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O que é currículo? Com essa questão iniciamos esta obra, que faz
um apanhado das principais reflexões e construções teóricas referentes
ao mais importante documento do processo de ensino-aprendizagem:
o currículo escolar. Iniciamos esse percurso discutindo sua construção
histórica na modernidade e as políticas que fundamentam sua estrutura.
Analisamos as concepções de currículo conforme tendências e teorias pe-
dagógicas, sempre dentro de um universo escolar democratizado e volta-
do à reflexão de tempo e de espaço escolar.
Esta obra não tem a pretensão de esgotar todos esses temas, pelo
contrário, sua intenção é mostrar os diferentes caminhos na busca da
construção de uma escola democrática, inclusiva e transformadora.
Sobre a autora
1 Currículo: o que é? 9
1.1 Significado de currículo 10
1.2 Breve histórico sobre o currículo 13
1.3 Definições: sistema educacional, planos de aula/ensino, programas 15
3 Concepções de currículo 37
3.1 Diferentes concepções de currículo 38
3.2 Tendências pedagógicas e o currículo 40
3.3 Teorias do currículo: tradicionais, críticas e pós-críticas 44
6 Teorias do Currículo
Sumário
Teorias do Currículo 7
1
Currículo: o que é?
A educação escolar faz parte da sociedade contemporânea de tal forma que causa
estranheza não a conhecer ou não a ter frequentado. Dessa forma, muitas vezes vemos
a escola como algo incorporado ao nosso cotidiano de forma fechada e estanque, com
seus horários, conteúdos e metodologias determinadas historicamente e sem possibi-
lidade de mudanças. No entanto, isso não é sempre uma realidade e, nesse sentido,
algumas perguntas são pertinentes: Como tudo isso se organiza? Qual é o princípio de
tal organização? Quem decide o que e como os alunos devem estudar? Essas questões
estão relacionadas diretamente com o currículo, objeto de estudo desta obra.
Teorias do Currículo 9
1 Currículo: o que é?
10 Teorias do Currículo
Currículo: o que é? 1
subjetivo (por isso dinâmico), na medida em que o sujeito é parte constituinte do
ser social” (Kosik, 1995, p. 48). Diante da dinâmica social e das mudanças que
ocorrem no processo histórico da atualidade, somente uma ação de construção
participativa dará conta das necessidades educacionais que a atingem. (MAIA;
COSTA, 2013, p. 20)
Se o currículo escolar está baseado em uma concepção específica de sociedade, os alu-
nos que participam do processo educativo terão uma formação voltada para essa vertente.
Por essa razão, a construção da identidade dos alunos necessita considerar a individuali-
dade de cada um e seu contexto social. Dessa forma, todo objeto de estudo será abordado
com uma determinada visão de mundo somada às potencialidades dos alunos e às possíveis
visões críticas de seus envolvidos, conforme apresentado na Figura 1 a seguir.
educação
sociedade alunos
Teorias do Currículo 11
1 Currículo: o que é?
Cada instituição de ensino expressa seu perfil por meio destes dois documentos: o pro-
jeto político-pedagógico somado ao currículo escolar.
sociedade teoria
filosofia tecnologia
PPP
currículo
Todavia, para que não haja discrepância entre tais instituições nas diferentes regiões do
país, há um currículo nacional comum, que tem a intenção de atender igualmente todos os
estudantes – principalmente porque ao mesmo tempo em que temos diferenças continen-
tais entre nossos estudantes, temos que manter os mesmos atendimentos no âmbito escolar
para todos. Outro fator importante no estudo de um currículo é o momento histórico de sua
realização, pois ele é reflexo de seu tempo e reflete as funções da própria escola para aquele
momento e necessidade particular.
Além das ricas diferenças regionais em nossas escolas, temos as ricas diferenças pes-
soais entre nossos alunos. Destarte, o currículo deve ter flexibilidade e estar adequado para
atender às diversidades individuais – uma relação direta entre o micro e o macro do proces-
so. O currículo deve considerar as necessidades e os objetivos de toda uma população, com
as particularidades individuais de cada membro participante. Percebe-se, assim, a comple-
xidade da criação de um currículo que dê conta de todas essas especificidades.
12 Teorias do Currículo
Currículo: o que é? 1
Podemos considerar que não existe somente um currículo, mas três: o currículo formal,
o currículo real e o currículo oculto. O primeiro é aquele estabelecido pelos sistemas de
ensino, nas diretrizes curriculares, com objetivos e conteúdos das áreas ou disciplinas de
estudo de forma idealizada. Ele é padronizado e estaria atendendo de forma teórica todos os
alunos. Já o currículo real é a adaptação pragmática do currículo formal, é o que realmente
é realizado no interior das salas de aula e que sofre adaptações conforme o contexto em que
está inserido. O currículo oculto, por sua vez, é aquele que não foi planejado, que foge das
determinações, mas que acontece por meio das atitudes e/ou decisões dos envolvidos que
resultam em alguma forma de aprendizagem. Segundo Silva (2001, p. 78):
O currículo oculto é constituído por todos aqueles aspectos do ambiente escolar
que, sem fazer parte do currículo oficial, explícito, contribuem, de forma implíci-
ta para aprendizagens sociais relevantes [...] o que se aprende no currículo oculto
são fundamentalmente atitudes, comportamentos, valores e orientações [...].
É evidente que não há como explicitar todos os processos educativos realizados den-
tro de qualquer instituição de ensino. Alguns acontecem de forma não explícita, por meio
de atitudes e exemplos. Como os acontecimentos dos processos educativos não podem ser
totalmente planejados, visto que, ao se tratar com pessoas, os imprevistos sempre estarão
presentes, as atitudes tácitas e incidentais acontecem constantemente.
De qualquer forma, os currículos devem contemplar conteúdos e estratégias de ensino e
aprendizagem que habilitem o aluno para a vida em sociedade, para a atividade produtiva,
valorizando as experiências subjetivas.
De acordo com Silva (2006), o termo curriculum foi utilizado na educação pela primeira
vez no século XVI. Registros históricos mostram que o termo tinha a conotação de organi-
zar como estrutura e sequência os processos educativos. Na Holanda, a Universidade de
Leiden, em 1582, registrou que “tendo completado o curriculum de seus estudos”, um cer-
tificado seria concedido ao aluno (HAMILTON, 1992). Essa proposta alinhava a ideia de
completar um curso inteiro para que se obtivesse sua certificação, e não apenas algumas
disciplinas ou unidade pedagógica, o que dava certo controle ao ensino e à aprendizagem
realizados na época.
Em meados do século XIX, os estudos sobre organização do trabalho sistematizados
pelo fordismo e taylorismo apontaram para a construção de um currículo mais próximo da
realidade, voltado para a crítica ao acadêmico ou humanista. O enfoque seria tecnicista, com
objetivos comportamentais rigorosos e enfoque ativo em situações reais, sempre voltados à
demanda do mundo produtivo. Os elementos básicos dessa teoria são a hierarquização, a
divisão de funções, a automatização de tarefas, a ênfase no conhecimento científico como
verdade absoluta e o currículo composto por disciplinas estanques.
No século XX, nos Estados Unidos, foi elaborado o primeiro tratado sobre currícu-
lo, The Curriculum, em 1918, por Franklin Bobbit. Voltado para a necessidade econômica de
Teorias do Currículo 13
1 Currículo: o que é?
especialização, reflexo dos estudos sobre administração científica, o currículo foi concebido
como um meio de desenvolver a consciência de grupo (SILVA, 2006). Para Apple (1982, p. 107),
“o interesse dos primeiros teóricos a estruturarem o currículo estava na preservação do consenso
cultural e, ao mesmo tempo, em destinar os indivíduos ao seu ‘lugar’ adequado numa sociedade
industrial interdependente”. Assim, a educação deveria atender às necessidades do processo de
industrialização e divisão do trabalho, resultantes da Segunda Revolução Industrial.
Na década de 1960, o currículo tratado como relator de um sistema tecnológico de pro-
dução, no qual os resultados do processo educativo eram comportamentos específicos e
definidos operacionalmente, foi muito criticado, e a escola passa a ser considerada um apa-
relho ideológico do Estado, por Althusser, e orientada pelos interesses das classes capitalis-
tas, por Baudelot e Establet. A educação era vista como seletiva e excludente. Os currículos,
consequentemente, foram experimentados de formas diversificadas, o que resultou no cur-
rículo com ênfase nos conteúdos (pedagogia crítica dos conteúdos) e nas experiências das
classes trabalhadoras (educação popular).
O filósofo marxista, jornalista, crítico literário e político italiano Antonio Gramsci for-
mulou a chamada escola única ou unitária, com um currículo voltado à formação da classe
trabalhadora:
a escola unitária significa o início de novas relações entre trabalho intelectual e
trabalho industrial não apenas na escola, mas em toda vida social. O princípio
unitário, por isso, refletir-se-á em todos os organismos de cultura, transforman-
do-se e emprestando-lhe um novo conteúdo. (GRAMSCI, 1968, p. 118)
A ideia básica era socializar o conhecimento e construir um currículo que possibilitas-
se o domínio do saber das classes dominantes pela classe dos trabalhadores. Tal currículo
deveria incorporar os conhecimentos clássicos e profissionais, assim como os avanços e as
conquistas técnicas e científicas das classes burguesas. O pensamento marxista tem como
base a vida como determinante da consciência. As experiências das classes trabalhadoras é
que determinariam as bases do currículo de forma emancipatória (SILVA, 2006).
Nos últimos anos, os estudos sobre currículo ganharam maior complexidade. Não há
como negar as conexões históricas na construção dos currículos escolares, as transformações
no mundo do trabalho, a globalização, as diferentes ideologias. As revoluções científicas e
tecnológicas devem ser consideradas como corpo de um currículo sempre inovador e, prin-
cipalmente, voltado para a emancipação humana.
Na busca de uma dimensão política, e diante dos caracteres instrumentais e técnicos do
currículo, surgiram as teorias críticas e pós-críticas, que combateram a ideia de neutralida-
de do currículo, mostrando que há um caráter intencional em suas diferentes elaborações.
Nesse contexto, não podemos deixar de citar um grande pensador da educação, o brasileiro
Paulo Freire, que se voltou para a educação popular e contribuiu com a teoria crítica do cur-
rículo. Para Freire (1987), a transformação da educação precisaria voltar-se para a emancipa-
ção do povo oprimido e representantes da massa popular. Uma de suas obras fundamentais
e que reflete a teoria crítica do currículo é A pedagogia do oprimido.
As tendências teóricas de currículo pós-críticas voltam-se para a o multiculturalismo,
nas relações de gênero e na pedagogia feminina, no pós-modernismo, no pós-estruturalismo,
14 Teorias do Currículo
Currículo: o que é? 1
nos estudos culturais, entre outros aspectos que representam as diferentes faces sociais que
precisam ser abordadas e contextualizadas no ambiente escolar.
Iremos aprofundar mais esse assunto no Capítulo 3 desta obra, que tratará sobre as
teorias do currículo.
Teorias do Currículo 15
1 Currículo: o que é?
Educação Infantil
• Creche Bacharelado
• Pré-escola
Ensino Fundamental
• Alfabetização Licenciatura
• Anos iniciais
• Anos finais
Formação tecnológica
Ensino Médio
• Educação de jovens
e adultos
Pós-graduação
• Ensino técnico
• Especialização e MBA
• Anos finais
• Mestrado e doutorado
Fonte: Elaborada pela autora.
Em 2017, foi homologada a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que estabelece
conhecimentos, competências e habilidades da Educação Básica:
16 Teorias do Currículo
Currículo: o que é? 1
A Base estabelece conhecimentos, competências e habilidades que se espera que
todos os estudantes desenvolvam ao longo da escolaridade básica. Orientada
pelos princípios éticos, políticos e estéticos traçados pelas Diretrizes Curriculares
Nacionais da Educação Básica, a Base soma-se aos propósitos que direcionam a
educação brasileira para a formação humana integral e para a construção de uma
sociedade justa, democrática e inclusiva. (BRASIL, 2017)
Uma das mudanças mais significativas apresentadas refere-se ao Ensino Médio. A pro-
posta é de mudança na estrutura do sistema do ensino com flexibilização da grade curricu-
lar. Nessa proposta, o aluno escolhe a área de conhecimento para aprofundar seus estudos
além da Base Nacional Comum Curricular, que é obrigatória e comum em todas as escolas
da Educação Infantil ao Ensino Médio.
No Ensino Médio a parte comum terá 1.800 horas e deverá abranger as quatro áreas do
conhecimento com todos os componentes curriculares definidos na LDB e nas diretrizes cur-
riculares nacionais de educação básica. O MEC exemplifica a proposta da seguinte maneira:
A área de ciências humanas compreende história, geografia, sociologia e filo-
sofia. As disciplinas obrigatórias nos 3 anos de ensino médio serão língua por-
tuguesa e matemática. O restante do tempo será dedicado ao aprofundamento
acadêmico nas áreas eletivas ou a cursos técnicos, a seguir: I – linguagens e suas
tecnologias; II – matemática e suas tecnologias; III – ciências da natureza e suas
tecnologias; IV – ciências humanas e sociais aplicadas; V – formação técnica e
profissional. Cada estado e o Distrito Federal organizarão os seus currículos con-
siderando a BNCC e as demandas dos jovens, que terão maiores chances de fazer
suas escolhas e construir seu projeto de vida. (BRASIL, 2016b)
Outra novidade é a opção pela formação técnica e profissional dentro da carga horária
do Ensino Médio regular, desde que o aluno continue cursando as disciplinas de Português
e Matemática. Ao fim dos três anos, assim, o aluno pode ter um diploma do Ensino Médio e
um certificado do ensino técnico.
[...]
Teorias do Currículo 17
1 Currículo: o que é?
18 Teorias do Currículo
Currículo: o que é? 1
contribui diretamente à constituição do conhecimento escolar. Agregado
a esse conjunto de ações estão implícitos pressupostos teóricos, crenças e
valores, os quais condicionam à teorização sobre o currículo.
Para Silva (2010, p.14), a “questão central que serve de pano de fundo
para qualquer teoria do currículo é a de saber qual conhecimento deve ser
ensinado”. Em outras palavras, o currículo constitui-se como o centro da
prática pedagógica, questão essa de extrema relevância, pois nos permite
discutir e definir qual conhecimento é válido ensinar e o que deve compor
o currículo.
[...]
Atividades
1. O currículo escolar pode ser conceituado como um processo educativo de diálogo
humano em relação aos culturais e existenciais de interesse mútuo dos alunos e pro-
fessores, mediante uma ação relativamente sistemática e em busca de uma transfor-
mação pessoal e social.
Com base nessa informação, analise as asserções que seguem acerca do currí-
culo escolar:
Teorias do Currículo 19
1 Currículo: o que é?
É falsa a asserção:
a. I.
b. II.
c. III.
d. IV.
e. Todas.
a. na Constituição Federal.
b. no Ministério da Educação.
20 Teorias do Currículo
Currículo: o que é? 1
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Resolução
1. C. É falsa a asserção III. “O currículo é um plano de estudo, uma proposta que orien-
ta e normatiza o processo de administração curricular, proporcionando o acompa-
nhamento e o monitoramento dessas ações, registrado em forma de documento e
guardado na secretaria da escola”. A afirmativa começa correta, porém o documento
não deve ser somente guardado na secretaria da escola, ele deve ser consultado,
analisado e discutido constantemente para que haja possíveis mudanças, buscando
sempre a melhoria do processo.
Teorias do Currículo 21
1 Currículo: o que é?
cada um e seu contexto social. Deve haver consonância entre o currículo escolar e
o projeto político-pedagógico. Tem a intenção de atender igualmente todos os estu-
dantes. Deve considerar as necessidades e objetivos de toda uma população com as
particularidades individuais de cada membro participante.
22 Teorias do Currículo
2
Políticas educacionais
curriculares
Teorias do Currículo 23
2 Políticas educacionais curriculares
24 Teorias do Currículo
Políticas educacionais curriculares 2
Figura 1 – Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA.
Estatuto da
Criança e do • Estabelece medidas concretas para a garantia dos direitos de
Adolescente – ECA crianças e adolescentes.
• Responsabiliza nominalmente a família, a comunidade, a socie-
dade e o Estado pelo bem-estar e saudável desenvolvimento da
infância e da juventude.
Nos anos de 1990, configura-se um sistema educacional que reflete a concepção e pro-
moção de políticas curriculares adequadas às proposições do Estado neoliberal. Começa a
ampliação do mercado especulativo e o incremento de modelos de gestão regulativas do
trabalho docente, do currículo e da gestão escolar. Houve a mudança da centralidade da
produtividade com foco na qualidade, com busca de eficiência e eficácia por meio da auto-
nomia da escola. Foram instituídas categorias vistas como fundamentais para o desenvolvi-
mento do país, tais como resultados, avaliação e competências. O período foi marcado ainda
pelas novas tecnologias que influenciaram profundamente a comunicação e a informação.
Na educação, um marco importante foi a Declaração Mundial sobre Educação para
Todos (UNESCO, 1990), documento resultante das discussões da Conferência Mundial
Sobre a Educação para Todos realizada em Jomtien, na Tailândia, também conhecida como
“Conferência de Jomtien”. A ideia da conferência foi ponderar sobre as necessidades básicas
de aprendizagem e com isso estabelecer compromissos mundiais para garantir a todas as
pessoas os conhecimentos básicos necessários a uma vida digna, visando a uma sociedade
mais humana e mais justa. De acordo com a declaração, seu objetivo é
[...] satisfazer as necessidades básicas da aprendizagem de todas as crianças, jo-
vens e adultos […] e o esforço de longo prazo para a consecução deste objetivo
pode ser sustentado de forma mais eficaz, uma vez estabelecidos objetivos inter-
mediários e medidos os progressos realizados. (UNESCO, 1990)
Os países participantes foram impulsionados a elaborar planos decenais que aderissem
às diretrizes e metas do Plano de Ação, definidas na conferência. O Brasil elaborou o Plano
Decenal de Educação para Todos – de 1993 a 2003. O documento de Jomtien estabelece que
o currículo tenha uma parte que contemple “necessidades universais e interesses comuns”
e outra parte flexível, “sensível às condições locais” (p. 23), propondo uma relação entre os
conteúdos com temas ligados ao social e à saúde.
Outro marco importante para a educação é a Declaração de Salamanca, de 1994
(UNESCO, 1994), resultante da Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais
Especiais, realizada em Salamanca, Espanha, nesse mesmo ano. Essa declaração aborda
princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais e tem como
questão central a inclusão de alunos com necessidades especiais no ensino regular.
Teorias do Currículo 25
2 Políticas educacionais curriculares
26 Teorias do Currículo
Políticas educacionais curriculares 2
creches e pré-escolas no país, posicionando e “fundamentando concepções de criança, de
educação, de instituição e do profissional, que foram utilizadas para definir os objetivos ge-
rais da educação infantil e orientaram a organização dos documentos de eixos de trabalho”
(BRASIL, 1998, p. 6). O segundo volume refere-se ao campo de experiência de formação pes-
soal e social e defende os processos de constituição da identidade e autonomia das crianças.
O terceiro volume volta-se ao âmbito de experiência de conhecimento de mundo, organi-
zado por meio de seis documentos norteados para a construção das diferentes linguagens
pelas crianças e para as relações que estas estabelecem com os objetos de conhecimento:
movimento, música, artes visuais, linguagem oral e escrita, natureza e sociedade e matemá-
tica. O material tem como intenção contribuir para o planejamento, o desenvolvimento e a
avaliação de práticas educativas, atendendo “à pluralidade e diversidade étnica, religiosa,
de gênero, social e cultural das crianças brasileiras, favorecendo a construção de propostas
educativas que respondam às demandas das crianças e seus familiares nas diferentes re-
giões do país” (BRASIL, 1998, p. 7).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, divulgados em 1997 pelo MEC, estão organiza-
dos em dez volumes, arranjados da seguinte maneira: um documento introdutório que fun-
damenta as escolhas feitas para a preparação dos documentos de áreas e temas transversais;
seis documentos referentes às áreas de conhecimento de língua portuguesa, matemática,
ciências naturais, história, geografia, arte e educação física; e três volumes referentes aos te-
mas transversais de organização, quais sejam, ética, pluralidade cultural e orientação sexual
e meio ambiente e saúde.
Os PCN apontaram caminhos para o currículo, apresentando possíveis adaptações e a
gestão escolar democrática:
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, referenciais para a renovação e reelabo-
ração da proposta curricular, reforçam a importância de que cada escola formule
seu projeto educacional, compartilhado por toda a equipe, para que a melhoria
da qualidade da educação resulte da corresponsabilidade entre todos os educa-
dores. A forma mais eficaz de elaboração e desenvolvimento de projetos educa-
cionais envolve o debate em grupo e no local de trabalho. (BRASIL, 1997, p. 10)
O documento apresenta também possibilidades para sua utilização:
• rever objetivos, conteúdos, formas de encaminhamento das atividades,
expectativas de aprendizagem e maneiras de avaliar;
• refletir sobre a prática pedagógica, tendo em vista uma coerência com os
objetivos propostos;
• preparar um planejamento que possa de fato orientar o trabalho em sala de aula;
• discutir com a equipe de trabalho as razões que levam os alunos a terem
maior ou menor participação nas atividades escolares;
• identificar, produzir ou solicitar novos materiais que possibilitem contextos
mais significativos de aprendizagem;
• subsidiar as discussões de temas educacionais com os pais e responsáveis.
(BRASIL, 1997, p. 10)
Teorias do Currículo 27
2 Políticas educacionais curriculares
28 Teorias do Currículo
Políticas educacionais curriculares 2
A grade horária foi definida em 1.000 horas anuais, divididas em 200 dias letivos, sen-
do que o conteúdo da BNCC não poderá exceder 1.800 horas do total da carga horária do
Ensino Médio. De maneira progressiva, todas as escolas deverão atender em tempo integral.
Para a legitimação dos preceitos determinados pela Constituição Federal de 1988, foi
elaborada a legislação específica da educação: a LDB – Lei de Diretrizes e Bases n. 9.394,
promulgada em 20 de dezembro de 1996. Ela abrange os princípios gerais da educação, bem
como as finalidades, os recursos financeiros, a formação e as diretrizes para a carreira dos
profissionais da educação.
Para acompanhar os diferentes compassos educacionais, a LDB é atualizada constante-
mente. Um bom exemplo é a mudança do Ensino Fundamental de oito para nove anos, para
crianças a partir de 6 anos de idade.
Vamos analisar o que a lei diz sobre o currículo escolar. No art. 9o, inciso IV, é incumbi-
do à União estabelecer,
[...] em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, compe-
tências e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino mé-
dio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar
formação básica comum. (BRASIL, 1996)
Mais adiante, no art. 24, que determina a organização da Educação Básica nos níveis
Fundamental e Médio, é prevista a preservação curricular nos casos de progressão:
III – nos estabelecimentos que adotam a progressão regular por série, o regimen-
to escolar pode admitir formas de progressão parcial, desde que preservada a
sequência do currículo, observadas as normas do respectivo sistema de ensino.
(BRASIL, 1996)
O art. 26, que foi atualizado pela Lei n. 12.796, de 2013, apresenta a Base Nacional Comum:
Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino
médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema
de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigi-
da pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia
e dos educandos. (BRASIL, 2013)
O parágrafo 1o desse mesmo artigo determinou que os currículos devem abranger, obri-
gatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da matemática, o conhecimento do mundo
físico e natural e da realidade social e política, especialmente do Brasil. E o parágrafo 5o estabe-
leceu que, na “parte diversificada”, a partir da quinta série (atual 6º ano), deve haver o ensino
de uma língua estrangeira moderna. Em 2017, por meio da Lei n. 13.415/17, uma nova redação
é dada a esse parágrafo, que passou a ser expresso da seguinte forma: “§ 5o No currículo do
ensino fundamental, a partir do sexto ano, será ofertada a língua inglesa” (BRASIL, 2017).
Teorias do Currículo 29
2 Políticas educacionais curriculares
Ainda no artigo 26 da LDB, houve a inclusão, pela Lei n. 12.608, de 2012, do parágrafo
7º, que diz respeito aos princípios de proteção e defesa civil e à educação ambiental de forma
integrada aos conteúdos obrigatórios.
Em 2008, o art. 26-A foi acrescido pela Lei n. 11.645, que tornou obrigatório, nos esta-
belecimentos de Ensino Fundamental e Médio, públicos e privados, o estudo da história e
cultura afro-brasileira e indígena:
§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos in-
dígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar,
em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras.
(BRASIL, 2008)
Sobre o Ensino Fundamental, a LDB, no art. 32, parágrafo 5o, determina que é obriga-
tório tratar sobre os direitos das crianças e dos adolescentes e, para tal, indica como diretriz
a Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do Adolescente,
observada na produção e distribuição de material didático adequado – texto incluído pela
Lei n. 11.525, de 2007 (BRASIL, 2007).
No mesmo art. 32, parágrafo 6o, há a inclusão, pela Lei n. 12.472, de 2011, do estudo
dos símbolos nacionais: “§ 6o O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído como tema
transversal nos currículos do ensino fundamental” (BRASIL, 2001).
Ainda sobre a Base Nacional Comum, em 2017 é realizada a seguinte inclusão, com
suporte na Lei n. 13.415:
Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá direitos e objetivos de
aprendizagem do ensino médio, conforme diretrizes do Conselho Nacional de
Educação, nas seguintes áreas do conhecimento:
I – linguagens e suas tecnologias;
II – matemática e suas tecnologias;
III – ciências da natureza e suas tecnologias;
IV – ciências humanas e sociais aplicadas. (BRASIL, 2017)
O mesmo artigo, modificado pela mesma lei, traz os seguintes parágrafos:
§ 1oA parte diversificada dos currículos de que trata o caput do art. 26, definida
em cada sistema de ensino, deverá estar harmonizada à Base Nacional Comum
Curricular e ser articulada a partir do contexto histórico, econômico, social, am-
biental e cultural.
§ 2o A Base Nacional Comum Curricular referente ao ensino médio incluirá obri-
gatoriamente estudos e práticas de educação física, arte, sociologia e filosofia.
§ 3o O ensino da língua portuguesa e da matemática será obrigatório nos três
anos do ensino médio, assegurada às comunidades indígenas, também, a utiliza-
ção das respectivas línguas maternas.
§ 4o Os currículos do ensino médio incluirão, obrigatoriamente, o estudo da lín-
gua inglesa e poderão ofertar outras línguas estrangeiras, em caráter optativo,
30 Teorias do Currículo
Políticas educacionais curriculares 2
preferencialmente o espanhol, de acordo com a disponibilidade de oferta, locais
e horários definidos pelos sistemas de ensino.
§ 5o A carga horária destinada ao cumprimento da Base Nacional Comum
Curricular não poderá ser superior a mil e oitocentas horas do total da carga
horária do ensino médio, de acordo com a definição dos sistemas de ensino.
§ 6o A União estabelecerá os padrões de desempenho esperados para o ensino
médio, que serão referência nos processos nacionais de avaliação, a partir da
Base Nacional Comum Curricular.
§ 7o Os currículos do ensino médio deverão considerar a formação integral do
aluno, de maneira a adotar um trabalho voltado para a construção de seu projeto
de vida e para sua formação nos aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais.
§ 8o Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação processual e for-
mativa serão organizados nas redes de ensino por meio de atividades teóricas e
práticas, provas orais e escritas, seminários, projetos e atividades on-line, de tal
forma que ao final do ensino médio o educando demonstre:
I – domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção
moderna;
II – conhecimento das formas contemporâneas de linguagem. (BRASIL, 2017)
A propósito do Ensino Médio, o art. 36, em 2017, também com base na Lei n. 13.415,
alterou-se para:
Art. 36. – O currículo do ensino médio será composto pela Base Nacional Comum
Curricular e por itinerários formativos, que deverão ser organizados por meio da
oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto
local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a saber:
I – linguagens e suas tecnologias;
II – matemática e suas tecnologias;
III – ciências da natureza e suas tecnologias;
IV – ciências humanas e sociais aplicadas;
V – formação técnica e profissional
§ 1o A organização das áreas de que trata o caput e das respectivas competências
e habilidades será feita de acordo com critérios estabelecidos em cada sistema
de ensino.
§ 3o A critério dos sistemas de ensino, poderá ser composto itinerário formativo
integrado, que se traduz na composição de componentes curriculares da Base
Nacional Comum Curricular – BNCC e dos itinerários formativos, considerando
os incisos I a V do caput. (BRASIL, 2017)
A Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional de 1996, portanto, tem importância
decisiva na consolidação da educação em nosso país. Sua existência não garante a qualidade
do ensino, mas traça parâmetros nessa busca. Assim, precisa ser atualizada constantemente,
para acompanhar as mudanças sociais. Cabe a nós, educadores, seguir tais modificações,
Teorias do Currículo 31
2 Políticas educacionais curriculares
conhecer e discutir a lei, concordar ou discordar dela, porém tendo-a sempre como base,
como fundamento para a construção de um pensamento educacional crítico e transformador.
[...]
32 Teorias do Currículo
Políticas educacionais curriculares 2
4. Utilizar conhecimentos das linguagens verbal (oral e escrita) e/ou ver-
bo-visual (como Libras), corporal, multimodal, artística, matemática,
científica, tecnológica e digital para expressar-se e partilhar informa-
ções, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e,
com eles, produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.
[...]
Teorias do Currículo 33
2 Políticas educacionais curriculares
Atividades
1. Considerando a educação ambiental na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio-
nal − LDB, Lei n. 9.394/1996, os currículos dos ensinos Fundamental e Médio devem:
a. I e II.
b. II e III.
c. I e III.
d. Nenhuma.
e. Todas.
3. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) adota dez competências gerais, que
se inter-relacionam e perpassam todos os componentes curriculares ao longo da
Educação Básica, sobrepondo-se e interligando-se na construção de conhecimentos
34 Teorias do Currículo
Políticas educacionais curriculares 2
e habilidades e na formação de atitudes e valores, nos termos da LDB. Marque a
alternativa que indica somente as competências corretas:
Referências
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______. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988.
______. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Dispõe sobre o
Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF,
27 set. 1990.
______. Lei n. 12.472, de 1 de setembro de 2011. Acrescenta § 6o ao art. 32 da Lei n. 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, incluindo os símbo-
los nacionais como tema transversal nos currículos do ensino fundamental. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 2 set. 2011.
______. Lei n. 9394/96. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 23 dez. 1996.
______. Lei n. 11.525, de 25 de setembro de 2007. Acrescenta § 5º ao art. 32 da Lei n. 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, para incluir conteúdo que trate dos direitos das crianças e dos adolescentes no
currículo do Ensino Fundamental. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 set. 2007.
______. Lei n. 11.645, de 10 de março de 2008. Altera a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, mo-
dificada pela Lei n. 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e
Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 11 mar. 2008.
______. Lei n. 12.796, de 2 de abril de 2013. Altera a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que esta-
belece as diretrizes e bases da educação nacional, para dispor sobre a formação dos profissionais da
educação e dar outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 abr. 2013.
______. Lei n. 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Altera as Leis n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que
estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e 11.494, de 20 de junho 2007, que regulamenta
o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação, a Consolidação das Leis do Trabalho CLT, aprovada pelo Decreto-Lei n. 5.452, de 1° de maio
de 1943, e o Decreto-Lei n. 236, de 28 de fevereiro de 1967; revoga a Lei n. 11.161, de 5 de agosto de
Teorias do Currículo 35
2 Políticas educacionais curriculares
2005; e institui a Política de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 fev. 2017.
______. Medida provisória n. 748, de 11 de outubro de 2016. Altera a Lei n. 12.587, de 3 de janeiro de
2012, que institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana. Diário Oficial da União,
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PERONI, Vera. Política educacional e papel do Estado: no Brasil dos anos 1990. São Paulo: Xamã, 2003.
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aprendizagem. Jomtien, 1990.
______. Declaração de Salamanca sobre princípios, política e práticas na área das necessidades edu-
cativas especiais. Salamanca, 1994.
Resolução
1. A. São falsas as asserções I e II. Só está correta a asserção III: “ter base nacional co-
mum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento
escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais
da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos”.
36 Teorias do Currículo
3
Concepções de currículo
Teorias do Currículo 37
3 Concepções de currículo
38 Teorias do Currículo
Concepções de currículo 3
Figura 1 – Focos da construção do currículo.
Aluno
Conhecimentos Aprendizagem
Currículo
Desse modo, diferentes são as concepções de currículo, como também são diferentes os
critérios considerados importantes em sua elaboração.
A concepção mais antiga conhecida sobre currículo é da Idade Média, na qual a religião
não se separava do conhecimento. Ele era visto como um conjunto de saberes precisos, uni-
versais e inquestionáveis, cabendo às escolas o papel de mantê-los e ensiná-los. A organiza-
ção curricular daquela época, de acordo com Peinado (2012), dava-se da seguinte maneira:
o primeiro ciclo era denominado Trivium e composto das disciplinas de Gramática, Lógica
e Retórica, para a formação do ser, do pensamento e da forma de se expressar. O segundo
ciclo, Quadrivium, era composto de Aritmética, Geometria, Música e Astronomia – era o es-
tudo material, “das coisas”. Os dois ciclos formavam o conjunto das sete artes liberais que,
somadas ao estudo teológico, compunham o saber medieval.
A metodologia preocupava-se com a apropriação pelos alunos dos saberes acumulados
historicamente, não havendo interesse em modificações ou atualizações. As aulas eram rea-
lizadas de forma expositiva, frontal, voltadas à facilidade para aprender, em salas de aulas
organizadas de forma que todos os alunos sentassem em filas e enxergassem o professor
que fazia explanações. Havia a clara separação entre a elite e a classe dos trabalhadores:
a primeira dedicava-se ao estudo das artes liberais, a outra precisava adquirir habilidades
técnicas artesanais para o trabalho manual. Cabe dizer que essa concepção voltada para o
acúmulo de conhecimentos ainda é um método muito utilizado nas escolas atuais.
A concepção pedagógica hoje disseminada, que valoriza o aluno, tendo-o como ponto
central do processo educativo, seria estabelecida muito tempo depois, já na segunda metade
do século XX. Assim, é relativamente nova a visão do conhecimento como abertura para a
emancipação da pessoa, considerando a reconstrução dos saberes pelos próprios alunos,
com suas referências culturais, individuais e sociais. Essa vertente tem muitas variantes e
distingue-se em diferentes teorias, em relação ao papel do professor e da escola e das meto-
dologias de ensino-aprendizagem.
Teorias do Currículo 39
3 Concepções de currículo
Podemos constatar, desse modo, que a ênfase dada ao currículo, assim como aos inte-
resses dos indivíduos, modifica-se e acompanha os movimentos históricos e sociais, como
veremos a seguir.
tradicional libertadora
renovada
progressista libertária
renovada crítico-social
não diretiva dos
conteúdos
tecnicista
40 Teorias do Currículo
Concepções de currículo 3
A tendência liberal tradicional é aquela em que o professor é responsável por fazer os
alunos aprenderem os saberes historicamente construídos, em um processo cumulativo, re-
ceptivo e automático. O conhecimento é transmitido e memorizado por meio da repetição.
Na tendência liberal renovada, inspirada nos estudos de John Dewey, o aluno é o cen-
tro do processo, as diferenças individuais e as necessidades e interesses dos educandos são
respeitadas. A intenção é preparar o sujeito para adaptar-se ao meio.
No Brasil, de acordo com Libâneo (2003), há duas variantes: a tendência renovada pro-
gressivista ou pragmatista, inspirada nos pioneiros da Escola Nova, que tem como foco os
processos internos de desenvolvimento do indivíduo; e a tendência renovada não diretiva,
inspirada em Carl Rogers e A. S. Neill, cujo foco é o trabalho com o desenvolvimento pessoal
e as relações interpessoais.
No fim da década de 1960, teve início a tendência liberal tecnicista, fruto das ideias do
regime militar, com uma clara separação entre o ensino das elites e a educação das massas.
Seus princípios eram a racionalidade, a eficiência, a produtividade e a neutralidade cientí-
fica. Havia um controle do comportamento na execução dos processos. Uma característica
marcante foi a fragmentação do trabalho, e o currículo era separado, portanto, entre os espe-
cialistas que o teorizavam e os educadores que o executavam.
De acordo com Saviani (2008), as tendências progressistas tinham um caráter contra-
-hegemônico e viam a educação como uma força de luta de classes que buscava a transfor-
mação da ordem social e econômica vigente na época. De acordo com Libâneo (2003), essas
tendências podem ser divididas em libertadora, libertária e histórico-crítica.
A pedagogia progressista libertadora foi iniciada por Paulo Freire, amparando os fins
sociopolíticos da educação e problematizando a realidade vivida pelos estudantes, fazendo-
-os ter uma visão transformadora da sociedade. Essa pedagogia busca a transformação das
instituições e não considera formas de poder ou autoridade. A partir dos anos de 1980, nasce
a pedagogia progressista crítico-social dos conteúdos, que concebe o ser humano por meio
do materialismo histórico-marxista, isto é, buscando a superação dos problemas cotidianos
da prática social e, ao mesmo tempo, a emancipação intelectual do educando, considerado
um ser concreto e inserido num contexto de relações sociais. Para tal, prioriza o ensino volta-
do ao domínio dos conteúdos científicos, com suas habilidades e raciocínios, como modo de
formar uma consciência crítica diante da realidade social, instrumentalizando o educando
como sujeito da história, apto a transformar a sociedade e a si próprio (LIBÂNEO, 2003).
No Brasil, em meados da década de 1980, surge a pedagogia histórico-crítica, que tem o
método dialético como construção do conhecimento, por meio da articulação entre a teoria
e a prática.
Vejamos, no quadro a seguir, uma síntese dessas tendências pedagógicas.
Teorias do Currículo 41
Quadro 1 – Síntese das tendências pedagógicas.
42
Tendência
3
São conhecimentos e
Preparação inte- Exposição e de- A aprendizagem é
valores sociais acu- Autoridade do Nas escolas que
lectual e moral monstração ver- receptiva e mecânica,
Tendência libe- mulados através dos professor, que exige adotam filosofias
dos alunos para bal da matéria sem considerar as
ral tradicional tempos e repassados atitude recepti- humanistas clássi-
Teorias do Currículo
assumir seu papel e/ou por meio características pró-
aos alunos como va do aluno. cas ou científicas.
na sociedade. de modelos. prias de cada idade.
verdades absolutas.
Educação cen-
trada no aluno;
Tendência
Baseiam-se na busca Método baseado o professor deve Aprender é Carl Rogers,
liberal renovada Formação de
dos conhecimentos na facilitação da garantir um clima modificar as per- “Sumerhill”, escola
não diretiva atitudes.
pelos próprios alunos. aprendizagem. de relacionamento cepções da realidade. de A. Neill.
(Escola Nova)
pessoal e autêntico,
baseado no respeito.
Não atua em
escolas, porém visa Valorização da expe-
levar professores e riência vivida como
Temas geradores
Tendência alunos a atingir um A relação é de base da relação edu-
retirados da problema- Grupos de
progressista nível de consciên- igual para igual, cativa. Codificação- Paulo Freire.
tização do cotidiano discussão.
libertadora cia da realidade horizontalmente. -decodificação.
dos educandos.
em que vivem, na Resolução da
busca pela trans- situação-problema.
formação social.
Lobrot, C.
Também prima
Transformação da É não diretiva, Freinet, Miguel
Tendência Os conteúdos/discipli- Vivência grupal pela valorização da
personalidade num o professor é Gonzales, Vasquez,
progressista nas são apresentados, na forma de vivência cotidia-
sentido libertário orientador e os Oury, Maurício
libertária mas não exigidos. autogestão. na. Aprendizagem
e autogestionário. alunos, livres. Tragtenberg,
informal via grupos.
Ferrer y Guardia.
O método
Makarenko,
Tendência Conteúdos culturais parte de uma Papel do aluno
B. Charlot,
progressista universais que são relação direta da como participador e Baseada nas estrutu-
Difusão dos Suchodolski,
crítico-social dos incorporados pela experiência do do professor como ras cognitivas já esta-
conteúdos. Manacorda, G.
conteúdos ou humanidade frente aluno confronta- mediador entre o belecidas nos alunos.
Snyders Demerval
histórico-crítica à realidade social. da com o saber saber e o aluno.
Concepções de currículo
Saviani.
sistematizado.
Fonte: SANTOS, 2012. Adaptado.
Teorias do Currículo
3
43
3 Concepções de currículo
A teoria tradicional do currículo apregoava que este deveria ser neutro, eficiente e ela-
borado de acordo com a necessidade social da vida adulta.
Na escola, considerou-se o currículo como instrumento por excelência do controle
social que se pretendia estabelecer. Coube, assim, à escola, inculcar os valores, as
44 Teorias do Currículo
Concepções de currículo 3
condutas e os hábitos “adequados”. Nesse momento a preocupação com a educa-
ção vocacional fez-se notar, evidenciando o propósito de ajustar a escola
às novas necessidades da economia. (MOREIRA; SILVA, 2001, p. 10)
A escola destinava-se ao treinamento de mão de obra qualificada necessária para man-
ter a produção e o lucro em favor do capital. Ou seja, todo o processo estava voltado à gera-
ção de riquezas, e, para isso, investia-se no controle do trabalho e dos modos de produção.
Para que esse sistema fosse garantido, o currículo tinha como centro de organização meto-
dológica os objetivos de cada conteúdo e suas formas de avaliação.
Na década de 1960, marcada pelos movimentos sociais e pela popularização de novas
tecnologias, diferentemente da rigidez das teorias tradicionais e com duras críticas a elas,
surge um novo anseio:
Um sentimento de crise acaba por instalar-se na sociedade [...], como consequên-
cia, uma contracultura que enfatiza prazeres sensuais, liberdade sexual, gratifi-
cação imediata, naturalismo, uso de drogas, vida comunitária, paz, libertação
individual. Inevitavelmente, as instituições educacionais tornaram-se alvos de
violentas críticas. Denunciou-se que a escola não promovia ascensão social e que,
mesmo para as crianças dos grupos dominantes, era tradicional, opressiva, cas-
tradora, violenta e irrelevante. (MOREIRA; SILVA, 2001, p. 13)
Nesse período desponta a teoria crítica do currículo, que tem como base as ideias mar-
xistas. Tal teoria está vinculada aos autores da Escola de Frankfurt (Max Horkheimer e
Theodor Adorno) e da Nova Sociologia da Educação (Pierre Bourdieu e Louis Althusser).
O princípio que embasou esses pensadores é que a escola e a educação eram instrumen-
tos de reprodução e legitimação das desigualdades sociais constituídas pela sociedade capi-
talista. Nesse sentido, o currículo tradicional seria um instrumento de interesse das classes
dominantes para a manutenção do poder por meio da reprodução cultural e social. Nessa
perspectiva, a escola
Teorias do Currículo 45
3 Concepções de currículo
De acordo com Silva (2007), as teorias críticas de currículo deslocavam a ênfase dos
conceitos pedagógicos para os de ideologia e poder como uma forma de resistência e pos-
sibilitavam uma nova perspectiva para a educação, superando as teorias tradicionais de
aceitação passiva.
46 Teorias do Currículo
Concepções de currículo 3
Nos anos de 1970 e 80, a ebulição nos campos social e científico reflete-se igualmente na
área educacional, surgindo as teorias pós-críticas do currículo, que têm como foco o sujeito.
Na sociedade pós-moderna, o indivíduo é visto como um ser que se diferencia por
possuir suas particularidades e identidade própria, tendo, assim, direito às suas escolhas
próprias. Essa concepção exige que se respeite a bagagem étnico-cultural de cada um, de
forma a combater a opressão dos grupos marginalizados, principalmente em relação a gê-
nero, raça, etnias e orientação sexual. Nesse cenário, o currículo deve considerar os diversos
conhecimentos vistos sob diferentes perspectivas históricas e geográficas. Deve ter um perfil
multicultural e, portanto, subjetivo, para atender às representações culturais dos indivíduos
que o utilizam.
Assim, as teorias críticas e pós-críticas veem o currículo como uma ferramenta de po-
der, de luta e construção social. Há nelas a valorização do aluno e de sua fala por meio do
diálogo. O conhecimento historicamente construído e pronto é acrescido da experiência vi-
venciada pela comunidade onde a escola está inserida.
De modo a sintetizar o que abordamos até aqui, observe o Quadro 2 a seguir, elaborado
de acordo com os diferentes conceitos das teorias do currículo.
Mesmo com todos esses avanços em relação ao currículo, não podemos deixar de sub-
linhar que muitas escolas ainda hoje fazem uso das ideias tradicionalistas de educação.
É notável que, apesar da evolução do pensamento pedagógico, algumas práticas escolares
ainda se voltam para conceitos das teorias tradicionais, tais como objetivos, planejamento e
avaliação, como elementos fundantes do processo de ensino-aprendizagem.
Teorias do Currículo 47
3 Concepções de currículo
[...]
48 Teorias do Currículo
Concepções de currículo 3
Forquim (1993) também enfatiza a importância da cultura na educação.
Segundo o autor, é a partir da cultura que as ações educativas são cons-
truídas e são justificadas quanto a suas finalidades. Os conhecimentos que
constituem o currículo da educação escolar são selecionados no interior
da cultura e a partir dos interesses dos grupos que detêm maior poder.
É durante esse processo de seleção que a instituição escolar condiciona as
possibilidades, trabalhando apenas com uma parcela restrita de conhe-
cimentos, experiências, valores e atitudes da cultura considerada oficial.
A dominação cultural tem sido um dos pontos centrais de discussões
pedagógicas e a sua superação é uma das lutas para a construção de uma
escola e de uma sociedade mais democrática.
O resultado desse processo de seleção faz com que muitas das vivências
educativas de grupos sociais específicos sejam descartadas desrespeitando
a multiplicidade cultural existente em um país como o Brasil. Embora his-
toricamente a escola tenha se constituído em um espaço homogeneizador,
atualmente ela necessita de atitudes educativas que andem em direção a
tendências inovadoras que possibilitem a criação de currículos diferença-
dos que expresse e dê sentido à diversidade cultural presente na escola.
[...]
Atividades
1. Considerando que o currículo é construído com base no projeto pedagógico da es-
cola, que viabiliza a sua operacionalização, orientando as atividades educativas, as
formas de executá-las e definindo suas finalidades, ele pode ser visto como um guia
sugerido sobre o que, quando e como ensinar, bem como o que, como e quando avaliar.
Teorias do Currículo 49
3 Concepções de currículo
II. O projeto pedagógico da escola é ponto de referência para definir a prática escolar.
É verdadeira a asserção:
a. I.
b. II.
c. III.
d. IV.
e. Todas.
Com isso
II. As diferenças entre as classes sociais não são consideradas, já que a escola não
leva em consideração as desigualdades sociais.
a. A primeira e a segunda asserções são verdadeiras e a relação entre elas está correta.
50 Teorias do Currículo
Concepções de currículo 3
a. Deve contribuir para a construção da identidade dos alunos, na medida em que
ressalta a individualidade e o contexto social em que estão inseridos.
Referências
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Teorias do Currículo 51
3 Concepções de currículo
Resolução
1. E.
52 Teorias do Currículo
4
Gestão democrática
e currículo
Teorias do Currículo 53
4 Gestão democrática e currículo
O que atualmente chamamos de gestão escolar era conhecido anteriormente como admi-
nistração escolar (prevista na LDB n. 5.692, de 1971), que atendia a todos os processos do
interior da escola, desde o cuidado com o prédio escolar até as práticas de ensino que acon-
teciam nas salas de aula. A escola era legalmente organizada pelos princípios científicos da
administração, sem se voltar especificamente ao currículo e a administração escolar não
tinha uma vertente dedicada às ações pedagógicas. Havia, dessa forma, uma divisão entre
os processos e muitas vezes uma preocupação maior com o aspecto material do que com o
intelectual. A direção da escola era centralizada no diretor, que geralmente tinha formação
administrativa, e não pedagógica, exercendo um papel empresarial e com poderes quase
que totalitários em relação às decisões tomadas. A preocupação dos diretores era voltada
somente à satisfação dos interesses dos seus dirigentes diretos e órgãos centrais, sem se
preocupar com as vontades da comunidade para a qual prestavam serviços. Os princípios
científicos da administração não previam a mobilização e articulação de todos os envolvidos
nas tomadas de decisão.
Com o advento da Constituição de 1988, indica-se a gestão democrática para as escolas,
buscando uma descentralização da educação. A gestão democrática do ensino público é um
dos sete princípios estabelecidos pelo artigo 206 da Carta Magna e um dos onze princípios
do artigo 3o da LDB n. 9.394, de 1996. O termo democrático reflete o momento histórico que
o país vinha passando de abertura política, reforçado pela LDB de 1996 (BRASIL, 1996), na
qual a gestão volta-se para o valor social e as ações coletivas, comprometida com o ideário
de uma composição colegiada e de caráter democrático. O art. 14 dessa lei deixa claro o per-
fil colegiado com o princípio da participação dos profissionais da educação na elaboração do
projeto pedagógico da escola e também a participação das comunidades escolar e local em
conselhos escolares ou equivalentes, condicionando a melhoria e a eficiência da qualidade
do sistema educacional brasileiro.
O marco da gestão depois da LDB 9.394/96 é o projeto político-pedagógico, documento
destinado a concentrar todas as orientações à rotina política e pedagógica da escola, suas fi-
nalidades, os eixos filosóficos e as decisões coletivas da comunidade escolar. Esse projeto dá
sustentação à elaboração do currículo adotado pela escola. Com isso, começou-se a pensar
em um currículo que integre os conteúdos e os interesses dos alunos, inseridos em um con-
texto real e não mais idealizado pelos dirigentes e seus interesses. Os mecanismos da gestão
democrática, de acordo com o MEC, são distribuídos em dois níveis:
[...] em nível dos sistemas – federal, estadual e municipal – e em nível das uni-
dades de ensino. No primeiro caso, entre os mecanismos de democratização,
encontram-se os conselhos de educação – nacional, estaduais e municipais.
Na escola, estão os conselhos escolares, a eleição de diretores e a autonomia fi-
nanceira. Podemos dizer, também, que os planos de educação das três esferas
desempenham um papel relevante para qualificar e democratizar a educação.
(BRASIL, 2006, p. 33)
Os conselhos escolares são concebidos como órgãos máximos de deliberação nas esco-
las. Em sua composição há membros das diferentes esferas escolares: o diretor da escola, os
representantes dos alunos, dos pais ou responsáveis, dos professores, dos trabalhadores em
54 Teorias do Currículo
Gestão democrática e currículo 4
educação e não docentes e da comunidade local. O diretor pode, ou não, ser membro nato
do conselho, assim como ser o seu presidente.
Na medida em que reúne diretores, professores, funcionários, estudantes, pais e
outros representantes da comunidade para discutir, definir e acompanhar o desen-
volvimento do projeto político-pedagógico da escola, os conselhos escolares têm pa-
pel estratégico no processo de democratização e de construção da cidadania que é,
eminentemente, pedagógico, construído coletivamente e em conformidade com a
especificidade histórica de cada sistema e de cada escola. (BRASIL, 2006, p. 43)
Nessa concepção, a função do diretor transforma-se, o autoritarismo é transmutado
para um desempenho emancipador e transformador da sociedade. Com poderes distribuí-
dos entre os representantes dos diversos setores que compõem o universo escolar, as deci-
sões são compartilhadas, da mesma forma que suas respectivas efetivações. Nesse contexto
ocorre a maior transformação, pois, ao participar das decisões, os membros da comunidade
também se responsabilizam pela execução destas e, ao mesmo tempo, pela avaliação de
todo o processo. As participações coletivas repercutem na formação cidadã de pessoas que
refletem sobre seu papel social, ao mesmo tempo em que os interesses da comunidade são
expressos e efetivados, levando à democratização das relações existentes não só no espaço
escolar, mas também na sociedade em geral.
Disso advém a preocupação com a elaboração de um currículo que seja, muito mais
que somente informativo, voltado à formação ética, democrática e participativa dos alunos.
Porém, não podemos deixar de ser realistas e considerar que todo esse processo é de-
sejado pela maioria da população do país, mas não por todos aqueles que detêm o poder.
O fato de a gestão escolar democrática ser determinada legalmente não significa que ela
assim o seja no interior de todas as escolas, em suas práticas reais. Sabemos que em muitos
estabelecimentos de ensino o cargo de diretor escolar é usado com interesses políticos, e isso
tira toda a legitimidade expressa na legislação vigente. Temos de considerar, também, que
não é dado pelo Estado todo o suporte necessário para a efetivação da lei, principalmente no
que diz respeito aos aspectos financeiros, que muitas vezes são insuficientes para sustentar
minimamente uma escola. Isso sem contar com a desvalorização dos profissionais da educa-
ção, que precisam se desdobrar em muitos para poder manter um sustento digno.
Assim, é necessário conhecermos as determinações legais e suas limitações reais, para
poder lutar por uma educação mais democrática.
Teorias do Currículo 55
4 Gestão democrática e currículo
56 Teorias do Currículo
Gestão democrática e currículo 4
relacionar currículo e tempo escolar, tem-se a determinação que os processos pedagógicos
essenciais devem acontecer dentro dessas 800 horas.
Quanto ao espaço escolar, na maioria das vezes a escola é construída com salas de aula
entre corredores, com carteiras e cadeiras organizadas linearmente, janelas que possibilitem
a iluminação e ventilação, um quadro no qual o professor apresenta os conteúdos e uma
mesa maior e virada de frente para os alunos. Esse é um modelo clássico de organização
científica, tradicional e rotineira nos ambientes de estudo. O Parecer CNE/CEB n. 5/97 rei-
tera que o efetivo trabalho escolar pode e deve ser desenvolvido em sala de aula, mas as
atividades escolares também podem ser realizadas em outros locais apropriados a trabalhos
teóricos e práticos, a leituras, pesquisas ou atividades em grupo, treinamento e demonstra-
ções, contato com o meio ambiente e com as demais atividades humanas de natureza cultu-
ral e artística, visando à plenitude da formação de cada aluno (BRASIL, 1997). A atividade
escolar, desse modo, também se distingue por toda e qualquer programação incluída no
projeto político-pedagógico da escola, sempre com a frequência exigível e a efetiva orienta-
ção, presença e participação de professores habilitados.
Há também uma clara relação entre o desempenho dos alunos e os recursos escolares
oferecidos: quanto melhor a infraestrutura escolar e a modernização dos recursos pedagógi-
cos utilizados, melhor será o desempenho dos alunos. Porém, não é somente o lado concreto
que deve ser analisado.
O tempo e o espaço escolar estão intimamente relacionados com os saberes trabalhados.
A quantidade de horas destinadas a cada área do conhecimento a ser trabalhado, o número
de dias letivos e as atividades extracurriculares necessitam estar sintonizados. Esses são
processos complexos e também de construção histórica, pois há tempo e espaços predeter-
minados e pré-concebidos.
O conhecimento, por explicação didática, foi divido em áreas do conhecimento, que
por sua vez, dividiram-se em disciplinas com determinada carga horária e fazeres próprios;
o saber historicamente construído e organizado, dessa forma, foi fragmentado, dividido e
subdividido, retirando muitas vezes do aluno a visão da totalidade.
É necessário considerar, entretanto, que, com a tecnologia, as distâncias e tempo estão
relativizados. O que levava um grande tempo para se pesquisar está literalmente em nossas
mãos; da mesma forma, as distâncias não interferem tanto mais na educação, visto a oferta
de cursos a distância e as possibilidades de estudar e ter uma formação sem sair de casa.
Assim, a escola e sua divisão temporal e espacial precisam ser repensadas e reavaliadas.
Não se justifica, por exemplo, um aluno que tem acesso às informações reais e imediatas fi-
car ouvindo um professor falar repetidamente sobre o mesmo assunto que poderia ser visto
em uma tela do computador de forma mais envolvente; por outro lado não se pode deixar
de lado os saberes teóricos justificando-se uma formação rasa. Dessa forma, é necessário
repensar os tempos e espaços escolares e o trabalho docente efetivo em sala de aula – as
mudanças precisam ser consideradas também no ambiente escolar.
Teorias do Currículo 57
4 Gestão democrática e currículo
Como vimos no Capítulo 3 desta obra, o espaço escolar que conhecemos é resultado do
modelo taylorista/fordista e baseado na organização científica do trabalho. O parcelamento de
tarefas refletiu também no parcelamento das áreas do conhecimento e, consequentemente, em
disciplinas escolares. Essa organização é necessária didaticamente para a apreensão pelos alunos
de conceitos teóricos e compreensão das partes para se chegar ao todo. Cabe aqui uma reflexão:
O homem vive em muitos mundos, mas cada mundo tem uma chave diferente,
e o homem não pode passar de um mundo para o outro sem a chave respectiva,
isto é, sem mudar a intencionalidade e o correspondente modo de apropriação
da realidade. (KOSIK, 1976, p. 23)
É na escola que os alunos têm a oportunidade de conhecer os diferentes mundos e con-
seguir a “chave” para neles adentrarem, entendê-los e modificá-los. As disciplinas escolares
fornecem informações em diferentes visões, formas e metodologias. Mas há uma grande
problemática nessa relação: o momento da visão do todo. Isto é, a escola precisa proporcio-
nar intencionalmente a conexão entre diferentes saberes, áreas e partes para possibilitar a
visão do conhecimento como um todo.
O termo disciplina também está relacionado ao sentido de normas de convivência e de
conduta e aos mecanismos punitivos/emulativos para a manutenção da ordem estabelecida,
o que cria certa reciprocidade entre as disciplinas escolares e a cultura de uma sociedade. De
acordo com Chervel (1990, p. 184), “[...] as disciplinas escolares são criações espontâneas e
originais do sistema escolar: revelam seu caráter eminentemente criativo e seu duplo papel –
o de formar indivíduos, ao mesmo tempo em que forma uma cultura”. Assim, ao se estudar
determinada disciplina estuda-se também a formação de hábitos, atitudes, habilidades e
convicções que encarnam os valores culturais.
É interessante ressaltar que essa visão também é reflexo do momento histórico atual, no
qual as transformações advindas da globalização, das tecnologias e da reestruturação produ-
tiva pedem uma formação polivalente. O mercado de trabalho não precisa de um trabalhador
que domine partes do processo produtivo como simples executor de tarefas, é necessário um
ser pensante que busque conhecer a totalidade dos processos. Daí a necessidade de ir além da
organização disciplinar escolar. Com isso, surgem propostas não disciplinares, tais como a mul-
tidisciplinaridade, a pluridisciplinaridade, a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade.
Não há um consenso entre os termos e suas respectivas conceituações. Diferentes au-
tores possuem conceitos próprios e visões diferenciadas sobre essas terminologias. Vamos
abordar algumas concepções nesse sentido.
De acordo com Costa (2004, p. 25),
O termo interdisciplinar foi usado por Piaget em 1955 em seu Centro de Epistemologia
Genética. Foi registrado no dicionário Robert em 1959, associado à interdisciplinaridade
58 Teorias do Currículo
Gestão democrática e currículo 4
com registro no mesmo dicionário em 1966; da mesma forma o termo pluridisciplina-
ridade em 1969. O termo multidisciplinar surge na mesma época na França.
Jean Piaget (1980) hierarquizou níveis de integração disciplinar, da seguinte forma:
a. Multidisciplinaridade – nível inferior de integração. Para solucionar problemas,
busca-se informações e ajuda em várias disciplinas, sem que tal interação contribua
para modificá-las ou enriquecê-las.
b. Interdisciplinaridade – segundo nível de associação. Com cooperação real entre as
disciplinas, existe reciprocidade nos intercâmbios e enriquecimento mútuo.
c. Transdisciplinaridade – etapa superior de integração. Construção de um sistema
sem fronteiras sólidas entre as disciplinas, ou seja, “uma teoria geral de sistemas ou
de estruturas, que inclua estruturas operacionais, estruturas de regulamentação e
sistemas probabilísticos e que una estas diversas probabilidades por meio de trans-
formações reguladas e definidas” (PIAGET, 1980, p. 166).
Na Unesco surgiram esforços no sentido de promover a interdisciplinaridade, convo-
cando ou apoiando debates, seminários e colóquios de caráter internacional com essa filo-
sofia. Assim sendo, ficou estabelecida por essa entidade (como proposta) a elucidação dos
significados apresentados no Quadro 2 a seguir:
Teorias do Currículo 59
4 Gestão democrática e currículo
Costa (2006, p. 11) faz um apanhado interessante sobre a definição dos termos:
[...] a conceituação dos termos [foi] retirada do Congresso de Locarno, auspicia-
da pela Unesco. Tem-se:
Pluridisciplinaridade diz respeito ao estudo de um objeto de uma única discipli-
na por diversas disciplinas ao mesmo tempo.
Interdisciplinaridade diz respeito à transferência de métodos de uma disciplina à
outra. É possível [...] distinguir três graus de interdisciplinaridade:
a) um grau de aplicação. Por exemplo, os métodos da física nuclear transferidos
à medicina conduzem à aparição de novos tratamentos do câncer;
b) um grau epistemológico. Por exemplo, a transferência dos métodos da lógica
formal ao campo do direito gera análises interessantes na epistemologia do direito;
c) um grau de geração de novas disciplinas. Por exemplo, a transferência dos
métodos da matemática ao campo da física gerou a física matemática; os da física
de partículas para a astrofísica, a cosmologia quântica; os da matemática para os
fenômenos meteorológicos ou para os da bolsa, a teoria do caos.
Como a pluridisciplinaridade, a interdisciplinaridade ultrapassa as disciplinas,
mas sua finalidade também permanece inscrita na pesquisa disciplinar.
A transdisciplinaridade, como o prefixo “trans” o indica, diz respeito ao que está
ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além
de toda disciplina. Sua finalidade é a compreensão do mundo atual, e um dos
imperativos para isso é a unidade do conhecimento.
Para Fazenda (2002), o pensar e o agir interdisciplinar se apoiam no princípio de que
nenhuma fonte de conhecimento é, em si mesma, completa e que, pelo diálogo com outras
formas de conhecimento, de maneira a se interpenetrarem, surgem novos desdobramentos
na compreensão da realidade e sua representação.
É fácil perceber que há uma grande preocupação em relação às formas de se trabalhar
as diferentes áreas do conhecimento. Vamos representar a seguir alguns conceitos de forma
figurativa, de acordo com Costa (2004).
Disciplinaridade – conjunto específico de conhecimentos setorizados e dissociados en-
tre si, com suas próprias características sobre o plano do ensino, da formação dos mecanis-
mos, dos métodos, das matérias. As disciplinas não conversam entre si, os professores não
sabem o que os alunos aprendem em outras aulas.
60 Teorias do Currículo
Gestão democrática e currículo 4
Figura 1 – Modelo de disciplinaridade.
Português Matemática
Português
Educação
Assunto Matemática
Física
História
Teorias do Currículo 61
4 Gestão democrática e currículo
Português
Educação
Assunto Matemática
Física
História
Português
Literatura
História
62 Teorias do Currículo
Gestão democrática e currículo 4
Metadisciplinaridade – ação de conhecer ou produção de saber, estando acima dos
campos disciplinares. Não há relação direta entre o conhecimento e a divisão disciplinar.
Disciplinas conhecimento
Português
Matemática
História
Conhecimento
O ensino e sua organização, portanto, não podem ser permeados das dicotomias re-
incidentes que ainda vemos em escolas brasileiras. Teoria e prática não são devidamente
articuladas e efetivadas, e os conteúdos ainda são trabalhados com base em um currículo
pré-determinado, sem a preocupação de vincular os fazeres com o pensamento necessário
para a formação de verdadeiros cidadãos. A articulação curricular deve ter seu espaço, como
afirma Costa:
Mesmo tendo consciência da dificuldade de se alcançar uma efetivação da práti-
ca transdisciplinar no seio das escolas, ela precisa ser permanentemente buscada,
para se chegar à autêntica razão de ser da instituição escolar no sentido de prepa-
rar cidadãos e cidadãs para compreender, julgar e intervir em sua realidade, de
Teorias do Currículo 63
4 Gestão democrática e currículo
O currículo tem que ser entendido como a cultura real que surge
de uma série de processos, mais que como um objeto delimitado
64 Teorias do Currículo
Gestão democrática e currículo 4
e estático que se pode planejar e depois implantar; aquilo que é,
na realidade, a cultura nas salas de aula fica configurado em uma
série de processos: as decisões prévias acerca do que se vai fazer no
ensino, as tarefas acadêmicas reais que são desenvolvidas, a forma
como a vida interna das salas de aula e os conteúdos de ensino se
veiculam com o mundo exterior, as relações grupais, o uso e o apro-
veitamento de materiais, as práticas de avaliação etc. (MACEDO;
OLIVEIRA; MANHÃES apud SACRISTÁN, 2002, p. 37)
[...]
[...]
Teorias do Currículo 65
4 Gestão democrática e currículo
Atividades
1. O Conselho Escolar é o órgão máximo para a tomada de decisões realizadas no interior
de uma escola. Ele é formado pela representação de todos os segmentos que compõem
a comunidade escolar, como: alunos, professores, pais ou responsáveis, funcionários,
pedagogos, diretores e comunidade externa. Cada Conselho Escolar tem suas ações
respaldadas por meio do seu próprio Estatuto, que normatiza a quantidade de mem-
bros, as formas de convocação para as reuniões ordinárias e extraordinárias, como é
realizado o processo de renovação dos conselheiros, entre outros assuntos que compe-
tem a essa instância. Nesse sentido, cabe aos conselhos escolares:
a. Carga horária mínima anual de 800 horas, distribuídas por um mínimo de 800
dias de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames finais,
quando houver.
b. Carga horária mínima anual de 800 horas, distribuídas por um mínimo de 200
dias de efetivo trabalho escolar, incluindo o tempo reservado aos exames finais,
quando houver.
66 Teorias do Currículo
Gestão democrática e currículo 4
c. Carga horária mínima anual de 800 horas, distribuídas por um mínimo de 200
dias de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames finais,
quando houver.
d. Carga horária mínima anual de 200 horas, distribuídas por um mínimo de 800
dias de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames finais,
quando houver.
3. Leia este excerto de entrevista com o filósofo e professor Ivan Domingues, ex-presi-
dente do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (IEAT):
Quais seriam, de acordo com Domingues, as metodologias que vão além das divisões
disciplinares?
a. Interdisciplinar e multidisciplinar.
b. Transdisciplinar e multidisciplinar.
c. Interdisciplinar e transdisciplinar.
d. Somente a transdisciplinar.
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Teorias do Currículo 67
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68 Teorias do Currículo
Gestão democrática e currículo 4
Resolução
1. A.
2. C. Carga horária mínima anual de 800 horas, distribuídas por um mínimo de 200
dias de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames finais, quan-
do houver.
3. D.
Teorias do Currículo 69
5
Seleção e
organização curricular
Teorias do Currículo 71
5 Seleção e organização curricular
con·te·ú·do
substantivo masculino
1. Assunto.
2. Os dizeres (duma carta).
3. O contido em caixa ou qualquer invólucro.
adjetivo
4. Contido.
Esse conceito nos faz refletir sobre o que é contido no interior do processo ensino-apren-
dizagem, o que ocupa parcial ou completamente o espaço escolar e qual a capacidade de
apreensão que as pessoas têm e necessitam. Tais questionamentos nos levam a pensar sobre
o conjunto de conhecimentos, habilidades, formas de conhecimentos que são trabalhos den-
tro da organização pedagógica e didática das escolas. Seriam os conteúdos um consenso ou
uma divergência sobre suas escolhas e formas de trabalhar.
Esse é o maior dos dilemas na organização curricular: que conteúdos trabalhar, quando
e de que forma? Portanto, são necessários alguns critérios para a sua seleção. O primeiro
passo é conhecer como a modalidade de ensino a ser trabalhada é organizada: anualmente,
mensalmente, semanalmente, por ciclos para, em seguida, conceber uma carga horária es-
pecífica para o trabalho. A partir disso, devemos considerar os critérios essenciais para sua
construção. Vejamos alguns desses critérios:
• Validação – os conteúdos precisam ter uma relação aberta e clara com os objetivos
do ensino do curso, da disciplina e do assunto estudado. Devem possibilitar ao
aluno a apropriação do patrimônio científico e cultural construído socialmente.
• Aplicabilidade – os conteúdos necessitam possibilitar a aplicação do conhecimen-
to em novas e diferentes situações, também devem permitir seu uso para a solução
de problemas.
• Significação – os conteúdos carecem de ser interessantes para chamar a atenção
dos alunos e precisam estar relacionados com situações reais; também é impor-
tante que sejam relacionados com saberes anteriormente trabalhados para que o
aluno possa criar uma relação entre as partes. É interessante provocar reações do
aluno para que ele se interesse e pesquise mais sobre o assunto.
• Adequação – os conteúdos devem estar adequados ao nível cognitivo dos alunos,
considerando a maturidade intelectual de cada um para uma melhor assimilação.
72 Teorias do Currículo
Seleção e organização curricular 5
Também deve haver adequações quanto às necessidades sociais e culturais de cada
contexto.
• Flexibilidade – os conteúdos não podem ser estanques, isso é, eles devem aceitar
alterações para adaptações imprevistas em seu planejamento. As alterações po-
dem ser feitas e aplicadas pelos próprios alunos.
• Participação – os conteúdos devem ser discutidos com os alunos, os quais devem
conhecer a importância de seu estudo, fazendo associações, pesquisas e organi-
zando-se para dominar as diferentes áreas do conhecimento. Os conteúdos devem
ser assimilados de forma ativa e consciente.
• Sequenciação – os conteúdos devem apresentar uma sequência lógica para um en-
tendimento mais preciso; a continuidade e a sequência ajudam na sua apreensão.
• Imparcialidade – os conteúdos devem ser apresentados aos alunos com certa impar-
cialidade (mesmo tendo consciência que esse processo não é totalmente possível por
sermos seres inseridos em sociedade e, assim, envolvidos em determinados momen-
tos históricos e sociais); os alunos é que precisam elaborar sua própria opinião sobre
os diversos aspectos dos diferentes saberes estudados.
A seleção dos conteúdos deve estar vinculada aos objetivos pretendidos na disciplina
do curso, na área de conhecimento ou na matéria de ensino. A sua organização pode ser
vertical ou horizontal.
A organização horizontal é responsável para que o conhecimento tenha uma unidade,
que haja relação entre as diferentes áreas em um mesmo período de tempo (ano, semestre,
bimestre); ela estabelece a integração dos conhecimentos com as outras áreas.
Já a organização vertical garante a profundidade, continuidade e complexidade cres-
centes dos conteúdos ao longo do período. A profundidade significa o grau de abordagem
do tema estudado, a continuidade refere-se à permanência do tema nos anos subsequentes
e a complexidade é a relação entre os temas nos diferentes tempos com ampliação e apro-
fundamento contínuos.
• Sequência e continuidade.
Organização • Profundidade e complexidade
vertical crescente dos conteúdos.
Teorias do Currículo 73
5 Seleção e organização curricular
Específicos:
• Conceitos, leis, teorias, axiomas,
conhecimentos
procedimentos, métodos, técnicas.
sistematizados
Os conteúdos conceituais são formados por diversos conceitos e princípios que se vol-
tam às normas, aos símbolos, às representações dos conhecimentos específicos das diferen-
tes disciplinas. Os procedimentais são um conjunto de ações orientadas para a execução de
74 Teorias do Currículo
Seleção e organização curricular 5
uma meta, envolvem o processo pedagógico no trato dos procedimentos, do saber fazer.
Por meio de operações mentais é trabalhada a organização científica do pensamento. Já os
conteúdos atitudinais envolvem as atitudes, normas e os valores vivenciados no interior das
instituições de ensino. Atitudes em relação ao próximo, ao ambiente e à cultura do contexto
em que se está inserido.
Os conteúdos devem estar relacionados aos objetivos que se pretende alcançar e estes
realizados por meio dos métodos de ensino.
De acordo com Vygotsky (1991), o processo ensino-aprendizagem organiza-se pela for-
mulação dos objetivos, que devem estar ligados às ações que o aluno deve chegar ao final
das atividades. Isso é, o estudo ideal prepara os alunos para a solução de problemas, para o
trabalho em equipe, para a comunicação, a emissão de juízos de valor, ao desenvolvimento
de qualidades pessoais de cultura científica, ética e responsabilidade social e profissional.
Dessa forma, fica fácil perceber que, ao organizar os conteúdos a serem trabalhados
em sala de aula e ao selecionar os conteúdos que compõem um currículo, devemos ter uma
visão da totalidade dos processos que envolvem tais decisões.
Teorias do Currículo 75
5 Seleção e organização curricular
76 Teorias do Currículo
Seleção e organização curricular 5
entre o conhecimento científico e sua funcionalidade na prática; integração da
cultura escolar com as outras culturas que perpassam a escola; reconhecimen-
to da diferença e da diversidade cultural; explicitação de valores e atitudes por
meio do currículo. (LIBÂNEO, 2007, p. 81)
Portanto, o currículo também deve ser um instrumento de aproximação entre o pro-
fessor, o aluno e a sociedade. Ao mesmo tempo em que trabalha com a compreensão das
relações sociais, o currículo precisa instrumentalizar os alunos – e por que não incluir tam-
bém os professores? – na transformação da realidade na busca de uma sociedade mais ética
e íntegra. O currículo tem, assim, a responsabilidade de buscar a formação do aluno capaz
de pensar e agir não sendo apenas passivo ao processo de aprendizagem. Como afirma
Libâneo: “[...] o trabalho escolar não se assenta, prioritariamente, nos conteúdos de ensino
já sistematizados, mas no processo de participação ativa nas discussões e nas práticas sobre
questões da realidade social imediata” (LIBÂNEO, 2007, p. 69).
Ao ser protagonista do processo ensino-aprendizagem, o aluno valoriza a aprendiza-
gem por fazer parte dela e, mais do que isso, irá procurar despertar outras necessidades,
mobilizando suas experiências e vivências em uma aprendizagem ativa e participativa.
O projeto curricular de uma escola serve para orientar o seu campo de ação. Deve apre-
sentar atividades educativas adequadas e úteis aos seus alunos e precisa, também, estar em
consonância com o projeto político pedagógico da escola.
No Brasil, a LDB (BRASIL, 1996) exige um norteamento dos currículos, dos sistemas e
redes de ensino das unidades federativas, como também das propostas pedagógicas de todas
as escolas públicas e privadas de Educação Infantil e de Ensino Fundamental e Médio. Tal
orientação se apresenta, como já abordamos, na Base Nacional Comum Curricular (BNCC),
que possui um caráter normativo e define as aprendizagens essenciais que todos os alunos
devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica.
A BNCC prevê um ajustamento indispensável para a elaboração dos currículos escolares:
Em um país como o Brasil, com autonomia dos entes federados, acentuada di-
versidade cultural e profundas desigualdades sociais, a busca por equidade na
educação demanda currículos diferenciados e adequados a cada sistema, rede e
instituição escolar. Por isso, nesse contexto, não cabe a proposição de um currí-
culo nacional. (BRASIL, 2017, p. 10)
Os currículos e a BNCC têm funções complementares; assim, deve haver adequações
entre ambos para as diferentes realidades e características dos alunos dos sistemas ou das
redes de ensino e instituições escolares. É preciso levar em consideração a contextualização
dos conteúdos curriculares e a interdisciplinaridade:
Teorias do Currículo 77
5 Seleção e organização curricular
1 César Coll trabalhou como consultor do MEC na elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais,
que serviram como marco referencial para o estabelecimento de diretrizes pedagógicas para o Ensino
Fundamental.
78 Teorias do Currículo
Seleção e organização curricular 5
claras e precisas para o projeto de atividades ensino/aprendizagem. Isto torna
necessária. [...] a formulação de objetivos concretos ou objetivos de aprendiza-
gem, definidos como enunciados relativos a mudanças válidas, observáveis e
duradouras no comportamento dos alunos. (COLL, 1996, p. 68)
Os objetivos gerais, ainda de acordo com o mesmo autor, referem-se ao conjunto da área
curricular, sem apresentar conteúdos específicos. Para Coll (1996), o modelo curricular parte
da discussão sobre a finalidade da educação e deve também conter um resumo das escolhas
básicas sobre as concepções de aprendizagem escolhidas pela escola e sobre a intervenção
pedagógica, assim como as perspectivas sobre o que, como e quando avaliar. Para o autor,
uma proposta adequada deve seguir alguns passos. O primeiro deles é ter uma proposta
concreta, operacional, flexível e de fácil utilização em um tempo razoável; o segundo é a for-
mulação de um projeto curricular que garanta uma continuidade por meio da estruturação
ordenada e coerente de cada disciplina e levando em consideração as diferenças culturais,
de níveis e de escolarização. O terceiro passo volta-se para a flexibilização em relação às
exigências epistemológicas dos conteúdos de cada disciplina, e o quarto e último passo pede
uma proposta com base no modelo aberto de currículo, que se adapte ao ritmo acelerado de
transformação da atualidade e às características gerais dos alunos.
Coll (1996) aborda a necessidade de relacionar o currículo com um projeto social e cul-
tural interligado ao contexto da realidade social em que a escola está inserida. Volta-se, des-
sa forma, para a concepção construtivista e leva em conta as inteligências múltiplas.
Percebe-se que a construção do currículo escolar é um trabalho que exige dedicação, es-
tudo e muita pesquisa. Principalmente ao se considerar que esse documento não é fechado,
ele precisa ser reestruturado, adaptado e reconstruído constantemente, a fim de dar conta dos
avanços que acontecem dentro e fora da escola e do próprio desenvolvimento humano. Esse
é, assim, um grande desafio que precisa ser encarado coletivamente por toda a comunidade
escolar. Se todos fizerem parte de sua construção, o currículo da escola será útil e eficiente.
Teorias do Currículo 79
5 Seleção e organização curricular
80 Teorias do Currículo
Seleção e organização curricular 5
aleatório, inesperado e expressivo da existência, não apreendido pelo pla-
nejamento racional, porque é imprevisível (SOUZA; CARDOSO, 2008).
E o espaço, que transcende o “ambiente físico”, é o que se converte em
lugar com seus significados, representações, valores e estímulos. Como
dizia Paulo Freire, o espaço retrata uma relação pedagógica.
[...]
Atividades
1. A organização curricular exige alguns critérios em relação aos conteúdos a serem
trabalhados. Verifique qual a relação correta entre as colunas e, em seguida, marque
a opção correta.
A ordem correta é:
a. 1 – 2 – 3 – 4.
b. 4 – 3 – 2 – 1.
c. 2 – 1 – 4 – 3.
d. 3 – 4 – 1 – 2.
e. 1 – 3 – 4 – 2.
I. O professor tem muito mais que o encargo de repassar conteúdos, ele se volta
para formar cidadãos críticos e autônomos independentemente da época e dos
recursos que possui.
II. A prática social perpassa as representações sociais tanto do professor, como ges-
tor dos saberes, quanto dos alunos, como intérpretes das experiências e aprendi-
zagens para a vida social.
Teorias do Currículo 81
5 Seleção e organização curricular
a. I, II, III.
b. I e II.
c. II e III.
b. A Constituição Federal.
Referências
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82 Teorias do Currículo
Seleção e organização curricular 5
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www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-46982011000100011>. Acesso em: 14 set. 2017.
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et al. Psicologia e Pedagogia: bases psicológicas da aprendizagem e do desenvolvimento. São Paulo:
Moraes, 1991. p. 1-17.
Resolução
1. B.
3. A.
Teorias do Currículo 83
6
Currículo e projeto
político-pedagógico
Teorias do Currículo 85
6 Currículo e projeto político-pedagógico
pro·je·to
(latim projectus, -us, ação de se estender)
substantivo masculino
1. Aquilo que alguém planeja ou pretende fazer = cometimento, desígnio,
empresa, intento, plano, tenção.
2. Esboço de trabalho que se pretende realizar.
3. Primeira redação de uma lei, de estatutos ou de outro texto, que se sub-
mete à aprovação.
4. [Construção] Plano gráfico e descritivo.
po·lí·ti·co
(grego politikós, -ê, -ón, relativo aos cidadãos)
adjetivo
1. Relativo à política ou aos negócios públicos.
2. Delicado, urbano, cortês.
3. [Figurado] Finório, astuto.
4. [Informal] Indisposto com alguém.
substantivo masculino
5. Aquele que se entrega à política.
6. Estadista.
E pedagógico seria:
pe·da·gó·gi·co
(grego paidagogikós, -ê, -ón, adequado a um professor)
adjetivo
1. Relativo à pedagogia (ex.: método pedagógico).
2. Que procura educar ou ensinar (ex.: discurso pedagógico) = didático,
educativo.
86 Teorias do Currículo
Currículo e projeto político-pedagógico 6
Assim, juntando os termos, temos que projeto político-pedagógico é o planejamento
feito com apoio dos governos dos estados em relação ao processo de educação de crianças e
jovens, estudando os problemas que se relacionam com o seu desenvolvimento.
Segundo Maia e Costa (2011, p. 19), o PPP é “[...] a concretização do processo mental
coletivo escolar, com a finalidade de construir, de forma dinâmica, socializadora e crítica,
uma instituição constituída por cidadãos e formadora destes”.
O PPP é um processo democrático e que exige permanente reflexão e discussão sobre o
que acontece nas escolas. Há uma clara relação entre o PPP e a gestão democrática da escola,
assim como os indicativos legais das áreas, principalmente porque considera as diversida-
des existentes na população brasileira, assim como nas vinculações políticas e ideológicas
específicas de cada comunidade.
Assim, o PPP e o currículo são os determinantes na elaboração e no emprego da prática
escolar educativa. Ambos os documentos devem considerar sempre o aluno na sociedade
e na cultura que o cerca. É recomendável que tais documentos considerem as necessidades
históricas apresentadas pelos alunos e pela sociedade, subsidiados por critérios de ordens
filosófica, política, cultural e social, além da pedagógica, evidentemente.
O currículo parte de pressupostos e determinações legais, tais como a Lei de Diretrizes
e Bases e a Base Nacional Comum Curricular, e se desenvolve em processos teóricos e práti-
cos resultantes de um conjunto de determinações – que representam a postura política e as
intenções de aprendizagem desejáveis pela comunidade escolar e expressas pelo PPP.
O PPP constitui-se na referência norteadora da ação educativa escolar em todos os âm-
bitos. O interessante desse processo é que sua construção deve ser democrática, com a pos-
sibilidade de participação de todos os segmentos representativos da comunidade escolar,
constituindo um processo educativo, tanto em relação à sua construção, como efetivação e
avaliação. Não podemos deixar de considerar que esse procedimento é difícil e exige muito
trabalho e tempo, mas é o espaço de todos se expressarem em relação ao que de fato se es-
pera da escola. Sabemos que isso muitas vezes não se realiza, mas sua possibilidade já é um
avanço em termos de transformação social.
Por isso, antes de tudo é necessário a conscientização da importância da participação de
todos nas tomadas de decisões referentes à educação. Por outro lado, esse não é um trabalho
simples, ele precisa ter profissionais especialistas nas diferentes áreas do conhecimento e do
fazer pedagógico para subsidiar as decisões.
A primeira discussão em relação ao PPP é o seu objetivo, qual é a intencionalidade real
do processo educativo, qual o compromisso que se quer assumir como instituição de ensino,
Teorias do Currículo 87
6 Currículo e projeto político-pedagógico
Como nossos
Como nossos alunos Que sociedade
professores
vão aprender? vamos construir?
vão ensinar?
88 Teorias do Currículo
Currículo e projeto político-pedagógico 6
Não podemos deixar de mencionar que há problemas na construção coletiva e efetiva
do PPP e o primeiro deles, e mais relevante, é referente à participação efetiva de todos os
envolvidos no processo educacional das escolas, em especial das públicas. Mesmo com a
intenção e o incentivo dos gestores da escola, parte da comunidade escolar ou não conhece
ou não se sente apta a participar de decisões sobre a escola. Alguns não se sentem aptos em
assumir a função de dirigentes, articuladores, mediadores e interlocutores no papel de ges-
tores. Muitas vezes esse sentimento se dá por parte das escolas, seus gestores não acreditam
na contribuição da comunidade escolar para a tomada de decisões. Por ser um Estado demo-
crático, esses contrassensos existem e devem ser considerados para se buscar a superação e
efetivar realmente o que é apregoado legalmente, com a participação de todos nas tomadas
de decisão da escola.
Muitos são os movimentos sociais que lutam por direitos e reinvindicações a favor de
seus ideais; tais discussões chegaram aos bancos escolares e necessitam ser contempladas no
currículo. As ponderações sobre as questões de gênero, raça, etnia, cultura popular, religião
e orientação sexual enriquecem e valorizam a diversidade cultural e é preciso ter um olhar
pedagógico sobre elas – e sempre, sem dúvida nenhuma, respeitando as diferenças e a plura-
lidade de ideias. Assim, devemos pensar em um currículo numa perspectiva multicultural.
O multiculturalismo pode ser considerado um movimento em que se pressupõe a convi-
vência, em uma mesma região, de diferentes tradições e culturas com uma mescla de visões
de mundo e valores (REIS, 2017). Não há dúvidas de que o Brasil é um país multicultural
e que temos, portanto, que analisar e denunciar todo e qualquer tipo de discriminação que
comprometa a construção do conhecimento, de valores e de identidades nas instituições es-
colares. Dessa forma, o princípio norteador do currículo multicultural é estudar e conhecer as
diferenças que existem, a fim de que os estudantes consigam se distinguir e apreciar a cultura
do grupo social do qual são integrantes e compreendam e respeitem a cultura do outro.
Em 1997, os Parâmetros Curriculares Nacionais recomendaram o atendimento às neces-
sidades singulares dos alunos:
[...] a educação escolar deve considerar a diversidade dos alunos como elemento
essencial a ser tratado para a melhoria da qualidade de ensino aprendizagem.
[...] A escola, ao considerar a diversidade, tem como valor máximo o respeito às
diferenças – não o elogio à desigualdade. As diferenças não são obstáculos para
o cumprimento da ação educativa; podem e devem, portanto ser fator de enri-
quecimento. (BRASIL, 1997, p. 96-97)
E, para consolidar uma proposta curricular multicultural, as Diretrizes Curriculares
Nacionais Gerais para a Educação Básica estabeleceram que:
a educação destina-se a múltiplos sujeitos e tem como objetivo a troca de saberes,
a socialização e o confronto do conhecimento, segundo diferentes abordagens
exercidas por pessoas de diferentes condições físicas, sensoriais, intelectuais e
Teorias do Currículo 89
6 Currículo e projeto político-pedagógico
90 Teorias do Currículo
Currículo e projeto político-pedagógico 6
Devemos considerar as diferenças humanas como naturais, e as manifestações de tais
diferenças precisam ser respeitadas, principalmente em nosso país, que é repleto de lutas
políticas na busca de conquistas sociais. Nas escolas igualmente carecemos de considerar as
diferenças pessoais e humanas entre os alunos. Beyer (2010, p. 27) afirma que:
Evidentemente as crianças diferenciam-se entre si enormemente, o que não é
surpreendente. Assim, educar é confrontar-se com esta diversidade. O professor
que transita diariamente entre seus alunos conhece muito bem tal diversidade.
Dificilmente aceitaria qualquer premissa de homogeneidade dos seus alunos, pois
sabe que são diferentes entre si, assim, como não há ser humano igual a outro.
A escola tem um viés de padronização de maneiras interpretativas de conhecimento e ho-
mogeneização de saberes e formas de ensinar e aprender. Conforme atesta Fleuri (2001, p. 142),
A perspectiva intercultural reconhece e assume a multiplicidade de práticas cul-
turais, que se encontram e se confrontam na interação entre diferentes sujeitos.
E isto coloca um problema de conhecimento: como entender logicamente esta
relação de unidade e pluralidade? Cada sujeito constrói sua identidade a partir
de histórias e de contextos culturais diferentes. A relação entre diferentes sujeitos
constitui um novo contexto intercultural.
A escola deve tratar, sim, dos conhecimentos resultantes da racionalidade, do pensa-
mento lógico, do cientificismo, mas somados aos saberes populares e culturais do país, até
como uma forma de superação do controle e da dominação dos que detêm o poder. Segundo
Sacristán e Gómez (1998, p. 150), “o que se ensina, se sugere ou se obriga a aprender, ex-
pressa os valores e funções que a escola defende num contexto social e histórico concreto”.
A escola é um espaço de diversas identidades culturais que precisam ser consideradas
na formação dos alunos; é nela que se identifica, reconhece e compreende as diferenças exis-
tentes na formação dos nossos jovens. Assim, o projeto curricular escolar, quando busca um
vínculo emancipador, considera o multiculturalismo como elemento fundamental em sua
construção. De acordo com Santomé (1998, p. 130),
[...] um projeto curricular emancipador, destinado aos membros de uma socieda-
de democrática e progressista, além de especificar os princípios de procedimen-
tos que permitem compreender e sugerir processos de ensino e aprendizagem de
acordo com isso, também deve necessariamente propor certas metas educativas
e aqueles blocos de conteúdos culturais que melhor contribuam para a socializa-
ção crítica dos indivíduos.
A preocupação com a coerência entre o currículo e os conteúdos culturais reflete a busca
da construção de uma sociedade democrática e crítica, que busca formar indivíduos críticos,
solidários e ativos.
Teorias do Currículo 91
6 Currículo e projeto político-pedagógico
Uma das maiores mudanças ocorridas nos últimos tempos sem dúvida é a da propaga-
ção da tecnologia. Temos acesso à informação a qualquer tempo e em pontos extremos do
planeta. Essa evolução tecnológica tem ocasionado mudanças no ambiente escolar e exige
criatividade, posicionamento crítico e implantação de recursos de acesso para todos.
O uso das tecnologias somado a um posicionamento crítico quanto à seleção de conteú-
dos é primordial quando se pensa em currículo escolar. Ao considerar o currículo relacio-
nado ao cotidiano dos alunos, devemos ter em conta que eles estão envoltos por recursos
tecnológicos, como internet, smartphones, canais de TV e vídeos, enfim, caminhos variados
de disponibilização de saberes formais e informais que permeiam a vida das pessoas em
quase todas as sociedades civilizadas e interferem no processo de ensino-aprendizagem.
Todo o processo inovador significativo na vida das pessoas deve ser considerado para
o redimensionamento de conteúdos e práticas escolares de forma coletiva. Assim, o trabalho
com o currículo e as tecnologias não pode ficar no improviso ou na adaptação, mas precisa
ser pensado, refletido e implantado de forma consciente e intencional. Nessa perspectiva,
garante-se a qualidade e a equidade de um currículo flexível e atualizado.
Obviamente nem toda mudança exige adaptações curriculares, elas devem ser acompa-
nhadas de indicadores que mostrem sua necessidade, aceitação e importância na formação
dos alunos. E, mais uma vez, reforçamos que a comunidade escolar deve ser consultada, pois a
interação das pessoas envolvidas no processo faz com que elas construam interesses e validem
as mudanças sugeridas, refletindo a real demanda pela formação escolar na sociedade.
O acesso às redes permite à comunidade escolar a visão de novas culturas e, com isso, de
novas ideias, saberes com novas perspectivas, tanto para os alunos como para os professores, que
precisam estar familiarizados com o contexto tecnológico disponível e renovado constantemente.
Libâneo (2001, p. 80) afirma que:
a escola de hoje precisa propor respostas educativas e metodológicas em relação
a novas exigências de formação postas pelas realidades contemporâneas como
a capacitação tecnológica, a diversidade cultural, a alfabetização tecnológica, a
superinformação, o relativismo ético, a consciência ecológica.
A escola, o professor e as políticas públicas precisam considerar que as tecnologias são re-
cursos que podem representar as relações complexas do mundo contemporâneo e, dessa for-
ma, seu estudo e uso são necessários para acompanhar e preparar os alunos e docentes para os
futuros avanços sociais. Como recursos, é preciso explorar os relacionamentos e conexões em
diversos suportes digitais, como imagens, áudios, hipertextos, representações tridimensionais
e o que mais for aparecendo. Como conteúdos, deve-se avançar na inclusão da aprendizagem
das tecnologias digitais na prática educativa, inclusive como disciplina curricular.
A Resolução CNE/CEB n. 7/2010, que fixa diretrizes curriculares nacionais para o Ensino
Fundamental de nove anos, apresenta, em seu artigo 7o, o seguinte:
92 Teorias do Currículo
Currículo e projeto político-pedagógico 6
Art. 7º [...] as propostas curriculares do Ensino Fundamental visarão desenvolver
o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da
cidadania e fornecer-lhe os meios para progredir no trabalho e em estudos poste-
riores, mediante os objetivos previstos para esta etapa da escolarização, a saber:
[...]
II – a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, das artes,
da tecnologia e dos valores em que se fundamenta a sociedade. (BRASIL, 2010,
grifo nosso)
O artigo 12 da mesma Resolução afirma que:
Art. 12 Os conteúdos que compõem a base nacional comum e a parte diversifi-
cada têm origem nas disciplinas científicas, no desenvolvimento das linguagens,
no mundo do trabalho, na cultura e na tecnologia, na produção artística, nas
atividades desportivas e corporais, na área da saúde e ainda incorporam saberes
como os que advêm das formas diversas de exercício da cidadania, dos movi-
mentos sociais, da cultura escolar, da experiência docente, do cotidiano e dos
alunos. (BRASIL, 2010)
No artigo 16, a Resolução garante que os componentes curriculares e as áreas de conhe-
cimento como “[...] educação para o consumo, educação fiscal, trabalho, ciência e tecnologia,
e diversidade cultural devem permear o desenvolvimento dos conteúdos da base nacional
comum e da parte diversificada do currículo” (BRASIL, 2010, grifos nossos). Vale observar
a referência à tecnologia e à diversidade cultural como componentes da parte diversificada.
Por sua vez, o artigo 28 da Resolução CNE/CEB 7/2010 expressa a utilização da tecnolo-
gia no desenvolvimento do currículo:
A utilização qualificada das tecnologias e conteúdos das mídias como recurso
aliado ao desenvolvimento do currículo contribui para o importante papel que
tem a escola como ambiente de inclusão digital e de utilização crítica das tecnolo-
gias da informação e comunicação, requerendo o aporte dos sistemas de ensino
no que se refere à:
I – provisão de recursos midiáticos atualizados e em número suficiente para o
atendimento aos alunos;
II – adequada formação do professor e demais profissionais da escola. (grifos nossos)
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2017, p. 18) apresenta como
competência a utilização das tecnologias digitais na Educação Infantil:
Utilizar tecnologias digitais de comunicação e informação de forma crítica, signi-
ficativa, reflexiva e ética nas diversas práticas do cotidiano (incluindo as escola-
res) ao se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos
e resolver problemas.
Sobre a Educação Infantil e a tecnologia, a BNCC expõe os direitos de aprendizagem e
desenvolvimento da criança:
Teorias do Currículo 93
6 Currículo e projeto político-pedagógico
94 Teorias do Currículo
Currículo e projeto político-pedagógico 6
da cultura da imagem. Os critérios classificatórios estabelecem um refe-
rencial inidôneo, que tem como consequência definir práticas e mesmo
sistemas educar os traços identificadores de uma cultura, tais como as tra-
dições, a culinária, os idiomas, manifestações artísticas em geral, e, desse
modo, contribuir para a diversidade cultural, fator essencial para estimu-
lar a criatividade.
Teorias do Currículo 95
6 Currículo e projeto político-pedagógico
Atividades
1. O projeto político-pedagógico (PPP) envolve as propostas e programas de ações pla-
nejadas para serem executadas e avaliadas em função dos princípios e das diretrizes
educativas. Relaciona-se, ainda, às finalidades que cada instituição pretende alcan-
çar, sendo um documento norteador das políticas escolares e também articulador
das intenções, das prioridades e das estratégias para a realização de sua função so-
cial. Analise as asserções a seguir:
a. I e II.
b. I e III.
c. II e III.
d. I, II e III.
2. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (p. 10): “Em um país como o
rasil, com autonomia dos entes federados, acentuada diversidade cultural e pro-
B
fundas desigualdades sociais, a busca por equidade na educação demanda currícu-
los diferenciados e adequados a cada sistema, rede e instituição escolar”. Assim, em
relação ao currículo, deve-se:
96 Teorias do Currículo
Currículo e projeto político-pedagógico 6
3. Para Silva (apud SAMPAIO; LEITE, 1999, p. 49), “[...] os currículos devem ser pen-
sados e desenvolvidos nas escolas de maneira criativa, aberta e renovada. O papel
da escola deverá ser o de desmistificar a linguagem tecnológica e iniciar seus alunos
no domínio do seu manuseio, interpretação e criação”. Com base nessa afirmação, é
correto afirmar que:
c. O acesso às redes permite ao aluno acessar novas culturas, novas ideias e infor-
mações, fazendo com que ele construa novas perspectivas sobre um determina-
do tema.
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Teorias do Currículo 97
6 Currículo e projeto político-pedagógico
Resolução
1. D.
2. E. Em um país como o Brasil, com autonomia dos entes federados, acentuada diver-
sidade cultural e profundas desigualdades sociais, a busca por equidade na educa-
ção demanda currículos diferenciados e adequados a cada sistema, rede e instituição
escolar. Por isso, nesse contexto, não cabe a proposição de um currículo nacional.
3. C. O acesso às redes permite ao aluno acessar novas culturas, novas ideias e informa-
ções, fazendo com que ele construa novas perspectivas sobre um determinado tema.
98 Teorias do Currículo
7
Currículo e práxis escolar
Teorias do Currículo 99
7 Currículo e práxis escolar
O termo práxis diz respeito à ação ligada a uma teoria e ordenada por ela, isto é, é uma
maneira de se compreender a realidade e a existência dos sujeitos no mundo por meio da
relação entre teoria e prática, entre subjetividade e objetividade. De acordo com Vázquez
(1990, p. 245), a práxis é uma atividade prática que se faz e refaz, “[...] o ato ou conjunto de
atos em virtude dos quais o sujeito ativo (agente) modifica uma matéria-prima dada”.
A prática está vinculada a quase todas as profissões, ela é a execução das tarefas, da
rotina ou do fazer. Quando realizada com base reflexiva, pode haver modificações para a
melhoria dos processos e de seus executores: “[...] Só uma elevada consciência filosófica da
práxis permite que ela alcance esse nível criador. [...]” (VÁZQUEZ, 1990, p. 11).
No caso da educação, a práxis é a realização do processo ensino-aprendizagem por
meio do uso dos métodos de ensino com bases teóricas. O trabalho docente é ao mesmo
tempo prática e ação, com bases políticas e sociais. Vázquez relaciona tais práxis, conforme
o Quadro 1 a seguir:
A práxis política reflete a postura, que pode ser ativa e participativa ou passiva, apenas
com observação, dos participantes do processo. Ela tem base na cultura organizacional da
escola e de seus mantenedores. Tanto o professor quanto o aluno podem ser incentivados
a diferentes posturas. O fator social implica na reação da comunidade escolar diante das
aspirações econômicas, políticas e sociais que cada indivíduo carrega e que vai determinar
os caminhos históricos que percorrerá, exigindo uma constante postura de reflexão sobre o
que se faz e como se faz.
Assim, podemos pensar que a práxis docente tem como base a reflexão-ação-reflexão.
O professor tem sua ação bem definida e relaciona-se diretamente com os alunos e, conse
quentemente, com a sociedade, influenciando e sendo influenciado por eles. Ele é um agente
para a ação. O currículo não é um discurso fixo em um documento para ser arquivado, não
é um texto distante e diferente do que se realiza, ele é a base do fazer pedagógico escolar.
O planejamento é o projeto que esboça o plano para se chegar a um fim ou, em outras
palavras, é uma forma de organizar as ações a serem realizadas. De acordo com Libâneo
(2000), o planejamento é um processo de racionalização do trabalho pedagógico que arti-
cula a atividade escolar com os conteúdos do contexto social. Assim, ele é um processo de
tomada de decisões que refletirão em resultados na aprendizagem dos alunos e deve ser
construído coletivamente, abrangendo informações, propostas, discussões, decisões e ava-
liação constante.
O planejamento na escola possui vários níveis de organização, conforme podemos ve-
rificar no Quadro 2.
Conteúdos e metodologia
Sistematiza as ações escolares Políticas educacionais
de ensino
do espaço físico às avaliações
da aprendizagem
Projeto político-pedagógico
Articulação com o (PPP), Plano de desenvolvi-
planejamento curricular, Planejamento curricular mento escolar (PDE)
escolar e de ensino
Fica claro que o primeiro passo ao analisar um planejamento é identificar por que ele foi
elaborado. Esse processo é realizado por meio de um diagnóstico, que analisa as realidades
de cada contexto para sua implantação; indica, assim, as condições de desenvolvimento,
exigências e necessidades de cada envolvido. Somente com a análise da realidade é possível
elaborar um planejamento eficiente. Na fase diagnóstica do planejamento, são pensados os
caminhos necessários para sua execução. Daí parte também a definição dos objetivos do
planejamento, que são os pontos aos quais se pretende chegar.
Podemos perceber que cada planejamento apresenta objetivos próprios e que são eles
que norteiam a organização do sistema a que fazem referência. Também indicam os valores
e ideais das políticas que os sustentam e as expectativas finais de cada plano. Os objetivos,
ao expressarem propósitos acerca da educação, da escola e do ensino, precisam ser apre-
sentados de forma clara e, principalmente, ser tangíveis. Eles são metas que precisam ser
outro. Não cabe aqui analisar as diferentes formas de ensinar ou o estudo das diferentes ten-
dências pedagógicas, mas sim entender que para cada objetivo há um caminho específico.
Alguns conteúdos pedem uma metodologia voltada ao tradicionalismo, outros buscam for-
mas mais concretas ou mesmo alternativas de trabalho. Não há, desse modo, métodos certos
ou errados, mas sim, necessariamente, métodos apropriados para os diferentes conteúdos a
serem trabalhados em sala de aula.
A escolha metodológica deve levar em consideração a relação entre os objetivos de en-
sino, os meios e procedimentos escolhidos e os resultados esperados.
Resultados esperados
O termo avaliação está diretamente relacionado à ideia de estimar, calcular, dar valor a
algo. Nós fazemos avaliações o tempo todo; ao acordar e olhar no espelho, por exemplo, ava-
liamos o que vemos, nos modificamos, arrumamos, limpamos de acordo com o resultado des-
sa testagem. Ela está presente em todos os domínios da atividade humana. Somos juízes de
tudo o que vemos, pois expressamos uma opinião, mesmo que de forma interna e inconsciente.
Na educação, a relação se dá com a qualificação dos conhecimentos ou o proveito dos
alunos. Historicamente, a avaliação educacional tinha um papel de controle da aprendiza-
gem, do comportamento, da frequência.
Em nossa legislação educacional, o termo avaliação é utilizado para diferentes relações.
Na LDB de 1996, ele aparece 21 vezes, sendo abordado em diferentes artigos, como apresen-
tado no quadro a seguir:
[...]
[...]
Atividades
1. Na práxis docente que tem como base a reflexão-ação-reflexão, o professor tem sua
ação bem definida e relaciona-se diretamente com os alunos e, consequentemente,
com a sociedade, influenciando-os e sendo influenciado por eles. Para elaboração da
proposta curricular, certamente, o professor precisa:
I. São expressos nos programas oficiais, nos livros didáticos, nos planos de ensino
e de aula, nas atitudes e convicções do professor, nos exercícios, nos métodos e
na forma de organização do ensino.
II. Retratam a experiência social da humanidade no que se refere a conhecimentos
e modos de ação.
III. Constituem o objeto de mediação escolar no processo de ensino, no sentido de
assimilação e compreensão dos conhecimentos e modos de ação.
a. Somente a I.
b. Somente a I e a II.
c. Somente a II e a III.
d. Somente a I e a III.
Referências
BRASIL. Lei n. 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996.
FELÍCIO, H. M. S.; POSSANI, L. F. P. Análise crítica de currículo: um olhar sobre a prática pedagógica.
Currículo Sem Fronteiras, v. 13, n. 1, p. 129-142, jan./abr. 2013. Disponível em: <http://www.curriculo-
semfronteiras.org/vol13iss1articles/felicio-possani.pdf>. Acesso em: 22 set. 2017.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 45. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
GADOTTI, Moacir; ROMÃO, José E. Autonomia da escola: princípios e propostas. 2. ed. São Paulo:
Cortez, 2000.
GANDIN, Danilo. A prática do planejamento participativo: na educação e em outras instituições.
Petrópolis: Vozes, 1994.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.
______. Pedagogia e pedagogos, para quê? 3. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da educação. São Paulo: Cortez, 1994.
PADILHA, Paulo Roberto. Planejamento dialógico: como construir o projeto político da escola. São
Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, 2001.
VÁZQUEZ, A. S. Filosofia da práxis. Trad. Luiz F. Cardoso. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
VEIGA, Ilma Passos Alencastro (Org.). Projeto político-pedagógico da escola: uma construção possí-
vel. Campinas: Papirus, 1995.
Resolução
1. C.
2. E.
3. B.
Todo currículo deve levar em conta elementos determinantes que permeiam o processo
pedagógico e que, consequentemente, devem nele estar expressos. Entre esses componen-
tes, estão a diversidade e a inclusão. Essas categorias precisam fazer parte das preocupações
pedagógicas e dos currículos, tanto do núcleo comum quanto nos temas transversais, e não
somente na parte diversificada. De acordo com Costa (2016, p. 20),
Ao considerar que cada ator escolar – professores, alunos, gestores, colaborado-
res – é bagageiro de características socioculturais próprias que resultam de suas
vivências, e que expressa tais diferenças de forma distinta, deve-se expressar no
currículo tais diferenças e mostrar formas de trabalhar com elas harmonicamen-
te. Isso deve ser previsto, executado e constantemente avaliado por todos. Este é
o processo que incita a socialização, o diálogo constante sobre as diferenças e as
condições para se trabalhar com elas.
Quando a diversidade é tida realmente como uma construção histórica, social e cultu-
ral, seu papel no currículo é primordial. As diferenças entre os seres humanos devem ser
vistas como algo que vai além da questão de gênero, das características biológicas ou dos
desejos e vontades de cada um. São diferenças construídas como formas de adaptação ao
meio social e no contexto das relações de poder. Assim, a construção curricular deve voltar
os olhos para as diferenças que perpassam a sociedade como um todo. Ao se tratar qualquer
conteúdo, em todos os níveis de ensino, deve-se considerar as diferenças étnico-raciais, cul-
turais, sexuais, físicas, sociais, entre tantas outras.
A diversidade é um componente do desenvolvimento biológico e cultural da
humanidade. Ela se faz presente na produção de práticas, saberes, valores, lin-
guagens, técnicas artísticas, científicas, representações do mundo, experiências
de sociabilidade e de aprendizagem. (GOMES, 2007. p. 18)
O trabalho com a diversidade de forma constante e permanente possibilita uma proxi-
midade positiva com os processos socializantes e humanizadores, necessários para a forma-
ção do cidadão crítico que se quer desenvolver. A inclusão de alunos especiais no sistema
regular de ensino
baseia-se na perspectiva de uma educação para todos. A intenção é estimular o
desenvolvimento de todos os estudantes, inclusive dos ditos “normais”, que de
toda forma serão beneficiados visto que, ao elaborar uma proposta pedagógica
voltada para a diversidade, estarão sendo contemplados de forma ou de outra.
Há também o vislumbre da melhoria da qualidade da educação que busca diver-
sas formas de ensinar e aprender. Por meio da convivência e cientes de que todos
são diferentes e possuidores de potencialidades e limitações, há oportunidade de
avanços significativos na educação. (COSTA, 2016, p. 119)
Uso da
Aprendizagem
sobre a Integração da
Tecnologia
Até 1976, o trabalho realizado na Escola da Ponte era de uma estrutura tra-
dicional de 1ª a 4ª série, centrada no professor e guiada por meio de manuais
iguais para todos, repetição de lições e passividade. As crianças que chega-
vam à escola com uma cultura diferente da que lá prevalecia eram desfavo-
recidas pelo não reconhecimento de sua experiência sociocultural.
[...]
Direitos e deveres
Assembleia de escola
[...]
Em cada espaço da escola existe uma folha em que o aluno pode colocar
o nome e o assunto em que sente dificuldade. Posteriormente, um pro-
fessor se deslocará ao seu local de trabalho de forma a poder esclarecê-lo,
tanto individualmente, quanto em grupo. Sempre que um professor tenta
[...]
Assim como para fazer parte do corpo docente da Escola da Ponte é neces-
sário refletir acerca do processo educacional de qualquer aluno em for-
mação acadêmica, faz-se necessário refletir nosso papel nos lugares que
ocuparmos diante das oportunidades vindouras e escolhidas em função
de nossas profissões. Para se ter uma escola inclusiva é necessário criar
uma ponte entre o conhecimento e os alunos, sem obstáculos.
Atividades
1. As diferenças entre os seres humanos devem ser vistas como algo que vai além da
questão de gênero, das características biológicas ou dos desejos e vontades de cada
um. São diferenças construídas, como formas de adaptação ao meio social e no con-
texto das relações de poder. Analise as asserções a seguir:
a. I e II.
b. II e III.
c. I e III.
d. I, II e III.
e. Nenhuma.
e. Competências são teorias que utilizamos para estabelecer relações com e entre
objetos, situações, fenômenos e pessoas que desejamos conhecer.
a. I e II.
b. II e III.
c. I e III.
d. I, II e III.
e. Nenhuma.
Resolução
1. D.
2. A.
3. A.