cada um tem acesso direto à sua preciosa atenção.
Mas são as distrações internas verdadeiramente perniciosas. Você pode silenciar as notificações
do Twitter e sair do Slack, mas como você impede sua própria mente de descarrilar sua atenção?
Passei horas capturadas em teias da minha própria curiosidade. O mais perigoso é o capricho divi-
dido, a propósito do nada: ‘Eu me pergunto qual é o segundo idioma mais falado?’ Aqueles 500
milissegundos poderiam mudar seu dia, porque nunca é apenas uma pesquisa no Google, apenas
um artigo da Wikipédia. A desconexão da internet faz um curto-circuito desses caprichos, permitin-
do que você se mova sem embaraços.
Esta página em si é um experimento nesta veia: e se certo conteúdo nos obrigasse a desconectar?
E se os leitores tivessem acesso a essa gloriosa atenção que faz devorar um romance por horas
de uma forma tão gratificante?(C) E se os criadores pudessem emparelhar isso com o poder dos
aparelhos modernos? Nossos telefones e laptops são incríveis plataformas para novos conteúdos
– se apenas pudéssemos aproveitar nossa própria atenção(D).
O conteúdo offline apenas obrigaria os criadores a pensar de forma diferente. Olhe para esta pá-
gina: não há um único link, nenhuma oferta de nota de rodapé para distrair os leitores(E). Quantos
bons artigos você deixou a metade da leitura porque você caçou um cintilante link sublinhado?
Quando você está offline, aqui é o único lugar em que você pode estar.
Eu já posso ouvir os gemidos: ‘Mas eu tenho que estar online para o meu trabalho.’ Eu não ligo.
Crie tempo. Aposto que o que o torna valioso não é a sua capacidade para o Google, mas a sua
capacidade de sintetizar informações. Faça suas pesquisas online, mas crie offline.
328
Agora volte para sua internet acessada regularmente. Apenas lembre-se de se dar um presente
ocasional de desconexão.”
(https://uoltecnologia.blogosfera.uol.com.br. Adaptado)
Assinale a alternativa cujo trecho retirado do texto contém um verbo empregado em sentido figu-
rado.
A) ... ou seja, você tem que desconectar sua internet no PC ou celular e só assim a página mostrará
o texto.
B) ... manter uma conexão constante com a internet é manter uma conexão constante com inter-
rupções...
C) E se os leitores tivessem acesso a essa gloriosa atenção que faz devorar um romance por horas
de uma forma tão gratificante?
D) Nossos telefones e laptops são incríveis plataformas para novos conteúdos – se apenas pudés-
semos aproveitar nossa própria atenção.
E) Olhe para esta página: não há um único link, nenhuma oferta de nota de rodapé para distrair os
leitores.
A cada governo que entra, o assunto educação deixa os holofotes provisórios da campanha
eleitoral, onde costuma desfilar na linha de frente das promessas dos candidatos, e volta à
triste prateleira dos problemas que se arrastam sem solução. Desta vez foi diferente: encerra-
da a votação, a educação prosseguiu na pauta de discussões acirradas. Infelizmente, o saldo da
agitação não gira em torno de nenhuma providência capaz de pôr o ensino do Brasil nos trilhos da
excelência – a real prioridade.
A questão da hora é o projeto que pretende legislar sobre o que o professor pode ou, principalmen-
te, não pode falar em sala de aula. Com o propósito de impedir a doutrinação, por professores, em
classe, o projeto ameaça alimentar o oposto do que propõe: censura, patrulhamento, atitudes re-
trógradas e pensamento estreito. Segundo o especialista em educação Claudio de Moura Castro,
não há como definir o que é variedade de pensamento e o que é proselitismo.
Fruto do ambiente polarizado da sociedade brasileira, a discussão entrou pela porta da frente das
escolas. Nesse clima de paixões exaltadas, no entanto, é preciso um esforço adicional para separar
o joio do trigo. A doutrinação em sala de aula é condenável sob todos os aspectos – seja de es-
querda ou de direita, religiosa ou ateia, ou de qualquer outra natureza. A escola é um lugar para
o debate livre das ideias, e não para o proselitismo.
Todo conhecimento é socialmente construído e, portanto, a aventura humana, por definição, nunca
é neutra ou isenta de valores. A saída é discutir e chegar a um consenso sobre o que precisa ser
apresentado ao aluno, e não vigiar e punir.
Doutrinar é expor ideias e opiniões com o propósito de convencer o outro. A todo bom professor
cabe estimular o confronto de ideias e o livre pensar, inclusive expressando seu ponto de vista,
mas não catequizar – uma linha fina que exige discernimento constante.
O mundo é diverso em múltiplos aspectos, e a escola é o lugar adequado para que essa diversida-
de seja discutida livremente. A melhor escola ainda é a que faz pensar – sem proselitismo.
(Fernando Molica, Luisa Bustamante e Maria Clara Vieira, Meia-volta, volver. Veja, 14.11.2018. Adaptado)
329
A passagem destacada no primeiro parágrafo do texto é caracterizada pelo predomínio de expres-
sões empregadas em sentido
A) figurado, para exprimir a ideia de que o tema “educação” volta à obscuridade tão logo um novo
governo se instala.
B) figurado, para exprimir a ideia de que existem projetos governamentais para a educação vistos
como prioridades.
C) figurado, para exprimir a ideia de que promessas se justificam se tiverem visibilidade na mídia
e cumprimento.
D) próprio, para exprimir a ideia de que os governantes se empenham em honrar os compromissos
assumidos.
E) próprio, para exprimir a ideia de que a educação é tratada como parte de um espetáculo em
campanhas eleitorais.
No front da alfabetização, a rede municipal de educação da cidade de São Paulo obteve conquista
apreciável: 92% dos alunos sabiam ler e escrever ao término do segundo ano, ante não mais de
77% em 2017. Com isso, a prefeitura estipulou a meta de 85% de alfabetização no primeiro ano,
quando as crianças em geral têm seis anos.
Uma ousadia, quando se tem em vista que, até recentemente, a diretriz nacional se limitava a
preconizar leitura e escrita até o final do terceiro ano. Só em 2018, com a Base Nacional Comum
Curricular, esse objetivo foi antecipado para o segundo ano, algo que a rede paulistana já havia
adotado com um ano de antecedência.
Fica assim comprovado, na experiência de São Paulo, que metas ambiciosas nada têm de incom-
patível com progresso de aprendizado – ao contrário. Em particular no campo da alfabetização,
base de tudo que virá a seguir, um nível alto de exigência dará motivação extra para educadores e
estudantes se aplicarem mais.
Conforme se avança no ensino fundamental, contudo, os descaminhos e a leniência do passado se
330
fazem manifestar nos parcos resultados obtidos por estudantes em provas padronizadas.
A deficiência manifesta-se em todas as grandes áreas de conhecimento. Quando concluem o quin-
to ano, final da fase 1 do fundamental, só 39% das meninas e dos meninos alcançam desempenho
satisfatório em língua portuguesa. Pior, são apenas 27% em matemática e 20% em ciências.
A perda agrava-se na fase seguinte. Quando saem do fundamental 2, no nono ano, apenas 25%
dos estudantes estão no nível adequado de língua. E há inaceitáveis 10% e 9% nessa faixa de
desempenho, respectivamente, nas áreas de matemática e ciências naturais, o que torna fácil de
entender o desastre que hoje se observa no ensino médio.
Não deixa de ser animador constatar que ao menos nos fundamentos do aprendizado – a alfabe-
tização – houve avanço em São Paulo. Mas a cidade mais populosa e rica do país ainda precisa
fazer mais e melhor por suas crianças e jovens.
(Editorial. Folha de S.Paulo, 02.01.2019. Adaptado)
Assinale a alternativa em que a frase, reescrita a partir das informações textuais, contém termo
empregado em sentido figurado.
A) As escolas municipais da cidade de São Paulo obtiveram uma conquista de grande vulto na
educação.
B) Compromisso que as escolas paulistanas já haviam assumido com um ano de antecedência em
sua educação.
C) Um nível alto de exigência dará motivação suplementar para educadores e estudantes se apli-
carem mais.
D) O desempenho em matemática e ciências facilita entender o fracasso que se observa no ensino
médio.
E) São Paulo é uma cidade que precisa repensar suas práticas e cuidar mais e melhor de suas
crianças e jovens.
Os bens dos tataravós libaneses: tecidos e aviamentos(A). Linho, algodão, chita. Botões de todos
os tipos, linhas, alfinetes, agulhas e o metro dobrável. Montado em seu jegue, o tataravô ia sozinho
comerciar de casa em casa(B), sítio em sítio, fazenda em fazenda, onde recebia pouso, contava
e ouvia histórias. Com o nascimento dos filhos brasileiros, passou a levar consigo o mais velho,
bisavô de Félix, quando ele tinha sete anos.
De noite, na sua casa em Belo Horizonte, o pai de Félix lhe contava a história dos antepassados
enquanto consertava joias das clientes da sua loja de antiguidades. Durante as tardes solitárias,
a bisavó lhe mostrava o bauzinho de veludo bordô e contava a história de cada joia que ele já tinha
guardado e a situação em que havia sido vendida para o estabelecimento da família no Brasil(C).
Um anel de brilhante se foi na compra do jegue e da primeira leva de mercadoria; um bracelete, na
reforma da casa antes do nascimento do terceiro filho.
Depois dos acidentes vasculares, ela não conseguia falar mais do que poucas palavras, e estas
serviam de evocação para as histórias que Félix conhecia de cor. Ele era pequeno, carregava o
baú pela casa, cheio de vidros coloridos, e o exibia dizendo: “meu tesouro”. Era um bauzinho feito
de cedro, com tiras de latão, e o estofamento interno, de veludo bordô, era o que mais encantava
331
Félix. Protegido da luz ao longo dos anos, ele continuava brilhante e macio.
As joias foram o bilhete de entrada do casal no Brasil(D). O que veio depois foi trabalho, trabalho e
trabalho; e filhos(E). Mas então já tinham um jegue e a primeira leva de mercadorias.
E aconteceu de Félix ter puxado a voz aveludada do outro ramo da família, de portugueses para
quem aquela terra já era antiga quando os libaneses chegaram: já tinham tirado dela pau, pe-
dra e ouro, criado gado e plantado cana e café. Já tinham sido donos de escravos, matado e sido
mortos por eles. Abriram fazendas, ergueram escolas, construíram ferrovias e cemitérios. Terra de
homens brutos, domados, esfalfados, trabalho, trabalho e trabalho; e filhos.
(Beatriz Bracher. Anatomia do Paraíso. Editora 34. Adaptado)
Estadão: O espanto como motor do conhecimento é a ideia fundamental de seu primeiro livro. De
certa forma, porém, trata-se de uma ideia um tanto quanto antiga, encontrada em Platão, em Tomás
de Aquino, bem como em outros. No plano da educação dos filhos, é fácil ver como esse elemento
propulsor funciona quando eles são verdadeiramente pequenos, de dois, três, quatro anos: tudo o
que é, tudo o que existe, desconcerta-os simplesmente porque existe e poderia não existir. Tudo é
mágico. E, como essa capacidade de assombrar-se é inata, não precisamos criar estímulos ex-
332
cepcionais para que os filhos se desenvolvam, bastando somente os elementos que um ambiente
familiar normal já possui. Essa capacidade de assombrar-se permanece igual ao longo dos anos?
Nos adultos, não parece adormecer-se naturalmente, perdurando apenas, talvez, nos poetas e ar-
tistas, por alguma inclinação especial?
Catherine L’Ecuyer, educadora canadense: Sim, minha teoria se apoia em ideias centenárias.
Gaudí dizia que ser original é voltar às origens. A capacidade de assombro é inata, mas corremos
o risco de perdê-la quando não respeitamos o que pede nossa natureza, quando vivemos segundo
ritmos que não se adequam a nossos ritmos internos, quando não há espaços, tempos e silêncios
que permitam saborear a lentidão da beleza da realidade.
(http://cultura.estadao.com.br. Adaptado)
Black Friday? Levantamento feito pela Folha* mostrou que boa parte dos “descontos” oferecidos
nesta sexta-feira não passa de manipulações até meio infantis de preços, com o objetivo de iludir
o consumidor.
Antes, porém, de imprecar contra a ganância dos capitalistas, convém perguntar se os consumi-
dores não desejam ser enganados. E há motivos para acreditar que pelo menos uma parte deles
queira.
No recém-lançado Dollars and Sense (dinheiro e juízo), Dan Ariely e Jeff Kreisler relatam um expe-
rimento natural que mostra que pessoas podem optar por ser “ludibriadas” voluntariamente e que,
em algum recôndito do cérebro, isso faz sentido.
A JCPenney é uma centenária loja de departamentos dos EUA que se celebrizou por jogar seus
preços na lua para depois oferecer descontos “irresistíveis”. Ao fim e ao cabo, os preços efetiva-
mente praticados estavam em linha com os da concorrência, mas os truques utilizados proporcio-
navam aos consumidores a sensação, ainda que ilusória, de ter feito um bom negócio, o que lhes
dava prazer.
Em 2012, o então novo diretor executivo da empresa Ron Johnson, numa tentativa de moderni-
zação, resolveu acabar com a ginástica de remarcações e descontos e adotar uma política de
preços “justa e transparente”.
Os clientes odiaram. Em um ano, a companhia perdera US$ 985 milhões e Johnson ficou sem
emprego. Logo em seguida, a JCPenney remarcou os preços de vários de seus itens em até 60%
para voltar a praticar os descontos irresistíveis. Como escrevem Ariely e Kreisler, “os clientes da
JCPenney votaram com suas carteiras e escolheram ser manipulados”.
333
Num mundo em que o cliente sempre tem razão, não é tão espantoso que empresas se dediquem
a vender-lhe as fantasias que deseja usar, mesmo que possam ser desmascaradas com um clique
de computador.
Psiquiatras em pé de guerra
334
* tweet: mensagem enviada pela rede social Twitter.
(Hélio Schwartsman. Folha de S.Paulo, 21.01.2018. Adaptado)
335
pena. Mas é humano, demasiadamente humano.
(Natália Cuminale. Veja, 07.03.2018. Adaptado)
As palavras aplaudem (1º parágrafo) e atávico (3º parágrafo) estão empregadas no contexto em
sentido
a) figurado, respectivamente, de apoiam e de fatalmente histórico.
b) figurado, respectivamente, de louvam e de naturalmente vinculado.
c) figurado, respectivamente, de elogiam e de realmente saudosista.
d) próprio, respectivamente, de conclamam e de claramente memorável.
e) próprio, respectivamente, de ovacionam e de decididamente herdado.
A revolução digital fortalece as previsões de que as casas ou lares inteligentes oferecerão mais
conveniência e menos dispêndio de energia em um futuro.
A definição de conveniência para esses novos lares tecnológicos, com redução ou eliminação de
trabalhos domésticos. Portanto, para que as edificações inteligentes tenham sucesso, elas deve-
rão se estruturar com base nessa visão de conveniência como solução para os que vivem em um
mundo acelerado e estar ancoradas em uma grande variedade de sistemas tecnológicos acessí-
veis e fáceis de operar, tornando a vida das pessoas mais simples.
Além da conveniência, outro relevante benéfico das casas inteligentes, para os consumidores é a
sua capacidade de incorporar aspectos relacionados à administração do gasto de energia, prin-
cipalmente com iluminação, condicionamento de ar eletrodomésticos. Um conjunto de sensores,
adequadamente configurados para gerenciar esses sistemas, pode gerar diminuição considerável
nos gastos com energia, com reflexos ambientais e econômicos importantes.
O departamento de engenharia da computação da Academia Árabe de Ciências e Tecnologia de-
senvolveu um estudo para avaliar a economia no consumo de energia gerada com o uso de sen-
sores inteligentes, em um apartamento de um dormitório, cozinha, sala de estar, sala de jantar e
banheiro. O estudo concluiu que a economia pode chegara quase 40% do consumo médio mensal
de energia.
A tendência de crescimento desse mercado é clara. A empresa de pesquisa Zion Research prevê
que a tecnologia das casas inteligentes deve alcançar um faturamento de US$ 53 bilhões (R$170
bi) em 2022. O crescimento estará calcado, principalmente, na conexão da casa com os ambientes
digitais externos, como por exemplo, a conexão do refrigerador com os equipamentos dos fornece-
dores de alimentos.
Naturalmente, a tecnologia das casas inteligentes continuará a evoluir, tornando-se acessível e ba-
rata. Com isso, mais pessoas poderão utilizar-se dela, e novos padrões, modelos e estilos de vida
devem se consolidar, principalmente nas áreas urbanas.
( Claudio Bernades. Casas inteligentes trarão conveniência e reduzirão gasto de energia. Folha de S. Paulo. www.folha.uol.com.br. 22.01.18.
Adaptado)
Nos EUA, a psicanálise lembra um pouco certas seitas – as ideias do fundador são instituciona-
lizadas e defendidas por discípulos ferrenhos, mas suas instituições parecem não responder às
necessidades atuais da sociedade. Talvez porque o autor das ideias não esteja mais aqui para
atualizá-las.
Freud era um neurologista, e queria encontrar na Biologia as bases do comportamento. Como a
tecnologia de então não lhe permitia avançar, passou a elaborar uma teoria, criando a psicanálise.
Cientista que era, contudo, nunca se apaixonou por suas ideias, revisando sua obra ao longo da
vida. Ele chegou a afirmar: “A Biologia é realmente um campo de possibilidades ilimitadas do qual
podemos esperar as elucidações mais surpreendentes. Portanto, não podemos imaginar que res-
postas ela dará, em poucos decêndios, aos problemas que formulamos. Talvez essas respostas
venham a ser tais que farão o edifício de nossas hipóteses colapsar”. Provavelmente, é sua frase
menos citada. Por razões óbvias.
(Galileu, novembro de 2017. Adaptado)
Apesar dos sinais de recuperação da economia, o número de brasileiros endividados chegou a 61,7
milhões em fevereiro passado – o equivalente a 40% da população adulta. O número é alto porque
o hábito de manter as contas em dia não é apenas uma questão financeira decorrente do estado
geral da economia – pode ser uma questão comportamental. Por isso, há grupos especializados
que promovem reuniões semanais com devedores, com a finalidade de trocar experiências sobre
consumo impulsivo e propensão a viver no vermelho. Uma dessas organizações é o Devedores
Anônimos (DA), que funciona nos mesmos moldes do Alcoólicos Anônimos (AA).
Pertencer a uma classe social mais alta não livra ninguém do problema. As pessoas de maior renda
337
são justamente as que têm maior resistência em admitir a compulsão. Pior. É comum que, diante
dos apuros, como a perda do emprego, algumas tentem manter o mesmo padrão de vida em lugar
de cortar gastos para se encaixar na nova realidade. Pedir um empréstimo para quitar outra dívida
é um comportamento recorrente entre os endividados.
Para sair do vermelho, aceitar o vício é o primeiro passo. Uma vez que o devedor reconhece o pro-
blema, a próxima etapa é se planejar.
(Felipe Machado e Tatiana Babadobulos, Veja, 04.04.2018. Adaptado)
338
Leia as passagens do texto.
• De um lado, há a Barcelona dos turistas, que se cotovelam nos pontos turísticos da cidade…
• … o separatismo tem nas escolas suas grandes aliadas para propagar as ideias nacionalistas.
Às segundas-feiras pela manhã, os usuários do Spotify (serviço de transferência de dados via in-
ternet que dá acesso a músicas e outros conteúdos de artistas) recebem uma lista personalizada
de músicas que lhes permite descobrir novidades. O sistema se baseia em um algoritmo cuja evo-
lução e usos aplicados ao consumo cultural são infinitos. De fato, plataformas de transmissão de
dados cinematográficos, como a Netflix, começam a desenhar suas séries de sucesso rastreando
os dados gerados por todos os movimentos dos usuários para analisar o que os satisfaz. O algorit-
mo constrói assim um universo cultural adequado e complacente com o gosto do consumidor, que
pode avançar até chegar sempre a lugares reconhecíveis.
O algoritmo, sustentam seus críticos, nos torna chatos, previsíveis, e empobrece nossa curiosidade
por explorar o acervo cultural. Ramón Sangüesa, coordenador do Data Transparency Lab (Labora-
tório de Transparência de Dados), consegue ver vantagens, mas também riscos. “Esses sistemas
se baseiam no passado para predizer o futuro. A primeira dificuldade é conseguir a massa crítica
para que tenhamos mais dados e as projeções sejam melhores. Mas sempre se corre o risco de
ficar em uma mesma área de recomendação. No consumo cultural, o perigo está na uniformiza-
ção do gosto, o que chamamos de filtro bolha. E assim vão sendo criados comportamentos
padronizados”, afirma.
A questão, no entanto, é se os limites impostos na aprendizagem pelos sistemas fechados de com-
putação são equiparáveis aos erros e possíveis idiotices que cometemos durante anos formando
339
nosso próprio gosto. O escritor Eloy Fernández Porta não vê grande diferença. Segundo ele, antes
do Spotify e fora dele o gosto já vinha determinado por critérios de acesso, aceitação, atualidade e
distinção. “Sempre vivemos a música em um algoritmo, o que acontece é que em vez de chamá-lo
de matemática o chamamos de espontaneidade. O algoritmo do Spotify não me parece menos con-
fiável do que a fórmula caótica que cada ouvinte inventou. Nem menos humano: quando fazemos
analogias erradas ou nos empenhamos em recomendar o primeiro disco de Vincent Gallo, nossas
sinapses estão dando os mesmos maus passos”, afirma.
(Daniel Verdú. https://brasil.elpais.com/brasil/. 09.07.2016. Adaptado)
Medo de injeção
Descartes disse que o bom senso é a coisa mais bem repartida do mundo. Descartes estava errado
também nisso. Visto que não faltam provas empíricas de que o bom senso não foi tão bem repartido
assim.
Um caso eloquente é o da vacinação contra a febre amarela em São Paulo. Assim que as notícias
sobre o recrudescimento do surto ganharam destaque, a porção mais ansiosa dos paulistas correu
aos postos de saúde, provocando megafilas e espalhando um pouco de caos no sistema.
Agora, esgotados os mais aflitos, autoridades sanitárias têm tido dificuldade para fazer com que o
contingente mais desencanado da população se vacine. Pelos dados oficiais, apenas 50% do pú-
blico-alvo foram imunizados. Por que a resistência?
Minha hipótese é que ficamos mal-acostumados. Algumas décadas com um razoável arsenal de
vacinas à disposição nos fizeram esquecer quão letais e devastadoras podem ser as epidemias
que campanhas de imunização previnem. Hoje é preciso ir ao interior da África para ver uma crian-
ça com pólio e as mortes por sarampo se tornaram uma raridade, mas moléstias infecciosas foram,
desde o surgimento da agricultura, um dos maiores assassinos da humanidade, perdendo apenas
para a fome e superando em muito as guerras.
A ciência, ao desenvolver imunizantes, mudou essa história. Extinguimos a varíola e reduzimos
drasticamente os óbitos por doenças infecciosas em todo o mundo. A OMS estima que, hoje, va-
cinações previnam entre 2 milhões e 3 milhões de mortes por ano. Daria para acrescentar mais
1,5 milhão de vidas poupadas, desde que a taxa de cobertura, atualmente estacionada nos 86%,
melhorasse.
Por falta de bom senso, porém, grupos ideologicamente tão díspares quanto fundamentalistas islâ-
micos do interior da África e liberais da classe média alta dos países desenvolvidos uniram esforços
para fazer campanhas contra a vacinação. Pior, há quem os ouça.
(Helio Schwartsman. Medo de injeção. Disponível em: https:// www1.folha.uol.com.br/colunas/ Acesso em 10.03.2018. Adaptado)
340
Assinale a alternativa em que o termo destacado está empregado em sentido figurado.
a) Por falta de bom senso, porém, grupos ideologicamente tão díspares...
b) ...uma criança com pólio e as mortes por sarampo se tornaram uma raridade...
c) A ciência, ao desenvolver imunizantes, mudou essa história.
d) Extinguimos a varíola e reduzimos drasticamente os óbitos por doenças infecciosas.
e) Algumas décadas com um razoável arsenal de vacinas...
Levantamento feito pela Folha de São Paulo ao final de 2017 mostrou que, em boa parte dos cur-
sos universitários, alunos que ingressam por meio de cotas se formam com notas próximas dos
demais. O estudo usou os resultados de mais de 250 mil estudantes nas três últimas edições do
Enade e constatou que alunos cotistas chegam a ter notas melhores que os outros, por exemplo,
em odontologia.
É refrescante dispormos de dados objetivos sobre um assunto tantas vezes poluído por ideologias.
É inegável que ações afirmativas, como as cotas, são importantes mecanismos de justiça social em
um país tão profundamente injusto como o nosso. E as conclusões do levantamento indicam que
tais ferramentas são válidas também no plano acadêmico: não se confirmam os prognósticos de
que o ingresso de alunos cotistas resultaria em degradação da qualidade dos cursos.
O perigo é alguém acreditar que cotas resolvem alguma coisa no médio prazo. Nosso sistema edu-
cacional está doente, e cotas são como um antitérmico, que reduz o desconforto do paciente, mas
não ataca as causas da febre. O que precisamos é que a escola pública, democrática e gratuita,
ofereça formação de qualidade, para que as cotas se tornem desnecessárias. Não é uma utopia:
acontece em muitos outros países, inclusive mais pobres que o Brasil.
Ações afirmativas não podem servir de álibi para continuarmos oferecendo formação inferior aos
filhos das classes mais desfavorecidas. Até porque propiciar acesso à universidade a alguns des-
ses jovens deixa muita coisa por resolver. O mesmo levantamento mostra que as notas de cotistas
são sim inferiores à média nos cursos de exatas, possivelmente os mais críticos para o desenvol-
vimento do país.
Não é difícil aventar uma explicação. Em matemática, cada etapa prepara a seguinte, não é pos-
sível pular. Quem não aprendeu multiplicação, não vai nunca entender frações. Se a matemática
não é ensinada na escola, na faculdade é simplesmente tarde demais. E aí os benefícios da ação
afirmativa foram desperdiçados.
Na virada do ano, outra notícia alvissareira: a Unicamp, talvez a mais inovadora de nossas universi-
dades, aprovou a criação de até 10% de vagas extras em seus cursos para candidatos premiados
em competições escolares, como as Olimpíadas Brasileiras de Matemática e Física. Uma espécie
de “cotas por mérito”.
Como todas as ideias inteligentes e com potencial para fazer diferença, essa também desperta
oposição. Inclusive de setores que advogam as cotas sociais, o que talvez não seja surpreendente,
mas é certamente lamentável. Tomara que a inteligência prevaleça.
(Marcelo Viana. Folha de S.Paulo, 21.01.2018. Adaptado)
Assinale a alternativa que apresenta passagem do texto caracterizada pelo emprego de palavras
341
em sentido figurado.
a) O estudo usou os resultados de mais de 250 mil estudantes nas três últimas edições do Enade...
b) ... cotas são como um antitérmico, que reduz o desconforto do paciente, mas não ataca as cau-
sas da febre.
c) ... alunos cotistas chegam a ter notas melhores que os outros, por exemplo, em odontologia.
d) Não é uma utopia: acontece em muitos outros países, inclusive mais pobres que o Brasil.
e) O mesmo levantamento mostra que as notas de cotistas são sim inferiores à média nos cursos
de exatas...
Notícias falsas sempre circularam. Sobretudo nos estratos menos expostos ao jornalismo e a ou-
tras formas de conhecimento verificável, boatos encontram terreno para se propagar.
Basta recordar a persistente crença sobre a falsidade das viagens tripuladas à Lua, cujas imagens
teriam sido forjadas pela Nasa. No âmbito nacional, murmurou-se durante anos que o presidente
Tancredo Neves fora vítima de um atentado que se dissimulara como doença.
A novidade é que as redes sociais da internet se mostram o veículo ideal para a difusão de notícias
falsas. Não apenas estapafúrdias, como seria de esperar, mas às vezes inventadas de modo a fa-
vorecer interesses e prejudicar adversários.
A circulação instantânea, própria desse meio, propicia a formação de ondas de credulidade. Esti-
muladas pelos algoritmos das empresas que integram o oligopólio da internet, essas ondas confe-
rem escala e ritmo inéditos à tradicional circulação de boatos.
Dado que as pessoas, nas redes sociais, tendem a se agregar por afinidade de crenças, não é difí-
cil que os rumores se disseminem sem serem confrontados por crítica ou contraponto.
O melhor antídoto para os males da liberdade de expressão é a própria liberdade de expressão,
que tende a encontrar formas de se autocorrigir. E o melhor antídoto contra as falsidades apresen-
tadas como jornalismo é a prática do bom jornalismo, comprometido com a veracidade dos fatos
que relata e com a pluralidade de pontos de vista no que concerne às questões controversas.
Embora haja remédios legais para reparar os excessos, a maioria dos casos passará despercebida
no ruído incessante da internet.
(Folha de S.Paulo, 26.02.2017. Adaptado)
342
Leia a tirinha para responder à questão.
Briga de irmãos... Nós éramos cinco e brigávamos muito, recordou Augusto, olhos perdidos num
ponto X, quase sorrindo. Isto não quer dizer que nos detestássemos. Pelo contrário. A gente
gostava bastante uns dos outros e não podia viver na separação. Se um de nós ia para o colégio
(era longe o colégio, a viagem se fazia a cavalo, dez léguas na estrada lamacenta, que o governo
não consertava.), os outros ficavam tristes uma semana. Depois esqueciam, mas a saudade do
mano muitas vezes estragava o nosso banho no poço, irritava ainda mais o malogro da caça de
passarinho: “Se Miguel estivesse aqui, garanto que você não deixava o tiziu fugir”, gritava Édison.
“Você assustou ele falando alto... Miguel te quebrava a cara”. Miguel era o mais velho, e fora fazer
o seu ginásio. Não se sabe bem por que a sua presença teria impedido a fuga do pássaro, nem ain-
da por que o tapa no rosto de Tito, com o tiziu já longínquo, teria remediado o acontecimento. Mas
o fato é que a figura de Miguel, evocada naquele instante, embalava nosso desapontamento e de
certo modo participava dele, ajudando-nos a voltar para casa de mãos vazias e a enfrentar o risinho
malévolo dos Guimarães: “O que é que vocês pegaram hoje?” “Nada”. Miguel era deste tamanho,
impunha -se. Além disto, sabia palavras difíceis, inclusive xingamentos, que nos deixavam de boca
aberta, ao explodirem na discussão, e que decorávamos para aplicar na primeira oportunidade, em
nossas brigas particulares com os meninos da rua. Realmente, Miguel fazia muita falta, embora
cada um de nós trouxesse na pele a marca de sua autoridade. E pensávamos com ânsia no seu
343
regresso, um pouco para gozar de sua companhia, outro pouco para aprender nomes feios, e bas-
tante para descontar os socos que ele nos dera, o miserável.
(Carlos Drummond de Andrade, A Salvação da Alma. Em: O sorvete e outras histórias.)
A vontade do falecido
Alguns dias depois, deu-se o evento. Seu Irineu pisou no prego e esvaziou. Apanhou um resfriado,
do resfriado passou à pneumonia, da pneumonia passou ao estado de coma e do estado de coma
não passou mais. Levou pau e foi reprovado. Um médico do SAMDU*, muito a contragosto, com-
pareceu ao local e deu o atestado de óbito.
Tudo que era parente com razoáveis esperanças de herança foi velar o morto.
Tomou-se conhecimento de uma carta que estava cuidadosamente colocada dentro do cofre, sobre
o dinheiro deixado por seu Irineu. E na carta o velho dizia: “Quero ser enterrado junto com a quantia
existente nesse cofre, que é tudo o que eu possuo e que foi ganho com o suor do meu rosto, sem
a ajuda de parente vagabundo nenhum”. E, por baixo, a assinatura com firma reconhecida para
não haver dúvida: Irineu de Carvalho Pinto Boaventura.
Para quê! Nunca se chorou tanto num velório, sem se ligar pro morto. A parentada chorava às pam-
pas, mas não apareceu ninguém com peito para desrespeitar a vontade do falecido.
Foi quase na hora do corpo sair. Desde o momento em que se tomou conhecimento do que a carta
dizia, que Altamirando imaginava um jeito de passar o morto para trás. Era muita sopa deixar
aquele dinheiro ali pro velho gastar com minhoca. Pensou, pensou e, na hora que iam fechar o cai-
xão, ele deu o grito de “pera aí”. Tirou os sessenta milhões de dentro do caixão, fez um cheque da
mesma importância, jogou lá dentro e disse “fecha”.
– Se ele precisar, mais tarde desconta o cheque no Banco.
* SAMDU – Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência, já extinto. (Stanislaw Ponte Preta. Dois amigos e um chato, 1986.
Adaptado)
344
QUESTÃO 34: VUNESP - CUP (SEPOG SP)/SEPOG SP/ORÇAMENTO E CONTABILI-
DADE PÚBLICA/2017
Assunto: Denotação e Conotação
Leia o texto para responder à questão seguir.
Cota é uma palavra antipática. Pronunciá-la traz à mente discriminar, racionar, excluir. A conotação
negativa só fez acentuar-se quando a universidade brasileira, inviolável trincheira da elite, começou
a reservar uma parcela de suas vagas para alunos pobres e negros, duas classificações quase si-
nônimas no país. O primeiro portão se abriu no distante 2002, na Universidade do Estado do Rio
de Janeiro (Uerj), e outras se seguiram, aqui e ali, até o governo baixar uma lei que instituiu, em
2012, o conceito de cotas em todas as universidades. Foi um salseiro. O que seria da excelência e
da premiação pelo mérito, em um câmpus contaminado por estudantes menos qualificados? O que
esperar dos cotistas, além de mau desempenho e abandono no meio do curso? Que justiça haveria
em deixar de fora jovens bem preparados só por serem brancos e não tão pobres?
Pois, passados quinze anos do empurrão inicial e cinco da obrigatoriedade por lei, as previsões
catastróficas não se confirmaram, e o balanço é mais positivo do que se imaginava – a ponto de a
Universidade de São Paulo, a mais prestigiada do país, que nem federal é, ter anunciado há pouco
que implantará as cotas. O vestibular deste ano da USP, cujas inscrições começam no dia 21 de
agosto, já será baseado no sistema de cotas.
(L. Bustamante, M. C. Vieira, Rita Loiola. “Cotas? Melhor tê-las”. Veja, 16.08.2017. Adaptado)
Assinale a alternativa em que, nas duas passagens do texto, há palavra empregada em sentido
figurado.
a) passados quinze anos do empurrão inicial / instituiu, em 2012, o conceito de cotas.
b) inviolável trincheira da elite / o balanço é mais positivo do que se imaginava.
c) A conotação negativa só fez acentuar-se / só por serem brancos e não tão pobres?
d) duas classificações quase sinônimas no país. / cinco [anos] da obrigatoriedade por lei.
e) Cota é uma palavra antipática. / O primeiro portão se abriu no distante 2002.
A quem pertence um país e quem tem o direito de morar nele? Com um passado incomparável e
camadas históricas extraordinariamente variadas, inclusive em seus momentos de fluxo e refluxo
populacional, a Itália já fechou o debate. A lotação está esgotada. Foram mais de 180 000 pessoas,
na maioria absoluta vindas da África, no ano passado. Até organizações humanitárias dizem que
não dá mais para acomodar gente em cidadezinhas minúsculas, vilarejos medievais ou bairros dis-
tantes de uma metrópole como Roma.
As ondas humanas criaram situações sem precedentes. As ONGs para as quais sempre cabem
muitos mais tornaram-se colaboradoras dos traficantes que ganham com o comércio de gente,
um escândalo ético espantoso. Começaram a fazer o bem e se transformaram em parte integrante
de um processo de imensa perversidade, cujos promotores praticam abusos indescritíveis. Embora
cruel, o sistema é de uma eficiência impressionante. Até os botes de borracha, cujos passageiros
pagam para ser resgatados por navios de ONGs, da Marinha italiana ou de outros países europeus,
345
são fabricados especificamente para esse tipo de transporte. Cada passagem custa por volta de
1 500 euros, ou 5 500 reais. O negócio foi calculado em 390 milhões de dólares no ano passado.
A questão dos grandes deslocamentos humanos vindos do mundo pobre, encrencado, conflagrado
ou simplesmente com menos benefícios sociais, em direção ao mundo rico, já provocou conheci-
das reações políticas, das quais a mais estrondosa foi a eleição de Donald Trump. A palavra-chave
no fenômeno atual é benefícios. Ao contrário dos imigrantes que vieram para o Novo Mundo, entre
os quais tantos de nossos antepassados, com uma malinha, muitos carimbos nos documentos e
esperança de emprego, as ondas humanas atuais chegam aos países ricos com abrigo, saúde
e educação providos pelo Estado de bem-estar social. Organizações supranacionais, como a
própria União Europeia, também têm verbas para dar garantias inimagináveis pelos imigrantes do
passado. O problema, como sabemos, é que o dinheiro não aparece magicamente nos cofres dos
Estados ou seus avatares.
(Vilma Gryzinski, Lotou ou ainda cabe mais? Veja, 26.07.2017. Adaptado)
A frase do texto que se caracteriza pelo emprego de palavra(s) em sentido figurado é:
Vejo a literatura como um instrumento excepcional da nossa civilização. Ela ajuda a esclarecer o
mundo. Quem nós somos? Quem nós fomos? Lendo a Ilíada, você pode imaginar quais foram os
sentimentos de Aquiles ou de Príamo. Você se pergunta: “Por que esse fervor pela narrativa?”.
Porque o ser humano precisou narrar, para que os fatos da vida, da poética do cotidiano, não
desaparecessem. Enquanto o ser humano forjava a sua civilização, dava combate aos deuses e
procurava entender em que caos estava imerso, ele contava histórias. Para que nada se perdesse.
Não havia bibliotecas. No caso de Homero, os aedos – e quase podíamos intitulá-los os poetas da
memória – memorizavam tudo para que os fatos humanos não se perdessem. E, assim, a angústia
em relação à apreensão da vida real, o real humano, visível, intangível, esteve presente em todas
as civilizações. Nas nossas Américas, por exemplo, houve entre os incas uma categoria social, a
dos amautas, que tinha por finalidade única memorizar. Memorizar para que os povos não se es-
quecessem das suas próprias histórias. Quer dizer, a literatura não foi uma invenção dos escritores,
gosto muito de enfatizar isso. Foi uma invenção humana.
Milhões de pessoas já leram Dom Quixote. Milhões, em diferentes línguas. Mas é o mesmo livro
para diferentes leitores. Isso prova que a literatura dá visibilidade a quem somos, a nossos senti-
mentos mais secretos, mais obscuros, mais desesperados, às esperanças mais condicionais do ser
humano. E a literatura conta histórias porque os sentimentos precisam de uma história para que
346
você se dê conta deles. Então, a literatura pensou em dar conta de quem somos, dessa nossa
complexidade extraordinária. Porque somos seres fundamentalmente singulares. E, por isso, a
literatura é singular.
(Nélida Piñon. Uma invenção humana – depoimento ao escritor e jornalista José Castello. Rascunho nº 110. Curitiba:
2009. In http://rascunho.com.br/wp-content/uploads/2012/02/ Book_Rascunho_110.pdf. Acesso em 15.11.18. Adapta-
do)
A) E a literatura narra histórias porque os sentimentos precisam de uma história para você inteirar-
-se deles. Então, a literatura pensou em ser capaz de nos expressar...
B) E a literatura cria histórias porque os sentimentos precisam de uma história para que você os
conheça. Então, a literatura pensou em determinar quem somos...
C) E a literatura produz histórias porque os sentimentos precisam de uma história para que você se
envolva com eles. Então, a literatura pensou em melhorar quem somos...
D) E a literatura manipula histórias porque os sentimentos precisam de uma história para que você
os compreenda. Então, a literatura pensou em dar ciência de quem somos...
E) E a literatura dispõe de histórias porque os sentimentos precisam de uma história para que você
possa compreendê-los. Então, a literatura pensou em responsabilizar- nos por quem somos...
Vacina na marra
Uma das piores coisas que pais podem fazer a seus filhos é privá-los de vacinas. Ainda assim,
devo dizer que fiquei chocado com o artigo de uma promotora do Ministério Público, no qual ela
defende não só multa para genitores que deixem de imunizar seus rebentos, mas também a busca
e apreensão das crianças para vaciná-las.
Imagino até que a adoção de medidas extremas como propõe a promotora possa fazer sentido em
determinados contextos, como o de uma epidemia fatal que avança rapidamente e pais que, indu-
zidos por vilões internacionais, se recusam a imunizar seus filhos(B).
Há motivos para acreditar que as sucessivas quedas na cobertura vacinal registradas por aqui se
devam mais a uma combinação de desleixo paterno com inadequações da rede do que a uma
maciça militância antivacinal. Há até quem afirme que a queda é menor do que a anunciada pelo
Ministério da Saúde, que, por problemas técnicos, não estaria recebendo informações atualizadas
de alguns municípios.
Seja como for, tenho a convicção de que, se a fórmula mais draconiana propugnada por ela fosse
adotada, acabaríamos produzindo mais mal do que bem(E).
O ponto central é que o sistema de saúde precisa ser visto pelo cidadão como um aliado e não
como um adversário(C). Se a percepção que as pessoas têm do posto de saúde for a de que ele
é uma entidade que pode colocar a polícia atrás de famílias para subtrair-lhes os filhos, elas terão
bons motivos para nunca mais pôr os pés numa unidade(D).
347
A ideia de que o sistema de saúde precisa ser protegido de ações que possam minar a confiança
que o público lhe deposita não é estranha ao mundo do direito. Não é por outra razão que a legis-
lação penal e códigos de ética proíbem o profissional de saúde de divulgar segredos de pacientes
e até de denunciar crimes(A) que tenham cometido.
(Hélio Schwartsman. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/ helioschwartsman/2018/08/ vacina-na-
-marra.shtml. Acesso em 11.11.2018. Adaptado)
Tempo incerto
Os homens têm complicado tanto o mecanismo da vida(D) que já ninguém tem certeza de nada:
para se fazer alguma coisa é preciso aliar a um impulso de aventura grandes sombras de dúvida.
Não se acredita mais na existência de gente honesta; e os bons têm medo de exercitarem sua bon-
dade, para não serem tratados de hipócritas ou de ingênuos.
Vivemos um momento em que a virtude é ridícula e os mais vis sentimentos(C) se mascaram de
grandiosidade, simpatia, benevolência. A observação do presente leva- os até a descer dos exem-
plos do passado: os varões ilustres de outras eras terão sido realmente ilustres? Ou a História
nos está contando as coisas ao contrário, pagando com dinheiros dos testemunhos a opinião dos
escribas?
Se prestarmos atenção ao que nos dizem sobre as coisas que nós mesmos presenciamos – ou
temos que aceitar a mentira como a arte mais desenvolvida do nosso tempo(B), ou desconfiamos
do nosso próprio testemunho, e acabamos no hospício!
Pois assim, é, meus senhores! Prestai atenção às coisas que vos contam, em família, na rua, nos
cafés, em várias letras de forma, e dizei-me se não estão incertos os tempos e se não devemos
todos andar de pulga atrás da orelha!(C)
Agora, pensam os patrões, os empregados, os amigos e inimigos de uns e de outros e todo o resto
da massa humana. E não só pensam, como também pensam que pensam! E além de pensarem
que pensam, pensam que têm razão! E cada um é o detentor exclusivo da razão!
Pois de tal abundância de razão é que se faz a loucura. E a vocação das pessoas, hoje em dia, não
é para o diálogo com ou sem palavras, mas para balas de diversos calibres. Perto disso, a carestia
da vida é um ramo de flores. O que anda mesmo caro é alma. E o Demônio passeia pelo mundo,
glorioso e imune.
(Cecília Meireles, Tempo incerto. Em: Escolha o seu Sonho. Adaptado)
348
Assinale a alternativa em que está transcrita do texto uma expressão em sentido figurado, acompa-
nhada da correta indicação do seu sentido.
a) “pensam os patrões” → ideia de raciocinar com profundidade.
b) “a arte mais desenvolvida do nosso tempo” → ideia de verdade.
c) “os mais vis sentimentos” → ideia de enobrecimento.
d) “andar de pulga atrás da orelha” → ideia de desconfiança.
e) “o mecanismo da vida” → ideia de trabalho.
Texto 1
Filósofo da internet sugere pagar ou sair das redes sociais Jaron Lanier não poupa críticas ao
modelo de negócios baseado em publicidade, que sustenta a maior parte do que conhecemos por
internet hoje. Serviços gratuitos como Facebook, Google e WhatsApp, no fundo, cobram caro. Na
visão de Lanier, manipulam, mudam comportamentos e, muitas vezes, nos tornam babacas.
Em seu quinto livro, “Dez Argumentos para Você Deletar Agora suas Redes Sociais”, recém-lança-
do no Brasil, o cientista da computação e precursor da realidade virtual encoraja as pessoas cuja
vida financeira não depende das redes sociais a abandoná-las – ao menos por seis meses –, para
retomarem a “consciência de si próprias”.
Lanier afirma que, se cometeram muitos erros na internet, um deles era a ideia de que a única
forma de inovar e manter o serviço livre era com um modelo baseado em publicidade, o que nos
levou a um contexto de vigilância universal. Ele defende um sistema em que as pessoas possam
ser pagas pelo que fazem on line e paguem pelo que gostam de fazer on line, o que tornaria a
relação mais direta e honesta.
Lanier explica: “Quando você olhava para o anúncio da TV, ele não estava te olhando de volta. Na
internet, é diferente: há mais informação sendo tirada de você do que oferecida. Ferramentas em
qualquer site captam como seu corpo se mexe, onde você está e tudo sobre seus dispositivos. O
que você vê é a menor parte do que acontece. Toda informação tirada de você é usada para mu-
dar sua experiência on line e criar uma sistemática que te prenda. Isso é chamado de engajamento.
Chamo de vício. É quase como vício em jogo, há busca por satisfação, e a punição é severa.”
Jaron Lanier recomenda ficar atento aos 10 argumentos para você deletar suas redes sociais:
349
10. As redes sociais odeiam sua alma
(Folha de S. Paulo, 20.10.2019, Adaptado)
Essa é a frase que mais tenho ouvido recentemente. Passada a euforia de uma notícia qualificada
como “bomba”, logo os atores de uma das partes corriam a público para disponibilizar a íntegra
daquilo que antes foi veiculado em partes.
É preciso saber de tudo e entender de tudo. É preciso tirar as próprias conclusões para não depen-
der de ninguém, e é esse o grande e contraditório imperativo dos nossos tempos. É uma ordem a
uma experimentação libertária, e uma quase contradição do termo. O imperativo que liberta tam-
bém aprisiona: você só passa a ser, ou a pertencer, se tiver uma conclusão. Sobre qualquer coisa.
Nas últimas décadas psicanalistas se debruçaram sobre as mudanças nos arranjos produtivos e
sociais de cada período histórico para compreender e nomear as formas de sofrimento decorrentes
delas. A revolução industrial, a divisão social do trabalho, a urbanização desenfreada e as guerras,
por exemplo, fizeram explodir o número de sujeitos impacientes, irritadiços e perturbados com a
velocidade das transformações e suas consequentes perdas de referências simbólicas.
Pensando sobre o imperativo “Leia/Veja/Assista” e “Tire suas próprias conclusões”, começo a des-
confiar de que estamos diante de uma nova forma de sofrimento relacionado a um mal-estar ainda
não nomeado.
Afinal, que tipo de sujeito está surgindo de nossa nova organização social? O que a vida em rede
diz sobre as formas como nos relacionamos com o mundo? Que tipos de valores surgem dali? E,
finalmente, que tipo de sofrimento essa vida em rede tem causado?
Vou arriscar e sair correndo, já sob o risco de percorrer um campo que não é meu: estamos vendo
surgir o sujeito preso à ideia da obrigação de ter algo a dizer. Ao longo dos séculos essa angústia
era comum aos chamados formadores de opinião e artistas, responsáveis por reinterpretar o mun-
do. Hoje basta ter um celular com conexão 3G para ser chamado a opinar sobre qualquer coisa.
Pensamos estar pensando mesmo quando estamos apenas terceirizando convicções ao comparti-
lhar aquilo que não escrevemos.
É uma nova versão de um conflito descrito por Clarice Lispector a respeito da insuficiência da lin-
guagem. Algo como: “Não só não consigo dizer o que penso como o que penso passa a ser o que
digo”. Se vivesse nas redes que atribuem a ela frases que jamais disse, o “dizer” e o “pensar” teriam
a interlocução de um outro verbo: “compartilhar”.
350
(Matheus Pichonelli, Carta Capital. 18.03.2016. www.cartacapital.com.br. Adaptado)
No sexto parágrafo, o verbo pensar em “Pensamos estar pensando...” veicula, em cada ocorrência
respectivamente, sentidos que equivalem a
a) rememorar e corroborar uma opinião.
b) refutar uma ideia e elucubrar.
c) induzir a erro e suscitar uma impressão.
d) fantasiar e agir com intransigência.
e) supor e conceber uma ideia.
Página infeliz
O mercado editorial no Brasil nunca pareceu tão próximo de uma catástrofe – com as duas prin-
cipais redes de livrarias do país, Saraiva e Cultura, em uma crise profunda, reduzindo o número de
lojas e com dívidas que parecem sem fim.
Líder do mercado, a Saraiva, que já acumula atrasos de pagamentos a editores nos últimos anos,
anunciou nesta semana o fechamento de 20 lojas. Em nota, a rede afirma que a medida tem a ver
com “desafios econômicos e operacionais”, além de uma mudança na “dinâmica do varejo”.
Na semana anterior, a Livraria Cultura entrou em recuperação judicial. No pedido à Justiça, a rede
afirma acumular prejuízos nos últimos quatro anos, ter custos que só crescem e vendas menores.
Mesmo assim, diz a petição enviada ao juiz, não teria aumentado seus preços.
O enrosco da Cultura está explicado aí. Diante da crise, a empresa passou a pegar dinheiro em-
prestado com os bancos – o tamanho da dívida é de R$ 63 milhões. Com os atrasos nos paga-
mentos das duas redes, editoras já promoveram uma série de demissões ao longo dos últimos dois
anos.
O cenário de derrocada, contudo, parece estar em descompasso com os números de vendas.
Desde o começo do ano, os dados compilados pela Nielsen, empresa de pesquisa de mercado,
levantados a pedido do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, mostravam que o meio livreiro
vinha dando sinais de melhoras pela primeira vez, desde o início da recessão econômica que abala
o país.
Simone Paulino, da Nós, editora independente de São Paulo, enxerga um descompasso entre as
vendas em alta e a crise. Nas palavras dela, “um paradoxo assustador.” A editora nunca vendeu
tanto na Cultura quanto nesses últimos seis meses”, diz. E é justamente nesse período que eles
não têm sido pagos.
“O modelo de produção do livro é muito complicado. Você investe desde a compra do direito autoral
ou tradução e vai investindo ao longo de todo o processo. Na hora que você deveria receber, esse
dinheiro não volta”, diz Paulino.
“Os grandes grupos têm uma estrutura de advogados que vão ter estratégia para tentar receber. E
para os pequenos? O que vai acontecer?”
Mas há uma esperança para os editores do país: o preço fixo do livro. Diante do cenário de crise, a
maior parte dos editores aposta em uma carta tirada da manga no apagar das luzes do atual gover-
no – a criação, no país, do preço fixo do livro – norma a ser implantada por medida provisória – nos
351
moldes de boa parte de países europeus, como França e Alemanha.
Os editores se inspiram no pujante mercado europeu. Por lá, o preço fixo existe desde 1837, quan-
do a Dinamarca criou a sua lei limitando descontos, abolida só em 2001. A crença é a de que a
crise atual é em parte causada pela guerra de preço. Unificar o valor de capa permitiria um flores-
cimento das livrarias independentes, uma vez que elas competiriam de forma mais justa com as
grandes redes.
(Folha de S. Paulo, 03.11.2018. Adaptado)
A propagação de notícias falsas já mostrou seu poder de influenciar eleições e dividir sociedades,
potencializando preconceitos e ódios. Que efeito terá em crianças e jovens que não receberam
uma formação para a leitura de notícias?
Sem entender o que se passa ao redor, as crianças não se sentem parte da sociedade. Elas ou-
vem, principalmente pela televisão, e leem na internet o que está circulando no momento. Perce-
bem quando algo de grave ocorre, até porque podem viver em casa o problema estampado nas
manchetes dos jornais, como o desemprego dos pais.
Já ouviram falar de fake news, mas não sabem em quem confiar nem como identificar a credibilida-
de de uma informação, além de que diferenciar informação de opinião é difícil para elas.
Como muitos adultos também se mostram incapazes de detectar uma notícia falsa, as crianças
acabam muitas vezes sem orientação, ficam à margem do debate.
Encontra-se aí um grave problema: se elas não tiverem formação para ler notícias e não exercita-
rem o senso crítico para se protegerem de informações mentirosas, iremos perder uma geração
inteira que poderia (e deveria) promover as mudanças que tanto queremos.
As crianças são curiosas por natureza e querem se informar. Além disso, têm o direito de acesso
às mídias e de participação no debate público assegurado pela Convenção Internacional sobre os
Direitos da Criança.
A experiência mostra que, tendo acesso a notícias adequadas aos seus repertórios e contextuali-
zadas, sentem-se parte da sociedade e tornam-se mais autônomas.
Em várias ocasiões, impressionei-me com o protagonismo dos leitores mirins. Crianças de uma
região carente do interior de São Paulo, que leram os textos sobre a crise dos refugiados sírios,
organizaram um brechó com suas próprias roupas e entregaram o dinheiro a algumas famílias de
352
refugiados que estão no Brasil.
Outras, tendo lido sobre o problema da obesidade infantil no Brasil, mobilizaram-se para orga-
nizar uma olimpíada. Algumas explicaram a seus pais o que significa impeachment.
O problema das fake news é mais grave do que se imagina. Caso não seja combatido desde a
base, teremos crianças e jovens deixando de ler ou descrentes até de veículos com credibilidade.
Isso os deixará paralisados, sem saber como agir e vulneráveis a toda espécie de manipulação.
Jovens e crianças bem informados entendem o que se passa ao redor, formam as próprias opiniões
e se tornam cidadãos críticos e ativos.
Não há maneira de controlar o que nossos filhos leem ou veem, mas podemos incluí-los no debate,
compartilhar e discutir notícias com eles, ensinando-os a buscar fontes confiáveis e a exercitar
o senso crítico.
Se perdermos essa geração para as fake news, que líderes teremos e o que eles farão pelo Brasil
daqui a 20 anos?
(Stéphanie Habrich, diretora executiva do jornal “Joca”, voltado para jovens e crianças. Folha de S.Paulo, 19.02.2018.
Adaptado)
Eles venceram
Em A vingança dos nerds, comédia de 1984, um grupo de jovens feiosos e um tanto estranhos,
vítimas da agressividade e do bullying de colegas fortões e quase idiotas, decide ir para a revan-
che com um festival de estripulias bem-sucedidas. Ao som de We Are the Champions, clássico
do Queen, eles celebraram a vitória. O filme foi premonitório. Os nerds não deixaram pedra sobre
pedra. Fizeram suas apostas e quebraram a banca. Na lista das pessoas mais ricas do mundo,
encontram-se três deles nas cinco primeiras posições, todos pais e filhos da revolução digital:
Jeff Bezos, da Amazon, na primeiríssima colocação; Bill Gates, da Microsoft, no segundo lugar; e
Mark Zuckerberg, do Facebook, no quinto posto. Para efeito de comparação, em 1982, tempo em
que os nerds ainda eram ridicularizados, a figura mais rica do mundo era o dono de um estaleiro
naval (Daniel K. Ludwig) que fizera fortuna vendendo embarcações para a indústria de petróleo.
Um olhar para os dois momentos, o de três décadas atrás e o de agora, comprova como a econo-
mia mudou, e hoje isso soa óbvio. Menos óbvia é a constatação de que a cultura nerd venceu, e
por ter vencido virou padrão. “Seja legal com os nerds, provavelmente você vai acabar trabalhando
para um deles” vaticinou Gates, não muito depois de 1977, quando ele foi detido por dirigir sem
documentos. A Microsoft acabara de nascer e, por trás daqueles óculos genuinamente nerds, na
foto da detenção, brotavam um novo mundo e novas concepções do que é ser bacana. A aparente
353
fragilidade de Gates era só aparência mesmo – e o leve sorriso irônico anunciava um salto des-
tinado a dar um contr+alt+del nada metafórico em quem ainda achava possível andar ao modo da
velha indústria.
A atual hegemonia nerd é a prova, também, de que todo estereótipo é tolo. Costuma-se classificar
como nerds as pessoas muito inteligentes, em geral tímidas que cismam com um tema e dele
não saem. Somos todos nerds – ou queremos ser, porque a força está com eles, ao menos a força
econômica, e o que andava à margem, em quartos fechados e garagens, hoje virou padrão.
(Fábio Altman. Veja, 26.09.2018. Adaptado)
Assinale a alternativa que expressa, correta e respectivamente, o sentido das expressões “hege-
monia” e “estereótipo” (último parágrafo).
a) Predominância e ideia inconsequente.
b) Ascendência e ideia fixa.
c) Identidade e classificação equivocada.
d) Determinação e pensamento padronizado.
e) Supremacia e classificação preconcebida.
Roma
O filme Roma está constantemente entre dois caminhos. É pessoal e grandioso, popular e intelec-
tual, tecnológico – rodado em 65 mm digital – e clássico – feito em preto e branco com a mesma
ousadia dos movimentos cinematográficos das décadas de 1950 e 1960. O título, uma referência a
Colonia Roma, bairro da Cidade do México, também remete a Roma, Cidade Aberta, filme-símbolo
do neorrealismo italiano assinado por Roberto Rossellini.
Ao revisitar a própria memória, o cineasta Alfonso Cuarón escolhe olhar para Cleo, a empregada,
de origem indígena, de uma família branca de classe média. Resgata, assim, não apenas os seus
anos de formação, mas todas as particularidades do passado do país. O México no início dos anos
1970 fervilhava entre revoluções sociais e a influência da cultura estrangeira. Cleo, porém, se man-
tinha ingênua, centrada nas suas obrigações: lavar o pátio, buscar as crianças na escola, lavar a
roupa, colocar os pequenos para dormir.
Até que tudo se transforma. A família perfeita desmorona, com o pai que sai de casa, a mãe que
não se conforma com o fim do casamento e os filhos jogados de um lado para o outro na confusão
dos adultos. Enquanto isso, Cleo se apaixona, engravida, é enganada e deixada à própria sorte.
Duas mulheres de diferentes origens compartilham a dor do abandono. Juntas, reencontram a re-
siliência que segura o mundo frente às paixões autocentradas.
O cineasta, que além da direção e do roteiro assina a fotografia e a montagem (ao lado de Adam
Gough), retrata sua história, entrelaçada com a de seu país, como se na vida adulta reencontrasse
o olhar da infância, cujo fascínio por cada descoberta aumenta o tamanho e a importância de tudo.
O que Cuarón faz em Roma é raro. São camadas e camadas sobrepostas para reproduzir a com-
plexidade do seu imaginário afetivo e das relações sociais de um país. Entre muitas inspirações,
referências e técnicas, sua assinatura está na sinceridade com que olha para si mesmo e para os
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seus personagens, encontrando beleza e verdade no que muitos menosprezam. Esse é um filme
simples e complicado, como a própria vida.
(Natália Bridi. Omelete. 11.01.2019. www.omelete.com.br. Adaptado)
Roma
O filme Roma está constantemente entre dois caminhos. É pessoal e grandioso, popular e intelec-
tual, tecnológico – rodado em 65 mm digital – e clássico – feito em preto e branco com a mesma
ousadia dos movimentos cinematográficos das décadas de 1950 e 1960. O título, uma referência a
Colonia Roma, bairro da Cidade do México, também remete a Roma, Cidade Aberta, filme-símbolo
do neorrealismo italiano assinado por Roberto Rossellini.
Ao revisitar a própria memória, o cineasta Alfonso Cuarón escolhe olhar para Cleo, a empregada,
de origem indígena, de uma família branca de classe média. Resgata, assim, não apenas os seus
anos de formação, mas todas as particularidades do passado do país. O México no início dos anos
1970 fervilhava entre revoluções sociais e a influência da cultura estrangeira. Cleo, porém, se man-
tinha ingênua, centrada nas suas obrigações: lavar o pátio, buscar as crianças na escola, lavar a
roupa, colocar os pequenos para dormir.
Até que tudo se transforma. A família perfeita desmorona, com o pai que sai de casa, a mãe que
não se conforma com o fim do casamento e os filhos jogados de um lado para o outro na confusão
dos adultos. Enquanto isso, Cleo se apaixona, engravida, é enganada e deixada à própria sorte.
Duas mulheres de diferentes origens compartilham a dor do abandono. Juntas, reencontram a re-
siliência que segura o mundo frente às paixões autocentradas.
O cineasta, que além da direção e do roteiro assina a fotografia e a montagem (ao lado de Adam
Gough), retrata sua história, entrelaçada com a de seu país, como se na vida adulta reencontrasse
o olhar da infância, cujo fascínio por cada descoberta aumenta o tamanho e a importância de tudo.
O que Cuarón faz em Roma é raro. São camadas e camadas sobrepostas para reproduzir a com-
plexidade do seu imaginário afetivo e das relações sociais de um país. Entre muitas inspirações,
referências e técnicas, sua assinatura está na sinceridade com que olha para si mesmo e para os
seus personagens, encontrando beleza e verdade no que muitos menosprezam. Esse é um filme
simples e complicado, como a própria vida.
(Natália Bridi. Omelete. 11.01.2019. www.omelete.com.br. Adaptado)
Considere os sentidos que os vocábulos destacados nos trechos a seguir imprimem às relações
que estabelecem:
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• ... Roma, Cidade Aberta, filme-símbolo do neorrealismo italiano assinado por Roberto Rosselli-
ni. (1º parágrafo)
• Até que tudo se transforma. (3º parágrafo)
Nada de importante
Quem não tem seus apegos, certo? Eles até podem não ser lá muito saudáveis, mas são inevitá-
veis. Assim, sugiro fazermos as melhores escolhas possíveis ao nos apegarmos a quem ou ao que
seja.
Sou apegada a certos livros, certas mágoas, certos prazeres, certas bebidas: café, sempre. A cer-
tas pessoas, certos sonhos. Adoro como estes vão se encaixando na realidade, trazendo outras
nuances, algumas que nem eu imaginei para eles. Há certa ironia em como os sonhos nos mos-
tram que sua realização vive na realidade. No caso das pessoas, há sempre o risco de a saudade
tomar conta. Para ser apegada às pessoas, sem que isso faça mais mal do que bem, repito a mim
mesma que aquela pessoa não me pertence, que ela não nasceu para atender aos meus desejos
ou necessidades. Então, compreendendo que posso esperar do outro somente o que ele quer e
pode me oferecer, acabo aproveitando o melhor desse apego.
(Carla Dias. 07.11.2018. www.cronicadodia.com.br. Adaptado)
356
(Lute. Hoje em Dia. 28.11.2018. www.hojeemdia.com.br)
Considerando que a frase “Sonda espacial começa a explorar Marte” tem caráter informativo,
contextualizando a temática do cartum, o vocábulo explorar deve ser entendido com o sentido de
a) ocultar informações sigilosas de um público de curiosos.
b) pesquisar de maneira teórica um objeto imaginado.
c) percorrer uma região para estudá-la e conhecê-la.
d) aproveitar-se de alguém com o fim de obter lucro.
e) induzir um povo a erro visando favorecer um pequeno grupo.
357
d) mundo ... cidade
e) lixo ... bueiro
Uma expressão que atribui à frase um tom de generalização está destacada em:
a) Há que se dizer que culpar terceiros sempre nos traz alívio.
b) Um dos maiores responsáveis por alagamentos nas cidades é o lixo...
c) Nos dias de hoje coletamos informações prontas...
d) ... cotidiano agitado e quase atropelado pelo que não nos afeta...
e) ... quase atropelado pelo que não nos afeta tanto por enquanto.
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d) em ambos os trechos, tem sentido de ingerir.
e) no trecho destacado, tem sentido de expor-se.
No front da alfabetização, a rede municipal de educação da cidade de São Paulo obteve conquista
apreciável: 92% dos alunos sabiam ler e escrever ao término do segundo ano, ante não mais de
77% em 2017. Com isso, a prefeitura estipulou a meta de 85% de alfabetização no primeiro ano,
quando as crianças em geral têm seis anos.
Uma ousadia, quando se tem em vista que, até recentemente, a diretriz nacional se limitava a
preconizar leitura e escrita até o final do terceiro ano. Só em 2018, com a Base Nacional Comum
Curricular, esse objetivo foi antecipado para o segundo ano, algo que a rede paulistana já havia
adotado com um ano de antecedência.
Fica assim comprovado, na experiência de São Paulo, que metas ambiciosas nada têm de incom-
patível com progresso de aprendizado – ao contrário. Em particular no campo da alfabetização,
base de tudo que virá a seguir, um nível alto de exigência dará motivação extra para educadores e
estudantes se aplicarem mais.
Conforme se avança no ensino fundamental, contudo, os descaminhos e a leniência do passado se
fazem manifestar nos parcos resultados obtidos por estudantes em provas padronizadas.
A deficiência manifesta-se em todas as grandes áreas de conhecimento. Quando concluem o quin-
to ano, final da fase 1 do fundamental, só 39% das meninas e dos meninos alcançam desempenho
satisfatório em língua portuguesa. Pior, são apenas 27% em matemática e 20% em ciências.
A perda agrava-se na fase seguinte. Quando saem do fundamental 2, no nono ano, apenas 25%
dos estudantes estão no nível adequado de língua. E há inaceitáveis 10% e 9% nessa faixa de
desempenho, respectivamente, nas áreas de matemática e ciências naturais, o que torna fácil de
entender o desastre que hoje se observa no ensino médio.
Não deixa de ser animador constatar que ao menos nos fundamentos do aprendizado – a alfabe-
tização – houve avanço em São Paulo. Mas a cidade mais populosa e rica do país ainda precisa
fazer mais e melhor por suas crianças e jovens.
(Editorial. Folha de S.Paulo, 02.01.2019. Adaptado)
359
e) prever; receio de cobrança de obrigações; limitados.
Misto de pensão e apart-hotel da zona sul carioca(A), o lendário Solar da Fossa serviu, entre 1964
e 1971(B), de moradia e ponto de encontro para jovens artistas e intelectuais oriundos de diversos
cantos do país(C).
Estes o procuravam não só pelo aluguel acessível, mas também pela considerável liberdade que
desfrutavam ali, em pleno regime militar. Paulinho da Viola, Gal Costa, Tim Maia, Ítala Nandi e
Paulo Leminski estão entre as dezenas de personagens do livro, cuja narrativa transita pelos 85
apartamentos(D), revelando detalhes do cotidiano dos moradores, inconfidências e causos diverti-
dos(E), além de traçar um painel cultural da época.
(Carlos Calado. Guia Folha. Adaptado)
Tendo em vista o contexto, os dois termos entre parênteses que apresentam o mesmo sentido do
termo destacado no trecho do texto estão na alternativa:
a) Misto de pensão e apart-hotel da zona sul carioca... (união, arremedo)
b) ... o lendário Solar da Fossa serviu, entre 1964 e 1971... (notório, afamado)
c) ... jovens artistas e intelectuais oriundos de diversos cantos do país. (procedentes, irreveren-
tes)
d) ... cuja narrativa transita pelos 85 apartamentos... (passa, se dissipa)
e) ... detalhes do cotidiano dos moradores, inconfidências e causos divertidos... (agressões, in-
fidelidades).
Com relação à afirmação que a antecede, a frase “Mas sem excessos...” exprime uma
a) conjectura.
b) exemplificação.
c) justificativa.
d) restrição.
e) comparação.
1 barbicacho: cordão
2 alazão: cavalo de pelo castanho
3 dólmã: casaco curto
4 cinamomo: tipo de árvore 5 rebenque: pequeno chicote
O sociólogo Pierre Bourdieu foi meu grande guru. Ele mostrou como a linguagem é usada como
instrumento de poder na sociedade. Portanto, é importante dar às pessoas esse instrumento. As
camadas populares têm que lutar muito contra a discriminação e a injustiça, e a linguagem é um
instrumento fundamental. Alfabetização e letramento têm esse objetivo: dar às pessoas o domínio
da língua como instrumento de inserção na sociedade e de luta por direitos fundamentais. Em rela-
ção à língua escrita, a criança tem que aprender duas coisas. Uma é o sistema de representação,
361
que é o sistema alfabético. Esse é um processo que trabalha determinadas operações cognitivas
e tem que levar em conta as características do sistema alfabético, é saber decodificar o que está
escrito, ou codificar o que deseja escrever. Mas isso deve ser feito em contexto de letramento, com
textos reais, não com o clássico exemplo “Eva viu a uva”. Que Eva? Que uva? Tradicionalmente a
alfabetização se resumia a codificar e decodificar, porque o foco era a criança aprender apenas o
código. Mas a questão é que a criança precisa aprender o código sabendo para o que ele serve.
A escrita é uma tecnologia como outras. É importante aprender a escrever, conhecer a relação
fonema-letra, saber que se escreve de cima para baixo, da esquerda para a direita, aprender as
convenções da escrita. Mas essa tecnologia, como toda tecnologia, só tem sentido para ser usada:
para saber interpretar textos, fazer inferências, ler diferentes gêneros, o que significa outra coisa
e exige outras habilidades e competências. Aprender o sistema de escrita é alfabetização. Aprender
os usos sociais do sistema de escrita é letramento.
(http://revistapesquisa.fapesp.br. Adaptado)
No pouco ortodoxo modelo de ensino que levou a Finlândia ao topo dos rankings globais de edu-
cação, uma inovadora inversão de papéis começa a tomar corpo: alunos estão dando aulas aos
professores, para ensinar os mestres a otimizar o uso de tecnologias de informação e comunicação
nas escolas.
O projeto OppilasAgentti (“Agentes Escolares”, em tradução livre) está sendo conduzido em cerca
de cem escolas finlandesas, e a ideia é levar a nova experiência a um número cada vez maior do
universo de 3.450 instituições de ensino do país.
Trata-se de um modelo para desenvolver as competências tecnológicas não apenas dos profes-
sores, mas de toda a comunidade escolar — e também do seu entorno: os alunos da escola Hä-
meenkylä, por exemplo, também estão dando aulas aos idosos de um asilo local sobre como usar
redes sociais, iPads e outros dispositivos eletrônicos.
“Acreditamos que é importante ensinar nossas crianças a descobrir seus potenciais e a desenvol-
362
ver seus valores, e mostrar a elas o impacto positivo que cada indivíduo pode exercer na socieda-
de”, observa Pasi Majasaari, diretor da escola Hämeenkylä, na cidade de Vantaa, próxima à capital
Helsinki.
Os alunos do projeto têm entre 10 e 16 anos de idade. Pelo sistema, os estudantes interessados
em participar se apresentam como voluntários e relatam suas competências e habilidades em
determinadas áreas. As escolas também oferecem treinamento aos alunos, em aulas ministradas
por especialistas de diferentes empresas finlandesas que revendem soluções tecnológicas para o
sistema de ensino do país.
A partir daí, os estudantes produzem um mapeamento das necessidades digitais da escola, sob a
orientação de um professor. Eles fazem então um planejamento das atividades necessárias e pas-
sam a atuar em três frentes. Na sala dos professores, os alunos dão aulas ocasionais sobre como
usar diferentes dispositivos e aplicativos. Professores também podem contatar os estudantes para
pedir assistência individual, a fim de solucionar pequenos problemas. E os alunos-mestres também
atuam como professores assistentes nas salas de aula, para prestar ajuda tanto aos professores
quanto a outros colegas de classe quando determinada lição envolve o uso de tecnologia.
Inverter o papel tradicional dos alunos nas escolas é mais um pensamento fora da caixa do cele-
brado sistema finlandês, que conquistou resultados invejáveis nos
rankings mundiais de educação com um receituário que inclui menos horas de aulas, poucas lições
de casa, férias mais longas e uma baixa frequência de provas.
(Claudia Wallin. www.bbc.com. Adaptado)
Moravam debaixo da ponte. Oficialmente, não é lugar onde se more, porém eles moravam. Nin-
guém lhes cobrava aluguel, imposto predial, taxa de condomínio: a ponte é de todos, na parte
de cima; de ninguém, na parte de baixo. Não pagavam conta de luz e gás porque luz e gás não
consumiam. Não reclamavam da falta d’água, raramente observada por baixo de pontes. Problema
de lixo não tinham; podia ser atirado em qualquer parte, embora não conviesse atirá-lo em parte
alguma, se dele vinham muitas vezes o vestuário, o alimento, objetos de casa. Viviam debaixo da
ponte, podiam dar esse endereço a amigos, receber amigos, fazer os amigos desfrutarem como-
didades internas da ponte.
364
À tarde surgiu precisamente um amigo que morava nem ele mesmo sabia onde, mas certamente
morava: nem só a ponte é lugar de moradia para quem não dispõe de outro rancho. Há bancos
confortáveis nos jardins, muito disputados; a calçada, um pouco menos propícia; a cavidade na
pedra, o mato. Até o ar é uma casa, se soubermos habitá-lo, principalmente o ar da rua. O que
morava não se sabe onde vinha visitar os de debaixo da ponte e trazer-lhes uma grande posta de
carne.
(Carlos Drummond de Andrade. A bolsa e a vida. Adaptado)
Na passagem – Problema de lixo não tinham; podia ser atirado em qualquer parte, embora não
conviesse atirá-lo em parte alguma... – os pronomes destacados expressam, correta e respectiva-
mente, as ideias de
a) parte inadequada; parte adequada.
b) parte indeterminada; parte nenhuma.
c) parte toda; parte certa.
d) parte incerta; parte certa.
e) parte indiscriminada; parte definida.
“Foi mal, desculpa aí.” Mais ou menos assim, Mark Zuckerberg tentou explicar ao Congresso nor-
te-americano o uso ilegal dos dados de 87 milhões de usuários do Facebook pela empresa de
marketing político Cambridge Analytica (CA). Não convenceu ninguém. Foi, até agora, o momento
mais dramático de uma batalha que se tornará mais intensa. A disputa latente entre política e tec-
nologia se tornou explícita. Da utopia digital do Vale do Silício, emergiu a realidade dos monopólios
corporativos, da manipulação política e do tribalismo antidemocrático. O resultado do choque com
as instituições é incerto. “Nos próximos anos, ou a tecnologia destruirá a democracia e a ordem
social ou a política imprimirá sua autoridade sobre o mundo digital”, escreve o jornalista britânico
Jamie Bartlett no recém-lançado The people vs. Tech (O povo contra a tecnologia).
(Hélio Gurovitz. https://epoca.globo.com. 14.04.2018. Adaptado)
Emoções são uma construção social. Essa é, numa frase, a tese central de Lisa Feldman Barrett
em “How Emotions Are Made” (“Como são feitas as emoções”). Não haveria nada de surpreen-
dente se Barrett fosse professora em algum departamento de estudos de gênero, mas ela é uma
365
neurocientista e afirma que suas conclusões estão amparadas em sólida evidência empírica.
O ponto forte do livro é justamente a parte em que Barrett mostra que há problemas nos modelos
tradicionais que fazem com que cada emoção corresponda à ativação de um circuito neural espe-
cífico. Por esse paradigma, emoções seriam universais e teriam uma assinatura biológica incon-
fundível.
O problema, diz Barrett, é que ela passou anos num laboratório em busca dessas assinaturas e não
as encontrou. Não temos dificuldade para reconhecer a emoção medo num ator fazendo uma ca-
reta estereotipada, mas isso não passa de uma convenção cultural. Nem todos que sentem medo
apresentam as mesmas expressões faciais e nem sequer os mesmos sinais fisiológicos.
A partir daí — e essa é a parte em que o livro fica aquém do que promete —, Barrett conclui que o
modelo tradicional está errado e propõe outro no qual as emoções são construídas pelo cérebro no
instante em que ele classifica as sensações positivas ou negativas que experimenta. A cultura e a
própria linguagem seriam parte indispensável desse processo.
Minha impressão é de que Barrett foi com muita sede ao pote. Seus achados fragilizam as versões
mais fortes do modelo tradicional, mas não bastam para pôr abaixo um edifício construído com a
colaboração da maior parte dos filósofos ocidentais, do próprio Charles Darwin e de um número
ainda maior de neurocientistas contemporâneos. Até pode ser que Barrett tenha razão, mas ain-
da é cedo para decretá-lo.
(Hélio Schwartsman. “Como são feitas as emoções”. Folha de S.Paulo. 04.03.2018. Adaptado)
Esses retratos, junto com muitos outros, formam uma galeria que o país não gosta de ver. São vá-
rios Antônios, vários Franciscos, vários Josés que dão carne e osso a um grande drama brasileiro:
o trabalho em condições análogas às de escravidão. Sim, todas essas pessoas foram escravizadas
– em pleno século XXI.
Enredadas em dívidas impagáveis, manipuladas pelos patrões e submetidas a situações deplo-
ráveis no trabalho, elas chegaram a beber a mesma água que os porcos, e algumas sofreram a
humilhação máxima de ser espancadas, para não falar de constantes ameaças de morte.
Quando os livros escolares informam que a escravidão foi abolida no Brasil em 13 de maio de 1888,
há exatos 130 anos, fica faltando dizer que se encerrou a escravidão negra – e que, ainda hoje, a
366
escravidão persiste, só que agora é multiétnica.
Estima-se que atualmente 160 000 brasileiros trabalhem e vivam no país em condições semelhan-
tes às de escravidão – ou seja, estão submetidos a trabalho forçado, servidão por meio de dívi-
das, jornadas exaustivas e circunstâncias degradantes (em relação a moradia e alimentação, por
exemplo). Comparada aos milhões de africanos trazidos para o país para trabalhar como escravos,
a cifra atual poderia indicar alguma melhora, mas abrigar 160 000 pessoas escravizadas é um
escândalo humano de proporções épicas. Em 1995, o governo federal reconheceu oficialmente a
continuidade daquele crime inclassificável – e criou uma comissão destinada a fiscalizar o trabalho
escravo. O pior é que, em vez de melhorar, a situação está ficando mais grave.
(Jennifer Ann Thomas, Veja, 09 de maio de 2018. Adaptado)
O aspecto mais perverso da brutal recessão de 2014-16 – e da lenta recuperação que a sucedeu
até agora – é o custo desproporcional imposto aos mais pobres.
Como primeiro impacto, o fechamento de vagas no mercado de trabalho e a queda da renda rever-
teram uma trajetória de avanços sociais que já completava uma década. Durante o longo ciclo de
retração, a taxa de desemprego subiu de 6,5% para 13,7%, ou, dito de outro modo, 5,9 milhões de
pessoas perderam seus postos de trabalho.
A retomada do crescimento econômico, iniciada no ano passado, tem se mostrado tímida e, embo-
ra a desocupação tenha caído um pouco, a qualidade das vagas geradas deixa a desejar.
Não surpreende, pois, que os dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicí-
lios (Pnad) do IBGE mostrem um quadro deteriorado.
A partir deles, a consultoria LCA calculou que em 2017 a pobreza extrema se elevou em 11%. Con-
forme os números publicados pelo jornal Valor Econômico, 14,8 milhões de brasileiros são mise-
ráveis – considerando uma linha de R$ 136 mensais. O Nordeste abriga 55% desse contingente.
Embora não se possa afirmar com certeza, uma vez que o IBGE alterou a metodologia da Pnad e
ainda não divulgou as novas séries históricas, é plausível que também a exorbitante desigualdade
social brasileira tenha aumentado com a recessão.
(Miséria brasileira, editorial. Folha de S.Paulo. 14.04.2018. Adaptado)
367
No trecho, os termos “plausível” e “exorbitante”, em destaque, significam, respectivamente:
a) alegável; que age indiscriminadamente.
b) reconhecível; sem solução.
c) admissível; que ultrapassa os limites.
d) considerável; difícil de ser interrompida.
e) incontestável; impossível de mensurar.
No dia 13 de janeiro de 1825, um condenado caminhava com passos firmes na direção da forca, no
centro do Recife. Era o frei Joaquim do Amor Divino Caneca, o lendário Frei Caneca, lutador in-
cansável pela independência do Brasil. Ele tinha participado da revolta da Confederação do Equa-
dor, sufocada pelo governo de Pernambuco. Vestia o hábito da Irmandade da Madre de Deus.
Sob o olhar curioso da multidão, foi submetido ao degradante ritual da desautoração*, perdendo os
direitos eclesiásticos, para que pudesse enfrentar o suplício da forca.
Impassível e altivo, deixou que os monges despissem suas vestes sagradas. Permaneceu firme
quando recebeu na tonsura** o golpe simbólico da excomunhão. O carrasco já se preparava para o
gesto fatal, quando recuou, com o rosto pálido, dizendo que a Virgem Maria estava junto ao conde-
nado. Veio então o ajudante do carrasco, que também se recusou a executar Frei Caneca, diante
da visão da Virgem Maria. Aí foram buscar dois escravos. E esses, mesmo duramente açoitados,
negaram-se a participar da execução. O juiz mandou trazer dois presos da cadeia pública e lhes
ofereceu a liberdade em troca da execução de Frei Caneca. E eles igualmente se negaram, alegan-
do a visão da Virgem Maria.
Mas era preciso matar Frei Caneca de qualquer jeito, como exemplo para desencorajar futuros
conspiradores. O juiz então ordenou que ele fosse fuzilado. Percebendo que os soldados tremiam
com as armas na mão, Frei Caneca procurou exortá-los:
– Vamos, meus amigos. Não me façam sofrer muito. Virgem Maria há de compreender os vossos
temores. Tenham fé, ela já os perdoou. E os tiros provocaram um arrepio na multidão silenciosa.
(Eloy Terra. 500 anos: Crônicas pitorescas da história do Brasil. Adaptado)
*Desautoração: privação da dignidade do cargo, como medida punitiva.
**Tonsura: corte redondo dos cabelos no topo da cabeça dos clérigos.
Assinale a alternativa que expressa adequadamente o sentido contextual das palavras “impassível”
e “altivo”, em destaque no início do segundo parágrafo.
a) Importunado e cheio de orgulho.
b) Intranquilo e cheio de desconfiança.
c) Calmo e cheio de esperança.
d) Imperturbável e cheio de brio.
e) Emudecido e cheio de si.
368
O exorcismo
Rosário, a feiticeira andaluza, estava há muitos anos lutando contra os demônios. O pior dos sa-
tanases tinha sido seu sogro. Aquele malvado tinha morrido estendido na cama, na noite em que
blasfemou*, e o crucifixo de bronze soltou-se da parede e quebrou-lhe o crânio.
Rosário se ofereceu para desendemoniar-nos. Jogou no lixo a nossa bela máscara mexicana de
Lúcifer e esparramou uma fumaçarada de arruda, manjerona e louro bendito. Depois pregou na
porta uma ferradura com as pontas para fora, pendurou alguns alhos e derramou, aqui e acolá,
punhadinhos de sal e montões de fé.
– Ao mau tempo, cara boa, e para a fome, viola – disse. E disse que dali para a frente era conosco,
porque a sorte não ajuda quem não a ajuda a ajudar.
(Eduardo Galeano, O livro dos abraços. Adaptado)
*Proferiu palavras ofensivas à divindade.
As palavras do texto que se associam por compartilharem um núcleo comum de sentido são:
a) feiticeira, malvado e viola.
b) andaluza, sogro e arruda.
c) blasfemou, crânio e máscara.
d) desendemoniar-nos, ferradura e fome.
e) demônios, satanases e Lúcifer.
Pela primeira vez, vício em games é considerado distúrbio mental pela OMS
A 11ª Classificação Internacional de Doenças (CID) irá incluir a condição sob o nome de “distúrbio
de games”. O documento descreve o problema como padrão de comportamento frequente ou per-
sistente de vício em games, tão grave que leva “a preferir os jogos a qualquer outro interesse na
vida”. A última versão da CID foi finalizada em 1992, e a nova versão do guia será publicada neste
ano. Ele traz códigos para as doenças, sinais ou sintomas e é usado por médicos e pesquisadores
para rastrear e diagnosticar uma doença.
O documento irá sugerir que comportamentos típicos dos viciados em games devem ser observa-
dos por um período de mais de 12 meses para que um diagnóstico seja feito. Mas a nova CID irá
reforçar que esse período pode ser diminuído se os sintomas forem muito graves. Os sintomas do
distúrbio incluem: não ter controle de frequência, intensidade e duração com que joga video game;
priorizar jogar video game a outras atividades.
Richard Graham, especialista em vícios em tecnologia no Hospital Nightingale em Londres, reco-
nhece os benefícios da decisão. “É muito significativo, porque cria a oportunidade de termos servi-
ços mais especializados.” Mas para ele é preciso tomar cuidado para não se cair na ideia de que
todo mundo precisa ser tratado e medicado. “Pode levar pais confusos a pensar que seus filhos têm
problemas quando eles são apenas ‘empolgados’ jogadores de video game”, afirmou.
(Jane Wakefield. BBC Brasil. www.bbc.com/portuguese. 02.01.2018. Adaptado)
Assinale a alternativa que apresenta, correta e respectivamente, sinônimos para os vocábulos “per-
369
sistente” (1º parágrafo) e “típicos” (2º parágrafo).
a) Contínuo e excepcionais.
b) Eventual e comuns.
c) Insistente e característicos.
d) Intermitente e específicos.
e) Consistente e eventuais.
Mal-estar
Causa inquietude a situação do mercado de trabalho desde o final do ano passado, conforme ob-
servada nas pesquisas mais recentes do IBGE. Os números decepcionantes acentuam as dúvi-
das em torno da força e da persistência da retomada do crescimento econômico.
A atividade no início deste ano se mostra, em geral, fraca. Em abril, os índices de confiança de con-
sumidores e empresas ou ficaram estagnados ou regrediram. Compreende-se a reticência, dados
os indicadores do mundo do emprego.
O poder de compra dos salários começou a se recuperar no ano passado, mas a melhora perde
ritmo. No primeiro trimestre, o rendimento médio do país não passou de R$ 2.169 mensais – o mes-
mo valor do mesmo período de 2017, considerada a inflação.
Descontados efeitos sazonais, a taxa de desocupação não cai desde setembro do ano passado.
A oferta de empregos permanece precária, baseada em vagas sem carteira assinada e trabalho por
conta própria, na maior parte dos casos, informal e mal remunerado.
As taxas de juros bancárias estão em níveis semelhantes ou superiores aos verificados no final de
2017. A tímida evolução dos rendimentos pode ter influência da estagnação do salário-mínimo. O
desempenho da agricultura, ainda bom, não iguala os resultados extraordinários do início do ano
passado.
A construção civil não conseguiu se recuperar e ainda desemprega.
Os investimentos no setor deixaram de cair apenas no final do ano passado. Não há dados mais
recentes, mas sabe-se que faltam novos canteiros de obras devido, em grande parte, à penúria
orçamentária em todos os níveis de governo.
Os indicadores de confiança econômica detectaram ligeiro aumento do pessimismo em relação aos
próximos meses. Ressalte-se que ainda existe crescimento, com taxa esperada entre 2,5% e 3%
neste ano. De todo modo, neste momento é inegável o mal-estar na recuperação econômica.
(Folha de S.Paulo, 30.04.2018. Adaptado)
Considere as passagens:
“Compreende-se a reticência, dados os indicadores do mundo do emprego.” (2º parágrafo);
“Descontados efeitos sazonais, a taxa de desocupação não cai desde setembro do ano passado.”
(4º parágrafo);
“... faltam novos canteiros de obras devido [...] à penúria orçamentária em todos os níveis de go-
verno.” (7º parágrafo).
370
Os termos em destaque significam, correta e respectivamente:
a) hesitação; relativos a uma época do ano; miséria.
b) incredulidade; relativos a um tempo incerto; limitação.
c) desarmonia; relativos a uma estação do ano; pobreza.
d) inobservância; relativos a um mês do ano; escassez.
e) incerteza; relativos a um tempo passado; controle.
A fala de Calvin no último quadrinho – A vida é muito inconveniente. – significa que o menino a
considera
a) bastante adequada.
b) eventualmente inoportuna.
c) muito vantajosa.
d) demasiadamente incômoda.
e) provavelmente descomplicada.
Às segundas-feiras pela manhã, os usuários do Spotify (serviço de transferência de dados via in-
ternet que dá acesso a músicas e outros conteúdos de artistas) recebem uma lista personalizada
de músicas que lhes permite descobrir novidades. O sistema se baseia em um algoritmo cuja evo-
lução e usos aplicados ao consumo cultural são infinitos. De fato, plataformas de transmissão de
dados cinematográficos, como a Netflix, começam a desenhar suas séries de sucesso rastreando
os dados gerados por todos os movimentos dos usuários para analisar o que os satisfaz. O algorit-
mo constrói assim um universo cultural adequado e complacente com o gosto do consumidor, que
pode avançar até chegar sempre a lugares reconhecíveis.
371
O algoritmo, sustentam seus críticos, nos torna chatos, previsíveis, e empobrece nossa curiosidade
por explorar o acervo cultural. Ramón Sangüesa, coordenador do Data Transparency Lab (Labora-
tório de Transparência de Dados), consegue ver vantagens, mas também riscos. “Esses sistemas
se baseiam no passado para predizer o futuro. A primeira dificuldade é conseguir a massa crítica
para que tenhamos mais dados e as projeções sejam melhores. Mas sempre se corre o risco de
ficar em uma mesma área de recomendação. No consumo cultural, o perigo está na uniformiza-
ção do gosto, o que chamamos de filtro bolha. E assim vão sendo criados comportamentos
padronizados”, afirma.
A questão, no entanto, é se os limites impostos na aprendizagem pelos sistemas fechados de com-
putação são equiparáveis aos erros e possíveis idiotices que cometemos durante anos formando
nosso próprio gosto. O escritor Eloy Fernández Porta não vê grande diferença. Segundo ele, antes
do Spotify e fora dele o gosto já vinha determinado por critérios de acesso, aceitação, atualidade e
distinção. “Sempre vivemos a música em um algoritmo, o que acontece é que em vez de chamá-lo
de matemática o chamamos de espontaneidade. O algoritmo do Spotify não me parece menos con-
fiável do que a fórmula caótica que cada ouvinte inventou. Nem menos humano: quando fazemos
analogias erradas ou nos empenhamos em recomendar o primeiro disco de Vincent Gallo, nossas
sinapses estão dando os mesmos maus passos”, afirma.
(Daniel Verdú. https://brasil.elpais.com/brasil/. 09.07.2016. Adaptado)
Uma palavra que substitui o vocábulo padronizados, em destaque ao final do segundo parágrafo,
sem prejuízo de sentido, é:
a) identitários.
b) rudimentares.
c) heterodoxos.
d) estereotipados.
e) estigmatizados.
Em busca do outro
Não é à toa que entendo os que buscam caminho. Como busquei arduamente o meu! E como hoje
busco com sofreguidão e aspereza o meu melhor modo de ser, o meu atalho, já que não ouso mais
falar em caminho. Eu que tinha querido. O Caminho, com letra maiúscula, hoje me agarro ferozmen-
te à procura de um modo de andar, de um passo certo. Mas o atalho com sombras refrescantes
e reflexo de luz entre as árvores, o atalho onde eu seja finalmente eu, isso não encontrei. Mas sei
de uma coisa: meu caminho não sou eu, é outro, é os outros. Quando eu puder sentir plenamente
o outro estarei salva e pensarei: eis o meu porto de chegada.
(LISPECTOR, Clarice. Aprendendo a viver. Rio de Janeiro, Rocco Digital, 2013, p. 48.)
Ao final do texto, verifica-se no emprego combinado das formas verbais puder e sentir a
a) alusão a um evento ocorrido recentemente.
b) descrição de uma ação habitual.
c) constatação de um fato presente.
372
d) expressão de um desejo.
e) evocação de uma reminiscência.
Em busca do outro
Não é à toa que entendo os que buscam caminho. Como busquei arduamente o meu! E como hoje
busco com sofreguidão e aspereza o meu melhor modo de ser, o meu atalho, já que não ouso mais
falar em caminho. Eu que tinha querido. O Caminho, com letra maiúscula, hoje me agarro ferozmen-
te à procura de um modo de andar, de um passo certo. Mas o atalho com sombras refrescantes
e reflexo de luz entre as árvores, o atalho onde eu seja finalmente eu, isso não encontrei. Mas sei
de uma coisa: meu caminho não sou eu, é outro, é os outros. Quando eu puder sentir plenamente
o outro estarei salva e pensarei: eis o meu porto de chegada.
(LISPECTOR, Clarice. Aprendendo a viver. Rio de Janeiro, Rocco Digital, 2013, p. 48.)
SINÔNIMOS E ANTÔNIMOS
Progresso, enfim
Em atraso nas grandes reformas da Previdência Social e do sistema de impostos, o Brasil tem obti-
do avanços em uma agenda que, tomada em seu conjunto, mostra-se igualmente essencial – a da
melhora do ambiente de negócios.
Trata-se de objetivos tão diferentes quanto facilitar a criação de empresas, reduzir o custo de licen-
ças ou ampliar o acesso ao crédito. Grande parte dessas providências não depende de votações
no Congresso, mas sim do combate persistente a empecilhos burocráticos e ineficiências do setor
público(2ºpar.
A boa notícia é que o país subiu 16 posições no mais conhecido ranking dessa modalidade, di-
vulgado a cada ano pelo Banco Mundial. A má é que a 109a colocação, num total de 190 nações
consideradas, permanece vergonhosa.
O progresso ocorreu, basicamente, em quatro indicadores – fornecimento de energia elétrica, pra-
zo para abertura de empresa com registro eletrônico, acesso à informação de crédito e certificação
eletrônica de origem para importações.
Pela primeira vez em 16 anos de publicação do relatório, o desempenho brasileiro se destacou na
373
América Latina. Os países mais bem posicionados da região, casos de México (54º lugar), Chile
(56º) e Colômbia (65º), apresentaram pouca ou nenhuma melhora.
Numa perspectiva mais ampla, o ambiente de negócios vai se tornando mais amigável na maior
parte do mundo(6ºpar. A edição mais recente do ranking catalogou número recorde de 314 refor-
mas realizadas em 128 economias desenvolvidas e emergentes no período 2017/2018.
Fica claro, no documento, que o maior atraso relativo do Brasil se dá no pagamento de impostos,
dados a carga elevada e o emaranhado de regras dos tributos incidentes sobre o consumo(7ºpar.
Nesse quesito em particular, o país ocupa um trágico 184º lugar no ranking.
O caminho óbvio a seguir nesse caso é uma reforma ambiciosa, que racionalize essa modalidade
de taxação. Mesmo que não seja possível abrir mão de receitas, a simplificação já traria ganhos
substanciais em eficiência ao setor produtivo.
(Editorial, Folha de S.Paulo, 06.11.2018. Adaptado)
Considere as passagens:
• ... combate persistente a empecilhos burocráticos e ineficiências do setor público. (2º parágrafo)
• Numa perspectiva mais ampla, o ambiente de negócios vai se tornando mais amigável na maior
(7º parágrafo) Conforme o contexto em que ocorrem, as expressões em destaque significam, cor-
reta e respectivamente:
a) intermitente; justo; grupo restrito; que têm efeitos.
b) fortuito; amistoso; conjunto ordenado; que se refletem.
c) continuado; favorável; mistura confusa; que recaem.
d) ocasional; sentimental; ajuntamento incoerente; que amenizam.
e) frequente; harmonioso; compilação minuciosa; que se revertem
Assassinos culturais
Sou um assassino cultural, e você também é. Sei que é romântico chorar quando uma livraria fecha
as portas. Mas convém não abusar do romantismo – e da hipocrisia. Fomos nós que matamos
aquela livraria e o crime não nos pesa muito na consciência.
Falo por mim. Os livros físicos que entram lá em casa são cada vez mais ofertas – de amigos ou
editoras.
Aos 20, quando viajava por territórios estranhos, entrava nas livrarias locais como um faminto na
capoeira. Comprava tanto e carregava tanto que desconfio que o meu problema de ciática é, na sua
essência, um problema livresco.
Hoje? Gosto da flânerie*. Mas depois, fotografo as capas com o meu celular antes de regressar
para o psicanalista – o famoso dr. Kindle. Culpado? Um pouco. E em minha defesa só posso
afirmar que pago pelos meus vícios.
E quem fala em livrarias, fala em todo o resto. Eu também ajudei a matar a Tower Records e a Virgin
Megastore. Havia lá dentro uma bizarria chamada CD – você se lembra?
374
Hoje, com alguns aplicativos, tenho uma espécie de discoteca de Alexandria onde, a meu bel-pra-
zer, escuto meus clássicos e descubro novos. Se juntarmos ao pacote o iTunes e a Netflix, você
percebe por que eu também tenho o sangue dos cinemas e dos blockbusters nas mãos.
Eis a realidade: vivemos a desmaterialização da cultura. Mas não é apenas a cultura que se des-
materializa e tem deixado as nossas salas e estantes mais vazias. É a nossa relação com ela.
Não somos mais proprietários de “coisas”; somos apenas consumidores e, palavra importante,
assinantes.
O livro “Subscribed”, de Tien Tzuo, analisa a situação. É uma reflexão sobre a “economia de assi-
naturas” que conquista a economia global. Conta o autor que mais de metade das empresas da
famosa lista da “Fortune” já não existiam em 2017. O que tinham em comum? O objetivo meritório
de vender “coisas” – muitas coisas, para muita gente, como sempre aconteceu desde os primór-
dios do capitalismo.
Já as empresas que sobreviveram e as novas que entraram na lista souberam se adaptar à econo-
mia digital, vendendo serviços (ou, de forma mais precisa, acessos).
Claro que na mudança algo se perde. O desaparecimento das livrarias não acredito que seja total
no futuro (e ainda bem). Além disso, ler no papel não é o mesmo que ler na tela.
Mas o interesse do livro de Tzuo não está apenas nos números; está no retrato de uma nova ge-
ração para quem a experiência cultural é mais importante do que a mera posse de objetos.
Há quem veja aqui um retrocesso, mas também é possível ver um avanço – ou, para sermos bem
filosóficos, o triunfo do espírito sobre a matéria. E não será essa, no fim das contas, a vocação
mais autêntica da cultura?
(João Pereira Coutinho. Folha de S.Paulo, 28.08.2018. Adaptado)
* Flânerie: ato de passear, de caminhar sem compromisso.
Sem alteração do sentido do texto, as expressões destacadas podem ser substituídas, respectiva-
mente, por:
Mundo arriscado
375
O próximo governo não encontrará um ambiente econômico internacional sereno. Dúvidas sobre
a continuidade do crescimento do Produto Interno Bruto global, juros em alta nos EUA, riscos de
conflitos comerciais e de queda do fluxo de capitais para países emergentes são apenas alguns
dos itens de um cardápio de problemas potenciais.
Tudo indica, assim, que o governo brasileiro terá de lidar de pronto com as fragilidades domésticas,
em especial o rombo das contas públicas. Não tardará até que investidores hoje aparentemente
otimistas comecem a cobrar resultados concretos.
As projeções para o avanço do PIB mundial têm sido reduzidas nos últimos meses. O Fundo Mo-
netário Internacional cortou sua previsão para 2018 e 2019 em 0,2 ponto percentual – 3,7% em
ambos os anos – e apontou um cenário de menor sincronia entre os principais motores regionais.
Se até o início deste ano EUA, Europa e China davam sinais de vigor, agora acumulam-se decep-
ções nos dois últimos casos.
Mesmo com juros ainda perto de zero, a zona do euro não deverá crescer mais que 1,5% neste ano.
Há crescente insegurança no âmbito político, neste momento centrada na Itália e seu governo de
direita populista, que propõe expansão do déficit de um setor público já endividado em excesso.
Não é animador que a Comissão Europeia tenha tomado a decisão inédita de rejeitar a proposta
orçamentária da administração italiana. Embora o país ainda conserve o selo de bom pagador, os
juros cobrados no mercado para financiar sua dívida dispararam.
Quanto à China, sua economia mostra menos vigor, e as autoridades precisam tomar decisões
difíceis entre conter as dívidas já exageradas e estimular o crescimento.
O risco de escalada nos conflitos comerciais também é concreto, dado que o governo americano
ameaça impor uma terceira rodada de tarifas, desta vez sobre os US$ 270 bilhões em vendas
anuais chinesas que ainda não foram taxadas.
Nos EUA, a alta dos juros, num contexto de emprego elevado e inflação perto da meta, já leva parte
do mercado a temer uma desaceleração abrupta do PIB em 2019. A vantagem do Brasil, hoje,
é que há ampla ociosidade nas empresas, baixa inflação e, portanto, espaço para uma retomada
mais forte.
(Editorial. Folha de S.Paulo, 01.11.2018. Adaptado)
Considere as passagens:
• O próximo governo não encontrará um ambiente econômico internacional sereno. (1º parágrafo)
• Não tardará até que investidores hoje aparentemente otimistas comecem a cobrar resultados
parte do mercado a temer uma desaceleração abrupta do PIB em 2019. (9º parágrafo)
376
Por que temos filhos?
A pergunta do título comporta vários níveis de resposta. No plano biológico, a reprodução é um im-
perativo(A, fazendo parte de várias das definições de vida. Mas a biologia é só parte da história.
A paternidade também encerra dimensões culturais(B, econômicas e emocionais.
Inspirado em “Anti-Pluralism”, de William Galston, arrisco algumas reflexões sobre a matéria.
Até o começo do século 19, filhos eram um ativo econômico. Ajudavam desde cedo com o traba-
lho doméstico, colaborando para o bem-estar da família, e ainda faziam as vezes de plano de
aposentadoria para os pais.
Hoje, contudo, crianças ficaram caras. E, para piorar, elas demoram muito até começar a trazer
contribuições econômicas. Como observa Galston, no espaço de dois séculos, a criação de filhos
deixou de ser um bem privado para tornar -se um bem público.
Embora a paternidade possa trazer recompensas emocionais, do ponto de vista estritamente eco-
nômico, ela favorece a sociedade como um todo, enquanto a maior parte dos custos recai sobre
os genitores.
E por que crianças beneficiam a sociedade? A crer na análise de economistas como Julian Simon,
riqueza são pessoas. Quanto mais gente, melhor, já que são indivíduos que têm ideias (além de
consumir produtos) e são as novas ideias que vêm assegurando o brutal aumento de produtividade
a que assistimos nos últimos 200 anos.
E isso nos coloca diante de um dos grandes dilemas dos tempos modernos. Para assegurar a sus-
tentabilidade da exploração dos recursos naturais do planeta, precisaríamos estabilizar ou até
reduzir a população. Só que fazê-lo é uma espécie de suicídio econômico, já que ficaria muito
difícil manter taxas positivas de crescimento, sem as quais instituições como previdência e até
democracia representativa podem entrar em colapso.
(Hélio Schwartsman. Folha de S.Paulo. 18.11.2018. Adaptado)
Considere as frases:
• No plano biológico, a reprodução é um imperativo...
377
Redes sociais têm sido cada vez mais consideradas como elementos importantes na construção de
uma grande variedade de processos, desde a mobilização política em movimentos sociais ou par-
tidos políticos, até as ações e a estrutura de relações formais e informais entre as elites políticas e
econômicas ou na estruturação de áreas de políticas públicas, entre muitos outros temas. Número
significativo de estudos tem examinado as redes pessoais, aquelas que cercam os indivíduos em
particular. Essas análises visam a estudar os efeitos da sociabilidade de diversos grupos sociais,
para compreender como os laços sociais são construídos e transformados e suas consequências
para fenômenos como integração social, imigração e apoio social.
No caso específico da pobreza, a literatura tem estabelecido de forma cada vez mais eloquente
como tais redes medeiam o acesso a recursos materiais e imateriais e, ao fazê-lo, contribuem de
forma destacada para a reprodução das condições de privação e das desigualdades sociais. A
integração das redes ao estudo da pobreza pode permitir a construção de análises que escapem
dos polos analíticos da responsabilização individual dos pobres por sua pobreza (e seus atributos),
assim como de análises sistêmicas que foquem apenas os macroprocessos e constrangimentos
estruturais que cercam o fenômeno.
A literatura brasileira sobre o tema tem sido marcada por uma oposição entre enfoques centrados
nesses dois campos, embora os últimos anos tenham assistido a uma clara hegemonia dos es-
tudos baseados em atributos e ações individuais para a explicação da pobreza. Parece-nos evi-
dente que tanto constrangimentos e processos supraindividuais (incluindo os econômicos) quanto
estratégias e credenciais dos indivíduos importam para a constituição e a reprodução de situações
de pobreza. Entretanto, essas devem ser analisadas no cotidiano dos indivíduos, de maneira que
compreendamos de que forma medeiam o seu acesso a mercados, ao Estado e às trocas sociais
que provêm bem-estar.
(Eduardo Marques, Gabriela Castello e Renata M. Bichir.Revista USP, no 92, 2011-2012. Adaptado)
Organograma
378
Dizem que em matéria de organização aquele Ministério é de amargar. De vez em quando um
processo cai no vazio e desaparece para nunca mais. Por quê? Porque o único Ministro que se
lembrou de organizá-lo, segundo me contaram, tinha mania de organização.
Mania oriunda de uma sensibilidade estética o seu tanto exacerbada, capaz de exteriorizar-se em
requintes de planejamento burocrático. Aparentemente, essa marca de sua personalidade condi-
zia com as altas funções que já lhe cabiam.
Mas só aparentemente: a primazia do fator estético, feito de equilíbrio, proporção e harmonia, pas-
sou a ser a determinante principal de todos os seus atos – tudo mais no Ministério que se danasse.
Como no remédio para nascer cabelo: não nascia, mas dava brilho.
Dizem que, quando tomou posse do cargo, a primeira coisa que fez foi encomendar a confecção de
um artístico organograma. Quando lhe trouxeram o trabalho, encomendado no Departamento do
Pessoal, que por sua vez o encomendou a um desenhista particular, o Ministro não fez mais nada
a não ser estudar a galharia daquela árvore geométrica, em função da qual as atividades de sua
Pasta passariam a desenvolver-se.
– Este organograma está uma droga. Não posso dependurar uma coisa destas na parede de meu
gabinete.
Pôs-se imediatamente a inventar novas repartições, serviços disso e daquilo – tudo fictício, irreal,
imaginário – para estabelecer o equilíbrio organogramático com departamento disso, departamento
daquilo.
O certo é que o novo organograma foi executado, e todo aquele que tivesse a ventura de penetrar
em seu gabinete podia admirá-lo.
– Tudo isso sob seu controle, Ministro?
– Para você ver, meu filho: se não fosse eu, todo esse complexo administrativo já teria desabado
para um lado, como uma árvore desgalhada. Dizem, mesmo, que até hoje o magnífico organogra-
ma figura no tal Ministério, como uma das mais importantes realizações de sua gestão.
(Fernando Sabino, A mulher do vizinho. Adaptado)
A alternativa contendo palavras que afirmam o sentido contrário das destacadas em – Mania
oriunda de uma sensibilidade estética o seu tanto exacerbada... / a
primazia do fator estético, feito de equilíbrio, proporção e harmonia, passou a ser a determinante
principal de todos os seus atos ... – é:
a) abrandada e excelência.
b) acomodada e excesso.
c) ordinária e consideração.
d) amenizada e menosprezo.
e) indefinida e precedência.
O Paraguai foi certificado por ter eliminado a malária de seu território em junho deste ano. A Argen-
tina está trilhando o caminho para obter sua certificação em 2019. Belize, Costa Rica, Equador, El
Salvador, México e Suriname têm o potencial de alcançar a eliminação até 2020. Outros países, no
entanto, registraram aumento no número de casos, o que põe em risco a consecução das metas
379
de redução e eliminação da doença na região até 2030.
No Dia de Luta contra a Malária nas Américas (6 de novembro), a Organização Pan-Americana
da Saúde (OPAS) insta os países da região a tomar medidas urgentes para conter o aumento de
casos, manter as conquistas e libertar o continente da doença que, durante o último século, foi a
principal causa de morte em quase todas as nações do mundo.
“A eliminação da malária está mais próxima do que nunca”, disse a diretora da OPAS, Carissa F.
Etienne. No entanto, ela também advertiu que “não podemos confiar nem relaxar nas ações já
tomadas”. “Os esforços devem ser intensificados onde a incidência da doença aumentou”, acres-
centou.
Desde 2015, os casos de malária nas Américas aumentaram em 71%; 95% do número total destes
casos estão concentrados em cinco países, principalmente em áreas específicas onde os esforços
contra a doença estão enfraquecidos. Muitos dos afetados são populações indígenas, pessoas que
vivem em situação de vulnerabilidade, trabalhadores mineiros e migrantes.
“Se queremos eliminar a malária, precisamos melhorar o investimento e ampliar o acesso a preven-
ção, diagnóstico e tratamento oportunos da doença em comunidades onde a maioria dos casos
está concentrada”, afirmou Marcos Espinal, diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis e
Determinantes Ambientais da Saúde na OPAS.
(Agência da ONU insta países das Américas a livrar continente da malária. ONU Brasil. https://nacoesunidas.org/agencia-da-o-
nu-insta-paises- -das-americas-a-livrar-continente-da-malaria/amp/. 06.11.18. Acesso em 07/11/2018)
Considere os seguintes trechos:
• ... a Organização Pan- Americana da Saúde (OPAS) insta os países da região a tomar medidas
urgentes …
• … “não podemos confiar nem relaxar nas ações já tomadas”.
Acabo de levantar-me; logo serão cinco horas da manhã; procuro não fazer barulho, vou até a
cozinha e preparo uma xícara de chá enquanto tento resgatar fragmentos de meus entressonhos,
esses entressonhos que, aos 86 anos, aparecem- me atemporais, misturados com lembranças da
infância. Nunca tive boa memória, sempre sofri essa desvantagem; mas talvez seja um modo de
recordar apenas o que se deve, talvez a maior coisa que nos aconteceu na vida, a que tem algum
significado profundo, a que foi decisiva – para o bem e para o mal – nesta complexa, contraditória
e inexplicável viagem rumo à morte que é a vida de toda pessoa. Por isso minha cultura é tão ir-
regular, repleta de enormes lacunas, como que construída com restos de belíssimos templos cujos
pedaços se encontram entre detritos e plantas selvagens. Os livros que li, as teorias que frequen-
tei, deveram-se a meus próprios tropeços com a realidade.
380
Quando me param na rua, numa praça ou no trem, para perguntar-me que livros é preciso ler, res-
pondo sempre: “Leiam o que os apaixone, apenas isso os ajudará a suportar a existência”.
(Ernesto Sabato. Antes do fim. Trad. Sérgio Molina. São Paulo: Companhia das Letras, 2000)
infância.
• Os livros que li, as teorias que frequentei, deveram-se a meus próprios tropeços com a realidade.
Médicos sempre ocuparam uma posição de prestígio na sociedade. Afinal, cuidar do maior bem do
indivíduo – a vida – não é algo trivial. Embora a finalidade do ofício seja a mesma, o modus operan-
di mudou drasticamente com o tempo.
O que se pode afirmar é que o foco da atuação médica deve ser cada vez menos o controle sobre
o destino do paciente e mais a mediação e a interpretação de tecnologias, incluindo a famigerada
inteligência artificial. Já o lado humanístico, que perdeu espaço para os exames e as máquinas,
tende a recuperar cada vez mais sua importância.
De meados do século 20 até agora, concomitantemente às novas especialidades, houve avanço
tecnológico e a proliferação de modalidades de exames. Cresceu o catálogo dos laboratórios e
também a dependência do médico em relação a exames. A impressão dos pacientes passou a ser
a de que o cuidado é ruim, caso o médico não os solicite.
O tema é caro a Jayme Murahovschi, referência em pediatria no país. “Tem que haver progressão
tecnológica, claro, mas mais importante que isso é a ligação emocional com o paciente. Hoje mé-
dicos pedem muitos exames e os pacientes também.”
Murahovschi está entre os que acreditam que a profissão está sofrendo uma nova reviravolta, qua-
se que voltando às origens clássicas, hipocráticas: “Os médicos do futuro, os que sobrarem, vão
ter que conhecer o paciente a fundo, dar toda a atenção que ele precisa, usando muita tecnologia,
mas com foco no paciente.”
Alguns profissionais poderão migrar para uma medicina mais técnica, preveem analistas.
Esses doutores teriam uma função diferente, atuando na interface entre o conhecimento biomédico
e a tecnologia por trás de plataformas de diagnóstico e reabilitação. Ou ainda atuariam alimentando
com dados uma plataforma de inteligência artificial, tornando-a mais esperta.
Outra tecnologia já presente é a telemedicina, que descentraliza a realização de consultas e exa-
381
mes. Clínicas e médicos generalistas podem, rapidamente e pela internet, contar com laudos de es-
pecialistas situados em diferentes localidades; uma junta médica pode discutir casos de pacientes
e seria possível até a realização, a distância, de consultas propriamente ditas, se não existissem
restrições do CFM nesse sentido.
Até cirurgias podem ser feitas a distância, com o advento da robótica. O tema continua fascinando
médicos e pacientes, mas, por enquanto, nada de droides médicos à la Star Wars – quem controla
o robô ainda é o ser humano.
(Gabriela Alves. Folha de S.Paulo, 19.10.2018. Adaptado)
cial.
• Esses doutores teriam uma função diferente, atuando na interface entre o conhecimento biomé-
dico e a tecnologia...
“A saúde não é um brinquedo político, ela deve ser usada para promover o bem-estar e a qualidade
de vida. E isso só vai acontecer quando nos comprometermos a fazer da atenção primária à saúde
a base da assistência universal.”
A afirmação é do diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghe-
breyesus, durante a assinatura nesta quinta (25/10/2018) de um acordo internacional em Astana,
capital do Cazaquistão, em que 194 países membros da OMS, incluindo o Brasil, comprometeram-
-se a fortalecer a atenção primária.
Chamado de “Declaração de Astana”, o acordo também comemora o 40º aniversário da histórica
Declaração de Alma Alta, que exortou o mundo a fazer dos cuidados primários de saúde o pilar da
cobertura universal de saúde em 1978.
Ocorre que, embora nos últimos 40 anos a expectativa de vida tenha aumentado e a mortalidade
infantil, caído pela metade, por exemplo, o progresso em saúde tem sido desigual e injusto entre
países e dentro dos países.
“Devemos reconhecer que não alcançamos esse objetivo [saúde para todos]. Em vez de saúde
para todos, conseguimos saúde para alguns. Temos ficado muito focados em combater doenças
específicas, muito focados no tratamento, em detrimento da prevenção de doenças”, disse Ghe-
382
breyesus.
Quase metade da população mundial não tem acesso a serviços essenciais de saúde e, segundo a
OMS, 100 milhões de pessoas são empurradas para a pobreza a cada ano por causa de gastos
catastróficos em saúde. A atenção primária à saúde pode fornecer de 80% a 90% das necessida-
des de saúde de uma pessoa durante sua vida.
A Declaração de Astana aponta a necessidade de uma ação multissetorial que inclua tecnologia,
conhecimento científico e tradicional, juntamente com profissionais de saúde bem treinados e re-
munerados, e participação das pessoas e da comunidade para que seja alcançada a tão sonhada
saúde para todos com qualidade.
(Cláudia Collucci, Saúde não é brinquedo político, diz diretor da OMS. Em: Folha de S.Paulo, 25.10.2018. Adaptado)
Na passagem do 3º parágrafo “... que exortou o mundo a fazer dos cuidados primários de saúde
o pilar da cobertura universal de saúde em 1978.”, os termos destacados significam, correta e
respectivamente,
a) obrigou e desejo.
b) amainou e suporte.
c) dissuadiu e modelo.
d) orientou e incremento.
e) estimulou e arrimo.
O Marajá
A família toda ria de dona Morgadinha e dizia que ela estava sempre esperando a visita de alguém
ilustre. Dona Morgadinha não podia ver uma coisa fora do lugar, uma ponta de poeira em seus mó-
veis ou uma mancha em seus vidros e cristais. Gemia baixinho quando alguém esquecia um sapato
no corredor, uma toalha no quarto ou – ai, ai, ai – uma almofada fora do sofá da sala. Baixinha,
resoluta, percorria a casa com uma flanela na mão, o olho vivo contra qualquer incursão do pó, da
cinza, do inimigo nos seus domínios.
Dona Morgadinha era uma alma simples. Não lia jornal, não lia nada. Achava que jornal sujava os
dedos e livro juntava mofo e bichos. O marido de dona Morgadinha, que ela amava com devoção
apesar do seu hábito de limpar a orelha com uma tampa de caneta Bic, estabelecera um limite para
sua compulsão por limpeza. Ela não podia entrar em sua biblioteca. Sua jurisdição acabava na
porta. Ali dentro só ele podia limpar, e nunca limpava. E, nas raras vezes em que dona Morgadinha
chegava à porta do escritório proibido para falar com o marido, esse fazia questão de desafiá-la.
Botava os pés em cima dos móveis. Atirava os sapatos longe. Uma vez chegara a tirar uma meia e
jogar em cima da lâmpada só para ver a cara da mulher. Sacudia a ponta do charuto sobre um cin-
zeiro cheio e errava deliberadamente o alvo. Dona Morgadinha então fechava os olhos e, incapaz
de se controlar, lustrava com a sua flanela o trinco da porta.
(Luis Fernando Veríssimo. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008. Adaptado)
Considere as frases:
383
• ... estava sempre esperando a visita de alguém ilustre.
• Baixinha, resoluta, percorria a casa com uma flanela na mão...
Os termos em destaque nas frases têm como sinônimos adequados ao contexto, correta e respec-
tivamente:
a) notável; determinada; propositalmente.
b) imponente; hábil; impensadamente.
c) sentencioso; indolente; manifestamente.
d) observador; servil; insistentemente.
e) crítico; obstinada; indiscriminadamente.
No primeiro quadrinho, o sentido da fala da personagem altera-se caso, no lugar de “severa”, seja
empregado o termo
a) implacável.
b) rigorosa.
c) inflexível.
d) austera.
e) indulgente.
Chris Bolin, engenheiro de software da Formidable, empresa de Seattle (EUA), criou uma página de
internet cujo conteúdo só pode ser lido offline – ou seja, você tem que desconectar sua internet
no PC ou celular e só assim a página mostrará o texto. Se você ainda não está pronto para desligar
384
sua internet por dois minutos, a gente te ajuda: Veja abaixo o manifesto de Chris Bolin:
“2017. 2 minutos de leitura.
Você quer ser produtivo? Basta desligar, pois manter uma conexão constante com a internet é man-
ter uma conexão constante com interrupções, tanto externas como internas.
As interrupções externas são uma legião e bem documentadas: você tem uma nova mensagem
no Gmail, Slack, Twitter, Facebook, Instagram, Snapchat, LinkedIn. Amigos, familiares, colegas de
trabalho e spammers: cada um tem acesso direto à sua preciosa atenção.
Mas são as distrações internas verdadeiramente perniciosas. Você pode silenciar as notificações
do Twitter e sair do Slack, mas como você impede sua própria mente de descarrilar sua atenção?
Passei horas capturadas em teias da minha própria curiosidade. O mais perigoso é o capricho di-
vidido, a propósito do nada: ‘Eu me pergunto qual é o segundo idioma mais falado?’ Aqueles 500
milissegundos poderiam mudar seu dia, porque nunca é apenas uma pesquisa no Google, apenas
um artigo da Wikipédia. A desconexão da internet faz um curto-circuito desses caprichos, permitin-
do que você se mova sem embaraços.
Esta página em si é um experimento nesta veia: e se certo conteúdo nos obrigasse a desconectar?
E se os leitores tivessem acesso a essa gloriosa atenção que faz devorar um romance por horas
de uma forma tão gratificante? E se os criadores pudessem emparelhar isso com o poder dos apa-
relhos modernos? Nossos telefones e laptops são incríveis plataformas para novos conteúdos – se
apenas pudéssemos aproveitar nossa própria atenção.
O conteúdo offline apenas obrigaria os criadores a pensar de forma diferente. Olhe para esta pági-
na: não há um único link, nenhuma oferta de nota de rodapé para distrair os leitores. Quantos bons
artigos você deixou a metade da leitura porque você caçou um cintilante link sublinhado? Quando
você está offline, aqui é o único lugar em que você pode estar.
Eu já posso ouvir os gemidos: ‘Mas eu tenho que estar online para o meu trabalho.’ Eu não ligo.
Crie tempo. Aposto que o que o torna valioso não é a sua capacidade para o Google, mas a sua
capacidade de sintetizar informações. Faça suas pesquisas online, mas crie offline.
Agora volte para sua internet acessada regularmente. Apenas lembre-se de se dar um presente
ocasional de desconexão.”
(https://uoltecnologia.blogosfera.uol.com.br. Adaptado)
Conforme o contexto em que estão empregados, os termos em destaque significam, correta e res-
pectivamente:
a) uma porção significativa; tendenciosas; fortuito.
b) um número restrito; perturbadoras; raro.
c) uma quantia razoável; benéficas; eventual.
d) um quinhão expressivo; provocadoras; progressivo.
e) uma grande quantidade; nocivas; incomum.
385
A cada governo que entra, o assunto educação deixa os holofotes provisórios da campanha
eleitoral, onde costuma desfilar na linha de frente das promessas dos candidatos, e volta à
triste prateleira dos problemas que se arrastam sem solução. Desta vez foi diferente: encerra-
da a votação, a educação prosseguiu na pauta de discussões acirradas. Infelizmente, o saldo da
agitação não gira em torno de nenhuma providência capaz de pôr o ensino do Brasil nos trilhos da
excelência – a real prioridade.
A questão da hora é o projeto que pretende legislar sobre o que o professor pode ou, principalmen-
te, não pode falar em sala de aula. Com o propósito de impedir a doutrinação, por professores, em
classe, o projeto ameaça alimentar o oposto do que propõe: censura, patrulhamento, atitudes re-
trógradas e pensamento estreito. Segundo o especialista em educação Claudio de Moura Castro,
não há como definir o que é variedade de pensamento e o que é proselitismo.
Fruto do ambiente polarizado da sociedade brasileira, a discussão entrou pela porta da frente das
escolas. Nesse clima de paixões exaltadas, no entanto, é preciso um esforço adicional para se-
parar o joio do trigo. A doutrinação em sala de aula é condenável sob todos os aspectos – seja de
esquerda ou de direita, religiosa ou ateia, ou de qualquer outra natureza. A escola é um lugar para
o debate livre das ideias, e não para o proselitismo.
Todo conhecimento é socialmente construído e, portanto, a aventura humana, por definição, nunca
é neutra ou isenta de valores. A saída é discutir e chegar a um consenso sobre o que precisa ser
apresentado ao aluno, e não vigiar e punir.
Doutrinar é expor ideias e opiniões com o propósito de convencer o outro. A todo bom professor
cabe estimular o confronto de ideias e o livre pensar, inclusive expressando seu ponto de vista,
mas não catequizar – uma linha fina que exige discernimento constante.
O mundo é diverso em múltiplos aspectos, e a escola é o lugar adequado para que essa diversida-
de seja discutida livremente. A melhor escola ainda é a que faz pensar – sem proselitismo.
(Fernando Molica, Luisa Bustamante e Maria Clara Vieira, Meia-volta, volver. Veja, 14.11.2018. Adaptado)
As palavras “acirradas” (1º parágrafo) e “retrógradas” (2º parágrafo) têm antônimos, respectiva-
mente, em:
a) aguçadas e renovadoras.
b) retiradas e retrospectivas.
c) censuradas e incrementadas.
d) flexibilizadas e tolerantes.
e) abrandadas e progressistas.
A arte de educar
Educar é mostrar a vida a quem ainda não a viu. O educador diz: “Veja!” e, ao falar, aponta. O
aluno olha na direção apontada e vê o que nunca viu. Seu mundo se expande. Ele fica mais rico
interiormente… E ficando mais rico interiormente ele pode sentir mais alegria – que é a razão pela
qual vivemos.
Já li muitos livros sobre Psicologia da Educação, Sociologia da Educação, Filosofia da Educação…
386
Mas, por mais que me esforce, não consigo me lembrar de qualquer referência à Educação do
Olhar. Ou à importância do olhar na educação, em qualquer um deles.
A primeira tarefa da Educação é ensinar a ver… É através dos olhos que as crianças tomam con-
tato com a beleza e o fascínio do mundo… Os olhos têm de ser educados para que nossa alegria
aumente.
A educação se divide em duas partes: Educação das Habilidades e Educação das Sensibilidades.
Sem a Educação das Sensibilidades, todas as habilidades são tolas e sem sentido. Os conheci-
mentos nos dão meios para viver. A sabedoria nos dá razões para viver.
Quero ensinar às crianças. Elas ainda têm olhos encantados. Seus olhos são dotados daquela
qualidade que, para os gregos, era o início do pensamento: a capacidade de se assombrar diante
do banal.
Para as crianças tudo é espantoso: um ovo, uma minhoca, uma concha de caramujo, o voo
dos urubus, os pulos dos gafanhotos, uma pipa no céu, um pião na terra. Coisas que os eru-
ditos não veem.
Na escola eu aprendi complicadas classificações botânicas, taxonomias, nomes latinos – mas es-
queci. E nenhum professor jamais chamou a minha atenção para a beleza de uma árvore… Ou
para o curioso das simetrias das folhas. Parece que naquele tempo as escolas estavam mais preo-
cupadas em fazer com que os alunos decorassem palavras que com a realidade para a qual elas
apontam.
As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor. Aprendemos palavras para me-
lhorar os olhos. Há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem… O ato de ver não é coisa
natural. Precisa ser aprendido. Quando a gente abre os olhos, abrem-se as janelas do corpo e o
mundo aparece refletido dentro da gente. São as crianças que, sem falar, nos ensinam as razões
para viver. Elas não têm saberes a transmitir. No entanto, elas sabem o essencial da vida. Quem
não muda sua maneira adulta de ver e sentir e não se torna como criança, jamais será sábio.
(Disponível em:< https://psicologiaacessivel.net>.Acesso em: 18.11.2018)
De princípio a interessou o nome da aeronave: não “zepelim” nem dirigível; o grande fuso de me-
tal brilhante chamava-se modernissimamente blimp. Pequeno como um brinquedo, independente,
amável. A algumas centenas de metros da sua casa ficava a base aérea dos soldados americanos
e o poste de amarração dos dirigíveis. E de vez em quando eles deixavam o poste e davam
uma volta, como pássaros mansos que abandonassem o poleiro num ensaio de voo. Assim, aos
387
olhos da menina, o blimp1 existia como um animal de vida própria; fascinava-a como prodígio
mecânico que era, e principalmente ela o achava lindo, todo feito de prata,
librando − se2 majestosamente pouco abaixo das nuvens. Não pensara nunca em en-
trar nele; não pensara sequer que pudesse alguém andar dentro dele. Verdade que via
lá dentro umas cabecinhas espiando, mas tão minúsculas que não davam impressão de
realidade.
O seu primeiro contato com a tripulação do dirigível começou de maneira puramente ocasional.
Acabara o café da manhã; a menina tirara a mesa e fora à porta que dá para o laranjal, sacudir da
toalha as migalhas de pão. Lá de cima um tripulante avistou aquele pano branco tremulando entre
as árvores espalhadas e a areia, e o seu coração solitário comoveu-se. Vivia naquela base como
um frade no seu convento – sozinho entre soldados e exortações patrióticas. E ali estava, juntinho
ao oitão da casa, sacudindo um pano, uma mocinha de cabelo ruivo. O marinheiro agitou-se todo
com aquele adeus. Várias vezes já sobrevoara aquela casa, vira gente entrando e saindo; e pen-
sara quão distantes uns dos outros vivem os homens, quão indiferentes passam entre si, cada um
trancado na sua vida. Ele estava voando por cima das pessoas, vendo-as e, se algumas erguiam
os olhos, nenhuma pensava no navegador que ia dentro; queriam só ver a beleza prateada vogan-
do3 pelo céu.
Mas agora aquela menina tinha para ele um pensamento, agitava no ar um pano, como uma ban-
deira; decerto era bonita – o sol lhe tirava fulgurações de fogo do cabelo. Seu coração atirou-se
para a menina num grande impulso agradecido; debruçou-se à janela, agitou os braços, gritou:
“Amigo!, amigo!” – embora soubesse que o vento, a distância, o ruído do motor não deixariam ou-
vir-se nada. Gostaria de lhe atirar uma flor, um mimo. Mas que podia haver dentro de um dirigível
da Marinha que servisse para ser oferecido a uma pequena? O objeto mais delicado que encontrou
foi uma grande caneca de louça branca, pesada como uma bala de canhão. E foi aquela caneca
que o navegante atirou; atirou, não: deixou cair a uma distância prudente da figurinha iluminada,
num gesto delicado, procurando abrandar a força da gravidade, a fim de que o objeto não chegasse
sibilante como um projétil, mas suavemente, como uma dádiva.
(Os cem melhores contos brasileiros do século. Org. Italo Moriconi – Objetiva, 2001. Adaptado)
1. blimp: dirigível
2. librando-se: flutuando, equilibrando-se
3. vogando: flutuando
Assinale a alternativa em que o termo entre parênteses apresenta sentido oposto ao termo desta-
cado no trecho do texto.
a) Pequeno como um brinquedo, independente, amável.(autônomo)
b) ... começou de maneira puramente ocasional. (fortuita)
c) ... sozinho entre soldados e exortações patrióticas. (incitações)
d) ... deixou cair a uma distância prudente... (segura)
e) ... o objeto não chegasse sibilante como um projétil... (silente)
388
Está quase pronto o documento que definirá o padrão nacional para o que crianças e jovens devem
aprender até o 9° ano do ensino fundamental. Trata-se da quarta versão da Base Nacional Comum
Curricular (BNCC).
Caso aprovada até janeiro, a diretriz deve começar a ser implementada nos próximos dois anos.
A BNCC define conteúdos a serem estudados e competências e habilidades que os alunos devem
demonstrar a cada passo da vida escolar. Soa como obviedade, mas não existe norma válida em
todo o país que estabeleça de modo preciso a progressão do ensino e o que se deve esperar como
resultado.
Note-se ainda que a base curricular não especifica como alcançar seus objetivos – isso será papel
dos currículos a serem elaborados por estados e municípios, que podem fazer acréscimos confor-
me necessidades regionais.
A existência de um padrão pode permitir a correção de desigualdades do aprendizado e avalia-
ções melhores. A partir de um limiar mediano de clareza, inteligência pedagógica e pragmatismo,
qualquer modelo é melhor do que nenhum. Nesse aspecto, a nova versão da BNCC está perto de
merecer nota de aprovação.
O programa ainda se mostra extenso em demasia, não muito diferente do que se viu nas escolas
das últimas décadas, quando raramente foi cumprido. O excesso de assuntos dificulta abordagens
mais aprofundadas e criativas.
A BNCC lembra a Constituição de 1988. Detalhista, arrojada e generosa, mas de difícil aplicação
imediata e integral. É indiscutível, de todo modo, a urgência de pôr em prática esse plano que pode
oferecer educação decente e igualitária às crianças.
(Editorial. Folha de S.Paulo, 10.12.2017. Adaptado)
Black Friday? Levantamento feito pela Folha* mostrou que boa parte dos “descontos” oferecidos
nesta sexta-feira não passa de manipulações até meio infantis de preços, com o objetivo de iludir
o consumidor.
Antes, porém, de imprecar contra a ganância dos capitalistas, convém perguntar se os consumi-
dores não desejam ser enganados. E há motivos para acreditar que pelo menos uma parte deles
queira.
No recém-lançado Dollars and Sense (dinheiro e juízo), Dan Ariely e Jeff Kreisler relatam um expe-
rimento natural que mostra que pessoas podem optar por ser “ludibriadas” voluntariamente e que,
em algum recôndito do cérebro, isso faz sentido.
389
A JCPenney é uma centenária loja de departamentos dos EUA que se celebrizou por jogar seus
preços na lua para depois oferecer descontos “irresistíveis”. Ao fim e ao cabo, os preços efetiva-
mente praticados estavam em linha com os da concorrência, mas os truques utilizados proporcio-
navam aos consumidores a sensação, ainda que ilusória, de ter feito um bom negócio, o que lhes
dava prazer.
Em 2012, o então novo diretor executivo da empresa Ron Johnson, numa tentativa de moderni-
zação, resolveu acabar com a ginástica de remarcações e descontos e adotar uma política de
preços “justa e transparente”.
Os clientes odiaram. Em um ano, a companhia perdera US$ 985 milhões e Johnson ficou sem
emprego. Logo em seguida, a JCPenney remarcou os preços de vários de seus itens em até 60%
para voltar a praticar os descontos irresistíveis. Como escrevem Ariely e Kreisler, “os clientes da
JCPenney votaram com suas carteiras e escolheram ser manipulados”.
Num mundo em que o cliente sempre tem razão, não é tão espantoso que empresas se dediquem
a vender-lhe as fantasias que deseja usar, mesmo que possam ser desmascaradas com um clique
de computador.
* Jornal Folha de São Paulo
(‘Caveat emptor’. Hélio Schwartsman. http://www1.folha.uol.com.br/ colunas/helioschwartsman/2017/11/1937658-ca-
veat-emptor.shtml 24.11.2017. Adaptado)
Assinale a alternativa em que a palavra entre parênteses substitui, sem prejuízo de sentido ao tex-
to, o termo em destaque no trecho.
a) Antes, porém, de imprecar contra a ganância dos capitalistas... (abdicar)
b) ... um experimento natural que mostra que pessoas podem optar por ser “ludibriadas”... (elei-
tas)
c) ... em algum recôndito do cérebro, isso faz sentido. (bloqueio)
d) A JCPenney é uma centenária loja de departamentos dos EUA que se celebrizou... (notabilizou)
e) ... os preços efetivamente praticados estavam em linha com os da concorrência... (alterados)
Há 28 anos um grupo de pessoas se reúne semanalmente na sede da ONG (organização não go-
vernamental) Anjos da Noite, em um sobrado no bairro de Artur Alvim, na Zona Leste de São Paulo.
Os voluntários dedicam-se a aplacar as carências dos moradores de rua. Além de entregar cober-
tores e roupas, o grupo tem como principal incumbência a distribuição de refeições. Aos sábados,
os colaboradores se organizam para preparar 200 quilos de comida. A distribuição de 800 marmitas
tem início ao cair da noite. Anteriormente, os voluntários rodavam quatro horas pelas ruas da região
central até entregar a última quentinha. Hoje, o trabalho é feito em menos de uma hora. Basta
estacionar o carro, e um grupo de pessoas carentes faz fila para ganhar o alimento.
A experiência dos Anjos da Noite confirma a percepção que tem qualquer cidadão dos maiores cen-
tros urbanos brasileiros: o número de pessoas que vivem nas ruas elevou-se, e muito, nos últimos
anos. As estatísticas são esporádicas e, por isso, não é fácil saber com exatidão a proporção desse
crescimento.
(Giovanni Magliano. A rua como único refúgio. Veja, 6.12.2017. Adaptado)
390
Observe os termos destacados nas passagens:
– Os voluntários dedicam-se a aplacar as carências dos moradores de rua.
– As estatísticas são esporádicas e, por isso, não é fácil saber com exatidão a proporção desse
crescimento.
Esses termos podem ser substituídos, sem prejuízo de sentido e respectivamente, por:
a) resolver; ônus; causais.
b) mitigar; encargo; fortuitas.
c) suprir; dever; determinadas.
d) abrandar; determinação; inconclusivas.
e) suprimir; objetivo; espaçadas.
Psiquiatras em pé de guerra
391
(Hélio Schwartsman. Folha de S.Paulo, 21.01.2018. Adaptado)
392
Assinale a alternativa na qual se apresentam, nos colchetes e respectivamente, um sinônimo e um
antônimo da palavra destacada no trecho do texto.
a) … pessoas que praticam uma boa ação compensá-la com o avesso. [oposto; diverso]
b) … acaba de receber amparo… [aporte; sustento]
c) … a tese da benevolência como uma postura inquebrantável. [inflexível; persistente]
d) … não é aplicada a todos, de modo incondicional. [limitado; imperioso]
e) … envolvidas em conluio setorial, cartel implícito… [inevidente; manifesto]
Há pessoas que têm vergonha de viver: são os tímidos, entre os quais me incluo. Desculpem, por
exemplo, estar tomando lugar no espaço.Desculpem eu ser eu. Quero ficar só! grita a alma do
tímido que só se liberta na solidão. Contraditoriamente quer o quente aconchego das pessoas.
E para pedir aumento de salário- a tortura. Como começar? Apresentar-se com fíngida segurança
de quem sabe quanto vale em dinheiro - ou apresentar-se como se é, desajeitado e excessivamen-
te humilde.
O que faz então? Mas é que há a grande ousadia dos tímidos. E de repente cheio de audácia pelo
aumento com um tom reivindicativo que parece contundente. Mas logo depois, espantado, sente-se
mal, julga imerecido o aumento, fica todo infeliz.
( Clarice Lispector, Vergonha de viver, Aprendendo a viver. Rio de Janeiro, Rocco Digital, 2013, Adaptado)
O português é a língua oficial de nove países e tem mais de 260 milhões de falantes. De acordo
com o instituto americano SIL International, há mais de 7 000 idiomas no mundo, e o português é
o sétimo mais falado.
Parte do grupo das línguas românicas, que inclui o espanhol e o italiano, entre outras, o português é
derivado do latim – idioma que teve origem na Itália, na pequena região do Lácio, onde está Roma.
O latim disseminou-se na Europa juntamente com a expansão do domínio do Império Romano.
Foi com as tropas romanas que o latim chegou à face sul do continente europeu (onde hoje estão
os territórios de Portugal e Espanha), entre os séculos 3º e 2º a.C.
Devido a ocupações anteriores, a Península Ibérica já tinha a presença de outros povos (e suas
línguas, por consequência), como os celtas. Ao longo do tempo, o latim falado foi incorporando
elementos linguísticos dessas e de outras populações.
393
Quando o Império Romano ruiu, no século 5º d.C., a Península Ibérica já estava totalmente latini-
zada, e o idioma manteve-se em uso por seus habitantes.
No século 15, com a expansão marítima de Portugal, a língua foi espalhada por suas colônias. O
uso de outros idiomas ou dialetos locais era, muitas vezes, proibido. Hoje há muito mais falantes de
português fora de Portugal, que tem apenas 10 milhões de habitantes.
(https://www1.folha.uol.com.br. Adaptado)
Nos EUA, a psicanálise lembra um pouco certas seitas – as ideias do fundador são instituciona-
lizadas e defendidas por discípulos ferrenhos, mas suas instituições parecem não responder às
necessidades atuais da sociedade. Talvez porque o autor das ideias não esteja mais aqui para
atualizá-las.
Freud era um neurologista, e queria encontrar na Biologia as bases do comportamento. Como a
tecnologia de então não lhe permitia avançar, passou a elaborar uma teoria, criando a psicanálise.
Cientista que era, contudo, nunca se apaixonou por suas ideias, revisando sua obra ao longo da
vida. Ele chegou a afirmar: “A Biologia é realmente um campo de possibilidades ilimitadas do qual
podemos esperar as elucidações mais surpreendentes. Portanto, não podemos imaginar que res-
postas ela dará, em poucos decêndios, aos problemas que formulamos. Talvez essas respostas
venham a ser tais que farão o edifício de nossas hipóteses colapsar”. Provavelmente, é sua frase
menos citada. Por razões óbvias.
(Galileu, novembro de 2017. Adaptado)
Nas passagens – … as ideias do fundador são institucionalizadas e defendidas por discípulos fer-
renhos… – ; – … não lhe permitia avançar…– e – Por razões óbvias. –, os termos destacados
são antônimos, respectivamente, de:
a) previsíveis; alcançar; manifestas.
b) perspicazes; progredir; fortuitas.
c) dóceis; superar; incontestáveis.
d) obstinados; recuar; flagrantes.
e) tolerantes; retroceder; inevidentes.
394
As crianças e os adolescentes estão vivendo boa parte de seu tempo no mundo virtual, principal-
mente por meio de seus aparelhos celulares. Em relatório divulgado em dezembro de 2017, o UNI-
CEF usou a expressão “cultura do quarto” para indicar um dos efeitos desse fenômeno. Os mais
novos têm escolhido o isolamento do espaço privado em detrimento do uso do espaço público para
se dedicarem à imersão nas redes.
Você certamente já viu agrupamentos de adolescentes que interagiam mais com seu celular do
que uns com os outros, não é? Pois bem: esse comportamento gera consequências, sendo que
algumas delas não colaboram para o bom desenvolvimento dos mais novos. Como eles aprendem
a se relacionar, por exemplo? Relacionando- se com seus pares! Acontece que o relacionamento
no mundo virtual é radicalmente diferente daquele que ocorre na vida real, o que nos faz levantar a
hipótese de que eles têm se desenvolvido com deficit no processo de socialização.
E como se aprenderia a ter – e a proteger – privacidade? Primeiramente sabendo a diferença entre
intimidade e convívio social. Explorar o mundo social simultaneamente ao real cria uma grande difi-
culdade nessa diferenciação. Não é à toa que já se expôs na rede a privacidade de tantas crianças
e jovens, com grande prejuízo pessoal!
(Rosely Sayão, As crianças e as tecnologias. Veja, 28-02-2018. Adaptado)
A oposição de sentido que há entre as palavras virtual e real, empregadas no texto, está presente
também entre
a) simultâneo e concomitante.
b) privacidade e individualidade.
c) imersão e submersão.
d) deficitário e superavitário.
e) detrimento e deturpação.
Medo de injeção
Descartes disse que o bom senso é a coisa mais bem repartida do mundo. Descartes estava errado
também nisso. Visto que não faltam provas empíricas de que o bom senso não foi tão bem repartido
assim.
Um caso eloquente é o da vacinação contra a febre amarela em São Paulo. Assim que as notícias
sobre o recrudescimento do surto ganharam destaque, a porção mais ansiosa dos paulistas correu
aos postos de saúde, provocando megafilas e espalhando um pouco de caos no sistema.
Agora, esgotados os mais aflitos, autoridades sanitárias têm tido dificuldade para fazer com que o
contingente mais desencanado da população se vacine. Pelos dados oficiais, apenas 50% do pú-
blico-alvo foram imunizados. Por que a resistência?
Minha hipótese é que ficamos mal-acostumados. Algumas décadas com um razoável arsenal de
vacinas à disposição nos fizeram esquecer quão letais e devastadoras podem ser as epidemias
que campanhas de imunização previnem. Hoje é preciso ir ao interior da África para ver uma crian-
ça com pólio e as mortes por sarampo se tornaram uma raridade, mas moléstias infecciosas foram,
desde o surgimento da agricultura, um dos maiores assassinos da humanidade, perdendo apenas
para a fome e superando em muito as guerras.
A ciência, ao desenvolver imunizantes, mudou essa história. Extinguimos a varíola e reduzimos
395
drasticamente os óbitos por doenças infecciosas em todo o mundo. A OMS estima que, hoje, va-
cinações previnam entre 2 milhões e 3 milhões de mortes por ano. Daria para acrescentar mais
1,5 milhão de vidas poupadas, desde que a taxa de cobertura, atualmente estacionada nos 86%,
melhorasse.
Por falta de bom senso, porém, grupos ideologicamente tão díspares quanto fundamentalistas islâ-
micos do interior da África e liberais da classe média alta dos países desenvolvidos uniram esforços
para fazer campanhas contra a vacinação. Pior, há quem os ouça.
(Helio Schwartsman. Medo de injeção. Disponível em: https:// www1.folha.uol.com.br/colunas/ Acesso em 10.03.2018. Adaptado)
Medo de injeção
Descartes disse que o bom senso é a coisa mais bem repartida do mundo. Descartes estava errado
também nisso. Visto que não faltam provas empíricas de que o bom senso não foi tão bem repartido
assim.
Um caso eloquente é o da vacinação contra a febre amarela em São Paulo. Assim que as notícias
sobre o recrudescimento do surto ganharam destaque, a porção mais ansiosa dos paulistas correu
aos postos de saúde, provocando megafilas e espalhando um pouco de caos no sistema.
Agora, esgotados os mais aflitos, autoridades sanitárias têm tido dificuldade para fazer com que o
contingente mais desencanado da população se vacine. Pelos dados oficiais, apenas 50% do pú-
blico-alvo foram imunizados. Por que a resistência?
Minha hipótese é que ficamos mal-acostumados. Algumas décadas com um razoável arsenal de
vacinas à disposição nos fizeram esquecer quão letais e devastadoras podem ser as epidemias
que campanhas de imunização previnem. Hoje é preciso ir ao interior da África para ver uma crian-
ça com pólio e as mortes por sarampo se tornaram uma raridade, mas moléstias infecciosas foram,
desde o surgimento da agricultura, um dos maiores assassinos da humanidade, perdendo apenas
para a fome e superando em muito as guerras.
A ciência, ao desenvolver imunizantes, mudou essa história. Extinguimos a varíola e reduzimos
drasticamente os óbitos por doenças infecciosas em todo o mundo. A OMS estima que, hoje, va-
cinações previnam entre 2 milhões e 3 milhões de mortes por ano. Daria para acrescentar mais
1,5 milhão de vidas poupadas, desde que a taxa de cobertura, atualmente estacionada nos 86%,
melhorasse.
Por falta de bom senso, porém, grupos ideologicamente tão díspares quanto fundamentalistas islâ-
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micos do interior da África e liberais da classe média alta dos países desenvolvidos uniram esforços
para fazer campanhas contra a vacinação. Pior, há quem os ouça.
(Helio Schwartsman. Medo de injeção. Disponível em: https:// www1.folha.uol.com.br/colunas/ Acesso em 10.03.2018.
Adaptado)
O termo destacado na frase – Por falta de bom senso, porém, grupos ideologicamente tão díspa-
res... – tem sentido contrário, respectivamente, de
a) desiguais.
b) diferentes.
c) idênticos.
d) diversos.
e) heterogêneos.
Levantamento feito pela Folha de São Paulo ao final de 2017 mostrou que, em boa parte dos cur-
sos universitários, alunos que ingressam por meio de cotas se formam com notas próximas dos
demais. O estudo usou os resultados de mais de 250 mil estudantes nas três últimas edições do
Enade e constatou que alunos cotistas chegam a ter notas melhores que os outros, por exemplo,
em odontologia.
É refrescante dispormos de dados objetivos sobre um assunto tantas vezes poluído por ideologias.
É inegável que ações afirmativas, como as cotas, são importantes mecanismos de justiça social em
um país tão profundamente injusto como o nosso. E as conclusões do levantamento indicam que
tais ferramentas são válidas também no plano acadêmico: não se confirmam os prognósticos de
que o ingresso de alunos cotistas resultaria em degradação da qualidade dos cursos.
O perigo é alguém acreditar que cotas resolvem alguma coisa no médio prazo. Nosso sistema edu-
cacional está doente, e cotas são como um antitérmico, que reduz o desconforto do paciente, mas
não ataca as causas da febre. O que precisamos é que a escola pública, democrática e gratuita,
ofereça formação de qualidade, para que as cotas se tornem desnecessárias. Não é uma utopia:
acontece em muitos outros países, inclusive mais pobres que o Brasil.
Ações afirmativas não podem servir de álibi para continuarmos oferecendo formação inferior aos
filhos das classes mais desfavorecidas. Até porque propiciar acesso à universidade a alguns des-
ses jovens deixa muita coisa por resolver. O mesmo levantamento mostra que as notas de cotistas
são sim inferiores à média nos cursos de exatas, possivelmente os mais críticos para o desenvol-
vimento do país.
Não é difícil aventar uma explicação. Em matemática, cada etapa prepara a seguinte, não é pos-
sível pular. Quem não aprendeu multiplicação, não vai nunca entender frações. Se a matemática
não é ensinada na escola, na faculdade é simplesmente tarde demais. E aí os benefícios da ação
afirmativa foram desperdiçados.
Na virada do ano, outra notícia alvissareira: a Unicamp, talvez a mais inovadora de nossas universi-
dades, aprovou a criação de até 10% de vagas extras em seus cursos para candidatos premiados
em competições escolares, como as Olimpíadas Brasileiras de Matemática e Física. Uma espécie
de “cotas por mérito”.
397
Como todas as ideias inteligentes e com potencial para fazer diferença, essa também desperta
oposição. Inclusive de setores que advogam as cotas sociais, o que talvez não seja surpreendente,
mas é certamente lamentável. Tomara que a inteligência prevaleça.
(Marcelo Viana. Folha de S.Paulo, 21.01.2018. Adaptado)
Considere as frases:
• Ações afirmativas não podem servir de álibi para continuarmos oferecendo formação inferior...
Levantamento feito pela Folha de São Paulo ao final de 2017 mostrou que, em boa parte dos cur-
sos universitários, alunos que ingressam por meio de cotas se formam com notas próximas dos
demais. O estudo usou os resultados de mais de 250 mil estudantes nas três últimas edições do
Enade e constatou que alunos cotistas chegam a ter notas melhores que os outros, por exemplo,
em odontologia.
É refrescante dispormos de dados objetivos sobre um assunto tantas vezes poluído por ideologias.
É inegável que ações afirmativas, como as cotas, são importantes mecanismos de justiça social em
um país tão profundamente injusto como o nosso. E as conclusões do levantamento indicam que
tais ferramentas são válidas também no plano acadêmico: não se confirmam os prognósticos de
que o ingresso de alunos cotistas resultaria em degradação da qualidade dos cursos.
O perigo é alguém acreditar que cotas resolvem alguma coisa no médio prazo. Nosso sistema edu-
cacional está doente, e cotas são como um antitérmico, que reduz o desconforto do paciente, mas
não ataca as causas da febre. O que precisamos é que a escola pública, democrática e gratuita,
ofereça formação de qualidade, para que as cotas se tornem desnecessárias. Não é uma utopia:
acontece em muitos outros países, inclusive mais pobres que o Brasil.
Ações afirmativas não podem servir de álibi para continuarmos oferecendo formação inferior aos
filhos das classes mais desfavorecidas. Até porque propiciar acesso à universidade a alguns des-
ses jovens deixa muita coisa por resolver. O mesmo levantamento mostra que as notas de cotistas
são sim inferiores à média nos cursos de exatas, possivelmente os mais críticos para o desenvol-
vimento do país.
Não é difícil aventar uma explicação. Em matemática, cada etapa prepara a seguinte, não é pos-
sível pular. Quem não aprendeu multiplicação, não vai nunca entender frações. Se a matemática
não é ensinada na escola, na faculdade é simplesmente tarde demais. E aí os benefícios da ação
afirmativa foram desperdiçados.
398
Na virada do ano, outra notícia alvissareira: a Unicamp, talvez a mais inovadora de nossas universi-
dades, aprovou a criação de até 10% de vagas extras em seus cursos para candidatos premiados
em competições escolares, como as Olimpíadas Brasileiras de Matemática e Física. Uma espécie
de “cotas por mérito”.
Como todas as ideias inteligentes e com potencial para fazer diferença, essa também desperta
oposição. Inclusive de setores que advogam as cotas sociais, o que talvez não seja surpreendente,
mas é certamente lamentável. Tomara que a inteligência prevaleça.
(Marcelo Viana. Folha de S.Paulo, 21.01.2018. Adaptado)
Considere o trecho:
• Como todas as ideias inteligentes e com potencial para fazer diferença, essa também desperta
Eram dez da noite, estava escuro, e a americana Elaine Herzberg, de 49 anos, resolveu atravessar
uma avenida em Tempe, cidade de 160 mil habitantes no sul dos EUA. Ela estava fora da faixa,
o sinal estava aberto para os carros, e logo aconteceu o pior. Elaine foi atropelada por um veículo
utilitário esportivo de 2 000 quilos, a 61 km/h. Morreu no ato. Seria apenas mais uma vítima do
trânsito, não fosse por um motivo: um robô estava dirigindo o veículo. Elaine foi a primeira pedestre
morta por um carro autônomo. Eles provavelmente vão atropelar mais pessoas. E, toda vez que
isso acontecer, a opinião pública ficará assustada (a empresa dona do carro que matou Elaine
interrompeu seus testes após o acidente) Mas já existe uma tecnologia que promete erradicar os
acidentes com veículos autônomos e mudar outros aspectos da vida humana: a quinta geração da
telefonia celular, ou 5G.
Ela é tão importante que o governo dos EUA chegou a cogitar a construção de uma rede 5G estatal,
só para não ficar atrás dos chineses (que vão inaugurar a sua no final deste ano). As operadoras
americanas se mexeram, e agora prometem montar redes 5G em 30 cidades do país até dezembro
– antes mesmo dos celulares compatíveis com essa tecnologia, que só vão começar a chegar ao
mercado ano que vem.
A grande novidade das redes 5G é que elas trabalham em frequências mais altas, ou seja, nas
quais as ondas eletromagnéticas oscilam mais vezes por segundo. Graças a isso, o 5G promete
três vantagens: mais velocidade, maior número de conexões e menor latência.
Essa terceira novidade das redes 5G, a baixa latência, consiste no tempo que cada antena ou pon-
to de rede leva para processar – e, se for o caso, repassar – os dados. As ondas eletromagnéticas
usadas para transmitir informações (seja no 5G, no Wi-Fi, ou qualquer outra rede sem fio) viajam
sempre na mesma velocidade: a da luz. Porém, na prática, a transmissão de dados sempre é mais
lenta. Na tecnologia 5G, a latência é 50 vezes menor. A transmissão é praticamente instantânea – e
399
isso abre várias possibilidades.
Mas talvez o benefício mais imediato de todos seja o fim das franquias de dados. A capacidade da
rede 5G é tão enorme que as operadoras poderão oferecer planos sem limites de dados – e você
poderá usar seu celular à vontade, como hoje usa a internet da sua casa.
(Superinteressante, maio de 2018. Adaptado)
Considere os trechos:
• Mas já existe uma tecnologia que promete erradicar os acidentes com veículos autônomos...
Notícias falsas sempre circularam. Sobretudo nos estratos menos expostos ao jornalismo e a ou-
tras formas de conhecimento verificável, boatos encontram terreno para se propagar.
Basta recordar a persistente crença sobre a falsidade das viagens tripuladas à Lua, cujas imagens
teriam sido forjadas pela Nasa. No âmbito nacional, murmurou-se durante anos que o presidente
Tancredo Neves fora vítima de um atentado que se dissimulara como doença.
A novidade é que as redes sociais da internet se mostram o veículo ideal para a difusão de notícias
falsas. Não apenas estapafúrdias, como seria de esperar, mas às vezes inventadas de modo a fa-
vorecer interesses e prejudicar adversários.
A circulação instantânea, própria desse meio, propicia a formação de ondas de credulidade. Esti-
muladas pelos algoritmos das empresas que integram o oligopólio da internet, essas ondas confe-
rem escala e ritmo inéditos à tradicional circulação de boatos.
Dado que as pessoas, nas redes sociais, tendem a se agregar por afinidade de crenças, não é difí-
cil que os rumores se disseminem sem serem confrontados por crítica ou contraponto.
O melhor antídoto para os males da liberdade de expressão é a própria liberdade de expressão,
que tende a encontrar formas de se autocorrigir. E o melhor antídoto contra as falsidades apresen-
tadas como jornalismo é a prática do bom jornalismo, comprometido com a veracidade dos fatos
que relata e com a pluralidade de pontos de vista no que concerne às questões controversas.
Embora haja remédios legais para reparar os excessos, a maioria dos casos passará despercebida
no ruído incessante da internet.
(Folha de S.Paulo, 26.02.2017. Adaptado)
400
– ... boatos encontram terreno para se propagar. (1º parágrafo);
– Não apenas estapafúrdias, como seria de esperar... (3º parágrafo);
No contexto em que estão empregados, os termos destacados podem ser substituídos, sem altera-
ção de sentido, respectivamente, por:
a) campo; improváveis; comparar; contraveneno.
b) espaço; coerentes; relacionar; veneno.
c) extensão; excêntricas; conduzir; recurso.
d) condição; esdrúxulas; reunir; corretivo.
e) propriedade; singulares; juntar; prejuízo.
Com quase quatro anos, minha filha começa a compreender um elemento fundamental da exis-
tência: o tempo. Meu filho, de dois, não tem a menor ideia
haja um antes e um depois. Sua vida é um agora contínuo, uma tela diante passam mamadeira,
berço, carrinho, pudim, avó, banho, Lego, minhoca.
Outro dia me meti numa encrenca resolvi falar que “amanhã” seria aniversário
dele e ele iria ganhar presente. Ele abriu um sorriso, pediu o presente. Eu disse “amanhã”. Ele
pediu de novo, educadamente, mas já sem o sorriso. Não entendia eu não lhe dava o pre-
sente. Repeti, educadamente (e sorrindo muitíssimo), que o presente seria dado “amanhã”. Foi
aquela choradeira. Claro.
(Antonio Prata, “Eu não quero ficar velhinha”. Folha de S.Paulo, 19.02.2017. Adaptado)
401
(Folha de S.Paulo, 28.03.2017)
Um dos problemas que democracias enfrentam é o de como lidar com aqueles que negam seus
princípios elementares, mas não chegam a conspirar para dar um “putsch”*. Entra nessa categoria
a manifestação orquestrada por supremacistas brancos em Charlottesville, na Virgínia.
Não há como conciliar uma ideologia francamente racista, como a defendida pelos organizadores
da marcha, em que se viam suásticas e se gritavam slogans contra negros, com a noção, nuclear
para a democracia, de que os direitos de minorias precisam ser sempre respeitados. Mas usar a lei
para silenciar esses grupos também não é uma solução satisfatória, pois viola outro pressuposto
essencial da democracia, a liberdade de expressão. Como sair do paradoxo? Quão tolerante a de-
mocracia deve ser com os intolerantes?
Penso que os americanos lidam bem com esse tipo de situação. Os EUA são um dos poucos paí-
ses que levam a liberdade de expressão realmente a sério, permitindo que qualquer grupo exponha
qualquer ideia e mobilize seus simpatizantes para defendê-la. E “qualquer” aqui não é força de
expressão. Nos anos 70, a Suprema Corte ratificou o direito de um grupo nazista de realizar uma
passeata em Skokie, cidade habitada por vários sobreviventes do Holocausto.
Como a democracia nos EUA nunca foi seriamente ameaçada por grupos extremistas domésticos,
402
não dá para dizer que a virtual sacralização da liberdade de expressão pelos tribunais seja um tiro
no pé. Fica claro, porém, que o país se vale de outros mecanismos (sociais) para manter o radica-
lismo sob controle. É aqui que surgem motivos para preocupação.
O grave não é que supremacistas brancos tenham conseguido fazer uma manifestação nos EUA,
mas sim que o presidente do país, que deveria atuar como uma espécie de bússola nas grandes
questões morais, tenha relutado tanto em condenar o evento racista de forma inequívoca. (Hélio
Schwartsman, Tolerar a intolerância?
http://www1.folha.uol.com.br. 15.08.2017. Adaptado) *putsch: golpe.
(Duke. http://www.otempo.com.br)
No plano da linguagem verbal, o humor da charge advém do fato de o marido, no pedido da mulher,
entender o verbo “acertar” com significado de
a) resolver.
b) consertar.
c) endireitar.
d) atingir.
e) ajustar.
Avaliar os servidores
403
Instituições funcionam bem quando conseguem promover os incentivos corretos. Em se tratando
do serviço público, isso significa recompensar o mérito e o esforço, evitando que funcionários su-
cumbam às forças da inércia.
Uma das razões do fracasso do socialismo real, recorde- -se, foi a ausência de estímulos do gê-
nero aos trabalhadores. Para estes, a escolha racional era não chamar a atenção dos superiores,
negativa ou positivamente.
A gestão de pessoal no Estado brasileiro não chega a reproduzir um modelo soviético, mas carece
de sistema eficaz de incentivos e sanções. Com efeito, políticas de bônus por produtividade nas
carreiras públicas ainda são tímidas e raramente bem desenhadas.
Já a dispensa de servidores por insuficiência de desempenho, embora prevista na Constituição,
não pode ser posta em prática porque o Congresso nunca elaborou uma lei complementar que
regulamentasse a avaliação dos profissionais, como a Carta exige.
Vislumbra-se, agora, uma possibilidade de avanço. Discute- se no Senado projeto que cria um sis-
tema de avaliação periódica, a ser adotado por União, Estados e
municípios, que poderá levar à exoneração de servidores que obtenham, por sucessivas vezes (o
número exato ainda é objeto de negociação), notas inferiores a 30% da pontuação máxima.
Será ingenuidade, entretanto, contar com uma aprovação fácil – os sindicatos da categoria já se
mobilizam contra o texto.
Tampouco se deve imaginar que basta uma lei para alterar o statu quo. Sistemas de avaliação de
servidores já existentes em alguns órgãos muitas vezes não passam de um jogo de cena corpora-
tivista, que acaba por distribuir premiações quase generalizadas.
As dificuldades, contudo, não podem ser pretexto para o imobilismo. O projeto se apresenta como
um passo inicial importante; uma vez posto em prática, a experiência servirá de base para even-
tuais aperfeiçoamentos.
(Editorial. Folha de S.Paulo, 29.09.2017. Adaptado)
Briga de irmãos... Nós éramos cinco e brigávamos muito, recordou Augusto, olhos perdidos num
ponto X, quase sorrindo. Isto não quer dizer que nos detestássemos. Pelo contrário. A gente gos-
tava bastante uns dos outros e não podia viver na separação. Se um de nós ia para o colégio (era
longe o colégio, a viagem se fazia a cavalo, dez léguas na estrada lamacenta, que o governo não
consertava.), os outros ficavam tristes uma semana. Depois esqueciam, mas a saudade do mano
muitas vezes estragava o nosso banho no poço, irritava ainda mais o malogro da caça de passari-
404
nho: “Se Miguel estivesse aqui, garanto que você não deixava o tiziu fugir”, gritava Édison. “Você
assustou ele falando alto... Miguel te quebrava a cara”. Miguel era o mais velho, e fora fazer o seu
ginásio. Não se sabe bem por que a sua presença teria impedido a fuga do pássaro, nem ainda
por que o tapa no rosto de Tito, com o tiziu já longínquo, teria remediado o acontecimento. Mas o
fato é que a figura de Miguel, evocada naquele instante, embalava nosso desapontamento e de
certo modo participava dele, ajudando-nos a voltar para casa de mãos vazias e a enfrentar o risinho
malévolo dos Guimarães: “O que é que vocês pegaram hoje?” “Nada”. Miguel era deste tamanho,
impunha -se. Além disto, sabia palavras difíceis, inclusive xingamentos, que nos deixavam de boca
aberta, ao explodirem na discussão, e que decorávamos para aplicar na primeira oportunidade, em
nossas brigas particulares com os meninos da rua. Realmente, Miguel fazia muita falta, embora
cada um de nós trouxesse na pele a marca de sua autoridade. E pensávamos com ânsia no seu
regresso, um pouco para gozar de sua companhia, outro pouco para aprender nomes feios, e bas-
tante para descontar os socos que ele nos dera, o miserável.
(Carlos Drummond de Andrade, A Salvação da Alma. Em: O sorvete e outras histórias.)
Nas passagens – … irritava ainda mais o malogro da caça de passarinho … – e – …com o tiziu já
longínquo … –, os termos destacados têm como antônimos, respectivamente:
a) infortúnio e distante.
b) êxito e apartado.
c) revés e perto.
d) sorte e imperceptível.
e) sucesso e próximo.
A eletricidade produzida a partir da luz do sol, ou energia fotovoltaica, aparece como a grande es-
trela do relatório “Renováveis 2017 – Análise e Previsões para 2022”, da Agência Internacional de
Energia (AIE.) E a maior responsável por isso, mais uma vez, é a China.
A geração solar foi a que mais cresceu entre as energias renováveis, alcançando quase a metade
(45%) dos 165 gigawatts de capacidade adicionada em 2016, excluídas fontes de origem fóssil
(carvão, petróleo e gás natural) e nuclear.
O Brasil instalou 7,8 GW de renováveis no ano passado – de um total de 9,5 GW no país –, re-
partidos entre usinas hidrelétricas (5,2 GW) e eólicas (2,6 GW). Mantém uma das matrizes de
geração mais limpas, mas contribui com menos de 5% do crescimento verde mundial.
Já a China responde por 40% da capacidade renovável adicionada em 2016, e a maior parte disso
provém da energia solar. O governo de Pequim incentiva essa fonte limpa na tentativa de minorar
a poluição do ar gerada por termelétricas a carvão, grave problema de saúde pública e inquietação
social.
Sob esse estímulo, o país asiático já representa 50% da demanda global por painéis fotovoltaicos
e manufatura 60% desses equipamentos.
Salta aos olhos a irrelevância do Brasil no que respeita à energia solar fotovoltaica. Algumas gran-
des centrais começam a ser instaladas, mas o investimento nacional na mais dinâmica fonte alter-
nativa é desprezível, em termos mundiais.
O país só se destaca, no relatório da AIE, na seara das fontes renováveis para o setor de trans-
405
porte. Embora o noticiário se concentre na voga dos veículos elétricos, o estudo ressalta que os
biocombustíveis – como etanol e biodiesel – permanecerão como opções mais viáveis.
Sim, o Brasil conta com a matriz elétrica mais limpa entre nações de grande porte e liderança in-
conteste em álcool combustível. O futuro, no entanto, é solar.
(Editorial. Império do sol. Folha de S.Paulo, 10.10.2017. Adaptado)
Nas passagens “aparece como a grande estrela do relatório”, “Já a China responde por 40% da
capacidade renovável” e “na tentativa de minorar a poluição do ar”, os termos em destaque
significam, correta e respectivamente:
a) atração; corresponde a; extinguir.
b) insígnia; é produtora de; relativizar.
c) influência; retribui; incentivar.
d) figura; equivale a; amenizar.
e) destaque; é responsável por; diminuir.
A vontade do falecido
Alguns dias depois, deu-se o evento. Seu Irineu pisou no prego e esvaziou. Apanhou um resfriado,
do resfriado passou à pneumonia, da pneumonia passou ao estado de coma e do estado de coma
não passou mais. Levou pau e foi reprovado. Um médico do SAMDU*, muito a contragosto, com-
pareceu ao local e deu o atestado de óbito.
Tudo que era parente com razoáveis esperanças de herança foi velar o morto.
Tomou-se conhecimento de uma carta que estava cuidadosamente colocada dentro do cofre, sobre
o dinheiro deixado por seu Irineu. E na carta o velho dizia: “Quero ser enterrado junto com a quantia
existente nesse cofre, que é tudo o que eu possuo e que foi ganho com o suor do meu rosto, sem
a ajuda de parente vagabundo nenhum”. E, por baixo, a assinatura com firma reconhecida para
não haver dúvida: Irineu de Carvalho Pinto Boaventura.
Para quê! Nunca se chorou tanto num velório, sem se ligar pro morto. A parentada chorava às pam-
pas, mas não apareceu ninguém com peito para desrespeitar a vontade do falecido.
Foi quase na hora do corpo sair. Desde o momento em que se tomou conhecimento do que a carta
dizia, que Altamirando imaginava um jeito de passar o morto para trás. Era muita sopa deixar aque-
le dinheiro ali pro velho gastar com minhoca. Pensou, pensou e, na hora que iam fechar o caixão,
ele deu o grito de “pera aí”. Tirou os sessenta milhões de dentro do caixão, fez um cheque da mes-
ma importância, jogou lá dentro e disse “fecha”.
– Se ele precisar, mais tarde desconta o cheque no Banco.
* SAMDU – Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência, já extinto. (Stanislaw Ponte Preta. Dois ami-
gos e um chato, 1986. Adaptado)
Nas passagens “Um médico do SAMDU, muito a contragosto, compareceu ao local…” e “A paren-
tada chorava às pampas…”, as expressões em destaque opõem-se, quanto ao sentido, respecti-
vamente, a:
a) com alegria; metodicamente.
b) com ojeriza; placidamente.
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c) com esmero; intensamente.
d) com desdém; ocasionalmente.
e) com satisfação; comedidamente.
A cada dia que passa, amplia-se o cerco do sistema político sobre o aparato de Justiça. O mais
recente movimento veio com a inclusão, na reforma política, de um limite de dez anos para o man-
dato dos ministros do Supremo Tribunal Federal. O objetivo é reduzir o poder do tribunal, tornando
os ministros mais dependentes do poder político e cautelosos ao tomar decisões que afetem in-
teresses dos poderosos.
A reação do corpo político contra o protagonismo assumido pelo sistema de Justiça nos últimos
anos não deve causar surpresa. Esse é o padrão observado em países como a Rússia, África do
Sul, Colômbia, ou mesmo Itália, onde a ambição da Justiça de controlar a corrupção e o arbítrio foi
duramente punida pelas forças políticas.
Nesse cenário, não surpreende que muitas pessoas estejam cada vez mais céticas de que a Jus-
tiça irá levar a cabo a sua função de aplicar a lei de forma imparcial a todos. O grande desafio do
sistema de Justiça neste momento é não capitular.
(Oscar Vilhena Vieira. “O desafio da Justiça é não capitular às pressões dos demais Poderes”. Em: Folha de S.Paulo,
19.08.2017. Adaptado)
A cada dia que passa, amplia-se o cerco do sistema político sobre o aparato de Justiça. O mais
recente movimento veio com a inclusão, na reforma política, de um limite de dez anos para o man-
dato dos ministros do Supremo Tribunal Federal. O objetivo é reduzir o poder do tribunal, tornando
os ministros mais dependentes do poder político e cautelosos ao tomar decisões que afetem in-
teresses dos poderosos.
A reação do corpo político contra o protagonismo assumido pelo sistema de Justiça nos últimos
anos não deve causar surpresa. Esse é o padrão observado em países como a Rússia, África do
Sul, Colômbia, ou mesmo Itália, onde a ambição da Justiça de controlar a corrupção e o arbítrio foi
duramente punida pelas forças políticas.
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Nesse cenário, não surpreende que muitas pessoas estejam cada vez mais céticas de que a Jus-
tiça irá levar a cabo a sua função de aplicar a lei de forma imparcial a todos. O grande desafio do
sistema de Justiça neste momento é não capitular.
(Oscar Vilhena Vieira. “O desafio da Justiça é não capitular às pressões dos demais Poderes”. Em: Folha de S.Paulo,
19.08.2017. Adaptado)
No trecho do último parágrafo “... a Justiça irá levar a cabo a sua função de aplicar a lei de forma
imparcial a todos.”, a oração em destaque sintetiza a ideia de
a) equanimidade.
b) lealdade.
c) segregação.
d) honra.
e) cisão.
As leis contra a corrupção ficaram mais duras. Os juízos estão mais rigorosos. Os procuradores
têm mais meios para investigar os casos suspeitos. E a população hoje é mais bem informada e
reage instantaneamente – nas redes sociais ou nas ruas – aos escândalos envolvendo pessoas
públicas. Na América Latina, na Europa e em algumas regiões da Ásia, essa é a nova realidade
da política. Manifestações organizadas pelo mundo, como na Romênia no início de 2017 ou na Co-
reia do Sul em 2016 – que levou ao impeachment da presidente Park Geun-hye –, são alguns dos
exemplos desse novo cenário. É a reação de quem há muito tempo está descrente.
No mundo, a punição aos crimes de corrupção também cresceu num ritmo notável. Segundo um
relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), de 1999 a
2014, foram revelados mais de 400 casos de corrupção internacional, nos quais mais de 260 indi-
víduos e 160 empresas e órgãos públicos foram investigados, denunciados e receberam algum tipo
de sanção. O país mais ativo no combate a esses crimes ainda são, de longe, os Estados Unidos
– o que mostra que os demais têm um longo caminho pela frente. A boa notícia é que isso vem
acontecendo. Alemanha, Coreia do Sul, Itália, Suíça, Reino Unido e França também aparecem na
lista dos países que conseguiram identificar e punir os crimes.
(Felipe Serrano. “Não é só no Brasil que os corruptos ficaram sem lugar”. Exame, 02.08.2017. Adaptado)
Nas passagens “As leis contra a corrupção ficaram mais duras” (1° parágrafo), “e reage instanta-
neamente” (1° parágrafo), “cresceu num ritmo notável” (2°parágrafo) e “receberam algum tipo
de sanção” (2° parágrafo), os termos destacados estão empregados, correta e respectivamente,
com os sentidos de
a) árduas, paulatinamente, memorável, agravo.
b) resistentes, vigorosamente, ínfimo, orientação.
c) severas, rapidamente, extraordinário, pena.
d) complexas, plenamente, considerável, castigo.
e) implacáveis, diuturnamente, vultoso, sentença.
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QUESTÃO 43: VUNESP - ADV (CM BARRETOS)/CM BARRETOS/2017
Assunto: Sinônimos e Antônimos
Leia o texto para responder à questão a seguir. Utilidades demais
Flanando outro dia pela avenida Rio Branco, vi-me sem querer numa galeria formada por came-
lôs na cidade do Rio de Janeiro. E, como estava ali, caí na tentação de procurar um objeto: uma
lanterninha, daquelas micro, de plástico, a pilha. O camelô me mostrou uma pequena peça, que
acoplou a seu celular, e produziu um jatinho de luz. Agradeci e respondi que não me servia – “Não
uso celular”, expliquei.
O camelô se escandalizou: “Não usa celular???”, perguntou, com vários pontos de interrogação e
num volume que o fez ser ouvido por todo mundo em volta. A frase se espalhou pelos demais
camelôs e, em segundos, à medida que eu passava pelo corredor humano, podia sentir os dedos
apontados para mim e a frase: “Não usa celular!!!”. Para eles, eu devia equivaler a alguém que
ainda não tinha aderido ao banho quente ou à luz elétrica. Acho até que um camelô me fotografou,
talvez para mostrar a algum amigo incrédulo – como pode haver, em 2017, quem não use celular?
Consciente de ser um anacronismo ambulante, confesso-me esta pessoa e me atrevo a dizer que o
celular nunca me fez falta – e continua não fazendo. Para me comunicar, vivo hoje mais ou menos
como em 1990, quando o treco ainda não existia e nem se pensava no assunto.
Ninguém deixa de falar comigo por falta de telefone. Se estou em casa, atendo àquele aparelho
que hoje chamam, com desprezo, de “fixo”. Se tiver de sair, faço as ligações de que preciso e vou
alegremente para a rua. Se eu estiver fora e alguém me telefonar, paciência – se for importante,
ligará de novo.
Por que não uso celular? Porque, com suas 1001 utilidades, tipo Bombril, ele é capaz de me escra-
vizar. O único jeito é manter-me à distância – até o dia em que, com ou sem ele, provavelmente
ficarei inviável de vez.
(Ruy Castro. Folha de S.Paulo. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/ colunas/ruycastro/2017/07/1905766-utili-
dades-demais.shtml. Publicado em 31.07.2017. Adaptado)
O termo destacado na frase “Flanando outro dia pela avenida Rio Branco...” pode ser corretamente
substituí- do, sem alteração do sentido do texto, por
a) perambulando.
b) procurando.
c) observando.
d) voltando.
e) correndo.
A fórmula chinesa A China vai virar uma democracia? Liberais, especialmente os da vertente ins-
titucionalista, apostam que ou ela se transforma numa sociedade aberta ou verá o fim de sua
pujança econômica. Pequim, porém, parece empenhada em desmentir os liberais.
Um resumo rápido do último quinquênio sob a liderança de Xi Jinping é que o dirigente, que acaba
de ser escolhido para permanecer mais cinco anos à frente do Partido Comunista chinês, con-
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seguiu concentrar poderes e sufocar as tímidas tentativas de abertura, tudo isso sem ameaçar o
crescimento.
Os liberais, porém, não precisam, por enquanto, atirar a toalha. Como nunca deram um prazo pre-
ciso para que sua profecia se concretizasse, não foram formalmente contraditados. É até possível
que tenham razão e que, em horizontes mais dilatados, a China ou promova uma abertura ou sofra
um apagão econômico.
O pressuposto teórico dessa tese é bastante razoável. A prosperidade sustentável, afinal, depende
de um fluxo constante de inovações e ganhos de produtividade que são coibidos quando indiví-
duos não podem trocar ideias livremente.
Dá para construir uma boa argumentação mostrando que esse foi um grande problema na antiga
URSS e contribuiu para seu ocaso* econômico.
O ponto central é descobrir se a liberdade é condição necessária para o desenvolvimento científico
e econômico ou só um tempero desejável. Gostaria de acreditar na primeira alternativa, mas receio
que ela não passe de um desejo liberal. Não me parece “a priori” impossível criar um sistema for-
temente autoritário na política e suficientemente liberal nas áreas científicas. A China pelo menos
tem conseguido.
(Hélio Schwartsman. Folha de São Paulo. 27.10.2017. Adaptado)
* enfraquecimento que leva à destruição; perda de influência, de poder; decadência.
Assinale a alternativa cujo termo apresentado entre parênteses substitui, sem prejuízo de sentido
do texto, o termo destacado na frase.
a) Liberais, especialmente os da vertente institucionalista… (objeção)
b) … se transforma numa sociedade aberta ou verá o fim de sua pujança econômica. (presunção)
c) … não foram formalmente contraditados. (esnobados)
d) É até possível que tenham razão e que, em horizontes mais dilatados… (previsíveis)
e) … fluxo constante de inovações e ganhos de produtividade que são coibidos quando indiví-
duos não podem trocar ideias livremente. (impedidos)
Qual a razão da desavença entre Rubem Braga e Mário de Andrade, dois dos mais influentes es-
critores brasileiros do século 20? Era sabido que os bicudos jamais se beijaram, e a leitura de “Os
Moços Cantam & Outras Crônicas Sobre Música” – um dos três títulos de uma caixa recém-lançada
– põe mais lenha na fogueira da vaidade literária.
Em texto que permanecia inédito em livro, publicado em 1957 no “Diário de Notícias”, Rubem Braga
conta que, em cartas, o autor modernista se referia a ele como “asa negra da minha vida”. Macabro,
não?
O cronista desconfia que a hostilidade começou durante a Revolução de 1932. Com 19 anos, Braga
cobriu a revolta armada contra Getúlio Vargas, chegando a ser preso como espião. O paulista não
teria gostado do tom irônico das reportagens. Um ano depois, os dois se encontraram na redação
do jornal “Diário de São Paulo”. Braga, que ocupava a mesa ao lado daquela em que Mário vinha à
410
noite escrever sua crítica de música, tentou uma aproximação – mas não foi bem recebido.
Na frase que abre o texto, o vocábulo influentes está corretamente substituído pelo sinônimo:
a) pretensiosos.
b) extravagantes.
c) prestigiosos.
d) austeros.
e) renitentes.
DESIGNERS
PEDRO ANTÔNIO - @PEDROANTONIO50
LUIS FELIPE - @LUISFELIPE.MELO.12
411
GABARITO
CLASSES DE PALAVRAS
1) A 26) B
2) E 27) C
3) A 28) B
4) B 29) C
5) D 30) D
6) C 31) E
7) E 32) C
8) E 33) B
9) D 34) A
10) C 35) A
11) A 36) E
12) D 37) B
13) C 38) D
14) D 39) E
15) A 40) B
16) D 41) A
17) A 42) B
18) C 43) A
19) A 44) B
20) B 45) E
21) C 46) E
22) D 47) D
23) A 48) C
24) E 49) E
25) E 50) A
COLOCAÇÃO PRONOMINAL
1) C 22) C
2) C 23) E
3) C 24) C
4) E 25) D
5) B 26) A
6) A 27) E
7) A 28) C
8) D 29) A
9) A 30) E
10) E 31) A
11) D 32) A
12) A 33) E
13) A 34) A
14) E 35) D
15) D
16) B
17) E
18) C
19) D
20) C
412
CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL
1) E 28) C
2) A 29) A
3) E 30) C
4) E 31) A
5) E 32) A
6) A 33) C
7) B 34) A
8) A 35) B
9) C
10) D
11) B
12) B
13) D
14) C
15) C
16) C
17) B
18) C
19) D
20) B
21) C
22) C
23) C
24) A
25) C
26) A
27) A
CRASE
1) E 22) A
2) A 23) E
3) E 24) D
4) C 25) A
5) D 26) E
6) D 27) C
7) C 28) A
8) C 29) A
9) B 30) C
10) D 31) B
11) E 32) C
12) E 33) D
13) E 34) E
14) E 35) A
15) E
16) A
17) B
18) C
19) D
20) C
21) C
413
INTERPRETAÇÃO
1) E 51) E 101) A
2) A 52) B 102) B
3) D 53) D 103) B
4) B 54) B 104) E
5) C 55) A 105) D
6) D 56) D 106) B
7) A 57) A 107) E
8) B 58) B 108) C
9) A 59) C 109) B
10) E 60) D 110) E
11) C 61) B 111) E
12) D 62) B 112) D
13) D 63) A 113) E
14) B 64) C 114) C
15) D 65) C 115) A
16) A 66) D 116) D
17) D 67) B 117) C
18) C 68) A 118) C
19) D 69) B 119) B
20) B 70) D 120) E
21) D 71) D 121) D
22) E 72) C 122) D
23) B 73) A 123) E
24) E 74) D 124) D
25) B 75) D 125) D
26) C 76) C 126) A
27) D 77) B 127) B
28) C 78) A 128) E
29) A 79) D 129) C
30) C 80) C 130) C
31) D 81) A 131) A
32) C 82) C 132) D
33) D 83) D 133) D
34) E 84) A 134) C
35) D 85) B 135) B
36) D 86) B 136) C
37) C 87) E 137) D
38) D 88) C 138) C
39) C 89) D 139) B
40) D 90) A 140) D
41) B 91) C 141) E
42) B 92) B 142) C
43) D 93) A 143) C
44) E 94) C 144) E
45) E 95) B 145) A
46) C 96) C 146) D
47) E 97) B 147) B
48) A 98) E 148) E
49) B 99) A 149) C
50) B 100) C 150) D
414
PONTUAÇÃO
1) B 30) E
2) A 31) E
3) D 32) A
4) C 33) A
5) A 34) A
6) C 35) A
7) B 36) D
8) C 37) B
9) B 38) B
10) C 39) C
11) B 40) E
12) C 41) D
13) D 42) E
14) C 43) D
15) C 44) B
16) C 45) A
17) B
18) C
19) A
20) A
21) D
22) E
23) B
24) A
25) D
26) D
27) D
28) E
29) A
REGÊNCIA
1) D 23) E
2) A 24) A
3) D 25) D
4) D 26) E
5) B 27) E
6) B 28) A
7) E 29) D
8) B 30) D
9) B 31) D
10) D 32) C
11) C 33) E
12) C 34) B
13) B 35) B
14) E
15) A
16) A
17) D
18) B
19) E
20) D
21) A
22) A
415
SENTIDO PRÓPRIO E FIGURADO DAS PALAVRAS
1) D 26) E
2) B 27) C
3) E 28) E
4) B 29) B
5) B 30) E
6) E 31) E
7) B 32) B
8) E 33) C
9) B 34) E
10) D 35) D
11) C
12) B
13) C
14) A
15) D
16) E
17) D
18) C
19) E
20) C
21) A
22) B
23) B
24) C
25) B
SINGIFICAÇÃO CONTEXTUAL DE PALAVRAS E EXPRESSÕES
1) A 25) E
2) C 26) E
3) D 27) C
4) A 28) D
5) E 29) E
6) C 30) C
7) D 31) A
8) E 32) D
9) E 33) D
10) D 34) D
11) E 35) B
12) C
13) A
14) A
15) E
16) A
17) B
18) D
19) D
20) A
21) B
22) C
23) B
24) C
416
SINONIMOS E ANTÔNIMOS
1) C 31) D
2) A 32) E
3) B 33) E
4) A 34) E
5) B 35) D
6) D 36) A
7) D 37) E
8) A 38) E
9) A 39) E
10) E 40) C
11) A 41) A
12) E 42) C
13) E 43) A
14) E 44) E
15) E 45) C
16) E
17) D
18) D
19) B
20) C
21) E
22) B
23) A
24) E
25) D
26) A
27) C
28) B
29) B
30) C
417