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Antonio Paim

A AGENDA TEÓRICA DOS


LIBERAIS BRASILEIROS I

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Cadernos Liberais - 1
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INSTITUTO
TANCREDO NEVES

Uma Instituição jurisdicionada ao


PFL - Partido da Frente Liberal

Edifício do Senado Federal -Anexo I - 26 - andar


Brasília - DF - CEP 70165-9000 - Brasil
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Antonio Paim
© by Antonio Paim

Cadernos Liberais -1 A AGENDA TEÓRICA DOS


LIBERAIS BRASILEIROS I
Permitida a divulgação dos textos contidos neste livro, I
I
desde que citados autor e fonte. I
I|
Massao Ohno Editor II
Rua da Consolação, 3676 I
São Paulo, SP I
Cep 01416-000 I
I|
Composição: Estúdio Iara Lopez I'
Fotolito: Ajato I
Impressão: Lis Gráfica

1997 Massao Ohno Editor


Impresso no Brasil
Printed in Brazil
ITN

INSTITUTO TANCREDO NEVES

Diretoria
1996/99

Diretor Presidente: Deputado Vilmar Rocha

Membros da Diretória: Senador Hugo Napoleão

Deputado Inocêncio Oliveira

Deputado João Mellão Neto


(Diretor Secretário)

Deputado Eliseu Resende


(Diretor Tesoureiro)

Deputado Manoel Castro


(Diretor de Relações Internacionais)

Cláudio Lembo
(Diretor de Atividades Culturais)

Assessoria Executiva: Romero Azevedo


(Coordenador de Administração)
Cadernos Liberais
Mauro Salles
Esta nova série dá continuidade ao esforço de publicação (Coordenador de Eventos)
de 57 Cadernos Liberais editados pelo Instituto
Socorro Vasconcelos Lima
Tancredo Neves, desde a sua fundação até 1992. (Coordenadora de Secretaria)
i

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“Para copiar as instituições de um país e aplicá-las a


outro, no todo ou em parte, é preciso, primeiro que tudo,
conhecer o seu jogo perfeita e completamente... e não
copiar servilmente, como temos copiado, muitas vezes
mal, mas sim acomodá-lo com critério, como convém
ao País.”
Paulino José Soares
Visconde de Uruguai (1807/1866)
- Ensaio sobre o direito administrativo (1862)

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO

I - RECUPERAÇÃO DOS VÍNCULOS COM O


PENSAMENTO LIBERAL OCIDENTAL

a) O caminho percorrido 13
b) Iniciativas em curso 20

II-AGENDA TEÓRICA I
I
a) Hipótese geral 23 I
b) Como designar as principais vertentes liberais 24 I
c) O problema social 31
d) A família e a empresa como instituições nucleares
da sociedade 36
e) Posicionamento do Estado em face das atividades
económicas 40
f) A representação polítiça e seu aprimoramento 39
g) Problemática atual do Estado em geral e do
Estado brasileiro em particular 47
h) Repressão ao terrorismo e ao narcotráfico,
assegurada a preservação das liberdades
democráticas 58
i) Segurançajjúbljca e redefinição jo papel jas
Forças Axmadas 59 - ** — 1

j) As culturas nacionais em face da formação dos


grandes blocos económicos 61
k) Agenda contemporânea da educação liberal 64
l) O liberalismo e a questão religjosa 75

ANEXO - A OBRA E A PERSONALIDADE DE


SILVESTRE PINHEIRO FERREIRA 80

y
APRESENTAÇÃO

O movimento liberal melhor sucedido, entre nós,


até o presente, foi aquele que desembocou no Segundo
Reinado, assegurando ao País quase meio século ^de
^estabilidade política, fato que não mais se repetiria. O
segredo desse sucesso foi examinado de forma brilhante
por Paulino José Soares, Visconde de Uruguai (1807/
1866) no livro Ensaio sobre o direito administrativo
(1862). Na verdade, o conteúdo do livro consiste na teoria
das instituições imperiais, isto é, da forma de que se
revestiram no Brasil as instituições do sistema
representativo. Uruguai parte do registro de que, quando
empreendemos o caminho para estruturá-las a Inglaterra
já o havia feito com êxito e, desde a Revolução Liberal de
1830, a França seguia o mesmo caminho. Embora com
menor grau de sucesso, outros países europeus
empreendiam a mesma direção, enquanto nos Estados
Unidos o novo regime ia de vento em popa. De sorte
que, insiste Uruguai, a primeira coisa de que se ocupou a
liderança liberal do Império foi inteirar-se da forma de
funcionamento daquelas instituições em sua origem e
das respectivas doutrinas.
O passo seguinte consistiu em determinar quais
as circunstâncias locais que facilitavam ou dificultavam
aquele propósito. Em conseqiiência, a liderança não
só chegou a dominar plenamente a doutrina liberal
de seu tempo como foi capaz de elaborar a Agenda
Teórica apta a refletir as singularidades e preferências
brasileiras. É possível hoje ter conhecimento daquela
agenda a partir dos intensos debates então travados. I. A RECUPERAÇÃO DOS VÍNCULOS COM
Ao longo da República, os liberais brasileiros foram O PENSAMENTO LIBERAL OCIDENTAL
progressivamente perdendo os laços com os grandes
centros do pensamento liberal. A nossa geração, a duras
penas, conseguiu reconstitui-los. E, desde mais ou menos a) O caminho percorrido
os anos setenta, temos procurado definir a Agenda
Teórica que nos permitisse adotar uma atitude autónoma Durante a República, o Brasil perdeu sucessivamente
e criativa diante da doutrina liberal. Ao assumir aqui a os vínculos com o pensamento liberal no Ocidente. O prin­
responsabilidade de explicitá-la, louvo-me dos vários cipal introdutor da temática liberal em nosso país, Silvestre
escritos de autores liberais em que expressam a sua Pinheiro Ferreira (1769/1846), na condição de exilado
preferência por esse ou aquele tema. em decorrência dos propósitos absolutistas que então se
configuraram, em Portugal, obrigando-o a deixar a chefia
Antonio Palm do governo, em 1823, participou ativamente, em Paris, I
na década de trinta do século passado, da elaboração de I
São Paulo, maio de 1997.
importantes aspectos da doutrina liberal, a começar da
representação A liderança imperial, como se pode ver 1
dos livros então editados, acompanhou atentamente a
com vistas a
evolução do pensamento liberal europeu,
retirar ensinamentos que pudessem aprimorar a prática

política nacional.
Com a República, interrompeu-se abruptamente o
processo de aprimoramento do sistema representativo que
vínhamos trilhando. De todos os modos, na República
Velha, homens como Rui Barbosa (1849/1923) ou João I
Arruda (1861/1943) trazem a debate temas e autores
liberais de seu tempo, achando-se entre os primeiros que
perceberam o significado daquela vertente que mais tarde
11
se denominou de liberalismo social.
(1) Em anexo, inserimos uma breve nota sobre a obra e a perso­
nalidade de Silvestre Pinheiro Ferreira.

13
12
Com a avalanche autoritária subsequente aos anos
passagem pela direção da Editora da UNB, Carlos
trinta, os liberais foram sendo acuados para circunscrever
Henrique Cardim conseguiu editar muitos autores
sua ação à defesa da liberdade. Dizia-se no interregno liberais contemporâneos, como Nisbet, Dahrendorf,
democrático posterior a 45 - em tom de blague mas
Robert Dahl etc. Essa iniciativa não teve continuidade
refletindo uma realidade profunda - que a Constituição
naquela instituição mas surgiram diversas outras.
de 46, para sobreviver, teria que ser impressa em amianto.
No ciclo autoritário pós-64, proclamou-se enfaticamente O Instituto Liberal editou, desde sua fundação até
inícios de 1993, 45 livros, um terço dos quais autores
que o liberalismo havia acabado. No livro Legislativo e
Tecnocracia (Rio de Janeiro, 1975), o prof. Cândido
ligados à Escola austríaca. Os brasileiros comparecem com
Mendes avançou o entendimento de que na sociedade oito títulos (pouco menos de 20%). Os cinquenta por
cento restantes compreenderam a tradução de pensadores
complexa de nosso tempo o Parlamento perderia as suas
funções tradicionais, devendo transformar-se num foro liberais ligados a outras vertentes que não a Escola
de debates. Austríaca.
A década de oitenta marca uma reviravolta completa Entre os austríacos, a preferência é por Ludwig Von
na evolução política do Ocidente desde o último pós- Mises e Friedrich Hayek, tendo aparecido cinco livros
guerra. Até então, o socialismo parecia acumular vitórias do primeiro e quatro do segundo. O Instituto Liberal
sucessivas. Estas, entretanto, haviam levado alguns países patrocinou a tradução dos principais livros de Von Mises
a uma redução sem precedente dos padrões de vida e à - Ação Humana; A mentalidade; As seis lições;
perda de horizontes, sendo a Inglaterra o exemplo mais Liberalismo e O mercado, além de uma síntese do seu
flagrante. A reação de Mme. Thatcher conseguiu não só pensamento: O essencial Von Mises, de Murray
reverter o quadro em seu país como revelar aos habitantes Rothbard — e algumas obras de Hayek (Desemprego e
do Leste a grande mentira que representava o socialismo, política monetária; Desestatizaçao do dinheiro e O
caracterizado, em contraposição ao que alardeava, pelo caminho da servidão), bem como uma exposição sobre
sucessivo empobrecimento e pela destruição do meio suas idéias: A contribuição de Hayek às idéiaspolíticas I
ambiente. de nosso tempo, de Eamon Butler. Também dedicado à I
A subseqiiente queda do muro de Berlim, o divulgação das idéias dessa vertente é o livro: O que é o I
abandono do socialismo pelos satélites soviéticos e o Liberalismo, de Donald Stewart. Hayek já se havia tor­ I
aparente fim do Império Russo, tudo isto originou amplo nado autor conhecido no Brasil graças à publicação, pelas I
renascimento das correntes liberais, tanto na Europa Editoras UNB e Visão, dos seus livros considerados mais
Ocidental como nos Estados Unidos. importantes.
O esforço de reaproximar-nos do pensamento Das outras vertentes do liberalismo contemporâneo
liberal no exterior vinha de muito antes. Em sua no exterior, sobressaem os livros de Guy Sorman (A
nova riqueza das nações; A solução liberal; O Estado

14 15
e a última obra de José Guilherme Merquior (1941/
mínimo; Os verdadeiros pensadores de nosso tempo e 1991): O liberalismo antigo e moderno (Nova Fronteira,
Sair do socialismo), que se tornaram best-sellers em 1991). Evolução histórica do liberalismo é uma exposição
diversos países do mundo por se dedicarem à sistemática das principais obras do pensamento liberal,
popularização, em linguagem jornalística, do fenomeno associada à diferenciação temática que apresenta su
da ascenção do neoconservadorismo desde os anos seqiientemente. Assim, está caracterizada a fundação do
setenta, que culminou com o desmoronamento do liberalismo por Locke e Kant, nos fins do século XVII ao
socialismo no Leste, embora a nossa aproximação com século XVIII, bem como a consolidação do sistema
essa vertente deva ser considerado insuficiente, como representativo na Inglaterra, no mesmo período,
procuramos enfatizar, logo adiante. Outro autor muito
fenômeno isolado nessa época. O ciclo seguinte e
importante cuja obra o Instituto Liberal divulga no Brasil,
denominado de “processo de democratização da idéia
em caráter pioneiro, é Paul Johnson (Tempos Modernos).
liberal”, com destaque para a obra de Tocqueville e as
Posteriormente, desse mesmo estudioso, a Imago
divulgou uma obra o Instituto Liberal divulga no Brasil, reformas inglesas, onde sobressai a figura de Gladstone.
em caráter pioneiro, é Paul Johnson (TemposModernos). Segue-se a emergência da problemática social,
Posteriormente, desse mesmo estudioso, a Imago divulgou evidenciando-se o grande papel que tiveram os liberais
uma obra muito importante: Os intelectuais. A Imago no seu adequado equacionamento. O livro compoe-se
também editou a História Intelectual do Liberalismo, de de oito ensaios, de diferentes autores, inserindo em seu
Pierre Manent, e a obra coletiva; A Europa e a ascensão anexo um roteiro para estudo das principais obras liberais,
do capitalismo. do mesmo modo que para a organização de cursos. São
Nos anos mais recentes, a Editora Jorge Zahar tem os seguintes os ensaios que o integram: A formação
incluído autores de obras liberais em sua linha editorial. inicial do liberalismo na obra de Locke (Antonio
Acham-se neste caso: Omito da decadência dos Estados aim); A fundamentação do Estado Liberal segundo
Unidos de Henry Nau e dois livros de Ralf Dahrendorf ^nt (Francisco Martins de Souza); O liberalismo
(Conflito social moderno e Reflexões sobre a revolução doutrinário (Ubiratan Borges de Macedo); O
na Europa), relativamente divulgado no Brasil por ter ^sarnento de Tocqueville (J. O. de Meira Penna)-
figurado na Coleção Pensamento Político, organizada por Zj . eIe,corais inglesas (Antonio Pajm).
Carlos Henrique Cardim em sua passagem pela direção 0 rgenaada questão social eposição anterior a Keynes
da Editora UNB. Cabe mencionar, ainda, a divulgação ^.nesian.smo (Antonio Paim); A crítica dn
das obras de Michael Novak pela Editora Nórdica.
Nessa mesma linha de reconstituição dos vínculos
com o pensamento liberal no exterior, sobressaem os B- Macedo). P'nnil '
livros Evolução histórica do liberalismo (Itatiaia, 1987)

16 17
i
I
ll
A visão de Merquior em O liberalismo antigo e
Reality (Minneapolis University of Minnesota Press, I'
1986), de Robert Nisbet; The Conservative Inteilectual
moderno é multifacetada e bastante ampla, achando-se
Mouvement in America, since 1945 (N. York, 1979),
estudados todos os principais autores. O liberalismo
de Guy George Nash, e La révolution conservative
antigo (ou clássico) é situado entre 1780 e 1860,
américaine (Paris, 1983), de Guy Sorman. Seria
compreendendo a experiência européia propriamente dita
imprescindível divulgá-las de alguma forma, ainda que
e não apenas inglesa. É a fase de consolidação do sistema não obrigatoriamente através de tradução. Contudo
nos principais países, seguindo-se os percalços decorrentes deveríamos diligenciar no sentido de ser traduzido o livro
do processo de democratização. Neste formam-se América s Welfare State. From Rooseveit to Reagan (John
nitidamente duas vertentes: o liberalismo conservador e Hopkins University, 1991) de Edward D. Berkowitz,
o liberalismo social. Parece-lhe que “os liberais que muito contribuiria para a compreensão do
conservadores, desde cerca de 1830 a 1930, procuravam posicionamento do conservadorismo liberal em face do
geralmente retardar a democratização da política liberal, Welfare, já que só se tem difundido no Pais a visão e
sob esse aspecto, assinalaram um regresso à posição whig-
O liberalismo whig era essencialmente um liberalismo
uma de suas vertentes, a da Escola Austríaca, que não
parece a mais feliz. Berkowitz mostra como os
l
de representação limitada, restritiva” (pag. 149). O conservadores liberais têm-se empenhado no sentido de
liberalismo social singulariza-se pela preocupação com a alcançar maior eficácia das políticas sociais efetivadas com
situação social dos desfavorecidos e o desejo de substituir
fundos públicos, graças à sua atitude vigilante e crítica
a economia do laissez-faire. No ciclo mais recente, o
diante das burocracias estatais. A impressão qjje ’ se tem
antigo conservadorismo liberal assume novas formas e radicalmente
generalizado entre nós é a de que seriam i—
registra uma grande presença. A exposição de Merquior
é eminentemente didática e corresponde a uma notável contrários àquelas políticas.
Outro aspecto para o qual cumprir: chamar a
qual cumpriria
contribuição ao adequado conhecimento do liberalismo atenção é a importância que tem readquirido a atribuição
entre nós. Encerra-se por uma cronologia bastante a fatores culturais de papel destacado no desen
circunstanciada, notadamente no que se refere às obras e volvimento. Em parte, isto se deve ao retumbante fracasso
autores marcantes em seus respectivos momentos. das políticas patrocinadas pelo Banco Mundia que,
Em que pese o progresso registrado na aproximação
supostamente, deveriam ter disseminado a prosperi
ao liberalismo contemporâneo nos Estados Unidos e na Ao contrário disto, o subdesenvolvimento manteve s
Europa, estamos longe de haver adquirido uma virtualmente incólume na África e em grande parte
compreensão apropriada do neoconservadorismo, que Ásia e da América Latina. Num quadro desses, sobressai
consideramos o fenômeno decisivo para o renascimento o aparecimento dos chamados ‘Tigres Asiáticos. Como
liberal em nosso tempo. Três obras permitem situá-lo se explica o seu sucesso? A liderança de tais [
do ponto de vista histórico: Conservatism; Dreams and
encontra-se com Peter Berger — de quem a Itatiaia entre liberais e comunitaristas, iniciando-se também
publicou a conhecida obra?l revolução capitalista-, que o exame da crítica ao liberalismo desenvolvida pelos
dirige presentemente o Instituto de Cultura Económica sociais-democratas franceses.
da Universidade de Boston, a quem se deve a divulgação A Editora Expressão e Cultura está lançando a
de expressiva bibliografia. As teses de Max Weber voltam Coleção Sociedade Livre. Essa coleção tem por objetivo
a adquirir grande popularidade. Nesse particular, vem institucionalizar formas de acompanhar a reflexão
sendo atribuída a maior relevância ao fenômeno da contemporânea, nos mais importantes centros,
expansão das religiões evangélicas na América Latina. O principalmente nos Estados Unidos e Europa, em torno
lema em voga é o seguinte: “não há desenvolvimento do sistema que Kari Popper denominou de sociedade
sem empresários; não há empresários sem grande aberta e também se chama Democracia Representativa.
mudança nas crenças morais; não há crenças morais sem Nesse particular pretende-se ainda, em caráter pioneiro,
religião”. colocar ao alcance do leitor brasileiro textos de
importantes fundadores daquela meditação, ate hoje não
traduzidos. Além dos Escritos Políticos Ae. Kant, cogita-
b) Iniciativas em curso se de publicar a obra de Benjamin Constant, Humboldt,
Guizot e Gladstone. Autores brasileiros igualmente
No entendimento de Ubiratan Macedo, o debate comprometidos com semelhante ideário estarão sendo
atual e no futuro imediato travar-se-á entre os liberais e
os sociais-democratas. A social-democracia conta hoje editados.
com a preferência dos socialistas, e mesmo de ex-
comunistas, como é o caso da Itália. Dentre os grandes
partidos socialistas do Ocidente, o único que resiste a
essa opção é o Partido Socialista Francês. Paradoxalmente,
encontra-se na França expressivo grupo de intelectuais
que se tem ocupado de fazer avançar a doutrina social*
democrática e formular novos desafios ao liberalismo.
Atentos a essa circunstância, reconstituiu-se 0
Círculo de Estudos do Liberalismo, no Rio de Janeií°’
mantido e coordenado por Ubiratan Macedo. Este
grupo tem contado com a participação de intelectuais
dos diversos estados. No ano de 1996, foi passado em
revista o debate atual que se trava, nos Estados Unidos,

A
20 21 í J
II. AGENDA TEÓRICA

a) Hipótese geral

Parece imprescindível que nós liberais sejamos


capazes de selecionar aquelas questões teóricas que, sem
embargo de seu caráter universal, mais de perto digam
respeito à nossa realidade.
Discutiu-se muito, recentemente, a maneira pela qual
se distinguem as duas principais vertentes do liberalismo.
Tradicionalmente, os liberais organizaram-se em dois
partidos: o Liberal e o Conservador. José Guilherme
Merquior sugeriu que as duas correntes fossem deno­
minadas, respectivamente, de liberalismo sociale liberalismo
conservador. Os socialistas, nos diversos países e incluive
entre nós, vêm tentando colocar a todos num mesmo saco, V
sob a denominação de neohberais, a fim de atribuir
todos os males. Apesar disso, os liberais conservadores,
sobretudo os que se acham agrupados no Instituto i
estariam dispostos a aceitar a denominação. Esse passo
naturalmente encerra a discussão, passando a denomin
se a subdivisão existente como sendo entre / cr
social e neoliberalismo. De todos os mo os,
adiante o debate realizado. Automaticamente o
deixa de integrar a Agenda Liberal. Esta consistiria do
seguinte:

1 • O problema social
2- A família e a empresa como instituições I
nucleares da sociedade :•
23
Acreditamos que irão se deve obscurecer o 6» de
3. Posicionamento do Estado em face das que no seio do liberalismo, formaram-se duas vertentes
atividades económicas nucleares, justamente o que explica
plica hajam surgido
4. A representação política e seu apnmorameno Inglaterra os Partidos Liberal e Conservador. É cerro que
5. A problemática atual do Estado em geral e do o Partido Liberal acabaria, nos anos recentes, por abd‘c
Estado brasileiro em particular de sua existência autónoma ao fundir-se com parte do
6. A repressão ao terrorismo e ao narcotráfico, Pa,Social Democrata. Semelhante desfecho,
assegurada a preservação das liberdades contudo, não pode ser considerado como '“™fjnlhda
democráticas A fim de o que
7. Segurança pública e redefinição do papel das
do tema, seria necessário, a noss liberalism0. E,
Forças Armadas
8. As culturas nacionais em face da formação subseqúentemente, em que s &
de grandes blocos económicos social e social-democracia. liberais é o
9. Agenda contemporânea da educação liberal A questão unificadora de todos os
10. O liberalismo e a questão religiosa
compromisso com o
do sistema representativo, diferenciar o
da lei. Esse ponto serve .meU (também
conservadorismo liberal do fez as
b) Como designar as principais vertentes chamado de conservadorismo cat0 ‘ representativo,
liberais pazes com as instituições o sist como a família
entendendo que não são corpos na ^nservadorismo de
A primeira questão teórica que tem preocupado os ou o município. De sorte que o . ivamente para
liberais brasileiros reside na forma de conceber as Hayek-ainda que haja contri u . j0 merCado,
principais vertentes em que se dividiu o liberalismo. As a compreensão do papel inS“ S“alism0 económico -
preferências divergem abertamente: uma parcela as batiza
enriquecendo sobremaneira o enl busca
de conservadorismo liberal (ou liberalismo conservador)
tende ao tradicionalismo na m q [jfoeralismo
e liberalismo social. Consideram-se liberais sociais: Miguel alternativas para o sistema represe ltapisrno, com o
Reale, Marco Maciel, Gilberto de Melo Kujawski,
acha-se comprometido com
Ubiratan Macedo e outros. Acham que a palavra soci<d
fortalecimento da iniciativa Pr
está poluída e irremediavelmente comprometida com a d» mercado etc. Nerre par.icu « f»
tradição patrimonialista, entre outros, Roberto Camp°s os liberais sociais e os conserva ore
belecido profundas
e Meira Penna. Compreende-se que a preocupação destes o keynesianismo havia esta
últimos consiste em preservar a diferenciação entre °
liberalismo e a social-democracia.
25
24
impossibilidade de comparecer ao rraWho pomatões de
divergências entre ambos. Ainda assim, na atualidade, o
um elvdiaado
neoconservadorismo tem contribuído para atenuar tais
divergências porquanto reconhece que, embora perdendo
eficácia, o keynesianismo fez desaparecer as crises
cíclicas®. Contudo, esse notável impulso dado à
economia ocidental não foi suficiente para eliminar sociedade, baseada na P™P”'^X „„„„„ tais
fenômenos como a recessão, tendo mesmo surgida a verdade, acha-se melhorbaMuad-.J*

chamada estagflação. encargos que aque a « bmbn A„ Mogfof


Não se pretende, naturalmente, que estas simples Michael Freeden - p"don Press, 2’Edição, 1966,
pinceladas possam superar a divergência. Trata-se de socialreform. Oxfor , comprovou ser bem
p. 202/203. A experiência histórica co P‘ de
averiguar uma linha de aprofundamento. De todos os
modos, o liberalismo social e o conservadorismo liberal fundada a crença na oapacrdade P
têm uma base comum ampla e consistente, enquanto o promover o bem-estar da maio recentemente
P Dois autores brasile.ros f»» diferentes
primeiro nada tem a ver com a social democracia.
o tema da diversidade das vertentes i
O sociais-democratas revelaram grande acuidade na -nde ao livro
busca de defeitos do capitalismo. Mas embora hajam pomos de vista. O pnme.ro deles co daUFRS,
P.„ 1991),
renunciado ao projeto utópico das sociedades sem classes, O liberalismo (Porto Alegre, Entende que a distinção
não são capazes de reconhecer-lhe os méritos. Andam de Francisco de Araújo Santos. ' dtcTTconXá-la
sempre em busca de remendos. No debate ocorrido na entre as vertentes liberais pr°
Inglaterra, por ocasião das reformas sociais realizadas por encara a natureza humana Ate n seria a base do
Lloyd George, notadamente a Lei de Pensões para os entendiment , sta estaria
como estável, no seu oa visão oposece
Velhos, o NationalInsurence Act, de 1911, instituindo conservadorismo libera ■ nqui^ essencialmente
seguro para situações transitórias de desemprego ou a na raiz do liberalismo, de incH
democrática. remonta a Hume, l^n
A linhagem conservadora remo
(2) A tese de que o keynesianismo livrou o Ocidente das crises cíclicas louva-se do ' "tsSemHayekémr-s
fato de que, entre 1951 e 1973, a economia dos países desenvolvidos cresceu
Adam Smith, coroando-se
ininterruptamente a taxas anuais médias de 5%. Nos padrões anteriores, o período escreve o seguinte: “ ••• o m^' “idealismo kantiano •
deveria ter experimentado três dessas crises cíclicas, uma para cada sete/oito anos, ^reded°à qual deve-se adaptar
deixado prender na secreta
porquanto, nos 150 anos precedentes, os economistas consideram que o capitalismo :zahumanaàq^mens deveriam
experimentou cerca de vinte crises cíclicas, processo esse que culminaria com 3 há uma estável nature^-
catástrofe de 1929. Não se exclui que outros fatores hajam contribuído para tal uma estável Constituição,fazHayek) ou aos negócios
desfecho, o que nem por isto obscurece o fato de que Keynes é qucm recomendou 3
intervenção (indireta) na economia a fim de manter certo nível de emprego, além do dedicar-se à pesquisa (com
apoio à reconstrução alemã, ao invés da política praticada após a Primeira Guerra
Mundial, que acabaria engendrando a segunda conflagração.
27
(como fazem os comerciantes e industriais) e deixar a das diferenças históricas ou nacionais, no livro Entre o
Constituição em paz. Implícito nisso há um juízo sobre dogmatismo arrogante e o desespero cético (Instituto
a preponderância da atividade económica em face da Liberal, 1993), Alberto Oliva tentará comprovar a
atividade política. Ou ainda: um “engessamento” do existência de uma gnoseologia capaz de justificar as
político em favor de um dinamismo económico. preferências. As bases dessa teoria do conhecimento
Restaria ainda a pergunta: como implantar essa seriam lançadas por Locke, ao afirmar que “talvez haja
Constituição no país que não a tem? Nesse passo, baseado razão para suspeitar-se de que não existe a tal coisa
em corolário deduzido de suas premissas kantianas, chamada verdade ou que a humanidade não tem meios
Hayek, o grande adversário da implantação de sistemas suficientes para dela alcançar um conhecimento certo”.
sociais [social engineering), acaba se tornando propa­
A construção do que se denomina de epistemologia
gandista de um sociale/^/neer/hg-liberal (C. Kukathas).
modesta muito se deve a Hume, ao mostrar que os
Está implícita em Hayek a necessidade de transplantar
procedimentos generalizadores que adotamos, por hábito,
a Constituição dos clássicos do Liberalismo escocês,
podem não se justificar, do mesmo modo que na sua
simultaneamente com a impossibilidade de aceitar a plena
crítica à inferência indutiva.
democracia política. Assim, paradoxalmente, o kantismo
O processo coroa-se com o critério de avaliação
ayek acentuaria em Hume não o dinamismo elaborado por Popper. Eis a síntese do seu conhecido
Programático mas a fixidez idealizada de uma tradição, lema: “Um sistema deve ser considerado cientifico apenas
^en o correta a análise de críticas recentes, não seria em se faz asserções que podem conflitar com observações, e
/ ’ PeSar riqueza de suas análises, que iríamos
um sistema é de fato testado por tentativas de produzir
contenb ° me^or Su*a> mas em outro gigantesco esses conflitos, isto é, por tentativas de refutá-lo .
b
ATn'°’?IP°»“''.(p.78) Segundo o entendimento de Oliva, o libera ismo
emLockp Apem emocrática encontra seus fundamentos caracteriza-se por este reconhecimento do caráter limitado
seguros ou c '""a Ót'Ca de L°cke falava em princípios do poder da razão, enquanto as doutrinas socia is^
mundo em "°S abria Para 35 incercezas de supõem que suas crenças seriam racionais. Poppc
racionalidade^ T° temos '^dias inatas. A mesma adverte: “racional é suspender a crença .
não estar sufir ^Ue undamentava a nossa vontade pode O argumento básico de Oliva contra a Pr
PírsonalidadádT111611^iluminada”- (p. 35). As grandes dogmática de impor o planejamento parece re$
Araújo Santoc r matr*z seriam, na visão de Francisco reconhecimento da dispersão do conhecimento
Reale. ’ J°hn StUart Mill, Karl popper e MigUel “Ora, se o conhecimento encontra-se
indivíduos e se todo enfoque que cada um e
fiUe permita dicr-^ de buscar um princípio orientad°r ao fluxo potencialmente infinito da exPfnenACI* • tâo
letivo, mesmo quando se está fazendo ciência,
1IlgUIr 05 liberalismos, desta vez acima

28 29
I
nao há como postular a posse de uma sabedoria sobre,
por exemplo, o completo funcionamento do Sistema a denominação de neoliberalismo^ uma das vertentes
Social. Consequência disso é que não há indivíduo ou em que se subdivide o liberalismo.
grupo capaz de com base em adequado conhecimento
arvorar-se em planificador da “racionalidade social” e em
c) O problema social
d'í„stituições d„em scr
Antecedentes

No Brasil os liberais têm sido vítimas de insidiosa


i“ ”4 <iiSP'rS“eà '”™*d«
campanha destinada a fazer crer que estariam de costas
p;«a viííncil 7xx^7„r"d° “ r s°b a
planificação central àmulrinl- u , tar subJugar a
voltadas para a situação social das camadas desfavorecidas.
Trata-se de uma acusação gratuita que não resiste à prova
disPõe de efetivo conhecfme S°bre a qual não se dos fatos.
imposição de um nrn- nco’ S° e PossíveJ pela Do ponto de vista teórico, do mesmo modo que
das ações, cuja ambição re8ulamentaÇâo em relação à experiência do mundo desenvolvido, os
variedade de persDJv .m_a,°réreduzir a riqueza e a liberais sempre estiveram na vanguarda dessa questão.
d« competição no mercado^'15^"1010810^’ existenciais e Ainda no século passado, é de sua lavra a distinção entre
via Estado fone como l ’ monocdrd’a visão dos que, indigência (“estado da pessoa incapaz de obter, em
a°S- Projeto ;olítiCo..er a - submeterem retribuição ao seu trabalho, os meios de subsistência”) e
A partir de lpa8s'23/24) pobreza (“estado daqueles que, para obter a própria
^mula concepções embaMmento teórico, Oliva subsistência, são obrigados a recorrer ao trabalho”). A
do Estado e da felicidadT bberdade, da justiça, indigência compreende os incapacitados a manter-se por
*ub*ulo adotado
adotadi Del„ Sa parcela obra explica
da obra explica o si mesmos, de igual modo que os velhos e os enfermos.
Andamento da viSã0 d°(a^°r: <<A negatividade como Os liberais firmaram o entendimento de que estes últimos
O tenia siicrk Um ttundo liberal”. não podem ficar na dependência apenas da caridade
^Prensa, entre os ,nrXr>
“ • Í Uni 8rande debate pela privada, devendo ser estruturado, para atendê-los, um
L Pri°S llbefais. Esse debate pode sistema público e legal de amparo, mantido por
“-SXr» ° ■ corolário da discussão: os
nominação de neoliberais e
contribuições compulsórias.” Quanto ao mundo do
trabalho, é de origem liberal o principio de que se deve
em distinguir-se dos liberais repousar num contrato, onde estejam claramente fixadas,
i«4ô“iensiM 9Ue muitos nomes invocados entre as partes, direitos e obrigações.
acabaram perdendo essa Na Inglaterra, que é o país pioneiro, nessa como
- o mesmo ocorrerá com em outras matérias, quando se tratou de implantar a
30
31
chamada legislação do trabalho, os
sindicatos
empenharam-se decididamente no sentido de c- - predominante de benefícios nos Estados Unidos. Quando
que a
prerrogativa estivesse circunscrita aos sindicalizados esses recursos, no todo ou em parte, provêm do Orçamento,
Deve-se ao Partido Liberal a circunstância de que ela acontece exatamente o contrário: reduzem-se as dispo­
tenha se universalizado. 4 nibilidades para aplicações reprodutivas. Tal é a
iiberat sÍh^ também é da iniciativa situação na Europa Ocidental, com maior ou menor
intensidade. Assim, por exemplo, o seguro desemprego
na Alemanha é mantido por contribuições paritárias de
Subsequentemente, Keynes estabel Pnmeira ,gUerra’
empregados e empregadores (40% cada), enquanto ao
“ Pr,"C,pi“ Estado compete a menor parcela (20%). Na França e
desenvolvido as situac"5^0’^^^6^ n° mundo na Inglaterra, entretanto, o sistema é sustentado,
basicamente, com recursos públicos.
enfrentara questão da rTk ° mdlgencia- políticas para
no livro O libe /P° rezaf°rarnP°rmim estudadas Cabe-nos, portanto, ao acompanhar essa discussão,
estarmos atentos para a diferença de situações. Nos
brasileiro 1995-r con[emPorâneo (Tempo
’CaP‘tulo sexto-A questão da pobreza). Estados Unidos, a discussão é sobretudo moral, enquanto
que na Europa sobressaem os aspectos económicos. O
Questões atuais importante, ainda assim, é que tenhamos presente esta
experiência quando se trata de se constituir no Brasil um
sistema equiparável. Entre nós,na verdade, salvo no que
0 constituiu-se o se refere a castas privilegiadas, as aposentadorias são
garantidos vári/k onde as pessoas têm ridículas. Embora a Previdência não receba recursos
^‘stênciamédico^ ^ÍÍCIO& sociais, notadamente

^«C±sp* :emPreeo Ac j [emuneraÇão assegurada


JLA ’ Validades de fazê-lo variam
Públicos, sendo sustentada por contribuições dos
empregados e empregadores, bem como dos autónomos,
esses recursos são mal geridos e as pessoas não têm
la sugere que tais prerrogativas liberdade para buscar outras alternativas, já que se trata
- 3 ■■4uando financiadas com de sistema compulsório e obrigatório.
ocorre. QUan j ri,Os' fêcil
compreender porque isto A discussão teórica do tema aqui considerado foi
Seguro ~ rnantido°S benefícios ______
são cobertos mediante efetivada por Ubiratan Borges de Macedo no livro
^ empresas aq°LC°ntrÍbuiÇõ« dos beneficiários
;e LiberaJismo eJustiça Social(Ibrasa, 1966). No livro em
undos que são « recurS0s passam a constituir
que são aPreço, Ubiratan de Macedo evidencia como essa idêia
nielhor rem °S em at'v'dades capazes de
segurar aa melhor tOrnou-se definidora de nosso século para, em seguida,
damad»> FundosdeP :™t“"«ção. e!S!, i „ origem traçar-lhe a história desde os seus primórdios. Em
- ensao, qUe constituem a forma continuação, mostra como a entenderam os primeiros

32
33
efeitos diversos. O terceiro pressuposto, aceito por todas
formuladores do liberalismo social (Green, Hobhouse as vertentes, é a concepção da sociedade como uma ordem
etc.), os marxistas e a Igreja Católica, enunciando os
marcos fundamentais da meditação contemporânea. não planejada.
Ubiratan de Macedo minimiza a divergência de
Depois dessa visão panorâmica, deter-se-á na análise Hayek com a ideia de justiça social, concebida segundo
circunstanciada de dois posicionamentos básicos diante os pressupostos antes explicitados. Segundo supõe, admite
o que chama de “justiça dos comportamentos”, isto é, a
da matéria, a saber: o católico e o liberal.
obediência a regras fixadas por um tipo de justiça
Segundo Ubiratan de Macedo, os católicos em sua
maioria consideram a justiça social uma virtude, vale processual que conduza à igualdade de oportunidades e
dizer, uma regra interna de perfeição moral. Assim, não reconheça a impossibilidade de influir sobre os resultados.
corresponde a um estado de coisas independentes das Caberia lembrar aqui o que já dizia Max Weber: a justiça
pessoas mas um princípio orientador da ação dos católicos. que se proponha assegurar a igualdade de resultados deve
começar por cometer a suprema injustiça de punir aos
Segundo o seu entendimento, os católicos que enxergam bem dotados. A esse propósito, conclui Ubiratan de
na justiça social um estado futuro da sociedade, a ser
alcançado pela revolução, discrepam do grande estuário Macedo: “Esta afirmação não tira o valor da justiça, nem
0
atenua o significado da ordem instaurada sobre ela, mas
formado pela tradição de Roma. Acham mesmo que indica apenas, sob outro aspecto, a necessidade de recorrer
apa Joao Paulo II encerra o ciclo em que a instituição às forças bem mais profundas do espírito, que à própria
condenava o capitalismo, reduzindo essa condenação ao
per odo inicial (manchesteriano) do século XIX, ante- ordemOda
pensador .
justiça”português João Carlos Espa a...
Pu
, C-1S aÇã° Protecionista do trabalho, dando agora em inglês importante estudo dedicado ao assunto de que
a esao ao capitalismo ocidental moderno. ora nos ocupamos. Denomina-se Social ,tiz^ns ,p
oarm j dÍVerg‘ndo em certa medida, os liberais Rights. A critique ofF. A. Hayek and RaymondPlan .
L ' preS*UP°stos “muns. Ubiratan de Macedo (Mac Millan Press, 1996), livro que mereceu
regras m ec'mento Que a sociedade formulou apresentação de Ralf Dahrendorf. Acalentamos
Pela oua?38'3 °raS da prore9âo dos direitos sociais, razão
esperança de vê-lo traduzido e editado no
felacion d dÍSCUtir abstratamente questões Do que precede, verifica-se o grande interesse qu
os liberais dedicam à questão social, ao contrario .
igualdade d rresP°nde à recusa da busca de unia supõem e afirmam os nossos detratores, a e n ’
programai ferais estão engajados nos sistematizar essas posições e estimular o e ate

'"alienáveis á 4 * PeSSOaS) P°r aptidões individ remas rais como


contraposição à igualdade de resu ta
Ulíl
(igualdade rU Part*r dessa conquista social com
°portunidades), certamente produzi1^0
55

34
1
I
I
I
l
chamar a atenção para o significado que devemos atribuir
à família e à empresa. Na época em que publicou aquele I
condições e limites deve exercitar-se a responsabilidade
livro ele era prefeito de Saint-Claude e Senador da í

pública por situações de pobreza, entre outras questões. !


República (na França as duas funções podem ser
instituições acumuladas). No Senado presidiaa Comissão de Assuntos
d) A família e a empresa como Sociais. Entendo que essa advertência guarda plena
nucleares da sociedade atualidade e pode nortear a ação dos liberais brasileiros
No plano internacional, o tema da família tem sido em questões as mais relevantes.
Nas particulares circunstâncias brasileiras, as
obscurecido pela presença do movimento feminista que questões adiante relacionadas fazem sobressair o papel
pretende examinar a questão como se se tratasse de luta
da família, a saber: a situação de total calamidade a que
de classes e substituir a “hegemonia” masculina pela chegou a escola fundamental, o que a torna incapaz de
feminina. Talvez seja apenas na Inglaterra onde o assegurar, como seria de seu dever, a unidade cultural do
abandono, pelas mulheres, de suas responsabilidades país, em face da revolução que significou, nas últimas
familiares, em prol do exercício de funções exigentes de décadas, o grande afluxo, para as cidades, de pessoas
grande dedicação no mundo do trabalho, vem sendo originárias do meio rural; e, em segundo lugar, mas ta vez
correlacionado à difusão das drogas entre os jovens; ao primeiro na ordem de importância, o fato de que a prin
declínio da idéia de paternidade responsável que se cipal corrente religiosa do país, a Igreja Católica, so s
ncia na proliferação de mães-solteiras; e à falta de ocupe de questões políticas. Cabe aos liberais assumir
P pectiya em amplos setores da juventude, de que
essa bandeira, se querem de fato apresentar se
suita deixem de ter presente a continuidade de nossas
nação com um projeto diferenciado.
ie a es, que recai sobre os seus ombros. De todos os Nos últimos tempos, tornou-se moda legislar so
acomn’ Tm° t6 em outros aspectos, cumpre-nos direitos da criança e do adolescente”, o que precisa ser
em en^ T * dlSCUSsâo mundial em torno dos temas denunciado como proposta nitidamente•
cm epígrafe. tendente a reduzir o papel da família na socie a
nalidade HberaÍf feCente’ coube à destacada persQ' Rousseau, a tradição totalitária soube entrever n
intití/ a francesa. Jean Pierre Fourcade, no livro 0 Obstáculo autêntico às suas pretensões^ “^struir um
^tação social-democrata (Paris, 1985) revitalizá-la é caminhar no sentido d
projeto liberal para popularizasse a
. • • rtiiberalis^oS°^os
(1)0 título do livro prende-se ao seu empenho em distinguir ° fat0 je qu6
responsabilidade ter deixado q jeumacon-
da social-democracia. 0 aspecto fundamental que destaca resi e n aQ gsta expressão “meninos de rua”, A Constituição
sociais-democratas, quando atribuem essa ou aquela responsa i1 considcr?
esquecem que este configura um polo de interesses, não poden o s f ^uC scj
seqiiência da paternidade irrespo
como instância neutra, como às vezes procuram fazer crer. Quais _rsOs paf3
as situações, a burocracia estatal sempre há de carregar os re deS.finS-
atividades-meio, beneficiando a si própria, em detrimento das ati 37 <.

36
p« exemplo. qu»do o
“"d0SÍSteTSe XXlmàpmpnedxde
preconizam o dir P P televisão mostrou-
comi ao Poder Público exigir, dos pais ou resPon“’ e fomentar d'“"’k.ndo ou liderando .
a frequência das crianças à escola. Essa tra içao i er nos o padre Leonardo em petrópolis. O
^«i»set ^orsd.ení. o conformismo com. invasão de um prédio e aParta™. d em suspender
primeiro ato do governo Collor consts^ a
d'SS°Nós° itn” não devemos temer que os soci.lmM
a vigência do direito e pro bancários. Num
nos acusem de querer restaurar a família patriarca . er poupança ou até simp es condiçâo de pivete ou
esta a fórmula tortuosa com que reconhecerão os quadro destes, e natura l ititnada para parcela
verdadeiros propósitos de fazer sucumbir a instituição assaltante se apresente com pça ^dade maior
familiar. A família patriarcal foi superada pela própria expressiva da população urbana. socialistas, que
vida mas não a família em si mesma, que pode ser uma por esse estado de coisas $ repousa a
instituição fraterna e solidária, onde a autoridade dos p^$ enfraqueceram os va ores so o propriedade,
resulte do livre reconhecimento e não de uma simp convivência democrática, como emprego e 0
imposição. A família contemporânea, qtie cultive
solidariedade, não pode omitir-se diante da discussão
apreçopel° em^ltXmc?meoa-"bredÍente fUnda'
oreconhecimento do trabalho com
todas as questões. Assim, o nosso reconhecimento^ mental na realização da pessoa n0 Brasil,
Oliveira Viana tinha razao enquant0 a
legitimidade das relações sexuais antes do matrim
não significa conciliar com a permissividade. Os J° não podiam florescer instit Ç . gquivocou-se ao
de hoje não podem continuar sendo educados como sociedade fosse clínica e patoatc
não tivessem que assumir a criação dos próprios filhos e^ _ pero do seria capa resultar da
portanto, a continuidade da comunidade naciona
prevalência de valores liberam ^brasileiras, as ma
preocupação com os índios e com o meio-ambieo^’
fomentada pelas escolas freqiientadas pela classe me < que as tradições cultura15 ,bante ideário, o ^ue
ida arraigadas, não favorecem se ^ente a criticar
inserem uma inversão da hierarquia de valores. De ”
da obriga não só a promovê-los ^rra-reform-tas e
adianta cultivar uma atitude conservacionista di^n^
iedade:» denunciar aquelas tradiçoe ^orizadoras d
natureza, deixando combalidos os pilares da soci- mercantilistas, depreciadoraslu^ e privado,
família e a empresa.
Reconhecer a empresa como pilar da sociedade» trabalho e indutoras da con ,Q
ao exaltar a riqueza em maos d
caso brasileiro, pressupõe que se trate de revita 12 $
propriedade como um valor. Não é de espantar os ”
e degradação moral registrados na atividade pu
39

38
I

lfi) A compreensão da natureza do Estado


I
e) Posicionamento do Estado em face das Patrimonial. A bibliografia disponível no país é expressiva
e o aprofundamento dessa compreensão pode permitir
atividades económicas
seja o denominado “socialismo real” situado como uma
Os níveis de estatização da economia “ia brasileira das virtualidades do patrimonialismo;
foram alcançados 2Q) Apreender o sentido profundo dos estudos da
aproximam-se bastante daqueles que
pelos países socialistas. Encontra-se, ainda hoje, em mãos Escola Austríaca relativos ao funcionamento do mercado,
do Estado a infra-estrutura de transportes, comunicações sem embargo de ser preservado o espírito crítico em
e energia elétrica. Apesar dos programas de desestatização, relação a muitas das soluções que aponta (como, p. ex., a
liberalização dos bancos emissores) desde que simplórias
os avanços nessa esfera são tímidos (transportes e
comunicações) ou nulos (energia). Os levantamentos da
32) Embasar
e irrealistas; e, teoricamente a concepção dos
Fundação Getúlio Vargas, relativos ao património das
maiores empresas industriais e de serviços industriais, mecanismos reguladores da economia, tendo presente a
indicam que, em 1996, mais de 60% encontram-se em experiência dos países capitalistas.
mãos do Estado. E tal se dá depois que foram privatizadas
as indústrias siderúrgicas e petroquímicas. Nesse cômputo
não se inclui o sistema financeiro, onde há mais de oitenta f) A representação política e seu
organizações pertencentes ao Estado. O seu domínio
aprimoramento
sa esfera é absoluto, embora se deblatere contra os A liderança liberal do Império aceitou a doutrina
os privados e tudo se faça no sentido de fazer crer elaborada por Silvestre Pinheiro Ferreira quanto à
que dominariam a vida económica do país. natureza da representação como sendo de interess
lante dessa realidade, portanto, que Desse modo, discutiu-se sobretudo quais inte
deveriam fazer-se representar, ou melhor, a amplitude
tese do “F j Cm°Srecusar a arí#adilha em torno da
de que deveria revestir-se (correspondente ao t
contr^uiriaparaobçmínÍm0>’ POrcluanCO somenJe Apresentação das minorias, discussão sistemat
onde o Estad P ° Urecer a Sltuação concreta do país, Walter Costa Porto no livro O voro no Brasd Brasília
burocracia nr°est* devotado a beneficiar a 1989). Durante a República essa doutrina foi abando
0 Estado dasTr^u^*A nossa tareía é conseguir reCiraf I
e o tema, na verdade, nunca esteve nas cogltaí° I
no sentido de Ero<^ut*vas diretas e contribuir
estudiosos nem da liderança política-E I
segurança ** Volte preferentemente para a
era necessário, preliminarmente, re
merecer a nossa pref teór*C0’ temas deveria#1 da natureza da representação política.

41 d

40
II
Trata-se, no entendimento de Meira Penna, de um I
verdade.ro mtlagre o fato de que “o próprio egoísmo
individual, incoercível e relutante da natureza humana
em sua essência, biologicamente postulada por Darwin e
teologicamente certificada peia doutrina ortodoxa do
próprio - e
bate de filosofia mordA^l ^^7' j Um ^ganKsco de- pecado original”, conduz ao progresso e ao bem-
uma mente formada nelo í nCepÇa° eêoisrno horroriza comum”.
Pela tradição de contrapor paixão e contemplação, o
insistimos, éé „„ 'mperat'V° da caridade cristã...
0 f«o, insistimos,
interesses egoístas ’ nUma neg°c'aÇão comercial
dois interesses cidente acabou identificando a primeira com interesses
conscientemente, franca 6 rentarn- Claramente, subalternos. Kant, entretanto, procurou impulsionar uma
^rezemqueosdoi arc^re' Como num jogo de outra noção de interesses, distinguindo-o de inclinação,
«da um é ganhar a pLu bem 0 objetiv° que c sempre determinada pelos instintos (pelas paixões).
Na visão do eminente pensador, pode haver interesse por
curvam humildemente àc 3 a° 171651110 tempo, se
confronto na transação ' d° JOg0’ A soluÇâo do uma ação moral (uma ação por dever, no entendimento
chave do problema 0 í raJ°naJ’ nao é violenta - eis a
kantiano).

matao adversário. qUe perde a Partida não Creio que é a partir dessa distinção estabelecida
na aparcncia é um‘‘víc'^’ ee^mÍtb têm O que, por Kant que, no processo de democratização da ideia
hberal, os interesses conquistam a sua legitimidade.
urn benefíci0 público A .,pnvado aca^a redundando
p°de ser regulada Po' de qUe a vida económica Educado segundo o espírito do liberalismo inglês (que
Candadeé falsa e diabóliC°nS;deraÇÕes de a'^uísmo e em seu tempo — começos do século XIX — ainda era
denominado de direito constitucional), Silvestre
«HdadTe San[° Agostinhò TprÍmarÍamenK Pinheiro Ferreira iria estabelecer, como dissemos, que a
v: e ° anior se nr J a PerPeitarnente que a
Xante na C,dadede Ddem à esfera d0 Amolei, Apresentação política é de interesses.
Louvando-se do caráter negativo da experiencia
diase a<ÍUe,a eni que ef/^’ 30 paSS0 ^ue a caridade
afemã pós-unificação (1870), quando os prussianos se
Pelo ACOmerciaJ1ZamosnesetlVarnente vivemos todos os
atribuíram inúmeros privilégios, disputados por outros
ilusões. Sui> 0 egoísmotesmUndA °bsceno’ é regu,ada
grupos, Von Mises supõe que o liberalismo deveria situar-
Agosti«l>» âlà eraST
no m • O<^UeestamoçJ;
M‘°nÍ° “nl”
hipócrita - e a
se acima dos interesses, o que entendo ser grave equívoco.
De sorte que, diante da difusão que tem merecido no
edÍfício dasSDXdced^XaCOmperfeÍÇâ°
ÍP.42/43JOSO Ofício Brasil as idéias desse pensador austríaco, a questão teórica
idades agostinianas . do interesse adquiriu enorme relevância, levando em
conta que é a partir dessa visão negativa que Von Mises

42
43
I

Mensal 490, janeiro, 1996). Assim, previamente ao I

tema da representação e seu aprimoramento, seria


imprescindível levar a bom termo essa discussão acerca
e»«s.,d0esmiut„p„ido!po,(iicos’um o interesse. Resumo adiante o que penso seria o
““d- perante a opinião plíblica - tarefa à „,„l entendimento liberal.
Maerata não podemos rcnundar _ « ’ ™ No plano teórico, creio que ao pensamento liberal
cumpre estimular a multiplicidade de abordagens, com
a ressalva de superarmos a visão pré-moderna que
vinculava os interesses a algo de subalterno. Nesse par­
-«ç^:“:~“par,idos ticular, creio que Celso Lafer (Ensayos liberales, México,
Fondo de Cultura Economica, 1993) apresenta uma
sugestão criativa e de grande valor heurístico ao fixar
distinção entre “paixões (a serem domadas); interesses
(coordenar e regular); e necessidades (atender ou
reprimir)”.
entre liberalismo econarece haver idêntica confusão No que respeita ao plano prático, suponho que
e a doutrina moral nnr í^0’ na versão de Adam Smith, poderíamos concordar em pelo menos dois princípios
Smith desenvolve a do/tC SUS jCntada- sua obra moral, basilares, que enunciaria deste modo:
segundo Hume qUe °a asiínpatia (instinto básico, 1Q) Admissão de que todos os interesses são legítimos.
Unia P^503 Quecomprí ^Uando coramos por Aquilo que não pode ser objeto de barganha ou disputa
s°dalerigiuo e Uma gafe, sobre o qual a vida deve estar expresso com clareza na Constituição (a
er'a este o sentimento a9uela denominação). inviolabilidade do território; o compromisso com a
ei moral convencj e eVana as pessoas a cumprir a manutenção e o fortalecimento das instituições do sistema
Luigj Bagolon’ froPósit° dessa doutrina de representativo; etc).
e,dltado Pdo pjf Mi‘P7 o"1* CUfS0 em São Paulo,
2fi) Os partidos políticos são a principal instituição
°Utrina da simpatia c- e ^ea'e (Moral e direito na
mcumbida da coordenação e da defesa dos interesses dos
Ao «nbuir a m’,'10 Paulo> Saraiva, 1952).
vários segmentos da sociedade. Em prol da governabilidade,
Juestao, procurej "nportância ao debate dessa a legislação eleitoral deve obrigar ao afiinilamento dos
no autOres brasi|P;lr ° tem s‘do aventado por interesses, que podem ser adequadamente representa os
Çao de interesse Par ensaio “Significado da
por reduzido número de agremiações.
Os ferais brasileiros” (Carta

44 45
No que se refere ao aprimoramerrto da repre-
A creio que caberia fcinp* a siruaçâo bras.le.ra
g) Problemática atual do Estado em geral
e do Estado brasileiro em particular

Embora apresentem-se de forma relevante as


revelou-se incapaz de organizar a expressão da von ad
questões económicas, notadamente as do Estado-
da massa eleitoral, graças à permissividade em mate
empresario e sua superação, o tema do Estado precisa ser
de partidos políticos (mais de trinta). O único dos pais
considerado especificamente.
mais populosos, dentre as democracias, que insiste no O núcleo do debate deverá consistir no deno­
sistema proporcional é a Espanha. Nos demais (Estado
minado fim da soberania do Estado Nacional, em face
Unidos, Inglaterra, Alemanha, França e Italia) a
da formação das grandes aglomerações regionais
estabilidade política acha-se nitidamente associa a
(Mercado Comum Europeu; NAFTA, MERCOSUL
sistema majoritário (distrital). Assim, é preciso e
reforma política de que resulte a melhor estruturação e provavelmente SAFTA, para junção num único bloco
eleitorado e a redução do número de partidos. que poderia denominar-se AFTA, etc.)
Quanto ao aprimoramento subsequente que se A questão não parece resumir-se à efetivação de
políticas conjuntas, entre os integrantes dos blocos,
verificado nas maiores democracias consistem basicament
havendo muitos aspectos obscuros e que provavelmente
no seguinte: lfl) graças aos avanços verificados n
exigirão certa experimentação. Em que pese a confluência
processamento de dados pelo emprego do computa de liberais e sociais-democratas em matéria de políticas
os partidos políticos ampliam a consulta aos seus fi ia 0
A última (1994) escolha do líder do Partido Trabalhista conjuntas na Europa, isto naturalmente não significa que
da Inglaterra foi feita mediante eleição direta, aberta as divergências hajam sido superadas. Tampouco é
todos os filiados; e, 2Q) os temas que afetam diretamen provável que o Estado nacional vá desaparecer.
A discussão tem naturalmente uma componente
as comunidades (notadamente questões municipais) te
sido resolvidas de forma plebiscitária. Praticamen^^ cultural - que consideraremos à parte - mas, levando-se
em conta questões gerais, o seu principal resultado até o
^odaeleh leição municipal, essas questões sao submet presente parece consistir em haver ressuscitado o princípio
ao brotado
o que não apenas escolhe o a^m’in^Str^ajs. de subsidiariedade.
^P^ona-se
concretamente sobre questões essenC Chantal Millon-Delsol, no livro Le príncipe de
que se vem revestindo a eleição subsidiarité (Paris, Presses Universitaires de France,
1993), reconstitui todo o processo histórico de formação
perfeitamente empreender do conceito e mostra como passou a revestir-se da maior
içoamento.
atualidade em função da Comunidade Economica

46 47
de justificar a preferência seja pela centralização seja pela
ressuscitou o papei das e e> a° m«mo tempo,
descentralização. Com o tempo, adl pa(s segu'/na
Na obra citada, a autora indi utonomias locais.
do Princípio em „u„[ã matéria, o seu próprio curso, em decorrência de tradições
ao ooopl"™ , ÍT p„ culturais arraigadas.
arraigadas, o que, de certa forma, levou ao
Poente que a organização so ’ / na.Cldade (tenha-se abandono daquele debate.
era a cidade-estado) APnVlleSÍada> ™ Grécia No período jrecente, notadamente com a formação
A piedade descrita por Ari Z 1 pr°Pósit0 escreve: do Mercado Com
. Europeu, a ideia do princípio de
mesclad- Uns aos outro^f COmp--e de grupos subsidiariedade voltou à tona. A noção básica, que lhe é
'ocumbe tarefas específicas ,qUe a cada um deles su jacente, ensina que as diversas tarefas e atribuições
própr,as necessidades A pr°Ver às suas evem ser desenvolvidas no seu nível próprio. Vale dizer,
7^des da vida colidi de --der às quando a Administração (pública ou privada) acha-se
subdividida em níveis diversos, as atribuições de cada um
Z ampliai ír’ ' 3
P[°Pnamente político éc^S°men^ a Cldade, órgão
às -a
aqueles níveis tem, naturalmente, um padrão ótimo.
f o" SZ‘ênCÍa d° -do T atender a —rquia, a Assim, otimizar essa subdivisão passa a corresponder a
Uípa questão crucial, de que irá depender o sucesso das
ía
In*ciativas que lhe estarão afetas.
Significa que os
Para nós brasileiros fácil será perceber a significação
em autarquia,
0 mencionado princípio. Basta ter presente que, no re-
vasto para o
Navisão da autora , adas farefas” gíme republicano (o sistema monárquico optará pela
(p. 10).
Ceutralização), embora vigore há mais de um século, não
PoXÍWade M^aXnd de ArÍStóteleS foi Sobrecudo
sido m ■ ‘US’ÍUr'sta demão d °retomado e desenvolvido

que som °dlSP°rdeEstadoN ° sociedade


conseguimos alcançar uma distribuição adequada das
Unções públicas entre os três níveis de governo. De modo
que o princípio de subsidiariedade não diz respeito apenas
1 I
ZeZ^^ Unitário (fenômeno à integração entre nações. Contudo, é em função desse I
^timo aspecto que volta a ser estudado. I
-dltiplosT"5^63 de «teíT SéCU1° passado) nSo Embora o debate acerca do Mercado Comum das
^cidade de o°nC°rrentes> onde Por g^P0S ^^méricas venha se revestindo de sentido anti-americano,
dosprecm. ^Ção Alrk da Um deíende sua
nem por isto o Brasil poderá deter o processo. A fim de
o governo da-«fiação 0 US'USéaPontado como um
que nos preparemos adequadamente para fazer face ao
0 Prinfr entat'Vo- C°m e Pr°blema, os liberais precisam desde logo considerá-lo
do ângulo teórico. Talvez algumas outras questões, além
direito público do Princípio antes levantado, devam fazer parte dessa pauta.
comopzipòsizo
48 I
49
I
!
I
I
i
Nos países patrimonialisus® a distribuição de renda í I
No que toca ao seu desdobramento relativo ao
Estado brasileiro, começaria tentando responder à
pergunta: é possível reformar o Estado Patrimonial?
Ínabr^de-se afirmarque
A pergunta é de todo pertinente. Deixando de lado
o Oriente, onde as instituições do sistema representativo medida em que impede o ores^ 01iveira Viana, de
virtualmente não floresceram e circunscrevendo a nossa gera base social apta a perpetu a reforma
análise ao Ocidente, o registro histórico disponível é que certa forma, teve essa intuiçao ao j numa
deveria incidir sobre a sociedade. Entramo
o Estado Prussiano - Estado Patrimonial típico,
instituição que, muito provavelmente, Max Weber tinha
em vista ao debruçar-se sobre o tema - teve afinal que
ser destruído, neste pós-guerra. Não se cogitou de 0 chamado P“"ra0” °'^“°séÁdo. ao contrário,
reformá-lo, tendo-lhe sido retirada, inclusive, a base ter­ capaz de modernizar o n Q comportamento
ritorial de onde provinha. Os otimistas lembram, suplantado pela burocracia tra icio expressivo
contudo, que, na Península Ibérica, a reforma pacífica
do Estado Patrimonial, vem sendo bem-sucedida. Cabe " —! demonstrado
do patrimonialismo. Sua elite d.ngen».em
entretanto uma ressalva: sob a poderosa inspiração do 5 existem para s=u
Mercado Comum Europeu. sobejamente que aquelas empr rado uma situaçao
Robert Dahl, que se inclui entre os principais usufruto pessoal, tendo se assegq da sociedade
estudiosos da democracia, observa que o florescimento absolutamente discrepante édico-hospitalay
esta epende de certos níveis de bem-estar material- (14/15 salários anuais; assiste cilidades para acesso a
Mais explicitamente: a base produtiva constituída pelo gratuita e do melhor níve , * r£vel; aposenta*dorias
p a ismo permitiu a efetivação de distribuição de I moradia e bens de consumo
muito igualitária. Nos países capitalistas, a integrais etc).
parcela fundamental da população é constituída por uí. económicos: o caso
— a prezei dos sistemas ec dcmonStrar a
classe média dotada de poder aquisitivo, tendo pleno
° bens ' disponíveis pela sociedade-”
falsidade da hipótese de que os s,^rdade, numa,d3SuinaSOciedadeonde
socialistas. Estes consistem, . iu>comexcluS’vl
patrimonialismo. O capitalismo Pr0
distinguem empresários^^^^^^^Trend^ divulgadas periodicamente* Prevalece a igualdade de oportum a caracterizada
trabalhador manuaiSco“h profissionais qualificados e não qualifica 0
(3) A categoria de patrimonial^.
Por Ricardo Vélez Rodriguez cultura brasd
renda, varia entre 84 e 87% en9uanto essa posse, nos grupos de men cultura brasileira”, lo Pombal e « ^g2)
menor e não há qualquer difÀ ° Caso da Equina de lavar roupa a distância ^rasileiro/Fundação Brasil-Porto^
rença no tocante à posse de televisores.

50
o projeto de empreender
equivale a jPretender alterar-lh^Ía S°C'edade
Toda a reviravolta indicada decorre
estruturou-se hii do pluralismo
religioso, de que carecemos. Estudiosos norte-americanos
contra-reformistas, i
Desde o século XVIII r ■■’ntdoódioa°i--tc: hderados por Peter Berger - o festejado autor de A
.. - tem°s sido martelados com a Kevoluçao Capitalista dirige presentemente o Instituto
riM (*lnJu«o ou do injusto é para o Estudo da Cultura Económica, da Universidade
de Boston - vêm atribuindo muita importância ao
enômeno do crescimento das religiões evangélicas na
™ capitalismo. Tudo í América Latina/6^ Segundo supõem, seu desfecho deve
°mma de moralsocial consistir na criação de condições favoráveis ao capitalismo,
m°ralidadesocia]TZ * Refo
ontudo, ainda que a hipótese esteja bem fundamentada,
Católica tderafiXadaiorma Protestante, a a mudança requer algumas gerações. As pessoas que estão
■ daqueles 7 UniIateralmente pela
torn°u-se a religião 3 “ P^ses onde aderindo (de certa forma em massa) às igrejas evangélicas,
anhuma U °-iente
mi K’ 030 emer8iu em seu seio na Maioria dos casos de origem humilde, mudam de
moralT^if°rte Para subsnruir pronto sua relação com o trabalho e com a família.
ralorK pas o L A Preferência por Elevam-se substancialmente os graus de responsabilidade
P u a ser estabelecida a partir Pisoai. Tudo isto é verdade e de fácil verificação. De
^te acerca do que deveria fodos os modos, o surgimento de pessoas com vocação
s°iução bélica d d' caleiro (honra; urbanidade; ernpresarial, certamente, não será automático, embora o
o- n&r CriAre 25 naÇÕes etc.) ou a do nieio ambiente lhes seja favorável, o que não ocorre nos
"■ OU»?"? forta,“imenío dos círculos católicos.
Maiores resultados - e provavelmente em mais
^«ioxmUÍiTP
reMvn
'"8larc™
‘^e5deenrã^ - .
’ “T7
3 Prirneira metade do
Curt°s prazos - poderiam advir do renascimento da
eVant««m discussãTn "a° mudan^ valorativas tfadição liberal. Esta revelou enorme vigor no século
Prévia e consenso.® Passado, sendo espezinhada e isolada ao longo da
RePública. O aparecimento de uma corrente política pós-
£Un“ (173^8^ «Musao foi eslabe, 85, organizada no PFL, registrando sucessos alvissareiros,
representa cerramente fato alentador.
, porFeliciano Souza
Deus(-..)CdS’iSWo Agoltinhn°^mosoqúraW (,758) nestes Precis0S
^erônini e CS’ COrr)o rénr l ° e °utros muit c esPeit0 nos dizem São Mateus, '5) Examino essa questão, detidamente, no livro Fundamentos da moral
>njusnr
aque| aÇç2P^^Z OS’ri^ezas sân n? Crisí0e D~
rqueumnã^?es diz aS5de°
iss0l^
e Por da "der”a (Curitiba. Editora Universitária Champagnat, 1994)

* la^«e AZZeaCh ^Z^°U d“ concluindo coro


s> 9ue o rico ou fi • • °tem O livro Togues ofFire, de David Martin
ÍO Valise desse (ema está dedicado
Ajusto ou do injusto é herdeiro”. xford. Basil Blackwell, 1990).

52
53
Por não enten<lermos ° a0es
Em que pese as ressalvas que formu o não se pode
abdicar do projeto de pôr abaixo o Estado Patrimonia,
ainda que sua consecução pressuponha o concurso de Trata-se, portanto, aee
mais de uma geração. À nossa geração rncumb.ria „a q„.l incluiria estes pontos.
formular pauta mínima capaz de conquistar adesoe p.) Eliminar todas as “breuÍ
sucessivas. aos programas oficiais de s -b- P

Uma pauta mínima ter presente que, consoa programs: issues


(Brasil-p“blicSPenaplica em políticas soam
Essa ideia é devida a Amaury Temporal, na iqo<n o Brasil apu tem lugar
°PnonS) do piB (18%) equivalente desastrosos
conferência de encerramento das atividades do Conse
Técnico da Confederação Nacional do Comércio, no
exercício de 1992, dedicada ao tema da representaça^ queseconheapo^peio^ial”, opção P^
empresarial, na qual considerou a questão assumiu o lema de tu r seio, es
patrimonialismo. Constata que o empresariado nao pelos pobres ■ g« , „ qac se tem renda
agente formulador ou condutor das várias etapa
“ZZr/i tomado seX
modernizantes de nossa história. Ao que acrescent
“Contudo, a ação desenvolvida por parte de su - = da própria ^'^.icas, >
lideranças, nomeadamente aquelas que se perfilaram co mais aterradores. Essas retexto Ç* )u óar_
firmeza em torno da doutrina do pluralismo democrático transformaram-se e . ■ opatrimoni is pública-
da economia de mercado, mesmo quando a P°st voracidade fiscal e perm contrOle da op1x pobreza e
resultava em prejuízos transitórios, tem sido imp°rta se de verbas sem o jne^ cOtnbate iarnpara
e indispensável. Lembremo-nos: a resultante polítlC As dotações pub jebaixare , ioS locais
vetorial.” atendimento a conting , criadas n°J. . ada a sua
O conhecido líder empresarial entende que 111 entidades sem fins ucr ^-^das, c°n ‘fiC0 a0 Banco
uma vez em nossa história a agenda modernizadora co em que devessem projeto esp .-r não só a
o risco de interrupção, se não houver pressão da socie a liberação àapresentaça^taxaaptaape^ efeitos,
organizada. A função do empresariado parece-lhe s do Brasil, « «"'“Tm. publicidade,
seguinte: ... agregar forças em torno de um pr0J fiscalização como vidências a m
merecendo ambas as pr
mínimo, a partir do claro entendimento do que eS^
jogo^ Aqui reside parte importante de nossa a
eficiência como agentes de transformação no passa
55

54
e«pe»iXa nôTeXdXT’ í
danam uma grande contribuição em prol da redução dos
«e.» de de™,*,^ „ „Um novo
gastos da União se patrocinassem esse tipo de estudo.
apresentado pela Revolução de 64 ’° ^e
Tanto no que se refere aos dispêndios da União como
retirado da cena sem d COns-«e justamente etn
d«envolvimento que pudes^° Um P^jeto de aos custos das tarifas públicas, o pressuposto básico
Pnvadaemereceroapoiodocapital 'n‘CÍatÍva consiste na admissão de que as duas instâncias teriam
Peíocoqaotativismo.sualideraníe Ma™etada dimensões ótimas, o que não passa de grave equívoco.
^grandeza.Nacirc^ ^«aurtu-se^essegesto Consumada essa proposição, insistir na simplificação
0 «forço realço por João’ pda m^or relevância tributária que tem sido sugerida pela Confederação
Nacional, no Jtid°0 dd°S Reis Velloso, no Nacional do Comércio; e,
em torno da matéria. Nesse n 8erar.Um novo consenso
colocar na ordem do dia Pa7'C_U ar seria necessário 4fi) Concebida uma nova estrutura administrativa
Américas, Proposta pelos p" j ° à íniciativa das para a União, examinar concretamente as ações de que
Wéxico. P °S Estad°5 Unidos, Canadá e poderia resultar a dignificação do servidor. Novos
objetivos precisariam ser apontados igualmente às Forças
Armadas, de modo a levar a bom termo o empenho de
fiscal do EsTadoT05 SUCe“° no C1
profissionalizá-las e reduzir as suas dimensões.
:°mbare à voracidade
«Pecifico da estruturaTdmí130 P‘ULeaer ao reexame Essa enumeração poderia prosseguir, se se tratasse
proceder
nte^nres da (Jnião /^‘^a dos vários órgãos de uma pauta exaustiva e não de fixar prioridades, a fim
Patr?rÇanient0 União. Ap
a^ndeT redu^ P^enLs de evitar a dispersão do passado, tão agudamente
■J atende j percebida por Amaury Temporal.
Mi .^"'altsmo. To prec,samente ao jogo do ll
Ofn° um c Nesse esboço estou naturalmente supondo que a
liderança empresarial brasileira estaria convencida de que
tUra mantém
lamento Nr só tem a ganhar se conseguir obstar a atuação do
I
I
Patrimonialismo e lograr que o capitalismo alcance um I
*o de toLde d assforência àquelas
comt Ç S' Coprecex
P^ra í °pSUa eXístcncia corto° o° ^Stac^° na<^a tem a ver
novo patamar. Estaria voltada para pactuar com 35 i
forças que, no interior do Estado, se dispusessem a abdicar I
desse ,Carenipreguisni0 P° jde a mero expediente das tradições patrimonialistas - isto é, de estabelecer a I
ouàpeso,n-SténO 00 ^ese reF^^ParUdaSãCribuiÇões tutela do Estado sobre a sociedade -, aceitando o penoso I
sobre qU1Sa P°deria ser nr’ fiscaJizaÇão sanitária caminho de buscar a constituição do Estado Liberal de
Direito.
■ As organj2a - UaÇões análogas serão
I
Ç°es ernPresariais brasileiras

56
57

(
I'

populações locais a preferirem a convivência com os


h) Repressão ao terrorismo e a narcotráfico, bandidos. Compete justamente empenhar-se na
assegurada a preservação das liberdades conquista de uma situação inteiramente contrária, isto é,
democráticas
isolá-los.
Os acontecimentos que se desenrolam no Rio de
Com o fim do império soviético, esperava-se que os Janeiro devem servir para nós liberais como uma séria
focos terroristas que não se nutriam do fanatismo religioso advertência do que poderia significar uma eventual
- no Ocidente, o caso da ETA, na Espanha, e do IRA, aliança do narcotráfico com grupos socialistas adeptos
na Irlanda, mas naturalmente mais odioso e perigoso da violência, como já ocorre na América Latina. Cumpre-
quando se trata do islamismo — viessem a arrefecer, nos conhecer e acompanhar o que se desenvolve nos
porquanto tudo indicava que eram fomentados pela KGB países vizinhos. Embora em algumas nações da América
(ainda que o marxismo condenasse tal prática, pseudas Central hajam cessado os movimentos guerrilheiros e ali
razões de Estado logo superaram os constrangimentos o narcotráfico não se interessou em financiá-los, o mesmo
de ordem doutrinária), no tocante a América Latina, com não ocorre no México, onde há um público e notório
a intermediação de Cuba. No ciclo precedente, envolvimento da Igreja Católica com movimentos
suspeitava-se de que alguns desses movimentos, sobretudo guerrilheiros. No Brasil, os bispos partidários da luta ar-
na Colombia, estivessem sendo financiados pelo ito ativos. Seria
mada para tomar o poder continuam muito
narcotráfico, uma força que passou francamente a apostar os olhos a essa
ingenuidade de nossa parte fechar os c
no en raquecimento e mesmo na destruição do Estado,
simbiose entre narcotráfico e terrorismo, que parece Do ponto de vista teórico, importa continuar
realidade.
tar consumada, constitui uma séria ameaça às desenvolvendo a crítica ao socialismo petist ’
tuições do sistema representativo, sendo
imprescindível que os liberais se dêem conta do fato.
rapreaenr, uma franca opção pd»
democráticas para substituir o sistema representa: P
o rasil, somente no Rio de Janeiro o narcotráfico
sistema cooptativo. A questão da
C eg°U a assumir formas violentas, passando a constituir relação aos grupos que se P^P^^ke^orresponde a
uma verdadeira guerrilha urbana. A repressão a essa
o sistema representativo, desd L namralmente) das
t 3 C cr*me’ como não poderia deixar de ser,
questão teórica (e pratica, tam
franr^ J recorrer à violência, em muitos casos no mais
™ desrespeito à ordem legal. mais desafiadoras.
■definição do papel
em ba irr 6 CV^ente que o combate à guerrilha instaurada
i) Segurança pública e re<
se Dor m°S ‘nteir0S do de Janeiro não pode efetivar­
das Forças Armadas
ia não n *7 Persuasivos- Contudo, a forma de enfrentá-
P°de levar- como parece estar ocorrendo, as

59
58
Esse trabalho permanenm^ — os
Preocupados com o "inimigo interno , os governos
poiicims C°^ çX a-Multem a aproximação com
militares desmontaram todas as formas de policiamento
ostensivo mantidas pela população, a exemplo das
denominadas Guardas Civil e Noturna. Colocou-se em
setores reduzidos as ag f do “jnSpetor de
primeiro piano a segurança do Estado (da União, na aperfeiçoado naFrança, C°m.^adores dos prédios
verdade) e as polícias militares foram transformadas em quarteirão”, que contacta os ^‘^ção pressupõe
reserva do Exército. Tudo isto coincidiu com o processo
e previne ações criminosas. capazes
de urbanização, cuja intensidade não tinha antecedentes. naturalmente instituições democraucas^ £
Criou-se, portanto, um caldo de cultura propício à
de obstar uma atuação ar m * rsistentemente e
proliferação da insegurança nas cidades.
processo interativo que foi impi não usa arrna
Impõe-se, portanto, rediscutir o modelo de segurança
não algo que caiu do céu. P° ° Natal, é de praxe
pública adotado no País, que repousa em polícia
defogoenasfestivida e'polícia e ot contigen«
aquartelada e completo abandono do policiamento
a confraternização e nde. Ainda na
atei-
ostensivo. A prática brasileira, aliás, contraria fron­
populacional dos quarteirentre as melhor
talmente a experiência internacional.
Inglaterra, a função policia
Tomemos aqui o exemplo da Inglaterra. Desde o
remuneradas do serviço publico- lorque, que
início do século passado, estabeleceu-se que “o objetivo O sucesso recente da pohci precisamente
primordial de uma polícia eficiente é a prevenção do tem alcançado tanta repercus , ^Ifaçao do
crime . Contingente reduzido (cerca de 10% do efetivo), no que poderíamos denominar
mas suficientemente treinado e sucessivamente
policiamento ostensivo. a segurança pu ‘
aperfeiçoado, trabalha no Departamento de Investigação A adoção de novo modelo Pefin.çâo do papel das
Criminal, dedicado ao estudo e classificação dos relatórios
envolve obrigatoriamente a o Henrique «
dos crimes, ao preparo da documentação relativa a Forças Armadas. O govern0^ comportam
criminosos e suspeitos, à organização de estatísticas,
enfim, pessoal altamente especializado e familiarizado empenhado em tal objetivo dissesse respeito-
se como se a questão não lhes
com o seu ofício. O grosso do efetivo está voltado para
policiamento ostensivo. Desde 1966, organizaram-se nas da formação dos
delegacias, cobrindo áreas limitadas de Londres e outras j) As culturas naC1°n^^icOs
grandes cidades, as chamadas “unidades policiais de
grandes blocos econ
atedores” (t/n/r beac policing), que policiam Se supõe
torno do que
determinados quarteirões, mantendo contato com a ...ára dos debates em .acionais, em
Na esteira Estados na-
população. fim da soberania do
seria o
61
60
ecorrencia da formação do Mercado C
ha um grande empenho na F C EuroPeu,
estrangeiros, enganá-los e ofendê-los. Essa virtude foi
,dentificação das singularidade, a ??1" pro1 da
chamada de patriotismo A trajetória do nacionalismo é
culturas dos países que ■ e 0 fortaiecimento das
conhecida tendo ressucitado a ideia imperial e criado a
sobretudo aqueles de n? nte§ram a comunidade
Ap^ardhtdeomdesmoexpressao econ°mjca’com° instabilidade na Europa com as sucessivas conflagrações
no Leste Europeu tem áo °r°nament0 do totalitarismo que culminaram nas duas guerras mundiais, nutrindo
ferocidade insuspeTtada° 7^—alismo.com no resto do mundo, a ação do imperialismo.
A tarefa que Kujawski coloca aos liberais é a seguinte:
ê°S'áv,ae na própria Rússia^ ° “
A partir da Revolução Francesa, patriotismo tornou-se
Nesse particular n sinónimo de nacionalismo. Nosso trabalho daqui em
^ndo que GiJbeno de Mejo0?'1^ nacionaíi*™,
diante será dissociar, nitidamente, o patriotismo do
so,0Ção criativa e qUe Con Kujawski encontrou uma
nacionalismo e mostrar como esse último pode ser a forma
notável contribuiÇão à do f° mesmo temP°. uma
° 1,Vro Aama Desc^lna Lberal. Tenho em vista do antipatriotismo”.
As nações consolidam-se com mais vigor e presteza
cntlca o nacionalismo eoon' PauI°’ 1992)’ onde
quanto mais longa é a capacidade de assimilação de tudo
Kujawski mostra n 30 patrio^mo.
que vem de fora, sejam ideias, técnicas, mercadorias,
U™a °bta complexa e dilar J C°nStÍtUÍÇão d« nações é
modelos de conduta ou propostas. Nesse embate é que o
ap Ç° res*de em congre tempo- Seu primeir0 projeto nacional adquire contornos nítidos e duradouros.
r^Upamenmsdemen®rfr numa unidade superior
O nacionalismo é uma forma de colocar-se na contramão
pe!aea CanÇadanaoaPenasen?dade' EsSa unidade supe'
da história. Nosso passado recente é rico de ensinamentos
artes mas nessa matéria. A política de informática levou-nos a um
Af°rmaagressivT? OjetOc°nwm.
atraso colossal. O nacionalismo é pois o principal
St"*0"’1'""» < —peio responsável pelas dificuldades que atravessamos,
“m deSemPenhad entao’ ° patriotismo sobretudo na medida em que está associado ao
eler-
y-^nto aglutina;orhdadoo um um papeJ positivo, como agigantamento do Estado. Trata-se, na verdade, de um
naÇões> tOrnou-Se a J° “mPProcesso
^°CeSS0 d
de constituição das
Íustificando grosseiro equívoco supor que o Estado possa apresentar-
t0(ia espécje fedida
• 3 todas as coisas”, se como solução. O Estado constitui, precisamente, o
t . . '■vu« as LOISãb ,
t Vla pela qual
nKu^i transcr-
^10 ência. O nacionalismo é problema.
as naÇões fech;
reVe aa palav,iam-se umas às outras. Os liberais repudiam o nacionalismo mas apostam
ras de Abade Barruel, no patriotismo. Este não teme o contato com o
■ onde
;mo.^0CC Pe'a Perneira vez uma estrangeiro e confia na sua capacidade de asstm.laçao e
onalisj
geral. ••■Foi • nac^onaFsmo ocupou o incorporação do que vem de fora, sem riscos e
Sjm permitido desprezar os desfigurar-se, preservadas as melhores tradições nacionais.

62 63
A Pátria Descoberta é rico de ensinamentos e seria
impossível resumidos todos, bastando referir a crítica do
iluminismo e do nativismo, bem como a análise
terminou pelo esta , maneira que não interferisse
circunstanciada dos elementos constitutivos da pátria
o caráter do ensino oficia, ^nte etn nosso Século este
(a cor local; a língua; a paisagem; a cultura e a na liberdade religiosa. S forma adequada.
interpretação correta de aspectos da nossa maneira de
sistema de ensino ta °cidadanja.
ser que aparecem distorcidos, como o futebol, o carnaval
ou a “malandragem”). Cabe, ainda, chamar a atenção Chamou-se de uma outra com-
A educado liberal “ eserv«;á« da tradição
para a fecundidade de sua análise crítica da idéia de pnente: o compromisso com a pres
“terceiro mundo”, na verdade uma noção torpe de que
há países de terceira classe, condenados (por si mesmos) humanista. . , acham-se entreme
Os aspectos menC‘° d lndustrial, consistentes
à rotina e ao atraso. O autêntico patriotismo pode retirar pelas exigências da Revoluç^Ind aspecto
o Brasil do círculo de ferro em que nos lançou a pregação diversificação intensa d* fo^ ^idade medie
socialista e terceiro-mundista. de cena forma desenvolve!> P: „ em fios
A par disto, ao acompanharmos a discussão que ora
e completado pelo aparei
se trava na Europa estaremos nos antecipando à temática
que inevitavelmente deve aflorar na medida em que nos
do século XVIH- fioesmestWea-teS»
aproximemos da efetivação do Mercado Comum das São portanto tres 4 nista e 3 ) iu
Américas. cidadania; 2a) tradlÇados pa[ses °cident^demodo
profissional. A maiori -1S objeti >
k) Agenda contemporânea da educação
liberal que os seus sistema ^j0 BraS1 ’ . > adaptar-
as quais eseão «“"“/Xnal - P'? L -
■I
Em nosso pais tem escapado o sentido profundo •I respeita a formaçao pro' a(fian« re dedicado
se às novas circuostanc®,nsinofcn
» ^dame»^
dan,enti qM
da educação liberal, o que talvez explique a nossa
incapacidade de organizar um sistema de ensino apto a conseguimos “"“‘“"'“dadania. «°
à formação para eatradiÇa0 nS pensadores

I
atender às necessidades da sociedade moderna.
A educação liberal é, antes de tudo e em primeiro abandonamos inteiramen ■menteaTÊ? '
Desde os fundadores^ ,eS(Lockee-
e Kant), os P
pelo*
da
°
lugar, a herdeira do sistema de ensino, criado na Época ,do >r
Moderna pelas igrejas protestantes e que, no século liberais manifestaram re em consoruese
educação, na linha de prioridades
passado, tornara-se uma incumbência das comunidades, , quais as P
conhecido pela denominação de educação popular. Essa respectivo ciclo históri

65
64
exemplo, reduziu-se de P-^3% em
pudesse denominar, apropriadamente, de educação
liberal. Neste sentido, diversos nomes poderiam ser
destacados, a começar de William von Humboldt (1767/ próximos trinta anos. progres.
1835), a quem se credita ter encaminhado a Universidade O ensino Pr° 1SS‘ y^rsidades, estruturou-se
Alemã na direção da pesquisa científica, que a sivamente absorvido pe curs0 da
transformou num modelo vitorioso, de reconhecida com base no modelo q rp:ramente superado.
influência em diversos países. Entre os ingleses, Revolução Industrial, achan o icos acarretam
sobressaem Thomas Hill Green (1836/1882) e William
Além disto, os avanço de umas para outras
Beveridge (1879/1963), que contribuíram para associar expressiva migração de mao- e-o r medida os
o liberalismo à promoção da cultura humanista, numa atividades. O fenômeno que ating corriqUeiro
visão enriquecida e distinta das proposições anteriores, profissionais do último pós-guer deveriam ser
de idêntica intenção, tendo o último, por muitos anos, em relação às futuras S^Ç°“profissões no curso de
dirigido a London School of Economics. Na França,
preparadas para exercer
François Guizot (1787/1874), que, além de renomado
suas vidas. _ , liberal é bem mais
estadista e teórico, concebeu um sistema de educação
Nessa matéria, aliás, a ag entrevista que
elementar que se tornaria um paradigma. Os norte-
ampla e não se restringe a e u Ferrari e que se
americanos notabilizaram-se pela fundamentação teórica concedeu ao jornalista itahano Oliberal.smo
da educação para a cidadania, destacando-se John Dewey
publicou em forma de livro “ lf pahrendorf formu a a
(1859/1952).
e 3 Europa (Roma, 19/ b • al é
Contemporaneamente, em que pese seja muito
nestes termos: pensamento i er
ampla a bibliografia, marcando os liberais presença
•o par’0SP„<,««s. «”•» ‘
significativa no debate das questões emergentes, I começar a ponderar, OT dea,de. O sisrema am .
enfatizaria os aspectos adiante resumidos:
humana está estruturada na s à instruÇao, u
A economia deste final de século, no mundo
que estatui uma primeirarigidamente entre^
desenvolvido, caracteriza-se pela sucessiva redução do
longa fase intermediar última e l°nS c:s0
papel do denominado setor manufatureiro, isto é, da trabalho e o tempo livre, " funciona mais. É p .
industria tradicional. O crescimento repousa em novos aposentadoria, obviamente undo novos cri
serviços, sobretudo os que são prestados às empresas e descobrir o modo de integra ;Juçâo, o trabalho a
os que atendem aos setores de comunicação, educação, todas estas atlVldad?nreressesthurnan0S’°5.Ue
saude, cultura e lazer. O processo em causa traduz-se aposentadoria e ou.ros socai e !»«<“■
pela mudança de posição do operariado industrial no
grandes mudanças nas es ^^didade.
conjunto da população ativa. Nos Estados Unidos, por
que distingue apenas p°r
67
66
* p" « fcnçfa de „,mr
e™etant°. rejeitar a experiência, cumprindo criticar os
“ equívocos e apontar as consequências. É o que
procuram fazer os educadores liberais. 9

Na visão de Dokr j e “herdade. sumárird 9116 P°Í Sef faCU,tada Uma idéia’ ainda
dada à -P° ^caminhâmento que vem sendo
dada a questão a partir de breves indicações sobre o
T ■“«.«íçõee eomo'° ”7'” »«>««« cMS, £ conteúdo dos ensaios reunidos no livro Full Circle?
r,ng‘ng up Children in the Post-Permissive Sociery
e^7 JZ‘” ? “7"^ ondres, 1988, editado por Digby Anderson, diretor
organizaÇão de pesquisa SocialAffair Unit, autor de
?d°‘ »d,7*
dife^es cic,n
Armação „ r
Para
P>»«»do , X7fre<l^n “
tadas extensa bibliografia, colunista regular de The Times e

-«“r1
derecfolagem d de de^volVer mède
7- * pectatoij. A introdução de Digby Anderson tem o
expressivo título de “O fim da indulgência”.
assegUreJ deVendo adotar forma ,mecanismos ágeis O cerne do debate está centrado na revisão da
niaior proximidade r S de or8anização que psicologia infantil de que se louvou a experiência. A crítica

»4.Td° o ta-se para as generalizações e oposições simplificatórias.


e modo idêntico a todo ser humano, as crianças são
^uito diferentes entre si. A minimização do significado
XoXi“'"°~«ApTi^ ‘UfU"did’ "O
esse aspecto, associado à idéia de que a punição se
contrapõe ao amor, acabaram por negar o papel dos pais
se - mas preci. e> não deveriam se deVeriam na ecmcação. Só estes estão aptos a detectar características,
que se esperaXamSerdeÍXadas Hvres °AÇadaSaedUCar' I aptidões e dificuldades individuais, que são os fatos
Ver|ficandO se au ’ as "Eroses nSod°CO,nrâri°d° decisivos na aprendizagem.
e de °utros fenôrn ent0 da criminalidadeSaPareCeram’ A recuperação da ênfase no papel da família na
P^ntissividTd^r ^ivos, corre ’ educação consiste justamente no principal resultado da
acabaram aband & UCac‘°nal. As n aC*Onados c°m a avaliação precedente. Neste sentido, a educação inglesa
loclina-se pela necessidade de proceder a uma melhor
I aferição do trabalho da mulher ou dos reflexos do divórcio
s°bre os filhos, estimulando-se a realização de pesquisas
possam contribuir para um novo consenso. Estudos
la* ^ão basca, I c°mentados no texto considerado apontam vários reflexos
negativos de situações como as descritas (trabalho e

69
I
somente causaram danos a si mesmos. Parece muito
divórcio), evidenciando ainda o caráter equivocado do arraigada a crença em sua responsabilidade no aumento
enfoque feminista ao pressupor que a valorização da do consumo de drogas entre os jovens. A conclusão é de I
mulher passe obrigatoriamente pelo seu acesso ao que se que o reconhecimento desses reflexos tem contribuído l
poderia denominar de “mundo dos valores masculinos . para que a educação permissiva encontre-se em franco
Critica-se de modo contundente a igualdade educacional
reivindicada pelo feminismo, como contraposta aos recesso.
Embora essa discussão ainda não tenha chegado ao
elementos aptos a exaltar o lugar da mulher na sociedade. Brasil, sabe-se que muitas famílias reavaliaram a sua
O mais grave da educação permissiva reside no preferência por escolas experimentais permissivas. Muitos
menosprezo aos valores tradicionais, supondo-se que professores das escolas tradicionais responsabilizam-nas,
nesse particular não haja afetado apenas as vítimas diretas, também, pelo fenômeno das drogas entre estudantes e
mas a segmentos mais amplos da sociedade. O esforço igualmente pelo comportamento indisciplinado dos
dos educadores liberais há de consistir na ênfase desses
valores. Finalmente, critica-se o ensino da matemática O nas
alunos grande evento do mundo educacional deste fim
classes.
moderna em detrimento do aprendizado da aritmética de século é representado, entretanto, pela Proposta
comum. Avaliações específicas indicam que essa mudança Paidéia, que pretende responder à seguinte pergunta,
não tem qualquer sentido para a vida em sociedade, alcançada a meta da educação fundamental, abrangen
encarada globalmente, parecendo só ter tido o efeito até o fim da escola secundária, nada mais há a azer.
adicional de afastar ainda mais os pais do processo A Proposta Paidéia — um manifesto educacion .
educacional dos filhos. um documento que reflete o consenso das principais
A educação permissiva não chegou a interferir nos correntes educacionais norte-americanas e não ap
seculares sistemas educacionais dos países desenvolvidos, ponto de vista liberal. Educadores re igiosos,
mantidos pelo setor público, mas parece ter causado católicos como protestantes, deram seu apoio a1
I
grandes danos à educação pré-escolar. As vítimas desse Atuou como coordenador o conheci o u
experimentalismo, por sua vez, resistiam a adaptar-se às Mortimer Adler, diretor do Institute or aja
instituições convencionais para onde obrigatoriamente Research. A Universidade Notre ame’
acabavam por transferir-se. Naqueles países, o ensino fun­ instituição católica, está represenra a por do Ins[i[ute
damental, compulsório e universal, não é muito rigoroso
Assinam o manifesto, ainda,,Do^ Schimidt, do St.
nas reprovações. Mas o mercado de trabalho atribui
for Humanistic Studies, Adolp • Philo-
enorme importância ao histórico escolar. Na visão dos
John’s College, John Van Grear Ideas
ingleses aqui considerados, aquele tipo de educação criou sophicaJ Research e Diretor EfXjnlstraçáo escolar
os inadaptados com o currículo da escola fundamental,
Todaye diversos representantes da
e com seus métodos de ensino, pessoas que, por esse meio,

71
ligada ao ensino fundamental. Está dedicado a John I
Dewey por corresponder ao desenvolvimento pleno das desenvolvimento pessoal-mental, moral e espiritual;
idéias educacionais do grande pensador liberal. 2Q) tornar-se um cidadão pleno da República; e, 3°) á I
O Manifesto parte do reconhecimento de que o I ganhar a vida de modo responsável e inteligente. A
programa formulado pelos educadores do início do século tentativa de treiná-lo para um emprego específico é um
foi alcançado, no que se refere à universalização do ensino
atentado às possibilidades individuais. Ao contrário disto,
fundamental. Com efeito, esse nível de ensino abrange
doze séries, geralmente cursadas dos 6 aos 17 anos. Em a escola deve facultar as habilitações básicas que são
1978, a escola fundamental abrigava cerca de 60 milhões comuns a todo tipo de trabalho numa sociedade
desenvolvida.
de jovens. Para esse mesmo ano, 75,6% dos rapazes e
O currículo deve ser obrigatório para todos,
moças com 17 anos cursavam o último ano da High admitida como única exceção a escolha de uma segunda
School, sendo a diferença atribuída aos que se adiantaram
língua. Subdivide-se em três troncos básicos, sendo o
ou atrasaram.
Ainda assim,na avaliação dos signatários da Proposta primeiro a aquisição de conhecimento organizado
Paidéia, uma parte das escolas optou pelo denominado mediante o sistema convencional de aulas nas áreas de I)
“ensino vocacional”, que dedica grande parte do tempo Língua, Literatura e Belas Artes; II) Matemática e Ciências
escolar ao aprendizado profissional. Naturais; e, III) História, Geografia e Estudos Sociais. O
Essa escolha constitui uma violação frontal dos segundo tronco é constituído pelo desenvolvimento de
princípios que norteiam a educação para a cidadania. habilidades intelectuais, imprescindíveis à aprendizagem,
Além disto, crianças oriundas de famílias carentes chegam que se alcança pelo exercício repetitivo, compreendendo
a escola com preparo inferior ao conjunto, estando estas operações: Ler, Escrever, Falar, Ouvir, Calcular,
condenadas à condição de retardatárias. A Proposta Resolver Problemas, Avaliar, Exercer Julgamento Crítico.
Paidéia dirige-se à sociedade americana convocando-a Embora não se trate de desenvolver habilidades
a superar tais problemas, do mesmo modo que outras intelectuais, mas da aquisição de hábitos saudáveis, a esse
deficiências registradas pelo sistema. O lema em que se grupo agrega-se, como matérias auxiliares, educação física
baseia é o seguinte: a melhor educação para os melhores e higiene pessoal. Finalmente, o terceiro tronco consiste
é a melhor educação para todos”. numa novidade: assegurar a compreensão amp a e i
A ambição da Proposta Paidéia é conseguir que o e valores mediante a leitura e discussão de livros *vers
ensino fundamental proporcione educação geral da dos livros-texto) e proporcionando, tam m,
melhor qualidade. Os Pque r°porcio
a tenham cursado, isto é, a envolvimento em atividades artísticas.
que a
população em idade escolar, devem estar capacitados para A Proposta Paidéia justifica pormenonzadamente
alcançar os seguintes “colar, d<
obi-=- p) assegurar o este programa, que corresponde ao espirito aqui o que
s objetivos: de constituir de fato, uma nova escola. Trata, alem
dist0, da preparação dos professores e os iretore .
72
73
Entende também que os alunos saídos dessa i

renovada, que optarem pela continuação de set escola I


contribuirão em grande medida para melhorar us estudos, 1) O liberalismo I
qualidade do ensino superior, ao dispensá-lo a
e a Questão religiosa I
O sisrema representativo r í__ .vutu-òc I
necessidade de remediar as deficiências do da nasceu
inicialmente em países protestantes e desenvolveu-se
(Inglaterra e Estados
A Proposta Paidéia assim se manifesta ensino básico.
futuro das instituições livres criadas no Ocid> quanto ao Unidos). Parecia óbvio e natural que se mantivesse a
“O governo democrático e as Jvmyues ente:
de uma tradição da religião de Estado, substituindo a Igreja
sociedade livre são de recente advento instituições
no mundo.de São Católica pela Anglicana, no caso da Inglaterra. Antes
tão recentes como a decretação do sufrágio verda­ mesmo da proliferação das igrejas protestantes, a questão
deiramente universal e ode cretação
esforço parado
assegurar os direitos complicou-se neste último país porquanto, na Escócia,
civis e humanos a toda população. São bens obtidos no as preferências eram pela Igreja Presbiteriana. Com o
século XX e não antes, conseguidos apenas em alguns desfecho das guerras civis inglesas, o Rei teria que ser
lugares deste planeta, não em toda parte. anglicano porquanto lhe incumbia chefiar a Igreja. Mas
O que ocorreu em poucos países, pela primeira vez devia também integrar a Igreja Presbiteriana. No fundo
no século XX, deu origem apenas às condições iniciais o que se desejava era impedir que fosse católico,
de uma sociedade democrática. Ainda está para ser visto circunstância que ao longo do século XVII eyidencian
se essas condições serão preservadas e bem usadas e se ser fonte de conflitos intermináveis (ou exigentes
essas promessas para o futuro serão cumpridas. condenação à morte do Rei como de fato ocorreu) .Nos
dePendem em grande parte de nossa
Ambas dependem Estados Unidos a organização do Estado independente
capacidade de melhorar a educação no sentido mais já se deu com a proliferação das igrejas, d“aPareCe^°
melhorar
amplo, produzindo um eleitorado educado. Como possibilidade da religião oficial. Contudo, quando s
sabemos, atingir esse umresultado pressupõe um melhor cogitou de transitar das escolas confessionais pari esc
resultad<
ensino básico para todos, assim como um melhor ensino públicas, obedecendo a programa uniforme, os embat
avançado para alguns.”(l)> assim
Na medida em que o sistema
sendo adotado nos países contin Na França,
deu-se confronto entre a ?sive uma espécie de
durante a Revolução, tentou-se o cempo
religião laica oficial. Ali o “^'“^'nedade da Igreja
W^Paideiap^ .
que ainda no começo deste sécu P formasse uma
éXn ’raduç51984.° brasi'^Ira' de ^PonsabiJid^
rasflia,A éde
ute for Philosophical Research, em foi confiscada. De tudo isto resultou q
—le da Editora Universidade de
corrente liberal francamente anti c er ometeu.
Ainda neste século, a Igreja* italism0, tendo se
se com a busca de alternativas

75
originado em seu seio o
corporativismo que assumiu,
entre outras, as formas do fascismo italiano e do
coletivismo marxista, nem
salazarismo. sequer uma possível opção I
Ao mesmo (Solicitude ente contrapostas
tempo, quando foi proclamada a ’ S°C,aJls’ § 41>P- 80, Ed Paulinas,§ 41,
infalibilidade do Papa, expressivos líderes liberais como p. 80).
Lord Acton proclamaram a impossibilidade de manter
E prossegue:
aquela condição, desde que eram católicos.
Explica a seguir que a doutrina •
De modo que as relações entre liberalismo e social da Igreja não
é uma ideologia, mas uma reflexão a luz da fée da tradição
catolicismo, durante largo período, estiveram longe de
eclesial, é teologia, não sistema ou programa económico
ser tranqiiilas. Neste pós-guerra, contudo, o capitalismo
demonstrou ser a maneira adequada de alcançar ou político, nem manifesta preferências por uns ou por
distribuição de renda relativamente equilibrada. Assim, outros (idem).”
sem que hajam desaparecido os ricos, os bens e serviços Na encíclica de 1991 insiste em que a “Igreja não
disponíveis na sociedade tornaram-se acessíveis à imensa tem modelos a propor”, mas “reconhece o valor positivo
maioria. Desapareceu a condição do indigente. As do mercado e da empresa” (Centesimus Annus, Ed.
Vozes, § 43, p. 74). Isto após responder à pergunta se
comunidades passaram a dispor de formas de atender a I
situações de desemprego ou enfermidades, situações essas com a falência do comunismo, o sistema social adequado
que deixaram de constituir ameaça à sobrevivência. Ao ao Terceiro Mundo seria o capitalismo; sua resposta
mesmo tempo, a experiência socialista acabou no mais apresenta-se nestes termos:
absoluto fracasso, evidenciando que as principais de suas Se por ‘capitalismo’ se indica um sistema
promessas somente poderiam ser atendidas pelo económico que reconhece o papel fundamental e positivo
capitalismo. Semelhante desfecho teria inevitavelmente da empresa, do mercado, da propriedade privada e da
que se refletir no posicionamento da Igreja Católica. consequente responsabilidade pelos meios de produção,
Estudando o assunto no livro Liberalismo ejustiça da livre criatividade humana no setor da economia, a
social (Ibrasa, 1995), Ubiratan Macedo indica que a resposta é certamente positiva, embora talvez fosse mais
opção socialista, inclusive pela via revolucionária, que apropriado falar de ‘economia de empresa’, ou de
ain a se observa entre os católicos brasileiros representa economia de mercado’, ou simplesmente ec^n^mia
uma opção minoritária no seio do catolicismo e, ainda livre’. Mas se por capitalismo se entende onde a liberdade
mas, discrepante “da orientação do atual Papa João Paulo n° setor da economia não está enquadrada num so
l<que nas suas encíclicas sociais Solicirude Social(1987) c°ntexto jurídico que a coloque a serviço da liberda e
e O Centenário da Rerum Novarum (1991), deixou clara humana integral e a considere como uma pa
« P0S1jã° da Igreja ao afirmar que sua doutrina social: dimensão desta liberdade, cujo centro seja ti „
nao é uma terceira via entre o cani«l~-- m ' e o religioso, então a resposta é, sem dúvida, negativa.
^Pitalismo liberal 42, p.73).
76
77
Impossível pedir uma mais completa adesão ao
uma sociedade de abundância (ao contrário da sociedade I
capitalismo ocidental moderno, o que se rejeita é o
capitalismo manchesteriano do início do século XIX sem primordial, vitimada pela escassez) e a única maneira da
lei social alguma. Mesmo porque, antes da pergunta, já imensa maioria ter acesso à variada gama de bens e
o Papa escrevera: serviços, disponíveis na sociedade, é através do emprego.
“Na sociedade ocidental foi superada a exploração, E ainda que a busca da riqueza pelo empresário não vise
pelo menos nas formas analisadas e descritas por Karl diretamente o bem estar geral, ao propiciar novos
Marx.” {CcnccsimusAnnus, § 41, p. 72). empregos está desempenhando função primordial. O
No caso brasileiro, a hierarquia católica reunida na resto fica por conta daquilo que nós liberais denominamos
CNBB, do mesmo modo que o PT, fiel à sua orientação, de igualdade de oportunidades e é parte de nosso
defendem estritamente os princípios da moral contra-
programa desde as versões desse ideário que se
reformista, amplamente difundida no Brasil desde o formularam a partir da segunda metade do século
século XVIII. Embora não se trate de contestar a passado. De modo que, do ângulo estritamente religioso
legitimidade da escolha religiosa dos católicos — ou sequer
a preservação da moral contra-reformista corresponde a
aceitar tranqiiilamente que lhes esteja vedado aderir ao uma brutal distorção do espírito da lei moral que
liberalismo —, cumpre-nos derrotar aquela hierarquia no herdamos de nossos mais remotos ancestrais.
plano teórico. Não há certamente nenhuma dúvida de
A par disto, o que a experiência ocidental evidencia
que o texto bíblico faça nitidamente uma opção pelos é que o capitalismo foi capaz de eliminar a pobreza,
pobres. Ainda assim, conforme analiso a questão mais t

detidamente no opúsculo Roteiro para o estudo da nos pois arrastá-los a esse debate teórico, onde certamen e
podemos derrotá-los. Ao mesmo tempo entendo que o

problemática moralna cultura brasileira (E. UEL, 1996),
liberais devam encarar com simpatia o crescim
escapa à sociedade descrita no Pentateuco o imperativo protestantismo. Tudo indica que o sistema repres I
de gerar a riqueza, como se dá na moderna sociedade I
industrial. Tratava-se ali de manter uma situação requer base moral cujo núcleo correspon
igualitária (entre as tribos) original, instituída pelo próprio convencionou denominar de moral socia e no
sensual. E esta, inquestionavelmente, rep
riador. O rico ganancioso era certamente uma ameaça
pluralismo religioso.
ao equilíbrio que o ano de jubileu buscava preservar. Na
poca Moderna, embora a avareza ou o ócio devam
ontinuar merecendo a nossa condenação, no seio dos
1 .t7I/tores riqueza (ou dos que se proponham alcança-
a uma igura digna de ser exaltada: o empresário.
azão muito simples de que ora estamos diante de

78
ANEXO - A OBRA E A PERSONALIDADE DE
SILVESTRE PINHEIRO FERREIRA

Silvestre Pinheiro Ferreira nasceu a 31 de dezembro


de 1769, em Lisboa. A família destinou-o à vida
i Ordem do Oratório,
eclesiástica, fazendo-o ingressar naC.
de
em 1783, aos quatorze anos c----- idade. Permaneceu no
Oratório durante cerca de dez anos ali recebeu sua
e
formação intelectual.
Na Ordem, a influência de Verney haveria de ser
muito presente, desde que até a sua morte (1792) faria
divulgar sucessivos textos, dando seqiiência ao' Pr°g^™.
formulado no Verdadeiro Método de Estudar (1746-
1747). Assim, os horizontes filosóficos devermm ser
fixados pelo empirismo mitigado, obrado propno Verney
d (1713/1769).
e do filósofo italiano Antonio Genovesi
doutrina
Silvestre Pinheiro Ferreira iria chocar-se com .
abandonar o
dominante, o que o levaria, primeiro,
is tarde, segundo se
projeto eclesiástico, e, pouco maL
tencionará, a emigrar de Portuga
inário,. ministrou aulas
Afastando-se do seminu-.27 logo (1794) obteve por
particulares em Lisboa mas 1 „
de Coimbra, o lugar de lente
concurso, na Universidade - i Racional e Moral do
substituto da cadeira de Filoso ia
Colégio das Artes. ofundar a crítica ao
Na nova situação, buscoui apr não foi
sistema filosófico vigente. S Q denunciou às
bem aceita pela comunida e q je Portugal,
autoridades. Ameaçado de prI^’etL1bal, a 31 de julho
embarcando clandestinamente trjnta anos.
de 1797. Tinha, portanto, meno estabeleceu
No exílio, Silvestre P‘nhe Conde de Barca,
relações com Antonio de AraUJ
81
ministro de Portugal em Haia, pessoa de influencia
/j
I
ascendente e que iria introduzi-lo na carreira diplomática. contribuiu decisivamente para eliminar a influência do ll
Assim, foi secretário interino da Embaixada em Paris, a seguir
empirismo mitigado sobre parcela significativa da elite.
secretário da Legação na Holanda (1798) e, depois (1802), A experiência brasileira comprovaria que esse sistema
encarregado de negócios na Corte de Berlim. acabou se combinando com a interpretação radical do
A permanência na Alemanha prolongou-se até 1810. liberalismo. Assim, sem minar seus fundamentos últimos
Acompanhou de perto o movimento idealista pós-
e sem a formulação de novos elementos teóricos, não
Kantiano, tendo assistido a conferências ou debates com
teria sido possível o ulterior predomínio dos moderados.
a presença, entre outros, de Fichte e Schelling. Suas Para semelhante desfecho a atuação de Silvestre Pinheiro
simpatias, contudo, eram todas para o sistema Wolf-
Ferreira revelou-se essencial, nos seguintes aspectos: 1Q)
Leibniz que, naquela oportunidade, ainda contaria com
a adesão da maioria das universidades. examinando cada um dos temas mais relevantes do
Embora estivesse destinado a se transformar no empirismo mitigado, com o que desvendou sua
fragilidade e inconsequência; 2Q) desenvolvendo de modo
reformador do empirismo mitigado e no grande
teórico do liberalismo político, Silvestre Pinheiro coerente a tradição empirista luso-brasileira e 3fl)
Ferreira circulava naquela atmosfera de verdadeiro reconhecendo abertamente as dificuldades de uma
deslumbramento pela ciência operativa, vigente em fundamentação empirista da liberdade. Pode-se dizer que
Portugal, o que o levou a cursar mineralogia, preparou os espíritos no sentido do passo subseqiiente,
inicialmente com Karsten, um dos principais isto é, o reconhecimento da importância e significação
discípulos de Werner, em Berlim, nos anos de 1802 e da obra de Maine de Biran, para não referir às suas
1803 e, em seguida, com o próprio Werner, em 1804 contribuições como filósofo político.
e 1805. A Corte o prestigiava ou hostilizava segun o a m I
montante do liberalismo. Assim, em fins de 1812, chegou I
Regressou dir<
quando a Corte já etamente para o Brasil, em 1810, a ser exilado para a ilha da Madeira, punição su p
já se achava sedimentada. Cercava-o, quando já se achava a bordo de navio com aque e e
então, a fama de erudito I
comprovaria não ser ir .3 e liberal, que a posteridade Os sucessos da Revolução Espanhola e a aprovaçao a I
inúmeros dissabores. — imerecida mas que lhe acarretaria Constituição, pelas Cortes de Cadiz, naque e I
No Rio de Janeiro, Silvestre Pinheiro Ferreira volta leva D. João VI a solicitar-lhe projeto de Rformada
à condição de professor de Filosofia. Seu magistério'3’ Monarquia, tarefa de que se desincum esugestóes
Em vista da derrota daquele movimen ,
não foram consideradas. ikra do Porto e
Com a Revolução ^-^^onarca entregar
" Ft'U"'if‘cas' iniciadas em 1813, reediiadas sua repercussão no Brasil, deci q Ferreira,
10 Brasi’eiro de Filosofia (Grijalbo/USP. 1970,389 págs.)
a chefia de seu governo a Silvestre
82
em fevereiro de 1821, que nele acumula as pastas do escrito, o que só em parte se efetiva na Preleções
Exterior e da Guerra. Nessa condição regressa com o Filosóficas, em Paris cuidou de fazê-lo no Essaisur la
monarca a Portugal, afastando-se do governo em 1823, psychologie (1826) que mais tarde (1836 e 1839)
em vista dos propósitos absolutistas que logo se con­ resumia, em forma de compêndio, nas Noções
figurariam. Coube portanto ao ilustre pensador a elementares de filosofia gera! e aplicada às ciências
espinhosa missão de efetuar o trânsito da monarquia morais e políticas. Ontologia, Psicologia e Ideologia
absoluta para a constitucional, em meio a clima de todo (1839).
desfavorável, lutando contra os que apenas ganhavam No período recente, além da reedição das
tempo e somente desejavam a volta da situação antiga e, Preleções Filosóficas, foram publicados Ideias políticas
simultaneamente, cuidando de isolar o radicalismo. (Rio de Janeiro, Documentário, 1976), uma antologia
Saindo do Governo, exilou-se voluntariamente em de seus principais textos na matéria, preparada por
Paris. Duas vezes foi eleito deputado (1826 e 1838), sem Vicente Barretto, e Ensaios filosóficos (Rio de Janeiro,
que se dispusesse a exercer o mandato, preferindo Documentário, 1979), compreendendo a obra
permanecer na capital francesa. Contudo, após uma filosófica concluída no exílio, em Paris. O Centro e
terceira eleição (1842), decide-se pelo regresso a Portugal. Documentação do Pensamento Brasileiro, sediado em
Tinha então quase setenta e três anos de idade, saúde Salvador, dedicou-lhe uma de suas Bibhogra las e
alquebrada, supondo-se que haja na verdade optado por estudos críticos, aparecida em 1983. Essa pu ícaç
morrer em solo pátrio. E, com efeito, menos de três anos insere os principais ensaios sobre sua obra, e au
depois viria a falecer, a 2 de julho de 1846.
portugueses e brasileiros. i
Durante a longa estada parisiense, cerca I
de vinte
anos, Silvestre Pinheiro Ferreira elaborou extensa obra I
de filósofo e publicista político. Comentou e criticou
exaustivamente as Constituições brasileira e portuguesa,
iscutiu nos mínimos detalhes os problemas da doutrina
cral e, em 1834, publicou uma síntese de suas ideias
anual do Cidadão em um governo representativo,
em três tomos.
No entender de Silvestre Pinheiro Ferreira, o direito
constitucional, como então se denominava o liberalismo
político, se encaixava num amplo sistema filosófico, cuja
concepção seria obra do período brasileiro. Como naquela
oportumdade não pôde dedicar-se a apresentá-lo por

84 85
1

PARTIDO DA FRENTE LIBERAL - PFL

Comissão Executiva Nacional

Presidente: Dr. Jorge Konder Bornhausen (licenciado)


lu Vice-Presidente: Deputado José Jorge (Presidente em exercício)
2U Vice-Presidente: Senador José Agripino Maia
3U Vice-Presidente: Deputado Raul Belém
Secretário-Geral: Senador Waldeck Orneias
1u Secretário: Deputado Vil mar Rocha
2U Secretário: Senador Bemardo Cabral
1“ Tesoureiro: Deputado César Bandeira
I Deputado Werner Wanderer
2U Tesoureiro:
I Líder na Câmara: Deputado Inocêncio Oliveira
Líder no Senado: Senador Hugo Napoleão

Vogais: ex-GovemadorJoão Alves Filho


Senador Antonio de Almendra Freitas Neto
Deputado Saulo Queiroz
Deputado João Mellão Neto
Deputado Antonio dos Santos

Deputado Osório Adriano Filho


Suplentes:
Deputado Roberto Lima Neto
Deputada Marilú Guimarães
Doutor Louríval Baptista
Prefeito Alceni Guerra

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