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D Pediatria - Volume 1 2
VÍDEO DE INTRODUÇÃO
Síndromes Exantemáticas
na Infância
PEDIATRIA - VOLUME 1
M.E.D - 2017
Jocleidson, masculino, 6 anos, o filho mais velho de D. Joclei-
C a s o 1 da, foi levado a consulta de pediatria no posto de saúde
Help com a seguinte história clínica: febre iniciada há 4
dias, que vinha aumentando progressivamente e que no dia
da consulta alcançou 40oC. Ao exame, Dr. Jonny Auxiliador ob-
servou que o escolar apresentava conjuntivite não-purulenta, tosse
proeminente e um exantema, que descreveu como maculopapular
eritematoso, localizado na fronte, atrás das orelhas e na nuca com
tendência à confluência. Na cavidade oral foram observadas peque-
nas máculas brancas com halo de hiperemia ao redor localizadas na
face interna das bochechas. Após 10 dias, Jocleidson apresentava-
-se em melhor estado geral, com uma fina descamação furfurácea
da pele, mas ainda mantinha tosse.
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Suponha que Jocleidson tivesse entrado em contato com um paciente imu-
nodeprimido na fase aguda da doença. Que medida estaria indicada neste
caso para a proteção do contactante?
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A Sr(a) Filomena, após ficar muito agradecida e satisfeita com o brilhante
Ca s o 3 diagnóstico que foi feito diante do quadro apresentado por Rayana Ketelyn,
resolve trazer Rayara Kaylane – sua filha de 8 anos – ao hospital para que
o bom doutor pudesse “dar uma olhadinha”.
A escolar apresenta-se em regular estado geral, com história de febre há 2 dias e odi-
nofagia há 24 horas. Ao exame, você observa amígdalas hiperemiadas e recober tas
por exsudato purulento, petéquias em palato mole, adenome-
galia submandibular e rash micropapular avermelhado mais in-
tenso nas fossas antecubitais. Verifica-se também uma cer ta
palidez perioral e língua muito avermelhada.
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s o 4 Cle v s on R o g e r, u m
Ca ad o les ce n t e p re v ia m
h íg id o , t e m 1 7 a n o s e n t e
p ro c u ra a t e n d ime n t e
d e v id o a q u ad ro d e o m é d ico
Qual é a hipótese diagnóstica mais provável ad in a m ia , m al- es ta fe b re ,
para o caso de Clevson Roger? v ô m i t o s h á 4 8 h . A or e
ve r if ica - se a p rese n e x a me
e x a n t e m a ca ra c t e r izç a d e
m á c u la s , p á p u la s e ad o p o r
e m f a ce e t ron co . ves íc u la s
se q u eix a q u e a s le Cle v s on
m u i t o p r u r ig in o s a s . s õ es s ã o
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Prescrição
Juscelino Tanaka é um pré-escolar de 4 anos que chega ao hospital pediátrico
trazido por sua mãe Liu Chang e seu pai Severino Manoel. A família relata febre
alta (38,5 – 38,9 oC) há 6 dias, associada a boca e olhos vermelhos. O pediatra da
unidade observa ao exame clínico hiperemia de conjuntiva bilateralmente, orofaringe, edema
de mãos e pés e um exantema maculopapular róseo. Solicita um hemograma que revela: Hb:
10 g/dl, Ht: 30%, leucograma: 14.000 cél/ µL, plaquetas 650.000/µL; VHS = 70 mm/H.
O ECO não revela formação aneurismática nas principais ar térias coronárias. A principal
hipótese diagnóstica é doença de Kawasaki. Auxilie o pediatra na prescrição para Juscelino
Tanaka, sabendo-se que ele tem 16 kg:
Preencha abaixo a prescrição que você faria na sua enfermaria. Em seguida, anote na
próxima folha o gabarito fornecido no site pela Equipe Acadêmica. Para o seu treinamento, é
fundamental que você não pule etapas, desenvolvendo um pensamento crítico sobre
o passo-a-passo da prescrição médica e não apenas anotando o
gabarito. Ficamos à disposição para suas dúvidas.
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Daniel é um adolescente de 16 anos e
possui o saudável hábito de praticar diversas ati-
vidades físicas: o jovem surfa, corre, luta jiu-jitsu e, embora
não seja dos melhores do time, joga bola quase todos os dias.
Porém, sua vida não estava das melhores...
Nas últimas três semanas, vinha sentindo-se bastante cansado e com do-
res de garganta e, por conta disso, teve que suspender todas as
atividades. Entediado de tanto assistir séries na TV, resolveu
fazer uso de um antibiótico que estava esquecido em uma
gaveta de sua casa e, para sua surpresa, começou a sen-
tir-se um pouco melhor. Bastou isso para que ele vol-
tasse para o tatame em busca da tão sonhada faixa
roxa. Pouco após o treino, eis o que aconteceu:
Daniel começou a apresentar vômitos e surgiu
uma intensa dor no quadrante abdominal supe-
rior esquerdo e também no ombro esquerdo.
Você o recebe poucos minutos antes do final
do seu plantão e identifica palidez, taqui-
cardia e hipotensão, além de um discreto
exantema maculopapular difuso.
Qual foi a provável causa do Que exames adicionais poderiam ser solici-
exantema apresentado? tados para corroborar este diagnóstico?
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Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 10
As Síndromes Exantemáticas
introdução
Os termos exantema ou rash são utilizados A História Natural das Doenças Exante-
para descrever a presença de uma erupção máticas
cutânea disseminada. As doenças exante-
máticas nada mais são do que um grupo de As doenças exantemáticas infecciosas têm
condições caracterizadas pelo surgimento uma evolução clínica que pode ser dividida em
agudo desta erupção. Dentre as diversas etio- algumas fases. O nosso principal desafio é
logias para as doenças exantemáticas, encon- tentar buscar o que existe de mais específico
tramos causas infecciosas, medicamentosas e característico em cada uma delas.
e reumatológicas, dentre outras. As infecções,
sejam bacterianas, virais, fúngicas ou por pro- Vamos começar pela primeira fase, que é o
tozoários, representam as principais causas período de incubação.
de exantema com febre na infância.
agentes bacterianos têm um período de incu- da cor) e/ou papulares (lesões elevadas com
bação mais curto, que dura poucos dias. menos de 0,5 cm de diâmetro).
Principais Doenças
Exantemáticas Virais
1. Sarampo
O sarampo é uma doença altamente contagio- A doença é causada pelo vírus do sarampo,
sa e já foi uma das principais causas de óbito um vírus de RNA que pertence ao gênero
por doença infecciosa em nosso meio, sobre- Morbillivirus da família Paramyxoviridae. Os
tudo nos menores de cinco anos. Basta você humanos são os únicos hospedeiros naturais
conversar com indivíduos uma geração acima deste agente. O vírus contém algumas pro-
da sua e você vai ter a certeza de que o saram- teínas estruturais principais, sendo que duas
po era uma “experiência universal” na infância delas (a proteína de fusão e a hemaglutinina,
até pouco tempo. Muito embora o tema surja F e H, respectivamente) são as mais impor-
com frequência nas provas de residência, é tantes na indução da resposta imune. Os
possível que você não atenda um só caso se- anticorpos neutralizantes produzidos pelo
quer ao longo de toda a sua vida médica. Ainda organismo infectado conferem imunidade
assim, é uma condição que sempre deve ser duradoura e são dirigidos principalmente
lembrada durante o atendimento a uma criança contra a proteína H.
com exantema e febre. Em 2014 e 2015 tive-
mos centenas de casos confirmados da doen-
ça, principalmente em Pernambuco e no Cea- Epidemiologia
rá (se você é de uma dessas regiões, é bem
provável até que tenha visto um desses casos A vacinação contra o agente mudou drastica-
e percebeu que é impossível esquecer como é mente a história desta condição e a transmissão
a doença). O último caso no Ceará ocorreu em endêmica do vírus já foi interrompida em vários
julho de 2015 e, no ano de 2016, a Organização países. Infelizmente, o sarampo continua sen-
Pan-Americana de Saúde conferiu ao Brasil o do responsável por um inaceitável número de
certificado de eliminação da doença. óbitos em algumas áreas do mundo.
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Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 14
As estratégias de vacinação responsáveis por gem recente para o exterior ou de contato com
essa mudança no perfil epidemiológico da alguém oriundo do exterior!
doença incluem o uso da vacina de rotina na
rede básica de saúde, a adoção do bloqueio RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
vacinal pós-exposição e a vacinação indiscri- PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG
minada em campanhas de seguimento. A atual Turista oriundo da Europa está em visita ao
vacina disponibilizada em nossa rede pública Brasil há 02 meses, sendo que há 05 dias
é composta por um agente vivo atenuado e iniciou com sintomas catarrais, evoluindo com
será estudada mais profundamente na apos- sinal de Koplik e exantema maculopapular
tila de imunizações. cefalocaudal. Mediante a suspeita de saram-
po, é ERRADO afirmar que:
Você sabe o que é um caso autóctone de sa- a) Deve-se providenciar o isolamento do
rampo? Após um caso de sarampo ser confir- paciente.
mado, deve ser feita a sua classificação de b) Faz-se necessário iniciar bloqueio vacinal,
acordo com a fonte de infecção. As possíveis abrangendo as pessoas do mesmo domicílio,
classificações são as seguintes: sala de trabalho, etc.
c) Trata-se de um caso alóctone (importado
• Caso importado: caso cuja infecção ocor- de outra localidade onde ocorreu a doença).
reu fora do país durante os 14 a 23 dias d) Trata-se de um caso autóctone (oriundo do
prévios ao surgimento do exantema, de mesmo local onde ocorreu a doença).
acordo com a análise dos dados epidemio-
lógicos ou virológicos. Questão que poderia estar na prova de
preventiva ou de pediatria. Você ainda não
• Caso relacionado com importação: quan- aprendeu a reconhecer a doença, mas a
do a infecção foi contraída localmente, suspeita já está estabelecida no próprio
como parte de uma cadeia de transmissão enunciado. Ainda vamos falar sobre as me-
originada de um caso importado. didas de proteção, que incluem o isolamento
do paciente e o bloqueio vacinal, descritas
• Caso com origem de infecção desconhe- nas opções A e B. Perceba que as opções
cida: como sugerido pela denominação, é C e D se opõem e, evidentemente, a nossa
o caso em que não foi possível estabelecer resposta deverá ser uma das duas. O caso
a origem da fonte de infecção. alóctone é um caso detectado em um local
diferente daquele onde ocorreu a transmis-
• Caso índice: é o primeiro caso ocorrido en- são, exatamente como descrito na opção
tre vários casos de natureza similar e epide- C (o caso importado seria um tipo de caso
miologicamente relacionados, encontrando- alóctone). Como o turista é oriundo da Eu-
-se a fonte de infecção no território nacional. ropa, poderíamos pensar que estivéssemos
diante de um caso desta natureza. Porém,
• Caso secundário: é um caso novo, a partir cuidado: ele já está no Brasil há dois meses.
do contato com o caso índice. O período de incubação da doença é muito
menor do que esse, ou seja: a infecção foi
• Caso autóctone: é o primeiro caso identi- adquirida aqui (a banca quer a afirmativa er-
ficado após a confirmação da cadeia de rada, por isso a resposta é a letra C). É claro
transmissão sustentada (o vírus deve circu- que para termos certeza de que o caso é
lar no país por mais de 12 meses, em uma autóctone teríamos que fazer a identificação
mesma cadeia de transmissão). do vírus e obter mais dados sobre a cadeia
epidemiológica, além de verificarmos que há
Aceita-se que o último caso autóctone de sa- circulação do vírus por mais do que 12 me-
rampo no Brasil tenha ocorrido em 2000, no ses... Porém, não vamos brigar com a ques-
Mato Grosso do Sul. Ainda assim, tivemos a tão por isso. Resposta: letra C.
confirmação de centenas de casos em território
nacional desde então. Entre dezembro de 2013
e meados de 2015, foram confirmados 916 Patogênese
casos apenas no estado do Ceará, sendo que
foram notificados mais de 4.000 casos suspei- Sabemos que você fica tentado a pular este
tos. Após dez semanas sem a identificação de trecho, mas a compreensão da sequência de
nenhum novo caso, considerou-se este surto eventos patogenéticos nos ajudará a entender
encerrado em 24 de setembro de 2015. o quadro clínico. A doença evolui em quatro
fases: incubação, prodrômica, exantemática
De todo modo, fica o alerta: muito embora o e de convalescença.
sarampo seja uma doença considerada elimi-
nada no Brasil, não podemos relaxar. O inten- • Período de incubação: o período de incuba-
so fluxo de viajantes internacionais torna obri- ção dura entre 8 e 12 dias e, nesta fase, não
gatório o rigor nas estratégias de vigilância há manifestações clínicas. O vírus penetra na
epidemiológica para rápida detecção dos casos mucosa conjuntival ou do trato respiratório e
e adoção de medidas específicas de controle. migra em direção aos linfonodos regionais;
segue-se a primeira viremia, com dissemina-
E qual é a importância disso na prova? Fique ção para o sistema reticuloendotelial. A segun-
atento, pois é comum termos no enunciado de da viremia espalha o vírus pelas superfícies
uma questão sobre sarampo a história de via- corporais, dando início à fase prodrômica.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 15
• Fase prodrômica: é nesta fase que come- cisa estar face a face com o indivíduo infectado
ça a ocorrer a replicação do vírus em todas para ser contaminado. Como o vírus permane-
as células do corpo, inclusive no sistema ce suspenso no ar mesmo após a saída do
nervoso central. Agora, terá início o proces- doente daquele ambiente, basta você adentrar
so de necrose do epitélio, multiplicação viral no local em que esteve o paciente infectado
e formação das células gigantes. A infecção que você poderá contrair a infecção! É também
de toda a mucosa respiratória será a res- por esse motivo que os pacientes internados
ponsável pela coriza e tosse classicamente com sarampo devem ser mantidos em precau-
encontradas na doença. Será nesta fase que ção de contato aéreo.
o paciente começará a eliminar o vírus, an-
tes mesmo que você suspeite que esteja Cerca de 90% dos indivíduos susceptíveis que
diante de um caso de sarampo. se expõe ao vírus irão adquirir a doença. A sus-
cetibilidade ao vírus na população não vacinada
As células infectadas se fundem e dessa é geral, ou seja, os indivíduos que não foram
fusão surgem células gigantes multinuclea- vacinados, não tiveram a doença ou não rece-
das. Essas células são patognomônicas do beram anticorpos passivamente têm alto risco
diagnóstico de sarampo e recebem o nome de desenvolver o quadro. A primeira dose da
de células gigantes de Warthin-Finkeldey vacina é habitualmente administrada com 12
(FIGURA 1), quando encontradas no siste- meses de idade. Nos primeiros meses de vida,
ma reticuloendotelial, ou células epiteliais os filhos de mulheres que tenham tido sarampo
gigantes, quando encontradas no epitélio ou que tenham sido vacinadas possuem anti-
respiratório e outras superfícies epiteliais. corpos que foram transmitidos por via transpla-
centária. Essa proteção é apenas temporária,
Um dado importante é que o vírus do saram- pois o recebimento passivo de anticorpos não
po infecta os linfócitos T CD4+, o que resulta desencadeia uma memória imunológica.
na supressão da resposta imune Th1 e outros
efeitos imunossupressores.
Clínica
• Fase exantemática: o surgimento do exan-
tema coincide com o surgimento de anticor- Este agora é, sem sombra de dúvidas, o pon-
pos séricos. Por isso ocorre uma diminuição to mais importante, pois daqui sairá a maioria
progressiva dos sintomas após o início da das questões sobre o tema. O paciente com
erupção cutânea. sarampo parece apresentar uma doença gra-
ve. Alguns descrevem esse doente como “um
paciente que se sente miserável”!
Transmissão
Fase Exantemática
O que ocorre quando essas lesões desapare- Os indivíduos que tenham recebido passiva-
cem? Ocorre descamação! O exantema ad- mente anticorpos contra o sarampo (lacten-
quire aspecto acastanhado e desaparece na tes, por via transplacentária, e receptores de
mesma sequência em que surgiu, dando lugar hemoderivados) ou que tenham recebido a
a uma fina descamação da pele, com aspecto própria vacina podem apresentar uma forma
furfuráceo (“semelhante a farelo”), como mos- subclínica da doença quando infectados pelo
trado na FIGURA 6. vírus selvagem. Nesses casos, o tempo de
incubação é maior e os pródromos e o exan-
tema são mais leves. Esses pacientes não
Sarampo = febre elevada, são capazes de eliminar o vírus e infectar os
manchas de Koplik, coriza, contactantes intradomiciliares.
conjuntivite e tosse;
exantema morbiliforme com Veja agora as próximas questões, que fo-
início retroauricular. ram selecionadas por serem emblemáticas
e representativas do quadro clínico que vai
surgir na sua prova.
nham logo”. O sarampo não pode de maneira ao aumento na morbimortalidade são as aglo-
alguma ser visto dessa forma. Mesmo nos merações, a desnutrição grave, a hipovitami-
países desenvolvidos, ocorre um óbito a cada nose A e os quadros de imunossupressão.
1000 casos da doença.
Lá na descrição da patogênese, tínhamos fa-
A morbidade e mortalidade são maiores nos lado sobre a agressão que o vírus promove na
menores de cinco anos (principalmente nos mucosa respiratória e sobre o sistema imune.
menores de um ano) e nos maiores de 20 As complicações secundárias ao sarampo são
anos. Os principais fatores de risco associados atribuídas principalmente a esses eventos.
Pré-exposição
Prevenção
A infecção é evitada pela vacinação. A vacina
O paciente infectado deve evitar o contato contra sarampo disponibilizada na rede públi-
com os suscetíveis até quatro/seis dias após ca de saúde pelo Programa Nacional de Imu-
o início do exantema, lembrando que o tem- nizações faz parte da vacina tríplice viral e da
po de eliminação do vírus pode ser mais vacina tetraviral, compostas por vírus vivos
prolongado no imunodeprimido. Quando atenuados. Essas vacinas fazem parte do
internado, o paciente deve ser mantido em Calendário Básico de Imunização da Criança
precaução para transmissão aérea. No pla- e são administradas, respectivamente, aos 12
no individual, o isolamento domiciliar ou e aos 15 meses. Adolescentes e adultos não
hospitalar dos casos consegue diminuir a vacinados recebem a vacina tríplice viral. Por
intensidade dos contágios. Esse impacto é ora é o que você precisa saber, pois voltare-
relativo, pois a transmissão já estava ocor- mos a falar sobre essa esse tópico em algu-
rendo desde a fase prodrômica. mas semanas.
Pós-exposição a) Vitamina A.
b) Vitamina B12.
E se um indivíduo não vacinado e que nunca c) Vitamina C.
teve a doença entrar em contato com um caso d) Vitamina E.
de sarampo, não podemos fazer nada? Claro
que podemos! A adoção das medidas de con- Não é recomendada nenhuma terapêutica
trole dos comunicantes suscetíveis é uma das antiviral específica nos casos de sarampo. Po-
estratégias de vigilância epidemiológica para rém, sabe-se que a hipovitaminose A é um re-
consolidar a erradicação do sarampo. conhecido fator de risco para a doença, e o uso
da vitamina é capaz de promover a redução da
Vacinação de Bloqueio – até 72h! morbidade e mortalidade do sarampo. Por esta
razão, a Organização Mundial de Saúde reco-
Após a notificação de um caso suspeito, a ação menda que se administre a vitamina A em todas
de bloqueio vacinal seletivo (vacinação dos as crianças em duas doses (no mesmo dia do
suscetíveis) deve ser desencadeada imediata- diagnóstico e no dia seguinte). A dose será re-
mente e deve abranger as pessoas do mesmo petida após quatro semanas nas crianças com
domicílio do caso suspeito, vizinhos próximos, alterações oftalmológicas que indiquem a carên-
creches, ou, quando for o caso, as pessoas da cia dessa vitamina. Resposta: letra A.
mesma sala de aula, do mesmo quarto de alo-
jamento ou da sala de trabalho. A faixa etária
prioritária para ações de bloqueio vacinal é RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
entre seis meses e 39 anos de idade. A vacina SELEÇÃO UNIFICADA PARA RESIDÊNCIA
não é administrada nos menores de seis me- MÉDICA DO ESTADO DO CEARÁ
ses. Um cuidado que você deve ter aqui é o A mãe de uma criança de dois anos de idade
seguinte: caso uma criança com idade entre relata ao médico que sua filha esteve há cinco
seis meses e um ano receba essa vacina, esta dias, por quatro horas, em convívio próximo com
dose não deve ser considerada como dose de uma colega de creche da mesma idade, que no
rotina. Assim, essa criança irá receber as duas momento atual está com sarampo. Qual medida
doses do calendário básico normalmente. de proteção deve ser aplicada?
a) Vacina de vírus atenuado contra o sarampo.
E, neste momento, você se pergunta: qual o b) Imunoglobulina humana normal.
sentido de vacinarmos um indivíduo que já foi c) Nenhuma medida é necessária.
exposto ao vírus? É fácil de entender. A vaci- d) Quarentena do comunicante.
na consegue desencadear a produção de
anticorpos no indivíduo em um tempo menor Como não poderia deixar de ser, o tema apa-
que o período de incubação da doença. É uma receu nos concursos do Ceará no final de 2014.
corrida contra o tempo. Por esse motivo, a Porém, a questão foi um tanto quanto problemá-
vacina deve ser administrada até 72 horas tica. Como acabamos de ver, existem duas
após a exposição. formas de profilaxia pós-exposição nos casos
de sarampo, que são o uso da vacina e o uso
Imunoglobulina – até 6 dias! de imunoglobulina. A vacinação de bloqueio é
uma atividade prevista pelo sistema de vigilância
A vacina contra sarampo é uma vacina de epidemiológica. Deve ser realizada até 72 horas
agente vivo atenuado e está contraindicada em após a exposição, daí a importância da notifica-
algumas situações. Uma alternativa para a ção imediata do caso suspeito de sarampo,
proteção dos pacientes que não podem receber como forma de garantir que seja feita a busca e
a vacina é o uso de imunoglobulina. O Ministé- identificação dos contactantes suscetíveis. A
rio da Saúde não se pronuncia sobre isso em imunoglobulina, por sua vez, pode ser adminis-
seus principais documentos, ainda que algu- trada até o sexto dia após a exposição e, desta
mas Secretarias de Saúde estaduais recomen- forma, pode prevenir ou modificar o curso da
dem esta medida. Encontramos em várias doença. Podemos encontrar a recomendação
fontes a recomendação da administração de de que essa intervenção seja recomendada para
imunoglobulina até seis dias após a exposi- os menores de seis meses, imunodeprimidos e
ção para os contactantes intradomiciliares grávidas, que são justamente aqueles indivíduos
susceptíveis menores de seis meses, gestantes que não podem receber a vacina tríplice viral,
e imunocomprometidos. por ser uma vacina de agente vivo. Voltemos ao
nosso caso. A exposição neste caso já ocorreu
há mais do que 72 horas e, por essa razão, a
Quer fixar o conceito? Leia os casos a seguir: profilaxia pós-exposição com a vacina torna-se
menos eficaz (não há garantia de que haverá
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 tempo para se imunizar o indivíduo em menor
HOSPITAL NACIONAL DO CÂNCER – RJ tempo do que o período de incubação da doen-
O sarampo é uma das doenças exantemáticas ça). Foi por esta razão que a banca recomendou
de maior morbimortalidade, especialmente em o uso da imunoglobulina, pois esta pode ser
desnutridos. Estudos atuais demonstraram que feita até cinco dias após a exposição. Qual é o
a suplementação de determinada vitamina no problema com a questão? Esta conduta não está
dia do diagnóstico pode reduzir a morbimortali- prevista nas publicações do Ministério da Saúde
dade dessa doença. Assinale abaixo a alterna- e nem nos documentos da Secretaria de Saúde
tiva que contém a vitamina indicada para suple- do Estado do Ceará. Para piorar a interpretação
mentação. do caso, sequer foi informado se esta criança
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 23
de dois anos era ou não suscetível. Lembre-se (opção C errada) após a exposição para os con-
de que aos dois anos é esperado que a criança tactantes intradomiciliares susceptíveis menores
já tenha recebido duas doses da vacina contra de seis meses, gestantes e imunocomprometidos
sarampo (a primeira aos 12 meses, na vacina (opção D errada). Resposta: letra A.
tríplice viral, e a segunda aos 15 meses, na va-
cina tetraviral). De todo modo, a resposta da
banca foi a letra B. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UFPE – PE
Yuri tem três anos de idade e teve recentemen-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 te uma doença exantemática de evolução febril
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO que foi diagnosticada como sarampo. O menor
PARANÁ – PR tem um irmão de quatro meses, e a genitora está
Com relação à prevenção do sarampo, podemos preocupada com o mesmo. A conduta indicada
afirmar que, em relação ao irmão de Yuri é:
a) Se a vacina com vírus vivo for administrada a) Imunoglobulina e vacina atenuada do sa-
dentro de 24 horas após a exposição ao contá- rampo.
gio, poderá evitar o aparecimento da doença. b) Descartar qualquer tipo de profilaxia.
b) Ultrapassado o prazo de 24 horas, após o c) Vacinar imediatamente com vírus atenuado
contágio, está contraindicada a vacinação. do sarampo.
c) O uso de gamaglobulina evita o aparecimen- d) Vacinação imediata com vírus morto do
to da doença, independente do tempo ocorrido sarampo.
desde a exposição. e) Imunoglobulina específica em dose única.
d) O uso da gamaglobulina está indicado so-
mente para crianças imunodeprimidas. Em relação à prevenção pós-exposição (de-
e) Como se trata de vacina com vírus, seu uso pois do contato com o vírus), existem duas
está contraindicado em desnutridos. possibilidades: vacina de bloqueio e imunoglo-
bulina. A vacina não pode ser administrada para
A vacinação de bloqueio deve ser realizada os menores de seis meses, como é o caso do
até 72 horas após a exposição ao caso suspeito irmão de Yuri. Uma alternativa para a proteção
e poderá evitar o desenvolvimento da doença dos pacientes que não podem receber vacina
(opção A correta e opção B errada). Por ser uma é o uso de imunoglobulina. Um único detalhe
vacina de agente vivo, a vacina contra sarampo em relação a esta questão é o seguinte: não é
está contraindicada em algumas situações, mas feito o uso de imunoglobulina específica, como
a desnutrição não é uma delas (opção E errada). indicado pela banca, mas sim de imunoglobu-
Encontramos em várias fontes a recomendação lina padrão. Ainda assim, a melhor resposta é
da administração de imunoglobulina até seis dias a letra E.
Antes de partirmos para o estudo das próximas doenças, vamos ver alguns conceitos apresen-
tados pelo Ministério da Saúde que eventualmente poderão ser cobrados.
DEFINIÇÕES DE CASO
Caso suspeito: todo paciente que, independente da idade e da situação vacinal, apresentar febre
e exantema maculopapular, acompanhados de um ou mais dos seguintes sinais e sintomas: tos-
se e/ou coriza e/ou conjuntivite; ou todo indivíduo suspeito com história de viagem ao exterior nos
últimos 30 dias ou de contato, no mesmo período, com alguém que viajou ao exterior.
(Perceba que mesmo os indivíduos vacinados podem ser considerados casos suspeitos da
doença).
Caso confirmado: todo paciente considerado como caso suspeito e que foi comprovado como
um caso de sarampo, a partir de, pelo menos, um dos critérios a seguir: 1) critério laboratorial;
2) critério de vínculo epidemiológico (quando o caso suspeito teve contato com um ou mais
casos de sarampo confirmados pelo laboratório e apresentou os primeiros sintomas da doença
entre sete e 18 dias da exposição ao contato).
Caso descartado: todo paciente que foi considerado como caso suspeito e que não
foi comprovado como um caso de sarampo, de acordo com os seguintes critérios:
1) critério laboratorial: resultado “não reagente” em amostra oportuna; ou caso sus-
peito sem contato com casos confirmados; ou caso suspeito de sarampo cujo exame
laboratorial teve como resultado outra doença; 2) critério de vínculo epidemiológico:
caso suspeito de sarampo que tiver como fonte de infecção um ou mais casos des-
cartados pelo critério laboratorial, ou quando na localidade estiver ocorrendo surto ou
epidemia de outras doenças exantemáticas febris, comprovadas pelo diagnóstico
laboratorial. Nessa situação, os casos devem ser criteriosamente analisados, antes
de serem descartados e a provável fonte de infecção deve ser especificada.
O descarte clínico representa uma falha do sistema de vigilância epidemiológica.
NOTIFICAÇÃO:
O SARAMPO É DOENÇA DE NOTIFICAÇÃO
OBRIGATÓRIA E IMEDIATA!
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 24
Leia agora as próximas questões para ter- se manter ativa a suspeição diagnóstica e as
minarmos de amarrar os conceitos. Mesmo medidas de bloqueio para evitar o retorno de
que as opções corretas estejam claras, re- casos autóctones no Brasil. Sobre o sarampo,
flita um pouco sobre cada uma delas. é correto afirmar:
a) É uma doença exantemática de pouca
transmissibilidade, desta forma, quase elimi-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 nada do mundo.
FACULDADE DE MEDICINA DE RP DA USP b) A doença apresenta pródromo característi-
– HC – SP co com febre, tosse produtiva, coriza, conjun-
Analisando aspectos epidemiológicos e da tivite e fotofobia.
prevenção do sarampo, assinale a alterna- c) O exantema característico é descrito como
tiva correta: morbiliforme, de distribuição centrífuga, com
a) O potencial epidêmico dessa doença é bai- posterior mudança de cor (acastanhado) e
xo, apesar de sua transmissão ocorrer por via descamação laminar.
respiratória. d) A vacina não se destina como forma profi-
b) As pessoas imunossuprimidas são espe- lática (bloqueio) após um contato inicial.
cialmente vulneráveis à pneumonite e ence- e) A sorologia IgM não reagente, coletada de
falite do sarampo, constituindo-se grupos forma precoce (1º dia de aparecimento do exan-
prioritários para a vacinação. tema), descarta um caso suspeito de sarampo.
c) Devido à ocorrência de casos da doença
em pessoas previamente vacinadas, atual- Essa questão é perfeita para encerrarmos
mente são recomendadas 2 doses da vacina a discussão, pois permite uma pequena re-
para efetiva proteção em qualquer faixa etária. visão de quase tudo. Lembre-se somente de
d) Apesar do Brasil ter controlado a livre cir- que ela é do ano de 2011 e, por isso, traz
culação do sarampo nos últimos 10 anos, informações desatualizadas no enunciado...
eventualmente o país importa o vírus de lo- A doença é causada pelo vírus do sarampo,
cais endêmicos. que apresenta uma alta transmissibilidade.
Cerca de 90% dos indivíduos susceptíveis
Vamos analisar cada uma das alternativas: expostos ao vírus irão adoecer; a transmis-
Opção A: errada, pois é uma doença de gran- são endêmica da doença foi interrompida
de potencial epidêmico e de alta contagiosi- em alguns países graças aos programas de
dade. É transmitida diretamente de pessoa a imunização (opção A errada). As manifesta-
pessoa, através das secreções nasofaríngeas, ções clínicas da doença se iniciam no perío-
expelidas ao tossir, espirrar, falar ou respirar. do prodrômico, com febre, tosse, conjuntivi-
Opção B: errada, pois a vacina contra o sa- te associada à fotofobia e o surgimento de
rampo está presente no calendário vacinal um enantema patognomônico, as manchas
para toda a população. Além disso, os imuno- de Koplik (opção B correta). O exantema é
deprimidos, como regra geral, não recebem maculopapular, com aspecto morbiliforme,
essa vacina, pois é uma vacina composta por tem distribuição craniocaudal e desaparece
um vírus vivo atenuado. sob a forma de uma descamação furfurácea,
Opção C: errada, após os 20 anos, é feita ape- não laminar (opção C errada). A vacinação
nas uma dose desta vacina. Fique tranquilo, de bloqueio pode ser instituída para os con-
pois ainda veremos isso em algumas semanas. tactantes do caso suspeito e deve ser admi-
Opção D: correta, sendo justamente este o nistrada nas 72 horas que se seguem à
motivo pelo qual não podemos relaxar com a exposição. A vacinação de bloqueio deve
nossa cobertura vacinal. Além disso, as cen- abranger as pessoas do mesmo domicílio
tenas de casos ocorridos nos últimos anos do caso suspeito, vizinhos próximos, cre-
nos mostram que não estamos tão livres as- ches, ou, quando for o caso, as pessoas da
sim... mesma sala de aula, do mesmo quarto de
Resposta: letra D. alojamento ou da sala de trabalho (opção D
está errada).
Talvez a opção E tenha te deixado em dúvi-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 da. Cuidado! Todo caso suspeito cujo exame
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UEL laboratorial teve como resultado “não rea-
Desde 2000, o Brasil interrompeu a circulação gente” ou “negativo para IgM”, em amostra
autóctone do sarampo. Em agosto de 2010, colhida logo após o início do exantema, deve
foram notificados no Brasil cinco casos impor- ser submetido à nova coleta.
tados da doença, mostrando a importância de Resposta: letra B.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 25
2. RUBÉOLA
A transmissão ocorre pelas secreções na- A infecção durante a gestação pode acarre-
sofaríngeas dos infectados. tar na síndrome da rubéola congênita.
Figura 9: Exantema da
rubéola.
Todas as condições listadas entram no diag- A identificação viral também é feita com o ob-
nóstico diferencial deste caso. O que você jetivo de identificar o padrão genético circulante
deve fazer? Buscar pelas alterações carac- no país, diferenciar os casos autóctones da
terísticas. Acabamos de ver que o que há de rubéola dos casos importados e diferenciar o
mais característico na rubéola é justamente o vírus selvagem do vírus vacinal. O vírus pode
aparecimento da adenomegalia precedendo ser identificado na urina, nas secreções naso-
o quadro exantemático, exatamente como no faríngeas, no sangue ou em tecidos do corpo.
quadro apresentado por essa adolescente. As amostras devem ser coletadas até o 5º dia
Ainda falaremos sobre as outras condições. A a partir do início do exantema (a urina é o ma-
mononucleose infecciosa também cursa com terial de escolha).
o aparecimento de linfadenomegalia genera-
lizada, mas é uma condição acompanhada
de outros comemorativos, como esplenome- Complicações
galia e faringite. Resposta: letra C.
Como já dito, a doença é benigna. As compli-
cações da rubéola pós-natal não são comuns
Avaliação complementar e não costumam ser graves.
Prepare-se agora para um momento déjà vu, Outra complicação, também de curso auto-
pois o que você lerá é bem semelhante ao limitado, é um quadro de trombocitopenia,
que já foi falado na avaliação do paciente que pode manifestar-se com petéquias,
com sarampo. epistaxe, sangramento gastrointestinal e
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 28
Pré-exposição
Complicações no Sistema Nervoso Central
A prevenção pré-exposição é feita com a vacina,
A rubéola não guarda semelhanças com o sa- claro! A vacina contra a rubéola faz parte das
rampo? Então, como era de se esperar, as com- vacinas tríplice e tetraviral e integra o calendário
plicações da rubéola também podem atingir o das crianças, adolescentes e adultos. Todos
sistema nervoso central. A encefalite pós-infec- devem estar imunizados! A vacina não deve ser
ciosa não é comum e é caracterizada pelo surgi- administrada em mulheres grávidas e as mulhe-
mento de um quadro neurológico sete dias após res em idade fértil devem aguardar cerca de 30
o início do exantema. O mecanismo envolvido, dias após a vacinação para engravidar.
à semelhança do que ocorre no sarampo, não
parece ser por ação direta do vírus. A análise do Pós-exposição
liquor mostra pleocitose discreta, aumento das
proteínas e, raramente, isolamento de partículas O bloqueio vacinal é realizado nos contatos sus-
virais. A maior parte dos pacientes recupera-se, cetíveis dos casos suspeitos. A vacina utilizada é
mas há relatos de taxas de mortalidade de até a mesma tríplice viral, que deve ser administrada
20% e presença de sequelas permanentes nos dentro de 72 horas após a exposição, mesmo
sobreviventes. Outra complicação neurológica é que nem sempre seja possível estabelecer com
o quadro de panencefalite progressiva. É uma precisão quando ocorreu a exposição.
doença neurológica crônica e grave, raríssima,
semelhante à PEES, causada pela infecção in- As gestantes expostas não podem receber a
dolente e progressiva pelo vírus da rubéola no vacina, por ser uma vacina de agente vivo. Elas
sistema nervoso central. O óbito sobrevém em devem ser avaliadas por meio de sorologia,
dois a cinco anos após o início do quadro. acompanhadas e orientadas. O importante é
tentar evitar a todo custo o contato da gestante
com o indivíduo infectado. Na literatura norte-
Para não esquecer: -americana, é discutido o uso de imunoglobulina
para a gestante suscetível exposta, mas isso não
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 garante a prevenção da infecção fetal.
ALIANÇA SAÚDE – PR
Doença exantemática típica da infância que
tem evolução benigna nas crianças, mas Diz o Ministério da Saúde....
que, quando atinge gestantes, pode deter-
minar teratogenia: DEFINIÇÕES DE CASO
a) Sarampo. Caso suspeito: caso suspeito de rubéola é
b) Exantema súbito. todo paciente que apresente febre e exantema
c) Rubéola. maculopapular, acompanhado de linfadenopatia
d) Mononucleose. retroauricular, occipital e cervical, independente
e) Molusco infeccioso. da idade e situação vacinal; ou todo indivíduo
suspeito com história de viagem ao exterior nos
Caracterização simples da rubéola. Em al- últimos 30 dias ou de contato, no
gumas páginas veremos que o parvovírus B19, mesmo período, com alguém que
responsável pelo quadro do eritema infeccioso,
viajou ao exterior.
é capaz de infectar o feto e essa infecção traz
consequências. Porém, não ocorrem malfor- (Perceba, mais uma vez, que
mações, como na rubéola. Resposta: letra C. mesmo os indivíduos vacinados
podem ser considerados casos
suspeitos da doença).
Tratamento
Caso confirmado: os casos
podem ser confirmados a partir
Não há tratamento específico! São usados
apenas analgésicos e antipiréticos para con- da avaliação laboratorial, de
trole da artralgia e da febre. critérios epidemiológicos ou
critérios clínicos (o que é uma
O uso de imunoglobulina e corticoides pode falha do sistema de vigilância...).
ser considerado nos casos de trombocitope-
nia grave.
NOTIFICAÇÃO:
A RUBÉOLA É DOENÇA
O prognóstico dos casos de rubéola pós-natal é
DE NOTIFICAÇÃO
ótimo. Existem relatos de reinfecção com vírus
OBRIGATÓRIA E IMEDIATA!
selvagem em indivíduos que já tinham sido in-
fectados previamente ou tinham sido vacinados.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 29
Antes de seguir adiante, vamos ver algu- positivo, compareceu a uma Unidade Básica
mas questões. de Saúde (UBS) do município de Natal-RN
apresentando, há dois dias, febre, exantema
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 maculopapular, e linfadenopatia cervical e
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CASSIANO retroauricular. Durante a anamnese, o mé-
ANTÔNIO DE MORAES – ES dico observou, na carteira de vacinação,
Com relação à rubéola pós-natal é correto a comprovação do estado vacinal (tríplice
afirmar que: viral) do usuário. O paciente informa a exis-
a) O exantema maculopapular eritematoso tência de três contatos domiciliares: uma
acompanhado de coriza ou de conjuntivite ex- tia, de 29 anos, e duas primas, de 12 e 10
clui o diagnóstico de rubéola e sugere sarampo. anos de idade. As condutas de vigilância
b) Crianças assintomáticas infectadas pelo epidemiológica que o profissional da UBS
vírus da rubéola não representam risco de que atendeu esse paciente deve adotar são:
transmissão para gestantes não imunes. a) Notificar o caso suspeito de rubéola à
c) A transmissibilidade limita-se ao período Secretaria Municipal de Saúde, realizar a In-
que se inicia dois dias antes do aparecimen- vestigação epidemiológica e a vacinação de
to do exantema e persiste durante o período bloqueio em todos os contatos domiciliares.
exantemático. b) Notificar o caso como suspeito de rubéola,
d) Pode haver reinfecção de pessoas pre- tendo em vista a situação vacinal do pacien-
viamente imunes por vacinação ou infecção te, solicitar exames para o paciente e para
natural, sendo usualmente assintomática e os contatos domiciliares.
detectável apenas por métodos sorológicos. c) Notificar o caso suspeito de rubéola à Se-
e) A transmissão do vírus é feita por meio cretaria Municipal de Saúde, solicitar os exa-
de aerossóis e exige uso de respirador N95 mes de diagnóstico para o paciente e para os
por parte dos profissionais de saúde duran- contatos domiciliares, independentemente
te o atendimento. da situação vacinal destes, e aguardar os
resultados, para indicar o bloqueio vacinal
Vamos ver o que diz cada uma das alter- para os suscetíveis.
nativas. O exantema acompanhado de coriza d) Notificar e investigar o caso suspeito de
ou conjuntivite pode sugerir sarampo, de fato, rubéola, solicitar os exames de diagnóstico
mas não necessariamente EXCLUI o diag- para o paciente e vacinar os contatos domi-
nóstico de rubéola (opção A errada). As crian- ciliares suscetíveis.
ças assintomáticas infectadas pelo vírus da
rubéola representam, sim, um risco para Estamos ou não estamos diante de um
gestantes não imunes. Mesmo os pacientes caso suspeito de rubéola? É claro que es-
com infecção subclínica são capazes de eli- tamos. Todo paciente que apresente febre
minar o vírus em suas secreções (opção B e exantema maculopapular, acompanhada
errada). O período de transmissibilidade varia de linfoadenopatia retroauricular, occipital e
muito entre as referências bibliográficas. Po- cervical, independente da idade e situação
rém, aceita-se que a fase de maior transmis- vacinal é considerado caso suspeito de ru-
sibilidade vai de cinco dias antes até seis dias béola. E todos os casos suspeitos devem ser
após o início do exantema (opção C errada). imediatamente notificados pelo nível local à
A transmissão do vírus ocorre através de secretaria municipal de saúde e investigados.
contato com as secreções nasofaríngeas de Continuando... Com relação às medidas
pessoas infectadas. A infecção se propaga iniciais, temos que prestar assistência mé-
por disseminação de gotículas ou através de dica ao paciente; recomendar o afastamento
contato direto com os pacientes, e não por das atividades; coletar exames para a con-
aerossóis (opção E errada). A opção D é a firmação diagnóstica; e realizar a proteção
única correta. De fato, há relatos de ocorrên- da população (vacinação dos susceptíveis,
cia de reinfecção em pessoas previamente sendo o bloqueio vacinal prioritário entre seis
imunes através de vacinação ou infecção meses e 39 anos de idade). Os contactan-
natural, quando reexpostas ao vírus. Essa tes só realizarão exames caso adoeçam. A
reinfecção é usualmente assintomática, de- vacinação dos susceptíveis não dependerá
tectável apenas por métodos sorológicos. da confirmação diagnóstica do caso sus-
Resposta: letra D. peito, devendo ser instituída imediatamen-
te. A opção A está errada ao sugerir que a
vacinação de bloqueio seja administrada
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 indiscriminadamente a todos os contatos
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LO- domiciliares. Deveremos avaliar o cartão
PES – UFRN vacinal da tia e primas e vacinar aquelas
O paciente P. L. S., 18 anos de idade, HIV susceptíveis. Resposta: letra D.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 30
3. Eritema infeccioso
ce alguns dias sem sintomas entre esses dois 15-30% nos contactantes domiciliares susce-
momentos! A doença exantemática costuma tíveis e de até 60% em surtos em escolas.
ocorrer entre 17 a 18 dias após o contágio inicial
e não está mais associada a um efeito direto do Embora a principal forma de transmissão seja
vírus. Compare o momento em que essas ma- pela via respiratória, o vírus é encontrado no
nifestações surgem com o período em que se sangue e pode ser transmitido por hemoderi-
observa a viremia e perceba que já não há mais vados. A transmissão por meio de fômites não
detecção do vírus nessa fase. Acredita-se que é bem estabelecida.
essas manifestações sejam o resultado de um
fenômeno pós-infeccioso relacionado a um Para fixar:
processo imunomediado.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
Quando a infecção ocorre durante a gestação, HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA ULBRA – RS
pode haver a transmissão do vírus para o feto. “L.O.T., feminina, branca, 9 anos e 7 meses,
A destruição das hemácias também irá ocorrer aluna de escola municipal de Canoas (RS),
durante a vida intrauterina. Os efeitos citopáticos apresenta exantema de morfologia reticular ini-
do vírus serão observados tanto nos precursores ciado há mais de uma semana, inicialmente com
eritroides da medula óssea quanto nos sítios de intenso eritema em ambas hemifaces e, presen-
eritropoese extramedulares, dependendo da fase temente, mais acentuado em membros superio-
da gestação em que a infecção ocorra. O feto res e no tronco, tendo apresentado períodos de
poderá desenvolver uma anemia grave e insufi- regressão seguidos de recrudescimento do rash.
ciência cardíaca de alto débito. Recebeu tratamento com anti-histamínico oral
por 4 dias, sem evidência de resposta a tal te-
rapêutica. Nega ocorrência de febre, prurido ou
de qualquer outra manifestação associada ao
quadro.” Qual é o agente mais provavelmente
envolvido nesse caso e qual o tempo de afasta-
mento da escola que deve ser determinado à
paciente para evitar risco de contágio de colegas
e professores, respectivamente?
a) Herpesvírus 6; 3 dias após o desapareci-
mento definitivo do exantema.
b) Parvovírus; 3 dias após o desaparecimento
definitivo do exantema.
c) Herpesvírus 6 ou 7; não é necessário o
Figura 10: Infecção pelo parvovírus. afastamento da aluna nesse momento.
d) Parvovírus; não é necessário o afastamen-
O vírus também afeta as células miocárdicas to da aluna nesse momento.
fetais, contribuindo para a falência cardíaca. O
resultado do processo é o quadro de hidropsia Fique calmo: mais algumas linhas e você não
fetal, caracterizado pelo acúmulo de líquido em terá a menor dúvida de que o quadro apresen-
dois ou mais compartimentos fetais (pele, pleu- tado por essa escolar é de eritema infeccioso.
ra, pericárdio, placenta, peritônio, líquido am- Essa questão está aqui para reforçar o concei-
niótico), que geralmente leva ao óbito desse to de que a presença das manifestações exan-
feto. Felizmente, não é sempre que a infecção temáticas indica que não há mais eliminação
da gestante leva à infecção fetal com todas do agente infeccioso e, por isso, a criança pode
essas repercussões. manter o convívio escolar. Resposta: letra D.
Eritema Infeccioso
Artropatia
esferocitose hereditária ou deficiência de pi- lesões orais. O quadro está associado basi-
ruvato quinase) apresentam um rápido turno- camente à infecção pelo parvovírus B19.
ver celular e essa interrupção da eritropoese
com reticulocitopenia absoluta irá levar a uma
queda abrupta da hemoglobina. Esta crise Miocardite e Outras Manifestações
aplásica coincide com a viremia e, evidente-
mente, o período de incubação será mais A miocardite pelo parvovírus B19 pode ocorrer
curto do que o observado no eritema infeccio- em crianças e adultos. Embora alguns questio-
so. Além disso, o paciente aqui está aguda- nem a causalidade do agente nos quadros,
mente doente, com febre, mal-estar, letargia, essa associação é plausível, pois, como tínha-
além das manifestações da anemia, como mos visto, o receptor do vírus (o antígeno P) já
palidez, taquicardia e taquipneia. Raramente, foi identificado em células miocárdicas fetais.
pode haver um exantema associado. O quadro
é autolimitado (“transitório”), mas necessita de Quadros neurológicos como encefalite, me-
suporte terapêutico, como hemotransfusão. ningite asséptica e neuropatia periférica po-
dem ocorrer tanto em imunodeprimidos quan-
Devemos considerar que todas as crianças to em imunocompetentes.
com anemia falciforme que apresentem uma
crise aplásica estejam infectadas pelo parvo-
vírus B19, até que se prove o contrário. E a Avaliação Complementar
pergunta final: esse paciente pode ter contato
com outros pacientes de risco? Claro que não, O diagnóstico de eritema infeccioso é, na
pois o início do quadro ainda coincide com o maioria dos casos, definido pela evolução clí-
período de excreção viral. Se ainda tiver dú- nica do exantema, que é bastante específica
vidas, olhe a FIGURA 10 mais uma vez. desta doença. A confirmação virológica pode
ser dispensada mesmo nos casos de crise
aplásica transitória típica nos falcêmicos.
Imunocomprometidos
Detecção de Anticorpos
Os pacientes que apresentam um comprome-
timento da imunidade humoral podem apre- A IgM é detectada logo após o início das ma-
sentar uma infecção persistente pelo parvoví- nifestações clínicas e permanece elevada por
rus B19. Esses indivíduos apresentam anti- seis a oito semanas, sendo o melhor marcador
corpos contra o vírus em títulos muito baixos da infecção aguda. A IgG indica imunidade e
ou ausentes e o DNA viral é identificado no infecção prévia, mas pode indicar a infecção
soro de forma persistente ou recorrente. A aguda quando é demonstrada a elevação dos
manifestação mais comum é uma anemia títulos em amostras pareadas.
crônica, que pode eventualmente ser acom-
panhada por neutropenia, plaquetopenia ou Detecção do DNA viral
supressão medular completa.
A avaliação sorológica nos indivíduos imuno-
Os imunocomprometidos também podem ter comprometidos poderá não indicar a infecção,
um quadro de síndrome hemofagocítica asso- pela ausência da produção dos anticorpos.
ciado à infecção viral. Nessas situações, a forma de documentar a
infecção é pela detecção do DNA viral, o que
requer técnicas complexas, disponíveis basi-
Infecção Fetal camente em centros de referência e pesquisa.
A identificação do DNA viral também pode ser
Pelos mecanismos já descritos na patogênese feita no líquido amniótico para documentar a
da doença, as manifestações clínicas da in- infecção fetal.
fecção fetal incluem a hidropsia fetal não imu-
ne (que não é mediada por anticorpos). O
óbito fetal pode ocorrer em qualquer fase da Tratamento
gestação, mas é mais comum quando a infec-
ção ocorre no segundo trimestre. Alguns fetos Não há qualquer terapia específica contra o
infectados nascem assintomáticos, enquanto parvovírus B19 e na maior parte das vezes
outros podem evoluir com uma infecção crô- não há indicação de tratamento, pois o qua-
nica pelo parvovírus B19, que tem importância dro é autolimitado e a infecção leva à imuni-
desconhecida. A infecção não está associada dade duradoura.
com outras anomalias congênitas.
O quadro de artropatia deve ser manejado com
sintomáticos (analgésicos ou anti-inflamatórios
Síndrome Papular-Purpúrica em “Luvas não esteroidais).
e Meias”
Os imunodeprimidos com anemia crônica e
É uma síndrome pouco comum, caracterizada supressão medular podem se beneficiar da
pela associação de febre com prurido e erite- infusão intravenosa de imunoglobulina. Nos
ma com edema doloroso nas mãos e pés, pacientes com HIV, a resolução da infecção
seguindo uma distribuição em “luvas e meias”. pode ocorrer pela utilização da terapia antir-
Há também petéquias de distribuição acral e retroviral eficaz.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 34
No caso da infecção fetal e dos pacientes com que ambas sejam causadas por enterovírus.
hemólise crônica, o tratamento será de supor- Na síndrome, ou doença mão-pé-boca, são
te através da hemotransfusão, que pode ser observadas lesões papulovesiculosas com
feita mesmo durante a vida intrauterina. eritema subjacente, que atingem pés e mãos,
associadas às lesões orais e faringotonsilares.
As lesões encontradas na cavidade oral con-
Prevenção sistem em vesículas distribuídas pela língua,
mucosa bucal, faringe posterior, gengiva e
Atualmente, ainda não existem medidas es- lábios. Essas vesículas levam à formação de
pecíficas como vacinas no controle pré ou pequenas úlceras envoltas por um halo de
pós-exposição, embora existam estudos nesse hiperemia. Diversos agentes etiológicos po-
sentido. A forma que temos de prevenir a doen- dem estar associados ao quadro, mas o mais
ça é interrompendo a cadeia de transmissão. comum é o vírus coxsackie A16. Na herpan-
gina, temos apenas as lesões na cavidade
Lembre-se de que as crianças com eritema oral, tipicamente associadas com febre eleva-
infeccioso podem ir para a escola, sem res- da (é um diagnóstico diferencial dos casos de
trições, pois já não eliminam mais o vírus. Na faringite aguda na infância). A opção B também
prática, vemos crianças sendo mantidas em está errada. O único critério obrigatório na
casa até a resolução do quadro, o que revela doença de Kawasaki é a presença de febre
um profundo desconhecimento da patogênese alta por pelo menos cinco dias. Além deste,
da doença. são necessários quatro de cinco possíveis
critérios, sendo o exantema polimorfo apenas
As crianças internadas com crise aplásica um deles (os outros são conjuntivite não ex-
induzida pelo parvovírus B19 devem ser sudativa, alterações na cavidade oral, adeno-
mantidas isoladas por até uma semana após megalia cervical e alterações nas extremida-
o desaparecimento da febre e um cuidado des). Já a opção C foi considerada errada pela
especial deve ser adotado para que gestan- banca, mas é muito difícil saber exatamente
tes não tenham contato com esses doentes. o que as bancas querem dizer quando usam
As crianças imunodeprimidas com anemia o termo “principal’’. Em geral, quando o termo
crônica pela infecção pelo vírus devem ser é usado fala-se sobre a complicação mais
mantidas em isolamento durante todo o pe- frequente. As complicações bacterianas mais
ríodo de internação. frequentes na varicela são as infecções bac-
terianas secundárias. Resposta: letra D.
4. EXANTEMA SÚBITO
vação da infecção. Nas situações de compro- Essa febre tipicamente desaparece em crise
metimento da imunidade celular, como após após 72 horas. O que significa esse desapa-
transplantes de medula óssea ou transplantes recimento “em crise”? É o desaparecimento
sólidos, pode ocorrer a reativação da doença, repentino, de uma hora para a outra. É distinto
com infecção disseminada. do desaparecimento “em lise”, que é mais pro-
gressivo. O desaparecimento em lise até pode
ocorrer, mas não é o mais típico.
Transmissão
Outras alterações que podem ser encontradas
A maior fonte de infecção são os adultos sau- nos pródromos incluem irritabilidade, hipere-
dáveis. Acredita-se que a principal forma de mia faríngea, conjuntival ou da membrana
contaminação ocorra pelo contato com a sali- timpânica, rinorreia, sintomas gastrointesti-
va desses adultos assintomáticos, já que o ví- nais, além de linfadenomegalia nas cadeias
rus estabelece infecção persistente nas glân- da cabeça e pescoço.
dulas salivares. Já imaginou como pode ocor-
rer a transmissão, não é? Ao beijar o bebê, Existe algum enantema típico dessa condição?
além de dar amor e carinho, você também po- Na avaliação da cavidade oral, podem ser
derá estar dando HHV-6. Não é fácil precisar identificadas as manchas de Nagayama, que
quem foi o responsável pela transmissão do consistem em pequenas úlceras na junção
vírus para o bebê. entre úvula e palato e que são identificadas
principalmente em crianças de países asiáticos
É por isso que a infecção é tão comum já nos (você já sabe o que procurar quando for exer-
primeiros dois anos de vida. A exposição ao cer pediatria na Ásia...).
vírus ocorre o tempo todo, pois a maioria dos
adultos, ainda que absolutamente saudáveis, Fase Exantemática
elimina o vírus na saliva. Nos primeiros meses
de vida, os anticorpos maternos oferecem al- O exantema tipicamente surge algumas horas
guma proteção para o lactente. Porém, confor- após o desaparecimento da febre.
me esses anticorpos vão saindo da circulação,
virtualmente todas as crianças vão sendo in- Qual é o aspecto das lesões? Esse exantema
fectadas e podem ter o desenvolvimento de é caracterizado pela presença de lesões ma-
manifestações clínicas. culopapulares róseas, não pruriginosas. Tam-
bém é possível a presença de um exantema
A infecção congênita pode ocorrer de duas morbiliforme.
formas: por via transplacentária ou através do
material genético, pois o vírus integra-se ao Como essas lesões progridem? Um dado im-
DNA do cromossomo humano. Esse processo portante é que esse exantema caracteristi-
de integração cromossomial representa a for- camente surge no tronco e daí se dissemina
ma mais comum de transmissão vertical. Ima- para a cabeça e extremidades, de forma cen-
gine: seu filho poderá herdar não apenas os trífuga. Esse padrão é bem diferente do ob-
seus maravilhosos genes e o amor pela medi- servado nas demais doenças que vimos até
cina, mas também um herpes-vírus integrado agora, não é verdade? Até agora tínhamos
no cromossomo! Fique calmo, pois isso não visto exantemas que começavam na cabeça
se associa com doença no período neonatal. e tinham progressão craniocaudal. A duração
do exantema é breve, por vezes apenas al-
gumas horas, e entre um a três dias já terá
Clínica desaparecido, sem descamação. A FIGURA
13 é bem representativa do quadro: lactente,
Em algumas das doenças que vimos até agora, com exantema claro (por vezes é até difícil de
os dados da fase prodrômica foram suficientes percebê-lo) mais evidente no tronco.
para que pensássemos no diagnóstico, como
a presença de manchas de Koplik no sarampo.
Em outras, o que mais importou foi a carac-
terística do exantema, como a evolução típica
do eritema infeccioso. Aqui a história é outra!
Vamos pensar no diagnóstico de exantema
súbito principalmente avaliando a evolução da
doença, isto é, de que modo a fase prodrômica
e a fase exantemática se relacionam.
Fase Prodrômica
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 durante o quadro. III. É causado pelos vírus Her-
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE – RIO pes 6 e 7. IV. Os vírus podem provocar recidiva.
DE JANEIRO – RJ a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
Paciente do sexo feminino, dois anos e seis me- b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
ses, é levada pela mãe ao atendimento médico c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
de emergência por apresentar exantema de d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
aparecimento súbito, com lesões maculopapu- e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
lares rosadas. Essas lesões apareceram no dia
anterior, inicialmente no tronco, disseminando Vejamos cada uma das afirmativas. A afirma-
para cabeça e extremidades. A mãe refere que tiva I está, evidentemente, incorreta. A febre
a criança apresentou febre alta (39-40°C), sem costuma ser alta e ocorre antes da erupção
outros sintomas. Chegou a procurar atendimen- cutânea. As demais afirmativas estão corretas.
to médico, porém não foi encontrada razão para De fato, as crises febris são uma complicação
a febre. Logo após a normalização da tempera- comum nos casos de exantema súbito, doença
tura, apareceram as lesões. O diagnóstico mais causada pelo HHV-6 ou 7. Esses vírus são ca-
provável e sua etiologia, respectivamente, são: pazes de estabelecer infecção latente ou persis-
a) Eritema infeccioso / herpes vírus humano 6 tente e pode ocorrer reativação ou recidiva da
ou 7. infecção. Resposta: letra E.
b) Exantema súbito / herpes vírus humano 6
ou 7.
c) Eritema infeccioso / parvovírus B19. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
d) Exantema súbito / parvovírus B19. HOSPITAL MUNICIPAL DR. MÁRIO GATTI
– SP
Este é um dos diagnósticos diferenciais mais Lactente de 7 meses de idade chega para
cobrados: a distinção entre o exantema súbi- avaliação médica com antecedente de febre
to e o eritema infeccioso. O quadro apresen- alta, 39,5 graus Celsius, persistente por três
tado por esta criança é típico do exantema dias, e sem qualquer outra alteração nesse
súbito, ou roséola infantil. Perceba como, mais período, exceto irritabilidade. Os pais levaram
uma vez, a cronologia fica clara: após o de- a criança para avaliação médica e foram orien-
saparecimento da febre ocorreu o surgimento tados a dar antitérmicos e a colher exames de
das lesões! Lembre-se de que o eritema in- sangue, porém recusaram a coleta. A criança
feccioso é caraterizado por três fases: face permaneceu um dia afebril e agora é trazida
esbofeteada, exantema reticulado e recidiva novamente à consulta por apresentar manchas
do exantema. Resposta: letra B. rosadas, inicialmente vistas no tronco, e não
pruriginosas. Ao exame: lactente em bom es-
tado geral, afebril, com exantema maculopa-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 pular em tronco, leve hiperemia de membranas
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – PI timpânicas bilateralmente, e sem outras alte-
Lactente, 1 ano e 6 meses de idade, iniciou qua- rações. Com relação à hipótese diagnóstica,
dro de febre elevada associada à irritabilidade e assinale a alternativa correta.
à anorexia. No quarto dia de evolução, a febre a) Rubéola ou sarampo alemão, agente vírus
cessou abruptamente e iniciou exantema macu- da rubéola.
lopapular rosado no tronco, que se disseminou b) Roséola infantil ou exantema súbito ou sex-
para face e extremidades. Ao exame, observava- ta doença, agente Herpesvírus Humano 6 e 7.
se linfoadenomegalia cervical e hiperemia do c) Eritema infeccioso ou quinta doença, agente
cavum. O exantema durou 3 dias e desapareceu Parvovírus B 19.
sem descamação. O agente etiológico e o diag- d) Reação alérgica ao antitérmico.
nóstico são:
a) Parvovírus humano B19 e Eritema infeccioso. A situação descrita neste enunciado é bem
b) Herpesvírus humano 6 e 7 e Exantema súbito. representativa do que acontece na prática pe-
c) Epstein-Barr e Mononucleose infecciosa. diátrica. Durante a fase prodrômica, o lactente
d) Vírus Coxsakie e Roséola infantil. com exantema súbito pode ter como única
e) Togavírus e Rubéola. manifestação clínica a presença de febre alta
e, por essa razão, acaba sendo frequentemen-
O enunciado nos dá as seguintes informações: te indicada a realização de alguma avaliação
lactente com febre elevada e com exantema que complementar. Quando realizada (o que não
se iniciou após o fim abrupto da febre. Esta é a foi o caso do enunciado) essa avaliação não
história clássica de um quadro de exantema sú- irá revelar quaisquer alterações características
bito, também conhecido como roséola infantil ou e só saberemos qual é o diagnóstico de nosso
sexta doença. Percebeu como é simples? Res- paciente ao observamos o surgimento do exan-
posta: letra B. tema após o desaparecimento da febre. Res-
posta: letra B.
5. VARICELA
O período de transmissão vai de dois dias - Ministério da Saúde: para todas as crian-
antes do início do exantema até todas as ças aos 15 meses (vacina tetraviral).
lesões tornarem-se crostas. - Pela Sociedade Brasileira de Pediatria:
para todas as crianças, em duas doses
Quais são os dados clínicos mais mar- (aos 12 e 15 meses).
cantes do quadro? Profilaxia pós-exposição – vacina (em
Exantema vesicular de distribuição cen- até cinco dias) ou imunoglobulina huma-
trípeta com lesões em várias fases evolu- na antivaricela-zóster (em até 96h).
Cada nova lesão que surge evolui dessa ma- entre dois e quatro dias. No momento em que
neira. Veja agora que interessante: ao mesmo todas as lesões tornam-se crostas e novas
tempo em que algumas vesículas já se torna- lesões param de surgir, sabemos que a viremia
ram crostas, há novas vesículas surgindo. Por foi interrompida. Isso é fundamental para de-
este motivo, em uma mesma região do corpo, finirmos o momento em que temos certeza de
podemos encontrar lesões em vários estágios que o indivíduo parou de transmitir o vírus e
evolutivos, que dá origem ao polimorfismo pode retomar suas atividades normais, como
regional, tipicamente evidenciado na FIGURA ir à creche ou à escola.
15. Essas lesões também se espalham pelas
superfícies mucosas, atingindo orofaringe, O que ocorre quando essas lesões desapare-
mucosa vaginal e conjuntiva, como você vê cem? Todas as crostas irão finalmente desa-
nesta mesma figura. parecer entre uma e duas semanas deixando
áreas de hipo ou hiperpigmentação. A formação
de cicatrizes permanentes não é comum, ex-
Figura 15: ceto quando ocorre a infecção secundária de
Varicela – uma lesão. Você tem alguma cicatriz que lhe
observe as disseram que era por “catapora”? É possível
lesões em
diferentes que ela seja o fruto de uma lesão infectada.
estágios e
a presença
das lesões Varicela = exantema polimórfico e
em mucosa. pruriginoso
superior a 97% na prevenção dos casos o vírus, o concepto também recebe anticor-
graves e de 85% na prevenção de qualquer pos, o que diminui o risco de doença grave.
forma da doença após o contato com o vírus. E qual é o problema se o quadro clínico ma-
Em termos práticos, isso significa dizer que terno tiver início até dois dias após o parto
aproximadamente uma em cada cinco crian- – a criança já não terá nascido? Lembre-se
ças que tenham recebido uma dose da vaci- de que a viremia tem início antes da erupção
na e sejam expostas ao vírus selvagem terá e, neste caso, a viremia materna já estava
varicela. A doença nessas crianças tem evo- ocorrendo dois dias antes do surgimento do
lução mais benigna e um quadro um pouco exantema, ou seja, antes do nascimento.
diferente, com lesões predominantemente Logo, pouco antes de nascer, o feto terá
maculopapulares e em menor número (me- recebido o vírus, mas não terá havido tempo
nos que 50 lesões). Esse paciente é menos para a produção e passagem de anticorpos.
contagioso, mas ainda assim pode transmitir
o vírus e deve ser afastado do ambiente es- • Varicela congênita: a varicela congênita não
colar. Algumas crianças vacinadas também deve ser confundida com o quadro neonatal que
podem apresentar a forma típica da doença, acabamos de ver. Na varicela congênita, a ex-
mas isso é bem menos comum. posição também ocorre durante a vida intraute-
rina, mas a infecção aqui ocorre no início da
Você percebeu que o quadro de breaktrough gestação e pode levar a malformações. Até 25%
varicella foi caracterizado como um quadro dos conceptos são infectados quando a gestan-
que ocorre mais do que 42 dias após a vaci- te é contaminada no início da gestação, mas,
nação? E se um indivíduo vacinado apresen- felizmente, apenas uma parcela deles irá apre-
tar o surgimento de erupção cutânea em um sentar manifestações. A síndrome da varicela
período inferior a esse, qual será a causa congênita propriamente dita costuma ser encon-
disso? Nessa situação, o quadro poderá ser trada apenas quando a infecção materna tiver
causado pelo vírus vacinal ou pelo vírus sel- ocorrido nas primeiras 20 semanas da gestação.
vagem. O vírus vacinal é um vírus vivo ate- A síndrome é caracterizada por lesões cicatri-
nuado, como iremos estudar com detalhes ciais cutâneas que seguem um padrão zosteri-
em algumas semanas, e pode levar ao sur- forme (acompanham o trajeto de um dermáto-
gimento de uma erupção cutânea de aspec- mo), hipoplasia dos membros e anomalias
to variceliforme. Aceita-se que em países neurológicas, oculares, renais e do sistema
onde ainda há muita circulação do vírus sel- nervoso autônomo. O diagnóstico é estabeleci-
vagem, o exantema que surja até uma ou do pela história de varicela durante a gestação
duas semanas após a vacina seja causado associada aos achados característicos no re-
pelo vírus selvagem. Quando as lesões sur- cém-nascido. Se uma criança sem relato de
girem entre 14 e 42 dias da vacinação, po- varicela apresenta anticorpos IgG contra o vírus
derão ser resultado tanto de uma infecção mesmo após 12-18 meses de vida, isso também
pelo vírus selvagem quanto de um evento indica a infecção intrauterina. Essas crianças
adverso da própria vacina. podem, ainda, apresentar o quadro de herpes-
-zóster no primeiro ano de vida. A FIGURA 17
• Varicela no período neonatal: um recém- ilustra as alterações que podem ser encontradas.
-nascido que desenvolva o quadro de vari-
cela poderá ter sido infectado de duas for- E quando, em vez de ter varicela, a gestante
mas. A primeira delas é a que acabamos de tiver herpes-zóster? Nesses casos, não é
ver, que se aplica a toda a população: o re- comum que ocorra o desenvolvimento de
cém-nascido pode ser exposto, seja na co- malformações no feto. Existem apenas rarís-
munidade ou na maternidade, a um indivíduo simos relatos de anomalias associadas ao
com varicela, ser infectado e vir a desenvol- quadro de herpes-zóster durante a gestação.
ver a doença. A segunda delas é a mais
preocupante: a exposição ao vírus pode
ocorrer por via hematogênica transplacentá-
ria, caso a gestante contraia a infecção.
Crianças nascidas de mulheres com varice-
la iniciada de cinco dias antes até dois dias Figura 17: Va-
após o parto têm um risco alto de desen- ricela congê-
nita – lesões
volver uma forma grave da doença! O que cicatriciais e
ocorre nesta situação é que, durante a fase hipoplasia dos
de viremia materna, o vírus poderá passar membros rela-
cionados.
pela placenta e infectar o concepto. Logo
após o nascimento, a criança ainda estará
no período de incubação da doença e as Herpes-zóster
manifestações clínicas irão surgir tipicamen-
te entre o final da primeira e o início da se- O quadro de herpes-zóster também costu-
gunda semana de vida. Em poucos parágra- ma ser de fácil reconhecimento, como você
fos iremos ver qual estratégia podemos pode observar na FIGURA 18. É exatamen-
adotar para prevenir o adoecimento desses te esse aspecto que caracteriza o quadro:
bebês. Quando a infecção materna ocorrer a presença de lesões vesiculares agrupa-
mais do que cinco dias antes do nascimento, das em um ou dois dermátomos adjacentes
haverá tempo para a produção de anticorpos (mais comumente apenas em um). A região
pela mulher e, deste modo, além de receber torácica é a mais acometida.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 46
Complicações
Figura 18:
herpes-zóster
– observe as As complicações da varicela, principalmente
vesículas as mais graves, são mais frequentes em pa-
agrupadas
acompanhando cientes imunocomprometidos.
o trajeto do
dermátomo. Infecções Bacterianas Cutâneas
Nos pacientes idosos, o surgimento das vesí- Imagine uma lesão pruriginosa em uma pele
culas costuma ser precedido por queimação lesada... É um prato cheio para uma infecção
no local e esta população apresenta compli- bacteriana secundária, não é mesmo? Não é
cações com frequência, sendo a neuralgia difícil entender por qual motivo essas infec-
pós-herpética a mais comum. Além disso, es- ções são tão comuns, acometendo até 5% das
ses pacientes queixam-se de febre, mal-es- crianças com varicela. Os principais agentes
tar e cefaleia. envolvidos são o estreptococo do grupo A e o
Staphylococcus aureus. O espectro de gravi-
O quadro nas crianças é um pouco diferente, dade é amplo e envolve desde o impetigo até
pois o exantema é leve, não se associa com lesões mais profundas. Além disso, a varicela
outras manifestações e não costuma evoluir também serve como porta de entrada para
com neuralgia. Isso não é válido para as crian- infecções estreptocócicas mais graves, como
ças imunocomprometidas, que apresentam um fasceíte necrosante, osteomielite ou sepse.
quadro mais grave e que pode evoluir com a
neuralgia pós-herpética. Além disso, os imu- Surge uma dúvida comum: como é que pela
nodeprimidos podem ter lesões disseminadas, avaliação clínica da lesão saberei que existe
semelhantes às da varicela, e disseminação uma infecção bacteriana associada? Duas
visceral. Reforçando o conceito já visto: há um informações nos auxiliam nesse sentido: a
maior risco de herpes-zóster na infância relacio- primeira é a presença de eritema na base de
nado com a infecção intrauterina ou no primeiro uma vesícula nova; a segunda é a recrudes-
ano de vida. cência da febre após três ou quatro dias do
início do exantema. É evidente que nas infec-
ções mais extensas, como em uma celulite, o
Avaliação Complementar quadro será bem mais exuberante.
tilsalicílico (AAS) durante algumas infecções ter descrito o quadro inicial e depois pergun-
virais (principalmente varicela e influenza) em tado sobre a complicação. A pergunta é: quais
indivíduos geneticamente predispostos. O qua- as complicações neurológicas da infecção pelo
dro clínico é caracterizado pelo surgimento de vírus da varicela? O quadro neurológico en-
vômitos e sintomas neurológicos durante a globa a encefalite e a ataxia cerebelar aguda,
evolução de um quadro viral que parecia já que também pode ser chamada de cerebelite.
estar se resolvendo. Ocorre o rebaixamento do Você acabou de aprender que o quadro de
nível de consciência, culminando no estado ataxia cerebelar aguda se caracteriza pelas
comatoso. alterações na marcha, nistagmo e distúrbios
na fala, não é? O quadro enunciado trouxe
Embora curse com hepatomegalia e sinais de apenas a alteração na marcha, o que continua
insuficiência hepática franca, não há icterícia. sendo perfeitamente compatível com o diag-
O uso de AAS é terminantemente proscrito nóstico da ataxia cerebelar aguda, ou cerebe-
diante da possibilidade dessas infecções. lite. Resposta: letra B.
• crianças com mais de 12 meses com doenças O tratamento com antiviral é capaz de reduzir
cutâneas ou pulmonares crônicas; a duração da doença e o risco de neuralgia
pós-herpética nos adultos. O benefício do tra-
• indivíduos que usam corticoide sistêmico em tamento em crianças não é tão claro e não é
dose não imunossupressora e por tempo recomendado por todos os especialistas.
curto ou intermitente, ou que usam corticoide
inalatório; Os esquemas utilizados no tratamento dos
adultos incluem o aciclovir, o famciclovir e o
• indivíduos que fazem uso crônico de salici- valaciclovir.
latos;
• Aciclovir oral:
• o segundo caso em um mesmo domicílio.
Dose: 800 mg/dose (adultos) em 5 doses ao
Você não precisa enlouquecer “decorando” dia por 5-7 dias.
essa lista. Os pacientes que vão receber o
aciclovir oral são aqueles com risco de doen- • Aciclovir intravenoso:
ça mais grave ou de complicações. Já tínha-
mos visto que a doença é mais grave em Dose: 500 mg/m²/dose ou 10 mg/kg/dose IV
adultos e no segundo caso de um domicílio e de 8 em 8 horas. Indicado no tratamento de
que as complicações são mais comuns se imunossuprimidos que apresentem quadro
associadas ao uso de alguns medicamentos, disseminado, que é potencialmente fatal. Se
como os corticoides e ácido acetilsalicílico. Por o quadro não for complicado, poderá ser feito
isso, esses pacientes serão candidatos ao o tratamento oral.
tratamento específico!
Os idosos recebem também corticoterapia
associada, o que melhora a evolução na fase
• Aciclovir intravenoso: aguda. A corticoterapia não está recomenda-
da para as crianças.
Dose: 500 mg/m²/dose de 8 em 8 horas por
7-10 dias (dose para maiores de 1 ano), ou
até 48 horas após o surgimento da última lesão RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
ativa. HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN
– SP
As principais indicações para o uso são: Menino de 5 anos de idade, há 3 dias com
febre de até 38°C, lesões pruriginosas na for-
• doença grave ou progressiva (envolvimento ma de vesículas, pápulas e crostas, de apa-
visceral); recimento progressivo em tronco, couro cabe-
ludo e períneo. Segue imagem das lesões:
• imunossupressão (incluindo a corticoterapia Qual das afirmativas abaixo é correta com
em dose imunossupressora); relação à doença apresentada pelo paciente?
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 49
e, por esse motivo, não pode ser administrada irmão teve varicela em casa, não recebe a
em imunodeprimidos e gestantes. vacina por isso. Poderá receber a tetra viral
se estiver na idade apropriada para tal, mas
No Brasil, a vacina contra varicela passou a apenas isso. Da mesma forma, uma criança
ser disponibilizada pelo Ministério da Saúde menor de nove meses que tenha contato com
(na vacina tetraviral) desde o segundo semes- um caso de varicela na comunidade não irá
tre de 2013. A recomendação é de que a va- receber a IGHAVZ!
cina seja administrada aos 15 meses para as
crianças que já tenham recebido uma dose da O Ministério não fornece mais a vacina mono-
tríplice viral. A Sociedade Brasileira de Pedia- valente contra varicela para bloqueios de sur-
tria recomenda que todas as crianças recebam tos em creche. O que se faz nestes casos é
duas doses da vacina. tão somente atualizar a situação vacinal: são
identificadas as crianças entre 15 meses e
A vacina também pode ser feita nos Centros dois anos de idade incompletos (que nada
de Referência para Imunobiológicos Especiais mais são do que as crianças candidatas à
(CRIE) para populações de risco ou indivíduos tetra viral pelo Programa Nacional de Imuni-
que convivam com populações de risco. zações) e, caso as mesmas ainda não tenham
Spoiler: iremos ver tudo isso com bastante recebido a vacina, esta deverá ser feita.
cuidado em algumas semanas.
Se você nunca teve varicela e não foi vacina- Imunoglobulina Humana Antivaricela Zós-
do, procure o CRIE da sua região. Os profis- ter (IGHAVZ): até 96 horas!
sionais de saúde que trabalham na área as-
sistencial, principalmente aqueles em contato A IGHAVZ deve ser administrada até 96 horas
com pacientes imunodeprimidos e os da área após a exposição. A dose é de 125 UI a cada
de pediatria, devem receber a vacina. Não 10 kg de peso (dose mínima de 125 UI, máxi-
queira ter a doença na vida adulta (ainda mais ma de 625 UI) por via intramuscular.
em ano de residência...).
Para saber se há indicação de IGHAVZ, você
deve responder “sim” às três perguntas se-
Pós-exposição guintes:
Esse tema é muito recorrente nas provas. Tal- 1º) O comunicante é suscetível?
vez seja o tópico relacionado à varicela que
mais aparece nos concursos. Leia com calma, • os suscetíveis são os indivíduos sem histó-
pois falta pouco pra acabar. ria bem definida da doença e/ou de vacina-
ção anterior e os indivíduos com imunossu-
A prevenção após a exposição a um caso de pressão celular grave, independentemente
varicela pode ser feita de duas maneiras: pela de história anterior.
vacinação de bloqueio ou pelo uso da Imuno-
globulina Humana Antivaricela Zóster (IGHAVZ). 2º) Houve o contato significativo com o
O uso de aciclovir no fim do período de incu- VVZ?
bação até pode modificar a evolução da doen-
ça, mas não é recomendado para esse fim na • esse contato pode ser domiciliar (perma-
criança hígida. nência junto ao doente durante pelo menos
uma hora em ambiente fechado) ou hospi-
talar (pessoas internadas no mesmo quarto
Vacinação de bloqueio: até 5 dias! do doente ou que tenham mantido com ele
contato direto, prolongado, de pelo menos
A doença pode ser prevenida ou ter sua evo- uma hora).
lução modificada quando administramos a
vacina até três ou cinco dias após a exposição 3º) Esse suscetível é uma pessoa com ris-
ao vírus (quanto antes, melhor). É a mesma co especial de varicela grave?
lógica do que vimos sendo feito nos casos de
sarampo. Porém, cuidado com o seguinte: o • os indivíduos de alto risco incluem:
Ministério da Saúde só libera a vacina para - crianças ou adultos imunodeprimidos;
profilaxia pós-exposição para uma situação de - gestantes;
controle de surto em ambiente hospitalar. Isto - recém-nascidos prematuros (crianças nos
é, quando há um caso de varicela em uma primeiros 28 dias de vida e que tenham
enfermaria, por exemplo, a vacina é adminis- nascido com menos de 37 semanas de
trada nos comunicantes suscetíveis imuno- idade gestacional). Neste caso, a indica-
competentes maiores de nove meses de ida- ção deve levar em conta a história mater-
de até 120 horas (cinco dias) após a exposi- na de varicela e o peso de nascimento/
ção. No bloqueio de surto em ambiente hos- idade gestacional. Se o recém-nascido
pitalar, os suscetíveis que não possam receber prematuro tiver 28 ou mais semanas de
a vacina (imunodeprimidos, grávidas, menores idade gestacional, só recebe a IGHAVZ
de nove meses) irão receber a IGHAVZ. se a mãe não tiver tido varicela, caso con-
trário ele terá recebido anticorpos pela
Se uma criança hígida maior de nove meses placenta; se tiver menos de 28 semanas
vai ao CRIE ou ao posto de saúde porque seu de idade gestacional ou menos de 1 kg
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 51
recebe de qualquer maneira, pois mesmo tido a doença, procura unidade dentro das
que a mãe tenha tido varicela a criança 96 horas pós-contágio para orientação.
terá nascido antes que a passagem trans- Mesmo a mãe tendo tido varicela, mas sen-
placentária de anticorpos ocorresse. Aten- do gestante, há a necessidade da imuno-
ção para o seguinte: não são todas as globulina humana anti-varicela-zóster?
crianças que nasceram prematuras que Não! Faremos a imunoglobulina apenas para
recebem a imunoglobulina, apenas os os indivíduos que sejam suscetíveis, isto é,
recém-nascidos, isto é, nos primeiros 28 não tenham tido a doença ou não tenham
dias de vida. sido previamente vacinados. A única situação
em que a história pregressa não terá impor-
Além disso, a IGHAVZ também é administrada tância será nos casos em que o paciente for
para os recém-nascidos, independente de portador de imunossupressão celular grave.
idade gestacional, de mães nas quais a vari-
cela apareceu nos cinco últimos dias de ges-
tação ou até 48 horas depois do parto (já tí- O aluno pergunta...
nhamos visto por qual motivo!). Neste caso,
“Qual é a conduta para uma criança
as duas primeiras perguntas nem precisam
menor de nove meses e que foi pre-
ser respondidas, pois a exposição terá sido
matura e que tenha contato em casa com um
por via hematogênica transplacentária. O re-
caso de varicela?”
cém-nascido a termo que tenha contato do-
méstico com um caso de varicela, não irá re- A imunoglobulina só é feita para os recém-
ceber a imunoglobulina por isso... -nascidos prematuros, levando-se em conta a
idade gestacional e o histórico materno da
É importante que você tenha o seguinte cui- doença. Após este período, só haveria reco-
dado: na sua prova nem sempre todas essas mendação de imunoglobulina para controle de
perguntas são respondidas de forma clara. surto em ambiente hospitalar. No contato do-
Os enunciados geralmente dizem apenas que méstico, não há nada a se fazer.
houve um caso de varicela na enfermaria ou
na casa de um imunodeprimido, sem detalhar
o tempo de exposição. Não brigue com a
REPETIR! REPETIR! REPETIR! SÓ ASSIM
questão por isso! Entenda o que o autor está
PARA NÃO ESQUECER!
tentando dizer e marque a opção correta!
Parece confuso?
E quando há o contato com o paciente que tem Veja só como é mais simples do que parece!
herpes-zóster, não é necessário fazer nada? Antes de ler as respostas, tente indicar sua
Os indivíduos de alto risco também devem re- conduta em cada caso.
ceber a imunoglobulina quando têm contato O que você faria nessas situações?
próximo com o paciente com herpes-zóster.
Situação 1: paciente com imunossupressão
grave, sem história prévia de doença, cujo ir-
mão mais novo, que mora na mesma casa,
Os casos de varicela devem está com varicela iniciada há 24 horas.
ser notificados? Situação 2: gestante, sem história prévia de
Desde junho de 2014, através da doença ou de vacina, cujo filho mais velho está
portaria 1.271, que define a lista com varicela iniciada há 48 horas.
nacional de notificação compulsó- Situação 3: lactente, seis meses, sem história
ria de doenças, agravos e eventos prévia de doença, cujo irmão mais velho, que
de saúde pública nos serviços de mora na mesma casa, está com varicela iden-
saúde públicos e privados em todo tificada há poucas horas.
o território nacional, os casos de Situação 4: lactente, seis meses, sem história
varicela graves internados e os prévia de doença, internado para realizar ci-
óbitos pela infecção passaram a rurgia ortopédica, está em pós-operatório
ser de notificação compulsória e quando tem contato com criança na mesma
imediata. enfermaria com varicela.
Não confunda! Os casos de menor Situação 5: lactente, onze meses, sem histó-
gravidade, acompanhados apenas ria prévia de doença, internado para realizar
ambulatorialmente, não precisam cirurgia ortopédica, está em pós-operatório
ser notificados. quando tem contato com criança na mesma
enfermaria com varicela.
Pense antes de ler… Pense mais um pouco…
O aluno pergunta... Respostas:
Situação 1: recomendar a imunoglobulina.
“Tenho uma dúvida a respeito de
exposição de gestantes a indivíduos Situação 2: recomendar a imunoglobulina.
com varicela. Se uma gestante no 2º trimes- Situação 3: nada a se fazer no momento.
tre de gestação, com filho de cinco anos Situação 4: recomendar a imunoglobulina.
com varicela, tendo histórico (sic) de já ter Situação 5: recomendar a vacina.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 52
Veja como as questões sobre esse tópico Nesta questão sequer houve a necessidade
sempre se repetem: de respondermos às três perguntas, pois a
indicação de profilaxia estava contemplada
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 em todas as opções. Já sabemos que o aci-
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA ULBRA – RS clovir não deve ser utilizado com essa finali-
Em seu 2º dia de internação no alojamento dade. Ficamos entre o uso da vacina e o uso
conjunto, uma puérpera recebe o diagnósti- da imunoglobulina. O paciente é imunodepri-
co de varicela. Seu filho nasceu de termo, mido, pois faz corticoterapia sistêmica em
com peso adequado, e não apresenta qual- dose imunossupressora (está internado para
quer alteração ao exame físico. A conduta pulsoterapia). É claro que não poderá receber
a ser tomada em relação a este Recém-Nas- a vacina. Indicaremos o uso da imunoglobuli-
cido (RN) é: na. Resposta: letra A.
a) Tranquilizar a mãe, enfatizando o caráter
benigno dessa doença, e manter o RN sob
rígida observação por 10 a 14 dias. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2007
b) Administrar imunoglobulina hiperimune an- FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA
tivaricela zóster (VZIG) ao RN. UNICAMP
c) Prescrever aciclovir à mãe, para evitar con- Menina, 5 anos, com síndrome nefrótica de
taminação do leite do seio pelo agente da lesões mínimas, em tratamento com predni-
doença. sona VO há um mês (2 mg/kg/dia), admitida
d) Administrar ao RN a 1ª dose de vacina te- com o diagnóstico de varicela. ASSINALE A
travalente viral (“MMR-V”). ALTERNATIVA CORRETA EM RELAÇÃO ÀS
MEDIDAS DE ISOLAMENTO E TERAPÊUTI-
A mortalidade é particularmente elevada CAS NESSE CASO:
em recém-nascidos de mães que apresen- a) Unidade de isolamento, sendo desneces-
taram varicela próximo à data do parto (cin- sária a pressão negativa; aciclovir IV e imuno-
co dias antes do parto a dois dias após), já globulina contra varicela zóster (VZIG).
que estão sob alto risco de varicela com b) Unidade de isolamento com pressão nega-
complicações graves. Nesses casos, está tiva; ganciclovir IV.
indicado o isolamento da mãe na fase con- c) Unidade de isolamento com pressão nega-
tagiante das lesões até a fase de crosta, tiva; aciclovir IV.
além da administração, o mais precocemen- d) Unidade de isolamento, sendo desneces-
te possível, de imunoglobulina específica sária a pressão negativa; aciclovir IV.
contra varicela na criança. Muitos autores e) Unidade de isolamento com pressão ne-
consideram que nesta fase possa ser forne- gativa; aciclovir IV e imunoglobulina contra
cido o leite ordenhado; outros recomendam varicela zóster (VZIG).
que esse leite passe pelo processo de pas-
teurização antes de ser oferecido. De qual- Mais um nefrótico! Catapora, sarampo e
quer maneira, o leite materno pode ser ofe- tuberculose são doenças transmissíveis por
recido, apesar do ato de amamentar estar aerossol e não apenas por gotículas de secre-
temporariamente suspenso devido ao isola- ção respiratória. Isso significa que não basta
mento da mãe. Resposta: letra B. manter o doente isolado numa unidade fecha-
da, pois cada vez que a porta da unidade se
abre temos a dispersão do agente infectante
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 no ambiente. Assim sendo, esses pacientes
HOSPITAL SÃO LUCAS DA PUC-RS – RS devem ser mantidos em unidades de pressão
Criança, 3 anos, com síndrome nefrótica em negativa, com sistema de exaustão isolado.
uso de corticoide VO há 1 mês, interna para Não há papel para a imunoglobulina específica
realizar pulsoterapia. Durante a hospitaliza- contra o vírus varicela-zóster no tratamento
ção, a criança do leito ao lado desenvolve da doença. Essa menina deveria ter recebido
varicela. Qual a conduta imediata para o pa- a imunoglobulina quando entrou em contato
ciente nefrótico? com o vírus, não agora. Em pacientes imu-
a) Aplicar imunoglobulina especifica. nodeprimidos (nessa paciente devido ao uso
b) Vacinar contra varicela e aplicar imunoglo- de corticoide em dose imunossupressora),
bulina específica. indica-se o tratamento com o aciclovir venoso
c) Administrar aciclovir VO por 10 dias e vaci- na dose de 500 mg/m2 de 8/8h por sete dias
nar contra varicela. ou até que parem de surgir novas lesões (o
d) Vacinar contra varicela. que significa o término da viremia). Resposta:
e) Administrar aciclovir IV por 7 dias. letra C.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 53
Introdução Transmissão
A nossa abordagem nesta seção será um pou- O homem é o único reservatório dos entero-
co diferente. Agora não vamos falar de uma vírus. O vírus é transmitido principalmente de
doença única, causada por um agente etioló- um indivíduo para o outro por via fecal-oral ou
gico específico. Pelo contrário, vamos falar de por via respiratória. Também pode ocorrer a
alguns vírus pertencentes a um mesmo gênero transmissão vertical, que pode ser antenatal,
que podem ter várias manifestações clínicas, periparto ou pela amamentação. Esses vírus
incluindo manifestações cutâneas. São essas podem permanecer no ambiente e é possível
manifestações cutâneas que fazem com que que ocorra a transmissão por fômites.
as doenças causadas por esses agentes en-
trem no diagnóstico diferencial das doenças Muitas vezes a fonte da infecção é um indiví-
exantemáticas. Voltaremos a falar sobre outras duo assintomático, por esse motivo, torna-se
condições associadas às infecções por esses difícil precisar o momento exato do contágio
vírus em outros momentos ao longo do ano, e o período de incubação dos agentes. De todo
como no diagnóstico diferencial das faringites modo, o período de incubação médio costuma
e na avaliação dos quadros de miocardite. durar entre três e seis dias. As crianças infec-
tadas costumam eliminar o vírus pelo trato
Quem são os agentes causadores? respiratório por até três semanas e podem
continuar eliminando-os nas fezes por várias
As doenças que vamos estudar agora são cau- semanas (até sete ou 11 semanas). Embora
sadas por vírus que pertencem ao gênero En- a eliminação do vírus possa ser tão prolonga-
terovírus da família Picornaviridae. São peque- da assim, o período de maior transmissibilida-
nos vírus de RNA, tradicionalmente subdividi- de é no início da doença, quando a eliminação
dos em cinco subgrupos: poliovírus (que não de vírus é maior.
serão abordados aqui), coxsackie A, coxsackie
B, echovírus, enterovírus. Em cada um desses
subgrupos encontramos vários sorotipos, dife- Patogênese
renciados por números (exemplo: coxsackie A
16, enterovírus 71). O vírus penetra no organismo pela via oral
ou respiratória e começa a se replicar na fa-
ringe e no intestino. Após alguns dias dessa
Epidemiologia replicação inicial, ocorre a multiplicação do
vírus nos tecidos linfoides, como as amíg-
As infecções por esses agentes são bastante dalas, placas de Peyer e linfonodos regio-
comuns. Para você ter uma ideia da importân- nais. A seguir, ocorre uma viremia primária
cia dessas infecções, os enterovírus são res- (viremia minor), capaz de disseminar as
ponsáveis por 33-65% de todas as doenças partículas infectantes para o sistema reticu-
febris agudas nos Estados Unidos nas crian- loendotelial, acometendo o fígado, o baço,
ças menores de um ano, principalmente no a medula óssea e os linfonodos distantes.
outono e inverno. Nas regiões tropicais e se- O sistema imune do hospedeiro é capaz
mitropicais, o vírus circula o ano inteiro. de limitar a replicação viral neste ponto, o
que resulta em uma infecção subclínica.
As doenças associadas são benignas e auto- Porém, em alguns indivíduos, a replicação
limitadas, na maior parte das vezes, mas al- viral pode continuar ocorrendo no sistema
guns fatores podem estar associados ao au- reticuloendotelial, levando a uma viremia
mento da incidência e da gravidade dos qua- secundária (viremia major), capaz de atin-
dros. Os fatores associados à maior gravidade gir órgãos-alvo, como o coração, o sistema
incluem: idade mais baixa, sexo masculino, nervoso central e a pele. O tropismo pelo
baixo nível socioeconômico, aglomerações e tecido-alvo varia de acordo com o soroti-
má higiene. Mais de 25% das infecções sin- po do vírus. O dano a cada um desses te-
tomáticas por esses agentes ocorrem nas cidos será resultado da necrose mediada
crianças menores de um ano. pelo vírus e pela reação inflamatória local.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 54
me febril inespecífica pelos enterovírus não clínicas das enteroviroses. Já foram descritas
será um quadro tão comum justamente por várias síndromes neurológicas em epidemias
ser tão inespecífico. Na vida, a distinção é recentes pelo enterovírus 71, com e sem ma-
eventualmente complicada, principalmente nifestações cutâneas (como a própria doença
quando o exantema súbito não se apresenta mão-pé-boca).
da forma clássica.
Já tínhamos visto que a integridade humoral
Herpangina é fundamental para o controle da replicação
viral. Os pacientes com imunodeficiência
A herpangina é essencialmente um diag- humoral e combinada possuem risco ele-
nóstico diferencial dos quadros de faringite vado para um quadro de meningoencefalite
na infância e falaremos mais sobre ela no crônica, que é caracterizado pela presença
estudo das infecções respiratórias agudas. de liquor com alterações persistentes e com
É caracterizada por febre alta, odinofagia, e presença de vírus detectável por anos, e
lesões vesiculares e ulceradas localizadas quadros recorrentes de encefalite e/ou de
principalmente na faringe posterior, não dis- deterioração neurológica progressiva.
seminadas por toda a cavidade oral, como
na doença mão-pé-boca. Alguns desses enterovírus não pólio, como o
enterovírus 70 e 71, o coxsackie A 7 e 24, al-
Conjuntivite Aguda Hemorrágica guns coxsackie B e alguns echovírus, podem
ser responsáveis por quadros de paralisia
Alguns enterovírus estão associados a epi- flácida semelhantes ao da poliomielite. Esses
demias deste quadro, mais comum em crian- quadros são mais brandos que os associados
ças em idade escolar, adolescentes e adul- ao poliovírus.
tos entre 20 e 50 anos. O paciente apresen-
ta-se com dor ocular, fotofobia, lacrimeja- Outras Manifestações
mento, turvação visual, eritema e congestão
conjuntival, edema palpebral, linfadenopatia Os enterovírus correspondem a 25-30% das
pré-auricular e, eventualmente, hemorragia causas provadas de miocardite e pericardite.
subconjuntival e ceratite superficial. A secre- O coxsackie B é o agente mais comumente
ção ocular pode tornar-se purulenta, caso envolvido. Adolescentes e adultos jovens são
ocorra infecção bacteriana secundária. grupos bastante afetados pela doença.
A cultura viral pode ser realizada para con- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
firmação da infecção. O ideal é que sejam (ACESSO DIRETO DISCURSIVA)
obtidas amostras de vários sítios corporais, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP
com o objetivo de aumentar a sensibilidade Dois irmãos, um de 1 ano e 3 meses de ida-
do exame. Porém, nem todos os enterovírus de e outro de 7 anos de idade são atendidos
crescem em culturas. A detecção do vírus por em unidade de pronto atendimento. A criança
técnicas de PCR pode identificar a maioria de 1 ano e 3 meses (paciente 1) apresenta
dos enterovírus e oferece resultados em pou- quadro de febre de até 39°C há 3 dias, asso-
cas horas, diferentemente da cultura. ciada a recusa alimentar, sialorreia e irritabi-
lidade. A mãe nega tosse, coriza, alterações
A detecção de anticorpos não é utilizada para urinárias ou de trato gastrintestinal. Ao exame
a tomada de decisões clínicas, sendo reser- clínico, apresenta-se em BEG, corada, hidra-
vada essencialmente para estudos epidemio- tada e ativa. Avaliação cardiopulmonar e
lógicos ou situações graves em que se quer abdominal sem alterações significativas.
identificar um sorotipo em especial (como em Otoscopia sem alterações significativas.
epidemias pelo enterovírus 71). Oroscopia: vide foto abaixo. Sem sinais me-
níngeos. A criança de 7 anos (paciente 2)
apresentou quadro de diarreia e febre há 1
Tratamento semana mas há 4 dias já se apresenta afebril
e com fezes normais. Entretanto, a mãe re-
O tratamento consiste, essencialmente, em fere que nos últimos dias a criança está mais
suporte, uma vez que não há um antiviral prostrada e não quer comer e nem mesmo
específico. Muitos dos lactentes infectados brincar. Ao exame clínico, apresenta-se em
por um enterovírus acabam recebendo anti- REG, descorada 1+/4+, hidratada, hipoativa.
microbianos até que se saiba que eles não Ausculta cardíaca com bulhas rítmicas com
estão com nenhuma infecção bacteriana. Nas presença de B3 e sopro sistólico 3+/6+ em
infecções mais graves, pode ser necessário foco mitral – FC = 150 bpm. Ausculta pulmo-
suporte em unidade de terapia intensiva, com nar com murmúrios vesiculares presentes e
suporte respiratório e hemodinâmico. estertores subcreptantes em ambas as bases
pulmonares – FR = 35 ipm, tiragem subdia-
O uso de imunoglobulina nas infecções por fragmática leve, sem outras tiragens. Abdome
enterovírus já foi estudado em vários cenários flácido, ruídos hidroaéreos presentes, fígado
clínicos diferentes. Sabemos que a resposta palpável a 2 cm do RCD, baço não palpável.
humoral é fundamental para o controle da Otoscopia e oroscopia sem alterações signi-
infecção e que a ausência dos anticorpos ficativas. Boa perfusão periférica e tempo de
neutralizantes é um fator de risco para as enchimento capilar < 3 segundos. Qual a
infecções sintomáticas. Porém, o uso da principal hipótese diagnóstica para o quadro
imunoglobulina no tratamento das infecções atual apresentado pelo paciente 1?
neonatais ainda não se mostrou comprovada-
mente benéfico. O sucesso no tratamento de
pacientes com hipogamaglobulinemia e me-
ningoencefalite crônica e nos pacientes com
neoplasias e infecções graves foi variável.
Outros usos, como na miocardite, também
são inconclusivos. O uso de interferon em
casos de miocardite já se mostrou benéfico
em alguns relatos.
Diversos antivirais (exemplo: Pleconaril) têm Questão bem interessante! Vejamos, pri-
seu uso estudado na infecção por esses vírus. meiramente, o que apresenta o lactente de
1 ano e 3 meses. Independentemente do
quadro do irmão mais velho, não é difícil
Prevenção perceber que o lactente tem um quadro de
herpangina. Há 3 dias a criança vem apre-
Não existem vacinas para os enterovírus não sentando febre alta, recusa alimentar, sia-
pólio. A principal maneira de prevenirmos a lorreia e irritabilidade. Inúmeras condições
infecção é pela adoção de medidas de higiene, entram no diagnóstico diferencial dessas
como lavagem de mãos, evitar compartilhar manifestações e vamos discuti-las no mó-
copos e utensílios e a desinfecção de super- dulo de infecções respiratórias agudas. Po-
fícies contaminadas. rém, ao avaliarmos a imagem mostrada pela
banca conseguimos perceber a presença de
Veja como este tema cairá na sua prova. lesões ulceradas localizadas no palato mole,
Comece pela questão muitíssimo bem pen- na úvula e nos pilares amigdalianos anterio-
sada da USP. res (na reprodução acima talvez isso não
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 57
esteja tão nítido, mas na prova original a tros enterovírus são os principais agentes
percepção era mais clara!). O lactente com identificados. Na ocasião foi questionado se
faringite aguda que cursa com úlceras ou não deveria ser indicada também a presença
vesículas nessa topografia é certamente o de pericardite, mas sem a descrição de um
lactente que tem o diagnóstico de herpangi- ruído de atrito pericárdico, não haveria razão
na, uma doença causada por algum membro para indicar tal comprometimento. Gabarito
do gênero dos enterovírus, da família Picor- oficial: miocardite viral aguda.
naviridae. O coxsackie A é o vírus mais co-
mumente implicado nos casos, embora o E não parava por aqui....
quadro também possa ser causado por ou-
tros enterovírus, como o enterovírus 71. O Qual agente etiológico poderia explicar as
quadro de herpangina tipicamente tem início afecções das duas crianças?
com febre alta, odinofagia, disfagia e o sur-
gimento das lesões na faringe posterior. As O agente infeccioso mais comumente en-
lesões características consistem em vesícu- contrado na herpangina é o coxsackie A, em-
las e úlceras com 1-2 mm, que podem au- bora outros enterovírus também possam levar
mentar, e que são envolvidas por um halo a essa manifestação. Na miocardite viral agu-
hiperemiado. Essas lesões tipicamente es- da, os enterovírus, de um modo geral, são os
tão distribuídas nos pilares amigdalianos principais agentes; o coxsackie B é o principal.
anteriores, no palato mole, úvula e parede A banca, de forma correta, aceitou mais de
posterior da faringe. O quadro é autolimitado uma resposta. Porém, se você tivesse que
e tem resolução em 3-7 dias. O gabarito escolher apenas uma, o mais “acertado” seria
oficial foi: herpangina ou coxsackiose. indicar que o agente é um vírus coxsackie.
Gabarito oficial: Coxsackie OU Ecovírus OU
Veja como a questão continuava... Enterovírus.
Os anticorpos anti-EBNA são os últimos a Não é comum, mas é a complicação mais te-
surgir, aparecendo apenas três ou quatro me- mida. Ocorre principalmente em adultos, em
ses após a infecção aguda. Assim, se não geral na 2ª semana de doença, em associação
dispusermos da IgM anti-VCA, a associação a algum trauma, mesmo que leve. É por esse
de um resultado de IgG anti-VCA reagente motivo que deve ser feita a recomendação
com um resultado de anti-EBNA não reagente de afastamento dos esportes de contato e de
também sugere infecção recente. atividades físicas mais intensas por pelo me-
nos um mês após o diagnóstico ou enquanto
Veja na TABELA 1 como interpretar algumas houver esplenomegalia.
possíveis combinações:
Obstrução de Vias Aéreas Superiores (< 5%)
Tabela 1: Interpretação dos marcadores
sorológicos na infecção pelo EBV. O edema das amígdalas e do tecido linfoi-
de adjacente pode levar a uma verdadeira
Anti-
Anti- Anti- obstrução das vias aéreas superiores, que
-VCA Situação se manifesta por estridor, sialorreia e des-
-EA -EBNA
IgM IgG conforto respiratório. O paciente deve ser
Sem infecção hospitalizado para hidratação venosa, oxigê-
- - - -
pregressa
nio umidificado e corticoterapia. Os quadros
Infecção
+ + +/- - mais graves podem necessitar até mesmo de
aguda
intubação traqueal.
Infecção
- + baixo/- +
pregressa
Sintomas Neurológicos
Veja se você teria dúvidas em escolher a Os sintomas neurológicos mais graves são
opção certa. pouco comuns, mas podem ser as únicas ma-
nifestações clínicas da doença. A cefaleia está
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 presente em 50% dos casos e em 1-5% dos
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DE casos vamos encontrar convulsões e ataxia
SANTA CATARINA cerebelar. A síndrome de Guillain-Barré e a
O diagnóstico de mononucleose infecciosa síndrome de Reye são complicações descritas.
na criança nem sempre é fácil de ser com-
provado, especialmente em crianças com A síndrome de Alice no país das maravilhas
pouca idade. Qual teste laboratorial você re- manifesta-se por sintomas de distorção visual
comendaria para a comprovação diagnóstica de formas e tamanhos (metamorfopsia) e pode
da mononucleose infecciosa em uma criança ser um sintoma inicial.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 62
Algumas outras doenças de etiologia viral ou sos agentes virais ou bacterianos na origem
mesmo de etiologia ainda não estabelecida dos sintomas.
também são causas de quadros exantemáti-
cos bem caracterizados. Veja-os a seguir.
Acrodermatite papular da
infância
Exantema laterotorácico
unilateral Esta condição também é chamada de síndro-
me de Gianotti-Crosti. Consiste em uma
Trata-se de uma condição descrita há pouco erupção inespecífica que pode estar associa-
mais de 20 anos. Os achados característicos da com diversas infecções virais, como a in-
incluem uma erupção unilateral, com lesões fecção pelo vírus Epstein-Barr, pelo vírus da
escarlatiniformes, maculopapulares ou ecze- hepatite B, dentre outros. Também acredita-se
matosas, acompanhadas de prurido na meta- haver associação com algumas vacinas.
de dos casos. As lesões iniciais são encontra-
das mais comumente no tronco e na axila. O quadro é mais comum nas crianças entre
Durante a evolução da doença, a erupção dois e seis anos e é caracterizado pelo apare-
pode manter-se unilateral ou pode se disse- cimento de erupção monomórfica, eritemato-
minar, mas a predominância unilateral é man- papular, não pruriginosa. As lesões têm um topo
tida. Após um período de quatro a seis sema- achatado e distribuem-se na face, nas nádegas
nas, ocorre a melhora espontânea. e nas extremidades; o tronco costuma ser pou-
pado. O desaparecimento da erupção ocorre
Não se sabe exatamente qual a etiologia des- espontaneamente após um período de 15 a 20
te quadro; estuda-se a participação de diver- dias, podendo ser mais prolongado.
Principais Doenças
Exantemáticas Bacterianas
1. ESCARLATINA
65
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 66
Fase Exantemática
Transmissão
O exantema costuma surgir 24 ou 48 horas
O indivíduo que transmite a bactéria não é o após o início das manifestações clínicas, mas
portador assintomático, mas sim aquele que também pode ser a manifestação inicial. O
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 67
Principais Doenças
Exantemáticas Reumatológicas
1. DOENÇA DE KAWASAKI
Introdução Patogênese
Não são apenas as doenças infecciosas que A doença de Kawasaki é uma vasculite que
causam exantema. A doença de Kawasaki é acomete especialmente as artérias de médio
estudada no grupo das doenças reumatoló- calibre, com predileção pelas artérias coro-
gicas da infância e frequentemente entra no nárias. A avaliação histopatológica de casos
diagnóstico diferencial das síndromes exan- fatais revela a presença de processo inflama-
temáticas. Essa doença será novamente vis- tório intenso na parede vascular. Nos casos
ta quando falarmos sobre as vasculites. mais graves há o acometimento de todas as
três camadas da parede, com destruição da
Essa condição é uma doença febril aguda que lâmina elástica interna, levando ao enfraque-
se associa a uma vasculite com predileção pe- cimento da parede e formação aneurismática
las artérias coronárias. É justamente esse o no local. Outras vezes, a regeneração é conse-
grande problema da doença. guida através da proliferação intimal, levando
a estenose e oclusão do vaso.
Qual é a etiologia?
• Fase de convalescença: tem início quando alta e contínua e sem tratamento dura cerca
todos os sinais clínicos desaparecem e se de uma ou duas semanas, mas pode durar até
encerra quando a Velocidade de Hemos- três ou quatro semanas.
sedimentação (VHS) se normaliza. Dura
até por seis a oito semanas após o início • Congestão Ocular
da doença. Descendo um pouco chegamos aos olhos. A
congestão ocular é na verdade uma conjun-
tivite bilateral sem exsudato (FIGURA 30).
• Linfadenopatia Cervical
Da boca vá para o pescoço. O próximo cri-
tério é a presença de linfadenopatia cervi-
cal, com diâmetro maior do que 1,5 cm, que
em geral é unilateral.
Figura 29: Doença de Kawasaki. Fases
clínicas e manifestações características.
• Exantema Polimórfico
Do pescoço para as extremidades você
O diagnóstico é estabelecido com base em passa pelo resto do corpo. É onde está o
critérios clínicos. Para definirmos que estamos exantema, mais exuberante no tronco e na
diante de um quadro de doença de Kawasaki região inguinal, como evidente na FIGURA
são necessários cinco de seis critérios clí- 33. Na doença de Kawasaki podemos ter
nicos, sendo que o primeiro deles (a febre) é um exantema polimórfico, isto é, diferentes
obrigatório. Para a memorização desses cri- tipos de exantema podem ser encontra-
térios ser mais fácil, vamos tentar fazer um dos: maculopapular, escarlatiniforme, eri-
trajeto que começa na testa (local onde todos tema multiforme. As lesões vesiculares tipi-
instintivamente avaliam se há febre!) e termi- camente não são encontradas e tornam o
na nas extremidades (aproveite que você está diagnóstico menos provável.
só e faça a mímica enquanto lê. Acredite, esta
coreografia tornará a memorização mais fácil). Alterações de Extremidades
Vejamos cada um deles: Chegamos às extremidades. Na fase agu-
da da doença há eritema da região palmo-
• Febre plantar e edema das mãos e pés. Na fase
Coloque a mão na testa e lembre-se do critério subaguda da doença ocorre a descamação
obrigatório: febre. A febre deve estar presente periungueal. Essas alterações estão repre-
por pelo menos cinco dias. A febre em geral é sentadas nas FIGURAS 34 e 35.
Doença de Kawasaki
Figura 30: Conjuntivite não exsudativa.
Figura 31: Língua em morango ou framboesa.
Figura 32: Lábios fissurados.
Figura 33: Exantema mais intenso na região inguinal.
Figura 34: Fase aguda – mãos eritematosas e edemaciadas.
Figura 35: Descamação plantar.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 73
Treine um pouco com os próximos casos. vite bilateral, alterações da cavidade oral,
Enquanto lê cada enunciado, vá percorren- adenomegalia cervical, exantema e alterações
do o caminho das manifestações clínicas nas extremidades. A conjuntivite na doença de
com a sua mão. Kawasaki é, tipicamente, uma conjuntivite não
exsudativa bilateral (opção A errada); é uma
manifestação bem comum na doença e, em
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 (ACESSO DI- alguns levantamentos, encontramos a descri-
RETO DISCURSIVA) ção de sua presença em mais de 90% dos
HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN casos. O exantema na doença de Kawasaki é
– SP descrito como um exantema polimorfo, isto é,
Menino com 2 anos de idade é atendido com tem mais de uma apresentação possível. Ti-
história de febre alta há 6 dias acompanhada picamente, podemos ter um exantema macu-
por irritabilidade, hiperemia bilateral de con- lopapular, escarlatiniforme ou na forma de
juntivas sem exsudato, exantema maculopa- eritema multiforme. Costuma haver uma acen-
pular em tronco, abdome e raiz de membros, tuação das lesões na região inguinal e, carac-
hiperemia de lábios e mucosa oral, presença teristicamente, não há presença de lesões
de gânglio submandibular direito com 1,5 cm vesicobolhosas (opção B errada). A febre com
de diâmetro e discreto edema nos tornozelos. duração de pelo menos cinco dias é um crité-
O restante do seu exame físico é normal. Nes- rio universal e obrigatório para o diagnóstico
te caso cite: o diagnóstico. da condição, porém, nos casos não tratados,
costuma ter duração de uma a duas semanas
GABARITO HIAE: Doença de Kawasaki ou e, eventualmente, pode chegar a três ou qua-
Kawasaki. tro semanas (opção D errada). E, finalmente,
Ficou fácil perceber que, além da febre, o pré- a adenomegalia não supurativa é geralmente
-escolar apresenta todos os outros critérios unilateral, cervical, com um gânglio de diâme-
necessários para o diagnóstico. É verdade que tro maior que 1,5 cm. A adenomegalia é, real-
o edema de tornozelos não seria a alteração mente, o critério menos comumente observa-
de extremidades tipicamente descrita; espe- do desses critérios descritos (opção C correta);
raríamos a descrição de edema nas mãos ou em algumas séries, podemos encontrar a
pés. Porém, ainda assim, temos quatro outras descrição de adenomegalia nas cadeias de
alterações: conjuntivite, alterações na cavida- cabeça e pescoço em apenas 30% dos casos.
de oral e lábios, adenomegalia e exantema. Resposta: letra C.
Outras Manifestações Associadas – COM- vel, como no caso. Assim, é evidente que
PLICAÇÕES não vamos puncionar ou retirar essa massa
(imagine o susto no momento da punção!).
Além das alterações já descritas, outras mani- Façamos o ecocardiograma para avaliação
festações podem estar presentes no quadro. de aneurismas coronarianos, como descrito
Essas manifestações incluem sintomas gas- na opção A.
trointestinais, respiratórios, articulares.
A Forma Atípica ou Incompleta da Doença
A maioria dos pacientes apresenta miocardite
na fase aguda da doença, como está repre- O diagnóstico da forma clássica é um diagnós-
sentado na FIGURA 29. Os aneurismas coro- tico relativamente simples de ser estabelecido.
narianos se desenvolvem em até 20 ou 25% Porém, alguns pacientes não preenchem todos
dos pacientes que não são tratados com a os critérios e podem receber o diagnóstico de
imunoglobulina ao longo da segunda ou ter- doença de Kawasaki atípica ou incompleta. A
ceira semanas de doença. Os aneurismas avaliação laboratorial e ecocardiográfica será
gigantes são aqueles com diâmetro interno necessária para o estabelecimento do diagnós-
maior ou igual a 8 mm e são os com maior tico dessa forma. A combinação de alterações
risco para ruptura, trombose, estenose e in- laboratoriais e/ou alterações ecocardiográficas
farto do miocárdio. É por esse motivo que o permite que o tratamento seja iniciado mesmo
ecocardiograma sempre será feito na avalia- sem a presença de pelo menos cinco dos cri-
ção dessas crianças. térios clínicos já vistos.
As crianças menores têm risco maior para o Na doença de Kawasaki atípica temos:
desenvolvimento de aneurisma e encontramos
relatos de desenvolvimento de aneurismas em • Febre há pelo menos 5 dias +
até 60% nos menores de um ano.
• 2 ou 3 dos demais critérios clínicos+
Leia a próxima questão antes de continuar- • Proteína C reativa (≥ 3 mg/dl) e/ou VHS (≥
mos. 40 mm/h).
• Imunoglobulina venosa (IVIG) 2 g/kg por Esta condição é muito frequente nos con-
via intravenosa em 10-12 horas. Cerca de cursos de residência e você deve ser capaz
15% dos pacientes são refratários ao trata- de reconhecê-la prontamente. Esta criança
mento e voltam a apresentar febre após 36 apresenta um quadro bem sugestivo de
horas do término da infusão da IVIG. Uma doença de Kawasaki. O diagnóstico da forma
segunda dose pode ser usada nesses casos. clássica é estabelecido pela presença de
febre alta, com cinco dias ou mais, além de
• AAS em dose anti-inflamatória – 80-100 mg/ quatro de cinco possíveis critérios: hipere-
kg/dia (6/6 horas) via oral até que o paciente mia conjuntival bilateral sem exsudato, alte-
esteja afebril por 48 horas (alguns mantêm rações na cavidade oral, adenomegalia
essa dose por 14 dias). cervical, exantema polimorfo e alterações
nas extremidades. Ainda que esta criança
Outras terapias que já foram utilizadas incluem não tenha apresentado adenomegalia com
o uso de metilprednisolona por via intraveno- mais de 1,5 cm de diâmetro, e nem altera-
sa, ciclofosfamida e plasmaferese. Alguns ções nas extremidades, é possível que seja
estudos mostraram benefícios com o uso de estabelecido o diagnóstico da forma atípica
corticoterpia, enquanto outros não encontra- da doença. Para tal, lançamos mão da rea-
ram os mesmos resultados. lização de exames complementares. Por
isso a banca indicou que será “continuada
Fase de Convalescença a investigação diagnóstica”. O tratamento
da doença de Kawasaki tem como principal
O AAS é mantido em dose antiplaquetária (3-5 objetivo reduzir a incidência dos aneurismas
mg/kg/dia) até seis ou oito semanas, sendo coronarianos. Para isso, usa-se a imunoglo-
descontinuado caso o paciente não tenha bulina intravenosa em altas doses e o ácido
apresentado alterações ecocardiográficas. acetilsalicílico. Resposta: letra C.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 76
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 (ACESSO DI- Possivelmente, mesmo antes de ler o caso,
RETO DISCURSIVA) a simples visualização das imagens no ca-
HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN – derno de provas já permitia que o candidato
SP pensasse no diagnóstico. Após a leitura da
Menino com 2 anos de idade é atendido com história, encontrava-se a descrição de febre
história de febre alta há 6 dias acompanhada há seis dias e estava definido: este pré-es-
por irritabilidade, hiperemia bilateral de con- colar tem doença de Kawasaki. A principal e
juntivas sem exsudato, exantema maculopa- mais temida complicação da doença de Ka-
pular em tronco, abdome e raiz de membros, wasaki são os aneurismas coronarianos. Por
hiperemia de lábios e mucosa oral, presença essa razão, o ecocardiograma é obrigatório
de gânglio submandibular direito com 1,5 cm em todos os casos, devendo ser realizado no
de diâmetro e discreto edema nos tornozelos. momento do diagnóstico e repetido em duas
O restante do seu exame físico é normal. Nes- a três semanas e novamente entre seis e oito
te caso, cite: a principal complicação. semanas se os dois anteriores forem normais,
período em que surgem os aneurismas com
GABARITO HIAE: Aneurisma de coronária. maior frequência. Exames mais invasivos até
É a continuação da questão que já tínhamos poderão ser solicitados, mas o ecocardiogra-
visto. Na fase aguda, é mais comum obser- ma é o exame inicial. Gabarito oficial do con-
varmos miocardite, caracterizada por taqui- curso: ECOCARDIOGRAMA.
cardia desproporcional à febre e alteração da
contratilidade cardíaca no ecocardiograma. E a pergunta continuava...
O endocárdio e o pericárdio também podem
estar acometidos, havendo regurgitação val- Cite as DUAS principais medicações que devem
var e derrame pericárdico. Já na fase suba- ser administradas para o tratamento do caso.
guda da doença, pode haver surgimento da
principal e mais grave complicação: aneuris- O tratamento da doença de Kawasaki con-
mas coronários, que se forem de tamanho siste no uso de altas doses de imunoglobulina
considerável, como os gigantes, apresentam intravenosa (2 g/kg de peso em dose única,
risco de ruptura, trombose e estenose. em infusão por 12 horas) e salicilatos em do-
ses anti-inflamatórias (80-100 mg/kg/dia).
Gabarito oficial do concurso: Gamaglobulina
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 (ACESSO DI- ou imunoglobulina humana via endovenosa;
RETO DISCURSIVA) Ácido AcetilSalicílico (AAS) via oral.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP
Menino de 2 anos e 3 meses de idade, previa-
mente hígido, é levado ao pronto-socorro infan- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
til com história de febre, de até 39,8°C, há 6 SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO
dias. A mãe refere que observou que a criança PAULO – SP
está com olhos irritados e manchas no corpo Criança do sexo masculino, 5 anos, foi inter-
há 2 dias, além de ter diminuído muito a acei- nada por apresentar 10 dias de febre, hipere-
tação alimentar e estar com dificuldade para mia ocular, rachaduras nos lábios, exantema
deambular. Nega ocorrência de sintomas res- polimorfo difuso e um gânglio doloroso em
piratórios, urinários ou gastrointestinais no região inguinal direita de 3,0 cm de diâmetro.
período. Ao exame clínico, a criança apresenta- À entrada, realizou um ecocardiograma, que
-se em regular estado geral, corado, acianótico, foi normal. Durante a internação, recebeu ga-
anictérico. Temperatura= 36,8°C, pulsos cheios, maglobulina endovenosa e ácido acetilsalicí-
tempo de enchimento capilar de 2 segundos. lico com boa evolução e regressão clínica
Frequência cardíaca = 105 bpm, Frequência completa. Em relação a essa patologia assi-
respiratória = 28 ipm, Pressão Arterial = 100 x nale a INCORRETA:
70 mmhg. Saturometria = 96% em ar ambiente. a) Caso a febre retorne em 48-72 horas, deve
Exames cardíaco e pulmonar sem alterações ser repetida a gamaglobulina.
significativas. Exame abdominal com palpação b) Deve-se manter o ácido acetilsalicílico em
flácida, fígado a 2 cm de rebordo costal direito, baixas doses na fase subaguda da doença.
baço no rebordo costal esquerdo, ruídos hi- c) Os corticosteroides podem ser utilizados
droaéreos presentes. Otoscopia sem altera- caso a febre persista apesar de pelo menos
ções bilateralmente. Oroscopia com hiperemia duas doses de imunoglobulina.
de mucosa sem pus em amígdalas. Linfonodos d) A realização de novo ecocardiograma é
palpáveis em cadeias cervicais, sendo o maior desnecessária.
com aproximadamente 2,5 cm de diâmetro. e) O risco de formação de aneurismas seria
Ausência de sinais meníngeos. Inspeção geral: maior caso o paciente fosse menor de 6 meses
(VER IMAGEM). de idade e não tivesse recebido gamaglobulina.
Este é o grupo mais fácil de conduzirmos, pois A criança de baixo risco é aquela que:
não há maiores dúvidas sobre o que fazer
nesses casos. • é previamente hígida;
Um recém-nascido com febre que não apre- • tem o exame físico normal;
sente sinais de doença tem um risco alto de
ter uma infecção bacteriana grave quando • tem resultados laboratoriais normais, isto é:
comparado às demais crianças. Preocupante,
não? As infecções nesse caso incluem bacte- - EAS: normal
remia oculta, meningite, pneumonia, osteo-
mielite, artrite séptica, enterite e infecções do - leucograma: WBC entre 5.000 – 15.000
trato urinário. céls/mm3; < 1500 bastões; ou relação bas-
tões:neutrófilos totais < 0,2.
Sempre que os pais referem que o recém-
-nascido apresentou febre em casa, devemos - pesquisa de elementos anormais nas fezes:
partir do pressuposto que essa informação é normal (indicada somente se houver pre-
verdadeira e rotular a criança como sendo sença de diarreia).
um “recém-nascido febril”. Podemos even-
tualmente atribuir a causa do aumento da - liquor: celularidade normal e ausência de
temperatura ao agasalhamento excessivo. bactérias no Gram.
Basta retirarmos as roupas e rever a tempe-
ratura em 15-30 minutos para confirmar ou - radiografia de tórax: sem infiltrado.
afastar essa possibilidade. Na dúvida, vamos
assumir que realmente há febre. Também serão colhidas culturas de sangue,
Todos os recém-nascidos febris devem: urina e liquor, mas esses exames não nos
fornecem resultados imediatos e não irão de-
• ser internados; finir a conduta na emergência.
• ser submetidos à coleta de exames, incluin- A criança de baixo risco: se a criança preen-
do hemograma, EAS e culturas de sangue, cher os critérios de baixo risco acima, não
liquor e urina; a radiografia de tórax e avalia- receberá nenhum antibiótico e será reavaliada
ção das fezes devem ser consideradas, es- em 24 horas (ou antes, caso ocorra piora). São
pecialmente quando há diarreia e manifesta- recomendadas reavaliações diárias até que
ções de doença respiratória; os resultados das culturas estejam fechados.
Caso alguma cultura revele-se positiva, a
• ser avaliados quanto à coleta de material para criança é reavaliada e o tratamento é indicado.
pesquisa de vírus herpes-simples e entero-
vírus por PCR; A criança que não é de baixo risco: se a crian-
ça não preencher os critérios de baixo risco,
• receber antibioticoterapia parenteral empírica será internada e receberá antibioticoterapia
(uma opção é a associação de ampicilina parenteral até que o resultado de todas as cul-
com cefotaxima, mas não há consenso; de- turas seja liberado e o diagnóstico final seja
ve-se avaliar o início de aciclovir se houver estabelecido. Se o EAS indicar a presença de
algo na história que sugira a possibilidade de uma infecção do trato urinário, o tratamento da
infecção herpética, como infecção materna). mesma pode ser feito em regime ambulatorial.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 80
Certamente você se surpreendeu com a des- 3) apenas coletar uma hemocultura e rea-
crição de um resultado de liquor e se pergun- gendar avaliação.
tou: “a punção lombar é obrigatória somente
porque a criança tem febre?”. Não necessa- Obs.: Podemos considerar como vacinada
riamente. Caso os exames iniciais estejam aquela criança que já tenha pelo menos duas
normais, é aceitável que a punção não seja doses das vacinas contra cada um desses
feita em um momento inicial. Porém, se hou- agentes, mas isso ainda não está completa-
ver alguma alteração no leucograma que leve mente estabelecido.
à recomendação de início de antibioticotera-
pia empírica, o liquor deve ser obrigatoria- Releia agora o dilema inicial... Simples, não?
mente analisado. É claro que você não irá passar a bola adian-
te para o colega. Gaste todo o tempo do seu
Alguns recomendam que a radiografia de tórax horário noturno providenciando a internação
seja solicitada somente se a criança apresen- do bebê...
tar algum indício de doença respiratória (o que
pode parecer um paradoxo, já que estamos Treine com algumas questões.
partindo do princípio de que essas crianças
não têm alterações no exame físico). RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ER-
Entre 3 e 36 meses NESTO – RJ
Menina de 18 meses iniciou quadro de febre
Até 30% das crianças com febre nesta faixa (39,5°C) há 24 horas. A mãe nega qualquer
etária não apresentam qualquer sinal de loca- outro sintoma. Ao exame físico, apresenta-se
lização. Desesperador... Na maioria das vezes afebril, em bom estado geral, hidratada e
a doença é viral, mas as infecções bacterianas eupneica, ausência de linfonodomegalias,
graves também são uma possibilidade. O orofaringe e otoscopia sem alterações, aus-
Streptococcus pneumoniae, a Neisseria me- culta respiratória e cardíaca normais, palpa-
ningitidis e a Salmonella são as principais ção do abdome indolor e sem visceromega-
causas de bacteremia oculta nessa população. lias. Não há história de intercorrências neo-
natais ou internações prévias. Ao checar o
Não existe nenhuma combinação de exames cartão de vacinas, encontram-se: BCG ao
laboratoriais com avaliação clínica que tenha nascer, hepatite B uma dose, pentavalente
boa acurácia para predizer o risco de bacte- três doses + reforço DTP, VIP duas doses,
remia oculta nessas crianças. O manejo delas VOP uma dose + reforço, pneumocócica três
será determinado pela intensidade da febre e doses + reforço, rotavírus duas doses, me-
pela situação vacinal. ningocócica duas doses + reforço, tríplice
viral uma dose, e tetraviral uma dose. O pe-
• 1ª situação: temperatura < 39ºC. diatra opta por colher apenas EAS e urino-
cultura para afastar a hipótese de infecção
→ apenas observação; reavaliar caso a febre urinária. O menor risco de bacteremia oculta
persista, ultrapasse 39ºC ou surjam novos nessa criança é justificado pela:
sinais ou sintomas. a) História vacinal.
b) Idade superior a 12 meses.
• 2ª situação: temperatura ≥ 39ºC. c) Ausência de internações prévias.
d) Ausência de alterações ao exame físico.
→ definir a situação vacinal:
Esta questão nos apresenta uma lactente
- se vacinada contra pneumococo e hemófi- de apenas 18 meses com um quadro de febre
lo tipo B: avaliar apenas infecção urinária sem sinais de localização. Em relação a este
– colher EAS e urinocultura (meninos cir- tema, é importante que você tenha alguns
cuncidados menores de 6 meses; meninas; conceitos. O primeiro deles é o seguinte: boa
meninos não circuncidados; e crianças com parte das crianças com febre sem sinais de
história de infecção urinária de repetição). localização terão apenas uma doença viral
benigna autolimitada e, em poucos dias, es-
- se não vacinada contra pneumococo e tarão “curadas”, mesmo sem nenhum trata-
hemófilo tipo B: avaliar infecção urinária mento. Porém, um percentual dessas crianças
com EAS e urinocultura; se o EAS for nor- pode ter alguma infecção bacteriana subja-
mal, a avaliação deve continuar através de cente em algum sítio corporal ou ter uma bac-
três possíveis maneiras (não há uma única teremia oculta. O segundo conceito é que
possibilidade certa): quanto menor for a criança, maior o risco de
haver alguma infecção bacteriana subjacente
1) coletar uma hemocultura e prescrever uma e maior a gravidade da mesma. Daí a reco-
dose de antimicrobiano por via parenteral; mendação de que quanto menor for a criança,
liberar a criança e reagendar avaliação; mais agressiva seja sua investigação. Como
regra geral, os protocolos que avaliam as
2) obter um hemograma; se houver uma crianças com febre sem sinais de localização
contagem de leucócitos maior que 15.000 as dividem em três subgrupos etários: recém-
céls/mm3, obter hemocultura e prescrever -nascidos, crianças entre 1 e 3 meses e crian-
uma dose de antimicrobiano por via paren- ças entre 3 e 36 meses. Nossa paciente faz
teral, liberar a criança e reagendar avaliação; parte deste último subgrupo. Ainda que exis-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 81
MED R3 - R4
Pediatria
De forma bem parecida ao que foi feito nas provas para R1, serão cobrados os
diagnósticos diferenciais entre as principais doenças exantemáticas de origem in-
fecciosa. Dê uma atenção especial ao tratamento da doença de Kawasaki e também
ao reconhecimento da forma atípica desta condição.
Como dito lá no início desta seção, este é o dia a dia do pediatra. Justamente por
isso, o candidato ao terceiro ou quarto ano de pediatria deve manejar bem o assunto.
84
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Pediatria - Volume 1 85
a imunoglobulina, que está indicada pelo fato membros superiores e membros inferiores.
de a mãe ter tido a doença de 5 dias antes até d) No Exantema Súbito, o exantema começa
2 dias após o parto. Resposta: letra B. pela face e se espalha para o pescoço.
e) Na Escarlatina, o início do exantema se dá
nas bochechas e se estende para o pescoço.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
(R3 PEDIATRIA) É bem parecido com o que cai na prova de
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – PR R1, não é mesmo? Vamos relembrar.
Lactente de dois anos de idade há 7 dias com
febre elevada, exantema polimórfico maculo- Opção A: está correta. O eritema infeccioso
papular, artralgias de mãos com edema dos é caracterizado por um exantema que pro-
dedos, hiperemia conjuntival bilateral não pu- gride em três fases. Na primeira fase temos
rulenta, língua em framboesa e linfadenome- a hiperemia malar, que constitui o sinal da
galia cervical unilateral de 3 cm de diâmetro, face esbofeteada. Na segunda fase ocorre
é internado e medicado com gamaglobulina a disseminação da erupção para o resto do
endovenosa e ácido acetilsalicílico. O princi- corpo, com o surgimento de lesões maculo-
pal objetivo desta terapia nesta patologia é: papulares que adquirem clareamento cen-
a) Prevenir a lesão renal. tral, com aspecto rendilhado ou reticulado.
b) Reduzir a incidência de aneurisma corona- Na terceira fase o exantema já desapareceu,
riano. mas recidiva pela exposição a alguns fatores
c) Reduzir a manifestação articular. desencadeantes.
d) Diminuir o risco de disseminação sistêmica.
e) Atenuar o estado de imunodeficiência. Opção B: errada. Vimos que o sarampo tem
uma progressão craniocaudal lenta e que as
O primeiro passo é definirmos o diagnós- lesões tipicamente se iniciam na linha de im-
tico. É fácil perceber que esta criança preen- plantação do cabelo (fronte, região retroauri-
che os critérios para o diagnóstico de doença cular e nuca).
de Kawasaki. A febre tem duração de sete
dias e está acompanhada de todos os outros Opção C: errada. O exantema da rubéola
critérios. Felizmente, está recebendo o trata- também tem uma progressão craniocaudal,
mento correto, que consiste no uso da gama- só que rápida.
globulina em altas doses e de AAS, que deve
ser prescrito, inicialmente, em dose anti-infla- Opção D: errada. Uma das características da
matória. O grande objetivo do tratamento na erupção no exantema súbito é o seu início no
fase aguda da doença é reduzir a incidência tronco e posterior disseminação centrífuga.
da principal complicação associada ao qua-
dro, que é a formação dos aneurismas coro- Opção E: errada. O exantema na escarlatina
narianos. Resposta: letra B. se inicia no pescoço. A face, muitas vezes, é
até mesmo poupada.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 mundo estão definindo metas para a eliminação do sa-
(ACESSO DIRETO 1) rampo até o ano de 2015. No entanto, surtos recentes de
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO sarampo em países como Reino Unido, Alemanha, Itália
RIO GRANDE DO SUL – RS e Holanda constituem uma ameaça para a eliminação,
29 – Criança de três anos é trazida à consulta pela mãe devido à facilidade de deslocamento das pessoas. Em
com queixa de lesões “tipo manchinhas vermelhas” no 2013 e início de 2014, ocorreram vários casos importados
tronco, que notou ao acordá-la pela manhã e que, agora de sarampo em algumas regiões do país, em especial no
à tarde, evoluiu com disseminação por todo o corpo. Na Ceará e Pernambuco. Esse fato ressalta a importância
creche, várias crianças tiveram quadro semelhante há 10 dos conhecimentos acerca das características clínicas,
dias. Ao exame físico, a criança apresentava-se com tem- laboratoriais e epidemiológicas do sarampo. Nesse sen-
peratura axilar de 38 graus e com manchas em forma de tido, considere as seguintes afirmativas:
vesículas disseminadas pelo tronco, membros superiores 1. O sarampo é transmitido por via aérea e a viremia de-
e inferiores. Qual o diagnóstico mais provável? corrente da infecção provoca vasculite generalizada, que
a) Sarampo. d) Eritema Infeccioso. é responsável pelas diversas manifestações clínicas.
b) Rubéola. e) Varicela. 2. O período prodrômico caracteriza-se por febre, tosse,
c) Escarlatina. coriza, conjuntivite e fotofobia; no final do período surge
o sinal de Koplik.
3. No período exantemático ocorre melhora dos sintomas
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 catarrais e surge o exantema maculopapular avermelhado,
(ACESSO DIRETO 1) de distribuição cefalocaudal.
HOSPITAL MOINHOS DE VENTO – RS 4. No período de convalescença, as manchas tornam-se
30 – Menina de quatro anos comparece ao pronto aten- escurecidas e surge descamação fina.
dimento com história de hipertermia, vômitos e dor de 5. A complicação mais frequente do sarampo, e que ocorre
garganta. Evoluiu com lesões cutâneas difusas no tórax, principalmente em crianças, é a encefalite aguda.
tronco e extremidades, caracterizadas por serem pápulas Assinale a alternativa CORRETA. </p>
agrupadas, eritematosas e ásperas, além de palidez perio- a) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.
ral. Ao exame da orofaringe, apresenta hiperemia difusa b) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras.
com petéquias no palato. O diagnóstico MAIS PROVÁVEL c) Somente a afirmativa 1 é verdadeira.
está na alternativa: d) Somente as afirmativas 1, 2, 3 e 5 são verdadeiras.
a) Eritema infeccioso. d) Sarampo. e) Somente as afirmativas 3, 4 e 5 são verdadeiras.
b) Rubéola. e) Varicela.
c) Escarlatina.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015
(ACESSO DIRETO 1)
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CASSIANO
(ACESSO DIRETO 1) ANTÔNIO DE MORAES – ES
INSTITUTO DE CARDIOLOGIA 33 – Nas doenças exantemáticas é CORRETO afirmar
DO RIO GRANDE DO SUL – RS que:
31 – Doenças exantemáticas são muito comuns na prá- a) A escarlatina inicia-se abruptamente com febre alta,
tica diária de pediatria. Seu diagnóstico se baseia fun- dor de garganta, anorexia, vômitos, cefaleia e, às vezes,
damentalmente em achados clínicos, epidemiológicos e dor abdominal. Após 12 a 48 horas surge o exantema
evolutivos. Classifique as afirmativas como Verdadeiras que é típico: eritematoso, micropapular e áspero como
(V) ou Falsas (F): ( ) Enterovírus: exantema maculopapu- uma lixa.
lar, petequial ou vesicular, miocardite, encefalite, pleuro- b) Na escarlatina, o exantema, que se inicia no tronco e
dinia. ( ) Exantema súbito: exantema maculopapular coin- evolui para pescoço e membros, ocorre principalmente
cidindo com queda da febre, irritabilidade, convulsão e nas palmas das mãos e planta dos pés.
adenopatia. ( ) Mononucleose: exantema maculopapular c) No eritema infeccioso as bochechas são avermelha-
em tronco e extremidades, febre, faringite, adenomegalia das e a região perioral apresenta-se pálida, o que é
e hepatoesplenomegalia. ( ) Eritema infeccioso: eritema conhecido como sinal de Filatov. O exantema é mais
palmoplantar, exantema maculopapular ou rendilhado, acentuado nas dobras cutâneas e surgem áreas de hi-
descamação laminar e fotossensibilidade. ( ) Dengue: perpigmentação, com a formação de linhas transversais
exantema maculopapular ou vesicular, descamação fina, nas dobras de flexão, denominado sinal de Pastia.
febre, mialgia, artralgia e cefaleia. d) A doença de Kawasaki é caracterizada por uma vas-
a) F-V-V-V-F. d) F-F-V-F-V. culite sistêmica que afeta artérias de grandes calibres,
b) V-F-F-V-V. e) V-V-V-F-F. como a aorta. A ruptura de aneurisma da aorta é a com-
c) V-V-F-F-V. plicação mais temida.
e) O eritema infeccioso é causado pelo Parvovírus B19
e na fase virêmica o paciente apresenta-se com febre,
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 mal-estar, cefaleia, mialgia e prurido discreto. É nessa
(ACESSO DIRETO 1) fase que, nos indivíduos com patologias hematológicas,
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DO PARANÁ – PR se instala a crise aplástica que se torna crônica, levando
32 – O sarampo é uma doença infecciosa aguda, altamen- a uma aplasia medular persistente da série vermelha.
te transmissível e imunoprevenível. Diferentes regiões do
99 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017
RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 bros superiores e glúteos. Sem hipertermia nem outra al-
(ACESSO DIRETO DISCURSIVA) teração clínica associada. Tem forte suspeita diagnóstica
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – de eritema infeccioso. Frequenta escola em nível de en-
SUS – BAHIA – BA sino fundamental onde uma professora, com quem tem
41 – Jeyson Neves, 30 meses de idade, há 1 dia com febre contato diariamente, está grávida, com idade gestacional
(Temperatura axilar = até 39,5°C), sem nenhum outro sintoma. de 19 a 20 semanas. Qual das condutas abaixo se impõe
Exame físico totalmente normal e a criança em bom estado em tal circunstância?
geral, apesar da elevação de temperatura. No terceiro dia, a a) Afastar o aluno das atividades na escola nas 72 ho-
febre melhora e a criança apresenta exantema de surgimento ras seguintes.
craniocaudal, conforme fotos. Jeyson continua em bom estado b) Afastar a professora do contato com o aluno por
geral. Qual é o principal diagnóstico para a erupção cutânea? uma semana.
c) Afastar ambos (aluno e professora) das atividades es-
colares por 72 horas.
d) Manter ambos em atividades regulares na sala de aula.
exantema no tronco é a caracterização típica dessa e ocorrência de forma endêmica, acometendo a maioria
condição. O quadro acomete, tipicamente, os lactentes, dos indivíduos até a idade adulta. E, por fim, o vírus
embora seja raro nos primeiros meses de vida, provavel- Coxsackie B está entre os agentes que causam as ente-
mente pela proteção dos anticorpos maternos. É também roviroses não polio. A maioria dos pacientes apresenta
conhecida como roséola infantum. Os principais agentes
<em> </em> infecções benignas, muitas delas assintomáticas ou com
são o Herpesvírus Humano 6 (HHV-6), um vírus DNA, e manifestações inespecíficas, tais como febre isolada,
o herpesvírus humano 7. O exantema é do tipo maculo- quadros exantemáticos, acometimento de diversos
papular, com lesões discretas de 2 a 3 cm de diâmetro, órgãos e sistemas, principalmente aparelho respira-
não coalescentes, que se assemelham as da rubéola. tório e trato gastrointestinal. Ocasionalmente ocorrem
Em geral, acomete inicialmente o tronco e, em seguida, síndromes clínicas características, como síndrome da
a face, a região cervical e a raiz dos membros, sendo mão-pé-boca, herpangina, pleurodínia, faringite aguda
de curta duração (24 a 72 horas), sem descamação ou linfonodular, conjuntivite aguda hemorrágica, meningites,
com discreta pigmentação residual. Vale lembrar que encefalites, miocardites e sepse neonatal. Resposta:
o parvovírus B19 é o agente etiológico de um amplo letra C.
</p>
118 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017
poderia nos fazer pensar em uma faringite estreptocócica e reforça a nossa suspeita, é a descrição do surgimento de
considerar a possibilidade de escarlatina. Porém, note que erupção cutânea após o uso da amoxicilina. Um percen-
há linfadenopatia generalizada, além de esplenomegalia. tual dos pacientes com mononucleose infecciosa pode
Estas alterações não são encontradas na escarlatina. apresentar um exantema, mas a maioria o fará após o uso
Lembre-se de que a mononucleose infecciosa relaciona- de amoxicilina ou ampicilina. Resposta: letra A. </p>
119 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017
cica. Porém, reparem que o quadro já apresenta dez condição, em contraste com o observado na citome-
dias de evolução e temos o relato de outros achados galia congênita, também é possível encontrarmos atipia
que não fazem parte deste diagnóstico, como a espleno- linfocitária. Assim, a confirmação etiológica depende
megalia. À luz do diagnóstico de mononucleose, vamos fundamentalmente da confirmação sorológica, tornando
analisar as opções. A opção A está incorreta, uma vez errada a opção C. Os achados clássicos no hemograma
que os anticorpos para os antígenos nucleares do vírus do paciente com mononucleose infecciosa são a leuco-
Epstein-Barr são os últimos a se desenvolverem nos citose com linfocitose e atipia linfocitária. Mais de 90%
episódios de mononucleose, seus títulos começam a dos pacientes com infecção pelo EBV apresentam
ascender gradualmente somente após três ou quatro leucocitose (10.000-20.000 céls/mm³) sendo 2/3 de
meses após o início dos sintomas, não podendo, linfócitos, sendo um grande percentual (20 a 40%) de
assim, ser utilizados no diagnóstico da doença aguda. linfócitos atípicos. Não há descrição de monocitose, o
A detecção dos anticorpos da classe IgM anticapsídeo que torna incorreta a opção D. </p>
126 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017
mente se associada a sinais inespecíficos, como febre alta os outros possíveis agentes incluem o enterovírus A71,
e alteração no padrão de evacuações, nos leva a apenas outros coxsackie A, coxsackie B. Os quadros de varicela
<em> </em> <em> </em>
uma hipótese: a síndrome mão-pé-boca. Na síndrome ou entram no diagnóstico de exantemas com úlceras, bem
doença mão-pé-boca são observadas lesões papulovesi- como as infecções pelos vírus herpes-simplex. Porém,
culosas com eritema subjacente, que atingem pés e mãos, não encontramos nesses casos um padrão de distribuição
associadas às lesões orais e faringotonsilares. As lesões de lesões como o descrito na síndrome mão-pé-boca. A
encontradas na cavidade oral consistem em vesículas manifestação exantemática tipicamente encontrada na
distribuídas pela língua, mucosa bucal, faringe posterior, infecção pelo parvovírus é o eritema infeccioso, que cursa
gengiva e lábios. Essas vesículas levam à formação de com lesões eritematosas maculopapulares nas extremi-
pequenas úlceras envoltas por um halo de hiperemia.
<em> </em> dades, não com lesões vesiculares. Resposta: letra D. </p>
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sarampo é causado por um vírus RNA da família Pa- <em> por fim, o exantema súbito é causado, na maioria das
ramyxoviridae , do gênero Morbillivirus . O vírus da
</em> <em> </em> vezes, pelo herpesvírus humano 6, podendo também
rubéola também é um vírus RNA, porém pertencente à ser causado pelo herpesvírus 7. Esses são membros do
família Togaviridae e ao gênero Rubivirus . A escarlatina
<em> </em> <em> </em> gênero Roseolovírus da família dos herpesvírus. Desta
<em> </em>
tem como agente etiológico o Streptococcus pyogenes<em> forma, a sequência correta é: 4, 5, 3, 2, 1. Resposta:
(estreptococo beta-hemolítico do grupo A). O eritema
</em> Letra C. </p>
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ludo, face e tronco, com máculas eritematopruriginosas, O quadro clínico é caracterizado por exantema maculo-
que evoluem para pápulas e vesículas. Enquanto as papular difuso, iniciando-se na face, couro cabeludo e
lesões iniciais tornam-se crostosas, novas se formam, pescoço, espalhando-se, posteriormente, para o tronco
desenhando a principal característica da varicela: o e membros. Além disso, apresenta febre baixa e linfa-
polimorfismo regional. 2 - “Sinal de Filatov”: escarlatina. denopatia retroauricular, occipital e cervical, geralmente
A escarlatina consiste em uma infecção do trato respi- antecedendo ao exantema no período de 5 a 10 dias,
ratório superior (na maior parte das vezes) associada a podendo perdurar por algumas semanas. Os números 4
uma erupção cutânea característica. O quadro é causado e 5 não apresentam correlação com as doenças descritas
pelo estreptococo do grupo A (Streptococcus pyogenes).
<em> nas lacunas. A afirmativa 4, “O agente etiológico é o
A erupção cutânea geralmente começa no pescoço e Myxovírus”, diz respeito ao vírus do sarampo; já a afir-
dissemina para corpo e membros, poupando região mativa 5, “Lesões exantemáticas de aspecto rendilhado”,
palmoplantar, caracterizada por pápulas eritematosas diz respeito ao quadro de eritema infeccioso associado
puntiformes com aspecto de lixa. Nas pregas cutâneas, ao parvovírus B19. Assim, o preenchimento correto das
o exantema se intensifica (Sinal de Pastia), e o rubor facial lacunas é o exposto na opção C. </p>
134 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017
41 Questão
<p>
</p>
</em></p>
zada por febre, lesões vesiculares em pele e enantema tratar? A resposta é SIM. “Sim”, porque o paciente é o
</em>
(lesões ulceradas em mucosa). Dentre as opções, a segundo caso do domicílio, tendo, portanto, maior risco
única virose que cursa com vesículas cutâneas gene- de evoluir com gravidade (maior exposição viral). O uso
ralizadas é a varicela. O herpes causa vesículas agru- de corticoide inalatório não confere imunodepressão
padas, geralmente localizadas em orofaringe ou lábios. ao paciente e também é uma das possíveis indica-
As enteroviroses, como coxsackiose, cursam com ções para o tratamento com aciclovir. A precaução
úlceras pequenas em orofaringe ou lesões papulares contra o vírus da varicela é por contato e por via aérea.
em mãos e pés. A estafilococcia cursa com febre alta,
<em> </em> Resposta: letra A.</p>
142 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017
clínico da mononucleose consiste em febre prolongada, pular, acometendo face, tronco e membros, palmas e
mal-estar, cefaleia, náuseas, dor abdominal, mialgia, plantas, podendo ser acompanhado de prurido. Não há
dor de garganta e edema palpebral. Ao exame físico, exantema vesicular. Resposta: Letra E. </p>
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correto diagnóstico é, de fato, varicela. Temos a presença na base das lesões e a recrudescência da febre três ou
de lesões em vários estágios de evolução (máculas, vesí- quatro dias após o início do exantema. A presença de
culas, pústulas), que é bastante característica da doença. pústula é tão somente a evolução natural da doença que
A pergunta agora é: o que fazer? A varicela na infância,
<em> </em> não configura uma infecção associada (opção D errada).
geralmente, é uma doença benigna. Os anti-histamí- A imunoglobulina humana antivaricela-zóster está reco-
nicos podem ser usados para atenuar o prurido (opção B mendada em algumas situações especiais. As grávidas
correta). O tratamento da febre deve ser feito com outros suscetíveis, que tenham tido contato significativo com o
antipiréticos que não os salicilatos, pela associação com vírus, podem receber o produto, que deve ser aplicado até
síndrome de Reye (opção A correta). O tratamento com 96 horas após o contato (opção C correta). Um deslize
antimicrobianos deve ser instituído quando há evidências na formulação desta questão foi a omissão do termo
de infecção bacteriana secundária. Essa é uma compli- “suscetível” na opção C; caso a mãe de Laura tivesse
cação que pode acometer até 5% das crianças com tido a doença, não necessitaria da imunoglobulina. De
varicela e pode ser causada pelo estreptococo do grupo todo modo, não restam dúvidas de que a melhor opção é
A ou pelo S. aureus. Os dados que indicam a infecção
<em> </em> o gabarito, letra D.
</p>
147 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017
característica do diagnóstico de escarlatina. Relembrando, malar é bem sugestiva do diagnóstico de eritema infec-
em>
a escarlatina está associada à infecção pelo estreptococo cioso, afecção associada ao parvovírus B19. O eritema
beta-hemolítico do grupo A. O exantema típico consiste infeccioso é caracterizado pela presença de um exantema
no surgimento de lesões micropapulares difusas, que que, tipicamente, evolui em três fases. Na primeira fase,
conferem a pele do doente um aspecto de pele áspera temos a presença de uma hiperemia na região malar, que
ou em lixa. Além disso, o exantema pode estar associado configura o sinal da face esbofeteada. Na segunda fase,
com sinais clássicos, que são os sinais de Filatov (palidez nota-se o surgimento de lesões maculopapulares predo-
peribucal) e Pastia (acentuação do exantema em áreas minantemente nas superfícies extensoras; essas lesões
flexurais). Na inspeção da cavidade oral, podemos identi- sofrem clareamento central e surge um aspecto rendilhado
ficar as alterações típicas de uma faringite estreptocócica ou reticulado. Na terceira fase, ocorre o desaparecimento
e a presença da língua em morango ou em framboesa. Em do exantema e a sua recidiva quando a criança é exposta
um momento inicial, temos a língua em morango branco; a alguns fatores, tais como sol, calor ou exercício físico.
as papilas estão hipertrofiadas, mas a língua permanece Acredite: sempre que o termo rendilhado estiver presente,
recoberta por uma saburra brancacenta. Pouco tempo a banca estará certamente apresentando um quadro de
após, surge a língua em morango vermelho, quando então eritema infeccioso. E, finalmente, a descrição de três
identificamos apenas a presença das papilas hiperemiadas dias de febre seguidos de rash maculopapular difuso nos
<em> </em>
e hipertrofiadas. A descrição de linfonodomegalia occipital parece um pouco pobre. Porém, pela simples análise das
e rash papular difuso devem nos remeter ao diagnóstico
<em> </em> opções, não poderíamos ter dúvida de que essa caracte-
de rubéola. Lembre-se: pensaremos em rubéola quando rização faz referência ao diagnóstico de exantema súbito.
estivermos diante de um paciente com uma doença leve A doença está associada principalmente à infecção pelo
com linfadenomegalia, principalmente suboccipital e herpesvírus humano tipo 6. É um quadro mais comum em
retroauricular, associada com exantema maculopapular. lactentes e é caracterizado pela presença de febre alta
Esses são, inclusive, critérios usados pelo Ministério da sem outros comemorativos importantes por até 72 horas.
Saúde para a definição de um caso suspeito. Já a asso- Esta febre, tipicamente, desaparece de forma súbita, ou
ciação de esplenomegalia, linfonodomegalia e exsudato em crise, e é sucedida pelo aparecimento de exantema
de amígdalas é típica do diagnóstico de mononucleose maculopapular que se inicia no tronco. A correlação correta
infecciosa. A doença é causada pelo vírus Epstein-Barr e entre as colunas está na letra B. </p>
152 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017
alguns enterovírus, principalmente pelo coxsackie A, e infância, é uma doença benigna na maior parte das vezes
cursa com a presença de febre, dor de garganta, disfagia e a maior preocupação relacionada com essa infecção é
e lesões na região posterior da faringe. As lesões são quando ela ocorre no início da gestação. A infecção nas
tipicamente pequenas vesículas e úlceras envoltas por primeiras semanas de gravidez está associada à presença
um halo de hiperemia. A terceira descrição (“causada por
<em> </em> de graves malformações no feto e recém-nascido: cardio-
parvovírus, tem evolução em três estágios com caráter patia, alterações oculares e microcefalia. A sequência
recorrente. O exantema tem característica de rendi- correta está descrita no gabarito letra C.</p>
154 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017
da “face esbofeteada”, descrito no enunciado. Na segunda O quadro de eritromelalgia pode estar associado com uma
em>
fase, observa-se o surgimento de lesões maculopapulares série de condições clínicas e caracteriza-se pela ocor-
eritematosas que sofrem clareamento central conferindo à rência de episódios de dor, eritema e calor nas mãos e pés
pele um aspecto reticulado ou rendilhado. Na terceira fase, (eventualmente na face, orelhas ou joelhos). Os episódios
o exantema desaparece, mas durante algumas semanas são desencadeados por alguns fatores, como exercício e
sofre recidiva quando o paciente é exposto a alguns estí- exposição ao calor, e podem durar de horas a vários dias.
mulos, como a luz solar e o calor. A artralgia também Resposta: Letra A. </p>
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causados por apenas um agente, a causa costuma ser -negativos. O tratamento consiste em suporte geral, desbri-
o S. pyogenes. O quadro causado por este agente pode
<em> </em> damento cirúrgico e antibioticoterapia venosa com agentes
ser uma complicação de um caso de varicela, como em de amplo espectro. Resposta: Letra A. </p>
159 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS m.e.d - pediatria - VOLUME 1/2017
de eritema infeccioso. O eritema infeccioso é a manifes- qual razão a banca quis saber se haveria alguma preocu-
tação clínica mais comum da infecção pelo Parvovírus pação especial pelo fato de que a professora está grávida? </
B19 e, juntamente, com o quadro de artralgia ou artrite A infecção pelo Parvovírus B19 durante a gestação pode
em>
que também pode surgir nessa infecção, não é decorrente levar à infecção fetal. A infecção fetal pode ter consequên-
diretamente da infecção viral, mas sim de um fenômeno cias graves, como anemia fetal com hidropsia fetal não
pós-infeccioso. É fato que no momento em que surgem as imune. Esse quadro pode, eventualmente, ser causa de
manifestações exantemáticas que caracterizam o quadro, óbito intrauterino. Porém, não haveria razão para afastar
não há mais viremia e o vírus não é mais eliminado nas a professora da escola neste momento. Caso ela tenha
secreções do paciente. É por essa razão que o paciente sido infectada, essa infecção já teria ocorrido vários dias
com eritema infeccioso não precisa ser afastado das ativi- antes do aparecimento do exantema. Devemos, apenas,
dades escolares. Outras manifestações clínicas associadas acompanhá-la clinicamente. Resposta: letra D. </p>
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