Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Plutarco
ISSN: 2183-220X
Diretoras Principais
Main Editors
Assistentes Editoriais
Editoral Assistants
Daniela Pereira
Universidade de Coimbra
Comissão Científica
Editorial Board
Adriane Duarte Frederico Lourenço
Universidade de São Paulo Universidade de Coimbra
Plutarco
Editores Publishers
VÁRZEAS, Marta Isabel de Oliveira
Imprensa da Universidade de Coimbra
Plutarco : como deve o jovem ouvir os
Coimbra University Press
poetas? – (Classica digitalia. Autores
www.uc.pt/imprensa_uc gregos e latinos. Textos gregos)
Contacto Contact ISBN 978-989-26-2236-1 (ed. impressa)
imprensa@uc.pt ISBN 978-989-26-2237-8 (ed. eletrónica)
Vendas online Online Sales CDU 821.14’02”00/01”
http://livrariadaimprensa.uc.pt
Coordenação Editorial Editorial Coordination
Imprensa da Universidade de Coimbra
ISSN
2183-220X
ISBN
978-989-26-2236-1
© março 2022
ISBN Digital
978-989-26-2237-8 Imprensa da Universidade de Coimbra
Classica Digitalia Vniversitatis
DOI Conimbrigensis
https://doi.org/10.14195/978-989-26- http://classicadigitalia.uc.pt
2237-8 Centro de Estudos Clássicos e
Humanísticos da Universidade de
Coimbra
Filiação Affiliation
Universidade de Coimbra
Resumo
O tratado Como deve o jovem ouvir os poetas faz parte de um conjunto de
cerca de setenta e oito obras de Plutarco, conhecidas pelo nome latino
Moralia. Com ele, o autor regressa ao “antigo diferendo entre poesia e
filosofia”, radicalizado por Platão na República, e resolvido na Poética
de Aristóteles, embora nunca completamente ultrapassado. O tema é
retomado na perspetiva da educação. Mas, ao contrário da proposta
platónica, a de Plutarco vai no sentido de defender e demonstrar as
potencialidades pedagógicas da poesia e o seu papel propedêutico em
relação à filosofia.
Palavras-chave
Putarco – Educação – Poesia – Filosofia
Abstract
The treatise How a Young Man Should Hear the Poets is part of a set
of about seventy-eight works by Plutarch, known by the Latin name
Moralia. With it, the author returns to the “old dispute between poetry
and philosophy”, radicalized by Plato in the Republic, and resolved
in Aristotle’s Poetics, although never completely outdated. The theme
is taken up from the perspective of education. But, contrary to the
Platonic proposal, Plutarch’s seeks to defend and demonstrate the
pedagogical potential of poetry and its propaedeutic role in relation
to philosophy.
Keywords
Plutarch – Education – Poetry – Philosophy.
6
Autora
Author
7
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
10
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
Sumário
Sumário 9
Introdução 11
Nota Prévia 27
Bibliografia 105
Edições, traduções e comentários de Plutarco 105
E dições, traduções e comentários
de outros Autores 105
Estudos 106
9
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
10
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
Introdução*
2
Note-se, entre outras, a de Philippon (1987) Comment lire les
poètes, e a de Hunter & Russell How to Study Poetry.
3
Cf. Knox 1968; Kennedy 1990: 302; Schenkeveld 1992: 130.
12
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
4
A relação deste texto de Plutarco com a República de Platão é
unanimente reconhecida pelos críticos. Cf. e.g. Halliwell 2002: 296 e
Hunter 2009: 175, só para citar alguns dos mais recentes.
5
As traduções da República aqui reproduzidas são da autoria de
Rocha Pereira 51987.
6
Rep. 29d-e.
14
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
7
Sobre as preocupações éticas da educação em Plutarco, vide
Xenophontos 2016.
8
Rep. 377a-c.
15
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
9
Em Rep.376d Sócrates convida os outros participantes no diálogo,
com palavras que não deixam dúvidas: Ora vamos lá! Eduquemos estes
homens em imaginação, como se estivéssemos a inventar uma história e
como se nos encontrássemos desocupados.
10
Halliwell 2002: 297 fala de “uma espécie de auto-censura em
substituição da censura política proposta na República de Platão”.
16
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
11
Cf. Hunter 2009: 175.
17
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
12
Vide Lacy 1948 e Nussbaum 1993.
13
Sobre as possíveis ligações entre este tratado de Plutarco e a
conceção de poesia dos Estoicos, vide Hunter & Russell 2011: 11-15.
18
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
14
De Lacey 1948: 241 lembra que os Estoicos defendiam que os
grandes poetas, como Homero, tinham sido os primeiros filósofos.
19
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
15
Não é absolutamente certo que Plutarco conhecesse a Poética
de Aristóteles. Halliwell 2002: 299 n 5, por exemplo, vê com muitas
reticências a possibilidade de uma conexão direta com o Estagirita,
mas afirma que se deve aceitar uma linha de pensamento peripatética
no tratado. Sobre a presença da obra de Aristóteles em Plutarco, vide
Rostagni 1955: 255-322; Flashar 1979: 79-111; Sandbach 1982: 207-232;
Pérez Jiménez, García López & Aguilar 2000; Roskam, 2009: 25-44.
16
Vide Arist., Po. 1447b; 1450a-1450b; 1451b. R. Hunter and D.
Russell 2011: 88 notam a proximidade entre este passo de De audiendis
poetis e o Schol. Dion. Thrax.
20
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
17
Poética 1448b.
21
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
18
A figura de Tersites aparece em Il. 2. 212-277. Aí ele é apresentado
como uma personagem física e moralmente inferior. Na tradição poste-
rior ficou como o paradigma mítico do insubordinado.
19
Rep. 620c. Este eco platónico é também apontado por Hunter &
Russell 2011: 102.
20
Sobre o diálogo intertextual que estrutura o desenvolvimento das
ideias de Plutarco neste tratado, vide Várzeas 2020.
22
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
21
Esta estratégia é bem visível, por exemplo, quando o autor lembra
que também Sócrates cultivou a poesia durante algum tempo, tendo
dado forma poética às fábulas de Esopo, por crer que não há poesia
sem falsidade (16c); ou quando recorda que o mesmo Sócrates afirmava
ignorar a verdade sobre assuntos complexos, como o dos deuses ou da
morte (17e).
22
Cf. Van der Stockt 1990 «La krisis qu’il recommande (15D) lui
permet de sauver l’expérience esthétique».
23
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
C apítulo 1: Introdução
Apresentação das principais linhas de pensamento que os
restantes capítulos desenvolverão: não é possível nem vantajoso
afastar os jovens da poesia; a poesia pode atenuar a dificuldade
dos conteúdos filosóficos que são o ponto alto da educação;
podendo ser proveitosa, mas também nociva, é preciso que o
jovem seja corretamente orientado na sua leitura.
23
Sobre a estrutura do tratado, vide o importante artigo de
Schenkeveld (1982).
24
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
26
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
Nota Prévia
27
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
10
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
Plutarco
Como deve o jovem ouvir os poetas?
Marco Sedácio1,[14d]
1
Nada se sabe sobre este amigo de Plutarco.
2
Trata-se provavelmente de Filóxeno de Citera, poeta ditirâmbico
do séc. V-IV a.C..
3
Catão, o Censor (234-149 a.C.), figura de grande relevo na vida
política e cultural de Roma, foi cônsul em 195 e censor em 184. Acér-
rimo defensor das virtudes romanas tradicionais, foi o maior orador do
seu tempo e o responsável pela criação da prosa literária em latim. Dele
compôs Plutarco uma biografia.
4
Em grego τὰς ποιητικὰς ὑποθέσεις. Trata-se de resumos de poe-
mas inteiros ou de alguns episódios escolhidos, quer da epopeia, quer
de tragédias e comédias, que circulavam como textos independentes e
constituíam uma espécie de compêndios de narrativas míticas. Era por
estes resumos que os jovens iniciavam o seu contacto com os poetas.
Muitas destas ὑποθέσεις foram transmitidas nos manuscritos das
peças, e outras têm sido recuperadas em papiros recentemente encontra-
dos. São muitas vezes a única fonte que possuímos para o conhecimento
de algumas peças perdidas. Sobre a pedagogia dos estudos literários na
29
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
8
Ametista era o nome dado a uma pedra e a uma planta que se
julgava terem propriedades que protegiam dos efeitos nocivos do vinho
quem a usasse ao pescoço, no caso da pedra, ou a ingerisse, no da
planta. A palavra, em grego ἀμέθυστον (forma neutra do adjetivo),
significa literalmente ‘que não está/ fica bêbedo’.
9
Em grego este provérbio constitui um hexâmetro cuja autoria é
desconhecida.
10
Odisseia 4. 230.
11
Ilíada 14. 216-217.
31
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
12
Na República 605c Sócrates falara do dano que a poesia pode
causar “até às pessoas honestas, com exceção de um escassíssimo
número”.
13
O poeta Simónides de Céos (séc. VI-V a.C.) cultivou vários sub-
-géneros da poesia grega arcaica e foi um dos primeiros cultores do
epinício.
14
Górgias de Leontinos (c. 485-c.380 a.C.), famoso sofista e mestre
de retórica de quem possuímos, além de vários fragmentos, dois discur-
sos, Encómio de Helena e Defesa de Palamedes.
15
Evocação do famoso episódio do canto das Sereias (Odisseia 12),
em que Ulisses coloca cera derretida nos ouvidos dos companheiros,
para eles não ouvirem os cantos sedutores que os conduziriam à morte,
mas ele mesmo, de ouvidos à escuta, se faz atar, de pé contra o mastro,
para usufruir do seu encantamento, sem a ele sucumbir. A referência
ao içar das velas de Epicuro parece ser o eco de palavras que o filósofo
teria dirigido a um dos seus discípulos, usando a metáfora do barco para
o aconselhar a afastar-se de toda a παιδεία, isto é, da educação tradi-
cional, assente na aprendizagem da poesia e da retórica. Cf. Diógenes
Laércio 10. 6; Quintiliano 12.2. Sobre as ideias de Epicuro a respeito da
poesia, vide Asmis 1995.
16
Plutarco faz corresponder a Ulisses o “discernimento” dos jovens,
que deve ser atado e mantido de pé contra o mastro de um “reto juízo”
(ὁρτῷ τινι λογισμῷ). Traduzi por ‘discernimento’ o conceito de
κρίσις, a faculdade de ajuizar e de distinguir, que, na perspetiva de
32
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
19
Fr. 747 Nauck.
20
Afirmação atribuída ao poeta e legislador ateniense Sólon (séc.
VI a.C.).
21
Traduzi por ‘semelhança com a realidade” a palavra grega
ἀνδρείκελον, isto é, literalmente, ‘algo que é semelhante a um
homem’. Plutarco teria em mente a representação de figuras humanas.
34
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
22
Empédocles de Agrigento (c.492-432 a.C.), um dos filósofos
pré-socráticos, autor de poemas como Sobre a natureza e Purificações,
de que restam alguns fragmentos. Na sua atividade confluíam a inves-
tigação científica, a prática da medicina, da adivinhação (fr.112 Diels),
da magia e, segundo Diógenes Laércio (8. 58, 59), da oratória. Plutarco
segue aqui Aristóteles (Poética 1447b), que também o menciona como
exemplo de autores que, apesar de escreverem em verso, não podiam
ser considerados poetas.
23
Parménides de Eleia (séc. V a.C.), outro dos pré-socráticos, autor
de um poema filosófico em hexâmetros, de que possuímos extensos
fragmentos.
24
Trata-se de Nicandro de Cólofon (séc. III a.C.) cujo poema
didático Teriaka versava sobre serpentes e outros animais e insetos
venenosos, bem como dos antídotos para curar os seus malefícios. Nada
nos chegou deste poema.
25
Teógnis de Mégara (VI-V a.C.) cultivou a elegia de teor gnómico
ou moralista. A coletânea dos poemas que lhe são atribuídos, conhecida
por Corpus Theognideum, sofreu várias interpolações desde muito cedo
e poucos são considerados autênticos. Não se sabe se Plutarco estará a
referir-se a uma coleção de máximas que a enciclopédia bizantina Suda
inclui nos seus escritos.
26
Estrabão (1.2.6) explica que a palavra prosa, em grego πεζόν
(literalmente ‘que caminha a pé’), se aplica ao discurso sem metro, e
defende que ela parece mostrar que este desceu do alto e de uma espécie
de carruagem (ὀχηήματος) para o chão. A ideia de que a poesia era
mais elevada do que a prosa era comum, razão que terá levado autores
como Xenófanes, Parménides e Empédocles a optarem pela forma
poética para a exposição do seu pensamento.
35
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
27
Para os Gregos, os ‘demónios’ (δαίμονες) eram seres sobrenatu-
rais, híbridos de divindades e humanos, que não eram necessariamente
maus. Sócrates, na Apologia (27c-e) diz que “os demónios são deuses e
filhos de deuses”. Cf. Platão, Banquete 202d.
28
Nauck, adespota 349.
29
Evocação da descrição de Hades na Ilíada 20. 61-65. Este mesmo
passo homérico é citado por Longino (Do Sublime 9. 6-7) como exemplo
de um momento sublime no Poema, embora também ele assinale o
carácter ímpio e impróprio de uma tal caracterização dos deuses, que
só uma interpretação alegórica poderia salvar.
30
Platão (República 383b) atribui a Ésquilo estes versos, incluídos
numa citação mais longa, e informa que são ditos por Tétis. Trata-se
do passo de uma tragédia perdida, provavelmente O julgamento das
armas, em que Tétis atribuía a Apolo a morte de seu filho Aquiles (“o
primeiro dos Aqueus”).
36
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
31
Odisseia 11. 223-224: palavras da mãe de Ulisses para seu filho
quando este desce ao Hades para consultar o adivinho Tirésias.
32
Nome por que ficou conhecido o episódio da Catábase, ou Des-
cida ao Hades, mencionado na nota anterior.
33
Ilíada 22. 210-213.
37
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
[b] e estes:
ou:
Ilíada 4. 84.
34
ou:
ou:
ou:
Assim, estas coisas não são visíveis aos homens, nem audíveis,[e]
nem podem ser captadas pelo espírito43
e as de Xenófanes:
43
Fr. 2. 7-8 Diels-Kranz.
44
Fr. 34. 1-2 Diels-Kranz.
45
Frase atribuída a Simónides. Sobre este poeta, vide supra n. 12.
46
Personagem da Ilíada, cuja fealdade física e moral constitui exce-
ção entre as figuras da epopeia. É descrito como o mais feio dos Aqueus,
40
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
51
Trata-se provavelmente de um ator cómico referido pelo orador
Ésquines (1. 157). Cf. Hunter & Russell 2011: 101.
52
Actor trágico do séc. IV a.C., mencionado por Aristóteles na
Política 1336b, e elogiado na Retórica 1404b pela naturalidade com que
assumia as vozes das personagens.
53
Aristofonte de Tasos (séc. V a.C.), pintor e irmão do famoso
Polignoto. Cf. Plínio, História Natural 35, 138.
54
Silânio de Atenas (séc. IV a.C.) era escultor.
55
Vide supra n. 44. Já Homero (Ilíada 2. 215-216) diz que a fala des-
propositada de Tersites suscitava o riso dos seus companheiros; e Platão,
na narração do mito de Er (República 620c), chama-lhe γελωτοποιός,
o qualificativo aqui retomado por Plutarco.
56
Sísifo era protagonista de diversas histórias em que se revelava
como ardiloso e trapaceiro, tentando enganar os deuses, o que lhe
custou o suplício no Hades. Em algumas versões do mito, narradas nos
Poemas do Ciclo Épico e de que a tragédia faz eco, seria pai de Ulisses,
a quem teria transmitido essas mesmas características.
57
Personagem de comédia.
58
Esta mesma história, protagonizada por Damon, um treinador de
ginástica, é contada por Téon nos Progymnasmata 100, como exemplo
de creia, isto é, de uma breve anedota sobre uma determinada pessoa, a
partir da qual os alunos faziam exercícios de composição.
42
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
e estas:
e estas:
59
Eurípides, As Fenícias 524.
60
Nauck, adespota 4. Embora inclua estes versos entre os de autoria
anónima, Nauck considera muito provável a sua atribuição à tragédia
Ixião de Eurípides, a que Plutarco faz referência mais abaixo (19e).
61
Kassel-Austin, adespota 707.
62
Depois de Édipo ser banido de Tebas como parricida incestuoso,
os filhos, Etéocles e Polinices, fazem um acordo para exercerem o
governo alternado da cidade. Porém, Etéocles recusa-se a ceder o lugar
ao irmão no final do primeiro ano no poder. Este é o conflito central
da tragédia As Fenícias de Eurípides. Sófocles trata-o também na sua
última peça Édipo em Colono.
63
Ixião, outra personagem mítica, é um dos supliciados do Hades.
Tentou seduzir Hera, a esposa de Zeus, mas este substituiu-a por uma
nuvem com a qual Ixião gerou os Centauros. Desta história, na versão
latina, proveio o provérbio “Tomar a nuvem por Juno”.
43
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
64
Comediógrafo (344/43-292/91 a.C.), representante da Comédia
Nova. Dele conhecemos uma peça completa, o Díscolo, e fragmentos
de muitas outras.
65
Fr. 163 Kassel-Austin.
66
Odisseia 148.
44
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
e:
67
Ilíada 2.189.
68
Ilíada 1. 24-25.
69
Ilíada 1. 225.
70
Ilíada 1. 223-224.
71
Ilíada 23. 24-25.
45
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
72
Odisseia 8. 329.
73
Ilíada 8. 198.
74
Ilíada 4. 104.
75
Fr. 490 Nauck. Sobre Ixião vide supra n. 61. Aqui refere-se o
castigo que lhe foi dado por Zeus pela sua impiedade: o de ser atado a
uma roda de fogo sempre a girar.
76
A palavra indica o sentido por baixo da superfície do discurso.
Platão (Rep. 378b) rejeita igualmente esse tipo de interpretação a que se
refere com o mesmo termo.
46
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
77
Odisseia 8. 249.
78
Odisseia 8. 492.
79
Entenda-se o comentário de Plutarco: os amores adúlteros de Ares
e Afrodite são cantados por Demódoco no palácio dos Feaces, que o
rei Alcínoo acabara de descrever a Ulisses como um povo de excelsos
atletas e marinheiros, apreciador de festins, de música, de danças e de
mudas de roupa, banhos quentes e cama. Por seu lado, Ulisses, ao pedir
que o aedo mude de assunto e cante o episódio heroico do cavalo de
pau, mostra a sua suposta prudência e sensatez, não obstante alguns
versos antes o poeta se ter referido à história de Ares e Afrodite como
‘bela’, e ter mencionado o deleite do herói ouvindo o aedo, coisa que
Plutarco evidentemente omite.
47
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
80
Ilíada 15. 32-33.
81
Provavelmente um poeta trágico do séc. V a.C..
82
A metáfora da nau do estado remonta ao séc. VII a.C. nos versos
do poeta Arquíloco (fr. 56 Diehl). Aqui é sugerida apenas pela palavra
τοῖχον, que designa os lados de um barco.
83
Fr. 254 Nauck. Versos de Arquelau, tragédia perdida de Eurípi-
des.
48
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
E neste:
E:
84
Fr. 1069 Nauck. Versos de uma tragédia desconhecida de Eurí-
pides.
85
Fr. 752 Nauck. Versos de Hipsipile, tragédia perdida de Eurípides
86
Ilíada 7. 358 = 12. 232.
49
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
e:
e:
87
Ilíada 6. 138; Odisseia 4. 805= 5. 122.
88
Odisseia 6.46.
89
Ilíada 24. 525.
90
Fr. 972 Nauck.
91
Fr. 292, 7 Nauck. Da tragédia perdida Belerofonte.
50
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
92
Ístmicas 4. 48.
93
Ístmicas 7. 47.
94
Fr. 749 Nauck.
95
Fr. 750 Nauck.
96
Fr. 85 Nauck.
51
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
e:
e:
Mas de novo nos fez dar a volta e nos desviou para o bem
e arrancou a ousadia da devassidão, dizendo:
97
Fr. 751 Nauck.
98
Fr. 752 Nauck.
99
Fr. 534 Nauck.
100
Fr. 599 Kassel-Austin.
101
Fr. 600 Kassel-Austin.
52
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
102
Alexis de Túrios (c. 375–c. 275 a.C.), comediógrafo do período
de transição entre a Comédia Média e a Comédia Nova. A citação
corresponde ao fr. 273 Kassel-Austin.
103
De autor anónimo. Fr. 5 Kassel-Austin.
104
Plutarco cita de novo esta história em Como tirar proveito dos
inimigos 88b.
53
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
105
Fr. 837 Radt.
106
Famoso general tebano do séc. IV a.C., que obteve a vitória nas
batalhas de Leuctra e Mantineia.
107
Timóteo de Mileto (c.450-360 a.C.), poeta ditirâmbico conhe-
cido pelas suas inovações no domínio da música. O verso citado
corresponde ao fr. 778b Page.
108
Cinésias de Atenas (c.450-390 a.C.), poeta ditirâmbico, rival de
Timóteo. Aristófanes refere-se a ele em Aves 1372 sqq., Lisístrata 860
e Rãs 153, 1437.
109
Vide supra n. 25.
54
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
e:
110
Bíon de Borístenes (cidade da Ólbia, na atual Ucrânia) foi um
filósofo popular do séc. IV-III a.C., de cujos escritos se preservam
alguns fragmentos na obra de Diógenes Laércio.
111
Plínio, História Natural 29. 30, explica, a propósito deste inseto,
que ele possui um veneno mortal se for ingerido, mas, aplicado exter-
namente e misturado com um certo tipo de uvas e sebo de ovelha ou de
cabra, tem efeitos benéficos. Acrescenta ainda que as asas são o único
antídoto para esse veneno.
112
Odisseia 4. 197-198.
113
Ilíada 24. 525-526.
55
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
outras, propriedade:
114
Trata-se de palavras raras ou estrangeiras. Aristóteles (Poética
1457b) distingue γλῶσσαι, palavras raras que só alguns usam, de
κύρια ὀνόματα, palavras comuns, usadas por todos. A aprendizagem
das γλῶσσαι fazia parte da educação dos jovens. Cf. e.g. Quintiliano 1.
1, 35. Na educação helenística, muito marcada pelo desejo de erudição,
este termo técnico designava também o vocabulário especial dos poe-
tas, sobretudo de Homero, cujo estudo era parte integrante da exegese
literária. Cf. Marrou 1964: 250-253.
115
Todas estas palavras ocorrem em Homero: Ilíada 19. 325; 22. 257
= 23. 661; Odisseia 1. 32.
116
Odisseia 5. 42; 7. 77; 10.474.
117
Odisseia 4. 318.
56
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
118
Ilíada 13. 562-563.
119
Odisseia 13. 419.
120
Ilíada 5. 352.
121
Odisseia 18. 333 = 18. 393.
122
Fr. 145 Nauck, da tragédia perdida Andrómeda.
123
Rei Édipo, 2-3.
57
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
124
Hesíodo, Trabalhos e Dias 643.
125
Plutarco parece ter em mente não o verbo simples αἰνεῖν usado
por Hesíodo, mas o composto ἐπαινεῖν que, de facto, pode exprimir “a
civil form of declining an offer or invitation” (LSJ s.v. III). Cf. Hunter
& Russell 2011: 129.
126
Um escólio a Ilíada 9. 457, um dos versos homéricos em que
ocorre este epíteto de Perséfone, explica que o adjetivo designa a deusa
“que não se deve louvar’, exemplificando assim uma antífrase ou uso de
uma palavra no sentido contrário ao pretendido. Assim, neste contexto,
e para se aproximar daquele epíteto, a forma παραιτήτην, que normal-
mente significa ‘a que deve ser aplacada com preces’, deve ser traduzida
por “a que é recusada”, isto é, ‘aquela cujo convite se declina’, ou não
fosse ela a esposa de Hades. Vide Hunter & Russell 2011: 129-130.
58
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
127
Fr. 108 West.
128
Fr. 9 West.
129
As Fenícias 1006.
130
Fr. 754 Nauck.
131
Ilíada 7. 329-330.
59
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
e [d]
132
A palavra Ζεύς, Διός tinha duas formas nos casos oblíquos,
uma mais comum formada a partir da raiz Δι- e a outra, frequente no
dialeto iónico e de registo mais poético, formada a partir da raiz Ζην-
133
Ilíada 3. 276, 320; 7. 202; 24. 308.
134
Nauck, adespota 351.
135
Ilíada 1. 3, 5.
136
Nauck, adespota 352.
60
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
137
Trabalhos e Dias 86-87.
138
Platão (Leis 3. 697b; 5. 743e; 8. 870b) estabelece uma hierar-
quia entre os três tipos de bens que contribuem para o fortalecimento
de um Estado – os da alma (τὰ περὶ τὴν ψυχὴν ἀγαθά), de que
se deve cuidar em primeiro lugar; os do corpo (τὰ περὶ τὸ σῶμα
καλὰ καὶ αγαθά), em segundo; e, por último, os da propriedade e
das riquezas (τὰ περὶ τὴν οὐσίαν καὶ χρήματα). Aristóteles (Ética a
Nicómaco 1098b) usa a mesma tripartição e chama externos (τῶν ἐκτὸς
λεγομένων) a estes últimos, embora noutros passos pareça englobar
no mesmo grupo os bens externos e os do corpo. Cf. 1153b. Para os
Estoicos todos os bens tornam o homem bom, logo, os que dependem
da Fortuna não são bens, dado que não possuem esse efeito. Cf. Séneca,
Cartas a Lucílio 87. 12. Plutarco volta a referir-se aos bens externos, isto
é, os que dependem da Fortuna (τυχηρά), em 35d.
139
Trabalhos e Dias 717-718.
61
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
140
Ilíada 24. 527-528. O segundo verso aqui citado não corresponde
exatamente ao texto homérico que conhecemos, mas à sua citação por
Platão (República 379d). Não se sabe se a discrepância se deve ao facto
de o Filósofo citar de cor, ou à existência de outra versão do texto na
sua época. Plutarco, que tem sempre presente o diálogo platónico na
composição deste tratado, segue o mestre.
141
Ilíada 7. 69-70.
142
Odisseia 8. 81-82.
62
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
Pois Zeus é que cuida das coisas mais importantes dos mortais,
as menores abandona-as, deixando-as para outras divindades.144
143
Ilíada 11. 540, 542. O terceiro verso citado não figura nos
manuscritos de Homero, embora Aristóteles o cite em Retórica 1387a.
144
Fragmento de tragédia desconhecida. Nauck, adespota 353.
145
Correspondendo a um conceito fundamental da axiologia grega
antiga, a palavra ἀρετή designa a excelência nas mais diversas facetas
da vida humana. De acordo com o contexto, pode traduzir-se, entre
outras possibilidades, por ‘excelência’, ‘valor’, ‘mérito’, ‘coragem’, ‘vir-
tude’, (virtus, virtutis é precisamente a tradução latina do termo grego).
É desta diversidade de sentidos que Plutarco dá conta nos exemplos cita-
dos, mostrando a dificuldade de delimitação conceptual de um termo
com uma já muito longa história na cultura grega. Para conservar a
polissemia, optei por não traduzir o substantivo, apresentando-o apenas
transliterado, para facilitar a leitura.
63
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
146
Os exemplos de Plutarco são o da azeitona (ἐλαία), que em grego
tem o mesmo nome da oliveira, e o da bolota (φηγόν), que difere do
da árvore apenas no género (em grego geralmente os nomes dos frutos
são neutros, os das árvores femininos). Usei ‘maçã’ e ‘castanha’ para
manter a ideia original.
147
Hesíodo, Trabalhos e Dias 289.
148
Ilíada 2. 190.
149
De uma tragédia perdida de Eurípides. Fr. 944 Nauck.
150
Sobre os ecos platónicos e estoicos deste passo, vide Hunter &
Russell 2011: 137-138.
151
Ilíada 20. 242.
64
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
Por isso é sem alegria que reino sobre estas riquezas; 155
152
Hesíodo, Trabalhos e Dias 313.
153
Trabalhos e Dias 287.
154
Odisseia 19. 360.
155
Odisseia 4.93.
65
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
e Menandro
156
Fr. 601 Kassel- Austin.
157
Medeia 598.
158
As Fenícias 549-550.
66
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
159
Fr. 21 Nauck, da tragédia perdida Éolo.
160
Ilíada 16. 97-100.
67
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
e:
e:
e:
161
Odisseia 11. 421-423.
162
Ilíada 9. 452-453-
163
Ilíada 3. 365.
68
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
164
Ilíada 1. 59-60.
165
Ilíada 1. 90.
69
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
166
Ilíada 1. 220-221.
167
Ilíada 1. 349.
168
Ilíada 9. 458-461.
70
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
169
Aristarco de Samotrácia (c. 216-144 a.C.), famoso gramático
que esteve à frente da Biblioteca de Alexandria. É o responsável pela
edição crítica de Homero feita a partir da comparação entre os vários
manuscritos existentes na Biblioteca, como era prática dos eruditos
alexandrinos. A observação de Plutarco remete para o trabalho crítico
de atetizar passos considerados espúrios.
170
Odisseia 6. 244-245.
71
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
Feliz Poliagro,
a criar uma cabra celeste que lhe traz riqueza.172
171
Odisseia 18. 282-.
172
Kassel-Austin, adespota 708.
173
Odisseia 13. 216.
72
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
De ações que não são belas não vêm belas palavras; 174
174
Fr. 755 Nauck.
73
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
175
Trabalhos e Dias 744-745.
176
Ilíada 4. 306-307.
177
Eurípides, Hipólito 424-425.
178
Eurípides, fr. 957 Nauck.
74
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
179
Heraclito, fr. 87 Diels- Kranz.
75
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
E de novo Aquiles:
Mas Tersites:
180
Ilíada 1. 163-164.
181
Ilíada 2. 226-228.
182
Ilíada 1. 128-129.
183
Ilíada 2. 231.
184
Ilíada 4. 402.
185
Ilíada 4. 404-405.
76
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
186
Ilíada 4. 357.
187
Ilíada 9. 34.
77
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
188
Ilíada 9. 70, 74-75.
189
Ilíada 4. 431.
190
Cf. Apologia de Sócrates 28b, onde Sócrates defende que os
homens devem ter medo não dos perigos e da morte, mas de praticar
más ações.
191
Plutarco repete esta história na Vida de Catão 9.4. Diógenes
Laércio (6. 54) conta que Diógenes, o Cínico, considerava o rubor “a
cor da virtude”; o que se explica certamente pelo facto de que quem
enrubesce tem, pelo menos, a noção do que é ou não moralmente bom e
conveniente. Já a palidez pode denotar medo do castigo e não vergonha
pelo mal praticado.
78
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
192
Ilíada 10. 325-326.
193
Ilíada 10. 221-222.
194
Ilíada 7. 215-216.
195
Ilíada 2. 220.
79
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
mas Ájax foi sempre amigo de Aquiles e sobre ele diz a Heitor:
[b]
196
Ilíada 7. 226-228.
197
Ilíada 7. 231-232.
198
Os exemplos encontram-se em Ilíada 6.45-50 (Adrasto); 11. 130-
136 (filhos de Antímaco); 21. 64-96 (Licáon); 22. 337-343 (Heitor).
80
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
199
A tradução por ‘colhe a f lor’ (ἀπανθίζει) e ‘enraíza-se’
(ἐμφύεται) procura manter as metáforas do original.
200
Fr 488 Kassel-Austin.
201
A pureza de linguagem, aqui expressa pelo advérbio καθαρῶς
era uma das virtudes do estilo, a que os Gregos chamavam ἑλληνισμός
e os Romanos latinitas ou puritas. Tem que ver com o emprego de uma
expressão correta, de acordo com as normas gramaticais, e adequada
ao assunto.
202
As três formas de abordar os textos literários enunciadas anterior-
mente, estão agora sintetizadas nas palavras φιλόμυθος, φιλόλογος e
φιλόκαλος καὶ φιλότιμος, que traduzi, respetivamente por “amante de
histórias”, “amante da linguagem” e “amante da beleza moral e da honra”.
O interesse do primeiro tipo de leitor prende-se com a originalidade do
tratamento dos mitos pelos poetas; o do segundo com a linguagem, com
a composição retórica; o do terceiro tem que ver com a filosofia, por isso,
na tradução, acrescentei à palavra beleza o adjetivo moral, dado que é
da procura dessa beleza específica que se trata e não do sentido geral do
conceito que, verdadeiramente, podia caracterizar o objetivo de qualquer
das restantes formas de leitura dos textos.
Coragem (ἀνδρεία), temperança (σωφροσύνη) e justiça
(δικαιοσύνη) são três das virtudes cardeais gregas; a quarta é a pru-
dência ou sabedoria (φρόνησις), ecoada na frase seguinte a respeito
de Ulisses.
81
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
203
Ilíada 11. 313-315. Palavras de exortação à coragem dirigidas
por Ulisses a Diomedes, o Tidida, num momento em que Heitor, com
grande violência, provocava muitas baixas entre os Aqueus. A prudência
é um dos traços da arete de Ulisses, daí que, na afirmação seguinte,
Plutarco não precise de nomear o emissor dos versos, referindo-se a ele
como “o homem mais prudente” (φρονιμώτατον).
204
Odisseia 3. 52. Trata-se ainda de Ulisses.
205
Odisseia 13.332.
82
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
Não fosse acontecer que no seu peito aflito ele não conseguisse
conter a cólera
ao ver o filho, e enfurecesse o coração de Aquiles,
e este o matasse, violando as ordens de Zeus.207
206
Ilíada 24. 560-561, 569-570.
207
Ilíada 24. 584-586.
208
Ambas as histórias são contadas por Xenofonte (Agesilau 11. 7.;
Ciropedia 5.1). Agesilau (c. 445-359 a.C.), rei espartano, terá recusado o
83
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
Com efeito, tal como não se põe o freio aos cavalos quando
eles estão nas corridas, mas antes das corridas, assim também
homens irascíveis e impulsivos frente aos perigos são enviados
para os combates quando estão previamente preparados e
moderados pela razão.
Também as próprias palavras não devem ser ouvidas de
forma desatenta; sem, contudo, entrar nos jogos de Cleantes210,
que às vezes, na brincadeira, faz de conta que está a interpretar
e diz que
beijo do jovem persa Megabates, embora lhe tivesse amor; e Ciro I (séc.
VI a. C), o rei persa, depois de ouvir a descrição da beleza de Panteia,
esposa de Abradatas de Susa que tinha sido capturada pelo seu exército,
recusou vê-la.
209
Odisseia 16. 274- 277. O começo do v. 274 apresenta uma
variante em relação ao texto que possuímos da Odisseia: οἱ δὲ (‘eles’)
em vez de εἰ δὲ (‘se eles’).
210
Cleantes (331-232 a. C.) foi discípulo de Zenão e seu sucessor
na Stoa, a escola estóica. Compôs um Hino a Zeus, de que possuímos
alguns fragmentos. Uma edição com tradução e comentário foi feita
por Thom (2005).
84
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
e:
211
Trata-se de uma brincadeira etimológica: Cleantes veria na
palavra Ἰδήθεν (formada pelo nome Ἴδη e o sufixo de lugar – θεν)
a mesma raiz da palavra εἴδησις ‘conhecimento’. Traduzi por ‘ideia’,
para manter a aparência do jogo etimológico. Hunter&Russell (2011:
177) defendem que na base desta interpretação está a semelhança fónica
entre ambas as palavras.
212
Ilíada 16. 23.
213
Esta interpretação faz eco de ideias dos Estoicos, que identi-
ficavam Zeus com o fogo cósmico ou o ar quente que se evapora da
terra. Sobre as dificuldades interpretativas suscitadas por este epíteto
de Zeus, vide Hunter & Russell 2011: 178. Acerca da teologia estoica
em Cleantes, vide Sardo (2003).
214
Crisipo (280-207 a.C) foi outro filósofo estoico, sucessor de Cle-
antes. Esta interpretação baseia-se no entendimento que o autor faz do
epíteto εὐρύοπα, um composto cujo segundo elemento – οπα – alguns
associavam com ὤψ ‘olho’, outros com ὄψ ‘voz’.
215
Ilíada 6. 444. Fala de Heitor a Andrómaca.
216
Ilíada 17. 671. Palavras de Menelau acerca de Pátroclo.
85
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
e:
217
Ilíada 13. 354-355.
218
Plutarco defende aqui a ideia socrático-platónica, segundo a
qual a sabedoria (φρόνησις) inclui todas as outras virtudes. Este passo
faz também eco, como mostram os exemplos e comentários seguintes
do autor, do pensamento dos Estoicos, que defendiam que as virtudes
estavam interligadas e que possuir uma era possuir todas. Cf. Diógenes
Laércio 7. 125.
219
Odisseia 3. 20=3. 328
220
Ilíada 23. 570-571. Palavras de Menelau a Antíloco no final
da corrida de cavalos incluída nas cerimónias fúnebres em honra de
Pátroclo.
86
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
e:
e:
Que vergonha, Lícios! Para onde fugis? Sede agora velozes! 225
221
Ilíada 17. 170-171
222
Paráfrase de verso já antes citado (cf. supra n. 68).
223
Ilíada 6. 160-162.
224
Odisseia 3. 265-266
225
Ilíada 16. 422.
87
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
e:
226
Ilíada 13. 121-122. A vergonha, uma das traduções possíveis
do difícil conceito de αἰδῶς, integra o código heroico dos guerreiros
homéricos. Sobre este conceito e a sua importância na axiologia grega,
vide Cairns 1993.
227
Fr. 789 Page. Sobre Timóteo vide supra n. 100.
228
Os Sete contra Tebas 592-594.
88
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
como presente, para que não o seguisse até à ventosa Ílion, [f]
mas ficasse em casa, regozijando-se; pois uma grande fortuna
Zeus lhe dera.229
229
Ilíada 23. 297-299
89
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
para:
230
Fr. 11 West.
231
Como lembra Nussbaum (1993: 132), os Estoicos defendiam
que o homem sábio era bom em todas as artes, incluindo a poesia; por
essa razão alguns, como Cleantes, escreviam poemas ou corrigiam e
reescreviam versos de poetas da tradição, tentando deles expurgar o que
fosse inaceitável em termos morais ou teológicos. É de correções desse
tipo que Plutarco fala. Sobre Cleantes, vide supra n. 171. Antístenes
(séc. V-IV a.C.) foi amigo de Sócrates, um dos que Platão diz ter estado
nos momentos finais da vida do mestre. Escreveu várias obras, de que
possuímos apenas fragmentos e, como Sócrates, identificava a virtude
com a felicidade e defendia que ela podia ser ensinada.
232
Da tragédia Éolo de Eurípides. Fr. 17 Nauck. Aristófanes parodia
este verso em As Rãs 1475.
233
Eurípides, Electra 428-429. Trata-se de uma fala do Lavrador,
no primeiro episódio da peça, defendendo que a riqueza é importante
90
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
assim:
reescrevendo-os assim:
dizer antes:
Ai, este é mesmo um mal que vem dos deuses para os homens:
quando alguém conhece o bem e não o pratica.240
239
Eurípides, Ifigénia em Áulide 29-31.
240
Versos da tragédia perdida de Eurípides Crisipo; fr.841 Nauck.
241
Menandro, fr. 362 Kassel-Austin.
92
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
Os mortais que são sensatos têm medo do que vem dos deuses.243
242
Kassel-Austin, adespota, fr. 355. Segundo Hunter &Russell
(2011: 190), estes versos, de autoria incerta, podem ser de um drama
satírico.
243
Kassel-Austin, adespota, fr. 356.
93
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
eles pensem que isto mesmo ele podia dizer sobre a reputa-
ção, o poder e a força da palavra. E [d] em relação à censura
244
Trabalhos e Dias 348.
245
Fr. 958 Nauck.
246
Fr. 111 Kassel-Austin.
94
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
247
De Eurípides. Fr.9 Nauck. Nos Poemas do Ciclo Épico, contava-
-se que Tétis, para impedir Aquiles de ir para Troia, o tinha escondido
no palácio do rei Licomedes de Ciros, disfarçado de rapariga entre as
filhas do rei. Ulisses tê-lo-ia descoberto e levado consigo. Eurípides
dedicou uma peça a esta história, intitulada Círios, donde talvez prove-
nham os versos aqui citados.
248
O vício a que Plutarco se refere aqui é o da αἰσχροκέρδεια,
que designa a obtenção de lucro de forma vergonhosa. À falta de
melhor tradução, traduzi a forma do adjetivo (αἰσχροκερδῆ) por
‘avarento’. Aristóteles (Ética a Nicómaco 1122a) inclui no número dos
αἰσχροκερδεῖς além dos donos de bordeis, dos usurários, dos ladrões
ou dos piratas, também os jogadores (κυβευτής), que Plutarco men-
cionará a seguir.
249
O jogo dos dados faz parte de um conjunto de vícios juvenis que
Plutarco desaconselha em Da educação das crianças 12b.
250
Em grego ὀρτυγοκοπεῖς: o primeiro elemento significa ‘codor-
niz’, o segundo é uma forma relacionada com o verbo que significa
‘bater’, ‘golpear’. Segundo informação de Pólux (9. 102), neste jogo cada
um dos dois jogadores colocava dentro de um círculo uma codorniz e
dava-lhe pequenos golpes na cabeça; ganhava aquele, cuja ave resistisse
mais tempo. Aristófanes parece referir-se a este jogo em Aves 1297.
95
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
e:
251
Versos da tragédia perdida de Eurípides, Éolo. Fr. 20 Nauck.
252
Kassel-Austin, adespota, fr. 357.
253
Ilíada 3. 39.
254
Ilíada 17. 142
96
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
e:
e:
e:
255
Verso usado várias vezes, tanto na Ilíada como na Odisseia. Vide
e.g. Odisseia 5.203.
256
Ilíada 7. 47 = 11. 200.
257
Ilíada 16. 21 = 19. 216.
258
Ilíada 11. 607.
97
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
e:
e:
e:
Por fim, [c] Tersites é insultado por Ulisses não como coxo,
ou calvo, ou corcunda, mas como desbragado a falar; e a que
gerou Hefesto fala-lhe afetuosamente do seu coxear:
259
Ilíada 1. 225.
260
Ilíada 23. 483.
261
Ilíada 23. 478-479.
262
Ilíada 13. 824.
263
Ilíada 21. 331.
98
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
respondeu:
264
Fr. 23 Kassel-Austin. Filémon de Siracusa (séc. IV-III a. C.) é
um comediógrafo, representante da chamada Comédia Nova.
265
Nauck, adespota 358.
266
Esta seria a forma de punição dos nobres Persas instituída por
Artaxerxes: eram as vestes que recebiam açoites, enquanto eles se lamen-
tavam e pediam perdão. Cf. Plutarco, De sera numinis vindicta 565a.
99
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
e:
e:
272
Hesíodo, Trabalhos e Dias 40.
273
Hesíodo, Trabalhos e Dias 266.
274
Fr. 352 Nauck.
275
Figura mais ou menos lendária a quem os Antigos atribuíam a
invenção da tragédia. Plutarco, na Vida de Sólon 29. 6-7, fala do seu
encontro com Sólon aquando da primeira representação trágica, e das
101
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
e estes:
duras críticas do legislador a essa arte. Segundo Hunter & Russell (2011:
203), os pouquíssimos versos atribuídos a Téspis que chegaram até nós
devem ser espúrios.
276
Baquílides 1. 159-161.
277
Fr. 959 Nauck.
278
Fr. 960 Nauck.
102
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
e:
e:
279
Estas imagens ecoam a famosa alegoria da caverna exposta por
Platão na República 518b.
280
Da tragédia perdida de Eurípides, Cresfonte. Fr. 449 Nauck.
281
Eurípides, fr. 892 Nauck.
282
Nauck, adespota 359.
103
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
e: [37a]
283
Nauck, adespota 360.
284
Todas estas sentenças são de Epicuro. Cf. Diógenes Laércio 10.
139, 141, 144.
104
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
BIBLIOGRAFIA
105
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
Estudos:
E. Asmis (1995). “Epicurean Poetics” in D. Obbink (ed.) (1995)
15-34.
D. Cairns (1993), Aidos: The Psychology and Ethics of Honour and
Shame in Ancient Greek Literature. Oxford, Clarendon Press.
H. Flashar (1979), “Die Klassizistische Theorie der Mimesis” in
H Flashar (ed.), Le classicisme à Rome (Genève, Fondation
Hardt) 79-111.
S. Halliwell (1998), Aristotle’ Poetics, London.
S. Halliwell (2002), The Aesthetics of Mimesis. Ancient Texts and
Modern Problems, Princeton.
R. Hunter (2009), Critical Moments in Classical Literature Cam-
bridge, Cambridge University Press..
B.M.W. Knox (1968). “Silent Reading in Antiquity”, GRBS 9 421-435.
D. Konstan (2004), “The birth of the reader: Plutarch as a literary
critic”, Scolia 13 3-27.
P. De Lacy (1948). “Stoic Views of Poetry”, AJPh 69 241-271.
H-I Marrou (1948), Histoire de l’ Éducation dans l’ Antiquité, I.
Le monde grec, Paris, Éditions du Seuil.
T. Morgan (1998), Literate Education in the Hellenistic and Roman
Worlds, Cambridge, Cambridge University Press.
D. Obbink(ed.) (1995). Philodemus and Poetry. Poetic Theory and
Practice in Lucretius, Philodemus and Horace. Oxford, Oxford
University Press.
106
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
A. Zadorojnyi (2002). “Safe drugs for the good boys: Platonism and
pedagogy in Plutarch’s De Audiendis Poetis” in P. A. Stadter
& L. Van Der Stockt (eds.), Sage and Emperor: Plutarch,
Greek intellectuals and Roman power in the time of Trajan
(98-117 AD), Leuven 297-330.
K. M. Westaway (1922), The Educational Theory of Plutarch,
London, University of London Press.
108
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
109
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
110
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
111
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
112
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
113
Plutarco. Como deve o jovem ouvir os poetas?
10
O tratado Como deve o jovem ouvir os poetas faz parte
de um conjunto de cerca de setenta e oito obras de
Plutarco, conhecidas pelo nome latino Moralia. Com
este tratado Plutarco retorna ao “antigo diferendo
entre poesia e filosofia”, radicalizado na República
de Platão e resolvido na Poética de Aristóteles, em-
bora nunca completamente ultrapassado. O tema
é retomado a partir do ponto de vista socrático – o
da educação –, e o autor insiste nos topoi do útil
e do agradável, usados pelo mestre. Mas, ao contrário
deste, a sua proposta vai no sentido de defender e
demonstrar as potencialidades pedagógicas da poesia
e o seu papel propedêutico em relação à filosofia.
OBRA PUBLICADA
COM A COORDENAÇÃO
CIENTÍFICA