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Medgrupo - Ciclo 2: M.E.

D Pediatria - Volume 1 2

VÍDEO DE INTRODUÇÃO

Síndromes Exantemáticas
na Infância

Diagnóstico Diferencial 7. Síndrome da Mononucleose Infecciosa


(Hypothesis) 8. Outras Doenças Exantemáticas Virais

Principais Doenças Exantemáticas


SÍNDROMES EXANTEMÁTICAS Bacterianas
1. Escarlatina
Introdução Principais Doenças Exantemáticas
Reumatológicas
Principais Doenças Exantemáticas Virais 1. Doença de Kawasaki

1. Sarampo A CRIANÇA COM FEBRE SEM FOCO
2. Rubéola
3. Eritema Infeccioso MED R3 - R4 Pediatria
4. Exantema Súbito
Área de Treinamento M.E.D
5. Varicela Questões de Concursos
6. Enteroviroses Não Pólio Comentários

PEDIATRIA - VOLUME 1
M.E.D - 2017
Jocleidson, masculino, 6 anos, o filho mais velho de D. Joclei-
C a s o 1 da, foi levado a consulta de pediatria no posto de saúde
Help com a seguinte história clínica: febre iniciada há 4
dias, que vinha aumentando progressivamente e que no dia
da consulta alcançou 40oC. Ao exame, Dr. Jonny Auxiliador ob-
servou que o escolar apresentava conjuntivite não-purulenta, tosse
proeminente e um exantema, que descreveu como maculopapular
eritematoso, localizado na fronte, atrás das orelhas e na nuca com
tendência à confluência. Na cavidade oral foram observadas peque-
nas máculas brancas com halo de hiperemia ao redor localizadas na
face interna das bochechas. Após 10 dias, Jocleidson apresentava-
-se em melhor estado geral, com uma fina descamação furfurácea
da pele, mas ainda mantinha tosse.

Qual é o provável diagnóstico de Jocleidson?

Quais os dados da história que permitem este diagnóstico?

Cite a complicação mais frequente e a principal causa


de mor te desta doença.

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Suponha que Jocleidson tivesse entrado em contato com um paciente imu-
nodeprimido na fase aguda da doença. Que medida estaria indicada neste
caso para a proteção do contactante?

Rayana Ketelyn, uma lactente de 8 meses, é levada a consulta no ambu-


s o 2 latório de pediatria de um hospital estadual. Ao exame físico, você obser-
Ca va um exantema rubeoliforme mais exuberante em tronco e não pruriginoso,
ausência de adenomegalias ou hepatoesplenomegalia. A mãe de Rayana, Sra
Filomena, relatou que a filha teve, há 3 dias, um quadro de febre muito alta sem
outros comemorativos, tendo feito uso de amoxicilina para tratar uma “provável in-
fecção”. Algumas horas após o desaparecimento da febre, no dia anterior à consulta,
a menina iniciou estas manchas avermelhadas no corpo.

Qual é a provável doença exantemática de Rayana Kete-


lyn? Qual o agente causal?

Qual é o principal diagnóstico diferencial não-infeccioso neste caso?

Qual a forma mais provável de transmissão deste agente infeccioso?

Cite a complicação mais comum desta doença.

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A Sr(a) Filomena, após ficar muito agradecida e satisfeita com o brilhante
Ca s o 3 diagnóstico que foi feito diante do quadro apresentado por Rayana Ketelyn,
resolve trazer Rayara Kaylane – sua filha de 8 anos – ao hospital para que
o bom doutor pudesse “dar uma olhadinha”.
A escolar apresenta-se em regular estado geral, com história de febre há 2 dias e odi-
nofagia há 24 horas. Ao exame, você observa amígdalas hiperemiadas e recober tas
por exsudato purulento, petéquias em palato mole, adenome-
galia submandibular e rash micropapular avermelhado mais in-
tenso nas fossas antecubitais. Verifica-se também uma cer ta
palidez perioral e língua muito avermelhada.

Qual é o provável diagnóstico Qual o agente etiológico res-


de Rayara Kailane? ponsável pela doença?

Cite dois sinais muito sugesti- Qual o tratamento proposto?


vos deste diagnóstico.

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s o 4 Cle v s on R o g e r, u m
Ca ad o les ce n t e p re v ia m
h íg id o , t e m 1 7 a n o s e n t e
p ro c u ra a t e n d ime n t e
d e v id o a q u ad ro d e o m é d ico
Qual é a hipótese diagnóstica mais provável ad in a m ia , m al- es ta fe b re ,
para o caso de Clevson Roger? v ô m i t o s h á 4 8 h . A or e
ve r if ica - se a p rese n e x a me
e x a n t e m a ca ra c t e r izç a d e
m á c u la s , p á p u la s e ad o p o r
e m f a ce e t ron co . ves íc u la s
se q u eix a q u e a s le Cle v s on
m u i t o p r u r ig in o s a s . s õ es s ã o

Qual o agente etiológico?

Qual a complicação mais comum?

Como impedir que a vizinha e principal amiga de Clevson, Su-


zie, uma adolescente hígida de 15 anos, que esteve na casa de
Clevson ontem, adquira esta condição?

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Prescrição
Juscelino Tanaka é um pré-escolar de 4 anos que chega ao hospital pediátrico
trazido por sua mãe Liu Chang e seu pai Severino Manoel. A família relata febre
alta (38,5 – 38,9 oC) há 6 dias, associada a boca e olhos vermelhos. O pediatra da
unidade observa ao exame clínico hiperemia de conjuntiva bilateralmente, orofaringe, edema
de mãos e pés e um exantema maculopapular róseo. Solicita um hemograma que revela: Hb:
10 g/dl, Ht: 30%, leucograma: 14.000 cél/ µL, plaquetas 650.000/µL; VHS = 70 mm/H.
O ECO não revela formação aneurismática nas principais ar térias coronárias. A principal
hipótese diagnóstica é doença de Kawasaki. Auxilie o pediatra na prescrição para Juscelino
Tanaka, sabendo-se que ele tem 16 kg:
Preencha abaixo a prescrição que você faria na sua enfermaria. Em seguida, anote na
próxima folha o gabarito fornecido no site pela Equipe Acadêmica. Para o seu treinamento, é
fundamental que você não pule etapas, desenvolvendo um pensamento crítico sobre
o passo-a-passo da prescrição médica e não apenas anotando o
gabarito. Ficamos à disposição para suas dúvidas.

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Daniel é um adolescente de 16 anos e
possui o saudável hábito de praticar diversas ati-
vidades físicas: o jovem surfa, corre, luta jiu-jitsu e, embora
não seja dos melhores do time, joga bola quase todos os dias.
Porém, sua vida não estava das melhores...
Nas últimas três semanas, vinha sentindo-se bastante cansado e com do-
res de garganta e, por conta disso, teve que suspender todas as
atividades. Entediado de tanto assistir séries na TV, resolveu
fazer uso de um antibiótico que estava esquecido em uma
gaveta de sua casa e, para sua surpresa, começou a sen-
tir-se um pouco melhor. Bastou isso para que ele vol-
tasse para o tatame em busca da tão sonhada faixa
roxa. Pouco após o treino, eis o que aconteceu:
Daniel começou a apresentar vômitos e surgiu
uma intensa dor no quadrante abdominal supe-
rior esquerdo e também no ombro esquerdo.
Você o recebe poucos minutos antes do final
do seu plantão e identifica palidez, taqui-
cardia e hipotensão, além de um discreto
exantema maculopapular difuso.

Qual o provável diagnóstico O que seria encontrado no leu-


inicial de Daniel? cograma desta condição?

Qual foi a provável causa do Que exames adicionais poderiam ser solici-
exantema apresentado? tados para corroborar este diagnóstico?

Qual a complicação apresentada neste momento?

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As Síndromes Exantemáticas

A s doenças exantemáticas representam um grande desafio no dia a dia


do pediatra. Muitas vezes, não conseguimos chegar ao diagnóstico
etiológico preciso apenas pela anamnese e exame físico, sendo necessários
exames complementares específicos. Porém, como frequentemente não
há necessidade de nenhuma conduta específica, não é incomum que uma
criança seja liberada com o simples diagnóstico de uma “virose”. Isso pode
até gerar frustração nos pais, mas é a mais pura verdade...
Na sua prova não será assim. Como via de regra, o que mais será cobrado de você
é o reconhecimento de algumas doenças exantemáticas mais características, apenas
pela avaliação dos sinais e sintomas clínicos. Ao final dessa apostila, você
conseguirá fazer com segurança a distinção entre essas condições principais.

introdução
Os termos exantema ou rash são utilizados A História Natural das Doenças Exante-
para descrever a presença de uma erupção máticas
cutânea disseminada. As doenças exante-
máticas nada mais são do que um grupo de As doenças exantemáticas infecciosas têm
condições caracterizadas pelo surgimento uma evolução clínica que pode ser dividida em
agudo desta erupção. Dentre as diversas etio- algumas fases. O nosso principal desafio é
logias para as doenças exantemáticas, encon- tentar buscar o que existe de mais específico
tramos causas infecciosas, medicamentosas e característico em cada uma delas.
e reumatológicas, dentre outras. As infecções,
sejam bacterianas, virais, fúngicas ou por pro- Vamos começar pela primeira fase, que é o
tozoários, representam as principais causas período de incubação.
de exantema com febre na infância.

Existem diversos mecanismos fisiopatológicos Período de Incubação


envolvidos no desenvolvimento da erupção
cutânea apresentada por esses pacientes. O período de incubação é aquele que vai do
Alguns agentes infecciosos, como o vírus va- momento do contágio (que corresponde à en-
ricela-zóster, levam à erupção por invasão e trada do agente infeccioso no organismo) até
multiplicação direta na pele. Também é possí- o surgimento dos primeiros sinais e sintomas.
vel que as lesões sejam resultantes da ação
de toxinas (como na escarlatina), de processos No período de incubação, o paciente já está
imunoalérgicos com expressão cutânea, ou infectado, mas não apresenta qualquer mani-
de danos vasculares com necrose da pele. festação da doença. Veremos que cada uma
Mais de um mecanismo pode estar presente das afecções tem um período de incubação
em uma mesma doença. distinto e não é necessário que você memori-
ze exatamente a duração de cada um deles.
É evidente que não abordaremos aqui todas A duração desse período em cada uma das
as condições que levam ao surgimento de um doenças varia muito de acordo com a referên-
exantema. Queremos discutir com você o cia utilizada e o que precisamos ter é apenas
diagnóstico diferencial que será cobrado com uma ideia aproximada dessa duração. De um
mais frequência, que é aquele estabelecido modo geral, as infecções virais têm um perío-
entre algumas doenças exantemáticas classi- do de incubação mais prolongado, que costu-
camente descritas na infância. ma variar entre uma e três semanas. Já os
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agentes bacterianos têm um período de incu- da cor) e/ou papulares (lesões elevadas com
bação mais curto, que dura poucos dias. menos de 0,5 cm de diâmetro).

O período de incubação se encerra quando Podemos descrever o aspecto apenas como


surgem as primeiras manifestações clínicas. maculopapular, mas algumas peculiaridades
também permitem a caracterização da erup-
ção pelos seguintes termos:
Fase Prodrômica
• Morbiliforme: caracterizado pela presença
A fase prodrômica compreende os sintomas de lesões maculopapulares avermelhadas,
e sinais que surgem antes do aparecimento com pele sã de permeio, podendo confluir. O
do exantema. principal exemplo é o exantema encontrado
no sarampo (que é um Morbillivírus).
Na fase prodrômica, o paciente já apresenta
sinais e sintomas e é contagioso. Muitos dos • Rubeoliforme: é um exantema semelhante
sinais e sintomas encontrados nessa fase são ao morbiliforme, mas as lesões aqui têm
inespecíficos, incluindo sinais constitucionais uma coloração mais clara (rosada) e as
como febre, mal-estar, adinamia e sintomas pápulas são menores. É o exantema mais
catarrais (obstrução nasal, coriza, hiperemia característico dos quadros de rubéola.
de orofaringe, lacrimejamento, conjuntivite).
Além disso, nessa fase já podemos ter a pre- • Escarlatiniforme: consiste em um acometi-
sença de alterações nas superfícies mucosas, mento homogêneo da pele por lesões papu-
que recebem o nome de enantema. Quando lares puntiformes (micropapulares). Adivinhe
os pródromos surgem, sabemos que o pacien- a doença que é o protótipo desse tipo de
te está doente, mas, às vezes, ainda nem exantema? A escarlatina, evidentemente.
suspeitamos de que estejamos diante de uma
doença exantemática. • Urticariforme: caracterizado por lesões
maculopapulares eritematosas, maiores e
Os casos clínicos sempre trarão um emara- de limites imprecisos. Podemos encontrar
nhado de sintomas inespecíficos e o desafio, quadros de exantema urticariforme nas
como já dito, será tentar identificar a presença alergias medicamentosas, mas também
dos sinais que sejam típicos, ou mesmo pa- em doenças infecciosas.
tognomônicos, das diversas condições.
Aspecto Vesicular
Da mesma maneira que ocorre com o período
de incubação, os pródromos terão durações Caracteriza-se pela presença de vesículas,
diferentes em cada doença estudada e não que são lesões de conteúdo líquido e sero-
costuma ser necessária a memorização da so com até 1 cm de diâmetro. Essas lesões
duração exata de cada um. Em algumas si- podem desenvolver um conteúdo purulento,
tuações, você verá que os pródromos podem passando a ser chamadas de pústulas. En-
estar completamente ausentes e a primeira contramos este tipo de exantema nos casos
manifestação será o surgimento da erupção de varicela e herpes-zóster.
cutânea propriamente dita.
Outros
Fase Exantemática Além dos exantemas maculopapulares e
vesiculares, também podemos ter exante-
É caracterizada pelo surgimento do exantema. mas somente papulares, petequiais ou pur-
púricos e nodulares. Os exantemas pete-
Sempre que você for avaliar a descrição do quiais ou purpúricos podem estar associados
exantema, é importante que você tente res- a algumas doenças graves, como a menin-
ponder as seguintes perguntas: gococcemia, mas não serão objeto de estu-
do neste texto.
• Qual é o aspecto das lesões?
Progressão
• Como essas lesões progridem?
Após a descrição do aspecto, vamos identificar
• O que ocorre quando essas lesões desa- de que forma as lesões progridem, isto é, onde
parecem? Há descamação? surgem e para onde vão. A progressão pode
ser essencialmente craniocaudal ou centrífu-
Aspecto ga (surge no centro do corpo e progride em
direção às extremidades).
Os exantemas mais comuns são maculopa-
pulares ou vesiculares. Descamação

Aspecto Maculopapular E, por fim, a avaliação da descamação tam-


bém vai nos auxiliar. Em algumas condições,
É o aspecto encontrado mais comumente. Nos o desaparecimento das lesões cutâneas pode
exantemas maculopapulares temos o predo- ser acompanhado do surgimento de desca-
mínio de lesões maculares (apenas alteração mação. O primeiro passo é avaliarmos se a
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descamação está ausente ou presente. Se • A idade do paciente: determinadas doenças


estiver presente, poderá ser de dois tipos: são mais características de algumas faixas
etárias (como o exantema súbito, em lacten-
• Furfurácea: quando há uma descamação tes, e a doença de Kawasaki, nos menores de
fina, como uma “caspa”. É o tipo de desca- cinco anos).
mação que encontramos no sarampo.
• História epidemiológica: algumas doenças
• Lamelar ou laminar: é uma descamação não são mais endêmicas em nosso país e, por
grosseira, em “lascas” de pele maiores. É a isso, o relato de viagem ao exterior ou de con-
descamação que ocorre nas extremidades tato com estrangeiros poderá ser uma pista
na escarlatina ou na doença de Kawasaki. para nos direcionarmos para um determinado
diagnóstico. A história de contato com casos
semelhantes também será uma ferramenta
Fase de Convalescença útil para nosso raciocínio.

É a fase de recuperação. Na maioria das • O padrão da febre: a “curva” da febre ao


doenças sequer encontramos a descrição de longo das fases da doença é bastante impor-
qualquer manifestação que possa ser incluída tante. Em algumas situações, a febre desapa-
nessa fase. Alguns autores incluem a desca- rece antes do início do exantema, o que é uma
mação cutânea dentro desta fase, outros pre- pista para o diagnóstico. Em outras, o prolon-
ferem colocá-la dentro da fase exantemática. gamento da febre além do habitual poderá ser
um sinal da ocorrência de complicações.

Como organizar seu raciocí- saiba mais!


nio...
As doenças exantemáticas fo-
ram descritas em uma determi-
Como já antecipado, para resolver as ques-
nada ordem histórica e foram
tões, você deverá ser capaz de estabelecer numeradas desta maneira.
o diagnóstico etiológico mais provável de Você verá que em todas as questões o
uma doença exantemática com base nos diagnóstico diferencial será estabelecido
aspectos clínicos do caso e, eventualmente, basicamente entre essas condições. As-
com o auxílio de exames laboratoriais ines- sim temos:
pecíficos, sem o auxílio de exames soroló-  Primeira doença → sarampo
gicos específicos. A pergunta, na maioria
 Segunda doença → escarlatina
das vezes, será “qual é o diagnóstico mais
 Terceira doença → rubéola
provável?” ou “qual é o agente etiológico
responsável?”.  Quarta doença → doença de Filatov-
-Dukes (escarlatina atípica, não é mais
considerada uma doença específica)
Para isso, além de buscar por sinais carac-
terísticos ou patognomônicos na fase prodrô-  Quinta doença → eritema infeccioso
mica e exantemática, é importante que você  Sexta doença → exantema súbito
sempre caracterize os seguintes pontos:
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Principais Doenças
Exantemáticas Virais

O s vírus são os principais responsáveis pelas doenças exantemáticas


infecciosas na infância. Além dos agentes que estudaremos aqui, existem
outros que também podem cursar com exantema. Dentre esses, merece
destaque o vírus da dengue, que não será visto por enquanto, pois será
estudado no diagnóstico diferencial das grandes síndromes febris.

1. Sarampo

Quem é o agente etiológico? festação a desaparecer.


O vírus do sarampo pertence ao gênero Qual é a principal causa de morte?
Morbillivirus da família Paramyxoviridae.
A pneumonia!
Como e quando ocorre a transmissão?
E qual é a complicação bacteriana mais
A transmissão é pelo contato com se-
comum?
creções nasofaríngeas ou aerossol e
pode ocorrer mesmo sem o contato A otite média aguda!
face a face entre suscetível e doente.
Tem algum tratamento?
É transmissível de três dias antes até Apenas suporte. A vitamina A é reco-
quatro ou seis dias após o início do mendada para as crianças.
exantema.
Podemos evitar?
Quais são os dados clínicos mais mar-
cantes do quadro? Claro! A profilaxia pré-exposição é feita
com a vacinação.
Fase prodrômica: febre, conjuntivite
com fotofobia, tosse e manchas de Após a exposição (profilaxia pós-ex-
Koplik (patognomônico). posição):

Fase exantemática: exantema morbili-


• vacinação de bloqueio em até 72 horas;
forme com progressão craniocaudal. • imunoglobulina em até seis dias
(quando a vacina está contraindicada:
Fase de convalescença: descamação gestantes suscetíveis, imunodeprimi-
furfurácea. A tosse é a última mani- dos, menores de seis meses).

Introdução Quem é o agente causador?

O sarampo é uma doença altamente contagio- A doença é causada pelo vírus do sarampo,
sa e já foi uma das principais causas de óbito um vírus de RNA que pertence ao gênero
por doença infecciosa em nosso meio, sobre- Morbillivirus da família Paramyxoviridae. Os
tudo nos menores de cinco anos. Basta você humanos são os únicos hospedeiros naturais
conversar com indivíduos uma geração acima deste agente. O vírus contém algumas pro-
da sua e você vai ter a certeza de que o saram- teínas estruturais principais, sendo que duas
po era uma “experiência universal” na infância delas (a proteína de fusão e a hemaglutinina,
até pouco tempo. Muito embora o tema surja F e H, respectivamente) são as mais impor-
com frequência nas provas de residência, é tantes na indução da resposta imune. Os
possível que você não atenda um só caso se- anticorpos neutralizantes produzidos pelo
quer ao longo de toda a sua vida médica. Ainda organismo infectado conferem imunidade
assim, é uma condição que sempre deve ser duradoura e são dirigidos principalmente
lembrada durante o atendimento a uma criança contra a proteína H.
com exantema e febre. Em 2014 e 2015 tive-
mos centenas de casos confirmados da doen-
ça, principalmente em Pernambuco e no Cea- Epidemiologia
rá (se você é de uma dessas regiões, é bem
provável até que tenha visto um desses casos A vacinação contra o agente mudou drastica-
e percebeu que é impossível esquecer como é mente a história desta condição e a transmissão
a doença). O último caso no Ceará ocorreu em endêmica do vírus já foi interrompida em vários
julho de 2015 e, no ano de 2016, a Organização países. Infelizmente, o sarampo continua sen-
Pan-Americana de Saúde conferiu ao Brasil o do responsável por um inaceitável número de
certificado de eliminação da doença. óbitos em algumas áreas do mundo.

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As estratégias de vacinação responsáveis por gem recente para o exterior ou de contato com
essa mudança no perfil epidemiológico da alguém oriundo do exterior!
doença incluem o uso da vacina de rotina na
rede básica de saúde, a adoção do bloqueio RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
vacinal pós-exposição e a vacinação indiscri- PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG
minada em campanhas de seguimento. A atual Turista oriundo da Europa está em visita ao
vacina disponibilizada em nossa rede pública Brasil há 02 meses, sendo que há 05 dias
é composta por um agente vivo atenuado e iniciou com sintomas catarrais, evoluindo com
será estudada mais profundamente na apos- sinal de Koplik e exantema maculopapular
tila de imunizações. cefalocaudal. Mediante a suspeita de saram-
po, é ERRADO afirmar que:
Você sabe o que é um caso autóctone de sa- a) Deve-se providenciar o isolamento do
rampo? Após um caso de sarampo ser confir- paciente.
mado, deve ser feita a sua classificação de b) Faz-se necessário iniciar bloqueio vacinal,
acordo com a fonte de infecção. As possíveis abrangendo as pessoas do mesmo domicílio,
classificações são as seguintes: sala de trabalho, etc.
c) Trata-se de um caso alóctone (importado
• Caso importado: caso cuja infecção ocor- de outra localidade onde ocorreu a doença).
reu fora do país durante os 14 a 23 dias d) Trata-se de um caso autóctone (oriundo do
prévios ao surgimento do exantema, de mesmo local onde ocorreu a doença).
acordo com a análise dos dados epidemio-
lógicos ou virológicos. Questão que poderia estar na prova de
preventiva ou de pediatria. Você ainda não
• Caso relacionado com importação: quan- aprendeu a reconhecer a doença, mas a
do a infecção foi contraída localmente, suspeita já está estabelecida no próprio
como parte de uma cadeia de transmissão enunciado. Ainda vamos falar sobre as me-
originada de um caso importado. didas de proteção, que incluem o isolamento
do paciente e o bloqueio vacinal, descritas
• Caso com origem de infecção desconhe- nas opções A e B. Perceba que as opções
cida: como sugerido pela denominação, é C e D se opõem e, evidentemente, a nossa
o caso em que não foi possível estabelecer resposta deverá ser uma das duas. O caso
a origem da fonte de infecção. alóctone é um caso detectado em um local
diferente daquele onde ocorreu a transmis-
• Caso índice: é o primeiro caso ocorrido en- são, exatamente como descrito na opção
tre vários casos de natureza similar e epide- C (o caso importado seria um tipo de caso
miologicamente relacionados, encontrando- alóctone). Como o turista é oriundo da Eu-
-se a fonte de infecção no território nacional. ropa, poderíamos pensar que estivéssemos
diante de um caso desta natureza. Porém,
• Caso secundário: é um caso novo, a partir cuidado: ele já está no Brasil há dois meses.
do contato com o caso índice. O período de incubação da doença é muito
menor do que esse, ou seja: a infecção foi
• Caso autóctone: é o primeiro caso identi- adquirida aqui (a banca quer a afirmativa er-
ficado após a confirmação da cadeia de rada, por isso a resposta é a letra C). É claro
transmissão sustentada (o vírus deve circu- que para termos certeza de que o caso é
lar no país por mais de 12 meses, em uma autóctone teríamos que fazer a identificação
mesma cadeia de transmissão). do vírus e obter mais dados sobre a cadeia
epidemiológica, além de verificarmos que há
Aceita-se que o último caso autóctone de sa- circulação do vírus por mais do que 12 me-
rampo no Brasil tenha ocorrido em 2000, no ses... Porém, não vamos brigar com a ques-
Mato Grosso do Sul. Ainda assim, tivemos a tão por isso. Resposta: letra C.
confirmação de centenas de casos em território
nacional desde então. Entre dezembro de 2013
e meados de 2015, foram confirmados 916 Patogênese
casos apenas no estado do Ceará, sendo que
foram notificados mais de 4.000 casos suspei- Sabemos que você fica tentado a pular este
tos. Após dez semanas sem a identificação de trecho, mas a compreensão da sequência de
nenhum novo caso, considerou-se este surto eventos patogenéticos nos ajudará a entender
encerrado em 24 de setembro de 2015. o quadro clínico. A doença evolui em quatro
fases: incubação, prodrômica, exantemática
De todo modo, fica o alerta: muito embora o e de convalescença.
sarampo seja uma doença considerada elimi-
nada no Brasil, não podemos relaxar. O inten- • Período de incubação: o período de incuba-
so fluxo de viajantes internacionais torna obri- ção dura entre 8 e 12 dias e, nesta fase, não
gatório o rigor nas estratégias de vigilância há manifestações clínicas. O vírus penetra na
epidemiológica para rápida detecção dos casos mucosa conjuntival ou do trato respiratório e
e adoção de medidas específicas de controle. migra em direção aos linfonodos regionais;
segue-se a primeira viremia, com dissemina-
E qual é a importância disso na prova? Fique ção para o sistema reticuloendotelial. A segun-
atento, pois é comum termos no enunciado de da viremia espalha o vírus pelas superfícies
uma questão sobre sarampo a história de via- corporais, dando início à fase prodrômica.
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• Fase prodrômica: é nesta fase que come- cisa estar face a face com o indivíduo infectado
ça a ocorrer a replicação do vírus em todas para ser contaminado. Como o vírus permane-
as células do corpo, inclusive no sistema ce suspenso no ar mesmo após a saída do
nervoso central. Agora, terá início o proces- doente daquele ambiente, basta você adentrar
so de necrose do epitélio, multiplicação viral no local em que esteve o paciente infectado
e formação das células gigantes. A infecção que você poderá contrair a infecção! É também
de toda a mucosa respiratória será a res- por esse motivo que os pacientes internados
ponsável pela coriza e tosse classicamente com sarampo devem ser mantidos em precau-
encontradas na doença. Será nesta fase que ção de contato aéreo.
o paciente começará a eliminar o vírus, an-
tes mesmo que você suspeite que esteja Cerca de 90% dos indivíduos susceptíveis que
diante de um caso de sarampo. se expõe ao vírus irão adquirir a doença. A sus-
cetibilidade ao vírus na população não vacinada
As células infectadas se fundem e dessa é geral, ou seja, os indivíduos que não foram
fusão surgem células gigantes multinuclea- vacinados, não tiveram a doença ou não rece-
das. Essas células são patognomônicas do beram anticorpos passivamente têm alto risco
diagnóstico de sarampo e recebem o nome de desenvolver o quadro. A primeira dose da
de células gigantes de Warthin-Finkeldey vacina é habitualmente administrada com 12
(FIGURA 1), quando encontradas no siste- meses de idade. Nos primeiros meses de vida,
ma reticuloendotelial, ou células epiteliais os filhos de mulheres que tenham tido sarampo
gigantes, quando encontradas no epitélio ou que tenham sido vacinadas possuem anti-
respiratório e outras superfícies epiteliais. corpos que foram transmitidos por via transpla-
centária. Essa proteção é apenas temporária,
Um dado importante é que o vírus do saram- pois o recebimento passivo de anticorpos não
po infecta os linfócitos T CD4+, o que resulta desencadeia uma memória imunológica.
na supressão da resposta imune Th1 e outros
efeitos imunossupressores.
Clínica
• Fase exantemática: o surgimento do exan-
tema coincide com o surgimento de anticor- Este agora é, sem sombra de dúvidas, o pon-
pos séricos. Por isso ocorre uma diminuição to mais importante, pois daqui sairá a maioria
progressiva dos sintomas após o início da das questões sobre o tema. O paciente com
erupção cutânea. sarampo parece apresentar uma doença gra-
ve. Alguns descrevem esse doente como “um
paciente que se sente miserável”!

Seguindo nossa proposta de estudo das doen-


ças exantemáticas, vamos separar as mani-
festações que serão encontradas em cada
uma das fases da doença. Observe, antes
disso, a FIGURA 2. Ela ilustra o que ocorre
após o término do período de incubação e nos
mostra como as diversas manifestações clíni-
cas se correlacionam temporalmente.
Figura 1: Sarampo – células gigantes de
warthin-finkelday.

Transmissão

Já vimos que a transmissão começa ainda na


fase prodrômica. O período de transmissibili-
dade se inicia cerca de três dias antes da
erupção cutânea e vai até quatro/seis dias
após seu início, sendo que a transmissão é
mais intensa de dois dias antes até dois dias
após o início do exantema. Guarde esse pe-
ríodo como uma referência geral, pois, como
vimos lá na introdução, encontramos algumas Figura 2: Sinais e sintomas no sarampo.
diferenças na literatura. Um dado de funda-
mental importância prática é que os pacientes
imunodeprimidos podem eliminar o vírus du- Fase Prodrômica
rante toda a duração da doença.
Essa fase dura poucos dias (entre dois e
A entrada do vírus no organismo ocorre pela quatro). Basta que você se lembre da agres-
mucosa do trato respiratório e conjuntiva. O são que o vírus promove na mucosa respira-
vírus é transmitido pelo indivíduo infectado tória e será fácil lembrar dos sintomas encon-
através de gotículas de secreção respiratória trados. O sarampo é a doença exantemática
ou por pequenas partículas de aerossol que o que tem os pródromos mais ricos e bem ca-
mantém em suspensão no ar por até uma hora. racterizados e que, justamente por isso, cer-
Percebeu a implicância disso? Você não pre- tamente estarão descritos nos casos clínicos.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 16

• Febre: a elevação da temperatura é progres- RESIDÊNCIA MÉDICA - 2016


siva e atinge seu máximo no início do exan- UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MA-
tema (no 2o ou 3o dia), decaindo progressiva- RIA - RS
mente a partir daí. Analisando a FIGURA 2, Criança de 9 meses apresentou febre, hipe-
você já tinha percebido essa relação. Repare remia conjuntival bilateral com intensa fotofo-
como a temperatura vai subindo e, após a bia, rinorreia e tosse por dois dias. Ao ser
erupção, vai, pouco a pouco, caindo. examinada no terceiro dia do início dessas
manifestações, estava com 39ºC de tempera-
• Conjuntivite: a conjuntivite pode ser en- tura, prostrada e chorosa. Na orofaringe, na
contrada em outras doenças exantemáticas, parede interna das bochechas e na altura dos
mas a conjuntivite no sarampo é tão intensa pré-molares, apresentava pontos esbranqui-
que chega a estar associada com fotofobia. çados sobre uma superfície hiperemiada. Sem
É uma conjuntivite tipicamente não purulen- outros achados. O diagnóstico mais provável
ta. Veja a imagem na FIGURA 3. desse lactente é:
a) Dengue.
• Tosse: a tosse é bastante intensa e é um b) Sarampo.
sintoma marcante do sarampo. c) Herpangina.
d) Doença de Kawasaki.
• Manchas de Koplik: o sarampo tem um e) Febre faringoconjuntival por enterovírus.
enantema patognomônico, que são as man-
chas de Koplik (FIGURA 4). Se esse sinal Este enunciado nos apresenta duas infor-
estiver bem caracterizado, podemos pensar mações importantes para pensarmos em sa-
no diagnóstico mesmo antes da fase exan- rampo: 1) a idade de 9 meses, anterior à
temática. As manchas de Koplik surgem época preconizada para a primeira dose da
entre um e quatro dias antes do exantema vacina contra sarampo; 2) a presença do sinal
e consistem em pequenas manchas bran- patognomônico da doença, que são as man-
coazuladas com 1 mm de diâmetro e halo chas de Koplik. Como acabamos de ver, os
eritematoso. São tipicamente identificadas pródromos dessa condição são bastante ricos
na mucosa jugal, na altura dos pré-molares. e estão todos aí descritos: a conjuntivite com
Podem se disseminar por toda a cavidade fotofobia, a tosse. Uma curiosidade: a mesma
oral e também podem ser identificadas na questão já havia aparecido em um concurso
conjuntiva e mucosa vaginal. de 2015 do mesmo Estado! Resposta: letra B.

Fase Exantemática

O exantema típico dura em torno de cinco dias.


Você está lembrado das perguntas que sem-
pre devemos fazer para caracterizá-lo?

Qual é o aspecto das lesões? A erupção cutâ-


nea consiste em lesões maculopapulares
eritematosas, que são facilmente perceptíveis,
com áreas de pele sã de permeio, podendo
confluir em algumas áreas. Esse exantema é
chamado de morbiliforme. Veja a FIGURA 5:
não há qualquer dúvida de que o paciente
Figura 3: Sarampo – conjuntivite não pu- apresenta um exantema.
rulenta com fotofobia.

Figura 5: Exantema morbiliforme no sa-


rampo.

Como essas lesões progridem? Essa erupção


tem algumas peculiaridades: tem progressão
Figura 4: Manchas de Koplik – achado craniocaudal lenta e começa na fronte (pró-
patognomônico no sarampo.
ximo à linha de implantação capilar), na re-
gião retroauricular e na nuca. As lesões
Veja como é possível estabelecermos o progridem para o tronco e atingem as extre-
diagnóstico provável mesmo antes do apa- midades no terceiro dia da fase exantemática.
recimento do exantema. Em até 50% dos casos pode ocorrer o aco-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 17

metimento da região palmoplantar. A con- para o centro do corpo. A pneumonia com


fluência das lesões costuma ocorrer na face derrame pleural era uma complicação frequen-
e porção superior do tronco. te nos casos.

Fase de Convalescença ou Remissão Infecção Inaparente ou Modificada

O que ocorre quando essas lesões desapare- Os indivíduos que tenham recebido passiva-
cem? Ocorre descamação! O exantema ad- mente anticorpos contra o sarampo (lacten-
quire aspecto acastanhado e desaparece na tes, por via transplacentária, e receptores de
mesma sequência em que surgiu, dando lugar hemoderivados) ou que tenham recebido a
a uma fina descamação da pele, com aspecto própria vacina podem apresentar uma forma
furfuráceo (“semelhante a farelo”), como mos- subclínica da doença quando infectados pelo
trado na FIGURA 6. vírus selvagem. Nesses casos, o tempo de
incubação é maior e os pródromos e o exan-
tema são mais leves. Esses pacientes não
Sarampo = febre elevada, são capazes de eliminar o vírus e infectar os
manchas de Koplik, coriza, contactantes intradomiciliares.
conjuntivite e tosse;
exantema morbiliforme com Veja agora as próximas questões, que fo-
início retroauricular. ram selecionadas por serem emblemáticas
e representativas do quadro clínico que vai
surgir na sua prova.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014


HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE TAUBATÉ
– SP
Paciente de 5 anos que não recebeu as imu-
nizações do Calendário Básico do Ministério
da Saúde apresenta, há 3 dias, febre alta,
tosse seca com coriza hialina, mal-estar, olhos
hiperemiados com lacrimejamento e fotofobia.
Inicia exantema maculopapular atrás do pavi-
lhão auricular, disseminando-se rapidamente
para pescoço, face, tronco e extremidades,
acompanhado de febre, toxemia e rinorreia. A
principal hipótese diagnóstica é
a) Dengue.
Figura 6: Sarampo – descamação furfu- b) Rubéola.
rácea.
c) Sarampo.
d) Roséola.
Despeça-se da FIGURA 2 e observe que a e) Eritema infeccioso.
tosse é o último sintoma a desaparecer.
Veja só que interessante: a banca informa
A linfadenomegalia está descrita em casos que este paciente não recebeu as vacinas do
mais graves e é mais proeminente na região Calendário Básico do Ministério da Saúde.
occipital e cervical. Preste atenção na seguinte dica: sempre que
essa informação for fornecida, pense que esta
é uma primeira pista para pensarmos que
Outras Apresentações nosso paciente tem uma doença que poderia
ter sido evitada caso tivesse recebido as va-
A forma clássica, que acabamos de ver, é a cinas apropriadas. Porém, mesmo que tal
grande vedete das questões. Porém, quere- informação não tivesse sido fornecida, não
mos que você conheça também outras formas teríamos como ter dúvidas: estamos diante
clínicas, que podem surgir principalmente na de um caso de sarampo. Perceba como en-
forma de questões conceituais. Veja quais são. contramos alterações características da fase
prodrômica, como a tosse e a conjuntivite com
Sarampo Atípico fotofobia. Além disso, o exantema também
teve início em uma topografia bem típica des-
Consistia em uma forma mais grave da doen- ta moléstia, que é a região retroauricular. É
ça que ocorria em indivíduos que receberam verdade que a progressão do exantema no
uma antiga vacina inativada contra o sarampo sarampo não costuma ser rápida. Ainda as-
e eram posteriormente infectados pelo vírus sim, este continuará sendo o principal diag-
selvagem. A evolução da doença nesses pa- nóstico para esta criança. Resposta: letra C.
cientes era diferente. O quadro incluía febre
alta e cefaleia, seguido pelo aparecimento de
exantema maculopapular nas extremidades. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
Este exantema tornava-se petequial ou pur- HOSPITAL SÃO JOSÉ DE JOINVILLE – SC
púrico e sofria progressão centrípeta, isto é, Doença infecciosa aguda, de natureza viral,
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 18

transmissível e extremamente contagiosa. No - a piora dos sintomas coincidindo com o sur-


início da doença surge febre, acompanhada gimento do exantema;
de tosse produtiva, corrimento seromucoso - o início típico na região retroauricular.
do nariz, conjuntivite e fotofobia. Nas últimas Não bastasse tudo isso, ainda há ausência da
24 horas deste período surge, na altura dos vacina tríplice viral. Ainda que devamos sus-
pré-molares, o sinal de Koplik – pequenas peitar de sarampo mesmo em um indivíduo
manchas brancas com halo eritematoso, con- vacinado, a falta da vacina é um dado a mais
sideradas sinal patognomônico de: para corroborar nossa hipótese Resposta:
a) Sarampo. d) Eritema infeccioso. letra A.
b) Rubéola. e) Eritema súbito.
c) Escarlatina.
Avaliação Complementar
Questão bastante objetiva, que poderia ser
acertada somente pela descrição de “sinal de A avaliação inespecífica pouco ajuda e o que se
Koplik, patognomônico de”... Sarampo. No observa é uma redução global da leucometria,
enunciado, estão descritos os sinais e sinto- mais acentuada na linhagem linfocitária. As
mas da fase pré-exantemática ou prodrômica provas de atividade inflamatória, como a VHS
do sarampo. Nesta fase, o paciente apresen- e a proteína C reativa são normais, a menos
ta febre acompanhada de tosse produtiva, que exista alguma complicação bacteriana.
coriza, conjuntivite e fotofobia. As manchas de
Koplik são o sinal patognomônico do sarampo
e aparecem de um a quatro dias antes do iní- Detecção de Anticorpos
cio do exantema. Surgem inicialmente discre-
tas lesões branco azuladas sobre a mucosa O diagnóstico laboratorial pode ser estabelecido
jugal. Elas podem se espalhar para envolver pela detecção de anticorpos IgM no sangue, na
os lábios, palato duro e gengiva, também po- fase aguda da doença. A IgM costuma ser iden-
dendo ocorrer nas dobras da conjuntiva e na tificada entre um e dois dias após o início do
mucosa vaginal. Resposta: letra A. exantema e permanece elevada por até um mês.
Quando a coleta é feita nas primeiras 72 horas
após o início do exantema e o resultado é ne-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 gativo, deve ser solicitada uma nova amostra.
FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA Os anticorpos específicos da classe IgG também
UNICAMP podem eventualmente aparecer na fase aguda
Menino, 12a, chegou de viagem internacional da doença e são detectados por muitos anos
há 9 dias. Refere mal estar, febre alta, tosse após a infecção. Existem diversas técnicas la-
seca, coriza e lacrimejamento com fotofobia boratoriais para a identificação desses anticor-
há 3 dias. Há 30 horas piorou a prostração, pos, mas o método mais utilizado é a técnica
queixou-se de dor abdominal e vermelhão ELISA. O Ministério da Saúde reitera a impor-
atrás da orelha que se estendeu para face e tância de se assegurar a coleta de amostra de
tórax. Antecedentes pessoais: negativos. Va- caso suspeito, sempre que possível, no primei-
cinação: BCG = 1 dose, hepatite B = 3 doses, ro atendimento. Veja qual o roteiro de investiga-
poliomielite oral = 3 doses (1 de campanha), ção proposto pelo Ministério (FIGURA 7), mas
tetra bacteriana = 3 doses, DPT = 1 dose. não se canse tentando memorizá-lo! Foi coloca-
Exame físico: regular estado geral, T = 39,1ºC, do aí apenas para consultas futuras.
FC = 100 bpm, FR = 30 irpm, linfonodos cer-
vicais pouco aumentados, exantema maculo- Isolamento Viral
papular, eritematoso nas regiões retroauricu-
lares, face e tronco; intensa hiperemia con- Além da identificação dos anticorpos, o diag-
juntival com lacrimejamento constante e foto- nóstico específico também pode ser feito pelo
fobia; presença de enantema oral com peque- isolamento das próprias partículas virais de
nas lesões leucoplásicas com halo eritema- espécimes como sangue, secreções respira-
toso em região gemiana, na altura dos pré- tórias e urina. Devem ser coletados espécimes
molares. A PRINCIPAL HIPÓTESE DIAG- clínicos para a identificação viral, com o intuito
NÓSTICA É: de se conhecer o genótipo do vírus, diferenciar
a) Sarampo. c) Doença de Kawasaki. caso autóctone de importado e vírus selvagem
b) Dengue. d) Sífilis secundária. do vacinal.

Nossos pacientes andam viajando muito! Detecção Molecular


Temos uma doença exantemática bem carac-
terizada, com a fase prodrômica e a fase É possível a detecção molecular do vírus
exantemática bem descritas. É claro que você por reação em cadeia de polimerase (PCR),
não teve a menor dificuldade em identificar o mas isso é usado apenas como ferramenta
diagnóstico de sarampo após tudo o que você de pesquisa.
acabou de ler. Mas, e na hora da prova? Quais
são os dados que merecem maior destaque:
- a história epidemiológica de viagem para o Complicações
exterior;
- a presença de um enantema patognomônico Temos certeza de que alguns acreditam que
– as manchas de Koplik (lesões leucoplásicas as doenças exantemáticas são “doenças bo-
– esbranquiçadas – na cavidade oral); bas” e que “é bom que todas as crianças te-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 19

nham logo”. O sarampo não pode de maneira ao aumento na morbimortalidade são as aglo-
alguma ser visto dessa forma. Mesmo nos merações, a desnutrição grave, a hipovitami-
países desenvolvidos, ocorre um óbito a cada nose A e os quadros de imunossupressão.
1000 casos da doença.
Lá na descrição da patogênese, tínhamos fa-
A morbidade e mortalidade são maiores nos lado sobre a agressão que o vírus promove na
menores de cinco anos (principalmente nos mucosa respiratória e sobre o sistema imune.
menores de um ano) e nos maiores de 20 As complicações secundárias ao sarampo são
anos. Os principais fatores de risco associados atribuídas principalmente a esses eventos.

Figura 7: Roteiro para confirmação ou descarte de caso suspeito de sarampo – ministério


da saúde, 2014.
Observações: a Em casos suspeitos com história de viagem e ou contato com caso confirmado, é imprescindível a
coleta de uma segunda amostra de soro para descartar um falso-negativo. b Casos soropositivos para IgM sem
segunda amostra de soro devem ser cuidadosamente interpretados e avaliados individualmente, considerando: tempo
da coleta da primeira amostra de soro em relação ao início do exantema; história vacinal; história de viagem a região
endêmica e/ou contato com caso confirmado; aspectos clínicos apresentados; e situação epidemiológica. Mais um
fator importante a ser considerado é a presença de outro diagnóstico diferencial, também merecedor de cuidadosa
análise e interpretação. c A avaliação do aumento do título de IgG nas amostras pareadas deve ser igualmente
individualizada e cuidadosa, considerando: história prévia de doenças imunológicas; intervalo de tempo da primeira
coleta para a segunda; e história de vacinação. São fatores capazes de interferir no aumento da carga de IgG,
impedindo que esta atinja um quantitativo quatro ou mais vezes maior.

Complicações no Trato Respiratório a analogia com o que você sabe sobre as


infecções respiratórias agudas de um modo
• Pneumonia geral (se ainda não sabe, saberá em poucas
semanas): qual é a complicação bacteriana
É a principal causa de morte no sarampo! mais comum das infecções das vias aéreas
O acometimento do pulmão pode ocorrer superiores? A otite média aguda, claro!
tanto pela ação lesiva do próprio vírus no
parênquima (pneumonia por células gigan- • Outras
tes) quanto por superinfecção bacteriana
(por S.pneumoniae, H.influenzae ou S.au- Bronquiolite, traqueíte, crupe, sinusite,
reus), que é favorecida pela lesão tecidual mastoidite... Todo o trato respiratório pode
provocada pelo vírus associada à depres- ser acometido.
são imunológica. A pneumonia grave pelo
sarampo pode levar ao desenvolvimento de
Sarampo x Tuberculose
bronquiolite obliterante.
Focos de tuberculose pulmonar podem
• Otite média aguda sofrer reativação com o sarampo, já que
a infecção pelo vírus leva à supressão da
É a complicação bacteriana mais comum imunidade celular. A prova tuberculínica
do sarampo! Respire e leia novamente: a do paciente infectado pode tornar-se tem-
principal causa de morte no sarampo é a porariamente não reatora. A vacina pode
pneumonia, mas a complicação bacteriana ter esse mesmo efeito.
mais frequente é a otite média aguda. Faça
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 20

Complicações no Trato Gastrointestinal do destruição neuronal, necrose e inflamação


progressivas. Os vírus identificados no sis-
• Diarreia e vômitos tema nervoso desses pacientes não apre-
sentam uma proteína estrutural (proteína M).
São manifestações comuns na evolução
do sarampo e podem levar à desidratação. As manifestações clínicas iniciam-se de forma
A análise da mucosa intestinal desses pa- insidiosa e a doença evolui em fases. No está-
cientes revela a formação de infiltrados de gio I, temos apenas mudanças súbitas de com-
células gigantes. portamento, que podem passar despercebidas.
O estágio II é marcado por mioclonias maciças,
• Apendicite decorrentes da extensão do processo inflama-
tório para estruturas mais profundas no sistema
Pode ocorrer por hiperplasia linfoide na muco- nervoso central, ainda com preservação da
sa local, com consequente obstrução luminal. consciência. Já no estágio III as mioclonias
desaparecem e são substituídas por movimen-
tos involuntários de coreoatetose, distonia e
Complicações no Sistema Nervoso Central rigidez em cano de chumbo. Os núcleos da
base estão profundamente destruídos e há de-
• Convulsões menciação progressiva, com redução do nível
de consciência, desde o estupor até o coma. O
Crises febris acontecem em menos de 3% estágio final, que é o estágio IV, é caracterizado
das crianças com sarampo. pela lesão dos centros de regulação da frequên-
cia respiratória, cardíaca e pressão arterial no
• Encefalite tronco encefálico. É a fase da disautonomia e
prediz a morte iminente. Praticamente todos os
A encefalite é uma complicação grave, pacientes irão a óbito em um período de um a
que tem um prognóstico desfavorável. Os três anos, seja por infecção ou por perda dos
adolescentes e adultos jovens são os mais mecanismos de controle autonômico.
acometidos e há relatos de incidência de até
1-3 casos a cada 1000 indivíduos infectados. Para o diagnóstico, é necessário que, além do
Quinze por cento dos pacientes com encefa- quadro clínico compatível, haja a presença de
lite morrem, e entre 20 e 40% permanecem mais um dos achados a seguir: 1) anticorpos
com sequelas em longo prazo. Acredita-se antissarampo no liquor; 2) achados caracterís-
que o quadro seja uma complicação pós-in- ticos no eletroencefalograma (no estágio I o EEG
fecciosa, mediada imunologicamente, ou é normal, mas no estágio II há padrão de surto-
seja, não decorra da agressão direta do vírus -supressão); ou 3) achados histopatológicos ou
ao sistema nervoso central. As manifestações detecção do vírus/antígeno em espécimes de
clínicas surgem ainda na fase exantemática tecido cerebral biopsiado ou post mortem.
e incluem convulsões, letargia, irritabilidade
e coma. A análise do liquor revela pleocitose O tratamento consiste basicamente em su-
linfocítica e aumento da proteinorraquia. porte, como em diversas doenças neurode-
generativas. Ensaios clínicos comparando o
Os pacientes imunocomprometidos podem uso de isoprinosine, com ou sem interferon,
apresentar lesão do parênquima cerebral mostraram haver benefícios em comparação
pela ação viral específica. Estes pacientes a grupos sem tratamento. A carbamazepina
podem apresentar um quadro subagudo, pode ser usada para controle das mioclonias
com o início das manifestações neurológicas nos estágios iniciais da doença.
um a dez meses após a primoinfecção. Esse
quadro é progressivo e fatal. Os relatos de ocorrência do quadro em pa-
cientes que não tiveram a infecção, mas que
• Panencefalite esclerosante subaguda receberam a vacina contra sarampo, já gera-
ram muitas preocupações. Porém, acredita-se
Esta complicação merece um destaque es- que, na verdade, esses pacientes tenham tido
pecial. A Panencefalite Esclerosante Suba- infecção subclínica antes de terem recebido
guda (PEES) é uma rara doença neurode- a vacina, pois é o vírus selvagem, e não o
generativa crônica e fatal, que ocorre cerca vírus vacinal, que é encontrado no tecido ce-
de sete a dez anos após a infecção pelo rebral nesses casos.
vírus do sarampo. Ocorre principalmente
em crianças que tenham tido a infecção Outras Complicações
antes dos dois anos de idade.
• Sarampo hemorrágico/Sarampo negro:
A patogênese da PEES é bastante complexa
e parece envolver uma combinação de fato- Frequentemente fatal. Cursa com lesões
res do hospedeiro (imaturidade imunológica) hemorrágicas na pele e trombocitopenia.
e fenômenos de replicação viral. O que ocor-
• Miocardite.
re nesses casos é que, após entrar no orga-
nismo, o vírus se torna capaz de residir e se • Infecção na gravidez:
propagar dentro dos neurônios durante mui-
tos anos. Em um determinado momento, as Está associada à alta morbidade na gestante,
partículas virais voltam a se reativar, causan- abortamento, prematuridade e natimortos.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 21

Tratamento As gotículas são geradas durante a tosse, es-


pirros, aspiração de secreções ou realização
Não há tratamento específico. A internação de procedimentos, e durante a simples con-
hospitalar está indicada nos casos graves. As versação com a fonte. Essas partículas gera-
medidas de suporte incluem hidratação ade- das podem alcançar a distância de um metro.
quada, uso de antipiréticos (como acetami- Já a transmissão aérea se estabelece quando
nofeno; dipirona), uso de oxigênio umidifica- os micro-organismos estão em pequenas partí-
do (para os pacientes com comprometimento culas suspensas no ar ou em gotículas evapo-
respiratório) e suporte ventilatório nos casos radas que permanecem suspensas no ar por
graves. Não é recomendado o uso de antibio- mais tempo. Essas partículas podem “viajar”
ticoterapia profilática. distâncias bem maiores e se disseminam por
correntes de ar. As principais doenças conside-
A ribavirina tem efeito in vitro contra o saram- radas de transmissão aérea são a tuberculose
po. O seu uso, com ou sem gamaglobulina pulmonar e laríngea, o sarampo e a varicela.
associada, parece ter benefício em alguns Assim, além das medidas de precaução
casos, mas não é licenciada nos EUA para padrão usadas para todos os pacientes in-
esse fim. ternados, as precauções adotadas para a
transmissão aérea em ambiente hospitalar
A única droga realmente utilizada é a vitamina são as seguintes:
A. A hipovitaminose A é um reconhecido fator • Internação em quarto privativo e, se possível,
de risco para a doença e o uso da vitamina é com ventilação especial (pressão negativa e
capaz de promover a redução da morbidade filtro). Os pacientes com a mesma doença
e mortalidade do sarampo. podem dividir o mesmo quarto (exceto os pa-
cientes com tuberculose multirresistente).
A Organização Mundial de Saúde recomenda • Manutenção das portas e janelas fechadas.
que se administre a vitamina A em todas as • Utilização de máscara (N95) ao entrar no
crianças em duas doses (no mesmo dia do diag- quarto. As pessoas sabidamente imunes
nóstico e no dia seguinte) da seguinte forma: para varicela e sarampo não necessitam uti-
lizar a máscara.
• Crianças < 6 meses: 50.000 UI em cada Na precaução de transmissão por gotículas,
dose. além das medidas de precaução padrão, os
cuidados adotados são os seguintes:
• Crianças 6-12 meses: 100.000 UI em cada • Internação em quarto privativo durante o pe-
dose. ríodo das precauções para crianças em en-
fermarias de pediatria. Para recém-nascidos
• Crianças > 12 meses: 200.000 UI em cada o quarto privativo pode ser substituído por in-
dose. cubadora, mantendo-se distância mínima de
um metro entre um leito e outro.
A dose de vitamina A é novamente repetida • Utilização de máscara comum ao entrar no
após quatro semanas nas crianças com alte- quarto.
rações oftalmológicas que indiquem a carência
dessa vitamina.

Pré-exposição
Prevenção
A infecção é evitada pela vacinação. A vacina
O paciente infectado deve evitar o contato contra sarampo disponibilizada na rede públi-
com os suscetíveis até quatro/seis dias após ca de saúde pelo Programa Nacional de Imu-
o início do exantema, lembrando que o tem- nizações faz parte da vacina tríplice viral e da
po de eliminação do vírus pode ser mais vacina tetraviral, compostas por vírus vivos
prolongado no imunodeprimido. Quando atenuados. Essas vacinas fazem parte do
internado, o paciente deve ser mantido em Calendário Básico de Imunização da Criança
precaução para transmissão aérea. No pla- e são administradas, respectivamente, aos 12
no individual, o isolamento domiciliar ou e aos 15 meses. Adolescentes e adultos não
hospitalar dos casos consegue diminuir a vacinados recebem a vacina tríplice viral. Por
intensidade dos contágios. Esse impacto é ora é o que você precisa saber, pois voltare-
relativo, pois a transmissão já estava ocor- mos a falar sobre essa esse tópico em algu-
rendo desde a fase prodrômica. mas semanas.

Eu poderei pensar em sarampo mesmo quan-


saiba mais!
do estiver diante de um indivíduo vacinado?
Quais são as diferenças Claro! Não só poderá, como deverá pensar
entre as precauções para neste diagnóstico sempre que estiver diante
transmissão aérea e a de um paciente que apresente um quadro
transmissão por gotículas? clínico compatível. Porém, na prova, é co-
A transmissão de um micro-organismo em am- mum a descrição de uma situação vacinal
biente hospitalar pode ocorrer de diversas for- incerta como mais um dado para o diagnós-
mas: contato direto, gotículas, por via aérea, tico, como já vimos em uma questão nas
por meio de um veículo comum ou por vetores. páginas anteriores.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 22

Pós-exposição a) Vitamina A.
b) Vitamina B12.
E se um indivíduo não vacinado e que nunca c) Vitamina C.
teve a doença entrar em contato com um caso d) Vitamina E.
de sarampo, não podemos fazer nada? Claro
que podemos! A adoção das medidas de con- Não é recomendada nenhuma terapêutica
trole dos comunicantes suscetíveis é uma das antiviral específica nos casos de sarampo. Po-
estratégias de vigilância epidemiológica para rém, sabe-se que a hipovitaminose A é um re-
consolidar a erradicação do sarampo. conhecido fator de risco para a doença, e o uso
da vitamina é capaz de promover a redução da
Vacinação de Bloqueio – até 72h! morbidade e mortalidade do sarampo. Por esta
razão, a Organização Mundial de Saúde reco-
Após a notificação de um caso suspeito, a ação menda que se administre a vitamina A em todas
de bloqueio vacinal seletivo (vacinação dos as crianças em duas doses (no mesmo dia do
suscetíveis) deve ser desencadeada imediata- diagnóstico e no dia seguinte). A dose será re-
mente e deve abranger as pessoas do mesmo petida após quatro semanas nas crianças com
domicílio do caso suspeito, vizinhos próximos, alterações oftalmológicas que indiquem a carên-
creches, ou, quando for o caso, as pessoas da cia dessa vitamina. Resposta: letra A.
mesma sala de aula, do mesmo quarto de alo-
jamento ou da sala de trabalho. A faixa etária
prioritária para ações de bloqueio vacinal é RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
entre seis meses e 39 anos de idade. A vacina SELEÇÃO UNIFICADA PARA RESIDÊNCIA
não é administrada nos menores de seis me- MÉDICA DO ESTADO DO CEARÁ
ses. Um cuidado que você deve ter aqui é o A mãe de uma criança de dois anos de idade
seguinte: caso uma criança com idade entre relata ao médico que sua filha esteve há cinco
seis meses e um ano receba essa vacina, esta dias, por quatro horas, em convívio próximo com
dose não deve ser considerada como dose de uma colega de creche da mesma idade, que no
rotina. Assim, essa criança irá receber as duas momento atual está com sarampo. Qual medida
doses do calendário básico normalmente. de proteção deve ser aplicada?
a) Vacina de vírus atenuado contra o sarampo.
E, neste momento, você se pergunta: qual o b) Imunoglobulina humana normal.
sentido de vacinarmos um indivíduo que já foi c) Nenhuma medida é necessária.
exposto ao vírus? É fácil de entender. A vaci- d) Quarentena do comunicante.
na consegue desencadear a produção de
anticorpos no indivíduo em um tempo menor Como não poderia deixar de ser, o tema apa-
que o período de incubação da doença. É uma receu nos concursos do Ceará no final de 2014.
corrida contra o tempo. Por esse motivo, a Porém, a questão foi um tanto quanto problemá-
vacina deve ser administrada até 72 horas tica. Como acabamos de ver, existem duas
após a exposição. formas de profilaxia pós-exposição nos casos
de sarampo, que são o uso da vacina e o uso
Imunoglobulina – até 6 dias! de imunoglobulina. A vacinação de bloqueio é
uma atividade prevista pelo sistema de vigilância
A vacina contra sarampo é uma vacina de epidemiológica. Deve ser realizada até 72 horas
agente vivo atenuado e está contraindicada em após a exposição, daí a importância da notifica-
algumas situações. Uma alternativa para a ção imediata do caso suspeito de sarampo,
proteção dos pacientes que não podem receber como forma de garantir que seja feita a busca e
a vacina é o uso de imunoglobulina. O Ministé- identificação dos contactantes suscetíveis. A
rio da Saúde não se pronuncia sobre isso em imunoglobulina, por sua vez, pode ser adminis-
seus principais documentos, ainda que algu- trada até o sexto dia após a exposição e, desta
mas Secretarias de Saúde estaduais recomen- forma, pode prevenir ou modificar o curso da
dem esta medida. Encontramos em várias doença. Podemos encontrar a recomendação
fontes a recomendação da administração de de que essa intervenção seja recomendada para
imunoglobulina até seis dias após a exposi- os menores de seis meses, imunodeprimidos e
ção para os contactantes intradomiciliares grávidas, que são justamente aqueles indivíduos
susceptíveis menores de seis meses, gestantes que não podem receber a vacina tríplice viral,
e imunocomprometidos. por ser uma vacina de agente vivo. Voltemos ao
nosso caso. A exposição neste caso já ocorreu
há mais do que 72 horas e, por essa razão, a
Quer fixar o conceito? Leia os casos a seguir: profilaxia pós-exposição com a vacina torna-se
menos eficaz (não há garantia de que haverá
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 tempo para se imunizar o indivíduo em menor
HOSPITAL NACIONAL DO CÂNCER – RJ tempo do que o período de incubação da doen-
O sarampo é uma das doenças exantemáticas ça). Foi por esta razão que a banca recomendou
de maior morbimortalidade, especialmente em o uso da imunoglobulina, pois esta pode ser
desnutridos. Estudos atuais demonstraram que feita até cinco dias após a exposição. Qual é o
a suplementação de determinada vitamina no problema com a questão? Esta conduta não está
dia do diagnóstico pode reduzir a morbimortali- prevista nas publicações do Ministério da Saúde
dade dessa doença. Assinale abaixo a alterna- e nem nos documentos da Secretaria de Saúde
tiva que contém a vitamina indicada para suple- do Estado do Ceará. Para piorar a interpretação
mentação. do caso, sequer foi informado se esta criança
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 23

de dois anos era ou não suscetível. Lembre-se (opção C errada) após a exposição para os con-
de que aos dois anos é esperado que a criança tactantes intradomiciliares susceptíveis menores
já tenha recebido duas doses da vacina contra de seis meses, gestantes e imunocomprometidos
sarampo (a primeira aos 12 meses, na vacina (opção D errada). Resposta: letra A.
tríplice viral, e a segunda aos 15 meses, na va-
cina tetraviral). De todo modo, a resposta da
banca foi a letra B. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UFPE – PE
Yuri tem três anos de idade e teve recentemen-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 te uma doença exantemática de evolução febril
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO que foi diagnosticada como sarampo. O menor
PARANÁ – PR tem um irmão de quatro meses, e a genitora está
Com relação à prevenção do sarampo, podemos preocupada com o mesmo. A conduta indicada
afirmar que, em relação ao irmão de Yuri é:
a) Se a vacina com vírus vivo for administrada a) Imunoglobulina e vacina atenuada do sa-
dentro de 24 horas após a exposição ao contá- rampo.
gio, poderá evitar o aparecimento da doença. b) Descartar qualquer tipo de profilaxia.
b) Ultrapassado o prazo de 24 horas, após o c) Vacinar imediatamente com vírus atenuado
contágio, está contraindicada a vacinação. do sarampo.
c) O uso de gamaglobulina evita o aparecimen- d) Vacinação imediata com vírus morto do
to da doença, independente do tempo ocorrido sarampo.
desde a exposição. e) Imunoglobulina específica em dose única.
d) O uso da gamaglobulina está indicado so-
mente para crianças imunodeprimidas. Em relação à prevenção pós-exposição (de-
e) Como se trata de vacina com vírus, seu uso pois do contato com o vírus), existem duas
está contraindicado em desnutridos. possibilidades: vacina de bloqueio e imunoglo-
bulina. A vacina não pode ser administrada para
A vacinação de bloqueio deve ser realizada os menores de seis meses, como é o caso do
até 72 horas após a exposição ao caso suspeito irmão de Yuri. Uma alternativa para a proteção
e poderá evitar o desenvolvimento da doença dos pacientes que não podem receber vacina
(opção A correta e opção B errada). Por ser uma é o uso de imunoglobulina. Um único detalhe
vacina de agente vivo, a vacina contra sarampo em relação a esta questão é o seguinte: não é
está contraindicada em algumas situações, mas feito o uso de imunoglobulina específica, como
a desnutrição não é uma delas (opção E errada). indicado pela banca, mas sim de imunoglobu-
Encontramos em várias fontes a recomendação lina padrão. Ainda assim, a melhor resposta é
da administração de imunoglobulina até seis dias a letra E.

Antes de partirmos para o estudo das próximas doenças, vamos ver alguns conceitos apresen-
tados pelo Ministério da Saúde que eventualmente poderão ser cobrados.

DEFINIÇÕES DE CASO
Caso suspeito: todo paciente que, independente da idade e da situação vacinal, apresentar febre
e exantema maculopapular, acompanhados de um ou mais dos seguintes sinais e sintomas: tos-
se e/ou coriza e/ou conjuntivite; ou todo indivíduo suspeito com história de viagem ao exterior nos
últimos 30 dias ou de contato, no mesmo período, com alguém que viajou ao exterior.
(Perceba que mesmo os indivíduos vacinados podem ser considerados casos suspeitos da
doença).

Caso confirmado: todo paciente considerado como caso suspeito e que foi comprovado como
um caso de sarampo, a partir de, pelo menos, um dos critérios a seguir: 1) critério laboratorial;
2) critério de vínculo epidemiológico (quando o caso suspeito teve contato com um ou mais
casos de sarampo confirmados pelo laboratório e apresentou os primeiros sintomas da doença
entre sete e 18 dias da exposição ao contato).

Caso descartado: todo paciente que foi considerado como caso suspeito e que não
foi comprovado como um caso de sarampo, de acordo com os seguintes critérios:
1) critério laboratorial: resultado “não reagente” em amostra oportuna; ou caso sus-
peito sem contato com casos confirmados; ou caso suspeito de sarampo cujo exame
laboratorial teve como resultado outra doença; 2) critério de vínculo epidemiológico:
caso suspeito de sarampo que tiver como fonte de infecção um ou mais casos des-
cartados pelo critério laboratorial, ou quando na localidade estiver ocorrendo surto ou
epidemia de outras doenças exantemáticas febris, comprovadas pelo diagnóstico
laboratorial. Nessa situação, os casos devem ser criteriosamente analisados, antes
de serem descartados e a provável fonte de infecção deve ser especificada.
O descarte clínico representa uma falha do sistema de vigilância epidemiológica.

NOTIFICAÇÃO:
O SARAMPO É DOENÇA DE NOTIFICAÇÃO
OBRIGATÓRIA E IMEDIATA!
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 24

Leia agora as próximas questões para ter- se manter ativa a suspeição diagnóstica e as
minarmos de amarrar os conceitos. Mesmo medidas de bloqueio para evitar o retorno de
que as opções corretas estejam claras, re- casos autóctones no Brasil. Sobre o sarampo,
flita um pouco sobre cada uma delas. é correto afirmar:
a) É uma doença exantemática de pouca
transmissibilidade, desta forma, quase elimi-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 nada do mundo.
FACULDADE DE MEDICINA DE RP DA USP b) A doença apresenta pródromo característi-
– HC – SP co com febre, tosse produtiva, coriza, conjun-
Analisando aspectos epidemiológicos e da tivite e fotofobia.
prevenção do sarampo, assinale a alterna- c) O exantema característico é descrito como
tiva correta: morbiliforme, de distribuição centrífuga, com
a) O potencial epidêmico dessa doença é bai- posterior mudança de cor (acastanhado) e
xo, apesar de sua transmissão ocorrer por via descamação laminar.
respiratória. d) A vacina não se destina como forma profi-
b) As pessoas imunossuprimidas são espe- lática (bloqueio) após um contato inicial.
cialmente vulneráveis à pneumonite e ence- e) A sorologia IgM não reagente, coletada de
falite do sarampo, constituindo-se grupos forma precoce (1º dia de aparecimento do exan-
prioritários para a vacinação. tema), descarta um caso suspeito de sarampo.
c) Devido à ocorrência de casos da doença
em pessoas previamente vacinadas, atual- Essa questão é perfeita para encerrarmos
mente são recomendadas 2 doses da vacina a discussão, pois permite uma pequena re-
para efetiva proteção em qualquer faixa etária. visão de quase tudo. Lembre-se somente de
d) Apesar do Brasil ter controlado a livre cir- que ela é do ano de 2011 e, por isso, traz
culação do sarampo nos últimos 10 anos, informações desatualizadas no enunciado...
eventualmente o país importa o vírus de lo- A doença é causada pelo vírus do sarampo,
cais endêmicos. que apresenta uma alta transmissibilidade.
Cerca de 90% dos indivíduos susceptíveis
Vamos analisar cada uma das alternativas: expostos ao vírus irão adoecer; a transmis-
Opção A: errada, pois é uma doença de gran- são endêmica da doença foi interrompida
de potencial epidêmico e de alta contagiosi- em alguns países graças aos programas de
dade. É transmitida diretamente de pessoa a imunização (opção A errada). As manifesta-
pessoa, através das secreções nasofaríngeas, ções clínicas da doença se iniciam no perío-
expelidas ao tossir, espirrar, falar ou respirar. do prodrômico, com febre, tosse, conjuntivi-
Opção B: errada, pois a vacina contra o sa- te associada à fotofobia e o surgimento de
rampo está presente no calendário vacinal um enantema patognomônico, as manchas
para toda a população. Além disso, os imuno- de Koplik (opção B correta). O exantema é
deprimidos, como regra geral, não recebem maculopapular, com aspecto morbiliforme,
essa vacina, pois é uma vacina composta por tem distribuição craniocaudal e desaparece
um vírus vivo atenuado. sob a forma de uma descamação furfurácea,
Opção C: errada, após os 20 anos, é feita ape- não laminar (opção C errada). A vacinação
nas uma dose desta vacina. Fique tranquilo, de bloqueio pode ser instituída para os con-
pois ainda veremos isso em algumas semanas. tactantes do caso suspeito e deve ser admi-
Opção D: correta, sendo justamente este o nistrada nas 72 horas que se seguem à
motivo pelo qual não podemos relaxar com a exposição. A vacinação de bloqueio deve
nossa cobertura vacinal. Além disso, as cen- abranger as pessoas do mesmo domicílio
tenas de casos ocorridos nos últimos anos do caso suspeito, vizinhos próximos, cre-
nos mostram que não estamos tão livres as- ches, ou, quando for o caso, as pessoas da
sim... mesma sala de aula, do mesmo quarto de
Resposta: letra D. alojamento ou da sala de trabalho (opção D
está errada).
Talvez a opção E tenha te deixado em dúvi-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 da. Cuidado! Todo caso suspeito cujo exame
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UEL laboratorial teve como resultado “não rea-
Desde 2000, o Brasil interrompeu a circulação gente” ou “negativo para IgM”, em amostra
autóctone do sarampo. Em agosto de 2010, colhida logo após o início do exantema, deve
foram notificados no Brasil cinco casos impor- ser submetido à nova coleta.
tados da doença, mostrando a importância de Resposta: letra B.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 25

2. RUBÉOLA

Quem é o agente etiológico? papular róseo com progressão craniocau-


O vírus da rubéola pertence ao gênero Ru- dal; sinal de Forchheimer.
bivirus da família Togaviridae. Qual é a maior preocupação em relação a
Como e quando ocorre a transmissão? essa doença?

A transmissão ocorre pelas secreções na- A infecção durante a gestação pode acarre-
sofaríngeas dos infectados. tar na síndrome da rubéola congênita.

Maior transmissibilidade: de cinco dias an- Podemos evitar?


tes até seis dias após o início do exantema. Sim! Através da administração da vacina
pré-exposição.
Quais são os dados clínicos mais mar-
cantes do quadro? Quais são as possíveis complicações?
Na fase prodrômica: linfadenomegalia. Trombocitopenia, artrite e complicações
Na fase exantemática: exantema maculo- neurológicas.

Introdução pois o diagnóstico diferencial que devemos


estabelecer é com as outras infecções con-
A rubéola é uma doença que costuma ter gênitas, não com as doenças exantemáticas.
evolução benigna na infância. Pode lembrar
uma forma branda de um caso de sarampo,
um “sarampinho”, sendo também conhecida Patogênese
como “sarampo alemão”.
Os aspectos fisiopatológicos da rubéola não
Mas se a doença é branda, por que ouvimos são completamente conhecidos. O vírus entra
tanto falar sobre a importância da vacina no organismo através do epitélio respiratório,
contra rubéola? A grande preocupação re- dissemina-se pelos linfonodos regionais e daí
lacionada a esta infecção é com a síndrome ocorre a viremia com disseminação sistêmica.
da rubéola congênita. A infecção no início da Há inflamação linforreticular, infiltrado mono-
gestação é devastadora e pode acarretar em nuclear perivascular e infiltrado meníngeo.
abortamentos, natimortos ou malformações
congênitas graves.
Transmissão
Na era pré-vacinal, a rubéola era uma doença
mais comum em pré-escolares e escolares. A transmissão se dá através do contato com
Com a introdução da vacina, a maior incidên- as secreções nasofaríngeas provenientes
cia passou a ser verificada em jovens com do paciente infectado. O período de maior
mais de 19 anos. No ano de 2008, ocorreu no transmissibilidade vai de cinco dias antes
Brasil a maior campanha de vacinação contra até seis dias após o início do exantema,
rubéola já realizada no mundo, objetivando embora possa ocorrer eliminação do vírus
justamente imunizar os adultos. A cobertura por um período mais extenso. Mesmo os
vacinal geral foi de aproximadamente 95% da pacientes com infecção subclínica são ca-
população-meta e essa ação já teve impacto pazes de infectar os suscetíveis. Embora
sobre a epidemiologia da infecção desde en- não seja frequente, também é possível a
tão. Em todos os estados foram vacinados os transmissão indireta pelo contato com obje-
homens e mulheres com idade entre 20 e 39 tos contaminados com secreções nasofarín-
anos, e em alguns estados foram vacinados geas, sangue e urina.
também os com idade entre 12 e 19. Você
chegou a receber a vacina nessa ocasião?
Clínica
Graças a essas e outras medidas, no final de
2015 o Brasil recebeu o certificado de elimi- Mais uma vez, este é o principal tópico. É da-
nação da rubéola e da síndrome da rubéola qui que vai sair a sua questão.
congênita, conferido pela Organização Mun-
dial da Saúde. A doença pós-natal é leve e breve. Da mesma
maneira que ocorre com várias doenças virais,
Quem é o agente causador? o quadro nas crianças é mais leve do que o
encontrado nos adultos. As infecções subclí-
A doença é causada pelo vírus da rubéola, um nicas são bastante frequentes e até 25-40%
vírus de RNA do gênero Rubivírus da família das crianças não apresentam o exantema.
Togaviridae. O único reservatório é o homem.
O período de incubação dura em torno de 14
Falaremos neste capítulo apenas sobre a ru- a 21 dias e as manifestações clínicas, quando
béola pós-natal. A síndrome da rubéola con- surgem, distribuem-se em duas fases: prodrô-
gênita será vista no módulo de neonatologia, mica e exantemática.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 26

Fase Prodrômica co. Aqui na rubéola também temos alterações


características, embora não patognomônicas,
Os pródromos são mais comuns nos adoles- que são chamadas manchas de Forchheimer.
centes e adultos e costumam estar ausentes Estas manchas consistem em lesões puntiformes
nas crianças. Essa fase tem duração de pou- rosadas identificadas no palato mole e podem
cos dias e podemos encontrar sintomas ines- ser identificadas quando o exantema surge.
pecíficos, como febre baixa, dor de garganta,
conjuntivite, cefaleia, mal-estar e anorexia.
Para pensar em rubéola = doença leve
Esses sintomas vão desaparecendo aos pou-
com linfadenomegalia,
cos após o início do exantema.
especialmente suboccipital e
retroauricular, e exantema maculopapular
Porém, o que realmente nos ajuda, é a identi-
ficação de linfadenomegalia. As cadeias mais
acometidas são suboccipital, retroauricular e
cervical posterior. Veja a FIGURA 8, de um
paciente com a doença.

Figura 9: Exantema da
rubéola.

Veja se não é fácil identificar os termos-


-chaves nos enunciados...

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016


Figura 8: Rubéola – Linfade- ALIANÇA SAÚDE – PR
nomegalia retroauricular. Criança de 10 anos com febre, hiperemia con-
juntival, adenomegalias retroauriculares e que,
Uma informação curiosa, para não dizer estra- 48 horas após, desenvolve um exantema dis-
nha, é que a principal referência dos concursos creto na face e no pescoço. A hipótese diag-
pediátricos, o livro Nelson Textbook of Pediatrics nóstica é:
(20th ed.), indica que a cadeia cervical tipicamen- a) Sarampo.
 

te acometida é a anterior, não a posterior. Isso é b) Exantema súbito.
 

diferente do que está descrito na imensa maioria c) Mononucleose infecciosa.
das referências. De todo modo, não vamos errar d) Eritema infeccioso.
por isso, não é? Guarde o conceito correto para e) Rubéola.
a vida: suboccipital, retroauricular e cervical pos-
terior. Se na sua prova pintar uma “cadeia cervi- Para acertar as questões sobre o tema doen-
cal anterior”, já sabe de onde a banca tirou isso. ças exantemáticas é importante que você este-
ja familiarizado com as características mais
marcantes de cada uma das doenças ditas
Fase Exantemática “clássicas’’. Você verá que as questões sempre
trarão essas mesmas doenças dentre as possi-
Qual é o aspecto das lesões? O exantema da bilidades de respostas. O enunciado foi enxuto,
rubéola é maculopapular róseo (rubeoliforme). mas deve nos fazer pensar em rubéola. Veja só
As lesões são bem menos evidentes do que o que nos diz o Ministério da Saúde: “caso sus-
aquelas do sarampo. Veja a FIGURA 9 e ob- peito de rubéola é todo paciente que apresente
serve como o aspecto é diferente do que o que febre e exantema maculopapular, acompanhado
você viu anteriormente. de linfadenopatia retroauricular, occipital e cer-
vical, independente da idade e situação vacinal’’.
Como essas lesões progridem? As primeiras Para pensarmos em sarampo, esperaríamos
lesões surgem na face e pescoço e a dissemi- encontrar sintomas respiratórios mais exuberan-
nação ocorre para o tronco e extremidades, de tes, como tosse intensa, conjuntivite com foto-
forma mais rápida do que ocorre no sarampo. fobia, além das típicas manchas de Koplik. Ire-
Quando as lesões surgem no tronco, podem já mos conversar sobre as outras doenças nas
estar desaparecendo da face. A duração total do próximas páginas, mas, já antecipando o que
exantema não costuma ultrapassar três dias. há de mais importante: o exantema súbito aco-
Essas lesões podem coalescer na face e, ao mete principalmente lactentes e caracteriza-se
desaparecerem, não apresentam descamação. pela presença de febre elevada associada a
manifestações pouco específicas na fase pro-
Existe mais algum dado característico dessa drômica, a febre tipicamente desaparece de
fase? Lá no sarampo tínhamos as manchas de forma súbita (“em crise”) e é sucedida pelo apa-
Koplik, que eram patognomônicas do diagnósti- recimento do exantema maculopapular, que
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 27

surge inicialmente no tronco. Já na mononucleo- Detecção de Anticorpos


se infecciosa, há tipicamente linfadenopatia
generalizada, não apenas retroauricular, tam- O diagnóstico laboratorial de fato é feito pela
bém havendo faringite e esplenomegalia em detecção de anticorpos IgM no sangue na fase
metade dos pacientes. E, por fim, o eritema in- aguda da doença. Os anticorpos específicos
feccioso tem como característica o surgimento da classe IgG podem eventualmente aparecer
de eritema malar (face esbofeteada) preceden- na fase aguda e, geralmente, continuam sen-
do o surgimento de erupção rendilhada no resto do detectados muitos anos após a infecção.
do corpo. Resposta: letra E. Existem diferentes técnicas laboratoriais para
identificação dos anticorpos, mas, no Brasil, a
rede laboratorial de saúde pública de referên-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 cia utiliza a técnica de ELISA para detecção
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE BELO de IgM e IgG para a rubéola.
HORIZONTE – MG
Adolescente de 13 anos é levada a uma con- O que diz o Ministério da Saúde?
sulta por apresentar presença de tumefação
em região do pescoço, sem outras queixas. Todos os casos suspeitos devem ter amostra
Seu exame físico revelou apenas linfadeno- coletada preferencialmente no primeiro
patia suboccipital, cervical e pós-auricular. atendimento. As amostras oportunas são
Nesse dia, a conduta médica foi apenas ob- aquelas obtidas entre o 1º e 28º dia de surgimento
servação clínica domiciliar com orientação de do exantema ou início dos sintomas.
retorno, se necessário. Sete dias após a pri- Os resultados IgM positivo ou indeterminado,
meira consulta, a adolescente retornou com independente da suspeita, devem ser
relato de surgimento de um exantema, inicial- comunicados imediatamente à vigilância
mente na face, espalhando-se rapidamente epidemiológica para a realização da reinvestigação
para o pescoço, tronco e duração de apenas e da coleta da segunda amostra de sangue.
um dia. O diagnóstico mais provável seria
a) Exantema súbito. c) Rubéola.
b) Mononucleose infecciosa. d) Dengue. Isolamento Viral

Todas as condições listadas entram no diag- A identificação viral também é feita com o ob-
nóstico diferencial deste caso. O que você jetivo de identificar o padrão genético circulante
deve fazer? Buscar pelas alterações carac- no país, diferenciar os casos autóctones da
terísticas. Acabamos de ver que o que há de rubéola dos casos importados e diferenciar o
mais característico na rubéola é justamente o vírus selvagem do vírus vacinal. O vírus pode
aparecimento da adenomegalia precedendo ser identificado na urina, nas secreções naso-
o quadro exantemático, exatamente como no faríngeas, no sangue ou em tecidos do corpo.
quadro apresentado por essa adolescente. As amostras devem ser coletadas até o 5º dia
Ainda falaremos sobre as outras condições. A a partir do início do exantema (a urina é o ma-
mononucleose infecciosa também cursa com terial de escolha).
o aparecimento de linfadenomegalia genera-
lizada, mas é uma condição acompanhada
de outros comemorativos, como esplenome- Complicações
galia e faringite. Resposta: letra C.
Como já dito, a doença é benigna. As compli-
cações da rubéola pós-natal não são comuns
Avaliação complementar e não costumam ser graves.

O diagnóstico mais provável com base no


quadro clínico é uma coisa, outra coisa é o Complicações Articulares
diagnóstico de certeza. Se você atendesse
uma criança com exantema maculopapular e • Artrite
linfadenomegalia, você teria coragem de ga-
rantir para a família de que “sem sombra de Uma complicação que vale a pena ser guar-
dúvidas” o diagnóstico era de rubéola apenas dada é a artrite. É mais comum em mulheres
com base nisso? Claro que não! Até mesmo adultas e acomete principalmente as peque-
porque a rubéola não é mais uma doença nas articulações das mãos. Surge cerca de
comum em nosso meio. A confusão entre o uma semana após o início do exantema e é
diagnóstico de rubéola e outras doenças in- uma complicação autolimitada, que costuma
fecciosas é comum na vida real e a avaliação resolver-se em algumas semanas.
complementar torna-se necessária.

Os achados em exames inespecíficos são Complicações Hematológicas


pouco característicos e incluem leucopenia,
neutropenia e trombocitopenia discreta. • Trombocitopenia

Prepare-se agora para um momento déjà vu, Outra complicação, também de curso auto-
pois o que você lerá é bem semelhante ao limitado, é um quadro de trombocitopenia,
que já foi falado na avaliação do paciente que pode manifestar-se com petéquias,
com sarampo. epistaxe, sangramento gastrointestinal e
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 28

hematúria. Também é mais comum no sexo Prevenção


feminino e em crianças.
Os pacientes infectados devem ser afastados
Pelo visto, a encrenca da doença é com o dos suscetíveis até sete dias após o surgimento
sexo feminino: mais complicações, risco de do exantema. A maior preocupação, obviamente,
síndrome da rubéola congênita quando aco- é o contato de uma grávida suscetível com um
mete a mulher grávida... indivíduo infectado.

Pré-exposição
Complicações no Sistema Nervoso Central
A prevenção pré-exposição é feita com a vacina,
A rubéola não guarda semelhanças com o sa- claro! A vacina contra a rubéola faz parte das
rampo? Então, como era de se esperar, as com- vacinas tríplice e tetraviral e integra o calendário
plicações da rubéola também podem atingir o das crianças, adolescentes e adultos. Todos
sistema nervoso central. A encefalite pós-infec- devem estar imunizados! A vacina não deve ser
ciosa não é comum e é caracterizada pelo surgi- administrada em mulheres grávidas e as mulhe-
mento de um quadro neurológico sete dias após res em idade fértil devem aguardar cerca de 30
o início do exantema. O mecanismo envolvido, dias após a vacinação para engravidar.
à semelhança do que ocorre no sarampo, não
parece ser por ação direta do vírus. A análise do Pós-exposição
liquor mostra pleocitose discreta, aumento das
proteínas e, raramente, isolamento de partículas O bloqueio vacinal é realizado nos contatos sus-
virais. A maior parte dos pacientes recupera-se, cetíveis dos casos suspeitos. A vacina utilizada é
mas há relatos de taxas de mortalidade de até a mesma tríplice viral, que deve ser administrada
20% e presença de sequelas permanentes nos dentro de 72 horas após a exposição, mesmo
sobreviventes. Outra complicação neurológica é que nem sempre seja possível estabelecer com
o quadro de panencefalite progressiva. É uma precisão quando ocorreu a exposição.
doença neurológica crônica e grave, raríssima,
semelhante à PEES, causada pela infecção in- As gestantes expostas não podem receber a
dolente e progressiva pelo vírus da rubéola no vacina, por ser uma vacina de agente vivo. Elas
sistema nervoso central. O óbito sobrevém em devem ser avaliadas por meio de sorologia,
dois a cinco anos após o início do quadro. acompanhadas e orientadas. O importante é
tentar evitar a todo custo o contato da gestante
com o indivíduo infectado. Na literatura norte-
Para não esquecer: -americana, é discutido o uso de imunoglobulina
para a gestante suscetível exposta, mas isso não
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 garante a prevenção da infecção fetal.
ALIANÇA SAÚDE – PR
Doença exantemática típica da infância que
tem evolução benigna nas crianças, mas Diz o Ministério da Saúde....
que, quando atinge gestantes, pode deter-
minar teratogenia: DEFINIÇÕES DE CASO
a) Sarampo. Caso suspeito: caso suspeito de rubéola é
b) Exantema súbito. todo paciente que apresente febre e exantema
c) Rubéola. maculopapular, acompanhado de linfadenopatia
d) Mononucleose. retroauricular, occipital e cervical, independente
e) Molusco infeccioso. da idade e situação vacinal; ou todo indivíduo
suspeito com história de viagem ao exterior nos
Caracterização simples da rubéola. Em al- últimos 30 dias ou de contato, no
gumas páginas veremos que o parvovírus B19, mesmo período, com alguém que
responsável pelo quadro do eritema infeccioso,
viajou ao exterior.
é capaz de infectar o feto e essa infecção traz
consequências. Porém, não ocorrem malfor- (Perceba, mais uma vez, que
mações, como na rubéola. Resposta: letra C. mesmo os indivíduos vacinados
podem ser considerados casos
suspeitos da doença).
Tratamento
Caso confirmado: os casos
podem ser confirmados a partir
Não há tratamento específico! São usados
apenas analgésicos e antipiréticos para con- da avaliação laboratorial, de
trole da artralgia e da febre. critérios epidemiológicos ou
critérios clínicos (o que é uma
O uso de imunoglobulina e corticoides pode falha do sistema de vigilância...).
ser considerado nos casos de trombocitope-
nia grave.
NOTIFICAÇÃO:
A RUBÉOLA É DOENÇA
O prognóstico dos casos de rubéola pós-natal é
DE NOTIFICAÇÃO
ótimo. Existem relatos de reinfecção com vírus
OBRIGATÓRIA E IMEDIATA!
selvagem em indivíduos que já tinham sido in-
fectados previamente ou tinham sido vacinados.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 29

Antes de seguir adiante, vamos ver algu- positivo, compareceu a uma Unidade Básica
mas questões. de Saúde (UBS) do município de Natal-RN
apresentando, há dois dias, febre, exantema
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 maculopapular, e linfadenopatia cervical e
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CASSIANO retroauricular. Durante a anamnese, o mé-
ANTÔNIO DE MORAES – ES dico observou, na carteira de vacinação,
Com relação à rubéola pós-natal é correto a comprovação do estado vacinal (tríplice
afirmar que: viral) do usuário. O paciente informa a exis-
a) O exantema maculopapular eritematoso tência de três contatos domiciliares: uma
acompanhado de coriza ou de conjuntivite ex- tia, de 29 anos, e duas primas, de 12 e 10
clui o diagnóstico de rubéola e sugere sarampo. anos de idade. As condutas de vigilância
b) Crianças assintomáticas infectadas pelo epidemiológica que o profissional da UBS
vírus da rubéola não representam risco de que atendeu esse paciente deve adotar são:
transmissão para gestantes não imunes. a) Notificar o caso suspeito de rubéola à
c) A transmissibilidade limita-se ao período Secretaria Municipal de Saúde, realizar a In-
que se inicia dois dias antes do aparecimen- vestigação epidemiológica e a vacinação de
to do exantema e persiste durante o período bloqueio em todos os contatos domiciliares.
exantemático. b) Notificar o caso como suspeito de rubéola,
d) Pode haver reinfecção de pessoas pre- tendo em vista a situação vacinal do pacien-
viamente imunes por vacinação ou infecção te, solicitar exames para o paciente e para
natural, sendo usualmente assintomática e os contatos domiciliares.
detectável apenas por métodos sorológicos. c) Notificar o caso suspeito de rubéola à Se-
e) A transmissão do vírus é feita por meio cretaria Municipal de Saúde, solicitar os exa-
de aerossóis e exige uso de respirador N95 mes de diagnóstico para o paciente e para os
por parte dos profissionais de saúde duran- contatos domiciliares, independentemente
te o atendimento. da situação vacinal destes, e aguardar os
resultados, para indicar o bloqueio vacinal
Vamos ver o que diz cada uma das alter- para os suscetíveis.
nativas. O exantema acompanhado de coriza d) Notificar e investigar o caso suspeito de
ou conjuntivite pode sugerir sarampo, de fato, rubéola, solicitar os exames de diagnóstico
mas não necessariamente EXCLUI o diag- para o paciente e vacinar os contatos domi-
nóstico de rubéola (opção A errada). As crian- ciliares suscetíveis.
ças assintomáticas infectadas pelo vírus da
rubéola representam, sim, um risco para Estamos ou não estamos diante de um
gestantes não imunes. Mesmo os pacientes caso suspeito de rubéola? É claro que es-
com infecção subclínica são capazes de eli- tamos. Todo paciente que apresente febre
minar o vírus em suas secreções (opção B e exantema maculopapular, acompanhada
errada). O período de transmissibilidade varia de linfoadenopatia retroauricular, occipital e
muito entre as referências bibliográficas. Po- cervical, independente da idade e situação
rém, aceita-se que a fase de maior transmis- vacinal é considerado caso suspeito de ru-
sibilidade vai de cinco dias antes até seis dias béola. E todos os casos suspeitos devem ser
após o início do exantema (opção C errada). imediatamente notificados pelo nível local à
A transmissão do vírus ocorre através de secretaria municipal de saúde e investigados.
contato com as secreções nasofaríngeas de Continuando... Com relação às medidas
pessoas infectadas. A infecção se propaga iniciais, temos que prestar assistência mé-
por disseminação de gotículas ou através de dica ao paciente; recomendar o afastamento
contato direto com os pacientes, e não por das atividades; coletar exames para a con-
aerossóis (opção E errada). A opção D é a firmação diagnóstica; e realizar a proteção
única correta. De fato, há relatos de ocorrên- da população (vacinação dos susceptíveis,
cia de reinfecção em pessoas previamente sendo o bloqueio vacinal prioritário entre seis
imunes através de vacinação ou infecção meses e 39 anos de idade). Os contactan-
natural, quando reexpostas ao vírus. Essa tes só realizarão exames caso adoeçam. A
reinfecção é usualmente assintomática, de- vacinação dos susceptíveis não dependerá
tectável apenas por métodos sorológicos. da confirmação diagnóstica do caso sus-
Resposta: letra D. peito, devendo ser instituída imediatamen-
te. A opção A está errada ao sugerir que a
vacinação de bloqueio seja administrada
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 indiscriminadamente a todos os contatos
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LO- domiciliares. Deveremos avaliar o cartão
PES – UFRN vacinal da tia e primas e vacinar aquelas
O paciente P. L. S., 18 anos de idade, HIV susceptíveis. Resposta: letra D.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 30

3. Eritema infeccioso

Quem é o agente etiológico? - 2ª fase: exantema rendilhado.


Parvovírus B19. Pertence ao gênero Erythro- - 3ª fase: recidiva do exantema por estímulos.
virus da família Parvoviridae.
Este agente pode causar outras doenças?
Como ocorre a transmissão? Além do eritema infeccioso, a infecção pelo par-
Pelas gotículas de saliva e secreções naso- vovírus B19 está associada com artropatia, cri-
faríngeas. O vírus é eliminado entre sete e 11 se aplásica transitória (em pacientes com ane-
dias após a infecção inicial. mia hemolítica), anemia persistente (em imu-
nodeprimidos), miocardite, infecção fetal com
Na fase em que surge o exantema o paciente
hidropsia fetal e síndrome de luvas e meias.
já NÃO elimina mais o vírus.
Podemos evitar?
Quais são os dados clínicos mais marcantes
Apenas evitando o contato com o indivíduo
do quadro?
infectado. As crianças com o eritema infec-
O dado marcante do eritema infeccioso é o cioso ou com artropatia não são mais infec-
exantema que evolui em três fases: tantes. Os pacientes com anemia aplásica
- 1ª fase: face esbofeteada. devem ser isolados.

Introdução linhagem está relacionado à presença do antí-


geno P nessas células, que é o principal recep-
Quando falamos em doenças exantemáticas, tor para o vírus. Sabendo que a infecção pro-
imediatamente nos lembramos do sarampo voca a lise celular, responda rápido: qual será
e da rubéola, não é mesmo? O eritema in- a consequência da destruição dos precursores
feccioso, que também é chamado de “quinta eritroides? Uma interrupção temporária da eri-
doença”, talvez seja esquecido por muitos, tropoese, claro. Este receptor também é en-
mas certamente é uma das doenças exante- contrado em células endoteliais, da placenta e
máticas mais comuns nas provas de pediatria. no miocárdio fetal. Daqui a pouco veremos o
Assim, vamos estudá-la com atenção, pois o que o vírus promove nesses outros sítios.
diagnóstico é simples e o acerto é garantido.
A FIGURA 10 sintetiza muito bem o que ocorre
Quem é o agente causador? na infecção pelo agente. Vamos analisá-la com
cuidado. Observe as barras horizontais e veja
O agente etiológico do eritema infeccioso é o que temos dois momentos distintos nos quais
parvovírus B19, um vírus DNA de fita simples há manifestações clínicas: a barra verde indica
do gênero Erythrovirus da família Parvoviridae o momento em que há sintomas inespecíficos
(atente para o detalhe: este é o primeiro vírus e coincide com o período em que ocorre a vi-
DNA de que falamos até agora! Até então, remia, representado pela curva azul. Ainda
tínhamos estudado dois vírus de RNA – víurs neste mesmo momento, encontramos a queda
do sarampo e da rubéola). Os parvovírus são na contagem de reticulócitos, que está repre-
capazes de causar doenças em vários ani- sentada pela curva laranja pontilhada, como
mais, mas apenas alguns causam doença em consequência da interrupção da eritropoese.
humanos. O homem é o único hospedeiro do Nos pacientes com produção eritrocitária nor-
parvovírus B19. mal, essa breve interrupção provoca no máximo
uma discreta queda na hemoglobina. Já nos
A infecção por esse agente é comum e tem dis- pacientes com hemólise crônica, a história será
tribuição mundial. Para você ter uma ideia do outra. Também costuma ocorrer neutropenia e
quão comum é a infecção, mais da metade da trombocitopenia, mas a patogênese não é to-
população adulta apresenta evidências soro- talmente elucidada.
lógicas de infecção prévia, que pode ter sido
subclínica. As infecções sintomáticas são mais Repare agora que o aparecimento dos anti-
comuns entre os cinco e os 15 anos de idade. corpos, ilustrado pela curva rosa, ocorre cerca
de um a dois dias após o início das manifes-
tações e coincide com a regressão dos sinto-
Patogênese mas iniciais e a retomada da eritropoese. A
imunidade humoral exerce um papel crucial
Mais uma vez: não pule essa parte! Se você en- no controle da infecção pelo vírus. Indivíduos
tender o que ocorre aqui, conseguirá inferir uma com imunidade humoral prejudicada estão sob
série de eventos associados com a infecção. risco elevado de adquirir uma infecção crônica
pelo parvovírus B19 e, consequentemente,
O parvovírus B19 só consegue se replicar em aplasia medular crônica.
células com alta atividade mitótica, pois é total-
mente dependente do material genético celular Voltando agora às alterações clínicas, perceba
para sua multiplicação. Esse vírus só é capaz que o quadro de eritema infeccioso propriamen-
de se propagar de forma eficiente por células te dito, indicado pela barra vermelha, ocorre
precursoras da linhagem eritroide próximas ao vários dias após o período de manifestações
estágio de proeritroblasto. O tropismo por essa inespecíficas: na verdade, o paciente permane-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 31

ce alguns dias sem sintomas entre esses dois 15-30% nos contactantes domiciliares susce-
momentos! A doença exantemática costuma tíveis e de até 60% em surtos em escolas.
ocorrer entre 17 a 18 dias após o contágio inicial
e não está mais associada a um efeito direto do Embora a principal forma de transmissão seja
vírus. Compare o momento em que essas ma- pela via respiratória, o vírus é encontrado no
nifestações surgem com o período em que se sangue e pode ser transmitido por hemoderi-
observa a viremia e perceba que já não há mais vados. A transmissão por meio de fômites não
detecção do vírus nessa fase. Acredita-se que é bem estabelecida.
essas manifestações sejam o resultado de um
fenômeno pós-infeccioso relacionado a um Para fixar:
processo imunomediado.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
Quando a infecção ocorre durante a gestação, HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA ULBRA – RS
pode haver a transmissão do vírus para o feto. “L.O.T., feminina, branca, 9 anos e 7 meses,
A destruição das hemácias também irá ocorrer aluna de escola municipal de Canoas (RS),
durante a vida intrauterina. Os efeitos citopáticos apresenta exantema de morfologia reticular ini-
do vírus serão observados tanto nos precursores ciado há mais de uma semana, inicialmente com
eritroides da medula óssea quanto nos sítios de intenso eritema em ambas hemifaces e, presen-
eritropoese extramedulares, dependendo da fase temente, mais acentuado em membros superio-
da gestação em que a infecção ocorra. O feto res e no tronco, tendo apresentado períodos de
poderá desenvolver uma anemia grave e insufi- regressão seguidos de recrudescimento do rash.
ciência cardíaca de alto débito. Recebeu tratamento com anti-histamínico oral
por 4 dias, sem evidência de resposta a tal te-
rapêutica. Nega ocorrência de febre, prurido ou
de qualquer outra manifestação associada ao
quadro.” Qual é o agente mais provavelmente
envolvido nesse caso e qual o tempo de afasta-
mento da escola que deve ser determinado à
paciente para evitar risco de contágio de colegas
e professores, respectivamente?
a) Herpesvírus 6; 3 dias após o desapareci-
mento definitivo do exantema.
b) Parvovírus; 3 dias após o desaparecimento
definitivo do exantema.
c) Herpesvírus 6 ou 7; não é necessário o
Figura 10: Infecção pelo parvovírus. afastamento da aluna nesse momento.
d) Parvovírus; não é necessário o afastamen-
O vírus também afeta as células miocárdicas to da aluna nesse momento.
fetais, contribuindo para a falência cardíaca. O
resultado do processo é o quadro de hidropsia Fique calmo: mais algumas linhas e você não
fetal, caracterizado pelo acúmulo de líquido em terá a menor dúvida de que o quadro apresen-
dois ou mais compartimentos fetais (pele, pleu- tado por essa escolar é de eritema infeccioso.
ra, pericárdio, placenta, peritônio, líquido am- Essa questão está aqui para reforçar o concei-
niótico), que geralmente leva ao óbito desse to de que a presença das manifestações exan-
feto. Felizmente, não é sempre que a infecção temáticas indica que não há mais eliminação
da gestante leva à infecção fetal com todas do agente infeccioso e, por isso, a criança pode
essas repercussões. manter o convívio escolar. Resposta: letra D.

Transmissão RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009


HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE PORTO ALE-
A transmissão ocorre através das secreções GRE – RS
nasofaríngeas do infectado, lembrando que Qual das condições abaixo não constitui moti-
essas secreções só contêm o vírus no período vo de afastamento de uma criança da creche?
em que está ocorrendo a viremia. Deste modo, a) Conjuntivite purulenta.
o indivíduo infectado elimina o vírus de sete a b) Exantema febril.
11 dias após a inoculação. c) Eritema infeccioso.
d) Diarreia.
Na fase que surge o exantema que caracteri- e) Três episódios de vômitos não explicados
za o eritema infeccioso, o indivíduo já não é em 24 horas.
mais capaz de transmitir a doença. Isso não
ocorre em nenhuma das outras doenças exan- De infeccioso, só o nome. Todas as manifes-
temáticas que vimos até agora e terá implicân- tações apresentadas podem denotar a presença
cia direta no manejo do paciente. Responda de doenças infecciosas em fase de transmissão.
rapidamente: uma criança que está na fase A presença de um exantema febril (letra B) pode
exantemática precisa ser afastada do contato ser qualquer uma das várias doenças que vimos
com outras? Claro que não! até agora e que ainda veremos e, é claro, que na
maioria delas há recomendação de afastamento
As taxas de transmissão são variáveis e temos da creche durante a fase de transmissão. A ex-
a descrição de taxas de ataque secundário de ceção é o eritema infeccioso. Resposta: letra C.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 32

Clínica queixam-se de um leve prurido. As lesões


desaparecem sem descamação.
Muitas das infecções pelo parvovírus B19 são
assintomáticas. Muito embora o foco dessa
apostila sejam as doenças exantemáticas,
vamos aproveitar a oportunidade para saber
mais sobre as várias manifestações da infec-
ção por esse agente.

Eritema Infeccioso

O eritema infeccioso é a manifestação mais


comum da infecção pelo parvovírus B19. O
período de incubação dura em média 17-18
dias. A maioria dos pacientes não refere sin-
tomas correspondentes à fase prodrômica ou
refere sintomas leves. Alguns autores chegam
mesmo a afirmar que não há pródromos. Es-
ses pacientes mantêm-se em bom estado Figura 12: Eritema infeccioso – aspecto
geral, sem manifestações sistêmicas associa- reticulado do exantema.
das ao quadro cutâneo.
• Finalmente, ocorre a terceira fase, com du-
De todo modo, o que nos permite pensar nes- ração de uma a três semanas, caracterizada
se diagnóstico não é a presença de qualquer por um período em que o exantema recidiva
pródromo, mas sim a evolução característica quando o paciente se expõe ao sol, calor,
do exantema. estresse e exercício.

É um exantema que evolui caracteristicamen-


te em três estágios ou fases. Um cuidado que você deve ter é que nem
sempre a evolução da primeira para a segun-
• Na primeira fase há um eritema malar bila- da fase é bem evidente, com as manifestações
teral, que dá ao paciente o aspecto de “face podendo surgir simultaneamente. Não afaste
esbofeteada” (FIGURA 11) ou, como al- o diagnóstico por isso.
guns preferem, em “asa de borboleta”. Essa
alteração pode vir acompanhada de uma
relativa palidez peribucal. Eritema infeccioso = face esbofeteada +
exantema rendilhado + fase de recidiva

Artropatia

As manifestações articulares são mais comuns


em adolescentes e adultos, principalmente do
sexo feminino. Pode haver desde uma queixa
de artralgia até um quadro de artrite evidente.
Todas as articulações podem ser acometidas,
mas as mais comuns são as das mãos, pu-
nhos, tornozelos e joelhos. Esse quadro pode
ocorrer isoladamente ou em associação com
outros sintomas e, da mesma forma que ocor-
re com o eritema infeccioso, é um evento
imunomediado, não sendo decorrente de
agressão direta pelo vírus. Na maioria dos
pacientes, o quadro é autolimitado, durando
poucas semanas.

Crise Aplásica Transitória


Figura 11: Eritema infeccioso – sinal da
“face esbofeteada”. Vimos que o vírus causa uma interrupção
temporária na eritropoese, não é? No indiví-
• Na segunda fase, cerca de um a quatro dias duo sem comorbidade hematológica, essa
após, ocorre a disseminação do exantema interrupção temporária não terá consequên-
para o tronco e extremidades proximais, cias importantes. Agora, imagine o que acon-
principalmente nas superfícies extensoras, tecerá com um falcêmico, com hemácias de
comumente poupando a região palmoplan- meia-vida mais curta, que tenha sua eritro-
tar. Identificamos lesões maculares eritema- poese interrompida...
tosas que sofrem um clareamento central,
adquirindo um aspecto rendilhado ou re- Os indivíduos com doenças hemolíticas crô-
ticulado (FIGURA 12). Alguns pacientes nicas (como anemia falciforme, talassemia,
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 33

esferocitose hereditária ou deficiência de pi- lesões orais. O quadro está associado basi-
ruvato quinase) apresentam um rápido turno- camente à infecção pelo parvovírus B19.
ver celular e essa interrupção da eritropoese
com reticulocitopenia absoluta irá levar a uma
queda abrupta da hemoglobina. Esta crise Miocardite e Outras Manifestações
aplásica coincide com a viremia e, evidente-
mente, o período de incubação será mais A miocardite pelo parvovírus B19 pode ocorrer
curto do que o observado no eritema infeccio- em crianças e adultos. Embora alguns questio-
so. Além disso, o paciente aqui está aguda- nem a causalidade do agente nos quadros,
mente doente, com febre, mal-estar, letargia, essa associação é plausível, pois, como tínha-
além das manifestações da anemia, como mos visto, o receptor do vírus (o antígeno P) já
palidez, taquicardia e taquipneia. Raramente, foi identificado em células miocárdicas fetais.
pode haver um exantema associado. O quadro
é autolimitado (“transitório”), mas necessita de Quadros neurológicos como encefalite, me-
suporte terapêutico, como hemotransfusão. ningite asséptica e neuropatia periférica po-
dem ocorrer tanto em imunodeprimidos quan-
Devemos considerar que todas as crianças to em imunocompetentes.
com anemia falciforme que apresentem uma
crise aplásica estejam infectadas pelo parvo-
vírus B19, até que se prove o contrário. E a Avaliação Complementar
pergunta final: esse paciente pode ter contato
com outros pacientes de risco? Claro que não, O diagnóstico de eritema infeccioso é, na
pois o início do quadro ainda coincide com o maioria dos casos, definido pela evolução clí-
período de excreção viral. Se ainda tiver dú- nica do exantema, que é bastante específica
vidas, olhe a FIGURA 10 mais uma vez. desta doença. A confirmação virológica pode
ser dispensada mesmo nos casos de crise
aplásica transitória típica nos falcêmicos.
Imunocomprometidos
Detecção de Anticorpos
Os pacientes que apresentam um comprome-
timento da imunidade humoral podem apre- A IgM é detectada logo após o início das ma-
sentar uma infecção persistente pelo parvoví- nifestações clínicas e permanece elevada por
rus B19. Esses indivíduos apresentam anti- seis a oito semanas, sendo o melhor marcador
corpos contra o vírus em títulos muito baixos da infecção aguda. A IgG indica imunidade e
ou ausentes e o DNA viral é identificado no infecção prévia, mas pode indicar a infecção
soro de forma persistente ou recorrente. A aguda quando é demonstrada a elevação dos
manifestação mais comum é uma anemia títulos em amostras pareadas.
crônica, que pode eventualmente ser acom-
panhada por neutropenia, plaquetopenia ou Detecção do DNA viral
supressão medular completa.
A avaliação sorológica nos indivíduos imuno-
Os imunocomprometidos também podem ter comprometidos poderá não indicar a infecção,
um quadro de síndrome hemofagocítica asso- pela ausência da produção dos anticorpos.
ciado à infecção viral. Nessas situações, a forma de documentar a
infecção é pela detecção do DNA viral, o que
requer técnicas complexas, disponíveis basi-
Infecção Fetal camente em centros de referência e pesquisa.
A identificação do DNA viral também pode ser
Pelos mecanismos já descritos na patogênese feita no líquido amniótico para documentar a
da doença, as manifestações clínicas da in- infecção fetal.
fecção fetal incluem a hidropsia fetal não imu-
ne (que não é mediada por anticorpos). O
óbito fetal pode ocorrer em qualquer fase da Tratamento
gestação, mas é mais comum quando a infec-
ção ocorre no segundo trimestre. Alguns fetos Não há qualquer terapia específica contra o
infectados nascem assintomáticos, enquanto parvovírus B19 e na maior parte das vezes
outros podem evoluir com uma infecção crô- não há indicação de tratamento, pois o qua-
nica pelo parvovírus B19, que tem importância dro é autolimitado e a infecção leva à imuni-
desconhecida. A infecção não está associada dade duradoura.
com outras anomalias congênitas.
O quadro de artropatia deve ser manejado com
sintomáticos (analgésicos ou anti-inflamatórios
Síndrome Papular-Purpúrica em “Luvas não esteroidais).
e Meias”
Os imunodeprimidos com anemia crônica e
É uma síndrome pouco comum, caracterizada supressão medular podem se beneficiar da
pela associação de febre com prurido e erite- infusão intravenosa de imunoglobulina. Nos
ma com edema doloroso nas mãos e pés, pacientes com HIV, a resolução da infecção
seguindo uma distribuição em “luvas e meias”. pode ocorrer pela utilização da terapia antir-
Há também petéquias de distribuição acral e retroviral eficaz.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 34

No caso da infecção fetal e dos pacientes com que ambas sejam causadas por enterovírus.
hemólise crônica, o tratamento será de supor- Na síndrome, ou doença mão-pé-boca, são
te através da hemotransfusão, que pode ser observadas lesões papulovesiculosas com
feita mesmo durante a vida intrauterina. eritema subjacente, que atingem pés e mãos,
associadas às lesões orais e faringotonsilares.
As lesões encontradas na cavidade oral con-
Prevenção sistem em vesículas distribuídas pela língua,
mucosa bucal, faringe posterior, gengiva e
Atualmente, ainda não existem medidas es- lábios. Essas vesículas levam à formação de
pecíficas como vacinas no controle pré ou pequenas úlceras envoltas por um halo de
pós-exposição, embora existam estudos nesse hiperemia. Diversos agentes etiológicos po-
sentido. A forma que temos de prevenir a doen- dem estar associados ao quadro, mas o mais
ça é interrompendo a cadeia de transmissão. comum é o vírus coxsackie A16. Na herpan-
gina, temos apenas as lesões na cavidade
Lembre-se de que as crianças com eritema oral, tipicamente associadas com febre eleva-
infeccioso podem ir para a escola, sem res- da (é um diagnóstico diferencial dos casos de
trições, pois já não eliminam mais o vírus. Na faringite aguda na infância). A opção B também
prática, vemos crianças sendo mantidas em está errada. O único critério obrigatório na
casa até a resolução do quadro, o que revela doença de Kawasaki é a presença de febre
um profundo desconhecimento da patogênese alta por pelo menos cinco dias. Além deste,
da doença. são necessários quatro de cinco possíveis
critérios, sendo o exantema polimorfo apenas
As crianças internadas com crise aplásica um deles (os outros são conjuntivite não ex-
induzida pelo parvovírus B19 devem ser sudativa, alterações na cavidade oral, adeno-
mantidas isoladas por até uma semana após megalia cervical e alterações nas extremida-
o desaparecimento da febre e um cuidado des). Já a opção C foi considerada errada pela
especial deve ser adotado para que gestan- banca, mas é muito difícil saber exatamente
tes não tenham contato com esses doentes. o que as bancas querem dizer quando usam
As crianças imunodeprimidas com anemia o termo “principal’’. Em geral, quando o termo
crônica pela infecção pelo vírus devem ser é usado fala-se sobre a complicação mais
mantidas em isolamento durante todo o pe- frequente. As complicações bacterianas mais
ríodo de internação. frequentes na varicela são as infecções bac-
terianas secundárias. Resposta: letra D.

Veja como cai na prova...


RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 FUNDAÇÃO JOÃO GOULART – HOSPITAIS
FACULDADE DE MEDICINA DO ABC – SP MUNICIPAIS – RJ
Em relação às doenças exantemáticas é cor- A causa viral mais bem documentada de apla-
reto afirmar: sia eritrocitária, em pacientes com hemólise
a) A síndrome mão-pé-boca ou herpangina é crônica ou imunocomprometidos e em fetos
causada por uma bactéria e se caracteriza por “in útero”, é:
lesões nas mãos, pés e boca, acompanhadas a) Vírus Epstein Barr.
de febre. b) Parvovírus B19.
b) O único critério diagnóstico que obrigato- c) Paramixovírus.
riamente deve estar presente na doença de d) Togavírus.
Kawasaki é o exantema polimorfo.
c) A principal complicação da varicela é a Esta questão nos relembra aspectos da fi-
pneumonite intersticial. siopatologia da infecção viral que acabamos
d) O Parvovírus B19 causa uma doença ca- de estudar: a infecção pelo parvovírus B19.
racterizada por um exantema maculopapular Este agente pertence ao gênero Erythrovirus
que se inicia em face (face esbofeteada) e da família Parvoviridae. É um vírus de DNA e
evolui para membros e tronco, podendo levar que tem tropismo pelas células da linhagem
à artralgia e aplasia de medula. eritroide. Ao infectar esses precursores – tan-
to na vida intrauterina, quanto da vida extrau-
Fique calmo! Perceba que mesmo sem ter terina – o parvovírus leva a uma interrupção
estudado, ainda, todas as condições, já é pos- da eritropoiese. Isso é causa de anemia aplá-
sível reconhecer a afirmativa correta. A letra sica em pacientes com doenças hemolíticas
D é a nossa resposta! Poderíamos até ser um e pode levar a uma grave anemia fetal, com
pouco críticos e dizermos que a doença exan- hidropsia fetal não imune. Resposta: letra B.
temática não leva à aplasia de medula (lem-
bre-se de que este evento antecede o surgi-
mento da erupção cutânea, por ainda ocorrer RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
na fase de viremia), mas todas essas altera- HOSPITAL ANGELINA CARON – PR
ções são encontradas na infecção pelo parvo- Pré-escolar, 5 anos, com 3 dias de febre
vírus B19. Em relação às outras alternativas, (38,5°C), associada a coriza e tosse seca.
vamos aproveitar para já aprendermos um Apresenta eritema malar intenso, com aspec-
pouco sobre cada uma delas… A opção A está to de “bofetada’’ e exantema com aspecto
claramente errada. A síndrome mão-pé-boca “rendilhado’’ em tronco, membros e nádegas.
e a herpangina são doenças diferentes, ainda O provável diagnóstico é:
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 35

a) Exantema súbito. d) Escarlatina. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013


b) Rubéola. e) Eritema Infeccioso. SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DO RIO
c) Sarampo. DE JANEIRO – RJ
A manifestação clínica classicamente descrita
Não importa se o aspecto é de bofetada ou no exantema causado pelo parvovírus B19 é
de face esbofeteada, o diagnóstico é um só: a presença de:
eritema infeccioso. As questões sobre essa a) Acometimento palmoplantar.
condição costumam ser exatamente assim, b) Distribuição centrípeta.
bem curtas e trazendo os termos-chaves: face c) Eritema acentuado nas bochechas.
esbofeteada e exantema rendilhado ou reticu- d) Descamação laminar.
lado. Resposta: letra E.
O exantema do eritema infeccioso é carac-
terizado pelo intenso eritema na região ma-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 lar (sinal da face esbofeteada), na primeira
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – PI fase, e pelo exantema rendilhado ou reticula-
Maria Júlia, uma menina de três anos de ida- do mais intenso nas superfícies extensoras e
de, comparece ao posto de saúde com febre que poupa a região palmoplantar, na segun-
baixa e eritema de face há três dias. Há um da fase. Esse exantema, tipicamente, desa-
dia surgiu também eritema em tronco, nádegas parece sem descamação. Resposta: letra C.
e membros. Mantém bom estado geral e ape-
tite preservado. Exame físico: ausência de
adenomegalias e hepatoesplenomegalia. O RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
diagnóstico mais provável é: HOSPITAL DA POLÍCIA MILITAR – MG
a) Sarampo. Sobre o eritema infeccioso, é CORRETO afir-
b) Mononucleose infecciosa. mar que:
c) Rubéola. a) O agente etiológico é o Togavírus.
d) Eritema infeccioso. b) A lesão da pele inicia-se como uma mácula
e) Escarlatina. que aumenta de tamanho, deixando a pele
central mais pálida, conferindo um aspecto
Aqui não encontramos aqueles termos clás- tipicamente rendilhado.
sicos descritos, mas é claro que podemos c) Apresenta período prodrômico bem carac-
chegar ao diagnóstico. Esta pré-escolar apre- terizado, marcado com febre alta, mialgias,
senta um exantema que surgiu na face e que cefaleia e mal-estar.
foi sucedido pelo aparecimento de erupção no d) Caracteriza-se por um exantema maculo-
tronco e membros. Pensando nas doenças papular que, via de regra, inicia-se no tronco.
que já estudamos até agora: poderíamos estar
diante de um quadro de sarampo ou rubéola? O eritema infeccioso está associado à in-
Certamente que não. No sarampo há febre fecção pelo parvovírus B19, um eritrovírus da
alta e outras manifestações, como tosse e família Parvoviridae (opção A errada; a rubéo-
conjuntivite; na rubéola há linfadenomegalia e la é causada por um membro da família Toga-
a banca fez questão de frisar que esta altera- viridae). Tipicamente não apresenta um perío-
ção não foi encontrada. Na mononucleose do prodrômico bem definido. Na fase prodrô-
também encontraríamos linfadenomegalia e o mica, podemos encontrar febre baixa, cefaleia
exantema da escarlatina não é o que foi des- e sintomas de uma infecção do trato respira-
crito. A principal hipótese será, de fato, o eri- tório superior (opção C errada). A fase exan-
tema infeccioso. Em geral não há a descrição temática é o carro-chefe para a identificação
de febre baixa no início da erupção. Porém, dessa doença. Caracteriza-se por um exante-
essa continua sendo a melhor justificativa para ma que evolui tipicamente em três fases. Na
o quadro. Resposta: letra D. fase inicial ocorre uma hiperemia facial impor-
tante, a chamada “face esbofeteada” (opção
D errada). A seguir, há uma progressão cra-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 niocaudal do exantema, com a identificação
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DE das lesões típicas do eritema infeccioso, que
SANTA CATARINA – SC são as lesões com clareamento central ou
O eritema infeccioso é uma doença febril aspecto rendilhado (opção B correta). Essas
exantemática comum na infância, caracteriza- lesões são mais evidentes na superfície ex-
da especialmente pela presença de lesão com tensora dos membros. Tal erupção pode reci-
aspecto de face esbofeteada. O agente infec- divar por algumas semanas após seu desa-
cioso responsável por essa enfermidade é o: parecimento, caso ocorra exposição à luz
a) Estreptococo. solar ou se houver algum estresse físico ou
b) Parvovírus B19. emocional. Resposta: letra B.
c) Herpesvírus 6 e 7.
d) Coxsackie vírus.
e) Paramixovírus. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
EMESCAM – ESCOLA SUPERIOR DE CIÊN-
Esta é a questão que você não quer que CIAS DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA
caia na sua prova, pois todos acertam e você DE VITÓRIA
não se diferencia dos demais. Logo, não erre! J.P.P, 7 anos, masculino, iniciou exantema em
Resposta: letra B. face com lesões maculopapulares que logo
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 36

confluíram em regiões malares (aspecto de O enunciado nem descreve qualquer


asa de borboleta). Após 2 dias evoluiu com pródromo, partindo diretamente para a des-
exantema em membros superiores e inferio- crição do exantema. O que chama a sua
res. Não apresentou febre e queixava-se de atenção? A evolução característica: primeiro
artralgia. Sem adenomegalias. O hemograma hiperemia malar (que aqui foi caracterizada
apresentava discreta leucocitose e eosinofilia. como aspecto de “asa de borboleta”), se-
Assinale a melhor alternativa diagnóstica para guida pelo exantema no resto do corpo. Há
o caso clínico descrito: ainda a presença de artralgia, que corrobora
a) Rubéola. nossa suspeita. Quando você leu “artralgia”,
b) Mononucleose infecciosa. você foi tentado a pensar em rubéola? Es-
c) Roséola infantil. pera-se que não... Cadê a linfadenomegalia
d) Eritema infeccioso. para essa ser a nossa hipótese? Resposta:
e) Sarampo. letra D.

4. EXANTEMA SÚBITO

Quem é o agente etiológico? Qual é a principal complicação?


Herpes-vírus humano 6 (tipo 7 em um Crise febril.
percentual menor). Fazem parte do gê-
nero Roseolovirus da subfamília beta- Quais são os dados clínicos mais mar-
-herpesvirinae da família Herpesviridae. cantes do quadro?
Acomete lactentes.
Como ocorre a transmissão?
Na fase prodrômica: febre alta que desa-
Pelo contato com gotículas de saliva do parece em crise.
hospedeiro saudável.
Na fase exantemática: exantema maculo-
papular que começa no tronco e pescoço
após o desaparecimento da febre.

Introdução entre seis e nove meses. Não parece haver va-


riação sazonal. A idade média da primoinfecção
Da mesma forma que ocorre com o eritema in- pelo HHV-7 parece ser um pouco maior.
feccioso, o exantema súbito é frequentemente
esquecido por aquele que tenta listar as doen- A infecção pelo HHV-6 não é comum nos pri-
ças exantemáticas que conhece. Alguns até meiros meses de vida por um motivo simples:
lembram-se do outro nome utilizado para essa a presença dos altos títulos de anticorpos
condição, que é roséola ou roseola infantum. maternos passados por via transplacentária
Porém, as bancas não esquecem este diag- protege a criança nos primeiros meses. Já dá
nóstico. Ao fazer as questões de concursos, para começar a imaginar por qual motivo essa
você perceberá que esta talvez seja a doença doença é mais comum nos lactentes...
mais cobrada nas provas.
A infecção congênita é bem menos comum e
Quem é o agente causador? cerca de 1% das crianças nascem infectadas.

O exantema súbito é causado pelos herpes-vírus


humano 6 (HHV-6) A e B, sendo que o HHV-6B Patogênese
é o mais comum. Também pode ser causado,
com menor frequência, pelo herpes-vírus huma- O vírus penetra no organismo através da mu-
no 7 (HHV-7). Esses vírus de DNA representam cosa oral, nasal ou conjuntival, e se replica em
o gênero Roseolovirus da subfamília dos beta- sítios desconhecidos, produzindo a viremia
-herpesvírus da família Herpesviridae. encontrada na infecção primária. A infecção
primária pelo HHV-6 ou pelo HHV-7 é seguida
Nem todos os casos de infecção primá- por um período de latência prolongado ou
ria pelo HHV-6 ou 7 irão levar ao quadro mesmo pela persistência da infecção em al-
de exantema súbito. As infecções podem guns sítios. Os vírus têm tropismo por várias
ser subclínicas ou pode haver apenas uma células e sítios, tais como linfócitos T CD4+,
doença febril inespecífica. monócitos, macrófagos, glândulas salivares,
células precursoras na medula óssea, células
da linhagem epitelial, células da linhagem en-
Epidemiologia dotelial e células do sistema nervoso central.
A infecção persistente nas glândulas salivares
O exantema súbito tem uma grande peculiari- pode ser demonstrada pela identificação do
dade: é uma doença exantemática bem típica DNA viral na saliva de adultos e crianças.
de lactentes. Até 95% das crianças são infecta-
das pelo HHV-6 até os dois anos de idade, sen- A imunidade celular desempenha um papel
do que o pico de incidência da infecção ocorre crítico no controle e na persistência ou reati-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 37

vação da infecção. Nas situações de compro- Essa febre tipicamente desaparece em crise
metimento da imunidade celular, como após após 72 horas. O que significa esse desapa-
transplantes de medula óssea ou transplantes recimento “em crise”? É o desaparecimento
sólidos, pode ocorrer a reativação da doença, repentino, de uma hora para a outra. É distinto
com infecção disseminada. do desaparecimento “em lise”, que é mais pro-
gressivo. O desaparecimento em lise até pode
ocorrer, mas não é o mais típico.
Transmissão
Outras alterações que podem ser encontradas
A maior fonte de infecção são os adultos sau- nos pródromos incluem irritabilidade, hipere-
dáveis. Acredita-se que a principal forma de mia faríngea, conjuntival ou da membrana
contaminação ocorra pelo contato com a sali- timpânica, rinorreia, sintomas gastrointesti-
va desses adultos assintomáticos, já que o ví- nais, além de linfadenomegalia nas cadeias
rus estabelece infecção persistente nas glân- da cabeça e pescoço.
dulas salivares. Já imaginou como pode ocor-
rer a transmissão, não é? Ao beijar o bebê, Existe algum enantema típico dessa condição?
além de dar amor e carinho, você também po- Na avaliação da cavidade oral, podem ser
derá estar dando HHV-6. Não é fácil precisar identificadas as manchas de Nagayama, que
quem foi o responsável pela transmissão do consistem em pequenas úlceras na junção
vírus para o bebê. entre úvula e palato e que são identificadas
principalmente em crianças de países asiáticos
É por isso que a infecção é tão comum já nos (você já sabe o que procurar quando for exer-
primeiros dois anos de vida. A exposição ao cer pediatria na Ásia...).
vírus ocorre o tempo todo, pois a maioria dos
adultos, ainda que absolutamente saudáveis, Fase Exantemática
elimina o vírus na saliva. Nos primeiros meses
de vida, os anticorpos maternos oferecem al- O exantema tipicamente surge algumas horas
guma proteção para o lactente. Porém, confor- após o desaparecimento da febre.
me esses anticorpos vão saindo da circulação,
virtualmente todas as crianças vão sendo in- Qual é o aspecto das lesões? Esse exantema
fectadas e podem ter o desenvolvimento de é caracterizado pela presença de lesões ma-
manifestações clínicas. culopapulares róseas, não pruriginosas. Tam-
bém é possível a presença de um exantema
A infecção congênita pode ocorrer de duas morbiliforme.
formas: por via transplacentária ou através do
material genético, pois o vírus integra-se ao Como essas lesões progridem? Um dado im-
DNA do cromossomo humano. Esse processo portante é que esse exantema caracteristi-
de integração cromossomial representa a for- camente surge no tronco e daí se dissemina
ma mais comum de transmissão vertical. Ima- para a cabeça e extremidades, de forma cen-
gine: seu filho poderá herdar não apenas os trífuga. Esse padrão é bem diferente do ob-
seus maravilhosos genes e o amor pela medi- servado nas demais doenças que vimos até
cina, mas também um herpes-vírus integrado agora, não é verdade? Até agora tínhamos
no cromossomo! Fique calmo, pois isso não visto exantemas que começavam na cabeça
se associa com doença no período neonatal. e tinham progressão craniocaudal. A duração
do exantema é breve, por vezes apenas al-
gumas horas, e entre um a três dias já terá
Clínica desaparecido, sem descamação. A FIGURA
13 é bem representativa do quadro: lactente,
Em algumas das doenças que vimos até agora, com exantema claro (por vezes é até difícil de
os dados da fase prodrômica foram suficientes percebê-lo) mais evidente no tronco.
para que pensássemos no diagnóstico, como
a presença de manchas de Koplik no sarampo.
Em outras, o que mais importou foi a carac-
terística do exantema, como a evolução típica
do eritema infeccioso. Aqui a história é outra!
Vamos pensar no diagnóstico de exantema
súbito principalmente avaliando a evolução da
doença, isto é, de que modo a fase prodrômica
e a fase exantemática se relacionam.

Fase Prodrômica

Já que é difícil precisar o momento exato do


contágio, também é difícil precisar o período
de incubação da doença. Alguns estudos apon-
tam uma incubação de uma a duas semanas.

Findo esse período, surgem as manifestações


da fase prodrômica, que tem como caracterís- Figura 13: Exantema súbito
– Exantema mais exuberante
tica mais marcante a presença de febre alta. no tronco.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 38

to-socorro e apesar de não ter apresentado


Exantema súbito = febre alta que
mais febre nas últimas seis horas, iniciou su-
desaparece em crise → exantema
bitamente com erupção cutânea eritematosa,
iniciando no tronco
maculopapular, que desaparece à compressão
e que vem progredindo no sentido cefalocau-
dal. O diagnóstico clínico, nesse caso, é:
É importante que você preste atenção no se- a) Rubéola. c) Exantema súbito.
guinte, para não errar na hora da prova: essa b) Sarampo. d) Eritema infeccioso.
descrição é a mais típica do exantema súbito
e será a descrição apresentada na maioria das
questões. Porém, é possível termos um quadro Foi colocado aqui um exantema de progres-
um pouco diferente. É possível que a febre vá são craniocaudal. Sabemos que essa não é a
desaparecendo em lise e isso coincida com o descrição típica da progressão do exantema
aparecimento do exantema. súbito. Porém, perceba a evolução do quadro
como um todo e você verá que esse é o único
diagnóstico para o caso: lactente com febre
Vamos ver agora dois exemplos de ques- alta que desapareceu e foi sucedida pelo sur-
tões que trazem algumas pegadinhas. gimento do exantema. Resposta: letra C.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009


UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO Outras Apresentações Clínicas
RIO DE JANEIRO
Criança com 1 ano de idade é levada para Além de causar o exantema súbito, a infecção
uma consulta por apresentar, há 5 dias, dis- pelos herpes-vírus humano também se apre-
creta rinorreia, leve vermelhidão conjuntival, senta de outras formas.
febre alta (Tax 39ºC), porém sem febre nas
últimas 24 horas. Ao exame, a criança apre- Doença febril inespecífica: a infecção pri-
senta-se com leve hiperemia de faringe, linfa- mária pelo HHV-6 pode causar apenas uma
denopatia cervical, afebril, discreto exantema doença febril inespecífica, sem associação
não pruriginoso no tronco e no pescoço. O com exantema. Um estudo mostra que quase
caso relatado sugere se tratar de: 25% dos atendimentos pediátricos de urgên-
a) Eritema infeccioso. cia em crianças com idade entre seis e nove
b) Sarampo. meses nos Estados Unidos estão associados
c) Exantema súbito. à primoinfecção pelo HHV-6. Impressionante,
d) Escarlatina. não? É claro que em grande parte das vezes
e) Rubéola não sabemos que ele é o culpado. Como a
doença é autolimitada, em um determinado
Muita calma nessa hora. É verdade que momento a febre desaparece, para alívio do
estamos falando sobre o exantema súbito, jovem pediatra que se aflige quando atende
mas você pensaria que está diante de um o lactente com febre alta.
caso de rubéola somente pela descrição de
adenomegalia? Avalie o quadro como um Acometimento do sistema nervoso cen-
todo. Na rubéola não temos febre alta e o tral: pode ocorrer infecção do sistema ner-
desaparecimento da febre não antecede o voso central, com encefalite e meningoen-
surgimento do exantema. A descrição da his- cefalite. As convulsões são as complicações
tória é bastante sugestiva de exantema súbi- mais comuns nas infecções primárias pelo
to, ou seja, um lactente com pródromos de HHV-6 e costumam ser mais graves do que
febre alta por três a cinco dias e sintomas de as encontradas em crianças com crise febril
vias aéreas superiores leves, seguido do associada à infecção por outros agentes. Se
surgimento súbito de exantema após o desa- compararmos as crianças com infecção pri-
parecimento da febre. Para relembrar, lá no mária pelo HHV-6 que apresentam convulsão
sarampo tínhamos exantema morbiliforme e com crianças que apresentam crise febril não
com a febre piorando com o surgimento da associada a esse agente, vamos encontrar
erupção. No eritema infeccioso temos um no primeiro grupo uma frequência maior de
exantema bem característico e não temos crises parciais, prolongadas, repetidas e com
esse relato de febre alta precedendo a erup- paralisia no período pós-ictal.
ção. A escarlatina fica pra daqui a pouco.
Resposta: letra C. Reativação da Infecção

Se o HHV-6 pode causar infecção latente, o


RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 que ocorre na reativação?
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE GOIÁS – GO
Um lactente de oito meses de vida foi atendi- Essa reativação pode ou não ser acompa-
do no pronto-socorro, apresenta febre de 39°C nhada de manifestações clínicas. Uma das
por 48 horas, com bom estado geral e sem grandes preocupações é a reativação no
nenhum outro sintoma. Exame físico normal. imunossuprimido, principalmente após trans-
A mãe é orientada a manter o antitérmico e plantes. Acredita-se que um percentual das
retornar em 24 horas para a reavaliação, ou complicações observadas após o transplante
antes, caso apresente outro sintoma. Após 24 de células-tronco hematopoiéticas esteja as-
horas, o lactente é levado novamente ao pron- sociado à reativação da infecção.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 39

O quadro de encefalite límbica aguda pós- no número de linfócitos e neutrófilos. Pode


transplante (PALE) foi descrito após transplan- haver linfocitose relativa, mas não há nada
te de células tronco hematopoiéticas e carac- de muito característico.
teriza-se por perda de memória, confusão e
insônia com convulsões; trata-se de uma O diagnóstico de certeza da infecção pri-
condição com mortalidade elevada e risco de mária pode ser estabelecido pela combina-
sequelas neurocognitivas em longo prazo. Já ção da demonstração da replicação viral na
foi identificada a presença de DNA do HHV-6 amostra de sangue do paciente juntamente
no liquor desses pacientes. com a demonstração da soroconversão, isto
é, do aparecimento de anticorpos específicos
contra o vírus.
Diagnóstico diferencial...
A pesquisa de anticorpos para HHV-6 e
O exantema súbito fará diagnóstico diferen- HHV-7 pode ser feita através de várias téc-
cial com várias condições, como a rubéola nicas. O aumento nos título de IgM ocor-
e as enteroviroses. Porém, existe um diag- re já em fases iniciais da doença, mas não
nóstico diferencial em especial que muitas permite a distinção entre uma infecção pri-
vezes precisa ser feito. mária e a reativação da infecção pelo vírus.
Imagine um lactente que, durante três dias, A demonstração da soroconversão pelo pa-
apresenta febre alta e quase nenhuma outra reamento de amostras da fase aguda com
manifestação associada... amostras após algumas semanas também
pode indicar infecção primária. Porém, isso
Imagine agora que no terceiro dia de fe- só serve para a avaliação retrospectiva do
bre é visualizada hiperemia da membrana caso. Na hora do sufoco, em que queremos
timpânica... definir o diagnóstico de um lactente com fe-
bre, isso não nos ajuda.
“Será que uma otite média aguda é a causa
da febre? Será que não é melhor prescrever O método padrão-ouro para a documentação
um antibiótico?” da replicação viral seria a cultura do vírus, que
além de ser um método caro só é realizado
O antibiótico é prescrito...
em laboratórios de pesquisa. Existem outros
Algumas horas depois, a febre desaparece métodos para a identificação viral, mas com
e surge o exantema! E agora: a criança real- emprego prático bastante limitado.
mente tinha otite e tem uma reação alérgica
ao antibiótico ou a criança tem exantema
súbito e a medicação foi desnecessária?
Complicações
Essa distinção nem sempre é simples. Po-
rém, nas reações adversas será mais co- A complicação mais comum, encontrada em
mum a associação com prurido e eosinofilia até um terço dos pacientes com exantema
no sangue periférico, caso um hemograma súbito, é o quadro de crise febril.
seja realizado.
Tratamento
Avaliação Complementar
Não há necessidade de qualquer tratamento
A avaliação complementar é geralmente des- para os quadros de exantema súbito, apenas
necessária e podemos estabelecer o diag- o uso de antipiréticos para a febre.
nóstico com base na evolução clínica carac-
terística. Porém, muitas vezes essas crian- O tratamento específico está reservado para
ças são atendidas antes do aparecimento quadros mais graves, como os de encefalite
do exantema e acabam sendo submetidas ou PALE, principalmente nos imunodeprimi-
a vários exames complementares (no fim da dos. As drogas utilizadas incluem ganciclovir,
apostila falaremos sobre o manejo do lacten- cidofovir e foscarnet, muito embora a real
te com febre sem foco). eficácia do tratamento seja ainda questionável.

Na infecção pelo HHV-6, podemos encontrar


uma queda na leucometria total, com queda Para treinar antes de seguirmos em frente.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 40

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 durante o quadro. III. É causado pelos vírus Her-
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE – RIO pes 6 e 7. IV. Os vírus podem provocar recidiva.
DE JANEIRO – RJ a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
Paciente do sexo feminino, dois anos e seis me- b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
ses, é levada pela mãe ao atendimento médico c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
de emergência por apresentar exantema de d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
aparecimento súbito, com lesões maculopapu- e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
lares rosadas. Essas lesões apareceram no dia
anterior, inicialmente no tronco, disseminando Vejamos cada uma das afirmativas. A afirma-
para cabeça e extremidades. A mãe refere que tiva I está, evidentemente, incorreta. A febre
a criança apresentou febre alta (39-40°C), sem costuma ser alta e ocorre antes da erupção
outros sintomas. Chegou a procurar atendimen- cutânea. As demais afirmativas estão corretas.
to médico, porém não foi encontrada razão para De fato, as crises febris são uma complicação
a febre. Logo após a normalização da tempera- comum nos casos de exantema súbito, doença
tura, apareceram as lesões. O diagnóstico mais causada pelo HHV-6 ou 7. Esses vírus são ca-
provável e sua etiologia, respectivamente, são: pazes de estabelecer infecção latente ou persis-
a) Eritema infeccioso / herpes vírus humano 6 tente e pode ocorrer reativação ou recidiva da
ou 7. infecção. Resposta: letra E.
b) Exantema súbito / herpes vírus humano 6
ou 7.
c) Eritema infeccioso / parvovírus B19. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
d) Exantema súbito / parvovírus B19. HOSPITAL MUNICIPAL DR. MÁRIO GATTI
– SP
Este é um dos diagnósticos diferenciais mais Lactente de 7 meses de idade chega para
cobrados: a distinção entre o exantema súbi- avaliação médica com antecedente de febre
to e o eritema infeccioso. O quadro apresen- alta, 39,5 graus Celsius, persistente por três
tado por esta criança é típico do exantema dias, e sem qualquer outra alteração nesse
súbito, ou roséola infantil. Perceba como, mais período, exceto irritabilidade. Os pais levaram
uma vez, a cronologia fica clara: após o de- a criança para avaliação médica e foram orien-
saparecimento da febre ocorreu o surgimento tados a dar antitérmicos e a colher exames de
das lesões! Lembre-se de que o eritema in- sangue, porém recusaram a coleta. A criança
feccioso é caraterizado por três fases: face permaneceu um dia afebril e agora é trazida
esbofeteada, exantema reticulado e recidiva novamente à consulta por apresentar manchas
do exantema. Resposta: letra B. rosadas, inicialmente vistas no tronco, e não
pruriginosas. Ao exame: lactente em bom es-
tado geral, afebril, com exantema maculopa-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 pular em tronco, leve hiperemia de membranas
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – PI timpânicas bilateralmente, e sem outras alte-
Lactente, 1 ano e 6 meses de idade, iniciou qua- rações. Com relação à hipótese diagnóstica,
dro de febre elevada associada à irritabilidade e assinale a alternativa correta.
à anorexia. No quarto dia de evolução, a febre a) Rubéola ou sarampo alemão, agente vírus
cessou abruptamente e iniciou exantema macu- da rubéola.
lopapular rosado no tronco, que se disseminou b) Roséola infantil ou exantema súbito ou sex-
para face e extremidades. Ao exame, observava- ta doença, agente Herpesvírus Humano 6 e 7.
se linfoadenomegalia cervical e hiperemia do c) Eritema infeccioso ou quinta doença, agente
cavum. O exantema durou 3 dias e desapareceu Parvovírus B 19.
sem descamação. O agente etiológico e o diag- d) Reação alérgica ao antitérmico.
nóstico são:
a) Parvovírus humano B19 e Eritema infeccioso. A situação descrita neste enunciado é bem
b) Herpesvírus humano 6 e 7 e Exantema súbito. representativa do que acontece na prática pe-
c) Epstein-Barr e Mononucleose infecciosa. diátrica. Durante a fase prodrômica, o lactente
d) Vírus Coxsakie e Roséola infantil. com exantema súbito pode ter como única
e) Togavírus e Rubéola. manifestação clínica a presença de febre alta
e, por essa razão, acaba sendo frequentemen-
O enunciado nos dá as seguintes informações: te indicada a realização de alguma avaliação
lactente com febre elevada e com exantema que complementar. Quando realizada (o que não
se iniciou após o fim abrupto da febre. Esta é a foi o caso do enunciado) essa avaliação não
história clássica de um quadro de exantema sú- irá revelar quaisquer alterações características
bito, também conhecido como roséola infantil ou e só saberemos qual é o diagnóstico de nosso
sexta doença. Percebeu como é simples? Res- paciente ao observamos o surgimento do exan-
posta: letra B. tema após o desaparecimento da febre. Res-
posta: letra B.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014


HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UEL – PR HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC – SC
Sobre o exantema súbito, considere as afirmati- Assinale a alternativa CORRETA. Lactente
vas a seguir. I. A febre costuma ser baixa e ocor- feminina de 11 meses, previamente saudável,
re após o aparecimento do rash maculopapular. é levada à consulta por febre alta de início
II. Crianças podem apresentar convulsão febril súbito. Na noite anterior estava chorosa e ir-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 41

ritada. A paciente frequenta creche e há rela- a) Eritema infeccioso.


to de algumas crianças febris na classe da b) Exantema súbito.
menina. Ao exame apresenta 39,6°C, o pulso c) Mononucleose infecciosa.
é 130/min, a frequência respiratória é de 30 d) Rubéola.
irpm, coriza hialina, hiperemia conjuntival bi-
lateral e linfadenomegalia occipital discreta. É Percebeu como o quadro sempre se repe-
orientado tratamento sintomático apenas. Três te? Só pelo fato de estarmos diante de um
dias após o início da febre, a criança retorna lactente, a hipótese de exantema súbito já se
por rash macular eritematoso de início em torna uma das principais. As doenças exante-
tronco e que depois estendeu-se para mem- máticas na infância são, de uma forma geral,
bros e face. O diagnóstico provável é: mais comuns em pré-escolares e escolares.
a) Varicela. d) Exantema súbito. O exantema súbito é a exceção, pois acome-
b) Sarampo. e) Rubéola. te principalmente os lactentes. Em relação às
c) Eritema infeccioso. outras opções, temos o seguinte: o quadro do
eritema infeccioso, causado pelo parvovírus
Por mais que exista o relato de contato com B19, não guarda qualquer relação com o qua-
crianças doentes na creche, é bem provável dro apresentado. Vamos pensar em eritema
que essa lactente tenha sido infectada no am- infeccioso principalmente quando estivermos
biente doméstico. Estamos diante de um qua- diante de uma história em que se caracteriza
dro bem típico de exantema súbito, ou roséo- um exantema em três fases. Na primeira fase
la infantil. Em algumas doenças exantemáti- há um exantema na face, mais intenso nas
cas, chegaremos ao diagnóstico pela presen- regiões maxilares com aspecto de “bochecha
ça de sinais muito característicos na fase esbofeteada”; na segunda fase ocorre a dis-
prodrômica ou na fase exantemática. Já no seminação do exantema para tronco e extre-
exantema súbito, o diagnóstico só é estabe- midades proximais, principalmente nas super-
lecido pela análise em conjunto dessas duas fícies extensoras. As máculas adquirem um
fases. Na fase prodrômica podemos encontrar clareamento central, dando um aspecto ren-
a presença de febre elevada e algumas ma- dilhado; finalmente, a terceira fase pode durar
nifestações inespecíficas, como irritabilidade entre uma e três semanas e é caracterizada
e anorexia. Essa febre costuma durar por até pela recidiva do exantema em decorrência de
72 horas e, tipicamente, desaparece em crise, alguns estímulos, como a exposição ao sol,
isto é, de forma súbita. Algumas horas após o calor, estresse e exercício. Já a rubéola não
desaparecimento da febre, nota-se o surgi- se apresenta com a história de exantema que
mento de exantema maculopapular, que co- sucede o desaparecimento da febre alta. Na
meça no tronco e dissemina-se pelo pescoço, fase prodrômica pode haver febre baixa, dor
face e extremidades proximais. Há tendência de garganta, conjuntivite, cefaleia, mal-estar,
à confluência, mas não há prurido ou desca- anorexia e linfadenomegalia (cadeias subocci-
mação. Esse exantema costuma ser bem pital, pós-auricular e cervical). Já a fase exan-
breve. Uma dúvida que poderia surgir na ava- temática é caracterizada por um exantema
liação dessa questão seria a descrição da maculopapular róseo, irregular que se inicia
linfadenopatia occipital. Já vimos em outros na face e pescoço e dissemina-se para tronco
momentos que esse é um achado que deve e extremidades. E, por último, a mononucleo-
nos remeter ao diagnóstico de rubéola e é se infecciosa. A história geralmente tem um
possível que a banca tenha colocado essa curso mais insidioso, com febre baixa. Além
informação para confundir o candidato. Porém, do exantema, que é pouco comum, encon-
a rubéola é uma doença leve, que geralmente tramos diversas outras alterações ao exame
cursa com febre baixa, bem diferente do que físico, como amígdalas aumentadas de tama-
foi apresentado no quadro. Resposta: letra D. nho, muito hiperemiadas, com petéquias em
palato e exsudato fibrinopurulento (lembre-
-se de que a mononucleose é um diagnóstico
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 diferencial da faringite estreptocócica). Além
PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG disso, podemos observar linfadenomegalia,
Lactente, 1 ano de idade, inicia com quadro esplenomegalia, hepatomegalia, edema de
súbito de febre alta (39ºC) contínua, irritabi- pálpebras (Sinal de Hoagland). Outro dado
lidade e anorexia. Após 3 a 4 dias cessa a que quando presente irá sugerir o diagnóstico
febre e surgem lesões maculopapulares ro- é o aparecimento de exantema após o uso de
sadas iniciando no tronco com disseminação ampicilina; esse exantema é bastante comum
para a face e extremidades. O diagnóstico e surge em cerca de 80% dos quadros. Res-
mais provável é: posta: letra B.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 42

5. VARICELA

Quem é o agente etiológico? tivas em uma mesma região do corpo →


polimorfismo regional.
Vírus varicela-zóster. Faz parte da sub-
família alfa-herpesvirinae da família Her- Qual é a principal complicação bacteria-
pesviridae. na?
Como e quando ocorre a transmissão? Infecção secundária das lesões.
Através de secreções orofaríngeas ou no Podemos evitar?
fluido das lesões por aerossol e contato
direto. Profilaxia pré-exposição – vacina.

O período de transmissão vai de dois dias - Ministério da Saúde: para todas as crian-
antes do início do exantema até todas as ças aos 15 meses (vacina tetraviral).
lesões tornarem-se crostas. - Pela Sociedade Brasileira de Pediatria:
para todas as crianças, em duas doses
Quais são os dados clínicos mais mar- (aos 12 e 15 meses).
cantes do quadro? Profilaxia pós-exposição – vacina (em
Exantema vesicular de distribuição cen- até cinco dias) ou imunoglobulina huma-
trípeta com lesões em várias fases evolu- na antivaricela-zóster (em até 96h).

Introdução A nossa realidade ainda não é essa. No Bra-


sil, a vacina passou a ser disponibilizada em
A varicela nada mais é do que a famosa ca- caráter universal para todos pelo Ministério da
tapora. Esta doença costuma ter um curso Saúde dentro do Programa Nacional de Imu-
benigno e autolimitado na infância. Embora nizações apenas em 2013. Assim, a doença
seja uma doença imunoprevenível, continua continua bastante comum em nosso meio,
sendo bastante comum em nosso meio, uma com a grande maioria dos casos ocorrendo
vez que a vacina contra varicela foi introduzida antes dos 15 anos de idade. Ainda que não
no Calendário Básico da Criança apenas no tenhamos dados muito consistentes sobre a
segundo semestre de 2013. incidência de varicela no Brasil, a estimativa
é de cerca de 3.000.000 de casos ao ano. No
Quem é o agente causador? período de 2008 a 2012, a taxa de internação
variou de 2,3 a 5,2/100.000 habitantes.
A doença é causada pelo Vírus Varicela-Zós-
ter (VVZ), um alfa-herpesvírus de DNA da fa- A doença pode ocorrer o ano inteiro, mas há
mília Herpesviridae. O ser humano é o único um aumento do número de casos no final do
reservatório do agente. inverno e início da primavera. Nos serviços
pediátricos, é fácil percebermos o momento
O VVZ é capaz de causar infecção primária, em que “começam os casos de varicela do
latente e recorrente. A capacidade de estabe- ano”. A doença é bastante contagiosa e a
lecer uma infecção latente após a infecção pri- transmissão no ambiente doméstico para os
mária é uma característica comum de diversos suscetíveis é de 65 a 86%. Não é difícil ter-
membros da família dos herpes-vírus. A infec- mos várias crianças de uma mesma família
ção primária leva ao quadro de varicela. Após com a doença. A taxa de transmissão em
a primoinfecção, o vírus estabelece infecção outros ambientes, como escolas e hospitais,
latente nos gânglios sensoriais e a reativação não é tão alta assim.
provoca o quadro de herpes-zóster, mais co-
mum em indivíduos mais velhos e com comor- Herpes-zóster
bidades. O leigo costuma chamar o quadro de
herpes-zóster de “cobreiro”. Se prepare para O herpes-zóster não é comum na infância e
ouvir esse termo algumas vezes na vida. 75% dos casos ocorrem após os 45 anos.
Crianças saudáveis com menos de 10 anos
só costumam ter esta afecção quando a in-
Epidemiologia fecção primária pelo vírus tiver ocorrido na
vida intrauterina ou com menos de um ano
Varicela de idade. Porém, nas crianças que recebem
algum tratamento imunossupressor e naque-
Ainda que o quadro de varicela costume ser las infectadas pelo HIV, o quadro de herpes-
benigno na infância, pode estar associado com -zóster ocorre com mais frequência. Nesses
complicações, especialmente se associado a casos, o quadro pode ocorrer várias vezes.
algumas comorbidades. Esse é um dos moti-
vos pelos quais vários países recomendam a Existe uma vacina para herpes-zóster, recen-
vacinação universal contra varicela. Nos Es- temente licenciada no Brasil para maiores de
tados Unidos, onde isso é feito desde os anos 50 anos, que é atualmente encontrada ape-
90, houve um declínio importante na morbida- nas em clínicas privadas. A Sociedade Bra-
de e mortalidade pela doença, com diminuição sileira de Imunizações recomenda esta vaci-
no número de casos, internações e óbitos. na para todos os idosos.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 43

Transmissão e Patogênese As lesões cutâneas do herpes-zóster têm as-


pecto histopatológico idêntico ao encontrado
O vírus é encontrado nas secreções respira- nas lesões da varicela e em todas elas pode-
tórias e no líquido das lesões cutâneas do pa- mos encontrar o VVZ. Os pacientes imuno-
ciente com varicela e pode disseminar-se por competentes com herpes-zóster e doença
via aérea por aerossóis e pelo contato direto localizada não costumam eliminar o vírus nas
com as lesões (menos comum). A transmis- secreções respiratórias, mas podem transmi-
sibilidade ocorre de um a dois dias antes do ti-lo pelo contato direto com as lesões.
surgimento do exantema até o momento em
que todas as vesículas tornam-se crostas (o
que em geral ocorre de três a sete dias após Clínica
o início das lesões). Repetindo o que já vimos
várias vezes em outras doenças exantemáti- O diagnóstico clínico costuma ser bastante
cas: o vírus começa a ser transmitido mesmo simples. Na vida real, quando estamos ava-
antes de suspeitarmos que o paciente pos- liando uma criança com uma doença exante-
sa estar com a doença. Quando afastamos a mática, não é incomum coçarmos um pouco
criança com varicela da escola, uma parte do a cabeça e dizermos para a mãe do paciente:
estrago já ocorreu. “Bem... Hummm... Deve ser alguma doença
viral, mas precisamos confirmar com a soro-
O vírus é inoculado na mucosa do trato respi- logia...”. Aqui a história é outra. A sua vizinha
ratório superior e nos tecidos linfoides e come- pode te mostrar o filho no elevador do prédio
ça a se replicar. Tem início o período de incu- e você é capaz de bradar com orgulho e con-
bação da doença, que dura entre 10 e 21 dias vicção: “Sim! Não tenho dúvidas: é catapora!”.
(esse é um período que você deve guardar!). Depois, caso você seja suscetível, saia rápido
Ocorre uma primeira viremia subclínica, que do elevador.
espalha o vírus pelo sistema reticuloendote-
lial. Passam-se alguns dias e ocorre a disse- Varicela
minação cutânea do vírus por meio de uma
segunda viremia, que dura entre três a sete O período de incubação, você já sabe, pode
dias. Próximo ao fim do período de incubação, durar entre 10 e 21 dias, mas a doença cos-
o vírus é novamente transportado para a mu- tuma começar entre 14 e 16 dias após o con-
cosa respiratória, começando a ser eliminado tágio. Seguindo o mesmo esquema, vamos
antes do aparecimento do exantema. separar os pródromos da fase exantemática.

Não tínhamos dito que a doença é autolimita- Fase Prodrômica


da? A limitação é imposta pela própria respos-
ta imune do hospedeiro, que é capaz de con- As crianças menores simplesmente não
ter a replicação viral. A resposta imune celular costumam apresentar pródromos. As mani-
é fundamental para frear a replicação do vírus, festações cutâneas costumam ser as primei-
impedindo a disseminação da infecção para ras alterações. As crianças maiores e adul-
órgãos como pulmão, fígado e cérebro. Se tos podem apresentar febre, geralmente
houver um comprometimento dessa resposta, moderada, mal-estar, adinamia, anorexia e
poderá haver doença disseminada. É por isso dor abdominal. Esses sintomas surgem um
que a história natural da doença é bem dife- a dois dias antes do exantema e em nada
rente no imunocomprometido, especialmente nos auxiliam no raciocínio diagnóstico. A
naquele com defeito na imunidade celular. febre e os outros sinais sistêmicos, quando
presentes, costumam desaparecer em até
Mas e quando a infecção primária é finalmen- dois ou quatro dias após o surgimento da
te contida, você acha que acabou? Claro que erupção cutânea.
não. Após o controle da doença, o VVZ não
é eliminado do organismo. Ele caminha de Fase Exantemática
forma retrógrada pelos axônios sensoriais e
alcança os gânglios das raízes dorsais, per- Se você quiser guardar apenas uma palavra,
manecendo em estado de latência por muitos guarde o termo “polimorfismo”.
anos. O vírus latente pode sofrer reativação,
se replicar nos gânglios e fazer o caminho de Qual é o aspecto das lesões? A lesão inicial
volta pelos nervos até a pele correspondente consiste em uma mácula eritematosa e pruri-
a um dermátomo, levando ao surgimento das ginosa, que se converte em uma pápula, que
lesões do quadro de herpes-zóster. É isso que evolui em vesícula de conteúdo cristalino.
explica a distribuição típica do exantema nes- Essa vesícula lembra uma “gota de orvalho
sa forma clínica, como veremos mais adiante. sobre uma pétala de rosa”. Poético, não? Em
O surgimento das novas lesões na pele tam- 24-48 horas, ou menos, cada vesícula evolui
bém é autolimitado e a formação de crostas como pústula com umbilicação central e for-
ocorre em até duas semanas. Os mecanismos mação de crostas. A FIGURA 14 nos mostra
que levam a essa reativação ainda não são com detalhes a evolução da lesão por esses
bem conhecidos. vários estágios.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 44

Figura 14: Evolução das lesões na varicela: mácula-pápula-vesícula-pústula-crosta.

Cada nova lesão que surge evolui dessa ma- entre dois e quatro dias. No momento em que
neira. Veja agora que interessante: ao mesmo todas as lesões tornam-se crostas e novas
tempo em que algumas vesículas já se torna- lesões param de surgir, sabemos que a viremia
ram crostas, há novas vesículas surgindo. Por foi interrompida. Isso é fundamental para de-
este motivo, em uma mesma região do corpo, finirmos o momento em que temos certeza de
podemos encontrar lesões em vários estágios que o indivíduo parou de transmitir o vírus e
evolutivos, que dá origem ao polimorfismo pode retomar suas atividades normais, como
regional, tipicamente evidenciado na FIGURA ir à creche ou à escola.
15. Essas lesões também se espalham pelas
superfícies mucosas, atingindo orofaringe, O que ocorre quando essas lesões desapare-
mucosa vaginal e conjuntiva, como você vê cem? Todas as crostas irão finalmente desa-
nesta mesma figura. parecer entre uma e duas semanas deixando
áreas de hipo ou hiperpigmentação. A formação
de cicatrizes permanentes não é comum, ex-
Figura 15: ceto quando ocorre a infecção secundária de
Varicela – uma lesão. Você tem alguma cicatriz que lhe
observe as disseram que era por “catapora”? É possível
lesões em
diferentes que ela seja o fruto de uma lesão infectada.
estágios e
a presença
das lesões Varicela = exantema polimórfico e
em mucosa. pruriginoso

Como essas lesões progridem? As primei-


ras lesões em geral surgem no couro cabe- Será que é simples assim?
ludo, na face e no tronco. No exame geral
do paciente você é capaz de perceber que RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
o exantema tem uma distribuição centrípeta, ALIANÇA SAÚDE – PR
ou seja, é mais evidente no centro do corpo Uma criança com varicela apresenta como
(veja a FIGURA 16). Essas lesões se disse- característica principal:
minam do centro para a periferia, o que carac- a) Presença de variados tipos de lesões em
teriza uma disseminação centrífuga. Alguém vários estágios de evolução em uma região
já se deu ao trabalho de contar e observou do corpo.
que há, em média, 300 lesões presentes. O b) Presença apenas de máculas em um
segundo caso dentro de um mesmo domicí- mesmo estágio de evolução em uma região
lio (caso secundário) costuma ter um número do corpo.
maior de lesões e apresenta o surgimento de c) Presença apenas de pápulas em um mesmo
novas lesões durante um período de tempo estágio de evolução em uma região do corpo.
mais prolongado. Os pacientes com doenças d) Presença apenas de bolhas em um mesmo
cutâneas também podem ter um exantema estágio de evolução em uma região do corpo.
mais extenso. Daqui a pouco veremos que e) Presença apenas de crostas em um mesmo
essas peculiaridades serão critérios para in- estágio de evolução em uma região do corpo.
dicarmos o tratamento específico da doença.
Acredite: é simples assim! A principal carac-
terística clínica é o polimorfismo das lesões
cutâneas, que se apresentam nas diversas
formas evolutivas em uma mesma região do
corpo, acompanhadas de prurido. Resposta:
letra A.

Outras Apresentações Clínicas


Figura 16:
Varicela – Além do quadro típico, acima descrito, a infec-
distribuição
centrípeta ção primária também pode ter outras apresen-
das lesões. tações clínicas.

• Varicela em indivíduos vacinados (“break-


Conforme a resposta imune do hospedeiro vai -trough varicella”): é a doença que ocorre
controlando a replicação viral, o aparecimen- pelo menos 42 dias após a vacinação e é
to de novas lesões vai sendo interrompido. O causada pelo vírus selvagem. A administra-
surgimento das novas lesões dura, em média, ção de uma dose da vacina tem uma eficácia
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 45

superior a 97% na prevenção dos casos o vírus, o concepto também recebe anticor-
graves e de 85% na prevenção de qualquer pos, o que diminui o risco de doença grave.
forma da doença após o contato com o vírus. E qual é o problema se o quadro clínico ma-
Em termos práticos, isso significa dizer que terno tiver início até dois dias após o parto
aproximadamente uma em cada cinco crian- – a criança já não terá nascido? Lembre-se
ças que tenham recebido uma dose da vaci- de que a viremia tem início antes da erupção
na e sejam expostas ao vírus selvagem terá e, neste caso, a viremia materna já estava
varicela. A doença nessas crianças tem evo- ocorrendo dois dias antes do surgimento do
lução mais benigna e um quadro um pouco exantema, ou seja, antes do nascimento.
diferente, com lesões predominantemente Logo, pouco antes de nascer, o feto terá
maculopapulares e em menor número (me- recebido o vírus, mas não terá havido tempo
nos que 50 lesões). Esse paciente é menos para a produção e passagem de anticorpos.
contagioso, mas ainda assim pode transmitir
o vírus e deve ser afastado do ambiente es- • Varicela congênita: a varicela congênita não
colar. Algumas crianças vacinadas também deve ser confundida com o quadro neonatal que
podem apresentar a forma típica da doença, acabamos de ver. Na varicela congênita, a ex-
mas isso é bem menos comum. posição também ocorre durante a vida intraute-
rina, mas a infecção aqui ocorre no início da
Você percebeu que o quadro de breaktrough gestação e pode levar a malformações. Até 25%
varicella foi caracterizado como um quadro dos conceptos são infectados quando a gestan-
que ocorre mais do que 42 dias após a vaci- te é contaminada no início da gestação, mas,
nação? E se um indivíduo vacinado apresen- felizmente, apenas uma parcela deles irá apre-
tar o surgimento de erupção cutânea em um sentar manifestações. A síndrome da varicela
período inferior a esse, qual será a causa congênita propriamente dita costuma ser encon-
disso? Nessa situação, o quadro poderá ser trada apenas quando a infecção materna tiver
causado pelo vírus vacinal ou pelo vírus sel- ocorrido nas primeiras 20 semanas da gestação.
vagem. O vírus vacinal é um vírus vivo ate- A síndrome é caracterizada por lesões cicatri-
nuado, como iremos estudar com detalhes ciais cutâneas que seguem um padrão zosteri-
em algumas semanas, e pode levar ao sur- forme (acompanham o trajeto de um dermáto-
gimento de uma erupção cutânea de aspec- mo), hipoplasia dos membros e anomalias
to variceliforme. Aceita-se que em países neurológicas, oculares, renais e do sistema
onde ainda há muita circulação do vírus sel- nervoso autônomo. O diagnóstico é estabeleci-
vagem, o exantema que surja até uma ou do pela história de varicela durante a gestação
duas semanas após a vacina seja causado associada aos achados característicos no re-
pelo vírus selvagem. Quando as lesões sur- cém-nascido. Se uma criança sem relato de
girem entre 14 e 42 dias da vacinação, po- varicela apresenta anticorpos IgG contra o vírus
derão ser resultado tanto de uma infecção mesmo após 12-18 meses de vida, isso também
pelo vírus selvagem quanto de um evento indica a infecção intrauterina. Essas crianças
adverso da própria vacina. podem, ainda, apresentar o quadro de herpes-
-zóster no primeiro ano de vida. A FIGURA 17
• Varicela no período neonatal: um recém- ilustra as alterações que podem ser encontradas.
-nascido que desenvolva o quadro de vari-
cela poderá ter sido infectado de duas for- E quando, em vez de ter varicela, a gestante
mas. A primeira delas é a que acabamos de tiver herpes-zóster? Nesses casos, não é
ver, que se aplica a toda a população: o re- comum que ocorra o desenvolvimento de
cém-nascido pode ser exposto, seja na co- malformações no feto. Existem apenas rarís-
munidade ou na maternidade, a um indivíduo simos relatos de anomalias associadas ao
com varicela, ser infectado e vir a desenvol- quadro de herpes-zóster durante a gestação.
ver a doença. A segunda delas é a mais
preocupante: a exposição ao vírus pode
ocorrer por via hematogênica transplacentá-
ria, caso a gestante contraia a infecção.
Crianças nascidas de mulheres com varice-
la iniciada de cinco dias antes até dois dias Figura 17: Va-
após o parto têm um risco alto de desen- ricela congê-
nita – lesões
volver uma forma grave da doença! O que cicatriciais e
ocorre nesta situação é que, durante a fase hipoplasia dos
de viremia materna, o vírus poderá passar membros rela-
cionados.
pela placenta e infectar o concepto. Logo
após o nascimento, a criança ainda estará
no período de incubação da doença e as Herpes-zóster
manifestações clínicas irão surgir tipicamen-
te entre o final da primeira e o início da se- O quadro de herpes-zóster também costu-
gunda semana de vida. Em poucos parágra- ma ser de fácil reconhecimento, como você
fos iremos ver qual estratégia podemos pode observar na FIGURA 18. É exatamen-
adotar para prevenir o adoecimento desses te esse aspecto que caracteriza o quadro:
bebês. Quando a infecção materna ocorrer a presença de lesões vesiculares agrupa-
mais do que cinco dias antes do nascimento, das em um ou dois dermátomos adjacentes
haverá tempo para a produção de anticorpos (mais comumente apenas em um). A região
pela mulher e, deste modo, além de receber torácica é a mais acometida.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 46

Complicações
Figura 18:
herpes-zóster
– observe as As complicações da varicela, principalmente
vesículas as mais graves, são mais frequentes em pa-
agrupadas
acompanhando cientes imunocomprometidos.
o trajeto do
dermátomo. Infecções Bacterianas Cutâneas

Nos pacientes idosos, o surgimento das vesí- Imagine uma lesão pruriginosa em uma pele
culas costuma ser precedido por queimação lesada... É um prato cheio para uma infecção
no local e esta população apresenta compli- bacteriana secundária, não é mesmo? Não é
cações com frequência, sendo a neuralgia difícil entender por qual motivo essas infec-
pós-herpética a mais comum. Além disso, es- ções são tão comuns, acometendo até 5% das
ses pacientes queixam-se de febre, mal-es- crianças com varicela. Os principais agentes
tar e cefaleia. envolvidos são o estreptococo do grupo A e o
Staphylococcus aureus. O espectro de gravi-
O quadro nas crianças é um pouco diferente, dade é amplo e envolve desde o impetigo até
pois o exantema é leve, não se associa com lesões mais profundas. Além disso, a varicela
outras manifestações e não costuma evoluir também serve como porta de entrada para
com neuralgia. Isso não é válido para as crian- infecções estreptocócicas mais graves, como
ças imunocomprometidas, que apresentam um fasceíte necrosante, osteomielite ou sepse.
quadro mais grave e que pode evoluir com a
neuralgia pós-herpética. Além disso, os imu- Surge uma dúvida comum: como é que pela
nodeprimidos podem ter lesões disseminadas, avaliação clínica da lesão saberei que existe
semelhantes às da varicela, e disseminação uma infecção bacteriana associada? Duas
visceral. Reforçando o conceito já visto: há um informações nos auxiliam nesse sentido: a
maior risco de herpes-zóster na infância relacio- primeira é a presença de eritema na base de
nado com a infecção intrauterina ou no primeiro uma vesícula nova; a segunda é a recrudes-
ano de vida. cência da febre após três ou quatro dias do
início do exantema. É evidente que nas infec-
ções mais extensas, como em uma celulite, o
Avaliação Complementar quadro será bem mais exuberante.

Na maioria das vezes, não será necessária a Pneumonia


realização de exames complementares para
confirmação do diagnóstico de varicela. Essa Esta é a complicação que mais aumenta a
confirmação poderá ser necessária quando morbidade e mortalidade por varicela em adul-
houver dúvidas no diagnóstico de um pacien- tos e outros grupos de risco, como os imuno-
te de alto risco, para os quais é necessária a deprimidos. Ainda que seja menos comum,
adoção rápida de medidas específicas. também pode ser uma complicação identifica-
da na infância. Os sinais e sintomas que su-
Na avaliação laboratorial geral, encontramos gerem a infecção das vias aéreas inferiores,
leucopenia nas primeiras 72 horas após o iní- como dispneia e, por vezes, hemoptise costu-
cio do exantema, seguida de linfocitose. As mam surgir entre um e seis dias após o início
enzimas hepáticas ficam levemente eleva- do exantema.
das em 75% dos casos. Nos pacientes com
complicações neurológicas pode haver uma Complicações no Sistema Nervoso Central
discreta pleocitose linfocítica liquórica e au-
mento da proteinorraquia. Existem duas complicações neurológicas bem
descritas, que são os quadros de encefalite e
A identificação do VVZ pode ser feita a par- de ataxia cerebelar aguda. Na meningoence-
tir das próprias lesões cutâneas através de falite, há rigidez de nuca, alteração do nível
vários métodos, como por PCR. A avaliação de consciência e convulsões. Já na ataxia
citológica das lesões (teste de Tzanck) pode cerebelar aguda, há alteração do equilíbrio,
evidenciar células gigantes multinucleadas, o da fala e nistagmo. A ataxia é a mais comum
que sugere o diagnóstico. Porém, esta ava- das duas e resolve-se espontaneamente em
liação tem baixa sensibilidade e não diferen- alguns dias ou semanas; costuma começar
cia a infecção pelo VVZ da infecção causada alguns dias após o início do exantema, mas
pelo vírus herpes-simples. pode surgir ainda na fase de incubação ou
mesmo após a resolução do quadro.
Em relação à detecção de anticorpos, o au-
mento nos títulos de IgG pode indicar infecção Outra manifestação neurológica descrita, bas-
aguda e também é útil para avaliar a exposição tante rara nos dias atuais, é a síndrome de
prévia ao vírus, quando a história pregressa Reye, uma condição potencialmente fatal ca-
não é fidedigna. Os métodos que detectam racterizada pela associação de disfunção he-
IgM não são confiáveis e por isso não são pática com hipoglicemia e encefalopatia. Essa
largamente utilizados. condição é precipitada pelo uso de Ácido Ace-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 47

tilsalicílico (AAS) durante algumas infecções ter descrito o quadro inicial e depois pergun-
virais (principalmente varicela e influenza) em tado sobre a complicação. A pergunta é: quais
indivíduos geneticamente predispostos. O qua- as complicações neurológicas da infecção pelo
dro clínico é caracterizado pelo surgimento de vírus da varicela? O quadro neurológico en-
vômitos e sintomas neurológicos durante a globa a encefalite e a ataxia cerebelar aguda,
evolução de um quadro viral que parecia já que também pode ser chamada de cerebelite.
estar se resolvendo. Ocorre o rebaixamento do Você acabou de aprender que o quadro de
nível de consciência, culminando no estado ataxia cerebelar aguda se caracteriza pelas
comatoso. alterações na marcha, nistagmo e distúrbios
na fala, não é? O quadro enunciado trouxe
Embora curse com hepatomegalia e sinais de apenas a alteração na marcha, o que continua
insuficiência hepática franca, não há icterícia. sendo perfeitamente compatível com o diag-
O uso de AAS é terminantemente proscrito nóstico da ataxia cerebelar aguda, ou cerebe-
diante da possibilidade dessas infecções. lite. Resposta: letra B.

Você está achando que são muitas com- Varicela Progressiva


plicações e que não vale conhecer todas?
Está aí um estímulo para você continuar Mais comum nos imunocomprometidos! Nes-
sua leitura! Tudo o que está aqui pode cair, ta forma clínica, temos um quadro caracteri-
acredite. zado pelo surgimento prolongado de lesões,
envolvimento visceral, coagulopatia e hemor-
ragias graves. Devemos sempre lembrar que
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 o surgimento de dor abdominal intensa ou de
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE – RIO lesões hemorrágicas deve ser valorizado,
DE JANEIRO – RJ pois pode ser o prenúncio desta grave evo-
Crianças com varicela que fazem uso de áci- lução. Felizmente, essa forma não é comum
do acetilsalicílico como antitérmico podem em crianças previamente hígidas. O grupo
apresentar uma síndrome caracterizada por de maior risco inclui os pacientes com com-
encefalopatia grave e degeneração gordurosa prometimento da imunidade celular, seja um
do fígado. Essa alteração é denominada sín- comprometimento congênito ou adquirido, os
drome de: transplantados e os com neoplasias. A mor-
a) Reye. talidade sem terapia antiviral específica nas
b) Pompe. crianças em tratamento quimioterápico chega
c) Willians. a 7% e o óbito em geral ocorre até três dias
d) Edwards. após o diagnóstico de pneumonia. Esse qua-
dro grave também pode ocorrer em pacientes
Questão clássica! Na suspeita de infecções que fazem uso de corticoides em altas doses.
pelos vírus varicela-zóster e influenza, o uso Também já foi descrito em indivíduos que
de ácido acetilsalicílico está formalmente con- fazem uso de corticoide inalatório ou que
traindicado pelo maior risco para o desenvol- fazem múltiplos cursos de corticoterapia sis-
vimento da síndrome de Reye. Como indicado têmica. Você verá que esses pacientes são
no próprio enunciado, a síndrome caracteriza- candidatos a um tratamento diferenciado
se por degeneração aguda do fígado acom- justamente por isso.
panhada de encefalopatia grave. Clinicamen-
te, temos um paciente que vinha recuperando- Outras Complicações
-se de algum quadro viral e que começa a
apresentar encefalopatia e vômitos. A disfun- A hepatite leve é relativamente comum, mas
ção hepática cursa com aumento de transa- raramente causa manifestações clínicas.
minases, coagulopatia, mas com níveis de
bilirrubina normais. O óbito nestes pacientes A trombocitopenia pode estar presente em 1
decorre de hipertensão intracraniana com a 2% das crianças com varicela e geralmente
herniação. Resposta: letra A. pode se manifestar sob a forma de petéquias
isoladas. Raramente, observamos vesículas
hemorrágicas, sangramento intestinal ou he-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 matúria.
FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA
UNICAMP
Criança, 4a, com história de varicela há 10 Tratamento
dias, apresenta dificuldade para deambular
com marcha cambaleante há 1 dia. O DIAG- Varicela
NÓSTICO MAIS PROVÁVEL É:
a) Abscesso cerebelar. O tratamento é simplesmente sintomático na
b) Cerebelite. maior parte das vezes e inclui o uso de antitér-
c) Síndrome de Guillain-Barré. micos, em caso de febre, e anti-histamínicos
d) Mielite transversa. sistêmicos, para controle do prurido. As unhas
devem ser mantidas curtas. As infecções bac-
A questão foi simples, pois já tinha sido dito terianas secundárias serão tratadas com an-
que o paciente tinha tido um quadro de vari- tibióticos orais ou parenterais, de acordo com
cela. Uma questão mais rebuscada poderia a gravidade do quadro.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 48

Temos aqui a possibilidade de realizar um • recém-nascido com varicela neonatal por


tratamento específico (finalmente! Até agora exposição perinatal (o esquema aqui é: aci-
em todas as doenças virais o máximo que clovir 10 mg/kg/dose de 8/8 horas).
fazíamos era prescrever sintomáticos...). O
aciclovir é capaz de modificar o curso da Nesses casos, não há tempo a perder, pois
doença. Ainda assim, seu uso não é reco- esses pacientes podem evoluir rapidamente
mendado de forma rotineira para o tratamento para o óbito. A droga pode ser iniciada mesmo
de todas as crianças com varicela que sejam após 72 horas do início do exantema, pois o
previamente hígidas. período de replicação no imunossuprimido é
mais prolongado (mas é claro que se deve
O tratamento pode ser feito por via oral ou tentar iniciá-la o mais precocemente possível,
parenteral, da seguinte forma: ainda nas primeiras 24 horas).

• Aciclovir oral: Alguns especialistas recomendam o uso do


aciclovir para tratamento da gestante infecta-
Dose: 20 mg/kg/dose (máximo 800 mg) em 4 da, mas a segurança da droga para o feto
doses ao dia por 5 dias. Deve ser iniciado ainda não foi bem estabelecida. Quando a
idealmente nas primeiras 24 horas do início gestante apresenta complicações graves da
do exantema ou até no máximo em 72 horas doença, não tem outro jeito, deve-se fazer a
(não parece ser eficaz se iniciado após esse medicação.
período).
Já foram identificados casos de VVZ resisten-
As principais situações em que o uso do aci- te ao aciclovir, especialmente em imunossu-
clovir oral deve ser considerado são: primidos. Uma alternativa nessa situação é o
uso de foscarnet.
• pacientes com mais de 12 anos (não gestan-
tes); Herpes-zóster

• crianças com mais de 12 meses com doenças O tratamento com antiviral é capaz de reduzir
cutâneas ou pulmonares crônicas; a duração da doença e o risco de neuralgia
pós-herpética nos adultos. O benefício do tra-
• indivíduos que usam corticoide sistêmico em tamento em crianças não é tão claro e não é
dose não imunossupressora e por tempo recomendado por todos os especialistas.
curto ou intermitente, ou que usam corticoide
inalatório; Os esquemas utilizados no tratamento dos
adultos incluem o aciclovir, o famciclovir e o
• indivíduos que fazem uso crônico de salici- valaciclovir.
latos;
• Aciclovir oral:
• o segundo caso em um mesmo domicílio.
Dose: 800 mg/dose (adultos) em 5 doses ao
Você não precisa enlouquecer “decorando” dia por 5-7 dias.
essa lista. Os pacientes que vão receber o
aciclovir oral são aqueles com risco de doen- • Aciclovir intravenoso:
ça mais grave ou de complicações. Já tínha-
mos visto que a doença é mais grave em Dose: 500 mg/m²/dose ou 10 mg/kg/dose IV
adultos e no segundo caso de um domicílio e de 8 em 8 horas. Indicado no tratamento de
que as complicações são mais comuns se imunossuprimidos que apresentem quadro
associadas ao uso de alguns medicamentos, disseminado, que é potencialmente fatal. Se
como os corticoides e ácido acetilsalicílico. Por o quadro não for complicado, poderá ser feito
isso, esses pacientes serão candidatos ao o tratamento oral.
tratamento específico!
Os idosos recebem também corticoterapia
associada, o que melhora a evolução na fase
• Aciclovir intravenoso: aguda. A corticoterapia não está recomenda-
da para as crianças.
Dose: 500 mg/m²/dose de 8 em 8 horas por
7-10 dias (dose para maiores de 1 ano), ou
até 48 horas após o surgimento da última lesão RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
ativa. HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN
– SP
As principais indicações para o uso são: Menino de 5 anos de idade, há 3 dias com
febre de até 38°C, lesões pruriginosas na for-
• doença grave ou progressiva (envolvimento ma de vesículas, pápulas e crostas, de apa-
visceral); recimento progressivo em tronco, couro cabe-
ludo e períneo. Segue imagem das lesões:
• imunossupressão (incluindo a corticoterapia Qual das afirmativas abaixo é correta com
em dose imunossupressora); relação à doença apresentada pelo paciente?
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 49

mendação para tratamento dos indivíduos com


mais de 12 (ou 13...) anos, desde que não
gestantes. O tratamento da gestante deve ser
individualizado em função da gravidade. Nos
casos em que há disseminação da infecção,
com envolvimento neurológico ou pulmonar,
o tratamento também será feito com a medi-
cação parenteral. Assim, a única indicação
para a medicação oral seria a apresentada na
opção D. Resposta: letra D.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015


SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE
SÃO JOSÉ DOS PINHAIS – PR
Paciente vem à Unidade de Saúde com quadro
de febre (39,5°C), cefaleia, mialgias e mal-es-
a) Deve-se investigar alergia a medicamentos tar. Três dias depois evolui com mácula, pá-
ou alimentar, dependendo de informações pula, vesícula e crosta no tronco, pescoço,
adicionais da anamnese. face e membros. Nega outras comorbidades.
b) A doença é transmissível enquanto houver A respeito do quadro acima é correto afirmar:
vesículas. a) As crostas são altamente infectantes, pro-
c) O tratamento consiste em limpeza local e longando o período de transmissibilidade.
antibiótico tópico. b) O exantema é menos exuberante nos adul-
d) A Síndrome de Reye pode ser uma compli- tos quando comparado ao das crianças.
cação, caso se utilize paracetamol como an- c) A infecção congênita pode levar a atrofia
titérmico. cortical e hipoplasia de membros.
d) O tratamento a ser instituído para este pa-
A imagem nem era necessária, não é ver- ciente é aciclovir por 05 dias.
dade? O enunciado já caracterizou que esta e) A complicação mais comum desta patologia
criança apresenta lesões polimórficas (em é a otite média aguda pelo H. Influenzae.
vários estágios de desenvolvimento), o que é
típico de varicela. Você já sabe que o indivíduo Caso simples e característico de varicela,
infectado começa a eliminar o vírus dois dias certo? Vejamos as afirmativas! A opção A está
antes da erupção cutânea e deixa de transmi- errada; no momento em que todas as lesões
ti-lo quando todas as lesões virarem crostas alcançam o estágio de crostas sabemos que
(logo, enquanto houver vesículas, continua o risco de transmissão se encerrou. A afirma-
ocorrendo a transmissão – opção B correta). tiva B também está errada; os adolescentes e
O tratamento é essencialmente de suporte, os adultos são pacientes de risco, com risco
com uso de sintomáticos, como antitérmicos maior de doença mais extensa e complicada.
e anti-histamínicos. É importante lembrarmos A opção C está correta e será a resposta; as
de nunca prescrever salicilatos pelo risco de alterações descritas podem ser encontradas
síndrome de Reye. Os antibióticos estão indi- em nascidos de mulheres com doença nas
cados apenas quando houver infecção secun- primeiras 20 semanas de gestação. A opção
dária associada (não há qualquer recomenda- D está errada; nem todos os pacientes com
ção para o uso rotineiro de antimicrobianos varicela irão receber o tratamento com antivi-
tópicos). Resposta: letra B. ral e não há, no enunciado, nada que indique
que este paciente teria recomendação para
tal (é fato que não nos foi dada sua idade...).
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 E, por fim, o erro da opção E é claro: a infecção
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE – RIO bacteriana secundária é a complicação mais
DE JANEIRO – RJ comum. Resposta: letra C
A varicela geralmente é uma doença autolimi-
tada, porém pode apresentar complicações
graves. O tratamento da varicela não compli- Prevenção
cada com aciclovir oral está recomendado nos
casos de: A prevenção da transmissão é difícil, pois o
a) Adolescentes, maiores de 13 anos, gestantes. indivíduo elimina o vírus antes do surgimento
b) Pacientes com encefalite pelo vírus da va- do exantema. De todo modo, a criança com
ricela. varicela deve ser afastada da escola e só deve
c) Crianças com imunodeficiência primária ou retornar quando todas as lesões estiverem na
secundária. fase de crostas. O paciente internado por va-
d) Crianças maiores de 12 meses com doen- ricela deve ser mantido em isolamento aéreo,
ça cutânea crônica. pois o vírus é transmitido por aerossóis.

Reveja rapidamente as recomendações


para o uso do aciclovir oral e não caia nas Pré-exposição
pegadinhas da banca! Em casos de imunode-
ficiência, o tratamento será sempre feito com Como já dito, a doença é imunoprevenível. A
o aciclovir por via intravenosa. Existe a reco- vacina é composta por um vírus vivo atenuado
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 50

e, por esse motivo, não pode ser administrada irmão teve varicela em casa, não recebe a
em imunodeprimidos e gestantes. vacina por isso. Poderá receber a tetra viral
se estiver na idade apropriada para tal, mas
No Brasil, a vacina contra varicela passou a apenas isso. Da mesma forma, uma criança
ser disponibilizada pelo Ministério da Saúde menor de nove meses que tenha contato com
(na vacina tetraviral) desde o segundo semes- um caso de varicela na comunidade não irá
tre de 2013. A recomendação é de que a va- receber a IGHAVZ!
cina seja administrada aos 15 meses para as
crianças que já tenham recebido uma dose da O Ministério não fornece mais a vacina mono-
tríplice viral. A Sociedade Brasileira de Pedia- valente contra varicela para bloqueios de sur-
tria recomenda que todas as crianças recebam tos em creche. O que se faz nestes casos é
duas doses da vacina. tão somente atualizar a situação vacinal: são
identificadas as crianças entre 15 meses e
A vacina também pode ser feita nos Centros dois anos de idade incompletos (que nada
de Referência para Imunobiológicos Especiais mais são do que as crianças candidatas à
(CRIE) para populações de risco ou indivíduos tetra viral pelo Programa Nacional de Imuni-
que convivam com populações de risco. zações) e, caso as mesmas ainda não tenham
Spoiler: iremos ver tudo isso com bastante recebido a vacina, esta deverá ser feita.
cuidado em algumas semanas.

Se você nunca teve varicela e não foi vacina- Imunoglobulina Humana Antivaricela Zós-
do, procure o CRIE da sua região. Os profis- ter (IGHAVZ): até 96 horas!
sionais de saúde que trabalham na área as-
sistencial, principalmente aqueles em contato A IGHAVZ deve ser administrada até 96 horas
com pacientes imunodeprimidos e os da área após a exposição. A dose é de 125 UI a cada
de pediatria, devem receber a vacina. Não 10 kg de peso (dose mínima de 125 UI, máxi-
queira ter a doença na vida adulta (ainda mais ma de 625 UI) por via intramuscular.
em ano de residência...).
Para saber se há indicação de IGHAVZ, você
deve responder “sim” às três perguntas se-
Pós-exposição guintes:

Esse tema é muito recorrente nas provas. Tal- 1º) O comunicante é suscetível?
vez seja o tópico relacionado à varicela que
mais aparece nos concursos. Leia com calma, • os suscetíveis são os indivíduos sem histó-
pois falta pouco pra acabar. ria bem definida da doença e/ou de vacina-
ção anterior e os indivíduos com imunossu-
A prevenção após a exposição a um caso de pressão celular grave, independentemente
varicela pode ser feita de duas maneiras: pela de história anterior.
vacinação de bloqueio ou pelo uso da Imuno-
globulina Humana Antivaricela Zóster (IGHAVZ). 2º) Houve o contato significativo com o
O uso de aciclovir no fim do período de incu- VVZ?
bação até pode modificar a evolução da doen-
ça, mas não é recomendado para esse fim na • esse contato pode ser domiciliar (perma-
criança hígida. nência junto ao doente durante pelo menos
uma hora em ambiente fechado) ou hospi-
talar (pessoas internadas no mesmo quarto
Vacinação de bloqueio: até 5 dias! do doente ou que tenham mantido com ele
contato direto, prolongado, de pelo menos
A doença pode ser prevenida ou ter sua evo- uma hora).
lução modificada quando administramos a
vacina até três ou cinco dias após a exposição 3º) Esse suscetível é uma pessoa com ris-
ao vírus (quanto antes, melhor). É a mesma co especial de varicela grave?
lógica do que vimos sendo feito nos casos de
sarampo. Porém, cuidado com o seguinte: o • os indivíduos de alto risco incluem:
Ministério da Saúde só libera a vacina para - crianças ou adultos imunodeprimidos;
profilaxia pós-exposição para uma situação de - gestantes;
controle de surto em ambiente hospitalar. Isto - recém-nascidos prematuros (crianças nos
é, quando há um caso de varicela em uma primeiros 28 dias de vida e que tenham
enfermaria, por exemplo, a vacina é adminis- nascido com menos de 37 semanas de
trada nos comunicantes suscetíveis imuno- idade gestacional). Neste caso, a indica-
competentes maiores de nove meses de ida- ção deve levar em conta a história mater-
de até 120 horas (cinco dias) após a exposi- na de varicela e o peso de nascimento/
ção. No bloqueio de surto em ambiente hos- idade gestacional. Se o recém-nascido
pitalar, os suscetíveis que não possam receber prematuro tiver 28 ou mais semanas de
a vacina (imunodeprimidos, grávidas, menores idade gestacional, só recebe a IGHAVZ
de nove meses) irão receber a IGHAVZ. se a mãe não tiver tido varicela, caso con-
trário ele terá recebido anticorpos pela
Se uma criança hígida maior de nove meses placenta; se tiver menos de 28 semanas
vai ao CRIE ou ao posto de saúde porque seu de idade gestacional ou menos de 1 kg
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 51

recebe de qualquer maneira, pois mesmo tido a doença, procura unidade dentro das
que a mãe tenha tido varicela a criança 96 horas pós-contágio para orientação.
terá nascido antes que a passagem trans- Mesmo a mãe tendo tido varicela, mas sen-
placentária de anticorpos ocorresse. Aten- do gestante, há a necessidade da imuno-
ção para o seguinte: não são todas as globulina humana anti-varicela-zóster?
crianças que nasceram prematuras que Não! Faremos a imunoglobulina apenas para
recebem a imunoglobulina, apenas os os indivíduos que sejam suscetíveis, isto é,
recém-nascidos, isto é, nos primeiros 28 não tenham tido a doença ou não tenham
dias de vida. sido previamente vacinados. A única situação
em que a história pregressa não terá impor-
Além disso, a IGHAVZ também é administrada tância será nos casos em que o paciente for
para os recém-nascidos, independente de portador de imunossupressão celular grave.
idade gestacional, de mães nas quais a vari-
cela apareceu nos cinco últimos dias de ges-
tação ou até 48 horas depois do parto (já tí- O aluno pergunta...
nhamos visto por qual motivo!). Neste caso,
“Qual é a conduta para uma criança
as duas primeiras perguntas nem precisam
menor de nove meses e que foi pre-
ser respondidas, pois a exposição terá sido
matura e que tenha contato em casa com um
por via hematogênica transplacentária. O re-
caso de varicela?”
cém-nascido a termo que tenha contato do-
méstico com um caso de varicela, não irá re- A imunoglobulina só é feita para os recém-
ceber a imunoglobulina por isso... -nascidos prematuros, levando-se em conta a
idade gestacional e o histórico materno da
É importante que você tenha o seguinte cui- doença. Após este período, só haveria reco-
dado: na sua prova nem sempre todas essas mendação de imunoglobulina para controle de
perguntas são respondidas de forma clara. surto em ambiente hospitalar. No contato do-
Os enunciados geralmente dizem apenas que méstico, não há nada a se fazer.
houve um caso de varicela na enfermaria ou
na casa de um imunodeprimido, sem detalhar
o tempo de exposição. Não brigue com a
REPETIR! REPETIR! REPETIR! SÓ ASSIM
questão por isso! Entenda o que o autor está
PARA NÃO ESQUECER!
tentando dizer e marque a opção correta!
Parece confuso?
E quando há o contato com o paciente que tem Veja só como é mais simples do que parece!
herpes-zóster, não é necessário fazer nada? Antes de ler as respostas, tente indicar sua
Os indivíduos de alto risco também devem re- conduta em cada caso.
ceber a imunoglobulina quando têm contato O que você faria nessas situações?
próximo com o paciente com herpes-zóster.
Situação 1: paciente com imunossupressão
grave, sem história prévia de doença, cujo ir-
mão mais novo, que mora na mesma casa,
Os casos de varicela devem está com varicela iniciada há 24 horas.
ser notificados? Situação 2: gestante, sem história prévia de
Desde junho de 2014, através da doença ou de vacina, cujo filho mais velho está
portaria 1.271, que define a lista com varicela iniciada há 48 horas.
nacional de notificação compulsó- Situação 3: lactente, seis meses, sem história
ria de doenças, agravos e eventos prévia de doença, cujo irmão mais velho, que
de saúde pública nos serviços de mora na mesma casa, está com varicela iden-
saúde públicos e privados em todo tificada há poucas horas.
o território nacional, os casos de Situação 4: lactente, seis meses, sem história
varicela graves internados e os prévia de doença, internado para realizar ci-
óbitos pela infecção passaram a rurgia ortopédica, está em pós-operatório
ser de notificação compulsória e quando tem contato com criança na mesma
imediata. enfermaria com varicela.
Não confunda! Os casos de menor Situação 5: lactente, onze meses, sem histó-
gravidade, acompanhados apenas ria prévia de doença, internado para realizar
ambulatorialmente, não precisam cirurgia ortopédica, está em pós-operatório
ser notificados. quando tem contato com criança na mesma
enfermaria com varicela.
Pense antes de ler… Pense mais um pouco…
O aluno pergunta... Respostas:
Situação 1: recomendar a imunoglobulina.
“Tenho uma dúvida a respeito de
exposição de gestantes a indivíduos Situação 2: recomendar a imunoglobulina.
com varicela. Se uma gestante no 2º trimes- Situação 3: nada a se fazer no momento.
tre de gestação, com filho de cinco anos Situação 4: recomendar a imunoglobulina.
com varicela, tendo histórico (sic) de já ter Situação 5: recomendar a vacina.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 52

Veja como as questões sobre esse tópico Nesta questão sequer houve a necessidade
sempre se repetem: de respondermos às três perguntas, pois a
indicação de profilaxia estava contemplada
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 em todas as opções. Já sabemos que o aci-
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA ULBRA – RS clovir não deve ser utilizado com essa finali-
Em seu 2º dia de internação no alojamento dade. Ficamos entre o uso da vacina e o uso
conjunto, uma puérpera recebe o diagnósti- da imunoglobulina. O paciente é imunodepri-
co de varicela. Seu filho nasceu de termo, mido, pois faz corticoterapia sistêmica em
com peso adequado, e não apresenta qual- dose imunossupressora (está internado para
quer alteração ao exame físico. A conduta pulsoterapia). É claro que não poderá receber
a ser tomada em relação a este Recém-Nas- a vacina. Indicaremos o uso da imunoglobuli-
cido (RN) é: na. Resposta: letra A.
a) Tranquilizar a mãe, enfatizando o caráter
benigno dessa doença, e manter o RN sob
rígida observação por 10 a 14 dias. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2007
b) Administrar imunoglobulina hiperimune an- FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA
tivaricela zóster (VZIG) ao RN. UNICAMP
c) Prescrever aciclovir à mãe, para evitar con- Menina, 5 anos, com síndrome nefrótica de
taminação do leite do seio pelo agente da lesões mínimas, em tratamento com predni-
doença. sona VO há um mês (2 mg/kg/dia), admitida
d) Administrar ao RN a 1ª dose de vacina te- com o diagnóstico de varicela. ASSINALE A
travalente viral (“MMR-V”). ALTERNATIVA CORRETA EM RELAÇÃO ÀS
MEDIDAS DE ISOLAMENTO E TERAPÊUTI-
A mortalidade é particularmente elevada CAS NESSE CASO:
em recém-nascidos de mães que apresen- a) Unidade de isolamento, sendo desneces-
taram varicela próximo à data do parto (cin- sária a pressão negativa; aciclovir IV e imuno-
co dias antes do parto a dois dias após), já globulina contra varicela zóster (VZIG).
que estão sob alto risco de varicela com b) Unidade de isolamento com pressão nega-
complicações graves. Nesses casos, está tiva; ganciclovir IV.
indicado o isolamento da mãe na fase con- c) Unidade de isolamento com pressão nega-
tagiante das lesões até a fase de crosta, tiva; aciclovir IV.
além da administração, o mais precocemen- d) Unidade de isolamento, sendo desneces-
te possível, de imunoglobulina específica sária a pressão negativa; aciclovir IV.
contra varicela na criança. Muitos autores e) Unidade de isolamento com pressão ne-
consideram que nesta fase possa ser forne- gativa; aciclovir IV e imunoglobulina contra
cido o leite ordenhado; outros recomendam varicela zóster (VZIG).
que esse leite passe pelo processo de pas-
teurização antes de ser oferecido. De qual- Mais um nefrótico! Catapora, sarampo e
quer maneira, o leite materno pode ser ofe- tuberculose são doenças transmissíveis por
recido, apesar do ato de amamentar estar aerossol e não apenas por gotículas de secre-
temporariamente suspenso devido ao isola- ção respiratória. Isso significa que não basta
mento da mãe. Resposta: letra B. manter o doente isolado numa unidade fecha-
da, pois cada vez que a porta da unidade se
abre temos a dispersão do agente infectante
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 no ambiente. Assim sendo, esses pacientes
HOSPITAL SÃO LUCAS DA PUC-RS – RS devem ser mantidos em unidades de pressão
Criança, 3 anos, com síndrome nefrótica em negativa, com sistema de exaustão isolado.
uso de corticoide VO há 1 mês, interna para Não há papel para a imunoglobulina específica
realizar pulsoterapia. Durante a hospitaliza- contra o vírus varicela-zóster no tratamento
ção, a criança do leito ao lado desenvolve da doença. Essa menina deveria ter recebido
varicela. Qual a conduta imediata para o pa- a imunoglobulina quando entrou em contato
ciente nefrótico? com o vírus, não agora. Em pacientes imu-
a) Aplicar imunoglobulina especifica. nodeprimidos (nessa paciente devido ao uso
b) Vacinar contra varicela e aplicar imunoglo- de corticoide em dose imunossupressora),
bulina específica. indica-se o tratamento com o aciclovir venoso
c) Administrar aciclovir VO por 10 dias e vaci- na dose de 500 mg/m2 de 8/8h por sete dias
nar contra varicela. ou até que parem de surgir novas lesões (o
d) Vacinar contra varicela. que significa o término da viremia). Resposta:
e) Administrar aciclovir IV por 7 dias. letra C.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 53

6. ENTEROVIROSES NÃO PÓLIO

Quem são os agentes? Quais são os dados clínicos mais marcan-


Pertencem ao gênero Enterovirus da família tes das infecções por esses agentes?
Picornaviridae. Diversas manifestações clínicas!
Os principais subgrupos são: poliovírus (es- Doença mão-pé-boca → coxsackie A16; le-
queça-se deles neste texto!), coxsackie A e sões vesiculares e ulceradas na cavidade
B, echovirus e enterovírus. oral + lesões nas mãos, nos pés e nas ná-
degas.
Como ocorre a transmissão?
Por via fecal-oral ou respiratória; por trans- Como podemos evitar?
missão vertical; ou por fômites. Pela adoção de medidas de higiene.

Introdução Transmissão

A nossa abordagem nesta seção será um pou- O homem é o único reservatório dos entero-
co diferente. Agora não vamos falar de uma vírus. O vírus é transmitido principalmente de
doença única, causada por um agente etioló- um indivíduo para o outro por via fecal-oral ou
gico específico. Pelo contrário, vamos falar de por via respiratória. Também pode ocorrer a
alguns vírus pertencentes a um mesmo gênero transmissão vertical, que pode ser antenatal,
que podem ter várias manifestações clínicas, periparto ou pela amamentação. Esses vírus
incluindo manifestações cutâneas. São essas podem permanecer no ambiente e é possível
manifestações cutâneas que fazem com que que ocorra a transmissão por fômites.
as doenças causadas por esses agentes en-
trem no diagnóstico diferencial das doenças Muitas vezes a fonte da infecção é um indiví-
exantemáticas. Voltaremos a falar sobre outras duo assintomático, por esse motivo, torna-se
condições associadas às infecções por esses difícil precisar o momento exato do contágio
vírus em outros momentos ao longo do ano, e o período de incubação dos agentes. De todo
como no diagnóstico diferencial das faringites modo, o período de incubação médio costuma
e na avaliação dos quadros de miocardite. durar entre três e seis dias. As crianças infec-
tadas costumam eliminar o vírus pelo trato
Quem são os agentes causadores? respiratório por até três semanas e podem
continuar eliminando-os nas fezes por várias
As doenças que vamos estudar agora são cau- semanas (até sete ou 11 semanas). Embora
sadas por vírus que pertencem ao gênero En- a eliminação do vírus possa ser tão prolonga-
terovírus da família Picornaviridae. São peque- da assim, o período de maior transmissibilida-
nos vírus de RNA, tradicionalmente subdividi- de é no início da doença, quando a eliminação
dos em cinco subgrupos: poliovírus (que não de vírus é maior.
serão abordados aqui), coxsackie A, coxsackie
B, echovírus, enterovírus. Em cada um desses
subgrupos encontramos vários sorotipos, dife- Patogênese
renciados por números (exemplo: coxsackie A
16, enterovírus 71). O vírus penetra no organismo pela via oral
ou respiratória e começa a se replicar na fa-
ringe e no intestino. Após alguns dias dessa
Epidemiologia replicação inicial, ocorre a multiplicação do
vírus nos tecidos linfoides, como as amíg-
As infecções por esses agentes são bastante dalas, placas de Peyer e linfonodos regio-
comuns. Para você ter uma ideia da importân- nais. A seguir, ocorre uma viremia primária
cia dessas infecções, os enterovírus são res- (viremia minor), capaz de disseminar as
ponsáveis por 33-65% de todas as doenças partículas infectantes para o sistema reticu-
febris agudas nos Estados Unidos nas crian- loendotelial, acometendo o fígado, o baço,
ças menores de um ano, principalmente no a medula óssea e os linfonodos distantes.
outono e inverno. Nas regiões tropicais e se- O sistema imune do hospedeiro é capaz
mitropicais, o vírus circula o ano inteiro. de limitar a replicação viral neste ponto, o
que resulta em uma infecção subclínica.
As doenças associadas são benignas e auto- Porém, em alguns indivíduos, a replicação
limitadas, na maior parte das vezes, mas al- viral pode continuar ocorrendo no sistema
guns fatores podem estar associados ao au- reticuloendotelial, levando a uma viremia
mento da incidência e da gravidade dos qua- secundária (viremia major), capaz de atin-
dros. Os fatores associados à maior gravidade gir órgãos-alvo, como o coração, o sistema
incluem: idade mais baixa, sexo masculino, nervoso central e a pele. O tropismo pelo
baixo nível socioeconômico, aglomerações e tecido-alvo varia de acordo com o soroti-
má higiene. Mais de 25% das infecções sin- po do vírus. O dano a cada um desses te-
tomáticas por esses agentes ocorrem nas cidos será resultado da necrose mediada
crianças menores de um ano. pelo vírus e pela reação inflamatória local.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 54

A produção de anticorpos neutralizantes tipo- vesículas de 3 a 7 mm de diâmetro na região


-específicos parece ser a etapa fundamental dorsal das mãos e pés, podendo também aco-
na resposta imune à agressão. O organismo meter a região palmoplantar. Nas nádegas,
produz IgM, IgG, IgA e IgA secretória, tornan- não costuma haver vesículas. O quadro dura
do-se capaz de impedir a replicação viral caso cerca de uma semana.
uma reinfecção ocorra. Em todas as situações
em que há um comprometimento da imunida- A doença causada pelo enterovírus 71 costu-
de humoral, como nos pacientes com agama- ma ser mais grave, com um percentual maior
globulinemia, hipogamaglobulinemia, ou nos de complicações.
recém-nascidos, há o risco de doença mais
grave e, eventualmente, crônica. Quando você viu as vesículas, chegou a lembrar
do diagnóstico de varicela? Essas condições
devem ser diferenciadas, mas lembre-se de que
Clínica na varicela esperamos encontrar lesões mais
distribuídas, em vários estágios evolutivos.
Como já antecipado, os enterovírus são res-
ponsáveis por vários quadros clínicos distin-
tos. Na maior parte das vezes, temos tão so-
mente uma doença febril inespecífica ou uma
doença respiratória, mas também podemos
ter quadros mais graves. Vamos combinar o
seguinte: diversos desses quadros serão es-
tudados com mais detalhes ao longo do ano
e serão apenas citados neste momento. Por
ora, atente principalmente para os quadros
que entram no diagnóstico diferencial das
doenças exantemáticas ou nos quadros que
mais frequentemente surgem na sua prova
Figura 19: Doença mão-pé-boca (que também
em associação com as manifestações cutâ- pode acometer as nádegas...).
neas. Vamos começar falando sobre a mani-
festação cutânea mais típica dos enterovírus.
Doença mão-pé-boca = vesículas e
Doença Mão-Pé-Boca úlceras na cavidade oral
+ lesões papulovesiculares nas
Doença comum nas provas e de fácil reco- mãos e pés
nhecimento. É a síndrome mais distinta e pe-
culiar de todas as infecções por enterovírus.
Olhe para a FIGURA 19 para guardar a ima- Doença Febril Inespecífica
gem deste paciente.
Essa vai ser a principal apresentação clínica
O principal agente envolvido é o coxsackie nas infecções sintomáticas pelos enteroví-
A16, mas outros agentes também podem es- rus, principalmente nas crianças pequenas e
tar implicados, como o enterovírus 71, além menores de um ano. Muitas vezes é difícil sa-
de outros coxsackie A, B e alguns echovírus. ber ao certo se a criança pequena apresenta
Você se pergunta: “tenho que guardar todos apenas uma infecção benigna por um des-
os sorotipos de cada um desses subgrupos?” ses agentes ou se apresenta uma infecção
Não! Mas tem que guardar o coxsackie A16. bacteriana potencialmente mais grave. Daqui
a mais algumas páginas você vai conhecer
A doença em geral é branda e sem febre ou melhor as estratégias que nós, pediatras,
com febre baixa. O que mais caracteriza o usamos para tentar fazer essa distinção.
quadro é a distribuição das lesões. Temos le-
sões tipicamente na cavidade oral, nas mãos A doença febril aqui não tem nada de típico.
e nos pés e também nas nádegas (você achou A criança apresenta febre (38,5-40ºC), com
que o nome da doença era um acaso?). duração aproximada de três dias, mal-estar,
irritabilidade. Pode apresentar sinais e sinto-
As lesões na cavidade oral consistem em mas inespecíficos de acometimento do trato
vesículas distribuídas pela língua, muco- respiratório e gastrointestinal, com dor abdo-
sa jugal, faringe posterior, gengiva e/ou nos minal, odinofagia, hiperemia conjuntival, ade-
lábios. Essas vesículas podem sofrer ulce- nomegalia. A duração total da doença é de
ração, levando à formação de lesões rasas quatro a sete dias, mas pode se estender por
com hiperemia ao redor. É importante você mais de uma semana.
guardar que as lesões podem estar distribuí-
das por toda a cavidade oral, ao contrário do Aqui também podem ocorrer várias manifes-
que ocorre em outras condições clínicas que tações cutâneas, com os exantemas mais
cursam com lesões mais localizadas. variados possíveis, como maculares, macu-
lopapulares, vesiculares e petequiais. Quan-
As lesões cutâneas consistem em lesões ma- to mais nova a criança, mais comum é a
culopapulares, vesiculares e/ou pustulares presença do exantema. Você lembrou-se do
acometendo as mãos, os pés e as nádegas. O exantema súbito e achou que os quadros são
mais característico é a presença de pequenas parecidos? Na prova, pelo menos, a síndro-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 55

me febril inespecífica pelos enterovírus não clínicas das enteroviroses. Já foram descritas
será um quadro tão comum justamente por várias síndromes neurológicas em epidemias
ser tão inespecífico. Na vida, a distinção é recentes pelo enterovírus 71, com e sem ma-
eventualmente complicada, principalmente nifestações cutâneas (como a própria doença
quando o exantema súbito não se apresenta mão-pé-boca).
da forma clássica.
Já tínhamos visto que a integridade humoral
Herpangina é fundamental para o controle da replicação
viral. Os pacientes com imunodeficiência
A herpangina é essencialmente um diag- humoral e combinada possuem risco ele-
nóstico diferencial dos quadros de faringite vado para um quadro de meningoencefalite
na infância e falaremos mais sobre ela no crônica, que é caracterizado pela presença
estudo das infecções respiratórias agudas. de liquor com alterações persistentes e com
É caracterizada por febre alta, odinofagia, e presença de vírus detectável por anos, e
lesões vesiculares e ulceradas localizadas quadros recorrentes de encefalite e/ou de
principalmente na faringe posterior, não dis- deterioração neurológica progressiva.
seminadas por toda a cavidade oral, como
na doença mão-pé-boca. Alguns desses enterovírus não pólio, como o
enterovírus 70 e 71, o coxsackie A 7 e 24, al-
Conjuntivite Aguda Hemorrágica guns coxsackie B e alguns echovírus, podem
ser responsáveis por quadros de paralisia
Alguns enterovírus estão associados a epi- flácida semelhantes ao da poliomielite. Esses
demias deste quadro, mais comum em crian- quadros são mais brandos que os associados
ças em idade escolar, adolescentes e adul- ao poliovírus.
tos entre 20 e 50 anos. O paciente apresen-
ta-se com dor ocular, fotofobia, lacrimeja- Outras Manifestações
mento, turvação visual, eritema e congestão
conjuntival, edema palpebral, linfadenopatia Os enterovírus correspondem a 25-30% das
pré-auricular e, eventualmente, hemorragia causas provadas de miocardite e pericardite.
subconjuntival e ceratite superficial. A secre- O coxsackie B é o agente mais comumente
ção ocular pode tornar-se purulenta, caso envolvido. Adolescentes e adultos jovens são
ocorra infecção bacteriana secundária. grupos bastante afetados pela doença.

Manifestações Neurológicas Os enterovírus também causam diversas ma-


nifestações respiratórias, gastrointestinais,
Os enterovírus são responsáveis por vários genitourinárias e musculoesqueléticas.
quadros neurológicos distintos. Até 90% ou
mais das meningites virais nas populações O coxsackie B é uma importante causa de
imunizadas para caxumba são causadas por orquite. A orquite em geral faz parte de uma
esses agentes; em 10-20% dos casos de doença bifásica, em que primeiro há febre e
encefalite em que um agente é detectado, o pleurodínia ou meningite e após duas sema-
enterovírus é o culpado. Diversos sorotipos po- nas há a orquite, com ou sem epididimite.
dem ser identificados em todos esses casos.
Infecção Neonatal
Os quadros de meningite são particularmente
frequentes em lactentes com menos de três As infecções neonatais são mais comumente
meses. A meningite nessa idade tem uma causadas pelos coxsackie B 2-5 e echovírus
apresentação bastante inespecífica. Além 6, 9, 11 e 19. A transmissão pode ser vertical
da febre, podemos ter irritabilidade, náu- (antes, durante ou após o parto ou pela ama-
seas e vômitos, cefaleia, fotofobia, faringite, mentação), horizontal (por outros membros
rinorreia, diarreia e mialgia. A febre costuma da família) ou nas enfermarias. A infecção in-
durar por até três ou cinco dias e os demais trauterina pode ser grave e levar a óbito fetal.
sintomas duram por até uma semana. O
prognóstico é bom na maioria das crianças. A maioria das infecções neonatais é assin-
A avaliação liquórica revela pleocitose (em tomática. As manifestações clínicas, quando
geral menos de 500 células/mm³, com predo- presentes, incluem febre ou hipotermia, mani-
mínio de polimorfonucleares nas primeiras 48 festações neurológicas, exantemas, icterícia e
horas e de mononucleares a seguir), glicor- outros sinais e sintomas pouco característicos.
raquia normal ou discretamente diminuída e Os recém-nascidos que apresentam formas
proteinorraquia normal ou pouco aumentada. mais graves da doença podem evoluir com
A detecção viral (PCR ou cultura de vírus) sequelas em longo prazo.
pode confirmar a infecção.

Os quadros de encefalite cursam com de- Diagnóstico


pressão do nível de consciência, irritabilidade,
sinais focais, convulsões, ataxia cerebelar e A síndrome mão-pé-boca possui uma apre-
afasia em combinações diferentes. sentação bastante característica, como você
viu na FIGURA 19, e este diagnóstico será
Essas manifestações neurológicas podem estabelecido apenas com base nas manifes-
estar associadas às outras manifestações tações clínicas.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 56

A cultura viral pode ser realizada para con- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
firmação da infecção. O ideal é que sejam (ACESSO DIRETO DISCURSIVA)
obtidas amostras de vários sítios corporais, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP
com o objetivo de aumentar a sensibilidade Dois irmãos, um de 1 ano e 3 meses de ida-
do exame. Porém, nem todos os enterovírus de e outro de 7 anos de idade são atendidos
crescem em culturas. A detecção do vírus por em unidade de pronto atendimento. A criança
técnicas de PCR pode identificar a maioria de 1 ano e 3 meses (paciente 1) apresenta
dos enterovírus e oferece resultados em pou- quadro de febre de até 39°C há 3 dias, asso-
cas horas, diferentemente da cultura. ciada a recusa alimentar, sialorreia e irritabi-
lidade. A mãe nega tosse, coriza, alterações
A detecção de anticorpos não é utilizada para urinárias ou de trato gastrintestinal. Ao exame
a tomada de decisões clínicas, sendo reser- clínico, apresenta-se em BEG, corada, hidra-
vada essencialmente para estudos epidemio- tada e ativa. Avaliação cardiopulmonar e
lógicos ou situações graves em que se quer abdominal sem alterações significativas.
identificar um sorotipo em especial (como em Otoscopia sem alterações significativas.
epidemias pelo enterovírus 71). Oroscopia: vide foto abaixo. Sem sinais me-
níngeos. A criança de 7 anos (paciente 2)
apresentou quadro de diarreia e febre há 1
Tratamento semana mas há 4 dias já se apresenta afebril
e com fezes normais. Entretanto, a mãe re-
O tratamento consiste, essencialmente, em fere que nos últimos dias a criança está mais
suporte, uma vez que não há um antiviral prostrada e não quer comer e nem mesmo
específico. Muitos dos lactentes infectados brincar. Ao exame clínico, apresenta-se em
por um enterovírus acabam recebendo anti- REG, descorada 1+/4+, hidratada, hipoativa.
microbianos até que se saiba que eles não Ausculta cardíaca com bulhas rítmicas com
estão com nenhuma infecção bacteriana. Nas presença de B3 e sopro sistólico 3+/6+ em
infecções mais graves, pode ser necessário foco mitral – FC = 150 bpm. Ausculta pulmo-
suporte em unidade de terapia intensiva, com nar com murmúrios vesiculares presentes e
suporte respiratório e hemodinâmico. estertores subcreptantes em ambas as bases
pulmonares – FR = 35 ipm, tiragem subdia-
O uso de imunoglobulina nas infecções por fragmática leve, sem outras tiragens. Abdome
enterovírus já foi estudado em vários cenários flácido, ruídos hidroaéreos presentes, fígado
clínicos diferentes. Sabemos que a resposta palpável a 2 cm do RCD, baço não palpável.
humoral é fundamental para o controle da Otoscopia e oroscopia sem alterações signi-
infecção e que a ausência dos anticorpos ficativas. Boa perfusão periférica e tempo de
neutralizantes é um fator de risco para as enchimento capilar < 3 segundos. Qual a
infecções sintomáticas. Porém, o uso da principal hipótese diagnóstica para o quadro
imunoglobulina no tratamento das infecções atual apresentado pelo paciente 1?
neonatais ainda não se mostrou comprovada-
mente benéfico. O sucesso no tratamento de
pacientes com hipogamaglobulinemia e me-
ningoencefalite crônica e nos pacientes com
neoplasias e infecções graves foi variável.
Outros usos, como na miocardite, também
são inconclusivos. O uso de interferon em
casos de miocardite já se mostrou benéfico
em alguns relatos.

A doença neurológica pelo enterovírus 71


costuma ser tratada com a associação de
imunoglobulina e corticoides.

Diversos antivirais (exemplo: Pleconaril) têm Questão bem interessante! Vejamos, pri-
seu uso estudado na infecção por esses vírus. meiramente, o que apresenta o lactente de
1 ano e 3 meses. Independentemente do
quadro do irmão mais velho, não é difícil
Prevenção perceber que o lactente tem um quadro de
herpangina. Há 3 dias a criança vem apre-
Não existem vacinas para os enterovírus não sentando febre alta, recusa alimentar, sia-
pólio. A principal maneira de prevenirmos a lorreia e irritabilidade. Inúmeras condições
infecção é pela adoção de medidas de higiene, entram no diagnóstico diferencial dessas
como lavagem de mãos, evitar compartilhar manifestações e vamos discuti-las no mó-
copos e utensílios e a desinfecção de super- dulo de infecções respiratórias agudas. Po-
fícies contaminadas. rém, ao avaliarmos a imagem mostrada pela
banca conseguimos perceber a presença de
Veja como este tema cairá na sua prova. lesões ulceradas localizadas no palato mole,
Comece pela questão muitíssimo bem pen- na úvula e nos pilares amigdalianos anterio-
sada da USP. res (na reprodução acima talvez isso não
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 57

esteja tão nítido, mas na prova original a tros enterovírus são os principais agentes
percepção era mais clara!). O lactente com identificados. Na ocasião foi questionado se
faringite aguda que cursa com úlceras ou não deveria ser indicada também a presença
vesículas nessa topografia é certamente o de pericardite, mas sem a descrição de um
lactente que tem o diagnóstico de herpangi- ruído de atrito pericárdico, não haveria razão
na, uma doença causada por algum membro para indicar tal comprometimento. Gabarito
do gênero dos enterovírus, da família Picor- oficial: miocardite viral aguda.
naviridae. O coxsackie A é o vírus mais co-
mumente implicado nos casos, embora o E não parava por aqui....
quadro também possa ser causado por ou-
tros enterovírus, como o enterovírus 71. O Qual agente etiológico poderia explicar as
quadro de herpangina tipicamente tem início afecções das duas crianças?
com febre alta, odinofagia, disfagia e o sur-
gimento das lesões na faringe posterior. As O agente infeccioso mais comumente en-
lesões características consistem em vesícu- contrado na herpangina é o coxsackie A, em-
las e úlceras com 1-2 mm, que podem au- bora outros enterovírus também possam levar
mentar, e que são envolvidas por um halo a essa manifestação. Na miocardite viral agu-
hiperemiado. Essas lesões tipicamente es- da, os enterovírus, de um modo geral, são os
tão distribuídas nos pilares amigdalianos principais agentes; o coxsackie B é o principal.
anteriores, no palato mole, úvula e parede A banca, de forma correta, aceitou mais de
posterior da faringe. O quadro é autolimitado uma resposta. Porém, se você tivesse que
e tem resolução em 3-7 dias. O gabarito escolher apenas uma, o mais “acertado” seria
oficial foi: herpangina ou coxsackiose. indicar que o agente é um vírus coxsackie.
Gabarito oficial: Coxsackie OU Ecovírus OU
Veja como a questão continuava... Enterovírus.

Qual a principal hipótese diagnóstica para o


quadro atual apresentado pelo paciente 2? RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
PUC – SOROCABA – SP
O próprio diagnóstico do irmão mais novo Marina está com 4 anos de idade e é levada
já seria uma pista para pensarmos no diag- ao Pronto Atendimento, pois há 4 dias vem
nóstico do irmão mais velho. O irmão caçula apresentando febre, fezes amolecidas, sem
tem um quadro de herpangina, causado prin- muco ou sangue e, há 1 dia, dor para deglutir.
cipalmente pelo coxsackie. Será, então, que Ao exame clínico apresenta erupção maculo-
o irmão mais velho também tem uma afecção papular em nádegas e pequenas pápulas e
causada pelo mesmo agente? Certamente! vesículas na palma das mãos e plantas dos
O provável diagnóstico do irmão mais velho pés, além de hiperemia da mucosa oral com
é de miocardite viral aguda. Em um momen- úlceras no palato. O agente etiológico mais
to inicial você até poderia se enganar e acre- provável é o:
ditar que a origem das manifestações fosse a) Echovírus.
o aparelho respiratório, pela descrição de b) Vírus herpes simples.
taquipneia e sinais de desconforto respirató- c) Parvovírus.
rio. Porém, perceba que há muito mais nesse d) Vírus coxsackie.
caso: há presença de sinais claros de insufi-
ciência cardíaca congestiva. O quadro clínico Existem algumas condições que irão entrar
da criança com miocardite viral aguda pode no diagnóstico diferencial de um exantema
ser bastante variado, indo desde um quadro vesicular. Porém, o que deve chamar nossa
assintomático ou com manifestações gerais atenção neste caso é a distribuição topográfi-
inespecíficas até um quadro de choque car- ca peculiar destas lesões. Este aspecto é
diogênico e morte súbita. A apresentação encontrado na doença mão-pé-boca. A doen-
pode ser de desconforto torácico, febre, pal- ça é caracterizada por febre baixa, vesículas
pitações, fadiga ou síncope. No exame car- em toda orofaringe, exantema maculopapular,
diovascular, encontramos ritmo de galope e vesicular ou pustular localizado nas mãos, nos
um sopro sistólico compatível com insuficiên- pés e nas nádegas. O agente etiológico mais
cia mitral. Quando há insuficiência cardíaca comum é o vírus coxsackie A16, podendo
descompensada, encontramos hepatomega- também ser causada pelo enterovírus 71, ou-
lia, edema periférico e achados pulmonares, tros coxsackie A, coxsackie B e alguns echo-
como os estertores. O vírus coxsackie e ou- vírus. Resposta: letra D.
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7. SÍNDROME DA MONONUCLEOSE INFECCIOSA

Quais são os agentes?


O principal agente é o vírus Epstein-Barr.
Como ocorre a transmissão?
Pelo contato com a saliva de indivíduos infectados, mesmo assintomáticos (infecção latente
com eliminação intermitente do vírus).
Quais são os dados clínicos mais marcantes do quadro?
Doença insidiosa, fadiga, faringite, adenomegalia generalizada, esplenomegalia e hepatome-
galia. Maioria dos pacientes apresenta exantema após uso de amoxicilina ou ampicilina.
Há algum dado laboratorial de interesse?
Atipia linfocitária.
Presença de anticorpos heterófilos em maiores de quatro anos.

Introdução percebido que eles têm uma característica em


comum: a capacidade de estabelecer infecção
O quadro de mononucleose infecciosa vai apa- latente. O EBV, como não poderia deixar de
recer para você de diferentes formas. Poderá ser, também tem essa capacidade e torna-se
ser tanto a resposta no diagnóstico diferencial latente no organismo após a infecção primária.
de uma faringite, quanto no diagnóstico dife-
rencial de um exantema. Vamos ver apenas A infecção primária resulta da exposição ao vírus
alguns aspectos fundamentais desse quadro presente nas secreções orais de indivíduos in-
por ora. O tema será visto mais extensamente fectados (sejam eles sintomáticos, assintomáti-
na apostila que aborda o diagnóstico diferen- cos ou apenas com infecção latente). Após ser
cial das “Linfadenopatias e esplenomegalia”. adquirido na cavidade oral, o EBV infecta as
células epiteliais orais, o que vai contribuir para
Quem é o agente causador? os sintomas da faringite. Ocorre a replicação
intracelular, com destruição das células e libera-
O Vírus Epstein-Barr (EBV) é o responsá- ção de novas partículas virais que vão se espa-
vel por mais de 90% dos casos da síndrome lhando para estruturas contíguas, como as
de mononucleose infecciosa. É um vírus de glândulas salivares. A etapa seguinte é a ocor-
DNA da família Herpesviridae. Os 5-10% dos rência da viremia, com infecção dos linfócitos B
casos restantes são provocados por outros no sangue periférico e de todo o sistema reticu-
agentes como citomegalovírus, toxoplasmo- loendotelial, justificando as manifestações clíni-
se, rubéola, vírus da hepatite, HIV e adenoví- cas características. Os linfócitos B infectados
rus, que também causam um quadro mono- estimulam o aparecimento de linfócitos T CD8+,
nucleose-like. que serão os linfócitos atípicos encontrados na
doença. A infecção latente se estabelece nos
linfócitos B por meio de um processo de trans-
Epidemiologia formação e imortalização dessas células. O vírus
pode ser eliminado de forma intermitente nas
Os anticorpos contra o EBV são encontrados secreções da orofaringe de indivíduos infecta-
em todos os grupos populacionais e cerca de dos, como resultado da reativação viral com
95% da população adulta apresenta marca- replicação, que geralmente é assintomática.
dores de infecção pregressa. Nas populações
mais carentes e em países em desenvolvimen- A relação entre o EBV e o desenvolvimento
to, a infecção primária costuma ocorrer ainda de neoplasias é bem estabelecida. Há asso-
no início da vida. ciação do vírus com carcinoma nasofaríngeo,
linfoma de Burkitt, doença de Hodgkin, doen-
A infecção na infância costuma ser assinto- ças linfoproliferativas e leiomiossarcomas. Os
mática ou indistinguível de outras infecções quadros de imunodeficiências, congênitas ou
comuns nessa faixa etária. Assim, embora a adquiridas, acarretam em aumento no risco
infecção possa ocorrer já nos primeiros anos de diversos quadros linfoproliferativos relacio-
de vida, não é comum a identificação da sín- nados com a infecção pelo EBV.
drome da mononucleose infecciosa antes dos
quatro anos, quando as infecções são subclí-
nicas, ou após os 40 anos, quando a maioria Transmissão
dos indivíduos já foi infectada.
Falamos que a infecção ocorre pelo contato
com a saliva, não é? É por isso que a doença
Patogênese é conhecida como a “doença do beijo”. A trans-
missão também pode ocorrer pelo contato
Já falamos de outros membros da família sexual. A disseminação do EBV não parece
Herpesviridae nessa apostila (vírus varicela- estar relacionada com fômites ou outras for-
-zóster, herpes-vírus humano) e você deve ter mas de contaminação ambiental.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 59

Clínica recebendo amoxicilina ou ampicilina. É fácil


adivinhar a razão desse uso indevido. Ima-
O período de incubação é longo e chega a gine: o paciente apresenta odinofagia e um
durar entre 30 e 50 dias nos adolescentes, exame bastante sugestivo de faringite es-
sendo mais curto em crianças. A maioria das treptocócica. O que pode ocorrer? Acaba re-
crianças com a infecção primária será assin- cebendo incorretamente o diagnóstico de fa-
tomática. E como será o quadro nos pacien- ringite estreptocócica e sendo tratado como
tes maiores? Guarde a imagem geral de uma tal. A evolução insidiosa, a adenopatia gene-
doença de evolução insidiosa. Este é o termo ralizada e as visceromegalias estão presen-
chave. A duração média da doença é de duas tes apenas na mononucleose infecciosa, não
a quatro semanas, seguindo-se de gradual na faringite pelo estreptococo.
recuperação.

Os pacientes queixam-se de sintomas vagos,


como mal-estar, fadiga, febre aguda ou pro-
longada (com duração superior a uma sema-
na), cefaleia, odinofagia, náusea, dor abdomi-
nal, mialgia. Tudo isso dura por uma ou duas Figura 20: Mononucleose (esq.) e farin-
semanas, enquanto a febre e a odinofagia vão gite estreptocócica (dir.).
piorando aos poucos. Mas se tudo é tão ines-
pecífico, como vamos pensar nesse diagnós-
tico? A história arrastada de febre, astenia e As questões a seguir são bem emblemáti-
odinofagia já é uma grande pista, mas é o cas do modelo de caso que vai aparecer na
exame físico que reforça muito a nossa sus- sua prova. Mesmo antes de discutirmos os
peita. A maioria dos pacientes (90%) apresen- achados laboratoriais, perceba como essa
ta linfadenopatia generalizada. Além disso, há hipótese salta aos nossos olhos.
esplenomegalia em 50% dos casos e hepato-
megalia em 10%.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LO-
Mononucleose infecciosa = fadiga,
PES – UFRN – RN
faringite e linfadenopatia generalizada
Adolescente de 14 anos procura pronto-
-socorro com quadro de febre há 4 dias, dor
Os achados na avaliação da orofaringe são de garganta, mal-estar e um exantema que
indistinguíveis dos da faringite estreptocóci- surgiu nas últimas horas. Porém, há 10 dias,
ca: há hipertrofia amigdaliana e pode haver refere indisposição, mal-estar generalizado,
exsudato com petéquias no palato, sendo cefaleia e náuseas. A dor de garganta vem
que as petéquias são encontradas com fre- piorando, inclusive dificultando a ingestão de
quência. Veja a FIGURA 20 e confirme como alimentos sólidos, mas permitindo a ingestão
os aspectos são semelhantes. de líquidos sem problemas. A paciente nega
vômitos, diarreia e contato com pessoas
A linfadenopatia é mais comum nas cadeias doentes. Há um dia, resolveu se automedi-
cervicais posteriores e anteriores, mas tam- car com 2 doses de amoxicilina (que tinha
bém pode acometer as cadeias axilares e em casa). Ao exame físico, encontrava-se
inguinais. A presença de linfadenopatia epi- em bom estado geral, eutrófica, febril (39°C),
troclear é bem sugestiva do diagnóstico. A apresentando exantema morbiliforme difuso;
esplenomegalia em geral não é exuberante, edema supraorbitário discreto, hipertrofia bi-
com baço palpável a 2-3 cm abaixo do re- lateral das amígdalas cobertas por exsudato
bordo costal. cinza irregular; algumas petéquias em palato
e úvula; linfadenopatia cervical posterior bila-
Outra alteração encontrada é a presença de teral e baço a 3 cm do rebordo costal esquer-
edema palpebral, que caracteriza o sinal de do. Hemograma colhido na urgência: 17.000
Hoagland. leucócitos com 50% de linfócitos, sendo 15%
atípicos e 140.000 plaquetas. O diagnóstico
Mas por que estamos estudando essa doen- mais provável para esse quadro é:
ça na apostila que fala sobre as síndromes a) Amigdalite bacteriana.

exantemáticas? Simples! Em 3-15% dos pa- b) Mononucleose infecciosa.

cientes com mononucleose infecciosa encon- c) Doença de Kawasaki.
tramos um exantema maculopapular como d) Dengue.
parte da doença. Porém, até 80% deles apre-
sentam um exantema quando fazem uso de Ainda que a queixa de faringite esteja pre-
amoxicilina ou ampicilina. Guardou essa di- sente há apenas quatro dias, perceba como
ferença? O exantema não é tão comum, mas a doença deste adolescente já está se tor-
acomete a maioria dos pacientes que faz uso nando mais arrastada. O quadro clínico já
de alguns antibióticos. Esse exantema é uma tem uma duração de dez dias. O diagnós-
vasculite imunomediada, não um quadro de tico diferencial das faringites na infância e
alergia à medicação. adolescência é estabelecido principalmente
entre os casos de faringite estreptocócica e
Você deve estar se perguntando por qual mo- faringites virais e falaremos bastante sobre
tivo o paciente com uma infecção viral estaria isso em nossa próxima apostila de “Síndro-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 60

mes Respiratórias na Infância”. A história é estabelecido pela identificação dos anticor-


tão arrastada fala contra o diagnóstico de pos. Preste atenção nessa parte, pois não é
faringite estreptocócica. Tipicamente, a as- incomum encontrarmos erros na interpreta-
sociação de três manifestações principais ção desses exames.
deve nos remeter ao diagnóstico provável
de mononucleose infecciosa, são elas: fa- Podemos fazer duas avaliações distintas: a
ringite, febre e linfadenopatia generaliza- pesquisa de anticorpos heterófilos e a pes-
da. Não temos esta última alteração nesta quisa de anticorpos específicos contra o EBV.
história, mas temos outras características
desta doença: sinal de Hoagland (edema • Anticorpos Heterófilos
supraorbitário), esplenomegalia (presen-
te em 50% dos pacientes com essa condi- O que são anticorpos heterófilos? São anticor-
ção), surgimento de exantema após o uso pos capazes de aglutinar células de uma es-
de amoxicilina e avaliação complementar pécie animal diferente daquela do soro de
indicando linfocitose com atipia linfocitária. origem. Na mononucleose infecciosa ocorre
Resposta: letra B. uma elevação generalizada de anticorpos,
com produção de anticorpos heterófilos capa-
zes de aglutinar hemácias de carneiro e de
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 cavalo (de outras espécies também, mas com
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS – SÃO menos importância para o diagnóstico). Esses
PAULO – SP anticorpos são da classe IgM e podem ser
Um adolescente de 14 anos de idade procura detectados pelo teste de Paul-Bunnel e teste
o seu médico com história de febre, dor de de Paul-Bunnel-Davidsohn (que identificam a
garganta e cansaço há 5 dias. Ao exame físi- aglutinação das hemácias de carneiro) ou pelo
co apresenta amigdalite exsudativa associada monoteste (que identifica a aglutinação das
a enfartamento ganglionar de cadeia cervical hemácias de cavalo). A aglutinação das he-
posterior. O baço é palpável a 3 cm do rebor- mácias de cavalo é mais sensível e permane-
do costal E. O agente etiológico mais provável ce positiva por mais tempo (embora em ambos
de ser o causador deste quadro é: os casos a positividade permaneça por um
a) Estreptococo beta-hemolítico do grupo A. longo período).
b) Adenovírus.
c) Toxoplasma Gondii. O grande problema da pesquisa dos anticor-
d) Vírus Epstein-Barr. pos heterófilos é a sua utilização para o diag-
e) Corynebacterium diphtheriae. nóstico das crianças com menos de quatro
anos de idade. As crianças dessa idade pro-
O enunciado nos traz um adolescente de duzem esses anticorpos em títulos muito bai-
14 anos com uma faringoamigdalite febril e xos, que não são detectáveis em mais de 50%
exsudativa com linfadenomegalia. Apenas de das vezes. Fixou o conceito? O achado nega-
posse destas informações, poderíamos incluir tivo nesses testes abaixo dos quatro anos tem
várias condições no diagnóstico diferencial, pouco valor! Vamos ver na próxima questão
como a infecção pelo estreptococo do grupo que essa peculiaridade é sempre lembrada
A. Contudo, existe uma informação que torna pelas bancas.
o diagnóstico etiológico mais provável: a es-
plenomegalia. O aumento do baço é típico da Outro ponto relacionado a essa avaliação é que
síndrome de mononucleose, que na maioria ela será positiva apenas na infecção pelo EBV.
das vezes associa-se com a infecção pelo Nos casos de síndrome mononucleose-like
Epstein-Barr vírus. Resposta: letra D. causados por outros agentes, o teste será ne-
gativo. Na infecção primária pelo HIV, é possí-
vel o achado de anticorpos heterófilos.
Avaliação complementar
• Anticorpos Específicos
Um achado comum nos casos de infec-
ção pelo EBV é a presença de leucocitose Os anticorpos específicos são bastante úteis
(10.000 – 20.000 cél/mm3), com 20-40% de para a confirmação do diagnóstico, principal-
linfócitos atípicos, que correspondem aos mente quando a pesquisa de anticorpos hete-
linfócitos T CD8+ ativados que tínhamos fa- rófilos é negativa. Além disso, também permi-
lado. A atipia linfocitária pode ser encontrada tem a avaliação de infecções pregressas e
em outras infecções virais, mas é mais proe- permitem que a suscetibilidade do indivíduo
minente na infecção pelo EBV. seja avaliada. Certamente você já ouviu falar
de vários anticorpos relacionados ao diagnós-
Em mais de 50% dos pacientes pode haver tico da infecção pelo EBV, mas será que você
trombocitopenia (50.000 – 200.000 plaque- realmente sabe o significado de cada um deles?
tas/mm3), mas que raramente tem repercus-
são clínica. Outra alteração frequente é uma Os anticorpos específicos podem ser dirigidos
elevação discreta das transaminases. contra proteínas estruturais (anti-VCA; antíge-
nos do capsídeo viral), proteínas não estrutu-
Detecção de Anticorpos rais (EA; antígeno precoce) e proteínas nu-
cleares expressas durante fase de infecção
Todas essas alterações servem para corro- latente (EBNA; antígeno nuclear). Os mais
borar a hipótese, mas o diagnóstico definitivo utilizados são o anti-VCA e anti-EBNA. O mo-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 61

mento em que cada um deles é detectado está de dois anos de idade?


esquematizado na FIGURA 21. a) Biópsia ganglionar.
b) Testes que pesquisam anticorpos heterófilos.
c) A pesquisa de anticorpos IgG e IgM con-
tra o antígeno capsídeo do vírus Epstein-Barr
(anti-VCA).
d) Nenhum teste específico, apenas manifes-
tações clínicas sugestivas como amigdalofa-
ringite, linfadenopatia e hepatoesplenomega-
lia, associadas ao hemograma com leucoci-
tose e linfocitose.
e) Hemograma demonstrando a presença de
linfócitos atípicos e alteração discreta da fun-
ção hepática.

Pelo visto a banca realmente queria que


Figura 21: Anticorpos na infecção pelo
você acertasse a questão e até te relembrou
Epstein-Barr.
que o diagnóstico é difícil de ser confirmado em
crianças pequenas. O que foi que acabamos
Na fase aguda da doença é possível observar- de ver? Até os quatro anos de idade a pesqui-
mos um rápido aumento nos títulos de IgM e IgG sa de anticorpos heterófilos frequentemente é
anti-VCA. A IgM anti-VCA é apenas transitória e negativa. Assim, deve ser solicitada a pesquisa
pode ser detectada por apenas quatro semanas de anticorpos específicos. Resposta: letra C.
ou no máximo por três meses após a infecção
primária; é o método mais específico para o
diagnóstico da infecção aguda. A IgG anti-VCA Complicações
será detectada para o resto da vida e é por isso
que a sua avaliação isolada tem pouco valor As complicações não são comuns, mas algu-
para o diagnóstico da infecção aguda. O anti- mas delas são bastante peculiares.
corpo anti-EA também pode ser detectado pre-
cocemente na maior parte dos casos. Ruptura Esplênica (< 0,5%)

Os anticorpos anti-EBNA são os últimos a Não é comum, mas é a complicação mais te-
surgir, aparecendo apenas três ou quatro me- mida. Ocorre principalmente em adultos, em
ses após a infecção aguda. Assim, se não geral na 2ª semana de doença, em associação
dispusermos da IgM anti-VCA, a associação a algum trauma, mesmo que leve. É por esse
de um resultado de IgG anti-VCA reagente motivo que deve ser feita a recomendação
com um resultado de anti-EBNA não reagente de afastamento dos esportes de contato e de
também sugere infecção recente. atividades físicas mais intensas por pelo me-
nos um mês após o diagnóstico ou enquanto
Veja na TABELA 1 como interpretar algumas houver esplenomegalia.
possíveis combinações:
Obstrução de Vias Aéreas Superiores (< 5%)
Tabela 1: Interpretação dos marcadores
sorológicos na infecção pelo EBV. O edema das amígdalas e do tecido linfoi-
de adjacente pode levar a uma verdadeira
Anti-
Anti- Anti- obstrução das vias aéreas superiores, que
-VCA Situação se manifesta por estridor, sialorreia e des-
-EA -EBNA
IgM IgG conforto respiratório. O paciente deve ser
Sem infecção hospitalizado para hidratação venosa, oxigê-
- - - -
pregressa
nio umidificado e corticoterapia. Os quadros
Infecção
+ + +/- - mais graves podem necessitar até mesmo de
aguda
intubação traqueal.
Infecção
- + baixo/- +
pregressa
Sintomas Neurológicos

Veja se você teria dúvidas em escolher a Os sintomas neurológicos mais graves são
opção certa.  pouco comuns, mas podem ser as únicas ma-
nifestações clínicas da doença. A cefaleia está
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 presente em 50% dos casos e em 1-5% dos
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DE casos vamos encontrar convulsões e ataxia
SANTA CATARINA cerebelar. A síndrome de Guillain-Barré e a
O diagnóstico de mononucleose infecciosa síndrome de Reye são complicações descritas.
na criança nem sempre é fácil de ser com-
provado, especialmente em crianças com A síndrome de Alice no país das maravilhas
pouca idade. Qual teste laboratorial você re- manifesta-se por sintomas de distorção visual
comendaria para a comprovação diagnóstica de formas e tamanhos (metamorfopsia) e pode
da mononucleose infecciosa em uma criança ser um sintoma inicial.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 62

Hematológicas festações clínicas. Vejamos as opções diag-


nósticas que a banca nos deu. Em primeiro
Pode haver anemia hemolítica com Coombs lugar: será que isso poderia ser um quadro de
direto positivo. Começa na 1ª-2ª semana dengue? Não temos a descrição das outras
de doença e dura menos de um mês. A manifestações que costumam compor o caso
anemia aplásica é uma complicação rara. suspeito, como cefaleia, dor retro-orbitária,
mialgia, artralgia ou prostração. Há apenas a
A trombocitopenia é uma complicação comum, febre alta e o exantema. Não há, ainda, a his-
mas não costuma ser grave. tória epidemiológica positiva (opção A – erra-
da). É possível que estejamos diante de uma
Outras neoplasia hematológica? Essa possibilidade
nunca pode ser excluída. Porém, em um mo-
Outras complicações incluem miocardite, mento inicial, não haveria razões para indicar-
pneumonia intersticial, pancreatite, parotidite mos a realização de um aspirado de medula
e orquite. óssea. É evidente que, caso fossem encon-
tradas alterações sugestivas dessa possibili-
dade no hemograma, isso poderia ser feito,
Tratamento mas não neste momento (opção C – errada).
E a doença de Kawasaki justificaria as altera-
Não há tratamento específico. O aciclovir em ções? Esse escolar não apresenta o primeiro
altas doses é capaz de reduzir a replicação critério para o diagnóstico, que é o critério
viral, mas não diminui a gravidade ou a du- obrigatório: febre por pelo menos cinco dias.
ração dos sintomas, não sendo recomenda- Assim, não haveria razões para a solicitação
do. Deve ser evitado o uso de ácido acetilsa- de ecocardiograma para investigação de com-
licílico por uma possível associação com plicações dessa doença (opção D – errada).
síndrome de Reye. E o sarampo? O sarampo sempre deve ser
lembrado, principalmente ao atendermos in-
Algumas intervenções são necessárias de divíduos que retornam de viagens internacio-
acordo com a identificação das complicações. nais. Porém, no caso suspeito de sarampo,
O repouso no leito só está realmente reco- devemos ter, além do exantema, a presença
mendado quando o paciente tem uma fadiga de tosse, coriza e/ou conjuntivite. Nada disso
muito excessiva. está na nossa história (opção E – errada).
Resta-nos a opção B? Deveríamos investigar
A indicação de corticoterapia é bastante con- a possibilidade de infecção pelo vírus Epstein-
troversa. O tratamento pode ser utilizado em -Barr? Isso poderia ser um quadro de mono-
algumas complicações, como obstrução de nucleose infecciosa? Sem dúvidas, essa seria
vias aéreas, trombocitopenia com hemorra- a principal hipótese. Além da associação de
gia, anemia hemolítica autoimune, convul- faringite com exantema, que já nos remete a
sões e meningite. essa condição, o autor nos dá outros achados
no exame físico que corroboram a suspeita:
A droga usada é a Prednisona na dose de 1 edema palpebral (sinal de Hoagland), hepato-
mg/kg/dia (máximo de 60 mg/dia) por sete megalia (presente em 10% dos pacientes) e
dias, com redução progressiva nos sete dias esplenomegalia (em 50% dos pacientes). A
subsequentes. confirmação da infecção pelo EBV pode ser
feita pela pesquisa dos anticorpos específicos
anti-EBV. Esses anticorpos costumam ser
Antes de encerrarmos... solicitados para aqueles pacientes com sus-
peita clínica de mononucleose infecciosa que
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 apresentam a pesquisa de anticorpos heteró-
HOSPITAL SÃO LUCAS DA PUC – RS filos negativa. Os principais anticorpos anti-E-
Escolar de seis anos, procedente de Paris, é BV são o IgM e IgG anticapsídio viral (anti-
levado à consulta por apresentar febre alta há -VCA), o IgG antiantígenos precoces (anti-EA)
quatro dias. No exame físico, apresenta ede- e o IgG antiantígeno nuclear (anti-EBNa). A
ma palpebral, petéquias no palato, exsudato fase aguda da mononucleose é marcada pelo
amigdaliano, adenomegalias bilaterais cervi- aparecimento da IgM e IgG anti-VCA em todos
cais anteriores e posteriores, discreto rash os casos e uma resposta anti-EA na maioria
cutâneo macular, fígado palpável a 3,5 cm do dos pacientes. Resposta: letra B.
RCD e baço a 2,5 cm do RCE. Para confirmar
o diagnóstico mais provável, deve-se realizar
os exames: RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
a) IgG e IgM para vírus da dengue. HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANTÔNIO PE-
b) IgG e IgM para capsídio viral para Epstein- DRO – RJ
-Barr. Na maioria dos casos de mononucleose infec-
c) Hemograma e aspirado de medula óssea. ciosa, observa-se no hemograma:
d) Plaquetas, VSG e ecocardiografia. a) Linfocitose com 20 a 40% de linfócitos atí-
e) Pesquisa de IgM e IgG para sarampo. picos.
b) Leucocitose com neutrofilia.
Alguns estudam, outros passeiam por Pa- c) Linfopenia com trombocitopenia.
ris... Estamos diante de um escolar que apre- d) Leucopenia e anemia grave.
senta um quadro bem florido, cheio de mani- e) Leucopenia e trombocitopenia acentuada.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 63

Um achado comum no hemograma nos RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010


casos de infecção pelo EBV é a presença de HOSPITAL MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ DOS
leucocitose (10.000-20.000 células/mm3) com CAMPOS – SP
linfocitose, sendo que 20 a 40% dos leucócitos Escolar de 8 anos, sexo masculino, procu-
são linfócitos atípicos (linfócitos T CD8+ ativa- rou serviço de saúde com história de febre
dos). A atipia linfocitária pode ser encontrada alta há 08 dias. Foi atendido no primeiro dia
em outras infecções virais, mas é proeminen- de doença e, ao exame físico, foi observado
te na infecção pelo EBV. Resposta: letra A. linfadenopatia generalizada e hipertrofia de
amígdalas com exsudato. Foi feito hipótese
diagnóstica de amigdalite e prescrito amoxici-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 lina (50 mg/kg/dia, via oral de 8 em 8 horas).
CENTRO MÉDICO DE CAMPINAS – SP Após sete dias do uso do antibiótico, o pa-
Estudante de 16 anos procura Pronto Atendi- ciente desenvolveu exantema maculopapular
mento com história de febre há oito dias. Ado- eritematoso. Foi atendido no oitavo dia da
lescente, previamente hígida, refere que há doença, mantendo febre e dor no quadrante
dez dias iniciou com indisposição, mal-estar superior esquerdo do abdome com irradiação
generalizado, cefaleia e náuseas. Há oito dias para ombro. O exantema persistiu, e após 6
iniciou febre de aproximadamente 39,0°C, horas de observação, o paciente foi a óbito em
diária, que ainda persiste. Relata dor de gar- choque hipovolêmico. Qual a principal hipóte-
ganta intensa e exantema que surgiu hoje. se diagnóstica e a provável causa do óbito?
Nega vômitos, diarreia e contato recente com a) Mononucleose infecciosa/choque hipovolê-
pessoas doentes. Há um dia automedicou-se mico por ruptura esplênica.
com duas doses de amoxicilina (que sobraram b) Faringoamigdalite bacteriana/anafilaxia
de um tratamento anterior). O exame físico grave causada pelo uso de antibiótico.
revela uma adolescente com exantema mor- c) Difteria/anafilaxia grave causada pelo uso
biliforme difuso, aparentando fadiga; tempera- do antibiótico.
tura de 39,5°C; edema palpebral bilateral d) Leucemia linfoide aguda/septicemia devido
discreto, aumento de amígdalas que estão à aplasia de medula.
cobertas por exsudato branco acinzentado, e) Doença de Kawasaki/infarto agudo do mio-
petéquias em palato e na úvula; linfadenopatia cárdio secundário a aneurisma de coronária.
cervical posterior bilateral e baço palpável a
três centímetros do rebordo costal esquerdo. O início do quadro apresentado por esse
Os achados laboratoriais incluem contagem paciente envolvia o diagnóstico diferencial de
de leucócitos de 17.000 células/mm³ (valor de uma faringite. Algumas condições entram na
referência 3600 a 9100 células/mm³), com 50% avaliação e devemos sempre buscar na his-
de linfócitos (valor de referência 1200 a tória e no exame físico dados que favoreçam
5200 células/mm³), 15% de linfócitos atípicos, e uma ou outra hipótese. O simples aspecto do
contagem de plaquetas de 100.000/mm³ (valor exame da orofaringe não é o suficiente para
de referência 150.000 a 400.000 células/mm³). determinar a etiologia. Lembre-se que diver-
Qual a principal hipótese diagnóstica? sas condições apresentam um aspecto idên-
a) Faringoamigdalite bacteriana. tico à oroscopia. Quais dados poderiam ter
b) Difteria. sido considerados desde o início? Na ocasião,
c) Leucemia linfoide aguda. há oito dias, ainda estávamos diante de um
d) Mononucleose infecciosa. quadro de início bem agudo, porém já havia
sido identificada a linfadenopatia generaliza-
Reconheceu as principais características? da. Em face disso, poderia ter sido aventada
Temos fadiga, faringite e linfadenopatia ge- a possibilidade de mononucleose infecciosa.
neralizada. Se não bastasse isso, temos ain- Reparem que o exantema surgido após o
da o edema palpebral (sinal de Hoagland) e uso da amoxicilina confirma essa hipótese;
as alterações laboratoriais típicas (leucoci- se desde o início tal diagnóstico tivesse sido
tose com atipia linfocitária). Trata-se de um realizado, a adoção de medidas de cuidado
quadro de mononucleose infecciosa. Corro- para a prevenção da fatal complicação ocorri-
borando a hipótese há também o relato de da poderiam ter sido adotadas ou o diagnós-
surgimento de exantema com o uso de amo- tico poderia ter sido feito mais precocemente.
xicilina. A leucemia linfoide aguda é um im- Qual foi a complicação que levou esta criança
portante diagnóstico diferencial, mas não há ao óbito? A ruptura esplênica. Esta é a mais
o relato de exantema após o uso da amoxi- temida complicação da mononucleose infec-
cilina e nem a faringite e, também, espera- ciosa; é mais frequente na segunda semana
ríamos a descrição de anemia. A difteria e a de doença e é menos frequente em crianças
faringoamigdalite bacteriana (estreptocócica) que em adultos. A ruptura é frequentemente
representam dois diagnósticos diferenciais relacionada a traumatismos, ainda que bran-
importantes, mas que não levam a todas as dos, havendo assim a indicação do repouso
alterações descritas. Resposta: letra D. ou cuidado. Resposta: letra A.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 64

8. outras doenças exantemáticas virais

Algumas outras doenças de etiologia viral ou sos agentes virais ou bacterianos na origem
mesmo de etiologia ainda não estabelecida dos sintomas.
também são causas de quadros exantemáti-
cos bem caracterizados. Veja-os a seguir.
Acrodermatite papular da
infância
Exantema laterotorácico
unilateral Esta condição também é chamada de síndro-
me de Gianotti-Crosti. Consiste em uma
Trata-se de uma condição descrita há pouco erupção inespecífica que pode estar associa-
mais de 20 anos. Os achados característicos da com diversas infecções virais, como a in-
incluem uma erupção unilateral, com lesões fecção pelo vírus Epstein-Barr, pelo vírus da
escarlatiniformes, maculopapulares ou ecze- hepatite B, dentre outros. Também acredita-se
matosas, acompanhadas de prurido na meta- haver associação com algumas vacinas.
de dos casos. As lesões iniciais são encontra-
das mais comumente no tronco e na axila. O quadro é mais comum nas crianças entre
Durante a evolução da doença, a erupção dois e seis anos e é caracterizado pelo apare-
pode manter-se unilateral ou pode se disse- cimento de erupção monomórfica, eritemato-
minar, mas a predominância unilateral é man- papular, não pruriginosa. As lesões têm um topo
tida. Após um período de quatro a seis sema- achatado e distribuem-se na face, nas nádegas
nas, ocorre a melhora espontânea. e nas extremidades; o tronco costuma ser pou-
pado. O desaparecimento da erupção ocorre
Não se sabe exatamente qual a etiologia des- espontaneamente após um período de 15 a 20
te quadro; estuda-se a participação de diver- dias, podendo ser mais prolongado.

T erminamos aqui a apresentação das principais doenças exante-


máticas virais que irão aparecer na sua prova. Porém, muito em-
bora os vírus sejam os principais responsáveis por esses quadros
na infância, outras etiologias também devem ser consideradas.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 65

Principais Doenças
Exantemáticas Bacterianas

S e fôssemos fazer uma lista completa de todas as condições bacterianas


que podem causar um exantema, iríamos simplesmente listar diversas e
diversas condições que não têm muita semelhança com os quadros que
vimos até agora. São condições que têm apresentações muito mais graves
ou com outras características, como os quadros de meningococcemia, por
exemplo. Fique bem tranquilo, pois você irá ver todas essas doenças ao longo do
ano, de uma forma que seu estudo fique mais organizado e faça mais sentido.

A grande doença bacteriana que entra no diagnóstico diferencial das doenças


exantemáticas virais é a escarlatina. Como você deve ter percebido, esta era uma
das opções que frequentemente aparecia nas questões que você resolveU nas
páginas anteriores.

1. ESCARLATINA

Quem é o agente etiológico?


Streptococcus pyogenes ou estreptococo beta-hemolítico do grupo A (GAS) produtor de exo-
toxina pirogênica.
Como ocorre a transmissão?
Pelo contato com gotículas de saliva ou secreção nasal da pessoa infectada.
Quais são os dados clínicos mais marcantes do quadro?
Quadro de faringite estreptocócica associado à exantema micropapular (pele em lixa) com a
presença de sinais clássicos (Filatov e Pastia).
O exantema descama após alguns dias (nas extremidades a descamação é lamelar).
Enantema que evolui em duas fases: língua em morango branco e língua em morango vermelho.
Qual é o tratamento?
Penicilina.

Introdução dessa bactéria e entender alguns conceitos


que frequentemente ficam embolados na
A escarlatina é uma doença exantemática re- nossa cabeça.
sultante de uma infecção estreptocócica. O
que temos nessa doença é a associação entre O S. pyogenes é o estreptococo beta-
uma infecção estreptocócica do trato respirató- -hemolítico do grupo A (SGA) de Lance-
rio superior, em geral uma faringite, associada field. O que isso significa? As bactérias do
a um exantema característico. Cuidado com gênero Streptococcus são cocos Gram-
o seguinte: a faringite é a infecção mais co- -positivos, catalase negativos, que se ar-
mumente implicada no quadro de escarlatina, rumam em cadeias ou pares. Podem ser
mas outras infecções estreptocócicas também classificadas de acordo com seu padrão de
podem estar associadas ao desenvolvimento hemólise, características antigênicas ou ca-
da doença, como as infecções cutâneas. racterísticas bioquímicas e fisiológicas. O
padrão de hemólise é definido pelos efeitos
Quem é o agente causador? da bactéria em meio agar-sangue e esse pa-
drão pode ser beta-hemolítico, alfa-hemolíti-
A bactéria associada ao quadro de escarlatina co ou sem hemólise. Os estreptococos beta-
é o Streptococcus pyogenes. A escarlatina é hemolíticos podem ser classificados em so-
uma das muitas síndromes clínicas associa- rogrupos com base na classificação antigê-
das à infecção por essa bactéria. Você ainda nica de um carboidrato presente na sua pa-
vai ouvir falar sobre esse agente em vários rede celular (carboidrato C de Lancefield);
outros momentos ao longo do ano, como nas existem mais de 20 grupos sorológicos, que
aulas sobre infecções respiratórias agudas são identificados por letras de A a V. Outros
ou de febre reumática. testes também podem ser feitos para a iden-
tificação do GAS com base em característi-
Vamos agora gastar algumas linhas para cas bioquímicas e fisiológicas, mas são me-
detalhar um pouco mais alguns aspectos nos importantes por ora.

65
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 66

Diversos componentes estruturais e extrace- está doente. A doença é bastante contagiosa.


lulares são importantes na patogênese das Os pacientes com a faringite estreptocócica
infecções por essas bactérias. Um dos com- são capazes de eliminar a bactéria nas gotí-
ponentes estruturais mais estudados é a pro- culas de saliva e nas secreções nasais. O
teína M, localizada na superfície celular, que contato próximo é um importante fator de ris-
é um dos principais fatores de virulência do co para a transmissão e a doença pode se
agente. As diferenças antigênicas encontra- disseminar em escolas, acampamentos mili-
das nessa proteína (ou a análise molecular tares e no domicílio. Também existe o relato
do gene responsável pela sua codificação) de surtos de faringite estreptocócica por ali-
permitem a subdivisão do SGA em mais de mentos contaminados.
100 sorotipos. A existência desses diferentes
sorotipos é um dos motivos da diversidade A transmissão em geral é interrompida 24 ho-
de manifestações clínicas associadas às in- ras após o início da terapia antimicrobiana.
fecções estreptocócicas. Os principais so-
rotipos associados à faringite nos Estados
Unidos, por exemplo, são 1, 12, 28, 4, 3 e 2. Patogênese
Os anticorpos formados contra uma proteína
M são específicos e não oferecem proteção O SGA pode produzir doença por pelo menos
contra os outros sorotipos. Por esse motivo, três mecanismos patogênicos, que são a su-
as crianças e adolescentes costumam apre- puração, a elaboração de toxinas e os proces-
sentar várias infecções pelo SGA. sos imunomediados. O que é importante guar-
darmos nesse momento é a importância da
Nem todos os componentes extracelulares proteína M como fator de virulência e a capa-
já foram bem caracterizados. Vários desses cidade da bactéria de produzir toxinas. As exo-
componentes levam à produção de anticor- toxinas pirogênicas são as responsáveis pelo
pos, que podem ser utilizados como mar- aparecimento do exantema da escarlatina.
cadores de infecção estreptocócica recente
(como os anticorpos antiestreptolisina O e
anti-DNase). Uma toxina que tem especial Clínica
importância para nós é a exotoxina pirogê-
nica (ou toxina eritrogênica). As exotoxinas Não é difícil reconhecermos um quadro de es-
pirogênicas A, B e C estão associadas ao carlatina e você terá poucas dúvidas para esse
exantema nos quadros de escarlatina e são reconhecimento nas provas. A imagem que
produzidas por cepas de SGA infectadas você deve guardar é a de uma criança com
com um bacteriófago. Essas toxinas levam à idade entre 5 e 15 anos (é improvável que esse
formação de anticorpos que protegem o pa- diagnóstico seja estabelecido em um lactente)
ciente contra episódios futuros de escarlati- que tem uma doença de evolução bem aguda.
na. Porém, essa proteção é específica para
a exotoxina que a desencadeou. Se a doen- O período de incubação da faringite estrepto-
ça pode ocorrer por três toxinas distintas, é cócica costuma ser de dois a cinco dias. As
fácil entender por qual motivo podemos ter primeiras manifestações da escarlatina podem
escarlatina mais de uma vez. ser apenas as da faringite ou, eventualmente,
o próprio exantema pode ser a manifestação
inicial. No módulo de infecção respiratória
Epidemiologia aguda vamos estudar detalhadamente os as-
pectos da faringite estreptocócica.
Nós, humanos, somos o reservatório natural
do SGA. O perfil epidemiológico da escarlati- Fase Prodrômica
na, no que diz respeito ao modo de transmis-
são e faixa etária acometida, é semelhante ao A história desses pacientes tem início com
da faringite estreptocócica. A infecção é mais odinofagia e febre na ausência de tosse. No
frequente entre 5 e 15 anos de idade (não é exame físico, encontramos faringe hiperemia-
comum antes dos três anos). O quadro de da, amígdalas aumentadas e cobertas com
escarlatina parece ser menos comum nos dias exsudato, petéquias no palato e adenomega-
de hoje do que já foi no passado. A doença, lia cervical. Nenhum desses dados é patog-
porém, tem uma incidência cíclica. nomônico ou exclusivo da faringite estrepto-
cócica, mas guarde essa imagem por ora. Nas
Vale lembrar que nem toda criança que carre- questões de escarlatina muitas vezes não é
ga o estreptococo na orofaringe está doente, sequer descrito o exame completo da orofa-
pois a bactéria é capaz de colonizar indivíduos ringe, diz-se apenas que o paciente queixa-se
assintomáticos. O percentual de crianças que de odinofagia. Lembre-se de que a associação
são portadoras sãs da bactéria varia ao longo com a faringite é o mais comum, mas que a
do ano e com a localização geográfica, mas escarlatina também pode estar associada à
costuma ser maior que o de adultos. infecção em outros sítios.

Fase Exantemática
Transmissão
O exantema costuma surgir 24 ou 48 horas
O indivíduo que transmite a bactéria não é o após o início das manifestações clínicas, mas
portador assintomático, mas sim aquele que também pode ser a manifestação inicial. O
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 67

exantema é bem típico e é o ponto mais im-


portante para estabelecermos o diagnóstico.

Figura 26: Escarla-


tina –
Figura 25: Escarla- descamação nas ex-
tina – tremidades.
descamação no tron-
co.

Outro dado bastante sugestivo da escarlatina


é um enantema característico. Além das alte-
rações já descritas típicas da faringite estrep-
Figura 22: Exantema tocócica, na avaliação da cavidade oral obser-
da escarlatina. vamos inicialmente uma língua com papilas
hipertrofiadas recoberta por uma camada
Qual é o aspecto das lesões e como progridem? branca (língua em morango branco); essa
Ao observar o paciente, você tem a impressão camada desaparece e passamos a observar
de que ele tem uma hiperemia cutânea difusa, apenas as papilas hiperemiadas e proeminen-
como você pode perceber na FIGURA 22. Po- tes (língua em morango vermelho). Essa evo-
rém, o que temos na verdade são numerosas lução está ilustrada nas FIGURAS 27 e 28.
lesões papulares puntiformes eritematosas,
que sofrem clareamento à digitopressão. Ao
tocarmos o paciente, percebemos que a pele Escarlatina = faringite + exantema
encontra-se áspera, como se fosse uma lixa ou micropapular + sinal de Filatov e Pastia +
a “pele de um ganso” (ainda que você não sai- língua em morango
ba como é a pele de um ganso, guarde o as-
pecto em lixa). Esse exantema surge em torno
do pescoço e se dissemina para o tronco e
extremidades. É mais intenso nas áreas de
dobras, como nas axilas, região inguinal e pre-
ga cubital (essa intensificação recebe o nome
de sinal de Pastia – veja FIGURA 23). A face
em geral é poupada, mas pode haver hiperemia
Figura 28: Língua
na região malar com palidez peribucal, o que em morango verme-
caracteriza o sinal de Filatov, como mostrado lho (3º dia).
na FIGURA 24. As regiões palmar e plantar Figura 27: Língua
também costumam ser poupadas. Guarde mui- em morango branco
(1º dia).
to bem esses dois sinais e aposte que pelo
menos um deles estará descrito no enunciado
de um caso de escarlatina. Avaliação complementar

O diagnóstico da escarlatina é eminentemen-


te clínico. A confirmação da infecção pelo SGA
pode ser obtida pela identificação da bactéria
em material da orofaringe ou pelo aumento nos
títulos de anticorpos, mas vamos deixar essa
discussão para daqui a poucas semanas, no
módulo de infecção respiratória aguda. Lá tam-
bém falaremos sobre as complicações supura-
tivas da faringite estreptocócica.
Figura 23: Sinal de Figura 24: Sinal de
Pastia. Filatov – palidez pe- Na avaliação do leucograma podemos encon-
ribucal.
trar leucocitose com desvio para a esquerda,
um achado inespecífico. Nos quadros de es-
O que ocorre quando essas lesões desapare- carlatina também pode haver eosinofilia.
cem? Após três ou quatro dias, o exantema
começa a desaparecer, deixando uma fina
descamação, lembrando a descamação que Tratamento
ocorre após uma queimadura solar, como na
FIGURA 25 (se lembra de quando você não Mesmo sendo uma doença bacteriana, o curso
fazia medicina e pegava sol?). A descamação é autolimitado na maioria das vezes. O trata-
começa na face e vai descendo, podendo du- mento aqui na verdade é o tratamento da fa-
rar por semanas. Nas extremidades pode ringite estreptocócica. Os principais objetivos
ocorrer uma descamação lamelar, acometen- do tratamento são encurtar a duração da doen-
do a região periungueal ou palmoplantar ça, reduzir a transmissão do agente para outros
(FIGURA 26). indivíduos, reduzir o risco de complicações
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 68

supurativas e, sobretudo, prevenir a febre reu- -hemolítico do grupo A. O exantema típico


mática. Mais uma vez: vamos voltar a falar consiste no surgimento de lesões micropapu-
sobre isso, mas, para matar um pouco a sua lares difusas, que conferem à pele do doente
curiosidade, vejamos o que é mais importante. um aspecto de pele áspera ou em lixa. Além
disso, o exantema pode estar associado com
Nos pacientes com o quadro clássico da es- sinais clássicos, que são os sinais de Filatov
carlatina, o tratamento deve ser iniciado ime- (palidez peribucal) e Pastia (acentuação do
diatamente. O SGA é reconhecidamente sen- exantema em áreas flexurais). Na inspeção
sível à penicilina e esta é a droga de escolha da cavidade oral, podemos identificar as alte-
para seu tratamento. Muito embora a melhora rações típicas de uma faringite estreptocócica
clínica ocorra com poucos dias de medicação, e a presença da língua em morango ou em
a antibioticoterapia por via oral deve ser man- framboesa. Em um momento inicial, temos a
tida por 10 dias, com o objetivo de promover língua em morango branco; as papilas estão
a erradicação do estreptococo da orofaringe hipertrofiadas, mas a língua permanece reco-
e prevenir a febre reumática. As drogas utili- berta por uma saburra brancacenta. Pouco
zadas incluem: tempo após, surge a língua em morango ver-
melho, quando então identificamos apenas a
• Penicilina V oral: 250 mg/dose (até 27 kg) presença das papilas hiperemiadas e hiper-
ou 500 mg/dose (acima de 27 kg) 2-3 vezes trofiadas. É curioso que a banca indicou um
ao dia por 10 dias por via oral. exantema maculopapular, não micropapular
como o habitualmente encontrado. Porém,
• Penicilina G benzatina: 600.000U (até < com a descrição dos sinais de Filatov e Pastia,
27 kg) ou 1.200.000 U (acima de 27 kg) em fica claro que este é o diagnóstico. O trata-
dose única por via intramuscular. mento deve ser feito com penicilina benzatina
em dose única ou, na impossibilidade da pe-
• Amoxicilina: 50 mg/kg/dia de 8 em 8 horas nicilina benzatina, amoxicilina por via oral
por 10 dias. Vários estudos já demonstraram durante 10 dias. Resposta: letra C.
que a amoxicilina pode ser usada no trata-
mento da faringite estreptocócica em dose
única diária, com a mesma eficácia. Usa-se RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
50 mg/kg até um máximo de 1 g. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE –
SE
Pré escolar com 5 anos de idade, sexo mas-
As alternativas para os pacientes alérgicos à culino, é atendido no posto de saúde com
penicilina incluem cefalosporinas, como a ce- história de febre alta há 24h (temperatura
falexina, e clindamicina, eritromicina ou azitro- axilar de 39.5oC ), em regular estado geral,
micina. A azitromicina é a única que pode ser revelando apenas faringe hiperemiada e ade-
usada por apenas 5 dias. As sulfonamidas e nomegalia cervical. O médico do posto pres-
as tetraciclinas NÃO devem ser usadas no creve amoxicilina por via oral e solicita retor-
tratamento da faringite estreptocócica. no em 24 horas. Cerca de 18 horas após, a
criança retorna com uma erupção cutânea
Veja como cai na prova e confira a situação maculopapular localizada em face e tronco,
clínica que frequentemente é cobrada. poupando a região perioral, avermelhada,
que clareia à digitopressão. O exame da oro-
faringe revela uma língua coberta por uma
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 camada branca com áreas hiperemiadas e
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE TERESÓPO- com hipertrofia de papilas, além de placas
LIS COSTANTINO OTTAVIANO – RJ mucopurulentas em amígdalas, faringe e
Menino de 9 anos apresenta febre elevada, úvula hiperemiadas e edemaciadas. O exan-
amigdalite pultácea, petéquias no palato, tema é mais acentuado nas pregas poplíteas
exantema maculopapular difuso com intensi- e face anterior do cotovelo, formando linhas.
ficação nas dobras flexurais e palidez peribu- Pergunta-se: Qual o agente etiológico prová-
cal que se iniciou há 5 dias. A principal hipó- vel dessa doença?
tese diagnóstica e conduta indicada neste a) Vírus Epstein-Barr.
caso incluem respectivamente: b) Parvovírus B19.
a) Mononucleose infecciosa - prescrição de c) Estreptococo beta hemolítico do grupo A.
sintomáticos. d) Estreptococo beta hemolítico do grupo B.
b) Mononucleose infecciosa - prescrição de
prednisona oral. Estamos diante de uma criança de cinco
c) Escarlatina - administração de penicilina por anos com quadro de febre alta, faringite e
via parenteral. adenomegalia cervical. Foi avaliada no posto
d) Doença de Kawasaki - administração de de saúde e prescrito amoxicilina oral, possi-
imunoglobulina intravenosa. velmente pensando num quadro de faringoa-
e) Escarlatina - prescrição de sulfametaxazol- migdalite estreptocócica. No entanto, a crian-
trimetoprim por via oral. ça evoluiu com exantema… Poderíamos
pensar que a criança tinha, na verdade, um
De forma bem direta, a banca nos forneceu quadro de mononucleose infecciosa e que
os principais aspectos diagnósticos para pen- apresentou essa erupção por ter feito uso do
sarmos em escarlatina. A escarlatina está antimicrobiano. Se pensássemos isso, iríamos
associada à infecção pelo estreptococo beta- errar! Perceba que os sinais clínicos são ca-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 69

racterísticos da escarlatina, doença causada vesículas. O tratamento é sintomático.


principalmente pelo estreptococo beta-hemo- c) Eritema súbito é uma doença causada pelo
lítico do grupo A. A doença caracteriza-se por estreptococo beta-hemolítico do grupo A.
cursar, inicialmente, com febre e faringite, Apresenta-se como uma erupção maculopa-
evoluindo posteriormente com exantema, que pular com ausência praticamente total de sin-
surge primeiro no tórax e se estende para o tomas. Pode haver prurido. O tratamento é
restante do tronco, pescoço e membros, pou- com penicilina oral ou injetável.
pando a região palmoplantar. No exame da d) Sarampo é causado por um vírus da família
orofaringe podemos encontrar um enantema togaviridae. É pouco contagiosa, o paciente
de língua, denominado língua em morango. apresenta febre, tosse, coriza, e erupção punti-
Além disso, temos dois sinais que são típicos forme, avermelhada, áspera ao toque, confluen-
da escarlatina que estão presentes no quadro te, que desaparece com a pressão dos dedos.
clínico: o sinal de Filatov que é a palidez pe- O tratamento é sintomático e de suporte.
ribucal (o exantema poupou a região perioral) e) Rubéola é causada por um vírus do gênero
e o sinal de Pastia, que é a acentuação do rubivírus. Apresenta-se com erupção cutânea,
exantema nas pregas flexoras cutâneas. Res- mas, em adultos jovens, pode haver pródro-
posta: letra C. mos de alguns dias, como febre, anorexia, dor
de garganta, tosse discreta, conjuntivite e
cefaleia. O tratamento basicamente é de su-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 porte e sintomático.
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS – SÃO
PAULO – SP Você, agora, já é capaz de avaliar todas as
Um menino com 11 anos de idade recebe o afirmativas, certo? Vejamos cada uma delas.
diagnóstico de escarlatina. O agente etiológi- Opção A: claramente errada! A varicela é cau-
co e o possível tratamento são, respectiva- sada pelo vírus varicela-zóster. O exantema da
mente: doença é caracterizado pela presença de pápu-
a) Streptococcus do grupo A; amoxacilina. las, vesículas e crostas, com distribuição mais
b) Arcanobacterium haemolyticum; amoxaci- centrípeta (rosto, pescoço e troncos), embora
lina-clavulanato. também possa acometer as extremidades e as
c) Haemophilus influenzae; amoxacilina-cla- mucosas labial e genital. Não há necessidade
vulanato. de terapia específica na maioria dos casos.
d) Streptococcus do grupo B; amoxacilina. Opção B: também está incorreta. A escarlatina
e) Streptococcus do grupo D; amoxacilina-cla- é uma das manifestações clínicas provocadas
vulanato. pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A
(Streptococcus pyogenes). A doença tem início
Questão bem direta! O agente etiológico da agudo com febre alta, calafrios, vômitos, pros-
escarlatina é Streptococcus pyogenes ou es- tração, faringite e dor abdominal. O exantema
treptococo beta-hemolítico do grupo A. Lem- surge após 24-48h, com aspecto eritematoso
bre-se de que as cepas capazes de levar ao e micropapular, dando à pele o aspecto de
quadro de escarlatina são as cepas secretoras “lixa”. Podem existir os sinais de Filatov e Pas-
de uma exotoxina pirogênica (ou toxina eritro- tia, e com o início do desaparecimento do rash,
gênica). O tratamento da escarlatina, à ma- pode-se notar uma descamação fina. O trata-
neira como é feito na faringite estreptocócica, mento é antibioticoterapia, sendo que o trata-
deve ser feito com penicilina. Pode ser feita mento com penicilina será a primeira escolha.
uma dose única da penicilina benzatina, por Opção C: errada. O exantema súbito é causa-
via intramuscular, ou dez dias de amoxicilina do pelo herpes-vírus humano. A clínica da
por via oral. Se o tratamento não for feito de doença se inicia com febre alta, que desapa-
forma correta, não irá garantir a erradicação rece em crise após 72h. Algumas horas após
do estreptococo e não será possível prevenir o desaparecimento da febre, surge o exante-
a ocorrência de uma importante sequela não ma, que se caracteriza por lesões maculopa-
supurativa dessa condição, que é a febre reu- pulares róseas, não pruriginosas. Para qua-
mática. Reposta: letra A. dros não complicados, está apenas indicado
o uso de antitérmicos.
Opção D: errada. O sarampo é causado por um
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 vírus do gênero morbilivirus, da família dos
ALIANÇA SAÚDE – PR paramixovírus. A contagiosidade é alta e até
As doenças exantemáticas são situações pre- 90% dos suscetíveis serão infectados ao terem
valentes na Atenção Primária à Saúde. Com contato com o vírus, daí a importância da ma-
relação a essas doenças na infância, assina- nutenção de altas taxas de coberturas vacinais.
le a alternativa CORRETA. Opção E: finalmente, uma correta. Aproveite
a) A varicela é causada pelo parvovírus B19. para relembrar os principais conceitos relacio-
Apresenta-se com erupções cutâneas prurigi- nados à rubéola.
nosas confluentes que formam placas ásperas
ao toque, presentes, principalmente, nas ex-
tremidades, poupando mucosas. O tratamen- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
to é sintomático. HOSPITAL DA CRUZ VERMELHA DO PARA-
b) Escarlatina é causada por um herpesvírus NÁ – PR
humano. Surge com febre alta, erupção cutâ- Paciente de 4 anos, há 36 horas com quadro
nea que primeiro são máculas eritematosas e febril, evoluindo com “rash’’ cutâneo do tipo
evoluem rapidamente para maculopápulas e maculopapular, vermelho intenso, áspero,
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 70

poupando dobras de flexão e associado com A primeira etapa é definirmos o diagnós-


palidez perioral. Qual o diagnóstico mais pro- tico. Você pensou que estaria diante de um
vável? quadro de mononucleose somente porque
a) Sarampo. o exantema surgiu após o uso da ampicili-
b) Escarlatina. na? Cadê a evolução insidiosa? Cadê a lin-
c) Rubéola. fadenopatia? Cadê a esplenomegalia? Não
d) Exantema Súbito. temos nada disso! O diagnóstico aqui é de
e) Eritema Infeccioso. escarlatina. O que ocorreu foi tão somente o
surgimento do exantema típico da doença,
Ainda que a idade não seja típica, não é por que não teve qualquer relação com o uso
isso que você erraria esta questão. A descrição do antimicrobiano. O único dos sinais que
clínica do exantema é a pedra angular para não faz parte do quadro de escarlatina é o
definição diagnóstica neste caso: exantema sinal de Hoagland, que é o edema palpebral
micropapular, bem eritematoso, áspero, seme- observado nos casos de mononucleose in-
lhante a uma “lixa”, e que é acompanhado de fecciosa. Resposta: letra C.
palidez perioral indica apenas e unicamente
uma doença: escarlatina – doença provocada
pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009
Contudo, o enunciado traz um erro ao afirmar UNIVERSIDADE DE SANTO AMARO – UNI-
que o exantema poupa dobras de flexão. Muito SA
pelo contrário, na escarlatina, outra caracterís- Você recebe o telefonema de uma mãe cuja
tica importante do exantema é justamente ser filha, de 3 anos de idade, frequenta creche
mais intenso nas dobras flexurais, achado co- onde ocorreu 1 (um) caso de escarlatina em
nhecido como sinal de Pastia. Alguma das ou- um colega de sala. A mãe refere que a direto-
tras opções seria uma resposta melhor? Nos ra orientou às mães a procurarem os pediatras
parece que não. Resposta: letra B. de seus filhos. Sabe-se que a criança doente
foi afastada e a creche permaneceu aberta.
Qual a orientação que você recomenda para
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 sua paciente?
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS – BAHIA a) Fazer cultura de orofaringe e tratar confor-
Menino, quatro anos de idade, é atendido no me o resultado.
mês de fevereiro no Posto de Saúde com his- b) Aplicar penicilina benzatina profilática.
tória de febre alta (temperatura axilar de até c) Marcar consulta imediatamente para avaliar
39,5°C) há 24 horas, dor de garganta, vômitos a possibilidade de doença assintomática.
e dor de cabeça. Ao exame físico, encontra-se d) Observar e trazer para consulta, caso a
febril (temperatura de 39°C), em bom estado filha apresente alguma alteração clínica.
geral, revelando apenas faringite hiperemiada e) Manter a filha fora da creche por 1 semana.
e adenomegalia cervical. O médico do Posto
prescreve ampicilina por via oral e solicita re- Sabemos que a criança infectada deixa de
torno após 24 horas. Cerca de 18 horas após, transmitir a bactéria 24 horas após o início
a criança retorna com uma erupção cutânea de tratamento com antibiótico adequado.
micropapular, localizada em face e tronco, Como medida de prevenção ou redução da
poupando a região perioral, avermelhada e transmissão e contagiosidade, é recomendá-
que clareia a digitopressão. O exame da oro- vel o absenteísmo escolar do doente por
faringe demonstra língua recoberta por uma cerca de 24-48 horas após o início do anti-
camada branca, com áreas hiperemiadas e biótico. Contudo, não é necessária nenhuma
com hipertrofia de papilas, além de placas medida específica para as demais crianças
esbranquiçadas em amígdalas. O exantema que tiveram contato com o caso índice. A
é mais acentuado nas pregas poplíteas, for- cultura da orofaringe da sua paciente poderá
mando linhas. Apesar de não comprovarem o revelar o crescimento de um SGA, mas ela
diagnóstico, são achados clínicos que carac- pode ser tão somente uma portadora da bac-
terizam o quadro descrito, exceto: téria, não necessitando de tratamento. Não
a) Sinal de Filatov. há qualquer indicação de profilaxia com pe-
b) Língua em framboesa. nicilina benzatina. Apenas deve-se orientar
c) Sinal de Hoagland. às famílias que levem suas crianças ao mé-
d) Descamação em placas. dico caso apresentem algum sintoma clínico.
e) Exantema micropapular. Resposta: letra D.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 71

Principais Doenças
Exantemáticas Reumatológicas

O mesmo que falamos para as doenças bacterianas é válido para as


reumatológicas: diversas cursam com exantema, mas serão vistas em
outros momentos, pois entram no diagnóstico diferencial principalmente
de outras condições. A doença que realmente entra no diagnóstico diferencial
das síndromes exantemáticas virais e, principalmente, da escarlatina é a
doença de Kawasaki.

1. DOENÇA DE KAWASAKI

Como é estabelecido o diagnóstico? - Exantema polimórfico.


Com base em critérios clínicos. - Alterações de extremidades.
Febre alta por pelo menos cinco dias, Qual é o tratamento?
associada a pelo menos quatro dos cinco Na fase aguda: imunoglobulina intravenosa e
critérios apresentados a seguir: AAS em dose anti-inflamatória.
- Conjuntivite bilateral bulbar não exsudativa.
Qual é a principal complicação da doença?
- Alterações nos lábios e cavidade oral.
Aneurismas coronarianos.
- Linfadenopatia cervical.

Introdução Patogênese

Não são apenas as doenças infecciosas que A doença de Kawasaki é uma vasculite que
causam exantema. A doença de Kawasaki é acomete especialmente as artérias de médio
estudada no grupo das doenças reumatoló- calibre, com predileção pelas artérias coro-
gicas da infância e frequentemente entra no nárias. A avaliação histopatológica de casos
diagnóstico diferencial das síndromes exan- fatais revela a presença de processo inflama-
temáticas. Essa doença será novamente vis- tório intenso na parede vascular. Nos casos
ta quando falarmos sobre as vasculites. mais graves há o acometimento de todas as
três camadas da parede, com destruição da
Essa condição é uma doença febril aguda que lâmina elástica interna, levando ao enfraque-
se associa a uma vasculite com predileção pe- cimento da parede e formação aneurismática
las artérias coronárias. É justamente esse o no local. Outras vezes, a regeneração é conse-
grande problema da doença. guida através da proliferação intimal, levando
a estenose e oclusão do vaso.
Qual é a etiologia?

A causa da doença ainda não é bem estabe- Clínica e Diagnóstico


lecida, mas diversos fatores parecem apontar
para uma provável origem infecciosa. Parece A Forma Clássica da Doença
haver ainda alguma predisposição genética,
o que explicaria a maior incidência da doença A forma clássica da doença é bem descrita e
em crianças de origem asiática, independen- você verá como é fácil reconhecê-la nos enun-
temente do local de moradia. ciados. Quando não é instituído nenhum tra-
tamento que interrompa o curso natural da
doença, vamos observar três fases clínicas.
Epidemiologia Essas fases estão representadas na FIGURA
29, que correlaciona temporalmente as mani-
A doença tem distribuição mundial, mas é bem festações clínicas que veremos a seguir.
mais comum nas crianças de origem asiática.
É uma doença da infância. A idade média do • Fase aguda: marcada pela febre e outras
diagnóstico é entre dois e três anos (idade mé- manifestações agudas. Dura entre uma e
dia esta que varia de acordo com a região duas semanas.
geográfica) e 80% dos casos ocorrem em me-
nores de cinco anos. Cerca de 20% dos pacien- • Fase subaguda: marcada por descamação,
tes não tratados desenvolvem aneurismas de trombocitose, pico de surgimento dos aneu-
coronárias, que é a complicação mais temida rismas coronarianos e risco aumentado de
da doença. A maioria dos estudos aponta uma morte súbita. Dura cerca de três semanas.
maior suscetibilidade no sexo masculino.
71
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 72

• Fase de convalescença: tem início quando alta e contínua e sem tratamento dura cerca
todos os sinais clínicos desaparecem e se de uma ou duas semanas, mas pode durar até
encerra quando a Velocidade de Hemos- três ou quatro semanas.
sedimentação (VHS) se normaliza. Dura
até por seis a oito semanas após o início • Congestão Ocular
da doença. Descendo um pouco chegamos aos olhos. A
congestão ocular é na verdade uma conjun-
tivite bilateral sem exsudato (FIGURA 30).

• Alterações nos Lábios e Cavidade Oral


Siga descendo e lembre-se das alterações
na cavidade oral. As alterações são várias
e incluem eritema, fissuras, língua em fram-
boesa ou morango, hiperemia difusa da mu-
cosa oral e faríngea. Confira o aspecto nas
FIGURAS 31 e 32.

• Linfadenopatia Cervical
Da boca vá para o pescoço. O próximo cri-
tério é a presença de linfadenopatia cervi-
cal, com diâmetro maior do que 1,5 cm, que
em geral é unilateral.
Figura 29: Doença de Kawasaki. Fases
clínicas e manifestações características.
• Exantema Polimórfico
Do pescoço para as extremidades você
O diagnóstico é estabelecido com base em passa pelo resto do corpo. É onde está o
critérios clínicos. Para definirmos que estamos exantema, mais exuberante no tronco e na
diante de um quadro de doença de Kawasaki região inguinal, como evidente na FIGURA
são necessários cinco de seis critérios clí- 33. Na doença de Kawasaki podemos ter
nicos, sendo que o primeiro deles (a febre) é um exantema polimórfico, isto é, diferentes
obrigatório. Para a memorização desses cri- tipos de exantema podem ser encontra-
térios ser mais fácil, vamos tentar fazer um dos: maculopapular, escarlatiniforme, eri-
trajeto que começa na testa (local onde todos tema multiforme. As lesões vesiculares tipi-
instintivamente avaliam se há febre!) e termi- camente não são encontradas e tornam o
na nas extremidades (aproveite que você está diagnóstico menos provável.
só e faça a mímica enquanto lê. Acredite, esta
coreografia tornará a memorização mais fácil).  Alterações de Extremidades
Vejamos cada um deles: Chegamos às extremidades. Na fase agu-
da da doença há eritema da região palmo-
• Febre plantar e edema das mãos e pés. Na fase
Coloque a mão na testa e lembre-se do critério subaguda da doença ocorre a descamação
obrigatório: febre. A febre deve estar presente periungueal. Essas alterações estão repre-
por pelo menos cinco dias. A febre em geral é sentadas nas FIGURAS 34 e 35.

Fig. 30 Fig. 31 Fig. 32

Fig. 33 Fig. 34 Fig. 35

Doença de Kawasaki
Figura 30: Conjuntivite não exsudativa.
Figura 31: Língua em morango ou framboesa.
Figura 32: Lábios fissurados.
Figura 33: Exantema mais intenso na região inguinal.
Figura 34: Fase aguda – mãos eritematosas e edemaciadas.
Figura 35: Descamação plantar.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 73

Treine um pouco com os próximos casos. vite bilateral, alterações da cavidade oral,
Enquanto lê cada enunciado, vá percorren- adenomegalia cervical, exantema e alterações
do o caminho das manifestações clínicas nas extremidades. A conjuntivite na doença de
com a sua mão. Kawasaki é, tipicamente, uma conjuntivite não
exsudativa bilateral (opção A errada); é uma
manifestação bem comum na doença e, em
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 (ACESSO DI- alguns levantamentos, encontramos a descri-
RETO DISCURSIVA) ção de sua presença em mais de 90% dos
HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN casos. O exantema na doença de Kawasaki é
– SP descrito como um exantema polimorfo, isto é,
Menino com 2 anos de idade é atendido com tem mais de uma apresentação possível. Ti-
história de febre alta há 6 dias acompanhada picamente, podemos ter um exantema macu-
por irritabilidade, hiperemia bilateral de con- lopapular, escarlatiniforme ou na forma de
juntivas sem exsudato, exantema maculopa- eritema multiforme. Costuma haver uma acen-
pular em tronco, abdome e raiz de membros, tuação das lesões na região inguinal e, carac-
hiperemia de lábios e mucosa oral, presença teristicamente, não há presença de lesões
de gânglio submandibular direito com 1,5 cm vesicobolhosas (opção B errada). A febre com
de diâmetro e discreto edema nos tornozelos. duração de pelo menos cinco dias é um crité-
O restante do seu exame físico é normal. Nes- rio universal e obrigatório para o diagnóstico
te caso cite: o diagnóstico. da condição, porém, nos casos não tratados,
costuma ter duração de uma a duas semanas
GABARITO HIAE: Doença de Kawasaki ou e, eventualmente, pode chegar a três ou qua-
Kawasaki. tro semanas (opção D errada). E, finalmente,
Ficou fácil perceber que, além da febre, o pré- a adenomegalia não supurativa é geralmente
-escolar apresenta todos os outros critérios unilateral, cervical, com um gânglio de diâme-
necessários para o diagnóstico. É verdade que tro maior que 1,5 cm. A adenomegalia é, real-
o edema de tornozelos não seria a alteração mente, o critério menos comumente observa-
de extremidades tipicamente descrita; espe- do desses critérios descritos (opção C correta);
raríamos a descrição de edema nas mãos ou em algumas séries, podemos encontrar a
pés. Porém, ainda assim, temos quatro outras descrição de adenomegalia nas cadeias de
alterações: conjuntivite, alterações na cavida- cabeça e pescoço em apenas 30% dos casos.
de oral e lábios, adenomegalia e exantema. Resposta: letra C.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013


HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE GOIÁS – GO PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG
A doença de Kawasaki é a causa mais comum Criança com cinco anos de idade, iniciou qua-
de cardiopatia adquirida em crianças em al- dro de febre alta há 9 dias, apresentava ade-
guns países desenvolvidos. Com base em nopatia cervical com um gânglio de 2,5 cm,
seus critérios diagnósticos, pode-se afirmar o sendo iniciado amoxicilina. Manteve o quadro
seguinte: mesmo após o período de tratamento. Ao exa-
a) A conjuntivite é sempre bilateral e acompa- me, além de linfadenopatia cervical iniciou com
nhada de exsudato e prurido, o que facilita a conjuntivite bilateral sem exsudato, eritema
sua identificação por parte dos pais ou cuida- das mãos e dos pés e exantema escarlatini-
dores. Por isso, a conjuntivite é reportada em forme no tronco. Assinale a afirmativa que
mais de 90% dos casos. expresse um conceito FALSO sobre a evolu-
b) O exantema pode ser do tipo maculopapu- ção do quadro clínico descrito acima:
lar ou vesicobolhoso, o que proporciona diag- a) Pode haver ressecamento, vermelhidão e
nóstico diferencial com a síndrome de Ste- fissura dos lábios.
vens-Johnson. b) Pode haver artralgia e artrite.
c) A adenomegalia cervical é geralmente unila- c) Pode haver exantema polimorfo do corpo e
teral e é o critério diagnóstico menos frequente- tronco com presença de vesículas e crostas.
mente observado de todos os seis preconizados. d) Pode haver alterações na cavidade oral
d) A presença de febre é praticamente univer- como língua em framboesa.
sal, mas em casos não tratados regride no
máximo em uma semana, sendo um forte diag- Podemos estabelecer um diagnóstico clíni-
nóstico diferencial com dengue, em nosso meio. co de doença de Kawasaki neste caso? Cla-
ro! O primeiro critério, que é o critério obri-
É verdade que você poderia ter dúvidas em gatório, está presente: febre há pelo menos
relação à afirmativa apresentada na opção C, cinco dias (temos febre já há nove dias no
que foi o gabarito desta questão. Porém, per- caso). Além disso, temos a alteração ocular,
ceba que com o que você sabe sobre a doen- linfadenopatia, exantema e alterações na ex-
ça de Kawasaki, você poderia tranquilamente tremidade. O único critério ausente é a altera-
excluir as demais afirmativas, que estão cla- ção na cavidade oral. A artralgia, como você
ramente incorretas. O diagnóstico da forma irá ler em algumas linhas, é uma alteração
clássica da doença de Kawasaki é um diag- possível, ainda que não seja um critério diag-
nóstico eminentemente clínico e se baseia na nóstico. O erro claro está na opção C: não
presença de febre por pelo menos cinco dias encontramos exantema vesicular nesta con-
e quatro dos cinco critérios a seguir: conjunti- dição. Resposta: letra C.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 74

Outras Manifestações Associadas – COM- vel, como no caso. Assim, é evidente que
PLICAÇÕES não vamos puncionar ou retirar essa massa
(imagine o susto no momento da punção!).
Além das alterações já descritas, outras mani- Façamos o ecocardiograma para avaliação
festações podem estar presentes no quadro. de aneurismas coronarianos, como descrito
Essas manifestações incluem sintomas gas- na opção A.
trointestinais, respiratórios, articulares.
A Forma Atípica ou Incompleta da Doença
A maioria dos pacientes apresenta miocardite
na fase aguda da doença, como está repre- O diagnóstico da forma clássica é um diagnós-
sentado na FIGURA 29. Os aneurismas coro- tico relativamente simples de ser estabelecido.
narianos se desenvolvem em até 20 ou 25% Porém, alguns pacientes não preenchem todos
dos pacientes que não são tratados com a os critérios e podem receber o diagnóstico de
imunoglobulina ao longo da segunda ou ter- doença de Kawasaki atípica ou incompleta. A
ceira semanas de doença. Os aneurismas avaliação laboratorial e ecocardiográfica será
gigantes são aqueles com diâmetro interno necessária para o estabelecimento do diagnós-
maior ou igual a 8 mm e são os com maior tico dessa forma. A combinação de alterações
risco para ruptura, trombose, estenose e in- laboratoriais e/ou alterações ecocardiográficas
farto do miocárdio. É por esse motivo que o permite que o tratamento seja iniciado mesmo
ecocardiograma sempre será feito na avalia- sem a presença de pelo menos cinco dos cri-
ção dessas crianças. térios clínicos já vistos.

As crianças menores têm risco maior para o Na doença de Kawasaki atípica temos:
desenvolvimento de aneurisma e encontramos
relatos de desenvolvimento de aneurismas em • Febre há pelo menos 5 dias +
até 60% nos menores de um ano.
• 2 ou 3 dos demais critérios clínicos+

Leia a próxima questão antes de continuar- • Proteína C reativa (≥ 3 mg/dl) e/ou VHS (≥
mos. 40 mm/h).

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 E mais a presença de alguma das duas con-


SURCE – SELEÇÃO UNIFICADA CEARÁ dições laboratoriais abaixo:
Menino de 3 anos, com febre alta há 8 dias, • ≥ 3 dos seguintes:
apresenta linfadenomegalia de cadeia cervical
1) Albumina ≤ 3 g/dl;
anterior direita, eritema de orofaringe, eritema
da língua com papilas proeminentes, conjun- 2) Anemia;
tivite bilateral não exsudativa, exantema poli- 3) Elevação das transaminases;
morfo troncular e inchaço endurado nas mãos
4) Plaquetas ≥ 450.000/mm³ depois do 7º dia;
e pés. Tratado com cefalosporina de 1ª gera-
ção, quadro evolui sem melhora. Apresenta, 5) Leucócitos ≥ 15.000/mm³;
3 semanas após o início do quadro, massa 6) Leucocitúria ≥ 10 leucócitos/campo.
pulsátil em região axilar direita. Qual exame é
imprescindível para conduzir o paciente ade- • < 3 dos exames laboratoriais acima descritos,
quadamente? porém com ECO compatível.
a) Ecocardiograma bidimensional com Doppler.
b) Tomografia computadorizada da massa
axilar. Avaliação complementar
c) Exérese cirúrgica para biópsia da massa
axilar. As alterações laboratoriais merecem a sua
d) Punção aspirativa da massa guiada por atenção. Não há qualquer exame que esta-
ultrassom. beleça o diagnóstico, mas os achados labo-
ratoriais são bem descritos.
Massa pulsátil na axila???
• Hemograma: anemia normocítica e normo-
Outras artérias também podem desenvolver crômica, leucocitose discreta com predomí-
aneurismas, como as axilares, poplíteas e nio de neutrófilos. As plaquetas são normais
ilíacas. A manifestação nesses casos será a na primeira semana e aumentam na segun-
de uma massa pulsátil. da e terceira semanas de doença, podendo
atingir valores acima de 1.000.000/mm3.
Vamos ao comentário...
• VHS e PCR: na fase aguda da doença há o
Foi fácil identificar que estávamos diante aumento universal desses reagentes. A VHS
de um quadro de doença de Kawasaki. Tí- pode permanecer elevada por semanas.
nhamos aí a presença de todos os critérios
necessários para isso. A complicação mais • EAS (exame sumário de urina ou urina tipo
comum e temida da doença é a formação I): piúria estéril.
de aneurisma coronariano, mas outras ar-
térias também podem ser acometidas e o • Transaminases hepáticas: levemente ele-
aneurisma dessas artérias pode ser palpá- vadas.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 75

• Ecocardiograma: é o exame mais importan- Os pacientes com anomalias coronárias per-


te para a avaliação da principal complicação manecem recebendo terapia antitrombótica,
da doença, que são os aneurismas coronaria- como a aspirina ou clopidogrel. Muitos espe-
nos. Deve ser realizado no diagnóstico e após cialistas prescrevem warfarin ou heparina de
duas ou três semanas de doença. Se os resul- baixo pelo para pacientes de alto risco para
tados forem normais, novo exame é feito de trombose.
seis a oito semanas após o início do quadro. É
claro que se houver sintomas ou se forem de- As crianças com lesões coronárias que neces-
tectadas alterações, os exames serão repeti- sitam utilizar salicilatos por tempo indetermi-
dos com mais frequência. O paciente que não nado devem ser imunizadas contra a varicela
teve nenhuma alteração é submetido a novo e influenza, como medida profilática da sín-
exame em um ano e passa por reavaliações drome de Reye.
periódicas após. Quando há alterações, a gra-
vidade das mesmas irá ditar o seguimento. Veja como cai na prova...

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016


Tratamento SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO
PAULO – SP
O grande objetivo do tratamento é diminuir Lactente de 10 meses, sexo feminino, é inter-
a incidência da formação de aneurismas co- nada por apresentar história de sete dias de
ronarianos. A incidência despenca quando febre entre 38 e 39ºC, “garganta inflamada’’ e
o tratamento é instituído: apenas 2-4% dos vermelhidão pelo corpo. Apresenta, ao exame
pacientes tratados com aspirina e imunoglo- físico, irritabilidade, hiperemia conjuntival, rash
bulina nos primeiros 10 dias de doença terão áspero em tronco e membros, vermelhidão em
essa complicação (contra os 25% que terão região malar e lábios, língua em framboesa e
caso o tratamento não seja feito). pequenos gânglios cervicais palpáveis com 0,5
cm e consistência fibroelástica. Os primeiros
O tratamento consiste na administração de exames revelam: Hemograma: Hb 8,5 g/dL;
altas doses de imunoglobulina por via intrave- Hto 35%; 18.000 leucócitos/mm3, 65% neutró-
nosa (IVIG) e de aspirina em doses anti-infla- filos, 15% de bastões, 15% linfócitos, 5% mo-
matórias. O uso da IVIG é capaz de promover nócitos; 840.000 plaquetas/mm3; PCR 10,5 mg/
a rápida defervescência do paciente. O trata- dl; AST 65 U/L; ALT 82 U/L. A melhor conduta
mento deve ser instituído nos primeiros dez terapêutica enquanto se complementa a inves-
dias de doença, porém deve-se considerar tigação diagnóstica para a paciente é:
o uso dessas drogas mesmo quando o diag- a) Penicilina Benzatina intramuscular.
nóstico é feito após o 10º dia, caso o pacien- b) Corticosteroide endovenoso.
te ainda mantenha febre. Podemos separar c) Gamaglobulina endovenosa.
o tratamento nas várias fases da doença da d) Penicilina cristalina e clindamicina por via
seguinte maneira: endovenosa.
e) Sintomáticos por se tratar de quadro viral
Fase Aguda mais provavelmente.

• Imunoglobulina venosa (IVIG) 2 g/kg por Esta condição é muito frequente nos con-
via intravenosa em 10-12 horas. Cerca de cursos de residência e você deve ser capaz
15% dos pacientes são refratários ao trata- de reconhecê-la prontamente. Esta criança
mento e voltam a apresentar febre após 36 apresenta um quadro bem sugestivo de
horas do término da infusão da IVIG. Uma doença de Kawasaki. O diagnóstico da forma
segunda dose pode ser usada nesses casos. clássica é estabelecido pela presença de
febre alta, com cinco dias ou mais, além de
• AAS em dose anti-inflamatória – 80-100 mg/ quatro de cinco possíveis critérios: hipere-
kg/dia (6/6 horas) via oral até que o paciente mia conjuntival bilateral sem exsudato, alte-
esteja afebril por 48 horas (alguns mantêm rações na cavidade oral, adenomegalia
essa dose por 14 dias). cervical, exantema polimorfo e alterações
nas extremidades. Ainda que esta criança
Outras terapias que já foram utilizadas incluem não tenha apresentado adenomegalia com
o uso de metilprednisolona por via intraveno- mais de 1,5 cm de diâmetro, e nem altera-
sa, ciclofosfamida e plasmaferese. Alguns ções nas extremidades, é possível que seja
estudos mostraram benefícios com o uso de estabelecido o diagnóstico da forma atípica
corticoterpia, enquanto outros não encontra- da doença. Para tal, lançamos mão da rea-
ram os mesmos resultados. lização de exames complementares. Por
isso a banca indicou que será “continuada
Fase de Convalescença a investigação diagnóstica”. O tratamento
da doença de Kawasaki tem como principal
O AAS é mantido em dose antiplaquetária (3-5 objetivo reduzir a incidência dos aneurismas
mg/kg/dia) até seis ou oito semanas, sendo coronarianos. Para isso, usa-se a imunoglo-
descontinuado caso o paciente não tenha bulina intravenosa em altas doses e o ácido
apresentado alterações ecocardiográficas. acetilsalicílico. Resposta: letra C.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 76

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 (ACESSO DI- Possivelmente, mesmo antes de ler o caso,
RETO DISCURSIVA) a simples visualização das imagens no ca-
HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN – derno de provas já permitia que o candidato
SP pensasse no diagnóstico. Após a leitura da
Menino com 2 anos de idade é atendido com história, encontrava-se a descrição de febre
história de febre alta há 6 dias acompanhada há seis dias e estava definido: este pré-es-
por irritabilidade, hiperemia bilateral de con- colar tem doença de Kawasaki. A principal e
juntivas sem exsudato, exantema maculopa- mais temida complicação da doença de Ka-
pular em tronco, abdome e raiz de membros, wasaki são os aneurismas coronarianos. Por
hiperemia de lábios e mucosa oral, presença essa razão, o ecocardiograma é obrigatório
de gânglio submandibular direito com 1,5 cm em todos os casos, devendo ser realizado no
de diâmetro e discreto edema nos tornozelos. momento do diagnóstico e repetido em duas
O restante do seu exame físico é normal. Nes- a três semanas e novamente entre seis e oito
te caso, cite: a principal complicação. semanas se os dois anteriores forem normais,
período em que surgem os aneurismas com
GABARITO HIAE: Aneurisma de coronária. maior frequência. Exames mais invasivos até
É a continuação da questão que já tínhamos poderão ser solicitados, mas o ecocardiogra-
visto. Na fase aguda, é mais comum obser- ma é o exame inicial. Gabarito oficial do con-
varmos miocardite, caracterizada por taqui- curso: ECOCARDIOGRAMA.
cardia desproporcional à febre e alteração da
contratilidade cardíaca no ecocardiograma. E a pergunta continuava...
O endocárdio e o pericárdio também podem
estar acometidos, havendo regurgitação val- Cite as DUAS principais medicações que devem
var e derrame pericárdico. Já na fase suba- ser administradas para o tratamento do caso.
guda da doença, pode haver surgimento da
principal e mais grave complicação: aneuris- O tratamento da doença de Kawasaki con-
mas coronários, que se forem de tamanho siste no uso de altas doses de imunoglobulina
considerável, como os gigantes, apresentam intravenosa (2 g/kg de peso em dose única,
risco de ruptura, trombose e estenose. em infusão por 12 horas) e salicilatos em do-
ses anti-inflamatórias (80-100 mg/kg/dia).
Gabarito oficial do concurso: Gamaglobulina
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 (ACESSO DI- ou imunoglobulina humana via endovenosa;
RETO DISCURSIVA) Ácido AcetilSalicílico (AAS) via oral.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP
Menino de 2 anos e 3 meses de idade, previa-
mente hígido, é levado ao pronto-socorro infan- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
til com história de febre, de até 39,8°C, há 6 SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO
dias. A mãe refere que observou que a criança PAULO – SP
está com olhos irritados e manchas no corpo Criança do sexo masculino, 5 anos, foi inter-
há 2 dias, além de ter diminuído muito a acei- nada por apresentar 10 dias de febre, hipere-
tação alimentar e estar com dificuldade para mia ocular, rachaduras nos lábios, exantema
deambular. Nega ocorrência de sintomas res- polimorfo difuso e um gânglio doloroso em
piratórios, urinários ou gastrointestinais no região inguinal direita de 3,0 cm de diâmetro.
período. Ao exame clínico, a criança apresenta- À entrada, realizou um ecocardiograma, que
-se em regular estado geral, corado, acianótico, foi normal. Durante a internação, recebeu ga-
anictérico. Temperatura= 36,8°C, pulsos cheios, maglobulina endovenosa e ácido acetilsalicí-
tempo de enchimento capilar de 2 segundos. lico com boa evolução e regressão clínica
Frequência cardíaca = 105 bpm, Frequência completa. Em relação a essa patologia assi-
respiratória = 28 ipm, Pressão Arterial = 100 x nale a INCORRETA:
70 mmhg. Saturometria = 96% em ar ambiente. a) Caso a febre retorne em 48-72 horas, deve
Exames cardíaco e pulmonar sem alterações ser repetida a gamaglobulina.
significativas. Exame abdominal com palpação b) Deve-se manter o ácido acetilsalicílico em
flácida, fígado a 2 cm de rebordo costal direito, baixas doses na fase subaguda da doença.
baço no rebordo costal esquerdo, ruídos hi- c) Os corticosteroides podem ser utilizados
droaéreos presentes. Otoscopia sem altera- caso a febre persista apesar de pelo menos
ções bilateralmente. Oroscopia com hiperemia duas doses de imunoglobulina.
de mucosa sem pus em amígdalas. Linfonodos d) A realização de novo ecocardiograma é
palpáveis em cadeias cervicais, sendo o maior desnecessária.
com aproximadamente 2,5 cm de diâmetro. e) O risco de formação de aneurismas seria
Ausência de sinais meníngeos. Inspeção geral: maior caso o paciente fosse menor de 6 meses
(VER IMAGEM). de idade e não tivesse recebido gamaglobulina.

O enunciado parece descrever um caso de


doença de Kawasaki e aborda o seu trata-
mento farmacológico. Sabemos que a ade-
nomegalia cervical, não inguinal, é o critério
diagnóstico utilizado. Porém, ainda assim é
Cite o principal exame complementar que deve possível a análise das afirmativas.
ser solicitado. Opções A, B e C: corretas. O tratamento é
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 77

feito com imunoglobulina intravenosa (2 g/ dos, hiperemia ocular, adenomegalia cervical


kg de peso em dose única, infusão contínua e edema de mãos e pés há mais ou menos
por 12 horas), que faz cair drasticamente 1 semana. No segundo dia de febre, a mãe
a incidência dos aneurismas para 2-4%, e havia iniciado amoxicilina em doses corretas
com salicilatos em doses anti-inflamatórias sem melhora. Hb:10,5 g/dl; leucócitos: 17.000/
(80-100 mg/kg/dia) até o 14º dia da doença mm³ com 10% de formas jovens; plaquetas:
ou até três dias após desaparecer a febre. A 350.000/mm³. Ecocardiograma: normal. Foi
partir daí, a dose do salicilato deve ser redu- suspenso o antibiótico, prescrito ácido acetil-
zida para 3-5 mg/kg/dia, para efeito antitrom- salicílico (80 mg/kg/dia) e imunoglobulina ve-
bótico, sendo mantida até normalização da nosa (2 g/kg). A febre cedeu no dia seguinte,
VHS (6-8 semanas após início da doença). mas retornou após 48 horas. Hoje está no 10º
Se houver a presença de aneurisma, a dro- dia de febre. O diagnóstico provável e a con-
ga é mantida por tempo indefinido. Alguns duta terapêutica indicada neste momento são:
pacientes apresentam doença de Kawasaki a) Virose exantemática; manter medicação
refratária e não respondem à infusão de ini- sintomática.
cial de IGIV ou apresentam resposta parcial. b) Doença de Kawasaki; repetir imunoglobu-
Deve-se considerar o tratamento adicional lina venosa.
de IVIG (2 g/kg). Se há uma resposta fraca c) Escarlatina; iniciar amoxicilina – ácido cla-
à segunda dose de IVIG, alguns pacientes vulânico por via oral.
respondem à terapia com metilprednisolona. d) Escarlatina; iniciar cefalosporina por via oral.
Opção D: incorreta. O ecocardiograma é obri-
gatório em todos os casos, devendo ser rea- O diagnóstico inicial do quadro, como indica
lizado no momento do diagnóstico e repetido a conduta terapêutica adotada, foi de doença
em duas a três semanas e novamente entre de Kawasaki. Não fica muito claro qual era a
seis e oito semanas se os dois anteriores fo- duração da febre, mas podemos assumir que
rem normais, justamente por ser o período acompanhava os demais sintomas, isto é, já
em que os aneurismas surgem com maior tinha uma semana de duração. Assim, todos
frequência. os critérios necessários para o estabelecimen-
Opção E: correta. A gamaglobulina reduz o ris- to do diagnóstico estavam presentes. O trata-
co de formação dos aneurismas; os lactentes mento foi correto: imunoglobulina e aspirina na
mais jovens apresentam risco maior de de- dose apropriada para a fase aguda. Porém, a
senvolver essa complicação. febre retornou. O que estava errado: o diagnós-
Resposta: letra D. tico ou o tratamento? Nenhum dos dois. Alguns
pacientes apresentam uma forma refratária da
doença, que não responde, ou responde par-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 cialmente, ao tratamento inicial com a imuno-
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UFPE globulina. Nesses casos considera-se forte-
Criança do sexo masculino de 10 meses deu mente a administração de uma segunda dose.
entrada na Emergência com quadro de exan- O tratamento seguinte, quando a segunda dose
tema maculopapular disseminado, hiperemia também não surte o efeito esperado, é incerto.
de orofaringe, lábios vermelhos e fissura- Resposta: letra B.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 78

A Criança Com Febre Sem Foco

A magine agora a seguinte situação:

Você está de plantão e em plena madrugada é trazido para atendimento


um recém-nascido de apenas 21 dias de vida que, segundo o relato
materno, apresenta febre alta há 48 horas e nenhuma outra manifestação
clínica. Após realizar um exame físico minucioso e completo, você verifica
que a criança tem uma febre tão alta que aquece o ambiente ao seu redor, mas não
apresenta qualquer outra alteração: está “lindo” no colo da mãe.
Qual é sua conduta neste momento?
( ) Prescrever paracetamol e recomendar à mãe que na manhã seguinte entre em
contato com o pediatra que acompanha o bebê.
( ) Internar essa criança, colher uma série de exames e iniciar antibioticoterapia
empírica.
( ) Prescrever uma dose de paracetamol agora, dar um banhozinho morno na criança
e deixar que o colega do próximo horário decida o que fazer.
Esse dilema faz parte do dia a dia de todos os pediatras: o que fazer quando uma
criança apresenta um quadro de febre sem foco?
Vamos entender quais os motivos para essa preocupação.

Introdução Sob o termo febre sem foco podemos encon-


trar duas situações clínicas distintas: a febre
A queixa de febre é responsável por um nú- sem sinais de localização e a febre de origem
mero enorme dos atendimentos pediátricos indeterminada. Os termos “febre sem foco” e
de urgência. Grande parte das crianças com “Febre Sem Sinais de Localização” (FSSL) são
esse quadro apresenta alguma evidência frequentemente utilizados de forma indiscrimi-
clínica que aponta para uma provável fonte nada e é sobre eles que falaremos. A criança
de infecção. Porém, não é sempre que isso com febre de origem indeterminada é aquela
acontece. Em até 20% dos casos, mesmo que teve o quadro de febre documentado por
após a anamnese e o exame físico completo, um profissional de saúde e cuja causa não foi
não conseguimos identificar a causa da febre definida após três semanas de avaliação am-
ao término da consulta. bulatorial ou uma semana de avaliação em
ambiente hospitalar. Esse quadro foge da
Na maioria das vezes, a causa da febre será nossa discussão nesse momento.
tão somente uma infecção viral autolimitada
que não demanda qualquer tratamento espe- Como definir a febre?
cífico. Porém, algumas dessas crianças apre-
Os principais protocolos que avaliam as
sentam uma infecção bacteriana grave oculta
crianças com FSSL determinam que haverá
e o atraso no diagnóstico poderá permitir a
febre quando a temperatura retal for ≥ 38ºC.
progressão da doença. Essa preocupação
Porém, não faz parte da nossa prática a afe-
vem tornando-se cada vez menor, na medida
rição da temperatura retal. Nas referências
em que ocorre o aumento da cobertura vacinal
brasileiras, há autores que consideram como
contra agentes que eram os principais respon-
pontos de corte a temperatura axilar de ≥
sáveis por esses casos de infecção bacteriana
37,8ºC, enquanto outros continuam conside-
(hemófilo tipo B e Streptococcus pneumoniae).
rando o valor de 38ºC.
Existem diversos protocolos para a avaliação
dessas crianças e a discussão sobre as par-
ticularidades de cada um deles só serviria para Febre sem sinais de
nos confundir. Vamos ver o que está na prin- localização
cipal referência da pediatria, que é o livro
Nelson Textbook of Pediatrics. Felizmente, É a situação em que há febre de início agudo
observamos que as bancas em geral não cos- (menor que sete dias) sem sinais que apontem
tumam abordar pontos de geram controvérsia. para a sua causa. Foi o quadro trazido como
dilema inicial.

Definições Antes de qualquer coisa, temos que ter o se-


guinte conceito bem claro:
O termo febre sem foco se refere às situações
clínicas em que a única alteração clínica é a Qualquer criança com febre sem sinais de
presença de febre. localização com idade abaixo de 36 meses
78
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 79

que tenha aspecto toxêmico deve ser inter- Entre 1 e 3 meses


nada, submetida à realização de exames e
coleta de culturas e receber antibioticoterapia A maioria das crianças desse grupo terá na
parenteral empírica. verdade uma causa viral para o quadro. Ainda
assim, a possibilidade de infecção bacteriana
O grande desafio é saber o que fazer com a grave nos assombra. Dentre essas, a infecção
criança menor de 36 meses febril que está em urinária será a causa mais comum. Esta infec-
bom estado geral. Por que estamos falando ção será mais comum nos meninos não cir-
apenas dos menores de 36 meses? Os diver- cuncidados e nas crianças com malformações
sos estudos para avaliação das crianças com urinárias. Outras possíveis infecções incluem
febre sem foco sempre contemplaram essa a otite média aguda, a pneumonia, onfalite,
faixa etária, porque é aí que estão as crianças mastite e infecções de pele e partes moles.
de maior risco para uma infecção bacteriana
oculta. Essas crianças são tradicionalmente Se essa criança estiver toxêmica, não há dú-
estudadas em três subgrupos separados: as vidas: temos que internar, colher culturas e
crianças com menos de um mês; as com ida- começar antibioticoterapia, como já dissemos.
de entre um e três meses; e as com idade
entre três e 36 meses. Esses protocolos só Porém, se a criança estiver bem, o primeiro
servem para a avaliação das crianças imuno- passo é definirmos qual o risco que a mesma
competentes e sem comorbidades. apresenta para uma infecção bacteriana gra-
ve. Essa estratificação de risco será feita atra-
Recém-nascidos / Menores de 1 mês vés da realização de exames complementares.

Este é o grupo mais fácil de conduzirmos, pois A criança de baixo risco é aquela que:
não há maiores dúvidas sobre o que fazer
nesses casos. • é previamente hígida;

Um recém-nascido com febre que não apre- • tem o exame físico normal;
sente sinais de doença tem um risco alto de
ter uma infecção bacteriana grave quando • tem resultados laboratoriais normais, isto é:
comparado às demais crianças. Preocupante,
não? As infecções nesse caso incluem bacte- - EAS: normal
remia oculta, meningite, pneumonia, osteo-
mielite, artrite séptica, enterite e infecções do - leucograma: WBC entre 5.000 – 15.000
trato urinário. céls/mm3; < 1500 bastões; ou relação bas-
tões:neutrófilos totais < 0,2.
Sempre que os pais referem que o recém-
-nascido apresentou febre em casa, devemos - pesquisa de elementos anormais nas fezes:
partir do pressuposto que essa informação é normal (indicada somente se houver pre-
verdadeira e rotular a criança como sendo sença de diarreia).
um “recém-nascido febril”. Podemos even-
tualmente atribuir a causa do aumento da - liquor: celularidade normal e ausência de
temperatura ao agasalhamento excessivo. bactérias no Gram.
Basta retirarmos as roupas e rever a tempe-
ratura em 15-30 minutos para confirmar ou - radiografia de tórax: sem infiltrado.
afastar essa possibilidade. Na dúvida, vamos
assumir que realmente há febre. Também serão colhidas culturas de sangue,
Todos os recém-nascidos febris devem: urina e liquor, mas esses exames não nos
fornecem resultados imediatos e não irão de-
• ser internados; finir a conduta na emergência.

• ser submetidos à coleta de exames, incluin- A criança de baixo risco: se a criança preen-
do hemograma, EAS e culturas de sangue, cher os critérios de baixo risco acima, não
liquor e urina; a radiografia de tórax e avalia- receberá nenhum antibiótico e será reavaliada
ção das fezes devem ser consideradas, es- em 24 horas (ou antes, caso ocorra piora). São
pecialmente quando há diarreia e manifesta- recomendadas reavaliações diárias até que
ções de doença respiratória; os resultados das culturas estejam fechados.
Caso alguma cultura revele-se positiva, a
• ser avaliados quanto à coleta de material para criança é reavaliada e o tratamento é indicado.
pesquisa de vírus herpes-simples e entero-
vírus por PCR; A criança que não é de baixo risco: se a crian-
ça não preencher os critérios de baixo risco,
• receber antibioticoterapia parenteral empírica será internada e receberá antibioticoterapia
(uma opção é a associação de ampicilina parenteral até que o resultado de todas as cul-
com cefotaxima, mas não há consenso; de- turas seja liberado e o diagnóstico final seja
ve-se avaliar o início de aciclovir se houver estabelecido. Se o EAS indicar a presença de
algo na história que sugira a possibilidade de uma infecção do trato urinário, o tratamento da
infecção herpética, como infecção materna). mesma pode ser feito em regime ambulatorial.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 80

Certamente você se surpreendeu com a des- 3) apenas coletar uma hemocultura e rea-
crição de um resultado de liquor e se pergun- gendar avaliação.
tou: “a punção lombar é obrigatória somente
porque a criança tem febre?”. Não necessa- Obs.: Podemos considerar como vacinada
riamente. Caso os exames iniciais estejam aquela criança que já tenha pelo menos duas
normais, é aceitável que a punção não seja doses das vacinas contra cada um desses
feita em um momento inicial. Porém, se hou- agentes, mas isso ainda não está completa-
ver alguma alteração no leucograma que leve mente estabelecido.
à recomendação de início de antibioticotera-
pia empírica, o liquor deve ser obrigatoria- Releia agora o dilema inicial... Simples, não?
mente analisado. É claro que você não irá passar a bola adian-
te para o colega. Gaste todo o tempo do seu
Alguns recomendam que a radiografia de tórax horário noturno providenciando a internação
seja solicitada somente se a criança apresen- do bebê...
tar algum indício de doença respiratória (o que
pode parecer um paradoxo, já que estamos Treine com algumas questões.
partindo do princípio de que essas crianças
não têm alterações no exame físico). RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ER-
Entre 3 e 36 meses NESTO – RJ
Menina de 18 meses iniciou quadro de febre
Até 30% das crianças com febre nesta faixa (39,5°C) há 24 horas. A mãe nega qualquer
etária não apresentam qualquer sinal de loca- outro sintoma. Ao exame físico, apresenta-se
lização. Desesperador... Na maioria das vezes afebril, em bom estado geral, hidratada e
a doença é viral, mas as infecções bacterianas eupneica, ausência de linfonodomegalias,
graves também são uma possibilidade. O orofaringe e otoscopia sem alterações, aus-
Streptococcus pneumoniae, a Neisseria me- culta respiratória e cardíaca normais, palpa-
ningitidis e a Salmonella são as principais ção do abdome indolor e sem visceromega-
causas de bacteremia oculta nessa população. lias. Não há história de intercorrências neo-
natais ou internações prévias. Ao checar o
Não existe nenhuma combinação de exames cartão de vacinas, encontram-se: BCG ao
laboratoriais com avaliação clínica que tenha nascer, hepatite B uma dose, pentavalente
boa acurácia para predizer o risco de bacte- três doses + reforço DTP, VIP duas doses,
remia oculta nessas crianças. O manejo delas VOP uma dose + reforço, pneumocócica três
será determinado pela intensidade da febre e doses + reforço, rotavírus duas doses, me-
pela situação vacinal. ningocócica duas doses + reforço, tríplice
viral uma dose, e tetraviral uma dose. O pe-
• 1ª situação: temperatura < 39ºC. diatra opta por colher apenas EAS e urino-
cultura para afastar a hipótese de infecção
→ apenas observação; reavaliar caso a febre urinária. O menor risco de bacteremia oculta
persista, ultrapasse 39ºC ou surjam novos nessa criança é justificado pela:
sinais ou sintomas. a) História vacinal.
b) Idade superior a 12 meses.
• 2ª situação: temperatura ≥ 39ºC. c) Ausência de internações prévias.
d) Ausência de alterações ao exame físico.
→ definir a situação vacinal:
Esta questão nos apresenta uma lactente
- se vacinada contra pneumococo e hemófi- de apenas 18 meses com um quadro de febre
lo tipo B: avaliar apenas infecção urinária sem sinais de localização. Em relação a este
– colher EAS e urinocultura (meninos cir- tema, é importante que você tenha alguns
cuncidados menores de 6 meses; meninas; conceitos. O primeiro deles é o seguinte: boa
meninos não circuncidados; e crianças com parte das crianças com febre sem sinais de
história de infecção urinária de repetição). localização terão apenas uma doença viral
benigna autolimitada e, em poucos dias, es-
- se não vacinada contra pneumococo e tarão “curadas”, mesmo sem nenhum trata-
hemófilo tipo B: avaliar infecção urinária mento. Porém, um percentual dessas crianças
com EAS e urinocultura; se o EAS for nor- pode ter alguma infecção bacteriana subja-
mal, a avaliação deve continuar através de cente em algum sítio corporal ou ter uma bac-
três possíveis maneiras (não há uma única teremia oculta. O segundo conceito é que
possibilidade certa): quanto menor for a criança, maior o risco de
haver alguma infecção bacteriana subjacente
1) coletar uma hemocultura e prescrever uma e maior a gravidade da mesma. Daí a reco-
dose de antimicrobiano por via parenteral; mendação de que quanto menor for a criança,
liberar a criança e reagendar avaliação; mais agressiva seja sua investigação. Como
regra geral, os protocolos que avaliam as
2) obter um hemograma; se houver uma crianças com febre sem sinais de localização
contagem de leucócitos maior que 15.000 as dividem em três subgrupos etários: recém-
céls/mm3, obter hemocultura e prescrever -nascidos, crianças entre 1 e 3 meses e crian-
uma dose de antimicrobiano por via paren- ças entre 3 e 36 meses. Nossa paciente faz
teral, liberar a criança e reagendar avaliação; parte deste último subgrupo. Ainda que exis-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 81

tam variações de conduta, em um momento mos a possibilidade de infecção do sistema


inicial deveremos apenas avaliar a tempera- nervoso central apenas com base no exame
tura relatada. Se a febre for de até 39°C, bas- físico nesta fase da vida. A antibioticoterpia
ta o acompanhamento; se for maior que isso, deve ser iniciada de forma empírica, até os
alguma investigação será feita. Nas crianças resultados dos exames. Resposta: letra D.
vacinadas para hemófilo tipo B e pneumococo,
basta a investigação de uma possível infecção
urinária, a principal infecção bacteriana iden- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
tificada nesta população; porém, nas crianças SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS – SÃO
não vacinadas, acaso não se identifique uma PAULO – SP
infecção urinária, a investigação deve prosse- Criança de 3 anos e 6 meses de idade apre-
guir com a realização de hemograma e/ou senta quadro de febre até 39°C há um dia,
hemocultura. Isso deve-se ao fato de que nas sem outras queixas ou sintomas. Criança em
crianças não vacinadas o risco de bacteremia bom estado geral e exame físico sem nenhu-
oculta por esses agentes é menor. Por esta ma alteração. Qual a melhor conduta?
razão, podemos dizer que a situação vacinal a) Reavaliação em 48-72 horas se manuten-
é o principal dado da história que diminui o ção da febre.
risco de bacteremia oculta na população. Vale b) Colher Hemograma, Urina I (uroanálise) e
apenas lembrar que na época do concurso o Proteína C-Reativa.
Ministério da Saúde ainda recomendava o uso c) Colher Hemograma, Hemocultura e Proteí-
de três doses da vacina antipneumocócica na C-Reativa.
mais um reforço, mas isso foi modificado (des- d) Colher Hemograma, Urina I, Radiografia de
de janeiro de 2016, são feitas apenas duas tórax.
doses e um reforço). Resposta: letra A. e) Colher Hemograma, Urina I (uroanálise) e
Urocultura.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 A febre é uma das causas mais comuns de


INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA – RJ consulta em pediatria em serviços de emer-
Recém-nascido com vinte e dois dias de vida gência, ambulatórios ou consultórios particu-
foi trazido ao serviço de emergência pelos lares. Aproximadamente 25% de todas as
pais, apresentando febre de 39°C e irritabili- consultas na emergência se devem à febre.
dade há trinta e seis horas. O exame físico Após história clínica e exame físico completos,
não apresenta outros sinais ou sintomas. O na maioria dos casos, é possível identificar o
exame simples de urina colhido na data da foco e instituir as orientações terapêuticas
consulta evidenciou presença de oito leucóci- adequadas. Entretanto, em um percentual alto
tos por campo. A melhor conduta a ser reali- dos casos, a identificação do foco não é pos-
zada nesse caso é: sível após a avaliação inicial, como no nosso
a) Colher urocultura, prescrever antibiótico por paciente em questão, e estaremos diante da
via oral e reexaminar a criança em 48 horas. chamada “febre sem foco” ou “febre sem sinais
b) Colher urocultura, prescrever antibiótico por de localização”. A grande maioria dessas crian-
via parenteral e orientar retorno em 24 horas ças tem doença infecciosa aguda autolimitada
para reavaliação. ou está em fase prodrômica de uma doença
c) Colher culturas de sangue urina e liquor, infecciosa benigna. Quanto menor a idade da
administrar antibiótico por via parenteral e criança, maior a probabilidade de infecção
orientar retorno em 24 horas para reavaliação. bacteriana grave e, por essa razão, os proto-
d) Colher culturas de sangue, urina e liquor, colos de atendimento das crianças com febre
administrar antibiótico por via parenteral e dei- sem foco têm suas condutas organizadas por
xar a criança hospitalizada para observação. idade. O grupo de maior risco para doença
grave é aquele das crianças menores de 36
Temos um quadro febril associado à irrita- meses, principalmente as crianças de até três
bilidade em um recém-nascido de apenas 22 meses de vida. Nosso paciente tem mais de
dias de vida. A presença dos piócitos no exa- três anos e, por isso, a presença de um bom
me de urina não é suficiente para confirmar estado geral permite que a conduta seja a
uma infecção urinária. Devido à imaturidade reavaliação em caso de manutenção da febre.
imunológica comum a esta faixa etária, qual- Ainda que esta criança tivesse idade entre 3
quer infecção pode evoluir muito rapidamen- e 36 meses, o fato de que a temperatura é
te para um quadro de sepse e choque sépti- inferior a 39°C reforça a possibilidade de se-
co e deve ser conduzida com cuidado. A guimento. Resposta: letra A.
criança precisa ser manejada e avaliada em
ambiente hospitalar e os responsáveis devem
ser orientados quanto a esta necessidade. O RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
isolamento do agente etiológico é de extrema HOSPITAL MATERNIDADE THEREZINHA DE
importância, e, portanto, devem ser colhidas JESUS – MG
culturas tanto de sangue quanto de urina. Sobre febre de origem indeterminada, marque
Porém, é importante lembrarmos que o re- a alternativa verdadeira:
sultado destes exames não deve, de forma I - Recém-nascido com febre de origem inde-
alguma, retardar o início da antibioticoterapia terminada, mesmo de baixo risco, deve-se
empírica por via intravenosa. O exame de colher hemograma, urina, RX tórax, liquor,
liquor está indicado não só pela irritabilidade, culturas e aguardar resultado para avaliar an-
mas também porque não é possível afastar- tibioticoterapia. II - Contagem de leucócitos
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 82

entre 5 e 15.000 / mm³ são critérios laborato- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011


riais de baixo risco para infecção bacteriana. HOSPITAL CENTRAL DA POLÍCIA MILITAR
III - Crianças na faixa etária de 3 a 36 meses – RJ
não toxemiadas que tiverem Tax menor ou Lactente de dois meses com história de febre
igual a 39°C é apenas observação e utilização não aferida há quatro dias sem outros sinto-
de antitérmicos e reavaliação em 24 a 48 ho- mas e examinado em serviço de emergência
ras ou a qualquer momento se houver piora. apresentando febre de 39,5° com irritabilidade,
a) I e II são verdadeiras. sem mais nenhuma alteração ao exame, se-
b) Apenas I é verdadeira. não uma taquicardia e taquipneia compatíveis
c) II e III são verdadeiras. com grau de febre. É medicado e após o tra-
d) I, II e III são verdadeiras. tamento da febre são colhidos exames de
hemograma, PCR, solicitado Rx de tórax e
Vejamos cada uma das afirmativas: EAS com urinocultura; nos exames nota-se
Afirmativa I: errada. O termo febre de origem uma leucocitose de 16.000 leucócitos com
indeterminada provavelmente foi emprega- desvio a esquerda, o PCR é de 5,0 sendo o
do fazendo-se referência ao quadro de febre valor de referência de 1,0, tem um Rx normal
sem sinais de localização. Sabemos que no e o EAS colhido por saco coletor demonstra a
recém-nascido a conduta não é a descrita. presença de 10 leucócitos por campo, a con-
Além de obtermos os exames, devemos ini- duta ideal nesse paciente seria:
ciar a antibioticoterapia empírica. a) Medicar com antibióticos e orientar retorno
Afirmativa II: correta. Reveja os critérios que se não houver melhora, já que o mesmo está
indicam que uma criança tem baixo risco. É com ITU (infecção de trato urinário).
exatamente essa a contagem de leucócitos b) Reavaliar em 48h já que o exame de saco
que a caracteriza. coletor e pouco preditivo, podendo se tratar
Afirmativa III: correta. Veja bem, o mais co- apenas de uma virose, aguardando também
mum é a descrição de que a febre menor que a urinocultura que é mais específica.
39ºC (não menor ou igual) não representa c) Proceder à internação, levando-se em con-
maiores complicações. Porém, é possível ta a idade e o quadro clínico, aguardando
que autores falem em temperatura menor ou novos exames para definir o tratamento.
igual a 39ºC... De todo modo, nenhuma das d) Internar para observação da curva térmica
opções indicava que apenas a afirmativa II tão somente já que a clínica é soberana não se
era verdadeira e a única possível resposta tem o foco da infecção e o uso precoce de an-
seria a letra C. tibióticos pode levar a resistência bacteriana.
e) Considerar que pela idade, quadro clínico
e laboratorial, a criança poderá estar iniciando
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 uma doença bacteriana invasiva, logo, deverá
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC – SC ser internada e iniciado tratamento empírico
Paciente do sexo feminino, 1 ano e 6 meses cobrindo os principais agentes bacterianos
de idade, acompanhada regularmente em implicados, considerando-se também uma
ambulatório de puericultura, procura a emer- avaliação do liquor.
gência com queixa de febre há 72 horas e
recusa alimentar. Ao examiná-la, observa-se O cenário é este: um lactente que apre-
otoscopia e oroscopia normais, temperatura senta um quadro de febre alta e que, ao
axilar de 39,5°C, taquicardia (FC 130 bpm), exame físico, não apresenta quaisquer evi-
pressão arterial de 90/50 mmHg e ausculta dências que indiquem a gênese do problema.
cardiopulmonar normal. Rigidez de nuca au- Já vimos que a febre em crianças com menos
sente. Restante do exame sem alterações. de três meses sempre deve levantar a pos-
Assinale a alternativa que apresenta a CON- sibilidade de uma infecção bacteriana grave,
DUTA ADEQUADA. mesmo na ausência de outros sinais e sin-
a) Antitérmico, hemograma, parcial de urina e tomas. De uma forma geral, bastante aceita,
urocultura. as crianças menores de três meses com
b) Antitérmico e, se a paciente estiver em bom febre sem foco, fora do período neonatal,
estado geral, liberar para casa com orienta- devem ser submetidas à realização de he-
ções de alerta. mograma, análise da urina e urinocultura.
c) Antitérmico e punção lombar. Como havia a descrição de taquipneia, a
d) Antitérmico e amoxicilina. radiografia de tórax foi corretamente solici-
e) Antitérmico e anti-inflamatório, solicitando tada. A avaliação liquórica não foi feita, mas
à mãe para retornar em 24 horas para reava- vimos que essa é uma conduta possível. No
liação. caso apresentado, este lactente tem mais de
15.000 leucócitos, o que aponta para infec-
Estamos atendendo uma lactente que está ção bacteriana, e tem um exame simples de
na faixa dos 3 aos 36 meses, certo? Ela tem urina que revela piúria. Em um momento
temperatura maior que 39ºC. Sabemos que, inicial é possível que a causa da febre seja
nestes casos, uma avaliação mais porme- uma infecção do trato urinário e até podería-
norizada será necessária. A questão não faz mos questionar se o tratamento não poderia
menção à situação vacinal da criança. Porém, ser feito em regime ambulatorial, como pro-
o mínimo que deverá ser feito é a avaliação posto na opção A. Porém, há outro dado que
da urina, buscando-se uma possível infecção merece ser valorizado, que é o relato de ir-
urinária. Resposta: letra A. ritabilidade. A presença da irritabilidade por
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 83

si só, mantida com a redução da temperatu- Existem diversos antipiréticos disponíveis no


ra, é vista como um sinal de alarme, corro- mercado para o manejo dos quadros febris.
borando a necessidade da internação no O ácido acetilsalicílico tem ação central e
caso enunciado. Assim, ainda que na abor- periférica dose dependente; alguns de seus
dagem inicial tenha se optado por não reali- efeitos colaterais incluem aumento no tempo
zar a punção lombar, esta deve ser bastante de sangramento por diminuição da adesivi-
considerada neste momento. A opção que dade plaquetária, sendo formalmente con-
traz a conduta mais completa neste momen- traindicado nos casos de dengue (opção C
to e que por isso é a reposta é a opção E. errada). A dipirona, por sua vez, tem ação
exclusivamente central; tem potente efeito
analgésico, mas pouco efeito anti-inflamató-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 rio (opção D errada). Outras drogas bastante
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – PR usadas em nosso meio incluem o paraceta-
A febre é um fenômeno em que ocorre eleva- mol (efeito apenas central) e o ibuprofeno
ção do ponto de termorregulação do centro (efeito central e periférico).
termorregulador desencadeando um conjunto Todos esses medicamentos têm efeito antitér-
de mecanismos que visam elevar a tempera- mico semelhante e, por isso, não há justifica-
tura corporal. Já na hipertermia, a elevação tiva para a prescrição do uso alternado de
da temperatura corporal ocorre por dificuldade diferentes medicamentos. Ainda assim, essa
em se perder calor de forma eficiente. No ma- é uma prática bastante comum, mesmo care-
nejo da febre e da hipertermia em crianças, cendo de evidências científicas que a justifique
podemos afirmar que: (opção B correta).
a) A utilização de métodos físicos (banhos Resposta: letra B.
mornos, compressas frias) tem indicação pre-
cisa nos casos de febre.
b) Não existe indicação para se usar a com-
saiba mais!
binação de dois antitérmicos intercalados, para
um melhor efeito terapêutico. Quando medicar a criança
c) O ácido acetilsalicílico tem boa ação central com febre?
e periférica, sendo indicado nos casos de den- Embora muitos pais tenham o hábito de ad-
gue em seus estágios iniciais. ministrar antipiréticos tão logo a temperatu-
d) A dipirona tem potente efeito analgésico e ra corporal da criança comece a se elevar,
pouco efeito anti-inflamatório e tem ação tan- a verdade é que não é necessário que seja
to central como periférica, dependendo da feito o uso de qualquer medicação em todos
dose. os quadros febris.
e) A magnitude da temperatura alcançada nos Temos que entender que a febre é uma res-
quadros febris tem tanto valor prognóstico posta orgânica que favorece mecanismos de
(gravidade) como diagnóstico (etiologia viral defesa do organismo. Ainda assim, em algu-
ou bacteriana) nos quadros infecciosos. mas situações o tratamento estará formal-
mente indicado. São elas:
A febre é, indiscutivelmente, uma das prin- • crianças com cardiopatias ou pneumopa-
cipais queixas encontradas em serviços de tias crônicas: nestes casos, a elevação da
pronto-atendimento pediátricos, daí ser de temperatura corporal aumenta o risco de
suma importância o conhecimento de alguns descompensação da doença de base;
pontos relacionados ao seu manejo. Embora • crianças com história de crises febris;
a presença de temperatura elevada seja uma • crianças com temperatura ≥ 39OC: nestes
grande fonte de preocupação para os pais, casos, a elevação acentuada da tempera-
não há evidências de que a magnitude da tura pode comprometer a eficácia da ativi-
temperatura tenha correlação com o prognós- dade enzimática, comprometendo, assim,
tico ou com a distinção entre quadros virais ou a resposta imunológica adequada;
bacterianos em todas as faixas etárias, ainda • crianças com desconforto intenso na vi-
que isso possa ser usado para definirmos gência do quadro febril.
condutas na criança com febre sem sinais de
localização (opção E errada). Lembre-se de que os meios físicos (banhos
Uma estratégia que é usada frequentemente mornos, compressas frias) podem ser usa-
para diminuição da temperatura corporal é o dos em casos de hipertemia, ou seja, quando
uso de métodos físicos, como banhos e com- a elevação da temperatura corporal decorre
pressas frias. Porém, essas intervenções de- de um aumento na produção de calor e difi-
vem ser indicadas apenas nos casos de hiper- culdades para dissipá-lo. Na febre, a eleva-
termia. Nos casos de febre, esses métodos ção da temperatura corporal decorre de um
podem produzir apenas uma discreta redução comando no centro termorregulador e essas
temporária na temperatura corporal. Lembre- intervenções têm pouco benefício, além de
-se de que na hipertermia temos um aumento serem traumáticas ou mesmo perigosas.
na produção do calor ou uma dificuldade para
dissipá-lo; na febre, há alteração do centro Não deixe de ler o comentário da questão
termorregulador (opção A errada). acima.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 84

MED R3 - R4
Pediatria

Prezados candidatos ao R3/R4 de Pediatria – Área de Atuação,


Também estamos atentos a esta segunda prova de residência médica,
prestada ao final do 2º ano ou 3o ano da residência de pediatria,
quando muitos de vocês também prestarão prova para o título de
especialista em pediatria (TEP). Portanto, “mãos à obra”, ou melhor,
“mente à obra”, pois nesta seção nosso objetivo será treinar questões
específicas destes dois concursos, ressaltando os principais tópicos
cobrados sobre os temas que vimos nesta apostila.
Vocês observarão que o conhecimento cobrado nas provas de R3-
Pediatria e no TEP é muito semelhante àquele das provas de R1, e com
mais estes exercícios práticos você se tornará mais confiante no dia
do concurso. Portanto, vamos lá!!!

SEÇÃO 1 – síndromes exantemáticas

 De forma bem parecida ao que foi feito nas provas para R1, serão cobrados os
diagnósticos diferenciais entre as principais doenças exantemáticas de origem in-
fecciosa. Dê uma atenção especial ao tratamento da doença de Kawasaki e também
ao reconhecimento da forma atípica desta condição.

SEÇÃO 2 – a criança com febre sem foco

 Como dito lá no início desta seção, este é o dia a dia do pediatra. Justamente por
isso, o candidato ao terceiro ou quarto ano de pediatria deve manejar bem o assunto.

84
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 85

MED R3-R4 – PEDIATRIA

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 galia. Os exames laboratoriais evidenciam


(R3 PEDIATRIA) linfocitose atípica, plaquetopenia e teste de
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE - anticorpos heterófilos (Paul Bunnel David-
DISTRITO FEDERAL – DF sohn) positivo. O uso de corticoides está indi-
Uma adolescente com quatorze anos de idade cado no caso de complicações da mononu-
foi atendida no serviço de emergência e apre- cleose como plaquetopenia grave ou associa-
sentava, havia uma semana, quadro de febre da a sangramentos, obstrução respiratória,
(não aferida), fadiga, calafrios e odinofagia. anemia hemolítica auto-imune, crises convul-
No exame físico, foram observados rash pe- sivas e meningite.
tequial, faringite exsudativa, adenomegalia em Afirmativa CERTA.
cadeia cervical posterior e hepatoesplenome-
galia. O hemograma completo mostrou leuco-
citose com linfocitose, 19% de linfócitos atípi- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
cos e plaquetopenia (14.000/mm³). Foi reali- (R3 PEDIATRIA)
zada a reação de Paul Bunnel Davidsohn, que HOSPITAL ISRAELITA
mostrou resultado positivo. Com relação a ALBERT EINSTEIN – SP
esse caso clínico, julgue o item que se segue. Cristiano Ronaldo, 9 meses de idade, por 03
Se for necessário o uso de antibióticos, as dias com febre de até 39,5°C, sem nenhum
cefalosporinas deverão ser evitadas, pois po- outro sintoma. No terceiro dia, a febre ces-
dem causar rash maculopapular pruriginoso e sou e ocorreu o surgimento de exantema má-
prolongado na paciente em questão. culo-papular, de surgimento crânio - caudal.
a) Certo. Qual é a principal hipótese diagnóstica para a
b) Errado. erupção cutânea? Qual é o agente etiológico?
a) Exantema súbito. Herpes 6.
O enunciado apresenta uma adolescente b) Exantema súbito. Herpes 8.
de 14 anos com um quadro clínico-laboratorial c) Exantema súbito. Parvovírus B19.
típico de MONONUCLEOSE INFECCIOSA: d) Eritema infecioso. Herpes 6.
faringite exsudativa + linfonodomegalia + he- e) Eritema infecioso. Parvovírus B19.
patoesplenomegalia + linfocitose atípica +
reação de anticorpos heterófilos positiva. A As bancas adoram avaliar se o candidato
plaquetopenia é uma das complicações pos- confunde essas duas doenças exantemáti-
síveis na mononucleose infecciosa, e parece cas! Porém, temos certeza de que você não
ser decorrente de mecanismos imunológicos. vai se enganar. A história de um lactente que
Os antibióticos não têm qualquer utilidade apresenta febre alta que desaparece subita-
nesta condição infecciosa, que é em 90% das mente e é sucedida pelo surgimento de erup-
vezes provocada pelo vírus EBV. Gabarito: ção cutânea é típica do exantema súbito, re-
letra B. lacionado com o herpesvírus humano tipo 6.
É fato que o mais comum é que o exantema
surja no tronco, mas a progressão cranio-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 caudal também é possível. Resposta: letra A.
(R3 PEDIATRIA)
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE -
DISTRITO FEDERAL – DF RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
Uma adolescente com quatorze anos de idade (R3 INFECTOLOGIA)
foi atendida no serviço de emergência e apre- ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO RIO GRANDE
sentava, havia uma semana, quadro de febre DO SUL – RS
(não aferida), fadiga, calafrios e odinofagia. Assinale a alternativa correta em relação ao
No exame físico, foram observados rash pe- sarampo.
tequial, faringite exsudativa, adenomegalia em a) O vírus do sarampo é transmitido de pessoa
cadeia cervical posterior e hepatoesplenome- a pessoa somente por contato direto.
galia. O hemograma completo mostrou leuco- b) O período de incubação varia de 4 a 7 dias.
citose com linfocitose, 19% de linfócitos atípi- c) A doença promove imunidade específica
cos e plaquetopenia (14.000/mm³). Foi reali- por no máximo 6 meses.
zada a reação de Paul Bunnel Davidsohn, que d) São complicações do sarampo: infecção
mostrou resultado positivo. Com relação a bacteriana do trato respiratório, otites, ence-
esse caso clínico, julgue o item que se segue. falomielite, panencefalite esclerosante suba-
Para o tratamento da trombocitopenia, indica- guda, dentre outras.
-se o uso de corticoide para essa adolescente. e) Na ausência de tratamento antiviral especí-
a) Certo. fico para o sarampo, a Organização Mundial
b) Errado. da Saúde recomenda o uso de 200.000 UI de
vitamina C, durante 7 dias.
Temos uma adolescente com quadro clás-
sico de mononucleose infecciosa: febre, odi- O sarampo é, como bem sabemos, uma
nofagia associada a faringite exsudativa, rash doença transmissível por aerossol e não é
cutâneo, adenomegalia e hepatoesplenome- sequer necessário que o indivíduo doente
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 86

esteja no mesmo ambiente ao mesmo tem- definir a dimensão da adenomegalia encon-


po que o suscetível para que a transmissão trada, a caracterização do exantema... Ainda
ocorra, pois o vírus pode permanecer em assim, percebemos que este seria o principal
suspensão no ar. O período de incubação diagnóstico. A escarlatina é um diagnóstico
varia de 8 a 12 dias, e o quadro clínico se diferencial importante, mas não costuma le-
inicia com pródromos de febre, tosse, coriza var a um quadro febril tão prolongado e cursa
e conjuntivite, evoluindo posteriormente com com a apresentação de alterações típicas ao
um exantema morbiliforme, de início na linha exame, como o sinal de Filatov e o sinal de
de implantação do cabelo e com progressão Pastia. Assim, diante do diagnóstico de doen-
craniocaudal lenta. A sua última fase, de con- ça de Kawasaki, o tratamento a ser instituído
valescença, caracteriza-se pela descamação é o uso de imunoglobulina intravenosa em al-
furfurácea e desaparecimento progressivo tas doses e ácido acetilsalicílico também em
dos sintomas, sendo que a tosse é o último altas doses. O objetivo dessa intervenção é
sintoma a desaparecer. promover a redução na incidência dos aneu-
rismas coronarianos, a principal complicação
As suas principais complicações são a pneu- desta doença. Resposta: letra C.
monia, principal causa de morte dos pacien-
tes acometidos pela doença; a otite média
aguda, complicação bacteriana mais comum; RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
encefalite, a de mais alta mortalidade; pa- (R3 PEDIATRIA)
nencefalite esclerosante subaguda, infecção SELEÇÃO UNIFICADA PARA RESIDÊNCIA
indolente e progressiva do vírus no sistema MÉDICA DO ESTADO DO CEARÁ – CE
nervoso central, de altíssima mortalidade, Uma criança de três anos de idade apresen-
que geralmente ocorre cerca de 7 a 10 anos ta-se com febre há mais de 7 dias. Também
após a infecção inicial. apresenta exantema polimorfo no tronco, hi-
peremia conjuntival, lábios inflamados e com
O tratamento é de suporte, não sendo indi- fissuras, edema de mãos e pés. Qual a prin-
cados antivirais, e sim hidratação adequada, cipal suspeita diagnóstica?
antitérmicos, oxigênio umidificado e suporte a) Síndrome de Stevens-Johnson.
ventilatório nos casos graves, assim como in- b) Síndrome do choque tóxico.
ternação. A vitamina A é utilizada por promo- c) Doença de Kawasaki.
ver a redução da morbidade e mortalidade. A d) Escarlatina.
imunidade específica da doença normalmen-
te segue ao longo de toda a vida. Resposta: Desta vez havia conjuntivite. O único cri-
letra D. tério faltante foi a adenomegalia. Porém, lem-
bre-se de que não é necessário que todos os
critérios estejam presentes. É obrigatória a
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 presença de febre por pelo menos 5 dias e
(R3 PEDIATRIA) mais 4 de cinco possíveis alterações: con-
SELEÇÃO UNIFICADA PARA RESIDÊNCIA juntivite não exsudativa, alterações na cavi-
MÉDICA DO ESTADO DO CEARÁ – CE dade oral, adenomegalia cervical, exantema
Uma criança de três anos de idade vem apre- polimorfo e alterações nas extremidades. A
sentando febre acima de 38,5 graus, há cer- identificação desses critérios permite o es-
ca de sete dias. Associado à febre, também tabelecimento do diagnóstico de doença de
apresenta gânglios palpáveis na região cer- Kawasaki. Resposta: letra C.
vical, exantema no tronco, fissura nos lábios,
hiperemia da mucosa oral e descamação das
extremidades. Levando-se em conta a princi- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
pal hipótese diagnóstica, que recomendação (R3 PEDIATRIA)
terapêutica é mais apropriada? FACULDADE DE CIÊNCIAS
a) Aciclovir oral. MÉDICAS DA UNICAMP – SP
b) Oxacilina endovenosa. Pré-escolar de quatro anos, portador de leu-
c) Imunoglobulina endovenosa. cemia linfoblástica aguda, está internado
d) Penicilina procaína intramuscular. para indução de remissão na enfermaria de
pediatria de um hospital de grande porte. Du-
A primeira pergunta que você deve res- rante a internação, outro paciente, internado
ponder é: qual o diagnóstico deste pré- na mesma enfermaria, apresenta quadro de
-escolar? É fácil perceber que estão preen- doença exantemática compatível com cata-
chidos todos os critérios diagnósticos para a pora. A CONDUTA INDICADA, NESTE MO-
doença de Kawasaki. O primeiro deles, que é MENTO, PARA O PACIENTE COM LEUCE-
critério obrigatório, consiste em febre há pelo MIA É ADMINISTRAR:
menos cinco dias; no caso, a febre já está a) Vacina contra catapora.
presente há 7 dias. Além disso, podemos b) Aciclovir por uma semana.
identificar as alterações na cavidade oral, a c) Vacina e imunoglobulina específica.
adenomegalia, o exantema e as alterações d) Imunoglobulina específica.
na extremidade. O único dos critérios que
não está presente é a conjuntivite. É verdade Sabemos que existem duas estratégias
que a descrição de cada uma das alterações usadas na profilaxia após exposição para os
que a banca nos forneceu poderia ter sido indivíduos suscetíveis que entrem em conta-
um pouco mais completa. Seria importante to com um caso de varicela. A primeira de-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 87

las consiste na vacinação de bloqueio, que é que desaparecem a digitopressão. O AGEN-


eficaz quando a vacina é administrada até 5 TE ETIOLÓGICO É:
dias após a exposição (preferencialmente até a) Herpesvírus 6. c) Echovirus.
3 dias após). A vacina contra varicela é uma b) Parvovirus B19. d) Coxsackie vírus.
vacina de vírus vivo atenuado e, por esta ra-
zão, não pode ser administrada em alguns Olhe como a banca nos mostrou que o
casos, como no caso em questão – paciente exantema sucedeu o desaparecimento da
imunossuprimido. A outra forma de profilaxia febre: disse exatamente qual foi o número
é a utilização da imunoglobulina específica de horas transcorridas após cada evento. A
para o vírus varicela-zóster. Indicada quando doença exantemática que acomete tipica-
o indivíduo suscetível é de alto risco para a mente lactentes e que é caracterizada pela
doença e não pode receber a vacina, como presença de febre alta com desaparecimento
no caso dos imunossuprimidos e das gestan- súbito seguida pelo surgimento de exantema
tes. A imunoglobulina poderá ser administra- maculopapular no tronco é o exantema súbi-
da até 96 horas após a exposição. Resposta: to, ou roséola infantil. O quadro está asso-
letra D. ciado à infecção pelo herpesvírus humano 6.
Resposta: letra A.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014


(R3 PEDIATRIA) RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
FACULDADE DE CIÊNCIAS (R3 PEDIATRIA)
MÉDICAS DA UNICAMP – SP SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE –
Você recebe o telefonema da mãe de um de DISTRITO FEDERAL – DF
seus pacientes dizendo que na classe de sua Um recém-nascido de termo, pequeno para
filha de 6 anos houve um caso de escarlatina. a idade gestacional, com peso de 2.000 g ao
ELA LHE SOLICITA ORIENTAÇÃO E VOCÊ nascer, apresentou icterícia tardia. Ao exame
RECOMENDA: físico, o médico observou hepatoesplenome-
a) Fazer cultura de orofaringe e, dependendo galia. A mãe do menor, usuária de drogas e
do resultado, tratar. portadora do HIV, fez profilaxia da transmis-
b) Marcar consulta imediatamente, para ava- são vertical com TARV, e possui antígeno
liar a possibilidade de doença assintomática. Austrália positivo. Durante a gravidez, no pri-
c) Manter a filha fora da escola por uma se- meiro trimestre gestacional, a mãe adquiriu
mana. citomegalia e toxoplasmose e utilizou apenas
d) Observar e trazer para consulta caso a fi- rovamicina durante todo o período após o
lha adoeça. diagnóstico. Com relação à última infecção,
não foi possível identificar se o feto foi acome-
Essa é uma situação recorrente nos con- tido. Durante as três horas que antecederam
sultórios de pediatria. O tempo todo fazemos o parto, realizado por via cesariana, a mãe
a avaliação de crianças aparentemente sau- recebeu AZT por via endovenosa. Nos dois
dáveis que tiveram contato com coleguinhas primeiros dias após o parto, a mãe apresen-
infectados. Em algumas situações, será ne- tou varicela. Os resultados dos exames do
cessária a adoção de alguma forma de pro- recém-nascido foram os seguintes: hemogra-
filaxia após exposição. Porém, este não é ma com anemia, leucopenia e plaquetopenia;
o caso da escarlatina. Deveremos apenas bilirrubinas aumentadas à custa de ambas as
acompanhar esta criança e, havendo o sur- frações; sorologias IgM para toxoplasmose e
gimento de manifestações clínicas, indicar o citomegalia positivos; líquor com cinquenta
tratamento. Poderíamos ser tentados a mar- células, predominante mononucleares, gli-
car a opção A e solicitar uma cultura de oro- corraquia de 50 mg/dl, proteínas 0,5 g/dl; e
faringe, mas devemos nos lembrar de que fundoscopia ocular mostrando coriorretinite
parte da população pode carrear o estrepto- macular. Com respeito a esse caso clínico,
coco em sua orofaringe, sendo que não há julgue o item a seguir. Deve-se administrar
indicação de tratamento para o carreador as- ao recém-nascido a vacina e a gamaglobu-
sintomático. A criança que deverá ser afas- lina hiperimune contra a varicela a fim de se
tada da escola, pelo menos nas primeiras evitar que a criança adquira, nessa fase da
24 horas de tratamento, é a criança com o vida, a doença, que é grave e tem elevado
diagnóstico de escarlatina, não as demais. grau de mortalidade.
Resposta: letra D. a) Certo.
b) Errado.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 Uau! Um verdadeiro compêndio de in-


(R3 PEDIATRIA) fectologia pediátrica. Em algumas semanas
FACULDADE DE CIÊNCIAS você irá aprender tudo o que deve ser feito
MÉDICAS DA UNICAMP – SP com esse recém-nascido para tratamento da
Lactente, 7m, trazido ao Pronto-Socorro toxoplasmose e da citomegalia e irá saber o
com quadro de febre alta há 3 dias e apa- que mais poderá ser feito para prevenção da
recimento de vermelhidão pelo corpo há 12 transmissão vertical do HIV. Neste momento,
horas, último pico febril há 14 horas. Exame queremos que você saiba responder apenas à
físico: BEG, afebril. Pele: exantema eritema- pergunta da banca: esta criança deverá rece-
toso maculopapular, lesões de 2 a 5 mm de ber a vacina e a imunoglobulina para varicela-
diâmetro algumas com halo esbranquiçado e -zóster? É claro que não! Iremos fazer apenas
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 88

a imunoglobulina, que está indicada pelo fato membros superiores e membros inferiores.
de a mãe ter tido a doença de 5 dias antes até d) No Exantema Súbito, o exantema começa
2 dias após o parto. Resposta: letra B. pela face e se espalha para o pescoço.
e) Na Escarlatina, o início do exantema se dá
nas bochechas e se estende para o pescoço.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
(R3 PEDIATRIA) É bem parecido com o que cai na prova de
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – PR R1, não é mesmo? Vamos relembrar.
Lactente de dois anos de idade há 7 dias com
febre elevada, exantema polimórfico maculo- Opção A: está correta. O eritema infeccioso
papular, artralgias de mãos com edema dos é caracterizado por um exantema que pro-
dedos, hiperemia conjuntival bilateral não pu- gride em três fases. Na primeira fase temos
rulenta, língua em framboesa e linfadenome- a hiperemia malar, que constitui o sinal da
galia cervical unilateral de 3 cm de diâmetro, face esbofeteada. Na segunda fase ocorre
é internado e medicado com gamaglobulina a disseminação da erupção para o resto do
endovenosa e ácido acetilsalicílico. O princi- corpo, com o surgimento de lesões maculo-
pal objetivo desta terapia nesta patologia é: papulares que adquirem clareamento cen-
a) Prevenir a lesão renal. tral, com aspecto rendilhado ou reticulado.
b) Reduzir a incidência de aneurisma corona- Na terceira fase o exantema já desapareceu,
riano. mas recidiva pela exposição a alguns fatores
c) Reduzir a manifestação articular. desencadeantes.
d) Diminuir o risco de disseminação sistêmica.
e) Atenuar o estado de imunodeficiência. Opção B: errada. Vimos que o sarampo tem
uma progressão craniocaudal lenta e que as
O primeiro passo é definirmos o diagnós- lesões tipicamente se iniciam na linha de im-
tico. É fácil perceber que esta criança preen- plantação do cabelo (fronte, região retroauri-
che os critérios para o diagnóstico de doença cular e nuca).
de Kawasaki. A febre tem duração de sete
dias e está acompanhada de todos os outros Opção C: errada. O exantema da rubéola
critérios. Felizmente, está recebendo o trata- também tem uma progressão craniocaudal,
mento correto, que consiste no uso da gama- só que rápida.
globulina em altas doses e de AAS, que deve
ser prescrito, inicialmente, em dose anti-infla- Opção D: errada. Uma das características da
matória. O grande objetivo do tratamento na erupção no exantema súbito é o seu início no
fase aguda da doença é reduzir a incidência tronco e posterior disseminação centrífuga.
da principal complicação associada ao qua-
dro, que é a formação dos aneurismas coro- Opção E: errada. O exantema na escarlatina
narianos. Resposta: letra B. se inicia no pescoço. A face, muitas vezes, é
até mesmo poupada.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 Resposta: letra A.


(R3 NEONATOLOGIA)
SECRETARIA DE ESTADO DA
SAÚDE DE SANTA CATARINA – SC RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
O eritema infeccioso é uma doença febril (R3 PEDIATRIA)
exantemática comum na infância, caracteri- HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE GOIÁS – GO
zada especialmente pela presença de lesão Uma menina de 18 meses há quatro dias
com aspecto de face esbofeteada. O agente apresentou febre, coriza, conjuntivite e tosse.
infeccioso responsável por essa enfermida- Nas últimas 48 horas, a febre tem sido mais
de é o: elevada (39 - 39,5ºC). Hoje, pela manhã, a
a) Estreptococo. mãe notou o aparecimento de um exantema
b) Parvovírus B19. maculopapular atrás das orelhas, na linha do
c) Herpesvírus 6 e 7. cabelo, que rapidamente envolveu a face.
d) Coxsackie vírus. Além do descrito, o exame clínico mostra
e) Paramixovírus. uma mucosa oral de aparência eritematosa e
granular, com presença de pequenas lesões
Pode ser mais simples? Resposta: letra B. de cor branca na região lateral. O diagnóstico
mais provável é:
a) Eritema infeccioso.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 b) Sarampo.
(R3 NEONATOLOGIA) c) Rubéola.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO d) Exantema súbito.
DO RIO DE JANEIRO – RJ
Em relação às Doenças Exantemáticas da Mais uma vez: observe como as ques-
Infância, pode-se afirmar que: tões são semelhantes às do R1. Temos uma
a) No Eritema Infeccioso, inicialmente, ocorre doença exantemática que na fase prodrô-
um enrubescimento facial eritematoso. mica cursa com febre, conjuntivite, coriza e
b) No Sarampo, o exantema tem seu início tosse. A simples presença da tosse já deve
na parte inferior do tórax e no abdome. nos encaminhar para uma hipótese... A fase
c) Na Rubéola, o exantema tem início nos exantemática se inicia com o surgimento de
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 89

lesões que seguem a linha do cabelo. A hipó- b) Mononucleose infecciosa – prescrição de


tese inicial se torna mais forte... A avaliação prednisona oral.
da cavidade oral não deixa mais nenhuma c) Escarlatina – administração de penicilina
dúvida: estamos diante de um caso de sa- por via parenteral.
rampo. As lesões descritas na cavidade oral d) Doença de Kawasaki – administração ve-
são as manchas de Koplik, que são um sinal nosa de imunoglobulina.
patognomônico da doença. Resposta: letra B. e) Escarlatina – prescrição de sulfametoxazol
– trimetoprim por via oral.

TÍTULO DE ESPECIALISTA O que este escolar apresenta é um qua-


EM PEDIATRIA – 2012 dro bem característico de escarlatina. A infec-
Adolescente de 13 anos apresentou, há um ção amigdaliana está sendo acompanhada
mês, quadro clínico de febre elevada, cefaleia de manifestações cutâneas típicas: exante-
retro-orbitária, dor nas costas, mialgia inten- ma micropapular associado a sinais clássi-
sa, náuseas e vômitos. Nas primeiras 48 ho- cos, como o sinal de Pastia (intensificação
ras de doença, houve discreto exantema ma- do exantema nas dobras flexurais) e sinal de
cular que empalidecia a pressão. Este quadro Filatov (palidez peribucal). Esses sinais típi-
durou cerca de uma semana. Dois dias após cos não são encontrados nos pacientes com
a febre ter cessado, surgiu novo exantema mononucleose infecciosa e nem na doença
generalizado, maculopapular, poupando as de Kawasaki, dois importantes diagnósticos
mãos e pés e que durou quatro dias. A recu- diferenciais. A melhor opção terapêutica para
peração do paciente foi completa e a primeira estes pacientes é o uso de penicilina (lem-
hipótese diagnóstica é: bre-se de que a associação sulfametoxazol-
a) Dengue. -trimetoprim é ineficaz no tratamento da doen-
b) Parvovirose. ça estreptocócica estabelecida). Resposta:
c) Eritema nodoso. letra C.
d) Exantema súbito.
e) Mononucleose infecciosa.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
Fique calmo! Ainda não estudamos o diag- (R3 PEDIATRIA)
nóstico deste caso nesta apostila, mas você HOSPITAL DAS CLÍNICAS
conseguiria chegar ao diagnóstico por exclu- DO PARANÁ – PR
são? Estamos diante de um caso de dengue. O Lactente de 2 anos apresenta febre alta há 7
quadro descrito é compatível com a forma típi- dias, prostração e inapetência. Ao exame fí-
ca ou clássica da dengue. O adolescente tem sico, encontra-se com linfonodomegalia sub-
febre, dores generalizadas e retro-orbitária, mandibular e cervical de consistência firme,
além de exantema maculopapular que poupa edema palpebral, petéquias no palato, exsu-
mãos e pés. No quadro de eritema infeccioso, dato amigdaliano, hepatomegalia (fígado pal-
associado à infecção pelo parvovírus B19, po- pável a 3 cm do rebordo costal direito) e es-
demos ter a recidiva do exantema na terceira plenomegalia (baço a 2 cm do rebordo costal
fase da doença. Porém, não há manifestações esquerdo). Qual a hipótese diagnóstica mais
sistêmicas tão exuberantes quando o exante- provável e o exame laboratorial mais indica-
ma surge em um momento inicial, como foi do para confirmação do diagnóstico?
neste caso, e o exantema é tipicamente des- a) Faringoamigdalite estreptocócica / anties-
crito como tendo um aspecto rendilhado. O treptolisina O.
exantema súbito é uma doença que acomete b) Mononucleose infecciosa / pesquisa de
tipicamente os lactentes e tem como grande anticorpos heterófilos para EBV.
característica o surgimento do exantema após c) Faringoamigdalite estreptocócica / teste
o desaparecimento da febre. Na mononucleo- rápido para estreptococo do grupo A.
se infecciosa, encontramos a presença de fa- d) Mononucleose infecciosa / sorologia para
ringite, astenia e linfadenomegalia generaliza- vírus Epstein-Baar.
da associada ao quadro de exantema. Nesta e) Leucemia linfoide aguda / aspirado de me-
condição, o exantema costuma estar presente dula óssea.
em uma minoria dos pacientes, mas irá surgir
na maioria das vezes em que o paciente fizer Temos uma criança que apresenta um
uso inadvertidamente de amoxicilina ou ampi- quadro que já tem duração de sete dias. O
cilina. Resposta: letra A. que mais chama nossa atenção é a presença
de alterações na cavidade oral, uma faringite.
Poderíamos pensar em faringite estreptocóci-
TÍTULO DE ESPECIALISTA ca? Sabemos que esse diagnóstico não é co-
EM PEDIATRIA – 2011 mum em lactentes. Além disso, este lactente
Escolar de nove anos apresenta quadro de fe- não apresenta somente a faringite, apresenta
bre alta (tax: 40°C), amigdalite pultácea, peté- hepatomegalia, esplenomegalia e linfadeno-
quias em palato, exantema micropapular difu- patia. Trata-se de um caso de mononucleose
so com intensificação nas dobras flexurais e infecciosa (temos até o edema palpebral – si-
palidez peribucal, que se iniciou há cinco dias. nal de Hoagland – descrito). Qual das duas
A principal hipótese diagnóstica e a conduta opções é a melhor: pesquisar anticorpo hete-
indicada neste caso incluem, respectivamente: rófilos ou realizar a sorologia específica para
a) Mononucleose infecciosa – prescrição de o EBV? A sorologia específica. Lembre-se de
sintomáticos. que até os quatro anos de idade os títulos de
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 90

anticorpos heterófilos são muito baixos e não RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011


são detectados. Resposta: letra D. (R3 PEDIATRIA)
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE MATO
GROSSO DO SUL – MS
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 A chamada “língua em framboesa”, geral-
(R3 PEDIATRIA) mente, é encontrada em qual das doenças
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ – CE exantemáticas abaixo enumeradas:
Criança de 2 anos com febre, anorexia, apre- a) Sarampo.
sentando vesículas nas mãos e nos pés e es- b) Rubéola.
tomatite na cavidade oral. O agente etiológi- c) Escarlatina.
co mais provável é: d) Exantema Súbito.
a) Herpes tipo I. e) Varicela.
b) Herpes tipo II.
c) Vírus da Varicela-zóster. A língua em framboesa (ou morango) é o
d) Coxsackievírus. enantema (manifestação mucosa) que po-
e) Parvovírus B 19. demos encontrar na escarlatina (outras con-
dições também apresentam essa alteração,
Enunciado enxuto, mas suficiente. A doen- como a doença de Kawasaki). Na escarlatina
ça caracterizada pela presença de lesões ve- observamos uma evolução deste enantema
siculares na boca, mãos e pés é a síndrome em duas fases: primeiro há a língua em mo-
mão-pé-boca. O principal agente etiológico é rango branco, seguida pela língua em moran-
o vírus coxsackie A16. Resposta: letra D. go vermelho. Resposta: letra C.
91 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017
92 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017
93 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017
94 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 RESIDÊNCIA MÉDICA 2016


(ACESSO DIRETO 1) (ACESSO DIRETO 1)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – SP SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS –
1 – Menino de 2 anos de idade com história de febre de
<p> </p> <p> SÃO PAULO – SP
39°C há 7 dias, diária, só melhorando com dipirona. Há 6 4 – A associação CORRETA entre doença e agente cau-
dias, lábios avermelhados e erupção no corpo. Há 4 dias, sal é:
olhos vermelhos. Procurou pronto-socorro sendo feita a) Rubéola - Togavírus DNA.
suspeita de escarlatina. Medicado com penicilina benza- b) Roséola Infantum - Parvovírus B19.
tina, sem melhora. Ao exame físico apresentava irritabili- c) Eritema infeccioso - Coxsackievírus A.
dade, língua em framboesa e exantema maculopapular d) Síndrome mãos-pé-boca - Herpesvírus 6.
em tronco. Em relação ao caso, é CORRETO afirmar que: e) Sarampo - Paramyxovírus.
a) O tratamento de escolha é a corticoterapia intravenosa.
</p><p> </

b) A irritabilidade e as lesões cutâneas devem ser decor-


p><p>

rentes de meningite meningocócica. </p> RESIDÊNCIA MÉDICA 2016


c) Provavelmente é uma escarlatina resistente à penici- (ACESSO DIRETO 1)
lina benzatina e o tratamento deve ser tentado por via HOSPITAL MILITAR DE ÁREA
intravenosa. DE SÃO PAULO – SP
d) A plaquetopenia que ocorre na fase subaguda é um 5 – Em relação à infecção pelo parvovírus B19, está IN-
achado comum. CORRETA a seguinte afirmação:
e) A principal complicação é cardíaca. a) É mais prevalente dos 5 aos 15 anos.
b) É chamada de quinta moléstia.
c) Nunca causa miocardite.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 d) Diagnóstico baseado geralmente na apresentação clí-
(ACESSO DIRETO 1) nica da erupção cutânea típica.
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO e) Muitas infecções são clinicamente inaparentes.
PEDRO ERNESTO – RJ
2 – Menino de dois anos iniciou quadro de coriza,
conjuntivite com fotofobia, tosse e febre com aumento RESIDÊNCIA MÉDICA 2016
diário progressivo, há três dias. Evoluiu com exantema (ACESSO DIRETO 1)
maculopapular inicialmente em fronte, regiões retroauricu- INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA – RJ
lar e cervical, disseminando para tronco e extremidades, 6 – Pré-escolar de 4 anos, portador de leucemia
com áreas de confluência. Recebeu uma dose da vacina linfoblástica aguda, está internado para indução de remis-
tríplice viral aos 12 meses de idade. O conjunto de dados são na enfermaria de pediatria de um hospital de grande
clínicos que devem ser pesquisados para corroborar diag- porte. Durante a internação, outro paciente internado na
nóstico de sarampo e as medidas de profilaxia recomen- mesma enfermaria apresenta quadro de doença exante-
dadas após exposição para os suscetíveis são: mática compatível com varicela. A conduta indicada, nesse
a) Descamação laminar, eritema malar/vitamina A e vacina momento, para o paciente com leucemia é administrar:
até 72 horas da exposição. a) Vacina contra varicela.
b) Manchas de Koplik, desaparecimento da febre após b) Imunoglobulina específica.
o exantema/vacina ou imunoglobulina até seis dias da c) Aciclovir oral por uma semana.
exposição. d) Aciclovir intravenoso por uma semana.
c) Enantema de um a quatro dias antes do exantema,
descamação fina/vacina até 72 horas ou imunoglobulina
até seis dias da exposição. RESIDÊNCIA MÉDICA 2016
d) Escurecimento e recorrência do exantema, ausência (ACESSO DIRETO 1)
de descamação/vacina até seis dias ou imunoglobulina FUNDAÇÃO JOÃO GOULART –
até 72 horas da exposição. HOSPITAIS MUNICIPAIS – RJ
7 – A mãe de uma criança de 6 anos de idade informa
que na classe de sua filha houve um caso de escarlatina
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 e pergunta se há alguma prevenção a ser tomada. Nega
(ACESSO DIRETO 1) relato de outros casos. A orientação adequada é:
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE TAUBATÉ – SP a) Aplicar penicilina benzatina.
3 – Uma jovem de 13 anos procura o pronto-socorro com
<p> </p> <p> b) Observar e trazer para consulta, caso a filha adoeça.
queixa de dor de garganta, mal-estar geral e febre há 5 c) Iniciar amoxicilina oral.
dias. Há 3 dias ela foi atendida em outro serviço e iniciou d) Manter a filha fora da escola por uma semana.
o uso de amoxicilina. Hoje, notou o aparecimento de
manchas vermelhas no corpo. Está febril, com faringe e
tonsilas palatinas hiperemiadas. Há aumento de gânglios RESIDÊNCIA MÉDICA 2016
cervicais, principalmente na cadeia cervical anterior, e (ACESSO DIRETO 1)
linfadenopatia epitroclear. O exantema é maculopapu- PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG
loso, localizado em tronco, face e membros superiores. 8 – Criança de 4 anos de idade, gênero masculino, apre-
Fígado e baço são palpáveis a 2 cm do rebordo costal. senta febre, exantema maculopapular generalizado, acom-
O restante do exame físico é normal. O diagnóstico mais panhado de linfadenopatia occipital e retroauricular há
provável é de: </p> três dias. História vacinal completa. Diante deste caso,
a) Mononucleose infecciosa. d) Rubéola. deve-se suspeitar de:
b) Escarlatina. e) Faringite. a) Adenovirose. c) Rubéola.
c) Toxoplasmose. b) Eritema infeccioso. d) Varicela.
95 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 RESIDÊNCIA MÉDICA 2016


(ACESSO DIRETO 1) (ACESSO DIRETO 1)
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UFU – MG SELEÇÃO UNIFICADA PARA RESIDÊNCIA
9 – Luís, 20 anos, tem história de febre baixa há duas se- MÉDICA DO ESTADO DO CEARÁ – CE
manas, tosse leve, mal-estar e mialgia. Ao exame físico, 13 – Menina de 2 anos vem à Unidade Básica de Saúde
constatou-se que seus linfonodos cervicais posteriores apresentando febre baixa há 3 dias, irritabilidade, falta de
estavam aumentados e que havia uma significativa es- apetite e discretos sintomas catarrais. No dia do atendi-
plenomegalia. O hemograma revelou uma linfocitose, com mento surgiu exantema com lesões papulovesiculares nas
contagem absoluta de linfócitos de 10.000/µl, níveis de extremidades, principalmente nos dedos, dorso das mãos
hemoglobina e contagem de plaquetas normais. O esfre- e planta dos pés. Ao exame, o médico constatou lesões
gaço de sangue periférico mostra a presença de grandes vesiculares na boca, com algumas úlceras dolorosas. O
linfócitos atípicos. Qual é o diagnóstico? Assinale a alter- quadro clínico descrito corresponde a qual doença exan-
nativa CORRETA: temática da infância?
a) Leucemia Linfocítica Aguda (LLA). a) Sarampo.
b) Leucemia Linfocítica Crônica (LLC). b) Exantema súbito.
c) Infecção aguda por HIV. c) Eritema infeccioso.
d) Infecção por EBV. d) Síndrome mão-pé-boca.
e) Coqueluche.

RESIDÊNCIA MÉDICA 2016


RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 (ACESSO DIRETO 1)
(ACESSO DIRETO 1) SECRETARIA DE ESTADO
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO DE SAÚDE DE GOIÁS – GO
RIO GRANDE DO SUL – RS 14 – Criança de onze meses apresentou febre por três
10 – Menina de 10 anos vinha com diminuição do apetite, dias consecutivos, de 39°C, mas que desapareceu no
aumento de gânglios cervicais, mialgias e febrícula esporá- quarto dia, seguido por exantema róseo, maculopapular
dica. Iniciou com amoxicilina por faringite aguda, mas, após em tronco. A criança apresenta bom estado geral. Nesse
72 horas, não apresentava melhora clínica. Além do mal-es- caso, qual é o agente causador?
tar, surgiram dores abdominais, edema palpebral, erupções a) Parvovírus B19.
maculares em tórax e face e petéquias no palato. A melhor b) Coxsackie A.
conduta, nesse caso, é suspender a amoxicilina e indicar: c) Herpes 6.
a) Penicilina endovenosa. d) Epstein-Barr.
b) Apenas medidas sintomáticas.
c) Cefuroxima, oral ou endovenosa.
d) Ceftriaxona endovenosa. RESIDÊNCIA MÉDICA 2016
e) Metilprednisolona oral. (ACESSO DIRETO 1)
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA
DE GOIÂNIA – GO
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 15 – O agente etiológico mais frequentemente envolvido
(ACESSO DIRETO 1) nos episódios de crises aplásicas de crianças com ane-
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA mia falciforme é:
DE MACEIÓ – AL a) Parvovírus B19.
11 – Uma criança de 6 anos apresenta quadro de lesões b) Citomegalovírus.
maculopapulares avermelhadas que se iniciaram na face, c) Vírus Epstein-Barr.
tomando as bochechas e o dorso do nariz, após 2 dias d) Streptococcus pneumoniae.
atingiram os membros, inclusive a palma das mãos, com
aspecto rendilhado. As lesões acentuam-se com o sol, e
o início do quadro foi precedido por febre baixa. Qual é o RESIDÊNCIA MÉDICA 2016
diagnóstico MAIS provável? (ACESSO DIRETO 1)
a) Sarampo. UNIVERSIDADE DO ESTADO
b) Rubéola. DO PARÁ – BELÉM – PA
c) Exantema súbito. 16 – Pré-escolar de 5 anos de idade apresenta febre há 7
d) Eritema infeccioso. dias, associada à hiperemia conjuntival bilateral, exantema
maculopapular disseminado e irritabilidade. Ao exame físi-
co são encontrados adenomegalia cervical com gânglios
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 de até 2 cm, móveis, fibroelásticos e indolores, hiperemia
(ACESSO DIRETO 1) de orofaringe e edema em mãos. O diagnóstico e conduta
COMISSÃO ESTADUAL DE RESIDÊNCIA indicados, respectivamente, são:
MÉDICA DO AMAZONAS – AM a) Escarlatina. Prescrever penicilina G benzatina em do-
12 – Paciente de 9 meses retorna de Fortaleza com quadro se única.
de febre alta, 39°C, tosse produtiva, rinorreia seromucosa, b) Dengue com encefalite viral. Prescrever sintomáticos,
conjuntivite e fotofobia. Nas últimas 24 horas, notou-se surgi- corticoide e hidratação venosa.
mento de pequenas manchas com halo eritematoso em mu- c) Doença de Kawasaki. Internar, prescrever imunoglobu-
cosa jugal posterior. Sua principal suspeita diagnóstica seria: lina humana endovenosa e ácido acetilsalicílico em dose
a) Escarlatina. anti-inflamatória.
b) Sarampo. d) Doença mão-pé-boca. Prescrever sintomáticos.
c) Rubéola. e) Zika vírus. Prescrever sintomáticos e orientar sinais
d) Eritema infeccioso. de alerta.
96 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 RESIDÊNCIA MÉDICA 2016


(ACESSO DIRETO 1) (ACESSO DIRETO 1)
SECRETARIA MUNICIPAL DE FUNDAÇÃO DE BENEFICÊNCIA
SAÚDE DE JOÃO PESSOA – PB HOSPITAL DE CIRURGIA – SE
17 – Menino de 5 anos de idade é trazido à UPA por fe- 20 – Sobre os exantemas, assinale a alternativa CERTA:
bre alta há 24 horas, cefaleia e vômitos. Desperto, sem a) A escarlatina cursa com micropápulas, acompanhada
sinais neurológicos, apresenta palidez perioral, enantema de palidez perioral (sinal de Filatov), assim como palidez
de mucosa oral e exantema micropapular difuso, predo- na região de dobras (sinal de Pastia) e cursa com pos-
minando em regiões de dobras. Sem outros achados ao terior descamação na ponta dos dedos.
exame físico. O diagnóstico MAIS PROVÁVEL é: b) A doença de Kawasaki cursa com febre por mais de
a) Rubéola. d) Síndrome de Kawasaki. cinco dias, edema de mãos e pés, linfonodomegalia cer-
b) Escarlatina. e) Meningite meningocócica. vical, conjuntivite, língua avermelhada e como cursa com
c) Faringite viral. aneurisma de coronárias, o ecocardiograma é essencial
para o diagnóstico.
c) A artrite idiopática juvenil na sua forma sistêmica é
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 caracterizada por febre por mais de quinze dias, acom-
(ACESSO DIRETO 1) panhada de exantema durante o período febril, com ou
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – PI sem artrite.
18 – Criança, 4 anos de idade, iniciou quadro de febre ele- d) O eritema infeccioso é do tipo maculopapular rendi-
vada associada à odinofagia. No quinto dia de evolução, lhado, começa e coalesce na face (face de palhaço),
como persistia sem melhora clínica e com picos febris ele- poupando o queixo e a região perioral e demora até três
vados diários, procurou o serviço médico. Ao exame físico, semanas para regredir, período no qual pode reativar ao
apresentava-se com amígdalas hipertrofiadas e hiperemia- se expor ao sol.
das associado a exsudato cinza-claro e petéquias no pala- e) Petéquias desaparecem a digitopressão e o exantema
to, leve edema palpebral bilateral, além de adenomegalia petequial febril deve alertar para presença de doenças
cervical e baço palpável a cinco centímetros do bordo costal graves como meningococcemia ou leucemia.
esquerdo. Foi prescrita amoxicilina 50 mg/kg/dia e, no tercei-
ro dia da medicação, persistia com febre e surgiu rash ma-
culopapular predominante no tronco e raízes de membros. RESIDÊNCIA MÉDICA 2015
O pediatra suspendeu a amoxicilina e iniciou azitromicina, (ACESSO DIRETO 1)
realizou hemograma que evidenciou leucocitose com lin- FACULDADE DE CIÊNCIAS
focitose e atipia linfocitária. O diagnóstico mais provável é: MÉDICAS DA UNICAMP – SP
a) Escarlatina. d) Mononucleose infecciosa. 21 – Menino, 10 anos, refere febre alta há 3 dias e man-
b) Doença de Kawasaki. e) Herpangina. chas vermelhas pelo corpo há 1 dia. Retornou da Europa
c) Rubéola. há 15 dias. Nunca foi vacinado por opção dos pais. Exame
físico: regular estado geral; fácies catarral; T = 39,5°C; FC
= 110 bpm; FR = 36 irpm. Orofaringe: manchas puntifor-
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 mes brancas com eritema ao redor da mucosa oral. Pele:
(ACESSO DIRETO 1) exantema maculopapular eritematoso e difuso. ASSINALE
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC – SC A ALTERNATIVA CORRETA:
19 – Ao pegar sua filha de 11 meses na escola, Maria notou a) A encefalite é uma complicação grave, de início preco-
os olhos vermelhos, lacrimejamento e leve prostração. Na ce e frequente.
madrugada desse mesmo dia, a menina começou com fe- b) O tratamento é antitérmico, hidratação, higiene nasal
bre de 39°C e, logo após, tosse, permanecendo assim pelos e ocular e imunoglobulina intravenosa.
três dias seguintes. No quarto dia de evolução, ainda febril, a c) Se houver contato com criança suscetível, esta deverá
menina foi ao pediatra apresentando manchas avermelhadas receber a vacina dentro de 3 dias.
no rosto e no pescoço, diagnosticadas como sarampo. Com d) Trata-se de uma doença transmitida por vetor.
relação à transmissão do sarampo para as outras crianças
da mesma idade na escola, é CORRETO afirmar que:
a) Não foram contagiadas, porque o período em que ela RESIDÊNCIA MÉDICA 2015
ficou na escola foi bem curto, não sendo o suficiente para (ACESSO DIRETO 1)
o contágio. FACULDADE DE MEDICINA DO ABC – SP
b) Não foram contagiadas, porque o exantema no tronco ain- 22 – Com relação à varicela, é CORRETO afirmar que:
da não havia começado, sendo que ele ocorre no período de a) O zóster é a reativação do vírus varicela-zóster e não
maior transmissão da doença. se desenvolve em crianças menores de 2 anos.
c) Não foram contagiadas, porque a menina ainda não estava b) O acometimento neurológico pode manifestar-se com
tossindo quando esteve em contato com as outras crianças. alterações como: ataxia cerebelar, mielite aguda e sín-
d) Tiveram chance de contágio, porque ela estava frequen- drome de Reye.
tando a escola no início dos sintomas. c) O pródromo é caracterizado por febre, cefaleia e queda
e) Não tiveram chance de contágio, pois nesta idade já foram do estado geral, precedendo o exantema em 3 a 5 dias.
vacinadas contra o sarampo. d) O período de incubação varia de 3 a 15 dias.
97 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 a) Se apresentar uma conjuntivite purulenta, deve-se pen-


(ACESSO DIRETO 1) sar seriamente na hipótese de doença de Kawasaki.
HOSPITAL MUNICIPAL DE b) Esse edema pode fazer parte de uma Glomerulonefrite
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS – SP Difusa Aguda Pós-Estreptocócica (GNDAPE), pois apre-
23 – Para prevenção de varicela pós-exposição, é reco- senta a língua em framboesa, característica da escarlatina.
mendado: c) A manutenção da febre, apesar do uso de antibióticos,
a) Vacinar lactente de 6 meses cuja mãe não teve varicela. pode ser devida a uma resistência à amoxicilina, e o edema
b) Vacinar prematuro < 28 semanas cuja mãe não teve de mãos e pés é típico de um edema angioneurótico, que
varicela. fala a favor de uma farmacodermia.
c) Administrar VZIG nos contatos até 96 horas. d) A realização de um ecocardiograma faz-se necessária,
d) Administrar VZIG para recém-nascido cuja mãe teve mesmo que a criança não apresente alterações na ausculta.
varicela 2 dias antes do parto.

RESIDÊNCIA MÉDICA 2015


RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 (ACESSO DIRETO 1)
(ACESSO DIRETO 1) HOSPITAL DA POLÍCIA MILITAR – MG
FUNDAÇÃO JOÃO GOULART – 27 – As doenças exantemáticas são frequentes na in-
HOSPITAIS MUNICIPAIS – RJ fância. Correlacione a segunda coluna com a primeira
24 – Criança de três anos de idade apresenta febre alta de acordo com o agente etiológico correspondente e, a
(> 39°C) há 5 dias. O exame clínico revela criança hidra- seguir, marque a alternativa que contém a sequência de
tada, hipoativa, sem sinais de irritação meníngea, eritema respostas CORRETA, na ordem de cima para baixo:
e edema de mãos e pés, exantema polimorfo, hiperemia 1. Sarampo.
conjuntival bilateral, hiperemia difusa da mucosa oral e 2. Rubéola.
faríngea, além de queixa de artralgia. Os exames reve- 3. Escarlatina.
lam leucocitose com neutrofilia, VHS aumentado, anemia, 4. Eritema Infeccioso.
hipoalbuminemia, pleocitose do líquido cefalorraquidiano 5. Exantema Súbito.
e piúria estéril. A conduta terapêutica que reduz a preva- ( ) Parvovírus B19.
lência de complicação com doença coronariana no caso ( ) Herpesvírus tipo 6.
descrito é: ( ) Estreptococo beta-hemolítico.
a) Ceftriaxona e corticoide venoso. ( ) Togavírus.
b) Imunoglobulina venosa e ácido acetilsalicílico. ( ) Myxovírus.</p>

c) Infliximabe e ácido acetilsalicílico. a) 4, 5, 3, 1, 2.


d) Penicilina cristalina e corticoide venoso. b) 5, 4, 2, 3, 1.
c) 4, 5, 3, 2, 1.
d) 5, 4, 2, 1, 3.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015
(ACESSO DIRETO 1)
FACULDADE DE MEDICINA RESIDÊNCIA MÉDICA 2015
DE PETRÓPOLIS – RJ (ACESSO DIRETO 1)
25 – Pré-escolar de três anos iniciou quadro de varicela HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE
há 48 horas e evoluiu com edema de parede nas regiões PORTO ALEGRE – RS
torácica, abdominal e lombar, associada à intensa dor e 28 – Paciente de 6 anos, previamente hígido, com situação
hiperemia. Nas últimas 12 horas, surgiu uma lesão de vacinal desconhecida (sem caderneta), chegou à emer-
tonalidade acinzentada escura, com anestesia na região gência com história de febre de até 38,2°C há 2 dias e
central, medindo cerca de 10 cm de diâmetro, associada erupção cutânea, iniciada na face. Ao exame, encontra-
à presença de crepitação à palpação da parede torácica va-se em bom estado geral, com discreto rash petequial
lateral esquerda. Ao exame, encontra-se agitado; irrita- no palato e algumas adenomegalias occipitais com cerca
do; choroso; com pulsos amplos; enchimento capilar de de 0,8 cm de diâmetro.
2 segundos; frequência cardíaca de 170 bpm; frequência
respiratória de 45 irpm e febre de 39ºC. O hemograma
revelou contagem de leucócitos de 20.500 células com
a presença de 10% de bastões e 70% de segmentados.
Qual o diagnóstico desta complicação ocorrida pela infec-
ção primária pelo vírus varicela-zóster?
a) Fasciíte Necrosante. c) Erisipela.
b) Celulite. d) Púrpura de Henoch-Schönlein.

RESIDÊNCIA MÉDICA 2015


(ACESSO DIRETO 1)
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA
DE BELO HORIZONTE – MG Qual o diagnóstico mais provável?
26 – Criança de dois anos foi admitida com quadro de fe- a) Eritema infeccioso.
bre há 6 dias, alterações na mucosa oral, língua em fram- b) Escarlatina.
boesa e edema de pés e mãos. Estava em uso de amoxi- c) Exantema súbito.
cilina desde o segundo dia da doença e não apresentava d) Rubéola.
melhora. Considerando o caso apresentado, assinale a e) Sarampo.
alternativa CORRETA:
98 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 mundo estão definindo metas para a eliminação do sa-
(ACESSO DIRETO 1) rampo até o ano de 2015. No entanto, surtos recentes de
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO sarampo em países como Reino Unido, Alemanha, Itália
RIO GRANDE DO SUL – RS e Holanda constituem uma ameaça para a eliminação,
29 – Criança de três anos é trazida à consulta pela mãe devido à facilidade de deslocamento das pessoas. Em
com queixa de lesões “tipo manchinhas vermelhas” no 2013 e início de 2014, ocorreram vários casos importados
tronco, que notou ao acordá-la pela manhã e que, agora de sarampo em algumas regiões do país, em especial no
à tarde, evoluiu com disseminação por todo o corpo. Na Ceará e Pernambuco. Esse fato ressalta a importância
creche, várias crianças tiveram quadro semelhante há 10 dos conhecimentos acerca das características clínicas,
dias. Ao exame físico, a criança apresentava-se com tem- laboratoriais e epidemiológicas do sarampo. Nesse sen-
peratura axilar de 38 graus e com manchas em forma de tido, considere as seguintes afirmativas:
vesículas disseminadas pelo tronco, membros superiores 1. O sarampo é transmitido por via aérea e a viremia de-
e inferiores. Qual o diagnóstico mais provável? corrente da infecção provoca vasculite generalizada, que
a) Sarampo. d) Eritema Infeccioso. é responsável pelas diversas manifestações clínicas.
b) Rubéola. e) Varicela. 2. O período prodrômico caracteriza-se por febre, tosse,
c) Escarlatina. coriza, conjuntivite e fotofobia; no final do período surge
o sinal de Koplik.
3. No período exantemático ocorre melhora dos sintomas
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 catarrais e surge o exantema maculopapular avermelhado,
(ACESSO DIRETO 1) de distribuição cefalocaudal.
HOSPITAL MOINHOS DE VENTO – RS 4. No período de convalescença, as manchas tornam-se
30 – Menina de quatro anos comparece ao pronto aten- escurecidas e surge descamação fina.
dimento com história de hipertermia, vômitos e dor de 5. A complicação mais frequente do sarampo, e que ocorre
garganta. Evoluiu com lesões cutâneas difusas no tórax, principalmente em crianças, é a encefalite aguda.
tronco e extremidades, caracterizadas por serem pápulas Assinale a alternativa CORRETA. </p>

agrupadas, eritematosas e ásperas, além de palidez perio- a) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.
ral. Ao exame da orofaringe, apresenta hiperemia difusa b) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras.
com petéquias no palato. O diagnóstico MAIS PROVÁVEL c) Somente a afirmativa 1 é verdadeira.
está na alternativa: d) Somente as afirmativas 1, 2, 3 e 5 são verdadeiras.
a) Eritema infeccioso. d) Sarampo. e) Somente as afirmativas 3, 4 e 5 são verdadeiras.
b) Rubéola. e) Varicela.
c) Escarlatina.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015
(ACESSO DIRETO 1)
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CASSIANO
(ACESSO DIRETO 1) ANTÔNIO DE MORAES – ES
INSTITUTO DE CARDIOLOGIA 33 – Nas doenças exantemáticas é CORRETO afirmar
DO RIO GRANDE DO SUL – RS que:
31 – Doenças exantemáticas são muito comuns na prá- a) A escarlatina inicia-se abruptamente com febre alta,
tica diária de pediatria. Seu diagnóstico se baseia fun- dor de garganta, anorexia, vômitos, cefaleia e, às vezes,
damentalmente em achados clínicos, epidemiológicos e dor abdominal. Após 12 a 48 horas surge o exantema
evolutivos. Classifique as afirmativas como Verdadeiras que é típico: eritematoso, micropapular e áspero como
(V) ou Falsas (F): ( ) Enterovírus: exantema maculopapu- uma lixa.
lar, petequial ou vesicular, miocardite, encefalite, pleuro- b) Na escarlatina, o exantema, que se inicia no tronco e
dinia. ( ) Exantema súbito: exantema maculopapular coin- evolui para pescoço e membros, ocorre principalmente
cidindo com queda da febre, irritabilidade, convulsão e nas palmas das mãos e planta dos pés.
adenopatia. ( ) Mononucleose: exantema maculopapular c) No eritema infeccioso as bochechas são avermelha-
em tronco e extremidades, febre, faringite, adenomegalia das e a região perioral apresenta-se pálida, o que é
e hepatoesplenomegalia. ( ) Eritema infeccioso: eritema conhecido como sinal de Filatov. O exantema é mais
palmoplantar, exantema maculopapular ou rendilhado, acentuado nas dobras cutâneas e surgem áreas de hi-
descamação laminar e fotossensibilidade. ( ) Dengue: perpigmentação, com a formação de linhas transversais
exantema maculopapular ou vesicular, descamação fina, nas dobras de flexão, denominado sinal de Pastia.
febre, mialgia, artralgia e cefaleia. d) A doença de Kawasaki é caracterizada por uma vas-
a) F-V-V-V-F. d) F-F-V-F-V. culite sistêmica que afeta artérias de grandes calibres,
b) V-F-F-V-V. e) V-V-V-F-F. como a aorta. A ruptura de aneurisma da aorta é a com-
c) V-V-F-F-V. plicação mais temida.
e) O eritema infeccioso é causado pelo Parvovírus B19
e na fase virêmica o paciente apresenta-se com febre,
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 mal-estar, cefaleia, mialgia e prurido discreto. É nessa
(ACESSO DIRETO 1) fase que, nos indivíduos com patologias hematológicas,
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DO PARANÁ – PR se instala a crise aplástica que se torna crônica, levando
32 – O sarampo é uma doença infecciosa aguda, altamen- a uma aplasia medular persistente da série vermelha.
te transmissível e imunoprevenível. Diferentes regiões do
99 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 RESIDÊNCIA MÉDICA 2014


(ACESSO DIRETO 1) (ACESSO DIRETO 1)
HOSPITAL EVANGÉLICO DE VILA VELHA – ES CENTRO MÉDICO DE CAMPINAS – SP
34 – Lactente de 12 meses apresentou febre alta de início 38 – Um menino de 13 anos é levado ao serviço de emer-
súbito e, logo em seguida, teve convulsão generalizada. A gência com história de dor lancinante em ombro esquerdo
convulsão foi breve e se resolveu espontaneamente. Foi e quadrante abdominal superior esquerdo acompanhada
feito liquor e leucograma, ambos normais. Manteve bom de vômitos. Ele recebeu há cerca de um mês o diagnós-
estado geral. A febre durou 3 dias e desapareceu, o que tico de mononucleose, mas diz que está completamente
coincidiu com o surgimento de rash eritematoso maculopa- recuperado. Ele estava jogando futebol com seus amigos
pular, não pruriginoso. Qual o diagnóstico mais provável? quando a dor começou, repentinamente, há cerca de 1
a) Rubéola. hora. Ao exame: Frequência Cardíaca (FC) = 150 batimen-
b) Sarampo. tos/minuto; Pressão Arterial (PA) = 80 x 50 mmHg; está
c) Escarlatina. pálido e desorientado; apresenta abdome plano, tenso e
d) Mononucleose infecciosa. doloroso à palpação superficial. Diante deste caso, qual
e) Exantema súbito. a principal hipótese diagnóstica?
a) Pancreatite aguda.
b) Calculose renal.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 c) Hepatite fulminante.
(ACESSO DIRETO 1) d) Ruptura esplênica.
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO
ESTADO DE PERNAMBUCO – PE
35 – Fabiana, 6 anos, é levada à UPA com história de sur- RESIDÊNCIA MÉDICA 2014
gimento de exantema na face há 4 dias, com progressão (ACESSO DIRETO 1)
para membros há 2 dias. Há exacerbação quando a criança HOSPITAL MUNICIPAL DR. MÁRIO GATTI – SP
é exposta ao sol, faz exercícios ou há mudança de tempe- 39 – O Estreptococo do Grupo A (EGA), também co-
ratura. Nega febre e outros sintomas. Ao exame físico, ob- nhecido como Streptococcus pyogenes , é causa co-
serva-se presença de intensa hiperemia e edema em região mum de infecção do trato respiratório superior, como
das bochechas, presença de exantema macular rendilhado faringite, e infecção de pele como impetigo. Assinale
em tronco e membros. Cartão de vacina atualizado. Sobre a alternativa INCORRETA:
o diagnóstico mais provável para o caso, assinale a alter- a) O EGA é também responsável pela escarlatina, erisi-
nativa CORRETA: pela, síndrome do choque tóxico e fasciíte necrosante
a) Trata-se de infecção por herpesvírus. e por duas entidades de caráter não supurativo, como
b) A evolução geralmente é marcada por complicações graves. a febre reumática e a glomerulonefrite aguda.
c) É possível fazer o diagnóstico pela clínica. b) A erupção da escarlatina é devida à presença de toxi-
d) Por meio da vacinação, é possível erradicar a doença. na eritrogênica e aparece dentro de 24-48 horas após o
e) A transmissão é por via fecal-oral. início dos sintomas. Frequentemente se inicia em torno
da região cervical e se espalha para tronco e membros.
A área em torno da boca é geralmente poupada.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 c) Na escarlatina, além dos sinais de faringite estrepto-
(ACESSO DIRETO 1) cócica, a língua pode apresentar uma cobertura branca
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE e as papilas estão edemaciadas. Após a descamação,
RIO DE JANEIRO – RJ as papilas linguais edemaciadas tornam-se proeminen-
36 – Paciente de nove anos apresenta rash facial malar tes, conferindo um aspecto de língua com aparência
e bilateral com aspecto de “fácies esbofeteada”, associa- de morango.
do à artralgia e que remitiu ao longo de duas semanas. O d) O EGA é sensível à penicilina, embora mais recen-
diagnóstico mais provável é: temente tenham sido descritos casos de resistência a
a) Eritema infeccioso. c) Eritromelalgia. esse antimicrobiano.
b) Alergia alimentar. d) Dengue.

RESIDÊNCIA MÉDICA 2014


RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 (ACESSO DIRETO 1)
(ACESSO DIRETO 1) HOSPITAL DA POLÍCIA MILITAR – MG
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE JUNDIAÍ – SP 40 – Relacione a 2ª coluna com a 1ª coluna e, a seguir,
37 – Criança com 11 meses de idade foi atendida no ambu- marque a alternativa que contém a sequência de respos-
latório de pediatria com queixa de febre (temperatura axilar: tas CORRETA.
38,5ºC) há 2 dias. Apresentava-se em bom estado geral e 1. Sarampo.
sem significativos achados na anamnese e no exame físico. 2. Rubéola.
Recebeu todas as vacinas do calendário vacinal para a idade. 3. Varicela.
O pediatra orientou a família com antitérmicos, recomenda- 4. Exantema Súbito.
ção de observação domiciliar e retorno. Essa conduta pode ( ) Exantema coincide com desaparecimento da febre.
ser considerada: ( ) Febre, exantema e linfadenomegalia.
a) Inadequada em função do grupo etário da criança. ( ) Exantema de distribuição centrípeta, lesões papulove-
b) Adequada em função do estado vacinal da criança. siculares, polimórficas.
c) Inadequada em função da necessidade de investigação ( ) Febre, conjuntivite, sintomas catarrais, exantema mor-
laboratorial na criança febril sem foco evidente. biliforme.
</p>

d) Adequada em função da anamnese e do exame físico. a) 4, 2, 3, 1. c) 1, 2, 3, 4.


e) Inadequada em função do grande risco de bacteremia oculta. b) 3, 4, 2, 1. d) 1, 4, 3, 2.
100 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 bros superiores e glúteos. Sem hipertermia nem outra al-
(ACESSO DIRETO DISCURSIVA) teração clínica associada. Tem forte suspeita diagnóstica
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – de eritema infeccioso. Frequenta escola em nível de en-
SUS – BAHIA – BA sino fundamental onde uma professora, com quem tem
41 – Jeyson Neves, 30 meses de idade, há 1 dia com febre contato diariamente, está grávida, com idade gestacional
(Temperatura axilar = até 39,5°C), sem nenhum outro sintoma. de 19 a 20 semanas. Qual das condutas abaixo se impõe
Exame físico totalmente normal e a criança em bom estado em tal circunstância?
geral, apesar da elevação de temperatura. No terceiro dia, a a) Afastar o aluno das atividades na escola nas 72 ho-
febre melhora e a criança apresenta exantema de surgimento ras seguintes.
craniocaudal, conforme fotos. Jeyson continua em bom estado b) Afastar a professora do contato com o aluno por
geral. Qual é o principal diagnóstico para a erupção cutânea? uma semana.
c) Afastar ambos (aluno e professora) das atividades es-
colares por 72 horas.
d) Manter ambos em atividades regulares na sala de aula.

RESIDÊNCIA MÉDICA 2014


(ACESSO DIRETO 1)
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DO PARANÁ – PR
Questão discursiva
44 – Mãe traz à emergência seu filho de 3 anos de idade
com história de exantema febril com 2 dias de evolução.
Numere a coluna da direita de acordo com sua correspon-
dência com a coluna da esquerda, associando o sinal ou
RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 sintoma clínico que deve estar presente sugerindo cada
(ACESSO DIRETO 1) diagnóstico diferencial.
HOSPITAL SÃO LUCAS DA PUC – RS 1. Escarlatina.
42 – Relacione as doenças enumeradas na coluna A com 2. Eritema infeccioso.
as informações apresentadas na Coluna B, numerando 3. Rubéola.
os parênteses. 4. Exantema súbito.
Coluna A - Doenças: 5. Mononucleose.
1. Herpangina; ( ) Rash micropapular difuso e áspero e hipertrofia de pa-
2. Mononucleose infecciosa; pilas linguais.
3. Doença de Kawasaki; ( ) Linfonodomegalia occipital e rash papular difuso.
4. Exantema súbito; ( ) Esplenomegalia, linfonodomegalia e exsudato de
5. Eritema infeccioso; amígdalas.
6. Rubéola; ( ) Rash maculopapular rendilhado e rash malar.
7. Síndrome mão-boca-pé. ( ) 3 dias de febre seguidos de rash maculopapular difuso.
Coluna B: Assinale a alternativa que apresenta a numeração COR-
( ) Apresenta-se com febre alta por mais de cinco dias, RETA da coluna da direita, de cima para baixo: </p>

hiperemia de conjuntivas, adenomegalia cervical unilate- a) 1 - 3 - 4 - 5 - 2.


ral, eritema da faringe com língua em morango, fissuras b) 1 - 3 - 5 - 2 - 4.
labiais, edema de mãos e pés e irritabilidade intensa. c) 3 - 2 - 1 - 5 - 4.
( ) Causada por coxsackievírus, apresenta-se com pe- d) 5 - 2 - 4 - 3 - 1.
quenas vesículas e úlceras na faringe posterior, febre e) 3 - 1 - 5 - 2 - 4.
e salivação.
( ) Causada por parvovírus, tem evolução em três está-
gios com caráter recorrente. O exantema tem caracte- RESIDÊNCIA MÉDICA 2014
rística de rendilhado. (ACESSO DIRETO 1)
( ) É causada por togavírus; manifesta-se com febrícula, HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UEL – PR
exantema maculopapular, astenia, adenopatia retroauri- 45 – Criança de 2 anos é trazida ao pronto-socorro
cular, cervical e occipital. Na gestação, pode causar mal- apresentando exantema há 1 dia. O responsável infor-
formações fetais. ma que as lesões de pele são pruriginosas e iniciaram
A numeração CORRETA dos parênteses, de cima para primeiro em face, depois em tronco e membros. Ao
baixo, é:</p> exame a criança apresenta temperatura de 38°C, má-
a) 2 - 7 - 5 - 6. d) 1 - 7 - 4 - 2. cula eritematosa em face, tronco e membros, pápulas
b) 7 - 1 - 6 - 5. e) 3 - 7 - 4 - 6. e vesículas em tronco e couro cabeludo, adenomegalia
c) 3 - 1 - 5 - 6. cervical e inguinal. O diagnóstico mais provável neste
caso será de:
a) Eritema infeccioso.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 b) Mononucleose infecciosa.
(ACESSO DIRETO 1) c) Rubéola.
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA ULBRA – RS d) Sarampo.
43 – Adolescente masculino, branco, apresenta exantema e) Varicela.
reticular, não pruriginoso, predominantemente em mem-
101 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 Exame físico: T = 39,5ºC; FC = 100 bpm; FR = 30 irpm;


(ACESSO DIRETO 1) regular estado geral; irritado; choroso; sialorreia; linfono-
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE GOIÁS – GO dos submandibulares de 0,5 cm, móveis, indolores, sem
46 – Uma menina de três anos de idade, portadora de sinais inflamatórios; lesões vesiculosas em mãos, pés,
anemia falciforme, é trazida ao pronto-socorro com his- região perianal e cavidade oral, com intensa hiperemia
tória de dois dias de fadiga; palidez; erupção cutânea; de pilares amigdalianos e faringe. O agente etiológico é:
febre de 38,2°C. O exame físico revelou: frequência car- a) Vírus varicela-zóster.
díaca de 140 batimentos por minuto; frequência respira- b) Parvovírus.
tória de 24 respirações por minuto; pressão arterial 90 x c) Vírus Herpes-simplex tipo 1.
40 mmHg e oximetria de pulso de 99% em ar ambiente. d) Vírus Coxsackie.
Observada palidez conjuntival e palmar, sem icterícia;
não havia nenhuma evidência de esplenomegalia. Havia
uma erupção cutânea difusa rendilhada em seus braços, RESIDÊNCIA MÉDICA 2013
pernas e peito. Exames laboratoriais revelaram hemo- (ACESSO DIRETO 2)
globina de 3,3 g/dl e contagem de reticulócitos inferior SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE
a 0,1%, contagem de glóbulos brancos de 17 x 103/µl e RIO DE JANEIRO – RJ
uma contagem de plaquetas de 250 x 103/µl. O agente 49 – Escolar de sete anos apresenta há 24 horas quadro
etiológico mais provável é o: de febre moderada e exantema maculovesicular gene-
a) Mycoplasma pneumoniae. ralizado, pruriginoso. Não consegue se alimentar devi-
b) Bocavírus. do às lesões ulcerativas em orofaringe. Tem história de
c) Adenovírus. uso regular de corticoide inalatório e o irmão apresentou
d) Parvovírus. o mesmo quadro há três semanas. Diante deste caso clí-
nico, o diagnóstico mais provável e a conduta recomen-
dada, respectivamente, são:
RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 a) Varicela, aciclovir e precauções aéreas.
(ACESSO DIRETO 1) b) Enterovirose, valaciclovir e precauções de contato.
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UFPE – PE c) Herpes-simples, aciclovir e precauções respiratórias.
47 – Beatriz tem dez meses de idade e vem apresentando d) Estafilococcia, cefalosporina e precauções de contato.
febre alta há quatro dias, sem outros sintomas. Nas últi-
mas seis horas, surgiu exantema maculopapular róseo, e a
temperatura voltou ao normal rapidamente. O diagnóstico RESIDÊNCIA MÉDICA 2013
mais provável é de uma doença exantemática causada (ACESSO DIRETO 1)
por um dos seguintes agentes: SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE –
a) Streptococcus do grupo A. SUS – SÃO PAULO – SP
b) Vírus Epstein-Barr. 50 – Uma menina com 8 anos de idade recebe diagnós-
c) Herpesvírus humano 6. tico de escarlatina. A causa das manifestações cutâneas
d) Vírus do sarampo. observadas na doença e seu tratamento são:
e) Echovírus. a) Endotoxina pirogênica do estreptococo do grupo B;
amoxicilina durante 10 dias.
b) Toxina eritrogênica do estreptococo do grupo A; eritro-
RESIDÊNCIA MÉDICA 2013 micina durante 7 dias.
(ACESSO DIRETO 1) c) Endotoxina pirogênica do estreptococo do grupo B;
FACULDADE DE CIÊNCIAS amoxicilina durante 7 dias.
MÉDICAS DA UNICAMP – SP d) Toxina eritrogênica do estreptococo do grupo A; amo-
48 – Menino, 3a, com história de febre alta, fezes amo- xicilina durante 10 dias.
lecidas há 2 dias, feridas nos pés e nas mãos há 1 dia. e) Endotoxina pirogênica do estreptococo do grupo B; eri-
Sem outras queixas. Vacina atualizada. Frequenta creche. tromicina durante 7 dias.
102 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2013 a) Rubéola - Rubella vírus - surdez neurossensorial.


(ACESSO DIRETO 1) b) Sarampo - Morbillivírus - encefalite.
HOSPITAL MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ c) Escarlatina - Streptococcus beta-hemolítico - febre reu-
DOS CAMPOS – SP mática.
51 – Lactente de 1 ano e 6 meses é levado ao serviço de d) Eritema infeccioso - Parvovírus B19 - aplasia de medula.
saúde com história de lesões de pele que apareceram há e) Exantema súbito - Herpesvírus 6 - convulsão febril.
um dia. Mãe refere que há quatro dias a criança começou
a apresentar febre alta (39,5°C) e contínua. Exceto pela
irritabilidade e inapetência, não apresentava, na ocasião, RESIDÊNCIA MÉDICA 2013
qualquer outro sintoma. Procurou atendimento médico (ACESSO DIRETO 1)
no segundo dia de febre, sendo orientada observação e ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA
administração de antitérmico, quando necessário. Há um DE PORTO ALEGRE – RS
dia a febre cessou abruptamente e surgiram lesões inicial- 53 – Relacione a Coluna 1 à Coluna 2, associando as
mente no tronco, que se disseminaram para a cabeça e manifestações clínicas mais comuns com as doenças
extremidades. Ao exame físico, o lactente encontra-se em exantemáticas.
bom estado geral; afebril; com exantema maculopapular Coluna 1:
rosado em tronco; cabeça e extremidades. O restante do 1. Lesões exantemáticas com polimorfismo regional.
exame físico sem alterações. Qual o mais provável agente 2. Sinal de Filatov.
etiológico responsável pelo quadro clínico descrito? 3. O agente etiológico é o Togavírus.
a) Parvovírus humano B19. 4. O agente etiológico é o Myxovírus.
b) Vírus Epstein-Barr. 5. Lesões exantemáticas de aspecto rendilhado.
c) Herpesvírus humano 6 e 7. Coluna 2:
d) Coxsackie B. ( ) Rubéola.
( ) Varicela.
( ) Escarlatina.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2013 A ordem correta de preenchimento dos parênteses, de
(ACESSO DIRETO 1) cima para baixo, é:
HOSPITAL DAS CLÍNICAS a) 1 - 2 - 4. d) 4 - 3 - 5.
DE PORTO ALEGRE – RS b) 2 - 5 - 3. e) 5 - 4 - 1.
52 – Assinale a alternativa que preenche, correta e respec- c) 3 - 1 - 2.
tivamente, as lacunas do quadro clínico abaixo. Menina
de 4 anos foi trazida à emergência com história de lesões
avermelhadas na face. Segundo a mãe, a criança, por- RESIDÊNCIA MÉDICA 2013
tadora de talassemia, apresentou, há 5 dias, febre entre (ACESSO DIRETO 1)
37,8°C e 38,2°C, cefaleia e coriza, evoluindo com o apa- HOSPITAL DO CORAÇÃO DE LONDRINA – PR
recimento de áreas avermelhadas, inicialmente no rosto 54 – Criança, 4 anos, com história de varicela há 10 dias,
e, após, disseminadas para pescoço e tronco. Ao exame apresenta dificuldade para deambular, com marcha cam-
físico, a criança encontrava-se febril, prostrada e pálida. baleante há 1 dia. O diagnóstico provável é:
A lesão cutânea, reproduzida na imagem abaixo, poupa a) Mielite transversa. c) Cerebelite.
as palmas das mãos e as plantas dos pés. O diagnóstico b) Abscesso cerebral. d) Síndrome de Guillain-Barré.
mais provável é ______________, cujo agente etiológico
é ______________. Nesta criança, uma complicação a
ser considerada é ______________. RESIDÊNCIA MÉDICA 2013
(ACESSO DIRETO 1)
PROVA UNIFICADA DE SANTA CATARINA – SC <p>

55 – D.S., sexo feminino, 11 anos, apresenta febre baixa


</p> <p>

não aferida há 3 dias, associada a mal-estar e dores muscu-


lares. Mãe refere uso de paracetamol de horário para febre.
Nega tosse ou coriza. É levado ao Pronto Atendimento por
apresentar “vermelhão” no corpo com início há 24 horas.
Encontra-se ativa e afebril com otoscopia e oroscopia
normais. Observa-se exantema maculopapular em boche-
chas e tronco, sem descamação. O diagnóstico é: </p>

a) Rubéola. d) Alergia ao paracetamol.


b) Exantema súbito. e) Eritema infeccioso.
c) Escarlatina.
103 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2012 d) Endocardite.


(ACESSO DIRETO 1) e) Diarreia mucossanguinolenta.
SECRETARIA ESTADUAL
DE SAÚDE RIO DE JANEIRO – RJ
56 – Laura, de 5 anos de idade, apresentou há 2 dias fe- RESIDÊNCIA MÉDICA 2011
bre e início de lesões maculares e vesiculares em face e (ACESSO DIRETO 1)
couro cabeludo, que disseminaram para tronco e mem- SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE –
bros e evoluíram para pústula. Foi levada ao pediatra, que PERNAMBUCO – PE
diagnosticou varicela não complicada, e fez as seguintes 59 – Lactente de 8 meses apresenta febre alta de início
orientações, EXCETO: abrupto há dois dias e aparecimento de erupção cutânea
a) Não usar salicilatos para tratamento da febre pelo risco há menos de 12 horas, caracterizada por exantema ma-
de desenvolvimento de síndrome de Reye. culopapular róseo. Na evolução, a febre sumiu após iní-
b) Usar anti-histamínicos devido à atuação na redução cio da erupção, a qual persistiu por 24 horas, com cura
do prurido. completa no 4º dia de doença. O agente etiológico mais
c) A mãe de Laura, que está grávida de sete semanas, de- provável terá sido:
verá receber a imunoglobulina humana antivaricela-zóster. a) Parvovírus humano B19.
d) A criança deverá usar cefalexina para tratamento de in- b) Herpesvírus humano tipo 6.
fecção secundária diagnosticada pela presença de lesões c) Vírus da rubéola.
em forma de pústula. d) Paramixovírus RNA monofilamentar.
e) Vírus varicela-zóster.

RESIDÊNCIA MÉDICA 2012


(ACESSO DIRETO 1) RESIDÊNCIA MÉDICA 2010
ALIANÇA SAÚDE – PR (ACESSO DIRETO 1)
57 – A síndrome de luvas e meias, que acomete crianças FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS
e adultos jovens, é caracterizada por lesões purpúricas DA UNICAMP – SP
simétricas e eritematosas indolores nas mãos e nos pés. 60 – Jovem, 15 anos, há 10 dias queixa-se de mal-estar geral,
Mais eventualmente acomete bochecha, cotovelo, joelho dor de garganta, febre não medida e gânglios no pescoço.
e nádega. Pode ser acompanhada de sintomas gerais, Exame físico: corado, hidratado, eupneico, baço palpável a
porém é autolimitada, melhorando em 1 a 2 semanas. A 2 cm da borda costal esquerda, fígado não palpável e linfo-
doença descrita acima é atribuída a que etiologia? nodomegalia cervical simétrica, dolorosa e móvel. Orofarin-
a) Coxsackie A. d) Enterovírus. ge: eritema nas amígdalas e petéquias no palato. Assinale a
b) HVH6. e) Coxsackie B. alternativa CORRETA:
c) Parvovírus B19. a) Linfocitose ao hemograma com linfócitos atípicos e so-
rologia positiva para antígeno nuclear do vírus Epstein-Barr
confirmam o diagnóstico de mononucleose infecciosa aguda.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2012 b) A presença de linfócitos atípicos é sugestiva de mononu-
(ACESSO DIRETO 1) cleose infecciosa aguda, que poderá ser confirmada com
PROVA UNIFICADA DE SANTA CATARINA – SC sorologia positiva para IgM anticapsídeo viral.
58 – Após a introdução da vacina, o número de complica-
<p> </p> <p> c) O quadro clínico é compatível com mononucleose infec-
ções decorrentes da infecção pela varicela teve uma queda ciosa e com infecção pelo citomegalovírus. Hemograma com
significativa. Qual a complicação mais comum na infecção linfocitose e atipias linfocitárias confirma a primeira hipótese
por varicela? </p> e afasta a segunda.
a) Pneumonia. d) A presença de leucopenia no hemograma afasta o diag-
b) Infecção bacteriana secundária da pele. nóstico de mononucleose infecciosa e a presença de mono-
c) Otite média aguda. citose e linfócitos atípicos confirma.
104 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

1 Comentário Temos uma criança com febre,


<p>
</p>

<p> é bastante sugestivo de escarlatina, doença relacionada à


vômitos e dor de garganta, que evoluiu com exantema infecção por estreptococo beta-hemolítico do grupo A. Não
eritematoso e micropapular, dando à pele uma textura há tosse, conjuntivite, linfonodomegalias, polimorfismo
áspera (semelhante à lixa), com faringite, petéquias em regional ou exantemas sugestivos de sarampo, rubéola,
palato e palidez perioral (sinal de Filatov). O quadro clínico varicela ou eritema infeccioso. Resposta: Letra C.
105 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

2 Comentário Existem duas formas de profilaxia


<p> </p> <p> hospitalar. Porém, trata-se de uma vacina de vírus vivo e
pós-exposição nos casos de contato de um suscetível com não pode ser administrada em imunodeprimidos. Esses
o vírus varicela-zóster: a vacinação de bloqueio e a admi- indivíduos, como é o caso do paciente do enunciado,
nistração de imunoglobulina humana antivaricela-zóster. não podem receber esta vacina, e, nesta situação, está
A vacina contra varicela pode ser administrada até cinco indicada a administração da imunoglobulina, preferencial-
dias após o contato e, pelo Ministério da Saúde, destina- mente até 96 horas após o contato com o caso-índice.
-se essencialmente aos controles de surto em ambiente Resposta: letra B.</p>
106 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

3 Comentário Quadro clássico de eritema


<p> </p> <p> lhidão. A região perioral é poupada e o aspecto da face
infeccioso, causado pelo Parvovírus B19. Importante é bastante sugestivo, denominado “cara de palhaço”
lembrar da aplasia de medula como complicação da ou “bochecha esbofeteada”. Sequencialmente, em 1 a
infecção por esse agente em pacientes com hemoglo- 4 dias, um exantema menos intenso acomete inicial-
binopatias, pois o vírus replica-se nos pronormoblastos, mente o tronco, progredindo para o segmento proximal
levando à lise celular e consequentemente anemia. O dos membros e finalmente estendendo-se ao segmento
eritema infeccioso é um quadro clínico bem definido na distal. O aspecto é reticular, assemelhando-se ao
literatura pediátrica. Caracteristicamente é reconhecido desenho de contornos geográficos; é visualizado prefe-
em crianças com idade entre 5 e 15 anos. O período rencialmente nas faces expostas dos membros. O desa-
prodrômico é geralmente assintomático, porém 5 a 10% parecimento do exantema ocorre em 1 a 4 semanas.
dos casos apresentam febre baixa, mal-estar, cefaleia, Pode ocorrer, então, a terceira fase da doença, em que
coriza e odinofagia discreta. O exantema, que define o o exantema sofre recidiva quando a criança é exposta
quadro, tem início nas bochechas com aspecto macular, a alguns estímulos, como exercício, estresse, calor ou
plano ou pouco elevado, confluente, de intensa verme- luz solar. Resposta: letra D.
</p>
107 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

4 Comentário O que deve chamar sua atenção


<p> </p> <p> oral, língua, palato e úvula. Logo após, se iniciam
nesta questão é a distribuição peculiar das lesões, bem máculas eritematosas que progridem para vesículas
característica da síndrome mão-pé-boca. Esta condição em faces plantares e interdigitais das mãos e pés.
relaciona-se com a infecção por diversos enterovírus, As lesões podem ser assimétricas, dolorosas e pruri-
mas o coxsackie A é o mais comum. O quadro clínico ginosas. Dentre as demais alternativas, a única que
foi bem característico, iniciando com pródromos ines- normalmente cursa com lesões de mucosa oral é o
pecíficos como febre baixa, fraqueza, falta de apetite e sarampo. No entanto, nesta doença o que encontramos
sintomas catarrais. Após um período de incubação que é um enantema característico: as manchas de Koplik.
varia de três a seis dias, surgem úlceras na mucosa Resposta: letra D.</p>
108 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

5 Comentário A varicela é resultado da primoin-


<p> </p> <p> adultos e incluem febre, mal-estar e cefaleia, precedendo
fecção pelo vírus varicela-zóster. Após a infecção inicial, o em 24-48 horas o início da erupção cutânea (opção C incor-
vírus estabelece uma infecção latente e a reativação leva reta). O exantema, quando surge, é facilmente reconhe-
ao quadro de herpes-zóster. O quadro de herpes-zóster é, cível e tem polimorfismo das lesões, que se apresentam
indiscutivelmente, mais comum em idosos. Porém, esta em vários estágios de desenvolvimento. Em relação às
apresentação também pode ocorrer em crianças menores, complicações dos casos de varicela, lembre-se de que as
especialmente quando a infecção pelo vírus tiver sido in- <em> infecções bacterianas secundárias cutâneas são as mais
traútero (opção A incorreta). A transmissão do vírus ocorre
</em> comuns. Porém, é possível haver o desenvolvimento de
pelo contato com as secreções orofaríngeas ou com os complicações neurológicas, tais como a síndrome de Reye
fluidos das lesões do indivíduo infectado. Após a infecção, (disfunção hepática com hipoglicemia e encefalite – associa-
segue-se um período de incubação com duração entre 10 -se principalmente com o uso de AAS em infecções pelo
e 21 dias (opção D incorreta). As manifestações da fase vírus varicela-zóster), mielite aguda e quadro de ataxia
prodrômica acometem principalmente crianças maiores e cerebelar (Letra B correta). Resposta: Letra B. </p>
109 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

6 Comentário Alguém peça para este pediatra


<p> </p> <p> pacientes com essa afecção, exatamente como ocorreu
parar de prescrever antibióticos para esta criança! Não nesta história. Outras alterações que podem estar
estamos diante de uma faringite estreptocócica, mas presentes no exame físico são a esplenomegalia e, num
de um grande diagnóstico diferencial: a mononucleose percentual menor das vezes, hepatomegalia. No caso
infecciosa. Na mononucleose infecciosa, associada tipi- temos mais uma dica: o chamado Sinal de Hoagland,
camente com o vírus Epstein-Barr, temos a presença um edema palpebral que pode estar presente em cerca
da tríade faringite, linfadenopatia generalizada e fadiga de 30% dos casos de mononucleose infecciosa. Não há
ou astenia. O surgimento de exantema após o uso de necessidade de qualquer tratamento específico, apenas
amoxicilina ou ampicilina está descrito na maioria dos sintomáticos. Resposta: letra D.
</p>
110 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

7 Comentário A escarlatina é uma doença bacte-


<p> </p> <p> tema da escarlatina. Anticorpos antitoxina estreptocócica
riana causada pelo Streptococcus pyogenes (estreptococo
<em> </em> surgem dando imunidade toxina-específica. Quem teve
beta-hemolítico do grupo A de Lancefield ), coco Gram-
<em> </em> escarlatina pela exotoxina A não mais fará escarlatina
-positivo que forma um arranjo em cadeias. Os principais por esta toxina, mas poderá ter escarlatina pelos outros
sorotipos que causam faringite são: 1, 12, 28, 3, 4, 2 e 6. dois tipos. O tratamento é feito com penicilinas: penicilina
O estreptococo que provoca o exantema da escarlatina G benzatina, penicilina V oral ou amoxicilina. Lembre-se
produz exotoxinas pirogênicas (ou toxinas eritrogênicas, de que, da mesma maneira que é feito no tratamento da
termos usados como sinônimos) A, B e C, geralmente em faringite estreptocócica, a duração do tratamento com
função da sua infecção por um bacteriófago. Existem três amoxicilina por via oral deve ter duração de 10 dias. A
tipos de exotoxina pirogênica estreptocócica: exotoxinas A, eritromicina é uma alternativa para os pacientes com
B e C. São toxinas secretadas pela bactéria, que ganham alergia às penicilinas, mas não é a droga de primeira
a corrente sanguínea, sendo as responsáveis pelo exan- escolha. Resposta: letra D. </p>
111 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

8 Comentário O parvovírus B19 é um vírus DNA


<p> </p> <p> errada), infecção fetal com hidropsia fetal e síndrome
de fita simples do gênero Erythrovirus da família Parvovi-
<em> </em> <em> de luvas e meias. O diagnóstico do eritema infeccioso
ridae. A infecção por esse agente é muito comum e mais
</em> se estabelece a partir da observação de um quadro que
da metade da população adulta apresenta evidências ocorre, classicamente, em três fases clínicas. A primeira
sorológicas de infecção prévia, que pode ter sido subclí- fase é marcada pelo aparecimento do exantema na face,
nica. As infecções sintomáticas são mais comuns entre os que confere ao paciente o aspecto de “face esbofeteada”.
cinco e os 15 anos de idade. Existem diversas doenças Essa erupção se dissemina para o resto do corpo, na
relacionadas com a infecção por esse agente, porém a forma de um eritema macular difuso. As lesões no resto do
mais comum é o eritema infeccioso, que recebe o nome corpo adquirem um clareamento central, dando à erupção
de quinta moléstia (na verdade, a banca equivocou-se cutânea um aspecto reticulado ou rendilhado. As lesões
ao dizer que o parvovírus é a quinta moléstia, pois esta é desaparecem espontaneamente, sem descamação. Tem
uma de suas manifestações, mas não briguemos por isso). início, então, a terceira fase da doença, que tem duração
Porém, além do eritema infeccioso, a infecção pelo parvo- de 1 a 3 semanas. O que caracteriza essa terceira fase
vírus B19 está associada com artropatia, crise aplásica é a recidiva do exantema em algumas circunstâncias,
transitória (em pacientes com anemia hemolítica), anemia como a exposição à luz solar, calor, exercícios e estresse.
persistente (em imunodeprimidos), miocardite (opção C Resposta: letra C.</p>
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9 Comentário Vejamos cada uma das opções.


<p> </p> <p> artrite idiopática juvenil na sua forma sistêmica caracteriza-
A opção A está errada; veja a maldade da banca: o sinal -se pela presença de artrite em uma ou mais articulações
de Pastia consiste em uma acentuação do exantema na acompanhada ou precedida por febre com duração de
área das dobras, não em uma palidez desta região. Uma pelo menos duas semanas acompanhada de exantema,
leitura desatenta poderia deixar passar esse pequeno e/ou linfadenopatia generalizada, e/ou hepato/espleno-
detalhe. A opção B está errada; ainda que as alterações megalia, e/ou serosite. A opção D, que foi o gabarito,
descritas sejam, de fato, encontradas na doença de Kawa- está certa; o eritema infeccioso consiste em uma doença
saki, sabemos que o ecocardiograma não é necessário exantemática que evolui em três fases. Na primeira fase
para o diagnóstico. Pelo contrário, o diagnóstico da forma há hiperemia malar (face esbofeteada ou face de palhaço),
clássica da doença de Kawasaki baseia-se apenas em na segunda surge o exantema rendilhado e, na terceira,
critérios clínicos, não sendo necessários exames comple- por um período de algumas semanas, ocorre a recidiva
mentares para sua confirmação. O ecocardiograma será, do exantema após a exposição a alguns fatores, como a
evidentemente, realizado, mas com o intuito de identificar exposição solar. E, finalmente, a opção E está errada; as
a mais temida complicação, que é a formação dos aneu- petéquias são alterações que, caracteristicamente, não
rismas coronarianos. A opção C também está errada; a desaparecem com a digitopressão. Resposta: letra D. </p>
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10 Comentário A presença de incapacidade de


<p> </p> <p> do tronco pode ser tão grave que a criança é incapaz de
deambular ou marcha cambaleante sugerem o diagnóstico ficar de pé ou sentar. O nistagmo horizontal é evidente
sindrômico de ataxia cerebelar, uma possível complicação em cerca de 50% dos casos e, se a criança é capaz de
pós-infecciosa associada a casos de varicela. A ataxia falar, pode haver disartria. O exame do liquor é tipicamente
cerebelar aguda ocorre principalmente em crianças de normal no início da ataxia; pode haver uma pleocitose
1-3 anos de idade, seguindo-se após uma doença viral, de linfócitos (10-30/mm³). A ataxia começa a melhorar
como a varicela, vírus Coxsackie, ou infecção echovirus.
<em> </em> <em> em algumas semanas. A incidência de ataxia cerebelar
Parece representar uma resposta autoimune ao agente aguda parece ter diminuído com o aumento das taxas de
viral que afeta o cerebelo. O início é súbito, e a ataxia vacinação contra a varicela. Resposta: letra C. </p>
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11 Comentário Como foi bem lembrado no


<p> </p> <p> casos de sarampo. A afirmativa 3 é falsa; uma caracte-
enunciado, no ano de 2014 tivemos centenas de casos rística marcante do sarampo é o fato de haver uma piora
de sarampo em nosso país, sendo a imensa maioria no dos sintomas coincidindo com o surgimento do exantema.
estado do Ceará. Isso reforça a ideia de que sempre Depois, de fato, começa a ocorrer melhora. Lembre-se,
devemos incluir essa afecção em nosso diagnóstico dife- porém, de que a tosse é a última manifestação clínica a
rencial diante de uma doença exantemática. Vejamos cada desaparecer. A afirmativa 4 é verdadeira; com o passar dos
uma das afirmativas. A afirmativa 1 é verdadeira; o vírus do dias, a erupção cutânea passa de vermelho para marrom-
sarampo é encontrado nas secreções respiratórias do indi- -acobreada e na fase de convalescença observamos o
víduo doente e pode ser transmitido através de aerossóis. surgimento de uma descamação furfurácea (na ocasião do
Um dado importante em relação à transmissão desse vírus concurso, alguns candidatos questionaram a descrição de
é o fato de que as partículas virais podem permanecer em uma descamação fina, mas uma descamação furfurácea é
suspensão no ar, mesmo após a saída do indivíduo doente uma descamação fina). E, por fim, a afirmativa 5 também
do ambiente, ou seja, mesmo sem o contato direto entre é falsa; a encefalite aguda é uma complicação encontrada
suscetível e doente, o contágio pode ocorrer. A afirma- em cerca de 0,1% dos casos de sarampo, ou seja, não
tiva 2 também é verdadeira; todas essas manifestações é frequente. Embora seja autolimitada e branda em um
são encontradas no período prodrômico, antecedendo percentual dos casos, pode levar a óbito ou ser causa
o surgimento da erupção cutânea. Vale lembrar que as de sequelas permanentes nos sobreviventes. Resposta:
manchas de Koplik são alterações patognomônicas dos Letra A.
</p>
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12 Comentário Nossa principal hipótese diag-


<p> </p> <p> oral (hiperemia de orofaringe), linfadenopatia cervical
nóstica para a criança deve ser a doença de Kawasaki, não supurativa, alterações nas extremidades (eritema
uma vasculite inflamatória de pequenos e médios vasos de mãos) e exantema polimorfo. O paciente deve ser
que cursa com uma síndrome febril exantemática. Seu internado e o tratamento tem como principal objetivo
diagnóstico é feito pela presença de um critério obri- reduzir a principal complicação da doença, que é a
gatório (febre alta com pelo menos 5 dias de duração) formação de aneurisma coronariano. Ele consiste em
somado a mais pelo menos 4 dos outros 5 critérios clás- AAS em dose anti-inflamatória (80-100 mg/kg/dia) e
sicos da doença. A criança possui o critério obrigatório depois como agente antiplaquetário (5 mg/kg/dia) e
(febre há mais de 5 dias) e mais todos os outros crité- imunoglobulina (2 g/kg em dose única, infusão contínua
rios: congestão ocular bilateral, alterações da cavidade por 12h). Resposta: letra C. </p>
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13 Comentário O que ocorreu em Fortaleza,


<p> </p> <p> oral. São máculas rodeadas por halo vermelho, com
e em todo o Ceará, ao longo do ano de 2015, data da fundo eritematoso difuso e que desaparecem em 24
prova? Um surto de sarampo. Centenas de casos foram a 48 horas após o início da erupção cutânea. Todas
confirmados e foi apenas no final do ano que tal surto as outras alterações descritas também são típicas do
encerrou-se. Apenas com essa informação epidemioló- período prodrômico da doença e esperamos o surgi-
gica tão importante, já deveríamos pensar neste diag- mento da erupção nas próximas horas ou dias. Vale
nóstico. Porém, o exame físico nos revela ainda mais: ressaltar que esta criança tem menos do que 1 ano de
O que está descrito neste enunciado nada mais são do idade, ou seja, sequer recebeu a primeira dose da vacina
que as manchas de Koplik. O sinal de Koplik é clás- para sarampo (ainda que ao longo de 2015 tenha sido
sico do sarampo e consiste em pontos branco-azulados feita a recomendação de que crianças entre 6 meses e
localizados na mucosa bucal na região próxima aos 1 ano que se deslocassem para o Ceará recebessem
molares, que, às vezes, se estendem a toda mucosa uma dose da vacina). Resposta: letra B. </p>
117 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

14 Comentário Preste atenção neste caso, pois


<p> </p> <p> espectro de doenças, sendo o eritema infeccioso a
ele é emblemático: estamos diante de um lactente com doença exantemática tipicamente associada ao quadro.
exantema súbito. A descrição de febre alta que desa- Já o vírus Epstein-Barr é o agente etiológico da mononu-
parece em crise e que é sucedida pelo surgimento de cleose infecciosa , que apresenta distribuição universal
<strong> </strong>

exantema no tronco é a caracterização típica dessa e ocorrência de forma endêmica, acometendo a maioria
condição. O quadro acomete, tipicamente, os lactentes, dos indivíduos até a idade adulta. E, por fim, o vírus
embora seja raro nos primeiros meses de vida, provavel- Coxsackie B está entre os agentes que causam as ente-
mente pela proteção dos anticorpos maternos. É também roviroses não polio. A maioria dos pacientes apresenta
conhecida como roséola infantum. Os principais agentes
<em> </em> infecções benignas, muitas delas assintomáticas ou com
são o Herpesvírus Humano 6 (HHV-6), um vírus DNA, e manifestações inespecíficas, tais como febre isolada,
o herpesvírus humano 7. O exantema é do tipo maculo- quadros exantemáticos, acometimento de diversos
papular, com lesões discretas de 2 a 3 cm de diâmetro, órgãos e sistemas, principalmente aparelho respira-
não coalescentes, que se assemelham as da rubéola. tório e trato gastrointestinal. Ocasionalmente ocorrem
Em geral, acomete inicialmente o tronco e, em seguida, síndromes clínicas características, como síndrome da
a face, a região cervical e a raiz dos membros, sendo mão-pé-boca, herpangina, pleurodínia, faringite aguda
de curta duração (24 a 72 horas), sem descamação ou linfonodular, conjuntivite aguda hemorrágica, meningites,
com discreta pigmentação residual. Vale lembrar que encefalites, miocardites e sepse neonatal. Resposta:
o parvovírus B19 é o agente etiológico de um amplo letra C.
</p>
118 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

15 Comentário Após uma breve leitura do caso,


<p> </p> <p> -se, tipicamente, com a infecção pelo vírus Epstein-Barr.
já é possível percebermos que esta adolescente apresenta É possível que outros agentes, como o toxoplasma e o
a tríade clássica da mononucleose infecciosa: astenia, citomegalovírus, causem uma síndrome mononucleose-
linfadenomegalia e faringite. A descrição da orofaringe até -like, mas com frequência menor. Um dado curioso, e que
<em> </em>

poderia nos fazer pensar em uma faringite estreptocócica e reforça a nossa suspeita, é a descrição do surgimento de
considerar a possibilidade de escarlatina. Porém, note que erupção cutânea após o uso da amoxicilina. Um percen-
há linfadenopatia generalizada, além de esplenomegalia. tual dos pacientes com mononucleose infecciosa pode
Estas alterações não são encontradas na escarlatina. apresentar um exantema, mas a maioria o fará após o uso
Lembre-se de que a mononucleose infecciosa relaciona- de amoxicilina ou ampicilina. Resposta: letra A. </p>
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16 Comentário Uma adolescente de 10 anos foi


<p> </p> <p> linfadenopatia generalizada e fadiga ou astenia. O
atendida para avaliação de uma faringite aguda e deve surgimento de exantema após o uso de amoxicilina
ter recebido o diagnóstico de uma faringite estreptocó- ou ampicilina está descrito na maioria dos pacientes
cica, o que justificaria o tratamento com a amoxicilina. com essa afecção. Outras alterações que podem estar
Porém, 72 horas após, não teve qualquer melhora. Será presentes no exame físico são a esplenomegalia e, em
que estamos diante de um estreptococo resistente ao um percentual menor das vezes, hepatomegalia. Ainda
antibiótico prescrito? Calma! O mais provável é que o que não tenhamos tudo isso nesta história, temos mais
diagnóstico desta jovem seja o de uma condição que uma dica: o chamado Sinal de Hoagland, um edema
comumente é confundida com a faringite estreptocó- palpebral que pode estar presente em cerca de 30%
cica, que é a mononucleose infecciosa. Na mononu- dos casos de mononucleose infecciosa. Não há neces-
cleose infecciosa, associada tipicamente com o vírus sidade de qualquer tratamento específico, apenas sinto-
Epstein-Barr, temos a presença da tríade faringite, máticos. Resposta: letra B. </p>
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17 Comentário A avaliação da criança com


<p> </p> <p> os menores de 3 meses. Diversos protocolos buscam
febre é um desafio diário na prática pediátrica. Um propor uma forma de identificarmos as crianças que
percentual significativo das crianças atendidas com apresentam febre e que devem ser submetidas à
febre não terá uma causa identificada para a febre após avaliação com exames complementares para avaliação
a anamnese e o exame físico. Grande parte dessas do risco ou diagnóstico de alguma infecção bacteriana
crianças terá somente uma doença benigna e auto- oculta. Os principais protocolos recomendam que nas
limitada e a febre irá desaparecer após alguns dias, crianças com idade entre 3 e 36 meses, como no caso
sem a necessidade de qualquer intervenção. Porém, em questão, não sejam realizados exames caso a
algumas crianças podem ter como causa da febre febre seja inferior a 39ºC, como a banca fez questão
alguma infecção bacteriana e a demora no diagnóstico de destacar. Por essa razão, poderíamos tão somente
dessa infecção poderá acarretar em piora no prognós- acompanhar essa criança, pois a anamnese e o exame
tico. Essa preocupação é especialmente importante físico indicaram que não há febre elevada e que no
no atendimento dos lactentes menores, principalmente momento não há sinais de alerta. Resposta: Letra D. </p>
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18 Comentário O quadro clínico do sarampo


<p> </p> <p> há descamação). A prevenção pós-exposição dos susce-
é caracterizado por pródromos de febre, tosse, coriza tíveis deverá ser realizada com o bloqueio vacinal em
e conjuntivite, além de enantema (Manchas de Koplik). até 72 horas após a exposição (opção B errada) ou com
Posteriormente, o paciente apresenta exantema morbi- imunoglobulina padrão em até seis dias após a exposição
liforme que surge na linha de implantação do cabelo e (a imunoglobulina é indicada, essencialmente, para os
apresenta progressão craniocaudal lenta. Quando este menores de seis meses, gestantes e imunodeprimidos).
exantema desaparece, dá lugar a uma descamação furfu- Vale lembrar que o eritema malar é tipicamente encontrado
rácea (opção D errada; o exantema pode escurecer, mas no eritema infeccioso. Resposta: letra C. </p>
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19 Comentário Questão bem típica dentro do


<p> </p> <p> fases típicas dessa doença: na primeira fase, há eritema
tema “doenças exantemáticas”. O enunciado é curto, mas malar (sinal da face esbofeteada); na segunda fase, há
traz as informações necessárias para que possamos, exantema reticulado ou rendilhado mais exuberante nas
dentre as opções fornecidas, estabelecer o diagnós- superfícies extensoras; e na terceira fase há o desapare-
tico mais provável. Em primeiro lugar, preste atenção cimento do exantema com reaparecimento após fatores
na seguinte pista: a situação vacinal é desconhecida. É desencadeantes, como sol, exercício e calor. Já para o
claro que ter histórico de vacinação contra um agente diagnóstico de escarlatina, teríamos a descrição de um
não é o suficiente para esta possibilidade ser afastada, exantema em lixa e dos sinais clássicos (sinal de Filatov e
mas sempre que as bancas dão essa informação, querem sinal de Pastia), além da língua em morango e de outros
reforçar a possibilidade de alguma doença imunopreve- comemorativos da faringite estreptocócica. O diagnós-
nível. O quadro é sugestivo de rubéola, como indicado tico de exantema súbito, por sua vez, não é tipicamente
na definição de caso suspeito do Ministério da Saúde: observado em crianças de seis anos, sendo encontrado
“Todo paciente que apresentar febre e exantema macu- em lactentes; além disso, temos o surgimento do exan-
lopapular, acompanhado de linfadenopatia retroauricular, tema ocorrendo tipicamente após o desaparecimento
occipital e/ou cervical, independentemente de idade e de febre alta. E, por fim, para pensarmos em sarampo,
situação vacinal”. A descrição das petéquias no palato deveríamos ter outros dados nesta história, como a tosse
também é compatível com esse diagnóstico e recebe e a conjuntivite com fotofobia. Além disso, na cavidade
o nome de manchas de Forchheimer. Para pensarmos oral encontraríamos as manchas de Koplik, não essas
em eritema infeccioso, deveríamos ter a descrição das lesões petequiais. Resposta: letra D. </p>
123 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

20 Comentário Para responder as questões


<p> </p> <p> dobras. A banca deveria ter descrito as características do
sobre doença exantemática, temos sempre que levar em enantema de mucosa oral, mas não o fez. De todo modo,
consideração o padrão do exantema e os demais sintomas temos duas informações importantes: a acentuação do
associados a ele. Percebam que o menor apresentou febre exantema em regiões de dobras e a palidez perioral. Estas
com sintomas inespecíficos, o que nos direciona a nenhum características descrevem, respectivamente, o sinal de
diagnóstico específico, porém apresentou enantema da Pastia e de Filatov, encontrados nos casos de escarlatina.
mucosa oral e exantema mais proeminente em regiões de Resposta: letra B. </p>
124 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

21 Comentário Questão bem simples, pois


<p> </p> <p> ficas. Esta febre dura poucos dias e desaparece de forma
descreveu de forma típica uma doença exantemática súbita (em crise), sendo sucedida pelo aparecimento de
característica do lactente: o exantema súbito. O exan- um exantema maculopapular, inicialmente no tronco. Uma
tema súbito relaciona-se com a infecção pelo herpesvírus das complicações que pode ocorrer nestes pacientes é
humano tipo 6 ou, menos comumente, tipo 7. O quadro uma convulsão, exatamente como no caso descrito. Os
é caracterizado pela presença de febre alta na fase episódios de convulsão podem estar presentes em até
prodrômica, que não costuma ser associada às outras um terço das crianças com exantema súbito. Resposta:
manifestações ou associa-se às manifestações inespecí- Letra E.
</p>
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22 Comentário Analisando o caso, conse-


<p> </p> <p> viral é o dado sorológico mais específico e de maior
guimos perceber que esse adolescente apresenta a valor para o diagnóstico na fase aguda, sendo utilizado
tríade clássica da mononucleose infecciosa: astenia, como confirmação, o que caracteriza a opção B como
linfadenomegalia e faringite. O exame da orofaringe a resposta correta. A infecção pelo citomegalovírus
poderia nos fazer pensar em uma faringite estreptocó- pode levar a uma síndrome mononucleose- like . Nesta
<em> </em>

cica. Porém, reparem que o quadro já apresenta dez condição, em contraste com o observado na citome-
dias de evolução e temos o relato de outros achados galia congênita, também é possível encontrarmos atipia
que não fazem parte deste diagnóstico, como a espleno- linfocitária. Assim, a confirmação etiológica depende
megalia. À luz do diagnóstico de mononucleose, vamos fundamentalmente da confirmação sorológica, tornando
analisar as opções. A opção A está incorreta, uma vez errada a opção C. Os achados clássicos no hemograma
que os anticorpos para os antígenos nucleares do vírus do paciente com mononucleose infecciosa são a leuco-
Epstein-Barr são os últimos a se desenvolverem nos citose com linfocitose e atipia linfocitária. Mais de 90%
episódios de mononucleose, seus títulos começam a dos pacientes com infecção pelo EBV apresentam
ascender gradualmente somente após três ou quatro leucocitose (10.000-20.000 céls/mm³) sendo 2/3 de
meses após o início dos sintomas, não podendo, linfócitos, sendo um grande percentual (20 a 40%) de
assim, ser utilizados no diagnóstico da doença aguda. linfócitos atípicos. Não há descrição de monocitose, o
A detecção dos anticorpos da classe IgM anticapsídeo que torna incorreta a opção D. </p>
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23 Comentário A presença de vesículas nas


<p> </p> <p> Diversos agentes etiológicos podem estar associados
regiões descritas (mão, pé, boca e nádegas), principal- ao quadro, mas o mais comum é o vírus coxsackie A16;
<em> </em>

mente se associada a sinais inespecíficos, como febre alta os outros possíveis agentes incluem o enterovírus A71,
e alteração no padrão de evacuações, nos leva a apenas outros coxsackie A, coxsackie B. Os quadros de varicela
<em> </em> <em> </em>

uma hipótese: a síndrome mão-pé-boca. Na síndrome ou entram no diagnóstico de exantemas com úlceras, bem
doença mão-pé-boca são observadas lesões papulovesi- como as infecções pelos vírus herpes-simplex. Porém,
culosas com eritema subjacente, que atingem pés e mãos, não encontramos nesses casos um padrão de distribuição
associadas às lesões orais e faringotonsilares. As lesões de lesões como o descrito na síndrome mão-pé-boca. A
encontradas na cavidade oral consistem em vesículas manifestação exantemática tipicamente encontrada na
distribuídas pela língua, mucosa bucal, faringe posterior, infecção pelo parvovírus é o eritema infeccioso, que cursa
gengiva e lábios. Essas vesículas levam à formação de com lesões eritematosas maculopapulares nas extremi-
pequenas úlceras envoltas por um halo de hiperemia.
<em> </em> dades, não com lesões vesiculares. Resposta: letra D. </p>
127 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

24 Comentário A criança com anemia falciforme


<p> </p> <p> agente implicado é o parvovírus B19. Lembre-se de que
pode apresentar diferentes tipos de crises anêmicas, situa- este agente infecta e destrói os precursores eritroides
ções nas quais há uma intensa acentuação da queda nos na medula óssea, causando a interrupção temporária da
níveis de hemoglobina. Uma dessas crises é a crise aplá- eritropoiese. Isso ocorre em todos os indivíduos infec-
sica, caracterizada por uma interrupção da eritropoiese. tados por esse vírus, mas tem repercussões mais graves
Essa crise tem como característica o fato de apresentar nos falcêmicos, por conta do maior turnover eritrocitário.
<em> </em>

queda na hemoglobina com reticulocitopenia. O principal Resposta: letra A.</p>


128 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

25 Comentário A escarlatina é causada pelo


<p> </p> <p> febre reumática. No entanto, não existe indicação de
estreptococo beta-hemolítico do grupo A. O tratamento profilaxia pós-contato, devendo a mãe ficar atenta ao
de escolha é a administração de Penicilina G Benzatina surgimento de qualquer sinal ou sintoma, procurando
por via intramuscular com o intuito de reduzir o tempo atendimento médico se houver necessidade. Resposta:
de doença, reduzir a transmissibilidade e prevenir a letra B.
</p>
129 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

26 Comentário As neoplasias hematológicas,


<p> </p> <p> mialgia sempre deve nos remeter a esta doença, causada
indiscutivelmente, devem entrar no diagnóstico diferen- pelo vírus Epstein-Barr. Esta hipótese diagnóstica fica
cial do caso apresentado. Porém, após a realização do ainda mais evidente quando encontramos linfocitose
hemograma, tal hipótese tornou-se menos provável. a custa de linfócitos atípicos, que são característicos
Ainda que a história não tenha sido das mais típicas, pois desta condição. Essas células correspondem aos linfó-
não há o relato de faringite, a mononucleose infecciosa citos T CD8+ ativados. Na coqueluche, que entraria no
surge, dentre as opções, como a melhor justificativa para diagnóstico diferencial pela história de tosse, teríamos
o quadro deste jovem. A presença de linfadenopatia em os paroxismos de tosse com guincho e não há atipia
paciente jovem, acompanhada por febre, mal-estar e linfocitária, apenas linfocitose. Resposta: letra D. </p>
130 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

27 Comentário A varicela é doença exantemática


<p> </p> <p> da lesão, um sinal que pode sugerir a infecção bacteriana
comum em crianças, principalmente entre as não vacinadas secundária. Outro dado que pode sugerir a infecção bacte-
(numerosas em nosso meio), de gravidade variável, em riana é a recrudescência da febre cerca de 3 ou 4 dias após
geral autolimitada. As infecções bacterianas da pele são o início do exantema. Em crianças imunocompetentes com
as complicações mais comuns, chegando a acometer até varicela, a pneumonia (colocada na opção A para tentar
5% das crianças doentes (resposta: letra B), geralmente enganar o candidato) não é uma complicação comum. A
decorrentes da infecção pelo estreptococo do grupo A ou pneumonia é uma complicação grave, que é responsável
pelo S. aureus. É importante que avaliemos na consulta
<em> </em> por grande parte da mortalidade e morbidade da doença
do paciente com varicela a presença de eritema na base em adultos e outras populações de risco. </p>
131 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

28 Comentário Questão simples sobre agentes


<p> </p> <p> infeccioso é causado pelo parvovírus B19, membro
etiológicos de algumas doenças exantemáticas. O da família Parvoviridae e do gênero Erythrovirus . E,
<em> </em> <em> </em>

sarampo é causado por um vírus RNA da família Pa- <em> por fim, o exantema súbito é causado, na maioria das
ramyxoviridae , do gênero Morbillivirus . O vírus da
</em> <em> </em> vezes, pelo herpesvírus humano 6, podendo também
rubéola também é um vírus RNA, porém pertencente à ser causado pelo herpesvírus 7. Esses são membros do
família Togaviridae e ao gênero Rubivirus . A escarlatina
<em> </em> <em> </em> gênero Roseolovírus da família dos herpesvírus. Desta
<em> </em>

tem como agente etiológico o Streptococcus pyogenes<em> forma, a sequência correta é: 4, 5, 3, 2, 1. Resposta:
(estreptococo beta-hemolítico do grupo A). O eritema
</em> Letra C. </p>
132 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

29 Comentário Vejamos cada uma das afir-


<p> </p> <p> da escarlatina. No eritema infeccioso temos aquela
mativas. Opção A: CORRETA. A escarlatina apresenta apresentação em 3 estágios, sendo o primeiro deles
início agudo com febre alta, calafrios, vômitos, cefaleia, caracterizado por exantema em face com aspecto de
prostração, amigdalite e dor abdominal. Em 24 a 48 face esbofeteada. Opção D: INCORRETA. A doença
horas, costuma haver o surgimento do exantema, de de Kawasaki é caracterizada por ser uma vasculite de
aspecto eritematoso e micropapular. A pele tem uma vasos de médio calibre, acometendo, principalmente,
textura áspera e semelhante a uma lixa. Pode haver, artérias coronárias, podendo haver evolução para aneu-
ainda, a presença dos clássicos sinais de Pastia (acen- rismas, tromboses, estenoses e quadros de infarto e
tuação do exantema em superfícies flexurais) e Filatov óbito. Opção E: INCORRETA. O eritema infeccioso é
(palidez peribucal). Opção B: INCORRETA. O exan- a manifestação mais comum da infecção pelo Parvo-
tema da escarlatina se inicia no tórax e se dissemina vírus B19 e, durante a sua viremia, o paciente apre-
em direção ao pescoço e aos membros, poupando senta febre, mal-estar e rinorreia. A crise aplásica é
palmas e plantas. Opção C: INCORRETA. É importante outra manifestação clínica da infecção pelo Parvovírus
não confundir os sinais e sintomas entre as doenças B19, consiste em uma condição transitória, que se dá
exantemáticas. Os sinais de Filatov (palidez perioral nos indivíduos com anemia hemolítica crônica, levando
com bochechas eritematosas) e de Pastia (exantema ao agravamento da anemia. O quadro crônico pode se
intensificado nas regiões flexurais) são característicos estabelecer em imunossuprimidos. Resposta: letra A. </p>
133 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

30 Comentário Questão bastante objetiva sobre


<p> </p> <p> leve é destacado pela palidez perioral (Sinal de Filatov).
as doenças exantemáticas. Vamos rever: 1 - “Lesões Além disso, a orofaringe encontra-se hiperemiada, as
exantemáticas com polimorfismo regional”: característico papilas linguais edemaciadas e avermelhadas, o que
da varicela. Questão de pediatria com lesões em variados confere à língua um aspecto de framboesa ou morango.
estágios de evolução e vesículas: pensar imediatamente 3 - “O agente etiológico é o Togavírus”: rubéola. A rubéola
neste diagnóstico! Essa doença, ainda muito comum é uma doença exantemática aguda, de etiologia viral, que
em nosso meio, inicia-se com sintomas prodrômicos apresenta alta contagiosidade. Seu agente infeccioso é um
leves, e segue com lesões inicialmente em couro cabe- vírus pertencente ao gênero rubivírus, família Togaviridae.
<em>

ludo, face e tronco, com máculas eritematopruriginosas, O quadro clínico é caracterizado por exantema maculo-
que evoluem para pápulas e vesículas. Enquanto as papular difuso, iniciando-se na face, couro cabeludo e
lesões iniciais tornam-se crostosas, novas se formam, pescoço, espalhando-se, posteriormente, para o tronco
desenhando a principal característica da varicela: o e membros. Além disso, apresenta febre baixa e linfa-
polimorfismo regional. 2 - “Sinal de Filatov”: escarlatina. denopatia retroauricular, occipital e cervical, geralmente
A escarlatina consiste em uma infecção do trato respi- antecedendo ao exantema no período de 5 a 10 dias,
ratório superior (na maior parte das vezes) associada a podendo perdurar por algumas semanas. Os números 4
uma erupção cutânea característica. O quadro é causado e 5 não apresentam correlação com as doenças descritas
pelo estreptococo do grupo A (Streptococcus pyogenes).
<em> nas lacunas. A afirmativa 4, “O agente etiológico é o
A erupção cutânea geralmente começa no pescoço e Myxovírus”, diz respeito ao vírus do sarampo; já a afir-
dissemina para corpo e membros, poupando região mativa 5, “Lesões exantemáticas de aspecto rendilhado”,
palmoplantar, caracterizada por pápulas eritematosas diz respeito ao quadro de eritema infeccioso associado
puntiformes com aspecto de lixa. Nas pregas cutâneas, ao parvovírus B19. Assim, o preenchimento correto das
o exantema se intensifica (Sinal de Pastia), e o rubor facial lacunas é o exposto na opção C. </p>
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31 Comentário Esta questão abordou um diag-


<p> </p> <p> febre temos apenas as alterações oculares, na cavidade
nóstico diferencial que é comum na vida e mais comum oral e o exantema. Porém, é muito mais provável que o
ainda nos concursos: a distinção entre a escarlatina quadro desta criança seja de doença de Kawasaki do
e a doença de Kawasaki. Sabemos que a doença de que de escarlatina! Na escarlatina não há conjuntivite. A
Kawasaki tem seu diagnóstico estabelecido a partir idade do paciente não é uma idade comum de escarla-
da observação de alguns critérios clínicos. Ainda está tina (mais comum após os cinco anos, como a faringite
lembrado deles? O primeiro é um critério obrigatório, que estreptocócica - opção C incorreta). Assim, pensando que
é a presença de febre alta há pelo menos cinco dias (no o diagnóstico mais provável é o de doença de Kawasaki,
caso descrito, a febre já dura uma semana). Além deste chegamos à resposta: letra E. A complicação mais temida
critério obrigatório, são necessários mais quatro de cinco desta doença é justamente a formação dos aneurismas
possíveis alterações, que são: conjuntivite não exsuda- coronarianos. O tratamento com imunoglobulina intra-
tiva, alterações na cavidade oral (como lábios fissurados venosa (opção A incorreta) deve ser instituído o mais
ou língua em framboesa), adenomegalia cervical, exan- precocemente possível justamente para reduzir o risco
tema (que pode ter vários aspectos, exceto vesicular) deste evento. Vale lembrar que a irritabilidade é uma alte-
e alterações nas extremidades (edema e eritema nas ração comumente encontrada nessas crianças e que um
mãos e pés na fase aguda e descamação na fase suba- achado laboratorial típico é a presença de trombocitose
guda). Olhando o caso descrito, vemos que ainda não são a partir da segunda semana de doença (opções B e D
encontrados todos os critérios necessários, pois além da incorretas). Resposta: letra E. </p>
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32 Comentário A pequena Beatriz tem apenas


<p> </p> <p> (ainda que nem todas tenham desenvolvido o quadro
10 meses e, após apresentar febre alta por quatro dias, de exantema súbito). Na fase prodrômica, o paciente
evoluiu com o surgimento de um exantema maculopa- apresenta febre alta e pode ter manifestações inespecí-
pular róseo. A redação do enunciado nos leva a crer ficas, como conjuntivite e coriza. A febre costuma durar
que o desaparecimento da febre tenha ocorrido após o 72 horas e desaparece de forma súbita (“em crise”).
aparecimento das lesões cutâneas. Ainda assim, nossa Após o desaparecimento da febre, surge exantema
principal hipótese continuará sendo a de exantema maculopapular no tronco, que sofre progressão centrí-
súbito ou roséola infantil. O quadro está tipicamente fuga. Eventualmente, o desaparecimento da febre pode
associado com a infecção pelo herpesvírus humano tipo coincidir com o surgimento do exantema. Porém, não
6. A condição é mais comum nos primeiros 2 anos de encontramos aquilo que é comum, por exemplo, no
vida e estima-se que até 95% das crianças tenham sido sarampo, que é uma piora da febre com o surgimento
infectadas pelo herpesvírus humano 6 até essa idade do exantema. Resposta: letra C. </p>
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33 Comentário Esta questão aborda de forma


<p> </p> <p> de que o paciente esteja com sarampo, ele já estará
bem prática o conceito relacionado à transmissibilidade do eliminando o vírus em suas secreções respiratórias e
sarampo. Sabemos que o período exato de incubação ou infectando os suscetíveis. No livro Nelson - Tratado de
de transmissibilidade dos vários agentes infecciosos que Pediatria, encontramos a descrição de que a transmissão
causam doenças exantemáticas pode variar bastante na ocorre de três dias antes até quatro ou seis dias após o
literatura. Porém, tenha certeza do seguinte: a transmissão início da erupção cutânea. Porém, em materiais do Minis-
começa a ocorrer mesmo antes da fase exantemática, tério da Saúde, por exemplo, é dito que a transmissão
ainda no período prodrômico (ainda que seja maior de dois pode ter início até seis dias antes do exantema. O fato é
dias antes até dois dias após o surgimento da erupção). que as manifestações prodrômicas indicam que o vírus já
Este é um dos grandes problemas relacionados com o está se disseminando para todas as superfícies corporais,
controle da doença, pois mesmo antes de suspeitarmos podendo então ser eliminado. Resposta: letra D. </p>
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41 Questão
<p>
</p>

</em></p>

GABARITO OFICIAL: Exantema Súbito, Roséola ou sexta doença. <p>

34 Comentário Estamos atendendo uma criança


</p> principal doença exantemática que traz a associação
com pouco mais de dois anos que apresentou um de febre alta com desaparecimento sucedido pelo
quadro de febre alta sem a associação de nenhuma surgimento de exantema maculopapular é o exantema
outra alteração em um momento inicial. Logo após súbito ou roséola infantil. Os quadros de dengue
o desaparecimento da febre, o que ocorreu? Este também podem ter uma associação parecida, mas o
pré-escolar apresentou o surgimento de um exantema paciente costuma ter outras queixas álgicas, que podem
maculopapular, que pode ser observado na imagem surgir na criança menor sob a forma de irritabilidade ou
mostrada pela banca. Diagnóstico simples e direto: a choro constante. </p>
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35 Comentário Estamos diante de um pré-escolar


<p> </p> <p> que há de mais típico na varicela não é apenas a descrição
com uma doença exantemática e devemos seguir sempre de um exantema vesicular, mas sim a descrição de lesões
o mesmo caminho: identificar as alterações típicas, que em diferentes estágios evolutivos (máculas, pápulas, vesí-
permitem o diagnóstico diferencial das diversas doenças culas e crostas), caracterizando o pleomorfismo tipica-
exantemáticas clássicas da infância. Busquemos, neste mente encontrado nessa afecção. Na época do concurso,
enunciado, o que pode haver de mais característico. alguns candidatos até indagaram se seria possível pensar
Bom, a única coisa um pouco característica é a descrição em varicela sem esse pleomorfismo, mas não “brigue com
de lesões vesiculares, não é mesmo? Qual é a única a questão”. Em nenhuma das outras condições teremos
condição, dentre as listadas, que pode cursar com um vesículas. Assim, nossa única possibilidade é varicela.
exantema vesicular? É a varicela, claro! Sabemos que o Resposta: Letra E. </p>
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36 Comentário Protótipo de questão sobre


<p> </p> <p> lesões papulovesiculares, polimórficas” só nos permite
doenças exantemáticas. Se você conhece as principais uma possibilidade: varicela. A varicela é causada pelo
características de cada uma delas, é impossível errar. A vírus varicela-zóster e o diagnóstico clínico é estabele-
descrição de uma doença cujo “exantema coincide com cido essencialmente pelas alterações encontradas na
desaparecimento da febre” nos remete imediatamente fase exantemática. O paciente apresenta o surgimento
ao diagnóstico de exantema súbito. Essa condição está de novas lesões cutâneas enquanto a viremia persiste.
associada à infecção pelo herpesvírus humano tipo 6 ou, Cada uma das lesões passa por diversos estágios evolu-
menos comumente, tipo 7. É uma doença exantemática tivos: máculas, pápulas, vesículas, pústulas e crostas.
típica dos lactentes. O quadro clínico é caracterizado pela O surgimento de novas lesões em períodos diferentes
presença de febre elevada associada à manifestações faz com que o paciente apresente lesões distintas em
pouco específicas na fase prodrômica; a febre tipicamente um mesmo momento, o que leva ao típico polimorfismo
desaparece de forma súbita (“em crise”) e é sucedida pelo regional encontrado nessa doença. E, por fim, a descrição
aparecimento do exantema maculopapular, que surge de “febre, conjuntivite, sintomas catarrais, exantema
inicialmente no tronco. A presença de “febre, exantema e morbiliforme” aponta para o diagnóstico de sarampo. O
linfadenomegalia” indica o diagnóstico de rubéola; sempre vírus do sarampo é um paramixovírus e causa lesão no
que você estiver diante de uma doença exantemática epitélio respiratório. Por esse motivo, essa doença apre-
com adenomegalia retroauricular e occipital, pense na senta manifestações respiratórias muito exuberantes,
rubéola como a principal hipótese diagnóstica. Os demais como tosse intensa. Além disso, o exantema é descrito
dados clínicos da rubéola não são muito característicos como um exantema morbiliforme; há lesões maculopa-
e pouco nos ajudam em nosso raciocínio diagnóstico. A pulares com tendência à confluência e áreas de pele sã
descrição de um “exantema de distribuição centrípeta, de permeio. A sequência correta está no gabarito: letra A. </p>
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37 Comentário Primeira pergunta: qual o diag-


<p> </p> <p> framboesa ou hiperemia oral e faríngea); adenomegalia
nóstico deste pré-escolar? Ainda que não tenhamos a cervical (> 1,5 cm); exantema polimorfo; e alterações nas
descrição de todos os critérios, você deve ter percebido extremidades (na fase aguda há eritema e edema nas
que essa criança apresenta características da doença de regiões palmoplantares). Porém, mesmo sem a presença
Kawasaki, não é mesmo? O diagnóstico é estabelecido de todos os critérios necessários, podemos tentar estabe-
a partir da identificação de alguns critérios clínicos. O lecer o diagnóstico da forma atípica ou incompleta. Nestes
primeiro critério, que é obrigatório, é a presença de febre casos, além da febre, o paciente poderá ter apenas mais
alta por pelo menos cinco dias. Além disso, o paciente dois ou três critérios e algumas alterações na avaliação
deve apresentar mais quatro de cinco possíveis critérios, complementar. A presença de alterações ecocardiográficas
são eles: conjuntivite bilateral não exsudativa; alterações permite o estabelecimento do diagnóstico e início do trata-
na cavidade oral (eritemas, fissuras labiais, língua em mento nesses casos (opção D correta). Resposta: letra D. </p>
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38 Comentário O enunciado nos apresenta


<p> </p> <p> e não costuma cursar com enantema. Portanto, o diag-
um escolar com uma síndrome exantemática caracteri- nóstico é único: varicela. Segundo ponto: é necessário
<em>

zada por febre, lesões vesiculares em pele e enantema tratar? A resposta é SIM. “Sim”, porque o paciente é o
</em>

(lesões ulceradas em mucosa). Dentre as opções, a segundo caso do domicílio, tendo, portanto, maior risco
única virose que cursa com vesículas cutâneas gene- de evoluir com gravidade (maior exposição viral). O uso
ralizadas é a varicela. O herpes causa vesículas agru- de corticoide inalatório não confere imunodepressão
padas, geralmente localizadas em orofaringe ou lábios. ao paciente e também é uma das possíveis indica-
As enteroviroses, como coxsackiose, cursam com ções para o tratamento com aciclovir. A precaução
úlceras pequenas em orofaringe ou lesões papulares contra o vírus da varicela é por contato e por via aérea.
em mãos e pés. A estafilococcia cursa com febre alta,
<em> </em> Resposta: letra A.</p>
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39 Comentário A banca quis testar o grau de


<p> </p> <p> que outra alternativa seria possível? Para pensarmos
certeza do candidato em relação à definição de um em adenovirose, deveria haver a associação da farin-
caso suspeito de rubéola. Veja só o que diz o Ministério gite com a adenopatia (que costuma ser pré-auricular,
da Saúde: ”caso suspeito de rubéola é todo paciente
<em> na febre faringoconjuntival) e, além disso, não costuma
que apresente febre e exantema maculopapular, acom- haver exantema associado. Para pensarmos em eritema
panhado de linfadenopatia retroauricular, occipital e infeccioso, esperaríamos a descrição das típicas fases
cervical, independente da idade e situação vacinal” . É
</em> da doença: eritema malar (face esbofeteada), exantema
exatamente isso! Mesmo com a história vacinal completa, rendilhado e recidiva do exantema durante algumas
a associação dos achados descritos no caso nos permite semanas. E, por fim, a varicela caracteriza-se por exan-
estabelecer a suspeita diagnóstica de rubéola. Lembre- tema vesicular, com pleomorfismo regional (lesões em
-se sempre de que a vacina não irá oferecer proteção diferentes estágios evolutivos). Muitos candidatos recla-
para 100% dos indivíduos. Deve ser feita a notificação maram, na ocasião do concurso, do fato de a banca ter
e investigação do caso, para confirmação ou descarte frisado que a situação vacinal estava em dia, mas a
do mesmo. Mesmo que tivéssemos dúvidas em relação banca está correta: isso não afasta a caracterização do
à possibilidade de rubéola em um indivíduo vacinado, caso suspeito. Resposta: letra C. </p>
143 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

40 Comentário Vejamos cada uma das afirma-


<p> </p> <p> observamos linfadenopatia generalizada, faringite, hepa-
tivas. A primeira é verdadeira; as enteroviroses não polio toesplenomegalia e exantema maculopapular, principal-
(infecções por Coxsackie A, B e Echovírus) podem acar- mente em pacientes que tenham feito uso de ampicilina
retar em doença febril inespecífica que pode ser acompa- ou amoxicilina. A quarta e a quinta afirmativas são falsas;
nhada por exantemas diversos: maculopapulares, pete- o eritema infeccioso tem quadro clínico que evolui em
quiais ou vesiculares. Também podem causar a doença três fases. A primeira fase consiste no aparecimento de
mão-pé-boca, a herpangina, conjuntivite hemorrágica, exantema em face, principalmente em bochechas, conce-
miocardite, meningite viral, encefalite e diversas mani- dendo o aspecto de “face esbofeteada”. Na segunda fase,
festações respiratórias. A segunda afirmativa também é o exantema se dissemina simetricamente pelo tronco e
verdadeira; o exantema súbito é caracterizado por história membros, tomando aparência rendilhada e poupando
de lactente apresentando febre alta com surgimento palmas e plantas (daí o erro da afirmativa). As lesões
súbito de exantema após o desaparecimento da febre. desaparecem sem descamação. A terceira fase ocorre
O exantema é róseo, maculopapular e não pruriginoso, quando, após a melhora clínica, há o reaparecimento do
de início no tronco, com disseminação posterior para exantema após estresse, exposição ao sol ou exercício
pescoço, face e extremidades. A criança pode também extenuante. Já em relação à dengue, temos que as mani-
apresentar hiperemia em orofaringe, adenopatia e o início festações clínicas da forma clássica incluem febre alta de
abrupto da febre alta pode acarretar crises convulsivas súbito início, náuseas, vômitos, cefaleia, mialgia, artralgia
febris. A terceira afirmativa é a última verdadeira; o quadro e dor retro-orbitária. O rash característico é maculopa-
<em> </em>

clínico da mononucleose consiste em febre prolongada, pular, acometendo face, tronco e membros, palmas e
mal-estar, cefaleia, náuseas, dor abdominal, mialgia, plantas, podendo ser acompanhado de prurido. Não há
dor de garganta e edema palpebral. Ao exame físico, exantema vesicular. Resposta: Letra E. </p>
144 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

41 Comentário Temos uma criança com quadro


<p> </p> <p> ou elevada, com predomínio de neutrófilos e formas
clássico de doença de Kawasaki: febre alta, com cinco imaturas. Anemia normocítica e normocrômica também
dias ou mais, hiperemia conjuntival bilateral, eritema e é comum. Provas de atividade inflamatória inespecíficas,
edema palmar e plantar, exantema polimorfo, hiperemia como PCR e VHS, normalmente estão aumentadas; pleo-
da mucosa oral e faríngea. Ainda que esta criança não citose do liquor pode estar presente, assim como discreta
tenha apresentado adenomegalia, lembre-se de que é elevação de enzimas hepáticas e hiperbilirrubinemia. O
necessária a presença de apenas cinco critérios (sendo tratamento desses pacientes é o uso de imunoglobulina
a febre um critério obrigatório) para que seja estabele- intravenosa (2 g/kg) e doses anti-inflamatórias de AAS
cido o diagnóstico. Outras alterações que podem ocorrer (80-100 mg/kg/dia, divididos a cada seis horas). Esse
na doença são piúria estéril, artrite, hepatite leve, e tratamento reduz significativamente o risco de doença
outras. Na doença de Kawasaki, a leucometria é normal coronariana nesses pacientes. Resposta: letra B. </p>
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42 Comentário Este adolescente parece estar


<p> </p> <p> crianças e observada em menos de 0,5% dos adultos
evoluindo com uma complicação pouco frequente, porém com a infecção. Ocorre mais comumente na segunda
grave, da mononucleose infecciosa: a ruptura esplênica, semana de doença, porém pode ocorrer mesmo após
que comumente se associa a um episódio de trauma. mais tempo. A recomendação habitual é de que o
O trauma esplênico causa dor abdominal ou referida paciente com mononucleose infecciosa se afaste de
para o ombro esquerdo, como no caso descrito, por irri- atividades intensas ou de contato pelas primeiras duas e
tação diafragmática pelo sangue. A lesão mais extensa três semanas de doença ou enquanto a esplenomegalia
apresenta, além da dor, sinais de choque hipovolêmico estiver presente. Certamente, ainda havia esplenome-
pela perda sanguínea. Esta complicação é rara em galia no caso descrito. Resposta: letra D. </p>
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43 Comentário Não há qualquer dúvida de que o


<p> </p> <p> secundária são o aparecimento de um halo de hiperemia
<em> </em>

correto diagnóstico é, de fato, varicela. Temos a presença na base das lesões e a recrudescência da febre três ou
de lesões em vários estágios de evolução (máculas, vesí- quatro dias após o início do exantema. A presença de
culas, pústulas), que é bastante característica da doença. pústula é tão somente a evolução natural da doença que
A pergunta agora é: o que fazer? A varicela na infância,
<em> </em> não configura uma infecção associada (opção D errada).
geralmente, é uma doença benigna. Os anti-histamí- A imunoglobulina humana antivaricela-zóster está reco-
nicos podem ser usados para atenuar o prurido (opção B mendada em algumas situações especiais. As grávidas
correta). O tratamento da febre deve ser feito com outros suscetíveis, que tenham tido contato significativo com o
antipiréticos que não os salicilatos, pela associação com vírus, podem receber o produto, que deve ser aplicado até
síndrome de Reye (opção A correta). O tratamento com 96 horas após o contato (opção C correta). Um deslize
antimicrobianos deve ser instituído quando há evidências na formulação desta questão foi a omissão do termo
de infecção bacteriana secundária. Essa é uma compli- “suscetível” na opção C; caso a mãe de Laura tivesse
cação que pode acometer até 5% das crianças com tido a doença, não necessitaria da imunoglobulina. De
varicela e pode ser causada pelo estreptococo do grupo todo modo, não restam dúvidas de que a melhor opção é
A ou pelo S. aureus. Os dados que indicam a infecção
<em> </em> o gabarito, letra D.
</p>
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44 Comentário A síndrome já está descrita no


<p> </p> <p> papulopurpúrica em luvas e meias. Este quadro é caracte-
enunciado. O agente etiológico implicado no quadro é o rizado por febre, prurido, edema e eritema dolorosos loca-
parvovírus B19 (resposta: letra C). Diversas erupções cutâ- lizados nas extremidades distais, com uma distribuição em
neas estão associadas à infecção por este agente, sendo meias e luvas, seguida pelo aparecimento de petéquias
que uma dessas erupções é bem descrita: a síndrome com distribuição acral e lesões orais.
</p>
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45 Comentário Decorebinha... Mas de tanto


<p> </p> <p> ridae (opção B incorreta). Já o eritema infeccioso é a
ler sobre o assunto e resolver as questões, você vai principal manifestação da infecção pelo parvovírus B19,
acabar guardando. A rubéola é uma doença exante- um vírus de DNA que pertence ao gênero Erythrovírus
mática aguda, de etiologia viral, que apresenta alta da família Parvoviridae (opção C incorreta). A síndrome
contagiosidade. Seu agente infeccioso é um vírus RNA mão-pé-boca pode ser causada por diferentes entero-
pertencente ao gênero rubivírus, família Togaviridae
<em> </ vírus, mas o principal agente envolvido é o coxsackie
(opção A incorreta). O quadro de roséola infantum , ou
em> <em> </em> A16. Os outros possíveis agentes incluem o enterovírus
exantema súbito, está tipicamente associado com a 71, além de outros coxsackie A, B e alguns echovírus
infecção pelo herpesvírus humano 6 (tipo 7 em um (opção D incorreta). Assim, a única associação correta
percentual menor). Fazem parte do gênero Roseolovírus é a letra E; o sarampo é um vírus do gênero Morbilli-
da subfamília beta-herpesvirinae da família Herpesvi- vírus da família Paramyxoviridae. Resposta: letra E. </p>
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46 Comentário Qual o segredo para você não


<p> </p> <p> sofre clareamento central, adquirindo aspecto rendilhado
errar qualquer questão sobre o tema doenças exantemá- ou reticulado; na terceira fase, o exantema desaparece
ticas? Procure pelas palavras-chave! Neste caso, a infor- e recidiva por estímulos diversos, tais como sol, calor ou
mação mais importante desse enunciado é a descrição exercício físico. Já a rubéola não apresenta quaisquer
da presença de vesículas. Com apenas isso, saberíamos características marcantes em relação ao exantema, que
que a opção “E” é a correta, pois em nenhuma das outras é tipicamente composto por lesões maculopapulares
condições temos a presença dessa lesão. A varicela é róseas de progressão craniocaudal rápida; o diagnóstico
causada pelo vírus varicela-zóster e o diagnóstico clínico de rubéola será suspeitado quando houver linfadeno-
é estabelecido, essencialmente, pelas alterações encon- patia, especialmente occipital e retroauricular, associada
tradas na fase exantemática. Enquanto houver viremia, ao exantema. No sarampo, encontramos a presença de
o paciente irá apresentar o surgimento de novas lesões pródromos ricos, com febre alta, tosse intensa e conjunti-
que passam por diversos estágios evolutivos: máculas, vite com fotofobia, além das patognomônicas manchas de
pápulas, vesículas, pústulas e crostas. O surgimento Koplik; na fase exantemática, há exantema morbiliforme
de novas lesões em momentos diferentes faz com que de progressão craniocaudal lenta, que desaparece com
o paciente apresente lesões distintas em um mesmo descamação furfurácea. E, por fim, o exantema não é
momento, o que leva ao típico polimorfismo regional observado na maioria dos pacientes com mononucleose
encontrado nesta doença. Para relembrar, o exantema infecciosa. Na verdade, apenas cerca de 15% dos indi-
do eritema infeccioso é caracterizado por sua evolução víduos com essa condição terão exantema. O que é
trifásica. Na primeira fase, ocorre hiperemia malar (face característico é o surgimento do exantema em até 90%
esbofeteada); na segunda fase, há exantema maculopa- dos pacientes após o uso de amoxicilina ou ampicilina.
pular que predomina nas superfícies extensoras e que Resposta: Letra E. </p>
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47 Comentário Existem duas formas de profi-


<p> </p> <p> uso da imunoglobulina são os suscetíveis de maior risco
laxia após exposição para um indivíduo suscetível que para uma forma grave da doença (opção C errada), a
tenha contato com um caso de varicela-zóster: o uso saber: as grávidas, os imunossuprimidos e os recém-
da vacina e o uso da Imunoglobulina Humana Antivari- -nascidos prematuros (os nascidos com 28 ou mais
cela-Zóster (IGHAVZ). A vacina pode ser feita até cinco semanas recebem a imunoglobulina apenas se a mãe
dias após o contato para os maiores de nove meses não tiver histórico de doença; os nascidos com menos
sem contraindicações para a vacina (lembre-se de que de 28 semanas recebem apenas se a mãe não tiver
a imunossupressão é uma contraindicação, pois trata- este histórico). Além disso, a imunoglobulina também
-se de uma vacina de vírus vivo atenuado). Os menores deve ser recomendada para todos os recém-nascidos
de nove meses não podem ser vacinados (opção A e B de mulheres que tiveram início do quadro de cinco dias
erradas). O Ministério da Saúde fornece a vacina para antes até dois dias após o nascimento da criança. Nesta
fins de bloqueio apenas para controle de situações de situação, terá ocorrido a passagem transplacentária do
surto em ambiente hospitalar. Já a imunoglobulina deve vírus, mas sem a passagem de anticorpos maternos
ser feita até 96 horas após o contato. Os candidatos ao protetores. Resposta: Letra D.</p>
151 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

48 Comentário Este é um modelo bem comum de


<p> </p> <p> tem um quadro clínico caracterizado principalmente por
questão sobre o tema doenças exantemáticas. De fato, o fadiga, mal-estar, febre, dor de garganta e linfadenopatia
mais importante para acertar as questões sobre o assunto generalizada, sendo que essas três últimas alterações
é que você consiga guardar quais são os dados mais compõem a tríade clássica da doença. Os achados típicos
característicos de cada uma das doenças exantemáticas no exame físico incluem, além da linfadenopatia em 90%
clássicas. Vamos ver quais características a banca queria dos casos, a presença de esplenomegalia, em cerca de
que você identificasse. A descrição de um rash micropa-
<em> </em> 50% dos pacientes, e hepatomegalia, em até 10%. A
pular difuso e áspero e hipertrofia de papilas linguais é presença de um rash maculopapular rendilhado e rash
<em> </em> <em> </

característica do diagnóstico de escarlatina. Relembrando, malar é bem sugestiva do diagnóstico de eritema infec-
em>

a escarlatina está associada à infecção pelo estreptococo cioso, afecção associada ao parvovírus B19. O eritema
beta-hemolítico do grupo A. O exantema típico consiste infeccioso é caracterizado pela presença de um exantema
no surgimento de lesões micropapulares difusas, que que, tipicamente, evolui em três fases. Na primeira fase,
conferem a pele do doente um aspecto de pele áspera temos a presença de uma hiperemia na região malar, que
ou em lixa. Além disso, o exantema pode estar associado configura o sinal da face esbofeteada. Na segunda fase,
com sinais clássicos, que são os sinais de Filatov (palidez nota-se o surgimento de lesões maculopapulares predo-
peribucal) e Pastia (acentuação do exantema em áreas minantemente nas superfícies extensoras; essas lesões
flexurais). Na inspeção da cavidade oral, podemos identi- sofrem clareamento central e surge um aspecto rendilhado
ficar as alterações típicas de uma faringite estreptocócica ou reticulado. Na terceira fase, ocorre o desaparecimento
e a presença da língua em morango ou em framboesa. Em do exantema e a sua recidiva quando a criança é exposta
um momento inicial, temos a língua em morango branco; a alguns fatores, tais como sol, calor ou exercício físico.
as papilas estão hipertrofiadas, mas a língua permanece Acredite: sempre que o termo rendilhado estiver presente,
recoberta por uma saburra brancacenta. Pouco tempo a banca estará certamente apresentando um quadro de
após, surge a língua em morango vermelho, quando então eritema infeccioso. E, finalmente, a descrição de três
identificamos apenas a presença das papilas hiperemiadas dias de febre seguidos de rash maculopapular difuso nos
<em> </em>

e hipertrofiadas. A descrição de linfonodomegalia occipital parece um pouco pobre. Porém, pela simples análise das
e rash papular difuso devem nos remeter ao diagnóstico
<em> </em> opções, não poderíamos ter dúvida de que essa caracte-
de rubéola. Lembre-se: pensaremos em rubéola quando rização faz referência ao diagnóstico de exantema súbito.
estivermos diante de um paciente com uma doença leve A doença está associada principalmente à infecção pelo
com linfadenomegalia, principalmente suboccipital e herpesvírus humano tipo 6. É um quadro mais comum em
retroauricular, associada com exantema maculopapular. lactentes e é caracterizado pela presença de febre alta
Esses são, inclusive, critérios usados pelo Ministério da sem outros comemorativos importantes por até 72 horas.
Saúde para a definição de um caso suspeito. Já a asso- Esta febre, tipicamente, desaparece de forma súbita, ou
ciação de esplenomegalia, linfonodomegalia e exsudato em crise, e é sucedida pelo aparecimento de exantema
de amígdalas é típica do diagnóstico de mononucleose maculopapular que se inicia no tronco. A correlação correta
infecciosa. A doença é causada pelo vírus Epstein-Barr e entre as colunas está na letra B. </p>
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49 Comentário História típica da doença exan-


<p> </p> <p> relembrando... O parvovírus B19 relaciona-se com o
temática mais característica dos lactentes: o exantema eritema infeccioso, doença que evolui em 3 fases: face
súbito, ou roséola infantum . A fase prodrômica dessa
<em> </em> esbofeteada, exantema rendilhado e recidiva do exan-
doença, causada principalmente pelo herpesvírus humano tema durante algumas semanas; os vírus coxsackie
tipo 6, é caracterizada pela presença de febre alta e podem causar diversas erupções, a mais característica
ausência de outros sinais específicos. Essa febre desa- é a síndrome mão-pé-boca, relacionada principalmente
parece tipicamente de forma súbita (em “crise”) e, cerca com o Coxsackie A16 e que se caracteriza por lesões
de algumas horas após esse desaparecimento, ocorre vesiculares e papulares nas mãos, pés e cavidade oral;
o surgimento do exantema, caracterizado por máculas o vírus Epstein-Barr é o agente da mononucleose infec-
rosadas pequenas que começam no tronco e disseminam- ciosa, caracterizada pela tríade faringite, linfadenopatia
-se pelo pescoço, face e extremidades proximais. Apenas generalizada e fadiga ou astenia. Resposta: letra C. </p><p></p>
153 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017

50 Comentário Basta ir com calma e correlacionar


<p> </p> <p> lhado”) faz referência ao eritema infeccioso. O eritema
cada uma das lacunas. Vamos partir de cada descrição infeccioso é uma das apresentações clínicas da infecção
e buscar o diagnóstico que a representa. A primeira pelo parvovírus B19. É uma doença exantemática muito
descrição (“apresenta-se com febre alta por mais de cinco recorrente nas provas de residência, pois sua fase exan-
dias, hiperemia de conjuntivas, adenomegalia cervical temática é bem peculiar. Nesta doença, temos um período
unilateral, eritema da faringe com língua em morango, exantemático que ocorre em três fases: na primeira, há
fissuras labiais, edema de mãos e pés e irritabilidade o surgimento de hiperemia na região malar (sinal da face
intensa”) nada mais é do que um pequeno resumo da esbofeteada); na segunda, há o surgimento de lesões
doença de Kawasaki. Relembrando, para o diagnóstico maculopapulares predominantemente nas superfícies
da doença devemos ter a presença de febre alta por pelo extensoras dos membros (essas lesões sofrem clarea-
menos cinco dias e, no mínimo, quatro dos cinco critérios a mento central e a pele adquire um aspecto rendilhado
seguir: conjuntivite bilateral não exsudativa, alterações na ou reticulado); na terceira fase, o exantema desaparece
cavidade oral (fissuras labiais, língua em morango), adeno- e pode ressurgir quando ocorre a exposição a alguns
megalia não supurativa, exantema polimórfico e alterações fatores desencadeantes, como calor, exercício físico e
de extremidades (edema e hiperemia de mãos e pés na estresse. E, finalmente, a última descrição (“é causada por
fase aguda e descamação na fase subaguda). A segunda togavírus; manifesta-se com febrícula, exantema macu-
descrição (“causada por coxsackievírus, apresenta-se com lopapular, astenia, adenopatia retroauricular, cervical e
pequenas vesículas e úlceras na faringe posterior, febre e occipital. Na gestação, pode causar malformações fetais”)
salivação”) indica uma condição que entra no diagnóstico caracteriza uma doença exantemática pouco comum em
diferencial dos quadros de faringite aguda na infância, que nosso meio nos dias de hoje, que é a rubéola. A rubéola
é a herpangina. A herpangina associa-se à infecção por pertence ao gênero rubivírus, da família Togaviridae. Na
<em> </em>

alguns enterovírus, principalmente pelo coxsackie A, e infância, é uma doença benigna na maior parte das vezes
cursa com a presença de febre, dor de garganta, disfagia e a maior preocupação relacionada com essa infecção é
e lesões na região posterior da faringe. As lesões são quando ela ocorre no início da gestação. A infecção nas
tipicamente pequenas vesículas e úlceras envoltas por primeiras semanas de gravidez está associada à presença
um halo de hiperemia. A terceira descrição (“causada por
<em> </em> de graves malformações no feto e recém-nascido: cardio-
parvovírus, tem evolução em três estágios com caráter patia, alterações oculares e microcefalia. A sequência
recorrente. O exantema tem característica de rendi- correta está descrita no gabarito letra C.</p>
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51 Comentário É possível que você esteja fazendo


<p> </p> <p> tem duração de 1 a 3 semanas. O que caracteriza essa
a leitura deste comentário por ter acreditado que o caso terceira fase é a recidiva do exantema em algumas circuns-
descrito não é compatível com o diagnóstico indicado pela tâncias, como a exposição à luz solar, calor, exercícios e
banca, que foi o diagnóstico de eritema infeccioso. Você estresse. Você deve se lembrar de que, no momento em
não deixa de estar certo. A descrição apresentada não é que surgem as manifestações exantemáticas, a viremia
a descrição típica desta doença. Porém, esta é a “melhor” já se encerrou; o quadro cutâneo não é causado pela
resposta para o quadro apresentado por esta paciente. O agressão viral direta. Justamente por isso, não é comum
eritema infeccioso está associado à infecção pelo parvo- a descrição de pródromos com febre nos dias antece-
vírus B19 e é diagnosticado pela evolução característica dendo o surgimento das lesões cutâneas, como ocorreu
da sua fase exantemática. Ocorrem, tipicamente, três fases no caso apresentado. Ainda assim, a descrição de um
clínicas. A primeira fase é marcada pelo aparecimento do exantema mais intenso nas bochechas sempre deve nos
exantema na face, que confere ao paciente o aspecto de remeter para esta condição, sendo essa a melhor resposta.
“face esbofeteada”. Essa erupção se dissemina para o E as outras opções? Para pensarmos em rubéola, deveria
resto do corpo, na forma de um eritema macular difuso no haver a descrição de linfadenopatia. O quadro de exantema
segundo estágio. As lesões no resto do corpo adquirem súbito é um quadro típico de lactentes e o exantema surge,
um clareamento central, dando à erupção cutânea uma caracteristicamente, no tronco. Já nos casos de escarla-
aparência reticulada ou rendilhada. Essa erupção tende tina, temos um exantema micropapular e algum indício
a ser mais aparente nas superfícies extensoras e, tipica- de infecção estreptocócica (mais comumente, faringite),
mente, poupa as palmas das mãos e as plantas dos pés. além dos sinais clássicos (Filatov e Pastia). E, por fim, na
As lesões desaparecem espontaneamente, sem desca- farmacodermia, o mais característico seria a descrição de
mação. Tem início então a terceira fase da doença, que prurido associado às lesões. Resposta: letra E. </p>
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52 Comentário As infecções estreptocócicas


<p> </p> <p> pirogênica. As manifestações cutâneas típicas incluem
são comuns na prática pediátrica. As principais manifes- o exantema micropapular e os sinais clássicos (Pastia
tações da infecção por esse agente são aquelas rela- e Filatov). Outra alteração característica é o surgimento
cionadas ao acometimento das vias aéreas e da pele da língua em morango (ou framboesa). O tratamento
(opção A correta). Uma das manifestações da infecção das infecções de vias aéreas superiores e cutâneas é
estreptocócica é o quadro de escarlatina, corretamente habitualmente feito com penicilina. Não há descrição de
caracterizado nas opções B e C. Lembre-se de que, na cepas resistentes a este antimicrobiano. Por isso, essa
escarlatina, as manifestações cutâneas estão associadas é a classe de escolha (opção D incorreta). Resposta:
à presença de uma toxina eritrogênica, ou exotoxina letra D.
</p>
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53 Comentário Pode parecer que existe uma


<p> </p> <p> ainda seja acompanhado por febre. Porém, percebam
pegadinha na formulação do caso apresentado, mas, que, de todo modo, o que marca o quadro é uma febre
de fato, essa é uma das possíveis apresentações do que é mais alta antes do surgimento do exantema, e que
exantema súbito. Sabemos que a doença caracteristica- desaparece quando as lesões surgem. Isso só é encon-
mente cursa com febre alta que desaparece em crise e trado no exantema súbito, que é causado pelo herpes-
é sucedida pelo aparecimento de exantema maculopa- vírus tipo 6. A rubéola até poderia ser um diagnóstico
pular róseo cerca de 12 ou 24 horas. Porém, também é diferencial importante, mas costuma cursar com febre
possível que o desaparecimento da febre ocorra de forma baixa e outros achados, como coriza, linfadenopatia e
mais lenta, em lise, e que o surgimento do exantema mal-estar.
</p>
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54 Comentário É fato que o enunciado poderia


<p> </p> <p> é uma manifestação clínica da infecção pelo parvovírus
ter trazido um pouco mais de informações. Porém, ainda B19. É mais comum em adolescentes e adultos e no sexo
assim, é possível chegarmos ao diagnóstico: trata-se de feminino; as principais articulações acometidas são as
um escolar que tem eritema infeccioso. O eritema infec- das mãos, punhos, tornozelos e joelhos, mas qualquer
cioso é a principal manifestação clínica da infecção pelo articulação pode ser acometida. A dengue entra no diag-
parvovírus B19. A evolução bastante peculiar da fase exan- nóstico diferencial de qualquer doença exantemática, mas
temática permite que estabeleçamos este diagnóstico. falta a história de febre para pensarmos nessa condição.
O período exantemático, tipicamente, evolui em 3 fases As alergias alimentares podem levar ao surgimento de
clínicas. Na primeira fase, observa-se o surgimento de uma manifestações cutâneas, mas não com aspecto típico
hiperemia na região malar, que configura o famoso sinal descrito. E a eritromelalgia? Você conhece essa condição?
<em> </

da “face esbofeteada”, descrito no enunciado. Na segunda O quadro de eritromelalgia pode estar associado com uma
em>

fase, observa-se o surgimento de lesões maculopapulares série de condições clínicas e caracteriza-se pela ocor-
eritematosas que sofrem clareamento central conferindo à rência de episódios de dor, eritema e calor nas mãos e pés
pele um aspecto reticulado ou rendilhado. Na terceira fase, (eventualmente na face, orelhas ou joelhos). Os episódios
o exantema desaparece, mas durante algumas semanas são desencadeados por alguns fatores, como exercício e
sofre recidiva quando o paciente é exposto a alguns estí- exposição ao calor, e podem durar de horas a vários dias.
mulos, como a luz solar e o calor. A artralgia também Resposta: Letra A. </p>
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55 Comentário Temos um paciente de três anos


<p> </p> <p> nosso paciente. A lesão pode ocorrer em qualquer região
de idade apresentando uma infecção bacteriana secundária do corpo e inicialmente se apresenta com sinais inflama-
complicando um quadro de varicela. Algumas caracterís- tórios sobre determinada região. Geralmente há febre e as
ticas descritas neste enunciado nos permitem estabelecer o manifestações constitucionais são desproporcionais aos
diagnóstico de fasciíte necrosante. Esta condição consiste sinais cutâneos: as alterações cutâneas não traduzem a
uma infecção do tecido subcutâneo, comprometendo a extensão da necrose subcutânea que está em curso. Pode
camada profunda da fáscia superficial, podendo poupar haver formação de bolhas que evoluem com o escureci-
a epiderme adjacente, a fáscia profunda e a muscu- mento da pele, adquirindo coloração azul/acinzentada. Por
latura. A maioria dos quadros são polimicrobianos e os conta da isquemia e necrose cutâneas, ocorre anestesia e
agentes incluem o S. aureus, os estreptococos, espécies
<em> </em> gangrena da pele. O aparecimento de crepitação evidencia
de Klebsiella, E. coli e bactérias anaeróbias. Nos casos
<em> </em> <em> </em> a provável presença de Clostridium spp ou bacilos Gram-
<em> </em><em> </em>

causados por apenas um agente, a causa costuma ser -negativos. O tratamento consiste em suporte geral, desbri-
o S. pyogenes. O quadro causado por este agente pode
<em> </em> damento cirúrgico e antibioticoterapia venosa com agentes
ser uma complicação de um caso de varicela, como em de amplo espectro. Resposta: Letra A. </p>
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56 Comentário A primeira pergunta que você deve


<p> </p> <p> apresentam irão evoluir para óbito. Porém, não pode ser
tentar responder é: Qual o diagnóstico deste menino de considerada tão frequente assim, pois acomete 1-3/1000.
dez anos? Além do quadro clínico, a banca nos forneceu A segunda afirmativa também está incorreta; a imuno-
algumas outras informações importantes, que foram a globulina não faz parte do arsenal terapêutico utilizado
história de viagem recente para o exterior e ausência nos casos de sarampo (será que alguém pensaria em
de vacinação prévia. Sempre que houver este relato de doença de Kawasaki e indicaria este tratamento?). O que
“ausência de vacinação prévia”, pense na possibilidade é feito nos casos de sarampo é tão somente o suporte. As
de alguma doença que teria sido prevenida pela admi- crianças também devem receber a vitamina A. A afirmativa
nistração de vacinas. Porém, tome cuidado apenas para C está correta; lembre-se de que o sarampo é doença
não fazer confusão: mesmo indivíduos vacinados podem de notificação compulsória e imediata; um dos objetivos
contrair algumas das doenças prevenidas pelas vacinas. disso é adotar as medidas de vigilância epidemiológica
Voltando ao caso, mesmo sem a descrição de algumas que inclui a avaliação dos contatos e a vacinação seletiva
características importantes, como a tosse e a conjuntivite, dos contactantes suscetíveis. A vacina pode ser feita a
é fácil percebermos que estamos diante de um caso de partir dos seis meses de idade e deve ser administrada até
sarampo. A descrição das lesões encontradas na cavi- 72 horas após a exposição. E, por fim, a afirmativa D está
dade oral é compatível com o diagnóstico das manchas incorreta; a transmissão se dá quando o indivíduo susce-
de Koplik, um achado patognomônico desta doença tível entra em contato com partículas virais eliminadas
exantemática. Assim, diante do diagnóstico de sarampo, pelo doente. Vale lembrar que a transmissão pode ocorrer
podemos partir para a avaliação de cada afirmativa. A por partículas em aerossol e, por isso, não é necessário
primeira afirmativa está incorreta; de fato, a encefalite é o contato face a face entre o suscetível e o doente para
uma complicação grave e até 15% dos pacientes que a que a transmissão ocorra. Resposta: Letra C. </p>
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57 Comentário A questão apresenta uma criança


<p> </p> <p> primeira é a face esbofeteada, a segunda é o aparecimento
de 6 anos que apresentou febre baixa, evoluindo com de um exantema maculopapular de aspecto rendilhado,
exantema maculopapular em face que posteriormente se mais intenso em superfícies extensoras, e, por fim, a última
disseminou para membros, em aspecto rendilhado e nos fase que se caracteriza por recidiva do exantema em 1 a 3
pergunta qual é o diagnóstico. Lembre-se de que sempre semanas, por sol, calor, estresse ou exercício. Percebam
que estivermos diante de um exantema em face do tipo que o paciente da questão apresentou as duas primeiras
“face esbofeteada” devemos nos lembrar do diagnóstico fases. Tipicamente é descrito que o exantema poupa a
de eritema infeccioso. A doença é causada pelo Parvovírus região palmar e plantar, mas, mesmo assim, as demais
B19, apresentando um exantema que passa por 3 fases: a características são típicas da doença. Resposta: letra D. </p>
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58 Comentário A primeira pergunta é: qual


<p> </p> <p> <em> via transplacentária. Ainda não há vacina disponível
o diagnóstico de Fabiana? A descrição de hiperemia
</em> para este agente, mas é algo que vem sendo pesqui-
malar (sinal da face esbofeteada) com exantema rendi- sado (opção D errada). A doença, em geral, é benigna
lhado é muito característico do eritema infeccioso, ou e autolimitada (opção B errada). Porém, em alguns
“quinta moléstia”. O eritema infeccioso é causado pelo indivíduos, a infecção pelo parvovírus pode levar a
Parvovírus B19 (opção A errada) e a maioria dos casos complicações mais graves (nos falcêmicos, por exemplo,
(70%) ocorrem entre os 5 e 15 anos de idade. A trans- pode desenvolver-se uma crise aplásica). O diagnóstico
missão ocorre quando o indivíduo suscetível entra em costuma ser estabelecido apenas com base na clínica
contato com as secreções nasofaríngeas do infectado típica e não costuma ser necessária análise virológica.
(transmissão respiratória – opção E errada). Lembre-se O quadro eruptivo se apresenta em 3 fases: na primeira
apenas de que quando o paciente apresenta o surgi- fase há o sinal da face esbofeteada; na segunda fase há
mento da erupção cutânea, já não há mais vírus sendo o exantema rendilhado; já na terceira fase há recidiva
eliminado em suas secreções. Também é possível a das lesões quando a criança se expõe ao sol, exercício
transmissão do parvovírus por hemoderivados e por ou calor. Resposta: letra C.
</p>
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59 Comentário O aspecto abordado nessa


<p> </p> <p> com a infecção pelo Parvovírus B19 ocorrem, tipicamente,
questão é recorrente nos concursos, logo, não erre! Sequer em períodos nos quais ainda há eliminação de partículas
precisávamos definir qual o diagnóstico do adolescente, virais, como nos casos de crise aplásica transitória. Assim,
pois a banca já nos afirmou que a principal hipótese é nosso adolescente não precisa ser afastado da escola. Por <em>

de eritema infeccioso. O eritema infeccioso é a manifes- qual razão a banca quis saber se haveria alguma preocu-
tação clínica mais comum da infecção pelo Parvovírus pação especial pelo fato de que a professora está grávida? </

B19 e, juntamente, com o quadro de artralgia ou artrite A infecção pelo Parvovírus B19 durante a gestação pode
em>

que também pode surgir nessa infecção, não é decorrente levar à infecção fetal. A infecção fetal pode ter consequên-
diretamente da infecção viral, mas sim de um fenômeno cias graves, como anemia fetal com hidropsia fetal não
pós-infeccioso. É fato que no momento em que surgem as imune. Esse quadro pode, eventualmente, ser causa de
manifestações exantemáticas que caracterizam o quadro, óbito intrauterino. Porém, não haveria razão para afastar
não há mais viremia e o vírus não é mais eliminado nas a professora da escola neste momento. Caso ela tenha
secreções do paciente. É por essa razão que o paciente sido infectada, essa infecção já teria ocorrido vários dias
com eritema infeccioso não precisa ser afastado das ativi- antes do aparecimento do exantema. Devemos, apenas,
dades escolares. Outras manifestações clínicas associadas acompanhá-la clinicamente. Resposta: letra D. </p>
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60 Comentário Existem algumas etiologias


<p> </p> <p> evento não tem grandes repercussões em um indi-
para as crises anêmicas nos pacientes com anemia víduo hígido, mas pode levar a uma anemia grave em
falciforme, que são a crise por sequestro esplênico, um paciente com anemia hemolítica crônica. O trata-
a crise megaloblástica, a crise hiper-hemolítica e a mento é apenas sintomático e inclui a hemotransfusão.
crise aplásica. A presença de reticulócitos baixos ou O curso é autolimitado e, após alguns dias, voltamos
normais indica tratar-se de uma crise megaloblástica a observar a presença de reticulócitos. Vale lembrar
ou de uma crise aplásica. A crise aplásica é uma das que o falcêmico que apresenta a crise anêmica pela
crises anêmicas mais comuns e está associada prin- infecção é infectante, diferentemente do paciente que
cipalmente à infecção pelo parvovírus B19. Esse vírus apresenta as manifestações do eritema infeccioso que
possui tropismo por precursores da linhagem eritroide é um evento que ocorre em uma fase em que não há
e é capaz de levar a uma hipoplasia eritroide. Esse mais viremia. Resposta: Letra D.</p>
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