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CEAT - Centro Educacional Anísio Teixeira

Queerbaiting:
da aparência ao apagamento, uma falsa
representatividade

Autora: Elis Paes Moreira


Orientador: Matheus Odorisi Marques

Rio de Janeiro
Outubro, 2020
Dedico esta monografia a todas as pessoas
que, como eu, se entenderam por causa de
personagens.
Primeiramente agradeço ao meu orientador
Matheus que me ajudou durante todo o trabalho
de escrita, sem ele não seria possível a
conclusão do trabalho. Gostaria de agradecer
também a minha família que sempre me apoiou
e aos meus amigos, que sempre me ajudaram
mesmo que não diretamente.
SUMÁRIO

1 – Introdução 5
2 - Queer, televisão e cinema 5
2.1 - Definição de queer 5
2.2 - O queer no cinema e na televisão 5
2.2.1 - O início da representatividade queer no cinema e na televisão 5
2.2.2 - A repressão do Código Hays 6
3 - Queerbaiting: como fisgar o público LGBTQ+ 8
3.1 - O que é queerbaiting? 8
3.2 - Tipos de queerbaiting 9
3.2.1 - Queer allusion 9
3.2.2 – Queercatching 10
3.3 - Quando o queer é proibido 11
4 - Análise de séries 11
4.1 - Supergirl 11
4.1.1 - O caso de ‘Supercorp’ 13
4.2 - The 100 15
4.2.1 - O caso de Nathan Miller 16
4.2.2 - O caso de ‘Clexa’ 17
4.3 - Once Upon a Time 19
4.3.1 - O caso de ‘Swanqueen’ 21
5 - Considerações Finais 22
Referências Bibliográficas 24
1 - Introdução
Nesta monografia, o tema estudado é o queerbaiting, uma estratégia de marketing
da indústria televisiva para, como o verbo bait do Inglês mostra no termo, fisgar o público
LGBTQ+, aumentando a audiência e lucros de seus filmes e séries.
O objetivo deste estudo é analisar três séries (Supergirl, Once Upon a Time e The
100) a fim de identificar se elas utilizam a estratégia do queerbaiting. Para realizar essa
análise serão mapeadas as principais características do queerbaiting por meio da leitura
de textos e de vídeos que discutem o tema. A presença de tais características será
investigada nas séries citadas acima.
Parte-se da hipótese de que as séries que se utilizam da estratégia do queerbaiting
promovem uma distorção da representatividade LGBTQ+ e/ou sua invisibilização.

2- Queer, televisão e cinema

2.1 - Definição de queer


A palavra queer, originária da língua inglesa, é usada como um termo guarda-chuva
no qual cabem todos aqueles que, de alguma forma, pertencem à comunidade LGBTQ+.
(Marques, 2016). O termo, que pode ser traduzido como “estranho, talvez ridículo,
excêntrico, raro, extraordinário” (Louro, 2018), era utilizado desde o século XIX para
tratar de forma derrogatória e desrespeitosa pessoas homossexuais. Ao longo dos anos, a
comunidade LGBTQ+ ressignificou o termo, transformando uma palavra anteriormente
utilizada para agredi-la em uma identidade, conforme explica a filósofa Judith Butler em
seus trabalhos.

2.2 - O queer no cinema e na televisão

2.2.1- O início da representatividade queer no cinema e na televisão

Desde o início do cinema, personagens queer são representados. Embora esta


representação queer não fosse tão explícita, considerando a época (fim do século XIX,
início do século XX), foi algo revolucionário.
‘Dickinson Experimental Sound Film’, um curta metragem estadunidense feito por
William K. L. Dickson, entre 1894 e 1895, foi a primeira tentativa de gravar áudio e
imagem de forma conjunta. No decorrer do filme, vemos dois homens dançando,
enquanto um terceiro toca violino. Até hoje, há um debate sobre se os homens dançando
eram homossexuais - o que garantiria ao filme o título de primeiro filme com
representação queer. Existe a possibilidade de ser, de fato, um casal, porém, na época era
comum para dois homens dançarem de tal forma sem conotação romântica (Walber,
2016).
O primeiro filme considerado explicitamente gay da história, segundo Nazário
[entre 2015 e 2020], é chamado ‘Anders Als Die Anders’ (‘Diferente dos Outros’), uma
produção alemã, feita em 1919, por Richard Oswald. Nele, o protagonista, Paul Körner,
um violinista, apaixona-se por um de seus estudantes. Körner é chantageado por Franz
Bollek, que ameaça ir à público revelar a homossexualidade do violinista. O caso é levado
a um tribunal e, após dada sua sentença, Körner se suicida.
Apesar do final trágico, o filme tem uma narrativa de aceitação, com monólogos do
personagem chamado apenas de ‘O Doutor’, que diz que a homossexualidade não é uma
doença nem um desvio e deve ser aceita. O filme sofreu duras críticas por parte de
conservadores cristãos, protestantes e grupos de extrema-direita e, um ano depois de seu
lançamento foi proibido para o público, sob a alegação de que desrespeitava o “Parágrafo
175”, uma lei que tornava atos homossexuais ilegais.
Já na televisão, segundo Mitchell (2017), o primeiro personagem queer foi Steve,
na série ‘All in The Family’, uma sitcom norte-americana de (1971). Steve aparece apenas
em um episódio, ‘Judging Books by Covers’.
Ainda de acordo com Mitchell (2017), o primeiro personagem queer recorrente na
televisão foi Peter Panama, na série norte-americana ‘The Corner Bar’. A série, de 1972,
teve apenas duas temporadas e 16 episódios, fala sobre a vida de clientes da taverna
“Grant’s Tomb”. Um deles é Peter Panama, um cenógrafo extravagante e gay. Apesar de
ser um personagem feito de estereótipos, pode-se considera-lo um pequeno passo em
direção à representatividade. A série terminou rapidamente e caiu no esquecimento. É
difícil, hoje, saber a reação do público da época ao personagem Peter, embora McKairnes
(2020) mencione rapidamente em seu texto que a produção sofreu severas críticas.

2.2.2- A repressão do Código Hays


A representatividade LGBTQ+ no cinema andava em pequenos passos até a
imposição do Código Hays em Hollywood. Em 1930, nos Estados Unidos, Will H. Hays
criou um conjunto de normas morais que estabeleciam o que podia ou não ser mostrado
em filmes. Essas normas ficaram conhecidas como “Código Hays” (oficialmente
chamado de Código de Produção de Cinema) e apesar de não serem obrigatórias, apenas
filmes que as seguissem conseguiam entrar em Hollywood.
O código proibia diversos aspectos, e um deles – mesmo que não escrito
explicitamente – era a representação da homossexualidade ou transgeniridade. Neste
trecho pode-se notar essa proibição:

“(...) A simpatia da audiência nunca deve ser jogada para o lado do crime, da
transgressão, do mal ou do pecado.”

(MPPDA, 1934. tradução da autora)

Na época, as noções de transgressão, mal e pecado estavam fortemente ligadas a


indivíduos homossexuais ou transgêneros, portanto, era proibida sua representação de
forma simpática.
Com a criação do código, uma estratégia para mostrar personagens LGBTQ+
começou a ser usada, o queercoding, no qual personagens eram “codificados” como
queer, usando-se de estereótipos e/ou de ações/maneirismos vistos como particularmente
queer, porém não eram explicitamente queer nas obras. Esses estereótipos e maneirismos
começaram a ser utilizados também para mostrar algum personagem como forasteiro, vil
ou como uma figura ridícula.
Segundo Rowan (2019), a categorização de personagens queer e de personagens
que são vilões ou ridículos se interligou tanto que, na época, quando se ria de um
personagem ridículo, estaria rindo-se de sua homossexualidade ou quando, ao achar um
personagem malvado, estaria achando-o malvado por conta de sua homossexualidade.
É importante ressaltar que, atualmente, o queercoding pode ser utilizado de forma
não prejudicial, para representar personagens LGBTQ+ onde, se representados
explicitamente, seriam proibidos (seja por conta do país ou do gênero do filme).
Os poucos personagens que eram representados abertamente como queer na época
do código sempre tinham finais trágicos, como no filme ‘Infâmia’, de 1961, dirigido por
William Wyler, no qual a personagem Martha, após entender seus sentimentos amorosos
por sua amiga, Karen, comete suicídio.
O código ficou em funcionamento até o final da década de 1960. Porém, mesmo
com seu término, parte de suas concepções continuaram sendo adotadas: personagens
lidos como LGBTQ+ sendo vilões (pode-se perceber isso em diversos filmes da Disney,
como ‘Rei Leão’, ‘Pequena Sereia’ e outros); personagens explicitamente queer não
“mereciam” um final feliz, como em O ‘Segredo de Brokeback Mountain’, de 2005, no
qual um dos protagonistas, Jack, é morto por conta de um ataque homofóbico, ou em
‘Assunto de Meninas’, de 2001, dirigido por Léa Pool, no qual, a personagem Paulie,
comete suicídio após a personagem Tori renegar seus sentimentos e sua
homossexualidade.
Para além das repercussões sobre como a mídia retrata personagens LGBTQ+, o
Código Hays obrigou a comunidade LGBTQ+ a procurar identificar dicas, indicações,
que os espectadores conservadores não percebiam.
Aproveitando-se disso, a mídia criou o queerbaiting, uma forma de tentar agradar
a todos os espectadores, dando a possibilidade, a ideia de um personagem queer para
expectadores LGBTQ+ mas ainda assim não sendo explícito, de forma que faria o público
conservador ser recusar a ver a obra.

3- Queerbaiting: como fisgar o público LGBTQ+

3.1- O que é queerbaiting?

Queerbaiting é um termo contemporâneo, criado por diferentes comunidades de fãs


LGBTQ+ de séries e filmes. Não existe ainda uma tradução oficial, mas pode-se ler em
língua portuguesa como “fisgada queer”. O termo foi criado por fãs para que pudessem
denominar uma prática infelizmente muito comum em diferentes veículos de mídia, como
séries e filmes. Esta prática consiste em criar personagens ou casais com indicações e
subtexto LGBTQ+, mas cujos arcos não são desenvolvidos.

A forma mais comum de fazer isso é sugerir uma tensão romântica ou sexual
entre dois personagens do mesmo gênero, de modo que fique claro
que poderia haver algo entre eles, mas nada se concretiza. (Andrioli, 2017)

Letícia Falcão, em seu trabalho “O chame pelo nome: a percepção do público em


relação ao queerbaiting em séries”, define queerbaiting como: [...]uma maneira de fisgar
a comunidade queer, atraindo-a e tornando-a parte da audiência, porém sem atender às
suas expectativas, evitando – também – de colocar em risco a grande audiência
conservadora. Ainda em seu trabalho, Falcão analisa três diferentes séries que foram
apontadas pelo público de apresentar queerbaiting: Once Upon a Time, Sherlock e The
100.
No primeiro e segundo exemplo, a acusação vem graças à insinuação de que os
personagens principais – Emma e Regina e Sherlock e John Watson, respectivamente –
formariam, em algum momento da série, um casal, porém tal fato nunca se torna
realidade. Outras séries que também são fortemente apontadas de queerbaiting pelo
mesmo motivo são Supergirl e Teen Wolf – nos personagens de Kara Danvers e Lena
Luthor e Derek Hale e Stiles Stilinski, respectivamente. Já no terceiro exemplo citado por
Falcão, The 100, a acusação é por conta da morte de uma personagem lésbica, Lexa, sem
motivo aparente. Além disso, apesar de a personagem ter sido morta no meio da
temporada, os produtores usaram seu nome e a possibilidade de que ela retornaria para
manter a audiência da série.
Percebemos, então, que há dois tipos diferentes de queerbaiting: um que diz
respeito à não concretização de uma relação homoafetiva, e outro em que há de fato um
personagem LGBTQ+, porém seu arco não se desenvolve.

3.2 – Tipos de queerbaiting

3.2.1 – Queer allusion

O queer allusion consiste na sugestão e indicação, de casais homoafetivos, mas


nunca em sua realização. Relação homoafetiva, neste caso, é a relação romântica entre
duas pessoas do mesmo gênero.
A representatividade LGBTQ+ está, mesmo que de forma lenta, crescendo e se
aperfeiçoando ao longo dos anos, o que é importante para todos da comunidade, mas
principalmente para jovens. Se reconhecer na televisão ou em filmes é sempre algo
emocionante, conectar-se com o personagem baseado em algo que se tem em comum com
ele. Para crianças e adolescentes (e até mesmo adultos!) LGBTQ+ essa conexão vai além.
Ver-se na tela traz a sensação de possibilidade e pertencimento, a ideia de que é possível
viver sendo LGBTQ+ e que, mais do que isso, não há problema em ser assim.
O queer allusion se aproveita desse sentimento excitante de se reconhecer nas
telas, dá indicações para que, aqueles que procuram, consigam ver o que aqueles dois
personagens poderiam se tornar, mas não o suficiente para o público conservador e/ou de
fora da comunidade LGBTQ+ notar.
Algumas das técnicas mais utilizadas para indicar/sugerir a possibilidade de um
casal são: utilizar músicas consideradas românticas de fundo, por exemplo, músicas que
normalmente são utilizadas em cenas de beijos de casais heterossexuais; os ângulos das
câmeras, ao reproduzir certos ângulos dos quais casais heterossexuais são sempre
filmados; atos românticos disfarçados de uma amizade muito forte, como mandar flores
um para o outro; e a linguagem utilizada, frases como “nunca tive um amigo como você”,
“nós somos amigos especiais” que estão muito conectadas com o jeito que a sociedade
se refere a casais homoafetivos.
Essa estratégia frequentemente vem acompanhada da negação dos
atores/produtores da série, que, quando perguntados sobre o “casal”, negam tudo, dizem
que “não é essa a intenção”, “eles são apenas bons amigos”, entre outras coisas. As
constantes negações fazem com que o fã LGBTQ+ que shippava aquele casal comece a
achar que talvez esteja vendo algo que não está lá. Mas, sempre que a série mostra esses
dois personagens, todas as indicações continuam lá.

3.2.2 – Queercatching

O queercatching, segundo Rowan (2019), é a utilização de um personagem queer


para ganhar audiência, porém, na história, o personagem não tem relevância ou um arco
de personagem próprio, cumprindo apenas a função de ser o “personagem gay” da
história.
Normalmente, quando essa estratégia é utilizada em filmes, parte da publicidade e
do marketing é fortemente baseada no personagem queer. Um exemplo é ‘Vingadores:
Ultimato’, no qual os produtores e diretores falaram diversas vezes sobre o fato que o
universo de filmes da Marvel ia ter seu primeiro personagem abertamente gay, porém, no
filme, o personagem é apenas um figurante que aparece em uma rápida sequência falando
sobre seu marido morto.
Já quando utilizada em séries, essa estratégia apoia-se fortemente na ideia de a série
ser progressista e inclusiva. No entanto, o personagem queer não tem seu arco de
personagem desenvolvido.
Maciel (2017) considera que se o personagem conclui sua participação sem ter
passado por transformações significativas, sua experiência foi inútil. Rodrigues (2014)
associa essa transformação a uma mudança de personalidade do personagem ao longo da
trama e ao seu amadurecimento pessoal. Estes processos constituem-se no arco do
personagem.
Desta maneira, quando personagens queer cumprem apenas a função de tornar a
série progressista e não passam por mudanças e transformações, não tendo assim um arco
de personagem, eles não têm sua história desenvolvida nem sua identidade valorizada.

3.3 – Quando o queer é proibido

Apesar de não serem a maior parte dos casos, é importante lembrar que existem
escritores e produtores que querem colocar personagens LGBTQ+ em suas séries, porém
são proibidos pela transmissora e portanto, tendo que trabalhar em meio a censuras,
utilizam apenas o subtexto. Pode-se ver um exemplo disso em Avatar: a Lenda de Korra,
(2012) no qual a série indica um romance entre Korra, a personagem principal, e Asami,
mas elas nunca chegam a se beijar. Os produtores, depois do final da animação, revelaram
que a Nickelodeon, transmissora do desenho, não permitiu que o casal fosse explícito.
Outro exemplo, é a novela da TV Globo “Torre de Babel” (1998), na qual havia um casal
lésbico que morreu por uma explosão quando ia se beijar. Muitas pessoas afirmam que a
morte das personagens ocorreu por conta do rechaço do público ao casal. Em uma matéria
de 1998 no jornal o Globo, escrita por Lilian Fernandes, pode-se perceber que o público
teve sim, grande influência no destino das personagens:

(...)Leila será sacrificada (...) por interferência de quem tem a posse do controle
remoto. Pela sinopse, após a morte de Rafaela, ela se apaixonaria por Marta (Glória
Menezes). Podia ser que o romance nem se consumasse, mas o público não quis
conversa. Reagiu quando soube que havia a possibilidade de ver Glória Menezes
namorando uma outra mulher na ficção.

4- Análise de séries

4.1- Supergirl

Supergirl é uma adaptação para televisão dos quadrinhos de mesmo nome da DC


Comics, que tem nos adolescentes o seu público-alvo. Enquanto Krypton estava sendo
destruído, Kara é mandada à Terra para acompanhar e cuidar de seu primo ainda bebê,
Kal-El. A nave de Kara fica presa na Zona Fantasma, uma zona intergaláctica e atemporal.
Quando finalmente consegue sair desta zona e chegar na Terra, Kara encontra seu primo
já adulto e com o alter ego de Superman. Ela é adotada como Kara Danvers por uma
família de cientistas e mantém sua identidade secreta, até o dia que o avião em que sua
irmã adotiva, Alex, estava sofre um acidente e Kara revela seus poderes ao mundo
salvando centenas de vidas. A partir desse dia, Kara assume a identidade de Supergirl,
uma super heroína.
Nos Estados Unidos, a série teve sua primeira temporada transmitida pela emissora
CBS. A partir da segunda temporada, passou a ser exibida pela também emissora
americana The CW, onde permanece até os dias atuais, com sua quinta temporada. No
Brasil, a série é transmitida por meio do canal a cabo Warner Channel, pela Tv Globo,
emissora aberta, e pelo serviço de streaming Netflix.
Sua audiência nos Estados Unidos, embora decrescente, mantem-se em bons
patamares, conforme ilustra o Quadro 1. No Brasil, a audiência também é bastante
elevada, como demonstra matéria do Uol (Castro, 2019), que notícia que a Rede Globo
obteve com um episódio da terceira temporada de Supergirl, passado na madrugada, um
ibope de 8.3 pontos na Grande São Paulo. Isto equivale a mais de 550.000 lares assistindo,
superando seus concorrentes e até mesmo, a programação matinal da Rede Globo.
Quadro 1. Supergirl: distribuição de audiência nos Estados Unidos por temporada,
emissora, primeiro e última exibição, e média de audiência.

Primeiro episódio Último episódio


Méd. audiência
Temporada Horário Emissora Episódios
(milhões)
Audiência Audiência
Data Data
(milhões) (milhões)

1 CBS 20 26/10/15 12.96 18/04/16 6.11 9.81

Segundas
2 22 10/10/16 3.06 22/05/17 2.12 3.12
20:00

3 23 9/10/17 1.87 18/06/18 1.78 2.82

The CW
Domingos
4 22 14/10/18 1.52 19/05/19 1.07 1.67
20:00

5 Domingos 19 6/10/19 1.26 17/05/20 0.65 1.58


21:00

Fonte: Composição da Autora a partir de dados da Wikipédia


(https://pt.wikipedia.org/wiki/Supergirl_(s%C3%A9rie_de_televis%C3%A3o)#cite_note-46), conferidos no site
SpoilerTV (https://stvplus.com/show/560/Supergirl/index/570#allep)

4.1.1- O caso de ‘Supercorp’


‘Supercorp’ é o nome dado pelos fãs ao shipp (uma redução da palavra relationship
– relacionamento, em inglês) entre Supergirl (Kara Zor-El) e Lena Luthor. Lena é dona
da empresa L-Corp e irmã de Lex Luthor (arqui-inimigo do Superman) e, por conta disso,
tem que passar diversos episódios “provando” para quase todos os personagens que não
é uma vilã.
As duas se conhecem por meio do trabalho de Kara, que está ajudando em uma
entrevista feita por Clark Kent (Superman) sobre a L-Corp e sua dona. Tornam-se amigas
e, desde o início, Kara acredita que Lena é uma boa pessoa, defendendo-a. Ao longo da
série, elas criam um laço cada vez mais forte, passam por dificuldades em sua relação,
porém sempre conseguem superá-las.
Enquanto uma parte dos fãs (em sua maioria cisgêneros e héteros) alega que as duas
são apenas amigas, outra (em sua maioria, da comunidade LGBTQ+) alega o
Queerbaiting feito na série.
Utilizando as categorias descritas anteriormente, ‘Supercorp’ seria um caso de
queer allusion, pois, durante toda a trama, existe a sugestão do casal, com cenas e atos
românticos. Contudo, diretores e elenco dão entrevistas afirmando que o shipp é apenas
uma “forte amizade”, o que já gerou, inclusive, polêmicas internas e com os fãs (Arruda,
2017).
É importante ressaltar que a série ainda não está finalizada. Por isto, estão sendo
levados em conta para a análise do queerbaiting, apenas as situações ocorridas até a quinta
temporada, última exibida.
A trama clássica de super-heróis que precisam esconder sua verdadeira identidade
está relacionada à experiência queer: ter que se esconder e viver uma vida dupla é algo
que muitas pessoas da comunidade LGBTQ+ podem vivenciar.
Como aponta Charles (2018) em seu vídeo ‘Are They Gay? – Kara Danvers e Lena
Luthor (Supercorp)’, a série utiliza-se dessa comparação diversas vezes: (I) no primeiro
episódio, quando Kara conta sobre seus poderes a seu amigo Winn e ele acha que ela está
se assumindo como lésbica; (II) quando Alex, irmã de Kara, se assume lésbica e Kara diz
que entende como é ruim esconder uma parte de si mesma; (III) quando Maggie, uma
personagem lésbica e não-branca, diz que se identifica com os alienígenas; e (IV) quando
se utiliza da expressão come out (que significa ‘sair do armário’) em referência a um
super-herói ou alienígena revelar sua identidade. Com essa comparação sendo feita
repetidamente, é possível interpretar que Kara, além de esconder sua identidade como
Supergirl, também tem que esconder sua identidade como queer.
Lena, por conta de sua criação, tem muita dificuldade em confiar nas pessoas,
porém confia completamente em Kara. Nas palavras de Charles (2018): Kara é quem
mantém ela a salvo e a reassegura.
No episódio 12 da segunda temporada, Kara agradece a Lena pelas muitas flores
mandadas, um ato universalmente reconhecido como romântico. Na mesma cena, Lena
fala que nunca teve uma amiga como Kara. O ângulo da câmera durante toda a cena é
idêntico ao ângulo de câmera usado em uma cena que mostra um casal oficial, Jane e
Petra, na série da mesma transmissora (CW) ‘Jane the Virgin’, como ilustra a Figura 1.

Figura 1: Comparação das Cenas entre Kara e Lena (Supergirl) e Petra e


Jane (Jane the Virgin)

Supergirl, temporada 2, episódio 12, 37.35 Jane the Virgin, temporada 4, episódio 15, 39.43

Fonte: Charles, 2018.

Na quinta temporada, Kara revela para Lena que é a Supergirl. Esta não lida bem
com o fato. No episódio 13, intitulado It’s a Super Life, Kara tenta mudar a história,
passando por diversas realidades alternativas para revelar seu segredo em momentos
diferentes. Em uma das realidades, tudo parece dar certo, a Luthor não fica brava e tenta
ajudar Supergirl a derrotar sua inimiga, Reign. Porém, Reign mata Lena Luthor e Mon-
El (ex-namorado de Kara). Mesmo com seu ex-namorado caído no chão, Kara não corre
para ajudá-lo, apenas segura Lena em seus braços até poder sair da realidade alternativa.
Diversas vezes na série são feitos paralelos com cenas de casais oficiais: no episódio
12, da segunda temporada, Lena fala que Supergirl pode tê-la salvado, mas que Kara era
sua heroína. Em The Flash, também produzida pela CW, Iris Allen fala a mesma coisa
para Barry Allen, em seus votos de casamento. Já no terceiro episódio da quinta
temporada, uma cena mostra Kara dando um presente para Lena, alternando entre uma
cena de Alex e Kelly (personagens que namoram) despedindo-se, ambas embaladas pela
música You Mean the World to Me, de Freya Ridings, cujo tema é a perda de um amor.
Na mesma cena, Kara diz a Lena que “não há limites para uma amiga como ela”.
Maciel (2017) explica que, na linguagem cinematográfica, “A própria relação
visual entre os elementos da composição comunica um sentido, mesmo que de forma
subliminar, ao espectador”. Ao seguir essa lógica, é possível concluir que, na maior parte
das vezes, não existe acidentes nas cenas, tudo é planejado para passar uma ideia ao
espectador. A ideia que os diretores de Supergirl passam é, definitivamente, romântica,
caracterizando o queer allusion.

4.2 – The 100

The 100 é uma série inspirada no livro de mesmo nome da autora Kass Morgan.
Inicialmente a série tinha seu público-alvo nos adolescentes, porém, conforme as
temporadas passam a série se torna mais “adulta”.
Por conta de uma guerra nuclear, o planeta terra é destruído e os únicos
sobreviventes estão no espaço, na chamada “Arca”. 97 anos depois da guerra, a Arca
começa a ter problemas no oxigênio e decide mandar 100 jovens delinquentes menores
de idade para a Terra para saber se já é novamente habitável. Os jovens tentam se manter
vivos e criar uma sociedade no planeta, até descobrirem que existem outras pessoas que
sobreviveram a destruição, que são chamados de “terrestres”.
Atualmente, a série está em sua sétima e última temporada, ainda sem data para seu
final. É transmitida e produzida desde seu início pela The CW nos Estados, nas quartas-
feiras, às nove horas da noite. Já no Brasil, suas duas primeiras temporadas e metade da
terceira foram transmitidas pela MTV e depois, passou a ser transmitida do início pela
Warner Channel, onde permanece atualmente. Além disso, também é possível assistir as
seis primeiras temporadas no serviço de streaming Netflix.
Seu episódio piloto teve uma audiência estimada de 2.73 milhões de expectadores
e foi considerada a série mais assistida em seu horário na The CW desde 2010. Apesar do
ótimo começo, com o decorrer das temporadas, a audiência decresce, como pode-se ver
no Gráfico 1.

Gráfico 1: Audiência da Série ‘The 100’ Distribuída por Temporadas e Episódios

Fonte: Wikipédia, https://pt.wikipedia.org/wiki/The_100_(s%C3%A9rie_de_televis%C3%A3o)

4.2.2 – O caso de Nathan Miller

Nathan Miller, ou Nate como é referenciado por diversos personagens, é um dos


cem deliquentes que foram enviados à Terra. É um personagem secundário que tem sua
primeira aparição no sétimo episódio da primeira temporada.
Inicialmente, Nate, que é negro, é apenas um ajudante de Bellamy (um dos
protagonistas da série). Porém, ao longo das temporadas seguintes, ganha algum
destaque.
Pouco se sabe sobre o seu passado, apenas que foi preso na Arca por conta de roubo.
Já em relação a sua família, só se sabe sobre seu pai, David Miller, o chefe da guarda da
Arca.
O personagem não tem uma história desenvolvida, pois não aparece o suficiente
para tal. Em todas as temporadas é um guarda ou ajudante: durante a primeira temporada
é ajudante de Bellamy; na segunda, está apenas ajudando a planejar a fuga de Mount
Weather; na terceira e quarta, é um guarda de Arkadia; na quinta, um guarda de Octavia;
e na sexta e sétima, aparece a maior parte das vezes como um personagem de fundo, quase
sem falas e sempre segurando uma arma.
Na terceira temporada é revelado que Miller é gay, numa cena em que comenta
sobre seu namorado Bryan, que poderia estar morto em uma estação caída da arca. No
quarto episódio é mostrado que Bryan está vivo e que ele e Nate continuam em um
relacionamento sério. Contudo, na quarta temporada, Bryan realmente morre.
Jarod Joseph, ator que interpreta Nate, disse em uma entrevista para o canal de
youtube Andrew MacFarlane (2020):

Meu personagem (...) no final das contas, era um negro gay e nunca chegamos
a conhecê-lo de verdade. Não sabemos o que ele pensa, não sabemos o que ele
ama (...) Ninguém realmente me checou, dizendo ‘precisamos isso e você ou
aquilo de você’ (...) E para ser sincero, nunca sabia porque eu estava lá metade
do tempo.

O apagamento do personagem em apenas suas “diversidades” (negritude e


homossexualidade) faz com que não exista uma vasta quantia de cenas para ser analisada,
o que acaba por apenas reforçar o queerbaiting.
Aplicando-se as categorias de análise construídas para esta monografia, pode-se
constatar que o caso de Nathan Miller foi um caso de queercatching: os produtores
precisavam passar a ideia de uma série inclusiva e, por isso, Miller estava presente. Mas
um personagem que durante sete temporadas não evolui e exerce apenas a mesma função,
não é representativo de um processo de inclusão.

4.2.3 – O caso de ‘Clexa’

Formado por Clarke e Lexa, ‘Clexa’ é um dos casais lésbicos mais famosos das
séries de TV e de maior impacto na última década. Ganhou parte de sua fama por causa
das acusações de queerbaiting e de praticar a “trope” - um padrão narrativo usado para
contar histórias (Martins, 2017) - conhecida como “bury your gays” (em tradução literal,
“enterre seus gays”). Essa trope consiste em matar os personagens LGBTQ+ da trama e
ocorre principalmente com personagens lésbicas/bissexuais.
Clarke é a protagonista da série, faz parte do grupo de cem jovens deliquentes que
foram enviados à Terra. Logo que aterrisa, o grupo precisa ir em busca de suprimentos e
Clarke ocupa um espaço de poder e liderança. Ao longo da primeira temporada, ela se
torna a líder dos jovens. Durante toda a série, é mostrada como personagem forte, que
consegue tomar difíceis decisões mesmo sob pressão.
Lexa é introduzida na segunda temporada, como a comandante das doze tribos dos
terra-firme (como são chamados os povos que sobreviveram ao apocalipse na Terra).
Durante suas primeiras cenas, a personagem é mostrada como uma pessoa sem
sentimentos e uma comandante rigorosa aos olhos do povo do céu (como são chamados
os sobreviventes da Arca).
Lexa e Clarke se conhecem sob circunstâncias de guerra, quando Clarke vai à
comandante para tentar sugerir um acordo de paz e uma parceria contra o povo da
montanha, obtendo sucesso em seu intento.
Ao longo da temporada, estas personagens começam a se aproximar e a se entender.
Lexa salva a vida de Clarke algumas vezes e tenta conduzir seu povo para um caminho
mais pacífico, no qual sangue não se paga com sangue, tudo por influência de Clarke.
Durante o penúltimo episódio da temporada, enquanto estão se preparando para a batalha,
elas se beijam. Toda confiança e relação que as duas estavam construindo é quebrada no
último episódio, no qual Lexa aceita um acordo com o povo da montanha que mantem o
povo de Clarke preso.
A terceira temporada começa com Clarke vivendo escondida na floresta, pois agora
é conhecida como Wanheda (comandante da morte) e muitos acreditam que matando-a,
irão conseguir seus poderes. Ciente disso, Lexa faz com que a levem a Pólis, um lugar
onde ela poderia ficar segura. Contudo, Clarke não superou ou perdoou os eventos
passados e chega a tentar matar Lexa, o que não se concretiza por conta do sentimento
que ainda nutre por esta. Elas se reaproximam ao longo dos episódios, criando uma forte
relação, apaixonadas.
No sétimo episódio, as duas têm sua primeira cena de sexo e são mostradas felizes.
Logo após essas cenas, Clarke está em um quarto com Titus (o mentor de Lexa), que tenta
matá-la. No mesmo momento em que ele atira com sua arma, Lexa entra no quarto e a
bala a acerta. Ela morre nos braços de Clarke.
Mesmo sendo duas personagens importantes na trama e tendo um relacionamento
bem desenvolvido, a série ainda é acusada de queerbaiting. Esta acusação está
principalmente em como os fatos aconteceram por trás das câmeras, não nos
acontecimentos da trama em si.
Durante e após as filmagens da segunda temporada, quando Lexa e seu romance
com Clarke foram introduzidos na trama, a série começou a receber muitos elogios por
ter representatividade LGBTQ+. Os roteiristas e escritores se vangloriavam e falavam da
importância de seus personagens, passando aos fãs a ideia de que se podia acreditar neles
e que eles não iriam fazer descaso dos mesmos.
A filmagem do último episódio da terceira temporada, que ocorreu antes da estreia
do episódio 3x07, foi aberta ao público, o que possibilitou que as pessoas vissem a atriz
de Lexa no set, passando novamente aos fãs a sensação de tranquilidade e de que podiam
confiar nos escritores. O episódio da morte de Lexa foi ao ar e os fãs ficaram desolados,
mas muitos ainda acreditavam em sua volta, por terem visto a atriz no set do último
episódio e, por isso, continuaram a ver a série. Lexa volta no último episódio, porém, em
uma realidade alternativa, apenas para aquele episódio. Desde então, até a temporada
atual (a sétima), os produtores utilizam o nome de Lexa para atrair mais espectadores.
A repercussão e o impacto da morte de Lexa foram enormes: fãs da série subiram a
hashtag no Twitter LGBTfansdeservebetter (fãs LGBT merecem mais), que ficou nos
trending topics por dias. Sob a mesma hashtag, os fãs fizeram uma campanha beneficente
para o Trevor Project, uma ONG estadunidense voltada para ajudar jovens LGBT+. No
ano seguinte, uma convenção voltada para o público LGBT+ foi criada, com o nome de
“Clexacon”.
‘Clexa’ representa, portanto, uma derivação do ‘queercatching’, em que a ‘trope’ é
o que introduz o apagamento da personagem e do casal. A jornalista Riese criou, no site
“Autostraddle”, uma lista com todas as personagens lésbica/bissexuais mortas em séries,
que mostra que, apenas naquele ano (2016), foram 29 personagens mortas.

4.3 – Once Upon a Time

Once Upon a Time é uma série focada no público adolescente que se baseia em
histórias de contos de fadas que todos conhecemos, mas dando um ar moderno a eles.
Durante as seis primeiras temporadas, a série se passa na cidade fictícia de Storybrooke,
no Maine, Estados Unidos. Todos os moradores da cidade são personagens de contos de
fada, porém a maioria não sabe sobre sua verdadeira história, devido a uma maldição
lançada pela Rainha Má/Regina Mills. A única pessoa capaz de quebrar a maldição é
Emma Swan, a filha da Branca de Neve e do Príncipe Encantado, que foi mandada para
o “mundo real” antes da maldição ser lançada. Ela descobre seu propósito por meio de
um reencontro com seu filho Henry, o qual colocou para adoção logo após seu
nascimento.
A sétima temporada não conta com o protagonismo de Emma e se passa em um
bairro fictício chamado Hyperion Heights, em Seattle. Esta temporada acompanha
Regina, Capitão Gancho, Rumplestiltskin e Henry já adulto, tentando salvar personagens
de um reino diferente que estão sob uma nova maldição.
Durante suas sete temporadas, ‘Once Upon a Time’ foi produzida e transmitida nos
Estados Unidos pela emissora ABC. Já no Brasil, chegou por meio do Canal Sony, que
também transmitiu todas as temporadas. Além disso, foi transmitida pelo serviço de
streaming Netflix, que, por questões contratuais, está aos poucos retirando as temporadas
do ar.
Sua primeira temporada foi um sucesso e teve a maior audiência de estreia de séries
na ABC entre adultos de com idade entre 18 e 49, em 5 anos. A série, ao longo das
temporadas, teve um grande decréscimo de audiência, como mostra o Quadro 2.

Quadro 2. Once Upon a Time: distribuição de audiência nos Estados Unidos


por temporada, primeiro e última exibição, e média de audiência.

Estreia da Final da
temporada temporada
Audiência
Temporada Horário Episódios (em
Audiência Audiência milhões)
Data (em Data (em
milhões) milhões)

23/10/ 13/05/
1 22 11 12.93 12 9.66 11.71

30/09/ 12/05/
2 22 12 11.36 13 7.33 10.24
Domingo
8:00 pm
29/09/ 11/05/
3 22 13 8.52 14 6.80 9.38

28/09/ 10/05/
4 22 14 9.47 15 5.51 8.98
27/09/ 15/05/
5 23 15 5.93 16 4.07 6.32

25/09/ 14/05/
6 22 16 3.99 17 2.95 4.39

Sexta-feira 6/10/1 18/05/


7 22 7 3.26 18 2.27 3.41
8:00 pm

Fonte: Wikipédia, https://pt.wikipedia.org/wiki/Once_Upon_a_Time_(s%C3%A9rie_de_televis%C3%A3o)

4.3.1 – O caso de ‘Swanqueen’

Swanqueen é o nome do shipp entre Emma Swan e Regina Mills, as personagens


principais da série. As duas se conhecem logo no primeiro episódio, quando Emma leva
Henry até Storybrooke e, de início, não se gostam. Ao longo dos episódios, por conta de
Henry, que é filho biológico de Emma e filho adotivo de Regina, começam a trabalhar
juntas e criar uma amizade.
Henry é um dos motivos de tantas pessoas afirmarem que Emma e Regina são um
casal, pois ele é filho das duas e, após a desavença inicial, os três formam uma família.
Ao longo da série, porém, muitas outras cenas e acontecimentos indicam o queer
allusion. No quinto episódio da primeira temporada, Henry entra em uma mina
abandonada e as duas precisam trabalhar juntas para salvá-lo. Na cena que começa aos
33 minutos, elas estão de frente uma para outra e quando é decidido que Emma é quem
irá descer na mina, Regina se aproxima, parecendo que vai beijá-la. Elas terminam a
conversa próximas, como é possível ver na figura 2.
Figura 2 – Série ‘Once Upon a Time’, momento em que Emma e
Regina quase se beijam

Fonte: Once Upon a Time, primeira temporada, quinto episódio, 33.21 minutos

A série menciona diversas vezes o “amor verdadeiro” e Rumplestiltskin fala para


Emma que “O amor verdadeiro, Srta. Swan, é a única magia capaz de transcender reinos
e quebrar qualquer maldição.”.
No primeiro episódio da segunda temporada, Regina está tentando abrir um portal
para outro reino para mandar uma criatura do mal, porém não consegue fazê-lo até Emma
a ajudar. Já no final da quarta temporada, Emma se sacrifica por Regina, seguindo
novamente a ideia de amor verdadeiro que a série propõe (como pode-se ver quando
Phillip se sacrifica por Aurora). Durante o décimo episódio da sexta temporada, Emma é
transportada para uma realidade alternativa, presa em uma maldição. Regina é quem vai
salvá-la, mesmo não sabendo como voltar a Storybrooke. Ao chegar nesta realidade
alternativa, Mills tenta diversas táticas para acordar Emma de sua maldição, para lembrar
de quem ela realmente é, e nenhuma delas funciona. Apenas quando Regina está em
perigo de ser machucada que Emma se lembra. Assim, elas quebram uma maldição, o que
é dito na série que apenas amores verdadeiros conseguem fazer.
Os achados da pesquisa realizada para esta monografia corroboram os achados de
Moraes (2018), que em seu trabalho de conclusão de curso também estudou o caso
‘Swanqueen’.
Em um painel realizado na ‘Comic Com Experience’, de 2019, (que pode ser visto
em matéria feita por Pinheiro, 2019), Lana Parrilla – atriz que interpreta Regina Mills –
disse sobre o shipp:
Eu aprendi sobre isso com os fãs da série mesmo (...) tudo começou com
Swanqueen. No começo eu não entendi muito, até que a ficha caiu e eu adorei.
Faz sentido (...) elas são boas juntas

Os produtores e diretores tinham a chance de fazer algo revolucionário, uma série


na qual as personagens principais são um casal de duas mulheres. Porém, ao invés disso,
optaram pelo queer allusion.

5 – Considerações finais

Enquanto o queer allusion utiliza-se da aparência para ampliar seu público, o


queercatching utiliza-se do apagamento disfarçado de representatividade. Ambos geram
muitos lucros para a indústria do entretenimento.
Independentemente de sua forma o queerbaiting, é uma estratégia perversa que tem
em si uma grande contradição: por um lado, a grande mídia começa a admitir que existem
pessoas LGBTQ+ e que queremos estar em filmes e séries da mesma forma que pessoas
de fora da comunidade, por outro, não tem interesse em contribuir para a superação dos
preconceitos, pois não quer correr o risco de perder sua tão querida audiência
conservadora. Assim, para a atual sociedade capitalista, a melhor maneira de lucrar com
a comunidade LGBTQ+ é reconhecer que existimos, mas não ao ponto de nos dar a devida
visibilidade.
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