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Romances que

consagraram autoras de
sucesso da Harlequin.

Caminhos
da
Sedução
Domando um coração texano!
Anna Cochran sempre foi completamente
apaixonada por Evan Tremayne. Mas o cowboy
cabeça-dura só pensava em protegê-la dos
outros homens da cidade. Anna passou anos
esperando que ele tomasse uma iniciativa,
porém Evan lutava contra seus verdadeiros
sentimentos por ela. Dependia de Anna
conquistá-lo. E ela logo faria Evan perceber
que não era tão inocente quando ele pensava.
Querida leitora,
Não posso expressar o quanto estou
feliz pela Harlequin Books estar
publicando alguns de meus primeiros
sucessos. Nunca me imaginei como
alguém que escreve livros para serem
colecionados. Na verdade, muitas vezes
esqueço que escrever é meu trabalho. O
que eu faço para viver é tão divertido
que nunca parece que estou trabalhando.
Já que moro em uma pequena
comunidade, meu dia a dia é tão envolto
em coisas simples, como alimentar os
pássaros e cuidar do meu jardim, que
fico completamente desconectada da
profissão que muitos acreditam ser
glamourosa.
Mas quando abro meu e-mail e leio as
cartas que recebo das leitoras, ou vou a
sessões de autógrafos e conheço todas
vocês, me sinto realmente abençoada.
Durante esses quase 30 anos de carreira,
eu cultivei uma amizade realmente
duradoura com muitas de vocês.
Algumas leitoras são praticamente da
família. Vocês não imaginam como
enriquecem minha vida. Eu só tenho o
que agradecer.
Também preciso estender esse
agradecimento à minha família: meu
marido, James; meu filho, Blayne; minha
nora, Christina e minha netinha, Selena
Marie. Também para minha melhor
amiga, Anna, e para todas as pessoas
talentosas que tornam possíveis minhas
publicações.
Obrigada por essa homenagem,
Harlequin, e a vocês, leitoras, por terem
me acompanhado durante todos esses
anos!

Amo vocês!
Diana Palmer
CAMINHOS DA
SEDUÇÃO

Tradução
Vera Vasconcellos
2014
Capítulo 1

EVAN TREMAYNE não se incomodava


com aquele jantar ou com a conversação
sobre negócios que se seguira. O que o
perturbava era o modo como Anna o
observava.
Aos dezenove anos, loira, dona de um
corpo de curvas generosas e olhos azuis,
Anna era uma jovem escultural, com
pernas longas e bronzeadas, que ficavam
deslumbrantes em shorts. No último ano,
Evan se esforçara ao máximo em ignorá-
la, apesar de fazer muitos negócios com
a mãe dela. Com trinta e quatro anos, ele
era o mais velho dos quatro irmãos e
quase totalmente responsável pela mãe.
Os negócios da família estavam
praticamente sob seu total controle e sua
vida se resumia a um emaranhado de
gado, problemas pessoais e transações
financeiras complicadas. E Anna era a
maldita gota d’água.
Principalmente, pensou ele, naquele
vestido azul-claro que deixava exposta
uma grande quantidade da pele dourada
e dos seios fartos. Sem dúvida, a mãe
deveria ter chamado a atenção de Anna
por isso. Mas Polly Cochran quase
nunca estava em casa. Evan imaginou se
ela havia notado a rapidez com que a
filha crescera. Polly parecia sempre
muito ocupada com alguma nova faceta
de seus negócios no ramo imobiliário. O
pai de Anna era um piloto comercial,
mas estava separado de Polly havia
alguns anos. Ele vivia em Atlanta,
Georgia, enquanto a filha e a ex-esposa
moravam no Texas. Na verdade, Anna
fora criada em grande parte por Lori, a
empregada da família. Ninguém parecia
ter muito tempo para lhe dedicar.
Polly havia pedido licença para
atender um telefonema e Evan fora
deixado desconfortavelmente na
companhia de Anna.
– Por que não parou de me encarar
nos últimos dez minutos? – perguntou
ela com uma voz suave. Os cabelos
loiros se encontravam atados no topo da
cabeça, o que lhe emprestava uma
incomum aparência sofisticada e
madura.
– Porque esse vestido a deixa muito
exposta. – Evan retrucou com sua
costumeira rudeza. Os olhos escuros
abandonando o rosto de Anna para se
fixarem nos seios opulentos. – Polly não
deveria tê-lo comprado para você.
– Ela não comprou – afirmou Anna
com um sorriso. – Na verdade, este
vestido é dela. Eu o peguei emprestado
sem que ela percebesse. Mamãe nem ao
menos notou que eu o estava usando.
Sabe o quanto ela pode ser distraída.
Sempre concentrada nos negócios.
– Os vestidos de sua mãe são muito
adultos para você – retrucou ele,
abrandando as palavras com um sorriso.
Evan costumava ser mais áspero com
Anna do que com qualquer outra pessoa,
devido à indesejada atração que sentia
por ela. – Deveria usar algo mais
condizente com sua idade.
Anna inspirou lentamente, e os olhos
o adoraram com suavidade antes de
baixarem à mesa.
– Pareço tão jovem assim aos seus
olhos?
– Tenho trinta e quatro anos, criança –
respondeu ele, a voz soando grave e
lenta no silêncio da sala de jantar. –
Sim, parece.
Os olhos azuis de Anna pousaram nas
mãos que ele mantinha unidas.
– Mamãe dará uma festa na noite de
sexta-feira para comemorar a
inauguração de um novo shopping em
Jacobsville, construído em uma das
propriedades que ela vendeu – disse
Anna. – Você vai?
– Harden e Miranda talvez
compareçam – murmurou ele. – Estarei
ocupado.
Anna ergueu o olhar, procurando,
obstinada, o rosto moreno e grande de
Evan.
– Poderia ao menos dançar uma
música comigo. Isso não iria matá-lo.
– Não? – perguntou ele com humor
mórbido. Em seguida, tocou um dos
cantos dos lábios perfeitamente
esculpidos com o guardanapo, antes de
pousá-lo ao lado do prato. Quando se
levantou, ele a obstruiu com a própria
altura. Era um homem gigantesco, todo
músculos e dono de um corpo de linhas
perfeitas, desde os contornos largos do
peito aos quadris estreitos e às pernas
musculosas. – Tenho de ir.
Anna se ergueu.
– Não tão cedo – suplicou.
– Tenho algumas coisas a fazer –
disse ele.
– Não. Não tem. – Anna insistiu,
fazendo beicinho. – Apenas não quer
ficar a sós comigo. O que você teme?
Que eu o atire sobre a mesa?
Evan ergueu as sobrancelhas, que
encimavam os olhos castanhos
faiscantes.
– E sujar minhas costas com purê de
batatas?
Anna deixou escapar um suspiro
irritado.
– Nunca me levará a sério.
– Não me atreveria – respondeu ele,
afastando-a com a experiência que os
anos de prática lhe conferiram. – Diga a
Polly que eu a verei amanhã no
escritório.
– Eu poderia morrer de amor por
você – disse Anna em tom de voz calmo.
– E você nem ao menos se importa de
despedaçar meu coração.
Evan sorriu.
– Corações não se despedaçam,
principalmente na sua idade.
– Sim, se despedaçam. – Os olhos
azuis percorreram o corpo alto e forte,
detendo-se no peito largo. – Poderia ao
menos me dar um beijo de despedida.
– Deixe que Randall faça isso –
retrucou ele. – Afinal, ele ainda está na
idade das descobertas, assim como
você.
– E você é muito velho, suponho?
Evan deixou escapar uma risada
abafada.
– Às vezes, me sinto exatamente
assim – confessou. – Boa noite, criança.
O rosto de Anna corou de leve, o que
lhe realçou o azul dos olhos.
– Não sou criança!
– Para mim, é. – Evan recolheu o
Stetson que se encontrava sobre o
aparador, sem nem ao menos lhe voltar
o olhar. – Transmita meu pedido de
desculpas à sua mãe. Não posso esperá-
la. Obrigado pelo jantar.
Antes que Anna pudesse responder,
ele havia desaparecido pela porta, sem
nem ao menos parecer estar apressado.
O diabo era que ele sentia uma
atração absurda por Anna. Na verdade,
seria capaz de se apaixonar
perdidamente por aquela menina. Mas a
filha de Polly era muito jovem para um
relacionamento sério. Naquela idade,
era normal se apaixonar e se
desapaixonar a cada semana. Além
disso, era quase certo que Anna fosse
virgem. Evan media 1,95m e pesava
mais de 90kg. Um breve caso de amor
que tivera quase terminara em tragédia,
porque no afã do desejo pela mulher que
amara – uma jovem inocente, assim
como Anna – se vira a ponto de não
conseguir controlar a força extrema.
Louisa fugira dele, aterrorizada. Aquilo
o assustara, o tornara cauteloso com
mulheres ingênuas como Anna. Sua
altura sempre fora um calcanhar de
Aquiles, desde a infância, quando vivia
partindo em defesa dos três irmãos.
Sempre tivera de controlar seus socos.
Chegara até mesmo a fazer um homem ir
parar no hospital, quando certa vez
subestimara a própria força. O risco
com uma jovem inocente como Anna era
muito grande. Não. Não suportaria outra
experiência como a que tivera, não
poderia arriscar. O melhor que fazia era
se ater às mulheres experientes, que não
o temiam.
Enquanto isso, na mansão de tijolos,
Anna refletia sobre o que ele dissera.
Evan a tratava como uma adolescente
que sofresse de uma simples paixonite,
enquanto ela estava morrendo com o
amor não correspondido!
– Onde está Evan? – perguntou a mãe,
estacando à soleira da porta. Com
aproximadamente cinquenta anos, Polly
era alta, magra e morena, enquanto a
filha era loira como o pai.
– Foi embora –respondeu Anna,
concisa. – Estava com medo que eu o
jogasse sobre a mesa e o seduzisse em
meio aos feijões verdes e ao purê de
batatas.
– O quê? –perguntou Polly, soltando
uma risada.
– Estava com medo de ficar sozinho
comigo –resmungou Anna. – Acho que
ele pensa que engravidarei.
– Criança, cuidado com seu linguajar
– repreendeu Polly. – Não se incomode
com Evan. Você já tem um namorado, e
da sua faixa etária.
Anna deixou escapar um suspiro.
– O velho e bom Randall – disse ela.
– Com seu olhar errante. Gosto muito
dele, mas Randall flerta com todas as
mulheres que encontra. Não acredito que
ele me leve a sério.
– Randall tem pouco mais de vinte
anos – argumentou Polly. – Vocês têm
muito tempo até se tornarem mais velhos
e terem relacionamentos sérios. O
casamento é para os pássaros, que
conseguem ser fiéis, querida.
Anna lhe dirigiu um olhar furioso.
– Só porque você e papai não foram
felizes juntos, não significa que eu não
possa ter um casamento bem-sucedido.
Os olhos de Polly escureceram, então
ela se virou para acender um cigarro,
ignorando o olhar de desaprovação da
filha, e esticou a mão para pegar o
cinzeiro.
– No começo, seu pai e eu fomos
felizes – corrigiu ela. – Depois, ele
começou a voar em rotas internacionais
e eu entrei para o ramo de negócios
imobiliários. Nunca nos víamos. – Polly
deu de ombros. – Coisas que não se
pode evitar.
– Você ainda o ama?
A mãe ergueu uma das sobrancelhas
escuras perfeitas.
– O amor é um mito.
– Oh, mamãe. – Anna suspirou.
Polly se limitou a soltar uma risada.
– Sonhe à vontade, criança. Prefiro
ficar com meus comprovantes de
depósito bancário e uma abundância de
ações e títulos no cofre. Onde conseguiu
esse vestido?
Anna sorriu.
– É seu.
Polly fingiu um olhar furioso.
– Quantas vezes tenho de lhe dizer
para ficar longe do meu closet?
– Apenas vinte. Você não concordaria
em comprar algo tão sexy para mim.
– Suponho que o tenha usado para
seduzir Evan – concluiu Polly. – Pois
acho que é melhor desistir. Evan é muito
mais velho que você, e ele sabe disso,
mesmo que você não perceba. Vá trocar
de roupa. Eu a levarei ao cinema.
– Está bem.
Era bom ter a mãe como amiga,
pensou Anna enquanto fazia o que Polly
lhe pedira, mas ninguém parecia
disposto a levar a sério seus sentimentos
por Evan.
Às vezes, pensava que seria bom ter
um emprego que a deixasse em contato
direto com Evan. Mas não seria capaz
de trabalhar com gado e nada sabia
sobre finanças e contabilidade. O
máximo que conseguia fazer era
trabalhar como secretária na firma
imobiliária da mãe. Aquilo a colocava
em contato frequente com Evan, porque
os irmãos Tremayne estavam sempre à
procura de terras para investimento.
Como ele era o irmão mais velho e
diretor da empresa, era quem mais fazia
negócios com sua mãe. E então Anna
podia encontrá-lo. Ela estava contando
com a premissa da água mole em pedra
dura. Se tivesse uma convivência
frequente com Evan, talvez ele acabasse
prestando mais atenção nela. Havia,
claro, opções melhores do que se limitar
a alimentar esperanças. Anna encarava a
perseguição a Evan como uma tese
científica. Disputava convites para
festas às quais ele compareceria,
descobria maneiras de segui-lo na hora
do almoço e encontrar-se com ele por
acidente. Às vezes, o surpreendia na
agência dos correios ou na loja de ração
para animais. A maioria das pessoas
achava essa perseguição implacável
divertida, mas cada vez mais Anna
sentia que aquilo o estava afetando. Se
ao menos Evan fosse capaz de olhar
para ela! Era fato conhecido que ele
detestava álcool. Sua extrema aversão à
bebida tinha razões que ninguém
entendia.
Assim, tudo que Anna teve de fazer
para lhe atrair o interesse, no dia
seguinte, no escritório da mãe, foi
colocar duas garrafas de uísque abertas
em sua mesa, antes de ele chegar à
imobiliária.
Evan estacou abruptamente quando as
viu. As sobrancelhas franziram sobre os
olhos castanhos sombreados pela aba do
chapéu Stetson que ele enterrara na
testa.
– Para que diabos é isso? – exigiu
saber, gesticulando na direção das
garrafas.
– Para fins medicinais – retrucou
Anna, presunçosa. Estava vestida com
um terninho de linho branco sobre uma
blusa rosa. Os cabelos estavam atados
em uma trança, e ela transmitia uma
aparência profissional e feminina.
Evan a encarou com olhar severo.
– Explique melhor.
Anna olhou ao redor para se certificar
de que as outras mulheres do escritório
não a estavam ouvindo e se inclinou
para a frente.
– É para tratar picada de cobra.
As rugas que vincavam a testa de
Evan se aprofundaram.
– Não há nenhuma cascavel aqui.
Anna sorriu.
– Sim, há – respondeu antes de abrir a
última gaveta da mesa e revelar duas
enormes cobras de plástico com presas
que pareciam reais.
Os olhos de Evan se arregalaram.
– Oh, Deus!
– São para pessoas que precisam de
desculpa para beber uísque.
– Ficou louca?
– Se estivesse louca, como poderia
estar usando isso como desculpa para
falar com você?
Evan desistiu e passou por ela,
gesticulando negativamente com a
cabeça. Anna o observou, os olhos azuis
adorando o corpo forte e alto, em um
escrutínio preguiçoso. Ele possuía uma
compleição perfeita, ombros e peitos
largos, que se afinavam até os quadris
estreitos e as pernas longas. Tinha o
físico de um caubói de rodeio, exceto
pela estatura impressionante. As mãos
eram do tamanho de pratos. Intimidava
até mesmo algumas funcionárias do
escritório. Elas faziam insinuações que a
inocência a impedia de entender. Mas
não conseguia enxergar nada de
intimidador nele. Ela o amava.
Evan estava ciente daquele exame
silencioso, mas não esboçou reação.
Tinha certeza de que Anna estava
jogando outra vez. Devia saber que o
uísque chamaria sua atenção. E
funcionara. Dali em diante, teria de ser
mais cuidadoso para não cair naquelas
pequenas armadilhas.
Mas não era tão fácil assim. Quando
saiu do escritório de Polly, Anna não
estava a sua mesa. Evan a encontrou do
lado de fora, próxima ao carro dele,
agachada sobre as mãos e os joelhos,
examinando uma pequena caixa de
ferramentas, ao lado do veículo branco e
pequeno, modelo esportivo, que a mãe
lhe comprara.
– Está procurando alguma coisa? –
perguntou ele.
– Sim. Minha chave inglesa Johnson
canhoto.
Evan soltou um suspiro impaciente.
– Isso não existe.
– Existe, sim. Johnson é o mecânico
local e é canhoto. Ele me emprestou uma
chave inglesa e agora a perdi.
Evan ergueu as mãos.
– O que deu em você hoje?
– Paixão enlouquecida – respondeu
ela, erguendo-se. Os olhos estavam
arregalados e teatrais, e sua respiração
era audível. – Estou louca por você! –
Anna abriu os braços e os esticou contra
a lateral do carro. – Vá em frente, me
possua!
Evan teve de suprimir uma risada.
– Onde? – perguntou ele, olhando ao
redor do enorme estacionamento.
– No capô do carro, no porta-malas,
não me importo! – Ela ainda mantinha a
mesma posição, de olhos fechados.
– O capô deformaria sob seu peso,
imagine sob o meu. E acho que eu não
caberia dentro daquele porta-malas
exíguo.
Anna abriu os olhos e o encarou com
expressão furiosa.
– No chão?
Evan fez que não com a cabeça.
– Muito duro.
– Na grama.
– Tem bicho-de-pé e formigas-de-
fogo. – Ele cruzou os braços,
percorrendo lentamente o corpo de
curvas sinuosas com o olhar, sem a
usual indiferença. Na verdade, aquele
escrutínio ousado a deixou nervosa.
Ninguém, nem mesmo Randall, a
observara daquela forma ardente. Era
como se Evan soubesse como ela era
sem roupa.
Em um gesto defensivo, Anna cruzou
os braços sobre o blazer.
– Não faça isso – disse em tom de voz
suave.
– Foi você quem começou, querida. –
Evan lembrou, aproximando-se
deliberadamente, ameaçando-a com seu
tamanho e força. Anna parecia nervosa
agora, bem como ele pretendia. Alguém
tinha de lhe dar uma lição.
– Evan… – disse ela, constrangida.
O estacionamento estava deserto, e a
bravata de Anna logo se dissolvia.
Flertar era uma coisa, mas não tinha
confiança em si mesma quando se
tratava de uma situação de intimidade.
Sabia lidar com Randall, mas Evan
possuía uma postura indômita. Às vezes,
parecia-se com um enorme urso de
pelúcia, mas os irmãos Tremayne
formavam um bando feroz, e ele era o
mais velho. É provável que Connal,
Harden e Donald aprenderam tudo que
sabiam seguindo o exemplo de Evan.
– Qual o problema? – questionou ele
com um sorriso cínico quando Anna se
recostou contra o carro, como uma gata
assustada. – Não se sente tão segura
quanto pensou?
Anna não sabia o que pensara. Ele
exalava a fragrância de colônia e
sabonete, e a altura e estrutura física
daquele homem eram intimidantes.
– Estamos em plena luz do dia –
lembrou ela.
– Sei disso. – Evan comprimiu os
lábios e sorriu ao encará-la, mas aquele
não era o tipo de sorriso que ela vira em
seus lábios antes. Ou, pensando bem,
nos de qualquer outro homem. Era algo
sensual, masculino e extremamente
arrogante, como se ele soubesse que
seus joelhos haviam enfraquecido e o
coração, disparado.
– Tenho mesmo de ir – disse ela,
soando nervosa.
Evan poderia tê-la pressionado. E
quase o fez. Aquela vulnerabilidade
genuína o atraía mais do que o flerte
descarado de Anna jamais conseguira.
Os olhos pousaram nos seios fartos e
empinados. Ela era uma mulher
voluptuosa da forma mais perfeita. Com
abundância suficiente para preencher
mãos tão grandes quanto as dele. Evan
se surpreendeu com o rumo dos próprios
pensamentos. Anna era virgem, disse a
si mesmo em silêncio, forçando o olhar
de volta àquele rosto corado e perplexo.
– Pensei que quisesse ser violada –
comentou ele com uma voz aveludada
que por si só parecia uma ameaça. – Vai
fugir antes mesmo de começar?
Anna engoliu o medo e se afastou dele
com uma risada nervosa. Aquele homem
fazia com que se sentisse muito nova e
totalmente inexperiente.
– Antes, terei de tomar muitas
vitaminas para ficar em forma – retrucou
ela, relanceando-lhe o olhar enquanto
abria a porta do carro e entrava. – Mas
fique com isso em mente.
Evan soltou uma risada suave diante
do comentário de Anna. Era uma jovem
corajosa e se recobrava rapidamente. Se
fosse alguns anos mais velha, tudo
poderia acontecer.
– Muito bem, coelhinha, pode ir. Mas
da próxima vez tenha certeza do que está
pedindo – acrescentou ele com um olhar
sério. – Os homens geralmente não
dispensam um convite tão ostensivo,
mesmo que isso vá de encontro às suas
convicções.
– Você vem me dispensando há anos
– lembrou ela, recuperando o fôlego. –
Você é experiente.
Evan estreitou o olhar.
– Sim, sou – retrucou com voz suave.
– Mantenha isso em mente. Você ainda
está na fase de achar que o apetite de um
homem pode ser satisfeito com alguns
beijinhos. O meu não pode.
Anna lhe dirigiu um olhar furioso.
– Eu não estava oferecendo!
– Não?
Anna desviou o olhar do rosto Evan
para cravá-lo nos próprios dedos, que
seguravam a chave na ignição.
– Não. Não estava – respondeu,
concisa. – Estava apenas o provocando.
– Essa forma de provocação pode ser
perigosa. Pratique-a com Randall. É
mais seguro do que comigo.
– Ao menos ele me deseja –
resmungou ela enquanto ligava o motor
com um movimento brusco.
– Que bom para ele. – Evan rebateu. –
Não corra muito com esse carro de
brinquedo.
Anna pousou no assoalho do carro a
caixa de ferramentas que se encontrava
no banco do passageiro.
– Nunca corro – mentiu.
Evan a observou colocar o cinto de
segurança.
– Acabou seu trabalho por hoje? –
provocou-a em um tom suave.
– Vou almoçar com minha melhor
amiga –respondeu Anna, evasiva.
– Não sabia que tinha uma melhor
amiga – comentou ele, erguendo as
sobrancelhas.
Anna não respondeu. Deu marcha à ré
no carro para sair da vaga e conseguiu
deixar o estacionamento sem destruir as
engrenagens do veículo. Lágrimas lhe
banhavam os olhos, mas Evan não podia
vê-las. Ela parou em um restaurante
próximo e comeu um hambúrguer
sozinha. Não tinha amigos. Gostava
muito de Randall. Ele era residente no
hospital local, filho do médico da
cidade, e não tinha má aparência. Claro
que vivia flertando com o olhar, mas
Anna se dava bem com ele e não se
sentia ameaçada. Seu coração pertencia
a Evan, por mais triste que fosse. Como
era sofrido amar um homem que a
tratava como uma criança e debochava
quando a via se oferecer para ele! Tinha
vontade de gritar. Na verdade, não
conseguia nada além de provocações no
que concernia a Evan. Incitava-o apenas
para lhe atrair a atenção. Mas, quando a
despertou, não soube como agir. Evan
era experiente, e ela, uma ingênua. Não
sabia como lidar com um homem como
aquele. Acabara de constatar que ficava
totalmente insegura com Evan.
Anna voltou ao escritório mais tarde,
mas não conseguiu se concentrar em
suas tarefas pelo resto do dia. Polly nem
ao menos percebeu. Às vezes, imaginava
se a mãe prestava atenção nas coisas
que não queria ver.

A FESTA que Polly ofereceu para


comemorar a inauguração do novo
shopping center de Jacobsville
proporcionou a Anna a desculpa para se
vestir de maneira sensual. Não que Evan
fosse notar, falou a si mesma. Ele
dissera que provavelmente não poderia
ir. Mas Randall estaria lá. Poderia se
vestir para ele.
Optou por um vestido de cor prata,
plissado, que caía em camadas até
abaixo do joelho e um sexy par de
sandálias de salto alto. Os cabelos
cascateavam soltos sobre os ombros,
lisos e espessos. Aplicou uma camada
de batom de cor suave sobre os lábios
carnudos e escovou os cabelos, mas seu
coração não estava focado naqueles
preparativos. Sem Evan, sua vida não
passava de uma monotonia
desinteressante.
No andar térreo, com uma aparência
moderna em seu paletó esporte e calça
comprida com vincos, Randall a
aguardava. Usava óculos de aro de
metal e tinha uma postura muito digna.
Nenhum fio de cabelo estava fora do
lugar, embora os que possuía estivessem
rareando acima da testa. Randall não era
um homem lindo, mas as mulheres o
amavam. Ele tinha um jeito carinhoso e
gentil e era boa companhia, embora
estivesse sempre olhando para outras
mulheres. Anna gostava dele, e o
sentimento era mútuo.
– Está linda – disse ele, olhando ao
redor para a multidão elegante que Polly
estava entretendo. – Sua mãe conhece
todo mundo, certo?
– Todos que transitam pelos círculos
que ela frequenta – respondeu Anna.
O interesse de Randall pela riqueza a
incomodava. Anna nunca se relacionava
com as pessoas com base em suas
fortunas ou status social. Tampouco os
Tremayne. Tinha certeza de que Randall
estava pensando adiante, vislumbrando a
época em que estivesse clinicando. Ele
não fizera segredo de sua vontade de
montar consultório na cidade.
Randall lhe ofereceu o braço e a
guiou até a mesa de canapés, onde
estavam sendo oferecidos aos
convidados ponche de frutas vermelhas
e petiscos.
– Estou faminto. Tive de pular o
almoço devido às provas. Gostaria que
se tratasse de um jantar.
– Lori fez frango com mel e croquetes
de salmão – disse ela, gesticulando na
direção de bandejas de comida. – E há
também muffins de mirtilo. Se fizer um
prato cheio, ficará satisfeito.
Randall lhe sorriu.
– Acho que sim.
Anna observou alguns casais que se
moviam ao som da música suave da
banda que tocava ao vivo. Amava
dançar, mas Randall não conseguia
executar um passo sequer. E não tinha
vontade de aprender, embora ela tivesse
se oferecido para ensiná-lo.
– Não quer arriscar alguns passos na
pista de dança? – Anna tentou mais uma
vez.
Randall recusou com um movimento
de cabeça.
– Desculpe. Estou cansando. Quero
tirar o peso de cima dos pés e não
sobrecarregá-los!
Anna deu de ombros como se aquilo
não importasse. Aceitou um copo de
ponche, olhando ao redor em busca de
semblantes familiares. Quando avistou
Harden e Miranda Tremayne, não
conseguiu se furtar em olhar além deles
à procura de um vislumbre de Evan.
Quando não o encontrou, sua expressão
se tornou desanimada, mas sorriu e
cumprimentou o casal.
Miranda estava usando um vestido de
gestante preto, com apliques de renda, e
Harden, radiante, se encontrava ao seu
lado. Anna sempre lamentara por
Harden, porque ele parecia muito
solitário. Mas atualmente o irmão de
Evan tinha sempre um sorriso estampado
no rosto, e a antiga frieza desaparecera
dos olhos azuis. Envolvia a cintura
alargada de Miranda com um dos braços
e tinha uma aparência deslumbrante em
seu terno formal. Quase tão belo quanto
Evan ficava naquele tipo de traje,
pensou Anna.
– Bela festa – murmurou Harden em
um tom seco. – Sua mãe se superou.
– É verdade – concordou Anna,
sorrindo. – Pode me apresentar a sua
esposa? Conheço Miranda de vista, mas
nunca nos falamos.
– Miranda, esta é Anna Cochran. –
Harden atendeu o pedido. – Você
conheceu Polly no banquete da Câmara
do Comércio, alguns dias atrás. Ela
vendeu a propriedade para a construção
do shopping center e ajudou a captar
alguns negócios.
– Muito prazer em conhecê-la – disse
Miranda, retribuindo o sorriso, os olhos
cinzentos, quase da cor do vestido de
Anna. – Ouvi falar muito de você.
Anna suspirou.
– De minha perseguição implacável a
Evan, suponho – murmurou, tristonha. –
É uma causa perdida, mas não consigo
perder o hábito. Qualquer dia desses,
ele se casará com alguém e eu tirarei
meu time de campo.
– Isso me parece pouco provável. –
Harden retrucou com um suspiro. – Evan
tem certeza de que está destinado à
solidão perpétua. Está sempre se
queixando que as mulheres não prestam
atenção nele.
– Ele costumava usar a desculpa de
que elas se aproximavam dele, tentando
chegar a Harden. – Miranda soltou uma
risada, fazendo balançar os cabelos
escuros e longos. – Agora, está
convencido de que está velho demais
para atraí-las.
– Aos trinta e quatro anos está pronto
para o “asilo” – concordou Harden com
um gesto negativo de cabeça. – Salve-o,
Anna.
– Estou tentando – respondeu ela com
uma risada. – Mas ele não me permite
abandonar minhas bonecas e meu jogo
de chá de brinquedo. Evan me considera
uma criança.
– Ele não pensaria assim se a visse
nesse vestido – sugeriu Miranda com um
sorriso conspiratório. – Está muito
elegante.
– Ao menos Randall notou –
comentou Anna com uma expressão de
desagrado. – Quer conhecê-lo? – Anna
girou e puxou pelo braço o jovem
médico que comia uma asa de frango. –
Esse é Randall Wayne – disse ela. – É
estudante de medicina.
– Sou um residente, muito obrigado –
corrigiu Randall, repreendendo-a com o
olhar. – A um passo de começar a
clinicar, quando terminar a residência
médica, no próximo ano – acrescentou,
sorrindo para o casal. – Lembrem-se de
mim se quebrarem alguma parte do
corpo.
– Farei isso – prometeu Harden.
– Oh, Randall. – Anna suspirou. –
Você não tem jeito.
– Pacientes são escassos para
médicos recém-formados – lembrou ele.
– Não se pode culpar um homem por
tentar incrementar seus negócios futuros.
– Certamente não – concordou
Miranda.
Anna não queria perguntar, mas não
conseguiu se conter.
– Imagino que o restante da família
não os acompanhou.
– Apenas Evan – murmurou Harden,
relutante, observando os olhos azuis de
Anna se iluminarem. – Ele está
estacionando o carro. – Não queria lhe
contar o restante. A atração de Anna
pelo irmão era tão óbvia que Harden já
estava se lamentando por ela.
– Talvez ele fique lá fora o resto da
noite – disse Randall. – Levei meia hora
para encontrar uma vaga.
– Evan sabe dar um jeito – respondeu
Harden, relanceando um olhar tristonho
a Anna. Ela precisaria de um tempo para
se acalmar antes que Evan entrasse. Ele
lhe devia aquilo. – E Nina está com ele.
Aquela mulher é uma especialista em
encontrar o impossível.
Capítulo 2

ANNA NÃO sabia como responder


àquele comentário casual, mas
conseguiu salvar o próprio orgulho
exibindo um sorriso e um comentário
improvisado. Evan deixara bem claro
que não desejava sua adulação e agora
estava lhe desferindo a facada fatídica.
Trouxera Nina, que todo mundo sabia
ser sua antiga paixão. A mulher era
agora uma modelo de sucesso em
Houston e estava visitando a cidade.
Provavelmente, estava se esforçando
para reacender aquelas velhas cinzas. E,
se Evan a trouxera à festa de Polly, sem
dúvida a estava encorajando.
– Meu irmão é um idiota – disse
Harden a Miranda quando os dois se
afastaram. Os olhos azuis dele
faiscavam de raiva. – Meu Deus! Viu o
que ele fez com Anna? Evan a considera
uma criança, mas o tipo de sofrimento
que vi estampado nos olhos dela não era
nada infantil.
– Ele não sente nada por Anna? –
perguntou Miranda.
– Não sei. Se sente, enterrou tal
sentimento. Evan é turrão e pode ser
cruel quando pressionado. Anna fez
disso um jogo de flerte e provocação.
Ele pensa que se trata apenas disso. Não
a leva a sério.
– Mas o que ela sente é sério.
Harden anuiu.
– Tenho certeza de que sim. Trata-se
apenas de um disfarce. Afinal, a forma
mais segura de esconder os próprios
sentimentos é exagerando-os. Pobre
menina! Randall não é páreo para Evan,
mas Anna acabará se casando com ele
para esquecer o amor não correspondido
por meu irmão.
– Que desperdício! – Miranda
suspirou.
Harden a puxou para perto.
– Sem dúvida. Graças a Deus
superamos toda essa incerteza.
Com um sorriso estampado nos
lábios, Miranda ergueu um olhar
radiante para encará-lo.
– Eu o amo.
Os olhos azuis de Harden se
suavizaram enquanto inclinava a cabeça
para lhe depositar um beijo suave nos
lábios.
– Posso dizer o mesmo multiplicado
por muitas vezes.
– Sim – sussurrou ela, pressionando o
corpo ao dele. – Eu sei. O que temos é
precioso.
A mão magra de Harden tocou de leve
o abdome abaulado da esposa, e os
olhos azuis queimaram nos dela.
– Mais do que jamais sonhei –
sussurrou de volta. – Já lhe disse que
você é minha vida?
Miranda se viu muito emocionada
para sequer responder. Limitou-se a se
recostar à lateral do corpo do marido
enquanto os lábios de Harden lhe
roçavam a testa com extrema ternura.
Observando-os com discrição, Anna
teve vontade de chorar. O que aqueles
dois sentiam um pelo outro era quase
tangível. Nunca experimentara aquele
tipo de afeição íntima. E provavelmente
nunca a vivenciaria.
A ideia que Randall tinha de romance
se limitava a alguns beijos pontuados
por carícias. Talvez ele se revelasse um
excelente médico, mas tinha muito que
aprender para se tornar um amante
razoável. Ele não era e nunca seria
Evan.
Anna tomou um gole do ponche, ao
passo que Randall conversava com
alguém que conhecia do hospital. Não
ficaria vigiando a porta. Recusava-se a
fazê-lo. Não daria a Evan a satisfação
de saber que a estava matando com sua
indiferença.
– Finalmente, algo para beber! – soou
a voz rouca e ronronada atrás dela. –
Olá, Anna! – disse Nina Ray com um
sorriso frouxo. – Espero que esse
ponche tenha álcool. Estou mesmo
precisando de uma bebida. Evan teve de
estacionar próximo à lagoa! Meus pés
estão me mantando pela longa
caminhada.
– Isso não é nada incomum, certo,
para uma modelo? – Evan a provocou.
Anna não conseguia sustentar o olhar.
Viu de relance a camisa branca, o terno
escuro de noite e desviou o olhar à
deslumbrante morena Nina, trajada com
um vestido branco e preto que
desbancava todos os demais trajes
femininos da festa.
– Você está linda – elogiou Anna com
sinceridade. – Vejo-a sempre nas
revistas de moda. Para uma moça
nascida em uma cidade pequena, sem
dúvida atingiu o topo.
– Contei com a ajuda de muita gente,
querida – respondeu Nina, erguendo o
olhar para Evan com uma sensualidade
confiante, que fez Anna rilhar os dentes
de frustração. Nunca aprenderia a fazer
aquilo.
– Onde está Polly? – perguntou Evan
enquanto enchia os copos com ponche
para Nina e para ele.
– Circulando por aí – respondeu
Anna, sorrindo. – Ela é a estrela da
noite.
– Ela merece – retrucou Evan. – Este
shopping center trará muitos novos
negócios e incrementará a receita da
cidade.
– Tudo contribui para engordar a base
tributária. – Randall interveio, juntando-
se ao grupo. Em seguida, sorriu para
Nina. – Você está deslumbrante! –
elogiou, entusiasmado, e Anna teve
vontade de socá-lo. Randall não havia
sido tão generoso ao comentar sobre sua
aparência.
– Obrigada. E quem é esse? –
perguntou Nina, os olhos escuros
flertando com os de Randall.
– Randall Wayne – disse ele,
segurando a mão delgada na dele e lhe
beijando os dedos no ponto logo acima
das unhas pintadas de vermelho. –
Prazer em conhecê-la, srta. Ray.
A expressão de Nina se iluminou.
– Você sabe quem eu sou?
– Todos sabem. Seu rosto é
inconfundível. Vejo-o nas capas das
revistas de moda o tempo todo.
– Sim. – Nina suspirou, complacente.
– Minha carreira decolou depois que
Evan me ajudou a encontrar aquela nova
agência.
– Tudo que puder fazer para ajudar –
disse Evan com uma voz suave. Tentava
não notar Anna, mas estava fracassando
miseravelmente. Naquele vestido
prateado, a pele deslumbrante dela
estava demasiadamente exposta. A
compleição bronzeada, cor de mel, a
tornava ainda mais bela e lhe enfatizava
os olhos azuis. Era um sacrifício se
manter distante dela.
– A banda é muito boa – comentou
Nina. – Evan, vamos dançar!
Sem lhe dar a chance de falar
qualquer coisa com Anna ou Randall,
Nina o segurou pela mão e o guiou à
pista de dança. Não que ele o tivesse
feito, pensou Anna. Evan estava lhe
transmitindo uma mensagem muito clara:
fique longe de mim. Com um suspiro, ela
levou o copo de ponche aos lábios.
– Esse ponche está precisando de um
incremento – comentou um dos
convidados, retirando uma garrafa de
uísque de dentro do terno. – Aqui vai!
Anna o observou encher a poncheira
com um sorriso irônico. Sabia que um
dos convidados teria um ataque se visse
aquilo. Evan não gostava de ponche,
portanto seria pouco provável ele beber.
Detestava álcool. Anna ouvira dizer que
ele entornara um copo de vinho na pia
da cozinha, uma noite, quando estava
jantando com Justin e Shelby Ballenger.
Anna mencionou aquilo a Randall
depois que o convidado “batizou” o
ponche e se retirou com seu par para a
pista de dança.
– Sim. Ouvi falar – respondeu
Randall. – Justin e Shelby têm três filhos
agora, certo?
– Sim. Estão quase empatando com
Calhoun e Abby.
– Têm dois meninos e uma menina –
lembrou Randall. – Ouvi Harden e
Connal, o outro irmão de Evan,
comentando sobre isso em uma festa a
que compareci na semana passada.
Anna soltou uma risada suave.
– Connal insistia em afirmar que
Calhoun e Abby tiveram uma filha logo
depois que seu segundo filho nasceu.
Mas não é verdade. Eles têm um filho
chamado Terry e, quando Connal ouviu
o nome, presumiu que tivessem tido a
filha que tanto desejavam. Claro que
agora ele já sabe, mas isso se tornou
uma piada de família. Não que alguém a
mencione perto de Calhoun e Abby.
– Terry é um nome unissex –
comentou Randall.
– É o diminutivo de Terrance, que não
é unissex – corrigiu ela.
– Imagine isto: dois irmãos, seis
filhos e nenhuma menina entre eles. –
Ela fez um movimento negativo com a
cabeça.
– E quanto ao irmão de Shelby,
Tyler?
– Ele e a esposa não podem ter filhos
– contou Anna com grande tristeza. –
Mas adotaram cinco! Nell estava muito
chateada, mas Tyler a inscreveu em um
desses programas de pais adotivos
temporários. Em pouco tempo, ela
estava totalmente dedicada a crianças
que precisavam de lar. Os dois dizem
que os filhos adotivos são um grande
milagre na vida deles.
– Uma solução ímpar – concordou
Randall. – Um dentre sete casais é
infértil. Deve ser difícil, mas, ao que
parece, eles encontraram uma forma de
compensar essa deficiência.
Anna baixou o olhar à mesa do
ponche e pensou sobre não ser capaz de
gerar os filhos de Evan. Não que aquela
fosse uma possibilidade, porque ele
tinha Nina. Era muito triste e desolador.
– Acho que quando um casal se ama
não existem obstáculos intransponíveis.
– Acho que sim. Tome. Experimente
isto. Está muito bom. – Randall lhe
entregou um copo do ponche “batizado”
e ela tomou um gole, fazendo uma careta
quando sentiu o álcool na língua. O anel
de frutas geladas não havia diluído
muito o uísque, e ela raramente bebida.
– Está muito forte – comentou Anna.
– Apenas se não estiver acostumada.
– Randall soltou uma risada abafada. –
Você tem a mesma reação ao álcool que
Evan, certo?
Anna desviou o rosto. Era óbvio que
Randall não tinha a menor ideia do
quanto aquele comentário a feria.
– Não gosto de álcool – disse ela,
distraída.
– Sim, eu percebi.
Anna não captou a leve ironia no tom
de voz do amigo. Os olhos haviam sido
atraídos para Evan, mesmo contra sua
vontade. Ele era tão alto e forte que se
destacava de todos os outros homens no
salão. A graciosa Nina se encontrava
envolta em seus braços grandes, que a
seguravam com casual intimidade. Por
sua vez, os braços magros de Nina
estavam enroscados no pescoço de
Evan. As mãos fortes cingiam a cintura
da modelo, enquanto ele a mantinha
descuidadamente próxima. Evan nunca a
havia segurado daquela forma e talvez
nunca o fizesse.
Os olhos azuis de Anna se suavizaram
e entristeceram diante daquela visão.
Em trajes mais formais, Evan estava
devastador. A pele morena contrastava
com a camisa branca, e o terno e a calça
comprida o faziam parecer ainda mais
alto e imponente. Só de observá-lo,
Anna se sentia aquecida e segura, como
no aconchego de um lar. Se ao menos
Evan sentisse o mesmo por ela! Seria
como estar no paraíso.
Evan sentiu aquele olhar e o
encontrou através do salão. Foi como se
um raio o tivesse atingido. Sentiu o
corpo enrijecer involuntariamente e os
olhos estreitarem. Anna estava outra
vez, pensou enraivecido, brincando com
fogo. Não sabia o que estava fazendo.
Aos dezenove anos, estava apenas
começando a sentir seu poder como
mulher e o usava ostensivamente em
cada homem que se aproximava dela.
Era só isso, então era melhor não se
esquecer.
Desviando o olhar, ele inclinou a
cabeça e beijou Nina na frente de todos
os presentes. E o fez com perfeição e um
desejo feroz, capaz de banir o semblante
magoado de Anna da mente.
Nina estava ofegante quando ele a
soltou. E Anna havia desaparecido. Ao
menos aquilo havia conseguido.
– Quer me levar para casa agora,
grandalhão? – perguntou Nina com voz
rouca. – Estou muito disposta.
Mas Evan não estava, portanto negou
com um gesto de cabeça.
– É melhor não nos retirarmos antes
do discurso de Polly – respondeu ele
com falso senso de humor.
Nina suspirou.
– Você continua não me desejando,
certo? – perguntou ela com uma voz
calma. – Nunca consigo atraí-lo para
meu apartamento.
– Somo amigos – lembrou ele com um
sorriso. – Do contrário, por que eu a
estaria ajudando a promover sua
carreira?
– Estou começando a desconfiar que é
para fazer ciúme a outra mulher –
respondeu Nina com suavidade,
observando as pálpebras de Evan se
contraírem. – Ou para me usar como
disfarce. Porque certamente não se
interessa por mim. Quase nunca me
convida para sair.
Evan sorriu.
– Sou um homem ocupado.
– Nem tanto. E não costuma sair com
outras mulheres também. – É isso
mesmo… – afirmou ela quando se
deparou com a expressão surpresa de
Evan. – … ainda tenho amigos em
Jacobsville que me atualizam sobre
quem está se relacionando com quem.
Você não tem nenhuma namorada fixa.
Os rumores são de que Anna Cochran
tem sido vista perseguindo-o por todos
os lugares.
Evan deixou escapar um profundo
suspiro.
– Isso é apenas parte da verdade.
– Então, foi por isso que me trouxe
aqui. Provavelmente o motivo pelo qual
me beijou. – Nina exibiu um sorriso
preguiçoso. – Muito bem, conquistador.
Se precisa de proteção, aqui estou. Faça
o que quiser. Digamos que isso seja em
nome dos velhos tempos.
– É muito generosa – disse ele.
– Você também tem sido – respondeu
Nina em um tom de voz sério. – Eu o
ajudarei a se livrar dessa menina, sem
problemas. – Aquilo não soou bem aos
ouvidos de Evan. Era como se Anna
fosse uma sanguessuga. Ele franziu a
testa. – Ela é inocente, certo? –
perguntou Nina. Mas o olhar pousado
dele estava em Anna, que se encontrava
parada diante da mesa do ponche ao
lado de Randall. – Acha que ela vai se
casar com o estudante de medicina?
– Como posso saber? – perguntou
Evan, irritado. Nunca havia pensando
em Randall como nada além de uma
distração para a juventude de Anna, mas
ultimamente ela estava passando muito
tempo na companhia daquele jovem.
– Ela é rica. Ou pelo menos a mãe é.
– Nina refletiu em tom alto. – Um jovem
médico em início de carreira necessita
de uma mulher rica.
O corpo de Evan enrijeceu.
– Anna não é tão idiota assim.
– Querido, ela é uma adolescente. O
que sabe sobre os homens? Meu Deus!
Aposto que ainda é virgem!
Evan não queria pensar sobre aquele
aspecto. Fazia-lhe o sangue ferver.
Irritado, ele girou Nina no ritmo da
música.
– Anna é problema de Randall, não
meu. Ajude-me a fazer com que ela
desgrude de mim.
Nina exibiu um sorriso afetuoso.
– O prazer é todo meu.
Enquanto os observava dançar, Anna
tomou um gole de ponche e depois outro.
– Gostaria que você dançasse,
Randall – disse ela, as palavras soando
levemente engroladas. Sentia-se
totalmente relaxada.
– Às vezes, também desejo a mesma
coisa. Quer tentar? – perguntou ele,
pousando o copo. – Estou me sentindo
muito à vontade no momento.
– Ótimo.
Anna entrou no círculo dos braços de
Randall e lhe ensinou os dois passos
básicos.
O amigo começou a sorrir, e as mãos
a puxaram gentilmente para perto.
– Isso é ótimo – disse ele, admirado
– É mesmo. – Anna recostou a lateral
do rosto no peito de Randall e fechou os
olhos, quase sem se mover enquanto a
música fluía. Evan que vá para o
inferno, disse a si mesma. Não se
importava se ele fizesse amor com sua
antiga paixão no chão do salão de festas.
Simplesmente não olharia.
– Divertindo-se, Anna? – perguntou
uma das amigas de Polly quando passou
dançando pelo casal, nos braços do
marido.
– Oh, sim – retrucou Anna, educada. –
Espero que você também esteja.
– A festa está ótima. Vejo que Evan
trouxe uma acompanhante – acrescentou
a mulher com um toque de ironia no
sorriso. – Ele a está afugentando, certo?
Anna corou. Ao longo dos anos,
acabara se acostumando a ver
debochada sua perseguição a Evan, mas
naquela noite aquilo a feriu.
– Nina é uma velha amiga dele –
comentou.
– Sim, mas na verdade ele não
costuma vir às festas de Polly
acompanhado – retrucou a mulher,
maldosa. – Atualmente, Evan não
costuma comparecer a nenhuma, certo?
Acho que está mesmo desesperado para
ressuscitar velhas paixões a fim de
desencorajá-la.
Anna se afastou de Randall, que
franzia a testa, e se encaminhou à mesa
de ponche outra vez, deixando a mulher
boquiaberta.
– Por que se chateou tanto? –
perguntou Randall, juntando-se a ela. –
Todos sabem que você costumava
perseguir Evan. Não está fazendo isso
agora, então por que permitir que as
pessoas a aborreçam? – Ele envolveu-a
pela cintura com um dos braços. – Você
tem a mim agora.
Teria? Sempre que uma nova mulher
entrava no salão, Anna percebia os
olhos do jovem médico medirem-na de
cima a baixo. Randall era um
paquerador nato e, apesar de não ter
uma beleza convencional, podia ser
muito charmoso.
– Acho que não tinha noção do quanto
devo ter parecido óbvia – respondeu
Anna em um tom de voz calmo, baixando
o olhar. – Eu estava apenas brincando. –
Aquilo não era verdade, mas servia para
salvar um pouco de seu orgulho ferido.
– Sei disso – afirmou Randall. – Da
mesma forma que muitas outras pessoas
fazem. Não se preocupe com as fofocas.
Eu as tenho ignorado há semanas.
Aquilo fez a cabeça de Anna se
erguer de imediato.
– O que tem escutado?
Randall deu de ombros e exibiu um
meio-sorriso.
– Que você esteve perseguindo Evan
loucamente por toda a cidade. Encontros
inesperados que não eram inesperados,
o fato de você grudar nele durante as
festas e flertar descaradamente, esse
tipo de coisa. Disseram-me que Evan
não podia ir a nenhum lugar sem que
você aparecesse de repente. Achei
engraçado.
– Evan não achou – disse ela,
tristonha. – Eu me excedi, e ele
finalmente está lançando mão de seus
últimos recursos. Gostaria de ter
percebido antes o quanto estava sendo
tola.
– Aquela mulher estava dizendo a
verdade? Ele trouxe a adorável Nina à
festa para se ver livre de você?
Anna anuiu, sentindo-se constrangida.
– Tenho certeza de que sim. Pobre
Evan.
– Não sei – contrapôs Randall,
sorrindo para ela. – Eu ficaria
lisonjeado em ser perseguido por uma
linda jovem como você.
– Deve ser exasperante, isso sim! –
disse ela, de repente se dando conta do
que fizera. Como fora capaz de deixar as
coisas irem tão longe sem perceber a
posição em que estava colocando Evan?
Ela o provocava e flertava, na esperança
de fazê-lo notá-la. Mas tudo que
conseguira fora deixá-lo apavorado.
Que idiota fora!
Como se chegar àquela conclusão não
fosse suficiente, Anna teve de encarar o
fato de que todos sabiam que Evan
trouxera Nina à festa para mantê-la a
distância. Era humilhante vê-lo rejeitá-
la publicamente daquela forma. Ao olhar
ao redor, surpreendeu algumas pessoas a
observando e começou a notar o leve
traço de compaixão em seus olhos.
Anna teve de lutar contra as lágrimas
à medida que a noite prosseguia. Evan
não dançou com mais ninguém além de
Nina e lhe dispensava tanta atenção que
a especulação sobre uma possível
reconciliação entre os dois se espalhou
feito fogo em palha. A forma com que
ele evitava Anna era um importante
indício.
Ninguém percebeu que Anna estava se
esforçando ao máximo para evitá-lo
também, colando-se a Randall como
uma sanguessuga.
Polly fez um discurso e apresentou os
dois principais patrocinadores do
shopping center, juntamente com os
comerciantes que haviam se
comprometido a abrir seus negócios
naquele novo empreendimento. O
discurso agradou a todos e conseguiu
distrair Anna de sua tristeza. Mas,
apesar da companhia de Randall, sentia-
se desanimada e vazia por dentro.
Conseguia disfarçar bem, rindo e
iluminando o semblante para que
ninguém notasse que estava mortalmente
ferida.
Quando a multidão começou a
minguar, Polly estacou ao lado da filha
com um sorriso afetuoso.
– Acho que foi mais do que bom.
Como está se sentindo, querida?
– Maravilhosa, obrigada – disse Anna
em um tom de voz leve, forçando um
sorriso. – Foi uma festa muito
agradável, não acha, Randall?
O médico a observava com olhar
estreitado.
– Quantas vezes você foi à mesa do
ponche?
– Apenas três – respondeu ela,
pestanejando várias vezes. – Por quê?
Randall trocou um olhar significativo
com Polly.
– Imagino que alguém tenha colocado
bebida alcoólica no ponche – adivinhou
Polly.
– Como sabe?
– Evan cheirou o copo em que estava
bebendo e o pousou com um olhar
furioso na minha direção. – Polly se
limitou a responder.
– Eu deveria saber que ele seria o
primeiro a notar. – Randall soltou uma
risada, verificando o relógio de punho. –
Meu Deus! Tenho de ir. Devo estar no
hospital à meia-noite, e já é quase isso.
Entrarei em contato amanhã ou depois
de amanhã. Assim que eu tiver um tempo
livre. Boa noite – murmurou ele,
depositando um beijo leve na testa de
Anna.
Polly escorregou um dos braços pelos
ombros da filha, que observava Randall
partir sem nenhum interesse em
particular.
– Aquilo a está matando, certo? –
perguntou ela com um incomum senso de
proteção. – Mas você sobreviverá,
minha querida. Todas sobrevivemos.
Evan não é o tipo de homem para o
casamento. Você sempre soube disso.
– Eu estava apenas flertando. – Anna
insistiu, obstinada. – Não era nada sério.
Achei que ele soubesse disso.
Polly não contradisse a filha. Mas
reconhecia a angústia naqueles olhos
azuis. O braço que envolvia os ombros
de Anna se contraiu.
– Vamos escutar a banda tocar.
Randall lhe telefonará amanhã e talvez a
leve para comer fora. Você passa muito
tempo dentro de casa.
– Acho que tem razão. Randall é um
bom rapaz.
– Um dia aprenderá que devemos nos
conformar com o que podemos extrair
da vida e não insistir em alcançar o
impossível – aconselhou Polly com uma
voz gentil. – Um dia de cada vez,
criança.
Anna sorriu.
– Sim. – Mas estava pensando em
quantos dias seriam necessários para
esquecer aquela noite.
Evan e Nina fluíram na direção das
duas, e Anna teve de lutar contra a
vontade de sair correndo.
– Foi uma festa adorável. Obrigada
por me convidar – disse Nina com um
sorriso na direção de Polly.
– O prazer foi meu – respondeu a
mulher mais velha. – Evan, fico feliz que
você também tenha vindo. Não o
esperava. Se Nina conseguiu convencê-
lo a largar aquele seu escritório, ótimo
para ela.
– Estou planejando convencê-lo a
largar várias outras coisas. – Nina
ronronou, recostando-se ao ombro de
Evan. Anna nada disse nem dirigiu o
olhar a ele. Após um minuto, Evan a
observava abertamente.
– Quanto ponche tomou? – exigiu
saber. Os olhos escuros faiscavam.
– Apenas um pouco – mentiu ela sem
lhe sustentar o olhar. – Sei que estava
“batizado” com bebida alcoólica.
– Você deveria ter jogado aquele fora
e feito outro – disse ele a Polly, sem
rodeios. – Anna não tem permissão para
tomar bebidas alcoólicas, certo?
Polly o encarou com um olhar
surpreso.
– Minha filha tem dezenove anos e em
breve fará vinte – respondeu com um
humor cortês. – Claro que tem
permissão para beber.
– O álcool pode matar. – Ele insistiu.
– Principalmente se ela desenvolver o
hábito de dirigir alcoolizada. Poderia
ser presa…
– Eu não dirijo quando bebo –
afirmou Anna, séria. – Nunca faria isso.
E se o álcool o incomoda tanto, por que
não vai para casa?
Anna se serviu do quarto copo de
ponche e o levou aos lábios, tomando
todo o conteúdo, enquanto fixava os
olhos nos de Evan, que a observavam,
furiosos.
– Não tem autoridade sobre ela? –
perguntou a Polly.
As sobrancelhas de Anna se
ergueram.
– Minha mãe não me diz mais o que
fazer.
Evan também arqueou as
sobrancelhas. Ela não soava como Anna.
Nem um pouco.
– Você não está acostumada a beber –
começou ele.
Anna lhe dirigiu um sorriso frio.
– Então, observe eu me acostumar –
retrucou ela, ainda sofrendo com a
humilhação pública que Evan lhe
impingira e querendo revidar. – Nada
que eu faço é de sua maldita conta.
Lembre-se disso. – Deu meia-volta,
levemente oscilante e caminhou na
direção da escada.
O uísque acrescentado ao ponche
estava pesando em seu estômago, e a
náusea lhe subia à garganta. Porém,
sentia como se tivesse acabado de
declarar sua independência, e aquela
não era uma sensação desagradável. Ele
não seria mais sua fraqueza fatal.
Mesmo que ela tivesse merecido aquela
rejeição, Evan podia tê-la chamado para
uma conversa particular. Não precisava
ter feito isso daquela forma.
Evan a observou se afastar com a
testa franzida. Aquela era a primeira vez
que Anna discutia com ele. Estava tão
acostumado à cega adoração por parte
dela, ou pior, aos comentários ousados e
oferecidos. Aquela hostilidade
incontestável era nova e muito excitante.
O corpo reagia ao antagonismo de Anna
de uma forma que ele jamais esperara.
– Anna está um tanto embriagada,
acho eu. Não dê importância ao que ela
disse. – Polly se desculpou, colocando
um ponto-final no assunto. – A
propósito, tenho uma nova propriedade
para investimento que talvez possa
interessá-lo. Quer passar no meu
escritório algum dia da próxima semana
e ver os prospectos?
– Sim, gostaria – concordou ele,
preocupado.
– Vamos – sugeriu Nina. – Estou
muito cansada e tenho um desfile logo
pela manhã.
– Claro. Boa noite – disse ele.
Polly anuiu com um sorriso curioso
pelo modo como os olhos de Evan
continuavam a se voltar na direção da
escada. Aquela atitude possessiva em
relação a Anna a surpreendeu e divertiu.
Claro que Evan era um homem de trinta
e quatro anos, muito maduro para ter
qualquer interesse masculino real em
sua pobre e apaixonada filha. Girou na
direção dos convidados remanescentes,
afastando para o fundo da mente o
estranho comportamento de Evan. Anna
o esqueceria e não apenas quando
estivesse sob o efeito do álcool. Ver
Evan se exibir com uma mulher diante
dela devia ter sido uma experiência
esclarecedora. Durante os últimos dois
anos, ao longo dos quais a filha o
perseguira exaustivamente, ele nunca
havia contra-atacado. Agora que Evan
sabia que aquilo a incomodara, por
certo aquela não seria a última vez que
recorreria a tal estratégia. Bem, disse
ela a si mesma, era isso. Se Evan estava
desesperado o suficiente para se atirar
nos braços de uma antiga paixão na
tentativa de escapar de Anna, estava na
hora de a filha recuar. De alguma forma,
ela sempre soube que Evan nunca a
levaria a sério e deveria ter desistido há
muito tempo.
Na manhã seguinte, Anna prendeu os
cabelos longos e loiros em uma trança,
vestiu um short, uma blusa frente única e
foi montar seu cavalete no jardim.
Amava pintar. Era ótima em retratar
paisagens e vendera até mesmo algumas.
Aquilo preenchia o tempo ocioso
quando não estava trabalhando.
Polly estava no escritório naquele
dia. Às vezes, a mãe trabalhava sete
dias por semana. Mas Anna trabalhava
cinco e pintava nos outros dois. Agora,
estava amadurecendo a ideia de largar o
escritório. Amava arte e tinha talento
para descobrir pinturas vendáveis.
Poderia pedir uma oportunidade de
emprego ao dono da galeria de arte
local, um amigo de família. Aquilo a
afastaria do escritório, onde
frequentemente se deparava com Evan.
Ele a queria fora de sua vida, portanto
decidira ajudá-lo. Era o mínimo que
poderia fazer, depois de tê-lo
infernizado por dois anos. Sóbria, podia
até mesmo entender por que Evan levara
Nina à festa na noite anterior. Pobre
homem! Devia estar desesperado.
Enquanto aplicava a tinta na tela,
considerou suas opções. Não queria sair
de casa, mas talvez fosse uma boa ideia.
Iria fazer vinte anos. Estava na hora de
construir a própria vida, independente
da mãe. Tinha de começar a pensar em
seu futuro. Casar-se com Randall não
era uma opção, embora o amigo tivesse
insinuado que não era avesso à ideia.
Levando em consideração a fortuna de
Polly, seria estratégico da parte dele.
Aquilo lhe proveria os recursos
necessários para montar um consultório,
porque sem dúvida a mãe se mostraria
disposta a ajudar o genro.
A paisagem em que Anna estava
trabalhando era um esboço de girassóis
contra o céu azul. Utilizava um enorme
girassol do jardim como modelo.
Aquele era um preguiçoso dia de verão,
com apenas uma insinuação de brisa
suave e o sol era como uma bênção
sobre sua pele.
Ouviu a porta de um carro bater com
força, mas não ergueu o olhar. Estava
quase na hora do almoço, e Anna
esperava a chegada da mãe.
– Estou aqui nos fundos – gritou. – Se
estiver com fome, tem salada de
macarrão na geladeira. Quero terminar
isto antes de entrar.
Em resposta, ouviu passadas que não
pertenciam a uma mulher. Eram muito
pesadas.
Girou a cabeça no instante em que
Evan contornava a lateral da casa. Ele
estava usando a roupa de trabalho: jeans
e uma blusa azul listrada com manchas
de terra, botas em péssimo estado e um
Stetson tão desgastado que perdera a
identidade. Anna sentiu o corpo
enrijecer com a dor da indignação, mas
não podia se dar ao luxo de deixar
transparecer. Portanto, voltou a se
concentrar na pintura.
– Onde está Polly? – perguntou ele,
sem preâmbulos.
E lá se ia a esperança de que Evan
pudesse ter vindo até ali para vê-la e se
desculpar por ter arrastado seu orgulho
na lama na noite anterior. Anna manteve
os olhos fixos na tela para que ele não
visse o desapontamento estampado
neles.
– Se não está no escritório, deve estar
vindo para cá para almoçar, acho eu.
Os olhos escuros a percorreram da
cabeça aos pés com interesse relutante.
– Ela deveria ter deixado o prospecto
de um novo lote de terras para mim. Está
sabendo alguma coisa sobre isso?
Anna fez que não com a cabeça.
– Sinto muito. – Traçou o contorno de
uma das pétalas do girassol com uma
precisão quase doentia para manter a
mente afastada da dor em seu coração. –
Se quiser aguardar, Lori pode lhe servir
um copo de chá gelado.
Anna agia de maneira tão diferente,
que o deixou sem saber como agir.
– Nenhum convite para violá-la entre
os girassóis?
– Decidi amadurecer – disse ela sem
lhe sustentar o olhar. – Caçar um homem
que não corresponde aos seus
sentimentos é coisa de adolescente.
Daqui em diante, só investirei em
homens acessíveis.
– Como Randall? – perguntou ele.
Anna deu de ombros.
– Por que não?
A atitude de Anna o perturbava. Evan
se recostou à cerca que isolava o
pequeno jardim.
– Não sabia que você pintava.
– Com a atenção que me dispensa,
não é nada surpreendente – retrucou ela,
imperturbável, aplicando mais tinta
amarela à tela. – Basta de jogos –
prosseguiu, erguendo o olhar para
encará-lo. – Captei a mensagem na noite
passada. Se veio aqui para deixar isso
claro, não há a menor necessidade. –
Anna consegui esboçar um sorriso. –
Desculpe por ter dificultado tanto sua
vida. Não o constrangerei mais,
prometo.
Evan se sentiu vazio. Estreitou o olhar
enquanto ela voltava a se concentrar na
tela. Anna não soava como ela mesma.
Na verdade, refletiu, não se parecia com
a criança que ele sempre a julgara ser.
Aquelas pernas longas e bronzeadas
pertenciam a uma mulher, assim como os
seios fartos sob aquela blusa fina. Ela
era deliciosa.
Evan a observou em silêncio.
– Você e Polly irão ao churrasco de
Ballenger na semana que vem?
– Não sei. – Ela lhe lançou um olhar
tímido. – Se você for, provavelmente
não. Não quero estragar mais ainda sua
vida social. Não é de se admirar que
tenha se afastado dos eventos sociais
ultimamente. Não tinha ideia de como
estava dificultando as coisas para você
até que os rumores começassem a chegar
até mim.
Evan estava perplexo. Aquelas não
eram palavras de Anna. Entreabriu os
lábios para falar, mas, antes que pudesse
negar aquela afirmação, o carro de Polly
cruzou o caminho que levava à garagem.
Segundos depois, ela contornou a lateral
da casa, por ter visto o carro de Evan.
– Aí está você! – disse, soltando uma
risada. – Trouxe os prospectos. Ia
enviá-los para você. Anna, o almoço
está pronto?
– Lori disse que está na mesa –
respondeu ela. – Vou almoçar mais
tarde. Quero terminar isto enquanto a luz
está favorável.
– Artistas. – Polly suspirou. – Está
bem, querida. Evan, fique e almoce
comigo, já que Anna está inclinada a ser
excêntrica.
Os olhos escuros de Evan se
detiveram no perfil de Anna por alguns
segundos.
– Também tenho de voltar ao trabalho
– disse ele, hesitante. – Estamos tocando
o gado hoje, portanto, todos estão nos
campos, inclusive mamãe.
– Dentro de alguns anos, você terá
muitos ajudantes – comentou Polly com
uma risada. – Com todos esses bebês a
caminho.
– Sim. – Ele girou para pegar os
prospectos que Polly lhe oferecia. – Vou
analisar isso com Harden e os outros e
lhe telefonarei quando chegarmos a uma
decisão.
– Ótimo. Tem certeza de que não quer
ficar para o almoço?
Evan esperou que Anna dissesse
alguma coisa. Ao menos, reforçar o
convite que a mãe lhe fazia, mas não.
Ela permaneceu calada. Nem sequer
ergueu o olhar. Após um minuto, ele deu
de ombros e se despediu.
Quando Evan partiu, Polly estudou a
filha sem esconder a curiosidade.
– Você e Evan discutiram? –
perguntou em tom de voz suave.
– Claro que não – respondeu Anna.
Em seguida, girou e sorriu para a mãe. –
Tomei a decisão de parar de infernizar a
vida de Evan. Deve ter sido desgastante
para ele me ter como um cão lhe
cerceando cada passo.
Polly relaxou um pouco.
– Tenho certeza de que ele encarava
isso como uma fase pela qual você
estava passando, querida – retrucou ela,
afetuosa. – Evan não é um homem ruim.
É apenas um solteiro inveterado. Você é
o tipo de menina feita para o casamento.
Mesmo que vocês dois não tivessem
uma diferença de idade tão grande, seus
objetivos são muito diferentes.
– Tem razão, claro – concordou Anna,
tentando não se engasgar com as
palavras.
– Acho que ele ficará satisfeito por
estar fora da lista de espécies
ameaçadas – comentou Polly com uma
risada. – Você estava se tornando muito
insistente. Eu, hum, soube da história
das garrafas de uísque e das cobras.
– Outro artifício em minha campanha
implacável que falhou. – Anna suspirou,
conseguindo não revelar o quanto estava
ferida, e se concentrou na tela. – Bem,
acabou agora. Ele parecia mesmo
aliviado, certo?
Polly concordou com um gesto de
cabeça, mas seus olhos revelavam outra
coisa. Não sabia definir a expressão de
Evan, mas alívio não era a palavra que
escolheria para defini-la. Tinha a
estranha impressão de que Anna o
deixara chocado.
Capítulo 3

NA VERDADE, “perplexo” era o termo


que definia Evan, no trajeto de volta ao
rancho Tremayne. Não havia dormido
direito, recordando o estado de Anna
quando ele e Nina deixaram a festa.
Usara o prospecto como desculpa para
ir até lá e ver o estrago que havia feito.
Mas o que encontrara o surpreendera.
Anna se mostrara aparentemente
indiferente à sua presença e nem um
pouco ansiosa por sua companhia. Após
dois anos de perseguição, provocação,
flerte e sedução, fora um choque ver
Anna tratá-lo como um estranho.
Evan estacionou o carro em frente à
casa e entrou com a testa franzida.
– Algo o está incomodando? –
perguntou Harden da porta do escritório.
Evan entrou e fechou a porta. Era
capaz de conversar com Harden de uma
forma que não fazia com mais ninguém e
precisava de um ouvido amigo naquele
momento.
– Anna está me incomodando –
respondeu, conciso.
– Isso não é novidade – retrucou
Harden. – Ouço-o reclamar de Anna
desde que posso me lembrar.
Com a testa ainda franzida, ele girou.
– Não. Você não entendeu. Ela está
me ignorando.
Os olhos azuis de Harden faiscaram.
– Uma nova estratégia?
Evan se empoleirou na beirada da
mesa.
– Ela não está agindo como de
costume desde ontem à noite. Decidiu
que estava destruindo minha vida,
portanto desistiu.
– Que bom para ela – comentou
Harden.
– Mas é a forma como Anna está
fazendo isso que me preocupa – soou a
resposta controlada. – Parece muito
calma.
– Não viu o modo como ela ficou
quando você entrou na festa com Nina –
disse Harden. – Aquilo a destruiu.
Evan xingou baixo.
– Pensei estar fazendo a coisa certa.
Não tive intenção de magoá-la. Só
queria que ela parasse de me perseguir.
– E conseguiu. Então, qual é o
problema?
Evan deixou escapar um suspiro
cansado.
– Não sabia como seria a sensação de
vê-la me ignorar por completo.
– Uma admissão e tanto vindo de
você, certo?
– Acho que sim. – Evan estudou as
botas desgastadas. – Mas ainda acho que
fiz a coisa certa. Anna é muito mais
nova que eu.
– É isso que vive repetindo. Acho que
finalmente ela escutou.
– Acho que sim.
– Nina parece apaixonada outra vez.
Isso é sério?
Os olhos escuros de Evan
encontraram os azuis do irmão.
– Não quero Nina. Isso foi anos atrás.
Financiei algumas novas campanhas
publicitárias para ela, e Nina está
retribuindo.
– Entendo – murmurou Harden. – Ela
o estava ajudando a se livrar de Anna.
– Desnecessariamente, ao que parece.
Anna desistiu daquela louca
perseguição. Disse que o jogo acabou.
Teria sido apenas isso para ela o tempo
todo. Um jogo?
– Talvez fosse você que estivesse
levando isso muito a sério – respondeu
Harden com a voz suave. – Havia
ocasiões em que parecia quase estar
gostando. Em seguida, se irritava e
reclamava que ela o estava infernizando.
Era verdade, Evan pensou, porque
por vezes tinha de reprimir o desejo
enlouquecedor que sentia por Anna.
Aquele sentimento vinha crescendo há
muito tempo, mas ultimamente parecia
explosivo. Nina fora um ato de
desespero, como Anna dissera. Mas
aquele ato parecia ter saído pela culatra.
Fora ele a sair chamuscado.
– Anna é virgem – afirmou Evan,
conciso. – Tenho quase certeza disso.
Tive uma experiência terrível com uma
mulher inocente. Atualmente, prefiro as
experientes.
– Sei disso – respondeu Harden,
afetuoso. – Mas aquela mulher não era
Anna. Se ela o amasse, se de fato o
amasse…
– Anna não tem idade suficiente para
ter sentimentos tão profundos por um
homem.
– Espero que tenha razão – murmurou
Harden. – Por que se ela realmente o
amava e você destruiu esse sentimento,
talvez tenha perdido a coisa mais
preciosa de sua vida.
Evan franziu a testa.
– Já falei. Anna disse que foi apenas
um jogo!
– Queria que ela confessasse seu
eterno amor, quando você acabou de lhe
impingir uma de suas antigas
conquistas?
Claro que não. Aquilo não o estava
levando a lugar algum.
– Vou voltar ao curral. Vem comigo?
– Daqui a pouco. Tenho de levar
Miranda ao médico – respondeu o irmão
com um sorriso.
Evan fez um movimento negativo com
a cabeça.
– Primeiro foi Pepi, agora Miranda e
Jo Anne. Estou cercado de mulheres
grávidas.
– Tio Evan – zombou Harden.
Um sorriso suave curvou os lábios de
Evan.
– Amo crianças. Acho que sobrará
para mamãe e eu mimarmos todas essas
crianças.
– Um dia talvez tenha os seus.
O olhar de Evan se tornou sombrio e
triste.
– Isso não vai acontecer.
– Anna não tem medo de você, pelo
amor de Deus! – Harden rosnou.
– Claro que não, nunca tentei nada
com ela! – retrucou Evan no mesmo tom,
os olhos escuros vidrados. – Louisa
também não tinha até o momento em que
a levei para a cama!
Harden o encarou com olhar
penetrante.
– Quem não arrisca, não petisca.
– Mesmo que Anna tivesse idade
suficiente, nunca teria coragem, não
entende? – Evan enfiou as mãos nos
bolsos e olhou pela janela. – Aquela
experiência me deixou traumatizado em
relação à intimidade. Perdi o controle e
machuquei Louisa. Tenho medo de fazer
isso outra vez. Coloquei Randy Hardy
no hospital quando brigamos, alguns
anos atrás, lembra? – acrescentou,
enfatizando sua preocupação.
– Por acidente.
– Sim. Bem, poderia fazer o mesmo
com uma mulher se perdesse a cabeça –
retrucou Evan em um tom de voz
acalorado. – Meu tamanho é perigoso.
– Você é grande – concordou Harden.
– E forte como um touro. Ninguém está
discutindo isso. Mas está ficando
complexado e sem necessidade. Só
porque uma mulher histérica o acusou de
lhe quebrar as costelas…
– Eu a machuquei bastante –
completou Evan, tristonho.
– Ela se machucou ao tentar lutar
contra você e acabar caindo da cama –
lembrou Harden com a voz áspera. –
Louisa tinha metade de seu tamanho e
era um saco de ossos. Além disso, era
uma virgem amedrontada. Anna é uma
jovem alta, forte e voluptuosa. É mais
seu tipo.
– Não quero Anna! – retrucou Evan.
– Você é quem sabe. Provavelmente,
ela se casará com um médico honrado e
terá dez filhos.
– Se for isso que ela deseja. – Evan
sentiu o sangue gelar nas veias diante do
pensamento de Randall fazer filhos em
Anna. Em seguida, baixou a aba do
chapéu sobre os olhos e se retirou do
escritório.
Harden gesticulou a cabeça em
negativa enquanto o observava se
afastar. Não conseguia convencer Evan.
O irmão mais velho estava ficando
apavorado, mesmo que não quisesse
admitir. Se não tomasse cuidado, iria
transformar não só a própria vida em um
caos, mas também a de Anna.
Nos dias que se seguiram, Evan notou
uma diferença significativa em sua vida.
Foi até o centro da cidade, e não havia
mais Anna perscrutando por sobre seu
ombro na loja de ferragens ou debruçada
sobre a janela do escritório da mãe para
sorrir e acenar para ele. Compareceu a
um evento social local, e Anna não
havia suplicado por um convite para ter
a oportunidade de flertar com ele. Evan
tomou a precaução de ir acompanhado
de Nina só para garantir, mas não fora
necessário.
Deveria estar eufórico, mas, de
alguma forma, o fato de Anna não o
desejar mais o feria. Todos os
argumentos que enumerara contra aquele
relacionamento não o ajudavam em
nada.
Duas semanas após a festa de Polly,
Anna estava fazendo compras em uma
butique local quando Nina entrou,
exalando um perfume caro e parecendo
estar no topo do mundo.
– Olá! – cumprimentou ela, sorrindo.
– Então, Evan finalmente conseguiu
derrotá-la! Não vimos nenhum sinal de
você na reunião de Anderson anteontem
à noite! Ele passou os primeiros
instantes olhando ao redor para se
certificar de que não a encontraria. Você
o deixou mesmo traumatizado.
Anna se sentiu nauseada com a forma
como Nina colocava a questão.
– Sim. Atualmente, estou me
dedicando a Randall.
– O médico paquerador, certo? –
perguntou Nina, prendendo o tecido do
vestido mais caro da loja entre os
dedos. – Acho que não vai ser fácil
segurar ele. Pelo que vejo, não sabe que
seu jovem médico levou Cindy Grayson
à festa na piscina na casa de Ford, na
segunda-feira? Nem que ela não voltou
para casa até a manhã do dia seguinte?
Anna dirigiu um olhar furioso à outra
mulher.
– Para que toda essa malícia? Você
conseguiu Evan. O que mais deseja?
As sobrancelhas delicadas de Nina se
ergueram.
– Não “consegui” Evan – retrucou
ela. – Ele só me convidou para sair para
mantê-la afastada. Disse-me que faria
qualquer coisa para se livrar de você. –
Os olhos da modelo escureceram
enquanto estudavam Anna, arrogantes. –
Deveria saber que um homem como
Evan não suporta ser caçado. Cortou sua
própria garganta.
– Bem, ele está seguro agora –
respondeu Anna, quase soluçando.
Nina deu de ombros.
– Duvido que ele acredite nisso. Não
que eu me importe – acrescentou,
maliciosa. – Porque quanto mais tempo
ele a considerar uma ameaça, mais
tempo terei ao lado dele. Evan é
maravilhoso na cama – disse
deliberadamente, observando a outra
corar.
Anna pousou o vestido que estava
admirando e saiu pela porta da butique
como se o jeans que estava trajando
tivesse pegado fogo. Nina a observou
por um minuto e depois voltou a atenção
às araras que expunham os vestidos.
Evan estava preocupado com a
indiferença de Anna. Apenas mantendo
aquela menina afastada, poderia ter uma
chance com ele. Mas o artifício que
usara parecera surtir efeito. Anna estava
espumando de raiva quando deixou a
loja pensando que ela dormira com
Evan.
Pelo restante da tarde, Anna mal
percebia o que estava acontecendo ao
seu redor. Saiu mais cedo do trabalho e
se dirigiu à Galeria Taylor.
Brand Taylor era um senhor idoso,
com um olhar perspicaz para arte e um
profundo conhecimento daquele
mercado. Conhecia Anna desde criança
e sempre acompanhara seu interesse
pela arte com grande prazer.
– Esperava que um dia me abordasse
para pedir um emprego – disse ele,
usando de sinceridade quando ela lhe
fez a pergunta. – Estou aqui sozinho, e,
às vezes, é um trabalho pesado. Seria
ótimo ter uma assistente. Você tem um
olho treinado para detalhes, e posso
ensiná-la como avaliar pinturas e prever
o mercado. Mas será um trabalho árduo.
Não há nada como se sentar em seu
jardim e pintar.
Anna sorriu.
– Assim mesmo, gostaria de tentar.
Taylor anuiu.
– Muito bem. Quando pode começar?
– Na segunda-feira – respondeu ela.
A mãe nunca necessitara dela de fato.
Aquela vaga fora criada para ela, mas
ambas sabiam que seu cargo no
escritório era perfeitamente dispensável.
– Polly não se importará? – perguntou
Taylor.
Anna negou com a cabeça.
– Pelo contrário. Acho que ela vai
adorar.
Polly ficou encantada e surpresa.
– Não sabia que você queria deixar o
escritório – admitiu a mãe.
– Evan passa muito tempo lá –
murmurou Anna, concisa. – Essa é a
verdadeira razão. Se tenho de esquecê-
lo, tenho de fazê-lo por completo. Gosto
muito do sr. Taylor, e a ideia de ter uma
carreira me atrai.
– Esperava que você encarasse o
casamento como uma carreira – disse
Polly em tom de voz calmo. – Deus sabe
que eu teria feito isso se seu pai tivesse
sido capaz de criar raízes comigo. Ele
era um nômade. Ainda é.
– Você nunca namorou mais ninguém.
– Anna arriscou.
– Nem ele – retrucou Polly com um
sorriso. – Talvez, um dia, ele consiga
expurgar isso de seu organismo e voltar
para casa. Nunca perdi essa esperança.
Enquanto isso, tenho uma carreira que
me agrada e estou acumulando uma boa
fortuna.
– É isso que quero fazer – afirmou
Anna em um tom solene. – Quero fazer
algo útil da minha vida. Casamento…
talvez algum dia, mas não agora.
– Isso mesmo. Você é muito jovem.
Tem muito tempo.
– Muito – repetiu Anna. Os olhos
estavam tristes, mas não ficaria
chorando pelos cantos da casa. – Que tal
sairmos para jantar esta noite?
– Ótima ideia – concordou Polly. –
Vamos ao Beef Palace?
Aquele era o restaurante favorito de
Evan. Anna discordou com um gesto de
cabeça.
– Que tal o restaurante chinês, para
variar?
Polly exibiu um sorriso de aprovação.
– Ótimo. Excelente.
Aquela noite, quando estavam
deixando o restaurante, as duas
conversavam, animadas, sobre o futuro
emprego de Anna. Evan as avistou ao
passar de carro com Nina. Estranho,
Anna comendo comida chinesa. Tinha
certeza de que ela não apreciava aquele
tipo de culinária.
– Aquelas são Polly e Anna, certo? –
resmungou Nina. – Esperava ter de
afugentar Anna no Beef Palace esta
noite. Disseram-me que ela costuma
acossá-lo lá.
Evan lhe dirigiu um olhar furioso.
– Não há necessidade de ridicularizá-
la – disse com a voz baixa.
Nina lhe lançou um olhar surpreso.
– Por que não? Todo mundo faz isso.
É senso comum dizer que Anna fez um
papel ridículo o perseguindo. Ela
também sabe disso.
Os olhos de Evan se estreitaram.
– Você não disse nada a ela, disse?
Nina cruzou as pernas elegantes.
– Disse-lhe apenas que você estava
farto dela – respondeu, despreocupada.
– Mas Anna já sabia disso.
Evan se encolheu em seu íntimo.
Conhecia Nina e não podia imaginá-la
dizendo isso de uma forma gentil para
Anna.
– Pelo amor de Deus! – resmungou
ele.
– Mas ela também não terá melhor
sorte com seu amigo médico –
acrescentou Nina com uma indiferença
franca. – Aquele homem é um
mulherengo, capaz de dormir com
qualquer coisa que vista saia. Mas isso
é problema dela.
Evan permaneceu calado. Não queria
pensar em Anna.
Mas na semana que se seguiu, quando
foi devolver os prospectos a Polly e
discutir a decisão familiar com ela, a
mesa de Anna estava vazia.
Polly o cumprimentou, gesticulando
para que ele se sentasse, enquanto
fechava a porta do escritório e se
acomodava na própria cadeira atrás da
mesa.
– O que decidiram? – perguntou ela.
Evan franziu a testa.
– Onde está Anna? Não está doente ou
com algum problema?
Polly lhe dirigiu um olhar surpreso.
Ele parecia mesmo preocupado.
– Ora, ela arranjou outro emprego –
informou Polly, hesitante. – Brand
Taylor a contratou.
– Na galeria de arte? – Evan se
recostou para trás na cadeira com um
suspiro pesado. – Ela vai mesmo levar
isso até o fim? Pelo amor de Deus! Anna
não precisa desaparecer por minha
causa!
Polly teve a perspicácia de não dizer
nada e baixou o olhar aos prospectos
que ele atirara sobre a mesa. Evan não
sabia nem a metade. Anna estava
planejando sair de casa. Havia uma vaga
em uma pensão local, e Anna estava
pensando em ocupá-la. Dera-lhe a
notícia no final de semana anterior.
– Essa oportunidade de trabalho
surgiu inesperadamente – murmurou
Polly.
– Ela mencionou ter conversado com
Nina ultimamente? – Ele insistiu,
inclinando-se para a frente, os olhos
escuros firmes e penetrantes em seu
rosto.
– Não – respondeu Polly. – Por quê?
– Parece que Nina foi rude com ela
por minha causa. – contou ele,
transtornado. – Eu não lhe pedi para
fazer isso, mas Anna não sabe.
– Está tudo bem – disse Polly, séria. –
Ambos sabemos que não há futuro nos
sentimentos de Anna por você. Ela
acabará superando e se casando com
Randall. Será melhor para todos.
– Randall é um playboy – afirmou
Evan, sem rodeios.
– Se Anna o amar, isso não importará
– argumentou Polly, recusando-se a
admitir o contrário. – Se ele a amar,
deixará de flertar com outras mulheres.
– Esse tipo de homem nunca deixa de
flertar – contrapôs ele, com os olhos
estreitados. – E você sabe disso.
Polly exibiu um sorriso triste.
– Randall também não seria minha
primeira escolha, no entanto, trata-se da
vida de Anna. Não tenho o direito de
interferir.
Evan se recostou outra vez para trás,
com a testa franzida pela preocupação.
– O que decidiram sobre os
prospectos? – perguntou Polly outra vez,
esperando mudar de assunto.
– Vamos investir – respondeu ele,
distraído. Em seguida, fez uma oferta e
abrandou seus temores em relação a
Anna por um instante para concluir a
negociação.
Mas o que ela fizera o incomodava.
Quando deixou o escritório de Polly, ele
se descobriu dirigindo diretamente à
galeria de Taylor.
Brand havia viajado a Houston para
ver uma exposição, deixando Anna,
nervosa, no comando. Até então, ela
havia se saído bem e estava gostando do
trabalho. Mas ter total responsabilidade
sobre a galeria e deixava apreensiva.
Anna parecia adorável, pensou ele,
enquanto a observava através do vidro
da vitrine da loja antes de entrar. Ela
trajava um blazer com saia de seda bege
e uma blusa branca com um bordado
delicado. Os cabelos se encontravam
atados em uma trança embutida atrás da
cabeça. Estava usando sapatos de salto
alto que lhe enfatizavam as curvas
graciosas dos tornozelos e panturrilhas.
O caimento do terninho deixava
aparente, da forma mais graciosa, que
Anna possuía uma silhueta estonteante.
Evan abriu a porta e entrou, fazendo
soar o sino acima do batente superior.
Anna girou com um sorriso estampado
no rosto, mas que despareceu
abruptamente quando se deparou com
ele.
Aquela expressão o fez sentir um
vazio terrível. Antes, aqueles olhos
azuis sempre se iluminavam com a
satisfação de vê-lo. Agora, expressavam
mais temor do que alegria.
– Posso ajudá-lo? – perguntou ela
com uma cortesia formal.
Evan penetrou na galeria, relanceando
um olhar de aprovação ao grande cartaz
de “proibido fumar” que se encontrava
na parede. Enfiou as mãos grandes nos
bolsos da calça comprida e a encarou
com o olhar estreitado.
– Era necessário desfalcar o quadro
de funcionários de sua mãe para me
evitar? – perguntou ele com evidente
sarcasmo, porque aquela nova postura
de Anna o feria.
Ao encará-lo, ela empinou o delicado
queixo arredondado.
– Já que eu não fazia muito coisa lá,
além de esperar que você aparecesse, é
pouco provável que tenha prejudicado
minha mãe.
Evan exibiu um meio-sorriso.
– Foi por isso que veio trabalhar
aqui? Acha que não me interesso por
arte?
Anna terminou de retirar o pó da
moldura que estava segurando e a
recolocou em sua posição usual na
parede.
– Não sei quais são seus interesses,
além de enriquecer – retrucou ela. –
Deseja alguma coisa?
– Queria me certificar de que Nina
não a magoou.
Anna girou, com as sobrancelhas
erguidas.
– E que diferença isso faz?
Evan inspirou lentamente.
– Não pedi que ela lhe desse nenhum
recado.
– Eu mereceria se o tivesse feito –
confessou ela em tom de voz calmo,
baixando o olhar ao chão. – Eu o
infernizei.
A maneira como Anna disse aquilo o
deixou incomodado. Evan se aproximou,
de modo que pudesse lhe ver o topo da
cabeça. As mãos abandonaram os bolsos
para segurarem o rosto delicado dela e
erguê-lo na direção dele. Deus! Ela era
linda, pensou, relutante. Olhos da cor do
céu de setembro, a compleição cor de
pêssego, os lábios em forma de arco,
muito rosados, carnudos e úmidos. Com
os olhos, traçou o formato daquela boca
com tal intensidade que a fez se
entreabrir abruptamente.
– Anna – sussurrou ele com voz
rouca.
Os olhos azuis se arregalaram diante
daquele tom. Ela nunca o ouvira falar
assim. O olhar de Evan era ardente e
faiscava em seus lábios. As mãos
grandes e quentes se contraíam em seu
rosto, erguendo-o na direção do dele.
Admirada, Anna observou a cabeça de
Evan se inclinar e a boca sensual se
aproximar até ficar a milímetros da sua.
– Chegue mais perto – disse ele com a
voz grave e rouca. Evan podia ouvir a
respiração alterada de Anna, e toda a
cautela que possuía desapareceu,
afogada sob um mar de desejo. Com os
polegares, forçou o queixo delicado
para cima, enquanto os anos de desejo
impotente o nocauteavam. – Droga,
venha cá!
Trêmulas, as pernas de Anna o
obedeceram mesmo contra a vontade, de
modo que seu corpo esguio pudesse
sentir o calor que emanava daquele
homem. O blazer do terno que ele usava
estava aberto. A fragrância da colônia
masculina lhe penetrava as narinas
mesmo enquanto ela sentia a rigidez do
peito de Evan colidir com seus seios. O
contato com ele era extremamente
excitante, mesmo através das camadas
de roupa.
Os dedos delicados se contraíram
sobre o tecido de algodão da camisa de
Evan e tocaram os músculos definidos.
Os olhos de Anna não conseguiam ver
nada além da curva generosa dos lábios
que se encontravam a milímetros dos
seus. O hálito de café se mesclando com
o dela.
– Você sabe beijar? – perguntou ele.
A cabeça rodopiando diante daquela
nova experiência com Anna, a razão de
repente dissolvida no afã do desejo por
aqueles lábios.
– Si… sim. – Ela ofegou.
– Então, mostre-me.
As palavras sopraram os lábios
entreabertos de Anna, enquanto a boca
ávida de repente capturou a dela.
Anna sentiu o sabor daqueles lábios
no silêncio repentino que se abateu
sobre a galeria. O corpo tenso, a
respiração presa na garganta, sentia a
pressão forte da boca de Evan contra a
dela e quase desmaiava com a onda de
prazer que aquele toque quente e
experiente suscitava. A respiração de
Evan era pesada e lhe fustigava a
bochecha. Contra os seios, sentia o
coração dele batendo, irregular e forte.
Os dedos de Anna se contraíram
sobre o peito largo, enquanto se
aproximava ainda mais.
– Anna – sussurrou ele, dominado
pelo desejo.
Os braços fortes a envolveram
fazendo com que os seios de Anna se
esmagassem contra a parede sólida do
peito musculoso. Evan era um homem
muito forte, e aquele abraço era quase
dolorido, mas ela mal percebia sob o
efeito das labaredas que pareciam se
espalhar por seu corpo.
Anna ergueu o corpo alguns
centímetros, escorregando os braços sob
os dele, por baixo do blazer, para
alcançar as costas largas. Ele estava
quente, muito quente, e a sensação
daquele corpo forte era como um
narcótico. Ela se banqueteava no desejo
com que aquela boca explorava a sua.
Gemendo e inclinando ainda mais o
rosto, Anna entreabriu ainda mais os
lábios para aquela invasão erótica.
Quando sentiu a língua quente aceitar
aquele convite ostensivo, uma onda de
calor a fez estremecer nos braços fortes.
Evan não conseguia pensar ou sequer
respirar. Aquela era Anna, pensou
entontecido. Anna, que era muito jovem
para ele. Fizera tudo para afastá-la e
agora a encorajava da forma mais
descarada. Mas não conseguia lutar
contra o próprio desejo. A língua
invadia o interior aveludado daquela
boca saborosa, e, a cada investida, a
imaginava sob seu corpo, na cama,
aceitando-o com a mesma paixão
desprendida. A feminilidade revelava
seus segredos para ele enquanto a
iniciava nos prazeres do sexo.
Com um gemido rouco, Evan a ergueu
contra o próprio corpo, incrementando o
beijo em um frenesi quase capaz de
fazer parar o tempo.
Pareceram se passar eras até que ele
a pousasse outra vez no chão e muito
lentamente erguesse a cabeça para
encarar os olhos azuis arregalados,
entontecidos e, mais abaixo, os lábios
vermelhos ainda trêmulos pela paixão
com que ele os violara.
Anna mal conseguia ficar de pé. Evan
a sustentou, amparando-a de leve pela
cintura para evitar que ela caísse.
Durante todo o tempo sentia as próprias
batidas do coração como bombos
retumbando dentro do peito.
– Você me beijou – conseguiu dizer
Anna com um fio de voz.
– E você correspondeu – retrucou
Evan. Com a mandíbula contraída,
deixou os olhos lhe percorrerem o corpo
através do blazer aberto do terno para o
volume dos seios fartos e mais… os
mamilos enrijecidos que sinalizavam a
excitação de Anna.
– Precisa ver para constatar que o
desejo? – perguntou ela, chorosa. – Não
consegue perceber sem conferir com os
olhos?
– Sim, consigo. – As mãos de Evan se
contraíram em sua cintura, e ele lutava
para recobrar o autocontrole. – Você
tem dezenove anos.
– E você tem trinta e quatro – disse
ela, engolindo em seco, enquanto
conseguia regular a respiração. – Não
precisa me explicar nada, sei como se
sente. Você me quer, mas eu não sirvo.
Os olhos de Evan se tornaram ainda
mais escuros.
– Anna…
– Nina faz mais seu estilo – afirmou
ela, amarga, empurrando-lhe o peito. – É
experiente e sofisticada. Aposto que
sabe tanto quanto você!
Anna estava presumindo que ele
dormira com Nina. Evan permitiu que
ela mantivesse aquela ilusão. Não seria
certo começar a fazer confissões agora.
Já havia feito estrago suficiente.
– Você já teve um homem? –
perguntou com a voz rouca.
Anna baixou o olhar, mas ele lhe
ergueu o queixo com um movimento do
punho largo, forçando-a a encará-lo.
– Eu perguntei… – repetiu. – Se já
teve um homem?
Os olhos escuros pareciam um pouco
assustados.
– Você não sabe? – perguntou ela com
um sussurro.
Anna estava trêmula. Ele abriu a mão
e deixou os dedos longos escorregarem
lentamente pela curva do pescoço
delicado até alcançarem a elevação dos
seios fartos, detendo-se naquele ponto,
enquanto ela parecia enrijecer, erguendo
um olhar surpreso.
– Não teve – afirmou ele. Os olhos
baixando até se fixarem nas próprias
juntas dos dedos. Em seguida,
provocou-a, circundando os mamilos
intumescidos sem, no entanto, tocá-los.
Observou-a estremecer e, em seguida,
erguer os seios discretamente na direção
daquele toque tentador.
– Eu o odeio – choramingou ela.
Os lábios de Evan roçaram os dela.
– Diga meu nome – sussurrou.
A proximidade, a provocação… era
impossível resistir a tudo aquilo, mesmo
que ela de fato o odiasse. E aquelas
mãos a estavam levando à loucura.
– Evan – gemeu ela, erguendo ainda
mais o tronco.
A boca experiente se fechou sobre a
dela, e as mãos longas de repente lhe
envolveram os seios, estimulando-os
com força em um silêncio que
denunciava as batidas descompassadas
do coração de Anna e a respiração
ofegante de Evan.
Refém do desejo, ela cravou as unhas
nos ombros largos, fazendo-o
estremecer de prazer. As mãos fortes se
contraíram e Anna gemeu contra a boca
quente. Evan enroscou uma das pernas
longas e musculosas nas dela,
colocando-a em contato direto com a
potência de seu desejo.
Anna o mordeu, tão excitada que mal
percebeu o que estava fazendo até que
ele gemesse.
Chocado, Evan recuou. Os olhos
arregalados pela surpresa.
– Eu… não tive intenção de fazer isso
– disse ela com um sussurro trêmulo. –
Tentou se mover, mas a perna musculosa
a impedia de se mexer. Ainda sentindo a
evidente excitação de Evan, ofegou
outra vez.
Com muito esforço, ele conseguiu
soltá-la e desencaixar os corpos dos
dois.
– O quê? – perguntou ele, ainda
alterado.
– Eu… eu o mordi.
– E me arranhou – murmurou Evan
muito calmo. Os lábios se curvavam em
um sorriso estranho. – Seria capaz de
rasgar minhas costas todas na cama, com
essas unhas.
Anna ofegou, e, de repente, ele
percebeu não só o que estava dizendo,
mas para quem estava dizendo aquilo.
Sacudindo a cabeça como que para
clarear a mente, ele franziu a testa.
– Anna, pelo amor de Deus!
– Sim, Anna – retrucou ela, com voz
fraca e trêmula, se afastando dele.
Estava descabelada, tinha os olhos
arregalados e sentia-se chocada por ter
lhe permitido aquelas liberdades depois
da forma com que ele a tratara. Não
apenas permitiu, mas o encorajou e
correspondeu. E na galeria, onde
qualquer pessoa poderia surpreendê-los!
Por sorte, a parte da frente da loja dava
para uma rua lateral que não costumava
ser muito transitada àquela hora do dia.
E maior sorte ainda, a pintura enorme de
uma paisagem do Texas estar
posicionada entre eles e a vitrine da
frente. – Nina não está correspondendo
ao seu ardor, ou isso é algum tipo de
vingança? – perguntou ela.
Evan mal conseguia respirar. Ela o
correspondera de igual para igual, tão
apaixonada e feroz quanto ele sonhara
que uma mulher poderia ser. O que quer
que tivesse suscitado nela, não fora
medo. Mas Anna tinha apenas dezenove
anos, e aquilo nunca deveria ter
acontecido.
– O que acha, querida? – perguntou
ele com um toque de insolência.
– Acho que deveria ir embora. – Anna
respondeu com voz calma.
Evan enterrou o chapéu na cabeça.
– Concordo. Boa sorte em seu novo
emprego. Transmitirei suas saudações a
Nina.
Anna não respondeu. Antes que ela
conseguisse parar de tremer, Evan havia
desaparecido pela porta. Se ele a queria
fora de sua vida, aquela estava longe de
ser uma forma de conseguir seu intento,
pensou ela, confusa. Em seguida tocou
os lábios que ainda guardavam o sabor
daquele homem e estremeceu outra vez
com o ardor que ele fizera florescer.
Nunca imaginara ser beijada daquela
forma, e por Evan, que não a desejava.
Recordou a sensação do corpo forte
contra o dela e corou. Bem, bastava de
ilusões.
Anna se precipitou para os fundos da
galeria por tempo suficiente para retocar
a maquiagem e pentear os cabelos,
imaginando se algum dia conseguiria
esquecer o que ele fizera. Tentar
esquecê-lo fora difícil o suficiente, sem
saber como era a sensação de ser
abraçada e beijada por ele. Agora, seria
impossível. O corpo de Evan podia
desejar o dela, mas era óbvio que a
mente a rejeitava. Provavelmente,
passara ali apenas para dizer adeus,
insistia em repetir para si mesma. Mas
por quê, imaginou por dias a fio, Evan a
havia beijado?
Capítulo 4

DURANTE TODOo trajeto até o rancho,


Evan sentia a cabeça rodopiar. Nunca
experimentara algo assim em sua vida e
tinha de ser justamente por Anna, dentre
todas as mulheres! Gemeu em seu íntimo
recordando a febre da paixão que havia
despertado nela sem fazer o mínimo
esforço e a resposta impetuosa que
obtivera. Na cama, Anna o satisfaria tão
completamente que nunca seria capaz de
tocar outra mulher pelo resto da vida. E
aquele pensamento o deixou
transtornado.
Tinha de se lembrar das razões pelas
quais não podia… não ousaria… se
deixar envolver com Anna. Ela era uma
virgem de dezenove anos. Sabia
instintivamente que, até aquele dia, ela
nunca permitira que outro homem a
tocasse daquela forma. Se era tão
apaixonada por ele quanto todos
afirmavam, devia ter guardado aquilo
tudo para lhe oferecer, esperando que
ele a beijasse e tocasse. Com raiva
incontida, socou o volante com força,
revoltado com a peça que o destino lhe
pregara. Aquilo era impossível! Era
quinze anos mais velho que ela e um
homem para quem a inocência era uma
espécie de pesadelo. Desejava-a ao
nível da obsessão, mas não podia tê-la.
Nunca poderia tê-la.
A inocência o assustava. A expressão
de Louisa o assombrava havia anos,
lívida e tensa, quando ele girou na
direção dela, após se despir. Pensara
que ela o amava, mas Louisa resistira
como uma tigresa, gritando,
aterrorizada, que ele era muito grande e
forte e que a estava machucando…
Evan entrou em casa com a expressão
fechada e os olhos faiscando de fúria
com aquela lembrança. Louisa era uma
jovem pequena, magra e frágil, a quem
Harden culpava de tolerar seu ardor
apenas por dinheiro. Mas ele se
recusava acreditar. Louisa o amara, e
ele também a amara. Aquela rejeição o
traumatizou. Embora ainda tivesse seus
casos ocasionais, agora suas mulheres
eram experientes e vividas. Nunca mais
namorara uma jovem inocente desde
Louisa.
Harden o lembrara de que Anna era
uma jovem alta e forte, e Evan tinha de
concordar que ela correspondera ao seu
ardor com igual intensidade. Não a
machucara, embora durante alguns
segundos tivesse perdido o controle da
própria força, ao pressionar aquele
corpo de curvas generosas contra o dele.
Não conseguia acreditar que fizera
aquilo, que havia ido de encontro a
todas as suas convicções e se
descontrolado a ponto de deixar claro
para Anna toda a ferocidade de seu
desejo.
Uma risada amarga lhe escapou da
garganta ao se lembrar da expressão
chocada no rosto e nos olhos de Anna
quando ele a soltou. Provavelmente,
nunca sentira a excitação de um homem
na vida. Bem, agora sentira, pensou ele.
Na verdade, não conseguia imaginar
aquele morno do Randall fazendo algo
tão ousado. Refletiu, distraído,
imaginando se o estudante de medicina
se sentia excitado com Anna, porque
parecia estranhamente passivo ao lado
dela, mal a notando.
Por certo, Anna deveria saber que
tudo que interessava Randall era o
dinheiro de Polly, mas aquilo não
parecia incomodá-la, porque continuava
saindo com ele.
Mas não era um problema seu,
lembrou a si mesmo. Dali em diante,
tinha de se manter fora do caminho de
Anna. Cometera um grande erro,
permitindo que ela descobrisse o quanto
a achava atraente. Teria de encontrar um
jeito de fazê-la acreditar que aquilo não
passara de um arroubo passageiro, ou a
teria em seu encalço outra vez. Não
poderia se dar àquele luxo. A ideia de
permitir que ela o perseguisse outra vez
era muito tentadora.
Havia uma conferência em Denver
sobre um novo programa de cruzamento
de raças, e Evan fez a mala para
comparecer ao evento, deixando os
irmãos Harden e Donald no encargo da
empresa. Uma mudança de cenário
talvez lhe fizesse bem. Poderia até
mesmo conhecer alguma mulher
experiente em Denver, capaz de afastar
Anna de seus pensamentos.
Mas o que ele não sabia era que Anna
acreditava que Evan manipulara sua
fraqueza por ele para se vingar do fato
de ter sido ignorado. Sentiu o rosto
corar, recordando a rapidez com que o
corpo de Evan respondeu ao dela.
Aquilo deveria tê-la chocado, mas tudo
que conseguia lembrar era o prazer de
saber que o afetava. Poderia Evan ter
fingido aquela reação? Sabia que os
homens conseguiam se excitar apenas ao
pensar nas mulheres que desejavam. E
se ele tivesse a estonteante Nina em
mente e a usara para aplacar o desejo
que sentia pela outra mulher?
Sentia-se tão confusa que não sabia
como reagir. Não se iludira nem por um
minuto com devaneios tais como o fato
de tê-lo evitado ter desencadeado
aqueles beijos ardentes. Evan fora tão…
odioso, debochando de suas reações!
Quase como se estivesse punindo a ela e
a si mesmo com aquele comportamento
inesperado. Se ao menos soubesse o que
o havia motivado! Se ao menos ele
tivesse feito aquilo por ter sentido sua
falta, porque gostava dela! Tinha
vontade de chorar diante da própria
estupidez. Evan nem ao menos a tratara
com respeito. Tocando-a daquela forma,
pressionando-a contra o corpo o
suficiente para chocá-la com sua
excitação. Certamente, um homem que
gostasse de uma mulher não a trataria…
daquela forma!
– Tem estado muito calada
ultimamente – comentou Polly várias
noites depois, enquanto jantavam em
silêncio. – Quer falar sobre isso?
– Não aconteceu nada – disse Anna,
forçando um sorriso. – Tenho trabalhado
muito. O sr. Taylor falou que, se eu
quisesse pintar algumas paisagens, ele
as exporia na galeria. Acha que vale a
pena desenvolver meu talento.
– Esse sempre foi meu pensamento –
retrucou a mãe, encorajadora. – Embora
Randall não pareça muito entusiasmado
com seus girassóis – acrescentou com
uma careta. – Ele mal olhou para o
quadro depois de todo o trabalho que
tive para fazer o acabamento e
emoldurá-lo.
– Randall não gosta de artes – disse
Anna, defendendo-o sem muito ânimo. –
Tampouco de música.
– E você adora seus clássicos, certo,
querida? – Polly suspirou, franzindo a
testa. – Não gosto de interferir em sua
vida, mas está saindo muito com Randall
ultimamente. Dois encontros esta
semana. É por causa de Evan, certo?
Pega de surpresa, Anna corou.
– O que quer dizer com isso?
Os olhos de Polly se estreitaram e se
fixaram no rosto da filha.
– Evan deve tê-la magoado muito
naquela festa. Mas não deixe que o
orgulho ferido a atire nos braços do
primeiro homem que se mostrar
interessado, está bem? Randall é um
bom rapaz, mas é oportunista e uma
espécie de Don Juan.
– Talvez seja, mas não é da laia de
Evan – retrucou Anna, amarga.
– Ao menos, Evan se envolve com
mulheres vividas – respondeu Polly sem
preâmbulos. – Não se envolve com
inocentes.
Anna manteve o olhar baixo. De nada
adiantaria contar à mãe o quanto ele
estivera envolvido com ela dias atrás na
galeria.
– Evan é passado. Não o estou mais
perseguindo, e ele parece ter ficado
aliviado com isso. Não o vejo há…
séculos.
– Ele está em Denver – comentou
Polly, distraída. – Participando de
algumas conferências. Harden me disse
que era Donald quem deveria ter ido,
mas Evan fez uma mala na quinta-feira
passada e partiu antes que ele pudesse
argumentar. Uma viagem repentina.
Anna teve de lutar para não se trair.
Aquele fora o dia em que ele a beijara
com tanto ardor. Teria se sentido
obrigado a fugir, temendo que ela
começasse a persegui-lo de novo?
Aquilo a fez corar. Bem, Evan não
precisava se preocupar, não lhe passava
pela cabeça voltar a assediá-lo.
– Está escutando, querida? –
perguntou Polly.
Anna ergueu um semblante sereno e
sorriu.
– Claro.
– Você tem me preocupado
ultimamente.
– Não há motivo. Estou gostando do
meu emprego e amadurecendo.
– Sim, e com determinação. – Polly
tinha de admitir aquilo, observando o
estilo do penteado e o terninho com
calça comprida de seda azul, que
combinava com a cor dos olhos da filha.
– Essa mudança se opera a cada dia
diante dos meus olhos.
– Estou com quase vinte anos –
lembrou ela.
– Sim. Você faz com que me sinta
velha. Enviei uma foto que você tirou no
mês passado para seu pai. Queria que
ele visse o quanto está elegante. – O
sorriso lhe abandonou os lábios,
enquanto ela tocava o copo de água,
distraída. – Ele está em Atlanta agora.
Disse que talvez o transfiram para
Houston. Se o fizerem, ele passará aqui
para vê-la.
– Ele não namora ninguém. – Anna
refletiu. – Tampouco você. Nenhum dos
dois quer ceder um milímetro. Não sente
falta dele?
– Mais do que possa imaginar. –
Polly se ergueu com atitude profissional.
– Mas a vida segue em frente, minha
querida. Tenho de analisar alguns
números no meu escritório.
Anna a observou se afastar com
tristeza no olhar. Polly nunca esquecera
o marido e nunca esqueceria. Havia a
esperança de que algum dia os dois se
reconciliassem, mas levaria muito
tempo. Enquanto isso, sentia na pele a
dor da mãe.
No dia seguinte, Anna saiu da galeria,
após o expediente, sentindo-se agitada.
Randall ficara de sair com ela naquela
noite, mas telefonara cancelando o
encontro com a vaga desculpa de que
teria de trabalhar à noite. Não
importava. Não estava apaixonada por
ele, mas ultimamente Randall parecia ter
criado o hábito de cancelar os
compromissos com ela no último
minuto, e Anna se perguntava se de fato
aquilo significava acúmulo de trabalho.
O motor do carro não quis pegar, pela
primeira vez. Ela saiu do veículo
esporte e o olhou com expressão furiosa,
desferindo um chute no pneu. O tempo
estava nublado, e caía uma chuva fina.
Agora, teria de caminhar de volta à
galeria para telefonar.
O ronco do motor de uma camionete
lhe chamou a atenção. Anna girou a
tempo de ver Evan estacionando ao seu
lado uma das picapes com o logotipo do
rancho em letras vermelhas estampado
na lateral.
– Algum problema? – perguntou ele,
sucinto, baixando a aba o Stetson preto
sobre um dos olhos e se juntando a ela.
Estava com a roupa de trabalho: uma
camisa de cambraia, jeans justo, botas
pretas e chaparreira preta de couro. As
esporas tilintaram quando ele estacou ao
lado dela.
– Não – mentiu Anna, evitando-lhe o
olhar. – Apenas esqueci algo na galeria.
Os olhos escuros se estreitaram.
Sabia que ela estava mentindo pela
forma como hesitava. Era incrível o fato
de Anna estar tentando evitá-lo.
– Seu carro não quer pegar – disse ele
sem rodeios. – Não precisa mentir.
Estava passando quando você saiu e
chutou o pneu.
Anna sentiu o rosto incendiar. Não
conseguia encará-lo.
– Vou telefonar para a oficina. Eles o
farão pegar.
– Eu a levo lá. Entre.
– Não quero!
Evan a segurou pelo braço com um
gesto rude e a puxou para perto. Tão
próximo que ela podia sentir a ameaça
daquele corpo forte enquanto Evan
sustentava seu olhar chocado.
– Você me deseja – disse ele em um
tom de voz áspero. – Sei disso, e você
também. É inútil me evitar. Posso sentir
isso no momento em que a toco.
O lábio inferior de Anna tremeu.
– Não pode simplesmente me deixar
em paz? – perguntou com voz
embargada. – Sei que não me quer! Tem
de deixar isso claro todas as vezes que
me encontra? – A dor nas palavras de
Anna o fez se sentir culpado. Não
entendia as próprias ações. A última
coisa que queria era magoá-la e
humilhá-la. Mas a viagem a Denver não
o livrara do desejo que sentia por ela.
Não fora capaz sequer de tocar a mulher
que se colara a ele naquela cidade. Era
o que prendia fazer quando a levara para
seu quarto de hotel, lhe oferecera alguns
drinques e flertara com ela. Mas, quando
a tomou nos braços e começou a beijá-
la, nada aconteceu. Pela primeira vez,
seu corpo o traíra. Dispensara a mulher
e xingara Anna até ficar rouco. Tudo em
que podia pensar era o sabor daqueles
lábios carnudos. Aquilo o deixou tão
enraivecido, que mal conseguiu
acompanhar o restante da conferência e
voltou para casa, furioso. Aquela
inadequada paixão por Anna o estava
afetando de uma forma inacreditável.
Os olhos escuros se fixaram nos
lábios carnudos de Anna e se detiveram
lá, os dedos enterrados na pele do braço
macio com tanta força que a deixou
marcada.
– Você me daria tudo que eu
desejasse – disse com voz rouca. – Acha
que não sei o quanto é vulnerável a
mim?
Anna estremeceu. Aquele não era o
Evan que ela conhecia. Aquele homem
era um estranho, sensual, dominador e
assustador.
– Isso não é justo – soluçou ela.
– E o que você faz comigo é justo? –
perguntou ele em um tom de voz frio.
– Não tenho feito nada a não ser
evitá-lo – retrucou Anna, tristonha. –
Pensei que fosse esse seu desejo.
Com a outra mão, Evan lhe envolveu
a cintura, puxando-a lentamente contra o
corpo, contra os músculos definidos que
se contraíam onde ela tocava. Anna
ofegou quando espalmou a mão sobre a
camisa que ele usava. O olhar rumando,
inexorável, para os pelos do peito
evidenciados pelo colarinho aberto.
– Este é o meu desejo – disse ele. A
voz era grave e calma, e a mão longa
escorregou para a base da espinha de
Anna e lhe esfregou os quadris contra os
dele. Evan prendeu a respiração de
modo audível quando a sensação
daquele corpo macio desencadeou um
tipo de excitação que ele não sentia
desde os dezesseis anos. Uma risada
amarga escapou pelos lábios diante da
ironia daquela situação. Não conseguira
sentir aquilo com a outra mulher depois
de ter experimentado o sabor de Anna.
– Isso não tem graça nenhuma –
gemeu ela, empurrando-lhe o peito e
enrubescendo. – Pare!
Evan lhe soltou a cintura, mas ainda a
segurava pelo braço.
– Não é engraçado? – perguntou ele.
Os olhos escuros faiscando. – É a piada
do século, uma virgem me afetar desse
jeito e uma mulher experiente não
conseguir nem ao menos… – Evan se
calou, afastando-a. A respiração saía
pesada, a excitação tão óbvia que fez
Anna desviar o olhar, parecendo tomada
pelo pânico. Ele percebeu o
constrangimento no rosto inocente, e
aquilo só lhe fez aumentar a raiva.
– Tenho de ir – disse ela, alterada.
– Ainda está saindo com seu amado
médico? – perguntou ele.
Anna não lhe dirigiu o olhar.
– Se está se referindo a Randall, a
resposta é sim.
– Por que não se casa com ele? Isso a
faria desgrudar de mim.
Os olhos de Anna se encheram de
lágrimas.
– Desgrudei de você há semanas, não
percebeu? – perguntou ela, fulminando-o
com o olhar. Os olhos de Evan estavam
sombreados pela aba do chapéu, mas ela
pensou vê-lo pestanejar várias vezes. –
Não me aproximei mais de você. Agora,
é você que está me perseguindo!
– O jogo virou – disse ele, suave,
com os olhos faiscando. – Como se
sente?
– Detesto isso! – vociferou ela.
– Eu também detestava, querida –
retrucou Evan com a voz fria. – Cada
minuto, cada dia que você me assediava.
Graças a Deus, Nina finalmente
conseguiu convencê-la de que nada
adiantaria. Até mesmo um homem que
aprecia mulheres ficaria enojado com
esse tipo de perseguição.
Anna fechou os olhos para conter as
lágrimas.
– Deixou isso claro – disse ela,
transtornada. – Posso ir agora?
Evan se sentiu mal ao ver a expressão
daquele rosto. Não deveria ter sido tão
cruel com ela. Anna não tinha culpa se
ele a desejava em detrimento de outras
mulheres. Ela era apenas uma criança,
apesar daquelas curvas generosas.
Apenas uma menina. E ele a estava
barbarizando. Com um sobressalto,
Evan voltou a si.
– Anna…
Os olhos azuis celestes se abriram,
úmidos pelas lágrimas e a dor.
– Sinto muito!
Evan rilhou os dentes, as feições
contraídas em uma expressão de
angústia. Começou a se mover na
direção dela, mas Anna girou e saiu
correndo pela rua, na direção da galeria.
Com o semblante abatido pela culpa e
o remorso, ele a observou até que
sumisse de vista. Sentia como se tivesse
arrancado as asas de uma borboleta.
Anna estava pálida e estranhamente
calada quando chegou em casa após
encontrar um mecânico para consertar o
carro enguiçado. Mas, para seu alívio,
Polly não se encontrava, e ela conseguiu
se deitar sem ser vista. Agora, que
ficara sabendo como Evan se sentia em
relação a ela, não sabia como iria
sobreviver. Ele parecia de fato odiá-la.
As semanas que se seguiram se
arrastaram, com Evan a assombrando a
cada esquina. Ele levou Nina à galeria
para comprar quadros, mostrando-se tão
atencioso com a namorada que Anna
teve vontade de gritar. Evan circulava
por toda a cidade com Nina e parecia
mudar seu caminho apenas para se
certificar de que ela os visse. No que se
relacionava a vingança, ele era um
mestre. Anna sentia-se despedaçada,
embora conseguisse salvar um pouco do
orgulho ferido, tornando mais frequentes
seus encontros com Randall.
Um mês após Evan tê-la provocado
de maneira tão cruel, Anna foi a um
concerto com Randall e se deparou com
Evan e Nina sentados três fileiras atrás
deles. Era um sofrimento vê-los juntos e
testemunhar a atenção e o carinho com
que Evan tratava a namorada, fazendo-a
quase se desmanchar quando a tocava.
Durante o intervalo, Randall foi
buscar ponche para os dois, e Nina se
encaminhou ao toalete. Talvez fosse o
destino que a colocou no caminho de
Evan, no momento que seus respectivos
acompanhantes não estavam presentes,
pensou Anna, arrasada.
– Divertindo-se, querida? – perguntou
Evan com um sorriso que não se refletia
no olhar. – Ou seu amado médico não é
um substituto à altura para mim?
Anna estremeceu, fulminando-o com o
olhar.
– Randall é uma excelente companhia.
– É mesmo? – debochou ele. – Esse
rapaz parece prestar mais atenção na
música do que em você. Ou é isso que a
agrada?
– É melhor do que ter alguém se
jogando em cima de você – disparou
ela, corando intensamente diante da
suave risada de escárnio de Evan.
– Nina gosta de ser tocada – retrucou
ele com um olhar penetrante. – Torna-se
ardente quando a beijo e se derrete sob
meu corpo…
– Dane-se você! – Anna soluçou, as
lágrimas queimando os olhos. – Nunca
odiei tanto alguém na minha quanto o
odeio!
Teria doído menos se ela o tivesse
esbofeteado. O semblante de Evan
endureceu.
– É melhor do que ter você me
perseguindo e suplicando para fazer
amor comigo – retrucou em tom de voz
rude.
Anna deu meia-volta, tremendo da
cabeça aos pés, e se encaminhou na
direção de Randall. Quando o alcançou,
segurou-o pela camisa, como se temesse
desfalecer se a soltasse. Atrás dela, um
homem alto, de olhos escuros, se
encolhia em seu íntimo diante da própria
inclemência, imaginando como permitira
que aquilo fosse tão longe. O desejo por
Anna crescia a cada dia até se
transformar em uma dor que quase o
nocauteava. Estivera travando uma
batalha inglória havia semanas e,
naquela noite, perdera. Ser cruel com
Anna era a única proteção que lhe
restara, mas não estava suportando mais
aquilo.
Com um suspiro cansado, deixou os
olhos traçarem com suavidade as linhas
longas e graciosas do corpo de Anna,
adorando-a em silêncio. Ela era
maravilhosa. Encarnava todos os mais
doces sonhos.
De nada adiantava, admitiu ele por
fim. Estava enganando a si mesmo ao
pensar que podia lutar contra a atração
que sentia por Anna. Um sorriso
tristonho lhe curvou os lábios. No dia
seguinte, iria à galeria, a levaria para
almoçar e admitiria sua derrota.
Esperava apenas que ela pudesse
perdoá-lo. Girou, com os lábios
comprimidos em uma expressão
determinada, para se deparar com Nina
caminhando em sua direção.
Anna ficou em silêncio pelo restante
do concerto. Não olhou nem mais uma
vez na direção de Evan, recusava-se a
fazê-lo, embora ele tivesse passado boa
parte do espetáculo tentando atrair seu
olhar. Colou-se a Randall e o apressou
na direção da saída quando o concerto
chegou ao fim, desesperada para se
livrar da visão de Evan e Nina juntos.
Os dois percorreram o caminho de
volta a pé, porque o centro cívico ficava
a apenas dois quarteirões da casa de
Anna.
– Vou começar a atender em um
consultório particular no próximo ano –
contou Randall com olhar sonhador. –
Quero me fixar em Houston. Há um
médico mais velho, que se estabeleceu
em um dos bairros mais chiques da
cidade. Enviei-lhe uma proposta para
alugar alguns dias de seu consultório. –
Ele lhe relanceou o olhar. – Se nos
casássemos, vamos dizer, por volta de
dezembro, poderíamos nos mudar para
lá no fim de janeiro.
Anna estacou e ergueu o olhar para
encará-lo.
– Está querendo dizer que poderia
alugar alguns dias do consultório dele se
minha mãe nos desse uma boa soma de
presente de casamento – disse ela em
tom casual. O que Randall estava
insinuando, de repente, lhe era
conveniente. Desejava
desesperadamente se ver fora do
alcance de Evan, evitar aqueles
encontros desagradáveis.
Randall se surpreendeu com o jeito
calmo com que ela dissera aquilo.
– Anna…
– Sei que não morre de amores por
mim – interrompeu ela, mantendo o tom
de voz suave. – Sei que tem outras
mulheres, mas não me importo. Posso
me casar com você, assim como poderia
me casar com qualquer outro. Por que
não?
Pela primeira vez, Randall se viu
invadido pelo sentimento de culpa ao
perceber a apatia no olhar de Anna. Não
a amava, mas a admirava muito.
– Você faz parecer que isso seria
como uma proposta comercial.
– E é. Minha mãe poderia nos
patrocinar. Você é ambicioso, portanto
trabalhará duro para fazer o próprio
nome. Posso me ocupar de alguma
forma. Encontrarei afazeres para me
manter ocupada. Talvez me dedique à
pintura. – Afastou da mente seus sonhos
com Evan e uma casa repleta de filhos
pela última vez. Tinha de ser prática.
– Você se casará comigo? – perguntou
ele.
Anna anuiu.
Randall deixou escapar um suspiro e
a envolveu nos braços, segurando-a em
um abraço frouxo.
– Você merece algo melhor que isso –
disse ele de maneira inesperada.
Anna recostou o rosto contra o peito
do amigo e sorriu.
– Às vezes, você é um homem
maravilhoso.
– Só de vez em quando. Sou muito
ciente de minhas limitações. Gosto de
mulheres, e, por alguma razão, elas
também gostam de mim, embora eu não
seja nenhum galã. – Ele lhe acariciou os
cabelos longos. – Gosto de estar com
você porque posso ser eu mesmo.
Cuidarei de você e tentarei ser
discreto…
– Não me importarei com isso. – E
era verdade. Randall não conseguia lhe
tocar o coração, por isso estava segura.
– Contaremos a mamãe quando
chegarmos em casa.
Randall anuiu. Em seguida, segurou-a
pela mão e sorriu para ela enquanto
caminhavam na direção da casa. Anna
retribuiu o sorriso, mas nada conseguia
aplacar a dor em seu íntimo.
– Vão se casar? – Polly gaguejou
quando os dois lhe deram a notícia,
registrando imediatamente que nenhum
deles parecia estar extasiado ou
eufórico diante de tal perspectiva.
– Isso mesmo – respondeu Randall,
simpático. – Espero que nos apoie, sra.
Cochran. Cuidarei de Anna.
Polly ficaria um pouco mais feliz se
ele tivesse dito que amava sua filha. Ela
relanceou o olhar a Anna e teve vontade
de chorar diante das feições compostas
e do olhar apático que encontrou. Anna
estava fazendo aquilo apenas por causa
de Evan. Sabia disso. Mas a filha tinha
idade suficiente para tomar as próprias
decisões, por mais erradas que fossem.
– Claro que os apoiarei – disse Polly,
forçando um sorriso. – Espero que
sejam muito felizes. Quando estão
planejando se casar?
– No Natal – contou Anna em tom
calmo.
Randall anuiu.
– Posso tirar alguns dias de folga para
termos uma rápida lua de mel.
– Randall quer alugar um consultório
em Houston – acrescentou Anna,
pensando que aquele seria um bom lugar
para viver pelo fato de nunca mais ter de
ver Evan.
– Eu o ajudarei, claro – afirmou Polly
de maneira brusca, percebendo o alívio
no olhar de Randall. Maldito! Não
queria comprar um marido para a filha,
mas o que poderia dizer? Anna estava
muito nervosa e ansiosa ultimamente.
Era óbvio que Evan não estava
interessado nela. Era visto em todos os
lugares com Nina, exibindo o
relacionamento dos dois. Levara-a até
mesmo ao seu escritório, deixando seu
interesse naquela mulher tão evidente
que metade de seus funcionários deve
ter mencionado aquilo para Anna.
Imaginou se aquela não teria sido a
intenção de Evan. Ele parecia
determinado a provocar Anna nos
últimos tempos. A ponto de passar com
Nina em frente à galeria de arte em que
a filha trabalhava todos os dias, na hora
do almoço.
Polly nunca considerara Evan um
homem tão cruel, mas Anna parecia ter
suscitado isso nele. Estranho, quando a
filha era o tipo de mulher que
necessitava de gentileza. Ela certamente
não a encontraria em Evan. Polly
comprimiu os lábios. Talvez aquele
noivado não fosse má ideia, afinal.
Assim que Evan soubesse que Anna se
casaria, talvez parasse de magoá-la.
– Teremos de comprar um anel de
noivado amanhã – disse Randall a Anna,
sorrindo. – Qual a sua preferência?
Anna devolveu o sorriso. Randall era
um bom amigo, mesmo que fosse
incapaz de sentir paixão por ele.
– Gostaria de um solitário de
esmeralda – disse ela.
As sobrancelhas de Randall se
ergueram.
– Esmeralda?
– Não gosto de pedras tradicionais –
retrucou Anna com delicadeza. – E uma
aliança fina de esmeralda e diamantes.
Mais tarde, quando você for um médico
muito bem-sucedido, poderá me
comprar algo mais extravagante, está
bem?
As feições de Randall se contraíram
em uma careta. Ela o fazia parecer
mesquinho e culpado.
– Anna, eu lhe compraria um
caminhão de diamantes se tivesse
dinheiro – falou ele, e, de repente,
aquela era a pura verdade. – Deus sabe
que você merece.
Polly ergueu as sobrancelhas e sorriu.
Aquilo lhe pareceu mais promissor.
Talvez Randall se revelasse um genro
digno, afinal. Se ao menos Anna o
amasse!
– Poderíamos sair direto da galeria
para escolher o anel – sugeriu Anna. –
Por volta das doze horas.
Na hora do almoço. Aquela era a hora
em que Evan costumava passar com
Nina em frente à galeria. Polly girou
com um sorriso suave. Ótimo para ela.
Não faria nenhum mal deixar Evan
ciente de que Anna não estava mais
morrendo de amores por ele.
– Está combinado – respondeu
Randall, sorrindo. – Agora, é melhor me
acompanhar até a porta. Tenho exames
pelos próximos dias e, exceto pela
compra do anel, não nos veremos muito
esta semana.
– Tudo bem – concordou Anna,
reservada. – Compensaremos isso
quando estivermos juntos. Há uma nova
exposição de anfíbios tropicais no
zoológico.
– Fantástico. – Randall encarava o
estudo da herpetologia como um hobby,
e Anna compartilhava de sua fascinação
por sapos e lagartos exóticos. Fora
surpreendente e agradável saber que
tinham algumas coisas em comum. Ele
detestava arte e música, embora fizesse
a vontade de Anna acompanhando-a aos
concertos. Mas adorava visitar o
zoológico, e ela também. Ao menos, era
algo em que se calcar.
Anna estava pensando a mesma coisa.
Não teria um casamento eletrizante, mas
se conformaria com um pouco de
harmonia. Deus sabia que nunca poderia
ter isso ao lado de Evan. Para um
homem gentil e agradável, ele parecia
criar garras quando se aproximava dela.
Tinha ciência de que o afetava de uma
forma negativa, portanto era melhor se
casar com Randall. Mas, em seu íntimo,
via todos os sonhos que construíra
perecerem.
Capítulo 5

ANNA P ENSOU que nunca conseguiria


sobreviver à manhã seguinte. O simples
pensamento de que Randall viria buscá-
la tornou o dia suportável. Se tivesse de
ver Evan e Nina juntos, seria pela última
vez. Certamente, quando tivesse notícia
de seu noivado, Evan perceberia que ela
desistira dele e deixaria de atormentá-la
com o que ela nunca poderia ter. A
humilhação de saber que Evan tinha
certeza de sua impotente paixão era
insuportável. E vê-lo exibir Nina era
ainda pior.
Como sempre, faltando dez minutos
para o meio-dia, Evan passou em frente
à vitrine da galeria como fazia todos os
dias. Mas, dessa vez, estava sozinho.
Nina não o acompanhava.
Anna uniu as mãos com força na
frente do corpo, agradecendo o fato de o
sr. Taylor estar na galeria, verificando o
estoque de molduras, quando Evan
entrou. Ao menos, não estava sozinha.
– Olá, Evan. – Brand Taylor o
cumprimentou com um sorriso. – Que
bom revê-lo. Está procurando alguma
coisa em particular?
Evan foi pego de surpresa. Não
esperava que Taylor estivesse lá. Na
maioria dos dias, quando passava pela
galeria, Anna estava sozinha. E naquele
dia, dentre todos, não estava.
– Não, estou apenas… apreciando.
– Fique à vontade. Anna pode ajudá-
lo com os preços se vir alguma coisa
que lhe interesse.
Mas Anna não estava olhando em sua
direção. Observava a porta da frente,
agitada. A expressão de Evan se fechou.
Estaria esperando ser salva?
Lembrando-se da forma como a tratara
recentemente, concluiu que não poderia
culpá-la.
Esforçara-se ao máximo para resistir
ao desejo feroz que sentia por ela, mas
não podia viver sem Anna. De alguma
forma, teria de lidar com os próprios
medos. Não teria outra opção. Mas o
semblante dela não era muito
encorajador, e uma pontada de pânico
lhe varou o peito ao perceber que
poderia ser tarde demais. Ela parecia…
Evan hesitou. Os olhos escuros a
percorreram de cima a baixo. Anna
perdera peso. O terninho bege que
estava usando não se ajustava às curvas
graciosas de seu corpo como antes, e
havia linhas de preocupação vincando
aquele belo rosto. Depressões sob os
olhos que antes não existiam. Ainda
exibia uma figura elegante, porém frágil.
Evan deu um passo à frente,
detestando a forma como ela recuou
quando o viu se aproximar. Será que a
teria magoado tanto assim?
O olhar de Anna passou pelo terno
cinza e o Stetson cor de pérola que ele
estava usando. Parecia vestido para
viajar, supôs, sem saber que Evan
vestira seu melhor traje apenas para se
encontrar com ela.
– Há algo que queira saber? –
perguntou ela, tentando encontrar um tom
de voz controlado e se forçando a
encará-lo.
Os olhos de Anna tinham um tom
escuro de azul e estavam repletos de
sofrimento. Magoava-o saber que fora
ele o causador daquilo.
– Sim – respondeu ele, quase
hesitante. Os olhos escuros se fixaram
nos lábios aveludados e voltaram a
prender o olhar de Anna. – Eu…
O sino da porta da frente atraiu a
atenção dos dois. Randall entrou,
sorrindo para o sr. Taylor, antes de se
posicionar ao lado de Anna. Sabia o que
ela sentia por Evan Tremayne, e
instintos protetores que ele nem sabia
possuir afloraram em seu íntimo.
Envolvendo a cintura da futura noiva
com um braço, depositou-lhe um beijo
na testa com deliberada possessão. A
faísca de raiva que perpassou os olhos
atormentados de Evan e seu semblante
fechado não lhe passaram
despercebidos.
– Olá, querida. – Ele cumprimentou
Anna gentilmente. – Está pronta?
– Sim – respondeu ela, nervosa. –
Vou buscar minha bolsa.
– Vamos escolher as alianças hoje –
contou Randall a Evan. – Anna e eu
vamos nos casar no Natal.
Casar. Casar. Casar.
Evan ouviu o eco daquelas palavras
reverberar em sua mente até achar que
estava enlouquecendo. Anna iria se
casar com Randall. Estavam a caminho
da joalheria para escolher as alianças.
Viera até ali para se desculpar,
ajoelhado se necessário fosse, e
convidá-la para acompanhá-lo no que
seria o primeiro encontro de verdade
entre os dois. Tentaria iniciar um
relacionamento com ela. Mas Randall
fora mais rápido. Ele a ferira,
atormentara-a sugerindo que aceitasse o
pedido de Randall. E, pelo resto de sua
vida, teria de viver com aquilo. Anna
não amava aquele rapaz, tampouco o
desejava, mas iria se casar com ele.
– Deveria nos parabenizar – sugeriu
Randall. – Eu a farei feliz. Juro que sim.
Como poderá, imaginou Evan,
amargurado, se ela me ama? Enfiou as
mãos nos bolsos da calça, colocando o
tecido fino em contato com os músculos
perfeitos de suas pernas, e seus olhos
ardiam ao se fixarem no rosto pálido de
Anna.
– Estou pronta quando você estiver –
disse Anna a Randall. Evan teve de
olhar com atenção para reconhecer a
mesma mulher que o perseguia semanas
atrás. O brilho nos olhos e a natureza
travessa haviam se dissipado. Anna se
transformara em uma mulher de meia-
idade de um dia para o outro. Calma,
discreta e elegante. Naquele momento,
daria tudo para ver a antiga Anna.
– Estou indo. Vejo-o por aí, Evan –
disse o estudante de medicina, sorrindo
enquanto oferecia o braço a Anna.
Evan os observou se afastarem com o
olhar vazio. Anna se casaria com
Randall. E, quando ela ergueu o olhar
para encontrar o dele, entendeu o
motivo. Anna estava fazendo aquilo para
lhe provar que não o estava mais
caçando, que ele estava livre de seu
assédio, porque achava que era aquilo
que ele deseja. E Deus sabia que ele lhe
dera muitas razões para pensar assim.
– Oh, Deus, não! – disse ele em um
sussurro torturado antes de começar a
segui-los. Tinha de impedi-la.
Mas, enquanto se despedia de Taylor
com um aceno de cabeça e deixava a
loja, Nina virou a esquina e o chamou.
– Aí está você! – exclamou,
acenando, alegre. – Não o encontrei no
escritório e pensei que o acharia aqui.
Anna a escutou, mas não olhou para
trás. Que bom que Randall viera em seu
socorro. Pensara, esperara que Evan
tivesse vindo até ali apenas para vê-la,
mas a verdade era que havia combinado
de encontrar Nina lá para atirá-la em seu
rosto outra vez. Não era de se admirar
que ele tivesse se apressado tanto para
sair da galeria. E ela ousara sonhar que
ele fora até lá por sua causa! Bem,
bastava de esperanças infundadas.
Anna escorregou a mão para a de
Randall e caminhou ao lado dele, meio
entorpecida, escutando os planos que ele
havia feito para o final de semana. Se
Randall estivesse lhe relatando o
boletim do tempo teria o mesmo efeito
no que referia a seu interesse.
Naquela mesma tarde, quando saiu do
trabalho, Anna voltou para casa sozinha.
Em um impulso, passou pelo centro
cívico para conferir a programação dos
concertos para o final de semana. A
esmeralda que Randall lhe comprara
faiscava à luz suave, adornando-lhe a
mão longa e magra. Era o símbolo da
intenção de Randall de se casar com ela,
mas não lhe tocava o coração. Estava
poupando Evan de si mesma, era só,
pensou amargurada. Não ousava pensar
sobre como seria estar casada com
Randall, ou era capaz de enlouquecer.
Lágrimas lhe banharam os olhos e
começaram a rolar por sua face
enquanto permanecia parada ali. E, de
repente, percebeu, horrorizada, que
Miranda Tremayne se encontrava ao seu
lado.
– Oh, Anna. – disse a mulher de
Harden com expressão compassiva. Em
um gesto impulsivo, envolveu-a em um
abraço, desejando confortá-la.
Aquilo foi tão inesperado que Anna
se viu sem defesas. Chorou até sentir a
garganta doer, agradecida por não haver
quase nenhum transeunte na rua naquele
momento.
Por fim, ergueu a cabeça e Miranda
produziu um lenço de papel que retirou
do bolso de seu vestido de gestante.
– Está se sentindo melhor? –
perguntou em tom de voz gentil. – Está
chorando por causa de Evan, certo? –
acrescentou, resignada, com um gesto
positivo de cabeça, diante do olhar
surpreso de Anna. – Sim, eu sei. Todos
sabemos o que ele tem feito, se exibindo
com Nina para você. Eu costumava
considerar Evan um grande urso de
pelúcia, mas Harden havia me avisado
que ele tinha garras. Nunca sonhei que
meu cunhado pudesse ser tão cruel.
– Eu o levei a agir assim. – Anna
fungou. – Foi culpa minha.
– Ele poderia ter colocado um fim
nisso a qualquer momento, apenas tendo
uma conversa tranquila com você –
retrucou Miranda, irritada. – Isso não é
do feitio dele. Evan tem estado
insuportável desde que voltou de
Denver.
– Ele me detesta – afirmou Anna,
fragilizada. – Não estou brincando.
Estou falando sério. Ele me detesta!
Debocha dos meus sentimentos por ele e
ridiculariza Randall… vou me casar
com Randall – acrescentou com um fio
de voz, mostrando o anel. – Não é
bonito? Moraremos em Houston. – Mais
uma vez, Anna se desfez em prantos. –
Oh, desculpe – disse ela, com os olhos
vermelhos. – Eu não havia percebido o
quanto Evan me odiava. Deve ter se
sentido extremamente envergonhado
quando eu o perseguia!
Naquele momento, Miranda se achou
capaz de passar com um caminhão por
cima de Evan, com um sorriso
estampado no rosto. Constrangida, deu
palmadas leves no ombro de Anna.
– Isso não significa que ele tenha o
direito de magoá-la dessa forma.
– Estou apenas tendo uma reação ao
grande passo que vou dar. – Anna
insistiu, obstinada. – Depois que me
casar com Randall, ficarei bem.
– Não se você ama Evan – contrapôs
Miranda.
Anna trincou os dentes, mas não
conseguiu impedir o tremor do lábio
inferior.
– Deixarei de amá-lo. Não me restará
outra opção.
– Evan guarda alguns segredos –
disse Miranda. – Não sei do que se
trata, e Harden não me contaria. Mas há
alguma razão para ele tratá-la dessa
forma.
– É a minha idade – retrucou Anna. –
Ele me considera uma criança.
– Há mais alguma coisa. Tenho
certeza – afirmou Miranda. – Gostaria
que houvesse alguma coisa que eu
pudesse fazer.
Anna sorriu para a mulher à sua
frente.
– Você é muito gentil – disse ela. –
Harden tem muita sorte de ter alguém
como você. Ele era pior do que Evan. A
maioria das mulheres desta cidade tinha
medo dele. Harden parecia ser capaz de
traspassar uma pessoa com o olhar.
– Ele suavizou bastante. – Miranda
sorriu, dando palmadas carinhosas no
ventre abaulado. – Não que ele tenha
sido domado. Nenhum dos homens
Tremayne pode ser. Mas é tudo que
sempre desejei.
– Acho que isso serve para ele
também, multiplicado por dois – disse
Anna com a voz suave e sorriu. – Agora
tenho de ir. Não mencionará… que eu
estava parada aqui, em prantos, certo?
– Não conterei nada a Evan – soou a
resposta gentil. – Mas gostaria que
refletisse sobre o que está fazendo.
– Estou fazendo a única coisa que
posso, exceto me juntar à Legião
Estrangeira Francesa. – Anna suspirou.
– Serei feliz com Randall.
Miranda teve vontade de contra-
argumentar aquela afirmação fria, mas
não adiantaria. Anna era determinada e
teimosa e parecia perfeitamente capaz
de fazer algo que prejudicasse a si
mesma no afã da raiva. Quanto a Evan…
Miranda chegou em casa cuspindo
fogo. Harden estava na sala de estar em
companhia da mãe, Theodora, quando
ela entrou e atirou a bolsa sobre uma
cadeira.
– Tudo bem com você? – perguntou
Harden, imediatamente preocupado.
– Ah, está se referindo aos exames de
rotina? – disse ela. – Estou bem. O
médico disse que estou progredindo
muito bem. – Miranda se inclinou para
lhe depositar um beijo suave nos lábios
e sorriu quando viu seu amor refletido
nas profundezas azuis dos olhos do
marido. – O bebê está ótimo.
– Graças a Deus! – Harden deixou
escapar um suspiro. – O semblante com
que entrou aqui me preocupou.
– Estou com vontade de matar seu
irmão – disse ela.
– Qual deles? – perguntou Harden.
Theodora soltou uma risada abafada,
enquanto trabalhava em seu bordado,
montando um complicado desenho
floral.
– Evan – adivinhou ela.
– Como soube? – perguntou o filho.
– Ele é o único que continua solteiro.
– Bem lembrado – concordou
Miranda. – E espero que ele permaneça
para o resto da vida. Se vissem como
estava Anna…
– O que tem Anna? – perguntou
Harden com voz suave.
– Seu irmão a despedaçou. Ela estava
aos prantos. E isso não é o pior. Anna se
casará com Randall.
O semblante de Harden se tornou
tenso.
– Ela não o ama.
– Ela quer apenas mostrar a Evan que
parou de persegui-lo, e você sabe tão
bem quanto eu que o seu irmão lhe deu
todas as razões do mundo para querer se
afastar dele. Anna está convencida de
que Evan a odeia.
– Ultimamente ele está agindo como
se a odiasse mesmo. – Harden teve de
admitir.
Theodora ergueu o olhar do bordado.
– O amor e o ódio são gêmeos. Não
se pode odiar alguém a não ser que
consiga amá-lo também.
– Evan nunca amou ninguém. Não de
verdade – retrucou Harden. – Ah, mas
ele pensa que amou. Teve uma
experiência desastrosa e isso o cegou
para muitas coisas. Anna não é o
problema, mas sim a mente dele.
– De que está falando? – Miranda
quis saber.
– Não posso contar, sem trair uma
confidência – respondeu Harden e em
seguida sorriu para a esposa. – Eu sei,
sem segredos, mas esse não me
pertence. É de Evan. Teremos de deixar
que ele lide com isso.
– Ele esperou demais – opinou
Theodora com a voz tristonha. –
Lamento muito. Anna é muito jovem,
mas também é doce, generosa e
amorosa. Ele pode arranjar algo bem
pior.
– Espero que Randall a faça feliz. –
Miranda suspirou. – Mas não lamento
por Evan – acrescentou, irritada. – Ele
não a merece. Espero que se case com
essa tal de Nina e que ela o infernize
duas vezes ao dia!
Theodora soltou uma risada diante da
raiva da nora, mas o semblante de
Harden permaneceu sério. Sabia o que o
irmão temia e por que estava fugindo de
Anna. Era uma pena que ele não
conseguisse encarar a ameaça de sua
própria força e controlá-la. Agora,
perdera a única mulher no mundo que
realmente o amara. Lamentava muito por
Evan.
Durante os dias que se seguiram,
Evan se fechou em si mesmo, não
falando nem mesmo com as pessoas que
o rodeavam. Atirou-se no trabalho do
rancho com um vigor que surpreendeu e
exauriu seus próprios homens, porque,
enquanto se autopunia, levava consigo
os funcionários. Sobrecarregou-os tanto
durante o recolhimento dos touros de
final de verão, que fez um deles pedir
demissão. Aquilo pareceu por fim fazê-
lo voltar a si.
– Nunca vi tantos caubóis na igreja no
domingo – comentou Theodora durante o
jantar naquela noite. – Todos parecem
fazer a mesma prece: por favor, meu
Deus, salve-nos de Evan.
– Pare com isso – resmungou ele sem
nem ao menos esboçar um sorriso, o que
não fazia há um bom tempo. O homem
tranquilo que Miranda conhecera em
seus primeiros dias no rancho de certo
nunca havia existido.
– Deus, você está me fazendo lembrar
de mim mesmo – disse Harden,
relanceando-lhe o olhar através da
mesa. – Anda cheio de espinhos
ultimamente.
Evan não respondeu. Terminou de
tomar o café e se ergueu da mesa.
– Vejo-o mais tarde.
– Vai sair com Nina de novo?
– Com quem mais? – respondeu Evan
sem lhe dirigir o olhar e seguindo em
frente.
Miranda se limitou a fazer um gesto
negativo com a cabeça. Ele estava
ficando pior a cada dia.
Evan levou Nina para ver uma peça
em Houston, mas ficou surpreso e
furioso por encontrar Randall,
acompanhado de uma mulher que
definitivamente não era Anna. Aquela
era alta, morena e usava um vestido que
não deixava nada por conta da
imaginação.
Evan cercou Randall em um canto,
durante o intervalo. Os olhos escuros
faiscando de raiva.
– Pensei que estivesse noivo – disse
ele sem rodeios.
– E estou – retrucou Randall. – Essa é
minha prima Nell.
Evan relanceou um olhar à mulher e
soltou uma risada breve.
– Claro que é.
– Ouça – começou Randall. – Anna e
eu temos um acordo que não é de sua
conta.
– Ela sabe que está aqui com sua
prima Nell? – Evan insistiu.
– Não, mas saberá, porque nunca tive
nenhuma intenção de esconder isso –
retrucou Randall, sincero. – Ao menos
Anna estará melhor fora daquela cidade
comigo do que estaria ficando lá com
você – acrescentou em um tom de voz
desafiador. – Nunca lhe despedaçaria o
coração como você fez.
Evan explodiu. Na verdade ensaiou
desferir um soco em Randall, mas um
grupo de senhoras que retornava aos
seus lugares lhe interrompeu o
movimento e ele conseguiu recobrar o
controle, girar nos calcanhares e se
juntar outra vez a Nina.
– O que significou aquilo? –
perguntou Nina, petulante. – Está
tentando viver a vida de Anna por ela
outra vez?
Evan baixou à modelo um olhar
ameaçador, que a fez recuar.
– Anna é problema meu, não seu –
retrucou ele. Cada palavra medida
estava permeada de perigo.
Nina engoliu em seco.
– Não seria mais adequado dizer que
ela é problema de Randall? Afinal, ele é
o noivo dela.
Evan a segurou pelo braço e a guiou
de volta aos seus assentos. Durante todo
o restante da noite não dirigiu mais a
palavra a Nina.
No dia seguinte, Evan passou pelo
escritório de Polly com a desculpa de
resolver negócios. Mas, logo que a porta
se fechou e ele se encontrava sentado
confortavelmente em uma das poltronas,
atirou o chapéu para o lado e se inclinou
para a frente, com expressão ansiosa.
– Randall estava em Houston ontem à
noite com uma morena – disse sem
rodeios. – Ele já está traindo Anna, e os
dois ainda nem se casaram. – Polly ficou
chocada, não apenas pela informação,
mas pela raiva contida na voz de Evan
ao relatar o acontecido. – Que tipo de
casamento será esse, pelo amor de
Deus? – Ele rosnou. – O amor próprio
de Anna não suportará esse tipo de
tratamento!
– Evan, aprecio sua preocupação –
respondeu Polly com voz calma. –
Porém, trata-se da vida de Anna.
– Meu Deus! Ela a está arruinando! –
exclamou Evan, atirando as mãos para o
alto. – Não se importa com isso?
As sobrancelhas de Polly se
ergueram.
– Não foi você o homem que se
esforçou ao máximo para atirá-la nos
braços de Randall durante os últimos
meses?
Aquilo o fez contrair as feições em
uma expressão de desagrado.
– Pensei que seria o melhor para
Anna – retrucou, conciso. – Randall será
um bom médico e provedor. Imaginei
que, assim que os dois ficassem noivos,
ele seria ao menos discreto com seus
casos amorosos.
– E ele é – retrucou Polly. – Houston
fica bem longe de Jacobsville.
– Se eu o vi, outras pessoas daqui
também poderiam tê-lo visto.
Polly se inclinou para trás na cadeira,
estudando a expressão enraivecida de
Evan.
– Como sabe que a mulher não era
uma prima dele?
Evan deixou escapar um suspiro
rouco e apoiou a cabeça nas mãos.
– Meu Deus, não sei! Mas você sabe
como Randall é.
– Sim. E Anna também. Ela terá uma
vida abastada e se manterá ocupada em
Houston. Eles morarão lá quando se
casarem. – Aquilo o estava matando.
Matando! Evan se levantou com um
gemido áspero e recolheu seu Stetson. –
Anna acha que você a odeia –
prosseguiu Polly, percebendo que ele
não lhe sustentava o olhar e que tinha as
costas enrijecidas. Faça um favor a ela e
deixe-a continuar pensando assim.
Evan retorceu o Stetson nas mãos.
– Por que não? – perguntou. – É a
verdade.
– É mesmo? – inquiriu Polly com a
voz suave.
Evan não respondeu. Enterrou o
Stetson na cabeça, cobrindo um dos
olhos e partiu sem nem ao menos olhar
para trás.
Polly o observou se afastar, sentindo
uma pontada de tristeza por todos eles.
Evan amava Anna. Se antes tinha alguma
dúvida sobre os sentimentos dele, agora
sabia. Era um tipo de amor feroz e
impotente, contra o qual ele estava
lutando com todas as forças. Evan
optara por espicaçar Anna para impedi-
la de ver o quanto estava vulnerável. E a
filha o amava, desesperadamente. Mas
nenhum dos dois iria ceder, muito menos
Evan, que, por razões que só ele
conhecia, não queria viver aquele
sentimento. Polly teve vontade de
chorar. Gostaria de poder contar aquilo
à filha, mas de nada adiantaria. Sabia
instintivamente que ele não cederia e, se
Anna voltasse a se aproximar dele, Evan
a destruiria. Talvez já tivesse feito isso.
Polly sabia que ele estivera
provocando a filha. Anna tinha certeza
de que ele a odiava. Era melhor assim.
Ela poderia encontrar coisa pior do que
Randall e, talvez um dia, conseguisse até
mesmo esquecer Evan.
Claro, pensou, amarga, enquanto
retirava o retrato do marido, Duke, que
mantinha na primeira gaveta de sua
mesa. Assim como eu o esqueci. O ex-
marido se parecia muito com Anna. Era
loiro, de olhos azuis. Alto e elegante,
Polly o amara tão apaixonadamente
quanto a filha amava Evan. Mas não
foram capazes de viver juntos, porque
ele tinha o desejo de correr o mundo.
Não gostava de recordar como havia
suplicado para acompanhá-lo, ou o que
Duke lhe dissera, com tanta gentileza.
Que não poderia arrastá-la com ele ao
redor do mundo com um bebê nos
braços. Com um gesto lento, Polly
encostou a foto nos lábios e a beijou
antes de devolvê-la à gaveta. Bastava de
refletir sobre o passado. Tinha trabalho
a fazer.
Polly acionou o botão do interfone e
chamou a secretária para lhe ditar um
documento.
Randall contou a Anna sobre a mulher
que levara à peça de teatro, porque
sabia que Evan faria com que ela
descobrisse. Como esperava, ela nem ao
menos pestanejou.
– Não vejo nada de tão terrível nisso
– disse Anna, dando de ombros. – Por
que se sentiu na obrigação de me contar?
– Porque Evan estava lá e
enlouqueceu quando me viu com outra
mulher – explicou ele, enfiando as mãos
nos bolsos da calça. – Quase me socou.
O coração de Anna deu uma
cambalhota no peito, mas ainda assim
conseguiu controlar o semblante para
não trair o choque de prazer que
experimentou com a reação de Evan.
– Ele é muito antiquado – justificou
ela.
– Como todo o restante dos
Tremayne. – Randall suspirou. – Bem,
nunca conseguirei ser o sr. Fidelidade –
acrescentou com um sorriso tristonho. –
Sinto muito. É algo que não está em
mim.
– Sei disso. – Anna mudou de assunto
abruptamente, oferecendo-lhe café.
Randall a observou prepará-lo e, de
repente, se sentiu aliviado pelo fato de
não a amar. Caso contrário, aquela
indiferença em relação às suas aventuras
amorosas seria dolorosa. Anna iria
viver e morrer apaixonada por Evan
Tremayne. Tinha pena dela. E mais
ainda de Evan. Havia coisas piores para
um homem do que se casar com uma
mulher que o amava apaixonadamente.
Ele estava atirando aquela dádiva pela
janela sem se dar conta disso.

POLLY COMENTOUcom a filha que Evan


estivera em seu escritório e lhe contara
ter visto Randall com outra mulher.
Anna não conseguia entender por que ele
estava insistindo tanto naquele assunto,
mas ficou ainda mais surpresa ao
descobri-lo a aguardando quando ela
chegou para abrir a galeria na manhã
seguinte, devido à ausência do sr.
Taylor.
– Já estava em tempo – disse Evan,
conciso e com um olhar furioso,
enquanto ela pegava a chave na bolsa.
Anna sentiu o coração disparar, mas
forçou uma expressão impassível para
não revelar a excitação perigosa que a
presença dele suscitava.
– O que você quer? – perguntou em
um tom de voz controlado.
Evan a seguiu para dentro da galeria,
formidável em uma calça de brim bege e
uma camisa azul listrada. O Stetson
enterrado na cabeça, cobrindo um dos
olhos de maneira arrogante.
– Você sabe o que quero. Até quando
permitirá que Randall arraste seu
orgulho na lama antes de tomar uma
atitude? Ou não se importa com o fato de
ele ter outras mulheres?
Anna pousou a bolsa e acendeu as
luzes da galeria, muito elegante em seu
terninho cinza feito sob medida, os
cabelos atados em um coque perfeito.
– Randall é um homem adulto. Não
me importo que ele vá ao teatro em
companhia de outra mulher quando eu
não estiver disponível.
– Por que não estava disponível? –
Ele exigiu saber. – Está noiva, certo?
– Eu estava com dor de cabeça –
justificou ela, de má vontade.
– Já está assim? – perguntou Evan
com um sorriso frio e cínico. – Pensei
que isso acontecesse após a noite de
núpcias.
Anna girou para encará-lo como um
animal ferido.
– Fora daqui! – gritou ela. – Deixe-
me em paz.
Evan se aproximou, a lentidão dos
movimentos insinuando uma ameaça
sensual.
– Não é isso que você deseja –
afirmou ele. A voz era grave, lenta e
suave.
Anna recuou até colidir com o balcão,
os olhos arregalados e assustados nos
dele.
Evan espalmou as mãos enormes
sobre o balcão, de cada lado do corpo
de Anna, sitiando-a com a ameaça de
sua altura e força.
Evan exalava uma fragrância
masculina misturada com couro, e ela
teve de fechar os olhos para não tocar o
peito largo, coberto de pelos que
escapavam pelo colarinho aberto.
– Fica perturbada em me ver? –
perguntou ele com voz suave. – Anna
abriu os olhos, e ele se deparou com a
vulnerabilidade estampada neles, a
atração impotente. Ela baixou o olhar ao
peito musculoso, mas se forçou a
encará-lo imediatamente. – Então é isso
– disse ele quase para si mesmo.
Em seguida, retirou uma das mãos do
balcão e começou a abrir alguns botões
da camisa sem desviar o olhar de Anna,
revelando uma parte do peito bronzeado
coberto de pelos crespos.
– Toque-me – pediu, conciso. – Os
lábios se Anna se entreabriram. Não
conseguia acreditar que aquilo estava
acontecendo, ali na galeria, em plena luz
do dia. – Pode me tocar – repetiu ele em
tom de voz calmo, segurando a mão
dela, escorregando-a para dentro da
própria camisa e a pressionando
gentilmente sobre as asperezas dos
pelos do peito.
– Evan! – gemeu ela.
Prendendo a respiração, ele
pressionou ainda mais a mão dela contra
a pele.
– Oh, Deus! – sussurrou Evan ao
sentir o corpo se excitar violentamente.
– Puxe-os, querida – murmurou,
inclinando os lábios na direção dos
dela. – Encha a mão com meus pelos e
puxe-os!
Anna obedeceu inclinando a cabeça
para trás e encontrando o calor da boca
aberta de Evan. Ele gemeu, e as mãos
delicadas se tornaram ousadas,
acariciando-o, puxando-lhe os pelos
ásperos, glorificando-se com aquela
masculinidade, tamanho e força.
De repente, ele a suspendeu contra o
balcão de forma que seus quadris se
encaixassem entre as coxas sedosas
sobre o tecido da saia do terninho. Em
seguida, baixou a cabeça esfregando o
rosto sob o blazer que ela usava, contra
a elevação generosa dos seios fartos
logo abaixo da seda da blusa de Anna.
Os lábios se fechando sobre o mamilo
rígido, sugando-o junto com as camadas
de tecido.
– Ev… an, não! – gritou ela,
estremecendo diante do êxtase
vertiginoso que a boca experiente lhe
suscitava. Mas, mesmo enquanto
protestava, a cabeça de Anna pendia
para trás e as mãos se enterravam,
trêmulas, na massa de cabelos espessos
de Evan, para mantê-lo naquela posição.
– Você é minha – sussurrou ele,
mordendo de leve o mamilo dela. –
Pertence a mim. Não vou entregá-la a
Randall.
De repente, ele ergueu a cabeça e
recuou, com a respiração alterada, os
olhos ainda mais escuros e ardentes ao
encontrar os dela. Ao fixá-los no tecido
úmido da blusa de Anna, um brilho de
puro triunfo masculino os fez faiscar.
– Permite que Randall faça isso com
você? – perguntou em tom debochado.
Anna mal conseguia respirar. A visão
de Evan naquele estado: descabelado,
com a camisa aberta e amarfanhada na
altura do peito, os lábios levemente
intumescidos pela pressão que fizeram
contra seu corpo era vertiginosa.
Finalmente, as palavras de Evan lhe
penetraram a mente, fazendo seu rosto se
tornar rubro. De fato, permitira que ele a
tocasse com total intimidade, cedendo
sem resistir, e agora Evan debochava
dela por isso. Uma onda de vergonha a
engolfou.
– Não. Não permite – respondeu ele à
própria pergunta, os olhos ardendo nos
dela. – Nunca deixou que ninguém
fizesse com você o que permite que eu
faça. E nunca permitirá.
Anna estava trêmula, mas aquela
afirmação ousada feriu seu orgulho. Não
deveria deixar que ele a humilhasse
outra vez.
Evan a ergueu e a retirou do balcão,
beijando-a com despreocupada ternura,
antes de fechar os botões de pressão
perolados da própria camisa.
– Devolva sua aliança a Randall –
disse com um sorriso satisfeito.
Anna puxou o blazer sobre a mancha
umedecida na blusa. Ainda podia sentir
os lábios de Evan naquele ponto. Ele a
devia estar considerando uma mulher
fácil para tratá-la daquela forma, como
uma depravada.
– Não – respondeu ela com voz rouca.
As mãos de Evan estacaram no ato de
abotoar a camisa.
– O quê?
Anna se afastou dele, caminhando na
direção da porta e a abrindo
deliberadamente.
– Se queria provar que não consigo
resistir a você, conseguiu. Agora pode ir
embora para rir disso com Nina. Mas eu
vou me casar com Randall.
– Pelo amor de Deus, por quê? –
explodiu ele em fúria, quase amassando
o Stetson entre as enormes mãos. – Você
não o ama!
Anna ergueu o olhar para encará-lo
sem se intimidar.
– Esse é o motivo – retrucou com voz
rouca. – Porque não o amo. Porque ele
nunca conseguirá me ferir como você
fez. Seu orgulho está satisfeito agora? –
perguntou. – Humilhar-me alimentou seu
espírito?
Evan inspirou profundamente.
– Não foi esse o motivo que me
trouxe aqui – começou.
– Gostaria que você se retirasse, por
favor.
– Você não entende – disse ele, irado,
estacando diante dela. – Vim para lhe
explicar uma coisa.
Anna fechou os olhos contra as
lágrimas que ameaçavam rolar.
– Por favor, não pode parar de me
fazer sofrer? – perguntou com um
sussurro embargado. – Vou me casar,
mudar de Jacobsville por sua causa…
isso não é suficiente?
– Por minha causa? – questionou
Evan, hesitante, franzindo a testa.
Anna ergueu a cabeça, abrindo os
olhos atormentados.
– Não consigo controlar… meus
sentimentos. – Ela soluçava. – Por que
continua me punindo por isso?
– Oh, querida, não – disse ele,
horrorizado. – Não vim aqui para puni-
la.
– Não quero mais vê-lo – sussurrou
ela. – Se a amizade que tem por mim e
minha mãe algum dia significou algo
para você, por favor, saia.
– E permitir que você cometa o maior
erro de sua vida se casando com aquele
Don Juan travestido de médico?
– Ao menos ele não me trata como
uma prostituta! – gritou Anna.
O corpo de Evan enrijeceu.
– Nunca fiz isso.
– O que significa o que acabou de
fazer comigo? – perguntou ela, ajustando
o blazer ainda mais ao corpo,
horrorizada com as próprias ações, com
a resposta ao toque daquele homem.
Evan começou a compreender o
quanto ela era inocente e intocada. Um
suspiro lento lhe escapou dos lábios.
– O que fiz com você… faz parte do
ato de amor – disse com voz gentil. –
Não é nada de que precise se
envergonhar.
Anna se tornou rubra.
– Se você não sair daqui, começarei a
gritar – ameaçou ela com os olhos
úmidos.
Evan atirou as mãos para cima.
– Está bem. Mas isto não terminou –
acrescentou.
– Sim, terminou – gritou ela. – Vá
embora!
Evan transpôs a porta, com a mente
em turbilhão, elucubrando modos de
tirá-la dos braços de Randall. Mas Anna
fechou a porta e caiu em prantos. Sabia
que Evan não gostava dela. E ainda por
cima a tratava… daquela forma! Mas
era a lembrança de que o deixara tratá-
la daquela maneira que mais doía. Como
seria capaz de encarar o próprio reflexo
no espelho outra vez?
Capítulo 6

POLLY PERCEBEU o quanto a filha estava


aborrecida na hora do jantar. Não queria
ser inconveniente, mas estava
preocupada com a forma como Anna
estava perdendo peso e se mostrava
deprimida.
– Posso ajudá-la? – perguntou com
delicadeza.
A cabeça de Anna se ergueu de modo
abrupto, e um rubor intenso se espalhou
por seu rosto.
– Hum, não, mas obrigada.
– Algo está errado – afirmou Polly. –
Randall fez algo que a aborreceu?
Anna respondeu com um movimento
negativo de cabeça.
– Não foi Randall.
– Evan? – O rubor de Anna se
intensificou, e Polly exibiu um sorriso
terno. – Eu deveria saber. Ele a
procurou, certo? E tinha muito a dizer
sobre o fato de Randall ter ido com
outra mulher ao teatro.
– Como soube? – perguntou Anna.
– Ele também me procurou –
respondeu Polly com um sorriso
tristonho. – Estava espumando de ódio.
É impressionante o quanto ele é
possessivo em relação a você. – Ela
estreitou um olhar astuto ao ver o rubor
da filha aumentar. – Ele fez mais do que
apenas conversar, certo?
O lábio inferior de Anna tremeu
enquanto ela erguia a xícara de café aos
lábios e tomava um gole.
– Ele me tratou como uma mulher
qualquer que ele tivesse escolhido para
passar a noite – confessou com voz
rouca.
Polly ergueu as sobrancelhas. Aquilo
não se parecia com Evan.
– Ele a beijou?
– Sim. E depois colocou a boca no
meu… no meu… – Anna se calou,
incapaz de colocar o ato de Evan em
palavras.
Mas a mãe se limitou a sorrir.
– Querida, acho que a superprotegi,
não foi? – Polly tocou a mão gelada da
filha. – Nada é, ou deveria ser, tabu no
sexo entre um homem e uma mulher
desde que seja consensual e que os dois
estejam sentindo prazer – explicou com
uma voz gentil. – Só porque um homem a
toca ou a beija de uma forma não muito
convencional, não significa que a julga
uma mulher vulgar. De onde tirou tais
ideias?
– Bem, você nunca conversou comigo
sobre isso – resmungou Anna.
– Você nunca me perguntou. – Polly
observou o rosto jovem e atormentado
da filha. – Você gostou do que ele fez?
Anna fechou os olhos.
– Oh, sim – sussurrou. – Mas não
deveria ter permitido que ele fizesse
aquelas coisas, e Evan não deveria ter
me tocado daquela forma. Estou noiva!
– Para um homem que não a deseja…
– Polly deixou a frase morrer. – Preferia
vê-la ter um caso ardente com Evan a se
casar com um homem que não ama.
– Mamãe!
– Bem, é verdade – afirmou Polly,
obstinada. – Ao menos, Evan a deseja.
Não o imagino saindo com outra mulher
se estivesse noivo de você. Não
concorda?
– Ele não é como Randall.
– Não. Não é. É um homem passional
e obstinado e mais do que qualquer
mulher conseguiria dar conta. – A mãe
procurou o rosto de Anna. – Evan é um
homem enorme. Há rumores de que ele
feriu uma mulher na cama.
Anna corou e encontrou o olhar da
mãe.
– Deliberadamente? – sussurrou.
– Claro que não. Mas Evan tem uma
força incomum, e os homens nem sempre
conseguem controlar a paixão quando
estão excitados. Evan namorava uma
mulher que tinha metade do tamanho
dele, era muito frágil e inocente. Não sei
se isso explica a atitude dele em relação
a você, mas é uma possibilidade.
– Não sou pequena nem frágil –
lembrou Anna.
– Eu sei. Mas é muito inocente. A
virgindade pode ser um grande
obstáculo para alguns homens,
principalmente para aqueles que têm
medo da própria força. Isso é algo para
se pensar.
– Ele não parecia muito intimidado
esta manhã – recordou Anna.
– Beijar é uma coisa. Sexo é outra
bem diferente.
Anna clareou a garganta.
– Não terei um caso com Evan.
– Nunca a julguei capaz disso –
retrucou Polly em tom de voz calmo. –
Mas se ele estiver realmente interessado
em você, não seria má ideia
reconsiderar seu casamento com
Randall. Evan é muito mais homem que
ele.
– Evan me odeia – afirmou Anna com
voz trêmula. – Ele me olha como se
fosse capaz de me esquartejar.
– Ele a deseja – contrapôs Polly. – O
desejo é violento, principalmente
quando intenso e reprimido por muito
tempo. Tenho reparado no modo como
Evan olha para você. Acredite, aquilo
não é ódio.
– Ele não é do tipo casamenteiro –
argumentou Anna, com expressão
exausta. – Mesmo que ele de fato me
deseje, não é para ter nada sério. Eu não
poderia suportar esse tipo de
relacionamento. Acabaria me odiando.
– E seria melhor ficar com um homem
que quer se casar, mesmo não o
amando?
– Provavelmente não. – Anna teve de
admitir, enquanto pousava a xícara de
café. – Randall e eu vamos de carro até
Houston amanhã para uma festa que os
pais dele estão oferecendo. Vamos
voltar tarde. Ele quer anunciar o
noivado aos pais.
– Está bem. A vida é sua. Eu posso
lhe dar conselhos, mas não tentarei fazer
você mudar de opinião. Tem de viver
com suas próprias decisões e não com
as minhas.
Anna observou Polly em silêncio.
– Você é uma excelente mãe. Algum
dia lhe disse isso?
Polly exibiu um sorriso afetuoso.
– Muitas vezes. Mas nunca me canso
de ouvir.
– Acho que vou me deitar mais cedo
esta noite – disse Anna. – Não tenho
dormido bem ultimamente.
– Faça isso, querida. Durma bem.
– Você também.
Mas Ana não conseguiu pegar no
sono. Ficou deitada, acordada, incapaz
de deixar de sentir a sensação da boca
de Evan em seu seio. Tocou a parte do
corpete da camisola e sentiu o corpo
enrijecer apenas com a lembrança
daqueles lábios quentes contra seu
mamilo. Um tremor a varou, fazendo-a
fechar os olhos. Podia ouvir o sussurro
da voz grave e sedutora, ensinando-a
como tocá-lo, excitá-lo, enquanto lhe
fazia o corpo vibrar apenas com a boca.
Mas fora algo novo, assustador e
constrangedor estar em total intimidade
com Evan. Reagira de forma agressiva.
Ele fora embora atendendo ao seu
pedido e não telefonara ou retornara à
galeria. Talvez o tivesse de fato
afugentado dessa vez, e provavelmente
era melhor assim. Qualquer que fosse a
vida que teria com Randall, não estaria
à mercê das necessidades do próprio
corpo, as quais nem ao menos sabia que
existiam até aquele momento.

EVAN TAMBÉM não estava conseguindo


dormir. Permanecia desperto, deitado
em sua cama, pensando em Anna.
Relembrando a maciez que sentira sob
os próprios lábios. Aquela fora uma
atitude canhestra. Deveria ter
conversado com ela primeiro, antes de
tocá-la com tanta ferocidade e assustá-
la. Até aquele momento, desconhecia o
fato de Anna ser tão inocente a ponto de
se insultar com aquelas simples
preliminares.
Em outras circunstâncias, poderia tê-
la envolvido em seus braços e explicado
a ela o que significava aquilo, incitá-la
gentilmente a ceder. Mas acabara
escolhendo um péssimo momento em um
lugar inadequado.
Da próxima vez, teria de ser mais
cauteloso. Mas tinha de afastá-la de
Randall de alguma forma antes que ela
se casasse com aquele garoto. E depois?
O que faria com Anna? Ela era uma
jovem muito inocente, e seus velhos
medos ainda o assombravam. E se a
machucasse? E se sua força a fizesse
fugir assustada, como fizera Louisa?
Poderia suportar mais aquela decepção?
Evan rolou para o lado e fechou os
olhos. Um passo de cada vez, pensou,
amargurado. Já havia causado estrago
suficiente ao amor próprio e ao coração
de Anna. Agora teria de fazer aquilo da
maneira certa. Se tivesse oportunidade.

OS PAIS de Randall moravam em um


subúrbio de classe média em Houston.
Nada muito luxuoso, mas agradável.
Eram pessoas simpáticas. O pai era
professor e a mãe, nutricionista. Os dois
foram muito delicados com Anna. Mas
ela se sentiu o centro das atenções
quando os amigos deles começaram a
chegar e ficou quase aliviada, quando
mais tarde, Randall ofereceu-se para
comprar mais bebidas.
Anna o acompanhou, apesar dos
protestos do noivo. Ele disse que a loja
que vendia as bebidas ficava em uma
parte perigosa da cidade e não havia
estacionamento próprio. Teria de deixá-
la dentro do carro, na rua.
Anna respondeu, rindo, que se
trancaria dentro do veículo, portanto ele
não tinha nada com que se preocupar.
Randall cedeu com óbvia relutância.
Anna trajava um vestido caro e um
cordão com um pingente de diamantes
que Polly comprara para ela.
Aparentava uma jovem rica. Mas ele
não conseguiu convencê-la a ficar na
casa dos pais, por isso a fez prometer
que ficaria dentro do carro com as
portas trancadas.
Geralmente, Anna teria obedecido.
Porém, um filhote de gato que vagava
pela calçada lhe chamou a atenção. Era
pequeno, tinha uma aparência
lamentável e se dirigia diretamente à
rua. Não havia uma viva alma por perto
e o local onde Randall estacionara era
bem-iluminado. Anna saiu do carro e
seguiu na direção do gatinho.
Surpreendentemente, o animal saiu em
disparada e ela o seguiu, chamando-o. A
voz suave de Anna chamou atenção de
um vagabundo do outro lado da rua. O
homem reparou no modo como ela
estava vestida e vislumbrou não só o
pingente brilhante que adornava o
pescoço, mas também o diamante no
anel de noivado.
O homem a alcançou antes que ela se
desse conta do que a havia atingido.
Anna lutou como uma tigresa, mas
aquilo só o irritou ainda mais e o tornou
mais perigoso do que seria se ela
tivesse lhe entregado as joias.
Anna se sentiu aterrorizada quando o
pulso enorme atingiu seu rosto e gritou,
mas o homem continuava a agredi-la.
Ela não conseguia nem ao menos tentar
escapar. O assaltante era enorme,
encorpado e malévolo. Por fim, Anna
desmaiou, sentindo o sabor de sangue e
pensando que aquele homem a havia
quebrado em pedaços…
Randall voltou ao carro e, quando o
encontrou vazio, entrou em pânico.
Pousando o saco com as bebidas sobre o
capô do carro, correu pela rua, gritando
o nome dela. Uma sombra se moveu, e
ele correu naquela direção, hesitante, em
tempo de ver o vulto de um homem se
afastar, apressado. Havia uma forma
escura no chão, e Randall percebeu o
que devia ter acontecido.
Correu na direção de Anna, gemendo
ao ver seu rosto ferido e sangrando.
Com postura profissional, examinou-a
rapidamente. O vestido dela estava
rasgado, mas, graças a Deus, o homem
não a havia estuprado. Talvez o tivesse
feito se ele não chegasse a tempo. O
vagabundo se limitara a roubar as joias.
A pulsação de Anna estava fraca, mas
presente. Havia sangue nos cabelos
loiros, no ponto onde ela batera com a
cabeça e era quase certo que tivesse
sofrido uma concussão.
– Anna, pode me ouvir? – perguntou
Randall com voz rouca.
Mas não obteve nenhuma resposta.
Ela estava inconsciente.
Randall retirou sua lanterna clínica do
bolso e examinou os olhos de Anna,
agradecido por seu treinamento médico.
Aquela era definitivamente uma
concussão, pensou, e poderia ser séria.
Ergueu-a nos braços e, com muito
esforço, a levou até o carro. Em seguida,
dirigiu em disparada até a emergência
do hospital mais próximo.
HARDEN ERAo único que se encontrava
em casa quando o telefone tocou. Ele
atendeu, esperando que se tratasse de
negócios. Mas era Polly Cochran do
outro lado da linha, parecendo histérica
e incoerente.
– Acalme-se, Polly – disse ele. – O
que aconteceu?
– É Anna! Oh, Deus! Tenho de ir para
Houston. Não consigo… não consigo
dirigir. Evan está aí?
– Não. Ele viajou a Dallas para um
compromisso de trabalho. – Harden não
acrescentou que o irmão mais velho
explodira de raiva quando soube que
teria de ir, porque seus planos para
aquele dia estavam focados em algo
muito mais importante do que os
negócios, embora não tivesse explicado
de que se tratava. Fora para Dallas
furioso e relutante.
– O que aconteceu com Anna?
– Ela foi assaltada. Está internada em
um hospital, gravemente ferida –
explicou Polly com a voz trêmula. –
Tenho de…
– Vou buscar Miranda e iremos
diretamente para aí. Você está em casa?
– Sim. Obrigada!
– Não precisa agradecer. Sei que
faria o mesmo por nós. – Harden
desligou e foi procurar Miranda.
Minutos depois, os dois pegaram Polly
em casa e partiram para Houston.
– Ela ficará bem – afirmou Miranda
em um tom suave, com um sorriso
encorajador. – Anna é uma menina forte.
– Oh, espero que sim – respondeu
Polly com a voz embargada, lutando
contra as lágrimas.
Anna estava na unidade de tratamento
intensivo quando os três chegaram ao
hospital. Encontrava-se ligada a
aparelhos, tinha a respiração dificultosa
e os olhos fechados. O rosto era uma
massa de hematomas e cortes. Um olho
estava tão inchado que seria impossível
abri-lo. Randall saiu daquele setor e
veio conversar com eles no corredor.
– Ela teve ferimentos graves – disse
baixinho. – A concussão é o que mais
nos preocupa. Do resto, são apenas
hematomas e cortes que sararão.
– Ela foi estuprada? – perguntou Polly
entre dentes cerrados.
Randall negou com a cabeça.
– Cheguei a tempo de assustar o
homem. – Ele deixou escapar um suspiro
cansado. – Oh, Deus! Sinto muito. A
culpa foi minha. Nós saímos para
comprar mais bebidas para a festa, e eu
a orientei para ficar no carro, em
segurança. Não consigo entender o que a
fez sair.
– Por que a levou com você? – Polly
choramingou.
– Ela insistiu – respondeu Randall,
impotente.
Se tivesse sido Evan, a filha teria
ficado em casa, pensou Polly, tomada
pela raiva. Ele a protegeria. Porém, não
deu voz àqueles pensamentos. Randall
parecia arrasado o suficiente. Os dois
entraram na unidade de tratamento
intensivo, e Polly se sentou ao lado do
leito da filha, segurando-lhe a mão.
Anna tinha de melhorar. Tinha de
melhorar!

O DIA já havia amanhecido quando


Harden e Miranda retornaram. Polly se
recusara a acompanhá-los, portanto
Harden lhe prometeu voltar mais tarde
para levar o que ela precisasse. Ele
contou a Donald e Theodora o que
estava acontecendo e depois se recolheu
para dormir por algumas horas. Mais
tarde, acordou, tomou algumas
providências necessárias no rancho e foi
à casa de Polly para montar uma
frasqueira com o que a amiga
necessitaria a fim de passar a noite lá.
Em seguida, retornou a Houston.
Harden só voltou ao rancho na hora
do jantar. Estava exausto e faminto.
Evan havia retornado da viagem, mas
ficara fora na maior parte do dia e
acabara de se juntar à família. Ninguém
lhe contara ainda, mas Harden não sabia
disso, por isso deu uma palmada leve no
ombro do irmão.
– Sinto muito por Anna – disse com a
voz calma.
Evan deu de ombros.
– Isso acontece – retrucou, conciso,
antes de dar as costas e se afastar.
Harden ficou chocado com a falta de
sensibilidade do irmão, mas talvez ainda
estivesse ressentido pelo noivado de
Anna e não quisesse demonstrar.
Harden aguardou que Theodora
dissesse a prece antes da refeição.
Enquanto comiam, Evan comentou sobre
a reunião de negócios e sobre o que
aprendera.
Miranda se sentira nauseada, portanto
demorou a descer. Estava adormecida
quando Harden chegou, e ele não
quisera acordá-la. Um sorriso lhe
curvou os lábios quando a esposa
finalmente se juntou a eles e ergueu o
rosto para receber um beijo suave, então
Miranda se acomodou na cadeira ao
lado dele. A gravidez estava
deliciosamente óbvia.
– Como ela está? – perguntou ela com
a voz suave.
– Não houve mudança no quadro –
respondeu Harden, desanimado. –
Prometi a Polly que a traria de volta
amanhã para que ela não retorne
sozinha. Polly tentou contatar Duke, mas
ele está no exterior. Estão esperando
que ele retorne amanhã. Deus queira…
– Têm alguma ideia de quem fez isso?
– perguntou Theodora.
– Ainda não – disse Harden. – Será
difícil, a não ser que ele tente vender as
joias. Isso é um tiro no escuro.
– Talvez não – interrompeu Miranda,
ciente do repentino interesse de Evan. –
Aquele solitário de esmeralda chamaria
atenção, certo?
– Acho que sim – concordou Harden.
– De que diabos vocês estão falando?
– perguntou Evan.
– Anna tem um solitário de
esmeralda.
– Tinha – corrigiu Harden. – Foi
roubado.
– Como?
Harden se calou, alternando o olhar
entre Donald, Jo Anne e Theodora.
– Ninguém contou para ele? –
perguntou com uma voz calma.
– Não houve tempo – retrucou
Theodora no mesmo tom. E com uma
expressão pesarosa na direção de Evan,
completou: – E também não sabia
como…
– Contar-me o quê? – Evan rosnou.
– Anna está internada em um hospital
em Houston – contou Harden. – Foi
assaltada e gravemente ferida. Está em
coma.
Detestava fazer aquilo com o irmão
na frente dos outros. Apenas ele tinha
uma boa ideia dos sentimentos de Evan
por Anna, e aquilo era como lhe
destroçar o orgulho e expô-lo.
Porém, Evan se controlou. Exceto
pela palidez repentina e os movimentos
desajeitados quando se ergueu, parecia
perfeitamente normal.
– Vamos – disse ele a Harden.
Sabendo quando não argumentar, o
irmão se limitou a dar um beijo de
despedida em Miranda.
– Não me espere acordada. Voltarei
quando puder.
– Dirija com cuidado – preveniu ela,
sorrindo.
Harden se despediu dos outros com
um gesto de cabeça e seguiu Evan.
– Dê-me um cigarro – pediu Evan
quando estavam a caminho de Houston,
dentro do carro de Harden.
– Você não fuma.
– Acabei de começar.
Harden entregou o maço de cigarros e
a caixa de fósforos para o irmão.
– Detesto corrompê-lo. Seu próximo
passo será tomar um drinque.
– Já tomei. Conte-me o que aconteceu.
– Prefiro não contar.
– Por quê?
– Porque você já está volátil o
suficiente.
– Foi aquele maldito médico, certo?
Ele a perdeu de vista.
– De certa forma, sim, mas ele a
aconselhou a não sair do carro. Anna
saiu, só Deus sabe por quê, e foi atacada
por causa das joias. Ao que parece, ela
resistiu, mas, a julgar pelos ferimentos,
o homem devia ser grande e muito cruel.
Evan soltou todos os xingamentos que
conhecia durante os próximos cinco
minutos, passando da raiva à ferocidade
e, em seguida, à fúria assassina. Harden
não tentou aplacá-lo. Sabia exatamente
como se sentiria se Miranda estivesse
naquele quarto de hospital.
– Quais são as chances de Anna? –
perguntou ele por fim, quase se
engasgando ao tragar a fumaça do
cigarro.
– Cinquenta por cento. Teremos de
esperar para ver.
– Acha que ela tem vontade de viver?
– perguntou Evan com a voz
assombrada. – Eu a fiz sofrer. Muito.
– Não tinha culpa de querê-la fora de
sua vida – lembrou o irmão.
– Mas eu não a queria fora da minha
vida – confessou Evan, arrasado. –
Tinha medo de machucá-la. Depois de
Louisa.
– Já tivemos essa conversa. Anna não
é Louisa. Devia ter lhe dado uma
chance.
– Sim, eu sei. – Evan deu outra
tragada no cigarro. – Estava planejando
fazer exatamente isso. Pensei que ainda
tinha uma chance de afastá-la de Randall
se tentasse.
– Glória a Deus! Finalmente teve um
pensamento inteligente!
– Fiquei desesperado – revelou Evan
com voz rouca. – Tive uma mostra do
doce sabor de Anna há dois dias. Na
galeria de arte. Pode imaginar uma coisa
dessas? Depois disso, não consegui
mais dormir. Eu a desejo a ponto de
sentir dor no coração.
Harden relanceou o olhar ao
semblante tenso e sério do irmão.
– Conheço essa sensação – disse com
delicadeza. – Espero que tudo saia bem
para você.
– Espero que ela sobreviva –
acrescentou Evan com o olhar perdido.
– Isso é tudo que desejo no momento.
Isso e matar o homem que a colocou
naquele leito de hospital.
Harden nada disse. Entendia
perfeitamente como o irmão se sentia.
Uma hora mais tarde, Evan teve
permissão para entrar na unidade de
tratamento intensivo. Xingou em silêncio
diante da visão daquele delicado rosto
ferido. Nunca deveria tê-la forçado a
sair de sua vida. Fora ele o culpado
pelo que acontecera, por permitir que
Randall ficasse com ela sem lutar. Não
poderia suportar se Anna morresse.
Evan se sentou na beirada da cama e
segurou a mão magra e fria no calor das
suas.
– Anna – sussurrou. – Não percebeu
nenhum movimento, mas podia jurar que
viu os cílios longos se contraírem, algo
muito tênue e quase imperceptível. –
Sou eu. Evan. Pode me escutar, querida?
– O tratamento carinhoso suscitou uma
reação. Os dedos de Anna se contraíram
de leve em sua mão. – Sim, você pode
me ouvir, certo, minha pequena? –
perguntou com uma voz doce. Evan se
ergueu e, em seguida, inclinou-se sobre
ela de forma que não houvesse perigo de
ser ouvido por alguém que estivesse
passando. – Lembra-se do que fizemos
na galeria de arte? – sussurrou. O hálito
quente soprando os cabelos loiros
próximos ao ouvido de Anna. – Lembra-
se como e onde a beijei? – Um som
suave escapou da garganta de Anna e os
cílios se moveram. Evan roçou os lábios
no lóbulo da orelha macia antes de
fechar os dentes com cuidado sobre
aquele ponto sensível. – Amei a
sensação do seu seio sob minha boca –
sussurrou. – Quero fazer aquilo de novo.
– Anna gemeu. Ele ergueu a cabeça com
os olhos faiscando de triunfo ao vê-la
mover a cabeça. Isso mesmo, minha
pequena, volte. Volte para mim.
Segundos depois, os olhos azuis se
abriram e se focaram nele. Anna fez uma
careta, voltou a fechá-los e estremeceu.
Evan acionou o botão para chamar a
enfermeira. Quando ele a viu, nem a
deixou falar.
– Ela está consciente.
Bastaram aquelas palavras para que a
enfermeira o acompanhasse até o
corredor e uma equipe de pessoas
trajadas com jalecos brancos adentrasse
o boxe de Anna.
– Ela voltou à consciência – disse ele
a Polly, sorrindo. – Anna ficará bem.
– Mas como? – perguntou Polly,
abraçando-o e rindo ao mesmo tempo. –
O que disse a ela?
Evan clareou a garganta, parecendo
constrangido.
– Apenas conversei com ela –
respondeu, evasivo. De repente, franziu
a testa, olhando ao redor.
– Onde está Randall? – indagou.
– Na casa dos pais – contou Polly. –
Estava cansado, então foi tirar algumas
horas de sono.
– Com ela aqui? – perguntou Evan,
ultrajado.
Harden o segurou pelo braço e o
puxou para o lado, enquanto o médico
saía da unidade de tratamento intensiva
para conversar com Polly.
– Você está sendo muito óbvio. –
Harden tentou acalmá-lo.
– Não me importo – respondeu Evan,
enraivecido. – Droga, ele não gosta de
Anna?
– Não como você – respondeu o
irmão em tom de voz calmo. – Ou isso
não está óbvio?
Evan passou uma das mãos pelos
cabelos em um gesto brusco.
– Ela fez uma careta de desagrado
quando me viu. Se ela não me odiava,
agora me odeia.
– Ela está desorientada e com dor. –
Harden racionalizou. – Dê-lhe um
tempo.
– Tempo – repetiu Evan com um
suspiro pesado. – Sim.
Harden comprimiu os lábios.
– O que disse a ela?
Evan corou. Em seguida, dirigiu um
olhar frio ao irmão e se aproximou de
Polly para ouvir o que o médico estava
dizendo.
Anna estava fora de perigo, disse o
médico, mas era muito provável que
ficasse com algum trauma emocional que
necessitaria de tratamento. Ser
dominada e surrada por aquele homem
poderia afetá-la de maneira drástica. O
agressor era grande, acrescentou o
médico, e muito forte. Ele dirigiu o
olhar a Evan com expressão tristonha e
lhe disse sem rodeios que a presença
dele talvez fosse assustadora e até
mesmo um pouco intimidadora, até que
Anna tivesse tempo de se recuperar do
trauma que passara.
Evan escutou o que o médico tinha a
dizer, mas não se retirou. Se Randall
não assumia sua responsabilidade para
com Anna, certamente ele o faria. Não
seria capaz de partir e deixou isso claro.
O médico se limitou a sorrir.
Polly ficou agradecida pela
companhia de Evan nos dias que se
seguiram, porque Randall teve de voltar
ao trabalho. Ele procurava ficar distante
de Evan, sentindo-se mais culpado do
que nunca quando se deparava com o
olhar furioso daquele grandalhão. Anna
amava Evan, e Randall detestava se
interpor no caminho da felicidade da
amiga. A principal razão que o
estimulava a casar com ela estava
começando a perturbá-lo cada vez mais
à medida que percebia o quanto Anna se
mostrava infeliz. Eles eram amigos, e
Randall sentia falta da personalidade
efervescente de Anna. Agora, mais do
que nunca, queria que ela fosse feliz e
sabia que não seria capaz de lhe
proporcionar isso. Mas Evan poderia.
Randall estava deixando o caminho livre
para o homem que Anna realmente
amava. Quando ela se recuperasse,
terminaria aquele noivado, da forma
mais suave possível, e esperava que ela
fosse feliz.
Evan não estava ciente dos
pensamentos de seu rival, portanto
passava a maior parte do tempo
amaldiçoando Randall com todas as
forças. E amaldiçoou ainda mais,
quando, de repente, Anna se recusou a
vê-lo.
Não podia aceitar aquilo. Esperou até
que Polly se retirasse para tomar uma
xícara de café na lanchonete do hospital,
entrou silenciosamente no quarto de
Anna e se sentou em uma cadeira ao
lado da cama.
Anna enrijeceu o corpo quando ele se
aproximou, os olhos se arregalando.
Evan sabia que ela devia estar ligando
seu tamanho ao de seu agressor, mas não
se via capaz de deixá-la agora.
– Não tenha medo de mim – disse ele
com voz baixa, procurando os olhos
escurecidos dela. – Não vou machucá-
la. Nunca o faria.
Anna pareceu relaxar um pouco, mas
a postura permaneceu rígida, e os olhos
não o abandonavam.
– Onde está Randall? – perguntou ela
com a voz engrolada devido aos
remédios que lhe administravam.
– Pode esquecer Randall – retrucou
Evan sem rodeios. – Porque a última
coisa no mundo que fará será se casar
com ele.
Capítulo 7

ANNA TINHA certeza de que não


escutara direito.
– O quê? – perguntou, hesitante.
– Eu disse que não se casará com
Randall – respondeu ele em tom casual e
fixou o olhar na bandeja que eles
trouxeram com o almoço. – Você não
está se alimentando. Quer que eles a
entubem outra vez e a alimentem pela
veia?
– Não estou com fome – respondeu
Anna, sonolenta.
Evan se ergueu e retirou a tampa da
bandeja antes de lhe dirigir um olhar
furioso.
– Você perdeu muito peso.
– Já sou grandinha – resmungou ela.
– Hum – concordou Evan, distraído,
deixando o olhar vagar à elevação dos
seios fartos sob o tecido fino da
camisola do hospital. – Apenas nos
lugares certos. Anna corou e prendeu a
respiração.
Evan ergueu uma das sobrancelhas.
– Chocada? Você se lembra de como
eu a tirei do coma, não é, minha
pequena? – perguntou ele com doçura. –
Do que eu a fiz lembrar.
Invadida por uma timidez dolorosa,
Anna engoliu em seco, sentindo-se
encurralada e nervosa com a presença
dele, e baixou o olhar ao lençol branco.
Mas Evan não permitiria aquilo.
Tocando-lhe o queixo ferido com todo o
cuidado, ergueu-lhe a face, procurando-
lhe o olhar em um silêncio tenso. E
então se recordou com riqueza de
detalhes como ela reagira às suas
carícias íntimas e como as interpretara
depois.
– O que fiz com você não foi para
fazê-la se sentir vulgar – disse ele com
voz grave e terna.
– Eu… sei disso agora – retrucou
Anna, hesitante, sem acrescentar que
Polly havia lhe explicado tudo. – Aquilo
me assustou – sussurrou.
– Sim e acho que sei por quê. – Evan
se inclinou. Os olhos fixos na boca
carnuda, roçou os lábios aos dela como
o toque de asas de uma borboleta. – O
desejo pode ser assustador. A forma
como a desejo me deixa em pânico.
Agora mais do que nunca.
Anna estremeceu. Os olhos se
fechando quando sentiu o contato etéreo
dos lábios de Evan. A mão rumou para o
braço musculoso, onde enterrou as
unhas, arranhando-o de leve enquanto
ele fazia maravilhas com seus lábios.
– Oh, não deveria estar fazendo isso –
murmurou Anna, impotente contra os
lábios sensuais. – Estou noiva…
A boca experiente se fechou contra a
dela, varrendo todos os pensamentos
sobre Randall e sobre honra da mente de
Anna. Com um grito abandonado, ela
fechou as mãos trêmulas em torno da
nuca larga, ao passo que ele lhe invadia
o interior da boca com a língua.
Os tremores e os sons que Anna
deixava escapar lhe devolveram a
sanidade e o trouxeram de volta à
realidade. Ela estava fraca e ferida. Não
tinha o direito de atormentá-la daquela
forma.
– Desculpe – sussurrou ele. – Mas
precisava fazer isso. Pare de tremer,
minha pequena, senão pensarão que a
estou torturando.
– E não está? – retrucou ela em um
sussurro trêmulo.
Os olhos de Evan se tornaram ainda
mais escuros, e a mandíbula se contraiu.
– Parece uma tortura, certo? –
perguntou ele com voz rouca. – Desejo
muito mais do que seus lábios. – Os
olhos de Evan se fixaram nos seios
fartos, onde os mamilos enrijecidos
traíam a excitação que ele suscitara em
Anna.
– Estão assim por que querem sentir
minha boca? – sussurrou Evan. – Sem
nenhum tecido para amortecer o calor e
a umidade quando os sugar?
Um gemido gutural escapou da
garganta de Anna.
Evan prendeu a respiração,
empertigando a coluna de modo abrupto.
– Deus! Desculpe – rosnou ele.
Anna girou o rosto e se descobriu
percorrendo com um olhar admirado o
peito musculoso, os ombros largos e
deslizando para o cinto grosso que
segurava o jeans dele. Em seguida,
notou a evidência da intensidade da
excitação de Evan diante daquele
arroubo de paixão.
– Sim, eu a desejo – disse ele,
conciso, seguindo o olhar de Anna. –
Não posso esconder isso, posso? –
Prendendo o lábio inferior entre os
dentes, ela lutou para encontrar
palavras. – Não precisa ficar aflita por
isso – falou ele, erguendo a bandeja e a
pousando sobre o colo de Anna. – Daqui
a pouco, passa – acrescentou com um
humor tristonho.
Evan emprestava um tom casual ao se
referir à evidência de seu desejo e não
parecia envergonhado por ela vê-lo
naquele estado. Anna observou sua
expressão enquanto ele destampava a
bandeja.
– Isso não o deixa envergonhado? –
perguntou ela com um sussurro.
– Não exatamente. – Evan soltou uma
risada breve, baixando o olhar para
encará-la. – Na verdade, é uma mudança
muito bem-vinda.
– Não entendo.
– Não? – Evan pousou a tampa de
lado. – Ultimamente, isso não tem
acontecido quando estou com outras
mulheres – explicou ele, girando para
lhe sustentar o olhar. – Na verdade, não
consigo fazer isso acontecer com mais
ninguém. Apenas com você. – Os olhos
de Anna a denunciavam, com partes
iguais de questionamento e ciúme.
Evan anuiu.
– Isso mesmo. Eu tentei. Viajei a
Denver a negócios após tê-la beijado
naquele dia na galeria. Correspondi ao
assédio de uma das mulheres que se
encontravam no evento e a levei para
meu quarto de hotel. Bebemos,
assistimos à televisão e a despachei,
porque, apesar da beleza e da evidente
experiência que ela possuía, não
conseguia fingir interesse.
– Você… estava…?
– A palavra é impotente – disse ele
com a voz calma. – Irônico, não acha?
Tudo que preciso fazer é olhar para
você e me sinto tão excitado que não
consigo nem ao menos segurar um garfo.
Aquilo chamou a atenção de Anna
para o tremor da mão grande que
mergulhava o garfo no prato de frango
cremoso. Detestava imaginá-lo com
outra mulher, mesmo se sentindo
aquecida ao perceber que ela era a
única que Evan desejava.
– Abra a boca – pediu ele, levando a
garfada aos lábios de Anna.
– Mas você não tem de fazer isso –
protestou ela, embora obedecesse e
deixasse que Evan a alimentasse.
– Sim, tenho – retrucou ele com uma
voz terna, procurando o pobre rosto
ferido de Anna. – Eu a magoei mais do
que jamais pretendi. Mas isso acabou.
De agora em diante, cuidarei de você
com extremo cuidado.
Por pena e pelo desejo. Anna teve
vontade de chorar.
– Mas Randall… – sussurrou ela.
Os olhos escuros de Evan faiscaram
nos dela sob as sobrancelhas grossas.
– Randall pode ir para o inferno. Ele
nunca deveria tê-la levado à loja de
bebidas. E você ainda não contou por
que saiu do carro.
– Vi um filhote de gato – explicou ela
com o olhar suavizando diante da
lembrança. – Estava perdido e se dirigia
à rua.
O coração de Evan deu uma
cambalhota no peito. Naquele momento
a amou com tamanha paixão que seu
corpo mal conseguiu disfarçá-la. Queria
atirar aquela bandeja para o lado e se
deitar ao lado dela na cama.
Anna ergueu a cabeça, confusa diante
do silêncio de Evan, e percebeu o brilho
feroz nos olhos escuros. No mesmo
instante, seu semblante congelou.
– O que foi? – perguntou ele.
– Esse olhar – respondeu ela,
desviando o rosto. – Você parece me
odiar.
Evan lhe tocou o rosto outra vez a e
forçou a encará-lo.
– Esse olhar está refletindo o desejo
feroz que eu mal consigo controlar –
esclareceu ele em um tom tenso. – Sim –
acrescentou diante do olhar surpreso de
Anna. – É tão violento quanto o ódio,
mas posso lhe garantir que é bem
diferente. E não precisa ter medo. Nada
acontecerá, ainda mais enquanto estiver
deitada em um leito de hospital, cheia de
hematomas e ferimentos.
– Não estou com medo de você –
afirmou ela com suavidade.
– Não? – perguntou Evan. – O médico
disse que você poderia apresentar um
trauma emocional pelo que aconteceu.
Ele me disse que o homem que a atacou
era do meu tamanho.
Os olhos azuis o percorreram, suaves.
– Sim – concordou Anna. – Mas era
um estranho frio e violento que queria
roubar minhas joias.
Evan sentiu o coração saltar dentro do
peito.
– Entendo.
Erguendo outra garfada do frango, ele
continuou a alimentá-la com toda a
ternura, como se estivesse tratando de
uma criança.
– Meu olho está doendo – disse ela,
quando, por fim, Evan colocou a
bandeja de lado.
– Não duvido. Está roxo.
Anna conseguiu conjurar um sorriso,
o que fez seu rosto doer.
– Posso dizer para as pessoas que
entrei em uma briga.
– Ouvi dizer que deixou alguns
hematomas no ladrão também –
comentou Evan, odiando o pensamento
de algum homem a agredindo.
– Algumas mordidas também –
resmungou Anna, irada. – Ele podia
simplesmente ter levado as joias. Não
precisava ter… me agredido dessa
forma!
Evan fervilhava com a mesma raiva.
Quando ela ergueu o olhar e se deparou
com a expressão revoltada, sentiu-se
uma pouco mais tranquila.
Os analgésicos faziam com que se
sentisse estranhamente confortável ao
lado de Evan, como se não tivesse de
lutar contra os próprios sentimentos ou
evitar perguntas íntimas.
– Posso lhe fazer uma pergunta muito
pessoal? – perguntou Anna após um
minuto.
Evan estava acendendo um cigarro e
girou para encará-la. Os cabelos escuros
caíam, rebeldes, sobre a testa larga. O
jeans estava apertado contra as pernas
musculosas enquanto ele se recostava à
parede ao lado da janela e as cruzava.
– Faça – convidou ele.
– Você está fumando! – exclamou
Anna.
Os ombros largos se moveram em um
gesto despreocupado.
– Se conseguisse me afastar por
tempo suficiente deste hospital, poderia
estar bebendo, também.
– Mas por quê?
– Porque estava preocupado, claro –
disse ele, olhando-a como se estivesse
diante de uma demente. – A propósito,
Polly conversou com seu pai esta manhã.
Ele retornou aos Estados Unidos, ontem
à noite, e recebeu a mensagem que ela
havia lhe deixado na noite que você foi
trazida para este hospital. Ele está vindo
de Atlanta agora.
– Papai? – Um sorriso prazeroso
curvou os lábios de Anna. – Não o vejo
há anos.
– Eu sei. Polly também está muito
nervosa.
– Gostaria que eles reatassem –
murmurou ela. – Nenhum dos dois se
interessa por mais ninguém, mas não
conseguem viver juntos.
– Um dia, seu pai se cansará de vagar
pelo mundo e voltará para casa –
afirmou Evan. – E acho que Polly estará
esperando. – Ele a encarou através das
espirais de fumaça que se desprendiam
do cigarro. – O que queria perguntar?
– Oh, isso. – Anna estudou o rosto
moreno e sério. – Tem estado tão
diferente ultimamente – murmurou ela. –
Não é mais o mesmo homem.
– E como eu era?
– Leve – recordou ela. – Tranquilo e
brincalhão. Você mudou. Foi por causa
de Nina?
– O que você acha, querida? – Anna
corou ao ouvir o tratamento carinhoso,
lembrando como e quando ele o
utilizara. – Era isso que queria saber?
Anna deixou escapar um suspiro
lento.
– Não – respondeu, observando as
próprias mãos que mantinha unidas
sobre o colo. Uma estava esfolada
devido à queda na calçada durante a
briga com o assaltante. Aquela
experiência fora aterrorizante, e, desde
aquele dia, pesadelos a assombravam.
Porém, quando Evan estava por perto, o
episódio medonho não lhe passava pela
cabeça.
– E então? – estimulou ele,
impaciente.
– Acho que não conseguirei perguntar.
Evan se aproximou da cama.
– Não há nada. Absolutamente nada
que você não possa me perguntar –
afirmou ele, com voz tranquila.
– Mesmo sobre aquela… aquela
jovem que dizem que você machucou? –
perguntou ela, repetindo a fofoca que
Polly um dia lhe contara. – Evan
congelou. O semblante se tornou tenso, e
todos os seus temores voltaram do
inferno para assombrá-lo.
Anna ergueu o olhar e fez uma careta
de arrependimento.
– Sinto muito. Evan, desculpe!
Ao encontrar o olhar preocupado de
Anna, ele inspirou profundamente.
– Isso foi há muito tempo atrás –
respondeu ele em um tom de voz
embotado.
– E você não quer tocar no assunto –
completou Anna. – Eu não deveria ter
perguntado.
Evan franziu a testa.
– O que quer saber sobre isso? Como
a machuquei? – Anna se tornou rubra e
baixou o olhar. – É isso que você pensa?
– perguntou ele, expelindo a respiração
em uma risada. – Que me excito sendo
cruel na cama?
Anna apertou tanto as mãos que as
juntas dos dedos esbranquiçaram.
– Não!
– E se for verdade? – Ele insistiu,
furioso por Anna ser capaz de pensar
uma coisa daquelas a seu respeito.
Recordou a impetuosidade com que a
beijara e concluiu que talvez tivesse lhe
dado motivo para fazer tais suposições.
Evan se aproximou da cama, os olhos
faiscando de indignação. – E se eu
gostar?
Anna rilhou os dentes.
– Sei que você não é assim. – Insistiu,
obstinada.
– Não? – Evan se inclinou para a
frente, olhando-a diretamente nos olhos
e lhe fazendo o coração disparar. – Eu a
mordi – sussurrou. – Lembra-se onde?
Anna sentiu o corpo estremecer diante
da lembrança. Os mamilos traidores
enrijecendo.
– Sim – sussurrou de volta. – Mas
aquilo… não doeu.
– Não era para doer – respondeu ele,
calmo. Os olhos procurando os dela. –
Nunca fez amor com ninguém, certo?
Nem mesmo com Randall.
– Isso sempre me pareceu tão íntimo –
confessou Anna, nervosa. – E tão
repulsivo.
– Mas não comigo?
Anna entreabriu os lábios quando
pousou o olhar na boca esculpida.
Recordou a sensação de beijá-lo com
toda a força de seu ser e no modo como
ele lhe explorava a boca com tanta
paixão e maestria.
– Nada com você jamais será
repulsivo – conseguiu responder com um
fio de voz, muito abalada para mentir,
mesmo para salvar o amor próprio.
A mão grande lhe roçou a lateral do
rosto. O polegar lhe acariciou os lábios
inchados com uma suavidade
surpreendente. Evan inclinou a cabeça
para baixo e esfregou o nariz ao dela.
– Louisa era muito pequena – disse
em um sussurro. – E tão inocente quanto
você. Nós estávamos quase noivos, e eu
a desejava muito. Então, eu a levei para
meu apartamento e a despi. Quando me
despi e virei de frente para ela… o rosto
de Louisa se tornou lívido. – Os olhos
azuis se ergueram para os dele,
surpresos, e Evan anuiu. – Louisa tinha
metade do seu tamanho. Não sabia nada
sobre sexo a não ser o que havia
absorvido de seus livros de romance. Eu
estava tão ávido para possuí-la que não
me dei conta do quanto ela estava
assustada. Pensei que seria capaz de
estimulá-la ao envolvê-la nos braços.
Durante alguns segundos, achei que
estava conseguindo, mas depois perdi o
controle, e Louisa não conseguiu se
soltar. Ela me socava e gritava. Quando
recobrei o controle, ela estava caindo da
cama, o que a fez quebrar as costelas. –
Evan se calou com o rosto pálido. – Ela
disse umas coisas… – Ele virou o rosto,
escondendo a expressão de seus olhos. –
De qualquer forma, essa foi minha
primeira e última experiência com
virgens. Desde então, eu as evito como
se fossem uma praga.
– Se você a amava o suficiente para
se casar com ela, deve ter sido um
choque terrível em seu orgulho – disse
Anna, tranquila, agora entendendo a
relutância de Evan em se envolver com
ela.
– Foi. – Ele deixou escapar um
profundo suspiro e relanceou o olhar ao
rosto terno e levemente corado de Anna.
– Louisa nunca tinha visto um homem nu
antes, muito menos totalmente excitado
como eu estava. – Os olhos escuros se
estreitaram diante do constrangimento de
Anna. – Você também não, certo?
– Não – confessou ela com a voz
rouca.
– Louisa partiu de Jacobsville logo
depois. A última vez que tive notícias
dela, soube que está casada com um
agente de seguros e tem dois filhos. –
Ele deixou escapar uma risada amarga.
– Talvez ele tenha tido o bom senso de
embebedá-la e apagar as luzes primeiro.
Os olhos de Anna se arregalaram.
– Você não apagou as luzes?
Diante da expressão horrorizada,
Evan não conseguiu conter o riso,
mesmo contra a vontade.
– Ah, meu Deus! Você não pensa que
as pessoas só fazem amor à noite, no
escuro?
– Não? – perguntou Anna, tentando
imaginar como deveria ser vergonhoso
se deitar com um homem em plena luz
do dia.
Evan se deixou afundar na cadeira ao
lado da cama.
– Lembre-me de lhe dar uma cópia do
Kama Sutra de Natal – respondeu ele,
tristonho.
Anna sabia que tipo de livro era
aquele, mesmo não possuindo um
exemplar.
– Evan!
– Está bem, pode ficar com suas
inibições. – Ele comprimiu os lábios,
batendo as cinzas do cigarro no cinzeiro
sobre o criado-mudo. – Não que tivesse
muitas naquele dia na galeria –
comentou com a voz aveludada. – Ou em
qualquer outra ocasião em que a toquei.
O coração de Anna batia como um
tambor contra as costelas.
– Você não deveria falar comigo
dessa forma.
– Por causa de seu amado médico? –
perguntou ele, sarcástico.
– Porque… não é decente –
respondeu Anna, constrangida.
Evan se limitou a fazer um gesto
negativo com a cabeça.
– Querida, você é uma raridade –
murmurou. – Tantas repressões.
– Não deboche de mim – protestou
ela. – Não é pecado se resguardar.
As sobrancelhas se Evan se ergueram.
– E eu disse que era?
– Disse que eu era reprimida –
resmungou Anna.
Os lábios sensuais se curvaram em
um sorriso relutante.
– Reprimida, mas passional –
retrucou ele. – Tudo que precisa é de
algumas aulas.
Anna engoliu em seco.
– Randall pode me dar algumas.
– Pouco provável – afirmou Evan. –
Eu já lhe disse, considere seu noivado
acabado. Randall não a terá. Daqui em
diante, todas as aulas que precisar serão
dadas por mim.
– Você não me quer! – disparou ela.
– E você não pode ser tão ingênua
assim – rebateu Evan uma com voz
calma.
A fúria frustrada a fez encará-lo com
um olhar raivoso.
– Não se pode construir um
relacionamento com base em desejo
físico.
– Concordo. – Evan se recostou para
trás na cadeira. Os olhos escuros e
possessivos. – Mas sim com base no
amor.
– Eu amo Randall. – Anna quase se
engasgou com as palavras.
Evan se limitou a sorrir.
– Não. Não ama – respondeu com a
voz suave. – Você me ama.
– Você não me quer – repetiu Anna,
arrasada, não se importando em negar
aquilo. Em seguida, recostou-se aos
travesseiros e fechou os olhos, exausta.
– Estou com sono.
– Descansar é o melhor para você
neste momento. Vou ver se encontro
Polly. – Evan apagou o cigarro e ajustou
os travesseiros sob a cabeça de Anna
antes de puxar o lençol até lhe cobrir os
seios. As juntas dos dedos roçou um dos
mamilos, que enrijeceu de imediato.
Anna corou, mas ele não a provocou
diante da reação física que traía o
desejo que ela acabara de negar. Ao
contrário, pareceu se tornar ainda mais
sério.
– Quando você sair deste hospital –
disse ele. – Começaremos a passar mais
tempo juntos.
– Você não tem de fazer isso –
murmurou ela.
– Eu sei. Mas é o que desejo. – Evan
se inclinou e roçou os lábios à testa
delicada. – Minha pobre menina
machucada – sussurrou. – Sinto muito
por aquele homem tê-la ferido.
Lágrimas ameaçaram banhar os olhos
de Anna diante daquela ternura. Evan a
tratara de muitas formas. Da provocação
à frieza e depois à paixão, mas nunca
fora tão terno antes.
– Nina não vai gostar disso –
comentou ela, insegura. – Tampouco
Randall – acrescentou.
– A opinião de nenhum dos dois
importa – respondeu Evan, minimizando
os dois. Em seguida, roçou os lábios aos
dela. – Durma. Estarei aqui quando
acordar.
– Mas você não me quer por perto –
sussurrou ela, mesmo enquanto flutuava
para o sono. – Você fica passando com
Nina em minha frente para deixar isso
claro.
Evan enrijeceu o semblante,
recriminando a si mesmo.
– Todo homem tem o direito de
cometer um erro estúpido.
– Ela é muito bonita. – Anna suspirou.
– Durma – disse ele, melancólico.
Anna de fato adormeceu, e seu último
pensamento consciente foi que ele
parecia aborrecido com alguma coisa,
mas estava muito sonolenta para
imaginar com quê.
Quando voltou a despertar, um homem
alto, com cabelos loiros grisalhos e
olhos azuis estava sentado na cadeira
antes ocupada por Evan. A expressão
séria e preocupada.
– Papai! – exclamou ela, esticando os
braços.
O homem aceitou o abraço com uma
risada rouca e extremo afeto.
– E aqui estava eu, me consumindo de
preocupação com o tipo de acolhida que
iria ter.
– Não seja tolo. Você é meu pai, e eu
o amo.
– Sinto muito por não ter conseguido
vir antes – desculpou-se, amargurado. –
Estava no exterior. Só recebi a notícia
ontem à noite. Como você está? – O pai
aprumou a coluna, estudando-a. –
Disseram-me que teve uma séria
concussão.
– Sim, mas estou muito melhor.
Apenas um pouco machucada.
– Estou vendo. E o homem que fez
isso?
– Ainda não o encontraram, mas
talvez sejam capazes de rastreá-lo
através das joias que roubou.
– Se era um drogado, não é muito
provável que consigam – retrucou o pai,
pesaroso. – Eles têm uma rede de
própria para vender os produtos
roubados. Minha pobre menina!
– Ficarei bem.
– Não graças ao seu famoso noivo –
rosnou ele. – O que lhe deu na cabeça
para ser induzida a se casar com aquele
fracote? – Duke exigiu saber. – Pensei
que fosse loucamente apaixonada por
Evan Tremayne!
– E ela é – soou a voz grave e
arrastada da soleira da porta, enquanto
Evan entrava no quarto, carregando
copos com café. Anna corou e ele
sorriu. – Ainda gosta do café puro,
Duke?
Duke Cochran soltou uma risada
baixa, girando para pegar a xícara que
Evan lhe oferecia e trocar um aperto de
mão com o amigo.
– Sim, ainda. Como você está?
– Cansado. – Evan relanceou o olhar
a Anna, que, embora ainda estivesse
pálida, se sentia um pouco melhor. –
Todos estamos. Tem sido uma semana
difícil.
– Eu sei. Sinto muito por não ter
estado aqui.
– Algo que não poderia evitar.
– Sim, poderia – retrucou Duke,
enraivecido, passando uma das mãos
pelos cabelos. – Nunca estou por perto
quando necessitam de mim. Polly tem
razão. Minha família sempre ficou em
segundo lugar, certo, querida? –
perguntou ele à filha.
– Isso não é verdade – discordou
Anna com um olhar terno. – Apenas não
consegue ficar parado em um lugar. Eu
entendo. A maioria dos homens ama a
liberdade – acrescentou sem ousar
dirigir o olhar a Evan.
– Às vezes a liberdade pode ter um
preço muito alto – contrapôs Duke,
sucinto.
– Amém – disse Evan entre dentes.
Polly surgiu à porta e estacou,
levando a mão à garganta, enquanto
encarava um par de olhos azuis que
havia muito não via.
– Duke – sussurrou ela.
– Olá, pequenina – disse ele com um
sorriso hesitante. – Surpresa! Sou eu
mesmo.
– Você está…
– Se disser maravilhoso… – ameaçou
Duke em tom de voz seco. – Eu lhe dou
uma palmada. Venha cá, mulher e me dê
um beijo. Estou desejando isso há muito
tempo.
– Oh, você!
Polly corou, mas se precipitou na
direção dele e ergueu o rosto para
receber um beijo que deixou os outros
dois ocupantes do quarto se sentindo
como intrusos. Polly se encontrava
ofegante quando o marido a soltou.
Duke soltou uma risada rouca diante
da expressão da esposa.
– Valeu a pena esperar, não,
pequenina? – perguntou ele. – Feliz em
me ver? Deus, adorei vê-la! Você fica
mais bonita a cada ano.
– Seu galanteador. – Polly vacilou. –
Sempre teve um charme diabólico.
– Ele não está com uma aparência
ótima? – perguntou Anna à mãe.
– Sim. – Polly teve de admitir. Duke
estava bronzeado, esbelto, sem barriga
de chope ou excesso de peso. A mãe
desviou o olhar para Anna. – Mas você,
não. Como está, querida?
– Melhor – respondeu Anna,
obstinada. – Quando irei para casa?
– Seu médico disse que lhe dará alta
amanhã se você estiver bem. – Polly deu
a notícia com expressão radiante. – Terá
de continuar descansando, e eles acham
que seria melhor fazer terapia.
– Conversaremos sobre isso quando
chegarmos em casa – respondeu Anna. –
Não me sinto assim tão traumatizada.
– Seu trauma se evidencia durante o
sono. – Evan interveio com a voz calma.
– Você tem tido pesadelos. Horríveis, a
julgar pelo jeito como se agita.
– Ele tem razão – concordou Polly. –
Talvez o trauma esteja alojado em seu
subconsciente, mas ainda assim está lá.
Anna fez uma careta.
– Se ao menos eu tivesse ficado
dentro do carro como Randall me
aconselhou a fazer. – Ela suspirou. – Por
falar nele, alguém o viu hoje?
– Ele telefonou – disse Polly. – Mas
está fazendo provas e não pode vir vê-
la. Perguntou se você precisava de
alguma coisa.
– Que noivo adorável! – comentou
Evan com um sarcasmo amargo, os
olhos espremidos e furiosos.
– Pare com isso – protestou Anna. –
As provas são muito importantes para
ele.
– Mais do que você, é obvio –
retrucou ele.
Anna o encarou com olhar furioso.
– Minha vida particular não é de sua
conta!
– É sim, principalmente quando toma
decisões estúpidas como concordar em
se casar com um idiota!
– Ora, parem com isso. – Polly os
repreendeu, interpondo-se entre os dois.
– Anna precisa descansar. E você
também, Evan. Desde o dia seguinte à
agressão que ela sofreu, não o vi dormir
mais do que uma hora ou duas.
– Boa sugestão – concordou Duke,
dando uma palmada no ombro de Evan.
– Obrigado pelo café.
Evan se viu relutante em partir, mas
estava realmente exausto. Relanceou o
olhar a Anna com as feições contraídas
em uma expressão contrariada, mas se
deixou ser guiado por Duke até a porta.
Polly sorriu para a filha.
– Ele é totalmente contra Randall –
comentou, reflexiva. – Disse coisas que
não tenho coragem de repetir para você.
– Randall não é da conta dele. – Anna
insistiu, obstinada.
– Eu não acreditaria nisso. Evan é
muito possessivo, não é? – perguntou
com um brilho malicioso no olhar. –
Não a abandonou desde que a trouxeram
para cá, a não ser para dormir por
algumas horas.
Anna sabia disso. E de alguma forma
aquilo a aquecia por dentro. O
comportamento de Randall era
inesperado. Ele era um homem
compassivo e gostava dela, mas estava
se afastando deliberadamente. Anna não
conseguia deixar de se perguntar por
quê.
– Evan sabe o que sinto por ele –
disse ela a Polly. – Acha que isso é
algum tipo de jogo para me colocar
contra Randall? Ou seria o caso de me
seduzir apenas para o outro não ficar
com o que ele acha que é dele? – Um
suspiro tristonho escapou dos lábios de
Anna. – Oh, mãe, Evan está apenas com
pena de mim. Isso é tudo. Quando eu me
recuperar, ele se afastará na mesma
hora. Espere para ver.
– Evan é um homem complexo –
afirmou Polly. – Deixe o futuro para
depois. No momento, concentre-se em se
recuperar.
– Está bem. É bom ter o papai em
casa, não acha?
Polly suspirou com mais sentimento
do que percebeu.
– Ah, sim. É ótimo.
Anna se calou, mas um sorriso lhe
curvou os lábios. Recusava-se a refletir
sobre o estranho comportamento de
Evan e o modo ávido como ele a
beijara. Talvez o poder que lhe conferia
a certeza de seu imenso amor por ele o
agradasse. Mas Evan não dissera nada
quanto aos próprios sentimentos. Até
onde sabia, ele poderia estar planejando
se casar com Nina. Não reconhecia o
homem que ele se tornara. Claro, pensou
ela, entontecida, que Evan nunca a
tratara como uma mulher até muito
recentemente. Os homens agiam de um
jeito com os amigos e com a família,
mas de modo totalmente diferente com a
mulher que desejavam. Um rubor se
espalhou por seu rosto ao recordar o
desejo involuntário que Evan
demonstrava por ela. Seria apenas a
atração física que o motivava? Sabia
que os homens podiam confundir as
próprias emoções quando seus órgãos
sexuais estavam envolvidos. Não ousara
acreditar em nada do que Evan lhe
dissera ou no que estava fazendo
enquanto ela permanecia deitada
naquela cama. Se o que ele sentia fosse
apenas compaixão ou desejo, não
poderia arriscar despedaçar seu coração
outra vez.
Capítulo 8

RANDALL VEIOvisitar Anna uma hora


depois, reservado e cheio de remorsos.
– Espero que esteja melhor – disse
ele, sentando-se ao lado da cama. Em
seguida, procurou o rosto ferido de
Anna com o olhar e fez uma expressão
de dor. – Sinto-me péssimo com o que
aconteceu.
– Eu sei. Mas não foi culpa sua –
afirmou ela, gentil. – Eu saí do carro.
– Por quê?
Anna lhe contou, tristonha, e ele se
limitou a abanar a cabeça em negativa.
– Como foram as provas?
– Bem, espero – respondeu Randall,
encarando-a com um sorriso frouxo. –
Meu coração não estava nas provas. Eu
estava preocupado com você.
– Ficarei bem – garantiu ela.
Randall cruzou as pernas e se
recostou para trás.
– Vejo que Evan está praticamente
morando aqui.
Um leve rubor cobriu as bochechas
do rosto de Anna ao mesmo tempo que
ela desviava o olhar.
– Sim.
Randall sorriu.
– Não precisa ficar envergonhada.
Sempre soube o que você sentia por ele.
Esse nosso noivado não dará certo. Não
pode se casar comigo se está
apaixonada por outro homem.
Os olhos azuis refletiam tristeza
quando encontraram os dele.
– Acho que não.
– Nós éramos amigos – lembrou
Randall. – Gosto da menina que você
era: impulsiva, feliz, efervescente, que
fazia piadas e vivia rindo. Não me
agrada a mulher de meia-idade em que
você se transformou.
– Mas isso não é verdade! – protestou
Anna.
Randall ergueu uma das mãos,
silenciando-a.
– Talvez parte disso se deva a Evan,
mas ficarmos noivos não contribuiu em
nada para melhorar sua apatia. Quero
vê-la feliz de novo. Quero que sejamos
amigos outra vez. – Randall fez uma
careta. – Não sei se estou pronto para
um compromisso tão sério ainda. Evan
tinha razão. Se eu a amasse o suficiente,
não seria capaz de sair com outra
mulher. E, se você me amasse o
suficiente, teria ficado furiosa.
Anna se viu sem argumentos, porque
ele tinha razão. Recostou-se contra os
travesseiros, erguendo os joelhos até ser
capaz de pousar as mãos sobre eles.
– Sim.
– Além disso – prosseguiu Randall
com um sorriso divertido –, Evan
acabou de me dizer que eu não poderia
tê-la.
Os olhos azuis faiscaram.
– Ele não tem o direito!
– Acho que Evan pensa ter –
interrompeu-a Randall, bem-humorado.
– Pode discutir isso com ele.
– Ele sente pena de mim – afirmou
Anna, pesarosa, com o olhar fixo nas
próprias mãos. – Tão logo me recupere,
ele voltará a perder noites de sono
engendrando maneiras de me
desencorajar, como costumava fazer. –
Randall não pensava assim, mas
resolveu não discutir. – Sinto muito por
meu lindo anel de noivado.
– Estava segurado – retrucou Randall,
tranquilo. – Lamento apenas a forma
como você o perdeu. Pobre criança.
– Não sou criança e estou ficando
mais forte a cada dia. E, quando estiver
totalmente recuperada, me matricularei
em uma academia de caratê –
acrescentou em tom de voz raivoso. –
Aprenderei a pulverizar assaltantes.
– É uma ótima ideia – concordou ele.
– A defesa pessoal deveria fazer parte
do repertório de qualquer mulher.
Os dois conversaram por um longo
tempo, e, quando Randall partiu
prometendo manter contato, Anna sentia
como se um grande peso lhe tivesse sido
retirado dos ombros. O noivado fora um
erro, mas não lhe causava
arrependimento. Randall lhe salvara o
orgulho ferido após a cruel rejeição de
Evan.
Evan fora para casa, trocar de roupa,
fervilhando de raiva por ter encontrado
Randall no corredor do hospital.
Livrara-se do noivo de Anna com uma
fria advertência, mas talvez fosse tarde
demais. Tinha certeza do amor de Anna,
mas a tratara de modo cruel. Ela era
bem capaz de se casar com Randall por
desespero. Tinha de impedi-la, mas
como?
Claro que podia se casar com ela. O
semblante de Evan se tornou
inexpressivo diante de tal possibilidade.
O casamento nunca estivera entre as
prioridades de sua vida pessoal, mas
estava louco por Anna e a queria. Os
dois poderiam ter filhos. Ele inspirou
lentamente. O pensamento o atraía.
Anna, filhos, um lar só seu. Tê-la em sua
cama… O coração de Evan começou a
martelar no peito enquanto considerava
aquela possibilidade e descobria que
não era tão terrível quanto um dia
pensara. O medo de machucá-la podia
ser um obstáculo, claro, assim como o
trauma que ela poderia desenvolver por
homens grandes. Mas, com o tempo,
poderia trabalhar essas questões. Se ela
o aceitasse agora.
Evan gemeu em seu íntimo diante da
própria estupidez por ter lhe virado as
costas. Anna não confiava nele devido
ao sofrimento que lhe causara; a
rejeição não apenas feroz, como também
pública. Deveria ter ao menos poupado
o orgulho de Anna. Após a discussão
que haviam tido na noite anterior, Evan
não tinha certeza se seria sequer capaz
de entrar no quarto de Anna sem ter de
se esforçar. Talvez ela se atirasse nos
braços de Randall em busca de
proteção. O pensamento o deixou
arrasado durante todo o trajeto de volta
a Jacobsville.
– Como ela está? – perguntou Harden
quase no mesmo instante em que o irmão
transpôs a porta da residência dos
Tremayne. Devido à ausência de Evan,
Jo Anne e Donald, Harden e Miranda
estavam morando com Theodora para
ajudar nos afazeres do rancho.
– Melhor – contou Evan, conciso,
atirando o chapéu na mesa do corredor.
– O noivo dela apareceu pouco antes de
eu partir.
Harden ergueu uma das sobrancelhas.
– Achei que aprovava o noivado de
Anna.
– E aprovava.
Harden observou o irmão mais velho
em silêncio, percebendo as linhas que
lhe vincavam o rosto e a tensão que ele
exalava.
– Está com péssima aparência.
– Foi um período de incertezas. Anna
está apenas começando a se recuperar.
Como estão as coisas por aqui?
– Estamos comandando tudo muito
bem. Presumo que voltará para o
hospital?
– Sim, terei de voltar – respondeu
Evan, sucinto. Os olhos escuros
transtornados. – Do contrário, Anna é
capaz de deixar aquele fracote
travestido de médico convencê-la a se
casar lá mesmo, no hospital.
Harden teve de suprimir um sorriso.
– Randall não é um rapaz ruim.
– Não quando está a cem milhas de
distância de Anna – concordou Evan.
Os olhos azuis de Harden procuraram
o rosto do irmão.
– Você disse que ela era muito jovem
e que não a queria. Mas acho que não se
deu conta do quanto mudou desde que
Anna parou de persegui-lo. – Ele fez um
movimento negativo com a cabeça. –
Sinceramente, mal o reconheço nos
últimos tempos.
– Anna disse o mesmo – admitiu
Evan, enfiando as mãos enormes nos
bolsos do jeans com um xingamento
grosseiro. – Ela ficará ainda mais frágil
depois do que lhe aconteceu e não sei
como lidar com minhas dúvidas. Porém,
deixá-la à mercê do dr. Randall é algo
que não posso admitir. Não sou perfeito,
mas Anna ficará melhor comigo. Ao
menos, não a levarei para passear de
carro pelos cantos perigosos das
cidades, à noite, caçando assaltantes.
Harden teve de se esforçar para não
soltar uma risada diante do tom
desgostoso do irmão.
– Pensei que tivesse medo da própria
força.
Evan o encarou, impassível.
– E tinha. Tenho. Também não sei
como vou lidar com isso. – Ele deu de
ombros. – Anna me faz tremer como um
garoto. Deus sabe que provavelmente a
farei sair correndo quando as coisas
esquentarem, mas não posso afastá-la de
mim outra vez. Não agora.
– Talvez esteja subestimando os
sentimentos de Anna – lembrou Harden.
– Ela não é covarde, nem frágil. Se o
ama, tudo ficará bem.
– Sim, ela me ama – afirmou Evan em
tom de voz calmo. – Essa é a única
certeza que me restou. Mas Anna pensa
que sinto apenas compaixão por ela, e
Randall lhe é cômodo. – Ele ergueu o
olhar. – Disse àquele rapaz que ele não
poderia tê-la.
Harden sorriu.
– Bom para você. Mas disse isso a
Anna?
– Direi. – Evan entrou na sala de estar
e foi falar com a mãe antes de se inteirar
dos negócios e voltar a Houston.
Estava quase escuro quando retornou
ao quarto de Anna, no hospital. Ela
estava certa de que Evan não retornaria,
mas, para sua surpresa, ele surgiu com
um enorme urso de pelúcia branco
debaixo do braço. Após pousá-lo ao
lado dela, na cama, os olhos escuros a
encararam, acusatórios.
– O que…?! – exclamou Ana, com o
olhar iluminado, enquanto erguia o
enorme e macio urso. O brinquedo era
lindo, e o fato de Evan ter tido a
consideração de lhe comprar um
presente a emocionou.
– O nome dele é Hubert – informou
ele, irritado. – Pode ficar noiva dele.
Anna soltou uma risada, aninhando o
urso na lateral de seu corpo.
– Ele é lindo – disse, tímida, sabendo
que guardaria o urso como um tesouro
para o resto da vida. – Obrigada.
Evan deu de ombros, com o olhar
estreitado.
– O que Randall queria?
Anna ergueu as sobrancelhas.
– Saber como eu estava, claro.
– Você desfez o noivado? – insistiu
ele.
– Não – disparou Anna. E era
verdade. Fora Randall a desfazê-lo, mas
seu orgulho não permitiria revelar
aquilo a Evan.
Caminhando até o leito, ele se
inclinou na direção de Anna. O rosto
moreno era ameaçador, e os olhos
escuros se fixavam em seus lábios.
– Por quê?
Aquela proximidade era vertiginosa.
Evan estava trajado com uma camiseta
de malha amarela e uma calça jeans
justa. Ele era enorme, alto, musculoso e
exalava a fragrância de uma colônia
cara. Não estava usando chapéu, e os
cabelos castanhos se encontravam
penteados com perfeição. O rosto estava
recém-barbado. Aquele homem era tão
sensual que lhe fazia a boca formigar
com o desejo de sentir aqueles lábios,
mas não estava disposta a se iludir uma
segunda vez.
– Meu noivado não é da sua conta –
retrucou Anna, irredutível. Evan estava
muito próximo e ela se viu obrigada a
puxar o urso de pelúcia contra o peito
para se proteger, ciente de que, com
apenas um toque, ele seria capaz de lhe
destruir todas as barreiras.
Provavelmente, Evan sabia disso. Era
muito inexperiente para disfarçar os
efeitos que ele suscitava nela.
– Vamos supor que eu torne seu
noivado um assunto meu? – perguntou
Evan com voz calma. – Vamos supor
que eu lhe diga que estou com ciúmes e
que não quero que outro homem a toque?
O coração de Anna disparou, mas ela
não se deixaria enganar.
– Eu sofri uma agressão, e você está
com pena de mim – retrucou ela. – Não
precisa estender os braços e professar
amor eterno apenas porque fui assaltada.
A raiva fez o rosto de Evan corar.
– Não é pena o que sinto.
– O que mais poderia sentir por mim?
– perguntou ela, amarga.
Evan inspirou profundamente e se
ergueu. As mãos enfiadas nos bolsos.
Fazia tempo que estava vivendo à beira
de um ataque de nervos, concluiu ele,
porque a pergunta áspera de Anna lhe
fez a alma doer e a autoconfiança
despencar em queda livre. Ao que
parecia, Anna decidira não acreditar em
nada que ele dissesse de agora em
diante. Como poderia convencê-la de
que havia mudado radicalmente de
opinião sobre o espaço que ela ocupava
em sua vida.
– Isso mesmo – resmungou Anna. –
Fique parado aí, me fulminando com o
olhar. Ao menos isso é sincero.
– O que deu em você? – questionou
ele.
– Eu vi a luz, meu caro – respondeu
Anna. – Talvez tenha amadurecido um
pouco também. Parei de adorá-lo como
a um herói.
Os punhos de Evan cerraram nos
bolsos, apesar de conseguir manter a
expressão impassível.
– Só isso?
– Tenho dezenove anos – lembrou ela.
– Muito jovem para o amor eterno e o
compromisso, não é assim que pensa?
A tensão fez as feições de Evan se
contraírem.
– Não era apenas a sua idade.
– Então, o que era?
– Louisa – respondeu Evan com voz
calma.
Anna recordou a conversa que tivera
sobre a outra mulher, e a expressão de
seu rosto suavizou. Podia apenas
imaginar as cicatrizes que aquela
experiência deixara nele. Os olhos azuis
baixaram ao urso, enquanto ela
acariciava a pelúcia macia com
suavidade.
– Se ela o amasse de fato, nada a teria
assustado – afirmou com um fio de voz.
– Tem certeza?
Evan utilizara um tom debochado,
cínico. Ela lhe relanceou um olhar de
quase adoração. O cansaço parecia tê-lo
abatido.
– Eu teria tido muito prazer em lhe
provar isso – respondeu ela.
Os olhos escuros faiscaram na
máscara pétrea em que se transformara o
rosto de Evan.
– Acha mesmo? – perguntou ele com
uma risada áspera. – Você nem ao
menos tem noção do que se trata. Pela
forma como reage a mim, duvido que
Randall algum dia a tenha feito sentir
desejo.
Anna seria incapaz de negar. As unhas
se cravaram, distraídas, na pelúcia do
urso.
– Ninguém nunca o tinha feito até
àquele dia na galeria – confessou.
Evan prendeu a respiração de modo
audível, enquanto rilhava os dentes.
– Fico acordado à noite, recordando a
sensação de suas mãos em mim – disse
ele com a voz rouca.
Anna poderia dizer o mesmo. Aquela
teria sido uma lembrança perfeita,
exceto pelo que se seguira. O brilho
abandonou os olhos azuis enquanto ela
se recordava de Nina.
– As minhas ou as de Nina? –
perguntou.
Evan se aproximou da cama, inclinou-
se sobre ela. Uma das mãos longas
descansando ao lado da cabeça de Anna,
sobre o travesseiro fofo.
– Não estou dormindo com Nina –
revelou ele, quase capaz de ler os
pensamentos de Anna.
– Nunca? – questionou ela,
recorrendo ao cinismo.
Os olhos escuros lhe percorreram o
corpo antes de pousaram no urso.
– Não quero conversar sobre minhas
antigas conquistas com você – disse ele
por fim. – O que aconteceu no passado
não tem nenhuma influência no presente
ou no futuro.
– Nina não está no passado – insistiu
ela, lutando para esconder o que aquela
proximidade estava fazendo com sua
pulsação. – Fez questão que todos os
vissem juntos, não apenas eu.
O olhar de Evan prendeu o dela,
parecendo levemente ameaçador.
– Fugi de você durante muito tempo –
começou ele. – Isso se tornou um hábito,
mas há apenas pouco tempo comecei a
vê-la e me sentir tão excitado que mal
consigo agir normalmente. Distanciar-
me de você era a única coisa que
poderia resguardá-la.
As sobrancelhas de Anna formaram
dois arcos.
– Não está se distanciando agora.
– Você está de repouso em um leito
de hospital – retrucou ele. – Não posso
ameaçá-la.
– Oh, entendo – disse ela sem
entonação na voz. – Não entende nada! –
vociferou ele. – Meu Deus! É uma
mulher cega!
– Sei que me deseja – disparou ela. –
Seria difícil não perceber isso. Mas eu
quero mais do que cinco minutos
ardentes em sua cama!
– Cinco minutos? – perguntou ele com
entonação sugestiva. – É o quanto acha
que durará?
Uma de suas amigas da escola havia
lhe confidenciado aquela informação.
Na verdade, Anna não sabia quanto
tempo durava e não queria que ele
percebesse aquilo.
– Esqueça – retrucou ela, desviando o
olhar.
Evan lhe segurou o queixo, fazendo-a
encarar seus olhos escuros e sensuais.
– Em cinco minutos eu poderia me
satisfazer – disse ele com a voz doce. –
Mas seriam necessários mais vinte para
fazê-la sentir prazer.
Anna engoliu em seco. O rubor se
espalhou por seu rosto, apesar de seus
frenéticos esforços em evitá-lo.
– Isso não é justo.
Evan suspirou lentamente enquanto
tentava imaginá-la dominada pela
paixão. Os polegares longos lhe
traçaram com suavidade a lateral do
rosto.
– Não – concordou. – Não é. Gostaria
que soubesse mais sobre os homens –
acrescentou, pesaroso. – Não queria que
fosse experiente, mas um pouco mais de
esclarecimento de sua parte facilitaria
as coisas.
– Pensa que ficarei com medo de
você – retrucou ela. – Acho que todas as
mulheres temem a primeira vez. É como
penetrar o desconhecido, e toda a leitura
do mundo não as prepararão para isso.
Mas você superestimou esse medo em
sua mente até que tomasse proporções
gigantescas.
– É mesmo? – O olhar de Evan se
tornou pétreo. – Não tem noção de como
foi aquela noite para mim – disse com a
voz rouca. – Não sabe o que Louisa
disse!
A angústia de Evan a encheu de
tristeza. Anna segurou a mão longa
pousada ao lado de sua cabeça na cama
e a levou gentilmente ao seio, prendendo
a respiração quando o peso quente a
pressionou. Pego de surpresa, Evan fez
menção de recuar o braço, mas lhe
segurou a mão no lugar com as suas.
– O que está fazendo? – soou a voz
rouca.
– Permitindo que sinta o quanto estou
com medo – sussurrou ela,
pressionando-lhe a palma contra o
coração que batia descompassado.
Evan entreabriu os lábios, na tentativa
de normalizar a respiração. Em seguida,
baixou o olhar à própria mão e começou
a movê-la com muita delicadeza contra
o seio farto sobre o tecido da camisola.
No mesmo instante o mamilo enrijeceu,
e Anna prendeu a respiração diante da
resposta instantânea à carícia excitante.
– Você é mesmo voluptuosa –
sussurrou ele com uma voz sensual.
– Não… gosta?
– Consegue preencher minhas mãos –
comentou Evan com suavidade. Em
seguida, inclinou-se mais para perto,
falando contra os lábios carnudos. –
Gostaria de sentir minha boca também?
Os dedos magros se enterraram nos
ombros de Evan.
– Sim!
A reação do corpo de Evan foi
imediata. A respiração quase
estrangulada. Os lábios experientes
roçaram os dela, deliciando-se com o
modo como eram correspondidos. A
mão forte de repente se contraiu contra o
seio macio, envolvendo-o por completo.
Com a outra mão, Evan lhe inclinou a
nuca para trás e lhe capturou os lábios
com um beijo que era quase uma
declaração de intenção.
Segundos depois, ele lhe abandonou a
boca e se ergueu, estremecendo
visivelmente pelo desejo frustrado, o
semblante sombrio e os olhos faiscando.
Anna o encarava, ávida, sem nenhum
traço de temor, evidentemente satisfeita
com a prova do desejo de Evan.
– Pode perceber como estou
apavorada, não pode? – perguntou ela
com um sussurro trêmulo. As mãos
puxando o tecido da camisola contra os
mamilos enrijecidos para que Evan
pudesse vê-los.
Antes que pudesse dizer qualquer
coisa, ele teve de engolir em seco. O
rosto tenso observava aqueles contornos
generosos.
– Você não entende – retrucou ele. –
Há mais em uma relação íntima do que
isso.
Anna deixou escapar um profundo
suspiro e encarou-o.
– Mas nunca vou saber, porque você
tem medo de fazer amor comigo.
Evan soltou uma risada áspera,
afastando-se dela para retirar um cigarro
do bolso e acendê-lo. Mas não
conseguiu fazê-lo de imediato devido ao
intenso tremor das mãos.
– Este não é o momento, muito menos
o lugar.
– Randall quer se casar comigo –
mentiu ela, porque ainda não lhe contara
que os dois haviam desfeito o noivado.
– Ele não tem medo de ter intimidade
comigo!
Evan girou com um gesto brusco, os
olhos atormentados. Mas ela lhe
sustentou o olhar, impassível.
– Pensei que esse era seu desejo. Ver-
se livre de mim para sempre.
– Também pensei – retrucou ele,
conciso.
– Então, não deveria se importar com
o fato de eu me casar e ter filhos.
Evan contraiu a mandíbula.
– Randall é o maior erro que já
cometeu em sua vida – disse ele. –
Aquele rapaz não a fará feliz. Bastará
você dar as costas para ele sair com
outra mulher.
– Ao menos ele não será capaz de me
fazer sofrer.
Evan inspirou uma longa tragada do
cigarro.
– Não é a ele que ama e sim a mim.
– Não acha que está sendo um pouco
presunçoso? – perguntou ela, irritada.
– Provavelmente, mas é a verdade –
respondeu Evan com a voz calma,
lançando-lhe um olhar ardente. – Não
sei como vou conseguir, mas não posso
permitir que se case com Randall,
sentindo o que sente por mim.
– Você não quer amarras – contrapôs
ela. – Não quer se casar ou ter filhos.
– Como sabe disso?
– Porque se cansou de repetir isso
para mim! – gritou Anna, exasperada,
atirando-se para trás contra os
travesseiros. – Nina é seu estilo. Boa
companhia e sem corações partidos
depois.
– Não, ela não é – afirmou ele, para
surpresa de Anna. – Quero dizer, boa
companhia. Tudo que ela deseja é ir
para a cama comigo.
– Isso deve ser uma novidade.
Evan comprimiu os lábios sem
demonstrar ofensa.
– Na verdade, não. Você também quer
ir para a cama comigo.
Anna lhe lançou um olhar furioso, mas
não negou.
Deixando escapar um suspiro
melancólico, ele exibiu um sorriso.
– Você não é frágil – afirmou, dando
voz aos próprios pensamentos. – E se eu
me esforçar talvez possa fazer algo a
respeito de minhas próprias inibições.
Deus sabe o quanto a desejo –
acrescentou com voz rouca. Os olhos
emprestavam veracidade àquela
afirmação. – Estou com trinta e quatro
anos. Idade suficiente para pensar em
sossegar.
O coração de Anna deu uma
cambalhota no peito. Evan soava sério.
– E quanto a Nina?
– O que tem ela? – perguntou Evan. –
Está tudo acabado. Ponto final. Assim
como tudo entre você e Randall –
acrescentou ele em tom autoritário. –
Não se casará com ele.
– É divertido planejar minha vida
para mim? – perguntou ela, ofegante.
– É isso que estou fazendo? –
perguntou Evan, dando a última tragada
e apagando o cigarro. Em seguida,
estacou ao lado da cama e baixou um
olhar sereno a Anna. – Diga que não me
quer.
Anna tentou. Com muito esforço. Mas
as palavras ficaram presas na garganta,
e ela baixou o olhar.
Evan se inclinou e depositou um beijo
quase etéreo em sua testa.
– Venho buscá-la pela manhã e levá-
la de carro para casa. Polly disse que
concorda. Ela tem um compromisso logo
cedo e me ofereci para a tarefa.
– Evan…
Com uma das mãos, ele lhe penteou
os cabelos desgrenhados para trás.
– O que é?
O olhar de Anna estava repleto de
dúvidas, medos e inseguranças.
– Por favor, não brinque comigo –
sussurrou ela. – Não diga nada que não
seja verdadeiro apenas porque sofri
essa agressão e você ficou com pena.
– Não a culpo por essa falta de
confiança, pequena – retrucou ele. –
Tente não se preocupar muito com isso.
Garanto que não se trata de um jogo.
Não tem nada a ver com pena ou
sentimento de culpa. Está bem?
Anna suspirou.
– Está bem.
– Boa garota. – Evan piscou para ela.
– Vejo-a amanhã.
Evan partiu e, enquanto deixava o
hospital, repassava os últimos dias na
mente com determinação ferrenha. E
começou a perceber tudo que estava
acontecendo. Estava dominado pelo
nervosismo desde que adentrara aquele
hospital com Harden. Apenas agora se
encontrava descansado o suficiente para
considerar as potenciais consequências
do que acontecera com Anna, vislumbrar
o quanto ela estivera próxima da morte.
E, se aquilo tivesse acontecido, a última
lembrança que ela teria dele seria
dolorosa, traumatizante. Evan fechou os
olhos e deixou escapar um gemido
sofrido pelos lábios. Agora tinha de se
certificar de não estragar tudo, mesmo
que aquilo significasse ter de lidar com
o antigo temor em relação ao próprio
tamanho e força.
Na manhã do dia seguinte, os
funcionários do hospital a transportaram
em uma cadeira de rodas até o carro de
Evan. Erguendo-a nos braços, ele a
depositou com delicadeza no banco do
passageiro. Aquela era a primeira vez
que a carregava. Uma sensação estranha
e prazerosa.
– Você é muito forte – disse ela,
ofegante.
Evan contraiu a mandíbula.
– Eu sei.
Quando ele a pousou, Anna o olhou
nos olhos.
– Gosto disso – sussurrou ela em um
tom de voz suave e reconfortante.
A expressão do belo rosto másculo se
alterou. Por um instante, pareceu
desconcertado. Evan atou o cinto de
segurança de Anna e se ocupou em
colocar as flores e Hubert no banco
traseiro do carro, então se despediu das
enfermeiras que os acompanharam.
Estavam a caminho de casa quando
Evan voltou a falar. Ele estava fumando
como uma chaminé, algo que não passou
despercebido a Anna.
– Não costumava fumar – comentou
ela.
– Tenho estado ansioso durante os
últimos dias – retrucou Evan sem lhe
dirigir o olhar. – Quando você estiver
recuperada, largarei o cigarro.
– Sinto muito que tenha se
preocupado comigo.
Evan sorriu.
– Não é apenas a preocupação que fez
isso comigo – revelou ele, sem rodeios.
– Mas também a proximidade com você.
Anna não sabia como responder,
portanto se manteve calada, limitando-se
a sorver a visão deliciosa que lhe
proporcionava a perfeição daquele
perfil.
Evan lhe relanceou o olhar e voltou a
fixá-lo na estrada.
– Nunca imaginou por que me
esforcei tanto para evitá-la? Até mesmo
chegar a ponto de arrastar Nina para
todos os lugares comigo, como um
escudo?
– Pensei que estava deixando claro
que não queria que eu o perseguisse
mais – respondeu ela em tom casual.
– Não é tão simples assim. – Evan
descartou o cigarro. – Tinha de evitar
que você se aproximasse demais.
– E conseguiu, certo? – perguntou ela
com a voz entediada. – Fiquei noiva de
outro homem…
– E eu detestei isso – interrompeu-a
Evan com um olhar furioso. – O
pensamento de Randall a tocando da
forma como eu fiz suscita meus instintos
assassinos. Ele tem muita sorte por eu
não tê-lo matado, principalmente depois
que deixou que você fosse agredida.
– Ele não…
– Se fosse comigo, você não estaria
naquele carro – retrucou ele. – Ou se
estivesse não a perderia de vista. Mas
eu a conheço melhor do que Randall.
Teria previsto o quanto seria fácil você
ficar tentada a sair do carro. A verdade
doeu em Anna, fazendo-a desviar o
olhar para a paisagem que voava pela
janela do carro. – Fale-me sobre isso.
Anna deu de ombros.
– Não há muito que dizer. Ele era
muito grande, forte e assustador. Mesmo
enquanto lutava com o ladrão, sabia que
não seria capaz de impedi-lo, mas
pensei que era a mim que ele queria e
não as joias.
– Talvez quisesse – comentou Evan,
conciso. – Mas Graças a Deus, Randall
chegou a tempo de impedir isso.
– Sim.
– Pensei que a princípio você fosse
ficar com medo de mim – disse Evan de
repente. – O médico que cuidou de você
disse que aparentemente eu tinha o
mesmo tamanho do homem que a atacou.
Anna lhe dirigiu um olhar irônico.
– Como se eu fosse capaz de ter medo
de você – disse, resignada.
Evan agradeceu a Deus por isso.
– Quanto a Randall…
– Nós rompemos nosso noivado
ontem – admitiu ela por fim. – Randall
disse que mudei muito desde que
estamos juntos e que deseja que eu volte
a ser feliz. Ele sabia que não daria
certo.
– Um homem sábio – retrucou Evan,
mais aliviado do que supunha ser
possível. – Achei que ele não fosse
notar a diferença em você. Eu notei –
acrescentou, sombrio. – Mas, ainda
assim, pensava que a estava
resguardando ao agir daquela maneira. E
então você foi ferida, e percebi o quanto
minha vida era vazia sem a sua
presença. Harden também disse que eu
mudei. – Ele lhe relanceou um olhar
esperançoso. – Acho que ele tem razão.
Magoá-la não foi algo prazeroso.
Anna olhou pela janela.
– Eu o persegui de maneira
implacável. Sinto-me culpada por isso.
– Droga! Eu amava aquilo –
confessou ele com voz rouca. – Era
contra meus próprios medos que estava
lutando. Quando começou a se mostrar
indiferente em relação a mim, acho que
deixei de viver.
Um sorriso terno curvou os lábios de
Anna.
– Fico feliz por isso.
– Sim, mas ainda não transpusemos os
obstáculos, pequena – disse ele com o
semblante sério. – Na verdade, ainda
nem nos deparamos com eles.
– Mas nós os superaremos – afirmou
Anna.
Evan esticou a mão e tocou a dela
com delicadeza.
– Temos alguma escolha? –
perguntou, pesaroso.
Evan não soava muito satisfeito, e ela
não pôde evitar a preocupação diante
daquele semblante tenso.
– Louisa o amedrontou, certo? –
perguntou Anna de repente.
Evan hesitou.
– Acho que sim – concordou por fim.
– Uma das coisas que lembro com
clareza foi ela ter dito que uma mulher
teria de ser suicida para me enfrentar na
cama. – A mandíbula de Evan se
contraiu. Nunca contara aquilo a
ninguém. Nem mesmo a Harden.
Anna lhe procurou o semblante tenso.
– Certamente você esteve… com
outra mulher depois disso?
– Com mulheres experientes –
esclareceu ele.
– Mas ainda acha que me deixará
aterrorizada, certo?
Evan cravou o olhar à frente.
– Talvez tivesse medo de me arriscar.
– Ele desviou os olhos da estrada e
encontrou a suavidade dos dela. – Você
é muito jovem. Foi superprotegida. Mais
do que a maioria das mulheres.
– É verdade – concordou ela com um
sorriso gentil. – Mas, quando você me
toca, pareço assustada? – O coração de
Evan disparou enquanto repassava na
mente como fora quando suas mãos lhe
exploraram o corpo. Ele inspirou
profundamente. – Não pareço, não é? –
insistiu ela com a voz suave, observando
a reação de Evan. – Na verdade, acho
que o deixei chocado na galeria, quando
abriu a camisa e me ensinou como
excitá-lo.
– Pelo amor de Deus! – gemeu ele, as
mãos se contraindo contra o volante com
tanta força que as juntas dos dedos se
tornaram brancas, ao lembrar a resposta
impetuosa de Anna.
– Ser inocente não me deixa
totalmente impotente – prosseguiu ela,
recostando-se ao assento. Evan não a
amava, mas a desejava quase à loucura.
Um tremor lhe varou o corpo só de
pensar como seria seduzi-lo, deixar se
envolver naqueles braços fortes e fazer
amor com ele.
Ao mesmo tempo, pensou nas
consequências, e o sorriso que lhe
curvava os lábios esmoreceu. Anna
mordeu o lábio inferior com força. Não
seria capaz de ter apenas um caso com
Evan. Ficaria grávida, tão certo quanto o
dia amanhecer.
Anna não percebeu que dera voz
àquele pensamento até que o carro
oscilasse na estrada e Evan soltasse um
xingamento.
– O que foi? – perguntou, confusa.
– A não ser que queira ver o carro
enterrado em uma vala, por favor, pare
de mencionar bebês – disse ele.
Aquilo poderia significar que ele os
desejava, ou não. Anna temeu fazer tal
pergunta. Em vez disso, começou a tecer
comentários sobre o tempo, satisfeita,
quando ele seguiu o rumo da conversa e
os dois começaram a relaxar.
Anna não poderia saber e ele não lhe
diria nada, mas o pensamento de ter um
filho o fez enrijecer com um tipo de
desejo que nunca antes sentira. Durante
anos não se permitira pensar naquele
assunto, porque apenas Anna o fazia
desejar ser pai. Mas agora imaginava
como ela ficaria com o abdome
abaulado, o rosto radiante, os olhos
sonhadores. Ele a desejava de formas
que Anna nem sequer imaginava. Voltar
para casa, após um dia de trabalho, e
conversar sobre seus sonhos e temores,
abraçá-la na escuridão quando se
sentisse sozinho. Desejava-a de tal
forma que seu corpo de repente
enrijeceu com a força daquela ânsia.
Evan não queria que ela visse, que
soubesse o quanto se tonara vulnerável.
Primeiro, tinha de se certificar de que
superaria seus traumas. Se não fosse
capaz, talvez não tivessem um futuro.
Os comentários sobre o tempo foram
providenciais, porque, ao se concentrar
em outro tópico, seu corpo pôde relaxar.
Evan se focou naquele assunto durante
todo o trajeto de volta a Jacobsville,
recusando-se a pensar em Anna vestida
com roupas de gestante.
Capítulo 9

LORI, A empregada grisalha e baixa, os


aguardava na porta da frente quando o
carro estacou. Evan havia se esquecido
daquela mulher, mas ficou agradecido
por ela estar ali. Não lhe agradava a
ideia de deixar Anna sozinha, e a
proximidade dela lhe testava o
autocontrole ao limite. Apenas a
condição física de Anna o impedia de se
descontrolar e não por pena ou
sentimento de culpa como ela pensava.
Desejava-a desesperadamente e em
todos os sentidos.
Evan a ergueu com cuidado e a
carregou para dentro da casa, seguindo
Lori pelo corredor até o quarto de Anna.
– Deus! É bom tê-la de volta em casa!
– disse a mulher, animada, sorrindo para
a patroa. – Todos estavam preocupados.
E ter o sr. Duke outra vez em casa, com
a sra. Polly cuidando dele…
– Estou feliz de estar de volta… –
concordou Anna, tentando disfarçar a
reação por estar sendo carregada por
Evan. Podia lhe sentir as batidas fortes e
compassadas do coração contra os
seios, que se encontravam comprimidos
ao peito largo. Sabia pelo semblante
tenso de Evan que aquele contato o
estava excitando. Anna se encontrava
trêmula quando entraram em seu quarto e
grata pela presença de Lori.
– Isso me fez lembrar que tenho de ir
ao mercado – disse Lori, de repente.
– Não! – exclamaram os dois em
uníssono.
No mesmo instante, trocaram um
olhar, levemente corados, e soltaram
uma gargalhada.
Lori alternou o olhar entre os dois.
– Meu Deus! O que significou isso? –
perguntou, inocente, franzindo a testa
porque a mente já se encontrava focada
no que precisava comprar. – Pode ficar
com ela apenas por alguns minutos
enquanto vou rapidamente ao
supermercado, sr. Evan?
– Sim, eu ficarei – concordou ele,
resignado, pousando Anna suavemente
sobre a colcha floral da cama
guarnecida de dossel.
– Volto já! – Lori sorriu. – Quer
alguma coisa especial do mercado, srta.
Anna?
– Peixe – respondeu ela. – Biscoito
de queijo e suco de tomate.
– Está bem. Não me demorarei. – A
empregada fechou a porta do quarto,
tornando a situação ainda pior. Ouviram
a porta dos fundos se fechar. Logo
depois, Lori ligou o motor do carro de
Polly e o veículo se afastou.
Evan baixou o olhar para encará-la,
ao passo que ela se erguia nos
cotovelos. Os belos cabelos loiros e
sedosos lhe emolduravam o rosto. Os
olhos azuis, enormes e doces.
Evan deixara o Stetson no carro.
Estava trajando uma blusa estampada
estilo caubói, uma calça jeans e botas. A
camisa se colava aos músculos do peito
largo que se erguiam e baixavam com a
respiração alterada.
Anna deixou o olhar escorregar mais
para baixo, percorrendo o cinto e o
inconfundível volume sob a fivela. Um
leve rubor lhe coloriu o rosto ao
observar o comprimento daquelas
pernas musculosas, os ombros largos e o
rosto bronzeado, onde os olhos escuros
faiscantes a observavam.
O olhar de Evan também lhe
percorreu as pernas e subiu lentamente
até os seios fartos que ostentavam
mamilos enrijecidos sob o tecido fino
do vestido. Ele se deteve lá. A
expressão se tornou visivelmente tensa e
mais pálida pelo esforço de se manter
parado.
– Você está excitada – disse ele com
voz rouca.
– Você também – rebateu Anna,
ofegante.
– Não tenho estado de outro jeito
desde que você se tornou uma mulher –
afirmou ele para surpresa de Anna. – É
impressionante que nunca tenha notado.
– Notei que você me evitava.
Evan anuiu.
Anna mordeu o lábio inferior. As
batidas do coração lhe sacudindo o
corpo.
– O que acontecerá agora? –
sussurrou ela.
– Temos de rezar para que Lori volte
depressa – respondeu ele com um humor
ácido. – Antes que eu faça o que ambos
desejamos.
A respiração de Anna saía
entrecortada. Com um movimento lento,
ela se recostou para trás na cama, com
as mãos ao lado da cabeça e o corpo
levemente trêmulo.
Evan também se sentia estremecer, o
corpo torturado. Mas sabia muito bem o
que faria se ousasse tocá-la. Os dois já
se encontravam muito excitados para
conseguirem se conter. Bastaria beijá-la
e a possuiria.
– Evan. – Anna suspirou, a voz e os
olhos suaves e questionadores. Em
seguida, ela encolheu uma das pernas
longas, permitindo que a saia do vestido
escorregasse deliberadamente pela
coxa, exibindo um comprimento de pele
gracioso e pálido.
A respiração de Evan se tornou
audível.
– Pare com isso.
– Você quer isso – sussurrou ela.
– Sim. Mais do que possa imaginar.
Mas isso não pode acontecer… assim. –
A voz rouca soou áspera, e ele se
afastou deliberadamente.
– Por quê?
Evan se recostou à porta. A testa
pressionada contra a madeira maciça,
cuja frieza lhe abrandava a febre que ela
suscitava.
– Por que a desejo desesperadamente
– confessou ele. – Não pode ser assim…
a primeira vez.
– Eu… não me importaria. – Anna
sussurrou, ansiando para que ele lhe
satisfizesse a excitação.
– Você se importaria – retrucou ele,
recobrando o controle quase perdido.
Evan girou, recostando as costas à porta
enquanto colocava um cigarro entre os
lábios e o acendia. O olhar encontrou o
dela, sério. – Feche os olhos e tente
relaxar até essa sensação passar.
Anna deixou que as pálpebras se
cerrassem, estremecendo com o corpo
assolado pelas sensações, desejos e
tensões.
Evan a observou, extasiado com o
fato de a intensidade do desejo de Anna
se igualar ao dele, apesar da inocência.
Se a reação de Louisa no momento de
completa intimidade não o tivesse
traumatizado tanto, não sabia se teria se
mantido distante de Anna.
Passados dois minutos, ela afundou
sobre o colchão com um suspiro suave.
A tensão sexual parecia abrandar.
– Está se sentindo melhor? –
perguntou ele.
– Sim. – Anna girou a cabeça no
travesseiro para encará-lo. – Costuma
ser assim?
Evan negou com um gesto lento de
cabeça.
– Nunca experimentei nada tão
intenso em toda a minha vida.
Aquele devia ser um ponto a seu
favor, pensou Anna, sorrindo para ele.
Após um minuto, Evan retribuiu o
sorriso.
De repente, a porta se abriu às suas
costas, e ele se afastou para que Polly
entrasse. Ela soltou uma risada diante da
expressão surpresa de Evan.
– Não ouviram o motor do carro? –
perguntou Polly, sorrindo. – Como está
se sentindo, querida?
Aliviada, Anna quase respondeu,
porque, se Evan tivesse atendido à
súplica de seu corpo, agora estariam
encarando uma situação constrangedora.
– Cansada – disse Anna, evasiva,
retribuindo o sorriso da mãe. – Mas bem
melhor. Lori foi ao supermercado, e
Evan disse que me faria companhia.
– Que gentil de sua parte – disse
Polly a Evan.
– Sim, mas, se você vai ficar em casa,
preciso voltar ao trabalho. – E com um
sorriso para Anna: – Soltei as rédeas
dos negócios ultimamente.
– Fico imaginando por quê… –
provocou Polly. – Obrigada por trazê-la
para casa – acrescentou, séria.
– Não há de quê. – Evan relanceou o
olhar a Anna, tentando não demonstrar o
quanto odiava deixá-la, mesmo que por
um dia. – Prometi ajudar Harden a
recolher uma parte do gado esta tarde,
mas voltarei amanhã. Tenho alguns
vídeos que talvez goste de assistir.
Anna conseguiu conjurar um sorriso.
– Isso seria ótimo.
– Sim, seria – concordou Polly. –
Duke quer me levar para passear
amanhã, mas estava relutante em aceitar,
porque detesto a ideia de deixar Anna
sozinha. Vamos pescar – emendou. –
Duke e eu queremos ter uma conversa
séria.
A expressão de Anna se iluminou.
– É verdade?
– Não fique muito esperançosa –
disse Polly. – Mas cruze os dedos.
– Farei isso – prometeu ela.
– E eu bancarei a babá – disse Evan
com um sorriso irônico.
Anna teve de se esforçar para não
corar diante das imagens que ele fazia
espocar em sua mente com aquele tom
sensual, mas lembrou a si mesma que
não devia ler demais nas entrelinhas das
insinuações de Evan. Ele a desejava, e
talvez aquilo o tivesse deixado cego
para a realidade.
– Então, vou comprar aquele jeans
novo que vi hoje – contou Polly,
sorrindo. – Evan, tem certeza de que não
se importa em lhe fazer companhia?
Quando olhos escuros pousaram em
Anna, uma nova onda de desejo lhe fez o
corpo pulsar.
– Não – afirmou ele, com voz rouca. –
Não me importo.
Anna teve vontade de lhe suplicar que
não fosse embora, porque seus
escrúpulos estavam começando a ceder
sob o peso do desejo que sentia. Mas
quando ele voltasse, no dia seguinte,
talvez se deitasse ao seu lado, enquanto
assistiam à televisão, sem mais ninguém
naquela casa, já que a folga de Lori era
no dia seguinte. E então tudo poderia
acontecer. Sabia que nunca seria capaz
de dizer “não” para Evan caso ele a
quisesse de fato. Mas ceder seria um
grande erro, refletiu, tristonha, a
realidade lhe eclipsando o brilho dos
sonhos. O senso de honra de Evan talvez
o forçasse a se casar com ela se lhe
comprometesse a inocência. Anna não
queria um noivo relutante. Amor
unilateral nunca seria suficiente.
Evan sorriu, mas não lhe dirigiu mais
o olhar. Após sua partida, Polly voltou a
sonhar acordada, alheia aos temores
crescentes da filha.
Naquela noite, Anna ficou acordada
por tempo suficiente para jantar com os
pais, extasiando-se com o modo como
os dois falavam um com o outro e com
ela. Sentia-se parte de uma família pela
primeira vez em anos. E a mãe estava
simplesmente radiante.
Mais tarde, Anna pediu licença e foi
se deitar, deixando os pais a sós.
Quando por fim flutuou para o
esquecimento do sono, após horas
sonhando acordada com o dia seguinte
em companhia de Evan, os dois ainda
estavam conversando na sala de estar.
Evan chegou tarde, na manhã do dia
seguinte, com dois filmes recém-
lançados na mão. Tinha uma aparência
devassa, em um jeans justo e uma blusa
listrada estilo caubói. E também parecia
um pouco mal-humorado.
– Fiquei acordado até tarde
trabalhando na contabilidade do rancho
– explicou ele a Polly, forçando um
sorriso. Na verdade, tivera insônia,
consumido pela preocupação com o que
faria se perdesse o controle e assustasse
Anna. Sabia que aqueles medos eram
irracionais, mas convivera com eles por
muito tempo para ser capaz de
abandoná-los de uma hora para outra.
Duke passara a noite em casa, mas
estava vestido e pronto para partir, antes
de Polly acordar e se arrumar para a
pescaria. Lori havia servido o café da
manhã e saído para ir ao cinema com
algumas amigas.
– Como está minha menina? –
perguntou Duke ao se juntar aos três no
quarto de Anna, que se encontrava
deitada. Estava vestida com uma saia
longa vermelha e uma blusa com
nuances vermelhas e douradas. Os
cabelos loiros e longos cascateavam
sobre o colchão, emoldurando-lhe o
rosto e os pés graciosos estavam
descalços.
Anna depositou um beijo no rosto
bronzeado do pai, quando ele se
inclinou.
– Muito bem. Espero que você e
mamãe pesquem muitos peixes.
– Eu me conformarei com uma bela
sereia – murmurou Duke, fazendo Polly
corar.
Anna sorriu para os pais.
– Vão e se divirtam.
Os dois trocaram olhares
significativos, mas não argumentaram.
– Não se preocupem com ela – disse
Evan em um tom sério. – Tomarei conta
de Anna muito bem.
Evan insinuava mais do que as
palavras sugeriam, e os dois sabiam
disso. Polly percebeu Duke relaxar
visivelmente, e, depois de conversarem
um pouco mais, os dois partiram.
Evan os acompanhou até a porta e
retornou ao quarto de Anna, estacando à
soleira da porta para observá-la. Ela
estava magnífica. O coração disparava
apenas com a visão dela.
– Está disposta a assistir isto? –
perguntou, erguendo as duas fitas dos
filmes recém-lançados.
– Sim – respondeu ela. A ideia do
quanto seria doce deitar-se ao lado dele,
na cama, recostada ao corpo forte, fez a
voz de Anna soar rouca e o rosto
incendiar de desejo.
Evan teve de desviar o olhar daquela
expressão. Sentia-se aliviado pelo fato
de a empregada estar por perto. Caso
contrário, não sabia se seria capaz de
manter as mãos longe de Anna.
– Lori está aqui, certo? – perguntou,
tenso, para se certificar enquanto inseria
a primeira fita de vídeo no aparelho e
ligava a televisão.
– Bem… não – respondeu Anna. –
Hoje é o dia de folga dela.
Evan contraiu a mandíbula e
experimentou um tremor.
– Ajuda se eu prometer não o seduzir?
– perguntou ela com uma leveza que
estava longe de sentir. O coração batia
descompassado. O corpo estava tão
tenso quanto o de Evan parecia estar do
outro lado do quarto. Os olhos escuros
rumavam, impotentes, para sua blusa.
– Não seria necessário, não percebe?
– perguntou ele com uma risada áspera.
– Tudo que tem a fazer é me tocar.
O coração de Anna disparou ainda
mais. A verdade daquela afirmação
estava estampada no belo rosto de Evan.
Parecia que todos os seus sonhos se
tornavam realidade ao mesmo tempo.
Anna estendeu os braços, ardendo de
desejo.
Evan gemeu, mas não conseguiu se
controlar. Aceitou o convite, sentindo as
mãos magras e frias se fecharem em sua
nuca, enquanto se inclinava para a
frente, forçando-a a se deitar na cama.
Aquilo era errado, não deveria ceder,
mas o corpo de Anna era receptivo,
macio e deliciosamente curvilíneo. Ele
se sentiu enrijecer, muito antes de lhe
capturar os lábios carnudos
entreabertos.
O corpo cobriu o dela sobre o
colchão. A boca se encaixando à de
Anna com perfeição, calor e maestria,
enquanto os dois afundavam sobre a
colcha.
Era como estar no paraíso. Ávida, ela
lhe mordeu de leve o lábio, amando o
gosto daquele homem, o calor e a força
do corpo musculoso contra o dela. Mas
quando Evan aprofundou o beijo e
fechou os braços com força em torno de
seu torso, ela deixou escapar um
gemido, e aquilo o fez recuar de
imediato.
– Eu a machuquei? – perguntou ele,
com o olhar horrorizado. – Meu Deus,
às vezes, odeio meu próprio tamanho!
– Não me machucou – respondeu
Anna, baixando o olhar aos lábios
comprimidos de Evan. – Eu vou à lua
quando me beija desse jeito – sussurrou
com a voz rouca.
Evan relaxou. Os dedos longos lhe
traçaram o contorno lateral do rosto.
– Tanta preocupação em vão – disse
ele, forçando uma certa leveza na voz.
– Acha mesmo que eu seria capaz de
sentir medo de você? – perguntou ela. –
Ainda não percebeu que poderia fazer
tudo que quisesse comigo que eu
permitiria?
Os olhos escuros faiscaram. Evan se
inclinou com avidez na direção dos
lábios carnudos, enquanto escorregava
um dos braços sob as costas de Anna e a
erguia contra o peito. Com movimentos
sensuais, os lábios acariciavam os dela
e recuavam, roçavam e se retraíam,
excitando-a com uma perícia
enlouquecedora, que a fez se colar ao
corpo forte e lhe seguir os movimentos
ansiando para que ele pusesse um fim
àquela tortura.
– O que você deseja? – sussurrou ele.
– Beije-me – gemeu Anna.
Evan lhe prendeu o lábio inferior
entre os dentes de leve.
– Não é isso que estou fazendo?
– Faça da maneira certa. Abra sua
boca e me beije de verdade!
Evan obedeceu e ao mesmo tempo
mudou o corpo de posição, de modo que
os quadris ficassem pressionados aos
dela. A ereção quente e rígida contra o
abdome macio.
Anna ofegou diante daquela
intimidade.
Evan lhe abandonou os lábios e lhe
encontrou o olhar chocado. Durante um
longo instante, não se moveu, mas o que
lia nos olhos azuis não era medo. Ele
mexeu os quadris com suavidade, e as
feições de Anna se contraíram.
E então Evan percebeu que se tratava
de vergonha, não desagrado. Um sorriso
gentil lhe curvou os lábios ao mesmo
tempo que ele virava o corpo para a
lateral.
Anna devolveu o sorriso, levemente
corada.
Uma das pernas musculosas abriu
caminho entre as dela, fazendo-a
enrijecer o corpo.
Evan fez que não com a cabeça.
– Não. Isso faz parte do ato sexual.
Quero que você saiba tudo que há para
saber sobre o meu corpo. Tem de saber
antes de irmos adiante. – Anna teve de
lutar contra a própria timidez, mas após
um minuto, relaxou e permitiu que ele
pressionasse o corpo ao dela. – Não
tenha medo – disse ele com uma voz
grave e sensual. – Estou apenas
permitindo que conheça meu corpo. É
só.
A tensão nos músculos de Anna
abrandou, à medida que o choque inicial
provocado por aquela intimidade
feneceu e ela começou a achar aquele
contato agradável.
Evan sabia que ela não tinha nenhuma
experiência para julgar sua performance,
e aquilo também o fez relaxar um pouco.
Havia muita coisa que Anna
desconhecia, mas ao menos, graças a
Deus, não se mostrava apreensiva. Ele
nunca fora capaz de fazer Louisa deitar
com ele daquele jeito. Na verdade, a ex-
namorada achava a intimidade entre os
dois quase repugnante. Ainda se
lembrava da forma como Louisa se
encolhia quando ele lhe tocava os seios
e nunca gostara quando os explorava
com a boca.
Os dedos longos escorregaram,
vagarosos, pelos seios fartos. O som do
atrito da pele contra o tecido audível no
silêncio tenso, enquanto ele estimulava
com movimentos leves a área sensível
em torno de um dos mamilos até
enrijecê-lo. Durante todo o tempo, Evan
lhe prendia o olhar, ouvindo a mudança
da respiração de Anna, que permitia a
carícia ousada com extrema entrega.
Ofegando, ela arqueou o tronco na
direção da mão que a estimulava,
tentando fazer com que Evan colocasse
um fim ao tormento que era ser
acariciada em todas as partes do seio,
exceto no mamilo, que suplicava por
atenção.
– Calma – sussurrou ele. – Farei o
que você quer, mas me deixe excitá-la
ao máximo primeiro.
Anna corou, mas não protestou.
Recostou-se outra vez sobre os
travesseiros, com o rosto avermelhado,
esperando, trêmula, enquanto Evan
levava aquele tormento ao nível de
angústia. Um gemido lhe escapou da
garganta.
A mão longa enrijeceu sob seu corpo,
e ele se inclinou mais para perto. Os
olhos azuis preenchendo o mundo.
– Isso é ruim? – sussurrou.
– Sim! – Anna fincou as unhas nos
ombros largos, enquanto permitia que
ele testemunhasse a reação impetuosa de
seu corpo àquela carícia. – Por favor!
Oh, por favor!
Evan recostou a ponta do nariz ao
dela, a respiração contra a bochecha do
rosto e os lábios de Anna. As juntas dos
dedos roçavam como asas de borboleta
o mamilo enrijecido.
Em seguida, prendeu-o entre as pontas
dos dedos, com muita suavidade. Era
como se uma enxurrada de lava
incandescente tivesse se espalhado pelo
baixo-ventre de Anna, e um intenso
tremor lhe sacudiu o corpo. Ela mal
conseguia divisá-lo através da névoa do
desejo abrasador. Sua expressão era de
total entrega enquanto arqueava outra
vez o tronco e ofegava com um prazer
jamais imaginado.
Evan a observava com ternura
indulgente.
– Tão ávida – sussurrou ele. – Eu
poderia satisfazê-la apenas com minha
boca em seus seios, não, pequena?
A intimidade contida naquela
afirmação a fez corar, mas Anna não
protestou, quando Evan começou a lhe
desabotoar a blusa com uma maestria
ímpar.
– Não se mexa – disse ele quando
Anna lhe tocou o punho em um fraco
protesto. – Deixe-me vê-la.
– Eu nunca… – começou ela com a
voz trêmula e os olhos arregalados.
– Meu Deus, acha que eu não sei? –
perguntou Evan com uma voz gutural.
Os olhos escuros faiscaram enquanto
ele afastava o tecido da blusa e lhe
desatava o fecho frontal do sutiã.
Quando conseguiu tirar a lingerie
rendada do caminho, prendeu a
respiração diante da beleza da pele
cremosa dos seios fartos e os mamilos
cor de malva.
– São… muito grandes – sussurrou
ela, quase como se desculpasse.
– Você é tão complexada em relação
ao seu tamanho quanto eu – disse ele em
um tom de voz calmo. Em seguida,
tocou-a, tão leve como o sopro de uma
brisa suave, observando-lhe o semblante
enquanto ela arqueava o corpo na
direção de suas mãos. – Você me
satisfaz – disse ele. A voz grave e
deliciosamente terna. – Excita-me como
nenhuma outra mulher conseguiu ou
conseguirá. Você é deliciosa. – Evan se
inclinou com extrema lentidão em
direção ao seio farto. – Tenho vontade
de devorá-la…
A boca úmida e quente se fechou
sobre um dos mamilos rígidos e
começou a sugá-lo e mordê-lo com terna
dedicação.
Anna soltou um grito em um prazer
tão avassalador que lhe fez os olhos
arderem pelas lágrimas. Ela fechou as
mãos trêmulas sobre os cabelos
espessos de Evan e o puxou mais para
perto.
Uma das mãos longas escorregou por
sob a saia que ela usava. Envolta em
uma névoa de êxtase, Anna registrou o
progresso daquela carícia pela extensão
de suas coxas e abdome.
– Qualquer coisa – ofegou ela ao
ouvido de Evan. – Qualquer coisa que
você deseje… Evan!
Cedendo ao desejo que o consumia
mesmo que por alguns instantes, ele
sentiu as mãos se contrariem sobre a
pele macia e quente.
A boca que lhe sugava o mamilo se
tornou ousada, assim como as mãos que
a exploravam. Um grito escapou da
garganta de Anna. A força daquele
homem a eletrizava, o ardor de Evan a
enfraquecia. Enlouquecida de prazer, ela
cravou os dentes com força no ombro
largo.
Evan prendeu a respiração e recuou.
O semblante, ostentando uma paixão que
ela nunca vira antes.
– Des… desculpe – ela gaguejou,
envergonhada diante da expressão dos
olhos escuros. – Eu o mordi.
– Sim. – Havia algo novo no modo
como ele a encarava, na rigidez
determinada daquele semblante. Os
olhos de Evan baixaram ao corpo de
curvas perfeitas, percebendo a pele
vermelha onde sua boca ávida a tocara.
Um tremor intenso o varou.
– Pensei que ficaria com medo
quando me visse assim – disse ele.
– Por quê? – sussurrou Anna.
– Eu poderia tê-la machucado. – Ele
rosnou. As feições desgostosas diante
das marcas que lhe deixara no seio. Em
seguida, tocou aquele ponto com
suavidade. – Não tinha intenção de
perder a cabeça dessa forma!
O fato de ser capaz de fazê-lo se
descontrolar a encheu de uma satisfação
primitiva.
– Não está doendo – afirmou ela com
um sorriso terno. – Na verdade, gostei
do que fez.
– É perigoso me dizer isso – retrucou
Evan com a voz rouca.
– Não sou um cristal delicado. Não
quebrarei se for um pouco impetuoso
comigo.
Anna se aproximou, os olhos
buscando os dele, enquanto escorregava
uma das pernas contra a dele e
espalmava uma das mãos sobre a camisa
que ele ainda vestia.
– O que você quer? – perguntou Evan
com voz suave, extasiado e surpreso
com o desejo que Anna sentia por ele.
– Posso tocá-lo aqui? – perguntou ela
com um fio de voz.
Evan hesitou apenas por um minuto
antes de ceder ao desejo de sentir
aquelas mãos em seu corpo. Desabotoou
depressa a camisa e a puxou para fora
da calça. Sem desviar o olhar de Anna,
atirou a peça de roupa ao chão.
Com a testa recostada à largura
musculosa daquele peito, ela fechou as
mãos sobre os pelos que o cobriam e os
puxou com sensualidade.
– Assim? – sussurrou ela, tendo o
único objetivo de lhe dar prazer. – Não
é isso que gosta?
– Sim – disse ele com a voz
estrangulada. As mãos moviam a testa
de Anna contra o peito. – Beije-me do
jeito que a beijei. Aqui – enfatizou,
guiando-lhe os lábios em direção ao
próprio mamilo.
Anna prendeu a respiração. Nunca lhe
ocorrera que homens tinham
sensibilidade nos mamilos e poderiam
se excitar quando tocados naquele
ponto. As possibilidades a entonteciam.
Escorregou os lábios contra os pelos
crespos até encontrar a rigidez do
mamilo plano. Primeiro, roçou o nariz
naquele ponto e, em seguida, o estimulou
com os lábios e os dentes. O corpo forte
enrijeceu e estremeceu quando ela lhe
prendeu o mamilo entre os dentes. Anna
amava a forma como ele respondia às
suas carícias. Quando os lábios
carnudos começaram a explorar o peito
largo, ele se recostou para trás, dando-
lhe total acesso ao seu corpo e fechou os
olhos. O peito se contraía onde era
tocado. Os lábios carnudos sugaram com
suavidade o outro mamilo, fazendo-o
gemer. Impressionante, pensou Anna, era
uma delícia ser capaz de deixá-lo,
mesmo que momentaneamente, à mercê
de seu desejo por ela. Ousada, rumou os
lábios para baixo, aproximou-os do
cinto largo e o mordeu de leve logo
abaixo do umbigo.
Com um tremor violento, Evan
arqueou o corpo, e um grito escapou de
seus lábios. Ela ergueu a cabeça,
chocada e um tanto assustada com a
reação intensa a uma carícia tão suave.
Anna não o reconheceu quando o
encarou. Os olhos escuros estavam
atormentados; o rosto moreno, ainda
mais escurecido pela paixão; e os
lábios, comprimidos em uma linha fina.
– Desculpe – apressou-se em dizer. –
Desculpe. Eu o machuquei?
– Pelo… amor… de Deus!
Evan a rolou para deitá-la ao seu
lado, pausando apenas para livrá-la da
blusa e do sutiã e os descartando com
um gesto descuidado. Em seguida,
arqueou o corpo sobre ela, trêmulo de
desejo, baixando o olhar para admirá-la.
Os seios de Ana eram fartos, firmes e
os mamilos tinham cor de malva
escurecida e enrijeceram diante de seu
escrutínio.
Em um gesto instintivo, Anna fez
menção de cobri-los com um dos
braços, mas ele a impediu e a puxou
para a posição sentada.
– Não – disse com voz rouca. – Você
me pertence. Deixe-me admirá-la.
Após alguns instantes, Anna cedeu e
se sentou, trêmula, corando intensamente
enquanto ele lhe observava os seios.
Aquele tipo de intimidade era uma
novidade um tanto assustadora.
– Só para os seus olhos – sussurrou
ela.
– Só para os meus olhos – concordou
Evan com a voz grave, lenta e rouca. O
escuro daquelas íris se intensificando. –
Deus! Você é linda. Absolutamente
linda!
O elogio entusiasmado a fez
transbordar de satisfação, e as costas de
Anna arquearem inconscientemente.
– Evan – sussurrou ela, estremecendo.
– Sou capaz de morrer se você não me
tocar!
Evan tinha a mesma sensação. Esticou
as mãos para senti-la com evidente
avidez.
– Basta de paciência – conseguiu
dizer. A mandíbula contraída enquanto a
segurava com força pelos antebraços e
deixava o olhar se alimentar da beleza
das curvas daquele corpo. – É aí que
podemos perder a cabeça acabar nos
complicando – disse ele entre os dentes
cerrados, então puxou-a para perto e
pressionou os seios fartos contra os
cabelos crespos que lhe cobriam o
torso. – Não sei nem ao menos se
conseguirei me conter – sussurrou contra
os lábios carnudos antes de capturá-los
em um beijo ardente.
O corpo de Anna enrijeceu e
estremeceu ao contato dos seios
desnudos com a parede sólida do peito
musculoso. Nunca antes experimentara
aquele tipo de intimidade. Evan lhe
envolveu a caixa torácica com um dos
braços e começou a roçar os seios
firmes contra a aspereza dos pelos de
seu peito, de modo dolorosamente lento.
Os movimentos sensuais produziam a
sensação de um fósforo aceso em
madeira seca.
Até então, Anna não tinha noção de
que seu corpo fosse capaz de estremecer
de êxtase apenas pelo contato com o
peito cabeludo de um homem. Mas,
ainda assim, cravou as unhas nos
ombros largos e se moveu com ele, o
corpo formigando à medida que o
contato erótico a incendiava.
– Com mais… força – sussurrou ela, a
voz rouca, os olhos fechados enquanto
roçava o peito ao dele. – Esfregue-me
em você… com muita força.
Evan mal conseguia pensar. O corpo
reagia como previra ao ardor que Anna
despertava. Baixou o olhar ao ponto
onde os mamilos intumescidos roçavam
os pelos ásperos de seu peito, sentindo-
os como um tição contra a pele.
Inclinando-se sobre ela, aumentou a
força daquele contato erótico,
escorregando os seios de Anna de um
lado para outro, ouvindo os gemidos
trêmulos que ela deixava escapar e
sentindo a força dolorosa das unhas
cravadas em seus ombros. Anna
soluçou, pressionando os lábios ao seu
ombro nu. Em seguida, mordeu-o
naquele ponto e fez movimentos
circulares com a língua contra a pele em
chamas de Evan, com uma paixão
abandonada.
Uma das mãos longas vagou para a
cintura de Anna, pressionando-a ao
color rígido do corpo forte, enquanto os
lábios ávidos de Evan se apossavam dos
dela.
Naquele momento, Anna seria capaz
de deixá-lo fazer qualquer coisa que
quisesse com ela. Quando Evan ergueu a
cabeça, ela arqueou o corpo para trás.
Os seios firmes se projetando na direção
de seus lábios, os olhos azuis fechados,
Anna se oferecendo por completo.
Aquilo o fez estremecer. Sabia o que
ela queria dizer, sem palavras. Anna
daria o que ele quisesse, faria qualquer
coisa que pedisse. Poderia deitá-la
naquela cama, despi-la e possuí-la sem
nenhuma resistência da parte dela.
O impacto daquela submissão o
deteve quando nada mais conseguiria.
Evan ergueu a cabeça lentamente. Os
olhos famintos focados nos seios fartos.
Tinha uma leve noção da pressão das
unhas de Anna em seus ombros, mas foi
a expressão afogueada e repleta de
desejo que lhe chamou a atenção. Nunca
a vira tão bela.
Evan recostou o rosto delicado contra
o peito no ponto onde as batidas
desgovernadas do próprio coração o
sacudiam, lutando por um pouco de
racionalidade. Anna roçava os seios em
seus pelos, impotente, os lábios
depositando beijos suaves em seu
pescoço.
– Não faça isso – sussurrou ele,
imobilizando-a. – Sentir seu corpo está
me enlouquecendo.
– Eu sei. – Anna lhe mordeu de leve o
queixo. – Poderíamos fazer amor –
sussurrou ela com voz irregular. – Aqui
e agora.
As mãos longas lhe seguravam os
ombros com firmeza.
– Não.
– Você me deseja.
– Loucamente – concordou Evan. –
Mas não podemos fazer amor em sua
cama no meio da manhã, quando Lori ou
seus pais podem chegar a qualquer
momento e nos surpreender.
– Poderíamos trancar as portas –
gemeu ela.
Evan ergueu a cabeça e lhe inclinou o
queixo até que ela o encarasse.
– Respire fundo – disse ele em um
tom de voz calmo. – Permita-se relaxar.
Não vou usá-la como uma mulher a
quem paguei para passar a noite. Não
estou à procura de sexo banal, apesar do
fato de nossas carícias terem fugido um
pouco do controle.
Anna deixou o olhar baixar ao peito
musculoso exposto.
– Um pouco? – perguntou ela com
uma risada nervosa.
– Eu lhe disse como seria – lembrou
Evan. Sem desviar o olhar do rosto de
Anna, ele deslizou uma das mãos pelo
corpo macio para segurar e acariciar um
dos seios firmes. – Você é mesmo
avantajada – sussurrou com um sorriso
terno. – Na medida certa para meu
tamanho.
Anna corou, mas ainda assim sorriu,
arqueando as costas para que a mão
grande se fechasse por completo sobre
seu seio.
– Gosta disso? – perguntou Evan com
voz rouca.
– Não dá para perceber? – rebateu
ela.
Evan inclinou a cabeça, e a mão que
mantinha nas costas macias a moveu de
modo que seus lábios pudessem se
fechar sobre o mamilo do seio que a
outra mão segurava. Em seguida, sugou-
o com suavidade, mordeu-o de leve,
acariciou-o e tornou a mordê-lo até que
Anna se enroscasse nele com um gemido
abandonado. Ela amava a sensação
daquela boca quente e úmida em sua
pele. A lembrança da primeira vez que
ele fizera aquilo sobre o tecido de sua
blusa lhe veio à mente.
Anna lhe segurou a cabeça quando ele
fez menção de pôr um fim à carícia
erótica.
– Apenas… mais um pouco. Por favor
– choramingou ela. – Morda-me!
E ele temera assustá-la, pensou Evan,
irônico, ao atender à suplica. Em
seguida, deitou-a de costas na cama e se
banqueteou naqueles seios como um
homem faminto diante de uma mesa
farta, ouvindo os deliciosos gemidos de
prazer, a pressão dos braços de Anna
em torno de seu torso e a
vulnerabilidade trêmula daquele corpo
voluptuoso.
Tomando-lhe outra vez os lábios em
um beijo ardente e sem pensar nas
consequências, baixou o corpo sobre o
dela. Uma das pernas musculosas se
insinuando entre as de Anna de modo
que os colocasse em total intimidade.
Com a respiração presa na garganta,
ela se agarrou ao corpo forte, tremendo.
Evan ergueu a cabeça e a fitou nos
olhos.
– Provavelmente isso irá doer muito –
disse ele sem rodeios. Uma das mãos
deslizando sob as nádegas macias para
lhe pressionar os quadris aos dele. –
Principalmente pelo fato de nunca ter
tido esse tipo de intimidade antes.
– Não tive. Mas se não fosse com
você – sussurrou ela. – Não seria com
ninguém. Nunca. Eu o amo!
Evan gemeu e fechou os olhos. Anna
fazia todos seus temores parecerem
infundados. Ela o amava. Aquilo o fez
imaginar se Louisa um dia o amara, ou
se só o desejara por sua fortuna e
posição social. Anna insinuara algo
parecido, assim como Harden, anos
atrás. E agora tinha de encarar a
possibilidade de eles estarem certos.
Evan roçou os lábios suavemente
contra os ombros aveludados, o pescoço
e os lábios carnudos de Anna.
– Serei rude com você – disse ele em
um tom quase angustiado. – Não serei
capaz de me controlar, entende? Você
me faz perder o controle facilmente. Oh,
Deus! Talvez já tenha lhe deixado alguns
hematomas!
Anna o beijou com suavidade,
roçando o nariz conta o dele.
– Ainda não viu o estado em que seu
ombro está, certo? – perguntou ela com
a voz terna e com um sorriso a lhe
curvar os lábios.
Evan soltou uma risada rouca.
– Sim. Você me mordeu, certo?
– Com muita força – revelou ela com
um sussurro trêmulo. – Não sabia que
seria assim ou que você faria o que fez
comigo. – Ela mergulhou os dedos nos
pelos crespos que cobriam os músculos
definidos do peito de Evan. – Pensei que
iria desmaiar quando começou a roçá-
los em meus seios.
– Há momentos em que não lamento
por esta mata que tenho no peito –
admitiu ele contra os lábios carnudos. –
Você ficou enlouquecida de desejo.
– Ainda estou – confessou ela. –
Gostaria que pudéssemos fazer amor.
– Eu também. Mas não dessa forma.
– Você podia se despir – sugeriu ela
com senso de humor.
– Você não entende. – Evan a virou
de lado e, em seguida, se esticou na
cama, puxando-a para deitá-la sobre ele
com a cabeça apoiada em seu peito. – O
que estamos fazendo deve se restringir
aos limites do casamento. – Ele lhe
procurou o olhar enquanto os dedos
longos lhe acariciavam de leve os seios.
Se eu lhe fizer um filho, será depois de
nos casarmos, não antes.
Anna não acreditava que o tivesse
ouvido direito.
– Você não quer se casar – disse ela,
vacilante.
– Ah, mas eu quero – afirmou Evan,
obstinado. – Eu me arriscarei se você se
arriscar. Diga que sim – sussurrou.
– Sim! – A palavra escapou pelos
lábios de Anna como um arco-íris de
som que o fez inspirar profundamente e
atirar as consequências pela janela.
– Não quero um noivado longo –
sussurrou ele. – Vamos dar entrada na
certidão amanhã.
– Tão cedo assim? – Anna ofegou.
– Ultimamente não consigo ficar cinco
minutos longe de você – confessou ele,
os olhos faiscando pela paixão quase
desenfreada. – Quero-a ao meu lado o
tempo todo. Dia e noite. Quero-a sob
meu corpo na cama – prosseguiu ele
com um sussurro sensual, mordendo-lhe
de leve o lábio superior e lhe
estimulando os mamilos. – Quero seu
corpo nu se contorcendo sob a rigidez
do meu!
Os lábios de Anna encontraram os
dele no meio do caminho, o corpo
girando para aceitar a pressão do dele,
suplicando por mais. Evan rolou para o
lado e se ergueu da cama. Aquilo era
tudo que podia fazer para não perder de
vez o controle. Manteve-se de costas
para ela até que conseguisse parar de
tremer. Em seguida, procurou um
cigarro, mas o maço estava na camisa
que ele não lembrava onde descartara.
Quando a encontrou, ergueu-a o chão,
juntamente com a blusa e o sutiã de
Anna.
Evan girou e a encontrou sentada, com
a respiração pesada. Os olhos escuros
se cravaram diretamente na elevação
daqueles belos seios.
– Maravilhosos – sussurrou ele,
ofegante. – Poderia ficar admirando-a
assim para o resto da vida. Mas, em
nome de sua castidade, acho que é
melhor cobri-los. E rápido.
Evan lhe atirou as peças de roupa,
observando-a corar e tentar vesti-las
com movimentos desajeitados.
O humor brincalhão lhe abrandou o
constrangimento. Agora, Anna se sentia
um pouco tímida em relação a ele. Evan
pareceu pressentir isso, porque a puxou,
erguendo-a da cama e a abraçou com
ternura.
– Você ainda não sabe exatamente o
que estava permitindo. Hoje me
controlei na maior parte do tempo, mas,
quando perco o controle, e em algum
momento isso acontecerá, talvez não
goste do que possa acontecer.
– Ainda estou tentando entender o que
devo temer.
– Sou um homem muito grande – disse
ele com a voz calma. – Sempre tive de
controlar minha força, desde que era
menino. Até mesmo agora… – Evan se
calou. – Fico me lembrando de Louisa –
admitiu por fim com uma expressão
desgostosa.
Aquilo, pensou ela, exigiria tempo e
paciência. Mas se fosse cuidadosa
talvez pudesse fazer desaparecer
aquelas cicatrizes.
– Não sou uma mulher frágil –
retrucou ela em um tom de voz suave e
hesitante. – Eu o desejo tanto quanto
você a mim. E eu o amo.
Os dedos longos lhe tocaram os
lábios com extrema ternura.
– Você faz meus piores temores
soarem ridículos.
– E são – afirmou Anna. Em seguida,
fechou os olhos enquanto ele a beijava
com algo que beirava a reverência. –
Ficará comigo?
Evan soltou uma risada suave.
– Como posso me afastar? – Ele lhe
devolveu a pergunta.
– Não há muitas mulheres em
Jacobsville que veneram o chão que eu
piso.
Anna lhe dirigiu um olhar furioso.
– Vá em frente. Pode me ridicularizar.
– Não estava fazendo isso. Na
verdade, estou me sentindo muito
arrogante e convencido no momento, se
quer saber. – Evan lhe mordeu de leve o
lábio inferior. – Agora vamos nos sentar
na sala de estar – enfatizou. – E ver
alguns filmes antes que acabemos na
cama outra vez.
– Um dia faremos isso – afirmou ela,
obstinada.
Evan suspirou.
– Sim – concordou. – Mas primeiro
tenho de tomar coragem – disse entre os
dentes cerrados e depositou um beijo
suave na testa de Anna.
Minutos depois, começaram a ver o
filme na sala de estar. Evan a acomodou
na curvatura de seu braço e imaginou,
em silêncio, como poderia viver se ela
fugisse dele, com medo.
Capítulo 10

EVAN NÃO perdeu tempo para dar


início às providências para o casamento.
Anna descobriu isso na manhã seguinte,
quando ele veio buscá-la para darem
entrada na certidão. Os dois haviam
dado a notícia a Polly e Duke no dia
anterior e decidiram dar entrada na
papelada no dia seguinte, mas ninguém
se surpreendeu com a novidade. O outro
casal se limitou a sorrir.
Anna nunca se sentira tão próxima do
paraíso em sua vida. Evan não escondia
mais sua afeição por ela. Beijou-a assim
que chegou à casa e, em seguida, a
puxou contra a lateral do corpo enquanto
caminhavam. Se não sentisse nada por
ela, era um excelente ator.
Após darem entrada na certidão de
casamento e fazerem exames de sangue,
ele a levou para almoçar em um
restaurante da cidade.
– Quase não está comendo –
comentou Evan quando ela mal tocou o
rosbife.
Os olhos azuis se ergueram para
encará-lo, suaves e amorosos.
– Ainda estou em choque – confessou
ela. – Ainda não consigo acreditar.
Os olhos de Evan lhe percorreram o
rosto, possessivos.
– Nunca havia pensado em me casar
antes – contou. – Ao menos não a sério,
mesmo quando dizia que desejava um
lar e uma família. Era só da boca para
fora.
– Você costumava dizer que as
mulheres o usavam como trampolim
para chegar a Harden – recordou ela
com um sorriso.
Evan deu de ombros.
– De certa forma, isso era verdade.
Harden detestava as mulheres, e,
naturalmente, todas o amavam.
Principalmente Miranda, felizmente para
ele – acrescentou com um sorriso.
– Eu pensava que, se Harden podia se
casar, qualquer homem poderia –
admitiu Anna. – Ele de fato detestava as
mulheres.
– Não menos do que Connal, até Pepi
o pegar desprevenido – concordou
Evan, segurando-lhe a mão nas dele e
brincando distraído com o anel que
adornava um dos dedos de Anna. – Nem
ao menos lhe comprei um anel de
noivado – falou. – A certidão de
casamento e o exame de sangue a
convenceram de que Evan estava
levando aquilo a sério, mas a menção ao
anel fez seu coração disparar. Aquilo
selaria o compromisso. Anna ergueu o
olhar para encontrar o dele, explodindo
de felicidade. – Quer um diamante? –
perguntou ele com doçura na voz.
– Não sei…
– Não. Pelo amor de Deus! Não me
diga que quer um anel de esmeralda –
disse ele, os olhos escuros faiscando. –
Não farei sua vontade.
Evan soava extremamente ciumento
em reação à esmeralda que Randall
havia lhe comprado, o que a fez lutar
para suprimir um sorriso.
– Não. Não quero um anel de
esmeralda – admitiu. – Acho que pedras
coloridas não são um bom investimento,
certo?
Evan franziu a testa.
– Querida, não lhe comprarei um anel
pensando em investimento – retrucou ele
com delicadeza. – Isso não é um acordo
comercial.
– Desculpe. – Anna não poderia
simplesmente dizer que não entendia por
que Evan estava se casando com ela.
Tinha certeza da afeição dele. Mas
queria que Evan estivesse apaixonado,
assim como ela. Apesar de ele se
mostrar atencioso, gentil e até mesmo
afetuoso, aquilo não lhe dava segurança.
O que Anna não sabia era que ele não
abandonara seus medos. Evan seguia em
frente com os planos do casamento,
apesar dos temores, mais pelo pavor de
vê-la voltar para os braços de Randall.
Estava se arriscando, apesar da idade e
da inocência de Anna, apesar do amor
eterno que ela lhe professava.
Anna sentiu as reservas dele. Nina
ainda a preocupava. Aquela antiga
chama entre Evan e a modelo havia se
transformado em uma conflagração
pouco antes de ela ter sido atacada.
Como poderia saber se Evan não sentia
mais nada por Nina? Como ter certeza
de que Evan não estava se casando com
ela por compaixão e uma atração física
incontrolável?
Anna tomou um gole do café,
distraída, o olhar evitando o dele. Em
resposta a todas as suas preocupações
secretas, Nina transpôs a porta do
restaurante, sozinha, e avistou Evan.
Quando viu a ex-namorada vindo em
sua direção, ele soltou um xingamento
rude em seu íntimo. Porém, a boa
educação sobrepujou a raiva, e Evan
puxou a cadeira para trás e se ergueu,
embora o olhar não fosse caloroso.
– Ora… olá! – Nina ronronou,
erguendo-se nas pontas dos pés na
direção de Evan e o beijando
descaradamente, apesar da óbvia
resistência que encontrou. – Como você
está, querido? Não o vejo há eras! O que
tem feito?
– Fiquei noivo – respondeu ele sem
rodeios. – Anna e eu vamos nos casar.
Nina simplesmente congelou. Não se
moveu ou falou por um longo momento.
Em seguida, soltou uma risada áspera.
– Vai se casar com Anna? Depois de
fugir dela durante tanto tempo? Diga-me,
o que fez? Engravidou-a?
– Basta – disse Evan, a voz fria como
um iceberg.
Nina dirigiu um olhar de puro ódio a
Anna.
– Não é tola o suficiente para achar
que ele a ama? Desejo é tudo que ele é
capaz de sentir! Eu deveria saber! – Ela
estava quase trêmula de raiva e atraía a
atenção de meia dúzia de clientes que se
encontravam em outras mesas. – Eu dei
tudo que tinha a ele e não consegui
prendê-lo!
– Nina, pare com isso – ordenou Evan
com a voz controlada. – Está fazendo um
papel ridículo.
O lábio inferior de Nina tremia
quando ela o encarou. Apesar da
vergonha, Anna sentia imensa
compaixão pela outra mulher. Nina se
apaixonara por Evan. Aquilo era
dolorosamente óbvio.
– Que falta de sorte a minha… não ser
o tipo certo de mulher para levá-lo ao
altar. – Nina soluçou. – Todos dizem
que se atrai por mulheres experientes,
mas não é verdade, certo? Está
provando que prefere as inocentes com
essa… – Ela deu meia-volta
abruptamente e saiu correndo do
restaurante, ainda aos prantos.
Evan se deixou afundar na cadeira
com um baque.
– Sinto muito por isso – disse ele a
Anna com a voz tensa, mas terna.
– Ela o amava – afirmou Anna com
suavidade.
– Sim – concordou ele. – Mas eu não
a amava. Não podemos nos forçar a
gostar de alguém. É a vida.
Anna sabia disso e ergueu um olhar
horrorizado para encará-lo. Estava
prestes a se casar com um homem que
não a amava mais do que amava Nina.
Que tipo de relacionamento construiriam
com base apenas em atração física de
um dos lados? Um dia até mesmo o
desejo abrandaria, e o que sobraria?
Evan praguejou, irritado, quando
percebeu a expressão de Anna. Ajudou-
a a se levantar e foi pagar a conta,
ignorando os olhares curiosos dos
outros clientes. Nina conseguira destruir
o ânimo radiante de Anna e o dele
também. Pensara que a ex-namorada
perceberia a falta de interesse quando
ele não lhe telefonou mais. Mas aquilo
era culpa sua. Usara-a para afastar
Anna, e Nina interpretara sua atenção de
maneira errada. Deveria ter tido uma
longa conversa com ela, mas o acidente
de Anna o absorvera por completo.
Acompanhou Anna até o carro com
uma postura silenciosa e preocupada.
– Acho melhor esperarmos para
comprar os anéis amanhã de manhã –
disse ele quando estacionou em frente à
casa de Anna. – Tenho algumas coisas
para resolver.
– Por mim, tudo bem – retrucou ela. –
Este dia já está estragado mesmo.
Evan desligou o motor do carro e
girou para encará-la, encolhendo-se em
seu íntimo diante da expressão desolada
de Anna.
– Sinto muito – disse ele com a voz
rouca.
– Não tem culpa se as mulheres caem
de joelhos aos seus pés. – Ela soltou
uma risada amarga. – Afinal, sou uma
delas, certo?
– Não – respondeu ele de imediato. –
Você não é mais uma na multidão. Pedi-
a em casamento e não para passar
algumas horas ardentes na cama comigo!
– Percebo a grande honra que está me
concedendo. – Anna o encarou com algo
que se assemelhava ao pânico. – Que
tipo de vida teremos, nos deparando
com suas amantes descartadas todas as
vezes que sairmos para comer fora? Não
quero isso – disse ela, transtornada. –
Não posso me casar com você!
Evan girou e lhe segurou o braço,
puxando-a de encontro ao corpo e lhe
fazendo a cabeça bater contra o ombro
largo.
– Não. Não pode fazer isso – retrucou
ele com a voz rouca. – Não vai desistir.
– Sim, eu…
Mas Evan calou as palavras
frenéticas com a boca. Ela resistiu, mas
apenas por alguns segundos. O calor e a
maestria daqueles lábios lhe frustraram
os esforços lentamente. Não conseguia
resistir àquele homem. Anna entreabriu
os lábios, e os braços escorregaram
para lhe envolver o pescoço enquanto
correspondia ao beijo longo e
apaixonado. A pulsação disparou apenas
por se encontrar nos braços de Evan.
– Você não está jogando limpo –
sussurrou ela, trêmula, quando por fim
Evan interrompeu o beijo.
– Não estou jogando. Ponto-final –
retrucou ele, os olhos escuros
perscrutadores e intensos nos dela. –
Nina conhecia as regras desde o início.
Nunca lhe fiz promessas.
– Você a usou – disse Anna, arrasada,
com um fio de voz.
As feições de Evan se tornaram
tensas.
– Sim – admitiu, conciso. – Usei. Na
época, pensei que estava protegendo
você. Usei-a descaradamente. Nina tem
todo o direito de estar furiosa por isso,
mas não pode fingir que não sabia o que
eu estava fazendo. Participou por
vontade própria.
O lábio inferior de Anna tremeu.
– Você dormiu com ela! – acusou com
voz estrangulada.
– Anos atrás, fique sabendo –
retrucou ele, sem rodeios. – Não mais.
Certamente não desde que ela voltou à
cidade. Já disse antes, não consigo nem
ao menos me sentir excitado com outras
mulheres, muito menos com Nina!
Os seios fartos se ergueram e
baixaram em um suspiro lento e pesado.
Anna relaxou a lateral do rosto contra o
peito forte e olhou pela janela. Uma
chuva fina caía, e o dia estava nublado.
Assim como sua vida, pensou ela.
– Por que quer se casar comigo? –
perguntou por fim. – Por pena, desejo,
culpa ou um pouco dos três?
– Meu Deus! Você ainda não confia
em mim, não é? – Evan soava quase
derrotado. – Não posso culpá-la, mas,
se tem tão pouca fé em meus motivos,
por que está disposta a ir adiante com
isso?
Anna ergueu o olhar para encará-lo.
– Porque o amo – disse sem rodeios.
Evan lhe tocou os cabelos soltos e
revoltos.
– Você não confia em mim – retrucou
ele. – Se me amasse, não confiaria?
O olhar de Anna se tornou triste.
– Não exatamente. É difícil confiar
em alguém quando não se conhece os
sentimentos dessa pessoa.
Evan deixou o olhar baixar aos lábios
carnudos.
– O que acha que sinto? – perguntou,
evasivo.
– Não sei. Você tem estado diferente
desde meu acidente – respondeu ela. –
Antes, deixava claro como se sentia em
relação a mim, que me queria fora de
sua vida. E então eu sofri aquele assalto,
e, de repente, você se mostrou disposto
a se casar comigo.
– Você me faz soar volúvel – disse
ele, embora não pudesse negar a
verdade no que ela estava insinuando.
– Volúvel, não. Apenas indeciso. Não
pode me culpar por me sentir da mesma
forma. Nunca me revelou seus
verdadeiros sentimentos.
E não poderia revelar. Ainda não.
Ainda tinha muitos temores e traumas.
Evan lhe tocou os lábios de leve com
o dedo indicador.
– Bastarão palavras para convencê-
la? – perguntou ele com a voz calma. –
Acho que não. Você colocou na cabeça
que sinto apenas compaixão por você.
Nada que eu diga vai mudar isso. Terá
apenas de esperar para ver.
O medo faiscou sob os cílios longos
de Anna.
– Estaria amarrado a mim, não
percebe? – perguntou com suavidade. –
E odiaria isso!
Os lábios de Evan cobriram os dela,
enquanto ele a erguia contra o peito em
um abraço caloroso e apertado. O beijo
vertiginoso varreu todas as
preocupações da mente de Anna. A mão
longa escorregou sob sua blusa e sutiã
para lhe tocar o seio com extrema
maestria. Ao sentir os dedos longos
contra sua pele exposta, ela enrijeceu o
corpo e ofegou, invadida por uma onda
avassaladora de prazer.
Evan lhe prendeu o lábio inferior nos
dentes, provocando-a gentilmente.
– Teremos a noite de núpcias mais
incomum da história dos casamentos –
disse ele com humor negro. –
Provavelmente serei o primeiro noivo a
ter fricotes.
Anna recuou o rosto alguns
centímetros.
– Está com medo de fazer amor
comigo? – perguntou, hesitante.
– Não é óbvio? – respondeu Evan
com o semblante sombrio. – Meu Deus!
Lutei contra isso. E no final não
consegui resistir, nem mesmo para seu
próprio bem.
– Não será tão ruim assim – afirmou
ela, tentando tranquilizá-lo. Ele
parecia… Anna não conseguia definir
aquela expressão. – Posso ir ao médico
antes de nos casarmos. Se ele achar que
haverá alguma… bem… dificuldade,
poderá resolvê-la para mim.
A mandíbula de Evan se contraiu.
– Não é sua virgindade que me
preocupa.
– Então, o que é?
Evan inspirou profundamente e baixou
o olhar ao volume generoso dos seios
sob a blusa que ela usava. Os dedos a
acariciavam distraídos, amando a
sedosidade daquela pele.
– Eu sou capaz de machucá-la muito –
revelou com a voz rouca. – Talvez
suscite até mesmo as lembranças
aterrorizantes da noite em que você foi
atacada. E para ser bem sincero, depois
de um certo ponto, um homem não
consegue mais parar.
Anna esticou a cabeça e lhe mordeu
de leve o lábio inferior.
– Então, terá de me deixar
enlouquecida primeiro, certo? –
sussurrou. – Como fez… ontem, quando
abriu minha blusa e me esfregou em seu
peito… Evan!
Os lábios quentes se fecharam contra
os dela. Anna arqueou o peito para a
frente. Os dedos pressionando a mão
intrusa sobre seu seio. Por alguns
segundos, Evan se viu realmente cego e
surdo. A boca a devorava, extasiado.
Um gemido rouco lhe escapou dos
lábios enquanto ele a pousava sobre o
colo e a girava de modo que o abdome
macio ficasse pressionado contra a
rigidez de sua excitação. Arqueando o
quadril para a frente, ele a sentiu
estremecer.
– Sim – sussurrou Anna contra a boca
ávida. Ela se moveu deliberadamente,
amando a sensação da potente ereção
que ela parecia provocar sem nenhum
esforço.
Uma das mãos longas se enterrou
dolorosamente em seus cabelos
enquanto a língua experiente lhe invadia
o interior aveludado da boca. Com a
mão livre na base da espinha de Anna,
ele a balançou em uma cadência ritmada
contra a ereção, e descargas elétricas
lhe percorreram o corpo tenso.
Sentia o tremor suave que a sacudia,
admirado, e percebia a total submissão
em que ela se encontrava. Os dedos
rumaram para a blusa de Anna e
começaram a desabotoá-la. Graças a
Deus, o pátio estava vazio e o carro de
Polly não estava na garagem.
Encontravam-se completamente sós.
Evan ergueu a cabeça o suficiente
para retirar a blusa do caminho e abrir o
fecho do sutiã.
– Sim – murmurou ela, sentando-se
para ajudá-lo a livrá-la das peças
indesejadas. Mas, em seguida, as
próprias mãos rumaram para os botões
de pressão perolados da camisa que ele
usava.
– Anna… – começou ele, lutando por
controle.
– Quero sentir sua pele contra a minha
– sussurrou ela, ávida.
Em seguida, fechou os braços em
torno do pescoço largo, roçando os
mamilos nos pelos ásperos do peito
musculoso.
– Anna! – exclamou ele com um
gemido áspero.
Fascinada, ela observou o rosto de
Evan se contorcer e se reorganizar em
uma máscara rígida de prazer.
– É assim que se faz? – sussurrou ela,
movendo o torso com ainda mais força
contra o dele. – Ensine-me. Mostre-me
como se faz amor.
– Meu… Deus! Você não… precisa
que lhe ensine – conseguiu dizer Evan.
– Venha cá – disse ela, puxando-lhe a
cabeça para baixo e arqueando as costas
sobre o braço forte que a envolvia, com
os olhos semicerrados. – Faça… o que
fez comigo ontem. Com força!
Evan estava enlouquecido. Mal
percebeu quando os próprios lábios se
fecharam, impotentes, sobre um dos
mamilos enrijecidos. Sugou-o com
avidez, sentindo o corpo macio
estremecer de prazer, enquanto se
banqueteava com aquela suavidade. Os
dedos lhe envolviam o seio,
acariciando-o, ao passo que a língua
encontrava o mamilo intumescido. E
Anna permanecia entregue, deixando que
ele fizesse o que quisesse, vibrando de
prazer. Os suspiros suaves perdidos nos
gemidos guturais que ele deixava
escapar.
– Evan, isso é tão bom! – gemeu ela,
em chamas. As mãos se enterrando nos
cabelos escuros e espessos para segurá-
lo firme contra seu corpo. – Tão bom,
tão bom!
– Você tem o sabor de pétalas de
rosa. – Evan ergueu a cabeça e a
observou. A pele sedosa com marcas
avermelhadas causadas por sua boca.
Inspirando profunda e lentamente,
deixou a mão acariciá-la devagar. – Eu
a quero.
– Eu também o quero. – As costas de
Anna se arquearam com suavidade. Os
olhos azuis faiscando de desejo. – Não
podemos ir a algum lugar… onde
possamos ficar a sós?
Evan contraiu a mandíbula.
– É arriscado – conseguiu dizer com
muito esforço.
– Não me importo. Quero ter seus
olhos em mim – disse ela, tomada pela
vertigem do êxtase. – Quero vê-lo por
completo!
Evan teve vontade de gritar. Tinha de
pensar. Tinha de protegê-la. Arqueando
as costas mais uma vez, Anna voltou a
roçar os seios ao seu peito.
– Está bem – concordou ele com a
voz trêmula.
Evan a fez se sentar e ajudou-a a
vestir a blusa. Em seguida, ligou o motor
do carro sem dizer uma palavra. Não
ousava lhe dirigir o olhar ou estaria
perdido.
Dirigiu em silêncio e em alta
velocidade até o lago Tremayne. O local
ficava deserto durante os dias de semana
e jamais alguém passava por lá.
Estacionou o carro, desligou o motor e
saiu.
Anna estendeu os braços, quando ele
se inclinou para erguê-la e carregá-la
até à margem gramínea do lago.
– Isto é uma loucura – sussurrou ele
enquanto a deitava na grama e se
acomodava ao lado dela. – Iremos longe
demais.
– Está tudo bem – afirmou Anna com
a voz suave antes de retirar a blusa,
permitindo que ele a visse por completo,
sem inibições. Evan seria seu futuro
marido. E ela o amava. Agora,
precisava convencê-lo de que não tinha
medo dele.
Evan mal conseguia respirar devido
às batidas alucinadas do próprio
coração, enquanto admirava os seios
macios e intumescidos.
– Você é virgem – gemeu.
– Preferia que eu tivesse deixado
Randall me ver assim? – sussurrou ela.
Os olhos escuros faiscaram.
– Não! Claro que não.
Evan retirou a camisa e o cinto antes
de deitá-la de costas sobre a grama e lhe
cobrir os seios fartos com o peito.
Prendendo-lhe o olhar, começou a roçar
o torso de uma forma sensual contra o
dela, deixando que os músculos
cobertos de pelos ásperos lhe raspassem
os mamilos rígidos.
Anna cravou as unhas nos antebraços
fortes, à medida que os movimentos
sinuosos lhe suscitavam um desejo
repentino e abrasador que a fez ofegar.
– E isso é só o começo – disse ele
com a voz rouca. – Fica pior, muito
pior.
Os lábios cobriram os dela. Evan
nunca a beijara daquela forma,
deliberadamente excitante. Ele a
provocava e atormentava com os lábios,
a língua e os dentes até que Anna
suplicasse abertamente para que aquela
boca tentadora explorasse a dela, meio
enlouquecida pelos movimentos
sensuais do peito áspero contra seus
seios.
Estava quase chorando quando ele
finalmente se permitiu lhe invadir o
interior da boca com a língua em um
beijo profundo e ousado. Anna se
encontrava tão excitada que soltou um
grito e enrijeceu o corpo, pulsando com
um desejo febril, quando o beijo que ela
julgou que iria satisfazê-la apenas lhe
suscitou uma ânsia ainda maior.
As pernas macias se moveram contra
as dele. Ao sentir a angústia do desejo
de Anna, Evan baixou o corpo forte
sobre o dela. Forçando passagem,
acomodou-se entre as pernas bem-
torneadas.
Quando ele ergueu a cabeça, os olhos
estavam negros pela excitação, os lábios
intumescidos entreabertos devido à
respiração ofegante. Sustentando o peso
do corpo nos antebraços, Evan prendeu
os olhos azuis vertiginosos e famintos
nos dele e, deliberadamente, pressionou
os quadris para baixo.
Anna o sentiu em uma intimidade que
nunca compartilhara com ninguém. Os
olhos dilatados e os lábios entreabertos
em um ofego ao experimentar a força do
desejo que ele sentia.
Evan a observou, certo de que seria
exatamente como fora com Louisa. Anna
iria sair correndo…
Porém, mesmo enquanto tal
pensamento lhe passava pela cabeça, as
pernas longas de Anna se enroscaram
nas dele timidamente. Os lábios
carnudos se erguendo com suavidade.
Evan se sentiu enrijecer e estremecer,
sem nunca lhe abandonar o olhar.
Anna repetiu o movimento, o
semblante radiante ao testemunhar a
reação abandonada de Evan.
– Isso é muito perigoso – conseguiu
dizer. – Se me excitar o suficiente, não
serei capaz de me conter.
– Não me importo.
Uma das mãos longas lhe segurou a
coxa, paralisando-a sob seu corpo.
– Você não entende. Poderia
engravidar.
Um sorriso terno curvou os lábios de
Anna.
– Você é que não entende – retrucou
com as mesmas palavras. – Quero ter um
filho seu.
Evan estremeceu. Por um instante
insano, olhou-a nos olhos e cedeu a ela.
A mão se moveu da coxa para a base da
espinha de Anna. Afastando-lhe ainda
mais as pernas, pressionou o quadril
com força entre as coxas macias com
uma ânsia desvairada e que a fez soltar
um gemido alto.
– É isso que está pedindo – disse em
tom de voz gutural antes de investir com
força outra vez contra ela. – E será
muito dolorido se eu estiver excitado
assim quando acontecer!
Naquele momento, ela começou a
perceber o sentido em todos os avisos e
temores de Evan. Relaxando sob o
corpo forte, seus olhos encontraram a
ferocidade dos dele.
– Oh! – sussurrou.
Evan estava trêmulo.
– Vendo a luz finalmente, certo? –
perguntou com a voz estrangulada. –
Espero que não tenha sido tarde demais.
Não se mexa! – disparou ele, enquanto a
ancorava com uma das mãos. Em
seguida, olhou-a nos olhos, trêmulo de
excitação enquanto lutava por controle.
Anna o observou, abalada com a
vulnerabilidade que reconhecia nele,
com sua própria habilidade de afetá-lo.
Até então, o sexo havia sido um mistério
vagamente assustador, mas agora era
uma surpresa admirável. Fazia uma boa
ideia do que aquilo envolvia e o motivo
exato pelo qual Evan tinha tanto medo
de sua força incontrolável. A respiração
estava alterada, os olhos fechados, a
testa descansando contra a dela.
Anna acariciou os cabelos escuros na
nuca larga com suavidade e relaxou por
completo, absorvendo aquele peso
formidável. Evan estava se acalmando.
A rigidez daquele corpo musculoso
lentamente suavizando.
– Então, é assim – murmuro ela,
impressionada.
O tom de voz de Anna fez uma risada
tensa escapar da garganta de Evan.
– Não sabia?
– Na verdade, não – confessou ela,
fechando os olhos. – Intrigante.
– Sim. E para não a ferir terei de
fazer tudo com extrema suavidade.
Os braços macios se fecharam em
torno do pescoço de Evan. O peito
musculoso se encontrava úmido e frio
contra dela, enquanto o fogo começava a
abrandar.
– Sou muito pesado? – perguntou ele.
– Oh, não. Gosto da sensação do seu
peso sobre meu corpo.
Evan esfregou o rosto ao dela.
– Que tal nadarmos enquanto estamos
aqui?
– Não tenho roupa de banho –
respondeu ela, distraída.
– Eu também não. Nós nos casaremos
dentro de dois dias. Quero que você
fique sabendo de tudo antes de colocar
uma aliança em seu dedo.
O pensamento de vê-lo
completamente despido a perturbou, mas
pressentiu que aquele era um obstáculo
que o assustava. Como ele dissera, iriam
se casar. Muitos casais noivos faziam
coisas juntos, além de nadarem nus.
– Está bem – concordou ela.
Evan prendeu a respiração.
– Tem certeza?
– Sim. – Anna lhe tocou os lábios
com as pontas dos dedos. – Eu o amo.
Assim dizia ela, mas Evan queria uma
prova. Se conseguisse olhar para ele,
sem demonstrar medo, um dos
obstáculos estaria fora do caminho. A
expressão de Louisa ainda o
assombrava.
– Então, que seja assim – disse ele
com a voz calma.
Evan se ergueu e a ajudou a se despir,
percebendo-lhe a relutância tímida em
se despir diante dele. Um sorriso terno
curvou os lábios de Evan.
– Vou caminhar pela margem até mais
adiante. Grite quando estiver dentro da
água.
Anna suspirou.
– Obrigada.
– Você se acostumará com isso –
respondeu ele. Roçou os lábios aos dela
e se afastou.
Anna se encontrava dentro da água
quando ele retornou. Manteve o olhar
desviado enquanto Evan se despia.
Segundos depois, ouviu a água espirar, e
ele veio ao seu lado.
– Não foi tão difícil assim, certo? –
perguntou ele com um sorriso enquanto
Anna abria caminho pela água ao lado
dele.
– Acho que a primeira vez é a mais
difícil – disse ela.
– E a mais necessária. Venha, sua
covarde, vou vencê-la no nado.
Anna soltou uma risada, tentando
alcançá-lo. Os dois brincaram
preguiçosamente. A sensação da água
contra a pele era inebriante. Ela fechou
os olhos e boiou, refestelando-se
naquela sensação de liberdade.
Evan a observava com o olhar
faminto. O coração martelando as
costelas diante da visão daquele corpo
cor de creme sob a água. Quando ela
arqueou as costas outra vez e começou a
boiar, os mamilos rígidos romperam a
superfície do lago, e Evan se viu
perdido.
– Oh, Deus! – disse ele com um
gemido suave antes de esticar as mãos
na direção dela e puxá-la contra o
corpo, a cabeça se inclinando para
capturar os lábios carnudos.
Anna se entregou ao beijo, sentido
pela primeira vez o contato daquele
corpo musculoso, sem a barreira do
tecido a lhe ocultar a potência e a força.
Quando a percebeu hesitar, Evan
ergueu a cabeça.
– Está com medo de mim, nesse
estado? – sussurrou.
– Na verdade, não com medo –
confessou ela. Os olhos azuis
procurando os dele. – Nunca fiquei nua
na presença de ninguém desde que me
tornei adulta. Nem mesmo de minha
mãe.
As mãos longas lhe envolveram a
cintura enquanto ele a encarava.
– Não a machucarei. Tente se lembrar
disso.
Ao passo que falava, ele a ergueu e
girou, caminhando na direção da
margem do lago. Anna ofegou e enterrou
o rosto tímido contra o pescoço largo.
Os lábios quentes deslizaram por seu
rosto até lhe encontrar os lábios, e ele
começou a beijá-la com extrema ternura.
Passado um minuto, Anna esqueceu a
nudez e se entregou ao prazer extasiante
do contato de pele contra pele.
Enquanto Evan caminhava, ela sentia
o impacto dos músculos firmes contra
seu corpo. Em seguida, o ar frio e a
maciez da grama sob suas costas,
quando ele a deitou sobre o chão.
Evan se ajoelhou diante dela,
esperando que ela abrisse os olhos.
Anna os fixou nele, corou e desviou o
rosto.
A tensão tomou conta de Evan.
– Não está com vontade de gritar e
sair correndo? – perguntou, irônico. –
Ela fez isso.
A amargura na voz de Evan dissipou a
timidez de Anna no mesmo instante. Ela
forçou o olhar tímido de volta àquele
corpo potente, lembrando a si mesma
que dentro de dois dias aquele homem
seria seu marido. Tinha de amadurecer.
E rápido.
Os lábios carnudos se entreabriram
enquanto ela o admirava com o coração
acelerando a cada segundo. Nunca vira
um pôster de homem nu no centro de
uma revista masculina, mas tinha certeza
de que Evan ficaria perfeito lá.
O olhar ávido de Anna dissipou um
pouco da apreensão dele. Os olhos azuis
refletiam timidez, mas também franca
fascinação e nenhum medo.
Evan também a estava admirando. O
corpo feminino não lhe guardava
segredos, mas o de Anna era suficiente
para fazer um homem enlouquecer. As
curvas generosas eram perfeitas. Ela era
toda perfeita. Desde a elevação dos
seios fartos às curvas sinuosas dos
quadris e as pernas longas e elegantes.
Aquela visão o excitou, mas Evan não
virou de costas para tentar esconder o
efeito que ela lhe provocava. Anna tinha
de encarar aquilo também.
A respiração escapava apressada
pelos lábios de Anna.
– Oh, meu Deus! – sussurrou ela.
Evan ergueu uma das sobrancelhas,
esperando para ver se ela estava
blefando. Após um minuto os olhos azuis
abandonaram a potente ereção para se
fixarem nos dele.
– Pensou que sentiria medo de vê-lo
assim? – disse ela de repente.
– Sim.
Um sorriso tímido curvou os lábios
de Anna.
– Sinto muito desapontá-lo – começou
ela, observando o modo como os olhos
escuros seguiam, famintos, as curvas de
seu corpo. – Por que não se deita do
meu lado e me beija?
Evan mal conseguia respirar, quanto
mais falar.
– Porque se eu fizer isso não serei
capaz de me controlar.
– Nós nos casaremos depois de
amanhã.
– Sim – concordou ele. – E teremos
uma noite de núpcias. Convencional,
com tudo a que temos direito. – Evan
conseguiu se erguer com muito custo.
Em seguida, retirou duas toalhas do
porta-malas do carro e atirou uma da
direção de Anna, subjugada.
– Estraga-prazeres – disse ela com
uma risada tímida.
Evan soltou um xingamento baixo pela
frustração que o angustiava. Em seguida,
vestiu-se e acendeu um cigarro enquanto
ela ainda batalhava com fechos e
zíperes.
Anna o observou em silêncio quando
terminou de se vestir. Sabia que ele
estava relembrando o passado. Sempre
pensara em Evan como um gigante
gentil. A ideia de ele machucando
deliberadamente alguém nunca lhe
ocorrera.
– Não podemos temer as pessoas que
amamos – disse ela com doçura na voz.
Com as feições contraídas em uma
expressão de angústia, ele lhe relanceou
o olhar.
– Não? Ela pôde.
Anna se aproximou.
– Há algo que ainda não sabe.
– O quê? – perguntou ele em um tom
de voz rouco, lembrando-se da incrível
beleza do corpo de Anna, enquanto
baixava o olhar para encará-la.
– Se Louisa o tivesse amado, de
verdade, não teria tido medo de você na
cama.
Evan corou.
– Ela me amava – insistiu ele,
obstinado.
– Acha mesmo? – Anna girou e
recolheu as toalhas, dobrando-as com
perfeição.
Evan tinha uma expressão preocupada
ao voltar para o carro. Acomodou Anna
no banco da frente e escorregou para
trás do volante. Havia uma verdade
cruel no que ela dissera. Evan detestava
as implicações daquilo, pensar que
desperdiçara anos de sua vida, a
felicidade que poderia ter tido com
Anna, se torturando em relação a um
namoro que não devia ter passado de
uma empolgação passageira para
Louisa. Seu grande caso de amor havia
terminado em tragédia apenas por sua
incapacidade de reconhecer o que Anna
parecia saber instintivamente: que
Louisa nunca o amara de verdade.
Aquela era uma pílula amarga de
engolir.
Capítulo 11

ANNA E Evan se casaram na tarde de


sexta-feira, com toda a família do noivo
presente. A cerimônia foi breve, porém
emocionante, e Anna mal conseguia
acreditar que estava de fato se casando
com o homem que sempre amara, mesmo
após ele colocar em seu dedo a aliança
de ouro, encrustada de diamantes, que
fazia conjunto com seu solitário, e
depositar um beijo terno na joia.
Mas, apesar de toda aquela ternura,
Evan estava preocupado. E apenas Anna
sabia o motivo. Ele temia a noite de
núpcias. Vivia tão atormentado pelo
passado, que estava certo que a faria
sair correndo e gritando de medo. Anna
tinha certeza de que aquilo não
aconteceria, mas tinha de convencê-lo
que a força que ele possuía não
representava um perigo para a
intimidade entre os dois.
– Foi uma linda cerimônia, querida –
disse Polly à filha pouco antes de o
casal viajar em lua de mel para Nova
Orleans. – Espero que você seja muito
feliz.
– Serei – afirmou Anna. Em seguida,
beijou e abraçou a mãe e relanceou um
olhar a Duke, que naquele momento
conversava com Evan e Harden.
– Ele tem de voar de volta para
Atlanta esta noite – disse Polly.
– Oh! – A expressão de Anna
desmoronou.
– E eu vou com ele – prosseguiu a
mãe, soltando uma risada diante da
expressão chocada da filha. – Seu pai
pedirá transferência para Houston.
Dessa forma, poderá voltar para casa
todas as noites em que não estiver
voando. Seremos uma família outra vez.
E, quando Duke se aposentar, o que está
planejando fazer no próximo ano, talvez
eu deixe o ramo imobiliário para viajar
pelo mundo com ele.
– Isso é muito bom para ser verdade.
– Anna suspirou, sorrindo através de
uma cortina de lágrimas. – Estou tão
feliz!
– Eu também – retrucou a mãe,
limpando as lágrimas de Anna. – Vá e
tenha uma excelente lua de mel. Quando
voltar, com os dois pés fincados no
chão, nós conversaremos. Cuide-se.
– Você, também.
Minutos depois, Anna estava ao lado
do marido a caminho do aeroporto.
– Está feliz? – perguntou ele com a
voz suave, relanceando o olhar a Anna.
– Muito. E você?
– Pergunte-me isso amanhã de manhã
– respondeu Evan com uma risada
áspera.
– Oh, Evan. – Ela deixou escapar um
suspiro. – Será que terei de embebedá-
lo para seduzi-lo?
A brincadeira não o fez sorrir. Ao
contrário, o semblante de Evan
endureceu.
– Isso não teve graça.
– Não estou com medo de você –
garantiu ela.
– Espero que não, porque esta noite
terá de provar isso.
Anna desistiu de tentar tranquilizá-lo
e desviou o olhar à janela do carro. O
dia de seu casamento acabara de perder
a graça, e a lua de mel mal começara.

NOVA ORLEANS era repleta de sons


musicais e cores. Após Anna descansar
por alguns minutos, ela e Evan saíram
para explorar o French Quarter e a
Boubon Street. Os dois só retornaram ao
hotel no final da tarde, e Evan a guiou
diretamente ao restaurante para jantarem
e só depois subirem para o quarto.
Durante a refeição, Anna tentou puxar
conversa, mas ele se mostrou fechado.
E, se ela imaginou que as coisas não
podiam ficar piores, estava enganada.
Quando subiram para o quarto, Anna
girou para beijá-lo, mas ele chegou ao
cúmulo de recuar.
– Não – disse, conciso. Os olhos
escuros antagônicos. – Agora não.
– Estamos casados – retrucou ela com
toda a suavidade que pôde conjurar. –
Está tudo bem.
– Uma ova que está. – Evan pegou o
Stetson e se encaminhou na direção da
porta. – Tenho uma reunião de negócios
e chegarei tarde, portanto não me espere
acordada.
– Uma reunião de negócios? Em nossa
lua de mel! – gritou ela.
Evan não conseguia encará-la.
Permitira que a ansiedade crescesse até
se ver aterrorizado com a possibilidade
de tocá-la. Não poderia admitir aquilo.
Tudo que lhe restava era arranjar uma
desculpa para se afastar dela até
conseguir se recompor.
– Desculpe – disse ele. – Não pude
evitar. Voltarei quando puder. Boa
noite.
E com isso fechou a porta. Anna se
sentou na cama com um baque,
observando a porta fechada e
imaginando como iria fazer dar certo o
casamento com um homem que tinha
medo de tocá-la.
Por fim, conseguiu adormecer, mas
não antes da madrugada. Quando flutuou
para o esquecimento do sono, Evan
ainda não havia chegado, e seus olhos
estavam vermelhos de tanto chorar.
Enquanto isso, Evan estava em um
bar, bebendo uísque e tentando
convencer a si mesmo que ele não era o
King Kong, que Anna o amava e não era
Louisa. Mas era inocente, e ele sabia
muito bem como era o corpo de uma
mulher inocente. Bastava começar a
beijar Anna para se entregar por
completo. Se perdesse o controle, sabia
que a machucaria. Amava-a a ponto de
pensar que o coração fosse capaz de se
despedaçar. Evan tomou um gole e
depois outro, lembrando-se, angustiado,
de todas as vezes que sua força havia
intimidado homens e mulheres em
diferentes situações. Pagou pelos
drinques e se encaminhou devagar ao
quarto, imaginando se Anna ainda
estaria adormecida.
Na manhã do dia seguinte, Anna
acordou vagamente ciente de que não se
encontrava sozinha na cama. Rolou para
o lado e encontrou Evan. Deixando
escapar um suspiro fraco, sustentou o
peso do corpo nos cotovelos e olhou
para ele. Adormecido, Evan parecia
mais jovem e muito menos perigoso.
Pobre e atormentado homem! Não podia
culpá-lo por aquelas cicatrizes
psicológicas. Afinal, o ego era o ponto
mais vulnerável de um homem.
Mas não poderiam continuar assim.
Parecia desleal se aproveitar de um
homem adormecido, mas Anna sabia,
instintivamente, que o medo de Evan de
machucá-la tornaria qualquer outra
alternativa impossível.
Anna retirou a camisola e sorriu,
observando o rosto adormecido do
marido. Se tivesse sorte, poderia fazê-lo
imaginar que estava apenas sonhando.
Claro que teria de fazer aquilo da
maneira certa…
As nuances do alvorecer começavam
a pintar o céu ao leste, e o quarto estava
submerso em penumbra. Com muito
cuidado, Anna puxou o lençol para
baixo e o atirou para fora da cama,
prendendo a respiração diante da visão
daquele corpo forte e imponente. Evan
se encontrava excitado e começou a se
mover, agitado, como se o roçar do
lençol o tivesse estimulado.
Baixando o tronco, ela roçou os
lábios pelo peito largo, provocando-lhe
os mamilos já enrijecidos. Anna ouviu a
respiração cadenciada mudar quando os
mordeu de leve. Em seguida, deixou as
mãos escorregarem pelo comprimento
musculoso do peito coberto de pelos e
mais para baixo nos flancos e nas coxas
rígidas. Os lábios seguiam os
movimentos das mãos. Ela o beijou com
ternura, mordendo-o de leve, até lhe
alcançar o umbigo e a ondulação dos
músculos logo abaixo.
Evan arqueou as costas com
sensualidade e gemeu. Ela girou o rosto,
e os cabelos longos roçaram os quadris
e as coxas de Evan. Seu nome escapou
em um sussurro pelos lábios que ele
mantinha entreabertos.
Mordendo-lhe de leve a lateral da
cintura, Anna deixou os dedos vagarem
lenta e sensualmente pelo comprimento
das pernas musculosas e do abdome
definido.
Segundos depois se sentiu ser erguida
e girada e a boca quente quase lhe
engolir o seio. A língua áspera lhe
estimulou um dos mamilos antes que ele
o sugasse.
Estremecendo de prazer, ela segurou
a cabeça de Evan contra o corpo. As
mãos longas pareciam estar em todos os
pontos de seu corpo, estudando-lhe a
anatomia. Uma delas deslizou entre suas
coxas, abrindo-as.
E então ele a tocou de uma forma que
nunca fizera antes. Anna ofegou,
invadida por uma onda de prazer
inesperada que os movimentos hábeis e
lentos dos dedos longos provocaram.
Durante todo o tempo, os lábios quentes
se encontravam em seu mamilo,
sugando-o com uma maestria
devastadora.
Os olhos azuis se fecharam, e ela
deixou que o prazer a inundasse. O
corpo se contorcia, sinuosamente, sob as
mãos e a boca de Evan. Gemidos suaves
se formavam na garganta de Anna à
medida que o ato se tornava mais
excitante e febril.
A boca de Evan se fechou suavemente
sobre a dela enquanto os dedos longos a
traspassavam de uma forma nova e
diferente. Anna sentiu uma leve pontada
de dor e gemeu, mas os lábios ternos a
acalmaram, movendo-se afetuosamente
de sua boca para as pálpebras que
mantinha fechadas, começando a excitá-
la outra vez. A dor foi logo esquecida, e
os quadris de Anna começaram a
arquear na direção daqueles dedos
mágicos.
A respiração de Evan lhe fustigou os
lábios quando ele sussurrou seu nome.
Ela abriu os olhos, tomada pela
vertigem, e encontrou os dele.
Prendendo-lhe o olhar, ele se moveu
lentamente para se posicionar entre as
coxas aveludadas, baixando o corpo
lentamente.
– Não. Não desvie o olhar – disse ele
com a voz trêmula.
Anna engoliu em seco, porque podia
senti-lo agora com uma intimidade que
nunca antes compartilhara. Evan era bem
mais potente do que ela conseguia se
lembrar, forte e um tanto intimidador.
– Segure firme – murmurou ele. –
Crave suas unhas em mim se isso a
ajudar.
Anna ofegou quando os quadris de
Evan se arquearam contra os dela, com
muito cuidado, forçando passagem.
Mesmo contra sua determinação, ela
enrijeceu o corpo.
– Shh – sussurrou ele, com olhar
terno. – Você sabia que seria difícil.
Mas é capaz de me acomodar. Tente
relaxar. Tente permitir que seu corpo
absorva o meu. Pense em uma pedra
caindo na água – orientou, com a voz
suave, enquanto se movia. – Absorva-
me, minha pequena. Receba-me…
dentro de você. – A imagem que as
palavras suscitavam era excitante. Anna
baixou o olhar ao longo dos corpos
quase encaixados e prendeu a respiração
com o que viu. – Não. Não olhe para lá.
– Evan disse com doçura na voz,
convencido até mesmo naquele momento
de que ela entraria em pânico. – Olhe
para mim.
Anna obedeceu, mas não havia medo
em seu semblante. Ela arqueou as
costas, prendendo a respiração, os olhos
enevoados pelo desejo.
– Eu vi – sussurrou ela. – Evan, eu vi!
Com um movimento abrupto de
quadril, ela o absorveu. Sentiu uma
queimação e uma pontada de dor. Com
um grito, ela se enterrou ainda mais. E
depois ficou mais fácil. Lento. Suave.
A respiração de Anna começou a
acelerar, e ela conseguiu até mesmo
conjurar um sorriso enquanto buscava os
olhos de Evan.
– Oh… sim! – gemeu ela,
estremecendo enquanto experimentava
toda a potência daquela masculinidade.
Evan soltou a respiração em um
rugido.
– Sim. – Inclinou a cabeça na direção
dos lábios carnudos ao mesmo tempo
que começava a imprimir o ritmo lento e
familiar. Mordeu de leve a boca de
Anna ao passo que os quadris se
erguiam e baixavam com extrema
suavidade.
Os dedos delicados escorregaram
para a base da espinha de Evan e o
acariciaram, fazendo-o estremecer.
Anna gostou daquilo e repetiu o
movimento.
– Pare – rosnou ele. – Ou me fará
perder o controle.
– Quero que perca – sussurrou ela
com um leve sorriso, oferecendo-lhe os
lábios. – Solte-se – sussurrou ela contra
a boca de Evan. – Está tudo bem,
querido, não me machucará. Solte-se!
– Anna! – O nome escapou dos lábios
de Evan como um gemido atormentado
enquanto ele cedia àquelas palavras de
estímulo e aumentava o ritmo das
investidas em uma busca ardente pela
satisfação total. Esqueceu o medo de
machucá-la e perdeu o último vestígio
de controle no desejo ávido de
experimentar o êxtase, de satisfazer a
pulsação dolorosa de sua ereção.
Mesmo através da espiral crescente
de prazer que a invadia, Anna o
observou experimentar o clímax. Viu o
torso longo se erguer e as costas de
Evan arquearem, tensas, o rosto
contraído no que parecia um prazeroso
tipo de agonia. Ele atirou a cabeça para
trás e soltou um grito gutural,
estremecendo com tanta violência que a
fez pensar que Evan perderia a
consciência.
Quando o corpo forte pousou, pesado,
sobre o dela, Anna ainda estava trêmula
pelo prazer não alcançado. Cravando as
unhas nos ombros largos, ela o mordeu,
impotente, enquanto se movia sob o peso
de Evan. Quando ele começou a ergueu
os quadris, Anna os prendeu com as
duas mãos, mantendo-o no lugar.
– Não, por favor! – soluçou ela.
– Quase, mas ainda não conseguiu,
certo, querida? – sussurrou ele com a
voz rouca. – Dê-me sua boca, minha
pequena, e segure-se firme. Eu a
satisfarei por completo agora.
Anna girou o rosto e ele lhe capturou
os lábios com um beijo suave,
invadindo-lhe a boca com a língua
enquanto os quadris se erguiam e
baixavam lentamente.
Demorou apenas alguns segundos
para que Anna ofegasse seu prazer
contra a boca que fazia maravilhas com
a dela. Enlouquecida pelo êxtase,
conseguiu apenas se agarrar ao corpo
forte ao passo que o ritmo cadenciado
espremia o último resquício de força
que possuía.
Evan limpou suas lágrimas com
beijos, mas ela não o soltou.
– Está tudo bem – sussurrou ele,
sorrindo através da própria exaustão,
quando soltou o corpo sobre o dela,
sustentado o próprio peso nos
antebraços. Ele a beijou com suavidade.
Beijos etéreos que acalmavam,
confortavam e abrandavam. Toda aquela
preocupação, pensou ele, tristonho, para
nada! Não a matara, afinal, embora
durante alguns deliciosos segundos
parecia que Anna fosse fenecer.
– Não se afaste – sussurrou ela. –
Abrace-me.
Evan a beijou com extrema ternura.
– Era para o seu próprio bem que
estava me afastando, não para o meu.
Pensei que pudesse ser desconfortável e
difícil para você.
Os braços de Anna se contraíram.
– Eu o amo – sussurrou. – Foi como
estar no paraíso.
– Para mim também. – Com um
suspiro suave, Evan recostou o rosto ao
dela. De olhos fechados, saboreava a
maciez do corpo sob o dele.
– Você está bem? Não doeu muito?
– Não – respondeu Anna, mordendo-
lhe de leve o lóbulo da orelha. – Agora,
vai parar de fugir de mim?
– E tenho outra escolha? – Evan
baixou um olhar terno ao rosto corado
da esposa. – Você me recebeu sem
nenhum medo – disse ele, a voz cheia de
orgulho e prazer.
– Sim. – Anna corou de leve e baixou
o olhar aos lábios sensuais.
– Nada disso. – Ele lhe ergueu o rosto
e procurou os olhos tímidos dela. – Não
consegui sair na hora “H”. Não
conseguiria. Nunca discutimos sobre
proteção…
O rosto de Anna se iluminou.
– Eu posso estar grávida.
O modo como ela disse aquilo fez o
coração dele flutuar.
– Sim. Evan lhe afastou os cabelos
loiros e longos para trás. – Você é muito
jovem.
– Nem tanto. – Anna ergueu a cabeça
e começou a beijá-lo, lenta e
sedutoramente.
– É muito cedo – disse ele com voz
rouca. – Você precisa se recuperar do
que acabamos de fazer.
Anna obedeceu, mas detestava a ideia
de abrir mão da proximidade que
compartilhavam naquele momento. E
seus olhos expressaram tal pensamento.
– Venha cá. – Evan a aninhou à lateral
do corpo e puxou o lençol para cobri-
los, estacando apenas para lhe depositar
um beijo na ponta do nariz, antes de
envolvê-la com um dos braços,
trazendo-a ainda mais para perto.
– Vamos dormir um pouco mais.
– E depois? – sussurrou ela.
Evan sorriu.
– E depois…
Anna fechou os olhos, mergulhando
em um sono profundo, sem sonhos.
Quando acordou, o aroma de donuts
recheados frescos e café lhe
impregnaram as narinas.
– Está com fome? – perguntou Evan,
trajando apenas uma calça comprida.
Tinha uma aparência mais jovem,
relaxada e adorável. Aquilo poderia ser
apenas um truque da luz, disse ela a si
mesma, mas nada a impedia de sonhar.
– Faminta – confessou, sentando-se na
cama.
Evan puxou o lençol para o lado,
admirando-a com os olhos possessivos
ainda mais escurecidos.
– Meu Deus! Você é tão linda – disse
ele com voz grave e irregular.
– Galanteador – sussurrou Anna com
suavidade.
Evan se sentou ao seu lado, os olhos
buscando os dela enquanto as mãos
longas lhe acariciavam lentamente o
corpo. Anna prendeu a respiração e
enrijeceu com o prazer daquele contato.
Ele baixou a cabeça para beijar um dos
mamilos enrijecidos.
Mas, quando Anna tentou lhe
imobilizar a cabeça para que ele não
interrompesse aquela doce tortura, Evan
fez um movimento negativo e se afastou.
– Temos o resto de nossas vidas para
fazermos amor.
– Foi isso que pareceu – concordou
ela. – Como… amor, quero dizer.
– E não deveria? – perguntou Evan,
olhando-a nos olhos. – Quando duas
pessoas se amam como nos amamos?
O coração de Anna perdeu uma
batida.
– Você… não me ama – sussurrou ela.
– Então, por que me casei com você,
minha pequena? – perguntou ele com a
voz calma. – Se eu quisesse apenas
sexo, qualquer mulher serviria.
Anna pensou que iria desmaiar.
– Estava tentando poupá-la do que
Louisa sofreu em minhas mãos – revelou
ele com um sorriso amargo. – Ela nunca
me amou, e eu nunca me dei conta disso.
Até você me dizer. – A respiração de
Anna estava presa em algum ponto da
garganta quando a mão longa tocou-a no
rosto. – Estava sacrificando minha
felicidade pelo que pensei ser a sua.
Depois do que ouvi de Louisa, fiquei
apavorado com a possibilidade de
machucá-la daquela forma. E você era
tão jovem… mas, quando Randall me
disse que vocês se casariam, pensei que
iria enlouquecer. – Evan deixou escapar
uma risada estrangulada. – E, como se
não bastasse aquilo, você foi assaltada e
só fiquei sabendo muitas horas depois.
Você poderia ter morrido e eu não
estaria ao seu lado. Sua última
lembrança de mim seria o modo como a
magoei – concluiu ele com a voz rouca.
Lágrimas fizeram arder os olhos de
Anna. Os sentimentos de Evan estavam
desnudados em seu rosto e voz. Como
pudera não perceber, não saber?
– Você… me ama! – exclamou ela,
admirada.
– Amo. Adoro. Venero. – Evan lhe
segurou o rosto nas mãos e a beijou com
extrema ternura. – Oh, Deus, você é o ar
que respiro! – Deitando-a sobre o
colchão, ele capturou-a pelos lábios
com uma paixão ardente e brusca. As
mãos fortes lhe explorando o corpo
enquanto a beijava. Anna o
correspondeu, amando-o de modo tão
profundo que chegava a ser doloroso. –
Eu a amo – sussurrou ele por fim contra
o pescoço delicado. – E morrerei a
amando.
Anna o envolveu nos braços, com os
olhos fechados e o coração
transbordando de felicidade.
– Eu também o amo – conseguiu dizer,
envolta na vertigem do prazer. –
Eternamente.
Mais uma vez, Evan se inclinou para
se apossar de seus lábios. O brilho no
olhar antes de beijá-la expressava tanta
adoração que a fez derreter sob ele. O
beijo se prolongou infinitamente, de
formas que nunca haviam se tocado
antes.
Enfim, Evan conseguiu erguer a
cabeça.
– É melhor comer alguma coisa –
murmurou ele, com a voz levemente
alterada. – Tenho de mantê-la forte
pelos próximos dias, depois que você
tiver tido tempo de se recuperar.
Anna soltou uma risada e ergueu o
olhar para encará-lo.
– Isso serve em dobro para você –
murmurou, acanhada. – Também tenho
minhas expectativas.
Uma risada leve escapou dos lábios
de Evan. Um minuto depois, ele a ergueu
nos braços fortes e a carregou até a
mesa do café da manhã. Pela primeira
vez, glorificando-se por ser um homem
forte e pela submissão confiante de
Anna em relação àquela força. Todos os
seus fantasmas banidos da mente agora.
Baixou o olhar à esposa, tão macia em
seus braços, e sentiu-se o dono do
mundo. Sentou-se à mesa com ela em
seu colo. Não satisfeito com isso, deu-
lhe comida na boca.
Daquele momento em diante, seriam
inseparáveis, e cada dia lhes traria uma
nova e ardente lembrança.
Os pesadelos de Anna se dissiparam,
e a penosa experiência do assalto se
reduziu a um simples pesadelo.
Semanas depois, um homem enorme e
cruel foi encontrado morto em um beco,
vítima de overdose. Era suspeito de
vários assaltos violentos em Houston,
informava a reportagem do jornal, com
pelo menos um estupro. Um fim violento
para um homem brutal, mas aquela morte
trouxe paz a Anna.
Polly e Duke recomeçaram uma vida
feliz, juntos, enquanto Anna e Evan se
mudaram para uma casa recém-
restaurada no rancho Tremayne, um
presente de casamento dos irmãos de
Evan. Havia um estúdio para Anna, e ela
voltou a se dedicar à pintura com afinco.
Mas, além das paisagens, ela pintou o
retrato do marido.
– Pareço-me mesmo com esse no
retrato? – perguntou ele enquanto lhe
envolvia a cintura e olhava por sobre o
ombro de Anna para a elaborada
pintura.
– Para mim, sim – respondeu ela, os
olhos transbordando de amor.
Evan sorriu e inclinou a cabeça para
beijá-la. O velho espectro da força e
tamanho excessivos esquecidos para
sempre. Seguro no calor do amor de
Anna, não desejava mais nada. Um
sentimento que ela compartilhava com
toda a força de seu coração.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE
LIVROS, RJ

P198c
Palmer, Diana
Caminhos da sedução [recurso
eletrônico] / Diana Palmer; tradução Vera
Vasconcelos. - 1. ed. - Rio de Janeiro:
Harlequin, 2014.
recurso digital
Tradução de: Evan
Formato: ePub
Requisitos do sistema: Adobe Digital
Editions
Modo de acesso: World Wide Web
ISBN 978-85-398-1648-4 (recurso
eletrônico)
1. Romance americano 2. Livros
eletrônicos. I. Vasconcelos, Vera. II.
Título.
14-15584 CDD: 813
CDU: 821.111(73)-
3

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transmissão, no todo ou em parte.
Todos os personagens desta obra são fictícios.
Qualquer semelhança com pessoas vivas ou
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Título original: EVAN
Copyright © 1991 by Diana Palmer
Originalmente publicado em 1991 por
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Querida leitora
Rosto
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Créditos

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