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Shobogenzo Zuimonki – Introdução

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administrador 1 de julho de 2020

Shobogenzo Zuimonki

Introdução por Yuho Yokoi da


Universidade de Aichigakuin
de Eihei Dogen Zenji
Adaptado da tradução do monge
Ryokyu Marcos Beltrão

[1] O Shobogenzo Zuimonki , um


trabalho de seis capítulos, é onde
Koun
Ejo Zenji (1198-1280) registrou o que
ouviu

seu mestre Dogen Zenji (1200-1253)


dizer no mosteiro de Kosyo-ji, no período
de Katei (1235 -1237). Este trabalho foi

mais tarde editado pelos discípulos de


Ejo.

Dogen Zenji escreveu 120 livros em sua vida:

1. Shobogenzo — 95 volumes;
2. Eihei-Koroku — 10

volumes;
3. Eihei-Genzenji-Shingi — 2
volumes;

4. Gakudo-Yojinshu — 1

volume;
5. Shobogenzo-Sanbya Kusoku — 3
volumes;

6. Hokyoki — 1 volume; e

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7. Shobogenzo Zuimonki — 6
volumes.

O Shobogenzo descreve sua experiência pessoal de iluminação no budismo Zen e é


complexo demais para principiantes. Contudo, o Shobogenzo Zuimonki tem um estilo
fácil de ser compreendido e apresenta histórias da prática budista. Neste sentido eu
acredito que o livro é bom para principiantes e veteranos, como uma apresentação do
pensamento de Mestre Dogen.

[2] Na revista Sumário Anual Filosófico 2, há um ensaio — Sobre o Shobogenzo


Zuimonki , escrito pelo Professor Toshiharu Akishige. Ali ele divide os conteúdos do
Shobogenzo Zuimonki em sete conteúdos principais:

1. Praticantes Zen não devem ficar apegados à roupa e à comida;


2. Praticantes Zen não devem estudar o budismo para disto se aproveitarem;
3. O despertar da Mente que busca o Caminho;
4. Como se pratica o Caminho;
5. zazen;
6. Causalidade;
7. Uma mente harmoniosa.

Em suas Notas sobre o Shobogenzo Zuimonki , o Dr. Dashui Okubo diz:


“Devemos estudar o budismo sem esperar derivar lucro disto. Entre os sete
itens citados
pelo Professor Toshikaru Akishige, o primeiro, segundo, terceiro e sétimo itens estão
nesta categoria de liberdade de ganho.”

O âmago do budismo de Dogen é ir além de “ser” e “não ser”. Podemos dividir em sete
itens os conteúdos deste livro:

1. Verdade Budista

De acordo com Mestre Dogen, o budismo está além do espaço e do tempo. Desde este
ponto de vista, ele afirma: “É só um meio habilidoso de dividir o budismo em três
períodos: o período do budismo correto, o do budismo formal e o decadente. No tempo
de Buddha nem todos os monges eram excelentes. Alguns eram de habilidade inferior.”
Assim ele negava a ideia enraizada do budismo do

período Heian — a era do budismo decadente.

A verdade budista é universal. Assim ele comenta o kôan no qual Nan Ch'uan decepa
um gato em dois, dizendo: “Nan Ch'uan matando o gato manifesta a liberdade do
budismo e é uma palavra iluminada que nos conduz à iluminação. Ao ouvirmos esta
palavra, podemos compreender que este gato é, como ele é, o Buda.” Isto significa que a
função

universal do budismo está além da visão dualista de “gato” e “Buddha”. Esta verdade
eterna e universal do budismo está além de nossa característica dualista.

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Ele disse: “Praticantes Zen não devem seguir cegamente o que os mestres disserem,
mas ter uma visão crítica. A dúvida pode ser um pecado, mas também está errado não
questionar o que deve ser questionado.” Isto significa que a verdade budista é só a
verdade, não como palavras de antigos mestres sobre o assunto.

Suas palavras, “É com esta mente que nos libertamos de 'Buddha' e 'não-Buddha'” —
significa que o budismo é a natureza do Dharma absoluta, além de uma visão dualista,
tal como 'ser' e 'não-ser ', 'bem' e 'mal', 'bonito' e 'feio'.

Esta verdade budista está aberta a todos, independente de habilidade ou sexo. Daí vêm
as palavras “A verdadeira prática do budismo não requer sabedoria, talento ou muita
inteligência.”

Suas palavras “Não devemos querer saber tudo — ensinamentos esotéricos e


exotéricos, ou livros Budistas e não-Budistas” são um aviso contra a ideia de uma
interpretação literal dos Sutras como auxílio ao Caminho. Logo, um homem que

percebe a verdade budista deve notar a impermanência do mundo, despertar a mente


que busca o Caminho, acreditar profundamente no treinamento por toda a vida e fazer a
ação pura — zazen, de acordo com os preceitos de Buda.

Encorajando outros a estudarem budismo, ele diz: “Monges Zen devem estudar os
caminhos dos budas e ancestrais. Seus caminhos são diferentes na Índia, na China e no
Japão, mas os autênticos praticantes não planejaram obter necessidades básicas
necessitadas.” Não nos apegando a assuntos mundanos, devemos

assiduamente nos aplicar ao Caminho.

E enfatizando a importância da prática pós-iluminação, ele diz: “Mesmo que nos


iluminemos, não devemos cessar nossa prática, achando que tudo atingimos. A prática
do Caminho não tem fim.”

2. Despertando a Mente que busca o Caminho

O que é vital para despertar a Mente que busca o Caminho é que devemos perceber a
reflexão do mundo e a importância da vida e da morte. É porque atendemos a achar que
assuntos mundanos são eternos e imortais que nos apegamos a eles. Mestre Dogen diz
a respeito: “Se nos aplicarmos ao Caminho absoluto e não ao mundo, forjaremos uma
conexão excelente com o budismo, mesmo que haja oposição a isto.”

Um tal despertar para a Mente que busca o Caminho está aberto para todos nós, não
importa qual seja nossa habilidade. Portanto ele diz:
“Todos somos dotados da natureza de Buda. Logo não
devemos nos humilhar”.

“Aqueles que despertaram para a Mente que busca o Caminho e se aplicam à prática

nunca deixam de se iluminar.”

De acordo com Dogen, a importância da prática do budismo não reside tanto na


habilidade da pessoa, quanto na intensidade da Mente que busca o Caminho. Ele nos
exorta à prática Budista, dizendo: “Se não conseguirmos garantir a sobrevivência do

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amanhã, devemos resolutamente estar dispostos a morrer de fome ou frio. Devemos em
primeiro lugar ouvir o budismo neste momento mesmo e sermos resolutos na nossa
prática.”

Mas este despertar para a Mente que busca o Caminho não nos levará jamais ao
verdadeiro Caminho se não tivermos a orientação dos mestres Zen. “Ao ouvirmos as
palavras de excelentes pessoas, envergonhamo-nos de nossa estreiteza e despertamos
para a verdadeira Mente que busca o Caminho.” Este é um aviso contra uma ideia
dogmática e autocentrada do budismo.

Contudo,

despertando a Mente que busca o Caminho, não só ganharemos nossa iluminação, mas
salvaremos também aos demais. “Devemos ter compaixão por todas as criaturas, e nos
devotar aos preceitos de Buda.”

3. Deixando o lar para ganhar o budismo


Dogen disse: “Renunciar ao mundo é ser indiferente aos sentimentos mundanos.” Ou
seja, deixar o lar pelo budismo significa que sintonizamos a mente de Buda. “Não
devemos apreender o Caminho de acordo com sentimentos ou moralidade mundanos,
mas de acordo com o próprio Caminho.” Isto demonstra o abismo que existe entre o
mundo e o budismo.

Suas palavras “Os leigos em sua maior


parte, mesmo que sinceros em suas práticas
do Caminho, serão residentes enquanto
estiverem apegados a dinheiro, residências ou pais” — mostram-nos como é difícil para
leigos estudarem o Caminho. É devido a seus apegos a si e a outros que relutam em
deixar o lar pelo budismo. Por isto ele diz: “Todos procuram a iluminação, mas poucos o
fazem bem.”

A melhor forma de deixar o lar pelo


budismo é abandonar tudo resolutamente. No verdadeiro sentido, isto é também piedade
filial. Quanto a isto, Dogen diz: “De fato, pode ser muito difícil cortar os laços da afeição,
mesmo num longo tempo de repetições nascimentos e mortes, mas agora dez uma boa
chance de ganhar o budismo com este corpo humano. Se agora renunciares à bondade
e à afeição, podes ser considerada uma pessoa genuinamente grata.”

4. Não ego

As palavras do Mestre Dogen “Se formos praticar o Caminho dos buddhas e ancestrais,
devemos seguir as ações dos velhos mestres, não buscando recompensa para isto” —
significa que nossa prática livre do ganho, é uma mente não egoísta, além do apego a
nós mesmos, e até ao budismo. Logo, devemos praticar o budismo apenas pelo
budismo. Sobre isto ele diz: “Praticantes do Caminho não devem estudar para si
mesmos, mas para o Caminho.” Nossa vida é incerta e transiente demais. Neste
contexto ele diz: “Se renunciarmos a esta vida

transitória pelo budismo, mesmo que por um só dia, isto nos sigaá à felicidade eterna.”

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O mesmo vale para nossa mentalidade e deficiência. Ele diz: “Praticantes Zen devem
estar livres do apego a coisas mundanas e estudar aplicativamente o budismo.”

De acordo com Dogen, tanto a arrogância quanto a humildade em demasia são apegos
ao ego. Portanto ele diz:

“Estudem apenas o budismo, não seguindo sentimentos mundanos.”

5. Pobreza honesta
Os verdadeiros seguidores Budistas estão sempre satisfeitos com a pobreza honesta.
Logo, ele diz: “Praticantes Zen devem estudar o Caminho na pobreza.” Ou: “Quando
tivermos muito dinheiro, perderemos nosso desejo pelo Caminho.”
Na verdade, as riquezas e as honrarias são uma fonte de luxo e um
grande obstáculo à
prática do Caminho. Portanto, Dogen nos diz que seguidores Budistas não devem se
preocupar com comida e roupa, seguindo apenas os preceitos de Buda.

Seguidores Budistas devem ter uma vida pura. Eles estão terminantemente proibidos de
ganhar a vida com comida tratada através de uma forma de vida desonesta. Sobre isto
ele diz: “Um pano tingido de azul parece azul e um tingido de amarelo parece amarelo,
assim nosso corpo e mente sustentados por esta vida errada devem estar errados.
Procurar o budismo com um tal corpo e uma tal mente errada é tão inútil quanto
espremer areia querendo obter óleo.”

Ele diz: “Mesmo que o mosteiro estiver aos pedaços, será melhor praticar ali do que viver
debaixo do céu, ou de uma árvore. Se uma parte do teto cair, devemos fazer zazen em
uma outra parte.”

O zazen sofrido na pobreza honesta é o principal caminho para a iluminação.

6. Zazen
Como palavras de Mestre Dogen — “Praticantes Budistas devem fazer zazen com todas
as suas forças, sem se ocupar com nada mais. O caminho único dos budas e ancestrais
é o zazen. Nunca pratique nada além disto.” — mostre-nos que o zazen é a ação de
Buda e o portão correto do budismo.

O zazen não somente é a ação absoluta livre de ganhos, mas também a prática física do
Caminho. Daí vêm as palavras de Mestre Dogen: “Assim, é através de nosso corpo
decididamente que chegamos à iluminação.”

Mestre Dogen também diz: “Finalmente, é inútil tentar conduzir outras pessoas e mim
mesmo meramente através do estudo intelectual de kôans e biografias de mestres.” Ou:
“É verdade, podes ter um apanhado conceitual e intelectual de uma passagem do kôan,
mas é por isto que estás longe do Caminho dos budas e ancestrais. Faze apenas o
zazen ereto, dia e noite, livre da expectativa de obter a iluminação através disto, e
imediatamente te identificarás com o Caminho dos budas e ancestrais.”

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Devemos compreender que a ação concreta do zazen compreende os kôans. Ele diz: “O
zazen inclui todo tipo de mérito e mandamentos.” Mostra que não há diferença entre os
mandamentos e o zazen.

Como foi mencionado acima, o zazen está aberto a todos, não importa qual seja a
habilidade da pessoa. Daí vêm suas palavras: “Mesmo um homem que seja estúpido
demais para responder a uma só pergunta até estar acima de um homem brilhante, se
for esforçado na prática do zazen. Logo, praticantes budistas devem se dedicar a esta
prática única — zazen, renunciando a todas as demais coisas.”

7. Salvação de todas as criaturas


Mestre Dogen explica isto assim: “Ao pensar em todas as criaturas, não se deve
diferenciar entre 'familiar' e 'estranho', mas ter uma atitude de ajudar a todos igualmente,
livre de seu próprio interesse, seja deste mundo ou fora dele; e se deve também fazer o
bem devotadamente aos outros, sem se importar que note ou apreciem, tentando manter
mesmo esta sua capacidade de ocultá-los.”

Ele

cita Mestre Eisai: “Será muito benéfico a vocês monges que eu ajudarei a uma pessoa
que ora necessita destes materiais, aos quais vocês relutavam em abandonar.”

Assim Mestre Dogen enfatiza a importância da prática


altruísta do Caminho.

Extraído do site www.dharmanet.com.br

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