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CERNE

ISSN: 0104-7760
cerne@dcf.ufla.br
Universidade Federal de Lavras
Brasil

Campos Monteiro, Thiago; Tarcísio Lima, José; Moreira da Silva, José Reinaldo; Trugilho, Paulo
Fernando; Lage de Andrade, Bruna Carolina
AVALIAÇÃO DO DESDOBRO DE TORAS DE Eucalyptus PARA A OBTENÇÃO DE PEÇAS
ESTRUTURAIS
CERNE, vol. 19, núm. 3, julio-septiembre, 2013, pp. 357-364
Universidade Federal de Lavras
Lavras, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=74428921001

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AVALIAÇÃO
Avaliação do desdobro DOde
de toras DESDOBRO ... TORAS DE Eucalyptus PARA A OBTENÇÃO
Eucalyptus DE 357
DE PEÇAS ESTRUTURAIS

Thiago Campos Monteiro1*, José Tarcísio Lima2, José Reinaldo Moreira da Silva2,
Paulo Fernando Trugilho2, Bruna Carolina Lage de Andrade3

*Autor para correspondência: tcmforest@yahoo.com

RESUMO: O controle sobre os produtos obtidos no desdobro das toras é importante para a gestão da serraria e também para a redução
dos impactos ao ambiente. O rendimento e o estudo de tempo são parâmetros para a avaliação do desdobro em uma serraria. No
presente trabalho, objetivou-se avaliar o rendimento e o estudo dos tempos do desdobro de toras de Eucalyptus durante a produção
de peças estruturais. Foram utilizadas dez toras de Eucalyptus grandis provenientes de um plantio com 15 anos de idade, retiradas
de uma área da Universidade Federal de Lavras (UFLA). Na serraria experimental da UFLA, as toras foram serradas utilizando uma
serra de fita e os pranchões foram resserrados em uma serra circular. As peças seguiram as dimensões estabelecidas na NBR 7190
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT, 1997). As peças produzidas foram mensuradas e o rendimento
calculado. Os tempos de todas as etapas do processo foram obtidos por meio de um cronometro e, em seguida, analisados os tempos
efetivamente serrando e o tempo total de processamento das toras e pranchões. O rendimento médio do desdobro para a produção
de peças principais foi de 20,9% e de peças secundárias foi de 22,9%. O rendimento médio do desdobro foi satisfatório, dentro dos
valores obtidos em outros trabalhos. A serra circular quando comparada a serra de fita apresentou maior porcentagem de tempo
efetivamente serrando a madeira. O tempo, efetivamente serrando, foi menos da metade do tempo total de processamento das toras.

Palavras-chave: Serraria, rendimento, estudo do tempo, madeira serrada.

EVALUATION OF Eucalyptus SAWMILL LOG TO OBTAIN STRUCTURAL PARTS

ABSTRACT: The control over the products of the sawing of logs is important for the management of the sawmill and also to reduce
environmental impacts. The yield and the time study are parameters for the assessment of unfolding in a sawmill. This study aimed
to evaluate the yield and the time study of the sawing of Eucalyptus logs during the production of structural parts. This work used
ten logs of Eucalyptus grandis from a plantation with 15 years of age, taken from an area of the Federal University of Lavras
(UFLA). In the experimental sawmill of UFLA the logs were sawn using a band saw and the planks were resawn in a circular saw.
The structural parts followed the dimensions laid down in the NBR 7190 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS -
ABNT, 1997). The parts produced were measured and calculated yield. The times of all stages of the process were obtained using
a stopwatch and then analyzed the time actually sawing and the processing time of logs and planks. The average of yield for the
production of main parts was 20.9% and secondary part was 22.9%. Average yield of sawing was satisfactory if compared with
the values ​​obtained in other studies. The circular saw compared to band saw showed higher percentage of effective time sawing of
wood. The effective time of sawing was less than half the total processing time of the logs.

Key words: Sawmill, yield, time study, structural parts, sawed wood.

1 INTRODUÇÃO Para a avaliação do desempenho de uma serraria,


alguns parâmetros são utilizados, com destaque para o
A indústria madeireira voltada à produção de rendimento e a eficiência. Segundo Vital (2008), no Brasil,
madeira serrada no Brasil dispõe de, aproximadamente, a maioria das serrarias apresentam rendimento e eficiência
10.000 unidades, predominando as de pequeno porte baixos, com equipamentos obsoletos e gerando grande
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE SILVICULTURA - quantidade de subprodutos ou resíduos.
SBS, 2008). Destas, aproximadamente 60% utilizam O rendimento na serraria é a relação entre o volume
árvores de folhosas (nativas) e o restante processam de madeira serrada e o volume de toras serradas. Diversos
madeira de florestas plantadas. Em algumas serrarias na fatores influenciam no rendimento como a dimensão final
região Sul e Sudeste, são processadas toras de Eucalyptus, das peças, o número de cortes realizado, o maquinário, a
principalmente das espécies Eucalyptus camaldulensis, mão de obra especializada (GOMIDE, 1977; ROCHA,
Eucalyptus citriodora, Eucalyptus cloeziana, Eucalyptus 2002), o desdobro utilizado (FERREIRA et al., 2004), a
grandis entre outras espécies (ANGELI, 2006). dimensão da tora (LIMA et al., 2007; VITAL, 2008) além

1
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Chapadão do Sul, Mato Grosso do Sul, Brasil
2
Universidade Federal de Lavras – Lavras, Minas Gerais, Brasil
3
Natura – Manaus, Amazonas, Brasil

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de outros parâmetros relacionados a qualidade da tora campus da Universidade Federal de Lavras (UFLA). As
descritos na Norma para Classificação de Toras de Madeira toras da base com 3,30 metros de comprimento e faces
de Folhosas do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento transversais paralelas foram transportadas para o pátio da
Florestal - IBDF (1984). Unidade Experimental de Desdobro e Secagem da Madeira
O produto principal da serraria é a madeira (UEDSM) localizada na UFLA, juntamente com os discos
serrada, porém para sua obtenção uma grande quantidade das extremidades, com 10 cm de espessura.
de subprodutos é gerada. O conhecimento sobre quais Na tora com 3,3 metros de comprimento, foram
subprodutos estão sendo gerados, assim como a sua mensurados dois diâmetros perpendiculares em cada
porcentagem são importantes para a melhor gestão da extremidade utilizando uma suta e o comprimento foi
indústria e a redução dos impactos ambientais. Trabalhos medido com uma trena. O volume da tora foi determinado
realizados sobre o aproveitamento dos subprodutos do conforme equação descrita na Norma para Classificação
desdobro de Eucalyptus têm sido desenvolvidos por vários de Toras de Madeira de Folhosas do IBDF (1984).
autores. Vieira et al. (2010) analisaram o potencial das
costaneiras de Eucalyptus para a produção de pequenos 2.1 Desdobro das toras e resserra dos pranchões
objetos; Rocha (2002) relata a organização da serraria O desdobro das toras foi realizado em uma serra de
integrada a indústria de painéis ou de celulose para o fita simples vertical, com volante de 1000 mm. Objetivando
melhor aproveitamento dos subprodutos e Gustavsson et a produção de peças, os cortes foram realizados de forma
al. (2007) analisaram a queima dos mesmos na geração que a madeira serrada produzida tivesse as espessuras
de energia para a substituição de combustíveis fosseis. conforme NBR 7190 (ABNT, 1997). Foram produzidas
Outra forma de avaliação da serraria é pelo estudo peças principais (terça e caibros) com área mínima das
dos tempos de processamento, que são denominados de seções transversais de 50 cm² e espessura mínima de
tempo produtivo e tempo perdido (BATISTA; CARVALHO, 5 cm e peças secundárias múltiplas (ripas), em que esses
2007). O trabalho produtivo é definido como o complemento limites reduzem-se, respectivamente, a 18 cm² e 1,8 cm,
homem e máquina para cortar a madeira. O tempo perdido respectivamente.
subdivide-se em trabalho não produtivo, quando as Para a realização do desdobro na serra de fita foram
atividades do conjunto operador e máquina são diferentes padronizados seis cortes em cada tora. Os cortes foram
da produção de madeira; o tempo ocioso, que é a falta de realizados conforme apresentado na Figura 1 a. Após
matéria-prima para a execução da atividade produtiva e as as medições dos pranchões, estes foram resserrados em
demoras, que é o resultado de uma má operação do sistema. uma serra circular canteadeira, com 48 dentes. Os quatro
Grande parte do volume de madeira serrada é pranchões de cada tora foram resserrados. Onze cortes
empregada na construção civil, seja de forma temporária foram realizados (Figura 1 b) distribuídos aleatoriamente
ou de forma definitiva (ZENID, 2009). A maior parte desse nos quatro pranchões.
volume é empregada de forma definitiva como estrutura de
cobertura (SOBRAL et al., 2002 citados por ZENID, 2009). 2.2 Medições das peças e subprodutos
Esse uso é regulamentado pela NBR 7190 (ASSOCIAÇÃO A espessura da casca foi medida com um paquímetro
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT, 1997). digital (0,01 mm), em oito pontos aleatórios ao longo da
E segundo Carrasco e Moreira (2003), a madeira de superfície rolante da tora. Para a determinação do volume
Eucalyptus poderá ser utilizada na construção civil desde da casca (Vcas), foi determinado um novo volume da tora
que atenda às exigências normativas. desconsiderando a espessura da casca nos diâmetros e, em
Frente ao exposto, no presente trabalho, objetivou- seguida, calculou-se a diferença entre o volume da tora
se verificar o rendimento em madeira serrada e as com casca (Vt) e o volume da tora sem casca.
porcentagens de subprodutos do desdobro de toras de Para a determinação do volume dos pranchões
Eucalyptus para a produção de madeira serrada, assim foram medidas três larguras na superfície mais larga e
como fazer o estudo dos tempos durante o desdobro. três larguras na superfície mais estreita, utilizando uma
2 MATERIAL E MÉTODOS régua graduada. A espessura foi determinada utilizando um
paquímetro digital (0,01 mm) em três posições aleatórias.
Foram escolhidas 10 árvores de Eucalyptus grandis O comprimento dos pranchões foi considerado o mesmo
com idade de 15 anos. As árvores foram cortadas no das toras. A área da seção transversal dos pranchões foi

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Avaliação do desdobro de toras de Eucalyptus ... 359

(a)

Figura 2 – Locais das medições da espessura de corte realizado


pela serra de fita durante a retirada do pranchão.
Figure 2 – Places of thickness measurements made by
​​ cutting
band saw during withdrawal of the plank.

A altura do corte da serra de fita foi medida com


três medições equidistante na superfície do pranchão ou
costaneira retirada e outras três medidas na superfície do
pranchão ou bloco restante.
(b) Conhecendo-se a espessura dos cortes, a altura
de cada corte, obtida com as medições dos pranchões e a
extensão dos cortes pelo comprimento dos pranchões, foi
calculado (Equação 1) o volume da serragem.

Vssf = Ec x Acsf x Cc (1)


em que: Vssf: volume de serragem da serra de fita (m³);
Figura 1 – a - Seção transversal da tora com a seqüência dos Ec: espessura do corte (m); Acsf: altura do corte da serra
cortes realizados na serra de fita. b - Seção transversal da tora
de fita (m) e Cc: comprimento do corte (m).
com a seqüência dos cortes realizados nos pranchões com a serra
circular. As linhas pontilhadas representam os cortes realizados O volume total de serragem gerado pela serra de
nas serras. fita foi calculado com a soma dos volumes gerados em
Figure 1 – a - Cross section of the log with the sequence of cada corte.
cuts made ​​in the band saw. b - Cross section of the log with the O volume de costaneiras foi calculado utilizando
sequence of cuts made ​​in the planks with a circular saw. Dotted a Equação 2.
lines represent the cuts made in
​​ the saws.
Vcost = Vt – (Vp + Vssf) (2)
calculada com base em um trapézio e, em seguida, foi
em que: Vcost: volume de costaneira (m³); Vt: volume
calculado o volume de cada pranchão.
da tora com casca (m³) e Vp: volume dos pranchões (m³).
O cálculo do volume de serragem foi realizado com
medições das espessuras de corte, utilizando um paquímetro Após o corte dos pranchões na serra circular as peça
digital (0,01 mm). Não foi considerada a espessura da produzida foram medidas em três posições (Figura 3), tanto
lâmina como a espessura do corte, em razão das vibrações na face quanto no canto, utilizando um paquímetro digital
que ocorrem durante o corte nas serras. As medições foram (0,01 mm). O comprimento das peças foi considerado o
realizadas no terceiro corte de cada tora, durante a obtenção mesmo das toras. A área da seção transversal das peças foi
do terceiro pranchão (Figura 2). A serra efetuava o corte até calculada e o volume de cada peça obtido. O volume total de
aproximadamente 30 cm do comprimento da tora. Nessa madeira serrada da tora foi calculado com a soma das peças
distância, ocorria a interrupção do corte e o carro porta-tora produzidas nesta. As peças produzidas foram separadas em
retornava para o local inicial onde ficava a uma distância peças principais e secundárias, conforme dimensões da NBR
segura para a medição da espessura do corte. 7190 (ABNT, 1997) e seus respectivos volumes calculados.

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F3 2.4 Estudo dos tempos


Outra forma de avaliação do desdobro é o ciclo
F2 C3 de corte, que compreende diversas etapas como o
carregamento da tora da bancada até o carro porta-tora, o
F1 C2 corte na serra, a viagem de volta do carro porta-tora após
o corte, o giro da tora, o descarregamento, entre outros.
C1 Para a avaliação deste trabalho foram considerados
os tempos em que ocorria efetivamente o corte, denominado
de tempo efetivo de corte. Esse tempo considerou apenas
os momentos em que as toras e os pranchões estavam
Figura 3 – Peça produzida com os locais de medição das peças sendo serrados.
na face (F) e nos cantos (C). O tempo entre o início do primeiro corte até o final
do último corte na tora também foi considerado, incluindo o
Figure 3 – Piece produced with the place of the measurement
retorno do carro porta-tora, o giro das toras e o carregamento
on the face (F) and corners (C).
dos pranchões foi denominado tempo total de processamento.
O tempo gasto em todos os cortes foi cronometrado
Para a medição da espessura do corte da serra em minutos (min) e segundos (s).
circular foi utilizada a mesma metodologia adotada na
serra de fita. Para a determinação da altura de corte da 2.5 Densidade básica
serra circular foram realizadas três medições equidistantes Dos discos retirados das extremidades das toras
na superfície da peça onde o disco da serra cortou. O foram obtidas cunhas opostas que foram utilizadas para
volume total de serragem produzido pela serra circular a determinação da densidade básica. A densidade básica
foi calculado com a soma dos volumes gerados em cada (Db), em g/cm³, foi calculada conforme NBR 11941
corte. (ABNT, 2003).
O volume de aparas foi calculado, utilizando a
Equação 3. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Propriedades das toras
Vap = Vp – (Vms + Vssc) (3)
As propriedades avaliadas nas toras foram diâmetro
em que: Vap: volume de apara (m³); Vp: volume dos e densidade básica. Na Tabela 1, estão apresentados os
pranchões (m³); Vssc: volume de serragem da serra circular valores médios das propriedades juntamente com seus
e Vms: volume de madeira serrada (m³). coeficientes de variação.
2.3 Rendimentos
Tabela 1 – Médias e coeficiente de variação das propriedades
Como forma de avaliação do processo, foi das toras.
calculado o rendimento para a madeira, serrada utilizando
Table 1 – Mean and variation coefficient of the properties of logs.
a Equação 4:
Propriedade Média CV %
Vms Diâmetro (cm) 34 13,57
=R ×100 (4)
Vt Densidade básica (g/cm³) 0,499 9,43
em que: R: rendimento em madeira serrada, em %.
O rendimento foi calculado separadamente para as O diâmetro médio das toras foi de 34 cm, coerente
peças principais e secundárias, em que Vms (Equação 4) foi com os outros diâmetros citados na literatura para a idade de
substituído pelo volume de peças principais e secundárias. 15 anos das árvores. Rocha e Trugilho (2006) trabalharam
As porcentagens dos subprodutos (aparas, serragem, com toras de Eucalyptus nas classes de 25 e 30 cm para
costaneiras e casca) foram calculadas substituindo o Vms, a idade de 13 anos. A classe diamétrica utilizada no
na Equação 4, pelo volume de cada subproduto (Vap; Vssc; presente trabalho apresenta rendimento satisfatório quando
Vssf; Vcost; Vcas). comparado com diâmetros inferiores, conforme observado

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no trabalho realizado por Borges et al. (1993 citado por Os rendimentos obtidos do desdobro das toras
Vital, 2008) que compararam o rendimento em madeira para a produção de madeira serrada estão de acordo com
serrada para diferentes classes diamétricas e encontraram outros trabalhos que utilizaram madeiras de florestas
os maiores rendimentos para a classe de 30 cm. plantadas. Ferreira et al. (2004) avaliaram o rendimento
A densidade básica média das toras (Tabela 1) em madeira serrada (volume da tora com casca) de dez
foi inferior aos valores encontrados na literatura para clones de Eucalyptus e obtiveram valores entre 30,1%
Eucalyptus grandis na faixa de idade estudada. Rezende e para cortes de costaneiras a 1/3 do raio da tora, 35,2%
Ferraz (1985) avaliaram a densidade básica de Eucalyptus para o desdobro paralelo ao centro da tora e 37,2%,
grandis com treze anos e obtiveram valores entre 0,566 g/cm³ e para o desdobro paralelo à casca, sendo, nesses valores,
0,575 g/cm³. Tomazello Filho (1985), avaliando a variação desconsiderados os pranchões centrais e as ripas retiradas
radial da densidade básica de Eucalyptus grandis com dez das costaneiras. Scanavaca Junior e Garcia (2003)
anos encontrou o valor médio de 0,434 g/cm³. encontraram rendimentos (volume da tora com casca)
3.2 Avaliação do processamento mecânico médios de 42,5% utilizando o primeiro corte paralelo a
casca e os demais paralelos a este para a produção de
3.2.1 Rendimentos madeira serrada de Eucalyptus urophylla, com 19 anos.
Na Tabela 2, estão apresentados os valores médios Batista e Carvalho (2007) obtiveram rendimentos em
dos rendimentos em madeira serrada e peças e também as madeira serrada de Eucayptus sp. igual a 44,8%, valores
porcentagens de subprodutos, todos acompanhados com muito próximos aos obtidos neste trabalho.
seus coeficientes de variação e valores máximos e mínimos. As porcentagens de subprodutos, na ordem de
O rendimento médio das peças produzidas foi de 56,2 %, estão de acordo com a literatura, conforme
43,8%. Deste valor, o rendimento em peça primária (terças e calculado subtraindo os rendimentos de madeira serrada
caibros) foi de 20,9% e de peça secundárias múltiplas (ripas) dos trabalhos citados acima. Desse total de subprodutos
foi de 22,8%, tendo as peças as dimensões, conforme NBR gerados, as costaneiras (24,8 %) representaram a maior
7190 (ABNT, 1997). Considerando esses rendimentos, porcentagem seguida pelas aparas com 12,22 %. Valores
são necessários 4,14 m³ de tora para a produção de um estes superiores aos encontrados por Borges et al. (1993
metro cúbico de peça principal e 4,94 m³ de tora a para citados por Vital, 2008) que para a mesma classe
produção de um metro cúbico de peças secundárias. O diamétrica das toras, encontraram a porcentagem de
coeficiente de variação foi elevado no rendimento em peças costaneiras igual a 14,29% e a porcentagem de aparas
tanto principal (77,6%) quanto secundária (52,2%). Esse igual a 6,18 %.
fato deve-se, possivelmente, à padronização no número Comparando as porcentagens dos subprodutos
de cortes que prioriza a produção de madeira serrada gerados no presente trabalho com as porcentagens de
independente se peças principais ou secundárias. outros trabalhos observa-se uma variação nos valores.

Tabela 2 – Rendimento médio em madeira serrada e peças e a porcentagem dos diferentes subprodutos gerados no desdobro das toras.
Table 2 – Average yield in sawed wood and parts and the percentage of waste generated in the sawing of logs.

Média CV % Mínimo Máximo


Rendimento madeira serrada (%) 43,84 14,24 31,03 54,66
Rendimento peça principal (%) 20,97 77,58 0,00 44,47
Rendimento peça secundária (%) 22,87 52,21 4,88 41,04
Porcentagem de casca (%) 9,86 25,61 6,50 15,79
Porcentagem de serragem serra fita (%) 5,48 9,01 4,63 6,22
Porcentagem de serragem serra circular (%) 3,77 21,51 2,34 5,05
Porcentagem de costaneira (%) 24,82 19,62 15,71 30,92
Porcentagem de apara (%) 12,22 28,16 4,63 17,07
Em que: CV: coeficiente de variação.

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362 Monteiro, T. C. et al.

Essas diferenças devem-se ao produto final obtido, Eucalyptus grandis as porcentagens de 11,8 % para
aos equipamentos utilizados, à técnica de desdobro e a toras com diâmetro entre 6,1 - 8 cm e 7,9 % para toras
qualidade da tora (LIMA et al., 2007). Como exemplo da com diâmetro entre 22,1 - 24 cm e Seixas et al. (2005)
influência dessas propriedades, pode-se citar o trabalho que encontraram a porcentagem de casca em fustes de
realizado por Amparado et al. (2008) que calcularam o Eucalyptus grandis, com sete anos igual a 14,4%.
rendimento em madeira serrada de Eucalyptus saligna,
3.2.2 Estudo dos tempos
com 20 anos, para a produção de peças livres de defeitos
(clearboards) e obtiveram rendimentos médios de 26%; Na Tabela 3, estão apresentados os valores médios
Ferreira et al. (2004) que verificaram a influência do dos tempos efetivo e total para processar uma tora e os
método de desdobro no rendimento e encontraram que o tempos detalhados em cada serra, todos acompanhados
método tangencial balanceado paralelo à casca resultou com seus coeficientes de variação e valores máximos e
em maior rendimento de tábuas e Borges et al. (1993 mínimos.
citados por Vital, 2008) que verificaram uma tendência O tempo médio gasto para a produção de madeira
de redução na geração de subprodutos com o aumento do serrada foi de 13min 30s. Já, o tempo médio efetivo
diâmetro das toras. de corte nas serra de fita e circular foi de 5min 5s.
A porcentagem de serragem na serra de fita foi Observando os valores de tempos totais tem-se que 37,6%
superior à porcentagem de serragem na serra circular. foram aproveitados, realmente, serrando as toras e os
Analisando apenas as porcentagens, observa-se um pranchões. A variação ocorrida nos dois tempos foi baixa,
contraste com o observado na literatura em que a serra principalmente no tempo efetivo de corte.
circular gera elevada quantidade de serragem (GOMIDE, O tempo total de processamento na serra de fita
1977; ROCHA, 2002). O motivo para a elevada quantidade (6min 39s) e na serra circular (6min 51s) foi próximo. A
de serragem na serra de fita foi a maior altura dos cortes serra circular apresentou menor coeficiente de variação
nessa serra, em comparação com a serra circular. A (5,5%) no tempo efetivo em comparação com a serra de fita
porcentagem total de serragem gerada (9,25 %) foi menor (11,5%), mesmo esta sendo menos automatizada. Apesar
quando comparada com o trabalho realizado por Borges et da automação do processo na serra de fita a velocidade de
al. (1993 citados por Vital, 2008) que encontraram uma avanço é regulada pelo operador e outro possível motivo
porcentagem de serragem igual a 14,66 %, analisando a para a maior variação nessa serra é a velocidade do carro
mesma classe diamétrica das toras. porta-tora ser regulada.
Nos trabalhos citados não foram apresentadas as Na Figura 4, apresentam-se o tempo efetivo e tempo
porcentagens de casca gerada, sendo que a porcentagem total de processamento em porcentagem do desdobro da
de casca obtida neste trabalho foi de 9,8 %. Esse valor tora na serra de fita.
é coerente com outros trabalhos da literatura, conforme Na serra de fita, em média, 30,9% do tempo foi
verificado por Vital et al. (1989) que obtiveram para gasto efetivamente, cortando as toras. Os fatores para

Tabela 3 – Tempo médio efetivo e total para processar uma tora nas duas serras e tempo efetivo e total para processar uma tora na
serra de fita e na serra circular.
Table 3 – Effective time and total processing time in the two saws and effective time and total processing time on the band saw and
circular saw.

Tempo Média CV % Mínimo Máximo


Efetivo SF 02min 04s 11,45 01min 51s 02min 34s
Total de processamento SF 06min 39s 16,91 05min 25s 08min 24s
Efetivo SC 03min 02s 5,49 02min 48s 03min 17s
Total de processamento SC 06min 51s 11,08 05min 44s 08min 20s
Efetivo 05min 05s 5,56 04min 41s 05min 32s
Total de processamento 13min 30s 12,07 11min 28s 15min 49s
Em que: CV: coeficiente de variação; SF: serra de fita; SC: serra circular.

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Avaliação do desdobro de toras de Eucalyptus ... 363

100 100
90 90
80 80
70 70
60 60
50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Número da tora Número da tora
Tempo efetivo SF % Tempo processamento SF % Tempo efetivo SC % Tempo processamento SC %
Figura 4 – Tempo efetivo de corte e tempo total de processamento Figura 5 – Tempo efetivo de corte e tempo total de processa-
da tora na serra de fita. mento dos pranchões na serra circular.
Figure 4 – Effective time of cut and total processing time of the Figure 5 – Effective time of cut and total processing time of the
log in the band saw. planks in the circular saw.

essa baixa porcentagem foi o tempo gasto para girar as 4 CONCLUSÕES


toras no carro porta-tora, o retorno morto do mesmo e a
regulagem do bitolador. Esse baixo valor na serra de fita Por meios das avaliações realizadas no desdobro
deve-se também ao fato do trabalho ter sido realizado em das toras e na resserra dos pranchões para a produção de
madeira serrada em uma serraria experimental, pode-se
uma serraria experimental em que a velocidade do carro
concluir que:
porta-tora foi ajustada para maior segurança dos usuários.
- o rendimento médio do desdobro para a produção
Batista e Carvalho (2007) avaliaram uma serraria de
das peças foi satisfatório, dentro das médias obtidas em
pequeno porte no estado do Rio de Janeiro e denominaram
outros trabalhos;
de trabalho não produtivo a diferença entre o tempo total de
- o rendimento em peças principais foi um pouco
processamento e o tempo efetivo serrando. Eles avaliaram
superior ao rendimento em peças secundárias;
os tempos de trabalho não produtivo na parte da manhã e - as costaneiras foram o subproduto com maior
da tarde, na indústria, e obtiveram respectivamente 45,9 volume gerado no desdobro;
e 52,5% como resultados. Os mesmos autores colocaram - o tempo efetivamente serrando foi menos da
em ordem de importância os seguintes motivos para o metade do tempo total de processamento das toras;
trabalho não produtivo: movimento do carro porta-tora, - a serra circular quando comparada à serra de fita
giro de 180° da tora no carro porta-tora, regulagem do apresentou maior porcentagem de tempo efetivamente
bitolador no carro porta-tora, conserto do bitolador do serrando a madeira.
carro porta-tora e regulagem da guia.
Na Figura 5, apresentam-se os tempos efetivo 5 AGRADECIMENTOS
e tempo total de processamento em porcentagem da
resserragem dos pranchões na serra circular. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
Na serra circular, em média, 44% do tempo foi de Nível Superior – CAPES e ao Conselho Nacional de
gasto efetivamente cortando os pranchões. Em comparação Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq pelo
com a serra de fita, esse valor foi superior, em razão da apoio à pesquisa (Processo 483293/2009-1).
maior facilidade de manusear os pranchões em comparação 6 REFERÊNCIAS
com as toras, pois estes apresentam menores dimensões
e, consequentemente, menor massa. Outro fato para um AMPARO, K. F.; CARVALHO, A. M.; GARCIA, R. A.;
melhor tempo efetivo de corte na serra circular é decorrente LATORRACA, J. V. F. Caracterização do rendimento em
do fato de o operador regular a velocidade de avanço da madeira serrada de Eucalyptus saligna Smith nas condições
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Recebido: 1 de abril de 2011; aceito: 20 de dezembro de 2012.

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