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SEMINÁRIO BETEL BRASILEIRO

TEOLOGIA MINISTERIAL

LUCAS ESTEVAM FIGUEIREDO CARNEIRO

PREPARAR OS SANTOS PARA A OBRA DO MINISTÉRIO


Estudo bíblico de Efésios 4:7-16

GUARULHOS
2018
Índice

● Preparar os santos para a obra do ministério 2


● Mapa do texto 3
● Veja a palavra de Deus (exegese) 4
○ 1. Como Paulo apresenta o presente repartido por Cristo aos homens,
e qual seu argumento bíblico sobre isso? 5
○ 2. Como Paulo aprofunda e interpreta seu embasamento bíblico e
teológico? 6
○ 3. Como Paulo prossegue descrevendo os dons dados à igreja, e qual
o propósito deles? 6
○ 4. Como Paulo descreve os resultados que a igreja não deve ter ao ser
influenciada pelos dons dados por Deus? 8
○ 5. Como Paulo destaca os resultados que a igreja deve viver ao ser
preparada para a obra do ministério? 9
● Ouça a palavra de Deus (hermenêutica) 10
○ Sobre o que o texto ensina? 10
○ Que ideias erradas o texto denuncia? 10
○ Que ideias corretas o texto apresenta? 11
○ Que instrução apresenta para permanecer na justiça? 11
● Sinta a exigência da palavra de Deus (homilética) 11
○ Como o texto se propõe ao leitor contemporâneo? 11
○ Que coisas o texto manda diminuir? 12
○ Que coisas o texto manda aumentar? 12
○ Que coisas o texto manda repartir? 12
○ Que coisas o texto manda para multiplicar? 13
● Bibliografia 13

1
Preparar os santos para a obra do ministério
O funcionamento e o propósito dos dons na Igreja

Nós tendemos a valorizar as pessoas que identificamos com um dom especial.


Vangloriamos os grandes jogadores, chamamos de craques, na música, escolhemos
ídolos pela sua bela voz, pelo talento na dança ou com um instrumento. Há o
pensamento de que os que têm um dom especial devem ser colocados na mais alta
prateleira. Há outros dons e vocações que apenas desprezamos, e alguns pensam
que não tem nada de útil para oferecer para a sociedade. Como é isso no Reino de
Deus? Existem dons maiores e menores? Existem pessoas que não tem nada de útil
a oferecer? Este texto vai nos ajudar a perceber a origem dos dons no corpo de
Cristo, seu propósito e quais os resultados dos dons quando utilizados da maneira
correta.

E a cada um de nós foi concedida a graça, conforme a medida repartida por Cristo.
Por isso é que foi dito: "Quando ele subiu em triunfo às alturas, levou cativo muitos
prisioneiros, e deu dons aos homens". (Que significa "ele subiu", senão que também
descera às profundezas da terra? Aquele que desceu é o mesmo que subiu acima
de todos os céus, a fim de encher todas as coisas). E ele designou alguns para
apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e
mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o
corpo de Cristo seja edificado, até que todos alcancemos a unidade da fé e do
conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da
plenitude de Cristo. O propósito é que não sejamos mais como crianças, levados de
um lado para outro pelas ondas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de
doutrina e pela astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro. Antes,
seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo.
Dele todo o corpo, ajustado e unido pelo auxílio de todas as juntas, cresce e
edifica-se a si mesmo em amor, na medida em que cada parte realiza a sua função.

Efésios 4:7-16 (NVI).

2
Mapa do texto
1. E a cada um de nós foi concedida a graça,
1.1. conforme a medida repartida por Cristo.
1.2. Por isso é que foi dito:
1.2.1. "Quando ele subiu em triunfo às alturas, levou cativo muitos
prisioneiros, e deu dons aos homens".
2. (Que significa "ele subiu", senão que também descera às profundezas da
terra?
2.1. Aquele que desceu é o mesmo que subiu acima de todos os céus,
2.1.1. a fim de encher todas as coisas).
3. E ele designou
3.1. alguns para a)apóstolos, b)outros para profetas, c)outros para
evangelistas, d)e outros para pastores f)e mestres,
3.1.1. com o fim de preparar os santos para a obra do ministério,
3.1.2. para que o corpo de Cristo seja edificado,
3.1.3. até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento
do Filho de Deus,
3.1.4. e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de
Cristo.
4. O propósito é
4.1. que não sejamos mais como crianças,
4.1.1. levados de um lado para outro pelas ondas, nem jogados para
cá e para lá por todo vento de doutrina
4.1.2. e pela astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro.
5. Antes, seguindo a verdade em amor,
5.1. cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo.
5.1.1. Dele todo o corpo, ajustado e unido pelo auxílio de todas as
juntas,
5.1.1.1. cresce e edifica-se a si mesmo em amor, na medida em
que cada parte realiza a sua função.

3
Veja a palavra de Deus (exegese)
Há uma grande possibilidade da carta de Paulo aos Efésios ter sido escrita quando o
apóstolo estava preso domiciliarmente em Roma, por volta do ano 60 dC, na mesma
época em que escreveu a carta aos colossenses. Paulo não dá aos leitores uma
indicação da sua saída, o que possibilita que ele estivesse em um cárcere
demorado, como foi em Roma. A descrição bem detalhada da armadura de um
soldado romano fortifica a tese da prisão Romana. Atos 19:1-7 descreve o primeiro
contato de Paulo, em sua terceira viagem missionária, com um pequeno número de
crentes que havia na cidade de Éfeso, uns doze homens. O conhecimento deles
sobre o cristianismo era limitado e talvez tenham sido evangelizados por Apolo,
antes mesmo de que ele conhecesse plenamente a fé (Atos 18:24-26). Paulo fez de
Éfeso a sua base missionária por mais de dois anos (Atos 19:10).
Visto que Paulo passou alguns anos ao lado dos Efésios, é curioso observar a
impessoalidade com que trata os leitores e também por não abordar assuntos
específicos da igreja, como costumeiramente fazia em suas epístolas. Há então a
possibilidade da carta não ser necessariamente enviada apenas à igreja de Éfeso,
mas de ser uma carta circular que foi distribuída e lida em várias igrejas da Ásia. Os
papiros mais antigos que temos da epístola, não contém a expressão “em Éfeso”,
que só passa a aparecer nos manuscritos a partir do século 4. Há a possibilidade
então de haver uma lacuna no endereçamento da carta, que seria preenchido de
acordo como o local em que fosse enviada para ser lida, e portanto, seria uma carta
circular.
Fato é que a carta tem como tema central a Igreja como corpo de Cristo. Paulo nos
3 primeiros capítulos descreve detalhadamente o plano de Deus para a igreja, como
esse plano é realizado e apresenta a parte da igreja nesse plano. A partir do capítulo
4 o apóstolo explica como, na prática, a igreja se prepara e participa do plano de
Deus para ela. A seção que estudaremos encontra-se no capítulo 4, onde Paulo já
falou sobre como conservar a unidade no corpo (v. 1-6) e nos versículos de 7 a 16
passa a detalhar sobre os dons que Deus deu à igreja, seu propósito e quais
resultados eles devem produzir no corpo de Cristo.

1. Como Paulo apresenta o presente repartido por Cristo aos homens, e qual
seu argumento bíblico sobre isso?
E a cada um de nós foi concedida a graça, conforme a medida repartida por Cristo.
Por isso é que foi dito: "Quando ele subiu em triunfo às alturas, levou cativo muitos
prisioneiros, e deu dons aos homens".
1. E a cada um de nós foi concedida a graça - Paulo destaca todos os crentes, a
palavra ‘cada’ (gr. hekastō) indica a inclusão de cada um de todos a quem Paulo
está se referindo, no contexto, judeus e gentios crentes e salvos por Cristo. A estes
citados, foi concedida ou dada a graça (gr. charis). Numa leitura rápida, ficamos com
o entendimento de graça como favor imerecido, entretanto, isso é uma interpretação
dessa palavra, que significa basicamente alegria ou boa disposição. Juntando os
dois entendimentos, a boa disposição de Deus (graça), fez Ele conceder um favor

4
imerecido aos homens, assim como quando estamos muito alegres ficamos mais
propensos a conceder um favor a alguém, mesmo que seja algo muito difícil. 1.1.
conforme a medida repartida por Cristo - algo como “de acordo com a medida do
presente de Cristo”. A boa disposição de Deus foi concedida aos homens de acordo
com a porção ou medida (gr. metron, uma palavra usada para medição ou porção
que dá origem à palavra metragem), presenteada ou doada por Cristo. Segundo
Foulkes (1983, p.95), “Cada um - não somente os ministros ou os líderes leigos -
recebe essa graça segundo a proporção do dom de Cristo. Estas palavras sugerem
que o Senhor, em sua sabedoria, reparte diferentes tipos de dons a diferentes
crentes”. 1.2. Por isso é que foi dito - Paulo prepara seus leitores para uma citação
do antigo testamento (Salmos 68:18) como explicação para a graça concedida de
acordo com o dom de Cristo. 1.2.1. "Quando ele subiu em triunfo às alturas, levou
cativo muitos prisioneiros, e deu dons aos homens" - O salmo citado fala sobre uma
celebração de um triunfo de guerra, Paulo faz uma interpretação deste texto o
co-relacionando com a ascensão de Cristo aos céus. O apóstolo faz uma alteração
no texto original, quando diz que “ele… deu dons aos homens” enquanto o texto
original diz “recebestes homens por dádivas”. Foulkes (1983, p.96) diz que “Talvez o
apóstolo já dispusesse das palavras que citou nesta forma através de intérpretes
judeus anteriores ao apóstolo, ou através de algum hino cristão primitivo”. O
comentário da bíblia de estudo NVI da editora vida nova (2000, p.2023) diz que “(...)
Paulo aparentemente, acata como sugestão certa interpretação rabínica corrente em
seus dias que lia a preposição hebraica ‘de’ no sentido de ‘para’ (significado
diferente), e o verbo ‘recebeu’ no sentido de ‘dar e receber’ ”. A continuação do
Salmo diz “recebeste homens por dádivas, até mesmo rebeldes, para que o Senhor
Deus habite no meio deles”, e faz parecer que Paulo interpretou todo esse final do
salmo como “e deu dons aos homens”, visto que pode-se ter o entendimento de
Deus habitar entre os homens (mesmo que rebeldes), como um dom dEle para os
homens. De toda maneira, cremos que Paulo escreveu inspirado por Deus e seja
qual for a razão da alteração do texto, ela foi instruída pelo Espírito através do
apóstolo.

2. Como Paulo aprofunda e interpreta seu embasamento bíblico e teológico?


(Que significa "ele subiu", senão que também descera às profundezas da terra?
Aquele que desceu é o mesmo que subiu acima de todos os céus, a fim de encher
todas as coisas).
2. Que significa "ele subiu", senão que também descera às profundezas da terra? -
Paulo inicia um aprofundamento na argumentação do texto que citou. Há um
pensamento lógico criado aqui pelo apóstolo: Visto que entendemos que este texto
fala da ascensão de Cristo aos céus, há de se entender que Ele também desceu às
profundezas da terra. Descer às profundezas da terra pode indicar dois
entendimentos, de que Cristo desceu a um lugar inferior, a terra, ou a respeito de
sua morte e ressurreição na sua passagem terrena. 2.1. Aquele que desceu é o
mesmo que subiu acima de todos os céus - a repetição da ideia citada
anteriormente (agora invertendo a ordem dos termos) reforça a estrutura lógica que

5
Paulo usou para aprofundar seu embasamento bíblico. 2.1.1. a fim de encher todas
as coisas - Tanto a subida e a descida de Cristo são destacadas com um objetivo
claro: encher todas as coisas. A palavra encher (gr. plērōsē) significa completar ou
terminar (como um copo meio vazio que precisa ser preenchido), e pode indicar o
envio do Espírito Santo para encher a vida das pessoas, como o próprio contexto do
Salmo 68:18 apresenta (“recebeste homens como dádivas, até mesmo rebeldes,
para estabeleceres morada, ó Senhor Deus”).

3. Como Paulo prossegue descrevendo os dons dados à igreja, e qual o


propósito deles?
E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para
evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos
para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado, até que todos
alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à
maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo.
3. E ele designou - A palavra “designou” é a mesma que aparece nos versículos 8
(“e deu dons aos homens") e no versículo 7 (“E a cada um de nós foi concedida a
graça”). Paulo aqui parece prosseguir na ideia de que Deus deu presentes aos
homens, e a sequência que vem a seguir é uma lista destes presentes, através de
pessoas escolhidas por Deus, para abençoar a igreja. A expressão deixa bem claro
que foi o próprio Cristo que concedeu estes que vem a seguir à igreja. 3.1. alguns
para a)apóstolos, b)outros para profetas, c)outros para evangelistas, d)e outros para
pastores f)e mestres - a) Apóstolos: apóstolo significa basicamente enviado ou
mensageiro. Embora muitos estudiosos defendam a ideia de alguns critérios para
definir os 12 discípulos e com o acréscimo futuro de Paulo como os únicos
apóstolos, Paulo não pensa em defender esse argumento aqui, o foco principal é
entender os apóstolos como pessoas enviadas por Deus para a edificação da igreja.
Seja como for, os apóstolos eram enviados por Deus como embaixadores do Reino
e plantadores de igrejas nos locais onde o evangelho ainda não havia chegado.
Mesmo que muitos defendam a não continuidade do apostolado, os missionários,
nos nossos dias, desempenham função parecida com a dos apóstolos, na ideia de
serem enviados para começar igrejas em locais onde o evangelho ainda não
chegou. b)Profetas: No significado da palavra, o profeta é uma espécie de porta-voz
de alguém. No novo testamento, o profeta aparece como aquele que proclama a
palavra de Deus. Não podemos descartar e nem duvidar de que os profetas também
podem receber revelações específicas de Deus, como em Atos 11:28, mas tanto no
antigo como no novo testamento, a função do profeta é proclamar a palavra de
Deus, ora confrontando o pecado do povo, ora com palavras de exortação. Foulkes
(1983, p. 98) destaca esse segundo exemplo citando a seguinte passagem: “Judas e
Silas, que eram profetas, encorajaram e fortaleceram os irmãos com muitas
palavras” (Atos 15:32). c)Evangelistas: A palavra evangelho significa boas novas ou
boas notícias, logo o evangelista é aquele que anuncia as boas notícias. Temos
duas passagens que falam a respeito dos evangelistas, Atos 21:8 e 2 Timóteo 4:5,
mas elas não necessariamente definem sua função. Ficamos com o significado da

6
palavra e o contexto imediato, que indicam que o evangelista não é somente
responsável por evangelizar, mas também por “preparar os santos para a obra” da
evangelização. Pastores e mestres: Todos os outros ministérios são citados com a
palavra ‘outros’ antes, já em pastores e mestres, há somente um artigo e uma
palavra de conexão (gr. kai, que significa também ou mesmo). Isso nos indica uma
conexão entre essas duas funções, ou que todo pastor deve ser um mestre. Mesmo
dada essa união das palavras, vamos analisá-las separadamente. d)Pastores:
significa aquele que cuida de um rebanho, e no contexto da igreja, aquele que cuida
do rebanho de Cristo. e)Mestres: os didaskalous, variam da palavra grega
didaskalia, que não significa basicamente ensino, mas um ensino com a ênfase no
aprendizado. Portanto, mestres ou ensinadores, são aqueles que “causam o
aprendizado” na igreja, isso significa que seu papel não é apenas ensinar, mas
também garantir que os alunos aprendam através do ensino. A união dessas duas
funções fica bem clara quando Paulo diz a Timóteo em 1Tm 3:2 que aqueles que
almejam o episcopado devem ser ‘aptos a ensinar’, expressão essa que é apenas
uma palavra em grego, algo como deve ser ‘didático’, ou seja, capaz de causar
aprendizado. 3.1.1. com o fim de preparar os santos para a obra do ministério - A
expressão que vem após a descrição dos dons citados é essencial para a
compreensão do objetivo dos ministérios. Paulo diz que Deus deu todos esses dons
a igreja visando uma direção, um propósito: aperfeiçoar ou equipar os santos para o
trabalho do ministério. Observe como isso completa a descrição de cada um dos
dons citados. Isso mostra que os portadores dos dons não são os responsáveis por
realizar todo o serviço da igreja, mas sim de capacitar a igreja para cumprir seu
serviço. 3.1.2. para que o corpo de Cristo seja edificado - Outro objetivo citado é a
edificação do corpo de Cristo. A palavra “edificado” significa edifício ou construção.
A ideia de construção já foi citada pelo apóstolo (2:21) e em ambos os casos está
implícita a ideia do crescimento em unidade. Os blocos de uma construção são
colocados uns sobre os outros, e desta maneira o corpo de Cristo “cresce para
tornar-se um santuário santo no Senhor”. 3.1.3. até que todos alcancemos a unidade
da fé e do conhecimento do Filho de Deus - O outro objetivo citado por Paulo é que
cada um de todos (gr. pas) os crentes, cheguem a uma unidade de convicção e de
entendimento ou percepção sobre Cristo. É interessante entendermos o significado
de Fé aqui não somente como a fé salvífica, mas também observando seu
significado em grego. Fé (gr. pistis) indica uma certeza ou convicção que vem por
ouvir os argumentos e ser convencido por eles, logo, Paulo quer que os crentes
tenham a mesma convicção em Deus e em sua palavra, e que seu entendimento ou
percepção sobre Cristo seja o mesmo. 3.1.4. e cheguemos à maturidade, atingindo a
medida da plenitude de Cristo - A ideia traduzida como maturidade, é a junção de
duas palavras gregas: Anēr, uma palavra usada para falar sobre um homem adulto,
com ênfase na maturidade e não no gênero, e Teleios, que traz a ideia de perfeito ou
completo. O padrão dessa maturidade é a plenitude ou a completude de Cristo.
Todos os crentes, juntos, devem caminhar para se tornar como um só homem
maduro, visando chegar à completude que só Cristo pode nos dar.

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4. Como Paulo descreve os resultados que a igreja não deve ter ao ser
influenciada pelos dons dados por Deus?
O propósito é que não sejamos mais como crianças, levados de um lado para outro
pelas ondas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina e pela
astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro.
4. O propósito é - Essa expressão é um marcador que indica propósito ou resultado.
Paulo passa a amplificar quais resultados devem ser obtidos, na medida que a igreja
é capacitada pelos 5 dons citados para exercer o trabalho do ministério. 4.1. que não
sejamos mais como crianças - Há outra palavra grega usada para se referir a
crianças (gr. paidion, por exemplo). A palavra usada aqui (gr. nēpios) se refere mais
a imaturidade e infantilidade do que a faixa etária. A ideia de maturidade mais uma
vez é citada, dessa vez utilizando-se de como o cristão não deve ser, no caso,
imaturo. 4.1.1. levados de um lado para outro pelas ondas, nem jogados para cá e
para lá por todo vento de doutrina - Toda a expressão “levados de um lado para o
outro pelas ondas” é apenas uma palavra em grego, que significa ser agitado pelas
ondas. A expressão “jogados para lá e para cá” também é apenas uma palavra em
grego, que é bem traduzida pelo texto da NVI, e tem o complemento sobre ser
balançado sobre os ventos. O apóstolo parece fazer uma metáfora com um barco
em meio a uma tempestade, agitado pelas ondas e sendo jogado para lá e para cá
pelos ventos. As duas expressões se conectam com a palavra doutrina. O apóstolo
quer que os crentes não sejam confundidos e agitados por falsos ensinos que
surgiam constantemente nessa época. 4.1.2. e pela astúcia e esperteza de homens
que induzem ao erro - Ainda conectado com a ideia de não ser agitado e confundido,
agora por homens que literalmente induzem ao desvio através de algumas
atividades, que Foulkes (1983, p.102) descreve assim: “(...) kubia, que significa
“jogar dados”, dando então a ideia de trapaça, fraude ou artimanha; e, segundo, por
astúcia (parnourgia), que foi usada como relação aos inquisidores do nosso Senhor
em Lucas 20:23 e em Coríntios 11:3 acerca da astúcia da serpente”. Podemos
observar nesse tópico, uma ênfase sobre como os crentes não devem ser, visto que
Deus deu dons a igreja visando o crescimento e amadurecimento do corpo de
Cristo.

5. Como Paulo destaca os resultados que a igreja deve viver ao ser preparada
para a obra do ministério?
Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça,
Cristo. Dele todo o corpo, ajustado e unido pelo auxílio de todas as juntas, cresce e
edifica-se a si mesmo em amor, na medida em que cada parte realiza a sua função.
5.1. Antes, seguindo a verdade em amor - Precisamos observar essa premissa em
comparação ao que foi dito anteriormente. Em contraponto aos que tentam enganar
e ludibriar com ensinos falsos, os crentes devem ser verdadeiros em amor. Os
cristãos devem ter uma vida sempre se mantendo e andando na verdade, que é
segundo o amor. 5.1. cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo - A
premissa de andar na verdade em amor é evidenciada aqui. Veja como não há
espaço para egoísmo ou individualismo, os crentes devem juntos crescer em todas

8
as partes de suas vidas, tudo isso ‘dentro’ de Cristo, aquele que é o cabeça deste
corpo, e portanto comanda e produz o crescimento de todos. 5.1.1. Dele todo o
corpo, ajustado e unido pelo auxílio de todas as juntas - Perceba que é Cristo que
efetua as ações citadas aqui. As duas ações sofridas são: ser amarrado ou
organizado e ser reunido, tudo isso através de juntas ou conexões. O apóstolo quer
claramente destacar a unidade que deve haver no corpo de Cristo, que não há
crescimento isolado, e que todos foram organizados e bem ajustados em Jesus.
5.1.1. cresce e edifica-se a si mesmo em amor, na medida em que cada parte realiza
a sua função - Veja, quando o corpo está bem unido e ajustado, e todas as partes
realizam o seu trabalho (em amor, visando beneficiar o outro, e não a si mesmo), o
caminho natural da Igreja é crescer e ser edificada em amor. A igreja cresce
espiritualmente e também numericamente quando está bem ajustada em Cristo.
Quando todos os irmãos realizam suas funções, visando uns aos outros e sem
sobrecarregar os outros por não cumprir seu trabalho, deve ser natural e notório o
crescimento e amadurecimento da igreja. Veja como o apóstolo insiste na ideia de
“edificar-se”, já citada no versículo 12, mantendo a ideia do crescimento como um
edifício, pedras sobre pedras sendo construídas umas sobre as outras.

Ouça a palavra de Deus (hermenêutica)


Sobre o que o texto ensina?
“E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para
evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos
para a obra do ministério”. Nos versículos 11 e 12 encontramos o cerne desta
perícope, visto que Paulo prepara um argumento bíblico e teológico que é concluído
nestes versículos, e depois são encontrados desdobramentos (propósitos e
resultados) que procedem das afirmações destes versos. Veja como Deus
presenteia a igreja para que ela esteja apta a cumprir seu trabalho. Embora sejamos
tentados a colocar os 5 ministérios aqui citados como nomes de honra e como os
principais trabalhadores da igreja, aqui eles são descritos como dons dados ao
corpo de Cristo para servir e capacitá-la. Há evidente uma ideia de que todos os
crentes têm uma mesma obra a cumprir. Os apóstolos são enviados para alcançar
locais onde o Reino não chegou, e portanto, preparam a igreja para a expansão do
evangelho do Reino. Os profetas preparam os irmãos através da exposição da
vontade de Deus através de sua palavra e confrontam os pecados dos crentes,
além de exortá-los quando necessário e esporadicamente recebem de Deus
instruções específicas para os irmãos. Os evangelistas preparam os irmãos para a
obra da evangelização, alertam sempre a igreja sobre a importância de pregar o
evangelho e fornecem as estratégias para que o corpo anuncie constantemente as
boas notícias do Reino de Deus. Os pastores e mestres apascentam e cuidam do
rebanho de Deus, fornecendo o alimento que vem da palavra de Deus, ensinando
com ênfase no aprendizado e preparando os irmãos para discipular uns aos outros,
ajudando-os na edificação diária.

Que ideias erradas o texto denuncia?


“O propósito é que não sejamos mais como crianças, levados de um lado para
outro pelas ondas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina e

9
pela astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro”. Apresentando os
resultados que os dons deveriam produzir na igreja, Paulo descreve quais
características os irmãos deveriam deixar de ter. O texto apresenta que existem
homens que querem induzir ao erro. De fato, na igreja primitiva, surgiram diversas
heresias que enganaram a muitos. Na carta primeira carta de Paulo a Timóteo
(Quando o apóstolo parte para a Macedônia e deixa seu filho na fé em Éfeso para
dar diversas instruções a igreja), por exemplo, Paulo mostra que haviam alguns
irmãos que rejeitaram a fé e a boa consciência e por isso naufragaram na fé (1Tm
1:19). Parece aqui que Paulo alerta os irmãos de maneira semelhante, visto que
ele usa uma metáfora sobre um barco que está em meio a uma tempestade e por
isso é balançado pelas ondas e é levado de um lado para o outro pelos fortes
ventos. Os falsos ensinos têm essa capacidade de confundir e desorientar os
crentes que, se sucumbem a eles, são considerados imaturos. Portanto, o que
deve ser rejeitado aqui é a imaturidade, a ponto de ser influenciado por ensinos
que não provém de Deus. O crente deve ser firme em suas convicções em Deus,
e capaz de identificar e rejeitar os ensinos que não provém da escritura. A
maturidade já foi citada anteriormente no versículo 13, e veja como ela é
alcançada em unidade com os irmãos, buscando a medida da completude de
Cristo, logo, rejeitamos a imaturidade quando andamos unidos com o corpo
buscando ser como Cristo. Os crentes buscam juntos uma unidade de convicção
e conhecimento de Jesus, dessa maneira, se tornam como um homem maduro,
capaz de deixar de lado os ensinos que não procedem de Deus, pois conhecem a
Ele plenamente.

Que ideias corretas o texto apresenta?


“Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a
cabeça, Cristo. Dele todo o corpo, ajustado e unido pelo auxílio de todas as
juntas, cresce e edifica-se a si mesmo em amor, na medida em que cada parte
realiza a sua função”. O contraponto a imaturidade é ditado por uma premissa:
“Seguindo a verdade em amor”. Os crentes precisam viver uma vida transparente
e sincera uns com os outros, baseados no amor, sem egoísmo e sem buscar seus
próprios interesses. Observe como fica claro que o egoísmo e o isolamento são a
causa da imaturidade citada anteriormente, na medida em que a unidade do
corpo de Cristo é o caminho indicado por Paulo para a edificação e crescimento.
Perceba como é destacado que todas as partes realizam a sua função e isso
mostra que não há deslocados na igreja, todos tem seu lugar e todos tem um
trabalho a realizar. A igreja não é um local onde uns se põem de pé e servem
enquanto outros sentam e são servidos. A premissa do amor não permite que eu
deixe de realizar a minha função, visto que membro estagnado atrapalha o
avanço da estrutura e sobrecarrega as outras partes. Uma igreja saudável tem
todos os membros ativos e realizando sua função, todos bem unidos e
conectados por Cristo, que dirige e governa o seu corpo e promove também o
crescimento dele.

Que instrução apresenta para permanecer na justiça?


“E a cada um de nós foi concedida a graça, conforme a medida repartida por
Cristo. Por isso é que foi dito: ‘Quando ele subiu em triunfo às alturas, levou cativo
muitos prisioneiros, e deu dons aos homens’”. É comum encontrarmos irmãos
com dificuldade em discernir seu dom para ser útil no corpo, muitos ficam
perdidos e as vezes estagnados por não se “encaixarem” em alguma parte. Esse

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texto reafirma para todos os irmãos: recebemos a boa disposição de Deus, e isso
foi conforme a medida presenteada por Cristo (Como calcular isso? É
imensurável). Usando a palavra de Deus para explicar sua afirmação, Paulo
mostra que Deus deu dons a cada um de todos os crentes, ninguém ficou sem
dom. Se Cristo repartiu esses dons através de seu espírito, como podemos
duvidar que temos um dom dado por Deus para servirmos ao corpo? Todo crente
precisa ter a certeza de que é útil no serviço do Reino e que ele tem outros irmãos
que podem ajudá-lo no cumprimento deste trabalho. O entendimento do meu
papel no corpo, me impulsiona a cumprir a missão que Deus deu a igreja.

Sinta a exigência da palavra de Deus (homilética)


Como o texto se propõe ao leitor contemporâneo?
A carta aos Efésios tem como tema central a Igreja como o corpo de Cristo. Há
muitos indícios de que esta era uma carta circular e que Paulo desejava que várias
igrejas lessem os ensinamentos dela. Seja isso verdade ou não, os ensinamentos
contidos nesta epístola são fundamentais para que a Igreja entenda quem ela é,
onde ela se encaixa no plano de Deus e como ela deve participar do plano de Deus.
Onde houver uma parte do corpo de Cristo, em qualquer tempo ou época, esta
epístola deve chegar como uma orientação da palavra de Deus.

Que coisas o texto manda diminuir?


No texto, a imaturidade é evidenciada pela facilidade em ser influenciado e
ludibriado por homens habilidosos que ensinam falsas doutrinas. Observe como
isso escancara a imaturidade da igreja brasileira. Os ensinos enganosos entram e
se alastram nas igrejas com extrema facilidade. Vemos diversas igrejas que
aplaudem e aceitam heresias pois o pregador tem uma boa oratória e há ainda os
que aceitam qualquer falso ensino se ele parecer bonito e acadêmico. Observe no
contexto que a maturidade vem através da unidade de fé e convicção, visando
alcançar a completude de Cristo. A igreja brasileira precisa voltar a uma teologia
bíblica, para que somente a palavra de Deus guie os ensinamentos dos nossos
púlpitos e sejamos capazes de resistir às tempestades de falsos ensinos que se
levantam constantemente contra a sã doutrina. O caminho para a maturidade é
acompanhado pela unidade, veja que ela é alcançada por todos, para se tornarem
como um só homem maduro. Se vivermos uma vida egoísta, cheios de nós
mesmos, cheios de ideias próprias e não estivermos dispostos a deixar tudo isso
de lado para conhecermos a Deus e a sua vontade, permaneceremos imaturos e
facilmente influenciados pelos ensinos enganosos.

Que coisas o texto manda aumentar?


Veja como a unidade completa de todos os crentes é o caminho apontado por
Paulo para o crescimento da igreja. A igreja brasileira, em aspecto local, é sempre
muito dividida e rachada. Quase todos nós conhecemos alguém que saiu de uma
igreja por discordâncias, foi para outra ou então fundou seu próprio ministério. De
fato, há discordâncias que devem separar os verdadeiros crentes daqueles que
proclamam heresias, mas, o que encontramos majoritariamente são divisões por
mesquinhices e futilidades. Problemas mal resolvidos, brigas internas,
dissensões, disputas por cargo, são exemplos de coisas que nos separam. A
nível denominacional, temos muitas discordâncias que separaram historicamente
diversas igrejas. As igrejas não conseguem estabelecer parcerias em prol do

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Reino de Deus, há pouquíssima colaboração mútua que até parece que não
temos a mesma missão. A igreja precisa resgatar a unidade completa, os conflitos
precisam ser resolvidos, precisamos andar em verdade e amando uns aos outros.
Os ligamentos precisam estar bem conectados, precisamos andar ligados uns aos
outros, somente assim podemos crescer e avançar cumprindo a vontade de Deus.

Que coisas o texto manda repartir?


A igreja precisa entender corretamente os dons e os membros seu local no corpo.
A mentalidade egoísta humana nos leva a nos organizarmos em maiores e
menores. Alguns têm mais importância e outros menos. Infelizmente, esse
pensamento atingiu as igrejas, que hierarquizam muitos dos dons. O resultado
disso é: ou os que deveriam servir ficam em posição de privilégio e de serem
servidos, ou o serviço se acumula em alguns dos membros apenas. Precisamos
resgatar a verdade que este texto afirma: os dons foram dados para a igreja
(através de pessoas), para que elas ajudem o corpo de Cristo a cumprir o seu
trabalho. A falta deste entendimento correto produz lideranças pastorais sem dom
pastoral, sobrecarrega evangelistas e missionários no trabalho da evangelização
e acomoda membros nas cadeiras, desejando apenas serem servidos. A igreja
precisa ter a visão de corpo, de que todos são parte da engrenagem, não há
maiores ou menores, todos cumprem o seu papel, avançando e edificando uns
aos outros no amor de Cristo.

Que coisas o texto manda para multiplicar?


Veja que se alcançarmos a unidade no corpo, o caminho natural deve ser o
crescimento dele. A missão da igreja é a comunicação do evangelho. A grande
comissão nos evangelhos, aparece com ênfases diferentes, mas sempre falando
sobre a propagação do evangelho do Reino. Se a igreja entender essa missão
bíblica, não concentraremos a evangelização em alguns irmãos apenas, mas
todos cumprirão a sua parte na proclamação das boas notícias, e o corpo de
Cristo avançará no crescimento que o próprio Deus dá.

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Bibliografia
FOULKES, Francis. Efésios, introdução e comentário. 1983. Editora vida nova
MACARTHUR, John. Manual bíblico MacArthur. 2015. Thomas Nelsom Brasil
BARKER, KENNETH; BURDICK, DONALD; STEK, JOHN; WESSEL, WALTER; V.
YOUNGBLOOD, RONALD. Bíblia de estudo NVI. 2000. Editora vida.

As palavras gregas e seus significados foram consultadas nos seguintes sites:


Stepbilbe.org
Biblehub.com

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