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Capítulo 2

Medição da resistividade do solo


As medições de resistividade têm por objetivo conhecer as resistividades e as espessuras dos
estratos da terra com finalidade de projetar as redes das instalações elétricas, relativas aos sistemas de
aterramentos.
O limite de influência de uma ligação à terra é a profundidade na qual o potencial tem um valor
igual a uma porcentagem predeterminada do potencial adquirido por essa ligação à terra . Nestes traba-
lhos o limite considerado é de 5%. Supõe-se, então, que os 95% da resistência de um eletrodo de terra
será determinado pelas características do solo até essa profundidade.

2.1. – Estudo teórico do espalhamento da corrente em solos homogêneos: Admitindo-se uma cor-
rente contínua de valor I, penetrando em solo homogêneo no ponto “o”, por uniformidade e simetria
esférica a corrente I, esta distribui uniformemente ao longo da casca semi-
esférica de raio a, indicado na figura 2.1. Desta forma a densidade de cor-
rente J, pode ser calculada pela equação abaixo.

I I
J  2.1
A 2a 2

Em um meio condutor e em corrente contínua pode-se relacionar o


campo elétrico, E, e a densidade de corrente, J, pela lei de Ohm, em ter-
mos de densidade,

J  E 2.2
Figura 2.1 - Distribuição
de corrente no solo Onde  é a condutividade elétrica do meio, e ainda sabemos que  = 1/,
então,

1
J E  E  J 2.3

levando o valor da equação 2.1 na equação 2.3., temos

I
E aˆ r 2.4
2a 2

Como a diferença de potencial entre dois pontos quaisquer em um meio que possua uma distri-
buição de campo elétrico E, é dado pela equação 2.5

P2 
V    E.d l 2.5
P1

Aplicando-se estas para os pontos no sentido radial da figura 2.1. e utilizando a equação 2.4, temos:
I  1 1
V12     2.6
2  a 1 a 2 
Admitindo-se que o potencial desta distribuição de campo elétrico no infinito seja, igual a zero,
fazendo o ponto dois tender ao infinito e o ponto 1 ser um ponto genérico de distância a do ponto “o”,
a equação 2.6 pode ser reduzida a

I
V12  V  2.7
2a

Onde V é o potencial de um ponto que dista de a do ponto de entrada da corrente I no solo.


Para verificar o espalhamento da corrente no solo admite I entrando e saindo a uma distância

Figura 2.2. - Espalhamento da corrente no solo a uma distância 2D

2D na superfície do solo, como indica a figura 2.2.


Da equação 2.7, o potencial no ponto P devido a corrente entrando e saindo do solo vale:

I  1 1 

VP   2.8
2   y 2  z 2  D  x  2 y12  z 12  D  x 
2 
 1 1 

A componente no eixo “x” do campo elétrico no ponto P pode ser obtido pela diferença de po-
tencial com relação a “x”.

VpI  Dx Dx 



Ex    2.9
 
x 2  y 2  z 2  D  x 2 
3
2
y 2
 z 2  D  x 
2

3
2 

Para x = 0, todos os pontos pertencem ao plano zy, e neste, o campo E só possui componente Ex, por-
tanto, a equação 2.9, será reduzida a:

ID
E x  x 0   2.10

 D  y2  z2
2
 3
2

Com base na Lei de Ohm, temos que:


ID
J x  x 0   2.11

D y z
2 2 2

3
2

e, na origem x = y = z = 0, temos;
I
J xo  2.12
D 2

Dividindo a equação 2.11 e a equação 2.12, temos;


3

D3  D2 
2
Jx
  2 , 2.13
J xo y2  z2  D2 3
2
 2 
 y z D 
2

e examinando a variação da densidade de corrente ao longo do eixo z, isto é y = 0, temos;

Jx 1
 3
, 2.14
J xo y 0 z
2

1  
D
Jx
O gráfico da figura 2.3, mostra a variação de , com z/D..
J xo y 0

A figura 2.3 mostra o espalhamento da corrente


no solo homogêneo. Para um dado afastamento (2D)
entre os eletrodos que injetam e retiram a corrente, a
densidade cai rapidamente desde que a superfície que
possui a máxima densidade até a profundidade igual ao
afastamento dos eletrodos, cuja densidade já atinge um
valor de aproximadamente 9% da densidade na super-
fície. É importante observar que as quedas mais acen-
tuadas estão até a profundidade da metade do afasta-
mento entre os eletrodos, D, basta ver que para um
terço do afastamento D, a densidade caiu para 58% da Figura 2.3. - Distribuição de corrente no solo.
densidade da superfície, e para a metade do afastamento (2D) a densidade caiu para 35% da densidade
da superfície.

2.2. – Resistividade aparente em solos estratificados horizontais: Genericamente a equação de La-


place pode ser escrita como:

 2 V  2 V  2 V  c  2V
     2.15
x 2 y 2 z 2  t 2

Onde V é o potencial em um ponto do campo, c é a densidade volumétrica de carga, , , são respec-


tivamente, a permissividade elétrica e permeabilidade magnética.

No caso de distribuição de corrente no solo, a menos da superfície, em nenhum outro ponto


existe carga elétrica concentrada eletrostaticamente e, portanto c = 0. Como nas medições de resisti-
vidade considera-se corrente contínua, a variação do potencial no tempo é zero e consequentemente
sua segunda derivada também o é. Desta forma a equação 2.15, torna-se;

 2V  2V  2V
  0 2.16
x 2 y 2 z 2

Transformando as coordenadas cartesianas para cilíndricas, temos;


 2V 1  2V 1  2V  2V
   0 2.17
r 2 r r 2 r 2 p 2 z 2

Da figura 2.4, a corrente I penetrando no solo


no ponto “o” e espalhando, provoca um potencial em
um ponto “p”, regido pela equação 2.17. devido a si-
metria com relação “p”, as derivadas primeiras e por
conseqüência a segunda de V com relação à “p” serão
nulas e a equação 2.17, simplifica em:

 2V 1  2V  2V
  2 0 2.18
Figura 2.4. – Espalhamento de corrente. r 2 r r 2 z

A função V(r,z) pode ser decomposta no produto de duas funções uma de R e outra de Z;

V = V(r,z) = R(r).Z(z) = R.Z 2.19

V R  2V  2R  2V  2Z
Z ;  Z ;  R
r r r 2 r 2 z 2 z 2

Substituindo estas derivadas na equação 2.18, temos;

 2 R 1 R R  2 Z
  0 2.20
r 2 r r Z z 2

chamando
1  2Z
 m2 2.21
Z z 2

A equação 2.20, torna-se:

1  2R 1 R
 2 R0 2.22
m r
2 2
m r r

Fazendo-se uma mudança de variável de “r” para “mr”, na equação 2.22, temos;

 2R 1 R
 R0 2.23
 mr 
2
mr  mr 

A solução da equação 2.22 e da equação 2.23 é:

Z= Aexp(-mr) + Bexp(mr) 2.24


E

R = AmJo(mr) + BmYo(mr) 2.25

Onde Jo e Yo são as funções de Bessel de ordem zero.


Para o caso em questão o potencial de V deve ser finito para Z = 0, apenas com exceção de r =
0, e, portanto BmYo(mr) não deve ser solução.
Desta forma a função V da equação 2.19 é:

V = AmJ0(mr)(Aexp(-mr) + Bexp(mr)) 2.26

Na realidade todas as combinações lineares da equação 2.26 são funções de V, e, portanto a


solução geral pode ser escrita como sendo uma somatória contínua de termos na forma integral.

 

V  A m J 0 mr  exp mz dm  B 'm J 0 mr  expmz dm


  2.27
0 0

A equação 2.27 para o solo homogêneo deve ser:


I
J 0 mr  exp mz dm
2 0
V 2.28

uma vez que:



1
 J mr  exp mzdm 
0
o
R Z 2 2
;

e de todo o potencial em um ponto qualquer (r,z) devido a corrente I, penetrando no solo homogêneo
vale:
I 1
V
2 R  Z 2
2

Desmembrando-se a equação 2.27 de tal forma a aparecer a equação 2.28 temos:

I  
  
V   J 0 m  exp mz dm   A m J o mr  exp mz dm   B m J o mr  exp mz dm 
' '

2  0 0 0 
Onde vê-se claramente os termos adicionais a não homogeneidade do solo
2.2.1. – Solo em duas camadas: Para o caso de um solo estratificado horizontalmente em duas cama-
das, como indica a figura 2.5. pode-se escrever os potenciais em pontos da primeira e segunda camada
a partir do desmembramento da equação 2.27 e da equação 2.28. Imaginando-se o solo com resistivi-
dade 1 da primeira camada e o efeito adicional de 2, desta forma temos:

I  
  
V1    J 0 m  exp mz dm   A 1 J o mr  exp mz dm   B 1 J o mr  exp mz dm  e
' '

2  0 0 0 

I 
  

 J 0 m  exp mz dm   A 2 J o mr  exp mz dm  


2  0
V2  '

0 0

Os efeitos de 2 sobre aos potenciais ficam


determinados matematicamente através das condi-
ções de contorno.
Como para distâncias infinitas o potencial
deve ser zero, conclui-se que não deve existir a inte-
Figura 2.5. - Solo estratificado em duas camadas. gral que possui exponencial positiva em z, e, portan-
to B2 = 0, O termo B1 de V1 não resulta zero, uma vez que em V1 a coordenada z nunca tenderá a infi-
nito, seu valor máximo é h.
Outra condição de contorno é que a corrente deve fluir na superfície do solo e, portanto;

V1
0 2.29
z z 0

O primeiro termo de V1 naturalmente satisfaz a condição da equação 2.29, desta forma resta
apenas derivar as duas outras parcelas.

I  

2  0
 '

  mJ 0 mr  B 1 m  A 1 m dm  0
 z 0

e daí;

B m  A m
1
'
1

Na superfície horizontal que separa as camadas de resistividade 1 e 2 tem-se duas condições


de contorno. A primeira é que os potenciais devem ser iguais, e, portanto;

V1 = V2, para z = h.
B 1 mexp mh   expmh   A '2 m exp mh 

Lembrando-se que B 1 m  A '2 m . A segunda condição é que a corrente em ambos os lados da superfí-
cie deve ser a mesma, e, portanto.

1 V1 1 V2
 2.30
1 z  2 z zh

Aplicando a condição da equação 2.30, na expressão dos potenciais, temos;

1
exp mh   A 2 m expmh   esp mh 
2
B1 m 
exp mh   expmh 

 
Como afirmamos que B 1 m  A 1' m . Com base nos valores de B 1 m e A '2 m , temos;  
K exp 2mh  K 1  exp 2mh 
B 1 m  A 1' m  e A 2m  2.31
1  K exp 2mh  1  K exp 2mh 

onde

 2  1
K 2.32
 2  1

Levando a equação 2.31 na expressão do potencial, temos;


1 I   K exp 2mh exp 2mz   expmz  

V1   0J  mr  exp mz dm   J o mr dm  2.33
2  0 0
1  K exp 2mh  

Para z = 0, a equação 2.33, fornece V na superfície;

1 I  K exp 2mh  

V1    J 0 mr dm   J o mr dm  2.34
2  0 0
1  K exp 2mh  

A expressão que envolve a exponencial na equação 2.34 pode ser decomposta em uma série, ou seja;

K exp 2mh  
 K exp 2mh   K 2 exp 4mh    K n exp 2nmh  2.35
1  K exp 2mh  n 1

Portanto, com a equação 2.35, substituída na segunda integral da equação 2.34, temos;

2K exp 2mh 
 

0 1  K exp 2mh  0
J mr dm  2 0  K n exp 2nmh J o mr dm 2.36
n 1

Lembrando-se do resultado da integral.



 
Kn
2 K n  exp 2nmh J 0 mr dm  2 2.37
n 1 0 n 1 r 2  4n 2 h 2

E que

1
 J mr dm  r
0
0

Temos,
1 I  1 
Kn 
V   2  2.38
2  r r 2  2nh  
2
n 1
 

Para a configuração de Wenner, figura 2.6, pode-se obter os potenciais em M e N, devido a


corrente entrando em A e saindo em B,

1 I 1 
Kn 1 
Kn 
V2    2   2  2.39
2  r r 2  2nh  2r 2a 2  2nh 2 
2
n 1 n 1
 

O potencial em N é igual e de sinal oposto a VM, por simetria e portanto a tensão entre M e N, é
dado por;

VMN = VM – VN = 2VM

1 I   
Kn Kn 
VMN  1  4    2.40
 
 1  2nh / a  4  2nh / a 
2  n 1
2 2
 
Chamando de resistividade ,
V 
  2a  MN 
 I 

2.3. – Técnicas de medição da resistividade do solo: Dada a heterogeneidade do solo, verificada pela
variação de sua resistividade a medida que se pesquisa suas camadas, há necessidade de se procurar
meios e métodos que determinem essas variações sem lançar mãos de prospeções geológicas, o que, de
certo modo inviabilizaria os estudos para a implantação de sistemas de aterramento.
As medições da resistividade têm por objetivo conhecer as espessuras dos estratos e seus res-
pectivos valores de resistividade com a finalidade de projetar as redes de terra das instalações elétricas.
O limite de influência de uma ligação à terra é a profundidade na qual o potencial tem um valor
igual a uma porcentagem pré-determinada daquele adquirido por uma ligação à terra.
Geralmente, o limite considerado é de 5%. Supõe-se, então, que o 95% da resistência de um eletrodo
de terra será determinado pela característica do solo até a essa profundidade.
E assim, desenvolvem-se métodos de prospeção geoelétricas, destacando-se os de Schlumber-
ger, Wenner e Lee, pela facilidade operacional e precisão desejada.

2.3.1. – Métodos para medição da resistividade em solos homogêneos: Para a medição da resistivi-
dade, qualquer método consiste em injetar uma certa corrente no solo e medir as tensões de forma ade-
quada. Qualquer que seja o arranjo dos eletro-
dos de corrente e tensão utilizado, o método
está baseado na teoria desenvolvida por Frank
Wenner.
O esquema geral é mostrado na figura 2.6.
Se a profundidade de engastamento dos
eletrodos for pequena comparada com as dis-
tâncias r, pode-se supor que a distribuição da
corrente seja radial e considerar como se os
Figura 2.6. Esquema de medição de Resistividade do eletrodos fossem hemisférios enterrados.
solo.
Em um terreno homogêneo, se tem, em geral;

I
V , 2.41
2a

O potencial induzido no eletrodo M pela corrente que flui pelo eletrodo A, é

I
VMA  , 2.42
2r1

No mesmo eletrodo M, o potencial devido à corrente que abandona a terra no eletrodo B. é;

 I
VMB  ; 2.43
2r2

O potencial total do eletrodo M, resultante é:

I  1 1 
VM  VMA  VMB    , 2.44
2  r1 r2 
Do mesmo modo o potencial em N será;

I  1 1 
VN  VNA  VNB     2.45
2  r3 r4 

A diferença de potencial medida pelo circuito é:

V = VN + VM 2.46
I  1 1   1 1 
V        2.47
2  r1 r2   r3 r4 

E a Resistividade vale:

2 V
 2.48
1 1 1 1 I
      
 r1 r2   r3 r4 

Na dedução da equação 2.48, supõe-se que a resistividade do terreno é homogênea. Se o terreno


possui esta condição o valor da resistividade corresponderá ao único valor de resistividade ali existen-
te. Se o meio não for homogêneo, o valor obtido será um valor fictício que não corresponde a nenhuma
das resistividades presentes no local, e sim a uma combinação delas, valor que é denominado de resis-
tividade aparente, e é representado por a
A variação de  ao mudar a separação dos eletrodos caracteriza a existência de estratos de re-
sistividades diferentes no terreno sob investigação. Em um terreno de resistividade homogênea inde-
pende da separação dos eletrodos, verificando-se  = a

2.3.2. – Método do hemisfério: A resistência do hemisfério é R = .(2r)-1, o que permite calcular a


resistividade  = 2rR ou  = 2r(V/I), onde r é expresso em metros, V em volts e I em ampères, ou R
em ohms, e a  é a resistividade em ohms.m.
O potencial na superfície do hemisfério é

I
V0  2.49
2r

E em um ponto genérico localizado a uma distância x, vide


Figura 2.7. - Método do hemisfério a figura 2.7.

I
Vx  2.50
2x
A razão entre a equação 2.49 e a equação 2.50, temos;

Vx r
 2.51
Vo x

No fim da zona de influência, Vx = 0,05V0, e o valor que apli-


Figura 2.8. - Método da haste piloto cado na equação 2.51, conduz a:
V0
x r
0,05Vo

O qual significa que a zona de influência para um hemisfério de raio r estende-se até vinte vezes este
raio.
Este método seria válido somente para solos definidos como homogêneos, em toda a zona de
influência, fato praticamente desconhecido ao se fazer uma medição de resistividade. Este método não
é recomendável.
2.3.3. – Medição mediante uma haste piloto: Considerando a figura, 2.8, como iremos mostras em
uma das próximas seções a resistência de uma haste vertical em solo homogêneo é definida pela ex-
pressão.

  4l 
R Ln  1 2.52
2l  a 

onde

2Rl 2l V
  2.53
 4l   4l  I
Ln    1 Ln    1
a a

o potencial gerado em um limite periférico da haste é:

I   4l  
Vo  Ln 1
2l   a  

e o potencial em um ponto remoto P(xo,z0) é Figura 2.9. - haste de terra

 I  z o  l  z o  l2  x o 
V  V 2, x   Ln 2.54
4 l  z l
 o z o  l 2  x o 

e para os parâmetros da figura 2.9, temos

zo  l  z o  l 2  x o
Ln
V zo  l  z o  l2  x o
 2.55
V0   4l  
2Ln   1
 a 

Aplicando antilogaritmo da equação 2.55, temos;

 V   4l    z o  l  z o  l  2  x o
exp 2 Ln  a      2.56
 V0     zo  l  z o  l  2  x o

Denominando “P” o segundo membro da equação 2.56, e fazendo zo = z* para xo = 0, com finalidade
de achar a profundidade de influência, temos;
z * l P 1
P  z*  l 2.57
z * l P 1

A tabela 2.1 mostra os valores de z* para V/V0 = 0,05, com l = 1, 2 e 3 m., e a = 0,01 m.. O valor de x*
da ultima coluna da tabela 2.1 foi calculado mediante a equação 2.56.

Tabela 2.1- Unidade em metros


L(m) V   4l   z*  l P  1 z* X*
P  exp 2 ln    1
V0   a   P 1 l
1 1,70 3,86 3,86 3,80
2 1,82 6,88 3,44 6,60
3 1,90 9,76 3,22 9,30

A superfície equipotencial correspondente a V/V0 = 0,05(limite da zona de influência) é um elipsóide


de revolução (quase esférico) de raios 3 a 4 vezes o comprimento da haste,
Consequentemente, o método de cálculo baseado na aplicação da equação 2.53, é somente,
válido para terrenos homogêneos, sendo susceptível às mesmas considerações do método do hemisfé-
rio enterrado. Duas vezes x* é uma distância recomendável para localização de hastes devido a que
uma estaria fora da zona de influência da outra.

2.3.4. – Método da penetração: Este estudo tem por objetivo calcular a zona de influência exercida
pela corrente enviada por um par de eletrodos à terra, arranjo que é utilizado para medição da resistivi-
dade e resistência de terra. De acordo com a figura 2.10, o potencial no ponto “P” vale;
I 1 I 1 I 1 I 1
eA   e eB    eA 2.58
2 r 2
2 l  z
2 2
2 r 2
2 l  z 2
2

     I cos l
e  e A  e B  2e A cos ; e ; onde cos 
 l z
2 2
l2  z2

A densidade de corrente à profundidade z torna o valor



e I l I 1
J   2.59
  l2  z2   3
2
   z 2 
3
2

l 1    
2

Figura 2.10. - Método da penetração   l  

Esta expressão mostra que em um meio homogêneo a densidade de corrente diminui gradualmente
com a profundidade conforme o modelo teórico e a equação 2.11. Supondo que o ponto “P” se desloca
perpendicularmente ao plano da figura 2.10, até a distância y, e equação 2.59 se transforma em;

I 1
J y,z   2.60
   y2  z2 
3
2
l 1  
2
2

  l 

A equação 2.62 permite calcular a fração “F” da corrente que circula por cima de um plano paralelo à
superfície da terra localizada a uma profundidade z0.
z0  z0  z0  z
1 dzdy 1 dz ' dy ' 2 0 dz '
F    J  y ,z  dzdy  2   0  1  z '  y '  0 1  z '2
 2.61
0  l 0   2
y z 2

3
2   
1  
 l2 
z y
onde z '  e y '  , resolvendo a equação 2.61, temos;
l l

2 2 z 
F arctan z '0  arctan o  2.62
   l 

Da equação 2.62 deduz que 50% da corrente I circula por cima do plano z = l e que 70,6% da corrente
passa por cima de z = 2l. Se F = 0,95; de acordo com a definição da zona de influência.

zo  z
arctan  F, e resolvendo o  tan 85,5  12,706
l 2 l

2.3.5. – Disposição de Wenner: Nesta disposição os eletrodos são dispostos sobre uma linha reta e
ficam separados por uma distância a.
Para este arranjo, temos; r1 = r4 = a; r2 =
r3 = 2(a); e levando estes valores na equação
2.48, temos;

2 V

1 1   1 1 I Figura 2.11. - Disposição de Wenner
    
 a 2a   2a a 

Simplificando;

V
  2a 2.63
I

O termo V/I, calculado ou medido diretamente com um instrumento é denominado de resistência R,


cuja unidade é ohms.

 = 2aR 2.64

Uma alternativa à disposição de Wenner, consiste em alocar um dos eletrodos de corrente em um pon-
to distante dos outros três: r1 = a; r2 = d  ; r3 = 2(a); r = d  ; levando na equação 2.48, temos;
’ = 4Ra;  ’ = 2; 2.65

Esta alternativa tem aplicação quando os estra-


tos superficiais do terreno a ser medido são de alta re-
sistividade e se dispõe de um instrumento de medição
de resistência limitado, já que neste modo a escolha do
instrumento é duplicada em comparação com a disposi-
ção normal.

2.3.6. – Disposição de Schlumberger: Neste arranjo os Figura 2.12. - Disposição de Schulumberger


quatros eletrodos são dispostos sobre uma linha reta. Os eletrodos de potencial são dispostos simetri-
camente com relação ao centro de medição a uma distância relativamente pequena. Os eletrodos de
corrente são localizados simetricamente com relação ao centro de medição.
Ao efetuarem as medições os eletrodos de potencial permanecem fixos, fazendo-se mudanças
AB
somente na posição dos eletrodos de corrente. É recomendável que se tenha MN  . Para o arranjo
5
de Schlumberger, tem-se r1 = na; r3 = (n+1)a; r2 = (n+1)a; r4 = na; levando os valores de r’s na equação
2.48, temos

2 V

 1 1   1 1  I
      
 na n  1a   n  1a na 

Simplificando, temos,

 = n(n+1)a(V/I); ou  = n(n+1)Ra; 2.66

Geralmente escolhe-se a = 1 m., então o valor de n, corresponde a distância em metros entre os


eletrodos de corrente e o eletrodo de potencial adjacente como indica a figura 2.12.
De outra forma fazendo

a a a a
r1  L  ; r2  L  ; r 3  L  ; e r4  L 
2 2 2 2
neste caso temos como resultado:

 L2 1 
  aR  2   2.67
a 4
aplicando o limite quando a  L, temos

  a2  R L2
  lim  L2     R 2.68
a 0   4 a a

Que é a equação 2.68 utilizada na verificação quando dos levantamentos de campo.

2.3.7. – Disposição de Lee: Esta disposição é utili-


zada na investigação qualitativa de inclinação das
camadas profundas em terrenos não homogêneos. É
uma variante do arranjo de Wenner, é conhecido co-
mo Método das partições.
Nesta disposição, temos r1 = a, r2 = a + a/2, r3
= 2(a); e r4 = a + a/2; levando os valores de r’s na
equação 2.48, temos, Figura 2.13. - Disposição de Lee

2 V

  I
 1 
1 1   1
    
 a 2a   a  a a  a 
 
 2 2
Simplificando, temos,

 =4a(V/I) ou  = 4Ra; 2.68

Se o terreno tiver resistividade uniforme a resistividade medida entre M Q deve ser igual a
QN . A camada em estudo terá inclinações horizontais se estes valores resultam ser diferentes.

2.4. – Método de Wenner: Apesar das disposições de medição da resistividade, ser o mais usual, para
medição de resistividade para cálculo de sistemas de aterramento, é o método de Wenner, apesar de
suas imperfeições, devido a sua maior facilidade de uso. Na disposição de Wenner, considera-se que se
determina a resistividade à profundidade igual ao afastamento “a” existente entre hastes, por isso se faz
medições para várias distâncias entre hastes.

2.4.1. – Instrumental: A medida da resistividade do solo pode ser feita com o uso de um instrumento
específico, que é o Megger de terra, também
designando por Terrômetro, conforme indica a
figura 2.14, com dois terminais de corrente e
dois terminais de tensão independentes e acessí-
veis. O uso do Megger de terra deve ser prefe-
rencial. Na falta de tal instrumento, efetuar o
ensaio com corrente alternada obtida da rede
através de um transformador de isolamento,
figura 2.15, utilizando um voltímetro de alta
resistência interna e um amperímetro. Iniciar o
ensaio com o reostato totalmente inserido, cor-
rente mínimo, e fechar a chave apenas durante o
Figura 2.14. - Medição da resistividade do solo tempo necessário à leitura. O instrumento deve
com o Megger de terra. possuir ajuste para compensar a resistência dos
eletrodos e cabos, caso contrário os valores de
resistência obtidos deverão ser convenientemente corrigidos.

Quatro eletrodos metálicos de diâmetro de 20


mm., a 32 mm., comprimento aproximado de 100 cm.,
com superfície limpa e isenta de pintura e ou ferrugem.
Dois cabos isolados, flexíveis, sem emendas, bito-
la mínima de 2,5 mm2, para os eletrodos de corrente e
dois outros para os eletrodos de potenciais. Todos os ca-
bos devem possuir terminais para ligação aos bornes dos
instrumentos e aos eletrodos de ensaio. Uma marreta para
cravar as hastes de ensaio.
Trena para fazer medições de distâncias, e, além
Figura 2.15. - Medição da resistividade
disso, outras ferramentas, tais como foice, facão, enxadas,
do solo com voltímetro e amperímetro.
para limpezas. Uma maleta com as principais ferramentas
do eletricista.

2.4.2. - Escolha do local: O local escolhido para a medição deverá ser sempre longe de áreas sujeitas
as altas interferências, tais como:
a). Torres de transmissão e os respectivos contra pesos;
b). Pontos de aterramento do sistema e aterramento do neutro do transformador;
c). Torres de telecomunicações; e
d). Solos com condutores ou canalizações metálicas não blindadas e enterradas.
As medidas de resistividade, devem ser em área onde serão localizadas subestações, ou quais-
quer outra ligação de um sistema ao terra, sendo a primeira medida na área provável de situação da
malha de terra. Estes dados serão utilizados como base para o projeto da malha. Após a terraplana-
gem, serão realizadas novas medições da resistividade, porém somente no local da futura área a ser
utilizada. Esses valores serão comparados com os anteriores e, conforme o caso poderá ser necessário
fazer uma revisão do projeto.

2.4.3. - Números de pontos a serem medidos: Os pontos a serem medidos serão pontos do terreno
escolhidos sobre os lados do contorno do terreno, e as diagonais, sempre que possível, para cada ponto,
medições em duas direções ortogonais, e deverá estar, de preferência contido dentro da área a ser utili-
zada, fazendo no mínimo, seis(6) pontos antes da terraplanagem e 8 pontos após a terraplanagem. To-
dos os pontos devem ser numerados para que possam ser relacionados às medições a serem feitas.
O número de pontos a serem medidos depende de
dois fatores:
a). Dimensão e importância do local;
b). Variação dos valores encontrados nas medições
no campo.
No caso de áreas para construção de subestações, ou
malhas de terra para outras finalidades com dimensão de até
100x100m2., deverão ser efetuadas pelo menos, medições
em 6 pontos, com prospeção de resistividade de até 64 me-
tros ou mais, localizando quatro pontos na periferia e dois
pontos na região central.(sendo o eixo que passa pelo pon-
tos, a direção em que se deve efetuar os espaçamentos entre
os eletrodos), conforme mostra o croqui, vide a figura 2.16.
Esse procedimento é válido para terrenos que se su-
Figura 2.16. - Croqui de medição de resistividade. põem-se
como o
mesmo tipo de camada em todas as dire-
ções. Assim, se os valores de resistivida-
de, encontrados para uma separação dos
eletrodos, variarem mais que 50%, com
relação ao valor médio aritmético, devem
ser feitas medições em maior número de
pontos.
No caso de cidades em áreas cen-
trais, então adota-se um critério de medi-
ção na periferia da cida- Figura 2.17. - Medição de resistividade em
de(aproximadamente uma medição para área de influência.
cada 500 metros de periferia) obtendo-se um valor médio, de tal forma aceitável, que possa ser usado
para determinação da resistividade do solo em qualquer ponto da cidade por interpolação, tendo-se em
vista as dificuldades ou impossibilidade inerentes da medição na área central de centro urbanos, ou
seja, presença de elementos condutores enterrados no solo, interferência devida às correntes circulantes
no solo, indisponibilidade de áreas livres para execução das medidas, etc..
Caso sejam encontrados alguns valores discrepantes de resistividade, deverão ser projetados
sistemas de aterramento especiais para esses pontos, ou conforme a porcentagem desses valores no
total do levantamento poderão ser desprezados e adotados valores médios, visando a estabelecer um
único padrão para o local.
Na figura 2.17, temos a posição em que devem ficar os eletrodos, caso a área de medição fique
próxima de linhas de transmissão ou cercas aterradas e, caso não se possa distanciar muitos pontos, sob
pena de ser fazer medições fora da área em questão.
No caso de cercas ou linhas de transmissão, o alinhamento dos eletrodos deve ser perpendicular
às mesmas, com o objetivo de diminuir a influência das mesmas sobre as medições.
Para um único ponto de aterramento, isto é, para cada posição do aparelho, devem ser efetuadas
medidas em três direções, com ângulo de 60o entre si. Este é o caso de sistema de aterramento peque-
no, com um único ponto de ligação a equipamentos tais como: regulador de tensão, religador, trans-
formador, seccionador, TC, TP, chaves à óleo e SF6, etc..

2.4.4. - O processo de medida: O esquema de ligação do aparelho Megger de terra deve ser igual ao
esquema da figura 2.14 ou figura 2.15. No método de Wenner, deverão ser observados os seguintes
itens:

a). - Os eletrodos deverão ser cravados, até apresentarem resistência mecânica aceitável que
defina uma resistência ôhmica de contato aceitável (aproximadamente 30 a 100 cm.);
b). - Os eletrodos deverão estar sempre alinhados;
c). - As distâncias entre os eletrodos devem ser sempre iguais;
d). - Verificar se o estado de conservação dos eletrodos é aceitável;
e). - Ajustar o potenciômetro e o fator multiplicador do Megger de terra, até que o galvanôme-
tro do aparelho indique zero. Nos aparelhos modernos, quando emitirem um sinal sonoro, indica a pre-
sença de interferências, ou presença de corrente no solo;

a(m.) Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4 Ponto 5 Ponto 6 Ponto 7


Direções X Y X Y X Y X Y X Y X Y X Y
2
4
8
16
32
64
128
Figura 2.18. - Modelo da folha de campo para anotar os valores de medida.

f). - Fazer a medição e anotar os valores obtidos, na folha, conforme o modelo, figura 2.18;
g). - Proceder identicamente para as outras distâncias. Se o galvanometro oscilar, significa que
existe alguma inferência devido as correntes dispersas no solo, e isso deve ser indicada como observa-
ção a parte;
h). - Para aparelhos que tiverem o 5o terminal (Ground), deve ser fincado um outro eletrodo
entre as hastes intermediárias MN, ponto G e interligar o terminal ground com esse eletrodo, atenuan-
do assim, a interferência que possa existir;
i). - Deverão ser indicadas também, as condições do solo, se seco, úmido, molhado, o tipo
aproximado do solo, se argila, areia, granitos, etc..
j). - Deve ser apresentado o croqui de locação dos pontos onde foram executadas as medidas;
k). - O valor da resistividade será dado pela expressão de Wenner, equação 2.64, onde R é o
valor indicado no Megger de terra e "a" a distância entre os eletrodos. Observação: O método de Wen-
ner considera o solo homogêneo, onde a expressão 2.64 é plenamente válida. O valor da resistividade
obtido com um determinado espaçamento entre os eletrodos é o valor referido à profundidade igual a
esse espaçamento;
m). - Deve-se utilizar calçados e luvas de isolação para efetuar as medições;
n).- Deve-se evitar a realização de medidas sob condições atmosféricas adversas, tendo-se em
vista a possibilidade de ocorrência de descargas atmosféricas;
o). - Não se deve tocar os eletrodos durante as medições e evitar que pessoas estranhas e ani-
mais se aproximem dos mesmos.
2.4.4.1. - Observações normativas: A norma ABNT NBR7117 fornece diversas recomendações que
devem ser observadas para obter-se valores confiáveis de resistividade do solo. Indicamos a seguir
algumas situações que podem ser encontradas:

a). - A existência de elementos metálicos enterrados nas proximidades causa interferências e


erros nas medições. Nesta situação, em geral, o valor da resistência medida tende a ser zero, ou não
varia em função dos diversos espaçamentos. Medições próximas a cercas metálicas ou próximas a
qualquer instalação elétrica aterrada também devem ser evitadas.
b). - Em medições com grandes espaçamentos entre eletrodos, pode haver interferência entre os
condutores dos eletrodos de corrente e aqueles dos eletrodos de potencial. Em geral, a interferência
não é significativa quando o valor medido de resistência é maior que 0,5 ohm
c). - Medições ortogonais centradas no mesmo ponto representam um bom meio para confirmar
os valores medidos. Diferenças superiores a cerca de 30% podem indicar alguma anormalidade.

d). - Em medições próximas a instalações de alta tensão aterradas, potenciais perigosos podem
surgir nos cabos e aparelhos de medição durante a ocorrência de um curto circuito no sistema, devido
aos diferentes potenciais adquiridos pelos eletrodos de medição e que são levados até o aparelho. Ex-
tensos cabos de medição paralelos a LT's podem ainda ser energizados por acoplamento mútuo com a
fase sob curto circuito. As situações de choque elétrico oriundo das circunstâncias acima podem ser
evitadas com o uso de proteções adequadas.

2.4.5. - Curvas de resistividade do solo: Com a tabela de valores obtidos nas medições, deve ser cal-
culado o valor médio da resistividade, para cada espaçamento, pelo método dos valores médios aritmé-
ticos. O desvio de (medido) com relação ao (médio) é dado pela expressão;

 medio   i
%   100 2.69
 medio

Com a tabela, constrói a curva médio versus "a" em papel di-logaritmo. Mas devido a não ho-
mogeneidade do solo, a curva xa, obtida, deverá ser corrigida, a fim de que possa obter a configura-
ção do solo mais real possível.

2.4.5.1. - Resistividade média: Obtém-se a resistividade média, através da média aritmética dos valo-
res de resistividade para cada afastamento entre eletrodos, obtidos de resistividade média representati-
va do local, conforme a equação 2.70

 medio a j     i a j , onde j  1, q;
1 n
i  1, n 2.70
n i 1

2.4.5.2. - Critério de aceitação: O critério de aceitação do valor médio aritmético será aceito desde
que o valor medido apresente um desvio menor que 50% com relação a média dos valores, aceita-se
esse valor como representativo. Caso esse desvio seja superior a 50%, devem ser isolados os valores
obtidos nos pontos em questão e efetuar novas medidas considerando-se assim, vários tipos de estrati-
ficação do solo para a localidade considerada. Um exemplo é o que se verifica em locais montanhosos,
com camadas de solo inclinadas e com alturas dos lençóis freáticos diferentes. O mesmo se apresenta
em localidade com predominância de rios e lagos.

2.4.5.3. - Outros critérios: Pode-se definir critérios diferentes para estabelecer valores de resistivida-
de representativa do local, tal como média aritmética ponderada, na qual se definam coeficientes de
ponderação para determinados desvios dos valores de resistividade.
De qualquer forma, convém frisar que o valor obtido é apenas representativo do local, para
efeito de estabelecimento de um padrão local. Caso deseje um projeto de aterramento deverá proceder-
se ao levantamento de resistividade no local exato de execução do mesmo. Deverão ser consideradas,
ainda neste caso, variações de resistividade durante o decorrer do ano para estabelecimento de valores
para esse aterramento.
No caso de sistemas de aterramentos interligados, como o caso do sistema multi-aterrado de
distribuição, não se deseja esse nível de precisão, visto que existe a compensação de valores, quando
se interligam em paralelo esses aterramentos através do condutor neutro.

Cada tipo de solo apresenta curva de resistência versus umidade razoavelmente definido, fato
que pode ser atribuído as condições climáticas e as condições físicas do solo natural a um metro de
profundidade. A influência da umidade do solo é pouco significativa em solo de baixa resistividade e
contrariamente ao que ocorre em solos de alta resistividade.

Aparentemente, a resistividade não é afetada pela temperatura ambiente, na faixa de 15o a 35o C. A
variação menos pronunciada da resistividade do solo com o pH foi observada em solos cuja umidade
se situa entre 18% a 25,5%.
É aconselhável que a medição de resistividade seja efetuada em período mínimo de um ano,
devido a grande diferença entre valores extremos que podem ser obtidos em épocas secas e chuvosas.
Especial atenção deve ser dada as medições realizadas após os serviços de terraplanagem, já que o es-
tado de compactação do solo tem uma influência significativa sobre a resistividade. Cuidados especiais
também devem ser tomados quanto a correta avaliação da resistividade do solo a ser adotada em proje-
tos de aterramento em função dos valores medidos no campo, visto que, os custos poderão se elevar
razoavelmente para uma variação relativamente pequena no valor de resistividade adotada.
Uma vez conhecido a distribuição de freqüência dos valores de resistividade medidas num dado
local e a variação do custo da malha com a tensão de toque, é possível avaliar o riso máximo da tensão
de toque a ser excedida, se casualmente for adotado, no projeto, um valor de resistividade inferior ao
medido.

2.5. - Estratificação do solo: Quando se projeta um aterramento há necessidade de se empregar um


valor de resistividade que represente a situação do solo que o eletrodo abrangerá, ou seja, por onde o
eletrodo fará escoar correntes de defeito, de desequilíbrio ou provenientes de surtos.
Os solos, na sua maioria, não são homogêneos, ao contrário, são formados de diversas camadas
de resistividades diferentes. Essas camadas são normalmente horizontais e paralelas à superfície do
solo. Existem, casos em que elas se apresentam inclinadas e até verticais, devido a alguma falha geo-
lógica. Porém os estudos apresentados para pesquisa do perfil do solo consideram as camadas aproxi-
madamente horizontais, uma vez que os outros casos são mais raros.
A estratificação do solo é exatamente a divisão do solo em camadas, determinando-se suas re-
sistividades e respectivas profundidades. A pesquisa do solo é feita baseando-se nas medições prévias
de resistividade, através de um dos métodos apresentados, preferencialmente o método de Wenner.
Com os valores obtidos traça-se a curva de resistividade em função das distâncias utilizadas entre os
eletrodos durante a medição. Existem diversos métodos para se efetuar uma estratificação do solo, en-
tre eles, tais como:

a). - Método do catálogo do aparelho Yokogawa;


b). - Método de Pirson;
c). - 2o método de Tagg, para determinação da resistividade da primeira camada; e
d). - Método simplificado para estratificação do solo em duas camadas.
2.5.1. - Método apresentado no ca-
tálogo do aparelho Yokogawa: Esse
processo, para determinação das ca-
madas do solo, parte de equações
matemáticas, desenvolvidas através
de transformadas de Laplace e aplica-
ção da equação de Bessel. O livro
Tagg, G. F. Earth Resistances, mos-
tra detalhadamente este processo. O
catálogo do aparelho Yokogawa parte
deste tratamento matemático e desen-
volve um processo analítico que nada
mais é do que a transformação de
valores tabelados em curvas caracte-
rísticas (Curvas de Hummel) partin-
do-se das equações citadas.
Na prática, é necessário o co-
nhecimento das "Curvas Padrão"
figura 2.19 e "Curvas Auxiliares"
figura 2.20, adotando o procedimento
para a determinação das camadas do
Figura 2.19. - Curvas Padrão, para estratificação do solo em duas camadas. solo e respectivas profundidades, co-
mo se segue:
A figura de Curvas Padrão possibilita a correção da resistividade específica de solo em duas camadas,
onde 1 é a resistividade da primeira camada e 2 a da Segunda, sendo "a" a distância entre os eletro-
dos e "d" a profundidade da primeira camada em questão. A figura de Curvas Auxiliares possibilita a
correção da resistividade do solo em três ou mais camadas. Na utilização das curvas, adota-se como
recurso de cálculo em paralelo das (N-1) ca-
madas com as enésima camadas, possibilitan-
do a correção da curva para solo de diversas
camadas.

a). - Traça-se a curva (xa) em papel


transparente, com escala logarítmica de módu-
lo idênticos ao das curvas padrão e auxiliares;
b). - Divide-se a curva (xa) em tre-
chos ascendentes e descendentes;
c). - Coloca a curva (xa) sobre as
curvas padrão e pesquisa com qual das curvas
padrão o primeiro trecho da curva (xa) mais
se identifica, deslocando-se para tal a curva
(xa) sobre as curvas padrão, mantendo-se os
eixos paralelos;
d). - Escolhida a curva com uma de- Figura 2.20. - Curvas Auxiliares, para estratificação
do solo em três ou mais camadas.
terminada relação 2/1, transcreve-se a ori-
gem das curvas padrão no gráfico (xa). Esse
ponto fornece o polo O1(primeiro polo), pois se refere ao trecho inicial da curva (xa);
e). - Na curva (xa) são lidas as coordenadas do polo O1, ou seja, a1 e 1, que representam a
profundidade e a resistividade da primeira camada do solo respectivamente;
f). - A resistividade da segunda camada 2 será calculada através do valor de 2/1 da curva
padrão que mais se identificou com o trecho da curva xa, e da 1 obtido através de O1;

a b c
Figura 2.21. - a). Perfil do solo após a estratificação; b) e c). - processo de redução do nú-
mero de camadas para a estratificação do solo em duas camadas.

g). - A seguir coloca-se o gráfico (xa) sobre as curvas auxiliares, de modo que o polo O1 coin-
cida com a origem das curvas auxiliares. Com linha tracejada marca-se no gráfico (xa), em análise, a
curva auxiliar de relação 2/1 igual à da curva escolhida na alínea d;

h). - Voltando-se às curvas tracejadas, obtida no item g, sobre a origem das curvas padrão até
que se consiga uma outra curva padrão que mais se assemelhe ao segundo trecho da curva (xa) em
análise. Ao "deslizar" a curva tracejada sobre a origem, deverá ser mantido o paralelismo entre as li-
nhas verticais e horizontais do gráfico (xa) respectivamente com as linhas verticais e horizontais das
curvas padrão.

i). - Escolhida a nova curva padrão, marca-se a origem das curvas padrão sobre o gráfico (xa).
Esse ponto nos fornece o polo O2. Obtêm-se assim os valores de resistividade equivalente das primei-
ras e Segundas camadas em relação a e . Desde que 2/1, nesse caso, corresponde ao valor de 2/1
das curvas padrão, 3 pode ser calculado a partir de 3/2 e de 2, obtido a partir de O2. O valor de a2
será obtido diretamente da leitura da abcissa de O2.

j). - Havendo mais partes ascendentes e /ou descendentes, prossegue-se analogamente obtendo-
se outros pólos O3, O4, etc..

De posse dos valores das resistividades das camadas do solo e as respectivas profundidades,
constrói-se o perfil de resistividade do solo como indica a figura 2.21(a).

2.5.2. - Método de Pirson: A partir da curva de resistividade (xa), construída conforme a figura 2.22:

a). - A resistividade da primeira camada, 1, é determinada através de uma série de medições
com pequenos espaçamentos de eletrodos (entre 1,5 a 6,0 m), prolongando a curva média dos resulta-
dos obtidos até encontrar o eixo das resistividades. A interseção da curva com o eixo determina o valor
de 1.
b). - Supor um valor de a1, contido na primeira parte da curva (xa), determinando sua respec-
tiva resistividade (a1). "As partes das curvas são definidas como trechos entre dois pontos de inflexão
d 2
 0 da curva (xa) dada"
da 2

c). - Uma vez escolhido a1 e, conseqüentemente, determinado o valor de (a1), estabelece-se a


11   (a )  (a )
seguinte relação:  1 , se a curva for ascendente K > 0; 11  1 , se a curva for descen-
 ( a1 )  ( a 1 ) 1 1
dente K < 0. A partir da relação definida anteriormente, extrair das tabelas 2.2 ou tabela 2.3 a série de
valores de a/a1, dada em função da série de valores de K. As tabelas foram elaboradas a partir da equa-
ção 2.71

 
 
  
a  K n
K n
 1  4   1 
2.71
1 n 1   2

1
2
 2
 2

 d  d
  1  2 n    
4  2 n   
   a     a   

Onde K é o coeficiente de reflexão e é definido pela equação 2.72.

 n 1  1n
K 2.72
 n 1  1n

d). - Multiplicar a série de valores de a/a1 pelo valor de a1 escolhido no item 2, obtendo-se uma
série de valores de a;
Tabela 2.2

e). - Esta série de valores de a, com os respectivos valores de K, deverá ser lançada num gráfico
(kxa), obtendo-se uma curva;

f). - Repetir o procedimento desde o passo b até ao e, escolhendo um novo valor de a1 dentro da
primeira parte da curva.
Tabela 2.3.

g). - As curvas obtidas em e, f deverão ser cruzar em dado ponto, que será o valor real da a1 e
k1. Para assegurar a precisão

h). - O valor de a1, obtido em g, será a profundidade da primeira camada, e a resistividade da


1  k1
segunda camada será:  2  1 ;
1  k1
i). - Estimar a profundidade da segunda camada pelo método de Lancaster-Jones. Assim, a2 =
d1 + d2 = (2/3)x, onde x é a distância até o ponto de inflexão do segundo trecho da curva (xa).
j). Calcular a resistividade média 12 das duas camadas de resistividade 1 e 2, paralelas, pela
d d d d
fórmula de Hummel; 1 1 2  1  2
2 1  2
k). - Repetir o procedimento de b a g. isto dará uma série de curvas de kxa. Elas irão convergir
num ponto que dará um valor de a2 e o coeficiente de reflexão k2.

12 1 k2
k 2  3   12   3  12
3 1 k2

l). - Se a convergência não ficar bem definida, repetir o procedimento desde j, usando o valor
de a2 obtido em k. Isto permitirá a obtenção de um resultado mais exato.

m). - Para estimar a profundidade da terceira camada, repetir o procedimento i. Assim, d1 + d2


+ d3 = (2/3)x, sendo x a distância até o ponto de inflexão do terceiro trecho da curva;

n).- Calcular a resistividade média 13 das três camadas em paralelo 1, 2 e 3
d1  d 2  d 3 d1 d 2 d 3
   ;
13 1  2  3
o). - repetir o procedi-
mento de b a h. O resultado será
um valor de a3 = d1 + d2 + d3 e
1
k 3   4  3  13
4
um valor de
1 k3
  4  13
1 k3

p). - O processo poderá


ser repetido para tantos pontos
de inflexão quantos puderem
ser definidos na curva (xa).
Figura 2.22. - Curva de Resistividade versus distância

2.5.3. - Segundo método de Tagg para determinação da resistividade da primeira camada: Defi-
nida a curva da resistividade (xa), figura 2.22, deve ser obedecida a seguinte metodologia de cálculo:
a). - Escolher um valor de a1 e respectivo a1.
b). - Escolher um valor de na1 e respectivo na1 no primeiro trecho da (xa)(n>1).
c). - Calcular a seguinte relação: a1/na1, se a curva neste trecho for ascendente, ou na1/a1, se
a curva neste trecho for descendente.
d). - Para a relação calculada no item c, calcular os valores de a/a1, a partir da equação 2.71,
para:
K = 0,1; 0,2; 0,3; 0,4; 0,5; 0,6; 0,7; 0,8; 0,9; curva ascendente
K = -0,1; -0,2; -0,3; -,04; -0,5; -,0,6; -0,7; -0,8; -0.9; curva descendente;
e). - Multiplicar os valores de a/a1 por a1;
f). - Plotar os valores de a, e respectivos K, num gráfico;
g). - Repetir o item a, escolhendo um novo a1 e respectivo a1, dentro do primeiro trecho da
curva (xa);
h). - Repetir os itens de b a f;
i). - Determinar a interseção das duas curvas, obtendo o valor de a1 e k;
j). - Substituir os valores de d = a1 e k e a1 na equação 2.71 e calcular 1;
k). - A partir do valor de 1, determinado para esta camada, procede-se de acordo com o méto-
do de Pirson na determinação das resistividades das demais camadas, iniciando os cálculos subseqüen-
tes.

2.5.4. - Resistividade aparente: É um valor calculado e utiliza-se no cálculo da resistência de aterra-


mento de malha de terra. Conceitualmente, é um valor de resistividade equivalente das camadas de
diferentes resistividades que compõem um solo não homogêneo. Num solo supostamente homogêneo,
sua resistividade é diretamente proporcional à resistência do eletrodo.
O mesmo eletrodo num solo homogêneo terá uma resistência, que já não será proporcional à
resistividade do solo, dependendo, agora de todos os fatores geológicos que influem na não uniformi-
dade do solo.
De ter surgido a resistividade aparente para facilidade de cálculo é válida como equivalência e
simulação para fins de projeto. É necessário notar que não é um equivalente elétrico numérico, mas
sim um equivalente dos efeitos de dispersão da corrente pelas camadas do solo.
De forma genérica, o procedimento é o descrito a seguir:
a). - Reduzem-se as "n" camadas encontradas para duas camadas equivalente, a saber:

d 1  d 2  ...  d n 1
 eq  2.73
d1 d 2 d
  ...  n 1
1  2  n 1

b). - A estratificação equivalente em duas camadas será então  eqn1 com deqn-1, para a primeira
camada e eqn com deqn   , para a segunda camada.
c). - Determina-se o raio do círculo equivalente que abrange a área considerada para o sistema
A
de aterramento; r  ; onde A é área da malha do sistema de aterramento (m2), porem com a condi-

ção que r  l/2; onde l é a maior dimensão da área onde a malha será localizada.
r r
d). - Determina o coeficiente    ;
d 1  d 2  ...  d n 1 d eqn
n
e). - Com os valores de   , encontra-se na figura 2.24, o valor de N;
 eqn
f). - Com o valor de N, determina-se a;
a
N   a  N eqn 2.74
 eqn

2.5.5. - Método Simplificado Este mé-


todo oferecerá resultados razoavelmente
Figura 2.23. - Curvas típicas para a estratificação pelo precisos somente quando o solo puder
método simplificado ser considerado estratificável em duas
camadas, ou seja, quando a curva xa tiver uma das formas típicas indicadas na figura 2.23.
Tabela 2.4. - Determinação de Mo

Definida a curva de resistividade xa, a rotina a ser seguida para estratificação do solo é a se-
guinte:
a). - Prolongar a curva até interceptar o eixo das ordenadas e determinar o valor da resistividade
da camada superior do solo 1;
b). - Traçar a assíndota à curva de resistividade e prolongá-la até o eixo das ordenadas. Sua
intercessão com esse eixo indicará o valor da resistividade da camada inferior do solo 2;
c). - Calcular a relação 2/1;
d). - A partir do resultado do item c, determinar o valo de Mo na tabela 2.4;
e). - Calcular m = Mo1;
f). - Com o valor de m, definido no item e, entrar na curva de resistividade xa e determinar a
profundidade d da primeira camada do solo.

Exemplo 2.1 - Determinar a estratificação do solo e a resistividade aparente de um local fictício, cuja
dimensão é uma área retangular de 80x60(m2).
A tabela abaixo 2.5. indica os valores obtidos nas medições: (metódo de medida: Wenner)

Tabela 2.5.- valores medidos, médios e desvio máximo.


Ponto Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4 Ponto 5 R- Médio =2aR (%)
a(m.) ohms ohms ohms ohms ohms ohms ohms Máximo
2 70,80 74,00 37,40 55,70 48,00 57,20 718,6 35
4 31,80 51,70 38,60 39,40 36,00 29,50 992,3 31
8 21,90 27,30 25,50 21,50 23,70 24,00 1204,8 14
16 6,50 9,90 7,80 7,10 3,70 7.00 703,9 24
32 1,00 1,15 1,10 1,50 1,37 1,22 246,1 23
64 0,27 0,25 0,36 0,60 0,50 0,40 159,3 50

Figura 2.24. - Resistividade aparente em solo de duas camadas.

a). - Plota-se os pontos de médio versus a distância no papel transparente em escala di-log.

b). - Faz-se a estratificação conforme a seção 2.5.1. e o cálculo da resistividade aparente


conforme a seção 2.5.4.

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