Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Frank Sósthenes S. Souto Maior Jr.1, Dr.ª Maria Ângela de Faria Grillo 2 e Rosely Tavares de Souza3
________________
1. Primeiro Autor é Pesquisador PIBIC – CNPQ e graduando em História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manuel de
Medeiros, s/n – Dois Irmãos, Recife –PE. CEP: 52171-900. E-mail: frankhistufrpe@yahoo.com.br
2. A orientadora é Doutora em História e Professora titular do Departamento de Letras e Ciências Humanas e do Mestrado em História Social da
Cultura Regional da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manuel de Medeiros, s/n – Dois Irmãos, Recife –PE. CEP: 52171-900.
3. Terceira Autora é Pesquisadora PIC – CNPQ e Graduanda em História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manuel de
Medeiros, s/n – Dois Irmãos, Recife –PE. CEP: 52171-900
transitaram de escravos para moradores livres e deste descritos por François Rabelais, afirma que os
último para trabalhadores assalariados, tendo entre as espetáculos apresentados em praça pública, se situavam
décadas de 60 e 80 o ápice do processo de ruptura das entre a arte e a vida [7]. Essa é uma das questões
relações de "morada", expulsão e proletarização dos centrais do nosso trabalho: analisar até que ponto os
trabalhadores sitiantes. integrantes do folguedo se apropriam das práticas
culturais da comunidade e as representam através da
teatralização do folguedo.
Discussão Percebemos que os comportamentos humanos como
ganância, egoísmo, avareza, mentira são incorporados à
O corte temporal estabelecido entre as décadas de
mensagem veiculada pelo folguedo[8], demonstrando
1960-1980, atesta um período de transformações
de forma irônica os desvios sociais. É uma das
sociais com o fim das relações de morada e
hipóteses deste trabalho que os desvios sociais
proletarização da massa trabalhadora [3] na Região
interpretados pelos personagens do Cavalo Marinho
supracitada. Neste contexto, a veiculação de conteúdo
representam comportamentos e atitudes universais, no
de protesto demonstra uma cultura popular crítica,
entanto, também se faz uma critica local e as questões
questionadora, combativa e politizada. Conforme
presentes no cotidiano são abordadas.
Thompson é em defesa de seus costumes que a cultura
popular é rebelde e quando procura legitimar seus
protestos, o povo recorre aos mecanismos que melhor Agradecimentos
defendem seus interesses pessoais [4]. Ao CNPq por acreditar na proposta e atuar como
Através da música, da dança e da encenação os facilitador de nossa pesquisa. À Professora Doutora
trabalhadores dos canaviais, se apropriam do folguedo, Ângela Grillo e ao mestrando Rômulo Oliveira, pelas
fazendo dele um veiculo de difusão e propagação de profícuas orientações; à companheira de pesquisa
uma mensagem critica. De acordo com Edval Marinho, Rosely pelas assíduas discussões coletivas; à Sanae
a questão da propriedade privada é representada no Souto pela colaboração na pesquisa de campo, aos
enredo do folguedo, na medida em que o Capitão familiares, pelo apoio moral, físico e intelectual que
representa a oligarquia, o chefe político e o poder local, nos mantém erguidos na estrada acadêmica.
os personagens Mateus e Bastião representam os
trabalhadores, os camponeses e os agricultores sem
terra [5]. Referências
Outra mensagem crítica assumida como conteúdo do [1] CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e
folguedo é a representação de resistência ao poder, representações. Lisboa: DIFEL, 1990.
através da figura de um policial proveniente do Estado [2] BENJAMIN, Roberto. Pequeno Dicionário do Natal. Recife:
Sociedade Pró-Cultura, 1999.
vizinho, a Paraíba, que é impedido de entrar no terreiro [3] SIGAUD, Lygia. Os clandestinos e os direitos: estudo sobre
e, quando consegue entrar, é ridicularizado, recebe trabalhadores da cana-de-açúcar de Pernambuco. São Paulo:
bexigadas, empurrões e risos do público. Esta atitude Livraria Duas Cidades, 1979.
demonstra de certa forma a hostilidade contra os [4] TOHMPSON, E. P. Costumes em comum. São Paulo:
companhia das letras, 1998.
mecanismos de opressão e controle do Estado, [5] ARAÚJO, Edval Marinho de. O folguedo como veiculo de
explicitando um sentimento oculto de liberdade das comunicação rural: estudo sobre um grupo de cavalo
camadas marginalizadas. marinho. Dissertação (Mestrado em Administração Rural) -
Para Bakhtin, os espetáculos ofereciam uma visão de Departamento de Letras e Ciências Humanas, Universidade
Federal Rural de Pernambuco, Recife, 1984. 138 p.
mundo, do homem e das relações humanas, totalmente
[6] BAKHTIN, Mikhail Mikhailovithc. A cultura popular na
diferentes e deliberadamente não-oficiais, contrapondo- Idade Média e no Renascimento: o contexto de François
se a visão exteriorizada pela Igreja e pelo Estado. Para Rabelais. São Paulo: HUCITEC; Brasília:Ed. da UNB, 1987.
ele era uma forma de abolir as hierarquias, os [7] PATLAGEAN, Evelyne. A História do imaginário. In A
privilégios e os tabus [6]. História nova/ [sob a direção] Jacques Le Goff, Roger
Chartier, Jacques Ravel; tradução Eduardo Brandão. – 5ª ed. –
Segundo Evelyne Patlagean, a imposição social é São Paulo: Martins Fontes, 2005.
geradora de encenações de evasão ou de recusa do [8] REAL, Katarina. Discurso de posse. Arquivo Público
meio [7]. Esta afirmação traduz de certa forma as Estadual, 1962.
encenações de hostilidade da vida real dos brincantes
que, inseridos no contexto dos cortadores de cana-de-
açúcar da agroindústria canavieira, encontram no teatro
o escapamento ou a fuga de uma realidade hostil.
Bakhtin, ao estudar os ritos e as encenações