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MANUAL

DO
THERAVADIN
(Um Guia Para Leigos Praticarem Bem A Tradição Theravada)
INTRODUÇÃO

Historicamente, o Budismo já está presente no Brasil há mais de 110 anos,


considerando que foi trazido pelos imigrantes japoneses, mesmo assim, para
a grande maioria do nosso povo, continua sendo algo misterioso,
desconhecido e mal interpretado. Muita gente confunde budismo com hin-
duismo, pensa que é a mesma coisa e com maior ou menor mistura, acaba
sem conhecer bem nem um nem outro.
Na verdade, embora isso também seja desconhecido da enorme maioria dos
brasileiros, o budismo está dividido em muitas Tradições ou Escolas, cada
uma delas com interpretações próprias sobre a verdade que o Buddha ensi-
nou e, por serem originárias de diferentes países, como China, Japão, Sri
Lanka, Tailândia, Coreia, Camboja e outros, essas Tradições trazem consigo
diferentes hábitos, expressões culturais e uma série de práticas de etiqueta
que demonstram respeito, não só entre leigos mas, principalmente, de leigos
para com os monges e monjas.
Para nós, um casal brasileiro, que conheceu o budismo através da internet,
nem sempre foi fácil aprender tantas regras de comportamento, quase sem-
pre diferentes do que estamos acostumados no Brasil. Aos poucos, porém,
sempre contando com as explicações do Venerável monge, nosso orientador,
as coisas foram ficando mais claras e até habituais. Visando facilitar a vida
de quem chega à nossa Sangha (comunidade budista), resolvemos idealizar
este manual para que cada iniciante leia e já não se sinta deslocado no con-
vívio conosco. Claro que sempre haverá algo novo para aprender mas, com
esta base, esperamos que nossos novos companheiros de prática se sintam
confiantes para perguntarem e estaremos sempre prontos a ajudar.
Boa leitura e bom aprendizado!
Thairiny Silva
e
Gustavo Pavanello
Coordenadores da Sangha
A TRADIÇÃO THERAVADA

Conhecida como Budismo "Ortodoxo", Budismo Original ou Budismo do Su-


deste Asiático, a Tradição Theravada (Caminho dos Anciões, daqueles que
conviveram diretamente com o Buddha) já foi, por muitos anos, chamada in-
justamente de HINAYANA, termo que já foi abolido, porque era pejorativo e
só é encontrado em literatura desatualizada, portanto, é bom que os desa-
visados iniciantes nesta Tradição tomem cuidado para não a chamarem por
esse termo.
Pratica-se o Budismo Theravada na Tailândia, Sri Lanka, Camboja, Laos,
Myanmar, parte do Vietnã, parte do Nepal, de Bangladesh e, de forma cres-
cente, já em vários países ocidentais. Em nosso país, ainda é muito pequeno
o número de seguidores e há apenas dois monges theravada no Brasil, o Ve-
nerável Ajahn Sunanthô Therô e outro monge, que tem seu próprio Templo .
Assim como as demais Tradições, o Budismo Theravada acompanha os
hábitos e costumes de cada país onde é praticado, então, considerando que
a ordenação monástica de nosso orientador foi na Tailândia, o maior país bu-
dista do mundo, procuramos seguir as regras de comportamento daquele rei-
no, com alguns elementos do Sri Lanka, que serão mencionados aqui, sem-
pre que for necessário.
Cabe ressaltar que há vários modos de se referir aos monges e monjas, vá-
rias maneiras de fazer saudações, vários estilos de prostração etc. o que se-
guiremos aqui é, portanto, diferente do estilo japonês, chinês, tibetano e ou-
tros.

COMO SE REFERIR AOS MONGES

Na Ásia, a figura dos monges e monjas é praticamente sagrada! Na Tailân-


dia, por exemplo, o rei e todos os membros da Família Real fazem prostra-
ções aos pés dos monges enquanto que os monges nem ao menos se levan-
tam diante da realeza. Aqui no Brasil, não precisamos considerar os monges
como sagrados, mas eles são dignos de todo o nosso respeito e considera-
ção, já que dedicam a vida a nos orientar, a nos mostrar o caminho que o
Buddha nos deixou como herança. Eles são os herdeiros e guardiões da ver-
dade do Budismo e, portanto, merecedores de nosso respeito, proteção e até
mesmo suporte financeiro, como veremos mais tarde.
Monges nunca são tratados por "cara", "amigo", "amigão", "parceiro" ou ou-
tros termos semelhantes e íntimos. Tratamos o monge por VENERÁVEL e
repetimos essa palavra em vez de dizer "você" ou "tu": "O Venerável concor-
da? O que o Venerável acha desta ideia? etc. Outro termo que pode ser usa -
do é "Ajahn" (se pronuncia "adjáan"). A palavra significa mestre e é muito
usada antes dos nomes de cada monge. Nosso orientador, por exemplo, é
chamado de Ajahn Sunanthô. Grandes mestres Theravada são o Ven. Ajahn
Brahm, o Ven. Ajahn Chah, o Ven. Ajahn Sumedhô e tantos outros.
Em sinal de respeito, quando visitamos um monge ou monja, fazemos três
prostrações diante dele ou dela e, toda vez que nos dirigimos aos monges e
monjas ou enquanto estamos escutando os Ensinamentos transmitidos por
eles, MANTEMOS AS PALMAS DAS MÃOS JUNTAS, demonstrando respeito
e atenção ao que estamos ouvindo.

COMO SE PORTAR DURANTE OS ENCONTROS


E RITUAIS DE BUDISMO

NO TEMPLO - nosso orientador mora sozinho em nosso Templo, portanto,


caso você vá fazer uma visita, é certo que ele mesmo vá abrir o portão para
receber você. Lembre-se de não estender a mão para ele, tocar ou abraçar o
monge. No caso de ser mulher, não tente dar "beijinho" e não toque de jeito
algum no monge. Todos devem simplesmente unir as palmas das mãos, à al-
tura do peito. Um engano muito comum é dizer "namastê" para os monges!
Esse termo faz parte do hinduísmo e não é usado no budismo, portanto, não
diga.
O nosso orientador conduz os visitantes até a pequena e simples Sala do Al-
tar do Buddha. Tire os sapatos antes de entrar. Em seguida, faça três pros-
trações completas diante do Altar e mais três diante do monge.
MUITO IMPORTANTE: Todo Templo budista vive unicamente de doações!
Antes de chegar ao Templo, não se esqueça de levar algo para doar. Pode
ser um quilo de alimento, velas brancas ou varetas de incenso, o monge ori-
enta os visitantes sobre como colocar as oferendas no Altar. Se preferir fazer
uma doação financeira, há envelopes vermelhos e uma caixa de doações ao
lado do altar. NUNCA entregue o dinheiro diretamente ao monge! Discreta-
mente ponha no envelope e o coloque dentro da caixa. O monge não vai o-
lhar nem dizer nada...

NOS ENCONTROS VIRTUAIS - Na Ásia, toda vez que há encontros para


ouvirem Ensinamentos, os leigos chegam com antecedência e aguardam a
chegada do monge, sempre se levantando assim que ele entra na Sala do
Altar ou no local do encontro. Nunca acontece de leigos chegarem atrasados
e interromperem a fala do monge. Assim, nos encontros virtuais, todos de-
vem entrar online pelo menos cinco minutos antes do horário de início. É um
sinal de educação, respeito ao monge e interesse real pelo que ele vai trans-
mitir.
É natural que haja dificuldade de conexão e, às vezes, mesmo dentro de
nossas casas o sinal não fica bem forte. Procure localizar um ponto que as-
segure uma boa conexão. Também é importante que seja um local sossega-
do, sem cachorro latindo, criança chorando ou outros barulhos que dificultem
sua atenção e perturbem o bom andamento de nossos encontros. Lembre-se
que, uma vez por semana, durante duas ou três horas, é o que se pode es-
perar como o mínimo de interesse de alguém para ouvir algo tão importante
que é o Ensinamento do Buddha.
Se, por qualquer motivo sério e urgente, você precisar se levantar e se au-
sentar do encontro por alguns momentos, peça a permissão do monge e pro-
cure voltar o mais depressa possível.
Tente alertar aos seus amigos e familiares, desde o início, para que saibam
que as tardes de domingo são reservadas para seus encontros de budismo.
Aos poucos, todos acabam entendendo e assim você poderá sempre estar
conosco, sem contratempos ou compromissos que lhe impeçam.
Após nosso estudo do Dhamma (Ensinamento do Buddha), que termina por
volta das 17 horas, nós continuamos reunidos, sempre para discutirmos as-
suntos técnicos, nossas atividades, problemas, sugestões etc. Todos são
bem-vindos a continuarem conosco, participando, já que não há nada secre-
to ou exclusivo para veteranos da Sangha. Se você quiser estar conosco,
saiba que pode. Caso tenha algo a fazer e precise sair, fique à vontade!

DISPONIBILIDADE

O Venerável Sunanthô faz questão de estar disponível para quem quiser


conversar com ele, esclarecer dúvidas, fazer perguntas e até mesmo consul-
tas sobre problemas pessoais que, obviamente, ele mantém como confiden-
ciais. Para tanto, pode ser encontrado no seu perfil do Facebook, como
"Monge de Copacabana" e todos os membros da Sangha podem adicionar
ele. Também temos nosso perfil no Instagram como "Pergunte ao Monge".
Nosso site: www.copacabanabuddhism.com tem uma imensa quantidade de
material, muito interessante para leitura e espaço para perguntas. Também o
nosso canal Youtube, Monge de Copacabana (https://www.youtube.com/c/
MongedeCopacabana), já tem um grande conteúdo, com vídeos do Venerá-
vel sobre diversos assuntos.
Se você acha que não é o bastante, o Venerável não vai se importar se você
o adicionar também no Whatsapp pessoal dele mas, pedimos que não o im-
portune, nem muito cedo de manhã, nem tarde da noite. Sugerimos que o
horário das 20 horas seja o mais tarde para procurar por ele sem ser incon-
veniente.
Nossa Sangha leiga tem, também, um espaço no Telegram. O Venerável
brinca que é o lugar onde podemos reclamar e falar mal dele sem que ele
saiba! Brincadeira à parte, é onde podemos conversar sobre assuntos diver-
sos, reforçar nossa amizade, dar sugestões sobre budismo e outros temas e,
realmente, conversar sobre como atuarmos para ajudar o Venerável a soluci-
onar os vários problemas e dificuldades em divulgar o Dhamma no Brasil.

COMO CONTRIBUIR COM O TEMPLO

Foi idealizada pelo próprio Buddha a instituição da Sangha Monástica (mon-


ges, monjas, noviços e noviças) sendo apoiada em todos os aspectos, inclu-
sive financeiros, por nós, praticantes leigos e leigas - pessoas que querem
seguir o Ensinamento do Buddha, sem abrirmos mão de nossa vida de traba-
lho e famíla, para nos tornarmos monges ou monjas.
Na Ásia, onde o budismo está estabelecido há anos e já faz parte da cultura
de cada país, é óbvio na mentalidade das pessoas, que elas têm que contri-
buir para a manutenção da vida dos monges. Os inúmeros Templos têm todo
apoio financeiro e nada falta, portanto, os monges podem se dedicar à medi-
tação, estudo das Escrituras e, claro, dar orientação aos que procuram o
Templo, como retribuição pelo apoio material que recebem. Na verdade, 200
desses Templos recebem apoio financeiro da própria Família Real Tailande-
sa, tamanha é a consciência de que os monges dependem de doações!
É uma TROCA. Nós leigos doamos ao Templo/monge, tudo o que for neces-
sário para viver com o mínimo de conforto e segurança e o monge nos retri-
bui com atenção, aconselhamento, ensinamentos e clareza de visão para
melhorarmos nossas vidas.
O Venerável Sunanthô, ao contrário da maioria dos orientadores nos grupos,
centros de budismo e Templos, nunca estipulou uma quantia mínima mensal
a ser doada. No entendimento dele, nossa Sangha é pequena, frágil e nem
todos os membros já trabalham, portanto, nem todos têm sustento próprio.
Não seria correto que todos tivessem que pagar uma taxa mensal para o
Templo. Por outro lado, ele vive apenas de doações e, como todos nós, tem
as despesas normais da vida, contas a pagar, alimentação, impostos etc.
cabe a cada um de nós ver o quanto é possível, dentro das limitações finan-
ceiras, mas com total sinceridade e consciência, colaborar todo mês com aju-
da financeira.
Nosso orientador nunca deixou de transmitir igualmente os Ensinamentos do
Buddha a quem doa ou não doa ao Templo, mas, imaginamos que ele, de al-
guma forma se preocupe ao ver que uns doam muito enquanto que outros
nem falam sobre doar algo. Assim, pedimos o entendimento de cada um para
essa questão importante.
Não é correto, dentro dos Preceitos Monásticos, falar sobre assuntos finan-
ceiros, assim, os que acharem por bem contribuir com o Templo, podem nos
procurar diretamente para receberem os dados bancários.

FINALIZANDO

Como dissemos no ínício, este manual não tem a intenção de cobrir todos os
aspectos da vida do praticante da Tradição Theravada. Sempre haverá coi-
sas que nós dois, apesar de já termos algum tempo na Tradição, ainda so-
mos pegos de surpresa e o Ajahn nos corrige, sempre rindo por causa de
nossas falhas que, para ele, parecem infantis.
Achamos que, de início, os leitores já terão uma boa noção de como se com-
portarem e se sentirão à vontade para fazer perguntas, à medida que elas
surjam. Assim, desejamos a todos, mais uma vez, as boas-vindas e espe-
ramos que o convívio em nossa Sangha traga, através da mensagem do
Buddha e da harmonia na prática, tantos benefícios quanto temos recebido
desde que o Budismo Theravada passou a fazer parte de nossas vidas!

Como o Ajahn costuma dizer: "Fiquem todos em Paz e Protegidos!"


Thairiny e Gustavo

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