Você está na página 1de 184

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA – UFV

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS - CCE


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL - DEC
E N G E N H A R I A D E A G R I M E N S U R A - U. F. V.

TOPOGRAFIA:
planimetria para engenheiros
Agrimensores e Cartógrafos
(em desenvolvimento)

PROF. Dalto Domingos Rodrigues

VIÇOSA, 2008
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

SUMÁRIO

I- INTRODUÇÃO GERAL
1- Definições
2- Subdivisões e aplicações da Topografia
3- Estado da Arte
4- Qualidade em mapeamento topográfico
5- Metrologia
5.1- Sistema Internacional de Unidades – SI
5.2- Unidades de medida linear
5.3- Unidades de medida superficial
5.4- Unidades de medida volumétrica
5.5- Unidades de medida angular
5.5-1. No Sistema Internacional de medidas: radianos
5.5-2. Sistema sexagesimal
5.5-3. Sistema centesimal
6- Algarismos Significativos
6.1- Arredondamento
6.2- Operações com algarismos significativos
6.3- Algarismos significativos na Topografia
7- Exercícios

II- GONIOMETRIA
1- Algumas definições: vertical, planos horizontais e verticais, ângulos em topografia
2- Medição simples de ângulos horizontais
2.1- Com trena
2.2- Com teodolito
2.3- Efeito de curvatura da terra em ângulos horizontais
3- Azimutes
3.1- Azimute geográfico
3.2- Azimute magnético
3.3- Azimute plano ou Azimute da Carta
4- Rumos
4.1 Relações entre azimutes e rumos

5- Ângulos horizontais entre alinhamentos a partir de azimutes

6- Ângulos Verticais
6.1 Ângulo Zenital
6.2 Ângulo Nadiral
6.3 Ângulo de inclinação ou simplesmente vertical
6.4 Declividade
6.5 Relações entre as Tangentes de Ângulos Zenitais e de inclinação

III- MEDIÇÃO DE DISTÂNCIAS


1- Introdução
2- Processo Direto
2.1- Fontes de erro
3- Processo Indireto
3.1- Taqueometria
3.2- Utilizando Mira Horizontal
3.3- Medida eletrônica de distâncias horizontais
4- Determinação de distâncias entre pontos inacessíveis e desenvolvimento de bases.
5- Efeito da curvatura da terra nas distâncias horizontais
6- Efeito da altitude nas distâncias horizontais
7- Reduções de distâncias medidas pelo processo direto

IV- INTRODUÇÃO Á TEORIA DOS ERROS


1- Classificação dos erros
Rodrigues, D.D. - 2008 Sumário

2- Algumas definições
3- Propagação das variâncias
4- Algumas derivadas
5- Exercícios propostos

V- LEVANTAMENTO PLANIMÉTRICO DE PONTOS TEMÁTICOS


1- Introdução
1.1- Classificação dos levantamentos.
1.2- Etapas de um levantamento planimétrico
2- Sistema topográfico de referência
3- Azimutes a partir das coordenadas topográficas
4- Métodos para levantamento de pontos temáticos
4.1 Método do alinhamento
4.2 Método das ordenadas
4.3 Interseção linear
4.4 Interseção angular
4.5 Irradiação
5- Azimutes a partir de ângulos horizontais
5.1- Conhecendo-se um azimute de referência
5.2- Conhecendo-se as coordenadas de dois pontos
5.2.1- Ângulo medido e azimute determinado com vértice na mesma estação
5.2.2- Ângulo medido e azimute determinado com vértice em estações diferentes

a. LEVANTAMENTO PLANIMÉTRICO DE PONTOS DE APOIO


1- Trilateração
2- Triangulação
3- Triangulateração
4- Poligonação
4.1- Procedimento para coleta de dados e informações em campo.
4.2- Tipos ou formatos de poligonais, de acordo com a norma ABNT 13133:
4.2.1- Tipo 3: poligonais apoiadas e fechadas em pontos e direções distintas,
com desenvolvimento retilíneo
4.2.2- Tipo 2: poligonais apoiadas e fechadas em pontos e direções distintas,
com desenvolvimento curvo
4.2.3- Tipo 1: poligonais apoiadas e fechadas numa só direção e num só ponto
4.3- Classificação quanto à finalidade
4.4- Processamento dos dados de um levantamento por poligonação.
4.4.1- Transformação dos ângulos horizontais observados em azimutes.
4.4.2- Cálculo do erro de fechamento angular.
4.4.3- Distribuição do erro de fechamento angular.
4.4.4- Cálculo das coordenadas topográficas a partir dos azimutes corrigidos do
erro angular e das distâncias observadas.
4.4.5- Cálculo do erro de fechamento linear.
4.4.6- Distribuição do erro de fechamento linear.
4.4.7- Cálculo das coordenadas topográficas “corrigidas” dos erros angular e
linear.
4.5- Rotina para o processamento de um levantamento planimétrico por poligonação
4.5.1- Processamento dos pontos de apoio
4.5.2- Processamento dos pontos temáticos levantados
5- Exercícios:

VII- INFORMAÇÕES GEOMÉTRICAS A PARTIR DAS COORDENADAS DE TERRENO


1- Introdução
2- Cálculo de distâncias
3- Cálculo de azimutes e rumos
4- Cálculo de ângulos
5- Cálculo de áreas
6- Cálculo do ângulo vertical de inclinação máxima
7- Cálculo da direção da linha de inclinação máxima
8- Cálculo de volumes
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

VIII- DESENHO PLANIMÉTRICO


1- Introdução
2- Escala
3- Erro de graficismo
4- Escala máxima
5- Desenho da planta
6- Memorial descritivo
7- Relatório técnico
8- Informações topográficas a partir da planta planimétrica
8.1- Coordenadas topográficas
8.2- Distancias horizontais
8.3- Azimutes e rumos
8.4- Ângulos horizontais
8.5- Áreas horizontais

IX- INSPEÇAO DE TRABALHOS TOPOGRÁFICOS


1- Introdução
2- Verificação da acurácia planimétrica da escala
2.1- Cálculo do desvio padrão resultante das distâncias medidas no terreno
2.2- Desvio padrão admissível para as discrepâncias entre as distâncias
2.3- Cálculo do padrão de exatidão planimétrica (PEP)
3. Verificação da precisão altimétrica
4. Decreto 89 817/84
Rodrigues, D.D. - 2008 Sumário

BIBLIOGRAFIA:

1- CHAGAS, C. B. Manual do Agrimensor. Rio de Janeiro. Oficinas Gráficas da Diretoria do Serviço


Geográfico – DSG. 1965.

2- COMASTRI, J. A. Topografia – Planimetria. Viçosa. Impressa Universitária, UFV. 1980.

3- Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial- CONMETRO - Resolução


nº 12, de 12 de outubro de 1988.

4- COOPER, M. A. R. Control surveys in civil engineering. London. Collins Professional and


Technical Books. 1987.

5- CRATO, N. Geometria do A4. Revista Actual, 07/06/2003.

6- DOMINGUES, F. A. A. Topografia e Astronomia de posição para Engenheiros e Arquitetos.


São Paulo. McGraw-Hill do Brasil, 1979

7- ESPARTEL, L. Curso de Topografia, Rio de Janeiro. Ed. Globo, 1982.

8- FERREIRA, A. B. de H. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 2ª Ed. revista e


aumentada, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1986.

9- IPEM - INSTITUTO DE PESOS E MEDIDAS do Estado de São Paulo.


http://www.ipem.sp.gov.br/metrologia.asp. Consultada em 03/2007.

10- KAHMEN, H. & FAIG, W. Surveying. Berlin; New York. Walter de Gruyter & Co. 1988.

11- KREYSZIG, E. Matemática Superior; tradução de Carlos Campos de Oliveira. Rio de Janeiro.
LTC – Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1982. Volume 2.

12- LEICK, A. GPS Satellite surveying, John Wiley & sons, INC. 2nd ed.,Orono, Maine, 1995

13- LOCH, C. & CORDINI, J. Topografia Contemporânea: Planimetria. Florianópolis. Editora da


UFSC. 321p. 2000.

14- NBR-13.133 – Norma técnica para Execução de Levantamentos Topográficos, ABNT, Maio de
1994.

15- NGDC - NATIONAL GEOPHYSICAL DATA CENTER – NOAA Satellite and Information Service.
Geomagnetic Field Frequently Asked Questions.
http://www.ngdc.noaa.gov/seg/geomag/faqgeom.shtml#q1. Consultada em 03/2008

16- ON - OBSERVATÓRIO NACIONAL. Geomagnetismo.


http://www.on.br/institucional/geofisica/areapage/geomag.html . Consultada em 03/2008

17- NETO, C.P. & MOREIRA, J.L.K.. Declinação Magnética – ON.


http://staff.on.br/~jlkm/magdec/index.html. Consultada em 03/2008.

18- SILVA, I.da. História dos pesos e medidas. São Carlos. EdUFSCar. 190p. 2004.

19- WOLF, P. R. & BRINKER, R. C. Elementary Surveying. Ninth Edition. New York. HarperCollins
College Publishers, 1994.

20- WOLF, P. R. & GHILANI, C. D.. Elementary Surveying, na introduction to geomatics. Eleventh
Edition. New Jersey. Pearson Prentice Hall, 2006.
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

I - INTRODUÇÃO GERAL

Ao se definir uma ciência, procura-se, normalmente, com poucas palavras, naturalmente


insuficientes, transmitir uma visão geral de seus princípios, meios e fins. Neste capítulo, inicialmente é feito
um paralelo entre Topografia e Geografia procurando definir e relacionar estas duas ciências. A seguir, é
apresentado o estado da arte da Topografia, realizado um breve estudo em metrologia e algarismos
significativos e são sugeridos alguns exercícios relativos à unidades de medida.

1- DEFINIÇÕES
Etimologicamente, TOPOGRAFIA ( do grego topos = lugar, local e grafo = descrição) significa a
descrição minuciosa de uma localidade e GEOGRAFIA (do grego Geografia) é a ciência que tem por objeto
a descrição da superfície da Terra, o estudo dos acidentes físicos, climas, solos, e vegetações, e das
relações entre o meio natural e os grupos. Daí, pode-se observar semelhanças e diferenças entre estas
duas ciências. Enquanto a Geografia preocupa-se com a descrição de uma ampla superfície da Terra, a
Topografia trata da descrição minuciosa de um local ou até mesmo de um objeto. Na superfície terrestre,
aproximadamente esférica, entende-se por local, uma região limitada por um raio de , aproximadamente,
trinta quilômetros (Domingues, 1979), por outro lado, vale observar, que não se atribui um limite inferior de
ação a nenhuma das duas ciências.
Usando diferentes formas de expressão - gráfica, numérica, matemática ou física - o topógrafo
(geógrafo), para descrever um local ou objeto (a superfície da terra) deve transmitir informações
topográficas (geográficas) que são: informações posicionais - a posição de objetos e fenômenos em
relação a um sistema de referência -, informações geométricas - ângulos, distâncias, áreas e volumes - e
informações temáticas - clima, vegetação, obras de engenharia, relevo, solos, etc.

2- SUBDIVISÕES E APLICAÇÕES DA TOPOGRAFIA


Tanto em Topografia como em Geografia a descrição não deve ser puramente sensorial; é
necessário dar dimensão as formas, ou seja, transformar o sensorial em numérico. A fim de livrar-se das
aparências sensoriais o topógrafo e o geógrafo devem saber medir, pesar e contar. Portanto, estas duas
ciências agrupam técnicas de medição, de tratamento dos valores medidos e de representação das
medidas. Obviamente, o topógrafo (geógrafo) deve saber extrair informações topográficas (geográficas) de
expressões numéricas, gráficas e/ou matemáticas e analisá-las.
Devido a amplitude de tais ciências, elas são subdivididas. Na Geografia, a Geodésia se ocupa
com as informações posicionais e geométricas, e diferentes temas dão origem a outros diferentes ramos,
como Geografia Humana, Geografia Política, Oceanografia, Climatologia, etc. Didaticamente, pode-se
subdividir a Topografia em: planimetria, que se ocupa em medir, tratar e representar informações de um
local, em um plano horizontal; altimetria, onde as medidas, o tratamento e representação são realizadas em
um plano vertical; e planialtimetria onde se trabalha com o espaço tridimensional. Pode-se ainda subdividir
a planimetria, altimetria e planialtimetria em quatro tópicos: TOPOMETRIA, título dado aos processos de
medição; TOPOPROCESSAMENTO, que se ocupa do tratamento matemático dos valores medidos;
TOPOLOGIA, que tem por objeto o estudo das formas exteriores da localidade e das leis a que deve

1
Rodrigues, D. D. - 2008 Introdução Geral

obedecer seu modelado; DESENHO TOPOGRÁFICO, constituindo-se da representação, em escala


reduzida, do local a ser descrito e ANÁLISE que trata da extração e interpretação de informações de
arquivos topográficos. A Figura 1.1 mostra as diversas etapas da topografia. Utilizando métodos e
instrumentos adequados é realizado o levantamento de campo onde são medidos ângulos, distâncias, etc.
Uma vez que as medidas topográficas são naturalmente contaminadas por erros, é fundamental o emprego
da estatística no processamento dos dados levantados a fim de avaliar a qualidade das medições, estimar
coordenadas e avaliar a precisão e a confiabilidade dessas estimativas. Um conjunto de coordenadas e
seus desvios padrões forma o modelo numérico ou digital do terreno. A partir do modelo numérico é
possível extrair informações topográficas - inclusive aquelas que não foram diretamente levantadas em
campo - descrever o limite de um lote em uma língua falada e escrita confeccionando o memorial descritivo
e descrever graficamente o terreno, confeccionando a planta. È sob uma planta gráfica que o Arquiteto
projeta a construção, o Engenheiro civil a ponte, o Agrônomo a irrigação e o Engenheiro agrimensor o
sistema cartográfico. A partir da planta também é possível extrair informações topográficas e redigir o
memorial descritivo.

Levantamento de dados, utilizando


métodos e instrumentos adequados.
Grandezas medidas: Ângulos, distâncias,
pseudodistâncias, fases da portadora, etc.
Estas medidas, naturalmente, estarão
contaminadas com erros acidentais,
sistemáticos e grosseiros.

Processamento empregando a estatística,


eliminando as observações com erros grosseiros,
corrigindo os sistemáticos e avaliando a precisão
interna (ou seja, estimando o desvio padrão σ ).

Modelo Numérico (ou Transcrição


Digital) do Terreno:
(MNT ou MDT) Desenho
X , σX Representação Transcrição Memorial
Gráfica ou Planta Descritivo
Y , σY
Digitalização
Z , σZ Medições,
Descrição Temática cálculos,
leituras,
interpretações
e trabalho
sobre a planta

Informações Projetos de Engenharia,


Processamento Topográficas Arquitetura e/ou Agronomia
(posicionais,
geométricas e
temáticas)

Figura 1.1 – Etapas da topografia

2
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

A Topografia pode ser aplicada a vários temas. Qualquer trabalho de Engenharia, Arquitetura ou
Urbanismo se desenvolve em função do terreno sobre o qual se assenta como, por exemplo, obras viárias,
núcleos habitacionais, edifícios, aeroportos, hidrografia, irrigação e drenagem, usinas hidrelétricas,
telecomunicação, sistemas de água e esgoto, cadastramento e planejamento urbano e rural, paisagismo,
etc.
Se se pode sintetizar a atividade de Engenharia utilizando os verbos: descrever, projetar, definir
materializar e monitorar, evidencia-se a importância da Topografia que fornece diretamente meios para
descrever, definir e monitorar espaços físicos – Figura 1.2.
Se o topógrafo tem em mente que todo levantamento topográfico deve, para a sistematização do
mapeamento, ser ligado à planta geral da região, torna-se possível a obtenção de mapas geográficos a
partir de um conjunto de plantas topográficas. Atualmente, com auxílio do sistema de Posicionamento
Global – GPS, a conexão de sistemas topográficos tornou-se relativamente fácil e não há necessidade de
se ater ao princípio: “ ir do geral para o detalhe”.
Um conjunto de plantas topográficas pode, a posteriori, ser conectado a um sistema de referência
municipal, que pode ser ligado a um sistema estadual, que por sua vez pode ser ligado a um sistema
nacional. Obviamente os sistemas de referência devem ser devidamente materializados.
A Figura 1.2 mostra ainda que a atividade de mapear envolve outras atividades como projetar, criar,
organizar, manter e atualizar arquivos de informações topográficas e/ou geográficas.

Descrever Projetar Definir ou Materializar Monitorar


locar

Mapear = Projetar, criar, organizar, manter e atualizar arquivos de informações topográficas


e/ou geográficas.

Figura 1.2: Atividades de Engenharia relacionadas com a Topografia

Seria oportuno finalizar esta introdução com a seguinte frase de Espartel "Laboram em erro aqueles
que julgam a Topografia uma simples aplicação da geometria, pois cada vez mais se alarga seu campo de
ação e cresce a exigência em precisão e perfeição dos trabalhos que lhe estão afetos no campo da prática
profissional, principalmente da Engenharia."

3- ESTADO DA ARTE
O avanço tecnológico das últimas décadas tem influenciado consideravelmente a Topografia. O
desenvolvimento de instrumentos de medida, incluindo sistemas de satélites; de hardwares e de softwares,
propiciando um rápido, seguro e preciso tratamento, representação e análise das medidas topográficas, faz
da Topografia uma ciência em constante evolução.
Atualmente as medidas podem ser realizadas por estações totais (teodolito eletrônico e
distanciômetro incorporados) e por receptores de sinais transmitidos por satélites de navegação. Estas

3
Rodrigues, D. D. - 2008 Introdução Geral

medidas podem ser descarregadas diretamente ao computador e processadas por softwares de boa
qualidade.
A descrição gráfica do objeto levantado pode ser realizada utilizando-se pacotes gráficos,
comumente denominados CAD - "Computer-Aided Design" e o resultado final pode ser analisado utilizando-
se Sistemas de Informações Geográficas - SIG.
No entanto, não basta desenvolver softwares e hardwares, é necessário rever termologias,
conceitos e métodos.

4- QUALIDADE EM MAPEAMENTO TOPOGRÁFICOS


A qualidade de um levantamento topográfico, é bem verdade, está diretamente relacionada com a
precisão obtida no final do processo (coleta de dados no campo, processamento matemático e
representação gráfica). No entanto, a pretensão aqui, não é discutir métodos e instrumentos que melhoram
a precisão; mas apresentar os seguintes princípios básicos, que podem melhorar a qualidade de trabalhos
topográficos:
- empregar a INFORMÁTICA e a ESTATÍSTICA como ferramentas usuais e rotineiras em
todas as etapas do levantamento topográfico;
- o levantamento de detalhes deve ser realizado pensando-se na futura conexão com a planta
municipal;
- topografar além dos limites da área inicialmente definida para ser descrita;
- ter sempre em mente questões sociais e ambientais;
- o levantamento deve ter caráter multifinalitário (mapear vegetação, hidrografia, obras de
engenharia, relevo, solos, etc.) e
- sempre que possível, o trabalho deve ser executado por uma equipe multidisciplinar.

Sendo função do Engenheiro Agrimensor, fundamentalmente, descrever, definir e monitorar


espaços físicos, é evidente a sua necessidade de dominar totalmente a linguagem das medidas. Ele deve
saber empregá-las, representá-las e materializá-las convenientemente. A seguir é apresentado um estudo
resumido sobre metrologia.

5- METROLOGIA
É a ciência que trata das medições. A metrologia abrange todos os aspectos teóricos e práticos
relativos às medições, em quaisquer campos da ciência ou da tecnologia.
Medir é o ato de comparar uma grandeza com uma outra, de mesma natureza, tomada como
padrão. Medição é o conjunto de operações que tem por objetivo determinar um valor de uma grandeza.
Medida é o resultado de uma medição. Na Agrimensura e Cartografia emprega-se também o termo
‘observação’ como sinônimo de medida.
As medidas de grandezas físicas podem ser classificadas em duas categorias: medidas diretas e
indiretas. A medida direta de uma grandeza é o resultado da leitura de uma magnitude mediante o uso de
um instrumento de medição, como por exemplo, um comprimento com uma régua graduada ou um intervalo
de tempo com um cronômetro. Uma medida indireta é a que resulta da aplicação de uma relação

4
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

matemática que vincula a grandeza a ser medida com outras diretamente mensuráveis, como por exemplo,
a distância satélite-receptor obtida multiplicando a velocidade da luz pelo tempo de propagação do sinal.
O conceito de grandeza,ou observável, é fundamental para se efetuar qualquer medição. Grandeza
pode ser definida, resumidamente, como sendo o atributo físico de um corpo que pode ser qualitativamente
distinguido e quantitativamente determinado.
Em Topografia trabalha-se com quatro espécies de grandezas, a saber:
- lineares;
- superficiais;
- volumétricas e
- angulares.

5.1 - Sistema Internacional de Unidades - SI


A necessidade de medir é muito antiga e remonta à origem das civilizações. Por longo tempo cada
país, cada região, teve seu próprio sistema de medidas. As unidades de medidas, entretanto, eram
geralmente arbitrárias e imprecisas, como por exemplo, aquelas baseadas no corpo humano: palmo, pé,
polegada, braça, côvado. Essa diversidade de sistemas criava muitos problemas para o comércio, uma vez
os padrões adotados eram, muitas vezes, subjetivos e variavam de região para região. As quantidades
eram expressas em unidades de medir pouco confiáveis, diferentes umas das outras e sem
correspondência entre si.
Em 1789, numa tentativa de resolver esse problema, a Academia de Ciência da França criou o
Sistema Métrico Decimal (SMD) - um sistema de medidas baseado numa "constante natural", não arbitrária
- constituído inicialmente de três unidades básicas: o metro, que deu nome ao sistema, o litro e o
quilograma.
Em 1960, a Conferência Geral de Pesos e Medidas (CGPM) substituiu o Sistema Métrico Decimal
pelo Sistema Internacional de Unidades (SI), mais complexo e sofisticado que o anterior que foi ampliado de
modo a abranger os diversos tipos de grandezas físicas, compreendendo não somente as medições que
ordinariamente interessam ao comércio e à indústria, mas estendendo-se completamente a tudo o que diz
respeito à ciência da medição.
No Brasil o SMD passou ser o sistema oficial com a promulgação da lei 1.157/1862, mas somente
em Janeiro de 1894 seu uso passou a ser obrigatório. Já o Sistema Internacional de Unidades – SI passou
a ser oficial em 1962. A Resolução nº 12 de 1988 do Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e
Qualidade Industrial - CONMETRO, ratificou a adoção do SI no País e tornou seu uso obrigatório em todo o
território nacional.
Em 1975 e em 1988, o Congresso Americano votou leis adotando as unidades métricas como
unidades preferenciais. No Reino Unido, a partir 01/01/2000, por decreto, todas as unidades de medidas
devem estar de acordo com o Sistema Internacional (SI) – (Silva, 2004).

5.2- Unidades de medida linear:

5
Rodrigues, D. D. - 2008 Introdução Geral

Dentro do Sistema Métrico Decimal, a unidade de medir a grandeza comprimento foi denominada
metro e definida como "a décima milionésima parte da quarta parte do meridiano terrestre". Em 1799, para
materializar o metro, construiu-se uma barra de platina de secção retangular, com 25,3mm de espessura e
com 1m de comprimento de lado a lado, que ficou conhecida como o "metro do arquivo".
Em 1889 mudou-se o padrão para uma barra da liga de platina irradiada com traços separados pela
distância de 1m.
Em 1969 a Conferência Geral mudou o padrão de comprimento para uma constante atômica, o
comprimento de onda da luz vermelho-alaranjada emitida pelos átomos individuais do Criptônio-86, e o
metro passou a ser definido como: 1 metro = 1.650.763,73 comprimentos de onda da luz vermelho-
alaranjada emitida pelos átomos individuais do Criptônio-86.
Essa nova definição permitiu aumentar a precisão da unidade-padrão em cerca de cem vezes
(Silva, 2004) e apresenta como vantagens não ser destrutível, de reprodução confiável e fácil de ser
internacionalizada.
A partir da 17ª Conferência Geral de pesos e medidas, realizada em 1983, o metro passou a ser
definido como sendo comprimento do trajeto percorrido pela luz no vácuo, durante um intervalo de tempo de
1/299.792.458 de segundo.
No sistema internacional de medidas os múltiplos e submúltiplos do metro mais utilizados são:
quilômetro (km), hectômetro (hm), decâmetro (dam), decímetro (dm), centímetro (cm) e milímetro (mm). A
Tabela 1.1 mostra os prefixos dos múltiplos e submúltiplos do SI.
Embora o SI seja o “padrão internacional”, nos EUA e Inglaterra, principalmente, ainda é muito
comum o uso das seguintes unidades:
1 polegada = 1 in = 2,54 cm
1 pé = 1 ft = 12 in = 30,48 cm
1 jarda = 1 yd = 3 ft = 91,44 cm
1 milha = 1 mi = 5.280 ft = 1.609,344 m.
No Brasil emprou-se oficialmente, num passado recente, as seguintes unidades lineares:
1 légua = 3 000 braças = 6 600 m
1 légua marítima = 5 555,55 m
1 quadra = 60 braças = 132 m
1 corda = 15 braças = 33 m
1 braça = 2 varas = 2,20 m
1 vara = 5 palmos = 1,10 m

5.3- Unidades de medida superficial:


No SI a unidade fundamental é o metro quadrado representado por m2 . Os múltiplos e submúltiplos
mais empregados são representados por: km2 , hm2 , dam2 , dm2 , cm2 e mm2 . Para quantificar áreas rurais
emprega-se ainda o hectare, ha, sendo,
1 hectare (ha) = 1 hm² = 10 000 m²
que tem com submúltiplos
1 Are (a) = 10-2 ha = 100 m2 e
-4 2
1 Centiare (ca) = 10 ha = 1m .

6
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

Portanto, 84,3562 ha, por exemplo, pode ser lido como 84 hectares, 35 ares e 62 centiares.
Na Resolução nº 12 de 1988 do CONMETRO o hectare está classificado como “outras unidades
fora do SI e admitidas temporariamente”.

Tabela 1.1: Prefixos do Sistema Internacional de medidas (IPEM-SP)

Nome Símbolo Fator pelo qual a Unidade é Multiplicada

exa E 1018 = 1 000 000 000 000 000 000

peta P 1015 = 1 000 000 000 000 000

tera T 1012 = 1 000 000 000 000

giga G 109 = 1 000 000 000

mega M 106 = 1 000 000

quilo k 103 = 1 000

hecto h 102 = 1 00

deca da 10

deci d 10-1 = 0,1

centi c 10-2 = 0,01

mili m 10-3 = 0,001

micro µ 10-6 = 0,000 001

nano n 10-9 = 0,000 000 001

pico p 10-12 = 0,000 000 000 001

femto f 10-15 = 0,000 000 000 000 001

atto a 10-18 = 0,000 000 000 000 000 001

No passado, que se pode verificar em escrituras antigas, adotou-se no Brasil as unidades de


superfície mostradas na Tabela 1.2. Ainda hoje é comum falar-se em “Alqueire”, unidade que deve ser
substituída por hectare ou unidades do SI.

5.4- Unidades de medida volumétrica:


No SI a unidade fundamental é o metro cúbico, m3 . Para volume menor emprega-se também o litro,
(l ou L), cujos múltiplos e submúltiplos são: kl, hl, dal, dl, cl, ml. Sendo
1 litro = 1 dm3 .
Na Resolução de 1988 do CONMETRO o litro está classificado como “Outras Unidades Aceitas
para Uso com o SI, sem Restrição de Prazo”.

7
Rodrigues, D. D. - 2008 Introdução Geral

Tabela 1.2: Medidas agrárias do sistema antigo brasileiro


com suas respectivas igualdades (Chagas, 1965)
Dimensões Em hectares
Unidade superficial antiga
mxm ha
litro 0,0605
prato 0,0968
Palmo de Sesmaria 0,22 x 6 600 0,1452
Selamim de terras 55 x 27,5 0,1512
Meia quarta 110 x 27,5 0,3025
Quarta de Terra 110 x 55 0,6050
Hectare de Terra 100 x 100 1
Meio Alqueire 110 x 110 1,2100
Braça de Sesmaria 2,2 x 6,6 1,4520
Quadra Quadrada 132 x 132 1,7424
Alqueire (ou alqueire menor) 110 x 220 2,4200
Alqueire Mineiro 165 x 165 2,7200
Alqueire geom. 220 x 220 4,8400
Lote Colonial 2200 x 110 24,2000
Lote Colonial 1 000 x 250 25
Quadra de Sesmaria 132 x 6 600 87,1200
Milhão de Metro 1 000 x 1 000 100,0000
Data de Campo 3 300 x 825 272,2500
Data de Mato 3 300 x 1 650 544,5000
Sesmaria de Mato 3 300 x 3 300 1 089,0000
Légua de Sesmaria 6 600 x 6 600 4.356,0000
Sesmaria de Campo 6 600 x 19 800 13 068,0000

5.5- Unidades de medida angular:


Baseia-se na divisão da circunferência em partes iguais.

5.5.1- No Sistema Internacional de medidas: radianos


No SI a unidade fundamental para ângulo plano é o Radiano, (rad), que é o ângulo central
subtendido por um arco de círculo de comprimento igual ao do respectivo raio sendo, portanto, uma

circunferência dividida em 2π partes iguais. Vale lembrar que π (PI) é o valor da razão entre o comprimento
da circunferência e seu diâmetro. Esse número irracional é expresso por uma dizima infinita não periódica,
que nos dias de hoje, com a ajuda dos computadores, já é possível determinar com centenas de milhões de
casa decimais. Com cinqüenta casas decimais o valor de PI é
(http://www.educ.fc.ul.pt/icm/icm99/icm17/pi.htm ):

π = 3,14159 26535 89793 23846 26433 83279 50288 41971 69399 3751 !

Um ângulo θ qualquer, Figura 1.3, é a razão entre o comprimento do arco de circunferência, l,


formado pelo ângulo e o raio da circunferência, R, ou seja,

8
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

l m cm km (1.1)
θ= radianos = = = = ⋅⋅⋅
R m cm km

R
l
θ

Figura 1.3: relação entre medidas lineares


e angulares

5.5.2- Sistema sexagesimal:


Neste sistema, a circunferência é divida em 360 partes iguais, sendo cada parte denominada grau
o
( ). Um grau é dividido em 60 partes iguais denominadas, minutos ( ’ ). Um minuto é dividido em 60 partes
iguais denominadas, segundos ( ” ).
Na Resolução de 1988 do CONMETRO, grau, minuto e segundos estão classificadas como
“Outras Unidades Aceitas para Uso com o SI, sem Restrição de Prazo”.
Verifique que um minuto é da ordem de 10-2 graus (1’ = 0,02º) e um segundo é da ordem de 10-4
graus (1” = 0,000 3º ). O seno de 1’ é da ordem 10-4 (sen1’ = 0,000 3) e o co-seno de 1’ difere de 1 na
ordem de 10-8. O seno de 1” é da ordem 10-6 (sen1” = 0,000 005) e o co-seno de 1” difere de 1 na ordem de
10-11. Por isso, se se está trabalhando com métodos e instrumentos com precisão de 1’ deve-se trabalhar
com, no mínimo, oito casas decimais do seno e do co-seno e se a precisão do instrumento e método
empregados for 1”, com onze casa decimais.
Sabendo que no sistema sexagesimal uma circunferência é dividida em 360 partes iguais e que em
radianos, em 2π partes iguais, constata-se que:
um grau é da ordem de 10-2 radianos (1º = 0,02 rad), um minuto da ordem de 10-4 radianos (1’ =
0,000 3) e um segundo da ordem de 10-6 rad (1” = 0,000 005 rad). Assim, deve-se tomar cuidado nos
arredondamentos de ângulos em radianos. Verifique ainda que
1
1 rad = 57,295 780 o = 206 265” = . (1.2)
sen 1"

O valor 206 265 é representado pela letra grega ρ e muito utilizado em Agrimensura e Cartografia. Ele diz
quantos segundos há em cada radiano ( ρ = 206 625 " / rad ). Portanto, para transformar um ângulo em

radianos para segundos do sistema sexagesimal basta multiplicar o valor em radianos por ρ ou o dividi-lo
pelo seno de 1”

5.5.3- Sistema Centesimal:


Este sistema não está definido no SI. Nele a circunferência é divida em 400 partes iguais,
sendo cada parte denominada GRADO ( g ). Um grado é dividido em 100 partes iguais denominadas,

9
Rodrigues, D. D. - 2008 Introdução Geral

MINUTOS ( ’ ) ou centígrados. Um minuto é dividido em 100 partes iguais denominadas, SEGUNDOS ( ”


)ou decimiligrados. Sendo
380,2345 grados = 380 grados, 23 centígrados e 45 decimiligrados
g
ou 380 23’ 45” .

6 - ALGARISMOS SIGNIFICATIVOS:
A Figura 1.4 mostra a medição de uma distância ‘d’ com uma régua milimétrica. Nela verifica-se
que o valor numérico da distância é um pouco maior que 5,6 cm. Pode-se verificar ainda que esse “um
pouco maior” está por volta de 0,3, 0,4 ou 0,5 mm, portanto, a medida está entre 5,63 e 5,65 cm e pode-se
anotar o valor 5,64 para a distância d, convicto dos algarismos 5 e 6 e não tão convicto do algarismo 4. Os
algarismos 5 e 6 são tidos como “corretos” e 4 como “duvidoso”. Esses são os algarismos significativos
(A.S.) usados para expressar a distância d. Ao anotar, expressar, uma medida só se emprega um, e
somente um, algarismo duvidoso.

0 1 2 3 4 5 6 7 cm

Figura 1.4 : Medição de uma distância com uma régua milimétrica.

A medida de uma grandeza física é sempre aproximada e, por mais preciso que seja o aparelho
e o método e o número de algarismos significativos usado para representar a medida, deve expressar a
precisão do instrumento e do método. Quanto maior a precisão, maior o número de algarismos
significativos e o vice-versa deve ser verdadeiro. Com uma régua milimétrica é impossível precisar os
décimos de milímetros e a medida deve ser anotada com no máximo três algarismos significativos.
A medida de d é portanto 56,4 mm = 5,64 cm = 0,0564 m = 0,000 056 4 km, todas anotações
com três A.S. Deve-se observar que:
• Zeros à esquerda do primeiro algarismo significativo não são significativos;
• Zeros entre A.S. são significativos;
• Zeros a direita de A.S. são significativos. Dessa forma 5,640 cm tem quatro A.S. e é,
portanto, fisicamente diferente de 5,64 cm; embora, matematicamente iguais.
• Zeros ao final de um número inteiro podem ou não ser significativos. Uma medida
representada por 1500, por exemplo, pode ter dois, três ou quatro A.S. Para eliminar
esta ambigüidade recomenda-se o uso da notação científica.
Na notação científica escreve-se o número referindo à potência de 10 conveniente e,
conservando-se à esquerda da vírgula, apenas um dígito diferente de zero. Por exemplo:
1500 = 1,500 x 103, com quatro A.S., 1,50 x 103, com três e 1,5 x 103, com dois A.S;
12 = 1,2 x 10 (dois A.S.);
10 = 1,0 x 10 (dois A.S.)
10 = 1 x 10 (um A.S.);
1,000 2 = 1,000 2 ( cinco A.S.);

10
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

0,000 056 4 = 5,64 x 10-5 (três A.S.), etc.


A notação científica tem a vantagem de mostrar claramente a ordem de grandeza e o número de A.S.
Quando valores observados são envolvidos em operações matemáticas de adição, subtração,
multiplicação e divisão é necessário que o número de A.S. na resposta seja consistente com o número
de A.S. das medidas envolvidas. Normalmente há necessidade de arredondar a notação.

6.1 – Arredondamento
Quando for necessário fazer arredondamento de algum número, utiliza-se a seguinte regra:
1. Quando o algarismo posterior ao último A.S. a ser anotado for menor que 5, este e os
subseqüentes são abandonados;
2. Quando o algarismo posterior for igual a 5 arredonda-se o último A.S. para o número par
mais próximo e
3. Quando o algarismo posterior for maior que 5, soma-se uma unidade ao último A.S. a
ser anotado. Por exemplo:
Se o número 7,2752 deve ser expresso com um, dois, três e quatro A.S. ele deve ser
arredondado para 7; 7,3; 7,28 e 7,275, respectivamente. Observe que o 7,2852 com três A.S. também é
7,28.
Os procedimentos 1 e 3 são prática padrão. Já o procedimento 2 não. Alguns simplesmente
abandonam os próximos dígitos e outros adicionam uma unidade ao último A.S. Usando a regra do par
mais próximo estabelece-se um procedimento uniforme e produzem-se resultados melhor balanceados
numa série de cálculos, ( Wolf, 2006).

6.2 – Operações com algarismos significativos

Soma e subtração: os três passos seguintes devem ser seguidos, (Wolf, 2006):
1. Executar a adição ou subtração sem nenhum arredondamento considerando todas as
casas decimais;
2. Identificar a coluna que contém o A.S. mais a esquerda entre as medidas envolvidas
e
3. Arredondar a resposta para que seu A.S. mais a direita esteja na coluna identificada no
passo 2. Por exemplo:
0,1875
+ 3,243
+ 22,13 22,321
+ 105,2 − 0,000 6
( Resposta: 230,8); (R: 22,320);
230,7605 22,3204

Outros exemplos: 734,3612 + 23,52 + 5,0 = 762,9 e 439 – 4,5 = 434.

Resumindo, na soma ou subtração o último A.S. do resultado deve estar na coluna do algarismo
duvidoso mais a esquerda entre as medidas envolvidas.

11
Rodrigues, D. D. - 2008 Introdução Geral

Obviamente as medidas envolvidas devem estar na mesma unidade. Não se soma ou subtrai
metros a centímetros, metros quadrados, radianos ou segundos!
2,653 m + 53,8 cm +375 cm + 3,782 m = 2,653 m + 0,538 m + 3,75 m +3,782 m = 10,72 m.

Multiplicação e divisão: a regra é anotar o resultado da operação com o mesmo número de


A.S. da medida que tiver o menor número de A.S. Por exemplo:
32,74 cm x 25,2 cm = 825,048 cm2 = 825 cm2.
32,74 cm2 x 3,8 cm = 124,412 cm3 = 1,2 x 102 cm3.

6.3 –Algarismos significativos na Topografia


Em Topografia o número de A.S. das medidas é que ditam o número de A. S. dos resultados
derivados de cálculos envolvendo-as. Para as distâncias são empregados, normalmente, instrumentos
com precisão milimétrica e para os ângulos instrumentos com precisão de minutos e até mesmo
segundos.
Nos cálculos intermediários é prática comum considerar ao menos um digito a mais que o
necessário e arredondar o resultado final para o número correto de A.S.
Cada fator pode não causar igual variação. Por exemplo, no cálculo de uma distância inclinada,
ou espacial, a partir de distâncias horizontal e vertical como mostrado na Figura 1.5.

Di = 100,32
DV = 8,0

DH = 100,00

Figura 1.5 : Distância inclinada a partir das distâncias horizontal e vertical

A distância vertical, DV, é dada com dois A.S. e a horizontal, DH, com cinco. Destes dados a
distância inclinada é calculada com cinco A.S., uma vez que, para pequenos ângulos de inclinação, uma
variação considerável na distância vertical produz uma pequena variação na diferença entre distância
inclinada e distância horizontal, (Wolf,2006).
Na conversão de unidades, uma boa regra é manter o número de A.S. da medida original.

7 - EXERCÍCIOS
1) Transformar a área de 21 alqueires, 3 quartas e 15 litros em hectare.
2) Qual a altura de lâmina d'água de 1000 litros distribuídos uniformemente em 5 m² ?
3) Transformar - 30,4560 graus, em graus, minutos e segundos; e - 60° 45' 50" em graus.
4) Qual a distância linear entre dois traços mais próximos de um círculo com 10 cm de raio,
dividido em 720 partes iguais (0,5 graus/parte)? E se o raio fosse 7 cm?
5) Verifique em uma calculadora o valor do seno de 1” . E o inverso desse valor, qual é ?
6) Transformar 648 000 " em radianos e 1 rad em segundos sexagesimais.

TRABALHO: Elaborar algoritmos para transformar graus em graus, minutos e segundos e vice-versa.

12
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

II - GONIOMETRIA
____________________________________________________________________________________
Viu-se no capítulo anterior que o Engenheiro Agrimensor para livrar-se da descrição puramente
sensorial de um lugar, deve medir. Medir ângulos, distâncias e/ou grandezas relacionadas com a
propagação de sinais eletromagnéticos.
Goniometria é o capítulo da topografia que trata das técnicas para medição de ângulos. Neste
capítulo, inicialmente são apresentadas algumas definições básicas para a compreensão de tais
técnicas. A seguir, no item 2, trata-se da medição simples de ângulos horizontais com trena e teodolitos,
analisando o efeito da curvatura Terra nesses ângulos. No item 3 é feito um breve estudo de ‘azimutes’,
ângulos horizontais com origem no lado norte do meridiano do observador e no item 4 é apresentada
outra forma de representar a orientação em relação ao norte, os ’rumos’, relacionado-os com os
azimutes. No item 5, trata-se da obtenção de ângulos horizontais a partir de azimutes e no item 6
descreve-se brevemente ‘ângulos verticais’, assunto que será melhor estudado em texto específico de
altimetria.
____________________________________________________________________________________

1- ALGUMAS DEFINIÇÕES

a) Verticais: São linhas força do campo gravitacional terrestre – Figura 2.1.

Vertical de um ponto P: é a reta tangente P



à linha de força nesse ponto. Representa
a direção do vetor gravidade e pode ser
materializada pelo fio de prumo.

Figura 2.1 - Campo gravitacional terrestre e


vertical em um ponto P.

b) Plano horizontal: Qualquer plano perpendicular à vertical.


c) Ângulo Horizontal (α): Qualquer ângulo medido em um plano horizontal. Figura 2.2.
d) Plano vertical: Qualquer plano que contenha a vertical.
e) Ângulo Vertical (θ) : Qualquer ângulo medido em um plano vertical. Figura 2.3
f) Equador: Plano que contém o centro da Terra e é perpendicular ao seu eixo de rotação.
g) Paralelos: Planos paralelos ao equador.
h) Meridianos: Planos verticais que contém o eixo de rotação da Terra.
i) Meridiano Zero : é o meridiano definido pelas estações que acompanham o movimento de rotação
da Terra. Está cerca de 100 m a leste do meridiano do eixo ótico do telescópio do

13
Rodrigues, D. D .- 2008 Goniometria

observatório de Greenwich, que de 1884 a 1987 foi o meridiano zero ou meridiano de


origem ou ainda, primeiro meridiano ou “International Reference Meridian – IRM”.

VT

• P
θ
P • α
HZ Vertical de P
Vertical de P

Figura 2.2 - Plano e Ângulo Horizontais Figura 2.3 - Plano e Ângulo Verticais

j) Latitude de um ponto: é o ângulo, medido no meridiano do ponto, formado pela vertical deste ponto
com sua projeção equatorial. Sua contagem é feita com origem no equador e varia de 0° a
90°, positivamente para o norte (N) e negativamente para o sul (S). Figura 2.4.
k) Longitude de um ponto: é o ângulo, medido no equador, entre o meridiano zero e o meridiano do
ponto. Sua contagem é feita de 0° a 180°, positivamente para leste (L ou E) e
negativamente para oeste (O ou W). Figura 2.4.

PN

Meridiano Zero
L
Equador

Longitude de P
Meridiano de P O

P ●
Latitude de P

Vertical de P PS

Figura 2.4 – Coordenadas geográficas

l) Circunferência máxima: Circunferência formada pela interseção de qualquer plano que contém o
centro de uma esfera com a sua superfície. Tem o mesmo raio da esfera.

14
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

m) Distância esférica: distâncias medidas ao longo de circunferências que podem ser meridianos, (dM),
equador (dEQ), paralelos (dP) ou uma circunferência máxima qualquer (de), conforme
Figura 2.5. Nesta Figura PS representa o pólo sul; PN o pólo norte; QQ’ o equador; R o
raio do modelo terrestre esférico; f latitude de um paralelo; Df diferença de latitudes;

Dλ diferença de longitudes e B e C representam as posições de dois pontos no


hemisfério sul, sobre a superfície esférica.

PS PS

Dλ Rcosf
• C
de
dP Dλ
fC
f
dM Df Q’ B•
Q’ Q Q
de R fB

dEQ

PN PN
Figura 2.5 – Distâncias esféricas

A distância esférica ao longo de um meridiano, uma circunferência máxima, é dada por:

d M = R ⋅ ∆ϕ rad (2.1)

e ao longo do equador, também uma circunferência máxima, por:

dEQ = R ⋅ ∆λ rad (2.2)

Portanto, considerando o raio do modelo esférico da Terra, R, igual a 6 371 km, para seguimentos ao
longo de meridianos ou do equador, um ângulo (Dλ ou Df) de 1º (um grau) corresponde a 111 km, de 1’
a 1,9 km e de 1” a 30 m, aproximadamente.
Já uma distância esférica ao longo de um paralelo de latitude f é dada por:

dP = R ⋅ cos ϕ ⋅ ∆λ rad (2.3)

e ao longo de uma circunferência máxima qualquer unindo dois pontos - pontos B e C da Figura 2.5, por
exemplo - de latitude e longitude conhecidas, pode ser determinada empregando as equações (2.4) e
(2.5), a seguir:

15
Rodrigues, D. D .- 2008 Goniometria

cos d e = sen ϕB ⋅ sen ϕ C + cos ϕB ⋅ cos ϕ C ⋅ cos ∆λ (2.4)

d e = R ⋅ d rad
e (2.5)

Após estas definições está-se apto para o estudo das técnicas simples de medição dos ângulos
normalmente empregados na Engenharia.

2- MEDIÇÃO SIMPLES DE ÂNGULOS HORIZONTAIS

Em textos mais avançados serão estudados métodos que permitem a eliminação de erros
sempre presentes na medição de ângulos. Por hora, serão tratados apenas dos métodos simples, sem a
preocupação com a eliminação de erros residuais.

2.1- Com trena:

Parte-se do princípio de que “medindo três lados de um triângulo é possível determinar seus
ângulos”. Se os segmentos medidos estão contidos em um plano horizontal os ângulos serão
horizontais, se estão em um plano vertical serão verticais e se estiverem contidos em planos inclinados
os ângulos serão espaciais – Figura 2.6. Obviamente, erros cometidos na medição das distâncias
afetarão os valores determinados para os ângulos.
Para calcular os ângulos emprega-se a lei dos co-senos, equação 2.6.

B
HZ
b
a
α
A
c

Figura 2.6 – Ângulo com trena

a 2 = b 2 + c 2 − 2 ⋅ b ⋅ c ⋅ cos α (2.6)

Portanto
b2 + c2 − a2 (2.7)
α = arccos ( )
2 ⋅b ⋅c

EXERCÍCIO:
Para quais valores de a, b e c o ângulo α será reto (90o ) ?

16
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

2.2- Com teodolito

Instrumentos que medem ângulos são chamados ‘goniômetros’; se medem ângulos horizontais e
verticais, ‘teodolito’ e se medem, eletronicamente, ângulos horizontais e verticais e distâncias, ‘estação
total’.
Os limbos - círculos graduados - dos instrumentos empregados em topografia são graduados
nos sentidos, horário e anti-horário. Empregando a graduação horária o ângulo medido é chamado de
‘ângulo horário’ e, caso contrário, ‘ângulo anti-horário’ independentemente do sentido em que o
instrumento é girado, uma vez que o limbo permanece fixo e o que gira é a marca de referência para
leitura ou o vernier. Observe na Figura 2.7 que o ângulo medido é o ângulo horário BÂC porque a
graduação empregada é horária, a origem está em B e o término está em C. Observe que isto independe
do sentido em que o vernier é girado.
Em verdade, não se mede um ângulo diretamente, mas sim duas direções: a direção inicial e a
final. O ângulo é resultado da diferença dessas direções, ou seja:

α = δ final − δ inicial (2.8)

e se o instrumento é zerado na direção inicial, o ângulo observado será igual a direção final.
O ângulo horário BÂC da Figura 2.7, por exemplo, é derivado das direções horárias, inicial (δAB)

e final (δAC):

BÂC = δ AC − δ AB , (2.9)

δAB B

20
. 30
..
10 10
0 A
0
δAC
C
350

Figura 2.7: Leitura de um ângulo horário com um teodolito mecânico

A Figura 2.8 mostra dois ângulos com mesma direção de origem (δAB) e de término (δAC); porém,
um é horário e o outro anti-horário.

17
Rodrigues, D. D .- 2008 Goniometria

Ângulo anti-horário BÂC


δAC
δAB
C A
B
Ângulo horário BÂC

Figura 2.8: Ângulo horário e ângulo anti-horário

2.3- Efeitos da curvatura da terra em ângulos horizontais

Em uma região pequena, num raio de aproximadamente 30 Km – campo de atuação da


topografia – pode-se admitir a Terra como um plano. Para uma região um pouco maior, pode-se admitir
um modelo esférico para a forma da Terra. Para a Terra como um todo, o modelo geométrico que mais
se adapta à Terra é o elipsóide de revolução – obtido girando uma elipse em torno de seu eixo menor.
Todos estes são modelos matemáticos, figuras exatas, para a forma da Terra. Em verdade ela se
diferencia de todos eles. O modelo físico para a Terra é o Geóide – superfície de mesmo potencial
gravitacional à altura do nível médio dos mares - Figura 2.9.

Superfície Física

Superfície Esférica
Plano Topográfico

Superfície Elipsoidal

Superfície Geoidal

Figura 2.9 – Modelos Terrestres

Quando as grandezas medidas sobre a Terra são tratadas como se tivessem sido realizadas em
um plano, cometem-se erros. Se se supõe que as medidas foram realizadas sobre uma esfera – e as
tratam como tal - estes erros serão menores e se se considera que foram realizadas sobre o elipsóide,
menores ainda. Trabalhando com o geóide, chega-se mais próximo dos valores naturais.

18
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

Se se admite a Terra como um plano, precisa-se diminuir o raio de ação para minimizar os erros.
À medida que se aumenta este raio devem-se considerar o modelo esférico, elipsóidico ou geoidal, e
aprimorar os métodos de medição, processamento e representação.
Em um plano, a soma dos ângulos internos de um triângulo é 180o; já em uma esfera, esta soma
é um pouco maior. O que excede de 180o é chamado de ‘excesso esférico’, cujo valor dá uma idéia do
erro que se comete nos ângulos ao admiti-los como planos e, portanto, do raio de ação em que se pode
admitir a Terra como tal.
Seja a Figura 2.10 um triângulo esférico de área S. A soma dos ângulos internos do triângulo
será:

 + B̂ + Ĉ = 180 o + ε (2.10)

onde ε é o excesso esférico que, em segundos sexagesimais, pode ser calculado por (Espartel, 1982):

S 1 (2.11)
ε ′′ = ⋅
R 2 sen 1′′

sendo R o raio da esfera modelo.

c
B

A
S

a
b

Figura 2.10 – Triângulo esférico.

Segundo o teorema de Legendre, para triângulos com lados menores que 120 km, a área de um
triângulo esférico é igual à área do triângulo plano cujos lados têm o mesmo comprimento dos
correspondentes lados do esférico, ou seja, o triângulo plano da Figura 2.11 tem a mesma área do
esférico da Figura 2.10, pois seus lados correspondentes têm o mesmo comprimento, quais sejam: a, b e
c.
c

S
a
b

Figura 2.11 - Triângulo plano correspondente ao triângulo esférico da Figura 2.9

19
Rodrigues, D. D .- 2008 Goniometria

Para um triângulo plano eqüilátero de lados iguais a l a área S pode ser dada por:

l2 ⋅ 3
S= (2.12)
4 ⋅R2
e portanto

l2 ⋅ 3 1
ε ′′ = ⋅ (2.13)
4 ⋅ R sen 1′′
2

Adotando o valor de 6 371 km para o raio da Terra, pode-se verificar que para l = 30 km, ε = 2”.

EXERCÍCIO:
Calcular o excesso esférico, ε, para l igual a 10 km, admitindo R = 6 371 km.

3- AZIMUTES

Azimutes são ângulos horizontais horários com origem no lado norte do meridiano que passa
pelo vértice, variando de 0 a 360o, Figura 2.12, empregados para orientar plantas topográficas em
relação ao eixo de rotação da Terra. Na referida Figura, AZAB é o azimute de A para B; azimute, medido
na estação A, da direção AB.

N HZ

C •B
AZ AB


A
AZ AC

Figura 2.12: Azimute

Se o meridiano adotado é o natural ou astronômico, o azimute com origem no lado norte do


meridiano é chamado de ‘azimute natural ou verdadeiro’ (pode ser determinado através de métodos
astronômicos realizando observações ao sol ou às estrelas); se o meridiano for o geodésico tem-se o
‘azimute geodésico’ (determinado, por exemplo, através de observações a satélites de navegação); se o
meridiano for o magnético, tem-se o ‘azimute magnético’, [3.2], e se a origem for um alinhamento
paralelo ao meridiano central tem-se o ‘azimute plano’, [3.3].
Azimute astronômico, determinado e usado em astronomia de posição, é o azimute que tem
como origem o lado sul do meridiano astronômico.
Todos esses azimutes são relacionados entre si e um pode ser determinado a partir do outro.

20
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

3.1- Azimute geográfico (AZG)

Neste texto, serão desconsideradas as diferenças entre meridiano astronômico e geodésico e


azimute geográfico pode ser o natural, o geodésico ou um ângulo bem próximo destes (na ordem de
minutos). Na Figura 2.13 estão representados dois pontos, A e B, os meridianos geográficos destes
pontos, o azimute geográfico de A para B, AZ GAB , e o azimute geográfico de B para A, AZBA
G
. Observe

que, em pontos fora do equador, as tangentes aos meridianos não são paralelas e conseqüentemente o
módulo da diferença entre os azimutes de A para B e de B para A não é exatamente igual a 180o, ou
seja,

AZ GAB − AZ BA
G
= ± 180 o ± Ce (2.14)

onde o ângulo Ce é chamado de convergência meridiana esférica.


No caso da Figura 2.13,

AZ GAB = AZ BA
G
+ Ce − 180 o . (2.15)

NGB
NGA

AZ GAB
B• AZ BA
G

A •

Ce


Polo Sul

Figura 2.13 – Azimutes geográficos e convergência meridiana esférica.

3.1.1 - Métodos aproximados para determinação do meridiano geográfico

Devido ao tempo gasto e a imprecisão, esses métodos raramente são usados, mas servem para
estimular a curiosidade em relação à astronomia de posição. Os métodos apresentados se baseiam na
hipótese, sabidamente não verdadeira, de que o sol percorre trajetórias circulares com a rotação da
Terra e que o ápice da trajetória ocorre quando ele cruza o meridiano do lugar, de forma que ao
determinar esse ápice, materializa-se o meridiano geográfico.

a) Método das sombras:

21
Rodrigues, D. D .- 2008 Goniometria

O meridiano geográfico pode ser materializado dispondo-se de um mastro, uma estaca ou um


poste devidamente verticalizado e marcando, em horas simétricas às 12:00 h, de meia em meia ou de
hora em hora, a posição da sombra de seu topo. Na Figura 2.14, os pontos 1, 2, 3, e 4 representam as
posições da sombra do topo de um mastro posicionado no ponto A, às 10:00, 11:00, 13:00 e 14:00 h.
Uma curva pode ser ajustada a estes pontos. Com um cordão amarrado ao mastro traça-se uma curva
com raio qualquer de forma a cruzar a curva definida pelos pontos marcados. Os pontos P e Q são
definidos pelas interseções dessas curvas. A linha que contém o mastro e é simétrica aos pontos P e Q
é a direção aproximada do meridiano. Segundo Wolf, 2006, se o terreno for plano, o mastro bem
verticalizado, e as posições das sombras marcadas com o devido cuidado pode-se materializar o
meridiano com uma acurácia de 30’.

NG

2 3
P Q
1 4
c

Figura 2.14 – Materialização do meridiano geográfico pelo método das sombras.

b) Método das alturas iguais


Instalado um teodolito em uma estação A, observa-se o sol às 9:00 horas, aproximadamente,
conforme mostrado na Figura 2.15, anotando o ângulo zenital, abaixando a luneta e marcando o ponto P
a, aproximadamente, 150 m do ponto A. Por volta das 15:00 horas, fixa-se a luneta, com a precisão que
o instrumento permite, na elevação do ângulo zenital lido e, acompanhando o sol∗ - sem alterar o ângulo
zenital da luneta - determina-se a direção horizontal para a qual o sol estará novamente na mesma
altura. Nesta posição, baixa-se a luneta e marca-se o ponto Q, também a, aproximadamente, 150 m do

ponto A. A bissetriz do ângulo horizontal PÂQ materializa o meridiano geográfico e a partir dele pode-se
medir azimutes geográficos de qualquer alinhamento.
Ao observar o sol pode-se tomar como referência o seu centro, que é um ponto de referência
impreciso, e tentar passar por ele o cruzamento dos fios do retículo; porém o melhor é tangenciar, nos
fios, as bordas inferior e direita de manhã e as bordas inferior e esquerda à tarde, como mostrado na
Figura 2.15.


Nunca se observa o sol diretamente através de uma luneta sem algum redutor de luminosidade ou filtro. Outra
opção além do uso do filtro é projetar o sol em um papel branco atrás da ocular.
22
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

Para obter melhores resultados e contornar a possibilidade de que nuvens impeçam o êxito do
trabalho recomenda-se realizar observações em outras horas simétricas ao meio dia como 10:00, 11:00
h, 13:00 e 14:00 h, aproximadamente.

≈ 9:00 h NG
≈ 15:00 h

PÂQ PÂQ
P 2 2 Q

Estação A

Figura 2.15 – Materialização do meridiano geográfico pelo método das alturas iguais do sol.

3.2- Azimute Magnético (AZM)

Definido como o ângulo horizontal horário que o lado norte do meridiano magnético faz com um
alinhamento.
Meridiano magnético: Plano que contém a tangente a uma linha de força do campo magnético
terrestre e os pólos magnéticos - Figura 2.14. È bom lembrar que estes pólos não coincidem com os
pólos geográficos. Em 2005 o pólo norte magnético estava localizado aproximadamente a 118º a oeste
de Greenwich e a 83º acima do equador. Já o pólo sul magnético situava-se, aproximadamente, na
longitude 138º leste e latitude 64º sul (NGDC, 2008).

Polo Norte
Magnético
Meridiano Magnético

Polo Sul
Magnético
Figura 2.14: Meridianos e pólos magnéticos

23
Rodrigues, D. D .- 2008 Goniometria

A tangente ao meridiano magnético em um determinado ponto é materializada por uma agulha


imantada, apoiada em seu centro de gravidade e com liberdade para girar. A Figura 2.15, representa
esta agulha. A ponta da agulha que aponta para o pólo norte é denominada ‘ponta norte’.

NM

Figura 2.15 – Agulha imantada

Devido à força magnética, essa agulha se inclina em relação ao plano horizontal e orienta-se
segundo o plano vertical do meridiano magnético, dando origem à inclinação magnética – ângulo vertical
θ das Figuras 2.16-a e 2.16-b. Essa inclinação aumenta com a latitude dificultando o emprego de
bússolas em latitudes acima de 60º. Um contrapeso faz com que a agulha permaneça na horizontal.

NM
θ H H’
H H’ θ
NM

Figura 2.16-a: Inclinação magnética em Figura 2.16-b: Inclinação magnética em


uma agulha no hemisfério Sul magnético. uma agulha no hemisfério Norte magnético.

A Figura 2.17 mostra a variação geográfica da inclinação magnética em relação ao eixo de


rotação da Terra (I). A linha formada por pontos onde a inclinação é nula denomina-se ‘equador
magnético’.
Declinação Magnética ( δ ): É o ângulo horizontal que o meridiano magnético forma com o
meridiano geográfico em um determinado ponto, ou seja, é a diferença entre os azimutes geográfico e
magnético de um mesmo alinhamento, ou ainda,

δ A = AZ GAB − AZMAB (2.16)

Se o azimute magnético é maior que o geográfico (norte magnético a oeste do geográfico), a


declinação é negativa e dita ‘declinação ocidental’; caso contrário (norte magnético a leste do
geográfico), é dita ‘declinação oriental’, como mostram as Figuras 2.18-a e 2.18-b. A declinação pode ser
determinada por magnetômetros, bússola e teodolito ou de forma aproximada, empregando bússolas e
uma carta, de onde se determina o azimute geográfico.
A declinação magnética varia com a posição geográfica e com tempo. A Figura 2.19 mostra um
mapa com valores da declinação para o ano 2000. Linhas de mesma declinação magnética são
denominadas ‘Isogônicas’. Na Figura 2.19 observa-se que a declinação magnética, no Brasil, em 2000,
estava entre -23o (ou 23o W), no extremo leste do País, a –3o (3o W), no extremo oeste.

24
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

Figura 2.17 – Variação geográfica da inclinação magnética em relação ao eixo de rotação


da Terra (I) - (Fonte: NGDC, 2008)

NG NG
NM δ<0
δ>0 NM
δw δe

O L O L

Figura 2.18-a: Declinação negativa Figura 2.18-b: Declinação positiva


ou ocidental ou oriental

As variações do campo magnético podem ser de curto ou longo período, bem como sofrer
anomalias devido às tormentas magnéticas. Elas podem ter origem no interior ou exterior da Terra. A
variação de fonte interna, também chamada variação secular, deve-se ao movimento das cargas
elétricas da parte líquida do núcleo terrestre (formado por níquel e ferro), que funciona como um ímã cujo
magnetismo dá origem ao campo magnético terrestre. A variação de fonte externa está ligada à atividade
solar, que altera o sistema de correntes formado por partículas eletricamente carregadas da ionosfera. O
campo magnético terrestre é influenciado pela energia solar recebida pela Terra, que varia em função de
fatores como estações do ano, períodos do dia ou ocorrência de explosões solares (NGDC, 2008).
& ): Obviamente, variações no campo magnético terrestre, com tempo,
Variações da declinação ( δ
levam a variações na declinação magnética. Estas variações dependem da posição geográfica e podem
25
Rodrigues, D. D .- 2008 Goniometria

chegar a 10’ por dia. O Observatório Nacional publica, de cinco em cinco anos, arquivos ou cartas
magnéticas do Brasil que contém as Isopóricas, ou seja, linhas de mesma variação da declinação
magnética. (ON,2008).

Figura 2.19 – Mapa de isogônicas para o ano 2000. (Fonte: NGDC, 2008)

A Figura 2.20 mostra um esboço de parte, região de Viçosa – MG, da carta magnética do Brasil
de 2000.

- 6,0 - 5,5 - 5,0 - 4,5 - 4,0

V - 20o

- 23

- 25o

- 21 - 22
- 20
- 40o
- 45o Ano de
referência:
Curva isogônica (o) Curva isopórica (’/ano) 2000

Figura 2.20: Trecho da Carta Magnética do Brasil - 2000

26
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

A declinação magnética em um determinado local, para uma determinada época t, pode ser
calculada realizando interpolações na carta magnética confeccionada para uma época to empregando a
seguinte equação:

δ t = δ to + δ& to ⋅ ( t − t o )
(2.17)

onde to = Época, para a qual foi confeccionado a carta isogônica (em anos),
t = Época, para a qual se deseja calcular a declinação magnética (em anos),
δ to = Declinação magnética, para o local, extraída da carta isogônica (em minutos

sexagesimais),

δ& to = Variação da declinação, para o local, extraída do mapa (em minutos por ano) e

δt = Declinação magnética, para o local, na época t (em minutos).

Atualmente, para atualizar as declinações e suas variações emprega-se “cartas magnéticas


digitais” e programas de computador específicos para tal fim. Na página
http://staff.on.br/~jlkm/magdec/index.html é possível determinar diretamente, para qualquer município
brasileiro, a declinação magnética (D, de acordo com o software), a inclinação magnética em relação ao
eixo de rotação da Terra (I), as componentes da intensidade do campo magnético, horizontal (H), norte
(X), leste (Y) e vertical (Z) e a intensidade total (F). Explicações sobre estas grandezas e sobre modelos
geomagnéticos podem ser encontradas na página
http://www.ngdc.noaa.gov/seg/geomag/faqgeom.shtml#q1.
Quanto ao período de validade dos cálculos depende do modelo que está sendo empregado
pelo programa. Este modelo é informado na tabela de resultados do processamento. Normalmente, o
período de uso de um modelo é de cinco anos. Por exemplo, o modelo WMM-2005 pode ser empregado
somente até 2010.

EXERCÍCIO: empregando um software, determinar a declinação magnética em Viçosa para o dia atual.

Uma vez que o norte magnético sofre variações até mesmo diárias, uma planta topográfica deve
ser orientada pelo norte geográfico e não pelo magnético. No entanto, este pode ser determinado a partir
daquele, se a declinação para uma época t é conhecida, empregando a seguinte equação:

AZ G = AZ M
t + δt (2.18)

M
O azimute magnético num determinado local e numa época t, AZ t , pode ser medido,
empregando:
• Uma bússola, onde uma agulha imantada, instalada no centro de um limbo graduado,
gira, livremente, 360o ou

27
Rodrigues, D. D .- 2008 Goniometria

• Um goniômetro dotado de declinatória. Numa declinatória a agulha não gira livremente e


estará centralizada em seu visor quando a luneta estiver apontada para o norte. O
azimute deve ser lido no limbo horizontal do goniômetro;
Ainda hoje é comum encontrar-se plantas orientadas pelo norte magnético; porém, se a data de
medição do azimute constar na planta, o azimute geográfico - e consequentemente o meridiano
geográfico – pode ser resgatado através da equação (2.18).
A tendência atual é utilizar receptores de sinais de satélites de navegação para determinarem
coordenadas de dois pontos e a partir destas, obter diretamente o azimute geográfico. Bússolas e
declinatórias estão em desuso para fins topográficos.

3.3- Azimute Plano ou Azimute da Carta (AZP):

Como desenhar, representar graficamente, uma Terra quase esférica em um plano? Uma
resposta detalhada a esta questão é encontrada em textos específicos de representações cartográficas.
Aqui será feita uma breve introdução ao sistema e projeção UTM apresentando suas características
principais.
Fisicamente não é possível representar a Terra em um plano sem deformá-la. O problema se
torna em minimizar as deformações, saber o que foi deformado e o quanto foi, estabelecendo uma
relação matemática, uma correspondência, biunívoca Terra-planta. Tem-se assim um sistema de
projeção plana. Entre os vários sistemas de projeção existentes, o mais empregado na engenharia, e
recomendado pela União de Geodésia e Geofísica Internacional (UGGI), é o sistema “Universal
Transverso de Mercator” – UTM. ‘Universal’ porque pode ser empregado em todas as longitudes,
ficando, porém, limitado às latitudes menores que 80º; ‘Transverso’ porque a projeção é feita sobre um
cilindro transversal, perpendicular, ao eixo de rotação da Terra – Figura 2.21 – e ‘Mercator’ se deve a
‘Gerhard Kremer Mercator’, cartógrafo que iniciou o desenvolvimento desse sistema.
As superfícies de projeção utilizadas em diferentes sistemas de projeção são: um plano, um
cilindro ou um cone, lembrando que o cilindro e o cone podem ser planificados sem deformação.

Figura 2.21: Projeção Universal Transverso de Mercator - UTM.

O sistema de projeção UTM apresenta as seguintes características - Figura 2.22:

28
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

MC

NQ
NQ
Equador γA
NG
NG NQ
γC B
AZ PAB

A AZ GAB
C

Figura 2.22: Características da projeção UTM.

a) O equador é uma linha reta horizontal;


b) Os meridianos localizados nas longitudes 3 o , 9 o , 15 o , L(6N + 3) o , com N variando de 0 a
29, a Oeste ou a Leste de Greenwich, são retas na vertical e denominados “Meridianos
Centrais (MC)”.
c) Os demais meridianos são curvas voltadas para o Meridiano Central;
d) Os paralelos são curvas de concavidade voltada para os pólos;
e) Linhas retas paralelas ao meridiano central definem os “Nortes de Quadrícula - NQ”. Os
nortes de quadrícula são, portanto, paralelos, independentemente da distância que os
separam, e a diferença entre os dois azimutes planos de um mesmo alinhamento é
exatamente 180º - Figura 2.23. O azimute de B para A pode ser chamado de contra-
azimute do azimute de A para B.
f) O ângulo entre o Norte Geográfico e o Norte de Quadrícula é denominado convergência
meridiana plana (γ ) e pode ser determinado, de forma aproximada, pela seguinte
equação (CHAGAS,1965):

γ A ≈ ( λ A − λ MC ) ⋅ sen ϕ A (2.19)

Onde γ A é a convergência meridiana no ponto A;


λA é a longitude do ponto A, negativa a oeste de Greenwich;
FA é a latitude do ponto A, negativa ao sul do equador e

λMC é a longitude do meridiano central, negativa a oeste de Greenwich.

29
Rodrigues, D. D .- 2008 Goniometria

NQ
NQ

B
P
AZ AB
AZ PBA

Figura 2.23: Azimutes planos ou da carta.

Observe na Equação (2.19) e na Figura 22, que se o norte de quadrícula (NQ) estiver a oeste do
norte geográfico (NG) a convergência meridiana plana é negativa e, se a leste, positiva. Figuras 2.24-a e
2.24-b.
O azimute geográfico pode ser determinado a partir do azimute plano empregando a equação
(2.20)

AZ GAB = AZ PAB + γ A (2.20)

NG NG
NQ
NQ
γ<0 γ>0

O L O L

Figura 2.24-a: Convergência negativa Figura 2.24-b: Convergência positiva

EXERCÍCIOS: Admitindo um raio da Terra de 6 371 km,


i) Calcular a distância esférica do meridiano central de longitude -45º a Viçosa, ao longo do
paralelo. As coordenadas de Viçosa são: latitude = -20º 45’ e longitude -42º 52’.
ii) Calcular a convergência meridiana em Viçosa.
iii) Calcular, para o paralelo de Viçosa o comprimento de arco no paralelo e a convergência
meridiana para as seguintes diferenças de longitude ( ∆λ ), em relação ao meridiano central:
1”, 1’, 17,3’, 28,9’ e 34,6’ .

30
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

A Tabela 2.1 mostra os resultados do exercício iii. Estes resultados revelam que no campo de
atuação da topografia podem-se admitir os nortes paralelos, sem incorrer em erros significativos. Os
azimutes medidos em topografia têm, normalmente, uma precisão abaixo de trinta minutos. Vale lembrar
que o objetivo dos azimutes é orientar as plantas em relação ao eixo de rotação da Terra e não afetam
as distâncias nem as áreas.

Tabela 2.1: Comprimento de arco e convergência


meridiana ao longo do paralelo de Viçosa –
MG. R = 6371 km
Diferença de Comprimento do arco
Convergência
longitude no paralelo de latitude
Meridiana
( ∆λ ) -20º 45’ – dP – (km)
1” 0,029 -0,35”
1’ 1,73 -21”
17,3’ 30 -6’
28,9’ 50 -10’
34,6’ 60 -12’

4- RUMOS (bearings)

São ângulos horizontais horários com origem no lado do meridiano que mais se aproxima do
alinhamento, variando de 0 a 90o, acompanhado do quadrante que pode ser: NE, SE, SO ou NO, como
mostra a Figura 2.25, onde RAB é o rumo da direção AB, RAC é o rumo da direção AC e assim por diante.

RAE
E RAB B

O A L

RAD RAC
C
S

Figura 2.25 - Rumos

A Figura 2.26-a mostra uma forma utilizada em plantas cadastrais para representar as direções
dos alinhamentos. Nela verifica-se que o rumo de A para B é 53o NE e o de B para A 53o SO. Já a Figura

31
Rodrigues, D. D .- 2008 Goniometria

2.26-b mostra rumos extremos que, principalmente na confecção de algoritmos para programas de
computador, devem ser considerados.

EXERCÍCIOS:

i) Calcular os ângulos horários AB̂C e BĈD da Figura 2.26-a.


ii) Quais são os rumos dos alinhamentos AB, BA, AC e CA da Figura 2.26-b ?

N
A SO 53 NE B

NO 47 SE A B
O • • L

D C
SO 53 NE C •

S
Figura 2.26-a: Orientação de alinhamentos
Figura 2.26-b: Rumos extremos

4.1- Relações entre azimutes e rumos:

Embora a tendência seja padronizar o uso de azimutes; rumos ainda são empregados e se torna
necessário conhecer a relação entre eles. A Figura 2.27 mostra para cada quadrante a equação que
relaciona azimutes e rumos. Uma vez que azimutes têm origem no lado norte do meridiano e são
medidos no sentido horário, o primeiro quadrante é o NE, o segundo SE e assim por diante.

4o Quadrante N 1o Quadrante

E
B RAB = AZAB NE
RAE = 360 - AZAD NW

O A L

D
RAC = 180 - AZAC SE
RAD = AZAD - 180 SW

C
3o Quadrante S 2o Quadrante

Figura 2.27 – Relações entre rumos e azimutes

32
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

EXERCÍCIO:
Elaborar algoritmo para transformar azimute em rumo e rumo em azimute.

5- ÂNGULOS HORIZONTAIS ENTRE ALINHAMENTOS A PARTIR DE AZIMUTES

È tarefa bastante comum em topografia a determinação de ângulos horizontais horários ou anti-


horários a partir de azimutes. Da Figura 2.28-a pode se verificar que os ângulos horários

α = BÂC = AZ AC − AZ AB e (2.21)

β = CÂB = AZ AB − AZ AC + 360 (2.22)

Já os ângulos anti-horários da Figura 2.28-b:

α = BÂC = AZAB − AZ AC + 360 (2.23)

β = CÂB = AZ AC − AZ AB (2.24)

N
N
B
AZAB C B
BÂC = α

AZAB
CÂB = β A AZAC BÂC = α

AZAC
C
CÂB = β

Figura 2.28-a: Ângulos horizontais horários Figura 2.28-b: Ângulos horizontais anti-
a partir de azimutes horários a partir de azimutes

O cálculo de ângulos, como os mostrados na Figura 2.29, a partir de azimutes, pode ser
generalizado da seguinte forma:

Ângulos Horários : AB̂C = AZ BC − AZ BA ⎫



BĈD = AZ CD − AZ CB ⎪
EĈD = AZ CD − AZ CE ⎪⎪
⎬ se ângulo < 0 , somar 360
o


Anti − horários : ED̂C = AZ DE − AZ DC ⎪

DÊC = AZ ED − AZ EC ⎪⎭
(2.25)

33
Rodrigues, D. D .- 2008 Goniometria

AZAB
C
A

D
B

Figura 2.29 – Generalização da obtenção de ângulos a partir de azimutes

EXERCÍCIOS:
i) Calcular o ângulo horário BÂC da Figura 2.30 a partir dos azimutes AZBA e AZCA.

A N

Figura 2.30: Ângulo horizontal a partir de azimutes

ii) Determinar o ângulo anti-horário 31̂2 e o horário 12̂3 sabendo que AZ12 = 39º 30’; AZ13 =
101º 00’ e AZ23 = 163º 30’.

6- ÂNGULOS VERTICAIS

Como definido anteriormente, trata-se de todo e qualquer ângulo medido em um plano vertical.
Embora possam ser calculados a partir de distâncias observadas, é mais comum o emprego de
instrumentos óticos-mecânicos, ou eletrônicos, dos quais os mais utilizados são teodolitos e estações
totais. Se a leitura no círculo vertical é zero quando a luneta está apontando para o zênite o ângulo
vertical medido é chamado de ‘Zenital’, se tal leitura ocorre quando a luneta está apontando para o nadir,
é denominado ‘nadiral’ e se a leitura zero ocorrer quando a luneta estiver na horizontal o ângulo é dito
‘vertical’ ou de ‘inclinação’.

34
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

6.1- Ângulo Zenital

As Figuras 2.31-a e 2.31-b representam um instrumento que mede ângulos zenitais. Na 2.31-a o
círculo vertical está à esquerda, CE, do observador e se diz que a luneta está em Posição Direta (PD).
Neste caso o ângulo zenital medido estará entre 0o e 180o. Já na Figura 2.31-b o círculo está à direita,
CD, e se diz que a luneta está em Posição Invertida (PI). Assim o ângulo zenital medido estará entre
180o e 360o.

Zênite
Zênite

Ẑ AB
B
B

Ẑ AB

Figura 2.31-a: Medida de um ângulo Figura 2.31-b: Medida de um ângulo


zenital. Luneta em PD ou CE zenital. Luneta em PI ou CD

6.2- Ângulo Nadiral

A origem do ângulo, em vez de no zênite, está no nadir. È cada vez mais raro
instrumentos com esta característica. Os círculos também são graduados de 0 a 360o.

6.3- Ângulo de inclinação ou simplesmente, ângulo vertical

Tem origem no horizonte e intervalo de 0º ± 90º . Positivo (+) se o ponto visado estiver acima do
horizonte e negativo (-) se estiver abaixo. A Figura 2.32-a mostra tipos de graduação de limbos verticais
e a 2.32-b mostra uma luneta em PI e um ângulo de inclinação positivo. A marca de referência para
leitura permanece na vertical e o círculo graduado gira com a luneta.

6.4- Declividade ( Decl )

Declividade é outra forma de expressar ângulos de inclinação. É definida como a tangente do


ângulo de inclinação, que pode ser expressa em porcentagem se multiplicada por cem. Da Figura 2.33,

35
Rodrigues, D. D .- 2008 Goniometria

onde DH e DV são as distâncias, horizontal e vertical, respectivamente, entre os pontos A e B, verifica-se


que
DV (2.26)
Decl = tg î =
DH

0 0
10 170 10 10

90 90 90 90
10
20
170 0 10 10 10 10 0
0

Figura 2.32-a: Tipos de graduação de Figura 2.32-b: Luneta com um ângulo


limbos verticais de inclinação positivo

E em porcentagem
DV (2.27)
Decl = 100 × tg î = × 100
DH

DV


A
DH

Figura 2.33: Ângulos verticais, distâncias horizontal e vertical

EXERCÍCIOS:
i) Se DHAB = 10 m e DVAB = + 5 m, qual é a declividade de A para B? e de B para A?
ii) Qual é a declividade, em porcentagem, de um alinhamento cujo ângulo de inclinação é 45o ?
iii) E se a inclinação for maior que 45o ?

6.5- Relações entre as Tangentes de Ângulos Zenitais e de Inclinação.

O uso de ângulos verticais em equações matemáticas quase sempre é feito através de suas
tangentes. Embora as relações entre os ângulos zenitais e de inclinação sejam óbvias, é preciso estar
atento às relações entre suas tangentes. A Figura 2.34 mostra estas relações. Nela verifica-se que no

36
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

terceiro e no quarto quadrantes ( Ẑ > 180 o ) a tangente do ângulo zenital tem sinal contrário à tangente
do ângulo de inclinação. Observa-se ainda que nestes quadrantes o seno do ângulo zenital é o negativo
do co-seno do ângulo de inclinação.
Da equação (2.26) verifica-se que

DVAB = DH ⋅ tg îAB (2.28)

Se îAB for menor que zero, DVAB também será negativa, indicando uma descida de A para B. Se

o ângulo observado é o zenital, Ẑ AB , é necessário verificar o quadrante na substituição de tgî, ou seja:

para Ẑ no primeiro ou segundo quadrante,


DH
DVAB = (2.29)
tg Ẑ AB

e para Ẑ no terceiro ou quarto quadrante,

DH
DVAB = − (2.30)
tg Ẑ AB

4o Quadrante 1o Quadrante
Zênite

Zˆ = 270 º + iˆ E Zˆ = 90 º − iˆ
−1 B 1
tgZˆ = Ẑ AB tgZˆ =
tgiˆ tgiˆ

sen Ẑ = − cos î îAE sen Ẑ = cos î


îAB
A
3o Quadrante 2o Quadrante
îAD
îAC
Zˆ = 270 º + iˆ Zˆ = 90 º − iˆ

−1 1
tgZˆ = C tgZˆ =
tgiˆ D tgiˆ
sen Ẑ = − cos î sen Ẑ = cos î
Nadir

Figura 2.34 – Relações entre as tangentes de ângulos zenitais e de inclinação

EXERCÌCIOS: Determinar DV, empregando Î e Ẑ , nos seguintes casos:

i) DH = 100,00 m, Î = -30º e Ẑ = 120 o

ii) DH = 100,00 m, Î = -30º e Ẑ = 240 o

37
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

III – MEDIÇÃO DE DISTÂNCIAS

____________________________________________________________________________________
A medição de distâncias e ângulos possibilita o posicionamento de um ponto em um
determinado sistema de referência.
As distâncias podem ser determinadas percorrendo o alinhamento do início ao fim, medindo
diretamente a grandeza procurada - processo direto [2] - ou a partir de observações que estejam
implícita ou explicitamente ligadas à distância procurada - processo indireto [3]. No processo indireto
serão estudados, neste capítulo, os métodos: Taqueométrico [3.1] e brevemente, mira horizontal [3.2] e
medida eletrônica de distâncias [3.3].
Após estudar os processos diretos e indiretos é apresentado um processo de medição de
distâncias relativas a pontos inacessíveis [4]. A seguir serão estudados os efeitos da curvatura da Terra
[5] e da altitude [6] nas distâncias.
Dependendo da finalidade do trabalho, da precisão requerida e do tamanho da área a ser
levantada, a distância observada deve ser reduzida ao nível do mar e daí, ao plano topográfico. Ainda
neste capítulo serão estudadas as reduções de distâncias em levantamentos topográficos [7.1] e em
trabalhos de locação de projetos [7.2].
____________________________________________________________________________________

1- INTRODUÇÃO

Antes de entrar no assunto de medição de distâncias, é necessário verificarmos a definição de


erro relativo (er): é a razão adimensional entre o erro cometido na medição e o valor mais provável para
a grandeza observada. Se, por exemplo, ao medir uma distância de 1000 m comete-se um erro de 50
cm, o erro relativo será de 0,0005; que pode ser expresso em porcentagem (%), multiplicando este valor
por 100 ou em partes por milhão (ppm), multiplicando-o por 106, ou ainda expresso no formato de escala,
ou seja, o algarismo 1 no numerador e no denominador a razão adimensional entre o valor mais provável
para a grandeza e o erro cometido; para o exemplo, er = 1 2000 . O erro relativo é uma medida da
qualidade da observação; quanto menor for o erro relativo, melhor foi efetuada a observação. O Capítulo
4 trata com mais detalhe dos erros cometidos, ou das propriedades estatísticas, em ciências
experimentais como a topografia.
Como mostra a Figura 3.1, a distância espacial ou inclinada, DI, entre dois pontos pode ser
decomposta em:

• Distância Horizontal (DH): também conhecida como distância REDUZIDA. É a distância


entre dois pontos medida em um plano horizontal. Esta distância é a que, por força de
lei, consta em escrituras imobiliárias. Por isso é também denominada ‘distância legal’.

• Distância Vertical ou Diferença de Nível (DV ou DN): é a distância entre dois pontos
medida ao longo da vertical. Pode ser ao longo da vertical de A ou de B – Figura 3.1.

39
Rodrigues, D. D. – 2008 Medição de Distâncias

A • DH

DI DVAB

Figura 3.1- Distâncias inclinada, horizontal e vertical entre dois pontos.

Para pesquisar: As verticais que passam pelos pontos A e B são paralelas? Ou seja, o plano horizontal
que passa por A é também perpendicular à vertical de B?

Como visto no capítulo I, a Topografia pode ser dividida em planimetria, altimetria e


planialtimetria. A Planimetria trata das distâncias e ângulos horizontais, assuntos deste texto, e a
altimetria, que busca descrever o relevo do lugar, trata de ângulos e distâncias verticais. Altimetria e
planialtimetria não fazem parte do escopo deste trabalho.

Para observar distâncias horizontais há dois processos, a saber: o direto e o indireto.

2- PROCESSO DIRETO

Nesse processo o seguimento a ser medido deve ser percorrido do início ao fim. Portanto,
obstáculos como lagos, rios, construções, etc., entre os extremos do seguimento a ser medido, impedem
o emprego do processo direto.
Caso não haja obstáculos, podem ser empregados os seguintes instrumentos:
• Trena de invar (liga de aço e níquel – 36% de níquel).
• Trena de Aço – Constitui-se de uma lâmina de aço inoxidável devidamente
graduada. Comprimentos disponíveis no mercado: 1, 2, 3, 5, 10, 20 e 50 metros.
• Trena de Fibra de Vidro - É feita de material bastante resistente (produto inorgânico
obtido do próprio vidro por processos especiais). Comprimentos disponíveis no
mercado: 20 e 50 metros.
• Trena de Lona - É feita de pano oleado ao qual estão ligados fios de arame muito
finos que lhe dão alguma consistência e invariabilidade de comprimento.
Comprimentos disponíveis no mercado: 20 e 50 metros.
• Roda Contadora – Instrumento utilizado para medir distâncias curvas.

Se o seguimento a ser medido é maior que a trena utilizada ou o terreno é muito íngreme, divide-
se o seguimento em seções, alinhadas com os extremos do seguimento, conforme esboça a Figura

40
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

3.2. A materialização de alinhamentos, seja na construção de pontes que se inicia dos dois lados de
um rio, seja na construção de túneis, de dutos em geral e de linhas de transmissão de energia elétrica
constitui uma interessante aplicação da topografia.

Para pesquisar: como alinhar seções de um seguimento cujos extremos não são intervisíveis?

l4
l3 l5

l2 B

l1

HZ
• B’


• •
A’ • DH AB = l1 + l 2 + L + l 5

Figura 3.2 – Divisão de um seguimento em seções para medição de


distâncias pelo processo direto

2.1- Fontes de erros na medição direta de distâncias horizontais


• Erros de Leitura: embora seja muito simples fazer leituras em uma trena; é bom
tomar cuidado, principalmente para não inverter a origem da
trena e não misturar leitura no sistema métrico com leitura em
polegadas.
• Dilatação térmica: depende do material de composição do instrumento, do
comprimento da trena e da diferença entre a temperatura
ambiente e a de aferição. Se houve dilatação o valor lido (VL)
será menor que o valor procurado (VP).
• Elasticidade: depende do material de composição do instrumento, do comprimento,
espessura e largura da trena e da diferença entre a tensão aplicada
na medição e na aferição. Com a distensão da trena o valor lido
torna-se menor que procurado (VL < VP).
• Catenária: curvatura ou barriga que se forma ao tencionar a trena. É função do seu
peso, do seu comprimento e da tensão aplicada, a Figura 3.3 ilustra este
erro. Devido à catenária o valor lido é sempre maior que o procurado (VL
> VP).

41
Rodrigues, D. D. – 2008 Medição de Distâncias

• Falta de horizontalidade da trena: Com a trena inclinada o valor lido será sempre
maior que o procurado (VL > VP). O menor valor
para a distância é a distância horizontal. Uma
forma de eliminar esse erro é oscilar a trena em
torno da linha de referência – uma baliza por
exemplo - e anotar o menor valor.

T T

Figura 3.3 – Catenária ao medir um comprimento l aplicando


uma tensão T em uma trena de peso p.

• Erro de alinhamento das seções: Ocorre quando as seções não estão alinhadas
com os pontos extremos. Neste caso VL > VP sempre.
• Inclinação da baliza: Qualquer inclinação na baliza na direção do alinhamento
provocará um aumento ou diminuição na distância que está sendo medida, caso
esteja incorretamente posicionada para trás ou para frente, respectivamente. Este
tipo de erro só poderá ser evitado se for feito uso do nível de cantoneira ou
substituindo a baliza por um fio de prumo.

Medir distâncias horizontais pelo processo direto pode ser muito moroso, caro e impreciso se a
equipe de trabalho não estiver bem treinada e o relevo for muito acidentado. Caso haja algum obstáculo
no alinhamento deve-se empregar o processo indireto.

3- PROCESSO INDIRETO

Não há necessidade de percorrer o alinhamento e podem ser empregados os seguintes


instrumentos e métodos:
• Taqueômetro (ou simplesmente teodolito) + mira vertical = Taqueometria;
• Teodolito + mira horizontal;
• Distanciômetro (ou estação total) + refletor. Dependendo do tipo de estação total e
da distância a ser medida, o refletor pode ser dispensado;
• Satélite de navegação + receptor + antena: não há necessidade da intervisibilidade
entre as estações;

42
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

• Quasares + Antenas parabólicas (VLBI – “Very Long Baseline Interferometry”). Para


distâncias longas, como a distância entre a América e a África, por exemplo. È,
atualmente, a técnica que propicia maior precisão na medição de tais distâncias.

3.1- TAQUEOMETRIA

O goniômetro que além de medir ângulos horizontais e verticais é dotado de fios estadimétricos
pode ser chamado de taqueômetro ou simplesmente teodolito. A Figura 3.4 mostra os fios do retículo, ou
fios estadimétricos, de um teodolito com o qual se pode também determinar as distâncias horizontal e
vertical.

Fio Vertical. Empregado para medir


Fio estadimétrico superior.
ângulos horizontais.

Fio Médio ou nivelador.


Fio estadimétrico inferior. Empregado para medir ângulos
verticais.

Figura 3.4 – Fios do retículo e distância entre o fio superior e o inferior (h).

A Figura 3.5 mostra em destaque o centro do teodolito e a posição dos fios do retículo. A razão
entre a distância da localização dos fios ao centro do aparelho – distância Ob na Figura 3.5 - e a
distância do fio superior ao inferior – ac da Figura 3.5 ou h da Figura 3.4 - é conhecida como ‘constante
estadimétrica’.

a
O w .
b
c

Figura 3.5 – Posição dos fios do retículo em relação


ao centro de um teodolito.

A constante estadimétrica de um teodolito dada por:

43
Rodrigues, D. D. – 2008 Medição de Distâncias

Ob
= g (3.1)
ac

é normalmente igual a 100, ou seja, ac é cem vezes menor que Ob. Se, por exemplo, Ob for igual a 10
cm, ac será 1mm. Dessa forma o ângulo w mostrado na Figura 3.5 é muito pequeno e igual a

ac 1 180
w= = rad = ≈ 34' (3.2)
Ob 100 100 ⋅ 60 ⋅ π

3.1.1- Medição com a luneta na horizontal ( Zˆ = 90 o ou ˆi = 0 o )

A Figura 3.6 esquematiza a medição de uma distância horizontal, DH, por taqueometria com a
luneta na posição horizontal. O teodolito está num dos extremos do seguimento a ser medido e no outro
está uma régua graduada, denominada mira, perfeitamente na vertical. FS, FM e FI são as leituras
realizadas na mira, observando, pela ocular, as posições dos fios superior, médio e inferior,
respectivamente.

C
c b
O
. .
B
FS
a
FM
A
FI

DH = OB = ?

Figura 3.6 – Taqueômetro, mira vertical e medição de distância por taqueometria com luneta
na horizontal.

Da Figura 3.6, verifica-se que o triângulo Oac é semelhante ao triângulo OAC e, portanto,

OB Ob (3.3)
=
AC ac

44
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

Mas Ob ac é a constante estadimétrica, g, do teodolito e de acordo com a Figura 3.6:

AC = FS − FI (3.4)

sendo (FS – FI) conhecida com leitura estadimétrica e representada pela letra ‘m’. Assim,

OB = AC ⋅ g = (FS − FI) ⋅ g = m ⋅ g (3.5)

ou seja, se as observações forem realizadas com a luneta na horizontal,

DH = m ⋅ g (3.6)

Fontes de erro: a medição de distâncias horizontais por taqueometria, com a luneta na


horizontal, apresenta as seguintes fontes de erro:

• Leitura na mira: é função da refração atmosférica, da capacidade de aumento da luneta,


de defeitos na graduação da mira, da paralaxe, etc;

• Imprecisão na constante estadimétrica;

• Não verticalidade da mira.

Para minimizar os erros devido à refração atmosférica recomenda-se não realizar medidas,
na mira, abaixo de meio metro, principalmente em dias e/ou lugares quentes. Erros devido à paralaxe
são evitados se as leituras FS, FM e FI são feitas de uma única vez, sem que o observador altere seu
ponto de vista de leitura. O problema com a capacidade de aumento da luneta é resolvido evitando medir
distâncias grandes, acima de 70 metros. A verticalidade da mira pode ser garantida empregando um
nível de cantoneira ou um fio de prumo. Para minimizar o erro recomenda-se não realizar leituras na
parte mais alta da mira.

3.1.2- Medição com a luneta inclinada

Neste caso, devido a diferença de nível entre os extremos do seguimento a ser medido, para
visar a mira há necessidade de inclinar a luneta para cima ou para baixo, de um ângulo î em relação ao
plano horizontal, como indicado na Figura 3.7.

Da Figura 3.7 verifica-se que

DH = OB ⋅ cos î (3.7)

Aqui o triângulo Oac é semelhante ao triângulo OA’C’ e não ao OAC. Portanto,

45
Rodrigues, D. D. – 2008 Medição de Distâncias

OB Ob (3.8)
= =g
A ' C' ac

ou seja
C
C’

FS
B
b
FM
c
A’
w A
O î FI

a

DH = ?

Figura 3.7 – Taqueômetro, mira vertical e medição de distância por taqueometria com luneta inclinada.

OB = A ' C' ⋅ g (3.9)

A distância A’C’ não pode ser determinada diretamente das leituras estadimétricas, mas

A ' C' = A ' B + BC' (3.10)

Como o ângulo w é muito pequeno pode-se adimitir a seguinte hipótese simplificativa: os ângulos
AÂ' B e CĈ' B são retos e portanto

A ' B = AB ⋅ cos î e BC' = BC ⋅ cos î (3.11)

Consequentemente

A ' C' = AB ⋅ cos î + BC ⋅ cos î = ( AB + BC) ⋅ cos î = AC ⋅ cos î (3.12)

46
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

Substituindo esta equação na (3.9) tem-se:

OB = AC ⋅ cos î ⋅ g (3.13)

Substituindo a equação (3.13) na (3.7) e lembrando que AC = FS – FI = m, tem-se:

DH = m ⋅ g ⋅ cos 2 î (3.14)

Se o ângulo vertical lido é o zenital, tem-se:

DH = m ⋅ g ⋅ sen 2 Ẑ (3.15)

uma vez que o cos î = cos( 90 − Ẑ ) = sen Ẑ , no primeiro ou segundo quadrante e o

cos î = − sen( 270 + î ) = − sen ẑ para ẑ no terceiro ou quarto quadrante.

Fontes de erro: além daquelas que ocorrem quando a luneta está na horizontal têm-se como
fontes de erro:

• Leitura do ângulo vertical e

• A hipótese simplificativa adotada para se chegar à equação (3.11).

Como pode ser visto nos exercícios abaixo o efeito de um erro na observação do ângulo de
inclinação é bem menor que o efeito de um erro de leitura na mira.

EXERCÍCIOS

i) De uma estação A foi visada, com a luneta na horizontal, uma mira vertical colocada em um
ponto B. Foram feitas as seguintes leituras: fio inferior = 0,753 m e fio superior = 2,003 m. Calcule a
distância horizontal entre os pontos (AB). E se a leitura no fio superior fosse 2,000 m em vez de 2,003,
qual seria a nova distância? Calcule a diferença entre as distâncias encontradas, em centímetros.

ii) De uma estação A foi visada uma mira vertical posicionada em um ponto B. Foram feitas as
seguintes leituras: fio inferior = 0,998 m, fio médio = 1,500m, fio superior = 2,002m, com ângulo zenital
de 89º 05’ 00”. Calcule a distância horizontal entre os pontos (AB). E se o ângulo zenital fosse 89º 00’
00”, qual seria a nova distância? Calcule a diferença entre as distâncias encontradas, em centímetros.

47
Rodrigues, D. D. – 2008 Medição de Distâncias

3.2- UTILIZANDO MIRA HORIZONTAL

Mira horizontal, também conhecida como estádia, é uma haste de metal com baixo coeficiente
de dilatação térmica, dotada de dois alvos em seus extremos sendo a distância entre eles conhecida
com precisão.
Para medir distâncias empregando a mira horizontal, instala-se o teodolito e a mira nos extremos
do seguimento a ser medido – Figura 3.8. Utilizando o visor ótico deixa-se a mira perpendicular ao
alinhamento. Após medir o ângulo horizontal α mostrado na Figura. 3.8, calcula-se a distância horizontal
DH.
Da Figura 3.8, onde b é a distância entre os alvos da mira, verifica-se que:

α b
tg = (3.16)
2 2 ⋅ DH
portanto
b
DH = (3.17)
α
2 ⋅ tg
2

Se b = 2,000 m então
1
DH = (m) (3.18)
α
tg
2

α
DH
A

Fig. 3.8: Medida de distância com mira horizontal

Fontes de erro: A obtenção de distâncias empregando mira horizontal tem as seguintes fontes de erro:
• erro no comprimento da estádia (mira);
• erro de centralização do goniômetro e da mira;
• erro na observação de α e
• falta de perpendicularidade da estádia com o alinhamento a ser medido.

48
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

O comprimento da estádia bem como a necessidade de visualizar dois alvos distando dois
metros um do outro, torna pouco exeqüível o uso desse instrumento em espaços urbanos e rurais,
principalmente em matas, limitando-o para trabalhos de triangulação, onde uma ou outra distância deve
ser medida.

3.3- MEDIDA ELETRÔNICA DE DISTÂNCIAS

O primeiro instrumento eletrônico para medir distâncias foi inventado pelo físico sueco Dr. Erik
Bergstrand, por volta de 1950, e denominado Geodímetro - um acrônimo para “geodetic distance meter”.
Este instrumento foi capaz de medir, à noite, distâncias de até 40 km, empregando a luz visível. Cerca
de sete anos depois, na África do Sul, o Dr. T. L. Wadley inventou o Telurômetro, primeiro Medidor
Eletrônico de Distâncias (MED) a empregar microondas e capaz de medir, à noite ou durante o dia,
distâncias de até 80 km.
Atualmente, os medidores eletrônicos de distâncias empregam o laser visível (RL) ou infra
vermelho próximo - laser invisível (IR) -, com comprimentos de onda variando de 500 nm a 1100 nm,
para medir distâncias de até 5 km, com precisão de (10 mm + 5 ppm) a (1 mm + 1 ppm). Há as
chamadas trenas eletrônicas que medem distâncias de até 300 m e as Estações totais, instrumentos que
além de medir distâncias, medem ângulos horizontais e verticais eletronicamente.
A Figura 3.9 representa o processo de medição eletrônica de distâncias. Num dos extremos do
seguimento a ser medido é posicionado o medidor - instrumento que gera sinais eletromagnéticos,
emite-os, recebe-os de volta e realiza medidas e cálculos – e no outro extremo é posicionado o refletor,
que tem a função de refletir para o medidor os sinais por ele emitidos. Há instrumentos que emitem o
laser visível e dispensam o refletor para distâncias pequenas, menores que 300 metros.

Refletor
Emissor/Receptor
D

DH

Fig. 3.9 - Medida eletrônica de distância

49
Rodrigues, D. D. – 2008 Medição de Distâncias

3.3.1- Princípio da medida eletrônica de distâncias

Afinal o que mede um distanciômetro?

a) o tempo de propagação (t) do sinal (?)

A precisão desta observação depende da estabilidade do oscilador, normalmente de cristal, do


medidor eletrônico de distâncias. Seja na Figura 3.9: D, a distância a ser medida e V, a velocidade de
propagação do sinal, cerca de 3 x 108 m/s no vácuo.
Se o tempo de propagação t, de ida e volta do sinal, é observado tem-se:

v⋅t
D= ; (3.19)
2

Se o instrumento medisse o tempo com uma precisão máxima de 10-6 segundos, o que já pode
ser considerado como uma boa precisão para medida de tempo, a precisão na distância seria de:

3 ⋅ 108 ⋅ 10−6
σD = = 150 m (3.20)
2

que é uma precisão muito ruim para as distâncias empregadas em topografia.


Devido à dificuldade de se medir o tempo de propagação da luz com tamanha precisão, os MED
atualmente disponíveis não fazem essa observação.
Atualmente, com o desenvolvimento de osciladores atômicos de átomos frios com uma margem
de erro da ordem de 1 segundo a cada 3 bilhões de ano, ou 10-17 S/S, vislumbra-se a possibilidade de se
ter instrumentos que meçam com precisão o tempo de propagação da radiação eletromagnética.

b) A diferença de fase entre o sinal recebido e o emitido (ϕ)

Na Figura 3.9 verifica-se que há, no caminho de ida e volta do sinal entre os extremos do
seguimento a ser medido, um número inteiro de comprimentos de ondas que será representado por m, e
uma parte fracionária da onda representada pela letra d. Portanto, da referida Figura, conclui-se que:

2 ⋅D = m ⋅ λ + d (3.21)

À parte fracionária d corresponde uma diferença de fase f de forma que:

ϕ rad
d= ⋅λ (3.22)

Portanto,
ϕ
2 ⋅D = m ⋅ λ + ⋅λ . (3.23)

50
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

ϕ
Fazendo = µ = defasagem do sinal recebido em ciclos, tem-se:

λ λ
D = m⋅ + µ⋅ (3.24)
2 2

onde m é o valor observado e D e m são incógnitas.


Para solucionar a indeterminação da equação (3.24) os distanciômetros emitem dois diferentes
sinais L1 e L2 (SILVA, 1993). Se λ1 ≈ λ2 tal que m1 = m2 = m então:

λ1 λ
D = m⋅ + µ1 ⋅ 1 (3.25)
2 2
e
λ2 λ
D = m⋅ + µ2 ⋅ 2 (3.26)
2 2

e assim tem-se um sistema de duas equações e duas incógnitas, D e m, uma vez que m1 e m2 são

medidos e λ1 e λ2 conhecidos.
Se, por outro lado, λ2 > 2D, tal que m2 = 0, então:

λ2
D = µ2⋅ , (3.27)
2
⎛ λ ⎞
⎜ D − µ1 × 1 ⎟
m1 = int eiro de ⎜ 2 ⎟ (3.28)
⎜ λ1 ⎟
⎜ ⎟
⎝ 2 ⎠

e
λ1 λ
D = m1 ⋅ + µ1 ⋅ 1 . (3.29)
2 2

Para compreender melhor este caso veja o seguinte exercício: se λ1 = 20m; λ2 = 2000m e os
valores observados µ1 = 0,451 ciclos e µ2 = 0,470 ciclos tem-se, empregando as equações (3.27), (3.28)
e (3.29) que:

0,470 × 2000
D = = 470 m
2

⎛ 470 − 0,451 × 10 ⎞
m 1 = int eiro de ⎜ ⎟ = 46
⎝ 10 ⎠

e portanto,
D = 46 × 10 + 0,451 × 10 = 464,51 m

51
Rodrigues, D. D. – 2008 Medição de Distâncias

EXERCÍCIOS:
i) Se uma estação total mede distâncias com uma incerteza de (2 mm + 2 ppm) qual
será o erro relativo, em ppm, para as distâncias de 20, 100, 1000 e 2000 metros?
ii) E se a incerteza fosse (5 mm + 5 ppm)?

4– DETERMINAÇÃO DE DISTÂNCIAS HORIZONTAIS ENVOLVENDO PONTOS INACESSÍVEIS

É comum na engenharia necessitar-se de distâncias relativas a pontos inacessíveis. Se se


dispõe de uma estação total capaz de medir sem refletor e o alvo reflete o espectro da radiação emitida
pelo aparelho, o problema está então resolvido; senão, podem ser empregadas as leis do seno e co-
seno como mostrado a seguir.
Seja a Figura 3.10 a representação de uma situação onde a distancia PQ, envolvendo um ponto
inacessível, deve ser determinada. Devem ser observadas, no mínimo, as seguintes grandezas:
• A distância horizontal AB e
• Os ângulos horizontais α1, α2, β1 e β2.
Há dois caminhos para se determinar a distância horizontal PQ. Um é, determinar pela lei dos
senos as distâncias AP e AQ e pela lei dos co-senos, PQ; outro é determinar PQ a partir de BP e BQ. A
seguir será desenvolvido o procedimento seguindo o primeiro caminho. Fica a cargo do estudante
desenvolver o segundo.
Do triângulo ABP, tem-se que:

AP AB sen β 1 (3.30)
= ∴ AP = AB ⋅
sen β 1 sen ω 1 sen ω 1

mas ω 1 = 180 − ( α 1 + β 1 ) , portanto, o sen ω 1 = sen ( α 1 + β 1 ) , e

ω1

A α1
α2 β1
B
β2

ω2

Q
Figura 3.10 – Determinando distâncias relativas a pontos inacessíveis

52
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

sen β 1 (3.31)
AP = AB ⋅
sen( α 1 + β 1 )

Da mesma forma pode-se verificar que

sen β 2 . (3.32)
AQ = AB ⋅
sen( α 2 + β 2 )

Determinadas as distâncias AP e AQ, tem-se, do triângulo APQ da Figura 3.10:

PQ 2 = AP 2 + AQ 2 − 2 ⋅ AP ⋅ AQ ⋅ cos( α1 + α 2 ) (3.33)

De onde se determina a distância horizontal PQ.


Quando os ângulos ω1 e ω2 são muito pequenos a precisão da distância determinada é ruim. A
melhor precisão é obtida quando esses ângulos se aproximam de 90º. È a influência da geometria na
precisão! Esse assunto será estudado com mais profundidade em disciplina específica.
Com este método pode-se, a partir de uma distância pequena determinar uma distância maior, a
partir dessa outra maior ainda e assim por diante, de forma que a partir de uma distância pequena se
possa determinar grandes distâncias. A esse procedimento dá-se o nome de ‘desenvolvimento de
bases’.

EXERCÍCIO:
Sabendo que na Figura 3.11 - que está fora de escala -, a distância horizontal entre as estações

A e B, AB, é igual a 20 m, e os ângulos horizontais horários, 2Â1 = 56 o 30' 16,90" ;

2ÂB = 112 o 33' 11,60" ; AB̂1 = 102 o 19' 04,00" e AB̂2 = 59 o 12' 53,10" , calcular a distância horizontal

entre os pontos 1 e 2.

1
A

Figura 3.11: Distância envolvendo ponto inacessível

53
Rodrigues, D. D. – 2008 Medição de Distâncias

5 - EFEITO DA CURVATURA DA TERRA NAS DISTÂNCIAS HORIZONTAIS

Na Figura 3.12, onde


AeB = dois pontos situados em uma esfera;
R = raio de curvatura da esfera;
s = distância esférica AB;
c = a corda correspondente à s;
d = distância horizontal AB, e
γ = o ângulo de convergência entre as verticais que passam por A e B,

d
A
d = R ⋅ tg γ
s
c
B
R s = R ⋅ γ rad

γ γ
c = 2 ⋅ R ⋅ sen
2

Fig. 3.12: Distâncias horizontal, esférica e corda.

estão contidas as conhecidas equações que relacionam distância horizontal, distância esférica e corda,
com o raio de curvatura e o ângulo de convergência. Desta Figura verifica-se que:

d γ3 2 ⋅ γ5
= tg γ ≈ γ + + + L (3.34)
R 3 15
mas
s
γ = (3.35)
R

portanto, empregando apenas os dois primeiros termos da (3.34), tem-se:

d s s3 (3.36)
= +
R R 3 ⋅R3

ou seja
s3
d−s= (3.37)
3 ⋅ R2

que é o efeito da curvatura da terra nas distâncias horizontais.


O erro relativo caso a curvatura seja desconsiderada pode ser calculado por:

54
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

1 1
Er = = . (3.38)
s 3 ⋅ R2
d−s s2

EXERCÍCIO:
Dados: s = 30 km, R = 6.371 km
Calcular:
• A distância horizontal d
• O efeito da curvatura da Terra nesta distância, ou seja, calcular d – s.
• O erro relativo caso a curvatura seja desconsiderada:
• Realizar estes mesmos cálculos para s = 10 km, 5 km, 500 m e 100 m.

As respostas para esse exercício estão na Tabela 3.1.

Tabela 3.1: Efeito da curvatura em diferentes


distâncias
s (Km) d - s (mm) Er (ppm)

30 221,7 7,4

10 8,2 0,82

5 1,0 0,21

0,500 0,001 0,002

0,100 0,000 008 0,000 08

Observe que a correção da curvatura da Terra se faz necessária quando a distância a ser
representada em um plano é tal que o seu efeito seja considerável para os fins a que se destina a
planta.

6 - EFEITO DA ALTITUDE NAS DISTÂNCIAS HORIZONTAIS

Adotando a esfera como modelo físico e matemático para a Terra as superfícies de nível serão
esferas concêntricas. Da Figura 3.13, onde
R = raio do modelo terrestre;
hi = altitude da seção i;
si = distância esférica na superfície de nível da seção i,
sg = distância esférica ao nível do geóide, correspondente à si no Nível Médio
dos Mares (NMM) e
γ = o ângulo de convergência correspondente à si,
verifica-se que:

55
Rodrigues, D. D. – 2008 Medição de Distâncias

sg si
γ = = (3.39)
R R + hi

si

i •

hi sg

R γ

Figura 3.13- Efeito da altitude nas distâncias.

portanto
R (3.40)
sg = s i ⋅
R + hi

onde R (R + h i ) é o fator de escala que converte distâncias medidas na superfície física ao geóide.
Conclusão: a distância entre dois pontos, para fins de mapeamento, depende da posição do
seguimento medido em relação ao nível médio dos mares.

EXERCÍCIO:
Dados: hi = 800 m, R = 6.371 km e si = 30 km
Calcular:
• O fator de escala R R + h i ;

• A distância ao nível do geóide, sg;


• O efeito da altitude nesta distância, ou seja, calcular si – sg;
• O erro relativo caso este efeito seja desconsiderado;
• Realizar estes mesmos cálculos para hi = 100, 500, 1000 e 1500 m.
As respostas para esse exercício estão na Tabela 3.2.

Tabela 3.2: Efeito da altitude nas distâncias


h (m) si - sg (m) Er (ppm)

1500 7,06 235

1000 4,71 157

800 3,77 125

500 2,35 78

100 0,47 16

56
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

Observe que o efeito da altitude é muito maior que o efeito da curvatura da Terra. Observe
também que o erro relativo depende somente da altitude do seguimento medido e pode ser dado por:

h
Erh = ⋅ 10 6 (ppm) (3.41)
R+h

O efeito da altitude deve ser corrigido quando há grandes variações de altitude na região a ser
mapeada ou quando se pretende conectar a planta à carta do município, do estado ou do País.

7 – REDUÇÕES DE DISTÂNCIAS MEDIDAS PELO PROCESSO DIRETO

A Figura 3.14 representa a medição de várias seções de uma distância longa, pelo processo
direto. Tal distância deve ser corrigida dos efeitos da altitude e da curvatura da Terra. À estas correções
da-se o nome de ‘Reduções’. Há duas situações em que as reduções devem ser aplicadas: uma, quando
se vai confeccionar uma planta topográfica, ou seja, os dados serão coletados em campo e processados
para serem representados em um plano, item 7.1; e a outra, quando os dados serão extraídos de uma
planta e materializados na superfície física, ou seja, quando se fará ‘locações’, item 7.2.

ZA ZB

A d1 D
d2 S
d3
· · Superfície de
·
dn nível de A
hA
B
Superfície
física
DH
Plano topográfico
Sg
Geóide (Nível
R Médio dos Mares)

CG
CG
Figura 3.14 – Medição de várias seções de uma distância longa, pelo processo direto.

57
Rodrigues, D. D. – 2008 Medição de Distâncias

7.1- TERRENO Æ PLANTA: reduções aplicadas na confecção de uma planta.

a) Supeficie fisica Æ Superfície do Geóide: corrige-se o efeito da altitude.

R R R R (3.42)
Sg = s 1 ⋅ + s2 ⋅ + s3 ⋅ + ⋅ ⋅ ⋅ + sn ⋅
R + h1 R + h2 R + h3 R + hn

e se as seções medidas são curtas,

s i = di (3.43)

e
R
Sg = ∑R + hi
⋅ di (3.44)

uma vez que o efeito da curvatura em cada di será nulo.

Se a variação em altitude na área que está sendo mapeada é pequena, pode se adotar uma
mesma altitude média (hm) para a região e

R
Sg = ⋅ ∑ di (3.45)
R + hm

b) Superfície do Geóide Æ Plano Topográfico: corrige-se o efeito da curvatura em Sg.

Sg 3
DH = Sg + (3.45)
3 ⋅ R2

7.2- PLANTA Æ TERRENO: reduções aplicadas em locações de projetos.

a) Plano Topográfico Æ Superfície do Geóide: efeito da curvatura

Aqui há necessidade de realizar iterações uma vez que Sg se encontra nos dois lados da
equação. Deve-se inicialmente atribuir o valor da distância horizontal à Sg.

Sg0 = DH (3.46)

Sg 3j −1
Sg j = Sg j −1 − (3.47)
3 ⋅R2

com j = 1,2, · · · até que Sg j − Sg j−1


atinja um determinado critério de convergência.

c) Superfície do Geóide Æ Supeficie fisica: efeito da altitude.


58
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

R + hm (3.44)
Ssf = Sg ⋅
R

EXERCÍCIOS:
i) Um seguimento de aproximadamente 500 m, localizado a uma altitude média de 800 m, foi
dividido em dez seções para ser medido com trena de invar. Os valores das seções, em
metros, são: 49,973, 49,853, 49,936, 49,875, 49,941, 49,832, 49,876, 49,946, 49,912,
49,954. Determinar o valor da distância reduzida ao plano topográfico tangente ao geóide.
Considerar o raio da Terra igual a 6371 Km.
ii) Em um mapa na escala 1/2 000, construído em um plano topográfico tangente ao nível
médio dos mares, foi medida uma distância de 56 cm. Sabendo que a região em que se
encontra o seguimento medido está a uma altitude de 800 m, determinar o valor da distância
esférica correspondente, a ser locada com trena, na superfície física. Considerar o raio da
Terra igual a 6 371 Km.

59
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

IV – INTRODUÇÃO À TEORIA DOS ERROS

______________________________________________________________________________________
A Topografia é uma ciência experimental, não exata. As medições conduzidas pelo ser humano, se
caracterizam pela inevitável presença de erros. Há também os erros devido às imperfeições dos
equipamentos – fabricados pelo homem com peças que se desgastam – e aqueles devido às influências
das condições ambientais, uma vez que a natureza não é, felizmente, exata. Conseqüentemente há
necessidade de se abdicar da pretensão de se obter valores verdadeiros, ou exatos, para as grandezas
observadas, e buscar valores mais prováveis para tais grandezas bem como estimar a precisão destes
valores. Assim, a descrição georreferenciada (ou toporreferenciada) de um lugar deve ser feita com um
nível de confiabilidade estatisticamente comprovado.
Nas engenharias de Agrimensura e Cartográfica o que garante a qualidade de um trabalho não são
os anos de experiência nem as aparências, mas os bons resultados de corretas avaliações estatísticas.
Este capítulo faz uma breve introdução à teoria dos erros, classificando-os [1], apresentando
algumas definições estatísticas [2] e tratando da chamada “lei de propagação” dos erros, ou das variâncias
[3]. Um estudo mais aprofundado do assunto pode ser feito em textos específicos sobre ajustamento de
observações.
______________________________________________________________________________________

1- CLASSIFICAÇÃO DOS ERROS:

Os erros, também conhecidos como propriedades estatísticas das observações, podem ser
classificados em:

a) Erros grosseiros (Enganos):

Causas: desatenção e imperícia do observador, equipamento desregulado, variação brusca do


meio.
Características: Observações com erros grosseiros devem ser eliminadas.
Detecção: às vezes pode ser feita com três observações; porém muitas vezes as observações com
erros grosseiros só podem ser detectadas através de testes estatísticos.

b) Erros sistemáticos (Efeitos sistemáticos):

Causas: Imperfeições do observador, dos equipamentos, dos métodos e do meio. As causas de


erros sistemáticos devem ser conhecidas num processo de medição.
Características: Ocorrem sempre no mesmo sentido, acrescentando ou subtraindo a grandeza
procurada. Devem ser corrigidos aplicando técnicas especiais de observação ou
através de modelos matemáticos.
Detecção: Através de análises estatísticas.

51
Rodrigues, D. D. - 2008 Introdução à teoria dos erros

c) Erros acidentais (Efeitos acidentais):

Causas: Inexatidão do observador, dos equipamentos e do meio.


Características:
• São conhecidas como “flutuações probabilísticas das observações”
• São aleatórios, ocorrem ora num, ora noutro sentido de forma que, quando
o número de observações tende ao infinito, o somatório dos resíduos (ou
desvios), veja item dois deste capítulo, tende a zero.
È em razão deste tipo de erro, que os Engenheiros Agrimensores e Cartógrafos se abdicam de
valores exatos para as grandezas espaciais observadas e buscam, com o apoio da estatística, valores mais
prováveis para tais grandezas bem como suas precisões com um determinado nível de confiança.

2- ALGUMAS DEFINIÇÕES

A falta de confiança no resultado de uma medida isolada leva naturalmente à repetição das
observações. A repetição do processo de medição conduzirá a valores diversos para as medidas e daí a um
novo problema: que valor usar para representar a grandeza medida? o comportamento inconstante das
observações define o caráter estatístico dos resultados, podendo ser considerado como sua principal
propriedade.
Nem sempre é exeqüível repetir as medições para empregar o método probabilístico na análise das
propriedades estatísticas do processo. Uma forma de contornar essa dificuldade é determinar as
propriedades estatísticas dos instrumentos em meios e condições semelhantes àquelas em que serão
empregados, ou seja, é calibrar o instrumento – método determinístico, no qual se admite que sob as
mesmas condições obtêm-se sempre os mesmos resultados. Recomenda-se que todo instrumento de
medição tenha seu certificado de calibração atualizado e devidamente assinado pelo profissional
responsável. Infelizmente, essa é uma prática pouco comum no Brasil. As informações dos fabricantes de
instrumentos de medição são nominais; nem sempre efetivas, uma vez que foram transportados e
calibrados em meios e condições diferentes daquelas em que serão utilizados.
A seguir serão apresentadas definições e equações que podem ser mais bem estudadas em textos
específicos sobre Estatística ou Ajustamento de observações.
• Experiência: método científico que consiste em observar um fenômeno natural sob condições
determinadas que permitam aumentar o conhecimento que se tenha das manifestações ou leis
que regem esse fenômeno, (FERREIRA, 1986).
• Experimento: ensaio técnico-científico com o objetivo de verificar um fenômeno natural.
• Evento estatístico ou observação: ocorrência, num fenômeno aleatório, de um membro de um
determinado conjunto que se define a priori; acontecimento. Em outras palavras, é o resultado
de um experimento. Por exemplo, o valor da medida de um ângulo é o resultado de
experimento estatístico.
• Variável aleatória: é o nome para o resultado de um evento. (Leick, 1995).

52
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

• População (Universo): diz respeito ao conjunto de todos os elementos onde, cada um deles,
apresenta uma ou mais características em comum. È a totalidade de todos os eventos. Inclui
todos os possíveis valores que uma variável aleatória pode ter.
• Amostra: quando se extrai um conjunto de n observações da população, ou seja, toma-se parte
desta, para a realização do estudo, tem-se a amostra. Por exemplo, se uma mesma distância
foi medida dez vezes, estas dez medidas formam uma amostra de todas as possíveis medidas.
Às vezes uma amostra consiste de uma única observação. Na prática, a partir de uma amostra,
podem-se fazer inferências para a população. Neste texto serão utilizados os mesmos
símbolos para informações de amostras e de população.
• Média aritmética ( X ): valor mais provável (ou valor estimado) para a grandeza procurada e
medida n vezes. È o valor que, atribuído como mais provável, fornecerá um mínimo para o
somatório do quadrado dos resíduos. A média de uma variável aleatória é dada por:

X = E {X} , (4.1)

onde o operador E{ } denota a esperança estatística, e a média de um conjunto de n

observações é dada por:


n

∑X i

X=
i =1 (4.2)
n

• Resíduo (V): também conhecido como desvio. É a diferença entre a média ( X ) e o valor
observado ou medido. O valor numérico de um resíduo é, portanto:

Vi = X − Xi (4.3)

Quanto mais a observação se afasta da média, maior é o resíduo. Uma observação com
grande resíduo pode ser classificada como observação com erro grosseiro e assim, eliminada
da amostra.

• Variância de uma observação isolada ( σ2X ): é uma medida da dispersão das observações em
torno da média. A variância de uma “população de variáveis aleatórias” é dada por:

σ2Xi = E {(X − µ ) }
i X
2
(4.4)

ou
SQV (4.5)
σ 2X =
n −1

onde SQV é a ‘soma dos quadrados dos resíduos’, ou seja:

53
Rodrigues, D. D. - 2008 Introdução à teoria dos erros

n n
SQV = ∑
i =1
Vi
2
= ∑ (X − X )
i =1
i
2
(4.6)

• Covariância ( σXY ) : exprime a correlação estatística entre duas amostras. A covariância de


uma “população de variáveis aleatórias” é dada por:

σ XY = E{ (X − µ X )(Y − µ Y ) } (4.7)

ou
n

∑ ( X − X )( Y − Y )
i=1
i i
σ xy = (4.8)
n −1

Se σXY = 0 pode-se dizer que X e Y são “estatisticamente, não correlacionadas”.

• Desvio Padrão de uma observação isolada (σ X ) : é a raiz quadrada positiva da variância, ou

seja:

SQV
σX = + σ2X = + (4.9)
n −1

É também uma medida da dispersão das observações em torno da média. O desvio padrão
apresenta, em relação à variância, a vantagem de ter a mesma unidade das observações
consideradas. É também conhecido como erro padrão (“standard error”) de qualquer observação,
ainda que a palavra “erro” não tenha um significado estritamente estatístico. É uma medida da
precisão ou incerteza do processo de medição. Quanto maior o desvio padrão, menor a precisão ou
maior a incerteza.

• Desvio padrão da média ou erro padrão da média (σ X ) : se uma população de elementos X tem

variância σ X , a média da população X , calculada empregando a equação (4.2), terá o


2

seguinte desvio padrão:

σX SQV (4.10)
σX = = +
n n(n − 1)

Que é uma medida da incerteza da média, ou seja, uma medida da precisão do valor mais
provável para a grandeza procurada.

• Coeficiente de correlação linear (ρ XY ) : mede o grau de dependência linear de duas variáveis


aleatórias. È determinado por:

54
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

σ XY
ρ XY = (4.11)
σX ⋅ σY

• Coeficiente de Variação (CV): é também uma medida da precisão das observações. É


adimensional e equivale ao erro relativo. È expresso em porcentagem e dado pela seguinte
equação:

σX
CV = ⋅ 100 (4.12)
X

• Erro verdadeiro (ε): è a diferença entre o valor observado e o valor exato da grandeza
observada ( µX ), ou seja:

ε i = Xi − µ X (4.13)

O valor exato de uma grandeza pode ser obtido em casos como erros de fechamento
angular e linear de um polígono. Na maioria das vezes não se conhece o valor verdadeiro de
uma variável aleatória espacial.

• Erro aparente (e): è a diferença entre o valor observado e o valor mais provável para a
grandeza observada ( X ), ou seja:

ei = Xi − X (4.14)

Corresponde ao resíduo com sinal trocado.

• Erro médio quadrático ou “root mean square” (rms): outra medida da precisão de um processo
de medição. É definido como:

SQV
rm s = ± σ X = (4.15)
n −1

Apresenta como vantagem em relação ao desvio padrão o fato de assumir sinais positivo e
negativo, mostrando que o “erro” pode ocorrer para mais ou para menos.

• Erro relativo (er): pode ser dado pela razão entre o erro padrão e o valor mais provável para
grandeza observada.
σX
er = (4.16)
X

É uma forma de representar o erro. Pode ser expresso em porcentagem (%), partes por
milhão (ppm) ou no formato de escala com numerador igual à unidade. Se o valor encontrado

55
Rodrigues, D. D. - 2008 Introdução à teoria dos erros

pela (4.16) é multiplicado por 100 tem-se er em porcentagem e se multiplicado por 106 em
ppm. Na notação de escala tem-se:

1 (4.17)
er =
X
σX

• Precisão: diz respeito ao grau de aderência das observações umas às outras.


• Exatidão: diz respeito ao grau de aderência do valor mais provável em relação ao valor
verdadeiro. A Figura 4.1, tiro ao alvo, é uma forma clássica de mostrar a diferença entre
precisão e exatidão. Na 4.1-a tem-se alta precisão e baixa exatidão, provavelmente devido a
erros sistemáticos; na 4.1-b alta precisão e alta exatidão e na 4.1-c baixa precisão e alta
exatidão. Quando se trata de dados e informações espaciais, o valor verdadeiro raramente é
conhecido e não há como falar em exatidão e sim em acurácia.
• Acurácia: “propriedade de uma medida de uma grandeza física que foi obtida por instrumentos
e processos isentos de erros sistemáticos”, (FERREIRA, 1986). Diz respeito, portanto, ao grau
de aderência de um valor mais provável a outro valor mais provável sabidamente isento de
erros sistemáticos.

••
•••••• •
•••••• • ••
•• •
• • •

a b c

Figura 4.1: Diferença entre ‘precisão’ e ‘exatidão’.

3- PROPAGAÇÃO DAS VARIÂNCIAS

Se as medidas ou observações topográficas (direções, ângulos, leituras estadimétricas, distâncias,


fases da portadora, etc) são variáveis aleatórias sujeitas às leis da estatística, as quantidades derivadas
delas (coordenadas, distâncias, áreas, volumes, etc), também o são. Em outras palavras, as variâncias dos
elementos observados se propagam às grandezas derivadas e tal propagação se faz através do modelo
funcional que relaciona as observações com os parâmetros procurados.
A fórmula que expressa a relação entre as variâncias das observações e as dos parâmetros é
denominada ‘fórmula de propagação das variâncias’ ou ‘lei de propagação dos erros’.
Se o parâmetro X1 é uma função explicita das observáveis l1, l2 e l3, ou seja, se

56
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

X1 = f (l1, l2 , l3 ) (4.18)

a variância de X1, σ 2X1 , é dada por:

2 2 2
⎛ ∂X ⎞ ⎛ ∂X ⎞ ⎛ ∂X ⎞ ⎛ ∂X ⎞ ⎛ ∂X ⎞
σ 2
X1 = ⎜⎜ 1 ⎟⎟ ⋅ σl21 + ⎜⎜ 1 ⎟⎟ ⋅ σl22 + ⎜⎜ 1 ⎟⎟ ⋅ σl23 + 2 ⋅ ⎜⎜ 1 ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ 1 ⎟⎟ ⋅ σl1l2 +
⎝ ∂l1 ⎠ ⎝ ∂l2 ⎠ ⎝ ∂l3 ⎠ ⎝ ∂l1 ⎠ ⎝ ∂l2 ⎠
⎛ ∂X 1 ⎞ ⎛ ∂X 1 ⎞ ⎛ ∂X 1 ⎞ ⎛ ∂X 1 ⎞
2 ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ σ l1 l3 + 2 ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ σ l2 l3
⎝ ∂ l1 ⎠ ⎝ ∂ l3 ⎠ ⎝ ∂ l2 ⎠ ⎝ ∂ l3 ⎠

(4.19)

e se um outro parâmetro X2 é também função de l1, l2 e l3, ou se

X 2 = f (l1, l2 , l3 ) , (4.20)
então

2 2 2
⎛ ∂X ⎞ ⎛ ∂X ⎞ ⎛ ∂X 2 ⎞ ⎛ ∂X ⎞ ⎛ ∂X ⎞
σ 2X2 = ⎜⎜ 2 ⎟⎟ ⋅ σl21 + ⎜⎜ 2 ⎟⎟ ⋅ σl22 + ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ σl23 + 2 ⋅ ⎜⎜ 2 ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ 2 ⎟⎟ ⋅ σl1l2 +
∂l
⎝ 1 ⎠ ⎝ ∂l2 ⎠ ∂l
⎝ 3 ⎠ ⎝ ∂l1 ⎠ ⎝ ∂l2 ⎠
⎛ ∂X 2 ⎞ ⎛ ∂X 2 ⎞ ⎛ ∂X 2 ⎞ ⎛ ∂X 2 ⎞
2 ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ σ l1 l3 + 2 ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ σ l2 l 3
⎝ ∂ l1 ⎠ ⎝ ∂ l3 ⎠ ⎝ ∂ l2 ⎠ ⎝ ∂ l3 ⎠

(4.21)

e a covariância dos parâmetros derivados, X1 e X2, é dada por:

⎛ ∂X 1 ⎞ ⎛ ∂X 2 ⎞ ⎛ ∂X 1 ⎞ ⎛ ∂X 2 ⎞ ⎛ ∂X 1 ⎞ ⎛ ∂X 2 ⎞
σ X1 X 2 = ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ σ l21 + ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ σ l22 + ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ σ l23 +
⎝ ∂ l1 ⎠ ⎝ ∂ l1 ⎠ ⎝ ∂ l2 ⎠ ⎝ ∂ l2 ⎠ ⎝ ∂ l3 ⎠ ⎝ ∂ l3 ⎠

⎡⎛ ∂X 1 ⎞ ⎛ ∂X 2 ⎞ ⎛ ∂X 1 ⎞ ⎛ ∂X 2 ⎞⎤ ⎡⎛ ∂X 1 ⎞ ⎛ ∂X 2 ⎞ ⎛ ∂X 1 ⎞ ⎛ ∂X 2 ⎞⎤
⎢ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ + ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⎥ ⋅ σ l1 l2 + ⎢ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ + ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⎥ ⋅ σ l1 l3 +
⎢⎣ ⎝ ∂ l1 ⎠ ⎝ ∂ l2 ⎠ ⎝ ∂ l2 ⎠ ⎝ ∂ l1 ⎠ ⎥⎦ ⎢⎣ ⎝ ∂ l1 ⎠ ⎝ ∂ l3 ⎠ ⎝ ∂ l3 ⎠ ⎝ ∂ l1 ⎠ ⎥⎦

⎡⎛ ∂X 1 ⎞ ⎛ ∂Y ⎞ ⎛ ∂X 1 ⎞ ⎛ ∂Y ⎞⎤
⎢ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ + ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⎥ ⋅ σ l2 l 3
⎣⎢ ⎝ ∂ l 2 ⎠ ⎝ 3 ⎠∂ l ⎝ ∂ l3 ⎠ ⎝ ∂ l 2 ⎠ ⎦⎥
(4.22)

Se X é uma função explicita dos n elementos l1 , l 2 , L, l n não correlacionados, dada por:

X = f (l1, l 2 , Lln ) (4.23)

e as observações de l1, l2, ..., ln são independentes, não correlacionadas, σ li lj = 0 , os termos que

multiplicam as covariâncias desaparecem e a variância de X, σ X , é dada por:


2

2 2 2 2
⎛ ∂X ⎞ ⎛ ∂X ⎞ ⎛ ∂X ⎞ ⎛ ∂X ⎞
σ 2
X1 = ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ σ l21 + ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ σ l22 + ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ σ l23 + L + ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ σ ln2 (4.24)
⎝ ∂ l1 ⎠ ⎝ ∂ l2 ⎠ ⎝ ∂ l3 ⎠ ⎝ ∂ ln ⎠

57
Rodrigues, D. D. - 2008 Introdução à teoria dos erros

Aumentando o número de observáveis e parâmetros, faz-se necessário o uso da notação matricial,


para evitar equações cada vez mais enfadonhas. Se X é um vetor com m variáveis aleatórias derivadas de
outras n variáveis aleatórias contidas no vetor L, ou seja, se
X 1 = f1 ( l 1 , l 2 , l 3 , L l n )
X 2 = f 2 ( l1 , l 2 , l 3 , L l n )
X 3 = f 3 ( l1 , l 2 , l 3 , L l n ) (4.25)

M
X m = f m ( l1 , l 2 , l 3 , L l n ) ,

a equação matricial que representa a lei de propagação das variâncias é:

C X = J X L ⋅ C L ⋅ J TX L (4.26)

onde
Cx é a Matriz das Variâncias e Covariâncias (MVC) - ou simplesmente Matriz das Covariâncias (uma
vez que variância é um caso particular de covariância) –, dos parâmetros X 1 , X 2 , X 3 , L X m , que tem
a seguinte forma:

⎡ σ 2X1 σ X1 X 2 σ X1 X3 σ X1 Xm ⎤
⎢ ⎥
⎢σ X X σ 2X 2 σ X2 X3 L σ X 2 Xm ⎥
⎢ 2 1 ⎥
CX = ⎢ σ X3 X1 σ X2 σ 2X3 σ X 3 Xm ⎥ ; (4.27)
⎢ X3

⎢ M O ⎥
⎢ ⎥
⎢σ σ Xm σ Xm σ 2Xm ⎥⎦
⎣ Xm X1 X2 X3

CL é a matriz das covariâncias das observações l1 , l 2 , l 3 , L l n organizada da seguinte forma:

⎡ σ l21 σ l1 l2 σ l1 l3 σ l1 ln ⎤
⎢ ⎥
⎢σ l l σ l22 σ l 2 l3 L σ l2 ln ⎥
⎢ 21 ⎥
C l = ⎢σ l3 l1 σ l 2 l3 σ l23 σ l3 ln ⎥ (4.28)
⎢ ⎥
⎢ M O M ⎥
⎢ ⎥
⎢σ σ ln l 2 σ ln l3 2 ⎥
σ ln ⎦
⎣ ln l1
e
JXL é denominada Matriz Jacobiana. É a matriz das derivadas parciais dos parâmetros (Xi) em relação
às observações (Lj) – com o seguinte formato:

58
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

⎡ ∂X 1 ∂X 1 ∂X 1 ∂X 1 ⎤
⎢ ∂ l1 ∂ l2 ∂ l3 ∂ l n ⎥⎥

⎢ ⎥
⎢ ∂X 2 ∂X 2 ∂X 2 ∂X 2 ⎥
⎢ L
∂ l1 ∂ l2 ∂ l3 ∂ ln ⎥
⎢ ⎥
⎢ ⎥
∂X ∂ F(L ) ∂X 3 ∂X 3 ∂X 3 ∂X 3 ⎥ , (4.29)
JX L = = = ⎢
∂L ∂L ⎢ ∂ l1 ∂ l2 ∂ l3 ∂ ln ⎥
⎢ ⎥
⎢ ⎥
⎢ M O M ⎥
⎢ ⎥
⎢ ⎥
⎢ ∂X n ∂X n ∂X n ∂X n ⎥
⎢ ⎥
⎢⎣ ∂ l1 ∂ l2 ∂ l3 ∂ l n ⎥⎦

Observa-se que as matrizes de covariâncias são quadradas e simétricas, uma vez que σ12 = σ 2 1 ,

conforme mostra a equação (4.8). Sendo simétricas, é possível anotar nas MVCs somente os elementos da
diagonal e os acima dela.
Segundo Cooper, 1987, é prática comum considerar as observações independentes, não
correlacionadas, de forma que todos os pares de covariâncias sejam nulos e todas as medidas não
correlacionadas, não somente por conveniência prática, mas por que a experiência justifica isso. De
qualquer forma é muito difícil determinar a covariância entre pares de observações realizadas empregando
procedimentos normais de campo. No entanto, se os elementos do vetor L são derivados de outras
variáveis, poderá haver correlação entre eles.
Para se propagar as variâncias e assim verificar o efeito de um erro de uma observação em um
parâmetro, há necessidade de determinar o valor numérico da derivada parcial da função em relação á
variável.

4- ALGUMAS DERIVADAS

A seguir são relacionadas algumas funções, e suas derivadas, comumente usadas em Agrimensura
e Cartografia.

• Se f ( x ) = x n , .............a derivada é ............... f ′( x ) = n ⋅ x n−1

• Se h( x ) = f ( x ) + g( x ) ,.................................... h ′( x ) = f ′( x ) + g′( x )

• Se h( x ) = f ( x ) ⋅ g( x ) ,........................................ h ′( x ) = f ′( x ) ⋅ g( x ) + f ( x ) ⋅ g′( x )

f (x ) f ′(x ) ⋅ g(x ) − f (x ) ⋅ g′(x )


• Se h( x ) = , .......... .......... .......... .......... ...... h' ( x ) =
g(x ) g 2 (x )

• Se f (x ) = 1 , ................................................... f ' (x ) = − g ' (x )


g(x ) g2 (x )

1
• Se f ( x ) = arctg x , ........................................... f ′( x ) =
1 + x2

59
Rodrigues, D. D. - 2008 Introdução à teoria dos erros

−1
• Se f ( x ) = arccos x , ......................................... f ′( x ) =
1 − x2

1
• Se f ( x ) = arcsen x , ......................................... f ′( x ) = ,
1 − x2

5- EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

i) Sabendo-se que a leitura estadimétrica, m, é resultado da diferença entre as leituras na mira com
os fios superior e inferior, FS, e FI; calcular a variância de uma leitura estadimétrica qualquer,
sabendo que σ FS = σ FI = 3 mm . OBS: A precisão com que se lê FS, FM e FI, em uma mira

vertical, depende da distância. Quanto maior a distância menor a precisão, ou seja, maior o desvio
padrão.

A função que relaciona, explicitamente, as leituras com os fios (observações) e a leitura estadimétrica
(incógnita ou parâmetro) é:
m = FS − FI .

Se FS e FI são variáveis aleatórias, m também o é. Aplicando a lei de propagação das variâncias


tem-se:
2 2
⎛ ∂m ⎞ ⎛ ∂m ⎞ ⎛ ∂m ⎞ ⎛ ∂m ⎞
σ m2 = ⎜ ⎟ ⋅ σ FS + ⎜
2
⎟ ⋅ σ FI + 2 ⋅ ⎜
2
⎟⋅⎜ ⎟ ⋅ σ FS FI
⎝ ∂FS ⎠ ⎝ ∂FI ⎠ ⎝ ∂FS ⎠ ⎝ ∂FI ⎠
Portanto

σ m2 = (1) ⋅ σ FS (− 1) ⋅ σ 2FI + 2 ⋅ (1) ⋅ (− 1) ⋅ σ FS FI


2 2
2
+

Como σ FS = σ FI e admitindo que σ FS FI = 0 , ou seja, admitindo que não haja correlação entre as

observações com o fio superior e inferior, tem-se:

σ m2 = 2 ⋅ σ F2
portanto,

σm = 2 ⋅ σF .

Como o desvio padrão das leituras é igual a 3 mm,

σm = 2 ⋅ 3 mm = 4 mm

60
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

ii) Se m = 0,513 m, g = 100 e î = 30 o , calcular a variância da distância horizontal determinada com

estas observações, sabendo que o desvio padrão de î é de 5’ (300”) e de m, 4 mm


( σ m = 4 mm .)

A função que relaciona as observações com a distância a ser determinada é:

D = m ⋅ g ⋅ cos 2 î ,

sendo g uma constante. Aplicando a lei de propagação das variâncias tem-se:

2 2
⎛ ∂D ⎞ ⎛ ∂D ⎞ ⎛ ∂D ⎞ ⎛ ∂D ⎞
σ 2
D =⎜ ⎟ ⋅ σ m + ⎜⎜
2
⎟ ⋅ σ 2î + 2 ⋅ ⎜
⎟ ⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ σ m î
⎝ ∂m ⎠ ⎝ ∂ î ⎠ ⎝ ∂m ⎠ ⎝ ∂ î ⎠
Portanto

(
σ D2 = g ⋅ cos 2 î )
2
⋅ σ m2 + (− 2 ⋅ m ⋅ g ⋅ cos î ⋅ sen î )2
( )( )
⋅ σ 2 + 2 ⋅ g ⋅ cos 2 î ⋅ − 2 ⋅ m ⋅ g ⋅ cos î ⋅ sen î ⋅ σ m Î

Admitindo que não haja correlação entre a leitura estadimétrica e o ângulo de inclinação, ou seja, admitindo
que σ m Î = 0 , tem-se:

(
σ m2 = g ⋅ cos 2 î )2
⋅ σ m2 + (− 2 ⋅ m ⋅ g ⋅ cos î ⋅ sen î ) 2
⋅ σ2

Substituindo os valores de m, g e î, tem-se que:

σ m2 = 5625 ⋅ σ m2 + 1973,768 (m 2 ) ⋅ σ 2

Para adequar as unidades na equação acima, é necessário transformar a unidade da variância de î para
radiano ao quadrado, assim:

σ 2î = (300 ′′) 2 = (300 ⋅ sen 1′′ rad) 2 = 2,1154 x 10 -6 rad 2

e
σ D2 = 5625 ⋅ 16 (mm 2 ) + 1973,768 × 10 6 (mm 2 ) ⋅ 2,1154 × 10 −6

portanto,
σ D2 = 90 000 (mm 2 ) + 4175,308 (mm 2 )

De onde se observa que o efeito de um desvio de 5’ no ângulo vertical – segundo termo da equação - é
menor que o efeito de um desvio de 3 mm na leitura com os fios estadimétricos. O efeito conjunto desses
desvios na distância D, de 38,475 m, será:
σ D = 30,7cm ,

61
Rodrigues, D. D. - 2008 Introdução à teoria dos erros

levando, portanto, um erro relativo de 1/125.

iii) Sabendo que, de acordo com a Figura 4.2, as coordenadas do ponto B podem ser calculadas
empregando as equações mostradas na Figura, que as coordenadas do ponto A têm as seguintes

precisões: σ XA e σ YA e a seguinte covariância σ X A YA , que a distância e o azimute medidos têm

precisões iguais a σD e σ AZ e que não há correlação entre a distância e o azimute, ou seja, que

σ D AZ = 0 , calcular as variâncias de XB e YB e a covariância entre XB e YB.

Y
B X B = X A + D AB ⋅ sen AZ AB

YB = YA + D AB ⋅ cos AZ AB
AZAB DAB

YA
A

XA X

Figura 4.2: Coordenadas cartesianas (X e Y) a partir de coordenadas polares (AZ e D)

As funções que relacionam as variáveis aleatórias XA, YA, DAB e AZAB, componentes de um vetor L,
com as variáveis XB e YB, componentes de um vetor X, são:

X B = X A + D AB ⋅ sen AZ AB

YB = YA + D AB ⋅ cos AZ AB

Empregando a notação matricial tem-se que:

C X = J X L ⋅ C L ⋅ J TX L

onde
⎡σ 2X A σ X A YA 0 0 ⎤
⎢ ⎥
⎢ σ 2YA 0 0 ⎥
CL = ⎢ ⎥.
⎢ σ D2 AB 0 ⎥
⎢ ⎥
⎢⎣ σ 2AZ AB ⎥⎦

Os valores nulos na matriz relevam que não há correlação entre as coordenadas e as observações e entre
as observações. As derivadas parciais são dispostas na matriz JXL da seguinte forma:

62
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

⎡ ∂X B ∂X B ∂X B ∂X B ⎤
⎢ ∂X A ∂YA ∂D AB ∂AZ AB ⎥⎥
∂ F( L ) ⎢
JX L = = ⎢ ⎥
∂L ∂YB ∂YB ∂YB ∂YB ⎥

⎢ ∂X A ∂YA ∂D AB ∂AZ AB ⎥⎦

Calculando as derivadas parciais, tem-se:

⎡ 1 0 sen AZ D ⋅ cos AZ ⎤
J XL = ⎢ ⎥
⎢⎣ 0 1 cos AZ − D ⋅ sen AZ ⎥⎦

Multiplicando a matriz JXL pela CL tem-se:

⎡ σ 2X A σ X A YA senAZ ⋅ σ D2 D ⋅ cos AZ ⋅ σ 2AZ ⎤


JX L ⋅ CL = ⎢ ⎥.
⎢⎣ σ X A YA σ 2YA cos AZ ⋅ σ D2 − D ⋅ sen AZ ⋅ σ 2AZ ⎥⎦

E multiplicando essa matriz pela transposta de JXL, tem-se:

⎡σ 2X A + (senAZ ) 2 ⋅ σ D2 + (D ⋅ cos AZ ) 2 ⋅ σ 2AZ σ X A YA + senAZ ⋅ cos AZ ⋅ σ D2 − D 2 ⋅ senAZ ⋅ cos AZ ⋅ σ 2AZ ⎤


⎢ ⎥.
CX = ⎢ ⎥
⎢ σ YA + (cos AZ ) ⋅ σ D + ( −D ⋅ senAZ ) ⋅ σ AZ
2 2 2 2 2

⎣ ⎦

Ou seja:

σ 2XB = σ 2X A + ( senAZ ) 2 ⋅ σ D2 + (D ⋅ cos AZ ) 2 ⋅ σ 2AZ

σ 2XB = σ 2YA + (cos AZ ) 2 ⋅ σ D2 + ( −D ⋅ senAZ ) 2 ⋅ σ 2AZ

σ XB YB = σ X A YA + senAZ ⋅ cos AZ ⋅ σ D2 − D 2 ⋅ senAZ ⋅ cos AZ ⋅ σ 2AZ

6- EXERCÍCIOS PROPOSTOS

i) A partir das seguintes funções:


X 2 − X1
f (x) = ( X 2 − X1 ) 2 + ( Y2 − Y1 ) 2 e g( x ) = arctg ( )
y 2 − y1

determinar as seguintes derivadas parciais:


a) f ' ( x 1 ) b) f ' ( y 1 ) c) f ' ( x 2 ) d) f ' ( y 2 )

e) g' ( x 1 ) f) g' ( y 1 ) g) g' ( x 2 ) h) g' ( y 2 )

63
Rodrigues, D. D. - 2008 Introdução à teoria dos erros

ii) Sabendo-se que um ângulo α é resultado da diferença entre a direção final, δ f , e a direção

inicial, δ i , ou seja, α = δ f − δ i ; calcular as covariâncias de um ângulo α qualquer, sabendo que


as direções são medidas uma precisão de 10”.
iii) Se distâncias são medidas com um erro relativo de 1/500 (0,2% ou 2000 ppm), qual é o desvio
padrão de uma distância cujo valor mais provável é 30 m?
X1 X2 X3 X
iv) Se X = + + + L + n ; calcular o desvio padrão de X , σ X , sabendo que
n n n n
σ X1 = σ X2 = σ X3 = L = σ Xn = σ X .

v) Para obter o valor do ângulo da Figura 4.3, foram medidos os lados do triângulo com um desvio
padrão de 1 cm. Qual será o desvio padrão do ângulo calculado, em minutos do sistema
sexagesimal? Ou seja, qual é o efeito do erro de 1 cm nas distâncias medidas, no ângulo
procurado?

30,16 m 26,57 m

α
41,83 m
Figura 4.3: Ângulo com trena

vi) Sabendo que, de acordo com a Figura 4.2, as coordenadas do ponto A, seus desvios padrão e o
coeficiente de correlação entre elas, são iguais a: XA = 1245,192 m, YA = 2341,052 m, σ XA = 5 cm ,

σ YA = 5 cm , ρ X A YA = − 0,12 . Sabendo ainda que DAB = 123,000 m , σ D = 5 mm , AZAB = 48º 00’ e

σ AZ = 1' , calcular as coordenadas do ponto B, seus desvios padrão, em mm, e o coeficiente de


correlação entre elas.
vii) Dadas, de acordo com a Figura 4.4, as coordenadas X, Y e Z dos pontos P e Q e sua matriz das

covariâncias, CPQ, determinar os desvios padrão de DPQ, DHPQ, AZPQ, Ẑ PQ , sabendo que:

DPQ

Ẑ PQ AZPQ

Z DHPQ
Y
P

O X

Figura 4.4 – Coordenadas polares e retangulares

64
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

• As coordenadas de um mesmo ponto são correlacionadas, porém, não há correlação


entre as coordenadas dos pontos P e Q;

[ ]
1
• D PQ = ( X Q − X P ) 2 + ( YQ − YP ) 2 + ( Z Q − Z P ) 2 2 ,

[ ]
1
• DHPQ = ( X Q − X P ) 2 + ( YQ − YP ) 2 2 ,

XQ − XP
• AZ PQ = arctg ( ) e
YQ − YP

Z Q − ZP
• Ẑ PQ = ar cos ( )
[ (X ]
1

Q − XP ) 2
+ ( YQ − YP ) 2
+ (Z Q − ZP ) 2 2

65
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

V – LEVANTAMENTO PLANIMÉTRICO DE PONTOS TEMÁTICOS

Após conhecer instrumentos e métodos para medição de ângulos e distâncias horizontais, serão
estudados métodos de levantamento e de processamento, que possibilitam a transformação desses
dados em coordenadas - uma forma mais compacta de armazená-los e relacioná-los - referidas a um
sistema de referência topográfico devidamente materializado. Após classificar os levantamentos
topográficos [1.1] e estabelecer as etapas de um levantamento planimétrico [1.2], será definido sistema
topográfico de referência [2], verificado como calcular azimutes a partir de coordenadas [3], estudados
os diferentes métodos de levantamento de pontos temáticos [4] e as diferentes formas de se determinar
azimutes a partir de ângulos horizontais [5], uma preparação para o capítulo seguinte.

1- INTRODUÇÃO

À atividade de coletar dados no campo, no mundo real, para representá-los em forma de tabelas
ou descrições gráficas, dá-se o nome de ‘levantamento’; já a atividade de extrair dados de uma
descrição gráfica ou numérica e representá-los no espaço real, denomina-se por ‘locação’. A Figura 5.1
busca realçar as diferenças entre estas atividades. Após o levantamento, as distâncias e ângulos
medidos, no terreno, são transformados em coordenadas, e num trabalho de locação as coordenadas,
extraídas de uma planta ou mapa, são transformadas em ângulos e distâncias para definir o local de
materialização de um projeto no campo.

⎧ X = f ( ângulos , distâncias )
Levantamen to : ⎨
⎩ Y = f ( ângulos , distâncias )

TERRENO MAPA

⎧Ângulo = f ( X, Y )
Locação : ⎨
⎩Distância = f ( X, Y )

Figura 5.1 – Levantamento e locação: diferentes atividades da topografia.

O procedimento clássico básico para levantar uma determinada área é: instalar o teodolito ou
estação total em um determinado ponto - devidamente materializado, cravando no local um piquete de
madeira ou de concreto - e proceder à medição dos ângulos e/ou distâncias. Este ponto materializado é
chamado de “ponto de apoio” ou “estação”. Os pontos mapeados em torno dele são chamados de
‘pontos de interesse’, ‘pontos de detalhe’ ou ‘pontos temáticos’. Nestes textos será empregado,
preferencialmente, o adjetivo ‘temático’ e adotada a seguinte convenção:
Ponto de apoio com coordenadas conhecidas,
Ponto de apoio a ser determinado,
Ponto temático com coordenadas conhecidas e
Ponto temático a ser determinado.

77
Rodrigues, D. D. - 2008 Levantamento planimétrico de pontos temáticos

O levantamento de dados e informações pode ser classificado de acordo com a informação


espacial requerida, com as informações temáticas a serem transmitidas e com a posição, em relação à
superfície terrestre, em que é realizado.

1.1 - CLASSIFICAÇÃO DOS LEVANTAMENTOS

a) Quanto à informação espacial levantada: planimétrico, altimétrico e planialtimétrico. É


conveniente ressaltar que os levantamentos planimétricos e/ou altimétricos são definidos e
executados em função das especificações dos projetos de mapeamento. Assim, um projeto
poderá exigir somente levantamentos planimétricos, ou somente altimétricos, ou ainda, ambos
os levantamentos, planialtimétricos.
Levantamento planimétrico compreende o conjunto de operações necessárias para a
determinação de pontos e feições do terreno que serão projetados sobre um plano horizontal de
referência através de suas coordenadas X e Y (representação bidimensional).

b) Quanto à informação temática o mapeamento pode ser: do relevo, florestal, de uso do solo,
hidrográfico, pedológico, de limites de imóveis urbanos ou rurais, de obras de engenharia, de
recursos naturais, etc.
É comum o levantamento multifinalitário, onde diversas informações são levantadas,
tornando a planta útil a diversos fins.

c) Quanto à posição, em relação à superfície terrestre, em que é feito o levantamento: superficial,


subterrâneo, batimétrico - se o levantamento é de informações da superfície terrestre, de túneis
ou minas ou de fundos de lagos e rios, respectivamente. È notável hoje a demanda por
levantamentos batimétricos; uma forma de equacionar o assoreamento de nossos lagos e rios.

1.2- ETAPAS DE UM LEVANTAMENTO PLANIMÉTRICO.

• Planejamento: no planejamento deve-se definir, principalmente, a finalidade, a escala máxima,


os equipamentos e os métodos. Relacionar a finalidade com os instrumentos e os métodos a
serem usados e determinar, a priori, a escala máxima, é conhecimento que se adquire, na
integralidade, com a prática.
• Reconhecimento da área e elaboração de croqui: consiste em vistoriar a área in loco, através
de um mapa em escala pequena (1:50.000, por exemplo), de uma foto aérea ou de imagens
orbitais e fazer um esboço da área a ser levantada, mostrando os temas que deverão ser
mapeados e definindo a posição dos pontos de apoio.
• Materialização e levantamento dos pontos de apoio: empregando método adequado
(poligonação, triangulação, trilateração, triangulateração ou levantamento por satélites de

78
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

posicionamento) levantar os dados e informações dos pontos de apoio. Desses métodos,


somente poligonação será enfatizado nestes textos.
• Levantamento dos pontos temáticos (pontos de interesse ou detalhes): empregando os
diferentes métodos (método do alinhamento, das ordenadas, irradiação, interseção angular,
etc), estudados no item 3 desse capítulo, mapear os diferentes temas.
• Processamento dos pontos de apoio: processar os dados levantados para os pontos de apoio
corrigindo os erros, determinando as coordenadas, suas covariâncias e avaliando a qualidade
das observações realizadas. A estimativa de variâncias e covariâncias de pontos de apoio não
serão realizadas neste texto para não torná-lo demasiadamente extenso.
• Processamento dos pontos temáticos: processar os dados dos pontos temáticos levantados,
corrigindo-os dos erros e gerando o Modelo Numérico do Terreno com qualidade - das
observações e das coordenadas resultantes - devidamente avaliada. Neste texto serão
realizadas apenas propagação de variâncias.
• Desenho da Planta: transformar a descrição numérica do terreno em descrição gráfica, uma
forma de visualizar a área mapeada e possibilitar a concepção de projetos.
• Redação do memorial descritivo: redigir o Memorial Descritivo, um texto que descreve os limites
do lote urbano ou rural levantado. É o documento legal que possibilita a confecção da “escritura
do terreno”.
• Redação do relatório técnico: redigir o relatório técnico descrevendo a finalidade do
levantamento bem como os métodos e instrumentos empregados.

2- SISTEMA TOPOGRÁFICO DE REFERÊNCIA

Obviamente que, para transformar coordenadas polares (ângulos e distâncias) em coordenadas


cartesianas é necessário materializar o sistema de referência a ser empregado. Um sistema de
referência pode ser definido (fixação teórica), arbitrado ou realizado (materializado); e sendo dado um
sistema de referência cartesiano fixo, qualquer ponto do espaço é determinado de maneira única por
suas coordenadas.
A definição de um sistema é feita estabelecendo a origem e as direções e sentidos positivos dos
eixos de coordenadas. A definição de um sistema topográfico ideal depende principalmente da extensão
da área a ser levantada. O sistema pode ser para um município inteiro ou apenas para um lote urbano
visando a locação e realização de projetos arquitetônicos ou monitoramento de estruturas. De forma
geral, um sistema topográfico pode ser definido como, Figura 5.2:
Origem: Um ponto qualquer (ou no centro da área a ser mapeada, a fim de reduzir o efeito da
curvatura da terra) sobre a superfície física (ou na superfície do nível médio da região ou
ainda, do nível médio dos mares, a fim de homogeneizar as distâncias, corrigindo-as do
efeito a altitude). Uma prática comum em levantamentos de lotes pequenos é posicionar
o sistema de forma que toda área a ser levantada fique no primeiro quadrante e não
haja assim coordenadas negativas.

79
Rodrigues, D. D. - 2008 Levantamento planimétrico de pontos temáticos

Eixo z: Tem a direção definida pelos pontos nadir e zênite do ponto de origem e o sentido
positivo é o dirigido para o zênite. A direção nadir-zênite é a direção da vertical,
materializada pelo fio de prumo.
Eixo y: Tem a direção definida pela tangente ao meridiano que passa pela origem e o sentido
positivo é o dirigido para o norte.
Eixo x: A direção do eixo x é a da perpendicular aos eixos z e y que passa pela origem e o
sentido positivo é o que torna o sistema topográfico dextrógiro ou sistema da mão direita
– lembrando que o eixo x é representado pelo polegar, o y pelo indicador e o z pelo
dedo médio.

z Centro da área a ser mapeada


y ≡ Norte

x
O
z
y ≡ Norte

O Nível médio da região

Vertical de O

z y ≡ Norte

O Nível médio dos mares (NMM)


x

Figura 5.2- Definição do sistema topográfico de referência

Em ciências experimentais como a topografia, um sistema de referência deve ser, além de


definido, materializado ou realizado. Se o levantamento a ser executado é planimétrico e são medidas
distâncias horizontais, o sistema topográfico é materializado conhecendo-se, no mínimo, um ponto
planimétrico - ponto com coordenadas x e y conhecidas - e o azimute de um alinhamento. Se forem
medidos somente ângulos horizontais há necessidade de se conhecer também uma distância horizontal.
Naturalmente o sistema pode ser materializado conhecendo-se dois ou mais pontos planimétricos.
Caso sejam conhecidas as coordenadas de dois pontos planimétricos em vez de as
coordenadas de um ponto e um azimute, este deve ser determinado a partir das coordenadas
topográficas conhecidas.

80
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

3- AZIMUTES A PARTIR DAS COORDENADAS TOPOGRÁFICAS

A Figura 5.3 mostra pontos de coordenadas conhecidas, J e K, e um sistema de coordenadas


paralelo ao sistema topográfico, passando por J. O ponto K, ponto para o qual se quer calcular o
azimute, está representado em todos os quadrantes definidos por esse sistema. Se o ponto K estiver no
primeiro quadrante em relação ao ponto de partida, as diferenças de coordenadas, ou componentes
vetoriais, definidas como:

∆X JK = X K − X J e (5.1)

∆YJK = YK − YJ , (5.2)

∆X JK
são positivas e o arctg ( ) é maior que zero e igual ao azimute de J para K, ou seja, se o ponto K
∆YJK

está no primeiro quadrante,

XK − X J
AZ JK = arctg ( ). (5.3)
YK − YJ

Y≡N
N
1o Quadrante

∆X JK = X K − X J ; > 0 ; + .
K
∆X JK
K arctg ( )<0
∆YJK

∆YJK > 0 ; +
∆X JK < 0 ; − ∆YJK = YK − YJ ; > 0 ; + .

4o Quadrante
J
L
O
o
2 Quadrante

K ∆X JK > 0 ; +
∆X JK
arctg ( )>0 ∆YJK < 0 ; −
∆YJK ∆X JK
arctg ( )<0
∆YJK
∆YJK < 0 ; − K
o
3 Quadrante
∆X JK < 0 ; −
S

O X
Figura 5.3 – Azimutes a partir de coordenadas topográficas

81
Rodrigues, D. D. - 2008 Levantamento planimétrico de pontos temáticos

Se o ponto K estiver no segundo quadrante, ∆X JK > 0 e ∆YJK < 0 , verifica-se na Figura 5.3
que:
XK − X J
AZ JK = arctg ( ) + 180 o (5.4)
YK − YJ

∆X JK
uma vez que arctg ( ) < 0.
∆YJK

Caso ∆X JK e ∆YJK sejam menores que zero, o ponto K estará no terceiro quadrante, o

∆X JK
arctg ( ) será positivo e o azimute de J para K será dado também pela equação 5.4. Já se o ponto
∆YJK

∆X JK
K estiver no quarto quadrante, ∆X JK < 0 e ∆YJK > 0 , o arctg ( ) será negativo e igual a:
∆YJK

XK − X J
AZ JK = arctg ( ) + 360 o . (5.5)
YK − YJ

Ao calcular azimutes a partir de coordenadas é necessário se atentar para os casos em que


∆X ou ∆Y é igual a zero. A Figura 5.4 mostra esses casos. Nela, ∆X JK = ∆X KJ = 0 e

∆X IJ
∆YIJ = ∆YJI = 0 , não havendo para esse último caso, como calcular arctg ( ) .
∆YIJ

I J

X
Figura 5.4 – Casos especiais no cálculo de azimutes

Como, de acordo com a equação (5.1), ∆X IJ > 0 , o azimute de I para J é 90º e como

∆X JI < 0 , o azimute de J para I é 270º. Da mesma forma, como, de acordo com a equação (5.2),

∆YJK < 0 , o azimute de J para K é 180º e como ∆YKJ > 0 o azimute de K para J é zero.

82
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

EXERCÍCIOS:

i) Conhecendo as posições dos pontos J(1319,378 m; 1572,266 m) e K(1635,557 m;


1727,340 m), calcular AZKJ .
ii) Admitindo que tais coordenadas são variáveis aleatórias, não correlacionadas, com
variâncias iguais a 1mm2; calcular a variância da variável aleatória AZKJ.
iii) Elaborar um algoritmo para calcular azimutes a partir das coordenadas topográficas.

4- METODOS PARA LEVANTAMENTO DE PONTOS TEMÁTICOS:

Realizado um sistema topográfico e instalado um teodolito ou estação total em um ponto de


coordenadas conhecidas – ponto de apoio - pode-se, empregando métodos adequados, medir ângulos
e/ou distâncias relativas aos pontos temáticos, ou de interesse, próximos ao instrumento, e então
transformar as coordenadas polares em cartesianas relacionadas ao sistema de coordenadas do ponto
de apoio. A seguir serão estudados os diferentes métodos de posicionamento de pontos temáticos.

4.1 – Método do alinhamento

O método do alinhamento pode ser empregado quando se conhecem as coordenadas de dois


pontos e o ponto a ser determinado encontra-se na direção definida por eles, como mostra a Figura 5.5.
Nesse caso, a única observação ou medida necessária é a distância, ao longo do alinhamento, de um
ponto conhecido ao ponto desconhecido.
Portanto o problema, de acordo com a Figura 5.5, se resume em:
Dadas as coordenadas de dois pontos: XA, YA, XB e YB; observada a distância horizontal ao
longo do alinhamento, DHAJ; determinar as coordenadas do ponto J; XJ, YJ; e suas covariâncias.
Da Figura 5.5 observa-se que:

X J = X A + DH AJ ⋅ sen θ , (5.6)
e
YJ = YA + DH AJ ⋅ cos θ . (5.7)

Mas

XB − X A
sen θ = , (5.8)
AB
e
YB − YA
cos θ = , (5.9)
AB
sendo

AB = (X B − X A )2 + ( YB − YA ) 2 . (5.10)

83
Rodrigues, D. D. - 2008 Levantamento planimétrico de pontos temáticos

y
B

θ DHAJ DHAJ ⋅ cos θ

YA
A DHAJ ⋅ sen θ

XA x

Figura 5.5 – Método do alinhamento

Portanto,
XB − X A
X J = X A + DH AJ ⋅ (5.11)
AB
e
YB − YA
YJ = YA + DH AJ ⋅ . (5.12)
AB

não havendo necessidade de determinar o ângulo θ.

Admitindo fixas e sem covariâncias as coordenadas dos pontos A e B e aplicando a lei de


propagação das variâncias às equações (5.11) e (5.12), tem-se:

2
⎛ X − XA ⎞
σ 2XJ = ⎜⎜ B ⎟⎟ ⋅ σ DH
2
(5.13)
⎝ AB
AJ

2
⎛ Y − YA ⎞
σ 2
YJ = ⎜⎜ B ⎟⎟ ⋅ σ DH
2
(5.14)
⎝ AB
AJ

E

⎛ X − X A ⎞ ⎛ YB − Y A ⎞ 2 (5.15)
σ X J YJ = ⎜⎜ B ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ σ DH AJ
⎝ AB ⎠ ⎝ AB ⎠

EXERCÍCIOS:

84
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

i) Considerando que as coordenadas dos pontos A e B também são variáveis aleatórias,


correlacionadas e com covariâncias iguais a:
σ 2X A , σ 2YA , σ 2XB , σ 2YB , σ X A YA , σ X A XB , σ X A YB , σ XB YA , σ XB YB e σ YB YA ;

determinar as covariâncias das coordenadas XJ e YJ.


ii) Dadas, de acordo com a Figura 5.6, as coordenadas: XA = 225,15 m,YA = 653,78 m,
XB = 536,38 m, YB = 154,52 m.
Observação: a distância horizontal com o seu desvio padrão: DHAJ = 123,30 m ± 0,01 m
Determinar: as coordenadas do ponto j e seus desvios padrão.
iii) Elaborar um algoritmo para determinar coordenadas topográficas pelo método do
alinhamento.

XA = 225,15 m
YA = 653,78 m

A
DHAJ = 123,30 ± 0.01 m

XB = 536,38 m
B
YB = 154,52 m

Figura 5.6: Levantamento pelo método do alinhamento.

4.2 – Método das ordenadas:

O método das ordenadas pode ser empregado quando se conhecem as coordenadas de dois
pontos e é possível medir a distância, ao longo do alinhamento, de um ponto conhecido à interseção da
perpendicular ao alinhamento que passa pelo ponto de interesse, e a distância, ao longo dessa
perpendicular, do alinhamento entre os pontos conhecidos ao ponto desconhecido, como mostra a
Figura 5.7.
Portanto esta técnica, de acordo com a Figura 5.7, consiste em:
Dadas: as coordenadas de dois pontos: XA, YA, XB e YB
Observações: a distância horizontal ao longo do alinhamento, DHAJ , e a distância horizontal
perpendicular ao alinhamento, DHJI.
Incógnitas: as coordenadas do ponto I: XI, YI e suas covariâncias.

85
Rodrigues, D. D. - 2008 Levantamento planimétrico de pontos temáticos

Da Figura 5.7 observa-se que, para as mesmas observações DHAJ e DHJI há duas posições
possíveis para o ponto I: uma à esquerda e outra à direita do sentido A→B. Se o ponto está à esquerda,
como na Figura 5.7,

X I = X J − DH JI ⋅ cos θ (5.16)
e
YI = YJ + DHJI ⋅ sen θ (5.17)

DHJI ⋅ cos θ
y I θ DH JI ⋅ sen θ B

DHJI
.
J
θ
DHAJ

YA
A

XA x

Figura 5.7 – Método das ordenadas

Por outro lado, se o ponto está à direita do sentido A→B,

X I = X J + DH JI ⋅ cos θ (5.18)
e
YI = YJ − DH JI ⋅ sen θ (5.19)

Como senθ e cosθ são dados pelas equações (5.8) e (5.9) e as coordenadas do ponto J pelas equações
(5.11) e (5.12), tem-se que:

XB − X A YB − YA
X I = X A + DH AJ ⋅ m DH JI ⋅ . (5.20)
AB AB
e
YB − YA XB − X A
YI = YA + DH AJ ⋅ ± DH JI ⋅ . (5.21)
AB AB

Empregando o sinal ‘-‘ para determinar XI, eq. (5.20) e ‘+’ para determinar YI, eq. (5.21), se o ponto I
está à esquerda do sentido A→B.

86
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

Considerando fixas as coordenadas dos pontos A e B e aplicando a lei de propagação das


variâncias ás coordenadas resultantes, tem-se:

2 2
⎛ X − XA ⎞ ⎛ Y − YA ⎞ (5.22)
σ 2XI = ⎜⎜ B ⎟⎟ ⋅ σ DH
2
+ ⎜⎜ B ⎟⎟ ⋅ σ DH
2

⎝ AB ⎝ AB
AJ JI
⎠ ⎠

2 2
⎛ Y − YA ⎞ ⎛ X − XA ⎞ (5.23)
σ 2YI = ⎜⎜ B ⎟⎟ ⋅ σ DH
2
+ ⎜⎜ B ⎟⎟ ⋅ σ DH
2

⎝ AB ⎝ AB
AJ JI
⎠ ⎠

⎛ X − XA ⎞ ⎛ YB − YA ⎞ 2 ⎛ Y − YA ⎞ ⎛ XB − XA ⎞ 2 , (5.24)
σXIYI = ⎜ B ⎟⋅⎜ ⎟ ⋅ σDHAJ − ⎜ B ⎟⋅⎜ ⎟ ⋅ σDHJI
⎝ AB ⎠ ⎝ AB ⎠ ⎝ AB ⎠ ⎝ AB ⎠

admitindo que as distâncias DHAJ e DHJI sejam não correlacionadas, ou seja, σ DHAJDHJI = o .

EXERCÍCIOS:

i) Dadas, de acordo com a Figura 5.8, as coordenadas: XA = 225,15 m,YA = 653,78 m,


XB = 536,38 m, YB = 154,52 m
Observações: As distâncias horizontais com seus desvios padrão:
DHAJ = 123,30 m ± 0,01 m e DHJI = 9,23 ± 0,01 m
Determinar: as coordenadas do ponto I e sua covariâncias.
ii) Elaborar um algoritmo para determinar coordenadas topográficas pelo método das
ordenadas.

XA = 225,15 m
YA = 653,78 m A DHAJ = 123,30 m ± 0.01 m
DHIJ = 9,23 m ± 0.01 m

J
.

XB = 536,38 m
B YB = 154,52 m

Figura 5.8: Levantamento pelo método das ordenadas.

87
Rodrigues, D. D. - 2008 Levantamento planimétrico de pontos temáticos

4.3 – Interseção Linear:

Este método deve ser empregado quando se conhecem as coordenadas de dois pontos e são
medidas somente as distâncias horizontais dos pontos conhecidos ao ponto temático, como mostra a
Figura 5.9. Assim, o problema da interseção linear, de acordo com a Figura 5.9, se resume em:
Dadas: as coordenadas de dois pontos - XA, YA, XB e YB
Observações: as distâncias horizontais dos pontos conhecidos aos pontos de interesse: DHAI e
DHBI.
Incógnitas: as coordenadas do ponto desconhecido; XI, YI e suas covariâncias.

y I DHBI
B

DHAI

YA
A

XA x

Figura 5.9 – Interseção linear: método de posicionamento de


pontos temáticos

Por ora, sugere-se ao estudante que pense e busque a solução desse problema. A solução dele,
bem como a propagação das covariâncias, será tratada em texto específico, relativo a posicionamentos
precisos.

4.4 – Interseção Angular:

Este método deve ser empregado quando se conhecem as coordenadas de dois pontos e são
medidos somente os ângulos horizontais entre os alinhamentos formados pelos pontos conhecidos e o
temático, como mostra a Figura 5.10. Portanto, esta técnica, de acordo com a Figura 5.10, consiste em:
Dadas: as coordenadas de dois pontos - XA, YA, XB e YB
Observações: os ângulos horizontais horários αA e αB.
Incógnitas: as coordenadas dos pontos de interesse, XI, YI, e suas covariâncias.

88
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

Esta técnica, aplicando também a propagação de covariâncias, será estudada em texto


específico sobre posicionamentos de alta precisão. Porém, o estudante ganhará em raciocínio e em
conhecimento ao tentar desde já, a sua solução. Fica, por ora, como exercício.

y I
B
αB

YA A
αA

XA x

Figura 5.10 – Interseção angular: método de posicionamento


de pontos temáticos

4.5 – Irradiação:

Emprega-se o posicionamento por irradiação quando são conhecidas as coordenadas de duas


estações ou, no mínimo, as coordenadas de uma estação e um azimute de referência, e é possível
medir distâncias e ângulos horizontais da estação ao ponto desconhecido.
Na irradiação as coordenadas dos pontos temáticos são determinadas em função das distâncias
horizontais e dos azimutes.
Na Figura 5.11 verifica-se que as coordenadas relativas, ou componentes vetoriais, do ponto 1,
podem ser determinadas por:

∆X A 1 = DH A 1 ⋅ sen AZ A 1 (5.25)
e
∆YA 1 = DH A1 ⋅ cos AZ A1 (5.26)

Já as componentes vetoriais do ponto 2, ∆X A 2 e ∆YA 2 estão em função de θ e não do azimute;

mas θ = 180 − AZ A 2 , portanto, sen θ = sen AZ A 2 e cos θ = − cos AZ A 2 ; conseqüentemente,

∆X A 2 = DH A 2 ⋅ sen AZ A 2 e ∆YA 2 = DH A 2 ⋅ cos AZ A 2 .


Pode se verificar então, que para um ponto I em qualquer quadrante,

∆X AI = DH AI ⋅ sen AZ AI (5.27)

89
Rodrigues, D. D. - 2008 Levantamento planimétrico de pontos temáticos

∆YAI = DH AI ⋅ cos AZ AI (5.28)

Logicamente, as coordenadas de I, no sistema de referência de A, são obtidas adicionando as


componentes vetoriais às coordenadas de A, ou seja,

Y≡N
N

∆X A 1 = DH A 1 ⋅ sen AZ A 1 > 0, +
1
4
AZA1

DHA4 DHA1
∆YA1 = DH A1 ⋅ cos AZ A1 ; > 0 ; +

AZA4 A
YA
DHA3
AZA2
3
AZA3 ∆YA 2 = − DH A1 ⋅ cos θ ; < 0 ; − .
DHA2
θ
2
∆X A 2 = DH A 2 ⋅ sen θ > 0, +

O XA X

Figuras 5.11 – Coordenadas em função das distâncias e dos azimutes.

X I = X A + DH AI ⋅ sen AZ AI (5.29)
e
YI = YA + DH AI ⋅ cos AZ AI (5.30)

Aplicando a lei de propagação das variâncias às coordenadas resultantes, tem-se:

σ 2XI = σ 2X A + sen 2 AZ AI ⋅ σ DH
2
+ (DH AI ⋅ cos AZ AI ) 2 ⋅ σ 2AZ (5.31)

σ 2YI = σ 2YA + cos 2 AZ AI ⋅ σ DH


2
+ ( − DH AI ⋅ senAZ AI ) 2 ⋅ σ 2AZ (5.32)

σ XI YI = σ X A YA + senAZ AI ⋅ cos AZ AI ⋅ σ DH
2
− (DH AI ⋅ cos AZ AI ) ⋅ (DH AI ⋅ senAZ AI ) ⋅ σ 2AZ (5.33)

Uma vez que não há correlação entre azimutes e distâncias, ou seja, σ DH AZ = 0 .

90
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

As distâncias horizontais da estação para todo e qualquer ponto temático podem ser medidas
com trena ou empregando algum método indireto. Os azimutes poderiam ser medidos diretamente a
partir do norte materializado por uma agulha imantada. Porém recuperar posteriormente a direção
materializada por agulha imantada, na locação de um projeto, por exemplo, pode ser difícil devido à
instabilidade do campo magnético terrestre. Por isso, recomenda-se medir o azimute de uma direção
devidamente materializada, atribuir esse azimute à direção, medir os ângulos horizontais horários ou
anti-horários a partir dela e transformar os ângulos medidos em azimutes. Portanto, conhecendo um
azimute e medindo devidamente ângulos horizontais, transformam-se os ângulos medidos em azimutes
e só então, calculam-se as coordenadas de interesse. A seguir serão estudadas as diferentes formas de
se obter o azimute inicial – ou azimute de referência - e de transformar os ângulos horizontais medidos
em azimutes.

5- AZIMUTES A PARTIR DE ÂNGULOS HORIZONTAIS

Conhecidas as coordenadas de dois pontos, o azimute do alinhamento pode ser determinado a


partir da função arctg – equação (5.3). No entanto, agora não se conhece as coordenadas dos pontos
envolvidos e o problema é: dado o azimute de um alinhamento de referência e um ângulo horizontal
entre este alinhamento e outra direção qualquer, determinar o azimute da direção.

5.1 – Conhecendo-se um azimute de referência

Na Figura 5.12, REF é um alvo de referência, uma linha vertical ou um ponto bem definido,
estável e fixo. Pode ser, por exemplo, a ponta de um pára-raios. Este alvo, juntamente com o ponto
conhecido devidamente materializado no campo, ponto A, realiza a direção de referência, a partir da
qual são medidos os ângulos horizontais. As coordenadas da estação A, bem como o azimute de
referência, podem ser arbitrados.

REF
y x

AZREF I

αI
DHAI ∆YAI

YA
A ∆XAI
βI

XA x

Figura 5.12 – Azimute empregando um alvo de referência

91
Rodrigues, D. D. - 2008 Levantamento planimétrico de pontos temáticos

Assim, dado um azimute de referência, AZREF, e medido um ângulo horizontal horário, α I , ou

anti-horário, β I , entre a direção de referência e outro alinhamento qualquer; determinar o azimute desse
alinhamento, AZAI da Figura 5.12.
Na Figura 5.12 verifica-se que o azimute de A para todo e qualquer ponto I pode ser

determinado a partir do ângulo horário medido, REF Â I = α I , da seguinte forma:

AZ A I = AZ REF + α I . (5.34)

Caso o valor encontrado ultrapasse 360º, subtrai-se 360º. Vale lembrar que no cálculo de funções
trigonométricas, somar ou subtrair 360º, ou seus múltiplos, é irrelevante.

Observe que se fosse medido o ângulo anti-horário REF Â I = β I , ter-se-ia:

AZ A I = AZ REF − βI (5.35)

e, como no caso da Figura 5.12, o valor encontrado é menor que zero, soma-se 360º .
Aplicando lei de propagação das variâncias ao azimute determinado a partir do ângulo
observado, admitindo que o azimute de referência foi arbitrado, tendo portanto variância nula, tem-se:

σ 2AZ = σ 2α . (5.36)

5.2 – Conhecendo-se as coordenadas de dois pontos

Se se conhecem as coordenadas de dois pontos, devidamente materializados em campo, o


azimute do alinhamento de referência é determinado em função delas. Dessa forma, o problema é:
dadas as coordenadas de dois pontos, XA, YA, XB e YB, e observados o ângulo horário αI, determinar
AZAI.
Neste caso há duas possibilidades:

5.2.1- Ângulo medido e azimute determinado com vértices na mesma estação

Este caso, mostrado na Figura 5.13, é idêntico ao do item 5.1, exceto pelo fato de o azimute de
referência ser determinado a partir das coordenadas conhecidas, como mostrado no item 3 deste
capítulo.

5.2.2- Ângulo medido e azimute determinado com vértices em estações diferentes

92
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

Na Figura 5.14 verifica-se que o azimute de A, ou de B, para I pode ser determinado a partir do
ângulo horário da seguinte forma:

AZ A I = AZ REF + α I + 180 o , (5.37)

B
y y αI AZREF

AZREF
B
I DHBI
αI
DHAI

YA I
YA
A A

XA x XA x
a b
Figura 5.13 – Azimute determinado e ângulo medido, em uma mesma estação.

B
y AZREF
y αI

B DHBI
αI I
AZREF βI
DHAI
YA I
YA
A A
βI

XA x XA x

a b

Figura 5.14 – Azimute determinado e ângulo medido, em estações diferentes.

caso o valor encontrado ultrapasse 360º, subtrai-se 360º, ou,

AZ A I = AZ REF + α I − 180 o , (5.38)

93
Rodrigues, D. D. - 2008 Levantamento planimétrico de pontos temáticos

sendo que neste caso há que se fazer duas verificações:


ƒ Se o valor encontrado for maior que 360º, subtrai-se 360º;
ƒ Se menor que zero, soma-se 360º.

No entanto, vale lembrar mais uma vez que, no cálculo de funções trigonométricas, somar ou
subtrair 360º, ou seus múltiplos, é irrelevante.

Pode-se verificar que, caso ângulo medido seja o anti-horário, BÂI = β i , na Figura 5.14-a ou

AB̂I = β I , na Figura 5.14-b, o azimute de A, ou de B, para I é dado por:

AZ A I = AZ REF − β I + 180 o (5.39)

ou
AZ A I = AZ REF − β I − 180 o (5.40)

havendo a necessidade de verificar se o valor encontrado é maior que 360º ou menor que 0o.
Outra forma utilizada em algumas bibliografias para determinar azimutes a partir de ângulos
horizontais horários medidos em estações diferentes de onde se conhece o azimute é:

AZ A I = AZREF + αI (5.41)

havendo aqui a necessidade, antes mesmo de empregar AZAI em cálculos de funções trigonométricas,
de se fazer as seguintes verificações:
ƒ Se o valor encontrado for menor que 180º, soma-se 180º;
ƒ Se maior que 180º e menor que 540º, subtrai-se 180º;
ƒ Se maior que 540º, subtrai-se 540º.

Após encontrar o azimute da estação ao ponto visado; as coordenadas do ponto, bem como
suas covariâncias, podem ser determinadas empregando as equações (5.29) a (5.33).

EXERCÍCIOS:

i) Determinar os azimutes de 1 para 2, de 2 para 3 e de 3 para 4, mostrados na Figura 5.15,


em função do azimute de referência e dos ângulos observados.
ii) Realizar o exercício anterior admitindo que agora são medidos os ângulos anti-horários:

01̂2 = β1, 12̂3 = β 2 , 23̂4 = β 3 , L

iii) Determinar, ainda relativo ao exercício i, as variâncias dos azimutes de 1 para 2 e de 3 para
4, sabendo que os ângulos são medidos sem correlação e com uma precisão de 7”.

94
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

iv) Foi realizado um levantamento por irradiação da área mostrada no croqui abaixo - Figura
5.16 -, com um instrumento que, de acordo com seu certificado de calibração, permite
medir ângulos com um desvio padrão de 5’ e distâncias taqueométricas um erro médio de
1/500. A Tabela 5.1 apresenta os dados e as informações levantadas. Pede-se: determinar
as coordenadas dos pontos temáticos e seus desvios padrão.
v) Elaborar um algoritmo para determinar coordenadas topográficas e suas covariâncias pelo
método das irradiações.

0
y

α2
AZREF

2
α1 α3 4

Y1
1 3

X1 x

Figura 5.15 – Azimutes a partir de ângulos horizontais horários.

x REF
NM

AZREF Ângulo horário RÔ1

1
Distância horizontal O1

O
2
5 Ângulo horário RÔ2

Distância horizontal O2
3

Figura 5.16 – Levantamento planimétrico por irradiação

95
Rodrigues, D. D. - 2008 Levantamento planimétrico de pontos temáticos

Tabela 5.1: arquivo de informações topográficas levantadas no campo por irradiação


ESTAÇÃO: O
Azimute de referência: AZO-REF = 02º 30’ ; σ AZ = 0 Data: 01/04/2007

Pto Ângulo Leituras estadimétricas


DH Azimute
Visa Descrição temática horário
FS FM FI Ẑ (m) calculado
do observado
(m) (m) (m) o

1 Limite lote 13º 28’ 1,852 1,778 1,704 96 00

2 Limite lote 103º 10’ 1,503 1,358 1,213 87 30

3 árvore 183º 20’ 0,772 0,638 0,502 91 30

4 Limite lote 210º 19’ 2,053 1,580 1,103 89 45

5 Limite lote 232º 45’ 3,412 3,103 2,792 88 15

Largura da rua = 4,80 m

Até há pouco tempo o que limitava a extensão de uma área a ser levantada a partir de uma
única estação era, principalmente, a imprecisão dos instrumentos para grandes distâncias. Não se
devem medir distâncias acima de cem metros por taqueometria, por exemplo. Hoje, com o advento das
estações totais é possível medir distâncias de até 3000 metros, o que possibilita o levantamento de
grandes áreas de um único ponto de apoio. Obviamente que, do ponto de apoio, é necessário visualizar
todos os pontos de interesse. As precisões dos pontos levantados podem ser avaliadas a partir dos
desvios padrão das direções e das distâncias do instrumento devidamente calibrado. A precisão da
planta ou do arquivo de coordenadas pode ser avaliada a partir das covariâncias dos pontos.
No entanto, se a visibilidade é limitada e a área é ainda maior, é necessário estabelecer outros
pontos de apoio, todos relacionados a um mesmo sistema de referência.

96
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

VI - LEVANTAMENTO PLANIMÉTRICO DE PONTOS DE APOIO

Viu-se no capítulo anterior que, realizado um sistema topográfico e instalado um teodolito ou


estação total em um ponto de coordenadas conhecidas pode-se, empregando métodos adequados,
medir ângulos e/ou distâncias relativas aos pontos temáticos, próximos ao instrumento e, a seguir,
transformar as coordenadas polares em cartesianas relacionadas ao sistema de coordenadas do ponto
de apoio ou estação. Como determinar as coordenadas do ponto de apoio? Neste capítulo serão
tratados os métodos topográficos que podem ser utilizados para determinar tais coordenadas; no
entanto, também nesses métodos, se partirá do pressuposto de que alguns outros pontos de apoio,
agora também chamados de pontos de controle, são conhecidos. È a recursividade da ciência
Topografia.
Se o objetivo do trabalho topográfico é mapeamento territorial – de um lote, município, estado ou
Paìs -, deve-se pensar na conexão de todas as plantas, ou seja, deve-se trabalhar em um sistema de
referência único, um sistema de referência nacional, e dessa forma, o primeiro ponto de apoio a ser
conhecido é chamado de DATUM; determinado empregando métodos astronômicos e geodésicos (no
Brasil adota-se o Sistema Geodésico Brasileiro (SGB), o DATUM planimétrico é o ponto conhecido como
CHUÁ e localizado próximo à cidade de Uberaba – MG e o DATUM altimétrico em Imbituba – SC).
Por outro lado, se o objetivo é um trabalho de engenharia ou arquitetura – monitoramento de
estruturas, topografia industrial, projeto arquitetônico, etc - que possa ser referenciado a um sistema
local, este pode ser realizado por pontos devidamente materializados próximos à área ou objeto de
estudo.
Diferentes tipos de medição dão origem aos diferentes métodos para a determinação dos pontos
de apoio. Se se observam somente distâncias tem-se a trilateração, somente ângulos, triangulação;
ângulos e distâncias para os vários pontos visíveis entre si, “triangulateração” e se os ângulos e as
distâncias são observadas somente entre pontos consecutivos de um polígono, poligonação. Estes são
os métodos da Topografia clássica. Outro método, bastante eficiente e hoje em dia muito utilizado é o
posicionamento por satélites, que foge do escopo desse texto.
A seguir, serão apresentados os métodos triangulação [1], trilateração [2] e triangulateração [3]
e estudado com mais profundidade a poligonação [4].

1- TRILATERAÇÃO

Basicamente, a trilateração consiste em, de acordo com a Figura 6.1:


Valores conhecidos ou dados: no mínimo, as coordenadas de um ponto, XA, YA e um azimute,
AZAB, ou as coordenadas de dois ou mais pontos: XA, YA, XB e YB.
Observações: somente distâncias horizontais di.
Incógnitas: as coordenadas planimétricas dos pontos de apoio B, C, D, E, F...

Os valores considerados como conhecidos ou dados são normalmente determinados por


instrumentos e/ou métodos mais precisos que o empregado na medição das distâncias da trilateração.

83
Rodrigues, D. D. - 2008 Levantamento planimétrico de pontos de apoio

As distâncias podem ser observadas por métodos diretos ou indiretos como visto no capítulo 3.
Dependendo na finalidade da trilateração, as distâncias horizontais observadas devem ser corrigidas do
efeito da altitude.

AZAB C
d1 d15
(XA,YA) A E
d14
d2
d13
d3
d6
d4
d7 d10 d11
d9

d5 D d8
B d12
F

Figura 6.1: Croqui de uma trilateração

À medida que se estende a rede de triângulos, os pontos de apoio desconhecidos se afastam do


conhecido e os erros nas coordenadas determinadas aumentam, podendo ultrapassar a tolerância
previamente fixada. Para controlar a propagação dos erros, acrescentam-se pontos com coordenadas
conhecidas, pontos de controle, no interior e/ou no final da rede de triângulos.

2– TRIANGULAÇÃO

Basicamente, a triangulação consiste em, de acordo com a Figura 6.2:


Valores conhecidos ou dados: no mínimo, as coordenadas de um ponto, XA, YA, um azimute,
AZAB e uma distância horizontal AB ou as coordenadas de dois
ou mais pontos: XA, YA, XB e YB.
Observações: somente ângulos horizontais αi.
Incógnitas: as coordenadas planimétricas dos pontos de apoio B, C, D, E, F...

Observa-se que na triangulação a quantidade necessária de dados ou valores previamente


conhecidos é maior que na trialateração; aqui há necessidade de se conhecer, a priori, uma distância
além das coordenadas de um ponto e um azimute.
Em verdade, as observações originais são as direções δi; porém, são os ângulos horizontais, αi,
derivados das direções, que se relacionam diretamente com as coordenadas incógnitas e por isso, eles
é que são tratados como observações.

84
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

Também na trilangulação, à medida que os pontos desconhecidos se afastam do ponto


conhecido os erros nas coordenadas determinadas aumentam, podendo ultrapassar a tolerância. Para
controlar a propagação dos erros acrescentam-se pontos de controle no seu interior e/ou final da rede.

N
C
AZAB E
(XA,YA) A α12 α9 α14
α1 α17
α11 α10
α16 α15
α2
AB
α7
α6 α19 α20
α3 α8
α5 α21
α4 α18
B D F

Figura 6.2: Croqui de uma triangulação

3- TRIANGULATERAÇÃO

Basicamente, a triangulateração consiste em, de acordo com a Figura 6.3:


Valores conhecidos ou dados: no mínimo, as coordenadas de um ponto, XA, YA e um azimute,
AZAB ou as coordenadas de dois ou mais pontos de controle, XA,
YA, XG, YG...
Observações: os ângulos horizontais, αi, e as distâncias horizontais di para todos os pontos
visíveis entre si.
Incógnitas: as coordenadas planimétricas dos pontos de apoio B, C, D, E, F...

N
C G
AZAB d1 d9 E d11
(XA,YA) A
α12 α9 α17
α1 α15
α11 α10 α13 α16
d2 d10 α14
α2
d12 d13
d3 d7
d6
d4 α7
α6 α19 α22
α3 α20
α5 α8 α21
α4 α18
H
B d5 D d8 d14
F

Figura 6.3: Croqui de uma triangulateração

85
Rodrigues, D. D. - 2008 Levantamento planimétrico de pontos de apoio

A fim de controlar a propagação dos erros, tanto na triangulação quanto na trilateração e na


triangulateração, é boa regra encerrar os trabalhos em pontos de coordenadas conhecidas ou
estimadas com melhor precisão.
Estes métodos serão estudados com maior profundidade em textos relativos a posicionamento
com avaliação da precisão. O grande inconveniente deles é a necessidade de visibilidade entre os
vários pontos envolvidos; no entanto, são métodos que propiciam um grande número de observações e,
consequentemente, uma boa análise estatística das observações e das coordenadas estimadas. Hoje,
com a facilidade para medir distâncias e processar um grande volume de dados, tratando-os como
variáveis aleatórias, tornam esses métodos, principalmente a triangulateração, altamente recomendados
em todo e qualquer trabalho de topografia em áreas sem problemas de visibilidade entre os pontos de
apoio.

4- POLIGONAÇÃO

A metodologia de coleta de dados numa poligonação pressupõe um caminhamento onde,


instalado o instrumento de medição em um ponto de apoio, basta que sejam visíveis dois outros pontos:
um anterior, chamado de ré e um posterior, chamado de vante. Aqui reside a grande vantagem da
poligonação: necessidade de visibilidade entre alguns poucos pontos. Visando estes pontos, são
medidos ângulos e distâncias horizontais e assim, as coordenadas X e Y de um único ponto e o azimute
de um alinhamento são dados suficientes para realizar o sistema de referência planimétrico.
Na Figura 6.4, as estações, ou pontos de apoios, são identificados com números variando de 1
a 4. O ponto 1 tem suas coordenadas, (X1,Y1), conhecidas. O ponto I é o ponto de referência para o
azimute conhecido (AZI). Este ponto pode ter coordenadas conhecidas ou ser simplesmente um ponto de
azimute. Os ângulos horizontais horários, com origem a ré, são identificados com a letra α com o número
da estação subescrito, e as distâncias entre a estação e ponto de vante, pela letra d também com o
número da estação subescrito.

N xI
AZI
α3

1 α1
(X1,Y1) 3
α2 d2 d3
d1

4
2
Figura 6.4: uma poligonal topográfica

86
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

Portanto, uma poligonação consiste basicamente em, de acordo com a Figura 6.4:

Valores conhecidos ou dados: no mínimo, as coordenadas de um ponto, X1, Y1 e um azimute,


AZI ou as coordenadas de dois ou mais pontos de controle, XI,
YI, X1 e Y1.
Observações: os ângulos horizontais, αi , e as distâncias horizontais, di , entre pontos
consecutivos.
Incógnitas: as coordenadas dos pontos de apoio, XJ e YJ, com J = 2, 3, 4, ...

4.1- Procedimento para coleta de dados e informações em campo.

Inicialmente instalar o equipamento no ponto de coordenadas conhecidas, estação 1, e observar o


ângulo horizontal horário α1, com origem no ponto I e término no ponto 2, vide Figura 6.4. Observar a
distância horizontal entre pontos 1 e 2, d1. Mudar o instrumento para a estação 2 e observar α2 e d2.
Mudar para 3 e observar α3 e d3. E assim por diante. Verifique que, se é necessário passar pela região
do ponto 2, mesmo que seja possível medir, da estação 1, o ângulo e a distância até a estação 3, isso
não é feito na metodologia da poligonação!
Obviamente as observações podem ser médias resultantes de várias medidas naturalmente
contaminadas por erros, que se propagam para as coordenadas, diminuindo a precisão no
posicionamento dos pontos desconhecidos à medida que se afasta do ponto conhecido. Aqui também
pode-se inserir na poligonal outros pontos de coordenadas conhecidas como forma de controlar a
propagação de erros.
Poligonal como a mostrada na Figura 6.4, que não termina em um ponto de coordenadas
conhecidas, é chamada de poligonal aberta. Embora haja como determinar as coordenadas dos pontos
2, 3 e 4, não há como verificar a ocorrência de erros de fechamento nos ângulos e nas distâncias
medidas, nem como realizar tratamento estatístico das medidas, uma vez que o número de observações
é igual ao número de incógnitas - seis observações e seis incógnitas, neste caso. Esse tipo de poligonal
não encontra classificação na ABNT 13133.

4.2- Tipos ou formatos de poligonais, de acordo com a norma ABNT 13133:

A norma técnica, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), para execução de


levantamentos topográficos, de número 13133, classifica as poligonais em:

4.2.1- TIPO 3: Poligonais apoiadas e fechadas em pontos e direções distintas, com desenvolvimento
retilíneo.

87
Rodrigues, D. D. - 2008 Levantamento planimétrico de pontos de apoio

A Figura 6.5 representa uma poligonal do tipo 3 onde as direções de apoio e fechamento são
materializadas pelos azimutes inicial (AZI ) e final (AZF ) conhecidos. Os pontos denominados ‘1’ e ‘n’ são
os pontos de apoio (ou de partida) e fechamento (ou de chegada), obviamente com coordenadas
conhecidas. ‘n’ representa também o número de ângulos observados entre lados da poligonal. αi, com i
variando de 1 a ‘n’ e di, com i variando de 1 a ‘n-1’, são os ângulos e as distâncias observadas. As
coordenadas X, Y dos pontos 2, 3, … , ‘n-1’ são incógnitas.
‘I’ e ‘F’ podem ser pontos com coordenadas conhecidas ou simplesmente alvos, para os quais se
conhecem os azimutes. Com o advento dos sistemas de posicionamento por satélites ficou mais prático,
e mais comum hoje em dia, determinar as coordenadas desses pontos em vez de empregar métodos
astronômicos para se determinar somente os azimutes.

n = no de ângulos observados.
N

N
α1 AZI αn-1
α3
α2 α4 AZF
αn F
1 d1 d2 3 d3 n-1 dn-1
I 2
4
n

Figura 6.5: poligonal do tipo 3

A Figura 6.6 também mostra uma poligonal apoiada e fechada em pontos e direções distintas com
desenvolvimento retilíneo, considerando distintas as direções I → F (δI) e F → I (δF). A diferença entre
AZI e AZF é de 180º. Caso estas direções não sejam consideradas distintas, tal poligonal poderia ser
tratada como ‘apoiada e fechada em pontos distintos e em uma única direção, com desenvolvimento
retilíneo’. A norma 13 133 não esclarece este caso.

AZI
N
δI α3 αn-1
1≡F α1
α2 AZF
d1 α4
d2 3 n-1 dn-1
d3
2 αn
4 δF
n≡I

Figura 6.6: Poligonal apoiada em pontos e direções distintas com desenvolvimento retilíneo.

88
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

4.2.2- TIPO 2: Poligonais apoiadas e fechadas em pontos e direções distintas, com desenvolvimento
curvo.

Poligonais desse tipo estão representadas na Figura 6.7. A única diferença entre as poligonais
representadas nas Figuras 6.5 e 6.7 é seu desenvolvimento curvo - de acordo com a norma do INCRA
para georreferenciamento de imóveis rurais, o desenvolvimento é curvo quando há ângulos entre lados
consecutivos menores que 120 graus. Os valores conhecidos, as observações e as incógnitas são as
mesmas.
Observa-se que na poligonal mostrada na Figura 6.7-c a diferença entre azimute final e inicial
conhecidos é de 180º e que os ângulos horizontais medidos são todos os ângulos internos do polígono.
Caso as direções I → F (δI) e F → I (δF) da Figura 6.7-c não sejam consideradas distintas, tal poligonal
poderia ser tratada como ‘apoiada e fechada em pontos distintos e em uma única direção, com
desenvolvimento curvo’. Este caso também não é tratado pela ABNT 13 133.

I
F N I≡F
N
AZI AZI N
N

AZF
AZF
α1 αn α1 αn
1 n
1 n
αn-1 d1 α2 dn-1
d1 dn-1 αn-1
α2 α3
α3
2 n-1
2 n-1 d2
d2
3
3

a b

N
N
AZI
AZF
1≡F
α1 αn n≡I
d1 dn-1
α2 αn-1
α3

2 n-1
d2
3
c

Figura 6.7: poligonais do tipo 2

89
Rodrigues, D. D. - 2008 Levantamento planimétrico de pontos de apoio

4.2.3- TIPO 1: Poligonais apoiadas e fechadas numa só direção e num só ponto.

A Figura 6.8 representa poligonais do tipo 1, onde são conhecidas, somente, as coordenadas
do ponto 1 e um azimute.
Na poligonal representada na Figura 6.8-a, há um ponto de referência fora da poligonal que,
juntamente com o ponto 1, materializa o sistema topográfico. Inicialmente obtém-se o azimute de
referência, AZREF, e, a partir do ponto de referência, obtém-se o ângulo horizontal αREF. Embora o ângulo
αREF seja medido, ele deve ser considerado ‘conhecido’ e, portanto, para poligonais do tipo 1, é
observado um ângulo a menos que nas do tipo 2 e 3, como se pode observar na Figura 6.8, embora o
número de incógnitas seja o mesmo. Nestes casos, o número de distâncias observadas é igual ao
número de ângulos observados.

N N
x REF
AZREF
AZI
n-1 n-1
dn-1 dn-1
αREF
αn-1 αn-1
1≡n 1≡n
α1 α1

α3 3 α3 3
d1 d1
α2 d2 α2 d2

2 2

a b

Figura 6.8: poligonais do tipo 1

O azimute inicial, AZI, é a soma de αREF com AZREF. Já na poligonal representada na Figura
6.8-b, o azimute inicial é o azimute do ponto 1 para o ponto n-1. Para ambas poligonais o azimute final,
AZF, difere do inicial em 180º .

4.3 Classificação quanto à finalidade:

A Norma Técnica NBR 13133 classifica ainda as poligonais quanto ao fim a que se destinam. A
Tabela 6.1 mostra parte desta classificação. Nela, P designa ‘poligonal Planimétrica’ e PRC ‘Poligonal
para Referência Cadastral’.
Estes textos tratarão somente de poligonais planimétricas.

90
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

Tabela 6.1: Classificação das poligonais quanto à finalidade – NBR 13 133.

Finalidade Classes

Adensamento de rede geodésica IP

Apoio topográfico para projetos básicos e obras de engenharias IIP

Adensamento do apoio topográfico para projetos básicos. IIIP

Adensamento de poligonais da classe IIIP e levantamentos topográficos para IVP


estudo de viabilidade em projetos de engenharia.
Levantamentos topográficos para estudos expeditos. VP

Apoio topográfico da rede de referência cadastral apoiada em poligonal de classe


IPRC
IP.
Poligonal auxiliar destinada à determinação de pontos de referência de quadra ou IIPRC
gleba.

4.4 Processamento dos dados de um levantamento por poligonação.

Em todas as poligonais apoiadas e fechadas o número de observações é maior que o número


de incógnitas. Nas poligonais dos tipos 3 e 2 há sempre três observações a mais que incógnitas, ou seja,
o grau de liberdade é 3; já nas poligonais do tipo 1 o grau de liberdade é sempre igual a 2.
Independentemente dos métodos e instrumentos empregados na medição dos ângulos e das
distâncias os valores observados estarão contaminados por erros. Mesmo que se eliminem as
observações com erros grosseiros; mesmo que se eliminem ou corrijam as observações com erros
sistemáticos, ainda haverá observações com erros acidentais, ou aleatórios, que não têm como ser
corrigidos nem eliminados, uma vez que fazem parte da natureza das ciências experimentais. A forma
técnica e cientificamente aprimorada, de avaliar a qualidade das observações, compensarem os erros
aleatórios, estimando valores únicos para as coordenadas procuradas, e avaliar a qualidade dessa
estimativa, é o emprego da estatística, do ajustamento de observações. Como não é exigido o
conhecimento prévio em ajustamento de observações nesses textos, o processamento de dados de uma
poligonação será feito da forma clássica, ou seja, verificando a presença de erros de fechamento e
distribuindo-os ao longo da poligonal; uma forma que hoje, com a popularização da informática deixa de
ser justificável. Infelizmente, os softwares de processamento de observações topográficas que se dispõe
no Brasil, ainda empregam essas formas de processamento, trazendo grande prejuízo na avaliação da
qualidade dos trabalhos realizados na área.
Uma outra razão para ainda hoje se estudar esta forma de processamento de dados
topográficos é a didática, uma vez que o aprendizado dos métodos estatísticos fica bem mais fácil, claro
e solidificado após aprender o processamento clássico. Este processamento pode ser feito através da
seguinte rotina:

91
Rodrigues, D. D. - 2008 Levantamento planimétrico de pontos de apoio

• Transformação dos ângulos horizontais observados em azimutes;


• Cálculo do erro de fechamento angular;
• Distribuição do erro de fechamento angular;
• Cálculo das componentes vetoriais, ∆X e ∆Y, a partir dos azimutes compensados do
erro angular e das distâncias observadas;
• Cálculo do erro de fechamento linear;
• Distribuição do erro de fechamento linear e
• Cálculo das coordenadas topográficas dos pontos de apoio compensadas dos erros
angular e linear.

A seguir será detalhado cada passo dessa rotina.

4.4.1 Transformação dos ângulos horizontais observados em azimutes.

Como as coordenadas são determinadas em função dos azimutes e não diretamente dos
ângulos, é necessário transformar estes, naqueles. Será admitido que todos os ângulos foram
observados com origem a ré, ou seja, com origem no alinhamento definido pela estação e pelo ponto
anterior da poligonal. Estes ângulos poderão ser horários ou anti-horários.

a) Medindo ângulos Horários

Este método está esquematizado na Figura 6.9.

N 0

α2
α4
AZI

α1 2 α3 4

1 3

Figura 6.9 – Medindo ângulos horários em uma poligonal.

Adaptando as equações (5.34) e (5.38) aos elementos da Figura 6.9, tem-se:

AZ 1, 2 = AZ I + α 1 , se maior que 360º, subtrair 360º .

AZ 2 , 3 = AZ 1, 2 + α 2 − 180 o = AZ I + α 1 + α 2 − 180 o ,

AZ 3 , 4 = AZ 2 , 3 + α 3 − 180 o = AZ I + α 1 + α 2 + α 3 − 2 ⋅ 180 o ,

92
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

AZ 4 , 5 = AZ 3 , 4 + α 4 − 180 o = AZ I + α 1 + α 2 + α 3 + α 4 − 3 ⋅ 180 o ,

M (generalizando...)

J
AZ J , J+1 = AZ J−1 , J + α J − 180 o = AZ I + ∑ αi − ( J − 1) ⋅ 180 o (6.1)
i =1

com J = 1, 2, . . . n; sendo n o número de ângulos medidos. Enquanto o valor encontrado for maior que
360º, subtrair 360 e se menor que zero, somar 360º.
Observa-se que caso azimute inicial, AZI, seja o azimute de 0 para 1, Figura 6.9, a equação
para cálculo dos azimutes torna-se:

J
AZ J , J+1 = AZ I + ∑α
i =1
i − J ⋅ 180 o (6.2)

com J = 1, 2, . . . n.
Lembrando ainda que os múltiplos de 180º podem ser subtraídos ou somados e, em
programação para computador, o melhor é somar.

b) Medindo ângulos anti-horários:

Este método está esquematizado na Figura 6.10.

N 0

AZI 2 4

β2 3
β4
1
β1
β3

Figura 6.10– Medindo ângulos anti-horários.em uma poligonal

Adaptando as equações (5.35) e (5.39) aos elementos da Figura 6.10, tem-se:

AZ1, 2 = AZ I − β1 , se menor que 0º , somar 360º.

AZ 2 , 3 = AZ 1, 2 − β 2 + 180 o = AZ I − β 1 − β 2 + 180 o ,

AZ 3 , 4 = AZ 2 , 3 − β 3 + 180 o = AZ I − β 1 − β 2 − β 3 + 2 ⋅ 180 o ,

AZ 4 , 5 = AZ 3 , 4 − β 4 + 180 o = AZ I − β 1 − β 2 − β 3 − β 4 + 3 ⋅ 180 o ,

M (generalizando...)

93
Rodrigues, D. D. - 2008 Levantamento planimétrico de pontos de apoio

J
AZ J , J+1 = AZ J−1 , J − β J + 180 o = AZ I − ∑β
i =1
i + (J − 1) ⋅ 180 o (6.3)

com J = 1, 2, . . . n. Enquanto o valor encontrado for maior que 360º, subtrair 360 e se menor que zero,
somar 360º.
Observa-se que caso azimute inicial, AZI, seja o azimute de 0 para 1, Figura 6.10, a equação
para cálculo dos azimutes torna-se:

J
AZ J , J+1 = AZ I − ∑β
i =1
i + J ⋅ 180 o (6.4)

com J = 1, 2, . . . n.
Lembrando novamente que os múltiplos de 180º podem ser somados ou subtraídos.

c) Medindo ângulos de Deflexão

Para medir ângulos de deflexão, esquematizados na Figura 6.11, zera-se o limbo horizontal,
visa-se o ponto de ré com a luneta em posição invertida (PII ou CD), inverte-se a luneta, visa-se o ponto
de vante e faz-se a leitura do ângulo na graduação que fornece a leitura menor que 180º. Portanto, a
deflexão pode ser um ângulo horário ou anti-horário e é sempre menor que cento e oitenta graus. Se o
ângulo medido está à esquerda da direção inicial é chamado de ‘deflexão à esquerda’ (θe) e se está à
direita, ‘deflexão à direita’ (θd). Aqui está a grande desvantagem desse método: a necessidade de o
observador informar, para cada deflexão medida, se ela é à esquerda ou à direita.

N 0

θe
AZI
θd
2 4
1
θe
θe 3

Figura 6.11 – Medindo de ângulos de deflexões

Da Figura 6.11 verifica-se que:

AZ 1 , 2 = AZ I − θe 1 + 180 o ,

AZ 2 , 3 = AZ 1 , 2 + θd1 = AZ I − θe 1 + θd1 + 180 ,

AZ 3 , 4 = AZ 2 , 3 − θe 2 = AZ I − θe 1 + θd1 − θe 2 + 180 ,

94
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

AZ 4 , 5 = AZ 3 , 4 − θe 3 = AZ I − θe 1 + θd1 − θe 2 − θe 3 + 180
M (generalizando...)

nde ndd
AZ J , J+1 = AZ I − ∑ θe
i =1
i + ∑ θd
i =1
i + 180 o (6.5)

Sendo nde e ndd o número de deflexões à esquerda e à direita até a estação J, respectivamente. Se o
valor encontrado for menor que 0o, soma-se 360 e, se maior que 360º, subtrai-se 360. Esse método está
em desuso. Os programas computacionais raramente trazem a opção de processamento de poligonais
com deflexão.
Como visto, os erros estão sempre presentes nas medidas e aqui, tanto os erros nos ângulos
quanto nas distâncias, serão simplesmente DISTRIBUÍDOS (Por isso será empregado o adjetivo
‘compensados’ para deixar claro que os erros não foram corrigidos) ao longo da poligonal. A seguir será
estudado como calcular e distribuir os erros de fechamento angular e linear nas poligonais topográficas.

4.4.2 Cálculo do erro de fechamento angular.

Independentemente do tipo de ângulo observado, horário, anti-horário ou de deflexão, o azimute


final - calculado através das equações, (6.1), (6.3) e (6.5) quando J é o ponto n, ponto de fechamento -
dificilmente será igual ao azimute final conhecido devido aos erros nos ângulos medidos.
A equação geral para encontrar erros de fechamento angular, ea, em poligonais é:

ea = AZ Fcalc − AZ Fconh . (6.6)

Porém a forma de calcular o azimute final e de obter os azimutes, inicial e final conhecidos, depende do
tipo de poligonal.

a) Poligonal aberta

Em poligonais abertas, como a mostrada na Figura 6.4 não há como calcular os erros de
fechamento angular e linear, uma vez que a poligonal não termina em direção e ponto conhecidos.

b) Poligonal do tipo 3 ou 2

Em poligonais dos tipos 3 e 2 os azimutes de início (ou de partida), AZI, e final (ou de chegada),
AZF, são conhecidos diretamente ou determinados a partir de coordenadas conhecidas.
O azimute final calculado, de uma poligonal com n ângulos horários medidos é, de acordo com a
(6.1), dado por:

95
Rodrigues, D. D. - 2008 Levantamento planimétrico de pontos de apoio

n
AZ Fcalc = AZ Iconh + ∑ αi − (n − 1) ⋅ 180 o . (6.7)
i =1

Como o erro angular é obtido subtraindo do azimute calculado o azimute conhecido, e este
está limitado ao intervalo [0o, 360º); há necessidade de verificar se o valor encontrado pela (6.7) é maior
que 360º ou menor que 0o e, enquanto for, subtrair ou somar 360; antes de empregar o resultado na
(6.6).
Se os ângulos medidos são anti-horários, o azimute final calculado é, de acordo com a (6.3),
dado por:

n
AZ Fcalc = AZ Iconh − ∑ βi + (n − 1) ⋅ 180 o (6.8)
i =1

havendo necessidade de verificar se o valor encontrado é menor que 0o ou maior que 360º e, enquanto
for, somar ou subtrair 360; antes de empregar o resultado na (6.6).
Observa-se nas poligonais dos tipos 3 e 2, Figuras 6.5, 6.6 e 6.7, que se o ângulo α1 – ângulo
observado no ponto de apoio – não for medido, não há como iniciar o cálculo dos azimutes e se não se
mede o ângulo αn – ângulo observado no ponto de fechamento - não há como encontrar o erro angular.
Para poligonais do tipo 2 como a mostrada na Figura 6.7-c há duas particularidades: o azimute
final conhecido difere do inicial em cento e oitenta graus e os ângulos horários medidos são todos os
ângulos internos de um polígono fechado, assim como os ângulos anti-horários são os ângulos externos.
Pode-se verificar que, nesses casos, deve-se somar 360º uma única vez ao valor dado pela (6.7) para se
calcular o azimute final. Dessa forma, o erro angular é dado por:

n
ea = AZ Iconh + ∑ αi − (n − 1) ⋅ 180 o + 2 ⋅ 180 − ( AZ Iconh + 180 ) , (6.9)
i =1

uma vez que AZ Fconh = AZIconh + 180 e portanto:

n
ea = ∑ αi − (n − 2) ⋅ 180 o (6.10)
i =1

sendo
n
∑ αi o somatório dos ângulos internos do polígono.
i=1

c) Poligonal do tipo 1

96
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

Em poligonais do tipo 1 há duas formas de se obter o azimute inicial, AZI: adicionando ao


azimute de referência, AZREF, o ângulo horizontal horário de referência, αREF,

AZ Iconh = AZ REF + α REF , (6.11)

subtraindo 360 caso o valor encontrado seja maior que 360º; ou medindo-o diretamente a partir do norte,
que pode ser o magnético. Obviamente um erro em AZREF, αREF ou no AZI medido diretamente, levará a
um erro de orientação da planta.
Já o azimute final conhecido é o azimute da última estação ocupada para a estação de partida,
ou seja, o contra azimute do azimute inicial ou ainda:

AZ Fconh = AZIconh + 180 . (6.12)

O azimute final calculado, de uma poligonal do tipo 1 pode determinado pela (6.7) ou pela (6.8),
conforme os n ângulos medidos sejam horários ou anti-horários, e verificando se o valor encontrado é
maior que 360º ou menor que 0o antes de empregar o resultado na (6.6).
Em poligonais do tipo 1 como as mostradas na Figura 6.8, os ângulos horários medidos são
todos os ângulos internos de um polígono fechado e, portanto, o erro angular pode ser determinado
empregando a equação (6.10).
Se os ângulos medidos são todos os ângulos externos do polígono, o erro angular pode ser dado
por:

n
ea = ∑ βi − (n + 2) ⋅ 180 o (6.13)
i =1

n
sendo ∑ βi o somatório dos ângulos externos do polígono.
i=1

4.4.3 Distribuição do erro de fechamento angular.

Antes de distribuir o erro angular é necessário verificar se o erro cometido é tolerável e classificar
a poligonal segundo a norma para levantamentos topográficos. A Tabela 6.2 mostra, de forma resumida,
como a NBR 13133 classifica as poligonais em função do erro angular cometido.

Tabela 6.2: classificação das poligonais em função do erro angular. (NBR 13133)

Classes IP IIP IIIP IVP VP IPRC IIPRC


Erro angular 6" ⋅ n 15"⋅ n 20 " ⋅ n 40 " ⋅ n 3′ ⋅ n 8" ⋅ n 60" ⋅ n

97
Rodrigues, D. D. - 2008 Levantamento planimétrico de pontos de apoio

Confrontando a finalidade da poligonal, Tabela 6.1, com o erro angular cometido verifica-se se o
erro é tolerável. Se não, deve-se voltar ao campo e re-observar os ângulos. Se o erro está dentro da
tolerância o passo seguinte no processamento da poligonal, é distribuí-lo.
O erro angular pode ser distribuído de duas formas: diretamente nos ângulos horizontais ou nos
azimutes calculados com os ângulos observados.

a) Diretamente nos ângulos horizontais:

Como não é feita nenhuma análise estatística, parte-se do pressuposto que foram cometidos
erros igualmente nos n ângulos observados. Assim, o erro cometido é distribuído igualmente em cada
ângulo. Se ea é maior que zero, é porque o azimute final calculado foi maior que o conhecido e, portanto,
há necessidade de subtrair a correção dos ângulos observados. A correção a ser aplicada a cada ângulo
para distribuir o erro angular tem, portanto, sinal contrário ao erro, e é dada por:

−ea
corrang = . (6.14)
n

Assim, o ângulo compensado, α i


comp
, será dado por:

α icomp = α i + corrang (6.15)

para i = 1, 2,L n ; sendo n o número de ângulos medidos.


Após distribuir o erro nos ângulos, calculam-se os azimutes compensados do erro angular de
todos os alinhamentos da poligonal empregando as seguintes equações originadas da (6.1) e da (6.3):

J , J+1 = AZ J−1 , J
AZ comp comp
+ α comp
J − 180 o = AZ I + ∑α
i =1
comp
i − (J − 1) ⋅ 180 o (6.16)

ou
J

J , J+1 = AZ J−1 , J
AZ comp comp
− β comp
J + 180 o = AZ I − ∑β
i =1
comp
i + (J − 1) ⋅ 180 o , (6.17)

com J = 1, 2, . . . n.

b) Compensando os azimutes calculados a partir dos ângulos observados:

Empregando equações como a (6.1) podem-se calcular os azimutes de todos os alinhamentos


a partir dos ângulos observados (não compensados).
Calculados o erro e a correção angular, os azimutes poderão ser compensados do erro angular
da seguinte forma:

98
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

AZ 1comp
,2 = AZ I + α 1 + 1 ⋅ corrang , pois foi usado um só ângulo medido para determiná-lo;

AZ comp
2 ,3 = AZ I + α 1 + α 2 − 180 + 2 ⋅ corrang , foram usados dois ângulos medidos;

M (generalizando...)

J, J +1 = AZ J
AZ comp + J ⋅ corrang , com J = 1, 2, Ln.
calc
(6.18)

conh
Logicamente o AZ ncomp
, n +1 deve ser igual ao azimute final conhecido, AZ F ; se não, houve erro

na distribuição do erro angular. Se forem medidos todos os ângulos internos ou externos do polígono, a
distribuição do erro angular pode ser verificada calculando o somatório dos ângulos e comparando com o
somatório dos ângulos obtido empregando equações já conhecidas da geometria.
Ë preciso ressaltar que os azimutes AZ comp
J,J +1 só foram compensados do erro angular. Como

foram medidas distâncias horizontais e estas estão contaminadas por erros, AZ comp
J,J +1 ainda têm erros

devido aos erros nas distâncias, uma vez que erros nas distâncias também afetam os azimutes entre os
lados da poligonal.
Os erros cometidos nas distâncias levam ao chamado ‘erro linear’. Para calculá-lo,
empregando a equação geral (para todos os tipos de poligonais), é necessário calcular primeiro as
coordenadas topográficas.

4.4.4 Cálculo das coordenadas topográficas a partir dos azimutes compensados do erro angular e
das distâncias observadas.

Inicialmente calculam-se as componentes vetoriais, ∆X e ∆Y, e a seguir as coordenadas


topográficas relativas ao sistema de coordenadas do ponto de controle ou apoio básico imediato,
previamente conhecido.

a) Cálculo das componentes vetoriais

No Capítulo V, item 4.5, verificou-se que as coordenadas, relativas ao sistema com origem
no ponto A e paralelo ao sistema topográfico adotado, de um ponto I, em qualquer quadrante, são
obtidas multiplicando a distância horizontal entre os pontos A e I, DAI, pelo seno, para as abscissas, e
pelo co-seno, para as ordenadas, do azimute de A para I, AZAI – equações (5.27) e (5.28). Aplicando
estas equações às coordenadas relativas, ou componentes vetoriais, mostradas na Figura 6.12, tem-se:

99
Rodrigues, D. D. - 2008 Levantamento planimétrico de pontos de apoio

y
AZ2,3
∆X12 , > 0 2 ∆X 23 , > 0

∆Y12 θ2 ∆Y23 , < 0


AZ1,2
>0 d12 d23

Y1 1≡5 3 AZ3,4

d45 d34 θ3
∆Y41
>0 θ4 ∆Y34 , < 0

∆X 41 , < 0 4 ∆X 34 , < 0

AZ4,1
X1 x

Figura 6.12 – Componentes vetoriais ou coordenadas relativas.

∆X12 = d12 ⋅ senAZ 12 , ∆Y12 = d12 ⋅ cos AZ12

∆X 23 = d23 ⋅ senAZ 23 , ∆Y23 = d 23 ⋅ cos AZ 23

M (generalizando...)

∆X J, J+ 1 = dJ, J+ 1 ⋅ sen AZ J, J+ 1 (6.19)

∆YJ, J+ 1 = dJ, J+ 1 ⋅ cos AZ J, J+ 1 (6.20)

com J = 1, 2, ... nd, sendo nd o número de distâncias que devem ser observadas. Lembrando que para
poligonais do tipo 1, nd = n e dos tipos 2 e 3, nd = n -1.

b) Cálculo das coordenadas Topográficas

Em princípio ‘coordenada topográfica’ é qualquer tipo de coordenada que serve para


descrever, topografar, um lugar. Porém, aqui esse termo será empregado para designar coordenada
relativa a um sistema topográfico comum a vários pontos de apoio, como o sistema xy mostrado na
Figura 6.12. É comum encontrar bibliografia que, equivocadamente a nosso ver, emprega o termo
‘coordenada absoluta’ para designar tais coordenadas. Da Figura 6.12, verifica-se facilmente que
partindo do ponto 1, com coordenadas conhecidas a priori, tem-se:

100
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

X 2 = X1conh + ∆X12

X 3 = X 2 + ∆X 23 = X1conh + ∆X12 + ∆X 23

X 4 = X 3 + ∆X 34 = X1conh + ∆X12 + ∆X 23 + ∆X 34

M (generalizando...)
K
X K + 1 = X K + ∆X K,K + 1 = X1conh + ∑ ∆X J,J+1 , com K = 1, 2,Lnd (6.21)
J=1

Para as ordenadas pode se verificar que:

K
YK + 1 = YK + ∆YK,K + 1 = Y1conh + ∑ ∆YJ,J+ 1 , com K = 1, 2,Lnd . (6.22)
J=1

Outra forma de escrever as equações (6.21) e (6.22), obviamente com K = 1, 2,Lnd , é:

K
X K + 1 = X1conh + ∑ dJ, J +1 ⋅ sen AZ J,J + 1 (6.23)
J=1

e
K
YK + 1 = Y1conh + ∑ dJ, J +1 ⋅ cos AZ J,J +1 , (6.24)
J=1

onde as distâncias e os azimutes estão explicitados dentro do símbolo do somatório. Erros nas
distâncias levarão à erros de fechamento nas coordenadas; as coordenadas calculadas do ponto de
chegada serão diferentes das conhecidas. A resultante dos erros em X e em Y é chamada de ‘erro de
fechamento linear’.

4.4.5 Cálculo do erro de fechamento linear.

O erro linear de fechamento leva à não coincidência do ponto de chegada calculado (ncalc) com o
ponto de chegada conhecido (nconh). A Figura 6.13 esquematiza essa situação, onde se verifica que o
erro linear, el, pode ser decomposto em: erro linear em X, elx, e erro linear em Y, ely, sendo

el = el2x + el2y . (6.25)

Da Figura 6.13 pode-se verificar também que as equações gerais para encontrar erros de
fechamento em X e Y, são:

el x = X ncalc − Xnconh (6.26)

el y = Yncalc − Ynconh (6.27)

101
Rodrigues, D. D. - 2008 Levantamento planimétrico de pontos de apoio

Yncalc n calc
ely el

Ynconh
n conh elx

x
X nconh X ncalc

Figura 6.13 – Erro de fechamento linear

Em poligonais com nd distâncias horizontais medidas, a abscissa e a ordenada do ponto de


fechamento, calculadas, são, de acordo com a (6.21) e a (6.22), dadas por:

nd
X ncalc = X1conh + ∑ ∆X J,J+ 1 (6.28)
J=1

nd
Yncalc = Y1conh + ∑ ∆YJ,J+ 1 (6.29)
J=1

ou de acordo a (6.23)e a (6.24):

nd
X ncalc = X1conh + ∑ dJ,J +1 ⋅ sen AZ J,J +1 (6.30)
J=1

nd
Yncalc = Y1conh + ∑ dJ,J +1 ⋅ cos AZ J, J +1 (6.31)
J=1

Substituindo as equações (6.28) e (6.29) nas (6.26) e (6.27), respectivamente, tem-se:

nd
el x = ∑ ∆X J,J+1 + X1conh − X nconh (6.32)
J=1

nd
el y = ∑ ∆YJ,J+1 + Y1conh − Ynconh (6.33)
J=1

Em poligonais do tipo 1, como as mostradas nas Figuras 6.8 ou 6.12, o ponto de fechamento,
ponto n ou 5, coincide com o ponto de apoio, ponto 1. Portanto, as coordenadas conhecidas dos pontos

102
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

1 e n são iguais e assim, para poligonais do tipo 1, os erros de fechamento linear em x e y podem ser
calculados por:

nd
el x = ∑ ∆X J,J+1 (6.34)
J=1

nd
el y = ∑ ∆YJ,J+1 (6.35)
J=1

ou seja, em poligonais do tipo 1 os erros de fechamento linear são determinados calculando-se o


somatório das componentes vetoriais do polígono.

4.4.6 Distribuição do erro de fechamento linear.

Antes de distribuir o erro linear é necessário verificar se o erro cometido é tolerável e classificar a
poligonal segundo a norma para levantamentos topográficos.
Após calcular os erros em X e em Y calcular o erro linear, el, empregando a equação (6.25) e o
erro linear relativo, dividindo el pelo somatório das distâncias horizontais da poligonal (L) - extensão da
poligonal do ponto de partida ao ponto de chegada.
A Tabela 6.3 mostra como a NBR 13.133 classifica as poligonais em função do erro linear
cometido. Nela, L, que deve empregado em km.

Tabela 6.3: Classificação das poligonais em função do erro linear após a compensação do erro
angular. NBR 13133.

Classes IP IIP IIIP IVP VP IPRC IIPRC

Erro linear
(em m) 0,10 ⋅ L (Km ) 0,30 ⋅ L(Km) 0,42 ⋅ L(Km) 0,56 ⋅ L(Km) 2,20 ⋅ L (Km ) 0,07 ⋅ L(Km) 0,30 ⋅ L(Km)

Confrontando a finalidade da poligonal, Tabela 6.1, com o erro linear cometido verifica-se se o
erro é tolerável. Se não, deve-se voltar ao campo e re-observar a poligonal.
Se o erro está dentro da tolerância, o passo seguinte é distribuí-lo nas componentes vetoriais e
depois calcular as coordenadas topográficas em função das componentes vetoriais compensadas dos
erros angular e linear de fechamento.
O erro linear pode ser distribuído de três formas: igualmente em todas as componentes vetoriais,
proporcionalmente às distâncias entre os pontos e proporcionalmente aos valores absolutos das
componentes.

a) Distribuindo os erros elx e ely igualmente em todas as componentes vetoriais.

103
Rodrigues, D. D. - 2008 Levantamento planimétrico de pontos de apoio

Para distribuir elX, ou ely, igualmente em todas as componentes ∆X J, J+1 , ou ∆YJ, J+1 , calcula-se

as correções dividindo o negativo do erro pelo número de distâncias medidas, ou seja,

− el X , − el Y
corr∆X = corr∆Y = (6.36)
nd nd

e aplica-se a mesma correção a todas as componentes – a correção não varia com a componente -, ou
seja:

∆X comp
J, J +1 = ∆X J, J+1 + corr∆X
calc
(6.37)

∆YJcomp
, J +1 = ∆YJ, J +1 + corr ∆Y
calc
(6.38)

com J = 1, 2, L nd.
Observe que se elx é maior que zero, é porque a abscissa calculada, do ponto de fechamento, foi
maior que a conhecida e, portanto, há necessidade de subtrair a correção das componentes.
Obviamente, esse comentário vale para também para ely.
Esse método é apresentado somente como ilustração didática, uma vez que, a priori, sabe-se
que os erros são proporcionais às distâncias, ou seja, quanto maior a distância entre as estações maior
é o erro linear e maior deve ser a correção da componente entre os pontos envolvidos.

b) Distribuindo os erros proporcionalmente às distâncias – Método de Bowditch

Aqui, admite-se que: se numa poligonal de extensão L cometeu-se um erro linear em X, elX;
numa distância DJ,J+1, entre os pontos J e J+1, o erro na componente ∆X J, J+1 será dado produto da

razão elX/L pela distância DJ,J+1. Como a correção tem sinal contrário ao do erro tem-se:

−el X
corr ∆XJ, J +1 = ⋅ D J, J+1 . (6.39)
L
Semelhantemente,
−el y
corr ∆YJ, J+1 = ⋅ D J, J+1 . (6.40)
L

Fazendo
−el X
= coef X (6.41)
L
e

104
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

−el Y
= coef Y (6.42)
L
tem-se:

corr ∆XJ, J+1 = coef X ⋅ D J, J+1 (6.43)

e
corr∆YJ, J+1 = coef Y ⋅ D J, J+1 . (6.44)

Desta forma o erro a ser distribuído a cada componente é proporcional à distância entre os
pontos definidores do vetor, e a componente compensada entre os pontos J e J+1 é dada por:

∆X comp
J, J +1 = ∆X calc
J, J +1 + coef X ⋅ D J, J+1 (6.45)

∆YJcomp
, J +1 = ∆YJcalc
, J +1 + coef Y ⋅ D J, J +1 (6.46)

com J = 1, 2, L nd.
Observa-se nas equações (6.41), (6.42), (6.45) e (6.46), que se os erros lineares em X e em Y
forem iguais, para distâncias iguais, as correções às componentes vetoriais, ∆X e ∆Y, serão as mesmas,
independentemente dos valores absolutos das componentes ou da orientação do alinhamento.

c) Distribuindo os erros proporcionalmente aos valores absolutos das componentes vetoriais

Já Figura 6.14 mostra duas diferentes poligonais; uma, 6.14-a, com desenvolvimento maior na
direção leste-oeste (direção de X) e a outra com desenvolvimento maior na direção norte-sul (direção de
Y).

Y≡N Y≡N

a x b x

Figura 6.14 – Poiligonais com desenvolvimentos diferentes nas direções leste-oeste e norte-sul.

Já Figura 6.15 mostra que o efeito de uma variação, ou erro, na distância horizontal, dDH, na
componente vetorial ∆X, d∆X, é diferente do efeito na componente vetorial ∆Y, d∆Y. Os efeitos só serão
iguais se o ângulo horizontal θ for igual a 45º.
105
Rodrigues, D. D. - 2008 Levantamento planimétrico de pontos de apoio

d∆X

dDH d∆Y
dDH
J+1 d∆Y J+1
DH d∆X
∆Y DH
θ ∆Y

J ∆X
θ
J
∆X

Figura 6.15 – Variações nas componentes vetoriais, d∆X e d∆Y, devido a uma
variação na distância horizontal, dDH, para diferentes direções.

EXERCÍCIO:
i) Se ∆X J,J+1 = DHJ,J+1 ⋅ sen AZ J,J+1 e ∆YJ,J+1 = DHJ,J+1 ⋅ cos AZ J,J+1 , equações (5.25) e (5.26),

calcular as variâncias de ∆X e de ∆Y, para azimutes iguais a 60º e 330º, considerando nulas as
variâncias dos azimutes e a variância da distância horizontal igual a 1 cm2.

Considerando as direções de desenvolvimento da poligonal e o valor absoluto da componente,


pode-se melhorar um pouco mais a distribuição dos erros lineares em X e em Y. Se um vetor, de uma
poligonal que se desenvolve igualmente em X e em Y, com elx igual a ely, tem o valor absoluto da
componente em X maior que o da componente em Y, a correção em X deve ser maior que a em Y.
Seja

nd
SX = ∑ ∆X J, J+1 (6.47)
J=1

e
nd
SY = ∑ ∆YJ, J+1 , (6.48)
J=1

somatórios dos valores absolutos das componentes em X e em Y, os deslocamentos da poligonal nas


direções leste-oeste e norte-sul, respectivamente.
Admitindo que para uma poligonal que se desenvolveu SX na direção leste-oeste, cometeu-se
um erro linear em X, elX; para uma componente em X entre os pontos J e J+1, o erro será dado produto
da razão elX/SX pelo valor absoluto da componente ∆XJ,J+1. Como a correção tem sinal contrário ao do
erro tem-se:

−el X
corr ∆X J, J+1 = ⋅ ∆X J, J+1 (6.49)
SX

Semelhantemente,

106
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

−el y
corr∆YJ, J+1 = ⋅ ∆YJ, J+1 . (6.50)
SY

Fazendo
−el X
= coef X (6.51)
SX

e
−el Y
= coef Y (6.52)
SY

tem-se:

corr∆XJ, J+1 = coef X ⋅ ∆X J, J+1 (6.53)

corr∆YJ, J+1 = coef Y ⋅ ∆YJ, J+1 . (6.54)

Desta forma as componentes compensadas entre os pontos J e J+1 são dadas por:

∆X comp
J, J +1 = ∆X J, J +1
calc
+ coef X ⋅ ∆X J, J+1 (6.55)

∆YJcomp
, J +1 = ∆YJcalc
, J +1 + coef Y ⋅ ∆YJ, J+1 (6.56)

com J = 1, 2, L nd.
Após corrigir as componentes vetoriais, as coordenadas topográficas compensadas dos erros
angular e linear, referidas a um único sistema, podem ser calculadas.

4.4.7 Cálculo das coordenadas topográficas compensadas dos erros angular e linear.

As coordenadas topográficas compensadas dos erros angular e linear de fechamento podem


ser calculadas empregando as equações (6.21) e (6.22), adaptadas às componentes compensadas, ou
seja,

K
X Kcomp
+1 = X Kcomp + ∆X Kcomp
, K +1 = X 1
conh
+ ∑ ∆X
J=1
comp
J, J+1 (6.57)

e
K
YKcomp
+1 = YKcomp + ∆YKcomp
, K +1 = Y1
conh
+ ∑ ∆Y
J=1
comp
J, J+1 , (6.58)

com K = 1, 2,Lnd

107
Rodrigues, D. D. - 2008 Levantamento planimétrico de pontos de apoio

A partir das coordenadas topográficas corrigidas e referenciadas a um único sistema pode-se


extrair informações topográficas, que não tinham como ser extraídas diretamente no campo, pode-se
elaborar memorial descritivo e desenhar a planta. Assuntos que serão estudados nos próximos capítulos.
A seguir é apresentada uma rotina resumida para o processamento de um levantamento planimétrico de
pontos de apoio e temáticos.

4.5- Rotina para processamento de um levantamento planimétrico por poligonação

É prática comum realizar o levantamento topográfico dos pontos de apoio concomitantemente


com o levantamento dos pontos temáticos. No entanto, o processamento deve ser em separado:
primeiro processar os pontos de apoio e só então processar os pontos temáticos levantados em cada
estação.
Para calcular as coordenadas topográficas dos pontos de apoio e dos pontos temáticos, após
medir os ângulos e as distancias, pode-se empregar a seguinte seqüência de passos:

4.5.1- Determinação dos pontos de apoio:

a) Calcular o erro angular.

ea = AZ Fcalc − AZ Fconh

onde,

n
AZ Fcalc = AZ Iconh + ∑ αi − (n − 1) ⋅ 180 o ; enquanto, < 0 (ou >360), somar
i =1
(ou subtrair) 360;

n = número de ângulos medidos.

b) Verificar se o erro é menor que a tolerância e classificar a poligonal de acordo com a


norma
c) Distribuir o erro angular nos ângulos horizontais, relativos aos pontos de apoio,
observados.
−ea
corrang = ;
n

α icomp = α i + corrang

d) Calcular os azimutes, relativos aos pontos de apoio, compensados do erro angular.


J

J , J +1 = AZ J −1 , J
AZ comp comp
+ α comp
J − 180 o = AZ Iconh + ∑α
i =1
comp
i − ( J − 1) ⋅ 180 o ,

com J = 1, 2, L n.

108
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

e) Calcular as componentes vetoriais ∆X e ∆Y dos pontos de apoio.


∆X J, J+ 1 = dJ, J+ 1 ⋅ sen AZ J, J+ 1 ;

∆YJ, J+ 1 = dJ, J+ 1 ⋅ cos AZ J, J+ 1 ;

com J = 1, 2, L nd. nd = número de distâncias medidas.

f) Calcular o erro linear, el.


nd
X ncalc = X1conh + ∑ ∆X J,J+ 1 ,
J=1

nd
Yncalc = Y1conh + ∑ ∆YJ,J+ 1 ;
J=1

el x = X ncalc − Xnconh ;

el y = Yncalc − Ynconh ;

el = el 2X + el 2Y

el
er = nd

∑ DH
j =1
j

n = identidade do ponto de fechamento;


nd = número de distâncias medidas entre pontos de apoio.

g) Verificar se o erro linear é menor que a tolerância e classificar a poligonal, de acordo


com a norma 13133.
h) Distribuir o erro linear nas componentes vetoriais dos pontos de apoio.
nd nd
SX = ∑ ∆X J, J+1 ; SY = ∑ ∆YJ, J+1 ;
J=1 J=1

−el X −el Y
= coef X ; = coef Y ;
SX SY

∆X comp
J, J +1 = ∆X J, J +1
calc
+ coef X ⋅ ∆X J, J+1 ;

∆YJcomp
, J +1 = ∆YJcalc
, J +1 + coef Y ⋅ ∆YJ, J+1 ,

com J = 1, 2, L nd.

i) Calcular as coordenadas topográficas dos pontos de apoio a partir das coordenadas


conhecidas do ponto de partida e das componentes vetoriais compensadas dos erros
angular e linear.
K

+1 = X K
X Kcomp comp
+ ∆X Kcomp
, K +1 = X 1
conh
+ ∑ ∆X
J=1
cmp
J, J+1

109
Rodrigues, D. D. - 2008 Levantamento planimétrico de pontos de apoio

K
YKcomp
+1 = YKcomp + ∆YKcomp
, K +1 = Y1
conh
+ ∑ ∆Y
J=1
comp
J, J+1 ,

com K = 1, 2, 3, L nd.

4.5.2- Determinação dos pontos temáticos:

a) Calcular, a partir das coordenadas dos pontos de apoio, os contra-azimutes dos


alinhamentos da poligonal.
X J−1 − X J
AZ J, J−1 = arctg ( ) , verificando o quadrante.
YJ−1 − YJ

b) Em cada estação ou ponto de apoio que tem irradiação, calcular a partir, do contra-
azimute da estação, do ângulo horizontal horário observado, com origem a ré, da
distância da estação ao ponto temático e das coordenadas da estação; o azimute da
direção do ponto irradiado e suas coordenadas.
AZ J, I = AZ J, J−1 + α I ;
XI = X J + D JI ⋅ sen AZ J,I ;
YI = YJ + D JI ⋅ cos AZ J,I

A Figura 6.16 mostra os pontos de apoio, o contra-azimute, o ângulo horário com origem a ré,
a distância horizontal e as coordenadas da estação, envolvidos no posicionamento por irradiação do
ponto temático I.

y
J-1

AZJ, J-1 I

αI
DJI
J
YJ
YI

XJ XI x

Figura 6.16 – Irradiação empregando o contra-azimute entre


pontos de uma poligonal

110
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

5- EXERCÍCIOS PROPOSTOS

5.1) Dados: de acordo com a Figura 6.17:

Tabela 6.4 – Coordenadas de pontos conhecidos e seus desvios

ID Coordenadas cartesianas locais e seus desvios


ponto padrões (m)
X σX Y σY
1 3 208,49 0 4 375,29 0
5 5 074,49 0 5 227,47 0

Tabela 6.5 – Azimutes conhecidos e seus


desvios
Azimutes Valores dos Desvios
conhecidos azimutes padrões
AZ1,I 228º 27’ 30” 0

AZ5,F 67º 48’ 48” 0

Observações:

Tabela 6.6 – Observações de uma Poligonação

Ré Estação Vante Ângulo Horiz. Horário Dist. Hor. (m)


com origem a ré
I 1 2 203º 41’ 28” 703,28

1 2 3 162º 37’ 21” 473,29

2 3 4 193º 18’ 06” 687,48

3 4 5 170º 08’ 49” 202,31

4 5 F 189º 35’ 52”

Determinar:
as coordenadas topográficas, compensadas dos erros angular e linear, dos pontos 2, 3 e 4,

N N
α1 α5
α3 AZF
α2 α4
I x
1 d1 d2 5 F
x 3 d3 d4
AZI 2 4

Figura 6.17: croqui da poligonal do exercício 5.1.


111
Rodrigues, D. D. - 2008 Levantamento planimétrico de pontos de apoio

5.2) Dados: de acordo com a Figura 6.18:

Tabela 6.7 – Coordenadas de pontos conhecidos e seus desvios

Coordenadas cartesianas locais e seus desvios


ID padrão (m)
ponto
X σX Y σY
I 1 000,00 0 800,00 0

1 1 000,00 0 1 000,00 0

3 1 223,00 0 1 186,50 0

F 1 400,00 0 1 186,50 0

Observações:

Tabela 6.8 – Observações de uma Poligonação

Ângulo Horiz. Horário


Ré Estação Vante Dist. Hor. (m)
com origem a ré
I 1 2 240º 00’ 28” 199,81

1 2 3 150º 00’ 21” 100,19

1 2 P1 250º 00’ 23” 50,11

2 3 F 240º 00’ 06”

2 3 P2 40º 30’ 16” 60,15

Determinar:
as coordenadas topográficas, compensadas dos erros angular e linear, dos pontos 2 e P.

P2 N
dP2
AZF
α3
αP2
N α2 3 F
d2
αP1
AZI 2
α1 dP1
d1
P1
1

Figura 6.18: croqui da poligonal do exercício 5.2

112
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

5.3) Dadas as coordenadas de quatro pontos de apoio:


X0 = 2355,773 m X1 = 2000,000 m X3 = 2376,948 m X4 = 2572,365 m
Y0 = 3241,506 m Y1 = 3000,000 m Y3 = 2967,280 m Y4 = 2810,542 m
e, na Tabela 6.9, os ângulos horários e as distâncias horizontais da estação para o ponto de
vante. Calcular as coordenadas topográficas dos pontos 3.1 e 3.2 no sistema de referência
materializado pelos pontos 0, 1, 3 e 4.

CROQUI 0 3.1
3.2

2
4

Figura 6.19: croqui da poligonal do exercício 5.3

Tabela 6.9 – Observações de uma Poligonação


Ponto visado Ângulo horário Azimute corrigido do
Ângulo horário DH
Estação o
corrigido erro angular
Ré Vante ’ ” (m) o o
’ ” ’ ”
1 0 2 69 19 45 215,312

2 1 3 120 23 20 220,631

2 4 243 10 30 _____

2 3.1 74 48 16 84,457
3
4 3.2 286 39 47 75,684

5.4) Elaborar um algoritmo para calcular as coordenadas topográficas, compensadas dos erros
angular e linear de fechamento, dos pontos de apoio e temáticos de um levantamento
planimétrico por poligonação.

113
Rodrigues, D. D. - 2008 Levantamento planimétrico de pontos de apoio

5.5) Dados, de acordo com a Figura 6.20:


X1 = 1000,00 m
Y1 = 3000,00 m
AZ14 = 36º 12’ 59”

Observações:

Tabela 6.10 – Observações de um levantamento planimétrico por poligonação


Ângulo Horiz.
Dist.
Horário com
Ré Estação Vante Descrição temática do ponto de vante Hor.
origem a ré
o (m)
‘ “
4 1 1.1 Árvore 02 20 30 54,00

2 Ponto de apoio 107 04 00 534,00

1 2 2.1 Casa 1 122 42 00 185,00

2.2 Casa 1 145 07 10 161,20

3 Ponto de apoio 100 35 53 352,90

2 3 3.1 Poste 270 20 05 306,20

4 Ponto de apoio 89 38 00 758,90

3 4 4.1 Poste 350 10 55 203,00

1 Ponto de apoio 62 42 00 503,99

4
N
4.1

1.1
1

2 2.1
3.1
2.2

Figura 6.20: Levantamento planimétrico por poligonação do exercício 5.4

Determinar:
as coordenadas topográficas dos pontos de apoio, compensadas dos erros angular e linear, e
dos pontos temáticos no sistema de referência materializado pela poligonal.

114
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

VII – INFORMAÇÕES GEOMÉTRICAS A PARTIR DAS COORDENADAS DE TERRENO


______________________________________________________________________________________
A partir de um arquivo com coordenadas, covariâncias e informações temáticas de pontos sobre a
superfície da Terra, abaixo dela ou sob as águas de lagos, rios e mar, pode-se extrair informações
posicionais (X, Y, Z ou ∆X, ∆Y e ∆Z) e geométricas (distâncias, ângulos, áreas e volumes) e avaliar a
precisão dessas informações. Naturalmente que, se o arquivo dispõe de informações temáticas de cada
ponto, estas poderão ser resgatadas.
É interessante observar que a partir de um arquivo de informações topográficas pode-se extrair
informações que não puderam ou não podem ser obtidas diretamente no campo. Alinhamentos, ângulos e
distâncias, com precisão devidamente avaliada, entre pontos que não apresentam visibilidade entre si
poderão agora ser determinados e materializados se necessário for. A direção de perfuração de um túnel ou
de construção de uma grande ponte pode ser materializada e a execução de tais obras pode ser realizada
partindo-se dos dois extremos. Até mesmo informações temáticas, não visualizadas diretamente no campo,
podem ser inferidas após analisar um conjunto de informações levantadas. Àreas e volumes são
informações que não podem ser medidas diretamente.
Este Capítulo tratará da extração de informações geométricas a partir de um arquivo de
coordenadas, excepcionalmente, tridimencionais, ou seja, com X, Y e Z. Para que a precisão da grandeza
determinada possa ser avaliada, é necessário que o arquivo contenha, no mínimo, o desvio padrão de cada
coordenada. Se o arquivo contem também as covariâncias, a incerteza pode ser melhor avaliada.
______________________________________________________________________________________

1- INTRODUÇÃO

Na Figura 7.1
• X, Y e Z são os eixos de um sistema topográfico (o plano XY é o plano horizontal ou
topográfico de o);
• P, Q e R são pontos no espaço definido pelo sistema XYZ, com coordenadas conhecidas;
• p, q e r as projeções de P, Q e R no plano horizontal;

• γ é o ângulo horário RP̂Q , no plano definido pelos pontos P, Q e R;

• a é o ângulo horizontal horário RP̂Q ;

• ÎQR é o ângulo vertical de inclinação de Q para R;

• Ẑ QR é o ângulo vertical zenital de Q para R;


r
• VPQ é o vetor espacial de P para Q;
r
• VPR é o vetor espacial de P para R;
r
• VQR é o vetor espacial de Q para R e
r r r
• i , j e k é o terno ortogonal fundamental associado ao sistema topográfico.

115
Rodrigues, D. D. - 2008 Informações topográficas a partir do modelo numérico do terreno

y≡N
R

r Ẑ QR
VQR
ÎQR Q
O r r
VPR VPQ
q
r γ

r P
r j a
k
p
o r x
i

Vertical de o

Figura 7.1 – Informações geométricas a partir das coordenadas topográficas

A Tabela 7.1 mostra o que deve conter um arquivo de informações topográficas de pontos
conhecidos, como P, Q e R. As variâncias de X, Y e Z e as covariâncias dos pares XY, XZ e YZ devem
constar na estrutura; porém, como variâncias e covariâncias são números pequenos elevados ao quadrado,
recomenda-se amezenar os desvios padrão e os coeficientes de correlação.

Tabela 7.1 - Modelo Numérico do Terreno: Arquivo de informações topográficas processadas

Descrição do Sistema Topográfico de referência: _____________________________________________


____________________________________________________________________________________
Responsável Técnico:____________________________________________ CREA: ________________

Desvios padrão (mm) e coeficientes de


Coordenadas Topográficas
ID do Descrição correlação
(m)
Ponto temática entre as coordenadas
X Y Z σX σY σZ ρ XY ρ XZ ρ YZ
P XP YP ZP
Q XQ YQ ZQ
R XR YR ZR
M M M M M M M M M M M

116
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

r r r r r r
Empregando o terno ortogonal fundamental, i , j e k , os vetores VPQ , VPR e VQR , mostrados na

Figura 7.1, são expressos das seguintes formas:

r r r r
VPQ = ∆X PQ ⋅ i + ∆YPQ ⋅ j + ∆Z PQ ⋅ k (7.1)

r r r r
VPR = ∆X PR ⋅ i + ∆YPR ⋅ j + ∆Z PR ⋅ k (7.2)

r r r r
VQR = ∆X QR ⋅ i + ∆YQR ⋅ j + ∆Z QR ⋅ k (7.3)

sendo ∆X, ∆Y e ∆Z as componentes vetoriais. Vale enfatizar que

∆X PQ = X Q − X P , (7.4)

∆YPQ = YQ − YP (7.5)

e
∆Z PQ = Z Q − Z P (7.6)

Feitas estas considerações e apresentada a estrutura de dados; distâncias, ângulos, áreas e


volumes podem ser determinados e suas incertezas avaliadas. Uma vez que o assunto propagação de
covariâncias foi tratado no capítulo 4, deixa-se a cargo do estudante a propagação das covariâncias das
coordenadas para as componentes vetoriais e informações geométricas. Tal propagação não será realizada
neste capítulo a fim de não tornar-lo demasiadamente extenso.

EXERCÍCIO:
i) Na Tabela 7.2 estão contidas as coordenadas de quatro pontos P, Q, R e O. Determinar as
r r r r
componentes dos vetores VPQ , VPR , VPO e VQR bem como suas variâncias.

Tabela 7.2: Coordenadas topográficas, seus desvios e coeficientes de correlação


Desvios padrão (mm) e coeficientes de
Coordenadas Topográficas
ID do correlação
(m)
Ponto entre as coordenadas
X Y Z σX σY σZ ρ XY ρ XZ ρ YZ
P 51,231 12,525 9,734 2 2 2 0 0 0

Q 97,564 73,246 15,987 2 2 2 0 0 0


R 9,289 38,721 64,280 2 2 2 0 0 0
O 9,289 38,721 15,987 2 2 2 0 0 0

117
Rodrigues, D. D. - 2008 Informações topográficas a partir do modelo numérico do terreno

2- CÁLCULO DE DISTÂNCIAS

As distâncias podem se referir a um plano horizontal, a plano vertical ou podem ser distâncias
espaciais entre os pontos na superfície física.

2.1 Distância Espacial ou Inclinada entre dois pontos.

r
Por definição, a grandeza VPQ , norma do vetor de P para Q, é a distância espacial entre os

pontos P e Q, dada por:

[ ]
r 2 2 2
1
DPQ = VPQ = + ∆X PQ + ∆YPQ + ∆Z PQ 2 , (7.7)

lembrando que, desprezando o efeito da relatividade, a distância espacial independe do sistema de


referência, ou seja, a distância espacial será a mesma se as componentes vetoriais forem topográficas,
topocênctricas, geocêntricas (obtidas pelo rastreio de satélites), etc.

2.2 Distância Horizontal

È o comprimento da pojeção da distância espacial no plano topográfico. Também conhecida como


distância reduzida. A distância horizontal entre dois pontos é a norma do vetor planimétrico definido pelas
componentes vetoriais planimétricas, ou seja:

DH PQ = D XYPQ = + ∆X PQ
2
+ ∆YPQ
2
, (7.8)

Vale lembrar que uma distância no plano XY horizontal, plano topográfico, é bem diferente de uma distância
no plano XY coicidente com o plano do equador, por exemplo. A distância no plano XY depende, portanto,
do sistema de referência.

2.3 Distância Vertical

A distância vertival de P para Q, DVPQ, é também conhecida como diferença de nível de P para Q,
DNPQ, e dada por:

DVPQ = DNPQ = ∆Z PQ = Z Q − Z P , (7.9)

118
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

podendo, portanto, ser negativa ou positiva. Se DVPQ é menor que zero é porque o ponto Q está mais baixo
que o P.

EXERCÍCIOS:
i) Calcular as distâncias espaciais entre os pontos P e Q, P e R e Q e R da Tabela 7.2.
ii) Calcular as distâncias horizontais entre os pontos P e Q, P e R e Q e R da Tabela 7.2
iii) Calcular as distâncias verticais de P para Q, de P para R e de Q para R.

3- CÁLCULO DE AZIMUTES e RUMOS

Como visto no item 3 do Capítulo 5, azimutes são ângulos horizontais com origem no lado norte do
meridiano, que podem ser calculados empregando a seguinte equação:

⎛ ∆X PQ ⎞
AZ PQ = arctg ⎜⎜ ⎟ ,
⎟ (7.10)
⎝ ∆YPQ ⎠

Se o ponto Q estiver no segundo ou terceiro quadrante, em relação ao sistema topográfico com origem
no ponto P, soma-se 180º ao resultado da operação com a equação (7.10). Se estiver no quarto quadrante
soma-se 360º. Para mais detalhes, inclusive quanto às restrições de uso da (7.10), veja o item 3 do Capítulo
5.
Rumos podem ser derivados dos azimutes como mostrado na Figura 2.25.

4- CÁLCULO DE ÂNGULOS

Os ângulos podem se referir ao plano horizontal, ao plano vertical ou ao plano que contenha os
pontos na superfície física.
Teodolitos medem ângulos horizontais e verticais, porém, o ângulo no plano que contém os três
pontos na superfície física pode, mesmo que raramente, ser uma informação requerida em cálculos
topográficos.

4.1- Ângulos no plano determinado por três pontos na superfície física

Na Figura 7.1 γ é um ângulo contido no plano determinado por três pontos na superfície física e que
pode ser determinado a partir das distâncias espaciais entre os pontos envolvidos ou a partir das
componentes vetoriais.

119
Rodrigues, D. D. - 2008 Informações topográficas a partir do modelo numérico do terreno

4.1.1- A partir das distâncias espaciais calculadas

As distâncias espaciais entre os pontos P, Q e R, Figura 7.1, podem ser calculadas empregando a
equação (7.7) e o ângulo γ, no plano definido pelos pontos P, Q e R, empregando a lei dos cossenos, ou
seja,

⎛ D PQ
2
+ D PR 2
− D QR
2


γ = arccos ⎜ ⎟ , (7.11)
2 ⋅ D PQ ⋅ D PR ⎟
⎝ ⎠

com γ no intervalo [0 a 180º]. Obviamente nenhuma das distâncias, DPQ ou DPR, pode ser nula.

4.1.2- A partir das componentes vetoriais

r r
O produto escalar entre os vetores VPR e VPQ , que limitam o ângulo γ, é definido por:

v v r r
VPR • VPQ = VPR ⋅ VPQ ⋅ cos γ , (7.12)

ou seja,

r v
VPR • VPQ
cos γ = r r , (7.13)
VPR ⋅ VPQ

Empregando as componentes vetoriais mostradas nas equações (7.1) e (7.2), o produto escalar
pode ser calculado por:

v v
VPR • VPQ = ∆X PR ⋅ ∆X PQ + ∆YPR ⋅ ∆YPQ + ∆Z PR ⋅ ∆Z PQ . (7.14)

r
A norma do vetor VPQ é dada pela (7.7) e, semelhantemente,

v 2 2 2
VPR = DPR = + ∆X PR + ∆YPR + ∆Z PR . (7.15)

Portanto,

⎛ ∆X PR ⋅ ∆X PQ + ∆YPR ⋅ ∆YPQ + ∆Z PR ⋅ ∆Z PQ ⎞
γ = ar cos ⎜⎜ ⎟ ,

(7.16)
⎝ D PR ⋅ D PQ ⎠

com γ no intervalo [0 a 180º]. Obviamente nenhuma das distâncias, DPQ ou DPR, pode ser nula.

120
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

4.2- Ângulos Horizontais

Os ângulos horizontais podem, conhecendo-se as coordenadas topográficas dos pontos envolvidos,


ser calculados a partir, dos azimutes determinados pela (7.10), das distâncias horizontais calculadas pela
(7.8) ou das componentes dos dois vetores envolvidos.

4.2.1- A partir de azimutes calculados

Como visto no item 5 do capítulo 2, o ângulo horizontal horário RP̂Q , a da Figura 7.1, pode ser
determinado a partir de azimutes empregando a seguinte equação:

α = ang. hor. RP̂Q = AZ PQ − AZ PR (7.17)

e o ângulo anti-horário RP̂Q , b, obtido por:

β = ang. anti − hor . RP̂Q = AZ PR − AZ PQ , (7.18)

lembrando de somar 360º caso o valor encontrado seja menor que zero. Assim, a e b estarão no intervalo
[0 a 360º).
Para mais detalhes veja o item 5 do Capítulo 2.

4.2.2- A partir das distâncias horizontais calculadas

Calculando as distâncias horizontais entre os pontos P, Q e R, Figura 7.1, o ângulo horizontal a


pode ser determinado empregando a lei dos cossenos, ou seja,

⎛ DHPQ
2
+ DHPR 2
− DHQR
2

α = arccos ⎜⎜ ⎟

(7.19)
⎝ 2 ⋅ DHPQ ⋅ DHPR ⎠

com a no intervalo [0 a 180º]. Obviamente nenhuma das distâncias, DHPQ ou DHPR, pode ser nula.

4.2.3- A partir das componentes vetoriais

Fazendo, na equação (7.16), ∆ZPR e ∆ZPQ iguais a zero, uma vez os vetores envolvidos agora são
horizontais, tem-se:

121
Rodrigues, D. D. - 2008 Informações topográficas a partir do modelo numérico do terreno

⎛ ∆X PR ⋅ ∆X PQ + ∆YPR ⋅ ∆YPQ ⎞
α = ar cos ⎜⎜ ⎟

(7.20)
⎝ DHPR ⋅ DHPQ ⎠

com a no intervalo [0 a 180º]. Obviamente nenhuma das distâncias, DHPQ ou DHPR, pode ser nula.

4.3- Ângulos Verticais

Ângulos zenitais como o de P para Q – veja item 6 do Capítulo 2 - podem ser calculados,
conhecendo-se as coordenadas dos pontos, empregando a seguinte equação:

Z Q − ZP
Ẑ PQ = ar cos ( ) (7.21)
[ (X ]
1

Q − XP ) 2
+ ( YQ − YP ) 2
+ (Z Q − ZP ) 2 2

com Ẑ PQ no intervalo [0 a 180º], luneta em PD. Obviamente a distância, DPQ não pode ser nula.

Ângulo vertical de inclinação de P para Q, îPQ, pode ser derivado do ângulo zenital.

EXERCÍCIOS:
i) Calcular o ângulo no plano inclinado PQR com vértice em P, ângulo interno do triângulo PQR, γ na
Figura 7.1, empregando as coordenadas da Tabela 7.2.
ii) Calcular o ângulo horizontal o interno do triângulo pqr, α na Figura 7.1, empregando as
coordenadas da Tabela 7.2

iii) Calcular o ângulo zenital de Q para R, Ẑ QR , empregando as coordenadas da Tabela 7.2.

iv) Calcular o ângulo de inclinação de Q para R, îQR , empregando as coordenadas da Tabela 7.2

5- CÁLCULO DE ÁREAS

Semelhantemente a distâncias e ângulos, áreas podem se referir a um plano horizontal, a um plano


vertical ou ao plano definido por três pontos na superfície física.

5.1- Área de um triângulo plano inclinado definido por três pontos

A Figura 7.2 mostra o plano inclinado definido pelos pontos P, Q e R e o paralelogramo definido pelos
r r r
vetores VPQ e VPR - não estão em uma mesma direção e nenhum dos dois é nulo. Na Figura, A

122
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

representa o vetor área do paralelogramo - perpendicular ao plano PQR - e S ∆ é a metade da área do


paralelogramo, ou seja, é a área do triângulo PQR.
r r r
Se o vetor área, A , é resultante do produto vetorial dos vetores VPQ e VPR , ou seja,

r r r
A = VPQ × VPQ (7.22)

R
r
VQR
r r
VPR A
S∆ = Q
2
γ r
VPQ
r
A
P

Figura 7.2 – Vetor área e área de um triângulo qualquer, inclinado.

Como produto vetorial é dado por:

r r r
i j k
r r ∆YPQ ∆Z PQ r ∆Z PQ ∆X PQ r ∆X PQ ∆YPQ r
VPQ × VPR = ∆X PQ ∆YPQ ∆Z PQ = ⋅i + ⋅j + ⋅k
∆YPR ∆Z PR ∆Z PR ∆X PR ∆X PR ∆YPR
∆X PR ∆YPR ∆Z PR

r r
= ( ∆YPQ ⋅ ∆Z PR − ∆YPR ⋅ ∆Z PQ ) ⋅ i + ( ∆Z PQ ⋅ ∆X PR − ∆X PQ ⋅ ∆Z PR ) ⋅ j +
r
( ∆X PQ ⋅ ∆YPR − ∆YPQ ⋅ ∆X PR ) ⋅ k

(7.23)
r
Tem-se que o vetor A é igual a:

r r r
A = ( ∆YPQ ⋅ ∆Z PR − ∆YPR ⋅ ∆Z PQ ) ⋅ i + ( ∆Z PQ ⋅ ∆X PR − ∆X PQ ⋅ ∆Z PR ) ⋅ j +
r.
( ∆X PQ ⋅ ∆YPR − ∆YPQ ⋅ ∆X PR ) ⋅ k

(7.24)

Fazendo
∆YPQ ⋅ ∆Z PR − ∆YPR ⋅ ∆Z PQ = ∆X A (7.25)

123
Rodrigues, D. D. - 2008 Informações topográficas a partir do modelo numérico do terreno

∆Z PQ ⋅ ∆X PR − ∆X PQ ⋅ ∆Z PR = ∆YA (7.26)

e
∆X PQ ⋅ ∆YPR − ∆YPQ ⋅ ∆X PR = ∆Z A (7.27)

Tem-se:

r r r r
A = ∆X A ⋅ i + ∆YA ⋅ j + ∆Z A ⋅ k (7.28)

Como a área do triângulo inclinado definido pelos pontos P, Q e R, S ∆ , Figura 7.2, é a metade da norma de
r
A tem-se:

r
[ ]
1
A + ∆X 2A + ∆YA2 + ∆Z 2A 2
S∆ = = (7.29)
2 2

Portanto, calculando-se as componentes do vetor área, ∆X A , ∆YA e ∆Z A , a partir das


coordenadas cartesianas dos pontos P, Q e R - equações (7.25), (7.26) e (7.27) -, a área do triângulo plano
definido por tais pontos pode ser determinada empregando a equação (7.29).
r
Se o ângulo γ foi calculado empregando a equação (7.16) a norma de A pode ser determinada por:

r r r
A = VPQ ⋅ VPR ⋅ sen γ = D PQ ⋅ D PR ⋅ sen γ (7.30)

EXERCÍCIOS:
r r
i) Calcular as componentes do vetor área do paralelogramo definido pelos vetores VPQ e VPR ,

Figura 7.2, empregando as coordenadas da Tabela 7.2.


ii) Calcular a área, no plano inclinado, do triângulo PQR, empregando as coordenadas da Tabela 7.2.
iii) Calcular a área, no plano horizontal, do triângulo pqr, Figura 7.1, empregando as coordenadas da
Tabela 7.2.

5.2- Área de um polígono regular qualquer no plano XY

A Figura 7.3 mostra um polígono num formato qualquer definido pelas coordenadas X e Y dos cinco
pontos definidores do limite. Se o plano horizontal XY é o plano topográfico a área S do polígono é a área
reduzida a este plano.
Como visto no ítem anterior, a área de um triângulo pode ser determinda pelo produto vetorial de
dois de seus vetores, equação (7.29). A Figura 7.3 mostra o poligono dividido em triângulos e pares de
r r r r r r
vetores dos triângulos com origem num mesmo ponto: V12 e V15 , V23 e V25 e V34 e V35 .
Na Figura

124
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

S ∆1 é a área do triangulo definido pelos pontos 1, 2 e 5;


S ∆ 2 é a área do triangulo definido pelos pontos 2, 3 e 5;
S ∆ 3 é a área do triangulo definido pelos pontos 3, 4 e 5;

Y (m)
5
4
S∆3
r
V34
r r
V15 S∆2 V35 3
S∆1
1 r
r
V12 V25
r
V23
2

Z X (m)

Figura 7.3 – Área de um polígono plano qualquer a partir de suas coordenadas.

A área S do polígono é a soma das áreas dos triângulos, ou seja,

S = S ∆1 + S ∆ 2 + S ∆ 3 , (7.31)

r
O dobro da área do primeiro triângulo, S ∆1 , é a norma do vetor A 1 , ou seja:

r
2 ⋅ S ∆1 = A 1 (7.32)
r
Mas o vetor A 1 é dado por:

r r r r r r
A 1 = V12 × V15 = ∆X A1 ⋅ i + ∆YA1 ⋅ j + ∆Z A1 ⋅ k (7.33)

sendo, de acordo com as equações (7.25), (7.26) e (7.27),

∆X A1 = ∆Y12 ⋅ ∆Z 15 − ∆Y12 ⋅ ∆Z 15 (7.34)

∆YA1 = ∆Z 12 ⋅ ∆X15 − ∆X12 ⋅ ∆Z 15 (7.35)

125
Rodrigues, D. D. - 2008 Informações topográficas a partir do modelo numérico do terreno

∆Z A1 = ∆X12 ⋅ ∆Y15 − ∆Y12 ⋅ ∆X15 (7.36))

Como os pontos do polígono estão no plano XY, ∆Z12 = ∆Z15 = 0 e portanto,

∆XA1 = ∆YA1 = 0 (7.37)


e
r r r r
A 1 = V12 × V15 = ∆Z A1 ⋅ k . (7.38)

Dessa forma,

r
A 1 = + ∆Z 2A1 = ∆Z A1 . (7.39)

Portanto

2 ⋅ S ∆1 = ∆Z A1 (7.40)

e, de acordo com a eq. (7.36), tem-se:

2 ⋅ S ∆1 = ∆X 12 ⋅ ∆Y15 − ∆Y12 ⋅ ∆X 15 . (7.41)

Da mesma forma pode-se verificar que:

2 ⋅ S ∆ 2 = ∆X 23 ⋅ ∆Y25 − ∆Y23 ⋅ ∆X 25 (7.42)

2 ⋅ S ∆ 3 = ∆X 34 ⋅ ∆Y35 − ∆Y34 ⋅ ∆X 35 (7.43)

e portanto,

2⋅S = ∆X12 ⋅ ∆Y15 − ∆Y12 ⋅ ∆X15 + ∆X 23 ⋅ ∆Y25 − ∆Y23 ⋅ ∆X 25


+ ∆X 34 ⋅ ∆Y35 − ∆Y34 ⋅ ∆X 35
(7.44)

De onde se conclui que realizando produtos vetoriais aplicando rotação sempre no mesmo sentido (horário
ou anti-horário), tem-se:

2⋅S = ∆X12 ⋅ ∆Y15 − ∆Y12 ⋅ ∆X15 + ∆X 23 ⋅ ∆Y25 − ∆Y23 ⋅ ∆X 25 + ∆X 34 ⋅ ∆Y35 − ∆Y34 ⋅ ∆X 35

(7.45)
ou

126
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

∑ (∆X j, j+1 ⋅ ∆Yj, n )


n−2
2⋅S = − ∆Yj , j+1 ⋅ ∆X j , n (7.46)
j =1

Desenvolvendo a equação (7.46) pode-se chegar a:

∑ ( X j ⋅ Yj +1 )
n −1
2⋅S = − X j+1 ⋅ Yj + X n ⋅ Y1 − X1 ⋅ Yn (7.47)
j =1

ou

∑ (X ⋅ Y j +1 ) + ∑ (X ⋅ Y j ) − X 1 ⋅ Yn
n −1 n −1
2⋅S = j X n ⋅ Y1 − j +1
(7.48)
j =1 j =1

Fazendo

∑ ( X j ⋅ Yj +1 )
n −1
SPD = + X n ⋅ Y1 (7.49)
j =1

∑ ( X j+1 ⋅ Yj )
n −1
SPA = + X1 ⋅ Yn (7.50)
j =1

tem-se que:

SPD − SPA
S= (7.51)
2

O emprego da seguinte regra minemônica facilita o uso dessas equaçòes:


Preencher uma tabela como a Tabela 7.3 (primeira coluna com a identidade do ponto definidor do
limite, segunda coluna com as abscissas e terceira com as ordenadas do ponto), partindo de um ponto
qualquer, seguindo o polígono sempre no mesmo sentido, horário ou anti-horário, até o final, lembrando de
repetir o ponto inicial e realizar os produtos entre abscissas e ordenadas, descendo a tabela para se obter o
Somatório dos Produtos Descentes (SPD) e subindo, para se obter o Somatório dos Produtos Ascendentes
(SPA). A Tabela 7.3 foi preenchida partindo-se do ponto 1, seguindo o sentido anti-horário. Mas poderia ser
preenchida partindo-se de qualquer ponto, desde que o primeiro ponto fosse repetido na ultima linha.
Poderia também ser utilizado o sentido horário, ou seja, na seguinte ordem: 1, 5, 4, 3, 2, 1. A segunda
coluna poderia ser com as ordenadas e a terceira com as abscissas. O uso do valor absoluto da diferença
entre SPD e SPA, possibilita estas diferentes formas de cálculo. A única e severa restrição é que a tabela
seja preenchida seguindo o poligono em um determinado sentido. Não poderia ser, de forma alguma,
preenchida alternando os pontos do polígono. Para calcular a área do polígono representado na Figura 7.4,
por exemplo, duas das sequências poderiam ser: 1, 2.2, 2.3, 3, 4, 2.1, 1 ou 3, 2.3, 2.2, 1, 2.1, 4, 3. O fato
de as coordenadas serem positivas ou negativas em nada altera o valor da área. Porém é bom lembrar que
a área calculada está no plano XY e dependerá, portanto, do sistema de referência empregado. A área no

127
Rodrigues, D. D. - 2008 Informações topográficas a partir do modelo numérico do terreno

plano topográfico com uma altitude média hm, acima nível do mar, é maior que a área em um plano
topográfico ao nível do mar e dada por:

2
⎛ R + hm ⎞
S hm = S ⋅ ⎜ ⎟ (7.52)
⎝ R ⎠

sendo R o raio da Terra.


Obviamente, a unidade da área determinada depende da unidade empregada para as coordenadas.
Se as coordenadas estão em metros a área estará em m2 e poderá ter que ser transformada para uma outra
unidade qualquer como hectares, por exemplo.

Tabela 7.3: Regra


minemônica
para cálculo
de áreas
+
Ptº X (m) Y (m)
+
1 X1 Y1 SPD − SPA
+
S= (m2)
2 X2 Y2 + 2
3 X3 Y3
+ = SPA
4 X4 Y4
+
5 X5 Y5
+
1 X1 Y1
+
= SPD

4
3

1
2.1
Y

2.3

2.2
X

Figura 7.4: Determinação de área

EXERCÍCIOS:
Dados modelo numérico planimétrico, Tabela 7.4, e o croqui, Figura 7.5, de um lote, calcular:
i) A área do polígono definido pelos pontos 1, 2, 2.2, 3, e 4.
ii) Calcular a ordenada do ponto 2.3 (Y2.3) para que a área interna ao polígono formado pelos pontos 2,
2.1, 2.2, 2.3 e 3 seja 217,5162 m2 .

128
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

Tabela 7.4: Modelo numérico de terreno 4 N


Coordenadas topográficas
Identidade
(m)
do ponto
X Y
1 0,000 0,000 1

2 31,926 - 42,806 3
2.1 50,381 - 41,510
P: YP = -42,73 m
2.2 47,222 - 47,895
2 2.3 2.1
2.3 32,081 Y2.3
2.2
3 63,614 - 27,271

4 29,771 40,655
Figura 7.5: Croqui do lote que tem as
coordenadas na Tabela 7.3

Observe, portanto, a necessidade de visualizar o croqui para calcular áreas.

6- CÁLCULO DE VOLUMES

O cálculo de volumes em topografia é feito, normalmente, empregando figuras e fórmulas conhecidas


da geometria espacial básica. A Figura 7.6 mostra algumas figuras geométricas básicas comumente
usadas. O cáculo do volume se baseia no produto da área da base (B) pela altura (h) do sólido.

r
l3 b

. .. l2
l1 B
R

Figura 7.6: Algumas figuras geométricas básicas

A seguir são apresentadas fórmulas que fornecem o volume de diferentes sólidos:

6.1- Volume de um paralelepípedo V = l1 ⋅ l 2 ⋅ l 3 (7.53)

B⋅h
6.2- Volume de uma Pirâmide: V= (7.54)
3
h
6.3- Volume de um Tronco de uma Pirâmide: V= ( B + b + B.b ) (7.55)
2

129
Rodrigues, D. D. - 2008 Informações topográficas a partir do modelo numérico do terreno

π ⋅ R2 ⋅ h
6.4- Volume de um Cone: V= (7.56)
3
π ⋅ h ⋅ (R 2 + R ⋅ r + r 2 )
6.5- Volume de um Tronco de Cone: V= (7.57)
3

4 ⋅ π ⋅ R3
6.6- Volume de uma Esfera: V= (7.58)
3

6.7- Volume de um tetraedro: Na Figura 7.7 estão representados dois tetraedros com vértices
nos pontos O, P, Q e R. O da 7.7-a tem os lados perpendiculares
entre si no ponto O.

R
Q r
VOR
Q r
l3 O
VOQ
R r
O VOP
l2
l1 P P

a b

Figura 7.7: Volume de tetraedros

A equação para calcular o volume de um tetraedro é a mesma para o volume da piramide, ou seja,
um terço do produto da área da base pela altura. Como para o tetraedro da Figura 7.7-a a área da base é a
metade da área do retângulo de lados iguais a l1 e l2 e a altura é l3, tem-se:

1 l1 ⋅ l 2 l ⋅l ⋅l
V= ⋅( ) ⋅ l3 = 1 2 3 (7.59)
3 2 6

ou seja, o volume do tetraedro é um sexto do volume do paralelepipedo.


r r r
O volume V de um paralelepipedo cujos lados são definidos por três vetores, VOP , VOQ e VOR da

Figura 7.7-b, por exemplo, pode ser determinado empregando o produto misto ou triplo produto escalar.
Assim, o volume V é o valor absoluto do seguinte determinante:

∆X OP ∆YOP ∆Z OP
r r r
V = VOP • ( VOQ × VOR ) = ∆X OQ ∆YOQ ∆Z OQ (7.60)

∆X OR ∆YOR ∆Z OR
Portanto,

130
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

∆X OP ⋅ ( ∆YOQ ⋅ ∆Z OR − ∆YOR ⋅ ∆Z OQ )
V= + ∆YOP ⋅ ( ∆X OR ⋅ ∆Z OQ − ∆X OQ ⋅ ∆Z OR ) (7.61)
+ ∆Z OP ⋅ ( ∆X OQ ⋅ ∆YOR − ∆X OR ⋅ ∆YOQ

Lembrando que o volume do tetraedro O, P,Q, R é um sexto do volume do paralelepípedo.

Se os vetores são perpendicuares entre si, tem-se:

r r r
V = VOP ⋅ VOQ ⋅ VOR (7.62)

que para o paralelepipedo da Figura 7.7-a seria:

V = l1 ⋅ l 2 ⋅ l 3 (7.63)

EXERCÍCIO:
i) Calcular o volume do tetraedro definido pelos pontos O, P, Q e R da Figura 7.1, empregando as
coordenadas da Tabela 7.2.

6.8- Volume de um prisma qualquer:

A Figura 7.7 representa um prisma cuja área da base pode ser a de um trapézio, dada por:

⎛L + l⎞
B=⎜ ⎟⋅a (7.64)
⎝ 2 ⎠

A1
L

a
h

h A2
l

Figura 7.7: Volume de um prisma qualquer

131
Rodrigues, D. D. - 2008 Informações topográficas a partir do modelo numérico do terreno

e o volume dado por:

⎛L + l⎞
V=⎜
(L ⋅ h + l ⋅ h) ⋅ a = (A1 + A 2 ) ⋅ a
⎟ ⋅a ⋅h = (7.65)
⎝ 2 ⎠ 2 2

onde A1 e A2 são as áreas dos retângulos envolvidos, que podem interpretados como seções transversais.
Dessa forma, o volume pode ser visto como o produto da média das áreas das seções transversais pela
distância entre estas seções.
Observe então que um valor aproximado para o volume total representado na Figura 7.8 pode ser
calculado empregando a seguinte equação:

V = h1 ⋅
(A 1 + A 2 ) + h2 ⋅
(A 2 + A 3 ) (7.66)
2 2

onde Ai representa as áreas de seções transversais, obtidas a partir das coordenadas X.Y, equação (7.48),
e hi as distâncias entre seções transversais.

A1

A2

h1 A3

h2

Figura 7.8: Cálculo aproximado de volume envolvendo


diferentes seções transversais

Em estradas é comum emprego da seguinte equação:

(A 1 + A 2 ) (A 2 + A 3 ) (A n−1 + A n )
V = h1 ⋅ + h2 ⋅ + L + h n−1 ⋅ (7.67)
2 2 2

Se a distância entre as seções transversais, hi, é constante, tem-se:

h
V= ⋅ ( A 1 + 2 ⋅ A 2 + 2 ⋅ A 3 + L + 2 ⋅ A n−1 + A n ) (7.68)
2

132
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

EXERCÍCIO:
i) O croqui abaixo, Figura 7.9, representa o trecho de um terreno demarcado pelas estacas 1.1, 1.2,
…e 2.3 separadas tanto num quanto noutro sentido por distâncias horizontais de 10 m. As cotas
ou alturas do terreno, em metros, estão representadas entre parênteses. Calcular o volume acima
do plano de referência de cota igual a 10 m.

1.1 10 m 1.2 1.3


(14,4) (15,0) (16,2)

10 m

2.1 2.2 2.3


(13,2) (14,0) (15,3) m

Figura 7.9 – Malha de pontos com cotas conhecidas

Neste caso, basta calcular a área da base, um quadrado com 10 m de lado, e multiplicá-la pela cota
média do quadrado.

7- OUTRAS INFORMAÇÕES GEOMÉTRICAS

Além de distâncias, ângulos, áreas e volumes, é comum a necessidade de se conhecer a inclinação


máxima de uma plano, a direção da linha de inclinação máxima ou a direção da tangente à curva de nível
num determinado ponto.

7.1- Ângulo vertical de inclinação máxima do plano definido pelos pontos P, Q e R:

Na Figura 7.10 îmáx é o ângulo vertical entre o vetor área e o eixo Z, ou seja, é o ângulo vertical de
inclinação máxima do plano PQR. A reta ab, linha de inclinação máxima, é definida pela interseção do plano
r
inclinado PQR com o plano vertical definido pelo eixo Z e o vetor A .

De acordo com a equação (7.13),

133
Rodrigues, D. D. - 2008 Informações topográficas a partir do modelo numérico do terreno

r r
Z• A
cos îmáx = r r (7.69)
Z ⋅ A

r
Z r
Z

r
R b A
r b
r VQR îmáx
VPR
r Plano îmáx
A Q • •
horizontal
P
îmáx
r
VPQ a

• P

a a b
Figura 7.10 – Ângulo vertical de inclinação máxima do plano definido pelos pontos P, Q e R

Se o vetor unitário

r r
Z = 1⋅ k (7.70)

Então
r r
Z • A = ∆Z A (7.71)
e
⎛ ∆Z A ⎞
îmáx = ar cos ⎜ ⎟ (7.72)
⎜ ∆X 2 + ∆Y 2 + ∆Z 2 ⎟
⎝ A A A ⎠

r
onde ∆X A , ∆YA e ∆Z A , são as componentes do vetor A , calculadas em função das coordenadas

espaciais dos pontos P, Q e R empregando as equações (7.26), (7.27) e (7.28).

7.2- Direção da linha de inclinação máxima

r r
A Figura 7.11-a mostra o vetor H resultante do produto vetorial entre o vetor unitário Z e o vetor
r r r r
A . Uma vez que H é perpendicular ao plano definido pelos vetores Z e A , ele será perpendicular à linha
de inclinação máxima, estará contido no plano horizontal e pode ser interpretado como a tangente à curva
de nível no ponto P. Já a Figura 7.11-b mostra os ângulos que o eixo Y, eixo norte, faz com a linha
134
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

r
inclinação máxima, r, e com o vetor H , θ. Teta varia de zero a cento e oitenta graus e r de zero a mais ou
menos noventa graus.
Portanto,

r r r
i j k
r r r 0 1 r 1 0 r 0 0 r
H = Z × A = 0 0 1 = ⋅i + ⋅j + ⋅k
∆YA ∆Z A ∆Z A ∆X A ∆X A ∆YA
∆X A ∆YA ∆Z A
(7.73)
r r
= (0 − ∆YA ) ⋅ i + ( ∆X A − 0) ⋅ j + (0 − 0 ) ⋅ k

ou seja:

r r r
H = − ∆YA ⋅ i + ∆X A ⋅ j (7.74)

r r b
r Z Y
Z

b
HZ
r
A r
îmáx


P •• θ
P •
r r
a H H

a a b

Figura 7.11 – Rumo norte da linha de inclinação máxima (r) e da tangente à curva de
nível no ponto P (θ).

Se o vetor unitário

r r
Y = 1⋅ J (7.75)

Então

r r
H • Y = ∆X A (7.76)

135
Rodrigues, D. D. - 2008 Informações topográficas a partir do modelo numérico do terreno

r r
que também é igual ao produto entre as normas dos vetores Y e H e o co-seno do ângulo, menor que
180º, entre estes vetores – ângulo θ da Figura 7.11-b -, ou seja:
r r r r r
H • Y = Y ⋅ H ⋅ cos θ = H ⋅ cos θ (7.77)

Portanto

⎛ ⎞
⎜ ∆X ⎟
θ = ar cos ⎜ r A ⎟ (7.78)
⎜ H ⎟
⎝ ⎠
ou

⎛ ∆X A ⎞
θ = ar cos ⎜ ⎟ (7.79)
⎜ ∆X 2A + ∆YA2 ⎟⎠

r
Substituindo os valores das componentes do vetor A , dadas pelas equações (7.26) e (7.27), tem-se:

r r r
H = ( ∆X PQ ⋅ ∆Z PR − ∆Z PQ ⋅ ∆X PR ) ⋅ i + ( ∆YPQ ⋅ ∆Z PR − ∆YPR ⋅ ∆Z PQ ) ⋅ j (7.80)

E portanto,

⎛ ⎞
⎜ ∆YPQ ⋅ ∆Z PR − ∆YPR ⋅ ∆Z PQ ⎟
θ = ar cos ⎜ ⎟ (7.81)
[ ]
1
⎜ (∆X ⋅ ∆Z ⎟
PR − ∆Z PQ ⋅ ∆X PR ) + (∆YPQ ⋅ ∆Z PR − ∆YPR ⋅ ∆Z PQ )
2 2 2
⎝ PQ ⎠

com θ no intervalo [0 a 180º]. Obviamente o denominador da equação (7.80) não pode ser nulo.

Da Figura 7.11-b verifica-se que o ângulo entre o eixo Y e a linha de inclinação máxima, r, é dado por:

r = θ − 90 0 (7.82)

com r no intervalo [0 a ± 90º].

EXERCÍCIOS:
i) Calcular o ângulo de inclinação máxima do plano PQR, Figura 7.10, empregando as coordenadas
da Tabela 7.2.
ii) Calcular o rumo norte da linha de inclinação máxima do plano PQR, Figura 7.10, empregando as
coordenadas da Tabela 7.2.

136
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

Embora todas as informações geométricas possam ser determinadas diretamente do arquivo de


coordenadas, viu-se que no cálculo de áreas há necessidade de se conhecer pelo menos um croqui do
polígono. Além disso, projetos de engenharia só podem ser realizados a partir de uma descrição gráfica do
terreno, planta ou mapa.

137
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

VIII – DESENHO PLANIMÉTRICO


__________________________________________________________________________
Se a partir de um modelo numérico do terreno é possível extrair todas as informações posicionais,
geométricas e temáticas, para que desenhar? ou, em outras palavras, para que transformar a descrição
numérica em gráfica? Por várias razões. A descrição gráfica permite visualizar o espaço e transmite
informações sensoriais que uma tabela de números não transmite. È sobre a descrição gráfica que o Arquiteto
elabora o plano diretor ou o projeto arquitetônico; que o Engenheiro Civil projeta a estrada ou a ponte, que o
Engenheiro Agrimensor projeta o loteamento ou o sistema cartográfico municipal. Para melhorar ainda mais a
transmissão de informações sensoriais pode-se imprimir as feições levantadas sobre uma imagem de satélite;
adicionar fotografias à margem da planta gráfica; gerar a visualização em perspectiva ou 3D ou transformar a
descrição gráfica em maquetes - que pode ser física ou “eletrônica”. Há também aqueles que preferem a
descrição dos limites em uma língua falada e escrita, como os profissionais do Direito, e aí, tem-se que
transformar a descrição gráfica em memorial descritivo, do qual se gera uma escritura imobiliária.
Por se tratar de uma atividade em plena evolução tecnológica, este assunto merece texto específico
que o aborde com a profundidade e o detalhamento necessários aos Engenheiros Agrimensores e Cartógrafos.
Para isso, no curso de Engenharia de Agrimensura da Universidade Federal de Viçosa foi criada a disciplina
‘desenho topográfico digital’, que além de ensinar o uso de CADs tem como objetivo estudar algoritmos de
desenho e modelos matemáticos de interpolação de curvas de nível e construção de modelos digitais do
terreno.
Neste capítulo, estudar-se-á um pouco sobre planta planimétrica, partindo do pressuposto que o
estudante já cursou disciplinas específicas de desenho técnico, e elaborar-se-á o desenho sem apoio do
computador, acreditando que o fato de executar determinada tarefa de engenharia, passo a passo, à mão, ao
menos uma vez, capacita melhor o engenheiro para o desenvolvimento ou uso programas de computador, bem
como para a análise dos resultados.

1- INTRODUÇÃO

A Figura 8.1 tem o objetivo de mostrar as diferentes formas de descrever um espaço e que a relação
biunívoca entre as diferentes formas deve ser garantida.
Transformar um modelo numérico numa descrição gráfica, ou seja, desenhar, é atividade já bem
conhecida dos engenheiros e, hoje em dia, é comum empregar softwares específicos para tal fim. Até mesmo a
transformação de plantas gráficas em modelos numéricos, ou seja, a digitalização de plantas, é hoje, comum.
Plantas gráficas antigas, armazenadas em papel, em diversas repartições públicas e privadas, são hoje em dia
digitalizadas, facilitando o armazenamento e o manuseio de tais plantas. Para isso empregam-se as chamadas
mesas digitalizadoras ou scanners e diversos softwares que, inicialmente, obtêm os parâmetros que
relacionam os sistemas de coordenadas da mesa, ou da imagem “escaneada”, e da planta. As transformações
de descrições gráficas e numéricas em maquetes e modelos matemáticos não são comuns, mas são atividades
que devem ser pesquisadas e cada vez mais realizadas pelos Engenheiros Agrimensores e Cartógrafos.

137
Rodrigues, D. D. - 2008 Desenho Planimétrico

O produto resultante de uma descrição gráfica pode ser chamado de ‘carta’ ou ‘mapa’, ou ‘planta’. A norma
para execução de levantamentos topográficos, ABNT 13133, define os termos carta ou mapa e planta, da
seguinte forma:

Desenho (CAD)
Modelo Numérico Memorial
Planta gráfica
do Terreno (MNT). descritivo
Digitalização

Modelos
matemáticos

Maquete (física ou
eletrônica)

Figura 8.1 – Diferentes formas de descrever um espaço e suas relações

• Carta ou Mapa: Representação gráfica sobre uma superfície plana, em escalas médias e pequenas,
que leva em consideração a curvatura da terra, sendo, portanto, resultante de operações
geodésicas e cartográficas.
Os ingleses e americanos dão preferência ao termo mapa, enquanto os franceses, ao termo
carta. No Brasil, o termo carta é empregado quando são transmitidas informações técnicas –
distâncias, ângulos, áreas, volumes, rumos etc – confiáveis e com responsabilidade técnica. Já o
termo ‘mapa’ é empregado quando são transmitidas informações ilustrativas, sem rigor técnico.
A confecção de cartas ou mapas também é assunto a ser estudado em texto específico.
• Planta: Representação gráfica de uma parte limitada da superfície terrestre sobre um plano horizontal
local, em escalas maiores que 1:10 000, para fins específicos, sem considerar a curvatura da
terra.
O termo planta pode ainda ser acrescido dos adjetivos ‘planimétrica’, ‘altimétrica’ e
‘planialtimétrica ou topográfica’ para os respectivos tipos de informação geométrica transmitida.

A planta topográfica equivale a uma projeção central do relevo e das feições de um terreno sobre um
plano horizontal tangente ao geóide, com ponto de vista no centro da terra. A Figura 8.2-a, extraída de
ESPARTEL – 1982, mostra a projeção central dos pontos A, B e C sobre uma superfície esférica ao nível
médio dos mares. Porém, no campo de abrangência da topografia – região para a qual se pode desprezar a

138
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

curvatura da terra – a verticais de projeção podem ser consideradas paralelas e, conseqüentemente, a


projeção central se torna ortogonal. A Figura 8.2-b é uma tentativa de representar a relação entre os limites de
um plano topográfico – cerca de 60 Km de diâmetro - e o raio de uma Terra esférica – aproximadamente 6370
Km – o que leva a um ângulo de convergência de 32’ entre as verticais dos limites extremos. Já a Figura 8.3
mostra a projeção ortogonal de um ponto A sobre a superfície física da Terra após ter sido corrigido o efeito da
altitude.

d ≈ 60 km

R ≈ 6.370 km

a – Projeção central (Fonte: ESPARTEL, 1982) b – Limites da topografia

Figura 8.2 – Projeção central e limites da topografia.

Desenhar uma planta topográfica consiste, portanto, em descrever graficamente informações posicionais,
geométricas e temáticas de um espaço, representando em um plano os ângulos horizontais em verdadeira
grandeza e as distâncias horizontais reduzidas do efeito da altitude e segundo uma razão constante.
À relação constante com que as distâncias horizontais são reduzidas dá-se o nome de escala.

2- ESCALA

Definição: É a razão entre uma determinada distância na planta (d) e sua correspondente ou homóloga, no
terreno (D), ou seja,

d
E = (8.1)
D

139
Rodrigues, D. D. - 2008 Desenho Planimétrico

ssfA

• Superfície física
hm A

sgA
A”
Plano topográfico


sgA A’
Geóide

Figura 8.3 – Projeção ortogonal ( A” ) do ponto A, após ter sido corrigido o efeito da altitude ( A’ ).

Caso a escala (E) esteja entre zero e um, a planta será de redução; caso E seja maior 1, de ampliação;
se for igual a 1, a planta estará em tamanho natural, ou 1para 1, e se E for igual a -1, a planta será refletida,
espelhada.

Quando se diz a um leigo que 1 cm na planta corresponde a 20 m no terreno está se falando de uma
escala de redução que pode ser representada das seguintes formas:

1cm 1 cm 1
E= = = (8.2)
20 m 2000 cm 2000

Outras formas, empregadas na engenharia, para representar essa mesma escala são: 1÷ 2000 ou 1:2000. O
denominador da escala é chamado ‘módulo’, (M), ou ‘título’, da escala. Assim,

d 1
E= = (8.3)
D M

e quanto maior o módulo, menor será escala.

140
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

Teoricamente há um número infinito de escalas; no entanto, na prática, o número de escalas


usadas em topografia é pouco. A Tabela 8.1, parte dela extraída de ESPARTEL, 1982, traz algumas
escalas empregadas em mapeamento de acordo com a finalidade da planta.

Tabela 8.1 – Escalas empregadas em mapeamento de acordo com a finalidade.

Finalidades Escalas

Detalhes de construção (“as built”) 1:25; 1:50

Lotes urbanos, plantas baixas de construções (“as built”) 1:100; 1:250

Lote rural, loteamento, planta cadastral 1:500; 1:1 000; 1:2 000

Plantas de municípios ou partes de municípios ou grandes propriedades rurais 1:5 000; 1:10 000

1:25 000; 1:50 000;


Cartas estaduais
1:100 000

Mapa rodoviário. 1:2 000 000

Já a NBR 13133 recomenda as seguintes escalas para levantamentos por poligonação de acordo com a
classificação da poligonal, Tabela 8.2.

Tabela 8.2 – Escalas de acordo com o


tipo de poligonal (ABNT
13133).
Tipo de poligonal Escalas

IP ou IIP 1/500

IIIP 1/1000

IVP 1/2000

VP 1/5000

3- ERRO DE GRAFICISMO

A visão humana é naturalmente limitada. Segundo DOMINGUES, 1979, o diâmetro médio dos
elementos sensíveis da retina é da ordem de 4,5 µ, que corresponde a um poder separador, resolução
espacial, do olho humano nu de aproximadamente 1’; este ângulo, à distância mínima normal de visão, 25
cm, corresponde a um intervalo de cerca 0,1 mm.
A NBR 13133 define erro de graficismo como sendo o erro máximo admissível para lançamento de
pontos e traçado de linhas na elaboração de desenho topográfico. Para a norma esse erro equivale a duas
vezes a acuidade visual, ou seja, 0,2 mm.

141
Rodrigues, D. D. - 2008 Desenho Planimétrico

Hoje em dia, ao realizar desenhos em vídeo com a ajuda de programas de computador, atingir esse
objetivo, ficou relativamente fácil. Porém, ao imprimir o desenho é necessária atenção à resolução e à
‘qualidade de linha’ da impressora ou do ploter. O erro de graficismo cometido na impressão é diretamente
proporcional à resolução do plotador automático. Um erro de 0,2 mm no lançamento de um ponto equivale a
uma resolução de 127 ppp (pontos por polegada - dpi), ou seja, esta é a resolução mínima admitida para o
ploter ou a impressora a ser usada para que o desenho fique de acordo com a norma.

4- ESCALA MÁXIMA

Embora os traçadores automáticos superem com facilidade o erro de graficismo, engenheiros,


arquitetos, geógrafos, etc ao navegarem ou projetarem sobre plantas gráficas estarão limitados pela acuidade
visual de cada um.
Com a possibilidade de manusear mapas por computador, ficou fácil ampliá-los ou reduzi-los, no
entanto, deve haver um limite para a ampliação. Esse limite deve ser definido pela precisão alcançada na
geração dos dados.
Como em todo e qualquer trabalho experimental, seja de topografia ou não, há erros no levantamento
dos dados. Como em topografia as distâncias são normalmente reduzidas, e não ampliadas, e como um olho
humano, em condições normais de trabalho, não consegue distinguir dois pontos ou duas linhas separadas
por distâncias menores que 0,2mm, devem-se estabelecer a escala máxima de uma planta, de forma que o
erro ou a imprecisão cometida no levantamento e processamento dos dados não apareça no desenho.
Se a incerteza planimétrica de um trabalho topográfico é σP e essa imprecisão não pode aparecer na
descrição gráfica, σP deve corresponder à no máximo 0,2 mm na planta, ou seja,

0,2 mm
E max = (8.4)
σP

lembrando que a escala máxima, Emáx, é dada por:

1
E máx = (8.5)
Mmín

ou
σ P (mm )
Mmín = (8.6)
0,2 (mm )

Desta forma, pode-se concluir que:


• quanto melhor a precisão do levantamento, menor σP, menor Mmín e maior a escala máxima ou
• o erro admissível na determinação de um ponto do terreno diminui à medida que se aumenta
escala máxima requerida para a planta a ser confeccionada;

142
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

A Tabela 8.3 mostra módulos de escalas máximas para diferentes precisões topográficas. Nela verifica-
se que, se a incerteza na determinação de um ponto chega a 2 m, a escala máxima da planta deve ser de
1/10 000. Se a imprecisão for da ordem de 40 cm, a escala máxima será de 1/2.000, e assim por diante. Daí,
diz-se que quanto menor o módulo de uma escala, melhor a sua precisão.

Tabela 8.3– Escalas máximas em função da


precisão topográfica
Precisão ou σP Módulo da escala máxima

2 cm 100

10 cm 500

20 cm 1.000

40 cm 2.000

1m 5.000

2m 10.000

Por uma questão de honestidade na transmissão de informações, a escala máxima deve fazer parte
das informações constantes na planta.

Se a escala máxima de uma planta é 1/10 000 e amplia-se esta planta para a escala de 1/500,
objetos e distâncias maiores que 10 cm deveriam estar contidos na nova planta, mas não estarão, uma vez
que não estavam na planta original. Dessa forma uma planta originada de uma outra por ampliação poderá,
se não informar ao leitor, induzi-lo a conclusões erradas sobre a precisão do trabalho. Relativo à ampliação
de cartas o Decreto da Presidência da República no 89817/84 em seu artigo 11 estabelece o seguinte:

Art. 11 Nenhuma folha de carta será produzida a partir da ampliação de qualquer


documento cartográfico.
§1º Excepcionalmente, quando isso se tornar absolutamente necessário, tal fato deverá
constar explicitamente em cláusula contratual no termo de compromisso,

§2º Uma carta nas condições deste artigo será sempre classificada com exatidão inferior
à do original, devendo constar obrigatoriamente no rodapé a indicação "Carta ampliada a
partir de (. .. documento cartográfico) em escala (... tal)".

§3º Não terá validade legal para fins de regularização fundiária ou de propriedade imóvel,
a carta de que trata o "caput" do presente artigo.

Obviamente tal artigo deve ser aplicado também às plantas topográficas. Já a confecção de plantas a
partir da redução de outras é perfeitamente admissível. No entanto, objetos que na planta original estavam
representados em escala, poderão, após a redução, ter que ser representados por símbolos ou convenções.
Detalhes geométricos perceptíveis na planta original deixarão de sê-lo e, a fim de reduzir o tamanho dos
arquivos, pontos e informações poderão ser eliminados. Por exemplo, o trecho de um rio cheio de curvas,
perceptíveis na escala 1/500, poderá ser representado por uma reta e os pontos definidores das curvas,
eliminados criteriosamente se a planta é reduzida para, por exemplo, 1/5 000. O processo de eliminação de
143
Rodrigues, D. D. - 2008 Desenho Planimétrico

informações desnecessárias em plantas topográficas é denominado ‘generalização cartográfica’ e deve ser


estudado na disciplina desenho topográfico digital.
Quando a área a ser desenhada é demasiadamente extensa para ser representada em uma única
folha, deve-se desmembrá-la de forma que cada parte seja desenhada numa folha parcial, na escala capaz
de representar convenientemente os detalhes levantados sem a perda de dados e informações necessárias
ao fim a que se destina a planta impressa.

5- DESENHO DA PLANTA

Definida a escala em que o desenho vai ser impresso, o passo seguinte é transformar as coordenadas
do modelo numérico do terreno em coordenadas de planta.

5.1- Cálculo das coordenadas de planta

O cálculo das coordenadas de planta, (xp,yp), é feito dividindo as coordenadas de terreno, (X,Y),
normalmente em metros, pelo módulo da escala; lembrando que as coordenadas de planta são, também
normalmente, expressas em centímetros. Assim,

X (m)
xp = (cm) (8.6)
M
100

Y (m)
yp = (cm) , (8.7)
M
100

arredondando os valores encontrados para o décimo do milímetro.

A seguir, conhecendo os valores das diferenças entre as abscissas máxima e mínima da planta, ou seja,
conhecendo-se

∆xp máx = xp máx − xp mín (8.8)

e ∆yp máx = yp máx − yp mín (8.9)

escolhe-se o formato e a orientação do papel.

144
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

5.2- Escolha do formato e orientação do papel

A partir de uma convenção no sistema alemão DIN (Deutsches Institutfür Normung e.V.), adotada
no Brasil desde 1954, a International Organization for Standardization (ISO) estabeleceu a norma ISO 216
que define uma série de formatos de papel começando no formato básico denominado A0. Esse formato é
determinado de forma que a área do papel seja 1 m2 e seus lados estejam na proporção de um para raiz de
dois, o que, arredondando ao milímetro, leva a um retângulo de 841 x 1189 mm. Outros formatos,
denominados A1, A2, até o A10, são obtidos dobrando ao meio a folha de formato anterior e mantendo
sempre a mesma proporção entre os lados. Isso quer dizer, por exemplo, que dobrando o A0 se obtém o
A1, dobrando o A1 se obtém o A2 e assim por diante até o formato A10, de 26 x 37 mm, conforme mostra a
Figura 8.4-a.
A Figura 8.4-b mostra as margens normalmente aplicadas: 25 a 30mm para a lateral esquerda e de
5 a 15mm para as outras laterais.

A norma brasileira que trata desse assunto é a NBR 10068: Folha de desenho – leiaute e dimensões.

A2

A1
A4
A3
A5

a b

Figura 8.4 – Formatos e margens normalmente empregadas

A Tabela 8.4 mostra as dimensões dos formatos utilizados para a confecção de plantas.
Se a diferença entre as abscissas máxima e mínima, ∆xp max , for maior que a diferença entre as

ordenadas máxima e mínima, ∆yp max , posiciona-se o papel na posição horizontal (ou “paisagem”); caso
contrário, posiciona-o na posição vertical (ou “retrato”), não se esquecendo de estabelecer as margens
conforme a Figura 8.4-b.

145
Rodrigues, D. D. - 2008 Desenho Planimétrico

Tabela 8.4: Formatos e dimensões de


papeis empregados para
impressão de plantas
Formato Tamanho(mm) Área (m2)
2xA0 1189x1682 2

A0 841x1189 1

A1 594x841 0,50

A2 420x594 0,25

A3 297x420 0,1250

A4 210x297 0,0625

A5 148x210 0,0313

5.3- Lançamento dos pontos e desenho do reticulado

Se o desenho vai ser feito à mão – o que é raro hoje em dia -, ele deve ser confeccionado inicialmente
em um papel milimetrado após estabelecer a origem e orientação do sistema de coordenadas topográficas -
aqui é interessante buscar fazer um paralelo com uma tela de vídeo e o uso de um “computer aided design
(CAD)”. Calculadas as coordenadas de planta, definidos o formato e a orientação do papel e estabelecido o
sistema de coordenadas, o próximo passo é lançar os pontos levantados. Uma boa prática é lançar os pontos
por tema (ou camadas ou layers), ou seja, lançam-se os pontos definidores de limites, construções, vegetação,
hidrografia, etc, não necessariamente nessa ordem.

Para facilitar o lançamento de pontos traça-se um quadriculado no papel de 10 em 10 cm (ABNT


13133) ressaltando as coordenadas inteiras escritas nas bordas da folha. Esse reticulado além de facilitar o
lançamento de pontos servirá para encontrar e medir coordenadas de pontos já lançados, agilizando a leitura
da planta e contribuindo para reduzir o efeito de dilatação do papel nas coordenadas extraídas. Com o
reticulado não há necessidade de medir uma coordenada desde a origem do sistema; basta medi-la a partir do
cruzamento do reticulado mais próximo e isto reduz o efeito da dilatação ou contração do papel.

Para feições ou objetos que não puderem ser representados em escala, devem-se empregar símbolos
ou convenções para representá-los, de acordo com a norma. A Figura 8.5 mostra as convenções topográficas
publicadas na ABNT 13133.

Os instrumentos utilizados no lançamento dos pontos devem estar de acordo com a escala adotada.
Os pontos de apoio, ou estações topográficas, devem ser lançados utilizando-se, preferencialmente,
coordenatógrafo de boa precisão, porém esses pontos não devem ser ligados entre si, ou seja, não se deve
desenhar a poligonal. Além das convenções pode-se escrever na planta o nome próprio dos lugares e feições
(topônimos).

Depois de confeccionado o rascunho, realiza-se a cópia em papel dimensionalmente estável. O


desenho final poderá ser monocromático, em tinta preta, ou policromático, empregando a cor azul para

146
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

hidrografia, a verde para vegetação, a vermelha para edificações, estradas, ruas, calçadas, caminhos etc, e a
preto para legenda, reticulado e toponímia.

Figura 8.5: Convenções topográficas de acordo com ABNT 13133.


Fonte: www.der.sp.gov.br – 06/2007

Deve-se ter cuidado especial com as espessuras e tipos de linhas bem com o tamanho, tipos e
orientações das escritas. Um controle das espessuras das linhas serve para tornar a leitura da planta mais
agradável, menos cansativa. Uma planta não deve conter nomes ou números ilegíveis nem excessivamente
grandes. Recomenda-se consultar a NBR 8402: Execução de caracteres para escrita em desenho técnico e a
NBR 8403: Aplicação de linhas em desenhos – tipos de linhas – larguras de linhas.

147
Rodrigues, D. D. - 2008 Desenho Planimétrico

5.4- Metadados ou metainformações

Embora o termo metadados seja utilizado quando se trata de arquivos digitais, ele será empregado
aqui com o intuito de familiarizá-lo entre os iniciantes das Engenharias de Agrimensura e Cartográfica.
Metadados pode, de forma simplificada, ser definido como ‘dados sobre dados’. Metadados, ou
metainformações, são dados ou informações que descrevem, dizem do que se tratam, dão significados,
orientações, limites, etc, a outros dados ou informações.

Em uma planta topográfica devem constar as seguintes informações:

• Título identificando a planta ou o arquivo;


• Município, distrito e localidade onde se situa a área descrita. Uma boa forma de fazer
isso é colocando na margem da folha uma planta de situação que pode ser parte de um
mapa rodoviário, carta ou imagem aérea;
• A escala do desenho, inclusive a escala gráfica;
• A orientação geográfica ou magnética com a data de observação;
• Uma legenda com símbolos e convenções utilizadas de acordo com a norma;
• Desvio padrão verificado no processo de elaboração e classe da planta;
• A escala máxima;
• Definição e realização do sistema topográfico;

• O reticulado de 10 em 10 cm com as coordenadas no lado esquerdo e inferior da folha;

• Os responsáveis pela execução;

• Data da edição
• Nome, CREA e assinatura do responsável técnico.

Caso seja uma planta relativamente pequena com poucas informações, como são normalmente as
plantas de limites de lotes, devem ainda constar as distâncias, os azimutes, perímetros e áreas de interesse,
bem como uma tabela com as coordenadas, e seus desvios padrão, dos pontos definidores dos limites e dos
pontos de apoio. As distâncias devem estar em metros com no máximo três casas decimais, os azimutes em
graus, minutos e segundos inteiros e a área em hectare com quatro casas decimais.

Para saber onde e como colocar estas informações na planta, consultar a NBR 10068 e a NBR 10582:
Conteúdo da folha para desenho técnico .

5.5- Escala Gráfica

Segundo DOMINGUES (1979), a escala gráfica é a representação gráfica de uma escala nominal
ou numérica.

148
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

Esta forma de representação da escala é utilizada, principalmente, para fins de acompanhamento


de ampliações ou reduções de plantas ou cartas topográficas, em processos fotográficos comuns ou xerox,
cujos produtos finais não correspondem à escala nominal neles registrada.

A escala gráfica é também utilizada no acompanhamento da dilatação ou retração do papel no


qual o desenho da planta ou carta foi realizado. Esta dilatação ou retração se deve, normalmente, a alterações
ambientais ou climáticas do tipo: variações de temperatura, variações de umidade, manuseio, armazenamento,
etc..

A escala gráfica fornece, rapidamente e sem cálculos, o valor real das medidas executadas sobre
o desenho, qualquer que tenha sido a redução ou ampliação sofrida por este.

6- MEMORIAL DESCRITIVO

Memorial descritivo é empregado normalmente para descrever limites e confrontações de lotes urbanos
ou rurais.
É a partir do memorial descritivo que se gera a escritura pública imobiliária. O memorial deve conter um
cabeçalho onde se identifica o imóvel, o proprietário, o município, a comarca, a unidade federativa e informa o
perímetro e a área do imóvel.
A seguir, em escrita corrente, sem rasuras nem espaços em branco, descreve-se o perímetro do
imóvel, informando as coordenadas dos vértices, os azimutes e as distâncias entre vértices e os nomes dos
confrontantes, guardando absoluta identidade com a planta do imóvel.
A descrição do perímetro e das confrontações deve começar no vértice situado mais ao norte e à oeste
e seguir o limite no sentido horário, indicando as coordenadas do vértice de partida, o azimute e a distância até
o próximo vértice, separando cada lado descrito por ponto e vírgula.
Ao final do relatório informar a definição e realização do sistema topográfico, datar e assinar.
Para mais informações sobre memorial descritivo de imóveis rurais consultar a “Norma técnica para
georreferenciamento de imóveis rurais”, do INCRA.

7- RELATÓRIO TÉCNICO

Quando do término de todo e qualquer levantamento topográfico ou serviço de topografia deve-se


confeccionar o relatório técnico, que deve conter, no mínimo, os seguintes tópicos:
I- TITULO: O título visa, com poucas palavras, transmitir uma idéia do que trata o relatório. Deve
estar diretamente relacionado com o objetivo do trabalho
II- FINALIDADES: É a primeira pergunta que se faz a quem solicita um trabalho de topografia.
Devem ser descritas de forma clara e objetiva.
III- LOCALIZAÇÃO: Informar o local, distrito, município e estado onde em que se situa a área
levantada. Uma planta de situação ilustraria bem o relatório.

149
Rodrigues, D. D. - 2008 Desenho Planimétrico

IV- EQUIPAMENTO UTILIZADO: Informar apenas os equipamentos – hardwares e softwares e


acessórios – empregados na realização do trabalho. Informar a precisão,
classificação de acordo com a norma e, se foi calibrado, apresentar informações da
calibração.
V- EQUIPE TÉCNICA: Apresentar os nomes dos envolvidos no trabalho bem como a função
técnica de cada um.
VI- METODOLOGIA: Informar a metodologia de materialização do sistema de referência, a origem
do sistema, a direção do eixo Y, a técnica empregada para levantamento dos dados e
informações, grandezas observadas, metodologia de processamento e desenho e o
período de execução.
VII- RESULTADOS: Apresentar as cadernetas de campo, modelo numérico do terreno - tabela ou
arquivo com identificação, coordenadas, covariâncias e descrição dos pontos
levantados -, informar os erros angular e linear cometidos. Anexar fotografias, modelo
digital do terreno, planta gráfica e memorial descritivo. Se o número de pontos
levantados for pequeno, é boa regra colocar uma tabela com o modelo numérico na
própria planta, junto com a descrição gráfica.
VIII- CONCLUSÕES: Informar as conclusões com relação à precisão alcançada, a escala máxima
em que a descrição gráfica pode ser feita e as finalidades ás quais servem os
resultados.

Ao final, o responsável técnico deve datar e assinar.

8– INFORMAÇÕES TOPOGRÁFICAS A PARTIR DE UMA PLANTA PLANIMÉTRICA

Como já dito antes, o objetivo de uma descrição topográfica é transmitir informações posicionais,
geométricas e temáticas de um lugar. No caso de plantas planimétricas as informações posicionais e
geométricas se referem ao plano horizontal e não são transmitidas informações altimétricas.
As informações temáticas são transmitidas através de símbolos, convenções e toponímias.
Imprimindo a planta sobre uma imagem aérea e/ou colocando fotografias da área nas margens da planta,
melhora-se a transmissão de informações temáticas e transmitem-se também informações sensoriais.

8.1- Coordenadas topográficas

As informações posicionais, ou as coordenadas de pontos de interesse, são extraídas diretamente da


planta caso haja uma tabela de coordenadas à margem da planta ou o ponto se encontre sobre algum
cruzamento do reticulado. Se não, a abscissa pode ser determinada medindo a distância na direção leste-
oeste, do ponto até a linha norte-sul, do reticulado, mais próxima e adicionando esta distância á abscissa da

150
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

linha e a ordenada, medindo a distância na direção norte-sul, do ponto até a linha leste-oeste mais próxima e
adicionando esta distância à ordenada da linha de referência.

8.2- Distâncias horizontais

A informação geométrica mais comumente requisitada em uma planta planimétrica é a distância


horizontal, ou reduzida, entre dois pontos. As distâncias podem ser medidas diretamente com escalímetros,
curvímetros ou régua metálica. Os curvímetros servem para medir principalmente comprimentos de curvas.
Obviamente as distâncias medidas com régua metálica milimetrada devem ser multiplicadas pelo módulo da
escala e a unidade transformada para metros, ou seja:

M
D = d (mm ) ⋅ (m)
1000
(8.10)

8.3- Azimutes e rumos

Os azimutes podem até ser medidos diretamente com transferidores; mas devido à imprecisão desses
instrumentos, eles podem ser melhor determinados a partir das coordenadas extraídas da planta, empregando
a seguinte equação:

Xk − X j xp K − xp j
AZ jk = artg = arctg (8.11)
Yk − Y j yp k − yp j

lembrando, é claro, de verificar o quadrante e somar 180º ou 360º, se necessário. Nesta equação, X e Y são
coordenadas de terreno, em metros, extraídas da planta e xp e yp são coordenadas de planta, em milímetros
ou centímetros.
Os rumos podem ser obtidos a partir dos azimutes.

8.4- Ângulos horizontais

Os ângulos horizontais, que estão representados em verdadeira grandeza na planta, podem ser
determinados a partir dos azimutes das direções envolvidas ou então, empregando a lei dos co-senos:

⎛ b2 + c 2 − a2 ⎞
α = ar cos ⎜ ⎟ (8.12)
⎜ 2bc ⎟
⎝ ⎠

151
Rodrigues, D. D. - 2008 Desenho Planimétrico

sendo que a, b e c podem ser as distâncias de planta, em milímetros ou centímetros, dos lados do triângulo
envolvido.

8.5- Áreas horizontais

A partir de uma planta, áreas horizontais de polígonos no terreno podem ser determinadas
empregando as coordenadas de terreno, extraídas da planta, e a equação de Gauss ou a partir da área do
polígono homólogo na planta que, por sua vez, pode ser determinada das seguintes formas:

i) A partir das coordenadas de planta xp, yp dos pontos definidores do polígono e equação de Gauss;
ii) Contando o número de centímetros e/ou milímetros quadrados existentes dentro do polígono;
iii) Dividindo o polígono em figuras regulares como triângulos, retângulos, trapézios, etc. Aqui vale
lembrar que a área de um triângulo qualquer pode ser determinada empregando a fórmula de Heron:

s = p ⋅ (p − a ) ⋅ (p − b ) ⋅ (p − c ) (8.13)

sendo s área do polígono homólogo na planta e p o semi-perímetro do triângulo, ou seja,

a+b+c
p= (8.14)
2

iv) Utilizando o método da pesagem.


Esse método pode ser empregado se se tem disponível uma balança de precisão. O método se baseia
no princípio de que o peso de um pedaço de papel é diretamente proporcional à sua área. O peso, em grama,
por metro quadrado de um papel é conhecido como “gramagem” do papel. Se a gramagem (gr) do papel, onde
se copiou a figura da qual se quer determinar a área, é conhecida a priori, basta recortar a figura, pesá-la em
uma balança de precisão e calcular

P
s= (m 2 ) (8.15)
gr

sendo P o peso do papel recortado.


Se a gramagem do papel não é conhecida ela pode ser determinada recortando-se, no papel uma
figura padrão de área conhecida (sp) – pode ser uma circunferência de raio conhecido, um retângulo ou
quadrado de lados conhecidos –, pesa-se essa figura padrão e a gramagem será dada por:

Pp
gr = (g / cm 2 ) (8.16)
sp

152
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

e dessa forma a área s, determinada pela equação (8.15), estará em cm2, o que é mais conveniente uma vez
que as áreas de figuras, desenhadas em escalas, são muito pequenas para serem determinadas em m2.
Esse método é comumente empregado em laboratórios de pesquisas que dispõem de balanças de
precisão para determinar pequenas áreas como, por exemplo, área foliar.
Obviamente a área do polígono homólogo deve ser transformada em área de terreno. A Figura 8.5
mostra a relação entre essas áreas. No terreno a área representada é determinada multiplicando os dois lados
do retângulo, ou seja,

S = L ⋅D (8.17)

e se os lados do polígono estão em metros a área estará em m2.

NO TERRENO EM PLANTA

d
D
l
1
E=
M
L

a b

Figura 8.5 – Relação entre área no terreno e área na planta

Para confeccionar a planta os lados são divididos pelo módulo da escala, ou seja,

L
l= (8.18)
M
e
D
d= . (8.19)
M

Como a área s do polígono homólogo representado na Figura 8.5 é dada pelo produto dos lados tem-se,

L ⋅D S
s = l⋅d = 2
= 2
M M
(8.20)
Ou seja,

S = M2 ⋅ s (8.21)

153
Rodrigues, D. D. - 2008 Desenho Planimétrico

Como s normalmente é medido em centímetros ou milímetros quadrados o valor encontrado pela (8.21) será
muito grande e por isso é recomendável dividir o módulo da escala pelo fator de transformação de unidade
antes de realizar a multiplicação.
Observe ainda que se o módulo da escala que multiplica a distância longitudinal (MH) for diferente do
módulo transversal (MV), o que ocorre normalmente no traçado de perfis de terrenos para se ressaltar as
diferenças de nível, a área S do terreno será dada por:

S = MH ⋅ MV ⋅ s (8.22)

Em princípio, um trabalho topográfico começa com o estabelecimento da finalidade; a partir desta


define-se os métodos e instrumentos necessários; coletam-se os dados, processa-os, verifica-se se a
precisão alcançada atende a finalidade estabelecida e escolhe-se a escala máxima com que o trabalho pode
ser representado graficamente. Outra forma de planejar os trabalhos é, a partir da finalidade, estabelecer a
escala máxima, a partir desta, verificar o erro máximo permitido, estabelecer os métodos e instrumentos a
serem empregados, coletar os dados, processá-los e verificar se a precisão alcançada atende as exigências
pré-estabelecidas. Quanto mais preciso for o trabalho, maior será a escala máxima com que os dados
poderão ser representados graficamente e maior o número de aplicações da planta. Uma grande escala
máxima leva a uma multifinalidade do trabalho. Ao final, o trabalho deve ser inspecionado e a planta, com
determinada escala, avaliada. Assunto do próximo capítulo.

154
Topografia: planimetria para Engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

IX - INSPEÇÃO DE PLANTAS TOPOGRÁFICAS


_________________________________________________________________________________

A inspeção tem como objetivo o controle da qualidade de plantas topográficas ou seja,


assegurar o desenvolvimento do levantamento segundo as prescrições e recomendações das
normas.
O plano de amostragem e o grau de rigor da inspeção devem ser de conhecimento antecipado
por condicionarem métodos e instrumentos, ou seja, devem fazer parte dos termos de referência dos
editais de licitações ou das especificações para contratação (NBR 13133).
A obrigação da inspeção é do contratante, exceto quando expresso em cláusula contratual
específica.
_________________________________________________________________________________

1- INTRODUÇÃO

O controle de qualidade de uma planta, assim como de todo e qualquer trabalho de engenharia,
deve ser feito em três diferentes níveis:
• Na escolha e no estabelecimento dos profissionais habilitados, o que, por lei, é feito pelo
sistema CONFEA/CREAs;
• No estabelecimento de normas para execução, o que pode ser feito pela ABNT, CONCAR,
IBGE, INCRA, IGA, prefeituras ou até mesmo pelo contratante e
• Na inspeção, onde se verifica o cumprimento das leis e normas. Especificamente, devem ser
inspecionados em um levantamento topográfico:

a) Levantamento dos pontos de apoio:


Deve-se verificar o método (poligonação, triangulação, trilateração ou GPS), instrumentos
empregados, equipe técnica, metodologia, existência de pontos do SGB, qualidade da
materialização dos pontos de apoio, visibilidade entre os marcos.

b) Levantamento dos pontos temáticos:


Deve-se verificar principalmente a quantidade de detalhes levantados, se estão de acordo com a
finalidade da planta e os métodos e instrumentos utilizados no levantamento.

c) Cálculos:
Verifica-se o método e o software empregados, os erros angular, linear e altimétrico ou os
resultados do ajustamento.

d) Desenho final:

155
Rodrigues, D. D. Inspeção de plantas topográficas

Verifica-se principalmente a qualidade do desenho (espessura dos traços, tamanho das letras,
orientação dos nomes, etc. Consultar normas de desenho), a escala, a orientação da planta, a
precisão do reticulado, as informações marginais (legenda, convenções, escala gráfica, data).

e) Acurácia da planta:
¾ Devem ser avaliadas as acurácias planimétrica e altimétrica.

O roteiro a seguir está de acordo com a NBR 13133, porém pode ser adaptado para considerar
a norma cartográfica.

2- VERIFICAÇÃO DA ACURÁCIA PLANIMÉRICA

2.1- Cálculo do desvio padrão resultante das distâncias medidas no terreno e na planta (m)

d i = D Terreno − D Planta

m=+
∑d 2
i

n −1

onde, D Planta são distâncias medidas na planta, empregando um escalímetro confiável, entre

pontos perfeitamente identificáveis no terreno;


D Terreno são distâncias homólogas às D Planta , medidas no terreno, empregando aparelho

igual ou superior ao utilizado no levantamento;


n é o número de distâncias medidas.

A amostragem deve ser aleatória, abrangendo toda planta e, de acordo com a norma, devem ser
amostradas as seguintes quantidades de distâncias:

No de pontos No de alinhamentos
levantados a serem conferidos
Até 500 3% (mínimo de 10)
De 501 a 1000 2% (mínimo de 15)
Acima de 1000 1% (mínimo de 20)

2.2- Desvio padrão admissível para as discrepâncias entre as distâncias (ma)

De acordo com a NBR 13133,

ma = 0,2 mm × 2 × M × K ≈ 0,283 ⋅ M ⋅ K (mm )

156
Topografia: planimetria para Engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

onde 0,2mm é o erro de graficismo comentido na leitura, com escalímetro ou régua, de um


ponto,

2 , uma vez que a distância é a diferença entre a leitura final e inicial, seu desvio será
o desvio da leitura multiplicado pela raiz de dois,
M é o módulo da escala da planta e
K é uma constante que depende do equipamento empregado no levantamento das
distâncias:
K = 1 quando se empregou distanciômetros eletrônicos,
K = 1,5 quando se empregou trena de aço e
K = 2,5 quando se empregou taqueometria.

2.3- Cálculo do Padrão de Acurácia Planimétrica (PAP)

Tanto a norma 13133 quanto o decreto lei 89817/84 empregam o termo “exatidão” planimétrica,
mas se tratando de informação posicional ou geométrica, não se conhece o valor verdadeiro e o termo
correto seria “acurácia”. Trata-se de comparar “valores mais prováveis de distâncias medidas na planta”
com “valores mais prováveis (naturalmente não exatos) obtidos por outro método sabidamente sem (ou
com menos) erros sistemáticos.

Para um nível de confiança de 90%,

PAP = 1,6449 ⋅ ma

2.4- Critério de aceitação ou rejeição


Noventa porcento das distâncias testadas não podem ter discrepâncias superiores ao
PAP e m deve ser menor ou igual a ma.

3- VERIFICAÇÃO DA ACURÁCIA ALTIMÉRICA

3.1- Cálculo do desvio padrão resultante das discrepâncias entre as cotas ou altitudes
medidas no terreno e na planta (m)

h i = H Terreno − HPlanta

m=+
∑h 2
i

n −1

onde, HPlanta são cotas ou altitudes de pontos perfeitamente identificáveis no terreno, obtidas a

partir da interpolação das curvas de nível, empregando um escalímetro confiável,


157
Rodrigues, D. D. Inspeção de plantas topográficas

H Terreno são cotas ou altitudes homólogas às HPlanta , obtidas no terreno, empregando o

nivelamento geométrico simples, apoiado em pontos com cotas ou altitudes conhecidas;


n é o número de distâncias medidas.

A amostragem deve ser aleatória, abrangendo toda planta e de acordo com a norma devem ser
amostradas as seguintes quantidades de cotas ou altitudes:

o
No de cotas ou
N de pontos
altitudes a serem
levantados
conferidas
Até 500 3% (mínimo de 10)
De 501 a 1000 2% (mínimo de 15)
Acima de 1000 1% (mínimo de 20)

3.2- Desvio padrão admissível para as discrepâncias (ma)

De acordo com a NBR 13133,


1
ma = do valor da eqüidistância entre as curvas de nível na planta
3

3.3- Cálculo do Padrão de Acurácia Altimétrico (PAA)

Para um nível de confiança de 90%,


PAA = 1,6449 ⋅ ma ≈ 0,55 vezes o valor da eqüidistância entre as curvas de
nível ou seja, aproximadamente, a metade da eqüidistância.

3.4- Critério de aceitação ou rejeição

Noventa porcento das cotas ou altitudes testadas não podem ter discrepâncias
superiores ao PAA e m altimétrico deve ser menor ou igual ao ma altimétrico.

4- DECRETO Nº 89.817 DE 20 DE JUNHO DE 1984

Além da NBR 13133 há o decreto 89817/84 que estabelece as Instruções Reguladoras das
Normas Técnicas da Cartografia Nacional. O teor completo desse decreto pode ser encontrado
encontrado em http://www.concar.ibge.gov.br. Na Seção 1: Classificação de uma Carta Quanto a
Exatidão encontra-se o seguinte texto:

Art.8º

158
Topografia: planimetria para Engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

As cartas quanto à sua exatidão devem obedecer ao Padrão de Exatidão Cartográfica - PEC,
segundo o critério abaixo indicado:
1. Noventa por cento dos pontos bem definidos numa carta, quando testados no terreno,
não deverão apresentar erro superior ao Padrão de Exatidão Cartográfica - Planimétrico -
estabelecido.
2. Noventa por cento dos pontos isolados de altitude, obtidos por interpolação de curvas-
de-nível, quando testados no terreno, não deverão apresentar erro superior ao Padrão de
Exatidão Cartográfica - Altimétrico - estabelecido.
§1º Padrão de Exatidão Cartográfica é um indicador estatístico de dispersão,
relativo a 90% de probabilidade, que define a exatidão de trabalhos cartográficos.
§2º A probabilidade de 90% corresponde a 1,6449 vezes o ErroPadrão - PEC =
1,6449 EP.

§3º O Erro-Padrão isolado num trabalho cartográfico, não ultrapassará 60,8% do


Padrão de Exatidão Cartográfica.

§4º Para efeito das presentes Instruções, consideram-se equivalentes as


expressões Erro-Padrão, Desvio-Padrão e Erro-Médio-Quadrático.

Seção 2 Classes de Cartas

Art.9º
As cartas, segundo sua exatidão, são classificadas nas Classes A, B e C, segundo os critérios
seguintes:
a- Classe A
1. Padrão de Exatidão Cartográfica - Planimétrico: 0,5 mm, na escala da carta,
sendo de 0,3 mm na escala da carta o Erro-Padrão correspondente.
2. Padrão de Exatidão Cartográfica - Altimétrico: metade da eqüidistância entre
as curvas-de-nível, sendo de um terço desta eqüidistância o Erro-Padrão
correspondente.

b- Classe B
1. Padrão de Exatidão Cartográfica - Planimétrico: 0,8 mm na escala da carta,
sendo de 0,5 mm na escala da carta o Erro-Padrão correspondente.
2. Padrão de Exatidão Cartografica - Altimetrico: três quintos da eqüidistância
entre as curvas-de-nível, sendo de dois quintos o Erro-Padrão correspondente.

c- Classe C
1. Padrão de Exatidão Cartográfica - Planimétrico: 1,0 mm na escala da carta,
sendo de 0,6 mm na escala da carta o Erro-Padrão correspondente.
2. Padrão de Exatidão Cartográfica - Altimétrico: três quartos da eqüidistância
entre as curvas-de-nível, sendo de metade desta eqüidistância o Erro-Padrão
correspondente.

Art.10
É obrigatória a indicação da Classe no rodapé da folha, ficando o produtor responsável pela
fidelidade da classificação.
Parágrafo único
Os documentos cartográficos, não enquadrados nas classes especificadas no artigo
anterior, devem conter no rodapé da folha a indicação obrigatória do Erro-Padrão
verificado no processo de elaboração.

159
Rodrigues, D. D. Inspeção de plantas topográficas

Em síntese o decreto 89.817/84 estabelece que as cartas podem ser classificadas da seguinte forma:

Desvio Admissível ou Erro Padrão(EP) Padrão de “Exatidão” Cartográfica (PEC)


Classe das cartas
Planimétrico (mm) Planimétrico (mm)
Altimétrico Altimétrico
na escala da carta na escala da carta
A 0,3 1 3 equid. 0,5 1 2 equid.

B 0,5 2 5 equid. 0,8 3 5 equid.

C 0,6 1 2 equid. 1,0 3 4 equid.

EXERCÍCIO:
A tabela abaixo se refere à inspeção planimétrica de uma planta classe B – distâncias medidas por
com trena de aço (K=1,5) - na escala 1/1000. Calcular:
o O desvio padrão admissível e o padrão de exatidão planimétrica (PAP);
o O desvio padrão da planta;
o A planta pode ser aprovada? por que ?

Discrepâncias
Seguimento DPlanta (m) DTerreno (m) (di = DP – DT)
(m)
1 23,00 22,90

2 10,00 10,15

3 16,45 16,20

4 6,80 7,55

5 19,40 19,60

6 19,00 18,75

7 18,50 18,35

8 25,55 25,75

9 7,05 7,30

10 7,95 8,70

160
Topografia: planimetria para Engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

INSPEÇÃO PLANIMÉTRICA
PROJETO:______________________________________________________________________________

LOCALIDADE:___________________________________________________________________________

RESPONSÁVEL TÉCNICO:__________________________________________ DATA: _____/______/____

Escala da planta = ______________ Desvio Admissível (ma) = ________________ PAP = __________

Segui D Planta D Terreno Discrepâncias


Pontos Descrição
mento (m) (m) (m)

Desvio padrão decorrente das discrepâncias (m) = _________________

Resultado final da inspeção: ( ) APROVADO - m ≤ ma e 90% das discrepâncias inferiores ao PAP


( ) REPROVADO

, de de 20

_______________________________________
RT:

1
Rodrigues, D. D. Inspeção de plantas topográficas

INSPEÇÃO ALTIMÉTRICA
PROJETO:______________________________________________________________________________
LOCALIDADE:___________________________________________________________________________
RESPONSÁVEL TÉCNICO:__________________________________________ DATA: _____/______/____
Eqüidistância entre curvas de nível = _________________
Desvio altimétrico admissível (ma) = ______________________ PAA = ____________
Alinha ∆HPlanta ∆H Terreno Discrepâncias
Pontos Descrição
mento (m) (m) (m)

Desvio padrão decorrente das discrepâncias (m) = _________________

Resultado final da inspeção: ( ) APROVADO - m ≤ ma e 90% das discrepâncias inferiores ao PAA


( ) REPROVADO

, de de 20

_______________________________________
RT:

2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA – UFV
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS - CCE
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL - DEC
PROFESSOR: Dalto Domingos Rodrigues, SALA 216b, CCE.
ENGENHARIA
EAM 310 - Topografia I: PROGRAMA ANALÍTICO DE AGRIMENSURA
UFV

I- INTRODUÇÃO GERAL
1- Definições
2- Subdivisões e aplicações da Topografia
3- Estado da Arte
4- Qualidade em mapeamento topográfico
5- Metrologia
5.1- Sistema Internacional de Unidades – SI
5.2- Unidades de medida linear
5.3- Unidades de medida superficial
5.4- Unidades de medida volumétrica
5.5- Unidades de medida angular
5.5-1. No Sistema Internacional de medidas: radianos
5.5-2. Sistema sexagesimal
5.5-3. Sistema centesimal
6- Algarismos Significativos
6.1- Arredondamento
6.2- Operações com algarismos significativos
6.3- Algarismos significativos na Topografia
7- Exercícios

II- GONIOMETRIA
1- Algumas definições: vertical, planos horizontais e verticais, ângulos em topografia
2- Medição simples de ângulos horizontais
2.1- Com trena
2.2- Com teodolito
2.3- Efeito de curvatura da terra em ângulos horizontais
3- Azimutes
3.1- Azimute geográfico
3.2- Azimute magnético
3.3- Azimute plano ou Azimute da Carta
4- Rumos
4.1 Relações entre azimutes e rumos

5- Ângulos horizontais entre alinhamentos a partir de azimutes

6- Ângulos Verticais
6.1 Ângulo Zenital
6.2 Ângulo Nadiral
6.3 Ângulo de inclinação ou simplesmente vertical
6.4 Declividade
6.5 Relações entre as Tangentes de Ângulos Zenitais e de inclinação

III- MEDIÇÃO DE DISTÂNCIAS


1- Introdução
2- Processo Direto
2.1- Fontes de erro
3- Processo Indireto
3.1- Taqueometria
3.2- Utilizando Mira Horizontal
3.3- Medida eletrônica de distâncias horizontais
4- Determinação de distâncias entre pontos inacessíveis e desenvolvimento de bases.
5- Efeito da curvatura da terra nas distâncias horizontais
Topografia I 2008 Sumário 2

6- Efeito da altitude nas distâncias horizontais


7- Reduções de distâncias medidas pelo processo direto

IV- INTRODUÇÃO Á TEORIA DOS ERROS


1- Classificação dos erros
2- Algumas definições
3- Propagação das variâncias
4- Algumas derivadas
5- Exercícios propostos

V- LEVANTAMENTO PLANIMÉTRICO DE PONTOS TEMÁTICOS


1- Introdução
1.1- Classificação dos levantamentos.
1.2- Etapas de um levantamento planimétrico
2- Sistema topográfico de referência
3- Azimutes a partir das coordenadas topográficas
4- Métodos para levantamento de pontos temáticos
4.1 Método do alinhamento
4.2 Método das ordenadas
4.3 Interseção linear
4.4 Interseção angular
4.5 Irradiação
5- Azimutes a partir de ângulos horizontais
5.1- Conhecendo-se um azimute de referência
5.2- Conhecendo-se as coordenadas de dois pontos
5.2.1- Ângulo medido e azimute determinado com vértice na mesma estação
5.2.2- Ângulo medido e azimute determinado com vértice em estações diferentes

VI- LEVANTAMENTO PLANIMÉTRICO DE PONTOS DE APOIO


1- Trilateração
2- Triangulação
3- Triangulateração
4- Poligonação
4.1- Procedimento para coleta de dados e informações em campo.
4.2- Tipos ou formatos de poligonais, de acordo com a norma ABNT 13133:
4.2.1- Tipo 3: poligonais apoiadas e fechadas em pontos e direções distintas,
com desenvolvimento retilíneo
4.2.2- Tipo 2: poligonais apoiadas e fechadas em pontos e direções distintas,
com desenvolvimento curvo
4.2.3- Tipo 1: poligonais apoiadas e fechadas numa só direção e num só ponto
4.3- Classificação quanto à finalidade
4.4- Processamento dos dados de um levantamento por poligonação.
4.4.1- Transformação dos ângulos horizontais observados em azimutes.
4.4.2- Cálculo do erro de fechamento angular.
4.4.3- Distribuição do erro de fechamento angular.
4.4.4- Cálculo das coordenadas topográficas a partir dos azimutes corrigidos do
erro angular e das distâncias observadas.
4.4.5- Cálculo do erro de fechamento linear.
4.4.6- Distribuição do erro de fechamento linear.
4.4.7- Cálculo das coordenadas topográficas “corrigidas” dos erros angular e
linear.
4.5- Rotina para o processamento de um levantamento planimétrico por poligonação
4.5.1- Processamento dos pontos de apoio
4.5.2- Processamento dos pontos temáticos levantados
5- Exercícios:

VII- INFORMAÇÕES GEOMÉTRICAS A PARTIR DAS COORDENADAS DE TERRENO


1- Introdução
2- Cálculo de distâncias
3- Cálculo de azimutes e rumos
4- Cálculo de ângulos
Topografia I 2008 Sumário 3

5- Cálculo de áreas
6- Cálculo do ângulo vertical de inclinação máxima
7- Cálculo da direção da linha de inclinação máxima
8- Cálculo de volumes

VIII- DESENHO PLANIMÉTRICO


1- Introdução
2- Escala
3- Erro de graficismo
4- Escala máxima
5- Desenho da planta
6- Memorial descritivo
7- Relatório técnico
8- Informações topográficas a partir da planta planimétrica
8.1- Coordenadas topográficas
8.2- Distancias horizontais
8.3- Azimutes e rumos
8.4- Ângulos horizontais
8.5- Áreas horizontais

IX- INSPEÇAO DE TRABALHOS TOPOGRÁFICOS


1- Introdução
2- Verificação da acurácia planimétrica da escala
2.1- Cálculo do desvio padrão resultante das distâncias medidas no terreno
2.2- Desvio padrão admissível para as discrepâncias entre as distâncias
2.3- Cálculo do padrão de exatidão planimétrica (PEP)
3. Verificação da precisão altimétrica
4. Decreto 89 817/84
AULAS PRÁTICAS

03/03 PRÁTICA No 01 – Título: Goniometria

10/03 PRÁTICA No 02 – Título: Leituras em goniômetros dotados de vernier.

17/03 PRÁTICA No 03 – Título: Centralização e nivelamento de teodolitos

24/03 PRÁTICA No 04 – Título: Medição simples de ângulos horizontais.

31/03 PRÁTICA No 05 – Título: Medição de azimute magnético e determinação do azimute verdadeiro.

07/04 PRÁTICA No 06 – Título: Medição de distâncias horizontais por taqueometria.

14/04 PRÁTICA No 07 – Título: Medição de distâncias horizontais pelo processo direto

28/04 PRÁTICA No 08 –. Título: Levantamento de pontos temáticos por irradiação - TP1

05/05 PRÁTICA No 09 – Título: Levantamento de pontos temáticos por irradiação - TP1

12/05 PRÁTICA No 10 – Título: Propagação de variâncias

19/05 PRÁTICA No 11 – Título: Levantamento planimétrico - TP2

26/05 PRÁTICA No 12 – Título: Levantamento planimétrico - TP2

02/06 PRÁTICA No 13 – Título: Levantamento planimétrico - TP2

09/06 PRÁTICA No 14 – Título: Determinação de áreas a partir da planta

16/06 PRÁTICA No 15 – Título: Inspeção de trabalhos topográficos.

23/06 Reserva
Topografia I 2008 Sumário 4

BIBLIOGRAFIA:

1- CHAGAS, C. B. Manual do Agrimensor. Rio de Janeiro. Oficinas Gráficas da Diretoria do Serviço


Geográfico – DSG. 1965.

2- COMASTRI, J. A. Topografia – Planimetria. Viçosa. Impressa Universitária, UFV. 1980.

3- Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial- CONMETRO - Resolução


nº 12, de 12 de outubro de 1988.

4- COOPER, M. A. R. Control surveys in civil engineering. London. Collins Professional and


Technical Books. 1987.

5- CRATO, N. Geometria do A4. Revista Actual, 07/06/2003.

6- DOMINGUES, F. A. A. Topografia e Astronomia de posição para Engenheiros e Arquitetos.


São Paulo. McGraw-Hill do Brasil, 1979

7- ESPARTEL, L. Curso de Topografia, Rio de Janeiro. Ed. Globo, 1982.

8- FERREIRA, A. B. de H. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 2ª Ed. revista e


aumentada, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1986.

9- IPEM - INSTITUTO DE PESOS E MEDIDAS do Estado de São Paulo.


http://www.ipem.sp.gov.br/metrologia.asp. Consultada em 03/2007.

10- KAHMEN, H. & FAIG, W. Surveying. Berlin; New York. Walter de Gruyter & Co. 1988.

11- KREYSZIG, E. Matemática Superior; tradução de Carlos Campos de Oliveira. Rio de Janeiro.
LTC – Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1982. Volume 2.

12- LEICK, A. GPS Satellite surveying, John Wiley & sons, INC. 2nd ed.,Orono, Maine, 1995

13- LOCH, C. & CORDINI, J. Topografia Contemporânea: Planimetria. Florianópolis. Editora da


UFSC. 321p. 2000.

14- NBR-13.133 – Norma técnica para Execução de Levantamentos Topográficos, ABNT, Maio de
1994.

15- NGDC - NATIONAL GEOPHYSICAL DATA CENTER – NOAA Satellite and Information Service.
Geomagnetic Field Frequently Asked Questions.
http://www.ngdc.noaa.gov/seg/geomag/faqgeom.shtml#q1. Consultada em 03/2008

16- ON - OBSERVATÓRIO NACIONAL. Geomagnetismo.


http://www.on.br/institucional/geofisica/areapage/geomag.html . Consultada em 03/2008

17- NETO, C.P. & MOREIRA, J.L.K.. Declinação Magnética – ON.


http://staff.on.br/~jlkm/magdec/index.html. Consultada em 03/2008.

18- SILVA, I.da. História dos pesos e medidas. São Carlos. EdUFSCar. 190p. 2004.

19- WOLF, P. R. & BRINKER, R. C. Elementary Surveying. Ninth Edition. New York. HarperCollins
College Publishers, 1994.

20- WOLF, P. R. & GHILANI, C. D.. Elementary Surveying, na introduction to geomatics. Eleventh
Edition. New Jersey. Pearson Prentice Hall, 2006.
Topografia I 2008 Sumário 5

21- http://educar.sc.usp.br/fisica/erro.html#introd

AVALIAÇÕES DE APRENDIZAGEM:

Provas: 75%
Primeira: dia 10/04 (Quinta feira) às 18:30 horas Terceira: dia 26/06 (Quinta feira) às 18:30 horas
Segunda: dia 15/05 (Quinta feira) às 18:30 horas Substitutiva: dia 30/06 (Segunda feira) às 10:00 horas

Trabalhos práticos: 25%


TP1 - data de entrega: 12/05 TP2 - data de entrega: 23/06

Você também pode gostar