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Brazilian Journal of Health Review 3493

ISSN: 2595-6825

Krav maga: repensando a história contada no Brasil

Krav maga: rethinking the story told in Brazil

DOI:10.34119/bjhrv6n1-273

Recebimento dos originais: 17/01/2023


Aceitação para publicação: 15/02/2023

João Batista de Andrade Neto


Graduando em Ciências da Saúde aplicadas ao Aparelho Locomotor
Instituição: Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (USP)
Endereço: SGAN 902/904, Asa Norte, Brasília – DF
E-mail: andradeneto@usp.br

RESUMO
O presente estudo tratou sobre os aspectos desconhecidos e ambíguos presentes na literatura
brasileira sobre a compreensão histórica do Krav Maga, que até hoje moldam o pensamento
imaginário de seus praticantes no tocante a sua origem e introdução no país. Nesse viés, buscou-
se produzir uma revisão narrativa da literatura disponível, ponderando sobre a tradição
inventada e fontes históricas do Krav Maga. De fato, a propagação confusa e distorcida da
história da modalidade no país, empreendida via relatos orais, publicações particulares e
tradição oral, provoca equívocos científicos, ao passo que as reflexões e informações aqui
apresentadas buscam contribuir para a construção de uma versão isenta das origens e evolução
da modalidade, permitindo-se repensar sua história no Brasil.

Palavras-chave: krav maga, história, arte marcial, autodefesa.

ABSTRACT
The present study dealt with the unknown and ambiguous aspects present in the Brazilian
literature on the historical understanding of Krav Maga, which until today shape the imaginary
thinking of its practitioners regarding its origin and introduction in the country. In this vein, we
sought to produce a narrative review of the literature, pondering the invented tradition and
historical sources of Krav Maga. In fact, the confused and distorted propagation of the history
of the sport in the country, undertaken via oral reports, private publications and oral tradition,
causes scientific misunderstandings, while the reflections and information presented here seek
to contribute to the construction of a version exempt from the origins. and evolution of the
modality, allowing itself to rethink its history in Brazil.

Keywords: krav maga, story, martial art, self-defense.

1 INTRODUÇÃO
No Brasil, as Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esportivas de Combate
(L/AM/MEC) correspondem a 70% das intenções da população acima dos 15 anos de idade
para a prática de atividades físicas, segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de

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Domicílios Contínua (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),


referente à prática de esportes e atividade física (BRASIL, 2017).
Entre tais modalidades, atualmente, o Krav Maga é considerado um dos mais populares
métodos de defesa pessoal do mundo, sendo praticado em mais de 120 países (MOR, 2018).
Ele foi criado e desenvolvido pelo povo judeu no século XIX, para garantir sua sobrevivência
e independência a partir de outras modalidades preexistentes (ANDRADE NETO, 2019).
Nesse ínterim, o conhecimento histórico do Krav Maga como objeto de estudo, além de
relevante, torna-se essencial, uma vez que somente ao se conhecer de forma epistemológica seu
desenvolvimento e sua consolidação como disciplina de combate e defesa pessoal, é possível
refletir e compreender, de forma holística, sua inserção atual nas diferentes culturas, em
especial, na brasileira (ANDRADE NETO et al., 2021).
O presente estudo tem sua origem na lacuna científica presente na literatura e que molda
ilações no imaginário dos brasileiros sobre a história e a chegada e desenvolvimento do Krav
Maga no Brasil, que estimulam equívocos na web, em manuais de federações e entidades
representativas, revistas, e, mais grave ainda, em artigos, monografias, trabalhos acadêmicos e
na práxis educacional, acerca deste singular método de luta israelense (MOR, 2018;
ANDRADE NETO, 2019).
Diante o exposto, buscou-se produzir uma revisão narrativa da literatura disponível,
sobre a inserção e o desenvolvimento do Krav Maga no Brasil, ponderando sobre a tradição
inventada e as fontes históricas. Sua justificativa se dá em relação à considerável propagação
confusa e distorcida identificada da história da modalidade no país, empreendida, por vezes,
via relatos orais, publicações particulares e tradição oral, provocando equívocos científicos.

2 REVISANDO A HISTÓRIA
Para entender o que, de fato, é o Krav Maga, faz-se importante reconstruir suas origens
históricas, bem como o contexto de sua expansão mundial e chegada ao Brasil, interpretando e
distinguindo as ideias do imaginário e contos daquilo que as fontes oficiais apresentam como
eventos ocorridos no processo de desenvolvimento desta prática.
O Krav Maga tem sua origem em um extenso processo multicultural – evidenciado pelo
conflito de identidades ao longo de sua própria história, bem como pela falta de reconhecimento
deste como arte marcial nacional pelos israelenses até hoje (MOR, 2018).

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3 ANTECEDENTES HISTÓRICOS
Em fins do século XIX, com a ascensão do antissemitismo1 na Rússia e em outros países
europeus, emergiram duas ideologias do pensamento político judaico, quais sejam: 1) O
impulsionamento das lideranças à uma ação proativa, vislumbrando a criação de uma nação
independente; e, 2) O estímulo do retorno dos judeus residentes em outros países às suas origens
(SHAPIRA, 2012). Ambas, influenciadas pelo nacionalismo emergente da Europa, sob a égide
de expressões como "judaísmo muscular" de Max Nordau em 1898, exortavam o orgulho
nacional, a destreza física e a capacidade de lutar (KAUFMAN, 1996). Tais estímulos
persuadiram muitos judeus a imigrar para o então território da Palestina, governado pelo
Império Otomano, de religião predominante muçulmana.
Alguns pesquisadores inferem as referidas motivações a uma possível resposta ao
avanço da evangelização do Cristianismo, que incentivava o envio de missionários aos mais
longínquos países. Assim, embora houvesse claramente grandes diferenças entre os
imperialistas vitorianos britânicos e os primeiros judeus sionistas que fugiam da perseguição e
da pobreza, aparentemente, tais ideologias convergiam (WATSON; WEIR; FRIEND, 2005).
Os primeiros registros de imigração de judeus para o território palestino sob controle
Otomano ocorreram no período 1882-1903. O que não foi recebido de bom grado pela
população árabe que morava na então Palestina, os quais reagiram violentamente a este evento.
As hostilidades entre habitantes árabes e judeus aumentaram ainda mais com a fundação da
colônia agrícola judaica de Rehovot, em 1890, próxima a uma aldeia árabe denominada
Zarnuga (SEE, 2021).
Os conflitos entre aquelas comunidades se acirraram em meados de 1891, culminando
em embates violentos, com graves danos à propriedade e à segurança local, desencadeando a
formação de grupos paramilitares de ambos os lados. A medida que a ideia de se estabelecer
uma pátria judaica ganhava força entre os judeus em diáspora2, mais grupos chegavam à colônia
de Rehovot, entre os quais, inúmeros jovens criados sob a ideologia do “judaísmo muscular” e
vítimas de agressões do antissemitismo europeu (SHAPIRA, 2012).
Estes e muitos outros jovens logo assumiram papéis de liderança no desenvolvimento
de conceitos, técnicas e táticas de exercícios de combate, para a proteção das colônias. Embora

1
É o preconceito, discriminação, aversão contra os judeus. O povo judeu, por mais de dois mil anos, viveu em
dispersão/diáspora, isto é, sem território fixo, organizando-se em comunidades espalhadas por diversos países
(EVANS, 2014).
2
Dispersão de um povo – neste caso, os judeus – em consequência de preconceito ou perseguição política, religiosa
ou étnica.

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limitadas e adaptadas à necessidade local da época, estas técnicas foram as precursoras na


formação do Krav Maga que hoje se conhece (COHEN-GIL, 2013).

4 O DESENVOLVIMENTO DO KRAV MAGA COMO MÉTODO DE COMBATE


Após a conquista da Palestina pelos britânicos em 1917, e, posteriormente, com a
“Declaração Baulfour”, o Reino Unido termina por favorecer o estabelecimento de uma pátria
para os judeus em território palestino, desencadeando o aumento na imigração. Tal declaração,
empreendida pelo Ministro das Relações Exteriores Lord Arthur James Balfour, anos mais tarde
foi adotada pelos “Aliados na Primeira Guerra Mundial”, despertando ainda mais o sentimento
e a esperança do estabelecimento de uma nação judaica independente (ISRAELY, 2022).
Diante dos crescentes conflitos, os habitantes judeus foram obrigados a tomar medidas
de proteção para aumentar a segurança nas colônias e garantir sua sobrevivência, estimulando
a criação de diversos métodos de treinamento e técnicas de combate, com base em modalidades
de lutas tradicionais e disponíveis (jiu-jitsu, luta livre e boxe, por exemplo), transmitidas
empiricamente pelos imigrantes oriundos de outros países (ANDRADE NETO & FORESTI,
2021).
Estimulados pelos sentimentos de sobrevivência, resistência e nacionalismo, em 1920,
surge o “Hagana” (Força de Defesa) – organização paramilitar que defendeu o povo judeu até
a declaração de independência do Estado de Israel, em 1948. Tal organização tornou-se o núcleo
do exército nacional, o qual, para este fim, deu início à organização dos
diversos métodos de lutas e combates de conhecimento e domínio dos imigrantes ali
residentes (COHEN-GIL, 2013).
Entre estes imigrantes, destacou-se Moshe Feldenkrais (1904-1984) – cientista,
engenheiro, físico, mestre em jiu-jitsu, nascido na atual Ucrânia, criador de um sistema de
exercícios físicos que visavam melhorar o funcionamento psicomotor, aumentando a
autoconsciência através do movimento (ANDRADE NETO & FORESTI, 2021).
Segundo relatos do próprio Feldenkrais, grande parte das técnicas de defesa pessoal
tinha fundamento no jiu-jitsu e em movimentos instintivos, as quais mostravam-se ineficazes
quando em situações reais de combate, pois não havia continuidade nos treinamentos dos
colonos. Nos embates, os mais habilitados ensinavam e buscavam se defender com técnicas de
seu domínio às mãos livres, contra pedaços de paus, facas e espadas. Contudo, eram facilmente
feridos e mortos, face a desproporcionalidade dos ataques (FELDENKRAIS, 1931).

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Utilizando seu conhecimento científico e expertise no jiu-jitsu e em outros sistemas de


combate corpo a corpo, Feldenkrais buscou criar uma solução prática e mais eficaz a partir das
experiências de combate, incorporando o princípio da “reação inconsciente”, também
conhecido como “reação reflexiva”. Tal abordagem tem por base o pressuposto de que os seres
humanos são detentores de um sistema pré-programado de reações às ameaças, reações
empreendidas inconscientemente (GROSS; NATIV, 1941).
Essa concepção levou Feldenkrais a estabelecer um regime de luta e treinamento
aprimorado, cujos princípios fundamentais foram posteriormente denominados Kapap (uma
abreviatura de Krav Panim el Panim, que significa “combate cara a cara”) e Krav Maga (luta
de contato). Por sua vez, o comando do Hagana considerou tais ideias promissoras, concedendo
autorização para Feldenkrais treinar seus membros (MAMET, 1987).
Apesar desta evolução nos sistemas de combate, a colônia ainda estava sob o mandato
britânico, e o treinamento dos métodos de combate era restrito. Logo, os imigrantes judeus
adaptavam técnicas e táticas conhecidas de combate corpo a corpo, buscando unificar o método
e facilitar o treinamento. Este, por sua vez, passou a ser denominado “esporte defensivo” ou
“Sport Magen”, incorporando técnicas de jiu jitsu, boxe e luta livre, além dos princípios de
consciência situacional e reação instintiva desenvolvidas por Feldenkrais (MAMET, 1987).
Com o aumento das hostilidades dos árabes contra os judeus e as constantes revoltas
internas dos colonos, Charles Orde Wingate, oficial da inteligência britânica, resolveu apoiar a
causa judaica formando pequenas unidades de assalto armado liderados por britânicos, visando
minimizar estes ataques. Tal momento é considerado crucial na transformação e no
desenvolvimento de um núcleo de defesa contraterrorista (MAMET, 1987).
Para tanto, diversos experimentos de métodos de combate foram empreendidos,
buscando lograr um método prático e eficaz para a contenção de ataques com cassetetes
utilizados pelos britânicos nos inúmeros protestos que eclodiam na colônia. O resultado foi a
introdução de um método de combate com bastão curto, que se tornou parte integrante do
regime geral de treinamento de combate face a face da época. Tal transformação conceitual da
abordagem defensiva para uma ofensiva, juntamente com a introdução da arma de cano curto,
foi associada a uma mudança na rotulagem do sistema de combate; assim, o que antes era
conhecido como Sport Magen tornou-se Kapap (GROSS; NATIV, 1941).
Em 1948, após a declaração de independência e criação do Estado de Israel, o Hagana
tornou-se oficialmente a Força de Defesa de Israel-IDF, estabelecendo o treinamento físico e
de combate corpo a corpo como necessário e obrigatório para o recém-criado exército. Para

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tanto, foram aproveitados os métodos de combate pré-existentes (jiu jitsu e kapap), os


instrutores e os materiais do então Hagana (NATIV, 2016).
Para este fim, o IDF estabeleceu uma comissão para a criação e o desenvolvimento de
um manual em meados de 1953. Na elaboração do então documento, fez-se uso, como
referência, de manuais dos exércitos americano, canadense e francês, além de várias
nomenclaturas para o método em desenvolvimento (Kapap, Judô Shimushi, Krav Maga, Sport
Magen), inferindo-se que o hoje conhecido Krav Maga não pode ser definido como um método
distinto ou que foi criado a partir do imaginário (IDF, 1949-1954).
Concomitantemente, quando das necessidades de aprimoramento dos treinamentos do
IDF, as técnicas também evoluíram e os métodos de luta individualizados, como o jiu jtisu
(mãos livres) e Kapap (Krav Panim el Panim, com uso de bastões) foram sendo substituídos e
aperfeiçoados. Surge, então, o termo “Krav Maga” como disciplina unificada e oficial para o
combate corpo a corpo no IDF em 1950 (NETZER et al., 2015).
Nesse processo de desenvolvimento e aperfeiçoamento, surgiu um novo protagonista,
considerado como peça-chave e precursor no estabelecimento do Krav Maga como método de
treinamento na Força de Defesa de Israel: Imi Lichtenfeld (1910–1998), imigrante judeu da
Bratislava, capital da Eslováquia, especialista em boxe e wrestling, recrutado para o Palmach
(a força de elite do Hagana) como instrutor de natação e combate corpo a corpo, o qual,
aperfeiçoou ainda mais o método de combate pré-existente (GRAND, 2014).
Nos anos seguintes à independência do Estado de Israel, Imi Lichtenfeld continuou a
servir no IDF, agora como instrutor de treinamento físico e combate. Ali, aos poucos, ganhou
reconhecimento e autoridade como principal instrutor do novo método de defesa: o Krav Maga.
Após sua aposentadoria, em 1964, dedicou-se ao desenvolvimento, aperfeiçoamento e ensino
de Krav Maga para o público civil, estudando, desenvolvendo e aprimorando novas e eficazes
técnicas e treinamentos (ANDRADE NETO & FORESTI, 2021).
Em 1969, IMI, como preferia ser tratado, foi reconhecido Faixa Preta 1º Dan pela
Federação de Esportes de Israel, ato tido como marco simbólico do nascimento do Krav Maga
como arte marcial civil. Com o passar dos anos, foram incorporados ao novo método: o sistema
de graduação semelhante ao do judô tradicional; a fundação de uma entidade independente (a
Associação de Krav Maga); acrescentadas e aperfeiçoadas novas técnicas; e, em 1971,
empreendeu-se o primeiro Curso de Instrutores civis de Krav Maga chancelado pelo Instituto
Wingate, uma instituição esportiva de Israel (WINGATE, 1971).
Após estes eventos, Imi e alguns de seus alunos veteranos, passaram a investir e
desenvolver mecanismos de divulgação e introdução do novo método de defesa pessoal em

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diversos países. Em 1977, foram publicadas reportagens sobre o Krav Maga no jornal
Jerusalém Post e na revista americana People Magazine, além da promoção de viagens e
demonstrações do método no Estados Unidos da América e na Europa, causando a procura da
modalidade por vários instrutores e artistas marciais do mundo.
Os anos seguintes, foram marcados por sucessivas divisões na Associação de Krav
Maga, pois, o primeiro grupo de alunos de Imi discordava dos programas técnicos, política de
sucessão e outorga de graduações, o que provocou fissuras na Associação, promovendo a busca
por caminhos independentes, ocasionando a criação de novas entidades da modalidade
(TUCHMAN & MAYERS, 2009).
Atualmente, estima-se que existam dezenas de organizações de Krav Maga em todo o
mundo, cada uma promovendo a modalidade por meio de cursos, seminários de treinamento e
eventos internacionais. Como também, diversas faculdades israelenses oferecem programas de
treinamento em Krav Maga para estudantes estrangeiros, promovendo, nas últimas décadas, um
novo e promissor segmento de turismo em Israel: o turismo de treinamentos em Krav Maga,
quase sempre associado a passeios turísticos pelo país (MOR, 2019).

5 ANALISANDO A TRADIÇÃO ORAL E INVENTADA


No Brasil, uma afirmativa oral predomina em diversas obras privadas e relatos que
moldam o pensamento imaginário de instrutores e praticantes no tocante à origem da
modalidade em Israel e à introdução do Krav Maga no país. Entre as quais, a primeira e mais
usual é a narrada nas obras de Kobi Lichtenstein (1993, 2000, 2006, 2021). Nelas, o autor se
intitula um dos 13 alunos especiais de Imi Lichtenfeld, escolhido entre muitos candidatos, e que
foi designado pelo aludido fundador da modalidade a dar continuidade ao seu legado e ensiná-
lo no Brasil e na América Latina, nos primeiros anos da década de 1990 (LICHTENSTEIN,
1993, 2000).
Lichtenstein (2006) afirma que o Krav Maga foi criado em 1942 como resultado natural
da fusão das histórias de Imi e do Estado de Israel. E ainda, define a modalidade como não
sendo uma arte marcial, mas sim, “a única técnica reconhecida mundialmente como arte de
defesa pessoal”, tendo como filosofia a defesa pessoal simples, rápida e objetiva, sendo uma
arte nova, livre de regras e filosofias, encontradas nas artes marciais tradicionais.
Na tentativa de validar tal filosofia, Lichtenstein (2021) faz alusão a acontecimentos
alicerçados em sua própria visão ideológica e em registros da história oral, com escassas
referências bibliográficas, definindo a modalidade uma criação exclusiva de Imi e como única
alternativa palpável contra a solução para a violência no país. Contudo, tais afirmações não se

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sustentam, na verdade parece mais uma recorrente tentativa de autoafirmação deste autor. Estas
afirmações são veementemente contestadas por Tuchman e Mayers (2009). Para estes, após
uma busca sistemática de documentos e depoimentos dos primeiros alunos de Imi, não foram
encontrados registros históricos que validem as narrativas de Kobi sobre a missão dar
continuidade ao legado de Imi, ou de o ensinar no Brasil e na América Latina, tampouco, de
que ele próprio tenha treinado diretamente com Imi ou que tenha obtido deste a faixa preta.
Desse modo, tal superficialidade ou falta de argumentos impacta diretamente o
imaginário do praticante, induzindo-o a acreditar nas poucas publicações disponíveis no Brasil
sobre a modalidade, as quais pretendem esboçar uma definição do Krav Maga a partir do
raciocínio dedutivo, isto é, as conclusões inferidas carecem de fatos ou premissas que as
suportem. Em alguns momentos, aparenta mais uma “força” do autor em se legitimar na
modalidade como único qualificado a ensiná-la no país, uma vez que tais publicações não
trazem referências bibliográficas e acadêmicas que validem as afirmativas.
A hegemonia dos contos e narrativas de Kobi Lichtenstein, ecoaram absolutas por quase
10 anos no imaginário do povo brasileiro, até meados dos anos 2000, quando também se
estabeleceu, na cidade do Rio de Janeiro, a Bukan School of Krav Maga, fundada em 1977, na
cidade de Rehovot, Israel, por um dos primeiros alunos de Imi: Yaron Lichtenstein (KRAV
MAGA BUKAN, 2022).
A partir daí, surge uma nova ideologia sobre a modalidade no país: a de arte marcial
para defesa pessoal. Para Lichtenstein (2007) e todos da escola supramencionada, o Krav Maga
é uma arte marcial em seu sentido pleno, criada em Israel, para a defesa pessoal, por Imi
Lichtenfeld, nas décadas de 1960 e 1970, tendo por base o judô e o jiu jutsu japonês tradicional,
sem regras ou competições, não sendo uma modalidade eclética ou militar, devendo ser
ensinada em hebraico.
Na construção de tais narrativas, Yaron Lichtenstein também se intitula como o sucessor
profissional de Imi, herdando do mesmo a Bukan School of Krav Maga e o legado de manter,
preservar e proteger o ensino original do Krav Maga como criado e desenvolvido por Imi em
Israel, sem nenhuma alteração ou corte (KRAV MAGA BUKAN, 2022).
A Bukan School of Krav Maga é, ao mesmo tempo, o templo eterno do Krav Maga,
como o Shaolin é para o Kung-fu e um santuário do caminho original, da mesma forma que o
Kodokan no Japão é para o Judô (KAV MAGA BUKAN, 2022). Tais argumentos são
apresentados em uma única publicação de Tuchman e Mayers (2009). Nesse ínterim, um fato
de notória atenção é o da escola supramencionada ter sede na cidade do Rio de Janeiro, e não
em Israel – país de origem do Krav Maga –, como os demais templos então referenciados.

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Outro fato que merece atenção é o de que os irmãos Lichtenstein – Kobi (Federação Sul-
Americana de Krav Maga – FSAKM) e Yaron (Bukan School of Krav Maga) – travaram, no
período 2000-2011, uma disputa judicial sobre o uso e domínio da marca “Krav Maga” no
Brasil (BRASIL. 2012). Tal evento é considerado o marco da popularização da modalidade no
país, pois, na decisão, a modalidade até então reclamada pela FSAKM como marca de uso
exclusivo, foi reconhecida como patrimônio imaterial de Israel; ou seja, enquanto luta, reflete
a cultura e característica do povo judeu, possibilitando liberdade aos instrutores brasileiros sua
prática e ensino através de outras entidades representativas (ANDRADE NETO & FORESTI,
2021).

6 ANALISANDO AS AMBIGUIDADES SOBRE O KRAV MAGA


Inicialmente, fez-se necessário expor os principais pontos e contraditórios existentes em
grande parte dos textos sobre o Krav Maga no Brasil e a definição de suas origens. Os quais
dominam quase a totalidade dos sites, blogs e livros disponíveis no país. Onde, seus autores
afirmam ou reproduzem que a modalidade foi criada na década de 1940, dentro das IDF, por
Imi Lichtenfeld. No entanto, tal narrativa não se sustenta quando de uma simples busca pela
internet por artigos acadêmicos, documentos oficiais do próprio exército de Israel ou
publicações em outras línguas (MOR, 2019).
O Krav Maga, como forma de autodefesa, nasceu da necessidade dos grupos de colonos
judeus se defenderem de constantes agressões e ataques sofridos, fazendo uso das modalidades
de lutas existentes e disponíveis à época. Para tanto, como base, tomou-se a metodologia de
reações instintivas e naturais ao corpo observadas nos ataques àqueles colonos para se estruturar
e evoluir (MOR, 2018).
A técnica em comento estabeleceu-se como método de defesa pessoal pelas Forças de
Defesas de Israel após a independência do Estado de Israel, incorporando técnicas e métodos
de diversas modalidades de lutas. E como arte marcial para civis, somente em 1964, após a
realização do primeiro curso de instrutores (ANDRADE NETO & FORESTI, 2021).
Sobre a tradição oral, é comum e análogo relacionar a modalidade de luta Krav Maga
às tradições culturais das artes marciais orientais. No entanto, em seu sentido lato, o termo
“Krav”, traduzido do hebraico (‫)קרב‬, significa luta, e o termo “Maga” (‫)מגע‬, significa contato,
sendo, por definição, toda e qualquer modalidade de luta de contato praticada em Israel. Ou
seja, Krav Maga é um termo genérico que pode ser utilizado para definir outras modalidades
que tenha contato entre os oponentes (boxe, judo e karate, por exemplo) (MOR, 2018;
ANDRADE NETO & FORESTI, 2021).

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Outra contradição é a atribuição do status cor, dada ao método de única solução a todos
os problemas da violência mundial Lichtenstein (2021). Sem dúvida, tal posicionamento
menospreza todas as modalidades de lutas, artes marciais e modalidades esportivas de combate
existentes no mundo e toda a sua importância sociocultural (Andrade Neto et al., 2021).
A transmissão dos conhecimentos do método ou arte marcial “Krav Maga” no Brasil se
deu de forma oral e empírica até os anos 2010, sendo, até então, reclamada com exclusividade
por entidades tradicionais e privadas. Nessa toada, vale questionar: seria a observação mais
sensata, para se analisar a popularidade de um conjunto de práticas físicas, que tradicionalmente
possuem valores históricos e filosóficos tão singulares, a partir de uma única entidade? Talvez
o próprio conceito de Krav Maga possa ajudar. Tais práticas, quando desembarcaram no Brasil
nos anos 1990, refletiam as singularidades de um método em constante aperfeiçoamento e livre,
com características singulares da cultura judaica, com características próprias e aplicabilidade
simples e objetivas, que, juntas, deram forma à modalidade.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As linhas que se seguiram evidenciaram que, apesar da importância e popularidade, a
escassez de estudos científicos sobre o Krav Maga, acarretam uma situação de descontrole e
empirismo metodológico, pois, em inúmeras escolas do Brasil e do mundo, sobretudo, em
Israel, estão sendo ensinados quaisquer tipos de movimentos e variações de coisas com o termo
“Krav Maga”, os quais, apesar de semelhantes, são instrumentos únicos e exclusivos de
gananciosas estratégias de marketing, mas não são Krav Maga.
Nesse viés, as fontes aqui apresentadas e analisadas contestam o discurso hegemônico
em questão em favor de que o Krav Maga foi idealizado e criado exclusivamente por uma única
pessoa. E ainda, foi constatado que já no início dos anos de 1900, ou seja, antes dos relatos orais
até então apresentados, os colonos e, posteriormente, os integrantes das forças de defesa do
atual Estado de Israel, tiveram contato com o método. Além disso, têm-se que o Krav Maga já
existia e era praticado por grupos da colônia, contrapondo a ideia, de que essa modalidade, foi
e é, uma criação exclusiva de Imi Lichtenfeld.
Por outro lado, é inegável a importância de Imi Lichtenfeld no processo de
popularização e disseminação do Krav Maga como arte marcial para uso civil no mundo, e a
dos irmãos Lichtenstein na introdução e popularização no Brasil. Contudo, segundo as
narrativas aqui apresentadas, é possível notar que nesse processo, não se pode definir um único
criador, fundador, dono, enviado especial ou sucessor profissional da modalidade.

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Pois o Krav Maga, por si só, é um fenômeno de difícil análise, não podendo ser
compreendido de maneira linear e uniforme. Tem-se aí uma luta em seu sentido lato; um
método de exercício corporal para defesa pessoal, desenvolvido com bases técnicas em outras
modalidades, com características formativas e ideológicas, que evocam a firmeza e
continuidade e preconizam a sobrevivência; que evoluiu da necessidade de sobrevivência de
um povo.
Atualmente entendido e vivido por muitos como um novo e contemporâneo estilo de
vida, quase uma crença, ou uma religião. Assim, pode-se inferir que o Krav Maga apresentado
ao Brasil, é bem menos do que o vendido mercadologicamente. No entanto, é muito mais rico
e completo do que o ensinado atualmente.

AGRADECIMENTOS

Aos clientes, alunos, professores, instrutores e monitores da Pro Krav Maga Brasil – Assessoria
em Segurança Pessoal que propiciaram este projeto.

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REFERÊNCIAS

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