Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical

18(4): 267-268, Out-Dez, 1985

INFESTAÇAO HUMANA PELO DIPYLIDIUM CANINUM.

Carlos Henrique Lemos e Clarice de Resende Oliveira.

Os a utores descrevem u m caso d e infesta çã o p e lo D ipylidium caninum num a

criança residente em A ra g u a ri, M in a s G erais, q u e apresen to u lesões cutâneas, insônia,
irritabilidade, vô m ito s e p e rd a d o apetite. R e la ta m a elim in a ç ã o a b u n d a n te d epro g lo tes
q u a n d o a p a c ie n te f o i tra ta d a com m e d ica m en to s caseiros e a rem issã o d o s sintom as,
ap ó s d o is tra ta m en to s com m eben d a zo l. C o n tu d o n ã o p u d e ra m co n clu ir sobre a
eficiência d a s drogas, d evid o à m ed ica çã o em pírica e ã a d m in istra ç ã o de 2 0 0 m g /d ia de
m ebendazol, contrariando a dosagem recom endada p a ra Cestodas, que é de 4 0 0 m g/dia.
R ela ta m , ainda, q u e e x a m e s d a s fe z e s d o cão d e p ro p rie d a d e d a fa m ília revelaram
a pen a s a p resen ça de ancilo sto m íd eo s.
P alav ras chaves: D ipilidiose. D ip y lid iu m ca n in u m .

O D ip y lid iu m c a n in u m (L innaeus, 1 7 5 8 )é u m período, voltou a m an ifestar falta de apetite, insônia e

p arasito habitual do instestino delgado do cão e,
esporadicam ente, tem sido o b servado tam b ém no
homem .
Inquéritos sobre a incidência de helm intos pa-
rasitos de cães, realizados em algum as localidades
brasileiras, revelam índices de dipilodiose d a ordem de
4 6 % ', 5 5 % 8 e 8 0 % 2.
A s infestações do hom em , n a m aioria d as vezes
em crianças e, em geral, asso ciad as às infestações de
cães, foram relatad as, entre ou tro s países, nos E stad o s
U nidos5, no M éx ico 4 e no C h ile 7. N o B rasil casos
hum anos têm sido observados desde 19173. R ecen­
tem ente, foram relatados dois casos em B elo H o ri­
zonte, M inas G erais^ , sendo um em crian ça e o u tro em
adulto.
O objetivo deste trab alh o é re la tar m ais um caso
de infestação h um ana pelo D ip y lid iu m ca n in u m .
R ELA TO D E CASO
E m jan eiro de 1984, u m a crian ça do sexo
fem inino, de um ano e três m eses de idade, residente
em A raguari, M inas G era is, apresentou lesões cu­
tâneas, insônia, irritabilidade, vôm itos e p erd a do
apetite. P o r iniciativa própria, a m ãe trato u a crian ça
com rem édio caseiro: hortelã, ro sa b ran c a e leite.
D epois disto, notou a elim in ação abundante de pro­
glotes nas fezes d a filha, ou os en co n trav a em suas
vestes.
A lguns dias depois, p o r iniciativa tam bém da
m ãe, foi feito um exam e de fezes d a paciente, no
laboratório do IN A M P S d a cidade, que se revelou
negativo. M esm o assim , sob o rien tação m édica, a
criança tom ou m ebendazol (H elm iben suspensão)
d urante 3 dias: u m a colher de ch á d a suspensão de
m anhã e o u tra à noite. R epetiu-se o tratam en to 15 dias
depois. D u ran te o tratam en to e p o r um período de 30
dias a crian ça apresento u m elhoras. A p ó s esse
Trabalho da Disciplina de Parasitologia, Departamento de
Ciências Fundamentais para a Saude, Centro de Ciências
Biomédicas, Bloco A, Universidade Federal de Uberlândia,
38400 Uberlândia, MG, Brasil.
Recebido para publicação em 10/12/84
p erd a de peso. A m ãe fez uso do m edicam ento caseiro
novam ente, e a c rian ça voltou a expelir proglotes em
abundância.
N e sta ocasião, foram rem etidas am ostras de
fezes ao lab o rató rio de P arasito lo g ia d a U niversidade
F e d e ra l de U b erlân d ia e, n esta oportunidade, foram
observados proglotes nas fezes e identificados com o de
D ip y lid iu m c a n in u m . Sob o rien tação de um pediatra,
a crian ça foi m ed icad a novam ente com m ebendazol
(T o a n a suspensão) d urante 4 dias: um a colher de chá
de suspensão pela m an h ã e o u tra à noite, repetindo-se
o tratam en to 15 dias após. P osteriorm ente, observou-
se rem issão dos sintom as e em outubro do m esm o ano
a crian ça ap resen tav a-se em bo as condições de saúde.
E n tretan to , não foi possível tirar n enhum a conclusão
sobre a eficiência das drogas u tilizadas, devido ao uso
em pírico de m edicam entos e à ad m inistração de
2 0 0 m g /d ia de m ebendazol, co n trarian d o a dosagem
reco m en d ad a p a ra C esto d as, que é de 4 0 0 m g/dia.
A lguns dias depois de diagnosticado o caso
hum ano, várias am ostras de fezes do cão, de
p ropriedade d a fam ília, tam bém foram exam inadas.
E n tretan to , os exam es rev elaram apenas a presença de
ancilostom ídeos.
SU M M ARY
T he a u th o rs describe a case o f D ipylidium
can in u m in festa tio n in a c h ild livin g in A raguari,
sta te o f M in a s G erais, B ra zil, who h a s p resen ted
sk in lesions, insom nia, irritability, vo m itin g a n d lo s s o f
appetite. W hen the p a tie n t w as treated with f o l k
m e d icin e th ey n o ticed excessive elim in a tio n o f pro-
g lo tid s a n d the e lim in a tio n o f sy m p to m s after being
trea ted tw ice with m eb en d a zo l. H o w ever it was n o t
p o ssib le to c o n clu d e a n y th in g a b o u t the drugs, d u e to
th e em p iric m e d ica tio n a n d th e a d m in istra tio n o f
m eb en d a zo l in a dose o f2 0 0 m g daily, which is not the
q u a n tity reco m m e n d e d f o r C estodes (4 0 0 m g daily).
T he fe c a l e xa m in a tio n o f the dog th a t belongs to the
fa m ily sh o w e d o n ly a n cylostom ides.
K e y words: D ip ylid ia sis. D ipylidium caninum .

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Relato de Caso. Lemos CH, Oliveira CR. Infestação humana pelo Dipylidium caninum. Revista da Sociedade Brasileira de
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