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10.37885/201102033
RESUMO
Esse trabalho teve como objetivo caracterizar o perfil das serrarias situadas no município
de Juína, que é um polo madeireiro localizado na região noroeste do estado de Mato
Grosso. Para isso, foi aplicado um formulário específico em dezessete serrarias presentes
no município, contendo quatro temas principais, relacionados as matérias-primas usadas,
estruturas e máquinas, método de produção e origem da empresa e produção e aprovei-
tamento dos resíduos. O formulário foi aplicado através de uma entrevista pessoal com
os proprietários ou responsáveis pelas serrarias. Os resultados mostram que as serrarias
são formadas, em sua maioria, por microempresas, com instalações simples na visão
dos entrevistados. A matéria-prima usada é basicamente de espécies florestais nativas,
originada de áreas próprias de manejo florestal sustentável, como também disponibili-
zadas por terceiros. O principal mercado consumidor de madeira serrada é o mercado
interno, sendo as regiões Sul e Sudeste os principais destinos. A maior destinação dos
resíduos gerados é para queima em caldeiras para a geração de energia. As serrarias
do município de Juína apresentam certas similaridades, bem como diferenças entre si
quanto a produtividade, realizando o desdobro de diversas espécies florestais, sendo o
cedrinho a espécie mais usada e a mais preferível pelos clientes dessas serrarias.
OBJETIVO
Este trabalho tem como objetivo caracterizar o perfil das serrarias situadas no município
de Juína, que é um polo madeireiro da região noroeste do estado de Mato Grosso, de manei-
ra a se conhecer as espécies florestais usadas, maquinários, produtos sólidos produzidos,
características do seu mercado consumidor e a geração de resíduos.
MÉTODOS
RESULTADOS
Com relação a origem da matéria prima usada pelas serrarias verificou-se que 58,8%
utilizavam matéria prima conjugada (de origem própria e obtida de terceiros). A matéria prima
era sempre de espécies nativa obtidas de áreas de manejo florestal sustentável, seja próprio
ou de terceiros. Em seguida teve-se que 35,3 % das serrarias adquiriam a madeira apenas
por meio de compra de terceiros e 5,9 % possuíam áreas de manejo florestal sustentável
para o seu suprimento próprio e integral de madeira.
Espécies %
Cedrinho 100,0
Cupiúba 52,9
Cambará 47,1
Cumaru 35,3
Jatobá 29,4
Garapeira 17,6
Ipê 11,8
Tauari 11,8
Maçaranduba 5,9
Catuaba 5,9
Peroba 5,9
Itaúba 5,9
Paraju 5,9
Tabela 2. Preferência de espécies de madeira pelos clientes das serrarias do munícipio de Juína
Espécies %
Cedrinho 64,7
Cupiúba 41,2
Cambará 23,5
Cumaru 17,6
Tauari 11,8
Cerejeira 5,9
Peroba 5,9
Ipê 5,9
Jatobá 5,9
Estruturas e máquinas
Quanto aos maquinários observou-se que 100% das serrarias possuíam serra fita,
seguido de motosserra e serra circular, ambos com 94,1% (Tabela 3). Registrou-se também
que 100% das serrarias apresentavam uma sala de afiação das lâminas de serras, com
equipamentos específicos para essa finalidade.
Equipamento %
Motosserra 94,1
Destopadeira 88,2
Plaina 70,6
Outros 64,7
Refiladora 47,1
Empilhadeira 47,1
Esteira 41,2
Figura 4. Período médio de manutenção das maquinas das serrarias do município de Juína
Tabela 4. Critérios específicos de qualidade para classificações da madeira serrada pelas serrarias do município de Juína
Figura 5. Produção mensal de madeira serrada, em m3, das serrarias do município de Juína
Figura 6. Destino ou uso principal da madeira serrada comercializada pelas serrarias do município de Juína-MT.
A madeira serrada produzida pelas serrarias de Juína era produzida com dimensões
variadas e destinada para vários estados do Brasil (Tabela 5), através da comercialização
entre as próprias serrarias e seus clientes. As regiões Sul e Sudeste são os principais destinos
dos produtos das serrarias. Importante destacar que da madeira produzida em Juína, 70,6%
das indústrias avaliadas tinham como principal destino a venda para o mercado interno, ou
seja, a maior parte da produção do município ia para outros municípios e estados dentro
do País (Tabela 6), enquanto 11,8% eram destinados para a construção civil; 5,9% para a
fabricação de forros; 5,9% para exportação; 5,9% para fabricação de faqueados e 5,9% para
obras em gerais (Figura 6). O estado de São Paulo é o que mais contribuía com a compra
de madeira serrada, sendo que 76,5% das serrarias afirmaram enviar sua produção para os
municípios desse estado; em seguida vinha o estado do Rio Grande do Sul (64,7%), seguido
de Santa Catarina (47,1%), Paraná (35,5%), Bahia (29,4%), dentre outros. Importante ob-
servar que a região Sul possuía o maior consumo de madeira serrada do município. Havia
também o fornecimento de madeira serrada para o próprio estado Mato grosso, citado por
23,5%, onde as cidades mais citadas de destino final desses produtos foram Campo Novo
do Parecis, Cuiabá e Rondonópolis.
Estados %
Paraná - PR 35,3
Bahia - BA 29,4
Acre - AC 5,9
Alagoas - AL 5,9
Amapá - AP 5,9
Amazonas - AM 5,9
Ceará - CE 5,9
Goiás - GO 5,9
Maranhão - MA 5,9
Pará - PA 5,9
Paraíba - PB 5,9
Pernambuco - PE 5,9
Piauí - PI 5,9
Rondônia - RO 5,9
Roraima - RR 5,9
Sergipe - SE 5,9
Tocantins - TO 5,9
Dentre os equipamentos/máquinas que mais geraram resíduos (Figura 10), 82,4% dos
entrevistados informaram que a serra fita como o maior gerador de resíduos, seguido da
destopadeira (29,4%), alinhadeira (23,5%), plaina (11,8%) e apenas 5,9% responderam a mo-
tosserra. Nas serrarias avaliadas foi observado que a serra fita, por estar presente em todas
as serrarias, por ser utilizada no desdobro primário e também por ser o primeiro equipamento
onde a tora recebia seus cortes iniciais, possivelmente ficou sendo como o equipamento que
mais gerava resíduos de madeira, quando comparado aos demais equipamentos/máquinas.
Figura 10. Equipamentos e maquinários que mais geram resíduos nas serrarias.
Volume de resíduos %
12 st/mês 5,9
5 m³/dia 5,9
Com relação a destinação final dos resíduos do desdobro das toras observou-se que
70,6% das serrarias doavam seus resíduos, 41,2% realizavam alguma forma de aproveitamen-
to, 23,5% faziam a sua venda e 17,6% realizam outros usos. Os resíduos doados geralmente
eram na forma de pó de serra e maravalha. Na visão de muitos dos proprietários das serraria, a
retirada do pó de serra do pátio das serrarias podia demandar grande custo, fazendo com que o
mesmo também pudesse ficar estocado nesse local, aparentemente sem uma destinação final
pré-definida. Resíduos na forma de lenha, caracterizado por peças de madeiras de tamanhos
variados, eram usados para a fabricação de cavacos, queima para alimentação da caldeira ou
destinada para venda a terceiros. Os cavacos são pequenos pedaços de madeira obtidos da
picagem de toras, sobras das serrarias e indústrias moveleiras. O seu uso tinha por finalidade
servir como matéria-prima para combustível. Resíduos na forma de tocos e aparas também eram
aproveitados para queima em caldeiras para a geração de energia. Foi também observado que
em grande quantidade de serrarias o pó de serra era armazenado em um pátio.
O aproveitamento de resíduos do tronco, quando efetivamente realizado pelas serrarias
(58,8% faziam isso) tinha as seguintes destinações, mostradas na Tabela 7. A maioria das
serrarias destinavam seus resíduos para a queima na caldeira para geração de energia ou
para resserragem da madeira, para obtenção de produtos na forma de “pré- cortado”, sendo
este caracterizado por ser a madeira serrada emparelhada para a para fabricação de móveis
e estofados, ambos correspondendo a 17,6% cada. Outros 11,8% utilizam seus resíduos
para a produção de cavacos.
Aproveitamento de resíduos %
DISCUSSÃO
O desdobro de toras nas serrarias do estado do Mato Grosso pode ser oriundo de
diversas fontes, desde de planos de manejo florestal sustentável dos próprios proprietários
das serrarias, de terceiros ou de outras fontes, conforme observado no presente trabalho.
Considerando a origem da matéria-prima, quando esta é madeira nativa, é de suma im-
portância que ela seja oriunda de planos de manejo florestal sustentável. Segundo Andrae
et al (2018), o manejo da floresta natural está ligado a sustentabilidade, que por sua vez
faz referência com a proteção da natureza e a produção florestal. O manejo racional dos
recursos advindos de florestas nativas tem por finalidade a exploração florestal de forma
sensata, sob leis rígidas.
Bonissoni (2017) observou que nos municípios de Tapurah e Itanhangá, ambos si-
tuados no estado de Mato Grosso, 58% das serrarias avaliadas pelo autor utilizavam toras
CONCLUSÃO
Diante dos resultados obtidos pode-se concluir que o município de Juína apresenta a
maioria das suas serrarias relativamente recentes, em sua maioria com menos de 10 anos de
atuação nesse setor. A maioria das serrarias são caracterizadas como microempresas, sendo
também serrarias de micro e pequeno porte. A matéria prima utilizada usada maioria das ser-
rarias é obtida de origem própria e obtida de terceiros (58,8%), sendo a madeira basicamente
oriunda de áreas próprias de manejo florestal sustentável. Dentre as várias formas em que a
matéria-prima chega as serrarias, grande parte das indústrias (94,1 %) recebem a madeira
em forma de toras. As serrarias do município de Juína apresentam certas similaridades, bem
como diferenças entre si quanto a produtividade, realizando o desdobro de diversas espécies
florestais. A madeira mais usada pelas serrarias, bem como a preferível por seus clientes, é da
espécie cedrinho. O principal mercado consumidor de madeira serrada é o mercado interno,
sendo as regiões Sul e Sudeste os principais destinos. Em termos qualitativos, o resíduo mais
gerado pelas serrarias é na forma de pó de serra, enquanto o engenho de serra fita é o maior
produtor quantitativo de resíduos. No que se refere ao aproveitamento de resíduos, a maioria
das serrarias faz o seu próprio aproveitamento, basicamente na queima em caldeiras para ge-
ração de energia.
5. BRASIL. Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010. Esta lei institui a Política Nacional de Resíduos
Sólidos, dispondo sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes
relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às
responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis.
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( IPT Publicação 3010 ) (Publicação IPT; 3010). Disponível em: <https://www.ipt.br/centros_
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Acesso em: 04 set. 2020.