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2019/2

LXI
Revista da Faculdade de Direito
da Universidade de Lisboa
Periodicidade Semestral
Vol. LXI – 2019/2

LISBON LAW REVIEW

COMISSÃO CIENTÍFICA
Christian Baldus (Universidade de Heidelberg)
Dinah Shelton (Universidade de Georgetown)
Jose Luis Diez Ripolles (Universidade de Málaga)
Juan Fernandez-Armesto (Universidade Pontifícia de Comillas)
Ken Pennington (Universidade Católica da América)
Marco António Marques da Silva (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)
Miodrag Jovanovic (Universidade de Belgrado)
Pedro Ortego Gil (Universidade de Santiago de Compostela)
Pierluigi Chiassoni (Universidade de Génova)
Robert Alexy (Universidade de Kiel)
Burkhard Hess (Instituto Max Planck de Luxemburgo)
Jean-Louis Halpérin (Escola Normal Superior de Paris)
Marc Bungenberg (Universidade do Sarre)

DIRETOR
Luís Menezes Leitão

COMISSÃO DE REDAÇÃO
Dário Moura Vicente
Fernando Loureiro Bastos
Pedro Caridade de Freitas
Nuno Cunha Rodrigues

SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
Guilherme Grillo

PROPRIEDADE E SECRETARIADO
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Alameda da Universidade – 1649-014 Lisboa – Portugal

EDIÇÃO, EXECUÇÃO GRÁFICA E DISTRIBUIÇÃO


LISBON LAW EDITIONS
Alameda da Universidade – Cidade Universitária – 1649-014 Lisboa – Portugal

ISSN 0870-3116 Depósito Legal n.º 75611/95

Data: Abril, 2020


ÍNDICE 2019

IN MEMORIAM

Jorge Miranda
7-10 Homenagem ao Professor Doutor André Gonçalves Pereira

Fausto de Quadros
11-20 In memoriam André Gonçalves Pereira

Jorge Miranda
21-22 Na homenagem ao Professor Doutor Diogo Freitas do Amaral

Jorge Miranda
23-24 Na homenagem ao Professor Doutor Augusto Silva Dias

Teresa Quintela de Brito


25-27 Homenagem ao Professor Doutor Augusto Silva Dias

DOUTRINA

Luís de Lima Pinheiro


31-59 Report on the application of Regulation (EU) No. 1215/2012 on jurisdiction and enforcement
of judgments in civil and commercial matters by Portuguese courts

Dário Moura Vicente


61-72 O contributo da Lei da Boa Razão para o Direito Comparado e o seu ensino: breve relance
The contribution of the Law of Good Reason to Comparative Law and its teaching: an
overview

Carla Amado Gomes


73-91 Uma professora de Direito do Ambiente à beira de um ataque de nervos
A professor of Environmental law on the verge of a nervous breakdown

Filipe de Arede Nunes


93-139 As questões do Estado e da revolução na filosofia política de Álvaro Cunhal: entre o
dogmatismo e a tese da transição pacífica (1960-1967).
The issues of State and Revolution in Political Philosophy of Álvaro Cunhal: between
dogmatism and the thesis of Peaceful Transition

Pedro Lomba
141-176 Romantismo político e constitucionalismo identitário: o paradoxo do conceito romântico
de povo
Political romanticism and identitarian constitutionalism: the paradox of the romantic concept
of people
Stéphane Pinon
177-210 La Constitution de 1958 face aux nouveaux défis du XXIe siècle
The 1958 Constitution in the face of the new challenges of the 21st century

Afonso Chuva Brás


211-246 Direito da União Europeia, Mutações Constitucionais e Sistema de Governo
European Union Law, Constitutional Mutations And System Of Government

Bruno Immanuel Striebel


247-264 The Principle of Reciprocity and Foreign Direct Investment in the EU

Beatriz Rebelo Garcia


265-278 O levantamento do efeito suspensivo automático no âmbito do contencioso pré-contratual
– Reflexões a propósito do Acórdão do Tribunal Central Administrativo Sul, de 4 de outubro
de 2017, Proc. N.º 1329/16
The automatic suspensive effect lifting in the context of pre-contractual litigation –
Reflections based on the Judgment of the Central Administrative South Court, of 4 October
2017, Proc. No. 1329/16

Beatriz Medina Vera-Cruz Pinto


279-296 Natureza jurídica e funcionamento da substituição pupilar
Legal nature and functioning of pupillary substitution

Cláudio Thiago Graes Quintas


297-309 Recensão: Isabel Banond, António Bernardo da Costa Cabral-Traços de Oratória em
Diálogo com os seus pares, Assembleia da República, Lisboa, 2015, 361 páginas, ISBN
978-972-556-600-8
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O contributo da Lei da Boa Razão para o Direito Com-


parado e o seu ensino: breve relance*

The contribution of the Law of Good Reason to Comparative


Law and its teaching: an overview

Dário Moura Vicente**

Sumário: I. A Lei da Boa Razão e o Direito Comparado: primeira aproximação.


II. O ensino do Direito Pátrio após a Lei da Boa Razão: os Estatutos da Univer-
sidade de Coimbra. III. O Direito Comparado como esteio do ensino Direito Civil:
uma tradição luso-brasileira. IV. A atual função epistemológica do Direito Com-
parado. V. A evolução futura do ensino do Direito Comparado no Brasil e em Por-
tugal: algumas reflexões.

Palavras-chave: Direito Civil; Direito Comparado; Ensino do Direito; Estatutos


da Universidade de Coimbra; Lei da Boa Razão.

Summary: I. The Law of Good Reason and Comparative Law: a first approach.
II. The teaching of national law after the Law of Good Reason: the Statutes of the
University of Coimbra. III. Comparative Law as the mainstay of the teaching of
Civil Law: a Portuguese and Brazilian tradition. IV. The current epistemological
function of Comparative Law. V. The future evolution of the teaching of Comparative
Law in Brazil and Portugal: some remarks.

Keywords: Civil Law; Comparative Law; Law of Good Reason; Statutes of the
University of Coimbra; Teaching of Law.

*
O presente trabalho foi originariamente elaborado para a obra coletiva A função modernizadora
do direito comparado – 250 anos da Lei da Boa Razão, organizada pela Seção América Latina da
Société de législation comparée e pelo Centro de Estudos Europeus e Alemães da Universidade Fe-
deral do Rio Grande do Sul sob a direção de Gustavo Cerqueira e Cláudia Lima Marques, a quem
o autor agradece o amável convite que lhe foi dirigido para o efeito. A referida obra será publicada
pela Editora RT, São Paulo, Brasil.
**
Professor Catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
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I. A Lei da Boa Razão e o Direito Comparado: primeira aproximação

É bem conhecida a relevância conferida pela denominada Lei da Boa Razão, de


18 de agosto de 1769, às leis das «Nações Christãs, illuminadas, e polidas» en-
quanto fontes de Direito subsidiário1 na decisão dos casos submetidos aos tribunais
portugueses. Dispunha, a este respeito, o § 9 da Lei:

«Mando pela outra parte, que aquela boa razão, que o sobredicto Preâmbulo deter-
minou, que fosse na praxe de julgar subsidiaria, não possa nunca ser o da auctoridade
extrínseca d’estes, ou daquelles Textos do Direito Civil, ou abstractos, ou ainda com
concordância de outros; mas sim, e tão somente: ou aquella boa razão, que consiste
nos primitivos Princípios, que conteem verdades essenciaes, intrínsecas, e inalterá-
veis, que a ethica dos mesmos Romanos havia estabelecido, e que os Direitos Divino,
e Natural, formalizaram para servirem as Regras Moraes, e Civis, entre o Christia-
nismo: ou aquella boa razão, que se funda nas outras regras, que de unanime con-
sentimento estabeleceu o direito das Gentes para a direcção, e governo de todas as
Nações civilizadas: ou aquela boa razão, que se estabelece nas Leis Políticas, Eco-
nómicas, Mercantis, e Marítimas, que as mesmas Nações Christãs teem promulgado
com manifestas utilidades do socego publico, do estabelecimento da reputação, e do
aumento dos cabedaes dos Povos, que com as disciplinas d’estas sábias, e proveitosas
Leis vivem felizes à sombra dos Thronos, e debaixo dos auspícios dos seus respectivos
Monarchas, e Príncipes Soberanos: sendo muito mais racional, e muito mais cohe-
rente, que nestas interessantes matérias se recorra antes em casos de necessidade ao
subsidio próximo das sobredictas Leis das Nações Christãs, illuminadas, e polidas,
que com ellas estão resplandecendo na boa, depurada, e sã jurisprudência; em muitas
outras erudições úteis, e necessárias, e na felicidade [...].»2

Em caso de lacuna do Direito interno, determinava-se assim que, nas matérias re-
gidas por «leis políticas, económicas, mercantis e marítimas», os tribunais recor-

1
Sobre cujo significado para a História do Direito e o Direito Comparado pode ver-se, por muitos,
Guilherme Braga da Cruz, «O direito subsidiário na história do direito português», Revista Portu-
guesa de História, tomo XIV (1974), pp. 177 ss. Consoante aí se refere (p. 178), «sem um conheci-
mento exacto de qual tenha sido o direito aplicável no caso de insuficiência das fontes jurídicas
imediatas, não é possível fazer uma ideia rigorosa do sistema jurídico por que cada povo se regeu
em cada momento da sua evolução histórica e muito menos aquilatar das verdadeiras semelhanças
e diferenças dos sistemas por que, no mesmo momento, os diversos povos se regeram ou se regem».
2
Socorremo-nos aqui do texto reproduzido em José Homem Corrêa Telles, Commentario Critico á
Lei da Boa Razão em data de 18 de Agosto de 1769, Lisboa, 1865; a este autor se deve, como é sa-
bido, a designação por que a lei se tornou conhecida.
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ressem diretamente – no lugar do Direito Romano, até então utilizado para o efeito,
mas tido agora como inadequado à sua regulação – ao Direito oriundo das nações
estrangeiras mais avançadas3.
A comparação jurídica, lato sensu, que esse recurso às leis estrangeiras inevita-
velmente implicava, ganhava assim, com a Lei da Boa Razão, um inédito lugar
de destaque na busca de soluções para os problemas novos com que a jurispru-
dência nacional se defrontava nos domínios mais sensíveis para o desenvolvimento
económico do país e a sua organização político-financeira.
Pode ver-se nesta lei, por conseguinte, um texto precursor do moderno Direito Com-
parado e um fator do maior relevo no desenvolvimento do Direito nacional: por via
dela, Portugal abriu-se à circulação dos modelos jurídicos e à receção de soluções
coevas oriundas de sistemas jurídicos estrangeiros, orientação que perdura até aos
dias de hoje e constitui um dos traços distintivos do atual Direito luso-brasileiro4.
Aliás, é justamente nesta aproximação às leis das nações iluministas da Europa, e
não tanto na sujeição do Direito Romano ao crivo da boa razão, que pode ver-se
uma das principais inovações da lei emanada em 1769 do governo do Marquês de
Pombal; e isto porque já nas Ordenações Manuelinas de 1521 se consignava esse
critério, posto que com um sentido fundamentalmente distinto, na resolução dos
casos não previstos nelas. Aí se determinava, com efeito5:

3
Sobre o que deveria entender-se por tais leis era o diploma em causa completamente omisso. Apelando,
porém, aos Estatutos da Universidade de Coimbra, a que nos referiremos adiante, Correia Telles, op. cit.,
pp. 55 ss., definia as «leis políticas» como as relativas ao «Direito Público Universal», nelas se compreen-
dendo «os Direitos, e Officios, recíprocos dos Soberanos, e dos Vassalos»; as «leis económicas», como as
respeitantes ao «Direito Público Interno», no qual se incluía a «Constituição Civil da Monarchia Portu-
gueza; a forma da sucessão hereditária d’ella; o supremo, e independente Poder, e Auctoridade Temporal
dos Senhores Reis d’estes Reinos; o modo da legislação antiga, e moderna, e da administração da Justiça,
e Fazenda»; as «leis mercantis» como «todas as que respeitam ao negocio, como as que tractam das qua-
lidades, que devem ter os Negociantes, e Mercadores; dos seus privilégios; dos seus livros de negocio, e
prova que fazem; das Sociedades, e Companhias, Balanços, e Contas; das Lettras de cambio, e seus Pro-
testos; das quebras dolosas, e da boa fé; dos Corretores, Commissarios, e Carreteiros; dos contrabandos,
etc.»; e as «leis marítimas» como «todas as que regulam os direitos, e obrigações dos Capitães de navios,
Pilotos e mais gentes de mar; os despachos, e Direitos das Alfandegas, os Consulados, os fretes, e soldadas,
as Letras de risco, os seguros, as avarias, as presas dos navios, naufrágios, e protestos, etc.».
4
No sentido de que o preceito legal acima transcrito «ilustra também uma disposição comparativa»,
vide Carlos Ferreira de Almeida/Jorge Morais de Carvalho, Introdução ao Direito Comparado, 3.ª
ed., Coimbra, 2013, p. 15.
5
Cfr. Ordenações Manuelinas, reprodução fac-similada da edição feita na Real Imprensa da Uni-
versidade de Coimbra em 1797, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1984, Livro II, título V.
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«E quando o caso de que se trauta nom for determinado por Ley, Estilo, ou Custume
do Reyno, Mandamos que seja julguado, sendo matéria que traga pecado, por os San-
tos Canones; e sendo materia que nom tragua pecado, Mandamos que seja julguado
polas Leys Imperiaes, posto que os Sacros Canones determinem o contrairo, as quaes
Leys Imperiaes Mandamos somente guardar pola boa razam em que sam fundadas.»

Nas Ordenações Manuelinas (assim como nas Ordenações Filipinas, que repro-
duziram este trecho6), a aplicabilidade do Direito Romano assentava pois, tal como
na Lei de 1769, na sua autoridade intrínseca – a «boa razão» em que os seus textos
eram fundados – e não na autoridade extrínseca que lhe advinha de as suas normas
procederem do Imperador7.
O que mudou em Portugal com a Lei da Boa Razão foi, como melhor se verá a
seguir, o método de determinar o teor da recta ratio, e não propriamente a regra
de que o Direito Romano se aplicaria apenas na medida em que se fundasse nela,
a qual, como acabamos de verificar, já anteriormente vigorava entre nós8: a boa
razão assumiu nessa Lei, como notou Almeida Costa, um «sentido novo»9.
E não foi de somenos o alcance dessa alteração de sentido. É que, consoante ob-
servou Braga da Cruz, «era tão deficiente a legislação nacional e de tal forma
vasto o domínio da integração das respectivas lacunas, que bastava alterar as Or-
denações nesse ponto concreto para provocar uma verdadeira revolução nos qua-
dros do direito vigente»10.
Não deixou, contudo, o principal comentador da Lei de salientar o embaraço em
que esta potencialmente colocava o intérprete, ao menos em matéria comercial e
marítima, dada a diversidade das leis estrangeiras para que se nela se remetia a tí-
tulo de Direito subsidiário. Dizia, a este respeito, Correia Telles11:

«Porém, podendo e devendo com justa razão ter-se por civilizadas todas as Nações
da Europa, só se exceptuarmos a Turquia; e tendo cada uma os seus Estatutos; muitas

6
Cfr. Ordenações Filipinas, fac-símile da edição feita por Cândido Mendes de Almeida, Rio de Ja-
neiro, 1870, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1985, Livro III, Título LXIV.
7
Assim, Braga da Cruz, est. cit., p. 246.
8
Ver, neste sentido, Paulo Merêa, «Direito romano, direito comum e boa razão», Boletim da Facul-
dade de Direito da Universidade de Coimbra, vol. XVI (1939-40), pp. 539 ss. (p. 541).
9
Cfr. Mário Júlio de Almeida Costa, História do Direito Português, 3.ª ed., Coimbra, 1996, p. 369.
10
Cfr. o est. cit., p. 282.
11
Op. cit., p. 64.
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vezes nos acontece o acharmos disposições encontradas sobre o mesmo caso. Eis aqui
aberta a porta ao arbítrio dos Julgadores, que podem conformar-se a esse ou aquelle
Estatuto, como lhes parecer. E sendo tantas as Nações da Europa, e tão diversas as
línguas, é muito difícil, por não dizer impossível, que os nossos Julgadores possam
compreender tantos, e tão vários Estatutos, dos quaes apenas temos em linguagem os
poucos, que inseriu nos seus Principios de Direito Mercantil José da Silva Lisboa.»12

E daqui concluía o autor:

«Melhor fôra talvez, que a nossa Lei nos casos omissos mandasse recorrer às Leis
Mercantis, e Maritimas de tal ou tal Nação: conseguir-se-hia assim mais certeza, e
menos arbitrário.»

II. O ensino do Direito Pátrio após a Lei da Boa Razão: os Estatutos


da Universidade de Coimbra

Três anos volvidos sobre a publicação da Lei da Boa Razão, foram promulgados
os Estatutos da Universidade de Coimbra, de 177213, através dos quais se procu-
rou, além do mais, adaptar o ensino do Direito ao novo regime das fontes jurídicas
por aquela instituído14.
Ora, os novos Estatutos procuraram justamente precisar os termos em que os pro-
fessores da Universidade deveriam ensinar os seus discípulos a recorrerem às leis
estrangeiras nas matérias atrás referidas. Dizia-se a neles este propósito15:

12
Referia-se o autor à obra Principios de direito mercantil, e leis da Marinha para uso da mocidade
portugueza, destinada ao commercio, do ilustre jurista brasileiro José da Silva Lisboa, Visconde de
Cairú, ao tempo Deputado e Secretario da Meza da Inspecçaõ da Agricultura e Commercio da Ci-
dade da Bahia, publicada em Lisboa, em sete tomos, entre 1801 e 1811.
13
Cfr. Estatutos da Universidade de Coimbra compilados debaixo da imediata e suprema inspecção
de El Rei Dom José I, Lisboa, Regia Officina Typográfica, 1772 (reimpressão, Coimbra, Universi-
dade de Coimbra, 1972).
14
Cfr. Paulo Merêa, «Lance de olhos sobre o ensino do direito (Cânones e Leis) desde 1772 até
1804», Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, vol. XXXVII (1957), pp.
187 ss.; Rui Marcos, A legislação pombalina. Alguns aspectos fundamentais, reimpressão, Coimbra,
2019, pp. 160 ss.
15
Livro II, título V, capítulo II, § 16, p. 430.
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«Exploraráõ: Quarto: Se as disposições das mesmas Leis Romanas se encontrão com


as das Leis Políticas, Economicas, Mercantis, e Maritimas, das referidas Nações. Porque
tendo sido os Artigos, que constituem os objectos das referidas especies de Leis, muito
mais cultivados, e mais bem regulados nos últimos Seculos pelas sobreditas Nações; por
terem Estas sobre cada hum deles muito maiores luzes, e conhecimentos muito mais
amplos do que tiveram os Romanos; os quaes em tudo o que diz respeito á Navegação,
e ao Commercio, tiveram vistas muito curtas, e tendentes a fim muito diverso; fica sem
controversia ser muito maior a proporção, e analogia, que as ditas Leis das referidas
Nações tem com a Legislação das nossas Leis, que respeita aos referidos objectos da
Economia, do Commercio, e da Navegação, do que he a proporção, e analogia, que com
a mesma Legislação das nossas Leis tem as ditas Leis dos Jurisconsultos Romanos [...].»

Mais do que isso, porém, os Estatutos explicitaram o modo pelo qual deveria ser
aferida a conformidade do Direito Romano com a boa razão: para o efeito deve-
riam agora os professores verificar o uso que dele se fazia nas denominadas nações
civilizadas. Lê-se, com efeito, nesse diploma legal16:

«Indagarão o Uso Moderno das mesmas Leis Romanas entre as sobreditas Nações,
que hoje habitam a Europa. E descubrindo, que Ellas as observam, e guardam ainda
no tempo presente; terão as mesmas Leis por aplicáveis; e daqui inferirão, que ellas
não tem oposição com alguma das referidas Leis, e Direitos, com que devem ser con-
frontadas: Pois que não he verosímil, que se entre ellas houvesse repugnância, pela
qual se devam haver por abolidas; continuassem ainda hoje a observallas, e a guar-
dallas, tantas, e tão sabias Nações [...].»

Consagrou-se assim legislativamente o usus modernus pandectarum17, que en-


contrara expressão nos séculos XVII e XVIII em obras de autores como Samuel
Stryk, Bededikt Carpzov e Justus Henning Böhmer, na Alemanha, e Johannes
Voet, na Holanda; obras essas que adquiriram indiretamente valor normativo em
Portugal, como fontes subsidiárias de Direito18.

16
Livro II, título V, capítulo III, § 7, p. 434.
17
Sobre o qual podem ver-se, designadamente, Franz Wieacker, Privatrechtsgeschichte der Neuzeit.
Unter Berücksichtigung der deutschen Entwicklung. 2.ª ed., Göttingen, 1967, pp. 204 ss. (na tradução
portuguesa de A. M. Botelho Hespanha, intitulada História do Direito Privado Moderno, 2.ª ed.,
Lisboa, 1989, pp. 225 ss.); James Gordley, The Jurists: A Critical History, Oxford, 2013, pp. 156
ss.; e, na doutrina portuguesa, Nuno Espinosa Gomes da Silva, História do Direito português. Fontes
de Direito, 7.ª ed., Lisboa, 2019, pp. 460 ss.
18
Assim, Braga da Cruz, est. cit., p. 304.
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Foi, nas palavras de Paulo Merêa, «com atraso de muitos anos, e em menor escala,
uma reacção análoga à que se produzira na Alemanha e na Holanda contra o ro-
manismo unilateral»19.
Também por esta via o Direito Comparado ganhou lugar de destaque no ordena-
mento jurídico português, em que a eficácia do Direito Romano como fonte subsi-
diária passou a ser filtrada pela aplicação que dele era feita pelas jurisdições dos
países estrangeiros com as quais o país ao tempo possuía maior afinidade cultural.
Disso dá testemunho uma das principais obras didáticas publicadas após a reforma
dos estudos jurídicos conimbricenses: as Instituições de Direito Civil Português,
de Pascoal José de Melo Freire20, primeiro titular da cadeira de Direito Pátrio na
Universidade de Coimbra, originariamente publicadas em 1789. Segundo refere
António Hespanha21, «[u]ma sondagem sobre os fundamentos das suas opiniões
doutrinais mostra que 80% da doutrina jurídica citada pertencia ao universo dos
autores mais emblemáticos das várias correntes modernizantes da jurisprudência
centro- ou norte-europeia dos séculos XVII e XVIII».
Não obstante a índole essencialmente centralizadora e dirigista da Lei da Boa
Razão e dos Estatutos da Universidade no tocante às fontes do Direito e à sua in-
terpretação pelos tribunais, e apesar da preocupação com a segurança jurídica que
lhes estava na origem – bem patente, por exemplo, no relevo dado pela primeira
aos assentos da Casa da Suplicação –, não deixou, por conseguinte, o legislador
português de reconhecer nesses textos normativos a autoridade científica da in-
terpretação das fontes romanas feita pelos tribunais e pela doutrina de outros países
europeus onde vingava também o ideal iluminista que os inspirou22; e foi essa in-

19
Cfr. «Direito romano, direito comum e boa razão», cit., p. 543.
20
Cfr. Institutiones iuris civilis lusitani cum publici tum privati, 2.ª ed., Liber I. De jure publico, Coimbra,
1827; Liber II. De jure personarum, Coimbra, 1828; traduzido do latim para português por Miguel Pinto
de Menezes e publicado, com o título Instituições de Direito Civil Português tanto público como
particular, no Boletim do Ministério da Justiça, n.ºs 161 (1966), pp. 89 ss., 162 (1967), pp. 31 ss., 163
(1967), pp. 5 ss., 164 (1967), pp. 17 ss., 165 (1967), pp. 35 ss., 166 (1967), pp. 45 ss., 168 (1967), pp.
27 ss., 170 (1967), pp. 89 ss., e 171 (1967) pp. 69 ss. Para uma síntese do sistema de Melo Freire,
vide António Menezes Cordeiro, Teoria Geral do Direito Civil. Relatório, Lisboa, 1988, pp. 102 ss.
21
Cfr. Cultura Jurídica Europeia. Síntese de um Milénio, reimpressão, Coimbra, 2018, p. 361. Cfr.
igualmente, nesta obra, A. M. Hespanha, «Um novo modelo para o ensino do direito – as Institutiones
juris civilis Lusitani, de Pascoal de Melo».
22
O qual, segundo Cabral de Moncada, terá tido em Portugal na pessoa de Luís António Verney «a
mais alta consciência, no íntimo da qual se definia e tomava corpo, pouco a pouco, todo o sistema
de ideias de que o regime parecia querer tornar-se a concretização política»: cfr., do autor citado,
«Um “iluminista” português do século XVIII: Luís António Verney», in Estudos de História do Di-
reito, vol. III, Coimbra, 1950, pp. 1 ss. (p. 148).
68

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terpretação que, por mandato régio, passou a ser transmitida, primeiramente, aos
estudantes de Direito que frequentavam a Universidade de Coimbra e, após a in-
dependência do Brasil, aos dos cursos de Ciências Jurídicas e Sociais entretanto
criados em Olinda e São Paulo, por Lei do Imperador D. Pedro I datada de 11 de
agosto de 182723.
Não tardaria, porém, que o uso moderno das fontes romanas a que os doutrinadores
lusófonos passaram a recorrer na sequência da publicação dos Estatutos da Uni-
versidade de Coimbra se transferisse dos praxistas de Setecentos para as codifi-
cações europeias de Oitocentos, com destaque para o Código Civil francês de
1804, como o evidenciam as Instituições de Direito Civil Portuguez, primeira-
mente publicadas em 1844 pelo Lente da Faculdade de Direito da Universidade
de Coimbra Manuel António Coelho da Rocha. É o que resulta do próprio prefácio
à 2.ª edição dessa obra, em que o autor declarava24:

«Nos casos omissos ordinariamente adoptamos as decisões do direito romano: mui-


tas vezes porém recorremos aos Códigos modernos, principalmente ao Civil Francez,
e ao da Prussia [...]. Este methodo communica a esta obra algum tanto de Jurispru-
dencia comparada, que nos parece não será sem utilidade».25

III. O Direito Comparado como esteio do ensino Direito Civil: uma


tradição luso-brasileira

Introduziu-se assim no ensino do Direito em Portugal e no Brasil aquela que viria


a ser uma das suas características mais salientes até à atualidade: o amplo recurso
à comparação jurídica na exposição e análise dos regimes legais aplicáveis às mais
diversas matérias, em particular no domínio do Direito Civil.

23
Vide, sobre a influência dos Estatutos da Universidade de Coimbra na configuração inicial dos estudos
jurídicos no Brasil, Rui Marcos, «Os 190 anos da criação dos cursos jurídicos no Brasil», Boletim da
Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, vol. XCIV, t. 1 (2018), pp. 637 ss. Cfr., ainda, na
ótica brasileira, Mozart Linhares da Silva, «A reforma pombalina e o Direito moderno luso-brasileiro»,
Revista Justiça & História, vol. 2, n.º 4 (2002), disponível em https://www.tjrs.jus.br.
24
Cfr. Instituições de Direito Civil Portuguez, 2.ª ed., tomo I, Coimbra, 1848, pp. VII s.
25
Cfr., sobre o ponto, António Menezes Cordeiro, Teoria Geral do Direito Civil. Relatório, cit., pp.
110 ss.; e Inocêncio Galvão Telles, «Coelho da Rocha e o Código Civil Napoleónico», O Direito,
2005, pp. 443 ss. (p. 447).
69

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Sirvam-nos tão-somente de exemplo, pelo que respeita a Portugal, os Tratados de


Direito Civil publicados, na vigência do Código Civil de 1867, por Cunha Gon-
çalves26 e, na do Código de 1966, por Menezes Cordeiro27. Em ambas as obras,
largamente utilizadas não apenas no ensino universitário, mas também nos meios
forenses, as referências a sistemas jurídicos estrangeiros são abundantes: no pri-
meiro, especialmente ao Direito francês; e no segundo, ao Direito alemão, que em
boa medida inspirou a atual codificação civil portuguesa.
O mesmo pode dizer-se, pelo que respeita ao Direito brasileiro, entre outras, das
obras publicadas na vigência dos Códigos Civis de 1916 e 2002, respetivamente,
por Pontes de Miranda28 e Arnoldo Wald29.
Foi, de resto, este recurso ao Direito Comparado no ensino universitário e a abertura
às soluções jurídicas oriundas do estrangeiro por ele induzida que criou o ambiente
intelectual propício à receção, tanto em Portugal como no Brasil, de múltiplas figuras
jurídicas gizadas pela civilística alemã e italiana e que noutros países, como a
França e a Espanha, só muito mais tarde encontraram acolhimento legal e juris-
prudencial: pense-se, por exemplo, na centralidade que os princípios da boa-fé e
da equivalência das prestações contratuais assumem nas codificações portuguesa
e brasileira de 196630 e 200231, respetivamente, mas que o Código francês só recebeu
na reforma de 201632 e que em Espanha não passaram ainda, no plano normativo,
da Proposta de Modernização do Direito das Obrigações e Contratos publicada
em 200933.

26
Cfr. Luiz da Cunha Gonçalves, Tratado de Direito Civil em comentário ao Código Civil português,
15 volumes, Coimbra, 1929-1944.
27
Cfr. António Menezes Cordeiro, Tratado de Direito Civil, 12 volumes, 2012-2018.
28
Cfr. Francisco Pontes de Miranda, Tratado de Direito Privado, 60 volumes, Rio de Janeiro,
1954-1969.
29
Cfr. Arnoldo Wald e outros, Direito Civil, 8 volumes, São Paulo, 2015.
30
Haja vista, designadamente, aos arts. 227.º e 762.º, n.º 2, do Código Civil.
31
Cfr., entre outros, os arts. 422 e 478 do Código Civil.
32
Vide os arts. 1104 e 1195 do Código Civil, na redação dada pela Ordonnance n.º 2016-131, de 10
de fevereiro de 2016.
33
Cfr. Propuesta para la modernización del Derecho de obligaciones y contratos, Ministerio de
Justicia, Madrid, 2009, arts. 1245 e 1213.
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IV. A atual função epistemológica do Direito Comparado

Transcorridos 250 anos sobre a publicação da Lei da Boa Razão, e examinado que
foi, em breve síntese, o papel desempenhado por esta lei no recurso à comparação
jurídica em Portugal e no Brasil enquanto instrumento de descoberta de novas so-
luções jurídicas pelos tribunais e de reforma do Direito legislado, assim como na
formação universitária dos juristas, justifica-se agora uma referência à atual função
do Direito Comparado em ambos os países.
Como escrevemos noutro lugar34, o conhecimento, nos seus traços fundamentais,
dos grandes sistemas jurídicos contemporâneos e das diferentes soluções neles
acolhidas para os problemas suscitados pela convivência humana é imprescindível
à compreensão do lugar que o Direito nacional ocupa entre os diferentes sistemas
jurídicos e à assimilação dos seus elementos mais profundos e constantes, que a
comparação jurídica coloca em evidência. A nenhum jurista é, com efeito, possível
entender cabalmente o sistema jurídico em que é versado sem tomar consciência
daquilo que, nos seus traços fundamentais, o distingue dos demais.
Este ramo da ciência jurídica possibilita, por outro lado, uma melhor compreensão de
muitos institutos jurídicos, dada a perspetiva funcional em que obriga a examiná-los35.
O Direito Comparado constitui, além disso, um fator de enriquecimento cultural
do jurista e de reforço do espírito crítico que dele se requer em ordem a que possa
desempenhar a sua missão social.
Estas, em suma, as funções epistemológicas desempenhadas pela disciplina em
apreço, que a Lei da Boa Razão e os Estatutos da Universidade de Coimbra já ha-
viam colocado em evidência há dois séculos e meio e que a evolução posterior do
Direito luso-brasileiro inteiramente corroborou.
A autonomização do Direito Comparado como disciplina científica é, por certo,
muito posterior aos diplomas legais em exame36: ela só se verificaria na segunda

34
Cfr. o nosso Direito Comparado, vol. I, Introdução. Sistemas jurídicos em geral, 4.ª ed., Coimbra,
2018, pp. 20 s.
35
Ver, por último, Ralf Michaels, «The Functional Method of Comparative Law», in Mathias Reimann/
Reinhard Zimmermann (orgs.), The Oxford Handbook of Comparative Law, 2.ª ed., Oxford, 2019,
pp. 345 ss.
36
Vide, para um panorama da evolução histórica da disciplina, Walther Hug, «The History of Comparative
Law», Harvard Law Review, vol. 45, n.º 6 (abril 1932), pp. 1027 ss.; Konrad Zweigert/Hein Kötz,
Einführung in die Rechtsvergleichung, 3.ª ed., Tubinga, 1996, pp. 47 ss.; e, com referência a diversos
sistemas jurídicos nacionais, Mathias Reimann/Reinhard Zimmermann (orgs.), ob. cit., pp. 3 ss.
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metade do século XIX graças, designadamente, à fundação, em França, da Société


de législation comparée, ocorrida em 1869; à realização do I Congresso Internacional
de Direito Comparado, promovido em Paris em 1900 por Édouard Lambert e Raymond
Saleilles37; à publicação dos primeiros periódicos38 e manuais universitários39
especificamente dedicados à matéria; e à criação de institutos de investigação que
o tomaram como objeto precípuo40. Mas não deixa de ser digna de nota a relevância
tão precocemente reconhecida às legislações estrangeiras neste recanto da Europa
e no Brasil pelo que respeita à aprendizagem e à realização prática do Direito.

V. A evolução futura do ensino do Direito Comparado no Brasil e em


Portugal: algumas reflexões

A internacionalização dos estudos jurídicos, para que hoje se tende quase univer-
salmente e que conheceu na Europa forte impulso com a Declaração de Bolonha
de 1999, não pode evidentemente prescindir do recurso ao Direito Comparado.
Neste contexto, compreende-se bem a crescente inclusão de cursos de Direito
Comparado nos diferentes ciclos de estudos universitários. É o que acontece cor-
rentemente num vasto número de Faculdades de Direito europeias41.
A situação está, porém, longe de ser satisfatória, tanto no Brasil como em Portugal,
onde o Direito Comparado continua a possuir, na melhor das hipóteses, o estatuto
de mera disciplina opcional, que – apesar de eleita por um número crescente de alu-
nos42 – é não raro ministrada nos primeiros anos do curso de licenciatura43 ou em

37
Cfr. Congrès International de Droit Comparé. Procès-Verbaux des Séances et Documents, 2 vo-
lumes, Paris, 1905-1907.
38
Como a Revue de Droit International et de Législation Comparée, fundada em 1869, e a Zeitschrift
für Vergleichende Rechtswissenschaft, publicada desde 1878.
39
Entre os quais se destaca, em Portugal, Marcello Caetano, Legislação Civil Comparada, Lisboa,
1926.
40
Como é o caso do Institut für ausländisches und internationales Privatrecht da Kaiser-Wilhelm-
Gesellschaft, fundado em Berlim em 1926, ao qual sucederia, em 1949, o Max-Planck Institut für
Ausländisches und Internationales Privatrecht, atualmente sediado em Hamburgo.
41
Ver, sobre o tema, Carlos Ferreira de Almeida, Direito Comparado. Ensino e método, Lisboa,
2000; e Dário Moura Vicente, O Direito Comparado após a Reforma de Bolonha, Lisboa, 2009.
42
A título de exemplo, refira-se que em 2018/19 frequentaram a disciplina, no curso de licenciatura
em Direito ministrado na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, 423 alunos.
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unidades curriculares dos cursos de pós-graduação44; o que inevitavelmente com-


promete a possibilidade de se alcançarem os objetivos últimos a que ela se propõe
na formação dos juristas. Em muitos casos, aliás, a disciplina não figura sequer nos
programas de estudos pré- e pós-graduados ministrados em Universidades de ambos
os países.
Dir-se-ia, pois, que a atenção hoje dada ao Direito Comparado nos curricula uni-
versitários de ambos os países lusófonos está longe de fazer jus ao lugar de des-
taque que lhe foi conferido pela Lei da Boa Razão.
Se outra não houvesse, a constatação deste estado de coisas seria, por si só, justifi-
cação bastante para a comemoração do aniversário da Lei, em boa hora promovida
pela Seção América Latina da Société de Législation Comparée e pelo Centro de
Estudos Europeus e Alemães da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, à qual
este estudo se associa; mas ela constitui também um ensejo para que o ensino uni-
versitário do Direito Comparado passe a desempenhar, no Brasil e em Portugal, a
função nuclear que os nossos maiores já lhe intuíam há dois séculos e meio.

43
Consoante sucede na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde a disciplina figura,
desde a Reforma de Bolonha, no segundo ano do Plano de Estudos do curso de licenciatura: cfr.
http://www.fd.ulisboa.pt/cursos/licenciatura/plano-de-estudos.
44
Como é atualmente o caso na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo: cfr. http://
www.direito.usp.br/index_posgraduacao_01.php.

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