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Geomorfologia Vol II

Book · December 2010

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1 author:

Elvio Bosetti
State University of Ponta Grossa
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Geografia
LICENCIATURA EM

GEOMORFOLOGIA 2
Elvio Pinto Bosetti

PONTA GROSSA - PARANÁ


2010
CRÉDITOS

João Carlos Gomes


Reitor

Carlos Luciano Sant’ana Vargas


Vice-Reitor

Pró-Reitoria de Assuntos Administrativos Projeto Gráfico


Ariangelo Hauer Dias - Pró-Reitor Anselmo Rodrigues de Andrade Júnior

Pró-Reitoria de Graduação Colaboradores em EAD


Graciete Tozetto Góes - Pró-Reitor Dênia Falcão de Bittencourt
Jucimara Roesler
Divisão de Educação a Distância e de Programas Especiais
Maria Etelvina Madalozzo Ramos - Chefe Colaboradores de Informática
Carlos Alberto Volpi
Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância Carmen Silvia Simão Carneiro
Leide Mara Schmidt - Coordenadora Geral Adilson de Oliveira Pimenta Júnior
Cleide Aparecida Faria Rodrigues - Coordenadora Pedagógica
Colaboradores de Publicação
Sistema Universidade Aberta do Brasil Rosecler Pistum Pasqualini - Revisão
Hermínia Regina Bugeste Marinho - Coordenadora Geral Vera Marilha Florenzano - Revisão
Cleide Aparecida Faria Rodrigues - Coordenadora Adjunta Natália Moreira Eloy - Diagramação
Edu Silvestre Albuquerque - Coordenador de Curso Rafael de França - Ilustração
Maria Ligia Cassol Pinto - Coordenadora de Tutoria
Colaboradores Operacionais
Colaborador Financeiro Edson Luis Marchinski
Luiz Antonio Martins Wosiak Kelly Regina Camargo
Thiago Barboza Taques
Colaboradora de Planejamento
Silviane Buss Tupich

Todos os direitos reservados ao Ministério da Educação


Sistema Universidade Aberta do Brasil
Ficha catalográfica elaborada pelo Setor de Processos Técnicos BICEN/UEPG.

Bossetti, Elvio Pinto


B743g Geomorfologia 2 ./ Elvio Pinto Bossetti. Ponta Grossa :
UEPG/NUTEAD, 2010.
94p. il.

Licenciatura em Geografia - Educação a distância.

1. Relevo - processos exógenos. 2. Fatores climáticos.


3. Formação do relevo. 4. Análise geomorfólogica - périodo
quaternário. I. T.

CDD : 551.4

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA


Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância - NUTEAD
Av. Gal. Carlos Cavalcanti, 4748 - CEP 84030-900 - Ponta Grossa - PR
Tel.: (42) 3220-3163
www.nutead.org
2010
APRESENTAÇÃO INSTITUCIONAL

A Universidade Estadual de Ponta Grossa é uma instituição de ensino superior


estadual, democrática, pública e gratuita, que tem por missão responder aos desafios
contemporâneos, articulando o global com o local, a qualidade científica e tecnológica
com a qualidade social e cumprindo, assim, o seu compromisso com a produção e difusão
do conhecimento, com a educação dos cidadãos e com o progresso da coletividade.
No contexto do ensino superior brasileiro, a UEPG se destaca tanto nas atividades
de ensino, como na pesquisa e na extensão Seus cursos de graduação presenciais primam
pela qualidade, como comprovam os resultados do ENADE, exame nacional que avalia o
desempenho dos acadêmicos e a situa entre as melhores instituições do país.
A trajetória de sucesso, iniciada há mais de 40 anos, permitiu que a UEPG se
aventurasse também na educação a distância, modalidade implantada na instituição no
ano de 2000 e que, crescendo rapidamente, vem conquistando uma posição de destaque
no cenário nacional.
Atualmente, a UEPG é parceira do MEC/CAPES/FNED na execução do programas
Pró-Licenciatura e do Sistema Universidade Aberta do Brasil e atua em 38 polos de apoio
presencial, ofertando, diversos cursos de graduação, extensão e pós-graduação a distância
nos estados do Paraná, Santa Cantarina e São Paulo.
Desse modo, a UEPG se coloca numa posição de vanguarda, assumindo uma
proposta educacional democratizante e qualitativamente diferenciada e se afirmando
definitivamente no domínio e disseminação das tecnologias da informação e da
comunicação.
Os nossos cursos e programas a distância apresentam a mesma carga horária e
o mesmo currículo dos cursos presenciais, mas se utilizam de metodologias, mídias e
materiais próprios da EaD que, além de serem mais flexíveis e facilitarem o aprendizado,
permitem constante interação entre alunos, tutores, professores e coordenação.
Esperamos que você aproveite todos os recursos que oferecemos para promover a
sua aprendizagem e que tenha muito sucesso no curso que está realizando.

A Coordenação
SUMÁRIO

■■ PALAVRAS DO PROFESSOR  7
■■ OBJETIVOS E EMENTA 9

F ATORES EXÓGENOS ENVOLVIDOS NA ELABORAÇÃO


DO RELEVO  11
■■ SEÇÃO 1 - O Relevo como Objeto de Estudo 12
■■ SEÇÃO 2 - Formas e Gênese do Relevo 13
■■ SEÇÃO 3 - Fatores Exógenos 19
■■ SEÇÃO 4 - Processos Erosivos Envolvidos na Elaboração do Relevo 29
■■ SEÇÃO 5 - Movimentos de Massa: uma Introdução 39

F ATORES CLIMÁTICOS ENVOLVIDOS NA FORMAÇÃO DO


RELEVO 51
■■ SEÇÃO 1 - O Clima e o Intemperismo 52
■■ SEÇÃO 2 - O Conceito da Teoria Geossistêmica 56
■■ SEÇÃO 3 - Os Domínios Morfoclimáticos do Brasil 59

O PERÍODO QUATERNÁRIO NA ANÁLISE


GEOMORFOLÓGICA 79
■■ SEÇÃO 1 - O Período Quaternário 80
■■ SEÇÃO 2 - O caráter Multi-interdisciplinar no estudo do Quaternário 83
■■ SEÇÃO 3 - Geomorfologia do Quaternário aplicada ao Planejamento
Ambiental 85

■■ PALAVRAS FINAIS 89
■■ REFERÊNCIAS 91
■■ NOTA SOBRE O AUTOR 94
PALAVRAS DO PROFESSOR
  

Bem-vindo à disciplina de Geomorfologia II. Neste livro você terá a


continuidade dos estudos geomorfológicos pertinentes à ciência geográfica,
permitindo-lhe uma compreensão ampliada do mundo que o rodeia, auxiliando-o
a tornar-se um profissional qualificado a exercer o magistério, atuando como
professor de Geografia no ensino básico.
Geomorfologia é a ciência que estuda a gênese e a evolução das formas
de relevo sobre a superfície da Terra, formas estas resultantes dos processos
atuais e pretéritos ocorridos nas rochas existentes.  Os processos ou fatores que
definem tal evolução podem ser endógenos ou formadores de relevo (tectonismo
e vulcanismo) e exógenos ou modeladores (clima, vegetação e solos). Portanto,
essa ciência possui intrínseco caráter multidisciplinar.
Buscaremos na Geologia e na Climatologia a fundamentação teórica para
explicar a configuração do relevo terrestre. Os relevos constituem o substrato nos
quais se fixam as populações humanas e onde eles desenvolvem suas atividades,
derivando daí valores econômicos e sociais. Em função de suas características
e dos processos que sobre eles atuam, oferecem, para as populações, tipos e
níveis de benefícios ou riscos dos mais variados. Suas maiores ou menores
estabilidades decorrem ainda de suas tendências evolutivas e das interferências
que podem sofrer dos demais componentes ambientais, ou da ação do homem.
Desta forma, tentaremos demonstrar que todo problema de ordem ambiental tem,
inevitavelmente, seu início na apropriação indevida do relevo e que, portanto,
relevo e sociedade humana devem ser entendidos em conjunto.
Este livro estrutura-se em três unidades. A primeira versa sobre os
processos exógenos que influenciam na elaboração do relevo. Os mecanismos de
sua gênese, abordados em Geomorfologia I, agora em conjunto com os processos
que atuam na modelação do relevo, fornecem noções fundamentais para a
compreensão da dinâmica do espaço físico terrestre. A segunda unidade trata
da intrínseca relação entre o clima e o relevo, como eles se comportam, como se
relacionam com outros fatores e sua importância na análise geomorfológica. A
terceira unidade preocupa-se com o reconhecimento do Período Quaternário,
como era o ambiente na Terra e como as formas de relevo daquele período
interferem na análise geomorfológica.
OBJETIVOS E EMENTA

Objetivos
■■ Reconhecer os fatores exógenos na elaboração do relevo.

■■ Reconhecer os processos erosivos como agentes modificadores da paisagem.

■■ Reconhecer a importância do Período Quaternário na análise da paisagem

atual.

Ementa

■■ Processos exógenos de elaboração do relevo. O clima e o relevo. O

Quaternário na análise das formas de relevo.


UNIDADE I
Fatores exógenos
envolvidos na elaboração
do relevo

Elvio Pinto Bosetti

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
■■ Apresentar as formas de relevo como objeto de estudo da geomorfologia

para garantir a transposição didática dos conteúdos, relacionando-os com o

ensino básico.

ROTEIRO DE ESTUDOS
■■ SEÇÃO 1 - O Relevo como Objeto de Estudo

■■ SEÇÃO 2 - Formas e Gênese do Relevo

■■ SEÇÃO 3 - Fatores Exógenos

■■ SEÇÃO 4 - Processos Erosivos Envolvidos na Elaboração do Relevo

■■ SEÇÃO 5 - Movimentos de Massa: uma Introdução


Universidade Aberta do Brasil

PARA INÍCIO DE CONVERSA

Para iniciar esta unidade, seria importante você pensar sobre as


formas de relevo existentes no trajeto de sua casa até a escola, trabalho,
etc. Se você já foi ao litoral, lembre-se da paisagem deste ambiente; note
que, além do mar, outros elementos que compõem a paisagem também
se modificam, como a vegetação, as aves, o solo, o relevo. E que de norte
a sul do Brasil, essas diferenças são muito mais perceptíveis. A análise
desses elementos em conjunto irá nos fornecer uma breve ideia sobre a
complexidade da dinâmica do relevo.

SEÇÃO 1
O RELEVO COMO OBJETO DE ESTUDO

Figura 1 - Deslizamento de encosta, Santa Catarina-SC (Foto do autor,


2010)
As formas de relevo constituem o objeto de estudo da Geomorfologia.
Este objeto bem definido, com assunto significativo e diversificado
a ser compreendido e explicado, a sistematização do conhecimento já
atingido, o valor alcançado por suas concepções teóricas, o caráter
prático da aplicação dos seus conhecimentos e a crescente importância
que a sociedade lhe tem conferido, fazem da Geomorfologia uma ciência

12
UNIDADE 1
Geomorfologia 2
autônoma. (MARQUES, 1998).
O relevo sempre foi visto pelo homem como o conjunto de
componentes da natureza que se destaca pela sua beleza, imponência ou
forma, e que se reveste de grande importância em muitas situações do
seu cotidiano, como para assentar moradia, estabelecer caminhos para
locomoção, desenvolver cultivos ou definir territórios.
A evolução do conhecimento humano na direção da Geomorfologia
tem procurado respostas para questões como: De que forma os processos
se articulam entre si? Como evoluem os grandes conjuntos de relevo?
Qual o significado do relevo no contexto ambiental? Como interferir ou
controlar o funcionamento dos processos geomorfológicos? Como projetar
(no tempo e no espaço) o comportamento dos processos e as formas de
relevo resultantes? (MARQUES, 1998).
O reconhecimento da importância do relevo pode ser observado
na atenção que é conferida ao seu estudo, na elaboração de planos e
projetos que necessitam, cada vez mais, explicitar os possíveis impactos
ambientais que serão decorrentes de sua implantação.

SEÇÃO 2
FORMAS E GÊNESE DO RELEVO

Para entender o que são e representam uma ou todas as formas de


relevo identificadas em diferentes escalas espaciais e temporais, é preciso
compreender e explicar como elas surgem e evoluem. Sendo assim,
consideremos também como objeto de estudo da Geomorfologia, “os
processos responsáveis pelas ações capazes de criar ou destruir as formas
de relevo, de fixá-las num local ou deslocá-las, de ampliar suas dimensões
ou reduzi-las, de modelá-las contínua ou descontinuamente, de mantê-
las preservadas ou modificá-las.” (MARQUES, 1998). A existência e o
funcionamento desses processos, na superfície terrestre, têm suas origens
mais amplas em forças oriundas do interior do planeta (força ou fatores
endógenos, como já visto na Geomorfologia I) e forças externas, vindas a
partir da atmosfera (forças ou fatores exógenos), levando à modificação
das formas de relevo através do tempo.

13
UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil

Tais formas de relevo podem transmitir a falsa ideia de que são


componentes independentes na paisagem. Na verdade, elas e os demais
componentes do ambiente estão interligados, promovendo ações,
muitas vezes induzidas por influências mútuas, que em maior ou menor
intensidade, atuam no sentido de criar uma fisionomia que reflete, no todo
ambiental ou em suas partes, um ou mais ajustes alcançados. Assim, a
criação e evolução do relevo não são dissociadas da presença e participação
de outros elementos do ambiente e sobre eles exercem a sua influência.
As características geológicas, climáticas, pedológicas, hidrológicas,
biológicas, topográficas e altimétricas devem ser consideradas quando
se pretende entender o tipo de relevo de uma área e a dinâmica de seus
processos. (MARQUES, 1998).
As formas ou conjunto de formas de relevo participam da composição
da paisagem em diferentes escalas. Relevos de grandes dimensões, ao
serem observados em curto espaço de tempo, mostram aparência estática
e imutável; entretanto estão sendo permanentemente trabalhados por
processos erosivos e deposicionais (Figura 2 e 3), desencadeados pelas
condições climáticas. (GUERRA e CUNHA, 1996).

Figura 2 - Representação das principais formas de relevo de uma


paisagem natural (Fonte: <http://www.geografo.110mb.com/images/
landforms.jpg>)

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UNIDADE 1
Geomorfologia 2
Figura 3 - Representação de uma paisagem natural com depósitos de
sedimentos fluviais, glaciais e eólicos (Fonte: www.geoturismobrasil.com)

Tipos de Relevo
A superfície terrestre é composta por irregularidades, que se
apresentam de diferentes formas em todo o planeta, e cujo conjunto pode
ser definido como relevo. Os principais tipos de relevo são: os planaltos,
as planícies, as depressões e as montanhas.

Figura 4 - Classificação do relevo brasileiro,


segundo Aziz Ab’Saber (1958)

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UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil

Figura 5 - Formas de relevo (Fonte: <marciiabarbosa.blogspot.com>)

Planaltos
Os planaltos, também chamados de platôs, são áreas de altitudes
variadas e limitadas em um de seus lados, por superfície rebaixada. São
originários das erosões provocadas por água ou vento e seus cumes são
ligeiramente nivelados. Exemplo: Planalto Central no Brasil, localizado
em território dos estados de Goiás, Minas Gerais, Tocantins, Mato Grosso
e Mato Grosso do Sul.

Figura 6 - Parque Nacional de Chapada dos Guimarães, Cuiabá–MT


(Fonte: <http://www.pnbonline.com.br>)

Planícies
São áreas geográficas caracterizadas por superfície relativamente
plana (pouca ou nenhuma variação de altitude). Encontradas, na maioria
das vezes, em regiões de baixas altitudes. As planícies são formadas por

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UNIDADE 1
Geomorfologia 2
rochas sedimentares. Nestas áreas, ocorre o acúmulo de sedimentos.
Exemplos: Planície Litorânea, Planície Amazônica e Planície do Pantanal.

Figura 7 - Planície do Pantanal, rio Formoso, município de Bonito–MT


(Fonte: <http://www.brasildasaguas.com.br/margi/fotosnew/937.jpg>)

Figura 8 - Planície costeira - Pontal do Paraná-PR (Foto do autor)

Depressões
As depressões são regiões geográficas mais baixas do que as áreas
em sua volta. Quando essas regiões situam-se numa altitude abaixo do
nível do mar, são chamadas de depressão absoluta. Quando são apenas
mais baixas do que as áreas ao redor, são chamadas de depressões
relativas. As crateras de vulcões desativados também são consideradas
depressões. É comum a formação de lagos nas depressões. Exemplos:
depressão amazônica ocidental, depressões marginais amazônicas,
depressão marginal norte-amazônica, depressão marginal sul-amazônica,
depressão do Araguaia, depressão cuiabana, depressões do Alto Paraguai

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UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil

e Guaporé, depressão do Miranda, depressão do Tocantins, depressão


sertaneja do São Francisco, depressão da borda leste da bacia do Paraná,
depressão periférica central ou sul-rio-grandense.

Figura 9 - Depressão cuiabana


(Fonte: <carlosmferreira.sites.uol.
com.br>)

Montanhas
As montanhas são formações geográficas originadas do choque
(encontro) entre placas tectônicas. Quando ocorre esse choque na crosta
terrestre, o solo das regiões que sofre o impacto acaba se elevando na
superfície, formando assim as montanhas, conhecidas como montanhas
de dobramentos. Grande parte delas formou-se na era geológica do
Terciário. Existem também, embora menos comum, aquelas formadas por
vulcões.
As altitudes das montanhas são superiores às das regiões vizinhas.
Quando ocorre um conjunto de montanhas, chamamos de cordilheira.
Exemplos: Aconcágua (Argentina), Pico da Neblina (Brasil), Logan
(Canadá), Kilimanjaro (Tanzânia), Monte Everest (Nepal, China), Monte
K2 (Paquistão, China), Monte Blanco (França, Itália).

Figura 10 - Monte Fuji, localizado a oeste de Tokyo - Japão


(Fonte: <http://imagens.fotoseimagens.etc.br/monte-
fuji_2622_1600x1200.jpg>)

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UNIDADE 1
Geomorfologia 2
1.Pesquise e estude na internet as diferentes formas de relevo.
2.Pesquise e estude na internet os processos erosivos.

SEÇÃO 3
FATORES EXÓGENOS

Os processos exógenos que atuam na elaboração do relevo


dependem basicamente das condições climáticas e geomorfológicas. O
clima quente e úmido das regiões tropicais, em conjunto com a exuberante
cobertura vegetal e regime hidrológico, favorece a formação de espessas
camadas de regolitos, através da ação de ácidos orgânicos que facilitam
o intemperismo químico. A ação física das raízes também induz ao
fraturamento e acesso aos fluidos, além de proteger o regolito da ação
erosiva. Áreas estáveis permitem que os regolitos permaneçam expostos
por longos períodos e evoluam de acordo com as mudanças ambientais. A
combinação desses fatores é suficiente para influenciar de forma bastante
complexa a formação de regolitos. (GUERRA e CUNHA, 1996).

Regolito: Do grego rhegos, manto, cobertura.


Material decomposto que repousa diretamente
sobre a rocha-matriz sem ter sofrido transporte. O
material do regolito é um resíduo que não sofreu
ainda o processo de edafização. (GUERRA, 1980,
p. 358).

Intemperismo
Sob determinadas condições climáticas as rochas tendem a se
decompor, formando o chamado manto de intemperismo, que também
pode receber a designação de regolito. (LEINZ e AMARAL, 1980).
O intemperismo constitui um conjunto de processos que ocasionam
a decomposição dos minerais das rochas. Pode ser causado por processos

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UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil

de natureza física (intemperismo físico) e/ou química (intemperismo


químico) que as rochas sofrem ao aflorar na superfície da Terra. Quando
a ação de organismos vivos ou de matéria orgânica proveniente da sua
decomposição participa do processo, o intemperismo é chamado de físico-
biológico ou químico-biológico. (MUGGLER et al., 2005).

Intemperismo Físico
Segundo Guerra e Cunha (1996), o intemperismo físico é composto
pelos processos que levam à fragmentação da rocha, sem modificação
significativa em sua estrutura química ou mineralógica. Essas quebras
podem ocorrer por vários processos, como demonstrado na figura 11:

Figura 11 - Tipos de intemperismo físico


(Fonte: <www.geoturismobrasil.com>)

a) Variação de temperatura: as rochas são compostas por diversos


minerais. Quando vários minerais estão unidos na massa da rocha e
são submetidos a variações de temperatura, se dilatam e se contraem
em diversas direções e com intensidades diferentes (coeficientes de
dilatação e contração diferentes). Esse fenômeno cria tensões no corpo
da rocha, levando à fadiga do material e ao seu fraturamento. Nas rochas
máficas (de coloração escura, como o basalto) este processo é ainda mais
intenso em razão da maior absorção de calor. Imagine um bloco de rocha
exposto às intempéries. As tensões geradas na superfície do bloco se
transmitirão para as arestas e das arestas para os vértices. Logo, a ordem
de fraturamento deve ser primeiro os vértices e depois as arestas, dando
um aspecto arredondado ao material.

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UNIDADE 1
Geomorfologia 2
b) Crescimento de raízes: espécies pioneiras arbustivas e arbóreas
podem exercer grandes pressões sobre as rochas, através do crescimento
das raízes entre as fendas. Exemplos típicos dessa força são os danos
causados pelas raízes de algumas árvores no calçamento e nas fundações
das construções. (Figura 12).

Figura 12 - Ação das raízes na desagregação mecânica das rochas


(Foto do autor)

c) Gelo: apesar de não ser comum no clima atual do Brasil, a


formação de gelo na água acumulada em fendas nas rochas também pode
levar à sua fragmentação. A água no estado sólido ocupa um volume 10%
maior que no estado líquido.

Figura 13 - Fragmentação por ação do gelo: (A) A água líquida ocupa


as fissuras da rocha; (B) O gelo formado expande e exerce pressão nas
paredes. (Fonte: TEIXEIRA et al., 2000).

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UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil

d) Precipitação de sais: de maneira semelhante, o acúmulo de


porções de águas ricas em sais, em frestas e fendas na rocha, pode
ocasionar seu fraturamento quando essa água evapora e os sais começam
a se cristalizar.

Intemperismo Químico
O intemperismo químico é o conjunto de reações que levam à
modificação da estrutura dos minerais componentes da rocha. Na
natureza, é praticamente impossível separar o intemperismo físico
do intemperismo químico, já que ocorrem quase simultaneamente. O
intemperismo químico, entretanto, torna-se mais acelerado à medida que
o físico avança. (GUERRA e CUNHA, 1996).
Assim como o intemperismo físico, o químico ocorre em virtude das
condições ambientais na superfície da crosta serem bastante diferentes
daquelas onde os minerais se formaram. Os arranjos cristalinos das
estruturas mineralógicas estão sempre tendendo para uma situação de
maior equilíbrio com o ambiente. Entretanto, mesmo quando as diferenças
são muito grandes, as reações ocorrem em uma velocidade bastante lenta
do ponto de vista humano. As reações químicas do intemperismo são
controladas principalmente pela água meteórica e gases nela dissolvidos
(O2 e CO2). Os produtos dessas reações constituem os minerais
secundários, que formam o regolito, e o material dissolvido, que pode
ser removido em solução ou reprecipitado em ambientes favoráveis no
regolito. (GUERRA e CUNHA, 1996).

Reações de Dissolução
Esta reação se dá pela solubilização dos elementos que compõem
os minerais. Sua intensidade vai depender da quantidade de água em
contato com os minerais e da solubilidade de cada um deles. Assim,
minerais de alta solubilidade, como halita (NaCl), são facilmente
dissolvidos. Isto contrasta com a solubilidade do quartzo, que é muito
baixa. Normalmente as águas continentais se encontram saturadas com
a sílica dissolvida, proveniente de outros silicatos, mas quando estes são
consumidos, como nas porções superiores de regolitos muito lixiviados,
tipo perfis lateríticos, as soluções passam a ser subsaturadas em sílica
e o quartzo pode ser dissolvido pela água meteórica pura. (GUERRA e

22
UNIDADE 1
Geomorfologia 2
CUNHA, 1996).

Reações de Oxidação
Trata-se de uma reação com O2 formando óxidos, ou hidróxidos, se
a água também é envolvida no produto secundário.
Afeta de modo particular os minerais contendo íons polivalentes
tais como o ferro e manganês, principal responsável pela coloração
avermelhada característica dos regolitos tropicais. A reação pode se dar
por etapas, primeiramente com a liberação do Fe2+ por hidrólise:

2FeS2 + 2H2O + 7O2 2Fe2+ + 4SO42- + 4H+

Seguindo a oxidação do Fe2+:

2Fe2+ + 3H2O + 1/2O2 2FeO.OH + 4H+

Em perfis lateríticos essa reação é referida como ferrólise.


Os óxidos e hidróxidos de ferro (FeO.OH) são insolúveis e
precipitam-se na faixa de pH geralmente encontrada em superfície ou
são carreados em soluções coloidais. No entanto, também são comuns,
nos solos superficiais de regolitos tropicais, condições ácidas e redutoras
por causa da abundância de matéria orgânica e, nestas condições, os
oxihidróxidos de ferro se reduzem e são mobilizados para fora ou para
níveis inferiores do regolito.

Reações de Hidrólise
Trata-se da reação mais comum para os minerais silicatados. É a
reação química que se dá pela quebra da ligação entre os íons dos minerais
pela ação dos íons H+ e OH- da água. Os prótons H+ são consumidos
e íons OH-, cátions e ácido silícico são colocados em solução, podendo
haver um produto secundário residual.
Na sua forma mais simples, pode ser exemplificada com a hidrólise
da olivina. Neste caso sem a produção de mineral secundário:

Mg2SiO4 + 4H2O  2Mg2+ + 4OH- + H4SiO4

A presença de ácido carbônico a partir de CO2 dissolvido na água

23
UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil

favorece ainda mais as reações de hidrólise.

Intemperismo Biológico
São chamados biológicos os processos de intemperismo de rochas
causados por fatores biológicos. O papel dos organismos é determinado
pela sua capacidade de assimilar vários elementos da rocha em processo
de alteração e de produzir em seu metabolismo agentes químicos, como
por exemplo, os ácidos orgânicos. Tais processos podem ser tanto de
natureza física como química.
São processos de natureza física causados por organismos, entre
outros, a pressão de crescimento de raízes, quando estiverem ocupando
fendas de rochas. Assim também animais escavadores têm papel
importante ao facilitarem a remoção de materiais alterados. Entretanto os
processos de natureza química são muito mais importantes, destacando-
se aqueles nos quais vegetais superiores promovem a dissolução química
das rochas através de substâncias ácidas produzidas pelas suas raízes
e assimilam elementos tais como potássio, sódio, cálcio, alumínio,
ferro, etc., existentes nos minerais das rochas. Os primeiros estágios da
decomposição biológica de rochas são associados com microrganismos
(fungos e bactérias) que a “preparam” para o ataque químico seguinte
promovido por liquens, algas e musgos, sendo os últimos estágios
associados com vegetais superiores. (GUERRA e CUNHA, 1966).
Por meio do constante desgaste físico, químico e biológico, as
rochas se decompõem em minerais primários e secundários, originando o
processo de formação dos solos denominado Pedogênese.
Solos estão constantemente em desenvolvimento, graças a diversos
processos. Geralmente, o solo é descrito como um corpo tridimensional,
podendo, porém, ao se considerar o fator tempo, ser descrito como
um sistema de quatro dimensões: tempo, profundidade, largura e
comprimento. Um solo é o produto de uma ação combinada e concomitante
de diversos fatores, quais sejam:

Clima – É o fator mais importante, principalmente em países tropicais ou


de solos desenvolvidos. Engloba a noção de mudanças de temperaturas
(que atuam no intemperismo físico sobre a rocha sã), precipitação e
controle de sedimentação em planícies. Associa-se com a biomassa

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UNIDADE 1
Geomorfologia 2
(determinando tipos de organismos que viveram sobre o solo) ou com
o relevo, implicando veios de água superficiais ou freáticos. O clima
também varia conforme a escala, chegando até mesmo a modificar o solo
por pequenas diferenças de precipitação, graças ao relevo.

Organismos - Organismos podem destruir o solo mecanicamente, abrindo


poros, e quimicamente, criando ácidos em sua decomposição. Podem,
ainda mais, proteger o solo da atuação direta de chuvas e erosões.

Relevo - O relevo influencia nos caminhos de drenagem da água e no


clima. Pode deixar o solo protegido de processos erosivos, como águas
e ventos, assim como pode determinar microclimas. Geralmente, numa
mesma vertente, há diversos tipos de solos associados entre si por
transportes internos de matéria.

Rocha mãe (material de origem) - É a rocha-matriz que origina o material


do solo. Quanto mais jovem o solo, mais características manterá da rocha
mãe. Posteriormente, com a constante atuação do clima, o solo vai perdendo
os minerais primários, transformando-os em secundários, geralmente
argilas. A rocha-matriz também é importante, pois, dependendo de sua
resistência, influencia no relevo da paisagem, assim como também no
tempo da pedogênese (afinal, rochas mais duras demoraram bem mais
para formar solos profundos).

Tempo – É o mais abstrato dos fatores, porém não o menos importante. Diz-
se que um solo, conforme passa o tempo, busca a maturidade, ganhando
profundidade e tendo altos teores de argila. Contudo, tal é a dinâmica
da pedogênese e da litosfera, implicando reciclagem de materiais e
paisagens, que os solos dificilmente serão vistos como maduros.

Os solos evoluídos possuem normalmente várias camadas


sobrepostas, designadas por horizontes. Essas camadas são formadas
pela ação simultânea de processos físicos, químicos e biológicos e podem
distinguir-se entre si através de determinadas propriedades, como por
exemplo, a cor, a textura e o teor em argilas. (Figura 14).

25
UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil

Figura 14 - Horizontes do solo (Fonte: <www.dct.uminho.pt>)

Relevo e Características dos Solos


O relevo exerce uma forte influência na evolução e desenvolvimento
dos solos. Porém, correlações entre configuração do relevo e classes e/ou
características de solos são válidas para condições fisiográficas específicas.
O aspecto do relevo local tem marcantes influências nas condições hídricas
e térmicas dos solos e, por conseguinte, no seu clima. Essas influências
se refletem, principalmente, em microclimas, na natureza da vegetação
natural e em propriedades dos solos. As características descritas a seguir
podem ser relacionadas com o relevo e/ou com a posição do solo na
paisagem (GUERRA e CUNHA, 1996):

a) Dinâmica da Água: Compreende a


movimentação vertical e subparalela à superfície
do terreno e à frequência e duração de períodos

26
UNIDADE 1
Geomorfologia 2
em que o solo se apresenta saturado ou não com
água. Nas partes altas e relativamente planas,
os solos apresentam boa drenagem interna;
nas encostas com declives mais acentuados,
apresentam drenagem boa ou excessiva, porém
são mais secos; enquanto que nas partes
inferiores das vertentes e nas áreas de várzeas
e/ou depressões há predominância de água na
massa do solo durante o ano. Esta permanência
de água resulta em solos imperfeitamente
drenados ou mal drenados, dependendo se o
lençol freático está próximo à superfície ou não,
respectivamente.
b) Espessura do Solo e Diferenciação de
Horizontes: Os solos, em superfícies mais suaves,
são mais profundos e apresentam, em geral,
nítida diferenciação entre horizontes principais.
Nas encostas mais íngremes apresentam-se mais
rasos com menor diferenciação entre os horizontes
principais, devido ao acentuado escoamento
superficial de água, que favorece a remoção do
material edafisado.
c) Horizonte Superficial, Espessura e Teor de
Matéria Orgânica: Áreas altimontanas, acima
de 700 metros, mesmo em regiões tropicais,
apresentam horizonte superficial A orgânico-
mineral mais espesso e com teores elevados de
matéria orgânica devido à lenta mineralização
do material, favorecido pelo clima mais ameno e
condicionado pela altitude. Em áreas de várzeas
os teores de matéria orgânica e espessura do
horizonte superficial A aumentam, à medida
que o lençol freático se aproxima da superfície.
Neste caso, a diminuição de oxigenação, devido
ao excesso de água, diminui a decomposição dos
materiais orgânicos.
d) Cor e Temperatura do Solo: O relevo local, a
orientação das encostas e a posição do solo na
paisagem têm um enorme efeito nas condições
hídricas e térmicas dos solos, favorecendo o
aparecimento de microclimas e, por conseguinte,
alterações na cor, temperatura e cobertura vegetal
natural.
e) Saturação de Bases e Lixiviação: A orientação
das encostas, bem como a posição topográfica dos
solos, tem influência na reação do solo e no grau
de intemperização. (GUERRA e CUNHA, 1996,
p. 77-81).

Clima e Características dos Solos


O clima, associado aos organismos, atua sobre as rochas produzindo
os materiais que irão dar origem aos solos. O efeito do clima, através

27
UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil

de variáveis como precipitação, temperatura e umidade, pode ser


considerado o mais importante agente na manifestação das expressões
das propriedades dos solos. Essas propriedades podem resultar como
efeito da ação do conjunto de condições meteorológicas gerais, de
condições climáticas, ambientais, regionais e/ou de microclimas locais.
Em adição às condições climáticas, salienta-se, também, a influência dos
efeitos do pedoambiente, isto é, do clima e da ambiência dentro do solo
que, embora seja condicionado pela localização topográfica, aspectos e
orientação das encostas, têm influências marcantes no desenvolvimento
de certas características. (GUERRA e CUNHA, 1996).

Organismos e Características dos Solos


As características do solo estão intimamente relacionadas com
as condições macroclimáticas atmosféricas, com os pedoclimas, e/ou
induzidas pelo homem. A comunidade de organismos, tanto da superfície
como da massa do solo, além de ser fonte de material orgânico para os
solos, é de capital importância na decomposição e/ou na transformação
desse material em substâncias húmicas. Plantas e animais, assim como
seus resíduos, têm, também, importância como agente mecânico e na
decomposição química das rochas e/ou do material de origem dos solos,
sendo seus efeitos expressos nos processos de formação e na fertilização
dos solos. O sistema radicular das plantas pode intensificar a decomposição
do material mineral, manter os fragmentos e/ou subprodutos das rochas e
minerais na superfície, protegendo-os contra a erosão. A atuação mecânica
dos animais invertebrados e vertebrados reflete-se, principalmente, na
translocação e/ou remoção de detritos de material mineral e na mescla de
materiais orgânicos e inorgânicos. (GUERRA e CUNHA, 1996).

A partir do texto disponível em: <www.seb-ecologia.org.br/viiiceb/pdf/269.pdf> (FARIAS; SILVA, 2007),


faça um resumo sobre os processos exógenos de elaboração do relevo e como esse tema pode ser
aplicado ao estudo de unidades ambientais.

28
UNIDADE 1
Geomorfologia 2
SEÇÃO 4
PROCESSOS EROSIVOS ENVOLVIDOS NA
ELABORAÇÃO DO RELEVO

Os processos erosivos constituem-se um conjunto de processos


geológicos e geomorfológicos que implicam retirada e transporte do
material solto (solo e regolito) da superfície do terreno, provocando o seu
desgaste. Os principais agentes de transporte são: água, vento e gelo.
Os sedimentos transportados dão origem aos depósitos aluvionares e às
rochas sedimentares. (GUERRA e CUNHA, 1995).

Fatores Controladores Responsáveis pela Erosão


Os fatores controladores são aqueles que determinam as variações
nas taxas de erosão e podem ser subdivididos em: erosividade (causada
pela chuva), erodibilidade (proporcionada pelas propriedades do solo),
características das encostas e natureza da cobertura vegetal. É por causa
da interação desses fatores que certas áreas erodem mais ou menos do
que outras. A intervenção do homem também pode alterar esses fatores e,
consequentemente, apressar ou retardar os processos erosivos. (GUERRA
e CUNHA, 1995).

Erosividade da Chuva
Conforme Guerra; Cunha (1995), a erosividade é concebida como:
“a habilidade da chuva em causar erosão”. Embora a definição seja
simples, a determinação do potencial erosivo da chuva é assunto muito
complexo, porque depende, em especial, dos parâmetros de erosividade
e também das características das gotas de chuva, que variam no tempo e
no espaço.
A intensidade da chuva, em conjunto com sua energia cinética,
provoca a retirada de material da parte superficial do solo. Esta ação é
acelerada quando a água encontra o solo desprotegido de vegetação. A
primeira ação da chuva se dá através do impacto das gotas d’água sobre o
solo (Splash), capaz de provocar a desagregação dele. A força do impacto
também leva o material mais fino para abaixo da superfície, o que provoca

29
UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil

a obstrução da porosidade do solo, aumentando o fluxo superficial e a


erosão (Figura 15 e 16).

Figura 15 - Impacto da água da chuva na superfície do solo (Fonte a:


<http://sidklein.vilabol.uol.com.br/pos/metexp.htm>.
Fonte b: <www.fao.org/ag>)

Figura 16 - Ação da chuva na desagregação da rocha (Fonte: <http://


orbita.starmedia.com/geoplanetbr/acge0805.jpg>)

Propriedades do solo
As propriedades do solo são de grande importância nos estudos de
erosão, porque, junto com outros fatores, determinam a maior ou menor
susceptibilidade à erosão. Morgan (1986) apud Guerra; Cunha (1995)
definem erodibilidade como sendo “a resistência do solo em ser removido
e transportado”. Um aspecto importante, tanto na definição como no
estudo da erodibilidade do solo, é que ela não é estática, mas, sim, uma
função que depende do tempo.
Guerra e Cunha (1995) definem várias propriedades que afetam
a erosão dos solos. Entre elas destacam-se textura, densidade aparente,

30
UNIDADE 1
Geomorfologia 2
porosidade, teor de matéria orgânica, da estabilidade dos agregados
e pH do solo. Apesar da importância que essas propriedades têm na
erodibilidade, é preciso reconhecer que elas não são estáticas ao longo
do tempo. Dessa forma, quando analisadas, é preciso relacioná-las a um
determinado período de tempo, pois podem evoluir transformando-se em
certos solos mais susceptíveis ou menos resistentes aos processos erosivos
(Figura 17).
A textura afeta a erosão, porque algumas frações granulométricas
são removidas mais facilmente do que outras. A remoção de sedimentos
é maior na fração de areia média e diminui nas partículas maiores ou
menores. Apesar do reconhecimento da importância da textura na
erodibilidade dos solos, as percentagens de areia, silte e argila devem
ser observadas, considerando-se em conjunto com outras propriedades,
porque a agregação dessas frações granulométricas é afetada por outros
elementos, como o teor de matéria orgânica. (GUERRA e CUNHA, 1995).
O processo de formação da matéria orgânica, no solo, depende da
flora e da fauna que vive sobre ou dentro do solo. As atividades humanas,
especialmente a agricultura, tendem a provocar mudanças no teor de
matéria orgânica do solo. Entretanto, esse teor afeta a erosão dos solos
de diversas maneiras, dependendo de outras propriedades (e.g. textura).
A estabilidade dos agregados, segundo vários autores, é influenciada
pela matéria orgânica e, ao mesmo tempo, age sobre a estrutura dos solos.
As taxas de erodibilidade vão depender do teor de matéria orgânica e
da estabilidade dos agregados, que, por sua vez, influenciam a ruptura
desses agregados, podendo ser formadas crostas no solo, dificultando a
infiltração e aumentando o escoamento.
A densidade aparente dos solos é outro fator controlador que deve
ser levado em consideração quando se tenta compreender os processos
erosivos, pois se refere à maior ou menor compactação dos solos.
A porosidade está inversamente relacionada com a densidade
aparente, ou seja, à medida que a densidade aparente de um solo
aumenta, a porosidade diminui e, em consequência, ocorre a redução de
infiltração de água no solo.
As medidas de pH do solo mostram a sua acidez ou alcalinidade.
Esses valores de pH são geralmente encontrados em trabalhos sobre
erosão dos solos, em conjunto com outros índices. Allison (1973) apud

31
UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil

Guerra; Cunha (1995) destacam que os solos ácidos são deficientes em


cálcio, um elemento conhecido por contribuir para a retenção do carbono,
através da formação de agregados que combinam húmus e cálcio.

Figura 17 - Ação erosiva e as propriedades do solo


(Fonte: <www.funape.org.br>)

Cobertura Vegetal
Os fatores relacionados à cobertura vegetal podem influenciar os
processos erosivos de várias maneiras através dos efeitos espaciais da
cobertura vegetal, dos efeitos da energia cinética da chuva e do papel
da vegetação na formação de húmus, afetando a estabilidade e o teor de
agregados. (GUERRA e CUNHA, 1995).
A densidade da cobertura vegetal é fator importante na remoção
de sedimentos, no escoamento superficial e na perda de solo. O tipo e
percentagem de cobertura vegetal podem reduzir os efeitos dos fatores
erosivos naturais.
Esses fatores também podem diminuir a quantidade de energia que
chega ao solo durante uma chuva e, dessa forma, minimizar os impactos
das gotas (Splash), reduzindo a erosão.

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UNIDADE 1
Geomorfologia 2
Figura 18 - Relação entre a cobertura vegetal e erosão (Fonte: <http://
bi.gave.min-edu.pt>)

Processos Erosivos Básicos


A erosão dos solos é um processo que ocorre em duas fases: uma,
que constitui a remoção de partículas, e outra, que é o transporte desse
material, efetuado pelos agentes erosivos. Os processos resultantes da
erosão pluvial estão intimamente relacionados aos vários caminhos
tomados pela água da chuva, tanto na sua passagem através da cobertura
vegetal, como no seu movimento na superfície do solo.
Os mecanismos destes processos erosivos variam no tempo e no
espaço, e a erosão ocorre a partir do momento em que as forças que
removem e transportam materiais, excedem aquelas que tendem a
resistir à remoção. A espessura do solo pode estar relacionada ao controle
das taxas de produção (intemperismo) e remoção (erosão) de materiais.
Nas áreas onde os efeitos desses dois grupos de processos são iguais, há
uma tendência de a espessura do solo permanecer a mesma ao longo do
tempo. (GUERRA e CUNHA, 1998).

Infiltração, Armazenamento e Geração de Runoff


O ciclo hidrológico (Figura 19) é o ponto de partida do processo
erosivo. Durante um evento chuvoso, parte da água cai diretamente no

33
UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil

solo, porque passa pelos espaços existentes na cobertura vegetal. Parte é


interceptada pela copa das árvores e volta à atmosfera por evaporação.
Outra parte atinge o chão por gotejamento das folhas, ou escoando pelo
tronco. A água que chega ao solo pode ser armazenada em pequenas
depressões ou se infiltra, aumentando a umidade do solo ou abastecendo
o lençol freático. Quando o solo não consegue mais absorver água, o
excesso começa a se mover em superfície ou em subsuperfície, podendo
provocar erosão, através do escoamento das águas. (GUERRA e CUNHA,
1995).

Figura 19 - Ciclo hidrológico (Fonte: <http://andre.art.br/wp-content/


uploads/2008/12/clico-da-agua2.jpg>)

A taxa de infiltração, que é o índice aferidor da velocidade com


que a água da chuva penetra no solo, exerce importante papel sobre
o escoamento superficial. A água se infiltra no solo, pelas forças de
gravidade e de capilaridade, e cada partícula do solo é envolvida por uma
fina película dessa água. Durante um evento chuvoso, os espaços entre
as partículas são preenchidos por água, e as forças capilares decrescem.
Consequentemente, as taxas de infiltração são mais rápidas no começo da
chuva e diminuem até atingir o máximo que o solo pode absorver. A taxa
máxima é a capacidade de infiltração, que corresponde à condutividade
hidráulica saturada do solo. (GUERRA e CUNHA, 1995).

34
UNIDADE 1
Geomorfologia 2
Escoamento Superficial
O escoamento superficial ocorre durante um evento chuvoso
quando a capacidade de armazenamento de água no solo é saturada. Ele
pode também ocorrer caso se exceda a capacidade de infiltração. O fluxo
que escoa sobre o solo se apresenta, quase sempre, como uma massa
de água com pequenos cursos anastomosados e, raramente, na forma de
um lençol de água, de profundidade uniforme. Esse fluxo de água deve
transpor vários obstáculos - fragmentos rochosos e cobertura vegetal -
que diminuem sua energia. A interação entre o fluxo de água e as gotas
de chuva que sobre ele caem, pode aumentar ainda mais sua energia.
(GUERRA e CUNHA, 1998).

Figura 20 - Relação entre o escoamento superficial, cobertura vegetal e


infiltração (Fonte: <www.colegiosaofrancisco.com.br>)

Escoamento Subsuperficial
Muita ênfase tem sido dada nas pesquisas hidrológicas atuais
à questão sobre o movimento lateral de água e de subsuperfície, nas
camadas superiores do solo. O escoamento subsuperficial, além de
controlar o intemperismo, afeta diretamente a erodibilidade dos solos
através de suas propriedades hidráulicas, influenciando o transporte
de minerais em solução. Tal escoamento, quando ocorre em fluxos
concentrados, em túneis ou dutos, possui efeitos erosivos, provocando
o colapso da superfície acima e resultando na formação de voçorocas.

35
UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil

Apesar dos estudos desenvolvidos sobre tal tipo de escoamento, pouco se


sabe a respeito dos mecanismos de transporte e de erosão causados por
esse processo. (GUERRA e CUNHA, 1995).
Conforme Thornes (1980) apud Guerra; Cunha (1995), a
movimentação da água em subsuperfície ocorre como resultado de
diferenças potenciais de migração de líquidos, e essa água se movimenta
através dos poros existentes no solo. O potencial é dado por desníveis
altimétricos entre as zonas de saturação, e a resistência ao movimento da
água é dada pela estrutura porosa. Em zonas saturadas, linhas potenciais
tendem a ser normais à força de gravidade, e o fluxo corre vertical ou
paralelo à superfície. Em condições não saturadas, os poros por onde
o fluxo subsuperficial caminha estão parcialmente saturados, e, em
consequência, a condutividade hidráulica é uma função desse grau de
saturação.

Piping
Os dutos (pipes) ou túneis são grandes canais, abertos em
subsuperfície, com diâmetros que variam de poucos centímetros até
vários metros. O processo de formação desses dutos está relacionado ao
próprio intemperismo, sob condições especiais geoquímicas e hidráulicas,
havendo a dissolução e carreamento de minerais, em subsuperfície. Eles
ocorrem em ambientes bem variados, desde condições semiáridas até
temperadas e são responsáveis pela grande quantidade de transporte de
material em subsuperfície. Assim, à medida que esse material vai sendo
removido, vai se ampliando o diâmetro desses dutos, podendo resultar no
colapso do solo situado acima. (GUERRA e CUNHA, 1995).

Figura 21 - Erosão em piping (Fonte: <http://www.eca.usp.br/nucleos/njr/


voxscientiae/img/erosao1.jpg>)

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UNIDADE 1
Geomorfologia 2
Erosão em Lençol
A erosão em lençol também é conhecida por erosão laminar, devido
à água se distribuir pelas encostas de forma dispersa, não se concentrando
em canais. O lençol de água que cobre a superfície do solo durante uma
tempestade raramente se apresenta com profundidade uniforme e, em
geral, ocorre de maneira anastomosada, sem canais definidos. (GUERRA
e CUNHA, 1995).

Erosão em Ravinas
As ravinas são formadas quando a velocidade do fluxo de água
aumenta na encosta, tornando o fluxo turbulento. O aumento do gradiente
hidráulico pode ocorrer por uma série de motivos: maior intensidade da
chuva, aumentos do gradiente da encosta, ou ainda porque a capacidade
de armazenamento de água na superfície excedeu, e aí a incisão começa
a acontecer no topo do solo. (GUERRA e CUNHA, 1995).
Segundo Morgan (1986) apud Guerra; Cunha (1995), a maior parte
dos sistemas de ravinas é descontínua, não tendo nenhuma conexão com
a rede de drenagem fluvial. Excepcionalmente, uma ravina pode evoluir
para um canal de água permanente, desembocando em um rio; nesse
caso, quando chega a esse estágio, já evoluiu para uma voçoroca.

Figura 22 - Erosão superficial formando sulcos e ravinas (Fonte: <www.


cprm.gov.br>)

Erosão em Voçorocas
As voçorocas são características erosivas relativamente permanentes
nas encostas, possuindo paredes laterais íngremes e, em geral, fundo
chato, ocorrendo fluxo de água no seu interior durante os eventos

37
UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil

chuvosos. Algumas vezes as voçorocas se aprofundam tanto que chegam


a atingir o lençol freático. Se comparadas com os canais fluviais, as
voçorocas possuem, geralmente, maior profundidade e menor largura.
Elas estão associadas com processos de erosão acelerada e, dessa forma,
com a instabilidade da paisagem. (GUERRA e CUNHA, 1995).
O desmatamento, o uso agrícola da terra, o superpastoreio e as
queimadas quase sempre são responsáveis diretos pelo surgimento de
voçorocas, associados com o tipo de chuva e as propriedades do solo.
Podem ter origens variadas: uma delas se refere ao alargamento e
aprofundamento de ravinas, que se formam em uma determinada encosta.
Essas voçorocas podem evoluir pela ação erosiva das águas, na base e nas
laterais das ravinas, fazendo aprofundar e ao mesmo tempo alargar essas
formas erosivas. Um verdadeiro colapso de material, tanto nas laterais,
como nas partes superiores, começa então a ocorrer em direção ao topo
das voçorocas. Parte desse material transportado é depositado em áreas
mais baixas ou em algum canal fluvial próximo. (GUERRA e CUNHA,
1998).

Figura 23 - Modelo de
evolução de voçorocas. I:
voçoroca conectada à rede
hidrográfica; II: voçoroca
desconectada da rede
hidrográfica; III: integração
entre os dois tipos
anteriores. Na figura I, a
encosta é subdividida em
elementos geompétricos,
segundo Ruhe (1974),
sendo TS - toeslope (parte
inferior da encosta);
FS - footslope (sopé da
encosta); BS - backslope
(declive suave da encosta);
SH - shouder (ombro da
encosta); SU - summit
(cume, topo). (Fonte:
<www.funape.org.br>)

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UNIDADE 1
Geomorfologia 2
Figura 24 - Voçoroca em Uberlândia-MG (Foto do autor)

Figura 25 - Voçoroca em Uberlândia-MG (Foto do autor)

SEÇÃO 5
MOVIMENTOS DE MASSA: UMA INTRODUÇÃO

Conforme visto nas seções anteriores, a formação e a dinâmica


do relevo terrestre relacionam-se tanto com a interação de variáveis
endógenas (o tipo e a estrutura das rochas e as atividades tectônicas)
quanto exógenas (as variáveis climáticas e a atuação de fauna e flora)
dentre outras. Como parte integrante dessa dinâmica, ocorrem os
processos de vertente, entre os quais os movimentos de massa, que

39
UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil

envolvem o desprendimento e o transporte de solo e/ou material rochoso,


vertente abaixo. A mobilização de material deve-se à sua condição de
instabilidade, devido à atuação da gravidade, podendo ser acelerada pela
ação de outros agentes, por exemplo a água. O deslocamento de material
ocorre em diferentes escalas e velocidades, variando de rastejamentos a
movimentos muito rápidos. (FERNANDES e AMARAL, 1996).
Dentre as várias formas e processos de movimentos de massa,
destacam-se os deslizamentos nas encostas em função da sua interferência
grande e persistente com as atividades do homem, da extrema variância
de sua escala, da complexidade de causas e mecanismos, além da
variabilidade de materiais envolvidos. (FERNANDES e AMARAL, 1996).
Os deslizamentos são, assim como os processos de intemperismo
e erosão, fenômenos naturais contínuos de dinâmica externa, que
modelam a paisagem da superfície terrestre. No entanto, destacam-se
pelos grandes danos ao homem, causando prejuízos a propriedades na
ordem de dezenas de bilhões de dólares por ano. Por este motivo, os
deslizamentos constituem objeto de estudo de grande interesse para
pesquisadores e planejadores. (FERNANDES e AMARAL, 1996).
Em virtude de suas condições climáticas e grandes extensões de
maciços montanhosos, o Brasil está sujeito a desastres associados aos
movimentos de massa nas encostas. Além da frequência elevada daqueles
de origem natural, ocorre no país, também, um grande número de
acidentes induzidos pela ação antrópica. Neste sentido, o entendimento
da fenomenologia desses acidentes é fundamental. (FERNANDES e
AMARAL, 1996).
Os movimentos rápidos, denominados genericamente de
deslizamentos e tombamentos, têm grande importância em razão de sua
interação com as atividades antrópicas e da variabilidade de causas e
mecanismos. (FERNANDES e AMARAL, 1996). Tais movimentos são
deflagrados pelo aumento do aporte de mobilização de material (erosão,
energia cinética da chuva, sismicidade) e pela redução da resistência do
material (ação desagregadora de raízes, rastejamentos, textura e estrutura
favoráveis à instabilização). Esses processos fazem parte da dinâmica
natural da formação do modelado, mas tornam-se um problema quando
se encontram relacionados à ocupação humana, ou seja, quando há
ação antrópica em áreas naturalmente potenciais à sua ocorrência, além

40
UNIDADE 1
Geomorfologia 2
de também serem induzidos por essa ação. Na perspectiva de relação
entre eventos naturais e ação antrópica, o fenômeno é enquadrado como
sendo de risco, ou seja, fenômenos de origem natural ou induzidos
antropicamente e que acarretam prejuízos aos componentes do meio
biofísico e social.
Os problemas relativos à erosão e a processos de movimentos de
massa encontram-se presentes em vários lugares do mundo, mas em países
cujo regime pluvial tem as características do ambiente tropical e cuja
situação socioeconômica seja considerada como de subdesenvolvimento
ou em desenvolvimento, os problemas tornam-se mais acentuados em
consequência da escassa estrutura para evitar ou controlar tal fenômeno.
O aumento de população conduz à ocupação de áreas de risco, tanto
para a moradia (principalmente por parte de população de baixa renda)
quanto para o lazer. Essa situação tem levado ao aumento de frequência
(repetitividade de um fenômeno ao longo do tempo) e magnitude
(extensão e impacto) dos movimentos de massa. (CHORLEY et al., 1984).

Classificação e Condicionantes
Na natureza existem vários tipos de movimentos de massa os
quais envolvem uma vasta variedade de materiais, processos e fatores
condicionantes. Dentre os critérios geralmente utilizados para a
diferenciação destes movimentos, destacam-se o tipo de material, a
velocidade e o mecanismo do movimento, o modo de deformação, a
geometria da massa movimentada e o conteúdo da água. (FERNANDES
e AMARAL, 1996).
No Brasil, as principais classes de movimentos de massa são
atribuídas aos trabalhos de Freire (1965); Guidicini; Nieble (1984) e IPT
(1991):

41
UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil

Freire (1965) Guidicini; Nieble (1984) IPT (1991)


Escoamentos: Escoamentos: Rastejos
Rastejos e Corridas Rastejos e Corridas Corridas de Massa
Escorregamentos: Escorregamentos: Escorregamentos
Rotacionais e Rotacionais,
Translacionais Translacionais, Quedas de
blocos e Quedas de detritos
Subsidências e Subsidências: Quedas/Tombamentos
Desabamentos Recalques e Desabamentos
Formas de Transição
Movimentos complexos
Tabela 1 - Comparação entre algumas propostas brasileiras de
classificação dos movimentos de massa Fonte: FERNANDES
e AMARAL, 1996)

Fatores que influenciam a dinâmica das encostas


A estabilidade ou instabilidade de uma encosta depende da interação
de um conjunto de fatores. O ângulo de repouso, ou seja, o maior ângulo
de inclinação em que o material na encosta permanecerá estático sem
rolar morro abaixo, é definido principalmente pelos seguintes fatores:
natureza do material da encosta, a quantidade de água infiltrada nos
materiais, inclinação da encosta e presença de vegetação.
Em materiais inconsolidados, o ângulo de repouso médio é de
aproximadamente 30º, mas esse valor varia em função do tamanho, forma
e grau de seleção do material. Em termos gerais, pode-se dizer que o
ângulo é tanto maior quanto maior for o tamanho de grão do material,
quanto mais irregular a forma dos grãos e quanto menor o grau de seleção.
A estabilidade de encostas com materiais consolidados depende de outros
fatores, como estrutura da rocha (fraturas, acamamento, dentre outros)
posição das estruturas em relação ao relevo, além do tipo de material.
Outro fator que afeta o ângulo de repouso das encostas é a quantidade de
água infiltrada no regolito.
A água reduz a coesão entre as partículas do regolito, diminuindo,
assim, o ângulo de repouso do material. Esse efeito depende, entretanto,
da quantidade de água infiltrada que, por sua vez, depende da porosidade
e permeabilidade dos materiais. A diminuição de coesão ocorre quando
o material é saturado em água (i.e. todos os poros estão preenchidos),
mas quando não está saturado o efeito da água pode ser o de aumentar
o ângulo de repouso (areia seca X areia úmida X areia encharcada).

42
UNIDADE 1
Geomorfologia 2
Encostas argilosas, por exemplo, podem ter ângulo de repouso bastante
grande quando secas (até 90o), mas muito baixo quando infiltradas por
água, o que eventualmente facilita também o movimento de blocos de
material consolidado.
A inclinação da encosta é um fator de estabilidade muito importante,
porque com o seu aumento também aumenta o efeito da força de gravidade
em relação à força de atrito. Dessa forma, quanto maior a encosta maior
a tendência de movimento dos materiais sobre ela. A estabilidade dos
materiais em encostas com diferentes inclinações é definida pelos fatores
anteriormente mencionados. Qualquer elemento que altere a inclinação
das encostas pode, portanto, alterar sua estabilidade.
A presença de vegetação é um fator adicional que define a condição
de estabilidade das encostas. As raízes das árvores aumentam a coesão
do solo, aumentando o seu ângulo de repouso. A perda dessa cobertura
vegetal, por sua vez, modifica as condições de estabilidade da encosta. O
resultado final é normalmente um acentuamento da erosão das encostas
e o aumento do potencial para movimentos rápidos nas mesmas.
Tipos de Movimentos Características do movimento
Rastejo Movimento lento, ocorre em declives acima de 35º,
(creep) deslocando porção superior do solo, atingindo baixa
profundidade. Possui gradiente vertical de velocidade
(maior próximo à superfície, diminuindo com a
profundidade).
Deslizamento

Escorregament Envolve participação da água. Ocorre em relevos de


o elevada amplitude, com presença de manto de regolito.
(slide) Causado por elevada pluviosidade e antropismo. Envolve
também fragmentos de rochas (rockslide) e solos
(landslides).
Corrida de Participação intensa de água, forte caráter hidrodinâmico. O
massa transporte é feito por suspensão ou saltação. A separação
(flow) entre água e carga sólida é dificultada.
Queda de blocos Movimentos desenvolvidos em declives com ângulos
(fall) próximos a 90º. Queda livre de material (rochas, solos).
Ação maior da gravidade, sem água como agente
mobilizador.
Tabela 2 - Tipos de movimentos de massa (Fonte: FERNANDES; AMARAL, 1996)
Tabela 2 - Tipos de movimentos de massa (Fonte: FERNANDES;
AMARAL, 1996)

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UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil

Figura 26 - Rastejo (Fonte: <http://www.meioambiente.pro.br/


baia/mov.htm>)

Figura 27 - Escorregamento (Fonte: <http://www.meioambiente.pro.br/


baia/mov.htm>)

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UNIDADE 1
Geomorfologia 2
Figura 28 - Queda de Blocos
(Fonte: <http://www.meioambiente.pro.br/baia/mov.htm>)

Figura 29 - Corridas de Massa


(Fonte: <http://www.meioambiente.pro.br/baia/mov.htm>)

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UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil

Prevenção de desastres envolvendo Movimentos de Massa


A modificação dos vários parâmetros de uma encosta relacionados
anteriormente altera a condição de sua estabilidade, resultando quase
sempre na ocorrência de corrida ou escorregamento de massa. Esses
movimentos, geralmente, são catastróficos, acontecem em poucos
segundos e causam modificação do relevo e formação de depósitos
sedimentares. Isso quer dizer que as encostas são porções dinâmicas da
Terra e que sua ocupação deve ser feita de forma cuidadosa.
Em muitos casos, não é possível evitar a ocorrência de movimento
de massa, apenas verificar a potencialidade desses riscos e evitar a
construção em tais lugares. Mas, em diversas situações, é possível tomar
uma série de medidas para que tais riscos sejam consideravelmente
reduzidos.
Para prevenir é necessário levar em conta que fatores favorecem
a ocorrência de movimentos de massa episódicos e rápidos e que
movimentos são esses. Os mais rápidos e catastróficos são:

• corrida de detritos;
• corrida de lama;
• avalanche de detritos;
• escorregamento de blocos;
• queda de rocha;
• avalanche de rocha.

Além desses movimentos, outros mais localizados ou lentos também


acarretam perdas materiais:

• escorregamento rotacional (Slump);


• escorregamento de detritos;
• abatimento de cavidades de dissolução.

Na maior parte dos casos mencionados, a ocorrência do movimento


é ocasionada por um episódio de aumento de infiltração de água nos
materiais, ressalta-se, porém, que as condições do terreno já devem ser
favoráveis para que tal evento aconteça. Normalmente, os movimentos

46
UNIDADE 1
Geomorfologia 2
de corrida vão ocorrer em encostas:
• com inclinação acentuada;
• com material inconsolidado;
• nas quais ocorram períodos de intensa chuva intercalados com
períodos mais secos.

Outros fatores que podem favorecer a ocorrência de movimentos de


corrida são a retirada da cobertura vegetal das encostas e a consequente
modificação do seu perfil (corte de estrada, dentre outros).

Figura 30 - Deslizamento na encosta da rodovia, Tibagi-PR


(Foto do autor)

Para minimizar os riscos desses movimentos podem ser tomadas


diversas medidas preventivas, tais como:

• evitar, sempre que possível, construções em áreas com potencial


risco de movimento de massa;
• não alterar o perfil de encostas estáveis;
• caso seja necessária essa alteração, tomar precauções para
aumentar a estabilidade das encostas (uso de tirantes, muros de
contenção e outros tipos de proteções em estradas);
• cuidar com modificações da drenagem que aumentem a
saturação do terreno;
• preservar a vegetação em áreas de instabilidade, como cabeceiras
de drenagens e encostas muito íngremes.

47
UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil

Para que essas medidas sejam realizadas de forma adequada


são confeccionados mapas de risco geológico, nos quais se determina a
distribuição dos potenciais tipos de movimento de massa em uma região.
Esse mapa deve ser utilizado para definir as zonas de preservação de
vegetação, de não construção e outras medidas preventivas. A confecção
desses mapas e o estudo da dinâmica das encostas com fins aplicados são
uma das principais atividades profissionais dos geomorfólogos.

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UNIDADE 1
Geomorfologia 2

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UNIDADE 1
50
Universidade Aberta do Brasil

UNIDADE 1
UNIDADE II
Fatores climáticos
envolvidos na formação do
relevo

Elvio Pinto Bosetti

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
■■ Apresentar a interação entre o clima e o intemperismo, o conceito sobre

geossistema e a caracterização dos domínios morfoclimáticos brasileiros.

ROTEIRO DE ESTUDOS
■■ SEÇÃO 1 - O Clima e o Intemperismo

■■ SEÇÃO 2 -O Conceito da Teoria Geossistêmica

■■ SEÇÃO 3 - Os Domínios Morfoclimáticos do Brasil


Universidade Aberta do Brasil

PARA INÍCIO DE CONVERSA

Na unidade anterior, você pôde aprender como funciona a dinâmica


natural do relevo. Agora esta unidade contém textos sobre os autores
que melhor classificaram essa dinâmica, aplicando seus estudos multi-
interdisplinares para caracterizar grandes domínios no Brasil.

SEÇÃO 1
O CLIMA E O INTEMPERISMO

O termo clima tem sua raiz no grego clinein, inclinar-se, pois os


antigos gregos perceberam a inclinação do eixo da Terra em relação ao
plano eclíptico. O vocábulo era usado na acepção de latitude; a relação
íntima entre latitude e clima determinou a mudança no sentido do
vocábulo, significando, então, as condições gerais, médias, da atmosfera.
(LEINZ e AMARAL, 1980).
As condições climáticas, como temperatura, umidade e pressão,
respondem pela intemperização das rochas, culminando com a formação
dos depósitos correlativos. Constata-se, portanto, estreita relação
entre clima, intemperismo e depósitos correlativos na caracterização da
estrutura superficial.

52
UNIDADE 2
Geomorfologia 2
Figura 31 - O papel do clima é preponderante na determinação do tipo
e eficácia da intempérie. O intemperismo físico predomina nas áreas
onde a temperatura e a pluviosidade são baixas. Em locais onde a
temperatura e a pluviosidade são mais elevadas, o intemperismo químico
é favorecido. (Fonte: <www.geoturismobrasil.com>)

Assim considerando, pode-se concluir que o clima modela o relevo


e o relevo interfere no clima; são dois fatores intrínsecos que associados
são responsáveis pela tênue e dinâmica linha que separa a litosfera da
atmosfera.
O relevo pode afetar diretamente o clima, a circulação de massas de
ar, de ventos e nuvens. Um exemplo é o das cordilheiras que normalmente
bloqueiam a passagem de nuvens e de ventos. Por sua vez, como já visto
anteriormente, o clima afeta o relevo através dos tipos de intemperismo.
Como o intemperismo depende do clima e também do relevo, o solo e o
regolito são sempre o produto da interação do clima com as rochas. Uma
mesma rocha, em climas diferentes, poderá produzir solos distintos.

O clima do Brasil
De forma geral, o clima do Brasil pode ser classificado como
equatorial, tropical e subtropical, porém dentro do território brasileiro há
muitas diferenças em uma mesma região. Para um estudo mais preciso
do clima de nosso país é necessária uma classificação mais específica.
Atualmente, a melhor classificação é a de Koppen – Geiger, que leva em
conta fatores como relevo, regime de chuvas, temperatura, entre outros, e

53
UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil

representa com letras características de temperatura e regime de chuvas


nas diversas estações do ano. Na visão global, o Brasil está localizado em
duas áreas climáticas. Noventa e dois por cento do território está acima
do Trópico de Capricórnio, na zona tropical. Apenas a Região Sul e o
sul de São Paulo se localizam na zona temperada. Outro fator marcante
do Brasil é seu grande e extenso litoral, o que o torna um país bastante
úmido.

Figura 32 - Classificação do clima brasileiro, segundo Koppen – Geiger


(Fonte:<http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/brasil/clima-
brasileiro.php>)

Am
Temperaturas elevadas e pluviosidade elevada. As médias de
temperatura são maiores que 22°C em todos os meses e as mínimas, no
mês mais frio, são maiores que 20°C.

Aw
Temperaturas elevadas com chuva no verão e seca no inverno. As
médias de temperatura dos meses é maior que 20°C e no mês mais frio do
ano as mínimas são menores que 18°C.

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UNIDADE 2
Geomorfologia 2
Aw´
Temperatura elevada com chuva no verão e outono. Temperatura
sempre maior que 20°C.

Cwa
Temperaturas moderadas com verão quente e chuvoso. No mês
mais frio, a média de temperatura é menor que 20°C.

Cfa
Temperatura moderada com chuvas bem distribuídas e verão
quente. Nos meses de inverno há ocorrência de geadas, sendo a média
de temperatura neste período inferior a 16°C. No mês mais quente, as
máximas são maiores que 30°C.

Af
Temperatura elevada, sem estação seca. Temperaturas sempre
maiores que 20°C.

As
Chuva de inverno e outono com temperaturas elevadas sempre
maiores que 20°C.

BSh
Temperaturas altas com chuvas escassas no inverno. Temperaturas
maiores que 22°C.

Cwb
Verão brando e chuvoso com temperatura moderada. Há geadas no
inverno e as médias de temperatura no inverno e outono são inferiores a
18°C, com temperaturas mínimas inferiores a 12°C.

Cfb
Temperatura moderada com chuva bem distribuída e verão brando.
Podem ocorrer geadas, tanto no inverno como no outono. As médias de
temperatura são inferiores a 20°C, exceto no verão. No inverno, média
inferior a 14°C, com mínimas inferiores a 8°C.

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UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil

1. De acordo com a Figura 31, que relaciona o índice de pluviosidade e temperatura, defina qual o tipo
de intemperismo que atua em seu município.

2. Elabore um texto de até 20 linhas sobre medidas de prevenção e controle dos processos erosivos.

SEÇÃO 2
O CONCEITO DA TEORIA GEOSSISTÊMICA

Para entender essa complexa relação natural é preciso compreender


inicialmente que a superfície terrestre é afetada por uma imensa gama
de fatores físicos, químicos e biológicos, e que, ao longo do tempo
geológico, foram criando condições para o estabelecimento das paisagens
naturais atuais. Podemos definir essa complexidade como “relações
geossistêmicas”.
A teoria de geossistemas surgiu, na escola russa, a partir de um
esforço de teorização sobre o meio natural com suas estruturas e seus
mecanismos tal como existem objetivamente na natureza. A base dessa
teoria corresponde ao conceito de que as geosferas terrestres estão inter-
relacionadas por fluxos de matéria e energia. O reflexo dessa interação
na superfície terrestre é a existência de uma geosfera complexa (esfera
fisico-geográfica) que comporta a forma geográfica do movimento da
matéria.
Em 1963, Sotchava introduziu o termo geossistema para descrever a
esfera físico-geográfica como um sistema. Ele a denominou geographical
cover, classificando-a como geossistema de nível planetário. O termo
pode ser traduzido por “Envoltura Geográfica”. A palavra envoltura
pretende caracterizar uma disposição em espessura, já que é um conceito
que admite ou analisa o espaço tridimensional. Esse complicado sistema
natural em sua estrutura vertical é formado pelas geosferas. A sua

56
UNIDADE 2
Geomorfologia 2
estrutura horizontal é caracterizada pela diferenciação territorial em
geossistemas, mais ou menos modificados pelo homem, de dimensões
diversas, que se distinguem dos demais, possuem limites naturais e
encontram-se em interação complexa. Nessa abordagem é reconhecida
a existência real e objetiva dos geossistemas, a cognoscibilidade de sua
estrutura e as manifestações sistêmicas na sua funcionalidade.
O geossistema é um sistema policêntrico, no qual as investigações
funcionais são mais amplas ao abarcar todas as relações no complexo
natural. Existem casos em que os limites espaciais dos geossistemas
e ecossistemas coincidem, mas é uma coincidência espacial e não
conceitual. A biosfera, por exemplo, coincide com a geographical cover,
mas no seu significado real de “esfera da vida” reflete só o aspecto
parcial, biocêntrico, uma esfera funcional do geossistema planetário.
Nesses termos o ecossistema, na qualidade de subsistema, é uma noção
mais restrita, subordinada ao geossistema. Este comporta um maior
número de componentes e de relações muitos dos quais não têm um
interesse direto para o ecólogo. “De qualquer modo, mesmo nos casos
em que este ou aquele ecossistema coincide, espacialmente, com o seu
geossistema adequado, as abordagens de um geógrafo e de um ecólogo
são diferentes...” (SOTCHAVA, 1977).
Assim, os geossistemas são constituídos de componentes
naturais intercondicionados e inter-relacionados em sua distribuição,
desenvolvendo-se no tempo como parte do todo. Caracterizam-se por
suas condições litoestruturais, seu relevo, o clima, as águas superficiais
e subsuperficiais, os solos, as comunidades vegetais e animais e por seu
funcionamento e sua dinâmica, numa interação complexa.
Na teoria geossistêmica é reconhecida a existência real, objetiva
(independente da nossa consciência) dos sistemas territoriais naturais
como formas geográficas da matéria em movimento, regidas por leis
naturais, a cognoscibilidade de sua estrutura e as manifestações sistêmicas
na sua estrutura e funcionalidade.

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UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil

Figura 33 - Esfera terrestre e suas interações. LA, deserto; AB, espaço


aéreo entre plantas; Hb, represa, lago; LH, areia ou argila em condições
estéreis; LAB, depósitos; HAB, solos orgânicos e liteira florestal; LHB,
solos e lagos profundos; LAH, solos salinos.
(Fonte: <http://www.funape.org.br>)

Concluindo, qualquer variação em uma das geosferas,


automaticamente afetará as demais em maior ou menor escala. Desse
modo, o clima e o relevo (geosferas: atmosfera e litosfera) estão
intrinsecamente vinculados.
Podemos considerar a influência do relevo em duas escalas. Numa
escala pequena, abrangendo grandes regiões, o relevo pode afetar o clima.
Por outro lado, numa escala maior, para áreas menores, a importância
do relevo se dá através da redistribuição da água no corpo do solo. Já
foi visto na seção de intemperismo químico que a água é fundamental
para a continuidade das reações químicas que, por sua vez, contribuem
na evolução dos solos. Geralmente de menor importância, o relevo
também condiciona a quantidade de radiação solar que uma superfície
recebe ao longo dos anos. Às vezes essa diferença pode afetar não só
o desenvolvimento dos solos, mas também da vegetação sobre encostas
com exposição diferente. (AZEVEDO e DALMOLIN, 2006).

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Geomorfologia 2
Elabore um texto de até 20 linhas diferenciando ecossistema de geossistema.

SEÇÃO 3
OS DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS DO BRASIL

Dentre os diversos tipos de clima e relevo existentes no Brasil,


observa-se que eles mantêm grandes relações, sejam de espaço, de
vegetação, de solo, entre outros, caracterizando vários ambientes ao longo
de todo território nacional. Para entendê-los, é necessário distinguir uns
dos outros, pois sua compreensão deve ser feita isoladamente. Nesse
sentido, o geógrafo brasileiro Aziz Ab’Saber faz uma classificação desses
ambientes chamados domínios morfoclimáticos.

Figura 34 - Aziz Nacib Ab’Sáber


(Fonte: <http://www.visaogeografica.com/
images/aziz.gif>)

Aziz Ab’Saber é professor emérito da USP (Universidade de São


Paulo), autor de mais de 300 trabalhos acadêmicos e considerado um dos
geógrafos mais importantes do mundo. Ab’Saber dedica-se há décadas
a investigar fenômenos relacionados com ecologia urbana, proteção de
biodiversidade, paleoclimas e paleoecologia, patrimônio ambiental, entre
outras áreas científicas. Autor de diversas teorias e projetos inovadores

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UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil

na geografia brasileira, tendo recebido o Prêmio Santista e o Prêmio


Almirante Álvaro Alberto, oferecido pelo CNPq (Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), o prof. Aziz Ab’Saber
demonstra grande preocupação com o meio ambiente.
O termo morfoclimático foi proposto tendo em vista as características
morfológicas e climáticas encontradas nos diferentes domínios, que são 
6 (seis) ao todo, e mais as faixas de transição. (AB’SÁBER, 1970). Em
cada um desses sistemas, são encontrados aspectos, histórias, culturas
e economias divergentes, desenvolvendo singulares condições, como
de conservação do ambiente natural e  processos erosivos provocados
pela ação antrópica. Assim, o texto a seguir vem explicar e exemplificar
cada domínio morfoclimático, demonstrando sua localização, área,
povoamento, condições bio-hidro-climáticas, preservação ambiental e
economia local.

Figura 35 - Domínios Morfoclimáticos do Brasil, segundo Ab’Sáber (1970)


(Fonte: <http://www.cocemsuacasa.com.br/ebook/pages/227.htm>)

Domínio das Pradarias


É o domínio representado pelo Pampa, ou Campanha Gaúcha,
onde o relevo é baixo, com suaves ondulações (coxilhas) e coberto pela
vegetação herbácea das pradarias (campos). A ocupação econômica desse

60
UNIDADE 2
Geomorfologia 2
domínio tem-se efetuado pela pecuária extensiva de corte, com gado do
tipo europeu, obtendo altos rendimentos, e pela rizicultura irrigada.

Figura 36 - Domínio das Pradarias


(Fonte: <http://static.panoramio.com/photos/original/1147822.jpg>)

Fisiografia
Como é uma área também chamada de pradarias mistas, o solo
condiz com a denominação. Ab’Saber o caracteriza como diferente de
todos os outros domínios morfoclimáticos, existindo o paleossolo vermelho
e o paleossolo claro, de clima quente e frio. Possui um solo jovem, por
conter materiais ferrosos e primários, de coloração escura. Estabelecida
por um clima subtropical com zonas temperadas úmidas e subúmidas, a
região é sujeita a sofrer alguma estiagem durante o ano. Sua amplitude
térmica alcança índices elevados, como em Uruguaiana, considerada a
mais alta do Brasil, com 7° a/a. Isso evidencia suas limitações agrícolas,
pois o solo é pouco espesso e tem indícios de pedrugosidade. Assim, essa
área é caracterizada pela atividade pastoril de bovinos e ovinos. Com a
utilização do solo sem controle, denota-se um sério problema erosivo que
origina as ravinas e posteriormente as voçorocas. Esse processo amplia-se
rapidamente e dá origem ao chamado deserto dos pampas. A drenagem
existente é perene, com rios de grande vazão, como: o Uruguai, o Ibicuí
e o Santa Maria.

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UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil

Povoamento
Território mãe da cultura gaúcha, suas tradições ultrapassam
gerações, demonstrando sua força. Caracterizada por um baixo
povoamento, a região destaca-se pelos grandes latifúndios agropastoris,
que são até hoje marcas conhecidas dos pampas gaúchos. Os jesuítas
iniciaram o povoamento com a catequização dos índios e posteriormente
surgem as povoações de charqueadas. Passando por bandeirantes e
tropeiros, as pradarias estagnaram esse processo (ciclo do charque) com
a venda de lotes de terras para militares, pelo governo federal. Devido à
proximidade geográfica com a divisão fronteiriça de dois países (Argentina
e Uruguai), ocorreram várias tentativas de anexação dos pampas a uma
destas nações – por causa dos tratados de Madrid e de Tordesilhas. Mas
as tentativas foram inválidas, hoje os pampas continuam sendo parte do
território brasileiro.

Condições Ambientais
O domínio morfoclimático das Pradarias detém importantes reservas
biológicas, como a do Parque Estadual do Espinilho (Uruguaiana e Barra
do Quaraí) e a Reserva Biológica de Donato (São Borja). As condições
ambientais atuais fora desses parques são muito preocupantes. Com o
início da formação de um deserto que tende a crescer anualmente, essa
região está sendo foco de muitos estudos e projetos para estagnar esse
processo. Em razão do mau uso da terra pelo homem, como a monocultura
e as queimadas, começarão a surgir as ravinas, que por sua vez darão
origem às voçorocas. Como o solo é muito arenoso e a morfologia do
relevo é levemente ondulada, rapidamente os montantes de areia
espalham-se na região, ocasionados pela ação eólica. Para resolver tudo
isso, poucas medidas estão sendo tomadas, exceto os estudos feitos.
Assim, as autoridades locais deverão estar alertas, para que esse processo
erosivo tenha um fim antes que transforme todas as pradarias num imenso
deserto.

Domínio da Araucária
É o domínio que ocupa o planalto da Bacia do rio Paraná, onde o clima
subtropical está associado às médias altitudes, entre 800 e 1.300 metros.
Nesse domínio aparecem áreas com manchas de terra roxa, como no Paraná.

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UNIDADE 2
Geomorfologia 2
A floresta de araucária (Araucaria angustifolia) também conhecida
como Mata dos Pinhais, é homogênea, aciculifoliada e tem grande
aproveitamento de madeira e erva-mate. A intensa ocupação agrária
(café, soja) é a responsável pela devastação dessa floresta.

Figura 37 - Domínio das Araucárias (Foto do autor, 2010)

Fisiografia
Atualmente, da vegetação de araucária – chamada pinheiro do
Paraná ou pinheiro brasileiro – pouco resta. As indústrias de celulose
e madeireiras da região fizeram um extrativismo descontrolado que
resultou no desaparecimento total de algumas áreas. Sua condição de
arbórea, geralmente com mais de 30 metros de altura, condiz com um solo
profundo, em razão de suas raízes estabelecerem a sustentação da própria
árvore. A região das araucárias encontra-se no planalto meridional onde
a altitude pode variar de 500 até cerca de 1.200 metros. Isso evidencia
um clima subtropical que  mantém uma boa relação com a precipitação
existente nesse domínio, variando de 1.200 a 1.800 milímetros. Nesse
sentido, a região identifica-se com uma grande rede de drenagem em toda
a sua extensão territorial. O solo é formado principalmente por latossolos
brunos e também são encontrados latossolos roxos, cambissolos, terras
brunas  e solos litólicos. Com essas características, o solo detém uma alta
potencialidade agrícola, como: milho, feijão, batata, etc. As morfologias
do relevo variam de uma forte ondulação até regiões montanhosas, o que
representa um solo de fácil adesão a processos erosivos, iniciados pela
degradação humana e social.

63
UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil

Povoamento
A região das araucárias foi povoada no final do século XIX,
principalmente por imigrantes italianos, alemães, poloneses, ucranianos,
etc. Com isso, os estrangeiros diversificaram a economia local, o que tornou
essa região uma das mais prósperas economicamente. Caracterizada
por colônias de imigração, podemos destacar como principais pontos,
as cidades de: Blumenau – SC, colônia alemã; Londrina – PR, colônia
japonesa; Caxias do Sul – RS, colônia italiana. Mas a vinda desses
imigrantes não foi só boa vontade do governo daquela época. O Brasil
tinha terminado sua guerra com o Paraguai, que deixou muitas perdas em
sua população. Em virtude disso, a solução foi atrair imigrantes europeus
e asiáticos.

Condições Ambientais
Percebe-se atualmente que a floresta com araucária quase
desapareceu dessa região, em consequência de sua exploração
descontrolada para produção de celulose. Felizmente, medidas foram
tomadas e hoje a araucária é protegida por lei estadual no Paraná.
Mas os questionamentos ambientais não estão somente na vegetação.
Porque esse solo vem sendo utilizado há anos, ocorre uma erosividade
considerável. Em virtude disso, surge a técnica de manejo agrícola
chamada plantio direto, que evidencia uma proteção ao solo em épocas
de pós-safra. Nesse sentido, o domínio morfoclimático das araucárias,
que compreende uma importante área no sul brasileiro, detém um nível
de conservação e reestruturação vegetal considerável. Mas não se deve
estagnar esse processo positivo, pois necessitamos muito dessas terras
férteis que mantêm as economias locais.

Domínio do Cerrado
Corresponde à área do Brasil Central e apresenta extensos chapadões e
chapadas, com domínio do clima tropical semiúmido e vegetação do cerrado.
A vegetação desse domínio é formada por arbustos com troncos e galhos
retorcidos, recobertos por casca grossa. Os solos são pobres e ácidos,
mas com a utilização do método da calagem, colocando calcário no solo,
estão sendo aproveitados pelo setor agrícola, transformando-se na nova
fronteira da agricultura, representada pela expansão do cultivo da soja,

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UNIDADE 2
Geomorfologia 2
feijão, arroz e outros produtos.
Nesse domínio estão as áreas dispersoras da Bacia do Paraná, do
Paraguai, do Tocantins, do Madeira e outros rios destacáveis.

Figura 38 - Domínio do Cerrado (Fonte: <http://www.icb.ufmg.br/bot/


pteridofitas/fotos/SERRACABRAL.JPG>)

Fisiografia
Centrado no planalto brasileiro, o domínio do cerrado é dividido
pelas formações de chapadas que existem ao longo de sua extensão
territorial. Estas, que são “gigantescos degraus” com mais de 500
metros de altura, formadas na era geológica Pré-Cambriana, limitam o
planalto central e as planícies – como a Pantaneira. Com sua flora única,
constituída por árvores herbáceas tortuosas e de aspecto seco, em razão da
composição do solo, deficiente em nutrientes e com altas concentrações
de alumínio, a região passa por dois períodos sazonais de precipitação, os
secos e os chuvosos. Associado à vegetação rasteira e aos campos limpos,
o clima tropical existente nesta área condiz com uma boa formação e um
ótimo crescimento das plantas. Também é auxiliado pela importante rede
hidrográfica da região, de onde são oriundas as nascentes das três maiores
bacias hidrográficas do Brasil. Isso lhe dá uma imensa responsabilidade
ambiental, pois denota sua significativa conservação natural. O solo
formado principalmente por latossolos, areais quartzosas e podzólicos
se constitui assim carente em nutrientes fertilizantes, necessitando de
correção para compor uma terra viável à agricultura. Observa-se também,
que este mesmo solo apresenta características à fácil erosividade por causa

65
UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil

das estações chuvosas que ali ocorrem e principalmente pela degradação


ambiental descontrolada. Estes processos fazem a remoção da vegetação
nativa que  torna frágeis os horizontes “A” frente aos problemas ambientais
existentes, como a voçoroca.

Povoamento
Em virtude de sua localização geográfica ser no interior brasileiro,
o povoamento e a ocupação territorial da região eram precários, mas o
governo federal interveio com os programas de políticas de interiorização
do desenvolvimento nos anos 40 e 50, e de política de integração nacional
nos anos 70. Aqueles baseados, principalmente, na construção de Brasília
e este, nos incentivos aos grandes projetos agropecuários e extrativistas,
além de investimentos de infraestrutura, estradas e hidrelétricas. Com
estes recursos, a região passou a atrair investidores e mão de obra,
ocasionando, consequentemente, um salto no crescimento populacional
em cada Estado, como no Mato Grosso que, em 1940, tinha uma
população de 430 mil de habitantes que, em 1970, vai para 1,6 milhões.
Tal foi a resposta a esses programas, que nos dias de hoje o setor agrícola
do cerrado ocupa uma ótima colocação na produção, em virtude das
migrações do sul do Brasil.

Condições Ambientais
Em vista dos aspectos fisiográficos, o cerrado atraiu muita atenção
para a agricultura, o que fez dele uma região de grande produção de grãos,
como a soja, e de desenvolvimento agropastoril, com a ótima adaptação
dos gados zebu, nelore e ibagé. Em virtude  disso, o solo nativo foi
substituído por outra vegetação, condizendo com uma maior facilidade aos
processos erosivos, devido à falta de cobertura vegetal, seja ela gramínea
ou herbácea. Nesse sentido, faz-se muito pouco pela preservação e
conservação das matas nativas – a não ser nas áreas demarcadas como
reservas bio-ecológicas. Outra exploração ativa é a mineral, como o
ouro e o diamante, da qual decorre uma grande devastação ambiental. 
Dessa forma, os governos, tanto federal, estadual ou municipal, deverão
tomar decisões imediatas quanto à proteção do meio natural, pois deve
ocorrer, sim, a exploração pastoril, agrícola e mineral da região, porém
não se pode esquecer que, para a efetiva existência dessas economias, o

66
UNIDADE 2
Geomorfologia 2
ambiente precisa ser prudentemente conservado.

Domínio dos Mares de morros


Esse domínio acompanha a faixa litorânea do Brasil, desde o
nordeste até o sul do país. Caracteriza-se pelo relevo com topografia em
“meia-laranja”, mamelonares ou mares de morros, formados pela intensa
ação erosiva na estrutura cristalina das Serras do Mar, da Mantiqueira
e do Espinhaço. Apresenta predominantemente clima tropical quente e
úmido, com floresta latifoliada tropical, que, na encosta da Serra do Mar,
é conhecida como Mata Atlântica. A paisagem sofreu grande degradação
em consequência da forte ocupação humana. Além do desmatamento,
esse domínio sofre intenso processo erosivo (relevo acidentado e clima
úmido), com deslizamentos frequentes e formação de voçorocas.

Figura 39 - Domínio dos Mares de Morros (Foto do autor)

Figura 40 - Domínio dos Mares de Morros (Foto do autor)

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UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil

Fisiografia
Como o próprio nome já diz, é uma região de muitos morros de
formas residuais e curtos em sua convexidade, com diversos movimentos
de massa generalizados. Os processos de intemperismo, como o químico,
são frequentes, motivo pelo qual as rochas da região encontram-se
geralmente em decomposição. Tem uma significativa gama de redes de
drenagens, somadas à boa precipitação existente (1.100 a 1.800 mm a/a
e  5.000 mm a/a nas regiões serranas),  em consequência da massa de ar
tropical atlântica (MATA) e aos ventos alísios do sudeste, que ocasionam
as chuvas de relevo nestas áreas de morros. Assim, os efeitos de
sedimentação em fundos de vale e de colúvios nas áreas altas são muito
intensos. A vegetação natural é da chamada Mata Atlântica, com poucas
áreas nativas de suma importância aos ecossistemas ali existentes. Sua
flora e fauna são de grande respaldo ambiental e o solo é composto em
sua maioria por latossolos e podzólicos, sendo muito variável. A textura se
contradiz de região para região, pois é encontrado tanto um solo arenoso
como um argiloso. Como sua extensão territorial alarga-se entre norte
– sul, seu clima dependerá da situação geográfica, classificando-se em:
tropical, tropical de altitude e subtropical.

Povoamento
Como se encontra na região litorânea leste do Brasil, foi o primeiro
lugar a ser descoberto e colonizado pelos portugueses – tanto que foi
em Porto Seguro, Bahia, que atracou o navegante Pedro Álvares Cabral,
descobrindo o Brasil. Com isso, a primeira capital da colônia portuguesa
na América foi Salvador, onde se iniciaram os processos de colonização
e povoamento. É nesse domínio que estão as duas maiores metrópoles
brasileiras – São Paulo e Rio de Janeiro – antigas cidades constituídas
como centros econômicos, integradores, culturais e políticos. Foram
muitos os resultados desse povoamento, como por exemplo, a maior
concentração populacional do Brasil e a melhor base econômica.

Condições Ambientais
As terras deste domínio já estão sendo utilizadas economicamente
há muitos anos. Decorrente disso observa-se uma considerável erosão do
solo que justifica uma atual preservação das matas restantes. A região já

68
UNIDADE 2
Geomorfologia 2
sofreu muita devastação do homem e da sociedade, e devem ser tomadas
atitudes urgentes para sua conservação. Existem muitos programas, tanto
do governo como privados, para a proteção da Mata Atlântica. Destaca-
se, por exemplo, a Fundação O Boticário (privado), que detém áreas de
preservação ao ambiente natural, e o SOS Mata Atlântica (governamental
e privado). Neste sentido, a solução mais adequada para tal domínio seria
a estagnação de muitos processos agrícolas ao longo de sua área, pois o
solo encontra-se desgastado e com problemas erosivos muito acentuados.
Assim, deve-se deixar a terra “descansar” para depois iniciar um projeto
de reconstituição da vegetação nativa.

Domínio da Caatinga
Corresponde à região da depressão sertaneja nordestina, com clima
quente e semiárido e típica vegetação de caatinga formada por cactáceas,
bromeliáceas e árvores. Destaca-se o extrativismo vegetal de fibras, como
o caroá (Neoglaziovia variegata), o sisal (Agave sisalana) e a piaçava
(Attalea funifera). A bacia do rio São Francisco atravessa o domínio da
caatinga e se destaca pelo aproveitamento hidrelétrico e pelos projetos de
irrigação no seu vale, onde a produção de frutas (melão, manga, goiaba,
uva) tem apresentado expansão. A tradicional ocupação da caatinga é a
pecuária extensiva de corte, com baixo aproveitamento. Nesse domínio
aparecem os inselbergs, ou morros residuais, resultantes do processo de
pediplanação em clima semiárido.

Figura 41 - Domínio da Caatinga (Fonte: <http://semiaridobahia.files.


wordpress.com/2008/11/dsc053551.jpg>)

69
UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil

Fisiografia
O solo só poderia ter características semelhantes a seu clima
semiárido. Sendo raso e pedregoso, o solo da caatinga sofre muito
intemperismo físico nos latossolos, pouca erosão nos litólicos e há
influência de sais, como: solonetz, solodizados, planossolos, solódicos e
soonchacks. Segundo Ab´Saber, a textura desse tipo de solo passa de
argilosa para textura média. Outra característica é a diversidade de solos
e ambientes, como o sertão e o agreste. Mesmo tendo aspectos de um
solo pobre, a caatinga nos engana, pois necessita apenas de irrigação
para florescer e desenvolver a cultura implantada. Tendo pouca rede de
drenagem, os mínimos rios existentes são em sua maioria sazonais ao
período das chuvas, que ocorrem num curto intervalo durante o ano. Porém
existe um “oásis” no sertão nordestino; o Rio São Francisco, vindo da
região central do Brasil, irriga grandes áreas da caatinga, transformando
suas margens num solo muito fértil – semelhante ao que ocorre com
as áreas marginais ao Rio Nilo, no Egito. Neste sentido, comprova-se
que a irrigação na caatinga pode e deve ser feita com garantia de bons
resultados. Outro fato que chama a atenção é a vegetação sertaneja, pois
ela sobrevive em épocas de extrema estiagem e em razão disso sua casca
é dura e seca, conservando a umidade em seu interior. Assim, a região é
caracterizada por uma vegetação herbácea tortuosa, tendo como espécies:
as cactáceas, o mandacaru (Cereus jamacaru), o xique-xique (Pilocereus
gounellei), etc.

Povoamento
Sendo uma das áreas junto ao domínio morfoclimático dos mares de
morros, de colonização européia (portugueses e holandeses), sua história
de povoamento já é bastante antiga. A caatinga foi sempre um palco de
lutas por independência, fosse ela escravista ou nacionalista. A região
tornou-se alvo de bandidos e fugitivos contrários ao reinado português
e posteriormente ao império brasileiro. Como o domínio das caatingas
localiza-se numa área de clima seco, logo chamou a atenção dessa
população, chamada de cangaceira, para ali se refugiarem e construírem
suas “fortalezas”. Com isso o processo de povoamento, instaurado nos
anos 40 e 50, centrou-se mais em áreas próximas ao litoral, mas o governo
federal investiu em infraestrutura, na construção de barragens, açudes

70
UNIDADE 2
Geomorfologia 2
e canais fluviais, surgindo assim o Departamento Nacional de Obras
Contra as Secas (DNOCS). Entretanto, o clima “desértico” da caatinga
prejudicou muito a ocupação populacional e a região continua sendo
uma área preocupante no território brasileiro em vista de seus problemas
sociais, que são imensos. Vale destacar que, com todos esses obstáculos
sociais e naturais da caatinga, seus habitantes partem em migração para
regiões como a Amazônia e o sudeste brasileiro - as chamadas migrações
de transumância (saída na seca e volta na chuva).

Condições Ambientais
Em razão de o homem não intervir de maneira significativa em seu
habitat, o ambiente natural da caatinga encontra-se pouco devastado.
Sua região poderia ser ocupada mais em nível agrícola, por seu solo
possuir boas condições de manejo, só necessitando de irrigação artificial.
Assim, considerando os fatos apresentados, a caatinga teria condições de
desenvolver-se economicamente com a agricultura, que seria de suma
importância para acabar com a miséria existente, mas sem esquecer de
utilizar os recursos naturais com equilíbrio, de modo organizado e pré-
estabelecido a não causar desastres e consequências ambientais futuras.

Domínio Amazônico
É formado por terras baixas: depressões, planícies aluviais e planaltos,
cobertos pela extensa floresta latifoliada equatorial amazônica. É banhado
pela Bacia Amazônica, que se destaca pelo grande potencial hidrelétrico.
Possui grave problema de degradação ambiental, representado pelas
queimadas e desmatamentos. O governo brasileiro, por meio do
Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil, adotará
o ecoturismo e a biotecnologia como formas de desenvolver a área,
preservando-a.

71
UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil

Figura 42 - Domínio Amazônico


(Fonte: <http://www.h2oco2.blogger.com.br/RioAmazonas.jpg>)

Fisiografia
Este domínio sofre grande influência fluvial, já que aí se encontra
a maior bacia hidrográfica do mundo – a Amazônica. A região passa
por dois tipos de estações flúvio-climáticas, a estação das cheias dos
rios e a da seca, porém esta última estação não interrompe o processo
pluviométrico diário, só que em índices diferentes. O transporte existente
também é influenciado pela enorme rede hidrográfica, enquanto que o
rodoviário é quase inexistente. Assim, o transporte fluvial e o aéreo são
muito utilizados em razão das facilidades encontradas neste domínio.
Como se trata de uma floresta equatorial considerada um bioma
riquíssimo, é de fundamental importância entendê-la para não
desestruturar seu frágil equilíbrio. Devido à existência de inúmeros rios,
a região sofre muita sedimentação na parte fluvial, já que a precipitação
é abundante (2.500 mm/ano), transformando a região numa grande
“esponja” que detém altas taxas de umidade no solo. Esse mesmo solo
é formado basicamente por latossolos, podzólicos e plintossolos, mas
ele não detém características de fertilidade para a vegetação existente.
Na verdade, o processo de precipitação é o que torna este domínio
morfoclimático riquíssimo em floresta hidrófita e não o solo.
Vale destacar os tipos de matas encontradas na Amazônia: de
iapó – regiões inundadas; de várzea – regiões inundadas ciclicamente;
de terras altas – que dificilmente são inundadas. As espécies de árvores
encontradas na região são: castanha-do-pará (Bertholletia excelsa),

72
UNIDADE 2
Geomorfologia 2
seringueira (Hevea brasiliensis), carnaúba (Copernicia prunifera), mogno
(Swietenia macrophylla), etc. (as duas últimas em extinção). Os animais
são: peixe-boi (Trichechus inunguis), boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis),
onça-pintada (Panthera onca); e a flora apresenta a vitória-régia (Victoria
amazonica) e diversas orquídeas.
Com o grande processo de lixiviação encontrado na Amazônia, o
solo torna-se pobre, levando todos os seus nutrientes através dos rios. Esta
riqueza diversa não deve ser considerada de grande potencial agrícola,
pois a retirada da vegetação nativa transforma o solo num grande alvo da
erosão, em consequência das fortes chuvas. A rede hidrográfica é outra
fonte de riqueza econômica da Amazônia, já que seus leitos fluviais são
de grande piscosidade, o que torna a área um importante atrativo natural
para o turismo, a indústria pesqueira e a população ribeirinha. Com um
clima equatorial sem muitas mudanças de temperatura ao longo do ano,
a região amazônica diferencia-se apenas nas épocas das chuvas (ou
cheias dos rios) e das secas. Assim a primeira época faz com que os rios
transbordem e nutram as áreas de terras marginais a seu leito. Um solo
essencialmente argiloso e a forte influência do escoamento fluvial fazem
com que a Amazônia torne-se uma área de terras baixas, decapitando as
formações existentes no seu substrato rochoso.

Povoamento
A região é pouco povoada, sua densidade demográfica é de
aproximadamente 2,88 hab./km². Isto se deve à grande extensão
territorial e ao difícil acesso ao interior dessa área. O governo brasileiro,
em 1970, implantou o programa de ocupação populacional da região
amazônica, com migrações oriundas do nordeste. A extração da borracha
permitiu desenvolver a área, antes inóspita, tornando-a uma região de
alta produtividade econômica, cultural ou social. Em tal época, muitas
cidades foram afetadas com o crescimento gerado pelo capital. O governo
continuou auxiliando e orientando o desenvolvimento da região e
incorporou em Manaus a Suframa (Superintendência da Zona Franca
de Manaus), que trouxe para a capital amazonense muitas indústrias
transnacionais. Tanto foi a resposta desta “zona livre”,  que antes da Zona
Franca de Manaus, a cidade que detinha uma população de 300 mil/hab.
passou para 800 mil/hab. Outros projetos foram instalados  pelo governo

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UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil

federal, como o Projeto Jari, o Programa Calha Norte, o PoloNoroeste e


o Projeto Grande Carajás. Com isso, iniciou-se a exploração mineral e
vegetal da Amazônia. Mas os resultados dos projetos foram pobres em
sua maioria, pois com a retirada da vegetação natural o solo tornou-se
inadequado para a agricultura.

Condições Ambientais
Nos dias atuais é  grande a devastação ambiental na Amazônia
– queimadas, desmatamentos, extinção de espécies, etc. – o que faz
com que a região e o mundo preocupem-se com o futuro, pois se trata
da maior reserva florestal do globo. Ecologicamente a Amazônia está
correndo perigo, em razão do grande atrativo econômico natural que
ela representa. Assim, o equilíbrio é colocado muitas vezes em risco. A
exploração descontrolada faz com que as ideologias conservacionistas
sejam deixadas de lado. As indústrias mineradoras geram prejuízos
incalculáveis ao ambiente, e nos rios são despejados muitos produtos
químicos, frutos dessa exploração. A agricultura transforma áreas de
vegetação em solos de fácil erosividade, gerando, consequentemente,
um efeito “dominó” no meio ambiente, ou seja, tal erosão torna-se causa
de outros efeitos. São poucas as atividades econômicas que não agridem
a natureza. A extração da borracha, por exemplo, era uma economia
viável ecologicamente, pois necessitava da floresta para o crescimento
das seringueiras. Mas atualmente, essa exploração é rara, por falta de
indústrias consumidoras. Nesse sentido, deverão ser tomadas medidas
de aprimoramento nas explorações existentes, para que deixem de causar
imensas sequelas ao ambiente natural.

Faixas de Transições
Situadas entre os vários domínios morfoclimáticos brasileiros, as
faixas de transições são: as Zonas dos Cocais, a Zona Costeira, o Agreste,
o Meio-Norte, as Pradarias, o Pantanal e as Dunas. Espalhadas por
todo o território nacional, constituem importantes áreas ambientais e
econômicas.

Faixas de Transição Nordestinas


A zona dos cocais representa uma importante fonte de renda para

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UNIDADE 2
Geomorfologia 2
a população nordestina, pois é nessa área principalmente que se faz a
extração dos cocos. A zona costeira detém outra característica. É uma
importante região ambiental, onde  se encontra a vegetação de mangue,
que constitui um bioma riquíssimo em decomposição de matéria. Outra
faixa de transição é o agreste, responsável pela produção de alimentos
para o Nordeste, como leite, aves, sisal, entre outras matérias primas
para indústrias. No litoral cearense, encontram-se as dunas, região de
montantes de areias depositados pela ação dos ventos e de constante
remodelação.
O meio-norte situa-se entre a caatinga do sertão e a Amazônia
(Maranhão e Piauí). Com uma diversidade de vegetação como cerrado e
matas de cocais, o meio-norte detém sua economia na pecuária bovina,
chamada pé-duro, e na criação do jegue. A carnaúba e o óleo de babaçu
(Orbignya phalerata) são outras fontes de extrativismo. Sem esquecer
que todas estas zonas descritas e demonstradas situam-se na região
nordestina brasileira.

Figura 43 - Zona dos cocais


(Fonte: <www.panoramio.com/photo/9419429>)

Faixa de Transição da Região Sul Brasileira


Na região sul, encontra-se a zona de transição das Pradarias, que se
situa entre os domínios morfoclimáticos da Araucária e das Pradarias. São
geralmente campos acima de serras, com vegetação do tipo araucária,
de campo, floresta e cerrado. Assim, os sistemas naturais situados nessa
região são de fundamental importância para o meio natural que a envolve.

75
UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil

Faixa de Transição – Pantanal


O pantanal é uma das principais zonas de transição encontradas
no Brasil. Ele é um complexo ambiental de suma importância, pois
compreende uma grande diversidade de fauna e flora. Situado em
regiões serranas e em terras altas, o pantanal é considerado um grande
reservatório de água, por encontrar-se numa depressão entre várias
montanhas. Sua rede fluvial é composta por rios, como: Cuiabá, Taquari,
Paraguai, etc., considerados rios perenes.
Como o pantanal passa por duas estações climáticas durante o
ano - a seca e as cheias dos rios - essa região detém características e
denominações únicas, como: “cordilheira” – que significa áreas mais
altas, que não sofrem alagamentos (pequenas elevações); salinas –
regiões deprimidas que se tornam lagoas rasas e salgadas com as cheias
dos rios; barreiros – depósitos de sal após a seca das salinas; caixas –
canais que ligam lagoas, existindo somente durante as inundações; e
vazantes – cursos d´água existentes durante a época das chuvas. Contudo,
o pantanal sofre consequências ambientais como a exploração mineral,
que polui intensamente os rios – considerados como os responsáveis
pela existência da biodiversidade da região. Além disso, a pecuária e
a utilização de enormes monoculturas fazem o despejo de uma grande
quantidade de agrotóxicos nos rios.
Nesse sentido, a preservação dessas zonas de transição é considerada
de suma importância para a existência dos domínios morfoclimáticos
brasileiros, pois elas estabelecem uma relação direta com a fauna, flora,
hidrografia, clima e morfologia, conservando o equilíbrio dos frágeis
sistemas ecológicos.

Figura 44 - Faixa de transição do Pantanal


Fonte: <www.impactotour.com.br>)

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UNIDADE 2
Geomorfologia 2
Nesta unidade você pôde observar a inter-relação existente entre o clima e o relevo, como aquele é
agente modelador deste, e que, nessa relação, outros sistemas de maior magnitude também estão
envolvidos e interagem entre si. No Brasil, em razão da grande variação latitudinal, o clima sofre
grandes variações em diferentes regiões, assim, através da análise dos diversos fatores, Ab’Saber
definiu e classificou os domínios dentro do território brasileiro.

1. Elabore um texto de até 20 linhas sobre as principais formas de relevo encontradas nos domínios
morfoclimáticos brasileiros, incluindo as faixas de transição.

2. Elabore um texto de até 20 linhas sobre os tipos de intemperismo (físico, químico e biológico) que
podem ser encontrados nos domínios morfoclimáticos brasileiros, incluindo as faixas de transição.

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UNIDADE 2
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Universidade Aberta do Brasil

UNIDADE 2
UNIDADE III
O período quaternário
na análise geomorfológica

Elvio Pinto Bosetti

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
■■ Reconhecer o Período Quaternário e identificar seus reflexos na análise das

formas de relevo atual.

ROTEIRO DE ESTUDOS
■■ SEÇÃO 1 - O Período Quaternário

■■ SEÇÃO 2 - O caráter Multi-interdisciplinar no estudo do Quaternário

■■ SEÇÃO 3 - Geomorfologia do Quaternário aplicada ao Planejamento Ambiental


Universidade Aberta do Brasil

PARA INÍCIO DE CONVERSA

Você já deve ter assistido a algum documentário sobre os mamutes


(elefantes peludos extintos), ou outros seres vivos que já não existem
mais nos dias de hoje. Eles viviam em ambientes também inexistentes
atualmente. Muitos desses ambientes possuíam características peculiares
bastante diferentes das atuais, como por exemplo, a temperatura. Assim
foi o Período Quaternário, em que a Terra sofreu profundas variações na
temperatura, e o reflexo dessas alterações pode ser observado no relevo
atual.

Figura 45 - Mamutes - Mammuthus sp.


(Fonte: <http://www.avph.com.br/jpg/mamutemeridional.jpg>)

SEÇÃO 1
O PERÍODO QUATERNÁRIO

O Período Quaternário (~1,8 milhões de anos) é caracterizado


por grandes variações climáticas que produziram efeitos nas taxas de
intemperismo e pedogênese (formação dos solos), nos regimes fluviais e

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UNIDADE 3
Geomorfologia 2
níveis dos oceanos, e na distribuição ecológica dos seres vivos forçados
a migrações e adaptações às condições mutáveis. Essas contínuas
modificações nas condições ambientais resultaram em transformações
mundiais da paisagem. Sendo assim, a análise geomorfológica dos
ambientes atuais constitui a base para a compreensão da sequência
evolutiva da paisagem no passado geológico recente.

Figura 46 - Paleogeografia do Quaternário


(Fonte: <http://www.avph.com.br/pleistoceno.htm>)

Figura 47 - Geografia do mundo atual


(Fonte: <http://www.scotese.com/modern.htm>)

Durante o Quaternário desenvolveu-se muito do que hoje


representa a superfície da Terra. As mudanças ambientais significativas,
espaciais e temporais podem ser identificadas no curto intervalo de tempo
deste período, representadas em um complexo mosaico de paisagens,
sequências sedimentares, vestígios de floras, faunas e artefatos humanos.
Avanços significativos nos estudos do período se deram a partir

81
UNIDADE 3
Universidade Aberta do Brasil

da aceitação da Teoria Glacial, tendo sido Agassiz (1840) o primeiro a


reconhecer, de forma coerente, ter existido uma época próxima aos
tempos atuais caracterizada por significativa expansão geográfica das
geleiras. Começava, assim, a ser esclarecida a natureza climática do
Quaternário, sendo as mudanças ambientais sugeridas pela Teoria
Glacial gradativamente confirmadas pelo registro sedimentar, biológico
e geomorfológico. Tais eventos climáticos assumem um papel-chave em
todos os esquemas relacionados à compreensão do curto espaço de tempo
representado pelo Quaternário.

Figura 48 - Jean Louis Rodolphe


Agassiz (1807 – 1873)
(Fonte: <http://sanctuaries.noaa.gov/
maritime/expeditions/hassler/images/
louis.jpg>)

A teoria largamente aceita para explicar a regularidade e a frequência


das oscilações climáticas quaternárias foi elaborada por Milankovitch
(1941), baseada na admissão de que as variações de temperatura da
superfície terrestre estão relacionadas a modificações periódicas de
magnitudes variadas na órbita e no eixo terrestre. Mecanismos dessa
natureza, combinados, afetariam a quantidade de radiação solar recebida
e seriam responsáveis pelos efeitos climáticos. Mesmo assim, esses e
outros fatores, como o movimento das placas tectônicas e o comportamento
da massa d’água oceânica, precisam ser considerados em detalhe para o
desenvolvimento de uma teoria geral sobre as mudanças climáticas.

A partir do texto disponível em: <ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/rbg/article/viewPDFInterstitial/10001/


7244> (SUGUIO et al., 2005), elabore um resumo sobre o Período Quaternário, suas divisões e como
era o ambiente naquele período.

82
UNIDADE 3
Geomorfologia 2
SEÇÃO 2
O CARÁTER MULTI-INTERDISCIPLINAR NO
ESTUDO DO QUATERNÁRIO

O estudo do Quaternário tem caráter multidisciplinar, abrangendo


os diversos setores do conhecimento científico que tratam da influência
de agentes geológicos, geográficos, biológicos, dentre outros.
Os depósitos quaternários não se encontram restritos a bacias
sedimentares sensu strictu , mas distribuídos sob as múltiplas formas
de relevo, comumente em uma estrita relação genética com as feições
morfológicas de paisagem, ou seja, os depósitos quaternários podem
possuir menor escala de abrangência geográfica e estratigráfica. Disso
resulta que uma análise estratigráfica de depósitos quaternários deve
considerar os diferentes padrões de organização das paisagens-integração
Geomorfologia-Estratigrafia.
A perspectiva morfoclimática introduzida por Bigarella et al. (1965)
identificando superfícies geomorfológicas produzidas por eventos de
erosão e seus depósitos correlativos, enquadra-se nesta abordagem
integrativa. Superfícies (e encaixamentos da drenagem) e sedimentos
são interpretados em relação a variações climáticas, correlacionadas aos
glaciais e interglaciais do Hemisfério Norte. As superfícies de erosão
estariam associadas a fases de clima seco, com chuvas concentradas,
quando ocorreria a produção principal de sedimentos, correspondendo aos
glaciais das regiões glaciadas, enquanto os encaixamentos da drenagem
por incisão fluvial, que levariam ao escalonamento das superfícies de
erosão, estariam ligados a fases de clima úmido, interglaciais.

Figura 49 - João José Bigarella (Fonte:


<www.funpar.ufpr.br>)

83
UNIDADE 3
Universidade Aberta do Brasil

O Professor João José Bigarella é, há alguns anos, professor


visitante da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC, e durante
a sua vida de professor e pesquisador realizou extensos trabalhos de
pesquisa geológica na África do Sul, Namíbia, Angola, Argélia (Saara),
Argentina, Uruguai e Paraguai, a respeito das paleocorrentes e da
migração dos continentes sul-americano e africano. Os resultados das
pesquisas foram publicados em 1972, na Geologische Rundschau e no
Boletim Paranaense de Geociências da UFPR. Sua produção acadêmica
compreende cerca de 200 artigos, em periódicos científicos do Brasil,
Estados Unidos da América, Canadá, Alemanha, Holanda, Inglaterra,
Rússia e África do Sul, além de vários livros na área de Geociências. Entre
as suas pesquisas de caráter internacional destacam-se: a revisão global
dos depósitos eólicos (dunas), o estudo dos aspectos paleogeográficos do
antigo continente de Gondwana e a revisão da geologia e geomorfologia
do quaternário brasileiro. A ação multiplicadora do conhecimento tem
sido uma preocupação constante em suas atividades de pesquisador e
docente, tendo formado e treinado intensivamente equipes de trabalho
e colaborado em vários cursos de pós-graduação em universidade
brasileiras, orientando dissertações de mestrado e teses de doutoramento.
Foi editor das publicações de geociências da UFPR entre 1959 e 1968 e
membro do corpo editorial dos periódicos: Marine Geology e PALAEO
(Palaeography, Palaeoclimatology and Palaeoecology), editados pela
Elsevier Publ. Co. e do periódico Catena, editado pela Catena Verlag.
É membro titular da Academia Brasileira de Ciências e da Academia de
Ciências da América Latina, foi presidente da Associação de Defesa e
Educação Ambiental - ADEA, de 1974 a 1994. Atualmente, entre outras
pesquisas, vem também orientando e realizando trabalhos de capacitação
e desenvolvimento de Geoparques e do Geoturismo.

84
UNIDADE 3
Geomorfologia 2
Figura 50 - Evolução de uma seção morfológica, evidenciando as
diferentes sequências cronodeposicionais
(Fonte: BIGARELLA e BECKER, 1975)

Elabore um texto de até 20 linhas sobre os reflexos do Período Quaternário na evolução do relevo atual.

SEÇÃO 3
GEOMORFOLOGIA DO QUATERNÁRIO APLICADA
AO PLANEJAMENTO AMBIENTAL

A elaboração de modelos de evolução da paisagem nas últimas


dezenas de milhares de anos que possam ser adaptados às condições

85
UNIDADE 3
Universidade Aberta do Brasil

específicas de cada região não pode prescindir da utilização de uma


perspectiva integrada que busque associar os materiais deposicionais
(estratigrafia) às diferentes formas de relevo (Geomorfologia) e aos diversos
tipos de solo desenvolvidos nestes materiais (Pedologia), bem como ao
seu conteúdo polínico (Palinologia). Esses modelos correspondem a uma
base sólida de conhecimentos sobre as paisagens geomorfológicas e os
depósitos superficiais e subsuperficiais associados, essencial à aplicação
em diversos campos de atuação das ciências ambientais e à elaboração
de políticas de planejamento urbano e rural.
A caracterização e o mapeamento dos diferentes depósitos
quaternários podem orientar a exploração racional de recursos naturais
(como os mananciais de areia e argila), a expansão urbana (através da
ocupação ordenada das encostas e terraços fluviais, considerando as
áreas de risco à erosão linear acelerada e aquelas sujeitas a inundações),
a definição do traçado e/ou o desenvolvimento de arsenais técnicos mais
adequados à instalação de obras de engenharia de grande porte (tais como
estradas, dutos, linhas de transmissão, etc.) e, por fim, a reavaliação das
práticas de manejo agrícola dos solos e a determinação das áreas potenciais
para fins agropecuários. O reconhecimento das transformações ocorridas
na flora e nas unidades fitoecológicas, através de espécies indicadoras de
mudanças ambientais e transições fitogeográficas, identificadas através
dos estudos palinológicos, pode, dentro desse mesmo enfoque, subsidiar
a geração de programas de recuperação ambiental (reflorestamento) que
respeitem as vocações ecológicas regionais.

86
UNIDADE 3
Geomorfologia 2
Nesta unidade você pôde verificar que os estudos sobre o Período Quaternário podem ser aplicados
na análise do relevo. A paisagem de ~1,8 Ma. formada através de um clima muito diferente do atual
ainda se faz presente na paisagem contemporânea.

Como as pesquisas sobre o Quaternário podem influenciar nos estudos sobre planejamento ambiental?

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UNIDADE 3
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Universidade Aberta do Brasil

UNIDADE 3
Geomorfologia 2
PALAVRAS FINAIS

Para atingir os objetivos deste livro, os textos foram elaborados


no sentido de demonstrar ao aluno a dinâmica de modelado existente
no espaço físico terrestre. Para isso, procurou-se identificar as diversas
formas de relevo ocorrentes na superfície terrestre. Estas unidades
geomorfológicas, por sua vez, sofrem constante ação intempérica por
agentes erosivos, originando uma paisagem que se encontra em constante
modificação. De uma maneira simplificada, foi abordada a relação
existente entre o clima e o relevo, como eles se comportam, quais as suas
relações com outros fatores e sua importância na análise geomorfológica.
E finalmente, viu-se que a paisagem atual é fruto de processos e eventos
de um passado geológico não muito distante.

89
PALAVRAS FINAIS
Geomorfologia 2
REFERÊNCIAS

AB’SÁBER, A. N. Formas de Relevo. São Paulo: Edart, 1975.

BIRD, Eric – COASTAL GEOMORPHOLOGY -  NA INTRODUCTION – John


Wiley & Sons LTD – New York – USA – 2000.

BIRD, Eric. Coastal geomorphology – Na introduction. John Wiley & Sons:


LTD, New York (USA), 2000.

BRITO, I. M. Bacias Sedimentares e Formações Pós-Paleozoicas do Brasil.


Interciência, 1979.

CHORLEY, R. J.; SCHUMM, S. A.; SUGDEN, D. E. Geomorphology. Methuen,


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Universidade Aberta do Brasil

NOTA SOBRE O AUTOR

Elvio Pinto BOSETTI


Sou Professor Adjunto do Departamento de Geociências
da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Leciono nos cursos de
Bacharelado em Geografia e Licenciatura e Bacharelado em Ciências
Biológicas e também no Mestrado em Gestão do Território. Sou graduado
em Geografia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (1981-1984).
Realizei o mestrado em Geociências, na área de Paleontologia (1986-
1989) e o doutorado em Tafonomia (2000-2004), ambos na Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. Sou pesquisador do CNPq na área de
Geociências e lidero o Grupo de Pesquisa Palaios da UEPG.

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