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Períodos
São muitas as periodizações propostas por diferentes especialistas para o estudo da Pré-história.
Utilizamos nesta obra uma das mais conhecidas, baseada nas pesquisas do inglês John Lubbock
(1834-1913), que distingue pelo menos dois grandes períodos pré-históricos:
• Paleolítico
Primeiros instrumentos
Durante o Paleolítico, seres humanos de diferentes regiões do mundo (África, Europa, Oriente
Médio, Ásia, América) confeccionaram seus primeiros instrumentos — feitos de madeira, ossos,
chifres e pedras. Esse é um fato importante, pois o uso cada vez mais generalizado de
instrumentos é considerado um dos principais fatores que acabaram distinguindo os seres
humanos dos outros animais.
É provável que o processo de construção de instrumentos tenha passado por três grandes fases:
no início, supõe-se que os humanos utilizavam os materiais que tinham ao seu redor
(como ossos, madeiras ou pedras) da maneira que os encontravam na natureza;
depois, a partir desses mesmos materiais, começaram a confeccionar casualmente os
objetos de que necessitavam, como facas, machados e arpões;
por fim, passaram a produzir instrumentos mais padronizados, isto é, obedecendo a
determinados modelos de produção. De acordo com os arqueólogos, esses padrões
definiram diferentes tradições de produção entre as distintas culturas pré-históricas.
Os instrumentos de pedra tiveram um papel relevante no Paleolítico. Eram utilizados, por exemplo,
para arrancar plantas comestíveis, cortar e separar a casca do miolo dos frutos e confeccionar
novos instrumentos (de pedra, madeira ou osso). Foi por isso que os estudiosos chamaram esse
período de Paleolítico, ou seja, "velha idade da pedra", como vimos antes.
Alimentação e nomadismo
No Paleolítico, os seres humanos ainda não produziam diretamente seus alimentos, isto é, não
cultivavam plantas nem criavam animais. Consumiam o que encontravam na natureza, como
frutos, grãos e raízes, e o que caçavam e pescavam. Quando se esgotavam os alimentos no local
que habitavam, eles se mudavam para outro. Por essa razão foram denominados caçadores-
coletores e nômades.
Controle do fogo
O controle do fogo foi talvez uma das maiores conquistas desse período, permitindo aos seres
humanos suportar o frio, afastar os animais perigosos e cozinhar os alimentos.
No processo de domínio do fogo, supõe-se que os humanos, a princípio, procuraram manter aceso
o fogo provocado ocasionalmente pelas forças da natureza (um raio, por exemplo).
Posteriormente, aprenderam a produzi-lo peio atrito de pedaços de madeira, lascas de pedra etc.
A partir de então, desenvolveram outros métodos.
Abrigos e roupas
Estabeleceram também divisões de tarefas entre eles. Segundo os estudiosos, na maioria das
sociedades de caçadores-coletores ocorreu uma divisão do trabalho de acordo com o sexo e a
idade. Geralmente, entre os adultos, os homens caçavam; as mulheres faziam a maior parte da
coleta de alimentos vegetais e cuidavam das crianças.
O produto obtido por meio do trabalho era compartilhado entre os membros do grupo, e não havia
entre eles a preocupação em estocar alimentos para o futuro.
Esse modo de vida permitia aos caçadores-coletores disporem de tempo para festejar e se divertir
com danças e brincadeiras. Isso não significa, no entanto, que desconhecessem as dificuldades e
os conflitos. Havia rivalidades entre grupos de regiões diferentes e disputas internas resolvidas por
meio da violência.
1 LEAKEY, Richard. A origem da espécie humana. São Paulo, Melhoramentos, 1982. p. 95.
Neolítico
As sociedades agropastoris
Produção agropastoril
Como conseqüência, à medida que essas atividades foram se consolidando, muitas comunidades
agropastoril acabaram adotando um modo de vida sedentário.
Os tipos de plantas cultivados pêlos povos neolíticos variavam de uma região para outra,
destacando-se espécies vegetais como trigo, centeio, cevada, milho, batata, mandioca e arroz. Os
animais criados foram principalmente carneiros, cabras, bois, porcos e cavalos.
Isso não quer dizer, no entanto, que as comunidades desse período abandonaram a coleta de
frutos, a caça e a pesca. Na verdade, acredita-se que, durante muito tempo, elas não tiveram a
agricultura e a criação de animais como formas predominantes de obter alimentos. E a adoção do
sedentarismo tampouco foi definitiva ou uniforme, pois nem todas as comunidades neolíticas
abandonaram o nomadismo, isto é, o deslocamento constante para outras regiões.
De modo geral, os agricultores adotaram a cultura sedentária, enquanto os pastores ficaram com o
estilo nômade, movidos pela busca de melhores pastagens. Enfim, diante das adversidades,
alguns povos decidiram migrar para novas regiões, enquanto outros escolheram permanecer no
lugar e adaptar-se às dificuldades.
De qualquer forma, o novo modo de vida encontrado no Neolítico, que se caracterizou pelo
desenvolvimento da agricultura, da criação de animais e das aldeias sedentárias, difundiu-se por
diversas regiões do planeta, mas em diferentes épocas. Houve, portanto, núcleos distintos de
"neolitização" em várias regiões do mundo, como Oriente Próximo, norte da China, região tropical
da Ásia, América do Norte (México) e América Central.
Dominando técnicas agrícolas e pastoris, muitas comunidades puderam produzir mais alimentos do
que o necessário ao seu consumo imediato, passando, assim, a fazer estoques. Paralelamente, a
produção agropastoril também acabou impulsionando, de modo geral, o crescimento da população.
Todo esse processo não foi brusco nem transcorreu sem problemas em todas as comunidades.
Estima-se que, em certas regiões do Oriente Próximo e da América, nas fases iniciais da
agricultura, o predomínio de cereais na alimentação tenha provocado uma redução no tempo
médio de vida das pessoas, devido a carências nutricionais. Além disso, o sedentarismo e o
agrupamento de populações mais numerosas favoreceram também a propagação de epidemias,
pelo maior contato entre seus membros. 3
3 PERLES, Catherine. As estratégias alimentares nos tempos pré-históricos. In: FLANDRIN, Jean-Louis;
MONTARI, Massimo (dir.). História da alimentação. São Paulo, Estação Liberdade, 1998. p. 50.
Inovações técnicas
Nascimento da metalurgia
Por volta de 4000 a.C., as primeiras sociedades urbanas do Oriente Próximo começaram a
desenvolver a metalurgia, ou seja, a utilização sistemática de metais para a fabricação dos mais
variados objetos. Os metais, muitas vezes, eram extraídos de terras distantes das oficinas
metalúrgicas.
Produção do cobre - o primeiro metal a ser fundido em larga escala foi o cobre. Sua
utilização, porém, não eliminou os instrumentos de pedra, que foram sendo substituídos
muito lentamente.
Produção do bronze - da mistura do cobre com outro metal, o estanho, conseguiu-se o
bronze. Essa liga metálica, mais resistente que o cobre, foi empregada na fabricação de
instrumentos como espadas, lanças e martelos. No entanto, objetos de pedra, como a
ponta das setas e as raspadeiras, continuaram sendo amplamente utilizados.
Produção do ferro – por volta de 1500 a.C., alguns povos desenvolveram a metalurgia do
ferro, e a nova técnica foi difundida por várias cidades do Oriente Próximo, entre outras. Os
instrumentos feitos de ferro possibilitaram significativo aumento da produção agrícola e do
artesanato.
Principais eventos
Alguns eventos costumam ser associados ao surgimento das sociedades civilizadas, entre os quais
destacamos:
as primeiras cidades, os sistemas de registro e escrita, a formação do Estado e o
aprofundamento das divisões dos grupos sociais.
Como vimos, as primeiras aldeias sedentárias surgiram quando certas comunidades neolíticas se
estabeleceram num território, dedicando-se, predominantemente, à atividade agrícola. Com isso,
ampliou-se à oferta de alimentos, a população cresceu, e a vida social foi-se tornando cada vez
mais complexa.
Uma das consequências foi a ampliação gradativa da divisão do trabalho. Uma pessoa com
habilidade para fazer cerâmica, por exemplo, podia empregar a maior parte do seu dia nessa
atividade, para depois trocar seus potes por alimentos. Esse intercâmbio foi acontecendo, aos
poucos, com outros tipos de atividade, permitindo o surgimento de funções sociais específicas,
como tecelão, sacerdote, soldado, lenhador, barqueiro, vidraceiro, ceramista, metalúrgico etc.
Algumas dessas aldeias em expansão também foram incorporando às suas estruturas físicas
novos elementos, como, por exemplo, uma muralha protetora, templos para o culto religioso, um
edifício-palácio dos governantes, casas para a moradia das pessoas, armazéns para estocar
alimentos e ruas interligando essas edificações. Todo esse processo faz parte do surgimento das
primeiras cidades.
Entre as mais antigas cidades conhecidas, pode mos citar Jericó (8000 a.C.) e Beidha (7000 a.C.),
que se desenvolveram a partir de primitivas vilas agrícolas. Ambas situavam-se na região da atual
Palestina.
Também merece destaque a cidade de Catai Huyük (7000 a.C.), que se localizava no território da
atual Turquia.
Acompanhando a formação das primeiras cidades, desenvolveram-se calendários, sistemas de
escrita, de numeração, de pesos e medidas.
Formação do Estado
O termo Estado deriva do latim status = estar firme, (4) significando a permanência de uma
situação de convivência humana ligada à sociedade política.
As circunstâncias específicas que deram origem à formação do Estado nas diversas sociedades
humanas é um tema de difícil verificação, embora essa questão tenha despertado muita
especulação ao longo da história da filosofia política, conforme veremos adiante.
4 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado. São Paulo, Saraiva, 2005. p. 51.
Para a maioria dos autores, o Estado nem sempre existiu ao longo da história. Sabe-se que
diversas sociedades organizaram-se sem ele. Nas sociedades sem Estado, as funções políticas
não estavam claramente definidas e formalizadas numa determinada instância de poder.
No entanto, em dado momento da história da maioria das sociedades, supõe-se que, com o
aprofundamento da divisão social do trabalho, certas funções político-administrativa e militares
acabaram sendo assumidas por um grupo social especifico.
Esse grupo passou a deter o poder de impor normas à vida coletiva. Assim teria surgido o governo,
por meio do qual se desenvolveu o Estado.
Relações sociais
Antigas formas de cooperação foram substituídas pela competição social, dando origem à
propriedade privada da terra e de outros bens. O acúmulo desigual de bens materiais pelos
indivíduos passou a diferenciar as pessoas, designando-as como mais ricas ou mais pobres,
dependendo do poder econômico.
Não vou tentar definir o que é a civilização; antes, direi o que a palavra me traz à mente. Para mim,
civilização significa urbanização, isto é, o fato de haver cidades. Significa uma organização política
formal, ou seja, que existam reis ou formas de governo. Significa a existência de leis formais,
regras de conduta que o governo (se não o povo) considera necessárias.
Provavelmente também significa que, depois de as coisas se terem estabelecido completa-mente,
há projetos formalizados — estradas, portos, canais de irrigação etc. —, além de algum tipo de
exército ou forca policial para protegê-los. Significa formas de arte bastante novas e diversificadas.
Em geral, também significa que há um sistema de escrita. (O povo dos Andes — os incas — tinha
tudo que se requer para constituir uma civilização, exceto um sistema formal de escrita. Não vejo
razão para dizer que não fossem civilizados...).
Você pode sentir, com razão, que uma grande quantidade de idiossincrasia pessoal está envolvida
nas várias caracterizações ou definições oferecidas à palavra civilização. 5
MESOPOTÂMIA
Berço de civilizações
Revolução agropastoril
Revolução Neolítica: expressão criada pelo arqueólogo Gordon Childe para designar as novas
formas de produção de alimentos — agricultura e criação de animais — que se desenvolveram em
diversas sociedades antigas. 1
Esses povos mesopotâmicos cultivavam diversos produtos, como cevada (usada para fazer pão e
cerveja), trigo, linho (usado na confecção de tecidos), sésamo (gergelim, do qual se extraía óleo
para alimentação e iluminação), tâmaras, legumes (cebola, alho) etc. E criavam ovelhas, cabras,
porcos, bois e asnos.
1. Cf. CHILDE, V. Gordon. A evolução cultural do homem. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1971. p. 77-110.
Mas o desenvolvimento agropastoril não ocorreu de maneira casual. Os povos mesopotâmicos
tiveram que fazer frente às condições naturais da região (inundações nos vales e clima seco) para
atender às suas necessidades. Assim, construíram diques e barragens para conter as enchentes
dos rios Tigre e Eufrates, além de canais de irrigação para levar a água desses rios até os lugares
mais secos.
Os historiadores supõem que, no período que vai da formação das aldeias e vilas até o fim do NI
milênio a.C., o trabalho coletivo baseava-se na cooperação entre pessoas de famílias diversas.
Tal situação não mais ocorria por volta do início do II milênio a.C. Muitas famílias já controlavam
seus próprios campos e plantações, e algumas delas faziam negócios com outras, trocando, por
exemplo, alimentos por objetos de cerâmica e instrumentos de metal.
Essas trocas propiciaram a acumulação de bens, rebanhos ou terras, tornando algumas famílias
economicamente mais poderosas do que outras. Isso lhes permitiu ter maior influência nos
processos de tomada de decisão entre os moradores das aldeias e, posteriormente, das cidades.
A junção de algumas aldeias mesopotâmicas deu origem às primeiras cidades, como Ur, Uruk,
Nippur, Kish, Lagash e Eridu, por volta de 4 mil anos atrás. Formavam aglomerados com várias
construções (casas, templos, pontes, palácios) e, geralmente, eram cercadas por muralhas,
visando à sua proteção.
Uma das explicações para o surgimento das primeiras cidades é que o aumento e a concentração
das pessoas nas aldeias sedentárias, aliados ao crescimento do intercâmbio econômico e social,
impulsionaram novas formas de organização do trabalho, da justiça, da religião, da segurança dos
habitantes e da proteção dos bens econômicos.
Esse processo levou à formação de núcleos populacionais mais complexos que as aldeias, isto é,
as primeiras cidades. Grande parte das cidades da Mesopotâmia não se uniu para formar um reino
único. Eram cidades independentes e por isso foram chamadas pelos historiadores de cidades-
Estado.
Centros de poder
Foi no contexto dessas mudanças que as decisões sobre a vida da sociedade passaram a ser
tomadas pelos grupos mais poderosos, que controlavam os templos (os sacerdotes) e os palácios
(o rei e sua corte).
Os templos
Os povos mesopotâmicos eram politeístas, isto é, adoravam diversos deuses, muitos dos quais
relacionados a elementos da natureza: Anu (deus do céu); Ishtar (deusa do amor e da fertilidade);
Enlil (deus do ar e do destino); Shamash (deus do Sol e da justiça); Ninmah (deusa da terra e da
fertilidade); Enki (deus das águas, da sabedoria e das técnicas).
As cerimônias religiosas eram dirigidas por sacerdotes ou sacerdotisas, que se reuniam em
diversas corporações dedicadas ao culto de determinado deus. Era comum as cidades terem um
deus protetor, para o qual se construía um templo principal. Além das funções religiosas, os
sacerdotes do templo também exerciam atividades econômicas. Devido às oferendas recebidas
dos fiéis, acumularam grande patrimônio em terras, rebanhos, plantações e oficinas artesanais.
Também desenvolveram um ativo comércio com as regiões vizinhas.