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Marcelo Bramucci
Fernando Seixas
RESUMO: Este trabalho teve como objetivo analisar e quantificar a influência das diferentes
variáveis sobre a capacidade de produção de “harvesters”, na colheita de madeira, e desen-
volver modelos matemáticos que permitissem a predição da produtividade esperada para
essa máquina em determinadas condições de trabalho. Para tanto, foram coletados dados
referentes a 4,2 milhões de m3 de madeira de eucalipto, colhidos em primeira rotação, e 200
mil horas de trabalho realizado por 68 “harvesters”, totalizando mais de 14 mil linhas de dados.
O volume individual médio das árvores foi a variável que, isoladamente, melhor explicou a
capacidade produtiva dos “harvesters”, seguida do DAP médio, da altura média e do volume
de madeira por hectare. Através de regressões lineares múltiplas foram obtidos modelos mais
precisos para cada sistema de trabalho, com coeficientes de determinação superiores a 0,75.
ABSTRACT: This work aimed, based on forestry industry data bank, to analyze the influence
of different variables over harvester production and to obtain mathematic models to predict the
expected productivity on different work conditions. This study analyzed data referent of 4.2
millions m3 of eucalypt wood, harvested on first rotation, and 200 thousand hours of work done
by 68 harvesters, totalizing more than 14 thousand data lines. Average individual volume was
the variable that, isolated, better explain harvester productivity, followed by mean DBH, mean
height and volume of wood per hectare. More precise models were obtained for different work
systems (i.e. with or without wood debarking), with determination coefficient higher than 0.75,
by multiple linear regression.
ln produtividade (m3/h)
de árvores colhidas pelo volume médio das ár-
4,0
3,5
vores, estimado pelo inventário pré-corte, daí a
3,0
relação tão estreita entre as variáveis preditora
2,5
e resposta.
2,0
4,5
10,0 15,0 20,0 25,0 30,0
4,0
DAP (cm)
3,5
3,0
Figura 3
2,5 Gráfico do logaritmo das produtividades das máquinas,
2,0 sem descascamento da madeira, em relação ao DAP
1,5 médio.
1,0 (Graphic of logarithm machine productivity, with no
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 debarking, based on mean DBH)
volume/árvore (m3)
y = -0,001x 3 + 0,0502x2 - 0,6926x + 5,0074
5,00
**R2 = 0,58
ln produtividade (m 3/h)
Figura 1 4,50
3,5
3,0 Figura 4
2,5 Gráfico do logaritmo das produtividades das máquinas,
2,0 com descascamento da madeira, em relação ao DAP
1,5 médio.
1,0
(Graphic of logarithm machine productivity, with
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 debarking, based on mean DBH)
volume/árvore (m3)
Nos dois sistemas, os comportamentos dos
dados foram bastante semelhantes, com um
Figura 2
Gráfico do logaritmo das produtividades das máquinas, rápido aumento da produtividade em função do
com descascamento da madeira, em relação ao volume aumento do DAP até aproximadamente 24 cm,
médio por árvore.
(Graphic of logarithm machine productivity, with
notando-se uma forte tendência de queda nas
debarking, based on tree mean volume) produtividades a partir desse valor. Esse com-
Bramucci e Seixas n 67
ln produtividade (m 3/h)
4,5
de DAP.
3,5
3,0
Seria importante que esse tipo de informa- 2,5
1,0
consta apenas o diâmetro máximo de corte, que 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0 45,0
ais.
Figura 6
Gráfico do logaritmo das produtividades das máquinas,
Altura média das árvores com descascamento da madeira, em relação à altura
Da mesma forma que o DAP, a altura tam- média.
(Graphic of logarithm machine productivity, with
bém possui forte influência sobre a produtivida- debarking, based on tree mean height)
de dos equipamentos de colheita. Observan-
Volume por hectare
do-se os resultados nas Figuras 5 e 6, nota-se
O volume de madeira por hectare está for-
que não existe diferença entre os dois sistemas.
Vale ressaltar, porém, que não existe a tendên- temente relacionado ao aumento do volume
cia de queda da produtividade, mas sim de individual das árvores (R2 = 0,74 para madeira
estabilização a partir de 40m de altura, prova- com casca e 0,84 para madeira sem casca).
velmente porque o aumento em altura não im- Em função disso, é natural que seja encontrada
plica em ultrapassar os limites operacionais dos uma influência dessa variável sobre a produtivi-
equipamentos, que estão mais diretamente li- dade dos “harvesters”.
gados ao diâmetro. Como pode ser visto nas Figuras 7 e 8, os
Esse comportamento sugere que, eventu- comportamentos das curvas de regressão são
almente, o melhoramento florestal talvez devesse bastante semelhantes aos verificados nas avalia-
buscar um ganho maior em altura, que em diâ- ções dos volumes individuais das árvores (Fi-
metro. Assim, seria obtido o aumento da pro- guras 1 e 2), porém com coeficientes de deter-
dutividade da floresta, ao mesmo tempo em que minação menores, possivelmente, porque o
se manteria a capacidade de produção dos volume por hectare engloba, além do volume
equipamentos de colheita. das árvores, a densidade da floresta, o que tor-
na a relação menos direta.
5,0 y = -5E-05x3 + 0,0044x2 - 0,0935x + 3,3802 5,0 y = 2E-08x3 - 2E-05x2 + 0,0082x + 2,1456
**R2 = 0,25
**R2 = 0,34
ln produtividade (m3/h)
ln produtividade (m3/h)
4,5 4,5
4,0 4,0
3,5 3,5
3,0 3,0
2,5 2,5
2,0 2,0
1,5 1,5
1,0 1,0
10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0 0,0 100,0 200,0 300,0 400,0 500,0 600,0 700,0
Figura 5 Figura 7
Gráfico do logaritmo das produtividades das máquinas, Gráfico do logaritmo das produtividades das máquinas,
sem descascamento da madeira, em relação à altura sem descascamento da madeira, em relação ao volume
média. de madeira por hectare.
(Graphic of logarithm machine productivity, with no (Graphic of logarithm machine productivity, with no
debarking, based on tree mean height) debarking, based on wood volume per hectare)
68 n Produtividade de "harvesters" na colheita florestal
5,0 y = -1E-08x3 + 1E-05x2 - 0,0005x + 2,2888 5,0 y = 3E-09x3 - 1E-05x 2 + 0,0145x - 1,9801
**R2 = 0,53 **R2 = 0,24
ln produtividade (m /h)
ln produtividade (m /h)
4,5 4,5
3
3
4,0 4,0
3,5 3,5
3,0 3,0
2,5 2,5
2,0 2,0
1,5 1,5
1,0 1,0
0,0 100,0 200,0 300,0 400,0 500,0 600,0 700,0 500 1000 1500 2000 2500
Figura 8 Figura 10
Gráfico do logaritmo das produtividades das máquinas, Gráfico do logaritmo das produtividades das máquinas,
com descascamento da madeira, em relação ao volume com descascamento da madeira, em relação ao número
de madeira por hectare. de árvores por hectare.
(Graphic of logarithm machine productivity, with (Graphic of logarithm machine productivity, without
debarking, based on wood volume per hectare) debarking, based on number of tree per hectare,
containing tendency line)
Árvores por hectare
Modelos dos equipamentos
O aumento da densidade da floresta impli- Com o intuito de se analisar a influência do
ca diretamente na redução do volume individu- tipo de equipamento sobre a produtividade
al das árvores. Como pode ser visto nas Figu- alcançada, os equipamentos utilizados foram
ras 9 e 10, essa redução resulta numa queda agrupados de acordo com suas características
considerável na capacidade produtiva dos construtivas, fabricante e modelo da máquina
“harvesters”, em função do aumento do núme- base e tipo de cabeçote processador (Tabela1).
ro de árvores por hectare, principalmente no
Para comprovar a existência de diferenças
sistema com descascamento de madeira.
significativas entre os resultados alcançados
Esse tipo de comportamento deve ser leva- pelos modelos de equipamentos, foi feita a aná-
do em conta na ocasião do planejamento do lise de variância entre os resultados obtidos
plantio, sendo que, do ponto de vista da pro- pelos diferentes grupos, mantendo-se a sepa-
dutividade dos equipamentos de colheita, a fai- ração por sistema de trabalho, ou seja, com ou
xa ideal está entre 800 e 1200 árvores/ha. sem descascamento de madeira. Em seguida,
y = -3E-10x3 + 2E-06x2 - 0,0025x + 4,1954
foi realizado o “Teste de Tukey” para compara-
5,0
**R 2 = 0,02 ção de médias. Nas Tabelas 2 e 3 estão plotados
4,5
os resultados do sistema sem descascamento
log produtividade (m3/h)
4,0
3,5
de madeira, e nas Tabelas 4 e 5, os do sistema
3,0
com descascamento de madeira.
Tabela 2
2,5
GL SQ QM F Valor - p
Figura 9
Gráfico do logaritmo das produtividades das máquinas, Modelo 6 13661,83 2276,97 49,84 0,0001
sem descascamento da madeira, em relação ao número Resíduo 7078 323362,56 45,69
de árvores por hectare.
(Graphic of logarithm machine productivity, without Total 7084 337024,38
debarking, based on number of tree per hectare)
Bramucci e Seixas n 69
Tabela 3 Tabela 4
Análise comparativa das médias de produtividade dos Análise de variância entre os diferentes modelos de
grupos de máquinas que operaram sem o descascamento máquinas que operaram no sistema com descascamento
de madeira. da madeira.
(Mean comparative analysis of machine productivity (Variance analysis among different machines operating
operating without debarking) with debarking)
Modelo Média Número de Amostras
GL SQ QM F Valor - p
8 24,15 a 909
Modelo 3 115529,59 38509,86 748,57 0,001
4 21,06 b 158
Resíduo 7392 380280,02 51,44
7 20,87 b 1210
Total 7395 495809,61
5 20,46 bc 207
6 20,25 bc 4266 Tabela 5
3 18,78 cd 252 Análise comparativa das médias de produtividade dos
grupos de máquinas que operaram descascando a
1 17,17 d 83 medira no campo.
Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si (Mean comparative analysis of machine productivity
pelo teste de "tukey" com 5% de probabilidade operating with debarking)
tural seria que o coeficiente fosse positivo. Esse são de duas variáveis estritamente relacionadas
tipo de ocorrência sugere a existência de pro- na mesma regressão (Tabela 7).
blemas de multi-colinearidade, ou seja, a inclu-
Tabela 6
Resultado da regressão linear múltipla, realizada com todas as variáveis, para o sistema sem descascamento de
madeira.
(Multiple linear regression realized with all variables for without debarking system)
Tabela 7
Resultado da regressão linear múltipla, realizada sem as variáveis DAP, idade de corte e árvores por hectare, para o
sistema sem descascamento de madeira.
(Multiple linear regression realized with DBH, fell age and tree per hectare variables on without debarking system)
Tabela 8
Resultado da regressão linear múltipla, realizada com todas as variáveis, para o sistema com descascamento de
madeira.
(Multiple linear regression realized with all variables for with debarking system)
50 AUTORES E AGRADECIMENTOS
40
30
MARCELO BRAMUCCI é Mestre em Recursos
resíduos (m /h)
20
3
10
0
Florestais pela ESALQ/USP – Av. Pádua Dias,
-10 11 – Caixa Postal 9 – Piracicaba, SP – 13400-
-20
-30
970 - E-mail: mbramucc@esalq.usp.br
-40 FERNANDO SEIXAS é Professor Associado do
-50
0 10 20 30 40 50 Departamento de Ciências Florestais da ESALQ/
produtividade estimada (m 3/h) USP. Av. Pádua Dias, 11 – Caixa Postal 9 –
Piracicaba, SP – 13400-970 - E-mail:
Figura 11 fseixas@esalq.usp.br
Gráfico da dispersão do resíduo da regressão múltipla
para o sistema com descascamento de madeira. Os autores agradecem à FAPESP, pelo
(Graphic of residual dispersion of the multiple regression apoio financeiro, e às empresas Duratex S.A.,
for system with debarking)
Votorantim Celulose e Papel, Cia. Suzano de
CONCLUSÕES Papel e Celulose Ltda. e Aracruz Celulose, pela
cessão dos dados para a realização deste tra-
Através dos modelos de regressão simples balho.
comprovou-se a hipótese inicial do trabalho, O uso de nomes comerciais é para a con-
com o volume médio das árvores sendo a vari- veniência do leitor e não implica, em momento
ável que melhor explicou, isoladamente, as pro- algum, no endosso dos mencionados produ-
dutividades alcançadas pelos “harvesters”. As tos pelos autores em exclusão de outros simila-
outras variáveis de destaque foram DAP médio, res.
altura média e volume por hectare. O volume
médio por árvore representou cerca de 55%, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
em média, da variação da capacidade produti-
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foi necessária a utilização de regressões linea- EQUIPE TÉCNICA DA DURATEX. Colheita de madeira
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deração destas variáveis em conjunto represen-
EQUIPE TÉCNICA DA DURATEX. Utilização do “timber-
tou, aproximadamente, 80% da capacidade
hauler” no transporte de madeira a curta distância. In:
produtiva da máquina. SIMPÓSIO BRASILEIRO SOBRE COLHEITA E TRANS-
A utilização dos modelos obtidos neste tra- PORTE FLORESTAL, 4, Campinas, 1999. Anais. Vi-
çosa: SIF / UFV, 1999a. p.1-13
balho em outras situações deve ser encarada
com ressalvas, considerando-se as particulari- EWING, R.H.; LIRETTE, J. Commercial thinning on difficult
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Bramucci e Seixas n 73
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