Você está na página 1de 39

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DO MEIO

AMBIENTE, DESENVOLVIMENTO URBANO E FUNDIÁRIO DA


CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE BRASÍLIA/DF

Distribuição por prevenção


Processo nº 2016.01.1.016850-9

CASA DE CULTURA TAINÃ - TAINÃ, pessoa jurídica de


direito privado sem fins lucrativos, inscrita no CNPJ sob o nº
037.272.8030001-08, com sede na Rua Inhambú nº 645, Vila Padre
Manoel de Nóbrega, Campinas - SP, CENTRO DE DEFESA DOS
DIREITOS DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES DO DISTRITO
FEDERAL - CEDECA, pessoa jurídica de direito privado sem fins
lucrativos, inscrita no CNPJ sob o nº 07.526.912.10001-40, com sede
na QI 07, Bloco E, apartamento 207, CEP 71020056, Guará I, e
INSTITUTO INVENÇÃO BRASILEIRA, pessoa jurídica de direito
privado sem fins lucrativos, inscrita no CNPJ sob o nº
01.716.869∕0001-08, com sede na Área Especial para Mercado, Setor
B Sul, Bloco B, lojas 5/24, Taguatinga-DF, CEP 72320-415, vêm, por
intermédio de suas advogadas e advogados regularmente
constituídos pelas procurações anexas, com fundamento nos arts. 1º,
I, III, IV, V, VI, VIII; 3º, 4º e 5º, V da Lei nº 7.347/85, ajuizar

AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA

em face do GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL, pessoa jurídica de


direito público, com sede no Palácio do Buriti, CEP 70075-900,
devendo ser citado por meio da Procuradoria-Geral do Distrito
Federal, com sede na SAM Projeção I, Brasília/DF, CEP 70.620-000,
com base nos fundamentos que passa a expor.

1 – DAS PRELIMINARES

1.1 - DO CABIMENTO

A Lei nº 7.347/85, é a que disciplina a Ação Civil Pública de


responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados ao: meio
ambiente (I); ao consumidor (II); a bens e direitos de valor artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico (III); a qualquer outro
interesse difuso ou coletivo (IV); por infração da ordem econômica (V);
à ordem urbanística (VI); à honra e à dignidade de grupos raciais,
étnicos ou religiosos (VII); e ao patrimônio público e social (VIII).

No caso em tela, como será devidamente demonstrado nos


tópicos subsequentes, trata-se de demanda que visa a
responsabilização do Governo do Distrito Federal, em face do
descumprimento do Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/01), que
implica em danos ao patrimônio público e social, à ordem urbanística,
assim como outros danos de interesses difusos e coletivos.

Notável, portanto, o cabimento da presente ação civil


pública.

1.2 - DO INTERESSE E DA LEGITIMIDADE DAS ENTIDADES


AUTORAS

Conforme dispõe o art. 5º da Lei 7.347/85, tem legitimidade


para propor Ação Civil Pública:

[...]   
V - a associação que, concomitantemente:    
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei
civil;    
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao
patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem
econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou
religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico.

Pois bem, a presente ação é proposta por litisconsórcio ativo


de três associações: Casa de Cultura Tainã, Centro de Defesa dos
Direitos das Crianças e dos Adolescentes do Distrito Federal e
Instituto Invenção Brasileira, as quais possuem a legitimidade e o
interesse que explanados abaixo.

a. Casa de Cultura Tainã:

Fundada em 1989 e registrada em 1999 na cidade de


Campinas - SP, a Casa de Cultura Tainã é uma associação com
reconhecida atuação na área da cultura, educação, direitos sociais e
meio ambiente.

Conforme dispõe o art. 2º do seu estatuto, entre as suas


finalidades institucionais destacam-se:

I - pesquisar, documentar, apoiar, incentivar, elaborar e/ou


desenvolver projetos, programas e/ou atividades nas áreas da
cultura, defesa e preservação do patrimônio histórico e artístico,
respeitando-se a dinâmica natural das comunidades, grupos,
associações e pessoas diretamente envolvidas;

IV - pesquisar, documentar, apoiar, incentivar, elaborar e/ou


desenvolver projetos, programas e/ou atividades de defesa,
preservação, conservação do meio ambiente, do patrimônio
natural e promoção do desenvolvimento sustentável;
XI - pesquisar, documentar, apoiar, incentivar, elaborar e/ou
desenvolver projetos, programas e/ou atividades de promoção da
igualdade racial, em especial ao povo negro.

Verifica-se, deste modo, que a referida associação cumpre


todos os requisitos exigidos legalmente para conferência de
legitimidade à propositura da referida ação, vez que foi constituída há
mais de um ano e tem finalidades institucionais atinentes à proteção
ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, aos direitos de
grupos raciais, étnicos ou religiosos e ao patrimônio artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico.
Destaca-se que o art. 6º do seu estatuto dispõe que “a fim
de cumprir suas finalidades a associação se organizará em quantas
unidades de prestação de serviço forem necessárias” e uma destas
unidades de prestação de serviço está estabelecida no Mercado Sul
Vive por meio da Rede Mocambos.

Mocambos é uma rede de comunidades quilombolas,


indígenas, urbanas, rurais, associações da sociedade civil, pontos de
cultura, nativos das mais diversas regiões do Brasil, conectados
através das tecnologias da informação e comunicação.

Para isso são estabelecidas parcerias entre diversos


segmentos, para que de forma colaborativa e coletiva possam reunir
diferentes programas, projetos e ações voltados para o
desenvolvimento humano, social, econômico, cultural, ambiental e
preservação do patrimônio histórico-memória dessas comunidades.

Desta feita, resta devidamente demonstrado o interesse da


Associação Casa de Cultura Tainã, na propositura desta ação.

b. Centro de Defesa dos Direitos das Crianças e


Adolescentes do Distrito Federal

Popularmente conhecida como CEDECA-DF, a associação


desenvolve atividades com crianças e adolescentes do Distrito
Federal desde 1995, e foi constituída formalmente no ano de 2005.
Desde 2007 faz parte da ANCED (Associação Nacional dos Centros de
Defesa da Criança e do Adolescente), cuja missão é contribuir para a
implementação integral da Política de Garantia de Direitos da Criança
e do Adolescente, assegurando, em especial, o acesso à justiça
visando garantir a aplicação dos direitos humanos.

O art. 3º do seu Estatuto dispõe sobre as suas finalidades


institucionais, nos quais destacamos os seguintes incisos:

I - atuar como entidade de defesa, proteção e promoção de


direitos das crianças e dos adolescentes, podendo propor, dentre
outras, ações civis fundadas em interesses difusos, coletivos e
individuais indisponíveis das crianças e dos adolescentes,
combatendo todas as formas de violência, abuso e maus tratos
das crianças e adolescentes;
V - promover ações que assegurem à criança e ao adolescente o
acesso à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar.

Verifica-se, portanto, que a associação se enquadra como


legitimada à propositura da presente ação, nos termos das alíneas “a”
e “b” do inciso IV do art. 5º da Lei 7.347/85.

Urge destacar que a associação também possui atuação


junto às crianças e adolescentes que hoje residem ou frequentam o
Mercado Sul, local de grande protagonismo da cultura infanto-juvenil.
Ademais, a lesão ao patrimônio cultural afeta diretamente estas
crianças e adolescentes, bem como toda uma geração que será
privada da fruição e do desenvolvimento da cultura local.
c. Instituto Invenção Brasileira

Com sede no Mercado Sul, em Taguatinga, o Instituto


constitui um grupo de ação artística e educacional cujas várias
denominações - Oficina Mané Gostoso, Oficina Teatro Invenção
Brasileira, Ponto de Cultura Invenção Brasileira e Instituto Invenção
Brasileira - correspondem a um mesmo espaço de reunião de pessoas
responsáveis por várias ações de compartilhamento de saber e
desenvolvimento de trabalhos educativos e artísticos da cultura
popular, como circo, música e teatro.

Vários grupos de teatro de bonecos surgiram a partir de


oficinas realizadas pelo Invenção Brasileira, assim como várias outras
atividades advindas de atividades ali realizadas, como oficinas de
artesanato e de tecnologia.

O instituto tem como finalidades institucionais, dentre


outras:

(...)
IX – promover a cultura, a defesa e conservação do patrimônio
histórico cultural;
(...)
XIV – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e
promoção do desenvolvimento sustentável;
(...)

A propositura da presente ação, também encontra-se dentro


da finalidade estatutária da entidade privada sem fins lucrativos, vez
que se busca com a presente demanda a defesa do patrimônio
histórico cultural, do meio ambiente e do desenvolvimento
sustentável. Destaca-se que o referido Instituto possui vasta história
ligada à comunidade residente e adjacente ao Mercado Sul, sede do
Instituto, razões pelas quais se comprova o interesse e legitimidade
da Autora.

1.3 - DA LEGITIMIDADE PASSIVA

A Lei 7.347/85 é omissa a respeito da legitimidade passiva


das ações coletivas. Em razão disso, a doutrina e o STJ entendem pela
aplicação do regimento geral do CPC.1

Conforme relatado anteriormente e justificado adiante, a


presente demanda trata de proteção a bens e direitos de valor
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; à ordem
econômica; à ordem urbanística; à honra e à dignidade de grupos
raciais, étnicos ou religiosos; ao patrimônio público e social; e a outros
interesses, tanto difusos como coletivos.

Trata-se de tutela preventiva que visa evitar danos à


coletividade, que estão na iminência de se efetivar pela omissão do
Estado, razão pela qual este se encontra no polo passivo da presente
demanda.

2 - DOS FATOS

2. 1 MERCADO SUL - DA HISTÓRIA E DA MEMÓRIA CULTURAL

O Mercado Sul, edificado em 1958, foi uma das primeiras


construções da região administrativa de Taguatinga, no formato de
"mercado de interior", com 3 blocos, 2 vielas internas e 52 lojas e
boxes, sendo denominados lojas os imóveis dos blocos externos (A e
B) e boxes os imóveis do bloco central, interno. O espaço teve intensa
vida comercial e social, sendo um dos primeiros pontos de encontro e
convivência da cidade, por ser o primeiro local de abastecimento da
população que chegava para a construção da capital.

A partir dos anos 70, devido à abertura das avenidas


comerciais, grandes lojas e shopping centers, o local entrou em
decadência comercial e acabou se tornando um espaço de moradias
precárias, bares e prostíbulos. Este cenário, resultou em sua
estigmatização junto à vizinhança, como local de crime, tráfico de
drogas e pobreza. O proprietário do terreno conseguiu vender parte
das lojas, principalmente em uma das vielas, o que resultou numa
maior diversificação de atividades, enquanto as lojas e boxes da outra
viela foram herdadas por sua esposa e filhos, que não se preocupam
em manter os espaços em funcionamento de modo adequado e
alugaram, em condições precárias, parte de suas lojas, enquanto as
outras ficaram, literalmente, abandonadas.

1 Manual prático de processo coletivo, p. 48


No final dos anos 80, foi instalada na viela que concentra as
lojas vendidas pelo idealizador do mercado, a oficina de violões Aden
Violões, do proprietário Sr. João adquirente de algumas lojas, que
promoveu inúmeros encontros musicais, e acabou por revender uma
de suas lojas ao Teatro de Mamulengo Presepada no ano de 2000, o
que ampliou as ações culturais comunitárias, tornando o Mercado Sul
referência como Ponto de Cultura já no ano de 2005.

O espaço passou a atrair um grande número de artistas,


estudiosos, educadores e fãs da cultura, especialmente das culturas
populares brasileiras. Assim se originaram as atividades culturais e
também comunitárias, que só se fortaleceram ao longo dos anos, e
envolvem parte da vizinhança afim de construir uma proposta de bem
viver. Por meio do convívio, da troca de conhecimentos, de estudo e
ações conjuntas, as pessoas estão construindo autonomia, identidade
e tecnologias.

Na outra viela, contudo, onde a maioria das lojas e boxes


ainda pertencem aos herdeiros do antigo proprietário, várias lojas
seguiam desocupadas em um estado deplorável. Era notório na
vizinhança o estado precário em que se encontravam as áreas
comuns, com muita sujeira nas ruas, lâmpadas queimadas, calçadas
danificadas e completa falta de acessibilidade. Os comerciantes e
moradores dessa viela conviviam com todas essas situações,
decorrentes, em grande parte, da negligência dos proprietários que
mantinham boa parte de suas lojas abandonadas ou alugadas em
condições precárias.

Nas lojas que foram alugadas do lado deteriorado do


Mercado Sul, começaram a ser desenvolvidas atividades de capoeira,
medicina natural, teatro, dança e produção audiovisual. Durante os 3
(três) anos em que o espaço foi alugado, os locatários conviveram
com inúmeros problemas. As lojas alugadas foram reformadas pelos
locatários, no intuito de melhorar a situação dos imóveis, mas logo
em seguida, o proprietário, Sr. Josmar, aumentou de forma abusiva o
valor do aluguel, tornando inviável a permanência dos então
locatários nos imóveis, tento esses então, que encerrarem o contrato
de locação em novembro de 2014.

Esse aumento dos valores dos aluguéis, em parte, causado


pelo interesse despertado pelo próprio movimento cultural e pela
melhoria do ambiente no Mercado Sul, causou um processo de
gentrificação, obrigando moradoras e moradores de baixa renda, a se
mudarem, e algumas lojas a fecharem.

Após entregue, as lojas alugadas voltaram ao estado de


abandono, sem que houvesse nenhum sinal de que seriam utilizadas,
tendo em vista a completa ausência de anúncios de aluguel ou até
mesmo venda desses imóveis. Deste modo, inúmeras pessoas que
trabalhavam, atuavam ou moravam no Mercado Sul se organizaram e
compuseram o Movimento de Ocupação Cultural Mercado Sul Vive,
movimento este que ocupou 8 lojas não contíguas, na viela onde até
então havia pouca atividade cultural e estava abandonada pelo
proprietário, tendo realizado ações de limpeza, reforma para
transformar esses espaços em locais utilizáveis pela sociedade, a fim
de suprir necessidades, como moradia, espaços de artes e ofícios,
ensaios, debates e aulas.

2.2 DA AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE

Após a ocupação das lojas abandonadas, os proprietários,


que até então não usufruíam dos imóveis e muito menos os
mantinham em condições mínimas de ocupação, ajuizaram a Ação de
Reintegração de Posse nº 2016.01.1.016850-9 em face da Ocupação
Cultural Mercado Sul Vive, em trâmite nesta Vara, cujo objeto é a
desocupação das lojas e indenização por danos materiais.

Insta salientar que a ação foi inicialmente distribuída para a


1ª Vara Cível de Taguatinga-DF, porém em decisão interlocutória
proferida por aquele juízo, foi concedida a medida liminar autorizando
desocupação das lojas.

Porém, tal decisão foi suspensa em sede de Agravo de


Instrumento, julgado pelo egrégio Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e Territórios.

Deste modo, abriu-se prazo para defesa, que suscitou a


incompetência material da Vara Cível, tendo sido reconhecida a
incompetência material e os autos foram remetidos à Vara de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Urbano e Fundiário do Distrito Federal.

Em audiência una, o Ilmo. Juízo declarou a ilegitimidade da


Ocupação Cultural para figurar como parte, vez que esta não constitui
pessoa jurídica, deste modo, determinou a individualização dos réus e
citação destas via oficial de justiça, bem como reconheceu como
válidos os atos processuais praticados pelo movimento requerido, na
forma de amicus curiae. Os ocupantes dos imóveis objetos da ação,
todavia, não foram localizados pelo oficial de justiça, e o Ilmo. Juízo
determinou que houvesse, portanto, citação por meio de edital.

Inúmeros ocupantes se identificaram nos autos como réus e


apresentaram defesa. No momento, os autos se encontram na
iminência da prolação da sentença, sob grande risco de proferimento
de sentença favorável aos requerentes, colocando em risco o
desenvolvimento das ações culturais e ambientais que compõem o
patrimônio cultural da cidade.

2.3 - DAS NEGOCIAÇÕES COM O GOVERNO DO DISTRITO


FEDERAL
Visando solucionar o conflito referente à posse e destinação
da área ocupada, a Ocupação Cultural realizou negociações com
diversos órgãos do governo distrital, federal, bem como a Câmara
Legislativa do Distrito Federal, sendo certo que todos os órgãos
envolvidos reconheceram as necessidades culturais e habitacionais da
região, bem como a legitimidade do movimento ocupante.

Com o fim de construir uma saída que pusesse fim ao


conflito fundiário instaurado, garantindo a produção cultural realizada
no local, o Movimento Cultural manteve intenso diálogo com o Poder
Executivo. As negociações se iniciaram no dia 12/02/2015, mediante
uma reunião com integrantes do Movimento Social, e representantes
de órgãos distritais, quais sejam: Secretaria de Estado de Cultura
(SEC) e sua Subsecretaria do Patrimônio Cultural, Secretaria de
Relações Institucionais e Sociais (SERIS) e sua Subsecretaria de
Movimentos Populares e Participação Política, Companhia de
Desenvolvimento Habitacional (CODHAB), Companhia Imobiliária de
Brasília (Terracap) bem como os órgãos federais: Secretaria de
Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura (SCDC/MinC)
e Instituto Nacional de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN), cuja ata segue acostada aos autos.

Na referida reunião, o Poder Público, representado pelos


órgãos acima citados, declarou apoio à Ocupação Cultural Mercado
Sul Vive, bem como estipulou encaminhamentos no sentido de dar
continuidade ao processo de negociação e diálogo, em busca de uma
saída que contemplasse a comunidade cultural.

Também foi criado grupo de trabalho composto pelo


Ministério da Cultura juntamente com o Iphan. O grupo teve a
primeira reunião no dia 13/02/2015, que resultou na produção de um
relatório de apoio realizado pelo Iphan, vez que o Mercado Sul possui
reconhecido e relevante valor cultural não só para a região
administrativa de Taguatinga como também para todo o Distrito
Federal.

A Superintendência do Iphan, elaborou a Nota Técnica


02/2015, acostada aos autos, na qual reconhece que o Movimento
Cultural é comprometido com a implementação e valorização da
cultura, bem como posiciona-se favoravelmente à destinação da área
para seus atuais ocupantes. Alegam também que o trabalho realizado
pelo Movimento Cultural atinge positivamente não só os moradores
locais, como demais pessoas próximas à ocupação e por fim faz uma
recomendação aos órgãos do Governo do Distrito Federal para que
busquem uma solução que atenda as demandas do Movimento
Cultural.

A Terracap, SERIS e SEC também comprometeram-se a


encontrar uma solução para que os imóveis cumpram sua função
social. A Terracap responsabilizou-se pelo estudo fundiário do local, já
a SERIS iniciou um processo administrativo visando a realização de
estudos para a desapropriação da área, sendo este processo também
acompanhado pela Secretaria de Cultura do Distrito Federal.

Paralelamente, há um grupo cuja primeira reunião ocorreu


em 23 de fevereiro de 2015, responsável pelas pesquisas jurídicas,
principalmente voltadas à desapropriação, visando garantir que o
local seja destinado à cultura, à moradia e ao trabalho de quem está
garantindo a função social da propriedade no Mercado Sul. Não
obstante, houve também solicitação por parte da SERIS, para a
realização de um estudo jurídico realizado pela Procuradoria Geral do
Distrito Federal, mediante o  envio do ofício 107/2015.

Quanto à demanda por moradia, a Codhab junto à Secretaria


de Desenvolvimento Humano e Social do Distrito Federal, realizou
levantamento da situação socioeconômica das famílias ocupantes
para recebimento dos auxílios que lhes são assegurados. Já a
Administração de Taguatinga, manifestou-se à disposição do
Movimento Cultural, pois reconheceu sua importância no que se
refere à produção cultural na referida região administrativa, bem
como realizou a doação de dois contêineres para o local.

A Ocupação Cultural recebeu no local diversas vezes


representantes da Secretaria de Cultura, inclusive a secretária
adjunta de cultura Sra. Nanan Catalão e o Sr. Guilherme Reis,
secretário de cultura, sendo a primeira visita datada em 23 de
fevereiro de 2015.

No âmbito das negociações, a Secretaria de Relações


Institucionais e Sociais (SERIS) instaurou o procedimento
administrativo n. 360.000.062/2015 visando subsidiar a
desapropriação da área.

No referido procedimento, a Secretaria declarou


expressamente o interesse na desapropriação da área ocupada,
demonstrando o interesse social e a utilidade pública subjacentes à
ocupação, fundamentando a argumentação na legislação sobre
desapropriação. Veja-se trecho do documento (fls. 16/17):

Posição do Governo
O GDF apoia a demanda dos atuais ocupantes de
revitalizar o local, e considera desapropriar a
área para transformá-la num pólo de atividade
cultural em Taguatinga, conforme lei nº 4.132, de 10
de setembro de 1962, que segue:
Art. 1º A desapropriação por interesse social será
decretada para promover a justa distribuição da
propriedade ou condicionar o seu uso ao bem estar
social, na forma do art. 147 da Constituição Federal.
Art. 2º Considera-se de interesse social:
(...)
VIII - a utilização de áreas, locais ou bens que, por suas
características, sejam apropriados ao desenvolvimento
de atividades turísticas.   

Atualmente o Mercado Sul já acolhe atividades


turísticas, em especial a realização de festas populares.
Tornando-se um centro cultural, e sendo reconhecido o
patrimônio cultural, o potencial é ainda maior. O único
painel de Athos Bulcão numa Região administrativa
feito por placas de cimento em alto relevo (mesma
técnica da parte externa do Teatro Nacional), está lá.
A desapropriação ainda se justifica pelo Decreto-Lei nº
3.365 de 21 de junho de 1941, que afirma o seguinte:
Art. 2o  Mediante declaração de utilidade pública, todos
os bens poderão ser desapropriados pela União, pelos
Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios.
(...)
Art. 5o  Consideram-se casos de utilidade pública:
k) a preservação e conservação dos monumentos
históricos e artísticos, isolados ou integrados em
conjuntos urbanos ou rurais, bem como as medidas
necessárias a manter-lhes e realçar-lhes os aspectos
mais valiosos ou característicos e, ainda, a proteção de
paisagens e locais particularmente dotados pela
natureza;
l) a preservação e a conservação adequada de arquivos,
documentos e outros bens moveis de valor histórico ou
artístico;
Conforme visitas feitas ao local, o imóvel tem sido
abandonado pelo proprietário há diversos anos, e parte
do terreno está em degradação. A desapropriação
permitiria a recuperação do local, em especial do
patrimônio material e imaterial lá localizado.
Por fim, o proprietário tem demonstrado pouco
interesse em manter o uso cultural do local.

Proposta do Governo
O GDF tem interesse em desapropriar o terreno
para preservar o uso cultural do Mercado Sul,
revitalizá-lo e torná-lo um centro artístico-
cultural em Taguatinga.
[...] (grifo nosso)

Após mais de um ano de conversas, visitas técnicas e


mobilizações, a Secretaria de Cultura do Distrito Federal - SEC e a
Secretaria de Relações Institucionais e Sociais – SERIS assinaram
conjuntamente, no dia 13 de setembro de 2016, um documento em
que declararam formalmente o interesse na desapropriação das lojas
ocupadas pela Ocupação Cultural Mercado Sul Vive. A última reunião
foi realizada dia 15 de fevereiro de 2017 (ata anexa).

Já no dia 23 de março de 2017, o Mercado Sul sediou um


espaço organizado para a discussão do destino das atividades
culturais em Taguatinga mediante a convocação de uma reunião com
representantes do governo, Secretaria de Cultura, administração
regional de Taguatinga, Câmara dos Deputados, Conselho de
Segurança, e participantes de diversos movimentos culturais da
periferia e do centro, como o Fórum de Cultura do DF, Fórum de
Culturas Populares e Tradicionais e Movimento dos Pontos de Cultura.
Na ocasião, também compareceu ao local o governador Rodrigo
Rollemberg.

A Ocupação Cultural manteve diálogo também com a


Câmara Legislativa do Distrito Federal.  Em 23 de junho de 2016, foi
realizada uma audiência pública na CLDF com o intuito de reunir
integrantes do movimento cultural, parlamentares, membros do GDF
e da sociedade civil para discutir as possíveis soluções para a
permanência do Movimento Cultural no local hoje por ele ocupado.

Em janeiro de 2017, a Ocupação Cultural Mercado Sul Vive


compareceu novamente na CLDF para reunião acerca da lei nº 4.775,
de 24 de fevereiro de 2012, que estabelece as diretrizes e objetivos
da implementação das Vilas Culturais no Distrito Federal, com fim de
ampliar o debate sobre a regulamentação da referida lei.

Resta claro, portanto, que tanto o governo local quanto o


federal reconhecem o inestimável valor cultural das práticas
desenvolvidas no local, bem como o caráter coletivo e de interesse
público da demanda pela manutenção do movimento e das práticas
por ele promovidas.

Todavia, passados mais de três anos após o início do


processo de negociação com o GDF, bem como da instauração do
procedimento administrativo com vistas à desapropriação do local, a
demanda do movimento cultural continua desassistida. O
procedimento para a desapropriação não foi concluído. Enquanto isso,
o processo judicial de reintegração de posse avança, representando
uma ameaça real e iminente a toda a produção artístico-cultural
promovida e consolidada no local.

2.4 DAS AÇÕES CULTURAIS DESENVOLVIDAS NO LOCAL

Importante salientar que atuam no Mercado Sul diferentes


grupos culturais que compõem o Movimento Cultural Mercado Sul
iniciado na década de 80 pelo Luthier “Seu Dico”. Dentro deste
grande movimento cultural, tem-se a Ocupação Cultural Mercado Sul
Vive. Em conjunto, todos os agentes culturais que ali se encontram
somam esforços para valorizar, produzir e fomentar a cultura local.

O escopo do Movimento Cultural é fortalecer o direito à


cidade, e construir sustentabilidade por meio da cultura, vista pelo
coletivo de forma ampliada. A ocupação cultural Mercado Sul Vive em
prol da comunidade reivindica judicialmente as lojas abandonadas,
ruínas ociosas, que vêm ao longo de mais de 20 anos afetando a
segurança e a saúde física, social, ambiental e cultural do Mercado
Sul.

O local hoje é ocupado e habitado por artistas, artesãos, arte


educadores, moradores e demais pessoas que possuem afinidade
com os projetos desenvolvidos no local, entre os quais destacam-se
as atividades abaixo relacionadas.

a) Capoeira
A “Capoeira Angola” está presente no Mercado Sul há cerca
de 8 anos e é um dos grupos que atuam na Ocupação Cultural. Além
dos treinos, o grupo organiza oficinas de construção de instrumentos,
vivências, rodas de capoeira, saraus, grupo de estudo e momentos de
conversas com mestras e mestres de diferentes matizes da capoeira.
O espaço físico da ocupação, ainda que precário, garante a
continuidade das atividades, que se desenvolvem praticamente sem
nenhum apoio externo e tornam possível a participação de toda e
qualquer pessoa da comunidade e da vizinhança que esteja
interessada em praticar.  A capoeira se faz presente também em
outras atividades do Mercado Sul, como apresentações musicais,
feiras, projetos audiovisuais, promovendo as tradições, valores e
saberes de matriz africana e desenvolvendo papel fundamental de
difusão da cultura e história afro-brasileira na comunidade.
       
b) Jongo, Rap, Coco, Maracatu, Ciranda, Cavalo
Marinho, Samba de Roda
No Mercado Sul as raízes afro-indígenas se manifestam nos
mais variados ritmos. De tempo em tempo a Ocupação abriga cursos,
oficinas e vivências de percussão, canto e dança, com forte presença
da raiz nordestina. Entre os grupos que participam das atividades tem
a Mãe Taguá, Thabata, Som de Papel, Batuqueiras, Jongo do Cerrado,
Samba do Formigueiro, Samba do Recôncavo com Aroeira,
Mambembrincantes.

c) Yoga
O Yoga faz parte do Mercado Sul e da ocupação há anos, por
meio de oficinas, cursos periódicos, rodas e apresentações. Diferentes
professoras e professores de Yoga já desenvolveram trabalhos neste
espaço. Os conhecimentos milenares da Yoga, que em outros locais
da cidade só podem ser acessados por grupos sociais com relativo
poder aquisitivo, na Ocupação, estão à disposição da comunidade e
vizinhança, independente de contribuição financeira. O espaço da
Ocupação é o que viabiliza essa dinâmica.
       
d) Rádio
A Rádio Mercado Sul é uma iniciativa promovida pelo Núcleo
da Rede Mocambos, já presente há mais de quatro anos, disponível na
internet no site www.radio.mercadosul.org . A Rádio realiza uma
programação periódica, como os programas Rádio Xepa, e Gole de
Poesia realizados às quartas e sextas. Além dos programas, são
realizadas transmissões ao vivo dos eventos como a EcoFeira. A rádio
transmite uma programação gerada por acervo próprio do Núcleo de
Pesquisa e Desenvolvimento Digital Dpadua e da rede Baobáxia, que
armazenam as memórias da própria comunidade do Mercado Sul,
oferecendo conteúdos inéditos e de alto valor pedagógico.
   
e) Residências artísticas e seminários
A ocupação recebe de tempo em tempo artistas,
pesquisadores e artesãos do mundo todo. Por meio da troca e da
colaboração muitos se hospedaram e construíram juntos atividades
socioculturais com a comunidade e com o território, trazendo suas
experiências de países como Bolívia, Chile, México, Peru, Uruguai,
Tunísia, Itália, Senegal, África do Sul, Estados Unidos, Espanha e
Suíça. Esse intercâmbio cultural permite que os moradores e vizinhos
do Beco conectem-se com culturas do mundo inteiro, bem como que
a vivência da Ocupação Cultural seja conhecida e propagada
internacionalmente.

f) EcoLoja
A EcoLoja constitui um espaço coletivo e autogestionado de
convivência, trocas de produtos e serviços com princípios ecológicos e
da Economia Solidária. Foi construída num processo a partir das
edições mensais da EcoFeira do Mercado Sul, com inauguração dia 09
de setembro de 2016. Este espaço abriga artesanatos, ilustrações,
livros e publicações independentes, camisetas, cosméticos naturais e
outros produtos solidários, além de promover e apoiar redes de
colaboração e consumo coletivo de alimentos em Taguatinga. A
EcoLoja também promove e participa de debates visando a
implementação de políticas públicas de Economia Solidária, além de
ser integrante da Rede Brasileira de Comercialização Solidária na
categoria ponto fixo.

g) Casa dos Ofícios


É um laboratório para processos de desenvolvimento de
produtos artesanais dos mais diversos, sendo o papelão a matéria-
prima principal. Entre os produtos que são desenvolvidos na Casa de
Ofícios estão instrumentos musicais (Som de Papel), móveis, artigos
decorativos, bonecos gigantes e palcos para espetáculos cênicos e/ou
musicais. Esse ateliê funciona de compartilhado por diferentes
artesãos. O espaço também abriga oficinas de aprendizagem e
variados debates.

h) Ponto de Cultura Invenção Brasileira


Espaço vocacionado para ações artísticas, educacionais e
para a difusão das culturas populares e tradicionais brasileira em suas
várias formas de expressão tais como teatro, capoeira, música, dança.
O Invenção, além de abarcar uma variedade de atividades, faz parte
da raiz artística não apenas de Taguatinga como de toda a capital
federal, com história lançada em vídeo-documentário e em livro. Em
razão da sua trajetória foi reconhecido como Ponto de Cultura pela
política federal Cultura Viva instituída pela Lei 13.018-2014.

i) Comedoria
De produção familiar, a Comedoria fornece refeições na
localidade, com cardápios pensados de acordo com os princípios de
alimentação saudável e sustentável. Na produção dos alimentos
destacam-se as verduras colhidas da horta comunitária presente em
toda a extensão do Mercado Sul. Por vezes a refeição é viabilizada
pela arrecadação voluntária da comunidade.

3 - DA TUTELA DE URGÊNCIA

É cediço que o artigo 300, do Código de Processo Civil, prevê


a possibilidade de concessão de tutela de urgência quando houver
elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de
dano ou o risco ao resultado útil do processo.

Os documentos carreados à esta peça dão credibilidade às


alegações das Autoras, apresentando de forma cristalina, a
probabilidade do direito invocado, principalmente pela comprovação
inequívoca da importância do Movimento Cultural Mercado Sul para a
cultura de Taguatinga e de todo o Distrito Federal, o potencial local
para caracterização de patrimônio cultural da cidade e a função social
que estão atribuindo às lojas anteriormente abandonadas.

Já o perigo do dano está consubstanciado vez que a Ação de


Reintegração de Posse nº 2016.01.1.016850-9 está na iminência de
ser julgada, e caso o pedido autoral seja decretado procedente antes
que o Poder Público tome medidas à preservação das práticas
culturais locais, as inúmeras famílias de artistas, artesãos e arte
educadores que produzem cultura no local serão despejadas,
causando inúmeros prejuízo aos produtores e aos beneficiários da
produção cultural local.

Levando-se em consideração que o julgamento desta ACP


poderá interferir diretamente na solução do conflito instaurado nos
autos do processo nº 2016.01.1.016850-9, necessária se faz a
determinação da reunião dos processos, conforme dicção do art.
55, §3º do CPC/15. Vejamos:

“Art. 55.  Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações


quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir.
(...)
§ 3º Serão reunidos para julgamento conjunto os
processos que possam gerar risco de prolação de
decisões conflitantes ou contraditórias caso decididos
separadamente, mesmo sem conexão entre eles.”
No que tange à competência, o art. 58 do CPC/15 dispõe que
“a reunião das ações propostas em separado far-se-á no juízo
prevento, onde serão decididas simultaneamente”. Destaca-se, nesse
ponto, que o Juízo da Vara do Meio Ambiente, Desenvolvimento
Urbano e Fundiário de Brasília é prevento, uma vez que a petição
inicial do processo nº 2016.01.1.016850-9 foi distribuída neste Juízo
(art. 59, CPC/15).

Resta claro, portanto, que o provimento judicial procedente


aos autores da Ação de Reintegração de Posse antes do julgamento
desta Ação Civil Pública causará danos irreparáveis à sociedade como
um todo, em especial à comunidade local diretamente beneficiada
pelas ações culturais desenvolvidas no Mercado Sul. Acrescido a isso,
o deferimento da tutela antecipada não trará prejuízo ao Réu.
Dessa feita, imperiosa a concessão da tutela de urgência ora
arguida para se reunir as ações citadas, objetivando evitar decisões
que possam ser conflitantes, em observância ao princípio da
segurança jurídica.

Contudo, caso Vossa Excelência entenda pela não reunião


desta Ação com a Ação de Reintegração e Posse, requerem,
subsidiariamente, a suspensão do Processo nº 2016.01.1.016850-9,
pelos fundamentos aventados.

Urge salientar também que as Autoras se insurgem contra a


mora estatal que coloca em risco direitos fundamentais, não só dos
ocupantes como de toda uma coletividade de indivíduos que
usufruem do que é desenvolvido no espaço objeto da lide.
O descumprimento permanente e reiterado do comando
normativo que fixa prazo para o avanço no procedimento
administrativo, bem como a violação explícita dos princípios que
regem a Administração Pública, recomenda a atuação imediata do
Poder Judiciário sob pena de perpetuar-se a mora estatal até o final da
presente ação.

Ademais, tendo em vista que o dano consiste


justamente na demora do processo administrativo, iniciado
em 2015, impende decisão imediata que supra a mora
administrativa.

O silêncio administrativo perdura há anos, logo, é injusto


que a entidade responsável pela omissão aproveite-se do tempo do
processo judicial sem tomar providência alguma, e de igual modo,
sem que seja juridicamente possível responsabilizá-la de alguma
forma pela consequência acarretada.

Deste modo, requer-se liminarmente que seja determinado


ao GDF prazo improrrogável e razoável à conclusão do processo
administrativo de desapropriação, com fixação de multa diária de
R$1.000,00 (mil reais) por descumprimento.
4. DA NECESSIDADE DA RESOLUÇÃO PACÍFICA DO CONFLITO

Para além das circunstâncias em que o Poder Judiciário


tem amplificado discussões nacionais relevantes, há, igualmente,
importante contribuição prestada no fomento de diálogo entre os
próprios sujeitos da relação jurídica processual. Isto é particularmente
importante quando se trata de vínculos com o Poder Público.

Nesta toada, o Código de Processo Civil de 2015


incorporou a conciliação e outros métodos de solução consensual
como prioritários na resolução de conflitos:

“Art. 3o Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou


lesão a direito.

§ 1o É permitida a arbitragem, na forma da lei.

§ 2o O Estado promoverá, sempre que possível, a solução


consensual dos conflitos.

§ 3o A conciliação, a mediação e outros métodos de


solução consensual de conflitos deverão ser estimulados
por juízes, advogados, defensores públicos e membros
do Ministério Público, inclusive no curso do processo
judicial.”

Ademais, o Ministério da Cidade aprovou a Resolução n


87, de 08 de dezembro de 2009 elaborada pelo Conselho das Cidades,
no qual recomenda a instituição da Política Nacional de Prevenção e
Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos.

De acordo com a referida resolução, são diretrizes


específicas para a Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos:

I. adoção de soluções pacíficas com a participação


dos envolvidos, visando à garantia da dignidade da
pessoa humana, o direito à moradia adequada e à cidade
para a população de baixa renda e grupos sociais vulneráveis
impedindo a violação dos direitos humanos;
II. fomento à articulação entre as partes envolvidas
no conflito, os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário,
entidades da sociedade civil vinculadas ao tema e membros do
Ministério Público e Defensoria Pública, visando a solução dos
conflitos conforme os princípios e diretrizes desta política;
III. criação e adoção de normas, procedimentos e instâncias
de mediação de conflitos fundiários urbanos com base nos
tratados internacionais de direitos humanos em que o Estado
brasileiro é signatário. (grifo nosso).
Conforme aduzido, há ação de reintegração de posse em
curso, visando retirar os ocupantes da área do Mercado Sul, inclusive
com pedido de uso de força policial para tanto. Sabe-se que
desocupações forçadas são situações traumáticas a qualquer cidadão,
em especial para crianças e adolescentes que ali vivem.

Deste modo, entende-se que a solução pacífica do


conflito é desejável pelas Autoras com o fim de conferir
celeridade à resolução da lide, bem como garantir a
preferência pelo diálogo entre as partes, com o fim inclusive
de minimizar quaisquer impactos negativos que possam
decorrer de uma possível desocupação.

Conforme demonstrado nos autos, ocorreram inúmeras


sinalizações do Estado em dialogar com a comunidade local, para fins
de melhor solução à situação deflagrada nos autos. Desta forma,
requer seja designada audiência de conciliação para fins de aproximar
a comunidade que reside e desenvolve ações no Mercado Sul e o
Poder Público, com vistas à resolução amigável da lide.

5. DO MÉRITO

5.1 - DA PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO CULTURAL

A cultura foi concebida como um direito a ser preservado


desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948,
momento no qual pela primeira vez no plano internacional, os direitos
culturais foram formalmente reconhecidos ao lado dos direitos sociais
e econômicos no âmbito do Estado de bem-estar social.

No seu sentido mais amplo, a cultura pode ser considerada


atualmente como um conjunto dos traços distintivos, espirituais,
materiais, intelectuais e afetivos que caracterizam uma sociedade ou
grupo social. Ela engloba, além das artes e das letras, os modos de
vida, os direitos fundamentais do ser humano, os sistemas de valores,
tradições e crenças.

Em âmbito nacional, o tratamento à cultura como marco


mais expressivo se deu com a inclusão de um sessão própria na
Constituição Federal de 1988, tornando os direitos culturais
reconhecidos, pela primeira vez, como categoria própria apta a
legitimar e nortear as políticas públicas culturais setorizadas.

A Constituição Federal de 1988 garantiu a todas e todos o


pleno exercício dos direitos culturais, in verbis:

“Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos


direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará
e incentivará a valorização e a difusão das manifestações
culturais.
§ 1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares,
indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes
do processo civilizatório nacional.
§ 2º A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta
significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais.
§3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração
plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do País e à
integração das ações do poder público que conduzem à:
I defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro;
II produção, promoção e difusão de bens culturais;
III formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em
suas múltiplas dimensões;
IV democratização do acesso aos bens de cultura;
V valorização da diversidade étnica e regional.”

Urge destacar que a democratização, a que se refere o


inciso IV do parágrafo 3º do art. 215, não deve se restringir apenas à
fruição de bens culturais pela população marginalizada, mas
principalmente a valorização e fomento à cultura produzida por estes
povos, conforme ocorre hoje no Mercado Sul.

A Constituição Federal instituiu também o Sistema Nacional


de Cultura organizado em regime de colaboração, de forma
descentralizada e participativa, que visa instituir um processo de
gestão e promoção conjunta de políticas públicas de cultura,
democráticas e permanentes, pactuadas entre os entes da Federação
e a sociedade, tendo por objetivo promover o desenvolvimento
humano, social e econômico com pleno exercício dos direitos
culturais.
Na mesma toada, a Lei Complementar nº 934-2017 - Lei
Orgânica da Cultura (LOC), adere expressamente ao referido
programa, vejamos:

“Art. 2º O SAC-DF se insere no Sistema Nacional de Cultura,


articulando-se com a sociedade civil e os demais entes
federativos do Brasil e tendo como essência a coordenação e a
cooperação para fortalecimento, democratização e eficiência na
gestão pública da cultura.”

Salienta-se também que a Lei Orgânica do Distrito Federal


(LODF) traz redação semelhante à CF no que tange à cultura:

“Art. 246. O Poder Público garantirá a todos o pleno exercício dos


direitos culturais e o acesso às fontes da cultura; apoiará e
incentivará a valorização e difusão das manifestações culturais,
bem como a proteção do patrimônio artístico, cultural e histórico
do Distrito Federal.
§ 1º Os direitos citados no caput constituem:
I - a liberdade de expressão cultural e o respeito a sua
pluralidade;
II - o modo de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - a difusão e circulação dos bens culturais.”
(...)

“Art. 247. O Poder Público adotará medidas de preservação das


manifestações e dos bens de valor histórico, artístico e cultural,
bem como das paisagens notáveis, naturais e construídas, e dos
sítios arqueológicos, buscada a articulação orgânica com as
vocações da região do entorno.
§ 1º O disposto no caput abrange bens de natureza material e
imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, relacionados
com a identidade, ação e memória dos diferentes grupos
integrantes da comunidade.”

O Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001), por sua vez,


estabelece:

“Art. 1o Na execução da política urbana, de que tratam os arts.


182 e 183 da Constituição Federal, será aplicado o previsto nesta
Lei.
Parágrafo único. Para todos os efeitos, esta Lei, denominada
Estatuto da Cidade, estabelece normas de ordem pública e
interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol
do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem
como do equilíbrio ambiental.”

“Art. 2o A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno


desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade
urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais:
(...)
XII – proteção, preservação e recuperação do meio ambiente
natural e construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico,
paisagístico e arqueológico;”

Percebe-se, portanto, que a Constituição Federal, o Estatuto


das Cidades, a LOC, e a LODF convergem, no que tange à
implementação das políticas públicas culturais.
Importante salientar que O Movimento Cultural Mercado Sul
Vive se localiza na região administrativa de Taguatinga, que possui
em média 221.909 habitantes, mas assim como todas as outras
cidades satélites, carece de equipamentos e serviços públicos de
cultura, vez que dos mais de 18 equipamentos públicos de cultura do
DF, apenas 5 estão em funcionamento fora do Plano Piloto, não sendo
nenhum deles localizado em Taguatinga.

É sabido que o Distrito Federal é a unidade da federação que


apresenta maior índice de desigualdade social do país, e no meio ao
abandono privado e estatal de uma região central taguatinguense, o
movimento cultural tem levado gratuitamente cultura a milhares de
pessoas que vivem na região, descentralizando a produção e fruição
cultural e atraindo cada vez mais moradores de outras regiões
administrativas e também do Plano Piloto para apreciar a arte ímpar
realizada no local.

O que se observa com a Ação de Reintegração de Posse já


mencionada nesta peça é uma tentativa higienista de expulsão de
quem há anos permanece no local atribuindo função social a um
espaço anteriormente abandonado, retirando da cidade o seu caráter
eminentemente democrático.

Acerca do caráter democrático da cidade assevera o Ilmo.


Juiz Carlos Frederico2,:

(...) nela há de conviver o ricaço com o sem-teto, o nacional com o


estrangeiro, o roqueiro com o sertanejo, e tantos outros modos de
viver e sentir, de modo respeitoso e o mais harmonioso possível. É
bem verdade que o ultra-individualismo vitorioso na consciência
geral da atualidade não simpatiza com isso, sendo nítido o desejo
generalizado de se delimitar e murar espaços de convivência
exclusivos e exclusivistas, do que é bem sintomático a
proliferação dos condomínios fechados e dos esforços por fechar,
murar, cercar, isolar, segregar, evitar o outro, na chamada
"arquitetura defensiva", que repudia especialmente os pobres e
desvalidos. Trata-se de uma tendência construída pelo medo e
preconceito, obviamente incompatível com a ideia de construção
de uma sociedade democrática, igualitária e harmoniosa.

A produção cultural popular, como a ocorrida no Mercado


Sul, não possui apelo comercial, de modo a não interessar empresas
com potencial de financiamento na Lei Rouanet ou no Programa de
Incentivo Fiscal distrital de que trata a Lei Orgânica de Cultura. Não só
o acesso como a produção cultural no país são elitizados, impedindo a
fruição de quem não detém recursos financeiros, e a produção de
quem faz arte e cultura sem apelo comercial.

Utilizando-se novamente das palavras do Ilmo. Juiz Carlos


Frederico tem-se que:
Contudo, é importante não confundir "arte" ou "cultura" com
"indústria cultural". Pensar em arte e cultura como meros meios
de fabricação dos tais “produtos culturais" é amesquinhar por
demais a nobreza e importância dos prodígios da mente
humana.

O que se verifica com o descaso do poder público quanto à


regulamentação da questão exposta, é que a cultura popular
encontra-se novamente marginalizada, excluída da política pública
cultural distrital. O GDF assumiu publicamente compromisso com o
movimento. Contudo, mantém-se inerte sem nenhuma movimentação
no processo de desapropriação ou de qualquer outra tomada de
providência.

2 Carlos Frederico Maroja de Medeiros 2017.01.1.044708-3


Dessa forma, a ação protetiva em prol do patrimônio cultural
não se trata de mera opção ou de faculdade discricionária do poder
público, mas, sim, de imposição cogente, que obriga juridicamente
todos os entes federativos.

Em decorrência, podemos falar no princípio da intervenção


obrigatória do poder público em prol da proteção, preservação e
promoção do patrimônio cultural, uma vez que, em havendo
necessidade de ação do poder público para assegurar a integridade
de bens culturais, esta deve se dar de imediato, sob pena de
responsabilização.

A inércia estatal no caso concreto, causará enorme lesão ao


patrimônio cultural do Distrito Federal, ao priorizar o interesse de um
particular em manter um imóvel que por anos ficou abandonado em
detrimento do interesse público e coletivo daqueles que ali praticam
as mais diversas atividades e desenvolvem cultura.

5.2 RECONHECIMENTO DO MERCADO SUL COMO PATRIMÔNIO


CULTURAL

Ressalte-se que a atuação do poder público deve se dar


tanto no âmbito administrativo, legislativo quanto no judiciário, uma
vez que cabe ao Estado a adoção e execução das políticas e
programas de ação necessários à proteção do patrimônio cultural.

Diante da omissão do poder público no dever de zelar pela


integridade dos bens culturais, é incontroversa a possibilidade de se
buscar a proteção de determinado bem por meio de um provimento
emanado do Poder Judiciário em sede de ação civil pública,
independentemente de prévia proteção por meio de tombamento ou
outro instrumento similar.

Não há que se falar, portanto, em violação à separação de


poderes, pois ao Poder Judiciário, a quem incumbe, por força de
preceito constitucional, apreciar toda e qualquer lesão ou ameaça a
direito (artigo 5º, XXXV da CF/88), também é dada a tarefa de dizer
do valor cultural de determinado bem e de ditar regras de
observância obrigatória, no sentido de sua preservação, ante a
omissão ou ação danosa de seu proprietário ou do poder público.

Todos os poderes estatais têm, portanto, o dever de envidar


esforços para que a Constituição Federal tenha força normativa, caso
contrário, em vez de garantidor de direitos, o Estado será responsável
pela negativação destes.

Ademais, cabe ao Estado, cumprir seu papel constitucional e


proteger a cultura, enquanto patrimônio artístico-cultural e marca
identitária da nação brasileira, para que as futuras gerações
conheçam os símbolos, monumentos e representações que marcaram
a época de seus antepassados.

Importante destacar que patrimônio cultural tem natureza


material e imaterial, como bem preceitua a Carta Magna:

“Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de


natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em
conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à
memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços
destinados às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.”

Pois bem, o valor artístico-cultural do Mercado Sul é


reconhecido inclusive pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional – IPHAN (conforme documentos acostado aos autos), que ao
discorrer sobre o Movimento cultural, aduziu que:

(...) é referência histórica para toda a comunidade


taguatinguense, e porque não dizer candanga, são apresentadas
e desenvolvidas atividades e manifestações culturais cuja
salvaguarda é de interesse do órgão, como é o caso da capoeira,
do samba de roda, e dos bonecos mamulengos (cujo processo de
registro está em curso pelo órgão), sem contar as demais
manifestações que constituem em referências culturais ainda que
não alcançadas pelo Registro de bens culturais conforme o
Decreto 3.551∕2000.

O referido documento ainda dispõe que:

Observa-se que há um esforço por parte do Coletivo para


ressignificação de um espaço que é constantemente ameaçado
pela degradação, dado o relativo abandono de seus proprietários,
e do poder público, a partir de manifestações diversas (Festas
juninas, apresentações musicais, bumba-meu-boi, maracatu, etc)
e atividades como oficinas de arte, confecção de bonecos, objetos
com material reciclável. Neste sentido, o movimento do Mercado
Sul seria consonante com o objetivo geral da preservação do
patrimônio cultural, o de “fortalecer a noção de pertencimento de
indivíduos a uma sociedade, a um grupo, ou a um lugar,
contribuindo para a ampliação do exercício da cidadania e para a
melhoria da qualidade de vida”.

Verifica-se que notoriamente o Mercado Sul preserva a


cultura popular brasileira, com manifestações tipicamente populares,
tais como bumba meu boi, samba de roda, coco, bem como abriga
novos produção como o hip-hop. As paredes são cobertas de grafites,
como um grande painel de arte urbana a céu aberto, a exemplo do
Beco do Batman em São Paulo, Beco da Codorna em Goiânia, e
demais espaços semelhantes encontrados no mundo inteiro.

Importante destacar que cultura não se limita à arte. No


local também se encontra uma comedoria, onde são realizados
almoços e lanches coletivos, oficinas de construção de móveis de
papelão, de instrumentos musicais de canos PVC, entre outros
espaços de economia solidária. O espaço é ocupado por artistas,
artesãos e demais trabalhadores, sendo cada integrante um pedaço
da identidade e da história local. Toda a forma de viver nesse espaço
deve ser compreendida como cultura local, a ser protegida e
preservada.

São poucos os espaços que hoje permitem a construção e o


consumo de cultura acessível e popular. O movimento cultural
proporciona aos moradores locais um acesso à cultura sem precisar
se deslocar ao centro da cidade. Sabe-se que a cultura é elitizada e
inacessível à grande parte da população brasileira, e o intuito do
movimento ocupante é exatamente democratizar os meios de acesso
e propagação de cultural.

Deste modo, conclui-se que as formas de expressão, os


modos de criar, fazer e viver existentes no Mercado Sul devem ser
reconhecidos como patrimônios históricos culturais, tendo em vista
inclusive as manifestações de órgãos como o IPHAN, e a própria
Secretaria de Estado de Cultura do Distrito Federal que, conforme
explicitado acima, já se manifestaram publicamente dando apoio ao
movimento cultural, reconhecendo a sua importância e relevância
para a cultura do DF.

Nesta toada, recorda-se que não existe rol taxativo acerca


dos instrumentos que podem ser utilizados para se proteger o
patrimônio cultural brasileiro. Ao contrário, qualquer instrumento que
seja apto a contribuir para a preservação dos bens culturais em nosso
país (mesmo que não se insira entre aqueles tradicionais ou
nominados) encontrará amparo no artigo 216, parágrafo 1º, parte
final, da CF/88, que instituiu o princípio da máxima amplitude dos
instrumentos de proteção ao patrimônio cultural.

Nesse cenário, a ação civil pública é instrumento hábil para


a busca da proteção, conservação, preservação e promoção dos bens
culturais, materiais ou imateriais, sejam eles públicos ou privados,
independentemente da existência prévia de ato administrativo
declaratório de seu valor referencial.

Afinal de contas, o que torna um bem dotado de valor


cultural é o seu valor em si, é a natureza do próprio bem, e não o fato
de estar protegido legal ou administrativamente, pois os atos de
proteção não constituem o valor cultural, que é necessariamente
antecedente, tendo essas instâncias apenas a função de os
declararem.

Nelson Nery Júnior, em parecer acerca da viabilidade do


reconhecimento do valor cultural de determinado bem pelo Poder
Judiciário, argumenta que:

Não se exige o tombamento formal do bem para que se possa


classificá-lo como de interesse histórico. Ou o bem é de interesse
histórico ou não é. E sendo, já merece a proteção pela via da ação
judicial (Lei nº 7.347/85). O tombamento é formalidade que torna
juris et de jure a presunção de que o monumento tem valor
histórico. Somente isso. Não pode constituir-se em requisito para
que o patrimônio histórico possa ser protegido, o que seria
desastroso principalmente num Estado como São Paulo, onde há
muitos edifícios de valor histórico.

Dessa forma, é perfeitamente viável o reconhecimento do


Mercado Sul como patrimônio cultural, ainda que não tenha sido
formalmente reconhecido pelo poder público, por meio do
acionamento do Poder Judiciário, a quem toca o amplo dever de
afastar qualquer lesão ou ameaça a direito.

5.3 DO MEIO AMBIENTE EQUILIBRADO E DOS PROBLEMAS DE


SAÚDE PÚBLICA LIGADOS À LOCALIDADE

Como já relatado, o local objeto da presente ação civil


pública, estava completamente abandonado, com salas comerciais
fechadas há anos, acumulando lixo e entulho, tornando-se ambiente
extremamente propício para o surgimento de infestações de insetos e
epidemias de dengue, leptospirose e demais doenças decorrentes da
falta de sanitarismo. Destaca-se que até 2014 sequer existia coleta
de lixo na localidade.

O movimento que hoje ocupa o Mercado Sul, foi


responsável pela limpeza da área, bem como solicitou junto à
Administração Regional de Taguatinga containers para descarte do
lixo.

A situação das lojas demonstra que os atuais


proprietários não deram qualquer destinação que cumprisse a
função social daquele imóvel. De modo contrário, o abandono
gerou sérios problemas de saúde pública na localidade.

O direito a um meio ambiente equilibrado, expressão


primordial dos direitos difusos e coletivos de quarta geração,
consagrado no art. 225 da CF88, transforma o paradigma de
responsabilidade pela sua proteção. A proteção do meio ambiente, e
garantia de seu desenvolvimento sustentável, deixa de ser
exclusivamente uma responsabilidade do Estado e passa a ser de
todos os cidadãos, tamanha a sua importância da proteção.

Ademais, o ordenamento pátrio vincula o exercício da


propriedade ao exercício da função social, garantindo que tal
exercício não seja indiscriminado, ou seja, o proprietário passa a ter
responsabilidades com aquele patrimônio, de modo que deve ser
diligente em sua manutenção, atendendo às normas sanitárias e
costumes de vida em sociedade.

Quando tal diligência não é verificada, caberá ao Estado


adotar os meios necessários para o cumprimento da função social,
um dos institutos mais importantes do Estado democrático de Direito,
preocupado com a garantia do desenvolvimento nacional nos seus
mais diversos aspectos, sociais, econômicos e ambientais. Em
síntese, a propriedade, ainda que particular, deve servir à
coletividade.

Deste modo, com intuito de preservar o meio ambiente


por meio de ações sustentáveis realizadas em conjunto com a
comunidade, o movimento cultural Mercado Sul, desenvolve além dos
tantos outros projetos já citados, projetos também de cunho
ambiental, conforme descrito abaixo.

a) Becomposto
É uma prática comunitária voltada para o desafio de
construir relações prósperas entre seres humanos, animais e plantas
no meio da cidade. Tal prática se insere no universo da permacultura
urbana. O projeto Becomposto foca em tecnologias e diálogos que
permitam construir essas relações de harmonia no contexto da
comunidade do Mercado Sul. A proposta, que começou a ser colocada
em prática a partir do início de 2016, se soma a diferentes iniciativas
pré-existentes de moradores que cultivam plantas (comestíveis,
medicinais e/ou ornamentais) e realizam algum tipo de
aproveitamento de resíduos urbanos.

b) Horta Conunitária
Ao longo das duas vielas situadas no Mercado Sul é possível
observar a imensa quantidade de plantas comestíveis, medicinais ou
decorativas cultivadas na horta comunitária. Objetos como pneus, que
antigamente estavam abandonados ocasionando inúmeros focos de
dengue no local, hoje são utilizados como canteiros da horta que é
cultivada pela comunidade para os mais diversos fins, sejam
alimentícios ou medicinais.

c) Bicicentro Comunitário MSV


O Bicicentro é um espaço dedicado à Mobilidade Urbana.
Tem como principal objetivo atender a Comunidade do Mercado Sul
com atividades relacionadas a bicicleta e ações colaborativas,
pautando conceitos como Mobilidade Urbana e Direito à Cidade. O
BiciCentro desenvolve também: Bicicletas comunitárias; BrechóCleta
(troca de peças); curso de mecânica de bicicletas; oficinas sobre
Mobilidade Urbana, Soluções Criativas e Inovação e Tecnologias
Sustentáveis.

d) Hacklab
A mais de dez anos o Mercado Sul abriga iniciativas que
visam a apropriação das novas tecnologias com um olhar ao reuso de
equipamentos eletrônicos. O Hacklab é mais uma etapa dessa
construção propondo um espaço permanente de formação e
laboratório de informática. O grupo do Hacklab colabora com os
coletivos presentes no Mercado e com a coleta dos resíduos
eletrônicos junto a estação de metareciclagem de ValParaiso. Entre as
atividades desenvolvidas podemos citar a metareciclagem
(recondicionamento e ressignificação do hardware), installfest
(instalação de GNU\Linux e Software Livre), e oficinas de informática
básica. Além da formação, o hacklab promove a pesquisa e
desenvolvimento de novas tecnologias no Mercado Sul, onde já se
produz software livre de relevo nacional e internacional como o
Responsa e o Baobáxia.

e) Tempo Eco Arte


O Tempo Eco Arte é um espaço de artes e ofícios, idealizado
por artesãos que pesquisam e fazem arte a partir da reutilização de
resíduos sólidos. A especialidade é a técnica de transformar papelão e
sacos de cimento usados em móveis, objetos decorativos, utilitários,
cenários e instrumentos musicais. Em 14 anos de pesquisa, foram
criadas mais de 140 diferentes peças, além de desenvolvidas
ferramentas de trabalho específicas para essa tecnologia social.

Percebe-se, deste modo, que o espaço antes abandonado e


foco de lixo, que sequer possuía containers tornou-se também local
de intensa atividade ambiental com foco na preservação e defesa do
meio ambiente mediante ações de reuso e reciclagem de resíduos
sólidos, entre outras iniciativas que coadunam com um ambiente
equilibrado e contribuem para a melhoria da qualidade de vida das
pessoas que ali residem e transitam.

Logo, a ameaça de despejo da ocupação cultural representa


grande risco à comunidade local que pode voltar a conviver com a
sujeira e insalubridade do espaço caso volte a situação de abandono.

5.4 DA ORDEM ECONÔMICA E DA ECONOMIA SOLIDÁRIA

O Mercado Sul, enquanto território de cultura é polo


irradiador de várias movimentações em Taguatinga e no Distrito
Federal, e possibilita a existência de outras atividades na localidade,
intrinsecamente ligadas à produção cultural local, porém entendidas
como atividades de cunho econômico, sendo um grande fomentador
de iniciativas ligadas economia solidária.
Assim, cumpre trazer ao conhecimento do juízo uma,
breve explanação sobre o que são práticas voltadas para a economia
solidária. Trata-se do conjunto de iniciativas econômicas e sociais de
trocas, de maneira autogestionada, sustentável, tendo como
fundamento a produção, circulação e comércio, e consumo justo e
solidário. A práxis (teoria e prática em conjunto) de economia
solidária trata da organização da sociedade como um todo, mas
centrada na valorização do ser humano bem como da natureza, com
vistas a organização social e geração e distribuição de riquezas.
Ao decorrer do tópico 2.4 foram descritas algumas
ações ligadas à economia solidária desenvolvidas no Mercado Sul,
como a EcoLoja, Ecofeira, Rádio Mercado Sul, Bicicentro Comunitário,
Casa de Ofícios, Becomposto, Comedoria, entre outros.

A localidade concentra inúmeros artistas de rua,


artesãos que possuem pontos fixos de venda de suas mercadorias.
Ocorrem eventos culturais, como apresentações teatrais, exibição de
filmes, debates, entre outros. Além do impacto cultural extremamente
positivo, esses momentos também beneficiam diretamente os
moradores, que podem comercializar comidas e bebidas a fim de
complementar sua renda mensal.
Assim, o que se pretende demonstrar é que a presente
ação visa a tutela não só do patrimônio cultural imaterial, presente
naquela localidade, mas de todos os desdobramentos advindos dela.

O paradigma constitucional da ordem econômica,


fundada na valorização do trabalho humano, assegurando existência
digna às populações presentes e futuras, vinculados à justiça social,
encontra-se em perfeita consonância com a proteção das atividades
comerciais realizadas no Mercado Sul de Taguatinga, in verbis:
“Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do
trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar
a todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios:
(...)
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
(...)
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento
diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e
serviços e de seus processos de elaboração e prestação;
VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII - busca do pleno emprego;”
 
Ademais, o Estado brasileiro reconhece as práticas de
economia solidária como uma forma legítima de exercício da
atividade econômica no território nacional, desse modo, o Decreto nº
5.811 de 2006 instituiu o Conselho Nacional de Economia Solidária, a
fim de pensar o fomento e proteção de iniciativas de economia
solidária no país. Além disso, o Distrito Federal foi pioneiro ao instituir
uma Secretaria de Governo exclusivamente para o tema, bem como
sancionar a Lei nº 4899/20123.

Desse modo, fica demonstrado que ao preservar a


produção cultural existente no Mercado Sul de Taguatinga, garantir-
se-á a manutenção e o fomento das atividades econômicas lá
existentes, garantindo a subsistência e desenvolvimento das famílias
que por lá vivem, bem como dos parceiros e integrantes de ações e
atividades, que sobrevivem também diretamente das ações ali
produzidas.

5.5 DA POLÍTICA URBANA E DA FUNÇÃO SOCIAL DA


PROPRIEDADE

A Constituição Federal, no seu capítulo II do título VII, dispõe


sobre a política urbana e, em seu art. 182 determina o seguinte:

“Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada


pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais
fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o
bem-estar de seus habitantes.
§ 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal,
obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é
o instrumento básico da política de desenvolvimento e de
expansão urbana.
§ 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando
atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade
expressas no plano diretor.
§ 3º As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com
prévia e justa indenização em dinheiro.
§ 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei
específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos
termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não
edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu
adequado aproveitamento,  sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana
progressivo no tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da
dívida pública de emissão previamente aprovada pelo
Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em
parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor
real da indenização e os juros legais.”

A fim de regulamentar a norma constitucional, editou-se a


Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, o chamado “Estatuto da
Cidade”, tendo por objetivo “estabelecer normas de ordem pública e
interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do
bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos” (art. 1º,
parag. único).
3 Institui a Política Distrital de Fomento à Economia Popular e Solidária.
Dentre as diretrizes estabelecidas, destaca-se o art. 2º,
inciso VI, alínea ‘e’, in verbis:
“Art. 2º A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e da
propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais:
VI – ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar:
e) a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte na
sua subutilização ou não utilização;”

Conforme bem delineado na exposição fática desses


autos, é indubitável a ausência de controle por parte do GDF no que
se refere à área denominada “Mercado Sul”, uma vez que o imóvel
restou “abandonado”, sem que fosse conferida a ele qualquer função
social, com claras intenções de especulação imobiliária.
Ademais, verifica-se da leitura dos artigos supracitados
que os direitos privados passam a ser relativizados em razão de sua
função social, o que torna a realização dos interesses coletivos da
sociedade não mais uma tarefa exclusiva do Estado, mas também dos
particulares em suas relações intersubjetivas, configurando a
denominada eficácia horizontal dos direitos fundamentais.

Logo, provoca-se um deslocamento do núcleo de


proteção do ordenamento jurídico, que passa da propriedade – e, por
conseguinte, restringe-se aos sujeitos detentores dela – para a pessoa
humana, independentemente de sua condição de proprietária ou não,
uma vez que a ordem constitucional consagra como um dos
fundamentos da República a dignidade da pessoa humana - art. 1º, III
da Constituição. Esse deslocamento provoca uma profunda
ressignificação de uma série de instituições do direito civil, dentre
elas, a propriedade.

A existência legítima e a tutela jurídica da


propriedade passam a ser condicionadas ao cumprimento de
uma função social. Isto é, a propriedade se justifica e deve
existir, na medida em que serve a um interesse coletivo de
destinação útil à sociedade, seja economicamente, seja para
fins de moradia, lazer, cultura e para a (re)produção das
relações sociais em geral.

No caso em tela, observa-se que, atualmente, por meio


de uma ocupação cultural no local, o imóvel passou a exercer função
social da propriedade, mediante a implantação de uma série de
projetos culturais e artísticos, além do desenvolvimento de uma área
que promove práticas de economia solidária, redução da produção de
resíduos sólidos com prática de compostagem, oficinas pedagógicas
com a comunidade, espaços educacionais e culturais para as crianças
entre outros.

No âmbito específico do Distrito Federal, convém


analisar o Plano Diretor (PDOT), que foi revisado pela Lei
Complementar nº 803, de 25 de abril de 2009. Logo em seu art. 2º
dispõe o seguinte:

“Art. 2º O PDOT tem por finalidade propiciar o pleno


desenvolvimento das funções sociais da propriedade urbana
e rural e o uso socialmente justo e ecologicamente
equilibrado de seu território, de forma a assegurar o bem-
estar de seus habitantes.”

No mesmo sentido é seu art. 7º, que rege os princípios,


quando institui os incisos III “garantia do cumprimento da função
social e ambiental da propriedade urbana e rural”; VII “visão sistêmica
e integrada do processo de desenvolvimento urbano e rural,
considerando as dimensões social, econômica, ambiental, cultural e
espacial”; VIII “participação da sociedade no planejamento, gestão e
controle do território”; e VIII “reconhecimento da necessidade de
gestão compartilhada entre os setores públicos, privados e a
sociedade civil, envolvendo os municípios limítrofes ao Distrito
Federal”.

O PDOT também estabelece como objetivos gerais: I


“melhoria da qualidade de vida da população e redução das
desigualdades socioespaciais”; III “proteção, recuperação, valorização
e aproveitamento das potencialidades do patrimônio cultural do
Distrito Federal” e XV “valorização da ordem urbanística como função
pública, promovendo a integração dos assentamentos informais
passíveis de regularização à cidade legal”.

Nesta toada, entende-se que a ordem jurídica não pode


tutelar abuso de direito, não há que se proteger propriedade urbana
cuja utilização (ou a não utilização) contrarie os interesses da
coletividade, previstos no Plano Diretor, com lastro nos mandamentos
constitucionais.
A propriedade tutelada pelo ordenamento jurídico é,
portanto, aquela que cumpre sua função social. A propriedade que,
inversamente, descumpre suas finalidades sociais e econômicas, é
rechaçada pelo Direito brasileiro, conforme previsto no art. 187 do
CC: “comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico
ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”.

Ademais, destaca-se no PDOT o capítulo que trata do


patrimônio cultural:
“Art. 9º Integram o patrimônio cultural do Distrito Federal os
bens de natureza material e imaterial, considerados
individualmente ou em conjunto, portadores de referência à
identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos da
sociedade.”

“Art. 10. Para efeito desta Lei Complementar, entendem-se


por:
I – patrimônio material: todas as expressões e
transformações de cunho histórico, artístico, arquitetônico,
arqueológico, paisagístico, urbanístico, científico e ecológico,
incluídas as obras, objetos, documentos, edificações e
demais espaços destinados às manifestações artístico-
culturais, bem como os conjuntos urbanos que representam
esse patrimônio;
II – patrimônio imaterial: as expressões e modos de criar,
fazer e viver, tais como festas, danças, entretenimento,
manifestações literário-musicais, plásticas, cênicas, lúdicas,
religiosas e outras práticas da vida social.
Parágrafo único. Constituem bens de interesse cultural de
natureza material e imaterial os que são ou vierem a ser
tombados ou registrados pelos órgãos competentes no
âmbito federal e distrital ou indicados por legislação
específica.”

“Art. 11. São diretrizes para a preservação do patrimônio


cultural do Distrito Federal:
I – proteger o patrimônio cultural do Distrito Federal, com a
participação da comunidade, por meio de inventários,
registros, vigilância, tombamento, desapropriação, planos de
preservação e outras formas de acautelamento e [...]
VI – consolidar as potencialidades do patrimônio cultural do
Distrito Federal como fator de desenvolvimento econômico e
social e de geração de trabalho, emprego e renda;
VII – elaborar estudos e fixar normas para a preservação do
patrimônio cultural do Distrito Federal e as áreas de entorno
dos bens tombados;”

Por oportuno, convêm destacar que o art. 2º, inciso XII


do Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257) impõe à Administração Pública
o dever de “proteção, preservação e recuperação do meio ambiente
natural e construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico,
paisagístico e arqueológico”.

Portanto, pleiteia-se que seja o GDF condenado a tomar


providências em face do particular que reteve com intenções
especulativas os imóveis situados no Mercado sul, resultando na sua
subutilização ou não utilização, fazendo cumprir o Estatuto da Cidade,
bem como a adoção de providências que preservem e protejam o
patrimônio cultural local, em atendimento ao disposto no PDOT.
5.6 DA POSSIBILIDADE DE TUTELA JUDICIAL EM CASO DE
OMISSÃO OU EXCESSIVA DEMORA DO ESTADO NA PROTEÇÃO
DE DIREITOS FUNDAMENTAIS

Conforme salientado, a presente demanda trata de


assuntos atinentes à proteção do patrimônio cultural, do meio
ambiente e da ordem econômica, todos direitos previstos na
Constituição Federal.

Ressalta-se que o não desenvolvimento de programas


governamentais destinados a atingir os objetivos previstos no
ordenamento jurídico, autoriza o controle jurisdicional das políticas
públicas e a responsabilização dos agentes públicos pela omissão.
Pode-se acrescentar ainda que um possível entendimento de forma
diversa desta autorização, implica em violação ao princípio da
inafastabilidade do controle jurisdicional.

Deste modo, entende-se que a omissão ilícita do


administrador público é lesiva aos interesses sociais e pode ser
corrigida por meio da ação civil pública, em virtude da natureza
transindividual dos direitos envolvidos, e em virtude desta possibilitar
a imposição de uma obrigação de fazer a qualquer sujeito que viole
um direito tutelado, conforme ensina Luis Roberto Gomes:

Enfim, pode-se dizer que a ação civil pública é o instrumento


processual da cidadania com maior adequação e eficácia
para o controle jurisdicional da omissão ilícita da
Administração Pública, mediante a participação do titular do
poder político, através do ente legitimado, na pretensão de
exigir a concretização de prestações estatais positivas por
meio do fazer ou do não-fazer, forte na efetividade do
processo, no amplo acesso à ordem jurídica justa e na luta
pela realização das aspirações sociais (GOMES, 2003, p. 65 ).

Logo, se o Poder Público é o responsável pelo


dano, diante de sua conduta omissiva na prestação de serviço
de relevância pública, necessário à garantia da dignidade da
pessoa humana, o dever de agir não é ato discricionário, mas
sim vinculado, porquanto, além de a opção prioritária pela
defesa desse bem ter sido feita pelo legislador constituinte, a
escolha que cabe ao administrador adotar é a concernente a
alcançar soluções enquadradas na legalidade, com vistas
postas no interesse público.

Por oportuno, ressalta-se que a atuação do Poder


Judiciário, frente a omissão do Poder Executivo na implementação de
direitos fundamentais não viola o princípio da repartição dos Poderes,
conforme jurisprudência do Supremo Tribunal Federal:
DIREITO CONSTITUCIONAL. SEGURANÇA PÚBLICA AGRAVO
REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. PROSSEGUIMENTO DE JULGAMENTO. AUSÊNCIA DE
INGERÊNCIA NO PODER DISCRICIONÁRIO DO PODER
EXECUTIVO. ARTIGOS 2º, 6º E 144 DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. 1. O direito a segurança é prerrogativa
constitucional indisponível, garantido mediante a
implementação de políticas públicas, impondo ao Estado a
obrigação de criar condições objetivas que possibilitem o
efetivo acesso a tal serviço. 2. É possível ao Poder Judiciário
determinar a implementação pelo Estado, quando
inadimplente, de políticas públicas constitucionalmente
previstas, sem que haja ingerência em questão que envolve
o poder discricionário do Poder Executivo. Precedentes. 3.
Agravo regimental improvido.4

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO


EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. INTERPOSIÇÃO EM
17.03.2017. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. RISCO DE DESLIZAMENTO.
MEDIDAS DE ENGENHARIA, GEOTECNIA E INTERVENÇÃO
URBANÍSTICA. 1. É firme o entendimento deste Tribunal de
que o Poder Judiciário pode, sem que fique configurada
violação ao princípio da separação dos Poderes, determinar
a implementação de políticas públicas em defesa de direitos
fundamentais. 2. São inidôneas a abrir a via do apelo
extremo alegadas violações meramente reflexas ao texto
constitucional 3. Agravo regimental a que se nega
provimento, com previsão de aplicação da multa prevista no
art. 1.021, § 4º, do CPC. Inaplicável a majoração de
honorários, por se tratar de ação civil pública na origem. 5

Assim, pleiteia-se que seja determinado ao Requerido


que resguarde, com a máxima efetividade, as práticas artísticas,
culturais, ambientais, educacionais, solidárias e econômicas
desenvolvidas no local pela Ocupação cultural Mercado Sul Vive. Que
seja garantida a segurança da posse dos ocupantes, a fim de permitir
a continuidade das práticas culturais realizadas.

5.7 DA OMISSÃO DO GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL EM DAR


SEGUIMENTO AO PROCESSO DE DESAPROPRIAÇÃO DA ÁREA

PESQUISAR JURISPRUDÊNCIA DE ACPs QUE LOGRARAM


DESAPROPRIAÇÃO

4 RE 559646 AgR, Relator(a):  Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em


07/06/2011, DJe-120 DIVULG 22-06-2011 PUBLIC 24-06-2011 EMENT VOL-02550-01
PP-00144
5 ARE 1013143 AgR, Relator(a):  Min. EDSON FACHIN, Segunda Turma, julgado em
29/09/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-247 DIVULG 26-10-2017 PUBLIC 27-10-
2017
Consoante narrado nos fatos, há lojas que estavam
abandonadas há cerca de 10 anos, provocando graves problemas à
comunidade local. Um dos becos internos da área do Mercado sul
tornou-se foco de doenças, local de periculosidade, ponto de tráfico
de drogas, o que representa não só um risco a saúde, mas também a
segurança e bem estar da comunidade local.

A título de exemplificação, uma das lojas tornou-se um


foco de dengue, sendo alvo de diversas notificações da vigilância
sanitária, que foi impedida de adentrar e vistoriar o local em razão do
nível extremo de abandono pelos proprietários.
Ao longo de todo esse tempo, o requerido não realizou
qualquer notificação ao proprietário a fim de coibir a situação de
abandono e risco social que a região sofreu.

Conforme já exposto, no procedimento administrativo n.


360.000.062/2015, reautuado sob o nº 002.000.494/2016, o GDF
declarou expressamente o interesse na desapropriação da área
ocupada, demonstrando o interesse social e a utilidade pública
subjacentes à ocupação, fundamentando a argumentação na
legislação sobre desapropriação. Veja-se trecho do documento:

Posição do Governo
O GDF apoia a demanda dos atuais ocupantes de
revitalizar o local, e considera desapropriar a área
para transformá-la num pólo de atividade cultural
em Taguatinga, conforme lei nº 4.132, de 10 de
setembro de 1962, que segue:
Art. 1º A desapropriação por interesse social será
decretada para promover a justa distribuição da
propriedade ou condicionar o seu uso ao bem estar
social, na forma do art. 147 da Constituição
Federal.
Art. 2º Considera-se de interesse social:
(...)
VIII - a utilização de áreas, locais ou bens que, por
suas características, sejam apropriados ao
desenvolvimento de atividades turísticas.   

Atualmente o Mercado Sul já acolhe atividades


turísticas, em especial a realização de festas
populares. Tornando-se um centro cultural, e sendo
reconhecido o patrimônio cultural, o potencial é
ainda maior. O único painel de Athos Bulcão numa
Região administrativa feito por placas de cimento
em alto relevo (mesma técnica da parte externa do
Teatro Nacional), está lá.
A desapropriação ainda se justifica pelo Decreto-
Lei nº 3.365 de 21 de junho de 1941, que afirma o
seguinte:
Art. 2o  Mediante declaração de utilidade pública,
todos os bens poderão ser desapropriados pela
União, pelos Estados, Municípios, Distrito Federal e
Territórios.
(...)
Art. 5o  Consideram-se casos de utilidade pública:
k) a preservação e conservação dos monumentos
históricos e artísticos, isolados ou integrados em
conjuntos urbanos ou rurais, bem como as medidas
necessárias a manter-lhes e realçar-lhes os
aspectos mais valiosos ou característicos e, ainda,
a proteção de paisagens e locais particularmente
dotados pela natureza;
l) a preservação e a conservação adequada de
arquivos, documentos e outros bens moveis de
valor histórico ou artístico;
Conforme visistas feitas ao local, o imóvel tem sido
abandonado pelo proprietário há diversos anos, e
parte do terreno está em degradação. A
desapropriação permitiria a recuperação do local,
em especial do patrimônio material e imaterial lá
localizado.
Por fim, o proprietário tem demonstrado pouco
interesse em manter o uso cultural do local.

Proposta do Governo
O GDF tem interesse em desapropriar o terreno
para preservar o uso cultural do Mercado Sul,
revitalizá-lo e torná-lo um centro artístico-cultural
em Taguatinga.
[...]

Ademais, insta ressaltar que o GDF, por meio da SERIS


e SEC, assumiu publicamente o compromisso de concluir o processo
administrativo que visa à desapropriação, em 6 meses, consoante fls.
51 do procedimento em questão. Esse prazo encerrou-se em março
de 2017 e até o momento o processo não foi concluído.

O que se observa é que, passados mais de três anos do


compromisso assumido pelo GDF, no que tange à desapropriação da
área, a questão encontra-se sem resolução concreta, provocando
insegurança e violação do enorme plexo de direitos cuja tutela aqui se
pleiteia: o direito à cultura, ao meio ambiente saudável e equilibrado,
à autossustentabilidade por meio das práticas de economia solidária,
entre tantos outros.

Assim, entende-se que a Administração Pública,


mediante sinalização expressa do interesse de desapropriação do
Mercado Sul cumpriu seu papel discricionário, porem encontra-se em
patente mora, já que permanece inerte quanto à ultimação dos atos
necessários à conclusão da desapropriação.

A negligência estatal quanto à garantia dos direitos ora


pleiteados, se demonstra ainda pelo fato de que o referido
procedimento administrativo que havia sido instaurado em
23/03/2015, foi extraviado, engolido pela burocracia estatal! Um ano
e meio após a sua instauração, a Secretaria de Estado da Casa Civil,
que incorporou a Seris, teve de solicitar a autuação de um novo
processo, “tendo em vista a não localização do processo n.
360.000.062/2015”.

A eternização de qualquer processo de desapropriação


para fins de garantia de direitos sociais dá-se à margem da
Constituição e da lei. Além da necessária razoabilidade do processo
como um todo, devem ser obedecidos os prazos legalmente
estabelecidos.
A perpetuação não fere apenas o princípio da
legalidade, mas também os princípios da moralidade e da eficiência,
pois o injustificado silêncio administrativo em lapso temporal dilatado
estampa a inoperância estatal, a falta de lealdade para com os
interessados e a inobservância dos princípios éticos que devem
pautar toda a atuação de todo e qualquer agente público.

Considerando que a omissão é evidente, que causa


gravame à comunidade interessada, semeando a insegurança e a
incerteza, não há qualquer razão plausível para que o Judiciário deixe
de emanar ordem e estancar a inconstitucionalidade flagrante deste
caso. Pelo contrário, exatamente para situações como a destes autos
o legislador constituinte estabeleceu que “nenhuma lesão ou ameaça
de lesão será excluída do Poder Judiciário” (artigo 5º, inciso XXXV, da
Constituição Federal). O controle judicial dos atos administrativos é
reconhecido pela unanimidade da doutrina, e a constatação de que a
hipótese em comento contempla um legítimo caso de silêncio
administrativo (que é fato e não ato) não pode afastar o controle
jurisdicional.

A esse respeito, afirma Celso Antônio Bandeira de Mello:

Decorrido o prazo legal previsto para a manifestação


administrativa, se houver prazo normativamente
estabelecido, ou, não havendo, se já tiver decorrido tempo
razoável, o administrado poderá, conforme a hipótese,
demandar judicialmente:
a) que o juiz supra a ausência de manifestação
administrativa e determine a concessão do que fora
postulado, se o administrado tinha direito ao que pedir, isto
é, se a Administração estava vinculada quanto ao conteúdo
do ato e era obrigatório o deferimento da postulação;
b) que o juiz assine prazo para que a Administração se
manifeste, sob cominação de multa diária, se a
Administração dispunha de discrição administrativa no caso,
pois o administrado fazia jus a um pronunciamento
motivado, mas tão-somente isto.

Prosseguindo na análise doutrinária, por sua vez, Hely


Lopes Meirelles sustenta que a omissão administrativa que ofende
direito individual ou coletivo dos administrados “sujeita-se à correição
judicial e à reparação decorrente de sua inércia.” Ainda segundo o
autor, “a inércia da Administração, retardando ato ou fato que deva
praticar, caracteriza, também, abuso de poder, que enseja correção
judicial e indenização ao prejudicado.” 6

No caso em tela, o Poder Público, na figura do réu, já


reconheceu o relevante interesse público e social das práticas
realizadas no local, consubstanciado no direito coletivo à cultura e às
práticas comunitárias, econômicas e de sociabilidade ali
desenvolvidas.

Portanto, uma vez reconhecido o bem jurídico coletivo a


ser tutelado, não pode, agora, quedar inerte na proteção do direito à
cultura e do patrimônio cultural imaterial ali existentes, sob pena de
violação do seu dever institucional de garantia desses direitos.
Assim, requer seja fixado prazo para que o GDF conclua
o procedimento administrativo nº 002.000.494/2016, bem como
promova a desapropriação da área ocupada pela Ocupação Cultural
Mercado Sul Vive, visando a tutela dos direitos e interesse coletivos
ameaçados.

Ou seja, não basta que os artistas ali radicados


continuem a exercer suas práticas artísticas e produção cultural,
essas práticas precisam continuar sendo desenvolvidas naquela
região, tendo em vista a territorialidade e a importância da
comunidade local para a própria existência da produção cultural ali
desenvolvida.

Isso porque, como já bem fundamentado aqui, a cultura


não se restringe apenas a manifestações artísticas, mas em todo um
modus de vida, costumes, tradições, formas de se relacionar em
comunidade, nas trocas econômicas, nas práticas sustentáveis e de
reciclagem, plantio, cultivo de plantas medicinais, realizadas naquele
local.

Nesse sentido, o art. 139, IV do CPC, estabelece o poder


geral de efetivação do juiz, buscando a máxima efetividade do
processo e a tutela do bem da vida objeto da lide. Veja-se:

“Art. 139.  O juiz dirigirá o processo conforme as disposições


deste Código, incumbindo-lhe:
6 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 27. ed. São Paulo:
Editora Malheiros, p. 110.
[...]

IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas,


mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o
cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que
tenham por objeto prestação pecuniária;”

Subsidiariamente, requer sejam decretadas as medidas


cabíveis a fim de garantir e resguardar as práticas culturais e de
economia solidária desenvolvidas no Mercado Sul, preservando,
ainda, a territorialidade dessas práticas.

6 - DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requerem:

a. A concessão de tutela de urgência para se reunir a presente


ação e a Ação de Reintegração de Posse nº
2016.01.1.016850-9, objetivando evitar decisões que
possam ser conflitantes, em observância ao princípio da
segurança jurídica; ou, subsidiariamente suspender o
processo nº  2016.01.1.016850-9 pelos mesmos
fundamentos;

b. A concessão de tutela de urgência para determinar ao GDF


que conclua o procedimento administrativo de
desapropriação em prazo improrrogável e razoável a ser
determinado pelo Ilmo. Juízo, com fixação de multa diária de
R$1.000,00 (mil reais) pelo descumprimento;

c. a designação de audiência de conciliação com o fim de


promover o diálogo entre as partes e a possível resolução
pacífica do conflito;

d. citação do réu, por meio de seus representantes legais,


para, querendo, contestarem a presente demanda no prazo
legal, sob pena de revelia;

e. o reconhecimento do Mercado Sul como patrimônio cultural


a ser protegido pelo Estado em conformidade com o
disposto na Constituição Federal, na Lei Orgânica do Distrito
Federal e nas demais legislações infraconstitucionais;

f. a condenação do GDF a tomar providências em face do


particular que reteve com intenções especulativas os
imóveis situados no Mercado sul, resultando na sua
subutilização ou não utilização, fazendo cumprir o Estatuto
da Cidade;
g. ao final, a confirmação da tutela de urgência referente à
fixação de prazo para que o GDF conclua o procedimento
administrativo nº 002.000.494/2016, bem como promova a
desapropriação da área ocupada pela Ocupação Cultural
Mercado Sul Vive, visando a tutela dos direitos e interesse
coletivos ameaçados;

h. subsidiariamente, sejam decretadas as medidas cabíveis a


fim de garantir e resguardar as práticas culturais e de
economia solidária desenvolvidas no Mercado Sul,
preservando, ainda, a territorialidade dessas práticas;

i. dispensa do pagamento das custas, emolumentos e outros


encargos pelas Autoras em vista do disposto no artigo 18 da
Lei nº 7.347/85;

j. citação do Ministério Público do DF para atuação nos autos


como fiscal da lei.

Requerem provar o alegado por todos os meios de prova em


Direito admitidas, em especial a prova documental inclusa.

Dá-se à causa o valor de R$100.000,00 (cem mil reais) para


efeitos meramente fiscais.

Nestes termos, pedem deferimento.

Brasília, XX de novembro de 2018

Você também pode gostar