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Qual a importância de se ter um mestre espiritual?
Monja Coen responde
Transcrição:
Eu tenho evitando muito essa palavra mestre, porque dá a impressão que a gente pega
um ser humano e o coloca num pedestal, e ele é especial, tão especial, tão separado de
mim, que eu só fico lá beijado os seus pés.
A ideia é como é que eu encontro alguém que é esse bom amigo, essa boa amiga, que é
meio parecido comigo, que sabe alguma coisa mais do que eu, e que pode me apontar o
caminho.
Assim como… se eu vou entrar numa mata ou subir uma montanha que eu nunca fui, eu
posso contratar um guia. E eu tenho que confiar nesse guia, porque esse guia já passou
por essa montanha ou por esse caminho antes de mim, e ele vai dizer, porque ele sabe o
que tem mais ou menos nesse caminho, embora a gente saiba que na natureza tudo esta-
se transformando e pode estar diferente, mas ele tem certas noções.
O mestres espiritual ou guia espiritual é alguém dessa maneira. Eu vou subir esta
montanha, esta montanha que nunca subi, e que ela pode me enganar. Eu posso ter uma
bússola, eu tenho uma mapa que seriam os sutras, eu tenho os ensinamentos, eu tenho os
textos sagrados, eu tenho a ritualidade que me ajuda nesta caminha.
Mas eu posso me desviar, eu posso ir por uma rota que me leva para baixo da montanha
em vez de para cima, embora ela tenha uma pequena elevação.
E este guia espiritual, esta pessoa que já veio aqui antes vai dizer: “olha por ai talvez não
seja o caminho”. Mas pode ser que ela também não conheça ou ele não conheça uma
cratera que surgiu nessa caminhada desde a última vez que essa pessoa passou por ai.
Por isso é preciso mesmo com um guia ou com uma guia de que todos andem juntos
cuidadosamente. Não é porque apenas eu tenho um guia ou que o guia falou, que eu vou
fazer o que falou. Não, não, eu vou olhar com cuidado, porque o meu passo não é o passo
do guia, o meu corpo não é o corpo dessa pessoa, as experiências de vida minhas são
minhas. E eu posso agregar esse conhecimento para que me levem numa rota, mas eu não
posso fechar meus olhos, e apenas seguir esta pessoa que também pode estar com os
olhos um pouco vendados.
Não é porque é um guia que significa que sabe tudo e tem tudo. É um ser humano, que
também pode ter suas falhas e seus erros, mas que já passou por esse caminho. E como é
que eu aprecio esta experiência? É como na escola, um professor… um professor de
alguma arte, você apenas pode aprender a segurar o lápis, mas com o tempo você vai ter
que fazer o seu desenho, a sua caligrafia, e ela vai ter uma característica que é sua, que
não é só copia do outro, mas alguma coisa que você coloca. E por isso esse mestre tem que
ser superado. Não é interessante? Ele é aquele que te aponta o caminho para que você
caminhe e se torne um mestre do caminho.
___
Essa é uma pergunta que precisa ser qualificada. O que se quer dizer com ter um
professor? Significa se submeter a alguém, praticando estrita e obedientemente o que
ele/ela ensinam? Significa visitar ocasionalmente para receber ensinamentos? É possível
ter vários professores? Devem ser da mesma escola ou podem ser de escolas diferentes?
[…]
Nisso tudo, a função essencial dos centros, templos e professores se perde, de guias e
amigos mais experientes que poderiam ser, eles se transformam em guardiões de portais
esotéricos, locais essenciais em que o neófito e ignorante deve necessariamente
frequentar para receber a joia da transmissão que lá se esconde.
___
[…]
O mosteiro serve, assim, para o treinamento de pessoas que queiram se dedicar ao modo
de vida monástico preconizado pelo Buddha. Centros e templos, por outro lado, servem
de locais de ensinamentos, inspiração, esclarecimento, coisas importantíssimas, mas que
não podem ser consideradas condições indispensáveis na vida espiritual de alguém bem
intencionado. Tal pessoa ainda terá que encontrar em si mesmo o tempo, a dedicação e o
esforço em discernir o joio do trigo nos ensinamentos. Apenas frequentar um centro
buddhista não é garantia de esclarecimento, nem isso deveria ser usado para discriminar
e separar devotos sinceros.
___
Observação:
Há outras escolas Mahayana em que os mestres também são importantes, mas não se
estabelece uma relação mestre-disciplulo com os leigos. E no Theravada os mestres
também são importantes, mas a relação que se estabelece com os leigos também não tem
a importância que existe em algumas outras escolas como vimos acima. Por exemplo na
Tailândia, um país onde o Budismo Theravada domina, os budistas leigos normalmente
não têm “um mestre”, não existe muito o conceito de o mestre X é “o meu mestre”. Os
leigos vão aos templos e recebem ensinamentos de vários mestres; podem ter os seus
professores preferidos ou os templos que apoiam, mas normalmente não têm alguém que
possam dizer “este é o meu mestre”. A busca é mais pelo Dhamma (ensinamentos) do que
pelo mestre, e isso pode ser feito de forma presencial como também através de livros,
áudios e vídeos. O contacto com os mestres e as comunidades, a prática conjuntamente
com pessoas que se apoiam mutuamente, e eventualmente retiros continua a ter a sua
importância, embora não seja uma condição absolutamente essencial.
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Etiquetas: Budismo Básico, Mahayana, Mestres Theravada, Mestres Zen/Chan, Monja Coen, Perguntas e
Respostas, Ricardo Sasaki
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