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EDER DA SILVA LOPES

ESTUDO DAS NORMAS AMBIENTAIS APLICADAS À CONSTRUÇÃO


CIVIL NOS MUNICÍPIOS

Viçosa, 20 de novembro de 2017


EDER DA SILVA LOPES

ESTUDO DAS NORMAS AMBIENTAIS APLICADAS À CONSTRUÇÃO


CIVIL NOS MUNICÍPIOS

O trabalho apresentado é parte integrante das


exigências para o projeto da Usina de
Reciclagem de Resíduos da Construção Civil.

Viçosa, MG, 20 de novembro de 2017.


RESUMO

LOPES, Eder da Silva Lopes. Estudo das normas ambientais aplicadas à


construção civil nos municípios. 2017.

Para a geração de Resíduos da Construção Civil (RCC), ainda não existe uma
gestão eficiente que alcance além da diminuição dos impactos ambientais, a
reciclagem dos mesmos. A disposição irregular dos RCC nos municípios causam
sérios impactos ambientais.
A Lei nº 12.305 de 2010 que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS) estabece uma ordem de prioridades para a Gestão dos Resíduos: não
geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos e disposição
final ambientalmente correta dos rejeitos, deixando de ser voluntária e passando
a ser obrigatória. Neste constexto, esse trabalho propõe-se a realizar um
levantamento bibliográfico sobre os RCC e sua gestão nos municípios, buscando
evidenciar a existência ou não de ações condizentes à legislação.
Como complemento do trabalho, foi feito uma avaliação da atual gestão da
Cidade de Cajuri – MG, com informações obtidas junto à Secretaria de Obras da
Prefeitura Municipal e a população do município. Os resultados obtidos
permitiram verificar que existe uma preocupação com a coleta, transporte e
disposição final dos RCC, que caracteriza uma gestão corretiva, porém, sem a
adequação às normas ambientais, além da falta de convênios e parcerias com
instituições na busca de soluções para amenizar os impactos gerados por estes
resíduos no município.
Então, com os dados coletados junto ao Município de Cajuri – MG, podemos
presumir que os mesmos seriam semelhantes em outras cidades, que por não
possuirem um conjunto de ações e diretrizes que sejam capazes de reciclar
estes resíduos para serem reutilizados e gerarem renda, não apresenta uma
Gestão Eficaz e Eficiente dos RCC.

PALAVRAS-CHAVE: Descarte. Entulho. Meio Ambiente. Sustentabilidade.


LISTAS DE TABELAS

TABELA 1 – Estimativa de Geração de RCC em Alguns Países.........................16


TABELA 2 – Estimativa de Coleta de RCC por Origem.....................................16
TABELA 3 – Quantidade Total de RCC Coletados pelos Muinicípios no Brasil..17
TEBELA 4 – Composição Média dos Materiais de RCC de Obras no Brasil.....17
TABELA 5 – Fonte Geradora e Componentes dos RCC (em %).......................18
TABELA 6 – Classificação e Destinação dos RCC.............................................25
TEBELA 7 – Classe e Composição dos RCC....................................................30
TEBELA 8 – Materiais Produzidos na Estação de Reciclagem dos RCC..........31

LISTAS DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – Informação Nacional Sobre o Tipo de Processamento entre os


392 Municípios Brasileiros com Serviço de Manejo dos RCC..........................18

LISTAS DE FIGURAS

FIGURA 1 – Estação de Reciclagem Estoril em Belo Horizonte – MG..............27


FIGURA 2 – Britadeira de Mandíbula Móvel BMD RA 700/6.............................29
FIGURA 3 – Caminhão do Tipo Roll On Roll Off e Peneira Rotatória Móvel.....29
FIGURA 4 – Mapa de Localização do Município de Cajuri – MG.......................35
FIGURA 5 – RCC – Sede Cajuri – MG...............................................................38
FIGURA 6 – RCC – Distrito de Paraguai – Cajuri – MG.....................................38
FIGURA 7 – Placa de Identificação do Aterro Controlado.................................39
FIGURA 8 – Disposição Final dos RCC em Cajuri – MG...................................40
FIGURA 9 – Disposição Final dos RCC em Cajuri – MG...................................40
LISTA DE SIGLAS

ABNT NBR – Associação Brasileira de Normas Técnicas


ABRECON – Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da
Construção Civil e Demolição
ABRELPE – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos
Especiais
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente
ERN – Estação de Reciclagem Móvel
FEAM – Fundação de Reciclagem Móvel
FIEB – Federação Estadual do Meio Ambiente
FUNASA – Fundação Nacional da Saúde
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicas
ISO – Organização Internacional de Normalização
MMA – Ministério do Meio Ambiente
OMS – Organização Mundial de Saúde
PGRCC – Plano de Gerenciamento de Resíduos de Construção Civil
PMBH – Prefeitura Municipal de Belo Horizonte
PMGIRS – Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos
PMSB – Plano Municipal de Saneamento Básico
PNRS – Política Nacional de Resíduos Sólidos
PNSB – Pesquisa Nacional de Saneamento Básico
PSGIRS – Plano Municipal de Gestão de Resíduos Sólidos em uma Versão
Simplificada
PRS – Portal Resíduos Sólidos
RCC – Resíduos da Construção Civil
SINDUSCON – Sindicato da Indústria da Construção e do Mobiliário
SISNAMA – Sistema Nacional de Meio Ambiente
SNIS – Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 5
2. JUSTICATIVA ................................................................................................ 7
3. OBJETIVO...................................................................................................... 8
3.1. Objetivo Geral ........................................................................................... 8
3.2. Objetivos Específicos ................................................................................ 8
4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................... 9
4.1. Conceitos .................................................................................................. 9
4.2. Legislação e Normas Pertinentes............................................................ 10
4.2.1 Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS) ................................. 13
5. PANORAMA DOS RESíDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL (RCC) ............... 15
5.1. Panorama dos RCC no Brasil ................................................................. 15
5.2. Gestão dos RCC ..................................................................................... 19
6. IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DOS RCC .............................. 21
7. RESPONSABILIDADES ............................................................................... 23
8. PROGRAMA DE CORREÇÃO PARA DISPOSIÇÕES DOS RCC ............... 24
8.1. Tratamento .............................................................................................. 24
8.2. Segregação e Acondicionamento............................................................ 24
8.2.1 Vantagens da Gestão de Resíduos Sólidos nos Canteiros de Obra ... 26
8.3. Transporte ............................................................................................... 26
8.4. Acondicionamento Externo ..................................................................... 26
8.4.1. Estação de Reciclagem de Entulho ................................................... 27
8.4.2. Etapas do Processo de Reciclagem .................................................. 30
8.5. Reutilização dos RCC ............................................................................. 31
8.5.1 Utilização em Pavimentação ............................................................... 31
9. MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................ 35
9.1. Caracterização do Município ................................................................... 35
9.2. Coleta de Dados...................................................................................... 36
9.3. Diagnóstico dos RCC .............................................................................. 36
10. CONCLUSÃO............................................................................................. 42
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 43
1. INTRODUÇÃO

No âmbito da construção civil, desde a antiguidade, nota-se que ela


sempre existiu para atender às necessidades básicas do ser humano,
inicialmente sem preocupação com as técnicas adotadas e seus impactos ao
meio ambiente, visando apenas atingir seus objetivos de forma imediata
(CORRÊA, 2009).
Com o crescimento populacional estando diretamente relacionado com a
construção civil, ocasiona considerável aumento de resíduos e impactos ao meio
ambiente.
Neste sentido, as construtoras não são vistas apenas como instituições
econômicas, e sim como instituições sócio-políticas preocupadas com os direitos
dos consumidores, a proteção ambiental e a qualidade dos serviços prestados
são relevantes e afetam diretamente o ambiente de negócios.
Muitas mudanças vêm ocorrendo no ambiente de negócios. As exigências
da sociedade, de órgãos ambientais e do governo fazem com que as empresas
se preocupam não apenas com seu resultado econômico, mas também devam
incluir considerações de caráter social e político em suas tomadas de decisões
(TACHIZAWA, 2005).
Devido a influência das construtoras no desenvolvimentos econômico e
social do país, os impactos gerados por elas vêm ganhando cada vez mais
importância. Ao se tratar da participação do setor no quesito meio ambiente, no
Brasil, a dificuldade de preservá-lo pode ser ainda agravada pelos grandes
desafios que a indústria da construção civil deve enfrentar em termos de déficit
habitacional e infraestrutura para transporte, comunicação, abastecimento de
água, energia, saneamento, atividades comerciais e industriais (DEGANI, 2003).
A partir daí, surge a ideia das construções sustentáveis, que devem ser
concebidas e planejadas a partir de várias premissas, dentre elas a escolha de
materiais ambientalmente corretos, de origem certificadas e com baixa emissão
de CO2; a menor geração de resíduos durante a faze de obra e o cumprimento
das normas de desempenho (CIC, 2008).
O impacto causado pelas construtoras envolve consumo de recursos e
cargas ambientais, principalmente pelo uso indiscriminado de energia, geração

5
e disposição inadequada de entulhos. Estes últimos são característicos de um
contexto cultural que insiste em desconhecer os impactos da sua disposição
clandestina e os benefícios de uma gestão adequada. O gerenciamento de
resíduos permite a minimização dos impactos causados, à montante, nas
exploração de matérias primas como areia e cascalho e à jusante, evitando a
poluição de solos e de lençóis freáticos, bem como danos à saúde e gastos
públicos desnecessários (BLUMENSCHEIN, 2004).
Mesmo havendo importantes iniciativas nacionais em termos de leis e
resoluções para aderir às iniciativas ambientais na construção civil, como é o
caso da Resolução nº 307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA)
que dispõe sobre a Gestão de Resíduos da Construção Civil (RCC), nota-se, no
Brasil, em termos de legislação e políticas públicas, que os incentivos ainda não
são suficientes para direcionar o setor da construção civil para a adesão de
práticas mais sustentáveis (DEGANI, 2009).

6
2. JUSTICATIVA

Com o constante crescimento da construção civil, cresce também a


quantidade de RCC que são dispostos inadequadamente, degradando assim o
meio ambiente e onerando os custo na administração municipal.
Analisando-se a questão em suas diversas etapas, observa-se que a
extração de matéria prima pode ser mitigada com a reciclagem e reutilização dos
próprios RCC.
O tratamento dos RCC faz-se necessário devido às consequências que
sua disposição inadequada causa ao meio ambiente. Pode-se citar o lançamento
dos RCC em corpos d’água que provocam alagamentos, em terrenos baldios
que contribuem para a proliferação de vetores causadores de doenças.
Ressalta-se a existência de legislação pertinente, sendo que os RCC são
obrigatoriamente passíveis de segregação, classificação, reutilização e
destinação adequada. Os geradores de RCC precisam adequar-se a esta
legislação e promoverem sua correta gestão.
Portanto torna-se importante este estudo devido a necessidade de
estruturar a capacitação e reutilização dos RCC, promovendo uma melhor
organização dos aterros sanitários e causando um menor impacto ambiental.
Ainda, poderá servir de suporte teórico para a administração pública na
implantação de um sistema de gestão dos RCC no município.

7
3. OBJETIVO

3.1. OBJETIVO GERAL

O presente estudo tem como objetivo geral analisar os procedimentos


adotados no processo de destinação dos resíduos provenientes da construção
civil dos municípios e propor alternativas viáveis de destino e reaproveitamento
destes resíduos.

3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Os objetivos específicos consistem em:


 Avaliar a situação atual dos descarte dos RCC nos municípios;
 Identificar os principais problemas encontrados na destinação dos RCC;
 Sugerir uma alternativa viável para destinação adequada e
reaproveitamento dos RCC.

8
4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.1. CONCEITOS

Para a melhor compreensão desta pesquisa, é imprescindível definir e


distinguir alguns conceitos bibliográficos comumente utilizados em temas
relacionados aos Resíduos de Construção Civil.
De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR
10004:2004 que dispõe sobre a classificação dos resíduos, os resíduos sólidos
são definidos como: todo resíduo que se encontra em estado sólido e
semissólido, oriundos de atividades de origem industrial, domestica, hospitalar,
comercial, agrícola, de serviços e de varrição.
Para a norma ISO 14.001:2004, aspecto ambiental é considerado o
elemento das atividades, produtos ou serviços de uma organização que pode
interagir com o meio ambiente.
Impacto ambiental pode ser definido como qualquer modificação do meio
ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no todo ou em parte, das atividades,
produtos ou serviços de uma organização.
A Resolução Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) nº
307:2002 apresenta algumas definições que serão utilizadas no presente estudo.

Art. 2º para efeito desta Resolução, são adotadas as seguintes


definições:
I – Resíduos da Construção Civil: são os provenientes de construções,
reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e os
resultantes da preparação e da escavação de terrenos, tais como:
blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas,
colas, tintas, madeiras e compensados, forros, gesso, telhas,
pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica, etc.,
comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha;
II – Geradores: são pessoas, físicas ou jurídicas, públicas ou privadas,
responsáveis por atividades ou empreendimentos que gerem os
resíduos definidos nesta Resolução;
III – Transportadores: são pessoas, físicas ou jurídicas, encarregadas
da coleta e do transporte dos resíduos entre fontes geradoras e as
áreas de destinação;
IV – Agregado Reciclado: é o material granular proveniente do
beneficiamento de resíduos de construção que apresentem
características técnicas para a aplicação em obras de edificação, de
infraestrutura, em aterros sanitários ou outras obras de engenharia;

9
V – Gerenciamento de Resíduos: é o sistema de gestão que visa
reduzir, reutilizar ou reciclar resíduos, incluindo planejamento,
responsabilidades, práticas, procedimentos e recursos para
desenvolver e implementar as ações necessárias ao cumprimento das
etapas previstas em programas e planos;
VI – Reutilização: é o processo de um resíduo, sem transformação do
mesmo;
VII – Reciclagem: é o processo de reaproveitamento de um resíduo,
após ter sido submetido à transformação;
VIII – Beneficiamento: é o ato de submeter um resíduo à operações
e/ou processos que tenham por objetivo dotá-lo de condições que
permitam que sejam utilizados como matéria prima ou produto;
IX – Aterro de Resíduos da Construção Civil: é a área onde serão
empregadas técnicas de disposição de Resíduos da Construção Civil
Casse "A" no solo, visando a reservação de materiais segregados de
forma a possibilitar seu uso futuro e/ou futura utilização da área,
utilizando princípios de engenharia para confiná-los ao menor volume
possível, sem causar danos à saúde pública e ao meio ambiente;
X – Áreas de Destinação de Resíduos: são áreas destinadas ao
beneficiamento ou à disposição final de resíduos.

4.2. LEGISLAÇÃO E NORMAS PERTINENTES

Torna-se de extrema importância a caracterização dos RCC quanto às


legislações, normas técnicas e responsabilidades a nível estadual e federal. O
entendimento e aplicação dos custos envolvidos na sua mitigação, recuperação,
compensação ou eliminação dos impactos ambientais gerados, facilitando assim
a não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento e disposição final
ambientalmente correta.

As legislações que serão utilizadas ao longo desse estudo:

 Lei nº 18.031, de janeiro de 2009 – Dispõe sobre a Política Estadual de


Resíduos Sólidos;
 Resolução CONAMA nº 307, de 05 de julho de 2002 – Estabelece
diretrizes, critérios e procedimentos para a Gestão dos Resíduos da
Construção Civil;
 ABNT NBR 15.112:2004 – Resíduos da Construção Civil e Resíduos
volumosos – Área de tratamento e triagem – Diretrizes para projeto,
implantação e operação;

10
 ABNT NBR – 15.116:2004 – Resíduos da Construção Civil – Áreas de
reciclagem – Diretrizes para projeto e implantação e operação;
 ABNT NBR – 15.116:2004 – Agregados reciclados de resíduos sólidos da
construção civil – Utilização em pavimentação e preparo de concreto sem
função estrutural – Requisitos.

O cumprimento das legislações vigentes é fundamental para que a


disposição final dos RCC seja realizada de maneira adequada. De acordo com
a natureza e as características específicas e de forma condizente com a proteção
do meio ambiente e saúde pública. Essa destinação é definida a partir da
caracterização quanto à natureza e à origem dos resíduos.
Os RCC, ainda de acordo com a Lei 18.031, são classificados quanto à
origem em Resíduos Classe II B – Inertes, sendo:

Aqueles que, quando amostrados de forma representativa e


submetidos a um contato estático ou dinâmico com água destilada ou
desionizada, temperatura ambiente, não tiverem nenhum de seus
constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de
potabilidade de água vigentes excetuando-se os padrões de aspecto,
cor, turbidez e sabor.
(Cap. II. Art. 5º, § 1º, Lei 18.031:2009).

Já nas esfera federal, a Resolução CONAMA nº 307 explica a


classificação dos RCC, determina a destinação correta e atribui responsabilidade
ao município e geradores (pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas) no
que diz respeito à disposição final.
Os RCC apresentam diversas características, implicando em diferentes
tratamentos e disposição final. Assim, a Resolução CONAMA nº 307 apresenta
esses RCC em quatro classes sendo: Classe A, B, C, e D.
Os resíduos Classe A são resíduos reutilizáveis ou recicláveis, possuem
caraterísticas e viabilidade de transformação. Tais resíduos enquadrados na
primeira classe podem ser definidos como:

... de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de


outras obras de infraestrutura, inclusive solos provenientes de
terraplanagens; materiais cerâmicos (tijolos, azulejos, blocos, telhas,
placas de revestimento, etc.). Argamassa e concreto; de processo de
fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto

11
(blocos, tubos, meios-fios, etc.) produzidos nos canteiros de obra. (Art.
3º, Resolução CONAMA 307,2002).

Os resíduos Classe B apresentam características recicláveis, contudo


podem ser transformados em material com características primitivas. Os
principais resíduos são plástico, papelão, metal, vidro, papel, dentre outros.
Os resíduos Classe C enquadram-se os resíduos com características que
ainda não possuem aplicações econômicas viáveis, reciclagem ou reutilização.
Os principais resíduos são provenientes do gesso, sendo materiais que
apresentam sulfato de cálcio hidratada em sua composição.
Os resíduos Classe D são compostos por resíduos perigosos sendo:
tintas, solventes, óleos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de
demolições, reformas e reparos de clinicas radiológicas, instalações industriais
e outros.
A Resolução CONAMA nº 307, após esta divisão e classificação dos
resíduos da construção civil, estabelece algumas medidas a serem
obrigatoriamente cumpridas. Compete aos produtores de resíduos estipularem
metas de não geração dos mesmos ou, caso não consigam, esses resíduos
deverão ser reciclados, reutilizados e destinados corretamente.
Em relação à destinação ambientalmente correta dos resíduos, fica
decretado que esses não podem, em hipótese alguma, serem dispostos em
aterros comuns, taludes e encostas, próximos ou inseridos em corpos hídricos,
logradouros públicos e em áreas protegidas por lei.
Os RCC devem atender prontamente a destinação final especificada para
cada classe definida na Resolução CONAMA nº 307.
Os resíduos Classe A e B devem ser dispostos de maneira que possam
ser reaproveitados e/ou até reciclados, ou seja, devem ser acondicionados em
aterros de construção civil ou em áreas de armazenamento temporário. Já os
resíduos de Classe C e D, devem ser destinados para empresas que exercem
atividades de tratamento ou disposição final devidamente licenciadas pelo
município ou estado.
A resolução estabelece ainda, além das diretrizes relacionadas à
caracterização e disposição final dos resíduos, a estrutura e responsabilidade de

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um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Construção Civil (PGRCC),
obrigatório em todos os municípios do país e no Distrito Federal.

4.2.1 Política Nacional dos Resíduos sólidos (PNRS)

As questões sobre os Resíduos Sólidos ganharam ainda mais destaque


em vários países do mundo, principalmente, a partir de 1990, quando estes
enfrentavam sérios problemas com relação aos altos custos de recolhimento e
de reciclagem, além da falta de locais adequados para a disposição final destes
resíduos. Estas nações foram responsáveis pela incorporação do tema na pauta
de assuntos da ECO 92, refletindo no Brasil o início das discussões sobre uma
política pública nacional especifica para o setor (TACHIZAWA, 2005).
No ano de 2004, iniciaram-se as discussões no Congresso
Nacional para a criação de uma política que disciplinasse a questão dos
Resíduos Sólidos no país, com a participação do Conselho Nacional do Meio
ambiente (CONAMA), Fundação Nacional da Saúde (FUNASA). Caixa
Econômica Federal e os Ministérios do Meio ambiente, das Cidades e da Saúde
e representantes da sociedade civil. Após a realização de várias audiências
públicas visitas, debates e reuniões técnicas externas, foi aprovada, em 02 de
agosto de 2010, a Lei nº 12.305:2010 que institui a Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS) (a qual foi regulamentada pelo decreto nº 7404:210, com a
entrada em vigor a partir de 2011 (BRASIL, 2010a; 210b). Esta Lei apresentava
como prazo final para adequação às exigências nela contida, o mês de agosto
de 2014 (MMA, 2013).
A Lei de Resíduos Sólidos estabelece os objetivos e as diretrizes
nacionais para os resíduos sólidos com a criação do Comitê Interministerial de
Política Nacional de Resíduo Sólidos dos planos nacionais, estaduais, distrital,
intermunicipais, municipais e os planos de gerenciamento de resíduos sólidos
industriais. A Lei trata de forma clara e objetiva a questão da correta Gestão dos
Resíduos; prevê a responsabilidade compartilhada entre todos que fazem parte
do ciclo de vida dos produtos, que se inicia desde os fabricantes até os
consumidores finais e os responsáveis pela limpeza urbana.

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No âmbito municipal, PNRS determina que todos os municípios brasileiros
com população superior a 20.000 habitantes estão obrigados a elaborar os seus
Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS) que
deve conter 191 itens básicos para que o município esteja de acordo com a
legislação atual. Já no caso dos municípios com população inferior a 20.000
habitantes, a legislação possibilita a elaboração do Plano Municipal de Gestão
de Resíduos Sólidos em sua versão Simplificada (PSGIRS) que contem 142
itens básicos a serem contemplados pelos municípios (BRASIL, 2010a; 2010b).

A PNRS prevê os seguintes instrumentos:

 A responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, ou seja,


os responsáveis pelos resíduos são os fabricantes, os importadores,
distribuidores, comerciantes, consumidores e titulares dos serviços de
limpeza urbana ou manejo.
 O sistema de logística reversa, caracterizado por um conjunto de ações,
procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos
resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu
ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final
ambientalmente adequada.
 A partir de quatro anos após a data de sua publicação, portanto a partir
de 02 de agosto de 2014, a prefeitura e os geradores de resíduos só
poderão dispor nos aterros sanitários os rejeitos e não mais os resíduos
passíveis de reciclagem.
 As empresas de construção civil estão sujeitas à elaboração de plano de
gerenciamento de resíduos sólidos, nos termos do regulamento ou de
normas estabelecidas pelos órgãos do Sistema Nacional de Meio
Ambiente (SISNAMA). Este plano de gerenciamento deve atender ao
disposto no PMGIRS do respectivo município.
 A não geração de resíduos, seguida da redução, reutilização, reciclagem
e tratamento dos mesmos, bem como a sua disposição final
ambientalmente adequada.

14
5. PANORAMA DOS RESIDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL (RCC)

5.1. PANORAMA DOS RCC NO BRASIL

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saneamento é o


controle de todos os fatores ambientais que podem exercer efeitos nocivos sobre
o bem estar, físico, mental e social dos indivíduos, tais como, poluição do ar, do
solo e das águas, poluição sonora e visual, ocupação desordenada do solo, o
esgoto a céu aberto, enchentes, etc.
O saneamento ambiental é um conjunto de ações de abastecimento de
água, esgotamento sanitário, manejo das águas pluviais urbanas e gestão dos
resíduos sólidos que busca resolver os graves problemas gerados na
infraestrutura das cidades, contribuindo para uma melhor qualidade de vida da
população.
As informações sobre a geração e a destinação dos RCC no Brasil são
escassas. Segundo o Ministério das Cidades, no Brasil, os RCC atingem
elevadas proporções da massa de resíduos sólidos; variam de 51% a 70%. Essa
grande massa de resíduos, quando mal gerenciada, degrada a qualidade de vida
urbana, sobrecarrega os serviços municipais de limpeza pública e reforça no país
a desigualdade social, uma vez que gera gastos com coleta, transporte e
disposição de resíduos postos irregularmente em áreas públicas, gastos esses
que, na realidade, é de responsabilidade dos geradores.
Para uma análise de estimativa nacional, é interessante a comparação
entre o Brasil e outros países como mostra a TABELA 1, que apresenta uma
estimativa de geração de RCC em diferentes países. A ressalva sobre estas
informações é que, devido à variação de datas, é difícil estabelecer a análise da
geração dos RCC. O que pode constatar é que a geração de 31 milhões de t/ano
no Brasil encontra-se abaixo da de outros países, tais como o Japão, EUA, Itália
e Alemanha. Cabe salientar que o levantamento não pretendeu esgotar o
assunto, mas sim indicar que pode ser realizada uma ampla investigação se o
objetivo for estabelecer a análise atual de gerações de RCC em diversos países
(IPEA, 2012).

15
TABELA 1 – Estimativa de Geração de RCC em Alguns Países.

Quantidade Anual
País Milhões
Kg/habitante/ano Fonte
t/ano
Tolstoy, borklund e Carlson (1998) e EU
Suécia 1,2 – 6 136 – 680
(1999)
Lauritzen (1998), Brossink, Brouwers e Van
Holanda 12,8 – 20,2 820 – 1.300
Kessel (1996) e EU (1999)
EUA 136 – 171 463 – 584 EPA (1998), Peng, Grosskopf e Kibert (1994)
Reino Unido 50 – 70 880 – 1.120 Detr (1998) e Lauritzen (1998)
Bélgica 7,5 – 34,7 735 – 3.359
Dinamarca 2,3 – 10,7 440 – 2.010
Lauritzen (1998) e EU (1999)
Itália 35 – 40 600 – 690
Alemanha 79 – 300 963 – 3.658
Japão 99 785 Kasal (1998)
EU (1999) e ruivo e Veiga (Marques Neto,
Portugal 3,2 – 44,4 325 – 447
2009
Brasil 31 230 – 760 Abrelpe (2011) e Pinto (1999)
Fonte: IPEA (2012)

A pesquisa do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento


(SNIS) (Brasil, 2010c), com base nos dados de 2008, identificou os municípios
brasileiros que coletam RCC diretamente ou por contratação de terceiros. A
soma das quantidades coletadas nos municípios participantes da pesquisa pode
representar uma estimativa de geração dos RCC nacional, conforme
apresentado na TABELA 2. É importante esclarecer que estas quantidades não
correspondem ao total dos RCC gerados, mas apenas aos coletados.

TABELA 2 – Estimativa de Coleta de RCC por Origem.


Quantidade coletada de RCC Quantidade coletada de RCC
Brasil de origem pública (t/ano) de origem privada (t/ano)
Amostra da pesquisa:
7.192.372,71 7.365.566,51
372 municípios

Fonte: IPEA (2012 apud SNIS, Brasil, 2010c)

O SNIS convidou 527 municípios para participar da amostra, contudo


foram obtidas respostas válidas de somente 372 municípios, demostrando a
escassez de informação sobre o assunto.

16
Um estudo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e
Resíduos Especiais (ABRELPE) estima que em 2010 a quantidade de RCC
coletada no Brasil foi de 99.354 t/dia.
A TABELA 3 mostra que os municípios coletaram cerca de 45,1 milhões
de toneladas de RCC em 2016, o que configura uma diminuição de 0,08% em
relação a 2015. Esta situação, também observada em anos anteriores, exige
atenção especial, visto que a quantidade total desses resíduos é ainda maior,
uma vez que os municípios, via de regra, coletam apenas os resíduos lançados
ou abandonados nos logradouros públicos.

TABELA 3 – Quantidade Total de RCC coletado pelos Municípios no Brasil.


2015 2016

RCC
Região
Coletado Índice
RCC Coletado (t/dia)
(t/dia) / índice (Kg/hab./dia)
(Kg/hab./dia)
Brasil 123.721/0,605 123.619 0,605

Fonte: Pesquisa ABRELPE / IBGE

Além dos dados quantitativos, para o diagnóstico da situação dos RCC,


também é necessário conhecer a composição destes. A TABELA 4 apresenta
uma caracterização dos materiais presentes nos RCC de obras no Brasil.

TABELA 4 – Composição Média dos Materiais de RCC de Obras no Brasil.


Componentes Porcentagem
Argamassa 63%
Concretos e Blocos 29%
Outros 7%
Orgânicos 1%
Total 100%

Fonte: IPEA (2012 apud Silva Filho, 2005)


As fontes geradoras de RCC podem ser várias, como se observa na
TABELA 5.

17
TABELA 5 – Fonte Geradora e Componentes de RCC (em %).
Sobras
Trabalhos Sobras de Obras
Componentes Escavações de
Rodoviários Demolição Diversas
Limpeza
Concreto 78,0 6,1 54,3 17,5 18,4
Tijolo - 0,3 6,3 12,0 5,0
Areia 4,6 9,6 1,4 3,3 1,7
Solo, poeira, lama 16,8 48,9 11,9 16,1 30,5
Rocha 7,0 32,5 11,4 23,1 23,9
Asfalto 23,6 - 1,6 1,0 0,1
Metais - 0,5 3,4 6,1 4,4
Madeira 0,1 1,1 1,6 2,7 3,5
Papel/material orgânico - 1,0 1,6 2,7 3,5
Outros - - 0,9 0,9 2,0
Fonte: IPEA (2012 apud Levy, 1997)

Em relação ao manejo dos RCC, de acordo com a Pesquisa Nacional de


Saneamento Básico (IBGE, 2010) dos 5.564 municípios brasileiros, 4.031
municípios (74,44%) apresentaram serviços de manejo dos RCC. Contudo,
apenas 392 municípios (9,7%) possuem alguma forma de processamento dos
RCC discriminados conforme GRÁFICO 1.

GRÁFICO 1 – Informação Nacional sobre o Tipo de Processamento entre os


392 Municípios Brasileiros com Serviço de Manejo de RCC.

Outros
204

Reaproveitamento dos agregados produzidos na


fabricação de componentes construtivos
79

Triagem e trituração simples dos resíduos Classe A,


com classificação granulométrica dos agregados
reciclados 20

Triagem e trituração simples dos resíduos Classe A


14

Triagem simples dos resíduos de construção e


demolição reaproveitáveis (Classe A e B)
124

Fonte: IPEA (2012)

18
No Brasil, a partir de 2002 destacam-se o estabelecimento de políticas
públicas, normas, especificações técnicas, voltados aos equacionamentos dos
problemas resultantes do manejo inadequado dos RCC, possibilitando que os
agentes envolvidos na cadeia dos resíduos desenvolvam iniciativas no rumo da
sustentabilidade dos processos de gestão.

5.2. GESTÃO DOS RCC

O Conselho de Gestão de Resíduos Sólidos abrange atividades


referentes à tomada de decisões estratégicas e à organização do setor para esse
fim, envolvendo instituições, politicas, instrumentos e meios.
Já o termo gerenciamento de resíduos refere-se aos aspectos
tecnológicos e operacionais da questão, envolvendo fatores administrativos,
gerenciais, econômicos, ambientais e de desempenho: produtividade por
exemplo, e relaciona-se à prevenção, redução, segregação, reutilização,
acomodamento, coleta, transporte, tratamento, recuperação de energia e
destinação final de resíduos sólidos.
A gestão dos RCC é um processo composto por ações que promovem
uma nova roupagem ao serviço público, pois este passa a promover a captação
máxima dos resíduos gerados, através da constituição de redes de áreas de
atração diferenciadas para pequenos e grandes geradores; da reciclagem dos
resíduos captados, em áreas de disposição irregular; da reciclagem dos resíduos
capitados, no tocante à intensidade da geração, à correção da coleta e
disposição e às possibilidade de utilização dos resíduos reciclados (PINTO,
1999).
Com a criação da Resolução CONAMA nº 307, surgiu a preocupação com
a adoção de uma Gestão Eficaz e Eficiente dos RCC por parte dos municípios
brasileiros, uma vez que esta resolução estabelece diretrizes, critérios e
procedimentos para que a gestão deles seja adotada. É de responsabilidade dos
municípios brasileiros e Distrito Federal a obrigatoriedade pela implementação
de um Plano Integrado de Gerenciamento dos RCC, que seja capaz de adotar
soluções diferenciadas para os pequenos volumes, de responsabilidade privada,
integrando essas soluções em um sistema de gestão coerente.

19
A Resolução CONAMA nº 307 em seu art. 2º define que a Gestão dos
RCC aconteça através do gerenciamento e do planejamento de práticas e
procedimentos para desenvolver ações que visem reduzir, reutilizar ou reciclar
estes resíduos.
E o art. 5º cita que a implementação da Gestão dos RCC ocorra através
da elaboração do Plano Integrado de Gerenciamento dos RCC. Vale ressaltar a
importância dos gestores dos municípios brasileiros fazer uso deste instrumento
de Gestão dos Resíduos Sólidos da Construção Civil e da Demolição para que
consigam promover a Gestão Eficaz e Eficiente dos RCC diminuindo assim os
impactos ambientais causados nos municípios do Brasil pela falta desta gestão.
Um modelo de Gestão dos RCC deve ser composto por instrumentos
legais e por um plano de diretrizes do município os quais devem levar em
consideração a organização, a orientação do setor quanto a melhor destinação
destes resíduos e a melhor forma para reciclar e reaproveitá-los de acordo com
as peculiaridades dos municípios (SANTOS, 2008).
Amparado nas definições acima, podemos definir a Gestão dos RCC
como um processo constituído por uma configuração administrativa funcional,
por ações articulares com a participação dos agentes envolvidos no processo de
geração destes resíduos e do poder público, e por diretrizes gerais que
estabelecem as políticas e regulamenta a triagem dos RCC, a disposição final,
a reciclagem e reutilização dos mesmos.

20
6. IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DOS RCC

A construção civil é hoje uma das atividades que mais contribui para a
realização do desenvolvimento sustentável no país. É o setor que mais consome
recursos naturais e utiliza energia de forma intensiva, gerando consideráveis
impactos ambientais, além daqueles associados à geração de resíduos sólidos,
líquidos e gasosos. Estima-se que mais de 50% dos resíduos sólidos sejam
provenientes da construção. Tais aspectos ambientais, somados à qualidade de
vida que o ambiente construído proporciona, sintetizam a relação entre
construção e meio ambiente (MMA, 2013).
Para minimizar os impactos ambientais provocados pela construção,
surge o paradigma da construção sustentável que é definida como um processo
holístico que aspira a restauração e manutenção da harmonia entre o ambiente
natural e o construído, e a criação de assentamentos que afirmem a dignidade
humana e encorajem a equidade econômica. Este conceito transcende a
sustentabilidade ambiental, para abraçar a sustentabilidade econômica e social,
que enfatiza a adição de valor à qualidade de vida dos indivíduos e das
comunidades (CORRÊA, 2009).
Os desafios consistem na redução e na criação de condições favoráveis
para o consumo de materiais e energia, na redução dos resíduos gerados, na
preservação do ambiente natural e na melhoria da qualidade do ambiente
construído. Para tanto o Ministério do Meio Ambiente recomenda:

 Mudança dos conceitos da arquitetura convencional na direção de


projetos flexíveis com possibilidade de readequação para futuras
mudanças de uso e atendimento de novas necessidades, reduzindo as
demolições;
 Busca de soluções que potencializam o uso racional de energia ou de
energias renováveis;
 Gestão ecológicas da água;
 Redução do uso de materiais com alto impacto ambiental;
 Redução dos RCC com modulação de componentes para diminuir perdas
e especificações que permitam a reutilização de materiais.

21
Sabe-se que a construção civil é a atividade que mais gera impactos ao
meio ambiente. Os impactos ambientais decorrente desta atividade estão
presentes desde a extração dos recursos até a geração de resíduos. A
disposição inadequada dos RCC seja em ruas ou lixões, causam diversos
problemas ao meio ambiente e também a saúde pública, como:

 Assoreamento de córregos e rios, devido ao carreamento de grandes


quantidades de sedimentos ao curso d'água;
 Obstrução dos sistemas de drenagem;
 Proliferação de agentes transmissores de doenças como roedores e
insetos peçonhentos;
 Degradação da paisagem urbana;
 Prejuízo à circulação de veículos e de pessoas;
 Riscos geotécnicos.

22
7. RESPONSABILIDADES

Diante dos impactos causados pelos RCC, somente a ação do poder


público, com realização do serviço de coleta, armazenamento dos recicláveis,
não soluciona definitivamente os problemas. A gestão desses resíduos requer
mudança cultural e conscientização de toda a população.
As soluções para a gestão dos RCC nos municípios devem possuir
interação dos seguintes agentes:

 Órgão público municipal, responsável pelo controle e fiscalização sobre o


transporte e destinação dos resíduos;
 Geradores de resíduos, responsáveis por observar e cumprir as leis
específicas sobre o tema;
 Transportadores, responsáveis pela destinação aos locais licenciados e
apresentação do comprovante de destinação.

A Resolução CONAMA nº 307 atribui responsabilidades para o poder


público municipal e também para os geradores de resíduos no que se refere à
sua destinação.
Aos municípios, a elaboração de Plano Integrado de Gerenciamento,
incluindo um Programa Municipal de Gerenciamento para geradores de
pequenos volumes, e um Projeto de Gerenciamento em obra para aprovação
dos empreendimentos dos geradores de grandes volumes. Compete aos
municípios o direcionamento de ações que atendam aos seguintes objetivos:

 Destinação e disposição adequada dos grandes e pequenos volumes;


 Preservação e controle de aterros;
 Melhoria da limpeza e da paisagem urbana;
 Preservação ambiental;
 Incentivo às parcerias;
 Incentivos à presença de novos agentes de limpeza;
 Incentivo à redução de resíduos na fonte;
 Redução dos custos municipais.
23
8. PROGRAMA DE CORREÇÃO PARA DISPOSIÇÕES DOS RCC

A seguir, em linhas gerais, serão detalhadas todas as ações


indispensáveis para o programa de Correção para Disposições de RCC.

8.1. TRATAMENTO

O tratamento dos resíduos da construção civil está relacionado a um


conjunto de práticas que visam à redução da quantidade do seu potencial
poluidor. A mudança no comportamento e processos, segregação,
acondicionamento e a reutilização, serão algumas das ações utilizadas no
tratamento e explicadas nos itens seguintes.

8.2. SEGREGAÇÃO E ACONDICIONAMENTO

A fase de segregação, a mais importante em um programa de Gestão de


Resíduos, uma vez que a triagem executada de forma eficiente viabiliza as
outras etapas, como a reciclagem, reaproveitamento e a disposição final.
Conforme a Resolução CONAMA nº 307, a segregação deverá ser
realizada, preferencialmente, pelo gerador e na origem. Neste caso obriga o
desenvolvimento de atividades a serem realizadas dentro dos canteiros de
obras.
Outra questão de grande relevância é o desperdício de materiais e o
comportamento da mão de obra no canteiro de obras. A ideia inicial é não gerar
resíduos ou gerar o mínimo possível, assim será necessário o envolvimento e
informação de todos os trabalhadores quanto à importância do correto
gerenciamento, aos impactos ambientais, as leis e ações necessárias.
Quando os resíduos são gerados, é extremamente importante que eles
sejam separados e armazenados de forma correta. Segue a TABELA 6 com as
informações dos RCC conforme sua classificação.

24
TABELA 6 – Classificação e Destinação dos RCC.
Classe Origem Tipo de resíduo Destinação
De pavimentação e de outras
obras de infraestrutura, Deverão ser reutilizados ou
inclusive solos provenientes de reciclados na forma de
São os resíduos operações de terraplanagem. agregados, ou
A reutilizáveis ou Da construção, demolição e encaminhados a áreas de
recicláveis como reparos de edificações aterro de RCC, sendo
agregados (componentes cerâmicos, dispostos de modo a permitir
tijolos, blocos, telhas e placas a sua utilização ou
de revestimento, concreto e reciclagem futura
argamassa)

Deverão ser reutilizados ou


reciclados na forma de
B agregados, ou
Resíduos recicláveis Plásticos, gesso, papel,
encaminhados a áreas de
com outras papelão, metais, vidros,
aterro de RCC, sendo
destinações madeira e outros
dispostos de modo a permitir
a sua utilização ou
reciclagem futura

C Deverão ser armazenados,


Resíduos para os
Não especificado pela transportados e destinados
quais ainda não
resolução em conformidade com as
foram desenvolvidas
normas específicas

D Resíduos perigosos Deverão ser armazenados,


oriundos de processo Clinicas radiológicas, transportados e destinados
e construção ou instalação industriais e outros em conformidade com as
conforme NBR10004 normas específicas

Fonte: Resolução CONAMA nº 307 (2002)

Outros cuidados deverão ser adotados no canteiro de obras:

 Seguir as recomendações do fabricante;


 Descarregar os materiais com cuidado, para evitar quebra;
 Utilizar carrinho próprio para transporte;
 Prever a utilização de peças para modulares, conforme paginação;
 Armazenar, utilizar os materiais com cuidado para não romper
desnecessariamente;
 Seguir o projeto para evitar desperdício.

25
8.2.1 Vantagens da Gestão de Resíduos Sólidos nos Canteiros de Obra

A Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB) cita que o


gerenciamento dos RCC no canteiro de obras além de atender à legislação
ambiental, traz vantagens para os construtores, tais como:

 Redução dos custos de produção e aumento de eficiência e


competitividade;
 Redução das infrações aos padrões ambientais, previstos na legislação;
 Diminuição dos riscos de acidente ambientais;
 Melhoria das condições de saúde e segurança do trabalhador;
 Melhoria da imagem dos construtores junto a consumidores, fornecedores
e poder público;
 Ampliação das perspectivas de mercado, interno e externo;
 Acesso facilitado às linhas de financiamento;
 Melhoria no relacionamento com os órgãos ambientais, com a mídia e
com a comunidade.

8.3. TRANSPORTE

Por imposição legal, os geradores de resíduos são responsáveis pela


destinação adequada dos mesmos, que devem ser feito por caminhões com
cobertura ou proteção para evitar possíveis derramamentos de resíduos em vias
públicas. Para os resíduos da Classe A, podem ser usados caminhões com
caçambas, para os de Classe B e C podem ser usados caminhões comuns e
para a os resíduos de Classe D é necessário transporte específico e por
empresas licenciadas, conforme Resolução CONAMA nº 307.

8.4. ACONDICIONAMENTO EXTERNO

O acondicionamento externo é o local temporário onde os resíduos serão


armazenados separadamente até sua coleta e posteriormente ser dada a
destinação adequada e reciclagem.

26
8.4.1. Estação de Reciclagem de Entulho

Para atender a quantidade de resíduos entende-se a necessidade de


implantação de Estação de Reciclagem de Entulho, que além de receber os RCC
sem contaminação e com potencial de reciclagem, promoverão a triagem,
classificação e britagem do material. Dependendo da viabilidade de investimento
para a implantação, o município pode optar por uma estação fixa, como ilustra a
FIGURA 1.

FIGURA 1 – Usina Regional de Reciclagem de Resíduos Sólidos da


Construção Civil em Betim – MG.

Fonte: Portal Resíduos Sólidos (2014)

De acordo com o Portal Resíduos Sólidos (PRS) (2017), o município pode


optar por adquirir uma estação de reciclagem de RCC móvel. Dentre as
vantagens das estações móveis, podemos citar:

 Sua mobilidade torna o empreendimento extremamente competitivo;


 Pode atuar em um ponto fixo ou atender grandes obras diretamente no
local;

27
 Diminui custos de logística e construção de fundamento de base;
 Alta capacidade de adaptação geográfica do mercado;
 Versões a diesel ou energia elétrica;
 Pode ser locada completamente por empresas do setor;
 Alta capacidade de processamento;
 Comumente encontradas na Europa;
 Menor custo de investimento entre os modelos.

Uma Estação de Reciclagem Móvel de Resíduos da Construção Civil –


ERM-RCC é composta basicamente por 3 componentes: Um caminhão tipo Roll
On Roll Off, uma Britadeira Móvel e uma Peneira Rotatória Móvel normalmente
atracada como reboque no caminhão.
A Britadeira de Mandíbula Móvel BMD RA 700/6 é extremamente
compacta e fácil de transportar pesando somente 14,3 toneladas. Ao chegar em
seu local de trabalho, a usina completa pode ser montada em apenas 20
minutos. Toda a usina pode ser transportada em um único caminhão. Devido a
tecnologias avançadas, a usina consegue processar os resíduos a índices
baixos de emissão de ruídos, poeira e gases, podendo ser instalada em regiões
sensíveis a esses tipos de problemas.
Possui sistema próprio de extração de metais dos resíduos triturados
assim como filtros para diferentes tamanhos de frações. Pode ser adquirida nas
versões a diesel ou energia elétrica, assim com ou sem lagarta mecânica.
Através de um controle remoto é possível inicializar ou parar a operação assim
como conduzir a usina para o local desejado (FIGURA 2 e 3).

28
FIGURA 2 – Britadeira de Mandíbula Móvel BMD RA 700/6.

Fonte: Portal Resíduos Sólidos (2015)

FIGURA 3 – Caminhão tipo Roll On Roll Off com Britadeira de Mandíbula


Móvel BMD RA 700/6 e Peneira Rotatória Móvel.

Fonte: Portal Resíduos Sólidos (2015)

29
8.4.2. Etapas do Processo de Reciclagem

O processo de reciclagem nas estação se processa da seguinte forma:

 Recepção: o material é inspecionado na portaria para verificar a sua


composição e o grau de contaminação. O material aceito será classificado
conforme a TABELA 7;

TABELA 7 – Classe e Composição dos RCC.


Classe Composição Exemplo Destinação

Resíduos de peças fabricadas com


A Lajes, pilares,
concreto, argamassa, fibrocimento, Preparação de argamassa
blocos,
pedras ornamentadas, sem a e concreto não estrutural
pavimentação
presença de impuros

Destinam-se à base e à
B Resíduos predominantemente Tijolos, telhas, sub-base de pavimentação
cerâmicos azulejos de vias, drenos e materiais
de rip-rap

Fonte: Sinduscon - MG

 Seleção: os materiais recicláveis são separados manualmente dos


rejeitos. O reaproveitáveis são devidamente destinados;
 Operação de britagem:

 Os resíduos são levados pela pá carregadeira até o alimentador


vibratório do britador de impacto;
 Por gravidade vão para a calha simples e depois para o
transportador de correia. Após a britagem ocorre a eliminação de
pequenas partículas metálicas ferruginosas pela ação de eletroímã
sobre o material reciclado conduzido pelo transportador de correia.

 Estocagem em pilhas: o material reciclado é acumulado sob o


transportador de correia.
Os materiais produzidos na estação, conforme descrito na TABELA 8:
30
TABELA 8 – Materiais Produzidos na Estação de Reciclagem dos RCC.
Produto Características Uso recomendado

Material com dimensão


Areia Reciclada
máxima de 4,8 mm

Fabricação de artefatos de concreto sem fins


Material com dimensões estruturais, tais como blocos de vedação,
Brita 0 pisos Inter travados, guias (meio-fio), com
entre 4,8 e 9,5 mm
devido acompanhamento tecnológico
Material com dimensões
Brita 1
entre 9,5 e 19 mm

Material com dimensões


Rachão
acima de 19 mm

Base e sub-base de pavimentação, de vias,


Material com dimensões e
Brita Corrida preenchimento de valas, regularização de
composições variadas
vias não pavimentadas, etc.

Fonte: Sinduscon - MG

8.5. REUTILIZAÇÃO DOS RCC

A reciclagem é uma ação que atua na mitigação dos impactos gerados


pelos RCC. Com a produção intensa dos entulhos reciclados permitirá que
demandas sociais possam ser equacionadas com sua utilização abaixo custo e
desempenho adequado.

8.5.1 Utilização em Pavimentação

A forma mais simples de reciclagem do entulho é a sua utilização em


pavimentação (base, sub-base ou revestimento primário) na forma de brita
corrida ou ainda misturas do resíduos sólidos.
Baseado nos dados da ABRECON, algumas formas de reutilização
desses resíduos serão detalhadas a seguir.

31
 Utilização em pavimentação
A forma mais simples de reciclagem do entulho e a sua utilização em
pavimentação (base, sub-base ou revestimento primário) na forma de brita
corrida ou ainda em misturas do resíduos com o solo.

 Processo de Produção
- O entulho, que pode ser usado ou misturado ao solo, deve ser
processado por equipamentos de britagem/trituração até alcançar
granulometria desejada;
- O resíduo ou mistura podem então ser utilizados como reforço de
subleito, sub-base ou base de pavimentação;

 Vantagens
- É a forma de reciclagem que exige menor utilização de tecnologia o que
implica menor custo do processo;
- Permite a utilização de todos os componentes minerais do entulho
(tijolos, argamassas, materiais cerâmicos, areia, pedras, etc.), sem a
necessidade de separação de nenhum deles;
- Economia de energia no processo de moagem do entulho (em relação à
sua utilização em argamassas), uma vez que, usando-o no concreto, parte
do material permanece em granulometrias graúdas;
- Possibilidade de utilização de uma maior parcela de entulho produzido,
como o proveniente de demolições e pequenas obras que não suportam
o investimento em equipamentos de moagem/trituração.

 Utilização como agregado de concreto


O entulho processado pelas usinas de reciclagem pode ser utilizado como
agregado no concreto não estrutural, a partir da substituição dos agregados
convencionais (areia e brita).

32
 Processo de Produção
- O entulho é utilizado como agregado no concreto, em substituição areia
e à brita convencionalmente utilizadas. A mistura é com o cimento e água,
sendo a água em quantidade bastante superior devido à grande absorção
do entulho.

 Vantagens
- Utilização de todos os componentes minerais do entulho (tijolos,
argamassas, materiais cerâmicos, areia, pedras, etc.), sem a necessidade
de separação de nenhum deles;
- Economia de energia no processo de moagem do entulho (em relação à
sua utilização em argamassas), uma vez que, usando-o no concreto, parte
do material permanece em granulometrias graúdas;
- Possibilidade de utilização de uma maior parcela de entulho produzido,
como o proveniente de demolições e pequenas obras que não suportam
o investimento em equipamentos de moagem/trituração.

 Limitações
- A presença de faces polidas encontradas em materiais cerâmicos
interferem negativamente na resistência à compressão do concreto
produzido.

 Utilização de agregados para confecção de argamassas


O entulho pode ser utilizado como agregado pra a confecção de
argamassas após ser processado, em granulometrias semelhantes às da areia,
por equipamentos denominados "argamasseiras". O produto pode ser utilizado
como agregado para argamassas de assentamento e revestimento.

 Processo de Produção
- A partir da mistura de cimento, areia e água, a fração mineral do entulho
é adicionada a uma caçamba de piso horizontal, onde dois rolos moedores
girando e torno de um eixo central vertical, proporciona a moagem e

33
homogeneização da mistura que sai do equipamento pronta para ser
usada.

 Vantagens
- Utilização do resíduo no local gerado, o que elimina custos com
transporte;
- Efeito pozolânico apresentado pelo entulho;
- Redução no consumo de cimento e de cal;
- Ganho na resistência a compressão das argamassas.

 Limitações
- As argamassas de revestimento obtidas podem apresentar problemas
de fissuração, possivelmente pela excessiva quantidade de finos presente
no entulho moído pelas "argamasseiras" (ABRECON, 2014).

Pare desenvolver em uma única ação, reciclagem, inclusão social e


empreendedorismo, o Poder Público poderá desenvolver outro projeto voltado
para produção de blocos, englobando as vertentes: social, ecológica e
empreendedora.

34
9. MATERIAIS E MÉTODOS

9.1. CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO

A área de estudo corresponde à região do Município de Cajuri – MG que


apresenta uma população de acordo com o IBGE (2015) de aproximadamente
4.421 habitantes, com uma área de 83.038 Km².
De acordo com o INPE (2011), o município localiza-se nas coordenadas:
Latitude 20º47'27" S e Longitude 42º47'49" W. Sua altitude em relação ao nível
do mar é 700 metros no ponto central da cidade, sendo que a cota mais baixa
do município localiza-se na divisa com o ribeirão São Joaquim, com 600 metros,
e o ponto culminante encontra-se na divisa dom o ribeirão Capivara, com 1.006
metros.

FIGURA 4 – Mapa de Localização do Município de Cajuri – MG.

Fonte: Google Maps (2017)

35
Os municípios limítrofes são: São Miguel do Anta - MG, Viçosa - MG e
Coimbra – MG.
A principal rodovia federal de acesso ao Município de Cajuri – MG é a BR-
120, a principal rodovia estadual é a MG-1750. Em relação à distância entre os
grandes centros, considerando o menor trajeto em rodovias federais ou
estaduais, encontra-se a 243 Km de Belo Horizonte – MG, 375 Km do Rio de
Janeiro – RJ, 670 Km de São Paulo – SP e 970 Km de Brasília – DF.

9.2. COLETA DE DADOS

Inicialmente foram feitos levantamentos bibliográficos para aprimorar os


conhecimentos sobre as questões dos resíduos provenientes de construção civil,
destacando-se o estudo da legislação pertinente, com uma atenção especial à
Lei nº 12.305:2010 – Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e seu
Decreto Regulamentador nº 7.404:2010, bem como as normas referentes às
atividades que envolvem os RCC estabelecidas pela ABNT NBR.
Foram realizados entrevistas com o Secretário de Obras e com
proprietários de construções no município de Cajuri – MG, sendo que a coleta
de entulho foi classificada como informal. A Secretaria de Obras da Prefeitura
Municipal de Cajuri – MG é a responsável pelas questões ambientais do
município.
Posteriormente, descrevem-se de maneira explicativa os principais
tópicos desta temática buscando avaliar a situação dos RCC no município e
seguir uma destinação adequada para tal.

9.3. DIAGNÓSTICO DOS RCC

A preocupação com a melhoria do padrão de limpeza urbana do municio,


aliada ao crescimento demográfico e ao consequente aumento do volume de
resíduos descartados pela população, exigirá a incorporação de novos recursos
para a limpeza da cidade.
Atualmente, o município de Cajuri – MG possui apenas duas leis
municipais que disciplinam o tema de remoção e destinação de RCC.

36
A Lei nº 553 de 28 de Agosto de 2010, que dispõe sobre o código de
Obras do município e a Lei nº 571 de 11 de Outubro de 2011, que institui o
Código de Postura do Município, tratam apenas da responsabilidade pela
remoção desses resíduos bem como o destino final.
O artigo 25 da Lei 553:2010 disciplina o seguinte:

Art. 25. É proibida a permanência de qualquer material de construção


nas vias e logradouros públicos, bem como a sua utilização como
canteiro de obras ou deposito de entulhos.
Parágrafo Único. A não retirada do material de construção ou do
entulho autoriza a Prefeitura Municipal a fazer a remoção do material
encontrado em via pública dando-lhe o destino conveniente e a cobrar
dos executores da obra a despesa da remoção aplicando-lhe as
sansões cabíveis. (Título III, Cap. I, Subseção I, art. 25º, § único, Lei nº
533/2010)

E o artigo 98 da Lei nº 571:211 trata da responsabilidade e destino dos


resíduos da seguinte forma:

Art. 98. Para efeito do serviço de coleta domiciliar de lixo não serão
passiveis de recolhimento, resíduos industriais, de oficinas, os restos
de material de construção ou entulhos provenientes de obras ou
demolições, bem como, folhas, galhos de árvores dos jardins e quintais
particulares.
§ 1º O lixo enquadrado no "caput" deste artigo será removido às custas
dos respectivos proprietários, ou responsáveis, devendo os resíduos
industriais destinarem-se a local devidamente designado e autorizado
pela Prefeitura Municipal e, no que couber, pelos órgãos ambientais
competentes.
§ 2º Fica facultado, mediante analise, conveniência e autorização do
proprietário, a obtenção de autorização especial da Prefeitura
Municipal para o aterramento de terrenos baldios com detritos, entulho
provenientes de obras ou demolições ou similares, respeitada a
legislação pertinente. (Cap. IV, Seção V, art. 98º, §1º e 2º, Lei
571/2011).

Nas entrevistas realizadas com os proprietários de construções no


município, observou-se certa resistência para repassar dados e difícil acesso a
obtenção e informações, sendo que os dados coletados foram mínimos.
Os resultados da entrevista com o Secretário de Obras do município foram
mais satisfatórios. Foi questionado sobre diversas situações q envolvem a
Gestão Eficaz e Eficiente dos RCC na finalidade de poder analisar como
acontece a atual gestão dos RCC no município. Dentre as perguntas, foi

37
questionado o conhecimento sobre a Resolução CONAMA nº 307, sobre a
classificação, reciclagem para posterior utilização e a disposição final dos RCC.
Partindo dos relatos do Secretário de Obras do Município de Cajuri – MG
verificou-se que os RCC gerados no município, tanto na cidade sede quanto no
distrito de Paraguai, são depositados em locais impróprios por parte da
população, ou seja, em terrenos vazios, faixas de domínio de estradas, entre
outros, conforme demostra as FIGURAS 5 e 6.

FIGURA 5 – RCC - Sede de Cajuri – MG.

Fonte: Plano Municipal de Saneamento Básico Cajuri – MG (PMSB) (2014)

FIGURA 6 – RCC - Distrito de Paraguai.

Fonte: Plano Municipal de Saneamento Básico Cajuri – MG (PMSB) (2014)


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A gestão dos RCC no município caracteriza-se por realizar a coleta e
transporte dos resíduos que são dispostos de forma irregular na cidade pela
população, porém, não há nenhum processo de triagem e reciclagem para
posterior reutilização destes resíduos. Existe apenas a preocupação por parte
dos gestores do município em não deixarem estes resíduos dispostos
irregularmente na cidade por um período prolongado, fato este que já se
caracteriza por amenizar os impactos ambientais causados pela disposição
irregular dos RCC no município que seria a geração de problemas que vão desde
proliferação de vetores transmissores de doenças até impactos negativos ao
meio ambiente como assoreamento de córregos e rios.
Parte dos RCC coletados é destinada à manutenção de estradas vicinais
e o restante é depositado em uma vala existente no aterro controlado do
município. A fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM), por meio do mapa
de situação do tratamento e disposição final dos resíduos de Minas Gerais do
ano de 2012, classifica o local como "Aterro Controlado", estando assim
condizente com as condições observadas no levantamento de campo (FIGURA
7). Esta vala foi aberta em meados do ano de 2010 com aproximadamente 10
anos de vida útil. Portanto, restam apenas 3 anos até seu esgotamento final.

FIGURA 7 – Placa de Identificação do Aterro Controlado.

Fonte: Plano Municipal de Saneamento Básico Cajuri – MG (PMSB) (2014)

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A disposição final dos RCC acontece na vala existente no aterro
controlado do municio, os mesmos são depositados a céu aberto (FIGURAS 8 e
9), então fica perceptível que acontece apenas a coleta e o transporte destes
resíduos dos pontos temporários de disposição irregular para a vala, não
ocorrendo nenhuma triagem e nem reciclagem dos mesmos, caracterizando
assim uma Gestão Corretiva dos RCC à medida que não há soluções definitivas
para minimizar os impactos causados ao meio ambiente.

FIGURA 8 – Disposição final dos RCC em Cajuri – MG.

Fonte: Acervo do Autor (2017)

FIGURA 9 – Disposição final dos RCC em Cajuri – MG.

Fonte: Acervo do Autor (2017)

40
Em relação à prática de coleta seletiva e implantação de Estação de
Reciclagem, apurou-se que o município ainda não possui ações para esses fins,
mas destacou a importância da questão e de um estudo preliminar.
Percebe-se que para uma Gestão dos RCC no município torne-se uma
Gestão Eficaz e Eficiente é necessário fazer um Plano Municipal de Gestão de
Resíduos Sólidos em um versão Simplificada (PSGIRS), tendo em vista possuir
população inferior a 20.000 habitantes, adequando o município às exigências da
Lei Federal nº 12.305:2010 e da Resolução CONAMA nº 307, pois a prefeitura e
os geradores de resíduos só poderão dispor no aterro controlado os rejeitos e
não mais os resíduos passíveis de reciclagem.
Logo depois, que ocorra uma preocupação em determinar a quantidade
de RCC gerados no município, classifica-los e realizar um treinamento com
agentes envolvidos na coleta e transporte, para posteriormente tomar as
decisões que proporcionaria a Gestão Eficaz e Eficiente dos RCC, iniciando
assim um processo pioneiro na região de gestão e manejo diferenciado e de
valorização desses resíduos, agregando valor econômico através do processo
de reciclagem de entulho.

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10. CONCLUSÃO

Com este estudo, usando como referência e analisando a atual gestão do


Município de Cajuri – MG, constatou-se que a Gestão dos Resíduos da
Construção Civil dos Municípios, de acordo com as práticas adotadas, é uma
Gestão Corretiva que segundo os doutrinadores desta temática caracteriza por
adotar medidas paliativas e não eficazes e eficientes para amenizar o impacto
ambiental que estes resíduos causam quando são dispostos de forma irregular
no meio ambiente. Então torna-se importante o conhecimento de como promover
uma Gestão Eficaz e Eficiente dos RCC, para posteriormente aplicar aos
municípios.
Com relação à Gestão Eficaz e Eficiente concluímos que a mesma é o
processo de gestão capaz de minimizar os impactos ambiental que os RCC
causam ao meio ambiente, suas ações se caracterizam por conhecer a
quantidade destes resíduos gerados no municio, fato este que permitirá aos
gestores fazer uma triagem dos mesmos e adotar as medidas de reciclagem que
melhor se adapta ao município para posterior utilização e geração e renda.
Como sugestão para transformar a Gestão Corretiva dos RCC em uma
Gestão Eficaz e Eficiente dos RCC, indica-se que o primeiro passo é adequar o
município às exigências da Lei Federal nº12.305:2010 e da Resolução CONAMA
nº 307 que permitirá os mesmos compreenderem a importância e como pode ser
realizada a triagem destes materiais, qual a importância da reciclagem para
posterior reutilização destes como material de construção e da importância de
traçar diretrizes para alcançar esse fim.
Sugere-se, também, que os administradores desenvolvam um Plano de
Gerenciamento Integrado de RCC, buscando um local adequado para a
disposição final destes resíduos e desenvolvam um programa de reciclagem.

42
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