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O Movimento Teosófico
Deve Abrir Espaço Para o Futuro
 
 
Carlos Cardoso Aveline

 
 
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Esse texto foi  publicado inicialmente sob o título
“The  Coming  of  the  New  Cycle”  na revista
eletrônica “The Aquarian Theosophist”, edição do
mês  de  novembro de 2005, pp. 01-07. A coleção
completa de “The Aquarian Theosophist” está
disponível em www.TheosophyOnline.com . A presente
versão em língua portuguesa é uma tradução de Martha
Vieira, e inclui algumas poucas adaptações para o
público de língua portuguesa, feitas pelo autor.
 
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Neste início do século 21, os estudantes da filosofia esotérica podem se perguntar qual é
a sua responsabilidade em relação ao conjunto do carma humano.
 
De certo modo, eles são guardiães de uma sabedoria tão antiga quanto moderna.  No
entanto, eles não devem estudar a Sabedoria somente para seu próprio benefício. Se o
fizerem,  seu  fracasso será desde o começo inevitável.  
 
Para entender o espírito da sabedoria sagrada, o objetivo do estudante deve ser
beneficiar a humanidade. E mesmo isso não é suficiente: Helena P. Blavatsky  ensinou
que o conhecimento filosófico também deve ser um processo vivo e criativo,
constantemente aplicado e testado na nossa vida cotidiana. Não se alcança a sabedoria
repetindo sempre as mesmas  ideias contidas nos livros sagrados.
 
Mas, se tivermos algum grau de verdadeiro altruísmo e de vontade de agir a partir desse
sentimento,  pode ser, então,  que nos confrontemos com uma questão  bastante
desconfortável:
 
“À medida que nossa civilização se confronta com perigos grandes e crescentes de
vários tipos, de que forma devemos nos sentir responsáveis por seu futuro?  Qual é
a nossa responsabilidade real?”
 
Responder a essa questão não é tarefa simples. Há, porém, pelo menos uma coisa sobre
a qual podemos ter certeza:  estamos rodeados de crises e oportunidades.
 
A cada noite,  elas estão nos noticiários de televisão. Elas são apresentadas em  nossos
jornais e programas de TV favoritos. Por toda a África, Europa, Ásia e Américas,
inundações, incêndios florestais, secas, furacões e outros eventos semelhantes parecem
promover uma mudança climática global que pode ter efeitos drásticos sobre o destino
da nossa civilização. Essas centenas de eventos climáticos são mostradas na mídia como
se fossem fatos isolados que  acontecem nesse momento apenas por alguma estranha
coincidência.  
 
Isso, porém,  não é verdade. Também não é por coincidência que os sinais de
decadência ética e social da nossa civilização – incluindo crime organizado,  corrupção
na política, miséria,  guerras  e ataques terroristas – ocorrem ao mesmo tempo que o
desmatamento,  a poluição ambiental e as mudanças climáticas. A verdade é que
espírito e matéria evoluem juntos: ao longo da História,  cada vez que a ganância do
homem o fez destruir seu ambiente natural, ele mesmo acabou pagando caro por isso.
 
Ao escrever em 1879 sobre os efeitos do desmatamento na Índia, por exemplo, H. P.
Blavastsky disse:
 
“Uma rápida olhada nas páginas da História já mostra que a ruína e a extinção definitiva
do poder nacional se segue à extirpação das florestas, tão certo como a noite segue o
dia. A natureza providenciou os meios para o desenvolvimento humano, e suas leis
nunca podem ser violadas sem desastre.” [1]   
 
Os ecologistas e aqueles que estudam a filosofia esotérica sabem que tudo no planeta  se
inter-relaciona.
 
Por outro lado, também vemos que ter acesso à informação  não é o mesmo que ter
conhecimento. A diferença entre conhecimento e  informação é que o conhecimento
leva à ação correta, mas a mera informação,  não.
 
Assim, para responder à pergunta sobre a nossa responsabilidade em relação ao destino
da civilização atual, nós teremos que começar por examinar um questionamento prévio
e também desconfortável:
 
“Quanto conhecimento direto temos sobre filosofia esotérica?”
 
A importância disso é que só o conhecimento direto provoca um sentimento duradouro
de responsabilidade, livre de vaidade ou messianismo.   
 
Uma percepção exata das coisas, sentida profundamente, produz um senso de ética e
uma intenção ativa de ser útil. Talvez tenha sido para ressaltar o significado desse
sentimento de responsabilidade pessoal que Thomas Taylor, o filósofo neoplatônico,
escreveu há alguns séculos:
 
“Um pouco de conhecimento é uma coisa perigosa.
Beba muito, ou  então não prove da fonte PLATÔNICA;
Nela,   pequenos goles intoxicam o cérebro,
E beber profundamente  nos faz sóbrios de novo.” [2]
 
A responsabilidade que emerge do conhecimento profundo nos torna sóbrios de novo –
porque ela  nos leva  para a ação,  externa e  interna.
 
Quando os estudantes têm um sentido de responsabilidade natural e espontânea  em
função daquilo que estão aprendendo, então surge o momento certo para um número
crescente deles começar a pensar, de forma calma e tranquila, sobre duas questões:
 
1) Para a filosofia esotérica, o tempo é circular, ou cíclico. Ele avança em espiral.
Como podemos avaliar o atual momento de nossa civilização, do ponto de vista
dessa doutrina dos ciclos  ou eras?
 
2) Qual é a relação entre o surgimento de um  novo ciclo do tempo humano e as
crescentes dificuldades enfrentadas por tantos países nesta primeira parte do
século 21?
 
Talvez possamos obter apenas alguns fragmentos da resposta  – mas isso não é, em
absoluto, razão para desistir. Investigar pacientemente o assunto e compartilhar nossos 
esforços pode ser útil tanto para a causa do bem da humanidade como para nós mesmos.
Cada aspirante à verdade deve começar pelos fragmentos que estão ao seu alcance.
Cedo ou tarde a intuição e o bom senso podem ajudá-lo a preencher os espaços em
branco. À medida que o tempo  passa, o Carma e aqueles que sabem mais do que nós
tendem a facilitar nossa tarefa  de vários modos  visíveis ou invisíveis.
 
Ao investigar a doutrina dos ciclos, relacionando-a ao momento atual da história da
humanidade, há algo que devemos lembrar desde o início. É inútil tentar estabelecer o
momento exato em que esse ou aquele “grande evento” deverá acontecer.  As mudanças
dos ciclos de tempo, ou eras,  não ocorrem de acordo com a nossa noção de tempo
superficial. No texto de HPB, Conversations on Occultism(Conversações Sobre
Ocultismo), um estudante pergunta:
 
“Será correto inquirir sobre os períodos em que os ciclos mudam, e especular sobre
mudanças, astrológicas ou outras, que anunciam uma queda?” 
 
E um sábio responde:
 
“Não. Há um antigo ditado que diz que os deuses têm ciúmes dessas coisas, não
desejando que os mortais as saibam. Nós podemos analisar a era, mas é melhor não
tentar fixar a hora de uma mudança de ciclo. Além disso, você não será capaz de
determiná-la porque um ciclo não começa em um certo dia ou ano de um outro ciclo,
eles se sobrepõem, de modo que embora a roda de um período ainda esteja girando, o
momento inicial do outro já começou.” [3]
 
Quanto à chegada do novo ciclo, iniciada no final do  século 19, há um parágrafo bem
conhecido,  escrito por um discípulo conforme o ditado de um Mestre de Sabedoria:
 
“Nós estamos no final de um ciclo – geológico e de outras dimensões – e no começo de
outro ciclo. Cataclismo seguirá cataclismo. As forças acumuladas estão explodindo em
muitos locais; e os homens não serão apenas engolidos ou mortos aos milhares; “novas”
terras aparecerão e “velhas” submergirão, erupções vulcânicas e ondas gigantescas
causarão medo; mas segredos de um passado insuspeito serão revelados, para assombro
dos teóricos ocidentais e humilhação de uma ciência arrogante. Essa nau à deriva, se
observada,  pode parecer encalhar nos vestígios emergentes de antigas civilizações, e se
despedaçar. Não ambicionamos as honras dos profetas: ainda assim,  que isso fique
como uma profecia.” [4]
 
Cataclismo seguirá cataclismo, disse a profecia em 1883.  Já que  sabemos que o ciclo
novo e o ciclo velho se misturam e convivem muito tempo durante a transição, podemos
deduzir facilmente que essa profecia não se referia apenas a algumas décadas. Vejamos,
então – do ponto de vista dos melhores levantamentos científicos disponíveis
atualmente  –  qual é a avaliação científica  feita, em 2005,  a respeito dos
acontecimentos geológicos e climáticos que ocorreram  nos últimos 100 anos,
aproximadamente.  Isso servirá para ilustrar o fato de que, apesar de todos os
obstáculos, a filosofia esotérica deve manter um diálogo vivo com a ciência e os
cientistas.
 
Como escreveu um dos Mahatmas: “A ciência moderna é o nosso melhor aliado.” [5] A
ciência convencional frequentemente despreza a sabedoria esotérica; mesmo assim, a
palavra do Mestre permanece verdadeira. 
 
O mundialmente respeitado WorldWatch Institute, em Washington, costuma estudar os
acontecimentos do mundo atual à luz da sustentabilidade ecológica e da ética social. Na
edição de Janeiro/Fevereiro de 2005, o Instituto publicou um artigo
chamado Repensando a Segurança – um Papel Diferente Para os Militares. Escrito por
Gregory D. Foster – professor na Universidade Nacional de Defesa em Washington e
importante especialista militar dos EUA – o texto compara dois dos principais
problemas que, no momento, confrontam nossa civilização: o terrorismo e a crise
ambiental.
 
O professor Foster diz que a maioria dos governos costumam subestimar a importância
das questões ecológicas. E explica:
 
 “Que as questões ambientais preocupem tão pouco o público em geral é um reflexo do
quão limitado e pouco estratégico é, na realidade, o nosso pensamento sobre segurança.
(...) Vejam, por exemplo, a comparação entre o número de mortes causadas pela ameaça
terrorista, que dispõe de alta credibilidade,  e a ameaça dos desastres naturais, que
merece pouco crédito.  Desde 1968, ocorreram 19.114 incidentes terroristas em todo o
mundo, resultando num total de 23.961 mortes  e 62.502 ferimentos associados. Por
mais perturbadores que possam ser esses dados, eles perdem força quando comparados
aos dos desastres naturais.”
 
Gregory Foster prossegue:
 
“A média anual de mortes no decorrer do século passado, devido a seca, fome,
enchentes, vendavais, extremos de temperatura e incêndios florestais, foi de 243.577.
Assim, mesmo ignorando terremotos, erupções vulcânicas e epidemias, e não contando
os ferimentos e demais prejuízos (tais como ficar desabrigado), três vezes mais pessoas
morrem a cada ano, em média, em desastres naturais que poderiam estar relacionados –
e exacerbados – pela mudança climática,  do que as que foram mortas ou feridas, ao
todo,  em 37 anos de incidentes terroristas. E,  se a média de todo um século parece
indesejável,  temos que,  considerando apenas o período a partir de 1990,  já ocorreram
mais de 207.000 mortes causadas por esses desastres apenas no sul da Ásia; mais de
23.000 na América Central e México,  e dezenas de milhares em outras partes do
mundo.” [6]
 
Assim, a profecia escrita em 1883 é confirmada pelos fatos, se a compararmos com os
dados provenientes das melhores  fontes científicas disponíveis atualmente.
 
O artigo do professor Foster na revista “Worldwatch” não é um fato isolado.
 
Um ano antes, Sir David King, conselheiro-chefe para assuntos científicos do primeiro-
ministro britânico Tony Blair, escreveu um artigo publicado na edição de 4 de janeiro
de 2004 da revistaScience,  dizendo que a mudança climática era “o problema mais
grave que estamos enfrentando hoje – mais grave até do que a ameaça terrorista”. Sir
David King disse que  o governo dos EUA estava fracassando em enfrentar o desafio do
aquecimento global”.  [7]
 
Em fevereiro de 2004 as revistas “The Observer”, na Inglaterra,  e “Fortune”, nos EUA, 
revelaram algumas das principais conclusões de um relatório científico feito pelo
Pentágono para o presidente George W. Bush.  A  revista brasileira “CartaCapital”
dedicou reportagem de capa ao assunto.[8] O relatório antevia a possibilidade de uma
desordem ecológica, geológica, econômica, social e militar de âmbito mundial, entre
2010 e 2015, com sérios problemas começando a partir de 2007.
 
Vale a pena registrar que o bem conhecido filme “O Dia Depois de Amanhã”  (“The
Day After Tomorrow”) está  baseado em algumas das principais hipóteses que
ecologistas e cientistas têm adotado recentemente.
 
Fatos são fatos: cientistas e especialistas de ponta estão tendo que aceitar uma realidade
óbvia. Os padrões e ritmos climáticos têm ficado mais e mais imprevisíveis ao redor do
mundo. Em dezembro de 2004 vimos o tsunami asiático causar milhares de vítimas em
vários países. Todo o planeta foi levemente sacudido por aquele acontecimento,
sugerindo que eventos maiores desse tipo podem mudar a posição do eixo planetário,
um evento cíclico discutido na obra de H.P. Blavatsky  “A Doutrina Secreta”.
 
Em agosto de 2005 o furacão Katrina matou muitas pessoas e causou grande devastação
nos EUA.  Vulcões entram em atividade, secas e enchentes se espalham, e milhares de
eventos menos espetaculares acontecem todos os dias, com custos econômicos e sociais
imensos.
 
O Brasil não é exceção.  Vale a pena registrar um  fato entre muitos: em meados de
2006, a seca atingia vários estados nas regiões sul e sudeste do país. No dia 21 de
agosto, em Ribeirão Preto, em SP, a umidade relativa do ar caiu para 4,8 por cento,
quebrando o récorde nacional de todos os tempos desde que há  medições.  No mesmo
dia, a umidade relativa do ar no deserto do Sahara, no norte da África, foi de 10 por
cento. [9]  
 
Será que a desregulação climática tem  relação com a mudança de ciclo na evolução
humana? Sim: podemos estar razoavelmente seguros a respeito disso.  Os eventos
futuros mais importantes frequentemente lançam sua sombra sobre o presente,  e um
Mestre de Sabedoria escreveu:
 
“A aproximação de cada novo ‘obscurecimento’ é sempre assinalada  por cataclismos –
de fogo ou de água.” [10]  
 
Fica claro, agora,  que as forças “acumuladas” às quais a profecia de 1883 se referiu não
estão apenas “explodindo por todos os lados”.  Elas  estão também acelerando o ritmo
com que eclodem.  O fato de estarmos enfrentando tantos eventos diferentes no mundo
externo –  todos ocorrendo ao mesmo tempo –  nos faz pensar sobre a relação  entre a
aceleração de tais acontecimentos e a mudança de ciclo na história humana.   
 
Podemos nos lembrar de uma carta de um Mestre,  em que ele usa a expressão
antropológica-esotérica “sub-raça”, termo  que significa “uma sucessão de civilizações
ao longo de milhares de anos”.  Disse o sábio, na década de 1880: 
 
“Menos de dois séculos antes da chegada de Cortez houve uma grande ‘aceleração’ em
direção ao progresso entre as sub-raças do Peru e México, assim como há hoje na
Europa e nos E.U.A. A sub-raça deles terminou em quase total aniquilação devido a
causas geradas por ela própria ; o mesmo ocorrerá com a sua,  ao final desse ciclo.”
[11]  
 
Menos de dois séculos, de fato. Estaria o Mestre sugerindo que um  ciclo seria
concluído “menos de dois séculos” depois dos anos 1880, quando sua carta foi escrita?
 
No mesmo texto, esse místico dos Himalaias acrescentou – usando a palavra “raça” no
seu sentido esotérico/espiritual de uma longa série de civilizações, cujos cidadãos
podem ter diferentes características físicas:
 
“... Assim, havendo atingido o ápice do seu desenvolvimento e glória, a quarta Raça,
dos atlantes, foi destruída por água; você encontra hoje apenas seus remanescentes
decadentes e caídos, cujas sub-raças, no entanto – ah, cada uma delas teve seus dias
prósperos, gloriosos e de relativa grandeza.  O que elas são agora – vocês serão algum
dia, porque a lei dos ciclos é única e imutável.  Quando a sua raça – a quinta – houver
alcançado o seu zênite de intelectualidade física, e desenvolvido a civilização mais
elevada (...), incapaz de elevar-se em mais nada em seu próprio ciclo, seu avanço em
direção ao mal absoluto será interrompido (como seus antecessores, os lemurianos e
atlantes, foram interrompidos em sua marcha no mesmo rumo) por uma destas
mudanças  cataclísmicas; sua grande civilização será destruída (...).” [12]
 
No parágrafo acima, é  útil meditar especialmente sobre essas palavras:
 
“... Seu avanço em direção ao mal absoluto será interrompido (.....) por uma destas
mudanças  cataclísmicas ...”
           
De fato, os acontecimentos internos e externos estão fortemente conectados,  e não
podem ser separados.
           
As crises ética, social e geológica de nosso tempo são todas parte de um mesmo
processo.  Os ciclos cósmicos e geológicos estão ligados de modo direto às marés
subjetivas que sobem e descem dentro das almas dos seres vivos. 
             
William Q. Judge escreveu:
           
“Em relação aos grandes cataclismos que ocorrem no início e no fim dos grandes ciclos,
as principais leis que governam os seus efeitos  são as leis do Carma e da
Reeencarnação, que atuam de acordo com a regra cíclica. Não é apenas o homem que é
governado por essas leis, mas também cada átomo de matéria e o conjunto da matéria
estão constantemente passando por mudanças ao mesmo tempo que o homem.” [13]
           
A Bíblia cristã registra esse fato em vários trechos, inclusive em Deuteronômio,
capítulos 27 e 28;  no primeiro livro de Reis,  capítulo 8; e em Isaías, capítulos 10 e 29. 
O antigo Wen-tzu taoísta estabelece a mesma ligação direta entre a evolução da alma e
os processos geológicos. [14]  
 
Nessa relação entre os processos  da alma e os processos geológicos, sabemos que os
fatos da consciência, que são  sutis,  têm mais influência do que os fatos materiais e
densos.  “O Universo é governado de dentro para fora”, segundo afirmou o famoso
cientista do século 20 Fred Hoyle, um físico, em seu livro “O Universo Inteligente”.
 
Assim, ao examinar o destino dos globos planetários [e o mesmo vale para civilizações],
Judge diz:
           
“Nós não admitimos que o fim de uma força está na  retirada por parte de um Deus de
sua proteção, nem no súbito impulso dado por ele a uma outra força contra o globo, mas
que a força em ação e que determina o grande ciclo é a mesma força do homem,
considerado como ser espiritual; quando ele terminou de usar o globo , ele o deixa 
(...).”  [15]    
 
A ideia se aplica também a civilizações porque, como se sabe,   aquilo que é válido para
os ciclos mais longos  vale,  também,  para os ciclos menores.  
 
Então podemos ver que os altos e baixos das marés cíclicas da ética, da justiça e da
solidariedade na alma coletiva da humanidade exercem  uma influência decisiva no
destino das civilizações.
 
E isso torna-se muito claro quando vemos a Profecia Purânica, registrada por
H.P.Blavatsky  nas páginas de “A Doutrina Secreta”:
 
“Haverá monarcas contemporâneos reinando sobre a terra, reis de espírito mau e caráter
violento, devotados à mentira e à perversidade. Farão matar mulheres, crianças e vacas;
apoderar-se-ão dos bens dos seus súditos , e cobiçarão as mulheres dos outros; terão
um poder ilimitado,  suas vidas serão curtas, seus desejos insaciáveis. (...) Apenas a
propriedade material definirá a posição social; a riqueza será a única coisa capaz de
inspirar devoção; a paixão será o único elo de união entre os sexos; a falsidade será o
único meio de sucesso nos conflitos, e as mulheres serão meros objetos de gratificação
sensual... até que a raça humana se aproxime de sua aniquilação (pralaya) ..... Quando o
fim da era de Kali  estiver próximo, uma porção daquele ser divino que existe, de sua
própria natureza espiritual.... deverá descer à terra... (Kalki avatar) (.....) Ele
restabelecerá a justiça sobre a terra e as mentes daqueles que viverem no final do  Kali
Yuga serão despertadas e se tornarão translúcidas como o cristal.”
 
Novamente, não há motivo para pensar que essas palavras se referem  unicamente a
algum futuro distante, já que sabemos que grandes ciclos são antecipados por ciclos
menores.   Logo abaixo dessa transcrição da profecia purânica, H.P.B.  escreveu,
ironicamente:
 
“Certa ou errada a profecia acima,  as ‘bençãos’ do Kali Yuga são bem descritas e se
casam admiravelmente com o que vemos e ouvimos na Europa e em outras terras
civilizadas e cristãs, em pleno século XIX e alvorecer do XX, a respeito da nossa grande
era ILUMINADA”. [16]
           
Como sabemos que  os eventos externos (físicos) e internos (da alma) estão sempre
ligados, fica mais fácil entender certos aspectos da responsabilidade cármica e ética que
pertence aos estudantes de filosofia esotérica, com relação ao destino de nossa atual
civilização.
 
H.P.B. não se recusou a escrever sobre isso. Em pelo menos dois textos, ela reconheceu
a existência de uma ligação direta entre o nível de lealdade à Verdade,  no movimento
esotérico e nos seres humanos de boa vontade,  e o destino da nossa civilização.
 
No artigo “Our Cycle and the Next”  (“Nosso Ciclo e o Próximo”) , H.P.Blavatsky  cita
uma profecia otimista atribuída ao escritor francês Victor Hugo.  O autor de “Os
Miseráveis” escreveu:
 
“O século dezesseis será conhecido como a era dos pintores, o dezessete será nomeado a
era dos escritores, o dezoito a era dos filósofos, o dezenove a era dos apóstolos e
profetas. (....) No século vinte, a guerra estará morta, o cadafalso estará morto, a
animosidade estará morta, mas o homem viverá. Para todos haverá um único país – e
esse país será a terra inteira; para todos haverá apenas uma esperança –  e essa
esperança todo o paraíso.”
 
Logo abaixo dessa citação, H.P.B.  refere-se ao elo oculto que liga o destino da nossa
civilização à Sabedoria Esotérica (um de cujos muitos nomes é “Teosofia”).  Ela
escreveu:  
 
“Se a Teosofia, prevalecendo na luta, lançar as raízes profundas de sua filosofia toda
abrangente nos corações e mentes dos homens, se suas doutrinas da Reencarnação e do
Carma, em outras palavras, da Esperança e Responsabilidade, encontrar abrigo nas
vidas das próximas gerações, então, de fato, uma época de alegria e contentamento
nascerá para todos aqueles que agora estão  desprezados e sofrendo. Porque a verdadeira
Teosofia é ALTRUÍSMO, e isso tem suprema importância.  É o amor fraternal, ajuda
mútua, devoção inabalável à Verdade. Se de uma vez por todas os homens se
conscientizarem de que apenas assim pode-se encontrar a felicidade,  e nunca na
riqueza,em posses ou gratificações egoístas, então as nuvens negras serão dissipadas e
uma nova humanidade nascerá sobre a terra. Então de fato terá início a Idade de Ouro.
Mas se não for assim, a tempestade explodirá e nossa alardeada civilização e sua cultura
afundarão num mar de tamanho horror como jamais se registrou.” [17]
 
“A Chave Para a Teosofia” é um outro livro em que  H.P.B.  liga o futuro da civilização
ao trabalho do movimento esotérico ou “teosófico”. Ela escreve, no parágrafo final do
livro,  que se o movimento cumprisse  sua missão, a  Terra seria um paraíso no século
21, se comparada com o que ela era no século dezenove. [18]
 
Menos de dois séculos se passaram desde que essas palavras foram escritas.
 
Surgiram no movimento esotérico inúmeras divisões. Multiplicaram-se falsos
clarividentes, ritualismos, crenças e dogmas religiosos em um movimento que deveria
ser filosófico e buscar livremente a verdade que está além das formas e instituições.
Perdeu-se grande parte da perspectiva geral e ampla trazida por HPB.  Alguns
progressos foram feitos.
 
Embora ainda pouco visível, permanece no mundo na  primeira década do século 21,
um núcleo de lealdade sincera e ativa à Verdade Universal e ao altruísmo – isso é, à 
Sabedoria  Divina livre de rótulos externos.   
 
Esse núcleo está espalhado por vários países e línguas. De um ponto de vista profundo,
esse é um grupo de almas, e não de personalidades físicas.  
 
Muitas dessas pessoas sequer ouviram falar sobre Mestres de Sabedoria, Teosofia ou
Helena Blavatsky. Muitos tampouco participam da Universidade da Paz, da organização
Brahma Kumaris, do movimento Boa Vontade Mundial (Escola Arcana) ou de outros
movimentos universalistas. Mas suas mentes estão sinceramente voltadas para o bem da
humanidade,  em uma perspectiva capaz de transcender esta ou aquela religião,  e
portanto participam, em escala maior ou menor,  do esforço do Novo Ciclo.
 
Alguns buscadores da verdade estudam filosofia esotérica, meditam, refletem  e buscam
o autoaperfeiçoamento de modo regular e diário, enquanto expandem sua consciência
individual como cidadãos planetários.
 
Cada um faz o que lhe parece adequado a cada momento. O mais importante, para a
filosofia esotérica, é a existência de um Território Sutil de Veracidade, Sabedoria e
Compaixão; ou seja, uma massa acumulada de pensamentos e sentimentos
universalmente fraternos, que é alimentada por pessoas de boa vontade. 
 
Esse “território” subjetivo vive  dentro do campo magnético maior que é o inconsciente
coletivo da humanidade;  e ele  abre caminho para o próximo passo evolutivo da 
caminhada comum. 
 
Grande ou pequeno, esse guarda-chuva de fraternidade incondicional  já está aberto
sob um céu que promete tempestades. 
 
Esse guarda-chuva de sabedoria planetária  é um fator construtivo central no processo
que define o  destino da civilização humana  nas próximas décadas.  
 
 
NOTAS:
 
[1] “The Theosophist”, Adyar, India,  Volume I, November 1879, p. 42. 
 
[2] “The Theosophist”, Adyar, India,  Volume II, December 1880, p. 52.
 
[3] “H. P. Blavatsky Collected Writings”, TPH,  India-USA, Volume IX (1888), TPH,
USA, 1986, p.101.
 
[4]  Esse trecho pertence ao parágrafo final do texto intitulado “Sakya Muni’s Place in
History”, publicado pela primeira vez no século 19.  Veja “Five Years of  Theosophy”,
The Theosophy Co., Los Angeles, 1980, p. 388. Também aparece em “Collected
Writings” de HPB, TPH, volume V, p. 259.  Quanto ao autor da profecia, H.P.B.
escreveu em uma carta particular ao sr.  Sinnet que um Mestre  “ordenou  a Subba Row 
que respondesse sua objeção sobre a data de nascimento do Buda e as fantasiosas datas
de Cunningham”  (Veja “Letters of H. P. Blavatsky to A.P. Sinett”, T.U.P., Pasadena,
CA, facsimile edition, 1973, Letter XXIII,  p. 46.)  O sr. Subba Row escreveu as ideias
do mestre, e  isso inclui a profecia.  
 
[5] “Cartas dos Mahatmas para  A. P. Sinnett”,  Editora Teosófica, Brasília, 2001,
edição em dois volumes, ver volume I, Carta 65, p. 268.
 
[6]  “WorldWatch magazine”, Worldwatch Institute, Washington, vol. 18, no. 1,
January/February 2005, p. 43. Todo o artigo é muito útil para uma avaliação teosófica
do atual momento da humanidade.
 
[7] Citado pelo professor Foster  em “Worldwatch magazine”, January/February 2005,
p. 38. 
 
[8] “CartaCapital”, edição semanal de 03 de março de 2004. Ver também a revista
“Wordwatch”, do “Wordwatch Institute”, Washington, May/June 2004, p. 9. 
 
[9] “Folha de S. Paulo”,  SP,  22 Agosto 2006,  Capa e página C6.
 
[10] “Cartas dos Mahatmas para  A. P. Sinnett”,  Editora Teosófica, Brasília, 2001,
edição em dois volumes, ver volume II, Carta 93B, p. 120. 
 
[11] “Cartas dos Mahatmas para  A. P. Sinnet”,  Editora Teosófica, Brasília, 2001,
edição em dois volumes, ver volume II, Carta 93B, p. 110.  
 
[12]  “Cartas dos Mahatmas para  A. P. Sinnett”,  obra citada, volume II, Carta 93B, p.
120.
 
[13] “The Ocean of Theosophy”, William Judge, Theosophy Co., Los Angeles, 1987,
see p. 123.
 
[14] Ver os capítulos 15, 19, 136 e 178 de “Wen-tzu, a Compreensão dos Mistérios,
Ensinamentos de Lao-Tzu” , Ed. Teosófica,  Brasília, 198 pp.  A obra tem 180 capítulos
breves.      
 
[15] “The Ocean of Theosophy”, William Judge, obra citada,  p. 118.
 
[16]  “The Secret Doctrine”, H. P. Blavatsky, The Theosophy Co., Los Angeles, 1982,
volume I, pp. 377-378. Veja também a edição brasileira: “A Doutrina Secreta”,  Ed.
Pensamento, SP, seis volumes, volume II, pp. 84-85.
 
[17] “H. P. Blavatsky Collected Writings”, Volume XI (1889), TPH, India-USA, 1973,
p. 202.
 
[18] “A Chave Para a Teosofia”, H.P.Blavatsky, Editora Teosófica, Brasília, 1991, 262 
pp., ver  p.261.
 
 
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Artigo publicado originalmente em www.FilosofiaEsoterica.com .
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