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Comunicação ao II Colóquio Internacional de Direitos Humanos FND/UFRJ

Elidio Alexandre Borges Marques

UFRJ

Professor Adjunto do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos


Suely Souza de Almeida da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(NEPP-DH/UFRJ), Doutor pela Escola de Serviço Social da UFRJ, Mestre em Ciências
Jurídicas (Teoria do Estado e Direito Constitucional) e Bacharel em Direito pela PUC-
Rio.

Entre hegemonias e contra-hegemonias: para os estudos acerca das


contradições entre os Direitos Humanos e a modernidade capitalista no século
XXI.

O objetivo fundamental do presente trabalho é contribuir para a retomada e o


desenvolvimento das reflexões acerca dos processos sociais e político-econômicos
em torno do binômio efetivação/violação de Direitos Humanos. Desde logo, busca-se a
identificação de pontos de partida teórico-metodológicos adequados a uma construção
de conhecimento sobre Direitos Humanos vinculados à sua compreensão como
instrumental potencialmente emancipatório ou, em outros termos, dos Direitos
Humanos enquanto referências contra-hegemônicas (buscando reconhecer os
diferentes lugares ocupados pelos movimentos pela efetivação de tais direitos, de um
lado, pelo “discurso” em favor dos Direitos Humanos, de outro). Num segundo
momento se perscruta o potencial dos Direitos Humanos na construção de uma
contra-hegemonia no plano global.

Neste sentido assume-se um programa similar ao anunciado por Boaventura de Sousa


Santos em seu texto Por Uma Concepção Multicultural de Direitos Humanos,
enfatizando, no entanto, mais os obstáculos interpostos à efetivação daqueles direitos
por fenômenos localizados nas dimensões econômica e política da realidade
internacional do que pelas diferenças culturais tratadas pelo autor. Nomeadamente, a
proposta da escolha da versão de Direitos Humanos com “círculo mais amplo de
reciprocidade” – com maior potencial de inclusão de segmentos e aspectos da vida
humana – é apropriada como uma das referências do trabalho.

Com o mesmo objetivo geral de discussão do potencial contra-hegemônico dos


Direitos Humanos, assume-se aqui a contribuição de Joaquin Herrera Flores (Teoria
Crítica dos Direitos Humanos) ao situá-los como “processos de luta pela dignidade
humana”. Especial atenção merece a noção de antagonismo reiterada pelo autor em
sua contribuição conceitual no que se refere à relação entre a construção dos Direitos
Humanos e a “modernidade ocidental capitalista”.

Retoma-se ainda o referencial teórico marxista para a crítica da realidade


contemporânea. Tensões como a existente entre o programa supostamente
universalizante dos Direitos Humanos e o antagonismo entre classes sociais, por
exemplo, ou ainda as geradas pelas relações históricas entre a emergência dos
direitos na acepção moderna e a burguesia estão longe de encontrarem respostas
consensuais entre os autores que se reivindicam marxistas, com matizes que vão da
negação do potencial emancipatório dos Direitos Humanos à sua aceitação, passando
pela defesa de uma instrumentalização mais imediatista (e implicitamente descartável
a longo prazo). Dentre os autores que interrelacionam as categorias fundantes do
pensamento marxista e os processos de construção histórica dos direitos, a
contribuição de Antoine Artous (Droit et Émancipation) passa por afirmar a imbricação
entre as “lutas de classes” e a “positivação” dos direitos, com esta sendo resultante
eventual das primeiras, mas também mudando-lhe as condições de desenvolvimento.
Assim, os direitos aparecem não apenas como resultados das lutas sociais, mas como
integrantes do cenário no qual estas se desenrolam.

Uma vez assumidos os referenciais teóricos sobre Direitos Humanos e disputas sócio-
políticas, pode-se refletir sobre a construção das hegemonias e contra-hegemonias no
plano internacional e o lugar aí ocupado pelos fenômenos em torno de tais direitos.
Autores como Stephen Gill e Robert Cox apresentam leituras sobre o poder no plano
global que tomam em conta não apenas as capacidades materiais dos Estados, mas
também sua interação com as instituições e as ideias. Sendo inegável a presença dos
referenciais normativos de Direitos Humanos tanto no plano ideológico quanto da
institucionalidade internacional, é possível, a partir daí, apontar tensões e contradições
entre práticas e objetivos estratégicos dos Estados centrais (como um controle “ótimo”
dos fluxos migratórios, por exemplo) e os conteúdos de tais direitos. Assim, a
afirmação material dos Direitos Humanos coloca-se potencialmente no campo da
contra-hegemonia em relação aos centros de poder político e econômico do planeta.

Palavras chave: Direitos Humanos; contra-hegemonia; antagonismo; modernidade


capitalista.

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