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Última Peça

I - Meu diário de Aventura

Se você é alguém que se sente tão perdido e deslocado quando está no meio de outras
pessoas, então, você é como eu, bom, como eu era. Me chamo Uriassys, sou só um
meio-sangue de 15 anos de idade que tenta viver um dia após o outro no Acampamento
Carmim.
Calma, eu sei que tudo isso deve ser muita informação sendo jogada de uma vez, foi muita
informação para mim também, mas vou tentar explicar. Primeiro, Deuses e Criaturas mágicas
existem, Zeus, Poseidon, Hades, acho que Thor, Odin e outras consideradas mitologias
também, e eles tem filhos com mortais, assim, Semideuses ou Meio-Sangues.
Muito de nós estão por aí, alguns vivem suas vidas inteiras sem se quer saber o que são de
verdade, mas não ache isso de tudo cruel, saiba que, uma vida de meio-sangue não é nem de
longe a coisa mais fácil, acho que entre obrigações comuns como estudos ou arrumar a cama
pelas manhãs como qualquer um incluindo nós e ser ameaçado constantemente de morte por
Criaturas, Profecias, Perigos Ancestrais e Deuses (sim, alguns deles são… digamos que
ásperos, apesar de que eu gosto que sejam assim também), talvez você prefira a primeira
opção.

Nós, temos que enfrentar essas coisas… E sim, ainda temos de estudar e fazer nossas
obrigações, não estamos acima da ordem natural das coisas.
Mas veja bem, eu falei do Acampamento Carmim, então vou te explicar. O Acampamento
Carmim é o nosso atual abrigo, a 2 meses atrás, a morada e abrigo de semi-deuses por
décadas foi atacada por criaturas de presença e poder enorme, levando nosso antigo diretor, o
Curupira, que chamamos de "Sr. C". Fazendo então com que a maior parte dos outros
Campistas tivesse de se refugiar dentro da floresta mágica das fadas e criaturas, a qual fica
próximo de onde o túmulo do meu pai se encontra. Alias, meu pai, é o Deus Pã, Senhor da
Natureza, e sim, ele está morto.
É difícil explicar como um imortal é capaz de morrer, nem eu sei ao certo, e nem eu sei lhe
explicar direito, mas isso não vem ao caso. A grande questão é, todos os campistas estão
estressados, mal descansam ou fazem coisas como em seu antigo acampamento, era tudo
mais feliz lá, e acho que se não mudar nada, provavelmente aqui se tornará tão ruim quanto
as ruínas do nosso antigo acampamento, temos que resolver isso, e quando eu falo resolver, é
porque há um mar de problemas a ser resolvidos.
II - Eu impeço um ritual… ou quase

Estava de noite, eu tinha acabado de voltar por meio de um portal que se abrirá no meio da
floresta em volta do acampamento de uma aventura nada típica no qual salvamos alguns
mortais e semideuses de uma emboscada de monstros, há, e o salvamos, é porque eu estava
acompanhado de Lea, um garota de 16 anos, 1,75 metros de altura, pele branca, cabelos
pretos lisos e longos, sempre tendo uma expressão intensa na face, como se estivesse pronta
para investir contra um inimigo sempre, o que era reforçado pelo seu olhos com iris de cor
vermelha sangue, ela está sempre vestindo uma camiseta branca regata curta, com algumas
faixas amarradas em seus braços, calça preta com rasgões em algumas partes dele, os quais
eu já não sei dizer se são pelas lutas ou por conta do estilo mesmo, e junto dela, o namorado
dela, ou quase, não sei dizer, eles agem como namorados, falam como namorados, andam
juntos como namorados, e se gostam como namorados, então são namorados, Ekho, o qual é
um garoto de 16 anos também, 1,70 metros de altura, cabelo castanho cortado no estilo
militar, aparência não muito vigorosa, sempre aparentando certo cansaço, camisa branca, em
seu braço esquerdo, marcas escuras como tatuagens que se assemelham a chamas que
circulam ele todo ate seu pulso, onde na costa de sua mão detém um símbolo de uma
maldição, mas isso é detalhe pra depois, mas pra falar a verdade, suas roupas são bem
comuns, exceto com uma tiara de folhas de louro que usa na cabeça por ser um objeto
importante dele, e um sapato da Nike branco com detalhes em roxo.
Dessa aventura, trouxemos conosco um outro semideus, desacordado por conta do que tinha
ocorrido, que, em resumo, estava sendo drenado para suprir a necessidade de poder de uma
criatura, impedimos ela, e trouxemos ele conosco porque ele se parecia muito com a Lea,
muito, evidentemente seu meio irmão, aliás, Lea, é filha de Belona, a Deusa da Guerra e da
Estratégia Romana. Quando estávamos para ir para nossos chalés no acampamento, umas
vozes conhecidas nos chamaram a atenção.

- Ei, será se a gente conta? - Disse uma voz em um tom de dúvida.


- Obvio que não! Eles são burros, não vão saber o que fazer se a gente contar agora! -
Disse outra voz, mais agressiva e séria.
- Mas ela precisa de ajuda. Eles podem ajudar
- Vocês sabem que eu estou ouvindo o que vocês conversam, né? - Disse eu para as
vozes
- Viu a merda que você fez? Agora eles escutaram a gente. Olha, seguinte, tá vendo
aquilo ali?

Quanto as vozes, elas não eram estranhas pois a 2 meses atrás, elas falavam com a gente
sobre "peças" e coisas que carregamos conosco, porém, nunca vimos suas formas. Também
não estávamos as vendo naquele momento para saber o que ela queria nos mostrar, mas é
como se nossos sentidos se voltassem para um direção, o chalé de Hecáte, que emitia uma
iluminação roxa, destoante na floresta escura pelo anoitecer e da natureza ali, era como se
todos imediatamente soubéssemos que algo estava de errado, então, Lea se posicionou a
frente e disse.
- Okay, vamos lá resolver isso, só vou levar ele até o meu chalé e vamos. - Se referindo
ao seu meio-irmão desmaiado em seus braços.
Nenhum de nós tinha pressa naquele momento apesar de saber a importância daquilo, estava
próximo da meia noite, estávamos todos exaustos, havíamos feito muita coisa desde que o dia
começara, então ela foi até o seu chalé, e em pouco tempo nos direcionamos para a fonte
daquela luz arroxeada.
Chegando lá, lentamente abrimos a porta e vimos um cena extremamente bizarra, Lilian, uma
das campistas, filha de Hecáte, estava estirada no chão com seus membros retorcidos e boca
escancarada em frente a um grande ritual com símbolo e velas, ela parecia estar em algum
estado de possessão ou algo do tipo mas não parecia que iria aguentar por muito tempo. Ekho
então rapidamente desfez o símbolo no chão, apagando-o com seus pés e eu me aproximei
dela e materializei em minha mãos um presente que havia sido me dado por uma amiga que
fiz no acampamento mas que não pertencia a ele, e que havia sido abençoado pelo Deus
Dionisio, um violão, feito de madeira com gravuras de parreiras por todo ele e algumas folhas
saindo dele, só há um problema, a cerca de 1 mês atrás, eu havia feito um acordo com a
natureza o qual me custou o sacrifício do meu braço direito, então, eu não o tenho mais,
entretanto, eu sabia de algo que iria me ajudar, ou melhor, alguem.
Do meu pulso esquerdo, uma marca roxa brilhante começou a se iluminar e uma corrente
espectral translúcida de mesma cor se ligou a algo que surgia atrás de mim, uma criatura, com
cabelos escuros, vestindo uma máscara lisa branca com apenas orifícios totalmente escuros
no lugar dos olhos, pele totalmente pálida e vestindo uma daquelas roupas de empregada do
século 20, porém, o detalhe mais importante, inúmeros braços saiam de seu vestido vindo
dela, quantia o suficiente para que você simplesmente perca a conta.
Essa criatura então, abraçou a mim por trás e me ajudou a tocar aquele instrumento, que eu
sabia o que fazia, seu efeito é o de tirar maldições, venenos, curas, tudo o que havia sido
infligido no local recentemente, porém aquilo era desgastante o suficiente para sempre que eu
o fizesse eu me esgostasse o suficiente para não voltar a repetir durante o dia. Foi o suficiente
para que aos poucos Lilian voltasse ao normal… ou quase, ela ainda estava bastante
debilitada, mas conseguiu nos olhar enquanto tentava se levantar e dizer.
- Eu estava tentando… Chamar ajuda… - Sua voz era trêmula, indicando não só estar
debilitada pelo ocorrido, mas desespero por toda a situação do anterior acampamento
- Eu fiz esse ritual para tentar trazer um dos Deuses para nós ajudar… Eu quase
consegui, eu…-
Antes dela terminar a frase, ela simplesmente começou a emitir luz de coloração vermelha
fraco, quase rosado de seus olhos e boca, além de começar a flutuar, então, com uma voz
masculina e fala rebuscada, disse.
- Quem me trouxe aqui? Foi está pequena? Devia estar desesperada para seguir por este
caminho - Ele olhou para nós, que observamos tudo ocorrer sem dizer nada ou
qualquer surpresa - Prazer crianças, eu me chamo Jano, o Senhor das Escolhas.
III - Respostas e Mais Responsabilidades

Estávamos ali, em frente a um Deus se manifestando na forma de possessão, porém, para


falar a verdade, todos nós ali presente já tivemos naquela situação em algum momento, não é
menos chocante mesmo assim, ainda é possível sentir o poder no ar ao estar na presença de
um, mas nós provavelmente estávamos cansados o suficiente para não nos darmos tanto por
surpresos.
- Então, porque fui chamado aqui? Tenho tido alguns problemas esses tempos, eu
estava organizando minhas coisas quando do nada, fui convocado. - Disse Jano num
tom calmo, porém demonstrava certo incomodo.
- Ela estava tentando chamar por ajuda - Disse Lea - devia estar buscando alguma
forma de arrumar os portais, que estão com algum tipo de problema.
- Estou ciente, afinal, sou o Deus das Escolhas, dos caminhos e dos portais - Disse
Jano, com um certo orgulho, porém, esse se desmanchou lentamente em tom de
preocupação - Entretanto alguem me roubou algo importante e fundamental para
controlar os portais. Uma pérola.
Inevitavelmente, eu e Lea olhamos para Ekho, que por sua vez, é filho de Hermes, Deus dos
Mensageiros, Comércio, Viajantes, e é claro, Ladrões. Ele então nos olhou.
- Eu sei que sou filho do Deus Ladrão mas eu não tenho nada haver com isso - Disse
embora sua voz e face não parecesse que ele estava ofendido ou algo assim
Percebemos então que tínhamos olhado para ele, eu e Lea desviamos o olhar, então, eu disse
a Jano ainda confuso.
- Você não invoca os portais? Porque eles continuam se abrindo
- Não garoto, eles são como criaturas vivas, tendo natureza própria, assim como
vontades próprias, então, abrem quando bem entendem ou quando lhes convém, só
quem detém da Pérola pode controlar os portais e o fluxo de abertura deles - Disse
Jano, explicando tranquilamente o funcionamento dos portais.
- Então você precisa de ajuda para reaver a pérola? - Disse Lea.
- Seria algo realmente bom, eu poderia os recompensar se conseguirem - Disse Jano,
demonstrando agora um interesse real em nós.
- Como vamos saber se encontrarmos? - Disse Ekho.
- Você vai saber, vai sentir a minha presença quando a encontrar. Agora, estou indo,
este corpo não vai aguentar nem mais um segundo se eu permanecer nele.
Jano apenas terminou a frase e o corpo de Lilian que flutuava no ar a nossa frente desabou,
caindo nos vários braços Celti, a figura antes invocada com roupas de empregada, então, Lea
olhou para o local e disse.
- Ekho, vai chamar o Alex, ele sabe medicina, vai saber cuidar dela e do… meu meio
irmão.
- Certo - Disse Ekho, que, em questão de segundos, disparou rumo o chalé de Apolo
Você espera que filhos de Hermes sejam todos rápidos e afins, mas nem todos, agora Ekho,
consegue alcançar velocidades extraordinárias, um feito e tanto para um Semideus, herdar tão
forte a característica de seu pai divindade. Bom, todos nós ali éramos assim, mas de longe, a
velocidade do Ekho é algo que me assusta.
- Vou dormir no chalé de Hermes, junto do Ekho, acho que o Alex vai usar o meu chalé
para cuidar da Lilian e do outro, leva ela para lá também. - Disse Lea, parecendo estar
mais pensativa que o comum. Saindo lentamente, me deixando sozinho junto de Celti.
- Celti, pode fazer isso para mim? Quero dar uma olhada aqui.
Celti assentiu com a cabeça e saiu levando Lilian em seu colo, voltando alguns minutos
depois, aparecendo atrás de mim enquanto eu arrumava algumas coisas no chalé de Hecáte.
Parte de mim está ligada aquele local, bom, logo quando eu entrei nesse mundo de magia e
deuses, encontrei um monumento em meio a uma floresta cercado por criaturas das sombras
pequenas, o monumento era uma estátua de Hecáte, escondida na noite, e naquele dia, eu fiz
um acordo com Hecáte, o qual ela me ajudaria, em troca da minha pesquisa: Catalogar toda
criatura que eu encontrasse em minha jornada e dividir essa informação com ela. Tudo bem
que eu tinha recebido justo no mesmo dia o aviso de "Não fazer contato com Deuses da
Noite", mas isso não vem ao caso, a questão é que, Celti foi a ajudante mandada por Hecáte,
ela está comigo a meses, e Hecáte também me vigia, eu sinto isso, mas ela nunca mais havia
me respondido desde aquilo, eu sempre falava com ela, por incrível que pareça, é a coisa
mais próxima que eu tenho de pais, eu não sei quem é minha mãe, eu estava num orfanato
antes daqui e foi mais fácil saber que o meu pai era um Deus que hoje está morto do que
saber quem é minha mãe mortal.
Eu decidi tentar me comunicar com Hecáte, ali mesmo, em seu chalé, então, sentei-me no
chão, em frente a uma vela, e disse como uma oração.
- Hecáte, mãe da magia, rainha das bruxas e poderes que os mortais não são capazes de
compreender, eu clamo por ti.
Uma chama de cor roxa, semelhante a magia de Lilian se acendeu naquela vela e subiu ao ar,
delineando como uma linha, eu sabia que ela estava ali, e iria me responder.
- Você nunca mais falou comigo desde que fizemos o pacto, você tem me observado?
A chama assentiu, escrevendo no ar com um sim.
- Fui instruído a não confiar em deuses da noite, você é uma, mas meu pai, Pã, também
é, eu acho. Você vai me trair no final do pacto, não vai? - Eu senti um certo medo ao
dizer aquilo, porém eu já sei a resposta, a única coisa que eu queria é que ela não
mentisse para mim.
A chama então se escreveu no ar, com um "Talvez". Você deve estar pensando "Ah, ótimo,
um Deus irá me atacar e fazer minha vida um inferno", mas para falar a verdade, eu nunca
pensei em nenhum dos deuses como algo essencialmente bons ou ruins, a um bom tempo que
eu não acredito em bem ou mal, mas saber que alguém olhava a mim, mesmo que por
interesses, me deixou de certa forma… acolhido.
- Até lá, até o dia que nosso acordo chegue ao fim, eu prefiro ver você como… uma
amiga? - Eu disse, com um sorriso no rosto, o qual pareceu se formar em meu rosto
naturalmente, talvez eu estivesse muito mais feliz do que eu devia.
A chama então passou lentamente entre meus dedos, sem os queimas, apenas como um calor
singelo, então, se extinguiu. Celti olhou para toda aquela cena ao meu lado, não sabia como
ela se sentia, mas ela sempre parecia agir com certo receio quando eu falava o nome da
Deusa, talvez por conta do poder que ela exercia sobre ela. Mas, sem pensar muito sobre
aquilo, fui até meu chalé e tive uma noite tranquila de descanso, mal sabia que no dia
seguinte eu teria uma surpresa.

IV - Novos rostos surgem

Pela manhã, acordei em minha cama no quarto chalé de Pã, com todas as coisas normais,
planta na escrivaninha, armário, janela, pé de guaraná com todos os olhos olhando para
mim… Opa, guaraná? De começo eu estava com tanto sono que meu cérebro até se esqueceu
de início, mas era o Guaraná, um espírito da floresta Brasileira que se originou de um índio
que foi mordido por uma cobra nos olhos ou algo assim, enfim, estamos no Brasil, eu acho
que esqueci de mencionar, não, eu não vim daqui, eu sou de Chicago, nos Estados Unidos
e… Onde eu estava? Há, é mesmo, o Guaraná.
- Ei, Uriassys, acorda! Tem gente nova na área! - Disse uma voz infantil, jovem e cheia
de energia em um tom de preocupação.
- Como assim gente nova, Guará? -
- Gente como vocês! Semideuses cabeçudos igual vocês!
Aquilo era tão incomum para mim que eu não pude deixar de pular da cama com toda a
minha energia da manhã e correr em direção ao chalé de Hermes para avisá-los sobre a
novidade. Um detalhe, eu acho que me empolguei demais que acabei usando minha força pra
ir até lá, eu lembro que o caminho até lá era de uns 100m mais ou menos, mas pareceu…
10m ou menos, só tive tempo de gritar pelos dois e me jogar com tudo na porta dos dois,
abrindo-a a força, então eu tentei dizer algo como "Ei, chegou pessoas novas, vamos
cumprimenta-los" mas deve ter saído algo como "AAAAAAAAAAAAA". Ekho reagiu
assustado erguendo-se da cama que estava deitado e dizendo.
- Que isso Uriassys!!! Eu tô sem camisa aqui cara!!! - Seus cabelos estavam totalmente
bagunçados e seus olhos geralmente caídos sem energia estavam arregalados pelo
susto.
- Mas… Você sempre tá sem camisa, você usa aquela roupa lá durante o combate, eu já
te vi sem camisa várias vezes, e a Lea também - Apontei para a Lea ao lado da cama
dele em um colchão no chão do quarto, que acordava lentamente resmungando algo
para mim.
- Ah. É verdade - Ele simplesmente reduziu drasticamente a sua expressão de surpreso
para o "morto-vivo" de sempre.
Bom, esse é o Ekho, pra alguém que leva a vida num ritmo rápido, acho que o emocional ou a
reação tem um tempo igualmente rápido, passando de um extremo a outro segundos.
- O que foi Uri? Por que você arrombou a porta assim? - Perguntou a Lea sonolenta
ainda e com seu cabelo parecendo um leão.
- Ah. É Mesmo! Chegaram novos Semideuses!
Os dois resmungaram como se tivesse que cuidar de mais algum problema, então o Ekho
pegou sua tiara de louro e botou na cabeça, puxando uma das folhas e transformando em faca,
Lea também puxou sua Gládio, uma espada de gladiador romana, e disse.
- Mais um bicho pra a gente bater, de novo - Ela parecia claramente não ter ouvido
direito, estava com a voz embargada de sono.
- Eu ataco pelas costas - Disse Ekho, igualmente sonolento.
- Não pessoal! É amigo… Eu acho. - Disse a eles.
- Ah então eu vou precisar disso aqui também - Disse a Lea, puxando seu escudo do
lado do seu colchão e se levantando pra ir até o começo da floresta.
Bom, Lea foi na frente, parecendo estar pronta para atacar alguém, Ekho também, ele estava
com sua faca em mãos e a girando entre os dedos, quando então eu me lembrei, faltava o
Alex.
- Pessoal! Eu já volto! - Disse, enquanto saia em disparada em direção ao chalé de
Apolo.
Saí gritando, bom, não pode me culpar, nenhum Semideus chegou ao acampamento desde
que eu cheguei, eu estava muito animado para recepciona-los e, obviamente, descobrir de
quem eram filhos. Eu gostaria de dizer que eu cheguei lá, bati na porta e fiz tudo como uma
pessoa comum… mas não, eu arrombei a porta novamente e disse com toda a calma do
mundo.
- Alex!!! Chegou gente nova!!! - Mentira, eu gritei mesmo.
Bom, o Alex é um garoto do mesmo tamanho da Lea, pouco menor que eu, tem pele branca
meio queimada de sol, cabelos loiros quase dourados, com uma tatuagem de um sol no braço
e vestindo um roupa que lembra levemente um cruzado antigo, misturando malhas de tecido
com placas de aço em algumas partes de seu corpo.
- Oi Uriassys, vamos lá - Disse Alex, não parecia muito animado, provavelmente
porque nos últimos tempos tenhamos dado mais trabalho do que "presentes" por assim
dizer.
Olha, eu gostaria de dizer que eu não esqueci do que ele fez com um Gumelo logo que eu
cheguei no acampamento, ele o matou mesmo o coitado tendo se rendido, aquilo foi
crueldade, mas eu entendi o motivo dele. Gumelos são criaturinhas como cogumelos
pequenos vivos. Enfim, fomos até o local onde se encontravam os recém chegados e bem
próximos de lá eu pude ouvir uma conversa já iniciada.
- … Ele é no máximo bonitinho vai. - Disse a Lea, parecia estar tentando acalmar os
ânimos do Ekho.
- Sei… - Disse Ekho, não pude ver seu rosto ainda, mas ele parecia estar meio
rabugento.
Quando enfim tive a vista da situação, vi duas figuras. Uma delas, um garoto de cabelos
loiros, pele parda, olhos azuis que contrastavam com o seu rosto bem moldado e a paleta de
cores que ele tinha, segurando uma lança que ele segurava como um guerreiro inexperiente,
porém, um guerreiro ainda sim, e uma túnica de guerreiro feita de malha de couro, ela não
parecia ser feita para ele, muito menos ter sido bem ajustada, além de calça preta e um bota
ou galocha feita de couro.
Ao lado dele, alguém notoriamente mais velho, ou talvez eu tivesse essa impressão pela barba
e bigode por fazer que nascia em rosto, cabelos longos amarrados não tão bem cuidados
porém sedosos ainda sim, olhos escuros como a noite, vestindo uma camisa branca com
grandes listras pretas na diagonal, um casaco de cor azul cinzento, calça de cor bege e um
sapato preto e branco, porém, uma coisa chamava atenção, algo que parecia uma foice de
colheita dobrável, como um barbeador daqueles de filme antigo ou algo assim.
- Como assim deuses existem? - Disse o de cabelos pretos, com bastante preocupação e
ansiedade na voz.
- Sim, eles existem, eu já sabia disso… Mas onde a gente tá ein? - Disse o de cabelos
loiros, parecendo estar despreocupado e totalmente de bem com a situação, esse jeito
dele me lembra alguém.
- Vocês estão na Floresta Carmim, próximo ao , lá tem outros meio-sangue, igual vocês.
- Disse o Ekho, olhando para os dois.
- Calma, eu não sou nenhum Semideus, eu sou só… eu. - Disse o de cabelos pretos.
- Qual seus nomes? - Perguntei a eles.
- Eu me chamo Kayn - Disse o de cabelos pretos.
- Sou o Aidan, prazer pessoal! - Disse o cabelos loiros, parecendo realmente estar bem
com a situação, eu tenho várias perguntas mas não era hora.
De trás deles, aquela típica imagem que vem a mente de criança índigena, seu tamanho era
bem pequeno, por volta de 1,20m, vestindo apenas uma bermuda preta, com uma faixa de
tinta vermelha passando do seu olho esquerdo até o direito, mas, onde era para ter seu olho
direito, havia um fruto de guaraná, o qual era seu olhos. Então, ele disse a nós.
- Ei pessoal! Eu sei que vocês já chegaram aqui e tudo mais e….- Guaraná parecia
ofegante, como se tivesse corrido uma maratona. - Será que podem ir falar com o Saci
logo? Ele tá esperando vocês na beira daquele rio.
Eu então tomei a liberdade de os guiar até lá, eles nos perguntaram algumas coisas como
"Como é possível eles serem filhos de Deuses?" ou "Como a gente provaria isso para eles?",
a Lea pegou uma faca feita de um minério que não fere Semideuses e deuses e tentou
"esfaquear" eles como demonstração, não acho que eles tenham recepcionado muito bem a
ideia de serem esfaqueados, bom, o Kayn não recebeu a ideia bem, o Aidan achou um
máximo a ideia. Conforme chegamos próximo ao rio, eu conseguia sentir o cheiro de terra e
grama molhada e da vida que aquele local tem, e lá, a figura de um garoto jovem com um um
gorro vermelho e bermuda também vermelha nos aguardava, com os braços cruzados,
cachimbo na boca e obviamente, não tinha a perna esquerda. Estávamos ali, em frente ao
Saci, e ele olhava os dois recém chegados com atenção, eles estavam prestes a enfrentar seu
primeiro "desafio".

V - Ferro e Ossos

Imagine a maior árvore que você consiga pensar, com as raízes mais firmes e tronco mais
largo, como um prédio de 10 andares, agora, imagine que ela está cortada pela metade, e
saindo dela, uma cachoeira deságua e forma um grande rio que percorre um longo caminho
por conta de um declínio natural do terreno, essa é a visão do Rio da Vida, ao redor dele, a
grama mais verde com as árvores mais vividas e coloridas que você consegue imaginar ao
longe, circulando o caminho do rio. Nada é tão vivido quanto aquele local, é belíssimo, e o
cheiro é indiscutivelmente a melhor fragrância de todas, imagine o cheiro de roupas limpas,
livros novos, alfazemas, grama recém cortada, ou qualquer outro cheiro que te faça se sentir
recompensado, é exatamente assim.
Kayn e Aidan se aproximaram vindo logo atrás de mim, Ekho e Lea, olhando deslumbrados
para aquele local, como se não pudessem acreditar no que viam, de início, não notando a
presença do Saci a nossa frente, mas, logo se dando conta do mesmo e perguntando.
- Que lugar é esse? Aqui ainda é no Brasil? - Perguntou Kayn.
- Difícil de explicar, mas pode-se dizer que sim - Disse Saci, o olhando de maneira
bastante analítica. - Imagine como um meio termo entre o mundo mortal e o imortal,
uma reserva ou algo assim.
- O que é Brasil? - Disse Aidan, demonstrando estar confuso.
Acredito que todos os olhares foram de encontro a Aidan, afinal, digamos que não é uma das
perguntas mais comuns de se fazer naquele lugar, Lea então perguntou a ele.
- De onde você veio?
- Vim da casa com a minha mãe, eu estava mexendo em algumas coisas no porão,
encontrei essa lança e essas roupas, eu tava brincando e do nada abriu um portal e
trouxe pra cá, tinham até umas vozes falando com a gente e… - Antes de Aidan
terminar sua fala, interrompi e disse.
- Espera, então vocês também ouviram as vozes?
- Sim, eu achei que fosse ele quando eu cheguei, mas aparentemente era outra coisa, só
não sei o que. - Disse Kayn.
- Nós também as escutamos, elas falam sobre algumas coisas meio estranhas como
"peças" e caminhos. Eu não entendo muito bem. - Disse Ekho, parecendo um pouco
desinteressado na situação, até que voltou seu olhar para eles, erguendo uma de suas
sobrancelhas. - Vocês costumam seguir vozes estranhas que vocês escutam do nada?
Sem suspeitar minimamente?
Eles se entreolharam e ergueram os ombros, nem eles sabiam o motivo pelo qual eles
seguiram tão obedientes vozes estranhas que não sabiam a origem. Bom, fica a dica, não
escutem vozes estranhas e não faça o que elas dizem se você não sabe o porque delas estarem
ali, bom, eu fiz isso… mais de uma vez, em uma das vezes, eu quase morri, mas isso não vem
ao caso.
- Bom, Kayn e Aidan, vocês devem estar cheio de perguntas e com várias questões em
sua cabeça, mas devo dizer que todas elas serão respondidas com o tempo, se vocês
quiserem, é claro. - Disse Saci a eles. - Se quiserem abraçar essa vida como um
meio-sangue, atravessem o rio até o outro lado. Ele irá sondar sua alma, e no final, irá
mostrar sua origem. No caso, seu pai imortal.
- Mas eu sou filho da minha mãe, eu sou normal. - Disse Aidan, parecendo bastante
confuso.
- E quem é o seu pai? Você sabe? - Disse Lea, erguendo sua sobrancelha em análise ao
olhar para Aidan.
- Puts, é verdade, eu não sei quem é meu pai, nunca tinha parado para pensar nisso. -
Disse Aidan, levando sua mão ao queixo.
Me dei conta então novamente do fato de que eu não sabia quem era minha mãe também, mas
sabia quem era meu pai, aquilo sempre me fazia ficar deslocado em pensamentos, então,
pensei numa pessoa que amaria saber de pessoas novas no local, então eu gritei.
- Dália!!! Vem aqui!!!
Uma voz feminina gritou vindo do meio da floresta.
- O que foi Uriassys? Aconteceu algo?
- Tenho novidades para você! - Eu disse.
- O quão importante é?
- Muito importante!
Todos ali ao meu redor taparam levemente os ouvidos, então, eu voltei minha atenção a eles e
esperei um pouco, logo, de dentro da floresta, veio uma garota de cabelos longos e lisos
ondulados de cor roxa como uvas, olhos verdes e cílios longos, pele branca com algumas
sardas bem colocadas, usando de uma gargantilha feita de algum tipo de prata ou aço, camisa
branca por debaixo de um casaco verde onde tinha alguns broches bonitinhos, uma saia de
cor preta e meia finas brancas que sobem até a canela, calçando uma sapatilha preta.
- Oi Uriassys, cheguei. Quem são esses aí? - Disse Dália de maneira bem articulada
como sempre, sempre falando com clareza.
- Semideuses novos, que nem a gente, ainda não fizeram o "teste" pra saber de quem
eles são filhos. Vão fazer agora, por isso te chamei.
- Ah, que incrível! Prazer, me chamo Dália - Disse ela enquanto estendia a mão para
cumprimentar todos eles e parecia atualizar algo em seu smartphone.
Uma coisa que devo lhes atentar, celulares são proibidos na maior parte do tempo para
semideuses pelo simples fato de que, sempre que você envia informação por meio de rádio ou
eletrônicos para algum local, é deixado uma assinatura de energia que os monstros
conseguem sentir, quase como se você estivesse os convidando para chegar e limpar o chão
com sua cara. Entretanto, o smartphone de Dália foi um presente de seu pai para ela se
manter sociável e dividir informações entre os seus amigos. Aliás, Dália é filha de Dionisio, o
Deus do Vinho, da Festa. Kayn e Aidan a cumprimentaram, mas Kayn ainda estava com
bastante confuso com tudo aquilo, então perguntou.
- Quer dizer que se quisermos irmos agora, podemos?
- Claro, vocês não são obrigados a permanecerem, porém, dificilmente um semideus
sobrevive até a maior idade sem um treinamento adequado, monstros sempre o caçam
e o destino deles você já sabe. - Disse o Saci, cruzando seus braços enquanto
mantinha uma postura firme.
Não é se ele estivesse dando muitas escolhas na verdade, entre ser morto e ter chance de
sobreviver e ainda aprender mais sobre si mesmo, eu acho que só há uma decisão a se tomar,
e Kayn e Aidan pareciam já ter entendido isso, então, se posicionaram em frente ao rio e
pareciam prontos para atravessa-lo.
Aidan pulou entre as pedras, tentando achar um caminho sem se molhar, já Kayn, foi por
dentro do rio. Eu não sei exatamente o que eles viram, mas eu sabia que eles teriam suas
próprias provações.
Eles pareciam hesitar de continuar em alguns momentos, Saci ficou olhando para eles
seriamente, é incomum ver o Saci tão sério, mas ele estava com muitas obrigações desde o
último mês, era compreensível, porém, sua expressão mudou de seriedade para surpresa e um
sorriso incrédulo no rosto.
- Uau, isso é realmente uma situação… Curiosa. - Disse ele.
- Aí meus deuses, espera só todo mundo saber… o Guliver não vai gostar. - Disse
Dália, bastante animada, como se esperasse a tempos uma novidade.
Do outro lado do rio, duas luzes holográficas formavam imagens acima das cabeças dos dois.
Acima da cabeça de Aidan, uma luz alaranjada e cintilante como magma, em forma de forja,
aquilo significava que seu pai, era Hefesto, o Senhor da Forja, mas, acima de Kayn, um
crânio de cor negra, com luzes oscilantes de poder, aquela caveira era clara em destaque, e
dentro de mim, que já tinha entrado em contato com ele, eu sabia desde o princípio quem era
o seu pai, e ele é ninguém mais ninguém menos que Hades, o Senhor dos mortos. Um filho
dos 3 grandes, aquilo com certeza iria dar uma movimentada no acampamento.

VI - Velhos Habitos

Eu olhei para todos ali, a Lea a um bom tempo conversava com Guliver que é outro filho de
Hefesto sobre equipamentos melhores e mais eficazes, então eu não pude deixar de ver seus
olhos brilhando, ela certamente iria explorar o pobre Aidan, mas também, iria o dar as
devidas boas vindas e isso é bom, eu cheguei no anterior acampamento por meio dela e o
Ekho que me resgataram de uma situação na qual eu estava num hospital por ter sido
atropelado por outros Semideuses que estavam em missão, bom, esses Semideuses até agora
é um mistério onde eles estão. O que eu quero dizer é, se tem pessoas que eu aprendi a gostar
de ter por perto, era a Lea e o Ekho, claro, a Dália também mas eu dificilmente a via sair em
missões, e de certa forma, eu não quero que ela se ponha nesses riscos tanto assim. Quanto ao
Kayn, eu fiquei super empolgado também, como eu disse, eu sabia que era, ou melhor, minha
intuição apontava para algo assim, então, eu fui até eles atravessando tranquilamente o rio e
disse os parabenizando.
- Vocês conseguiram! O pessoal vai gostar de conhecer vocês.
- Ah… Obrigado, eu acho. - Disse Kayn, enquanto olhava para sua gadanha em suas
mãos, como se uma memória ou pensamento desbloqueasse em sua mente. - Eu usava
essa foice pra agricultura, junto de minha mãe, nunca imaginei de onde ela surgiu ou
algo assim, mas olhando melhor para ela, não parece ser feita exatamente para
colheita.
Ekho pulou por cima do rio com grande destreza e pousou do nosso lado, então, ele disse ao
Kayn.
- Eu também tenho uma foice, mas eu a guardo aqui. - Dizia ele enquanto apontava
para uma das folhas da tiara de louro em sua cabeça.
- Que legal! Foi você quem fez? - Perguntou Aidan, olhando para Ekho.
- Não, foi seu meio irmão, Guliver. Venham, vou mostrar a vocês o lugar.
Ele então se preparou para correr em alta velocidade como sempre fazia, mas percebeu que
eles precisariam o seguir, então diminui a velocidade de seus passos. Fui então para dentro do
rio e fiquei um pouco por lá, apenas alguns segundos, o suficiente para chegar ao solo dele e
encontrar um velho amigo, um fóssil de um dragão ancestral que descansava seus restos ali,
eu já havia falado com seu espírito em alguns momentos, não me pergunte isso agora, mas eu
consigo falar com criaturas, então, eu apenas disse na língua dos dragões para ele um
"Obrigado", então, ouvi alguem me chamar da superfície da água do rio. Então, subi e vi que
Dália estava me esperando, ela disse.
- Você não vem? Já tá todo mundo esperando pra conhecer os novos Semideuses.
- Você já contou pra todos eles? - Perguntei.
- Óbvio, ninguém recebe novidades assim a tempos e eu com certeza ia contar, né? -
Ela respondeu com um certo orgulho na fala, como uma daquelas blogueiras.
Eu tinha me aproximado bastante da Dália durante esses últimos 2 meses, ela inclusive me
ensinou maquiagem e cuidados do cabelo e pele, além de eu sempre contar com ela pra tirar
um pouco o tédio da vida. Óbvio, fofocas estavam sempre inclusas, mas eu olhei para esse
jeito dela e quis pertubar um pouquinho, então, peguei o braço dela e comecei a puxar ela
lentamente para dentro do rio, ela gritava dizendo coisas como "Solta bicho do mato, criação
abominável da natureza" ou "Planta de músculos", então, eu a molhei no rio e vi ela
demonstrar irritação, porém nada muito sério, estávamos acostumados a pregar peças um no
outro, ela disse.
- Uriassys!!! Eu te odeio! Não quero mais falar com você.
- Vai sim, não vai dar nem 3 minutos e você já vai estar de novo fofocando comigo. -
Sorri dizendo a ela.
- Vou mesmo. Mas não vai se achando não! Monstro de Planta. - Disse ela enquanto
saia batendo o pé demonstrando irritação, mas eu pude jurar que vi um sorrisinho no
rosto dela.
Bom, ela estava certa, provavelmente estavam todos já se misturando em volta da fogueira
enquanto comiam e eu ainda não estava lá, muito menos tinha comido algo no café da manhã,
então, fui para a grande fogueira no centro do acampamento, e lá, vi todos os campistas.
Alex estava lá, observando tudo de maneira quieta como sempre, Luma, filha de Afrodite,
parecia estar muito animada com os novos membros do acampamento, falando com eles
estando próximos a fogueira, já Guliver, parecia totalmente enfurecido ou chocado, falando
do como seu pai tinha tempo livre para… continuar sua linhagem além de coisas que
sinceramente não sei se quero repetir, Alice, filha de Ares, parecia estar animada também,
carregando seu pé de cabra de estimação em mãos e balançando ele enquanto falava, e
quando eu falo pé de cabra, é aquela haste de ferro, ela usava aquilo como arma. Bom, além
desses, muitos outros estavam ali presentes, mas com certeza uma aura sóbria vinha do meio
irmão de Kayn, Lucas, que proferia maldições e ódio contra seu pai, não parecendo nem um
pouco animado com o fato de seu pai ter tido mais filhos. Bom, Pã está morto, isso
significava que eu e meu meio irmão também do acampamento, Marvin, éramos os últimos
filhos dele, isso se a gente não encontrasse mais por aí, mas de toda forma, é um pouco
estranho sentir que eu sou algum tipo de espécie em extinção.
Comecei a comer junto dos outros Campistas, pedi aos espíritos que me dessem um
sanduíche de creme de amendoim e sorvete de morango e assim eles me entregaram. Olha,
desculpa se meus gostos não condizem com o local mas é o que eu gosto. O problema foi que
o ânimo da novidade foi se esvaindo lentamente dos rostos e um clima um pouco sóbrio
começou a voltar, afinal, todos ali estavam preocupados com o nosso diretor, Sr. C, que
sumiu a 2 meses durante o ataque ao Acampamento Meio-Sangue, e tínhamos ficado
deslocados, ninguém mais praticava esportes, treinos e nem tinham eventos como antes,
então, eu reuni toda a coragem que eu tinha para tentar falar com todos, me pondo em frente a
fogueira.
- Pessoal, eu… - Por um momento eu senti meu corpo fraquejar, não era meu forte falar
com pessoas, mas eu vi o olhar de Lea, Ekho e Dália, me encorajando a continuar
falando, então, reuni forças e disse em alto e bom som. - Todos nós, campistas, tem
estado bastante deslocados desde os ocorridos. Não praticamos mais nossos costumes,
nem treinamos, e alguns até tomamos o peso de tudo como se fosse responsabilidade
exclusiva sua…
Eu olhei inevitavelmente para Lilian, que também estava ali, eu pude ver que seu olhar não
escondia o cansaço, mas também, se acendeu em atenção ao que eu dizia, então, continuei.
- Por isso, eu proponho a volta de um dos costumes mais tradicionais do acampamento,
os eventos de batalha.
Ao dizer isso, esperei aprovação dos campistas, e eles começaram a comentar entre si, de
início não pareciam animados, mas seus olhos lentamente começaram a ganhar vida de novo
e vi várias mãos levantadas e comemorando, felizes por isso, então, Luma se levantou e se
pôs ao meu lado em apoio a mim, então me perguntando com um sorriso no rosto.
- Eu acho que estava mais do que na hora de alguém tomar as rédeas e fazer algo assim,
mas o que me diz? Qual vai ser a modalidade do evento dessa vez? Você escolhe.
Eu estava tentando me lembrar de algo, quando comecei a ouvir gritos alegres vindo dos
campistas e principalmente de Alice, que subiu um dos pés na mesa e gritou em bom som:
- Guerra!!!
Lea foi a primeira a reagir com mesma intensidade, gritando também e erguendo sua espada
em completo frenesi, a maioria dos outros também demonstraram muita alegria, e eu não era
diferente, acho que eu nunca tinha visto tanta animação e isso me deixou igualmente
eufórico, então eu senti como uma explosão dentro de mim e gritei também:
- Guerra!!!
Bom, agora vem um momento aula e curiosidade, Pã é o Deus da Natureza mas também era
digamos que o Deus dos Asssombros ou do Pânico, ele afastava pessoas das florestas
impondo medo e terror a elas por vários meios, um deles, era seu grito devastador. Bom, eu já
tinha perdido em alguns momentos a linha, gritando e causando Pânico, e dessa vez não foi
diferente, meu grito foi tão forte que eu vi alguns campistas caindo ao chão, Luma tapou
rapidamente minha boca, e eu percebi que tinha feito de novo. Senti minhas bochechas se
enrubescer e minha timidez tomar a mim de novo, tudo o que eu pude dizer foi só um baixo:
- Foi mal…
- Tudo bem Uri… - Disse Luma, sorrindo nervosamente mas tentando me acalmar. -
Mas você ainda precisa escolher a modalidade do evento.
Bom, o evento era não só uma forma de distração, mas um treinamento, então, cheguei a
conclusão de que a modalidade do evento devia ser:
- Captura ao objetivo, duas equipes serão formadas aleatoriamente, essas equipes
devem proteger seu tesouro, o qual será um saco contendo Dracmas, a equipe
vencedora leva os Dracmas. - Eu disse.
Todos reagiram positivamente, exceto por um detalhe, o qual Lea apresentou.
- Quando o evento vai ocorrer? Hoje teremos que sair daqui a pouco, temos coisas a
resolver, lembra Uri?
Tinhamos planejado ir até um local naquele dia. Lea havia entrado em contato com um Deus
misterioso por meio de oferenda de Dracmas, o qual nos direcionou a uma missão, a qual
deveríamos proteger um local da natureza que estava sendo ameaçado por criaturas, então,
tomamos aquela missão para nós, sendo guiados por uma bússola dourada a qual Lea tinha
recebido.
- Podemos fazer o evento amanhã, assim, vocês tem tempo de resolver tudo e nós
também. - Disse Luma.
Ficou combinado assim, todos pareciam ter aprovado a ideia e iniciado a planejar, enquanto
eu terminava de comer e já me preparava junto a Lea, Ekho e Alex para mais uma excursão,
tudo parecia que ia ocorrer bem, mas uma sensação dominou a todos nós que estávamos ali,
algo que só pode ser descrito como observar os piores massacres, rituais e cataclisma em um
piscar de olhos e sentir uma sensação de dormência subir por todos os seus ossos. Aquilo
certamente era um aviso, e não era apenas para mim, todos ali, estávamos sendo ameaçados
por algo que sinto que estamos longe de conseguir entender.

VII - Incertezas me cobrem

Eu gostaria de dizer que não tinha sido afetado de alguma forma com aquilo, mas acontece
que eu não conseguia sentir nada além de pânico e confusão, acredito que todos ali sentiram o
mesmo, Luma que estava do meu lado, tocou em meu ombro e disse:
- Uriassys… você tem alguma ideia do que acabou de acontecer? - Seus olhos de cor
dourada pareciam buscar algum tipo de resposta.
- Não faço ideia. - Menti, eu tinha noção de algo que poderia ser, mas não era hora de
causar mais pânico.
- Bom, acredito que não seja adequado sair agora para algum tipo de missão fora do
Acampamento. Esperem um dia ao menos, até a situação pelo menos aparentar
melhora. - Disse Luma.
- Okay, eles precisam mesmo treinar afinal… - Respondeu Ekho.
Ela então tomou uma postura mais confiante e coordenou os campistas a saírem daquela área
e voltarem a seus afazeres e chalés, eu sabia que todos estavam confusos tanto quanto nós,
mas duvido que estivessem ansiosos para descobrir o que aquilo significava. Lea parecia estar
com sua mente um pouco distante, então, foi em direção a seu chalé, acredito que ela foi
cuidar de seu meio irmão recém descoberto, deu pra ver que aquilo havia mexido com ela
também, então, nenhum de nós interviu ou foi junto.
- Temos que nos preparar. Vamos ao chalé de Hefesto, ele vai conseguir melhorar a sua
lança para você… - Disse Ekho, apontando para Aidan. - … E você também. - Se
referindo a Kayn.
Ambos assentiram com suas cabeças e seguiram para lá, porém, no meio do caminho,
lembrei-me de algo. Havia mais uma pessoa que devia estar ali conosco.
- Antes, a gente precisa ir ao Chalé de Nemesis. - Eu disse.
- O que tem lá? - Perguntou Aidan.
- Um rosto amigo. - Parte de mim duvidava um pouco de como seria a recepção da
pessoa que estávamos indo encontrar, e talvez, isso tenha saído no tom de minha voz.
Bom, enquanto estávamos indo para lá, comecei a pensar em milhares de coisa, como o que
havia acabado de acontecer, ou que nós precisamos fazer para consertar tudo, ou numa das
coisas que mais me preocupava esses dias, e se tudo o que me faz ser eu é o fato de que eu
não passo de um objeto?
- Uriassys, a gente precisa explicar pra eles algumas coisas. - Disse Ekho, que estava do
meu lado.
- Você pode começar falando sobre as Dracmas para eles, Ekho? - Eu disse, sentindo
minha voz meio trêmula em alguns momentos, porém Ekho não parecia ter percebido.
Peguei uma dracma do meu bolso e pus na mão de Ekho, ele então pegou e começou a
explicar para eles.
- Bom, Dracmas são basicamente uma moeda sagrada de troca com o divino, vocês
podem receber favores, respostas, poderes ou algo do tipo.
- Então quer dizer que os deuses vendem coisas para a gente? - Perguntou Kayn.
- Algo assim. - Disse Ekho.
- Mas saibam de uma coisa. - Eu disse com um tom sério na voz. - Toda troca, pacto ou
conversa que vocês fizeram diretamente com deuses tem uma grande importância, só
façam se realmente sentirem que devem. Uma hora você vão entender… Eu não
entendi mas fiz assim mesmo.
Parecia hipocrisia falar daquele jeito, e realmente era, mas diferente de como eu geralmente
me sentia, eu sabia que eles eram sempre assombrados de dúvidas e confusões nos momentos
de tomada de decisão, eu estive pouco tempo com eles e já tive uma leve impressão de
conhecê-los, talvez… o Deus da Natureza também conhecesse a Natureza do coração das
pessoas. De qualquer forma, eu nunca tinha duvidas de que poderiam me matar, trair,
ameaçar meus amigos, ou ter intenções a mais quando eu fazia promessas, acordos ou coisas
impossíveis, a questão é que, eu estou sempre seguindo sem realmente me arrepender ou me
importar, eu vou assumir os meus atos. Talvez esse seja meu defeito mortal.
Estávamos em frente ao chalé de Nemesis, e algo me dizia que eu tinha feito a escolha certa
em ir ali, afinal, ainda faltava uma peça pra essa história. Batemos a porta, e então, abrindo
ela, estava Arthur, um dos filhos de Nemesis.

VIII - Presságio ruim

Bom, para contextualizar, Arthur também foi um dos campistas que me "recepcionou"
quando eu cheguei no antigo acampamento, ele na época me tratou de maneira arrogante e
fria, dizendo coisas como "Se ficar no meu caminho, eu acabo com você.", bom, eu não gosto
muito dele desde então, apesar disso, acredito que ele deva ter algum motivo, ou seja apenas
algo dele, talvez estivesse tão assustado quanto qualquer pessoa normal. Então, relevei. Mas
ali estava ele, um garoto pouco menor que eu, pele parda, alguns pelos faciais que nasciam,
cabelos pretos, um olhar de julgamento intenso, vestindo roupas que mais pareciam vim do
século passado, como aquelas que se vê em filmes de máfia italiana, tendo até uma boina
preta em sua cabeça, acho que ele tenta ser "deslocado" ou algo assim, bom, "Cada um com
seu estilo", foi o que a Dália me disse quando eu perguntei pra ela sobre.
- O que foi Uriassys, aconteceu algo? - Disse Arthur, tendo uma clássica voz de
adolescente em período de puberdade, porém sempre num tom sério.
- Aconteceu, várias coisas. Mas primeiro. Eles. - Eu disse enquanto apontava para Kayn
e Aidan.
Eu esperava que ele fosse reagir de maneira nada amistosa assim como foi comigo ou algo
assim, porém, ele andou até a frente dos dois e lhes recebeu com um aperto de mãos, dizendo.
- Prazer, eu sou o Arthur.
- Prazer, sou o Aidan. - Disse Kayn, com um sorriso de canto de rosto.
- Prazer, sou o Kayn. - Disse Aidan, também com um sorriso brincalhão no rosto.
- Ah… Eles trocaram os nomes, devem ter esquecido os próprios nomes. - Eu disse de
maneira gentil, me fazendo de ingênuo.
- Então tá. - Disse Arthur, sem dar muita importância para a brincadeira. - Então, o que
aconteceu?
Olhei para Ekho, Alex, Aidan e Kayn, e todos eles pareciam um tanto quanto ansiosos para
treinar, bom… talvez não tanto o Alex, ele é o "médico" da equipe digamos assim, então
talvez um treinamento só geraria mais trabalho para ele no fim.
- Vocês podem ir se dirigindo ao Chalé de Hefesto? Preciso falar com o Arthur, todos
precisam treinar, então de lá, a gente pode se encontrar na arena de treino.
Todos assentiram e saíram andando em direção ao Chalé, exceto eu e Arthur.
- Então Uriassys, o que você tem pra falar? O que mais aconteceu?
- Certo. - Entrei no chalé e me sentei em uma cadeira para explicar a situação de
maneira mais confortável, mas eu estava bastante apreensivo o tempo inteiro. - Eu,
Lea e Ekho fomos em uma missão a cerca de uma noite atrás, na verdade, foi
totalmente por acaso, um portal se abriu a nossa frente e entramos, lá, era algum tipo
de casa de festas a qual vários semideuses e mortais estavam em algum tipo de transe
que os fazia permanecer gastando suas energias e alimentar uma criatura. O local
parecia usar algum poder de Dionísio, porém, o próprio não estava por trás disso,
enfim, resolvemos aquela situação, e trouxemos uma das pessoas que estava lá.
Motivo? É um filho de Belona, assim como Lea.
A existência de Belona era curiosa para nós, e mais importante, Lea era a única filha dela que
conhecíamos até pouco tempo atrás, acredito que isso tudo além da nossa amizade com Lea
fez com que concordassemos em trazer ele. Além de que, a situação teria sido talvez melhor
se tivéssemos conseguir trazer mais dos Semideuses para cá, mas o portal de volta que se
abriu estava instável e haviam mais criaturas lá. Além disso, escondi um fato curioso também
que havia acontecido. Havíamos recebido a ajuda de um mortal nada comum, ele conseguia
ver através da Névoa que esconde o mundo imortal do conhecimento mortal, e parecia estar
abençoado por algo para poder combater o imortal.
- Okay, aconteceu muita coisa desde que eu estive fora não é? - Disse Arthur, já
parecendo estar sentindo o peso das coisas caíram sobre seus ombros assim como nós.
- Sim. E tem mais. - Continuei. - Agora pouco, na fogueira, algo aconteceu. Uma
sensação extremamente estranha, como se algo brutal estivesse nos observando e nos
enviando uma clara ameaça. Cenas terríveis afogaram as nossas mentes, e quando eu
digo nossas, é de todos os campistas que estavam ali na hora comendo e se divertindo.
Todo mundo ficou em choque pela situação.
- Aconteceu algo comigo também nessa manhã, nada demais, mas quando eu levantei
da cama, meu livro estava aberto. - Disse Arthur, parecendo não estar tão preocupado
Arthur possuia um livro extremamente misterioso, aparentemente, uma daquelas Peças que
eu citei mais cedo. Aparentemente, totalmente em branco, mas em alguns momentos, ele
surgia com palavras ou profecias, sendo a última delas "Não confiem nos Deuses da Noite." .
Ele dizer que seu livro estava aberto, poderia significar que algo poderia ter usado de
qualquer poder oculto que estivesse ali, e aquilo me perturbava.
- O que estava escrito na página aberta? - Perguntei bastante preocupado e sério.
- Eu não sei, eu apenas fechei o livro. - Disse ele.
- Abra o livro e veja!
- Tem certeza disso Uriassys? Você sabe que sempre que ele é aberto parece que algo
ruim é anunciado.
Balancei a cabeça negando, eu não tinha certeza de nada naquele momento, mas se havia a
possibilidade de obter respostas, talvez estivesse ali no livro. Talvez eu tivesse desejado
pensar um pouco mais nas possibilidades. Quando Arthur abriu o livro, duas presença
aterrorizantes foram sentidas vindo de nossas costas, nossos corpos mal conseguiam se
mover, atrás de mim, algo extremamente calculista, frio, cruel e imparável podia se sentir,
toda aquela presença fez meu corpo fraquejar, eu podia sentir o ar sendo arrancado de meus
pulmões e meu coração disparar. Vindo de trás de Arthur algo que parecia ser forte o
suficiente para apagar qualquer chance de vida que tivéssemos, aquilo durou segundos mas
pareciam horas, até que se dispersou tão subitamente quanto surgiu, e a página do livro estava
em branco. Eu estava tão completamente em pânico que não consegui me mover, respirar
direito ou emitir qualquer tipo de reação, Arthur chamava por mim mas eu não podia o ouvir,
eu estava absorto no meu pensamento e minhas preocupações, a única coisa que eu conseguia
saber era que ele estava tentando dizer algo perguntando sobre como eu estava me sentindo.
Eu apenas disse, mesmo assim.

- Está tudo bem, eu só preciso que você me diga… eu posso contar com você? - Eu
ainda não o escutava e nem escutava minha voz.
Vi ele assentir com sua cabeça e então, toquei com minha mão em seu ombro e o abençoei
com uma das dádivas de proteção que eu havia adquirido através de um troca com o
fragmento do espírito de meu pai em troca de meu braço direito, que era meu dominante.
Aquilo iria o fortalecer e tornar mais resistentes em situações de perigo. Apenas Dália, que eu
fiz secretamente, e Lea e Ekho tinham essa benção, agora, Arthur também.Vi que ele tinha
muitas perguntas mas apenas disse a ele para ir arena que eu o encontraria lá. E então, sai
correndo para floresta a dentro, eu sentia que algo importante ia acontecer naquele exato
momento e eu precisava ver, só tendo um jeito o qual eu pudesse ver tudo o que acontecia ali.
Eu precisava ter os Olhos de meu pai.
VIV - Ekho fala com seu…

"Não confie nos deuses da noite...". Foi uma das primeiras coisas que eu ouvi logo quando
conheci esse mundo de deuses e criaturas mágicas, digo, conhecer pessoalmente. Essa frase
apareceu justamente no livro do Arthur e foi reconfirmada pelo Sr. C, mas advinha? Eu não
ouvi e hoje tenho um pacto com Hecáte, uma deusa da noite, além de que, meu pai, ele parece
ser algo do tipo… Eu continuei correndo floresta a dentro, até chegar numa área coberta por
galhos que tapavam a luz do sol, deixando a iluminação bem pouco, lá, me sentei no chão e
deixei que minha percepção fosse além de meu corpo. É estranho de explicar o como você
pode sentir, ver e pressentir algo de maneira tão nítida, mas acredito que é como conseguir
abraçar o próprio local e conhecer como se fosse a palma de sua mão.
Inicialmente, minha visão se adaptou a nova perspectiva, focando em mim mesmo,
conseguindo me ver ali sentado como se eu fosse outra pessoa, um garoto de pele escura, com
físico notoriamente forte, com 1,78m e cabelos cacheados na altura dos ombros de cor preta.
Eu estava vestindo uma bermuda preta com listras douradas, sem camisa, apenas uma pintura
corporal verde cobria minha pele e fazia alguns desenhos pelo meu corpo, além de uma
braçadeira feita de vinhas e plantas vivas envolvia meu único braço, afinal, eu não tinha mais
meu braço direito, e um colar volumoso de folhas que pareciam algo como um pequeno
arbusto. Meus olhos estavam diferentes. Normalmente, eles são castanhos claros e quando
estou sério ou em uma situação onde preciso digamos que, mostrar minha natureza, eles
ficam rosa, mas ali, eram os olhos de meu pai, semelhante aos olhos de ninfas, verdes como
clorofila brilhante. Graças aquilo, eu conseguia ver uma enorme área ao meu redor, em
escala, algo equiparado a 6 campos de Futebol Americano, mas não só isso, mesmo que por
alguns segundos, eu conseguia ver um futuro próximo.
Em minha visão, procurei por todos do acampamento, entrando com minha visão até mesmo
em chalés. Todos pareciam normais, na medida do possível, então, fui até a arena de
treinamento, onde o pessoal estava, e lá, vi Aidan, Alex, Kayn treinando, parecendo ainda
meio sem jeito, menos Alex, que supervisionava para evitar que eles se machucassem demais,
Arthur também estava chegando lá, já acenando para eles, porém, Ekho, estava um pouco
mais afastado, em meio a uma pequena Clareira, ele estava de frente a uma chama multicolor,
parecendo cintilar como um arco íris e confusa e volátil como uma explosão, oscilando entre
comportar-se e tornar-se o próprio caos, formando lentamente uma silueta, era um homem
adulto, vestindo um chapéu de um típico viajante dos anos 1800~1900, usando um óculos de
sol que escondia seus olhos um pouco mal, mas seu rosto, seu físico, era sem dúvidas, como
olhar para Ekho.
- P-Pai… - Disse Ekho, pasmo diante daquela situação.
Ainda havia chamas em Hermes, elas mantinham aquela forma ou imagem dele naquele
local, ele não parecia conseguir falar. Eu conseguia sentir que o quão imponente ele era,
porém, também conseguia que ele estava fraco, ainda sim, se aproximou de Ekho e parecia
feliz em o ver, porém, sua expressão mudou para preocupação ou algo como dor.
- Você precisa de ajuda? O que está acontecendo? - Perguntou Ekho, estando prestes a
chorar
Hermes inicialmente negou com a cabeça, parecendo relutar em pedir algo a seu filho,
mas logo cedeu, assentindo que sim, precisava de ajuda.
Sua imagem pouco a pouco foi se desfazendo, acredito tanto Ekho quanto eu sabíamos que
sim, estávamos a caminho de ajudar Hermes, bastava continuarmos a fazer as missões que
estavam a nosso caminho, que em algum momento, as respostas viriam, ou mais perguntas.
Hermes levou sua mão direita a lateral do rosto de Ekho e lhe acariciou gentilmente, o
carinho de um pai. Lágrimas caiam do rosto de Ekho… Do meu também, eu o invejava de
certa forma, óbvio, desejava ter 1 segundo se quer com o meu pai, ou com algo que me
abraçasse. Curiosamente, eu só sentia isso a noite, ela sempre me abraçou, eu sempre senti
que eu devia… Quer saber? Esquece.
Sai daquele local, minha visão atravessou todo o caminho de volta a mim, eu estava
chorando, minhas lágrimas reluziam em cor verde clorofila, chega de apenas observar de
longe.
Noite, me guarde contigo.

X - Nosso treinamento é interrompido

Fui andando até a área de treinamento, a qual era um Clareira bem ampla com um terreno
perfeito para poder travar lutas dinâmicas. Eu estava bastante desnorteado, sentindo um
aperto no peito, as lágrimas não paravam de correr, eu sentia aquele velho sentimento de estar
sozinho. Bom, isso se desconstruiu, toda a minha angústia foi embora quando eu vi o Aidan
tropeçar em sua própria lança ao tentar uma investida contra Ekho, que treinava todos eles.
- Olá pessoal. - Eu disse a eles, enxugando as últimas lágrimas que caiam de meu rosto.
Kayn tentava atacar Ekho com sua foice em um ataque vertical vindo direto das costas dele,
porém Ekho percebeu e esquivou-se para o lado sem muita dificuldade.
- Oi Uriassys. - Disse Kayn, frustrado.
- Posso me juntar ao treinamento? - Perguntei a eles, mas olhei principalmente para
Ekho, com intenção de lhe informar que precisávamos conversar depois.
- Claro. - Disse ele, parecendo já ter entendido sobre o que se tratava.
Normalmente, eles não gostavam de treinar comigo por conta da minha resistência física e
por que eu tenho muita força também, porém eu sempre brinco fingindo não entender o
motivo. Então para Ekho ter dito que sim, ele realmente estava com seus pensamentos longe.
As vezes eu tenho medo de…
- Bom, sendo assim… Podem me atacar, vocês dois. - Disse eu a Kayn e Aidan.
Eles pareceram bastante confusos com o pedido inusitado vindo de mim, bom, eu também
ficaria. Entretanto, Kayn logo sacou sua foice e disparou contra mim pra um ataque direto,
entretanto, eu ergui a palma de minha mão contra a lâmina da foice e segurei o ataque sem
dificuldade alguma. Aquilo seria impossível, se eu não tivesse naturalmente uma resistência
enorme, derivada provavelmente de meu pai, e aquelas tinturas sobre meu corpo, que
funcionavam como uma camada protetiva a qual impede na maior parte das vezes que eu me
cortasse. Kayn obviamente olhou com espanto. Ele então tentou por mais algumas vezes
realizar ataques, devo admitir, machuca um tanto receber os impactos da arma, mas nenhum
deles me féria, Aidan também se juntou ao ataque, porém, notei que ele diferente da maneira
que sempre agia, tentava manusear de maneira mais pensada a arma e atacar de maneira
coordenada, o que mais atrapalhava ele do que ajudava, pois seus ataques eram sempre
frustrados por um tropeço ou pela mal execução do ataque. Pensei um pouco sobre, e cheguei
a uma conclusão, então, disse.
- Aidan, tenta pensar menos na hora de atacar, deixa fluir. Imagina… O campo de
combate como se fosse o ferro, esperando apenas você o moldar da maneira que
entender.
- Okay, vou tentar…
Kayn já estava quieto, exausto pelos ataques contínuos ele decidiu descansar, enquanto Aidan
avançou. Esperei um ataque comum de estocada com uma lança, ficando em guarda para o
ataque, porém, fui surpreendido quando ele arremessou a lança no meio do trajeto de
investida e ela simplesmente mudou sua forma… Era como se ela tivesse sido transformada
em ferro quente em pleno vôo e passasse rapidamente por todas as etapas de forja até se
tornar outra arma, transformando-se me um machado de arremesso, o qual atingiu meu peito
em cheio. Bom, eu gostaria de dizer que aquilo causou um enorme estrago em mim, mas
novamente, não arranhou se quer e a machadinha foi rebatida em direção oposta, porém,
aquela habilidade de Aidan era surpreendente… Ele tinha literalmente um arsenal inteiro em
uma única arma. Nada mais nada menos que um filho do Hefesto.
- Que incrível! - Eu disse a ele estando realmente muito entusiasmado pelo feito. -
Como você fez?
- Eu não sei dizer… Eu apenas… Pensei em atacar e no que você havia dito. - Disse
Aidan, confuso.
Arthur estava mais distante, vi ele de relance olhando para floresta a dentro, como se
estivesse vendo ou ouvindo algo. Olhei para Alex e ele estava empunhando seu machado e
olhando para o mesmo ponto, Kayn fazia seu preparo para um combate eminente, mas seu
foco estava em outro alvo, ele ainda queria acertar Ekho pelo menos uma vez. Eu só fui me
dar conta do que estava acontecendo quando eu ouvi Aidan chamar por meu nome do meu
lado e dizer.
- Uriassys… olha para trás… - Assustado ele estava.
Me virei lentamente e vi… Por algum motivo, meu cérebro simplesmente ignorou durante a
situação mas agora fazendo retrospecto, eu havia sim escutado passos pesados se
aproximando, e quando eu falo pesados, é algo parecido com uma bola de demolição caindo
no chão várias vezes, mas não dei importância ou meu cérebro simplesmente desligou, mas
ali estava… um Golem de Pedra exageradamente robusto e grande, com o tamanho de mais
ou menos uma casa de 3 andares, olhando para mim e Aidan e erguendo sua enorme mão
acima da cabeça, prestes a nos atingir em cheio. Assim que todos se deram conta, Ekho
disparou contra o Golem mais rápido do que o próprio pensamento, sua aparência havia
mudado para o que ele e a Lea chamam de modo de batalha, ele tinha enormes asas
espirituais translúcidas que saiam de suas costas e feixes de luz saiam de seus olhos, que
estavam brilhando em branco, emanando poder. Devo admitir, Lea era a mais habilidosa em
combate de todos nós do grupo, mas Ekho, ele é um gênio em dominar sua própria habilidade
divina herdada. Ele cortou facilmente a ligação de rochas que estabeleciam o braço do Golem
erguido, fazendo com que o braço caisse no solo ao lado dele antes de nos acertar, porém, são
Golens, eles se reconstroem até sua fonte de vida ser quebrada ou se esgotar após se
reconstruir tantas vezes. Aidan atacava o Golem, transformando mais uma vez sua arma,
agora uma enorme marreta de batalha, quebrando algumas partes do Golem, que rangiam
como bater de várias pedras enquanto se movimentava, parecendo preparar um novo ataque.
Alex parecia tomar postura de retaguarda, ele mantendo uma distância segura do Golem,
atacando e recuando, enquanto Arthur parecia socar desesperadamente o Golem, porém, eu vi
algo surgir de suas costas, eu só não sabia dizer que era e tentei prestar atenção nele quando
de repente, ele deu um soco que parecia normal como os outros, mas acompanhando ele, uma
segunda fonte de impacto absurda atingiu o golem, fazendo ele inteiro balançar e aparentar
diminuir suas resistências. Eu não sei o que ocorreu mas, aquilo não vinha de Arthur,
recebemos uma ajuda de alguém, mas eu não tive tempo de tentar entender a situação.
Imagine que todo o chão que você está pisando é balançado como se fosse um tapete que fora
puxado debaixo de seus pés, agora imagine isso e uma onda de impacto semelhante a ser
atropelado por um veículo a 30km/h, seguido de estilhaços de pedras que voam em sua
direção, foi exatamente o que ocorreu, o Golem bateu com agora todo o peso de seu corpo no
chão, causando tremores por toda aquela Clareira e arremessando Aidan, Ekho, Kayn e
Arthur que estavam próximos para alguns metros de distância, eu permaneci no local,
novamente, sem nenhuma escoriação. Digamos que, eu tenho experiência em sofrer
atropelamentos. Antes mesmo de eu ser um Semideus, ou melhor, de saber que eu era, eu
sofri um acidente no qual eu fui atropelado por um carro em alta velocidade dirigido por
Semideuses em fuga de algo, bom, eu também não podia julga-los, afinal, atravessei no sinal
vermelho e eu também estava fugindo de… Do que eu estava fugindo?
Enfim, o combate seguiu, Kayn buscou pontos de brecha no golem para inicial um novo
avanço, acredito que pela sua cara de frustração ele não havia encontrado ponto algum, Ekho
também estava ficando exausto atoa. Não tínhamos como machucar aquilo, mesmo com
notoriamente ele ter ficado mais frágil depois daquele ataque misterioso. Foi quando eu notei
algo… eu estava parado, o combate inteiro, eu passei parado, meus amigos estavam dando o
melhor de si e eu simplesmente não fiz nada além de receber alguns ataques do golem como
pedras que eram esporadicamente arremessadas dele... O que está acontecendo comigo?
Quando me dei conta disso, eu gritei a todos.
- Vou criar uma oportunidade! Todos vocês, agora!
No momento que terminei de dizer, reuni toda a minha força muscular em meus pés e pulei
em uma investida ruminante contra o peito daquele enorme golem, lhe dando um soco com
meu punho tão forte que causou um estrondo tão grande quanto seus passos, o fazendo cair
para trás, totalmente desorientado. Pousei do pulo em seu peito e comecei a chamar pela
natureza. Digamos que, as vezes, saber pedir ajuda é o melhor que podemos fazer, e eu pedi
ajuda da floresta, usando meu poder de falar com criaturas, espíritos, pessoas e outras coisas
para pedir que elas detivessem ao máximo aquele golem. Vinhas subiam por todo seu corpo e
o prendiam ao chão, detendo suas tentativas de levantar-se. Alex iniciou ataques contra o
golem, quebrando-o em alguns pontos. Não muito atrás, Kayn também ajudava, golpeando
bruscamente as pernas caídas do Golem para impedir que elas se debatessem, as destruindo.
Aidan subiu no peito daquele enorme golem e martelava sem parar contra ele, assim como
Ekho atingia todo o corpo do golem em alta velocidade correndo por ele, fazendo então, em
poucos segundos, todo o golem estar em fragmentos, não demonstrando nenhuma reação.
Assim, as vinhas se desfizeram, Kayn e Aidan se entre-olharam, enquanto Alex checava
ferimentos em Ekho que parecia bastante arranhado, enquanto eu olhava a situação e deixava
o golem para trás de mim. Surpreendentemente, as rochas em fragmentos do golem
começaram a se reeguer, agora, por estar em pedaços, era fácil sair das vinhas que o prendiam
antes. Fui me virar lentamente para ver o que estava acontecendo e vi o golem totalmente
formado de novo, agora com mais fragmentos, pronto para me trucidar em um ataque, porém,
uma sequência de várias projéteis veio da direita do golem, lhe atravessando varias vezes,
inúmeras, pareciam penas de aves, porém era como tiros de uma arma silenciosa, passando e
quebrando o golem tantas vezes que ele se quer conseguiu se reconstruir, fragmentando-se,
desta vez, definitivamente, e quando me virei para a fonte dos disparos, vi Arthur com algo
em suas costas, pareciam Asas Negras como a de um anjo, semelhante a atribuída a Nemesis,
essas asas que pareciam tão físicas simplesmente sumiram logo assim que me dei conta do
que eram.
Ao que parecia, todos ali estavam realmente aumentando de patamar… e não
necessariamente, eu sentia que isso era algo a me deixar animado.

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