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O cinema foi escolhido como esse instrumento, tendo em vista o alto analfabetismo da
população russa na época. A estética da arte soviética no período recebe o nome de Realismo
Socialista: exaltava o poder do trabalhador ao mesmo tempo que precisava ser compreensível
por ele.
O filme dramatiza o levante da tripulação do navio Potemkin em 1905 contra o Império Russo.
Como se trata de um filme mudo, os temas de rebeldia contra a opressão do Império autoritário
e revolução do povo contra as elites são aparentes na caracterização dos personagens: os
marinheiros são claramente heróis com quem o público deve ter simpatia e seus opositores, os
cruéis homens do Czar, são mostrados como inegavelmente malignos.
Com Outubro: Dez Dias que Abalaram o Mundo em 1928, Eisenstein dramatizou a revolução
de 1917 para o seu décimo aniversário, mas o impacto foi bem diferente daquele de Potemkin.
O diretor foi criticado por romper com o princípio de inteligibilidade do cinema soviético –
Eisenstein experimentou com seu conceito de Montagem Intelectual, onde elementos são
conectados através da montagem e o sentido da mensagem deve ser interpretada pelo
espectador usando sua bagagem intelectual. O Estado também exigiu que fossem retiradas as
referências a Leon Trotsky, persona non grata no período.
Após Outubro, Eisenstein partiu para a Europa e os EUA, onde teve contato com os
desenvolvimentos tecnológicos para o cinema sonoro. Sua tentativa de dirigir um filme
americano no entanto foram rechaçadas pelo anti-comunismo da indústria cinematográfica de
Hollywood. Através de contatos com Charles Chaplin, ele conseguiu o financiamento de
investidores para um filme no México, que nunca conseguiu concluir.
Ao retornar à União Soviética o cineasta era alvo de mais desconfiança do que nunca. Em
1938 aceitou como “última chance” a direção de Alexander Nevsky, filme de propaganda contra
a Alemanha hitlerista representando o príncipe russo que derrotou os invasores alemães no
Século XIII. Para garantir o cumprimento dos prazos e tolher as tendências experimentais de
Eisenstein, o diretor foi forçado a trabalhar com colaboradores, o que resultou num filme mais
convencional.
Foi o primeiro filme sonoro do diretor e também um grande sucesso de público, seu primeiro
filme completado em mais de uma década. No ano seguinte, os dois países assinaram um
pacto de não-agressão, o que fez com que o filme fosse tirado de circulação, para retornar
apenas em 1941 com a invasão da União Soviética pelas tropas nazistas.
O projeto seguinte seria uma trilogia sobre Ivan, o Terrível. Encomendada por Stalin, que se
identificava com a figura histórica, o primeiro filme, lançado em 1944, retratava o Czar como um
herói nacional e foi bem recebido. Entretanto, o segundo filme de 1946 desagradou
profundamente os representantes do Estado e foi proibido, com isso cancelando de vez a
terceira parte, cujo material foi confiscado e destruído. Eisenstein morreria em 1948 e Ivan
Parte 2 só seria lançado dez anos depois, como parte do relaxamento da censura depois da
morte de Stalin.