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Queerbaiting:
da aparência ao apagamento, uma falsa
representatividade
Rio de Janeiro
Outubro, 2020
Dedico esta monografia a todas as pessoas
que, como eu, se entenderam por causa de
personagens.
Primeiramente agradeço ao meu orientador
Matheus que me ajudou durante todo o trabalho
de escrita, sem ele não seria possível a
conclusão do trabalho. Gostaria de agradecer
também a minha família que sempre me apoiou
e aos meus amigos, que sempre me ajudaram
mesmo que não diretamente.
SUMÁRIO
1 – Introdução 5
2 - Queer, televisão e cinema 5
2.1 - Definição de queer 5
2.2 - O queer no cinema e na televisão 5
2.2.1 - O início da representatividade queer no cinema e na televisão 5
2.2.2 - A repressão do Código Hays 6
3 - Queerbaiting: como fisgar o público LGBTQ+ 8
3.1 - O que é queerbaiting? 8
3.2 - Tipos de queerbaiting 9
3.2.1 - Queer allusion 9
3.2.2 – Queercatching 10
3.3 - Quando o queer é proibido 11
4 - Análise de séries 11
4.1 - Supergirl 11
4.1.1 - O caso de ‘Supercorp’ 13
4.2 - The 100 15
4.2.1 - O caso de Nathan Miller 16
4.2.2 - O caso de ‘Clexa’ 17
4.3 - Once Upon a Time 19
4.3.1 - O caso de ‘Swanqueen’ 21
5 - Considerações Finais 22
Referências Bibliográficas 24
1 - Introdução
Nesta monografia, o tema estudado é o queerbaiting, uma estratégia de marketing
da indústria televisiva para, como o verbo bait do Inglês mostra no termo, fisgar o público
LGBTQ+, aumentando a audiência e lucros de seus filmes e séries.
O objetivo deste estudo é analisar três séries (Supergirl, Once Upon a Time e The
100) a fim de identificar se elas utilizam a estratégia do queerbaiting. Para realizar essa
análise serão mapeadas as principais características do queerbaiting por meio da leitura
de textos e de vídeos que discutem o tema. A presença de tais características será
investigada nas séries citadas acima.
Parte-se da hipótese de que as séries que se utilizam da estratégia do queerbaiting
promovem uma distorção da representatividade LGBTQ+ e/ou sua invisibilização.
“(...) A simpatia da audiência nunca deve ser jogada para o lado do crime, da
transgressão, do mal ou do pecado.”
A forma mais comum de fazer isso é sugerir uma tensão romântica ou sexual
entre dois personagens do mesmo gênero, de modo que fique claro
que poderia haver algo entre eles, mas nada se concretiza. (Andrioli, 2017)
3.2.2 – Queercatching
Apesar de não serem a maior parte dos casos, é importante lembrar que existem
escritores e produtores que querem colocar personagens LGBTQ+ em suas séries, porém
são proibidos pela transmissora e portanto, tendo que trabalhar em meio a censuras,
utilizam apenas o subtexto. Pode-se ver um exemplo disso em Avatar: a Lenda de Korra,
(2012) no qual a série indica um romance entre Korra, a personagem principal, e Asami,
mas elas nunca chegam a se beijar. Os produtores, depois do final da animação, revelaram
que a Nickelodeon, transmissora do desenho, não permitiu que o casal fosse explícito.
Outro exemplo, é a novela da TV Globo “Torre de Babel” (1998), na qual havia um casal
lésbico que morreu por uma explosão quando ia se beijar. Muitas pessoas afirmam que a
morte das personagens ocorreu por conta do rechaço do público ao casal. Em uma matéria
de 1998 no jornal o Globo, escrita por Lilian Fernandes, pode-se perceber que o público
teve sim, grande influência no destino das personagens:
(...)Leila será sacrificada (...) por interferência de quem tem a posse do controle
remoto. Pela sinopse, após a morte de Rafaela, ela se apaixonaria por Marta (Glória
Menezes). Podia ser que o romance nem se consumasse, mas o público não quis
conversa. Reagiu quando soube que havia a possibilidade de ver Glória Menezes
namorando uma outra mulher na ficção.
4- Análise de séries
4.1- Supergirl
Segundas
2 22 10/10/16 3.06 22/05/17 2.12 3.12
20:00
The CW
Domingos
4 22 14/10/18 1.52 19/05/19 1.07 1.67
20:00
Supergirl, temporada 2, episódio 12, 37.35 Jane the Virgin, temporada 4, episódio 15, 39.43
Na quinta temporada, Kara revela para Lena que é a Supergirl. Esta não lida bem
com o fato. No episódio 13, intitulado It’s a Super Life, Kara tenta mudar a história,
passando por diversas realidades alternativas para revelar seu segredo em momentos
diferentes. Em uma das realidades, tudo parece dar certo, a Luthor não fica brava e tenta
ajudar Supergirl a derrotar sua inimiga, Reign. Porém, Reign mata Lena Luthor e Mon-
El (ex-namorado de Kara). Mesmo com seu ex-namorado caído no chão, Kara não corre
para ajudá-lo, apenas segura Lena em seus braços até poder sair da realidade alternativa.
Diversas vezes na série são feitos paralelos com cenas de casais oficiais: no episódio
12, da segunda temporada, Lena fala que Supergirl pode tê-la salvado, mas que Kara era
sua heroína. Em The Flash, também produzida pela CW, Iris Allen fala a mesma coisa
para Barry Allen, em seus votos de casamento. Já no terceiro episódio da quinta
temporada, uma cena mostra Kara dando um presente para Lena, alternando entre uma
cena de Alex e Kelly (personagens que namoram) despedindo-se, ambas embaladas pela
música You Mean the World to Me, de Freya Ridings, cujo tema é a perda de um amor.
Na mesma cena, Kara diz a Lena que “não há limites para uma amiga como ela”.
Maciel (2017) explica que, na linguagem cinematográfica, “A própria relação
visual entre os elementos da composição comunica um sentido, mesmo que de forma
subliminar, ao espectador”. Ao seguir essa lógica, é possível concluir que, na maior parte
das vezes, não existe acidentes nas cenas, tudo é planejado para passar uma ideia ao
espectador. A ideia que os diretores de Supergirl passam é, definitivamente, romântica,
caracterizando o queer allusion.
The 100 é uma série inspirada no livro de mesmo nome da autora Kass Morgan.
Inicialmente a série tinha seu público-alvo nos adolescentes, porém, conforme as
temporadas passam a série se torna mais “adulta”.
Por conta de uma guerra nuclear, o planeta terra é destruído e os únicos
sobreviventes estão no espaço, na chamada “Arca”. 97 anos depois da guerra, a Arca
começa a ter problemas no oxigênio e decide mandar 100 jovens delinquentes menores
de idade para a Terra para saber se já é novamente habitável. Os jovens tentam se manter
vivos e criar uma sociedade no planeta, até descobrirem que existem outras pessoas que
sobreviveram a destruição, que são chamados de “terrestres”.
Atualmente, a série está em sua sétima e última temporada, ainda sem data para seu
final. É transmitida e produzida desde seu início pela The CW nos Estados, nas quartas-
feiras, às nove horas da noite. Já no Brasil, suas duas primeiras temporadas e metade da
terceira foram transmitidas pela MTV e depois, passou a ser transmitida do início pela
Warner Channel, onde permanece atualmente. Além disso, também é possível assistir as
seis primeiras temporadas no serviço de streaming Netflix.
Seu episódio piloto teve uma audiência estimada de 2.73 milhões de expectadores
e foi considerada a série mais assistida em seu horário na The CW desde 2010. Apesar do
ótimo começo, com o decorrer das temporadas, a audiência decresce, como pode-se ver
no Gráfico 1.
Meu personagem (...) no final das contas, era um negro gay e nunca chegamos
a conhecê-lo de verdade. Não sabemos o que ele pensa, não sabemos o que ele
ama (...) Ninguém realmente me checou, dizendo ‘precisamos isso e você ou
aquilo de você’ (...) E para ser sincero, nunca sabia porque eu estava lá metade
do tempo.
Formado por Clarke e Lexa, ‘Clexa’ é um dos casais lésbicos mais famosos das
séries de TV e de maior impacto na última década. Ganhou parte de sua fama por causa
das acusações de queerbaiting e de praticar a “trope” - um padrão narrativo usado para
contar histórias (Martins, 2017) - conhecida como “bury your gays” (em tradução literal,
“enterre seus gays”). Essa trope consiste em matar os personagens LGBTQ+ da trama e
ocorre principalmente com personagens lésbicas/bissexuais.
Clarke é a protagonista da série, faz parte do grupo de cem jovens deliquentes que
foram enviados à Terra. Logo que aterrisa, o grupo precisa ir em busca de suprimentos e
Clarke ocupa um espaço de poder e liderança. Ao longo da primeira temporada, ela se
torna a líder dos jovens. Durante toda a série, é mostrada como personagem forte, que
consegue tomar difíceis decisões mesmo sob pressão.
Lexa é introduzida na segunda temporada, como a comandante das doze tribos dos
terra-firme (como são chamados os povos que sobreviveram ao apocalipse na Terra).
Durante suas primeiras cenas, a personagem é mostrada como uma pessoa sem
sentimentos e uma comandante rigorosa aos olhos do povo do céu (como são chamados
os sobreviventes da Arca).
Lexa e Clarke se conhecem sob circunstâncias de guerra, quando Clarke vai à
comandante para tentar sugerir um acordo de paz e uma parceria contra o povo da
montanha, obtendo sucesso em seu intento.
Ao longo da temporada, estas personagens começam a se aproximar e a se entender.
Lexa salva a vida de Clarke algumas vezes e tenta conduzir seu povo para um caminho
mais pacífico, no qual sangue não se paga com sangue, tudo por influência de Clarke.
Durante o penúltimo episódio da temporada, enquanto estão se preparando para a batalha,
elas se beijam. Toda confiança e relação que as duas estavam construindo é quebrada no
último episódio, no qual Lexa aceita um acordo com o povo da montanha que mantem o
povo de Clarke preso.
A terceira temporada começa com Clarke vivendo escondida na floresta, pois agora
é conhecida como Wanheda (comandante da morte) e muitos acreditam que matando-a,
irão conseguir seus poderes. Ciente disso, Lexa faz com que a levem a Pólis, um lugar
onde ela poderia ficar segura. Contudo, Clarke não superou ou perdoou os eventos
passados e chega a tentar matar Lexa, o que não se concretiza por conta do sentimento
que ainda nutre por esta. Elas se reaproximam ao longo dos episódios, criando uma forte
relação, apaixonadas.
No sétimo episódio, as duas têm sua primeira cena de sexo e são mostradas felizes.
Logo após essas cenas, Clarke está em um quarto com Titus (o mentor de Lexa), que tenta
matá-la. No mesmo momento em que ele atira com sua arma, Lexa entra no quarto e a
bala a acerta. Ela morre nos braços de Clarke.
Mesmo sendo duas personagens importantes na trama e tendo um relacionamento
bem desenvolvido, a série ainda é acusada de queerbaiting. Esta acusação está
principalmente em como os fatos aconteceram por trás das câmeras, não nos
acontecimentos da trama em si.
Durante e após as filmagens da segunda temporada, quando Lexa e seu romance
com Clarke foram introduzidos na trama, a série começou a receber muitos elogios por
ter representatividade LGBTQ+. Os roteiristas e escritores se vangloriavam e falavam da
importância de seus personagens, passando aos fãs a ideia de que se podia acreditar neles
e que eles não iriam fazer descaso dos mesmos.
A filmagem do último episódio da terceira temporada, que ocorreu antes da estreia
do episódio 3x07, foi aberta ao público, o que possibilitou que as pessoas vissem a atriz
de Lexa no set, passando novamente aos fãs a sensação de tranquilidade e de que podiam
confiar nos escritores. O episódio da morte de Lexa foi ao ar e os fãs ficaram desolados,
mas muitos ainda acreditavam em sua volta, por terem visto a atriz no set do último
episódio e, por isso, continuaram a ver a série. Lexa volta no último episódio, porém, em
uma realidade alternativa, apenas para aquele episódio. Desde então, até a temporada
atual (a sétima), os produtores utilizam o nome de Lexa para atrair mais espectadores.
A repercussão e o impacto da morte de Lexa foram enormes: fãs da série subiram a
hashtag no Twitter LGBTfansdeservebetter (fãs LGBT merecem mais), que ficou nos
trending topics por dias. Sob a mesma hashtag, os fãs fizeram uma campanha beneficente
para o Trevor Project, uma ONG estadunidense voltada para ajudar jovens LGBT+. No
ano seguinte, uma convenção voltada para o público LGBT+ foi criada, com o nome de
“Clexacon”.
‘Clexa’ representa, portanto, uma derivação do ‘queercatching’, em que a ‘trope’ é
o que introduz o apagamento da personagem e do casal. A jornalista Riese criou, no site
“Autostraddle”, uma lista com todas as personagens lésbica/bissexuais mortas em séries,
que mostra que, apenas naquele ano (2016), foram 29 personagens mortas.
Once Upon a Time é uma série focada no público adolescente que se baseia em
histórias de contos de fadas que todos conhecemos, mas dando um ar moderno a eles.
Durante as seis primeiras temporadas, a série se passa na cidade fictícia de Storybrooke,
no Maine, Estados Unidos. Todos os moradores da cidade são personagens de contos de
fada, porém a maioria não sabe sobre sua verdadeira história, devido a uma maldição
lançada pela Rainha Má/Regina Mills. A única pessoa capaz de quebrar a maldição é
Emma Swan, a filha da Branca de Neve e do Príncipe Encantado, que foi mandada para
o “mundo real” antes da maldição ser lançada. Ela descobre seu propósito por meio de
um reencontro com seu filho Henry, o qual colocou para adoção logo após seu
nascimento.
A sétima temporada não conta com o protagonismo de Emma e se passa em um
bairro fictício chamado Hyperion Heights, em Seattle. Esta temporada acompanha
Regina, Capitão Gancho, Rumplestiltskin e Henry já adulto, tentando salvar personagens
de um reino diferente que estão sob uma nova maldição.
Durante suas sete temporadas, ‘Once Upon a Time’ foi produzida e transmitida nos
Estados Unidos pela emissora ABC. Já no Brasil, chegou por meio do Canal Sony, que
também transmitiu todas as temporadas. Além disso, foi transmitida pelo serviço de
streaming Netflix, que, por questões contratuais, está aos poucos retirando as temporadas
do ar.
Sua primeira temporada foi um sucesso e teve a maior audiência de estreia de séries
na ABC entre adultos de com idade entre 18 e 49, em 5 anos. A série, ao longo das
temporadas, teve um grande decréscimo de audiência, como mostra o Quadro 2.
Estreia da Final da
temporada temporada
Audiência
Temporada Horário Episódios (em
Audiência Audiência milhões)
Data (em Data (em
milhões) milhões)
23/10/ 13/05/
1 22 11 12.93 12 9.66 11.71
30/09/ 12/05/
2 22 12 11.36 13 7.33 10.24
Domingo
8:00 pm
29/09/ 11/05/
3 22 13 8.52 14 6.80 9.38
28/09/ 10/05/
4 22 14 9.47 15 5.51 8.98
27/09/ 15/05/
5 23 15 5.93 16 4.07 6.32
25/09/ 14/05/
6 22 16 3.99 17 2.95 4.39
Fonte: Once Upon a Time, primeira temporada, quinto episódio, 33.21 minutos
5 – Considerações finais
Arruda, Rebeca de. Precisamos falar sobre o elenco (problemático) de Supergirl e representação
LGBT. 2017. Acesso em 27/10/2020.
https://oblogpave.wordpress.com/2017/07/28/precisamos-falar-sobre-o-elenco-
problematico-de-supergirl-e-representacao-lgbt/
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Acesso em 26/10/2020. https://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/audiencias/fenomeno-da-
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