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”
Refletindo sobre narrativas de vida de refugiados
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http://unexhibitsny.org/in-search-of-solidarity
Tanzânia, Paquistão e Líbia, a mostra oferece também sete vídeos
com depoimentos de refugiados ou cidadãos deslocados. Suas
imagens e suas (sugestão suprimir) vozes relatando suas
experiências operam, aparentemente, como um fator de síntese e de
personalização das estatísticas apresentadas para ilustrar a proporção
do problema. A humanização dos dados e estatísticas de que dispõe o
órgão se faz necessária principalmente para atrair atenção e
solidariedade ao problema. No entanto, as narrativas de vida acabam
por ser submetidas a um processo de uniformização, de formatação
aos objetivos pretendidos. Nesse caso, o que está em risco é a
autonomia do sujeito que narra sua história e se narra no processo
de construção de sua autoimagem através da narrativa pessoal. Os
depoimentos, normalmente utilizando metodologias da História Oral,
obedecem a um balizamento pautado nos aspectos considerados a
prioristicamente como relevantes para a campanha – seja ela uma
exposição, livro ou arquivo digital permanente. Entre agosto e
setembro de 2016, em outra exposição sobre a crise dos refugiados,
na sede das Nações Unidas, mais estatísticas e imagens pungentes
atualizaram o conhecimento que o mundo vem adquirindo sobre a
crise.
Além dos previsíveis subprodutos provenientes das exposições e
campanhas sobre refugiados, outra exploração do tema vem se
registrando também no mercado editorial. No início de setembro de
2016, a jornalista Charlotte McDonald-Gibson publicou Cast Away:
True Stories of Survival from Europe’s Refugee Crisis (Párias:
Histórias reais de sobrevivência da crise de refugiados na Europa). O
livro é apresentado como uma das primeiras obras de narrativa de
não ficção sobre o desenrolar da crise de refugiados e da guerra civil
na Síria. Cast Away descreve as histórias dolorosas e as decisões
impossíveis que migrantes precisam tomar enquanto seguem em
direção ao que acreditam ser uma vida melhor. Segundo os editores,
a veterana jornalista oferece um vívido e próximo olhar sobre as
pressões e esperanças que levam os indivíduos a arriscarem a própria
vida. Na introdução, a jornalista expõe o cerne da questão ao
mensurar o impacto das imagens e das estatísticas sobre refugiados
mortos durante as travessias no âmbito político da comunidade
europeia. Segundo ela,
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Exibido no Museu de Arte Moderna, MoMA, em Nova York.
“ondas”, “fronteiras”, querem dizer exatamente isso. O repertório de
verbos também é eloquente. Movimentos, transferências,
interrupções culminam com um desejo ou uma esperança. Nomes de
cidades representam, por outro lado, mais do que indicações locais.
Figuram como possibilidades de parada e estabelecimento. No retrato
sem retrato que Kalili oferece dos narradores refugiados ou
imigrantes, o corpo está presente não somente na mão que traça as
linhas reais, assim como as vozes que relatam as jornadas, mas na
implicação do movimento dos corpos em seu trajeto de fuga. Pela
conjunção das vozes e a visualização dos mapas, os corpos carregam
suas dores, desejos, medos, ambições. A artista explica que seu
projeto é