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ANÁLISE TERMO-HIDRODINÂMICA DE MANCAIS AXIAIS DE GEOMETRIA

FIXA UTILIZANDO O MÉTODO DE VOLUMES FINITOS

Guilherme de Sousa Cenachi


donter@terra.com.br
Marco Túlio Corrêa de Faria
mtfaria@demec.ufmg.br
Universidade Federal de Minas Gerais – Departamento de Engenharia Mecânica
Av. Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte - MG

Resumo: A maior parte das turbomáquinas industriais utilizadas nas indústrias


petroquímica, química, aeronáutica e de geração de energia, tais como turbo-bombas, turbo-
compressores e turbinas a gás, encontra-se suportada em mancais de filme fluido. Estes
mancais são comumente utilizados, devido as suas excelentes propriedades dinâmicas, a sua
elevada capacidade de carga e a sua vida longa. A seleção, a análise e o dimensionamento
dos mancais são etapas primordiais no projeto de máquinas rotativas capazes de operar em
regimes críticos de operação, de maneira segura e estável. A importância do projeto destes
mancais para sistemas de suporte de máquinas industriais tem promovido o desenvolvimento
de procedimentos analítico-experimentais e analítico-computacionais para avaliar a
influência desses sobre o comportamento e o desempenho de rotores. Em eixos de máquinas
rotativas sob cargas elevadas e altas velocidades, os efeitos de dissipação viscosa do filme
lubrificante podem alterar substancialmente a capacidade desses dispositivos em prover a
sustentação desses eixos. O estudo da influência da variação da temperatura do filme fluido
sobre a resposta do mancal torna-se, então, tarefa essencial nas etapas preliminares de
projeto do sistema de suporte. Com esse intuito, esse trabalho apresenta o desenvolvimento
de um procedimento computacional, baseado no método de volumes finitos, para a análise
termo-hidrodinâmica de diferentes mancais axiais de geometria fixa, sendo eles: mancais de
ressalto, mancais de sapata inclinada e mancais de sapata setorial fixa. O procedimento
implementado é capaz de resolver a equação de Reynolds unidimensional em conjunto com a
análise do balanço de energia do filme lubrificante e a conseqüente alteração das suas
propriedades físicas. Os resultados obtidos mostram a influência da temperatura sobre a
capacidade de carga e demais parâmetros de desempenho dos mancais selecionados em
diferentes condições de operação e geometria.

Palavras-chave: Lubrificação Termo-hidrodinâmica, Mancais Axiais, Volumes finitos.


Anais do VIII Simpósio de Mecânica Computacional
Belo Horizonte – MG, 25 a 27 de Junho de 2008

1 INTRODUÇÃO

De acordo com Cameron (1976), os mancais hidrodinâmicos são elementos de máquinas


projetados para propiciar um suave deslizamento (baixo atrito) entre duas superfícies sólidas e
para suportar as cargas aplicadas aos elementos mecânicos. A pressão entre essas superfícies é
resultado do movimento relativo entre os dois corpos, que arrasta o óleo para a região entre as
superfícies, provocando o surgimento de uma pressão de separação.
A maior parte das turbomáquinas utilizadas na indústria faz uso de mancais de
deslizamento lubrificados por filme de óleo (San Andrés, 2007). Estes tipos de mancais,
quando bem projetados e instalados, são comumente utilizados devido a sua elevada
capacidade de carga, as suas boas propriedades de amortecimento, as suas boas propriedades
dinâmicas e a sua vida longa. A análise do comportamento e do desempenho de mancais
hidrodinâmicos é muito importante para o projeto preliminar de máquinas rotativas
industriais, tais como: compressores e turbo-compressores, turbo-bombas, turbinas e outros
tipos de máquinas rotativas. A aplicação de mancais de filme fluido é especialmente indicada
para as máquinas rotativas, em que as cargas são elevadas e/ou naquelas onde a estabilidade
do sistema é importante e as velocidades de operação são elevadas.
A análise precisa do comportamento de mancais de filme fluido deve levar em conta os
efeitos térmicos, uma vez que a viscosidade do filme fluido é um dos parâmetros mais
importantes para a sua operação satisfatória, apresentando grande sensibilidade às variações
de temperatura do filme. Como o atrito viscoso do filme fluido cresce proporcionalmente com
a velocidade, causando a variação expressiva da temperatura do lubrificante, a inclusão dos
efeitos térmicos na análise de mancais torna-se de fundamental importância (Dowson e
Hudson, 1964). Huebner (1974), em trabalho pioneiro, desenvolve um dos primeiros
procedimentos computacionais, baseado em diferenças finitas, para a análise termo-
hidrodinâmica de mancais axiais de sapatas setoriais fixas. A partir do trabalho de Patankar
(1980), diversos procedimentos computacionais vêm sendo desenvolvidos para a solução
simultânea da equação governante do problema de lubrificação hidrodinâmica e da equação
de energia, utilizando-se o método de volumes finitos (Szeri, 1998). A maioria dos trabalhos
desenvolvidos para a análise termo-hidrodinâmica computacional está concentrada no estudo
de mancais axiais de geometria móvel (Kim et al., 1983). Esses trabalhos calculam os campos
discretos de pressão hidrodinâmica e de temperatura do filme fluido resolvendo as equações
de balanço elemento por elemento, podendo demandar um grande esforço computacional na
análise (Pinkus, 1990).
Esse trabalho apresenta o desenvolvimento de um procedimento computacional, baseado
no método de volumes finitos, para a análise de configurações básicas de mancais axiais de
geometria fixa. O procedimento utiliza o método discreto de solução da equação do problema
de lubrificação hidrodinâmica combinado com o conceito de parâmetros concentrados para os
efeitos térmicos (Wilson, 1998), tornando computacionalmente simples a inclusão desses
efeitos na resposta dos mancais. A determinação do campo de temperatura se baseia no
cálculo das resistências térmicas em cada elemento, sem a necessidade de se calcular
computacionalmente a solução discreta da equação de energia. Os resultados obtidos nesse
trabalho mostram a influência de parâmetros geométricos e operacionais sobre o
comportamento de três diferentes configurações de mancais axiais unidimensionais de
geometria fixa – mancais de sapata inclinada, mancais de ressalto de Rayleigh e mancais de
sapatas setoriais fixas. Uma breve discussão sobre o desempenho comparativo dessas
configurações de mancais em termos de capacidade de carga é apresentada nesse trabalho.
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2. DESCRIÇÃO DOS MANCAIS AXIAIS DE GEOMETRIA FIXA

As três configurações de mancais selecionadas para esse trabalho são descritas nesse
item. A Figura 1 mostra uma figura esquemática de um mancal axial de ressalto, de largura
infinita, também chamado de mancal de Rayleigh. O ressalto oferece resistência ao fluxo de
lubrificante, gerando uma elevação de pressão hidrodinâmica, que tem efeito positivo sua
capacidade de carga.

L1 L2

h1
h2

Figura 1 – Mancal de ressalto.

Na Figura 1, a variável U representa a velocidade superficial da parte móvel do mancal,


h1 a espessura do filme lubrificante na entrada do mancal (maior distância entre as superfícies
do mancal), h2 a espessura do filme lubrificante na saída, L1 o comprimento do mancal na
região de entrada, L2 o comprimento do mancal na região de saída, α = h1 h2 é a razão de
espessuras do filme lubrificante e β = L2 L1 a razão de comprimentos do mancal.
O mancal de sapata inclinada consiste em uma superfície que restringe linearmente a
passagem do filme fluido, conforme Fig. 2.

h1
h2

L
x

Figura 2 – Mancal de sapata inclinada.

Para este mancal, usam-se os mesmos parâmetros geométricos apresentados para o


mancal de ressalto.
O mancal de sapata setorial fixa é a combinação dos dois mancais anteriores. Consiste em
uma superfície inclinada, na porção inicial do mancal, que restringe a passagem do fluido no
sentido do escoamento, e na sua porção final, mantendo sua espessura constante, conforme
Fig. 3.

3. LUBRIFICAÇÃO TERMO-HIDRODINÂMICA DE MANCAIS AXIAIS

A análise termo-hidrodinâmica de mancais axiais consiste na solução interativa dos


problemas hidrodinâmico e térmico do filme lubrificante (Szeri, 1998). A solução do
problema hidrodinâmico fornece o campo de pressão ao longo do mancal, de acordo com
condições geométricas, de operação e das propriedades do fluido utilizado. A partir dos
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resultados da distribuição de pressão, o problema térmico é resolvido, fornecendo o campo de


temperaturas ao longo do mancal. De posse dos perfis de temperatura e pressão, é possível
determinar, utilizando o conceito de resistências térmicas (Wilson, 1998), as alterações nas
propriedades físicas do fluido lubrificante..

L1 L2

h1
h2

U
Figura 3 – Mancal de sapata setorial fixa.

A Figura 4 ilustra o processo de interação entre as soluções hidrodinâmica e


termodinâmica na análise do problema termo-hidrodinâmico dos mancais.

Configuração
Configuração do
do mancal
mancal

Parâmetros
Parâmetros geométricos
geométricos

Parâmetros
Parâmetros de
de operação
operação

Parâmetros
Parâmetros
do
do fluido
fluido

Cálculo
Cálculo das
das Regime Solução
Solução
Solução
propriedades
propriedades dodo termohidrodinâmica
hidrodinâmica
hidrodinâmica estacionário
fluido
fluido f(T)
f(T)

Solução
Solução
termodinâmica
termodinâmica

Figura 4 – Modelo de solução termo-hidrodinâmica de mancais axiais.

A apresentação do desenvolvimento das equações discretas referentes às soluções dos


problemas hidrodinâmico e térmico é realizada nas próximas seções.

3.1. Solução do Problema de Lubrificação Hidrodinâmica

O problema hidrodinâmico é resolvido através da discretização e solução da equação de


Reynolds unidimensional (Szeri, 1998), Eq. (1), fornecendo o perfil de pressão ao longo do
domínio discreto.
∂ ⎛ ρh 3 ∂p ⎞ ∂ ⎛ U ⎞
⎜ ⎟ = ⎜ ρh ⎟ (1)
∂x ⎜⎝ 12 µ ∂x ⎟⎠ ∂x ⎝ 2⎠

A massa específica e a viscosidade dinâmica do lubrificante são representadas,


respectivamente, por ρ e µ. As condições de contorno dos mancais são dadas por:
x = 0 → p = pa
x = L → p = pa
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onde pa é a pressão ambiente e L é o comprimento do mancal. Ou seja, as laterais dos


mancais não são pressurizadas externamente.
Detalhes da malha de volumes finitos unidimensional utilizada no procedimento
computacional estão mostrados na Fig. 5. O volume de controle associado a um ponto (nó) P
qualquer do domínio está delimitado pelas fronteiras oeste e leste, w e e, respectivamente. O
ponto P encontra-se entre o ponto W, à montante, e o ponto E, à jusante.

1 2 3 4 ... j-1 j j+1 ...... n-1 n

(δx)W (δx)E

j-1 j j+1

W P E
oeste w e leste

Figura 1 – Representação dos volumes de controle no domínio discretizado.

A discretização da Eq. (1) fornece a equação de Reynolds para um volume de controle


finito associado ao ponto P (Patankar, 1980).

ρ hw3 ( pP − pW ) ρ he3 ( pE − pP ) ρ heU ρ hwU


− + − =0 (2)
12 µ (δ x )W 12 µ (δ x ) E 2 2
ρ h3 ρUh
Definindo-se D = e F= , a Eq. (2) pode ser reescrita na seguinte forma.
12 µδ x 2

aP pP + aE pE + aW pW = Fw − Fe (3)

1 1
onde aP = Dw + De , aE = − De , aW = − Dw e De = (D P + D E ) , Dw = (DP + DW ) ,
2 2
1
Fw = (FP + FW ) , Fe = 1 (FP + FE ) . A Eq. (3) representa a equação de Reynolds para um
2 2
volume finito qualquer. Os índices das variáveis da Eq. (3) referem-se aos pontos mostrados
na Fig. 5. Para um ponto “j” qualquer da malha de volume de controle, a equação local para
cálculo da pressão hidrodinâmica pode ser expressa como.

A j p j +1 + B j p j + C j p j −1 = f j (4)

onde os coeficientes da Eq. (4) são dados por


1 1 1 1
A j = − ( D j + D j +1 ) B j = ( D j −1 + 2 D j + D j +1 ) Cj = − ( D j + D j −1 ) fj = ( Fj −1 − Fj +1 )
2 2 2 2
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A forma matricial do problema global de lubrificação hidrodinâmica, obtida pela


superposição da Eq. (4) aplicada a todos os volumes de controle, pode ser representada na
maneira seguinte.

[K]{p} = {f} (5)

onde [K] representa a matriz tridiagonal dos coeficientes, {f} representa os termos forçantes
do lado direito da Eq. (4) e {p} representa o campo de pressão de hidrodinâmica.
O procedimento de cálculo da pressão hidrodinâmica em mancais axiais é implementado
em Matlab©.

3.2. Solução do Problema Térmico

Na análise térmica do filme fluido, considera-se que as paredes do mancal sejam


adiabáticas. Todo o calor gerado pelo atrito viscoso é dissipado pelo próprio lubrificante
através do fluxo convectivo, desconsiderando a transferência de calor através dos demais
caminhos. O balanço de potência térmica para cada volume de controle é descrito nesse item,
utilizando-se a Fig. 6..

δ
1
2
Ti 3
P1 4
P2
P3 5
HF1 P4
P5
HF2
HF3 Te
U HF4 HF5

Figura 6 – Análise do problema térmico no domínio discretizado em volumes de controle


finitos.

A potência térmica dissipada ( Pj ) em cada volume devido ao atrito viscoso é dada por:

Pj = k ⋅ Fj ⋅ U (6)

U
onde Fj = µ ⋅ δ representa a força de cisalhamento em cada elemento j por unidade de
hj
largura do mancal e k é um coeficiente de potência que estima a quantidade de calor
transferida pelo fluido por convecção, cujo valor típico é 0,8 (San Andrés, 2007).
O fluxo de calor entre os volumes finitos (HFj) pode ser calculado por:

HFj = Q ρ C p (T j − T j −1 ) ; HF1 = Q ρ C p (T1 − Ti ) ; HFn = Q ρ C p (Te − Tn ) (7)

h1
U U
onde Q = ∫ (U − h)dh = h1 é a vazão volumétrica de fluido por unidade de largura. A Fig.
0
h1 2
7 ilustra o modelo de solução do problema de elevação da temperatura do filme.
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Tj
Tj-1
Elevação da temperatura
devido ao calor gerado em j

j-1 j j+1

QρCpTj-1 k.F.U QρCpTj

Potência entrada Potência gerada Potência saída

Figura 7 – Balanço de energia em cada volume de controle.

Assim, pode-se verificar que a diferença de temperatura entre os volumes adjacentes e,


consequentemente, o fluxo de calor entre eles se deve à geração de calor pelo atrito viscoso
em cada elemento. Logo, pode-se escrever.

Potênciasaída − Potênciaentrada = Potênciagerada → kFjU = Q ρ C p (T j − T j −1 ) (8)

Utilizando-se o conceito de resistências térmicas (Wilson, 1997), expresso por


1
Rlv =
ρC pQ
tem-se a expressão para o balanço de potência térmica.

∆T = Rlv ⋅ P (9)

A partir da aplicação do conceito dado pela Eq. (9), pode-se construir um sistema linear
bidiagonal para determinação do campo de temperatura no filme lubrificante. A modelagem
do problema térmico pode ser representada esquematicamente pela Fig. 8.

1
2
...
Q,Ti n-1
n
Calor gerado Q,Te

Qe,Te
Misturador +
+

Qs,Ts
+
+
Ts = Tambiente

Reservatório Trocador de calor


de fluido

Figura 8 – Modelagem do problema térmico.

A Figura 9 mostra esquematicamente os fluxos de calor do problema térmico de mancais


axiais undimensionais. Parte do lubrificante aquecido durante um ciclo do eixo é submetida
ao resfriamento ou é reposta à temperatura ambiente, com vazão Qs, e a outra parte segue
diretamente para a operação, com vazão Qe, sem sofrer qualquer tipo de troca de calor. Pelo
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balanço de fluxos térmicos, a temperatura de entrada do lubrificante no mancal, Ti, pode ser
estimada pela equação mostrada na Fig. 9.

Q = Qe + Qs
Qe,Te Q,Ti
QTi = QeTe + QsTs
Qe
Te Ts +
QeTe + QsTs Qs
Ti = =
Q Qe
Qs,Ts +1
Qs
Figura 9 – Diagrama de fluxos de lubrificante.

Qs
Define-se rv = e a temperatura na temperatura do mancal pode ser estimada por.
Q

Ti = rv ⋅ Ts + (1 − rv)Te (10)

A Figura 10 mostra o fluxograma esquemático do procedimento computacional de cálculo


do campo de temperatura em mancais axiais de geometria fixa.

Parâmetros do
Discretização do Criação do vetor Perfil de altura
Comum à análise

mancal
hidrodinâmica

Análise, operação e domínio coordenadas do mancal


prop. do fluido

Vetor Vetor altura


coordenadas do elemento

Parâmetros Cálculo da Cálculo das Montagem dos


térmicos potência resistências sistemas de
Análise, temperatura
dissipada térmicas equações
e prop. do fluido

Condições de Resolução progressiva dos sistemas de eq. Vetor


contorno: Ti (do elemento 1 até o elemento n) temperatura

Nova sim Perfil de Temp. e


Alteração das Temperatura novas propriedade
temperatura de
prop. do fluido estável? do fluido
entrada mancal

Calcular novo ciclo de operação com novos parâmetros


não
do fluido

Figura 10 – Fluxograma da solução termodinâmica.

Após a determinação do campo de temperatura, as propriedades do filme lubrificante


devem ser atualizadas em todos volumes de controle da malha utilizada. As expressões
dadas por Pinkus (1990), para cálculo da massa específica e da viscosidade do filme
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lubrificante em função da temperatura, são utilizados nesse trabalho e estão mostradas a


seguir.
⎛ ⎛ ∆T ⎞ ⎞ kg
ρ = ρ0 ⎜1 − ⎜ 0, 02 o ⎟ ⎟ 3 (11)
⎝ ⎝ 10 C ⎠ ⎠ m
⎛µ ⎞
µ = µo e−α m ( ∆T ) Pa.s , onde α m = ln ⎜ 1 ⎟ T2 − T1 (12)
⎝ µ2 ⎠

4. RESULTADOS

Essa seção está dividida em dois itens: 1. Exemplos de validação e sensibilidade de


malha; 2. Análise de mancais axiais.

4.1. Exemplos de validação e sensibilidade de malha

Primeiramente, alguns exemplos simples de mancais de ressalto e de sapata inclinada


para validar o procedimento de volumes finitos implementado para a solução do problema de
lubrificação termo-hidrodinâmica de mancais axiais de geometria fixa. Em todos os exemplos
analisados nessa seção, são empregadas malhas uniformes de volumes de controle.
Os parâmetros básicos dos exemplos de validação analisados pelo procedimento de
volumes finitos estão mostrados na Tab. 1. Esses dados referem-se tanto ao problema de
mancal de ressalto quanto ao problema de mancal de sapata inclinada. A Figura 11 mostra os
resultados computacionais de pressão adimensional para um mancal de sapata inclinada em
comparação com a solução analítica (San Andrés, 2007). A diferença relativa de pressão
máxima, na Fig.11, não ultrapassa 0,72%.

Tabela 1 – Parâmetros básicos dos exemplos de mancais para validação.


Parâmetro Valor Unidade Parâmetro Valor Unidade

β 1 - Cp 1800 kJ/kg.ºC

α 2 - U 30 m/s

L 1 m h2 0,01 m

k 1 - µ 0,03 Pa.s
ρ 913 kg/m³

Para validação do cálculo do campo de temperatura em mancais axiais, utiliza-se a


solução clássica do problema de dissipação viscosa em filmes lubrificantes (Sigley et al.,
2004), que considera que a variação de temperatura do filme lubrificante ocorre de maneira
uniforme. Nessa solução clássica, existe expressão analítica para se estimar apenas a
temperatura média do filme lubrificante na saída do mancal (San Andrés, 2007). Dois
exemplos, um de mancal de sapata inclinada e um de mancal de Rayleigh, cujos dados estão
apresentados na Tab. 1, são escolhidos para o cálculo da temperatura de saída do fluxo de
lubrificante do mancal.
No exemplo de validação do cálculo térmico em um mancal de sapata inclinada, são
utilizados 600 volumes de controle na malha para a obtenção do campo de temperatura. A
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elevação de temperatura do lubrificante, estimada computacionalmente, atinge


∆T = 0, 0040o C . Esse valor difere do valor analítico de temperatura em 5,3%.

Figura 11 - Comparação dos campos de pressão computacional e analítico para um


exemplo de mancal de sapata inclinada.

No segundo exemplo de validação, o valor estimado para a elevação de temperatura de


saída do lubrificante em um mancal de Rayleigh vale 0,004117ºC. Esse valor difere do valor
obtido analiticamente em menos de 0,01 %, quando se utiliza malha com 600 volumes de
controle. Pelos resultados dos exemplos de validação, torna-se evidente que o procedimento
computacional desenvolvido nesse trabalho é capaz de gerar resultados confiáveis tanto para o
campo de pressão quanto para o campo de temperatura em mancais axiais de geometria fixa
de largura infinita.
A sensibilidade de malha do procedimento computacional é avaliada para os problemas
de lubrificação hidrodinâmica e de lubrificação termo-hidrodinâmica. Os parâmetros básicos
dos mancais são aqueles mostrados na Tab.1. A Figura 12 mostra o comportamento das
variações médias do campo de pressão e do campo de temperatura, mostradas em
percentagem, à medida que o número de volumes de controle da malha é aumentado, para um
exemplo de mancal de sapata inclinada.
Pela Fig.12, pode-se notar que o número de volumes de controle mínimo para garantia de
resultados independentes do tamanho de malha difere expressivamente entre a solução
hidrodinâmica e a solução termo-hidrodinâmica, para mancais de sapata inclinada. Malhas
com 160 volumes de controle podem ser consideradas satisfatórias para o cálculo do campo
de pressão em mancais de sapata inclinada, enquanto que para a solução do problema termo-
hidrodinâmico, as malhas devem possuir mais de 600 volumes de controle.
A Figura 13 apresenta os resultados dos testes de sensibilidade de malha obtidos para um
exemplo de mancal axial de sapata setorial fixa, cujos dados estão dados na Tab.1. Na solução
do campo de pressão, pode-se notar que malhas com mais de 50 volumes de controle podem
ser precisas e baratas na análise do problema hidrodinâmico. Já para a solução do problema
termo-hidrodinâmico, são necessárias malhas com mais de 600 volumes para se garantirem
resultados independentes do tamanho do volume finito.
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( a) Solução hidrodinâmica (b) Solução termo-hidrodinâmica.


Figura 12 – Sensibilidade de malha para um mancal de sapata inclinada.

3.5

2.5

1.5

0.5

0
10 15 20 25 30 35 40 45 50

Número de volumes finitos na malha.

( a) Solução hidrodinâmica (b) Solução termo-hidrodinâmica.


Figura 13 – Sensibilidade de malha para um exemplo de mancal axial de sapata setorial fixa.

Para o exemplo de mancal de ressalto, o campo de pressão hidrodinâmica se torna


praticamente insensível para malhas com mais de 100 volumes, enquanto a distribuição de
temperatura quase se torna insensível à redução do tamanho do volume finito para malhas
com mais de 550 volumes de controle. Por conveniência, não estão mostrados os resultados
dos testes de sensibilidade de malha para o exemplo de mancal de Rayleigh.

4.2. Análise de mancais axiais.

Para se mostrar a influência dos efeitos térmicos sobre o comportamento de mancais


axiais lubrificados a óleo, os valores de capacidade carga são estimados para as três
configurações de mancais selecionadas, considerando tanto a solução puramente isotérmica
quanto a solução térmica. São utilizadas malhas com 900 volumes de controle na análise.
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A Figura 14 mostra as curvas de capacidade de carga adimensional versus a razão de


espessuras do filme lubrificante ( α = h1 h2 ) para um mancal de sapata inclinada, cujos
parâmetros básicos estão dados na Tab.1. A capacidade de carga calculada para filme fluido
isotérmico está mostrada na Fig. 14(a). A Figura 14(b) mostra os resultados adimensionais de
capacidade de carga considerando-se a dissipação viscosa do filme lubrificante. Pela teoria da
lubrificação hidrodinâmica, a razão ótima de espessuras vale α = 2,2 (San Andrés, 2007) para
máxima capacidade de carga em mancais de sapata inclinada. Esse resultado pode ser visto na
Fig. 14(a). Entretanto, quando se inclui a dissipação viscosa na análise, a razão ótima de
espessuras vale mais do que 3 para máxima capacidade de carga (ver Fig. 14(b)).

5
x 10 Mancal de Sapata inclinada
10

0
1 1.2 1.4 1.6 1.8 2 2.2 2.4 2.6 2.8 3
Razão h1/h2 (alfa)

(a) Solução hidrodinâmica (b) Solução termo-hidrodinâmica


Figura 14 – Capacidade de carga versus a razão de espessuras para um exemplo de
mancal de sapata inclinada.

A Figura 15 mostra as curvas de capacidade de carga versus a razão de espessuras para


um exemplo de mancal axial de sapata setorial fixa, cujos dados são mostrados na Tab.1. São
apresentadas curvas para cinco razões de comprimentos ( β = L2 L1 ) do mancal. Pela solução
hidrodinâmica, a razão de espessura ótima encontra-se na faixa de 2 a 2,2, como mostra a Fig.
15(a). Quando são incluídos os efeitos térmicos na análise, os valores ótimos de razão de
espessura chegam aproximadamente a 3 (ver Fig. 15(b)). Também vale a pena salientar que
mancais com a região plana da sapata de maior comprimento possuem capacidade de carga
mais alta, pois a dissipação viscosa acentuada ocorre basicamente na parte inicial inclinada da
sapata.
Analisando-se a Fig. 15, percebe-se que a influência da geração de calor e o conseqüente
aumento da temperatura do filme fluido alteram substancialmente o comportamento dos
mancais de sapatas setoriais fixas. Os pontos ótimos de operação são deslocados com a
geração de calor e a relação ótima de comprimentos do mancal ( β ) se inverte quando existe a
geração de calor.
Os resultados obtidos para a capacidade de carga adimensional em um mancal de
ressalto, cujos parâmetros básicos estão mostrados na Tab.1, são dados na Fig. 16. A Figura
16(a) mostra a solução hidrodinâmica, enquanto a Fig. 16(b) mostra a solução termo-
hidrodinâmica para mancais de ressalto com diferentes valores de razão de comprimento. O
comportamento dos mancais de ressalto se assemelha ao dos mancais de sapatas setoriais
fixas.
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5
x 10 Mancal de Sapata setorial fixa
2
L2/L1 = 0,5
L2/L1 = 1,5
0 L2/L1 = 2,5
L2/L1 = 3,5
L2/L1 = 4,5
8

0
1 1.2 1.4 1.6 1.8 2 2.2 2.4 2.6 2.8 3
Razão h1/h2 (alfa)

(a) Solução hidrodinâmica (b) Solução termo-hidrodinâmica


Figura 15 – Capacidade de carga versus razão de espessuras para diferentes razões de
comprimento em um mancal de sapata setorial fixa.

5
x 10 Mancal de Ressalto
12
L2/L1 = 0,5
L2/L1 = 1,5
10 L2/L1 = 2,5
L2/L1 = 3,5
L2/L1 = 4,5
8
Capacidade de Carga

0
1 1.2 1.4 1.6 1.8 2 2.2 2.4 2.6 2.8 3
Razão h1/h2 (alfa)

(a) Solução hidrodinâmica (b) Solução termo-hidrodinâmica


Figura 16 – Capacidade de carga versus razão de espessuras para diferentes razões de
comprimento em um mancal de Rayleigh.

Para se encerrar a análise qualitativa do comportamento das três configurações básicas de


mancais axiais de geometria fixa, a distribuição de temperatura ao longo do comprimento do
mancal é estimada para esses três mancais. Os parâmetros básicos dos três mancais são
aqueles mostrados na Tab.1. A Figura 17 mostra a distribuição de temperatura ao longo do
mancal para os três mancais. O comprimento do mancal está adimensionalizado (0≤Ladm≤1)
nas curvas mostradas. As diferenças relativas nos valores da temperatura entre os mancais,
cujas curvas estão na Fig.17, não ultrapassam 2%.
Anais do VIII Simpósio de Mecânica Computacional
Belo Horizonte – MG, 25 a 27 de Junho de 2008

ºC

Figura 17 – Campo de temperatura ao longo dos mancais axiais.

5. CONCLUSÕES

Esse trabalho apresenta o desenvolvimento de um procedimento computacional de


volumes finitos desenvolvido especialmente para a solução do problema de lubrificação
termo-hidrodinâmica em mancais axiais de geometria fixa. Os resultados obtidos no trabalho
mostram que, apesar da simplicidade da formulação implementada, o procedimento é capaz
de gerar resultados confiáveis para mancais de largura infinita.
A inclusão dos efeitos térmicos na análise do comportamento de mancais de filme fluido
pode alterar significativamente as características estáticas de desempenho do mancal,
principalmente a sua capacidade de sustentação de carga. A análise unidimensional termo-
hidrodinâmica de mancais axiais lubrificados a óleo pode trazer importantes subsídios para o
entendimento de comportamentos característicos das diferentes configurações geométricas de
mancais. Para problemas bidimensionais de mancais axiais, o procedimento computacional,
implementado nesse trabalho, pode ser utilizado para predizer os campos de pressão e de
temperatura sobre a linha média do mancal. Qualitativamente, a análise termo-hidrodinâmica
de mancais axiais unidimensionais é bastante útil no estudo da influência de parâmetros
geométricos de mancais, tais como a razão de espessuras, o comprimento e a razão de
comprimentos, sobre o desempenho estático desses mancais.

6. REFERÊNCIAS

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England.

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Technology, Vo. 96, pp. 58-68.

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Thermohydrodynamic Performance of Sector-shaped, Tilting-pad Thrust Bearing. ASME
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