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U N I V E R S I D A D E FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE C IÊN CIA S DA SAÚDE

CURSO DE PÓ S- G R A D U A Ç Ã O EM E N F E R M A G E M

SITUAÇÃO DO FA MIL IAR QUE A C O M P A N H A UM PACIENTE

AD U L T O INTERNADO EM UM HOS P I T A L GERAL

D I S S E RTAÇ ÃO SUBMET ï DA Â U N I V E R S I D A D E

FEDERAL DE SANTA .CATARINA PARA A

O B TE N Ç Ã O DO GRAU DE MESTRE' EM-: «NFÎÎR


MA G E M

MARIA C ELS A FRANCO

FLORIAN ÓPO LIS

SETEMBRO/198 8
U N I V E R S I D A D E F E D E R A L DE S A N T A C A T A R I N A

C U R S O DE M E S T R A D O E M E N F E R M A G E M - Ã R E A S A Ú D E D O A D U L T O

D I S S E R T A C Ã O

T Í T U L O : SITUAÇÃO DO F A M I L I A R QUE A C O M P A N H A UM PACIENTE AD ULT O

INTERNADO EM UM HOSPIT AL GERAL

S u b m e t i d a a B a n c a E x a m i n a d o r a p a r a o b t e n ç ã o do

G r a u de

MESTRE EM ENFERMAGEM

POR

MARIA CELSA FRANCO

APROVADA

Dra. Ingride Elsen

Presidente

Dra. J o e l l e S t e f a n i

Examinador

Q-t;

Dra. O l g a R o s ã r i a E i d t

Examinador
Aos meus pais e irmãos:

pelo do m de um lar construído

com amor e fortalecido pela

solidar ied ade de todos, nos

m o m e n t o s mais difíceis.

Aos meus filhos :

Jorge, M agnus e Márcia,

pela tolerânc ia durante

minhas ausências, a vo

cês o m e u amor.
Ao meu esposo Ronaldo (in m e m o r i a n ) :

Que embora hoje ausente fisicamente, teve

um a g r a n d e p a r t i c i p a ç ã o n e s s e trab a l h o . Os

seus e x e m p l o s de v i d a e i n c e n t i v o ao m e u c r e s ­

cimento profissional resultaram, com o seu

desaparecimento precoce, numa força transcen­

de n t a l , c a paz de m e m a n t e r p e r s e v e r a n t e até- o

t é r m i n o do m e smo. P o r t a n t o a m i n h a v i t ó r i a t a m

bem e s u a .

A você, o m e u r e c o n h e c i m e n t o e e t e r n a g r a ­

tidão.
AGRADECIMENTOS

Realiza r uma investigação ci ent ífi ca na linha qualitatif

va, para quem não possui e nem teve op ortunidade de d ese nvo lve r

a habilid ade dos grandes pesquisadores, constitui uma tarefa

ba stante ãrdua que, em alguns momentos, parece não ter fim. A

al egria de concluí-la, no entanto, ë uma experiência por demais

gratificante, pois representa, acima de tudo, uma vit ori a em r£

lação ãs nossas prSprias limitações, tanto pessoais quanto pro

fissionais. Ê nesse mo mento que perceb emos quantas pessoas es

ti ver am envolvidas e c o n t r ib uír am para o de sen volvimento do es

tudo. A todas essas pessoas, que direta ou indiretamente me auxi

liaram, quero expressar a m i n h a p r o f u n d a gratidão.

Ein especial, quero agradecer:


A Professora Dra. Ingrid Elsen, pela orientação segura,

pelo estímulo constante durante todo o processo de pesquisa e,

sobretudo, pelo credito dado ao m eu trabalho.

Aos p rofessores da Pos-Gradu açã o em Enfermagem da UFSC,

pela c o n t r i b u i ç ã o para a c o n c r eti zaç ão desse momento.

à U n i v e rsi dad e Federal do Piauí, pela oportunidade que

me foi dada de r ea lizar o curso.

à Di reção e a Equipe m u l t i p r o f i s s i o n a l do Hospital, on

de foi realiz ado o estudo, bem como aos informantes do mes mo , p e

la c o l a b o raç ão que me foi prestada.

 S ecretaria do Curso de Mes t r a d o em Enfermagem, Rosa

Ma r i a Pereira Martins, pela atenção d isp ens ada no decurso deste

trabalho.
RESUMO

Tr ata -se de um estudo qualit ati vo sobre a ■ e xperiência

de acompanhar um familiar adulto internado em um hospital geral.

Como met o d o l o g i a basica de pesquisa, foi adotada uma m ini etn o

grafia, segundo o mod elo proposto por L EINI N G E R (1985). > Foi de

senvolvido em um hospital geral do Sul do Brasil, com uma popu

lação consti tuí da de acompanhantes, pac ientes e integrantes da

equipe m u l t i p r o f i s s i o n a l .

0 processo de coleta de dados foi desenvolvido no perío

do de abril a novemb ro de 1986, através da observação-particr

pante tendo como referê nci a os passos preconiza dos por LEININGER

(1985). Uti liz ou- se ta mbém outras fontes de obtenção de dados,

como a document açã o do hospital, entrevistas abertas, semi-e_s

truturadas, visita dom ici lia r e par tic ipa ção nas atividades dia

rias do grupo em estudo. Os dados foram analisados c onc omi tan

temente ã coleta, seguindo-se os quatro níveis de analise em e£

piral, conforme PARSE et alii (1985).


Foram encontrados os seguintes temas: 1) "estar junto",

2) misto de sentimentos de sofrimento, e gratif ica ção pessoal,

3) m a r g i n a l i z a ç ã o e 4) discriminação. Como proposições hipote^

ticas, foram identificadas: o ac ompanhante ê uma fonte de con

forto e segurança para o paciente; um elo de ligação entre o pa

ciente e equipe; um fator de m elh o r i a da qualidade da assistê n

cia p res t a d a ao paciente; um transtorno para a equipe hospita

lar; um,pot enc ia l de ajuda na assistê nci a ao paciente e uma

op ort uni dad e de educação para saúde do familiar.


AB STR ACT

This is a qualita tiv e study of an experience in

a c c o m pan yin g an adult me m b e r of a family under hospital care.

As our basic researc h methodology, we ut ili zed a mini-ethnography

along the lines of the model pr op o s e d by L E I N ING ER (1985) . The

r e s e a r c h was ca rried out in a general hospital in the South of

Brazil. Its popula tio n c o n s i ste d of patients along with their

co mpa nio ns and the m u l t i - p r o f e s s i o n a l staff members.

The d a t a - gat her ing process was done through participant-


o b s e r v a t i o n over a p eriod from April to November of 1986. Other

sources for obtaining data were also utilized, wu'ch as hospital

records, open and s emi -st ruc tur ed interviews, home visits and

p a r t i c i p a t i o n in the d a i l y activities of the study group,

ac cording to LEININ GER 'S o r i e n ta tion (1986). The data were

an aly zed as they were being g athered following the levels of

spiral data analysis a cco rding to PARSE et alii (1985).

The fol lo w i n g themes were found to be significant: 1)

togetherness, 2) m ixe d feelings of suffering and personal

satisfaction, 3) m a r g i n a l i z a t i o n and 4) discrimination. The

fo llo win g hypothetical p rop osi tio ns were identified: the companion

serves as a source of comfort and security to the patient, a

link b etw een the patient and hospital staff, a contribu tin g

factor in thé qualitative improvement of hospital assistence to

the patient, but also a source of disturbence to the hospital

staff ;
SUMÁRIO

I. INTRODUÇÃO .................................................. . 1

II. METODOLOGIA ...... .......................... ............... 9

. Tipo de estudo ...................... .................... . 9

. Local de estudo ..................... ..................... 10


. Am os t r a do estudo ....... ................................ 11

. Proteção dos direitos humanos dos informantes ...... 12


. C oleta de dados ...... ........................ ............ 13

. Registro dos dados ..... ........................... . 16

. A nal i s e dos dados ....................... ................. 17

. Rigor do estudo . . . . ...... ............................... 21

. Facilidades e d ifi cul dad es em relação ã m eto dol ogi a. 23

. Facilidades ........ ....................................... 23

. Di fic ul dad es ................ .............................. 24

III. RESULTADOS ................................... ............... 26


. Hospital: sua or ganização e funciona men to ........... 46

. 0 Serviço de Enfer mag em e sua Org ani zaç ão ........... 49

. 0 Hospital e o A t e n d i m e n t o ao A co m p a n h a n t e .......... 54

. 0 Ac ompanhante: suas C a r a cte rís tic as e At rib uto s Pe_s

soais ........ ............................. ................ 64

. Motivos para A com pa n h a r um Familiar Internado ...... 75

. 0 Papel do A c o m p a n h a n t e ................................. 86

. Ne ces sid ade de apoio e o r i e nt açã o ..................... 91

< A Experiê nci a de ser A c o m p a n h a n t e ..................... 97

. Fases do processo de aco mpa n h a r ....................... 102

. Rel aci ona men to com a equipe e sua p ercepção sobre es

ta ........ ............... .................................. 104

. R e l a c io na men to còin o pac iente .......................... 110


. 0 "acomp anh ar" visto pelo p aci e n t e ................... 116

. 0 "acomp anh ar" do ponto de visto da equipe hospita

lar .......................................................... 122

IV. ANÂLISE T E M A T I C A ............................................ 143

V. C O NTRIBUIÇÕES ......................... ............... ..... . 164

VI. R E C O M E N D A Ç Õ E S ........................... . .................. 16 7

VII. BIBLIO G R A F I A ................................................ 170

A N E X 0 S ........................................................ 179
I . INTRODUÇÃO

O p r o g r e s s o das c i e n c i a s e a v a n ç o t e c n o l ó g i c o t e m contri

b u i d o de f o r m a d e c i s i v a p a r a o d e s e n v o l v i m e n t o da á r e a da saú

de, p e r m i t i n d o ao s h o s p i t a i s b r a s i l e i r o s m e l h o r a r a qualidade

t é c n i c a dos s e r v i ç o s o f e r e c i d o s aos seus u s u á r i o s . Refletindo

s o b r e a e v o l u ç ã o da a s s i s t ê n c i a .h o s p i t a l a r c o m o um todo, o b s e r

va-se, no e n t a n t o , q u e a l g u n s 'a s p e c t o s m a i s d i r e t a m e n t e rela

c i o n a d o s c o m o a t e n d i m e n t o âs n e c e s s i d a d e s p s i c o s s o c i a i s d o pa

ciente e família não têm apresentado igual progresso. Este as;

p e c t o não t e m m e r e c i d o o d e v i d o d e s t a q u e q u e a s i t u a ç ã o r e q u e r

e m n o s s o meio, p r i n c i p a l m e n t e c o n s i d e r a n d o 'ser a s o c i e d a d e b r a

s i l e i r a c a r a c t e r i s t i c a m e n t e afeti v a , sob o p o n t o de v i s t a so

c i a i e famil i a r , c o n f o r m e a f i r m a m a l g u n s a u t o r e s como D ' A N D R E A

: (1962) e REGEANINI, (1973). A e x e m p l o d i s s o , ,p o d e - s e c i t a r a

q u e s t ã o do a c o m p a n h a n t e do p a c i e n t e adulto, cuja p r e s e n ç a a ní

v e l h o s p i t a l a r n ão e s t á i n s t i t u c i o n a l i z a d a , tampouco definido

o seu papel, a d e s p e i t o de ser o m e s m o e n c o n t r a d o invariavel


*
m e n t e nas U n i d a d e s de I n t e r n a ç õ e s (UI) de p a c i e n t e s p a r c i c u l a

r e s e, e v e n t u a l m e n t e e m algumas UI previdenciãrJas. Por outro lado a

sua participação não está integrada na dinâmica das atividades desenvol


2

e q u i p e m u l t i p r o f i s s i o n a l j u n t o ao p a c i e n t e adulto.

A h o s p i t a l i z a ç ã o >e m si m e s m a , t e m s i d o c o n s i d e r a d a p o r v a ­

rios a u t o r e s c o m o u m " e v e n t o e s t r e s s a n t e " , d a d a as circunstan­

cias n a s q u a i s e l a oc o r r e , g e r a l m e n t e m o t i v a d a p o r d o e n ç a oú

acidente. TESK (1976), p o r e x e m p l o , refere-se â doença e hos­

p i t a l i z a ç ã o c o m o u m a a g r e s s ã o ao i n d i v í d u o , a g r a v a d a p e l a s e p a ­

r a ç ã o d o s f a m i l i a r e s e amigos.- A o ser r e t i r a d o de seu habitat

natural, o indivíduo encontra no hospital um ambiente c o m pleta­

m e n t e a d v e r s o , o n d e "n o r m a s e r o t i n a s r í g i d a s c o n t r o l a m e de­

t e r m i n a m suas açõ e s " (p.351), d a n d o o r i g e m a u m s e n t i m e n t o de

insegurança emocional. Isto agrava-se com a conscientização de

sua v u l n e r a b i l i d a d e e i m p o s s i b i l i d a d e de c o n t r o l e da s i tuação.

Para GONÇALVES (1979), a hospitalização constitui um fator de


insegurança, não a p e n a s pelo medo do desconhecido, como t a m b é m p e l o

m e d o de a l g u m a c i d e n t e de t r a t a m e n t o , d ú v i d a s e m r e l a ç ã o a c o m ­

p e t e n c i a das p e s s o a s r e s p o n s á v e i s p e l o s seus c u i d a d o s ,s e n t i m e n ­

to de s o l i d ã o , i m p e s s o a l i d a d e do a m b i e n t e h o s p i t a l a r , m e d o de

s e n t i r dor, de ser m a n u s e a d o , c o r t a d o , de t o r n a r - s e u m depen­

d e n t e e d a r t r a b a l h o às p e s s o a s , a l e m do m e d o da morte. Refor-

çando tais afirmações, estudiosos sobre segurança emocional

r e f e r e m - s e ao i m p a c t o da d o e n ç a e h o s p i t a l i z a ç ã o s o bre o paci­

e n t e c o m o u m a a m e a ç a áo s e u eu e x i s t e n c i a l . F r e n t e a e s s a si-

tuação,o indivíduo (mesmo adulto) reage com regressão emocional

a u m e s t a d o de d e p e n d ê n c i a e a b a n d o n o , a s s e m e l h a n d o - s e âs rea­

ções da infância (REGEANINI, 1973).

N ã o o b s t a n t e a l i t e r a t u r a r i c a e m trabalhos, demonstrando

a i n f l u ê n c i a dos a s p e c t o s p s i c o s s o c i a i s s obre a s aúde do ser

h u m a n o e e s t u d o s c i e n t í f i c o s c o m p r o v a n d o as r e a ç õ e s emocionais

c o m u n s à m a i o r i a dos i n d i v í d u o s q u e se h o s p i t a l i z a m , c b s e r v a - s e

q u e as i n s t i t u i ç õ e s h o s p i t a l a r e s e m n o s s o m e i o n ã o têm d e m o n s -
3

trado, n a p r á t i c a , sua c a p a c i d a d e de i n t e r v i r a n í v e l de p r e v e n ­

ç ã o dos d i s t u r b i o s e m o c i o n a i s a q u e e s t ã o s u j e i t o s e stes paci­

entes e respectivos familiares. C o m o m e d i d a p r e v e n t i v a dos pro

blemas relacionados mais especificamente â integridade psicos­

s o c i a l do i n d i v í d u o h o s p i t a l i z a d o , T E S C K (1976) sugere a per­

m a n ê n c i a 'de f a m i l i a r e s j u n t o ao p a c i e n t e P a r a a autora, cabe ao

e n f e r m e i r o e x e r c e r o p a p e l de a d v o g a d o do p a c i e n t e e f a m í l i a , n o

s e n t i d o de a s s e g u r a r - l h e esse d i r e i t o , isto ê, o direito de

o p t a r e m p e l a p e r m a n ê n c i a de u m f a m i l i a r c o m o paciente, de for

ma c o n s t a n t e ou e s p o r á d i c a , d u r a n t e o seu p e r í o d o de hospitali­

zação. Tal s u g e s t ã o b a s e i a - s e na c r e n ç a de que o adulto, quan

do e n f e r m o , t e n d e a a u m e n t a r seu n í v e l de d e p e n d ê n c i a e apego

aos f a m i l i a r e s , c a r e c e n d o , p o r t a n t o , ter j u n t o a si a l g u é m em

q u e m ele t e n h a c o n f i a n ç a e s i n t a - s e à v o n t a d e p a r a exprimir

suas n e c e s s i d a d e s no p l a n o social e afeti v o .

A p r e s e n ç a do a c o m p a n h a n t e r e q u e r i d a p e l o p a c i e n t e parece

e x p r e s s a r u m a n e c e s s i d a d e de s e g u r a n ç a e m o c i o n a l , cujo apoio

busca e n t r e - o s f a m i l i a r e s e / o u p e s s o a s amigas. E t e m relação

c õ m o q u e d e s c r e v e REGIiANINI (1973), e m seu a r t i g o s obre o " a c o m

p a n h a n t e h o s p i t a l a r " q u a n d o a f i r m a t r a t a r - s e de u m h á b i t o cul­

tural p r ó p r i o dos p a í s e s o n d e os r e c u r s o s e c o n ô m i c o s e t e c n o l ó ­

g i c o s são e s c a s s o s , 0 m e s m o não ocorre, segundo refere a mesma,

nos países onde existem recursos suficientes para suprir

os h o s p i t a i s e m t e r m o s de e q u i p a m e n t o , m a t e r i a l e p e s s o a l , .em

quantidade e qualidade necessárias, tornando-se dessa forma m e ­

r e c e d o r e s de c o n f i a n ç a de seus u s u á r i o s . O u t r a v a r i á v e l indi­

cada pela autora c o m o f a t o r i n f l u e n t e n e s t a s ituação, refere-

se ao a s p e c t o e d u c a c i o n a l , c a r a c t e r i z a n d o - s e nos p a í s e s desen­

v o l v i d o s p o r u m p r e p a r o p r o g r e s s i v o d a c r i a n ç a p a r a sua i n d e p e n

dência. Isto geralmente não ocorre nos países em desenvolvimen


to como o Brasil, cuja relação de d e p e n d e n c i a do individuo quan

to ã a ssistência a sua s a ü d e , a nível curativo, ê reforçada não

apenas no meio familiar, como ta mbém no âmbito governamental,

através das Instituições de Saude, em detrime nto do seu preparo

para promoção da saüde, de forma espont âne a e independente. Por

outro lado ,[a enfermag em c o n t e m por âne a tem-se identificado teori^

camente, como uma profissão c o m p r o met ida com a assistência glo

bal ao paciente, família e comunidade. No entanto, observa-se pe

la viv ê n c i a diaria que, na pratica, pelo menos a nível hospitalar,

isto não se tem c o n c r e tiz ado conforme p r e c o n i z a m os teóricos.

Ao passar pela experiência p essoal como ac ompanhante de

alguns familiares, em diversas ocasiões, foi possível sentir

ma is esp eci ficamente a m a g n i t u d e e c omp lex ida de do problema do

■acompanhante hospitalar. Em determinadas instituições, percebe-

se claramen te o indiferentismo e até mesmo uma certa re sis tên

cia por parte da equipe m u l t i p r o f i s s i o n a l , face â presença do

ac omp anh ant e na unidade de internação.

Mais tarde, como aluna do curso de mestrado, surgiu a

op ort uni dad e de d e s e n volv er um estudo prelimi nar sobre a q ue£

tão do acompan-hante. 0 m e s m o visava a prestar uma assistência

de enfermag em ao aco mpa nha nte fundam ent ada em um marco re fer en

ciai, tendo-se optado pela teoria do alcance dos objetivos de

KING (1*981) . Apesar das limitações m e n c ion ada s no proprio traba

lho, pri nci pal men te consid era ndo o reduzido n umero de sujeitos

p a r t ic ipa nte s do estudo, observ ou- se alguns aspectos que vale

mencionar, por suas implicações de ordem social, hu man íst ica e

técnico -ad min ist rat iva . Os problemas mais citados e/ou id entify

cados em nossa pratica foram:


- m a n i f e s t a ç ã o de ansiedade por parte do acompanhante, quan

do decisões importantes eram tomadas pela equipe de sau


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de e m t o r n o do p l a n o t e r a p ê u t i c o do p a c i e n t e , s e m que

fosse solicitada a sua participação;

- s i n a i s de i n s a t i s f a ç ã o e c o n f l i t o s e x p r e s s a d o s p e l o pa­

c i e n t e e a c o m p a n h a n t e s e m p r e q u e os o b j e t i v o s d a equipe

de s a ü d e d i v e r g i a m dos seus;

~ c a r ê n c i a de i n f r a - e s t r u t u r a p a r a a c o m o d a ç ã o e a t e n d i m e n ­

to da s n e c e s s i d a d e s b á s i c a s dos a c o m p a n h a n t e s de paci­

entes p r e videnciãrios;

- p a s s i v i d a d e do a c o m p a n h a n t e do p a c i e n t e previdenciãrio

quanto a aceitação das r e s p o n s a b i l i d a d e s q u e lhe e r a m atri.

b u í d a s e m t o r n o dos c u i d a d o s do paciente, s e m u m preparo

pr évi o adequado;

- r e s t r i ç õ e s e x p l i c i t a s m e d i a n t e r e s o l u ç ã o i n t e r n a do h o s ­

p i t a l , q u a n t o aos d i r e i t o s do f a m i l i a r do p a c i e n t e pre­

v i d e n c i ã r i o ter a s s e g u r a d o u m m í n i m o de c o n d i ç õ e s para

c u m p r i m e n t o dos d e v e r e s i n e r e n t e s ao p a p e l de a c o m p a n h a n

te;

- m a n i f e s t a ç ã o r e c í p r o c a d a n e c e s s i d a d e do p a c i e n t e e a c o m

p a n h a n t e p e r m a n e c e r e m j u n t o s n a U n i d a d e de Internação,
J

independentemente da existência de c o n d i ç õ e s de i n f r a - e s t r u t u

r a a d e q u a d a s p a r a isto.

Tais resultados contribuíram para reforçar o interesse em

a m p l i a r e a p r o f u n d a r o e s t u d o s o b r e o assu n t o , h a j a v i s t a as

m u l t i f a c e t a s dos p r o b l e m a s i d e n t i f i c a d o s . Os m e s m o s suscitaram

varios questionamentos, c u j a s r e s p o s t a s não se obtiveram por meio

da b i b l i o g r a f i a c o n s u l t a d a . P o r o u t r o lado, a t r a v é s de u m le­

v a n t a m e n t o b i b l i o g r á f i c o a b r a n g e n d o os ú l t i m o s 20 anos, c o n s t a ­

t o u - s e q u e h á v a z i o s de c o n h e c i m e n t o no q u e se r e f e r e as expe­

riências vivenciadas pelos familiares de p a c i e n t e a d u l t o hos

pitalizado em nosso meio e ã forma de a t e n d i m e n t o p e l a equipe


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m u l t i p r o f i s s i o n a l . A p e n a s a á r e a de P e d i a t r i a t e m - s e desenvol­

v i d o n e s s e s e n t i d o , o q u e se p o d e c o m p r o v a r p e l o r a z o á v e l n ú m e ­

ro de t r a b a l h o s c i e n t í f i c o s q u e a b o r d a m a p r o b l e m á t i c a d a cri­

a n ç a h o s p i t a l i z a d a e s eu a f a s t a m e n t o dos pais. R e s u l t a d o s de

experiências sobre assistência ã criança em colaboração com os

pais, n a q u a l i d a d e de a c o m p a n hantes, são c i t a d o s p o r JAY (1978),

SMITHERMAN (1979), N E IR A HUERTA' (1984), M A D E I R (1984) , > entre

out r o s . C o m r e l a ç ã o aos t r a b a l h o s supracitados, vale ainda

r e s s a l t a r qu e os m e s m o s r e f e r e m - s e a e s t u d o s d e s e n v o l v i d o s se­

g u n d o u m a m e t o d o l o g i a q u a n t i t a t i v a de p e s q u i s a e e m sua m a i o r i a

com enfoque dedutivo, a p a r t i r de e s q u e m a s t e ó r i c o s definidos

"a p riori"

A t u a l mente, p e r c e b e - s e n a l i t e r a t u r a de e n f e r m a g e m a ten­

d ê n c i a e m e n f a t i z a r a p r o p o s t a de u m a a s s i s t ê n c i a h o l í s t i c a ao

i n d i v í d u o . N a p r á t i c a , c o n t u d o , i s t o s e r á inviável, se não h o u v e r

u m e s f o r ç o p a r a e n v o l v e r seus f a m i l i a r e s c o m o p a r t e integrante

d e s t a a s s i s t ê n c i a ^ P o r conseguinte, f a z - s e mister, q u e se c o n h e ­

ça o q u a d r o r e f e r e n c i a l e m q u e os f a m i l i a r e s do p a c i e n t e i n t e r ­

n a d o i n t e r p r e t a m suas c r e n ç a s , .valores, s e n t i m e n t o s e a ç õ e s . E s -
— ^
ta a r e a de c o n h e c i m e n t o , no entanto, e n c o n t r a - s e d e s c o b e r t a . Pou

co se sabe sobre a experiência adquirida p é l o a c o m p a n h a n t e do pacien

te ad u l t o , q u a n d o da sua p e r m a n ê n t i a nó h o s p i t a l c o m o seu fami

liar. Seus s e n t i m e n t o s , a n g ú s t i a s e e x p e c t a t i v a s têm sido rele

gados. I g u a l m e n t e , p o u c o se sabe o que a e q u i p e de saúde e o

p r o p r i o p a c i e n t e p e n s a m a r e s p e i t o d e s s a questão.

C o n s i d e r a n d o a i m p o r t â n c i a de p r e e n c h e r a l a c u n a de c o n h e ­

c i m e n t o d e t e c t a d a , o p r e s e n t e e s t u d o v i s a a o b ter a c o m p r e e n s ã o

d o . v e r d a d e i r o s i g n i f i c a d o da p r e s e n ç a do a c o m p a n h a n t e j u nto ao

p a c i e n t e a d u l t o h o s p i t a l i z a d o , s o b o p o n t o de v i s t a do p r ó p r i o a

c o m p a n h a n t e , do p a c i e n t e e d a e q u i p e m u l t i p r o f i s s i o n a l . Para
tal estudo, fez-se necess ári o uma m e t o d o l o g i a qualitativa, uma

vez que esta propicia uma ampla com pre ens ão do quadro referen

ciai, no qual se situa o acompanhante. Desta forma, este. estudo

p r e t e n d e u investigar o seguinte problema: •

- A situação do fam iliar que aco mpan ha um paciente adul^


to internado em u m hospital geral

Dentro deste contexto, questões men ores foram investiga

d a s , tais como :
- A experiência do familiar do paciente adulto interna

do sobre o ser acompanhante, suas atividades, expecta

tivas e sentimentos.

- A p er cepção do pac iente adulto hospitalizado face a

presença do acompanhante.
- A percepção da equipe m u l t i p r o f i s s i o n a l quanto a pre

sença do acompanh ante no hospital.

Pr essupostos teoricos

Os pressupo sto s que serviram como base para direcionar

o pre sen te estudo, foram fundamentados em LUDCK & ANDRË (1986)

e S PRA DL EY (1980) e constam de:

1. Os familiares dos pacientes internados têm uma cultu

ra* em comum, a qual ë influenciada pelo contexto em que se s¿

tu a m .

2. Os conhec ime nto s da vi vên c i a do acompanhante, para

serem autênticos, devem ser buscados no p roprio local onde ocor

re o fenômeno, isto ê, no hospital, onde se encontra o acompa

* Cu ltura segundo S PRADLEY (1980:6), refere-se ao conhecimento


ad quirido que as pessoas usam para interpretar suas experiên
cias e gerar comportamentos.
8

nhante, o qual d e v e c o r r e s p o n d e r a p r i n c i p a l f o n t e de d a d o s e o

pesquisador, o seu p r i n c i p a l i n s t r u m e n t o de c o l e t a de d ados

3. 0 e s t u d o q u a l i t a t i v o d e v e ser p r e d o m i n a n t e m e n t e de_s

critivo, de f o r m a h o l í s t i c a , v e n d o o i n d i v í d u o como um todo e

não r e d u z i n d o - o a v a r i ã v e i s ou d e s v i n c u l a d o de seu c o n t e x t o so

c io-cultural.

4. 0 p e s q u i s a d o r d e v e a s s u m i r o p a p e l de aprendiz, pro

c u r a n d o a p r e n d e r co m as p e s s o a s e a p a r t i r de seus p o n t o s de

v i s t a e não o de e s t u d a r as p e s s o a s .
II. METODOLOGIA

T i p o de estudo

O p t o u - s e p o r u m a p e s q u i s a de campo, q u a l i t a t i v a , conside­

r a n d o q u e e s s e t i p o de e s t u d o o f e r e c e u m a p e r s p e c t i v a m a i s am­

p l a p a r a e x p l o r a ç ã o dos c o n h e c i m e n t o s que se d e s e j a adquirir

e m r e l a ç ã o ao t e m a e x p o s t o . P o r m e t o d o l o g i a q u a l i t a t i v a de p e s ­

q u i s a c o m p r e e n d e - s e u m m o d e l o a l t e r n a t i v o de i n v e s t i g a ç ã o c i e n ­

tífica. Segundo LEININGER ( 1 9 8 5 ) , n ã o se t r a t a de u m a t e o r i a ou

m é t o d o q u e t e n h a o p o d e r de a n u l a r o u t r o s m é t o d o s já c o n h e c i d o s .

El a visa, essencialmente, a d o c u m e n t a r e i n t e r p r e t a r a totalidade

do q u e e s t ã s e n d o e s t u d a d o e m u m c o n t e x t o p a r t i c u l a r , sob o

p o n t o de v i s t a das p e s s o a s e n v o l v i d a s (LEININGER,' 1985). Isto

inclui, s e g u n d o a a utora, a i d e n t i f i c a ç ã o , estudo, a n á l i s e o b j e ­

t i v a e s u b j e t i v a dos dados, de m o d o a c o n h e c e r o m u n d o interno

e e x t e r n o das p e s s o a s , a t r a v é s n ã o a p e n a s da õ t i c a do p e s q u i s a ­

dor, mas, e s s e n c i a l m e n t e , d o s i n f o r m a n t e s c o m o co-participantes


*
das i n f o r m a ç õ e s a d q u i r i d a s e c o - a u t o r e s dos c o n h e c i m e n t o s pro­

du z i d o s .

C o m o m e t o d o l o g i a b á s i c a de p e s q u i s a , a d o t a m o s u m a mini-
10

etnografia, conforme o modelo proposto por LEININGER (1985). Mi.

n i e t n o g r a f i a , segundo a a u t p x a , ë um më t o d o de pesquisa que per

mite uma visão ampla do modelo de vida de pequenos grupos ou do

fenômeno que esteja sendo estudado. Con sid era da mini não por

ser um estudo resumido ou superficial, mas pelo fato de este fo

calizar apenas uma breve passage m do indivíduo, enquanto a com pa

nhante. A escolha do referido mëtodo se deu em virtude de este<

permitir um enfoque indutivo, no qual se pode detectar, doc ume n

tar e analisar, através da observação participante, os dados re

ferentes ao meio em que vive o aco mpa nha nte com seus padrõespa.r

ticulares de comportamento, seus valores, crenças, sentimentos,

hábitos e costumes, assim como seu r e l a c i o n a m e n t o •pessoal com o

paciente e a equipe hospitalar.

A p esquisa etnográfica, segundo L EIN I N G E R (1985), não

se limita ã identificação do conhecimento, mas busca inclusive

a c ompreensão dos valores, atitudes e comportamentos de um gru

p o , atravês de um exaustivo processo de observação, discussão,

questio nam ent os e validação. 0 pes qui sad or visa com isto, a r£

gistrar o mundo do grupo em estudo, como eles o concebem. Todos

os estudos etnográficos têm um objetivo abrangente, que ë o de

"ENTENDER" os significados culturais que as pessoas usam, para

o r ganizar e interpretar suas experiências (SPRADLEY, 1980:93).

Local de estudo

O estudo foi desenvo lvi do em um Hospital de grande por

te, de economia m i s t a e carãter geral, de uma cidade do Sul do

Brasil. Este serviço visa a atender essenc ial men te os pacientes

pr evi d e n c i ã r i o s do Estado e, em menor p e r c e n t u a l , os conveniados e

particulares. A escolha do local foi mo tiv ada pelo fato de en


11

c ontr a r - s e neste hospital ac ompanhantes de dois grupos d istin

tos de pacientes: par ti cul are s e p r e v i d e n c i ã r i o s , em numero ra

zoavel, cuja media diaria chega a trinta acompanhantes. Outra

razão foi a facilidade de acesso ao local e a abertura do campo

para estudantes da ãrea de saúde^ bem como o apoio oferecido p£

la direção e lideranças de enferma gem aos propositos da pes qui

sadora.

A m o s t r a do estudo

A amostra foi co nst itu ída por tres diferentes grupos de

participantes: os acompanhantes, a equipe e os pacientes. Os

a c o m p anh ant es foram r e p r e s ent ado s por trinta e cinco familiares

que se e ncontravam nas uni dades de internações p articulares e

p r evidenciarias das clínicas m e d i c a e cirúrgica. 0 segundó gru

po constou de vinte e dois pacientes internados em clínicas me

dicas e cirúrgicas, ma scu l i n a s e femininas, cujos aco mpanhantes

faziam parte do estudo.


A equipe mu.ltiprof issional par tic ipa nte deste estudo foi

co mp o s t a de três categorias, a saber: três diretores - o geral,

o técnico e o adminis tra tiv o - cujo poder decisorio exerce in

fl uência sobre a situação do acompanhante, no ambiente h ospita

lar; oito médicos e a equipe de enfermagem, constante de qua ren

ta participantes, dentre os quais enumeram-se: doze enfermeiros,

cinco técnicos, nove auxiliares, dez atendentes e quatro escr.i

turãrio s de enfermagem, os quais têm alguma ligação com o fanú

liar, ao prestar algum tipo de assistê nci a ao paciente.

Não houve pre ocu paç ão com a obtenção de números homogê

neos de partici pan tes entre as diversas categorias ou em cada


12

uma destas, mas com a aquisição de informações que re tra tas sem

fielmente a realidade daquela população. 0 criterio adotado pa

ra inclusão de novos informantes b ase ou-se na "saturação teórica


dos da dos" (WILSON, 1977), isto ê, quando as informações se tO£

navam r e p e t i t i v a s ,. não mais encontrando dados novos ou adicio

nais em d eterminado grupo, bu s c a r a m - s e outros participantes.

Do total de trinta e cinco a c o m p a n h a n t e s , com quatro des_

tes não foi possível realizar os contatos subseqüentes, por mo

tivo de t ra nsferência ou alta ant eci pad a do paciente, ou por re

v eza mento com outros familiares, limitando-ãs ã entrevista in_i


ciai. Com os demais, realizamos um seguimento, desde a sua en

trada no hospital, ate a sua saída com o paciente, ou para dar

lugar a outro membro da família.

Proteção dos direitos humanos dos informantes

Para não identificar o Hospital em estudo, foram m uda

das al gumas de suas c a r a c ter íst ica s e atribuídos outros nomes

aos entrevistados. Para que os p a r t i c ipa nte s sentissem seguran

ça em p res tar informações honestas, procurou -se e sclarecer-lhes

sobre quem era a pesquisadora, os objetivos da investigação, t_i

po de c o l a b ora ção que .de sej ava receber, liberdade de recusar-se

a p art ic i p a r ou des istir em qualquer fase de sua partici paç ão

no estudo, modo como os dados seriam registrados e usados para

publicação. A l e m disso, e sta belecemos um compromisso formal em

a s s e g ura r-l hes o sigilo e anonimato, tomando todos os cuidados

para não dar ma r g e m a possíveis associações â sua pessoa. Teve-

se tam bem o cuidado de guardar todo o m aterial referente as

anotaçõ es e gravações em local seguro, cujo acesso era restrito

apenas ao pesquisador.
13

Coleta de dados

Os dados foram obtidos, no pe ríodo de abril a novembro

de 1986, através da observação participante, a qual permitiu a

utiliza ção de observações gerais, co ns u l t a e documentação do

hospital,' entrevistas abertas e s e m i - e s t r u t u r a d a s , visitas dom_i

ciliares,* par tic ipa ção das atividades diarias do grupo em estu

do e notas de campo. Teve-se como referenc ia o modelo proposto

por L EIN ING ER (1985:52), que prevê quatro fases de observação,

a saber :

1. Observ açã o p r i m a r i a : nesta fase o objetivo centra

era c onhecer e c ompreender o contexto no quai se situa o acompa

nhante. E o papel principal de pe s q u i s a d o r foi o de observar,

p rocurando ver e ouvir tudo o que se relac ion ava ao assunto, des^

de os aspectos de seu ambiente físico, consulta a documentos,

como o regimento do hospital, normas de serviço e ata das reu

niões da subdivisão de enfermagem, mo do de desempenho do papel

do familiar enquanto acompanhante, suas reações e tipo de rela

cionamento pessoal com o paciente e com a equipe.

A observação envolveu, portanto, a m aio r parte do nosso

tempo durante as três primeiras semanas. Nesta oportunidade, ao

mesmo tempo em que íamos conhecendo cada grupo participante,

t ambém nos tornávamos conhecida, p rin c i p a l m e n t e da equipe hospi_

talar, aumentan do o grau de confiança dos informantes.

* A vi s i t a domiciliar foi utilizada nos casos em que houve in


terrupção na cadeia de comunicaçao entre o pesquisador; e os
informantes, por alta (não prevista) do paciente, ou reveza
mento entre os familiares do paciente.
14
2. Observação com alguma p a r t i c i p a ç ã o : nesta fase, a

observação conti nuo u sendo o foco principal. Apos as primeiras

entrevistas abertas com os diretores (geral, a dmi ni s t r a t i v o e

técnico) e lideranças de enferm age m (sub-diretora e enf erm eir os

chefes das unidades de internação), 'foram-se introduzindo, pau


•latinamente, e ntrevistas s e m i - e s t r u t u r a d a s , vi sando a e sclare

cer pontos obscuros e a pro fun dar as questões de maior interesse.

0 m esm o pro cedimento foi adotado em relação aos demais c o m p o n e n

tes da equipe m u l t i p r o f i s s i o n a l , a c o m p a nha nte s e pacientes. Tam

bem tentou-se nesta opo rtu nid ade par tic i p a r de alguma forma do
co nvívio diario de cada grupo, freqüent and o o hospital nas dife

rentes jornadas de trabalho, isto e, nos turnos da manhã, tarde


e noite.

Quando era admitido um p aciente com seu r e s p ec tiv o acom

panhante, pr ocu rav a-s e com eles interagir e seguir os funciona,

rios envolvidos no processo de admissão. Daí por diante, gera_l


m e n t e ficava com estas mesmas pessoas, caso ac eit a s s e m partici_

par do estudo, ate a alta do paciente. No convívio com o acompa

nhante, pacientes e funcionários, com p a r t i l h a v a - s e de algumas


de suas atividades rotine ira s cóm os pacientes, mas com o cuida

do de manter uma co nduta de aprendiz, de modo a não intervir e

vi sando a.apreender os d ife ren tes significados de sua experiên

cia em cada situação.

3. Participação mais efetiva do p e s q u i s a d o r : ã medida

que o pesquisador foi-se fa mil iar iza ndo com os componentes de

cada grupo, conquistando a sua confiança, au ment ava a sua parti_

cipação. Tivemos a o por tun ida de dé co mpa rti lha r da visita medi.

ca, vi s i t a de senhoras do corpo de vol unt ári as ao paciente .e f am i_

liar, vi sitas sociais de familiares ou amigos, reuniões da equi^


!5
pe de enfermagem, momentos do lanche ou cafezinho, execução de

tratamentos, cuidados oferecidos ao paciente, encaminhamento pa

ra realiz açã o de exames, pr eparo para refeições do paciente, en

tre outros. 0 interesse em p art ici par desses eventos, vi sav a a

c om p r e e n d e r como o familiar se inseria em cada situação. Para

evitar o 'risco do pesqui sad or envolve r-s e completamente com os

pacientes', nesta fase, em detrimento de uma observação mais

acurada, apos cada turno de 2 ou 3 horas de atividades, promo^

v ia-se um intervalo, pos sib i l i t a n d o oportunidade de auto-avalia

ção e p r e s e rv açã o de sua visão crítica.

4. Observação r e f l e x i v a : c o r r e s pond eu a ultima fase

pr oce sso de coleta de dados, o por tun ida de em que o p e s q u i sad or

se recolhi a para refletir sobre as ocorrências, tentando comprjs

ender os seus significados, Vale ress altar que as quatro fases

de scr ita s estão intimamente relacionadas, requerendo em alguns


Y
mo men t o s retornos a qualquer das fases anteriores, com o objeti_

vo de esclar ece r pontos obscuros ou aprofu nda r questões de con

traste. E o principal papel do p e s q u isa dor foi o de observação,

o qual se estendeu por todo o pe ríodo de investigação, que du

rou oito m e s e s .

Al em disso, utilizou- se como estratégia para realização

das entrevistas, a formulação de três tipos de questões sugeri^

das por SPRADLEY (1979). São elas: 1) questões descritivas - de

signadas para expandir as informações dos partici pan tes as quais

foram usadas através das di fer ent es fases do estudo; 2) q u e s ­

tões estruturais - são aquelas que pr oc u r a m compreender não so

m e n t e o que as pessoas fazem, mas como elas or gan iza m o que sa

bem. Elas c om p l e m e n t a m e .exp and em os dados de.scritivos, a medi^

da que d e s c o b r e m a organiz açã o semântica da cultura; e 3) ques-


16

tões c ont ras tes - têm por objetii/o c o m p a r a r , ^para mostrar dife

rengas. As mesmas têm por foco identificar como os símbolos di

ferem uns dos outros. Elas eram formuladas quando o p esq uis ado r

percebia diferen ças na forma como o informante descrevia os sím

bolos.

Registro dos dados

Os dados resultantes da con sul ta â documentação do Ho£

pitai, das entrevistas, gravações e observações do pesquisador,

foram reg ist rad os em duas vias e organizados em forma de "Notas

de Campo". Ao mesmo tempo, foi adotado o "Diario do Pesquisa

dor", onde se an otavam as suas ações planejadas e/ou realizadas,

suas r efl exõ es e a u t o - a v a l i a ç õ e s , permi tin do uma visão crítica

de seu des emp e n h o durante o estudo. Com o proposito de evitar

distorçõ es das informações obtidas, tornando-as tanto quanto

possível fidedignas, utiliz ou -se o m esm o estilo de li nguagem

expressada pelos informantes.


C o n s i dera nd o as d i f i c u ldad es em gravar as entrevistas e

em r egi strar todos os dados fornecidos, no local e momento de

sua ocorrência, devido aos bloqueios ou con strangimento que es

tas praticas pod eri am causar aos informantes-, foram utilizadas

algumas estrategi as de registro propos to por BOGDAN & TAYLOS

(197 5 ) , como sej am :


1. .Du rante as entrevistas, a notavam-se apenas as pala

vras chaves comentadas pelos informantes;

2, Sempre que se completava uma observação ou entrevi_s

ta, saía-se em busca de local apropriado (geralmente

usava a B ibl iot eca do Hospital), para registrar to


17

dos os dados obtidos, sem perigo de perda de sua au

tenticidade;

3. Pr ocurava-se não passar de uma observação para ou

tra, sem ter completado o relato da primeira;

4. Não se d i s c u t i a m com outras pessoas as observações

efetuadas, sem antes r e g i s t r ã - l a s ;

5. Ao relembrar, dias ou semanas depois, uma ocorrência,

e constatar que a mesma não fora relatada, esta era

feita em registro, adicional.

Analise dos dados

Os dados foram analisados simult ane ame nte â coleta . de

dados, conforme o m odelo preconiza do por PARSE et alii (1985),

Este inclui quatro níveis de analise que se desenvolve e m ’ uma

espiral de c o m p l exid ade crescente e não em um continuum linear.

São eles: analise de domínios, taxonómica, componencial e tema

tica, alem da identificação de propos içõ es hipotéticas. (F ig. n9

1) Ã m edi da que se sobe, através dos v arios níveis, na espiral,

novas dimensões de compre ens ão são d e s c o ber tas e novas questões

emergem, expandindo e dando sentido aos resultados.


18

Categori as concei tua is - 4 9 nível de


pr o g o s içõ es hi potéticas - re analise
latorio do estudo . Analise temãtica (visa a
descober ta destemas c u L
turáis, isto ê, de con
P o ssi bil id ade de r e t o r ­ .ceitual ização que conec
nar ou não ao campo com to tam os domínios, dando
dos os^tipos de questões uma visão holística ao
etnográficas. estudo).

.39 nível de
analise
Ve r i f i c a ç ã o e va lid açã o
das taxonomías, através de . Analise componencial (vi
questões c o n t r a s t e s . 'sa a descobrir o s ignifT
P r oss egu im ent o com q u e ¿ cado dos componentes de
tões descrit iva s e estrutu um d o m í n i o ) .
rais.

2 9 ^nível de
analise
. A nalise taxonómica (visa
a identificar relações
Expansão e v e r i f ica ção semânticas).
dos dados através de q u e s ­
tões descrit iv as e estrutu
rais, v isa ndo ã identifica
ção de relações semânticas,
(estas são) ca te gorizadas l 9 ^nível de
de acordo com o esquema lin analise
gu ístico universal. . Definição de domínios
(categorização simbólica
que pode envolver outras
categorias m e n o r e s ) .

Expansão dos dados atra


ves do uso de questões d e ¿
critivas. Início da analise
. Procura inicial de donn!
nios.

Ob ser vaç ões iniciais


e
Questionamentos

Seleção do projeto

Figura 1 - Coleta e analise de dados em espiral (PARSE, 1985:76)


19

1. Ana lis e de domínio - e o primeiro nível de analise,

efetuada a par tir de obs erv açõ es gerais e questões descritivas.

Com isto pr e t e n d e u - s e uma busca inicial de domínios. Domínio,

segundo a autora, ë uma c ate goria simbólica que envolve outras

ca teg ori as menores.

2. A n a l i s e t axonómica - este nível de analise visa a

de sco b r i r relações semânticas dentro de um domínio, isto ë,

identificar a organiz aç ão interna de um domínio. Ã medida que

se p roc u r a v a de scobrir relações semânticas entre os termos usa

dos pelos informantes, des c o b r i a m - s e pa drões de relação, que

aj uda vam o p e s q u isa dor a formular questões descritivas adicio

nais e estruturais, isto ë, questões que p r o c u r a v a m compreender

não somente o que as pessoas faziam, mas como elas o rga niz avam

o que s a b i a m .
Os padrões de relação foram, portanto, categorizados de

acordo com um esquema lingüístico. 0 mais usado ë o esquema unjl

versal de r ela cio na men to semântico, composto das seguintes rela

ções: espacial, inclusão, atributo, estágios, m e i o - f i m e racio

nal (SPRADLEY, 1980). .


Os domínios foram então examinados para formação de

s u b - c o n j u n t o s , com base na des cob ert a das relações semânticas,

conforme Quadro n ? 2, 3 e 4.

3. Aná l i s e componencial - teve como objetivo descobrir

co mpo nen tes de significados dentro de um sistema. Isto foi fei­

to ao examinar as anotações etnográficas, procurando visual isa r

as di fer enç as entre os símbolos da linguag em dos informantes

que p e r m i t i r a m formular questões contrastes para validação com

os par tic ipa nte s neste processo.

Ex emplo de duas reflexões b ase ada s nas notas de campo


demonstrando isto:

D o m í n i o - tipo de r e a ç õ e s a p r e s e n t a d a s pe lo acompanhan

te

Atributo - sentir medo.

0 acompanh ant e sente medo durante sua p ermanência no ho_s

pitai. No entanto, ele distingue o medo que sente devido as con

dições de, saüde do familiar internado, da assistência de enfer

m a g e m e do tratamento executado pelo médico. Da enfermagem ele

teme represalias, caso ele prõprio ou pac iente se queixe muito.

Ele tambëm teme que, ao sair, o pessoal possa deixar o pacient e

cair da cama ou o amarrar no leito, não controlar o soro, e não

atender ã campainha. No caso dos p r e v i d e n c i ã r i o s ,•hã ainda o m £

do que r etirem sua licença para pe rma nec er junto ao p a c i e n t e . Em

relação ao medico, os medos de a c o m p a nha nte são mais específi^

cos. Ele teme o des i n t e r e s s e deste pelo pacient e ou a sua incom

petência para lidar com o c a s o , ou ainda que use o paciente co

mo caso de estudo. ■
Domínio - c a r a c ter íst ica s do acompa nha nte

At ributo - permissão para per man e c e r como acompanhante.

A permiss ão para ser ac omp anh ant e de paciente p art icu

lar d ifere daquela do p r e v i d e n c i ã r i o , 0 prime iro tem sua permis^

são ga rantida pelo simples pagamento de uma taxa na tesouraria

do hospital, quando da admissão do p a c i e n t e .■Esta permissão ë

dada pela admini str açã o geral e esta re fer end ada nas diretrizes

do hospital. A permissão para o aco mpa nha nte do paciente previ_

denciãrio depende da autorização do enfermeiro mesmo para os ca

sos de solicitação do .mêdico responsável ou da a d m i n i s t r a ç ã o c e n

trai. A mesma esta t ambëm co ndi cion ada a aceitação das regras

d e t e r min ada s pelo serviço de e nfe rm a g e m e â execução de cuida

dos junto ao paciente.


21

4. An á l i s e temática - ë o nível de análise que v i s a

d e s c o b e r t a de temas culturais, isto e, de c o n c ei tua liz açõ es que

c o ne c t a m os domínios, dando uma visão ho lística ao estudo.

No p resente estudo, foram identificados, basicamente,

quatro temas. Uma vez id entificados e as anotações revistas em

toda sua extensão, p r o c u rou -se identificar proposições hipoteti^

cas. Segundo PARSE (1985), o pe squ isa dor chega a propos içõ es h_i

p o tët ica s a partir da análise temática. Isto representa uma mu

dança no nível de abstração, dentro do conteúdo dos dados obtji

dos. Os dados foram então sintetizados em pro pos içõ es hipoteti.

cas., r e p r e s ent and o as c o n c e i t u a l i z a ç õ e s do pesquis ado r sobre a

cu ltura estudada, com base na r eal idade dos participantes. São


a p re s e n t a d a s seis p r o p os içõ es hipotét ica s como resultantes des_
se nível de análise.

Rigor do Estudo

Os critérios para que uma pes qui sa qualit ati va seja


i

a c e i t a pela comunidade c i e n t í f i c a como vál ida e confiável, se

gundo Guba & Lincon ( S A N D E L O W S K I , 1986), não p o d e m ser os me£

mos utilizados nas pesquisas quantitativas, uma vez que os p r e ^

supostos em que cada uma se b ase ia são diferentes. Conforme os

a u tor es referidos, em p esq uis a qu ali tat iva as estratégias para

a s s e g u r a r o rigor re fer em -se aos cuidados de senvolvidos dur ant e

o estudo, visando a garantia de sua qualidade quanto aos seguin

tes aspectos: ve rac i d a d e ou credibilidade; adequação ou aplica

bilidade; consis tên cia ou p o s s i b i l i d a d e de fazer auditoria e n e u

t r a l i d a d e ou p o s s i bil ida de de ser confirmado.


Para assegurar a qu alidade do pr esente estudo adotou-se
22

uma serie de cuidados, com base nos criterios propostos por

Cuba e Lincon ( S A N D E L O W S K I , 1986) , envolvendo cada fase do pro

cesso de pesquisa, de modo que os resultados e interpretações se

jam po ssí vei s de credibilidade.

1. Utilizaç ão do diario de campo para auto-aval iação, vjL

sando a corrigir distorções relativas a tendenciosidades ("bias")

do pesquisador. '

2. Discussão com outros grupos do campo de pesquisa

(equipe de enfermagem, médicos e assistente social), para ava

liar as interpretações da autora e dizer o grau de coerência.

3. Cuidado com o r e l a c io nam ent o pesquisador e acompa

nhantes, p r o c ura ndo -se evitar um envolvimento demasiado, para

não p r e j u d i c a r a capacidade do p e s q u is ado r de distinguir suas

pr oprias vi vên cia s no campo das experiências dos participantes,

razão pela qual permane cia no campo apenas um turno de trabalho

(manhã, tarde ou noite) para coleta de dados.

4. Discussão com os informantes, apos o registro dos da

dos, a fim de receber o feed-back, isto ê, checar suas informa

ções e esclarecer pontos obscuros ou incongruentes.


5. Gravação de entrevistas, cuja utilização desse recur

so técnico foi permitido pelos participantes, buscando ser o

mais fiel possível no registro de ,suas informações.

6. FreqUentes retornos aos dados originais ("brutos"),

para v e r i r i c a r se as reflexões até então registradas os re pr£

sentam co m clareza e f i d e d i g n i d a d e .

^ 7. Combinação de varias técnicas de coleta de dados (en

trevistas, observação, con sultas ã do cumentação da instituição,

gravaçõ es e vis itação d o m i c i l i a r ) , visando a uma confrontação

dos dados, de modo a detec tar o grau de coerência entre as in

formaçõ es obtidas.
23
8. Tempo de permane nci a do p e s q u is ado r no campo, deter

m i nad o com base nas necessi dad es de conhec ime nto e compree nsã o

dos valores, atitudes e com por tam ent os do grupo em estudo e não

por prazo p r e - d e t e r m i n a d o .

9. D isc ussão com colegas (fora do campo) e com a orien.

tadora sóbre a analise dos dados, para avaliar o quanto o estu

do retrata a realidade.

10. A val ida ção das informações dos pacientes e seu fam

liar, era feita separadamente, a fim de assegurar maior fidedij?

nidade.

Facilidades e d ifi cul dad es em relação a me t o d o l o g i a

Facilidades

Entre as facilidades do uso da metodologia, pode-se d e £

tacar a sua flexibili da de d urante todo o processo de investiga

ção, permiti,ndo ampliar ou reformular o proble ma em estudo, alem

de po ss i b i l i t a r adaptações no planejamento, segundo as condi

ções do local de pesquisa. Graças a esta abertura, durante o pe

ríodo de de sat iva çã o das Unidades de Internações para de sinfec

ção hospitalar, não houve solução de c ont inu ida de em nosso tra

balho. Embora tivesse coincidido com o pe núltimo mês da coleta

de dados, continuamos com a clientela proveni ent e do Pronto So

corro, não pr ev i s t a inicialmente, jã que as admissões encaminha

das pelo a m b u lat ori o foram suspensas nesse período.


O fato de a p esq uis ado ra não p ert encer ao quadro de pes_

soai do h ospital contri bui u para que os informantes f icassem à

vo n t a d e para exter nar em seue sentimentos, sem o receio de provo


.24

c a r e m r e s s e nt im ent os ou sofrerem represálias. Por outro lado, o

seu d e s c o n h e c i m e n t o da situação do hospital também pro pic iou o


seu des emp enh o no papel de aprendiz.

D ificuldades

Inicialmente, a principal di f i c u l d a d e foi abandonar os

esquemas c onv enc ion ais de trabalhos dedutivos, devidamente es_


truturados, para buscar adaptação a um trabalho indutivo. A pes

qu isadora já estava c o n d i ci ona da a entender pes quisa via aplica


ção de instrumentos de coleta de dados, que imaginava não saber

o que fazer no campo sem dispor de alg um roteiro. Por m a i o r que

fosse a orientação quanto ã importância de chegar ao campo sem

ideias p r ë - c o n c e b i d à s ou esquemas p r ë - d e t e r m i n a d o s , ao elaborar

o projeto de pesquisa para o p resente estudo, sentiu-se a n£

ce ssi d a d e de definir criterios para seleção da amostra, decisão

de sca r t a d a somente na fase de observação, ao compreender as de_s

v a n t ag ens de sua u til iza ção para o estudo.

Dû rante a fase de observação primária,’as dificuldades


1

d e c o r r e r a m em função da comunica ção com os acompanhantes dos pa

ci entes particulares, pelo fato de estes se encontrarem em am

biente fechado, isto e., em seus apartamentos, inviabilizando

uma observ açã o indireta (a distância) entre p esquisador e pe^

quisados. A porta fechada constituía uma ba rre i r a intransponí^

v e l , pois não se sabia o que se ia encontrar por trás dela, se

pessoas receptivas, ou a bor re cida s pelo fato de ser incomodadas

em sua intimidade com o paciente. Por outro lado, não tinha

ex p e r i ênc ia com particulares. A imagem que se havia formulado

de sde o início da profissão, através de informações da equipe,

era de pes soas a u t o - s u f i c i e n t e s e exigentes quanto aos seus di^


25

reitos. Tais razões levaram a imaginar que os m esmos não esta

r i a m dis pos tos a colaborar. Somente apõs enfrentar os primeiros

contatos, per ceb eu- se que as di ficu lda des existentes p a r t i a m do

prõ pr io pesquisador-, pois os p arti cul are s m o s t r ara m-s e tão r£

ceptivos e carentes de atenção quanto os previdenciãrios.

Outra dificu lda de foi separar os papeis de enfermeira e

p e s q u i s a d o r a a fim de manter uma postura imparcial frente aos

p r obl ema s detectados junto aos acompanhantes. Por exemplo, quan

do estes m o s t rav am- se atrapa lha dos ao executar det erminados cui^

dados do paciente, tais como: mu da n ç a de decúbito; transpor te

da cama para cadeira ou v i c e - v e r s a e/ou para o banheiro; ou

quando estes faziam i nte rpretações d ist orc ida s quanto aos cuida

dos a serem seguidos apõs alta do paciente. Alem disso, a falta

de c o n d i ç õ e s de acomodação e de orientação dos a companhantes

p r e v i d e n c i ã r i o s que p e r m a n e c i a m as 24 horas na Unidade de Inter

nação d e t e r m i n a v a m muita a n s i ed ade na pesquisadora. Nestes ca

sos, surgia a impulsão de intervir com o p rop osito de evitar

riscos ou danos ã integridade p s i c o - b i o l õ g i c a do paciente e/ou

acompanh ant e.
i

A observação do co ntexto geral no qual se situa o acom

p a n h a n t e pr opi cio u uma visão ampla da r eal idade dos particip an

tes. 0 contato com a pro b l e m á t i c a de,alg uns a com panhantes afeta

v a m a p e s q u i s a d o r a de tal modo, que não co nseguia man ter -se co

mo m e r a expectadora, talvez pela sua formação e experiência pro

fi ssional mais ligada ã ãrea administrativa, sendo tentada a aí>

sumir o papel de enfermeira e agir em busca de resoluções para

tais problemas.
III. R ESU LT A D O S

Para organizar a apr ese nta ção dos resultados pro ced eu-

-se, inicialmente, a um agrupamento das informações obtidas (da

dos brutos), dando origem a varios grupos de categorias e- sub-

- c a t e g o r i a s . Através da reunião destas, chegou-se à identifica

ção de dezesseis domínios nesse estudo, tendo-se optado por

a p r o f u n d a r a analise da ma ior ia dos domínios relacionados ao

acompanhante, paciente e equipe, conforme o quadro 1 apresenta

do a seguir. Alem disso, os quadros seguintes, numerados de 2 a

11, de m o n s t r a m as demais fases da analise de dados em espiral

de c o m p l e x i d a d e crescente, conforme o modelo, proposto.


27

QUADRO N9 1 - D o m í n i o s r e l a t i v o s ao a c o m p a n h a n t e , p a c i e n t e e

equipe, s e l e c i o n a d o s p a r a a p r o f u n d a r a análise.

I n f o r m a n t e s ................. D o m í n i o s .

1. A c o m p a n h a n t e . C a r a c t e r í s t i c a s p e s s o a i s do a c o m p a n h a n t e

. Razões para acompanhar o paciente

. Atividades desempenhadas pelos acompanha

tes

. Expectativas e preocupações

. F o r m a s de a p r e n d e r a c u i d a r

. S e n t i m e n t o s do a c o m p a n h a n t e

. R e a ç õ e s do a c o m p a n h a n t e nas d i f e r e n t e s fa

ses da s u a e x p e r i ê n c i a

2. P a c i e n t e . P e r c e p ç ã o do p a c i e n t e face a p r e s e n ç a do

acompanhante

. R e a ç õ e s do p a c i e n t e

3 . Equipe . P e r c e p ç ã o d a e q u i p e face a p r e s e n ç a do

acompanhante

. Expectativas da equipe

. P a p e l do a c o m p a n h a n t e s e g u n d o a e q u i p e

. R e a ç õ e s d a equipe.

. F a t o r e s q u e i n t e r f e r e m no r e l a c i o n a m e n t o

equipe-acompanhante
28

Q U A D R O N 9 2 - Sete d o m í n i o s r e l a t i v o s ao a c o m p a n h a n t e , represen

tando cinco diferentes relações semânticas univer

sais.

Dominio Forma Relações semânticas

Caracterís Atributos Sexo, idade, condições de saüde,


ticas p e £ pa ren t e s c o com o pacifente, disponi
soais do bilidade de tempo, d isposição e
ac omp a n h a n iniciativa para colaborar¿ nível
te de e scolaridade e profissão.

2. Razoes pa Racional - ligados ao paciente:


ra acompa . Aspe cto s p s i c o b i o l o g i c o s , p s i c o £
nhar o pa sociais e afetivos.
ciente.
- ligados às famílias:
. Necessi dad es afetiva, de comuni^
cação, de controle e comple men ta
ção da assist ênc ia ao paciente.
- ligados â equipe de saüde:
. Indicação medica, solução do en
fermeiro e au tor iza ção do dire
tor.

3. A tiv id a d e s Inclusão Cuidados com o paciente:


de sem pen ha - Gerais
das pelo . Cuidados relativos â higiene am
ac omp a n h a n biental e pessoal, cuidados na
te. locomoção me cânica corporal, cui
dados com a nutrição e elimina
çÕes do paciente.
- Específicos e terapêuticos
. Cuidados relativos ao diagnõsti.
co, co ntr ole e tratamento.
. C u i d a d o s prevent ivo s de co mp l i c a
ções ou acidentes.
- P s i c o s som áti cos e espirituais
.. Cuidados relativos à comunicação,
cuidados afetivos, religiosos e
de lazer.

4. E x p e c t a t i ­ Inclusão - Espécie de expectativas e pre o c u p a


vas e preo çoes do acompanhante:
cupações. . 0 ambiente hospitalar, o relacio
namento pessoal com a equipe e a
recuperação.
29

Cont. do Q U A D R O N ? 2.

Domínio Forma Relações semânticas

5. Formas de M eio - f i m Meios do acompan han te aprender a


ap render a cuidar : •
cuidar. . Observação, uso de experiências
anteriores e tentativa de "en
saios e erros".

6. S e n t i m e n ­ Inclusão Tipos de sentimentos do aco mpa n h a n


tos do te :
acompanhan . Gratidão, incerteza, medo e re
te. ceios.

7. R eações do Estagio Fases experimentadas pelo acompa


ac o m p a n h a n nhante: Sentimento de alívio, ten
te nas di^ sao, proc ura de ajuda, sentimento
ferentes de desconforto, revolta, busca de
fases de conforma ção e desejo de paz e har
sua expe monia.
riência.
30

Q U A D R O N9 3 - Do is d o m í n i o s r e l a t i v o s ao p a c i e n t e , representando

du as d i f e r e n t e s r e l a ç õ e s s e m â n t i c a s u n i v e r s a i s .

Domínios Forma Relações semânticas

1.Percepção Meio-fim E x p e c t a t i v a s e s e n t i m e n t o s -são m e i o s


do p a c i e n do p a c i e n t e p e r c e b e r o a c o m p a n h a n t e .
te f a c e a
presença
do a c o m p a
nhante

2.Reações Inclusão Reações ap res ent ada s pelo paciente:


do p a c i e n
te . Sentimento de fragilidade, indefesa e
dependência.
. Estreita men to de laços f a m i l i a r e s , sen
timento de ânimo frente aos problema
no anseio de uma recuper.ação mais r_
pida.
31

Q U A D R O N 9 4 - C i n c o d o m í n i o s r e l a t i v o s a equ ip e representando

du as d i f e r e n t e s r e l a ç õ e s s e m â n t i c a s u n i v e r s a i s .

Domínios Forma Relações semânticas

Percepção Meio-fim Forma de percepção da presença do acom


da equipe panhante, do ponto de vista da equipe:
face a . Benefícios para o p aciente e p r o b l £
presença mas para o hospital.
do acompa
nhante.

2. Expectati_ Inclusão Tipos de expectativas da equipe, em re


vas da lação ao acompanhante.
equipe. . Co laboração e obediência.

3. Papel do Inclusão Tipos de funções do acompanhante:


ac omp a n h a n . Ajuda ao p a c i e n t e ,.colaboração com
te segundo a equipe, garantia de realização de
a equipe. cuidados.

4. Reações da Inclusão
equipe. Tipos de reações da equipe: •
. Queixas e elogios em relação aos gru
pos "A" e "B".

Fatores Meio-fim Meios de interferência no rel aci ona men


que inter to equipe - a c o m p a nha nte :
ferem no1 . Condições de infra-estrutura das unji
re laciona dades de internação previdenciãrias,
mento estrutura administrativa, do hospital,
equipe nível sõcio-cultural dos aco mpa nha n
ac o m p a n h a n tes e o diagnos tic o e estado geral
te. do paciente.

A partir do estudo das relações semânticas, foi organjL

zada uma taxonomía com suas categor ias e s u b - c a t e g o r i a s , confor

me quadros n 9s 5, 6 e 7.
32

Q U A D R O N 9 5 - Taxcnomia r e l a t i v o s ao a c o m p a n h a n t e , c o m s ua s ca­

tegorias e s u b-categorias.

Domínios Categorias/Sub-categorias

G r u p o "A" - 95% f e m i n i n o
1 .C a r a c t e r í s t i c a s
Sexo
p e s s o a i s d o a- G r u p o "B" - 90% f e m i n i n o
c o m p a n h a n t e (a-
tr i b u t o ) G r u p o "A" - 16 â 77 anos
Idade
G r u p o "B 1 11 â 65 anos

G r u p o "A" - a p a r e n t e m e n t e satiís
Condições
fatõrias, a l g u n s por
de s a ú d e t a d o r e s de d o e n ç a s
crônicas
G r u p o "B" - d i s t ú r b i o s g a s t r o ­
intestinais, dores
n a coluna, d o e n ç a s
c rônicas, e n t r e o u ­
tras .

G r u p o "A" - e s p o s a s e m m a i o r nú
Parentesco
mero
com o paci
ente G r u p o "B" - e s p o s a s em m a i o r n ü
mero

Disponibi- G r u p o "A" - turn o s de 6,8 o u 12


lidade p a ­ horas, em r e v e z a m e n
ra p e r m a n e to c o m o u t r o s f a m i ­
cer com o li ares até a alta
paciente do p a c i e n t e .
G r u p o "B" - a maioria em permanen
cia de 12 ou 24 horas^
Alguns, por conta pro
pria, fazem rodízio.

Disposição G r u p o "A' Maioria em colaboração


e iniciati voluntária.
ya para co Q Q mediante compromis­
l a b o r a r nos r so f o r m a l de ajuda,.,
c u i d a d o s do como c o n d i ç ã o p a r a
paciente ser a u t o r i z a d o .

N í v e l de G r u p o "A" - predominância dos por


escolarida tadores de 29 grau maT
de or (científico)
G r u p o "B" - predominância dos por
tadores^de 1? grau mai_
or (ginásio).
as

C o n t . d o Q U A D R O N 9 5.
G r u p o "A" - predonvfTTancia das pres
Profissão tações de serviço.
G r u p o "B" - pr edominancia das at_i
v i dades primarias e S£
cundãrias.

2. R a z õ e s p a r a - R a z õ e s l i g a d a s ao p a c i e n t e
acompanhar Aspectos psi- P r i m e i r o s dias de p õ s - o p e -
o paciente
cobiológicos ratório
(racional)
Idade avançada, fraqueza
geral
P r o b l e m a s de c o n v u l s õ e s ,vô
mitos freqüentes, dispnéia,
entre outros
Pacientes a c a m a d o s (vãrios
motivos)
P r o b l e m a s de l o c o m o ç ã o de,
p a c i e n t e s c o m p r o b l e m a s de
cegueira e hemiplegia
P a c i e n t e s e m e s t a d o grave.

Aspectos so­ Paciente emocionalmente de£


c i a i s e afet_i controlado
vos Agitação, nervosismo, choro
ou d e p r e s s ã o
. S e n s a ç ã o de i n s e g u r a n ç a / m e ­
do de f i c a r s o z i n h o n o q u a r
to
. M a n u t e n ç ã o do v í n c u l o f a m i ­
liar e p r e s e r v a ç ã o da i d e n ­
t i d a d e do p a c i e n t e
. Condição imposta pelo pa c i ­
ente para internar-se
. P a c i e n t e c a r e n t e de apoio
c o n f o r t o , força, c o r a g e m e
carinho
. Paciente ca.rente de estímu
lo na luta por sua recupera
Ção
. P a c i e n t e carente de a lguem
na defesa de seus Ínteres^
, . se.s e tomada de provide n
cias para o suprimento de
suas necessidades.
R a z õ e s l i g a d a s ao a c o m p a n h a n t e

N e c e s s i d a d e a- . Dem ons tra ção ao paciente do


fetiva apoio e solidariedade da fa
mil ia.
. Transm iss ão de força e cora
gem
. Doação de p r o t e ç ã o ,conforto
e segurança
. Defesa dos interesses do pa
ciente.
. D emo nst raç ão ao paciente da
.sua importância para a farní
lia e do anseio desta por
sua recuperação
34

Cont. do Q U A D R O N 9 5

. Impossibilidade de realiza
çao de qualquer tarefa, oü
mesmo de "dormir" ou "al_i
mentar-se", quando do seu
d i s t a n cia men to do paciente;
maus pensam ent os r esu lta n
tes de sua intranqüilidade.

Ne ces sid ade Na qualidade de receptor de


de comunica informações quanto:
ção - a doença do paciente e a
que tratame nto sera submetjL
do ;
- âs decisões médicas que es
tão sendo tomadas;
- as reações do paciente a hos_
p i tal iza ção e ao tratamento;
- âs ocorrências em torno do
paciente.

Na qualidade de. informante :


. sobre suas proprias observa
ções quanto ao paciente
. na qualidade de porta-voz
do paciente.

N e ces sid ade Na falta de pessoal, uma


de controle vez em quatidade insuficien
e comple men te;
taçao da as Como ajudante do doente, na
sistência realização de seus cuidados
mais simples;
Como ajudante da equipe nos
cuidados do doente;
Na chamada ao pessoal, em
caso de emergência, ou para
solução de problemas de di.
fícil (ou impossível) reso
lução pelo acompanhante;
Nos cuidados com o doente,
quanto a quedas da cama e a
m a nut e n ç ã o do soro na veia;
No controle dos horarios dos
remédios e os cuidados do
doente;
Como precaução, em risco de
amarração do doente na cama,
ou mesmo de maus tratos.

Razões ligadas â equipe

Por indica Para prevenção de quedas do


ção me dic a paciente durante convulsões
Para proteção de menores em
pcs-oper ato rio s de cirur
gias o f t a l m i c a s .
35
Cont. do Q U A D R O N 9 5.

Por s o l i c i t a Na v i g i l â n c i a c o n t í n u a em ca
ção do e n f e r sos de p õ s - o p e r a t o r i o de c T
meiro r u r g i a s de g r a n d e p o r t e
Ná p r e v e n ç ã o de p r o b l e m a s de
p a c i e n t e s a gitados, nervosos,
depressivos..
Como c o l a b o r a ç ã o nos cuida
dos de p a c i e n t e s c o m muita
d e p e n d ê n c i a de c u i d a d o s sim
pies.

Por a u t o r i z a Em a t e n d i m e n t o âs solicita
ção do dire^ ções de p o l í t i c o s ou p e s s o a s
tor amigas.

A t i v i d a d e s de - Cuidados gerais
sempenhadas
pelo acompa . C u i d a d o s n a . limpeza e Or ganização das me
n h a n t e (inclu h i g i e n e am sinhas de cabeceira e refe^L
são) biental e ções;
pessoal ajuda na higiene da boca, ín
tima, banho no leito ou de
chuveiro;
ajuda na troca de roupa de
cama e do paciente.

C u i d a d o s na transporte do paciente ao ba
locomoção e nheiro;
mecânica ajuda ao paciente na mu d a n ç a
corporal de posição no leito; no le
v antar-se da cama; no trans
porte para cadeira; na c a m ï
nhada pelo-quardo;
ajuda ao paciente quanto a
sua posição no leito, confor
me indicação medica;
ajuda ao paciente no exerci
tar-se;
realização de m a s s a g e m de
conforto.

Cuidados ajuda ao paciente na a limen


c o m a nutri­ tação;
ç ão e e l i n ú ajuda no servir da comida de
naç õ e s . outros pacientes;
ajuda ao paciente na ut ili za
ção de comadre e compadre.

Cuidados específicos e terapêuticos

C u i d a d o s re ajuda na identificação de
lativos ao anormalidades, e x . : p resença
d i a g n o s tico, de vômitos (n9 de vezes, cor,
controle e q u a n t i d a d e ) ; fezes (tipo, n 9
tratamento. e evacuações e c o r ) ; urina
(volume e c o r ) ; pele mui to
quente ou fria etc.
36

Cont. do Q U A D R O N 9 5 .

. ob ser vaç ão de jejum para reali^


zação de exames de s a n g u e ,radio"
lõgicos ou cirurgias; . ~
. ajuda na coleta de material pa
ra exames de fezes e urina; ~
. ajuda na realização de aspira
ção de secreções brônquicas;
. ajuda na alimentação pela ga^
trostomia;
. ajuda nos exercícios de reabill
tação;
. ajuda na execução de n ebuliza
ção e tapotagem;
. ajuda na administração da medi^
cação oral e de uso tõpico;
. controle no g o t e j amento de soro;
. ajuda na medida de diurese
. a com pa n h a m e n t o do paciente para
realização de exame, na tràns
missão de força e coragem.
. Cuidados pre
ve nti vos de . tomada de cuidado para o soro
c o mplicações não sair da veia;
ou acidentes . o b s e r v a ç ã o do funcionamento de
sondas e tomada de cuidados na
ma nut e n ç ã o destas;
. prec aução quanto a quedas do pa
ciente; —
. vig ilâ n c i a contínua;
. identificação de situações de
emergência e chamada do pessoal.

- Cuidados psicoss oci ais e espirituais


. Cuidados r£ funciona como elo de comunica
lativos à co ção entre paciente-equipe de
m u nic açã o saúde e familiares;
no atendimento a chamadas tele
fônicas e fornecimento de info£
mações sobre o estado do pa cie n
te;
na recepção de visitas e no for
necimènto de informações;
na chamada de pessoal de enfer
magem, quando necessário;
na comunicação de anormalidades
para a equipe;
na solicitação de cuidados n£
cessãrios ao paciente.
. Cuidados afe na companhia ao paciente;
tivos e spirT na conve rsa com o paciente so
tuais e la bre sua evolução e planos futu
zer ros ;
no oferec ime nto de conforto mo
ral e religioso;
na oferta de solidariedade e c o m
panheirismo;
no ofe recimento de proteção e
e carinho;
37

Cont. do Q U A D R O N 9 5.
. como vínculo entre pa ci e n t e e
família
. nas orações com o paciente
. na leitura bi bli ca e outros ti^
pos para o paciente
. na recepção de visitas
. na ligação de aparelhos, como
radio ou TV
. no passeio com o p aciente pelo
quarto.

4. E xpe cta tiv as . Com o ambien . Imagem ligada a dor, sofrimen


e preocupa te hospita- to e morte
ções (inclu lar . medo de tudo,das maquinas, dos
são) aparelhos e dos outros doentes
. impressão de um local limpo.de
sinfetado e sem barulho
estado de dosorien taç ao quando
da sua chegada ao hospital

. Com o rela total atenção para o seu caso,


cionamento na sua chegada ao hospital;
pessoal com maior atenção do pessoal com a
a equipe família do doente, frente ao
seu sofrimento junto a este;
humilhação e sujeição às exi^
gências do pessoal;
duvidas quanto ao tratamento
do doente, em virtude do trata
mento dado ao acompanhante.

. Com a recupera . não-admi ssã o de sofrimento por


ção do p a c T maus tratos
ente garantia de respeito por seus
direitos
a não -se nsa ção de abandono e
solidão
anseio por breve recuperação

5, Formas de Por observação do pessoal du


apr en der a rante a realização dos cuida
cuidar (meio 'dos do paciente
-fim) Com a utilizaç ão de e xperien
cias anteriores
Por tentativa de "ensaios e er
ros".

6. Sen tim ent os .Gratidão A Deus e, abaixo dele, aos me


do a c o m p a ­ dicos, na salvação da vida de
nh ant e (in­ seu marido ;
clusão) Aos santos de sua devoção e aos
invocados pela mãe (paciente);
 atenção e dedicação do m e d ^
co e dos enfermeiros, pe rm i t i n
do sua estada no hospital, c o ­
mo a companhante ;
 direção deste hospital pela
c o ntribuição desta na sua qua
1 idade;
38

C o n t. do Q U A D R O N 9 5.
Aos medicos e enfermeiros pela
de dicação e carinho dis pen sa
dos a minha mãe; ~
Aos enfermeiros e pessoal da
copa pela bondade a nos di spe n
sada.

Incerteza no . Â capacid ade de resist ênc ia do


que se refe pac iente aos tratamentos ou
re : exames, por eles considerados
de alto risco, como: cateteri_s
mo arterial, colocação de m a r
ca-passo, drenagens, radiosco
pias e operações de "barriga
aberta";
. Aos resultados de exames para
di agn ost ico de doenças graves
como o câncer ;
. Ã p o s s i bi lid ade de abreviaç ão
do tempo de vida do paciente,
re sul tan te da cirurgia;
. À p e r s p ec tiv a de' r ecuperação
co mpl eta do doente;
. Aos riscos do paciente quanto
a c omplicações apos alta do
hospital, ou defeitos graves
(sequelas)
. Ao sucesso no diagnostico e tra
tamento do paciente;
. Ao cumprimento das ordens mêdi_
cas do paciente pelo pessoal
de en fer mag em ;
. A de dic aça o e boa vontade da
equipe de saude nos c u i d a d o s ’
do doente;
. Ã limpeza e desinfecção do H o £
pitai ;
. A lealdade nas informações da
das pela equipe em^.torno da
p r o b l emát ica de saúde do doen
te ;
. Ã atenção dada ao doente,;
. A v i g i l â n c i a do doente pela
equipe.

Medo no que . Ã pos si b i l i d a d e de desprezo;


se refere: aborrec ime nto s ou maus-trátos__
ao paciente, resultantes do
cansaço da equipe de enfermagem;, .
. Ã ocorrê nci a de problemas com
o doente carente de cuidado
imediato, e a ausência de a.1
guêm por perto para seu s o c o r ­
ro;
. Aos riscos do doente, quanto a
queda da cama, retirada do so
r o , sondas ou drenos instalados;
. Ã pos sib ili dad e de regresso do
doente com vida para casa.
39

Cont. do Q U A D R O N 9 5 .
. Â possibilidade de regresso do doen
t.e para uni dad e de tratamento in
tensivo, sem a companhia de f a m T
liãres.

. Receio . da não p o s s i b ili dad e de acompanha


mento ao paciente, ate sua alta;
. da po ssi b i l i d a d e de permanência
do pac ien te por mais tempo que o
■ previsto e da dificuldade na con
ciliação entre o afastamento de
casa e trabalho;
. d a ex trapolação das despesas ho.s
pi talares alem dé suas reservas
ec onôm.ico-finance iras ;
. de o pacien te sofrer quedas, ou
da po ssi b i l i d a d e de este ser amar
r a d o , durante sua ausência.
. da po ssi b i l i d a d e de demonstr açã o
ao pa ciente de sentimentos como
ansiedade, nervosismo,, p reoc upa
ções, quanto a s e u ‘ problema de
saúde ;
. de sua pr opr ia falta de h abi lid a
de na ajuda aos cuidados do pac_i
ente.

7. Fases que o. . sensação de alívio quando dá che


familiar pas_ • gada ao quarto do paciente;
sa no pro- . sentimento de propriedade;
cesso de . tensão quando da sensação de fal_
acompanha- ta de apoio;
mento . sensação de ser ignorado;
. proc ura de ajuda;
. sensação de desconforto e cansaço,
pelo desgaste físico e mental;
. sentimento de abandono e ãs vezes
de revolta;
. procura de conformação;
. desejo de paz e harmonia.
4O
Q U A D R O N 9 6 - T a x o n o m í a r e l a t i v o s ao p a c i e n t e , c o m suas catego

rias e s u b - c a t e g o r ias

Domínio Categorias/Sub-categorias

1. P e r c e p ç ã o do . E x p e c t a t i v a s . A q u i s i ç ã o de f o r ç a e c o r a g e m
paciente fa . P r e s e r v a ç ã o de sua i d e n t i d a d e
ce a p r e s e n ­ pessoal
ça do a c o m p a . G a r a n t i a do seu v í n c u l o f a m i ­
n h a n t e (meicJ liar
-fim) . A t e n d i m e n t o a suas n e c e s s i d a
des a f e t i v a s
. A t e n d i m e n t o a suas n e c e s s i d a
des f í s i c a s e p s i c o s s o c i a i s
. Localização
. Confiança e tranqüilidade
. Conforto e segurança
. Melhor compreensão
. M i n i m i z a ç ã o de t r a b a l h o p a r a o
pessoal

2. R e a ç õ e s do . S e n s a ç ã o de . D e m o n s t r a ç ã o de m e d o e i n s e g u
paciente fragilidade, rança
(inclusão) dependência . E x i g ê n c i a da p r e s e n ç a do famã
e f a l t a de liar de m a i o r afin i d a d e , como
defesa. condição para internar-se
. M a i o r d e p e n d ê n c i a de a j u d a
. M a i o r e x igência, q u a n d o do S£
xo m a s c u l i n o ou m e n o r de idade
. E s t r e i t a m e n t o dos laços f a m i ­
liares
. S e n t i m e n t o de â n i m o p a r a s u p e ­
r a ç ã o dos seus p r o b l e m a s -
. Recuperação mais rãpida e com
m e n o s sofrimento.-
Q U A D R O N 9 7 ~ T a x o n o m í a r e l a t i v o s a eq ui pe , c o m suas c a t e g o r i a s

e sub-categorias.

Domínios Categorias/Sub-categorias

1. P e r c e p ç ã o da Benefício Como e l e m e n t o c a u s a d o r de b e n e ­
equipe face f í c i o s p a r a o p aciente.
a presença Como e l e m e n t o p o r t a d o r d.e pro
Problema
do acompa b l e m a s p a r a e q u i p e e p a r a o ho_s
n h a n t e (meio
pitai.
-fim)

2. E x p e c t a t i v a s Colabora­ na v i g i l â n c i a c o n t í n u a do paci_
da equipe ção ente ;
(inclusão) no a t e n d i m e n t o âs s o l i c i t a ç õ e s
do p a c i e n t e ;
na e x e c u ç ã o dos c u i d a d o s m a i s
s i m p l e s do p a c i e n t e .
Obediência âs o r i e n t a ç õ e s ;
âs n o r m a s d i s c i p l i n a r e s .

3. P a p e l do a c o m A j u d a o pa na m u d a n ç a de decúbito;
panhante se c iente: nos m o v i m e n t o s de l e v a n t a r - s e ,
gundo a equT s e n t a r - s e , p a s s a r da cama p a r a
pe ( i n c l u s ã o j cadeira e vice-versa;
na r e a l i z a ç ã o de e x e r c í c i o s ati^
vos ;
na d e a m b u l a ç ã o ;
na a l i m e n t a ç ã o ;
no banho; -
na t r o c a de r o u p a p e s s o a l e de
cama ;
na h i g i e n e , no b a n h e i r o o u no
leito, s e m p r e que n e c e s s á r i o ;_
no d e s l o c a m e n t o p a r a o s a n i t a r i o
na a c e i t a ç ã o da h o s p i t a l i z a ç ã o ,
tratamento e cuidados especiais;
na a d m i n i s t r a ç ã o de m e d i c a ç ã o
oral;
na r e a l i z a ç ã o de e x e r c í c i o s de
reabilitação;
na r e a l i z a ç ã o de n e b u l i z a ç ã o ;
na o b s e r v a ç ã o dos c u i d a d o s c o m a
b o l s a de c o l o s t o m i a ;
no c o n t r o l e , m a n u t e n ç ã o e f u n c i o
n a m e n t o de sondas ou drenos;
no c o n t r o l e das infusões v e n o s a s
q u a n t o ao g o t e j a m e n t o e c u i d a d o s
p a r a não sair da veia.

Colaboração na a p l i c a ç ã o de m e d i c a ç ã o de uso
c o m a equi^ tõpico ;
pe: no c o n t r o l e a dieta;
na p r e v e n ç ã o de acidentes, como
qued a s , r e t i r a d a s de c u r a t i v o s ,
so ndas ou soros;
42
Cont. do Q U A D R O N 9 7.
. G a r a n t i a ao . apoio moral e psicologico;
paciente . i n t e r c â m b i o de c o m u n i c a ç ã o en
tre p a c i e n t e e equi p e ;
. m a n u t e n ç ã o do v í n c u l o f a m i l i a r :

. E x e c u ç ã o de . na c o m u n i c a ç ã o ao m e d i c o e
cuidados p£ e n f e r m a g e m de q u a l q u e r a n o r m a
.lo p a c i e n t e l i d a d e observada'.
. na a l i m e n t a ç ã o na b o c a do doi
ente ;
. na u t i l i z a ç ã o de c o m a d r e e
compadre;
. no a t e n d i m e n t o a s o l i c i t a ç õ e s
do d o e n t e ;
. na r e a l i z a ç ã o de m a s s a g e m de
conforto f

4. R e a ç õ e s da . Queixas . q u a n t o aos a c o m p a n h a n t e s dos


e q u i p e (in p a c i e n t e s particulares;:
cl u s ã o l - e x i g ê n c i a e, em alguns, in
transigência;
- pouca colaboração;
- p o u c a r e c e p ç ã o as o r i e n t a ­
ções p a r a a j u d a r nos c u i d a ­
dos do p a c i e n t e ;
- muitas cobranças *
. q u a n t o aos a c o m p a n h a n t e s dos
pacientes p r e v i d e n c i a r i o s :
■- p o u c a e s c o l a r i z a ç a o :;
- preguiça;
- pouca higiene;
- i n d i s c i p l i n a em r e l a ç ã o a ho
r ã r i o s de silêncio, r e s p e i t o
â d i e t a do p a c i e n t e e u s o de
r o u p a do h o s p i t a l ;
- m a i s e m b a r a ç o (e p e r t u rbaçao)
do que p r o p r i a m e n t e ajuda;
- i n c o m p r e e n s ã o na atração, de
problemas' de casa p a r a o pa
c i e n t e e c r i a ç ã o de o u t r o s
no p r õ p r i o hospital, d e v i d o
a n a m o r o s e ate p r a t i c a de
r e l a ç ã o sexu a l c o m o u t r o s pa
c i e n t e s na unidade.

. Elogios . R e f e r e n t e s ao G rupo "A":


- compreensíveis
- reconhecidos
. R e f e r e n t e s ao G rupo "B":
- colaboradores
- humildes

5. F a t o r e s que . Infra-estru . D e s f a v o r á v e l no setor p r e v i d e n


interferem ‘ tura das ciário, p r e j u d i c i a l no r e l a c i o
no r e l a c i o - unidades namento
namento . Difícil relacionamento devido
equipe-acom ao n u m e r o e x c e s s i v o de l e i t o s
panhante nas u n i d a d e s
Cent, do Q U A D R O N 9 7.

. E s t r u t u r a ad . P ouco flex í v e l , p o u c o estimu


ministrativa l a n t e a m e l h o r a r as relações
com o acompanhante
. C a r e n t e de r e c u r s o s h u m a n o s e
materiais, inviável quanto a
q u a l q u e r e s f o r ç o para m e l h o r i a
do r e l a c i o n a m e n t o
. S o b r e c a r r e g a d a de t r a b a l h o , di_
f i c u l t o s a na g a r a n t i a de o r i e n
t ação e s u p e r v i s ã o dos acompa
n han t e s .

. N í v e l sõcio- . Melhor relacionamento com o


-cultural g r u p o "A", d e v i d o ao seu n í v e l
sõcio-cultural mais elevado
. P r o b l e m a s de a j u s t a m e n t o na
u n i d a d e de i n t e r n a ç ã o p r e v i d e n
c i a r i a c o m os a c o m p a n h a n t e s de
nível socio-cultural mais e l e ­
vado.

. Diagnostico . Relacionamento equipe-acompa-


e e s t u d o ge n h a n t e p r o p o r c i o n a i s â compl_i
ral do p a c T c a ç ã o do caso.
ente.

Os' q u a d r o s de n u m é r o s 8, 9, 10 e 11 m o s t r a m a l g u n s exem
i

plos.de questões contraste, f o c a l i z a n d o as d i f e r e n ç a s existen

tes e n t r e o a t e n d i m e n t o ao a c o m p a n h a n t e do g r u p o "A" (particula­

res) e g r u p o "B" (previdenciãrios).


44

QUADRO N9 8 - F o r m a s de a t e n d i m e n t o ao a c o m p a n h a n t e .

D i m e n s õ e s de c o n t r a s t e
T i p o s de p r e r r o ­
gativas descri­
Fazer exigên­ Fazer recla­ Fazer avalia­
tas
cias mações ç ã o do s e r v i ç o

A c o m p a n h a n t e do Sempre que Quando achar Escrita median


g r u p o "A" achar neces­ necessário te q u e s t i o n á ­
sário rio p a d r o n i z a ­
do pelo hospital

A c o m p a n h a n t e do nenhuma não nã o
g r u p o "B"

QUADRO N9 9 - C a r a c t e r í s t i c a s do a t e n d i m e n t o ao a c o m p a n h a n t e .

D i m e n s õ e s de c o n t r a s t e
Características
do a t e n d i m e n t o
Apresentação ,T i p o de r e ­ Atendimento
ao a c o m p a n h a n t e
i n d i v i d u a l da lacionamento da c a m p a i n h a
equipe com o acompa
nhante

A c o m p a n h a n t e do Ê f e i t a nos Amistoso Mais rápido


g r u p o "A" p r i m e i r o s con
t atos

A c o m p a n h a n t e do Não ë feito Autoritário Demorada


g r u p o "B" de r o t i n a e vertical

Q U A D R O N 9 -10- F o r m a s de a t e n d i m e n t o ao a companhante,

D i m e n s õ e s de c o n t r a s t e
Direitos asse­
gurados Entradas e N ú m e r o de C o l a b o r a r T e m p o de
saídas acompanhan na execução permanên
tes dos c u i d a d o s cia
do paciente

A c o m p a n h a n t e do livres a criterio quando a crite­


g r u p o "A" do p a c i e n d e s e j a r r i o dos
t e e f am í~ interes­
1 ia s ados

A c o m p a n h a n t e do controlada apenas compromisso determi­


g r u p o "B" mediante um formal nado pelo
critérios enfermei^-
prê-estabe ro
c idos
45

Q U A D R O N ? 1 1 - C a r a c t e r í s t i c a s das c o n d i ç õ e s de i n f r a - e s t r u t u r a

o f e r e c i d a s ao a c o m p a n h a n t e .

D i m e n s õ e s de c o n t r a s t e
C o n d i ç õ e s de
infra-estru­ Mobiliário
Espaço R o u p a de ca Recursos
tura disponi específico ma e alimen humanos
vel tação

Acompanhante Suficiente Divã e Ca­ Fornecido dia Pessoal su­


do g r u p o "A" para uma deira estofa riamente rou­ ficiente pa
cama ou dí da pa de cama,ba ra escala de
vã nho e cinco 6 horas de
refeições trabalho

Acompanhante1 Não foi Cadeira comum Proibido uso Carência de


do g r u p o "B" previsto de madeira de roupa do pessoal in-'
hospital e viabiliza
de refeições turnos de 6
horas dê
trabalho

C o m b a s e na i d e n t i f i c a ç ã o dos d o m í n i o s , foram selecio

n a d o s os s e g u i n t e s t õ p i c o s p a ra d e s c r i ç ã o : o hospital, sua or

ga n i z a ç ã o , e funcionamento, o acompanhante (suas característ_i

cas e a t r i b u t o s ) m o t i v o s p a r a a c o m p a n h a r u m f a m i l i a r internado,

o p a p e l do a c o m p a n h a n t e , a e x p e r i e n c i a de ser a c o m p a n h a n t e , re£

ções a p r e s e n t a d a s p e l o a c o m p a n h a n t e nas d i f e r e n t e s fases de sua

experiência, o p a c i e n t e e sua p e r c e p ç ã o face a p r e s e n ç a do acom

panhante.
46

O Hospital: sua o r g a n i z a ç ã o e f u n c i o n a m e n t o

0 hospital, o b j e t o d e s t e estudo, é g o v e r n a m e n t a l , de grande

p o r t e , de c a r á t e r geral, que visa a atender, essencialmente, paci­

e n t e s p r e v i d e n c i ã r i o s , d e s t i n a n d o a p e n a s 15% de seus l e itos â


*

clientela particular. C o m o u m a e m p r e s a v i n c u l a d a ao p o d e r pú­

blic o , o Hospital não visa a interesses econômicos. Segundo o Re­

g u l a m e n t o e m vigor, su a m a n u t e n ç ã o é f e i t a a t r a v é s de orçamen­

to p r ó p r i o , c o m p o s t o p o r f o n t e s dive r s a s . As m e s m a s são cons­

t i t u í d a s p o r s u b v e n ç õ e s a n u a i s do G o v e r n o E s t a d u a l ; p e l a arre­

c a d a ç ã o de c o n v ê n i o s com INAMPS, FUNRURAL, I P E S C , M E D SAN, PATRONAL-,

pela r e n d a p r o v e n i e n t e de d o n a t i v o s particulares;pela p r e s t a ç ã o

de s e r v i ç o s e f e t u a d o s c o m r e c u r s o s p o r ele p r o p o r c i o n a d o s e, e s ­

p e c i a l m e n t e , c o m a i n t e r n a ç ã o de p a c i e n t e s p a r t i c u l a r e s . Também

são c o n s i d e r a d o s f o nte de r e n d a os a c o m p a n h a n t e s de pacientes

particulares, um a vez q u e o H o s p i t a l c o b r a / c o m u m a "certa mar­

g e m de l u c r o s " , suas d i á r i a s , c o r r e s p o n d e n t e s as d e s p e s a s com

os s e r v i ç o s de a p o i o q u e lhe são o f e r e c i d o s 4 tais como: hospe­

d a g e m ; roupas de c a m a e banho, refeições (em t o r n o de cinco) . e

e x t e n s ã o t e l e f ô n i c a no a p a r t a m e n t o .

Os a c o m p a n h a n t e s dos p a c i e n t e s p r e v idenciãrios, ao contrá­

rio do s p a r t i c u l a r e s , c o n t r i b u e m p a r a a u m e n t a r a d e s p e s a h o s p i ­

tala r , c o n s i d e r a n d o q u e su a p e r m a n ê n c i a na U n i d a d e de Interna­

ção i m p l i c a m a i o r e s g a s t o s c o m os s e r v i ç o s de apoio, e s p e c i ­

a l m e n t e r o u p a de cama, b a n h o e a l i m e n t a ç ã o . Isto t e m constituído

um " p r o b l e m a de d i f í c i l s o l u ç ã o " — queixava-se o Diretor Admi

n i s t r a t i v o — urna vez q u e o H o s p i t a l já c o n v i v e c o m uma d e f a s a -

g e m e m t o r n o de 50% das d e s p e s a s e f e t u a d a s c o m o p a c i e n t e pre-

videnciãrio, as q u a i s n ã o sã o c o m p l e m e n t a d a s p e l a Previdência
47

Social.

Q u a n t o à e s t r u t u r a f ísica, o H o s p i t a l r e f l e t e u m a aparên­

cia mod e r n a e agradável. Embora sendo um Hospital de grande

porte, e s t e já n ã o a t e n d e s a t i s f a t o r i a m e n t e à d e m a n d a de paci­

entes que o procuram; e s p e c i a l m e n t e a de p a r t i c u l a r e s . Isto se

d e v e â c a r ê n c i a de l e i t o s d e s t i n a d o s â c l i e n t e l a p a r t i c u l a r nos

hospit ais da capital, conforme afirma o Serviço Social em seus

d ois ú l t i m o s r e l a t ó r i o s anuais.

A s U n i d a d e s de I n t e r n a ç õ e s a p r e s e n t a m u m a p l a n t a física

padronizada. São compostas d e : P osto de E n f e r m a g e m , S a l a de S e r v i ­

ço, S a l a de E x a m e e C u r a t i v o s , S a l a de E x p u r g o , C o n j u n t o Sani­

tário par a funcionários e v i s i t a n t e s , Rouparia , Sala para b i o m ­

bos , m a c a s e c a d e i r a s de r o d a s . Os q u a r t o s t ê m e s p a ç o p a r a dois

l e i t o s e d i s p õ e m de c o n j u n t o s a n i t á r i o i n d i v i d u a l .

0 n ú m e r o de l e i t o s nas U n i d a d e s de I n t e r n a ç õ e s v a r i a con­

f orm e o t i p o de c l i e n t e l a a q u e se d e s t i n a , p r e v i d e n c i ã r i a ou

particular. Nas primeiras, e x i s t e m d o i s l e i t o s e m cada quarto,

p e r f a z e n d o u m t o t a l de 34 a 36 leit o s p o r Unidade. Nas u n i d a d e s

p a r t i c u l a r e s os q u a r t o s sã o i n d i v i d u a i s , o q u e reduz sua capa­

c i d a d e de l o t a ç ã o e m 50%, ou s e j a p a r a 17 leitos. A r e d u ç ã o do

n ú m e r o de l e i t o s na s u n i d a d e s p a r t i c u l a r e s p e r m i t e a s s e g u r a r ao

a c o m p a n h a n t e e s p a ç o f í s i c o a d e q u a d o â c o l o c a ç ã o do mobiliário

necessário à sua acomodação, i s t o é, um divã e cadeira e s t o ­

fada. O m e s m o n ã o o c o r r e na s u n i d a d e s p r e v i d e n c i ã r i a s , c u j o e s ­

p a ç o e m c a d a q u a r t o e n c o n t r a - s e p r e e n c h i d o p e l o s leitos, mesi­

n h a s de c a b e c e i r a e a r m á r i o d e s t i n a d o s aos p a c i e n t e s . Quando

c o i n c i d e dos d o i s p a c i e n t e s do m e s m o q u a r t o n e c e s s i t a r e m de

a c o m p a n h a n t e ao m e s m o tempo, a s i t u a ç ã o t e n d e a se a g r a v a r com

a d i s p u t a d a á r e a de c i r c u l a ç ã o e n t r e os dois leitos, pelos


48
pacientes, acompanhantes e equipe hospitalar.

0 h o s p i t a l n ão d i s p õ e o f i c i a l m e n t e de u m a f i l o s o f i a que

possa nortear a equipe multiprofissional, q u a n t o ao c o m p r o m i s s o

a s s u m i d o p o r e s t a I n s t i t u i ç ã o c o m a s o c i e d a d e , no que se r e f e r e

ãs a ç õ e s de s a u d e a que se p r o p õ e o f e r e c e r . No entanto, em seu

r e g u l a m e n t o hã r e f e r ê n c i a s q u a n t o ãs a ç õ e s que o H o s p i t a l deve

implementar, os q u a i s g u a r d a m s i m i l a r i d a d e s c o m o regulamento

dos d e m a i s h o s p i t a i s do B rasil. Assim, no C a p í t u l o das F i n a l i d a

des lê-se:
- O d e s e n v o l v i m e n t o de a t i v i d a d e s de M e d i c i n a integral

e m s e u s a s p e c t o s p r e v i s t o s e de a t e n ç ã o M é d i c o - H o s p i t a

lar à p o p u l a ç ã o do E s t a d o , s e g u n d o a p o l í t i c a de s a ú d e

formulada pela Secretaria;

II - S e r v i r de c a m p o de a p e r f e i ç o a m e n t o p a r a médicos- e ou­

tros p r o f i s s i o n a i s d a S a ú d e P ú b l i c a e Hosp i t a l a r ;

III - S e r v i r de c a m p o de e n s i n o e t r e i n a m e n t o p a r a estudante!

de e n f e r m a g e m , de n u t r i ç ã o , de s e r v i ç o social, de ad­

m i n i s t r a ç ã o h o s p i t a l a r e de e l e m e n t o s r e l a c i o n a d o s c o m

a Saúde Pública;

IV - S e r v i r de c a m p o e p r o p o r c i o n a r m e i o s -para pesq u i s a ;

V - C o n t r i b u i r p a r a e d u c a ç ã o s a n i t a r i a do povo;

VI - P r o p o r c i o n a r m e i o s p a r a r e a b i l i t a ç ã o .

T e n d o e m v i s t a a a m p l i t u d e do c a p í t u l o acima, n ã o f i c a c i a

ro o p r o p ó s i t o d a I n s t i t u i ç ã o q u a n t o a p o l í t i c a de a t e n ç ã o à

f a m í l i a d o p a c i e n t e s ob s u a r e s p o n s a b i l i d a d e , incluindo-se n es ­

ta o a c o m p a n h a n t e .

Como o Regulamento não explicita uma Filosofia própria da

e n t i d a d e , o S e r v i ç o de E n f e r m a g e m se o r i e n t a a t r a v é s da Filo­

s o f i a p r e c o n i z a d a p e l a C o o r d e n a ç ã o C e n t r a l de Enfermagem, .que

i n t e g r a as U n i d a d e s H o s p i t a l a r e s l i g a d a s à Rede E s t a d u a l de

Saúde. E s t a r e s s a l t a c o m o u m dos seus p r i n c í p i o s fundamentais,


49
a c r e n ç a de que "o h o m e m d e v e ser r e c o n h e c i d o como um ser livre,

co m i g u a l d a d e de d i r e i t o s , d e v e n d o ser aceito, respeitado e

c o m p r e e n d i d o c o m o p e s s o a p e l a e q u i p e de e n f e r m a g e m " . Na p r a t i c a

d i á r i a no e n t anto, v á r i o s são os o b s t á c u l o s que dificultam a

viabilização destes postulados. As p r o p r i a s c o n d i ç õ e s de inter

n a ç ã o o f e r e c i d a s ao s p a c i e n t e s p a r t i c u l a r e s e previdenciárlos

d i v e r g e m e n t r e si. C o m o e x e mplo, c i t a m - s e as a c o m o d a ç õ e s dos pa.

c i e n t e s p a r t i c u l a r e s em a p a r t a m e n t o s p r i v a d o s e os previdencia

r i o s ein q u a r t o s c o l e t i v o s , c o n f o r m e o r e f e r i d o acima, a l e m de a.L

gumas normas institucionais, c o m o a v i s i t a de f a m i l i a r e s aos pa

cientes internados. S e g u n d o as n o r m a s v i g e n t e s , os p a c i e n t e s par

t i c u l a r e s p o d e m ser v i s i t a d o s d i a r i a m e n t e em q u a l q u e r h o r á r i o , n o

p e r í o d o das 8:00 âs 22:00 horas, sem l i m i t e s do n u m e r o de visi^

t a n t e s . A l g u m a s vezes, e n t r a m f a m i l i a r e s e a m i g o s ao m e s m o tempo,

c h e g a n d o a s u p e r l o t a r o q u a r t o do p a c i e n t e . Os p a c i e n t e s p r e v i d e n

c i ã r i o s tê m p r e v i s t o o seu h o r á r i o de v i s i t a s d i á r i a s das 1 5:00

ãs 1 6 : 0 0 horas, s e ndo l i m i t a d a a a p e n a s u m v i s i t a n t e por vez e

v e d a d a aos m e n o r e s de 12 anos.

• í

O S e r v i ç o de E n f e r m a g e m e su a O r g a n i z a ç ã o

A e s t r u t u r a o r g a n i z a c i o n a l do H o s p i t a l c o m p r e e n d e a Dire­

ç ã o e três g r a n d e s d i v i s õ e s : M é d i c a , T é c n i c a e A d m i n i s t r a t i v a .

O S e r v i ç o de E n f e r m a g e m e s t á s u b o r d i n a d o a D i v i s ã o T é c n i c a , j u n ­

t a m e n t e c o m o S e r v i ç o de A r q u i v o M é d i c o e E s t a t í s t i c a (SAME);

Serviço Social ( S S ) ; S e r v i ç o de N u t r i ç ã o e D i e t é t i c a (SND) c o n ­

f o r m e o r g a n o g r a m a a seguir:
50

Fig. 2 - P o s i ç ã o d o SE no O r g a n o g r a m a do H ospital.

S e g u n d o r e l a t ó r i o de u m g r u p o de e n f e r m e i r o s servidores

desse Hospital (1984), a p o s i ç ã o d e s i g n a d a â Enfermagem, na atual

organização, n ã o c o n d i z c o m o v o l u m e de t r a b a l h o sob sua

r e s p o n s a b i l i d a d e , uma vez que 60% das ações desenvolvidas na i n s t i t u i ­

ção sã o d a s ua c o m p e t ê n c i a . A d e s p r o p o r ç ã o e n t r e r e s p o n s a b i l i ­

d a d e e a u t o r i d a d e , na o p i n i ã o do r e f e r i d o grupo, p o d e r i a ser

d i m i n u í d a ,c a s o o S e r v i ç o de E n f e r m a g e m f osse p r o m o v i d o a nível

de D i v i s ã o , c o m i g u a l a u t o n o m i a c o n f e r i d a às demais.

Q u a n t o âs f i n a l i d a d e s do SE, e m s e u R e g i m e n t o I n t e r n o está

previsto :

-- " p r e s t a r a s s i s t ê n c i a i n t e g r a l ao doente, v i s a n d o - o no

seu todo bio-psicossocial e espiritual, em situações

que requeiram medidas relacionadas com a promoção e re­

c u p e r a ç ã o d a saüde, p r e v e n ç ã o de doenças, reabilitação

de i n c a p a c i t a d o s ; a l í v i o do s o f r i m e n t o e p r o m o ç ã o do

ambiente terapêutico;
51

- p r o m o v e r a e l e v a ç ã o do p a d r ã o de a s s i s t ê n c i a de e n f e r m a ­

g e m a t r a v é s do d e s e n v o l v i m e n t o de p e s q u i s a s c i e n t í f i c a s ,

a p l i c a ç ã o de m e t o d o l o g i a de t r a b a l h o , p r o m o ç ã o do e n s i n o

e i m p l a n t a ç ã o de p r o g r a m a s de e d u c a ç ã o , visando a preparar

o pessoal não habilitado e promover a t u a l i z a ç ã o dos q u e

se a c h a m e m e x e r c í c i o . "

Os o b j e t i v o s do S e r v i ç o de E n f e r m a g e m não e s t ã o e x p l i c i t a ­

dos f o r m a l m e n t e , m a s se p e r c e b e que, e m r e l a ç ã o aos acompanhan­

tes, e x i s t e m d i f e r e n ç a s e n t r e p a r t i c u l a r e s e p r e v i d e n c i ã r i o s .

O b s e r v a - s e q u e a p r e s e n ç a dos p r i m e i r o s visa a atender uma exi­

g ê n c i a t r a d i c i o n a l do p a c i e n t e e família. Já os acompanhantes

dos p a c i e n t e s p r e v i d e n c i ã r i o s são aceitos, visando a a s s e g u r a r ao

p a c i e n t e v i g i l â n c i a c o n t í n u a e c o l a b o r a ç ã o e m seus c u i d a d o s .

O S e r v i ç o de E n f e r m a g e m a t u a d i r e t a m e n t e nos s e t o r e s de

Ambulatorio, U n i d a d e s de I n t e r n a ç ã o , E m e r g ê n c i a , E d u c a ç ã o em

Serv i ç o , U n i d a d e de T e r a p i a I n t e n s i v a e C o r o n á r i a . As c o m p e t ê n ­

cias e a t r i b u i ç õ e s de seu p e s s o a l encontram-se especificamente

d e f i n i d a s p o r setores.

O R e g i m e n t o I n t e r n o do S e r v i ç o de E n f e r m a g e m , suas n o r m a s ,

rotinas e resoluções não refletem toda a complexidade relativa

aos v a l o r e s , c r e n ç a s e h á b i t o s p e s s o a i s i n e r e n t e s às a ções de

c a d a s e r v i d o r . E x i s t e m s i t u a ç õ e s p a r a as q u a i s n ã o f o r a m defi­

n i d a s e i n s t i t u c i o n a l i z a d a s as d i r e t r i z e s q u e d e v e m n o r t e a r a

equi p e , levando-a a agir em determinadas circunstâncias, por

c o n t a p r ó p r i a , o u s e g u n d o r e g r a s c o n v e n c i o n a i s . As q u e s t õ e s r e ­

l a t i v a s ao a c o m p a n h a n t e p a r t i c u l a r constituem exemplo disso,

isto ê,são situações resolvidas segundo critérios pessoais, já

que formalmente não existe nenhuma diretriz que oriente a e qui­

pe em como agir. M e s m o na s u n i d a d e s p r e v i d e n c i ã r i a s e x i s t e m s i t u a -
ções p a r a as q u a i s n ã o se d i s p õ e de o r i e n t a ç ã o e s p e c í f i c a . Como

e x e m p l o , p o d e - s e c i t a r o c a s o dos dois p a c i e n t e s m e n o r e s (9 e

14 anos), c u j o s a c o m p a n h a n t e s t a m b é m eram m e n o r e s . A mbos os p a c i ­

e n t e s t i n h a m p r o b l e m a s de d e p e n d ê n c i a f í s i c a e d i f i c u l d a d e s em

c o n t a r c o m a p r e s e n ç a de su a g e n i t o r a , a n ã o ser por curtos e s ­

p a ç o s de tempo. P o r e s t a r a z ã o , a e q u i p e h o s p i t a l a r a c e i t a in­

f o r m a l m e n t e a a j u d a dos m esmos.

O p l a n e j a m e n t o p a r a c o m p o s i ç ã o d a e q u i p e de e n f e r m a g e m e

d i s t r i b u i ç ã o de s e u p e s s o a l nas U n i d a d e s de I n t e r n a ç õ e s e de­

m a i s s e t o r e s so b su a r e s p o n s a b i l i d a d e s e g u e m o m o d e l o de cál­

c u l o de pessoal, s e g u n d o F E L D M A N & G E L A I N (1979). A t r a v é s de um

l e v a n t a m e n t o de r e c u r s o s h u m a n o s r e a l i z a d o p o r u m g r u p o de en­

f e r m e i r o s do H o s p i t a l e m es t u do, e m m a i o de 19 84 e atualizado

e m j u n h o de 1986, f o r a m i d e n t i f i c a d o s as n e c e s s i d a d e s e d é f i c i t

de p e s s o a l p o r c a t e g o r i a p r o f i s s i o n a l , as q u a i s e s t ã o a p o n t a d a s

n a t a b e l a a seguir:

T A B E L A 1 - L e v a n t a m e n t o dos r e c u r s o s h u m a n o s de e n f e r m a g e m , séu

déficit e necessidades atuais (1986).

P e s s o a l de E n f e r m a g e m
Categoria existente necessário déficit
n? n9 n?

Enfermeiro ' 15 22 07

T é c n i c o de e n f e r m a g e m 34 44 10

A u x i l i a r de e n f e r m a g e m 47 97 50

Atendente de e n f e r m a g e m 139 146 07

Auxiliar administrativo 20 26 06

TOTAL 256 335 80

FONTE: R e l a t ó r i o d o g r u p o de E n f e r m e i r o s do H o s p i t a l em estudo.
53

A l ë m do d é f i c i t de p e s s o a l de e n f e r m a g e m d e m o n s t r a d o na

t a b e l a 1, os e n f e r m e i r o s q u e i x a m - s e do e l e v a d o n u m e r o de a b s e n ­

tismo, a g r a v a d o c o m os a f a s t a m e n t o s p o r f é r i a s e / o u l i c e n ç a s de

funcionários. Isto faz c o m q u e a d i s t r i b u i ç ã o dos r e c u r o s h u m a ­

nos p e l o s v á r i o s s e t o r e s n ã o s i g a as r e c o m e n d a ç õ e s previstas

n o m o d e l o de c á l c u l o de p e s s o a l a d o t a d o p o r seus o r g a n i z a d o r e s ,

r e s u l t a n d o n u m a c e r t a d e s p r o p o r ç ã o de p e s s o a l n a e s c a l a de s e r ­

v i ç o s das U n i d a d e s de I n t e r n a ç õ e s .
A

As u n i d a d e s p a r t i c u l a r e s , n o e n t a n t o , t e m s i d o mais bene­

fi c i a d a s , p o s s i b i l i t a n d o - l h e s i n c l u s i v e o r g a n i z a r turn o s de

6 h o r a s d i á r i a s de t r a b a l h o . T a l m e d i d a , s e g u n d o o c hefe da

S u b d i v i s ã o de E n f e r m a g e m , é m a i s v a n t a j o s o do q u e as 12/36 h o r a s

anteriores, t a n t o p a r a a c l i e n t e l a a s s i s t i d a , c o m o p a r a equipe.

Por outro lado é inviável a è x t e n s ã o d e s t e m e s m o b e n e f í c i o às

U n i d a d e s de I n t e r n a ç õ e s p r e v i d e n c i ã r i a s , já q u e isto requer

m a i o r n u m e r o de p e s s o a l . Po r e s t a r a z ã o , a equipe continua ape­

l a n d o p a r a c o l a b o r a ç ã o dos a c o m p a n h a n t e s n a e x e c u ç ã o dos c u i d a ­

dos d o p a c i e n t e p r e v i d e n c i á r i o , c o m o u m a f o r m a de s u p r i r e m p a r

te a c a r ê n c i a de p e s s o a l de e n f e r m a g e m .
i . '

N o q u e se r e f e r e aos r e c u r s o s m a t e r i a i s e e q u i p a m e n t o s e m ­

b o r a n ã o h a j a u m a p o l í t i c a d e f i n i d a n e s s e sentido, normalmente

s u a d i s t r i b u i ç ã o ê f e i t a c o m b a s e nas n e c e s s i d a d e s a p r e s e n t a d a s

p e l a s U n i d a d e s de I n t e r n a ç õ e s . E m c a s o de e s c a s s e z de algum

produto, como medicamentos, sondas, seringas ou bolsas descar­

t á v e i s , e n t r e ou t r o s , o u m e s m o r o u p a s p a r a p a c i e n t e s , as prio­

r i d a d e s sã o d e t e r m i n a d a s ( i n formalmente) e m f u n ç ã o das u n i d a d e s

particulares.
54

O H o s p i t a l e o A t e n d i m e n t o ao A c o m p a n h a n t e

E m b o r a n ã o h a j a u m a p o l í t i c a e x p l í c i t a de a t e n ç ã o ao a c o m ­

p a n h a n t e , e l a p o d e s e r p e r c e b i d a n a f o r m a como e stes são aten­

d i d o s na s u n i d a d e s p a r t i c u l a r e s e p r e v i d e n c i ã r i a s . O b s e r v o u - s e a

e x i s t ê n c i a de dois g r u p o s d i s t i n t o s de a c o m p a n h a n t e s : g r u p o "A"

- c o n s t i t u i d o p e los que u t i l i z a m os a p a r t a m e n t o s ; e o g rupo "B"

- c o m p o s t o s p e l o s que f i c a m nas U n i d a d e s de I n t e r n a ç õ e s previ

denciãrias, em q u a r t o s c o m d o i s p a c i e n t e s .

A a u t o r i z a ç ã o p a r a p e r m a n e c e r c o m o acorrpanhante nã Unidade de

I n t e r n a ç ã o o c o r r e de m o d o d i s t i n t o , d e p e n d e n d o do l o c a l de in­

t e r n a ç ã o do p a c i e n t e . 0 g r u p o "A" t e m a c e s s o a u t o m á t i c o ao re­

c i n t o do p a c i e n t e e sua p e r m i s s ã o d e p e n d e do p a g a m e n t o d a cau­

ç ã o e x i g i d a n o ato da i n t e r n a ç ã o do p a c i e n t e . O g r u p o "B" p r e s ­

c i n d e de a u t o r i z a ç ã o e x p r e s s a p e l o e n f e r m e i r o e é permitido

a p e n a s e m c a s o s de d e p e n d ê n c i a f í s i c a t otal do p a c i e n t e ou de

de pe n d ê n c i a emocional.

E m t e r m o s de i n f r a - e s t r u t u r a n e c e s s á r i a à a c o m o d a ç ã o do

acompanhante, a p e n a s o g r u p o "A" d i s p õ e de c o n d i ç õ e s satisfa­

tóri a s . O g r u p o "B" enfrenta dificuldades relacionadas não

a p e n a s c o m a f a l t a de e s p a ç o físico, como também com a falta

de m o b i l i á r i o a d e q u a d o ao s o n o e repo u s o , pois dispõem apenas

de u m a c a d é i r a c o m u m p a r a s e u d e s c a n s o , a o invés de d i v ã o u c a ­

ma. A l é m d i s s o , n ã o t ê m d i r e i t o de r e c e b e r r e f e i ç õ e s n o Hospi­

tal, n ã o d i s p õ e m de f a c i l i d a d e s p a r a e f e t u a r s u a h i g i e n e pes­

s o a l n a p r ó p r i a u n i d a d e e s ão p r o i b i d o s de u s a r as roupas de c a ­

m a e b a n h o do H o s p i t a l .

0 t e m p o de p e r m a n ê n c i a do a c o m p a n h a n t e e n ú m e r o de f ami-
55

l i a r e s c o m o p a c i e n t e t a m b é m diferem s e g u n d o o g r u p o a q u e per­

tence. N a u n i d a d e n ã o h ã l i m i t e s p a r a o g r u p o "A", f i c a n d o a

criterio, dos interessados;,ôu-seja,paciente e f a m í l i a d e t e r m i n a m o t u r ­

no e período que julgarem necessários, s e g u n d o as c i r c u n s t â n c i a s

(da situação) e s u a s p r õ p r i a s conveniências.. G e r a l m e n t e e s t e s o r ­

g a n i z a m e s c a l a s de r o d í z i o de 8, 12 o u 24 horas, e n t r e as pes­

soas m a i s í n t i m a s do p a c i e n t e , a s quais são mantidas até que o p a c i ­

e n t e r e c e b a alta. E m c a s o de p a c i e n t e que exija cuidados

mais complexos e/ou intensivos, a família pode contratar pes­

soal de e n f e r m a g e m p a r t i c u l a r (pertencente ou não a equipe h o s ­

pitalar) p a r a c o l a b o r a r n o s c u i d a d o s do p a c i e n t e . 0 g r u p o "B"

ao c o n t r á r i o , t e m d e t e r m i n a d o o p e r í o d o e t u r n o s q u e d e v e m p e r ­

m a n e c e r c o m o p a c i e n t e . E s t e s podem, e v e n t u a l m e n t e , ser prorro­

gados, d e p e n d e n d o da n e c e s s i d a d e do p a c i e n t e e c o n s e n s o entre

os i n t e r e s s e s dos f a m i l i a r e s e m c q n t i n u a r c o m o p a c i e n t e e do

e n f e r m e i r o e m a u t o r i z a r . O g r a u de d e p e n d ê n c i a f í s i c a e / o u p s i ­

c o l ó g i c a do p a c i e n t e p r e v i d e n c i ã r i o c o n s t i t u i u m f ator d e c i s i v o

n a a v a l i a ç ã o do e n f e r m e i r o quanto a esta prorrogação.

A q u e s t ã o d a l i b e r d a d e de a ç ã o e e x p r e s s ã o dos a c o m p a n h a n -
,
tes d i v e r g e m q u a n t o a c a t e g o r i a a q u e p e r t e n c e m . Aos acompa­

n h a n t e s do g r u p o "A" é a s s e g u r a d o o d i r e i t o de e n t r a r e sair

n a U n i d a d e de I n t e r n a ç ã o q u a n d o d e s e j a r e m ; t e r o n ú m e r o de

a c o m p a n h a n t e s q u e lhes c o n v i e r; r e p o u s a r o u d o r m i r q u a n d o sen­

tirem necessidade; c o l a b o r a r o u n ã o n a e x e c u ç ã o dos c u i d a d o s do

p a c i e n t e e e x p r e s s a r seus s e n t i m e n t o s , e x p e c t a t i v a s , q u e i x a s o u

reclamações para equipe hospitalar. Isto p o d e ser e f e t u a d o de

m a n e i r a i n f o r m a l o u f o r m a l m e n t e , a t r a v é s de u m q u e s t i o n á r i o p a ­

d r o n i z a d o p e l o H o s p i t a l , o q u a l visa a avaliar o g r a u de satis­

fação do paciente e acompanhante quanto a assistência ofereci-


56

da p e l o H o s p i t a l .

E m b o r a n ã o h a j a n a d a r e g u l a m e n t a n d o os d i r e i t o s e prerro­

g a t i v a s d o g r u p o "A", a c i m a m e n c i o n a d o s , i s t o t e m sido respei­

tado e atendido regularmente por toda equipe hospitalar, con­

sagrando-se como n o r m a s c o n v e n c i o n a i s . P o r o u t r o lado,os inte­

g r a n t e s d o g r u p o "B", ao receberem a a u t o r i z a ç ã o de acompanhantes,

são advertidos de que i s t o se t r a t a de uma " c o n c e s s ã o " f e i t a pelo

Hospital a poucos pacientes, c o n s i d e r a n d o a f a l t a de condições

e m lhes a s s e g u r a r q u a l q u e r c o n f o r t o n a u n i d a d e . P o r e s s a razão,

devem assumir o compromisso de a t e n d e r as e x i g ê n c i a s formais

que regulamentam a questão, tais como: a u t o r i z a ç ã o para, u m a sõ

p e s s o a da f a m í l i a a c o m p a n h a r o p a c i e n t e Deveiti também p r e e n c h e r os

seguintes requisitos: "ser p r e f e r e n c i a l m e n t e d o m e s m o sexo do

paciente, a fim de q u e s ua p r e s e n ç a n o q u a r t o (do paciente) não

s e j a m o t i v o de c o n s t r a n g i m e n t o p a r a o p a c i e n t e v i z i n h o " - jus­

t i f i c a m os e n f e r m e i r o s , "ser u m a p e s s o a lúcida, sadia, consci­

ente, c a l m a e p a r e n t e mais p r ó x i m o do p a c i e n t e " . A l e m disso, o

a c o m p a n h a n t e do p a c i e n t e p r e v i d e n c i ã r i o t e m sua e n t r a d a e s a í d a

c o n t r o l a d a n a p o r t a r i a do H o s p i t a l , m e d i a n t e c o m p r o v a n t e de a u ­

t o r i z a ç ã o do e n f e r m e i r o da u n i d a d e e d e v e o b s e r v a r algu m a s p r o i

bições, c o m o a de "não f u m a r e de não' f a z e r c a m a no chão". Üma

vez aceitas as condições acima referidas, são. ainda aconselha

dos a não f a z e r r e c l a m a ç õ e s s o b r e as c a r ê n c i a s s o f r i d a s e m t o r n o

da s i t u a ç ã o .

Os a c o m p a n h a n t e s do g r u p o "B" são e s p e r a d o s p a r a d e s e n v o l ­

v e r c e r t a s f u n ç õ e s j u n t o ao p a c i e n t e . E n t r e e s t a s , salienta-se

as s e g u i n t e s : p e r m a n e c e r n o q u a r t o ao l a d o do paci e n t e , e m vi­

gilância constante; c o l a b o r a r n a m a n u t e n ç ã o .d a l i m p e z a do pa­

c i e n t e e do q u a r t o ; c o l a b o r a r n o c o n f o r t o e c u i d a d o s do p a c i e n ­
57

te c o m r e l a ç ã o a s o r o t e r a p i a , a l i m e n t a ç ã o , e l i m i n a ç õ e s , m u d a n ç a

de d e c ú b i t o " , e n t r e o u t r o s . 0 n ã o c u m p r i m e n t o de tais respon­

s a b i l i d a d e s e c o n d u t a d i s c i p l i n a r previstas, pode resultar em

s u s p e n s ã o d a a u t o r i z a ç ã o de a c o m p a n h a n t e . Informal m e n t e , são

t a m b é m d e l e g a d o s ao a c o m p a n h a n t e a l g u n s c u i d a d o s de r o t i n a do

p a c i e n t e o u c o n t r o l e , tais c o m o a a d m i n i s t r a ç ã o de m e d i c a m e n t o s

p o r v i a o r a l ou t ópica, e s p e c i a l m e n t e a q u e l e s cujos horários

são m u i t o f r e q ü e n t e s (exemplo a l d r o x » d e 2/2 hora s ) , ou requei­

r a m m a i s t e m p o p a r a sua a p l i c a ç ã o , c o m o as a p l i c a ç õ e s f rias ou

q u e n t e s e n e b u l i z a ç õ e s . Os c o n t r o l e s m a i s c o m u m e n t e assumidos

pelo acompanhante r e f e r e m - s e a infu s õ e s , d i u r e s e , d i e t é t i c o e

p r e v e n ç ã o de a c i d e n t e s .

T e n d o e m v i s t a as d i s c r e p a n c i a s d e t e c t a d a s q u a n t o ao a t e n ­

d i m e n t o o f e r e c i d o p e l o H o s p i t a l aos d o i s g r u p o s de acompanhan­

tes, p r o c u r o u - s e j u n t o a e q u i p e de s a ú d e e D i r e ç ã o do Hospital

s a b e r s u a s o p i n i õ e s a e s s e r e s p e i t o . As r e a ç õ e s dos e n t r e v i s t a ­

dos f o r a m s u r p r e e n d e n t e s , ao r e v e l a r e m c o m m u i t a naturalidade

que tais diferenças eram compreensíveis e praticamente i n e v it á­

v e i s ,c o n s i d e r a n d o o a t u a l c o n t e x t o dos s e r v i ç o s de saúde, não

a p e n a s a n í v e l h o s p i t a l a r , ma s n u m a d i m e n s ã o maior, isto é, no

c o n t e x t o s õ c i o - p o l í t i c o , e c o n ô m i c o e c u l t u r a l de s a ú d e d o país.

A t é m e s m o os i n f o r m a n t e s do g r u p o - "B" demonstraram perceber

as d i f e r e n ç a s c o m o u m e v e n t o n o r m a l , u m a vez q u e e s t e s também

r e c o n h e c e m as p r e r r o g a t i v a s a s s e g u r a d a s ao g r u p o "A", c o m o um

d i r e i t o e x c l u s i v o d os p a r t i c u l a r e s , isto é,"dos que pagam para

isto". 0 D i r e t o r A d m i n i s t r a t i v o t e n t a n d o j u s t i f i c a r tais dife­

r e n ç a s , a s s i m se e x p r e s s o u :

- E s t e H o s p i t a l > no. verdade so foi estruturado para


atender adequadamente acompanhantes de pacientes
particulares. Tem-se aberto exceção para alguns
58

p r e v i de nci ãri os segundo criterios pvê-de t erm ina ­


dos, para não 'sermos considerados r a d i c a i s . Mas
nao temos condiçoes de assumir mais esse Õ n u s 3 tem
sido uma preocupação de nossa parte, a busca de
outras formas' al ternativas de solução para esse
problema.

D e s t a f o r m a p e r c e b e - s e q u e a "co n c e s s ã o "feita a a l g u n s pa­

c i e n t e s p r e v i d e n c i ã r i o s , p e r m i t i n d o que estes sejam acompanhados, vi

sa, essencialmente a a s s e g u r a r - l h e u m a v i g i l â n c i a c o n s t a n t e que

a e q u i p e n ã o t e m c o n d i ç õ e s de lhes g a r a n t i r , e o b t e r colabora­

ç ã o n a r e a l i z a ç ã o dos seus cuidados^-Por o u t r o lado, o d i r e i t o asse­

g u r a d o ao g r u p o "A" de t e r a u t o m a t i c a m e n t e o s e u acompanhante

visa a atender n o r m a s c u l t u r a l m e n t e a c e i t a s p e l a s o c i e d a d e , con­

f o r m e j u s t i f i c a u m a s e n h o r a d e s t e m e s m o grupo:

- Sempre que se interna uma pessoa da f a m i l i a , ¿a


e tradiçao aco mp anh a-la por todo o periodo que
ela fica no hospital. Se isto não ocorre,,o doente
naturalmente sentira uma sensação de abandono. E
o pessoal do serviço pode pe nsa r que a família
o abandonou ou nao d ã importancia para ele.

C o m b a s e no exposto, as c a r a c t e r í s t i c a s do a t e n d i m e n t o dis-,

p e n s a d o ao a c o m p a n h a n t e , s e g u n d o sua c o n d i ç ã o de particular

(grupo "A"), o u p r e v i d e n c i ã r i o (grupo "B"), p o d e m ser r e s u m i d a s

c o n f o r m e q u a d r o a seguir.
59

Q U A D R O 1 2 - C a r a c t e r í s t i c a s do a t e n d i m e n t o ao a c o m p a n h a n t e de

pacientes particulares (grupo "A") e p r e v i d e n c i ã r i o s

(grupo "B") s e g u n d o d i f e r e n t e s s i t uações.

C A R A C T E R Í S T I C A S DO A T E N D I M E N T O
SITUAÇÃO
G R U P O "A" G R U P O "B"

F o r m a de e n t r a ­ Acesso automatico Concessão feita a «

da p a r a U n i d a d e .a Unidade de In alguns pacientes


de I n t e r n a ç ã o . ternaçao na admis_ c o n s i d e r a d o s c asos
são de um famT especiais, m e d i a n ­
liar, medi a n t e pa te a u t o r i z a ç ã o do
gar.iento de uma enf e r m e i r o .
caução exigida pe
lo Hospital.
2. E s t r u t u r a f í s i ­ Quartos i n d i v i d u ­ Quartos com dois
ca e l o tação. ais com espaço fí leitos para jjacien
sico necessário a tes; inexistencia
a comodação do acom de espaço adequado
panhante. para acomodação do
acompanhante.
3. M a n u t e n ç ã o . Respons a b i l i d a d e Não-pagamento de
por suas despesas despesas com acom
com os serviços panhante pela Pre_
de hotelaria a v i d e n c i a ..
eles o f e r e c i d o s .

4 . C o n d i ç õ e s de in P r o v i s ã o de e q u i ­ Disponibilidade de
fra-estrutura. p a m e n t o (divã , m e ­ apenas uma cadeira
sinha para refei­ comum para d e s c a n ­
ções e cadeira so.
e s t o f a da) e s ervi
ço de apoio
a eles a s s e g u r a ­
dos.

.5. F i l o s o f i a a d o t a - I n d e f i n i ç ã o de u m a - I n d e f i n i ç ã o de u m a
da p e l o S e r v i ç o p o l í t i c a forrnal : de p o l í t i c a f o r m a l de
de E n f e r m a g e m a t e n ç ã o ao acorapa a t e n ç ã o ao a c o m p a ­
(implícita e/ou nhante. nhante.
explícita).
- Presença do acom - Presença do acompa
panhante com obj£ nhante tida como
tivo de atender garantia de vigi^
às normas cultu lância constante
raímente aceitas" ao paciente e na
pela sociedade. obtenção de ajuda
na execução de
.seus cuidados.
- L i b e r a ç a o de saí
das na U n i d a d e de - E n t r a d a s e" s a í d a s
In t e r n a ção. da U n i d a d e de In-
60

Cont. do Q U A D R O N ? 12

CARACTERÍSTICAS DO ATENDIMENTO
SITUAÇÃO
G R U P O "A" G R U P O "B"
ternaçao controla
das na p o r t a r i a do
Hospital, através
do c o m p o r t a m e n t o
de a u t o r i z a ç ã o de
acompanhante.

N ú m e r o de a c o m p a Autorização > para


n h a n t e s no q u a r t o u m so acompanhante.
do p a c i e n t e a cri^
t é r i o da família.

Permanencia com o Pré-determinação


paciente durante do p e r í o d o e tur
o período e turno nos de p e r m a n ê n c i a
que m e l h o r lhes c o m o paci e n t e .
convier.

L i b e r d a d e de ex Compromisso firma
p r e s s ã o na e x i g ê n do, no ato do r e c e
cia ou reclamação, b i m e n t o da autori_
de m a n e i r a infor zação p a r a a c o m p a
mal ou formal, a n h a m e n t o , da i m p o £
t r a v é s de u m ques^ sibil idade de ef£
t i o n ã r i o de ava t u a ç a o de q u a l q u e r
liação oferecido reclamação.
pel.o H o s p i t a l .

Possibilidade de Autorizaçao para


c o n t r a t a ç ã o de pes^ permanência com o
soai de enferma paciente destina
gem p a r t i c u l a r no da a p e n a s a uma
a u x í l i o aos c u i d a p e s s o a da família.
dos do p a c i e n t e .
Inviabilidade no
Liberdade quanto a t e n d i m e n t o as suas
ao h o r a r i o de r £ n e c e s s i d a d e s de so
p o u s o ou dorm i d a . no e repouso, em
r a z ã o do c o m p r o m i s
so na m a n u t e n ç ã o
da v i g i l â n c i a do
paciente e falta
de i n f r a - e s t r u t u r a
na u n i d a d e .

6. N o r m a t i z a ç ã o U t i l i z a ç ã o de nor - D e f i n i ç ã o por Nor


(formal e in ma s c o n v e n c i o n a i s m a interna do Ser
forma.l) t o m a d a s por base v i ç o de Enfermagem:
na r e c e p t i d i d a d e . critérios para
e disposição de s e l eção e autori^
ca d a u m no auxílio zaçao de a c o m p a
a execução dos nhante;
c u i d a d o s do paci . requisitos pejí
61

Cont. do Q U A D R O N 9 12.

9 t t t i a rSr> CARACTERÍSTICAS DO ATENDIMENTO


UAVj.AU G R U P O "A" G R U P O "B"

ente, p o r f a l t a de soais q u anto aos


diretrizes regula atri b u t o s , c a r a c t e
m e n t a r e s das a ç ões rísticas físicas ë
d e s s e grupo. psicológicas do
acompanhante;
.deveres em t e rmos
de f u n ç õ e s e c o n d u
ta d i s c i p l i n a r .

- Delegação informal
de c u i d a d o s de ro
t i n a e c o n t r o l e do
paciente.

7. R e c u r s o s H u m a n o s - Disponibilidade - P e r m a n ê n c i a do tur
e Materiais. de p e s s o a l n e c e s no de t r a b a l h o 1 2 /
s ã r i o p a r a a or 36 e i n v i a b i l i d a d e
g a n i z a ç ã o de tur da f o r m a ç ã o de 6
no s de 6 h oras horas diãriás de
d i a r i a s de t r a b a trab a l h o , em v i r t u
lho na u n i d a d e . de da c a r ê n c i a de
p e s s o a l na escala.

- Inexistência de - P r o i b i ç ã o d.o uso


uma política de de r o u p a s do Hospi.
material. tal p a r a uso pe£
soai do a c o m p a n h a n
te.

A f o r m a p e l a q u a l são a t e n d i d o s os a c o m p a n h a n t e s no s i s t e ­

m a h o s p i t a l a r , c o n f o r m e s ua c a t e g o r i a de p a r t i c u l a r o u previ-

d e n c i ã r i o r e f l e t e a f i l o s o f i a de t r a b a l h o (implícita) da e q u i p e

de saüde. A p e s a r da s d i f e r e n ç a s e x i s t e n t e s e n t r e os dois gru­

pos, e m t e r m o s de o b j e t i v o s , d i r e i t o s , d e v e r e s e tratamento

q u e lhes é o f e r e c i d o , n ã o se observam m a i o r e s r e p e r c u s s õ e s e n t r e
i

as p e s s o a s e nvolvidas neste processo. Isto leva a crer, seja

p e l o fato de esta situação estar tão arraigada ao sistema hospi-


62

tala r , c o m o p a r t e do seu d i a - a - d i a , q u e n ã o lhes c o n s t i t u i m o t i ­

vo de p r e o c u p a ç ã o . M e s m o a c l i e n t e l a d i r e t a m e n t e a f e t a d a — o

paciente e acompanhante previdenciários — demonstram aceitar

c o m u m a c e r t a n a t u r a l i d a d e ta l s ituação. D i a n t e das exigências

da e q u i p e , no qu e c o n c e r n e ao d e s e m p e n h o do p a p e l do a c o m p a n h a n

te, p o u c o s são os qu e se q u e i x a m das l i m i t a ç õ e s de condições

básicas para exercê-las. S u a s r e s p o s t a s aos q u e s t i o n a m e n t o s nes

se s e n t i d o b a s e i a m - s e no p r e s s u p o s t o de q u e " e stão de f a v o r e s " ,

p o r t a n t o n a d a p o d e m r e c l a m a r o u exigir.

O s a s p e c t o s q u e t o r n a m d i s t i n t o s , g r u p o "Á" (particulares)

e g r u p o "B" (previdenciários) estão, p o r t a n t o , ligados princi­

p a l m e n t e às d i f e r e n ç a s s ó c i o - e c o n ô m i c a s do p a c i e n t e e r e s p e c t i ­

vo acompanhante, já q u e a a t u a l p o l í t i c a de a s s i s t ê n c i a a s s e g u ­

r a d a ao p a c i e n t e p e l a P r e v i d ê n c i a n ã o i n c l u i d e s p e s a s c o m o

a c o m p a n h a n t e h o s p i t a l a r . O Hospital, p o r sua vez, n ã o considera

os s e r v i ç o s p r e s t a d o s p e l o a c o m p a n h a n t e p r e v i d e n c i ã r i o junto

ao p a c i e n t e c o m o p a r t e do p a g a m e n t o das p o s s í v e i s d e s p e s a s ori

g i n a d a s c o m a sua e s t a d a na U n i d a d e de I n t e r n a ç ã o , a l e m de não

p o d e r c o b r á - l a s e m e s p é c i e , d i r e t a m e n t e dos i n t e r e s s a d o s ,

A s i t u a ç ã o do a c o m p a n h a n t e p r e v i d e n c i ã r i o é, portanto, d e l i -

.cada, c o n s i d e r a n d o q u e el e " e x i s t e de fato" c o m o u m " a rranjo",

c o m o u m a " c o n c e s s ã o " f e i t a p e l o H o s p i t a l , m a s n ã o de " d ireito",

c o m o a l g o q u e p o s s a ser r e i v i n d i c a d o e r e c l a m a d o s e mpre q u e o

paciente . ou família julgar necessário. Inclusive estes d e mons­

t r a m c o n c e b e r a i d é i a de que. "ter a c o m p a n h a n t e é um d i r e i t o de

q u e m p o d e p a g a r " . Da í a r a z ã o d a sua h u m i l d a d e e inib i ç ã o , le­

v a n d o - o s a se s u b m e t e r e m ãs c o n d i ç õ e s i m p o s t a s p e l a I n s t i t u i ç ã o

e decisões da equipe hospitalar, em troca da oportunidade de

e s t a r j u n t o ao paciente, e n q u a n t o h o s p i t a l i z a d o »
63

Os p a r t i c u l a r e s , p o r sua vez, t a l v e z p e l o seu p r o p r i o n i v e l

sócio-económico e educacional mais elevado, têm o seu espaço

d e f i n i d o e r e s p e i t a d o . T ê m d i r e i t o a vez e voz, i s t o ê, a se

m a n i f e s t a r e m , r e i v i n d i c a n d o o u r e c l a m a n d o os seus direitos., s e m ­

p r e q u e j u l g a r e m o p o r t u n o . N a d a lhes ê cobr a d o , a l é m do paga­

m e n t o de s u a s d i á r i a s n o H o s p i t a l .
64

O Acompanhante : su as C a r a c t e r í s t i c a s e A t r i b u t o s P e s s o a i s

Em princípio, qualquer pessoa pode acompanhar um paciente

h o s p i t a l i z a d o . N o entanto, i s t o s5 e v á l i d o se o p a c i e n t e esti­

v e r e m u m a U n i d a d e de I n t e r n a ç ã o p a r t i c u l a r . Caso contrário,

i s t o é, se p r e v i d e n c i á r i o , o i n t e r e s s a d o d e v e r á a t e n d e r a a l g u n s

r e q u i s i t o s f o r m a i s e i n f o r m a i s e m t e r m o s de a t r i b u t o s p e s s o a i s ,

tais como: sexo, idade, c o n d i ç ã o de s a ú d e e p a r e n t e s c o c o m o

p a c i e n t e . E s s e s s ã o e x p l i c i t a d o s de m a n e i r a formal, no d o c u m e n ­

to q u e d e f i n e os c r i t é r i o s p a r a a u t o r i z a ç ã o de a c o m p a n h a n t e .I n ­

formalmente, e x i g e - s e t a m b é m d i s p o n i b i l i d a d e de t e m p o p a r a de­

dicação exclusiva com o paciente.

E m b o r a aos c o m p o n e n t e s do g r u p o "A" n ã o s e j a f e i t a nenhu­

m a e x i g ê n c i a de q u a l q u e r p r é - r e q u i s i t o , p r o c u r a m o s identificar

tais c a r a c t e r í s t i c a s e n t r e os dois g r u p o s ("A" e "B"). Com o

i n t u i t o de c o n h e c ê - l o s c o m m a i o r p r o f u n d i d a d e , foram também in­

v e s t i g a d o s os d a d o s r e f e r e n t e s â e s c o l a r i d a d e , p r o f i s s ã o , re­

ligião e p r o c e d ê n c i a de a m b o s os grupos. Q u a n t o ao sexo, os

a c o m p a n h a n t e s são c o n s t i t u í d o s , p r e d o m i n a n t e m e n t e , por mulheres,

t a n t o u m q u a n t o o u t r o grupo. Elas p e r f a z e m u m total de 9 5¾ dos

acompanhantes particulares (grupo "A") e 90¾ dos previdencia

rios (grupo "B") . Na o p i n i ã o dos e n t r e v i s t a d o s , isto se deve

â p r e f e r ê n c i a dos p a c i e n t e s por u m f a m i l i a r do sexo f eminino,

c o m ò q u a l ele t e n h a m a i o r a f i n i d a d e . A l e m disso, a r g u m e n t a m a.L

guns :

- A mul her ê mais j eit osa para lidar com doentes 3


alem de ser mais dispon íve l quando s o l i cit ada ¡me s­
mo as que trabalham fora de casa sempre encontram
um jeitinho para ficar com o doente. - '
65

O c a s o de d o n a M a r y ë u m e x e m p l o do e x p o s t o , pois apesar

de t r a b a l h a r e m t e m p o i n t e g r a l e m u m a e m p r e s a de a r q u i t e t u r a e

l e c i o n a r n o t u r n o da n o i t e n a Universida:de de seu E s t ado, no

C e n t r o - O e s t e d o País, d i s p ô s - s e a s u s p e n d e r temporariamente

t o d a s as suas a t i v i d a d e s p a r a vir ao Sul a c o m p a n h a r seu pai q u e

se encontrava internado n o H o s p i t a l e m estudo.

Os h o m e n s m o s t r a m - s e "mais o c u p a d o s " e d e m o n s t r a m maiores

d i f i c u l d a d e s e m se a f a s t a r de seus l o c a i s de t r a b a l h o p a r a e s s e

fim. T a i s a r g u m e n t o s p a r e c e m f a z e r s e n t i d o para a e n f e r m a g e m que,

a d e s p e i t o d o p r ë - r e q u i s i t o de q u e os a c o m p a n h a n t e s do grupo

"B" s e j a m " p r e f e r e n c i a l m e n t e " do m e s m o s e x o do p a c i e n t e , em m u i ­

tos c a s o s a c e i t a m m u l h e r e s p a r a a c o m p a n h a r em u n i d a d e s m a s c u l i ­

nas, dadas as d i f i c u l d a d e s e m c o n c i l i a r e s t a e x i g ê n c i a com as

r e a i s c o n d i ç õ e s de o r g a n i z a ç ã o d a f a m í l i a do paci e n t e . Daí a

p r e d o m i n â n c i a do s e x o f e m i n i n o , i n c l u s i v e e n t r e os componentes

do g r u p o "B" ( p r e v i d e n c i ã r i o s ); a d i s c r e t a d i f e r e n ç a de 5% me­

nos q u e o g r u p o "A" c o r r e s p o n d e a a l g u n s c a sos e s p e c i a i s de

p r e v i d e n c i ã r i o s q u e c o n s e g u i r a m a t e n d e r ao r e f e r i d o p r ê - r e q u i s i -

tò, i s t o ë, ,ter u m h o m e m p a r a a c o m p a n h a r o p a c i e n t e e m enfer­

marias masculinas. . ,

N o q u e se r e f e r e a idade, n ã o existem l i m i t e s de i d a d e mí­

n i m a o u m á x i m a e s t a b e l e c i d a p a r a o g r u p o "A", s e n d o que a faixa

e t á r i a p r e d o m i n a n t e v a r i a e n t r e 16 a 77 anos. O g r u p o "B" si­

t u a - s e n u m a f a i x a e t á r i a e m t o r n o de 11 a 58 anos. E m b o r a a ‘a u ­

t o r i z a ç ã o s e j a f o r n e c i d a a p e n a s p a r a a d u l t o s , e x i s t e m c asos em

q u e o indivíduo, ao r e c e b e r a u t o r i z a ç ã o de a c o m p a n h a n t e , p o r a l ­

guma razão pessoal, i levado a dividir ou mesmo transferir para

o u t r o s m e m b r o s da famíl i a , i n c l u s i v e m e n o r e s , a r e s p o n s a b i l i d a ­

de de a j u d a r n os c u i d a d o s do p a c i e n t e . Os p a c i e n t e s dos q u a r t o s
66

412, 602, 613 e 706, s ão e x e m p l o s t í p i c o s d e s t a situ a ç ã o . O

p r i m e i r o t i n h a u m a n e t a de 12 anos acompanhando-o durante o

dia, s o m e n t e à n o i t e s ua f i l h a (adulta) assumia a responsabili­

d a d e p e l o p a c i e n t e . O s e g u n d o , u m a p a c i e n t e de 11 á n o s , era

a c o m p a n h a d a às 24 h o r a s p o r u m a a m i g u i n h a de 13 anos, c o m a

j u s t i f i c a t i v a de q u e su a m ã e e r a f a x i n e i r a d i a r i s t a e m várias

casas, f i c a n d o i m p o s s i b i l i t a d a de a c o m p a n h a r a filha. O t e r c e i ­

ro p a c i e n t e e r a a c o m p a n h a d o p o r u m i r m ã o de 14 anos, e m r e v e z a ­

m e n t o c o m sua g e n i t o r a , e n q u a n t o o ú l t i m o p a c i e n t e t i n h a por

a c o m p a n h a n t e uma. s o b r i n h a de 16 anos, a q u a l r e v e z a v a c o m ou­

tros f a m i l i a r e s .

A r e s i s t ê n c i a dos e n f e r m e i r o s e m a u t o r i z a r p e s s o a s a p a r e n ­

temente muito idosas (com m a i s de 60 anos) e a d i f i c u l d a d e da

f a m í l i a d i s p o r de o u t r o s a d u l t o s e m c o n d i ç õ e s de c o l a b o r a r no

r e v e z a m e n t o d a f u n ç ã o de a c o m p a n h a n t e faz c o m q u e e s t a r e c o r r a

aos f i l h o s m e n o r e s p a r a a j u d á - l o s . T a i s f a t o r e s c o n t r i b u e m p a r a

q u e o g r u p o "B" s e j a c o n s t i t u í d o p o r p e s s o a s m a i s jovens q u e o

g r u p o "A". A q u e s t ã o da e x i g ê n c i a de i d a d e m í n i m a ou m á x i m a nas

U n i d a d e s de I n t e r n a ç õ e s p r e v i d e n c i ã r i a s prende-se mais a capa­

c i d a d e d a p e s s o a qu e se p r o p õ e a c o m p a n h a r , e m c o l a b o r a r n a e x e ­

c u ç ã o d o s c u i d a d o s do p a c i e n t e . C a s o e s t a d e m o n s t r e u m b o m po­

t e n c i a l de t r a b a l h o e m t e r m o de força, vigor, e s e n s o de r e s p o n ­

s a b i l i d a d e p a r a a j u d a r nos c u i d a d o s d o p a c i e n t e , g e r a l m e n t e e
aceita. E s t e foi o c a s o dos m e n o r e s a c i m a c i t a d o s e de d o n a Es-

pe d i t a , q u e a p e s a r de seus 74 anos, apasentou ter 55 anos, mostrando

m u i t a d i s p o s i ç ã o e i n t e r e s s e e m a j u d a r nos c u i d a d o s do filho, ví

t i m a d e 't r a u m a t i s m o crânio-cefalico.

A a v a l i a ç ã o das c o n d i ç õ e s de s a ú d e d o a c o m p a n h a n t e c o n s t i ­

tui u m d a d o b a s t a n t e s u b j e t i v o e, portanto, d i f í c i l de ser ava-


67

liado. P a r a obtê-lo, u t i l i z a m o s a m e s m a e s t r a t é g i a a d o t a d a p e l o s

e n f e r m e i r o s ao f o r n e c e r a a u t o r i z a ç ã o de a c o m p a n h a n t e p r e v i d e n -

ciãr i o , i s t o é, c o m b a s e na o b s e r v a ç ã o g e r a l das c o n d i ç õ e s de

s a ü d e a p a r e n t e m e n t e m a n i f e s t a d a s p e l o s g r u p o s "A" e "B" e a t r a ­

vés de u m a e n t r e v i s t a a b e r t a c o m os a c o m p a n h a n t e s s obre a per­

c e p ç ã o q u e e l e s t i n h a m de su a p r ó p r i a saúde.

à p r i m e i r a vista, são s a t i s f a t ó r i a s suas c o n d i ç õ e s de saú­

de, i n c l u s i v e p o r q u e al g u n s , t e m e n d o q u e i s t o p o s s a i n t e r f e r i r

e m sua p e r m i s s ã o p a r a f i c a r c o m o p a c i e n t e , p r o c u r a m esconder

seus p r o b l e m a s . S o m e n t e ao a p r o f u n d a r a i n t e r a ç ã o p e s q u i s a d o r X

informante, foi p o s s í v e l r e g i s t r a r a l g u m a s q u e i x a s s o b r e dis­

t ú r b i o s de s a ú d e de a m b o s os g r u p o s , c o m o sejam:

G r u p o "A"

- Pa ssar as noites nesse diva tem sido um m a r t í r i o ,


porque afeta muito minha coluna.',. . . .
- Depois que estou aqui como acompanhante passei a
ter insônia, p o i s .não consigo dormir com o barulho
desse H o s p i t a l , felizmente meu filho dorme bem.
- Tenho pr oblema de diabete e p ressão alta,.' isso
n ã o _c hegava a ser um pro ble ma serio porque eu c o n ­
trolava direitinho com tratamento medico, mas a g o ­
ra, com a doença do marido, não tenho andado bem.

G r u p o "B"

- Minha, cabeça não parou mais de doer depois que


fa laram em operar meu maridó, são as crises de e n ­
xaqueca que v oltaram a me. p e r t u r b a r .
- Sofro de varizes e eczema, minhas pernas agora
estão i n c h a d a s , depois de ficar duas noites nessa
cadeira com elas penduradas.
- Meu pr ob l e m a ê no estomago, quando fico n e r v o s a ,
sinto dores insuportáveis ; com a doença e in t e r n a ­
ção de minha filha isso tem-se tornado muito f r e ­
qüente .

A l é m dos d e p o i m e n t o s acima, f o r a m detectaidas q u e i x a s de

p r o b l e m a s c r ô n i c o s jã d i a g n o s t i c a d o s , como: d i a b e t e s , h i p e r t e n ­

são a r t e r i a l , asma brônquica, e n t r e outr o s . Estas, g a r a n t e m os

info r m a n t e s ^ se a g r a v a r a m ao a s s u m i r a r e s p o n s a b i l i d a d e de a c o m ­
68

panhar o familiar internado. Somam-se a estas queixas mais co­

m u n s r e f e r e n t e s a m a l - e s t a r geral, a n g u s t i a , n e r v o s i s m o , insô­

nia e desarranjo intestinal.

- Ja estou hã 5 (c i n c o ) dias aqui, mas nao consigo


■me adaptar, sinto um m al- est ar geral, parece que
tudo cheira m a l , tenho a impre ssão que tudo esta con_
bamina d o . •
- Ê muito duro depender de H o s p i t a l , a gente sofre'
estresse desde que interna o d o e n t e , até ve-to sair
de alta. .
- Faço tudo para não demonstrar pra m u l h e r . a minha
angústia com o sofrimento dela, com os resultados
dos exames e tratamento que esta f a z e n d o , so Deus
s a b e ...
- Não sei se e devido a a limentação i r r e g u l a r , na
base de lanche no bar z i n h o , ou se devido ao n e r v o ­
sismo ao e nfr ent ar o pro b l e m a de doença e i n t e r n a ­
ção de minha irmã, vivo com dor de barriga e. d e s a r ­
ranjo.

De u m m o d o geral, p e r c e b e - s e que o i n d i v í d u o q u e acompanha

e m q u a l q u e r das U n i d a d e s de Internações, p a r t i c u l a r ou p r e v i d e n -

ci.ãria, t o r n a - s e b a s t a n t e v u l n e r á v e l aos p r o b l e m a s de s a ü d e , e s ­

p e c i a l m e n t e os q u e já t ê m p r e d i s p o s i ç ã o a d e t e r m i n a d o s trans­

t o r n o s d e ' s a ü d e . A f a l t a de c o n d i ç õ e s de infra'-estrutura para

a c o m o d a ç ã o dos i n t e g r a n t e s do g r u p o "B" p o d e ser considerada

como u m dos f a t o r e s p r e d i s p o n e n t e s o u a g r a v a n t e s dos seus pro­

b l e m a s de saüde, e s p e c i a l m e n t e os r e l a c i o n a d o s aos distürbios

nervosos, de c o l u n a e g a s t r o - i n t e s t i n a i s (dores no estô m a g o ,

d e s a r r a n j o i n t e s t i n a l , o u p r i s ã o de v e n t r e ) .

Percebe-se que a responsabilidade de acompanhar geralmen­

te r e c a i s o b r e a p e s s o a m a i s l i g a d a a f e t i v a m e n t e ao p aciente.

P o r t a n t o , o m a i o r p e r c e n t u a l de a c o m p a n h a n t e s e m a mbos os gru­

pos ("A" e "B") ê c o n s t i t u í d o p e l a s esposas; seguida, pela or­

dem encontram-se: os filhos, i r m ã o s , n o r a s , e n t r e outros. O in-


69

t e r e s s e dos f a m i l i a r e s e m a c o m p a n h a r o p a c i e n t e ë claramente

d e m o n s t r a d o p e l o s i n t e g r a n t e s dos g r u p o s "A" e "B". No entanto,

e x i s t e m a l g u n s c a s o s q u e , p o r p r o b l e m a s de o r d e m p e s s o a l , seus

f a m i l i a r e s e n c o n t r a m - s e i m p o s s i b i l i t a d o s de a t e n d e r o p a c i e n t e ,

d e i x a n d o - o so z i n h o , apesar de este o c u p a r u m a p a r t a m e n t o , o u d i s ­

p o r de a u t o r i z a ç ã o p a r a ser a c o m p a n h a d o . Os p a c i e n t e s dos lei­

tos 302 e 608 são e x e m p l o s do e x p o s t o . P e l a s m e s m a s razões, exis_

t e m t a m b é m os q u e sã o a c o m p a n h a d o s p o r p a r e n t e s m a i s d i s t a n t e s ,

a m i g o s e a té p o r m e n o r e s de idade, è m s u b s t i t u i ç ã o ao responsá­

v e l d i r e t o p e l o p a c i e n t e d u r a n t e sua int e r n a ç ã o .

Quanto ã disponibilidade de tempo, os a c o m p a n h a n t e s do g r u p o

" A " f i c a m l i v r e s p a r a p l a n e j a r a f o r m a de a c o m p a n h a r o paciente,-

de m o d o a c o n c i l i a r suas r e s p o n s a b i l i d a d e s de casa, trabalho

e h o s p i t a l . E m g e r a l se r e v e z a m c o m o u t r o s m e m b r o s da família,

e m t u r n o s de 6 , 8, 12 o u 24 h o ras, s e g u n d o suas conveniências,

e de m o d o a n ã o h a v e r s o l u ç ã o de c o n t i n u i d a d e na v i g i l â n c i a do

p a c i e n t e . A l é m de se r u m a r e s p o n s a b i l i d a d e d i v i d i d a e n t r e os

f a m i l i a r e s , pode acontecer que, em caso de p a c i e n t e m u i t o dependen­

te, a mesma seja d e l e g a d a a p e s s o a l de e n f e r m a g e m c o n t r a t a d o p o r

seus f a m i l i a r e s . Os p a c i e n t e s dos q u a r t o s 303 (vítima de trau­

m a t i s m o c r â n i o - c e f á l i c o ) e 702 ( c o n v a l e s c e n t e de a c i d e n t e vas­

cular cerebral) sã o e x e m p l o s d e s s a s i t u a ç ã o .

O m e s m o n ã o se p o d e d i z e r e m r e l a ç ã o ao g r u p o "B", pois

e s t e d e v e s e g u i r as d i r e t r i z e s do s e r v i ç o , q u e p r e v ê e m dedica­

ç ã o e x c l u s i v a do a c o m p a n h a n t e . Seu afastamento da unidade ou

r e v e z a m e n t o , p o r t a n t o , d e p e n d e m de a u t o r i z a ç ã o do enfermeiro

do setor. P o r i n i c i a t i v a própria, a l g u n s r e c o r r e m a soluções

alte rnativas, c o n f o r m e a p r o b l e m á t i c a de s a ú d e do p a c i e n t e e

suas c o n d i ç õ e s de c o l a b o r a r p a r a r e s o l v ê - l a .
70

Os e x e m p l o s a b a i x o p o d e m i l u s t r a r o exposto:

Dona Eugênia, a c o m p a n h a n t e o f i c i a l de s e u pai, condifen-

ciou:

- Mandei tirar duas copias da minha autorizaçao


porque não tenho condiçõe s de ficar dia e noite no
Hospitalj tenho que trabalhar e dar conta da minha
c a s a j então combinei com uma irmã para ela ficar
com o pai uma noite e . eu outra, e minha sobrinha
durante o dia.

D o n a L e o c a d i a , e m p ó s - o p e r a t ó r i o de u m a c i r u r g i a c a r d í a c a ,

só d i s p u n h a de a c o m p a n h a n t e n o t u r n o d a n o ite, e a s s i m justi­

ficou:

- È que minha filha é muito o c u p a d a , esta fazendo


o último ano da F a c u l d a d e s dai so pode vir a n o i ­
te j que ê o horario que mais p r e c i s o ; durante o
dia tem muita gente a quem se pode pedir g,¿uda, as
enfermeiras estao sempre pas s a n d o , e as companhei- ••
ras de quarto fazem com que a gente nao se sinta
tao sozinha.

S e n h o r N o n a t o , v í t i m a de t r o m b o s e c e r e b r a l , t i n h a autori­

z a ç ã o p a r a a c o m p a n h a n t e às 24 hora s , m a s sua n o r a só c o m p a r e c i a

no h o r á r i o das r e f e i ç õ e s , a l e g a n d o :

Tenho um filho de 2 m e s e s 3 ainda estou a m a m e n t a n ­


do 3 não dã para eu ficar mais tempo.com elej venho
apenas no horario das refeiçoes3 porque ele não e s ­
ta se alimentando d i r e i t o 3 e pr ec i s o muita paci­
encia para faze-lo ac eitar algumas colheradas e os
f u n c i o n a r i o s são muito o c u p a d o s ¿ não podem , perder
' muito tempo com ele para i s s õ 3 n ã o ’ê?

D e p e n d e n d o da a v a l i a ç ã o do e n f e r m e i r o q u a n t o à necessida­

de de a j u d a n o s c u i d a d o s do paciente, tais c o n d u t a s a d o t a d a s p e ­

los a c o m p a n h a n t e s poderão, s er t o l e r a d a s p e l a e q u i p e e ate ofi­

c i a l i z a d o s p e l o e n f e r m e i r o d a unid a d e . A o c o n t r á r i o , se este

j u l g a r u m a t o de i n d i s c i p l i n a p o r p a r t e do a c o m p a n h a n t e (do

g r u p o "B"), o p a c i e n t e p o d e ter s u s p e n s a a a u t o r i z a ç ã o q u e lhe


71

f o r a c o n c e d i d a . 0 c a s o dos p a c i e n t e s dos q u a r t o s 215 e 604, p o ­

d e m s e r v i r c o m o e x e m p l o d o e x po s t o . O p r i m e i r o r e f e r e - s e a urna

p a c i e n t e q u e só a c e i t a v a t o m a r b a n h o q u a n d o sua f i l h a cheg a v a ,

r e c u s a n d o - s e a ir p a r a o b a n h e i r o c o m q u a l q u e r o u t r a p e s s o a . E m

r e s p e i t o ao d e s e j o da p a c i e n t e , o e n f e r m e i r o o f i c i a l i z o u (no

c o m p r o v a n t e de a u t o r i z a ç ã o ) esta concessão. Com o segundo caso

se d e u o c o n t r á r i o , i s t o é, o p a c i e n t e t e v e sua autorização

suspensa, c o m a j u s t i f i c a t i v a de q u e o a c o m p a n h a n t e so c o m p a r e ­

c i a n o s h o r á r i o s de v i s i t a e à n o i t e (para d o r m i r c o m a p a c i e n ­

te) , q u a n d o já n ã o h a v i a q u a s e n a d a p a r a fazer; "não atendendo,

portanto, as n e c e s s i d a d e s r e q u e r i d a s p e l a p a c i e n t e " .

O n í v e l de e s c o l a r i d a d e dos a c o m p a n h a n t e s t e m sido a p o n t a ­

do p e l a e q u i p e de s a ú d e c o m o u m dòs f a t o r e s p r e p o n d e r a n t e s na

a t i t u d e e d e s e m p e n h o do se u p a pel. N o l e v a n t a m e n t o e f e t u a d o jun

to ao g r u p o "A" ( p articulares) e "B" (previdenciãrios), foram

i d e n t i f i c a d o s os s e g u i n t e s dados:

Q U A D R O 13 - N í v e l de e s c o l a r i d a d e dos g r u p o s "A" e " B " , segundo

s u a c o n d i ç ã o de a c o m p a n h a n t e de p a c i e n t e particular
1

e previdenciário.

N Í V E L DE E S C O L A R I D A D E G R U P O "A" G R U P O "B"

Semi-analfabetos 0 2

19 g r a u m e n o r (la. a 4a. série) 2 4

19 g r a u m a i o r (5a. a 8a. -série) 3 5

29 g r a u 8 3

39 g r a u 3 1

A e x i s t ê n c i a de u m n ú m e r o s i g n i f i c a t i v o de particulares

c o m o o 29 e 39 graus; r a t i f i c a as a f i r m a ç õ e s da e q u i p e de s a ú d e
72

de q u e o n í v e l s S c i o - e d u c a c i o n a l d e s t e g r u p o ë mais elevado,

c o m p a r a n d o - o c o m os p r e v i d e n c i ã r i o s , c u j a m a i o r i a só c u r s o u o

19 grau. I s t o t e m s i d o c o l o c a d o p e l a e n f e r m a g e m como u m fator

p o s i t i v o n o r e l a c i o n a m e n t o i n t e r p e s s o a l do a c o m p a n h a n t e parti­

cular, b e m c o m o n a " e f i c á c i a " do d e s e m p e n h o de seu papel. Ao

c o n t r á r i o , o b a i x o n í v e l e d u c a c i o n a l dos p r e v i d e n c i ã r i o s e con­

s i d e r a d o u m o b s t á c u l o no r e l a c i o n a m e n t o i n t e r p e s s o a l e colabo­

r a ç ã o nos c u i d a d o s do p a c i e n t e . Daí a e x i s t ê n c i a de colocações

c o m o esta:

0 baixo nïvel educacional dos previd enc iãr ios d i ­


ficulta qualquer tentativa de orientação para m e ­
lhorar a qualidade de seu d e s e m p e n h o .

As i n f o r m a ç õ e s d a e q u i p e de e n f e r m a g e m r e v e l a m uma certa

i n c o n s i s t ê n c i a q u a n t o ao n í v e l e d u c a c i o n a l dos acompanhantes

dos g r u p o s "A" e "B" r e s p e c t i v a m e n t e , n a m e d i d a e m q u e ressal­

t a m as v a n t a g e n s e m l i d a r c o m os p r i m e i r o s , p o r s e r e m dotados

de u m " n í v e l m e l h o r " , e d i f i c u l d a d e s n o r e l a c i o n a m e n t o c o m o

s e g u n d o , c u j o g r a u de e s c o l a r i d a d e s e j a s uperior. N e s t e c a s o ós

a c u s a m de " e x i g e n t e s e c o n t e s tadores", c h e g a n d o a f a z e r a se­

guinte afirmação:

- Quanto mais elevado o nïvel sicio-educacional '


do acompanhante e p a c i e n t e } maiores serão os p r o ­
blemas e 'dificuldades de eles se a jus tarem na Uni­
dade de Internação previdenciãria. '

E n t r e as p r o f i s s õ e s e x e r c i d a s p e | o s a c o m p a n h a n t e s , p r e ’
domi.

n a a de d o n a de c a s a ("Do Lar") t a n t o n o g r u p o "A", c o m o "B",

c o n f o r m e q u a d r o a seguir:
73

Q U A D R O 14- P r o f i s s ã o e x e r c i d a p e l o s g r u p o s "A" e " B " , segundo

sua c o n d i ç ã o de a c o m p a n h a n t e ' d e p a c i e n t e s p a r t i c u l a r

ou previdenciãrio.

PROFISSÃO G R U P O "A" • GRUPO "B”

D o n a de c a s a (Do Lar) 7 8

Professor 3 1

Comerciãrio 2

T é c n i c o de E n f e r m a g e m 1 -

A u x i l i a r de E n f e r m a g e m 1 -

Telegrafista 1 : -

Agricultor — 1

O p e r á r i o de I n d ú s t r i a - 2

Arquiteto 1 -

Garçon - 1

Religiosa (freira) 1 -•

Cabeleireira 1 -

Os i n t e g r a n t e s d o g r u p o "A" exercem, p r e d o m i n a n t e m e n t e , a t i ­

v i d a d e s t e r c i á r i a s , e n q u a n t o os do g r u p o "B" e s t ã o .ligados t a m ­

b é m ãs a t i v i d a d e s p r i m á r i a s e s e c u n d á r i a s . Os que t r a b a l h a m f o ­

ra de casa mencionam d i f i c u l d a d e s e m c o n c i l i a r suas r e s p o n s a b i l i ­

d a d e s no e m p r e g o , e m c a s a e c o m o a c o m p a n h a n t e . Isto o c o r r e p r i n

c i p a l m e n t e c o m os a c o m p a n h a n t e s de p a c i e n t e p r e v i d e n c i ã r i o s , p o r

ser e x i g i d o t e m p o i n t e g r a l c o m o p a c i e n t e na m a i o r i a dos casos.

0 d e p o i m e n t o de d o n a E l v i r a (B 13) p o d e i l u s t r a r o exposto:

- Jã fiz de tudo para não fal tar com meu marido


que vem sofrendo ha 3 m e s e s 3 com duas -internações
nesse Hospital e ao mesmo tempo não perder, meu
emprego. A pr ime ira v e z } tirei f e r i a s 3 depois fi-
74

quei trocando turno de t r a b a l h o 3 isto è 3 t rab a l h a ­


va 24 horas duas vezes 'por - semana. 3 para ficar com
ele o restante do t e m p o ; quando não estava mais
s u p o r t a n d o .esse ritmo 3 entrei de licença e agora
tenho que voltar. Minha casa e meu filho de 3 ano s3
a essa altura, não me pergunte como a n d a m ; tive que
deixar aos cuidados da minha sogra.

D o n a I n ã c i a t a m b é m e x t e r n o u sua p r e o c u p a ç ã o e m d e i x a r o

f i l h o de 8 m e s e s c o m o m a i s v e l h o de a p e n a s 10 anos, p a r a p a r t i

c i p a r d a e s c a l a de a c o m p a n h a n t e d o seu pai.

E m a m b os os g r u p o s de a c o m p a n h a n t e s p r e d o m i n a o c a t o l i c i s ­

mo. A i n f l u ê n c i a d a r e l i g i ã o p o d e ser p e r c e b i d a a t r a v é s de a t i ­

tudes simples, c o m o a d e c o r a ç ã o d a m e s i n h a de c a b e c e i r a do pa­

c i e n t e c o m os S a n t o s de sua d e v o ç ã o , c r u c i f i x o e flores e nas

expressões espontâneas durante a conversação com a pesquisadora.

Exemplo:

- graças a Deus e a Virgem M a r i a 3 o pi or jã passou.


- fiz tantas prome s sas com os Santos de minha d e v o ­
ção, para meu marido se r e c u p e r a r 3 que não sei como
vou p a g ã - l a s .

A fé c a t ó l i c a p a r e c e u m s e n t i m e n t o m u i t o f o r t e p a r a a m a i o ­

r i a dos a c o m p a n h a n t e s . N o e n t a n t o , o b s e r v a - s e q u e p o u c o s p a r t i ­

c i p a m d a m i s s a d i á r i a c e l e b r a d a n a C a p e l a d o H o s p i t a l . As jus­

t i f i c a t i v a s de a l g u n s p a r a o fato, foram:

- Tenho receio de sair deixando o pai sozinho 3 p r e ­


firo rezar aqui mesmo.
- Não costumo assistir missa com muita f r e q ü ê n c i a 3 .
mas tenho rezado demais nesta fase de doença de
meu m a r i d o .

Outros afirmam preferir comparecer à Capela em horários

m e n o s m ó v i m e n t a d o s , a f i m de r e a l i z a r suas p r e c e s o u p a g a r p r o ­

messas. Nestas ocasiões, c o s t u m a m t a m b é m a c e n d e r velas, colocar

f l o r e s o u f i t i n h a s no s a l t a r e s j u n t o as imagens.
75

Q u a n t o â p r o c e d ê n c i a dos a c o m p a n h a n t e s , t a n t o e m relação

ao g r u p o "A", q u a n t o ao "B", ë m a i s o u m e n o s p r o p o r c i o n a l o n u ­

m e r o d a q u e l e s p r o v e n i e n t e s d a c a p i t a l e i n t e r i o r do Esta d o , i n ­

c l u s i v e de a l g u n s E s t a d o s v i z i n h o s . Isto d e m o n s t r a a s o l i d a r i e ­

d a d e e x i s t e n t e e n t r e os f a m i l i a r e s dos q u e se h o s p i t a l i z a m , c u j a

d i s t â n c i a do l o c a l o n d e r e s i d e m n ã o c o n s t i t u i e m p e c i l h o para

o f e r e c e r s e u apoio. P a r a os n ã o r e s i d e n t e s n a cidade, a situa­

ç ã o t o r n a - s e c o m p l i c a d a se n ã o t i v e r e m a c e s s o às u n i d a d e s par­

t i c u l a r e s , p o i s f o r a daí, n ã o d i s p o r ã o das c o n d i ç õ e s b á s i c a s p a

r a s u a a c o m o d a ç ã o e a t e n d i m e n t o de suas n e c e s s i d a d e s pessoais,

c omo as descritas anteriormente.

M o t i v o s para Acompanhar um Familiar Internado

Os a c o m p a n h a n t e s , q u a n d o i n d a g a d o s s o b r e "por q u e acompa­

nhar?", a p r e s e n t a r a m v á r i a s r a z õ e s q u e os l e v a r a m a p e r m a n c e r com

o paciente durante sua hospitalização. Considerando o grande nü

m e r o de r e s p o s t a s a p r e s e n t a d a s n e s s e s e n t i d o p o r ambos os g r u ­

pos, "A" e "B", f o r a m t r a n s c r i t a s a p e n a s a q u e l a s r e f e r i d a s com

maior ênfase pelos informantes, ou colocadas por estes m a i s de

u m a vez, a s s i m c o m o as c i t a d a s p o r m a i s de u m a c o m p a n h a n t e .

E m princípio, t o d a s as r a z õ e s a p r e s e n t a d a s c o n v e r g e m p a r a o

p a c i e n t e . N o entanto, ao a p r o f u n d a r a q u e s t ã o , v e r i f i c a - s e que

a l g u m a s e s t ã o m a i s e s p e c i f i c a m e n t e l i g a d a s aos p a c i e n t e s ,o u t r a s

ao p r ó p r i o a c o m p a n h a n t e e, finalmente, a q u e l a s r e l a t i v a s à e q u i p e

hospitalar.

E n t r e os m o t i v o s r e l a c i o n a d o s ao p a c i e n t e e q u e motivaram

os f a m i l i a r e s a p e r m a n e c e r e m n o h o s p i t a l e s t ã o os p r o b l e m a s ou
76

l i m i t a ç õ e s f í s i c a s d e c o r r e n t e s do e s t a d o de s aüde o u t r a t a m e n t o

a que o paciente é submetido, como sejam: p r i m e i r o s dias de o p e ­

rado (pós-operatório), idade avançada, ataques convulsivos; v ô ­

m i t o s constantes, repouso no leito, cegueira, paralisia (paraplegia) ,can

saço respiratório (dispneia), fraqueza geral e e s t a d o grave.

0 n í v e l de d e p e n d ê n c i a do p a c i e n t e p a r a o a t e n d i m e n t o de

suas n e c e s s i d a d e s f í s i c a s c o n s t i t u i u m a s e r i a p r e o c u p a ç ã o dos

a c o m p a n h a n t e s de a m b o s os grupos, "A" e " B " , q u e a manifestam

da seguinte maneira:

G r u p o "A"

Meu m arido teve traumatismo de orânio e aiyida esta


b o b o , dependendo das pessoas para tudo. Nao voltou
a fase de consciência.

Minha mãe esta acamada com fratura de bacia, uri­


nando sangue e jã ê uma pessoa de idade, portanto
não pode ficar dependendo so do pessoal do s e r v i ç o .

Com esse pro blema de fraque za geral e cansaço . de


meu esposo, devido ao enfisema pulmonar, não posso
me af ast ar de seu leito, a todo momento ele estã
p rec is a n d o de alguma c o i s a , ate mesmo para lhe e n ­
xugar o s u o r .
Ao adoecer, os homens se co mpo rta m como se fossem
c r i a n ç a s , querem tudo nas mãos*, depois de o p e r a d o ,
ate para se ali mentar meu marido quer ajuda.

G r u p o "B"

Meu irmão estava dando uns ataques (convulsões),


p rec is a n d o de uma p ess oa ao lado dele, para não
deixã-lo cair da cama.
Minha esposa veio pa ssando mal com náuseas e vomi-
tos c o n s t a n t e s , pre cis and o de ajuda ate para le­
vantar a cabeça e, como não ê possível ficar uma
e n fer mei ra so com ela, pedi para ficar de a c o m p a ­
nhante ate ela melhorar.
Meu marido não estã bem e, como os médicos reco­
nh ec e r a m isso, mandaram-me chamar para ficar com
77

ele, pois esta em repouso absoluto; então a gente


tem que fazer tudo por e l e , da h i g i e n e . a sua a-
l i men taç ão, estou as sumindo com a ajuda do pes­
soal.

Depois que meu pai ficou cego, ele precisa de


ajuda para se locomover em ambientes estranhos.
que nem este, para evitar que ele se acidente ou
passe p r i v a ç õ e s .

Os a s p e c t o s de o r d e m e m o c i o n a l e afet i v a , q u e e s t ã o pre­

s e n t e s de f o r m a t á c i t a o u i m p l í c i t a n a m a i o r i a das r a zões . a-

presentadas pelos informantes e r e s u l t a m e m a l g u m tipo de de­

p e n d ê n c i a do p a c i e n t e t a m b é m são r a z õ e s a p o n t a d a s p e l o s a c o m p a ­

nhantes. E m a l g u n s casos, a d e p e n d ê n c i a a f e t i v a se a p r e s e n t a de

f o r m a tã o a c e n t u a d a q u e o p a c i e n t e n ã o c o n s e g u e ficar t r a n q ü i ­

lo, s e m a p r e s e n ç a de u m f a m i l i a r , m e s m o p o r p o u c o tempo. De

u m m o d o geral, p a r a os a c o m p a n h a n t e s , o p a c i e n t e c a rece de:

"a p o i o ; conforto ; f o r ç a ; c o r a g e m ; c a r i n h o , comunicação ; manu­


tenção do vínculo fam iliar e pre servação de sua identidade p e s ­

soal". Os d e p o i m e n t o s dos g r u p o s "A" e "B" p o d e m m e l h o r e s c l a ­

r e c e r o exposto:

G r u p o "A"
I

Meu esposo ficou chocado com a notícia de h osp ita ­


lização, então falou para o médico que so ac e i t a ­
ria qua lquer tratamento se eu pudesse ficar j u n t o .
Meu filho não ficaria s o z i n h o , isolado nesse a p a r ­
tamento e nem eu teria tranqüilidade de ir para
casa, imaginando que ele po deria esta precisando de
m i m , do meu apoio e afeto m a t e r n a l .

A nossa pre sença (família) junto ao pai nesse m o ­


mento considero imprescindível, como uma f o r m a . de
pre servar sua individualidade e interpretar suas
reações e desejos, pou pan do- lhe maiores sof rimen­
tos ao sair de seu cantinho para enfrentar pes­
soas e ambientes tão e s t r a n h o s . .
Por me lhor que seja a assistência oferecida pela
equipe, não basta para o doente que necessita tam­
bém do apoio, amor e carinho de seus familiares e
amigos.
'78

G r u p o "B"

Meu marido estava muito n e r v o s o , alias depois que


falaram que ele estava sofrendo do c o r a ç ã o , a c a ­
bou-se a coragem do h o m e m ; ele tem crises de c h o ­
ro que nem uma criança; so em pe n s a r na possibili_
dade de me afastar d e l e } mesmo por pouco tempo,
ele se a p a v o r a .
Para minha irmã sair desse estado (coma por AVC
hemorrãqico ) entendemos eu e minhas outras q u a ­
tro irmãs, que pr eci sam os oferecer-lhe todo apoio
e conforto m o r a l 3 p ara que ela reaja e perce­
ba o quanto e amada e sua recuperação d e s e j a d a .
Apesar de não suportar esse ambiente hospitalar 3
estou fazendo um sacrifício enorme para dar uma
força a minha s o g r a } que ê como se fosse uma mãe
para mim. Nesse momento que ela pr ecisa de tanto
apoio e todo conforto para aliviar um pouco do
seu s o f r i m e n t o , eu não p od e r i a deixar de atende-
la.
Dei graças a Deus d eixarem eu ficar com o pai,
pois ele não teria condições de superar sozinho
tanta mudança ao mesmo tempo, d o e n ç a 3 pessoas e
ambiente estranho. Com a família ele jã esta, acos_
turnado3 reage melhor.

Os f a m i l i a r e s do p a c i e n t e t a m b é m q u e r e m p e r m a n e c e r junto

ao p a c i e n t e p o r r a z õ e s l i g a d a s as suas p r ó p r i a s n e c e s s i d a d e s e

interesse. E n t r e estas, é f r e q ü e n t e a a l e g a ç ã o de q u e necessi­

t a m d e m o n s t r a r ao f a m i l i a r d o e n t e s e u i n t e r e s s e e apoio. A o se

c o n f i r m a r a n e c e s s i d a d e de h o s p i t a l i z a ç ã o de u m m e m b r o d a f a m í ­

lia, q u e r s e j a p a r t i c u l a r o u p r e v i d e n c i ã r i o , t odos os outros

m a n i f e s t a m sua solidariedade e se p r o p õ e m a q u a l q u e r sacrifí­

cio p a r a a j u d á - l o de a l g u m a forma, c o n f o r m e e x e m p l o s abaixo:

- Embora sabendo que nesse Hospital os doentes são


bem tratados, queremos ficar acompanhanão a mãe p a ­
ra oferecer o apoio e conforto f a m i l i a r , lacuna que
o pessoal que trabalha aqut não. pode preencher,

- Para ajudar a salvar a minha irmã dessa doença


farei o que for p r e c i s o m e s m o me expondo em f a l ­
tar ao e m p r e g o , sacrificando um pouco da atenção aos
meus filhos e a minha casa. 0 mais importante a g o ­
ra ê a recuperação dela.

- Ao saber que meu pai fora hospitalizado 3 suspen-


79

di no Rio de Janeiro todas as minhas atividades pes^


soais de dona de c a s a 3 e s p o s a , mãe e p r o f i s s i o n a l 3a
fim de vir dar-lhe o meu apoio e ao mesmo tempo a d ­
quirir tranqüilidade, porque mesmo sabendo que ele
esta em boas m ã o s 3 com p r o f i s sio nai s eficientes3
eu não conseguiria ficar a distância. Preciso v o l ­
tar logo j mas so o farei quando, ele estiver fora .de
perigo.

- Para garantir o apoio e a força que meu marido


p recisa receber nesta fase. tao difícil de sua v i d a 3
toda familia se m obi liz ou para colaborar no paga­
mento das de spesas cobradas pelo Hospital 3 a fim de
que ele ficasse em aparta men to com direito de ser
acompanhado.

E s t a solidariedade, s e g u n d o a l g u n s i n f o r m a n t e s , dão sentin­

do à v i da, c o n t r i b u i n d o p a r a p r e s e r v a r o i n t e r e s s e da p e s s o a en

ferma pela sua sobrevivencia, l e v a n d o - a a l u t a r com t odas as

f o r ç a s e m p r o l de s u a p r ó p r i a r e c u p e r a ç ã o . Em determinadas si­

tuações no entanto, as p e s s o a s m a i s d i r e t a m e n t e e n v o l v i d a s com

o p a c i e n t e a p r e s e n t a m u m n í v e l de a n s i e d a d e m u i t o alto, levan­

d o - a s a p e r d e r o c o n t r o l e e m o c i o n a l e a a g i r s e g u n d o seus im­

p u l s o s n e r v o s o s . D o n a A d i l m a p o r e x e m p l o , diz ter "explodido"

c o m o p e s s o a l do P r o n t o S o c o r r o (PS), após 30 h o r a s de espera

(no c o r r e d o r d e s t a unida d e ) por uma vaga para internar seu

e s p o s o , v i t i m a de h e m o r r a g i a d i g e s t i v a .

E s t e t i p o de re a ç ã o , e v i dentemente, e m n a d a c o n t r i b u i para

m e l h o r i a d o e s t a d o do p a c i e n t e , ao contrário, p o d e a f e t á - l o e m o ­

c i o n a l m e n t e e p r e j u d i c a r a e v o l u ç ã o de s e u p r o c e s s o de recupe­

r a ç ã o c o m o u m todo.

:.Os a c o m p a n h a n t e s s e n t e m t a m b é m n e c e s s i d a d e de c o m u n i c a ç ã o .

N ã o o b s t a n t e t r a t a r - s e de u m a n e c e s s i d a d e comum, n ã o a p e n a s aos

acompanhantes, c o m o t a m b é m ao p a c i e n t e e a p r ó p r i a e q u i p e en­

v o l v i d a n a s i t u a ç ã o , e s t a n ã o t e m s i d o a t e n d i d a de f orma s a t i s -

fatõria.- A o e n t r a r e m c o n t a t o c o m os f a m i l i a r e s dos pacientes

h o s p i t a l i z a d o s p o d e - s e p e r c e b e r sua a n s i e d a d e d i a n t e da neces-
80

s i d a d e de c o m u n i c a ç ã o c o m o p a c i e n t e e e q u i p e h o s p i t a l a r » Seus

questionamentos e a maneira pela qual solicitam informações

s o b r e a s i t u a ç ã o do p a c i e n t e , r e f l e t e m u m p o u c o de sua c a r ê n c i a

n e s s e sentido. São nas Unidades de I n t e r n a ç õ e s p r e v i d e n c i á r i a s que

o f a t o se faz s e n t i r c o m m a i o r i n t e n s i d a d e . Ali, a e q u i p e de

saúde não costuma discutir com o paciente ou familiares sobre

os a s p e c t o s r e f e r e n t e s ao d i a g n o s t i c o , t r a t a m e n t o e evolução

do e s t a d o de s a ú d e do paciente,, sendo, p o r t a n t o , tomum se encontra

rem f a m i l i a r e s n o s h o r á r i o s de v i s i t a h o s p i t a l a r , p e d i n d o in­

f o r m a ç õ e s s o b r e o p a c i e n t e a q u a l q u e r p e s s o a q u e lhe p a r e ç a da

e q u i p e de saúde. N o entanto, n e m s e m p r e e n c o n t r a m a p e s s o a c e r t a

(medico o u e n f e r m e i r o d a U n i d a d e de I n t ernação) p a r a lhes p r e s ­

tar, n e s s e h o r á r i o , os e s c l a r e c i m e n t o s d e s e j a d o s . P o r o u t r o la­

do, f o r a do h o r á r i o de v i s i t a , a f a m í l i a n ã o t e m a c e s s o à Uni­

d a d e de I n t e r n a ç ã o p r e v i d e n c i ã r i a . Pòr telefone,além das. dificuldades de

c o n g e s t i o n a m e n t o das l i n h a s d o H o s p i t a l , n ã o h á t e l e f o n e dire­

to n o q u a r t o do p a c i e n t e e a t r a v é s do P o s t o de E n f e r m a g e m as

inform a ç õ e s , q u a n d o o f e r e c i d a s , "são s u p e r f i c i a i s e p o u c o e s c l a ­

recedoras", q u e i x a m - s e òs i n f o r m a n t e s .
1

C a r e n t e s de c o m u n i c a ç ã o c o m o p a c i e n t e e equipe, alguns

f a m i l i a r e s de p a c i e n t e s p r e v i d e n c i á r i o s i n s i s t e m p o r uma oportu

n i d a d e de p e r m a n e c e r no Hospital, a c o m p a n h a n d o o p a c i e n t e como

u m a f o r m a de se c i e n t i f i c a r e m das o c o r r ê n c i a s e m t o r n o do p a c i ­

e n t e e s ua e v o l u ç ã o J ''Chamou-nos a t e n ç ã o o c a s o de u m a paciente

do q u a r t o 613, e m f a s e f i n a l de Ca., c ujos familiares, impossi­

b i l i t a d o s de f i c a r e m t o d o s n o q u a r t o d a p a c i e n t e , se revezavam

e m s e u a u t o m ó v e l e s t a c i o n a d o ao lado d a j a n e l a de seu q u a r t o , n a

e x p e c t a t i v a de r e c e b e r e m a l g u m t i p o de c o m u n i c a ç ã o sobre o es­

t a d o d a p a c i e n t e a t r a v é s de c a d a a c o m p a n h a n t e q u e a s s u m i a sua

vigilância. Com isto afirmam estar, t a m b é m , a s s e g u r a n d o seu apoio


81

a ambo s, p a c i e n t e e ao p r õ p r i o a c o m p a n h a n t e .

A l é m d a n e c e s s i d a d e de r e c e b e r i n f o r m a ç õ e s , o a c o m p a n h a n t e

d e m o n s t r a n e c e s s i d a d e de c o m u n i c a r suas o b s e r v a ç õ e s para a equipe

de saúde, b e m c o m o e s c l a r e c e r suas d ú v i d a s e m a n t e r a família

informada sobre a situação do paciente. I s t o p o d e ser i l u s t r a d o

c o m as s e g u i n t e s d e c l a r a ç õ e s d o g r u p o "B" ( p r e v i d e n c i ã r i o s ), jã

q u e sã o e s t e s os m a i s a f e t a d o s e m r e l a ç ã o ao s i s t e m a de c o m u n i ­

cação hospitalar.

Pe rmi t i r e m que eu ficasse acompanhando meu marido


foi a melhor coisa que aconteceu'. Vois ele ficava
n e r v o s o , querendo que eu tomasse conhecimento de
tudo que os médicos r e s o l v i a m fazer sobre a sua
overaçao (cardíaca), mas ficava difícil, porque so
nos víamos no horario de visita. E eu jã não e s t a ­
va mai's suportando ficar em casa esperando a hora ,
sem saber como ele estava. Os dias que ele passou,
sem que eu pudesse ficar j u n t o , foram um sufoco, n^ 0
tive paz de e spirit o ; p r e o c u p a d a , não conseguia dor_
mir , me alimentar e nem trabalhar direito; so p e n ­
sava coisa ruim.

Sabe-se que o pessoal daqui não gosta muito dê dar


informação sobre a situaçao. do doente, mesmo c o i ­
sas simples como o resultado da pressão ou de a l ­
gum exame, respondem sempre que só o medico pode
informar. Por telefone, so dizem que esta tudo
bem. E como precisamos saber o que esta realmente
a contecendo com a mae e dai informar as outras
pessoas da família, tenho que ficar aqui.

Ê uma pena que os médicos e enfermeiras não e n t e n ­


dam que a gente pre cis a de um pouco mais de a t e n ­
ção deles, não so para p e r g u n t a r o que não en t e n ­
demos, como também of erecer nossas informações; a-
final a gente fica o tempo todo com o d o e n t e , e
observa muita coisa que pode ser importante co mu­
nicar para eles. Mas parece que eles não tem tempo
de ouvir a gente, ou pe n s a m que jã sabem tudo.

Os doentes impossib ili tad os de falar sobre os seus


pr oblemas ou mesmo de chamar alguém por essa c a m ­
painha, que nem o pai, não tem condições de fi-car \
sozinhos.

S i n t e t i z a n d o , p o d e - s e d i z e r q u e a n e c e s s i d a d e de comunica­

ç ã o e x p r e s s a p e l o s i n t e g r a n t e s dos g r u p o s "A" e "B" visa, s o b r e -


82

tudo, a saber como o paciente se sente; quais as suas preocupa­

ções, receios ou desejos; e s c l a r e c e r dúvidas e servir de agen­

te i n t e r m e d iario de comunicação entre o paciente X família e

p a c i e n t e X equipe de saúde.

E m b o r a os informantes não cheguem a m e n c i o n a r a pal a v r a

"controle", ao jus t i f i c a r e m sua nec e s s i d a d e de "acompanhar o

que está a c ontecendo com o paciente e de tomar providências p a ­

ra que não lhe falte nada", sugerem p r e o c u p a ç ã o não so com a

vigilância, como com o controle da q u a l i d a d e da assistência pre£

tada ao paciente. A v i g i l â n c i a e controle realizados por ambos

os grupos, "A" (particulares) e "B" (previdenciãrios), referem-

se, basicamente, â p r e v enção de riscos, estando portanto, r e l a c i o ­

nados â s e g urança do paciente, conforme depoimentos abaixo:

G r u p o "A"

Nao. pos so deixar meu ma rido s o z i n h o 3 afinal a gen- ■


te não sabe o que pode de uma hora para outra acon^
tecer com ele. Hã poucos dias, quando voltávamos
dos exames r a d i o l ó g i c o s 3 ele d e s m a i o u 3 se nao f o s ­
se eu. dar alarme pe d i n d o s o c o r r o 3 como o pessoal
ia saber disso para p restar-lhe os cui-dados a tem­
po de salvã-lo?

Témos uma re spo nsabilidade muito grande com o d o ­


ente que fica em a p a r t a m e n t o 3 porque o. pessoal d a ­
qui jã esta acostumado a deixã-lo por conta da
f á m t l i a 3 e. .so -vem ao quarto quando solicitado . ou
para re ali zar algum tratamento p assado pelo m e d i ­
co.

Para que o pessoal se interesse e cuide bem do


nosso .doente3 ê importante que a famïlia esteja
sempre p r e s e n t e .

G r u p o "B"

So faz ' tres dias que estou aqui com meu p a i 3 mas
jã me sintô c a n s a d a 3 porque não consigo me d e s l i ­
gar da pr e o c u p a ç ã o com o s o r o 3 para não sair da
veia e par a ele não arrancar essa sonda do nariz.
83

Cada vez que vejo um doente amarrado na cama ou


sofrendo nas mãos de algumas e n f e r m e i r a s , me
convengo de que não dã para âeixar doentes oomo
minha i r m ã , que não pode nem ao menos falar para
pedir ou se q u e i x a r , sem uma pe sso a da família
acompanhando.

0 doente ficando com alguém da família tem maio_


res pos sibilidades de ser mais bem a t e n d i d o , de
modo a não lhe faltar n a d a . ..

A p r e o c u p a ç ã o era n ã o d e i x a r o p a c i e n t e " s o z i n h o " chega. a

g e r a r c o n f l i t o é n t r e os p r e v i d e n c i ã r i o s , d i a n t e da necessidade

de se a f a s t a r e m p a r a r e s o l v e r p r o b l e m a s e x t e r n o s , o u m e s m o p a r a

t o m a r a l g u m a r e f e i ç ã o f o r a do H o s p i t a l , p e l o r e c e i o de q u e algo

" d e s a g r a d á v e l " p o s s a a c o n t e c e r ao p a c i e n t e e m sua a u s ê n c i a , c o ­

m o n o s e x e m p l o s abaixo:

Estão-me cobrando a guia de internação do INPS


para minha esposa que entrou pela e m e r g ê n c i a ,mas
não pcsso s a i r , ãeixa?ido-a sozinha nessas condi-
goes em que ela se e n c o n t r a ,' tenho medo que ela so­
fra uma crise forte de vomitos e ni nguém veja,ou
não possa vir a ten de- la de i m e d i a t o .

Faz duas semanas que estou acompanhando meu ma_


rido, preciso ir em casa, deixei meus filhos p e ­
quenos so aos cuidados da mais velha Cde 12 anos),
mas tenho receio que, em minha a u s ê n c i a , deixem
pa s s a r a hora dos remédios, ou que ele seja d e s ­
prezado, ou mesmo amarrado, pelo fato de ele ainda
estar muito irrequieto e dar muito t r a b a l h o .

A p r e o c u p a ç ã o e m n ã o se a f a s t a r da c a b e c e i r a do paciente

n ã o ê e x c l u s i v a dos q u e a c o m p a n h a m os p a c i e n t e s p r e v i d e n c i ã r i o s ,

m e s m o os f a m i l i a r e s q u e c o n t r a t a m p e s s o a l p a r t i c u l a r p a r a c o l a ­

b o r a r no s c u i d a d o s d o p a c i e n t e i n t e r n a d o e m U n i d a d e p a r t i c u l a r

n ã o se a f a s t a m do q u a r t o do p a c i e n t e . A e s p o s a e a f i l h a d o p a ­

c i e n t e d o a p a r t a m e n t o 703, p o r e x e m p l o , c o n t a v a m c o m u m Técni­

co de E n f e r m a g e m p r e s t a n d o s e r v i ç o d u r a n t e o d i a e dois Aten-

d e n t e s se r e v e z a n d o n o s p l a n t õ e s n o t u r n o s e, a p e s a r disso, per­

m a n e c i a m ao l a d o d o p a c i e n t e âs 24 h o r a s e m s i s t e m a de rodízio
84

e n t r e as d u a s .

A c o n c e p ç ã o e x p r e s s a p e l o s f a m i l i a r e s de a l guns pacientes

de q u e a a s s i s t ê n c i a a e s t e s oferecida, ë incompleta leva-os a

se i n t e r e s s a r e m e m p a r t i c i p a r d a r e a l i z a ç ã o dos seus cuidados,

v i s a n d o não apenas a c o m p l e m e n t á - l o s , como também contribuir para melho

r i a de s u a q u a l i d a d e . Daí os seus a r g u m e n t o s :

G r u p o "A"

So quem conhece esse ambiente de hospital pode


ter ideia do que significa deixar um doente so aos
cuidados do pessoal..., eles são poucos para atentr
der tantos doentes. Quando o pai ligava a ca m p a i ­
nha querendo fazer xixi, por exemplo, a gente ti­
nha que atendê-lo, porque quando a p a r e c i a . alguém,
ele jã nem se lembrava mais o que desejava.

Não sei se vou poder ajudar em algum cuidado da


mãe, mas para isso, imagino que o Hospital tenha p e s ­
soal preparado, o importante ê poder dar-lhe umà
força e tomar providen cia s para que não lhe falte
nada. ' —

A família precisa colaborar na assistência ao d o ­


ente, porque o pessoal aqui ê pouco, não dã conta
de a tender todas as solicitações dos d o e n t e s .

Aqui o pessoal é ótimo, todos tem muito boa v o n t a ­


de, 'mas se você quiser gar antir uma boa a ssi s t ê n ­
cia ao doente, a familia tem que assumir parte de
seus c u i d a d o s , os mais s i m p l e s, ou c o n t r a t a r . p e s ­
soal pa r t i c u l a r para isso, como nos fizemos para
o pai.

G r u p o "B" ;

Se o doente estiver p rec isa ndo de ajuda com muita


freqüência, ê necessário que fique ume pessoa da
família com ele, pois o pe s s o a l aqui¡ além de ser
pouco, p arece que jã vive cansado, não liga m u £
to; pa s s a m mais tempo na sala deles ou do lanche
do que nas enfermarias, e alguns se aborrecem quan_
do a gente vai chama-los.

Sabemos que as enfermeiras são muito ocupadas, màl


dão conta de aplicar os remédios aos doentes; ;e
por isso que queremos ficar ajudando a cuidar d e ­
le, pois so assim podemos garantir que o mesmo
85

não sofra tanta p r i v a ç ã o .

Por mais que o pessoal se esforce para dar os c u i ­


dados completos aos doentes, acho que não c ons e­
gue satisfazê-los t o t a l m e n t e , porque eles sentem
falta de aconchego familiar. Meu marido, por e x e m ­
plo, diz que so eu sei o jeitinho que ele gesta de
ser c u i d a d o .
Para um doente grave que nem minha irmã se recupe_
rar so os remedios e a f i s i o t e r a p i a . não são suf i­
cientes, ê preciso também muito incentivo e apoio
da f a m í l i a , a fim de adquirir forças para reagir.

A c a r ê n c i a de p e s s o a l de e n f e r m a g e m p a r a a s s u m i r os c u i d a ­

dos do p a c i e n t e foi u m a q u e i x a c o n s t a n t e n a s d e c l a r a ç õ e s dos

i n f o r m a n t e s de a m b o s os g r u p o s "A" e "B" , ao j u s t i f i c a r e m a

n e c e s s i d a d e de c o m p l e m e n t a ç ã o d a a s s i s t ê n c i a ao p a ciente^ es­

p e c i a l m e n t e nos c a s o s de d e m o r a o u n ã o a t e n d i m e n t o d o pessoal

de e n f e r m a g e m às s o l i c i t a ç õ e s d o p a c i e n t e . N e s s e sentido, p a r t i ­

culares e previdenciãrios divergem apenas na forma pela qual

um e o u t r o g r u p o j u s t i f i c a su a n e c e s s i d a d e de a c o m panhar. Os

p r i m e i r o s r e f e r e m c a r ê n c i a d a a s s i s t ê n c i a o f e r e c i d a ao pacien­

te j u s t i f i c a n d o c o m o d é f i c i t de p e s s o a l e m serv i ç o , enquanto

os ú l t i m o s f a z e m o m e s m o t i p o de q u e i x a , insinuando,p o r é m , um

certo descaso da equipe hospitalar.

E n t r e as j u s t i f i c a t i v a s ao por que a c o m p a n h a r , p e r m e i a a

i d é i a de q u e a p e s s o a q u e se h o s p i t a l i z a t o r n a - s e "frágil, i n ­

d e f e s a e d e p e n d e n t e " , n e c e s s i tando, portanto, de a l g u é m ligado

a f e t i v a m e n t e a ela, p a r a a t e n d e r aos seus i n t e r e s s e s relativos

a assistência hospitalar.

F i n a l m e n t e , h á a c o m p a n h a n t e s q u e e s t ã o j u n t o ao familiar

internado por solicitação expressa da equipe hospitalar, ou se­

ja, d o m é d i c o , do e n f e r m e i r o d a U n i d a d e o u a p e d i d o da Direção

do H o s p i t a l . E x e m p l o :
86

Estou aqui porque o medico de meu irmão pediu que


viesse alguém da família ficar com e l e , até ele
me lh o r a r e não haver mais p erigo de ele pular pela
janela.

Vim para cã a pedido da e nfermeira c h e f e , depois


que meu marido foi o p e r a d o 3 e estou torcendo para
me deixarem ficar até a alta d e l e .

Como não foi p o s s í v e l conseguir um apartamentoy


falamos com o Diretor do Hospital e ele autorizou
ficarmos com a mae aqui mesmo rias enfermarias de
INPS. ' . . . .

N a o p i n i ã o dos i n f o r m a n t e s s u p r a citad o s , a solicitação

da equipe visa a assegurar u m a v i g i l â n c i a c o n s t a n t e ao paciente,

a f i m de e v i t a r a c i d e n t e s e o b t e r c o l a b o r a ç ã o nos c u i d a d o s do

paciente.

A p e s a r de m u i t a s da s r e s p o s t a s ao "por que acompanhar" serem

c o m u n s a a m b o s os grupos, "A" e " B " , e x i s t e m a l g u m a s colocações

q u e r e t r a t a m m a i s e s p e c i f i c a m e n t e as c o n d i ç õ e s e m q u e se e n c o n ­

t r a m c a d a g r u p o no c o n t e x t o h o s p i t a l a r . E n q u a n t o os particula­

res e x p r e s s a m , p o r exemplo, m a i o r p r e o c u p a ç ã o c o m a q u a l i d a d e da

a s s i s t ê n c i a p r e s t a d a ao p a c i e n t e , os p r e v i d e n c i ã r i o s p r e o c u p a m -

se c o m a q u a n t i d a d e m í n i m a n e c e s s á r i a de a t e n ç ã o e c u i d a d o s as-

s e g u r a d o s ao p a c i e n t e , de m o d o q u e e s t e s "não s o f r a m privações".

A s r a z õ e s q u e l e v a m o i n d i v í d u o a a c o m p a n h a r referem-se, por

t ant o , âs n e c e s s i d a d e s do p a c i e n t e e do p r ó p r i o a c o m p a n h a n t e e

f a m í l i a , a s s i m c o m o d o serviço, q u e s o f r e a c a r ê n c i a c r ô n i c a de

p e s s o a l de e n f e r m a g e m .

0 P a p e l do A c o m p a n h a n t e

A o i n g r e s s a r na U n i d a d e de I n t e r n a ç ã o , as p e s s o a s que

acompanhavam o paciente não demonstraram uma idéia muito exata


87

do p a p e l que lhes c a b e desempeniiar j unto ao p a c i e n t e h o s p i t a l i ­

zado. Quanto aos objetivos pelos q u a i s f o r a m leva d o s a esta função,

contudo, p a r e c e não h a v e r d ú v i d a s . Todos demonstraram o desejo

de o f e r e c e r a p o i o i n t e g r a l ao p a c i e n t e e c o n t r i b u i r p a r a . que

e ste seja p r o n t a m e n t e a t e n d i d o em suas n e c e s s i d a d e s , independen

t e m e n t e da s i t u a ç ã o d i a g n o s t i c a , e s t a d o g eral e de sua c l a s s i f i

c a ç ã o em p a r t i c u l a r ou p r e v i d e n c i ã r i o .

E m b o r a os o b j e t i v o s de a m b o s os grupos, "A" e "li", se

jam comuns, a p e n a s o g r u p o "B" t e m suas f u n ç õ e s d e f i n i d a s em

n o r m a s i n t e r n a s da S u b d i v i s ã o de E n f e r m a g e m , conforme descrito

a n t e r i o r m e n t e . Os p a r t i c u l a r e s v ã o a g i n d o cada um ao seu modo,

de a c o r d o c o m seus o b j e t i v o s e c i r c u n s t a n c i a s que r e q u e i r a m sua

ação i m e d i a t a em b e n e f í c i o do p a c i e n t e . A e x e m p l o disso, u m a jo

v e m que a c o m p a n h a v a sua m ã e d e s a b a f o u :

- ainda não sei bem o que devo fazer pela m ã e m a s


estou disposta a fazer tudo o que for possível p a ­
ra ela não se sentir sozinha e pod er recuperar-se
logo. .

E n t r e o u t r a s f u n ç õ e s que, n a o p i n i ã o dos i n f o r m a n t e s , o

acompanhante ë impulsionado a desenvolver, foram selecionadas

as d e c l a r a ç õ e s ab a i x o , p e l o fato de t e r e m s i d o e s t a s menciona­

das p o r m a i s de u m p a r t i c i p a n t e , embora com expressões d i f eren­

tes, m a s c o m i g u a l s e n t i d o .

G r u p o "A"

- Acho que minha função aqui ê mais de dar apoio


e conforto moral a meu p a i 3 mas a gente termina fa
zendo quase tudo que ele n e c e s s i t a } porque,'ao c h a ­
mar o p e s s o a l , eles demoram tanto para a t e n d e r }que
não dã para e s p e r a r .

- 0 ano p assado¿ meu marido esteve internado em o u ­


tro Hospital e lã não d eix a v a m eu fazer nada po r
88

ele. Mas aqui o pessoal não se i n c o m o d a , ao con­


trario, acho que gostam que eu ajude, pois muitos
cuidados deixam por minha conta, como o banho dele
no chuveiro, alimentaçao na b o c a , botã-lo para a n ­
dar. e fazer nebulização.

- Ninguém me falou nada, mas entendo que o papel


dos familia res aqui com o doente ê mais no sentido
de lhe dar uma força pelo nosso apoio e c a r i n h o , o
que certamente resultara em maior segurança e t ran ­
qüilidade para ele.

G r u p o "B"

- Não sei o que o pessoal daqui espera de mim, mas


nos X e u e o marido) estamos tão agradecidos por me
deixarem ficar com ele que faço tudo que depender
de minha ajuda, não so para meu velho, como também pelos
que ocupam aquela cama vizinha.

- Vim para o. Hospital pen s a n d o que ia so fazer c o m ­


p anhia ao meu avo, mas querem que a gente faça tudo
pelo doente; a gente nao pode sair nem um pouquinho
da enfermaria.

- Quase nao ocupamos o pessoal daqut, pois em tudo de què


meu pa i pr eci sa eu procuro a t e n d e - l o , desde as c o i ­
sas s i m p l e s , como: dar ãgua, ajudã-lo a v est i r - s e ,
lev ant ar, sentar ou a n d a r ; alimentar-se e atender a
suas nec essidades com o papagaio ou comadre. - Até
mesmo o remédio de pi ngar nos olhos e uma pomada
de pà s s a r nas costas dele ficam sob minha respon-
bilidade.

. Embora não haja obrigatoriedade ou qualquer compromisso

f o r m a l q u a n t o ao c u m p r i m e n t o de a t i v i d a d e s do a c o m p a n h a n t e j u n ­

to ao p a c i e n t e p a r t i c u l a r , o b s e r v a - s e que, na pratica, não exis­

t e m d i f e r e n ç a s s i g n i f i c a t i v a s e n t r e as f u n ç õ e s de u m o u outro

g r u p o . T e n d o e m v i s t a a e s c a s s e z c r ô n i c a de p e s s o a l de e n f e r m a ­

g e m n a s U n i d a d e s de I n t e r n a ç õ e s e m geral, os p a r t i c u l a r e s (gru­

p o "A") p o r f o r ç a da s c i r c u n s t â n c i a s , a s s u m e m q u a s e as mesmas

r e s p o n s a b i l i d a d e s do g r u p o "B".

A p r o p ó s i t o , u m a s e n h o r a i n s i n u o u e m t o m de b r i n c a d e i r a :

- Vou sugerir que não cobrem nada referente âs mi-


89

nhas diárias a q u i , pois estou trabalhando para eles


ganharem.

No AN EX O 'I , onde foram registradas pelo proprio acómpa

nhante as atividades por eles desenvolvidas, em um período de

24 horas, pode-se ter uma ideia do exposto.

Contudo, existem algumas atividades exercidas mais espe

ci fic ame nte pelos que a c o m p a n h a m os pacientes previdenciãrios,

como as de limpeza pessoal e ambiental do paciente. As demais

atividades diferem apenas quanto â fr eqü ênc ia com que são reali

zadas. São os familiares dos pacientes p rev ide nci ãri os os que

mais c o l a b o r a m nos cuidados de enfermagem, mas, paradoxalmente,

este ê o grupo cuja pre sença tem sido rejeitada ou ignorada por

m uitos profissionais, lembrados apenas quando se comenta sobre

os problemas que estes oca sio nam nas Unidades de Internações.

Os cuidados com o paciente em sorotera pia e/ou sondagens

em geral refletem uma grande pr eoc upa ção dos acompanhantes. de

ambos os grupos, assim como os aspectos relativos à alimentação

e segurança do paciente. Exemplos de algumas situações ness.e

sentido:
Uma senhora idosa costu mav a dormir todas as manhãs no

divã do acompanhante, indiferente ao mov ime nto e barulho da Uni_ ‘

dade naq uel e horário; ao indagar ao seu esposo sobre o que ha

via com ela, ele a chamou carinhosamente, dizendo: "minha velha,

jã são onze horas e temos visita". Despertando, ainda sonolenta,

esta foi logo se justificando:.

- Tarece que fui picada pela m o s c a 3 pois estou sem


pre com sono. Mas o problema ê que tenho passado
as noites a cordada vigiando esses soros (dois fras_
cos em um mesmo equipo) e esta sonda que sai do
pulmão dele. Tenho medo que termine o lÍquid.o e
ninguém v e j a 3 ou me smo que ele ado rme ça e estas
coisas saiam do lugar. Durante o dia não me incomo_
do porque ele está acordado e tem pessoal sempre
passando nos c o r r e d o r e s .
90

Outra senhora com ent ou sobre as dificuld ade s que sofrera


ao so licitar autorização de a c o m p a nha nte e questionou:

- Não entendo porque ainda não liberaram a entrada


de acompan han te para todos os doentes que tem pro_
blemas serios que nem meu p a i 3 que não consegue se
a lim entar sozinho e aquele senhor do lado fica amar_ .
rado o tempo todo para não ar ran car o soro e esse
canudo do nariz (sonda n a s o g ã s t r i c a )3 dã uma penal
0 pai y se yião fosse a gente ter lutado para conse_
guir permissão de vir dar a comida dele na boca}
nao estaria m e l h o r a n d o tão r á p i d o } porque sem ali_
mento a pessoa não pode se r e c u p e r a r , não acha? Mas
isso exige paciência e d e d i c a ç ã o a gente sabe que
as enfermeiras são p o u c a s 3 por isso não podem P^s.
sar muito tempo com um so d o e n t e } tem que se divi_
dir com os o u t r o s 3 por isto deviam abrir mão para
os que precisas sem de ajuda da família,

Na falta de u m pro grama de orientação dirigido ao acom

panhante, para exercer suas funções, conforme descritas, a forma


de a p r e n d i z a g e m u til iza da por ambos os grupos, ocorre, g era lme n

te, por "imitação", isto e, através da observação direta de como

o f unc ion ari o desenvol ve os cuidados com o paciente, ou por ex

pe riê n c i a s anteriores com pessoas enfermas. Alguns afirmam ter

re cebido da "enfermeira" (auxiliar de enfermagem) apenas reco

m e n d a ç õ e s 'quanto ao controle do soro para não àair da veia do pa


ciente e ma nter o gotejamento, assim como para avisar à enferma

gem sobre o término do líquido ou qualquer anormalidade com o mesmo.

Somente um a co mpa nha nte do grupo "B" informou que a en

fer mei ra da Un idade havia-lhe ensinado realizar os exercícios de

r e a b i l i t a ç ã o de sua irmã que sofrera hemiplegia em conseqüência de um aci_

dente v a s c u l a r cerebral; também uma senhora do grupo "A", que fazia ta

pot a g e m em seu esposo, afirmou ter apre ndido com o médico do paciente .

Mes mo sem uma orient açã o dir igida ao acompanhante, al^

guns ch e g a m a des env olv er cuidados especializados que, além de

e x ig i r e m m aio r responsabilidade, requerem uma certa habilidade para

executa-la, como por exemplo: aspir açã o de secreção brônquicas; ali


91

m e n t a ç ã o p o r sonda, n e b u l i z a ç ã o , e n t r e outros.

Q u a n d o i n d a g a d o s se g o s t a v a m de r e a l i z a r a q u e l a s tarefas,

os a c o m p a n h a n t e s a p r e s e n t a r a m d i f e r e n t e s resp o s t a s ; uns afir­

mara m :

- Acho b o m , porque e uma forma de passar o tempo


mais rápido.

- Ê importante a gente ir-se envolvendo com os


cuidados do d o e n t e 3 pois se p r e c i s a r continuar em
c a s a j jã não vamos ter muita d i f i c u l d a d e n ã o ê?

- Alguns cuidados a gente faz porque não tem o u ­


tro j e i t o j mas não ê nada a g r a d á v e l } como lutar
com c o m a d r e d a r comida ao doente por esta son­
d a j ajudar o doente a cuidar da colostomia etc.
- Gosto de ajudar, faço tudo que for preciso, e s ­
tando ao meu a l c a n c e , mas não concordo que o p e s ­
soal se aproveite deixando todos os cuidados do
doente por conta do a c o m p a n h a n t e .

Ne c e s s ida de de apoio e orientação

Para d ese mpe nha r sat isf ato riam ent e o seu papel, os acom

panhantes necessitam de apoio e orientação. Os informantes dos

grupos "A" e "B" foram unânimes em afirmar ser imprescindível

não so o apoio da equipe, como também de seus familiares, com

os quais n e c e s s i t a m dividir suas preocup açõ es e r e s p o n s a b i l i d a ­

des. E o fer e c e m alguns exemplos:

- 0 mo mento de maior aflição que passei nessa e x­


pe riê nci a não foi o aciden te em si, porque não me
pareceu gravej o pior foi a entrada de minha irm ã
no H o s p i t a l , entregue aquelas pessoas estranhas que
não me davam nenhuma s a t i s f a ç ã o . 0 indiferentismo
daquela gente so aum ent ava minha p r e o c u p a ç ã o . Ao me
m a n d a r e m esperar lã fora pelo resultado do RX, sen
ti-me totalmente d e s o l a d a . Enquanto a g u a r d a v a 3 ten
tei des esperadamente telefonar para alguém da famv_
lia3 a fim de que v iessem nos dar uma força; quando
92

o primeiro c h e g o u , jã pude me sentir mais alivia­


da,

- Passei por um grande sufoco 710 dia em que vim ficar


com minha sogra em substituição a filha d ela , que
estava muito cansada. Nesse dia ela teve uma he­
m o r r a g i a ; daí o medico r e solveu operã-la de n o v o ;
fiquei muito perturbada, não podia ficar com a q u e ­
la re sponsabilidade so comigo, princi pal men te p o r ­
que, da p rim eir a vezJ so abriram e fecharam a b a r r i ­
ga dela, dizendo que era câncer. Dei graças a Deus
quando apa receu uma irmã dela, que também ficou
sabendo de tudo e concordou com a decisão do m é d i ­
co ...

- Nessas ocasiões tão d i f í c e i s , principa lme nte p a ­


ra quem nunca passou por essa experiência, ê im­
portante a compreensão e ajuda do pessoal do servi
ço e também da f a m í l i a , pois fica muito pesado p a ­
ra quem assume o tempo todo sozinha ; nesse ponto}
felizmente, minha família é muito legal.

- Imaginava que, ao chegar aqui, vindo do interior


com meu marido para se i n t e r n a r , todos iam nos dar
atenção; mas sé depois de muito penar, falando com
um e outro foi que chegamos ao Doutor e ele mat
leu o bilhete que trazíamos do médico de lã, dis-,
se que■era caso de internaçao e mandou a gente
agir, até chegar aqui-, Não imagina o que sofremos..

E m r e l a ç ã o ao a p o i o q u e o a c o m p a n h a n t e r e q u e r d a família,

t odo s os p a r t i c i p a n t e s do e s t u d o d e m o n s t r a r a m ter sido cor­

r e s p o n d i d o ^ , A l g u n s r e s s a l t a r a m o g r a n d e s e n t i m e n t o de solida-

\ rie d a d e f a m i l i a r aos seus a p e l o s o u do p a c i e n t e .\>lesmo os que

residem mais distante diziam não medir sacrifícios para dar a

sua c o l a b o r a ç ã o n o e n c a r g o de a c o m p a n h a r o p a c i e n t e . Assim, D o ­

na Jacinta ( " B " ), p o r e x e m p l o , diz t e r p e d i d o "auxílio" para

v i a j a r de S a n t o s (SP) até aqui, a f i m de a c o m p a n h a r sua mãe. q u e

f o r a h o s p i t a l i z a d a , v í t i m a de u m a c i d e n t e v a s c u l a r cerebral. D o ­

n a Estelita, aos 77 anos, se d e s l o c o u d o R i o G r a n d e do Sul para

a c o m p a n h a r u m irmão, p o r t a d o r de um c a r c i n o m a de prós t a t a .
. ' 1
E m c a s o de h o s p i t a l i z a ç ã o , o b s e r v a - s e q u e a f a m í l i a cana­

l i z a suas a t e n ç õ e s e m t o r n o da p e s s o a e n f e r m a . A m a i o r i a :p r o c u ­

ra n ã o só visitá-lo, como tambëm se manter, i n f o r m a d a de sua evolu-


93

ção, a t r a v é s de t e l e f o n e m a s ou mesmo de uma c o m u n i c a ç ã o fortuita

p e l a janela. U m e x e m p l o ê o c a s o de d o n a M a r c o l i n a , uma cjrande

queimada. Suas filhas, i m p o s s i b i l i t a d a s de v i s i t ã - l a , vinham

p a r a o p á t i o d o H o s p i t a l e f i c a v a m h o r a s nos b a n c o s d a praci-

nha, n a e x p e c t a t i v a de o b t e r e m n o t í c i a s (pela j a n e l a ) , a t r a v é s de

u m a i r m ã qu e f i c a r a c o m o a c o m p a n h a n t e .

A a t e n ç ã o d a f a m í l i a p o d e c h e g a r até a a l t e r a r o r itmo de

v i d a d o a c o m p a n h a n t e n o h o s p i t al. Visitando o apartamento 713,

t i v e d i f i c u l d a d e s de e n t r e v i s t a r a a c o m p a n h a n t e , d e v i d o as cons

t a n t e s i n t e r r u p ç õ e s desta, p a r a atender ao t e l e f o n e . A m e s m a de-


' f
saba f o u :

- Desculpe as -interrupções} mas e incrível como nos_


sa família se envolve e se preocu pa com a re c u p e ­
ração do pai. Todos q uerem re ceber noticias diarias 3
mesmo sabendo que estou aqui e qualquer problema lhes.¡
comunicarei.

A n e c e s s i d a d e de o r i e n t a ç ã o do a c o m p a n h a n t e q u a n t o ao seu

p a p e l p o d e se r p e r c e b i d a ao o b s e r v á - l o a l g u n s m o m e n t o s apõs a

s u a c h e g a d a ao q u a r t o do p a c i e n t e . Ele p r o c u r a , p o r iniciativa

própria, r e u n i r as informaçoes de que n e c e s s i t a j u n t o aos compo­

n e n t e s da e q u i p e h o s p i t a l a r , ou c o m o u t r o s a c o m p a n h a n t e s . Com

isto visa a c o m p r e e n d e r a l g u n s a s p e c t o s r e l a c i o n a d o s â dinâmica

de f u n c i o n a m e n t o h o s p i t a l a r , p a r a m e l h o r se familiarizar ao

a m b i e n t e . Ë c o m u m se encontrar em acompanhantes previdenciãrios no

P o s t o de E n f e r m a g e m e m b u s c a de o r i e n t a ç ã o q u a n t o ao h o r á r i o de

v i s i t a m édica, d a t a s e h o r á r i o s d a r e a l i z a ç ã o de e x ames do pa­

ciente, h o r á r i o de r e f e i ç õ e s e de v i s i t a social, e n t r e outras.

As r e s p o s t a s aí o b t i d a s n e m s e m p r e os s a t i s f a z e m completa m e n t e ,

l e v a n d o - o s a r e c o r r e r aos c o m p a n h e i r o s m a i s e x p e r i e n t e s d a U n i ­

dade, o u aos v i z i n h o s de q u a r t o que p o s s a m m e l h o r esclarecer

suas d ú v i d a s .
94

A s ú n i c a s o r i e n t a ç õ e s r e a l m e n t e o f e r e c i d a s aos a c o m p a n h a n ­

tes de p a c i e n t e s p a r t i c u l a r e s r e f e r e m - s e â l o c a l i z a ç ã o do P o s ­

to de E n f e r m a g e m , C o p a e como utilizar a campainha para

q u a l q u e r n e c e s s i d a d e do p a c i e n t e . Os a c o m p a n h a n t e s dos pacien­

tes p r e v i d e n c i ã r i o s são o r i e n t a d o s s obre as l i m i t a ç õ e s d a a u t o ­

r i z a ç ã o q u e lhes ë c o n c e d i d a e as e x i g ê n c i a s d i s c i p l i n a r e s a

s e r e m o b s e r v a d a s n a U n i d a d e de I n t e r n a ç ã o . E x e m p l o de u m auxi­

l i a r de e n f e r m a g e m c o n d u z i n d o u m p a c i e n t e r e c ê m - a d m i t i d o e r e s ­

pectivo acompanhante ao setor particular:

- Meu nome ê Anita, este e o seu quarto, aqui fica


o b a n h e i r o , aqui a campainha para quando desejarem
se comunicar com a enfermagem, quando precisarem
de alguma coisa. 0 Posto de Enfermagem^ como os se ­
nhores viram, fica ao lado do rol de entrada dos
elevadores e a Copa,em frente. Qualquer necessidade,
use a campainha e qu alq uer duvida, estamos a sua
disposição.

No setor previdenciãrio, o enfermeiro da Unidade ë . quem

g e r a l m e n t e faz a e n t r e g a da a u t o r i z a ç ã o do a c o m p a n h a n t e , e p r o ­

c e d e m a i s ou m e n o s assim:

- Senhora Uchoa,esta e a autorização para Senhora


acompa nha r seu marido. A sua função aqui sera a de
colaborar nos cuidados de seu p a c i e n t e , portanto não
deve ausent.ar-se do quarto, a não ser em caso de
extrema necessidade. 0 único conforto que o H o s p i ­
tal oferece ao acompanhante é uma cadeira comum,
mas não será permitido o uso da cama dos pacientes.
Guarde com cuidado esse' documento, porque sem a
a p resentação deste aos porte iro s e ascensoristas não
serã permiti da a sua entrada. Entendeu?

A c a r ê n c i a de o r i e n t a ç ã o p o d e l e v a r o a c o m p a n h a n t e a ser

surp r e e n d i d o , q u a n d o o p a c i e n t e s o f r e i n t e r c o r r ê n c i a s clínicas.

P o r n ã o e s t a r c i e n t e da s p o s s í v e i s c o m p l i c a ç õ e s q u e o p a c i e n t e
y
e s t ã sujeito, q u a n d o i s t o ocorre, p o d e a f e t á - l o ao p o n t o 'de de-

sestruturar-se emocionalmente, caso não tenha passado anterior-

m e n t e p o r e x p e r i e n c i a s s e m e l h a n t e s ^ 0 c a s o do p a c i e n t e do q u a r -
(
95

to 502 c o n s t i t u i u m e x e m p l o t í p i c o d o e x p o s t o E m uma das oca-

siões, sua e s p o s a t e n t a v a a j u d ã - l o a l e v a n t a r - s e da c a m a (no

69 d i a de p ó s - o p e r a t ó r i o ) , q u a n d o o c o r r e u u m a d e i s c ê n c i a de p a ­

rede, c o m p e r d a de g r a n d e q u a n t i d a d e de l í q u i d o ascítico, mais

s e c r e ç ã o s e r o - s a n g u i n o l e n t a p e l a i n c i s ã o cirú r g i c a . Assustada

c o m o q u á d r o , e s t a e n t r o u e m p â n i c o e p o s t e r i o r m e n t e revelou:

- F i q u e i apavorada quando vi que a operação dele


estava-se abrindo, nem sei oomo o larguei na cama
,e sai gritando pelos corredores pedindo socorro!
Quando o Enfermeiro veio o l h a r , so fez cobrir com
o curativo que estava caído e disse que ia chamar o
m e d i c o , e que era assim mesmo. 0 medico chegou, f a ­
lou umas coisas que não e n t e n d i , disse também que
jã esperava isso e que não ad iantava costurar de .
novo, porque não iam segurar os pontos.

N e n h u m p r o g r a m a de o r i e n t a ç ã o s i s t e m a t i z a d a d i r i g i d a aos

g r u p o s "A" e "B" foi d e s e n v o l v i d o d u r a n t e o p e r í o d o de coleta

de dados. E m o u t r a s p a l a v r a s , n ã o t e m s i d o v i a b i l i z a d a a t i v i d a ­

des e m n e n h u m dos s e t o r e s p a r t i c u l a r o u p r e v i d e n c i ã r i o .

E m e n t r e v i s t a s c o m d e z e n o v e a c o m p a n h a n t e s , o i t o do grupo

"A" e o n z e dò g r u p o "B", c u j o s p a c i e n t e s h a v i a m r e c e b i d o alta

por ! ocasião d as v i s i t a s âs u n i d a d e s de internação, c o n s ­

tatou-se q u e t o d o s t i n h a m a l g u m a d ú v i d a q u a n t o a p r o b l e m á t i c a de

s a ú d e do p a c i e n t e . As d ú v i d a s se r e f e r i a m e s p e c i a l m e n t e ao di­

a g n ó s t i c o c o n c l u s i v o , c o n t i n u i d a d e de s e u t r a t a m e n t o e cuida­

dos, q u a n d o d o s e u r e t o r n o ao a m b i e n t e familiar. Os acompanhan­

tes dos p a c i e n t e s p a r t i c u l a r e s , a p e s a r de c o n s i d e r a d o s "mais

esclarecidos," d e m o n s t r a r a m p r a t i c a m e n t e as m e s m a s necessidades

de o r i e n t a ç ã o , i n c l u s i v e a l g u n s a c o m p a n h a n t e s de p a c i e n t e s c r ô ­

nicos tinham conceitos errôneos ou dúvidas a esclarecer. A se­

n h o r a Irilene, p o r e x e m p l o , jã e s t a v a c o m a r e c e i t a do esposo,

c o n v a l e s c e n t e de u m a t r o m b o s e c e r e b r a l e n ã o t i n h a r e c e b i d o es-^

c l a r e c i m e n t o s q u a n t o ao m o d o de u s a r a m e d i c a ç ã o p r e s c r i t a e
96

a i n d a t i n h a d ú v i d a s q u a n t o a dieta, t i p o de e x e r c í c i o s físicos

e v i d a s e x u a l q u e o m a r i d o p o d e r i a t e r d a l i p o r diante.

A l é m disso, poucos, t i n h a m c o n h e c i m e n t o d o que fora r e a l i z a d o

c o m o p a c i e n t e d u r a n t e a i n t e r n a ç ã o , do p o r q u ê e p a r a quê. Ou­

tros n ã o t i n h a m i d é i a de c o m o o c o r r e o p r o c e s s o de alta do pa­

c i e n t e e f i c a v a m a g u a r d a n d o até os ú l t i m o s i n s t a n t e s p e l a ó p o r -

t u n i d a d e de r e c e b e r a l g u m a o r i e n t a ç a o m a i s e s p ecifica, através

do m é d i c o o u e n f e r m e i r a , o que, e m geral, n ã o ocorre, a m e n o s que

h a j a u m a s o l i c i t a ç ã o e s p e c i a l do p a c i e n t e ou a c o m p a n h a n t e .

Q u a n d o i n t e r r o g a d o s s o b r e q u e t i p o de o r i e n t a ç ã o deseja­

r i a m t e r r e c e b i d o , os m e s m o s a p r e s e n t a r a m suge s t õ e s . E n t r e es­

tas i n c l u í r a m : conhecer o pessoal que trabalha na unidade de

internação onde permanecem com o paciente, ser i n f o r m a d o s obre

o t i p o de d o e n ç a do p a c i e n t e , sua e v o l u ç ã o e p e r s p e c t i v a de

cura; t i p o de t r a t a m e n t o e cuidados de que ele n e c e s s i t a , t i p o de

c o l a b o r a ç ã o q u e p o d e m o f e r e c e r ao p a c i e n t e e ã equipe; m o d o de

realizar alguns cuidados mais complexos e cuidados a serem ob­

s e r v a d o s apõs a alta do p a c i e n t e . Exemplos:

- A gente fica um pouco de sorientada ao chegar


aquij seria otimo se nos apresen tas sem o pessoal do
local aonde ficamos com o doente; afinal tem tanta
gente de b r a n c o 3 a toda hora entra uma cara di fe­
rente } daí nao dã para sabrer quem e quem, pois nem
crachã usam.
- Achei muito ruim os médicos terem decidido operar
meu marido sem terem explicado direito o problema d e ­
le ; nos sabíamos que ele sofria dos r i n s 3 e o m é d i ­
co so falou que com a operação ele teria chance de
ficar bom, mas isso não a c o n t e c e u . .Por isso é bom
que o doente e a família sejam conscientizados sobre &
verdadeira doença e chance que ele realmente tem de
.ficar bom.
- A gente n o t 3 que o pessoal não gosta de dar muita
satis fação sobre o que faz com o doente. Mas se ­
ria importante se fossem explicando direitinho cada
tratamento ou cuidado r e a l i z a d o 3 digo p e l o ■ menos
àqueles que devem ser continuados em c a s a , a fim
de que não tivéssemos medo ou dificuldades em ajudar
o doente. ,
97

- 0 pessoal so espera que a gente faça tudo pelo


d o e n t e , mas nem chegam a falar em que podemos co
laborar ; fazemos alguma coisa porque temos boa
vontade e não se pode ficar so na de pen dên cia . do
pessoal, que é muito o c u p a d o .

A Experiência de Ser Acompanhante

S e r a c o m p a n h a n t e é u m a " e x p e r i ê n c i a sofrida'} s e g u n d o os f a ­

m i l i a r e s dos p a c i e n t e s i n t e r n a d o s . P o r é m todos a reconhecem, c o ­

m o i m p o r t a n t e p a r a o b e m - e s t a r e r e c u p e r a ç ã o do p aciente.

P a r a os i n t e g r a n t e s do g r u p o "A" sig n i f i c a :

- A experiencia de ser ac ompanhante ê muito sofri-


d a , porque a gente compa rtil ha dos mesmos sentimen _
tos do d o e n t e , com um e nvolvimento muito pro fundo ,
por ser parte do nosso sangue, mas ê também uma
forma de garantir um atendim ent o satisfatório ao d o ­
ente.
- Para o doente é muito b o m , porque terã a p r e s e n ­
ça constante de um rosto fa miliar e urna mão amiga
que lhe garantirá o apoio n e c e s s á r i o . Para quem
assume também ê bom porque atende a vara necessidade
p e s s o a l , mas não deixa de ser s o f r i d o .

Os do grupo "B" consideram:

- 'Acompanhar a m ã e , sinto que é .uma coisa boa para


v ela, por isso estou aqui, a despeito de todas as
dificul dad es que tive de e n f r e n t a r , como conseguir
a permissão do enfermeiro para i s s o , as noites mal
acomod ada s .e cansaço geral-, Acho que vale a pena
qualquer sacrifício para tentar -aj udã -la a vencer
mais esta fase difícil de sua vida.
- Quando os acontecimentos são esperados e o doente
esta bem, a com pan har não é problema, mas quando
surgem c o m p l i c a ç õ e s , como ac onteceu com o m a r i d o ,
é uma b a r r a ; e prec i s o muito nervo para a gente
também não se d e s e q u i l i b r a r .

- Ê sofrer junto com o doente, mas compensa porque


a gente fica informada do que etstã acontecendo e
vai lutando para que não lhe falte nada.

- Esta sendo uma ex periência muito dura ficar dia


e n o i t e 3 nessas condiçõe s , sem nenhum conforto ; te_
nho suportado porque sinto o quanto ê importante
para minha irmã ficarmos aquí ao seu lado. Acho
98
que a gente passa energia pos iti va para ela. E isso
me c o n t e n t a .

Como se observa, ambos os grupos com par til ham as mesmas

idêias, cada um, naturalmente, dentro de uma dimensão específi

ca. A experiencia e retratada como urna prova difícil, poreni

m u i t o importante para o paciente, para si e demais familiares.

Isto porque, segundo sua concepção, a pre sença de um familiar

junto ao paciente hospitalizado, além de refletir apoio e segu

rança, repres ent a um fator de m e l h o r i a da qualidade da as sis tên

cia que lhe ë prestada.

0 acompanhante, durante sua p e r m a nên cia no hospital, d£

senvolve uma serie de sentimentos e experiências que env olv em

expectativas, ansiedade, preocupações, incertezas e receios.

A decisão de acompanhar um fa mil iar que se hospital iza

co nst itu i motivo de grande expectativa e ansiedade em torno da

situação, p r i n c ip alm en te em relação ao ambiente hospitalar.

A sua chegada ã Unidade de Internação para admissão do

paciente, em princípio, cor res pond e a um certo alívio de suas

tensões, alegam os informantes. Isto porque equivale ao termino

de uma longa t rajetória destes, pelos a m b u l a t o r i o s ,laboratorios

e c o n s u l tor ios (mëdico, serviço social e enfermagem), ou mesmo

aguardando, no Pronto Socorro, um leito vago. Uma vez em seu

quarto, ambos d es e n v o l v e m um sentimento de segurança e de pro

pr ied ade de seu territorio, conforme declaram:

- Ag ora parece que chegamos a um Porto S e g u r o 3' jã


não suportávamos mais tanto va i-e -ve m até chegar
aqui. Esperamos q u e 3 daquí por d i a n t e 3 o que preci_
sar para o pai 3 seja realizado por aqui mesmo.
- Ó s e n h o r a 3 que alivio chegar a q u i 3 depois de pas_
sar 30 horas de 'espera no cor redor do Pronto Soco.r_
r o 3 com minha mãe em cima de uma maca e eu de pe
ao seu lado, a guardando um leito v a g o 3 é como se
saíssemos do inferno para o ceu.
99

Com o passar do tempo, os acompanhantes, e specialmente

os p e r t e nc ent es ao grupo "B", com e ç a m a sentir os reflexos da

ca rência de recursos nec ess ári os a sua p e r m a nê nci a di o t u r n a m e n

te na Uni dad e de Internação. Passam então a se queixarem sempre

que têm oportunidade.

Á imagem que cada aco mpa nha nte possui do ambiente hospjl

talar tem grande influência em sua ad aptação e, co nse q ü e n t e m e n

te, em sua contr ibu içã o para o ajusta men to do paciente. As im

pr essões de ambos os grupos, conforme as e xpr ess am abaixo, reve

lam suas percepções acerca do hospital, g era lme nte negativos.

- Acho que não hã quem não tenha medo de Hospital.


E u 3 p e s s o a l m e n t e 3 de tanto ouvir minhas olientes
(do salão de beleza) con tar em histórias tristes dos
H o s p i t a i s 3 com casos de imperícia e falta de calor
humano do pessoal que ali t r a b a l h a 3 fiquei pertur^
b a d í s sima ao ser confir mad a a necessidade de in
ternação de meu m a r i d o . P r o c u r e i 3 no e n t a n t o 3 nao.
deixar' t ransparecer para ele o meu receio e3feliz_ ■
m e n t e 3 estamos vencendo as primeiras b a r r e i r a s .

- Quando se fala em H o s p i t a l 3 creio que, para mui_


tas pessoas como eu3 vem logo a idéia de d o r , so_
frimento e morte. Vivi um pesadelo ao providen cia r
a internação de minha mãe. Esforce i-m e o máximo pa
ra não contagiã-la com os meus g r i l o s 3 mas so ãe_
pois> de alguns dias a q u i 3 pude relaxar e conversa^
mos sobre isso numa boa.

- Eu não tinha boa impressão de nenhum Hospital3


para m i m 3 eram todos sujos (contaminados) e baru_
lhentos. M a s 3 f e l i z m e n t e 3 agora posso testemunhar
que não é bem a s s i m ; pelo menos aqui nos a par tamen
tos a limpeza é r i g o r o s a . E. se não fosse a proximi_
dade com o Quartel do E x é r c i t o 3 não p ercebíamos ne_
nhum b a r u l h o .
- A gente não pode r e c l a m a r 3 mas é uma t r i s t e z a . 0
problema do silencio que é v iol ent ame nte quebrado
pelos fun cionarios que batem as portas e conversam
a l t o 3 em flagrante desresp eit o aos e n f e r m o s ; sem
contar com falta de condições para que p recisa per_
m an e c e r com o d o e n t e 3 que nem eu.
- No início a gente estranha tudo3 princip alm ent e
o convívio com outros d o e n t e s 3 o automatismo e ate
a cara feia de algumas pessoas que trabalham a q u i 3
mas com o t emp o3 a gente acostuma e sente que foi
tudo útil e muito o p o r t u n o 3 por não deixar o coita
do do doente só nas mãos de estranhos.
100

A f o r m a p e l a qual o c o r r e a h o s p i t a l i z a ç ã o do paciente

t a m b ë m i n t e r f e r e de m a n e i r a s i g n i f i c a t i v a em seu a j u s t a m e n t o e

equilíbrio emocional, isto ë, se p r o g r a m a d a p a r a u m tratamento

eletivo, ou a t r a v ë s de u m a i n t e r n a ç ã o de u r g ê n c i a . No primeiro

caso, ele nã o ë p e g o de s u r p r e s a e tem t empo p a r a se preparar

p s i c o l o g i c a m e n t e p a r a tal. P o rt a n t o , o seu n í v e l de ansiedade

g e r a l m e n t e nã o c h e g a a p r o v o c a r g r a n d e e stresse, possibilitando

-lhe u m c o n t r o l e m a i s r a c i o n a l de suas emoções:

- É muito -difícil a situação de quem acompanha uma


pessoa doente na família porque a gente não compre
ende direito o que acontece com o d o e n t e 3 então so
pensamos coisa ruim. Mas o certo é q u e 3 se ele não
contar com a nossa ajuda e confiança 3 ele pode so_
frer muito mais, . . .

0 m e s m o não o c o r r e q u a n d o a i n t e r n a ç ã o ë de urgência.

Em t a i s c i r c u n s t â n c i a s , as p e s s o a s que a c o m p a n h a m t e n d e m a dej>

controlar-se emocionalmente, d e p e n d e n d o n a t u r a l m e n t e da g r a v i d a

de do c a s o e da e s t r u t u r a p s i c o l ó g i c a do a c o m p a n h a n t e .

E x e m p l o de e x p e r i ê n c i a s n e s s e sentido:

- A gor a que tudo p a s s o u 3 dã para comentar o sufoco


que a gente sofre quando tem de ac omp anh ar um ente
querido que adoece de r e p e n t e } como aconteceu com
mi n h a mãe, '.

A c o m p e t ê n c i a p r o f i s s i o n a l da e q u i p e h o s p i t a l a r corres

p o n d e a u m a p r e o c u p a ç ã o de a m b o s os g r u p o s dê a c o m p a n h a n t e s . Os

particulares, no e n t anto, r e v e l a m m a i o r p r e o c u p a ç ã o c o m a quali.

d a d e do s s e r v i ç o s m ê d i c o s p r e s t a d o s a seu fami l i a r , na medida

em que p r o c u r a m ser a t e n d i d o s p o r m ê d i c o s c o n h e c i d o s da f a m í l i a

e de sua c o n f i a n ç a . E q u a n d o o c o r r e de p e g a r e m u m d e s c o n h e c i d o ,

b u s c a m i n f o r m a ç õ e s s o b r e a o p i n i ã o dos que o conh e c e m , q u a n t o a

sua m a n e i r a de a t e n d e r os d o e n t e s e f a m i l i a r e s , b e m como s obre

a sua e x p e r i ê n c i a e h a b i l i d a d e p r o f i s s i o n a l . A e x e m p l o disso,
101
uma s e n h o r a c o m e n t o u que seu m a r i d o e s t a v a sendo a s s i s t i d o por

u m a e q u i p e m é d i c a a l t a m e n t e c r e d e n c i a d a , c o m p o s t a de três dife

rentes especialistas (pneumologista, cardiologista, endocrinolo

gista) dos quais, a p e n a s u m não lhe era c o n h e c i d o , m a s que jã

t i n h a a d q u i r i d o " o t i m a s r e f e r ê n c i a s a seu resp e i t o " .

Os a c o m p a n h a n t e s de p a c i e n t e s p r e v i d e n c i ã r i o s , p o r sua

vez, d e m o n s t r a m m a i o r p r e o c u p a ç ã o c o m o r e s u l t a d o final, isto ê

c o m a r e c u p e r a ç ã o do p a c i e n t e . E c h e g a m a exprimir:

- So peço a Deus que meu mar ido saia d e s s a 3no mais3


seja feito o que Deus q u i s e r 3 a gente tem que pas_
sar por isso m e s m o 3 não ê?

- Espero que meu pai esteja em boas mãos e que de


certo a operação d e l e . . :

Na m e d i d a em que a u m e n t a v a o n í v e l de conf iança entre in

formantes e pesquisador, maiores contribuições eram oferecidas

em t o r n o de suas p r e o c u p a ç õ e s c o m o d e s e m p e n h o da e q uipe que as

s i s t e o seu p a r e n t e . Daí os d e s a b a f o s :

- Temo que estejam se a p r o v eitando do caso de meu


m a rid o para a pre nd e r e m nele; ouvi dizer que é a
p r ime ira experiencia com esse tratamento no Hospi_
t a l .'
- Não digo para eles s a b e r e m , mas perdi a confian
ça no medico do meu m a r i d o } desde o dia que' ele
veio des entupir a sonda de urinar e rompeu a bexi_
ga dele; daí teve que operã-lo ãs pressas 3 pela se
gunda v e z . ■
É por isso que não gòstam que a gente
fique com o doente no H o s p i t a l 3 para- não ■ testemu
nhar nem reclam ar suas falhas,

- Tenho tanto receio do pai pegar aquele anestesïs_ •


ta que deixou paralítico o nosso vizinho de casa.

A i n c e r t e z a q u a n t o ao s u c e s s o do p a c i e n t e ao submeter-

-se a e x a m e s o u t r a t a m e n t o s por eles c o n s i d e r a d o s "muito d e l i c a


)
d o s " os a s s u s t a . Os m a i s t e m i d o s são: o c a t e t e r i s m o arterial,

biópsias, c o l o c a ç ã o de m á r c a - p a s s o , radioscopia,, a n e s t e s i a s ge

ral e r a q u i e o p e r a ç õ e s de " b a r r i g a a b e r t a " .


102

A e x p e c t a t i v a em r e l a ç ã o as c o n d i ç õ e s de alta do paci^

e n t e t a m b é m os p r e o c u p a v a . A e s p o s a de u m p a c i e n t e s u b m e t i d o a

u m a c i r u r g i a c a r d í a c a c h e g o u a c o m e n t a r e s t a questão, fazendo

u m a r e t r o s p e c t i v a de sua e x p e r i ê n c i a .

- É incrível c o m o t depois de surgir um problema de


doença em c a s a 3 as p reocupações nao param mais.
Primeiro foi o susto com a revelação, da d o e n ç a , de_
p o i s } o suspense com a operação e rec upe raç ão dele.
E a g o r a 3 que ele estã em vias de a l t a } a gente fi_
ca com medo de que ele não possa mais levar uma
v ida norma I .

Q u a n t o aos r e c e i o s m a n i f e s t a d o s p e l o s i n f o r m a n t e s f o r a m

d e s t a c a d o s : m e d o de nã o lhe d e i x a r e m f i c a r c o m o p a c i e n t e ate

sua alta; p o s s i b i l i d a d e de p r o r r o g a ç ã o de sua p e r m a n ê n c i a c o m o

paciente, o que p o d e r ã r e s u l t a r em p r o b l e m a s c o m seu afastamen

to do t r a b a l h o e de casa; p r o b a b i l i d a d e das d e s p e s a s no Hospi_

tal e x t r a p o l a r e m os r e c u r s o s e c o n ô m i c o s - f i n a n c e i r o s da família;

d u v i d a q u a n t o a l e a l d a d e dos m e d i c o s , ao i n f o r m a r sobre a proble

m ã t i c a de s a ú d e do p a c i e n t e e em não d e i x a r t r a n s p a r e c e r suá an

siedade e nervosismo para o paciente.

F a s e s do p r o c e s s o de a c o m p a n h a r

Os f a m i l i a r e s dos p a c i e n t e s i n t e r n a d o s p a s s a m por um

p r o c e s s o que, s e g u n d o o b s e r v a ç õ e s do autor, c o n s t i t u i r s e de três

fases distintas, embora intimamente inter-relacionadas. A pri­

m e i r a f a s e c o r r e s p o n d e ao p e r í o d o de a j u s t a m e n t o ao ambiente

hospitalar. 0 f a m i l i a r te m que se a d a p t a r r a p i d a m e n t e , n ã o so

ao local, como as p e s s o a s — u s u á r i o s e f u n c i o n á r i o s do s e r v i ç o

— e as c o i s a s que e s t ã o ao seu redor. Por e s s a r a z ã o ele se en

c o n t r a r e s e r v a d o , a n s i o s o - t e m e n d o o que p o d e r ã a c o n t e c e r com
o p a c i e n t e e c o n s i g o ínesmo, a p r e s e n t a r e s p o s t a s e v a s i v a s e cau

telosas, s i m u l a que e s t a tudo bem. P r o c u r a situar-se, observa tu

do ao seu redor, t e n t a d e s c o b r i r p o n t o s de a p o i o para as horas

de m a i o r n e c e s s i d a d e . Coin a s e n s a ç ã o de ser ignorado, de que as

pe s s o a s , em sua pr e s s a , e n t r a m e s a e m e não o p e r c e b e m o u "li

g a m p a r a ,ele", e ntão ele se r e t r a i em seu m u n d o de d ú v i d a s , in

certezas e fantasias. E s t a s são as c a r a c t e r í s t i c a s c o r r e s p o n d e n

tes aos d o i s p r i m e i r o s dias de e x p e r i ê n c i a s no h o spital. Na se

g u n d a fase, o a c o m p a n h a n t e j a se sente m a i s r e l a x a d o , m a i s fa

m i l i a r i z a d o ao h o s p i t a l , c a r a c t e r i z a n d o - s e por sua espo'ntaneida

de ao e x p r e s s a r seus s e n t i m e n t o s , e n t r e eles, o m e d o de r e p r e s a

lias d a e q u i p e s obre o p a c i e n t e , p o r a l g u m m o t i v o -relativo as

suas a t i t u d e s que não s e j a m do a g r a d o da equipe. A p o s 36 o u 48

h o r a s i n i n t e r r u p t a s de v i g í l i a j unto ao p a c i e n t e , estes c o m e ç a m

a m a n i f e s t a r e m s i n a i s de c a n s a ç o f í s i c o e p s i c o l o g i c o , com t en­

d ê n c i a a se d e s l i g a r e m de t u d o e r e p o u s a r . Isto, no s etor parti_

cular, ê p e r f e i t a m e n t e v i á v e l , m a s no p r e v i d e n c i á r i o não hã con

d i ç õ e s p a r a tal, p r i m e i r o p o r q u e n ã o ê p e r m i t i d o , segundo por

qu.e nã o d i s p õ e m dos r e c u r s o s a d e q u a d o s (cama ou divã) . Por esta

r a z ã o r e c o r r e m a q u a l q u e r a l t e r n a t i v a que p o s s a m i n i m i z a r seu

d é f i c i t de sono e repouso, e ntão a p e l a m p a r a d i v i s ã o do l eito

c o m o p a c i e n t e , uso de c a m a ou m a c a que e n c o n t r a m d e s o c u p a d a s ,

ou m e s m o p a r a o uso do " l e i t o chão". T a i s c o m p o r t a m e n t o s , segun

do os c r i t é r i o s e s t a b e l e c i d o s p a r a as u n i d a d e s p r e v i d e n c i ã r i a s ,

não são p e r m i t i d o s , p o d e n d o r e s u l t a r em p u n i ç ã o por indiscipli_

na. D e p e n d e n d o da e v o l u ç ã o do p a c i e n t e , o mesmo pode manifestar

s i na i s de t e n s ã o e a n g u s t i a ou de t r a n q ü i l i d a d e , fi e v i d e n t e o

e s f o r ç o r e a l i z a d o p e l o s f a m i l i a r e s p a r a não se d e i x a r e m abater,

de m o d o a d a r f o r ç a ao p a c i e n t e . N e s t a fase i n t e r m e d i a r i a , sua

c o n t r i b u i ç ã o em t e r m o s de c u i d a d o s ao p a c i e n t e ê m a i o r (caso ele
104

t e n h a c o n s e g u i d o se r e c u p e r a r ) , p o i s a g o r a jã sabe como c u i dar.

C o n t u d o p o d e h a v e r d e s e n t e n d i m e n t o s c o m a equipe, quando surgem

p o s i c i o n a m e n t o s c o n t r á r i o s . A t e r c e i r a fase c o r r e s p o n d e aos ul^

t i m o s d i a s qu e a n t e c e d e m a a l t a do p a c i e n t e , p e r í o d o que o a c o m

panhante procura desenvolver um relacionamento amistoso com a

equipe, i n d e p e n d e n t e m e n t e do t i p o de alta. Sua c o n d u t a caracte

r i z a - s e p e l a a l e g r i a de u m a a l t a c u r a d a ou m e l h o r a d a do pacien

te, ou a i n d a p e l o t r a u m a de u m a a l t a p i o r a d a ou por o bito do fa

miliar. De q u a l q u e r modo, ele p r e f e r e e s q u e c e r q u a l q u e r queixa

ou m á g o a , d e c e p ç ã o ou r e v o l t a que t e n h a sofrido. Seu d e s e j o ago

ra e f i c a r b e m c o m todos, p o r t a n t o , t o m a a i n i c i a t i v a de d e s c u l

p a r os que não c o r r e s p o n d e r a m às suas e x p e c t a t i v a s e p e d i r dejs

c u l p a s p e l o s seus m o m e n t o s de r e a ç õ e s i n d e s e j á v e i s .

R e l a c i o n a m e n t o do a c o m p a n h a n t e c o m a e q u i p e h o s p i t a l a r e sua

p e r c e p ç ã o s o b r e esta

A a n s i e d a d e dos a c o m p a n h a n t e s de a mbos os grupos, "A" e

"B" , s o b r e o seu r e l a c i o n a m e n t o c o m a e q u i p e de saúde ë facilmen

te p e r c e b i d a em q u a l q u e r d i á l o g o que e n v o l v a seus sentimentos

como acompanhante. E n t r e os c o m p o n e n t e s da equi p e de saúde, o

medico representa a figura central, para a qual c o n v e r g e m todas

as a t e n ç õ e s , não a p e n a s do p a c i e n t e , m a s t a m b é m do acompanhante.

T r a t a - s e de u m p r o f i s s i o n a l i n c o n f u n d í v e l na equipe; geralmente

os a c o m p a n h a n t e s o i d e n t i f i c a m p e l o p r o p r i o nome e lhes conf£

r e m u m a p o s i ç ã o de d e s t a q u e , p a s s a n d o a ser o m a i s e s p e r a d o , re£

p e i t a d o e o b e d e c i d o po r estes.

E x e m p l o de e x p r e s s õ e s que r e f l e t e m o exposto:

- Estamos superco nte nte s porque o Dr. J oaquim .


meteu que ate a m a n h ã dará a alta do m a r i d o 3 ele ja ,
esta fazendo a contagem regressiva. Mas tem uma coi_
105

sa de que ele precisa saber: daqui por diante eu vou


controlar a saüde dele exatamente como o medico re­
comendou.

- O pai hoje não esta muito bem porque ontem não


viu o Dr. Pedro e até agora (11:15) ele não veio.Mas
esta tudo b e m 3 a questão é que quando o médico fal-
t a3 o doente fica desassistido3 porque até um remédio
pra dor depende do médico para r e c e i t a r .

Os d e m a i s i n t e g r a n t e s da e q u i p e de saüde, no entanto, di­

f i c i l m e n t e são d i s t i n g u i d o s p o r suas funções. N a e q u i p e de en­

fermagem por exemplo, sã o c o n s i d e r a d o s e n f e r m e i r o s t o dos os q u e

v e s t e m br a n c o . E v e r b a l i z a m isto, ao r e f e r i r - s e : "a enfermeira

da medicação, a e n f e r m e i r a dos c u r a t i v o s , a enfermeira chefe" e

a s s i m p o r diante' . E x e m p l o :

\ \

- Gosto de todos os enfermeiros mas aquele de bigo-


dinho (atendente de enfermagem )37 que leva os doen­
tes para o R X 3 é mais dado com a gente.
- Os enfermeiros que fazem as camas (atendente de
enfermagem) e dão banho nos doentes , (auxiliar de
enfermagem)t são mais atenciosos com a gente. Com
eles temos mais chance de conversar o que deseja­
mos 3 embora haja algumas g r o s s e i r a s 3 que parecem
jã chegar ao serviço cheteadas. '

A s d e c l a r a ç õ e s de s a t i s f a ç ã o p e l a c o r r e s p o n d ê n c i a de suas

expectativas., q u a n t o ao r e l a c i o n a m e n t o c o m a e q u i p e como u m to­

do, são f r e q ü e n t e s e n t r e os a c o m p a n h a n t e s d o g r u p o "A". Exem­

plo:

- Aqui estamos em f a m í l i a 3 pois os médicos todos


p ert e n c e m ao nosso círculo de a m i z a d e s 3 os que não
foram meus colegas de bancos e s c o l a r e s 3 foram meus'
alunos ou f req üen tam o mesmo meio s o c i a l .
- Ja temos tantas entradas nesse Hospital para tra­
tamento de minha filha que nos consideramos "prata
de c a s a " todos se tornaram nossos amigos.

Ao lado destes, embora em número reduzido, existem também

alguns particulares que afirmam estarem decepcionados com a

atenção m é d i c a recebida. I s t o se d e v e p o r n ã o t e r o m é d i c o cor-


106

r e s p o n d i d o às suas e x p e c t a t i v a s , e d e v i d o às d i f i c u l d a d e s do

mesmo em desenvolver uma relação mais aberta e franca com o

acompanhante e o próprio paciente.

- Se contar lã fora, nin gué m vai acreditar, mas


jã faz duas semanas que tentamos falar com o m é ­
d i c o , (meu marido e eu), mas não temos consegui­
do, ele não tem hora certa para vir e so entra a-
qui às c a r r e i r a s ; não dã chance de a gente falar o
que deseja.

- Alguns médicos se d eix ara m envolver tanto pelo


progresso tecnológico, outros pelo m e r c e n a r i s m o ,que
es que cer am que lidam com gente, que sofre a espera
de um resultado ou de uma simples sa tis façao sobre
a -situação do doente. Eles pr efe rem ignorar isto
e se omitem em dar as informações de que a gente pre_
cisa.

E m r e l a ç ã o a e q u i p e de enfermagem, as p o u c a s q u e i x a s apon­

t a d a s p e l o g r u p o "A" r e f e r e m - s e a d e m o r a no a t e n d i m e n t o às c h a ­

madas pelas campainhas. Mesmo assim,são geralmente seguidas por

a r g u m e n t o s , tais como:

- 0 pessoal de e n f e r m a g e m tem o máximo de boa v o n ­


tade para a tender bem, mas são poucos, nao c o n s e ­
guem dar conta de tanto t r a b a l h o , entao a gente tem
que ter pa cie nci a e ajudar naquilo que esteja ao
nosso alcance.

- A m aior dificuldade aqui é ser atendido através


dessa campainha, pois a gente liga e, quando a p a r e ­
ce alguém, voce n e m se lembra mais o que desejava,
pois a necessidade jã passou, ou voce mesma jã aten_
deu o d o e n t e .

A o c o n t r á r i o do g r u p o "A", o n ú m e r o de a c o m p a n h a n t e s do

g r u p o "B" q u e se diz d e c e p c i o n a d o c o m o r e l a c i o n a m e n t o pessoal

da e q u i p e de s a ú d e ë maior do que aqueles que declaram esta­

rem satisfeitos.

E m r e l a ç ã o aos m é d i c o s , h o u v e os s e g u i n t e s d e s a b a f o s :

- Não gostei da m ane ira como os médicos tratam os


doentes pre vid e n c i ã r i o s e a família, é como se a
107

gente fosse um bando de i n d i g e n t e s , e eles e s t i v e s ­


sem fazendo f a v o r ; ãs vezes p a s s a m medicamento lã
mesmo da sala:deles, sem nem olhar para o doente. Fi
zeram minha irmã tomar um remédio de que não p r e c i s a ­
va mais, até formou um \fecaloma\. Esquecem que o
pa gam ent o que recebem da Previdên cia ê tirado do
nosso bolso.
- Os médicos não dão importância ãs queixas dos d o ­
entes e ignoram a nossa pre s e n ç a ; é como se jã s o u ­
b essem de tudo, que nem p r e c i s a m olhar para o d o e n ­
te. Tenho pena de meu marido que cada dia fica en­
saiando o que dizer e p e r g u n t a r ao seu médico e,
quando ele chega, é uma■decepção! Não dã chance para
ele falar o que deseja.

- Quando os médicos vem aqui, falam muitas coisas


entre eles, mas não exp lic am para a gente e n t e n d e r ; so
p egamos algumas coisas p o r alto.

- O médico não gostou quando falei que achava muito


errado colocarem as priorid ade s em funçao dos médi­
cos e não dos doentes.

R e f e r i n d o - s e e s p e c i f i c a m e n t e ao s e u r e l a c i o n a m e n t o c o m a

e q u i p e de e n f e r m a g e m , a l g u n s i n t e g r a n t e s do g r u p o "B" afirmam

e x i s t i r o lado p o s i t i v o ( g r a t ifi c a n t e ) , c o n f o r m e as seguintes

expressões :

Independentemente de qualquer coisa que possa não' nos


a g r a d a r , não podemos e squecer a bondade e c omp r e e n ­
são da chefe, autorizando a gente ficar aqui como
acompanhante.

- A pesar de t u d o , i'econheço que as enfermeiras d a ­


qui são muito legais; so em p e r m i t i r e m que a gente
fique aqui mesmo sem p aga r nada, jã é muita v a n t a ­
gem.

- Tem alguns enfermeiros aqui que são delicados por


natureza, so a pre sença deles jã faz bem a gente.

- Como não posso retribuir de outra forma, mesmo


quando sair daqui vou continuar rezando para as e n ­
fermeiras deste Ho sp i t a l , que f oram muito dedicadas,
fazendo tudo para meu pai r e c u p e r à r - s e .

M a s t a m b é m a p o n t a m os a s p e c t o s n e g a t i v o s , c o m o sejam:
108

- O pessoal de enfermagem, ao meu ver, não gosta de


familiares com o doente, porque a gente fica apon_
tando os problemas e solicitando p rovidências p a ­
ra resolvê-losj isto natural men te os incomoda.

- Agora sei porque no Hospital o acompanhante não


e visto com bons o l h o s : ê para não incomodar o
pessoal e não t estemunhar as suas falhas.

- Acho que os enfermeiros pen sam que o nosso inte


resse em ficar com o doente no Hospital e para
fiscali zar o trabalho deles, mas na verdade, . o
que desejamos ê dar apoio ao doente e ajudar em
sua r e c u p e r a ç ã o .

- Ha fu ncionarios que são maravi lho sos com os


doentes e c o n o s c o , mas ha outros que a gente não
consegue se e ntrosar bem, ficando difícil pedir-
lhes algum favor.

A l e m das queixas acima, o grupo "B" (previdenciãrios)


aponta ainda problemas de "i nse nsi bil ida de e indiferentismo" de

alguns "en fermeiros" âs solicitações e necess ida des do paciente,,


como por exemplo :

- Se acontec er d.e algum doente p r e c i s a r das enfer_


meiras na hora do lanche, ë um vexame, porque e-
'las costumam ir todas ao mesmo tempo p~ara aquela
salinha e não gostam de ser i n c o m o d a d a s .

- Tenho a impressão de que o pe ssoal daqui,^ de


tanto lutar com gente doente, morte e sofrimento^,
não sente mais os problemas dos doentes, pois nao
dã m uita importância ãs queixas des t e s .

- Não tenho pa ciê nci a de ver um doente chamar tan


to por uma enferm eir a e não ser a t e n d i d o , termino
sempre indo lã e faço o que posso.

P o r o u t r o lado, e x p r e s s a m o r e c e i o de que o p e s s o a l possas

p o r a l g u m motivo, se a b o r r e c e r c o m o a c o m p a n h a n t e ou até mesmo

com o paciente e aplicar-lhes represálias:

- Apesar do pouco tempo que estou aqui (uma sema­


na), jã notei que se a gente quiser conviver bem
109

com ás e n f e r m e i r a s 3 tem que se humilhar e se sujei


tar ao que elas q u e r e m , Não adianta reagir ao que
voce não estã g o s t a n d o } pois podem se aborrecer e
d ifi cu l t a r as coisas pra g e n t e 3 ou mesmo se vin
gar no d o e n t e .

Não o b s t a n t e as q u e i x a s a c i m a r e f e r i d a s , ê interessante

observar, ao a p r o x i m a r - s e a a l t a do p a c i e n t e , como os acompa

n h a n t e s t e n d e m a m u d a r o seu r e l a c i o n a m e n t o c o m a equipe. M e s m o

a q u e l e s que t i v e r a m p r o b l e m a s ou m a g o a s de a l g u m m e m b r o da equi^

pe p a s s a m a a d o t a r u m a a t i t u d e d i f e r e n t e , num esforço para es_


q u e c e r os a c o n t e c i m e n t o s d e s a g r a d á v e i s e d e m o n s t r a r que "estã

tudo bem; e o que p a s s o u , p a s s o u " , dizem.

Um a s e n h o r a c u j o e s p o s o f a l a c e u em u m dos seus retor

nos â UTI, e n t r e l á g r i m a s e s oluços, desabafou:

- Eu alimentava tantas esperanças ao chegar aqui'. ,


M a s j com o passar do tempo (17 d i a s ) 3 a situação
foi-se c omplicando e3 com. e l a 3 meu des espero aumen
t a n d o ; sentia que muita coisa não es tava certa3 che_
guei a me indispor com algumas pessoas ; mas agora
que o caso estã sem j e i t ô 3 não quero confusão com
ninguém.,

I
Outro caso semelhante o c o r r e u c o m u m senhor, c u j a espo

sa foi v í t i m a de i n f e c ç ã o h o s p i t a l a r a p o s u m a h e r m i o p l a s t i a , ra

zão p e l a qual t e v e q ue p r o r r o g a r o seu t e m p o de p e r m a n ê n c i a no

Hospital. R e v o l t a d o c o m o s o f r i m e n t o da p a c i e n t e , este a m e a ç a v a

d e n u n c i a r os r e s p o n s á v e i s p o r tal i n t e r c o r r ê n c i a e p e d i r pun_i

ção p a r a q u e m de d i r e i t o . Ao se c o n f i r m a r a alta do p a c i e n t e , o

a c o m p a n h a n t e a g o r a p a r e c i a o u t r a pessoa, desculpando-se, agrade

c e n d o e d i z e n d o que p r e f e r i a e s q u e c e r tudo, q u e r i a paz'.

Não o b s t a n t e os m o m e n t o s de t e n s ã o e s o f r i m e n t o , ao su

p e r ã - l o s os a c o m p a n h a n t e s p r o c u r a m d e m o n s t r a r seu reconhecimen

to e g r a t i d ã o â equipe.
110

Os i n t e g r a n t e s do g r u p o "A" c o s t u m a m d e m o n s t r a r com

a çõe s c o n c r e t a s o seu s e n t i m e n t o de g r a t i d ã o â e q u i p e de saüde

o f e r e c e n d o - l h e s f lores, f rutas, bolos, tortas, c h o c o l a t e s , lem

b r a n c i n h a s r e g i o n a i s ou b e b i d a s (uisque, v i n h o s etc.). Ha q u e m

p r e f i r a d a r em d i n h e i r o os seus p r e s e n t e s , este de f o r m a mais

discreta, p o i s e x i s t e u m a n o r m a e t i c a que o r i e n t a a e q u i p e a

não r e c e b e r " p r o p i n a s " . »

E n q u a n t o os do g r u p o " B " , não d i s p o n d o de r e c u r s o s p a r a

tal, t e n t a m a l g u m a s v e z e s r e p a r t i r c o m a q u e l e s a q u e m se afei_

ç o a m o seu p r o p r i o lan c h e ou a r t i g o s p e s s o a i s , tais como: brin

cos, p i n g e n t e s , cachecol, e n t r e outr a s . Ao lado destes, exis_

tem t a m b é m os que, d i s p o n d o ou não dè r e c u r s o s f i n a n c e i r o s , pre

ferem agradecer com palavras e/ou orações. E x e m p l o de a l g u m a s

e x p r e s s õ e s n e s s e sentido:

- Graças a Deus e ao meu medico que cuidou da m ã e a


hoje vamos para casa.
- Nao sabemos como a gra d e c e r ãs pessoas que foram
tão legais c o n o s c o } p r i n c i p a l m e n t e o médico que
salvou meu marido e os enfermeiros que cuidaram de_
le com tanto c a r i n h o .

Relacionamento com o paciente

F i n a l m e n t e , u m a s p e c t o que m e r e c e d e s t a q u e na experiên

c i a do a c o m p a n h a n t e e a sua r e l a ç ã o c o m o p a c i e n t e . A p a r e n t e m e n

te, ela s u g e r e ser h a r m o n i o s a , o c o r r e n d o em u m c l i m a de solida

riedade e compreensão. No entanto, i n v e s t i g a n d o mais detalhadamen--


111 ’

te s o b r e os s e n t i m e n t o s de c a d a p a r t i c i p a n t e d e s t a r e l a ç ã o ,p e r -

c e b e - s e q u e e x i s t e m a l g u n s atrit.os. E s t e s v a r i a m c o m o t i p o de

e n f e r m i d a d e e / o u e s t a d o g e r a l do p a c i e n t e , c o m a idade, s e x o e

e s t a d o c i v i l do m e s m o , a s s i m c o m o c o m o t e m p o de p e r m a n ê n c i a do

a c o m p a n h a n t e n o H o s p i t a l e de sua c a p a c i d a d e de e m p a t i a c o m o

p a c i e n t e . Os d e p o i m e n t o s aba i xo, d e m o n s t r a m a i n f l u ê n c i a des­

sas c a r a c t e r í s t i c a s e a t r i b u t o s n o t i p o de r e l a c i o n a m e n t o e n t r e

a c o m p a n h a n t e e p a c i e n t e de a m b o s os g r u p o s "A" e " B " .

G r u p o "A"

- A mãe parecia uma pessoa forte e corajosa, mas


agora com esta doença, parece criança, não quer f i ­
car sozinha nem por um i n s t a n t e , acho que alem da
doença, a idade (68 anos) a está a f e t a n d o .

- Cada dia fica mais difícil lidar com meu marido


devido a sua tei mosia em nao aceitar as limitações
que a doença e o tratamento lhe impõem.

- Preciso ir em casa, mas meu marido não quer que


eu me afaste daqui .por muito t e m p o j tudo dele ê c o ­
migo, diz que só eu sei o jeitinho de que ele gosta.

- Estou pedindo a Deus para minha filha (14 anos)


se re cup era r logo, pois não agüento mais o cansaço ;
devido âs dores^ela pede para a gente mudá-la de
po siç ão a todo m o m e n t o , mas so quer que eu faça i s ­
so.

P o r t a n t o são c o n s i d e r a d o s m a i s intransigentes., e m seu r e l a ­

c i o n a m e n t o c o m o a c o m p a n h a n t e , os p a c i e n t e s m a i s jovens (ado­

lesc e n t e s ) , os h o m e n s casados, os p o r t a d o r e s de enfermidades

c r ô n i c a s e os m a i s idosos. C o r r o b o r a n d o c o m e s t a s a f i r m a ç õ e s ,uma

jovem paciente (13 anos) p o r t a d o r a de " a n e m i a f a l c i f o r m e " , com

lágrimas no rostojdesabafava:

- Ô Deus, tenha piedade ! Não suporto mais esse


s o f r i m e n t o , minha mãe nao tem mais paciência para
cuidar de mim.
112

A mae, p o r sua vez, se q u e i x a v a de q u e a f i l h a t i n h a c h e g a ­

d o ao a u g e d a " e x i g ê n c i a e i r r i t a b i l i d a d e " , acrescentando:

- Não sei mais o que f a z e r , compreendo que minha


filha esta sofrendo demaisJ A cada crise ela tem
sido h o s p i t a l i z a d a , mas dessa vez, a complicação
foi maior, jã vamos com dois meses aqui e não vejo
melhora. Estou me sentindo completamente esgotada
sem p ac iencia para atender ãs suas exigencias; estou
apelando par a as enfermeiras ficarem um pouco mais
com ela, enquanto eu vou em casa pelo menos ali­
viar a cabeça. 0 pr obl ema e que o pessoal é muito .
ocupado, não tem tempo.

D u r a n t e os o i t o m e s e s de n o s s a o b s e r v a ç ã o nas U n i d a d e s de

I n t e r n a ç õ e s , t i v e m o s o p o r t u n i d a d e de i d e n t i f i c a r o u t r a s situa­

ções conflitantes mais ou menos semelhante a d e s s a senhora, sem

q u e h o u v e s s e q u a l q u e r p r o v i d ê n c i a n o s e n t i d o de g a r a n t i r - l h e o

apoio necessário. O argumento da equipe perante esta situação é

o de que o pessoal e i n s u f i c i e n t e p a r a a t e n d e r o v o l u m e de tra­

b a l h o e a g r a n d e d e m a n d a de s o l i c i t a ç õ e s dos p a c i e n t e s .

Os h o m e n s s e g u n d o os e n f e r m e i r o s , q u a n d o a c o m p a n h a d o s por

suas e s p o s a s , m o s t r a m - s e m a i s e x i g e n t e s q u e os d e m a i s pacientes.

O c a s o do,.Sr. N i l o . d e 65 anos, n o p5s-operat5r-io de u m a cirur­

gia cardídca é um exemplo. Ele estabelecera como condição para

internar-se, a de ser acompanhado p e l a esposa. E m b o r a e s t a fosse

p o r t a d o r a de d i a b e t e s e h i p e r t e n s ã o a r t e r i a l crôn i c a , as cons­

t a n t e s s o l i c i t a ç õ e s d o e s p o s o p a r a m u d a r de d e c ú b i t o , .sentar,

andar, alimentar-se, eliminar e higienizar-se não diminuíram.

Isto levou a mesma a d e s c o m p e n s a r - s e , agravada também pela di­

f i c u l d a d e de manter, n o Hospital, sua d i e t a e s p e c í f i c a . Por estei

motivo, foi l e v a d a ao P r o n t o S o c o r r o , o n d e p e r m a n e c e u 24 horas

e m r e p o u s o e t r a t a m e n t o , a f i m de r e c o n d u z i - l a ao equilíbrio

homeo-dinâmico. Outro caso semelhante foi c o m o Sr. Pedro, de

38 a n o s , aos 26 d i a s de p 5 s - o p e r a t õ r i o , t a m b é m de u m a cirurgia

cardíaca. Ele permaneceu,durante todo este período, com a espo-


113

sa o acompanhando, a c o m o d a d a e m u m a c a d e i r a comum, inclusive

d u r a n t e a n o i t e . O p a c i e n t e c o n f e s s a v a q u e , a p e s a r de s e n t i r o

d e s c o n f o r t o d a m e s m a , n ã o p o d i a a b r i r m ã o de sua c o m p a n h i a , p o r

considerá-la imprescindível para sua sobrevivência e r e c u p e r a ç ã o .

O t e m p o de p e r m a n ê n c i a d o a c o m p a n h a n t e j u n t o ao paciente

t a m b é m i n f l u i n o se u r e l a c i o n a m e n t o , p r i n c i p a l m e n t e q u a n d o o
^ v
a c o m p a n h a m e n t o e f e i t o de f o r m a c o n t í n u a , sem revezamento com

o u t r o s f a m i l i a r e s . N o i n í c i o da h o s p i t a l i z a ç ã o , m o s t r a m - s e ge­

r a l m e n t e d e d i c a d o s e c a r i n h o s o s , a t e n t o s a todas as solicita­

ç õ e s e ao c o n f o r t o do p a c i e n t e . A m e d i d a q u e o t e m p o p a s s a , c o n ­

tudo, p e r c e b ê - s e a o c o r r ê n c i a de a l g u m a m u d a n ç a e m sua c o n d u t a ,

t o r n a m - s e m a i s l e n t o s e, âs vezes, até o m i s s o s era a t e n d e r a d e t e r ­

m i n a d a s n e c e s s i d a d e s do paciente, n ã o a p e n a s as q u e e x i g e m ini­

ciativa própria, como tambëm aquelas solicitadas pelo paciente.

0 c a s o d a S e n h o r a Josefina, v í t i m a de a c i d e n t e v a s c u l a r c e ­

rebral, c o n s t i t u i u m e x e m p l o t í p i c o d o exposto. A o ser a d m i t i d a ,

e s t a v a a c o m p a n h a d a p o r u m a filha. A m e s m a se m o s t r a v a incansá­

vel no s t r ê s p r i m e i r o s d i a s de h o s p i t a l i z a ç ã o , r e a l i z a n d o mas­

s a g e m de c o n f o r t o , e x e r c í c i o s p a s s i v o s , m u d a n ç a de p o s i ç ã o e

e s t í m u l o s â c o n v e r s a ç ã o c o m a mãe. A l é m disso, o c u p a v a - s e ' de

c o b r i r a p a c i e n t e c a d a ve z qu e e s t a l e v a n t a v a t o d a sua roupa,

p o i s e s t a v a m e n t a l m e n t e c o n f u sa. A p ó s o t e r c e i r o d i a consecuti

v o de v i g i l â n c i a , sua c o n d u t a m u d o u ; v e n c i d a p e l o cansaço, jã

não demonstrava mais preocupação que a mãe ficasse com suas

r o u p a s l e v a n t a d a s , d e i x a n d o - a a s s i m p e r m a n e c e r , a p e s a r de não

se e n c o n t r a r e m q u a r t o i n d i v i d u a l . A g o r a f a l t a v a - l h e disposi­

ç ã o p a r a c u i d a d o s e l e m e n t a r e s , c o m o l i m p e z a d a b o c a da p a c i e n t e

após r e f e i ç õ e s o u a d m i n i s t r a ç ã o de m e d i c a m e n t o s c o m o hidróxido

de a l u m í n i o .
114

Observou--se q u e os a c o m p a n h a n t e s q u e se r e v e z a m diariamente,

após t u r n o s de 6 o u 12 h o r a s , a p r e s e n t a m m a i o r d i s p o s i ç ã o e um

r e l a c i o n a m e n t o m a i s a f e t i v o . C o m o o c a s o d e d o n a Ilnã, também

c o n v a l e s c e n t e de u m a c i d e n t e v a s c u l a r c e r e b r a l , a q u a l e r a a c o m

p a n h a d a p o r seis i r m ã s e u m a cunhada, q u e d i a r i a m e n t e se reve­

zavam, a tíada 12 h o r a s , f i c a n d o dois p l a n t õ e s s e m a n a i s p o r par­

ticipantes. I s t o lhes p e r m i t i a r e p o u s a r o s u f i c i e n t e p a r a r e a d ­

q u i r i r â n i m o e d i s p o s i ç ã o p a r a r e t o r n a r ao H o s p i t a l e se dedi­

c a r e m c a r i n h o s a m e n t e ao c o n f o r t o d a p a c i e n t e .

Os a c o m p a n h a n t e s dos p a c i e n t e s p a r t i c u l a r e s rotineiramen­

te c o s t u m a m se r e v e z a r . E m b o r a e x i s t a m a q u e l e s q u e permanecem

continuamente com o paciente, em geral contam com outros fami­

liares ou pessoal de enfermagem contratado especialmente para

c o l a b o r a r n a v i g í l i a e c u i d a d o s do p a c i e n t e . D e s t a forma, d i f i ­

c i l m e n t e c h e g a m a se e s t a f a r e , p o r t a n t o , n ã o a f e t a m seu rela­

cionamento com o mesmo.

E n t r e os p a c i e n t e s q u e t ê m a c o m p a n h a n t e s , ê n o t ó r i a a re­

l a ç ã o de d e p e n d ê n c i a q u e se d e s e n v o l v e e n t r e p a c i e n t e e acom­

p a n h a n t e . A l g u n s c h e g a m a m a n i f e s t a r a t i t u d e s t í p i c a s de re­

g r e s s ã o . A S e n h o r i t a Mary, p o r e x e m p l o , a p e s a r da l i m i t a ç ã o ' de

m o v i m e n t o s p o r e l a sofrida, n a q u e l a fase se r e s t r i n g i s s e a p e n a s

aos m e m b r o s i n f e r i o r e s , só se a l i m e n t a v a se a m ã e d e s s e a c o m i ­

d a e m s u a boca.

A l g u n s pacientes, a p e s a r d a m e l h o r i a de s e u e s t a d o geral,

c ontinuam demonstrando carência afetiva, na medida em que exi­

g e m do a c o m p a n h a n t e a t e n ç ã o e x c l u s i v a p a r a si. C o m o a Senhora

Fany, p o r t a d o r a de m a l - a s m ã t i c o , e n q u a n t o e m e s t a d o c o n s i d e r a d o

"crítico", s e u f i l h o lhe d e d i c a v a a t e n ç ã o plena; superada esta

fase, a p a c i e n t e se q u e i x a v a :
115

- Meu filho parece que estã-se cansando de mims


pois a atenção e carinho que me oferece ú l t i m a m e n ­
te jã não e a mesma do inicio.

N a v e r d a d e o f i l h o n ã o m u d a r a seu s e n t i m e n t o s era relação

à mãe, a p e n a s p r o c u r a v a se r r a c i o n a l , c o n c i l i a n d o seus a f a z e r e s

no t r a b a l h o c o m as visitas, a g o r a m e n o s d e m o r a d a s , ao H o s p i t a l .

C o n s i d e r a n d o as c i r c u n s t â n c i a s e s t r e s s a n t e s em que ocor­

re o r e l a c i o n a m e n t o a c o m p a n h a n t e - paciente, ë compreen s í v e l ' q u e

haja m o m e n t o s de t ensão, c u j a s r e a ç õ e s do a c o m p a n h a n t e podem

n ã o s e r f a v o r á v e i s a u m r e l a c i o n a m e n t o h a r m o n i o s o . Contudo, p e r ­

cebe-se que isto ë ocasio nal e passageiro; para a maioria dos p a ­

cientes, e l e r e p r e s e n t a a s u a f o n t é de segu r a n ç a .

E m resumo, s er a c o m p a n h a n t e , p a r a os g r u p o s "A" e "B", sig­

n i f i c a v i v e n c i a r u m m i s t o de e x p e r i ê n c i a s q u e lhe c o n f e r e m g r a ­

t i d ã o e s o f r i m e n t o ao m e s m o tempo. C o n s i d e r a m a e x p e r i ê n c i a g r a

t i f i c a n t e p e l a o p o r t u n i d a d e q u e lhes ë d a d a de: a s s e g u r a r o

seu a p o i o , solidariedade, conforto, carin h o , f o r ç a e c o r a g e m ao

seu f a m i l i a r i n t e r n a d o ; de s e r - l h e útil, atendendo ãs suas s o l i c i t a

ções, auxiliando-o e m suas d i f i c u l d a d e s e c o l a b o r a n d o n a e x e c u ç ã o


I

de seus cuidados, a l é m de c o m p a r t i l h a r c o m o p a c i e n t e suas

dores e alegrias.

P o r o u t r o lado, o a c o m p a n h a n t e s o f r e p e l o s t r a n s t o r n o s e m o ­

c i o n a i s e d e s g a s t e s f í s i c o s a q u e são expostos, n a m a i o r i a dos

c a s o s , d e v i d o as circunstâncias estressantes provocadas pela

p r ó p r i a e n f e r m i d a d e e h o s p i t a l i z a ç ã o n a família, dificuldades

e m c o n c i l i a r s u a s r e s p o n s a b i l i d a d e de casa, f a m í l i a e t r abalho,

p r e o c u p a ç õ e s c o m o s r e s u l t a d o s dos e x a mes, t r a t a m e n t o s e pers­

p e c t i v a s d e r e c u p e r a ç ã o do p a c i e n t e e, finalmente, p e l o f a t o de

p a s s a r e m m a i s de 24 h o r a s l i d a n d o c o m o p a c i e n t e , s e m os i n t e r ­

v a l o s n e c e s s á r i o s o u c o n d i ç õ e s a d e q u a d a s p a r a repouso.
116

0 "acompanhar" visto pelo paciente

C o m o ja era p r e v i s t o , ñas u n i d a d e s p a r t i c u l a r e s os pa

cientes tinham acompanhantes, e n q u a n t o nas p r e v i d e n c i a r i a s o

p e r c e n t u a l v a r i a em t o r n o de 10 a 15% de p a c i e n t e s acompanhados.

A presença, de um f a m i l i a r c o r r e s p o n d e ao d e s e j o da g r a n

de m a i o r i a dos p a c i e n t e s e n t r e v i s t a d o s de ambas as categorias,

p a r t i c u l a r e p r e v i d e n c i a r i o . Em suas i n f o r m a ç õ e s , expressam a

i m p o r t â n c i a da p r e s e n ç a do a c o m p a n h a n t e , suas e x p e c t a t i v a s a c e r

ca do p a p e l do a c o m p a n h a n t e , t i p o de p r e o c u p a ç õ e s e m e d o s sofri,

dos. E, f i n a l m e n t e , r e f e r e m - s e as suas r e l a ç õ e s interpessoais

c o m o a c o m p a n h a n t e , c o n f o r m e os s e g u i n t e s d e p o i m e n t o s :

G R U P O "A"

- Eu não me teria i n t e r n a d o , se minha mulher não me


tivesse a c o m p a n h a d o . Abaixo de Deus e do meu mêdi_
ao, agradeço a ela jã estar me r e c u p e r a n d o .

- A c ho que todo doente de ver ia ter este direito, se


dese jasse ser a c o m p a n h a d o , ficando a seu criterio
opinar sobre quem e por quanto t e m p o . •

- 'jã ê uma tradição e todo doente que se interna em


a p a r t a men to fica acompanhadoj eu nao gostaria de ,
ser exceção.

G R U P O "B"

- Ficar com o meu marido nos primeiros dias em que


cheguei passando mal foi m i n h a s a l v a ç ã o , p o i s , eu
não .tinha condições nem de virar a cabeça para t>£
mita r .
- Ê bem mais tranqüilo Voce contar com quem o pode
ouvir, c o m p art ilh ar suas d o r e s , dúvidas e temo_
res, dif erente de uma visita para quem a gente
se esforça em. d emo nst rar uma cara alegre, mesmo es
tando sofrendo.
117

- Até paria d o r m i r , a gente sabendo que tem alguém em


quem voce aonfia o vigiando é mais fácil. D u r a n ­
te o período em que minha mulher so podia vir durante
o dia porque trabalhava a n o i t e , eu não conseguia
dormir (quando ela não e s t a v a ), tinha medo de tu­
d o , de ar ran car o c u r a t i v o , o soro, de cair da
cama e mesrno de morrer.

A idéia expressa por alguns acompanhantes de que o paci­

e n t e é "frágil, i n d e f e s o , i n s e g u r o " e p o r isso " d e p e n d e n t e " , é

aqui v a l i d a d a pelos p a c i e n t e s , c o n f o r m e seus d e p o i m e n t o s a-

cima. A o e n t r e v i s t a r a l g u n s p a c i e n t e s p r e v i d e n c i ã r i o s q u e não

e s t a v a m a c o m p a n h a d o s , e s t e s t a m b é m r e v e l a r a m o d e s e j o de ter

esta oportunidade^ argumentando:

- No meu e n t e n d e r , pelo menos os doentes que não


po dem andar, falar, ou estão p assando mal deviam
ter direito a um a c o m p a n h a n t e .

- Acho que não é direito largar o doente aqui, i s o ­


lado de seus parente s , quando ele mais precisa de
seu apoio.
Ap r o f u n d a n d o a investigação questionou-se: por que você

pr eci sa de acomp anh ant e? Se a equipe hospital ar lhe garantisse

m e l h o r assistência, c o n s i d era ria dispensável a presença do acom

pa nha nte ? Suas respostas c o n s t i t u e m uma comple men taç ão e/ou re


forço sobre a importância de ter acompanhante. Exemplo:

G R U P O "A"

- Quando me senti fora de perigo, em franca re c u p e ­


ração, im agi nei que podia ficar sem a c o m p a n h a n t e , e
os dispensei para poupar-lhe s tanto t r a b a l h o . Mas
me dei muito m a l , não conseguia d o r m i r , o tempo nao
passava, sõ me ocorriam pensamentos n e g a t i v o s , eva
uma sensação h o r r í v e l / Dois dias depois pedi que
os mesmos v olt assem a ficar comigo.

- Para não sofrer de solidão e de problemas que


po d e m ser evitados com a ajuda da pessoa de nossa
confiança.
113

G R U P O "B"

- Preciso de ac ompanhante não so para me ajudar a


a n d a r , para me fazer companhia e de fender os in­
teresses da gente no H o s p i t a l . Quem não tem quem
fale por si, não tem vez, não é?

- Para não ocupar o pessoal que jã ô p o u c o , para


atender a tudo de que a gente p r e c i s a, como pedir agua,
ou ajuda para levanta r, sentar ou ir ao banheiro.

O paciente necessita,portanto,de um familiar para expor

dificuldades, receios e conflitos interiores, evitando dessa

f o r m a m a i o r e s p r o b l e m a s de o r d e m e m o c i o n a l . E , a o m e s m o tempo,

p a r a a j u d ã - l o n a e x e c u ç ã o de seus c u i d a d o s m a i s simples, jã q u e

a c a r ê n c i a de p e s s o a l de e n f e r m a g e m ê u m a c o n s t a n t e e m suas

declarações.

R e f e r i n d o - s e às suas e x p e c t a t i v a s e m t o r n o do p a p e l do

a c o m p a n h a n t e , os p a c i e n t e s de a m b o s os g r u p o s praticamente re­

portaram-se às a t i v i d a d e s a n t e r i o r m e n t e r e g i s t r a d a s p e l o . a c o m p a ­

n h a n t e c o m o p a r t e de suas f u n ções. E x e m p l o :

G R U P O "A"

- 0 acompanhante deve pre s t a r apoio ãqueles que po r


por algum motivo deixam o seu meio social e■ fami- -
liar para enfrentar esse ambiente de hospital que
não ê nada acolhedor.

- Entre as- funções mais. importantes do a c o m p a n h a n t e ,


ao meu ver estão o conforto moral, o■carinho e p r o ­
teção que ele oferece ao doente.

- Meus filhos- tem pr est ado um grande serviço


não so a m i m , mas também ao H o s p i t a l , pois assumem
uma vigilância constante e muitos cuidados que e s ­
tão ao seu alcance, pou pan do assim o pessoal que jã.
ê muito sobrecarregado.

G R U P O 11B"

- Ajud ar o doente a vencer suas dificuldades, sem


que precise ficar na dependência da disposição e
boa vontade do pessoal em serviço.
119

- Minha m ulher f&z tudo de que preciso • as enfermeiras


só têm o trabalho dê me dar os remedios e fazer o
curativo^ o restante' ê com ela.

- Para não incomodar o p e s s o a l , meu marido tem f e i ­


to quase tudo que seria por eles realizado, se eu
estivesse s o z i n h a , como an dar comigo pelo quarto ;
me levar ao b a n h e i r o , ajudar no meu banho, contro­
lar o tempo e des ligar o aparelho da n e b u l i z a ç ã o , en
tre outros.

E n t r e as p r e o c u p a ç õ e s de a m b o s os g r u p o s de p a c i e n t è s , mas

p r i n c i p a l m e n t e dos p r e v i d e n c i ã r i o s , d e s t a c a - s e o r e c e i o de que

o s e u f a m i l i a r e s t e j a s o f r e n d o e m c o n s e q ü ê n c i a do desconforto

de s u a a c o m o d a ç ã o n o quarto, e n t r e d o i s p a c i e n t e s . Preocupam-se

t a m b é m e m e s t a r d a n d o m u i t o t r a b a l h o ao a c o m p a n h a n t e e à e q u i p e

h o s p i t a l a r . A l é m disso, q u e i x a m - s e da i n c o v e n i ê n c i a e m e d o de

f i c a r e m sõs, q u a n d o o a c o m p a n h a n t e se a f a s t a p o r a l g u m motivo.

E x e m p l o s de d e c l a r a ç õ e s n e s s e sentido:

- Acho aqui m aravilhoso ! Se não fosse esse probema


de minha filha ficar tao m al- a c o m o d a d a nessa c a d e i ­
ra dura a noite i n t e i r a , eu não teria de que me
queixar.

- Fico c onstrangida em solicitar com tanta fr eq ü ê n ­


cia as Irmãs (Freiras) que me acompanham; se hou­
vesse p essoal de enfermagem suficiente para atender
a g e n t e , não lhes daria tanto trabalho.

- Tenho sofrido m u i t o , porque- minha filha só vem


ficar comigo um dia e outro não, devido ao seu t ra­
balho na Maternidade; sei ,que i-sto a deixa muito
sobrecarregada, mas no dia em que ela não vem, eu me
aperto m u i t o , porque a gente chama e o pessoal d e ­
mora demais para ate n d e r , pe n s a m que ê manha,.

Alguns pacientes particulares também apresentaram queixas

semelhantes:

'- Tenho pena de meu filho que trabalha o ¿ ia,nintei*~°


Q
e ã noite vem ficar comigo, nesse desconforto, nao
tenho nem coragem de lhe pedvr nada, ja dou graças
Deus por ele estar c o m i g o ,

- Para mim, ter acompanhante ê imp res c i n d í v e l , mas


120'

nem sempre as pessoas que go staríamos que nos


a c o m p anh ass em estão d i s p o n í v e i s . Cada um tem seus
interesses e ocupações programa das ; isto exige
que o doente se ajuste ãs circunstâncias, conforme
elas se ap res ent am} ou seja, que aceitemos a com­
p anhia da pessoa que se encontra disponível e não
propri ame nte a que d e s e j a r í a m o s ,

As r e l a ç õ e s i n t e r p e s s o a i s p a c i e n t e e a c o m p a n h a n t e geral­

m e n t e sa o a m i s t o s a s e i n t e r d e p e n d e n t e s , face a a f e t i v i d a d e e x i s

t e n t e e n t r e estes. A l é m da q u e s t ã o a f e t i v a q u e os f a v o r e c e m , s ã o

b e n e f i c i a d o s t a m b é m p o r a l g u n s f a t o r e s comu n s , q u e ao mesmo

t e m p o os a f e t a m e e s t i m u l a m a u m a m a i o r i n t e g r a ç ã o , a f i m de

e n f r e n t a r as d i f i c u l d a d e s p r ó p r i a s d a s i t u a ç ã o de d o e n ç a e

h o s p i t a l i z a ç ã o . E n t r e estes, p o d e m s e r cita d o s : amljiente estra­

nho; p e s s o a l d e s c o n h e c i d o , equipamento e material que cercam o

p a c i e n t e ; os q u a i s os a s s u s t a m e a m e a ç a m , c o n f o r m e declarações

abaixo:

- Se não fosse minha tia ter-se pr oposto a me


a c omp anh ar atê a Sala de Operações e Recuperação,
não teria suportado o medo que sentia quando che ­
guei aqui. So em ver aquelas maquinas e o pessoal
encapuzado dã p avo r na gente.

- Quando a gente chega ao Hospital geralmente tem


medo de tudo e de todos, mas com o tempo a gente
acaba se acostumando ao ambiente e ãs p e s s o a s a pre_
sença de minha m ulher foi muito importante para
eu vencer essa primeira, fase e sentir coragem de
lutar pela minha saííde, .

O a c o m p a n h a n t e passa, portanto, a r e p r e s e n t a r o esteio, a

t á b u a de s a l v a ç ã o p a r a o p a c i e n t e . P o r o u t r o lado, a sua p r e s e n ­

ça c o n s t i t u i u m a f o r m a de c o n t r i b u i r p a r a o p r e e n c h i m e n t o do

v a z i o e x p e r i m e n t a d o p e l a m a i o r i a dos p a c i e n t e s e p a r a minimi­

zar a i n s e g u r a n ç a q u e lhe ê p e c u l i a r , independentemente de sua c o n ­

d i ç ã o de p a r t i c u l a r o u p r e v i d e n c i ã r i o .

As p r e o c u p a ç õ e s d o s p a c i e n t e s de a m b o s os grupos, p a r t i c u -
lares e previdenciãrios, r e l a c ion am- se de alguma forma com o

seu c onf ort o e segurança, enquanto hospitalizados. A proposito,

uma pac i e n t e partic ula r sugeriu os seguintes aspectos a serem

observados pelo Hospital, ao aceitar a entrada de a c o m p anh ant e :

- orientar para que a família de o portunidade ao


■paciente escolher seus a c o m p a n h a n t e s , sempre que
possível ;
- a s seg ura r orientação geral e preparo específico
para os que assumem as funções de acompanhante}
tornando-o extensiva até mesmo aos v i s i t a n t e s , a.
fim de não c ome terem abusos como: fumar no quarto
do p a c i e n t e , falar a l t o } falar sobre problemas do_
mestiços ou de s e r v i ç o 3 comentar sobre doenças gra
ves, morte ou outras coisas desagr adá vei s que deT_
xam o doente mais deprimido

Outras co ntr ibu iç ões de diferentes pacientes dos grupos

"A" e "B", no que concerne pri nci p a l m e n t e aos cuidados para. não

os p r e j u d i c a r em relação ao sono, repouso, horario de refeições

e h i g i e n i z a ç ã o , foram acrescentadas:

GRUPO "A"

- Ficar em apa rta men to tem muitas v a n t a g e n s , prin


cipalmente porque a gente pode ter a companhante ,
mas também tem o incoven ien te de não se ter disci_
plinado o horário das visitas s o c i a i s , as quais po_
dem ocorrer a qualquer h o r a , não .sendo, portanto,
respeitados os horários de h i g i e n i z a ç ã o , refeições
ou repouso do doente. ■ .

GRUPO "B"

-■Eu sei que há doente que precisa muito de acompa


nhante, mas ãs vezes incomodam o outro doente vizi^
nho ao ficarem c o n v e r s a n d o , com luz acesa ou fazen
do barulho. Outras v e z e s , vem mul her es ficar de
aco mpa nha nte no quarto dos homens e a gente fica
sem p r i v a c i d a d e .
122

0 " a c o m p a n h a r do p o n t o de v i s t a d a e q u i p e h o s p i t a l a r

Os depoimentos da equipe hos pi ta la r* quanto à prese nça do

a c o m p a n h a n t e n a s u n i d a d e s de i n t e r n a ç ã o a b o r d a m os seguintes

aspectos: significado da presença do acompanhante, imagem do

a c o m p a n h a n t e , p a p e l o u f u n ç ã o do a c o m p a n h a n t e , p r e p a r o e o r i e n ­

t a ç ã o do a c o m p a n h a n t e , r e l a c i o n a m e n t o i n t e r p e s s o a l e q u i p e - a c o m -

panhante e fatores que interferem no relacionamento, sentimen­

tos, e x p e c t a t i v a s e q u e i x a s d a e q u i p e h o s p i t a l a r .

C o m e n t a n d o s o b r e o s i g n i f i c a d o d a p r e s e n ç a do a c o m p a n h a n t e

n a s u n i d a d e s de i n t e r n a ç ã o a e q u i p e h o s p i t a l a r faz referência

aos v á r i o s e l e m e n t o s q u e p a r t i c i p a m d i r e t a m e n t e do p r o c e s s o de

h o s p i t a l i z a ç ã o do p a c i e n t e , o u seja, o p r ó p r i o p a c i e n t e , o acora

panhante, e e q u i p e de saúde, a r g u m e n t a n d o que, p a r a c a d a u m ele

r e p r e s e n t a a l g o d i f e r e n t e , e j u s t i f i c a m c o m a l g u n s exem p l o s :

-'"Para o p a c i e n t e , ter ..alguém exclusivamente ao seu


di^spor, nada m e l h o r ; mas pa ra a e q u i p e } é um p r o b l e ­
ma a maiSj com a s upe rpo pul açã o nas enfermarias e
mais alguém dependendo de nossa jã escassa d i s p o n i -
bilidade para orientaçao e s u p e r v i s ã o " .

O p a p e l * * d o a c o m p a n h a n t e h o s p i t a l a r do p a c i e n t e a d u l t o n o

Hospital em estudo, v a r i a s e g u n d o a u n i d a d e de i n t e r n a ç ã o , o n d e

e s t e se e n c o n t r a , i s t o é, e m s e t o r p a r t i c u l a r o u previdenciã­

rio. S e g u n d o o C h e f e d a S u b d i v i s ã o de E n f e r m a g e m , faz p a r t e de

suas p r ó x i m a s m e t a s de t r a b a l h o , u m a a t u a l i z a ç ã o d a n o r m a que

* C o m o e q u i p e h o s p i t a l a r , c o n s i d e r a m o s a l é m dos p r o f i s s i o n a i s de
n í v e l u n i v e r s i t á r i o d a á r e a de s a ú d e e a d m i n i s t r a ç ã o , as c a t e ­
g o r i a s de n í v e l t é c n i c o , m é d i o e e l e m e n t a r q u e i n t e g r a m a
e q u i p e de e n f e r m a g e m h o s p i t a l a r .
* * E n t e n d e - s e aqui, p o r p a p e l e a s f u n ç õ e s o u a t i v i d a d e s d e s e n v o l ­
vidas pelo acompanhante.
t r a t a das f u n ç õ e s do a c o m p a n h a n t e n a u n i d a d e p r e v i d e n c i ã r i a e

d e f i n i ç ã o do p a p e l dos q ue v ã o p a r a as u n i d a d e s p a r t i c u l a r e s .

Alguns profissionais argumentam que é dispensável a d e t e r ­

m i n a ç ã o das f u n ç õ e s do a c o m p a n h a n t e p a r t i c u l a r , c o n s i d e r a n d o que,

ao c o n t r á r i o dos p r e v i d e n c i ã r i o s , e s t e s já p a g a m p a r a n ã o se

p r e o c u p a r e m c o m a e x e c u ç ã o dos c u i d a d o s do p a c i e n t e . Um exemplo

dos d e p o i m e n t o s d a e q u i p e n e s s e s e n t i d o é o segu i n t e :

- Entendo que o acompanhante p a r t i c u l a r não tem o-


brigaçao nenhuma de ajudar a en fer m a g e m a cuidar do
paciente, pois ele nao assume nenhum compromisso nes
se s e n t i d o , o p r e v i d e n c i ã r i o s i m 3 e aceito com esta
c o n d i ç ã o , isto e, para col abo rar nos cuidados do
paciente. So que depois de e starem. aqui, alguns não
querem ajudar em n a d a 3 ficam chamando a enf erm age m
para as. coisas mais .s i m p l e s, como colocar ou reti­
rar uma comadre.

O a g r u p a m e n t o dos d ados o b t i d o s nas e n t r e v i s t a s t o m a equi.

qu e de saúde, d ã o u m a i d é i a g e r a l s o b r e o p a p e l do previdenciã­

rio, a l é m de c ò n t r i b u í r e m com outxas'informações , destacando a l g u m a s

características a estes atribuídas, as q u a i s foram categorizadas con

forme o aspecto abordado, r e s u l t a n d o n o s e g u i n t e perfil:

A c o m p a n h a n t e dos p a c i e n t e s p a r t i c u l a r e s

-'NÍvel so c i a l 3 intelectual e educacional é geral­


mente e l e v a d o 3 pro pic i a n d o - l h e s m e l h o r compreensão
das coisas: 3 .í

- Sao exigente s e alguns intransigente s 3 acham-s e com


o direito de dar o r d e n s 3 alguns tratam o pessoal a u ­
xiliar como se fossem escravos ;

- Fazem muitas cobranças ã enfermagem, mas ate certo


ponto eles tem razao, porque só assim suas s o l i c i t a ­
ções serão atendidas conforme desejam; »

- Estao sempre atentos ãs ocorrências ; querem saber


tud o3 quem s o m o s 3 o que vamos fazer com o pacien­
te e o que setem previsto para, os horarios seguintes.
124

A c o m p a n h a n t e s dos p a c i e n t e s p r e v i d e n c i ã r i o s

- Pessoas s i m p l e s , humildes, carentes, de baixo n í ­


vel s o c i o - e d u c a c i o n a l , não sabem ped ir ou agrade­
cer;

- Ajudam a realizar os cuidados do p a c i e n t e , mas


também solicitam muito da enf erm age m ;

- Muito importante para o paciente porque terã quem


lute por ele, para pedir, r e c l a m a r , exigir, cobrar
uma as sistência adequada, do contrario ni nguém se
incomoda;
— Sao c u r i o s o s , gostam de passear, pelas enfermari_
as, estao sempre especulando tudo por todo o H o s p i t a l •

C o m e n t a n d o c o m a l g u n s e n f e r m e i r o s das u n i d a d e s de i n t e r n a ­

çõ e s s o b r e e s t a v i s ã o da e q u i p e de saüde, e s t e s n ã o sõ c o r r o b o ­

raram com o perfil por ela traç a d o , como acrescentaram a sua

o p i n i ã o de q u e os p a r t i c u l a r e s c o s t u m a m a p r e s e n t a r r e j e i ç ã o em

p a r t i c i p a r f o r m a l m e n t e dos c u i d a d o s do p a c i e n t e c o n f o r m e dese­

jariam orientã-los. E q u e os a c o m p a n h a n t e s dos p a c i e n t e s p r e v i ­

denciãrios,,, c o m h o n r o s a s e x c e ç õ e s , são " p r e g u i ç o s o s e indiscipli.

n a d o s ".

E s t e p o s i c i o n a m e n t o d a e q u i p e c o n d i z c o m as declarações

do D i r e t o r A d m i n i s t r a t i v o , a o e x t e r n a r sua opin i ã o :

Acho que o a companhante pa rti c u l a r sò traz b ene fí_


cios para o doente, que recebe a sua ajuda; a equi-
pe também po de receber muita colaboro, çao na as sis-
Hospital» por .su a vez, adquire
t e n d a ao do ente. E o ■
algum lucro com a cobrança de suas di­á r i a s , ao mes-
mo tempo em que se torna mais conheci- doi na comunida
de. Em relaç ão ao previdenciãrio, tem sido um proble_
ma, porque s ao muitas as solicitaçoes e o Hospital
não tem infr a.-e strutura para recebê-l os; Além do
mais, estamos empenhados em colaborar pawa diminuir
a superpopul ação nas Unidade s de Inte r n a ç o e s .

D e u ma f o r m a o u out r a , t o d o s d e m o n s t r a m r e c o n h e c e r a im­

portância de o p a c i e n t e s e r a c o m p a n h a d o p o r u m f amiliar, assim


12 S

c o m o o s seus b e n e f í c i o s p a r a o p r ó p r i o a c o m p a n h a n t e . N o entan­

to, p e r c e b e - s e u m a t e n d ê n c i a d e s t e s e m r e s s a l t a r as dificulda­

des p a r a g a r a n t i r - l h e s e s t e d i r e i t o , p r i n c i p a l m e n t e em relação

aos p r e v i d e n c i ã r i o s , e m d e t r i m e n t o dos b e n e f í c i o s q u e p o s s a m ad

v i r p a r a o p a c i e n t e e família. T e n t a n d o j u s t i f i c a r o seu posi­

c i o n a m e n t o , u m a e n f e r m e i r a a s s i m se e x p r e s s o u :

- .São -inegáveis as vantagens do -paciente ter a c o m ­


panhantej ao mesmo tempo, a pre sença deste na uni-
de de internação traz tantas inconveniências que
anulam em parte as vantagens. Isto porque contri­
buem para a umentar a s upe r-população nas Unidades
de Internações 3 a sujeira no quarto do paciente -3 a
infecção h o s p i t a l a r 3 os gastos com r o u p a 3 ãgua e
alimentaçao 3 assim como o volume de trabalho para -a.
enfermagem.

A i m a g e m do a c o m p a n h a n t e f o r m u l a d a p e l a e q u i p e r e f l e t e as

d i f e r e n ç a s e x i s t e n t e s e n t r e os g r u p o s de a c o m p a n h a n t e s de pa­

c i e n t e s p a r t i c u l a r e s e p r e v i d e n c i ã r i o s . F o i a e q u i p e de e n f e r m a

g e m q u e c o n t r i b u i u c o m m a i o r n ú m e r o de i n f o r m a ç õ e s n e s s e s e n t i ­

do :

- A presenç a de um f amiliar pode ser importante p a ­


ra manuten ção da. identidade pessoal do paciente e
pode ate c ont rib uir para sua maior s e g u r a n ç a 3 de­
p endendo do nível de compreensão e equilíbrio emo-..
cional de quem acompanha. Mas para o médico ê mais
pr obl ema do que a j u d a 3 devido ãs suas i n t e r ferências
em nosso t r a b a l h o .

- 0 acompa nha nte pode co laborar para maior tran­


qüilidade do paciente 3 mas também pode atrapalh ar
o trabalho da e n f e r m a g e m 3 se for uma pe ssoa nervosa
ou indisciplinada.

- Não hã paciente que nao queira ser acompanhado e


mesmo se queixando de cansaço ao ficar muito tempo
com o p a c i e n t e 3 os acompan han tes não gostam de se
' a fastar.. : da enfermaria. Alguns dão muito em.cima da
e n f e r m a g e m 3 i nvestigando e controlando o nosso t ra­
balho.

- É uma boa o pac iente ter seu a c o m p a n h a n t e , e s i­


nal que não lhe f a l t a r á nada p o r q u e , além de a j u d a r ,
ele também cobra o que pre cis a para o paciente.
126

V i s t a por este prisma, a imagem do acompanhante por eles

p r o j e t a d a ë c o n s t i t u í d a de v a n t a g e n s e p r o b l e m a s , c ujos b e n e f í ­

cios m a i o r e s são p a r a o p a c i e n t e , a l é m de c o r r e s p o n d e r a u m d e ­

sejo de seus f a m i l i a r e s . E m o u t r a s p a l a v r a s , toda a equipe reco­

n h e c e q u e a p r e s e n ç a do a c o m p a n h a n t e r e s u l t a e m b e n e f í c i o s p a r a

o paciente, embora alguns façam ressalvas o u c o l o q u e m tais v a n

t a g e n s so b c o n d i ç õ e s . O u t r o s e n f a t i z a m m a i s os p r o b l e m a s de o r ­

d e m t é c n i c a , p s i c o l ó g i c a , o u d i s c i p l i n a r d e c o r r e n t e s da p r e s e n ­

ç a do a c o m p a n h a n t e , que, s e g u n d o eles, a f e t a m o seu t r a b a l h o de

a l g u m a forma.

A o m e n c i o n a r a s , f u n ç õ e s que, n a s u a opinião, d e v i a m fazer

p a r t e do p a p e l do a c o m p a n h a n t e , a l g u n s m e m b r o s d a ’
equipe de

s a ú d e f a z e m r e f e r ê n c i a a u m a s é r i e de a t i v i d a d e s m a i s ou menos

c o m p a t í v e i s c o m as c i t a d a s p e l o s p r ó p r i o s a c o m p a n h a n t e s . Elas

divergem apenas em algumas questões relativas à delegação de

c u i d a d o s g e r a i s nas e l i m i n a ç õ e s e h i g i e n i z a ç ã o do p a c i e n t e e do

a mbi e n t e , a l é m de c e r t o s c u i d a d o s e s p e c í f i c o s c o m o m e d i r d i u r e ­

se, c o l e t a r m a t e r i a l p a r a fezes, u r i n a e a l i m e n t a ç ã o p o r sonda,

os q u a i s c o m u m e n t e n ã o sã o r e f e r i d o s c o m o a t i v i d a d e s delegadas

aos a c o m p a n h a n t e s . O b s e r v a - s e , n o entanto, q u e algu n s (esposas o u

mães) , i n c l u s i v e do g r u p o "A", t o m a m a i n i c i a t i v a de a s s u m i r e s ­

p o n t a n e a m e n t e tais. c u i d a d o s , a r g u m e n t a n d o q u e "não d ã p a r a fi­

c a r n a d e p e n d ê n c i a do p e s s o a l do s e r v i ç o q u e é p o u c o " / o u por­

q u e a c h a m " m e l h o r do q u e f i c a r s e m t e r o q u e f a z e r " . .

A e q u i p e de s a ú d e d e m o n s t r a r e c o n h e c e r q u e o acompanhante

r e a l i z a c u i d a d o s g e r a i s e e s p e c í f i c o s n o a t e n d i m e n t o às neces­

s i d a d e s d o p a c i e n t e . E n t r e os c u i d a d o s gerais, é c i t a d a a

a j u d a ao p a c i e n t e na s s e g u i n t e s s i t u a ç õ e s : " m u d a n ç a de d e c ú b i t o ,

p a s s a g e m da c a m a p a r a c a d e i r a e v i c e - v e r s a , r e a l i z a ç ã o d e e x e r ­

cícios ativos e passivos, deambulação, alimentação, banho no


127

c h u v e i r o , t r o c a de r o u p a p e s s o a l e de cama". U m o u t r o t i p o de

cuidado geral ë o de a s s e g u r a r ao p a c i e n t e v i g i l â n c i a contí­

nua, a p o i o m o r a l , p s i c o l ó g i c o , s e r v i r de v í n c u l o f a m i l i a r e i n ­

t e r c â m b i o de c o m u n i c a ç ã o e n t r e p a c i e n t e e equipe.

N o q u e se r e f e r e aos c u i d a d o s e s p e c í f i c o s r e f e r e n t e s ao

t r a t a m e n t o do p a c i e n t e q u e p o d e m s e r p r e s t a d o s p e l o a c o m p a n h a n ­

te, c o n f o r m e o p i n i ã o d a equipe, f o r a m citados: "ajudar o p a c i e n ­

te a t o m a r a m e d i c a ç ã o oral, a u s a r m e d i c a ç ã o t ó p i c a (pomadas,

c o l í r i o s ) , c o n t r o l a r a m a n u t e n ç ã o e f u n c i o n a m e n t o de sondas,

c o n t r o l a r i n f u s õ e s v e n o s a s q u a n t o ao g o t e j a m e n t o e c u i d a d o s p a ­

ra n ã o s a i r d a v e i a , c o n t r o l a r j e j u m o u d i e t a e p r e v e n i r aci­

dentes, c o m o q u e d a s , r e t i r a d a d e c u r a t i v o s , s o n d a s o u soros.

A d i f e r e n c i a ç ã o de e x p e c t a t i v a s d a e q u i p e e m r e l a ç ã o aos

p a p e i s d o a c o m p a n h a n t e do p a c i e n t e p a r t i c u l a r e previdenciãrio

r e v e l a u m a f i l o s o f i a de t r a b a l h o q u e d i s t i n g u e d i r e i t o s e d e v e ­

res de ambos, s e g u n d o su a c o n d i ç ã o de p a g a n t e s e n ã o pagantes.

E n q u a n t o p e r m i t e m , p o r e x e m p l o , q u e os p r i m e i r o s a j a m l i v r e m e n ­

te p a r t i c i p a n d o dos c u i d a d o s do p a c i e n t e se a s s i m d e s e j a r e m e

q u a n d o d e s e j a r e m , os ú l t i m o s são c o b r a d o s p e l o c u m p r i m e n t o de

t a r e f a s p r é - d e t e r m i n a d a s e m n o r m a i n t e r n a do s e r v i ç o de enfer­

m a ge m . C o m e s s e e s p í r i t o de t r a b a l h o , uns c r i t i c a m , o u t r o s os

e logiam pelo desempenho do seu papel, s e g u n d o s e u stat u s de

particular ou previdenciãrio. Exemplo:

- A acompanh ant e do aparta men to tres é maravilhosa !


Só chama a gente para os pro ble mas que ela não c o n ­
segue resolver; até o banho do p a c i e n t e , quando o
e n c a r reg ado chega lã, ela jã realizou.

- Não sou contra o a c o m pan han te p r e v i d e n c i ã r i o , mas


se ele não se dispõe a a judar nos cuidados do paci
e n t e 3 não tem por que estar aqui. Ja tem gen te^
mais; é mel hor que fique em c a s a , pelo menos nao es_
tara criando problemas para enfermagem.
128

E m u m d os n o s s o s r e t o r n o s p a r a d i s c u t i r c o m os r e p r e s e n t a n

tes d a S u b d i v i s ã o de E n f e r m a g e m (chefe e s u b - c n e f e ) , s o b r e os

r e s u l t a d o s da a n á l i s e p a r c i a l dos dado s , q u e s t i o n a m o s s o b r e o

h á b i t o de a e q u i p e d e l e g a r m u i t o s dos c u i d a d o s do p a c i e n t e sob

sua responsabilidade, _ ■a o a c o m p a n h a n t e , s e m u m a o r i e n t a ç ã o ou

preparo previo adequado, tendo estes justificado:

- Ja foi determinado (em r e u n i ã o ) que o papel do


acompanhante e c ola borar na execução dos cuidados do
p a c i e n t e , mas nao a s s u m i - l o s ; se isto está acontecen^
do é por comodismo da equipe au xiliar que querem se
aproveit ar da pre sen ça do acompanhante para ajudá-la..
Mas não tem condições de orientá-los para tal.

A p e s a r d a c o b r a n ç a r e a l i z a d a p e l a equipe, q u a n t o ao cumprj.

m e n t o de a t i v i d a d e s d e l e g a d a s (formal e i n f o r m a l m e n t e ) ao a c o m ­

p a n h a n t e h o s p i t a l a r , n ã o e x i s t e u m p r o g r a m a de a v a l i a ç ã o que

permita estimar a amplitude do seu conhecimento em relação a

p r o b l e m á t i c a do p a c i e n t e , n e m u m a p r o p o s t a de a p o i o e orien­

t a ç ã o q u e vise a s u p r i r suas c a r ê n c i a s e m e l h o r a r o desempenho

d o s e u papel,. Se a l g u m p r o f i s s i o n a l i n c l u i e m suas f u n ções qual^

q u e r i n i c i a t i v a d e s s a n a t u r e z a , o faz d e f o r m a i s o l a d a e por

c o n t a p r ó p r i a , s e m q u e o a c o m p a n h a n t e e s t e j a d e v i d a m e n t e informa,

do s o b r e a p e s s o a a q u e m p o d e r á recorrer, e m c a s o de necessida

de de o r i e n t a ç ã o . A o a b o r d a r e s t a q u e s t ã o i n i c i a l m e n t e c o m os

e n f e r m e i r o s da s U n i d a d e s de I n t e r n a ç õ e s p a r t i c u l a r e s , os m e s m o s

comentaram: -

- Este' e um pr obl ema c r o n i c o , para o qual não te­


mos encontrado solução, e que se deve p r i n c i p a l m e n ­
te a dificuldade de env olver todos os acompanhantes
.numa sistemática de orientação programada, visto
que eles se revezam ■ : m u i t o ; cada vez que voce entra
em um a p a r t a m e n t o , encontra caras novas.

- Os a c o m p anh ant es particulares, com raras exceções,


acham, que, pelo fato de estarem pag and o,n ão devem fa
129

zer nada. Pelo contrario, querem também ser servidos,


daí a dificuldade em estimula-los a participar..; d.os
cuidados d.o paciente, sob nossa o r i e n t a ç ã o . ,Apenas aos
familiares que de mon s t r a m interesse em se i nteirar
sobre os cuidados do paciente, visando 'a sua co nti nui da
de após alta h o s p i t a l a r , oferecemos todo apoio e a
orientaçao ne ce s s á r i a .

Q u a n t o ao a c o m p a n h a n t e p r e v i d e n c i ã r i o , os e n f e r m e i r o s das

v á r i a s u n i d a d e s de i n t e r n a ç õ e s g a r a n t e m q u e os o r i e n t a m , por

o c a s i ã o do f o r n e c i m e n t o de f o r m u l á r i o de a u t o r i z a ç ã o p a r a a c o m ­

p a n h a n t e . N e s t a o p o r t unidade, e x p l i c a m s o b r e o q u e se e s p e r a d e ­

le e m t e r m o s de a j u d a n o s c u i d a d o s do p a c i e n t e e q u a l d e v e ser

sua c o n d u t a s e g u n d o as n o r m a s v i g e n t e s do h o s p i t a l . Orientações

s u b s e q ü e n t e s são d a d a s só e m c a s o s de p a c i e n t e s com problemas

de d e p e n d ê n c i a em c u j o s c u i d a d o s o a c o m p a n h a n t e p o d e dar sua

c o n t r i b u i ç ã o . C o m o e x e m p l o , c i t a - s e o p õ s - o p e r a t 5 r i o de cirur­

g i a s de g r a n d e porte, p r o b l e m a s c r ô n i c o s c o m o A c i d e n t e Vascu­

lar Cerebral e D i a b e t e s , e n t r e outros. M e s m o n e s t e s casos, ob­

s e r v o u - s e qu e n ã o são c o n s i d e r a d o s os c o n h e c i m e n t o s p r é v i o s do

a c o m p a n h a n t e r e s u l t a n t e s de e x p e r i ê n c i a s a n t e r i o r e s ; oferecem

suas o r i e n t a ç õ e s sem a p r e o c u p a ç ã o de se i n f o r m a r e m s o b r e o q u e

e s t e já s a b e e m t o r n o do a ssunto.

S e g u n d o os D i r e t o r e s T é c n i c o s e A d m i n i s t r a t i v o s s ã o os e n ­

f e r m e i r o s os m a i s i n d i c a d o s p a r a o r i e n t a r os a c o m p a n h a n t e s ,c o n ­

s i d e r a n d o que:

o pessoal auxiliar de enferma gem apresenta muita


dificuldade nesse s e n t i d o , além da tendencia a
dis torcer as informações.

A a u t o r i z a ç ã o de a c o m p a n h a n t e a s s i n a d a p e l o e n f e r m e i r o p o -

de, e v e n t u a l m e n t e , s e r e n t r e g u e p e l o a u x i l i a r o u técn i c o . A o se-

g u i - l o s p o r o c a s i ã o da e n t r e g a da r e f e r i d a a u t o r i z a ç ã o , obser-

vpu-se'q u e a q u e s t ã o dos p r é - r e q u i s i t o s , c o n d i ç õ e s de acomoda­


130

ç ã o o f e r e c i d a s p e l o H o s p i t a l ao a c o m p a n h a n t e , nas u n i d a d e s de

internações previdenciárias, e exigências disciplinares são

os a s p e c t o s m a i s e n f a t i z a d o s p e l o e n f e r m e i r o e / o u a u x i l i a r e s e

técnicos de enfermagem. N a p r á t i c a , p a r e c e q u e n i n g u é m se p r e o ­

c u p a o u t e m t e m p o de d a r a t e n ç ã o ao a c o m p a n h a n t e . T o d o s d o g r u ­

p o de e n f e r m a g e m e s t ã o p r e o c u p a d o s c o m os p a c i e n t e s , ao ponto

de e s q u e c e r e m q u e os a c o m p a n h antes, a s s i m c o m o os p a c i e n t e s ,t a m ­

bém sof re m tensões e angústia.

O t i p o de r e l a c i o n a m e n t o e n t r e a e q u i p e e o acompanhante

v a r i a e m f u n ç ã o d a f r e q ü ê n c i a , d u r a b i l i d a d e , e p r o f u n d i d a d e dos

contatos interpessoais mantidos. O p e s s o a l de e n f e r m a g e m , pela

p r ó p r i a n a t u r e z a de s e u t r a b a l h o m a n t é m c o m e s t e s c o n t a t o s mais

próximos e duradouros. Talvez por isto,alguns enfermeiros te­

nham insinuado ser a enfermagem a categoria profissional mais

v u l n e r á v e l aos p r o b l e m a s de r e l a c i o n a m e n t o p e s s o a l com o acom­

panhante. Nesse sentido, o chefe e subchefe da s u b d i v i s ã o de

enfermagem respectivamente, declaram:

-'"Com os pac ien tes não temos pro bl e m a s em nos r e ­


lacionar,; o ponto nevrál gic o refere-se aos seus f a ­
miliares que geralmente agem sob emoção, em conse­
qüência dos transtornos causados pela própria doença
e ho spi tal iza ção de um membro da familia', dai não
c o m p r e e n d e m porque agimos r a c i o n a l m e n t e .

- Alguns acomp anh ant es são compreensivos e c o l a b o r a ­


dores, contrib uin do de m ane ira decisiva p a r a a r e c u p e -
raçao do paciente. Outros,, porém, tèm pre disposição
p a ra se e s t r es sar em e es tressar o p a c i e n t e , c h e g a n d o ,
em alguns casos, a tumultuar o ambiente.

Há, n o e n t a n t o , o s q u e n e g a m a e x i s t ê n c i a de o b s t á c u l o s èm

seu relacionamento com o acompanhante, insistindo em afirmar

q u e suas r e l a ç õ e s s ão " h a r m o n i o s a s " e , p o r t a n t o , " s a t i s f a t ó r i a s " .

A e x e m p l o d i s s o , u m a a u x i l i a r de e n f e r m a g e m decl a r o u :
131

- Acho que os aco mpanhantes aqui- não têm muito do


que se q u e i x a r e m , a maioria m ant êm um ótimo rela­
cionamento com a e n f e r m a g e m , muitos até procuram
mani fe star isto de forma m a t e r i a l , ofereoendo-nos
pre seiite s de f l o r e s , to r t a s , ou lembrancinhas mais
personalizadas.

Na Clínica Cirúrgica, um enfermeiro chama atenção para as

d i f e r e n ç a s i n d i v i d u a i s no r e l a c i o n a m e n t o e n t r e a e q u i p e e o a c o m -

panhante:

- É muito relativa esta questão do re lac ion ame nto


pessoal com o a c o m p a n h a n t e , pois alguns são d e l i c a ­
dos e gentis, contribuindo para urna relação cordial/
enquanto outros mostram-se i n t r a t á v e i s , dada a. sua
grosseira e agressividade com aqueles que trabalham
mais p róximo deles, como o pessoal de enf erm agem •re_
sul tando, p o r t a n t o , ' . um r e l a c io nam ent o conflitante.

N a o p i n i ã o de u m e n f e r m e i r o c h e f e de u n i d a d e , o r e l a c i o n a ­

m e n t o e n f e r m a g e m e a c o m p a n h a n t e n a s U n i d a d e s de I n t e r n a ç õ e s p a r

t i c u l a r e s é c o n s i d e r a d o m a i s amis t o s o . N o e n t a n t o o classifica

como:

- Superficial e influenciado pelas exigências do


acompanhante, o- qual conta com o apoio da direção do
Hospital diante de qualquer r e c l a m a ç a o . Está c o n s ­
titui. uma das razoes da equipe de enfermag em a t e n ­
dê-los bem neste s e t o r „ sob pena de ter o seu nome
incluído entre as queixas levadas à direção pelos
particu lar e s insatisfeitos com o tratamento que lhes
e oferecido. ■

U m t é c n i c o de e n f e r m a g e m c o m v a s t a e x p e r i ê n c i a de traba­

lho nos s e t o r e s p a r t i c u l a r e s e p r e v i d e n c i ã r i o s , d eclarou:

- Temos ate medo quando p e r cebemos que os p rob lemas


de um paciente p a r t i c u l a r sao mal re sol^oido s ou nao
re solvido s , porque a família tende a de sca rre gar
suas frustrações na e n f e r m a g e m , mesmo gue esta não t e­
nha culpa.

Embora alguns enfermeiros não aceitem que existam d i f e-


132

renças em seu relacionamento com o acompanhante,segundo o setor

em que este se encontra,; o u t r o s a s s u m e m t r a n q ü i l a m e n t e o fato, co­

m o s e n d o um a d e c o r r ê n c i a do s i s t e m a de o r g a n i z a ç ã o h o s p i t a l a r em

q u e viv e m , no q u a l e s t ã i n s e r i d a a d i v i s ã o de p a c i e n t e p o r cias;

se s õ c i o - e c o n ô m i c a .

O p e s s o a l m é d i c o , p o r s u a vez, assume claramente as suas

d i f i c u l d a d e s em i n t e r a g i r c o m o a c o m p a n h a n t e , a l e g a n d o f a l t a de

t e m p o p a r a u m a m a i o r a p r o x i m a ç ã o c o m o m e smo» N e s s e s e n t i d o , o

m é d i c o C o o r d e n a d o r d a c o m i s s ã o de c o n t r o l e de i n f e c ç ã o hospi­

talar d eclarou:

- Questiono até que ponto a equipe de s a ú d e , na qual


me incluo, encontra-se p r e p ar ada para en fren tar o d.e
safio de uma relaçao mais- p rof unda com os f amiliares
do paciente. Daí a p r e f e r ê n c i a por uma po stura mais
técnica (formal e distante), como uma. forma de fugir
ao difícil rel aci ona men to face a face.

S e g u n d o os i n f o r m a n t e s , v á r i o s são os feitores q u e interfe

r e m e m se u r e l a c i o n a m e n t o c o m o a c o m p a n h a n t e . E n t r e estes, in­

c l u i - s e : os a d m i n i s t r a t i v o s , c u j a o r g a n i z a ç ã o r í g i d a s ã o des­

favoráveis, as c o n d i ç õ e s i n a d e q u a d a s de i n f r a - e s t r u t u r a e m que

o a c o m p a n h a n t e d e s e m p e n h a s uas f u n ç õ e s , n í v e l s õ c i o - e d u c a c i o n a l

do a c o m p a n h a n t e e q u a d r o c l í n i c o do p a c i e n t e . P a r a o p e s s o a l de

e n f e r m a g e m , o n ú m e r o de l e i t o s p o r U n i d a d e de I n t e r n a ç ã o foi e n ­

f a t i z a d o c o m o u m dos f a t o r e s i n f l u e n t e s e m s e u r e l a c i o n a m e n t o ,

com o acompanhante previdenciãrio. Tomando por base o que ocor­

re n o s e t o r p a r t i c u l a r , c u j o l i m i t e m á x i m o de l e i t o s é de 16

por Unidade, os p r e v i d e n c i ã r i o s e s t ã o e m d e s v a n t a g e m , p o i s c h e ­

g a m a 36 leitos. Isto contribui, s e g u n d o eles, p a r a m a i o r d i f i ­

c u l d a d e de r e l a c i o n a m e n t o i n t e r p e s s o a l c o m o p a c i e n t e e seus

f a m i l i a r e s , e x i g i n d o q u e os f u n c i o n á r i o s se d e s d o b r e m p a r a dar

a t e n ç ã o a t o d o s .-
A s c o n d i ç õ e s de i n f r a - e s t r u t u r a e m q u e o a c o m p a n h a n t e do

p a c i e n t e p a r t i c u l a r d e s e n v o l v e suas a t i v i d a d e s são considera­

das s a t i s f a t ó r i a s n ã o só p e l o s e n f e r m e i r o s , c o m o p e l o s pró­

prios acompanhantes. I s t o p o r q u e c a d a u m d i s p õ e do m í n i m o in­

d i s p e n s á v e l p a r a atender a suas n e c e s s i d a d e s i n d i v i d u a i s de sono,

r e p o u s o , .alimentação, c o m u n i c a ç ã o , e n t r e o u t r o s , e n q u a n t o os

a c o m p a n h a n t e s dos p a c i e n t e s p r e v i d e n c i ã r i o s não dispõem de

i g u a i s c o n d i ç õ e s p a r a o d e s e m p e n h o de s e u papel, e x e r c e n d o s u a s

f u n ç õ e s i m p u l s i o n a d o s p e l a n e c e s s i d a d e a f e t i v a de " e s t a r e m j u n ­

tos" ao p a c i e n t e , p a r a a j u d á - l o s e n q u a n t o h o s p i t a l i z a d o s .

A f a l t a de c o n d i ç õ e s de a c o m o d a ç ã o p a r a os q u e permanecem

p o r m a i s de 2 4 h o r a s n o s e t o r p r e v i d e n c i ã r i o n ã o * t e m sido c o n ­

s i d e r a d a p e l a e q u i p e c o m o f a t o r p r e d i s p o n e n t e aos p r o b l e m a s de

r e l a c i o n a m e n t o e n t r e si. No entanto, percebe-se a dificuldade

de estes s u p o r t a r e m p r o l o n g a d o s p e r í o d o s de v i g í l i a c o m o paci­

ente, s e m q u e v e n h a m â t o n a suas r e a ç õ e s n a t u r a i s de exaustão,as

q u a i s s ã o m o t i v o s de a t r i t o s e n t r e e q u i p e e a c o m p a n h a n t e , por

s e r e m c o n f u n d i d a s c o m a t o s de i n d i s c i p l i n a do a c o m p a n h a n t e r prin

c i p a l m e n t e a, d i v i s ã o do l e i t o c o m o p a c i e n t e , o u a improvisação

de c a m a n o c h ã o p a r a s e u d e s c a n s o n o t u r n o . U m a e n f e r m e i r a com

e x p e r i ê n c i a , t a m b é m e m a t i v i d a d e s d o c e n t e s , declara:

Muitos acompanhantes não se queixam porque não s a ­


bem qual sera a reação da p ess oa acusada e temem
represálias* .

0 c h e f e do s e t o r de e d u c a ç ã o e m s e r v i ç o p a r e c e expressar

b e m os s e n t i m e n t o s d a e q u i p e q u a n d o d i z ;

- A situação do acompanhante nas Unidades de Inter_


nações p r e v i d e n c i á r i a s . é um arranjo autorizado p e ­
la Direção des te. H o s p i t a l ,em q u e , apesar dos b e n e f í ­
cios dela resultantest pr inc i p a l m e n t e pára o paói-
134

ente, ocorre co nco mit antemente uma série de dificul


dades, cujos meios para resolve-los não dependem s~o
da equipe, muito menos do a c o m p a n h a n t e . Isto é muito
desgastante para os e n f e r m e i r o s , ter que conviver
com tais problemas e nada p o d e r fazer; daí a razão de
alguns se mo str a r e m i nsensíveis ao que esta o c o r r e n ­
do neste sentido, ou ainda bu scarem o caminho da f u ­
ga, por ser o mais cômodo.

Pe rcebe-se,também,que alguns enfermeiros/diante da impos­

s i b i l i d a d e de p r e v e n i r os p r o b l e m a s m a i s s é r i o s de suas unidades,

t e n t a m , c o m s o l u ç õ e s pal i a t i v a s, m i n i m i z a r a situ a ç ã o . Assi m , p o r

exemplo, s o l i c i t a m ao s e r v i ç o de N u t r i ç ã o o f o r n e c i m e n t o de

refeições ("por b a i x o d o pano") p a r a os p r e v i d e n c i ã r i o s que

a p r e s e n t a m m a i o r e s d i f i c u l d a d e s de c o n s e g u i - l a s fora do Hospi­

tal.

N a o p i n i ã o de dois e s c r i t u r á r i o s de U n i d a d e de Internação/

q u a n t o m a i s e l e v a d o o n i v e l s õ c i ò - e c o n õ m i c o ,.do a c o m p a n h a n t e ,maio

res s e r ã o as a t e n ç õ e s a e l e d i s p e n s a d a s :

- Veja, por exemplo, o que estã ocorrendo no a p a r t a ­


mento 741 ; parece que todas as atenções estão m o ­
bilizadas p rio rit ari ame nte pa ra aquele pa cie nte ,a-
pes'ar do seu estado geral ser relativamente bom;
so se justif ica ndo o fato. pelo status que aq ue­
le pacie nte ocupa no Governo do EstadOi

Coincidentemente,este caso apontado como exemplo surgiu

p o r o c a s i ã o de u m a c r i s e e n t r e ’
funcionalismo público e Governo

Esta d u a l , c o m a m e a ç a de g r e v e p o r q u e s t õ e s de m e l h o r i a sala r i a l .

Isto, p r o v a v e l m e n t e , p o d e t e r i n f l u e n c i a d o a r e l a ç ã o d a equipe

c o m o p a c i e n t e e seus f a m i l i a r e s .

N o s e t o r p r e v i d e n c i ã r i o s ã o f r e q ü e n t e s as q u e i x a s d a e n f e r

m a g e m q u a n t o ao " b a i x o n í v e l e d u c a c i o n a l " dos a c o m p a n h a n t e s ,a r ­

gumentando que isto dificulta qualquer esforço para melhorar

suas r e l a ç õ e s i n t e r p e s s o a i s . M a s h á t a m b é m os q u e d i z e m prefe­

rir t r a b a l h a r c o m e s s e gru p o , p o r s e r e m p e s s o a s "humildes, s i m —


135

pies e carentes".

O d i a g n ó s t i c o , e s t a d o g e r a l do p a c i e n t e e seu prognóstico.,

s ã o os três f a t o r e s c i t a d o s p e l o s i n f o r m a n t e s c o m o v a r i á v e i s im

p o r t a n t e s n o r e l a c i o n a m e n t o e q u i p e ^ acompanhante. Q u a n d o se trata

de u m a d o e n ç a grave, c u j o s r i s c o s e c o n s e q ü ê n c i a s o a c o m p a n h a n ­

te t e m c o n s c i ê n c i a , o se u r e l a c i o n a m e n t o c o m a e q u i p e torna-se

mais vulnerável.. Qualquer indisposição entre estes pode resul

tar em conflitos. U m e n f e r m e i r o d a U n i d a d e de T e r a p i a I n t e n s i v a

a c h a que:

. - A hi persensibilidade dos f amiliares de pac ientes


graves, p art icu lar es ou p r e v i d e n c i ã r i o s , é muito sin
tomãtica de quem está com problemas de consciência ,
por alguma negligen cia ou omissão de sua parte em
relaçáo ao a tendimento pre ven tivo ã p r o b l em áti ca do
paciente.

Da m e s m a f o r m a q u e as d o e n ç a s graves, o e s t a d o g e r a l do

p a c i e n t e , q u a n d o se c o m p l i c a , p o d e g e r a r d i f i c u l d a d e s n o rela­

cionamento equipe e acompanhante, "a m e n o s q u e s e j a oferecida

u m a b o a a s s i s t ê n c i a p s i c o l ó g i c a ao a c o m p a n h a n t e , condição pouco

p r o v á v e l de ser e f e t i v a d a " , s u s t e n t a u m dos e n f e r m e i r o s infor­

mantes :

- Nao estamos preparados para ate nder a família do


p a c i e n t e , já vivenciei casos dramaticos em que não
encontrei outra alternativa, senão a fuga. E isto
não acontece so c o m i g o , mas também com outros pro_
fissionais, pri nc ipa lme nte o médico. '■

Q u a n t o ao p r o g n ó s t i c o , d e p e n d e do c o n h e c i m e n t o do acompa

n h a n t e s o b r e as c o n s e q ü ê n c i a s q u e a d o e n ç a p o d e p r o v o c a r no p a ­

c i e n t e , suas c h a n c e s de s o b r e v i v ê n c i a e r e c u p e r a ç ã o . As d o e n ç a s

s ú b itas, c a r d í a c a s e q u a l q u e r das f o r m a s de câncer, na opinião

de u m m é d i c o r e s i d e n t e , p r o v o c a m n o a c o m p a n h a n t e u m e s t a d o de

tensã,o e e s t r e s s e e m o c i o n a l , v a r i á v e l c o m a e s t r u t u r a psíquica
136

de c a d a um, i n t e r f e r i n d o , . p o r t a n t o , n o r e l a c i o n a m e n t o e q u i p e e

acompanhante.

O u t r o a s p e c t o a s er c o n s i d e r a d o n o r e l a c i o n a m e n t o refe­

r e - s e ao s p a d r õ e s de c o m p o r t a m e n t o e x i g i d o s do a c o m p a n h a n t e , os

q u a i s n ã o c o n d i z e m c o m as c o n d i ç õ e s q u e lhe são o f e r e c i d a s , em

termos materiais e,principalmente,de apoio e orientação, sendo

o a c o m p a n h a n t e p r e v i d e n c i ã r i o o m a i s p r e j u d i c a d o n e s t e sentido.

A b o r d a r a q u e s t ã o do a c o m p a n h a n t e e s e u r e l a c i o n a m e n t o c o m

a e q u i p e de s a ü d e p a r e c e e s t i m u l ã - l o s a f a l a r de p r o b l e m a s p e r ­

t i n e n t e s ao se u dia-a-dia no trabalho.Visando a retratar,o p o s i c i o n a ­

m e n t o de c a d a g r u p o p r o f i s s i o n a l a e s t e r e s p e i t o , foram sele­

c i o n a d a s as s e g u i n t e s d e c l a r a ç õ e s :

Médico •

- A-prese nça de um familiar, em determinados momen-


tos»e rnuito importante para o paciente e para a
equipe, pois ele pode comple men tar algumas i n f o r ­
mações básicas sobre o p a c i e n t e , alem de ajudá-lo
no atendimento de suas necessidades. Isto se forem
pessoas bem informadas e e q u i l i b r a d a s , do c o n t r á ­
rio, podem trazer sérios p r o b l e m a s , dando mais tra
balho a. equipe do que o proprio paciente.

Enfermeiro

- Ac ompanhante ê bom pa ra o pacie nte que fica com


uma p essoa em di spo nib ili dad e exclusiva para sij
o que não ê p o s s í v e l conseguir através da e n f e r m a ­
gem, que- tem todos os outros pacientes para cui­
dar. Mas, para a equipe, é mais um e n c a r g o , com a
sua orientaçao e supervisão.

T é c n i c o de E n f e r m a g e m

- A pre sen ça do ac omp anh ant e , não deixa de ser uma


d i ficuldade para enfermagem, porque eles interferem
muito no trabalho da equipe, não querendo que se
me xa com. o paciente,, com medo de que a g e n t e p oss a mal_
tratá-lo, ou mesmo rejeit and o algum cuidado ou tra­
tamento c onsiderado penoso para o p a c i e n t e , . como
a spi ração de s e c r e ç õ e s , ou realizaçao de curativos
d o l o r o s o s , entre outras.
A u x i l i a r de E n f e r m a g e m

- Quando o paciente tem a c o m p a n h a n t e ,ficamos g e r a l ­


mente mais d e s p r e o c u p a d o s } porque sabemos que q u a l ­
quer pro ble ma nos serã c o m u n i c a d o .

A t e n d e n t e de E n f e r m a g e m

- Para nos,tanto faz o p aciente ter ou não a c o m p a ­


nhante ^, trabalhamos da mesma forma, pois, embora al^
guns ajudem, também fazem muita cobrança. '

E s c r i t u r á r i o de E n f e r m a g e m

- Ao tomar conhecimento de que o Hospital tem a b e r t u ­


ra também para receber a companhante p r e v i d enc iãr io ,
ê interessante como todos q uerem ter este direito.
E quando se interna p aciente ligado a algum fun­
cionario, mesmo os que não eram a favor de acom­
p a nh a n t e . p a s s a m a lutar p o r esta oportunidade.

M e s m o d i a n t e de tais c o n t r a d i ç õ e s face a p r e s e n ç a do a c o m ­

p a n h a n t e n a s U n i d a d e s de I n t ernações, e a p e s a r de c o n s c i e n t e de

que o Hospital não desenvolve nenhuma programação que p romova a

sua p a r t i c i p a ç ã o nas a t i v i d a d e s de d i a g n ó s t i c o , t r a t a m e n t o ,r e a ­

bilitação, conforto e bem-estar do paciente, a equipe demonstra

a l i m e n t a r e x p e c t a t i v a s q u a n t o "à c o n t r i b u i ç ã o q u e o m e s m o possa

o f e r e c e r p a r a u m a a s s i s t ê n c i a m a i s e f e t i v a ao p a c i e n t e . E x i s t e m

também àqueles mais céticos, cujas declarações têm como base a

o c o r r ê n c i a de p r o b l e m a s v i v e n c i a d o s n e s t e sentido; exemplo:

- Ê de sagràdãvel lhe tiLizer, mas para ser honesta,


não sou favorável a pre sen ça de acompanhante nas
Unidades de Internações p r e v i d e n c i a r i a s . Primei-
ro, porque o Hospital não dispõe de infra-estrutura
a de quada para isto, a não ser nas Unidades de I n ­
ternações particulares. S e g u n d o , porque a clientela
p e r t e nc ent e ao grupo interessado ê muito sem p r i n ­
cípios de e d u c a ç ã o , de higiene e moral, por isso
criam mais problemas do que ajudam. Se dependesse
so de mim decidir sobre essa q u e s t ã o , suspenderia
as autorizações parà acompanh ant e previdenciãrio ,
somente os pacientes de a partamento teriam direito
a acompanhante. -

- Como em todas as camadas s o c i a i s , entre os acom-


138

panhantes p art icu lar es e pr evi d e n c i ã r i o s encontramos


os que go sta m de colaborar, indo ate alem do que se
espera d e l e s ; outros so exigem e cobram atenção da
equipe.

- depende muito da formação educaci ona l e sõcio-cul-


tural do individuo que a c o m p a n h a . as perspectivas de
se obter deste uma colaboração efetiva na a s s i s t ê n ­
cia ao paciente. E xistem os que não ajudam, mas tam ­
bém não atrapalham, e os que tem um pod er fantástico
de p e r t u r b a r o paciente e o nosso trabalho.

A e q u i p e a u x i l i a r de e n f e r m a g e m t e m d i f e r e n t e s expectati­

vas a e s s e r e s p e i t o , c o n f o r m e à u n i d a d e o n d e trab a l h a . 0 grupo

do s e t o r p a r t i c u l a r , p o r e x e m p l o , t e m a s e g u i n t e opinião:

- Se os aco mpanhantes aqui f ossem bem o r i e n t a d o s , te­


riam condições de oferecer uma grande ajuda na as­
sistência ao paciente.

Os q u e a t u a m n o s e t o r p r e v i d e n c i ã r i o p a r e c e m mais pes­

s i m i s t a s ao d e c l a r a r :

- 0 mínimo que se pode esperar do acompanhante é que


ele atenda, ãs solicitações do paciente e ajude na
execução dos seus cuidados mais s i m p l e s . No entán
to, isto não tem ocorrido, com algumas exceções ; eles
deixam ■o pac iente urinar na cama; por exemplo, enquan_
to vem p r o c u r a r alguém da e n f e rma gem para servir a
comadre ao p a c i e n t e . ' '

E n t r e e l e s > t a m b ë m e n c o n t r a m - s e os q u e t ê m o p i n i õ e s favo­

ráve i s , c o m o sejam:'

- Quando o acompanhante p art i c i p a dos cuidados do


p a c i e n t e , este tende a se re cuperar melhor e mais r á p i ­
do.

- Alguns acompanhantes são m a r a v i l h o s o s , e d u c a d o s ,


compree nsi vos , c o l a b o r a d o r e s , ajuâ.ando até o p a c i e n ­
te vizinho ou em outras areas, como copa e limpe­
za.
139

Os D i r e t o r e s A d m i n i s t r a t i v o e Técnico, p o r s u a vez, decla-

r a m - s e d e s f a v o r á v e i s a a u t o r i z a ç ã o de a c o m p a n h a n t e s previden-

ci á r i o s , t e n d o era v i s t a q u e o H o s p i t a l d e v e f u n c i o n a r c o m o uma

e m p r e s a q u e visa, tambëm, a gerir r e c u r s o s p r õ p r i o s . N e s s e sentido,

só os p a r t i c u l a r e s lhes c o n f e r e m lucros, p r o v e n i e n t e s das dia­

r i a s q u e lhe s ão c o b r a d a s .

Estão, portanto, d i v i d i d a s as o p i n i õ e s d a e q u i p e , n o q u e t a n ­

ge â p r e s e n ç a do a c o m p a n h a n t e n a U n i d a d e de Inte r n a ç ã o . De um

lado, os q u e se d i z e m f a v o r á v e i s a s u a i n t e g r a ç ã o â e q u i p e de

saüd e , e m b o r a so b c o n d i ç õ e s , d e s t a c a n d o - s e , p r i n cipalmente, a suà

c o l a b o r a ç ã o nos c u i d a d o s d o p a c i e n t e e o b s e r v â n c i a das normas

disciplinares durante sua permanência no hospital; de o u t r o , o s

q u e a l e g a m q u e o " a c o m p a n h a n t e a t r a p a l h a m a i s do q u e a j u d a " , p o r

t a n t o p r e f e r e m e v i t a r a su a p r e s e n ç a e m seus l o c a i s de trabalho.

E x i s t e m a i n d a os q u e se d i z e m c o n f u s o s , p o r t a n t o s e m condições

de se p r o n u n c i a r e m a f a v o r o u c o n t r a a p r e s e n ç a do a c o m p a n h a n t e
I
e m t o d a s as u n i d a d e s de i n t e r n a ç ã o . N e s t e c l i m a de ambigüida­

de, r e g i s t r a m - s e as q u e i x a s o r i u n d a s das v á r i a s c a t e g o r i a s de

enfermagem, .face a p r e s e n ç a dos a c o m p a n h a n t e s de ambos os gru-


.1
pos, "A" e "B", como sejam:

Particular

- Pelo fato de p a g a r e m suas diarias no Hospital,


q uer em des fru tar das mordomias de um H o t e l ; alguns
deitam-se no di vã e ligam a campainha atê para p e ­
dir ãgua para o p a c i e n t e . (Enf.)

- A l g u n s ac ompanhantes acham-se com o direito de


dar o r d e n s } como se fossemos seus e m p r e g a d o s . E nos
temos que dis simular e dis pensar muita coisa, p o r ­
que o funcioná rio nunca tem razão. (Têc. Enf.)

- Ha casos de aco mpanhantes nervoso s e a g r e s s i v o s ,


capazes de armar um escândalo por q ualquer i ns a t i s ­
fação. Há poucos dias quase me crucifi car am porque
140

pen s a r a m que eu e stava maltratando o pac iente q u a n ­


do rasguei a camisa dele (que: era f e c h a d a ) , para fá
cilitar a saída. (Aux. Enf.) ~

- So acho que são uma classe muito e x i g e n t e , e querem


ser atendidos nas minimas coisas, ligam a campainha
até para pedir para f ech ar ou abrir uma janela. (At.
Enf. )

Previdenciario

- Q u a n d o vêm sol ici tar autoriz açã o se dizem em c o n ­


dições de atender a todos os pré -re qui sit os exigidos
e ac eitarem todas as normas d i s c i p l i n a r e s . No e n­
tanto, com pouco tempo começam a se a e s c o m p e n s a r 3
criando sérios p r o b l e m a s para si e para a Institui
ç ã o . (Enf.)

- Seu nível e ducacional não ajuda, pois são porcos


e relaxados; cospem pelas 'j a n e l a s 3 sujando as p a r e ­
des, veja como estao m arcadas de cima até embaixo.
Com raras e x c e ç õ e s 3 o quarto onde tem acompanhante
é mais sujo, tem cinzas e pontas de cigarro pelo
chão,. cascas de frutas nos c e s t o s , farelos de b i s ­
coitos nas mesinhas e t c . 3 não ha quem consiga c o n ­
trolar. (Téc. Enf.)

- 0 pro ble ma é que esses acompanhante s vem pra a j u ­


dar nos cuidados do d o e n t e 3 mas quando chegam aqui
nao querem fazer nada; deixam o p aciente e vao p a s ­
sear pelo Hospital ou vão dormir. Ãs vezes ac o n t e ­
ce de o soro sair da v e i a , ou o pa ciente retirar s o n ­
das e até cair da cama,e o acompanhante não toma
conhecimento. (Aux. Enf.) ‘
1
- Os acompanhante s que mais reclamam sao os que m e ­
nos ajudam. São os de po si ç ã o social mais e l e v a d a 3
mas que não po dem p a g a r um a p a r t a m e n t o , Então ficam
f a l a n d o .que estão p ag a n d o o Instituto para ser bem
atendidos; não entende m que a gente tem todos os ou
tros pac ie n t e s pa ra cuidar. (At. Enf.)

E s p e c i f i c a m e n t e e m r e l a ç ã o aos a c o m p a n h a n t e s dos p a c i e n t e s

previdenciãrios., h ã q u e i x a s de o r d e m d i s c i p l i n a r , tais como:

- desrespe ita m o horario de silencio, ficam c o n v e r ­


sando alto, ligam o som, radio ou TV em alto volume,
p e r t u r b a n d o os outros p a c i e n t e s .

- D e sob ede cem as orientaç ões dadas - dividindo o


leito com o p a c i e n t e , ou improvisando cama no chao
141

para d o r m i r e m , ao invés de m ant er a vigilancia do


paciente. Utilizam roupa do Hospital para forrar o
chão quando querem re pousar ou d o r m i r , são capazes
de re tirar ate a coberta do paciente, caso não e n ­
c on tre m outra alternativa. '

- Al t e r a m o p l a n e ja men to al ime nta r do paciente in-


fl uenc ian do -os n ega tivamente com seus tabus a l i m e n ­
t a r e s , burlando a dieta ou j eju m do paciente ; o f e ­
recendo alimentos contra-i ndi cad os ou fora do h o r a ­
rio p e r m i t i d o . Outros dividem as refeições do p a c i ­
ente consigo, e^ãs vezes, até com outros familiares
que ap arecem na. hora.

- I nte rfe rem nas decisões da equipe de varias f o r ­


mas: alterando o gotejame nto do soro para mais ou
para menos, fazendo xérox da autorização de acom­
panhante para mais de um fam iliar utilizã-la ao mes
mo t e m p o ; burlando o controle de entrada na p o r t a ­
ria, onde se i dentificam como acompanhantes das
.Unidades p a r t i c u l a r e s , para os quais a entrada e
livre.

Quando insatisfeitos por algum motivo, tumultuam


ambiente e deixam o p aciente sob tensão.

E x i s t e m também os de o r d e m moral:

- 0 uso de roupas consid era das impróprias para e n ­


trar em H o s p i t a l , tais como shorts, mini-saia e c a ­
misola t r a n s p a r e n t e .

- Namoro do acompanhante com outras pessoas . na


Unidade de Internação p r o v o can do ciúmes no p a c i e n ­
te e até pratica de relação sexual entre acompanhari
te e paciente no próprio quarto, banheiro ou outras
dependências da Unidade de I n t e r n a ç ã o .

D i a n t e de t a i s p r o b l e m a s , os e n f e r m e i r o s a l e g a m n ã o ter

c o m o r e s o l v ê - l o s , u t i l i z a n d o c o m o ú n i c a a l t e r n a t i v a ^ p a r a os c a ­

sos m a i s g r a v e s , a s u s p e n s ã o d a a u t o r i z a ç ã o de a c o m p a n h a n t e e,

e m ú l t i m a instância.,a " a l t a a d m i n i s t r a t i v a " p a r a o p a c i e n t e . C o n

tudo, u m a m e d i d a d e s s a n a t u r e z a i m p l i c a o u t r a s d i f i c u l d a d e s , ar

g u m e n t a m os e n f e r m e i r o s .

- A suspensão de um acompanha'nte constitui um p r o ­


blema m u i t o ■d e l i c a d o , porque o paciente tende a en-
142

trar em depressão e a família geralmente não aceita


a s u s p e n s ã o ; relutam até as últimas conseqüências pa
ra p e r m a n e c e r e m com o p a c i e n t e . Ja houve casos em que,
p ar a tirar o acompanhante ( sus pen so) da UnicLade de
I n t e r n a ç ã o , tivemos que r eco r r e r ao guarda de p o l i ­
cia do H o s p i t a l . Entao que stiona-se o que isso tudo
re pre sen ta para o p a c i e n t e .

O u t r a q u e i x a p r o c e d e n t e dos e n f e r m e i r o s das u n i d a d e s de

internações r e f e r e - s e às suas d i f i c u l d a d e s e m t o m a r decisões

q u a n t o a s e l e ç ã o dos p a c i e n t e s p r e v i d e n c i ã r i o s q u e p o d e r ã o se

b e n e f i c i a r da a u t o r i z a ç ã o de a c o m p a n h a n t e . E declaram:

- Os pa cie nte s e seus f a m i l i a r e s ¡ao tomarem co n h e ­


cimento . des ta c o n c e ssao feita pelo h o s p i t a l , todos
se acham com o direito de c o n s e g u i - l a . Nao entendem
que isto so é permitido para os casos especiáis e
tentam nos pr ess i o n a r de todas as formas para c o n ­
segui-laj inclusive com ameaça de nos denunciarem
para a Direção e até de s o l i c it are m nossa demis­
são.

A i n d a c o m r e l a ç ã o a e s s e a s p e c t o , os e n f e r m e i r o s t a m b é m se

q u e i x a m d a f a l t a de a p o i o p o r p a r t e d a d i r e ç ã o do Hosp i t a l , de

m o d o a lhes permitir u m p o s i c i o n a m e n t o c o n d i z e n t e c o m os c r i ­

t é r i o s p r é - e s t a b e l e c i d o s p a r a e s s e fim. D a í os r e s s e n t i m e n t o s

m a n i f e s t a d o s c o m as s e g u i n t e s e x p r e s s õ e s :

- Formalmente, cabe aos enfermeiros a difícil missão


de seleci ona r e autorizar os casos de paciente que
nece s.sitam de a c o m p a n h a n t e , mas hã tanta i nte rfere n_
cia p o l í t i c a , não apenas p r o v e n i e n t e ■dos pacientes
e seus f a m i l i a r e s , como da parte dos médicos que tam
bem se acham com o direito de au torizar seus pacien_-
tes, quando isto lhes convêm. E não a dmi tem que-
seus Ínteres se s sej am c o n t r a r i a d o s , sob pena de se
e s t a b el ece r o caos. Como não contamos com o apoio
necess ári o da Direção nestes casos, nao temos como
nos impor diante das pr ess õ e s e ameaças externas e
internas.
IV. A N Á L I S E T E M A T I C A

C o m b a s e no m o d e l o de a n á l i s e f o r a m i d e n t i f i c a d o s priorita

riamente, t r ê s t e m a s p r i n c i p a i s , p e r m e a n d o as t a x i o n o m i a s e os

domínios , q u a i s sejam: " e s t a r junto", sentimento de "sofrimen

to" e " g r a t i d ã o " m a r g i n a l i z a ç ã o e u m s u b - t e m a deste, a discrimzL

nação. E s t e s são a n a l í t i c o s ,
pois embora estejam presentes de
r-
forma, t á c i t a nos d a d o s , n ã o c h e g a m a ser e x p r e s s a d o s p e l o s in

formantes.

" E s t a r ju n t o " é u m t e m a q u e p e r m e i a t o d o s os d a d o s obtidos

nas e n t r e v i s t a s c o m os f a m i l i a r e s d o s p a c i e n t e s i n t e r n a d o s nos

s e t o r e s p a r t i c u l a r e p r e v i d e n c i ã r i o , independentemente da c l a s s e so

c iai o u e c o n ô m i c a a q u e p e r t e n c e m . O familiar deseja "estar

j u nt o " p o r v á r i a s r a z õ e s , entre elas a questão da afetividade

f a m i l i a r e a n o ç ã o d e q u e o paciente,, ao i n t e r n a r - s e , torna-se

"frágil, indefeso e dependente". Isto o leva a insistir pela

o p o r t u n i d a d e de p e r m a n e c e r c o m o p a c i e n t e e n q u a n t o hospitaliza

do.

C o n f o r m e c o m e n t á r i o i n i c i a l , na á r e a de s a ú d e d o a d u l t o e x i s

te u m v a z i o de c o n h e c i m e n t o s a r e s p e i t o d e e s t u d o s sobre o in

r e s s e d a f a m í l i a e p a c i e n t e s e s t a r e m juntos, a p e n a s a á r e a ma

t e r n o - i n f a n t i l p r o g r e d i u n e s s e sentido, c o m seus t r a b a l h o s so

b r e a h o s p i t a l i z a ç ã o d a c r i a n ç a , o n d e os a u t o r e s r e c o n h e c e m e
14 4
d e f e n d e m a i m p o r t â n c i a d a p r e s e n ç a da m ã e j u n t o ao filho. Em

b o r a n ã o u t i l i z e m e s t e s m e s m o s t e r m o s "est a r junto", AUFHAUSER

(1 977) r e f e r e a n e c e s s i d a d e q u e a c r i a n ç a teru de a c o n c h e g o , in

t i m i d a d e e r e l a c i o n a m e n t o c o n t í n u o c o m seus pais. E MAHAFFY

(1 974) c o m e n t a s o b r e os b e n e f í c i o s p a r a c r i a n ç a internada ao p e r m a

n e c e r c o m a mãe, a fim de a t e n u a r o i m p a c t o d a s e p a r a ç ã o dos

p a i s e o s e n t i m e n t o de a b a n d o n o .

A h o s p i t a l i z a ç ã o t e m s i do a m p l a m e n t e d i s c u t i d a na literatu

ra n a c i o n a l e e s t r a n g e i r a c o m o u m " e v e n t o e s t r e s s a n t e " , razão

p e l a q u a l os f a m i l i a r e s m a i s p r ó x i m o s ao p a c i e n t e d e s e j a m e

s e n t e m a r e s p o n s a b i l i d a d e d e e s t a r e m j u n t o s ao p a c i e n t e , desde

o m o m e n t o de sua a d m i s s ã o até a a l t a h o s p i t a l a r (TESK, 1976),

MACKEMZIE (1982).

P a r t i n d o do p r i n c í p i o de q u e a e q u i p e de saúde, p o r m a i s b e m

p r e p a r a d a q u e seja, n ã o s u b s t i t u i os p a i s a u s e n t e s , ISSNER

(1972), d e f e n d e a n e c e s s i d a d e d a p r e s e n ç a da m ã e d u r a n t e a ho£

p i t a l i z a ç ã o da c r i a n ç a , v i s a n d o a p r e v e n i r u m a r u p t u r a e m seu

relacionamento, com reações indesejáveis. N o seu e n t e n d e r , a

e q u i p e t e m a f u n ç ã o de d e s e n v o l v e r c u i d a d o s q u e r e q u e i r a m p r e p a

ro p r o f i s s i o n a l e d a r c o n d i ç õ e s aos p a i s p a r a a s s u m i r e m a sua

p a r t e e m r e l a ç ã o aos c u i d a d o s d a criança.

C o m os p a c i e n t e s a d u l t o s a s i t u a ç ã o não d i f e r e m u i t o , pois,

embora inconscientemente, o medo e as f a n t a s i a s de c r i a n ç a s p e r

s i s t e m e m c a d a um, v i n d o â t o n a n o s m o m e n t o s de c r i s e e ameaça

ao se u eu e x i s t e n c i a l (REGEANINI, 1 973), levando-os a reagir com

insegurança e dependência. ORLANDO (1 9 7 8 ) t a m b é m a f i r m a q u e as

r e a ç õ e s do a d u l t o q u a n d o e n fe r m o , n ã o 'diferem nulito da c r i a n ç a ,

r e q u e r e n d o p r o t e ç ã o e a j u d a de a l g u é m d e sua c o n f i a n ç a , a fim

de q u e p o s s a se s e n t i r m a i s seguro. E AMORIM" (1 979), d e c l a r a q u e

o hom e m , q u a n d o adoece, m o d i f i c a a sua m a n e i r a de ser e u t i l i z a


145
c o m o r e c u r s o de c o n t e s t a ç ã o as m a i s d i v e r s a s f o r m a s d e compor

t a m e n t o s e a t i t u d e s , q u e p o d e m incluir: agressividade, timidez,,

indiferença, regressão, excitação, rebeldia, ironia, e n t r e ou

tros. C o m a l g u n s p a c i e n t e s p a r t i c i p a n t e s d e s s e estu d o , consta

t a m o s a t i t u d e s de r e g r e s s ã o , c o m o c r i s e s de choro, solicitação

de c o m i d a na boca, e m b o r a e s t a n d o s e m p r o b l e m a s n a s m ã o s , e

e x a g e r a d a d e p e n d ê n c i a de o u t r o s , m e s m o p a r a c o i s a s simples.

0 acompanhante, f o c o p r i n c i p a l d e s s e estudo, acredita que

sua p r e s e n ç a g a r a n t i r á ao p a c i e n t e u m r e l a c i o n a m e n t o ’í n t i m o

freqüente, face a face, contribuindo para diminuir sua ansiedade,. além

de t r a n s m i t i r - l h e a m e n s a g e m de q u e e l e ê a m a d o e sua recupera

ção d e s e j a d a p e l a família. N e s s e c l i m a de aten ç ã o , amizade, a

poio e confinaça, i m a g i n a m d a r ao p a c i e n t e s e n t i d o a sua v i d a e

â n i m o p a r a s u p e r a r suas d i f i c u l d a d e s d e c o r r e n t e s d a situação.

Os f a m i l i a r e s n ã o p e r c e b e m e s t a m e t a c o m o a l g o q u e p o s s a ser de

l e g a d o ao s p r o f i s s i o n a i s d a saúde, u m a vez q u e o r e l a c i o n a m e n t o

destes com o paciente, na sua o p i n i ã o , é essencialmente técni.

co d i s t a n t e e s e m u m e n v o l v i m e n t o a f e t i v o . Com base nos estu

dos de S A N T O S et a l i i (1986), são p e r t i n e n t e s as q u e i x a s e re

cei o s m a n i f e s t a d a s p e l o s f a m i l i a r e s , ao a f i r m a r e m q u e o pacien

te a p r e s e n t a u m a c a r ê n c i a a f e t i v a m u i t o grande, d e c o r r e n t e de

seu a f a s t a m e n t o fami l i a r , de seu c o n t a t o c o m p e s s o a s e s t r a n h a s ,

p e l o s o f r i m e n t o i m p o s t o p o r seu e s t a d o p a t o l ó g i c o e p e l o fato

de e n f r e n t a r o a m b i e n t e h o s p i t a l a r , cujo significado possui co

notação negativa. A i n d a s e g u n d o os r e f e r i d o s auto r e s , o enfer

meiro deveria, a t r a v é s de seu r e l a c i o n a m e n t o c o m o paciente,

suplantar em parte esta carência, no e n t a n t o seus e n c a r g o s de

c o o r d e n a ç ã o d a a s s i s t ê n c i a de e n f e r m a g e m e a t i v i d a d e s adminis

ttfativas o i m p e d e m de e n v o l v e r - s e d i r e t a m e n t e c o m .o p a c i e n t e e

sejas p r o b l e m a s . D e a c o r d o c o m MAI-IAFFY Í1 974), o p a c i e n t e care

c.e d a a t e n ç ã o e c u i d a d o s d o s dois, familiar e enfermeiro, pois


146
c a d a u m t e m o se u p a p e l e s p e c í f i c o j u n t o ao mesm o . E HENSE

(1986) a f i r m a q u e a a u s ê n c i a da famíl i a , q u a n d o o p a c i e n t e vai

o p e r a r - s e , é m o t i v o de t r i s t e z a p a r a este, m e s m o nos c a s o s em

q u e e x i s t e j u s t i f i c a t i v a p a r a isto.

O d e s e j o de " e s t a r j u n t o ” t a m b é m c o r r e s p o n d e a u m a necessi.

d a d e de .manter v i g i l â n c i a e c o n t r o l e d a a s s i s t ê n c i a p r e s t a d a ao

paciente,. C o m i s s o v i s a m a a s s e g u r a r q u e o p a c i e n t e seja p r o n t a

m a n t e a t e n d i d o s e m suas n e c e s s i d a d e s r e l a t i v a s ao c o n f o r t o , se

gurança e tratamento indicado, e v i t a n d o d e s s a f o r m a que o m e s m o

s o f r a " p r i v a ç õ e s " , o u o u t r o s p r o b l e m a s r e s u l t a n t e s da negligên

c i a ou o m i s s ã o d o p e s s o a l e m serviço. P r e o c u p a d o s com o t i p o de

i n t e r p r e t a ç ã o q u e o p e s s o a l d a e q u i p e p o s s a d a r à*s suas inten

ç õe s n e s s e s e n tido, a l g u n s f a m i l i a r e s j u s t i f i c a m q u e seu o b j e t i

v o n ã o é " f i s c a l i z a r o u i n t e r f e r i r no t r a b a l h o da equipe", mas

" a c o m p a n h a r de p e r t o o q u e o c o r r e c o m o p a c i e n t e e t o m a r provi,

d ê n c i a s p a r a q u e n a d a lhe falte". A s " p r o v i d ê n c i a s " a q u e se re

f e r e m pode r e s u l t a r em: m a i o r d a m a n d a d a s s o l i c i t a ç õ e s â equipe,

de m e d i d a s r e l a t i v a s ao s c u i d a d o s d o p a c i e n t e , o u na contrata

ç ã o de p e s s o a l d e e n f e r m a g e m p a r t i c u l a r (a n í v e l médio) p a r a co

l a b o r a r na a s s i s t ê n c i a ao p a c i e n t e , c a s o se e n c o n t r e e m aparta

mento particular, ou mesmo em assumir pessoalmente, na c o n d i ç ã o

de a c o m p a n h a n t e , os c u i d a d o s do p a c i e n t e , c a s o e s t e j a no setor

p r e v i d e n c i ã r i o . É no s e t o r p a r t i c u l a r q u e s u r g e m c o m m a i s fre

q ü ê n c i a as r e i v i n d i c a ç õ e s d e c u i d a d o s s u p l e m e n t a r e s (não previjs

t o s ) , o u a c o b r a n ç a d o c u m p r i m e n t o d o h o r á r i o de c u i d a d o s de ro

tina.

A literatura não especifica este tipo de necessidade do a

c o m p a n h a n t e , de " e s t a r junto", c o n t u d o f a z r e f e r ê n c i a às qüei.

xas da e q u i p e q u a n t o à i n t e r f e r ê n c i a d o s f a m i l i a r e s e m seu tra

balho. T E S C K (1976) c o m e n t a e m seu e s t u d o q u e a l g u n s profissio

nais argumentam que a presença demorada de familiares na unida


14 7
de de internação, i n t e r f e r e no s e r v i ç o m é d i c o e de enfermagem.

ALVES (1965) d e c l a r a q u e n e m t o d o s os f a m i l i a r e s : encontram-se

p r e p a r a d o s p a r a a j u d a r o p a c i e n t e e q u e m u i t a s vezes, > apesar

d a s b o a s i n t e n ç õ e s , p o d e m falhar, p o r " i g n o r â n c i a o u p o r falta

de o r i e n t a ç ã o " . P o r o u t r o lado, a p e r c e p ç ã o d o s f a m i l i a r e s do

p a c i e n t e i n t e r n a d o de q u e a a s s i s t ê n c i a p r e s t a d a ao paciente

d e i x a a d e s e j a r t e m r e s p a l d o no e s t u d o de S I L V A (1979), quando

a f i r m a que "o e n f e r m o é c o l o c a d o n u m a c a m a e m a m b i e n t e estranho,

sem p a r e n t e s o u am i g o s , s e m c o m p a n h e i r o de q u a r t o ou s e m t e r si

do a ele apresentado, muitas vezes sem saber usar a campainha,

sem s a b e r o n o m e d e a l g u é m a q u e m chamar, o u a q u e m se dirigir

quando precisar". Tal percepção pode estar relacionada com a

n e c e s s i d a d e de " c o n t r o l e e v i g i l â n c i a " m a n i f e s t a d a p e l o acompa

nhante.

A p r e v e n ç ã o de r i s c o s e a c i d e n t e s é o u t r a r a z ã o p a r a " e s t a r

junto". C h e g a a d e s p e r t a r u m a g r a n d e p r e o c u p a ç ã o n o acompanhan

te, ao p o n t o de a l g u n s n ã o q u e r e r e m se a f a s t a r d o l eito d o pa

ciente,-por u m só i n s t a n t e , temendo que este possa sofrer "que

das, d e s m a i o s , c r i s e s de dores, r e t i r a d a d o soro, sondas ou cu

r a t i v o s " o u o u t r o s p r o b l e m a s i n e s p e r a d o s q u e ¡possam a g r a v a r o

processo saúde-doença d o p a c i e n t e q u e já e s t á c o m p r o m e t i d o pe

la a f e c ç ã o q u e o l e v o u a h o s p i t a l i z a r - s e ¿ D e a c o r d o c o m B I A N C H I

et a l i i (1986), os r i s c o s q u e p o d e m a c a r r e t a r a g r a v o s ã saúde

dos p a c i e n t e s h o s p i t a l i z a d o s e s t ã o l i g a d o s a a l g u n s f a t o r e s in

t r í n s e c o s ã p e s s o a o u ao m e i o - c o m p r e e n d e n d o o a m b i e n t e físico,

m a t e r i a l , e q u i p a m e n t o e p e s s o a l . 0 a c o m p a n h a n t e n ã o .tem uma

c o n s c i e n t i z a ç ã o de c o m o i s t o ocorre, sendo que ede próprio pode

ser u m r i s c o e m p o t e n c i a l p a r a o p a c i e n t e , q u a n d o n ã o o r i e n t a d o

adequadamente; i n s i s t e , ent ã o, p o r u m a o p o r t u n i d a d e de permane

c e r j u n t o ao p a c i e n t e , c o m a c o n v i c ç ã o de q u e p o d e r á c o n t r i b u i r
148
para evitar a ocorrência de riscos e acidentes com o paciente,

nas s i t u a ç õ e s acima.

A n e c e s s i d a d e d e se m a n t e r i n f o r m a d o q u a n t o ao diagnóstico

e t r a t a m e n t o p r e v i s t o p a r a o p a c i e n t e e, ao m e s m o tempo, o f ere

cer à equipe, i n f o r m a ç õ e s r e s u l t a n t e s d e suas o b s e r v a ç õ e s s o b r e

a situação do paciente, a s s i m c o m o ser seu p o r t a - v o z e d e f e n d e r

os i n t e r e s s e s d o m e s m o são t a m b é m r a z õ e s a l e g a d a s p e l o s f a m i l i a

res p a r a " e s t a r junt o " a o p a c i e n t e i n t e r n a d o . Isto d e m o n s t r a o

o i n t e r e s s e d e s s e g r u p o e m p a r t i c i p a r do p r o c e s s o de c o m u n i c a

ção, e n v o l v e n d o o p a c i e n t e e e q u i p e h o s p i t a l a r , p o r entenderem

q u e a s ua i n t e r m e d i a ç ã o n e s s e p r o c e s s o é f u n d a m e n t a l p a r a q u e o

paciente seja bem assistido. No entanto, a pouca receptividade

d a e q u i p e e o t i p o de r e l a c i o n a m e n t o p e s s o a l equipe-familiar

n ã o f a v o r e c e m o a l c a n c e d e s t a m e t a c o n f o r m e desej a m . CARNEIRO

(1983), e m s eu e s t u d o s o b r e c o m u n i c a ç ã o , o b s e r v o u q u e o enfer

mei.ro só se a p r o x i m a v a d o l e i t o d o p a c i e n t e q u a n d o e r a s o l i c i t a

do o u p a r a e x e c u t a r p r o c e d i m e n t o s t é c n i c o s a s s i s t e n c i a i s , inde

pendentemente estarem ou não o c u p a d o s c o m o u t r o s p a c i e n t e s . Isto

t o r n a - s e m a i s i n c o n g r u e n t e , q u a n d o d a c o n s t a t a ç ã o de que, quan

to m a i s e l e v a d o o s t a t u s d o p r o f i s s i o n a l , m a i o r e s as dificulda

d e s d e e s t e se r e l a c i o n a r c o m o p a c i e n t e e família, "tornando-se

incapaz de uma aproximação ou de um sorriso" (SARANO, 1978).

/ KRON (1978) a f i r m a q u e d a h a b i l i d a d e do e n f e r m e i r o e m comuni

car-se com o paciente e família dependera o sucesso ou falha na

interação enfermeiro-cliente e família e que um dos mais sérios

p r o b l e m a s d a e n f e r m a g e m é a " i n a b i l i d a d e " do p e s s o a l e m c o m p r e e n

d e r a s i déias, sentimentos e atitudes do paciente. /

C o m o u m a raz.ão m a i o r p a r a " e s t a r junto" ao pa,ciente i n t e r n a

do, o s f a m i l i a r e s r e f e r e m - s e à n e c e s s i d a d e de c o m p l e m e n t a ç ã o da

a s s i s t ê n c i a oferecida, go p a c i e n t e p e l a equi p e . A i d é i a parte


149
i n i c i a l m e n t e da n o ç ã o de q u e o c u i d a d o da p e s s o a e n f e r m a , inde

p e n d e n t e m e n t e da idade, é r e s p o n s a b i l i d a d e da familia. Por ou

tro lado, a q u e s t ã o a f e t i v a e a c o n s t a t a ç ã o de q u e a assistên

cia oferecida pela equipe é precária, devido â carência de pe_s

s oa i n e c e s s á r i o p a r a a t e n d e r a g r a n d e d e m a n d a de t r a b a l h o , os

levam a uma auto-motivação para colaborar com a equipe e com o

p a c i e n t e n a e x e c u ç ã o de seus c u i d a d o s r e l a t i v o s a: h i g i e n e indi

vidual, alimentação, exercícios e repouso, tratamento e contro

le d o e s t a d o d o p a c i e n t e e p r o m o ç ã o de seu c o n f o r t o e b e m - e s t a r .

Segundo ELDAR & ELDAR (1 9 8 4 ) V o e n v o l v i m e n t o dos f a m i l i a r e s e

preocupação com o paciente internado é um hábito comum nos paí_

ses e m d e s e n v o l v i m e n t o , c o m o o B r a sil, diferente dos países de

s e n v o l v i d o s , o n d e as f a m í l i a s t r a n s f e r e m t o d a a responsabilida

de do c u i d a d o d a p e s s o a e n f e r m a p a r a os p r o f i s s i o n a i s d a saúde.

A i m a g e m n e g a t i v a q u e m u i t o s t ê m s o b r e os h o s p i t a i s , só re

c o r r e n d o a e s t e c o m o ú l t i m o r e c u r s o p a r a e v i t a r a m o r t e , t a m bém,

c o n t r i b u i p a r a i n s e g u r a n ç a do p a c i e n t e e família, r e f o r ç a n d o a

n e c e s s i d a d e d e e s t a r e m juntos.

A n e c e s s i d a d e de " e s t a r j u n t o : é recíproca entre acompa

nhantes e pacientes. Segundo REGEANINI ( 1 9 7 3 ) , isto é próprio

de c u l t u r a s o n d e o i n d i v í d u o é m a i s d e p e n d e n t e d a família, nas

i n s t i t u i ç õ e s de s a ú d e o n d e os r e c u r s o s h u m a n o s e m a t e r i a i s são

insuficientes em qualidade e quantidade, não inspirando, portan

to, a c o n f i a n ç a e s e g u r a n ç a f í s i c o - e m o c i o n a l n e c e s s á r i a s ao pa

c i e n t e e f a m í l i a . Po r e s s a r a z ã o a l g u n s p a c i e n t e s c h e g a m a a p r e

s e n t a r c o m o c o n d i ç ã o p a r a i n t e r n a - s e a p e r m a n ê n c i a de u m fami
é
liar c o m o a c o m p a n h a n t e . Os p a c i e n t e s , de u m m o d o geral, demons,

t r a m r e c o n h e c e r a importância, d o a c o m p a n h a n t e c o m o e l e m e n t o de

apoio, de localiza,ção e s e g u r a n ç a . A l é m disso, reconhecem a con

t r i b u i ç ã o deste, p a r a q ue sua a,da,ptação se p r o c e s s e de forma


150
m a i s r á p i d a e m e n o s sofrida. Reforçam, ainda, a necessidade de

a j u d a e m seus c u i d a d o s , e s p e c i a l m e n t e os de v i g i l â n c i a e c o n t r o

le, q u e e x i g e m p r e s e n ç a c o n t í n u a , a s s i m c o m o a q u e l e s considera

d o s m a i s í n t i m o s como: h i g i e n i z a r - s e , trocar peças íntimas (cal

c i n h a s o u c u e c a s ) , c u i d a d o s c o m p r ó t e s e s , m a s s a g e m de c o n f o r t o ,

e n t r e o utros, e cuidados ligados aos aspectos psicossócio-espi

rituais: distrações com leituras, conversação, programas de rã

di o o u TV, r e c e p ç ã o de v i s i t a s e r e a l i z a ç ã o de o r a ç õ e s . Desta

forma, p a c i e n t e e a c o m p a n h a n t e c o m p a r t i l h a m ci r c u n s t â n c i a s , cren

ças, v a l o r e s e t ê m e x p e c t a t i v a s e m comum. Validando o exposto,

GARTON (1979) a f i r m a q u e a p r e s e n ç a de u m f a m i l i a r j u nto ao pa

c i e n t e h o s p i t a l i z a d o c o n t r i b u i p a r a q u e o a m b i e n t e se t o r n e me

nos h o s t i l p a r a ambos, p a c i e n t e e a c o m p a n h a n t e , a l e m de contri­

b u i r p a r a q u e o t e m p o p a s s e de u m a f o r m a m a i s r á p i d a e agradã

vel. O s e n t i m e n t o de i n c e r t e z a q u a n t o a o p r o g n ó s t i c o do pacien

te c o n t r i b u i p a r a a u m e n t a r os l aços a f e t i v o s e n t r e estes. Para

o p a c i e n t e a f a s e de t r a n s i ç ã o de sua c a s a p a r a o h o s p i t a l e vi

c e - v e r s a é c o n s i d e r a v e l m e n t e ' f a c i l i t a d o , se ele não for i s o l a d o

da f a m í l i a d u r a n t e o seu t r a t a m e n t o ( E L D A R & ELDAR, 19 8 4 ) . A fa

mília,. p o r sua vez, t e r á m a i s f a c i l i d a d e e m a j u d a r o paciente,

ap ó s a l t a h o s p i t a l a r , se t i v e r p a r t i c i p a d o de .seus- c u i d a d o s en

q u a n t o h o s p i t a l i z a d o . F A G I M (1962) diz q u e os pais, q u a n d o devi­

d a m e n t e o r i e n t a d o s , p o d e m a u x i l i a r na p r e s t a ç ã o ,d e c u i d a d o s aos

seus filhos, p e r m i t i n d o ao s e n f e r m e i r o s se d e d i c a r e m aos cuida

do s d e o u t r a s c r i a n ç a s m a i s c a r e n t e s de assistência. AQUINO

(1984) afirma, q u e a e f e t i v a p a r t i c i p a ç ã o da f a m í l i a no d i f í c i l
ê
p r o c e s s o de a s s i s t ê n c i a â s a ü d e c o n t r i b u i p a r a o r e s t a b e l e c i m e n

to p r e c o c e do p a c i e n t e .

O s e g u n d o t e m a q u e s u rge dos dados, r e f e r e - s e a ura m i s t o de

s e n t i m e n t o s de " s o f r i m e n t o e g r a t i f i c a ç ã o p e s s o a l " vivenciado


151

p e l o a c o m p a n h a n t e . E m b o r a e s s a q u e s t ã o se c o n f i g u r e c o m o u m te
J

ma, p o r q u e a p r e s e n t a c a r a c t e r í s t i c a s e s p e c í f i c a s , e l a e s t ã r e l a

c i o n a d a n ã o só c o m o t e m a a n t e r i o r , " e s t a r junto", p o i s esses

s e n t i m e n t o s rfesultam d a c o n v i v ê n c i a e n t r e a c o m p a n h a n t e e fami

liar internado, como também com o tema posterior, a marginaliza

ção, "pois a e x i s t ê n c i a d e s s e p r o b l e m a c o n t r i b u i p a r a a u m e n t a r o

sofrimento do acompanhante.

0 acompanhar, portanto, r e f l e t e as d u a s f a c e s de u m a mesma


tSv,

moeda. I s t o é, d e u m lado, s o f r e m ao e n f r e n t a r as adversidades

do ambiente h o s p i t a l a r i o medo e a incerteza do que p o d e r ã à c o n

tecer com a paciente e consigo mesma. A decisão de a c o m panhar um

f a m i l i a r q u e se h o s p i t a l i z a c o r r e s p o n d e a u m m o m e n t o difícil,

q u e se c a r a c t e r i z a p o r n e r v o s i s m o e p r e o c u p a ç ã o (HENSE, 1986).

Q u a n d o a i n t e r n a ç ã o o c o r r e de u r g ê n c i a o u q u a n d o o p a c i e n t e t e m

o seu estado agravado, o a c o m p a n h a n t e t e n d e a se desestruturar

emocionalmente, c h e g a n d o a l g u n s a e n t r a r em p â n i c o . B u s c a m , entã o ,

a p o i o j u n t o aos d e m a i s f a m i l i a r e s e e q u i p e o u e n t r e os compa

n h e i r o s de u n i d a d e d e i n t e r n a ç ã o . Contudo, a sua p r e o c u p a ç ã o era

n ã o d e i x a r t r a n s p a r e c e r e s s e s e n t i m e n t o p a r a o p a c i e n t e os le

v a n a se esfoirçar p a r a a d q u i r i r e m a u t o - c o n t r o l e . 0 b e m - e s t a r do

p a c i e n t e é c o l o c a d o e m p r i m e i r o p l a n o p e l a m a i o r i a dos q u e o

acompanham. I s t o p o d e ser c o n s t a t a d o à m e d i d a q u e se o b s e r v a ca

d a u m p r o c u r a n d o s u p e r a r su a f a l t a de c o n f o r t o , de a p o i o e de

or i e n t a ç ã o por par te da equipe, além da falta de experiência

de alguns em lidar com pessoas enfermas, e em circunstâncias

q u e n ã o lhe s ão f a m i l i a r e s .

A i d é i a de d e i x a r u m p a r e n t e e m u m a m b i e n t e e s t r a n h o e a m e a

ça d o r , o n d e o m e s m o c o r r e r i s c o de vida, c o n s t i t u i u m g r a n d e so

f r l m e n t o p a r a a m aioria.^ A i n d a s e g u n d o H E N S E (1986), os momen

tos q u e a n t e c e d e m u m a c i r u r g i a são d r a m á t i c o s p a r a a f a m í l i a do

i
152
paciente, ãs v e z e s a l g u n s n ã o s u p o r t a m o a l t o n í v e l de e s t r e s s e

e s a e m do h o s p i t a l . Q u a n d o o p a c i e n t e o u f a m i l i a r t e m amizade

c o m a l g u m a p e s s o a da e q u i p e h o s p i t a l a r , o seu s o f r i m e n t o tende

a ser a t e n u a d o . A d o e n ç a e h o s p i t a l i z a ç ã o de u m f a m i l i a r c a u s a m

t r a n s t o r n o s e m t o d a a f a m í l ia, no enta n t o , aquele que assume o

p a p e l de a c o m p a n h a n t e t e m a g r a v a d o o seu s o f r i m e n t o c o m os dejs

g a s t e s f í s i c o s e e m o c i o n a i s a q u e são e x p o s t o s , isto é, devido

aos longos'per i o d o s em';que f i c a m e m a t i v i d a d e , a t e n d e n d o o paciente

e m seus c u i d a d o s , se m d e s c a n s o o u s e m r e v e z a m e n t o c o m o u t r o s fa

m i l i a r e s e, ao m e s m o tempo, c o m p a r t i l h a n d o as d o r e s e a n g ú s t i a s

do p a c i e n t e , e s p e c i a l m e n t e q u a n d o e s t e t e m o seu q u a d r o c l í n i c o

agravado.

0 relacionamento equipe-acompanhantè, caracterizado como

"frio e indiferente", t a m b é m é c o n s i d e r a d o u m a d a s c a u s a s d e so
f r i m e n t o do a c o m p a n h a n t e , p o i s e s t e s .são v i s t o s , com algumas

exceções, como pessoas que pe rt u r b a m e incomodam. SARANO (1978)

c o m e n t a s o b r e o d e s p r e p a r o da e q u i p e p a r a e n c a r a r as "ciladas"

de u m a r e l a ç ã o p e s s o a l , l e v a n d o seus i n t e g r a n t e s a 'abreviarem

sua r e l a ç ã o c o m o p a c i e n t e e / o u família. C o m o u m a a t i t u d e d e au

to-defesa, c o n s c i e n t e o u não, a e q u i p e p r e f e r e e s c o n d e r - s e a t r á s

de seu p r o f i s s i o n a l i s m o . FAGIM (1962) já a f i r m a v a q u e os pais

e r a m v i s t o s m a i s c o m o " i n i m i g o s " do h o s p i t a l e d a p r ó p r i a c r i a n

ça d o q u e c o m o p a r t e i n t e g r a n t e d a criança. M e s m o os q u e reco

nhecem e valorizam a presença do familiar como um fator positi

vo d o p a c i e n t e i n t e r n a d o , deparam-se com dificuldades relativas

ã a d o ç ã o de t e o r i a s a d m i n i s t r a t i v a s a u t o c r á t i c a s e b l o q u e a d o r a s

de u m a a s s i s t ê n c i a h u m a n i t á r i a ao p a c i e n t e e família, através,

d a m a n u t e n ç ã o do seu v í n c u l o f a m i l i a r e afet i v o , com sérias re

percussões para o binômio.paciente-familia.


... ,

A l é m disso, os q u e f i c a m n o s e t o r p r e v i d e n c i ã r i o s o f r e m ao
153
s e r e m c o b r a d o s p o r t a r e f a s p a r a as q u a i s não f o r a m devidamente

preparados. ROY (1 968) faz r e f e r e n c i a ao "dil e m a " s o f r i d o pelas/

mães, p o r n ã o s a b e r c o m o c u i d a r d o s filhos, já q u e e r a m acostu

m a d a s a c u i d a r d a c r i a n ç a e m s i t u a ç ã o normal. A g o r a q u e e s t a se

encontra hospitalizada, c o m suas a t i v i d a d e s d i r i g i d a s p o r nor

m a s e r o t i n a s q u e n ã o lhe são n a d a f a m i l i a r e s , s e n t e m suas a ç õ e s

dificultadas. 0 p e s s o a l da e q u i p e n ã o a j u d a os p a i s a d i s c e r n i r

q u a n t o ao p a p e l q u e lhes c a b e d e s e m p e n h a r no h o s p i t a l , enquanto

acompanhantes, a c r e s c e n t a a autora. C o m o f a m i l i a r do paciente

adulto, e s t a s i t u a ç ã o se r epete, d e s s a f o r m a os acompanhantes

sentem-se praticamente abandonados e confusos, não encontrando

na e q u i p e o seu p o n t o de apoio. Isto, p a r a alguns, p o d e p a r e c e r

natural, c o n s i d e r a n d o q u e o p e s s o a l se e n c o n t r a tão o c u p a d o c o m

a p r o b l e m á t i c a d o s p a c i e n t e s q u e n ã o lhes s o b r a t e m p o p a r a dar

a t e n ç ã o aos f a m i l i a r e s . O u t r os, porém, m a n i f e s t a m sua decepção

e r e v o l t a c o m o d e s p r e z o . d a equipe, e s p e c i a l m e n t e os q u e perma

necem no setor p r e v i d e n c i ã r i o .

A o u t r a f a c e da m o e d a c o r r e s p o n d e ao s e n t i m e n t o de gratifi

c a ç ã o p e s s o a l , q u e é e x p l i c a d o não' só p e l o p r a z e r de e s t a r jun

to ao p a c i e n t e , m a s p r i n c i p a l m e n t e p e l a o p o r t u n i d a d e de s e r - l h e

útil, de t r a n s m i t i r - l h e " e n e r g i a s p o s i t i v a s 11, de a j u d á - l o a su

perar suas limitações físicas e emocionais, a s s i m como p e l a sa

t i s f a ç ã o d e s e n t i r q u e o p a c i e n t e o p e r c e b e c o m o a sua f o n t e de

s e g u r a n ç a e t r a n q ü i l i d a d e e, também, p e l a a l e g r i a de partilhar

c o m o p a c i e n t e as suas m e l h o r a s e r e s t a b e l e c i m e n t o . As afirma
■7 ',

çõe s deij A Q U I N O (1 984) e O R O (1 979), de q u e os f a m i l i a r e s estão

s u j e i t o s ao s m e s m o s s e n t i m e n t o s e as m e s m a s reaçfões emocionais

do p a c i e n t e , n ã o a p e n a s q u a n t o aos a s p e c t o s n e g a t i v o s , m a s tam

b é m d i a n t e do s p o s i t i v o s , r a t i f i c a m o e x p o s t o ^ P o r e s t a r a z ã o e,

a p e s a r de tudo, c o n s i d e r a m a e x p e r i ê n c i a v á l ida, " m e l h o r q u e fi


154

car em casa sem notícias" e na dúvida# quanto ao que po s s a es

tar ocorrendo com o paciente, afirmam os entrevistados.

A l i t e r a t u r a t a m b é m n ã o faz r e f e r ê n c i a e s p e c i f i c a m e n t e a e £

seimisto de sentimentos manifestados pelos familiares dos pa.


i ;
c i e n t e s i n t e r n a d o s . O s i n f o r m a n t e s d o g r u p o "A", a s s i m c o m o os

d o g r u p o "B", ao a b o r d a r e m e s t a q u e s t ã o , d e s t i n a v a m m a i s tempo

c o m e n t a n d o os p r o b l e m a s q u e o s f a z i a m " s o f r e r " d o q u e p a r a fa

lar d o s a s p e c t o s q u e l h e s p r o p o r c i o n a v a m " g r a t i f i c a ç ã o pessoal".

T o d a v i a , n ã o s i g n i f i c a q u e o primeiro, t e n h a u m a d i m e n s ã o m a i o r ,

p o i s t o d o s se p r e o c u p a v a m e m d e m o n s t r a r q u e a p r o f u n d i d a d e "do

seu s e n t i m e n t o de " g r a t i f i c a ç ã o " ' s u p e r a v a q u a l q u e r sofrimento

o c o r r i d o n e s t a e x p e r i ê n c i a e q u e t a i s e x p e r i ê n c i a s só a u m e n t a v a m

os laços de amizade c o m o p a c i e n t e .

Um outro tema que surge é a marginalização, definida por

FERREIRA (1986), como: "por a l g u é m à m a r g e m de.. . , impedir que


* •

participe de...". E m b o r a os i n f o r m a n t e s n ã o t e n h a m u s a d o este


■ i
termo, o s d a d o s i n d i c a m isto. E l a e s t á p r e s e n t e e m v á r i o s s e n t i

dos: n a p r ó p r i a o r g a n i z a ç ã o a d m i n i s t r a t i v a d a i n s t i t u i ç ã o , na

f i l o s o f i a de t r a b a l h o d a e q u ipe, n o r e l a c i o n a m e n t o i n t e r p e s s o a l

equipe-acomparihante, na divergência entre os objetivos da equjl

pe e os do acompanhante, assim como na exclusão do acompanhante

d a d i n â m i c a d e t r a b a l h o d a equipe.

I A marginalização, a nível institucional, ocorre a partir da

n ã o - o f i c i l a i z a ç ã o d o a c o m p a n h a n t e n a s u n i d a d e s de i n t e r n a ç ã o d o

h o s p i t a l . N e m m e s m o os a c o m p a n h a n t e s d o s p a c i e n t e s p a r t i c u l a r e s ,

cuja entrada e perma n ê n c i a constituem uma rotina no hospital,

t ê m a su a p r e s e n ç a r e f e r e n d a d a e m q u a l q u e r d o c u m e n t a ç ã o o f i c i a l

(regimento interno ou regulamento h o s p i t a l a r ) . Apenas o serviço

d e e m f e r m a g e m d i s p õ e d e uni d o c u m e n t o q u e d e f i n e os c r i t é r i o s d e

s e l e ç ã o e a u t o r i z a ç ã o de a c o m p a n h a n t e p a r a os p a c i e n t e s previ
155
denciários, em casos especiais. Paradoxalmente, exá!to p a r a e s t e

g r u p o n ã o e x i s t e m c o n d i ç õ e s de i n f r a - e s t r u t u r a p a r a recebê-los

na u n i d a d e de i n t e r n a ç ã o , p o i s n ã o f o r a m p r e v i s t o s e s p a ç o físi.

co e s e r v i ç o s de a p o i o p a r a g a r a n t i r a sua p e r m a n ê n c i a j u n t o ao

p a c i e n t e , c o m u m m í n i m o d e c o n d i ç õ e s p a r a a t e n d e r a suas neces

s i d a d e s de sono, r e p o u s o e a l i m e n t a ç ã o . Nem mesmo'aqueles que

f i c a m d i o t u r n a m e n t e no h o s p i t a l t ê m a s s e g u r a d a s e s s a s condições,

l e v a n d o - o s a r e p a r t i r e n t r e si as r e f e i ç õ e s o f e r e c i d a s ao pa

ci e n t e , o u a i m p r o v i s a r e m l a n c h e s (trazidos de c a s a o u na lan

c h o n e t e da esquina) no p r ó p r i o q u a r t o d o p a c i e n t e . Conseqüente

mente, i s t o n ã o só r e p e r c u t e m a l j u n t o à equi p e , como dá o r igem

a u m a c e r t a d e s o r g a n i z a ç ã o e s u j e i r a no a m b i e n t e ; daí as quei.

x a s d a e q u i p e de q u e os m e s m o s são " s ujos e i n d i c i p l i n a d o s ".

Conforme TREVIZAN (1987), é p o s s í v e l v e r i f i c a r q u e a estru

t u r a b u r o c r á t i c a h o s p i t a l a r p r i o r i z a os r e c u r s o s v a l o r i z a d o s p e

lo m é d i c o e p e l a a d m i n i s t r a ç ã o , p r i o r i d a d e e s t a que, na m a i o r i a

da s v e z e s , nã o c o i n c i d e c o m a q u e l a i n d i c a d a p e l o s p a c i e n t e s . - e

nem pelos enfermeiros.

A m a r g i n a l i z a ç ã o t a m b é m e s t á i m p l í c i t a n a f i l o s o f i a de tra

b a l h o d a e quipe, que não procura criar m e c a n i s m o s q u e p r o p i c i e m a

p a r t i c i p a ç ã o e f e t i v a d o a c o m p a n h a n t e e m suas a t i v i d a d e s assi£

tenciais, i n c l u i n d o - o no p r o c e s s o de t o m a d a d e decisões quanto

ao s c u i d a d o s d o p a c i e n t e . Com a formulação de uma filosofia de

trabalho propria da instituição, acredita-se que esta contribui­

ria p a r a d i m i n u i r a m a r g i n a l i z a ç ã o d o a c o m p a n h a n t e , d e s d e que

s e j a m t r a ç a d a s as d i r e t r i z e s b á s i c a s q u e p o s s a m n o r t e a r as

a ç õ e s d a e q u i p e m u l t i p r o f i s s i o n a l , no q u e se r e f e r e à atenção

ao a c o m p a n h a n t e . P o r o u t r o lado, a . a d o ç ã o d e u m a f i l o s o f i a ser

v i r i a t a m b é m de s u p o r t e p a r a u m a d e f i n i ç ã o c l a r a d o s d i r e i t o s e

d e v e r é s do a c o m p a n h a n t e , e v i t a n d o - s e n ã o só o p r o b l e m a d a marg^i
nalização, c o m o t a m b é m de d i s c r i m i n a ç ã o s o c i a l e e c o n ô m i c a .

A marginalização também é decorrente do r elacionamento pejs

soai e q u i p e - a c o m p a n h a n t e . O m e s m o t e m - s e d e s e n v o l v i d o e m u m cli.

ma pouco amistoso, e p o d e - s e d i z e r q u e e s t e o c o r r e de f o r m a v e r

t i c a l e a u t o r i t á r i a , r e s u l t a n d o em f r u s t a ç õ e s p a r a a m b o s os p a r

t i c i p a n t e s da r e l a ç ã o , p o i s n ã o a t e n d e às suas e x p e c t a t i v a s s e n

do as q u e i x a s r e c í p r o c a s e, c o m o c o n s e q ü ê n c i a d i s s o , a margina

l i z a ç ã o do a c o m p a n h a n t e a s s u m e m a i o r e s p r o p o r ç õ e s . Sentindo-se

sem o a p o i o e s p e r a d o da e q u i p e , e s t e a p e l a p a r a os c o m p a n h e i r o s

o u p a c i e n t e m a i s a n t i g o s no h o s p i t a l , v i s a n d o a o b t e r as orien

t a ç õ e s d e s e j a d a s , ou. s i m p l e s m e n t e p a r a d e s a b a f a r seus p r o b l e m a s ;

Segundo OLIVEIRA (1 985), v i v e m o s u m a é p o c a d i f í c i l de t r a n s i ç ã o ,

o n d e a p e s s o a h u m a n a n ã o é c o n s i d e r a d a s e g u n d o seus p a d r õ e s cul

turáis e valores pessoais. T o r n a - s e pois, u m i m p e r a t i v o p a r a os

p r o f i s s i o n a i s de s a ú d e c o n h e c e r o q u a d r o r e f e r e n c i a l dessa

clientela, a fi m de q u e p o s s a m e l h o r c o m p r e e n d ê - l a s .

E n t r e as a l e g a ç õ e s d a e quipe, q u a n t o ao seu d í f i c i l r e l a c i o

n a m e n t o c o m os f a m i l i a r e s d o s p a c i e n t e s i n t e r n a d o s , consta que

"os a c o m p a n h a n t e s r e a g e m m a l d i a n t e d e suas e m o ç õ e s e p a s s a m a

nos a g r e d i r , c o m o se f ô s s e m o s os c u l p a d o s de a l q o q u e n ã o está

bem". A l g u n s a c o m p a n h a n t e s c o n s e g u e m i n t e r a g i r m e l h o r c o m . os au

x i l i a r e s de s e r v i ç o s g e r a i s (ate n d e n t e d e , e n f e r m a g e m ) , q u e tam

b é m c h a m a m de " e n f e r m e i r o s q u e a r r u m a m as c a m a s o u t i r a m a tem

p e r a t u r a e p r e s s ã o " . Os o b s t á c u l o s q u e d i f i c u l t a m a a p r o x i m a ç ã o

e n f e r m e i r o - c l i e n t e e f a m í l i a são i números, m a s se s o b r e s s a e m as

queixas: "não t e n h o tempo, n ã o p o s s o m e p r e n d e r a isto" (SARANO,

1978).

A e q u i p e m o s t r a - s e b a s t a n t e c o n t r a d i t ó r i a em r e l a ç ã o ã pre

s e n ç a do a c o m p a n h a n t e , p o r u m l á d o , d e m o n s t r a n d o r e c o n h e c e r a im

portância desse fato para o paciente, chegando inclusive a suge


157
' ■
]
rir o u s o l i c i t a r a s ua p e r m a n ê n c i a n a u n i d a d e , em caso de pa

cientes m u i t o dependentes de cuidados intensivos. Por o u t r o la

do, m a r g i n a l i z a m - n o , nãõ v a l i d a n d o a sua p r e s e n ç a , não se aproxi­

m a n d o p a r a c o n f i r m a r sua i d e n t i d a d e , p a r a lhe d a r as boas-vin

das o u p a r a c o l o c à r - s e a sua d i s p o s i ç ã o p a r a q u a l q u e r n e c e s s i d a

de. I s s o n o r m a l m e n t e , n ã o é f e i t o p o r n e n h u m d o s i n t e g r a n t e s d a

equipe, ao c o n t r á r i o , "tratam-lhes m a i s c o m o p r e s e n ç a s indesejá

v e i s " e m s e u s l o c a i s de t r a b a l h o do q u e c o m o c o a d j u v a n t e s d a as

s i s t ê n c i a p r e s t a d a ao p a c i e n t e . Seus argumentos, nesse sentido,

r e f e r e m - s e ãs q u e i x a s de q u e estes, a l é m de " i n c o m o d a r , atrapa

l h a m m a i s d o q u e a j u d a m " . D e s t a forma, a e q u i p e n ã o só b l o q u e i a

as o p o r t u n i d a d e s de u m a i n t e r a ç ã o a c o m p a r i h a n t e - e q u i p e , c o m o t a m .

b é m se c o n f i g u r a a m a r g i n a l i z a ç ã o d o mesm o .

A d i v e r g ê n c i a e n t r e os o b j e t i v o s (im p l i c i t a m e n t e ) visados

p e l a e q u i p e e os p r e t e n d i d o s p e l o a c o m p a n h a n t e t a m b é m é motivo

de m a r g i n a l i z a ç ã o . Enquanto a equipe visa a obter a colaboração

do a c o m p a n h a n t e na v i g i l â n c i a e c u i d a d o s do p a c i e n t e ; o acompa

n h a n t e visa, sobretudo, a atender a uma necessidade afetiva (co

m u m aò p a c i e n t e e ao p r ó p r i o familiar) e garantir a segurança

do p a c i e n t e . D i a n t e da n ã o c o r r e s p o n d ê n c i a d o s seus a n s e i o s , al

gun s i n t e g r a n t e s da e q u i p e p a s s a m , conseqüentemente, a margina'

lizã - l o s , t o r n a n d o - s e i n d i f e r e n t e s aos seus p r o b l e m a s e n e c e s s i

dades, e n q u a n t o o u t r o s c h e g a m a m a n i f e s t a r sua insatisfação c o m a

p r e s e n ç a d o a c o m p a n h a n t e q u e n ã o se d i s p õ e a c o l a b o r a r na e x e c u

ç ã o . d o s c u i d a d o s do p a c i e n t e , c h e g a n d o a come n t a r :

Se não e s t á disposto a c o l a b o r a r } não pre c i s a vir


p a r a o hospital, aqui j ã tem gente demais.

Para ELDAR & ELDAR (1 984), os q u e n ã o são f a v o r á v e i s ã pre


sença de u m f a m i l i a r c o m o p a c i e n t e , d e f o r m a c o n t í n u a , d u r a n t e

sua h o s p i t a l i z a ç ã o , é p o r q u e temem, consciente ou inconsciente


158

ment e , o s o l h o s c r í t i c o s d a s p e s s o a s l i g a d a s ao p a c i e n t e .

F i n a l m e n t e , a e x c l u s ã o do a c o m p a n h a n t e da d i n á m i c a d e t r a b a

lho d a e q u i p e c o r r e s p o n d e a m a i s u m f a t o r d e m a r g i n a l i z a ç ã o . Is

to o c o r r e i n i c i a l m e n t e c o m a d e m o n s t r a ç ã o de u m a a t i t u d e d e in

d i f e r e n ç a d a eq u i p e , p o r o c a s i ã o d e sua e n t r a d a p a r a a unidade

de internação; Posteriormente, o próprio acompanhante percebe

q u e é c o l o c a d o à m a r g e m da p r o g r a m a ç ã o d e a t i v i d a d e s d a e q u i p e ,

a p e s a r de m u i t o s c u i d a d o s do p a c i e n t e f i c a r e m p o r f o r ç a d a s c i r

cunstâncias, s o b sua r e s p o n s a b i l i d a d e , i s t o é, o s c u i d a d o s m a i s

s i m p l e s como: m u d a n ç a d e p o s i ç ã o , a j u d a p a r a sentar, l e v a n t a r ou

d ei t a r , a j u d a na a l i m e n t a ç ã o e h i g i e n i z a ç ã o p e s s o a l dos pacien
f

tes q u e e s t ã o a c o m p a n h a d o s v ã o s e n d o d e i x a d o s p o r c o n t a do fami.

liar, s e m u m a c o r d o p r é v i o o u d e l e g a ç ã o o f i c i a l . A l é m disso, n ã o

o s o r i e n t a m q u a n t o ã m a n e i r a dè f a z ê - l o s , m a s são c o b r a d o s se

d e i x a m d e r e a l i z á - l o s , o u seja, p o r s u a s a ç õ e s e o m i s s õ e s . En

t e n d e - s e q u e e s t e t i p o de o r i e n t a ç ã o s e r i a u m a a t i v i d a d e especí.
'I
fic a do e n f e r m e i r o , e m b o r a os d e m a i s e l e m e n t o s da e q u i p e n ã o es

t e j a m i s e n t o s d a r e s p o n s a b i l i d a d e de t a m b é m c o l a b o r a r na orien

t a ç ã o do a c o m p a n h a n t e , s e g u n d o sua á r e a d e a t u a ç ã o C o n t u d o , is

to n ão t e m s i d o v i a b i l i z a d o . A o r i e n t a ç ã o , q u a n d o o c o r r e , é ime

diatista, só n os m o m e n t o s e m q u e s u r g e m p r o b l e m a s o u p o r oca

sião da s a í d a do p a c i e n t e ao r e c e b e r alta, quandcj esta, segundo

AQUINO (1984) e NEIRA HUERTA (1984), d e v e r i a o c o r r e r ao longo

da h o s p i t a l i z a ç ã o do p a c i e n t e , p a r a q u e f o s s e m a v a l i a d o s o s re
t

sultados alcançados.

A l g u n s e n f e r m e i r o s d e m o n s t r a m e s t a r c o n s c i e n t e s de s e u pa

p e l de " e d u c a d o r " e de " a d v o g a d o " d o p a c i e n t e e família. N o en

tanto, argumentam q u e e x i s t e m m u i t o s o b s t á c u l o s q u e d i f i c u l t a m a

o p e r a c i o n a l i z a ç ã o d e s t a s f u n ções, p r i m e i r o p o r q u e "os familia

r e s d o s p a c i e n t e s p a r t i c u l a r e s r e j e i t a m as orientações que vi
.1.59

sa m a sua p a r t i c i p a ç ã o no s c u i d a d o s d o p a c i e n t e " ; segu n d o , a

q u e i x a de q u e "os f a m i l i a r e s dos p a c i e n t e s p r e v i d e n c i ã r i o s a p r e

s e n t a m u m n í v e l m u i t o b a i x o de e s c o l a r i d a d e " . Tais justificati

v a s d ã o u m a c o n o t a ç ã o de q u e e s t e j a s e n d o o f e r e c i d a p o u c a moti

v a ç ã o p a r a os f a m i l i a r e s p a r t i c i p a r e m d e seus p r o g r a m a s d e ori

en t a ç ã o . P o r o u t r o lado, a baixa escolaridade, conforme GAUDERER

(1988), é m a i s u m a r a z ã o p a r a o f a m i l i a r ser p r e p a r a d o a d e q u a d a

e respeitosamente quanto ã situação do paciente, seu diagnõsti.

co, t r a t a m e n t o e a v a l i a ç ã o , e m t e r m o s de p r o g n ó s t i c o , devendo,

p a r a isso, p r e p a r á - l o s p s i c o l o g i c a m e n t e e n ã o a p e n a s "dar-lhes

a informação" (GAUDERER, 1988), e s p e c i a l m e n t e em c a s o s de doen

ças g r a v e s ou q u e t e n h a m e s t i g m a s socia i s . C o m isto, é p o s s í v e l

e v i t a r q u e o f a m i l i a r s o f r a d u p l a m e n t e , ..por n ã o e s t a r p r e p a r a d o

para lidar com o problema e por estar envolvido emocionalmente.

Um terceiro ob st ác ul o apresentado p e la equipe re fer e - s e ã

c é l e b r e q u e i x a d e " f a l t a de temp o " para. i n t e r a g i r c o m os : fami.

l i a r e s do s p a c i e n t e s i n t e r n a d o s e desenvolve]; u m a orientação
\

s i s t e m a t i z a d a c o m os m e s m o s . A l e g a m , p r i n c i p a l m e n t e , a sobrecar

ga de t r a b a l h o e m suas u n i d a d e s , associada â elevada escassez

de p e s s o a l e p r e d o m i n â n c i a :da m ã o - d e - o b r a e l e m e n t a r . E s s a que_s

t ã o c a r e c e de m a i o r a p r o f u n d a m e n t o , p a r a a v e r i g u a r as possibili.

d a d e s de os e n f e r m e i r o s e s t a b e l e c e r e m p r i o r i d a d e s em suas ações,

o q u e f o g e aos p r o p ó s i t o s d e s s e t r a b a l h o . M A R X & S E C A F (19.85)

f a z e m r e f e r ê n c i a ãs q u e i x a s d o s e n f e r m e i r o s , q u a n t o às barrei,

ras qu e d i f i c u l t a m a i n t e g r a ç ã o d o s f a m i l i a r e s d o p a c i e n t e in

t e m a d o na instituição'cm q u e t r a b a l h a m . Estas apontam a estrutu

ra a d m i n i s t r a t i v a q u e n ã o ajuda, o d é f i c i t de e n f e r m e i r o s para

o r i e n t a r e s u p e r v i s i o n a r t o d o s os q u e f i c a m sob sua responsabi.

l i d a d e e a f a l t a de u m a o r g a n i z a ç ã o d e t r a b a l h o q u e oriente

suas a t i v i d a d e s . N o e n t a n t o n a d a f a z e m p a r a raudar e s t a p r á t i c a ,
160

r e c o n h e c e m os b e n e f í c i o s d a i n t e g r a ç ã o d a f a m í l i a e m s e u traba

lho, m a s r e c u a m d i a n t e d o s p r o b l e m a s e x i s t e n t e s , c o m e n t a m as au

toras.

A o a s s u m i r suas a t i v i d a d e s a d m i n i s t r a t i v a s n a u n i d a d e d e in

ternação, por indicação de uma autoridade superior, segundo

TREVISAN (1987), os " e n f e r m e i r o s se i n v e s t e m d e a u t o r i d a d e de

c o r r e n t e do r e g u l a m e n t o e r e g i m e n t o s d a i n s t i t u i ç ã o , através de

d e l e g a ç ã o " e p a s s a m a p r i o r i z a r m a i s o seu c o m p r o m i s s o c o m a

organização, i s t o é, a q u i l o q u e ê d é i n t e r e s s e p a r a m é d i c o (por

m e i o d e o rdens) e para administração hospitalar (através d e n o r

m a s e r o t i n a s ) , e m d e t r i m e n t o d e s e u c o m p r o m i s s o e m d e f e n d e r os

interesses do paciente. I s t o se t o r n a m a i r comprometedor, quan

d o c o n s i d e r a d a s as o b s e r v a ç õ e s d e A Q U I N O (1 986), ao a f i r m a r que

a elaboração de n o r m a s e r o t i n a s h o s p i t a l a r e s são f e i t a s em

função da "eficiência da administração dos serviços", sem levar

e m c o n s i d e r a ç ã o o ser h u m a n o c o m o i n d i v í d u o .
-■'V

D e n t r o d o c o n t e x t o de m a r g i n a l i z a ç ã o , conforme comentário

anterior, permeia ainda a discriminação do acompanhante no se

t o r p r e v i d e n c i á r i o . As d i f e r e n ç a s e n t r e a a t e n ç ã o o f e r e c i d a ao

grupo de acompanhantes dos pacientes particulares e o grupo pre

v i d e n c i á r i o são m a r c a n t e s e v ã o d e s d e a f o r m a d e e n t r a d a livre

dos primeiros (grupo "A") a o e f e t u a r o p a g a m e n t o d e u m a caução

r e f e r e n t e às s u a s d i á r i a s n o h o s p i t a l , a t é o m o d o c o m o s ã o tra

t a d o s p e l a e quipe, q u e se d i s t i n g u e p e l a a t e n ç ã o e r e s p e i t o aos

s eu s d i r e i t o s . O g r u p o "B", p o r sua vez, e n c o n t r a - s e n u m a s i t u a

ção incômoda, por eles considerada c o m o "de f a v o r e s " , i s t o é,

mediante uma concessão do hospital para alguns casos seleciona

dos, segundo critérios pre-estabelecidos, e n t r e os quais in

c l u i - s e lijnite: d e idade, sexo igual aq do paciente, entre outros.

Sentem-se portanto, c o m p r o m e t i d o s c o m as e x i g ê n c i a s c o n t r a t u a i s
161
que lhe são i m p o s t a s p e l a e q u i p e n o m o m e n t o de a u t o r i z a ç ã o , não

lhes s e n d o p e r m i t i d o f a z e r q u a l q u e r r e c l a m a ç õ e s e m t o r n o d a si

tuação enfrentada.

Os critérios estabelecidos para seleção dos pacientes que

p o d e m se r a c o m p a n h a d o s e p e r í o d o de p e r m a n ê n c i a d o f a m i l i a r são

altamente influenciados por questões político-sociais e amizades

p e s s o a i s d a equipe. N o e n t a n t o , os i n f o r m a n t e s , inclusive os

próprios acompanhantes dos pacientes previdenciãrios, embora

não s a t i s f e i t o s c o m e s t a s i t u a ç ã o , n ã o se s e n t e m discriraindado,

a c h a m m u i t o n a t u r a l o f a t o de q u e m p o d e p a g a r p a r a e x i g i r as

p r e r r o g a t i v a s q u e o d i n h e i r o o u p o s i ç ã o s o c i a l lhes c o n f e r e , e

encaram isto com muita naturalidade.

As e x p e c t a t i v a s da e q u i p e e m t o r n o do p a p e l d o a c o m p a n h a n t e

d o p a c i e n t e p r e v i d e n c i ã r i o t a m b é m são a b o r d a d o s c o m naturalida

de p e l o s i n f o r m a n t e s , se m q u e e s t e s se a p e r c e b a m do g r a u d e r e s

p o n s a b i l i d a d e q u e 1lhes c a b e assu m i r , ao d e l e g a r p a r t e d e suas

a t r i b u i ç õ e s ao .a c o m p a n h a n t e (sob r e t u d o p a r a o previdenciãrio),

c o m p l e t a m e n t e d e s p r e p a r a d o p a r a tal. E s t a q u e s t ã o se t o r n a m a i s

c o m p l e x a e c o m p r o m e t e d o r a na m e d i d a em q u e lhes são delegados

importantes-cuidados e s p e c i a l i z a d o s , c u j a e x e c u ç ã o e x i g e conheci,

mento e habilidade profissional, c o m o p o r exem p l o , a aspiração

de s e c r e ç õ e s p e l a t r a q u e o s t o m i a , a l i m e n t a ç ã o p o r sonda, nebuli.

zação, tapotagem, entre outros, s e m q u e p a r a isto s e j a a s s e g u r a

do o p r e p a r o m í n i m o n e c e s s á r i o . A a t i t u d e d a e q u i p e n e s s e senti­

do é i n c o n g r u e n t e , pois, ao m e s m o t e m p o e m q u e m a r g i n a l i z a m e

discriminam o acompanhante do paciente previdenciãrio, ignoran


a
do a su a p r e s e n ç a , n ã o c o n s i d e r a n d o a i m p o r t â n c i a de a s s e g u r a r

a e s t e s c o n d i ç õ e s p a r a o a t e n d i m e n t o de suas n e c e s s i d a d e s bási­

cas, e x i g e m sua c o l a b o r a ç ã o e d e i x a m p o r sua c o n t a c u i d a d o s da

maior responsabilidade. M ã o se d e s c o n h e c e a i m p o r t â n c i a d e a
162
e q u i p e o f e r e c e r o p o r t u n i d a d e p a r a o a c o m p a n h a n t e p a r t i c i p a r dos

c u i d a d o s do p a c i e n t e e m t o d a s as f ases do p r o c e s s o assistencial,

que inclui diagnóstico, t r a t a m e n t o e r e c u p e r a ç ã o do ■p a c i e n t e ,

o p o r t u n i d a d e e s t a q u e o p r ó p r i o a c o m p a n h a n t e a f i r m a d e s e j a r com

p a r t i l h a r . O qu e se q u e s t i o n a é a m a n e i r a c o m o isto v e m sendo

rea l i z a d o , de f o r m a d i s c r i m i n a t ó r i a , n ã o p l a n e j a d a , sem u m acora

p a n h a m e n t o p o r p a r t e do e n f e r m e i r o e sera u m a a v a l i a ç ã o poste

r i o r , -c o m p r o m e n t e n d o os seus r e s u l t a d o s , p e l o s r i s c o s a q u e : ejs

tã e x p o s t o o b i n ô m i o p a c i e n t e - a c o m p a n h a n t e .

O u t r a q u e s t ã o qu e e v i d e n c i a a d i s c r i m i n a ç ã o do a c o m p a n h a n t e

do p a c i e n t e p r e v i d e n c i ã r i o r e f e r e - s e ã o p o r t u n i d a d e de avaliar

o h o s p i t a l e sua e q u i p e p e l o s s e r v i ç o s o f e r e c i d o s ao paciente,

c o n f e r i d a a p e n a s aos p a r t i c u l a r e s (através de u m questionário

p a d r o n i z a d o ) . A d i r e ç ã o do s e r v i ç o e e q u i p e h o s p i t a l a r , ao dar

e x p l i c a ç õ e s s o b r e e s s e fato, diz q u e isto se deve a uma série

de d i f i c u l d a d e s r e l a t i v a s ao b a i x o n í v e l de i n s t r u ç ã o do ipe_s

soai q u e se u t i l i z a dos s e r v i ç o s do s etor p r e v i d e n c i ã r i o , asso

c iado ã f a l t a de i n t e r e s s e e c o l a b o r a ç ã o do p e s s o a l que traba

lha d i r e t a m e n t e na u n i d a d e de inte r n a ç ã o . Por outro lado alguns che

gam a a s s u m i r q u e n ão se faz a v a l i a ç ã o nas u n i d a d e s p r e v i d e n c i a

r ia s p o r q u e jã s a b e m q u e r e s u l t a d o s p o d e r i a m obter, uma v e z que

a e q u i p e t e m c o n s c i ê n c i a q u e ali e x i s t e m m u i t o s p o n t o s q u e se

r i a m n e g a t i v o s n u m a ava l i a ç ã o . U m dos d i r e t o r e s c h e g o u a admi

tir que:

Não estamos preprados para receber queixas, falta­


m o s m a t u r i d a d e .para isto, costuma-se considerar urna
ofensa p e s s o a l , ninguém quer admitir que outras pes_
soas apontem suas falhas. Da-C as dificul.llades em
avaliar todos os setores do h o s p i t a l .

P e l o e x p o s t o , os o b s t á c u l o s e x i s t e n t e s não só c o n f i g u r a m ura

a s p e c t o de d i s c r i m i n a ç ã o , c o m o t a m b é m se o b s e r v a o disperdício
163

de uma o p o r t u n i d a d e de d o c u m e n t a r o " f e e d -back", s e g u n d o os p r ó

p r i o s u s u a r i o s d a q u e l e setor.

E s s e tipo de a t i t u d e da e q u i p e r e v e l a o seu grau de, incoe

rência, q u a n t o a sua f i l o s o f i a de t rabalho, jã q u e t e o r i c a m e n t e

d e f e n d e m a i m p o r t â n c i a de se p r o p o r c i o n a r e m iguais c o n d i ç õ e s de

a s s i s t ê n c i a d e s s a c l i e n t e l a ; na p r á t i c a , n o entanto, agem de

for m a c o n t r á r i a , d i s c r i m i n a n d o - a s e g u n d o a c l a s s e s ó c i o - e c o n ô n i

ca a q u e p e rt e n c e .

E n t e n d e m o s q u e isto é um r e f l e x o do a t u a l s i s t e m a brasilei

ro, c a r a c t e r i z a d o p e l a d i v i s ã o , d e c l a s s e s s o c i a i s que t ê m atra

v é s dos tempos, i n f l u e n c i a d o a p o l í t i c a n a c i o n a l de saúde. E

n e s t e c o n t e x t o , os h o s p i t a i s , como p a r t e i n t e g r a n t e d a socieda

de, t ê m d e s e n v o l v i d o p o r m e i o dos s e r v i ç o s p r e s t a d o s aos seus

u s u á r i o s um a a s s i s t ê n c i a c a l c a d a em v a l o r e s sõc i o - e c o n ô m i c o s , po

lí t i c o s e c u l t u r a i s . Conseqüëntemente, a assistência oferecida

ao p a c i e n t e p r e v i d e n c i á r i o e f a m í l i a é d i f e r e n t e e d e i x a a d e s e

jar, em r e l a ç ã o à q u e l a o f e r e c i d a aos p a r t i c u l a r e s . P a r a SARANO,

(1978), o d i n h e i r o e o s t a t u s dos u s u á r i o s dos serv i ç o s de saú

de se i n t e r p õ e m e n t r e o c l i e n t e e a equipe, como u m e l e m e n t o de

discriminação.

A l é m dos ternas a c i m a d e s c r i t o s , p r o s s e g u i n d o a a n á l i s e t e m á

tica, foi p o s s í v e l i d e n t i f i c a r as s e g u i n t e s p r o p o s i ç õ e s hipoté

ticas, o n d e o acompanhante' é con s i d e r a d o :

1. Um a f o n t e de c o n f o r t o e s e g u r a n ç a p a r a o p a c i e n t e ;

2. Um elo de l i g a ç ã o e n t r e o paci e n t e , a e q u i p e e a família;

3. U m f ator de m e l h o r i a da q u a l i d a d e da a s s i s t ê n c i a ao p a c i e n t e ;

4. Um t r a n s t o r n o p a r a e q u i p e h o s p i t a l a r e p a r a o h o s p i t a l ; 1

5. Um p o t e n c i a l de a j u d a na a s s i s t ê n c i a ao p a c i e n t e ; e

6. Um a o p o r t u n i d a d e de e d u c a ç ã o p a r a s a ú d e do familiar.
V. C O N T R I B U I Ç Õ E S

E s p e r a - s e , c o m o r e l a t o d a e x p e r i ê n c i a v i v e n c i a d a p e l o fami

lia r do p a c i e n t e i n t e r n a d o e s t a r c o n t r i b u i n d o p a r a o ensino,

a pesquisa, a p r á t i c a de e n f è r m a g e m e p a r a as i n s t i t u i ç õ e s de

saúde.

Contribuições para ó ensino - essa pesquisa oferece um refe

rencial teórico para e s t u d o sobre o a c o m p a n h a m e n t o d o . p a c i e n

te a d u l t o h o s p i t a l i z a d o . Os c o n h e c i m e n t o s n e l a c o n t i d o s podem

c o n t r i b u i r p a r a m e l h o r c o m p r e e n s ã o das r e a ç õ e s e necessidades

d e c o r r e n t e s da s i t u a ç ã o p o r e s t e e n f r e n t a d a . Espe r a - s e , também,

estar contribuindo com subsídios para o conteúdo curricular e

e x p e r i ê n c i a s de e n s i n o - a p r e n d i z a g e m q u e p e r m i t a m d e s e n v o l v e r a

f o r m a ç ã o de u m a atitude, m a i s r e c e p t i v a em r e l a ç ã o ao familiar

do paciente^ i n t e r n a d o , v e n d o - o não c o m o u m e l e m e n t o que " i n c o m o

d a e a t r a p a l h a " o serviço, m a s c o m o c o a d j u v a n t e d a assistência

ao p a c i e n t e . P o r o u t r o lado, a b r e - s e u m e s p a ç o p a r a o estudo

de e s t r a t é g i a s q u e p o s s i b i l i t e m u m a a m p l i a ç ã o do e n s i n o de en

ferm a g e m , a n í v e l h o s p i t a l a r , v i s a n d o a a s s i s t i r não a p e n a s o

p a c i e n t e i s o l a d a m e n t e , m a s e s t e n d e n d o sua a t e n ç ã o t a m b é m ao fa
165

miliar que o acompanha como algo indissociável dessa prática.

C o n t r i b u i ç õ e s p a r a a p e s q u i s a - os r e s u l t a d o s o f e r e c i d o s ser

v e m c o m o r e f e r e n c i a t e ó r i c a p a r a o d e s e n v o l v i m e n t o de futuras

i n v e s t i g a ç õ e s q u e v i s e m a t e s t a r as s e g u i n t e s p r o p o s i ç õ e s hipo

t é t i c a s s u ge r i d a s : 1) o a c o m p a n h a n t e ê f o n t e de c o n f o r t o e segu

rança para o paciente; 2) o a c o m p a n h a n t e é e l o d e l i g a ç ã o e n t r e

o p a c i e n t e e e quipe; 3) o a c o m p a n h a n t e é u m f a t o r de melhoria

da q u a l i d a d e d a a s s i s t ê n c i a ao p a c i e n t e ; 4) o a c o m p a n h a n t e é

visto como um transtorno para equipe hospitalar; 5) o acompa

n h a n t e c o n s t i t u i u m p o t e n c i a l de a j u d a na a s s i s t ê n c i a ao p a c i e n

te; ; 6) o m o m e n t o de a c o m p a n h a r c o r r e s p o n d e a u m a oportunidade

de e d u c a ç ã o p a r a s a ú d e d o . f a m i l i a r . P o r o u t r o lado, n o v a s in

v e s t i g a ç õ e s p o d e m surgir, focalizando diferentes ângulos não de

v i d a m e n t e e x p l o r a d o s ou a p r o f u n d a d o s n e s s e estudo.

C o n t r i b u i ç õ e s p a r a p r á t i c a de e n f e r m a g e m - a n í v e l a s s i s t e n

ciai, e s t e t r a b a l h o o f e r e c e u m a v i s ã o holística p a r a m e l h o r com

p r e e n s ã o s o b r e a s i t u a ç ã o e m q u e se e n c o n t r a o a c o m p a n h a n t e , co

m o i n d i v í d u o s e n s í v e l e s u j e i t o âs m e s m a s r e a ç õ e s e m o c i o n a i s a

presentadas pelo paciente. Permite, d e s s e modo, q u e a equipe

r e f l i t a d e m a n e i r a m a i s c r í t i c a s o b r e sua p r ó p r i a p r á t i c a pro

f i s s i o n a l no q u e c o n c e r n e â a t e n ç ã o q u e v e m s e n d o d i s p e n s a d a ao

a c o m p a n h a n t e e, em e s p e c i a l , aos e n f e r m e i r o s q u e t ê m sob sua

responsabilidade maiores encargos com a seleção e autorização

de a c o m p a n h a n t e s de p a c i e n t e s p r e v i d e n c i ã r i o s . Espera-se que

a divulgação desse estudo possa também contribuir para uma mu

d a n ç a de a t i t u d e d a e q u i p e de e n f e r m a g e m , no q u e t a n g e ao seu
a
r e l a c i o n a m e n t o c o m o a c o m p a n h a n t e , a fim de q u e se efet u e , com

b a s e n a c o m p r e e n s ã o do s s e n t i m e n t o s e e x p e c t a t i v a s deste, uma

i n t e r a ç ã o e f e t i v a e, a p a r t i r daí, lhe s e j a a s s e g u r a d o o apoio

n e c e s s á r i o p a r a o d e s e m p e n h o d e seu papel.
166
Espera-se, também, q u e s e j a m d e s e n v o l v i d o s e s f o r ç o s n o sen

tid o de g a r a n t i r ao a c o m p a n h a n t e u m p r o g r a m a de o r i e n t a ç ã o sis

t e m a t i z a d a e a p a r t i c i p a ç ã o d e s t e no p l a n e j a m e n t o e e x e c u ç ã o da

a s s i s t ê n c i a q u e se p r e t e n d e p r e s t a r a o p a c i e n t e , v i s a n d o com

isto a u m a m e l h o r i a da q u a l i d a d e d a a s s i s t ê n c i a o f e r e c i d a ao p a

c i e n t e c o m o u m todo.

C o n t r i b u i ç ã o p a r a as i n s t i t u i ç õ e s de s a ú d e - e s s e estudo

o f e r e c e aos responsáveis pela direção e l i d e r a n ç a dos s e r v i ç o s d i r e

tamente envolvidos com a questão do familiar que acompanha o pa

ciente adulto as i n f o r m a ç õ e s q u e lhes p e r m i t i r ã o r e f o r m u l a r a

e s t r u t u r a a d m i n i s t r a t i v a d o serviço, no q u e se r e f e r e ao a c o m p a

nhante. Primeiramente, s u g e r e - s e a necessida.de de i n s t i t u c i o n a

l irz_ a r_ a - p e r m a n ê.-n- c i- a do a c o m p a n h a n t—,


e--^
nas u n i d a d e s de i n t e r n a ç õ e s

p a r t i c u l a r e s e p r e v i d e n c i ã r i a s ; segundo, criar mecanismos que


/
a s s e g u r e m as c o n d i ç õ e s de i n f r a - e s t r u t u r a m í n i m a s n e c e s s á r i a s ã

p e r m a n ê n c i a do a c o m p a n h a n t e , s e m r i s c o s de a g r a v o s â sua saúde,

p o r f a l t a de m e i o s p a r a a t e n d e r a s u a s n e c e s s i d a d e s > básicas;

t e r c e i r o , d e f i n i r c l a r a m e n t e u m a p o l í t i c a de a t e n ç ã o ao acompa

nh a n t e , a t r a v é s da f o r m u l a ç ã o d e u m a f i l o s o f i a p r ó p r i a d a i n s t i

tui ç ã o , v i s a n d o , c o m isto, a n o r t e a r as a ç õ e s de e q u i p e n o que

tange aos direitos e deveres do acompanhante, independentemente

da c l a s s e e c o n ô m i c a o u s o c i a l a q u e p e r t e n ç a . Através dessas

medidas, a l é m d o s b e n e f í c i o s q u e s e r ã o c o n f e r i d o s ao • paciente

e ao p r ó p r i o f a m i l i a r , a i n s t i t u i ç ã o t a m b é m s e r á m a i s b e m reco

n h e c i d a e a c e i t a na c o m u n i d a d e .
VI. R E C O M E N D A Ç Õ E S

Considerando que a atual prática profissional da equipe de

s a ú d e d e i x a a d e s e j a r q u a n t o à a t e n ç ã o o f e r e c i d a aos f a m i l i a r e s

dos pacientes internados, inviabilizando assim a proposta de uma assistên

cia" h o l í s t i c a ao p a c i e n t e , na q u a l a f a m i l i a constitui parte

integrante deste processo, e c o m p r e e n d e n d o q u e isto só s e r á p o £

sível, a p a r t i r de u m a r e e s t r u r a ç ã o d o s s e r v i ç o s de s a ú d e e da

f o r m a d e a g i r de seus p r o f i s s i o n a i s , d e m o d o a a s s e g u r a r uma

a t e n ç ã o m a i s h u m a n i z a d a n ã o a p e n a s aos p a c i e n t e s , m a s também

aos f a m i l i a r e s q u e o a c o m p a n h a m , s u g e r i m o s , p a r a tal, à adoção

da s s e g u i n t e s m e d i d a s :

1 . A oficialização, a nível institucional, d a p e r m a n ê n c i a d e fa

m i l i a r e s c o m o a c o m p a n h a n t e s nas u n i d a d e s de i n t e r n a ç ã o partjL
*
culares e p r e v i d e n c i ã r i a s , fazendo-a constar da d o c u m entação

l e g a l d a i n s t i t u i ç ã o , o u seja, d e s e u r e g u l a m e n t o e regimen

to i n t e r n o d o s s e r v i ç o s q u e se r e l a c i o n a m d i r e t a m e n t e c o m es;

te.

2. A d e f i n i ç ã o de u m a p o l í t i c a c l a r a de a t e n d i m e n t o ao acompa

nha n t e , e x p l i c i t a n d o os seus d i r e i t o s e d e v e r e s , sem distin


168
ção de c l a s s e s ocial, p o l í t i c a ou e c o n ô m i c a .

3. A e l a b o r a ç ã o de u ma f i l o s o f i a de t r a b a l h o p r o p r i a da insti

tuição, d e t e r m i n a n d o as d i r e t r i z e s b á s i c a s q u e possam nor

t e a r as a ç õ e s da e q u i p e m u l t i p r o f i s s i o n a l , no que se r e f e r e

â atenção requerida pelo acompanhante.

4. 0 o f e r e c i m e n t o , tambern, aos a c o m p a n h a n t e s do s e t o r p r e v i d e n

c i ã r i o , das c o n d i ç õ e s de i n f r a - e s t r u t u r a m í n i m a s necessã

rias a sua a c o m o d a ç ã o , s e m p r e j u í z o no a t e n d i m e n t o a suas

n e c e s s i d a d e s , t a i s como: sono, r e p o u s o , alimentação e higie

nização.

5. 0 d e s e n v o l v i m e n t o de u m s i s t e m a de a p o i o p e r m a n e n t e ao a c o m

panhante, de m o d o a p r o m o v e r o seu a j u s t a m e n t o ao ambiente

hospitalar e prevenir desequilíbrios emocionais.

6. A p r o m o ç ã o de e s t r a t é g i a s p e l a e q u i p e de e n f e r m a g e m que p e r
M i

■mitam ao f a m i l i a r do p a c i e n t e i n t e r n a d o s e n t i r que ele ë

b e m - v i n d o ao h o s p i t a l , q u e sua p r e s e n ç a ë i m p o r t a n t e p a r a o

p a c i e n t e e e quipe, e n ão u m e l e m e n t o i n d e s e j á v e l que pertu_r

ba e inco m o d a .

7. A g a r a n t i a de m a i o r l i b e r d a d e aos p a c i e n t e s e seus familia

res, p e r m i t i n d o - l h e s o p t a r e m p e l a p e r m a n ê n c i a de u m ou m a i s

f a m i l i a r e s em h o r á r i o s e p e r í o d o s p r e v i a m e n t e combinados

c o m o e n f e r m e i r o da u n i d a d e de i n t e r n a ç ã o , c o m b a s e na n£

c e s s i d a d e b i o - p s i c o - s o c i o - e s p i r i t u a l do p a c i e n t e e cond^
I

ções g e r a i s de seus f a m i l i a r e s .

8. 0 d e s e n v o l v i m e n t o de u m p r o g r a m a de o r i e n t a ç ã o sistematiza

da e s u p e r v i s ã o c o n t í n u a , d i r i g i d o ao a c o m p a n h a n t e , v i s a n d o

a a p r o v e i t a r a sua d i s p o n i b i l i d a d e e p o t e n c i a l de a j u d a na

e x e c u ç ã o dos c u i d a d o s do p a c i e n t e , e assegurar a continuida


169

de do t r a t a m e n t o e c u i d a d o s n e c e s s á r i o s ao p a c i e n t e após

alta hospitalar.

9. A d e f i n i ç ã o do p a p e l do a c o m p a n h a n t e e o estabelecimento de

m e c a n i s m o s que p r o p i c i e m a sua p a r t i c i p a ç ã o e f e t i v a nas

a t i v i d a d e s r e l a t i v a s aos c u i d a d o s do p a c i e n t e .

10. A i n t r o d u ç ã o nos c u r s o s de f o r m a ç ã o de p e s s o a l de enferma

g e m em t o d o s os seus n í v e i s (médio, t é c n i c o e de 3 9 grau),

de u m e s p a ç o p a r a d i s c u s s ã o em t o r n o da s i t u a ç ã o do a c o m p a

n h a n t e , v i s a n d o a f o r m a ç ã o de u m a a t i t u d e m a i s receptiva

do a l u n a d o em r e l a ç ã o ao m e s m o e c o n s e q ü e n t e m e n t e a garan

t ia de u m r e l a c i o n a m e n t o efet i v o .
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A N E X O
A N E X O I

QUADRO N9 Atividades desenvolvidas pelo acompanhante junto

ao p a c i e n t e e m u m p e r í o d o d e 24 hs. (*)

HORA C a s o "A" C a s o "B"


AÇÕES
Previd. Partie.

6:30 ."Troco os panos que forram o curati


vo dele (em c o n s t a n t e u m i d a d e , d e v i
do a drenagem de urina por uma fis
tula); - X

6:45 . Realizamos nossas primeiras orações ; X X

7:00 . A j u d o a e s c o v a r s e u s dent e s , lavar


o r o s t o e p e n t e a r os c a b e l o s ; X X

7:20 , Ajudo a passá-lo da cama para uma


cadeira poltrona; X

7:25 . A j u d o o d o e n t e d a c a m a v i z i n h a a le
C. vantar-se; X

7:30 . Arrumo a cama dele e mesinha de ca


beceira; X

8:0 0 . A j u d o a s e r v i r o café; X X

8:45 . A c o m p a n h o a v i s i t a médi c a ; - X

9:00 . A j u d o a f a z e r su a n e b u l i z a ç ã o e t a p o
t a g em; X

9:30 . A j u d o e m s e u b a n h o no l e i t o e troco
sua roupa; X

9:45 . A j u d o n o s e u b a n h o de c h u v e i r o ; X
t
. S a i o do q u a r t o no m o m e n t o d a lav. v e
sical, a pedido do atendente; - X

(*) R e g i s t r o r e a l i z a d o a p e d i d o d o autor, p o r d u a s Sras„ q u e a c o m


p a n h a v a m s e u s e s p o s o s : C a s o s "A" e "B". 0 p r i m e i r o r e f e r e - s e
a u m pac. p r e v i d e n c i ã r i o e m p ó s - o p e r a t ó r i o de u m a cirurgia
c a r d í a c a , e o s e g u n d o no p ó s - o p e r a t ó r i o d e u m a prostatecto
m i a na U.I. p a r t i c u l a r .
181

cont.

HORA AÇÕES C a s o "A" C a s o "B"


Previd. Partie.

9:45 , Lavo sua roupa íntima (na p i a ) ; X _

9:50 . Projeto ò novo curativo para não


m o l h a r a cama; _ X

10:00 . A j u d o r e c e b e r v i s i t a da família; - X

. Recebo suas roupas particulars


v i n d a s d e c a s a e as o r g a n i z o n o ar
mãrio;; . X

. D o u a m e d i c a ç ã o q u e m e foi entre
g u e p e l a aux. d e e m f e r m a g e m ; X _

. A j u d o no se u l anche; ¡ X -

11 :00 . L e i o u m cap. d a b í b l i a p a r a ele; X -

11 :30 . P a s s e i o c o m e l e p e l o quarto; xr
/V -

. V o u ao P o s t o d e E n f e r m a g e m comuni
car que o soro está terminando; X

11 :45 . Recebo a bandeja de refeição e o


preparo para almoçar; X X

. Ajudo a servir o almoço do doente


vizinho; X _

12:40 . A j u d o a e s c o v a r s e us dent e s ; - X

12:45 . Ligo a T . V . ; - X

. C o n v e r s a m o s s o b r e a família; X

13:00 . Ajudo a encontrar uma posição con


f o r t á v e l p a r a e l e dormir; X

14:20 . Assisto à v i sita médica; X -

14:30 . T r o c o os p a n o s q u e p r o t e g e m o seu
curativo; X

. Conversamos sobre sua evolução e


n o s s o s p l a n o s f u t u ros; X

15:00 . Recebo visita de familiares; X

... A j u d o a f a z e r sua n e b u l i z a ç ã o ; X X
182

cont,

HORA AÇÕES C a s o "A" C a s o "B"


Pr e v i d . Partie.

15:00 . A j u d o a s e r v i r s e u lanche; X X

16:00 . R e c e b o v i s i t a d e a m i g o s e fami
liares; X -

. V o u c o m e l e ao R X p a r a f a z e r
umas radiografias; X

18:00 . Dou a medicação entregue pelo


aux. de e n f e r m a g e m ; X.

. S i r v o o seu j antar; X X

. A j u d o a s e r v i r o j a n t a r do vi
zinho; X

19:00 . A s s i s t o â T V c o m ele; - X

. O r o c o m ele; X

19:40 . Acompanho-o até o banheiro; X


A ■

19:“
4'5 . Passeio com ele pelo quarto; X —

2 0: 0 0 . C o n v e r s o c o m o a c o m p a n h a n t e do
quarto vizinho; X

. A t e n d o ao t e l e f o n e n o q u a rto; - X

20:30 . Leio capítulo da bíblia para


ele; X -

. P e ç o u m c h ã q u e n t e p a r a ele; - X

21:00 . P e ç o ao a t e n d e n t e de p l a n t ã o p a
ra renovar o seu curativo e la
v a g e m d a sonda; - X
»
22:00 . L e i o u m p o u c o p a r a ele dorm i r ; - X

23: 0 0 . Peço remédio para ele aliviar


as d o r e s no l o c a l da o p e r a ç ã o ; - X

24: 0 0 . Vou pegar mais uma coberta para


aquecê-lo melhor; - X

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