Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
pdf
FORMAÇÃO DE PROFESSORES
UMA VISÃO MULTIFACETADA
Pontificia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Chanceler:
Dom Altamiro Rossato
Reitor:
Ir. Noberto Francisco Rauch
Conselho Editorial:
Antoninho Muza Naime
Antonio Mario Pascual Bianchi
Délcia Enricone
Jayme Paviani
Luiz Antônio de Assis Brasil
Regina Zilberman
Telmo Berthold
Urbano Zilles (presidente)
Vera Lúcia Strube de Lima
Diretor da EDIPUCRS:
Antoninho Muza Naime
FORMAÇÃO DE PROFESSORES
DE MATEMÁTICA:
UMA VISÃO MULTIFACETADA
u
EBIPUCRS
Capa: AGEXPP-FAMECOSPUCRS
Preparação dos originais: Eurico Saldanha de Lemos
Editoração e composição: Suliani - Editografia Ltda.
Revisão: da organizadora
Impressão e acabamento: Gráfica EPECÊ
CDD 370.71
EDIPUCRS
Av. Ipiranga, 6681 -Prédio 33
Caixa Postal 1429
90619-900 -Porto Alegre - RS
Brasil
Fone@: (51) 320.3523
www.pucrs. br/edipucrs/
E-mail: edipucrs @pucrs.br
Introdução ............................................................................. 7
Introdução 7
Os autores exercem a docência em cursos de Licenciatura de
Universidades públicas ou privadas, envolvendo-se, ainda, com
atualização e aperfeiçoamento para professores em serviço, pesqui-
sas, participações em Comissões de Carreira, orientações de mes-
trandos e doutorandos.
ANTONIOVICENTEMARAFIOTIGARNICAé bacharel em Ma-
temática, mestre e doutor em Educação Matemática pela UNESP de
Rio Claro, tendo concluído estágio de pós-doutorado junto à India-
na University-Purdue University, em Indianapolis, Estados Unidos.
Suas pesquisas focam aspectos gerais da formação de professores
de Matemática, com especial ênfase àquela que ocorre em cursos de
Licenciatura. Também atuou como professor em cursos de alfabeti-
zação, nas séries do ensino fundamental e médio, e em várias ativi-
dades de atualização de professores em serviço. Recebeu, em 1995,
o Prêmio Moinho Santista Juventude em Ciências da Educação.
Atualmente é professor do Curso de Licenciatura em Matemática
da UNESP de Bauru e do Curso de Pós-Graduação em Educação
Matemática da UNESP de Rio Claro.
CIRCEMARY SILVADA SILVAé graduada em Matemática pe-
la PUCRS, mestre em Matemática pela UFF e doutora em Educa-
ção Matemática pela Universidade de Bielefeld, Alemanha. Seus
interesses de pesquisa englobam a História da Matemática, as rela-
ções da História da Matemática com a Educação Matemática e a
formação de professores. Atualmente, leciona Prática de Ensino no
curso de Licenciatura em Matemática da UFES e é coordenadora e
professora do Programa de Pós-Graduação em Educação, da mesma
Universidade. É vice-presidente da Sociedade Brasileira de História
da Matemática, entidade que foi fundada em março de 1999.
DALCÍDIOMORAESCLAUDIOé bacharel em Matemática pela
UFRGS e doutor pela Universidade de Karlsruhe, Alemanha. Sua
pesquisa dá-se na área de Matemática da Computação. Recebeu em
1998 o prêmio de Pesquisador Destaque no Rio Grande do Sul dado
pela FAPERGS - Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande
do Sul, da qual é o atual diretor científico. É professor da Faculdade
de Matemática da PUCRS e atua como docente e orientador no
curso de Pós-Graduação em Ciência da Computação da mesma
Universidade.
8 Formação de professores de Matemática
HELENANORONHA CURYé licenciada e bacharel em Matemá-
tica pela UFRGS, mestre em Educação e doutora em Ciências
Humanas-Educação, também pela UFRGS. Seus interesses de pes-
quisa envolvem análise de erros em Matemática, concepções e
crenças sobre Matemática e uso de computadores no ensino dessa
disciplina. Trabalha em cursos de Licenciatura em Matemática,
desde 1970, tendo lecionado na Faculdade Porto-Alegrense de
Educação, Ciências e Letras e no curso promovido pelo convênio
PREMEN/UFRGS/SECRS. Desenvolveu, também, atividades com
professores de Ciências e Matemática da rede pública e privada, no
Centro de Treinamento de Professores de ciências do Rio Grande
do Sul e atuou como docente e coordenadora de projeto no Progra-
ma de Apoio ao Melhoramento do Ensino de Ciências, no convênio
CAPEStFAPERGS. Participou da experiência de implantação
do Primeiro Ciclo da UFRGS, em 1972, atuando como docente e
assessora da disciplina "Introdução ao Pensamento Matemático"
e do Projeto de Implantação, Assessoria e Aperfeiçoamento ao
Padrão Referencial de Currículo, promovido pelo convênio
PUCRS/SECRS. É professora da PUCRS desde 1973, nos cursos
de Engenharia e de Licenciatura em Matemática.
MÁRCIALOUREIRO DA CUNHAé graduada em Matemática pe-
la PUCRS. Como bolsista de Iniciação Científica, atuou em pesqui-
sas sobre o uso do computador no ensino de disciplinas matemáti-
cas na Faculdade de MatemáticafPUCRS. Seus interesses de pes-
quisa estão direcionados ao uso de novas tecnologias no ensino de
Matemática nos níveis fundamental e médio. Atualmente, leciona a
disciplina de Matemática no ensino médio e na educação de jovens
e adultos e ministra oficinas sobre o uso de software no ensino des-
ta disciplina.
MARLENE CORRERO GRILLOé licenciada em Pedagogia, mes-
tre em Métodos e Técnicas de Ensino e doutora em Educação.
Desenvolve pesquisas na linha de formação de professores e
educação continuada, estudando a prática pedagógica numa
perspectiva reflexiva e investigativa. É professora titular da
PUCRS, atuando como docente em cursos de Graduação e Pós-
Graduação (mestrado e doutorado) na Faculdade de Educação.
Introdução 9
TÂNIACRISTINABAPTISTA CABRALlicenciou-se em Matemá-
tica pela UFRJ, atuou em projetos envolvendo formação de profes-
sores de Matemática pelo Centro de Ciências da FAPERJ, em mo-
nitorias pelas secretarias de educação municipal e estadual, em
orientações de escolas e no 1" segmento do primeiro grau. No Esta-
do de São Paulo, atuou como docente em curso de magistério, ob-
teve o título de mestre em Educação Matemática pela UNESP, Rio
Claro, tendo defendido a Dissertação "Vicissitudes da aprendiza-
gem em um curso de cálculo". Fez o doutorado em Didática pela
USP, São Paulo, defendendo a Tese "Contribuições da Psicanálise à
Educação Matemática: a lógica da intervenção em processos de
aprendizagem". Atualmente é professora-pesquisadora na UNESP,
vinculada ao Departamento de Matemática - Campus de Bauru - e
ao Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática - Cam-
pus de Rio Claro. Faz parte da equipe que coordena o Grupo de
Pesquisa-Ação em Educação Matemática, UNESP-Rio Claro e
coordena o GPA & Seminário em Educação Matemática e Psicaná-
lise, UNESP-Bauru. A linha de pesquisa de atuação é "Análise dos
condicionantes da sala de aula e intervenção pedagógica" cuja ênfa-
se é "Condicionantes do engajamento do sujeito em situações didá-
ticas: discurso, poder e desejo". As investigações têm lugar na co-
nexão Educação Matemática e Psicanálise. Faz formação em Psica-
nálise de diretriz freudo-lacaniana. É membro da Escola Brasileira
de Psicanálise - Seção São Paulo. É sócia-fundadora da SBEM.
Um pouco das vivências desse grupo de professores vai ser
apresentada nos capítulos que se seguem. Esperamos que essas
contribuições sejam ponto de partida para novas discussões, por
parte de colegas das diversas IES que têm cursos de Licenciatura
em Matemática e de seus alunos, sobre os quais recai a responsabi-
lidade de fazer com que a Matemática se torne uma disciplina para
a qual se voltem, entusiasmados, os olhares dos estudantes.
Os Autores
Porto Alegre, outubro de 2000
Introdução
Domínio do conhecimento
Segurança
Respeito mútuo
Exigência
Competência profissional
Referências bibliográficas
Introdução
I
Curiosamente, um dos momentos em que se pode perceber a gestação da idéia
desenvolvida neste capítulo ocorreu quando discutíamos dificuldades próprias da al-
fabetização em ~íngu~estrangeira e cértas particularidades da atividade de tradução.
Tentávamos, então, explicar a quase impossibilidade de uma tradução que, em cer-
tos casos, preservasse toda a beleza da criação poética, para o que demos como
exemplo a conhecida frase de Fernando Pessoa que inspirou, também, o título desse
estudo.
Alguns trabalhos de Paul Ricoeur são, sob nosso ponto de vista, essenciais para a
compreensão das questões relativas ao texto e sua interpretação. Dentre esses, duas
obras têm especialimportância: os dois Ensaios de Hermenêutica (Ricoeur, 1986) e
Du texte à 1 'action (Ricoeur, 1986) e O discurso da Açúo (Ricoeur, 1988). Na pers-
pectiva histórica sobre a escrita são também extremamente significativos os traba-
lhos publicados sob a vertente da História Nova. Em especial, citamos o volume
Memória e História da Enciclopédia Einaudi, em sua versão portuguesa.
- - -- - - - - - -
- - - - - -- - -
Hariki, 1992.
4
Silva, 1993.
Kline, 1970. Desse artigo, por dar suporte à nossa trama argumentativa, citamos
algumas considerações sobre os motivos pelos quais, segundo o autor, tomar o mé-
todo dedutivo como modelo pedagógico é uma distorção:
"Primeiro ponto: a Matemática é uma atividade cujo primado é da atividade criativa,
e pede por imaginação, intuição geométrica, experimentação, adivinhação judiciosa,
tentativa e erro, uso de analogias das mais variadas, enganos e trapalhadas. Mesmo
quando um matemático está convencido de que seu resultado é correto, há muito pa-
ra ser criado até encontrar a prova disso. Como Gauss afirmou: 'Tenho meu resulta-
do, mas ainda não sei como obtê-lo'. Todo matemático sabe que trabalho árduo /.../
é necessário e o sentido da realização deriva do esforço criativo. Construir a forma
dedutiva final é uma tarefa chata. A lógica não descobre nada, nem o enunciado de
um teorema nem sua prova, nem mesmo a construção de formulações axiomáticas
de resultados já conhecidos /...I Há um outro motivo pelo qual a versão lógica é uma
distorção. Os conceitos, teoremas e provas emergem do mundo real./ .../ a organiza-
ção lógica é posterior. De fato, se for pedido a um aluno realmente inteligente que
cite a lei comutativa para justificar, digamos, 3.4=4.3, ele muito bem pode pergun-
tar: 'Por que a lei comutativa é correta?'. De fato, nós aceitamos a lei comutativa
porque nossa experiência com grupos de objetos nos diz que 3.4=4.3 e não o contrá-
rio. /...IA insistência na abordagem dedutiva engana o aluno ainda de outro modo.
Ele é levado a acreditar que a matemática é criada por gênios que começaram pelos
axiomas e raciocinaram diretamente desses axiomas para os teoremas. O aluno sen-
te-se humilhado e desconcertado, mas o professor, prestativo, está totalmente prepa-
rado para demonstrar-se como um gênio em ação. Talvez a maioria de nós não ne-
cessite ouvir como a Matemática é criada, mas parece ser útil atentar para as pala-
vras de Félix Klein: 'Você pode ouvir de não-matemáticos, especialmente dos filó-
sofos, que a Matemática consiste exclusivamente em traçar conclusões a partir de
premissas claramente enunciadas; e que, nesse processo, não faz diferença o que es-
sas premissas significam, se são verdadeiras ou falsas, desde que elas não se contra-
digam. Mas alguém que tenha produzido Matemática falará algo bem diferente. De
fato, aquelas pessoas estão pensando somente na forma cristalizada na qual as teo-
nas matemáticas são apresentadas ao final de um processo. O investigador em Ma-
temática ou em outra ciência, entretanto, não trabalha nesse rigoroso esquema dedu-
tivo. Ao contrário, ele faz uso essencial de sua imaginação e procede indutivamente,
apoiado por expedientes heurísticos. Pode-se dar numerosos exemplos de matemáti-
cos que descobriram teoremas da maior importância que eles mesmos não puderam
provar. Poderíamos, então, nos recusarmos a reconhecer isso como uma enorme rea-
lização e, em referência ao que foi dito acima, insistir que isso não é matemática?
/...I nenhum julgamento de valor pode negar que o trabalho indutivo da pessoa que
primeiro anuncia um teorema é, ao menos, tão valoroso quanto o trabalho dedutivo
daquele que primeiro o provou. Pois ambos são igualmente necessários, e a desco-
berta é a pressuposição de sua conclusão posterior'."
Este tema tem estado sob nosso olhar, de forma mais sistemática, desde os estudos
para o doutorado (Gamica, 1995). Parte desse trabalho, especificamente o levanta-
mento bibliográfico realizado, está publicado em Gamica, 1996. Nossas considera-
ções, aqui, são retomadas desse mesmo material.
Arsac, 1987.
10
Imenes, 1989.
Davis, 1972.
'I Hanna, 1989.
17
Nosso trabalho cuidou de esboçar um tratamento filosófico detalhado acerca dos
termos "técnica" e "crítica" na tentativa de evitar os significados estereotipados, do
senso comum, que tendem a atribuir valores positivos à crítica em relação à técnica
(esta última quase que invariavelmente concebida do ponto de vista da repetição en-
fadonha, da reprodução em série, num roteiro de ausência de criatividade). Não se
pretendeu estabelecer um critério valorativo de um olhar em detrimento do outro
mas, sim, caracterizar diferentes formas de ação e, obviamente, campos conceituais
distintos.
18
Na verdade, tal proposta poderia ser caracterizada como uma intervenção emergen-
cial no atual quadro das Licenciaturas brasileiras. No Brasil (Cf. Bernardo, 1989) as,
Licenciaturas, seguem mais de perto o modelo - equivocado - das Escolas Normais
(do século XIX) do que aquele sugerido com a criação da USP, nossa primeira uni-
versidade, em 1934. Temos defendido que, atualmente, os cursos universitários para
formação do professor têm se guiado por propostas "frankensteinianas": cum'culos
são concebidos como programas, e mudanças curriculares, como conseqüência, são
montagens e desmontagens no quadro de disciplinas, que são inseridas ou retiradas,
em colagens mal-acabadas, segundo necessidades imediatas e particulares, com o
objetivo de "repensar" os cursos. Não se concebe, ainda, a necessidade fundamental
de uma guinada no panorama global dessa formação, instituindo, por exemplo, pro-
jetos pedagógicos consistentes, a partir do qual as disciplinas - e sua condução - se-
riam definidas.
O "novo" contexto
LL
23
Obra já citada.
O termo "inference" utilizado nos Standards parece ser melhor traduzido, nessa
situação, como "variedade" ou "multiplicidade".
-
24
Obra já citada.
27
Tentando construir triângulos de lados (3,5,2), (6,2,3), (3,10,4)e (7,4,6) pretendia-se
estabelecer a proposição "Num triângulo qualquer, a soma da medida de dois dos
seus lados é sempre estritamente maior que a medida do outro lado". O conflito em
sala de aula ocorre exatamente durante a discussão do caso em que a igualdade se
verifica.
28
Uma outra situação, disparada por um problema sugerido em sala de aula, pode
contribuir para esclarecer essa relação entre "realidade" e atividades de ensino. O
problema em questão trata de uma das grandes paixões americanas: o basquete. A
derrota do Pacers num dos jogos da NBA serviu como tema de uma atividade para
um curso de verão do programa de formação para professores da escola elementar:
"Em seu último jogo o Pacers conseguiu o placar de 95 pontos. De quantas maneiras
diferentes esse total de pontos poderia ter sido obtido?'. A questão, cujo objetivo é
discutir conceitos iniciais de probabilidade, permite uma variada gama de aborda-
gens, em diferentes níveis de ensino, desde a construção de tabelas e outros recursos
gráficos, até a percepção de leis de formação de seqüências numéricas (chegando à
solução da soma finita dos termos de uma progressão aritmética) e de critérios de
paridade para números inteiros. Fora da sala de aula, informalmente, o problema foi
apresentado a Sam, garoto de 12 anos, filho de uma das professoras. Percebeu-se o
interesse na questão mas algumas das situações, matematicamente corretas, que fa-
ziam parte da solução (95 cestas de um ponto cada, por exemplo) não foram aceitas
como possibilidade pois não encontravam suporte em referenciais reais e, portanto,
29
não eram julgadas válidas.
A aluna, que aqui chamaremos A, tem um enorme obstáculo a enfrentar para ultra-
passar essa falha conceitual. Esse enfrentamento é dialogicamente tentado pela pro-
fessora:
Professora: Quais são seus oitavos? Aluna A (apontando para "seus" 24 avos):
"esses!" Uma outra aluna, B, interfere: "Não, para ter o bolo dividido em oito partes
você deve pegar três desses pedaços de cada vez" ... levanta-se e pinta um oitavo do
bolo, mostrando o processo. A professora, voltando-se para A: "Então, quais são
seus oitavos?', ao que A, novamente apontando para os 24 avos, responde: "esses!"
terizar no início desse artigo. É insuficiente pensar a linguagem sem definir os "es-
paços" de uma prática científica (no qual a linguagem prescinde de ligações com a
realidade) e de uma prática pedagógica (no qual as aproximações com o cotidiano
têm sido temática fundamental) e, portanto, conceber Matemática como linguagem
é, no mínimo, lacunar e insuficiente para a Educação Matemática. Na verdade, se-
gundo pensamos, embora sejam fundamentais para as salas de aula as questões que
tratam de aspectos da realidade (pois é necessário organizar uma forma de ação para
a prática pedagógica), essas mesmas questões são uma caricatura da realidade, uma
pseudoligação com o cotidiano: são pretensamente reais e, portanto, configuram-se
num "sistema de motivação". E a motivação, bem sabemos, é externa: alguém (no
caso, o professor) deliberadamente decide motivar alguém (no caso, o aluno) par?
alguma coisa (no caso, aprender matemática fazendo conexões com a realidade). E
necessário reforçar, portanto, a necessidade das iniciativas comuns à Modelagem
Matemática, onde a problematização da realidade parte dos alunos. Seriam esses,
então, problemas "reais", cotidianos, parte do "sistema de desejos" ao contrário da-
quele "sistema de motivação". Roberto Ribeiro Baldino e Tânia Cabral, valendo-se
de fundantes emprestados da Psicanálise, discutem isso com profundidade em al-
guns de seus trabalhos. Assim, segundo percebemos, o conflito "linguagem
matemática-aplicação à realidade" poderá ser ultrapassado, possivelmente, com as
iniciativas próprias da Modelagem (ou Modelação) Matemática. Isso nos parece
análogo à necessidade de se ter a pesquisa-ação, em suas várias vertentes, como
essencial para a investigação em Educação Matemática como área de conhecimento
teórico-prática.
A importância do impreciso
e a potencialidade de algumas incertezas
Referências bibliográficas
Introdução
pi
um ponto (número) c do domínio de uma
função f é ponto crítico de f se ou
f '(c) = O ou f '(c) não existe . O profes-
sor foi ao quadro e propôs que ela mar-
fig. 1
casse no gráfico de uma função (fig. i) os
pontos críticos e justificasse. MAS não
teve dúvidas com relação aos pontos a e
b, entretanto, hesitou em marcar o terceiro, Diante da vacilação
da aluna, o professor interveio na situação. P: "Por quê?". MAS:
' Esse caso foi publicado na revista Zetetiké, ano 3, n. 3, 1995, sob o título "Ensino
Remedial em Recuperação Paralela" e retomado em minha Tese de Doutorado Con-
tribuições da Psicanálise à Educação Matemática. A análise proposta na revista Ze-
tetiké é distinta da que é apresentada aqui, pois são abordados outros aspectos,
igualmente interessantes, para se repensar a sala de aula de Matemática. "MAS" é o
nome dado à aluna.
Essa disciplina foi ministrada para o Curso de Informática da UNESP, do qual MAS
era aluna.
O livro-texto adotado pelo professor, em acordo com a própria turma, foi o Cálculo
com Geometria Analítica, v. 1 , de Earl W. Swokowski.
As respostas de MAS nos gráficos estão assim assinaladas: -----
4f /
--.-. -..-. a partir daí, na dialogicida-
fessor
de
(figs.mediada
implantou
2, 3 e 4) em
porque
desenhos
contradi-
o pro-
/'./a
ções que podiam ser evi-
denciadas por MAS, caso
C
fig. 3 fig. 4 soubesse lidar com a defi-
flg. 2 nição em questão. Entre-
tanto, MAS deu sempre as
mesmas respostas. Diante dessa insistência, o professor mostrou-se
,d
desde que o limite exista. O professor
perguntou: "O que isso significa para
você?". MAS fez um desenho (fig. 7) en-
quanto falava "...a derivada é a variação
/. de y pela variação de x " e escrevia
fig. 7
f'(a) = (a h) - (a)
+ .O professor in-
h
Análise do caso
A análise proposta, ainda que muito localizada por se referir a
uma sessão particular, permite dizer alguma coisa sobre a maneira
preferencial de MAS se relacionar com o saber instituído e, ao mes-
mo tempo, enredar algumas palavras, mesmo que não sejam definiti-
vas, a respeito da condução e sustentação do processo de aprendiza-
gem em jogo.
Início da sessão: tempo de silêncio, tempo de espera de MAS.
Ela poderia ter elaborado alguma coisa, já que estava ciente do con-
trato de trabalho (contrato pedagógico5)para participar de uma sessão
De passagem, recordo que esse modelo os próprios gregos usaram, como mostra o
seguinte trecho: "Euclides define a tangente a um círculo como sendo uma reta que
encontra o círculo em apenas um ponto e não o corta" (Baron, 1995: v. 1, p. 53).
Análise do caso
A promessa de trabalho... Primeiro tempo: tempo de insatisfa-
ção, de queixas, de busca de algo que não sabiam nomear mas que
incomodava. Tempo de elaboração de uma promessa de trabalho
em que as alunas passaram de uma demanda passiva de conheci-
mento para o voto de assumir compromisso de elaborar algo sobre
o saber instituído. O trabalho foi iniciado pelas alunas com a marca
de suas insatisfações. Elas tinham aprendido um nome durante as
aulas regulares7 mas estavam insatisfeitas com o que "havia sido
ensinado a elas".
Surpreender para provocar. .. Segundo tempo, tempo de pro-
vocação: "Quando uma criança nasce, as pessoas escolhem um
nome para ela, certo? [...I Alguém tem que combinar o nome da
criança alguma vez". As alunas são surpreendidas: "No início
achamos um tanto confusa e estranha a maneira como o professor
conduzia nossas reflexões". Ao menos, nessa sessão, elas saíram do
circuito das identificações. A transferência pedagógica imaginária
foi transformada em transferência pedagógica simbólica, levando
essas alunas a tomarem outra posição. Estranharam, mas aceitaram
o desafio de elaboração e se propuseram uma questão: "[ ...I e não
conseguimos de maneira alguma achar que o "batismo" era um ato
semelhante à definição". Implicaram o professor e a si mesmas no
' A disciplina de Análise Matemática estava sob a condução regular de outro profes-
sor, do qual o professor que conduziu as sessões de orientação tinha postura bastante
diferente. O professor da disciplina regular aparentemente acreditava que os alunos
poderiam aprender Matemática ouvindo exposições claras. Já o segundo professor
fez uso do aforisma que põe o aluno na posição de falante.
'O Essa diferença é magistralmente marcada por Zizek ao analisar uma ocorrência
externa à clínica: o filme em que Woody Allen responde pelo papel de um sujeito
que tenta ser como Humphrey Bogart - identificação imaginária. A identificação
simbólica só é levada a cabo quando o personagem de Allen repete a cena final de
despedida de Casablanca: "[ ...I assumindo uma certa 'missão', ocupando um certo
lugar na rede simbólica intersubjetiva (sacrificando uma mulher em nome da amiza-
de...)" [1992: 1091.
Referências bibliográficas
Introdução
Histórico no Brasil
Alguns autores que colaboraram com as notas históricas foram: Antenor Nascentes,
Escragnole Dona, Manuel Amoroso Costa, Pedro A. Pinto, Leonel Franca, Agliber-
to Xavier, Gomes Teixeira.
5% Norte
42% Sudeste
Veja nas referências bibliográficas de meu artigo no Caderno CEDES 40, em que
apresentei uma resenha de livros escritos em língua portuguesa e espanhola.
Quadro 2
A disciplina de História da Matemática
nos currículos das licenciaturas em IES, no Brasil
Conclusões
queseri~;itmIlhada~1a~la.
A terceira função visaria a proporcionar condições aos futuros
professores de dominar métodos e técnicas de como usar a discipli-
na em sala de aula.
A quarta função estaria voltada para uma compreensão maior
da história da Educação Matemática como campo profissional.
Parece que os argumentos reforçadores sobre as potencialida-
des da História da Matemática são suficientemente fortes e nos
permitem concluir que é importante incluí-Ia como um dos compo-
nentes no guia curricular dos cursos de formação do professor de
Matemática.
Nas situações em que há a oferta da disciplina nos cursos de
Matemática, o docente responsável pela sua execução, em geral não
tem formação adequada. Trata-se, normalmente, de um autodidata
que aprecia a História da Matemática e que se dispõe a ministrar a
disciplina, para preencher a falta do especialista na área. Segundo
Piazza, a compartimentalização do ensino de graduação traz conse-
qüências sérias, e uma das expressões dessa compartimentalização
é que muitos professores não estão preocupados em implementar
um projeto de curso, mas sim em ministrar disciplinas:
"Nesses casos, o que é ensinado nem sempre - ou, talvez, ra-
ramente - é o que seria relevante para a formação do profissional e,
às vezes, nem mesmo é o que está previsto nos objetivos da discipli-
na, mas é, frequentemente, o que o professor sabe, quando não, o
que prefere ensinar" (Piazza, 1997, p. 23).
Outro elemento dificultador na oferta dessa disciplina é a es-
cassa bibliografia em língua portuguesa. As bibliotecas dispõem de
um número reduzido de livros que abordam a História da Matemá-
tica geral, pouquíssimos livros que tratam de tópicos especiais e
raríssimos periódicos.
Em geral, os livros-texto de História da Matemática pressu-
põem que o leitor tenha um certo conhecimento de Matemática,
sem o qual sua leitura toma-se extremamente penosa. Assim, se
quiséssemos utilizar os livros-texto já disponíveis, precisaríamos
que a disciplina de História da Matemática não fosse ofertada no
início do curso, conforme é usual na maioria das IES consultadas
Conclusões
Referências bibliográficas
Introdução
Software e Internet
A Situação Atual
henry@ait.fredonia.edu
Software: Yfunx
O programa é destinado à construção de gráficos e análise de
funções do tipo Y=F(X), calcula integrais (numericamente e grafi-
camente) de várias maneiras. Este programa também calcula volumes
de sólidos de revolução (por discos e cilindros), a área da superfície
destes sólidos e pode-se usar o método de Newton ou da Bissecção
para encontrar zeros de funções polinorniais. Possibilita a visualiza-
ção da tangente em todos os pontos de uma função, mostrando, a
cada ponto, a equação da reta e suas coordenadas.
Endereço para download:
http://archives.math.utk.edu/software/msdos/calculus/jkyfunx/.html
Software: Winplot
Este programa permite que se construam gráficos a partir de
funções elementares. Possibilita que se construam gráficos em duas
e três dimensões e ainda que se trabalhe com operações de funções.
Endereço para download: http://www.exeter.edu/-rparrisl
Figura 2
Visualização da tela do Winplot.
Figura 3
Visualização da tela do Graphmatica.
- -- -- -
Filc and prlnting operations; cxit
--- -- --..
Software: Mathlabl
Programa que permite a construção de gráficos de funções,
incluindo derivação de integração (na mesma tela).
Endereço para download:
http://www .ime.usp.br/-leo/free.html
Figura 5
Visualização da tela do Mathlab 1.
Software: Twiddle 1.36
Este programa faz gráficos de funções y=f(x), possibilitando a
-- --
Figura 6
Visualização da tela do Twiddle 1.36.
Software: Algebrax
Programa de exercícios de múltipla escolha sobre conteúdos
de pré-cálculo.
Endereço para download:
http://archives.math.utk.edu/software
Software: Rurc
Programa de exercícios de múltipla escolha. Possui diversas
versões diferenciadas pelo conteúdo e o nível de ensino ao qual se
destinam.
Endereço para download:
http://archives.math.utk.edu/azmath.html
Figura 7
Visualização da tela do Wingeom.
Figura 8
Visualização da tela do Compass and
Ruler Geometry Program.
Figura 9
Visualização da tela do Cabri-Geometry
Sclcdons. n
PONTEIRO
Considerações finais
Referências bibliográficas