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Marabá – Pará
Fevereiro de 2023
MARIA CLERISMAR PEREIRA DA SILVA
Marabá – Pará
Fevereiro de 2023
MARIA CLERISMAR PEREIRA DA SILVA
Nota:
______________________________________________
Dr. Ribamar Ribeiro Junior (IFPA/CRMB)
Orientador
Sumário
1 introdução......................................................................................................... 8
2. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO POVO GUARANI – A busca pela
terra sem males ..................................................................................................... 10
2.2 Os Guarani Mbyá do Norte e a Terra Indígena de Nova Jacundá. ................... 13
3. CAPÍTULO 2: VivÊncias experienciadas na Escola Karai Guaxu ................. 18
4. CAPÍTULO 3: Educação Escolar Indígena e os desafios da Educação
Guarani 30
4.1 Projetos desenvolvidos na escola Karaí Guaxú. ............................................... 31
4.2 Intercâmbio cultural. ....................................................................................... 34
4.3 Partilha de sabres com o tema: Resíduos e Recicláveis ................................... 37
4.4 Relatos de experiência dos professores da escola Karaí Guaxú. ..................... 39
4.5 Infraestrutura, recursos humanos, espaço físico e organização do ensino escolar
da Escola Karaí Guaxu. .......................................................................................... 48
4.6 Modalidades de ensino e recursos humanos .................................................... 50
CONCLUSÃO ......................................................................................................... 52
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 54
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8
1 INTRODUÇÃO
2.1 OS GUARANI
que queriam usufruto, mas nunca haviam “brigado” por limites, o que os levou à
crítica situação atual. É importante relembrar que tal postura foi provocada também
pelo Estado, que principalmente a partir da Ditadura Militar, sob o governo autoritário
do General Médici, incorreu com olhos exploratórios sobre a Amazônia, sob o lema
de integrar para não entregar, excluindo e violentando os povos originários que lá já
viviam, o que ao contrário do planejamento, não se finalizou, trazendo nesse
processo mais prejuízos socioambientais que algum bônus, onde tais prejuízos
afetam até os dias atuais (DE SOUZA, 2020). Com o passar do tempo os conflitos
decorrentes das privatizações e formação de grandes latifundiários na região se
acirraram, restando poucas alternativas para os Guarani viverem ao seu modo. Por
não ocuparem uma terra própria, até 1996, os Guarani não eram oficialmente
reconhecidos como povo indígena na região (LADEIRA, 2006).
Além das terras particulares, os guarani viveram no Norte, em terras de outros
povos indígenas, tais como os Guajajara às margens do Rio Pindaré, de onde foram
“expulsos” em 1989, entre os Gavião da terra indígena Mãe Maria – PA (1989-1996),
junto aos Xerente, em Tocantins e com os Karaja em Xambioá, somente em 1996,
com o apoio do Centro de Trabalho Indígena (CTI), os guarani conseguiram formar
a aldeia Nova Jacundá (PA), onde vivem com exclusividade, consolidando essa
ocupação como terra indígena (LADEIRA, 2006).
Presente na área rural pertencente ao município de Rondon do Pará, à 250
km de distância de sua sede, o grupo Guarani-Mbya reside na Terra Indígena (T.I.)
Nova Jacundá, numa área de 488 hectares. É importante ressaltar que o município
que presta ajuda e serviços públicos para a aldeia é Jacundá. Os Guarani-Mbya
iniciaram sua caminhada pelo litoral brasileiro em busca da terra sem mal. Relatos
sugerem que essa migração começou no norte da Argentina ou no sul do Paraguai,
possivelmente de áreas de missão, e se deslocou para o norte do Brasil.Ao longo do
caminho, os Mbyas do Norte evitaram as cidades e montaram acampamentos nas
fazendas, onde trabalharam em média dois anos, economizando dinheiro para
continuar a viagem. “Mas se os agricultores são ‘bons’, trabalham mais horas,
economizam dinheiro para continuar sua jornada, permanecem na mesma fazenda
por cinco anos e estudam a geografia do local durante esse período”. Em suas
trajetórias, os Guarani-Mbya do Norte foram chamados de "colombianos",
"japoneses" ou "paraguaios", mas “mantiveram a língua, os preceitos do jeroviá
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Para o indígena, a terra é mais que um pedaço de chão com a sua grande
sociobiodiversidade, é um ente com vida, espírito, que não pode ser vendido ou
comprado, em cujas entranhas está escrita a gênese guarani enquanto ser humano
e com a qual mantêm um vínculo holístico. É a terra que permite a perpetuação do
seu modo de vida guarani, ela é responsável por sua sobrevivência, é considerada
mãe, irmã, solo sagrado, sem a qual é impossível continuar reproduzindo o seu modo
de vida e existir como povo distinto. O significado da terra para o Guarani139, não é
mensurado por valor monetário, é axiológico; ele não se sente dono da terra, ela não
lhe pertence, ele pertence a ela, interage com a mesma e a considera um ente vivo.
O valor pecúnia passa longe do que se entende por valoração de bens, a significação
é outra; não pode a terra-mãe, irmã, ter um preço para negócio. Como se pode
monetizar o espírito da terra? Para os indígenas, esta terra não é apenas uma
terra de grande sócio biodiversidade, é uma entidade com vida e espírito que não
pode ser vendida ou comprada, e em seu coração está escrito o Guarani como um
ser humano de origem, eles mantêm uma conexão holística. Esta terra permite a
continuidade de seu modo de vida Guarani, é responsável por sua existência e é
considerada mãe, irmã, terra santa sem a qual é impossível continuar reproduzindo
seu modo de vida e como povo único existência. Da terra para o Guarani não se
mede em valor monetário, mas axiológico; ele não se sente dono da terra, ela não
lhe pertence, ele pertence a ela, ele interage com ela e a considera uma biologia. O
valor monetário está longe do entendimento da valorização da mercadoria, e tem
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significados diferentes; a Mãe Terra, irmãs, não deve ter um preço para fazer
negócios. Como o espírito da terra se manifesta? Como o Guarani poderia ser seu
dono se não o tivesse criado? A terra pertence ao Deus que a criou, ele a possui. O
espírito da terra é livre, assim como os próprios guaranis. A coexistência dos dois
baseia-se no princípio de transcender os interesses pessoais, transcendendo e
abarcando o âmbito da sociedade, da política, da economia e da própria cultura. Para
os guaranis, o mundo físico faz parte de uma rede interconectada, com vínculos que
unem o mundo natural, o sobrenatural e a organização social. Desta forma, pessoas,
plantas, animais e deuses interagem. O raciocínio do povo Guarani é a de que se
respeitar a natureza e dela retirar somente o que precisa vai ter no dia de amanhã o
mesmo que teve hoje (MACHADO, 2018).
Ortiz e Machado (2019), falam sobre o processo histórico dos Guarani e seus
deslocamento de região a região em busca de uma terra sem mal, para que eles
pudessem e tivessem meio de viver e sobreviver da própria terra, por conta dessa
busca houve uma separação entre os guaranis, onde alguns resolveram seguir
caminhos diferentes, guiado por suas convicções, por isso fizeram longas viagens
com durabilidade de messes e anos, na esperança de encontra a essa tão sonhada
terra sem males, para eles essa terra e um lugar onde não haveria mais morte isso
segundo a crença e a tradição dos guaranis.
Os Guarani de Jacundá incorporaram seu modo de vida e saberes relacionados
às condições climáticas e ambientais da realidade amazônica. Os Guarani que
atualmente habitam o Brasil têm uma classificação pela literatura etnográfica devido
seus diferentes dialetos, costumes e práticas de ritual, e por isso estão divididos em
três grupos: Os Kaiowá, os Nhandeva, e os Mbyá (CTI, 2004), sendo este último, o
grupo que será estudado neste trabalho. Os índios do Brasil não são um povo, mas
sim, muitos povos distintos de nós e diferentes entre si, distinguindo-se de nós
também por falarem diversas línguas, como assim afirma Rodrigues (2019).
A aldeia Nova Jacundá foi fundada em 1986. Atualmente todas as casas são
construídas, existe um campo de futebol no centro da aldeia, um centro de saúde
onde o Cacique é o técnico de enfermagem, um poço artesiano com água tratada,
uma igreja, opy (casa de reza) e farinheira.
Atualmente, fala-se no Brasil em torno de 180 línguas indígenas, e essas
línguas estão divididas em 43 famílias linguísticas. O Português é considerado no
Brasil uma língua majoritária e as línguas indígenas são consideradas minoritárias
com apenas 0,5% da população, cerca de 750.000 que usam essas línguas como
descreve Rodrigues (2019). Como houve extermínio de povos que falavam outras
línguas dentro de uma só família, isso fez com que se demandasse uma classe
genética mais abrangente e com uma profundidade temporal, denominada tronco
linguístico.
De acordo com o linguista Arion Rodrigues, “no Brasil se destaca o tronco Tupi
com 10 famílias, e o Macro-jê com aproximadamente 12 famílias linguísticas”.
(RODRIGUES, 2005, p. 35). Portanto, a família Jê está distribuída desde o Pará,
Maranhão até o Rio Grande do Sul. A família Aruak é falada na Amazônia, no Mato
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Mar para a terra sem mal. Nossos avós e nossos pais passaram pelo estado
do Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Maranhão até chegar no Pará”
(Entrevista realizada com a professora Maria Guarani em 2018).
Edimar Guarani:
“Nessa oguatá conheceram e conviveram com outros povos indígenas: os
Guajajara, Xerente, Karajá e Gaviões Parkatêjê. Na convivência com esses
povos e com os juruá nunca perdemos a nossa língua, através da qual
nossos pais nos faziam conhecer a história do nosso grupo. Imagens dos
nossos pioneiros na comunidade. Foi no ano de 1996, com a ajuda do
Centro de Trabalho Indigenista (CTI) que adquirimos essa terra. Quando as
primeiras famílias se mudaram para a nova terra, denominada Tekoá pyau,
não havia estradas ou meios de transporte motorizados. Havia apenas
veredas abertas na mata que permitiam o uso de animais como cavalos e
burros” (Entrevista com o cacique Edimar Guaani em 2018).
Em busca de uma terra sem males. Os lugares ocupados pelos Guarani Mbyá
são denominados de Tekoá e são procurados pelo grupo indígena através de
movimentos migratórios como já foi mencionado nessa busca incessante pela “Terra
sem Males”. Os lugares onde estão inseridos os territórios tradicionais dos Guarani
Mbyá de uma forma geral, como o Paraguai, a Argentina, e Brasil, trazem a
confirmação de que os Guarani Mbyá utilizam um conhecimento que em sua maioria
possui embasamento místico, por parte de seus antepassados (LADEIRA, 1994).
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Os indígenas há muitos anos buscam ter seu próprio currículo escolar, eles
dizem ser um direito deles quanto indígenas e esses anseios constam no PPP da
escola que ainda está em construção desde o ano de 2017, as dificuldades são
imensas. Por isso a preocupação com os alunos indígenas perderem a cultura por
aprenderem na 25 escola somente o currículo dos brancos, assim como os livros
didáticos que traz uma realidade bem diferente de seus costumes e cultura.
Devido a escola não possuir seu próprio currículo de ensino, ela não é
contemplada com o ensino da agricultura familiar, por isso não consta no PPP este
assunto. O que existi na escola em termo diferenciado do currículo da Secretaria
Municipal de Educação do Munícipio de Jacundá - SEMED são as aulas na
linguagem guarani, que são ministradas pela professora indígena Maria Regina
Lopes de Souza Guarani que trabalha desde o primeiro surgimento da escola na
aldeia, e essa disciplina não consta na grade curricular da SEMED. Os professores
abordam sobre o assunto dentro da sala de aula. Os professores fazem a experiência
de levar os alunos para o campo afim de participarem da parte prática é assim ser
inseridos a construção do conhecimento dentro dos saberes da Agricultura Familiar
e sua importância, porém esse conteúdo não entrar dentro do diário do professor,
somente em seu caderno de planejamento das aulas.
Atualmente a Escola Karaí Guaxu oferece ensino de educação infantil - para
crianças a partir de 04 anos de idade, ensino fundamental de 1º a 5º ano em uma
turma multisseriada. Já o Ensino Fundamental de 6º a 9º ano é ofertado pelo Sistema
de Organização Modular de Ensino (SOME), cujos professores vêm da cidade de
Jacundá.
No ano de 2016 conseguiu-se o ensino médio na escola pelo Programa
MUNDIAR do governo do estado do Pará. Más segundo as lideranças da
comunidade essa modalidade de oferta do Ensino Médio não é adequada para a
educação de seu povo, pois não permite a educação intercultural e bilíngue e, ainda,
só atende pessoas maiores de 18 anos, o que obriga os indígenas menores de 18
anos a irem cursar esse nível de ensino na cidade de Jacundá.
Segundo as informações que constam no Projeto, Político, Pedagógico (PPP)
da escola Karaí Guaxú Guarani que, há cinco anos está em elaboração, e conta com
a participação de todos os moradores da aldeia desde o cacique, professores
indígenas e não indígenas e entidades como (FUNAI), (DECAMP – SEMED) e
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(CEIND-4 URE), mesmo traz o processo histórico do povo guarani que passaram por
vários estados e conviveram com outras aldeias como os Guajajara, Xerente, Karajá
e Gavião Parkatêjê, e sempre tiveram o cuidado para não perderem a sua cultura e
linguagem.
Os Guarani se apropriaram da terra onde vivem no ano de 1998 e a escola
(NHANHEMBOE’A) Karaí Guaxú Guarani, começou a funcionar no período de1996
com o apoio da FUNAI e do conselho indígena, Missionário (CIMI), conseguiu a
escola dentro da comunidade, o próprio líder procurou a prefeitura de Jacundá para
dá início a escola na aldeia, pois havia muitas crianças que precisavam estudar.
Para isso foram contratados professores indígenas que davam aula somente
da cultura e linguagem guarani, pois para os guaranis é de suma importância que
as crianças e os jovens tivessem orgulho de ser guarani-Mbyá e que os mesmo
conheçam a história e a cultura de seu povo e em 1997, iniciou uma multisseriada
da Educação Infantil ao 5 ano do ensino fundamental, até o ano de 2000, as crianças
e jovens só tinham aula na linguagem indígena, então a comunidade solicitou aulas
em português, pois achavam importante que os alunos aprendessem a ler e
escrever em português, pois a professora indígena não tinha magistério, ou seja não
tinha nenhuma formação formal (MARQUI, 2012).
No mesmo ano começou a trabalhar uma professora XENHORA (não indígena)
daí em diante os alunos indígenas passaram a ter todas as aulas em português e na
linguagem e cultura indígena separadamente. Uma das reclamações dos indígenas
sobre a questão educacional é a entrada e saída dos professores JURUA (não
indígena) pois eles trabalhavam poucos dias e muitas vezes não voltavam a escolas,
devido essa situação as crianças não se acostumavam com os professores.
comportamento caso eu fosse, pois os Guarani não gostavam de ser tocados e nem
abraçados, então prometi que mudaria meu jeito de ser e passaria a ser menos
carinhosa, atenciosa e extrovertida com os indígenas durante o tempo que eu
ficasse na aldeia, desde que ela me permitisse assinando minha carta de
autorização pra ir trabalhar na localidade. Eu queria ir viver uma nova experiência.
Daí fui autorizada a ir junto com o professor Janison para aldeia, ele foi com a
disciplina de matemática e eu com português ambas são de 40 dias.
O interessante é que para mim era tudo novo, e eu estava indo pela primeira
vez trabalhar como professora em uma aldeia indígena, na minha percepção eu
imaginava que iríamos encontrar ocas coberta com palhas e feitas. Quando
adentramos na comunidade fui perceber que era a aldeia porque comecei a avistar
alguns indígenas, quando chegamos na escola os pequeninos e os adolescentes
foram se aproximando e perguntaram se nós éramos professores.
Foi uma alegria inexplicável que sentir naquele momento por estar em uma
aldeia e vendo pessoalmente os indígenas que até então não tinha contato, apesar
de ter nascido em uma aldeia, não cresci em meio ao indígenas, minha mãe conta
que quando saímos de lá pra cidade eu já estava com 7 anos de idade, isso
aconteceu no estado do Tocantins, por isso que naquele momento sentir como se
estivesse chegando em casa reencontrando com minhas raízes, de modo que me
questionei com certa angústia “moro em jacundá há mais de 20 anos e não conhecia
esse povo que residem na aldeia há mais de 30 anos”.
Nesse período as aulas funcionavam somente à noite com as turmas de 6º a
9º ano, eu fiquei com as turmas do 6° e 7° ano e o professor Janison ficou com as
turmas do 8° e 9° ano. Finalmente chegou à noite, fui para a sala de aula conhecer
meus alunos indígenas numa alegria que não conseguia disfarçar, porém as
orientações da coordenadora não saiam da minha cabeça, então ao adentrar na sala
de aula cumprimentei com boa noite e me apresentei para eles e pedir para que eles
se apresentassem, alguns tinham o nome bem diferente, como por exemplo o nome
da aluna Tatanti’in, fiquei me questionando em silêncio como eu iria aprender a
pronunciar e escrever esses nomes.
No decorrer das aulas fomos nos adaptando uns com os outros, e perdendo a
timidez, dentro e fora da sala de aula, um dos questionamento do cacique Leonardo
era pra saber se nos iriamos passar a semana na aldeia, porque a maioria dos
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professores que vinham da cidade ao termino da aula voltavam pra cidade, esse foi
um dos motivo que eles decidiram que as aula das turmas do 6 ao 9 ano seria a noite
pra tentar fazer com quer os professores ficassem mais tempo na aldeia e também
por conta dos costumes que eles tinha de levar as crianças pra roça, pescar e
também os afazeres domésticos do dia a dia.
Nós deixamos bem claro para o cacique Leonardo que iriamos ficar de
segunda a sexta, na comunidade, durante esse período de 40 dias, fizemos o
combinado de que trabalharíamos de segunda a quinta à noite e na sexta seria pela
manhã para que pudéssemos retornar para a cidade e passar o fim de semana em
nossos lares.
Uma das coisas que me chamou atenção com o passar dos dias na escola
Karaí Guaxú, foi ver que não tinham materiais didáticos para as turmas do ensino
fundamental maior, o único material que eles tem dentro da linguagem indígena
guarani é uma cartilha de alfabetização que o professor Edimar e a professora Maria
Regina utilizam com as turmas da Educação Infantil e as turmas do ensino
fundamental menor, os únicos livros didáticos que usávamos para ministrar as aula
era os que vinha da Secretária de Educação de Jacundá.
O primeiro dia de aula eu fiz um reconhecimento do ambiente onde os alunos
estavam inseridos para que eu pudesse ver qual seria a melhor metodologia de
ensino aprendizado que poderia ser utilizada com os educandos, de acordo o ano
letivo de cada um, por se tratar de educandos que estudavam dentro do método de
multisérie do sistema SOME e também por ser minha primeira experiência com
alunos indígenas. Observei que todos já tinham uma boa leitura, mas tinha muitas
lacunas na escrita, misturavam muito letras maiúsculas com letras minúsculas
também tinham muita dificuldade para pontua os textos concluir que estavam
letrados, porém com algumas dificuldades, isso foi possível descobrir após a as
produções de textos feita por eles produção essas que falavam sobre a biografia de
vida deles.
No decorrer dos dias uma vez por semana não tinha aula devido ser dia de
culto e os alunos tinham que ser liberados da aula para irem à igreja, eu e o Janison
íamos também, pois queríamos acompanhar eles foram da sala de aula e observar
como era o comportamento deles em outro ambiente. Em alguns momentos nós
professores nos reuníamos para falar um pouco sobre as dificuldades dos alunos e
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do método de ensino aprendizado, assim a gente percebeu que não tinha nenhum
conteúdo de acordo com a realidade deles, somente os conteúdos que vinham da
secretaria de educação que eram os livros. Com o passar dos dias Janison e eu
começamos a observar que sempre na hora do almoço alguns alunos e não alunos
apareciam e pediam comida dizendo estavam com fome que na casa deles não
tinha comida então nós dividíamos o nosso almoço e jantar, no decorrer da semana
acabamos ficando sem alimentos pois só levamos o suficiente pra semana, por conta
dessa situação começamos a questioná-los, porque eles passavam necessidade
alimentícia, foi então que ficamos sabendo que eles não recebiam nenhum tipo de
benefício do governo e que o único meio de sobrevivência era o salário dos idosos
e bolsa família, foram momentos muito delicados pra nós quanto ser humano ver o
quanto eles são carente financeiramente e esquecidos pelo poder público.
Essa época a merenda escolar era bem limitada, o João era o servente da
escola e consequentemente o responsável pela merenda, os alimentos que chegava
muitas das vezes só dava para duas ou três semanas o restante do mês ficava sem
merenda na escola e por conta disso as aula funcionavam somente até a hora do
recreio para que os alunos fossem pra suas casas mais cedo.
No mês de agosto eu retornei novamente para aldeia para trabalhar com
as disciplinas de História e Artes, daí veio uma preocupação como que eu iria
ministrar a disciplina de Artes para eles. Então comecei a mesclar o conteúdo
didático com conteúdo que pesquisar na internet de que forma eu poderia estar
trabalhando com os indígenas arte deles.
Então comecei trabalhar a parte teórica em sala de aula após a teoria saímos
pra vivermos a parte prática com os alunos fomos para igarapé e retiramos o barro
para confeccionamos alguns utensílios com argila, depois colocamos para secar e
daí eu pensei como que nós vamos fazer para pintar os objetos que todos fizeram já
que não tínhamos material pra pintura e o objetivo era pintar os objetos com a arte
indígena de vocês, os alunos falaram professora a gente pode fazer a tinta do
Jenipapo então eles foram me explicar o que era Jenipapo e a importância desse
fruto pra eles, nesse momento eles foram o professor e eu aluna.
2018 foi enviada novamente para Aldeia com a disciplina de português. No
começo do ano e comecei a desenvolver os trabalhos com os alunos já com uma
visão bem diferenciada, já tinha um pouco de conhecimento sobre as especificidades
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dos educandos e também embasada com muitas pesquisas sobre como trabalhar
com os indígenas como desenvolver os trabalhos de forma mais ressignificada
dentro da contextualização pedida pelo PPP da escola, que no ano de 2017 fiz parte
da elaboração do mesmo, através das informações adquiridas do ano e anterior e
com um pouco de conhecimento adquirido durante o processo de ensino
aprendizado dento dos anseios dá comunidade em termo da educação indígena dos
guaranis.
A professora Talita que ministrava as aulas da turma do MUNDIAR 1, veio até
a mim e a professora Vanessa e pediu para que nos ajudasse ela a fazer uma noite
cultural porque ela queria montar um espaço onde os alunos dela pudesse expor os
trabalhos que eles fizeram durante as aulas Eu gosto de trabalhar com eventos tive
a ideia de ao invés de fazermos só uma noite cultural porque não aproveitarmos esse
momento e elaborarmos o que que seria o primeiro Encontro Cultural da Escola Karaí
Guaxú, de uma forma que nós enquanto educadores pudesse tá envolvendo alunos
não indígenas para tá vindo conhecer a aldeia e conhecer a cultura dos Guaranis.
Nós três formulamos a ideia entre nós nos bastidores e depois chamamos o
professor Edimar e a professora de linguagem Maria onde ficaram super
interessados e depois chamamos o cacique Leonardo para contarmos a ele a ideia
do projeto que gostaríamos de desenvolver o primeiro encontro cultural da escola,
depois de falarmos com todos da comunidade levamos a ideia para Alzira e o
Genilson, ambos aprovaram a ideia.
A partir da aceitação e aprovação de todos ficou definido que o nome do
primeiro encontro cultural “ cultura Guarani” Finalmente partimos para as partes
praticas, fizemos várias reuniões como todos moradores da aldeia e falamos do
projeto o quanto seria importante, para o processo de ensino aprendizado dos
educando dentro e fora do contexto educacional e aldeia esse era o principal objetivo
para o desenvolvimento do projeto.
Apesar de muitas dúvidas e receio sobre o projeto de dá certo ou não,
levamos adiante começamos a desenvolver textos que abordasse sobre a cultura
dos guaranis, colocamos os alunos para fazer pesquisa de campo como por exemplo
1 MUNDIAR: É um programa da Fundação Roberto Marinho articulada pela SEDUC afim de que
possibilite o Sistema de Ensino Modular, garantido o Ensino Médio nas comunidades indígenas.
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hoje, como que eles faziam como cultivava esses artesanatos de que formam eram
produzidos quem produzia.
Todos os projetos culturais desenvolvidos na escola e dentro da aldeia fez com
que esses indígenas ganhassem uma visibilidade maior dentro da sua cultura dentro
da sua realidade dentro dos processos de ensino-aprendizado de modo que
podemos observar o quanto melhorou o interesse dos alunos pelo ensino por eles
estarem estudando algo que tem a ver com a realidade deles. Eu enquanto
professora tive muita dificuldade sim, mas com muita alegria afirmo que os objetivos
foram alcançados dentro do processo de ensino-aprendizado, de modo que os
resultados foram satisfatórios para os alunos, professores e toda a comunidade.
No ano de 1996, com a ajuda do trabalho indígena (CTI) que eles adquiriram
as terras onde vivem até os dias de hoje, local que eles deram o nome de Tekoa
Pyau. (Aldeia Nova Jacundá).
A escola indígena Karaí Guaxu, tem como função contribuir na formação de
cada um dos estudantes, sem perder da vista sua cultura sua língua, seus costumes,
e tradições e continuar sendo o povo Guarani Mbyá, pois na aldeia todos são
responsáveis pela educação, por esse motivo eles adotam pela educação
comunitária, e todos têm compromisso com a formação, desde os pequeninos e
jovens com objetivo de um futuro promissor assegurado pelas leis. É de fundamental
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Acervo da Autora
Preparar o corpo para o mundo exige que essas pessoas tenham uma sólida
compreensão do uso das plantas. O kahpi (ayahuasca), o paricá, a coca e o tabaco
são plantas que estão profundamente relacionadas aos processos ritualísticos de
cura. De acordo com esses sabedores indígenas, as doenças e mortes entre os eles
têm como causa principal a redução das práticas e da transmissão de saberes
tradicionais entres os indígenas, bem como o desequilíbrio da natureza promovido
pelos “agentes da sociedade envolvente”.
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O povo Guarani da Aldeia Nova Jacundá, vem ao longo dos anos, tentando
manter seus costumes e tradições, muitas das vezes em parceria com o poder
público e instituições governamentais e não governamentais, dentre as parcerias
podemos demonstrar o 2º Encontro Cultural da Escola Karaí Guaxu com o apoio da
Prefeitura Municipal de Jacundá, Secretaria Municipal de Educação e a Universidade
Federal Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA). A finalidade do evento que teve por
objetivo valorizar a Cultura Indígena Guarani Mbyá e promover a troca de vivências
e conhecimento com outras escolas municipais da região e instituições como órgãos
municipais de assistência social, universidade e organizações não-governamentais.
não só para a valorização da cultura pelas pessoas da região, mas também para os
próprios indígenas. Ao perceber que este aspecto de Interculturalidade dimensiona
novas relações com a comunidade, foi o que analisei mesmo com os mais de 20
anos em Jacundá e não conhecia até então como os indígenas vinham tratando essa
questão da revitalização da sua cultura.
e da falta de assistência dos órgãos públicos para com os mesmos e que eles não
têm como fazer a retiradas do lixo, que não tem como queimar e que seria muito bom
se eles não precisassem queimar seus lixos, pois a fumaça também faz mal para
eles e para o meio ambiente. A partilha de saberes veio agregar um anseio que ele
há muito tempo queria com os índios para abordar sobre o lixo que e produzido na
aldeia.
O Cacique Edemar Guarani, falou que o trabalho com seus alunos essa
preocupação com o lixo e que preocupa orientar da melhor forma seus pequeninos
dentro da sala de aula, para que os mesmo seja reprodutores de conhecimento
ambientar para a vida e seu próprio bem está a assim cuidaram do meio ambiente
em que eles vivem fez um questionamento de qual seria o papel do instituto IFPA,
na comunidade indigna; qual seria o retorno da faculdade sobre os problemáticos
levanta do após as pesquisa e os problemáticos levantados dentro da partilha de
sabores.
Acredito que através da partilha de saberes, após fala de alguns itens de sobre
o lixo que produzimos no dia a dia exemplo as fraldas descartáveis, garrafas pet,
sacolas plásticas, roupas velhas etc. E o tempo que esses itens levam pode ser
reciclado, dentro desse contexto levei e receada dos e viraram objetos que tanto
pode ser usado com enfeites ou utensílios que podem ser usados como porta treco,
porta retrato etc. e esses mesmos objetos foram doados em forma de sorteio após a
palestra. Sabemos que a reciclagem está longe de ser a solução de todos os
problemas de lixo gerado pelo ser humano e que, infelizmente nem todas as cidades
têm o processo ou a coleta de reciclagem. E que na aldeia não é diferente a
preocupação com o lixo que é gerado por eles mesmos.
Essa problematização não é de hoje e algo que já vem de muito tempo, só
que através da reciclagem e que é um falou de suma importância para a diminuição
do lixo gerado por todos, há vários possibilidades da diminuição do lixo e da
conscientização de todos queimarem, não e a única solução ou enterro do mesmo e
que através da reciclagem vamos eliminar a proliferação do lixo, reeducando ser
humano, trabalhando o nosso psicológico porque a reciclagem tem o poder curativo
na mente humana, desenvolvimento habilidade, coordenação motora, visão e outra.
E que através da reciclagem podemos ter um ganho financeiro pessoal ou até
mesmo dentro da nossa própria família ou comunidade.
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No início de sua profissão ela pedia ajuda aos pais dos alunos e passou por
períodos difíceis devido não ter experiência, havia duas vantagens uma era porque
a maioria das crianças erem parentes (sobrinhos), mais mesmo assim ficou muito
nervosa, no momento que adentrou na sala de aula e viu a quantidade de crianças
ficou assustada, sentiu medo, pois era uma responsabilidade enorme que estava ali
à sua frente, outra vantagem era que as crianças falavam na linguagem, mais mesmo
assim havia a preocupação sobre o que os pais iam falar devido ela não ter
experiência alguma em sala de aula e achavam que ela não daria conta de dar aula
”se questionava em silêncio o tempo todo”. Ela continuou narrando:
Mas também foi bom, porque foi uma experiência muito boa, e trabalhando
foi assim que eu comecei. Fiquei nervosa mulher, fiquei muito nervosa,
porque quando entrei ali, tinha muita criança, só que eu não fiquei muito
nervosa porque, a maioria das crianças que estavam ali dentro, tudo falava
na linguagem, as crianças todinhas falavam na linguagem. E eu também
falava na linguagem. A gente começou falando na linguagem. Só que foi
difícil porque eu me senti nervosa, eu fiquei com medo. Porque eu sabia
que eu não tinha a capacidade, ali de dar aula assim, porque eu não sabia
de nada. Também ficava imaginando na família, nos país deles, né. Aí eu
ficava pensando, como é que esses pais vão olhar para mim? Será que vai
achar que não vou dar conta de dar aula? Só que aí foi... foi melhorando,
mas eu me senti muito nervosa mesmo. Não sabia nem o quer era aquilo.
(Entrevista com Maria Guarani em 03/12/2020)
Aí eu pedi para ele fazer um trabalho né, ele foi fazer o 28 trabalho e veio,
fez tudinho, bonitinho. Trouxe o trabalho bonitinho, até hoje eu lembro e ele
disse assim: professora onde é que eu vou pregar o meu trabalho. E eu
disse, pois é onde é que nós vamos pregar o trabalho? Não, professora vou
pregar lá na tua casa, lá na parede da tua casa. Aí ele levou. Levou lá para
minha casa e pregou lá na parede da minha casa. Então foi assim, a gente
trabalhou em uma casa muito humilde, muito mesmo... E não tinha parede,
não tinha nada. Também foi muito no início. Quando nós chegamos aqui foi
no início. Tudo... Tudo foi muito difícil. Então pra iniciar as aulas foi assim.
Casa sem parede. Naquela época nós tínhamos... Nós estávamos com 12
alunos. Alguns ainda moram aqui na aldeia. Têm essas filhas do Leonardo,
elas foram minhas alunas e alguns meninos aí da Aparecida que foram
meus alunos e hoje eles estão aí. E os meninos do Alexandre também foram
meus alunos e foram embora e tem só um aqui. O Alisson ainda permanece
aqui, e então alguns estão aqui ainda. Dos meus alunos. Alguns foram
embora. Eu tive a maior dificuldade assim, foi com os alunos que estavam
entrando na sala de aula que não entendia nada, nada da linguagem. Então
isso aí foi um desafio muito grande para mim por que... Porque eu não sabia
o que tinha que fazer com esses alunos e aí a única forma que achei que...
que achava que ia ser melhor para trabalhar com eles quando... Quando eu
comecei a cantar com eles na linguagem. Quando nós começava a cantar
com eles a linguagem... assim... Eles cantavam na linguagem e pegava
mais direito. E quando a gente ia falar com eles na linguagem nem a
pronúncia eles achavam difícil de falar na linguagem. Então, isso aí, foi o
que eu achei mais difícil assim que teve mais de idade de fazer. Além de
professor aqui né, eu também sou liderança, também sou liderança aqui da
aldeia. Eu ajudo no trabalho, quando tenho uma reunião, eu estou na
reunião. Eu também faço muito artesanato. Fora da escola sem dar aula eu
faço artesanato, e o trabalho com as crianças assim, no campo. Trabalho
com as músicas, com letras das músicas. Então é isso aí. Tudo eu faço...
Eu faço parte também do trabalho da escola, né. Na reunião. Sou dona de
casa tenho família, tenho meus filhos. Então o que falta? Eu também sou
avó. Quando eu não estou trabalhando na escola, eu estou trabalhando em
casa. Então de tudo eu sou um pouco, faço tudo. (Entrevista com Maria
Guarani em 03/12/2020)
Após terem construído um barraco de palha pela própria comunidade, foi feita
uma reunião com a comunidade e decidiram que ela Maria seria a professora de
linguagem guarani, pois ela falava com todos na linguagem dentro e fora da aldeia.
A professora Maria Guarani, relata em sua entrevista que iniciou em 1997, ela
só tinha estudado a 2ª série do ensino fundamental, que é o 2º ano do ensino
fundamental-I, ela relata que entrou com a cara e a coragem em sala de aula, pois
ela diz que não tinha conhecimento algum, assim que começou a ministrar aulas era
apenas para turmas do 1º ao 5º ano.
Somente em 2020 começou a ter aulas com as turmas do 6º ao 9º ano, mais
devido a pandemia da convid-19, as aulas foram suspensas, a professora Maria
Guarani, fala com muita felicidade que já está com 23 anos em sala de aula e que
está quase aposentando por tempo de trabalho.
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Desse modo, ao observar que nas aulas de canto, por exemplo: usam os
maracas que são produzidas por alguns artesãos da comunidade, violão, violino,
roupas que a professora Maria costura e os alunos pintam com os traços da cultura
guarani, destaco como uma reflexão que tais indumentárias também podem ser
considerados como material didático de apoio, e isso caracteriza a Educação guarani
no espaço da Educação Escolar.
Maria Guarani, especifica que não planejou ser professora, foi de repente e
por decisão da comunidade, como eles viajavam muito e trabalhavam na roça por
isso não tinham como estudar, mas com o passar do tempo ela foi pegando amor
com os alunos e pela profissão e tem buscado melhorar cada dia como profissional,
uma de suas maiores preocupações é estar perto de aposentar-se e já se encontra
cansada e não tem ninguém para substituí-la.
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Nesse momento a professora, começou a chorar durante sua fala, pois ela teme
não ter ninguém para continuar com o ensino da língua materna, pois a cada dia e
ano que passa ela percebe que seu povo estão ressiguinificando seus costumes,
principalmente de conversarem na linguagem guarani.
No entanto, com o passar dos dias ela narra como foi melhorando a qualidade
do seu trabalho, escola não tinha paredes, nem cadeiras, os alunos se sentavam no
chão e quando chovia e molhava tudo, Maria sorria durante essas falas, por que
vinham na sua memória a cena “você me fez voltar no tempo”, “é como se eu
estivesse vendo tudo agora”. Emocionada a professora Maria Guarani relata
orgulhosa do aluno Edimilson Guarani, ele era muito dedicado, fazia os trabalhos,
ela se emociona ao lembrar que o aluno perguntava; “professora terminei meu
trabalho, onde eu coloco, porque na escola não tem parede? ”, ela conta que abraçou
o aluno e disse: “leve para sua casa e coloque na parede”.
Só que para a surpresa da professora o aluno colou o trabalho na parede da
casa dela e foi uma emoção inesquecível. Com o passar dos anos a maioria desses
alunos crescera, se tornaram adultos, casaram-se, alguns migraram para outras
aldeias, outros permanecem até dias de hoje, e continua a dá aula para os filhos dos
seus primeiros alunos.
E durante suas aulas desde as primeiras turmas até as turmas de hoje, a
mesma percebe que as aulas de canto, e que nos dias de hoje devido as idas e
voltas dos índios, pois eles se deslocam de uma aldeia a outra, ela percebeu que os
alunos e até mesmo os adultos têm perdido o costume de falar na linguagem guarani.
A Maria Guarani além de ser professora exerce o papel de liderança na aldeia,
sendo responsável pelas aulas de cantos, entre as crianças e jovens, também é
artesã, dona de casa e avó e faz parte do conselho da escola. A professora relata
sobre uma das maiores dificuldades é fazer com que os pais participem da educação
dos filhos na escola, ela fala que gostaria que os pais fossem pelo menos na escola
olharem os filhos, pois todos moram próximo a escola.
Em todas as reuniões ela cobra a presença dos pais na escola e fala da
importância de ter a opinião e participação deles, pois e necessário que os
responsáveis possam acompanhar e observa o desenvolvimento dos filhos, a
professora diz sentir falta da presença dos pais, principalmente por que as crianças
não falam mais a linguagem guarani, porque os pais também não falam na linguagem
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com seus filhos, neste sentido ela nos diz: “é super importante pra nossa cultura que
as crianças aprendam a falar na linguagem também” Maria Guarani.
A professora diz não se sentir realizada profissionalmente pois ela gostaria de
poder fazer algo mais, como dar continuidade a sua vida acadêmica para se
especializar em sua área profissional, que é a linguagem guarani, a professora ainda
conta que é muito fácil falar na linguagem guarani, o difícil é escrever ou seja traduzir
o que está em português para a linguagem guarani, os livros didáticos que eles
recebem da Secretária de Educação, não os ajudam muito , por que nem tudo que
está escrito nos livros didáticos ela consegue traduzir pra linguagem guarani, mesmo
assim ela faz alguns trabalhos baseados na linguagem.
Seria de grande importância se tivessem materiais didáticos na linguagem
guarani, na escola existe um única cartilha de alfabetização da linguagem, dentro do
livro contém uma história bem resumida na cultura, a cartilha retrata, sobre comidas
típicas do Guaranis, remédios do povo Guarani, fala da origem do povo guarani, de
onde eles vieram, das roupas do ritual da menina moça, ritual dos meninos ao
adentrar na adolescência, que eles usam no coral, a cartilha está em português e na
linguagem guarani.
Mesmo assim com todas as dificuldades existentes, vem tentando manter-se
confiante na esperança de que algum indígena de sua aldeia dê continuidade com o
ensino de linguagem e faça com que a linguagem guarani não morra dentro da aldeia
e dentro de si mesmos porque a cultura as tradições, os costumes, fazem parte de
sua essência, resistência e existência.
Ainda nesta roda de conversa o cacique Edimar Pereira Guarani, que exerce a
função de Professor Coordenador, trouxe uma importante contribuição para pensar
o seu papel na escola e sobre quais são os desafios para a execução de sua função
no ambiente escolar do Povo Guarani, onde a resposta que se sucedeu traz consigo
elementos importantes para uma análise crítica:
“Na nossa escola o ponto negativo, o primeiro ponto. Principal ponto que
eu destaco é em questão de internet que é um ponto, que ainda não tem na
escola de fato. E é uma coisa que precisa ter. Então sem essa ferramenta,
fica um pouco difícil da gente também procurar, porque tudo que a gente
envolve aqui é interessante também, só que muitas vezes é necessário que
a gente procure, também outras... Outras informações, através de outras
ferramentas, mas também tem que ser dentro da internet”.( entrevista com
o cacique Edmar Guarani 03/12/2020)
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A tradução acima revela que nem ao menos a estrutura básica de uma escola
urbana a escola da comunidade Guarani possui, demonstrando que a realidade não
é apenas desafiadora, mas sim de abandono, pois toda essa precariedade mostra o
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quão irrelevante é a escola desse povo para o poder público e suas esferas de
competência. Bebedouros, cozinha, biblioteca, infraestrutura de salas e cadeiras
adequadas, isso é o mínimo necessário para um aprendizado eficiente. Por acaso
os indígenas são menos humanos ao ponto de não terem direito a uma educação de
qualidade por que simplesmente são de uma cultura diferente? Estas são
provocações necessárias para que estes sejam enxergados e se vejam como
sujeitos de direito na qual o Estado possui obrigação constitucional de alcançar.
Segundo o cacique Edimar o município deveria ter um olhar mais prestativo
para a escola indígena, que um dos principais problemas são aquisitivos e territoriais
pois a escola fica localizada no município de Rondon do Pará, porém a Secretária
de Educação de Jacundá é quem presta suporte educacional, daí existe uma
fragilidade enorme, a falta de manutenção na estrada da aldeia é uma delas, a
prefeitura de Jacundá diz não ter a obrigação de fazer a estrada, já a prefeitura de
Rondon do Pará não presta nenhum tipo de contribuição dentro da comunidade
desde a chegada do povo Guarani.
Uma outra preocupação do professor é a quantidade de alunos que existe na
escola, cada ano que passa tem diminuído o índice de aluno, um dos principais
motivos pela evasão escolar é que os indígenas por não terem como se manterem
financeiramente dentro da aldeia, eles migraram de foram temporária bastante para
outras aldeias e isso faz com que exista essa defasagem de alunos na escola, não
há muito o que fazer para evitar esse tipo de problema.
Até o ano 2019 tinha 11 alunos matriculados nas series iniciais até o 5º ano.
Edimar, utiliza-se de estratégias pedagógicas como: leva os idosos para a sala de
aula para que eles contem histórias, lendas e mitos. Ele afirma que é preciso
introduzir o ensino aprendizado nos alunos não de “fora para dentro”, mais de “dentro
para fora”, a partir da convivência entre eles todos, dessa forma todos aprendem.
Para tanto, as estratégias de fortalecimento da cultura Guarani têm sido feitas
dentro dos seus aspectos cosmológicos, pois o canto e a dança são partes destes
elementos da ancestralidade.
Toda parte cultural né, da dança né, porque então.... Então tudo isso não é
que é interessante. Hoje teve um momento bem.... Muito bonito. Foi bem
participativo de dança, da cultura. Então tudo isso, é a gente que está
desenvolvendo. É claro que não é só eu, mas a gente vai ajudando um ao
outro, vai dando ideia. Vai elaborando ideias e vai lá e assim por diante.
Atualmente eu estou com os alunos, desde a educação infantil até o quinto
ano, são onze alunos. Uma das estratégias que eu vejo mais como uma
questão de participação da comunidade. Já que aquelas pessoas, que eu
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selvagens e que são menos civilizados, essa colonialidade exótica que também são
reproduzidas no cotidiano das salas de aulas das escolas urbanas.
A experiência vivenciada pelo cacique e professor que atua deste 2009 na
educação escolar indígena. Cursou o Magistério Indígena no Ensino Médio e está
atualmente cursando Licenciatura em Educação do Campo na Unifesspa em
Marabá. Ele ressalta sua trajetória, que é importante para pensarmos como a
Educação Escolar Indígena, tem sido fortalecida a partir da formação dos
professores indígenas como protagonistas.
Pois então é uma questão interessante, porque antes eu não pensava em
ser professor. Eu estava na minha intenção, de todo o tempo, ser um
contador. Sempre coloquei na minha cabeça que, eu não vou ser outra
coisa, só contador. Tanto é que 37 eu estudei e eu gostava muito de física,
química, matemática, tudo para mim era um desafio que eu enfrentava e
conseguia vencer. Mas só que teve essa necessidade de professor para
comunidade. Aí mudou só que não foi assim, por minha vontade própria. A
comunidade fez a indicação. E eu disse então, eu estou pronto para ajudar.
Se for para ajudar a minha própria comunidade, eu estou prontinho. A partir
daí então comecei os trabalhos da escola. Já fui fazer uma faculdade
também. Então daí começou a criar dentro de mim esse... amor em está
trabalhando na escola igual hoje. Porque é interessante a gente olhar para
um grupo de alunos, e a gente está colaborando com eles ensinando
aprendendo juntos. Aquele momento ali, tão importante. Então, isso hoje,
eu não me arrependo não (Entrevista Cacique Edimar Guarani, em
03/12/2020).
com banheiro para receber os professores. O prédio foi entregue, mas sem nenhuma
mobília ou utensílios de cozinha. Um ano depois o prédio foi entregue para a gestão
da prefeitura municipal de Jacundá. Entretanto, em nenhum momento a comunidade
foi consultada sobre isso.
O prédio da escola foi reformado pela prefeitura municipal de Jacundá no ano
de 2006. Em 2009 a mesma prefeitura fez pequenos reparos emergenciais nesse
prédio. Apesar disso, o prédio já apresenta muitos problemas de infiltração, telhado
e encanamento dos banheiros. A escola ainda não foi mobiliada adequadamente
pela secretaria de educação de Jacundá. Durante os primeiros anos de
funcionamento da escola as poucas carteiras que aqui chegaram e o único armário
da cozinha foram doados de outras escolas que receberam equipamentos novos.
Em 2014 chegaram a primeiras carteiras adequadas para as crianças
estudarem. Essas são ainda as necessidades da escola: falta de armários e
prateleiras adequadas para guardar os livros didáticos e literários, quadro branco,
armário para a cozinha. Nas salas de aulas também é necessário colocar telas de
proteção para evitar a entrada de mosquitos e outros insetos. A instalação dessa tela
deve ser provisória, até que a escola seja reformada e adequadas suas instalações
para que sejam colocadas centrais de ar em cada sala de aula, conforme já foi feito
em outras escolas da rede pública de Jacundá.
A escola não tem refeitório, espaço e mobiliário adequado para as crianças
merendarem. Na cozinha da escola não há freezer ou geladeira o que impede que
nossos alunos recebam alimentos perecíveis como carne, iogurte, polpas de frutas
e frutas, tal qual as demais escolas do município. Contrário as nossas práticas
alimentares, a merenda escolar de nossos filhos é quase completamente
industrializada, exceto pelo arroz e o feijão que ainda constituem o cardápio da
merenda escolar de nossos filhos. Na escola também não há acesso à internet nem
equipamentos eletrônicos para uso didático tais como impressora, aparelhos de
televisão, antena parabólica, caixa de som, microfone, DVD e data show. Também
não temos um laboratório de informática instalado, apesar de a comunidade já ter
cinco computadores do programa PROINFO recebidos no ano de 2008.
A escola precisa ser reformada, adequadamente, mobiliada um espaço
adequado para o alojamento dos professores juruá que vêm para a aldeia ministrar
aulas nas turmas de 6º a 9º ano e, futuramente, no Ensino Médio. Para isso, a
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CONCLUSÃO
públicas precisam está presente na vida desses indígenas com o objetivo de ajudar
a desenvolver o ensino aprendizado dos educandos e professores da escola Karaí
Guaxú.
Através dessas pesquisas sobre a educação indígena dos guaranis da Aldeia
Nova Jacundá foi possível ter a oportunidade de adquirir informações mais
aprofundadas sobre o currículo e o ensino aprendizado dos educandos indígenas e
suas histórias de vida, isso tudo contribui de forma extremamente satisfatória em
processos psicossociais, culturais e educacionais, pois ao conhecer a biografia do
povo e suas potencialidades é possível traçar metras de transformação social.
Com base nos resultados obtidos é possível identificar a importância que
cada indivíduo possui, de modo que essa percepção da individualidade faz toda a
diferença dentro e fora do contexto educacional e social, independentemente se seus
conhecimentos são científicos ou empíricos, pois o que realmente importa é respeitar
e valorizar suas histórias e que esse povo tenha o seu devido valor reconhecido
pelas políticas públicas e pela sociedade, pois os novas gerações indígenas da
aldeia Nova Jacundá estão perdendo a perspectiva de dias melhores dentro de sua
comunidade, estão saindo da aldeia, abandonando os estudos e procurando
oportunidade de trabalho visando condições de uma vida melhor para suas famílias.
Por fim políticas públicas e a educação precisam andar juntas e estarem
unidas para que seja possível ter educandos e professores com um aprendizado de
qualidade para todos os indígenas e não indígenas, com a inflexão de que a cultura
desses povos originários não pode ser apenas respeitada, é preciso ser promovida
e cultivada através do poder público.
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REFERÊNCIAS
ALENCAR, Maria Cristina Macedo et al. Eu acho que os índios não querem mais
falar na linguagem por causa do preconceito, não é professora!: desafios na
educação escolar intercultural bilíngue entre os Aikewara & Guarani-Mbya no
sudeste do Pará. 2018.
POMPA, Maria Cristina. O mito, “mito da terra sem mal”: a literatura “clássica” sobre
o profetismo tupi-guarani. Revista de Ciências Sociais, Fortaleza, v.29, n.1/2, 1998,
p.44-72.