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Eduardo Carniel

Universidade de São Paulo

The realness
RuPaul’s Drag Race e o potencial subversivo das drag queens

Estudos de Cultura
Prof. Maria Elisa Cevasco

São Paulo
2015
Nos últimos anos, a instalação de uma nova crise profunda no capitalismo
colocou a luta social de volta ao imaginário da população no mundo todo. A
instalação do neoliberalismo nos anos 90, que viveu por muitos anos sem ser
questionada, recomeça nessa década, mesmo que de maneira indireta, a ser
desafiada em diferentes esferas. Um sentimento de insatisfação toma conta
principalmente da juventude, que constrói uma nova forma de ativismo muito ligada
a pautas democráticas e por direitos, que buscam questionar a ideologia dominante e
abrir novos espaços políticos, sociais e culturais. Uma pauta que vem sendo expoente
nesses novos processos é a de gênero e sexualidade, que vem ganhando espaço a uma
grande velocidade tanto na base quanto na superestrutura, com cada vez mais
mulheres e pessoas LGBTs protagonizando espaços políticos e ganhando visibilidade
na exigência dos seus direitos.
Ligado aos processos de avanço da consciência e da entrada em cena de novos
atores políticos, sempre podemos perceber a consolidação de práticas culturais e
artísticas que também ganham espaço ao passo que dialogam com as novas
demandas que surgem de novos momentos sociais, sejam elas demandas vindas da
luta por direitos ou demandas de consumo impostas pela ideologia dominante. Esse
trabalho visa olhar o fenômeno das drag queens à luz de um novo momento na
própria história dessa arte, que vem crescendo na última década e cavando espaços
na cultura mainstream, muito pelo fato desse diálogo com ansiedades de uma
juventude com a representação de gênero e a resistência a padrões de
comportamento impostos por um sistema. Especificamente, o trabalho se atém à
crítica do programa de TV RuPaul’s Drag Race, que foi um dos grandes veículos de
popularização do drag nos últimos anos, e os potenciais e problemas que surgem
quando se pensa na mercantilização severa que trouxe o programa durante a sua
trajetória.
Judith Butler, nas suas teorias sobre gênero, consolidou teoricamente muito
do que foi descoberto a partir das experiências da luta feminista e LGBT. Butler vê o
gênero como performance, ou seja, como um conjunto de padrões de comportamento
adotados por um indivíduo (e que ele aprende porque o é imposto socialmente) que o
situam em um de dois polos: mulher ou homem. Nesse sentido, a autora vê com bons
olhos as drag queens, pois para ela elas “constituem o jeito mundano no qual
gêneros são apropriados, teatralizados, vestidos e completados; implica que todo
gênero é um tipo de representação e aproximação”. 1 Nisso estaria o potencial

1 Butler, J. (1991). Imitation and gender insubordination. In D. Fuss (Ed.), Inside/out: Lesbian
theories/gay theories (pp.13-31). New York: Routledge
subversivo do drag, como uma maneira de explicitar a artificialidade sobre a qual é
construída o gênero de cada uma das pessoas. Porém, o drag sempre foi bastante
contraditório no que se refere ao seu potencial de contestação versus o seu uso como
reiteração da ideologia dominante.
As suas origens remontam as origens do teatro, quando as mulheres não eram
vistas como apropriadas para a posição de atriz e as personagens femininas eram
encarnadas por atores homens travestidos. A etimologia do termo drag queen é
incerto, mas uma teoria popular é de que ele vem da sigla DRAG, usada em rubricas
de teatro inglês ao lado do nome de atores, que significava Dressed Resembling A
Girl. Por muito tempo, portanto, a encarnação da figura da mulher por um homem
era vista não como uma crítica ao que se concebia como papéis de gênero, mas como
a reafirmação desses mesmos papéis, já que era uma oportunidade para consolidar
que certas atitudes e comportamentos eram especificamente femininos e estavam
sendo assumidos naquele momento como uma pantomima do que é comumente
acordado como “mulher”.
O momento da popularização do drag, mesmo que ainda não por esse nome,
veio no final do século XIX nos EUA com a abertura de dois espaços de performance
bastante distintos. O primeiro deles era o vaudeville, um gênero teatral de variedades
que agrupava músicos, acrobatas, dançarinos e artistas circenses. Muitas vezes
nesses shows a estrela da noite eram os “female impersonators”, homens que se
vestiam de mulheres com um objetivo claro de enganar quem os visse. Não havia,
portanto, uma ligação com o ridículo ou com a comédia necessariamente, mas sim
com a busca por algo que permanece até hoje na cultura drag: a chamada
“passabilidade” ou “realness”. Nisso se atesta a natureza conservadora dos shows de
vaudeville, já que a ideia era se distanciar de uma arte atrevida e vulgar para
promover uma celebração genuína da modéstia e graça feminina. Os “female
impersonators” inclusive eram conhecidos como “ilusionistas”, assim como o mágico
Houdini, por uma compreensão de que o cruzamento da divisão intransponível entre
as esferas feminina e masculina eram ilusões mágicas. Tudo isso confirmava muito
mais do que ameaçava a divisão de gênero.2
Porém, o que era visto como agradável e de bom gosto nos palcos, era visto
como uma abominação na rua. Esse era o período em que houve mais prisões de

2 “#TBT: When Cross-Dressing Was a Crime” Disponível em: http://www.advocate.com/arts-


entertainment/books/2015/03/12/tbt-when-cross-dressing-was-crime?page=full
cross-dressers nos EUA, sob alegações de promiscuidade e prostituição. Essa
aparente contradição é solucionada quando se pensa que não era porque o drag era
famoso no vaudeville que ele é bem-visto como um estilo de vida. Pelo contrário, era
exigido dos “female impersonators” que vivessem sua vida como homens fora do
circuito artístico, até para adicionar ao impacto da “ilusão”. Porém, as tentativas de
fuga do padrão normativo de gênero sempre existiram, e os performers degenerados
das ruas se reuniam em um segundo espaço de performance: o freak show. Esses
shows baratos e decadentes, e portanto muito mais populares do que o vaudeville,
começaram com a tradição dos “museus anatômicos” onde eram expostos genitais
em estados avançados de DSTs para atestar os males da promiscuidade, e evoluíram
para abrigar mulheres barbadas, hermafroditas, “elos perdidos” (como eram
chamados africanos que eram trazidos para os EUA e expostos como a união entre
homem e animal) e toda a sorte de outras “aberrações”. No meio destes, estavam os
“bogus men” e “bogus women”, que eram exatamente as pessoas perseguidas por não
se agirem como o gênero que lhes foi designado quando nasceram.
Essa retrospectiva histórica é necessária para consolidar o que será o ponto de
argumentação básico sobre a potencial subversão do drag, que se calca pela disputa
do discurso com a ideologia dominante. Raymond Williams com seus conceitos de
culturas residuais e emergentes nos ajuda muito para compreender esses processos. 3
Com o vaudeville, podemos ver as pulsões de uma cultura emergente, que é a prática
do cross-dressing e da personificação (que vinha sendo combatida a nível político),
ser incorporada para reafirmar os valores de uma ideologia dominante impositiva e
segregatória, legando às mulheres o comportamento modesto e não-violento
necessário para a constituição da família. Esse processo voltará quando estivermos
discutindo RuPaul’s Drag Race. Com o freak show, por outro lado, nós vemos a
perpetuação de uma cultura residual, com a aterrorização de muitas pessoas através
de teses racistas, anticientíficas e misóginas mesmo para a época, mas que,
justamente pela marginalidade a que foi submetido pela sua própria carga de
vulgaridade e animalismo, acabou se consolidando como um espaço de reunião e de
expressão dessas pessoas a quem o espaço público foi constantemente negado, e
onde especialmente as drag queens começaram a se constituir com um nome e
práticas culturais e artísticas refinadas pelo tempo e pela convivência. Ou seja, uma

3 “Base and superstructure in Marxist cultural theory” In: Problems of materialism and culture
cultura residual foi quem abrigou uma cultura emergente depois dessa ter sido
cooptada pela ideologia.
Mas se o destino dessa cultura era estar relegada constantemente à
marginalidade política e social, onde está o potencial de realmente ameaçar a
ideologia hegemônica? Daí lembramos que, por mais marginal que seja, ele ainda
responde a pressões externas, e pode ter momentos de explosão, como o que
aconteceu em 1969 no Greenwich Village, no famoso bar chamado Stonewall Inn.
Mesmo com o freak show de fato tendo desaparecido, muito da sua lógica de
marginalização das “aberrações” (e entre elas, a população LGBT) se manteve, o que
levou a criar nos EUA guetos de convivência de homossexuais, lésbicas e pessoas
trans, com condições péssimas de salubridade e frequentemente comandados pelo
crime organizado. As drag queens sempre foram centrais para produção de
entretenimento e arte nesses lugares. Com o Red Scare pós-Segunda Guerra, e a
perseguição anticomunista tendo tomado proporções gigantes, o discurso moralista
ganhou força e foi usado como justificativa pra fechar bares gays e prender
habitantes desses bairros. Uma dessas operações, promovidas no Stonewall, foi de
tão grande violência que levou a uma revolta de vários dias de confronto intenso
entre polícia e habitantes da região, e a mitologia em volta dessa revolta nos lembra
que a primeira pedra atirada em um policial foi de Marsha P. Johnson, mulher trans
e drag queen. A revolta de Stonewall foi o ponto de partida para o começo das lutas
pelos direitos LGBT pelo mundo, e também projetou o drag como arte para um setor
mais amplo.
Mesmo a performance drag ganhou contornos diferentes durante esse
período. Enquanto os “female impersonators” do vaudeville prezavam pela “realness”
e pelo ilusionismo, o estilo de vida underground e barato que viviam as drag queens
do Greenwich Village, combinado com o dia-a-dia de resistência, trouxe o
genderfuck, que marcou a história do drag pela sua ousadia em mostrar
performances híbridas de gênero (frequentemente algumas performers se
apresentavam de barba cheia e com acessórios masculinos como botas de exército, o
chamado skag drag) e prezando pelo choque e pelo incômodo, muito mais alinhado
com a estética punk do que com a arte amigável às famílias que o drag mainstream
tinha visto até então. Esse foi um momento que as drag queens saíram da
marginalidade e deslocaram o centro da política, e com ela, a cultura. 4 O cineasta
John Waters fundou uma nova estética do camp, caracterizado pelo exagero e pelo
ridículo, que marcou a década de 70 com filmes como Hairspray e Pink Flamingos,
levados à frente pela drag queen Divine. A cultura emergente emergia, e deslocava a
hegemonia, pois o ridículo do camp não cumpria o papel que cumpria o vaudeville de
reafirmar padrões de gênero, mas sim colocava eles no bojo de toda a bizarrice que
um espectador presenciava. Em momento de ascenso do movimento pelos direitos
civis, essas reflexões deslocaram placas tectônicas sobre o que se pensava de gênero e
sexualidade.
É claro que, dentro de um sistema capitalista baseado no consumo, tenta-se
constantemente cooptar esses novos fenômenos culturais para servir à sua lógica. E
refletindo sobre isso é que passamos ao presente, e ao programa de TV RuPaul’s
Drag Race. O programa foi criado em 2009 pelo canal pago norte-americano Logo,
especializado em criar conteúdo televisivo para a população LGBT. Comandado pela
drag queen RuPaul, talvez a mais notória drag queen viva, consiste em uma
competição entre um grupo de drag queens por temporada que buscam a coroa de
“America’s Next Drag Superstar”, e semana após semana cumprem desafios de
dança, dublagem, canto, costura, atuação e outros diversos. Já na sua sétima
temporada, o programa ganhou uma ascensão meteórica, inclusive por acompanhar
um novo momento de luta por direitos e visibilidade da população LGBT, inclusive
especificamente da população trans, com figuras como Caitlyn Jenner e Laverne Cox
sendo alçadas à condição de celebridades mundiais, e cada vez mais meios de mídia
de massas tratando dessa questão específica.
RPDR impressiona no respeito que carrega pelas lutas de drag queens e
LGBTs do seu passado, frequentemente fazendo homenagens e menções a Stonewall,
Divine e outras figuras importantes do passado. Por esse motivo foi um grande
veículo de uma cultura que estava de novo na marginalidade, e que volta a passos
tímidos ao centro do debate, porque se presta a dialogar com esse sentimento
crescente de luta por direitos e resistência contra padrões de gênero. Porém, ao
analisarmos de perto, vemos a diferença que faz quando esse processo se dá através
de luta social, como no caso de Stonewall, do que quando ele é conduzido pela mídia
do sistema. O foco de RPDR é o consumo: a construção de uma drag persona tem

4 Um participante anônimo da Revolta de Stonewall colocou em palavras: “When did you ever see a
fag fight back?... Now, times were a-changin'. Tuesday night was the last night for bullshit...
Predominantly, the theme [w]as, "this shit has got to stop!"
que ser necessariamente pautada, na visão dos juízes, pelo acúmulo de posses com
alto teor de luxo (inclusive com participantes sendo escorraçadas ao se atestar que o
look delas parecia barato demais). Não só isso, mas as drags também são veículos de
consumo: muitos desafios são da ordem de fazer um comercial para vender um
produto, ou promover um álbum que acabou de ser lançado. No fim de cada
temporada, as três finalistas devem gravar um clipe da última música da própria
RuPaul, que sai daí para bater recorde de vendas no iTunes.
De maneira esperada, isso influencia também o próprio formato de drag que o
programa propagandeia. A promessa de marketabilidade do programa não permite o
nível de contestação, incômodo e atitude que trouxeram as estéticas do camp ou do
genderfuck. Com isso, todas as vencedoras até hoje construíram no programa a
imagem de glamour, e acima de tudo, “realness”. Para os juízes de RPDR, o maior
crime que você pode cometer é parecer um homem, proibindo até calças na
passarela. É claro que nada é tão delimitado assim, mas o programa materializa uma
disputa que hoje é presente no mundo drag, e que dialoga com aquela primeira
contradição entre o vaudeville e o freak show. Uma parte das participantes do
programa sempre são as auto-denominadas pageant queens: drags que competem
profissionalmente em concursos como os de miss, no qual o prêmio vai para a que
mais convence os juízes e a plateia na sua transformação de homem para mulher, e
que consegue ser o mais feminina possível (ou seja, a mais graciosa, a mais
simpática, a mais bela, a melhor para se olhar). Lembra de algo? Ao mesmo tempo,
uma outra parte das participantes geralmente representa o polo oposto, de drag
queens com tendência a chocar e contestar, apresentando looks criativos e
marcantes, as chamadas terrorist drags ou tranimals. O programa acaba
transmitindo o que acontece na realidade: as drags mais contestadoras
esteticamente são valorizadas, mas consideradas personagens esdrúxulas e cômicas,
e são logo jogadas à marginalidade. As pageant queens geralmente duram mais
tempo na competição, mas também tendem a ir embora se não conseguem superar o
mero ilusionismo. No fim, a vencedora geralmente é uma drag talentosa no que faz,
mas que só alcança essa posição depois de ter provado que consegue ter “realness”.
Ou seja, depois que prova que não contesta coisas demais.
Que o programa valorize esse tipo de estética em detrimento de outras é
sintoma do razão pela que veio: vender para um público que anseia por novidades, e
que está sensibilizado pela pauta de gênero e sexualidade. Esse propósito por vezes
levanta questões mais sérias, e RPDR coleciona comentários misóginos e até
transfóbicos de suas participantes, fundamentados em uma “legitimidade” que essas
pessoas teriam de perpetuar discursos violentos porque estão fazendo humor, e
porque, como drag queens, já são uma piada ambulante. O problema é quando essa
lógica se transforma de “drag queens são ridículas” ou “gênero é ridículo” para
“mulheres são ridículas”. E essa é uma linha tênue para se cruzar.

Drag can be funny. It can be riotously funny. But queers have


intimate knowledge of the tenuous distinction between
‘laughing with’ and ‘laughing at’; resigned to campy sidekicks,
reduced to both sexless and oversexed caricatures, the queer
subject is overtly familiar with humor’s double-edged nature.
For the character of the drag queen, moreover, comedic
undertones are interwoven with the decidedly darker
implications of playing at gender.5

E como transitar por essa linha? Recentemente uma performance vista por
mim de uma drag queen de RPDR abriu caminho para uma possibilidade
interessante. Seu nome é Trixie Mattel, e “realness” talvez não seja uma grande
procupação sua. A personagem nasceu do conceito da boneca Barbie, vista por
muitos como o arquétipo da feminilidade, mas que não representa nenhuma mulher
real. Trixie é um híbrido bizarro das classificações que falamos até agora: tem todas
as características de drags que prezam pela feminilidade (roupa rosa, cabelo grande e
loiro, maquiagem chamativa) porém de maneira tão exagerada, a ponto dela parecer
um robô, ou uma boneca viva. Só isso já coloca a vontade da performer de mostrar a
artificialidade dos marcadores de gênero. Porém, a mera questão das roupas e da
maquiagem se aprofunda na performance mencionada 6: Trixie faz uma dublagem de
uma música fútil sobre cabelos, roupas, celulares e compras (como uma bela
mulherzinha), quando a música para e a drag começa uma dublagem falada de uma
voz masculina, que diz, entre outras coisas, se dirigindo a uma mulher: “You should
have kept your fucking mouth shut.”, “ If you ever pull that shit on me again, that will
be your last mother fucking day standing.” “You’re a dummy bitch. You will never
know shit. Don’t nobody want you, don’t nobody need you.” A música vai e volta,
5 “What´s political about drag? On the problems and potentials of identity play” Disponível em:
http://www.fvckthemedia.com/issue22/whats-political-about
6 Vídeo da performance: http://tinyurl.com/trixiemattel
intercalada com esse monólogo, até que termina com sons de pancadas e gritos do
homem que Trixie dubla “Now smile about that! Smile about that you fat bitch!”
Mais do que só roupas ou maquiagem, Trixie nessa performance entende o
que é o grande marcador de gênero das mulheres: a violência sistêmica a que são
submetidas, desde o momento em que são vistas como bonequinhas. E isso lança
questões sobre o próprio papel das drag queens, e o quanto muitas delas acabam por
reforças essa mesma concepção quando colocam com tanta importância a “realness”,
ou a reafirmação do que é comumente aceito como feminino. E RuPaul’s Drag Race,
por mais que tenha aberto espaço a artistas como Trixie, é culpado do mesmo crime.
Acima de tudo, o que Trixie coloca é que não é só uma questão de emular trejeitos ou
peças de roupa: uma cultura emergente que desloca o centro da hegemonia é uma
que compreende que está inserida em um sistema violento e desigual, e pauta suas
ações artísticas tendo em vista a crítica desse sistema como um todo. Assim como foi
feito em Stonewall, que de uma briga de bar se transformou em um movimento
mundial, por mostrar a uma população marginalizado que o sistema não tinha
intenção de o incluir. E quando tentava, como fez RPDR, é melhor que tenha
dinheiro.

To the extent that drag mediates the presentation of identity,


it’s not a position so much as a practice. What’s political about
drag is a kind of fluid potential, a mechanism moving with or
against the tides of prevailing cultural systems. But in moments
of pointed parody, in flashes of cultural sabotage, drag has a
rare capacity to upend expectation, adulterating our
conceptions of authenticity and autonomy.7

Em outras palavras, e tentando responder a pergunta desse trabalho sobre o


potencial subversivo do drag: é uma arte que em si é imprevisível, por tratar do
estranhamento. Mas não é isenta das contradições que o sistema a coloca. Por mais
performers como Trixie, e tantas outras que não tiveram o privilégio de ser divulgada
em RPDR, que compreendem que a crítica que fazem as drags não são específica ao
gênero, ou ao fato que mulheres podem usar salto e batom, e homens não, mas sim
que existe um sistema que nos impõe padrões de comportamento e regula nossas

7 “What´s political about drag? On the problems and potentials of identity play” Disponível em:
http://www.fvckthemedia.com/issue22/whats-political-about
vidas. Até das drag queens. Que elas rompam com a escolha entre vaudeville ou
freak show, e continuem imprevisíveis.

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