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ANUÁRIO DA PRODUÇÃO ACADÊMICA DOCENTE

COMPREENSÃO DE APLICAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA POR


ALUNOS DE GRADUAÇÃO DA ANHANGUERA EDUCACIONAL
Necessidade e viabilidade

Renata Nascimento Nogueira – Faculdade Anhanguera de Taboão da Serra


Washington Barbosa da Silva – Faculdade Anhanguera de Taguatinga III
Fernanda Oliveira Simon – Faculdade Anhanguera de Campinas - Unidade 3
Flavio Cesar Vicentin – Faculdade Anhanguera de Campinas - unidade 1
Adilson Camilo de Barros – Centro Universitário Anhanguera de Santo André - UniA

RESUMO: A utilização da energia elétrica pela espécie humana está consolidada há Palavras-chave:
mais de um século e a perspectiva para o futuro, indica um contínuo crescimento. A Ensino de Física, Mecânica
Quântica, concepções de alunos,
energia elétrica disponível na natureza não é preparada para o uso direto e contínuo, análise de currículos.
sendo necessária sua geração por meio da conversão de energias naturais. A geração
termelétrica representa uma grande fatia do total mundial, entretanto é destacada
como um dos maiores geradores dos gases responsáveis pelo efeito estufa. Outro Keywords:
grande problema ambiental é a produção e destinação de lixo, que apresenta potencial Physics teaching; quantum
energético se tratado termicamente e pode ser convertido em energia elétrica. O mechanics; student conception,
curricula analysis.
trabalho tem por objetivo a avaliação da sustentabilidade da geração de energia por
meio da incineração de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) da cidade de São Paulo. Neste
estudo são considerados os aspectos técnicos, econômicos, sociais e ambientais na
geração de energia com a queima de combustível fóssil no Complexo Termoelétrico de
Piratininga, comparativamente com aqueles provenientes de uma usina a ser projetada
para a incineração de RSU da cidade de São Paulo.

ABSTRACT: The use of electric power is consolidated by mankind for over a century
and prospects for the future, indicating a continuous growth. The power available in
nature is not prepared to use direct and continuous, requiring his generation through
conversion of natural energies. Thermal generation represents a large share of world
total, however, is highlighted as one of the largest generators of greenhouse gases.
Another major environmental problem is the production and disposal of garbage, with
the potential energy is heat treated and can be converted into electrical energy. The
paper aims at assessing the sustainability of power generation through incineration
of municipal solid waste (MSW) from São Paulo. In this study, are considered the
technical, economic, social and environmental factors in power generation by burning
fossil fuel in the Thermoelectric Complex Piratininga compared with those from a
plant to be designed for the incineration of MSW in the city of Sao Paulo.

Artigo Original
Recebido em: 18/12/2012
Avaliado em: 28/12/2012
Publicado em: 19/05/2014

Publicação
Anhanguera Educacional Ltda.

Coordenação
Instituto de Pesquisas Aplicadas e
Desenvolvimento Educacional - IPADE

Correspondência
Sistema Anhanguera de
Revistas Eletrônicas - SARE
rc.ipade@anhanguera.com

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Compreensão de aplicações da mecânica quântica por alunos de graduação da Anhanguera Educacional: necessidade e viabilidade

1. Introdução
A Mecânica Quântica vem sendo progressivamente utilizada nas mais diversas áreas do
conhecimento. No campo da Tecnologia, ela possibilitou o desenvolvimento de muitos
dos instrumentos que utilizamos cotidianamente, tais como os televisores, celulares,
e computadores. Na área da saúde, diversos exames e tratamentos, em particular os de
diagnóstico por imagens e os tratamentos de radioterapia, utilizam características quânticas
da matéria. Também é crescente sua presença fora das áreas acadêmicas, como argumento
em analogias filosóficas e até mesmo como motivos de criação artística, ainda que nem
sempre de maneira apropriada.
Podemos esperar que esta presença da Mecânica Quântica na vida prática e no
imaginário seja ainda maior no futuro, à medida em que novas tecnologias se desenvolvam
calcadas em suas bases teóricas. Neste quadro, compreender a descrição quântica da
Natureza , ainda que de maneira superficial, pode jogar um papel importante no exercício
de diversas profissões e, por isso, começa a se tornar relevante numa formação profissional
de boa qualidade.
No entanto, apesar da importância deste conhecimento, há poucos canais que permitam
um contato apropriado por parte daqueles que não tem formação profunda de matemática
e física. Buscando minorar este problema, se tem observado na literatura um número
crescente de propostas para a introdução destes conteúdos tanto no Ensino Superior como
no Ensino Médio (Ostermann e Moreira, 2001; Greca e Moreira, 2001; Pantoja et al., 2011).
Como indicativo da crescente importância do tema, vale notar que o livro “Teoria quântica:
estudos históricos e implicações culturais”, foi o vencedor da categoria Ciências Exatas do
Prêmio Jabuti 2011 (Freire Jr. et al, 2010).
Dentro desse contexto, apresentamos um projeto, denominado “Compreensão de
aplicações da Mecânica Quântica por Alunos de Graduação da Anhanguera Educacional:
Necessidade e Viabilidade” que tinha por objetivo geral desenvolver novas abordagens para
a apresentação de tópicos relevantes da Mecânica Quântica (MQ) acessíveis a estudantes
de graduação, de modo a suprir esta importante lacuna em suas formações, permitindo
inclusive uma melhor compreensão das aplicações tecnológicas existentes em seus campos
de atuação. Para isso, foram propostas análises de três aspectos relevantes: diagnóstico dos
alunos, análise de currículos de cursos das áreas de exatas onde aplicações de MQ fossem
relevantes e busca de bibliografia que fosse apropriada para o estudo de alunos com o perfil
determinado no diagnóstico. Resultados preliminares, porém, exigiram que se realizasse
uma mudança de enfoque, em que o diagnóstico dos alunos passou a ocupar um papel
central no trabalho, em detrimento de outros aspectos que inicialmente havíamos proposto
abordar.

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Para situar essa mudança de perspectiva, na próxima seção apresentaremos um breve


histórico do trabalho do grupo. Na seção 3, colocamos a metodologia utilizada. Dada a
importância que a revisão bibliográfica teve no desenvolvimento do projeto, apresentamos
na seção 4 um resumo das principais discussões da literatura a respeito da inclusão de tópicos
de MQ no Ensino Médio e Superior. Na seção 5, apresentamos os principais resultados
referentes aos traçados de perfil dos alunos, os quais foram organizados em três trabalhos
para publicação (Simon et al, 2012; Silva et al, Barros et al).
O grupo realizou também análises de livros a respeito de Mecânica Quântica e suas
aplicações e de currículos de cursos da área de exatas para discutir possibilidades de se
incluírem conceitos de física moderna nesses cursos de graduação. No entanto, os resultados
obtidos nesses estudos ainda são preliminares e deverão ser apresentados oportunamente
em futuros trabalhos.

2. Breve histórico do trabalho


Os pesquisadores do grupo são oriundos de diferentes áreas da Física e o projeto apresentado
buscava congregar todos os pesquisadores ao abordar uma preocupação comum a todos os
educadores da área, que é o fato de a Física usualmente ensinada em sala de aula, por não
tratar de tópicos de Física Moderna, estar bastante desconectada das aplicações tecnológicas
com as quais convivemos diariamente, o que é particularmente preocupante quando
consideramos a formação de profissionais em nível superior que utilizam tais tecnologias
em sua prática profissional.
No entanto, esta proposta tinha uma dificuldade de base, que era o fato de nenhum
de nós estar devidamente familiarizado com as discussões mais específicas a respeito deste
tema realizadas por pesquisadores da área de Ensino de Física. Assim sendo, o primeiro
momento do projeto teve de ser dedicado à busca de familiaridade com estas questões.
Nessa busca, observamos não haver na literatura quase nenhuma descrição de alunos
com perfil similar àquele dos que são nosso objeto de estudo, estudantes de nível superior
de instituições particulares voltadas para camadas mais populares, sendo que não havia
quaisquer informações a respeito da percepção que esses alunos têm da MQ e, mais além,
de física e ciências em geral. Se considerarmos que esse perfil de aluno é o que mais tem
crescido em número nos últimos anos, percebemos a premência de se descrever melhor essa
parcela significativa do estudantado.
A elaboração de propostas de inclusão de tópicos de MQ nos cursos de graduação
exigia, portanto, que em primeiro lugar conhecêssemos melhor esse aluno para podermos
avaliar que tipo de abordagem seria apropriada ou não. Além disso, nossa investigação
sobre propostas didáticas da literatura mostrou haver uma grande dificuldade de encontrar
livros que fossem ao mesmo tempo específicos o suficiente para a compreensão da tecnologia
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oriunda de aplicações da MQ e não necessitassem de conhecimento matemático mais


profundo do que o disponível para esses alunos.
Em função desses resultados preliminares, entendemos que a prioridade de nosso
estudo estaria no mapeamento das características sócio-culturais e das concepções dos
alunos a respeito de MQ, pois estes resultados não apenas embasariam nossas propostas,
como também poderiam ser de grande interesse para quaisquer pesquisadores da área de
Ensino de Física.

3. metodologia
Este projeto se desenvolveu de acordo com os parâmetros metodológicos descritos abaixo
para cada fase de sua realização.

3.1. REVISÃO DA LITERATURA


Num primeiro momento, todos os pesquisadores realizaram uma ampla revisão da
literatura especializada, de modo a adquirir familiaridade com discussões correntes no
meio acadêmico a respeito da introdução de tópicos de MQ para pessoas cuja formação
não seja específica das áreas de Física e Matemática. Para isso, investigamos a literatura
existente a respeito da apresentação de conceitos de MQ para alunos de Ensino Médio e de
Graduação. Um aspecto importante a ser atacado foi a seleção de textos que abordassem a
Mecânica Quântica de modo acessível a pessoas com o grau de formação acadêmica com o
perfil de nossos alunos. A grande dificuldade nesse caso se deve à utilização de ferramentas
de cálculo diferencial e integral nas abordagens usuais dos livros texto de física para Ensino
Superior, o que exige um grau de conhecimento matemático que a prática de sala de aula
nos mostra que poucos alunos têm.
Outro aspecto abordado na revisão bibliográfica foi a necessidade de atualização dos
currículos de cursos da área de exatas de forma a prover uma educação atualizada com
as necessidades do mercado. Para isso, buscamos fazer um levantamento do trabalhos da
literatura que tratassem desse tema.

3.2. Mapeamento de perfil dos alunos


O conjunto pesquisado é formado por alunos de cursos da área de exatas da Anhanguera
Educacional de três regiões distintas: Distrito Federal, Campinas e ABC paulista.
O instrumento a ser utilizado para tal análise foi a aplicação do questionários para
alunos em início de curso e também em semestres mais avançados, de modo a verificar se
as percepções a respeito dos conceitos de física tendiam a se modificar no correr do curso.

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Na análise dos alunos tivemos duas vertentes paralelas. A primeira, que englobou
unidades das três regiões citadas, teve por objetivo traçar um perfil das características dos
estudantes tanto no que diz respeito a concepções a priori sobre os temas relacionados à
Física Quântica quanto identificar algumas características sócio-culturais deste grupo.
A segunda vertente, desenvolvida somente no DF, teve um desdobramento desta
análise, envolvendo a aplicação de um segundo questionário a respeito de temas específicos
que foram apresentados aos alunos em um ciclo de palestras. Após sua realização, os
questionários foram reaplicados para avaliar a evolução destas percepções. Vale acrescentar
que a pesquisa a respeito do perfil dos alunos foi realizada em colaboração do Prof. Dr.
Ronni Geraldo Gomes de Amorim, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
de Goiás/Campos Luziânia/Departamento de Áreas Acadêmicas.

4. revisão bibliográfica
Nessa seção, apresentamos as principais discussões encontradas na literatura a respeito de
como difundir conceitos de MQ. Na seção 4.1, apresentamos aquelas que dizem respeito à
apresentação de conceitos básicos para alunos de graduação. Na seção 4.2, trabalhos que
discutem a necessidade de atualização dos currículos de cursos da área de exatas.

4.1. discussões da literatura acerca da apresentação de conceitos básicos de mecânica


Quântica para cursos superiores
As aplicações da Física Moderna estão cada vez mais presentes no nosso cotidiano. Uma
simples ida a um Shopping Center em que qualquer pessoa se depara com uma porta
que abre e fecha de forma automática ou mesmo a utilização de células fotoelétricas, que
transformam energia solar em elétrica para alimentar residências, são exemplos práticos da
utilização da Física Moderna em nossas vidas. Apesar dessa realidade, muitos alunos do
Ensino Médio ou mesmo de graduação desfrutam dessas tecnologias sem imaginar que elas
nasceram de um árduo estudo e avanço da Física do Século XX.
Encontramos na literatura um número considerável de artigos científicos voltados ao
estudo da introdução da Física Moderna no Ensino Médio (Ostermann e Moreira (2000);
Pinto e Zanetic (1999); Sales et al (2008); Pantoja et al (2011); Greca e Moreira (2001)). Trabalhos
como o de Ostermann e Moreira (2000); Greca e Moreira(2001) e Pantoja et al (2011), fazem
uma análise minuciosa das questões metodológicas, epistemológicas, históricas bem como
a concepção dos estudantes acerca do conteúdo de física referentes ao ensino de Física
Moderna Contemporânea.
Segundo Sales et al (2008) no Brasil a inserção da Física Moderna contemporânea no
Ensino Médio é proposta que vem sendo apresentada em vários trabalhos científicos mesmo

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antes da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB/1996, e


inspirou o XII Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF.
No tocante ao Ensino de Física Moderna nos cursos de graduação no Brasil – em
particular nos cursos das áreas de Engenharia e Computação -, as publicações nessa área
ainda encontram-se incipientes se comparadas às desenvolvidas para o EM.
Segundo Pantoja et al (2011), o número de pesquisas acerca do ensino de Mecânica
Quântica tem aumentado nos últimos anos, embora ainda seja considerado muito baixo. Em
uma busca por 21 periódicos, entre os anos de 1999 e 2009, os autores encontraram apenas
60 artigos sobre o tema, sendo que 12 foram publicados em 2008 e 15 em 2009.
A maioria dos artigos encontrados por Pantoja et al (2011) foram enquadrados nas
categorias “propostas didáticas” e “implementação de propostas didáticas”. Poucos foram
os artigos encontrados que se referiam à análise curricular, críticas aos cursos e concepções
de estudantes e professores acerca da MQ. Neste último boa parte dos trabalhos está focada
na construção de instrumentos para se medir estas concepções e há pouca discussão acerca
das concepções em si.
Greca et al (2001) salientam que a abordagem tradicional das disciplinas básicas de
física para os cursos de ciências exatas ressaltam aspectos históricos, salientando mais as
características clássicas do que quântica dos fenômenos. Quando recebem informações
acerca da mecânica quântica estas são apresentadas na forma de equações complexas sem
vínculo com os fenômenos em si. Desta forma, os cursos introdutórios não permitem que
o aluno crie uma nova maneira de pensar sobre a realidade e cursos mais avançados (que
exigem mais matemática) também não são capazes de discutir as concepções dos alunos
acerca dos fenômenos quânticos.
Um ponto importante antes que sejam implementadas quaisquer propostas é fazer
uma avaliação das concepções que os alunos já possuem sobre os fenômenos, ou seja, fazer
um levantamento das suas ideias prévias (ou concepções espontâneas) para que sejam
desenvolvidas metodologias que para a abordagem dos significados contraintuitivos da
mecânica quântica (Ireson, 2000).
Num estudo realizado Montenegro e Pessoa Jr. (2002), os autores utilizaram um
questionário com perguntas abertas e fechadas no tocante ao princípio de incerteza,
postulado de projeção e experimento da fenda dupla. O instrumento baseou-se em algumas
interpretações oficiais da MQ, com o objetivo que investigar as interpretações “privadas” dos
alunos em relação a este tema, adquiridas ao longo do curso. De acordo com os resultados,
os autores observaram que ocorre uma mudança de interpretação por parte dos alunos
de acordo com o problema físico exposto, sendo que muitas vezes os alunos apresentam
afirmações contraditórias. Além disso, os autores apontam que os cursos possuem ênfases
excessivas em cálculos matemáticos, o que não permite aos alunos aprenderem os conceitos

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e fazer considerações acerca das questões interpretativas. Desta forma surge a necessidade
de se reavaliar os currículos dos cursos superiores de MQ, especificamente no tocante a sua
característica intensamente matemática.
Alguns artigos sugerindo confecção de experimentos podem ser interessantes para que
o professor elabore um roteiro de laboratório, mas vários deles não abordam especificamente
como utilizar os experimentos para se ensinar mecânica quântica. Assim, o professor que
utilizar estes materiais deve criar um roteiro das habilidades, competências e conteúdos a
serem desenvolvidos com os alunos e uma metodologia para sua aplicação em sala de aula.
Uma exceção é o trabalho de Cavalcante e Tavolaro (2001) em que os autores apresentam
materiais didáticos de baixo custo e mostram como utilizá-los para realizar experimentos
de interferência.
Em nossa busca encontramos também artigos que versam sobre tópicos específicos
como nanotecnologia e supercondutividade e voltados para a utilização de recursos
computacionais que pudessem simular experimentos caros e sofisticados envolvendo
fenômenos quânticos.
Para Fiolhais e Trindade (2003), o uso de recursos computacionais para o ensino dessa
disciplina apresentam 5 modalidades: aquisição de dados por computador; modelagem e
simulação; materiais multimídia; realidade virtual; e busca de informações na internet.
Uma revisão realizada por Araújo et al. (2004), referente aos recursos computacionais
utilizados no ensino da Física em nível médio e superior apontou sete categorias de
trabalhos, que puderam ser discriminadas segundo sua aplicabilidade computacional no
ensino de Física: Instrução e avaliação mediada pelo computador; Modelagem e simulação
computacional; Coleta e análise de dados em tempo real; Recursos multimídia; Comunicação
à distância; Resolução algébrica/numérica e visualização de soluções matemáticas; Estudo
de processos cognitivos. No entanto, segundo os autores, o ensino na mecânica quântica foi
identificada apenas na categoria “Resolução algébrica/numérica e visualização de soluções
matemáticas” incluindo artigos de pesquisas em ensino e/ou propostas pedagógicas
envolvendo resolução algébrica relativas à problemas de física e também apresentação das
soluções matemáticas graficamente.
Contrapondo a esta visão, Müller e Wiesner (2002), da Universidade de Munique,
propõem a utilização de softwares educativos no ensino de mecânica quântica num curso
introdutório oferecido aos alunos de Ensino Médio, onde, segundo os autores, os conteúdos
eram compatíveis à população em questão. A proposta foi aplicar explorativamente neste
curso dois softwares do tipo “bancada virtual”, um relacionado ao experimento de fenda
dupla realizado com feixes de elétrons e outro no interferômetro de Mach-Zahnder. Para
tanto, foram utilizados roteiros exploratórios previamente elaborados. Além disso, o
curso também inovou abordando os princípios básicos da mecânica ondulatória, sem se

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referenciar previamente à modelos atômicos como aqueles semiclássicos de Bohr. Uma vez
que esta proposta foi realizada com alunos de Ensino Médio, poderia ser aplicada também
em cursos introdutórios a alunos do Ensino Superior de instituições particulares, sem que
haja a necessidade de pré-requisitos para o curso.
Por outro lado, tradicionalmente, os cursos de graduação em engenharia apresentam
a seguinte estrutura: “disciplinas básicas e disciplinas profissionais”. As primeiras versam
sobre ciências básicas (física e matemática principalmente), ao passo que a segunda é
composta por um conjunto de disciplinas cujos conteúdos são específicos para cada
modalidade de engenharia. Este núcleo é complementado por disciplinas eletivas de caráter
mais geral (Maines, 2001). Todas estas disciplinas são encaradas de modo separado, não se
relacionando, como se pertencessem a universos distintos.
Mesmo dentro de cada uma dessas estruturas, as disciplinas que as compõe também
não se relacionam. As atividades de ensino apresentam-se compartimentadas não sendo
capazes de gerarem uma visão coerente de conjunto. Neste contexto, a principal característica
da prática docente universitária tem sido a de apenas proporcionar um volume cada vez
maior de informações aos estudantes (Ferreyra e González, 2000).
Assim, não existe uma articulação entre os professores acerca das disciplinas que
ministram. Esta articulação se faz necessária, pois, normalmente, o aluno não é capaz de
relacionar as disciplinas (Simon et al, 2003).
O problema é complexo e seria ingenuidade de nossa parte acreditar em soluções únicas.
Pensamos que existe a necessidade de mudanças reais na estrutura das aulas, alterando os
procedimentos de trabalhos que se desenvolvem em sala de aula (Almeida et al, 2004). A
exposição do professor continua (e continuará) sendo essencial, porém, os alunos precisam
ser preparados para isso. Ou seja, tais exposições serão de grande utilidade se vierem a
preencher uma lacuna no conhecimento dos alunos. A psicologia educacional nos explica
que isso tem grande probabilidade de ocorrer quando, dada uma situação-problema, os
alunos estão intrigados buscando um tipo de solução. Para isso, já propuseram algumas
hipóteses e tentaram testá-las, mas mesmo assim não obtiveram soluções satisfatórias. Neste
contexto, o professor deixa de ser um transmissor de informações para ser um orientador de
“pesquisadores novatos” (Burns e Chisholm, 2005).
Para que essas ideias possam funcionar é preciso primeiro ter uma boa atividade, um
bom problema que não seja de solução trivial, permita várias soluções e que os alunos sejam
capazes de enfrentá-lo propondo e testando hipóteses. Para isso, as atitudes de professores
e alunos diante do ensino também devem mudar. Talvez esta seja uma das grandes
dificuldades, pois neste processo não caberá mais atitude passiva cultivada ao longo de
vários anos na academia. Para a resolução de um problema mais próximo daqueles que
serão encontrados nas indústrias é preciso ter atitudes pró-ativas frente à realidade.

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4.2. O Currículo dos cursos de exatas


Muitas discussões tem sido realizadas acerca de alterações nos currículos de cursos de exatas
e, mais especificamente, em cursos de engenharia. No entanto, estas discussões versam com
maior ênfase sobre a inclusão de tópicos referentes a disciplinas de humanidades. Por outro
lado, vários autores sugerem a necessidade de se ensinar os alunos a “aprender a aprender”
uma vez que os conhecimentos técnicos oferecidos na graduação podem se tornar obsoletos
em pouco tempo.
Apesar disso, pouco se tem discutido acerca da inclusão de tópicos referentes a
tecnologias de ponta, talvez por se esperar que futuros aprofundamentos sejam feitos na
pós-graduação, talvez por se crer que os alunos não tenham competências para entender
certos fenômenos. Uma das tecnologias de ponta que tem se tornado fundamental nos dias
atuais é a nanotecnologia. Esta é uma área do conhecimento essencialmente interdisciplinar
que envolve a manipulação e controle de átomos e moléculas individuais para projetar e
criar novos materiais, máquinas microscópicas e nano-aparelhos que podem ser utilizados
em diversas áreas (Uddin e Chowdhury, 2001). Desta forma, torna-se premente que futuros
engenheiros possuam, pelo menos, algum conhecimento, mesmo que superficial (no sentido
que entenderem os conceitos-chave envolvidos nos fenômenos sem entrar em formulações
matemáticas complexas) para poderem atuar no mercado de trabalho (Fonash, 2001).
Um dos pré-requisitos para poder manipular e controlar átomos e moléculas é
possuir algum conhecimento acerca de mecânica quântica. Assim, a ausência, nos cursos
de engenharia, de uma disciplina que explique os fenômenos quânticos e que capacite o
estudante a compreender como a natureza microscópica funciona, bem como a utilizar
tal conhecimento na elaboração de artefatos tecnológicos, demonstra a existência de uma
grande lacuna nos currículos das instituições que formam os nossos engenheiros. Essa
lacuna poderá refletir desde a competência dos profissionais que serão inseridos no mercado
de trabalho, até mesmo na balança comercial brasileira. Se observarmos numa perspectiva
técnica, podemos dizer que o trabalho diário de um engenheiro envolve a geração e aplicação
do conhecimento que relaciona composição, estrutura e processamento de materiais com
suas propriedades e seus usos (Callister, 2007). Nesse contexto, podemos citar um princípio
elementar da ciência de materiais que diz: “As propriedades de um material originam-
se na sua estrutura interna”, ou melhor, existe uma íntima relação entre propriedade e
estrutura do material. Aliados a esse princípio, podemos afirmar que o engenheiro, durante
a sua formação, deve ter acesso a informações que o possibilite conhecer as minúcias dos
materiais e a partir destes pormenores compreenderem o comportamento da matéria em
diversas situações. Porém, o conhecimento holístico dos materiais requer tratamentos que
também sejam abrangentes; assim, é necessário que a análise do material utilize ferramentas
pertinentes a distintas áreas da física, como por exemplo, a física clássica e a mecânica

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quântica, sendo que esta última é extremamente importante quando o objetivo é entender a
microestrutura dos materiais.
As pesquisas realizadas por Perfoll e Rezende Jr (2006) acerca do ensino de Física
Moderna Contemporânea para o ensino de Engenharia incluiu a análise das estruturas dos
cursos de graduação em Engenharia de 177 Instituições de Ensino Superior, tanto Privadas
quanto Públicas em todas as regiões do país, sendo que somente 54 destas disponibilizaram
o ementário, resultando em 161 matrizes curriculares analisadas, de diversas áreas de
Engenharia. Esse trabalho mostrou que já existe um número grande de Instituições que, por
iniciativa própria, abordam a Física Moderna Contemporânea em seus currículos. Contudo,
segundo esses autores, esses dados não indicam necessariamente que a Física do século XX
já esteja inserida satisfatoriamente no Ensino Superior.
A mecânica quântica é introduzida nos cursos universitários de forma ainda fortemente
relacionada com elementos da Física Clássica, considerando seus pressupostos mais básicos
e complexos, seus fundamentos, além de toda a sua história, como a mecânica newtoniana.
Essa abordagem tradicional, contudo, direciona para um segundo plano o fato de que
os objetos de estudo quânticos são advindos de uma natureza diversa daqueles objetos
clássicos (Guerra et al, 1998). Nesse sentido, muitos problemas filosóficos e de aprendizagem
emergem ao pensar o ensino da MQ como conteúdo para o Ensino Superior (Greca et al,
2001). Ou seja, as abordagens típicas não criam condições para que os alunos aprendam os
fenômenos e princípios da MQ, sendo esta matéria considerada “esotérica” e com poucas
ligações com o mundo real.
Além disso, Rocha et al (2010), apontam que em vários cursos o ensino de MQ trabalha
muito mais com a resolução de problemas envolvendo equações diferenciais e poucos
aspectos relacionados aos conceitos fundamentais. Assim, colocam a necessidade de se
criarem cursos complementares de curta duração para alunos de licenciatura e outras áreas
(entre elas a engenharia) em que sejam abordados tópicos de MQ numa linguagem menos
matemática, mas que sejam discutidos os conceitos fundamentais desta teoria. Os autores
propõem que nestes “mini-cursos” sejam abordados os experimentos de fenda dupla,
superposição de ondas, superposição de vetores no plano, estados quânticos e observáveis e
espaços lineares. Além disso, consideram importante a abordagem dos primeiros postulados
da MQ e suas implicações, como por exemplo, o emaranhado quântico, os relógios atômicos
e a criptografia quântica.
Na opinião de Perfoll e Junior (2006) engenheiros competentes, atualizados e com
amplo treinamento em pesquisa são a condição essencial do avanço da pesquisa industrial e
da criação de novos produtos, de novos materiais e de serviços nas áreas tecnológicas. Para
tanto, o ensino de graduação em Engenharia dever ser modernizado e atividades de pesquisa
interdisciplinares devem ser induzidas e apoiadas. E com a presença cada vez mais marcante

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da Física Moderna Contemporânea em produtos que utilizamos em nosso cotidiano, são


evidentes os interesses e investimentos do mercado nessas tecnologias, requerendo para
tanto profissionais aptos a utilizá-las e desenvolvê-las (Nguyen e Pudlowski, 2007).

5. resultados
Apresentamos nessa seção os principais resultados obtidos nos mapeamentos de perfil e da
percepção dos alunos nas três regiões (seções 5.1 a 5.3). Estes resultados foram apresentados
e discutidos em maior detalhe nos trabalhos para publicação (Simon et al, 2012; Silva et al,
Barros et al).

5.1. Alunos do distrito federal


A pesquisa quantitativa realizada na Anhanguera Educacional do Distrito Federal teve como
foco o mapeamento do perfil e concepções sobre física quântica dos discentes do primeiro e
quinto semestres do curso de engenharia elétrica. Para isso, a pesquisa foi dividida em dois
momentos: traçar o perfil social dos alunos e buscar informações acerca do entendimento
deles sobre tópicos de Mecânica Quântica. Para a realização do primeiro momento, aplicamos
um questionário com perguntas que nos permitissem fazer um estudo do perfil social dos
discentes: idade, presença no mercado de trabalho, grau de instrução dos pais, formação
anterior do aluno, graduação concluída, curso técnico concluído e Ensino Médio em escolas
públicas ou privada. Os dados coletados indicaram que esse grupo de estudantes segue um
perfil similar à média dos discentes de faculdades particulares e embora exerçam profissões
de caráter técnico, apresentam um capital cultural baixo.
A realização da segunda parte da pesquisa teve como objetivo avaliar o grau de
conhecimento dos alunos sobre alguns tópicos de Mecânica Quântica. Assim, aplicamos
um questionário com questões a esse respeito. Depois da coleta desses dados realizamos
seminários com os seguintes temas: a natureza da luz, o efeito fotoelétrico e condução
elétrica nos sólidos. Após as palestras reaplicamos os mesmos questionários para as mesmas
turmas. O objetivo dos seminários foi mostrar aos estudantes o desenvolvimento histórico
da Física Quântica e suas aplicações em vários problemas presentes nas engenharias. Com
a reaplicação do questionário, pretendíamos identificar se a concepção que os estudantes
possuíam sobre Física Quântica e suas aplicações nas áreas tecnológicas foi modificada após
a participação nas palestras. Os resultados indicaram que os alunos não tinham, ou não
reconheciam ter, acesso à Física Quântica no Ensino Médio e pouco contato com o conceito
durante o curso superior. Os alunos do 1º semestre, entretanto, não conseguiram conectar
os conceitos à Física Quântica mesmo após o seminário. Já os alunos do 5º tiveram um salto
significativo no aprendizado após o seminário. Nossos resultados indicam que os alunos

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do 1º semestre encontram-se em defasagem quanto ao capital cultural para corresponder às


demandas da educação. Os nossos dados mostraram que eles tinham pouco conhecimento
sobre o conceito pesquisado antes do seminário, e, a situação não mudou significativamente
após. Os alunos do 5º semestre parecem encontrar-se em uma posição de maior familiaridade
com o tema, devido ao acúmulo de conhecimento adquirido ao longo do curso. Por isso,
os resultados deles melhoraram substancialmente após o seminário, pois eles conseguiram
conectar o aprendizado novo a conceitos já estudados. A pesquisa nos mostrou que os
alunos não têm informação a respeito de conceitos básicos das propriedades quânticas da
matéria, mas que os conhecimentos adquiridos durante o curso aumentam seu potencial de
compreensão.

5.2. Alunos da região de Campinas


Os alunos selecionados, num total de 156, foram oriundos dos cursos de engenharia de
controle e automação, elétrica e produção da cidade de Campinas/SP. Metade dos alunos
estava cursando disciplinas do 2° semestre e metade do 6° semestre, ou seja, foram
selecionados alunos que não haviam ainda cursado todas as disciplinas de física básica e
alunos que já haviam finalizado estas disciplinas.
Constatou-se que 50,6% dos entrevistados atuam na área técnica, sendo que a escolha
pelo curso de engenharia foi feita predominantemente por profissionais que já atuam em
áreas correlatas. Além disso, a escolha pelo curso de engenharia se deu majoritariamente
por alunos oriundos de cursos técnicos da área de exatas.
As análises apontaram que mais da metade dos alunos pesquisados não compreendem
nada sobre física quântica. Entre aqueles que afirmaram saber algo (respostas coerentes e
incoerentes), encontramos respostas minimamente associadas ao tema, ou seja, referindo-se
ao estudo dos átomos, moléculas e partículas, as quais foram classificadas como respostas
coerentes. Por outro lado, apesar de alguns afirmarem saber algo, constatou-se que os
exemplos apresentados não se configuravam como respostas apropriadas, fazendo menção,
muitas vezes, aos conceitos e grandezas da mecânica clássica estudada no Ensino Médio ou
apresentavam respostas muito genéricas e superficiais.
Desta forma, apenas 11,5% dos alunos apresentaram alguma visão apropriada do
tema. Entre os alunos que cursam até o 2° semestre este índice foi de apenas 6,3%, enquanto
que aqueles que cursavam do 6° semestre em diante apresentaram um índice de 19,7% de
respostas coerentes.
Quando perguntados sobre o estudo de conteúdos de física quântica no Ensino Médio,
a maioria (89,1%) afirmou nunca ter visto o assunto. Dentre aqueles (7,7%) que afirmaram
já terem estudado, os exemplos de conteúdos apresentados por eles mostram que apenas
resgataram informações da mecânica clássica vista no Ensino Médio.

Anuário da Produção Acadêmica Docente


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Renata Nascimento Nogueira, Washington Barbosa da Silva, Fernanda Oliveira Simon, Flavio Cesar Vicentin, Adilson Camilo de Barros

Mesmo quando estimulados a refletir sobre a relação entre física quântica e o estudo
de elétrons, átomos e moléculas, apenas 25,6% dos alunos afirmaram existir tal relação. No
entanto, quando solicitados que explicitassem estas relações, metade apresentou respostas
vagas e inapropriadas. A grande maioria (67,3%) afirmou não saber e apenas 4 sujeitos
afirmaram não haver tal relação.
Observou-se ainda que 83,3% dos alunos afirmaram que as ciências exatas contribuem
tanto para o desenvolvimento de inovações tecnológicas quanto para o crescimento
econômico. Apesar disso, os comentários elaborados por eles não mostram exemplos
práticos de inovações tecnológicas nem relações concretas com o crescimento econômico
de uma nação. Alguns apenas re-escreveram as ideias apresentadas na pergunta e muitos
repetiram informações sem qualquer reflexão ou ponto de vista pessoal.
Com o objetivo de identificar grupos de respondentes com opiniões e perfis distintos,
realizou-se uma análise de cluster. Percebeu-se, por meio desta análise, que os sujeitos
pesquisados podem ser agrupados em 2 clusters distintos. O primeiro cluster é formado por
55 sujeitos e o segundo por 33 respondentes.
Nomeou-se o cluster 1 como “ignorantes ao tema”, uma vez que os alunos deste
grupo não estudaram física quântica (no Ensino Médio e na faculdade) e afirmaram não
compreenderem nada sobre o tema. Já o cluster 2 foi nomeado como “familiarizados com
o tema” visto que os alunos deste grupo mostraram algum grau de conhecimento sobre o
assunto.
O cluster 1, caracteriza-se por sujeitos que cursam, em sua maioria, até o segundo
semestre da faculdade. Todos eles afirmam não terem estudado física quântica no Ensino
Médio e não sabem dizer se há relação entre física quântica e o estudo de elétrons, átomos
e moléculas. Além disso, a grande maioria aponta que não compreendem nada sobre física
quântica, mas afirmam que há uma conexão entre ciências exatas e crescimento econômico.
O cluster 2, caracteriza-se por sujeitos que cursam, em sua maioria, do 6° semestre em diante,
sendo que alguns (21%) afirmam ter estudado física quântica no Ensino Médio. A maioria
aponta que há relação entre física quântica e o estudo de elétrons, átomos e moléculas e
todos afirmam existir uma conexão entre ciências exatas e crescimento econômico. No
entanto, quando questionados sobre seu grau de compreensão acerca da física quântica,
72% esboçaram comentários sobre o seu entendimento do tema. Entretanto, ao realizar uma
avaliação das respostas verificou-se que apenas 30% apresentaram respostas coerentes ou,
pelo menos, minimamente satisfatórias.
Assim, apesar de inúmeras propostas para a introdução de mecânica quântica no Ensino
Médio observou-se nesta pesquisa que a maioria dos alunos analisados (majoritariamente
oriundos de escola pública) afirmou nunca terem estudado este tema no Ensino Médio.
Assim, parece que as propostas elaboradas não chegam à sala de aula das escolas públicas.

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Compreensão de aplicações da mecânica quântica por alunos de graduação da Anhanguera Educacional: necessidade e viabilidade

Os comentários apresentados sobre a física quântica mostram que os alunos simplesmente


relembraram o que algum dia viram sobre física em geral e apenas 11,5% dos entrevistados
mostraram conhecimento minimamente satisfatório sobre o tema.
Contrapondo a este resultado, verificou-se que os alunos do cluster 2 (majoritariamente
do 6° semestre em diante) afirmaram ter algum conhecimento de física quântica. Como a
maioria afirma que este conceito não foi trabalhado no Ensino Médio, supõe-se que ele
só pode ter sido adquirido na faculdade. Vale ressaltar que os alunos do 2° semestre não
mostraram o mesmo grau de conhecimento, uma vez que ainda eram iniciantes no curso.
Nesta instituição os currículos das engenharias são compostos por 3 disciplinas de
física básica (cursadas nos 1°, 2° e 3° semestres) que abordam conceitos de mecânica clássica
(cinemática e dinâmica), eletricidade e magnetismo. Não há uma disciplina particular que
envolva os conceitos de física moderna e, mais especificamente, de mecânica quântica. Desta
forma, os conhecimentos adquiridos pelos alunos não foram provenientes de disciplinas
formais de física, mas provavelmente de tópicos de disciplinas profissionalizantes da área
e/ou comentários de professores sobre o tema. Assim, as poucas iniciativas realizadas
parecem ter contribuído para aquisição deste conhecimento, mesmo que estas iniciativas
não tenham ocorrido de maneira formal.

5.3. Alunos do abc paulista


Participaram no total em torno de 120 alunos, todos de graduação em cursos da área de
ciências exatas do campus da UniABC. Como não existe o curso de graduação em física
neste campus, trabalhou-se com amostras de alunos de cursos de engenharia, mecatrônica,
química, matemática e computação, que aceitaram responder as questões de maneira
espontânea.
As respostas indicam tendências similares às encontradas nas outras duas regiões no
que diz respeito tanto à formação quanto à percepção dos alunos no que diz respeito à MQ.
Conclui-se que os alunos apresentam de um modo geral, certas lacunas em conhecimentos
importantes para a compreensão e desenvolvimento de áreas que empregam diretamente
os conceitos da física básica, em especial da física quântica. Observou-se ainda haver uma
dificuldade inerente com linguagem, interpretação e expressão, que não é geral na população
estudada, mas é significativa.

6. considerações finais
A proposta do projeto desenvolvido visava discutir a necessidade e a viabilidade de se
incluírem conteúdos de MQ em cursos das áreas de exatas da Anhanguera Educacional.

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Renata Nascimento Nogueira, Washington Barbosa da Silva, Fernanda Oliveira Simon, Flavio Cesar Vicentin, Adilson Camilo de Barros

Para isso, buscamos efetuar um mapeamento de perfil dos alunos e analisamos currículos
de alguns cursos e bibliografias disponíveis na literatura a respeito do tema.
Nossos estudos permitiram iniciar o traçado do perfil de estudantes de nível superior
de faculdades particulares, e é importante reiterar o fato de não termos encontrado na
literatura estudos sobre alunos de um grupo similar no que diz respeito à sua percepção de
conceitos de física, o que traz uma importância adicional aos resultados obtidos e aponta
para o interesse de aprofundarmos esse estudo, não apenas para conhecer melhor esses
alunos, mas também para podermos elaborar propostas didáticas alternativas às existentes
que lhes permita tomar contato com conceitos de MQ importantes para sua formação.
Nossa análise preliminar da literatura e dos currículos mostrou ser inviável incluir
tópicos de MQ nos cursos de graduação de maneira imediata para alunos com o perfil
encontrado, sendo necessário desenvolver maneiras alternativas às existentes. Algumas
possibilidades a curto prazo seriam a elaboração de propostas de cursos de extensão ou
pós-graduação.

Agradecimentos
À Funadesp pelo apoio financeiro. Ao Prof. Dr. Ronni Geraldo Gomes de Amorim pelas
discussões referentes ao mapeamento de perfil dos alunos.

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conceitos básicos de física quântica: um estudo de caso no campus da UniABC Anhanguera.
Submetido à “Revista de Ciências Exatas e Tecnologia” do Sistema SARE (Anhanguera) em 5 de
dezembro de 2012.
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