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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE-UFRN

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE-CCS

DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA-DSC

CURSO BACHAREL EM SAÚDE COLETIVA-CSC

FRANCISCO ANTONIO DA SILVA

TECNOLOGIAS DO SABER POPULAR E O DIREITO À

SAÚDE PÚBLICA: RELATO DE EXPERIÊNCIA JUNTO AO

CORDEL “OS 30 ANOS DO SUS”

Natal

2022
FRANCISCO ANTONIO DA SILVA

TECNOLOGIAS DO SABER POPULAR E O DIREITO À SAÚDE


PÚBLICA: RELATO DE EXPERIÊNCIA JUNTO AO CORDEL “OS 30
ANOS DO SUS”

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)


apresentado à Universidade Federal do Rio
Grande do Norte - UFRN, como requisito para a
obtenção do título de Bacharel em Saúde
Coletiva.

Orientadora: Profa. Dra. Ana Gretel Echazú

Böschemeier.

Natal

2022
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS

Silva, Francisco Antonio da.


Tecnologias do saber popular e o direito à saúde pública:
relato de experiência junto ao cordel “Os 30 anos do SUS” /
Francisco Antonio da Silva. - 2022.
58f.: il.

Trabalho de Conclusão de Curso - TCC (Graduação em Saúde


Coletiva) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro
de Ciências da Saúde, Departamento de Saúde Coletiva. Natal, RN,
2022.
Orientadora: Profa. Dra. Ana Gretel Echazú Böschemeier.

1. Educação em saúde - TCC. 2. Educação popular - Literatura


de Cordel - TCC. 3. Arte-educação - TCC. 4. Sistema Único de
Saúde - TCC. 5. Direito à saúde - TCC. I. Böschemeier, Ana
Gretel Echazú. II. Título.

RN/UF/BS-CCS CDU 61:378

Elaborado por ANA CRISTINA DA SILVA LOPES - CRB-15/263


FRANCISCO ANTONIO DA SILVA

TECNOLOGIAS DO SABER POPULAR E O DIREITO À SAÚDE PÚBLICA:


RELATO DE EXPERIÊNCIA JUNTO AO CORDEL “OS 30 ANOS DO SUS”

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado à Universidade Federal do Rio Grande


do Norte - UFRN, como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Saúde Coletiva.

COMISSÃO JULGADORA

___________________________________________________
Profa. Dra. Ana Tânia Lopes Sampaio
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

____________________________________________________
Prof. Dr. Luiz Carvalho de Assunção
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

____________________________________________________
Profa. Dra. Ana Gretel Echazú Böschemeier.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Professora Orientadora - Presidente da Banca Examinadora

Natal, 11 de fevereiro de 2022.


Resumo

Tendo em vista a constante desvalorização do Sistema Único de Saúde (SUS) por parte da
população brasileira, houve a necessidade de investigação neste trabalho de pesquisa sobre a
efetividade do uso de tecnologias do saber popular em processos pedagógicos para a
promoção da Educação Popular em Saúde, visando discutir o direito à saúde pública, a partir
do cordel “Os 30 anos do SUS”. Para tanto, houve a necessidade de envolvimento de
estudantes do curso saúde coletiva da Universidade Federal de Rio Grande do Norte
objetivando discutir sobre as questões levantadas dentro do tema proposto. Realizou-se, então,
uma pesquisa semiestruturada quanti-qualitativa, com a aplicação de um questionário
contendo perguntas semiabertas e complementação das informações com a realização de um
grupo focal, com um número reduzido de estudantes para debater os conteúdos sobre o tema.
É possível identificar no presente trabalho um passeio realizado pelas informações
relacionadas à Educação Popular em Saúde, pelas artes enquanto indutoras do debate das
políticas públicas, onde se apoia a literatura popular do cordel, suas origens, história, a
estruturação e suas vertentes artísticas. Diante disso, pode-se afirmar que essas metodologias
que envolvem a arte-educação têm grande valor no meio popular, pois facilitam o acesso à
informação, potencializando o aprendizado, gerando conhecimento por meio das suas ações
problematizadoras do debate sobre temas relevantes na sociedade, especialmente sobre saúde,
com uma linguagem própria da cultura de um povo, possibilitando o fortalecimento da
democracia, do SUS e da cidadania.

Palavras-chave: Educação popular em saúde. Literatura de cordel. Arte-educação. Sistema


Único de Saúde. Direito à saúde.
Resumen

Llevando en consideración la constante desvalorización del Sistema Único de Salud (SUS)


por parte de la población brasileña, surgió la necesidad de investigar en este trabajo de
investigación la eficacia del uso de las tecnologías del conocimiento popular en procesos
pedagógicos para la construcción de la Educación Popular en Salud, con el objetivo de
discutir el derecho a la salud pública, a partir del cordel “Los 30 años del SUS”. Para ello, fue
necesario implicar a los/as alumnos/as del curso de salud colectiva de la Universidad Federal
de Rio Grande do Norte para debatir las cuestiones planteadas sobre el tema propuesto. A
continuación se realizó una investigación semiestructurada de tipo cuanti-cualitativo, con la
aplicación de un cuestionario con preguntas semiabiertas y la complementación de la
información con la realización de un grupo focal, con un número reducido de alumnos para
discutir los contenidos sobre el tema. Es posible identificar en este trabajo un recorrido
realizado por la información relacionada con la Educación Popular en Salud, por las artes
como inductoras del debate de las políticas públicas, donde se apoya la literatura popular del
cordel, sus orígenes, historia, estructuración y sus aspectos artísticos. Ante esto, se puede
afirmar que las metodologías que involucran a la arte-educación tienen un gran valor en el
ámbito popular, porque facilitan el acceso a la información, potenciando el aprendizaje,
generando conocimiento a través de sus acciones problematizadoras del debate sobre temas
relevantes de la sociedad, especialmente sobre la salud, con un lenguaje propio de la cultura
de un pueblo, permitiendo el fortalecimiento de la democracia, el SUS y la ciudadanía.

Palabras clave: Educación popular en salud. Literatura de cordel. Arte educación. Sistema
Único de Salud. Derecho a la salud.
Abstract

Taking into consideration the constant devaluation of the Unified Health System (SUS) by the
Brazilian population, the need arose to investigate in this research work the effectiveness of
the use of popular knowledge technologies as methodological tools for the promotion of
Popular Health Education, to discuss the right to public health, from the cordel [traditional
poem] “The 30 years of the SUS”. For this, it was necessary to involve the students of the
collective health course of the Federal University of Rio Grande do Norte to discuss the issues
raised on the proposed theme. Semi-structured research of a quantitative-qualitative type was
then conducted, with the application of a questionnaire with semi-open-ended questions and
the complementation of the information with the realization of a focus group, with a reduced
number of students to discuss the contents on the subject. In this work it is possible to identify
a journey through the information related to Popular Education in Health, throughout art
education as inducer of the debate of public policies, where the popular literature of the
cordel, its origins, history, structuring, and its artistic aspects. Given this, it can be said that
these methodologies involving the arts and art education have great value in the popular
sphere, because they facilitate access to information, enhance learning, generating knowledge
through their actions that problematize the debate on relevant issues of society, especially on
health, with the language typical of the local culture and its people, allowing the strengthening
of democracy, the national Unified Health System, and citizenship.

Keywords: Popular education in health. Cordel literature. Art education. Universal Health
System. Right to health.
Sumário

1 Introdução ……………………………………………………………………………..…... 8
2 As artes e a Educação Popular em Saúde ……………………………..…………..….... 11
3 O que é o cordel? ……………………………..………..……………………...…………. 14
4 O cordel “30 anos do SUS” ……………………………………………………………… 16
5 Aspectos Teórico-Metodológicos ...……………………………...…….………………… 24
6 Análise das narrativas produzidas: Questionário …...……………....………………… 28
7 Análise das narrativas produzidas: Grupo Focal .…………………………….………. 32
8 Conclusões …………………………………………………………….……….…………. 48
Referências bibliográficas ……………………………………………….………………... 51
Anexos …………………………………………………...…………………………………. 53
1 Introdução

Esse trabalho parte de um problema que merece ser investigado em relação ao Sistema
Único de Saúde (SUS), que é a sua desvalorização por parte das pessoas, que teimam em
enxergar apenas os gargalos enfrentados no dia a dia dentro dos serviços, muitas vezes, por
falta de informação sobre o sistema como um todo. Assim, torna-se pertinente encontrar uma
alternativa que possa responder ao seguinte questionamento: por que será que o nosso sistema
de saúde é tão desvalorizado no meio da sociedade brasileira? Levantaram-se, a partir desta
questão, outros sub questionamentos e hipóteses para a realização desta pesquisa: será que
isso se deve a falta de conhecimento das pessoas sobre o SUS e o seu funcionamento? E,
ainda, será que levar informação à população por meio de processos metodológicos da
educação popular tornará mais fácil a assimilação dos conceitos relacionados ao sistema de
saúde? É possível aprender com o apoio de tecnologias populares como o cordel? É possível
entender sobre o direito à saúde pública utilizando o cordel “Os 30 anos do SUS”?
Apesar da Constituição Federal Brasileira de 1988 prever a participação da sociedade
civil nas decisões relacionadas às políticas públicas, e a legislação do SUS conter o controle
social como um dos seus princípios, ainda existe a falta de informações e o pouco
envolvimento da população nessas questões. Segundo Kawashima et al (2007), em seu artigo
“O desconhecido SUS”, conclui que:

O conhecimento da população é insuficiente sobre os aspectos relacionados


ao SUS e que não há participação ativa da mesma nos serviços oferecidos.
No Brasil, as políticas de participação social são resultados de lutas e
pressões pela democratização do Estado e participação da população, porém
apenas uma pequena parte da população conhece a existência destes
mecanismos (KAWASHIMA et al, 2007).

Partindo dessas premissas, a pesquisa tem o objetivo de discutir a efetividade da


utilização do Cordel “Os 30 anos do SUS” na mediação do conhecimento sobre o direito à
saúde pública, na linha da educação popular em saúde, com o público alvo formado por
estudantes universitários do curso Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte-UFRN, trazendo ainda uma dimensão pedagógica de processos populares capazes de
atingir uma diversidade de públicos com conceitos científicos simplificados ligados a área da
saúde. Para tanto, utilizou-se uma metodologia exploratória de investigação semiestruturada,
com o auxílio de um questionário contendo questões semiabertas sobre o tema e, em seguida,
a realização de uma discussão em grupo focal para subsidiar a complementação das
informações.
Visando discutir as questões relativas aos objetivos propostos, que procuram entender
os porquês da desvalorização do SUS, ratificando as hipóteses que possam responder às
inquietudes contidas na presente pesquisa, relativas a desinformação da população sobre o
SUS e sobre o direito à saúde pública, o presente trabalho busca refletir acerca da eficiência
da Educação Popular em Saúde (EPS) por meio da literatura de cordel, esta arte poética já
enraizada na cultura popular, especialmente, do Nordeste brasileiro. Entende-se que, ao
mesmo tempo que é uma pesquisa desafiadora, que visa compreender um problema
relacionado ao sistema de saúde, falar da EPS enquanto metodologia de construção do
conhecimento que pode contribuir para a diluição deste problema, se torna uma tarefa
emancipadora, pois a arte pode despertar nas pessoas o desejo pela busca de mais informações
sobre o tema trabalhado, provocar a análise e interpretação de fatos e, assim, contribuir com o
aprendizado.
Apesar do predomínio de um modelo que valoriza a “Educação Bancária”, onde se
tem “o professor como detentor depositante do conhecimento e o aluno depositário”, acredita-
se na pedagogia freiriana da problematização na EPS, com sua abordagem crítico-reflexiva,
reconhecendo “o estudante como participante e sujeito ativo no processo educativo”. Nessa
perspectiva, este trabalho busca valorizar e contribuir com o fortalecimento da discussão das
metodologias ativas, apresentando uma resumida abordagem teórica à luz dos múltiplos
olhares participantes sobre a arte-educação nas práticas educativas em saúde dentro do SUS,
com foco na reflexão sobre a realidade político-econômica e sócio-cultural de um povo na
perspectiva da construção do conhecimento em saúde.

Assim é que, enquanto a prática bancária, como enfatizamos, implica numa


espécie de anestesia, inibindo o poder criador dos educandos, a educação
problematizadora, de caráter autenticamente reflexivo, implica num
constante ato de desvelamento da realidade. A primeira pretende manter a
imersão; a segunda, pelo contrário, busca a emersão das consciências, de que
resulte sua inserção crítica na realidade. (FREIRE, 1987, p.45).

Além do cordel ser aqui apresentado enquanto proposta indutora do debate para a
construção do conhecimento popular em saúde, este trabalho tenta mostrar a possibilidade
desta literatura servir como base para outras expressões artísticas como o teatro (e as suas
várias vertentes como o teatro popular de rua, fantoches ou de bonecos), a cenopoesia, a
música, a dança, para o aprender brincando. São várias as possibilidades que o cordel tem
para ser trabalhado como uma ferramenta, não somente com potencial para a educação
popular, mas para o divertimento ou lazer, com o poder de reunir pessoas, como podemos
observar em Santos (2010), apoiado em registros antigos que apontam a sua capacidade de
envolver pessoas em seus enredos ou estórias, onde reuniam-se entre vizinhos para
“escutação” de recitações e leituras coletivas das histórias cordelizadas, tidas como momentos
de lazer:

No nordeste agrário, esses romances eram uma forma apreciada de diversão


coletiva como narra o poeta Pedro Costa: “[...] e era diversão, rapaz, a gente
comprava o romance e ia pra casa e reunia as vizinhanças e lia aquele
romance, como que hoje a gente senta na sala pra assistir novela todo dia, e a
gente sentava, o pessoal se reunia pra gente cantar o romance novo que tinha
comprado na feira, então, era uma coisa” (SANTOS, 2010).

Somado a essa multidimensionalidade artística contida no cordel, percebe-se ainda o


seu potencial para aproximar diferentes classes sociais e outras culturas, como diz a
professora Márcia Abreu (1999) do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade de
Campinas (IEL/Unicamp) sobre o cordel:

Na zona rural, eram apreciados em engenhos, pequenas propriedades e em


fazendas de gado, não só pelos trabalhadores, mas também pelos
proprietários das terras que patrocinavam cantorias e liam – ou escutavam ler
– as histórias. Distinções clássicas entre campo e cidade, cultura popular e
cultura de elite parecem diluir-se perante os folhetos. No início do século, as
diferenças entre campo e cidade não eram tão marcadas no Nordeste e,
embora poetas e leitores pertencessem fundamentalmente às camadas pobres
da população, membros da elite econômica também tinham nos folhetos e
nas cantorias uma de suas principais fontes de lazer. (ABREU, 1999).

O significado que tem a riqueza cultural do cordel vai além das narrativas dos seus
conteúdos. É uma literatura que tem uma estrutura própria mostrada neste trabalho, com
informações necessárias para que se entenda o que é um cordel, a sua origem e história de
arraigamento cultural no Nordeste do Brasil e como é formada a sua estrutura literária. Traz,
ainda, o cordel “Os 30 anos do SUS”, como podemos observar abaixo, na íntegra, com a sua
organização, contendo 40 estrofes de 6 versos cada, sendo que os 3 versos pares (2º, 4º e 6º)
são rimados entre si e os 3 ímpares (1º, 3º e 5º) livres ou seja, sem rimas, e cada um dos
versos é construído ritmicamente com 7 sílabas poéticas, onde o 6º verso de cada estrofe rima
com o 1º da estrofe seguinte.
E, ainda, é oportuno dizer que este estudo representa apenas uma pequena
contribuição ao importante e necessário debate sobre o fortalecimento do SUS, a partir da
construção do conhecimento entre profissionais e usuários desse nosso sistema de saúde, por
meio de ações da EPS em uma perspectiva dialógica, participativa, criativa e emancipadora,
imprescindível para tornar possível a universalização do acesso e a integralização das redes de
atendimento, através da valorização e do apoio à comunicação e a informação em saúde para
que todos e todas possam entender o SUS, o seu direito à saúde pública, gratuita e de
qualidade, e ser atendidos no sistema de forma equitativa, contribuindo assim com a cidadania
e o bem viver.

2 As artes e a Educação Popular em Saúde

A literatura de cordel, com seus conteúdos estruturados em rimas e ritmos capazes de


construírem uma sonoridade poética própria, é uma arte que pode integrar outras linguagens
artístico-culturais, possibilitando a percepção de diversas imagens e conduzindo à reflexão
sobre os vários aspectos da vida cotidiana das pessoas. Ela é apresentada neste trabalho, não
apenas como uma ferramenta da cultura popular, mas também como provocadora e
facilitadora do processo educativo para a promoção da saúde, o qual conhecemos como
educação popular em saúde, envolvendo outras novas práticas conhecidas como metodologias
ativas, tanto para a formação de profissionais da saúde, quanto para o desenvolvimento de
trabalhos de informação e educação em saúde para a população no âmbito da prestação dos
serviços. A educação popular é conhecida por respeitar e valorizar os saberes e a autonomia
das pessoas, incentivando o diálogo e a participação na construção do conhecimento,
favorecendo uma aprendizagem significativa, que problematiza a realidade e busca formas
coletivas de superação. (OLIVEIRA et al, 2015).

Neste sentido, DANTAS; PARO e CRUZ (2020), afirmam que:

A educação popular trouxe para o campo da Saúde Coletiva dimensões como


a problematização, o agir crítico-reflexivo e a assunção de uma
intencionalidade política emancipatória. Tais dimensões apresentam-se como
provocações potentes no sentido de fortalecer o pensar e o agir em Saúde
Coletiva na direção de sua constituição, tanto enquanto campo de
conhecimento, quanto como prática profissional, social, educativa e
comunitária.

[...] a educação popular, especialmente em suas realizações no campo da


saúde, referencia a arte e a cultura como processo no qual as pessoas, os
grupos e as classes populares expressam e simbolizam sua representação,
recriação e reelaboração da realidade, inserindo-as em uma prática social
libertadora, cujas expressões não se separam da vida cotidiana.

A arte consegue contribuir fundamentalmente no acolhimento dos diferentes


sentires, pensares e agires que são produzidos e compartilhados
cotidianamente na complexa dinâmica da vida nos vários territórios.

[...] a arte mobiliza as pessoas a expressarem, inclusive, as determinações


sociais, econômicas e políticas as quais as pessoas estão expostas, ao
evidenciar como as pessoas sentem, vivenciam e percebem essas
determinações, bem como a forma como respondem as mesmas.

No Artigo 2º da Portaria Ministerial nº 2.761 de 19/11/2013, que instituiu a Política


Nacional de Educação Popular em Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (PNEPS-
SUS), está previsto que:

A PNEPS-SUS reafirma o compromisso com a universalidade, a equidade, a


integralidade e a efetiva participação popular no SUS, e propõe uma prática
político-pedagógica que perpassa as ações voltadas para a promoção,
proteção e recuperação da saúde, a partir do diálogo entre a diversidade de
saberes, valorizando os saberes populares, a ancestralidade, o incentivo à
produção individual e coletiva de conhecimentos e a inserção destes no SUS.

No parágrafo 2º do Artigo 4º desta mesma portaria, que trata dos quatro Eixos
Estratégicos da PNEPS-SUS, especificamente sobre o Eixo Estratégico II: “da formação,
comunicação e produção de conhecimento”

compreende a ressignificação e a criação de práticas que oportunizem a


formação de trabalhadores e atores sociais em saúde na perspectiva da
educação popular, a produção de novos conhecimentos e a sistematização de
saberes com diferentes perspectivas teóricas e metodológicas, produzindo
ações comunicativas, conhecimentos e estratégias para o enfrentamento dos
desafios ainda presentes no SUS.

Incentivar a realização de trabalhos educativos por meio das artes como forma de dar
expressão a conteúdos científicos que possam ser assimilados pela população em geral, pode
ser uma estratégia viável, já que ela possibilita mexer com as emoções e sentimentos das
pessoas e subsidiar na análise crítica sobre diversos temas, mesmo os que estão presentes no
dia a dia da população, mas distantes do seu conhecimento, como é o caso da saúde. Para
isso, é necessário valorizar e fomentar as práticas populares no sistema de saúde, por meio
de ações que proporcionem a interprofissionalidade e a integração das pessoas, a partir de
processos informativos, de divulgação e incentivo dessas metodologias, em especial, junto à
Atenção Primária à Saúde (APS).
As tecnologias digitais dominam atualmente o cenário nos ambientes cotidianos das
pessoas, mas existe a possibilidade de intervenção pedagógica por meio de performances da
cultura popular, como no caso em estudo, do cordel no cumprimento de um papel
informativo ou educativo de temas como o direito à saúde. Sendo assim, é possível também
haver uma integração entre os meios populares e os aplicativos disponíveis em aparelhos
tecnológicos como os celulares. Para esta integração, além do cordel, pode-se utilizar o
“teatro de fantoches”, a dança, a música / paródia, entre outras expressões artísticas.
A valorização do SUS e o respeito pelo conhecimento popular podem ser
potencializados por meio de uma pedagogia libertadora, que possa escambiar informações,
sentir os “sentires”, ouvir os “ouvires” e saber os “saberes” uns dos outros e isso é
primordial numa ação de educação popular. Este debate do respeito ao conhecimento
popular e da valorização das oralidades vai muito além da promoção de ações de educação
popular junto aos profissionais e à população em si. É um assunto que ainda está
imperceptível, mas, já se estende às instituições de ensino superior no Brasil e em outras
partes do mundo, especialmente na América Latina, onde supera a discussão das cotas para
os povos nativos e para os povos afrodescendentes nas universidades, chegando agora ao
debate da inclusão do “Notório Saber” docente, que são os saberes tradicionais dos mestres e
seus povos, no destas instituições de ensino, num “processo de reinstitucionalização
descolonizadora, que levará a uma refundação completa das nossas universidades”
(CARVALHO, 2018).
Esses saberes tradicionais são expressões artístico-culturais de uma coletividade que,
em alguns momentos, representam um sincretismo de religiosidades. Em outros, trazem à
tona as vivências e convivências desses coletivos, o seu cotidiano na vida social ou mesmo o
criticismo às condições político-econômicas em que vivem. Nesta linha, podemos observar
em “Ciranda da Vida: Dialogismo e Arte na Gestão em Saúde”, da médica seridoense,
doutora em educação, Vera Lúcia de Azevedo Dantas, poetisa e teatróloga (Teatro Popular
de Rua), militante da Educação Popular em Saúde, onde afirma que:

A arte é compreendida como espaço de criação-transcendência, capaz de


produzir sentidos, trajetos, sentimentos, contribuindo para construir as
trilhas do caminho, dos projetos de futuro e dos atos que ultrapassam
limites e transformam realidades. […] dimensão que potencializa a
dialogicidade criativa, capaz de realizar a suspensão crítica em que se
promove a reflexão das ações-situações vividas e se favorece a escuta em
rede da experiência coletiva. (DANTAS et al, 2012).

Desta forma, o teatro, a dança, o cordel, a música, seja qual for a abordagem artística
a ser explorada, a arte mexe com os sentimentos e as emoções das pessoas, podendo
envolver uma coletividade e proporcionar o bem viver, e realizar processos
potencializadores da aprendizagem em qualquer atividade de construção de conhecimentos
dentro de uma ação de EPS, pois, segundo Goldschmidt (2010, pág. 104):

O envolvimento comunitário leva ao desenvolvimento da confiança


pessoal, aumentando a auto-estima e a satisfação com a vida, reforçando o
sistema de defesa do corpo, diminuindo a susceptibilidade à doença.
O campo da educação popular em saúde, marcado por uma pluralidade e
diversidade de abordagens, atravessado por várias vertentes teóricas, requer
a invenção de novas formas organizativas e novos métodos de trabalho.
(GOLDSCHMIDT, 2010).

Pode-se perceber, no trabalho realizado por Batista et al (2015), que a arte também
pode ser uma propulsora do empoderamento e instigadora do cuidado com a própria saúde de
quem a pratica, “que através da dança como instrumento de Educação Popular em Saúde as
pessoas sentem a necessidade de mudança de hábitos, da importância da atividade física, de
alimentação saudável, controle do peso, glicemia e da pressão arterial”.

O uso da arte e da cultura local como meio de diálogo, permite uma maior
abertura entre as pessoas, que passam a se identificar com o conteúdo
debatido, aproximando-as de sua realidade.

O momento da aula de dança e a própria atividade de dançar propiciam


oportunidade de se trabalhar educação popular em Saúde, na qual o
conhecimento e o desejo de transformar a realidade são construídos
coletivamente. As pessoas se descobrem como sujeitos protagonistas de seu
próprio processo de Saúde e adoecimento, de suas próprias vidas, sujeitos de
suas histórias. (BATISTA et al, 2015).

A Educação Popular em Saúde (EPS) deve estar presente em vários ambientes


distintos da institucionalidade saúde e também nos vários meios de convívio da população
usuária do SUS. Para isso, os conteúdos técnico-científicos deverão ser discutidos e
trabalhados de tal forma que possibilitem o seu encontro com os saberes populares. Nesse
sentido, a EPS e a arte-educação na saúde têm potencial para trabalhar processos que
desenvolvam as percepções, a imaginação, a criticidade, a sensibilidade e a integração das
pessoas, a fim de construir conhecimentos e aprendizagens que favoreçam o seu entendimento
sobre o direito à saúde pública e sobre as várias dimensões do nosso Sistema Único de Saúde,
contribuindo com a cidadania e com o fortalecimento do SUS.

3 O que é o cordel?

É consenso entre os autores dessa literatura, que o cordel tem suas raízes na Europa,
principalmente na península ibérica e, especialmente, em Portugal. Foi difundida no Brasil
por meio de oralidades trazidas paulatinamente junto a colonização e ressignificada como
Literatura de Folheto Nordestina. Hoje, se apresenta como um produto cultural literário da
manifestação oral popular típica desta região do país.
Nas “oralituras” cordelizadas podemos encontrar produções com fatos históricos e de
ficção, estórias de heroísmo, contos e romances, causos, mitos, fatos ou acontecimentos de
diversas narrativas e até servia antigamente como veículo de transmissão de notícias. Um
universo de possibilidades, é uma arte geradora de outras artes, que dialoga com várias formas
de expressão dos conteúdos artístico-culturais como os cordéis e poemas recitados, cantados,
as canções, as emboladas de côco, as pelejas, os aboios, as poesias improvisadas…
O embelezamento poético dessa literatura se traduz também em suas variadas formas
estruturais de composição, inclusive, na sonoridade, ritmo e musicalidade produzidas pelas
rimas, a partir do construto linear dos versos pausados e tonificados metricamente em sílabas
poéticas (pentassílabo, hexassílabo, heptassílabo), formando suas estrofes (quadra, quintilha,
sextilha, septilha), a depender do número de versos ou linhas que o compõe. Vale lembrar
aqui que para compreender melhor a construção poética dessa literatura é necessário um
maior aprofundamento em seu estudo.
Recentemente, no ano de 2018, “o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN) reconheceu a literatura de cordel como patrimônio cultural imaterial do
Brasil”, de acordo com Melo (2019):

O debate conceitual sobre literatura de cordel no Brasil é atravessado por


outra inflexão a partir dos anos 1990 quando os efeitos da globalização sobre
as práticas culturais de diversos povos pautam a agenda dos debates políticos
e científicos. A Convenção sobre a Salvaguarda do Patrimônio Cultural
Intangível, promovida pela Unesco em 2003, coloca a preocupação com a
salvaguarda da cultura imaterial num sentido antropológico em que a
diversidade cultural é pensada em termos mais amplos, contemplando a
humanidade em suas relações com o ambiente e o mundo que nos cerca
(MELO, 2019, p. 11).

Segundo Salgado et al (2019) “Essa literatura tem como pano de fundo a cultura
popular nordestina e carrega consigo toda a identidade sertaneja”, que geralmente aborda
conteúdos sobre diversos temas da atualidade e de interesse da sociedade como um todo,
através de uma linguagem simples e popular. Castro e Costa (2015) apontam que o cordel
“caracteriza-se como uma literatura popular e de baixo custo e a sua utilização como
ferramenta didática torna-se importante estratégia nos meios escolares”.
Também, ensejando a citação de Martins (2011) que favorece ao objeto deste estudo
sobre o emprego da literatura de cordel na Educação Popular em Saúde, que tem uma
linguagem acessível, uma mensagem facilmente compreendida pela população e pode
promover a participação dos sujeitos no processo educativo; é uma “importante expressão
cultural do Nordeste brasileiro e pode ser utilizada como uma tecnologia educacional que
propicia, de forma lúdica, um reestudo de questões inerentes à promoção e à educação em
saúde”. Na área da saúde existem diversas publicações em cordel, contendo vários temas
específicos no que diz respeito aos processos saúde-doença, inclusive com publicações
realizadas também pelo Ministério da Saúde.
No contexto da visão ampliada em saúde, a arte e a cultura, seja através de estilos,
gêneros musicais e / ou poéticos, de uma forma em geral, entre outros, podem provocar o
debate de questões ligadas ao processo saúde-doença e ao bem-estar da população. O uso da
literatura de cordel como uma metodologia educativa, já conhecida e consolidada na
expressão da cultura popular nordestina, se apresenta como uma alternativa para o
desenvolvimento de processos educativos lúdicos, com uma intervenção dinâmica e
enriquecedora dos conteúdos ministrados, e facilitam o entendimento dos assuntos
estudados.
Dessa forma, esta literatura é vista como uma estratégia poética facilitadora do
acesso à informação, que possibilita a transformação de um assunto denso e de cunho
científico, em um conteúdo leve, permitindo a compreensão de forma simples, direta, e de
fácil absorção de qualquer abordagem temática. Sendo assim, trabalhar com o cordel é
essencial para as pessoas que utilizam os serviços públicos terem acesso à informação de
uma forma simples, para se apropriarem das questões relacionadas à cidadania, saúde e bem
viver e buscarem uma melhoria nos serviços prestados à população e a conquista de uma
melhor qualidade de vida.
Os cordelistas são pessoas que, normalmente, narram suas vivências e convivência na
sua comunidade, de uma forma simples, traduzindo para quem lê, geralmente, uma crítica
sobre a interpretação da vida cotidiana ou sobre sua própria existência. É por isso que, ao
abordar temas como saúde, cidadania e bem viver, o cordel se transforma em peça educativa
para um processo de ensino-aprendizagem sobre direitos, participação nas tomadas de
decisão do Estado, sobretudo, no que se refere à elaboração e implantação de políticas
públicas.

4 O cordel “30 anos do SUS”

Nesse contexto, o cordel “Os 30 anos do SUS” traz uma abordagem da trajetória de
luta do movimento para a Reforma Sanitária no Brasil, relatando poeticamente como a saúde
era tratada antes e como está sendo conduzida após a criação do Sistema Único de Saúde,
também versa sobre os princípios e diretrizes do SUS, seus avanços e gargalos enfrentados no
período, as conquistas das políticas e dos programas de saúde criados, além de outros desafios
a serem ultrapassados para cumprir com o que está preconizado em sua legislação.
O período de elaboração do cordel “Os 30 anos do SUS” se deu no mês de julho do
ano 2019, no momento em que aconteciam as conferências municipais e estaduais,
preparatórias para a 16ª Conferência Nacional de Saúde (8ª + 8), que teve como tema Saúde e
Democracia, onde o seu autor / pesquisador deste trabalho, participou como delegado
representante da sociedade civil / usuários do SUS, em Brasília/DF, apresentando o referido
cordel na Tenda Paulo Freire e no palco principal deste evento. O processo para a sua
construção naquele momento gerou um clima inspirador de tentar visualizar não somente os
30 anos passados de história de um SUS já autorizado legalmente, mas tentar enxergar a luta
que foi o movimento da Reforma Sanitária no Brasil, principalmente no período da década de
70, e a criação do Sistema Único de Saúde com a constituição de 1988, bem como os
momentos posteriores, como o da lei que regulamentaria o nosso sistema de saúde e suas
legislações posteriores, as políticas de saúde e os programas criados para atender os princípios
e diretrizes do SUS. E ir além, acreditando em um sistema de saúde inclusivo em todos os
níveis de atenção, bem conceituado pela população brasileira.
Com tudo isto em mente, o autor buscou a inspiração possível para registrar
poeticamente algumas conquistas e desafios do SUS nessas três décadas em um folheto
conhecido como literatura de cordel, composto por 40 estrofes e adequado às técnicas
tradicionais deste gênero literário, sendo cada estrofe formada por seis versos (sextilhas) e
cada verso metrificado, contendo sete sílabas poéticas – heptassílabos –, uma das modalidades
mais comuns, onde os versos pares (2, 4 e 6) são rimados de forma alternada entre si, e os
ímpares (1, 3 e 5) são livres, com o último verso de cada estrofe rimando com o primeiro
verso da estrofe seguinte, reproduzidos a seguir:

Cordel: Os 30 anos do SUS

Peço a você permissão


Para eu me expressar
Em forma de poesia
Da cultura popular
Dos 30 anos do SUS
Em rimas, poder falar

II

Não poderia calar


Na atual situação
Falar do sistema que
Acolhe jovem, ancião,
Homem, mulher e criança
Do litoral ao sertão

III

Ùma comemoração
Daquilo que já deu certo
E o que ainda não deu
Para conseguir o resto
Nós devemos é lutar
E não deixar em aberto

IV

Devemos ficar espertos!


Nossa nação padecia
Antes de criar o SUS
Era só o que existia
Epidemias sem controle
Povo pobre é quem morria

Um movimento se ascendia
No Brasil, antes do SUS
Da “Reforma Sanitária”
Que deu p’rá saúde a luz
Sérgio Arouca, um líder
Na Fundação Oswaldo Cruz

VI

O ano que se produz


A oitava conferência
Mil, novecentos e oitenta e seis
Foi tomada a providência
Para os rumos da saúde
Gratuita e de excelência

VII

Foi com muita competência


Debatida no Congresso
Nacional Constituinte
Aprovada com sucesso
Em nossa Constituição
Uma saúde de progresso

VIII

Tivemos uns retrocessos


No decorrer da história
Mas, firmes, nós marcharemos
Quem acredita na vitória
De um sistema de saúde
Que mereça nossa glória
IX

Uma lei regulatória


É necessária e urgente
Depois de oitenta e oito
P’rá regular legalmente
O nosso Sistema Único
De Saúde competente

Esse SUS inteligente


Tem a norma que o sustenta
Lei Orgânica da Saúde
Chamada de oitenta, oitenta
Entrando em vigor em mil
Novecentos e noventa

XI

Só não vence quem não tenta


Ultrapassa a barreira
Que o lado inimigo impõe
Delimitando fronteira
Negando nossos direitos
À uma saúde de primeira

XII

A saúde verdadeira
É ter acesso à educação,
Lazer e saneamento
Qualidade em habitação,
Em transporte e bom emprego
Que nos dê sustentação

XIII

Em nossa Constituição
Tudo isso está contido
Saúde como direito
Nosso, já é garantido
E um dever do Estado
Tudo está constituído

XIV

De todos nós, é sabido


Que o SUS é universal,
Tem acesso com equidade
E assistência integral
Outro princípio é a
Participação social
XV

P’rá saúde é essencial


Promoção e proteção
Estando na morbidade
Buscar a recuperação
Afastando a doença
Com a sua prevenção

XVI

A descentralização
Dar responsabilidade
Aos entes federativos
Em qualquer complexidade
Para integrar seus serviços
Seja no campo ou cidade

XVII

E o viés da qualidade
Do serviço a ser prestado
Desde o seu acolhimento
Com um dever humanizado
Por qualquer um servidor
Efetivo ou contratado

XVIII

É de um grande legado
O “Programa do Agente
Comunitário de Saúde”
Que está sempre à frente
Tendo como sigla PACS
Para atender nossa gente

XIX

Uma tarefa pendente


Para a efetivação
Das políticas de saúde
A regionalização
Em redes organizadas
Numa hierarquização

XX

Falamos da implantação
Do SUS, em suas esferas
Município, estado, união
Nessas trinta primaveras
E, p’rá consolidação
Só com medidas severas
XXI

Entre as ações que deveras,


Para o povo entender
Princípios e diretrizes
E o SUS se fortalecer
“Educação Popular
Em Saúde”, p’rá valer

XXII

Devemos agradecer
Conquistas que obtivemos
SAMU, “Brasil Sorridente”
Entre outras que tivemos
Programa como o “Mais Médicos”
Esse nunca esqueceremos

XXIII

É preciso que cuidemos


Da ABS ou APS
PSF e ESF
UPA, MAC e UBS
As siglas você já sabe,
Se não sabe, não se estresse!

XXIV

Que você se interesse


Pelo “Saúde do Idoso”
O “Saúde da Mulher”
Deixa-me muito orgulhoso
“Pessoa em Situação
De Rua”, SUS cuidadoso!

XXV

Nenhum deles é oneroso


Comparado à sua importância
Mais benefício que custo
Pela significância
Na saúde que só tinha
Hospital e ambulância

XXVI

Sabemos da relevância
Da “(Atenção) Psicossocial”
Também da “Rede Cegonha”
E de forma especial
Da “Saúde das Pessoas
No Sistema Prisional”
XXVII

O “Cartão Nacional”
É a identidade no Sistema
Para quem for acolhido,
Consultado no esquema,
Ou melhor, utiliza o SUS
Seja qual for o problema

XXVIII

Temos ainda outro tema


Que não podemos deixar
“Saúde do Povo Indígena”
Seja qual for o lugar
Merece sua atenção
No SUS, em seu bem-estar

XXIX

A “Atenção Domiciliar”
É uma estratégia do serviço
“Melhor em Casa”, o programa
Que passa até passadiço
Para atender a família
Em um lugar fronteiriço

XXX

Eu aqui não desperdiço


Expressões na poesia
Pois o SUS é o nosso lema
E digo com maestria
Que não existe saúde
Sem haver democracia

XXXI

Há bem pouco existia


“Cooperação Tripartite
Brasil-Cuba-Haiti”
Nosso SUS não se omite
A salvar a quem precisa
Seja qual for o limite

XXXII

Não foi uma dinamite,


Foi desastre natural
Que abalou o Haiti...
Uma ação fundamental
P’rá salvar aquele povo,
Um SUS transnacional
XXXIII

A “Estratégia Digital
Da Saúde p’rá o Brasil”
DIGISUS no e-Saúde
Para adulto e infantil
Beber desse patrimônio
Do “país céu cor de anil”

XXXIV

Cuidado com o Rivotril,


Veja a farmacopeia!
“Farmácia Popular
Do Brasil”, uma boa ideia
De um SUS p’rá quem não pode
Pagar por uma geleia

XXXV

No nosso Sistema estreia


As “Práticas Integrativas (e)
Complementares à Saúde”
Dentre outras assertivas
As Plantas Medicinais,
Fitoterápicas, extrativas

XXXVI

As “Ações Afirmativas”
Ampliam a inclusão
De quem esteve distante
Em outra ocasião
Das “Políticas de Saúde”
Que nunca chegavam não!

XXXVII

Agora tem orientação,


PMAQ, “Humaniza SUS”
Programas de qualidade,
Muitos aqui já expus
“Academia da Saúde”
Dá energia igual a cuscuz

XXXVIII

Nos acendeu essa luz


De um SUS que é show de bola
Tem o Programa também
De “Saúde na Escola”
E até países que
Do SUS quer fazer uma cola
XXXIX

É sagrado como estola


O nosso SUS brasileiro
Para se consolidar
Melhor gestão, mais dinheiro
Para se constituir
Num Sistema altaneiro

XL

Não é apenas financeiro!


Sei que há a reticência…
Uma ação coletiva
Será a nossa resistência
Fazer valer as propostas
Da 16ª Conferência.

Autoria: Francisco Antonio da Silva (Chico Antonio), julho/2019.

5 Aspectos Teórico-Metodológicos

A pesquisa foi de tipo semiestruturada com uma abordagem quanti-qualitativa de


natureza aplicada, com objetivos exploratórios e procedimentos que utilizaram as técnicas de
aplicação através de um questionário com questões semiabertas, objetivando levantar
opiniões, crenças e sentimentos dos respondentes sobre o tema proposto. Em seguida, foi
realizado um encontro com um grupo reduzido, denominado Grupo Focal (GF), para uma
discussão complementar do tema, baseado no que está referenciado em Barbour (2008), onde
um “GF é o exercício que visa entrevistar um grupo, que é visto como detendo uma visão
consensual, em vez de ser o processo de criar o consenso pela interação em uma discussão”.
Adicionalmente, pode-se dizer que “qualquer discussão de grupo pode ser chamada de um
grupo focal, contanto que o pesquisador esteja ativamente atento e encorajando às interações
do grupo” (KITZINGER; BARBOUR, 1999, p.20).
Em decorrência do contexto pandêmico da Covid-19, havia a dúvida se seria possível
e viável tecnicamente a realização de uma pesquisa com pessoas, de forma totalmente
virtual, já que se tratava de um trabalho basicamente exploratório, um dilema presente
atualmente entre os estudantes de qualquer área que precisam realizar as suas pesquisas de
campo ou etnográficas. Porém, este foi realizado de forma segura, após encontrar em Miller
(2020) a confirmação de ser “completamente possível [...] conduzir a sua etnografia de uma
forma tão original e tão significativa quanto perspicaz como se estivesse visitado seu
campo”. Desde que seja construída uma relação de confiança, compromisso e respeito às
individualidades e ao coletivo entre os pesquisadores e os pesquisandos, passando também
por uma questão de ética, assim como acontece e é imprescindível na pesquisa offline, tendo
mais importância ainda esta questão quando a pesquisa é realizada de forma virtual ou
online, onde a dinâmica familiar cotidiana acontece simultaneamente a estas formas de
encontros profissionais ou acadêmicos.
É necessário compreender ainda que esse momento de pandemia tem influenciado
também nas questões relacionadas à saúde físico-psico-emocional das pessoas e totalmente
no modo de vida das populações em geral. Entender essas questões e levá-las em
consideração em seu trabalho, tem importância fundamental para não achar que somente a
autorização burocrática de um comitê de ética é necessária para a tranquila realização do seu
trabalho de pesquisa virtual.
Com este entendimento, a melhor maneira encontrada para realizar as discussões e
extrair os conteúdos para a construção do produto desta pesquisa foi a elaboração de
questionários na plataforma do google forms e disponibilizá-los através do link de acesso
enviado junto ao convite pelos grupos de whatsapp das turmas ou dos alunos
individualmente, para que os mesmos respondessem aos respectivos questionamentos. Bem
como, todo o processo de divulgação do grupo focal também foi utilizado no whatsapp. Já,
para a realização do GF foi utilizada a plataforma google meet, também com link enviado
para os possíveis estudantes participantes da reunião. Na ocasião da abertura da sala virtual,
antes de iniciar a discussão, foi solicitada permissão dos presentes para gravação do evento,
que de pronto foi autorizada pelos participantes.
Muitas das ferramentas e plataformas virtuais disponíveis permitem o acesso
gratuito, mesmo com algumas restrições específicas de cada uma para pessoas físicas e/ou
para instituições jurídicas. Desta forma, a dinâmica de estudos, de trabalhos e outras
atividades profissionais (ou não) que já faziam parte do cotidiano das pessoas, tiveram que
se adaptar aos meios virtuais e digitais para a sua continuidade. Em recente trabalho
realizado sobre comunicação popular, meio digital e pandemia, com grupos da Paraíba, Rio
Grande do Norte e Ceará, onde o cordel foi trabalhado na promoção da saúde, os autores
relataram o seguinte:

Aproveitamos a canalização de respostas para essa crise através dos


veículos da cultura, verdadeiros alicerces da vida dos povos, expressos em
registros tão diversos como a música, o cordel, as artes visuais e as próprias
formas de comunicação comunitária produzidas e já existentes em cada
território (BÖSCHEMEIER; CARVALHO, 2021).

No decorrer deste trabalho de pesquisa, houve uma instância de discussão exploratória


no contexto de uma sala de aula, durante uma aula do componente curricular Saúde e Cultura
na turma do primeiro período (2021.1) e, após análise das informações levantadas, houve uma
reformulação do cronograma e consequente readequação dos espaços onde seria realizada a
pesquisa. O projeto foi reapresentado ao Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital
Universitário Onofre Lopes (CEP/HUOL/UFRN) e aprovado em 23/11/2020, sob o nº
5.003.389, tendo o Certificado de Apresentação e Apreciação Ética - CAAE sob o nº:
50639221.2.0000.5292. Foram seguidas todas as exigências éticas e legais para pesquisa
envolvendo seres humanos, consideradas nas resoluções do CNS nº 466, de 12 de dezembro
de 2012 e nº 510, de 07 de abril de 2016.

Imagem 1: Cartaz de divulgação do Grupo Focal


Fonte: O autor.

A estratégia de recrutamento do público alvo desta pesquisa aconteceu a partir da


divulgação da mesma, por meio de grupos de whatsapp das turmas do curso saúde coletiva
tanto para responder ao questionário e disponibilizando o link de acesso ao mesmo, quanto
para a realização do grupo focal, informando sobre seus objetivos. O grupo focal aconteceu
no dia 13/12/2020, das 14 às 16 horas, com abordagens sobre o SUS e o tema do direito à
saúde, a educação popular em saúde por meio de processos metodológicos populares,
principalmente sobre as artes, a poesia e a literatura de cordel. A transcrição dos discursos dos
cinco participantes do grupo focal, quando oportuno, será apresentada com as letras
maiúsculas A, B, C, D e E para manter o anonimato dos mesmos no estudo.
Participaram, enquanto público alvo da pesquisa, 32 (trinta e dois) estudantes do curso
saúde coletiva da UFRN que receberam o convite aberto à este público por meio da
divulgação em mídias e redes sociais, junto ao link de acesso à plataforma google forms,
atingindo um percentual de 16,58% do total de 193 alunos matriculados no semestre 2021.2,
que responderam ao questionário com perguntas semi-abertas e, em seguida, as informações
foram complementadas com a realização de um grupo focal, gerando o conteúdo principal
para a coleta de dados da pesquisa. O que se buscou durante estas discussões foi compreender,
a partir da visão desse público, se existe viabilidade na utilização do cordel proposto,
enquanto meio possível para a realização de ações no âmbito da educação popular em saúde, a
possibilidade de promover e provocar o debate sobre o SUS e o direito à saúde pública, em
consonância com a Portaria Ministerial nº 2.761 de 19/11/2013, que institui a Política
Nacional de Educação Popular em Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (PNEPS-
SUS).
Fala-se muito, atualmente, da importância de utilização das metodologias ativas e da
arte-educação para o favorecimento do aprendizado, principalmente na Educação Popular em
Saúde. Isto porque, são formas que proporcionam a construção do conhecimento, a partir do
protagonismo do educando, participando ativamente do processo ensino-aprendizagem. É
importante ressaltar ainda que a construção do conhecimento e do aprendizado, acontece com
a comunicação satisfatória, que haja sintonia entre um emissor e um receptor da mensagem,
por meio de um canal que possa simplificar o entendimento a partir de uma linguagem clara e
objetiva, contextualizada no dia a dia das pessoas, principalmente quando este aprendizado se
dá num meio popular, ou seja, na população em geral. Desta forma, o cordel em estudo tem a
pretensão de ser um instrumento provocador do debate sobre o SUS e o direito à saúde, entre
os profissionais da área e as classes populares mais desinformadas da sociedade.
Em relação a percepção sobre as metodologias baseadas na educação popular no
âmbito da saúde, os participantes disseram ser de extrema importância, por ser uma forma
fácil e descontraída de educar a população que está sempre às margens das instituições de
ensino superior. Trabalhadas de uma forma mais interativa nos diversos locais de
aprendizagem, de acesso à população, elas podem despertar nas comunidades o interesse por
temas relevantes para o seu desenvolvimento.
É possível constatar, portanto, que a educação popular é uma forma de trazer para o
comum, o conhecimento científico, de modo mais lúdico e acessível, com uma linguagem
mais clara e facilitada. Elas podem ser vistas como ações complementares e essenciais ao
ensino em todas as esferas, e podem possibilitar a inclusão das pessoas nos serviços de saúde,
com uma informação mais palpável, levando em consideração suas crenças individuais e
coletivas e a diversidade popular, para a construção de novos saberes, e do entendimento
sobre os condicionantes e determinantes sociais diretamente ligados ao processo saúde-
doença.

6 Análise das narrativas produzidas: Questionário

Entre os e as participantes que responderam ao questionário, exatamente a metade


deles é considerada jovem, pois se encontram neste público os que estão na faixa etária entre
16 e 29 anos. Um pouco abaixo da metade (46,9%) estão na faixa etária de 30 a 45 anos de
idade e, a diferença entre estes e o público jovem, representa apenas 3,1% dos que
participaram, sendo estudantes acima dos 45 anos, como se pode ver no gráfico abaixo.

Imagem 2: Gráfico representativo da faixa etária dos participantes da pesquisa.


Fonte: O autor (capturada do google forms).

Pode-se constatar a grande participação de pessoas do gênero feminino, representando


mais de ⅔ dos participantes da pesquisa, contra ¼ apenas dos que responderam pertecer ao
gênero masculino e 3,1% considerados de gênero não-binário (nem masculino, nem
feminino).
Imagem 3: Gráfico representativo do gênero dos participantes da pesquisa.
Fonte: O autor (capturada do google forms).

No quesito raça / etnia, 56,3% responderam que são brancos, 28,1% que são negros /
afrodescendentes e 15,6% que são outros, também não teve nenhum indígena respondente.
Nos comentários realizados pelo grupo, houve uma reclamação da ausência da classificação
“parda”, sendo possível constatar esta ausência também entre as pessoas que responderam a
alternativa "outra'' onde estão inclusos os/as considerados/as pardos/as. Existe aqui uma
curiosidade que merece ser melhor investigada que é em relação a essa maioria de pessoas
brancas no curso Saúde Coletiva da UFRN, mesmo com a política de cotas para negros e
pardos, considerando que esta é apenas uma amostra do universo de estudantes matriculados
neste curso, no semestre em tela. O que se sabe é que muitos dos estudantes que entram neste
curso já chegam com uma graduação, principalmente, em outros cursos da área da saúde
como enfermagem, odontologia, biomedicina, entre outros.

Imagem 4: Gráfico representativo de raça / etnia dos participantes da pesquisa.


Fonte: O autor (capturada do google forms).
Quando foram perguntados se “trabalha ou já trabalhou em instituições de saúde'', a
maioria dos e das participantes (20 dos/das 32) responderam que “sim”, e apenas 12 disseram
que não. Entre os 62,5% que afirmam trabalhar ou ter trabalhado em locais com vínculo
empregatício ou não (estágio), aparecem 19 instituições públicas de domínio dos três entes
federados (como o Hospital Universitário Onofre Lopes - HUOL, Secretaria Estadual de
Saúde Pública - SESAP, Conselho Estadual de Saúde - CES, Unidades Básicas de Saúde -
UBS / Unidades de Saúde da Família - USF, Centro de Atenção Psicossocial - CAPS e
Secretarias Municipais de Saúde da capital e de alguns municípios do interior do estado do
Rio Grande do Norte, além de outros órgãos como Hemonorte, hospitais e maternidades) e 4
instituições privadas de saúde (entre Organizações Sociais filantrópicas como o Hospital
Varela Santiago e empresas particulares, incluindo farmácias e clínicas), ao todo são
instituições com atuação que varia entre os três níveis de atenção, da Assistência Primária à
Saúde (APS) à Média e Alta Complexidade (MAC).

Imagem 5: Participantes que trabalham ou já trabalharam em instituições de saúde.


Fonte: O autor (capturada do google forms).

Também foi perguntado aos/às participantes se seria ou não possível “aprender


brincando”. A resposta da grande maioria (96,9%) foi que “sim” e apenas 3,1% que “talvez” e
nenhuma resposta que “não” ou “não sabe/não quer responder”. Foram unânimes (100%) em
afirmar que “sim” no questionamento se seria “plausível falar sobre cidadania, saúde e bem
viver, através da arte do cordel” e ainda acrescentaram que os processos de informação e
formação são essenciais para melhorar a qualidade de vida e também dos serviços. Disseram
também que através da cultura pode-se aprender de uma forma lúdica, sendo o cordel uma
boa estratégia que pode facilitar o acesso à informação, despertar e mexer com os
sentimentos, pois é construído de uma forma interessante com frases (versos) de sentidos
rimados, mais acessível para a compreensão dos usuários dos serviços de saúde por possuir
uma maior facilidade para o envolvimento e chamar a atenção das pessoas.

Imagem 6: Porcentagens dos participantes que responderam se é possível aprender brincando.


Fonte: O autor (capturada do google forms).

As respostas à questão se existem preconceitos em relação aos usos das ferramentas


populares como o cordel em metodologias educacionais sobre saúde e cidadania, ficaram bem
divididas entre “sim” (com 10), “não” (com 8) e “talvez” (com 14). Os/as que responderam
“sim” acreditam que alguns dos motivos da existência de preconceitos seria a resistência por
parte da população quando se tem uma novidade, principalmente nos serviços públicos de
saúde, onde predomina o modelo hegemônico da clínica médica, muito forte ainda na
sociedade, e essa predominância gera uma barreira quando se quer implantar formas
diferentes do convencional:

Imagem 7: Porcentagens referentes à questão do preconceito no uso das tecnologias populares.


Fonte: O autor (capturada do google forms).
O gráfico demonstra ainda a semelhança com as percepções dos e das participantes do
grupo focal a respeito do conhecimento das tecnologias populares aplicadas à saúde por boa
parte dos e das profissionais da saúde, que têm pouco conhecimento dessas metodologias e
também a crença de que por ser popular trazem pouco conteúdo técnico-instrutivo, além de
ser uma ferramenta contra hegemônica em relação a predominância das abordagens mais
tradicionais de ensino. Também existe na sociedade uma sensação de privilégio de uma elite
de profissionais que tiveram acesso à cursos superiores nesta área da saúde, onde o
conhecimento popular não é sempre bem aceito nesse meio.
Quebrar essa barreira dos preconceitos é uma tarefa urgente e constante dos e das
profissionais que têm ciência da importância da disseminação de informações verídicas, dos
saberes referentes ao nosso Sistema Único de Saúde, no seio da sociedade. Buscar a
capacitação permanente dos profissionais para poder oferecer serviços de qualidade à
população, fomentar a discussão e a inclusão de metodologias populares no desenvolvimento
de ações planejadas de EPS, são imprescindíveis para a construção do saber e,
consequentemente, da cidadania. Essa é uma constatação, observada nos conteúdos
construídos a partir dos questionários respondidos e, sentida em toda a discussão
complementar durante a realização do grupo focal.

7 Análise das narrativas produzidas: Grupo Focal

A reunião do grupo focal aconteceu no dia 13 de dezembro de 2021, às 14 horas, em


sala virtual da plataforma google meet, onde foi apresentada inicialmente a proposta de pauta
para a discussão do conteúdo, previamente elaborada, discutida e realizada conforme é
mostrada no quadro abaixo:

Horário Atividade

Música ambiente na sala, CD “Quinteto Armorial” - Abertura c/ apresentação


dos pesquisadores e da proposta de pesquisa; realização de “combinados”
14:00h entre os participantes (levantar a mão para falar, limite de tempo 3-5 min.,
parar ao som da Kalimba). Solicitação de permissão para gravar a reunião.

Apresentação dos participantes informando nome, local, nível do curso, uma


14:10h palavra que resume o significado do cordel.

Apresentação do conteúdo em slides sobre a Literatura de Cordel (origem,


14:30h história, estrutura, etc.).
Performance introdutória cantada, c/ apresentação de parte do cordel “Os 30
14:40h anos do SUS''.

Realização da discussão sobre a importância da arte e da cultura popular /


arte-educação na construção de saberes e da Educação Popular em Saúde
(EPS) como estratégia de cidadania e valorização do SUS, a partir das
seguintes questões provocadoras:
14:50h 1) É possível trabalhar o Cordel na EPS?;
2) Citar outros processos populares de promoção do direito à saúde;
3) Já tiveram experiências desse tipo antes?
4) Existe preconceito com as “linguagens populares” na área da saúde?

Proposta de leitura ou declamação coletiva - continuação da apresentação de


trechos da segunda parte do cordel, escolhidos por voluntários:
15:20h - Apresentação: alguém que goste das artes/teatro/performance;
- Problematização: alguém que gosta de teorizar/refletir/provocar discussões;
- Encaminhamento: outro/a com facilidade para sintetizar/dar soluções/ação.

Pergunta final para o grupo: o que te chamou mais a atenção nesta dinâmica?
15:50h (1 a 2 intervenções).

16:00h Finalização; encaminhamentos e agradecimentos gerais.

Após compartilhar com os participantes a ideia do trabalho a ser realizado no grupo


focal e um pouco da história do cordel e de sua estrutura literária (sílabas poéticas, versos,
estrofes, rimas e ritmos), houve a apresentação cantada da primeira parte do cordel “Os 30
anos do SUS” (estrofes da 1ª a 17ª) que descreve a luta do movimento da reforma sanitária,
a legislação, os princípios e diretrizes do SUS.
Iniciou-se o debate a respeito do direito à saúde e da composição do nosso Sistema
Único de Saúde; sobre a utilização das ferramentas ou processos pedagógicos populares na
construção do conhecimento, como é o caso do cordel e discussão sobre a importância da
arte e da cultura, da arte-educação, na transmissão / construção de saberes e da educação
popular em saúde como estratégia de fortalecimento da cidadania e valorização do SUS.
Dessa forma, os presentes comentaram que esta é uma metodologia que pode suprir
uma necessidade que existe de comunicação dos profissionais com as pessoas que utilizam o
SUS, facilitando o processo de aprendizagem sobre o sistema, pois enriquece o conteúdo por
serem métodos mais pedagógicos e que consegue com elementos da própria cultura local,
regionalizar de forma simples uma discussão nacional, com suas características e
especificidades. Observa-se ainda que, esses processos metodológicos construídos com
elementos presentes na arte e na cultura popular locais, tornam mais didáticos os conteúdos
da estrutura curricular do curso saúde coletiva, conforme transcrição textual das falas abaixo:
A gente fica muito preso ao academicismo e se esquece que também temos
que nos comunicarmos com as pessoas que usam o sistema e as linguagens
populares e estas chegam para suprir isso. (Participante A).

É bacana a gente perceber que, partindo de um princípio bem pedagógico,


as disciplinas elas trazem os conteúdos de uma forma bastante densa […] e
a literatura de cordel vem para facilitar esse processo de aprendizagem.
(Participante B).

Tão simples e de uma grandeza sem tamanho e tem a ver também com a
questão da região, porque o SUS se propõe como universal para todo o
Brasil, mas cada região vai se apropriar dele de uma forma diferente.
(Participante C).

Dessa forma fica um conteúdo pedagogicamente rico. (Participante D).

É mais interessante porque traz um pouco da nossa cultura para um


conteúdo técnico com informações que aprendemos no decorrer do curso,
mesmo que é totalmente voltado para o SUS, e é muito legal uma versão
que é totalmente diferente, mais didática até, que retrata muito a nossa
cultura, a gente consegue enxergar melhor. (Participante E).

As estrofes 18ª a 40ª do cordel, que tratam dos programas e outras conquistas
contidas no SUS tiveram a participação dos envolvidos / implicados na discussão do grupo
focal, de alguma forma, com leituras e declamações que realizaram dos versos. Observou-se
também o reconhecimento na utilização de expressões (como cuscuz, passadiço) locais e/ou
regionais que remete, especialmente, à cultura do meio rural, contidas no cordel, que por
sinal, é uma das características desta literatura e da proposta da educação popular, contida na
pedagogia freireana, que utiliza palavras do contexto relacionado a própria realidade onde
estão as pessoas com e para as quais se constrói o conhecimento.
Percebe-se, ainda nesta discussão, a importância das pessoas em geral conhecerem o
SUS, pois a compreensão de como ele está estruturado e do que este sistema tem a oferecer
para a população é fundamental para poder defendê-lo das visões negativas e opiniões
pejorativas. Uma linguagem mais acessível às pessoas a partir de metodologias populares é
fundamental para este entendimento do sistema de saúde. A mídia brasileira, em geral,
também tem responsabilidade e pode apoiar neste sentido, para levar informações sérias, de
qualidade e verídicas para a população sobre o SUS. Outro ponto notado é que o cordel já
carrega em si a resistência de âmbito cultural, mas também em suas narrativas que
geralmente tratam da vida cotidiana de um povo. É uma literatura que as pessoas pouco
valorizam e nos meios escolares ou acadêmicos também quase não é vista ou estudada.
Na fala do/a participante “A” (transcrita abaixo) podemos observar que existe um
certo descrédito da sociedade em relação ao SUS. Na sua opinião, essa situação provém da
má gestão dos recursos públicos, dos desmandos dos governantes em relação aos cuidados
com a coisa pública que, além de não valorizar o sistema de saúde, ainda “desviam para
outras finalidades, os recursos disponíveis para investir nos serviços de atendimento à
população”. Isto vem se perpetuando ao longo dos anos e a desinformação potencializa esta
visão de que o SUS não presta.
Porém, podemos observar que, neste período pandêmico, existe uma certa
valorização do sistema, perceptível na assistência prestada pelo SUS, não somente no seu
momento mais cruel, que foi o período inicial, da urgência e emergência, da superlotação de
leitos, das internações em UTIs, mas principalmente neste período de imunização, mesmo
enfrentando a supervalorização do negacionismo em relação a ciência por parte de uma
necropolítica apoiada pelo atual governo central brasileiro. Nesse contexto, as ferramentas
de EPS têm um papel fundamental para informar a população, apoiar a capacitação dos e das
profissionais de saúde para a desconstrução desse entendimento e ajudar a fortalecer o SUS:

Acho que o momento que a gente passa de pandemia trouxe muita


descrença em relação ao SUS, em função de, se funciona mesmo, se o
dinheiro dos impostos está sendo bem aplicado […] são anos de
desinformação por parte da mídia que pode ajudar, passou muito tempo
desacreditando o SUS, retratando os problemas do Sistema e nunca
mostrou nada de bom sobre o SUS e aí ficou no imaginário popular, é uma
coisa muito difícil de reverter […] somente com muitos anos de
propaganda positiva, ou seja, falar o que o SUS faz de concreto já mudaria
a mente das pessoas e o cordel poderia entrar nesta questão para um
determinado público, para uma determinada faixa etária seria uma
linguagem bem acessível e que poderia despertar o interesse […] agora o
governo, os anti-vacinas, o lado mais liberal vivem em desacreditar o SUS
[…] mas, vemos muitas pessoas nas mídias sociais postando “Viva o SUS”
e acho que este é o caminho, pegar esta narrativa e transformar numa coisa
positiva para todos, porque o SUS é sim positivo para todos. (Participante
A).

Aqui é mostrada a resistência que a literatura de cordel enfrenta, por pertencer a


cultura popular de um povo que historicamente esteve às margens das políticas públicas, e,
talvez, devido a variedade das mídias existentes atualmente, principalmente da comunicação
digital, construída a partir de conhecimentos técnicos avançados, e que o mundo atual e o
próprio sistema de saúde é muito dependente delas, pois, inegavelmente, auxiliam no
processamento e análise de dados e informações. Mas, existe um entendimento de que é
possível haver a integração dessas mídias (cordel e outras artes em meios digitais/virtuais)
para poder fazer com que o cordel seja mais valorizado, enquanto instrumento metodológico
para a educação popular em saúde.
As dificuldades enfrentadas dentro do SUS é uma realidade desde seu nascedouro,
realidade que se choca diariamente com os seus princípios fundamentais da universalidade no
acesso, integralidade no atendimento e respeito à equidade em todos os aspectos. Algumas
dessas dificuldades são lembradas no próprio cordel “Os 30 anos do SUS”, mas não mostra
apenas os gargalos enfrentados, celebra as conquistas e chamam a atenção da população,
alertando para se interessar em saber como funciona o sistema e poder participar de forma
efetiva das decisões relacionadas ao direito à saúde, fazendo valer o que preconiza os
princípios e diretrizes do SUS.
Outro ponto fundamental que merece destaque no comentário do/a participante “B” é
que considera o cordel como uma “tecnologia leve”, que carrega uma linguagem própria do
povo, fácil de ser assimilada e que, integrado às “tecnologias duras” e/ou “leve-duras”, pode
facilitar o processo do ensino-aprendizagem de determinado grupo. Seja no meio acadêmico,
seja com a população vinculada a uma UBS, numa sala de espera, numa roda de conversa
com gestantes, o cordel poderá ser útil à construção do conhecimento. No entanto, alerta para
o “cuidado na implementação de qualquer tecnologia, seja popular ou científica, e não
permitir que seja empurrada de cima para baixo no meio em que ela não seja aceita, pois corre
o risco de não ser bem aproveitada e terminar com a frustração de determinado grupo”. É
importante analisar não somente a necessidade, mas também a estrutura disponível em função
do que e como será trabalhada a metodologia proposta. Por exemplo: como falar do “Previne
Brasil” ou do “e-SUS” em uma UBS que não possui nenhum computador nem internet
instalados?
Mais um aspecto importante deste comentário é em relação a agilidade com que as
tecnologias modernas trazem para o desenvolvimento de diversas atividades do nosso dia a
dia, que podem ser prejudiciais numa mesma proporção para a população, no aspecto da
disseminação de uma falsa informação ou fake news que tem potencial para destruir uma
informação correta. No contexto informacional, o cordel vai de encontro a esta realidade,
porque seus conteúdos, geralmente, são de temas que narram fatos reais e, quando são
narrativas de ficção, o interlocutor / leitor tem consciência disso; o cordel apresenta uma
discussão mais verdadeira e confiável dos assuntos, ele afasta a possibilidade de tratar de
temas por meio de notícias ou fatos falsos.
É inegável que a utilização das metodologias ativas contribui para o aprendizado, pois
elas possibilitam a construção do conhecimento de forma coletiva, onde todos que participam
do processo ensino-aprendizagem tem a sua importância. Dentre estas, a literatura de cordel é
uma metodologia acessível, de baixo custo, que além de possuir um poder de atingir todos os
níveis de escolaridade, também pode chegar a todos os níveis de classes sociais:
O cordel é um instrumento que traz a resistência de um povo que necessita
que estas políticas estejam presente em sua realidade. Sabemos que dentro
do sistema as pessoas não são tratadas de forma igualitária, que na
realidade, o acesso não é universal, como prevê os princípios do SUS […]
O cordel é um desses instrumentos que chama a atenção para que a
população e os entes responsáveis, se organizem para poder resolver e
preencher estas lacunas […] o cordel é uma tecnologia leve que tem um
movimento de resistência em função dessas novas tecnologias de
telecomunicação, das mídias e redes sociais como whatsapp, e
instrumentos, computador e tudo mais que são instrumentos da tecnologia
[…] o mundo atualmente está muito dependente das tecnologias, e o
sistema de saúde é muito dependente das tecnologias […] o bacana é a
gente tentar inserir as tecnologias onde elas possam facilitar o processo,
particularmente, do ensino-aprendizagem de determinado grupo […] em
que momento o cordel pode ser utilizado? Não é desmerecendo nenhuma
tecnologia, mas a gente pode tentar adequar essa tecnologia naquele meio
para fazer com que realmente ela seja efetiva […] adequar as tecnologias
de acordo com o meio ou daquela população […] é bom ter esse cuidado,
em função dos assuntos ou das temáticas, acredito que na situação em que a
gente vive o cordel é uma coisa leve que traz a gente em função também de
várias fake news, o cordel vai de encontro a isto […] as pessoas utilizam o
cordel para tratar da realidade[…] não tem como você mentir com o cordel
[…] então o cordel ele também é utilizado para tratar da realidade.
(Participante B).

Com esse entendimento, o cordel “Os 30 anos do SUS”, com sua forma simples,
conteúdo sintetizado e compreensível, sobre como acontece a luta do movimento pela
Reforma Sanitária no Brasil, a construção e aprovação da lei de criação de um sistema
unificado de saúde, algumas políticas e programas existentes, os princípios e diretrizes e como
o SUS está estruturado em suas redes de atenção, entre outros assuntos, se propõe a aceitar o
desafio de “dar o seu recado” como provocador do debate do direito à saúde, possibilitando a
utilização mais ativa desta literatura pelos profissionais da área da saúde ou não, como uma
ferramenta metodológica para a EPS. Conteúdos apresentados na forma leve de um poema ou
folheto de cordel, será melhor absorvido e o aprendizado poderá acontecer com maior
facilidade, oferecendo subsídios para as pessoas simples contra-argumentar, afirmar e
defender com propriedade e de uma forma mais consciente e consistente, quando escutarem
que “o SUS não presta”, ou outros argumentos negativos em relação ao nosso sistema público
de saúde.
A partir da análise dos resultados extraídos com as metodologias aplicadas nesta
pesquisa, pode-se constatar que existe um certo preconceito em relação a utilização de
elementos do domínio da cultura popular nordestina nas ações ou em processos do ensino-
aprendizagem em saúde, principalmente em regiões fora do nordeste, onde não se conhece a
literatura do cordel. Talvez, por não conhecerem os elementos dessa cultura, às vezes, as
pessoas não querem ouvir ou acham que é simplesmente uma “besteira” e, por isso, não os
veem enquanto possibilidade metodológica.
Entende-se que, são muitos os anos de “desinformação” da população brasileira, uma
mídia sem interesse de informar sobre os direitos e as políticas públicas existentes no país,
deveria ajudar a divulgar e propagar mais os pontos positivos do SUS, em vez de mostrar
apenas os problemas, deixando no imaginário popular o sentido de que o sistema não presta.
É uma situação que se torna difícil reverter ou desconstruir essa imagem negativa do SUS.
Acredita-se que isto será possível a partir de um comando do governo federal, com mais
investimentos em informação e educação em saúde direcionada à população, com muitos
anos de propaganda positiva, divulgando o que o sistema tem a oferecer de concreto ao
cidadão e à cidadã brasileira, já seria possível abrir mais a mente das pessoas para um
melhor entendimento em relação ao seu direito à saúde pública. O cordel e as outras
metodologias populares poderiam entrar nesse contexto, de forma complementar à educação
popular em saúde, pois, com sua linguagem mais acessível poderia despertar o interesse da
população pelos serviços e para apoiar o fortalecimento do SUS, que é considerado um
patrimônio do povo brasileiro, assim como as artes e a cultura também são patrimônio de um
povo. Nesse sentido, o/a participante “C” afirma:

A luta poderia ser mais ativa […] as pessoas estão muito caladas, não
porque não conheçam, pois temos muitas possibilidades de conhecer o
sistema, conhecer como ele está fundamentado, como o SUS age, só que da
forma como a gente conhece é diferente! se é apresentado na forma de um
cordel, na forma de um poema, vai chegar melhor para as pessoas; eu
acredito que o aprendizado fique mais leve […] e dará argumento para as
pessoas simples, quando escutarem que o SUS não presta, a pessoa vai
afirmar e defender com conhecimento de fato, leve e não aquele
conhecimento pesado que você ler vários artigos para tentar entender o que
significa aquilo, porque já está mastigado ali para você, entendeu?
(Participante C).

O relato abaixo, realizado pelo/a participante “D”, ilustra bem a "peleja'' do


artista/cordelista para comercializar o seu produto literário na atualidade, e a desvalorização
das pessoas em relação à cultura popular. Porém, acredita-se que com a realização de um
trabalho de incentivo aos artistas para a integração das artes, do folclore e das manifestações
culturais com as novas tecnologias, como já mencionado anteriormente, poderia surtir o
efeito de despertar e atrair as pessoas para os conteúdos apresentados nos folhetos de cordel
ou em outras formas de apresentação ou representação artística da cultura popular. Como já
visto, estas têm potencial para a sua utilização enquanto processos metodológicos para a EPS
e, para isto, é necessário a capacitação dos profissionais, o apoio e fomento dos gestores para
a disseminação dos conteúdos informacionais e educacionais da saúde junto à comunidade:
Tenho a sensação que as pessoas ultimamente não lêem cordel, já não é
mais uma coisa que o pessoal se interessa. O cordel precisa ser mais
visto/apreciado hoje em dia. Só um comentário que a última vez que eu vi
foi um senhorzinho vendendo cordéis na passarela do via direta, mas não
parecia um atrativo para as pessoas que passavam por ele […] Eu comprei
porque também nunca mais tinha lido. (Participante D).

Mesmo estando previsto nos conteúdos da Base Nacional Comum Curricular do


Ensino Básico (BNCC, 2018), onde incentiva a exploração de estudos de “obras da tradição
popular (versos, cordéis, cirandas, canções em geral, contos folclóricos de matrizes
europeias, africanas, indígenas, etc.)” [...] aproximando “os estudantes de culturas que
subjazem na formação identitária de grupos de diferentes regiões do Brasil” (BNCC, 2018,
p.524), o cordel ainda é pouco valorizado e quase não é visto nos meios escolares atuais. Ao
se referir ao cordel no meio escolar, algumas lembranças emergiram:

A gente tem mais contato com esses instrumentos atualmente ainda na


escola, nos primeiros anos da educação infantil ou quando se fala de
história cultural do RN, mas, fora disso, a gente vai perdendo e se
distanciando cada vez mais da nossa cultura do Nordeste de outros
instrumentos também, não só o cordel, mas o repente também […] eu
lembro na segunda série, mas no âmbito da sociedade nunca tive contato,
nem na faculdade que fiz de farmácia não tive contato com essas
tecnologias, que estão cada vez mais ficando na história; achei muito
interessante ver um TCC que é uma coisa bem técnica, tão densa e uma
legislação tão complicada, e aí quando traz numa coisa que é da nossa raiz,
fica mais fácil, mais inteirada, lidar, mais fácil absorver a ideia.
(Participante E).

Esse conhecimento construído dialogicamente, a partir destas metodologias, tem a


sua importância, pois trata de uma oportunidade de fazer o conhecimento em saúde chegar a
um maior número de pessoas, através de um método mais acessível e com formato de
diálogo muito mais simples e didático. Dessa forma, muitos conhecimentos, orientações e
informações técnicas importantes podem ser transmitidas e entendidas por pessoas com
menor nível educacional. Também, tem uma grande relevância, quando informa a população
de uma maneira simples, com uma linguagem sem tecnicismo, traduzindo suas reais
necessidades e aproximando a comunidade da oferta e do acesso aos serviços de saúde, de
forma mais confiante.
A arte do cordel pode oferecer elementos mais sensíveis para o aprendizado, por ser
construído numa estrutura metrificada e dinâmica que embeleza e dá mobilidade e sentido às
palavras, com seus versos, frases, sonoridades, rimas e ritmos, que demonstram sentimentos,
como todas as artes e poesias, possui uma maior facilidade para mexer com as emoções,
chamar a atenção e envolver mais as pessoas, tendo uma linguagem simples que prende a
atenção do/a leitor/a, declamante, cantante e/ou do/a ouvinte, fazendo com que estes/as
entrem na história e participem da mesma, facilitando o aprendizado e dando autonomia à
sua imaginação. Desta forma, esta é uma maneira acessível e de fácil compreensão para
os/as usuários/as dos serviços de saúde. Apresenta-se em forma de folheto simples,
facilitando a sua divulgação e, geralmente, possui poucas páginas e uma representação
artística singular para ilustrar sua capa, conhecida como xilogravura, que remete o leitor ao
tema do conteúdo poético do cordel.
As expressões artísticas são inerentes à humanidade e possuem objetos que elevam as
suas faculdades mentais, incita ao pensamento crítico, analítico, e permite um olhar para a
visão do/a autor/transmissor de mensagem com um conhecimento palpável, podendo levar a
uma análise, interpretação e pertencimento ao alcance de quem ler e/ou ouve seu enredo.
Neste contexto, a literatura de cordel, enquanto abordagem de valor popular, com suas
oralidades enraizada na cultura brasileira e mais difundida no nordeste, mesmo não sendo
uma forma convencional de ensino, poderá ser utilizada dentro de uma metodologia
estratégica para a educação popular no âmbito do SUS, pois utiliza uma linguagem acessível
e lúdica, impressas numa sequência lógica e rimada, que facilita a socialização de
informações importantes e pode deixar o público mais interessado no assunto com uma
didática menos monótona, ainda mais se tratando de um tema comum a todos como o da
saúde.
Além desta e outras tecnologias de educação popular que poderiam ser levadas para
as instituições públicas de saúde, foram citadas algumas formas como filmes, vídeos,
podcasts, oficinas, palestras e eventos, campanhas e outros meios para a comunicação e
interação com variadas abordagens práticas em conjunto com os vários setores da saúde.
Outra alternativa ventilada pelo grupo foi a possibilidade de se trabalhar por meio de
projetos em parceria com os gestores da saúde e realizar capacitações para a constante
formação dos profissionais inseridos nos espaços dos serviços de saúde. Construção de
políticas públicas de educação permanente e de EPS que possam subsidiar a gestão e
estimular estas atividades de uma forma contínua, na educação permanente em saúde e não
apenas em momentos pontuais.
Qualquer profissional, seja da área da saúde coletiva, da medicina, nutrição,
enfermagem, fisioterapia, que deseje trabalhar com a educação popular, pode utilizar essas
ferramentas dentro das suas abordagens de ensino e nas práticas do serviço, desde que se
apropriem da melhor metodologia e tenha a sensibilidade para identificar o momento e local
mais adequados para utilizá-las dentro de uma contextualidade dos serviços e que satisfaça
os anseios do público, pois, alguns desconhecem o potencial do aprendizado horizontalizado,
proposto por Paulo Freire, onde o “conhecimento é construído não para, mas a partir de e
com as pessoas”. Desta forma, estas metodologias poderiam ser trabalhadas também dentro
de uma lógica interdisciplinar, das estruturas curriculares ou das disciplinas ministradas nos
cursos voltados para a área da saúde.
Outro aspecto a ser considerado na educação popular é a intersetorialidade, articulada
com os Núcleos de Educação Permanentes (NEPs) das instituições de saúde para que a
tecnologia metodológica trabalhada possa ser aproveitada da melhor maneira possível. As
parcerias são fundamentais entre estas instituições e as organizações ou grupos sociais que
atuam com metodologias ativas ou práticas pedagógicas de construção mútua do
conhecimento, que envolvam a arte-educação, as expressões culturais, as técnicas do esporte
e os momentos de lazer, a realização de palestras educativas, “mostras” de saúde, leituras e
interpretações dinâmicas dos folhetos literários ou cordéis, entre outras formas expressivas.
Cada setor ou departamento poderia incluir, em seu próprio planejamento, as diretrizes para
a articulação de ações que dialoguem entre o conhecimento popular e o científico, por meio
das metodologias mais adequadas para o desenvolvimento do trabalho junto ao público em
geral e em públicos específicos como grupos de idosos, de hiperdia, de gestantes, de
tabagismo, entre outros.
A introdução destas tecnologias dentro de uma programação pedagógica mais ampla
ajuda a democratizar e desenvolver o conhecimento científico junto a população e, para isto,
requer a ousadia dos profissionais (servidores) da saúde, junto aos serviços, principalmente
da APS. Neste sentido, elas precisam ser incluídas também na formação destes profissionais.
Assim, torna-se necessário que os currículos sejam reformulados de modo a oficializar esta
demanda, imprescindível para contribuir com a humanização da saúde e a necessária
formação continuada no bojo dos serviços, onde os profissionais possam conhecer melhor, e
compreender de uma forma holística, os desafios da comunidade onde estão inseridos e
atuando, criando empatias, identificando demandas e empreendendo processos educativos,
de comunicação e de informação dialógicos, se reconhecendo enquanto agentes da
transformação. Neste ínterim, o ensino-aprendizagem possibilita desenvolver o
conhecimento sobre o processo saúde-doença na prática da vida cotidiana das pessoas
usuárias do sistema.
Tornar o conhecimento científico mais acessível à população, concomitante a
valorização do conhecimento popular é possível e primordial para a “acreditação” e
validação dos variados métodos de aplicação e construção do saber em saúde. Esta dualidade
de saberes poderia estar presente nas estratégias das instituições públicas e privadas de
ensino em saúde e também ser levada para os ambientes do cuidado diário, dentro dos
serviços assistenciais, com vistas ao fortalecimento de vínculos, a uma gestão participativa e
ao empoderamento, não apenas dos profissionais, mas também das pessoas usuárias do
Sistema Único de Saúde.
O trabalho em educação, com foco nas famílias de um determinado território, a partir
da Arte-Educação e da Educação Popular em Saúde, pode provocar o despertar da população
local de uma comunidade, bairro ou município, para a sua responsabilidade também em
relação a Vigilância em Saúde, a partir da sua situação econômica, social e ambiental,
entendendo o significado do conceito ampliado de saúde, dos seus condicionantes e
Determinantes Sociais em Saúde (DSS). Sabe-se que para a implantação de um novo jeito
de realizar os serviços dentro das instituições de saúde é preciso que haja abertura dos
gestores para fomentar essas práticas. Isto é possível a partir de uma programação e
planejamento para executar, implementar, monitorar e avaliar as ações desenvolvidas
utilizando os saberes e tecnologias populares, mostrar os seus resultados e a importância que
essas práticas podem levar para dentro dos serviços e das referidas instituições.
Estas ferramentas de educação popular podem ser incluídas ou trabalhadas, se bem
planejadas, em quaisquer espaços ou ambientes e momentos coletivos e individuais de ações
de prevenção de agravos e tratamento de doenças, de promoção, proteção e de recuperação
da saúde e na sua prática em geral, pois geralmente, trazem conteúdos que facilitam a
demonstração ou explicação de questões epidemiológicas, especialmente, na Atenção
Primária à Saúde (APS), em visitas de Equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF),
salas de espera, reuniões e “rodas de conversa” nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) ou
Unidades de Saúde da Família (USFs), atividades com grupos de hiperdia, tabagismo, de
gestantes, de Crescimento e Desenvolvimento (CD), em momentos como no acolhimento, no
atendimento na regulação, na busca por soluções de problemas na própria gestão das Redes
de Atenção à Saúde (RAS) e na informação sobre as Linhas de Cuidado.
A linguagem popular presente nestas tecnologias propicia a construção do
conhecimento, pois é muito mais fácil e atrativa para as pessoas assimilarem os conteúdos.
Elas podem ser trabalhadas em campanhas permanentes ou temporárias, de vacinação, sobre
a prevenção e alusivas ao “Setembro Amarelo”, “Outubro Rosa”, “Novembro Azul”,
“Dezembro Vermelho”, entre outras temáticas. Tanto a prática do cuidado na assistência,
quanto à prática educativa, devem andar lado a lado nas atividades realizadas cotidianamente
no âmbito do SUS. Um olhar para esta dimensão dos processos educacionais e pedagógicos
populares na implementação das ações de saúde, é de grande relevância para a construção do
conhecimento dos profissionais e da população em geral, proporcionando um melhor
desenvolvimento da dinâmica assistencial, na prestação dos serviços, e oportunizando uma
vida mais saudável para todas as pessoas usuárias do nosso Sistema Único de Saúde.
Assim, o que se considera primordial na relação comunidade x instituição saúde, o
próprio SUS já dispõe desse “elo” fundamental que pode facilitar esta referida construção,
que são os Agentes Comunitários de Saúde (ACS), que tem o contato direto e diário e que
fazem a ponte entre a instituição de saúde e a população adscrita no território adstrito na área
de atuação da UBS à qual estão ligados. Um trabalho de educação popular em saúde junto
aos ACS tem grande potencial, não somente para a informação, mas também, para a
construção de saberes, o fortalecimento da cidadania, com acesso das pessoas ao
conhecimento do direito à saúde, pois, estes profissionais conhecem de perto a real situação
estrutural dos DSS das famílias que atendem em suas áreas.
As metodologias populares poderão ser utilizadas na informação sobre toda a
longitudinalidade do cuidado nas redes de atenção, desde o acolhimento inicial, passando
pela referência especializada, até a Média e Alta Complexidade (MAC). Acredita-se também
que elas podem contribuir com o fortalecimento da construção de vínculos entre
profissionais e usuários/as. É uma opção também que pode ser utilizada em qualquer
processo teórico da Educação Permanente em Saúde (EPS) voltado para os trabalhadores
e/ou profissionais da saúde, bem como, para que estes profissionais desenvolvam processos
educativos junto à população usuária dos serviços. Essas metodologias podem facilitar o
processo de comunicação em massa, disseminar conhecimentos complementares das práticas
clínicas e científicas e fornecer informações de promoção à saúde e prevenção de agravos,
principalmente diante de situações de emergência sanitária como as epidemias, endemias e
em surtos pandêmicos como os atuais da Covid-19.
Sabendo que a assimilação de uma mensagem depende principalmente da forma de
como, e a quem, ela é dirigida ou de como esta pessoa receberá a informação, entendendo
que existem diferentes graus de instrução que limitam o entendimento de algumas pessoas,
então, há a possibilidade de existirem “olhares tortos” e, estas pessoas podem não aceitarem
a novidade, por talvez não entenderem a potencialidade que as tecnologias populares têm
para revolucionar o processo de ensino-aprendizagem. A área da saúde ainda é vista pela
sociedade como sendo elitizada no que se refere ao acesso à cursos superiores de formação
profissional. Essa situação ainda teima em continuar como um processo de distinção social
entre os próprios profissionais e, entre estes e a população que acessa os serviços de saúde,
sobretudo, no Sistema Único de Saúde. Essa situação reforça a ideia da saúde como
privilégio e não como um direito, dessa forma, contrariando os princípios e diretrizes do
SUS.
Merece destaque, ainda, o peso que tem o sistema capitalista sobre a estrutura estatal
pública, onde predomina uma visão privatista da área da saúde e um modelo hegemônico da
medicina, contribuindo para o descrédito do SUS perante a sociedade. Uma sociedade que é
constante e institucionalmente “treinada” para o consumo mercantilista em que a prática da
clínica médica, em especial e historicamente, prioriza a chamada saúde suplementar (planos
e seguros de saúde), alimentando os ditames comerciais das empresas privadas e da indústria
da área da saúde, principalmente a farmacêutica.
Sendo assim, a educação popular em saúde e a arte-educação são práticas contra-
hegemônicas, ou seja, precisam romper os paradigmas pré-estabelecidos da cultura
consumista na sociedade, impostos pelo capitalismo. Talvez, em razão disso, e por
desconhecimento sobre a estratégia de utilidade das tecnologias populares, de como elas
podem ser utilizadas para o trabalho e para a informação científica, e a pouca valorização
desses instrumentos, vistos de forma preconceituosa, é possível que os próprios profissionais
/ trabalhadores da saúde não acreditem na potencialidade que têm estas ferramentas
metodológicas, como o cordel que é um gênero literário com grande potencial para o ensino-
aprendizagem e para o entretenimento.
Observa-se ainda que existem poucos estudos dedicados ao emprego destas
ferramentas populares para o ensino-aprendizagem. Daí a importância de se investigar mais
a fundo a efetividade da sua utilização, com temas gerais, que possam despertar o interesse e
provocar a discussão dessas metodologias no âmbito da saúde. Para isso, é necessário
também ampliar a pesquisa para estudantes de outras áreas da saúde e incentivar a inserção
desta prática nos serviços, ampliando ainda para os profissionais e usuários do SUS. Nesta
pesquisa, também foram observadas as questões da necessidade de um melhor
esclarecimento sobre o formato do cordel, como ele se apresenta e a linguagem que utiliza,
bem como a apresentação de estratégias que permitam a valorização da Educação Popular
em Saúde. Como a literatura do cordel ainda é pouco conhecida da nova geração, surge a
necessidade de promover a sua difusão e divulgação em redes sociais como Instagram,
Facebook e aplicativos como tik tok, vídeos curtos com a história do cordel e com temas de
interesse público, para esta ferramenta ficar mais interessante, interativa e enriquecedora.
A Educação Popular é importante, pois tem a capacidade de promover a interação
das camadas populares da população mais pobre, que não tem acesso ao conhecimento,
tendo em vista a sua riqueza de possibilidades em atuar com o saber popular aplicado à
saúde. Também, é possível trabalhar a partir da realização de oficinas de cordéis, da arte-
educação sobre temas relevantes e atuais como formas de evitar o contágio com a Covid-19,
hábitos alimentares da população, direitos e deveres dos usuários do SUS, entre outros
assuntos. Na escola, o contato com esses instrumentos como o cordel é visto de forma muito
superficial, ainda no ensino básico, mas, fora disso, esse conteúdo da cultura do Nordeste
como o cordel, o repente e outras modalidades culturais vão se perdendo e se distanciando
cada vez mais, no âmbito da sociedade, e na academia quase não se tem o contato com essas
ferramentas.
O levantamento realizado por meio das discussões no grupo focal identificou que
trabalhar a construção do conhecimento através de ferramentas populares se torna mais
interessante porque traz um pouco da nossa cultura para um conteúdo técnico com
informações que aprendemos no decorrer do curso Saúde Coletiva, que é totalmente voltado
para o SUS, e é uma versão metodológica totalmente diferente, mais didática, verbalizante e
que retrata muito a forma da nossa fala, fazendo com que se consiga enxergar e entender
melhor os conteúdos. As disciplinas de saúde pública, que tratam da constituição do SUS,
com seus conteúdos densos, podem ser melhores assimiladas se utilizando de ferramentas
como a literatura de cordel, que é uma ferramenta de tecnologia leve e facilita o processo de
aprendizagem, mesmo colocando informações pontuais, dentro dos pequenos versos, a
informação se torna mais clara, diferentemente dos textos longos das portarias e dos livros. E,
integrado a outras metodologias como a utilização da música, ajuda também na percepção, na
absorção da informação de uma forma mais facilitada.
É possível aprender brincando, dançando e desenvolvendo outras expressões artísticas
que tornam mais simples o aprendizado. E o cordel é uma expressão cultural que também
pode levar a interpretações e análises de questões da vida cotidiana, inclusive com o seu
conteúdo pode-se trabalhar a música, o forró, utilizando instrumentos musicais, o teatro (de
rua, do oprimido, de bonecos, fantoches e mamulengos), a dança, as artes plásticas, a
xilogravura, as alegorias, a cenopoesia, o sandplay (caixa de areia), rodas de conversa, com a
própria questão do sincretismo religioso no nordeste, nas religiões de matrizes africanas que
se misturam e não se consegue identificar cada uma isoladamente porque estão todas as
expressões juntas num misto de culturas e religiosidades, com expressões que representam a
cultura popular do Nordeste. O cordel tem a ver com a contextualização das questões culturais
regionais, e pode falar do SUS, que é um sistema universal, com a cultura de cada região, se
apropriando dele de uma forma diferente e específica. Sendo assim, ele pode mexer com a
afetividade, com a memória e com as histórias das famílias.
Historicamente, o cordel tem um aspecto que pode ser questionável, pois os temas das
estórias contadas nos folhetos geralmente tem muito de discriminação racial, de preconceitos,
que reforçam a desigualdade de gênero, porém, ele pode ser ressignificado como uma
ferramenta para a educação popular cidadã e pode também ser aliado, combinado a outras
metodologias já citadas, para se trabalhar a promoção do SUS. É possível trabalhar essas
metodologias tanto dentro quanto fora das salas de aula, para levar a mensagem às pessoas
que não estão estudando, ou que não tem uma formação, mas tem todo o direito de
compreender como funciona o sistema de saúde e poder cobrar os seus direitos de acesso aos
programas e serviços de saúde existentes.
Dentro dos serviços de saúde, o cordel poderia ser trabalhado nas Unidades Básicas de
Saúde, chamando a comunidade a participar, com espaços culturais para o tão falado
acolhimento dentro das UBSs. Esse acolhimento, por meio da cultura, pode ser mais
interessante, pois existe a possibilidade de levar os conteúdos de esclarecimento da população
em relação ao direito à saúde como forma de provocar discussões em eventos e em outros
espaços como nas ruas e juntar com os saberes que vem de lá, das ruas. Esses saberes que
estão fora das instituições, utilizando expressões presentes no contexto das oralidades do dia-
a-dia de onde estão as pessoas, conforme o que é a educação popular, que as pessoas possam
relacionar o que se está apresentando com a sua própria realidade.
Por ser um antigo instrumento cultural, que traz mais para perto os assuntos que
podem estar mais distantes tecnicamente das pessoas, o cordel não é apenas uma literatura da
expressão cultural de um povo, mas também, pode ser utilizado como uma ferramenta
estratégica pedagógica para a educação popular, oportunizando uma melhor compreensão dos
temas para a construção do conhecimento e de apelo do acesso ao direito e à cidadania, como
o cordel em estudo (Os 30 anos do SUS), que traz questões de ordem política, do acesso à
saúde pública como direito, das ações afirmativas, da resistência da luta indígena, entre
outros, que podem ser discutidos com os profissionais e com a população em geral,
desempenhando um papel de fortalecimento da democracia.
O cordel, por fazer parte da cultura regional nordestina, consegue fazer uma ponte
entre o conteúdo técnico e o saber popular, das pessoas que vivenciam a realidade nesta
região. O conteúdo técnico, quando não é vivenciado na prática das pessoas, por está mais
distante da população em geral, não faz muito sentido para ela e é mais fácil de esquecer,
enquanto o conhecimento popular em sua dimensão experienciada é mais ativo e profundo. É
uma discussão existente em que o conhecimento acadêmico nas universidades está centrado
no logos, no cognitivo, no racional e o cordel consegue mexer com as emoções das pessoas,
por conter assuntos pertinentes à sociedade.
Percebe-se que o SUS atualmente está tendo uma visibilidade maior devido ao
contexto da pandemia. Mas, infelizmente, as questões mais relevantes para a sua estruturação
como o financiamento com um volume maior de recursos, principalmente para a APS e uma
gestão mais eficiente, que possa priorizar os conhecimentos técnicos, em detrimento do
apadrinhamento político, ainda precisa sair do papel, tem muita coisa para ser aprimorada,
para se colocar em prática. O acolhimento humanizado e a construção de vínculos precisam
acontecer na prática diária, porém, estas e outras questões dependem muito dos profissionais,
dos gestores e, porque não dizer, também dos usuários que podem cobrar e não ficar apenas
esperando acontecer. Neste sentido, o cordel pode sim ajudar no esclarecimento da
comunidade e deixá-la mais próxima dos serviços.
As ferramentas de educação popular em saúde podem fazer a diferença na
comunicação das informações científicas, e sua importância se traduz, principalmente nesses
tempos de pandemia e de negacionismo em relação à ciência. Essas linguagens populares
chegam para suprir esta deficiência metodológica que falta para o entendimento da população
em geral. As tecnologias utilizadas pelas massas, atualmente, deixam as ferramentas
populares em segundo plano. No entanto, o cordel é uma literatura que resiste! Porém, quanto
mais vai avançando no tempo vai se modificando, se perdendo na história ou ficando muito
pouco da tradição de um povo, mesmo tendo maior visibilidade na região nordeste do Brasil,
onde os/as poetas conseguem traduzir em “oralituras” o seu modo de vida e a sua cultura
regional. Nesse sentido, torna-se necessário resgatar, preservar e fortalecer a cultura do
cordel, levando esta literatura aos ambientes acadêmicos, aos espaços de trabalho e de
construção de saberes, como as ruas e outros locais onde acontecem a dinâmica construtiva do
conhecimento de um povo.
Essa resistência ao tempo histórico, em que o cordel teima em continuar existindo
enquanto uma cultura literária viva, encontra uma outra resistência na atualidade, que é a
dificuldade que existe de sua inserção nos espaços já citados anteriormente, talvez pela
questão de ser uma ferramenta da literatura popular, tende a ser desvalorizada como outras
expressões que traduzem a cultura popular, pois, tudo que pertence às camadas mais
desfavorecidas social e economicamente, resultante da grande concentração de renda, se
mostra como uma resistência. Pensar o cordel como uma estratégia de resistência, às vezes,
pode provocar o desconforto e o incômodo em contextos mais conservadores politicamente e
pode ser um sintoma ou indício de que tem algum movimento acontecendo, ou que deverá
acontecer.
É inegável que a tragédia da pandemia trouxe uma visibilidade midiática para o SUS,
ratificada na narrativa positiva em muitas postagens nas mídias sociais com o “Viva o SUS”,
mas também para a descrença das pessoas quando aconteceram alguns escândalos
relacionados a má utilização e desvio de recursos, bem como o movimento anti-vacinas e
necropolítico liderado pelo governo central, que deixou de investir em tecnologia para o
desenvolvimento e a produção própria das vacinas que, de certa forma, ajudou a desacreditar
o nosso sistema de saúde em relação à população.
Dessa forma, torna-se urgente a necessidade de uma maior divulgação dos serviços
oferecidos pelo SUS nos mais variados meios de comunicação, inclusive se utilizando dessas
ferramentas populares nas unidades de saúde e com a população em geral. Falta muito
incentivo por parte do governo, mas, falta também mais atitude por parte dos profissionais de
saúde em relação ao emprego dessas metodologias ativas para envolver a população nas ações
de promoção à saúde. Não dá para fazer sozinho, é uma tarefa que precisa articular quem está
defendendo estes processos junto ao apoio das instituições, porque o SUS é um sistema
universalizado e positivo para o atendimento de todos, sem nenhuma distinção.

8 Conclusões

Desde que bem planejada coletivamente, elaborada com os profissionais da área e


executada de forma dinâmica junto a grupos específicos ou à população em geral, a
Educação Popular em Saúde, utilizando-se de ferramentas metodológicas adequadas, tem
fundamental importância na realização das ações de caráter informativo, formativo e/ou
educativo, para o processo de ensino-aprendizagem. É uma forma pedagógica que possibilita
o melhor entendimento de todos os envolvidos na construção do conhecimento,
independente de idade e/ou grau de escolaridade e poderá ser mais difundido e melhor
aplicado nos espaços apropriados. A sua aplicação deve prezar pelo respeito às
singularidades de cada público alvo, pois a educação popular possui características que
possibilitam levar conhecimentos sobre diversos temas, especialmente, sobre o tema do
direito à saúde a partir da valorização de saberes e práticas populares e / ou tradicionais,
respeitando a história dos povos e suas crenças.
Nesta linha, as metodologias baseadas na educação popular trazem uma linguagem
própria da cultura de um povo, seguindo o método conhecido como freiriano, facilitando
diálogos, a compreensão e o entendimento daqueles que participam do processo ensino-
aprendizagem; são excelentes e viáveis pedagogicamente, possibilitando a aproximação dos
sujeitos das diversas linguagens, promovendo o acesso à informação e alcançando parte da
população onde a educação formal muitas vezes não consegue chegar de forma eficiente no
seu propósito de educar. Educar e se educar fazendo arte, aprendendo e ensinando junto a
quem constrói arte e conhecimento, praticando a arte-educação em processos educativos
populares por meio dos diversos elementos culturais que despertem sentimentos de
pertencimento, emoções e sensibilizam para a crítica, são algumas das características da
educação popular, especialmente da Educação Popular em Saúde.
As metodologias ativas possibilitam o protagonismo de todos os envolvidos no
cuidado e no desenvolvimento das atividades em grupo dentro dos serviços de saúde.
Trabalham a aprendizagem com situações do cotidiano da comunidade, levando o saber para
mais perto da realidade das populações e promovem um melhor entendimento sobre o tema
proposto tendo em vista a familiaridade com a linguagem, “quebram” uma tradição
autoritária e normatizadora em saúde e aproximam a ciência da vida prática, especialmente
na área da saúde que detém um “código” de comunicação inacessível para a maioria dos
usuários, sobretudo, os que utilizam os serviços do SUS. São metodologias simples, porém
ricas de saberes, muito proveitosas, dependendo de como são utilizadas para a construção da
aprendizagem relacionada ao SUS, pois valorizam os diversos conhecimentos populares e a
ancestralidade. É uma forma de conhecimento disseminado junto à ludicidade, que perpassa
as metodologias tradicionais e pode promover o acesso à informação, a prevenção de
doenças e a promoção da saúde.
É possível concluir, então, que esta investigação tem importância significativa para
os anais acadêmicos, no que se refere à Educação Popular em Saúde, com ênfase em
processos metodológicos baseados na cultura regional e na arte-educação, especialmente,
colocando o cordel como elemento provocador do debate, como uma arte literária popular,
mãe geradora de outras tantas artes. O seu produto final, construído artesanalmente por meio
de sílabas poéticas, palavra por palavra, versos após versos, com rimas ou sem rimas, é uma
arte-poesia que tem a capacidade de produzir imagens, sons, música, dramaturgia, enredos,
coreografias… potencializando, assim, o seu uso como ferramenta metodológica para se
trabalhar a EPS.
Pode-se afirmar que o cordel ou a literatura de folhetos, desde sua origem, vem
cumprindo um papel fundamental de informar, de mexer com os sentimentos e provocar
emoções, de integrar pessoas e, por que não dizer, de desenvolver processos educativos com
as reflexões geradas sobre os temas ou conteúdos poetizados. Sendo assim, pode-se dizer
que, este trabalho responde aos seus questionamentos iniciais, a partir das discussões e
análises realizadas, que é possível trabalhar a construção do conhecimento em saúde por
meio do cordel “Os 30 anos do SUS”. Entre outras sínteses, a resposta ao questionamento
realizado junto aos entrevistados, se achava plausível falar sobre cidadania, saúde e bem
viver, através da arte do cordel, 100% destes disseram que sim, e ainda acrescentaram que
esta literatura tem o poder de sensibilizar pessoas, por ser um instrumento que expressa a
cultura popular e poderá trabalhar os temas da saúde, cidadania e bem viver, com maior
importância, pois, desperta a imaginação e percepção das pessoas.
Por fim, pode-se dizer que com arte é sempre bem mais interessante o processo
ensino-aprendizagem, dentro da perspectiva da Arte-Educação, do saber construído de forma
simples e descontraída, tornando de boa aceitação e promissora a construção do
conhecimento, possibilitando uma melhor compreensão e absorção dos conteúdos e podendo
dar maior visibilidade e real importância aos processos metodológicos da Educação Popular
em Saúde para a sociedade, para todas as idades.
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uh2011semresumo.pdf>. Acesso em: 25/01/2022.
ANEXOS

Anexo A - Convite a Grupo Focal do Cordel "30 Anos do SUS"

Obrigado por aceitar o nosso convite para participar desta pesquisa com estudantes do
curso Saúde Coletiva, respondendo a este questionário com indagações que servem para
aquecer as ideias e percepções para o segundo momento, que será a discussão do tema no
grupo focal! Nesta oportunidade, esperamos ainda contar com a sua participação no Grupo
Focal a ser realizado no dia 13/12, às 14h, pelo google meet, com o link que será
disponibilizado por e-mail, com antecedência.
Agora, pedimos por gentileza, ler e assinar o TCLE (Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido), conforme seu "Aceito" ou "Não Aceito" em participar desta pesquisa.
Anexo B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE


a) (Para Maiores de 18 anos)

1. Esclarecimentos

Este é um convite para você participar da pesquisa: Tecnologias do Saber Popular e o


Direito à Saúde Pública: relato de experiência junto ao Cordel Os 30 anos do SUS, que tem
como pesquisadora responsável Ana Gretel Echazú Böschemeier.
Esta pesquisa pretende avaliar a efetividade na utilização da literatura de cordel,
aplicada à estudantes do curso Saúde Coletiva, da UFRN, na percepção do direito à saúde,
com o Cordel “Os 30 anos do SUS”.
O motivo que nos leva a fazer este estudo é para que os envolvidos na pesquisa
possam compreender como está estruturado o Sistema Único de Saúde no Brasil e internalizar
as percepções do direito à saúde pública.
Caso decida participar desta pesquisa precisará realizar os seguintes procedimentos:
além da assinatura deste termo, participar da discussão do tema sobre o SUS e o direito à
saúde, responder um questionário online e enviar para o e-mail gretigre@gmail.com os
questionários autoaplicáveis e de forma individual, servirão para a complementação das
informações e necessitará apenas de 15-20 minutos do seu tempo para respondê-lo.
Todas as informações, opiniões, sugestões, ideias prestadas pelos participantes o/a
pesquisador/a, este/a garantirá o sigilo das mesmas e a realização da pesquisa será realizada
em ambiente adequado e reservado para garantir a privacidade do participante.
Durante a realização da pesquisa poderão ocorrer eventuais desconfortos e possíveis
riscos à não participação do/a pesquisado/a devido a problemas com as tecnologias utilizadas,
já que a mesma será realizada de forma virtual. Esses riscos poderão ser minimizados se
houver uma checagem destas tecnologias antes da sua participação, e a verificação da
funcionalidade destas tecnologias será feita pelos pesquisadores junto aos pesquisados.
Apesar da pesquisa contar com ampla divulgação, será entregue o link da sala virtual
somente para quem se comunicar de forma direta com os pesquisadores, com a finalidade de
prever possíveis ataques. No momento deste contato, serão colocadas orientações essenciais
sobre os objetivos, riscos e benefícios da pesquisa. Já em caso de que ainda porventura venha
ocorrer invasão da sala virtual, uma nova senha será repassada para os/as participantes e o
encontro será remarcado. O email institucional da professora pesquisadora será também
utilizado na elaboração e hospedagem dos dados do formulário de perguntas na plataforma
google forms. Em caso de vazamento de dados destas plataformas por terceiros, serão
acionados os dispositivos legais correspondentes à política de privacidade das plataformas,
com a finalidade de proteger a integridade de todos os participantes da pesquisa.
Como benefícios da pesquisa você poderá obter informações mais diretas e uma
compreensão maior sobre como funciona o Sistema Único de Saúde do Brasil.
Em caso de complicações ou danos à saúde que você possa ter relacionado com a
pesquisa, compete ao pesquisador responsável garantir o direito à assistência integral e
gratuita, que será prestada inicialmente via email com possibilidade de agendamento.
Durante todo o período da pesquisa você poderá tirar suas dúvidas ligando para Ana
Gretel Echazú Böschemeier, g retigre@gmail.com, 55 84 9 9446-4445.
Você tem o direito de se recusar a participar ou retirar seu consentimento, em qualquer
fase da pesquisa, sem nenhum prejuízo para você.
O sigilo e guarda dos dados serão garantidos através do uso da plataforma google meet
institucional para a discussão e gravação da discussão. O consentimento da gravação será
garantido através da pergunta antes de iniciar a mesma. Por se tratar de um grupo focal em
vídeo, as pessoas poderão ou não abrir a câmera, à vontade, e sua imagem não será divulgada
em nenhum meio. Caso alguém não concordar com a gravação no momento de início do
grupo focal, será solicitada a retirada da pessoa do espaço com a possibilidade de participação
via preenchimento do formulário, o que será explicitamente colocado como opcional.
Os dados que você irá nos fornecer serão confidenciais e serão divulgados apenas em
congressos ou publicações científicas, sempre de forma anônima, não havendo divulgação de
nenhum dado que possa lhe identificar. Esses dados serão guardados pelo pesquisador
responsável por essa pesquisa em local seguro e por um período de 5 anos.
Alguns gastos pela sua participação nessa pesquisa, eles serão assumidos pelo
pesquisador e reembolsado para vocês.
Se você sofrer qualquer dano decorrente desta pesquisa, sendo ele imediato ou tardio,
previsto ou não, você será indenizado.
Qualquer dúvida sobre a ética dessa pesquisa você deverá ligar para o Comitê de Ética
em Pesquisa – instituição que avalia a ética das pesquisas antes que elas comecem e fornece
proteção aos participantes das mesmas – do Hospital Universitário Onofre Lopes da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no telefone (84) 3342-5003, e-mail
cep_huol@yahoo.com.br . Você ainda pode ir pessoalmente à sede do CEP, de segunda a
sexta, das 07h30minh às 12h30 e das 13h30 às 15h00, no Hospital Universitário Onofre
Lopes, endereço Av. Nilo Peçanha, 620 – Petrópolis – Espaço João Machado – 1° Andar –
Prédio Administrativo - CEP 59.012-300 - Natal/RN.

2. Consentimento Livre e Esclarecido

Após ter sido esclarecido sobre os objetivos, importância e o modo como os dados
serão coletados nessa pesquisa, além de conhecer os riscos, desconfortos e benefícios que ela
trará para mim e ter ficado ciente de todos os meus direitos, concordo em participar da
pesquisa Tecnologias do Saber Popular e o Direito à Saúde Pública: relato de experiência
junto ao Cordel “Os 30 anos do SUS”, e autorizo a divulgação das informações por mim
fornecidas em congressos e/ou publicações científicas desde que nenhum dado possa me
identificar.

Natal, dezembro de 2021.


Anexo C - Questionário
Agradecemos antecipadamente a sua participação e disponibilidade para responder as
questões que necessitam apenas de alguns minutos (no máximo 15 minutos) do seu tempo.
*Obrigatório
TCLE *
● Aceito
● Não Aceito
1 - Seu nome, por favor (o anonimato será mantido) *
2 - Por favor, coloque aqui o seu e-mail *
3 - Por favor, coloque aqui o número do seu telefone / whatsapp *
4 - Sua idade se encontra em qual das seguintes faixas? *
● 16 a 29 anos
● 30 a 45 anos
● Acima de 45 anos
5 - Gênero *
● Mascuino
● Feminino
● Não Binário
6 - Raça / Etnia *
● Negra / Afrodescendente
● Indígena
● Branca
● Outra
7 - Trabalha ou já trabalhou em instituições de saúde? *
● Sim
● Não
8 - Se SIM, aonde?
9 - Você acha que é possível aprender brincando? *
● Sim
● Não
● Talvez
● Não sabe / não quer responder
10 - Qual é a sua percepção sobre as metodologias baseadas na educação popular no
âmbito da saúde? *
11 - Você acha plausível falar sobre cidadania, saúde e bem viver, através da arte do
cordel? *
● Sim
● Não
● Talvez
● Não sabe / não quer responder
12 - Poderia acrescentar algo mais em resposta à questão anterior, por favor? *
13 - Na sua opinião, como levar as tecnologias de educação popular em saúde para as
instituições públicas de saúde? *
14 - Em quais momentos da prática de saúde uma ferramenta da Educação Popular
pode ser utilizada? *
15 - Você acha que pode haver preconceitos por parte do pessoal da saúde e população
em geral em relação às tecnologias populares - como o cordel - para o aprendizado de
saúde e cidadania? *
● Sim
● Não
● Talvez
● Não sabe / não quer responder
16 - Se você respondeu sim na questão anterior, qual poderia ser o motivo?
17 - Por favor, coloque aqui sugestões para enriquecer ou melhorar a presente pesquisa*

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