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CONVERSÃO

ELETROMECÂNICA
DE ENERGIA
Operação de
transformadores
em paralelo
Andrea Acunha Martin

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Definir o funcionamento do transformador em paralelo.


>> Indicar as condições para a ligação do transformador em paralelo.
>> Reconhecer o funcionamento dos transformadores trifásicos em paralelo.

Introdução
Dois transformadores em paralelo recebem energia de um mesmo barramento,
entregando-a em um barramento comum. Algumas vantagens da operação em
paralelismo são: custo inicial menor, operação próxima do máximo rendimento,
facilidade de manutenção e maior confiabilidade no abastecimento de energia.
Neste capítulo, você vai estudar o funcionamento de transformadores em
paralelo e verificar como ocorre a ligação desses transformadores. Para isso,
algumas condições são necessárias, como você também vai ver. Ao final do
capítulo, você vai conhecer o funcionamento dos transformadores trifásicos
ligados em paralelo.
2 Operação de transformadores em paralelo

Transformador em paralelo
Uma das operações mais importantes realizadas com os transformadores é
a ligação em paralelo. Ela é utilizada para aumentar a potência e/ou obter
mais confiabilidade de um sistema elétrico. Na Figura 1, veja a ligação de dois
transformadores em paralelo em uma subestação típica.

Entrada

Transformador Transformador
1 2

Carga

Figura 1. Subestação típica com transformadores em paralelo.


Fonte: Oliveira, Cogo e Abreu (2018, p. 77).

A operação em paralelo de transformadores é muito importante em al-


gumas situações. A seguir, veja quais são elas.

„„ Necessidade de ampliação das instalações: nessa situação, quando se


quer, por exemplo, aumentar a potência de uma subestação, a solução
é acrescentar mais um transformador ao banco de transformadores
em paralelo (em vez de substituir o transformador existente por outro
maior).
„„ Limitação das potências unitárias: nesse caso, há potências muito altas
por imposições de projeto, ocasionadas por dificuldades com perda de
calor (arrefecimento), assim como por problemas relativos ao transporte
de carga com peso e dimensões acima de determinados limites.
Operação de transformadores em paralelo 3

„„ Confiabilidade e reserva mais econômica: caso ocorram avarias, quando


se tem dois ou mais transformadores em paralelo, o problema em um
deles não impede a continuidade do fornecimento de energia. Porém,
a potência é reduzida. No caso de falhas, também há a possibilidade de
se ter um transformador de reserva; nesse caso, a potência é mantida.
„„ Operações sob condições mais adequadas de carga: dependendo da
região, as cargas estão sujeitas a variações 24 horas por dia. Assim,
os transformadores de potência que estão em atividade em uma su-
bestação operam sob condições próximas às de rendimento máximo,
retirando ou colocando unidades para manter as que permanecem em
atividade sob condições próximas à de plena carga.

A ligação em paralelo dos transformadores tem algumas vantagens. Veja


a seguir.

„„ Maior confiabilidade do sistema: se um dos transformadores ficar com


algum defeito, o outro pode continuar a alimentar a carga.
„„ Possibilidade de manutenção sem cortes de alimentação: a manutenção
de um dos transformadores pode ocorrer sem que seja necessário
desligar a alimentação da carga (se a potência disponível no outro
transformador for suficiente para alimentar a carga restante).
„„ Expansão do sistema: possibilidade de aumento da capacidade do
sistema. Acrescenta-se um transformador para aliviar outro que esteja
com sobrecarga, ou simplesmente para aumentar a potência disponível
para alimentar a carga.
„„ Operação sob condições mais favoráveis de carga: com as variações
de carga que ocorrem ao longo do dia, é vantajoso que os transforma-
dores funcionem em condições próximas às de máximo rendimento.
Isso significa introduzir ou retirar unidades, para que se mantenham
ligadas às que funcionam próximo do seu regime nominal.

Condições para a ligação de


um transformador em paralelo
Para a adequação da operação em paralelo dos transformadores, alguns
requisitos são necessários. A seguir, você vai conhecê-los melhor.
4 Operação de transformadores em paralelo

Necessidade de mesma relação de transformação


e tensão
As relações de transformação dos transformadores devem ser igual ou muito
próximas, mas isso não é o suficiente. As tensões também devem ser as
mesmas. Observe a Figura 2. O transformador 1 (T1) e o transformador 2 (T2)
possuem a mesma tensão entre fases na alimentação. Para que os dois
transformadores sejam ligados em paralelo, as leituras nos voltímetros devem
ser iguais ou muito similares.

Figura 2. Relação de transformação.


Fonte: Oliveira, Cogo e Abreu (2018, p. 78).

Suponha que o T1 tem 2.000 V/200 V e que o T2 tem 200 V/20 V. Ambos
possuem a mesma relação, porém não é possível ligar um primário de 2.000 V
a outro de 200 V.

O fato de as tensões primária e secundária dos transformadores


serem iguais implica uma relação de transformação igual, mas relação
de transformação igual não implica tensões primárias e secundárias iguais.
Operação de transformadores em paralelo 5

Se a condição de tensão igual não for respeitada, em vazio, surgirá uma


corrente de circulação alta entre os transformadores. A corrente de circu-
lação, por gerar uma potência de compensação, tem como principal efeito
aumentar a carga no transformador com maior tensão secundária, podendo
sobrecarregá-lo e sobreaquecê-lo. A corrente de circulação não deve atingir
mais de 10% das correntes nominais.
A corrente de circulação é dada pela equação a seguir (OLIVEIRA; COGO;
ABREU, 2018):

onde (OLIVEIRA; COGO; ABREU, 2018):

„„ ∆K% = 100 é a variação da relação de transformação, em que K1


é a relação de transformação do T1 e K2 é a relação de transformação
do T2;
„„ S′n é a potência nominal do T1;
„„ S′′n é a potência nominal do T2;
„„ Z′% é a impedância do T1;
„„ Z′′% é a impedância do T1.

Necessidade de igualdade de desfasamento


dos diagramas vetoriais
Quando há dois transformadores em paralelo, uma das condições é que os
terminais se encontrem todos no mesmo potencial. Dois ou mais transfor-
madores poderão ser ligados em paralelo quando seus deslocamentos de
fase forem iguais. Caso isso não aconteça, surgirá a corrente de circulação,
que é indesejada.
O problema de defasagem relativo às tensões dos terminais de ligação
(estrela, triângulo e ziguezague) acontece em transformadores polifásicos,
em particular no trifásico.
6 Operação de transformadores em paralelo

Polaridade
Quando dois ou mais transformadores estão em paralelo, as conexões dos
secundários desses transformadores formam uma malha. Se possuem a
mesma polaridade, as forças eletromotrizes (FEMs) se anulam e a tensão
resultante é igual a zero. Porém, se essa tensão resultante tem um valor
diferente de zero, aparece uma corrente de circulação alta.
A polaridade é definida como a marcação nos terminais dos enrolamentos
dos transformadores. Essa marcação é uma referência determinada pelo
fabricante, o projetista ou o usuário. Ela indica o sentido da circulação da
corrente em dado instante em razão do sentido do fluxo produzido. Ou seja,
é a relação entre os sentidos momentâneos das FEMs nos enrolamentos
primário e secundário. A polaridade depende do modo como são enroladas
as espiras que formam os enrolamentos primário e secundário.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2007) convencionou
marcar os terminais do lado de alta tensão com a letra H, e os de baixa
tensão, com a letra X. A Figura 3 representa duas situações distintas para as
tensões induzidas em um transformador monofásico. Na Figura 3a, observe
que as tensões induzidas U1 e U2 apontam para os bornes adjacentes H1 e X1
e que as tensões estão em fase (mesmo sentido), isto é, possuem a mesma
polaridade instantânea. Já na Figura 3b, ocorre o inverso, com as tensões
induzidas dirigidas para os bornes invertidos; as tensões estão defasadas
em 180°, então as polaridades são opostas.

Figura 3. Tensões induzidas no transformador monofásico: (a) polaridade


negativa e (b) polaridade positiva.
Fonte: Adaptada de Paulino (2014).
Operação de transformadores em paralelo 7

Há alguns métodos de ensaio que são usados para determinar a polaridade


de um transformador monofásico: método do golpe indutivo com corrente
contínua, método da corrente alternada, método do transformador padrão
e método do transformador de referência variável (ALMEIDA; PAULINO, 2012).
A seguir, você vai conhecer melhor os dois principais: o método do golpe
indutivo com corrente contínua e o método da corrente alternada.

Método do golpe indutivo com corrente contínua


Nesse método, o transformador é ligado a uma fonte de tensão contínua
entre os enrolamentos de alta tensão. Também é instalado um voltímetro de
corrente contínua entre os terminais de alta tensão. Isso serve para que se
obtenha uma deflexão positiva quando se liga uma fonte de Corrente Contínua
(CC). Nesse caso, a polaridade positiva do voltímetro é ligada ao positivo da
fonte, e este, em H1.
Após, coloca-se o positivo do voltímetro em X1 e o negativo em X 2.
Em seguida, fecha-se a chave, observando o sentido de deflexão do voltí-
metro. Assim, se as duas deflexões possuírem o mesmo sentido, haverá uma
polaridade subtrativa. Porém, se os sentidos forem opostos, haverá uma
polaridade aditiva. Na Figura 4, veja um esquema do método do golpe indutivo.

Figura 4. Método do golpe indutivo.


Fonte: Adaptada de Paulino (2014).

Método da corrente alternada


O método da corrente alternada é muito utilizado devido à sua facilidade e
à sua versatilidade. Na Figura 5, veja como é feita a montagem. O primeiro
passo é aplicar uma tensão alternada de valor baixo (relativamente ao valor
nominal) em um dos enrolamentos do transformador.
8 Operação de transformadores em paralelo

Figura 5. Método da corrente alternada.


Fonte: Adaptada de Paulino (2014).

Se V for igual à soma V1 + V2, haverá uma polaridade aditiva. Contudo, se V


for a diferença V1 – V2, haverá uma polaridade subtrativa. As tensões podem
ser medidas com um voltímetro ou por meio de um osciloscópio.

Valores das impedâncias equivalentes


A condição ideal para dois transformadores em paralelo é que os seus argu-
mentos sejam iguais e que os módulos das suas impedâncias complexas sejam
equivalentes. Isso significa que eles devem ter tensões de curto-circuito iguais.
Ignore as componentes em vazio das correntes primárias dos transfor-
madores. Assim, é possível representar os dois transformadores ligados em
paralelo, como mostra a Figura 6. Os parâmetros e as variáveis são referentes
ao secundário. Observando a Figura 6, note que a corrente I é a soma das
correntes Iα e Iβ, que são a contribuição de cada transformador.
Pode-se definir Iα e Iβ da seguinte forma:
Operação de transformadores em paralelo 9

Rʹα Xʹα

I

VI
Zr V2
a Rʹβ Xʹβ

Figura 6. Transformador ligado em paralelo.


Fonte: Adaptada de Jordão (2002).

Exemplo
Agora você vai ver um exemplo que ilustra os conceitos estudados até aqui.
Para começar, considere dois transformadores monofásicos com as especi-
ficações apresentadas a seguir.

„„ Transformador 1: 300 KVA; 12.500/220; R′ = 1,5 × 10-3 Ω; X′ = 8,5 × 10-3Ω.


„„ Transformador 2: 600 KVA; 12.500/220; R′ = 0,75 × 10-3 Ω; X′ = 4 × 10-3Ω.

As resistências e as reatâncias são referentes ao lado de baixa tensão do


transformador. Calcule as contribuições S1 e S2 de cada um dos transforma-
dores quando é suprida uma carga S de 700 KVA. Considere que o fator de
potência indutivo é 0,8. Veja o cálculo a seguir.
10 Operação de transformadores em paralelo
Operação de transformadores em paralelo 11

Pequenas correntes de circulação sempre vão existir em transforma-


dores ligados em paralelo, porém sem prejuízos ao seu funcionamento.
É estabelecido por norma que o valor máximo de correntes de circulação que
podem passar pelo circuito, medidas em bancos de transformadores em vazio,
corresponde a 15% da corrente nominal do transformador de menor potência.

Transformadores trifásicos paralelos


Para ligar dois transformadores trifásicos em paralelo, é preciso garantir
as condições já apresentadas para transformadores monofásicos: a mesma
tensão de entrada, a mesma relação de transformação e a mesma polaridade.
Contudo, há uma condição a mais: pertencimento a um mesmo grupo de
deslocamento angular. Ou seja, deve-se garantir que os deslocamentos de
fase das tensões secundárias sejam os mesmos.
A igualdade das fases nos transformadores trifásicos está relacionada
com a maneira como se ligam os seus enrolamentos. Essa ligação pode ser
em triângulo ou delta (D ou d), estrela (Y ou y) ou ziguezague (z). Portanto,
ela depende do desvio angular dos transformadores.
O desvio angular é o desfasamento entre os fasores das tensões que
estão entre o ponto neutro e os terminais equivalentes de dois enrolamentos
quando os enrolamentos de tensão mais elevada estão ligados a um sistema
de tensões trifásico. O desvio angular é o desfasamento, em atraso, entre as
tensões dos enrolamentos do primário, ou seja, as de mais alta tensão, e as
do secundário, as reais, da mesma fase. A condição fundamental para que
os transformadores se conectem em paralelo é que os terminais fiquem o
tempo todo no mesmo potencial.
Os transformadores nos quais a sequência de fases está oposta (os dia-
gramas vetoriais têm um sentido de rotação inverso) não podem se ligar em
paralelo. Sabe-se que em determinado momento os vetores de tensão secun-
dária vão coincidir, porém no instante seguinte os vetores vão se deslocar,
e vão surgir diferenças de potencial entre as fases homólogas. Dessa forma,
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para que os transformadores possam ser ligados em paralelo, os diagramas


vetoriais devem ter o mesmo sentido.
Na Figura 7, veja a marcação dos terminais de transformadores, bem como
os diagramas vetoriais de tensão para ligações de transformadores trifásicos
(OLIVEIRA; COGO; ABREU, 2018).

Figura 7. Ligações de transformadores trifásicos.


Fonte: Oliveira, Cogo e Abreu (2018, p. 78).
Operação de transformadores em paralelo 13

Referências
ALMEIDA, A. T. L.; PAULINO, M. Manutenção de transformadores de potência. Itajubá:
Unifei, 2012. Curso de Especialização em Manutenção de Sistemas Elétricos.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 5356-1:2007. Transformadores
de potência. Parte 1: generalidades. Rio de Janeiro: ABNT, 2007.
JORDÃO, R. G. Transformadores. São Paulo: Blucher, 2002.
OLIVEIRA, J. C.; COGO, J. R.; ABREU, J. P. G. Transformadores: teoria e ensaio. 2. ed. São
Paulo: Blucher, 2018.
PAULINO, M. Polaridade e relação em transformadores de potência. 2014. Disponível
em: https://www.osetoreletrico.com.br/wp-content/uploads/2014/06/ed-100_Fasci-
culo_Cap-V-Manutencao-de-transformadores.pdf. Acesso em: 4 dez. 2020.

Leitura recomendada
SCHMITZ, W. I.; CANHA, L. N.; MARCHESAN, T. B. Ranking de subestações para manuten-
ção ou substituição de transformadores de potência com foco na manobrabilidade e
flexibilidade. In: ENCUENTROREGIONAL IBEROAMERICANO DE CIGRÉ, 17., 2017, Ciudad del
Este. Anais [...]. Ciudad del Este: [s. n.], 2017. Disponível em: https://www.researchgate.
net/profile/William_Schmitz3/publication/318311774_RANKING_DE_SUBESTACOES_
PARA_MANUTENCAO_OU_SUBSTITUICAO_DE_TRANSFORMADORES_DE_POTENCIA_COM_
FOCO_NA_MANOBRABILIDADE_E_FLEXIBILIDADE/links/5962a55da6fdccc9b14dd8c9/
RANKING-DE-SUBESTACOES-PARA-MANUTENCAO-OU-SUBSTITUICAO-DE-TRANSFORMA-
DORES-DE-POTENCIA-COM-FOCO-NA-MANOBRABILIDADE-E-FLEXIBILIDADE.pdf. Acesso
em: 4 dez. 2020.

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