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ASPECTOS DE SEGURANÇA

RELACIONADOS À
OPERAÇÃO DO SISTEMA
INTERLIGADO NACIONAL:
SISTEMAS ESPECIAIS DE
PROTEÇÃO E PROTEÇÕES DE
CARÁTER SISTÊMICO

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DENISE BORGES DE OLIVEIRA
TATIANA MARIA TAVARES DE SOUZA ALVES

ASPECTOS DE SEGURANÇA
RELACIONADOS À
OPERAÇÃO DO SISTEMA
INTERLIGADO NACIONAL:
SISTEMAS ESPECIAIS DE
PROTEÇÃO E PROTEÇÕES DE
CARÁTER SISTÊMICO

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Copyright© 2020 by Artliber Editora Ltda.

Revisão:
Denise Marson

Capa e editoração:
Editorando Birô

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro)

Oliveira, Denise Borges de


Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional :
sistemas especiais de proteção e proteções de caráter sistêmico / Denise Borges de
Oliveira,
Tatiana Maria Tavares de Souza Alves. –- São Paulo : Artliber, 2020.
200 p. : il., color.

ISBN: 978-65-86443-01-1

1. Sistemas de energia elétrica - Proteção I. Título II. Alves, Tatiana Maria Tavares de
Souza

20-1943 CDD 621.310981

Índices para catálogo sistemático:


1. Sistemas de energia elétrica - Brasil

2020
Todos os direitos desta edição são reservados à
Artliber Editora Ltda.
Av. Diógenes Ribeiro de Lima, 3294
05083-010 – São Paulo – SP – Brasil
Tel.: (11) 3832-5489 – 3641-3893
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www.artliber.com.br

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APRESENTAÇÃO

Francisco José Arteiro de Oliveira


Diretor Coordenador
Diretor de Planejamento e Programação da Operação (2012 – 2017)
Diretor de Planejamento (desde 2017)
Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)

A evolução do Setor Elétrico Brasileiro e a necessidade de ampliar as competências téc-


nicas para lidar com as transformações tecnológicas e a crescente complexidade da operação
do Sistema Interligado Nacional (SIN), impõem que se valorize o conhecimento e o estímulo
contínuo ao desenvolvimento de seus profissionais e que sejam ações prioritárias da Diretoria
do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Com um olhar no futuro, ancorado na crença da sustentabilidade organizacional por meio
da expertise e do conhecimento técnico do seu corpo funcional, o Modelo de Aprendizagem
Corporativo e a Gestão do Conhecimento têm assumido importância fundamental para o en-
frentamento dos desafios futuros.
Atentos a esses fatos, foram concebidos em 2016, pela Diretoria de Assuntos Corpora-
tivos do Operador, e conduzida pelo engenheiro István Gárdos, programas de treinamento e
desenvolvimento com o propósito de facilitar e promover a conversão do conhecimento tácito
em explícito. Esses programas contaram com o apoio do Diretor Geral do ONS, o engenheiro
Luiz Eduardo Barata Ferreira, e a participação direta das três diretorias técnicas: a Diretoria de
Administração da Transmissão, a Diretoria de Operação, lideradas pelos engenheiros Álvaro
Fleury Veloso da Silveira e Ronaldo Schuck, e a Diretoria de Planejamento e Programação da
Operação, sob minha liderança.
Nesse contexto, graças ao comprometimento e esforço das equipes para alcançar os obje-
tivos e disseminar o conhecimento, foi possível realizar o “Curso de Nivelamento para Enge-
nheiros”, ministrado por profissionais que compõem o quadro técnico do operador, os quais
detêm conhecimentos especializados, tendo como público-alvo os engenheiros do ONS.
O curso focou conhecimentos técnicos, complementares aos do nível da graduação para
os engenheiros recém-admitidos no ONS, permitindo a compreensão das atividades ligadas
à missão do Operador, além de proporcionar uma visão transversal e detalhada da cadeia de
macroprocessos.
Implementado em 2016, coube a mim, como titular da Diretoria de Planejamento e Pro-
gramação da Operação, a Coordenação Temática, apoiado pela Diretoria de Assuntos Corpo-
rativos. A Coordenação Técnica ficou a cargo do engenheiro Paulo Gomes e a Coordenação

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da área de Recursos Humanos foi conduzida pelo gestor Marco Antônio de Almeida Costa
Carvalho.
O Programa contou com 40 instrutores, todos profissionais do ONS, que se dedicaram ao
processo de ensino-aprendizagem e ao compartilhamento do conhecimento, cujo objetivo era
atender com êxito o propósito do Programa. A 1ª turma teve a participação de 26 engenheiros,
com carga horária total de 172 horas, e grade temática composta por 10 módulos técnicos.
Dentre os diversos temas, destacamos, pela sua abrangência, o de Proteção de Sistemas
Elétricos de Potência, Análise Dinâmica e Segurança de Sistema Elétricos de Potência, Trans-
missão em Corrente Contínua, Controle Automático de Geração e Planejamento Energético.
Com base nos resultados alcançados, entendemos que o conteúdo dos módulos técnicos
deveria ser consolidado em livros, possibilitando a extensão do compartilhamento do conhe-
cimento e da experiência acumulada na operação do SIN para além das equipes do Operador.
Essa proposta foi levada, em setembro de 2018, à apreciação da Diretoria do ONS, composta
pelos novos titulares das Diretorias de Operação e de Assuntos Corporativos, os engenheiros
Sinval Zaidan Gama e Jaconias de Aguiar, respectivamente, tendo sido prontamente aprova-
da. Tal iniciativa demonstra o valor que a Diretoria e os profissionais do Operador têm com
relação à formação, ao conhecimento e ao desenvolvimento de seus profissionais, pilares fun-
damentais para o cumprimento da visão e missão do ONS.
O presente livro, elaborado pelas engenheiras Denise Borges de Oliveira e Tatiana Maria
Tavares de Souza Alves, é o segundo a ser lançado e refere-se aos Aspectos de Segurança
Relacionados à Operação do Sistema Interligado Nacional: Sistemas Especiais de Proteção
e Proteções de Caráter Sistêmico. Estamos certos de que será de grande valia na formação e
no desenvolvimento dos profissionais do ONS e do Setor Elétrico Brasileiro, bem como dos
estudantes de Engenharia Elétrica.

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PREFÁCIO

O Sistema Interligado Nacional (SIN) é, sob qualquer aspecto que se considere, uma das
mais complexas e abrangentes máquinas produzidas pela engenharia. Ele se estende por mais
de 3.500 km de norte a sul, e mais de 3.500 km de leste a oeste, ligando regiões de caracterís-
ticas físicas, econômicas e sociais diversas.
Sem dúvida, trata-se de uma máquina complexa, vasta e dinâmica. Sua evolução ao longo
dos mais de 22 anos de atuação do ONS tem sido notável. De fato, o SIN nasceu em março
de 1999, quase que simultâneo com o ONS, com a entrada em operação do 1º circuito da
interligação Norte-Sudeste/Centro-Oeste, ligando dois sistemas que até então operavam iso-
ladamente, dando origem a ele.
Desde então, o SIN tem se expandido continuamente, incorporando novas áreas, usinas,
instalações de transmissão e, sobretudo, novos consumidores.
A expansão do SIN tem sido marcada também pela evolução tecnológica, que tem se
acelerado em anos recentes, verificando-se o crescimento na participação de novas formas de
geração, com destaque para as fontes eólica e fotovoltaica e de transmissão, especialmente a
utilização mais intensa da transmissão em corrente contínua.
Todos esses movimentos aumentam a complexidade do SIN e o desafio do ONS é garantir
a segurança da operação dele, requisito cada vez mais essencial à medida que avança a depen-
dência da energia elétrica na sociedade brasileira.
No cumprimento de suas atribuições, notadamente nas atividades de planejamento da
operação, estudos pré-operacionais, análise de ocorrências, entre outras, onde se destaca a
interação permanente com o corpo técnico dos agentes, fabricantes e especialistas, o ONS tem
tido a oportunidade, pela sua posição no setor elétrico brasileiro, de acumular um conheci-
mento único sobre o problema da segurança de grandes sistemas de potência.
Por sua vez, um princípio que tem pautado a atuação do Operador é compartilhar conheci-
mento, ação essencial, no nosso entender, para garantir a segurança sistêmica da operação do
SIN e, em última análise, para que o ONS possa cumprir sua missão.
É nesse contexto que este livro foi elaborado. Ele foi conduzido com muito esmero e apre-
senta de forma didática conceitos e aplicações que têm sido largamente utilizados no trabalho
incessante de zelar pela operação segura do SIN.
Inicialmente, são apresentados os conceitos básicos empregados no tratamento do pro-
blema da segurança elétrica, seguindo-se uma visão sobre sistemas de proteção, sistemas de
proteção de equipamentos, sistemas especiais de proteção e proteções sistêmicas.

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Trata-se, portanto, de conteúdo fundamental para a formação dos novos engenheiros e
de todos os envolvidos na permanente tarefa de garantir a continuidade do fornecimento de
energia elétrica aos consumidores brasileiros.

Francisco José Arteiro de Oliveira


Diretor de Planejamento e Programação da Operação (2012 – 2017)
Diretor de Planejamento (desde 2017)
Operador Nacional do Sistema Elétrico

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 13

2. CONCEITOS BÁSICOS......................................................................................................... 19
2.1 – Segurança elétrica.............................................................................................................................. 19
2.1.1 – Definição......................................................................................................................................... 19
2.1.2 – Indicadores de desempenho de segurança elétrica.......................................................................... 24
2.1.3 – Plano de segurança do SIN............................................................................................................. 27
2.1.3.1 – Histórico do plano de segurança do SIN...................................................................................... 27
2.1.3.2 – Estrutura do Plano de Segurança do SIN..................................................................................... 30
2.2 – Planejamento da expansão e operação do Sistema Interligado Nacional.......................................... 32
2.2.1 – Planejamento da expansão do Sistema Interligado Nacional......................................................... 33
2.2.1.1 – Horizontes de planejamento da expansão.................................................................................... 33
2.2.1.2 – Critérios de planejamento da expansão........................................................................................ 35
2.2.1.3 – Principais estudos elétricos ......................................................................................................... 36
2.2.1.4 – Desenvolvimento dos estudos...................................................................................................... 36
2.2.1.5 – Planejamento das interligações.................................................................................................... 37
2.2.2 – Planejamento da operação do Sistema Interligado Nacional.......................................................... 38
2.2.2.1 – Horizontes de estudo de planejamento e programação da operação............................................ 39
2.2.2.2 – Principais estudos de planejamento da operação......................................................................... 39
2.2.2.3 – Critérios de planejamento da operação........................................................................................ 43
2.2.2.4 – Interligações entre os subsistemas............................................................................................... 47
2.2.2.5 – Considerações sobre os estudos de planejamento da operação................................................... 47

3. SISTEMAS DE PROTEÇÃO.................................................................................................. 49
3.1 – Anormalidades no sistema elétrico de potência................................................................................. 51
3.1.1 – Curtos-circuitos............................................................................................................................... 52
3.1.2 – Instabilidades dos sistemas de potência.......................................................................................... 55
3.1.2.1 – Estabilidade angular..................................................................................................................... 56
3.1.2.2 – Estabilidade de frequência........................................................................................................... 57
3.1.2.3 – Estabilidade de tensão.................................................................................................................. 57
3.2 – Hierarquia dos sistemas de proteção.................................................................................................. 58

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4. SISTEMAS DE PROTEÇÃO DE EQUIPAMENTOS ............................................................. 61
4.1 – Evolução dos sistemas de proteção de equipamentos........................................................................ 61
4.2 – Zonas de atuação dos sistemas de proteção de equipamentos........................................................... 66
4.3 – Redundância de proteção de equipamentos....................................................................................... 67
4.4 – Principais funções de proteção........................................................................................................... 68
4.4.1 – Funções de corrente ....................................................................................................................... 68
4.4.2 – Funções de tensão........................................................................................................................... 72
4.4.3 – Funções de distância....................................................................................................................... 73
4.4.4 – Função diferencial........................................................................................................................... 75

5. SISTEMAS ESPECIAIS DE PROTEÇÃO ............................................................................. 77


5.1 – Histórico da aplicação de sistemas especiais de proteção no SIN..................................................... 81
5.2 - Classificação de SEP........................................................................................................................... 88
5.2.1 – Quanto ao propósito........................................................................................................................ 88
5.2.2 – Quanto ao tipo de ação.................................................................................................................... 89
5.2.3 – Quanto ao impacto no sistema........................................................................................................ 91
5.3 – Análise da operação e desempenho de SEP....................................................................................... 97
5.4 – Estatística de atuação dos SEP ........................................................................................................ 101
5.5 – Estudos de sistemas de potência para definição de SEP.................................................................. 106
5.6 – Requisitos de implantação de SEP................................................................................................... 108
5.7 – Testes e manutenção dos SEP.......................................................................................................... 121
5.8 – Evolução tecnológica na implementação de SEP ........................................................................... 123
5.8.1 – Padrão IEC61850 e sua aplicação para SEP................................................................................. 128
5.8.2 – Sistemas de medição fasorial ....................................................................................................... 134

6. PROTEÇÕES SISTÊMICAS.................................................................................................151
6.1 – Esquemas regionais de alívio de cargas (ERAC)............................................................................ 151
6.1.1 – Ajustes do ERAC por regiões geoelétricas do SIN....................................................................... 153
6.1.2 – Requisitos técnicos dos relés de frequência.................................................................................. 158
6.1.3 – Consumidores livres e autoprodutores no ERAC......................................................................... 159
6.2 – Proteções sistêmicas de sobrefrequência......................................................................................... 159
6.3 – Proteções sistêmicas de sobretensão ............................................................................................... 162
6.4 – Proteções de oscilação de potência.................................................................................................. 168
6.4.1 – Efeitos das oscilações na proteção de linhas de transmissão........................................................ 170

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6.4.2 – Métodos de detecção de oscilação de potência e perda de sincronismo....................................... 174
área de oscilação de potência dimensionada automaticamente................................................................ 177
Zona.......................................................................................................................................................... 177
primeira impedância na área de oscilação de potência............................................................................. 177
6.4.3 – Considerações a respeito dos ajustes de esquemas de detecção de oscilações de potência baseados
em medição de impedância....................................................................................................................... 185
6.4.4 – Filosofias de utilização das funções de oscilação de potência e perda de sincronismo................ 187
6.4.5 – Método simplificado para determinação dos pontos para aplicação de proteção para oscilação de
potência..................................................................................................................................................... 191
6.4.6 – Proteção de perda de sincronismo em unidade geradora.............................................................. 192

BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................................197

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   13 

1
INTRODUÇÃO

O sistema de produção e transmissão de energia elétrica do Brasil é um sistema hidro-


-termo-eólico de grande porte, com predominância de usinas hidrelétricas e com múltiplos
proprietários. A capacidade instalada de geração do Sistema Interligado Nacional (SIN) é
composta, principalmente, por usinas hidrelétricas, sendo que nos últimos anos, a instalação
de usinas eólicas, especialmente nas regiões Nordeste e Sul, apresentou um forte crescimento.
As usinas térmicas, em geral localizadas nas proximidades dos principais centros de carga,
desempenham papel estratégico relevante, pois contribuem para a segurança do SIN. A figura
1-1 mostra a matriz elétrica brasileira e a capacidade instalada no SIN, com horizonte até 2023
(ONS, 2020).

Figura 1-1 – Capacidade instalada no SIN – 2019/2023 (Fonte: PMO – outubro 2019)

Atualmente, existem 237 localidades isoladas no Brasil.  A maior parte está na região Nor-
te, nos estados de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Amapá e Pará. A ilha de Fernando de
Noronha, em Pernambuco, e algumas localidades de Mato Grosso completam a lista. Entre as
capitais, Boa Vista (RR) é a única que ainda é atendida por um sistema isolado. O consumo
nessas localidades é baixo e representa menos de 1% da carga total do país. A demanda por
energia dessas regiões é suprida, principalmente, por usinas termoelétricas a óleo diesel. A

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14   Introdução

figura 1-2 apresenta o mapa geoelétrico da rede de operação do SIN, com o horizonte de 2024
(ONS, 2020b).

Figura 1-2 – Mapa geoelétrico do SIN – 2024 (Fonte: site ONS)

A confiabilidade dos sistemas elétricos e a qualidade do atendimento ao mercado de ener-


gia estão intimamente relacionadas à eficiência de sua expansão, que depende de um plane-
jamento adequado. O planejamento da expansão dos sistemas de geração e transmissão con-
sidera o atendimento da demanda e seu crescimento no período de análise, visando definir o
conjunto de obras que serão necessárias para garantir a segurança e a qualidade do sistema ao
menor custo global, contemplando, inclusive, as perdas elétricas.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   15 

Os sistemas elétricos são planejados dentro de determinados critérios que buscam um


ponto de equilíbrio entre segurança e custos. O SIN, como a maioria dos sistemas elétricos, é
planejado tendo por base o critério (n-1), segundo o qual eles devem ser capazes de suportar
a perda de qualquer elemento sem interrupção do fornecimento. Alterar este critério para (n-
2) ou até (n-3), que permitiria ao sistema suportar contingências múltiplas, significaria um
aumento significativo em termos de tarifa. Entretanto, na operação em tempo real, os sistemas
elétricos estão sujeitos a diversas perturbações. A maior parte delas não resulta em corte de
carga e não chega a ser percebida pelos consumidores. Um percentual de cerca de 10% das
perturbações leva à interrupção do fornecimento, em geral contingências envolvendo a perda
de dois ou mais componentes, segundo os dados de indicadores de desempenho do SIN con-
siderando o período de 2012 a 2020 (ONS, 2020a).
As interrupções temporárias do suprimento de energia podem ter as mais variadas causas:
defeitos em equipamentos, condições meteorológicas adversas (descargas atmosféricas, ven-
davais e chuvas), queimadas, falhas nos sistemas de proteção e controle, erro humano na exe-
cução de serviços de manutenção, erro de operação, dentre muitas outras causas. Podem ter
durações diversas: de alguns minutos a muitas horas até o restabelecimento do serviço. Pode
ser uma ocorrência isolada, sem reincidência, ou uma sequência de falhas repetidas, em de-
terminada época ou região. A abrangência geográfica também pode estender-se de um bairro,
ou uma cidade, até vários estados sendo afetados pelo problema. O montante de carga afetado
também pode variar desde algumas centenas de Megawatts a muitos milhares de Megawatts.
A conjunção desses fatores determinará o grau de impacto da perturbação sobre a sociedade.
Com o objetivo de minimizar as chances de ocorrência de uma perturbação de grande
porte, restringir a propagação de um distúrbio e agilizar ao máximo a recomposição das car-
gas, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), órgão responsável pela coordenação e
controle da operação das instalações de geração e transmissão de energia elétrica no SIN e
pelo planejamento da operação dos sistemas isolados do país, sob a fiscalização e regulação da
Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), mantém um trabalho permanente de obser-
vação, análise, diagnóstico e prevenção destes eventos. A análise em pós-operação de grandes
perturbações fornece importante insumo para o estabelecimento de medidas preventivas e
para o reforço da segurança.
Neste sentido, com o objetivo de tornar os sistemas elétricos mais robustos e aptos a en-
frentar contingências múltiplas, ditas também como extremas, vários países desenvolveram
os chamados Planos de Defesa. No Brasil, o Plano de Defesa é baseado em três premissas:
1. Ações no sentido de minimizar a probabilidade de ocorrência de grandes perturbações.
Essas medidas visam reduzir a severidade dos distúrbios;
2. Ações no sentido de restringir a propagação dos eventuais distúrbios. Essas medidas
têm por objetivo conter os efeitos dos distúrbios;

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16   Introdução

3. Ações no sentido de acelerar o processo de recomposição de suprimento às cargas.


Essas medidas têm por objetivo reduzir o tempo de restabelecimento do suprimento às
cargas, para valores considerados aceitáveis sob a ótica do consumidor.

No contexto atual essa missão torna-se cada vez mais desafiadora, considerando que está
aumentando a complexidade da operação do sistema elétrico nacional, tendo em vista a mo-
dificação da matriz eletroenergética e o crescimento do sistema de transmissão com a adição
de novos elos de transmissão de corrente contínua, aumentando a probabilidade de ocorrência
de contingências múltiplas. A figura 1-3 mostra a evolução do sistema de transmissão do SIN,
com o horizonte de 2024 (ONS, 2020).

Figura 1-3 – Evolução do sistema de transmissão do SIN – 2024 (Fonte: site ONS)

Este aumento de complexidade e riscos cada vez maiores de contingências múltiplas im-
plica numa degradação dos níveis de segurança elétrica do SIN.
Desta forma, para manter a segurança elétrica no SIN, torna-se cada vez mais necessá-
ria a aplicação de Sistemas Especiais de Proteção (SEP) como um importante recurso para

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   17 

minimizar os efeitos das contingências múltiplas, reduzindo o impacto das mesmas e evitando
a propagação das perturbações ao longo do sistema.
Outro recurso importante é a utilização de proteções de caráter sistêmico (Esquema Regio-
nal de Alívio de Cargas - ERAC, Proteção Sistêmica de Sobrefrequência, Proteção Sistêmica
de Sobretensão e Proteção de Perda de Sincronismo ou Disparo por Oscilação de Potência),
de modo a evitar a propagação das perturbações no caso de falha dos SEP ou na ocorrência de
perturbações fora dos critérios de estudos para sua definição.

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2
CONCEITOS BÁSICOS

2.1 – Segurança elétrica

2.1.1 – Definição
Os sistemas elétricos podem ser definidos como um conjunto de equipamentos e elemen-
tos de circuitos elétricos conectados, que atuam de modo coordenado com o intuito de gerar,
transmitir e distribuir energia elétrica aos consumidores. A gestão de energia e a operação
destes sistemas é uma tarefa extremamente difícil e complexa e tem como objetivo principal
o suprimento de seu mercado de energia elétrica. Para isto, a preservação da integridade física
e funcional é de fundamental importância. No entanto, pela extensão e complexidade, estes
sistemas estão sujeitos a eventos tanto de natureza tecnológica quanto naturais, ou até mesmo
provocados por ação humana, que impactam seu funcionamento afetando seu desempenho.
A estrutura básica de um sistema elétrico, sua relação com tais eventos e as consequências
associadas são mostradas na figura 2.1.1-1 (Siqueira, 2010).

Figura 2.1.1-1 – Principais eventos no sistema elétrico e suas consequências

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20    Conceitos Básicos

Em condições normais, num sistema em operação estável, haverá um equilíbrio entre a


energia gerada e as cargas supridas. As situações de anormalidade podem conduzir o sistema a
um estado instável, fora de controle do operador. Entre elas, conforme mostra a figura 2.1.11,
se encontram os desligamentos forçados por falhas em equipamentos, erros operacionais,
desligamentos incorretos provocados por sistemas de proteção, além de outros. São mostra-
das também nesta figura, as diversas consequências que podem resultar destas situações, tais
como: interrupções no fornecimento de energia a consumidores, perdas de produção indus-
trial, danos a equipamentos, dentre outras.
O sistema de energia elétrica precisa ser operacionalmente seguro, ou seja, com probabi-
lidade mínima de blecaute e danos aos equipamentos após ocorrências. Um requisito impor-
tante para a segurança do sistema elétrico é a sua capacidade de suportar os efeitos de contin-
gências na rede. Uma contingência é basicamente o desligamento de um componente, como
um gerador, transformador ou linha, provocado por falha ou condição anormal de operação,
sendo os seus efeitos monitorados com limites de segurança especificados.
Com relação à operação do sistema elétrico, ela é considerada normal quando os fluxos de
potência, tensões nas barras e frequência se mantêm dentro dos limites das faixas de variação
admissíveis para a operação, independentemente das variações normais da carga e da geração
disponível.
Nesta perspectiva, segurança é a probabilidade de um sistema permanecer em um ponto
de operação estável e sem violação de nenhum limite operacional.  Sob o ponto de vista da
operação, as duas principais funções executadas em um centro de controle visando a seguran-
ça do sistema são: avaliação de segurança (relacionada à consciência situacional dos operado-
res), e controle de segurança (relacionada às ações de controle).
A segurança do sistema é determinada por limites térmicos, de tensão e de estabilidade.
No entanto, o desligamento de alguns componentes específicos do sistema pode levar a con-
dições além das capacidades de seus reguladores e estabilizadores. Para muitos desses casos,
será necessária a ação de Sistemas Especiais de Proteção para forçar o sistema a retornar ao
estado operacional de uma condição segura. Além disto, existem eventos, geralmente casos de
múltiplas contingências, que exigirão ações mais rigorosas para evitar o colapso do sistema.
Com base em (Carlsen, 1978), os estados operacionais dos sistemas de energia elétrica
podem ser classificados em cinco níveis: normal, alerta, emergência, emergência extrema e
recomposição. A figura 2.1.1-2 mostra esses estados e as maneiras pelas quais a transição pode
ocorrer de um estado para outro.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   21 

Figura 2.1.1-2 – Estados operacionais dos sistemas de energia elétrica

Na figura 2.1.1-2 o distúrbio, ou perturbação, consiste no desligamento forçado de um ou


mais componentes do sistema elétrico acarretando quaisquer das seguintes consequências:
corte de carga, desligamento de outros componentes do sistema ou danos em equipamentos.
Também se caracteriza como distúrbio a variação da tensão ou frequência fora dos limites
normais de operação, mesmo não acarretando desligamento forçado.
As ações de controle (automático-manuais) englobam tanto as ações operativas quanto
ações automáticas de sistemas de proteção e controle.
O sistema, conforme planejado, deve suportar qualquer contingência simples, inclusive
no caso de um desligamento acidental, sem falha, tornando possível a manutenção do sistema
em seu estado normal, sem violação de limites. O estado normal é o estado de operação ideal,
no qual são obedecidas as restrições de carga, operação e segurança.
Por outro lado, conforme apresentado na figura 2.1.1-2 após um distúrbio, no caso de
violação dos seus limites nominais de operação, o sistema elétrico pode transitar para o estado
de alerta. Nesse estado, medidas operativas devem ser tomadas para que o sistema retorne ao
estado normal de operação. Neste estado são obedecidas as restrições de carga e operação,
porém nem todas as restrições de segurança são obedecidas.
Todavia, estando o sistema no estado normal ou no estado de alerta, um distúrbio pode
ocorrer levando o sistema ao estado de emergência. Nesse estado, embora o sistema ainda
esteja completo, muitas de suas variáveis estão fora da faixa normal de operação ou o carre-
gamento dos equipamentos está excedendo as suas capacidades de operação de curta duração.
O que caracteriza o estado de emergência é a violação das restrições de operação. Para recu-
peração do sistema, ações de controle de emergência, num nível hierárquico superior ao das
ações de controle relacionadas ao do estado de alerta, podem restaurar o sistema ao estado
normal, seja de forma direta, quando as ações não envolvem corte de carga, seja através do

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22    Conceitos Básicos

estado de restauração de cargas, quando cortes de carga são efetuados. As ações de controle
de emergência incluem: atuação de proteção para eliminação de falhas, controle de excitação
e frequência de unidades geradoras, sistemas de controle de estações conversoras de corrente
contínua, corte de geração, cortes de carga, chaveamento de elementos de controle de potência
reativa (banco de capacitores e reatores shunt).
Entretanto, estando o sistema em operação no estado normal, de alerta ou de emergência, a
ocorrência de um grande distúrbio ou uma ação de controle incorreta ou ineficaz, poderá levar
o sistema a transitar para o estado de emergência extrema. Neste caso, o sistema se encontra
instável e desligamentos em cascata e ou mesmo blecaute de uma grande parte do sistema po-
dem ocorrer. Desta forma, para se evitar a propagação da perturbação, ações mais abrangentes
de nível hierárquico superior devem ser tomadas, de modo a permitir o retorno do sistema de
forma direta ao estado normal, sem corte de cargas, ou por meio do estado de restauração de
cargas, quando cortes de carga são efetuados. O conjunto de ações de controle tomadas no
estado de extrema emergência é realizado pelas proteções de caráter sistêmico: proteções de
frequência para rejeição de carga ou geração, proteções sistêmicas de sobretensão e proteções
de disparo por oscilação de potência ou perda de sincronismo. Caso essas ações falhem ou
não sejam eficazes, ocorrerá o colapso do sistema provocando blecautes, quando grandes áre-
as deverão ser recompostas, tornando o processo de retorno para o estado normal mais lento.
Ressalta-se que qualquer sistema pode falhar, seja por causas internas ou externas ou ain-
da por falhas humanas ocorridas na operação. Esses fatores afetam a segurança dos sistemas
elétricos.
Considerando os estados operativos do sistema apresentados, fica claro que o objetivo das
ações de controle da segurança do sistema, é manter o sistema operando no estado normal de
operação, ou pelo menos, minimizar as transições do estado normal para os de emergência ou
extrema emergência. Portanto, a segurança do sistema elétrico está relacionada diretamente às
ações do plano de segurança no sentido de minimizar a probabilidade de ocorrência de gran-
des perturbações, que compreendem o monitoramento do sistema, a análise de contingências
e ações de controle preventivo.
As análises de contingências previamente estabelecidas englobam a verificação dos fluxos
de potência sob contingências, a análise de instabilidade de tensão, avaliação da estabilidade
da frequência e da estabilidade angular.
Caso as análises de contingências efetuadas demonstrem a vulnerabilidade do sistema a
uma dada contingência deverão ser determinadas as ações de controle preventivo que devem
ser tomadas para que o sistema retorne ao estado de segurança. Estas análises também podem
determinar que melhorias na infraestrutura devem ser implementadas e estes resultados de-
vem ser encaminhados às equipes de planejamento da expansão da rede.
Assim, a prevenção de distúrbios no sistema começa no planejamento da expansão, visan-
do evitar, entre outros pontos:
• Aglomeração de linhas de transmissão na mesma faixa de passagem;

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   23 

• Implantação ou expansão de subestações excessivamente grandes;


• Passagem de novas linhas aéreas sobre troncos de transmissão existentes;
• Aumento indiscriminado de nível de curto-circuito;
• Arranjos de barramentos de baixa confiabilidade.

O SIN vem passando por transformações, principalmente pela exigência por parte da so-
ciedade de uma energia mais limpa, no sentido de reduzir a emissão de gases de efeito estufa
(CO2) face ao seu impacto no aquecimento global. Isto vem conduzindo a um aumento na
diversidade da matriz elétrica, com a implantação de usinas eólicas, solares e biomassa, entre
outras. Adicionalmente, restrições ambientais cada vez maiores têm levado à implantação de
usinas com reservatórios de menor capacidade e a uma redução nas faixas de servidão das li-
nhas de transmissão. Também, como fator de aumento da complexidade da operação se obser-
va um crescimento na implantação de sistemas de transmissão em corrente contínua (CCAT).
Este panorama pode ser mostrado na figura 2.1.1-3, que mostra a expansão das usinas
eólicas e solares para o ano de 2023 quando comparado ao ano de 2019, e a previsão do mon-
tante de elos de transmissão em corrente contínua de 2019 a 2024, de acordo com o Sumário
PAR/PEL 2020-2024 (ONS, 2019).

Figura 2.1.1-3 – Evolução do SIN

O panorama atual de operação do SIN pode ser exemplificado na figura 2.1.1-4 (ONS,
2020c) que retrata o balanço de energia do sistema no dia 3/2/2020 às 17h56min, onde estão
destacados os intercâmbios entre as regiões geoelétricas do sistema e a contribuição de gera-
ção para atendimento às cargas de cada região, discriminada por matriz energética.

ASPECTOS DE SEGURANÇA_ONS_2.indd 23 12/05/20 14:37


24    Conceitos Básicos

Figura 2.1.1-4 – Panorama atual de operação do SIN - 3/2/2020 às 17h56min

Sendo assim, de modo a agregar segurança à operação do SIN para enfrentar o crescimen-
to da sua complexidade, torna-se fundamental a criação de um indicador de desempenho que
represente a segurança elétrica do sistema elétrico brasileiro, considerando o risco crescente
de fatores que podem provocar sua degradação.

2.1.2 – Indicadores de desempenho de segurança elétrica


Apesar dos desafios à operação deste sistema cada vez mais complexo, há a exigência de
um suprimento de energia seguro, confiável e de qualidade, além da necessidade de oferecer à
sociedade energia a custo razoável. Para tanto, o sistema elétrico deve ser robusto, controlável
e resiliente.
Em um sistema elétrico robusto, a infraestrutura é planejada, implementada e operada
para ser imune às contingências que foram consideradas na adoção de critérios na fase de
planejamento. O sistema deve ter redundâncias capazes de limitar as consequências de con-
tingências severas, além de permitir o acesso de vários usuários sem violar os critérios de
segurança vigentes.
Para que o sistema elétrico seja confiável, os sistemas de controle e de proteção têm
que ser concebidos para que a otimização do sistema seja feita sem risco, evitando propa-
gações indesejáveis das perturbações e limitando os desligamentos ao mínimo em casos de

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   25 

contingências excepcionais, além do critério adotado na fase de planejamento, contribuindo


assim para a continuidade, segurança, qualidade e economia.
A resiliência é a habilidade do sistema em se antecipar, se preparar, em responder e em se
adaptar desde os eventos que ocorrem diuturnamente até outros que, embora de menor pro-
babilidade de ocorrência, tenham consequências bem mais severas. O sistema é considerado
resiliente quando tende a retornar à sua condição normal de operação no menor tempo possí-
vel, se preparando para alterar condições e se adaptar a elas de tal forma que possa suportar os
distúrbios e deles se restabelecer rapidamente.
Considerando estes conceitos, criou-se um indicador de desempenho bastante representa-
tivo da segurança elétrica do sistema elétrico brasileiro, que é o índice de robustez. Este índice
relaciona as perturbações no SIN com o suprimento às cargas. Esse indicador é expresso pela
relação entre o número de perturbações, com determinado nível de corte de carga, e o número
total de perturbações ocorridas no sistema em um determinado período.
Esse indicador contabiliza o número de perturbações ocorridas na Rede Básica (subesta-
ções e linhas de transmissão em tensões de 230 kV e superior), por ano, associadas ao corte
de carga. As perturbações com corte de carga são agrupadas em quatro patamares: “Qualquer
Corte de Carga”, “≥ 100 MW”, “≥ 500 MW” e “≥1.000 MW”. 
Para melhor percepção da representatividade dos montantes de carga envolvidos, apre-
senta-se a seguir uma correlação entre os patamares de corte de carga e algumas cidades do
Brasil.
• 100 MW → valor correspondente ao consumo de cidades como Corumbá (MS), Cam-
pina Grande (PB), Petrópolis (RJ), Angra (RJ) e Resende (RJ).
• 500 MW → valor correspondente ao consumo de cidades como Campo Grande (MS),
Cuiabá (MT), Campinas (SP) e região metropolitana de Natal (RN).
• 1.000 MW → valor correspondente ao consumo de cidades como Cascavel (PR), Bra-
sília (DF) e cidade de Fortaleza (CE).
Os valores apurados para o índice de robustez no SIN em 2019 são os seguintes, conforme
figura 2.1.2-1 (ONS, 2020d).
• Para qualquer corte de carga – a robustez foi de 93,68%;
• Para cortes de carga acima de 100 MW – a robustez foi de 96,17%;
• Para cortes de carga acima de 500 MW – a robustez foi de 99,91%;
• Para cortes de carga acima de 1.000 MW – a robustez foi de 99,94%.

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26    Conceitos Básicos

Figura 2.1.2-1 – Índices de robustez do SIN – 2015 a 2019

O gráfico apresentado na figura 2.1.2-1 mostra que no sistema elétrico brasileiro o ín-
dice de robustez para perturbações com corte carga acima de 100 MW, é bastante elevado,
sofrendo pequenas oscilações no período de 2015 a 2019, porém se mantendo em patamares
altos, sendo da ordem de 97% para cortes de carga acima de 100 MW (verde) e superiores a
99% para perturbações com corte de carga acima de 500 MW (laranja) e acima de 1.000 MW
(azul). Também pode ser observado que ao longo desse período perturbações com interrupção
de carga em montantes inferiores a 100 MW, apresentaram uma acentuada queda, o que se
refletiu em um aumento do índice de robustez com relação a todas as perturbações com corte
de carga (vermelho).
Com relação à análise apresentada sobre a evolução dos indicadores de robustez do siste-
ma elétrico brasileiro no horizonte de 2015 a 2019, conclui-se que apesar do crescimento do
SIN e o aumento da sua complexidade, o nível de segurança no sistema se mantém elevado.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   27 

2.1.3 – Plano de segurança do SIN


No sistema elétrico brasileiro, desde sua criação, e como parte de suas atribuições, o ONS
vem concentrando esforços substanciais para aumentar a confiabilidade do SIN no que con-
cerne aos aspectos relacionados com a segurança operativa.
O esforço realizado tem sido no sentido de aumentar a capacidade do SIN em suportar
contingências extremas, usualmente provocadas por defeitos múltiplos, por defeitos singelos
com desligamentos múltiplos ou por sucessivos desligamentos de elementos da transmissão.
Conforme já relatado, a expansão do sistema elétrico, a diversificação das matrizes ener-
géticas e o crescente uso de elos de transmissão de corrente contínua, trazem novos desafios
para a operação e tendem a impactar a segurança operativa.
Uma das formas de aumentar a segurança do SIN seria a mudança do critério (n-1), nor-
malmente utilizado no planejamento, para um critério mais rígido, por exemplo, (n-2). Entre-
tanto, isto teria um custo muito elevado para a sociedade, com reflexos nas tarifas de energia.
Consequentemente, é necessário um empenho maior para preservar a segurança do SIN
sem gerar impacto nas tarifas de energia. Esse aumento de segurança pode ser obtido com
medidas automáticas simples, confiáveis e seguras que considerem as contingências extremas
pré-selecionadas por estudos elétricos. Estas medidas automáticas devem ser executadas prio-
ritariamente por ações de controle e, se inevitável, por ações de proteção.
Outra forma de agregar segurança ao SIN, de forma estruturada, seria o desenvolvimento
de um Plano de Segurança, também conhecido em outros países como Plano de Defesa.

2.1.3.1 – Histórico do plano de segurança do SIN


Em março de 1999, ocorreu um grande blecaute no Sistema Elétrico Nacional que afetou
cerca de 75 milhões de pessoas, provocando a interrupção de cerca de 24.700 MW de carga,
aproximadamente 70% da carga total do Sistema Interligado Sul/Sudeste/Centro-Oeste.
A referida perturbação teve início com uma falha fase-terra no barramento de uma subes-
tação em 440 kV da área São Paulo, e como o referido barramento de 440 kV não possuía
proteção local, a falha foi eliminada pela atuação temporizada de proteções de retaguarda
instaladas nos terminais remotos de todas as linhas de transmissão conectadas à barra.
O desligamento destes vários circuitos iniciou um processo de oscilação de potência entre
as usinas do estado de São Paulo contra o restante do Sistema Interligado Sul/Sudeste, bem
como entre este e o Sistema Norte/Nordeste, culminando com a separação destes sistemas e
a abertura das interligações entre os Sistemas Sul e Sudeste. Em seguida, ocorreu a abertura
do tronco de transmissão em 750 kV associado à UHE Itaipu por atuação das proteções de
disparo por perda de sincronismo, culminando com o desligamento de unidades geradoras da
UHE Itaipu 60 Hz.
Na área São Paulo agravou-se ainda mais o processo de afundamento de tensão, levando
ao desligamento do elo de transmissão em corrente contínua responsável pelo escoamento de

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28    Conceitos Básicos

parte da energia gerada na UHE Itaipu. O bloqueio da transmissão em corrente contínua pro-
vocou sobrefrequência no sistema de 50 Hz de Itaipu, fazendo com que houvesse a separação
dos Sistemas Itaipu/ANDE (Administración Nacional de Electricidad – Paraguai), ou seja,
da interligação Brasil/Paraguai, levando o sistema do Paraguai ao colapso. A Figura 2.1.2-2
apresenta o diagrama da área envolvida na perturbação.
SE FOZ DO IGUAÇU
+- 600 kV CC SE IBIUNA

PARAGUAI

UHE ITAIPU 50HZ


09 UG DE 700 MW

~
500 kV

SE FOZ DO IGUAÇU SE IVAIPORÃ SE ITABERÁ


SISTEMA
UHE ITAIPU 60HZ SE T.PRETO
09UG DE 700 MW
SUDESTE

~
345 kV
525 kV 765 kV
765 kV

SISTEMA SUL 765 kV 500 kV

Figura 2.1.2-2 - Área Envolvida na Perturbação

Na região sudeste houve deterioração do perfil de tensão, levando ao desligamento auto-


mático de diversas linhas de transmissão dotadas de proteções de distância, além da perda de
várias unidades geradoras, que levou ao colapso os estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Esta perturbação provocou a formação de várias ilhas geoelétricas no sistema, tendo o
processo de recomposição sido realizado com grande sucesso em algumas delas, como ocor-
reu nos casos da região Sul, estado de Minas Gerais e Região Centro-Oeste. Na Região Sul, o
restabelecimento foi iniciado 2 minutos após o início da ocorrência e concluído em 49 minu-
tos. Nos estados de Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso e Tocantins o resta-
belecimento levou cerca de 30 minutos. Já nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito
Santo e Mato Grosso do Sul houve um apagão completo. O processo de restauração foi muito
mais lento (até quatro horas) nesses quatro estados, devido a dificuldades imprevistas e alguns
equipamentos danificados.
Após este blecaute de 1999 várias ações foram tomadas no sentido de dotar o SIN de um
grau de segurança operativa mais elevado. Para isso, foi desenvolvido um trabalho de diag-
nóstico das instalações estratégicas do SIN e proposta uma série de melhorias no sentido de
reduzir o impacto de perturbações, como por exemplo, o seccionamento de barramentos para
a redução do número de circuitos a serem desligados quando de uma falta em barra. Estas
ações deram origem ao Plano de Segurança do SIN.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   29 

No SIN este plano faz parte das atribuições do ONS e está baseado em três vertentes, con-
forme apresentado na figura 2.1.3.1-1 (Gomes, et al., 2003).
• Ações no sentido de minimizar a probabilidade de ocorrência de grandes perturbações
(blecautes). Estas medidas visam a reduzir a severidade dos distúrbios.
• Ações no sentido de minimizar a propagação dos distúrbios inevitáveis. Estas medidas
têm por objetivo “conter” os efeitos dos distúrbios.
• Ações de recomposição otimizada no sentido de reduzir o tempo de restabeleci-
mento do suprimento às cargas, para valores considerados aceitáveis sob a ótica do
consumidor.

Figura 2.1.3.1-1 – Vertentes do plano de segurança do SIN

Particularmente com relação a este último aspecto é importante considerar, além dos
prejuízos materiais resultantes do prolongamento do tempo de restabelecimento do sistema,
aqueles de natureza prejudicial à imagem do setor perante a opinião pública, que podem ser
observados na Curva de Aversão a Blecautes reproduzida na figura 2.1.3.1-2 (P. Gomes, 2006).

Figura 2.1.3.1-2 – Curva de aversão a bleacautes

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30    Conceitos Básicos

Nessa curva são apresentadas quatro faixas de tolerância que demonstram o grau de in-
satisfação dos consumidores com relação ao tempo de interrupção de energia. Pode ser ob-
servado que interrupções de até 60 minutos são suportáveis e que interrupções de durações
superiores há 240 minutos são intoleráveis pela sociedade.
Embora essa curva reflita o panorama de tolerância da sociedade à época, pode-se afirmar
que atualmente o grau de insatisfação dos consumidores com relação ao tempo de interrup-
ção de energia se tornou bem mais rigoroso considerando a crescente exigência da evolução
tecnológica perante a energia elétrica. Um exemplo é a ampla utilização de redes de comuni-
cação via internet (wi-fi) agregada à crescente dependência da sociedade dessa tecnologia não
apenas para questões profissionais como também para lazer e comunicação.

2.1.3.2 – Estrutura do Plano de Segurança do SIN


O Plano de Segurança do SIN foi estruturado em conjuntos de medidas técnicas necessárias
para evitar a propagação ou o agravamento de uma perturbação no sistema elétrico brasileiro e,
no caso da ocorrência de um blecaute, para que este seja restaurado o mais rapidamente possível.
A seguir, são detalhadas as ações correspondentes às três vertentes desse Plano.

a) Ações para minimizar a probabilidade de ocorrência de grandes perturbações


• Propor melhoria das características intrínseca das subestações existentes consideradas
críticas para o sistema, por meio de rearranjos operativos de barramentos, secciona-
mento de barramentos, realocação física de circuitos etc.;
• Identificar cruzamentos de circuitos cujo rompimento possa levar a grandes distúrbios
e desenvolver ações preventivas;
• Estabelecer e reavaliar periodicamente as regras para a integração das novas instala-
ções de transmissão na Rede Básica (subestações e linhas de transmissão em tensões
de 230 kV e superior) e, para as existentes quando de ampliações e reforços. Essas re-
gras são consolidadas nos Procedimentos de Rede, que são documentos de caráter nor-
mativo elaborados pelo ONS que estabelecem os requisitos técnicos necessários para
garantir o livre acesso às instalações de transmissão, a realização das atividades de
planejamento e programação da operação eletroenergética, administração de serviços
de transmissão de energia elétrica, proposição de ampliações e reforços para a Rede
Básica e para as Demais Instalações da Transmissão (DIT), bem como as atividades
de supervisão, coordenação e controle da operação do SIN.
• Estabelecer e reavaliar periodicamente os requisitos técnicos mínimos para os siste-
mas de proteção, registros de perturbações e teleproteção para as novas instalações
de transmissão da Rede Básica e para as existentes quando de ampliações e reforços,
tais como utilização de sistemas de proteção redundantes e independentes para cada
componente do sistema de transmissão, e análise da aplicação de novas tecnologias;

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   31 

• Definir filosofias de ajustes, baseadas nas práticas usuais mais seguras, para serem
aplicadas nos sistemas de proteção de linhas de transmissão, transformadores e unida-
des geradoras das instalações da Rede Básica;
• Realizar diagnósticos periódicos dos sistemas de proteção dos principais troncos de
transmissão da Rede Básica. Faz parte deste diagnóstico a avaliação do estado dos
sistemas de proteção dos equipamentos que compõem as referidas instalações, de for-
ma a identificar os pontos para aprimoramento, visando o aumento da qualidade da
prestação do serviço público de transmissão de energia elétrica.
• Realizar análise estatística de desempenho dos sistemas de proteção das instalações
da Rede Básica e dos desligamentos forçados de componentes. Estas ações têm como
objetivo identificar erros de projetos, práticas inadequadas de manutenção, equipa-
mentos obsoletos, além de problemas em dispositivos de sistemas de proteção;
• Recomendar a implantação de esquemas de religamento automático em linhas de
transmissão aéreas, com possibilidade de operação monopolar e/ou tripolar, aumen-
tando a margem de estabilidade do sistema;
• Revisar periodicamente os ajustes dos controladores sistêmicos, tais como: sistemas
de excitação, estabilizadores de sistemas de potência (Power System Stabilizers - PSS),
reguladores de velocidade das usinas, controles de amortecimento de TCSC e elos de
corrente contínua, etc.;
• Propor soluções para o aumento da observabilidade do sistema elétrico, visando ao
aperfeiçoamento constante do processo de otimização da segurança operativa do SIN.
Estas soluções podem ser, por exemplo, a ampliação das redes de oscilografias, de
curta e longa duração das instalações da Rede Básica, e a implantação de sistemas de
medição fasorial utilizando Phasor Measurement Unit (PMU);
• Utilizar sistemas computacionais, com base em dados de PMU, para avaliação do grau
de segurança operativa do SIN em tempo real, aumentando a consciência situacional
dos operadores, permitindo que sejam tomadas ações de forma a evitar a operação da
rede elétrica em condições de risco;
• Determinar limites operativos, baseados em critérios de segurança, nos principais
troncos de transmissão do SIN;
• Avaliar periodicamente os critérios de execução dos estudos elétricos do planejamento
e operação do sistema, adequando-os à realidade do SIN sob a ótica do estado da arte
internacional, com ênfase na segurança elétrica.

b) Ações para minimizar a propagação das perturbações no SIN


• Implementar e revisar Sistemas Especiais de Proteção;
• Implantar e revisar os ajustes das proteções de caráter sistêmico, tais como proteções
de perda de sincronismo (PPS) ou de disparo por oscilação de potência, proteções sis-
têmicas de frequência e proteções sistêmicas de sobretensão.

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32    Conceitos Básicos

c) Ações para otimização da recomposição


• Revisar os processos de recomposição do SIN, incluindo a identificação de reatores
adicionais com o objetivo de facilitar e flexibilizar o processo;
• Propor a instalação de dispositivos de Black-start em usinas do SIN e estabelecer ro-
tinas de testes periódicos para a comprovação de sua eficácia;
• Identificar as subestações que devem ser necessariamente assistidas, com operador
local, para que não seja comprometido o processo de recomposição, no caso de falhas
de telecomando ou de automatismo que podem ocorrer nas subestações desassistidas;
• Identificar as subestações estratégicas que devem ser sujeitas a um plano de manuten-
ção diferenciado;
• Desenvolver programas de treinamento e qualificação para operadores e despachantes.

O Plano de Segurança para o SIN, implementado pelo ONS, é o principal processo para o
aumento da segurança operativa do sistema.
O conjunto de ações de segurança desenvolvidas para cada uma das vertentes desse plano
é aberto, podendo ser ampliado em função do dinamismo da evolução do sistema elétrico.

2.2 – Planejamento da expansão e operação do Sistema Interligado Nacional

O negócio de transmissão no Brasil é baseado em uma combinação de ações centralizadas


e competição. O planejamento da expansão da transmissão é centralizado e realizado pelo
Ministério de Minas e Energia (MME) por meio de seu braço técnico – a Empresa de Pesqui-
sa Energética (EPE). Os estágios de planejamento da operação e operação em tempo real são
centralizados e realizados pelo ONS. Para garantir o acesso aberto e a otimização energética
e das novas fontes renováveis, o sistema de transmissão não é operado por seus proprietários,
mas pelo ONS, responsável por sua operação, controle e supervisão centralizados conforme
já foi mencionado.
A competição está na propriedade dos ativos de transmissão, que é cada vez mais diluí-
da, desde um único proprietário de linha até grandes empresas de transmissão regionais. Os
proprietários dos ativos da transmissão não têm a responsabilidade de fornecimento nem de
operação, apenas a responsabilidade sobre a disponibilidade do ativo. Os novos empreen-
dimentos de Transmissão indicados pela EPE/ONS são leiloados pela Agência Nacional de
Energia Elétrica (ANEEL) que vem promovendo leilões de linhas de transmissão desde 1999.
Os licitantes devem financiar, construir e manter a nova instalação. O vencedor se torna pro-
prietário do ativo de transmissão e recebe um pagamento mensal correspondente ao aluguel
anual definido no leilão.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   33 

2.2.1 – Planejamento da expansão do sistema interligado nacional


O planejamento tem como foco principal a busca pela expansão do sistema em termos de
capacidade de atendimento ao mercado, focada no equilíbrio das questões técnicas, econômi-
cas e ambientais, incentivando novas tecnologias, mas buscando o custo mínimo e os menores
impactos ao meio ambiente.
O sistema brasileiro, como mencionado, é termo renovável, englobando tanto os recursos
renováveis (hidráulico, eólico, biomassa e solar) quanto termelétricos. No entanto, o parque
gerador nacional ainda é preponderantemente hidrelétrico e de grande porte, envolvendo in-
tercâmbios expressivos de energia entre as diversas regiões do País, que demanda um trata-
mento especial às interligações, que têm um papel fundamental no processo de otimização dos
recursos renováveis.
O planejamento do setor elétrico é conduzido por estudos com horizontes de longo pra-
zo, considerando também a identificação de novos potenciais. Para a transmissão de grandes
blocos de energia a longa distância, torna-se necessário o desenvolvimento e a maturação
de novas tecnologias de produção e transmissão. Isso pode exigir intervalos longos (de 15 a
20 anos) entre as primeiras decisões e o aumento efetivo da capacidade de atendimento do
sistema.
A expansão da transmissão deve ser estabelecida de forma robusta o suficiente para que os
agentes de mercado e de geração tenham acesso à rede, possibilitando um ambiente propício
para a competição na geração e na comercialização de energia elétrica. A transmissão desem-
penha ainda o papel de interligação entre as bacias hidráulicas e regiões com características
hidrológicas heterogêneas, permitindo aperfeiçoar o uso da água e dos novos recursos renová-
veis, compartilhando os recursos energéticos e equalizando os preços da energia.
O desenvolvimento dos estudos de planejamento da transmissão considera a inclusão da
variável socioambiental de modo sistemático nas diversas etapas da análise, subsidiando a
formulação das alternativas da expansão do sistema eletroenergético e a tomada de decisões.

2.2.1.1 – Horizontes de planejamento da expansão


Os estudos de planejamento iniciam-se com o estabelecimento de cenários para orienta-
ção da expansão, por meio da indicação de rotas de transmissão e da necessidade de investir
em novas tecnologias no setor. Os cenários são carregados de incertezas e, por isso, normal-
mente define-se mais de um cenário de transmissão para diferentes as premissas adotadas. O
estabelecimento de cenários alcança um horizonte de 20 a 30 anos, em que se procura analisar
a composição futura do parque gerador, os principais troncos e sistema de transmissão.
De maneira geral, no que concerne ao planejamento de um sistema elétrico, distinguem-se
os horizontes de planejamento descritos a seguir.

ASPECTOS DE SEGURANÇA_ONS_2.indd 33 12/05/20 14:37


34    Conceitos Básicos

a) Estudos de longo prazo


O planejamento de longo prazo identifica linhas de transmissão, subestações e injeções
de potência necessárias, mas com um caráter referencial, isto é, sem a preocupação da defi-
nição, dentro de um conjunto de várias alternativas, do plano a ser efetivamente implantado.
Com um horizonte de 15 a 20 anos, os condicionantes para esses estudos são a evolução do
mercado, a disponibilidade de fontes energéticas para geração, as tendências de evolução tec-
nológica, e os impactos ambientais dos projetos.

b) Estudos de médio prazo


No planejamento da expansão de médio prazo, as obras são definidas a partir de compa-
rações de alternativas e avaliações de mínimo custo nos chamados relatórios R1. Os diversos
estudos de planejamento (R1) são reunidos anualmente em um produto com o horizonte de 10
anos denominado Plano Decenal da Expansão da Transmissão que é parte do Plano Decenal
de Energia (PDE), em que são identificados os empreendimentos e sua alocação temporal,
sendo realizadas as análises das condições de suprimento ao mercado e calculados os custos
marginais de expansão.
Nos estudos de médio prazo, são utilizados modelos mais elaborados quanto à represen-
tação dos elementos do sistema (fluxo de potência CA, estabilidade dinâmica e curto-circuito
etc.) sendo mais detalhada a análise elétrica do sistema.

c) Estudos de curto prazo


O planejamento da expansão de curto prazo implica um detalhamento maior dos estudos
de engenharia da alternativa vencedora da etapa anterior (R1). Nesta fase dos estudos é dado
um foco nos equipamentos e são elaborados os relatórios chamados R2, a fim de identificar,
de forma mais precisa, a viabilidade das obras tanto sob o aspecto técnico (R2) como sócio
ambiental (R3). Além disso, são incorporadas, nesse horizonte, informações atualizadas do
sistema e dos que a ela têm acesso, que complementam a expansão com a necessidade de re-
formas, melhorias e adequações do sistema existente (Relatórios R4).
Nesta etapa de curto prazo para a expansão é feita a “passagem de bastão” para o ONS
quando se iniciam os estudos de planejamento da operação de médio prazo. Os principais
produtos são o Programa de Expansão da Transmissão (PET), elaborado pela EPE, o Plano de
Ampliações e Reforços na rede básica (PAR) e os relatórios de detalhamento dos empreendi-
mentos, que irão subsidiar os respectivos processos licitatórios (R2, R3 e R4).
O PAR, com horizonte de cinco anos, é elaborado anualmente pelo ONS dentro da cadeia
de estudos do planejamento da operação de médio prazo.
No planejamento de curto prazo da expansão, são utilizados os mesmos modelos de aná-
lise empregados nos estudos de médio prazo além de estudos de transitório eletromagnético,

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   35 

quando necessário, para a alternativa recomendada. São, portanto, considerados modelos mais
representativos de carga e equipamentos.

2.2.1.2 – Critérios de planejamento da expansão


Os critérios de dimensionamento do sistema de transmissão remontam à década de 1980,
tendo como base o chamado critério de contingência simples ou n-1. Os estudos de expan-
são seguem o documento do Comitê de Coordenação do Planejamento Energético/Comitê de
Estudos de Planejamento da Transmissão (CCPE/CTET) de janeiro de 2001 – “Critérios e
procedimentos para o planejamento da expansão dos sistemas de transmissão”.
As decisões de planejamento são tomadas de forma a atender critérios determinísticos
pré-estabelecidos quanto ao desempenho do sistema, seja ele existente ou futuro.
O nível de confiabilidade (ou de redundância) do sistema é determinado a priori, isto é,
a capacidade do sistema de suportar determinadas contingências é pré-fixada e as decisões
de planejamento são tomadas de forma a atender essas contingências, sem a necessidade de
cortes de carga ou de geração, reconfiguração da rede e mudança de tapes de transformadores
(exceto aqueles dotados de comutação sob carga, LTC).
O critério adotado pela EPE é o chamado Critério (n-1). Nesse critério de planejamento,
o sistema deve operar, para qualquer cenário possível de geração ou carga, sem violações ou
necessidade de intervenções do operador quando ocorrer o desligamento não programado,
não simultâneo, de qualquer elemento do sistema, incluindo qualquer gerador, transforma-
dor, linha de transmissão, elementos de compensação de potência reativa ou polo de corrente
contínua.
O atendimento ao Critério n-1 implica que:
• As tensões pós-desligamento devem estar dentro dos limites especificados;
• Não deve ocorrer corte de carga;
• Todos os equipamentos devem operar dentro de seus limites de sobrecarga;
• Os níveis de curto-circuito devem estar dentro das capacidades dos equipamentos
existentes no sistema;
• A frequência do sistema deve estar dentro da faixa especificada;
• Durante o período transitório não deve haver atuação de proteção de equipamentos
importantes (transformadores, geradores, compensadores ou qualquer outro dispositi-
vo de compensação de potência reativa) da Rede Básica que não tenham sido direta-
mente envolvidos no distúrbio;
• Não deverá ocorrer instabilidade eletromecânica ou de tensão em nenhuma parte do
sistema;
• O novo ponto de operação deve ser estável (sob o ponto de vista de estabilidade a
pequenas perturbações).

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36    Conceitos Básicos

2.2.1.3 – Principais estudos elétricos


O processo de planejamento da transmissão envolve uma gama muito variada de estudos
elétricos, listados a seguir, dependendo se está na fase de concepção da alternativa ou deta-
lhamento dos diversos equipamentos que serão indicados para compor o conjunto de obras a
ser licitado.
• Fluxo de potência;
• Energização em regime permanente;
• Estabilidade eletromecânica;
• Curto-circuito;
• Transitórios eletromagnéticos.

2.2.1.4 – Desenvolvimento dos estudos


De uma maneira geral, os estudos desenvolvem-se em uma sequência bastante encadeada,
da qual se destacam as seguintes fases:
• Preparação dos dados e do diagnóstico do sistema;
• Formulação de alternativas;
• Avaliação de desempenho técnico das alternativas;
• Avaliação econômica;
• Estudos ambientais preliminares;
• Comparação de alternativas e escolha da solução.

A partir do Plano de Expansão selecionado, ele será detalhado nos relatórios R2, R3 e R4.
A figura 2.2.1.4-1 mostra um fluxograma simplificado de um estudo de análise de alterna-
tivas que compõe os relatórios R1.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   37 

Figura 2.2.1.4-1 – Fluxograma simplificado da sequência dos estudos de planejamento – R1

2.2.1.5 – Planejamento das interligações


Em sistemas elétricos com predominância hidráulica, como é o caso do sistema brasileiro,
o problema fundamental é a produção de energia para atendimento aos requisitos de mercado,
mesmo nos períodos hidrologicamente desfavoráveis. Nesses sistemas, as disponibilidades
energéticas são função, basicamente, das vazões afluentes a cada usina e do grau de regulari-
zação proporcionado pelos seus reservatórios. Como as afluências, por sua natureza, são esto-
cásticas, resulta que as disponibilidades energéticas e, por consequência, o balanço energético
de cada subsistema e os fluxos de intercâmbio decorrentes são grandezas aleatórias.
O mercado de energia do Brasil adotou um modelo de preços por zonas ou mercados/
regiões em que o sistema é dividido em quatro zonas ou sub-regiões correspondentes às re-
giões geográficas – Sul, Sudeste + Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Essas sub-regiões foram
determinadas principalmente por grandes restrições estruturais de transmissão. A Câmara de
Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) estabelece os preços semanalmente para cada
sub-região que pode variar devido a restrições de interconexão e condições hidrológicas desi-
guais. Portanto, as interligações entre as regiões são o grande equalizador do preço da energia.

ASPECTOS DE SEGURANÇA_ONS_2.indd 37 12/05/20 14:37


38    Conceitos Básicos

O processo de dimensionamento dos elos de interligação entre as regiões inicia-se pela


etapa de planejamento de médio e longo prazos, em que tais interligações são estabelecidas
conjuntamente com os blocos de usinas hidrelétricas, termelétricas e as novas fontes renová-
veis que compõem o plano de expansão da geração.
Como a filosofia adotada no planejamento da expansão da geração procura aperfeiçoar,
em termos globais, cada alternativa de expansão, já está implicitamente incorporado um nível
de intercâmbio energético entre as diversas regiões consideradas no planejamento. Logo, o
correto dimensionamento dos elos de interligação entre os subsistemas requer a análise de
aspectos energéticos, elétricos e econômicos, por meio da interação coordenada das equipes
de planejamento energético e elétrico.
Como resultado dos estudos de dimensionamento energético das interligações, devem
emergir os níveis e sentidos esperados de transferência de energia entre os subsistemas in-
terligados, bem como os benefícios energéticos associados. Os estudos elétricos permitem
definir, além dos limites de transferência de energia ditados por considerações de segurança
dos equipamentos e instalações do sistema elétrico, os custos totais e incrementais associados
à implementação de diversos níveis de capacidade de transferência entre os subsistemas inter-
ligados. Nessa etapa, tem início um processo de síntese de configurações alternativas para a
rede de interligação, das quais as mais promissoras serão analisadas técnica e economicamen-
te, devendo resultar daí uma ou mais alternativas de reforço da rede de interligação.

2.2.2 – Planejamento da operação do Sistema Interligado Nacional


Para cumprir as atribuições de execução do planejamento e da programação da operação
elétrica, bem como do despacho centralizado da geração do Sistema Interligado Nacional –
SIN, o Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS realiza uma cadeia de estudos elétricos
no sentido de preservar a segurança operativa do SIN e promover a otimização da operação
do sistema eletroenergético buscando o menor custo para a sua operação.
A cadeia de estudos do planejamento da operação envolve estudos elétricos da rede simi-
lares aos realizados no planejamento da expansão, envolvendo análise de adequação e segu-
rança da rede através estudos de fluxo de potência e estabilidade. As diferenças são os crité-
rios, as recomendações e os detalhes envolvidos.
Com relação aos detalhes, quanto menor é o horizonte do estudo, menor o grau de incer-
tezas, portanto, o nível de detalhes pode ser maior.
Com relação às recomendações, os estudos de expansão definem novos equipamentos,
fazendo, portanto, comparação de alternativas envolvendo ainda uma análise econômica. Já
os estudos de planejamento da operação devem recomendar um conjunto de medidas (geração
térmica, Sistemas Especiais de Proteção - SEP) e/ou limites para que o sistema disponível
opere conforme os critérios do Procedimento de Rede. Nos estudos de médio prazo, caso haja
tempo hábil, pode-se recomendar a antecipação de uma obra recomendada nos estudos de
expansão.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   39 

Outra diferença é o conjunto de critérios que geram os dois tipos de estudo. Como já men-
cionado, os estudos de expansão seguem o documento do CCPE/CTET de janeiro de 2001 –
“Critérios e Procedimentos para o Planejamento da Expansão dos Sistemas de Transmissão”,
enquanto que a cadeia de estudos do planejamento da operação é realizada em conformidade
com os Procedimentos de Rede. Embora na essência os dois recomendem o chamado crité-
rio n-1, existem algumas diferenças principalmente na consideração de circuitos que correm
na mesma torre, como bipolos de corrente contínua e circuitos duplos. Além do fato de que
estudos operativos de curto prazo podem contar com a utilização de Sistemas Especiais de
Proteção, até mesmo para contingências simples, para aumentar limites.

2.2.2.1 – Horizontes de estudo de planejamento e programação da operação


A cadeia de estudos de Planejamento Elétrico do Sistema Interligado Nacional é um pro-
cesso composto por quatro estudos. Dois deles, de médio prazo, são consubstanciados pelo
Plano de Ampliações e Reforços (PAR) e pelo Plano de Operação Elétrica (PEL) compondo
uma visão no horizonte de cinco anos à frente, a partir de janeiro do ano subsequente à sua
edição.
Os outros dois estudos, de curto prazo, são consubstanciados pelos estudos de Diretri-
zes para Operação Elétrica, sendo um com Horizonte Quadrimestral e outro com Horizonte
Mensal.
Esta cadeia de estudos é realizada de forma sequencial possibilitando que os resultados
gerados por um determinado estudo sejam considerados nos estudos subsequentes, manten-
do-se um acompanhamento das recomendações indicadas em cada estudo, à medida que o
sistema evolui em carga e configuração.
No horizonte de programação da operação são realizados os estudos de:
• Diretrizes eletroenergéticas para a Rede Básica Incompleta
• Programação de Intervenções em Instalações da Rede de Operação

Os estudos para a programação de intervenções colhem subsídios oriundos das diretrizes


estabelecidas nos relatórios com horizonte quadrimestral e mensal e nas diretrizes eletroener-
géticas que consideram a rede incompleta.
Também no âmbito do planejamento e da programação da operação, são desenvolvidos
Estudos Pré-operacionais para a integração de novas instalações à Rede de Operação, incluin-
do a fase de comissionamento, para respaldar o período inicial de operação da nova instalação.

2.2.2.2 – Principais estudos de planejamento da operação


A seguir são descritos os principais estudos de planejamento da operação acima
apresentados.

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40    Conceitos Básicos

a) Estudos de planejamento da operação de médio prazo – PAR/PEL


O Planejamento da Operação de Médio Prazo do SIN é um processo, que tem ciclo anual,
composto por estudos elétricos e energéticos com horizonte de cinco anos. O ciclo elétrico é
composto pelo Plano da Operação Elétrica – PEL e o Plano de Ampliação e Reforços – PAR.
O ciclo energético é consubstanciado no Plano da Operação Energética – PEN.
O Plano da Operação Elétrica de Médio Prazo avalia o desempenho do SIN no período de
janeiro do ano subsequente a dezembro do quinto ano. As análises são realizadas em confor-
midade com os critérios e padrões estabelecidos nos Procedimentos de Rede.
Nos dois primeiros anos do ciclo elétrico, que correspondem ao horizonte de abrangência
do PEL, dada a sua característica operativa, o foco das análises consiste em apontar soluções/
medidas tais como: a necessidade de instalação de SEP, alterações na configuração da rede ou
o despacho de geração térmica de forma a operar o SIN atendendo aos critérios de segurança
e de confiabilidade.
No que se refere aos três últimos anos do ciclo elétrico, que correspondem ao horizonte
de abrangência do PAR, a análise é voltada à adequação do cronograma de obras, ou seja,
identificar quais reforços que, já previstos pela EPE, poderiam ser antecipados ou até mesmo
recomendar à EPE a definição de uma solução estrutural.
Os estudos são desenvolvidos visando a avaliar, principalmente, o desempenho das inter-
ligações regionais, a necessidade de geração térmica decorrente de restrições na transmissão
e o atendimento às áreas elétricas do SIN.

b) Estudos de planejamento da operação de curto prazo – quadrimestrais e mensais


Para elaboração dos estudos de operação elétrica com horizonte quadrimestral são reali-
zadas avaliações do desempenho elétrico do SIN, tanto em condições normais como em situa-
ções de contingências, tendo como base os programas de obras de transmissão e geração com
as datas atualizadas pelo Departamento de Monitoramento do Setor Elétrico – DMSE, bem
como as previsões de carga informadas pelos Agentes e consolidadas pelo ONS.
Nesse sentido, os principais objetivos do estudo são:
• Indicar as medidas operativas necessárias para garantir o atendimento aos padrões e
critérios preconizados nos Procedimentos de Rede;
• Apresentar os limites de transmissão nas Interligações Regionais;
• Indicar os montantes de geração térmica mínima necessária para assegurar operação
dentro dos padrões estabelecidos;
• Avaliar o efeito no desempenho do SIN da entrada em operação das obras previstas para
o horizonte, bem como os reflexos de possíveis atrasos nos respectivos cronogramas;
• Identificar a necessidade de revisão/implantação de SEP para garantir a operação se-
gura do SIN;

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   41 

• Subsidiar a elaboração das instruções de operação utilizadas pelo ONS para o cumpri-
mento de suas atribuições de coordenação e operação do SIN; e
• Subsidiar o estudo de Diretrizes para Operação Elétrica do Horizonte Mensal.

Os estudos com horizonte mensal atualizam as diretrizes para a operação elétrica de ho-
rizonte quadrimestral por meio da reavaliação do desempenho da operação elétrica do SIN.
Com as novas previsões para implantação das obras de transmissão e/ou geração, cronograma
de manutenção de equipamentos, diretrizes energéticas e a evolução da carga, são determina-
das estratégias para a operação do SIN, visando preservar a sua segurança elétrica. Os princi-
pais objetivos são:
• Reavaliação dos limites de transmissão entre regiões do SIN.
• Avaliação do desempenho das áreas geoelétricas do sistema, com enfoque:
◊ Na operação em condições normais e sob contingências;
◊ Na definição de medidas operativas para controle de carregamento e tensão,
a fim de garantir a operação nos padrões e critérios definidos nos Procedi-
mentos de Rede;
◊ Na reavaliação das ações a serem adotadas quando de descompasso entre as
necessidades do SIN e a entrada em operação de reforços;
• Detalhamento dos despachos de geração térmica para atendimento da segurança
elétrica;
• Reavaliação dos SEP existentes;
• Análise do desempenho das interligações internacionais; e
• Análise do desempenho da operação do SIN considerando o atendimento ao despacho
mínimo das usinas informado pelos agentes de operação.

c) Estudos no horizonte de programação


Os estudos de programação da operação para o dia seguinte têm os seguintes objetivos:
• Definir as diretrizes operativas para o controle de tensão do sistema;
• Estabelecer limites seguros de transmissão, sob o aspecto de regime permanente e
dinâmico, entre as áreas afetadas pelo desligamento, bem como os fatores que influen-
ciam esses limites;
• Estabelecer os valores limites de transmissão entre regiões ou áreas geoelétricas em
casos especiais, para atender a uma indisponibilidade de longa duração de algum equi-
pamento do SIN;
• Avaliar a necessidade de geração térmica fora da ordem de mérito ou de limitação do
despacho de usinas decorrente de restrições de transmissão;
• Avaliar a necessidade de alteração da topologia da rede durante uma intervenção;

ASPECTOS DE SEGURANÇA_ONS_2.indd 41 12/05/20 14:37


42    Conceitos Básicos

• Avaliar a necessidade de alteração da configuração de subestações, para evitar sobre-


cargas em equipamentos ou problemas de controle de tensão, em regime normal, ou
para minimizar os efeitos de perturbações durante as intervenções;
• Avaliar a necessidade de restrição dos despachos das usinas para eliminar o risco de
eventuais contingências que acarretam perda de carga ou que tenham repercussões de
caráter sistêmico;
• Avaliar a necessidade de modificar, ativar ou desativar SEP ou ECE durante a
intervenção;
• Avaliar a necessidade e a quantificação do corte de carga para evitar níveis de tensão
críticos e/ou carregamentos acima dos valores admissíveis, bem como a definição dos
pontos em que o corte de carga pode ser mais efetivo, tanto em regime normal quanto
em contingência;
• Avaliar a necessidade de manobras no sistema que adequem a configuração para aten-
der à solicitação de intervenção (liberação e normalização);
• Estabelecer as condições para manobras de recomposição;
• Estabelecer as diretrizes para a elaboração de instruções de operação com as medidas
necessárias a uma operação segura do SIN para a Rede Básica incompleta; e
• Avaliar os riscos relacionados a cada configuração de Rede Básica incompleta
analisada.

d) Estudos pré-operacionais para a integração de novas instalações à rede de operação


Os estudos pré-operacionais têm os seguintes objetivos:
• Analisar o desempenho elétrico do sistema com a entrada da nova instalação;
• Definir novos Sistemas Especiais de Proteção – SEP ou propor o reajuste dos SEP
existentes;
• Definir alterações de estrutura ou reajustes em equipamentos de controle sistêmico;
• Definir novas proteções sistêmicas ou reajuste nas existentes;
• Estabelecer as diretrizes para elaboração de instruções de operação;
• Identificar eventuais restrições operativas, sob a ótica dos estudos pré-operacionais;
• Estabelecer diretrizes para recomposição do sistema;
• Estabelecer diretrizes para fechamento de paralelo, fechamento de anéis e religamento
automático de novas linhas de transmissão;
• Estabelecer diretrizes para a energização ou desenergização da nova instalação.

Para o atendimento a esses objetivos, são desenvolvidos nos estudos pré-operacionais os


seguintes estudos:

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   43 

• Estudos de regime permanente;


• Estudos de estabilidade eletromecânica (limites de transmissão, fechamento de parale-
lo, fechamento de anéis e religamento automático de linhas de transmissão);
• Estudos de transitórios eletromagnéticos;
• Estudos de curto-circuito;
• Verificação da conformidade de controles sistêmicos;
• Verificação da conformidade das proteções sistêmicas;
• Verificação da conformidade de SEP existentes ou implantação de novos SEP;
• Diagnóstico dos sistemas de proteção e controle local das instalações;
• Estudos de otimização de controladores;
• Estudos de recomposição do sistema;
• Estudos do controle carga-frequência; e
• Validação de dados e modelos de componentes para estudos elétricos.

2.2.2.3 – Critérios de planejamento da operação


Nos estudos de planejamento e programação da operação o objetivo é avaliar o desempe-
nho do sistema para as condições de carga, geração e configuração previstas para o horizonte
do estudo.
O desempenho do sistema deve ser tal que não haja violação dos critérios estabelecidos
nos Procedimentos de Rede e a consequente necessidade de corte de carga provocada pela
ocorrência de contingências simples (critério n-1) em todas as situações de carga e cenário de
geração previstos.
Para a definição das contingências múltiplas a serem analisadas, também devem ser ado-
tados os critérios estabelecidos nos Procedimentos de Rede:
• Perda simultânea de dois polos de um mesmo bipolo de corrente contínua;
• Circuitos que compartilham a mesma torre de transmissão;
• Circuitos que compartilham a mesma faixa de passagem;
• Circuitos que atravessam regiões nas quais há ocorrência de fenômenos naturais e/ou
queimadas;
• Contingências que tenham repercussão em regiões, estados, capitais ou polos
industriais.

No caso de ocorrência de contingências duplas é aceitável o corte controlado de carga,


pela ação automática de Esquema Regional de Alívio de Carga (ERAC), para evitar risco de
instabilidade de potência, frequência ou tensão em uma região, estado ou capital, com conse-
quente corte descontrolado de carga.

ASPECTOS DE SEGURANÇA_ONS_2.indd 43 12/05/20 14:37


44    Conceitos Básicos

Para as contingências duplas, que levem apenas a risco de sobrecargas acima dos limites
de emergência e subtensões inadmissíveis com impactos localizados, deverão ser definidas
medidas operativas ou avaliada a adoção de Sistemas Especiais de Proteção – SEP no âmbito
dos estudos de planejamento da operação elétrica, de modo a minimizar as consequências
dessas contingências.
Um sistema adequadamente planejado deve ser capaz de suportar contingências simples (cri-
tério n–1) sem perda de carga. No entanto, contingências múltiplas ou fatores conjunturais como o
atraso na implantação do sistema planejado, etapas intermediárias de evolução da rede de transmis-
são ou condições operativas críticas motivadas por situações atípicas de configuração e/ou geração,
podem expor o sistema ao risco de instabilidade de potência, frequência ou tensão com a conse-
quente perda descontrolada de carga. Para evitá-la, os estudos de planejamento e de programação
da operação podem determinar a utilização de recursos tais como o despacho de geração térmica,
restrição de intercâmbios, alteração de topologia da rede (no caso de separação do sistema em ilhas,
os subsistemas que resultem dessas aberturas deverão se manter estáveis) ou a implantação de SEP.
Deste modo, Sistemas Especiais de Proteção podem ser originados nas avaliações desen-
volvidas nos estudos de planejamento da operação ou mesmo nos estudos pré-operacionais
para a integração de novas instalações ao sistema interligado, no sentido de:
• Permitir a máxima exploração em condições seguras dos sistemas de geração, trans-
missão e distribuição de energia elétrica;
• Proporcionar maior confiabilidade e segurança elétrica operacional ao SIN;
• Fazer face a contingências simples no sistema em situações conjunturais de eventuais
atrasos de obras, até que as soluções estruturais sejam implementadas;
• Fazer face a contingências múltiplas de linhas de transmissão, de modo a evitar que
o sistema seja levado à perda de estabilidade ou colapso de tensão, reduzindo assim a
possibilidade de ocorrência de perturbações de grande porte ou restringindo a área de
abrangência dessas perturbações.

Nos estudos de planejamento de curto prazo e programação da operação elétrica podem


ainda ser consideradas contingências múltiplas em situações conjunturais. Essas situações são
caracterizadas por eventos, acontecimentos e/ou datas comemorativas de grande repercussão
pública, de abrangência nacional, regional ou local, e situações especiais do próprio SIN,
conforme Resolução CMSE3 nº 001, de 25 de janeiro de 2005, e regulamentação sucedânea.
Para contingências múltiplas que levem apenas a risco de sobrecargas e subtensões inad-
missíveis com impactos localizados, os estudos de planejamento e programação da operação
poderão definir medidas operativas como alternativa à implantação de SEP, de modo a mini-
mizar as consequências dessas contingências.
Em situações excepcionais, devidamente fundamentadas em análise técnica e previamen-
te submetidas ao Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico – CMSE, tais como o período
de comissionamento e início de operação de novas instalações e equipamentos ou quando

ASPECTOS DE SEGURANÇA_ONS_2.indd 44 12/05/20 14:37


Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   45 

de ocorrência de perturbações de grande porte ou desligamentos intempestivos reincidentes,


que tenham levado a corte de carga, até que sejam identificadas e solucionadas as causas das
perturbações, poderão ser adotados critérios mais restritivos, que procurem preservar a conti-
nuidade do atendimento à carga para contingências duplas e, eventualmente, múltiplas.
Por outro lado, em situações excepcionais, depois de esgotados todos os recursos dispo-
níveis, poderão ser utilizados critérios de desempenho e segurança menos restritivos, também
devidamente fundamentados em análise técnica ou técnico-econômica e previamente sub-
metidos ao Comitê de Monitoramento do Sistema Elétrico – CMSE e à Agência Nacional de
Energia Elétrica – ANEEL, como:
• Cenários energéticos desfavoráveis, conforme avaliações eletroenergéticas conduzi-
das pelo ONS no âmbito do planejamento da operação energética;
• Restrições do sistema de transmissão, como aqueles decorrentes de topologia incom-
pleta, em especial relacionadas à integração de sistemas elétricos isolados ao SIN;
• Atendimento a cargas por meio de sistemas de transmissão radiais singelos ou de um
único transformador;
• Situações conjunturais decorrentes de indisponibilidades de grandes troncos de
transmissão.

Os estudos de planejamento e programação da operação elétrica e os estudos pré-opera-


cionais definem as faixas operativas mais adequadas de tensão (diretrizes operativas), obser-
vando os limites da tabela 2.2.2.3-1 (ONS, 2018) e respeitando eventuais limitações específi-
cas informadas pelos agentes.
Tabela 2.2.2.3-1 – Faixas operativas de tensão
Tensão nominal de Condição operativa normal Condição operativa de emergência
operação(1)
(kV) (kV) (pu)(2) (kV) (pu)(2)
< 230 - 0,95 a 1,05 - 0,90 a 1,05
230 218 a 242 0,95 a 1,05 207 a 242 0,90 a 1,05
345 328 a 362 0,95 a 1,05 311 a 362 0,90 a 1,05
440 418 a 460 0,95 a 1,046 396 a 460 0,90 a 1,046
500 500 a 550 1,00 a 1,10 475 a 550 0,95 a 1,10
525 500 a 550 0,95 a 1,05 475 a 550 0,90 a 1,05
765 690 a 800 0,90 a 1,046 690 a 800 0,90 a 1,046
1) Valor eficaz de tensão pelo qual o sistema é designado
2) Valores em pu tendo como base a tensão nominal de operação

Em situações particulares nas quais haja esgotamento dos recursos de controle de ten-
são disponíveis, o nível de tensão pode situar-se fora das faixas acima estabelecidas, desde
que sejam respeitadas as limitações específicas dos equipamentos, não resultem em riscos de

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46    Conceitos Básicos

atendimento às cargas e haja anuência do agente de transmissão envolvido. Especial atenção


é dada à ultrapassagem dos limites superiores das faixas em decorrência da possibilidade de
dano aos equipamentos.
Os limites de tensão em barras da Rede Básica associadas aos acessos de agentes de distri-
buição ou de consumidores podem ser ajustados para atender às necessidades desses agentes,
desde que não seja afetado o desempenho do SIN, sejam respeitadas as limitações específicas
dos equipamentos e haja anuência do agente de transmissão envolvido. Do mesmo modo,
especial atenção é dada à ultrapassagem dos limites superiores das faixas em decorrência da
possibilidade de dano aos equipamentos.
Quanto aos limites de carregamento das linhas de transmissão, transformadores e auto-
transformadores existentes são considerados aqueles estabelecidos nos Contratos de Prestação
de Serviços de Transmissão – CPST, ou limites operativos flexibilizados pelos agentes pro-
prietários em condições particulares.
Para novas linhas de transmissão, transformadores e autotransformadores incorporados
ao SIN, são utilizados os limites de carregamento definidos no processo de outorga. Na falta
desses valores, são adotados valores indicativos de capacidade operativa de longa e de curta
duração, definidos a partir da metodologia estabelecida pela Resolução Normativa ANEEL nº
191, de 12 de dezembro de 2005.
Nos estudos de estabilidade eletromecânica, os tempos de isolamento dos defeitos são
obtidos com base nos tempos de manobra de elementos que dependem do arranjo físico da
subestação e do tempo de atuação da própria proteção.
A tabela 2.2.2.3-2 (ONS, 2018) apresenta os tempos indicativos de isolamento de defeitos.
Estes valores só são utilizados quando não há informações disponíveis nos bancos de dados ou
quando não são fornecidos pelos agentes. Quando há necessidade de elaborar estudos especí-
ficos, são solicitados aos agentes os dados de tempo de eliminação de defeitos.
Tabela 2.2.2.3-2 – Tempos indicativos de eliminação de defeitos
Tempo de eliminação (milissegundos)
Tensão nominal de operação (1) (kV)
(operação dos relés+abertura do disjuntos)
Sem falha do disjuntor Com falha do disjuntor
765 80 200
525 e 500 100 250
440 100 250
345 100 400
230 150 500
138 150 500
138(2) 450 750
88(2) 450 750
69(2) 800 1000
1) Valor eficaz de tensão pelo qual o sistema é designado
2) Sem teleproteção

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   47 

2.2.2.4 – Interligações entre os subsistemas


Assim como no planejamento da expansão, as Interligações têm um tratamento diferen-
ciado nos processos de planejamento de operação nos quais os limites de intercâmbio entre as
regiões constituem em informações importantes para os programas de otimização energética,
que são responsáveis pelo cálculo do Custo Marginal de Operação/Preço de Liquidação das
Diferenças (CMO/PLD). Esses valores limites representam os máximos intercâmbios de ener-
gia entre os subsistemas, atendendo aos critérios de segurança e qualidade preconizadas pelos
Procedimentos de Rede, para prover o atendimento ao mercado de acordo com os recursos de
geração disponíveis.
Os limites são definidos buscando-se o valor de máxima transferência de potência entre os
subsistemas, por meio da elevação da geração no subsistema exportador e redução no impor-
tador, e verificando-se o desempenho do sistema quando submetido a contingências simples
ou duplas, de quaisquer instalações do SIN e em qualquer ponto do sistema de transmissão,
conforme preconizado nos Procedimentos de Rede.
Portanto, em todos os horizontes de planejamento da operação, são definidos os limites de
transferência entre os subsistemas.

2.2.2.5 – Considerações sobre os estudos de planejamento da operação


Mesmo se o plano de transmissão ocorresse como planejado, ainda assim teríamos dife-
renças na carga e no plano de geração, em relação àqueles considerados na fase de definição
das alternativas a serem licitadas. Somente essas diferenças já justificam a necessidade de
realização dos estudos de planejamento da operação. Impondo o caráter cíclico, dinâmico e
adaptativo dos diversos horizontes dos estudos de avaliação do desempenho do SIN, desde o
planejamento da expansão até os estudos de horizonte mensal e da programação.
Além disso, a sequência de obras indicadas na fase de planejamento da expansão nunca
é rigorosamente observada. Portanto, apesar de todos os horizontes de estudos analisados,
pode-se vivenciar um estudo quadrimestral, no final da cadeia, com uma configuração do
SIN não analisada nos estudos anteriores. Esta é a principal razão da eventual necessidade de
adoção de SEP e de despachos de geração térmica por motivos elétricos na fase dos estudos
de planejamento da operação.
A figura 2.2.2.5-1 mostra a sequência de estudos desde a concepção de cenários futuros
até os estudos mensais, mostrando todos os produtos envolvidos em cada etapa, destacando a
fronteira dos estudos de expansão para a operação.

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48    Conceitos Básicos

Figura 2.2.2.5-1 – Horizontes de estudos de planejamento da expansão e da operação

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3
SISTEMAS DE PROTEÇÃO

Em um sistema elétrico, a todo instante ações de controle automáticas ou manuais são to-
madas com o objetivo de mantê-lo estável, com equilíbrio de carga e geração e sem violações
de limites de suportabilidade de equipamentos.
Entretanto, todo sistema elétrico de potência está sujeito a defeitos ou falhas que o levam
a condições anormais de operação extremamente graves, e que podem se propagar tomando
grandes proporções na rede interligada. Desta forma, se esses problemas não forem identifica-
dos e controlados a tempo as consequências podem gerar danos, desgastes de equipamentos,
blecautes ou até risco de vida. Sendo assim, os sistemas de proteção têm um papel fundamen-
tal para a segurança do sistema elétrico, devendo promover, de forma rápida e seletiva, ações
de isolamento de equipamentos em falha ou ações coordenadas, para evitar o agravamento da
perturbação ou o controle de fenômenos sistêmicos que podem levar o sistema a um colapso.
A partir disso, é possível concluir que a segurança operativa do SIN requer dispositivos
de controle bastante precisos e confiáveis, porém a última linha de defesa para os sistemas
elétricos de potência são os sistemas de proteção. Também se conclui que para se obter esses
resultados os sistemas de controle e os diversos tipos de sistemas de proteção devem ser pla-
nejados para serem seletivos e coordenados, onde cada um deve desempenhar o seu papel de
forma adequada de acordo com o objetivo da sua função.
Para a operação segura da rede elétrica um conjunto de princípios fundamentais deve
servir de guia na definição dos requisitos de proteção. Estes princípios podem ser divididos
genericamente em duas classes:
• Requisitos funcionais – que definem a funcionalidade esperada; e
• Requisitos técnicos – que caracterizam a qualidade esperada dos sistemas.

Os requisitos funcionais descrevem as funções de proteção, necessárias para proteger os


equipamentos primários contra falhas ou, no caso de SEP e Proteções Sistêmicas, necessárias
para evitar ou mitigar anormalidades no sistema. Os requisitos técnicos definem as exigências
de qualidade das funções especificadas.
Os requisitos funcionais aplicados aos sistemas de proteção de equipamentos impõem
que os mesmos devem ser capazes de detectar e eliminar de forma seletiva todos os tipos de
defeitos no equipamento ao qual ele está associado, além de outras condições anormais de
operação que podem provocar algum dano no mesmo.

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50    Sistemas de proteção

O requisito funcional do SEP é definido na etapa de estudos elétricos, onde é determinada


a contingência que o SEP deve ser capaz de detectar, de forma seletiva com os outros sistemas
de proteção existentes, as condições sistêmicas sob as quais ele deve ser ativado e as respectivas
ações a serem tomadas, com a finalidade de evitar uma condição anormal específica do sistema.
Além da funcionalidade, os sistemas de proteção deverão apresentar requisitos de quali-
dade específicos para cada uma das aplicações previstas, garantindo a previsibilidade de sua
funcionalidade. Estes requisitos podem ser genericamente chamados de requisitos técnicos.
Os principais requisitos técnicos de qualquer sistema de proteção são: sensibilidade, sele-
tividade, velocidade e confiabilidade, conforme mostrado na figura 3-1.
• Sensibilidade: todo sistema de proteção deve ser sensível e capaz de operar nas con-
dições anormais de operação para as quais ele foi concebido.
• Seletividade: todo sistema de proteção deve ser capaz de isolar apenas os elementos
que estão em falta ou os elementos necessários para mitigar a anormalidade para qual
ele foi concebido, garantindo que a menor parte possível do sistema seja desligada.
• Velocidade: todo sistema de proteção deve atuar da forma mais rápida possível, aten-
dendo aos requisitos de tempo para o qual ele foi especificado, evitando danos em
equipamentos e instabilidades sistêmicas.
• Confiabilidade: o conceito de confiabilidade está associado à dependabilidade e à
segurança, sendo dependabilidade a garantia de que o sistema de proteção irá atuar
para a anormalidade para a qual ele foi concebido, e segurança é a garantia de que o
mesmo não irá atuar para as anormalidades no sistema para as quais ele não foi conce-
bido, permitindo desta forma que outros sistemas de proteção, projetados para aquelas
anormalidades, atuem de forma seletiva.

Figura 3-1 – Requisitos técnicos dos sistemas de proteção

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   51 

3.1 – Anormalidades no sistema elétrico de potência

O sistema elétrico de potência está constantemente sujeito a perturbações que causam


distúrbios no seu estado normal. Estas perturbações alteram as grandezas elétricas (corrente,
tensão, frequência), muitas vezes provocando violações operativas. Nestes casos são necessá-
rias ações para sanar ou limitar as consequências dessas perturbações.
As origens dos grandes distúrbios decorrem de uma sequência de eventos que, juntos e
numa determinada ordem de ocorrência, se tornam bastante prejudiciais, levando a graves
consequências. Os mesmos eventos isolados ou combinados em outra sequência não impo-
riam os mesmos riscos, às vezes nenhum risco.
Portanto, para lidar com grandes distúrbios, faz-se necessário:
• Analisar as principais condições do sistema através de simulações de contingências
múltiplas com diferentes perfis de carga e tensão e utilizando, quando possível, medi-
ções em tempo real;
• Identificar as sequências de eventos que podem iniciar uma grande perturbação em
todo o sistema;
• Definir que ações devem ser efetuadas para evitar a propagação e restaurar o sistema
o mais rapidamente possível.

Esse amplo entendimento deve ser adicionado ao conhecimento sobre as ferramentas para
simulações de sistemas de potência e medição em tempo real, bem como sobre ferramentas dis-
poníveis para prevenção, mitigação de expansão e restauração rápida do suprimento de carga.
Deste modo, uma perturbação no sistema se encaixa perfeitamente no modelo de sequên-
cia de eventos para mitigação de distúrbios mostrada na figura 3.1-1 (Filho, et al., 2010).

Figura 3.1. 1 – Fluxo simplificado para mitigação de distúrbios no sistema

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52    Sistemas de proteção

As principais anormalidades do sistema elétrico de potência são a ocorrência de curtos-


-circuitos, que podem originar contingências múltiplas, e os fenômenos que afetam a estabi-
lidade angular, estabilidade de tensão e estabilidade de frequência, além de sobrecargas em
equipamentos. As contingências múltiplas normalmente são causadas pela evolução de um
curto-circuito, ocorrência de curtos-circuitos sequenciais, e por falhas/recusas de sistema de
proteção na eliminação destes eventos.

3.1.1 – Curtos-circuitos
O distúrbio mais comum e severo é o curto-circuito, que ocorre em decorrência de falhas,
como por exemplo, a ruptura da isolação entre as fases ou entre a fase e terra. A magnitude
das correntes de curto-circuito depende de vários fatores, tais como: tipo de curto-circuito
(monofásicos, bifásicos e trifásicos, esses últimos com e sem envolvimento de terra), capa-
cidade do sistema de geração, topologia da rede elétrica, tipo de aterramento do neutro dos
equipamentos, etc.
As causas mais frequentes de curtos-circuitos em sistemas de potência são:
• Descargas atmosféricas;
• Falhas em cadeias de isoladores;
• Fadiga e/ou envelhecimento de materiais;
• Ação de vento, neve e similares;
• Poluição e queimadas;
• Queda de árvores sobre as linhas aéreas;
• Inundações e desmoronamentos;
• Ação de animais em equipamentos do sistema;
• Manobras incorretas.

O curto-circuito se caracteriza por uma elevação abrupta das correntes, podendo atingir
valores extremamente elevados, acompanhada de quedas consideráveis das tensões, trazendo
consequências danosas ao sistema de potência caso não seja eliminado. A corrente de cur-
to-circuito provoca aquecimento podendo danificar isoladores, sendo este dano diretamente
proporcional ao nível da corrente de curto-circuito e a sua duração.
Outro equipamento que sofre desgaste em função deste distúrbio são os transformadores
de potência. A magnitude e a duração das faltas passantes são as principais causas da acelera-
ção do desgaste mecânico e térmico desses equipamentos. Um transformador é exposto a cen-
tenas de faltas passantes durante seu tempo de vida útil, e cada falta passante tem um impacto
negativo na vida do transformador. Para uma corrente de curto-circuito com baixa magnitude,
próxima do nível de sobrecarga do transformador, o estresse térmico é mais significativo do
que o estresse mecânico. Para uma corrente de curto-circuito com alta magnitude, o estresse
mecânico é mais significativo do que o estresse térmico. Portanto, eliminar uma falta passante

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   53 

o mais rapidamente possível é fundamental para manter o transformador saudável, reduzindo


o desgaste térmico e mecânico e aumentando a vida útil do transformador.
O curto-circuito também pode afetar a estabilidade angular transitória do sistema, pois de-
pendendo do tempo de eliminação da falta e das características do sistema, geradores podem
perder o sincronismo agravando a perturbação.
Outro fato relevante é que mudanças na topologia do sistema elétrico, após a retirada dos
equipamentos sob falta, podem resultar em configurações com desequilíbrio entre a geração e
a carga, além de sobrecargas ou violações de tensão provocando algumas condições anormais
de operação que demandarão ações de controle.
Como ilustração, é mostrada na figura 3.1.1-1 a quantidade de desligamentos para falhas
internas nas linhas de transmissão da Rede Básica com tensões de 765 kV, 500 kV, 440 kV,
345 kV e 230 kV, no período de 2014 até 2018 (ONS, 2019).

Figura 3.1.1 1 – Desligamentos em LT da Rede Básica por falhas internas de 2014 a 2018

Deste total de 10.951 desligamentos, podemos então verificar os tipos de falhas internas
nas linhas de transmissão da Rede Básica que mais ocorreram no SIN no período observado,
conforme mostrado na figura 3.1.1-2 (ONS, 2019).

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54    Sistemas de proteção

Figura 3.1.1-2 – Histórico de desligamentos em LT por tipo de falhas – 2014 a 2018

Por este histórico de desligamentos das linhas de transmissão da Rede Básica referente
aos anos de 2014 a 2018, pode-se observar:
• As falhas monofásicas são a expressiva maioria, com a média do percentual de desli-
gamentos se mantendo aproximadamente a mesma ao longo do período de observa-
ção, em cerca de 80%;
• A média do percentual de falhas fase-terra com resistência (7%) é bem próxima do
percentual de falhas bifásicas (7,5%);
• A média das falhas trifásicas corresponde a 1,2 % do total, considerando o período
observado. Porém, a média das falhas trifásicas com envolvimento de terra não chega
a 0,01 % do total neste período de observação;
• Também é bem baixo o percentual de falhas evolutivas, considerando uma média de
0,6% do total de desligamentos verificados nestes quatro anos.

Quanto às causas, a figura 3.1.1-3 (ONS, s.d.) apresenta as principais causas que provo-
caram desligamentos de linhas de transmissão da Rede Básica do SIN no período de 2014 até
2018, sendo “Condições Meteorológicas Adversas” (descarga atmosférica, chuva/temporal,
vento forte, etc.) a principal causa de desligamentos de linhas de transmissão.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   55 

Figura 3.1.1-3 – Principais causas de desligamentos de LT – 2014 até 2018

3.1.2 – Instabilidades dos sistemas de potência


A instabilidade de um sistema de potência caracteriza-se pela perda de sua capacidade de
se manter em um estado de equilíbrio, quando em condições operativas normais, e de alcançar
um estado de equilíbrio após ter sido submetido a uma perturbação (curto-circuito com des-
ligamento de elementos importantes, perda de grandes blocos de carga ou de geração, etc.).
Embora conceitualmente acima caracterizada, diversos fatores como a severidade dos
impactos considerados, a natureza física da instabilidade resultante, o tempo de avaliação e
as características dos elementos e processos envolvidos, levam à necessidade de se classificar
as várias formas de estabilidade de um sistema de potência, conforme apresentado na figura
3.1.2-1 (Kundur, et al.. 2004).

Figura 3.1.2-1 – Classificação das formas de estabilidade

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56    Sistemas de proteção

3.1.2.1 – Estabilidade angular


A instabilidade angular é caracterizada pela perda da capacidade do sistema de potência
em manter o sincronismo de suas unidades geradoras quando da ocorrência de impactos.
A estabilidade angular pode ser classificada em duas categorias: estabilidade angular de
regime permanente e estabilidade angular transitória.

a) Estabilidade angular de regime permanente


Também denominada de estabilidade angular para pequenos impactos ou pequenos sinais,
é a habilidade do sistema de potência em manter o sincronismo de suas unidades geradoras
quando da ocorrência de pequenos impactos, como as variações normais de carga ou geração,
que continuamente ocorrem no sistema. A natureza da resposta do sistema aos pequenos im-
pactos depende de diversos fatores incluindo as condições operativas, a capacidade de trans-
missão e os sistemas de excitação das unidades geradoras.
A instabilidade pode ocorrer de duas formas:
• Por falta de torque para sincronizar, quando se observa um aumento monotônico (ape-
riódico) no ângulo do rotor ou;
• Por insuficiência do torque de amortecimento, quando se observa oscilações angulares
de amplitudes crescentes.

Nos sistemas de potência atuais, a instabilidade frente a pequenas perturbações, está quase
sempre relacionada com a insuficiência de amortecimento de oscilações, que pode ser causada por:
• Modos locais: oscilações entre unidades geradoras e o resto do sistema (as unidades
geradoras de uma usina oscilam coerentemente contra o sistema);
• Modos intraplanta: oscilações entre as unidades geradoras de uma mesma usina;
• Modos entre áreas: oscilações entre grupos de geradores de uma parte do sistema contra
outro grupo de geradores em outra parte do sistema. Em geral, aparecem quando duas
áreas são conectadas por intermédio de um sistema de transmissão de alta impedância;
• Modos de controle: oscilações causadas pelos controles dos sistemas de excitação,
reguladores de velocidade, conversores CA/CC, etc.
• Modos torcionais: associados aos componentes rotacionais dos eixos da turbina e do
gerador. A instabilidade dos modos torcionais pode ser causada pela interação com
os sistemas de excitação, controles de sistemas CCAT e linhas de transmissão com
compensação série.

b) Estabilidade angular transitória


É a habilidade do sistema de potência em manter o sincronismo de suas unidades gera-
doras quando da ocorrência de impactos de perturbação como curtos-circuitos em elementos
importantes, perda de um tronco de transmissão ou grandes blocos de geração.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   57 

Nesses casos, a resposta do sistema envolve grandes excursões angulares dos rotores das
unidades geradoras, sendo fortemente influenciada pelas relações não lineares existentes entre
a potência elétrica e ângulo do rotor. Fatores como as condições iniciais operativas e, princi-
palmente, a natureza, a localização e o tempo de duração dos distúrbios afetam a estabilidade
transitória do sistema.
Em grandes sistemas interligados, a instabilidade ocorre normalmente de duas formas:
• Pela aceleração do rotor, com crescimento progressivo (monotônico) do deslocamento
angular, sendo a causa fundamental a falta de torque sincronizador e;
• Por oscilações crescentes do rotor, causadas pela superposição de diversos modos de
oscilação do sistema.

3.1.2.2 – Estabilidade de frequência


A estabilidade de frequência é entendida como a habilidade do sistema de potência de
recuperar a frequência e mantê-la em seu valor programado, após desequilíbrios de potência
ativa entre a geração e a demanda, causados pela variação natural das cargas ou por rejeições
de carga ou geração, fazendo com que o equilíbrio carga/geração seja rompido.
A estabilidade da frequência do sistema é mantida pelo controle carga-frequência, que é
exercido em dois níveis:
I - Controle primário de frequência: realizado pelos reguladores automáticos de veloci-
dade das unidades geradoras, objetivando limitar a variação da frequência quando da ocorrên-
cia de desequilíbrio entre a carga e a geração, respondendo na ordem de segundos.
II - Controle secundário de frequência: realizado pelas unidades geradoras participan-
tes do Controle Automático de Geração – CAG, destinado a restabelecer a frequência do
sistema ao seu valor programado e manter e/ou restabelecer os intercâmbios de potência ativa
aos valores programados, respondendo na ordem de minutos.

Caso o controle de frequência não seja capaz de limitar as excursões de frequência a ní-
veis operacionais admissíveis ou se for esgotada a reserva de potência operativa do sistema,
entram em ação as proteções sistêmicas de subfrequência (alívio de carga) e sobrefrequência
(corte de geração) de modo a restabelecer o equilíbrio carga-geração.

3.1.2.3 – Estabilidade de tensão


A instabilidade de tensão é caracterizada pela perda da habilidade do sistema de potência
em manter um perfil de tensões adequado em todos os seus barramentos tanto em condições
normais, como em situações de distúrbio. Este fenômeno vem merecendo maior atenção dos
técnicos e especialistas nestes últimos anos, face à necessidade crescente de exploração dos
sistemas de transmissão para o máximo aproveitamento dos recursos energéticos.

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58    Sistemas de proteção

Um sistema entra em um estado de instabilidade de tensão quando uma perturbação, ele-


vação de carga ou alteração na configuração, causa um contínuo e incontrolável declínio da
tensão. Tal fenômeno, substancialmente relacionado à indisponibilidade de suprimento de po-
tência reativa, caracterizado por uma redução progressiva na magnitude da tensão, inicia-se de
forma localizada, podendo até mesmo se expandir por todo o sistema interligado, levando-o
ao colapso. O processo de instabilidade pode se manifestar de diversas formas, dependendo
das características das cargas e da dinâmica dos equipamentos de controle de tensão.
De uma forma geral a estabilidade de tensão pode ser classificada em duas categorias:
estabilidade de tensão de regime permanente (ou para pequenos impactos) e estabilidade de
tensão para grandes impactos.

a) Estabilidade de tensão de regime permanente


Também denominada de estabilidade de tensão para pequenos impactos ou pequenos si-
nais, é a habilidade do sistema de potência em manter um perfil adequado de tensões após ter
sido submetido a um pequeno impacto, como as variações normais de carga ou geração, que
continuamente ocorrem no sistema. A natureza da resposta do sistema aos pequenos impactos
depende de diversos fatores incluindo as condições operativas e as características das cargas
e dos dispositivos de controle de tensão.

b) Estabilidade de tensão para grandes impactos


É a habilidade do sistema de potência em controlar as tensões de seus barramentos após
a ocorrência de uma grande perturbação como curtos-circuitos em elementos importantes ou
variações rápidas e substanciais no equilíbrio carga-geração.
Influi neste comportamento a condição operativa do sistema, a natureza da perturbação,
as características das cargas, a dinâmica dos sistemas de controle tais como os limitadores de
corrente de campo dos geradores e comutadores de tapes de transformadores e os elementos
de proteção do sistema.

3.2 – Hierarquia dos sistemas de proteção


Os sistemas de proteção podem ser divididos em três grupos distintos, que devem atuar
em níveis hierárquicos diferentes. São eles: proteções de equipamentos, Sistemas Especiais
de Proteção (SEP) e proteções sistêmicas. A figura 3.2-1 mostra a hierarquia e os objetivos de
cada sistema de proteção.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   59 

Figura 3.2. 1 – Hierarquia dos sistemas de proteção

O primeiro nível de proteção, que tem como objetivo isolar curtos-circuitos ou equipa-
mentos em falha (fase aberta, problemas mecânicos, hidráulicos, etc.), são as proteções dos
equipamentos que compõem o sistema elétrico. Essas são realizadas pelos sistemas de prote-
ções elétricas e, em equipamentos específicos, por suas proteções intrínsecas. Essas proteções
são concebidas e ajustadas de forma a promover o desligamento, de forma rápida, do menor
número possível de equipamentos para eliminar uma falha. No caso de contingências simples
é esperado que o sistema se recupere imediatamente após a eliminação da falha, retornando a
um ponto de operação estável e sem violações.
No entanto, contingências múltiplas, atrasos de obras previstas na etapa de planejamento
da expansão ou até mesmo a necessidade de operação do sistema com critérios superiores ao
planejado, podem indicar nos estudos de planejamento da operação, a necessidade de implan-
tação de Sistemas Especiais de Proteção, com objetivo de evitar violações, acima dos limites
suportabilidade de curta duração dos equipamentos, ou instabilidades no sistema. Nesse caso
ações planejadas previamente são implementadas de forma que as contingências previstas
não provoquem problemas no sistemas, aumentando a área de abrangência da perturbação.
Em síntese, violações devem ser sanadas antes da atuação de proteções dos equipamentos e
instabilidades devem ser evitadas com medidas preventivas, quando, nesse caso, o tempo de
atuação passa a ser um requisito importante.
Ainda deve ser considerado que o sistema está sujeito a contingências múltiplas, de menor
incidência, porém possíveis. Outro evento que também pode ter baixa probabilidade de ocor-
rência, o qual está diretamente associado aos requisitos de concepção e implantação, é a falha

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60    Sistemas de proteção

ou recusa de atuação dos SEP planejados. Nesses casos o sistema pode perder a estabilidade,
sendo necessárias ações mais drásticas para minimizar o impacto da perturbação e evitar um
blecaute, sendo essas ações executadas pela última linha de proteção do sistema, que são as
proteções sistêmicas. Essas proteções não são preventivas e atuam não mais em função da
contingência planejada como nos SEP, e sim na consequência das contingências. Por isso elas
são concebidas baseadas nas grandezas cuja variação caracteriza o fenômeno de instabilidade,
independentemente da contingência, podendo ser ângulos, tensão, frequência etc. Nesse caso,
a falha ou recusa dessas proteções podem culminar em condições ou configurações do sistema
imprevistas podendo resultar em blecautes ou até danos em equipamentos.
Com a aplicação da coordenação correta entre os sistemas de proteção, respeitando a hierar-
quia acima descrita, é possível definir patamares de operação para as diversas interligações ou
grandes troncos de transmissão do SIN de forma que a decisão da forma de operação seja base-
ada numa avaliação de risco x custo operativo. Baseado neste conceito, a figura 3.2-2 apresenta
cinco possíveis níveis de operação que podem subsidiar uma análise de risco x benefício.

Figura 3.2 2 – Níveis de operação considerando análise de riscos x benefícios

Conforme observado na tabela, o risco operativo é inversamente proporcional ao custo de


operação. Portanto, dependendo das condições econômicas e eletro-energéticas do sistema,
este risco pode ser ponderado em busca de um ponto otimizado de operação.
Também deve ser considerada nesta análise a consequência para o sistema de uma recusa
de atuação de SEP. Deste modo, também deve ser conhecido o nível de confiabilidade dos SEP
implantados na área sob análise.
Para a avaliação da confiabilidade dos SEP diversos fatores devem ser observados, tais
como: redundância, tecnologia aplicada, requisitos de comunicação, estatística de operação,
e outros que serão mais detalhados adiante, no item sobre requisitos de implantação de SEP.

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4
SISTEMAS DE PROTEÇÃO DE EQUIPAMENTOS

Todo sistema elétrico de potência está sujeito a falhas, e para eliminar essas falhas exis-
tem os sistemas de proteção. Tais sistemas têm como principal elemento os dispositivos de
proteção, inicialmente denominados relés que com a evolução tecnológica passaram a agregar
funções adicionais, passando a ser chamados de IED (Intelligent Electronic Devices). Tais
dispositivos são os responsáveis por detectar situações de anormalidade no sistema e enviar
comandos de abertura a outros equipamentos, que irão isolar a parte do sistema sob defeito.
A atuação rápida e seletiva dos dispositivos de proteção é essencial para minimizar as perdas
econômicas e os riscos à vida e a equipamentos.

4.1 – Evolução dos sistemas de proteção de equipamentos

Por volta de 1900 surgiu a primeira geração de relés de proteção, de tecnologia eletrome-
cânica, constituído de bobinas, molas e mecanismos extremamente minuciosos.
Os relés eletromecânicos em todas as suas diferentes formas foram substituídos sucessiva-
mente por relés estáticos, digitais e numéricos, e cada mudança trouxe redução de tamanho e
melhorias na funcionalidade. Os relés eletromecânicos possuem dois princípios fundamentais
de funcionamento, que são: a atração eletromagnética e a indução eletromagnética.
Na utilização de relés eletromecânicos, o principal meio de comunicação era o fio metáli-
co. A figura 4.1-1 mostra relés eletromecânicos típicos.
  

Figura 4.1-1 – Relés eletromecânicos

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62    Sistemas de proteção de equipamentos

Posteriormente, na década de 1960, surgiu a segunda geração de dispositivos de proteção,


os relés estáticos, com o advento dos transistores e a introdução dos dispositivos estáticos
baseados em eletrônica. Os relés estáticos respondem a uma grandeza de operação por meio
eletrônico ou magnético, sem que haja deslocamentos mecânicos, portanto, a designação “relé
estático”.
O projeto desses relés é baseado no uso de dispositivos eletrônicos analógicos em vez de
bobinas e ímãs para criar a característica de operação do relé. As primeiras versões usavam
dispositivos discretos, como transistores e diodos com resistores, capacitores e indutores. O
software utilizado nestes relés limitava-se à linguagem binária ou de baixo nível, com os pri-
meiros processadores disponíveis na época. A comunicação entre os dispositivos e os níveis
do processo (sala de relés/sala de controle) permanecia através de fios metálicos.
Contudo, os avanços da eletrônica permitiram o uso de sistemas lineares e digitais além de
circuitos integrados, em versões posteriores, para o processamento de sinais e implementação
de funções lógicas. A figura 4.1-2 mostra um relé estático típico.

Figura 4.1 2 – Relés estáticos

Algum tempo depois, por volta de 1990, com o advento da microeletrônica e a populari-
zação dos processadores digitais e circuitos integrados, surgiu a terceira geração de disposi-
tivos de proteção, os relés digitais. Os relés digitais são gerenciados por microprocessadores
desenvolvidos especificamente para este fim. Nestes relés, os sinais de entrada das grandezas
elétricas e os parâmetros de ajustes são controlados por um software que processa a lógica de
proteção com um algoritmo. São constituídos de circuitos eletrônicos providos de micropro-
cessadores de alta velocidade de processamento. Comparados aos relés estáticos, os relés di-
gitais usam conversores analógico/digital para converter em sinais digitais todas as grandezas
analógicas medidas e um microprocessador para programar o algoritmo de proteção.
Com os relés digitais foram introduzidas as redes locais de comunicação dentro da su-
bestação, utilizando principalmente protocolos de comunicação proprietários. A comunicação
entre os dispositivos na subestação ocorria em redes locais, utilizando cabos óticos, enquanto
os dispositivos passaram a ser programados utilizando linguagens de alto nível.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   63 

As vantagens dessa tecnologia de relés são inúmeras, quando comparada a dos relés ana-
lógicos (eletromecânicos e estáticos), tais como possibilidade de implementação de funções
adaptativas, acesso remoto, cálculo de outras grandezas elétricas a partir das medições de cor-
rente e tensão, registradores de eventos, oscilografias e localizadores de falta integrados além
de funções de controle, supervisão e monitoramento. Os relés digitais normalmente usam
microprocessadores de oito ou 16 bits, o que limita a sua capacidade de processamento e con-
sequentemente a precisão dos seus algoritmos. A figura 4.1-3 mostra o exemplo do primeiro
relé microprocessado multifunção do fabricante ABB e a primeira versão do relé digital de
distância SEL-21 da Schweitzer Engineering Laboratories (SEL).

Figura 4.1-3 – Relés digitais

Atualmente, em função do aumento do poder de processamento dos microprocessadores e


do refinamento tecnológico, relés digitais evoluíram naturalmente para uma nova geração de
relés, denominada relés numéricos. Os relés numéricos utilizam um Processador Digital de Sinal
(PDS) especializado, incorporado ao microprocessador otimizado tecnologicamente de acordo
com o algoritmo de proteção utilizado. A redução contínua no custo e tamanho de microproces-
sadores, memória e circuitos de entrada e saídas de sinais, permitiram o desenvolvimento de
um único hardware capaz de executar uma variedade de funções, possibilitando a realização de
esquemas complexos tanto de proteção como de controle e automação. Essa evolução foi tão
importante que levou à mudança da denominação dos dispositivos de proteção, de relés para IED
(Intelligent Electronic Devices). A figura 4.1-4 mostra exemplos de IED.
  

Figura 4.1-4 – Relé numérico

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64    Sistemas de proteção de equipamentos

Surge então, no início do século XXI, a quarta geração de sistemas de proteção e auto-
mação decorrente da introdução de módulos funcionais virtuais, padronizados e alocados em
dispositivos físicos (IED), utilizando protocolos abertos e padronizados para comunicação.
Foi introduzido um nível adicional de comunicação com a segmentação das redes locais
em barramentos de processo, próximas aos equipamentos de alta tensão, e os barramentos
de estação, para comunicação entre os dispositivos de proteção digitais (IED), e ainda com a
utilização de sensores e dispositivos de digitalização dos sinais elétricos (Merging units). A
finalidade principal da merging unit é suprir os dispositivos de proteção digitais (IED) e medi-
ção com os valores amostrados (sampled analog values) das informações dos transformadores
de corrente e de potencial. As informações de estado dos disjuntores e secionadoras através
de módulo de entrada/saída digitais, também podem ser disponibilizadas pelas merging units.
Esta quarta geração de sistemas de proteção utiliza programação orientada a objetos para
configuração dos dispositivos de proteção digitais (IED), sincronização de tempo em todos
os níveis e podem utilizar ainda transformadores de instrumentos não convencionais (NCIT –
Non Conventional Instrument Transformers), tais como TC/TP ópticos.
Um exemplo de arquitetura de uma subestação digital, na qual a funcionalidade da pro-
teção e automação se misturam e utilizando a tecnologia de quarta geração de sistemas de
proteção, se encontra na figura 4.1-5 (Tecnix Engenharia, 2019).

Figura 4.1-5 – Quarta geração dos sistemas de proteção – Subestação digital

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   65 

O barramento de processo (Process Network) utiliza uma ou mais redes locais para co-
municação direta com os equipamentos de alta tensão. Neste nível os dados são coletados e
disponibilizados em tempo real e também ocorre a recepção/transferência de comandos para
o processo elétrico.
Para isto são utilizados os equipamentos de amostragem de sinais (merging units) e de con-
trole (control units), interligadas por uma rede local. Os valores amostrados (sample values)
dos sinais elétricos são disponibilizados para o nível de barramento da estação (station level)
utilizando uma ou mais redes locais para comunicação. Neste nível são utilizadas estações de
engenharia para operação e manutenção local, e gateways para comunicação com centros de
controle externos.
Com tudo isso, percebe-se que a evolução rápida na tecnologia dos sistemas de proteção
culminou em duas grandes mudanças na área de proteção. A primeira impactou na redução
drástica do tempo de obsolescência tecnológica de um dispositivo de proteção. A figura 4.1-6
(Junior, 2006) mostra que a expectativa de vida útil caiu de aproximadamente 35 anos, com
tecnologia eletromecânica tradicional, para aproximadamente 5 anos, a partir da tecnologia
digital.

Figura 4.1-6 – Obsolescência tecnológica da proteção ao longo dos anos

A segunda mudança importante se refere à necessidade de software e hardware para os


sistemas de proteção. A figura 4.1-7 (Junior, 2006) mostra esta comparação ao longo dos anos,
caracterizando bem o avanço da tecnologia, que está cada vez mais concentrada no software.
Constata-se assim que a tendência é a evolução de sistemas de proteção eletromecânicos (100
% hardware) para sistemas de proteção na “nuvem” (100% software).

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66    Sistemas de proteção de equipamentos

Figura 4.1-7 – Evolução de software x hardware na proteção

4.2 – Zonas de atuação dos sistemas de proteção de equipamentos

Em geral a filosofia de aplicação desses sistemas divide o sistema em zonas de proteção,


de maneira a se obter uma atuação seletiva e coordenada dos dispositivos de proteção. Con-
forme apresentado na figura 4.2-1, onde são visualizadas as zonas de proteção dos seguintes
equipamentos:
• Gerador ou bloco gerador /transformador;
• Barramento;
• Transformadores;
• Linhas de transmissão;
• Outros equipamentos (banco de capacitores/ motores/reatores, etc.).

Figura 4.2-1 – Zonas de atuação das proteções dos equipamentos

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   67 

As definições de início e término de cada zona pode ser estabelecida de acordo com do
arranjo da subestação bem como a localização física dos transformadores de corrente (TC).

4.3 – Redundância de proteção de equipamentos


Um sistema de proteção pode não atuar quando solicitado, caracterizando o que comu-
mente se denomina de recusa de atuação. A recusa pode se originar de várias causas, tais
como: erro de projeto, erro de montagem, defeito no disjuntor, defeito no dispositivo de pro-
teção. Esta recusa pode ocasionar danos a equipamentos e risco de vida, sendo fundamental
prover um sistema de proteção alternativo que forneça redundância de proteção. Esta proteção
é denominada de retaguarda (back-up) ou secundária.
O sistema de proteção de retaguarda destina-se a atuar quando de eventual falha de ou-
tro sistema de proteção. Quando esse sistema está instalado no mesmo local do sistema de
proteção a ser coberto, trata-se de retaguarda local; quando está instalado em local diferente
daquele onde está o sistema de proteção a ser coberto, trata-se de retaguarda remota.
O sistema de proteção principal, para uma determinada zona de proteção, também cha-
mado de proteção primária deve atuar instantaneamente e isolar o menor trecho possível do
sistema elétrico.
Quando aplicada a retaguarda local composta por um sistema de proteção com todos os
componentes duplicados, independentes e funcionalmente idênticos à proteção principal, a
mesma é denominada proteção alternada. Como economicamente não é justificável a dupli-
cação de transformadores de instrumento e dos disjuntores, a prática é utilizar núcleos inde-
pendentes dos TC e enrolamentos secundários diferentes dos TP para as proteções principal e
alternada. No caso dos disjuntores a prática é a utilização de duas bobinas de disparo, alimen-
tadas por circuitos de corrente contínua independentes.
Para as instalações da Rede Básica de tensão de 230 kV ou acima, é exigida pelos requisi-
tos dos Procedimentos de Rede do ONS a utilização de dois sistemas de proteção, principal e
alternada, independentes e redundantes, com as mesmas funções de proteção, com o objetivo
de fornecer maior segurança e confiabilidade no desempenho da proteção instalada.
Entretanto, em níveis menores de tensão pode-se optar por um sistema de proteção redun-
dante menos oneroso, porém menos seletivo. Nesse caso a proteção de retaguarda pode ser
mais lenta, do que a proteção principal e pode causar a remoção de mais elementos do sistema
de potência para sanar uma falta.
Na proteção de retaguarda local os relés estão instalados na mesma subestação da pro-
teção principal, porém podem promover compartilhamento de estrutura e atuar no mesmo
disjuntor, estando sujeitas a falhas de modo comum.
Na proteção de retaguarda remota os relés, os transformadores de instrumento e o disjun-
tor no qual eles atuam são completamente independentes, o que torna também os esquemas
independentes. Todavia, são funções temporizadas e desligam mais equipamentos do que o
necessário para eliminar o defeito, aumentando a abrangência da perturbação. Outro aspecto a

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68    Sistemas de proteção de equipamentos

considerar na utilização de proteção de retaguarda remota é que a sua aplicação pode implicar
em alcances extremamente elevados originando problemas de atuações incorretas de proteção
durante condições de carregamentos elevados e oscilações de potência. Em função disso, a
proteção de retaguarda remota dificilmente é aplicada em sistemas de transmissão de alta e
extra alta tensão, ficando sua aplicação mais restrita a sistemas radiais.

4.4 – Principais funções de proteção

Como visto, o objetivo principal do relé de proteção é detectar falhas e condições anor-
mais de funcionamento no sistema elétrico retirando de operação os equipamentos envolvi-
dos, sendo as principais atribuições dos relés de proteção as seguintes:
• Medir as grandezas de operação;
• Comparar os valores medidos com os valores ajustados;
• Tomar a decisão de operar ou não, em função do resultado da comparação;
• Acionar a abertura dos disjuntores ou a energização de relés auxiliares;
• Sinalizar a sua atuação.

Os relés de proteção são comparadores: ou comparam amplitude (comparadores de ampli-


tude) ou comparam ângulo de fase (comparadores de fase).
A seguir, serão abordadas as principais funções de proteção utilizadas no sistema elétrico.

4.4.1 – Funções de corrente


São as funções de proteção mais utilizadas no sistema elétrico. Como o próprio nome
indica, esta função supervisiona o nível de corrente que circula através da linha ou do equipa-
mento protegido.
A aplicação desta função pode supervisionar o aumento (sobrecorrente) ou a redução de
corrente (subcorrente) que circula através do equipamento protegido. A função de sobrecor-
rente é a mais utilizada e é a responsável pela detecção de anormalidades do tipo curto-circuito
ou sobrecarga e a de subcorrente para supervisionar a condição operativa de equipamentos e
disjuntores. As funções de corrente, além de proteção de equipamentos é vastamente utilizada
na implementação de SEP e outros esquemas de controle no sistema.
As funções de proteção de corrente recebem uma numeração em função da sua caracterís-
tica de operação, sendo estas as seguintes:
• Função 37→ subcorrente.
• Função 50 → sobrecorrente instantânea.
• Função 51 → sobrecorrente temporizada.
• Função 67 → sobrecorrente direcional.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   69 

a) Funções de proteção de sobrecorrente não direcional


As funções de proteção de sobrecorrente são utilizadas para detecção de falhas fase-fase
ou fase-terra. As representações da ligação do relé nos diagramas unifilares e trifilares são
mostradas na figura 4.4.1-1 (Duarte, 2018):

Figura 4.4.1-1 – Diagramas unifilar e trifilar da proteção de sobrecorrente

As diversas características de operação das proteções de sobrecorrente são mostradas a


seguir:

Característica de tempo definido


Esse tipo de característica é bastante utilizado em SEP e esquemas de controle. O tempo
de atuação independe do valor da corrente. Geralmente, utiliza-se uma função de proteção
de sobrecorrente de característica instantânea associada a um temporizador. Uma aplicação
típica, para proteção de equipamentos, é em esquemas de falha de disjuntores, quando uma
função de sobrecorrente de tempo definido, associada a um temporizador, é utilizada para
supervisionar a corrente que passa pelo disjuntor. A figura 4.4.1-2 (Duarte, 2018) ilustra a
característica de tempo definido da função de proteção de sobrecorrente.

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70    Sistemas de proteção de equipamentos

Figura 4.4.1-2 – Característica de tempo definido da proteção de sobrecorrente

Característica de tempo inverso


Esse tipo de característica é mais utilizado em proteção de linhas e equipamentos. Dife-
rentemente da característica anterior, o tempo de atuação da proteção é dependente da corrente
de curto-circuito. Quanto maior a corrente de curto-circuito, menor é o tempo de atuação da
proteção.
Essa característica é ideal para possibilitar coordenação entre os dispositivos de proteção
em série.
Encontram-se normatizadas vários tipos de curvas de característica de tempo inverso,
cujas equações são apresentadas a seguir.
Equação geral:
B
t = TD× A +
M! −1

Onde:
t – tempo de atuação
TD – ajuste do multiplicador de tempo do relé
M – múltiplo do Tape (Icc/Iajuste)

As constantes A, B e α, definem a característica da curva conforme apresentado nas tabe-


las a seguir da figura 4.4.1-3 (Duarte, 2018).

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   71 

– Característica de tempo inverso da proteção de sobrecorrente

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72    Sistemas de proteção de equipamentos

b) Proteção de sobrecorrente direcional


A função de proteção direcional de corrente possui, além da característica de detecção do
nível de corrente, a capacidade de distinguir o sentido do fluxo da corrente. A característica
direcional é imprescindível em sistemas não radiais, nos quais a direção da contribuição da
corrente de curto-circuito pode variar.
A direção é obtida pela medição do ângulo da corrente de operação e por uma grandeza
de polarização, corrente ou tensão, utilizada como referência. Esse tipo de função de proteção
necessita de duas grandezas de medição.
Na maioria das aplicações das funções de proteções de sobrecorrente direcionais de fase,
as grandezas utilizadas para a medição do ângulo que define a direcionalidade são a corrente
da fase defeituosa e a tensão entre as fases sãs. No caso das funções de proteção de sobre-
corrente de neutro (residuais), as grandezas utilizadas para a medição do ângulo que define a
direcionalidade são a corrente da fase defeituosa e a tensão residual.

4.4.2 – Funções de tensão


Como o próprio nome indica, trata-se de uma função capaz de supervisionar o nível de
tensão de operação do equipamento ou linha de transmissão protegida.
A função de proteção de tensão pode supervisionar o aumento (sobretensão) ou a redução
(subtensão) da tensão a que equipamento é submetido.
As proteções de tensão recebem uma numeração em função da sua característica de ope-
ração, e podem ser instantâneos ou temporizados:
• Função 27 → subtensão
• Função 59 → sobretensão

As funções de proteção de sobretensão ou subtensão são utilizados para supervisão de ten-


são fase-fase ou fase-terra. As representações da ligação da proteção nos diagramas unifilares
e trifilares são mostradas na figura 4.4.2-1 (Duarte, 2018).

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   73 

Figura 4.4.2-1 – Diagramas unifilar e trifilar da proteção de tensão

4.4.3 – Funções de distância


Dado que a impedância da linha de transmissão é proporcional ao seu comprimento, para
medir essa distância é apropriado usar uma função de proteção capaz de medir a impedância
da linha desde o dispositivo de proteção até um ponto predeterminado (ponto de alcance). A
proteção de distância é projetada para operar apenas quando ocorrer faltas entre o dispositivo
de proteção e o ponto de alcance, disponibilizando, dessa forma, a discriminação do local e da
fase para faltas que podem ocorrer em diferentes secções da linha.
O princípio básico de funcionamento da função de proteção de distância (21) envolve a
divisão da tensão vista pelo dispositivo de proteção pelo valor da corrente. A impedância apa-
rente, então calculada, é comparada com a impedância do ponto de alcance do dispositivo de
proteção. Se o valor da impedância é menor que o ponto de alcance, então se considera que
existe uma falta na linha entre o dispositivo de proteção e o ponto de alcance.
A figura 4.4.3-1 apresenta a representação da ligação da proteção de distância.

Figura 4.4.3-1 – Diagramas unifilar da proteção de distância

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74    Sistemas de proteção de equipamentos

O ponto de alcance da proteção de distância é o ponto no qual a impedância da linha/equi-


pamento protegido é interceptada pelo limite característico do dispositivo de proteção. Uma
vez que esse depende da relação tensão/corrente e o ângulo de fase entre eles, pode-se efetuar
uma plotagem em um diagrama R-X.
O diagrama R-X mostrado na figura 4.4.3-2 (Duarte, 2018) é obtido dividindo-se o valor
RMS da tensão pelo valor RMS da corrente, obtendo-se a impedância Z. A componente resis-
tiva e a reativa de Z são obtidas das expressões: R = Zcosθ e X = Zsenθ.

Figura 4.4.3-2 – Diagrama R-X

Os ajustes são definidos por zonas de atuação que correspondem ao trecho da linha/equi-
pamento protegido pela proteção de distância. A proteção de distância pode ter mais de uma
zona de proteção ajustada independentemente. A sua atuação pode ser instantânea ou tempo-
rizada (tempo definido), dependendo do alcance do ajuste.
Para proteção de linhas de transmissão é muito comum associar uma zona de proteção a
um canal de comunicação, o que torna a atuação do dispositivo de proteção de um terminal
de linha dependente do dispositivo de proteção do outro terminal. Esse tipo de esquema é
denominado teleproteção.
Existem vários tipos de proteção de distância: impedância, reatância, resistência, MHO
etc. Cada um deles apresenta uma característica de operação diferente dos demais e é ade-
quado para determinadas aplicações. Além disso, estas propriedades podem ser combinadas,
formando dispositivos de proteção com características compostas.
Os lugares geométricos das diversas impedâncias do sistema de potência vistas pela pro-
teção de distância durante faltas, oscilações de potência e variações de carga, podem ser tra-
çados no mesmo gráfico e, dessa forma, pode-se estudar o desempenho da proteção relé na
presença de faltas e distúrbios.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   75 

4.4.4 – Função diferencial


O princípio de atuação da função de proteção diferencial (87) consiste na comparação das
correntes que entram e saem do equipamento protegido. Esta comparação é baseada na 2ª lei
de Kirchhoff, a Lei dos Nós, que determina que, em qualquer instante, a soma algébrica das
correntes que entram e saem num nó é nula.
O elemento diferencial deve ser sensível aos defeitos internos e indiferente aos defeitos
externos. A figura 4.4.4-1 (Duarte, 2018) ilustra o princípio básico de operação da proteção
diferencial, nesse caso, aplicada a um transformador.

Figura 4.4.4-1 – Princípio básico de operação da proteção diferencial

O objetivo da função de proteção diferencial é a comparação das correntes que entram e


saem do equipamento protegido que, em condições ideais, se comportam da seguinte maneira:
• Para faltas externas e condições normais de operação, as correntes secundárias são
iguais, logo, como a sua diferença é nula, não circula corrente no circuito de operação,
indicando que não há problemas no equipamento protegido, portanto, sem atuação da
proteção.
• Para as faltas internas, estas correntes são diferentes e fluem ambas no sentido do equi-
pamento protegido. Desse modo, quando a corrente que circula no circuito de opera-
ção atinge um valor considerável, ultrapassado um valor pré-definido, denominado
corrente de partida (Ipk), a proteção opera desconectando o equipamento do sistema.
Normalmente, para falhas internas, a corrente que circula no circuito de operação do
dispositivo de proteção é igual à corrente de curto-circuito total, vista do secundário
dos TC que compõem a malha diferencial.

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5
SISTEMAS ESPECIAIS DE PROTEÇÃO

Conforme já foi apresentado, a proteção do sistema de potência pressupõe esquemas pro-


jetados para isolar falhas em um determinado equipamento e/ou em áreas adjacentes ao com-
ponente defeituoso do sistema. O tamanho e a complexidade do sistema elétrico, no entanto,
o tornam vulnerável a falhas e contingências que culminam no seu colapso após situações de
sobrecargas, sobre/subfrequência, sobre/subtensão, oscilações de potência, etc.
Para detectar e tomar medidas preventivas para essas condições, baseadas em contingências
e pontos de operação pré-determinados, uma nova classe de proteção é necessária. Essa nova
classe são os esquemas de proteção conhecidos como Sistemas Especiais de Proteção (SEP).
De acordo com o NERC (North American Electric Reliability Corporation), um SEP é um
sistema de proteção automático projetado para detectar condições anormais pré-determinadas
do sistema e tomar ações corretivas, após o isolamento de componentes em falha, para manter
a confiabilidade do sistema. Essa ação pode incluir alterações na geração ou configuração do
sistema para manter a estabilidade do sistema, tais como: desligamento de linhas de transmis-
são, desligamento de unidades geradoras, rampeamento de HVDC, e outras.
O SEP é projetado para atuar em casos de violação de limites de curta duração (sobrecar-
gas), quando a mesma pode provocar o desligamento automático do equipamento agravando
a perturbação, ou na prevenção de instabilidades angulares, de tensão ou de frequência para
condições pré-estabelecidas. Portanto estes sistemas de proteção são preventivos e atuam em
função da contingência planejada.
Na hierarquia dos sistemas de proteção, um SEP se constitui na segunda linha de defesa,
sendo o primeiro nível os sistemas de proteções elétricas responsáveis por isolar as falhas,
conforme já mostrado anteriormente.
O SEP não inclui corte de carga por subfrequência, corte de unidades geradoras por sobre-
frequência, ou atuações para perda de sincronismo do sistema. Estes sistemas constituem as
proteções sistêmicas, que são o último nível de defesa do sistema, e atuam em caso de instabi-
lidades de tensão, angular e de frequência como consequência de contingências mais severas
não previstas ou para os casos de recusa/falha dos SEP.
Os SEP atuam a partir da identificação de contingências pré-determinadas, enquanto as
proteções sistêmicas atuam em função das grandezas que estão variando em relação ao fenô-
meno para o qual foram especificadas, independente da contingência que o originou.

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78    Sistemas especiais de proteção

Existem ainda no SIN os Esquemas de Controle de Emergências – ECE, que são esquemas
que visam automatizar as ações de operadores. Estes esquemas podem ter ações semelhantes
às dos SEP, porém os objetivos e níveis de ajustes são diferentes. Enquanto o SEP tem ação de
proteção, o ECE tem ação de controle.
O objetivo do SEP é trazer o sistema de uma condição de emergência, na qual ocorrem
violações de estabilidade ou dos limites de capacidade de curta duração dos equipamentos,
que podem levar o sistema para um ponto de operação descontrolado (eventos em cascata)
para uma condição normal ou de alerta em que medidas operativas manuais ou automáticas
possam promover o retorno para uma condição normal de operação. Objetivo do ECE é trazer
o sistema de uma condição de alerta, acima dos limites normais de operação, porém abaixo
dos limites de emergência, para a normalidade.
Também é possível discriminar um SEP de um ECE a partir da análise das consequências
de sua recusa de atuação para o sistema. A recusa de atuação de um SEP tem como conse-
quência: a ocorrência de desligamentos adicionais provocando interrupção de cargas, ou a
transição do sistema para o estado de extrema emergência. No estado de extrema emergência
são necessárias atuações de proteções sistêmicas para retornar o sistema ao estado normal. No
caso de recusa de atuação de um ECE não haverá maiores consequências para o sistema, sen-
do que apenas ações operativas farão com que o sistema retorne ao estado normal de operação.
Os fluxogramas das figuras 5-1 e 5-2 apresentam os tipos de ações necessárias após a
análise de uma contingência pré-determinada que tenha como consequência uma violação ou
uma instabilidade. A partir desse fluxograma é possível discriminar se a ação automática é um
SEP ou ECE.

Figura 5-1 – Fluxograma de contingências – sobrecarga

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   79 

No caso da ocorrência de um nível de sobrecarga superior ao limite de emergência de


curta duração do equipamento e aos ajustes de atuação de proteções temporizadas, deverá ser
avaliada a implementação de um SEP para conter e limitar a abrangência da perturbação. En-
tretanto, nos casos em que os limites de emergência de curta duração do equipamento forem
atingidos, mas não forem atingidos os níveis de atuações de proteções temporizadas, deve ser
avaliado se a mitigação desta violação em tempos compatíveis com ações operativas poderá
acarretar danos aos equipamentos ou risco de vida. Em caso positivo, deve ser avaliada a im-
plementação de um ECE.
A ocorrência de sobrecarga em uma linha de transmissão pode ser utilizada como exemplo
para o caso acima, visto que a capacidade máxima de transporte de energia elétrica de uma
linha de transmissão está diretamente relacionada à sua ampacidade, ou seja, a corrente má-
xima que a linha de transmissão pode transportar para uma dada temperatura superficial do
condutor que está associada a uma distância mínima de segurança condutor-solo ou condutor-
-objeto. Portanto, quando o limite de emergência de curta duração de uma linha de transmis-
são é violado e trata-se de um equipamento cuja faixa de servidão passa por área densamente
povoada, como medida de segurança, ações rápidas devem ser tomadas. Em outras condições,
este tipo de violação pode ser mitigado por ação operativa.
Na Rede Básica (tensão > ou igual a 230 kV) nos sistemas de proteção das linhas de
transmissão para eliminação de falhas entre fases não se aplicam funções de sobrecorrente, e
sim funções de distância ou diferenciais. Destas, apenas as funções de distância podem vir a
atuar numa condição de sobrecarga elevada associada a uma subtensão, quando a impedância
medida pode penetrar na sua característica de atuação.
Portanto é mais comum a aplicação de SEP para controle de sobrecarga em transforma-
dores, já que nesses equipamentos os sistemas de proteção já contemplam funções de sobre-
corrente de fase com objetivo de eliminar falhas que podem vir a atuar de forma temporizada
durante a ocorrência de sobrecargas.
Por outro lado, ações automáticas de controle podem ser efetuadas mesmo sem que o li-
mite de violação seja atingido, com o objetivo de retornar às condições normais de operação
de forma mais rápida. Para este caso são implementados ECE.

Figura 5-2 – Fluxograma de contingências – Sub∕sobretensão e instabilidade

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80    Sistemas especiais de proteção

Na ocorrência de violações de tensão, associadas a contingências pré-definidas em estu-


dos, que atinjam níveis de atuação de proteções temporizadas, ou provoquem instabilidades
sistêmicas, devem ser avaliadas implementações de SEP. Ressalta-se que nos casos de sobre-
tensões não resultantes de contingências pré-definidas em estudos elétricos, cabe a aplicação
de proteções de sobretensão sistêmicas, cujos ajustes devem ser considerados em termos de
coordenação, no projeto de SEP para mitigação de sobretensões.
No caso de violações de tensão abaixo de níveis de proteções temporizadas, pode-se optar
por implementação de ECE para promover ações automáticas de controle agilizando o retorno
do sistema ao estado normal.
São exemplos de ECE os esquemas a seguir:
• Chaveamento de dispositivos de controle de potência reativa de forma a automatizar
ações de operador, para controle de tensão abaixo dos níveis das proteções sistêmicas.
• Alívio de sobrecarga para controle de carregamento de equipamentos, com atuação
acima dos limites normais de operação, porém abaixo dos limites de emergência de
curta-duração.
• Esquemas de conversão síncrono ∕gerador.

Existem ainda outros esquemas complementares no sistema, com objetivo de facilitar a


recomposição. São exemplos destes esquemas:
• Transferência de disparo associadas à teleproteção das linhas de transmissão.
• Religamento automático de linhas de transmissão.
• Abertura de equipamentos por subtensão para agilizar a recomposição do sistema.

Nos SEP, de um modo geral, as entradas para tomada da decisão são grandezas elétricas
medidas (tensão, corrente, potência, por exemplo) e estado de disjuntores, e as saídas são co-
mandos para desligamentos de equipamento, rampeamento de potência em sistemas HVDC
ou redução de geração.
A figura 5-3 apresenta a composição de um SEP.

Figura 5-3 – Sistema especial de proteção

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   81 

O SEP pode ter todas as suas partes implementadas em apenas uma subestação ou em
diversas subestações, nas quais a comunicação entre as suas partes também faz parte do SEP.
Os insumos do SEP são obtidos a partir de dispositivos de proteção, multimedidores, con-
tatos auxiliares de disjuntores e seccionadoras podendo ter processamentos locais para lógicas
complementares, tais como detecção de linha aberta, somatório de fluxos, seleção de unidades
geradoras para corte, e um processamento central onde são processadas as lógicas principais
do SEP e de onde partem suas ações. Essas ações consistem desde abertura de disjuntores até
comandos que serão processados por controles de equipamentos da rede tais como rampe-
amento de potência em elos de corrente contínua, executada no controle mestre do sistema
de corrente contínua, e redução de geração em usinas, executadas por meio do controle das
unidades geradoras.
A figura 5-4 apresenta a estrutura básica de um SEP distribuído com processamento central.

Figura 5-4 – Sistema especial de proteção distribuído com processamento central

É importante que todo o cuidado seja tomado de forma a garantir a confiabilidade dos SEP
face às consequências para o SIN de sua atuação incorreta, recusa de atuação ou mesmo atu-
ações acidentais. Um desempenho correto e adequado do SEP, deve ser buscado, desde a fase
de concepção, passando pela sua implementação, comissionamento, operação e manutenção,
bem como nos casos de atualizações dos referidos sistemas.

5.1 – Histórico da aplicação de sistemas especiais de proteção no SIN

Em meados dos anos 1970, o Sistema Interligado Nacional, notadamente o subsistema


Sul, vivenciou os seguintes problemas:

ASPECTOS DE SEGURANÇA_ONS_2.indd 81 12/05/20 14:38


82    Sistemas especiais de proteção

• Frequentes atrasos em cronogramas de instalações de transmissão e de geração


importantes.
• Tempos maiores para comissionamento de instalações da chamada, à época chamada,
Malha Principal do Sistema Interligado (MPSI), envolvendo frequentemente dificul-
dades, em razão de configurações existentes mais desfavoráveis do que aquelas consi-
deradas na fase de planejamento da expansão.
• Condições energéticas críticas que demandavam transferências de grandes blocos de
energia da região Sudeste para a região Sul, acarretando na operação do sistema de
transmissão próximo a seus valores limites.

Estas condições levavam à necessidade de geração térmica a óleo e a carvão na região


Sul. E face destas dificuldades, para operar o sistema interligado sem impor elevados riscos
de colapsos parciais ou até mesmo totais na região Sul foram adotadas duas linhas de ação:
a implantação e otimização de sinais adicionais estabilizantes (PSS), e a concepção e imple-
mentação de SEP.
Em 1975 foram concebidos e implantados os esquemas de ilhamento das Usinas Termelé-
tricas de Jorge Lacerda, em Santa Catarina e Presidente Médici, no Rio Grande do Sul, dando
início à implantação de Sistemas Especiais de Proteção no SIN.
Posteriormente, em função da entrada de novas instalações, notadamente as interligações
inter-regionais e grandes usinas hidrelétricas, foram implementados SEP com grande abran-
gência e importância para a operação segura do SIN.
O primeiro grande SEP do SIN foi instalado em 1996 no tronco de 765 kV que se estende
desde Foz do Iguaçu (PR) até Tijuco Preto (SP), passando pelas localidades de Ivaiporã e Ita-
berá, sendo este composto por três circuitos que operam em paralelo e cumprem o principal
objetivo de escoar a geração da usina hidrelétrica de Itaipu 60 Hz, contribuindo para a trans-
ferência de energia entre os sistemas Sul e Sudeste. Este SEP é responsável pela execução de
ações específicas para determinados tipos de distúrbios no referido tronco de 765 kV com o
objetivo de minimizar seus efeitos. O SEP do tronco de 765 kV monitora a sua topologia e
comanda o corte de unidades geradoras na UHE Itaipu a fim de adequar o montante de geração
na interligação à sua capacidade de transmissão pós-distúrbios que envolvam estas subesta-
ções. Em função das alterações de topologia da rede e aumento da capacidade instalada da
UHE Itaipu esse SEP está sendo modernizado com inclusão de novas lógicas e atualizações
tecnológicas advinda da aplicação do padrão IEC 61850.
A arquitetura deste novo SEP a ser instalado no tronco de 765 kV associado à UHE Itaipu
se encontra mostrado na figura 5.1-1.
O somatório do fluxo de potência ativa dos circuitos da LT 500 kV Itaipu 60 Hz/Foz do
Iguaçu medida na SE Foz do Iguaçu (GIPU), que é semelhante à geração de Itaipu 60 Hz, e o
somatório do fluxo de potência ativa nos circuitos da LT 765 kV Ivaiporã/Itaberá medido na
SE Ivaiporã e Itaberá (Fluxo para Sudeste) – FSE são insumos para a composição das lógicas,

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   83 

juntamente com os estados dos equipamentos que compõem o referido tronco de transmissão
em 765 kV.
Master-A

Master-B

IED TP-A

IED TP-B
IED IPU-A IED FI-A IED FI-A Tijuco preto
765 kV Tijuco preto
IED IPU-B IED FI-B IED FI-B IED LA-A
IED IV-A 500 kV
V
Itaipu 60Hz Foz do iguaçu Foz do iguaçu IED LA-B
IED IV-B
500 kV 500 kV 765 kV
Maiporã Itaberá 50
765 kV 765 kV
V V V
P P 50 50

CIPU VT
50 50 50 50 50
P P V P P
Tijuco preto
VT
50 50 50 345 kV
P P V P P

VT Ibiuna
50 50 50 50 50 345 kV
P P V P P

50

50
67 67 67
Ibiuna
50 500 kV
Batéias
Cascavel oeste Ivaiporã
500 kV
500 kV 525 kV

IED IB-A
Salto Londrina Areia
Santiago 525 kV 525 kV IED IB-B
525 kV

Figura 5.1-1 – Arquitetura do novo SEP do tronco de 765 kV associado a seguir a UHE Itaipu

O segundo grande SEP instalado no SIN foi concebido em 1999, quando da entrada do
primeiro circuito em 500 kV da Interligação Norte/Sudeste, interligando a usina hidrelétri-
ca de Serra da Mesa, em Goiás, até a subestação de Imperatriz, localizada no sudoeste do
Maranhão. O objetivo principal desse SEP era manter o bom desempenho dinâmico do sis-
tema Norte/Sudeste, além de minimizar sobretensões frente às emergências mais críticas ao
longo desta Interligação. Com a entrada do segundo circuito, e consequente aumento do li-
mite de transmissão, passou-se a controlar também a sobrecarga no circuito remanescente e
ainda o desempenho dinâmico não só do sistema Norte/Sudeste como da Interligação Nor-
te/Nordeste. Este controle era feito pelo corte de unidades geradoras na UHE Tucuruí e na
UHE Lajeado. Com a entrada do terceiro circuito nesta Interligação foi agregado um aumento
no limite de transmissão e o SEP foi alterado para adequar suas lógicas frente aos novos limi-
tes e novas emergências múltiplas do Sistema. Na configuração atual este SEP atua no sentido
de manter, sempre que possível, os sistemas Norte, Nordeste e Sudeste interligados, evitando
a abertura da Interligação Norte/Sudeste para o controle das emergências.

ASPECTOS DE SEGURANÇA_ONS_2.indd 83 12/05/20 14:38


84    Sistemas especiais de proteção

A figura 5.1-2 mostra a topologia do tronco em 500 kV da interligação Norte/Sudeste e a


arquitetura do SEP instalado no referido tronco, mostrando os CLP escravos das subestações
que se reportam ao CLP Master em Serra da Mesa.

Figura 5.1-2 – Topologia da interligação em 500 kV Norte/Sudeste e arquitetura do SEP

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   85 

A partir do blecaute ocorrido no SIN em 11 de março de 1999, já mencionado anterior-


mente, originado por um defeito numa subestação de 440 kV no Estado de São Paulo, foi
criada, por determinação do MME, uma Comissão Mista formada pela Eletrobrás, Centro de
Pesquisas de Energia Elétrica – Cepel, ONS e Agentes do setor com o objetivo de melhorar
a segurança operativa do SIN. Dentre outras deliberações da Comissão Mista, foi decidida
a implantação de SEP, denominados por esta comissão de ECS – Esquemas de Controle de
Segurança.
Os ECS utilizavam Controladores Lógicos Programáveis – CLP monitorando grandes áreas
com a finalidade de resguardar o SIN no caso de perturbações de grande porte, sendo os mesmos
dimensionados a partir de critérios de emergências específicos caracterizados por perda simul-
tânea de linhas de transmissão instaladas na mesma faixa de servidão ou nas mesmas torres de
transmissão, seguida ou não de falha de disjuntor e perda de barra, conforme o caso.
Foram mapeadas cinco zonas para implementação destes ECS: Sul, São Paulo, Brasília/
Goiás, Minas e Rio de Janeiro/Espírito Santo. Ao longo da década de 2000 estes SEP foram
implementados e na sequência foram sendo revisados, em função da expansão da rede, até a
completa desativação dos mesmos.
Mais recentemente, em 2016, outro SEP de grande porte entrou em operação no SIN as-
sociado à usina hidrelétrica de Belo Monte, localizada no rio Xingu, no município de Vitória
do Xingu, no estado do Pará, com conexão na Rede Básica na SE Xingu 500 kV. A integração
da usina de Belo Monte ao SIN ocorreu sem a expansão prevista do sistema de transmissão
em corrente alternada, em face do atraso em obras importantes (é o caso da SE Parauapebas
e circuitos de 500 kV associados), que estabeleceriam caminho alternativo para escoamento
da geração das usinas da região Norte, em especial para a UHE Belo Monte. Para viabilizar
a conexão das primeiras unidades geradoras da UHE Belo Monte foi definido um SEP cujas
ações tiveram como critério de estudos as contingências simples e duplas na LT 500 kV Tucu-
ruí-Xingu e contingências duplas na Interligação Norte/Sudeste, no cenário Norte Exportador.
Com a entrada em operação do bipolo de corrente contínua no final de 2017, interligando
as subestações Xingu (PA) e Estreito (MG), foram atualizadas as lógicas do SEP, consideran-
do a nova configuração do SIN com interligações CA e CC em paralelo, bem como a perda do
bipolo. A nova versão do SEP teve como foco a máxima utilização dos sistemas de transmis-
são CA e CC, respeitados os requisitos de desempenho dinâmico e segurança elétrica do SIN.
A figura 5.1-3 (ONS, 2018) apresenta o diagrama esquemático das Interligações Nor-
te-Nordeste, Norte-Sudeste e Sudeste-Nordeste, quando da integração do bipolo 1 de Belo
Monte.

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86    Sistemas especiais de proteção

Figura 5.1-3 – Diagrama esquemático das Interligações Norte-Nordeste, Norte-Sudeste e Sudeste-Nordeste, quando da
integração do bipolo 1 de Belo Monte

Embora a entrada em operação do bipolo Xingu-Estreito, em 2017, tenha reduzido as


restrições para despacho das usinas da região Norte, permanecem problemas importantes as-
sociados à deficiência da rede CA para o horizonte em questão, como consequência dos pro-
blemas na expansão da rede CA em 500 kV.
A entrada em operação do segundo bipolo Xingu-Terminal Rio em 2019, apresentado na
figura 5.1-4 (ONS, 2018), contribuiu para minimizar tais restrições, porém ainda foram neces-
sárias ações complementares implementadas por meio do Sistema Especial de Proteção, cujas
lógicas foram revisadas para essa nova configuração.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   87 

Figura 5.1-4 – Diagrama esquemático das interligações Norte-Nordeste, Norte-Sudeste e Sudeste-Nordeste, quando da
integração do bipolo 2 de Belo Monte

O SEP de Belo Monte tem como objetivo evitar sobrecargas inadmissíveis na LT 500
kV Xingu – Tucuruí, evitar condição de instabilidade devido à excessiva injeção de potência
nas interligações CA e garantir o equilíbrio de carga-geração na região Norte. Suas ações são
corte de geração nas UHE Belo Monte e Tucuruí e comando de rampeamento de potência ou
bloqueio nos bipolos 1 e 2.
Além dos principais SEP citados, vários outros foram implantados no SIN decorrentes de
problemas como períodos de baixa hidraulicidade, atrasos na entrada em operação de insta-
lações de grande porte e análises de perturbações, atingindo cerca de 200 SEP em operação
até dezembro de 2019. A seguir são listados alguns eventos que ao longo dos anos levaram à
implementação SEP no SIN:
• 1984 – Entrada em operação da primeira unidade geradora na UHE Itaipu 50 Hz e do
1º bipolo de corrente contínua ±600 kV associado à UHE Itaipu 50Hz.
• 1986 – Entrada em operação do sistema de transmissão em 765 kV associado à UHE
Itaipu 60Hz.
• 1987 – Entrada em operação do 2º bipolo de corrente contínua ±600 kV associado à
UHE Itaipu 50Hz.
• 1990 – Entrada em operação da Interligação Norte/Nordeste, através das LT 500 kV
Sobradinho/São João do Piauí/P. Dutra/Imperatriz/Marabá/Tucuruí/V. Conde.
• 1994 – Entrada em operação da UHE Xingó.

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88    Sistemas especiais de proteção

• 1999 – Entrada em operação da 1ª etapa da Interligação Norte/Sudeste, composta pe-


las LT 500 kV Imperatriz/Colinas/Miracema/Gurupi/Serra da Mesa/Samambaia.
• 2001 – Implementação do racionamento de energia elétrica nas regiões Nordeste e Su-
deste (junho de 2001 a fevereiro de 2002) e na região Norte (junho a dezembro de 2001).
• 2002 – Blecaute da 21/1/2002 afetando as regiões Sul/Sudeste/Centro-Oeste com cor-
te de carga de 23.758 MW.
• 2009 – Integração do sistema Acre/Rondônia ao SIN, com a entrada em operação das
LT 230 kV Jauru-Vilhena.
• 2012 – Entrada em operação da 1ª unidade geradora da UHE Santo Antônio, conecta-
da ao Sistema Acre/Rondônia.
• 2013 – Entrada em operação da 1ª unidade geradora da UHE Jirau.
• 2013 – Entrada em operação da Interligação em 500 kV Tucuruí/Manaus/Macapá por
meio das LT 500 kV Tucuruí-Xingu-Jurupari-Silves-Lechuga.
• 2013 – Entrada em operação do 1º bipolo de corrente contínua ±600 kV Porto
Velho-Araraquara.
• 2015 – Entrada em operação do 2º bipolo de corrente contínua ±600 kV Porto
Velho-Araraquara.
• 2016 – Entrada em operação da UHE Belo Monte.
• 2017 – Entrada em operação do 1º bipolo de corrente contínua ±800 kV Xingu-Estrei-
to, associado ao escoamento da geração da UHE Belo Monte.
• 2019 – Entrada em operação do 2º bipolo de corrente contínua ±800 kV Xingu-Termi-
nal Rio, associado ao escoamento da geração da UHE Belo Monte.

5.2 - Classificação de SEP

Os SEP podem ser classificados de acordo com vários critérios, desde o tipo de evento
para o qual foram projetados e tipo de ação a ser implementada até quanto ao impacto que será
gerado no sistema caso suas ações não sejam efetivas ou em caso de recusa destas. O projeto,
comissionamento e manutenção destes sistemas deverão ser dimensionados levando em conta
estas classificações. Em seguida serão apresentadas algumas dessas classificações.

5.2.1 – Quanto ao propósito


Uma das classificações para os SEP leva em conta o objetivo de suas ações a partir de
contingências definidas nos critérios de estudos, podendo ser:

a) Controle de sobrecargas (interligações, linhas de transmissão ou transformadores)


É considerado SEP de controle de sobrecargas, quando esta violação atinge níveis acima
dos limites de curta duração, com o objetivo de evitar atuação de proteção dos equipamentos
e o consequentemente aumento da área de abrangência da perturbação.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   89 

Aplicações típicas destes SEP incluem múltiplas linhas de transmissão paralelas, ou múl-
tiplos transformadores em paralelo servindo a mesma carga. No caso de linha de transmissão,
o esquema é aplicado, por exemplo, quando do desligamento automático de uma das linhas de
transmissão paralelas e as remanescentes ficam sobrecarregadas. O SEP identifica condições
de sobrecarga e executa ações corretivas no sentido de se obter o equilíbrio de fluxos de carga
e geração evitando desligamentos em cascata.
Ressalta-se que ações automáticas para alívio de sobrecargas abaixo dos limites de emer-
gência de curta duração, e que poderiam ser mitigadas pela ação de controle de operador, não
são considerados SEP e sim Esquemas de Controle de Emergência – ECE.

b) Evitar instabilidades sistêmicas


Nesse caso, o SEP age como uma segunda linha de proteção do sistema, identificando as
contingências críticas, elencadas por estudos elétricos, evitando, por meio de ações controla-
das, como corte de geração, carga ou rampeamento de elos de corrente contínua, instabilidades
sistêmicas e consequentemente a atuação das proteções sistêmicas, tais como: proteções de
disparo por oscilação de potência ou perda de sincronismo, proteções de sobre/subfrequência
e proteções de sobretensão, cujas ações e consequências podem ser mais drásticas para o SIN.

c) Evitar autoexcitação de unidades geradoras


A autoexcitação é o fenômeno no qual um gerador perde o controle da sua tensão terminal.
Esta condição aparece em situações especiais em que a quantidade de potência reativa for-
necida pelo sistema é maior do que a máquina pode absorver, normalmente manifestando-se
após uma rejeição de carga. Isto se passa quando, na configuração do sistema após a perturba-
ção, o gerador fica ligado a uma carga capacitiva, como no caso de linhas longas, sem que a
atuação do seu regulador seja suficiente para controlar esta tensão.
Este fenômeno envolve aumentos exponenciais de fluxos e tensões em função do tempo,
provocando problemas graves nos dielétricos e, até mesmo, a queima do gerador. Em função
da gravidade das consequências que a autoexcitação pode provocar nos equipamentos do
sistema, devem ser efetuadas simulações para investigar a possibilidade de ocorrência deste
fenômeno.
Em função das características do mesmo, extremamente grave e tão rápido a ponto de não
haver tempo hábil para a promoção de ações protetivas por meio dos sistemas de proteção dos
equipamentos envolvidos, ações preventivas devem ser planejadas. Para isso, são concebidos
SEP, que devem a partir de contingências específicas evitar configurações sistêmicas proibi-
tivas, que associadas a sobrefrequências, provoquem autoexcitação em unidades geradoras.

5.2.2 – Quanto ao tipo de ação


Os SEP também podem ser classificados de acordo com seu tipo de ação protetiva, sendo
estes os principais:

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90    Sistemas especiais de proteção

a) Corte de carga
Os cortes controlados de carga podem ser necessários para alívio de carregamento de equi-
pamentos evitando desligamentos em cascata, cuja consequência é a perda de um grande bloco
de carga. Desta forma, para minimizar o impacto da perturbação preservando parte das cargas de
uma região é possível selecionar cargas menos críticas para corte (onde são preservadas cargas
de atendimento a hospitais, metrô, etc). Este tipo de ação controlada também agiliza a normali-
zação do sistema, por meio de manobras pré-estabelecidas em instruções de operação.

b) Corte/redução de geração
Estas ações envolvem o comando para desligamento de uma ou mais unidades geradoras.
Este tipo de esquema é usado em todos os tipos de unidades, mas especialmente em unidades
hidráulicas. A ação deste tipo de SEP se dá diretamente sobre os disjuntores associados às
unidades geradoras que fazem parte da fila de máquinas disponibilizadas para corte na usina
ou, dependendo do projeto do SEP, sobre os dispositivos de controle das unidades geradoras
para que seja promovida por estes a ação de redução de potência na usina.
A rejeição de geração pode ser aplicada para melhorar a estabilidade transitória, reduzin-
do o torque de aceleração nas máquinas que permanecem em serviço após uma perturbação,
evitando desta forma a perda de sincronismo entre subsistemas. Nestes casos o tempo de exe-
cução da ação do SEP é bastante crítico.
A rejeição de geração também pode ser usada para reduzir a transferência de energia em
certas partes do sistema de transmissão para resolver problemas de estabilidade de tensão ou
sobrecargas inadmissíveis. O SEP pode ainda atuar de forma a reduzir a potência de saída do
gerador em etapas temporizadas, nesses casos não há criticidade de tempo. Este tipo de aplica-
ção comumente é utilizado para alívio de carregamentos, durante os quais o corte de máquinas
é escalonado até que a sobrecarga monitorada seja mitigada.

c) Rampeamento de HVDC
A aplicação desta ação é utilizada com os mesmos objetivos dos SEP de corte de geração, ou
seja, para fins de evitar instabilidades sistêmicas ou para alívio de sobrecargas inadmissíveis em
equipamentos da rede, porém neste caso a ação do SEP é efetuada sobre o controle do elo de corrente
contínua, para que este inicialize o aumento ou a redução de potência desejado nos polos/bipolos.
Este tipo de ação executada pelos controles dos sistemas de corrente contínua geralmente
é bem rápida, na faixa de 100 ms, podendo inclusive ser aplicadas para SEP com criticidade
de tempo de atuação elevada.

d) Desligamento de equipamentos de transmissão ou alteração topológica de


subestações
O SEP pode comandar abertura de equipamentos de transmissão (linhas ou transforma-
dores) ou de disjuntores específicos de subestações para promover corte de geração ou cargas

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   91 

em grandes blocos, ou para evitar sobrecargas inadmissíveis em equipamentos por meio da


redistribuição dos fluxos de potência por alteração da topologia da rede.

5.2.3 – Quanto ao impacto no sistema


A classificação do SEP quanto ao impacto no sistema é realizada a partir da análise das
consequências da sua recusa de atuação. Este tipo de classificação é de extrema importância
visto que ela geralmente é utilizada para nortear os requisitos de implementação dos SEP.
Avaliar o impacto que a recusa do esquema pode trazer para o sistema é uma tarefa bas-
tante difícil e que deve partir de premissas definidas com base nas características do sistema
no qual o SEP é aplicado.
De acordo com o IEEE (Vahid Madani, 2009), com base em uma pesquisa global realiza-
da entre os membros do comitê C4 (Power System Relay Committee), os SEP podem ser clas-
sificados quanto ao impacto considerando simplesmente a sua abrangência de implementação,
a seguir estão apresentados os níveis de classificação.

Impacto local (Sistema de distribuição)


Entende-se como um SEP simples, onde todos os dispositivos de detecção, tomada de
decisão e ação estão localizados dentro de uma subestação de distribuição. A ação deste tipo
de SEP geralmente é sobre um alimentador radial ou uma pequena parte da rede e a sua recusa
iria afetar uma parcela muito limitada do sistema de distribuição.

Impacto local (Sistemas de transmissão)


No caso desse tipo de SEP, todos os seus dispositivos de detecção, tomada de decisão e
ação estão localizados dentro de uma subestação de transmissão. A ação deste tipo de SEP
geralmente afeta apenas um pequeno Agente de transmissão, ou parte de um grande Agente, e
o impacto da sua recusa é limitado à parte de um subsistema.

Impacto em subsistemas
Esse tipo de SEP são considerados mais complexos, envolvendo o sensoriamento de múl-
tiplos parâmetros e estados do sistema de energia elétrica. As informações são coletadas lo-
calmente e remotamente, entretanto o dispositivo de tomada de decisão comanda as ações a
partir de um local específico. Os sistemas de comunicação são geralmente necessários tanto
para coletar informações de insumo do SEP quanto para iniciar as ações corretivas remotas. A
recusa de operação deste tipo de SEP tem um impacto significativo em pelo menos um subsis-
tema, composto por mais de um Agente de transmissão e/ou geração.

Impacto em ampla área


Os SEP deste tipo são os mais complexos e fazem parte de uma estrutura que envolve
vários níveis de lógicas, tomada de decisão e comunicações. Esses tipos de esquemas coletam

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92    Sistemas especiais de proteção

dados locais e remotos de vários pontos do sistema e podem iniciar ações corretivas em vá-
rios níveis hierárquicos, a partir de informações sincronizadas em tempo real, desde ações
de controle, passando pelas ações preditivas de SEP até ações corretivas compatíveis com as
proteções sistêmicas, todas coordenadas dentro de uma única estrutura. O impacto da recusa
deste tipo de SEP, que faz parte de um amplo esquema de controle e proteção, é significativo
em todo o sistema interligado, ou em uma parte importante do mesmo, podendo inclusive ter
reflexo internacional.
O tipo de classificação apresentada pelo IEEE, considerando o impacto em função da área
de abrangência de implantação do SEP, é mais adequada na aplicação em sistemas com dis-
tribuição de carga e geração mais homogênea. No caso do sistema elétrico brasileiro, no qual
os grandes blocos de geração estão localizados a grandes distâncias dos centros de cargas e
as regiões do País possuem características climáticas, geográficas e socioeconômicas bastante
diferenciadas, refletindo diretamente na distribuição de carga, esse tipo de classificação torna-
-se de difícil aplicação.

Outro exemplo de classificação de SEP quanto ao impacto no sistema é a utilizada no


Nordeste dos Estados Unidos definido pela NPCC – Northeast Power Coordinating Council
(NERC, s.d.), que é uma das oito entidades regionais que compõem o NERC – North Ameri-
can Electric Reliability Corporation. Esta classificação é baseada nas características e práticas
regionais utilizadas, conforme mostrado a seguir.

Tipo I
São os SEP projetados para reconhecer as contingências previstas dentro dos critérios
de estudos de planejamento da operação evitando condições anormais de operação devido a
ações preditivas. Este tipo de SEP tem como objetivo retornar o sistema a uma condição de
operação estável sem violações. A recusa deste tipo de SEP tem um impacto adverso signi-
ficativo fora do subsistema envolvido, ou seja, podem provocar instabilidades, violações de
limites ou perdas de cargas descontroladas.
Tipo II
São os SEP projetados para reconhecer contingências extremas, baseadas em critérios
especiais mais críticos do que os normalmente utilizados nos estudos de planejamento da ope-
ração, evitando condições anormais de operação por meio de ações preditivas. As ações deste
tipo de SEP nem sempre retornam o sistema a uma condição normal de operação sem viola-
ções, em função da severidade da contingência. A recusa deste tipo de SEP tem um impacto
adverso significativo fora do subsistema envolvido, ou seja, podem provocar instabilidades,
violações de limites ou perdas de cargas descontroladas.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   93 

Tipo III
São os SEP cuja operação incorreta ou recusa na operação não resultam em impacto ad-
verso significativo fora da área local, ou seja, do subsistema envolvido.

Este tipo de classificação também é de difícil aplicação no SIN, já que está fortemente
associada às peculiaridades do processo de planejamento e indicação de SEP adotados pelo
NPCC. Também se entende que este critério se aplica com maior facilidade em sistemas com
distribuição homogênea de carga e geração.
O sistema de produção e transmissão de energia elétrica do Brasil, conforme já foi men-
cionado, é um sistema hidro-termo-eólico de grande porte, com predominância de usinas hi-
drelétricas e com múltiplos proprietários. O Sistema Interligado Nacional é constituído por
quatro subsistemas: Sul, Sudeste/Centro-Oeste, Nordeste e a maior parte da região Norte. A
figura 5.2.3-1 (ONS, 2020b) ilustra esses subsistemas no mapa do sistema de transmissão do
SIN com horizonte de 2024.

Figura 5.2.3-1 – Subsistemas do SIN

ASPECTOS DE SEGURANÇA_ONS_2.indd 93 12/05/20 14:38


94    Sistemas especiais de proteção

A interconexão dos sistemas elétricos, por meio da malha de transmissão, propicia a trans-
ferência de energia entre subsistemas de forma a explorar a diversidade entre os regimes hi-
drológicos das bacias.
Outra característica que reforça a complexidade da operação do SIN é a discrepância de
cargas entre os subsistemas que o compõem. A tabela 5.2.3-1, apresentada no documento de
“Previsões de carga para o Planejamento Anual da Operação Energética 2020/2024” (ONS,
2020e) mostra a distribuição heterogênea de cargas nas regiões do SIN. Sendo a maior con-
centração de carga na região Sudeste/Centro-Oeste e a menor na região Norte.
Tabela 5.2.3-1 – Previsões de carga do SIN – 2020/2024
Carga de energia (MWMédios)
Planejamento anual da operação energética 2020-2024
Subsistema 2020 2021 2022 2023 2024
Norte 6.079 6.301 6.543 6.792 7.027
Nordeste 11.574 12.101 12.630 13.173 13.749
Sudeste/CO 41.060 42.497 44.006 45.578 47.152
Sul 12.112 12.555 13.025 13.500 14.004
SIN 70.825 73.453 76.204 79.013 81.931

Sendo assim, em função do que foi apresentado torna-se essencial utilizar como fator
de ponderação na classificação do impacto do SEP para o SIN, além do montante de carga
interrompido como consequência da sua recusa, a população afetada e o percentual de carga
desligada, discriminando inclusive se a área atingida foi alguma capital de Estado ou consu-
midor industrial. Esta análise torna-se mais completa quando aplicada sobre duas visões: uma
de Estado e outra de Macrorregião (S/SE/CO ou N/NE), pois desta forma é possível avaliar
o impacto e consequentemente a importância do SEP para o Sistema, inclusive com uma per-
cepção socioeconômica.
Atualmente o ONS faz uma avaliação similar com a finalidade de informar aos orgãos
do setor e a população sobre os eventos ocorridos no SIN com interrupção de suprimento de
energia elétrica, classificados de forma a permitir a caracterização adequada da severidade dos
mesmos. Esta análise consta no documento Boletim de Interrupção de Suprimento de Energia
Elétrica no SIN – BISE e o indicador de severidade é o Grau de Impacto das Interrupções de
Energia – GIE.
O GIE é um indicador da gravidade da perturbação, cujo objetivo é mensurar a reper-
cussão e as consequências do evento para os consumidores de energia elétrica. É calculado
a partir do somatório de parâmetros de ponderação atribuídos a cinco fatores (total de carga
interrompida, tempo médio decorrido de interrupção das cargas, horário e dia da semana do
evento, abrangência percentual da área territorial e percentual da população afetada), que va-
riam numa escala de 0,25 a 2,0; em intervalos de 0,25 ponto.

ASPECTOS DE SEGURANÇA_ONS_2.indd 94 12/05/20 14:38


Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   95 

Na tabela 5.2.3-2 são apresentadas as matrizes de cálculo do Grau de Impacto das Inter-
rupções de Energia no SIN (Macrorregiões e Estado), utilizadas para elaboração do BISE,
conforme consta no Manual de Procedimentos da Operação – Módulo 10 – Submódulo 10.22
– RO-AN.BR.04 – Informações e Dados sobre Perturbações (ONS 2019a). Tabela 5.2.3-2 –
Matrizes de cálculo do Grau de Impacto das Interrupções de Energia no SIN
Tabela 5.2.3-2 – Matrizes de cálculo do Grau de Impacto das Interrupções de Energia no SIN
ESTADO
Pontuação
Aspecto
0,25 0,50 0,75 1,00 1,25 1,50 1,75 2,00
considerado
Carga in-
terrompida
10 < C ≤ 25 < C 40 < C ≤ 50 < C ≤ 60 < C ≤ 70 < C ≤
(MW) C ≤ 10 C > 80
25 ≤ 40 50 60 70 80
% do
Estado
Tempo
0 < T 15 < T ≤ 30 < T 60 < T ≤ 90 < T ≤ 120 < T ≤ 180 < T ≤
médio T > 240
≤ 15 30 ≤ 60 90 120 180 240
(min)
Dia útil
Dia útil Dia útil
Domingo/feriado
06:-
22:00-
00:00 Sábado Dia útil
Período do 08:00
24:00
Sábado
dia Sábado
Sábado
00:00- 08:00- 00:00-
22:00- 08:00- 18:00- 18:00-
08:-18:00
08:00 24:00 08:00
24:00 18:00 22:00 22:00
>30 e <
< 30 da
50 Ca- ≥ 50 da
Capital,
Abrangên- pital, ≥ Capital,
< 30
cia 10 < A ≤ 30 e < ≥ 50 polo 60 < A ≤ 70 < A ≤
A ≤ 10 polo in- A > 80
% do 25 polo in- industrial 70 80
dustrial
Estado dustrial ou 50 <
ou 25 <
ou 40 < A ≤ 60
A < 40
A ≤ 50
População
10 < P ≤ 25 < P 40 < P ≤ 50 < P ≤ 60 < P ≤ 70 < P ≤
% do P ≤ 10 P > 80
25 ≤ 10 50 60 70 80
Estado
MACRORREGIÃO
Pontuação
Aspecto
0,25 0,50 0,75 1,00 1,25 1,50 1,75 2,00
considerado
Carga
interrompida
5<C≤ 10 < C 20 < C ≤ 40 < C ≤ 60 < C ≤ 70 < C ≤
(MW) C≤5 C > 80
10 ≤ 20 40 60 70 80
% da ma-
crorregião

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96    Sistemas especiais de proteção

Tempo
0<T 15 < T ≤ 30 < T 60 < T ≤ 90 < T ≤ 120 < T ≤ 180 < T ≤
médio T > 240
≤ 15 30 ≤ 60 90 120 180 240
(min)
Dia útil Dia útil Dia útil
Domingo/feriado
06:- 22:00-
00:00 Sábado Dia útil
Período 08:00 24:00
Sábado
do dia Sábado Sábado
00:00- 08:00- 00:00- 22:00- 08:00- 18:00- 18:00-
08:-18:00
08:00 24:00 08:00 24:00 18:00 22:00 22:00
Até 50 ≥ 50 da
da Capi- Capital,
Abrangência tal, até ≥ 50 A > 70 das
20 < A ≤ 40 < A ≤ 60 < A ≤
% da ma- A ≤ 5 50 polo polo in- A > 70 duas ma-
40 60 70
crorregião industrial dustrial crorregiões
ou 5 < A ou 10 <
≤ 10 A ≤ 20
População
5 < P ≤ 10 < P 20 < P ≤ 40 < P ≤ 60 < P ≤ 70 < P ≤
% da ma- P≤5 P > 80
10 ≤ 20 40 60 70 80
crorregião

Por meio das tabelas de classificação e de posse do Grau de Impacto das Interrupções
de Energia (GIE), obtêm-se as classificações de acordo com a tabela 5.2.3-3 (ONS, 2019a e
2019b).
Tabela 5.2.3-3 – Classificação por impacto das interrupções de energia no SIN
Estado Macrorregião
Grau de impacto da Grau de impacto da
interrupção de Classificação interrupção de energia Classificação
energia (GIE) (GIE)
Distúrbio extremamente Blecaute extremamente
9,5 < GIE ≤ 10,0 9,5 < GIE ≤ 10,0
grave grave
8,5 < GIE ≤ 9,5 Distúrbio muito grave 8,5 < GIE ≤ 9,5 Blecaute muito grave
7,0 < GIE ≤ 8,5 Distúrbio grave 7,0 < GIE ≤ 8,5 Blecaute grave
Distúrbio de grande Perturbação de grande
5,5 < GIE ≤ 7,0 5,5 < GIE ≤ 7,0
porte porte
Distúrbio de médio Perturbação de médio
4,0 < GIE ≤ 5,5 4,0 < GIE ≤ 5,5
porte porte
Distúrbio de pequeno Perturbação de pequeno
2,5 < GIE ≤ 4,5 4,0 < GIE ≤ 5,5
porte porte
Distúrbio de efeito Perturbação de efeito
GIE ≤ 2,5 GIE ≤ 2,5
restrito restrito

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   97 

Uma análise do impacto do SEP, baseada na metodologia de avaliação de impacto de per-


turbação utilizada no BISE, é possível de ser realizada na fase de estudos para a sua definição,
visto que nessa etapa já foram observados os efeitos das contingências simuladas, que levaram
o sistema a um estado de emergência, antes mesmo da sua concepção.
Sendo assim, conhecendo-se os fenômenos envolvidos e os pontos da rede em que as
cargas foram desligadas é possível estimar a região afetada e o montante de carga e, a partir
dessas informações, relacionar o percentual da população afetada, discriminando se a área
atingida foi alguma capital de Estado ou consumidor industrial.
Adicionalmente, no caso de aplicação dessa metodologia para avaliação do impacto dos
SEP as matrizes de cálculo tornam-se mais simples, visto que o período do dia e o tempo
médio de restabelecimento das cargas não se aplicam. Assim, para que esses fatores tenham
menor influência no cálculo do GIE aplica-se aos mesmos a pontuação 1,0.
Após a soma da ponderação dos fatores e cálculo do GIE, utiliza-se a tabela 5.2.3-4 para
classificar o SEP quanto ao impacto no Estado e na Macrorregião (S/SE/CO e N/NE), poden-
do ser classificado como SEP de grande, médio e pequeno impacto.
Tabela 5.2.3-4 – Classificação por impacto dos SEP no SIN
Estado Macrorregião
Grau de impacto da Grau de impacto da
interrupção de ener- Classificação interrupção de energia Classificação
gia (GIE) (GIE)
7,0 < GIE ≤ 10,0 SEP grande impacto 7,0 < GIE ≤ 10,0 SEP grande impacto
4,0 < GIE ≤ 7,0 SEP médio impacto 4,0 < GIE ≤ 7,0 SEP médio impacto
GIE ≤ 4,0 SEP pequeno impacto GIE ≤ 4,0 SEP pequeno impacto

Com base nessas classificações, é atribuída ao SEP a classificação mais grave identificada.
Por exemplo, um SEP de Médio Impacto por Estado(s) e Grande Impacto por Macrorregião é
considerado de Grande Impacto para o SIN, do mesmo modo que um SEP de Grande Impacto
no Estado e com Pequeno Impacto na Macrorregião é considerado de Grande Impacto no SIN.
Conforme foi apresentado, existem formas diferentes de classificação de SEP quanto ao
impacto no sistema, sendo a adequação de aplicação das mesmas depende das características
do sistema aplicado. Todavia, independente da forma como a classificação é realizada, é ela
que norteia os requisitos de implementação do SEP, daí a importância da sua execução na
etapa de estudos de definição do mesmo.

5.3 – Análise da operação e desempenho de SEP

Os sistemas de proteção de uma rede elétrica são essenciais para a sua segurança, logo
o seu desempenho afeta diretamente a sua operação. Como no sistema real é praticamente

ASPECTOS DE SEGURANÇA_ONS_2.indd 97 12/05/20 14:38


98    Sistemas especiais de proteção

impossível evitar condições anormais de operação, pois a rede e os equipamentos elétricos es-
tão sempre sujeitos a falhas ou perturbações que deterioram de alguma maneira as condições
operativas que seriam desejáveis, é necessário que os sistemas de proteção estejam sempre
aptos a operar de forma correta, ou seja identificando e tomando as ações conforme foram
planejados.
Todavia, quando algum problema afeta o sistema de proteção, comprometendo o seu de-
sempenho, este deve ser identificado e corrigido. No entanto, devido à função deste tipo de
sistema o seu desempenho apenas é avaliado na ocorrência de eventos ou condições especí-
ficas, podendo inclusive falhas ocultas estar presentes durante anos sem identificação. Logo,
é de grande relevância a utilização de metodologias de análise de desempenho e o uso de
ferramentas baseadas em dados estatísticos, obtidos nas análises das ocorrências, para a iden-
tificação de problemas e sugestões de possíveis soluções.
Com o uso das ferramentas de estatística e indicadores de desempenho, é possível iden-
tificar problemas nos sistemas de proteção gerados por exemplo em função de práticas não
adequadas de manutenção, falhas intrínsecas à versões de firmware de algum fabricante de
dispositivos de proteção, projetos de engenharia inadequados, obsolescência de linhas de
equipamentos dos sistemas de proteção, dentre outros. Além do gerenciamento dos sistemas
de proteção sob o aspecto de operação, este processo também fornece subsídios para decisões
nas áreas de manutenção, engenharia e planejamento.
No caso dos SEP, esta análise acaba sendo mais ampla do que as realizadas para as pro-
teções de equipamentos do sistema, pois nas proteções de equipamentos as medições e as
ações tomadas são restritas a um único equipamento, enquanto no SEP as mesmas geralmente
envolvem mais de um equipamento do sistema.
Outro ponto importante, e que deve ser considerado na avaliação de desempenho de um
SEP, é que este pode ser constituído de uma ou mais lógicas de processamento, as quais são
compostas por um ou mais estágios. Os estágios, por sua vez, podem estar associados a uma
ou mais ações. Portanto, quando um SEP é solicitado a desempenhar as suas funções, uma ou
mais de suas ações de diferentes estágios e lógicas poderão ser comandadas e, por consequên-
cia, poderão implicar em atuações ou recusas de atuações.
A referida estrutura encontra-se apresentada na figura 5.3-1 (ONS, 2019b), cuja ilustra-
ção exemplifica a solicitação da Lógica de um SEP genérico e comando das ações do seu
Estágio 1, dentre as quais verifica-se uma recusa de atuação (ação “n”). Isto significa que
havia condições suficientes para a execução de todas as ações do estágio acionado (Estágio
1), porém 1 (uma) das ações não foi concluída, o que caracteriza uma recusa de atuação as-
sociada à ação “n”.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   99 

Figura 5.3-1 – Estrutura genérica de um SEP

Para o evento em questão, considera-se que não houve a necessidade de acionamento dos
demais estágios da Lógica 1, bem como os insumos das demais lógicas não foram suficientes
para que fossem solicitadas. Como efeito, não ocorreu o comando de suas respectivas ações.
O desempenho de um SEP, ou seja, o resultado global das ações comandadas pelas lógicas
solicitadas, que devem cumprir com o objetivo sistêmico para o qual o SEP foi projetado, é
afetado diretamente pelo desempenho de cada uma dessas ações, que podem ter sido corretas,
incorretas ou terem recusado a atuar. Entretanto, independentemente se uma ou mais atuações
incorretas ou recusas de atuação tenham comprometido ou não o desempenho do SEP, as
anormalidades devem ser devidamente apuradas.
Portanto, a análise do comportamento do SEP durante uma perturbação deve contemplar
dois critérios de avaliação: o seu desempenho (resultado global, apurado por perturbação);
e as atuações e recusas de atuação relacionadas às ações (resultado localizado, apurado por
desligamento).
Cabe ainda ressaltar os casos em que o SEP não é solicitado, porém uma ou mais de suas
ações são comandadas inadvertidamente. Neste caso, as atuações apuradas são de caráter
acidental.

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100    Sistemas especiais de proteção

Encontra-se definida a seguir a metodologia de avaliação de sistemas especiais de proteção:

a) Quanto ao tipo de atuação


O tipo de atuação de um SEP é classificado para cada desligamento verificado na pertur-
bação, a saber:

Atuação correta
A atuação é considerada correta quando o SEP é solicitado e atua dentro da finalidade
para a qual foi aplicado, com base em grandezas elétricas, atuações de proteção e/ou status de
equipamentos supervisionados, dentro das faixas adequadamente ajustadas, para uma anor-
malidade dentro da sua área de supervisão, em tempo condizente com o previsto.

Atuação incorreta
A atuação é considerada incorreta quando o SEP é solicitado e atua em desacordo com
a finalidade para a qual foi aplicado, com base em grandezas elétricas, atuações de proteção
e/ou status de equipamentos supervisionados. A atuação incorreta é caracterizada pela exis-
tência de anomalias referentes a dados de entrada, processamento de lógica, transmissão de
dados ou comandos de desligamentos de equipamentos (ações), que tenham comprometido o
objetivo do SEP.

Recusa de atuação
É considerada a recusa de atuação quando o SEP é solicitado e deixa de atuar com a fi-
nalidade para a qual foi aplicado, quando existem todas as condições para a atuação satisfei-
tas. A recusa de atuação, a exemplo da atuação incorreta, é caracterizada pela existência de
anomalias referentes a dados de entrada, processamento de lógica, transmissão de dados ou
comandos de desligamentos de equipamentos (ações), que tenham comprometido o objetivo
do SEP. Ressalta-se que, quando a recusa ocorre em função do não acionamento da lógica,
por anomalia em dados de entrada, ou por anormalidade na própria lógica, a recusa deve ser
considerada no equipamento monitorado e não no equipamento que sofre a ação do SEP.

Atuação acidental
A atuação é considerada acidental quando o SEP atua sem ocorrência de distúrbio no sis-
tema elétrico de potência, isto é, sem que seja solicitado por grandezas elétricas, atuações de
proteção ou alteração de status de equipamentos supervisionados. A atuação acidental pode
ser causada, dentre outros fatores, por falhas humanas, anomalias em dispositivos de proteção,
fiação, controle e em transformadores para instrumentos (TP e TC). Observa-se que a taxa

ASPECTOS DE SEGURANÇA_ONS_2.indd 100 12/05/20 14:38


Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   101 

de acidentalidade é calculada por SEP instalado e não pelo número de ações associadas aos
SEP. Considerando este critério, a acidentalidade de um SEP é apurada uma única vez por
perturbação.

b) Quanto ao desempenho
A classificação do desempenho do SEP tem caráter global, ou seja, visa avaliar o resultado
do conjunto de ações de um SEP durante uma perturbação, quando é observado se o efeito
sistêmico para o qual o SEP foi planejado foi mitigado. Pode ser de dois tipos:

Satisfatório
O desempenho é considerado satisfatório quando o SEP atinge seu objetivo, mesmo que
alguma de suas atuações não tenha sido correta, em virtude de anomalias referentes a dados
de entrada, processamento de lógica, transmissão de dados ou comandos de desligamentos de
equipamentos (ações).

Insatisfatório
O desempenho é considerado insatisfatório quando o SEP deixa de atingir seu objetivo em
virtude de atuações incorretas ou recusas de atuação.
Ressalta-se que o desempenho não é medido em caso de atuação acidental do SEP, em
virtude de não ter ocorrido solicitação.

5.4 – Estatística de atuação dos SEP

Com base no tipo de atuação para cada uma das ações dos SEP executadas em uma per-
turbação, podem-se efetuar análises estatísticas para verificação da efetividade das atuações
para as quais os SEP foram concebidos. Com estes resultados, são geradas recomendações
para alterações e melhorias dos referidos sistemas.
Em uma perturbação, há a possibilidade de um mesmo SEP registrar mais de uma ação,
dependendo da sua finalidade e da gravidade da perturbação. Além disso, podem-se registrar
atuações de mais de um SEP por perturbação.
A figura 5.4-1 mostra uma estatística das atuações de 197 SEP instalados no SIN, para o
período de 2013 a 2018.
Foram consideradas 651 ações de SEP diversos, para perturbações ocorridas no SIN no
período de análise.

ASPECTOS DE SEGURANÇA_ONS_2.indd 101 12/05/20 14:38


102    Sistemas especiais de proteção

Figura 5.4-1 – Atuações dos SEP do SIN – 2013 a 2018

De forma a exemplificar o impacto provocado por uma atuação incorreta de SEP, será
apresentada a seguir uma perturbação de vulto ocorrida no SIN, envolvendo a interligação
Norte-Sudeste/Centro-Oeste, na qual além da recusa de uma lógica do SEP, que é o segundo
nível de proteção, houve também a não atuação da proteção sistêmica de disparo por oscilação
de potência (função 68OST). Como consequência, ocorreu a separação do sistema de forma
não planejada por meio da atuação de proteções de linha, o que agravou a perturbação.

PERTURBAÇÃO DO DIA 04/02/2014 ÀS 14h03min


A perturbação foi caracterizada pela perda dupla de dois circuitos (C2 e C3) em 500 kV
entre as SE Colinas e Miracema. Em face dos intercâmbios praticados no instante da pertur-
bação, o fluxo de potência no citado trecho era de 3.405 MW.
A figura 5.4-2 (ONS, 2014) mostra a configuração da área de origem da perturbação apre-
sentando as condições de operação das interligações, imediatamente antes da perturbação.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   103 

Figura 5.4-2 – Situação do sistema antes da perturbação

O SEP da Interligação Norte-Sudeste/Centro-Oeste foi concebido para atuar nesse tipo


de contingência, tendo como objetivo a minimização das consequências para o SIN. Para os
valores verificados no instante da perturbação (fluxo no trecho superior a 3.200 MW), as ações
esperadas para a lógica de perda dupla no trecho Miracema-Colinas do SEP são de três tipos:
1. Corte de geração nas usinas de Tucuruí e Estreito, com o objetivo de manter em sin-
cronismo as regiões Norte e Nordeste;
2. Abertura do circuito remanescente no trecho da Interligação Sudeste-Nordeste, de for-
ma a preservar a integridade dos equipamentos e evitar o estabelecimento de processo
oscilatório instável entre as regiões Norte/Nordeste e Sul/Sudeste/Centro-Oeste; e
3. Abertura de elementos (linhas e bancos de capacitores) para controle de sobretensão.

Na perturbação as seguintes ações do SEP ocorreram:


• Abertura do circuito remanescente (C1) no trecho Colinas-Miracema para preservar a
integridade dos equipamentos envolvidos e evitar o estabelecimento de processo osci-
latório instável entre as regiões Norte/Nordeste e Sul/Sudeste/Centro-Oeste.
• Desligamento de quatro unidades geradoras na UHE Tucuruí e duas unidades gerado-
ras na UHE Estreito com a finalidade de manter o sincronismo entre as regiões Norte
e Nordeste.

ASPECTOS DE SEGURANÇA_ONS_2.indd 103 12/05/20 14:38


104    Sistemas especiais de proteção

• Abertura da LT 500 kV Samambaia- Serra da Mesa C3 com o objetivo de controlar o


perfil de tensão no sistema após a abertura das interligações Norte/Sudeste e Sudeste/
Nordeste. Desligamento dos bancos de capacitores em 345 kV de 2 x 150 Mvar da SE
Samambaia, com o objetivo de controlar o perfil de tensão no sistema após a abertura
das Interligações Norte/Sudeste e Sudeste/Nordeste.
• Abertura da LT 500 kV Serra da Mesa-Serra da Mesa II, sendo que a ação esperada
seria a da abertura da Interligação Sudeste/Nordeste por meio do desligamento da LT
500 kV Serra da Mesa II-Rio das Éguas, que não ocorreu.
Como consequência da não abertura da Interligação Sudeste/Nordeste, os subsistemas
Norte/Nordeste permaneceram eletricamente interligados aos subsistemas Sul/Sudeste/Cen-
tro-Oeste. Tal condição levou à perda de sincronismo entre estes dois sistemas, conforme
atestam os registros de medição fasorial obtidos das PMU instaladas no SIN, mostrados na
figura 5.4-3.

Figura 5.4-3 – Registros de medição fasorial obtidos das PMU instaladas no SIN

Da mesma forma, as simulações realizadas na etapa de análise da perturbação indicaram


a perda de sincronismo entre os sistemas Norte/Nordeste e Sul/Sudeste/Centro-Oeste, com
formação de centro elétrico nas proximidades de Bom Jesus da Lapa II 500 kV.
A velocidade da oscilação observada após a abertura da Interligação Norte/Sudeste no tre-
cho Miracema – Colinas teve seu comportamento afetado pelo fluxo de potência interrompido
no trecho (3.405 MW), pelas características do sistema de transmissão remanescente (alta
impedância da Interligação Sudeste-Nordeste) e pelo instante no qual ocorre o bloqueio do
compensador estático de Bom Jesus da Lapa II pela sua lógica de subtensão. Para estas condi-
ções, a impedância medida pela proteção de disparo por oscilação de potência (68OST) da LT
500 kV Bom Jesus da Lapa II-Rio das Éguas, instalada em Bom Jesus da Lapa II, atravessou

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   105 

as suas características (externa e interna) com velocidade pouco superior ao valor de ajuste
para discriminação de oscilações instáveis e curtos-circuitos (1.000 Ω/s), o que resultou na
sua não atuação.
O mesmo comportamento foi observado nas simulações realizadas na etapa de análise
da perturbação, nas quais as oscilações medidas são ligeiramente superiores a 1.000 Ω/s.
Em face da não sensibilização da proteção de disparo por oscilação de potência (68OST)
da Interligação Sudeste/Nordeste, os subsistemas Norte/Nordeste permaneceram conectados
eletricamente aos subsistemas Sul/Sudeste/Centro-Oeste, porém, fora de sincronismo. Nestas
condições, foram observados severos afundamentos de tensão provocados pela formação do
centro elétrico na região de Bom Jesus da Lapa II. Como consequência, o terminal de Bom
Jesus da Lapa II da LT 500 kV Bom Jesus da Lapa II – Rio das Éguas foi desligado por lógica
de teleproteção, após 1,7 segundo do início da ocorrência (ver figura 5.4-4, obtida de registros
de medição fasorial). Esta abertura resultou na separação efetiva entre os sistemas Norte/Nor-
deste e Sul/Sudeste/Centro-Oeste.

Figura 5.4-4 – Registros de medição fasorial obtidos das PMU instaladas no SIN com detalhe da abertura da interligação
Sudeste-Nordeste

Após a separação dos sistemas, mostrada na figura 5.4-4, em face da rejeição de carga ob-
servada na região da UHE Serra da Mesa, observou-se elevação do perfil de tensão no tronco
de 500 kV, com as tensões estabilizando-se em cerca de 120% nos principais barramentos.
Como consequência, foram desligadas linhas de 500 kV pela atuação de suas proteções de
sobretensão temporizadas, nos trechos entre Serra da Mesa, Gurupi e Miracema.
A severidade da perturbação associada ao fato da LT 500 kV Serra da Mesa-Serra da Mesa
II estar aberta, o que diminui a efetividade da UHE Serra da Mesa no controle das sobretensões,
resultou na atuação de proteções de sobretensão no trecho Serra da Mesa II-Luziânia-Paracatu

ASPECTOS DE SEGURANÇA_ONS_2.indd 105 12/05/20 14:38


106    Sistemas especiais de proteção

4, com consequente separação das usinas de Lajeado e Peixe Angical do restante do SIN, cer-
ca de quatro segundos após o início da perturbação.
Com a abertura das interligações Norte/Sudeste e Sudeste/Nordeste, o sistema Norte/Nor-
deste (que se encontrava exportador) experimentou ligeira sobrefrequência de 60,97 Hz, com
o corte de unidades geradoras nas UHE Tucuruí e UHE Estreito, sem prejuízos para esse
sistema. Já o sistema Sul/Sudeste/Centro-Oeste (que se encontrava importador), sofreu queda
em sua frequência elétrica até o valor de atuação do 1º estágio do Esquema Regional de Alívio
de Carga – ERAC (58,5 Hz) nessas regiões, tendo a frequência atingido o valor de 58,48 Hz.
Após a atuação do 1º estágio do ERAC, observou-se a imediata recuperação da frequência
elétrica nos sistemas Sul/Sudeste/Centro-Oeste que estabilizou em 59,7 Hz após a atuação da
regulação primária nas unidades geradoras localizadas nestas regiões.
Na hipótese de que o SEP da Interligação Norte-Sudeste tivesse aberto a Interligação
Sudeste-Nordeste e não tivesse comandado a abertura da LT 500 kV Serra da Mesa-Serra da
Mesa II, nas condições de fluxo na Interligação e configuração observadas na perturbação,
seria verificado o isolamento da usina de Lajeado como resultado do desligamento de linhas
de 500 kV por atuação de suas proteções de sobretensão, permanecendo em operação a UHE
Peixe Angical, com consequências similares àquelas observadas na perturbação para as regi-
ões Sul/Sudeste/Centro-Oeste.

5.5 – Estudos de sistemas de potência para definição de SEP

Para projetar os SEP são necessários estudos específicos do sistema que permitam iden-
tificar o conjunto de cenários operativos e de contingências que resultem em violações ou
anormalidades no sistema. Em seguida, é necessário identificar quais parâmetros e dados da
rede são necessários para identificar tais condições operativas e contingências selecionadas,
sendo o terceiro passo, a definição das ações eficazes para o contorno do problema. Para isso,
alguns pontos devem ser considerados:

• Compreensão dos requisitos e da intenção da aplicação


Conhecer os requisitos, tais como independência entre os sistemas de proteção, tempos
de latência de processamento e comunicação, é de extrema importância, já que estes indicam
os insumos disponíveis para a elaboração das lógicas e as ações possíveis a serem tomadas.
Logo, requisitos diferentes podem gerar soluções diferentes.
Com relação à independência, quando esta é dispensada, e é permitido o compartilhamen-
to do mesmo dispositivo físico entre sistemas de proteção de equipamentos e SEP, variáveis
internas às lógicas de ambos os sistemas de proteção podem ser compartilhadas, possibilitan-
do dessa forma, a elaboração de lógicas de SEP a partir de variáveis que já foram processadas
em outro sistema de proteção. Todavia, quando a independência é exigida, os insumos deve-
rão vir diretamente da rede elétrica, para cada sistema de proteção. Desta forma, conclui-se

ASPECTOS DE SEGURANÇA_ONS_2.indd 106 12/05/20 14:38


Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   107 

que “ingredientes” diferentes geram soluções distintas que devem atingir o mesmo objetivo,
que é a mitigação do problema sistêmico.
Entretanto vale ressaltar que estes requisitos geralmente estão associados à dinâmica do
fenômeno a ser evitado e ao impacto do SEP no SIN, que deve ser identificado e classificado
considerando a consequência da sua recusa, a partir do montante de carga que será interrom-
pido, região, população, etc., considerando que quanto mais importante o SEP maior o nível
de confiabilidade exigido. Esta metodologia de classificação do SEP quanto ao impacto foi
apresentada no item 5.2 deste livro.

• Conhecimento das obras indicadas nos vários horizontes de planejamento


O conhecimento destas obras, com as suas respectivas previsões de entrada em operação,
é importante para possibilitar a estimativa da “vida útil” das lógicas elaboradas no SEP, já
que as mesmas podem ser revisadas ou desabilitadas conforme a expansão do sistema. Essa
visão de “vida útil” do SEP, auxilia na tomada de decisão sobre o nível de complexidade de
implementação do SEP. Assim, no caso de um SEP de “vida curta”, o mesmo poderá ter uma
implementação mais simples e barata, porém menos eficiente, proporcionando um corte maior
de carga do que numa solução mais sofisticada.

• Levantamento da análise estatística da contingência prevista para ativar o SEP


A partir deste levantamento deve ser avaliado se há sazonalidade dos desligamentos que
ativam o SEP, como por exemplo, contingências oriundas do período de queimadas ou des-
cargas atmosféricas. Este tipo de análise permite identificar se o período com maior proba-
bilidade de ocorrência da perturbação coincide ou não com o ponto de operação do sistema
com maior criticidade para a respectiva contingência, quando a efetiva atuação do SEP é mais
necessária. Essa avaliação também é útil para o planejamento de períodos de manutenção ou
revisão de lógicas, permitindo intervenções em períodos menos críticos.

• Avaliação de múltiplas soluções


Esta avaliação possibilita a escolha entre implementações mais simples e mais baratas,
embora menos eficientes, contra implementações mais complexas e caras, porém mais eficien-
tes. Desta forma é possível avaliar o custo benefício das soluções, levando em consideração
fatores como análises estatísticas, vida útil do SEP e etc.

• Diálogo contínuo entre as equipes das áreas de conhecimento envolvidas


É importante a interação entre as equipes de proteção e estudos elétricos, tanto dos res-
ponsáveis pela concepção do SEP quanto dos responsáveis pela sua implementação. Os de-
tentores dos ativos envolvidos no SEP devem disponibilizar dados como: especificações e

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108    Sistemas especiais de proteção

suportabilidade de equipamentos, infraestrutura de comunicação das instalações, ajustes de


proteções de equipamentos, etc.

• Conhecimento dos ajustes das proteções de equipamentos, SEP existentes e pro-


teções sistêmicas da área do SEP planejado.
Este conhecimento é importante para que as ações deste novo SEP sejam coordenadas
com os demais sistemas de proteção, respeitando a hierarquia de cada um deles.

Concluída a etapa de estudos, é iniciada a etapa de definição do projeto básico do SEP, que
consiste na elaboração de diagramas unifilares, diagramas lógicos e fluxogramas.
Nessa etapa, é realizada uma verificação mais criteriosa sobre a viabilidade técnica das so-
luções, sendo analisado, em conjunto com os agentes proprietários das instalações envolvidas,
os seguintes pontos: as funções de proteção necessárias; as condições de sensibilização; os
requisitos de tempo de atuação, e os requisitos de confiabilidade e de redundância, que devem
estar compatíveis com o seu objetivo e a sua classificação de impacto no sistema.

5.6 – Requisitos de implantação de SEP

Os estudos elétricos definem os requisitos funcionais dos SEP, indicando “o que deve ser
feito” no sistema para se evitar a propagação do distúrbio. Nessa etapa é indicado o que deve
ser identificado e as ações que devem ser tomadas. Com base nessas informações é elabora-
do o projeto básico do SEP que indica “o como fazer”, perseguindo níveis de confiabilidade
elevados condizentes com a sua importância para o SIN. Logo, para se obter esses níveis de
confiabilidade, requisitos técnicos devem ser atendidos para a implementação deste SEP.
Com base em requisitos técnicos, os SEP devem ser planejados possibilitando possíveis
ampliações e adequações de acordo com a expansão da rede, quando a interoperação entre fa-
bricantes passa a ser um requisito importante. Também deve ser considerada a necessidade de
uma comunicação eficaz e segura entre as suas partes físicas e virtuais, inclusive previsibilida-
des de interação com ferramentas e estruturas mais amplas envolvendo monitoramento e con-
trole. Devem prover facilidades para que sejam testados e relatem o seu próprio desempenho.
A seguir serão apresentados os principais requisitos que devem ser aplicados na imple-
mentação de SEP:

a) Requisitos de comunicação
Para os tipos de SEP que necessitam trocar informações ou tomar ações remotas, os re-
quisitos de comunicação são fundamentais para o seu desempenho e consequentemente para
a confiabilidade do sistema. Os dispositivos de comunicação geralmente são necessários para
enviar e receber status e/ou medições analógicas.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   109 

Considerando a importância das informações transmitidas pelos canais de comunicação,


é necessário um canal de comunicação robusto que ofereça:
• Baixa taxa de erro, de forma a garantir a integridade da mensagem – Os erros na transmis-
são de dados podem ocorrer por diversas razões como: indução eletromagnética, falhas de
sincronização entre o transmissor e o receptor, defeitos de componentes, ruído etc.
• Baixa latência – Latência é o atraso na transferência de dados entre componentes da
rede. Para aplicações direcionadas a sistemas de proteção, o tempo de transferência de
dados é crítico.
• Alta disponibilidade – A rede deve estar sempre apta a permitir o correto funciona-
mento do sistema. A disponibilidade está relacionada ao tempo e à acessibilidade que
se tem dos dados.
• Alta segurança – É a capacidade da infraestrutura de comunicação em combater
ataques cibernéticos e físicos, protegendo os dados críticos de serem capturados ou
corrompidos.
• Determinístico – As redes determinísticas permitem definir com precisão o tempo ne-
cessário para a transferência de informações entre os integrantes da Rede. Elas em-
pregam técnicas de multiplexação de tempo fixo, ou seja, cada canal recebe uma ban-
da pré-determinada e permanente. Existe compatibilidade com aplicações sensíveis
a baixo retardo, adequando-se a protocolos antigos, que não aceitam atraso. Como o
recurso não é compartilhado, a latência será constante e previsível.

Há algum tempo, a comunicação dos sistemas de proteção era feita por canais de comuni-
cação ponto a ponto independentes (fios piloto, sistemas de micro-ondas etc.), na maioria dos
casos, usando canais seriais. Estes trazem algumas características interessantes, como contro-
le mais fácil do tráfego da comunicação e um nível adequado de segurança.
Entretanto, nos últimos anos a comunicação aplicada a sistemas elétricos de potência so-
freu uma grande evolução, não apenas em função do avanço da tecnologia dos equipamentos
dedicados à comunicação, mas principalmente pela disseminação de linhas de transmissão
com cabos para-raios com núcleo de fibra óptica, denominados cabos OPGW (Optical Ground
Wire), que permitem transmitir dados em grande quantidade, alta velocidade e imune a ruídos.
Esse avanço traz inúmeras vantagens, permitindo inclusive a implementação de esquemas de
monitoramento, controle e proteção cada vez mais abrangentes e complexos, mas também imputam
novas questões que podem afetar a confiabilidade desses sistemas e que devem ser bem avaliadas.
Dentre essas questões está a oferta, dentro das novas tecnologias, de grandes larguras de
bandas viabilizando tecnicamente o compartilhamento desse recurso entre funções de comu-
nicação, supervisão e sistemas de proteção, além de facilitar a disseminação da aplicação de
canais roteados em proteção de sistemas de potência.

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110    Sistemas especiais de proteção

Estas opções são tecnicamente viáveis de serem utilizadas, porém não estão alinhadas com
os requisitos usualmente aplicados, nos quais funções de proteção, inclusive de SEP, integra-
das em equipamentos de telecomunicações devem ter interfaces dedicadas e independentes.
Estes requisitos se justificam uma vez que as funcionalidades desses sistemas exigem pro-
cedimentos de manutenção e índices de disponibilidade mais rigorosos quando comparados
aos sistemas de comunicação e supervisão. No entanto, se após uma análise de viabilidade
técnica e/ou de otimização de recursos, a opção seja pela utilização de canais roteados para
a implementação do SEP, deve ser prevista uma largura de banda suficiente para atender às
restrições de tempo de comunicação, além de sistemas de monitoramento ativo e supervisão
para garantir a qualidade do serviço, que deverá apresentar índices de confiabilidade iguais ou
superiores aos tradicionalmente obtidos nos canais dedicados.
É recomendável que o monitoramento ativo das redes de comunicação associado ao SEP
possa supervisionar e diagnosticar modos de falha, em tempo real, como por exemplo:
• Perda de integridade das mensagens;
• Ausência de mensagens previstas;
• Ausência de sinais de sincronismo;
• Presença de mensagens não previstas;
• Intervalos anormais entre mensagens previstas;
• Tempo anormal de propagação (latência) para mensagens previstas;
• Assimetria e variação excessiva (jitter) nos tempos de propagação de mensagens
previstas.

b) Latência
O tempo total de atuação do SEP é fortemente influenciado pelas redes de comunicação,
mas o tempo de processamento dos dispositivos de proteção que integram o SEP também deve
ser contabilizado. Outro ponto é que, para alguma infraestrutura de comunicação, a latência
do canal pode ser variável. Como um exemplo, em redes configuradas em anel ou redes em
malha nas quais a comutação devido a falhas de caminho pode ocorrer, os atrasos dependerão
da configuração da rede e podem ser maiores que o esperado.
Portanto, é importante que seja avaliado o tempo de latência total do SEP, que deve aten-
der aos requisitos de tempo de atuação definidos nos estudos para sua definição. Geralmente
os SEP associados a fenômenos de estabilidade sistêmica exigem tempos de latência totais na
faixa de 150 ms, enquanto SEP associados a sobrecarga têm tempos maiores, já que as ações
são tomadas na ordem de segundos.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   111 

c) Interoperabilidade
Como a implementação de SEP agrega geralmente diversos agentes de transmissão, de
geração ou de distribuição, envolvendo equipamentos e contratos com vários fabricantes, a
integração desses dispositivos para a composição das diversas funções do SEP seria uma ta-
refa extremamente complexa. Outro ponto que deve ser considerado, é que o SEP deve estar
em constante evolução acompanhando a expansão do SIN, demandando a integração de novos
agentes, e possivelmente novos fabricantes.
Logo, o requisito de interoperabilidade trouxe, além da facilidade de interligação de dis-
positivos e sistemas de fornecedores diferentes, a garantia da possibilidade de expansão da
instalação, integrando os novos recursos às soluções existentes.
Para permitir expansões futuras e integração com os sistemas existentes, requer-se que as
novas expansões utilizem sistemas interoperáveis. A interoperabilidade inclui a utilização de
protocolos idênticos, abertos, padronizados e configurados de forma compatível, que garan-
tam a comunicação com os sistemas atuais e futuros.
Esses requisitos são plenamente atendidos quando da utilização do padrão IEC61850, que
é um modelo de dados padronizado totalmente focado nos conceitos de orientação a objetos.
Para isso, emprega funções e atributos de dispositivos físicos (IED) encontrados em uma su-
bestação ou usina.

d) Redundância
Assim, como princípio norteador de confiabilidade, recomenda-se que os sistemas de
proteção sejam imunes a falhas simples em qualquer dispositivo ou função, equivalente ao
critério n-1 utilizado tradicionalmente no planejamento de sistemas elétricos. Este princípio
garante também a facilidade de intervenção para manutenção. Para isto, os SEP devem ser
totalmente redundantes e independentes, em hardware e software, e idênticos nas funções
desempenhadas. A redundância em hardware pode ser obtida pela duplicação física de dispo-
sitivos, sistemas de comunicação, alimentação auxiliar, sincronismo de tempo e demais aces-
sórios, evitando a ocorrência de falha física comum a mais de um dispositivo. A redundância
em software implica na utilização de unidades de processamento (CPU – Central Processing
Unit) independentes.
É facilmente perceptível que a redundância simples é uma alternativa para melhorar a
confiabilidade, mas não é a única. Esquemas mais sofisticados são possíveis, como votar entre
três sistemas independentes.
Os esquemas de votação normalmente consistem em três dispositivos principais, podendo
ser inclusive de fabricantes diferentes, que recebem as mesmas entradas analógicas e digitais de
fontes diferentes, nos quais dois ou três destes devem concordar em iniciar qualquer ação do SEP.
A lógica de decisão de um SEP por sistema de votação é exemplificada na figura 5.6-1.

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112    Sistemas especiais de proteção

Figura 5.6-1 – Sistema de votação

Nesse esquema de decisão, dois dispositivos precisam funcionar incorretamente ao mes-


mo tempo para que se tenha uma decisão incorreta do SEP, o que aumenta a segurança quando
comparado ao esquema de redundância simples, já que neste esquema basta a decisão incor-
reta de um dispositivo.
Com relação à dependabilidade, este esquema é semelhante ao de decisão por redundância
simples, pois em ambos a não operação de dois dispositivos implica na recusa de atuação do
SEP.
Logo, os esquemas de decisão por voto geralmente são aplicados quando é necessário um
alto grau de segurança do SEP eos estudos elétricos demonstrarem que a sua atuação incorreta
pode trazer consequências de grande impacto para o sistema.

e) Sensores e identificadores de contingências


Grandezas analógicas, obtidas por meio de sensores, e grandezas digitais, obtidas de con-
tatos auxiliares de seccionadoras e disjuntores ou de saídas de dispositivos de proteção, são
necessárias para a implementação do SEP, a fim de identificar anormalidades e alterações de
topologia da rede para o qual foi programada sua atuação.
Com relação aos sensores de grandezas analógicas, deve ser aferido na implementação,
se a precisão dos dispositivos utilizados e dos transformadores de instrumento (TC e TP) está
adequada aos valores de ajustes necessários para as lógicas do SEP. Um exemplo deste caso
é a aplicação de sensores de subcorrente para identificação de linha sem carga, alimentados
por enrolamentos de proteção de transformadores de corrente, nos quais os baixos valores de
ajuste necessários para a composição da lógica correspondem a uma faixa de baixa precisão
desse instrumento.
No caso de SEP com atuações em etapas escalonadas no tempo, para o seu correto funcio-
namento deve-se ter atenção aos seguintes ajustes:
• Níveis de atuação dos sensores para cada etapa – devem ser definidos considerando
a precisão dos dispositivos envolvidos e transformadores de instrumentos para que
sejam efetivos.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   113 

• Intervalos de tempo entre as atuações de cada etapa (temporizadores) – deve ser defi-
nido considerando a relação drop-out/pick-up dos dispositivos sensores, para a correta
coordenação dos estágios.

Outro ponto que deve ser considerado na etapa de implementação de um SEP é a apli-
cação de lógica de validação de medida das grandezas analógicas, de forma a discriminar a
perda de medida da medição “zero”. Com a utilização desta lógica, é possível que, em caso de
perda de valor medido ou medida inválida, sejam utilizados valores pré-definidos por estudo
para ativação das lógicas do SEP. Este procedimento garante a atuação do SEP mesmo em
caso de perda de medidas, porém de forma mais conservativa, evitando sua indisponibilidade
até que medidas corretivas sejam tomadas.
Ainda com relação às medidas de grandezas analógicas, é importante para o correto fun-
cionamento do SEP a verificação dos tempos de atualização dessas medidas, que devem refle-
tir para o SEP os valores pré-evento atualizados em tempo adequado, permitindo o processa-
mento das lógicas e as tomadas de ações.
A identificação das contingências ou alterações de topologias necessárias para a imple-
mentação de um SEP, é realizada pela verificação da desconexão de equipamentos. Uma for-
ma segura de garantir a identificação de equipamentos desligados é com a utilização das in-
formações advindas de contatos auxiliares de seccionadoras e disjuntores. Todavia, para que
problemas oriundos destes contatos não interfiram na validade da identificação, estes devem
compor uma lógica de verificação de discrepâncias de informações. Um exemplo de lógica de
verificação de discrepância de informações de estado de seccionadoras e disjuntores é mostra-
do na figura 5.6-2 (ONS, 2014a).
S7
S5 S5 Seccionadora
S5

1 0 Aberta
S1 S2 S3 S4 S5 S6 0 1 Fechada

0 0 Discrepância
(alarme)
1 1 Discrepância
(alarme)

S5 S5

Seccionadora S5 Discrepância
S5 E Aberta S5 E (alarme)

S5 S5
Seccionadora S5 Discrepância
S5 E Fechada S5 E (alarme)

Figura 5.6-2 – Lógica de identificação de discrepância de informações

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114    Sistemas especiais de proteção

A figura 5.6-3 (ONS, 2014a) apresenta uma lógica de identificação de linha aberta, para
um barramento de configuração disjuntor e meio.

Figura 5.6-3 – Lógica de identificação de linha aberta

Ressalta-se que nas subestações com poucos vãos, as lógicas de linha aberta devem con-
templar a perda de outros circuitos da subestação para considerar a sua influência no estado
do circuito em análise.
Outro requisito que agrega segurança ao SEP é a identificação de linha aberta realizada em
ambos os terminais, de forma redundante, pois desta forma é garantida a identificação correta
da abertura da linha, mesmo quando apenas um dos seus terminais foi aberto. A figura 5.6-4
(ONS, 2014a) exemplifica esta forma de implementação. No caso em que se opte por uma im-
plementação mais simples, com aplicação local, deve-se utilizar outro recurso para identificar
a abertura da linha no terminal remoto, como por exemplo, um sensor de subcorrente ajustado
acima da corrente de carga natural da linha (line charge) e abaixo da corrente de carregamento
mínimo da linha.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   115 

Figura 5.6-4 – Lógica redundante de identificação de linha aberta

f) Opções de arquiteturas
Após a análise dos requisitos funcionais, durante a qual são definidas as entradas e saídas
digitais e analógicas dos dispositivos, os requisitos de comunicação e as especificações téc-
nicas do dispositivo de tomada de decisão (dispositivo Mestre) do sistema, a etapa final do
processo de implementação do SEP é o desenvolvimento da arquitetura física.
O desenho de arquitetura física leva em consideração os requisitos técnicos do SEP e
mostra o número de dispositivos necessários por instalação, os requisitos de entradas e saídas,
a redundância de canais de comunicação, a redundância e localização do dispositivo Mestre
e dos dispositivos escravos, a sincronização de tempo, as instalações de interface homem/
máquina (IHM), etc.
As arquiteturas físicas são definidas após a identificação da necessidade de obtenção de
insumos e ações locais ou remotas, configurando: um SEP de implementação local ou um SEP
de implementação distribuída que cobre um subsistema.
Para o SEP de implementação local, todos os dispositivos de detecção, tomada de decisão
e controle estão tipicamente localizados em uma subestação.
Os SEP de implementação distribuída são mais complexos e envolvem a detecção de
vários parâmetros e estados do sistema. As informações podem ser coletadas localmente e
em locais remotos. As funções de tomada de decisão e lógica são executadas em um local.
Nesse caso, são necessários recursos de comunicação para coletar informações e iniciar ações
remotas.
A figura 5.6-5 exemplifica esse tipo de arquitetura plana, onde na parte central encontra-
-se o dispositivo Mestre (ou Master), responsável pelas operações do SEP, se comunicando

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116    Sistemas especiais de proteção

com os demais dispositivos escravos, responsáveis pela obtenção dos insumos e execução das
ações definidas pelo Mestre (ou Master).

Figura 5.6-5 – SEP de implementação distribuída – Arquitetura plana

As informações necessárias serão adquiridas pelos dispositivos escravos periodicamente,


pré-tratadas e transmitidas, por exceção ou sob pedido, para o dispositivo Mestre.
Após o processamento das informações recebidas, o Mestre identifica a anormalidade
do sistema elétrico, para o qual foi projetado o SEP, e decide as ações necessárias, enviando
comandos para os dispositivos escravos. Estes dispositivos executam os comandos do Mes-
tre para que a integridade do Sistema Interligado seja mantida de acordo com a lógica de
programação.
Os dispositivos escravos também podem executar ações que só dependam de informações
locais sem interferência do dispositivo Mestre. Quando isto ocorrer o Mestre deverá ser noti-
ficado das ações que foram tomadas.
Nesse tipo de arquitetura é extremamente importante garantir o sincronismo de tempo
entre todos os dispositivos que compõem o SEP.
Ainda baseado em arquiteturas de implementação distribuída, para o caso de SEP mais
complexos, com ações mais abrangentes no sistema, pode-se optar por estruturas compostas
por mais de um dispositivo Mestre. Nesta situação, as decisões e ações do SEP são imple-
mentadas em dispositivo Mestre instalado em diferentes locais do sistema. Estes dispositivos
devem estar conectados, por links de comunicação, de forma a comandar ações coordenadas
hierarquicamente entre eles. A figura 5.6-6 exemplifica esse tipo de arquitetura hierárquica.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   117 

Figura 5.6-6 – SEP de implementação distribuída – arquitetura hierárquica

g) Independência
Conforme já mencionado, a independência entre os SEP redundantes é fundamental para
o atendimento de níveis elevados de confiabilidade.
Outro requisito técnico que agrega confiabilidade na implementação dos SEP é a indepen-
dência obtida por meio da separação dos seus dispositivos dos dispositivos de proteção e con-
trole tradicionais. Este tipo de requisito já é tradicionalmente aplicado na especificação dos
sistemas de proteção de equipamentos. Desta forma, as justificativas dessa separação incluem:
• Diferentes necessidades de manutenção e operação, já que os dois sistemas possuem
funcionalidades diferentes. Com relação à operação, por exemplo, os SEP podem ser
habilitados ou desabilitados em função da condição de operação do sistema. Com rela-
ção à manutenção, como os referidos sistemas de proteção são avaliados por requisitos
de desempenhos distintos, consequentemente, não terão as mesmas necessidades nem
periodicidades.
• Diferentes tempos de ação quando de falha nos dois tipos de dispositivos, visto que
dependendo da condição operativa do sistema elétrico, o SEP pode ficar indisponível
para a operação sem grandes consequências, enquanto no caso de indisponibilidade de
um sistema de proteção o equipamento associado fica indisponível para a operação.
• Necessidade de diferentes funções de proteção e faixas de ajustes, visto que SEP e sis-
temas de proteção de equipamentos detectam anormalidades completamente distintas
no sistema, para as quais os ajustes das grandezas elétricas observadas podem estar em
faixas de atuação bem distintas, inclusive com outras exigências de classes de exatidão
dos sensores.
• Alterações de ajustes e configuração do dispositivo podem impactar em outros esque-
mas. Ou seja, no caso de dispositivos compartilhados por SEP e proteção de equipa-
mento, quando da necessidade de reprogramação de lógicas ou revisão de ajustes em
um desses sistemas, falhas ocultas podem ser imputadas ao outro de forma inadvertida.

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118    Sistemas especiais de proteção

• Diferentes requisitos de tempo atuação. Esse é um dos principais requisitos funcionais


dos sistemas de proteção, devendo ser considerado que, quando da especificação do
processamento do dispositivo aplicado para a proteção de um equipamento, não foi
considerado que o mesmo poderia ter uma aplicação conjunta, com implementação
de lógicas adicionais. Sendo assim, esse compartilhamento pode afetar o desempenho
dos sistemas de proteção, inclusive imputando atrasos nas suas atuações.
• Disponibilidade dos dispositivos dos SEP para testes rotineiros do automatismo do
sistema, uma vez que o isolamento ou a indisponibilidade dos dispositivos dos SEP
podem não causar limitações no sistema, entretanto essa indisponibilidade pode não
ser aceitável para o sistema de proteção do equipamento.
• Necessidade de diferentes testes e pontos de isolamento, já que as ações dos sistemas
de proteção de equipamentos são locais e os SEP podem ter uma maior abrangência
de ações.
• Confusão potencial de operação e manutenção preventiva, em função de alguns pro-
blemas já comentados, tais como erros durante alterações de ajustes em um dos siste-
mas, erros de isolamento do dispositivo durante as manutenções em função das ações
distintas desses sistemas, dentre outros.
• Rede de comunicação, interfaces e roteamento são diferentes entre dispositivos dos
SEP e aqueles usados para proteção de equipamentos convencionais.
• Configuração de pontos de falha de modo comum entre dois níveis hierárquicos de
sistemas de proteção, quando a falha de um dispositivo compartilhado pode levar ao
mau desempenho de ambos os sistemas de proteção, agravando as consequências da
perturbação.

h) Supervisão
Considerando que o SEP é um sistema de proteção com ação sistêmica, este deve ser su-
pervisionado tanto pelo Centro de Controle local do agente quanto pelo Operador do Sistema
Elétrico Nacional. Logo devem ser previstos links de comunicação para estes Centros quando
do projeto de implementação.
As seguintes informações podem ser supervisionadas:
• Estado da rede de comunicação
• Estado dos dispositivos
• Estado das lógicas de controle
• Atuações do SEP
• Sequência de eventos (SOE)
• Grandezas analógicas e digitais
• Registros de atuação

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   119 

O sistema de supervisão pode ser ainda utilizado como ferramenta para efetuar uma rea-
valiação e modernização dos SEP que estejam em final de vida útil ou obsoletos.

i) Documentação
A eficácia em longo prazo de um projeto de SEP depende de quão bem ele é entendido pe-
las equipes de operação e manutenção envolvidas. A documentação adequada do SEP permite
que sua funcionalidade seja facilmente assimilada por qualquer pessoa.
As informações contidas na documentação do SEP deverão permitir a completa operação,
configuração, instalação, teste, expansão, manutenção e desenvolvimento de novas aplicações
do mesmo.

Os requisitos técnicos destacados nos itens acima têm o objetivo de agregar a maior con-
fiabilidade possível aos SEP sem considerar os custos envolvidos.
Torna-se necessária, portanto, uma análise econômica da implementação do SEP, uma
vez que, na medida em que se aumenta a confiabilidade, os custos imputados por sua falha
tendem a ser menores, porém, decidindo-se por um nível menor de investimento, quando se
aplicam índices de confiabilidade menores, os custos imputados pela falha do SEP serão ex-
tremamente maiores. Desta forma, o ponto ótimo desses fatores, que corresponde ao menor
custo total para o sistema, deve ser buscado. A figura 5.6-7 (Andrade, 2007) exemplifica esse
ponto ótimo em uma curva de confiabilidade.

Figura 5.6-7 – Curva de confiabilidade

Sendo assim, o custo do SEP deve ser ponderado à luz de seu impacto na confiabilidade
do sistema de energia elétrica.
Outro aspecto importante, é que os grandes SEP, cuja recusa ou falha provocam gran-
des impactos sistêmicos, também permitem maior exploração dos sistemas de transmissão
de energia, permitindo desta forma uma operação eletroenergética otimizada refletindo em

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120    Sistemas especiais de proteção

menores tarifas de energia elétrica. Assim, o interesse por um SEP com alta confiabilidade e
disponibilidade operativa, justifica o investimento.
Por outro lado, SEP de menores impactos sistêmicos, cuja recusa, falha ou indisponibi-
lidade não traga grandes prejuízos para os sistemas podem não justificar o investimento ne-
cessário para se atingir níveis máximos de confiabilidade. Nestes casos, pode-se flexibilizar
alguns requisitos.
A tabela 5.6-1 mostra uma sugestão de requisitos que podem ser flexibilizados dependen-
do da classificação do SEP pelo impacto causado ao SIN pela sua recusa. As marcações em
preto indicam os requisitos desejáveis. Em cinza, os requisitos que podem ser flexibilizados.
Tabela 5.6-1 – Requisitos de SEP
SEP quanto ao impacto
Requisitos
Grande Médio Pequeno
Baixa taxa de erro
Baixa latência
Alta disponibilidade
Comunicação
Alta segurança
Determinístico
Monitoramento ativo de rede
Latência * * *
Interoperabilidade
Dispositivos
Fonte de alimentação e acessórios
Redundância
Redes de Comunicação
Sistema de Voto
Lógica de Linha aberta com redundância de terminal
Identificação de Equipamento desligado por Conta-
Sensores/ iden- tos auxiliares DJ/SC com Lógica de Verificação de
tificadores Discrepâncias
Medidas Analógicas com Lógica de Validação de
Medida
Arquitetura: Local, plana ou hierárquica * * *
Independência de outros sistemas de proteção
Estado da rede
Supervisão Estado dos dispositivos
Nível local/ Cen-
Estado das lógicas, dados digitais e analógicos
tro de Operação
SOE e registros
do SIN
Atuação
Documentação

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   121 

Vale ressaltar que essa análise é genérica e que há casos específicos nos quais a não atu-
ação ou falha do SEP, embora não tenha grande impacto na segurança do sistema elétrico,
pode imputar alto risco de dano ao equipamento e/ou risco de vida. Esse caso pode ser exem-
plificado pelos SEP com objetivo de evitar configurações operativas proibitivas, que podem
provocar o fenômeno de autoexcitação em usinas, sendo de grande importância nessa situação
um alto nível de confiabilidade do SEP.
Outra análise importante para se definir o requisito de implementação relaciona-se ainda
ao aumento da confiabilidade, porém não mais sob o aspecto da dependabilidade e sim da
segurança do SEP, ou seja, a análise da consequência para o sistema de uma atuação incorreta
ou acidental desse SEP, quando o mesmo não deveria ter tomado a decisão de atuar. Nesse
caso, se a consequência tiver um grande impacto no sistema elétrico, deve ser considerado um
maior custo para a aplicação de um sistema de voto, com decisão de dois em três.

5.7 – Testes e manutenção dos SEP

Como todo e qualquer dispositivo de proteção e controle, os SEP podem, quando solicita-
dos a operar, apresentar uma atuação correta, incorreta ou uma recusa de operação. Há ainda
os casos de atuação acidental, caracterizada quando o SEP atua quando da ocorrência de even-
tos que não dizem respeito ao mesmo ou, até mesmo, sem a ocorrência de eventos.
Assim sendo, é importante que todo o cuidado seja tomado de forma que a confiabilidade
dos SEP seja a maior possível, face às consequências para o SIN de sua atuação incorreta,
acidental, ou recusa de atuação.
Mesmo que a estatística de atuação dos SEP apresente resultados considerados, do ponto
de vista puramente técnico, como satisfatórios, a ocorrência de falhas na atuação dos mesmos,
até em número reduzido de casos, pode trazer problemas, acarretando blecautes no SIN ou
interrupção de elevados montantes de carga envolvendo capitais de estados.
Trabalhar no sentido de assegurar o desempenho correto e adequado dos SEP é uma tarefa
a ser perseguida continuamente, desde a fase de concepção, passando pela sua implantação,
comissionamento, operação e manutenção com realização de testes periódicos, bem como nas
atualizações de suas lógicas.
O sucesso final da solução de implementação de um SEP depende de um plano de teste
adequado, que deve incluir testes de laboratório, testes de campo, validação de estudos e testes
periódicos automáticos e manuais.
Os testes de laboratório são projetados para validar o esquema geral do SEP em um am-
biente controlado. Estes permitem entradas controladas de várias fontes, com verificações
frequentes da saída em todas as etapas do processo de teste. Os testes de laboratório garantem
que os requisitos funcionais especificados sejam comprovados nesse ambiente, antecipan-
do verificações que se fossem realizadas no campo seriam mais caras e demoradas. Assim,
por exemplo, em um teste de laboratório pode ser verificada a lógica de programação, as

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122    Sistemas especiais de proteção

comunicações entre os dispositivos do SEP, o tempo médio de entrega e retorno de mensa-


gens, as falhas de mensagens e tempos de comutação da comunicação de backup.
Os testes de comissionamento em campo devem ser realizados para verificar o desempe-
nho do SEP para as condições anormais do sistema no mundo real. Os dados analógicos e di-
gitais que representam a dinâmica de várias configurações do sistema elétrico, como contatos
de fechamento e abertura de disjuntores, entradas de transformadores de corrente, tempo total
das comunicações implementadas entre os dispositivos escravos e o dispositivo mestre, e os
possíveis cenários de indisponibilidade de dispositivos no momento da execução de um sinal
de comando em uma determinada estação, todos precisam ser testados. Em geral, todos os
pontos de entrada e todas as condições lógicas precisam ser validadas com base nos resultados
esperados.
Todos os novos SEP, antes de entrarem em operação, têm que passar por um conjunto
de testes de comissionamento, sem necessariamente comandarem a abertura dos respectivos
disjuntores, de forma a se garantir o seu correto desempenho quando implantado, atuando
como concebido e esperado.
Com relação aos testes periódicos, para sua realização é necessária a elaboração de um
plano de teste adequado para simular a variação dos estados dos equipamentos monitorados
utilizados como insumo das lógicas do SEP. Estes testes são realizados sem interrupção de
nenhuma entrada, apenas checando os comados de saída reais, incluindo, se for o caso, os
circuitos de disparo de disjuntores.
Na definição da necessidade de realização de testes periódicos nos SEP devem ser levados
em conta os seguintes aspectos:
• Os diferentes tipos de SEP, classificados quanto ao impacto que sua recusa pode cau-
sar no sistema (pequeno, médio e grande);
• A complexidade dos trabalhos a serem executados durante os testes, como por exem-
plo, SEP que envolvem muitas subestações e diversos agentes proprietários. Neste tipo
de SEP, a execução de testes apresenta grande dificuldade na programação e execução,
devendo ser executados com os mesmos fora de operação, devido aos riscos de desli-
gamentos acidentais envolvidos.
• Riscos de atuações acidentais dos SEP durante a realização dos testes, acarretando a
necessidade de adoção de medidas especiais, tanto durante o processo de elaboração
das rotinas de testes quanto durante a realização dos testes propriamente ditos. Neste
caso, também é importante a avaliação das consequências das atuações acidentais do
respectivo SEP, para que seja estimado o risco x benefício deste teste.
• Tecnologia aplicada, pois de acordo com Apostolov (2011) não é recomendada a re-
alização de testes periódicos em SEP que utilizam modernas tecnologias, como por
exemplo, dispositivos de proteção que incorporam facilidades de auto monitoramento.
Testes sistemáticos ou rotineiros para todos os SEP podem elevar o número de suas
atuações acidentais e não são garantia de disponibilidade dos mesmos. Com relação

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   123 

aos SEP que utilizam tecnologias antigas, deve ser considerada a possibilidade de o
seu desempenho ser alterado ao longo do tempo, requerendo a realização de testes
periódicos para assegurar que os mesmos irão operar corretamente quando solicitados.

Contudo, independente do resultado das avaliações acima citadas, a necessidade de reali-


zação de testes periódicos em SEP fica evidenciada nas seguintes situações:
• Longo período sem atuação (pode ser tomado como parâmetro a periodicidade de ma-
nutenção de sistemas de proteção de equipamentos, da ordem de cinco anos);
• Alterações nas subestações ou mudanças topológicas da rede;
• Desempenho não satisfatório, constatado por levantamentos estatísticos;
• Revisão de ajustes ou adequações de lógicas recomendadas pelas áreas de estudos.

Para SEP mais complexos que envolvem uma ampla área de atuação, uma consideração
importante, de forma a evitar riscos conforme relatado, é a implantação de uma plataforma de
testes automatizados. Nessas plataformas, os casos de teste podem ser preparados com base na
aplicação pretendida do esquema, devendo incluir meios para facilitar a atualização de estu-
dos de caso conforme as condições do sistema mudem. Estas plataformas devem ser compos-
tas por dispositivos idênticos aos implementados em campo de forma a reproduzir o SEP na
forma mais fidedigna possível. Também deve compor essa plataforma recursos de simulação
de sistema de potência (RTDS, OPAL, caixas de testes microprocessadas, etc.).

5.8 – Evolução tecnológica na implementação de SEP

Ao longo dos anos, a evolução tecnológica permitiu a implementação de SEP com ações
mais otimizadas e mais abrangentes. Essa evolução será abordada a seguir, quando será apre-
sentado, como exemplo, um breve relato da modernização de um importante SEP do SIN,
além de novas soluções tecnológicas em desenvolvimento nessa área.

Modernização de um SEP de vulto no SIN


Os SEP foram implementados no SIN para resolver diversos problemas ocasionados por
atrasos de obras e condições hidrológicas críticas, que poderiam levar o sistema a um esgota-
mento de seus recursos.
Um dos primeiros Sistemas Especiais de Proteção de vulto aplicados no SIN foi o SEP
associado ao sistema de transmissão em 765 kV responsável pelo escoamento de parte da po-
tência gerada na UHE Itaipu 60 Hz.
O sistema de transmissão em 765 kV associado a UHE Itaipu era composto por dois cir-
cuitos compreendendo uma distância de 900 km entre a subestação de Foz do Iguaçu e Tijuco
Preto na região Sudeste, sendo previsto no projeto original a construção do terceiro circuito,

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124    Sistemas especiais de proteção

que deveria ter entrado em operação junto com a última unidade do setor de 60 Hz (1991),
mas sofreu sucessivos adiamentos, sendo que nesta configuração, a maximização dos limites
de transmissão de potência, resguardando a segurança operativa do sistema e dos equipamen-
tos envolvidos foram propiciados pelo Sistema Especial de Proteção implementado.
Este SEP, em sua primeira configuração, ficou em operação no período de março de 1989
a agosto de 1992, e dependia da ação de operadores para colocá-lo ou não em operação, em
função de condições operativas. Este SEP foi fundamental para garantir valores elevados de
geração de Itaipu 60 Hz e fluxo para o sistema Sudeste pelas linhas de transmissão em 765 kV,
com índices de confiabilidade superiores àqueles obtidos com geração e fluxo limitados, para
evitar a perda do circuito remanescente por oscilação, quando da saída de uma das linhas de
transmissão em 765 kV. Desta forma o SEP permitiu maior flexibilidade para o planejamento
energético da operação do sistema.
O referido SEP fazia a identificação de perda de linhas de transmissão por meio de uma
combinação de contatos auxiliares de disjuntores de 765 kV nas subestações de Tijuco Preto,
Itaberá, Ivaiporã e Foz de Iguaçu. Para identificação de sobrecarga, os relés de sobrecarga dos
transformadores foram utilizados com atraso em 3 segundos. Por meio de chaves de manobra
acionadas pelos operadores, o SEP era ativado de acordo com a topologia do sistema de 765
kV, o montante de geração na UHE Itaipu e a condição de fluxo de energia entre as regiões Sul
e Sudeste, totalizando mais de 60 condições a serem observadas.
Apesar de o SEP ter sido operado adequadamente, evitando maiores consequências para
o sistema interconectado, ocorreram desconexões acidentais excessivas, devido à seleção ina-
dequada de manobras realizadas pelos operadores que ligavam ou desligavam as chaves do
SEP. Como consequência deste fato, foi desenvolvido uma nova configuração para este SEP
utilizando Controladores Lógicos Programáveis (CLP), com o objetivo principal de minimi-
zar a intervenção humana na operação do esquema, otimizando as ações de corte de geração
na UHE Itaipu e reduzindo as restrições de operação devido ao SEP antigo.
Os CLP monitoram as grandezas digitais e analógicas necessárias para identificação das
condições do sistema e em função das grandezas monitoradas e das contingências em si, per-
mitem que o SEP tome a decisão do que fazer de forma segura e confiável.
Esta nova configuração do SEP do Sistema em 765 kV, que é gerenciado por Controla-
dores Lógicos Programáveis (CLP), constitui-se por várias ações de proteção denominadas
de lógicas, as quais tem por propósito minimizar os efeitos das contingências em linhas e/ou
transformadores do Sistema em 765 kV, além de também evitar condições operativas críticas.
Os CLP, ao identificarem a condição de contingência e de posse dos parâmetros operativos
monitorados (fluxos, período de carga, número de máquinas em Itaipu 60 Hz, etc.), ativam as
lógicas que comandam os desligamentos de unidades geradoras previamente selecionadas na
UHE Itaipu 60 Hz, linhas de transmissão ou reatores do sistema em 765 kV.
Em dezembro de 1996 esse esquema contava com 11 lógicas, e ao longo dos anos, com
a entrada do terceiro circuito desta interligação, de unidades geradoras na UHE Itaipu e da

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   125 

LT 500 kV Foz do Iguaçu-Cascavel, novas lógicas foram incluídas, totalizando 24 lógicas em


operação no ano de 2019.
Com o uso de CLP nos SEP foram obtidas as seguintes vantagens:
• A interferência humana é bastante limitada e essa atividade, se necessária, é supervi-
sionada, reduzindo assim a possibilidade de atuações acidentais;
• A validade de todas as informações externas é testada, portanto a possibilidade de
atuações acidentais ocasionadas por problemas nos circuitos auxiliares é praticamente
eliminada;
• A inclusão e modificação de lógicas pode ser realizada com o esquema em operação e
testada em laboratório antes de ser posta em operação; e
• Todas as inconsistências de informação são anunciadas imediatamente ao operador.

Devido à evolução dos dispositivos de proteção, principalmente com relação à capacida-


de de processamento, e ao desenvolvimento contínuo da tecnologia de comunicação, novos
SEP estão sendo implementados utilizando arquiteturas baseadas em dispositivos de proteção
digitais (IED) com comunicação em rede entre subestações, e utilizando o protocolo de comu-
nicação regido pelo padrão IEC61850. O protocolo fornece comunicação entre os dispositivos
de alta velocidade, implementando funções Ethernet, tais como prioridade e LAN virtual. O
padrão IEC 61850 define uma mensagem de evento orientada a objeto genérico que permite
a transmissão em alta velocidade de mensagens de dados analógicas de um para vários outros
dispositivos no período de 5 ms a 10 ms.
Um exemplo da utilização desta nova tecnologia, é a nova configuração proposta para o
referido SEP do Sistema em 765 kV, que utilizará dispositivos digitais (IED) nas subestações
envolvidas do tronco de transmissão em 765 kV e na UHE Itaipu, em substituição aos CLP.
O novo SEP utilizará arquitetura em rede baseada no padrão IEC61850 em um sistema ópti-
co com enlace digital da subestação de Foz do Iguaçu até a subestação de Tijuco Preto para
transferência de dados analógicos e digitais entre o dispositivo Mestre na UHE Itaipu e os
dispositivos locais das subestações.

Evolução dos SEP face à modernização dos sistemas elétricos


A configuração dos sistemas elétricos nos quais a energia elétrica é produzida por grandes
usinas, distantes dos centros de carga, compostas por grandes interligações com fluxo de po-
tência direcionado para os consumidores está mudando rapidamente.
Essa mudança ocorre na medida em que novos agentes independentes produtores de ener-
gia se conectam a rede. Também impulsiona essa mudança, o aumento da expectativa da
sociedade por requisitos de produção de energia mais correta ambientalmente, pelo uso de
usinas menores e distribuídas (pequenas hidrelétricas, térmicas a gás, energia fotovoltaica,
usinas eólicas, etc.).

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126    Sistemas especiais de proteção

Somando-se a esta geração descentralizada de energia, em um futuro próximo, haverá um


número cada vez maior de consumidores atuando como produtores de energia, usando painéis
solares e carros elétricos. Esse montante crescente de geração pequena, volátil e descentrali-
zada, adicionará cada vez mais incertezas, não apenas à quantidade em relação ao volume de
geração de energia, mas também, quanto ao sentido do fluxo de energia.
A figura 5.8.1 (Department of Energy, EUA, 2015) mostra um exemplo de como o sistema
elétrico pode se transformar do modelo centralizado tradicional em um sistema híbrido inte-
grado e com capacidade crescente de comunicação e processamento. Essa transição requer a
adoção de tecnologias avançadas tais como: medidores inteligentes (smart meters), redes de
fibra ótica e sem fio, dispositivos para armazenamento de energia, entre outros. Estes disposi-
tivos requerem uma nova camada de comunicação e controle para gerenciar um mix variável
de oferta e demanda de recursos, além de fornecerem novos serviços.

Figura 5.8-1 – Modernização do sistema elétrico

Contudo, para que essa nova realidade se torne possível permitindo um fluxo bidirecional
de energia elétrica e informação, de forma segura e confiável, são necessárias novas tecno-
logias, melhorias em infraestrutura, além de mudanças nas estruturas de mercado e políticas
públicas.
A modernização do sistema de energia elétrica deve abranger a aplicação de tecnologias
inteligentes, dispositivos de nova geração com proteções de segurança cibernética, novas mo-
delagens de rede e aplicativos avançados de sistema, tudo isto agregado por arquiteturas ino-
vadoras de sistemas de controle.
Em suma, pode-se se dizer que atualmente já existem cinco tendências principais que im-
pulsionam essa transformação:

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   127 

• Mudança da característica das fontes de geração de energia de poucas usinas grandes


para muitas usinas menores e com geração variável ao longo do dia;
• Mudança da demanda de carga nos mercados, devido a fatores demográficos, como
crescimento de cidades, e econômicos;
• Adoção de tecnologias de uso final mais eficientes em termos de energia, tais como o
uso de conversores eletrônicos (em vez de motores de indução e outros tipos de carga
com inércia favorável e curvas de inclinação);
• Integração de tecnologias de redes inteligentes para gerenciar sistemas de energia
complexos;
• Expectativas crescentes de uma rede elétrica resiliente e responsiva diante de eventos
climáticos, ataques cibernéticos e físicos e;
• Infraestrutura de eletricidade envelhecida que requer novas tecnologias para permitir
melhor detecção de falhas, atualizar recursos e melhorar a segurança cibernética.

Nesse contexto, a concepção e implementação de novos SEP terão que considerar estes
desafios, para que sejam implementados de forma robusta, confiável e adequados às condições
do sistema.
Para isso, as novas tecnologias nas subestações e os esforços crescentes de padronização
entre os dispositivos farão com que as arquiteturas baseadas no padrão IEC 61850 desempe-
nhem um papel fundamental na implementação de SEP mais inteligentes. O padrão IEC 61850
permite uma integração mais próxima entre os sistemas de automação, controle, proteção e
monitoramento das instalações. Além das novas tecnologias de automação local, as extensões
recentes do padrão (IEC 61850-90-1 - Comunicação entre subestações) abordam especifica-
mente aplicações de SEP, abrindo novas possibilidades de comunicação entre subestações.
Com isto, deverá ocorrer uma mudança significativa na concepção dos SEP, migrando da
utilização de informações limitadas e com ações locais, ou em áreas restritas, para um ambien-
te abrangente de informações com ações globais, porém seletivas, integrando redes mais inte-
ligentes. Isso tudo se torna possível com a capacidade de processamento de dados aprimorada,
novos protocolos padrão e melhor infraestrutura de comunicação (mais rápida e confiável).
A evolução do SEP está intrinsecamente ligada à aplicação de novas tecnologias, assim
como a implementação das redes elétricas inteligentes (Smart Grids). O termo rede elétrica
inteligente (Smart Grid) refere-se a um sistema de energia elétrica que se utiliza da tecnologia
da informação para fazer com que o sistema seja mais eficiente (econômica e energeticamen-
te), confiável e sustentável.
Mesmo que o sistema se torne uma rede inteligente (Smart Grid) a implementação de SEP
continuará a ser necessária, uma vez que sempre haverá condições previstas no sistema para
as quais se requer ações para garantia de uma operação segura do SIN.

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128    Sistemas especiais de proteção

Os sistemas certamente se beneficiarão do conceito e implementação da Smart Grid. A


interação entre tecnologias e técnicas para aprimorar os recursos de sistemas primários, sis-
temas secundários, SCADA / EMS, distribuição de energia elétrica, transformação de dados
em informação, comunicação, pesquisa etc. mostrará a melhor maneira de tornar realidade a
Smart Grid.
Em ambiente de Smart Grid, a implementação de SEP, ainda que mais abrangentes e sofis-
ticados, devem manter o conceito de simplicidade, sendo confiáveis, econômicos e eficientes.
Outro fator relevante é a disseminação da tecnologia associada a sistemas de medição
fasorial utilizando PMU (Phasor Measurements Unit), que associada a redes de comunicação
de alta velocidade, tem um papel cada vez mais importante na aplicação de sistemas de mo-
nitoramento, controle e proteção, capazes de identificar problemas nos sistemas elétricos fora
do alcance das ferramentas tradicionais.
Os conceitos principais da norma IEC61850 e da medição fasorial serão descritos nos
itens a seguir, além de exemplos de aplicação destas tecnologias para implementação de siste-
mas de monitoramento, controle e proteção de área ampla (Wide Area).

5.8.1 – Padrão IEC61850 e sua aplicação para SEP


O padrão IEC61850 surgiu basicamente da dificuldade encontrada nos processos de inte-
gração de informações durante as diferentes etapas da automação de subestações, principal-
mente quando da necessidade de integração de distintos equipamentos, frequentemente de
diferentes fornecedores.
Desta forma, uma das principais motivações do padrão IEC 61850 foi garantir a interope-
rabilidade – habilidade de diferentes dispositivos, independentemente do fabricante, de troca-
rem informações irrestritas entre si e as utilizarem para suas próprias funções (como bloqueio,
comando de abertura, lógicas ou religamentos).
Para isso, o padrão IEC61850 é estruturado em diversas partes, cada uma tratando de um
tópico específico e que permite uma abordagem praticamente completa no que se refere aos
sistemas de automação de subestações.
O padrão IEC 61850 prevê a comunicação horizontal como parte integrante da configura-
ção de automação de subestações. Neste tipo de comunicação é possível que os dispositivos
de proteção troquem informações entre si, garantindo a funcionalidade específica de cada um,
que pode depender de informações provenientes de outros dispositivos de proteção. Assim, é
possível realizar esquemas mais inteligentes para garantir a operacionalidade de determinadas
lógicas de proteção e controle.
Esta comunicação horizontal é realizada por meio das denominadas mensagens GOOSE,
que são mensagens tipo multicast originalmente projetada para carregar informações em esta-
do binário entre múltiplos dispositivos de proteção conectados na mesma rede Ethernet dentro
de uma subestação. O método ou técnica multicast é a transmissão de um pacote de dados
para múltiplos destinos ao mesmo tempo. Durante esta transmissão, o transmissor envia os
pacotes de dados somente uma vez, ficando a cargo dos receptores captarem esta transmissão
e reproduzi-la.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   129 

As mensagens GOOSE são realizadas através do tráfego de informações do tipo multicast,


ou seja, neste tipo de mensagem as informações são lançadas na camada OSI (Open System
Interconnection) mais inferior e atingem de maneira rápida todos os componentes conecta-
dos a esta rede. O modelo OSI foi criado em 1984 pela ISO (International Organization for
Standardization) e define como a troca de informação irá ocorrer entre os dispositivos na
rede. É um modelo de referência para interoperabilidade de sistemas, ou seja, ele possibilita a
comunicação entre hardware, software e tecnologias de redes distintas. O modelo OSI possui
7 camadas; 1 (Física), 2 (Enlace de Dados), 3 (Rede), 4 (Transporte), 5 (Sessão), 6 (Apresen-
tação) e 7 (Aplicação).
Utilizando este tipo de comunicação, apenas os dispositivos interessados na mensagem
GOOSE que trafega irão absorver a informação relevante que lhe é necessária, fazendo com
que as informações trafeguem de maneira eficiente, garantindo intertravamentos e lógicas
especiais em intervalos curtos de tempo.
O padrão IEC61850 traz o benefício de permitir que estas informações sejam trocadas en-
tre dispositivos de proteção digitais de diferentes fabricantes. Particularmente, os fabricantes
desenvolveram a capacidade de esses dispositivos trocarem informações entre si, mas com
protocolos dedicados a uma linha de produtos específica deste fabricante.
Quando se fala de comunicação horizontal, deve-se observar que a mesma se divide em 3
níveis de acordo com o padrão IEC61850 (Características Básicas do Sistema de Automação
de uma Subestação):
• Nível de Estação ou Station Level: representado pelo computador do sistema de con-
trole da subestação, composto de interface homem-máquina (IHM), além do gateway
que se comunica com o Centro de Controle Remoto ou ao Centro de Operação do
Sistema Elétrico de Potência onde a subestação está inserida;
• Nível de Vão ou Bay Level: efetuada com os dispositivos de proteção e controle que,
dependendo do projeto da instalação, pode ser agregado em uma única unidade ou
dividida;
• Nível de Processo ou Process Level: caracterizado pela instalação primária da subesta-
ção, com interfaces de processo digitalizadas. Neste caso, um equipamento convencio-
nal pode ser usado somente com conexões analógicas através de fiação e cabeamento
ou equipamentos convencionais com interfaces para o sistema digital (por exemplo,
usando Merging Units). Podem ser usados também transformadores de instrumentos
não convencionais conforme aplicados nas subestações totalmente digitais.

A figura 5.8.1-1 (Alves e Torres, 2018) uma representação simplificada de arquitetura de


comunicação.

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130    Sistemas especiais de proteção

Figura 5.8.1-1 – Arquitetura de rede de comunicação

Nesta representação podem ser identificados, principalmente, os dispositivos de proteção


e controle digitais (IED), a estação de controle incluindo IHM e um gateway para acesso de
outras redes.
Na rede IEC61850 podem trafegar as mensagens Goose (comunicação horizontal) entre
os diferentes dispositivos de proteção digitais (IED), que podem ser de diferentes fabricantes.
Nesta mesma rede, podem trafegar as mensagens verticais, ou seja, as mensagens que partem
dos dispositivos de proteção digitais (IED) e seguem em direção à estação de controle. Neste
caso, a principal finalidade é a supervisão e controle da subestação por meio do IHM disponi-
bilizado ao operador.

R-GOOSE e suas aplicações


As mensagens GOOSE são mensagens multicast que usam a camada 2 (Camada de Enla-
ce de Dados) no modelo OSI, e que foram projetadas para comunicações ponto a ponto dentro
da subestação. Neste tipo de mensagem não há grandes preocupações com segurança, uma
vez que estão confinadas na subestação. Não é desejável que estas mensagens sejam enviadas
para uma rede externa à subestação WAN (Wide Area Network).
O IP (Internet Protocol) é um protocolo da camada 3 e, por este motivo, o roteador somente
deixará passar pacotes IP para camada 3 (Camada de Rede). A camada de rede adiciona o concei-
to de roteamento acima da camada de enlace de dados, uma vez que esta camada é responsável

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   131 

pelo caminho que as informações têm que percorrer da origem até o destino. Quando os dados
chegam à camada de Rede, os endereços de origem e destino contidos em cada quadro (frame)
são examinados para determinar se os dados chegaram ao seu destino. Caso seja verdade, essa
camada 3 formata os dados em pacotes entregues até a camada 4 (Transporte). O IP permite o
roteamento de pacotes de dados (pacotes IP) entre diferentes redes a qualquer distância.
O roteador converte a mensagem GOOSE em um pacote IP roteável enviando-a para o
endereço de destino, tomando sempre cuidado na configuração da rede de forma que a rota
mais curta seja utilizada para mensagens de tempo crítico, como sinalizações de teleproteção.
Este roteador deve ter um firewall visando desta forma isolar a rede interna da subestação de
ataques provenientes do exterior, via WAN.
Desta forma, na camada 3 não há tráfego de mensagens GOOSE, e sim de R-GOOSE ou
GOOSE Roteável, com requisitos de segurança, endereço IP e transporte.
Na camada de transporte podem ser utilizados dois tipos de protocolos, o UDP (User Da-
tagram Protocol) e o TCP (Transmission Control Protocol). Enquanto o TCP é um protocolo
orientado a conexão que requer primeiro estabelecer comunicações entre um cliente e um
servidor, o UDP é sem conexão, o que o torna mais adequado para comunicações R-GOOSE.
O tráfego de rede UDP é organizado na forma de datagramas. Um datagrama compreende
uma unidade de mensagem. Os primeiros oito (8) bytes de um datagrama contêm informações
de cabeçalho e os bytes restantes contêm dados de mensagens. Um cabeçalho de datagrama
UDP consiste em quatro (4) campos de dois bytes cada:
• Número da porta de origem;
• Número da porta de destino;
• Tamanho do datagrama;
• Soma de verificação.

A soma de verificação do UDP protege os dados da mensagem contra adulterações. O


valor da soma de verificação representa uma codificação dos dados do datagrama calculados
primeiro pelo remetente e depois pelo receptor. Se as somas de verificação não corresponde-
rem, é indicação de que os dados foram adulterados ou corrompidos durante a transmissão e
o protocolo UDP o detecta. No UDP, a soma de verificação é opcional, em oposição ao TCP,
onde é obrigatória.
As muitas aplicações de trabalho do protocolo IEEE C37.118 confirmam que o uso de
UDP para o streaming dos dados dos sincrofasores é um método comprovado que também
pode ser usado para o GOOSE roteável.
Considerando a importância da soma de verificação como uma ferramenta de segurança
cibernética, a IEC 61850 8-1 Edition 2.1 define-a como obrigatória para as implementações
IEC 61850.

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132    Sistemas especiais de proteção

Além disso, R-GOOSE traz benefícios significativos para aplicações em longas distân-
cias. Os recursos de segurança cibernética definidos no padrão IEC 61850 90-5 e IEC 62351
fornecem um alto nível de segurança, que é um requisito fundamental para um SEP entre áreas
ou entre subestações.
O R-GOOSE pode ser usado em SEP de forma a comunicar mudanças de estado dos com-
ponentes do sistema que tenham impacto na estabilidade do mesmo. Também pode ser usado
por SEP para mandar mensagens R-GOOSE para componentes do sistema que normalmente
são usados para realizar determinadas ações, como rejeição de carga e/ou de geração.
Mensagens R-GOOSE desempenham um papel fundamental em esquemas de rejeição de
cargas e/ou geração. Eles podem ser usados para:
• Fornecerem informações sobre as mudanças no carregamento do sistema que podem
ser usadas para definir onde enviar os comandos de rejeição de carga e/ou geração, no
caso de uma perturbação em grandes áreas;
• Fornecerem informações sobre a mudança de estado dos componentes do sistema elé-
trico tais como linhas de transmissão ou transformadores de potência que possam
desencadear o disparo de um esquema de rejeição de carga e/ou geração;
• Executarem a rejeição de carga entre as diferentes camadas de um sistema hierárquico
de proteção de uma grande área.

Como mostrado na figura 5.8.1-2 (Alves e Torres, 2018), as mensagens R-GOOSE podem
ser usadas tanto em comunicações verticais (entre os diferentes níveis da hierarquia) como
em comunicações horizontais (entre os componentes do SEP no mesmo nível de hierarquia).

Figura 5.8.1-2 – Aplicações de R-GOOSE em um sistema de SEP hierárquico

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   133 

As comunicações são bidirecionais, desde que elas sejam usadas numa via para fornecer
informações ao SEP sobre o estado da rede elétrica de potência, e em outra via para mandar
informações do SEP para executar uma ordem de rejeição de carga e/ou geração.
Como exemplo do uso desta tecnologia, o estágio final de execução de um esquema de
rejeição de carga de uma subestação pode ser efetuado utilizando uma combinação de men-
sagens R-GOOSE e GOOSE em um sistema centralizado de rejeição de carga e/ou geração.
Também pode ser usado em subestações quando é executado como resultado da operação de
um SEP como mostrado na figura 5.8.1-3 (Alves e Torres, 2018) (Marques, s.d.).

Figura 5.8.1-3 – Rejeição de cargas adaptativa centralizada

No exemplo acima, de forma a alcançar um esquema de rejeição de carga e/ou geração


adaptativo, o controle situado na subestação recebe continuamente mensagens GOOSE analó-
gicas do alimentador de distribuição (ou num caso mais específico de linhas conectadas a par-
ques eólicos ou solares) quando há uma mudança na carga fora da faixa de tolerância definida
pelo usuário. Neste exemplo, o monitoramento e o relato de mudanças no carregamento dos
alimentadores de distribuição, serão baseados não no mecanismo de relatório da IEC 61850,
mas usando o chamado “Goose analógico”. O Goose analógico é uma mensagem Goose que
carrega mais do que um status, mas um valor de ponto flutuante ou um inteiro.
Um novo GOOSE analógico (com um número de estado incrementado) é enviado toda
vez que o valor da medição de potência ativa no alimentador sai de uma determinada banda
morta pré-definida. O controle de rejeição de carga e/ou geração utiliza esta informação para
determinar uma combinação ótima de cargas ou geradores para serem desligados baseados
num critério de otimização.

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134    Sistemas especiais de proteção

No caso de um distúrbio envolvendo uma grande área, o SEP envia uma mensagem
R-GOOSE através da WAN para o controlador da subestação que contém informações sobre a
quantidade de carga a ser rejeitada na subestação. Esta quantidade de carga é então associada
a possíveis grupos de alimentadores e uma mensagem GOOSE é enviada para rede da subes-
tação indicando quais alimentadores necessitam ser disparados de forma a retirar de operação
a quantidade de carga o mais próximo possível do valor requerido. Qualquer dos dispositivos
de proteção digitais (IED) pertencentes ao esquema de rejeição de carga (e/ou geração) são
assinantes de mensagens GOOSE enviadas do controlador da subestação recebendo a men-
sagem, e se houver indicação de que pertencem ao grupo de alimentadores que deverão ser
desligados, estes mesmos dispositivos de proteção digitais (IED) comandarão o disparo do
respectivo disjuntor associado.
Melhoria adicional da execução de rejeição de carga deste esquema pode ser obtida usan-
do o R-GOOSE para alcançar cargas individuais dentro do sistema de distribuição, em vez
de disparar os disjuntores do alimentador da subestação e, assim, desenergizar o alimentador
completo. O mesmo pode ser feito para linhas conectadas a parques eólicos ou solares, des-
ligando as unidades geradoras necessárias, ao invés de toda a geração conectada à respectiva
linha.
Este exemplo de sistema de rejeição pode ser concebido através de plataforma digital ba-
seada em software supervisório que apresenta interface com dispositivos digitais de proteção
e controle distribuídos ao longo do processo. A plataforma adquire o estado da planta elétrica,
tais como a posição de disjuntores e seccionadoras e as potências fornecidas e consumidas.
A partir destas informações, o sistema calcula o montante de geração no momento e deter-
mina as unidades geradoras a serem descartadas no caso de perda de linhas de transmissão,
para manter o equilíbrio carga-geração. Esta previsão de corte de geração é transferida para
os dispositivos de proteção e controle digitais, que, no caso de uma ocorrência, promove o
desligamento das unidades geradoras definidas pelo próprio sistema digital, de acordo com a
ordem de prioridades.

5.8.2 – Sistemas de medição fasorial


O Sistema de Medição Fasorial Sincronizada é, basicamente, um sistema de medição si-
multânea de fasores de grandezas elétricas, normalmente coletadas em instalações distantes
geograficamente entre si, usando as Unidades de Medição Fasorial, denominadas PMU (Pha-
sor Measurements Units), conectadas a um concentrador de dados fasoriais conhecido como
PDC (Phasor Data Concentrator). O PDC é uma unidade lógica que coleta os dados fasoriais
e os dados de eventos discretos das PMU.
As PMU são sincronizadas via satélite e, com isto, permitem sua aplicação na obtenção
de dados de áreas amplas (wide area data), para monitoramento e controle dinâmico dos sis-
temas de potência.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   135 

A figura 5.8.2-1 (Andrade, 2008) ilustra configuração básica do Sistema de Medição Fa-
sorial Sincronizada. Os dados são coletados no sistema elétrico pelas PMU, de forma sincro-
nizada (via satélite), e enviados ao PDC, ficando, assim, disponibilizados para serem usados
nas aplicações desejadas pelo usuário.

Figura 5.8.2-1 – Configuração de um sistema de medição fasorial

Para que seja entendida a aplicação de forma adequada do Sistema de Medição Fasorial
serão descritos a seguir alguns conceitos básicos relacionados aos chamados sincrofasores e
seus componentes (PMU, PDC e transmissão de dados).

Definições básicas sobre fasores


Fasor é uma ferramenta básica de análise de circuitos de corrente alternada, usualmente
utilizada para representar a forma de onda de um sinal senoidal de uma tensão ou corrente, na
frequência fundamental do sistema de potência. Os fasores possuem uma amplitude, geral-
mente representada em valores rms (root mean square) e um ângulo, geralmente representado
em graus.
Contextualizando, uma senoide pode ser representada pelas projeções de seus pontos
como um ponto girando em um movimento circular uniforme. Cada ponto de uma senoide
pode ser representado por um vetor de módulo constante numa posição diferente, como indi-
cado na figura 5.8.2-2.

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136    Sistemas especiais de proteção

v(ωt)
90º +Vp
120º 60º

C C
150º 30º

210º 240º 270º 300º 330º 360º


180º 0º 0º 30º 60º 90º 120º 150º 160º α=ωt
(º, rad)

210º 330º

240º 300º
270º -Vp

Figura 5.8.2-2 – Representação da forma de onda senoidal no tempo

Analisando figura 5.8.2-2 é possível observar que o ponto C, em qualquer posição angular
do seu movimento giratório, forma um vetor radial girante cujo módulo é constante e igual
ao valor de pico (amplitude) da senoide. Assim, uma senoide pode ser descrita por um vetor
radial girante com módulo igual à sua amplitude (valor de pico) e mesma frequência angular
ω. A cada período, ou ciclo completado, o vetor radial girante está sempre na mesma posição
angular inicial θ. Se o ciclo da senoide iniciar adiantado, o ângulo de fase inicial θo é positivo.
Se o ciclo da senoide iniciar atrasado, o ângulo de fase inicial θo é negativo, conforme ilustra
a figura 5.8.2-3 (Marques, s.d.).

Figura 5.8.2-3 – Ângulo inicial do vetor radial girante (a) adiantado, θ positivo (b) atrasado, θ negativo

Deste modo, esse vetor girante possui os mesmos parâmetros que descrevem a senoide, e
considerando uma dada frequência, para defini-lo basta o seu módulo e o seu ângulo de fase
inicial. A este vetor radial girante chamamos de Fasor.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   137 

Fasor é, portanto, um vetor radial girante com frequência ω, com módulo igual ao valor de
pico e com ângulo de fase inicial θ, que representa uma senoide de iguais parâmetros. Assim,
os sinais senoidais de tensão e corrente também podem ser representados por vetores girantes,
chamados Fasor Tensão e Fasor Corrente, como indica a figura 5.8.2-3.

Fasores sincronizados
Sincrofasor é um fasor medido com relação a uma referência de tempo absoluta. Com a
utilização de relógios de tempo precisos sincronizados via satélite, a medição de fasores passa
a ser sincronizada, originando o nome sincrofasores.
Assim, os sincrofasores podem ser analisados em pontos distintos do sistema, garantindo
maior confiabilidade nas ações de controle e proteção do sistema elétrico. Medições fasoriais
realizadas em pontos distintos, permitem a visualização exata da diferença angular entre dife-
rentes localidades.
Além disso, aplicações com sincrofasores podem promover ações corretivas de proteção
e controle que garantam a estabilidade do sistema; análise de eventos de áreas amplas; locali-
zação precisa de faltas e estudos avançados de parâmetros de linhas e estabilidade.

PMU – Unidades de Medição Fasorial


A PMU é um equipamento capaz de medir os fasores de corrente e de tensão, de forma
sincronizada, nos sistemas de potência. Esta sincronicidade é obtida por meio da amostragem
simultânea das formas de onda de corrente e de tensão, utilizando sinal de sincronismo de um
GPS.
Inicialmente, as PMU foram desenvolvidas com base em tecnologias já existentes para
dispositivos de proteção digitais (IED) e Registradores Digitais de Perturbação (RDP), utili-
zadas nos sistemas de proteção. A tecnologia de microprocessadores tornou possível o cálculo
direto de componentes de fase de sequências positivas nas quais se baseiam os cálculos utili-
zados nos algoritmos de detecção de faltas.
A precisão do sinal de tempo da ordem de 1 milissegundo é obtida com a utilização de
satélites. Estes enviam, para as estações receptoras, o sinal PPS (Pulse per Second), possi-
bilitando que o processo de aquisição seja executado de modo sincronizado em diferentes
subestações.
Um exemplo de estrutura básica de uma PMU é mostrado na figura 5.8.2-4 (Andrade,
2008), composta por um receptor de sinal GPS (Global Positioning System), um sistema de
aquisição (filtro e módulo de conversão A/D- Analógica Digital) e um microprocessador. O
filtro anti-aliasing é usado para filtrar ruídos no sinal de entrada da PMU. O sinal do GPS é
convertido numa sequência de pulsos de temporização de alta velocidade a serem usados na
forma de onda do sinal de amostragem. O microprocessador executa o cálculo dos fasores das
grandezas de corrente e de tensão.

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138    Sistemas especiais de proteção

Receptor de
GPS
Transdutor de
comunicação

Conversor
Filtro Microprocessador
A/D

Figura 5.8.2-4 – Diagrama simplificado de uma PMU

O fasor é estampado em intervalos de tempo e enviado a outro equipamento, o PDC, res-


ponsável pela armazenagem e concentração destes dados.
O PDC recebe os sincrofasores coletados pelas PMU, organiza estes dados de forma as-
síncrona, correlacionando-os no tempo por meio de etiquetas de tempo, armazena estes dados
e os disponibiliza de acordo com as aplicações solicitadas. Além disto, ele deve fazer um
tratamento de erros de transmissão, solicitar dados perdidos e, principalmente, ter operação
contínua em tempo real. Para atender a todas estas funcionalidades, o PDC deve apresentar
um alto desempenho computacional. Portanto, o PDC é uma das partes mais complexas do
sistema de medição fasorial sincronizada, demandando um alto investimento no desenvolvi-
mento de aplicativos que atendam às aplicações de forma adequada.
As principais aplicações destes sistemas de medição utilizando PMU estão relacionadas a:
• Medição e visualização do estado do sistema elétrico auxiliando na sua operação de
forma a evitar condições críticas do sistema;
• Avaliação do ponto de operação do sistema com relação aos aspectos de estabilidade
angular e de tensão;
• Análise e diagnóstico pós-distúrbio;
• Desenvolvimento e validação de modelos de estudos;
• Realização de funções de proteções sistêmicas, tais como perda de sincronismo.

O potencial que estes sistemas com PMU oferecem significa que eles terão um grande pa-
pel a desempenhar no fornecimento dos dados necessários para funções avançadas num futuro
próximo. A quantidade e o posicionamento ideal, além do desenvolvimento de novas funções
que possam explorar PMU nos sistemas de energia elétrica continuam sendo os principais
tópicos de pesquisas atuais.
Com o avanço do uso da tecnologia de medição fasorial os sistemas de medição utilizando
PMU podem ser utilizados de forma integrada com sistemas de monitoramento, controle e

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   139 

proteção. Estes sistemas voltados para o monitoramento, controle e proteção de áreas amplas,
estão sendo desenvolvidos em vários países do mundo. Este é um conceito extenso, que en-
volve diversas tecnologias de monitoramento dinâmico de sistemas elétricos, as quais, além
das PMU, também envolvem registradores de perturbação, dispositivos de proteção digitais
(IED), Controladores Lógicos Programáveis (CLP), instrumentos para medição de qualidade
de energia etc. a título de exemplo, os dados coletados de uma PMU em um Centro de Contro-
le de Despacho de transmissão podem ser usados para criar funções de controle e proteção do
sistema elétrico em tempo real para monitoramento e detecção de distúrbios em áreas amplas,
conforme será descrito a seguir.

• Sistemas de Monitoramento de Área Ampla (Wide Area Monitoring System – WAMS)


É um sistema baseado em fasores no qual é possível observar o estado dinâmico do sis-
tema elétrico. Os dados medidos são obtidos em PMU sincronizadas com precisão de um
microssegundo e armazenados. Os fasores medidos simultaneamente fornecem valores ins-
tantâneos do estado do sistema monitorado. Um sistema de monitoramento de área ampla
deve fornecer aos operadores informações em tempo real sobre o estado funcional do sistema
de transmissão, ou seja, informações em tempo real sobre o estado operacional do sistema de
transmissão e seus componentes. Essas informações incluem medições, estado das linhas de
transmissão (em serviço/fora de serviço), fluxo de potência nas linhas e frequência nas interli-
gações. Outras informações são calculadas a partir de medições, tais como equipamentos em
sobrecarga.
Um dos principais aspectos para que os WAMS funcionem da forma esperada é a esco-
lha das barras do sistema elétrico mais efetivas para serem monitoradas pelas PMU. Outro
aspecto relevante a considerar é o desenvolvimento de aplicativos adequados à utilização das
informações monitoradas.
O Brasil tem um projeto em andamento para um sistema de medição de área ampla
(WAMS) para o SIN, baseado em tecnologia de medição de sincrofasores. Esse projeto tem
o objetivo de agregar maior confiabilidade, segurança, observabilidade e controlabilidade à
operação do SIN, por meio do uso de ferramentas para apoio à tomada de decisão em tem-
po real e para análise de ocorrências, em ambiente offline. Para este WAMS, denominado
CC-PMS (sigla que significa em inglês: Control Center Phasor Measurement System), foi
contratado um Sistema de Medição Sincronizada de Fasores (SMSF) para monitoramento de
até 1.000 PMU, na taxa de amostragem de 60 fasores por segundo, com sistemas instalados
nos escritórios do ONS no Rio de Janeiro e em Brasília. A figura 5.8.2-5 mostra a arquitetura
simplificada do sistema de medição fasorial utilizado pelo CC-PMS.

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140    Sistemas especiais de proteção

Figura 5.8.2-5 – Arquitetura simplificada do sistema de medição fasorial

O sistema CC-PMS foi concebido para prover funções ajustadas para diferentes tipos de
uso, configurando diferentes ambientes, independentes um do outro. Foram previstos quatro
ambientes, quais sejam:
• OP: Ambiente para prover apoio às salas de controle do ONS, ou seja, com aplicações
de tempo real;
• Corpus: Ambiente com aplicações de análise de eventos e destinado a apoiar as áreas
corporativas, em especial às de análise de pós-distúrbio;
• ADOT: Ambiente para treinamento, composto de um simulador dinâmico de medição
fasorial e de todas as aplicações disponíveis nos ambientes OP e Corpus, habilitando a
confecção de treinamentos com cenários altamente sofisticados;
• SSH: Ambiente de homologação e testes de novas configurações/aplicações.

A figura 5.8.2-6 ilustra estes ambientes, onde se observa que, no ONS-Brasília só existe
o ambiente OP.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   141 

Figura 5.8.2-6 – Ambientes do CC-PMS

Fazem parte deste projeto aplicações para monitoração de oscilação eletromecânica; de-
tecção de ilhamentos; detecção e localização de distúrbios; determinação de limites de trans-
ferência dinâmicos e simulador de treinamento.
Atualmente o CC-PMS está em funcionamento experimental com 145 medições sincrofa-
soriais enviadas em tempo real. As medições encaminhadas estão sendo validadas e utilizadas
para a geração de base de dados e para a análise de resultados das aplicações.
A utilização deste sistema irá permitir a análise do comportamento dinâmico do SIN, faci-
litando a indicação de possíveis causas de distúrbios eletromecânicos, a obtenção de subsídios
para reajustes dos controladores das unidades geradoras, a identificação da necessidade de
novas medidas operativas, validação de modelos eletrodinâmicos e ainda a identificação da
necessidades de implantação de novos SEP ou proteções sistêmicas.

• Sistemas de Controle de Área Ampla (Wide Area Control System – WACS)


Com estes sistemas é possível observar o estado dinâmico do sistema elétrico, podendo ser
implementadas ações de controle em tempo real para que, após a detecção de uma condição

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142    Sistemas especiais de proteção

transitória, possam levar o sistema a um estado estável. São exemplos das ações de WACS:
controle de fluxo de potência, controle de potência reativa e controle de amortecimento.
Por enquanto, não há sistema de controle de área ampla (WACS) no Brasil. As expectati-
vas é que a experiência com o WAMS será um ponto de partida para que se comece a trabalhar
com o WACS.
Como exemplo desta aplicação, a Coreia do Sul implementou um sistema WAMS, seguin-
do a recomendação da NERC (North American Electric Reliability Corporation), onde foram
adicionadas funções de controle, constituindo um WACS. A NERC recomendou a instalação
WAMS (sistema de monitoramento de áreas amplas) em seu sistema, como fruto das análises
das consequências do blecaute que atingiu o nordeste dos USA e parte do Canadá em agosto
de 2003, que deixou mais de 50 milhões de pessoas sem energia, causando aproximadamente
seis bilhões de dólares em perdas econômicas.
Este WACS, mostrado na figura 5.8.2-7 (Kepco KDN, 2016) usa dados de fasores em tem-
po real baseados em GPS para reconhecer o estado da rede elétrica com rapidez e precisão. As
PMU são instaladas em 40 locais e 28 subestações na área metropolitana da Coreia do Sul e
são usadas para coletar dados de usinas e subestações em tempo real. Os dados coletados são
utilizados para prever a instabilidade do sistema por meio da análise da situação do sistema
em tempo real, permitindo a realização de ações de controle de geração e de tensão.

Figura 5.8.2-7 – Arquitetura do WAMS e WACS do caso exemplo

• Sistemas de Proteção de Área Ampla (Wide Area Protection System – WAPS)


São sistemas que agregam funções de SEP e de proteções sistêmicas, uma vez que moni-
toram condições de uma ampla área e podem tomar ações em áreas mais abrangentes do SIN.
Os sistemas WAPS podem ser implementados utilizando novas tecnologias de monitoramen-
to, proteção e comunicação.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   143 

As medições de área ampla, com possibilidade de identificar a localização do distúrbio,


possibilitam ainda a criação de esquemas para proteção de retaguarda das proteções tradicio-
nais dos equipamentos, além de funções de proteção do sistema com conceitos totalmente
novos. Alguns exemplos são:
• Ilhamentos controlados e inteligentes que impedem uma separação descontrolada do
sistema, implementando uma separação controlada adaptativa.
• Adaptação do corte de cargas com base em medições da taxa de mudança de frequên-
cia (RoCoF) imediatamente após a perturbação. A medição rápida do RoCoF é facil-
mente obtida pelas PMU que são adotadas no WAPS.
• Proteção adaptativa de perda de sincronismo. As condições de perda de sincronismo e
a separação do sistema são precursores do colapso e blecautes do sistema. À medida
que a formação de um centro elétrico se aproxima, o sistema experimenta oscilações
extremas de potência que degradam ainda mais as condições de tensão e podem levar
o sistema a se aproximar do colapso. Portanto, é interessante que qualquer condição
potencial de perda de sincronismo seja rapidamente reconhecida e evitada. Um WAPS
pode ser desenvolvido para monitorar as tensões de sequência positiva e os ângulos
em todo o sistema, e essas medições sincronizadas em tempo real podem ser usadas
para prever se as regiões do sistema estão se aproximando de uma condição de perda
de sincronismo. Essa previsão pode ser usada para iniciar uma separação controlada
das áreas que estão perdendo sincronismo ou, se a previsão estiver disponível com
antecedência suficiente, ações poderão ser tomadas para impedir que a condição de
perda de sincronismo ocorra e evitar a separação completa do sistema.

É esperado que um WAPS atue nas respostas reais do sistema, e execute apenas as ações
necessárias para manter a estabilidade do sistema. Esse WAPS tem como objetivo minimizar
interrupções, aumentar a confiabilidade do sistema e aumentar os limites de transferência de
energia.
Um exemplo de WAPS é o sistema desenvolvido pela BPA – Bonneville Power Adminis-
tration – EUA, utilizando medições fasoriais. As PMU nas subestações transmitem medições
fasoriais em tempo real para um concentrador (PDC) no centro de controle. O PDC envia os
dados combinados para o Sistema de Controle de área ampla (WACS) que analisa a estabili-
dade do sistema de potência com base nesses dados. Se o sistema de potência se aproxima dos
limites de estabilidade, o controlador WAPS executa a ação apropriada para evitar o colapso
do sistema. A figura 5.8.2-8 (Gúzman, et al., 2004) mostra a arquitetura simplificada deste
WAPS.

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144    Sistemas especiais de proteção

Figura 5.8.2-8 – Exemplo de WAPS utilizando PMU

Esse sistema utiliza um algoritmo rápido de detecção de transitórios que efetua cortes de
geração para manter a estabilidade. Esse esquema aproveita a alta precisão das medições fa-
soriais e baixa latência do sistema de medição para agir em menos de um segundo. Também
está incluída a ação de suporte de tensão que insere capacitores para complementar a saída
de geradores, usando fasores de tensão e corrente para monitorar o fluxo de potência reativa,
sendo que esta ação é mais lenta, com tempos de operação de um a cinco segundos. Ainda
foi avaliada outra função, com base no ângulo de fase e nas medições de frequência, para ser
implementada nesse WAPS.

• Sistema de Monitoramento, Proteção e Controle de Área Ampla (Wide Area


Monitoring, Protection and Control System – WAMPACS)
O desenvolvimento das tecnologias de microprocessadores, o crescimento no poder de pro-
cessamento de sinais de dispositivos de proteção e o aumento de disponibilidade de sistemas de
comunicação, ofereceram uma oportunidade para avaliar o conceito de proteção integrada.
As informações obtidas de várias usinas/subestações e de componentes podem ser usadas
para criação de novos princípios e esquemas de proteção. Dentro deste conceito, surgem então
os sistemas integrados de proteção, monitoramento e controle para aplicação em áreas amplas
(WAMPACS).
Os WAMPACS consistem na última evolução dos sistemas de área ampla, onde são inte-
grados todos os sistemas anteriores, incluindo a medição, os sistemas de proteção e o controle.
Podem ainda ser somadas funções de automação, caracterizando a mais completa configuração

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   145 

para supervisão de áreas amplas. Estes sistemas começaram a ser cada vez mais aplicados,
beneficiando-se da evolução dos sistemas de comunicação e da capacidade de processamento.
A premissa para o WAMPACS é a existência de serviços de comunicação altamente resilientes
para os centros de controle e subestações.
Estes sistemas são baseados em novos algoritmos derivados das informações de medições
de múltiplos pontos, que são capazes de eliminar falhas de forma rápida, confiável e precisa,
analisar os efeitos sobre a estabilidade do sistema, e com base nesta análise, tomar as medidas
necessárias para efetuar as funções de proteção, além do controle da estabilidade para evitar
o colapso do sistema. Um WAMPACS pode detectar e reagir a distúrbios complexos, como
oscilação de potência e condições de perda de sincronismo.
Os sistemas WAMPACS devem ser feitos sob medida e adaptados para cada sistema de
transmissão específico. Para criar um sistema de proteção centralizado, é necessária uma ex-
tensa análise das perturbações que podem ocorrer na transmissão. Portanto, modelos inte-
grados devem ser desenvolvidos e inúmeras simulações precisam ser realizadas. Todos os
modelos de rede de transmissão desenvolvidos e as funcionalidades e resultados do modelo
WAMPACS devem ser validados com dados reais disponíveis.
Os WAMPACS se tornaram rapidamente um tópico de estudo, com muitos resultados de
pesquisas publicadas e casos de aplicações efetivas nos últimos anos.
Novas soluções disponíveis por meio de GOOSE (Generic Object Oriented Substation
Event), redes virtuais locais (VLAN) e tecnologias de mensagens prioritárias que estão dispo-
níveis no padrão IEC 61850 facilitam a utilização de WAMPACS.
A figura 5.8.2-9 mostra a relação dos Sistemas de Proteção para Monitoramento de Área
Ampla (WAMS), Sistemas de Controle para Área Ampla (WACS), Sistema de Proteção para
Área Ampla (WAPS) e Sistema de Monitoramento, Proteção e Controle de Áreas (WAMPACS).

Figura 5.8.2-9 – Integração entre os sistemas de proteção, monitoramento e controle

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146    Sistemas especiais de proteção

A seguir serão apresentados dois exemplos de aplicação de sistemas de monitoramento,


proteção e controle de área ampla (WAMPACS):

Exemplo 1
Este WAMPACS, cuja arquitetura está apresentada figura 5.8.2-10 (Bo, et al., s.s.), con-
siste principalmente em três camadas, compostas de:
1ª – Dispositivos inteligentes de múltiplas funções integrados ao nível local do vão;
2ª – Proteção e controle integrados ao nível da subestação;
3ª – Área ampla integrada (Wide Area).

Figura 5.8.2-10 – WAMPACS – Proteção, monitoramento e controle integrados

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   147 

As partes principais do sistema são a rede de comunicação de longa distância de alta ve-
locidade e a plataforma de informações sincronizadas em tempo real.
Uma rede de comunicação é empregada para conectar várias subestações da região, para
garantir compartilhamento total de informações dinâmicas e transitórias para todas as medidas
elétricas, estados de disjuntores, atuações de proteção, com garantia de tempo de sincroniza-
ção dos dados compartilhados para proteção e controle da ampla área integrada.
A plataforma de informações sincronizadas em tempo real realiza a mitigação de dados
para investigar a relação lógica entre as informações, aumentando a sensibilidade, confiabili-
dade e capacidade de tolerância a falhas no sistema. As informações em tempo real são divi-
didas principalmente em dois tipos: as informações elétricas (como corrente, tensão, ângulo,
e etc.), e as informações de estado (como atuação de proteção e estados do disjuntor etc.),
podendo também incluir outros tipos de informação, como temperatura do óleo do transfor-
mador e temperatura ambiente, velocidade do vento e direção, intensidade do sol etc.
Com base na plataforma de informações, são implementadas funções, como localização
de falhas na área ampla, monitoramento de qualidade de energia, ajustes de proteção, além
de funções de monitoramento de equipamentos para gerenciamento de ciclos de vida e de
operações. Estas funções podem ser efetuadas em uma plataforma de processamento em nu-
vem especialmente desenvolvida, para este fim, por exemplo. A nuvem recebe os dados da
plataforma de informações e as aloca em vários algoritmos de computação especialmente
projetados para executar funções avançadas.
Também, com as informações obtidas das PMU e algoritmos especialmente desenvolvi-
dos, podem ser implementadas funções de proteção dos equipamentos da área ampla. Estas
funções de proteção são capazes de prover retaguarda com tempos de atuação menores que as
funções de proteção de retaguarda temporizadas convencionais, devido à latência envolvida.
O WAMPACS é concebido para realizar a integração da automação, proteção e controle
da rede de acordo com sua arquitetura, ao nível de uma ampla área, como uma determinada
região ou regiões.

Exemplo 2
Este WAMPACS cuja arquitetura está apresentada na figura 5.8.2-11 (Ivankovic, et al.,
2016), pode ser conceitualmente classificado em três camadas hierárquicas:

1ª Camada – Sistema básico de proteção → Proteção de equipamentos;


2ª Camada – Sistema de proteção de área ampla → Proteção sistêmica e SEP;
3ª Camada – Controle do sistema de potência.

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148    Sistemas especiais de proteção

Figura 5.8.2-11 – Camadas de proteção e controle de uma rede de transmissão

1ª Camada – Sistema básico de proteção → Proteção de equipamentos


Como pode ser visto na figura, a proteção da linha de transmissão e do transformador se
constituem na primeira camada do sistema básico de proteção na rede de transmissão. A pro-
teção realizada por dispositivos de proteção digitais (IED) na 1ª camada atua localmente no
nível do equipamento. Portanto, apenas uma quantidade limitada de dados está sendo trocada
entre diferentes dispositivos de proteção.

2ª Camada – Sistema de proteção de área ampla → Proteção sistêmica e SEP


Os dispositivos de proteção de área ampla (WAPS) formam a segunda camada. As fun-
cionalidades básicas dos dispositivos WAPS são a medição sincronizada, funções de proteção
local e módulos de entrada/saída (para detecção de estado de disjuntores). As funções de de-
tecção de oscilação de potência e perda de sincronismo do sistema podem ser incorporadas
nesta 2ª camada de controle hierárquico do sistema de potência.
Atualmente as funções de proteção sistêmica, como a função de perda de sincronismo
são incorporadas à proteção de linha. No caso de aplicação desta função num sistema de área
ampla, esta proteção passa a ser incluída na 2ª camada e passa a ter novos recursos que devem
atender a vários requisitos importantes, como observabilidade da rede de área ampla, detec-
ção de estados de disjuntores, seletividade e detecção de instabilidades do sistema (ângulo,
tensão e frequência). A disponibilidade de dados de fasores sincronizados de toda a rede de

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   149 

transmissão no centro de controle é um pré-requisito para uma proteção de perda de sincro-


nismo centralizada.
Uma grande vantagem da aplicação de funções de proteção de perda de sincronismo cen-
tralizadas em um esquema de área ampla é que estas podem assumir ações seletivas por co-
brirem toda a rede de transmissão. Outra vantagem é que estas não dependem das medições
de impedância, logo não são influenciáveis por alterações de topologia da rede. Essa é uma
característica significativa do conceito centralizado proposto, que pode reagir com mais pre-
cisão às oscilações de potência, ao contrário da proteção tradicional de perda de sincronismo,
incorporada nos dispositivos de proteção de linha, que usa a medição local a partir de uma
extremidade da linha e agem localmente.
Outra possibilidade de implementação na 2ª camada é a proteção de backup das linhas,
já que com os dados obtidos nesta camada é possível rastrear a origem da perturbação. Esta
função de backup das proteções de linhas, em função das latências envolvidas, possui atuação
mais lenta do que as funções principais, executadas pelos IED de proteção locais presentes na
1ª camada, entretanto podem ser mais rápidas dos que as proteções de retaguarda tradicionais
que exigem temporizações intencionais para coordenação no sistema.
Na 2ª camada, a proteção central do sistema é projetada principalmente para ter funções
sistêmicas na área ampla incluindo funções dos SEP tradicionais e proteções sistêmicas, como
função de perda de sincronismo. Entretanto ainda é possível a incorporação de funções ba-
ckup da 1ª camada.

3ª Camada – Controle do sistema de potência


A terceira camada é um controle completo do sistema de potência com uma ampla varie-
dade de recursos de controle. Essa camada é conectada às outras duas camadas subordinadas
e é usada para a visualização do controle central de todos os dados coletados disponíveis.

Com tudo isto, para um futuro próximo, vislumbra-se que, com o uso de novas tecno-
logias, os sistemas de proteção e automação estarão cada vez mais integrados, trazendo as
seguintes vantagens:
• Utilização do padrão IEC 61850;
• Transformação dos dados em informação com fluxo bidirecional;
• Sistemas de medição de sincrofasores;
• Sistemas de comunicação de alta velocidade e largura de banda;
• Compartilhamento da capacidade de processamento e memória dos dispositivos de
proteção digitais (IED);
• Uso de automação distribuída, proteção adaptativa e sistemas especialistas;
• Uso de equipamentos (TC, TP, disjuntores, transformadores etc.) com interface digital
em rede com os dispositivos de proteção digitais (IED);

ASPECTOS DE SEGURANÇA_ONS_2.indd 149 12/05/20 14:38


• Aquisição de grande parte dos dados através da rede de comunicações, incluindo
transferência de dados de RDP, SOE, CLP etc.;
• Troca de ações de controle entre dispositivos de proteção digitais (IED) para diversas
funções como chaveamento automático sequencial, chaveamento de bancos de capa-
citores, intertravamentos etc.;
• Uso de sistemas de automação e IHM redundantes;
• Proteção digital intra e inter-subestações, utilizando fasores sincronizados com alta
precisão, envolvendo rede de dispositivos de proteção digitais (IED);
• Uso da Tecnologia Orientada a Objetos (OOT) para modelagem do sistema e comuni-
cação de dados;
• Interconectividade de dispositivos de proteção digitais (IED) de diferentes fornecedo-
res para que os mesmos possam interoperar e ser intercambiáveis e;
• Software e hardware “a prova de futuro”, isto é, que possibilitem acompanhamento da
evolução da tecnologia por meio de upgrades facilmente implementáveis.

Levando em conta todos estes conceitos, o planejamento e a operação do sistema num


futuro próximo se tornarão mais desafiadores e exigirão novas soluções.

ASPECTOS DE SEGURANÇA_ONS_2.indd 150 12/05/20 14:38


6
PROTEÇÕES SISTÊMICAS

As proteções sistêmicas são, conforme já explicado, a última linha de proteção do sistema,


atuando nas consequências das contingências, buscando minimizar seus impactos. Nesse caso
as ações não são mais preventivas e independem da origem da perturbação que provocou o
fenômeno sistêmico.
São classificadas como proteções sistêmicas: Esquemas Regionais de Alívio de cargas
(ERAC), Proteções Sistêmicas de Sobrefrequência, Proteções Sistêmicas de Sobretensão e
Proteções de Disparo por Oscilação de Potência ou Perda de Sincronismo. Estas proteções
sistêmicas serão mais detalhadas nos subitens a seguir.

6.1 – Esquemas regionais de alívio de cargas (ERAC)

O fenômeno elétrico de subfrequência ocorre em função da perda de geração ou aumento


súbito de carga, quando a potência mecânica da turbina das unidades geradoras do sistema se
torna menor que a potência elétrica consumida pela carga.
Estas subfrequências normalmente ocorrem após aberturas de interligações entre subsiste-
mas, durante as quais a geração resultante no subsistema importador é inferior a carga ilhada.
Não havendo folga de geração nas unidades geradoras ilhadas, o controle da frequência da
área deve ser feito pelo corte de carga, seja por frequência absoluta ou por taxa de variação de
frequência, sendo este o papel do Esquema Regional de Alívio de Cargas – ERAC.
Entretanto, para que a atuação do ERAC seja efetiva deve haver coordenação deste es-
quema com as proteções de subfrequência aplicadas em unidades geradoras, já que o desliga-
mento de unidades geradoras durante uma condição de subfrequência agrava a situação. Para
isso, é importante ressaltar as seguintes informações sobre o fenômeno de subfrequência sob
o ponto de vista das unidades geradoras.
Com relação às unidades geradoras hidráulicas, elas não são afetadas pela operação em
baixas frequências em tempos curtos. Entretanto, o problema da sua operação em subfrequên-
cia é que, se for acompanhada de operação em tensão plena, pode ocorrer sobre-excitação do
gerador e do transformador elevador, o que resulta em aquecimento generalizado da unidade
geradora, podendo danificá-la se esta operação for prolongada. Por esta razão, as unidades ge-
radoras hidráulicas são dotadas de proteções de sobre-excitação, que medem a relação V/Hz.
Outro dado adicional com relação à capacidade de sobre-excitação das unidades hidráulicas
é que, de acordo com as normas ANSI C.50.13.1989 e C.50.12.1982, as unidades geradoras
devem ser capazes de operar continuamente com relações V/Hz, não superiores a 1,05 pu. Isto

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152    Proteções sistêmicas

significa que, à tensão nominal, a máquina deve ser capaz de operar continuamente com uma
subfrequência de 57 Hz, sem atuação de proteção. Desta forma, não se recomenda a aplicação
de proteções de subfrequência em unidades geradoras dotadas de proteção contra sobre-ex-
citação. Em caso de utilização de proteção de subfrequência na unidade geradora hidráulica,
como retaguarda da proteção de sobre-excitação, seus ajustes devem ser compatibilizados
com os ajustes do ERAC da região.
Com relação às usinas termoelétricas, a operação fora da faixa normal de frequência tor-
na-se mais restritiva, podendo inclusive, dependendo do tempo de exposição, ocasionar danos
às turbinas. Para esses casos, os fabricantes dos geradores indicam faixas de operação de fre-
quência proibitivas para estas unidades. Um dos principais problemas está associado aos seus
aspectos construtivos, para os quais a operação em velocidades que coincidam com a frequên-
cia natural de oscilação das pás da turbina pode provocar ressonâncias e a fadiga das mesmas.
A partir desta indicação dos fabricantes, geralmente são empregados relés de subfrequência
temporizados para promover a desconexão dos geradores.
Desta forma, para que o fenômeno de subfrequência seja tratado de forma sistêmica e seja
efetuada a correta coordenação do ERAC com as proteções de subfrequência aplicadas nas
unidades geradoras do SIN, o ONS, responsável pelos estudos e definição dos ajustes deste
esquema, estabelece como requisito mínimo em seus Procedimentos de Rede, os limites de
ajustes de frequência que devem ser respeitados por todas as unidades geradoras térmicas do
sistema. Estes limites também contemplam faixas de sobrefrequência, para permitir a excur-
são da frequência e o uso da capacidade própria de regulação das unidades geradoras. Estas
faixas estão apresentadas a seguir:
• Operação entre 57 e 63 Hz sem atuação dos relés de subfrequência e sobrefrequência
instantâneos.
• Operação abaixo de 57,5 Hz por período de tempo mínimo de 5 segundos.
• Operação abaixo de 58,5 Hz por período de tempo mínimo de 10 segundos;
• Operação entre 58,5 e 61,5 Hz sem atuação dos relés de subfrequência e sobrefrequ-
ência temporizados.
• Operação acima de 61,5 Hz por período de tempo mínimo de10 segundos.

Ressalta-se que esta tabela não tem por objetivo definir os ajustes das proteções de sobre e
subfrequência das unidades térmicas, que devem ser feitos atendendo às limitações impostas
pelos fabricantes, que podem sugerir outros ajustes, até mais flexíveis.
Sendo assim, com base nas informações destacadas acima, é possível projetar o ERAC
para atuar após contingências severas que culminem em desequilíbrios acentuados de carga x
geração, promovendo na área em subfrequência, por meio da medição de frequência elétrica,
o corte de carga pulverizado e escalonado até o reestabelecimento da frequência do SIN a ní-
veis próximos do nominal, evitando desta forma o colapso total da área afetada.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   153 

O corte de carga escalonado é executado com o uso dos relés de frequência (função ANSI
81), instalados em vários pontos da rede das distribuidoras de energia e consumidores livres
locais. Estes relés são distribuídos com diferentes níveis de ajustes, sendo eles os responsáveis
por identificar que a frequência elétrica do sistema atingiu o seu nível de subfrequência ajus-
tado e promover a abertura de alimentadores ou unidades transformadoras pré-selecionadas
para desligar o montante de carga programado. Se a frequência do sistema continuar caindo e
outros níveis de ajuste, denominados estágios, forem atingidos, outros relés serão sensibiliza-
dos e novos blocos de carga serão cortados. Este processo será repetido até que a frequência
retorne ao valor nominal ou até que todos os estágios de corte de carga tenham atuado.
A atuação do ERAC resume-se no desligamento de um determinado percentual de carga,
em estágios, em função do decréscimo do valor absoluto da frequência ou da sua taxa de va-
riação. Isto permite que a carga seja desligada parceladamente.
O ERAC é um dos mais importantes esquemas de proteção sistêmica, que age como
último nível protetivo do SIN. Suas ações, com o desligamento automático e escalonado de
blocos de carga, minimizam ou evitam consequências mais graves decorrentes da perda de
grandes blocos de geração ou interligações importantes.
Ao longo dos anos, esse esquema tem evitado, com a sua correta atuação, conforme diag-
nosticado pelas análises de perturbações, diversos blecautes no SIN. Isto tem sido possível
graças à adequação do ERAC no que se refere à disponibilização de carga para corte em está-
gios dentro de valores recomendados por estudos.

6.1.1 – Ajustes do ERAC por regiões geoelétricas do SIN


Embora o ERAC esteja implementado em toda a área de atuação do SIN, há diferentes
ajustes para cada região geoelétrica. Tanto os referidos ajustes quanto a definição das áreas
geoelétricas são apontadas por estudos elétricos realizados pelo ONS. Entretanto, na busca
por melhorias sucessivas nos processos diretamente relacionados à segurança operativa do
SIN, cumpre ressaltar que os ajustes apresentados poderão sofrer alterações em função das
ampliações e evolução do SIN.
Os quantitativos de corte de carga por área dependem de características dinâmicas de cada
região geoelétrica, não devendo ser feitas comparações por valores absolutos.
Os subitens a seguir apresentam os ajustes dos relés do ERAC para cada uma das áreas
geoelétricas do SIN, bem como os montantes a serem disponibilizados para corte nos diversos
estágios do ERAC (ONS, 2019b).

Regiões Sudeste e Centro-Oeste


As Regiões Sudeste e Centro-Oeste são consideradas como um bloco único no que se re-
fere ao ERAC. Os montantes por estágio podem ser visualizados na tabela 6.1.1-1.

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154    Proteções sistêmicas

Tabela 6.1.1-1 – Ajustes do ERAC das regiões Sudeste e Centro-Oeste


ERAC - Sudeste e Centro-Oeste
Principal (Frequência
Área Empresa Estágios absoluta) Corte de carga (%)
Instantâneo
1º 58,50 7
Distribuidoras e
consumidores 2º 58,20 7
SE/CO livres das regiões 3º 57,90 7
Sudeste e Centro- 4º 57,70 7
-Oeste
5º 57,50 7

Nesta região, adicionalmente ao desligamento das cargas, o esquema efetua o desligamen-


to de linhas por frequência absoluta, e também o desligamento de bancos de capacitores em
conjunto com o ERAC. Essas ações são necessárias para evitar sobretensões resultantes do
corte de grandes blocos de cargas.

Região Sul
A tabela 6.1.1-2 apresenta os ajustes do ERAC para a Região Sul.
Tabela 6.1.1-2 – Ajustes do ERAC da Região Sul
ERAC - Sul
Principal (Frequência
Área Empresa Estágios absoluta) Corte de carga (%)
Instantâneo
1º 58,50 7,5
Distribuidoras e 2º 58,20 7,5
Sul consumidores li- 3º 57,90 10
vres da região sul 4º 57,60 15
5º 57,30 15

Nesta região, adicionalmente ao desligamento das cargas, o esquema efetua o desligamen-


to de bancos de capacitores em conjunto com o ERAC. Essas ações são necessárias para evitar
sobretensões resultantes do corte de grandes blocos de cargas.

Região Nordeste
A tabela 6.1.1-3 apresenta os ajustes de ERAC da Região Nordeste.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   155 

Tabela 6.1.1-3 – Ajustes do ERAC da Região Nordeste


ERAC - Região Nordeste
Principal (Taxa de variação Retaguarda (Frequência
de frequência) absoluta)

Estágios
Área Empresa Corte de
Janela de carga (%)
Taxa (Hz/s) Instantâneo Temporizado
medição
Distribui- 1º 0,7 57,90 58,50 (10s) 6
doras e 2º 1,1 57,80 58,50 (11s) 7
Região consumi- 59 Hz a 58,50 (12
3º 1,5 57,70 11
Nordeste dores livres 58,50 Hz s)
da região 4º 1,8 57,60 - 16
Nordeste 5º - 57,40 - 15

Nesta região, adicionalmente ao desligamento das cargas, o esquema efetua o desligamen-


to de linhas por taxa de variação de frequência ou frequência absoluta, e também o desliga-
mento de bancos de capacitores em conjunto com o ERAC. Essas ações são necessárias para
evitar sobretensões resultantes do corte de grandes blocos de cargas.

Sistema Manaus
A tabela 6.1.1-4 apresenta os ajustes para o ERAC da área Manaus.

Tabela 6.1.1-4 – Ajustes do ERAC do sistema Manaus


ERAC - Manaus
Retaguarda
Principal (Frequência
(Taxa de variação de frequência)
Estágios

Área Empresa absoluta) Corte de carga


(%)
Janela de
Taxa (Hz/s) Instantâneo
medição
1º 0,7 58,40 12
Manaus Eletrobras 2º 1,0 58,20 12
59,70 Hz a
(Mauá - Sub- Amazonas 3º 2,5 58,00 12
59,20 Hz
sistema 1) Energia 4º 5,5 57,70 12
5º - 57,20 12
1º 4,0 57,80 11
Manaus (Ma- Eletrobras 2º 6,5 57,60 11
59,70 Hz a
naus - Sub- Amazonas 3º 8,5 57,40 11
59,20 Hz
sistema 2) Energia 4º 10,0 57,20 11
5º - 57,00 9

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156    Proteções sistêmicas

Macapá e Interligação Tucuruí – Macapá – Manaus


A tabela 6.1.1-5 apresenta os ajustes de Macapá e da Interligação Tucuruí-Macapá-Manaus.
Tabela 6.1.1-5 – Ajustes de Macapá e da interligação Tucuruí-Macapá-Manaus
ERAC - Macapá e Interligação Tucuruí-Manaus-Macapá
Retaguarda
Principal (Frequência
(Taxa de variação de frequência)

Estágios
absoluta) Corte de carga
Área Empresa
(%)
Janela de
Taxa (Hz/s) Instantâneo
medição
1º 0,5 58,30 11
2º 1,0 58,10 11
59,70 Hz a
Macapá CEA 3º 2,7 57,60 11
59,20 Hz
4º 4,0 57,40 11
5º - 57,20 11
1º 0,5 58,30 11
2º 1,0 58,10 11
Celpa (Orixi- 59,70 Hz a
Interligação 3º 2,7 57,60 11
miná) 59,20 Hz
4º 4,0 57,40 11
5º - 57,20 11

Ressalta-se que os montantes de carga acima referenciados são adicionais aos percentuais
do ERAC da região.

Maranhão, Pará, Tocantins


A tabela 6.1.1-6 apresenta os ajustes e montantes de carga a serem disponibilizados para
corte por estágios, para os Estados do Maranhão, Tocantins e Pará.
Tabela 6.1.1-6 – Ajustes do ERAC da região Norte (Maranhão, Pará, Tocantins)
ERAC - Região Norte
Retaguarda
Principal (Frequência
(Taxa de variação de frequência)
Estágios

Área Empresa absoluta) Corte de carga


(%)
Janela de
Taxa (Hz/s) Instantâneo
medição
Cemar, Celpa, 1º 1,5 57,70 6
Pará Energisa TO e 2º 2,5 57,50 7
59,00 Hz a
Maranhão Consumidores
58,50 Hz
Tocantins Livres da Re- 3º 3,5 57,30 11
gião Norte
Albras, Alunor- 1º 1,5 57,70 1ª LC*
59,00 Hz a
- te e Paragomi- 2º 2,5 57,50 2ª LC*
58,50 Hz
nas 3º 3,5 57,30 3ª LC*

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   157 

Acre – Rondônia
A Tabela 6.1.1-7 apresenta os ajustes do ERAC para o bloco Acre – Rondônia, com acio-
namento dos estágios por frequência absoluta.
Tabela 6.1.1-7 – Ajustes do ERAC do sistema Acre-Rondônia
ERAC – Acre-Rondônia
Principal (Frequência
absoluta) Corte de carga
Área Empresa Estágios
(%)
Instantâneo
1º 58,50 15
2º 58,20 10
Energisa Acre
Acre e Rondônia 3º 57,90 10
Energisa Rondônia
4º 57,70 10
5º 57,50 10

Área Oeste do estado do Pará – Tramo Oeste


A tabela 6.1.1-8 apresenta os ajustes do ERAC para a área oeste do Pará, com atuação por
taxa de variação de frequência e por frequência absoluta.
Tabela 6.1.1-8 – Ajustes do ERAC da área Oeste do Pará
ERAC – Área Oeste do Pará
Principal Retaguarda
Estágios

(Frequência Corte de carga


Área Empresa (Taxa de variação de frequência) absoluta) (%)
Taxa (Hz/s) Janela de medição Instantâneo
1º 1,4 58,50 8
2º 3,0 57,90 9
Oeste do Pará Celpa 3º 4,0 59,50 Hz a 59 Hz 57,40 9
4º 6,0 56,90 11
5º 7,5 56,40 8

A implantação do ERAC deverá ser complementada por medidas automáticas para con-
trole da tensão quando do corte de carga, com a retirada de bancos de capacitores de forma
coincidente com os estágios do ERAC. Adicionalmente ao desligamento das cargas, o esque-
ma efetua a inserção de reatores em 230 kV em conjunto com o ERAC, para os ajustes de
frequência absoluta de 57,40 Hz e 56,4 Hz.

Roraima
A tabela 6.1.1-9 apresenta os ajustes do ERAC Roraima, com atuação por frequência
absoluta.

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158    Proteções sistêmicas

Tabela 6.1.1-9 – Ajustes do ERAC de Roraima


ERAC – Roraima
Principal
Corte de carga
Área Empresa Estágios (Frequência absoluta)
(%)
Instantâneo
1º 58,50 7
2º 58,20 8
Roraima Roraima Energia 3º 57,90 10
4º 57,60 10
5º 57,30 10

6.1.2 – Requisitos técnicos dos relés de frequência


Os requisitos técnicos mínimos dos relés de frequência utilizados para o ERAC são suma-
rizados a seguir:
• Faixa de frequência independente por estágio: 48 Hz (0,8 pu) a 72 Hz (1,2 pu);
• Unidades de atuação por frequência absoluta e taxa de variação;
• Classe de exatidão: melhor que 0,1%;
• Bloqueio por tensão: Vn < 60%;
• Atuação instantânea, sem temporização intencional.

Atuação por taxa de variação de frequência


Para implantação da lógica Δf/Δt podem ser utilizados dois níveis do relé de frequência de
modo a estabelecer a janela de medição para o esquema por taxa de variação.
A figura 6.1.2-1 (ONS, 2019b) exemplifica esta aplicação. Nesse exemplo, a função 81
U ajustada na frequência de supervisão de 59 Hz terá como saída um sinal digital “1” quan-
do a frequência atingir um valor inferior ao valor de ajuste. De maneira similar, a função 81
U ajustada na frequência de corte de 58,5 Hz terá como saída um sinal digital “1” quando a
frequência atingir um valor inferior ao valor de ajuste. Para atuação do esquema por taxa, é
necessário que essas duas condições ocorram enquanto o gerador de pulso emite o sinal “1”
por um tempo parametrizado em função da taxa especificada, sendo de 250 ms para uma taxa
de 2 Hz/s.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   159 

Figura 6.1.2-1 – Exemplo de lógica Δf/Δt

6.1.3 – Consumidores livres e autoprodutores no ERAC


Com base nas diretrizes estabelecidas nos Procedimentos de Rede, o ONS trabalha no
sentido de identificar a situação dos consumidores livres em relação à sua participação no
ERAC, buscando incluir as obrigatoriedades relativas ao ERAC de todo novo agente detentor
de carga acessante no sistema; e apoiar esses agentes com os esclarecimentos e informações
técnicas necessárias à implantação do ERAC próprio.
Os consumidores livres autoprodutores de energia são empresas que recebem conces-
são ou autorização para produzir energia elétrica destinada ao seu uso exclusivo, podendo,
mediante autorização da ANEEL, comercializar seus excedentes de energia. É responsabili-
dade dos agentes de importação e exportação e dos consumidores livres atender os critérios
e requisitos técnicos mínimos estabelecidos para a proteção de subfrequência das unidades
geradoras.
O autoprodutor importador deverá disponibilizar parte de sua carga para corte pelo ERAC,
correspondente ao percentual previsto em sua região geoelétrica. Esse montante deve ser re-
ferente ao valor importado da rede.
Na condição de autoprodutor exportador, o ERAC não deverá atuar. Nessa condição, o au-
toprodutor estará contribuindo com injeção de potência na rede elétrica, não sendo permitido
o ilhamento da planta nessa situação ou o desligamento de unidade geradora, dado que essas
possibilidades acarretariam um aumento de carga para o sistema.

6.2 – Proteções sistêmicas de sobrefrequência

O fenômeno elétrico de sobrefrequência ocorre em função de rejeições de carga, quando


a potência mecânica da turbina das unidades geradoras se torna maior que a potência elétrica
fornecida pela unidade. Também é comum a ocorrência de sobrefrequências após aberturas
de interligações entre subsistemas, nas quais a geração resultante no subsistema exportador é
superior à carga ilhada.

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160    Proteções sistêmicas

Nessa situação de sobrefrequência, o ideal para a operação segura do SIN, seria que não
ocorresse o desligamento de nenhuma unidade geradora, sendo a sobrefrequência controlada
em alguns segundos simplesmente pela ação dos reguladores de velocidades das unidades
geradoras. Entretanto, em alguns casos ações protetivas durante esse fenômeno podem ser ne-
cessárias, tanto para proteção dos geradores quanto para minimizar o impacto sistêmico. Para
isso, é importante avaliar as informações a seguir sobre o fenômeno de sobrefrequência sob
o ponto de vista das unidades geradoras, para que os ajustes sistêmicos, se necessários, sejam
coordenados com as proteções dos equipamentos.
As turbinas hidráulicas, de modo geral, podem tolerar maiores variações de frequência
que as demais. Na ocorrência de rejeições de carga, podem ocorrer sobrevelocidades supe-
riores a 150% da nominal. Quando de rejeição total, a frequência da usina não irá retornar
automaticamente ao valor nominal, mas sim para um valor igual ao nominal somado com o
seu estatismo multiplicado pela frequência nominal, ou seja, para um sistema de 60 Hz e uma
usina com estatismo de 5%, a frequência irá se estabilizar em 63 Hz. Nestes casos, o valor
nominal da frequência deve ser restabelecido pelo operador, por meio dos controles existentes
para esta finalidade.
É responsabilidade do sistema de regulação de velocidade controlar a sobrevelocidade
em alguns segundos. Todavia, em caso de falha no regulador de velocidade, a máquina pode
aproximar-se rapidamente a 200% da velocidade nominal. Desta forma, é prática comum, no
sistema regulador de velocidade destas unidades, a existência de proteções de sobrevelocida-
de, mecânicas e elétricas.
A proteção elétrica de sobrevelocidade normalmente é realizada por um dispositivo eletrô-
nico de velocidade localizado no painel do regulador de velocidade da máquina. Este disposi-
tivo normalmente é ajustado em função dos testes de rejeição de carga máxima nos terminais
da máquina (com queda máxima e máxima abertura do distribuidor, para se obter a máxima
sobrefrequência e os tempos envolvidos) e não deve atuar nos casos em que a frequência pode
ser controlada por ação de regulação.
Esta proteção atua antes da proteção mecânica de sobrevelocidade e sua atuação deve
provocar a parada da unidade geradora, devido à atuação direta sobre as válvulas solenoides
de parada de emergência. Isto porque, em caso de sobrefrequência provocada por falha no
regulador, seria inútil comandar a parada da máquina sob controle do regulador em falha. Por
outro lado, caso a sobrevelocidade seja um problema mecânico na turbina, mesmo ocorrendo
o fechamento do distribuidor, sua velocidade irá aumentar, ocorrendo, então, a atuação da
proteção mecânica de sobrevelocidade.
A proteção mecânica de sobrevelocidade consiste em um pêndulo centrífugo (pêndulo de
Watt), acoplado ao eixo da máquina, que atua como último recurso em caso de sobrevelocida-
des não controladas. Seu ajuste é superior à máxima sobrefrequência que ocorre em casos de
rejeições totais de carga. O valor típico de ajuste é 94 Hz (variando de acordo com a inércia de

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   161 

cada máquina). Sua atuação deve comandar a parada de emergência com bloqueio da unidade
geradora, com rejeição de carga e fechamento da comporta da tomada d’água.
Em função do exposto, não é necessária a aplicação de funções de sobrefrequência nos
sistemas de proteção elétricos das unidades geradoras hidráulicas. Em todo caso, pode-se
optar pela sua utilização como proteção de retaguarda das funções de sobrevelocidade imple-
mentadas no regulador de velocidade. Nesse caso, os seus ajustes devem estar coordenados
e a sua filosofia de atuação deve ser a mesma da função principal, ou seja, deve comandar a
parada da unidade geradora, atuando diretamente no sistema hidráulico, além de desconectar
a unidade geradora do sistema.
Com relação às usinas termoelétricas, como mencionado no item anterior, estes tipos de
máquinas, diferentemente das hidráulicas, possuem restrições operativas para operação a fre-
quências fora da faixa normal. Desta forma, proteções elétricas de sobrefrequência podem ser
recomendadas por seus fabricantes. Estes ajustes devem ser informados ao ONS, responsável
pelos ajustes e coordenação das proteções sistêmicas.
Sendo assim, quando da análise de contingências que culminem na separação do SIN
formando ilhas desequilibradas, é necessário avaliar na ilha formada pela região exportadora,
onde ocorrem a sobrefrequência, as possibilidades e os efeitos da atuação dessas proteções
habilitadas nas usinas térmicas da região.
Esta avaliação é importante, pois no caso de uma região com geração predominantemente
térmica, na qual os níveis de sobrefrequência atingidos após um ilhamento provocariam o
desligamento de um grande montante de geração, é possível que a característica do desequi-
líbrio se inverta, passando a predominar carga ao invés de geração. Neste caso, o fenômeno
sistêmico passa a ser de subfrequência podendo provocar a atuação do ERAC ou até mesmo
levar o sistema ao colapso total de cargas.
Desta forma, para se evitar desdobramentos conforme relatado, minimizando o impacto
da perturbação, pode ser necessária a utilização de proteções sistêmicas de sobrefrequência.
Nesse caso, o objetivo das funções de frequência habilitadas não está mais relacionado à pro-
teção da unidade geradora e sim com a proteção do sistema elétrico.
Geralmente as proteções sistêmicas de sobrefrequência são habilitadas nos dispositivos de
proteção das unidades geradoras hidráulicas, em níveis/tempos inferiores aos das proteções
associadas às usinas térmicas, com ação de abertura dos disjuntores principais da unidade,
sem necessidade, neste caso, de envio de comando de parada da unidade. Esta ação tem como
objetivo o alívio de sobrefrequência da ilha evitando, desta forma, que os níveis de frequência
de atuação das proteções das unidades térmicas sejam atingidos provocando o desligamento
destas usinas, o que agravaria a perturbação. Outro ponto que corrobora a ação de se evitar o
bloqueio de unidades geradoras térmicas durante uma perturbação, é que o tempo de retorno
deste tipo de usina à operação geralmente são longos, prolongando o tempo de restabeleci-
mento da rede elétrica.

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162    Proteções sistêmicas

Ressalta-se que no caso de formação de ilhas desequilibradas com geração excedente,


compostas predominantemente de usinas hidráulicas, ou onde os ajustes das proteções das
unidades térmicas não sejam restritivos, este tipo de proteção torna-se desnecessário pois o
controle da frequência será realizado naturalmente pelo sistema de regulação das unidades
geradoras.
Mais recentemente, com a integração em larga escala de usinas eólicas e fotovoltaicas, as
avaliações que envolvem ilhamentos devem ser coordenadas com estas fontes uma vez que
contam com recursos de redução automática de potência em eventos de sobrefrequência.

6.3 – Proteções sistêmicas de sobretensão

O fenômeno de sobretensão é o resultado de uma variação de tensão acima do valor no-


minal, em relação ao tempo, podendo envolver uma ou mais fases do sistema. A sobretensão
pode ser classificada em três diferentes formas, tendo como base a sua amplitude, duração
e seu efeito sobre a isolação dos equipamentos: sobretensões atmosféricas, sobretensões de
manobra e sobretensões temporárias.

• Sobretensão atmosférica
A incidência das descargas atmosféricas nas redes elétricas ou em suas proximidades
(descargas indiretas) pode dar origem a sobretensões transitórias de elevada amplitude que
se propagam ao longo da linha. Se as amplitudes destas sobretensões excedem os níveis de
suportabilidade do sistema, podem ocorrer descargas disruptivas, as quais evoluem para arcos
de potência, trazendo como consequência o estabelecimento de faltas entre uma ou mais fases
para a terra. O desempenho de linhas de transmissão e redes de distribuição frente a descargas
atmosféricas pode ser significativamente melhorado caso sejam entendidos os mecanismos de
indução das sobretensões e empregadas técnicas eficazes tanto nos seus projetos quanto na
especificação dos para-raios.

• Sobretensão de manobra
É uma sobretensão originada pela ação sobre equipamentos de manobra em um determi-
nado ponto do sistema, podendo envolver as três fases ou uma fase e a terra. As sobretensões
de manobra são utilizadas como parâmetro na determinação do nível de isolamento do siste-
ma, ressalta-se que a elevação de tensão cuja origem é resultado da operação de um dispositi-
vo de manobra é mais severa do que a sobretensão temporária.
Apesar de, na prática, a utilização do resistor de pré-inserção ser a solução mais simples
para reduzir as sobretensões de manobra, há outras medidas que podem ser adotadas, tais
como:
• Utilização de compensação reativa shunt na linha.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   163 

• Redução da carga residual na linha, curto-circuitando a linha após a sua abertura.


• Seccionamento da linha, pois linhas de menor comprimento elétrico terão menores
sobretensões de manobra.
• Controle do instante de fechamento dos polos do disjuntor através de dispositivos
sincronizadores.
• Nesse caso, o chaveamento das fases é executado no instante em que a tensão em cada
uma delas passa por zero.

• Sobretensão temporária
As sobretensões temporárias são caracterizadas por suas amplitudes, forma de onda e du-
ração. Todos esses parâmetros dependem da origem das sobretensões e, as amplitudes e forma
de onda, podem inclusive variar durante o seu período de ocorrência.
Estas sobretensões são de natureza oscilatória, de baixa amplitude (em geral inferior a 1,5
pu), duração relativamente longa (tempo de duração superior a dezenas de milissegundos) e
fracamente amortecidas ou não amortecidas. Essas sobretensões, também chamadas de so-
bretensões sustentadas, permanecem no sistema até que ocorra alguma alteração na rede que
favoreça a sua mitigação, ou que a causa que lhe deu origem seja eliminada. As sobretensões
temporárias podem ser provocadas pelas seguintes causas: cargas capacitivas em vazio, redu-
ção brusca de carga e curto-circuito à terra.
A determinação das sobretensões que podem ocorrer em um sistema elétrico é de grande
importância, uma vez que fornece subsídios para a coordenação do isolamento das redes elé-
trica, especificação dos equipamentos e operação do sistema.
A figura 6.3-1 (D’Ajuz, 1987) apresenta de forma comparativa as características dos três
tipos de sobretensão, na amplitude e no tempo de duração.

Figura 6.3-1 – Comparação das características dos três tipos de sobretensão

ASPECTOS DE SEGURANÇA_ONS_2.indd 163 12/05/20 14:38


164    Proteções sistêmicas

Com relação às sobretensões decorrentes em geral de manobras ou de surtos atmosféricos,


os para-raios são os dispositivos que visam proteger os equipamentos elétricos, como bancos
de capacitores, transformadores, pontes conversoras.
Por sua vez, os equipamentos elétricos são projetados para suportar certo nível de sobre-
tensão e por um tempo predeterminado. Estas informações compõem os limites de suportabi-
lidade dos equipamentos que fazem parte das suas especificações técnicas.
Sendo assim, a partir dessas especificações os equipamentos devem ser dotados de prote-
ções de sobretensão, em níveis e tempos adequados à sua suportabilidade.
Em seguida serão apresentados os dois níveis de proteção de sobretensão: proteção de
sobretensão de equipamentos e proteção sistêmica de sobretensão.

a) Proteções de sobretensão de equipamentos


Estas funções de proteção de sobretensão têm a finalidade de proteger o equipamento,
devendo estar coordenadas com a sua curva de suportabilidade a sobretensão.
Os ajustes destas proteções são de responsabilidade dos agentes proprietários e devem
ser informados ao ONS, responsável pelos ajustes das proteções sistêmicas, para que a partir
dos mesmos sejam planejadas as proteções sistêmicas de sobretensão, cujo objetivo é mitigar
sobretensões sistêmicas evitando desligamentos em cascata e o agravamento da perturbação.

b) Proteções sistêmicas de sobretensões


Após contingências no sistema, a configuração resultante poderá culminar em sobreten-
sões de níveis inadmissíveis para equipamentos da rede elétrica, e se nenhuma ação protetiva
for tomada antes dos desligamentos destes equipamentos, desligamentos em cascata poderão
ocorrer aumentando a área de abrangência da perturbação.
Sendo assim, as proteções de sobretensão sistêmicas são utilizadas para realizar o desliga-
mento automático de elementos de transmissão (linhas de transmissão, bancos de capacitores,
etc.) com a finalidade de controlar o perfil de tensão no sistema nessas situações, evitando
ainda o desligamento descoordenado de usinas e de transformadores de atendimento à carga
devido à atuação de proteção de sobretensão e/ou de sobre-excitação (Volts/Hertz – função
24), o que poderia provocar um maior corte de carga. A definição dos ajustes destas funções é
de responsabilidade do ONS.
O desligamento destes elementos deverá ocorrer de forma coordenada com o objetivo de
controlar o perfil de tensão por meio do desligamento mínimo de equipamentos e evitando a
perda de carga e/ou geração no processo.

Filosofia para proteção sistêmica de sobretensão em linhas de transmissão


É requisito mínimo, estabelecido nos procedimentos de rede, que os sistemas de proteção
de linhas de transmissão da Rede Básica, sejam dotados de funções de sobretensão. Os ajustes

ASPECTOS DE SEGURANÇA_ONS_2.indd 164 12/05/20 14:38


Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   165 

destas funções de sobretensão são propostos nos estudos pré-operacionais para integração de
novos equipamentos ou em estudos específicos sob demanda.
Pode-se considerar a adoção de dois níveis de proteção sistêmica de sobretensão, sendo
uma unidade instantânea e outra temporizada, ou um conjunto de unidades temporizadas para
desempenhar este papel, considerando as especificidades destas unidades conforme descritas
a seguir:

Proteção sistêmica de sobretensão nível 1


O desligamento do equipamento ocorrerá quando a tensão nas três fases atingir o valor
de partida, durante o tempo ajustado. Para evitar a atuação acidental desta função durante
curtos-circuitos, quando ocorre sobretensão nas fases sãs, ou durante respostas transitórias do
sistema, caracterizadas por sobretensões transitórias desequilibradas em equipamentos próxi-
mos de dispositivos de eletrônica de potência (CER, HVDC, etc.), recomenda-se uma tempo-
rização intencional de 50 ms (aproximadamente 3 ciclos).
O valor de partida das unidades de nível 1 dependerá da severidade e análise da região em
que o equipamento a ser desligado está inserido. Destaca-se que, na ausência de restrições in-
formadas pelo agente, os equipamentos devem ser capazes de suportar os seguintes valores in-
dicados nos Procedimentos de Rede do ONS (ONS, 2018), conforme mostrados na tabela 6.3-1.
Máxima tensão dinâmica sem elemen- Máxima tensão dinâmica com
Tensão nominal de operação [kV] tos saturáveis elementos saturáveis
138 203 kV (1,47 pu) 193 kV (1,40 pu)
230 339 kV (1,47 pu) 322 kV (1,40 pu)
345 507 kV (1,47 pu) 483 kV (1,40 pu)
440 654 kV (1,47 pu) 616 kV (1,40 pu)
500 770 kV (1,54 pu) 735 kV (1,47 pu)
525 770 kV (1,47 pu) 735 kV (1,40 pu)
765 1120 kV (1,47 pu) 1070 kV (1,40 pu)
Tabela 6.3-1 – Sobretensões dinâmicas admissíveis a 60 Hz
Caso a sobretensão atinja valores inadmissíveis que representem riscos para os equipa-
mentos e não havendo recurso de ação automática que mitigue o problema, a proteção sis-
têmica de sobretensão nível 1 poderá atuar promovendo o desligamento total da instalação.
Neste sentido, em geral, todas as linhas de transmissão de uma mesma subestação receberão
os mesmos ajustes para as estas proteções de sobretensão.

Proteção sistêmica de sobretensão nível 2


Para as unidades temporizadas, usualmente, são adotados valores de partida não infe-
riores aos apresentados na tabela 6.3-2 (ONS, 2018). Neste caso, para que as ações sejam
escalonadas, devem ser utilizadas temporizações que garantam o desligamento sequencial e

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166    Proteções sistêmicas

coordenado dos equipamentos, inclusive com os ajustes das funções de sobretensão que pro-
movem a conexão/desconexão de elementos shunts.
Ajuste mínimo da proteção de sobre-
Tensão nominal de operação [kV] tensão temporizada
138 152 kV (1,10 pu)
230 253 kV (1,10 pu)
345 398 kV (1,15 pu)
440 506 kV (1,15 pu)
500 600 kV (1,20 pu)
525 600 kV (1,15 pu)
Tabela 6.3-2 – Ajuste mínimo (partida) para as unidades temporizadas da proteção sistêmica de sobretensão

Caso o agente proprietário dos equipamentos da instalação sob análise declare que tal ní-
vel de sobretensão imponha risco de danos a seus equipamentos, este deverá fornecer a curva
de suportabilidade que subsidiará o novo ajuste.
O intervalo entre os desligamentos deverá ser o suficiente para garantir a coordenação
(devem-se evitar ajustes que promovam desligamento simultâneo de linhas de transmissão).
Podem-se adotar como referência mínima intervalos superiores a 200 ms entre dois desliga-
mentos consecutivos. Contudo, visando a expansão do sistema com a inclusão de ajustes de
novas linhas, quando possível, utilizar um intervalo de um segundo entre os desligamentos de
linhas de transmissão.
Destaca-se que é proibitiva a utilização de ajustes utilizando a tensão monofásica com
temporização inferior a 1 segundo de modo a evitar a atuação incorreta desta função durante
eventos de curto-circuito.
As duas extremidades da linha de transmissão deverão receber os mesmos ajustes (partida
e temporização).

A proposta de coordenação para as proteções sistêmicas de sobretensão deve atender às


seguintes diretrizes básicas:
1. Evitar fragilizar eixos de transmissão de atendimento a Capitais.
2. Minimizar o impacto para o atendimento da carga e escoamento de geração.
3. Evitar desligar, por configuração, equipamentos que venham a contribuir com a redu-
ção das sobretensões, a exemplo de usinas, compensadores estáticos e a própria carga.
4. Atenção à coordenação com elementos em derivação (banco de capacitores e reatores)
que possuam esquemas de conexão/desconexão automática (ECE).
5. Dar atenção aos SEP instalados para evitar sobretensões inadmissíveis associadas a
contingências preestabelecidas.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   167 

Em geral, os circuitos que devem ser desligados primeiro correspondem àqueles que apre-
sentarão maior contribuição para a redução do perfil de tensão (susceptância shunt líquida
elevada), preferencialmente circuitos paralelos. Deve-se evitar ao máximo a desconexão de
unidades geradoras e/ou rejeição de carga neste processo, pois tais eventos irão agravar as
sobretensões. O mesmo se aplica a circuitos de transmissão com sobrecompensação.

Considerando o exposto, a sequência de desligamento deverá sempre minimizar o im-


pacto para o sistema e não poderá agravar as violações de tensão. O processo de coordenação
deverá ser iniciado considerando as seguintes prioridades:
1. Desligamento de circuitos paralelos, priorizando aqueles com maior valor de suscep-
tância líquida total, ou seja, já considerando o valor descontado da potência dos reato-
res de linha fixos e/ou manobráveis.
2. Desligamento de circuitos que não façam parte de interligações regionais e/ou de ei-
xos de transmissão para atendimento a capitais.
3. Desligamento de circuitos simples, promovendo inclusive a abertura de anel, desde
que não comprometam o atendimento de carga ou escoamento de geração.

Na figura 6.3-2 encontra-se um exemplo para ilustrar a decisão para a sequência coorde-
nada de desligamentos.

Figura 6.3-2 – Sequência coordenada de desligamentos

No exemplo acima, as linhas de transmissão seriam desligadas segundo os seguintes


critérios:
1. LT-1: Desligada por possuir mais dois circuitos paralelos;
2. LT-2: Desligada por possuir mais um circuito paralelo;
3. LT-3: Neste caso teriam que ser escolhidas duas LT que promoverão uma abertura de
anel. Foi escolhida aquela que resultaria em uma configuração com menor distância
elétrica para o atendimento da carga;

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168    Proteções sistêmicas

4. LT-4: Foi o último circuito deste trecho por (dentre os circuitos paralelos) possuir um
reator de linha conectado;
5. LT-5: Foi deixada por último por provocar rejeição de carga (não reduziria o perfil
de tensão). Se a SE de carga for realmente radial, os desligamentos da LT-5 e LT-4
poderiam ser no mesmo instante, ou T5<T4, para que o sistema fique disponível para
recomposição.

Coordenação com esquemas de chaveamento automático de bancos em derivação (ECE)


Caso existam bancos de capacitores e/ou reatores com esquemas de chaveamento automá-
tico, a coordenação das proteções de sobretensão deverá considerar estes esquemas no sentido
de reduzir a necessidade de desligamento de linhas de transmissão.
O desligamento de linhas de transmissão somente poderá ocorrer depois de esgotada a
possibilidade de controlar o perfil de tensão por meio da manobra automática de bancos de
capacitores e/ou reatores em derivação.

6.4 – Proteções de oscilação de potência

Os sistemas de potência em condições normais operam bem próximos às condições no-


minais de frequência e tensão. A frequência normalmente varia numa faixa de +/-0,02 Hz em
relação à nominal e as tensões nas barras variam numa faixa de +/-5% com relação às tensões
nominais. Existe um equilíbrio entre as potências geradas e consumidas em regime permanen-
te. Qualquer variação na geração, na carga ou no sistema de transmissão provoca uma varia-
ção do fluxo de potência no sistema, até que uma nova condição de equilíbrio entre geração e
carga seja atingida. Essas variações ocorrem continuamente e são automaticamente compen-
sadas pelos sistemas de controle de tensão e velocidade existentes nas unidades geradoras, e
normalmente não apresentam problema para o sistema e nem para os sistemas de proteção.
Ocorrências de faltas no sistema, desligamentos de linhas de transmissão, desligamentos
de geradores e transformadores e grandes variações de carga resultam em variação súbita da
potência elétrica, enquanto as potências mecânicas das unidades geradoras permanecem cons-
tantes, resultando em grandes oscilações de potência.
A oscilação de potência é considerada estável quando, após o distúrbio, as velocidades
de todas as unidades geradoras retornam ao valor nominal. A oscilação é considerada instável
quando, após o distúrbio, uma ou mais unidades geradoras não retornam à velocidade síncro-
na, perdendo o sincronismo com as demais unidades geradoras do sistema.
As características das oscilações de potência podem ser observadas na figura 6.4-1.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   169 

Figura 6.4-1 – Característica de oscilação de potência

As oscilações de potência provocam variações nas grandezas medidas pelos dispositivos


de proteção, que podem atuar incorretamente durante as mesmas, provocando desligamentos
de linhas de transmissão, o que pode agravar as condições de oscilação. As variações de ten-
são e corrente durante oscilações estáveis, provocam variação da impedância de carga, que em
condições normais deve estar bem afastada da região de operação da proteção de distância,
permitindo que esta penetre em sua característica de operação. Deste modo, a condição de
oscilação é interpretada pela proteção de distância como uma falha, o que provoca a abertura
incorreta da linha de transmissão, podendo levar o sistema a uma instabilidade.
Portanto não é desejável que as proteções de distância atuem durante uma oscilação es-
tável. Para isto, as proteções de distância possuem uma lógica de detecção de oscilação de
potência (68 OSB) que tem por objetivo evitar as atuações das mesmas durante as oscilações
de potência. A finalidade básica da função 68 OSB é diferenciar as faltas, das oscilações de
potência, bloqueando as atuações das funções de distância da proteção nestes últimos casos.
Por outro lado, devem permitir a atuação das funções de distância em caso de falhas no siste-
ma que ocorram durante oscilações de potência. Através de parametrização, ainda é possível
selecionar as zonas da proteção de distância que se quer bloquear, liberando as demais para
disparo.
Perturbações mais severas podem provocar perda de sincronismo entre grupos de gera-
dores ou entre áreas do sistema. Quando as áreas de um sistema ou dois sistemas interligados
perdem sincronismo, elas devem ser separadas rapidamente em determinados pontos, de modo
que os subsistemas formados após a separação possam se manter em operação, em condições

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170    Proteções sistêmicas

aceitáveis de frequência e tensão. Quando isto não for possível, proteções sistêmicas devem
atuar para evitar o colapso da área.
A função responsável pela separação das áreas durante condições de perda de sincronismo
pode ser aplicada para disparo por oscilação de potência – 68OST, ou para disparo por perda
de sincronismo – 78OST. O principal objetivo desta função é diferenciar oscilações estáveis e
instáveis e iniciar a separação das áreas, em pontos previamente determinados, para as condi-
ções que levarão o sistema à perda de sincronismo.
Em casos de perda de sincronismo, a defasagem angular entre as fontes de tensão irá
aumentar, atingindo 180º no centro elétrico do sistema. Desta forma, cuidados devem ser
tomados para se evitar que ocorra a abertura de disjuntores com as tensões em seus terminais
em oposição de fase.
A função 68OST (comumente chamada de “trip na entrada”) não leva em consideração
os ângulos entre as fontes e emitem sinal de disparo para os disjuntores com a oscilação de
potência ainda no primeiro quadrante do diagrama R-X. Sua atuação tem caráter preditivo. Já
a função 78OST (comumente chamada de “trip na saída”) emite o sinal de disparo no segundo
quadrante do diagrama R-X, quando a defasagem das tensões entre as fontes está diminuin-
do, após a passagem pelo centro elétrico do sistema, melhorando a condição de abertura dos
disjuntores.
Um dos principais problemas encontrados na aplicação de proteção para oscilação de po-
tência, principalmente relacionado com a função de disparo por oscilação ou perda de sincro-
nismo em grandes sistemas de potência, está relacionado com a dificuldade de determinação
dos pontos exatos para habilitação da função e na determinação de seus ajustes. Desta forma é
necessária a realização de várias simulações de estabilidade de modo a cobrir o maior número
possível de cenários e condições de operação.
A condição ideal, na aplicação de proteção para oscilação de potência, seria:
• Identificar as linhas de transmissão do sistema nas quais devem ser instaladas as fun-
ções de disparo por oscilação de potência/ perda de sincronismo (PPS); Nesses pon-
tos também devem ser habilitadas as funções de bloqueio por oscilação de potência
(68OSB), em todas as zonas, para impedir que as funções de distância atuem quando
dae oscilações.
• Nas demais linhas de transmissão aplicar somente as funções de bloqueio por oscila-
ção de potência, de modo a evitar seus desligamentos incorretos durante as oscilações.
Nestes casos devem ser definidas as zonas de atuação das funções de distância que
serão bloqueadas e o tempo que permanecerão com o bloqueio ativado.

6.4.1 – Efeitos das oscilações na proteção de linhas de transmissão


As oscilações de potência e perdas de sincronismo entre duas áreas afetam os siste-
mas de proteção de vários modos, podendo provocar atuações incorretas e agravamento de
perturbações.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   171 

Funções de proteções instantâneas de sobrecorrente de fase podem atuar se as correntes de


fase superarem seu valor de partida. Da mesma forma, funções de proteção de sobrecorrente
direcionais instantâneas podem operar se a corrente de fase for superior ao valor de ajuste e os
sinais de operação tiverem a adequada relação de fase durante a oscilação. As funções de pro-
teção de sobrecorrente temporizadas provavelmente não devem atuar durante as oscilações,
mas isso dependerá das amplitudes das correntes e da sua temporização.
As funções de proteção de distância de fase medem a impedância de sequência positiva. A
impedância de sequência positiva medida no ponto de instalação da proteção varia em função
do ângulo (δ) de defasagem entre as fontes equivalentes.
As funções de proteção de distância de zona 1, que não possuem temporização intencio-
nal, são aquelas que têm maior probabilidade de atuar durantes as oscilações. Os sistemas
de teleproteção do tipo bloqueio e permissivos também podem atuar durante oscilações de
potência. As zonas de distância temporizadas das funções de proteção de distância também
podem atuar, dependendo de sua temporização e do tempo que a impedância medida durante
a oscilação permanece no interior de sua característica de atuação.
Um exemplo, de atuação de proteção de distância em zona 2 temporizada durante uma os-
cilação de potência estável ocorreu no sistema Acre-Rondônia no dia 17/08/17 às 21h53min.
A figura 6.4.1-1 ilustra este caso, mostrando a trajetória da impedância de uma oscilação está-
vel no diagrama R-X, vista do terminal de Samuel da LT 230 kV Samuel-Ariquemes C2, que
provocou o desligamento da referida linha.

Figura 6.4.1-1 – Atuação de proteção de distância durante oscilação de potência

A figura 6.4.1-2(a) mostra a atuação da unidade de medida de zona 1 quando a oscilação


penetra em sua característica de atuação. Já a figura 6.4.1-2(b) mostra como a oscilação de
potência afeta um esquema de teleproteção de comparação direcional do tipo bloqueio, mos-
trando três trajetórias de oscilação, sendo que em uma delas haverá a atuação incorreta das
proteções nos dois terminais da linha SR.

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172    Proteções sistêmicas

Figura 6.4.1-2 – Zona 1 e esquema de comparação direcional do tipo bloqueio

Isto também se aplica aos esquemas de teleproteção do tipo Transferência de Disparo Per-
missivo por Sobrealcance (POTT). Esses esquemas, para funcionarem corretamente, necessi-
tam de lógicas adicionais para eliminação de falhas internas durante condições de fonte fraca
por um dos terminais (Lógicas de ECO). Esses esquemas podem atuar incorretamente durante
oscilações de potência quando a impedância medida penetrar na característica de atuação de
uma das unidades de medida de sobrealcance, de qualquer um dos terminais, sem atingir ne-
nhuma característica do terminal remoto. Desta forma, através do sinal permissivo recebido
pelas Lógicas de ECO ocorre o disparo e consequente abertura da linha.

Impedância medida pela proteção de distância durante oscilações de potência


A figura 6.4.1-3 mostra um sistema equivalente de duas fontes, onde a fonte em S está
adiantada de δ graus com relação à fonte em R.

Figura 6.4.1-3 – Sistema equivalente de duas fontes

A corrente IL na barra A é dada por:


E# − E$
I!"
Z# + Z! + Z$

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   173 

A impedância medida por uma função de proteção de distância localizada no terminal da


linha, próxima à barra A, é dada por:
!! ## $"" %# ## ## %# '%" '%$
Z= ""
= ""
=" − Z& = ## $#$
− Z&
"

Assumindo Es adiantado de δ graus com relação à ER, sendo a relação entre as duas tensões
k, teremos:
E!
=K
E"

E! δ + jSen δ∂
k Cos ∂ k k − Cos δ∂ − JSen δ

= =
E! − E" K Cos δ
∂ + jSen δ
∂ −1 k − Cos δ∂ + Sen δ∂
# #

Para a situação particular onde k=1, a equação acima se torna:


E! 1 δ∂
= (1 − j Cot ,
E! − E" 2 2

A impedância medida pela função de proteção de distância se torna:


V! Z# + Z" + Z$ δ∂
Z= = (1 − j Cot / − Zs
I" 2 2

A trajetória da impedância medida pela proteção, durante a oscilação de potência, quando


o ângulo entre as duas fontes varia e as tensões ES e ER são iguais em módulo, corresponde a
um segmento de reta que intercepta o segmento A-B em seu ponto médio. Este ponto é deno-
minado de centro elétrico do sistema.
O ângulo entre os dois segmentos que conectam o ponto P aos pontos A e B é igual ao
ângulo δ entre as fontes. Quando este ângulo atinge 180°, a impedância medida se localiza
exatamente no centro elétrico do sistema. A trajetória da impedância medida irá atravessar
qualquer característica da função de proteção de distância que cubra toda a linha se o centro
elétrico do sistema estiver localizado na linha.
Nos casos em que k, a relação entre as tensões das fontes, seja diferente de 1, pode ser
demonstrado que a trajetória da impedância corresponde a círculos, conforme mostrado na
figura 6.4.1-4.

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174    Proteções sistêmicas

Figura 6.4.1-4 – Trajetórias da impedância medida para diferentes valores de Es∕Er = K

6.4.2 – Métodos de detecção de oscilação de potência e perda de sincronismo


O método de detecção de oscilação de potências por meio da medição da taxa de variação
da impedância medida é o mais clássico e usualmente aplicado no SIN, entretanto, nos dispo-
sitivos de proteção modernos existem outros métodos disponíveis.
A seguir será apresentada uma breve descrição sobre os principais métodos disponíveis
em dispositivos de proteção, inclusive os tradicionais, baseados na medição de impedância.

a) Métodos convencionais de detecção de oscilação de potência baseados na medição


da taxa de variação da impedância
Os métodos convencionais de detecção de oscilação de potência são baseados na medição
da impedância de sequência positiva pela proteção. Durante condições normais de operação a
impedância medida pela proteção corresponde à impedância de carga, que está muito afastada
da característica de operação da proteção. Durante uma oscilação, a impedância medida pela
proteção se move no plano de impedância, com uma taxa de variação que depende da frequência
de oscilação do sistema equivalente.
Os esquemas convencionais usam a diferença entre as taxas de variação de impedância
que se verificam durante uma falta e em caso de oscilação de potência para fazer a diferencia-
ção entre uma falta e uma oscilação. Normalmente, essa diferenciação é feit dpela utilização
de duas características concêntricas, separadas por uma impedância ΔZ no plano de impe-
dâncias e pelo uso de um temporizador para medir o tempo que a impedância medida leva
para passar entre as duas características (externa e interna). Se a impedância levar um tempo
inferior ao ajustado para cruzar as duas características, o dispositivo de proteção identifica
o evento como uma falha. Por outro lado, se a temporização esgotar antes que a impedância
medida atinja a característica interna, o dispositivo de proteção identifica o evento como os-
cilação de potência.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   175 

Esquemas de características concêntricas


O método mais simples de medição da taxa de variação de impedância é a medição do tempo
que a impedância leva para atravessar a região limitada por duas características concêntricas.
A figura 6.4.2-1 mostra várias características que podem ser utilizadas para as funções de
OSB e OST.
É necessário que sejam ajustadas as características de operação e o temporizador, o que
depende de estudos de estabilidade. Nos ajustes das características, deve ser levado em consi-
deração que a zona externa esteja afastada da região de carga com certa margem de segurança
(por exemplo, 20%) e que a característica interna englobe o alcance da maior zona que se quer
bloquear, também com uma margem de segurança (por exemplo, 20%). Isto pode se tornar um
fator limitador, principalmente em linhas longas com carregamentos elevados.

Figura 6.4.2-1 – Características concêntricas para detecção de PSB e OST

Esquemas utilizando dois pares de blinders


A figura 6.4.2-2 ilustra o esquema, que é baseado no mesmo princípio de medição visto
anteriormente. A medição do tempo começa quando o blinder RRO é sensibilizado e é inter-
rompido quando o blinder RRI atua.
Quando o tempo medido for superior ao tempo ajustado, é caracterizada uma condição de
oscilação de potência. Existem dois temporizadores para as funções de oscilação de potência:
OSBD, para a função de bloqueio por oscilação de potência e OSTD, para a função de disparo
por oscilação de potência ou perda de sincronismo.
Existem duas alternativas para aplicação da função que vai promover o disparo, e conse-
quentemente a separação dos sistemas, quando de oscilação de potência. A primeira alternati-
va consiste em emitir o sinal de disparo ainda no primeiro quadrante do diagrama R-X, antes

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176    Proteções sistêmicas

da impedância medida pelo dispositivo de proteção atingir o centro elétrico do sistema. Esta
alternativa é denominada de “Trip On The Way In” (Disparo na entrada). Nestas aplicações,
se o disparo do disjuntor for liberado no instante de detecção da perda de sincronismo, pode
ocorrer que o disjuntor abra numa situação de ângulo entre as tensões em seus terminais em
oposição de fase ou próximo a esta condição. Na utilização desta filosofia, deve sempre ser
verificado se o disjuntor foi projetado para abrir nestas situações. Nesse caso, a função é de-
nominada de disparo por oscilação de potência (68OST).
Outra alternativa é permitir o disparo somente no segundo quadrante, quando a impedância
medida passar pelo blinder RLO, porque nessa situação o ângulo entre as fontes está diminuindo
e o disjuntor irá abrir numa condição mais favorável. Essa alternativa é denominada de “Trip On
The Way Out” (Disparo na saída) e é mais seletiva, pois o disparo só é liberado após o sistema ter
atingido o centro elétrico, garantindo que a oscilação é instável. Nesse caso, a função é denomi-
nada de disparo por perda de sincronismo (78OST). Caberá aos estudos de estabilidade avaliar
esta situação para verificar as condições do sistema e se é possível adotar esta filosofia.

Figura 6.4.2-2 – Esquema de 2 pares de blinders

Esquema utilizando um par de blinders


É possível utilizar um esquema com apenas um par de blinders para detecção de perda de
sincronismo (78OST), todavia este esquema não consegue distinguir entre uma falta e uma
condição de oscilação, até que a impedância medida atravesse o segundo blinder, posicionado
no segundo quadrante. Desta forma ele não pode ser utilizado para bloquear a atuação das fun-
ções de distância para condições de perda de sincronismo porque as proteções já terão atuado
antes do esquema declarar uma perda de sincronismo.

b) Método de cálculo contínuo da impedância


Este método é baseado na medição contínua da impedância vista pela proteção e apresenta
as seguintes vantagens:
• Não requer ajustes, de modo que não são necessários cálculos complexos.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   177 

• Detecta oscilações de potência na faixa de 0,1 Hz até 10 Hz.


• Detecta oscilações de potência que ocorrem durante condições de operação com polo
aberto e durante faltas.
• Desbloqueia as proteções de distância em todas as faltas que ocorrem durante condi-
ções de oscilação de potência.
• Disparo por perda de sincronismo em casos de oscilações instáveis.

A função de detecção de oscilação é baseada em um cálculo contínuo da impedância. As


impedâncias são monitoradas 4 vezes por ciclo, por fase, separadamente.
Quando o vetor da impedância, em pelo menos uma das fases, se situar na área delimitada
para análise de oscilação de potência, conforme a figura 6.4.2-3, o algoritmo de oscilação de
potência começa a analisar cada trajetória separadamente. A área de oscilação de potência é
calculada automaticamente, portanto não são necessários ajustes.

primeira impedância na área


de oscilação de potência

Zona
área de oscilação de
potência dimensionada
automaticamente

Figura 6.4.2-3 – Área de oscilação de potência

Se uma condição de oscilação de potência for detectada, a lógica permanecerá ativada mesmo
que o vetor impedância saia da área de oscilação de potência, permanecendo a mesma ativa até
que o sistema retorne à condição normal ou em caso de uma falta no sistema. O algoritmo calcula
novos valores de R e de X para cada fase e compara com valores memorizados. Os critérios prin-
cipais, que são utilizadas para definir as oscilações, são: Monotonia, Continuidade e Suavidade. Os
limites aplicados são calculados automaticamente. Essa adaptação automática às variações das ve-
locidades das trajetórias permite que a função detecte oscilações de baixa frequência bem como os-
cilações de alta frequência. A seguir, uma descrição dos principais critérios utilizados no algoritmo:
• Critério de monotonia (Monotony) – neste critério as direções das derivadas de R e
de X são monitoradas. Para garantir um movimento direcional pelo menos uma delas
não pode mudar a direção, conforme a figura 6.4.2-4.

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178    Proteções sistêmicas

Figura 6.4.2-4 – Critério de monotomia

• Critério de continuidade (continuity) – a distância entre dois valores de R e de X


deve exceder a um limite. Isso assegura que o vetor impedância não está estacionário,
conforme a figura 6.4.2-5.

Figura 6.4.2-5 – Critério de continuidade

• Critério de suavidade (smoothness) – a relação entre duas diferenças sucessivas de


R ou de X deve ser menor que um limite estabelecido. Isso assegura que a trajetória
da impedância tem um movimento uniforme, sem variações bruscas, confirme a figura
6.4.2-6.

Figura 6.4.2-6 – Critério de suavidade

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   179 

Esses critérios são satisfeitos somente durante condições de oscilação de potência, uma
vez que durante faltas o vetor impedância varia imediatamente para a impedância de falta e,
durante condições de carga, o vetor impedância praticamente não se move.
A lógica da figura 6.4.2-7 é usada para assegurar operação segura e estável do esquema de
detecção de oscilação de potência sem riscos de atuações incorretas da função durante faltas
no sistema.

Figura 6.4.2-7 – Lógica de oscilação de potência

A figura 6.4.2-8 ilustra os critérios que devem ser combinados para a geração de um sinal
de disparo por perda de sincronismo:
• Impedância na área de detecção de oscilação de potência;
• Detecção de oscilação de potência;
• Impedância atingindo a linha que corresponde ao ângulo da impedância da linha de
transmissão;
• Impedância deixando a área de detecção de oscilação, em caso de disparo na saída;
• Impedância atingindo a linha que corresponde ao ângulo da impedância da linha de
transmissão em direção oposta.

Figura 6.4.2-8 – Detecção de condições de perda de sincronismo

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180    Proteções sistêmicas

Nas aplicações padrão deste método, o disparo é emitido quando a impedância medida
deixa a área de oscilação de potência, no ponto 4. É possível também adotar o critério de dis-
paro quando a impedância cruzar a linha nos pontos 3 e 5.

c) Método de variação da amplitude da tensão no centro elétrico do sistema (SCV –


Swing Center Voltage)
A SCV (Swing Center Voltage) é definida como a tensão no centro elétrico do sistema,
ou seja, a tensão que é zero quando as duas fontes estão defasadas de 180º. Quando o sistema
perde o sincronismo, a diferença angular δ (t) entre as duas fontes aumentará em função do
tempo.
A figura 6.4.2-9 mostra o diagrama fasorial para um sistema equivalente de duas fontes,
onde a SCV é definida como o fasor da origem (O) ao ponto O’. Nesse método, a taxa de va-
riação da SCV é utilizada para detecção das oscilações de potência.

Figura 6.4.2-9 – Método de variação da tensão no centro elétrico do sistema

A figura 6.4.2-10 mostra o diagrama da figura 6.4.2-9 para sistemas homogêneos, onde o
ângulo Ө é aproximadamente 90º.

Figura 6.4.2-10 – Método de variação da tensão no centro elétrico do sistema – Sistema homogêneo

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   181 

Um valor aproximado da tensão no centro elétrico pode ser calculado pela seguinte
expressão:

SCV ≈ Vs × cos φ

Onde |Vs| é a amplitude da tensão local, e φ é o ângulo entre a tensão VS e a corrente I.


Sendo (IVSI x cos φ) um valor bastante aproximado da SVC, nota-se que essa pequena
diferença entre o valor real da SVC e sua estimativas por meio de leituras locais, não tem im-
pacto significativo na detecção de oscilações de potência.
A expressão do SCV pode ser simplificada, em função do ângulo de defasagem entre as
fontes, para a seguinte expressão:

Onde E1 é a amplitude da tensão de sequência positiva da fonte.


O valor de SCV será máximo quando as duas fontes estão em fase e será mínimo (zero)
quando as fontes estiverem defasadas de 180º.
Logo, a taxa de variação da SCV pode ser obtida como:

A expressão acima mostra que a taxa de variação da tensão no centro elétrico independe
das impedâncias do sistema e é máxima quando os sistemas estão defasados de 180º.
O fato de que a derivada da tensão no centro elétrico não depende das impedâncias do
sistema, é uma das grandes vantagens da utilização deste método na detecção de oscilações
no sistema.

d) Esquema R-Rdot
O método baseado no esquema R-Rdot (figura 6.4.2-11) utiliza a taxa de variação da re-
sistência medida para detectar uma condição de oscilação de potência.
A seguinte função define o critério de detecção de oscilação:
dz
U1 = Z − Z1 + T1
dt

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182    Proteções sistêmicas

Onde, U1 é variável controlada e Z é a impedância aparente medida pelo relé.


Sendo Z1 e T1 os ajustes definidos pelos estudos, de forma que Z1 é a impedância me-
dida na oscilação que deve provocar a atuação do esquema e T1 a inclinação que representa
Rdot/R.

Figura 6.4.2-11 – Característica de atuação do esquema R-Rdot

Utilização de sincrofasores para detecção de oscilações de potência e perdas de


sincronismo
Considerando o sistema equivalente de duas fontes, apresentado na figura 6.4.2-12, e as-
sumindo que os sincrofasores das tensões de sequência positiva medidas nas barras sejam V1S
e V1R, a relação entre essas tensões é dada pela seguinte expressão:

Z" Z"
V!" Z$ + 1 − Z$ ∗ k % ∠θ
=
V!# Z" + Z& Z" + Z&
Z$ + 1 −
∗ k % ∠θ
Z$

Onde:
KE é a relação entre as tensões:

E"
k! =
E#

Figura 6.4.2-12 – Sistema equivalente

Pode ser demonstrado que o módulo da relação entre V1S e V1R é próxima de 1 e que o
ângulo desta relação representa aproximadamente o ângulo entre as duas fontes equivalentes.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   183 

A figura 6.4.2-13 mostra um algoritmo para detecção de oscilação de potência baseado nas
informações dos sincrofasores medidos nas duas barras.
O algoritmo utiliza os ângulos dos fasores das tensões de sequência positiva medidas nas
duas barras para calcular o ângulo δ entre as barras. Então o algoritmo determina Sf ( dδ/dt -
primeira derivada de δ) e Af (d2 δ/dt2 – segunda derivada de δ) entre as duas áreas.

Figura 6.4.2-13 – Algoritmo para detecção de oscilação de potência baseado em sincrofasores

O algoritmo habilita o cálculo da diferença angular quando as seguintes condições são


satisfeitas:
• A amplitude da tensão de sequência positiva local V1M é maior que 1V.
• A amplitude da tensão de sequência positiva remota V1M é maior que 1V.

Quando a amplitude da corrente de sequência positiva local for superior a 10% da corrente
nominal, SF for maior que 0,2 Hz e Af for maior que 0,1 Hz/s por três ciclos, o algoritmo ex-
terioriza o sinal PSD indicando uma condição de oscilação de potência.
A figura mostra ainda as condições de reset do algoritmo: Sf > 10 Hz, Af > 50 Hz/s e Sf ≤
0,2 Hz e Af ≤ 0,1 Hz/s durante 3 ciclos.
A figura 6.4.2-14 usa a equação a seguir para definir regiões de instabilidade no plano Sf
x Af :

Af > 78_slope x Sf + Aoffset

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184    Proteções sistêmicas

Figura 6.4.2-14 – Detecção preditiva de perda de sincronismo baseada em sincrofasores

A lógica da figura 6.4.2-15 compara o valor absoluto da diferença de ângulo calculada


com um valor de ajuste OOSTH.

Figura 6.4.2-15 – Algoritmo para detecção de perdas de sincronismo baseado em sincrofasores

O ajuste de OOSTH define a região de operação da diferença angular (ADOPR), mostrada


na figura 6.4.2-16. A lógica monitora quando a diferença angular atravessa essa região, habi-
litando a saída OOSD.

Figura 6.4.2-16 – Região da diferença angular para o método de detecção de perda de sincronismo

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   185 

6.4.3 – Considerações a respeito dos ajustes de esquemas de detecção de oscilações de potên-


cia baseados em medição de impedância
Existem vários aspectos que devem ser considerados quando do ajuste das unidades de
detecção de oscilações de potência, seja para bloqueio das funções de distância durante osci-
lações estáveis ou para disparo em condições de oscilações instáveis. De modo a garantir que
exista tempo suficiente para efetivar o bloqueio de unidades de distância durante oscilações
estáveis, a característica interna do elemento de impedância deve estar situada fora da maior
característica da função de distância que se quer bloquear.
Adicionalmente a característica externa do elemento de impedância deve estar situada
fora da região de carga, com certa margem de segurança, para evitar que as unidades de dis-
tância sejam bloqueadas incorretamente durante condições de carregamento elevado.
Esses requisitos são difíceis de serem atingidos em algumas situações.
A figura 6.4.3-1 ilustra duas situações que caracterizam bem o problema. A figura 6.4.3-
1(a) mostra uma situação na qual a impedância da linha é grande, comparada com as im-
pedâncias das duas fontes equivalentes, e a figura 6.4.3-1(b) mostra uma situação na qual a
impedância da linha é muito menor quando comparada com as impedâncias das duas fontes
equivalentes.

Figura 6.4.3-1 – Efeitos das impedâncias das fontes e das linhas nas funções de detecção de oscilação de potência

Na figura 6.4.3-1(a) podemos observar que a trajetória da impedância medida durante a


oscilação pode atingir as unidades de medida de distância de zonas 1 e 2 antes que o ângulo
entre as fontes atinja 120º, ou seja, antes que o sistema atinja uma condição de instabilidade.
Neste sistema particular é muito difícil ajustar os elementos de distância (blinders) para as
funções de bloqueio para oscilação e disparo por oscilação ou perda de sincronismo, especial-
mente se o carregamento da linha é elevado, porque os ajustes serão tão grandes que poderá
haver bloqueios incorretos durante carregamentos elevados. Nestes casos devem ser utilizadas
características lenticulares ou se utilizar as funções “Load Encroachment” presentes nos dis-
positivos de proteção digitais.

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186    Proteções sistêmicas

A figura 6.4.3-1(b) mostra que o sistema se torna instável antes da impedância medida
atingir as características de atuação das unidades de medida de zonas 1 e 2, sendo relativa-
mente simples os ajustes das unidades de bloqueio por oscilação e disparo por oscilação ou
perda de sincronismo.
Outra dificuldade para ajustar os esquemas tradicionais baseados na medição da impedân-
cia é a separação entre os elementos de detecção e as temporizações utilizadas para diferenciar
uma falta de uma oscilação de potência e uma oscilação estável de uma oscilação instável.
É necessária a realização de diversos estudos de estabilidade para que se possam determinar
ajustes adequados.
A seguir serão mostrados alguns passos na determinação de ajustes de características qua-
drilaterais utilizadas na detecção de oscilações de potência e perdas de sincronismo, com base
no sistema equivalente de duas fontes mostrado na figura 6.4.3-2.
Ajustar a característica externa fora da região de carga máxima, com certa margem de
segurança.
• Ajustar a característica interna fora da maior característica de sobrealcance que se
queira bloquear. Normalmente devem ser bloqueadas as unidades de medida de zonas
2 e 3, inclusive o esquema de teleproteção.
• Em função dos ajustes dos “blinders” interno e externo, de acordo com a figura 6.4.3-
2, calcular a temporização associada ao bloqueio por oscilação de potência de acordo
com a expressão:

Valores típicos para frequência de escorregamento (Fslip) que caracterizam oscilações ins-
táveis, e são utilizados para o cálculo dos temporizadores que discriminam oscilações de po-
tência de curto-circuito (OSBD), associados às funções de bloqueio por oscilação de potência,
estão na faixa de 4 Hz a 7 Hz.

Figura 6.4.3-2 – Sistema equivalente para ajuste da proteção

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   187 

No caso da aplicação da função de disparo por oscilação de potência ou por perda de sin-
cronismo, para o ajuste dos temporizadores associados a estas funções, é utilizada a mesma
fórmula apresentada anteriormente, porém são consideradas as frequências de oscilação de
forma diferente:
• Para o ajuste do temporizador que discrimina oscilação de potência de curto-circuito
(OSTD), a frequência de oscilação utilizada no cálculo deve ser a maior frequên-
cia de oscilação identificada para as oscilações instáveis nas simulações dinâmicas
realizadas;
• Para o ajuste do temporizador que discrimina oscilação instável de oscilação estável
(OSBD), a frequência de oscilação utilizada no cálculo deve ser a menor frequên-
cia de oscilação identificada para as oscilações instáveis, nas simulações dinâmicas
realizadas;

6.4.4 – Filosofias de utilização das funções de oscilação de potência e perda de sincronismo


Como já foi mencionado, um dos métodos tradicionais utilizados para minimizar os ris-
cos de desligamentos em cascata durante condições de perda de sincronismo, é a aplicação
de uma função que tome as medidas necessárias para bloquear os elementos de proteção que
possam atuar em casos de oscilações e a utilização de funções de proteção para separar as
áreas afetadas do sistema em casos de perdas de sincronismo, minimizando os cortes de carga
e mantendo a continuidade de serviço.
Para isso, existem basicamente duas funções relacionadas à detecção de oscilações de
potência:
• Função de bloqueio (OSB) que deve bloquear as funções de proteção que possam atu-
ar durante as oscilações, estáveis ou instáveis, e que deem desbloquear as mesmas no
caso de faltas que ocorram durante as oscilações.
• Função de disparo por oscilação ou perda de sincronismo (OST) que discrimina os-
cilações estáveis e instáveis e inicia a separação das áreas ou dos sistemas durante as
perdas de sincronismo.

Os esquemas OST são projetados para proteger o sistema durante condições instáveis,
isolando geradores ou grandes áreas do sistema, com a formação de ilhas, de modo a manter a
estabilidade em cada ilha por meio do equilíbrio entre geração e carga em cada ilha formada.
Para esta finalidade, os esquemas OST devem ser aplicados em pontos estratégicos, tipica-
mente próximos ao centro elétrico, para facilitar a identificação da condição, e as separações
devem ser realizadas em pontos estratégicos de modo a manter o equilíbrio entre a geração e
a carga das áreas formadas. Como durante as oscilações existem dispositivos de proteção que
podem atuar em diferentes localidades, o esquema OST deve ser complementado com funções
OSB de modo a evitar desligamentos incontrolados no sistema.

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188    Proteções sistêmicas

Outro aspecto importante dos sistemas OST é evitar o desligamento de disjuntores quando
o ângulo entre as fontes é próximo a 180º. A abertura de disjuntores nestas condições pode
implicar em reignição de arco e danificação do disjuntor, a menos que esse equipamento tenha
sido projetado para abertura com as tensões em oposição de fase.
Entretanto, dependendo das características do sistema elétrico e dos resultados das análi-
ses de risco, outras filosofias podem ser aplicadas. A seguir serão apresentadas algumas delas:

• Filosofia de não aplicar função de oscilação de potência.


Esta filosofia não aplica qualquer forma de detecção de oscilação de potência, e, em caso
de oscilações, as aberturas se darão por atuações das unidades de medida de distância de zona
1 ou zona 2. Esta filosofia extingue a necessidade de estudos elétricos, todavia os desligamen-
tos das linhas em condições de oscilação se darão de uma maneira não controlada, podendo
resultar em ilhas instáveis agravando a perturbação ou até mesmo danificando equipamentos,
já que a configuração resultante não foi prevista em estudos. Outro ponto, é que desligamen-
tos em cascata podem ocorrer inclusive durante oscilações inicialmente estáveis, agravando
a perturbação.
Outro aspecto é que os desligamentos por atuação da zona 1 podem provocar aberturas
dos disjuntores com ângulos próximos a 180º, colocando os disjuntores em risco. Sendo as-
sim, em função dos riscos associados esta filosofia não é recomendada.

• Filosofia de bloquear todas as funções de proteção durante a oscilação de potência.


Esta filosofia consiste em utilizar bloqueio por oscilação de potência em todos os disposi-
tivos de proteção que possam atuar durante as oscilações. A maior desvantagem dessa filosofia
é que, uma vez iniciada uma oscilação instável, não existem dispositivos de proteção para
detectá-la e eliminá-la rapidamente, sendo necessário expirar o tempo de bloqueio para que as
unidades de distância sejam liberadas a atuar. Além disso, podem ocorrer aberturas indiscri-
minadas de linhas de transmissão após o término do tempo de bloqueio.
Esta filosofia também não é recomendada já que manter o sistema fora de sincronismo em
tempos elevados pode trazer danos aos equipamentos e promover instabilidades locais.

• Filosofia de bloquear a zona 2 (inclusive teleproteção) e superiores, liberando a


zona 1 para disparo durante a oscilação de potência
Esta filosofia consiste em utilização da função OSB para bloqueio das funções de distân-
cia em zonas 2 (incluindo as associadas à teleproteção) e superiores e permitindo o disparo pe-
las funções de distância em zonas 1 caso a oscilação penetre em sua característica de atuação.
Aqui também vale a observação de que os desligamentos por atuação das funções de
distância em zona 1 podem provocar aberturas dos disjuntores com ângulos próximos a 180º.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   189 

Também pode ser observado o fato de que qualquer oscilação estável que atinja a caracte-
rística da função de distância em zona 1 irá provocar desligamentos, mesmo que a tendência
do sistema seja de recuperação, podendo levar o sistema a uma condição instável.
Nesse sentido, vale ressaltar que dependendo do comprimento da linha e das fontes equi-
valentes ou quando da aplicação de características quadrilaterais para faltas entre fases, as
funções de distância em zonas 1 podem ter uma grande abrangência no plano R-X, permitindo
a atuação da proteção durante oscilações estáveis, quando o ângulo entre as fontes equivalen-
tes é pequeno.

• Filosofia de bloquear todas as zonas das proteções de distância (OSB) e permitir


disparo por funções de OST
Esta é a aplicação da filosofia básica de utilização das funções OSB e OS quando o ob-
jetivo é: evitar a desconexão de qualquer elemento do sistema durante oscilações estáveis e
promover a separação automática de duas áreas ou de dois sistemas interligados em casos de
oscilações instáveis que levem as duas áreas ou os dois sistemas interligados a perder o sin-
cronismo. A separação nestes casos deve ser realizada em pontos estratégicos do sistema, de
modo que as áreas ou os sistemas separados possam ser mantidos em sincronismo.
Esta é a filosofia que apresenta melhor seletividade e segurança para o sistema sob o pon-
to de vista de proteção uma vez que utiliza a função de bloqueio por oscilação de potência
68 OSB para o bloqueio de todas as zonas das unidades de distância, incluindo os esquemas
de teleproteção POTT. Desta forma é possível evitar que linhas sejam desligadas durante
oscilações de potência estáveis, transformando-as em instáveis e aumentando a gravidade da
perturbação. Também é evitado que, durante as oscilações instáveis, aberturas não previstas
provoquem um desligamento não controlado do sistema, podendo inclusive ter como conse-
quência a recusa de atuação de funções de perda de sincroniso, nos pontos de abertura plane-
jados na etapa de estudos, já que estas aberturas alteram a configuração da rede e a velocidade
das impedâncias medidas. Como consequência de aberturas não programadas podem ocorrer
desde blecautes, até danos em equipamento devido a configurações não previstas.
Adicionalmente às funções de bloqueio por oscilação de potência 68 OSB devem ser utili-
zadas funções OST em pontos previamente estabelecidos com o objetivo de separar o sistema,
formando ilhas estáveis. Estas funções podem ser aplicadas de duas maneiras:
• Disparo na entrada 68 OST (trip on the way in), quando o disparo é realizado no pri-
meiro quadrante do diagrama R-X, quando não há preocupação com o controle do ân-
gulo entre as tensões da fonte e os disjuntores admitem abertura com oposição de fase.
• Disparo na saída 78 OST (trip on the way out), quando o disparo é realizado no se-
gundo quadrante do diagrama RX, quando há preocupação com o controle do ângulo
entre as tensões da fonte e se deseja um ângulo de abertura mais favorável.
Ressalta-se a necessidade de, em casos de circuitos paralelos, a utilização de disparo cruza-
do para quando da atuação da proteção de um dos circuitos, os demais possam ser desligados.

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190    Proteções sistêmicas

Também devem ser avaliadas as situações em que a abertura de determinadas linhas de trans-
missão não isole as áreas fora de sincronismo, podendo ser mantidas conexões dessas áreas
fora de sincronismo por outros níveis de tensão. Nesses casos deve-se lançar mão do recurso
da transferência de disparo para que as áreas sejam separadas mais rapidamente.
Embora o melhor ponto para se identificar se a oscilação é ou não instável seja na linha
onde ocorre a formação do centro elétrico do sistema, é possível a aplicação da função OST
para promover aberturas em pontos remotos, por meio dos ajustes de seus alcances reativos,
desde que estas aberturas sejam melhores sob o ponto de vista de formação de ilhas nas quais
se possa manter o equilíbrio entre carga e geração.
A alternativa, utilizando funções de disparo por perda de sincronismo 78 OST, além de
ser mais seletiva, apresenta a vantagem de promover as aberturas dos disjuntores em ângulos
mais favoráveis de tensão, após a defasagem entre as fontes passar de 180° e começar a dimi-
nuir. Além disso, essa alternativa apresenta uma facilidade maior de implantação dos ajustes
das funções responsáveis pela detecção das oscilações, além de não impactar nos limites de
transmissão do sistema e não impor riscos de descoordenação da proteção de perda de sincro-
nismo com os SEP.
A outra opção, menos seletiva, mas que evita grandes excursões de tensão no sistema, é
a utilização da função 68 OST de disparo preditivo. Esta alternativa, quando utilizada, deve
ser ajustada de modo a minimizar a probabilidade de atuações quando de oscilações estáveis,
posicionando as características de atuação de forma que os ângulos entre as fontes equivalen-
tes, nas barras que interligam a linha onde se localiza o centro elétrico, sejam próximos a 120º
elétricos. Nessa região é esperado que o sistema esteja mais próximo da perda de sincronismo
e que a medição da velocidade de variação da impedância medida seja mais precisa, já que
nela as oscilações estáveis e instáveis têm velocidades bem distintas.

• Filosofia utilizada no sistema interligado nacional


No Sistema Interligado Nacional é utilizada uma filosofia que é uma combinação das fi-
losofias descritas nos itens anteriores. Existem funções de disparo por oscilação de potência
(OST) instaladas em alguns pontos do sistema, particularmente nas interligações regionais.
Na maior parte delas é aplicada a filosofia de disparo preditivo, ou seja, de disparo na entrada
68 OST.
Em outras áreas do sistema, as zonas de distância das proteções são bloqueadas, inclusive
os disparos por atuação de teleproteção por função de distância, com exceção das unidades de
medida de zonas 1. Nas linhas de transmissão com compensação série, nas quais normalmente
não é aplicada a função de distância em zona 1, ou elas têm um alcance muito pequeno, as
zonas de sobrealcance associadas à teleproteção também são liberadas.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   191 

6.4.5 – Método simplificado para determinação dos pontos para aplicação de proteção para
oscilação de potência
Esse método tem o objetivo de avaliar a possibilidade de formação de centro elétrico em
um determinado ponto, considerando as impedâncias da rede, de forma a orientar a aplicação
das funções de disparo por oscilação de potência ou perda de sincronismo.
A figura 6.4.5-1 mostra o sistema equivalente de duas fontes e a linha de impedância ZL
em consideração.

Figura 6.4.5-1 – Sistema equivalente de duas fontes

Os valores de ZS, ZR e ZTR são os obtidos de um estudo de curto-circuito e no qual se de-


terminou o equivalente preservando as barras de interesse, ou seja, as barras interligadas pela
linha de impedância ZL.

Calcula-se então a expressão:


! !
ZT= ZS + ZR + ! # !
!. #

! #

Se ZT/2 for maior que ZS ou ZR o centro elétrico pode ser formado na linha em estudo
devendo ser avaliada a utilização da função OST.
Ressalta-se que este método deve ser utilizado apenas como um indicativo e não substitui
os estudos dinâmicos, os quais devem indicar quais são os cenários e as contingências que
resultam na instabilidade do sistema. Esses estudos também devem fornecer as informações
sobre ângulos críticos e frequências da oscilação para subsidiarem os ajustes das funções de
oscilação de potência.

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192    Proteções sistêmicas

6.4.6 – Proteção de perda de sincronismo em unidade geradora


Uma unidade geradora é um sistema complexo sujeito a falhas de diversas naturezas, re-
querendo a sua imediata retirada do sistema ou até mesmo a sua parada parcial ou completa.
Para isso, a arquitetura e os ajustes do seu sistema de proteção devem seguir critérios seguros
de proteção da máquina, evitando danos para mesma. Adicionalmente, o seu sistema de pro-
teção deve ter um comportamento adequado frente a fenômenos sistêmicos como oscilações
de potência, impedindo o seu desligamento desnecessário, quando a máquina não corre risco
físico e a perturbação pode ser agravada.
Todavia, quando identificada a possibilidade de perda de sincronismo da usina, com for-
mação de centro elétrico dentro da mesma, deve ser habilitada nas proteções das suas unida-
des geradoras a função de proteção de perda de sincronismo (78 OST), para desconectar a
usina rapidamente evitando danos nas máquinas.
A operação da máquina síncrona frente a grandes perturbações no sistema ou em condi-
ções inadequadas de subexcitação pode culminar em perda de estabilidade e consequente per-
da de sincronismo entre a unidade geradora e o sistema. Essas oscilações impactam significa-
tivamente no torque do eixo do conjunto gerador-turbina, induzem correntes no enrolamento
amortecedor e outras partes, causando danos na máquina.
Quando grupos de máquinas de subsistemas diferentes perdem o sincronismo é observada
a formação de centro-elétrico no sistema de transmissão, e ações são tomadas para a separação
dos subsistemas por meio de proteções específicas. Entretanto, quando a instabilidade ocorre
entre uma usina e o resto do sistema, o centro elétrico da oscilação pode ser formado dentro da
usina, nesse caso, é necessário que a ação seja tomada nas unidades geradoras, ou na conexão
das mesmas, de forma que a usina seja desconectada do sistema em tempo hábil, evitando
avaria de suas unidades geradoras.
Contudo, nem todas as usinas do sistema estão sujeitas a essa condição, pois a localização
do centro elétrico da oscilação está fortemente relacionada com as impedâncias da rede. Logo,
a ocorrência de um centro elétrico na usina, depende da relação da impedância equivalente da
mesma com a impedância equivalente do sistema. Isso pode ser obtido a partir de um estudo
simples utilizando o equivalente da rede, apresentado na figura 6.4.6-1.
De forma análoga ao que foi apresentado no item 6.4.5, assumindo um sistema simplificado
de duas fontes com tensões de igual amplitude, a trajetória da impedância irá atravessar a impe-
dância total do sistema em um ângulo reto na metade de sua amplitude. Na figura 6.4.6-1-a en-
contra-se um sistema equivalente de duas barras. Após determinados ZS (Equivalente da Usina),
ZL (Linha de Conexão) e ZR (Equivalente do Sistema), e somando-se as impedâncias, obtém-se
a impedância total ZT. Calcula-se, então, |ZT|/2, para encontrar a metade do módulo dessa impe-
dância equivalente total. Esse valor indicará geometricamente onde poderá ocorrer centro elétrico
na rede estudada. A figura 6.4.6-1-b mostra um exemplo com possibilidade de ocorrência de cen-
tro elétrico dentro da usina, quando de uma instabilidade sistêmica, quando ZT/2 < Zs. Nota-se
que a tendência do centro elétrico ocorrer na usina é maior quando sua impedância é grande se

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   193 

comparada com a do sistema, ou seja, quando for caracterizada uma fonte fraca em um sistema
forte.

Figura 6.4.6-1 – Sistema equivalente da usina

Ressalta-se que esse método não substitui os estudos dinâmicos, pois o objetivo do mes-
mo é apenas apresentar uma análise geométrica do fenômeno expresso no diagrama R-X.
De fato, também não aponta quais serão as contingências que irão ocasionar a instabilidade
eletromecânica e a formação do centro elétrico. Essas informações deverão ser obtidas de
estudos adicionais, cujos resultados dependerão, além dos fatores supracitados, de diversos
outros, como o nível de carregamento das linhas, características da carga, tensões nas barras,
inércia do sistema, ações de controle das unidades geradoras, etc.
Sendo assim, quando os estudos indicarem a possibilidade de formação de centro elétrico
numa determinada usina do sistema, é recomendado que a mesma possua habilitada nas prote-
ções de suas unidades geradoras, ou linha de conexão, a função de Perda de Sincronismo (78).
Os dispositivos de proteção de unidades geradoras disponibilizam funções de perda de
sincronismo que detectam oscilações de potência, a partir de diversos algoritmos. A seguir
serão apresentados dois algoritmos disponíveis para executar esta função, um deles utilizando
um único blinder e o outro utilizando dois blinders.
Além dos blinders, ambos os esquemas utilizam ainda um círculo no plano de impedân-
cia, que define o alcance da função. Este círculo é denominado 78Z1 e é o responsável por não
permitir atuações dos algoritmos em oscilações de potência com centro elétrico fora da usina,
provendo seletividade à função. O círculo possui um alcance à frente (78FWD), e um alcance
reverso (78REV).

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194    Proteções sistêmicas

Característica de blinder simples


Este esquema utiliza um blinder à direita, no plano de impedâncias, conhecido como
78R1, e um outro Blinder na região esquerda do plano de impedâncias, nomeado de 78R2. A
figura 6.4.6-2 mostra a função no plano de impedâncias.

Figura 6.4.6-2 – Proteção de perda de sincronismo –aAlgoritmo Blinder simples

As posições dos blinders 78R1 e 78R2 devem ser escolhidas de forma que o ângulo das
tensões entre a unidade geradora e a fonte equivalente seja aproximadamente igual a 120º.
Também deve ser observado se o círculo Z1 e os blinders 78R1 e 78R2 não invadem a região
de carga.

Característica de blinder duplo


Esta característica também conta com o círculo 78Z1 e os blinders 78R1 e 78R2, porém
ambos estão agora nos dois semiplanos de forma simétrica. A figura 6.4.6-3 exemplifica o
diagrama utilizado por esta função no plano de impedâncias.
Para discriminar oscilação de curto-circuito, este algoritmo monitora o tempo em que a
impedância de sequência positiva fica entre os blinders 78R1 e 78R2, comparando esse tempo
ao ajuste do temporizador 78D. Desta forma é possível ajustar o temporizador de forma que
eventos mais rápidos sejam tratados como curto-circuito, não ativando a função.
Valores típicos de velocidades de impedância na referência de tensão da máquina, obtidos
a partir da análise de eventos, estão na faixa de 8 a 20 Ω/s.
A posição do blinder 78R2 deve ser ajustada de forma que o ângulo entre a unidade ge-
radora e a fonte equivalente do sistema seja aproximadamente igual a 120º, e a posição do
blinder 78R1 deve ser ajustada considerando a região de carga.

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Aspectos de segurança relacionados à operação do sistema interligado nacional   195 

Figura 6.4.6-3 – Proteção de perda de sincronismo – Algoritmo de dois blinders

As funções de perda de sincronismo habilitadas nas unidades geradoras, geralmente têm


alcance limitados para fenômenos com formação de centro elétrico dentro da usina, todavia
caso estas sejam ajustadas com alcance no sistema de transmissão, deve ser utilizado na lógica
um contador de “swing” para que o desligamento da unidade geradora apenas seja promovido
no caso de falta de ação de controle do fenômeno no sistema de transmissão.
Conclui-se que, nos casos onde haja possibilidade de formação de centro elétrico dentro
da usina, a aplicação da função de perda de sincronismo na unidade geradora ou linha de co-
nexão torna-se imprescindível para a proteção da máquina quando da ocorrência do referido
fenômeno, já que nenhuma proteção elétrica, além das funções específicas de perda de sincro-
nismo, provocam a desconexão da unidade geradora de forma confiável.

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