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felinos / comportamento

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Ingestão

Foto: banco de imagem C&G VF


de itens

não
alimentares
(PICA)
O distúrbio é aparentemente frequente entre gatos
domésticos atendidos no Brasil: relato de nove casos

› Daniela Ramos, Archivaldo Reche-Junior
e


Cassia Rabelo Cardoso dos Santos

O
termo Pica advém que rouba, esconde e ingere. Humanos
da palavra lati- e animais acometidos pelo distúrbio in-
na que significa gerem itens não alimentares (ex: tecidos,
“pega”. Mais pre- borracha, fios elétricos, dentre outros, no
cisamente, refere- caso de gatos domésticos), o que justifica
se a um pássaro da a analogia com os hábitos alimentares
família dos corví- do corvídeo, e a consequente denomi-
deos, conhecido nação do distúrbio (i.e. Pica), também
como pega-rabu- conhecido como picacismo, parorexia,
da (ou pica-pica), alotriofagia, ou ainda alotriogeusia.
famoso por seus hábitos alimentares Uma parcela considerável dos pou-
peculiares1: come tudo o que encontra cos estudos sobre o distúrbio tem por
(insetos, larvas, lesmas etc.), demons- foco o problema em humanos. Nesse
trando fascínio por qualquer objeto sentido, esse é relatado em mulheres
brilhante (mesmo que não comestível), (especialmente grávidas) e crianças,

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e costuma ser mais comum em áreas com estressores8. Do ponto de vista clínico, o
alta prevalência de problemas socioeco- comportamento de Pica em gatos domés-
nômicos2. Há também referências à Pica ticos pode estar relacionado a deficiências
em humanos como se tratando de uma nutricionais tais como diminuição dos
doença de cunho cultural. Nesse sentido, níveis de ferro8, doenças metabólicas, dis-
estudos mencionam situações em que Pica túrbios gastrintestinais e do SNC e dieta
é considerada um comportamento normal extremamente restritiva10, além do hiper-
e até terapêutico, tendo sido descrito como tireoidismo. Quadros anêmicos11, inclusive
um hábito comum no Sul dos Estados Uni- associados à infecção pelos vírus FIV12 e
dos, durante os anos 1800, especialmente à Babebiose Felina13 também podem ter
entre os escravos, sendo ainda aceito em envolvimento com o comportamento.
muitas culturas, como parte de cerimônias Em humanos, o estresse psicossocial
religiosas e crenças em magia1. em torno dos cuidados parentais (e.g.
Pica também parece estar relacionado a deprivação maternal, negligência parental,
agentes estressores, possivelmente funcio- pouca interação entre a criança e os pais,
nando como forma de escape e/ou alívio desmame traumático, etc.) já se mostrou
para os indivíduos acometidos1-3. De fato, associado ao comportamento de Pica em
estudos em diversas espécies há tempos crianças anêmicas3. Já em gatos, foi também
apontam para a influência dos estados emo- relatado que o desmame precoce de filhotes
cionais em diversos aspectos do compor- pode predispor à ocorrência de Pica8. Nes-
tamento ingestivo, inclusive na seleção do se caso, gatos com esse histórico podem
item ingerido4. Emoções tais como aborreci- manifestar comportamento infantilizado
mentos, medo e tristeza intensos, ou alegria, mesmo na fase adulta (como “afofar” e
já foram elencadas como capazes de afetar o sugar objetos), sendo que esses podem
ato de comer em todo o processo ingestivo5. evoluir para Pica8. De qualquer modo, em
Por exemplo, em ratos, um estudo verificou gatos domésticos, a Pica pode se manifestar
que o estresse causado em laboratório pôde independentemente, ou mesmo na ausên-
induzir comportamento ingestivo em 72% cia, do comportamento de sugar e “afofar”.
dos animais, concluindo-se, portanto, que No Brasil, um recente levantamento
fatores estressantes podem ser causa de de 70 casos comportamentais em gatos
hiperfagia nestes animais6. Em gatos, um domésticos, atendidos por um veterinário
relato recentemente publicado evidenciou a especializado em comportamento animal
associação entre estresse e comportamento demonstrou uma alta prevalência de com-
alimentar anormal em um indivíduo7. De pulsões orais (nove casos de Pica e três casos um levantamento
qualquer modo, a diminuição do apetite de Alopecia Psicogênica)14, o que suscita a efetuado
também é comumente descrita como re- necessidade de maior investigação científica
sultante de estados emocionais negativos acerca das compulsões orais em gatos do- nos Estados
em diversas espécies5. Já a ingestão de itens
não alimentares e a sua relação com estados
mésticos atendidos no Brasil. Nesse sentido,
a descrição e a análise de nove pacientes
Unidos, que teve
afetivos, requer ainda ampla investigação. apresentando Pica (i.e. os mesmos do levan- por objetivo
Quando se trata de Pica em gatos domés-
ticos, essa é relatada como o comportamento
tamento supracitado), que constam nesse
relato, constituem um passo inicial na busca
descrever os
do gato de sugar, mastigar e/ou engolir itens por um melhor entendimento do problema. diagnósticos
não alimentares; os itens mais comumente
envolvidos são lã, papelão, papel, tecidos Materiais e métodos
de problemas
e sacos plásticos8. Parece ser mais comum O presente trabalho descreve o comporta- comportamentais
em raças orientais (Siameses, Burmeses,
por exemplo) e propõe-se sua origem em
mento de Pica em nove gatos domésticos
encaminhados por veterinários clínicos
em gatos
predisposição genética8. Nesse sentido, um gerais a um veterinário especializado em atendidos no
levantamento efetuado nos Estados Unidos,
que teve por objetivo descrever os diagnós-
comportamento animal (autor desse relato),
atuante na cidade de São Paulo, bem como o
período de 1991
ticos de problemas comportamentais em tratamento prescrito e a evolução dos casos. a 2001, verificou
gatos atendidos no período de 1991 a 2001,
verificou que, em relação a Siameses, Pica
As consultas comportamentais, sempre
realizadas na residência dos proprietários, que, em relação
foi o diagnóstico individual mais relevante, seguiram os moldes de um atendimento a Siameses, Pica
alcançando a porcentagem de 40%9.
Os gatilhos para o início do comporta-
comportamental nos termos preconizados
no Manual de Medicina Comportamental foi o diagnóstico
mento em animais predispostos podem ser para Caninos e Felinos15. Em todos os ca- individual mais
mudanças físicas no meio ambiente onde sos, após a exclusão de problemas médicos,
o gato vive, na sua composição social ou e dependendo da aceitação e da disponi- relevante,
na interação do gato com o grupo familiar bilidade do proprietário, foi proposta uma alcançando a
(humano ou felino). Ou seja, parece, assim terapia comportamental embasada em: (i)
como no humano, haver uma relação para aumento de fibra dietética; (ii) enrique- porcentagem
o início do comportamento com agentes cimento ambiental do tipo alimentar de 40%
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(ex: alimento úmido congelado, petiscos Figura 1. Características Gerais dos 9 pacientes
para roer etc.); (iii) retirada de punições e
sexo acesso
reforços do comportamento de interesse (F/m) a àreas
por itens não alimentares; (iv) manejo nome castração casa/ externas
ambiental com vistas a prevenir o acesso (fictício) (s/n) temperamento idade Raça apto (s/n)
aos itens não alimentares comumente Hipervinculada,
mel Fêmea – S 60 meses SRD Apto N
ingeridos; (v) orientações específicas para Agitada
o dono lidar com o gato em outras situa-
billy Macho – S Hiperativo 18 meses SRD Apto N
ções de comportamento inapropriado (ex:
indiferença à vocalização excessiva etc.); Hipervinculado,
N
nino Macho – S Vocalizador 18 meses SRD Apto
(vi) medicação psicotrópica (fluoxetina
ou clomipramina) nos casos mais graves, Fred Macho – S Amigável 24 meses SRD Apto N
ou seja, quando a ingestão inapropriada
ocorria mais do que 3x/semana e incluía toddy Macho – S Hiperativo 18 meses SRD Apto N
diversos itens ao alcance do gato.
Dos nove gatos que apresentavam Pica, Agitada, Hiperativa, Siamês
nicole Fêmea – S Hipervinculada 12 meses (mestiça) Apto N
cinco eram machos e quatro fêmeas. Sete
gatos não tinham raça definida, enquanto Dudu Macho – S Hiperativo 30 meses SRD Apto N
um era Siamês puro e um era mestiço de
Siamês. Dois gatos eram irmãos de ninha- tica Fêmea – S Hipervinculada 12 meses SRD Apto N
da, mas não pertenciam ao mesmo proprie- Hipervinculada,
tário e, portanto, residiam em diferentes chantau Fêmea – S Agitada 8 meses Siamês Apto N
domicílios. Dois outros gatos, dentre os
nove, residiam com um de seus irmãos de Figura 2. Informações sobre o comportamento de Pica e a terapia utilizada
ninhada, mas, segundo os proprietários,
esses irmãos nunca haviam apresentado
o comportamento de Pica (Figura 1), Frequência de Prescrição
nome ocorrência do itens medicação
apesar do irmão de ninhada de Chantau (fictício) comportamento (s/n) melhora (s/n)
ingeridos
já ter apresentado lambedura repetitiva em
contexto de ausência prolongada do dono. Tecidos, Espuma,
O acompanhamento dos casos era mel 1x/semana Calçados de couro, Fio N S
de carregador de celular
feito, sempre que possível, por meio de
sessões complementares no domicílio dos Fios elétricos, Tecidos
billy 1-2x/semana diversos, Sacos plásticos N S
proprietários, tendo sido estendido até o
término da terapia, desistência do dono ou nino 3-4x/semana Sacos plásticos, Lã S S
perda de contato com o mesmo (em média Tecidos, sacos plásticos,
durante um período de seis a 12 meses). Fred 1x/semana Fio de carregador de N S
Dados relativos ao problema (frequên- celular, Papel toalha
cia de ocorrência, itens “alvo”), ao gato Materiais de borracha
(sexo, raça, idade, castração, temperamen- toddy 2x/mês (especialmente calçados), N S
to), ao ambiente (casa/apartamento, acesso fios elétricos
a áreas externas) e a terapia (desfecho)
serão descritos e avaliados. nicole Diariamente Tecidos, Materiais de S S (gato doado)
borracha

resultados Dudu Diariamente Tecidos diversos, Plantas, S S (gato doado)


Com relação aos itens inapropriadamente Lápis, Papelão
ingeridos, constatou-se uma preferência tica Dia sim dia não Tecidos, Plantas S S
por tecidos, cabos e fios elétricos, borracha,
espuma e sacos plásticos (ver Figura 2). A chantau Diariamente Tecidos S S
maioria dos proprietários relatou encon-
trar restos dos itens ingeridos nas fezes e
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vômitos dos seus gatos, bem como alguns


deles já haviam submetidos a procedimento
cirúrgico para retirada de fragmentos dos
itens constituindo corpos estranhos.
Cinco casos foram considerados graves
o suficiente para a recomendação de me-
dicação psicoativa (ver Figura 2). ). Consta-
tou-se melhora significativa (diminuição Pedaços de fios
do comportamento de PICA segundo a elétricos e de
percepção dos proprietários) do problema carregadores de
em todos os casos, mesmo naqueles onde celular são ítens
não foi prescrita medicação psicoativa (ver ingeridos com
frequência
Figura 2). A busca e ingestão por itens

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não alimentares se manteve, em frequência

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muito baixa, mesmo depois da retirada da
medicação, mas os donos pareceram ter Pica pode estar relacionado
à vida restrita ao domicílio,
aprendido a lidar com o problema, ou seja, ou seja, aos gatos sem acesso
evitando reforça-lo ou puni-lo, mantendo livre ao ambiente externo
as atividades de enriquecimento ambiental
e prevenindo o acesso constante dos gatos
aos itens de grande atratividade, assim
mantendo o problema sob controle. Mas
infelizmente, em dois casos, a melhora
não foi suficiente para impedir que o dono
optasse por doar o animal. Assim, fica
restrita a descrição do completo desfecho
terapêutico nesses dois casos.
Todos os proprietários relataram que
os gatos atendidos possuíam outros com-
portamentos considerados excessivos ou
inapropriados, notadamente hiperatividade
e hipervínculo ao dono, denotando certa
instabilidade emocional por parte dos gatos.
Apesar disso, nenhum deles apontou esses
comportamentos como antecedentes ao
comportamento de Pica. Alguns, inclusive,
relataram a ocorrência de Pica em momen-
tos onde o gato estava totalmente relaxado,
como imediatamente após acordar.

Discussão
A população de gatos domésticos nos lares
brasileiros vem crescendo de maneira acele-
rada, concomitantemente ao diagnóstico de tes levantamentos brasileiros acerca das A análise dos resultados deste estudo
distúrbios físicos e comportamentais apa- queixas comportamentais provenientes de demonstra não haver uma predisposição
rentemente ligados ao manejo e/ou ao am- proprietários de gatos domésticos14,19. Foi, sexual nos casos de Pica, apesar de já
biente inapropriados para a espécie. Criados inclusive, constatada a compulsão como ter sido anteriormente mencionada uma
muitas vezes em condições aparentemente um dos dez problemas comportamentais maior prevalência em machos8,9. A maioria
ideais para os humanos, porém inadequadas mais comumente relatados pelos donos de dos gatos era bastante jovem, o que cor-
ou insuficientes sob a ótica “felina”, gatos gatos a veterinários brasileiros, sugerido robora com outros estudos8. Em relação
acabam impedidos de expressar os compor- também como elemento passível de gerar à raça, dois indivíduos eram Siameses ou
tamentos normais da espécie, podendo essa abandono ou eutanásia dos animais19. mestiços, fato que vai de encontro ao que
situação levar a estados de estresse16 e até a Com relação à Pica especificamente, e par- se é citado na literatura científica8,10,18.
problemas crônicos de saúde17. tindo dos pressupostos acima mencionados, É possível que dentre os sete indivíduos
No Brasil, especialmente nas grandes ao menos nos animais predispostos, é possível restantes haja outros mestiços de siameses
metrópoles, existe a preocupação quanto que o comportamento alimentar anormal (não obviamente identificáveis), já que no
à criação de felinos com acesso a am- funcione como um mecanismo de enfrenta- Brasil é comum o cruzamento de Siameses
bientes externos, em razão dos perigos a mento20 ou aliviamento para situações estres- (ou seus mestiços) com gatos sem raça
que estão sujeitos sob essa condição (ex: santes. Se esses possíveis agentes estressores definida (SRD), gerando uma diversidade
contaminação por doenças, atropelamento, (tais como o ambiente restrito, dentre outros) de tipos de mestiços de Siameses, especial-
maus-tratos, etc.). Daí a quantidade cres- funcionam como “gatilhos” permanentes para mente dentre os gatos que perambulam
cente de gatos criados sem acesso a áreas o comportamento compulsivo, ou se a sua pelas ruas das grandes cidades. A grande
externas (ou acesso limitado), sendo este influência se dê apenas no período inicial maioria dos gatos estudados neste relato
o modo de criação dos nove indivíduos de desenvolvimento da doença, também foi apanhada da rua, sugerindo que parte
do presente relato. Este fato, aliado a um resta ser investigado, até porque, pelo que daqueles considerados SRD podem ser, na
ambiente interno sub-ótimo, ou mesmo relataram a maioria dos proprietários dos verdade, mestiços de Siameses.
inapropriado, pode elevar o nível de estres- nove indivíduos aqui reportados, a ingestão Dentre os nove casos, verifica-se que
se nos gatos, assim atingindo os limiares de itens não alimentares parece ocorrer in- dois eram irmãos: mesmo residindo em
para a manifestação de transtornos com- dependentemente de contextos e momentos locais diferentes, apresentaram o dis-
portamentais, tais como as compulsões, estressantes. De qualquer modo, o manejo túrbio. Por outro lado, num dos casos
em animais predispostos. Assim, Pica com vistas a promoção de comportamentos atendidos (Chantau), seu irmão não apre-
pode estar relacionado à vida restrita ao equilibrados e relaxamento, quer seja pela sentava o distúrbio, mas o proprietário
domicílio, ou seja, aos gatos sem acesso eliminação de agentes estressores ou o trei- relatara episódio de lambedura repetitiva
livre ao ambiente externo18. no do gato para enfrentá-los, deve constituir por parte desse gato irmão em período de
Este, portanto, pode ser um dos parte relevante da terapia comportamental viagem do dono. Assim, verifica-se que
motivos para a elevada prevalência de para os casos de Pica e também de futuros o aspecto genético pode integrar o com-
comportamentos compulsivos em recen- protocolos de prevenção do problema. portamento compulsivo, porém não

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isoladamente; fatores concomitantes são gatos atendidos foram abandonados após


necessários para determinar a manifesta- início do tratamento. Assim, é possível que
ção do comportamento de Pica. para esses proprietários, a terapia tenha
Quanto aos objetos preferidos, foi veri- sido demasiadamente trabalhosa e/ou o
ficada a alta frequência de tecidos, borracha problema considerado intolerável, fora que
e sacos plásticos, tal como já constatado na a melhora, em ambos os casos, não signifi-
literatura científica8. Quanto a sacos plásti- cou a completa erradicação do problema.
cos, gatos costumam demonstrar interesse Os dados alcançados com o pre-
por esse material, independentemente de sente relato demonstram a necessidade
comportamentos compulsivos, provavel- de atenção, por parte dos comporta-
mente por conta do gosto remanescente mentalistas, quanto à frequência alta
do material de que são feitos (gordura de comportamentos compulsivos em
animal), ou talvez pelo barulho e/ou sen- felinos domésticos no Brasil. Medidas
sação gerada quando da sua mastigação. terapêuticas para o comportamento de
De qualquer modo, não é comum a sua Pica, como distúrbio multidimensional,
ingestão. Assim, é possível que dentre os devem ser propostas em conjunto, o mais
indivíduos acometidos por Pica, o interesse cedo possível, para que a melhora seja
por sacos plásticos esteja mais aguçado, alcançada em tempo do abandono e/ou
levando inclusive a sua ingestão. eutanásia serem prevenidos. O clínico de
Em quase todos os indivíduos aqui felinos deve estar atento para identificar
estudados foram observados aspectos o problema em seus pacientes, assim
peculiares de seu temperamento: apego como se manter atualizado e experiente
excessivo/ansioso em relação ao proprie- frente às terapias possíveis. Devem estar
tário, elevada demanda por contato físico conscientes da necessidade de informar
e hiperatividade. Não se sabe a relação aos proprietários de gatos acometidos a
desses com o comportamento compulsivo, respeito do provável manejo “por toda a
mas de qualquer modo parece importante vida”, da necessidade certa de um grande
que estes aspectos sejam levados em con- comprometimento por parte da família,
ta no procedimento de anamnese, assim assim como da chance de o comporta-
como incorporados na terapia, tal como mento compulsivo não ser erradicado,
foi feito com os nove casos (ver item V do mas devidamente controlado.
protocolo terapêutico proposto). A literatura científica a respeito do
Nos dados obtidos nos nove casos, foi problema é escassa, sendo assim, são ne-
verificada melhora, segundo o proprietá- cessários estudos mais aprofundados para
rio, em período curto, mesmo quando não que o comportamento de Pica seja melhor
prescrita medicação psicoativa. A maioria compreendido e manejado. O efeito de cada
Segundo dos proprietários aderiu à terapia prescrita um dos elementos terapêuticos aqui utiliza-
levantamento, e a melhora deveu-se certamente ao con- dos, com vistas à minimização e otimização
junto de providências (algumas delas ou da terapia proposta, deve ser priorizado
o comportamento todas em conjunto) haja vista que todos nos próximos estudos. Da mesma forma
de Pica, em 52% dos os gatos atendidos se encontravam em pe-
ríodo onde seria esperada uma progressão
que protocolos profiláticos, especialmente
voltados para as raças predispostas. ◘
casos analisados, do comportamento compulsivo (i.e. piora)
teve início entre caso não fosse devidamente tratado8. Se-
gundo esse levantamento, o comportamen-
quatro até 48 to de Pica, em 52% dos casos analisados, Para conferir a
meses de vida. teve início entre quatro até 48 meses de
vida8. Já fora também verificado que gatos
referência bibliográfica
completa, acesse
Já fora também apresentaram sintomas relacionados a o QR CODE ao lado
verificado distúrbios alimentares na juventude, em
média até 1,5 anos de idade9.
que gatos A terapia comportamental prescrita Daniela Ramos
é médica-veterinária, mestre,
doutora, pós-doutoranda pela Faculdade
apresentaram para Pica é múltipla, relativamente tra-
balhosa, e depende do envolvimento do
de Medicina Veterinária e Zootecnia da
sintomas proprietário, em menor ou maior grau, já
Universidade de São Paulo (FMVZ-USP,
São Paulo/SP) e 
Proprietária da PSICOVET-
relacionados que esse é o responsável pela sua implan-
tação. Há que se considerar que algumas
Medicina Veterinária Comportamental -
daniela.ramos@psicovet.com.br
a distúrbios recomendações, tais como o manejo de Archivaldo Reche-Junior é
alimentares na situações estressantes são medidas a serem
mantidas durante toda a vida do animal, o
médico-veterinário, mestre, professor
Doutor FMVZ/USP - valdorec@usp.br
juventude, em que requer um comprometimento ainda Cassia Rabelo Cardoso dos Santos
maior da família. Ainda que a diminuição
média até 1,5 anos do comportamento tenha sido atingida em
é
consultora Comportamental e adestradora
– Cão Cidadão (São Paulo/SP)
de idade pouco tempo e com todos os animais, dois cassia75@uol.com.br

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