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e “catações”: A ritualizaç
da busca por parceiros
stas eletrônicas sobralen
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ção e “catações”: A ritualização
da busca por parceiros em
s emfestas eletrônicas sobralenses
nses
FABRÍCIO SOUSA SA MPAIO
Doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte-UFRN/Natal.
Sampaio, F. S.
extraídas dos discursos dos dezesseis cidiu com a desativação do único bar
jovens entrevistados em profundida- considerado gay da cidade – Bardakal6
de: Emanuel, Sócrates, Fábio, Alysson, - em 2012. As festas se configuraram
João, Dênis, Jorge, Luís, Neto, Tiago, – neste período – como a única opção
Marcos, Olavo, Ricardo, Aurélio, Ivo de entretenimento e paquera “offline”
e Hugo. Este artigo foi construído a entre homens que gostavam de música
partir das discussões engendradas da eletrônica e não queriam, ou não po-
pesquisa de doutoramento, realizada deriam, viajar frequentemente para a
no período de 2013 a 2016, que obje- capital cearense: ritual frequente para
tivou compreender os rituais perfor- os jovens que objetivavam curtir esse
máticos dos corpos masculinos em tipo de festa de acordo com os colabo-
situações de paquera e “catação”, nas radores. João reitera a importância que
festas eletrônicas da cidade de Sobral/ essas festas assumiram para o público
CE. A primeira parte é constituída por gay: “a homossexualidade é grande. E
uma análise do surgimento e desenvol- assim, essas pessoas elas não têm um
vimento das festas na cidade atentando local em que elas possam, em que elas
para três fases que foram assinaladas se sintam mais à vontade, que não nes-
pelos termos segregação, estabeleci- sas festas. Então, essas festas são uma
mento e massificação. A identificação espécie de refúgio para alguns deles”
de uma estrutura comum física e inte- (Hugo, 2016).
racional constitui o segundo momento É uma festa para as pessoas dança-
do artigo, que tem como sequência de rem, se divertirem, porque Sobral é
análise os trânsitos performáticos dos uma cidade que não tem boates e
jovens durante a noite e as fases rituais festas, quando tem, são aquelas fes-
da paquera. E, para finalizar, os crité- tas de forró, de sertanejo, que nem
rios sociais que classificavam o status todo mundo gosta. Sobral nunca
de paquerabilidade dos corpos mascu- teve tradição em ter festa eletrônica
linos são analisados. e coisas parecidas. Então eu acho
ela – principalmente para um públi-
co jovem e também para o público
1 - FESTAS ELETRÔNICAS DE SO- gay – tem uma certa importância,
porque é uma festa que você tam-
BRAL: DO SURGIMENTO À MASSI-
bém pode se sentir livre, seja você
FICAÇÃO
hétero, bissexual, gay, lésbica, não
O contexto social de surgimento das sei. Você pode ser quem você é lá
festas eletrônicas gays de Sobral/CE na festa. Então acho que para esse
se deve à ausência desse tipo de evento público, ela tem uma importância
na cidade e à inexistência de espaços sim (João, 2016).
sociais reconhecidamente direcionados Essas festas gays se tornaram o úni-
à paquera ou “pegação”5 entre homens co espaço de entretenimento, paquera
tais como boates, casas de show, bares, e saídas do armário de homossexuais
praças, cinemas, shopping e saunas. A das cidades vizinhas – principalmente
ocorrência das primeiras festas coin- de estudantes –, pois a cidade con-
fulanin trabalha em tal canto e está trução, de início era só uma festa
aqui! Fulanin estuda em tal canto e reservada, o meio termo foi que
está aqui, valha como assim’ e era realmente todo mundo tomou ini-
um público que acabou se enqua- ciativa, começou a se conscientizar
drando, se encaixando nessa Estilo que era uma festa gls, que as pesso-
(Luís, 2015). as, homens podiam se beijar, mu-
lheres começam a se beijar e ficar.
Nessas festas iniciais guetificadas, a ne-
Foi a fase da construção [...] (Mar-
gociação da visibilidade era ritualmen-
cos, 2016).
te revelada, embora os colaboradores
admitissem que a maioria dos frequen- As festas eletrônicas sobralenses – de
tadores era gay. Essa ambivalência de acordo com o relato dos entrevista-
gueto e de visibilidade seletiva do de- dos – poderiam ser divididas em três
sejo homossexual numa situação de fases em relação aos processos de pa-
“armário para dois” entre os frequen- quera. A primeira estava relacionada à
tadores era justificativa pelo fato de construção do “gueto” gay na cidade
que a cidade possuía baixa densidade em suítes de motel. Neste período, os/
demográfica e havia o risco eminente as participantes selecionados/as não
de algum jovem “rasgar”10 para outras paqueravam diretamente ou flertavam
pessoas os fatos ocorridos na festa: a sigilosamente. E os “ficas” e as “pega-
paquera e “pegação” entre homens. A ções” eram realizadas numa ambiência
maioria dos “ficas” eram praticados no de “armário para dois”. A segunda fase
sigilo para dois. Com o passar das edi- se referia à consolidação da festa como
ções das festas no motel, uma rede de “gueto”, a intensificação da frequência
“estabelecidos”11 foi sendo construída dos “estabelecidos” e a constituição de
numa atmosfera elitizada de festa cuja um “armário para todos”. As paqueras
maioria dos participantes era de conhe- se tornaram frequentes e os “ficas” vi-
cidos entre si, de classe média ou alta, síveis e públicos. Apenas as “pegações”
formados ou estudantes universitários, eram realizadas em espaços propícios
de preferência não “rasgados”12 e de como o “dark room”13 ou em espaços
masculinidade musculosa. Nessa am- exteriores da festa. E, na terceira fase
biência, a paquera/ “pegação” deixou – contemporânea –, houve uma dimi-
de ser tão sigilosa, principalmente, pelo nuição das “catações” e uma intensi-
acordo tácito de não comentar sobre ficação da frequência de casais gays e
os acontecimentos da festa para “out- lésbicas, como, também, heterossexu-
siders” e não-frequentadores. Nessa ais. A massificação suscitou o afasta-
fase, os rituais de paquera poderiam ser mento do público da primeira fase – a
ilustrados da seguinte maneira: autoconsiderada elite gay – promoveu
Houve uma mudança muito gran- a diversificação de frequentadores e, de
de, foram etapas até as pessoas se certa forma, minimizou o estigma que
conscientizarem que ali era uma essas festas carregavam: “[...] uma fes-
festa gls, da atitude [...] da paque- ta que vale tudo. Você chega lá e você
ra, na curtição da paquera, do fica, vai beijar todo mundo e vai transar na
do sexo [...] E tudo teve essa cons- frente de todo mundo. Sendo que não
entre os contextos “online” e “offline” festa está rolando e não tem, talvez
sem a possibilidade de afirmar a pre- não tenha, outra coisa no dia para
ponderância de um dos contextos iso- fazer [risos] (Emanuel, 2016).
ladamente. Geralmente, após a entrada – nos
clubes e nas suítes de motel –, existia
um considerável tapete vermelho que
2 - OS ESPAÇOS FESTIVOS E SUAS findava no primeiro espaço da festa –
INTERAÇÕES um painel com a logomarca do even-
As festas eletrônicas gays de Sobral to – onde os frequentadores, no início
possuíam quase a mesma estrutura físi- da noite – tiravam fotos entre si ou
ca e organizacional – telão com clipes, com as atrações performáticas e com
jogo de dança, pista central com DJs, os DJs. Esse espaço era ocupado nas
bares, espaço com som – e eram fre- primeiras horas do evento e, às vezes,
quentadas pela maioria de “figurinhas organizado por um fotógrafo contra-
carimbadas de festas”. Esses eventos tado. Após as edições realizadas, algu-
se diferenciavam das “raves” ou de ou- mas fotos – tanto desse espaço como
tras festas consideradas heterossexuais: também das atrações e dos momentos
[...] agora as festas de tipo rave, das festas – eram selecionadas pelos
o que tem de diferente? O som é organizadores e postadas nas páginas
totalmente diferente, os DJs são do Facebook. Essas postagens fun-
diferentes [...] porque é assim, eles cionavam como meio de divulgação e
tocam uma vertente da música ele- identificação dos indivíduos que não
trônica, que apesar de eu fazer festa tinham ido às festas, mas queriam co-
de música eletrônica, eles tocam, letar informações, especialmente por-
outra vertente, que é um som com que – anexados a essas fotos – sempre
mais batidas por minutos, um som
existiam comentários, sugestões e ava-
mais rápido, um som mais pesado.
E normalmente sem vocal. E nas
liações feitas pelos frequentadores de
minhas festas, a música eletrônica determinada edição. Ricardo descreve
que rola é uma música curta, de rá- um ritual pessoal frequente em relação
dio, música com vocal, música mais a isso: “eu fui, eu visitei o evento da
comercial, música popular. Essa é a festa. E aí, como eu não fui, a gente
diferença. E o público também tem procura saber como foi a festa. E aí en-
diferença. O público em festa, você tão eu fui ver, as postagens de quem foi
percebe que é um público ‘teen’, para saber como foi, como tinha sido
é um público que é mais extrava- a festa”. Outro espaço visualizado na
gante, que veste assim, coisas que
maioria das festas era a projeção de cli-
a gente não vê todo mundo usando
pes através de data show. Inicialmente,
na rua, entendeu? E já nas festas de,
sei lá, de música eletrônica, só mú- alguns jovens ficavam assistindo senta-
sica eletrônica, sem ser música pop, dos em sofás ou mesas com cadeiras,
já é um povo mais comportado, dependendo da festa. Regularmente,
mas é um povo que não conhece depois de uma hora da manhã, duplas
aquele estilo, só estão ali porque a ou grupos de jovens se revezavam em
quilo. Têm gays que gostam de pago- de. A marcação da diferença corporal
de, tem gays que gostam forró, tem objetivava eleger determinados corpos
gays que gostam de internacional, tem como alvos de paquera. Assim, o de-
gays que gostam de brega, entendeu? ” sejo que justificava o investimento em
(Neto, 2015). algum ritual de paquera, era raciona-
A performance de dança também mar- lizado através desses eixos. De forma
cava a paquera nas festas eletrônicas e geral, os corpos considerados desejá-
agenciava o desejo ou poderia levar ao veis eram performativamente constru-
“corte” dos processos de paquera em ídos com auxílio desses eixos oposicio-
curso: nais que funcionavam como moldes
Eu acho que o jeito de dançar in- estilísticos por onde os corpos eram
fluencia muito. Quando a gente vai diferenciados.
dizer que uma pessoa é afemina-
da. É, principalmente quanto toca
o funk, na festa eletrônica, a gen- CONSIDERAÇÕES FINAIS
te pode ver, quem são os rapazes
mais afeminados e os que não são As performance-rituais de paquera
[...]. Bem, assim, os gays mais ve- analisados das festas eletrônicas so-
lhos que vão para a festa, é, eles são bralenses corroboraram a reprodução
mais reservados. Entretanto tem da heteronormatividade nas sociabi-
também os que são afeminados, lidades homossexuais. Este artigo de-
que dão pinta, que dançam, que monstrou processos gerais e hierárqui-
não está nem aí para a opinião dos cos de paquera cujo eixo norteador era
outros. Mas, os gays mais maduros
a classificação dos corpos em “perfor-
são mais contidos, eu acho, isso [...]
mas é porque na nossa, sociedade, mance máscula” ou “rasgada” que se
no nosso grupo, no nosso grupo entrecruzava com os marcadores so-
de, gls, a gente acaba, rotulando ciais da sexualidade, sexo, padrão “fit-
né, os mais afeminados, as pesso- ness”, geração e “performance geral”.
as que curtem mais, pop, que gosta Vale ressaltar que durante a etnografia
mais de... dançar, se expor, já fala, foram observados outros processos de
‘ah viu aquele cara que dança, sobe paquera não-hegemônica, ou seja, para
no pole dance, dança igual a diva e além do binário “másculo-rasgado”.
tudo mais.’. Aí fala, ‘ah, é passivo...’.
Os afeminados paqueravam entre si,
E aí as pessoas acabam, é, dizendo,
rotulando se esse homem é passivo. por exemplo. Esses processos de pa-
Pelo fato da festa tocar mais pop, quera podem constituir objetos de
de ir pessoas que gostam mais disso análise de pesquisas futuras correlacio-
e....acontece (Ricardo/2016). nadas.
Em suma, os processos de paquera
encerravam políticas de diferenciação
NOTAS
dos corpos masculinos numa classifi-
cação oposicional e hierárquica para 1
Esse termo êmico se refere à “pegação”
definir os seus níveis de desejabilida- ou “cruising”.
2
Dados extraídos do site: http://cidades. culto ao corpo e do hiperconsumo, este
ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codm termo vem sendo utilizado para justificar
un=231290&search=||infogr%E1ficos:- sentidos e valores sociais relacionados à
-informa%E7%F5es-completas. Acesso prática de exercício físico. Os malhados re-
em: 14 ago. 2016. presentavam o estilo corporal hegemônico
3
As primeiras festas eletrônicas sobralen- a ser perseguido para vencer a concorrên-
ses ocorriam numa atmosfera de “armário cia na paquera e na “catação”.
para todos” onde as práticas realizadas 8
Termo êmico que se referia aos engaja-
nesses contextos não deveriam ser publi- mentos amorosos e/ou sexuais não-ho-
cadas de acordo com os colaboradores. mossexuais entre homens nas festas.
4
Expressão êmica que significa liberação 9
Termo êmico que significa beijar ou “dar
performática de estilos principalmente afe- um amassos” (Neto, 2015) rápido com al-
minados e/ou “rasgados”, estigmatizados guém sem demonstrar, inicialmente, inten-
nos contextos familiares e citadinos especí- ção sexual.
ficos de cada participante que frequenta o 10
Publicar de alguma forma os “ficas” ou
evento e habita cidades com menor densi- “pegações” homossexuais ocorridas nas
dade demográfica do que Sobral/CE. festas.
5
Relaciona-se a buscas por sexo casual em 11
Metáfora analítica tomada de emprésti-
locais públicos ou já consensualmente per- mo de Norbert Elias e John Scotson (2000)
cebidos para esta finalidade: saunas, cine- para definir tanto os participantes mais as-
mas de sexo explícito, banheiros públicos síduos das festas e que estavam familiariza-
e outros. dos com os códigos de sociabilidade (“es-
6
De acordo com o relato, os jovens que tabelecidos”) quanto os frequentadores
frequentavam as festas eletrônicas julga- novatos ou que não estavam familiarizados
vam as pessoas que participavam desse com estes códigos (“outsiders”).
bar muito “afeminadas” e “rasgadas”. 12
Termo êmico que representava os fre-
Eles temiam que – ao frequentarem esse quentadores afeminados que expressavam
bar – suas homossexualidades poderiam seu efeminamento através de performan-
ser publicadas por esses jovens “afemina- ces de dança pop durante as festas.
dos”. Sobral é uma cidade pequena e “to- 13
Locais semifechados, escuros, em que
dos se conhecem e sabem da vida de todo
a ordem é a liberação da “pegação”, ou
mundo” (Dênis, 2014). O simples ato de melhor, práticas sexuais diversificadas.
frequentar o bar, embora não ficando ou Quando as festas ocorriam nos motéis, um
paquerando com nenhum homem, já era dos quartos das suítes era autorizado para
considerado marca essencial para a popu- ocorrer as “pegações”.
lação estigmatizar tal visitante de ‘gay’. A
maioria dos frequentadores permanecia
14
Expressão utilizada para se referir aos
nesse bar sob uma espécie de “proteção jovens que frequentavam quase todas as
heterossexual”, ou seja, com amigos héte- festas eletrônicas que ocorriam na cidade
ros ou com casais héteros. 15
Festas eletrônicas organizadas com in-
7
A expressão “fitness” designa tanto uma tuito de duração prolongada como, por
capacidade orgânica quanto um estilo ou exemplo, 12 ou 24 horas de duração.
jeito de ser e de se comportar (GOELL- 16
Supressão da palavra que identificava o
NER, SILVA, 2012). Na sociedade do colaborador.
17
Cantoras pop como Beyouncé, Lady – funcionam para confirmar aos recepto-
Gaga, Rihana, Britney Spears e Katy Perry. res que são estimados em determinada in-
Além da cantora de funk Anita. Elas são teração e sinalizam para o tratamento que
consideradas como um semideus por al- está por vir, ou seja, eles especificam o que
guns frequentadores das festas eletrônicas, deve ser feito (Ibid.:72).
principalmente pelos os afeminados e que 23
Encontro social onde os indivíduos se
servem como inspiração coreográfica para juntam com a finalidade de sustentar um
suas performances de dança nos eventos único foco de atenção visual e cognitiva
(Ricardo, 2016). (GOFFMAN, 2010: 101).
18
Tanto poderia ser o processo de paque- 24
A concepção de gênero enquanto per-
ra em si, quanto o sujeito paquerado, um formance, “repetição estilizada de atos”,
“fica” atual ou alguém que se paquera sem da filósofa Judith Butler (2010), foi crucial
o outro ter consciência de ser paquerado. na problematização das concepções e prá-
19
O “esquenta” significava beber sozinho ticas de masculinidades que eram encena-
e entre amigos em determinados bares, das e avaliadas pelos colaboradores.
restaurantes ou casas de amigos. Nesse 25
Essa denominação foi aplicada ao con-
período de interação regada pelo álcool, junto padronizado de comportamentos a
os jovens conversavam sobre as festas que serem encenados e compartilhados pelos
planejavam frequentar e se preparavam integrantes de determinado grupo de ami-
para possíveis flertes, comentando suas gos durante a festa. Essa “performance
intenções em relação às festas e, às vezes, grupal” demarcava ações, atitudes, gostos,
compartilhando pretensos parceiros já preferências e intencionalidades que qual-
marcados via Facebook. quer integrante poderia possuir de acordo
20
Os olhares não se dirigiam apenas para com os colaboradores. Neto assevera que
um determinado participantes: não possu- determinado indivíduo que estava “na
íam um único foco. companhia” de outros que somente pensa-
vam em “colecionar ficas” e beberem mui-
21
Expressão êmica que objetivava nomear
to, geralmente não serviam “pra namorar”.
a situação interacional onde existia corres-
pondência de desejos e interesses amoro-
26
Alguns colaboradores ratificaram a pre-
sos e/ou sexuais durante a paquera. sença de homens que não se identificavam
como gays mas que gostavam de “ficar”
22
A deferência – percebida em saudações, com outros homens nas festas.
elogios e desculpas – é um meio simbólico
de comunicar apreciação ou estima para
27
Geralmente identificado como aquele
um receptor ou para algo que ele simboli- sujeito de classe média ou alta que possuía
za ou representa (GOFFMAN, 2011: 59). escolaridade de nível superior e consumia
É um componente básico da cerimônia e as melhores e mais caras bebidas durante
pode assumir a forma de “ritual de evi- as festas (Ricardo, 2016).
tação” e “ritual de apresentação”. Os ri- 28
Termo criado por Wagner (1993) que
tuais de evitação são empregados onde a identifica um conjunto de disposições –
deferência leva o ator a manter distância discursos, valores e práticas – que naturali-
do receptor através de proscrições, proibi- za, sanciona e legitima a heterossexualida-
ções e tabus que objetivam respeitar esse de como a única possibilidade de expressão
direito do receptor (Ibid.:65). Os rituais de dos sujeitos (JUNQUEIRA, 2012: 66).
apresentação – segundo tipo de deferência A heteronormatividade é sustentada pela