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Há uma hi s t ór i a i ndi a na de um home m que
e r a um a t e u e a g nós t i c o, um r a r í s s i mo t i po de
pos t ur a na Í ndi a . E l e e r a uma pe s s oa que
de s e j a v a l i v r a r - s e de t oda s a s f or ma s de
r i t os r e l i g i os os , de i x a ndo a pe na s a e s s ê nc i a
da di r e t a e x pe r i ê nc i a da Ve r da de . E l e a t r a i u
di s c í pul os que c os t uma v a m s e r e uni r a s e u
r e dor t oda s e ma na , qua ndo e l e f a l a v a a t odos
s obr e s e us pr i nc í pi os . Após a l g um t e mpo e l e s
c ome ç a r a m a se j unt a r a nt e s do me s t r e
a pa r e c e r , por que e l e s g os t a v a m de e s t a r em
g r upo e c a nt a r j unt os .
E v e nt ua l me nt e f oi c ons t r uí da uma c a s a pa r a
a s r e uni õe s , c om uma s a l a e s pe c i a l pa r a o
me s t r e a g nós t i c o. Após s ua mor t e , t or nou - s e
uma pr á t i c a e nt r e s e us s e g ui dor e s f a z e r uma
r e v e r ê nc i a r e s pe i t os a pa r a a a g or a s al a
v a z i a , a nt e s de s e e nt r a r no s a l ã o. E m uma
me s a e s pe c i a l a i ma g e m do me s t r e e r a mos t r a da
e m uma mol dur a de our o, e a s pe s s oa s de i x a v a m
f l or e s e i nc e ns o l á , e m r e s pe i t o a o me s t r e .
1
“ Tenhai s conf i anç a não no mes t r e, mas no
e ns i na me nt o.
Ga ut a ma Buddha - Ka l a ma S ut r a
Qua ndo c ur i os a me nt e te pe r g unt a r e m,
bus c a ndo s a be r o que é Aqui l o,
Nã o de v e s a f i r ma r ou ne g a r na da .
Poi s o que que r que s e j a a f i r ma do nã o é
a v e r da de ,
E o que que r que s ej a ne g a do nã o é
v e r da de i r o.
Como a l g ué m pode r á di z e r c om c e r t e z a o
que Aqui l o pos s a s e r
E nqua nt o por si me s mo nã o t i v er
c ompr e e ndi do pl e na me nt e o que É ?
E , a pós t ê - l o c ompr e e ndi do, que pa l a v r a
de v e s e r e nv i a da de uma Re g i ã o
Onde a c a r r ua g e m da pa l a v r a nã o
e nc ont r a uma t r i l ha por onde pos s a s e g ui r ?
Por t a nt o, a os s e us que s t i ona me nt os
of e r e c e - l he s a pe na s o s i l ê nc i o,
S i l ê nc i o - e um de do a pont a ndo o
Ca mi nho.
“ Ver so Zen”
Antes de entendermos o Zen, as
montanhas são montanhas e os rios são rios;
2. Uma Parábola
4. Garotas
HY AKUJ O, o me s t r e Z e n c hi nê s , c os t uma v a t r a ba l ha r c om
s e us di s c í pul os me s mo na i da de de 80 a nos , a pa r a ndo o
j a r di m, l i mpa ndo o c hã o, e poda ndo a s á r v or e s . Os
di s c í pul os s e nt i r a m pe na em v er o v e l ho me s t r e
t r a ba l ha ndo t ã o dur a me nt e , ma s e l e s s a bi a m que e l e nã o
i r i a e s c ut a r s e us a pe l os pa r a que pa r a s s e . E nt ã o e l e s
r e s ol v e r a m e s c onde r s ua s f e r r a me nt a s .
Na que l e di a o me s t r e nã o c ome u. No di a s e g ui nt e t a mbé m,
e no out r o.
“ El e deve est ar i r r i t ado por t er mos escondi do suas
f e r r a me nt a s , ” os di s c í pul os a c ha r a m. “ É me l hor nós a s
c ol oc a r mos de v ol t a no l ug a r . ”
No di a em que e l e s f i z e r a m i s s o, o me s t r e t r a ba l hou e
c ome u e x a t a me nt e c omo a nt e s . À noi t e e l e os i ns t r ui u,
s i mpl e s me nt e :
“ Sem t r abal ho, sem comi da. ”
6. Nada Existe
8. Verdadeira Riqueza
Um home m mui t o r i c o pe di u a S e ng a i pa r a e s c r e v e r a l g o
pe l a c ont i nui da de da pr os pe r i da de de s ua f a mí l i a , de modo
que e s t a pude s s e ma nt e r s ua f or t una de g e r a ç ã o a g e r a ç ã o.
S e ng a i pe g ou uma l ong a f ol ha de pa pe l de a r r oz e
e s c r e v e u: “ Pa i mor r e , f i l ho mor r e , ne t o mor r e . ”
O home m r i c o f i c ou i ndi g na do e of e ndi do. “ E u l he pe di
pa r a e s c r e v e r a l g o pe l a f e l i c i da de de mi nha f a mí l i a !
Por que f i z e s t e uma br i nc a de i r a de s t a s ? ! ? ”
“ Não pr et endi f azer br i ncadei r as, ” expl i cou Sengai
t r a nqüi l a me nt e . “ S e a nt e s de s ua mor t e s e u f i l ho mor r e r ,
i s t o i r i a ma g oá - l o i me ns a me nt e . S e s e u ne t o s e f os s e
a nt e s de s e u f i l ho, t a nt o v oc ê qua nt o e l e f i c a r i a m
a r r a s a dos . Ma s s e s ua f a mí l i a , de g e r a ç ã o a g e r a ç ã o,
mor r e r na or de m que e u e s c r e v i , i s s o s e r i a o ma i s na t ur a l
c ur s o da Vi da . E u c ha mo a i s s o Ve r da de i r a Ri que z a . ”
9. Homem Santo
Um or g ul hos o g ue r r e i r o c ha ma do Nobus hi g e f oi at é
Ha k ui n, e pe r g unt ou- l he : “ S e e x i s t e um pa r a í s o e um
i nf e r no, onde e s t ã o? ”
“ Quem é você?” per gunt ou Hakui n.
“ Eu sou um samur ai ! ” o guer r ei r o excl amou.
“ Você, um guer r ei r o! ” r i u- s e Ha k ui n. “ Que e s pé c i e de
g ov e r na nt e t e r i a t a l g ua r da ? S ua a pa r ê nc i a é a de um
me ndi g o! ” .
Nobus hi g e f i c ou t ã o r a i v os o que c ome ç ou a de s e mba i nha r
s ua e s pa da , ma s Ha k ui n c ont i nuou:
“ Ent ão você t em uma espada! Sua ar ma pr ovavel ment e est á
t ã o c e g a que nã o c or t a r á mi nha c a be ç a . . . ”
O s a mur a i r e t i r ou a e s pa da num g e s t o r á pi do e a v a nç ou
pr ont o pa r a ma t a r , g r i t a ndo de ódi o. Ne s t e mome nt o Ha k ui n
g r i t ou:
“ Acabar am de se abr i r os Por t ai s do I nf er no! ”
Ao ouv i r e s t a s pa l a v r a s , e pe r c e be ndo a s a be dor i a do
me s t r e , o s a mur a i e mba i nhou s ua e s pa da e f e z - l he uma
pr of unda r e v e r ê nc i a .
“ Acabar am de se abr i r os Por t ai s do Par aí so, ” di sse
s ua v e me nt e Ha k ui n.
11. É mesmo?
Uma l i nda g a r ot a da v i l a f i c ou g r á v i da . S e us pa i s ,
e nc ol e r i z a dos , ex i gi r am s a be r que m er a o pa i .
I ni c i a l me nt e r e s i s t e nt e a c onf e s s a r , a a ns i os a e
e mba r a ç a da me ni na f i na l me nt e a c us ou Ha k ui n, o mes t r e Z e n
o qua l t odos da v i l a r e v e r e nc i a v a m pr of unda me nt e por
v i v er uma v i da di g na . Qua ndo os i ns ul t a dos pa i s
c onf r ont a r a m Ha k ui n c om a a c us a ç ã o de s ua f i l ha , e l e
s i mpl e s me nt e di s s e :
“ É mesmo?”
Qua ndo a c r i a nç a na s c e u, os pa i s a l e v a r a m pa r a Ha k ui n,
o qua l a g or a e r a v i s t o c omo um pá r i a por t odos da r e g i ã o.
E l e s e x i g i r a m que e l e t oma s s e c ont a da c r i a nç a , uma v e z
que e s s a e r a s ua r e s pons a bi l i da de .
“ É mesmo?” Hakui n di sse cal mament e enquant o acei t ava a
c r i a nç a .
Por mui t os me s e s e l e c ui dou c a r i nhos a me nt e da c r i a nç a
a t é o di a e m que a me ni na nã o a g üe nt ou ma i s s us t e nt a r a
me nt i r a e c onf e s s ou que o pa i v e r da de i r o e r a um j ov e m da
v i l a que e l a e s t a v a t e nt a ndo pr ot e g e r .
Os pa i s i me di a t a me nt e f or a m a Ha k ui n, c ons t r a ng i dos ,
pa r a v e r s e e l e pode r i a de v ol v e r a g ua r da do be bê . Com
pr of us a s de s c ul pa s el es e x pl i c a r a m o que t i nha
a c ont e c i do.
“ É mesmo?” di sse Hakui n enquant o devol vi a a cr i ança.
Ry ok a n, um me s t r e Z e n, v i v i a a ma i s s i mpl e s e f r ug a i s
da s v i da s e m uma pe que na c a ba na a os pé s de uma mont a nha .
Uma noi t e um l a dr ã o e nt r ou na c a ba na a pe na s pa r a
de s c obr i r que na da ha v i a pa r a s e r r ouba do.
Ry ok a n r e t or nou e o s ur pr e e nde u l á .
“ Voc ê f e z uma l ong a v i a g e m pa r a me v i s i t a r , ” e l e di s s e
a o g a t uno, “ e v oc ê nã o de v e r i a r e t or na r de mã os v a z i a s .
Por f a v or t ome mi nha s r oupa s c omo um pr e s e nt e . ”
O l a dr ã o f i c ou pe r pl e x o. Ri ndo de t r oç a , e l e t omou a s
r oupa s e e s g ue i r ou- s e pa r a f or a .
Ry ok a n s e nt ou- s e nu, ol ha ndo a l ua .
“ Pobr e coi t ado, ” el e mur mur ou. “ Gost ar i a de poder dar -
l he e s t a be l a l ua . ”
15. Equanimidade
Dur a nt e a s g ue r r a s c i v i s no J a pã o f e uda l , um e x é r c i t o
i nv a s or pode r i a f a c i l me nt e di z i ma r uma c i da de e t oma r
c ont r ol e . Numa v i l a , t odos f ug i r a m a pa v or a dos a o s a be r e m
que um g e ne r a l f a mos o por s ua f úr i a e c r ue l da de e s t a v a s e
a pr ox i ma ndo - t odos e x c e t o um me s t r e Z e n, que v i v i a
a f a s t a do.
Qua ndo c he g ou à v i l a , s e us ba t e dor e s di s s e r a m que
ni ng ué m ma i s e s t a v a l á , a l é m do mong e . O g e ne r a l f oi
e nt ã o a o t e mpl o, c ur i os o e m s a be r que m e r a t a l home m.
Qua ndo e l e l á c he g ou, o mong e nã o o r e c ebe u c om a nor ma l
s ubmi s s ã o e t e r r or c om que e l e e s t a v a a c os t uma do a s e r
t r a t a do por t odos ; i s s o l e v ou o g e ne r a l à f úr i a .
“ Seu t ol o! ! ” el e gr i t ou enquant o desembai nhava a
e s pa da , “ nã o pe r c e be que v oc ê e s t á di a nt e de um home m que
pode t r uc i dá - l o num pi s c a r de ol hos ? ! ? ”
Ma s o me s t r e pe r ma ne c e u c ompl e t a me nt e t r a nqüi l o.
“ E você per cebe, ” o mest r e r epl i cou cal mament e, “ que
v oc ê e s t á di a nt e de um home m que pode s e r t r uc i da do num
pi s c a r de ol hos ? ”
Ry ok a n de v ot ou s ua v i da a o e s t udo do Z e n. Um di a e l e
ouv i u que s e u s obr i nho, a de s pe i t o da s a dv e r t ê nc i a s de
s ua f a mí l i a , es t a v a g a s t a ndo s e u di nhe i r o c om uma
pr os t i t ut a . Uma v e z que o s obr i nho t i nha s ubs t i t uí do
Ry ok a n na r e s pons a bi l i da de de g e r e nc i a r os pr ov e nt os da
f a mí l i a , e os be ns de s t a por t a nt o c or r i a m r i s c o de s e r e m
di s s i pa dos , os pa r e nt e s pe di r a m a Ry ok a n f a z e r a l g o.
Ry ok a n t e v e que v i a j a r por uma l ong a e s t r a da pa r a
e nc ont r a r s e u s obr i nho, o qua l e l e nã o v i a há mui t os
a nos . O s obr i nho f i c ou g r a t o por e nc o nt r a r s e u t i o
nov a me nt e e o c onv i dou a pe r noi t a r e m s ua c a s a .
Por t oda a noi t e Ry ok a n s e nt ou e m me di t a ç ã o. Qua ndo e l e
e s t a v a pa r t i ndo na ma nhã s e g ui nt e e l e di s s e a o j ov e m: “ E u
de v o e s t a r f i c a ndo v e l ho, mi nha s mã os t r e me m t a nt o!
Pode r i a me a j uda r a a ma r r a r mi nha s a ndá l i a de pa l ha ? ”
O s obr i nho o a j udou de v ot a da me nt e . “ Obr i g a do, ” di s s e
Ry ok a n f i na l me nt e , “ v oc ê v ê , a c a da di a um home m s e t or na
ma i s v e l ho e f r á g i l . Cui de - s e c om a t e nç ã o. ” E nt ã o Ry ok a n
pa r t i u, j a ma i s me nc i ona ndo uma pa l a v r a s obr e a c or t e s ã ou
a s r e c l a ma ç õe s de s e us pa r e nt e s . Ma s , da que l a ma nhã e m
di a nt e , o e s ba nj a me nt o do s e u ne t o t e r mi nou.
Me s t r e T ok ua n ( c uj o nome s i g ni f i c a “ pe pi no” ) e s t a v a
mor r e ndo; um di s c í pul o a pr ox i mou - s e e per g unt ou- l he qua l
e r a o s e u t e s t a me nt o. T a k ua n r e s ponde u que nã o t i nha
t e s t a me nt o; ma s o di s c í pul o i ns i s t i u:
- Nã o t e nde s na da . . . Na da pa r a di z e r ?
- A v i da nã o pa s s a de um s onho.
E e x pi r ou.
Na Chi na a nt i g a , um e r e mi t a me i o má g i c o v i v i a numa
mont a nha pr of unda . Um be l o di a , um v e l ho a mi g o f oi
v i s i t á - l o. S e nr i n, mui t o f e l i z por r e c e bê - l o, of e r e c e u-
l he um j a nt a r e um a br i g o pa r a a noi t e ; na ma nha
s e g ui nt e , a nt e s da pa r t i da do a mi g o, qui s of e r t a r - l he um
pr e s e nt e . T omou de uma pe dr a e , c om o de do, c onv e r t e u - a
num bl oc o de our o pur o.
O a mi g o nã o f i c ou s a t i s f e i t o; S e nr i n a pont ou o de do
pa r a uma r oc ha e nor me , que t a mbé m s e t r a ns f or mou e m our o.
O a mi g o, por é m, c ont i nua v a s e m s or r i r .
- Que que r e s , e nt ã o? - i nda g ou S e nr i n.
Re s ponde u- l he o a mi g o:
- Cor t a e s s e de do, e u o que r o.
Um e s t uda nt e de a r t e s ma r c i a i s a pr ox i mou - s e de s eu
me s t r e c om uma que s t ã o:
“ Gost ar i a de aument ar meu conheci ment o das ar t es
ma r c i a i s . E m a di ç ã o a o que a pr e ndi c om o s enhor , e u
g os t a r i a de e s t uda r c om out r o pr of e s s or pa r a pode r
a pr e nde r out r o e s t i l o. O que pe ns a de mi nha i dé i a ? ”
“ O caçador que espr ei t a doi s coel hos ao mesmo t empo, ”
r e s ponde u o me s t r e , “ c or r e o r i s c o de nã o pe g a r ne nhum. ”
Um r e noma do me s t r e Z e n di z i a que s e u ma i or e ns i na me nt o
e r a e s t e : Buddha é a s ua me nt e . De t ã o i mpr e s s i ona do c om
a pr of undi da de i mpl i c a da ne s t e a x i oma , um mong e de c i di u
de i x a r o Mona s t é r i o e r e t i r a r - s e e m um l oc a l a f a s t a do
pa r a me di t a r ne s t a pe ç a de s a be dor i a . E l e v i v e u 20 a nos
c omo um e r e mi t a r e f l e t i ndo no g r a nde e ns i na me nt o.
Um di a e l e e nc ont r ou out r o mong e que v i a j a v a na a t r a v é s
da f l or e s t a pr óx i ma à s ua e r mi da . L og o o mong e e r e mi t a
s oube que o v i a j a nt e t a mbé m t i nha e s t uda s ob o me s mo
me s t r e Z e n.
“ Por f avor , di ga- me se v oc ê c onhe c e o g r a nde
e ns i na me nt o do me s t r e , ” pe r g unt ou a ns i os o a o out r o.
Os ol hos do mong e v i a j a nt e br i l ha r a m, “ Ah! O me s t r e f oi
mui t o c l a r o s obr e i s t o. E l e di s s e que s e u ma i or
e ns i na me nt o e r a : Buddha NÃO é a s ua me nt e . ”
O f i l ho de um me s t r e e m r oubos pe di u a s e u pa i pa r a
e ns i na r - l he os s e g r e dos de s e u of í c i o. O v e l ho l a dr ã o
c onc or dou e na que l a noi t e l e v ou s e u f i l ho pa r a a s s a l t a r
uma g r a nde ma ns ã o. E nqua nt o a f a mí l i a dor mi a , el e
s i l e nc i os a me nt e l e v ou s e u a pr e ndi z pa r a de nt r o de um
qua r t o que c ont i nha um a r má r i o de r i c a s r oupa s . O pa i
di s s e a o f i l ho pa r a e nt r a r no a r má r i o e pe g a r a l g uma s
r oupa s . Qua ndo o r a pa z f e z i s s o, s e u pa i r a pi da me nt e
f e c hou a por t a e o pr e nde u l á dent r o. E nt ã o e l e s a i u, e
ba t e u s onor a me nt e na por t a da f r e nt e , a c or da ndo
c ons e que nt e me nt e a f a mí l i a que dor mi a , e r a pi da me nt e
f ug i u a nt e s que qua l que r pe s s oa o v i s s e .
Hor a s ma i s t a r de , s e u f i l ho r e t or nou à c a s a , e m t r a pos
e e x a us t o.
“ Pai ! ” el e gr i t ou em f úr i a, “ Por que o senhor me pr ende u
no a r má r i o? S e e u nã o t i v e s s e us a do de s e s pe r a da me nt e me us
r e c ur s os c om me do de s e r de s c obe r t o, e u j a ma i s t e r i a
e s c a pa do. T i v e que a ba ndona r t oda a mi nha t i mi de z pa r a
s a i r de l á! ”
O v e l ho l a dr ã o s or r i u: “ F i l ho, v oc ê a c a bou de t e r s ua
pr i me i r a l i ç ã o na a r t e da r a pi na g e m. . . ”
Um v e l ho home m bê ba do a c i de nt a l me nt e c a i u na s t e r r í v e i s
c or r e de i r a s de um r i o que l e v a v a m pa r a uma a l t a e
pe r i g os a c a s c a t a . Ni ng ué m j a ma i s t i nha s obr e v i v i do à que l e
r i o. Al g uma s pe s s oa s que v i r a m o a c i de nt e t e me r a m pe l a
s ua v i da , t e nt a ndo de s e s pe r a da me nt e c ha ma r a a t e nç ã o do
home m que , bê ba do, es t av a qua s e de s ma i a do. Ma s ,
mi r a c ul os a me nt e , e l e c ons e g ui u s a i r s a l v o qua ndo a
pr ópr i a c or r e nt e z a o de s pe j ou na ma r g e m e m uma c ur v a que
f a z i a o r i o.
Ao t e s t e munha r o e v e nt o, Kung - t z u ( Conf úc i o) c ome nt ou
pa r a t oda s a s pe s s oa s que di z i a m nã o e nt e nde r c omo o
home m t i nha c ons e g ui do s a i r de t ã o g r a nde di f i c ul da de s e m
l ut a :
“ El e se acomodou à água, não t ent ou l ut ar com el a. Sem
pe ns a r , s e m r a c i ona l i z a r , e l e pe r mi t i u que a á g ua o
e nv ol v e s s e . Me r g ul ha ndo na c or r e nt e z a , c ons e g ui u s a i r da
c or r e nt e z a . As s i m f oi c omo c ons e g ui u s obr e v i v e r . ”
27. O Sonho
28. Egoísmo
O Pr i me i r o Mi ni s t r o da Di na s t i a T a ng e r a um he r ói
na c i ona l pe l o s e u s uc e s s o t a nt o c omo home m de e s t a do
qua nt o c omo l í de r mi l i t a r . Ma s a de s pe i t o de s ua f a ma ,
pode r e r i que z a , e l e s e c ons i de r a v a um humi l de e de v ot o
Buddhi s t a . F r e qüe nt e me nt e e l e v i s i t a v a s e u mes t r e Z e n
f a v or i t o pa r a e s t uda r c om e l e , e e l e s pa r e c i a m s e da r
mui t o be m. O f a t o de que e l e e r a pr i me i r o mi ni s t r o
a pa r e nt e me nt e nã o t i nha e f e i t o e m s ua r e l a ç ã o, que
pa r e c i a s e r s i mpl e s me nt e a de um r e v e r e ndo me s t r e e s e u
r e s pe i t os o e s t uda nt e .
Um di a , dur a nt e s ua v i s i t a us ua l , o Pr i me i r o Mi ni s t r o
pe r g unt ou a o me s t r e , “ Me s t r e , o que é o e g oí s mo de a c or do
c om o Buddhi s mo? ”
O r os t o do me s t r e f i c ou v e r me l ho, e num t om de v oz
e x t r e ma me nt e de s de nhos o e i ns ul t uos o e l e g r i t ou e m
r e s pos t a :
“ Que t i po de per gunt a est úpi da é est a?! ?”
T a l r e s pos t a t ã o i ne s pe r a da c hoc ou t a nt o o Pr i me i r o
Mi ni s t r o que e s t e t or nou- s e i me di a t a me nt e a r r og a nt e e c om
r ai va:
“ Como ousa me t r at ar assi m?”
Ne s t e mome nt o o me s t r e Z e n s or r i u e di s s e :
“ I STO, Sua Excel ênci a, é egoí smo. . . ”
Ce r t a v ez Chua ng T z u e um a mi g o c a mi nha v a m à ma r g e m de
um r i o.
“ Vej a os pei xes nadando na cor r ent e, ” di sse Chuang Tzu,
“ El es est ão r eal ment e f el i zes. . . ”
“ Você não é um pei xe, ” r epl i cou ar r ogant ement e seu
a mi g o, “ E nt ã o v oc ê nã o pode s a be r s e e l e s e s t ã o f e l i z e s . ”
“ Você não é Chuang Tz u, ” di s s e Chua ng T z u, “ E nt ã o c omo
v oc ê s a be que e u nã o s e i que os pe i x e s e s t ã o f e l i z e s ? ”
34. Livros
Um me s t r e e m c a l i g r a f i a e s c r e v e u a l g uns i de og r a ma s e m
uma f ol ha de pa pe l . Um dos s e us ma i s e s pec i a l me nt e
s e ns í v e i s e s t uda nt e s e s t a v a obs e r v a ndo. Qua ndo o a r t i s t a
t e r mi nou, e l e pe r g unt ou a opi ni ã o do s e u pupi l o - que
i me di a t a me nt e l he di s s e que nã o e s t a v a bom. O me s t r e
t e nt ou nov a me nt e , ma s o e s t uda nt e c r i t i c ou t a mbé m o nov o
t r a ba l ho. Vá r i a s v ez es , o me s t r e c ui da dos a me nt e
r e de s e nhou os me s mos i de og r a ma s , e a c a da v ez s eu
e s t uda nt e r e j e i t a v a a obr a .
E nt ã o, qua ndo o e s t uda nt e e s t a v a c om s ua a t e nç ã o
de s v i a da por out r a c oi s a e nã o e s t a v a ol ha ndo, o me s t r e
a pr ov e i t ou o mome nt o e r a pi da me nt e a pa g ou os c a r a c t e r e s
que ha v i a e s c r i t o no úl t i mo t r a ba l ho, de i x a ndo a f ol ha em
br a nc o.
“ Vej a! O que acha?, ” el e per gunt ou. O Est udant e ent ão
v i r ou- s e e ol hou a t e nt a me nt e .
“ ESTA. . . é ver dadei r ament e uma obr a de ar t e! ” ,
e x c l a mou.
( Uma l enda di z que e s t e é o c ont o que de s c r e v e a
c r i a ç ã o de a r t e do me s t r e Kos e n, que por s ua v e z f oi
us a da pa r a c r i a r o e nt a l he e m ma de i r a da s pa l a v r a s “ O
Pr i me i r o Pr i nc í pi o” , que or na me nt a m o por t ã o do T e mpl o
Oba k u e m Ky ot o) .
Um g ue r r e i r o j a ponê s f oi c a pt ur a do pe l os s e us i ni mi g os
e j og a do na pr i s ã o. Na que l a noi t e e l e s e nt i u - s e i nc a pa z
de dor mi r poi s s a bi a que no di a s e g ui nt e e l e i r i a s e r
i nt e r r og a do, t or t ur a do e e x e c ut a do. E nt ã o a s pa l a v r a s de
s e u me s t r e Z e n s ur g i r a m e m s ua me nt e :
“ O “ amanhã” não é r eal . É uma i l usão. A úni ca r eal i dade
é “ AGORA. O v e r da de i r o s of r i me nt o é v i v e r i g nor a ndo e s t e
Dha r ma ” .
E m me i o a o s e u t e r r or s ubi t a me nt e c ompr e e nde u o s e nt i do
de s t a s pa l a v r a s , f i c ou e m pa z e dor mi u t r a nqüi l a me nt e .
Ce r t a v ez Bodhi dha r ma f oi l e v a do à pr e s e nç a do
I mpe r a dor Wu, um de v ot o be nf e i t or buddhi s t a , que a ns i a v a
r e c e be r a a pr ov a ç ã o de s ua g e ne r os i da de pe l o s á bi o. E l e
pe r g unt ou a o me s t r e :
“ Nós const r uí mos t empl os, copi amos os sut r as sagr ados,
or de na mos mong e s e monj a s . Qua l o mé r i t o, r e v e r e nc i a do
S e nhor , da nos s a c ondut a ? ”
“ Nenhum mér i t o, em absol ut o” , di sse o sábi o.
O I mpe r a dor , c hoc a do e a l g o of e ndi do, pe ns ou que t a l
r e s pos t a c om c e r t e z a e s t a v a s ubv e r t e ndo t odo o dog ma
buddhi s t a , e t or nou a pe r g unt a r :
“ Ent ão qual é o Sant o Dhar ma, o Pr i mei r o Pr i ncí pi o?”
“ Um vast o Vazi o, sem nada sant o dent r o del e” , af i r mou
Bodhi dha r ma , pa r a a s ur pr e s a do I mpe r a dor . E s t e f i c ou
f ur i os o, l e v a nt ou- s e e f e z s ua úl t i ma pe r g unt a :
“ Quem és ent ão, par a f i car es di ant e de mi m c omo se
f os s e um s á bi o? ”
“ Eu não sei , Maj est ade” , r epl i cou o sábi o, que assi m
t e ndo di t o v i r ou- s e e f oi e mbor a .
39. Onde está sua mente?
Dua s pe s s oa s e s t a v a m pe r di da s no de s e r t o. E l a s e s t a v a m
mor r e ndo de i na ni ç ã o e s e de . F i na l me nt e , e l e s a v i s t a r a m
um a l t o mur o. Do out r o l a do e l e s podi a m ouv i r o s om de
que da s d' á g ua e pá s s a r os c a nt a ndo. Ac i ma e l e s podi a m v e r
os g a l hos de uma á r v or e f r ut í f e r a a t r a v e s s a ndo e pe nde ndo
s obr e o mur o. S e us f r ut os pa r e c i a m de l i c i os os .
Um dos home ns s ubi u o mur o e de s a pa r e c e u no out r o l a do.
O out r o, e m v e z di s s o, s a c i ou s ua f ome c om a s f r ut a s
que s obr e s s a í a m da á r v or e a l i me s mo, e r e t or nou a o
de s e r t o pa r a a j uda r out r os pe r di dos a e nc ont r a r o c a mi nho
pa r a o oá s i s .
43. Natureza
Ao e nc ont r a r um me s t r e Z e n e m um e v e nt o s oc i a l , um
ps i qui a t r a de c i di u c ol oc a r - l he uma que s t ã o que s e mpr e
e s t e v e e m s ua me nt e :
“ Exat ament e como você aj uda as pessoas?” el e per gunt ou.
“ Eu as al canço na que l e mome nt o ma i s di f í c i l , qua ndo
e l a s nã o t e m ma i s ne nhuma que s t ã o pa r a pe r g unt a r , ” o
me s t r e r e s ponde u.
46. Samsara
O mong e pe r g unt ou a o Me s t r e :
“ Como posso sai r do Samsar a ( a Roda de r enasci ment os e
mor t e s ) ? ”
O Me s t r e r e s ponde u:
“ Quem t e col ocou nel e?”
49. Talvez
50. Cipreste
Um mong e pe r g unt ou a o me s t r e :
“ Qual o si gni f i cado de Dhar ma- Buddha ? ”
O me s t r e a pont ou e di s s e :
“ O ci pr est e no j ar di m. ”
O mong e f i c ou i r r i t a do, e di s s e :
“ Não, não! Não use par ábol as al udi ndo a coi sas
c onc r e t a s ! Que r o uma e x pl i c a ç ã o i nt e l e c t ua l c l a r a do
t e r mo! ”
“ Ent ão eu não vou usar nada concr et o, e ser ei
i nt e l e c t ua l me nt e c l a r o, ” di s s e o me s t r e . O mong e e s pe r ou
um pouc o, e v e ndo que o me s t r e nã o i r i a c o nt i nua r f e z a
me s ma pe r g unt a :
“ Ent ão? Qual o si gni f i cado de Dhar ma- Buddha ? ”
O me s t r e a pont ou e di s s e :
“ O ci pr est e no j ar di m. ”
51. Chá ou Paulada
Ce r t a v e z Ha k ui n c ont ou uma e s t ór i a :
“ Havi a uma vel ha mul her que t i nha uma casa de chá na
v i l a . E l a e r a uma g r a nde c onhe c e dor a da c e r i môni a do c há ,
e s ua s a be dor i a no Z e n e r a s obe r ba . Mui t os e s t uda nt e s
f i c a v a m s ur pr e s os e of e ndi dos que uma s i mpl e s v e l ha
pude s s e c onhe c e r o Z e n, e i a m à v i l a pa r a t e s t á - l a e v e r
s e i s s o e r a me s mo v e r da de .
“ Toda vez que a vel ha senhor a vi a mong e s se
a pr ox i ma ndo, e l a s a bi a s e e l e s v i nha m a pe na s pa r a
e x pe r i me nt a r o s e u c há , ou pa r a t e s t á - l a no Z e n. Àque l e s
que v i nha m pe l o c há e l a s e r v i a g e nt i l e g r a c i os a me nt e ,
e nc a nt a ndo- os . Àque l e s que v i nha m t e nt a r s a be r de s e u
c onhe c i me nt o do Z e n, e l a e s c ondi a - s e a t é que o mong e
c he g a s s e à por t a e e nt ã o l he ba t i a c om um t i ç ã o.
“ Apenas um em cada dez consegui am escapar da
pa ul a da . . . ”
Ce r t a ma nhã , o Me s t r e Da i e , a o l e v a nt a r - s e , c ha mou s e u
di s c í pul o Gy oz a n e l he di s s e :
“ Vamos f a z e r uma di s put a pa r a s a be r que m de nós doi s
pos s ui ma i s pode r e s s obr e na t ur a i s ? ”
Gy oz a n r e t i r ou- s e s e m na da r e s ponde r . Da l i a pouc o,
v ol t ou t r a z e ndo uma ba c i a c om á g ua e uma t oa l ha . O me s t r e
l a v ou o r os t o e e nx ug ou- s e e m s i l ê nc i o. De poi s , Da i e e
Gy oz a n s e nt a r a m e m a nt e uma me s i nha e f i c a r a m c onv e r s a ndo
s obr e a s s unt o di v e r s os , t oma ndo c há .
Pouc o de poi s , Ky og e n, out r o di s c í pul o, a pr ox i mou - s e e
pe r g unt ou:
“ O que est ão f azendo?”
“ Est amos f azendo uma compet i ção com nossos poder es
s obr e na t ur a i s ” , r e s ponde u o Me s t r e , “ Que r e s pa r t i c i pa r ? ”
Ky og e n r e t i r ou- s e c a l a do e l og o de poi s r e t or nou
t r a z e ndo uma ba nde j a c om doc e s e bi s c oi t os . O Mes t r e Da i e
e nt ã o di r i g i u- s e a os s e us doi s di s c í pul os , e e x c l a mou:
“ Na ver dade, vós super ai s em poder es sobr enat ur ai s
S a r i put r a , Mog a l l a na e t odos os di s c í pul os de Buddha ! ”
53. Pó
Um mong e j ov e m er a o r e s pons á v e l pe l o j a r di m z e n de um
f a mos o t e mpl o Z e n. E l e t i nha c ons e g ui do o t r a ba l ho por que
a ma v a a s f l or e s , a r bus t os e á r v or e s . Pr óx i mo a o t e mpl o
ha v i a um out r o t e mpl o me nor onde v i v i a a pe na s um v e l ho
me s t r e Z e n. Um di a , qua ndo o mong e e s t a v a e s pe r a ndo a
v i s i t a de i mpor t a nt e s c onv i da dos , e l e de u uma a t e nç ã o
e x t r a a o c ui da do do j a r di m. E l e t i r ou a s e r v a s da ni nha s ,
podou os a r bus t os , c a r dou o mus g o, e g a s t ou mui t o t e mpo
me t i c ul os a me nt e pa s s a ndo o a nc i nho e c ui da dos a me nt e
t i r a ndo as f ol ha s s ec as de out ono. E nqua nt o el e
t r a ba l ha v a , o v e l ho me s t r e obs e r v a v a c om i nt e r e s s e de
c i ma do mur o que s e pa r a v a os t e mpl os .
Qua ndo t e r mi nou, o mong e a f a s t ou - s e um pouc o pa r a
a dmi r a r s e u t r a ba l ho.
“ Não est á l i ndo?” e l e pe r g unt ou, f el i z , pa r a o v e l ho
mong e .
“ Si m, ” r epl i cou o anci ão, “ mas est á f al t ando al go
c r uc i a l . Me a j ude a pul a r e s t e mur o e e u i r e i a c e r t a r a s
c oi s a s pa r a v oc ê . ”
Após c e r t a he s i t a ç ã o, o mong e l e v a nt ou o v e l ho por
s obr e o mur o e pous ou- o s ua v e me nt e e m s e u l a do.
Va g a r os a me nt e , o me s t r e c a mi nhou pa r a a á r v or e ma i s
pr óx i ma a o c e nt r o do j a r di m, s e g ur ou s e u t r onc o e o
s a c udi u c om f or ç a . F ol ha s de s c e r a m s ua v e me nt e à br i s a e
c a í r a m por s obr e t odo o j a r di m.
“ Pr ont o! ” di sse o vel ho monge, ” agor a você pode me
l e v a r de v ol t a . ”
57. Aranha
Um c ont o T i be t a no f a l a de um e s t uda nt e de me di t a ç ã o
que , e nqua nt o me di t a v a e m s e u qua r t o, pe ns a v a v e r uma
a s s us t a dor a a r a nha de s c e ndo à s ua f r e nt e . A c a da di a a
c r i a t ur a a me a ç a dor a r e t or na v a c a da v e z ma i or e m t a ma nho.
T ã o t e r r i f i c a do e s t a v a o e s t uda nt e que f i na l me nt e f oi a o
s e u pr of e s s or pa r a r e l a t a r o s e u di l e ma :
“ Não posso cont i nuar medi t ando com t al ameaça sobr e
mi m, ” di s s e e l e t r e me ndo de pa v or . “ Vou g ua r da r uma f a c a
e m me u c ol o dur a nt e a me di t a ç ã o, de f or ma que qua ndo a
a r a nha a pa r e c e r e u pos s a ma t á - l a ! ”
O pr of e s s or a dv e r t i u- o c ont r a e s t a i dé i a :
“ Não f aça i sso. Faça como eu l he di go: l eve um pedaço
de c a r v ã o na s ua me di t a ç ã o, e qua ndo a a r a nha a pa r e c e r ,
ma r que um ' X' e m s ua ba r r i g a . De poi s di s s o v e nha a t é
mi m. ”
O e s t uda nt e r e t or nou à s ua me di t a ç ã o. Qua ndo a a r a nha
nov a me nt e a pa r e c e u, e l e l ut ou c ont r a o i mpul s o de a t a c á -
l a e e m v e z di s s o f e z c omo o me s t r e s ug e r i u. E nt ã o c or r e u
pa r a a s a l a de de l e , g r i t a ndo:
“ Eu a mar quei na bar r i ga! Fi z o que me pedi u! O que
f a ç o a g or a ? ”
O pr of e s s or ol hou- o e f a l ou:
“ Levant e a t úni ca e ol he pa r a s ua pr ópr i a ba r r i g a . ”
Ao f a z e r i s s o, o e s t uda nt e v i u o “ X” que ha v i a f e i t o.
Um home m e s t a v a i nt e r e s s a do e m a pr e nde r me di t a ç ã o. F oi
a t é um z e ndo ( l oc a l de pr á t i c a me di t a t i v a z e n) e ba t e u na
por t a . Um v e l ho pr of e s s or o a t e nde u:
“ Si m?”
“ Bom di a meu senhor , ” começou o homem. “ Eu gost ar i a de
a pr e nde r a f a z e r me di t a ç ã o. Como e u s e i que i s s o é
di f í c i l e mui t o t é c ni c o, e u pr oc ur e i e s t uda r a o má x i mo,
l e ndo l i v r os e opi ni õe s s obr e o que é me di t a ç ã o, s ua s
pos t ur a s , e t c . . . E s t ou a qui por q ue o s e nhor é c ons i de r a do
um g r a nde pr of e s s or de me di t a ç ã o. Gos t a r i a que o s e nhor
me e ns i na s s e . ”
O v e l ho f i c ou ol ha ndo o home m e nqua nt o es t e f al ava.
Qua ndo t e r mi nou, o pr of e s s or di s s e :
“ Quer apr ender medi t ação?”
“ Cl ar o! Quer o mui t o?” excl amou o out r o.
“ Est udou mui t o s obr e me di t a ç ã o? ” , di s s e um t a nt o
i r ôni c o.
“ Fi z o máxi mo que pude. . . ” af i r mou o homem.
“ Cer t o, ” r epl i cou o vel ho. “ Ent ão vá par a casa e f aça
e x a t a me nt e i s s o: NÃO PE NS E E M MACACOS . ”
O home m f i c ou pa s mo. Nunc a t i nha l i do na da s obr e i s s o
nos l i v r os de me di t a ç ã o. Ai nda me i o i nc e r t o, pe r g unt ou:
“ Não pensar em macacos? É só i sso?”
“ É só i sso. ”
“ Bem i sso é si mpl es de f azer ” pensou o homem, e
c onc or dou. O pr of e s s or e nt ã o a pe na s c ompl e t ou:
“ Ót i mo. Vol t e amanhã, ” e bat eu a por t a.
Dua s hor a s de poi s , o pr of e s s or ouv i u a l g ué m ba t e ndo
f r e ne t i c a me nt e a por t a do z e ndo. E l e a br i u - a , e l á e s t a v a
de nov o o me s mo home m.
“ Por f avor me aj ude! ” excl amou af l i t o “ Desde que o
s e nhor pe di u pa r a que e u nã o pe ns a s s e e m ma c a c os , nã o
c ons e g ui ma i s de i x a r de me pr e oc upa r e m NÃO PE NS AR
NE L E S ! ! ! ! Ve j o ma c a c os e m t odos os c a nt os ! ! ! ! ”
59. O Eu Verdadeiro
Um home m mui t o pe r t ur ba do f oi at é um me s t r e Z e n,
a pr e s e nt ou- s e e di s s e :
“ Por f avor , Mest r e, eu me si nt o desesper ado! Não sei
que m e u s ou. S e mpr e l i e ouv i f a l a r s obr e o E u S upe r i or ,
nos s a v e r da de i r a E s s ê nc i a T r a ns c e nde nt a l , e por mui t os
a nos t e nt e i a t i ng i r e s t a r e a l i da de pr of unda , s e m nunc a
t e r s uc e s s o! Por f a v or mos t r e - me me u E u Ve r da de i r o! ”
Ma s o pr of e s s or a pe na s f i c ou ol ha ndo pa r a l ong e , e m
s i l ê nc i o, s e m da r ne nhuma r e s pos t a . O home m c ome ç ou a
i mpl or a r e pe di r , s e m que o me s t r e l he de s s e ne nhuma
a t e nç ã o. F i na l me nt e , ba nha do e m l á g r i ma s de f r us t r a ç ã o, o
home m v i r ou- s e e c ome ç ou a s e a f a s t a r . Ne s t e mome nt o o
me s t r e c ha mou- o pe l o nome , e m v oz a l t a .
“ Si m?” r epl i cou o homem, enquant o se v i r a v a pa r a f i t a r
o s á bi o.
“ Ei s o seu ver dadei r o Eu. ” di sse o mest r e.
64. Autocontrole
Um pr a t i c a nt e Z e n f oi à Ba nk e i e f e z - l he e s t a pe r g unt a ,
a f l i t o:
“ Mest r e, Eu t enho um t emper ament o i r ascí vel . Sou às
v ez es mui t o a g i t a do e agr es s i v o e a c a bo c r i a ndo
di s c us s õe s e of e nde ndo out r a s pe s s oa s . Como pos s o c ur a r
i s s o? ”
“ Tu possui s al go mui t o e s t r a nho, ” r e pl i c ou Ba nk e i .
“ Dei xe ver como é esse compor t ament o. ”
“ Bem. . . eu não posso most r á- l o e x a t a me nt e a g or a ,
me s t r e , ” di s s e o out r o, um pouc o c onf us o.
“ E quando t u a most r ar ás par a mi m?” per gunt ou Bankei .
“ Não sei . . . é que i sso sempr e sur ge de f or ma
i ne s pe r a da , ” r e pl i c ou o e s t uda nt e .
“ Ent ão, ” concl ui u Bankei , “ essa coi sa não f az par t e de
t ua na t ur e z a v e r da de i r a . S e a s s i m f os s e , t u pode r i a s
mos t r á - l a s e mpr e que de s e j a s s e . Qua ndo t u na s c e s t e nã o a
t i nha s , e t e us pa i s nã o a pa s s a r a m pa r a t i . Por t a nt o ,
s a i ba s que e l e nã o e x i s t e . ”
67. Impermanência
Ce r t a v e z e s t a v a Buddha s e nt a do s ob uma á r v or e , c om os
s e us di s c í pul os r e uni dos à s ua v ol t a e s pe r a ndo que e l e
i ni c i a s s e s e u di s c ur s o. E m de t e r mi na do mome nt o, Buddha
c a l ma me nt e i nc l i nou- s e e c ol he u uma f l or . L e v a nt ou - a à
a l t ur a de s e u r os t o e g i r ou - a s ua v e me nt e . S e us di s c í pul os
f i c a r a m e s pa nt a dos e c onf us os , e mur mur a r a m e nt r e s i
que s t i ona ndo o s e nt i do da qu i l o. De nt r e e l e s , a pe na s
Ka s hy a pa e nt e nde u o g es t o, s or r i ndo. S ha k y a muni Buddha
pe r c e be u que Ka s hy a pa t i nha c ompr e e ndi do, e l he di s s e :
“ O mét odo de Medi t ação que ensi no é ver as coi sas como
e l a s s ã o, na da r e j e i t a r e t r a t a r a s c oi s a s c om a l e g r i a ,
v e ndo c l a r a me nt e s ua f ac e or i g i na l . Es s e Dha r ma
mi s t e r i os o t r a ns c e nde a l i ng ua g e m e os pr i nc í pi os
r a c i ona i s . O pe ns a me nt o l óg i c o nã o pode s e r us a do pa r a
obt e r a Compr e e ns ã o; a pe na s c om a s e ns i bi l i da de da nã o -
me nt e a l c a nç a - s e a Ve r da de . Vós c ompr e e nde s t e s . Por i s s o,
c onc e do- l he a pa r t i r de s t e mome nt o o e s pí r i t o do Dhy a na . ”
Um me s t r e da c e r i môni a do c há no a nt i g o J a p ã o c er t a v e z
a c i de nt a l me nt e of e nde u um s ol da do, a o di s t r a í da me nt e
de s de nhá - l o qua ndo e l e pe di u s ua a t e nç ã o. E l e r a pi da me nt e
pe di u de s c ul pa s , ma s o a l t a me nt e i mpe t uos o s ol da do e x i g i u
que a que s t ã o f os s e r e s ol v i da e m um due l o de e s pa da s . O
me s t r e de c há , que nã o t i nha a bs ol ut a me nt e ne nhuma
e x pe r i ê nc i a c om e s pa da s , pe di u o c ons e l ho de um v e l ho
a mi g o me s t r e Z e n que pos s uí a t a l ha bi l i da de . E nqua nt o e r a
s e r v i do de um c há pe l o a mi g o, o e s pa da c hi m Z e n nã o pôde
e v i t a r not a r c omo o me s t r e de c há e x e c ut a v a s ua a r t e c o m
pe r f e i t a c onc e nt r a ç ã o e t r a nqüi l i da de .
“ Amanhã, ” di sse o mest r e Zen, “ quando você duel ar com o
s ol da do, s e g ur e s ua a r ma s obr e s ua c a be ç a c omo s e
e s t i v e s s e pr ont o pa r a des f e r i r um g ol pe , e e nc a r e - o c om a
me s ma c onc e nt r a ç ã o e t r a nqüi l i da de c om que v oc ê e x e c ut a a
c e r i môni a do c há ” .
No di a s e g ui nt e , na e x a t a hor a e l oc a l e s c ol hi dos pa r a
o due l o, o me s t r e de c há s e g ui u s e u c ons e l ho. O s ol da do,
t a mbé m j á pr ont o pa r a a t a c a r , ol hou por mui t o t e mpo e m
s i l ê nc i o pa r a a f a c e t ot a l me nt e a t e nt a por é m s ua v e me nt e
c a l ma do me s t r e de c há . F i na l me nt e , o s ol da do l e nt a me nt e
a ba i x ou s ua e s pa da , de s c ul pou - s e por s ua a r r og â nc i a , e
pa r t i u s e m t e r da do um úni c o g ol pe .
72. Surpreendendo o Mestre
Um e s t uda nt e f oi ao s eu pr of e s s or e di s s e
f e r v or os a me nt e ,
“ Eu est ou ansi oso par a ent ender seus ensi nament os e
a t i ng i r a I l umi na ç ã o! Qua nt o t e mpo v a i de mor a r pa r a e u
obt e r e s t e pr ê mi o e domi na r e s t e c onhe c i me nt o? ”
A r e s pos t a do pr of e s s or f oi c a s ua l ,
“ Uns dez anos. . . ”
I mpa c i e nt e me nt e , o e s t uda nt e c ompl e t ou,
“ Mas eu quer o ent ender t odos os segr edos mai s r ápi do do
que i s t o! Vou t r a ba l ha r dur o! Vou pr a t i c a r t odo o di a ,
e s t uda r e de c or a r t odos os s ut r a s , f a r e i i s s o de z ou ma i s
hor a s por di a ! ! Ne s t e c a s o, e m qua nt o t e mpo c he g a r e i ao
obj e t i v o? ”
O pr of e s s or pe ns ou um pouc o e di s s e s ua v e me nt e ,
“ Vi nt e anos. ”
Cont a - s e que na Pé r s i a a nt i g a v i v i a um r e i c ha ma do
Z e mi r . Cor oa do mui t o j ov e m, j ul g ou- s e na obr i g a ç ã o de
i ns t r ui r - s e : r e uni u e m t or no de s i nume r os os e r udi t os
pr ov e ni e nt e s de t odos os Pa í s e s e pe di u - l he s que
e di t a s s e m pa r a e l e a hi s t ór i a da huma ni da de . T odos os
e r udi t os s e c onc e nt r a r a m, por t a nt o, ne s s e e s t udo.
Vi nt e a nos se e s c oa r a m no pr e pa r o da e di ç ã o.
F i na l me nt e , di r i g i r a m- s e a pa l á c i o, c a r r e g a dos de
qui nhe nt os v ol ume s a c omoda dos no dor s o de doz e c a me l os .
O r e i Z e mi r ha v i a , e nt ã o, pa s s a do dos qua r e nt a a nos .
“ Já est ou vel ho, “ di sse el e. “ Não t er ei t empo de l er
t udo i s s o a nt e s da mi nha mor t e . Ne s s a s c ondi ç õe s , por
f a v or , pr e pa r a i - me uma e di ç ã o r e s umi da . ”
Por ma i s v i nt e a nos t r a ba l ha r a m os e r udi t os na f e i t ur a
dos l i v r os e v ol t a r a m a o pa l á c i o c om t r ê s c a me l os a pe na s .
Ma s o r e i e nv e l he c e r a mui t o. Com qua s e s e s s e nt a a nos ,
s e nt i a - s e e nf r a que c i do:
“ Não me é possí vel l er t odos esses l i vr os. Por f avor ,
f a z e i - me de l e s uma v e r s ã o a i nda ma i s s uc i nt a . ”
Os e r udi t os l a but a r a m ma i s de z a nos e de poi s v ol t a r a m
c om um e l e f a nt e c a r r e g a do da s s ua s obr a s .
Ma s a e s s a a l t ur a , c om ma i s de s e t e n t a a nos , qua s e
c e g o, o r e i nã o podi a me s mo l e r . Pe di u, e nt ã o, uma e di ç ã o
a i nda ma i s a br e v i a da . Os e r udi t os t a mbé m t i nha m
e nv e l he c i do. Conc e nt r a r a m- s e por ma i s c i nc o a nos e ,
mome nt os a nt e s da mor t e do mona r c a , v ol t a r a m c om um
v ol ume s ó.
“ Mor r er ei , por t ant o, s e m na do c onhe c e r da hi s t or i a do
Home m - di s s e e l e . ”
À s ua c a be c e i r a , o ma i s i dos o dos e r udi t os r e s ponde u:
“ Vou expl i car - v os e m t r ê s pa l a v r a s a hi s t ór i a do Home m:
o home m na s c e , s of r e e , f i na l me nt e , mor r e . ”
Ne s s e i ns t a nt e o r e i e x pi r ou.
As s i m e u ouv i :
O Buddha , um di a , pa s s e a v a no Cé u T r a y a s t r i ms a , a s
ma r g e ns do l a g o da F l or de L ót us . Na s pr of unde z a s do
l a g o, l obr i g a v a o Na r a k a ( um t i po de r e g i ã o de de mé r i t o
Ká r mi c o, na t r a di ç ã o do Buddhi s mo Ma ha y a na ) . Ne s s a
oc a s i ã o, v i u a l i um home m c ha ma do Ka nt a k a que mor t o di a s
a nt e s , se de ba t i a e pa de c i a na s pr of unde z a s .
T r a ns bor da ndo de c ompa i x ã o, o Buddha S ha k y a muni que r i a
s oc or r e r t odos os que , e mbor a s e a c ha s s e m me r g ul ha dos no
Na r a k a , t i v e s s e m pr a t i c a do uma boa a ç ã o na v i da .
Ka nt a k a f or a l a dr ã o e l e v a r a uma e x i s t ê nc i a de v a s s a .
Por i s s o me s mo e s t a v a no Na r a k a . Ce r t a v e z , no e nt a nt o,
a g i r a c om g e ne r os i da de : um di a , e nqua nt o pa s s e a v a m,
a v i s t a r a uma i nof e ns i v a a r a nha e t i v e r a v ont a de de
e s ma g á - l a ; r e pr i mi r a - s e , c ont udo, pe ns a ndo, s ubi t a me nt e ,
que t a l v e z pude s s e f a v or e c ê - l a ; de i x a r a - a c om v i da e
s e g ui u o s e u c a mi nho.
O Buddha S ha k y a muni v i u ne s s a a ç ã o g e ne r os a um bom
e s pí r i t o, e s e nt i u- s e i nc l i na do a a j udá - l o. Por i s s o f e z
de s c e r a s pr of unde z a s do l a g o um c ompr i do f i o de t e i a de
a r a nha , que c he g ou a o Na r a k a no l ug a r onde e s t a v a
Ka nt a k a .
Ka nt a k a ol hou pa r a a nov i da de e c onc l ui u que s e t r a t a v a
de uma c or da de pr a t a mui t o f or t e . Ma s , nã o que r e ndo
a c r e di t a r ni s s o, di s s e c ons i g o que de v i a s e r , s e m dúv i da ,
um f i o de t e i a de a r a nha pe ndur a do, mui t o f i no, e que
s e r i a pr ov a v e l me nt e di f i c í l i mo t r e pa r por el e ; me s mo
a s s i m, a r r i s c a r i a t udo, poi s de s e j a v a a r de nt e me nt e s a i r
da que l e Na r a k a .
Ag a r r ou, por t a nt o o f i o, e mbor a nã o de i x a s s e de pe ns a r
nos pe r i g os da es c a l a da , poi s a l i nha pode r i a r e be nt a r de
um mome nt o pa r a out r o; ma s f oi s ubi ndo. . . s ubi ndo. . .
a ux i l i a ndo- s e c om os pé s e a s mã os , e e nv i da ndo g r a nde s
e s f or ç os pa r a nã o e s c or r e g a r .
A e s c a l a da e r a l ong a . Che g a do a me t a de do c a mi nho, qui s
ol ha r pa r a ba i x o e c ont e mpl a r os Na r a k a s , que j á t i nha m
f i c a do, de c e r t o, mui t o l ong e . Ac i ma de l e , v i a a l uz e s ó
a mbi c i ona v a a l c a nç á - l a .
I nc l i na ndo- s e pa r a ba i x o, a f i m de ol ha r pe l a
de r r a de i r a v e z , v i u uma mul t i dã o de pe s s oa s que t a mbé m
s ubi a m pe l o f i o, numa s uc e s s ã o i ni nt e r r upt a , de s de a s
g r a nde s pr of unde z a s do Na r a k a . K a nt a k a f oi t oma do de
pâ ni c o: a c or da pode r i a , qua ndo mui t o, a g üe nt á - l o; ma s
c om o pe s o da que l a s c e nt e na s de pe s s oa s a g a r r a da s a e l a
a c a ba r i a c e de ndo, e t odos , c om e l e , v ol t a r i a m a o Na r a k a !
Que a z a r ! Que dr og a ! Aque l a g e nt e l á e mba i x o nã o t i nha
na da que s a i r do Na r a k a . Por que pr e c i s a s e g ui r - me ? -
pr a g ue j a v a e l e , i nc r e s pa ndo os s e g ui dor e s .
Ne s s e pr e c i s o mome nt o, o f i o c e de u, e x a t a me nt e a a l t ur a
da s mã os de Ka nt a k a , e t odos r e me r g ul ha r a m na s
pr of unde z a s t e ne br os a s do l a g o.
Na que l e me s mo i ns t a nt e , o s ol do me i o- di a r e s pl a nde c i a
s obr e o l a g o e m c uj a s ma r g e ns t r a nqüi l a s pa s s e a v a o
Buddha . . .
Qua ndo j ov e m, Ba s o pr a t i c a v a i nc e s s a nt e me nt e a
Me di t a ç ã o. Ce r t a oc a s i ã o, s e u Mes t r e Na ng a k u a pr ox i mou - s e
de l e e pe r g unt ou- l he :
- Por que pr a t i c a s t a nt a Me di t a ç ã o?
- Pa r a me t or na r um Buddha .
O Me s t r e t omou de uma t el ha e c ome ç ou a e s f r e g á - l a c om
um pe dr a . I nt r i g a do, Ba s o pe r g unt ou:
- O que f a z e i s c om e s s a t e l ha ?
- Pr e t e ndo t r a ns f or má - l a num e s pe l ho.
- Ma s por ma i s que a e s f r e g ue i s , e l a j a ma i s se
t r a ns f or ma r á num e s pe l ho! s e r á s e mpr e uma pe dr a .
- O me s mo pos s o di z e r de t i . Por ma i s que pr a t i que s
Me di t a ç ã o, nã o t e t or na r á s Buda .
- E nt ã o o que f a z e r ?
- É c omo f a z e r um boi a nda r .
- Nã o e nt e ndo.
- Qua ndo que r e s f a z e r um c a r r o de boi s a nda r , ba t e s no
boi ou no c a r r o?
Ba s o nã o s oube o que r e s ponde r e e nt ã o o Me s t r e
c ont i nuou:
- Bus c a r o E s t a do de Buda f a z e ndo a pe na s Me di t a ç ã o é
ma t a r o Buda . De s s a ma ne i r a , nã o a c ha r á s o c a mi nho c e r t o.
Ce r t a v e z , e nqua nt o o v e l ho me s t r e S e ppo Gi s e n j og a v a
bol a , Ge s s ha a pr ox i mou- s e e pe r g unt ou:
“ Por que é que a bol a r ol a?”
S e ppo r e s ponde u:
“ A bol a é l i vr e. É a ver dadei r a l i ber dade. ”
“ Por quê?”
“ Por que é r edonda. Rol a em t oda par t e, sej a qual f or a
di r e ç ã o, l i v r e me nt e . I nc ons c i e nt e , na t ur a l ,
a ut oma t i c a me nt e . ”
78. Tigelas
79. Kito
Um di a , Um v e l ho f oi v i s i t a r me s t r e Ry ok a n e di s s e - l he :
- E u qui s e r a pe di r - v os que f i z é s s e i s um k i t o [ Ce r i môni a
pa r a c umpr i me nt o de uma pr ome s s a ] e m mi nha i nt e nç ã o.
As s i s t i à mor t e de mui t a g e nt e a o me u r e dor . E t a mbé m
de v e r e i mor r e r um di a . Por t a nt o, por f a v or , f a z e i um k i t o
pa r a e u v i v e r por mui t o t e mpo.
- De a c or do. F a z e r um k i t o pa r a v i v e r mui t o t e mpo nã o é
di f í c i l . Qua nt os a nos t e nde s ?
- Ape na s oi t e nt a .
- Ai nda s oi s j ov e m. Di z um pr ov ér bi o j a ponê s que a t é os
c i nqüe nt a a nos s omos c omo c r i a nç a s e que , e nt r e os
s e t e nt a e os oi t e nt a , pr e c i s a mos a ma r .
- Conc or do, f a z e i - me e nt ã o um bom k i t o!
- At é que i da de que r e i s v i v e r ?
- Pa r a mi m, a c ho que ba s t a - me v i v e r a t é os c e m.
- Vos s o de s e j o, na v e r da de , nã o é mui t o g r a nde . Pa r a
c he g a r a os c e m a nos , s ó v os r e s t a v i v e r ma i s v i nt e . Nã o é
um pe r í odo t ã o l ong o a s s i m. E s e ndo o me u k i t o mui t o
e x a t o, mor r e r e i s e x a t a me nt e a os c e m a nos .
O v e l ho f i c ou c om me do:
- Nã o, nã o! F a z e i que e u v i v a c e nt o e c i nqüe nt a a nos !
- At ua l me nt e , t e ndo a t i ng i do os oi t e nt a , j á v i v e s t e
ma i s da me t a de do pr a z o que de s e j a i s . A e s c a l a da de uma
mont a nha e x i g e g r a nde s oma de e s f or ç os e t e mpo, ma s a
de s c i da é r á pi da . A pa r t i r de a g or a , v os s os de r r a de i r os
s e t e nt a a nos pa s s a r ã o c omo um s onho.
- Ne s s e c a s o, da i - me a t é t r e z e nt os a nos !
Ry ok a n r e s ponde u:
- Como o v os s o de s e j o é pe que no! S ome nt e t r e z e nt os
a nos ! Di z um pr ov é r bi o a nt i g o que os g r ous v i v e m ma i s de
mi l a nos e a s t a r t a r ug a s de z mi l . S e a ni ma i s pode m v i v e r
t a nt o a s s i m, c omo é que v ós , um home m , de s e j a i s v i v e r
a pe na s t r e z e nt os a nos !
- T udo i s s o é mui t o di f í c i l . . . - t or nou o v e l ho,
c onf us o. - Pa r a qua nt os a nos de v i da pode i s f a z e r - me um
k i t o?
- Que r di z e r , e nt ã o, que nã o quer e i s mor r e r ! E i s a í uma
a t i t ude de t odo e m t odo e g oí s t a . . . - r e pl i c ou o me s t r e .
- Be m, t e m r a z ã o. . . . - r e s ponde u o a nc i ã o, c ons t r a ng i do.
- As s i m s e ndo, o me l hor é f az er um k i t o pa r a nã o
mor r e r .
- S i m, é c l a r o! E pode s e r ? E s s e é o k i t o que e u que r o!
- o v e l ho a ni mou- s e ba s t a nt e .
- É mui t o c a r o, mui t o, mui t o c a r o, e l ev a mui t o
t e mpo. . .
- Nã o f a z ma l . - c onc or dou o v e l ho.
Aj unt ou, e nt ã o, Ry ok a n:
- Come ç a r e mos hoj e c a nt a ndo a pe n a s o Ma k k a Ha nny a
S hi ng y o; a s e g ui r , t odos os di a s , v i r e i s f a z e r z a z e n no
t e mpl o. Pr onunc i a r e i , e nt ã o, c onf e r ê nc i a s e m v os s a
i nt e nç ã o.
De s s a ma ne i r a , de uma f or ma s ua v e e i ndi r e t a , Ry ok a n
f e z o v e l ho home m de i x a r de s e pr e oc upa r c om o di a de s ua
mor t e e o c onduz i u a o Dha r ma .
80. Essência
82. Bonecos
83. Vem...
Me s t r e T ok us a n ( 742 - 865) e s t a v a s e nt a do e m z a z e n à
be i r a do r i o. Av i z i nha ndo- s e da ma r g e m, um di s c í pul o
g r i t ou- l he :
- Bom di a , me s t r e ! Como e s t a i s ?
T ok us a n i nt e r r ompe u o z a z e n e , c om o l e que , f e z s i na l
a o di s c í pul o:
Ve m . . . v e m . . . !
L e v a nt ou- s e , de u me i a - v ol t a e pôs - s e a l a de a r o r i o,
s e g ui ndo o c ur s o da á g ua . . .
O di s c í pul o, ne s s e i ns t a nt e , e x pe r i me nt ou o S a t or i .
84. O Médico e o Zen
Ce r t a v e z T a n- hs i a , mong e da di na s t i a T a ng , f e z uma
pa r a da e m Y e r i nj i , na Ca pi t a l , c a ns a do e c om mui t o f r i o.
Como e r a i mpos s í v e l c ons e g ui r a br i g o e f og o, e c omo e r a
e v i de nt e que nã o s obr e v i v e r i a à noi t e , r e t i r ou e m um
a nt i g o t e mpl o uma da s i ma g e ns de ma de i r a e nt r oni z a da s de
Buddha , r a c hou- a e pr e pa r ou c om e l a uma f og ue i r a , a s s i m
a que c e ndo- s e . O mong e g ua r di ã o de um t e mpl o ma i s nov o
pr óx i mo, a o c he g a r a o l oc a l de ma nhã e v e r o que t i nha
a c ont e c i do, f i c ou e s t a r r e c i do e e x c l a mou:
“ Como ousai s quei mar a sagr ada i magem de Buddha?! ?”
T a n- hs i a ol hou- o e de poi s c ome ç ou a me x e r na s c i nz a s ,
c omo s e pr oc ur a s s e por a l g o, di z e ndo:
“ Est ou r ecol hendo as Sar i r as ( * ) de Buddha. . . ”
“ Mas, ” di sse o guar di ão conf uso “ est e é um pedaço de
ma de i r a ! Como pode s e nc ont r a r S a r i r a s e m um obj e t o de
ma de i r a ? ”
“ Nesse caso, ” r et or qui u o out r o “ sendo a pe na s uma
e s t á t ua de ma de i r a , pos s o que i ma r a s dua s out r a s i ma g e ns
r e s t a nt e s ? ”
( * ) S a r i r a s - t a i s obj e t os s ã o de pós i t os mi ne r a i s -
c omo pe que na s pe dr a s - que s obr a m de a l g uns c or pos
c r e ma dos , e que s e g undo a t r a di ç ã o f or a m e nc ont r a dos a pós
a c r e ma ç ã o do c or po de Ga ut a ma Buddha , s e ndo c ons i de r a dos
obj e t os s a g r a dos .
Koa n: E m que pa r t e de um obj e t o f i c a o r e v e r e nc i a do
S a g r a do?
87. O Monge Indiferente
Ce r t o di a Ba s o pa s s e a v a e m c ompa nhi a de s e u j ov e m
di s c í pul o Hy a k uj ô. A c e r t a a l t ur a do pa s s e i o, v i r a m uma
r e v oa da de pa t os s e l v a g e ns . Ba s o pe r g unt ou e nt ã o a
Hy a k uj ô:
“ Que é aqui l o, Hyakuj ô?”
“ São pat os sel vagens, Mest r e” - di s s e o j ov e m.
“ E par a onde vão?”
“ Vão- s e e mbor a , v oa ndo. . . ” - r e pl i c ou Hy a k uj ô, f i t a ndo
o c é u, pe ns a t i v o.
E nt ã o Ba s o a g a r r ou o na r i z de s eu di s c í pul o c om t oda a
f or ç a , da ndo um f or t e pux ã o. Hy a k uj ô g r i t ou:
“ Aaaai ! ”
Ba s o e x c l a mou: “ NÃO F ORAM E MBORA COI S A NE NHUMA! ”
Ao ouv i r i s s o, Hy a k uj ô obt e v e o S a t or i .
Um di a , um j ov e m c ha ma do Y a ng F u de i x ou s ua f a mí l i a e
l a r pa r a i r a S z e - Chua n v i s i t a r o Bodhi s a t t v a Wu - J i . E l e
s onhou que j unt o à que l e me s t r e pode r i a e nc ont r a r um
g r a nde t e s our o de s a be dor i a . Qua ndo j á s e e nc ont r a v a à s
por t a s da c i da de , a pós uma l ong a v i a j e m c he i a de
a v e nt ur a s , e nc ont r ou um v e l ho s e nhor . E s t e l he pe r g unt ou:
“ Onde vai s, j ovem?”
“ Vou est udar com Wu- J i , o Bodhi s a t t v a . ” - r e s ponde u o
r a pa z .
“ Em vez de buscar um Bodhi sat t va, é mai s mar avi l hoso
e nc ont r a r Buddha . ”
E x c i t a do c om a pe r s pe c t i v a de e nc ont r a r o Gr a nde
Me s t r e , di s s e Y a ng F u:
“ Oh! Sabes onde encont r á- l o? ! ”
“ Vol t es par a casa agor a mesmo. Quando l á chegar es,
e nc ont r a r á s uma pe s s oa us a ndo uma ma nt a e c hi ne l os
t r oc a dos , que l he c umpr i me nt a r á . E s s a pe s s oa é o Buddha . ”
O r a pa z pe ns ou, a t e r r a do: “ Como pos s o r e t or na r a g or a ,
qua ndo e s t ou à s por t a s do me u obj e t i v o? E u t e r i a que
c onf i a r mui t o no que e s t e s i mpl e s v e l ho me di z ” . E nt ã o
Y a ng F u t e v e uma f or t e i nt ui ç ã o de que a que l e s i mpl e s
home m à s ua f r e nt e e r a a l g ué m de g r a nde s a be dor i a . Num
i mpul s o, v ol t ou- s e pa r a a e s t r a da , s e m j a ma i s t er
e nc ont r a do Wu- J i . E l e r e t or nou o ma i s r á pi do que pode ,
a ns i os o pe l a v ont a de de e nc ont r a r Buddha . Che g ou e m c a s a
t a r de da noi t e , e s ua a mor os a mã e , e m me i o à a l e g r i a e
pr e s s a de a br a ç a r o f i l ho que r et or na v a a o l a r , c obr i u- s e
de uma ma nt a us a da e c a l ç ou s e us c hi ne l os t r oc a dos .
Ol ha ndo pa r a s ua mã e de s s e modo, que v i nha s or r i ndo e
pr ont a a a br a ç á - l o, Y a ng F u a t i ng i u o S a t or i . E s t e e r a o
ma i or t e s our o.
90. O Mistério do Zen
Ce r t o di a , t r ê s a mi g os pa s s e a v a m e v i r a m um home m no
c ume de um pe que no mont e , s e nt a do. Cur i os os s obr e o que
e s t a r i a o home m f a z e ndo, f or a m a t é e l e , us a ndo a t r i l ha
na e nc os t a . Che g a ndo l á , o pr i me i r o di s s e :
“ Ol á, est á esper ando um ami go?”
“ Não. . . ” - r e s ponde u o out r o. O s e g undo home m r e pl i c ou:
“ Ent ão est á r espi r ando o ar pur o! ”
“ Não. . . ” - di s s e o e s t r a nho. O t e r c e i r o a mi g o di s s e :
“ Já sei ! Você est ava passando e r esol veu ol har est e
be l o c e ná r i o. ”
“ Não, na ver dade. . . ” - r e pe t i u o home m. Os t r ê s a mi g os
e nt ã o e x c l a ma r a m a o me s mo t e mpo, e s t upe f a t os :
“ Mas ent ão, o que f az aqui ? ! ”
O home m di s s e c om um s ua v e s or r i s o:
“ Apenas ESTOU aqui . . . ”
As s i m e u ouv i :
E s t a v a o Abe nç oa do - j á a de nt r a do e m a nos - c a mi nha ndo
no Bos que de Upa v a r t a na , e m c ompa nhi a de s e u di l e t o
di s c í pul o Ana nda , qua ndo s ubi t a me nt e s e nt i u - s e f a t i g a do.
De i t ou- s e um pouc o pa r a de s c a ns a r , c om Ana nda a s e u l a do.
Após um t e mpo, s e nt i u- s e me l hor e l e v a nt ou- s e . Um pouc o
ma i s a di a nt e na s e nda , o Ve ne r á v e l v ol t ou a pa r a r ,
f a t i g a do. L og o a pós a l g um t e mpo e m de s c a ns o, l e v a nt ou - s e .
E nt ã o, pe l a t e r c e i r a v e z , s e nt i u- s e mui t o c a ns a do, e
Ana nda , a f l i t o, o a j udou a de i t a r - s e à s ombr a de uma
á r v or e . O Abe nç oa do e nt ã o di s s e a s e u di s c í pul o:
“ Busque meus di scí pul os e r euna- os à mi nha v ol t a , poi s
o T a t ha g a t a e m br e v e t e r á s ua pe r s ona l i da de e x t i nt a . ”
Qua ndo os di s c í pul os s e a s s e nt a r a m, di s s e o Buddha
mui t a s c oi s a s s á bi a s , e e nt ã o di s s e a Ana nda , ma s f a l a v a
pa r a t odo o S a ng ha :
“ Pr eguei o Dhar ma sem l i mi t es ent r e o ocul t o e o
r e v e l a do, poi s no t oc a nt e à Ve r da de o T a t ha g a t a nã o t e m
na da que s e a s s e me l he a o punho c e r r a do de um i ns t r ut or
que oc ul t a a l g uma c oi s a .
“ Já sou vel ho, Ananda, t enho oi t ent a anos e t er mi no
me us c a mi nhos e me us di a s ; a s s i m c omo uma v e l ha c a r r oç a
que v a g a me nt e r oda na e s t r a da , a s s i m me u c or po s e
s us t e nt a c om mui t a f r a g i l i da de . Me u c or po s ó e s t á be m
qua ndo me r g ul ho no e qui l í br i o da me di t a ç ã o.
“ Por i sso, monges, per manecei na Senda, e assi m devei s
v os g ui a r pe l os Pr e c e i t os . Que o Dha r ma e a s r e g r a s do
S a ng ha s e j a m v os s o me s t r e qua ndo e u pa r t i r ; e que o
S a ng ha s a i ba de r r og a r , s e c onv i e r , os pr e c e i t os de p ouc a
i mpor t â nc i a . S e c ons e g ui r de s g ua r da r be m os Pr e c e i t os ,
di s s o r e s ul t a r á a Boa L ei . S e nã o c ons e g ui r de s g ua r da r de
f or ma c or r e t a o s e nt i do dos Pr e c e i t os , e nt ã o s e us
pr e t e ns os a t os de bene v ol ê nc i a s e r ã o de s t i t uí dos de
mé r i t os r e a i s .
“ Assi m, poi s, Ananda, s e de v os s a s pr ópr i a s l â mpa da s .
Apoi a i - v os e m v ós me s mos e nã o e m ne nhum s us t e nt á c ul o
e x t e r no. S us t e nt a i - v os a pe na s na Ve r da de . Que e l a s e j a
v os s a ba nde i r a e r e f úg i o. ”
Di r i g i ndo- s e à a s s e mbl é i a , pe r g unt ou:
“ Se ai nda ent r e vós al guém abr i ga dúvi das, que a
e x ponha l i v r e me nt e , poi s me u t e mpo de r e s ponde r a t oda s
a s dúv i da s e s t á e nc ur t a ndo. ”
Ana nda di s s e , a pós um pe r í odo:
“ Cer t ament e, dent r e os que aqui se encont r am não há
ni ng ué m que a br i g ue dúv i da s ou r e c e i os a c e r c a do Buddha ,
do Dha r ma e da S e nda . ”
E nt ã o o Abe nç oa do pr of e r i u s ua s úl t i ma s pa l a v r a s :
“ Decadênci a é i ner ent e a t odas as coi sas exi st ent es,
por é m o Dha r ma pe r dur a r á e t e r na me nt e . Bus que m c om a f i nc o
por s ua l i be r t a ç ã o. ”
Ne s t e mome nt o o Buddha e nt r ou e m me di t a ç ã o, e e x pi r ou
t r a nqüi l a me nt e .
Um di a um di s c í pul o pe r g unt ou a o s e u pr of e s s or :
“ Mest r e, t odas as coi sas exi st ent es t êm de ext i ngui r -
s e , ma s há uma Ve r da de E t e r na ? ”
“ Si m, ” di sse o mest r e. E apont ou par a o j ar di m:
“ El a é como as f l or es do campo, que de t ão bel as
pa r e c e m br oc a dos de pur a s e da ; c omo um r i a c ho
a pa r e nt e me nt e i móv e l , ma s que de f a t o e s t á f l ui ndo
s ua v e me nt e pa r a o oc e a no. ”
Ao t e r mi na r o Ve r ã o, Y a ng - s ha n f e z uma v i s i t a a Kue i -
s ha n, que l he pe r g unt ou:
“ Não vos vi por aqui t odo o Ver ão, o que f i zest es?”
Y a ng - s ha n r e pl i c ou:
“ Est i ve cul t i vando um pedaço de t er r a e t er mi nei de
pl a nt a r uma s s e me nt e s . ”
“ Ent ão, ” coment ou Kuei - s ha n, “ nã o de s pe r di ç a s t e s o
v os s o Ve r ã o. ”
Por s ua v e z , Y a ng - s ha n di s s e :
“ E vós, como passast es o Ver ão?”
“ Uma r ef ei ção por di a e um bom s ono à noi t e , ”
a r g ume nt ou o out r o.
“ Ent ão, ” f oi a vez de Yang- s ha n c ome nt a r , “ nã o
de s pe r di ç a s t e s o v os s o Ve r ã o. ”
Koa n: Bus c a mos a Ve r da de l ong e , ma s el a es t á s e mpr e
pr óx i ma de nós .
Hs i a ng - y e n f ui di s c í pul o de Pa i - c ha ng . E r a uma pe s s oa
mui t o i nt e l i g e nt e , e s e mpr e c onf i ou na pr e s unç ã o de que
s e e s t uda s s e e a bs or v e s s e t odo o c onhe c i me nt o dos t e r mos
e t e x t os buddhi s t a s , s e r i a um e nt e nde dor do Z e n. Após a
mor t e de s e u me s t r e , e l e di r i g i u - s e a Kue i - s ha n - que e r a
o ma i s a nt i g o di s c í pul o de Pa i - c ha ng - pa r a que e s t e l he
or i e nt a s s e . Ma s Kue i - s ha n c ome nt ou:
“ Soube que est i vest e sob a or i ent ação de meu ant i go
me s t r e e f a l a r a m- me de t ua not á v e l i nt e l i g ê nc i a . T e nt a r
c ompr e e nde r o buddhi s mo at r av és de s t e me i o l ev a
g e r a l me nt e a uma c ompr e e ns ã o a na l í t i c a , que e m s i na da
t e m de út i l , ma s que pode i ndi r e t a me nt e l e v a r o
pr a t i c a nt e a uma i nt ui ç ã o do s e nt i do Z e n. Por i s s o, e u
l he pe r g unt o: c omo t u e r a s a nt e s de t e us pa i s t e r e m l he
c onc e bi do? ”
Hs i a ng - y e n f i c ou pa s mo, s e m s a be r o que di z e r . Pe di u
l i c e nç a e f oi pa r a s e u qua r t o, e pr oc ur ou e m t odos os
t e x t os e c onc e i t os uma r e s pos t a pa r a a e s t r a nha que s t ã o.
Nã o f oi c a pa z , e v ol t ou a o out r o mong e . Pe di u - l he pa r a
e ns i na r s obr e o s e nt i do do que qui s di z e r , e Kue i - s ha n
pe r g unt ou:
“ Si nt o mui t o, mas nada t enho a l he dar . Tu sabes mai s
do que e u, e s e nós de ba t ê s s e mos c om c e r t e z a e u f i c a r i a
e m di f i c ul da de s . T udo o que e u l he pude s s e di z e r pe r t e nc e
à s mi nha s de s c obe r t a s pe s s oa i s e j a ma i s pode r i a s e r t e u. ”
Hs i a ng - y e n f i c ou de s a pont a do e a c hou que o mong e ma i s
v e l ho l he es t av a e s c onde ndo al go de l i be r a da me nt e .
Re s ol v e u pa r t i r do t e mpl o, e bus c a r o c onhe c i me nt o
a t r a v é s dos l i v r os e c onc e i t os , poi s a c ha v a que na
v e r da de o s e u c onhe c i me nt o n ã o er a s uf i c i e nt e , e por i s s o
o out r o nã o qui s l he r e s ponde r . F oi mor a r e m um
e r e mi t é r i o e pa s s ou a e s t uda r c om a f i nc o. Após v á r i os
a nos , a c ha ndo- s e s uf i c i e nt e me nt e c onhe c e dor dos c onc e i t os
buddhi s t a s , v ol t ou a Kue i - s ha n. E s t e , qua ndo ouv i u s ua s
dout a s e x pl i c a ç õe s e s ua s ol i c i t a ç ã o por or i e nt a ç ã o,
a pe na s s or r i u e na da di s s e . Vi r ou - s e e f oi e mbor a .
Hs i a ng - y e n f i c ou i r r i t a dí s s i mo. Na que l e mome nt o t omou
uma de c i s ã o, de s t r ui u t odos os s e us t e x t os e r e s ol v e u
de s i s t i r dos e s t udos , a i nda que j á f os s e um g r a nde
i nt e l e c t ua l . E l e pe ns ou: “ Qua l a ut i l i da de de e s t uda r o
buddhi s mo, s e e s t e é t ã o s ut i l e s e é t ã o di f í c i l r e c e be r
i ns t r uç õe s de out r e m? S e r e i a g or a um s i mpl e s mong e
pr a t i c a nt e , e de s i s t o de e nt e nde r qua l que r c oi s a ! ”
Aba ndonou o t empl o e s ua s c e r c a ni a s , c ons t r ui u uma
c a ba na pr óx i ma à s e pul t ur a de Chu, o Me s t r e Na c i ona l de
Na n- y a ng , e pa s s ou a v i v e r uma v i da s i mpl e s l ong e dos
e s t udos e que s t õe s .
Ce r t o di a , e s t a v a v a r r e ndo o c hã o de s ua c a s a qua ndo a
v a s s our a t oc ou numa pe dr i nha , que r ol ou e ba t e u e m um
ba mbu. E m me i o a o s i l ê nc i o, o s om e c oou s ua v e me nt e . Ao
ouv i r e s t e s om, Hs i a ng - y e n e x pe r i me nt ou o S a t or i , e
f i na l me nt e c ompr e e nde u o que t i nha l he di t o Kue i - s ha n.
El e e nt ã o a j oe l hou- s e e s i l e nc i os a me nt e f ez uma
r e v e r ê nc i a de a g r a de c i me nt o a o s á bi o mong e .
97. Compreendeis o Budismo?
Ce r t a v e z um mong e pe r g unt ou a L i - c ha n:
“ Se t odas as coi sas s e r e duz e m e m úl t i ma a ná l i s e a o
Va z i o, e s t e a quê s e r e duz i r á ? ”
Re s ponde u o me s t r e :
“ Mi nha l í ngua é cur t a demai s par a vos expl i car . ”
“ E por que vossa l í ngua é t ão cur t a?” per gunt ou o
mong e , i nt r i g a do.
“ No i nt er i or e no ext er i or el a é da mesma vazi a
na t ur e z a . ” Di s s e o me s t r e .
100. Inferno?
Um home m pe r g unt ou a o me s t r e Z e n:
“ Onde est ar á o senhor daqui a cem anos?”
“ Renasci do como um caval o ou um bur r o” , r espondeu o
v e l ho s á bi o.
“ Oh! ” , excl amou o homem , conf uso. “ E depoi s di sso?”
“ Renascer ei em um Nar aka[ 1] ” , decl ar ou o mest r e.
“ Ma s . . . o s e nhor é um home m bom e s á bi o, por que t a l
c oi s a a c ont e c e r i a ? ” pe r g unt ou o home m.
“ Se não r enascer lá par a ensi nar o Dhar ma, quem o
f ar á?”
[ 1] Re g i ã o de de mé r i t o k á r mi c o, a s s oc i a da ao s e mi t a
“ I nf er no” .
Koa n: O Dha r ma es t á e m t oda pa r t e . Onde tu es t ar ás
da qui a c e m a nos ?
Um di s c í pul o pe r g unt ou a o s e u me s t r e Z e n:
“ Como posso f azer com que as mont anhas, os r i os e a
g r a nde T e r r a me be ne f i c i e m? ”
Re s ponde u o me s t r e :
“ Vós devei s benef i ci ar as mont anhas, os r i os e a gr ande
Ter r a. ”
Koa n: A me nt e Z e n é a nut r i ç ã o da T e r r a . A me nt e da
T e r r a é a nos s a nut r i ç ã o.
Um pr a t i c a nt e c e r t a v e z pe r g unt ou a um me s t r e Z e n, que
e l e c ons i de r a v a mui t o s á bi o:
“ Quai s são os t i pos de pessoas que necessi t am de
a pe r f e i ç oa me nt o pe s s oa l ? ”
“ Pessoas como eu. ” Coment ou o mest r e. O pr at i cant e
f i c ou a l g o e s pa nt a do:
“ Um mest r e como o senhor pr eci sa de aper f ei çoament o?”
“ O aper f ei çoament o, ” r espondeu o sábi o, “ nada mai s é do
que v e s t i r - s e , ou a l i me nt a r - s e . . . ”
“ Mas, ” r epl i cou o pr at i c a nt e , “ f a z e mos i s s o s e mpr e !
I ma g i na v a que o a pe r f e i ç oa me nt o s i g ni f i c a s s e a l g o ma i s
pr of undo pa r a um me s t r e . ”
“ O que achas que f aço t odos os di as?” r et r ucou o
me s t r e . “ A c a da di a , bus c a ndo o a pe r f e i ç oa me nt o, f a ç o c om
c ui da do e hone s t i da de os a t os c omuns d o c ot i di a no. Na da é
ma i s pr of undo do que i s s o. ”
Um di s c í pul o pe r g unt ou a o s e u me s t r e :
“ Mest r e, um ci pr est e possui a nat ur eza de Buddha?”
“ Si m, ” di sse o sábi o.
“ E quando el e se t or nar á um Buddha?” i ndagou o al uno.
“ Quando o céu cai r . . . ” c ome nt ou o me s t r e . O di s c í pul o,
c onf us o, pe r g unt ou e nt ã o:
“ E quando o céu cai r á?”
“ Quando o ci pr est e t or nar - s e Buddha , ” f i na l i z ou o
s á bi o, s or r i ndo.
Uma be l a noi t e , o me s t r e Y a o- s ha n f oi pa s s e a r pe l a s
mont a nha s . E r a uma l i nda noi t e de v e r ã o, e qua ndo o s á bi o
e s t a v a na be i r a de uma e s c a r pa , a s nuv e ns de s c obr i r a m a
l ua e a né v oa di s s i pou- s e s ubi t a me nt e . Y a o- s ha n pôde
e nt ã o v e r o v a l e i l umi na do pe l a l ua , numa v i s ã o de
s onho. . .
Ol ha ndo t a nt a be l e z a , Y a o- s ha n r e pe nt i na me nt e c ome ç ou a
da r g os t os a s g a r g a l ha da s . S e u r i s o f oi t ã o a l t o que os
e c os r e v e r be r a r a m por qui l ôme t r os de di s t â nc i a .
No di a s e g ui nt e , os ha bi t a nt e s da pe que na a l de i a
pr óx i ma da s mont a nha s c ome nt a v a m e nt r e s i :
“ Ont em à noi t e ouvi r i sos! Mi st er i osos r i sos, e não sei
de onde v i nha m. ” - di s s e um a l de ã o.
“ Si m, eu t ambém ouvi ! I sso é r eal ment e mi st er i oso! ” -
r e pl i c ou out r o. Doi s mong e s do t e mpl o ouv i r a m os
c ome nt á r i os e um de l e s s i mpl e s me nt e di s s e :
“ Não há mi st ér i os no Zen. O som que ouvi st es f or am de
Y a o- s ha n, r i ndo na s c ol i na s . O S om da a l e g r i a z e n é c omo
a v i da : nã o e nc ont r a f r ont e i r a s , e é ouv i da por t odos . ”
108. Chuva
Um di a , um di s c í pul o f oi ao me s t r e Ki a n - f a ng e
pe r g unt ou- l he :
“ Todas as di r eções l evam ao cami nho de Buddha, mas
a pe na s uma c onduz a o Ni r v a na . Por f a v or , me s t r e , di g a - me
onde c ome ç a e s t e Ca mi nho? ”
O v e l ho me s t r e f e z um r i s c o no c hã o c om s eu ba s t ã o e
di s s e :
“ Aqui ” .
110. Não tenho nada
Um v e l ho mong e e s t a v a s e c a ndo v e g e t a i s s ob o i nc l e me nt e
s ol do me i o- di a . Um home m a pr ox i mou- s e s ol í c i t o e di s s e :
“ Quant os anos t ens?”
“ Sessent a e Oi t o, ” di sse o anci ão.
“ Por que t r abal has t ant o aqui no t empl o?”
“ Por que aqui no t empo t e m t a nt o t r a ba l ho a f az er , ”
r e pl i c ou o mong e .
“ Mas por que t r abal ha sob est e sol t ão quent e?”
“ Por que o sol quent e est á l á, e meu t r abal ho é aqui . ”
Um pr a t i c a nt e f oi a t é o s eu pr of e s s or de me di t a ç ã o,
t r i s t e me nt e , e di s s e :
“ Mi nha pr á t i c a de me di t a ç ã o é hor r í v e l ! Ou e u f i c o
di s t r a í do, ou mi nha s pe r na s doe m mui t o, ou eu
c ons t a nt e me nt e f i co c om s ono. É s i mpl e s me nt e
hor r í v e l ! ! ! ! ”
“ I sso passar á, ” o pr of essor di sse suavement e.
Uma s e ma na de poi s , o e s t uda nt e r e t or nou ao s eu
pr of e s s or , e uf ór i c o:
“ Mi nha pr át i ca de medi t ação é mar avi l hosa! Eu si nt o- me
t ã o c ons c i e nt e , t ã o pa c í f i c o, t ã o r e l a x a do, t ã o v i v o! É
s i mpl e s me nt e ma r a v i l hos o! ! ! ! ! ”
O me s t r e di s s e t r a nqüi l a me nt e :
“ I sso t ambém passar á. ”
Um mong e pe r g unt ou a Y e n- k ua n:
“ Quem é r eal ment e Vai r ochana Buddha?”
“ Por f avor , ” r epl i cou Yen- k ua n, “ pa s s e - me a que l e j a r r o
d' á g ua . ”
O mong e e s t i c ou o br a ç o, pe g ou o j a r r o e o c ol oc ou na
f r e nt e do out r o. Y e n- k ua n e nt ã o di s s e :
“ Pode r ecol ocá- l o no l ug a r or i g i na l , por f a v or ? ”
O mong e f e z i s s o, s e m c ome nt á r i os . Após um mome nt o e l e
pe r g unt ou nov a me nt e a Y e n- k ua n:
“ Quem é r eal ment e Vai r ochana Buddha?”
O me s t r e r e s ponde u:
“ A vener ável di vi ndade est eve aqui , mas j á r et or nou ao
s e u l ug a r . ”
O Me s t r e Ma - k u c e r t a v e z c ha mou s e u di s c í pul o:
“ Li ang- s ui ! ”
O out r o mong e r e s ponde u:
“ Si m?”
Ao ouv i r e s s a r e s pos t a , o me s t r e nov a me nt e c ha mou:
“ Li ang- s ui ! ”
O mong e di s s e :
“ Pr ont o! ”
Pe l a t e r c e i r a v e z o me s t r e f a l ou:
“ Li ang- s ui ! ”
O di s c í pul o, i nt r i g a do, r e pl i c ou:
“ Est ou aqui , mest r e. ”
Após uma pa us a s e m na da di z e r , o s á bi o e x c l a mou pa r a
s e u a l uno:
“ Quão t ol o t u és! ”
Ao ouv i r i s s o L i a ng - s ui t e v e o S a t or i , e a f i r mou:
“ Mest r e, j á não mai s me engano. Se não t i vesse buscado
a v ós c omo me s t r e , e u t e r i a s i do l e v a do mi s e r a v e l me nt e ,
dur a nt e t oda mi nha v i da , a pe r ma ne c e r pr e s o a os s ut r a s e
a os s a s t r a s ! ”
Ma i s t a r de , a l g uns c ompa nhe i r os de L i a ng - s ui
pe r g unt a r a m- l he :
“ O que sabes sobr e a f i l osof i a de Buddha?”
L i a ng - s ui r e s ponde u:
“ Tudo o que sabei s eu t ambém sei . Mas o que sei nenhum
de v ós s a be i s . ”
Ha v i a um c e r t o g e ne r a l c hi nê s , que e m ba t a l ha l i de r ou
s e us home ns c om c or a g e m e de s t e mi da f or ç a . Na da podi a
l e v á - l o a s e nt i r me do, poi s s ua c onv i c ç ã o e r a i na ba l á v e l .
Ce r t o di a e l e e s t a v a e m c a s a , t oma ndo c há us a ndo s ua ma i s
a dor a da r e l í qui a , uma bel a x í c a r a de por c e l a na f i na me nt e
de c or a da . E l e e r a pr of unda me nt e a pe g a do à que l a pe ç a , e a
e s t i ma v a mui t o. Qua ndo f e z o g e s t o de c ol oc á - l a na me s a
s ua mã o v a c i l ou e a x í c a r a c ome ç ou a c a i r a o c hã o.
T e r r i f i c a do c om o t e mor de que a pe ç a s e que br a s s e , o
g e ne r a l l a nç ou- s e a o c hã o e no úl t i mo mome nt o c ons e g ui u
pe g á - l a .
Ai nda t e ns o, t r e me ndo e s ua ndo f r i o, o g e ne r a l pe ns ou:
“ Li der ei homens em t er r í vei s guer r as e passei por
mome nt os a s s us t a dor e s na v i da s e m j a ma i s v a c i l a r ! Como é
pos s í v e l que e u s e nt i s s e t a nt o t e mor por c a us a de um
pe que no obj e t o de por c e l a na ? ! ? ”
E nt ã o o g e ne r a l pe r c e be u pl e na me nt e a na t ur e z a de s e u
a pe g o na v i da . Ne s t e mome nt o, l a r g ou a x í c a r a a o c hã o,
v ol t ou- s e pa r a uma v i da c ont e mpl a t i v a e a ba ndonou a
v i ol ê nc i a e a pa i x ã o i g nor a nt e s .
120. Perfeição
Ce r t o di a um Me s t r e f a l a v a pa r a s e us a l unos s obr e a
na t ur e z a da Pe r f e i ç ã o. Um dos di s c í pul os , c é pt i c o qua nt o
a pos s i bi l i da de de pode r r e a l me nt e a l g o c he g a r à
pe r f e i ç ã o c onc r e t a me nt e e i nc a pa z de c ompr e e nde r o
s e nt i do do que o Me s t r e f a l a v a , obs e r v ou pr óx i mo a o g r upo
um c e s t o de ma ç ã s e di s s e i r oni c a me nt e :
“ Mest r e, f i quei f a s c i na do c om s ua e x pl i c a ç ã o s obr e a
Pe r f e i ç ã o. Pode r i a o s e nhor , pa r a i l us t r a r o que a c a bou
de di z e r , me da r uma ma ç ã pe r f e i t a ? ”
O Me s t r e c a l ma me nt e ol hou de nt r o da c e s t a , r e t i r ou uma
ma ç ã e e nt r e g ou a o a l uno. Pe g a ndo - a , e s t e v i u que a f r ut a
e s t a v a c om uma pa r t e podr e num dos l a dos . Ol hou pa r a o
pr of e s s or e di s s e a r r og a nt e :
“ Essa é a per f ei ção de que f al a? Est a maçã t em uma
pa r t e podr e ! ”
“ Si m, ” r epl i cou o Mest r e. “ Mas par a t eu ní vel de
c ompr e e ns ã o e di s c e r ni me nt o, e s t a ma ç ã podr e é o má x i mo
de ma ç ã pe r f e i t a que pode r á s obt e r . . . ”
Ha v i a um mé di c o na a nt i g a Chi na , c uj o t r a ba l ho e r a
c ui da r dos s ol da dos na s ba t a l ha s . E nt r e t a nt o a a ng ús t i a
de v e r a s a t r oc i da de s da g ue r r a , e o f a t o de que s ua
f unç ã o c omo mé di c o pa r e c i a i nút i l , poi s s e mpr e que c u r a v a
um s ol da do e s t e v ol t a v a à g ue r r a e e v e nt ua l me nt e mor r i a ,
f e z c om que e l e pe ns a s s e :
“ Se o dest i no de t odas as pessoas é mor r er , por que
de v o e u bus c a r s a l v a r v i da s ? S e mi nha me di c i na t e m
r e a l me nt e v a l or , por que e s t e s homens , a pós s er em
c ur a dos , v ol t a m a bus c a r a mor t e ? ”
S e m c ons e g ui r e nc ont r a r uma r e s pos t a , o mé di c o
a ba ndonou s ua pr of i s s ã o e f oi à s mont a nha s pr oc ur a r um
s á bi o me s t r e Z e n. Após me s e s de pr á t i c a , e l e f i na l me nt e
c ompr e e nde u s e u di l e ma . Af a s t ou - s e de s e u r e t i r o e v ol t ou
à c i da de . Qua ndo l á c he g ou, um a mi g o s e u c umpr i me nt ou - o
pe l a s ua v ol t a e di s s e :
“ Que f el i ci dade vê- l o de v ol t a . E nc ont r ou a r e s pos t a
pa r a s ua dúv i da ? ”
“ Descobr i que t odo est e t empo f i z a per gunt a er r ada.
Nã o s ou mé di c o por que bus c o s a l v a r v i da s ; s ou mé di c o
por que a Vi da me r e c e s e r pe r pe t ua da o ma i s pos s í v e l . O
mé di c o nã o s a l v a a v i da de out r e m; e l e a pe na s a j uda a
pe r pe t ua r a Vi da Uni v e r s a l ( o T a o) e m c a da s e r que bus c a
c ur a r . Poi s a v i da de c a da s e r é uma s ó Vi da , e c a da v e z
que c ur o a l g ué m, ma nt e nho o T a o e m pe r pé t uo e ma r a v i l hos o
mov i me nt o. ”
Um mong e pe r g unt ou a o me s t r e :
“ Faz mui t o t empo que venho a v ós di a r i a me nt e , a f i m de
s e r i ns t r uí do no s a nt o c a mi nho de Buddha , ma s a t é hoj e
j a ma i s v ós me de s t e s ne nhuma pa l a v r a a e s t e r e s pe i t o. E u
v os i mpl or o, me s t r e , s e j a i s ma i s c a r i dos o. ”
O v e l ho me s t r e ol hou- o c om s ur pr e s a :
“ O que quer ei s di zer com i sso, meu r a pa z ? T oda s as
ma nhã s v ós me s a uda i s e e u v os r e s pondo. Qua ndo me
t r a z e i s uma x í c a r a de c há , e u a a c e i t o, a g r a de ç o - v os e me
de l i c i o c om v os s a s ol i c i t ude . O que ma i s de s e j a i s que eu
l he e ns i ne ? ”
125. Alegria
Um di a , o g r a nde g e ne r a l Ki t a g a k i f oi v i s i t a r s e u v e l ho
a mi g o, o s upe r i or do t e mpl o T of uk u. Ao c he g a r , di s s e a um
nov i ç o de f or ma a l g o de s de nhos a c omo c omume nt e s e di r i g i a
à s pe s s oa s que c ons i de r a v a s e us s ubor di na dos no e x é r c i t o:
“ Di ga ao Mest r e que o gr ande gener al Ki t agaki est á
a qui . ”
O nov i ç o f oi a o s e u me s t r e e di s s e :
“ Mest r e, o Gr ande Gener al Ki t agaki est á aqui . ”
O me s t r e r e s ponde u:
“ Não conheço Gr andes Gener ai s. ”
O nov i ç o v ol t ou à pr e s e nç a do mi l i t a r c om o r e c a do
e nqua nt o o v e l ho s á bi o obs e r v a v a do pór t i c o:
“ Descul pe, o mest r e não pode vê- l o. El e nã o c onhe c e
ne nhum Gr a nde Ge ne r a l . ”
O Ge ne r a l i ni c i a l me nt e f i c ou s ur pr e s o, de poi s
i ndi g na do, e f i na l me nt e c ompr e e nde u. Humi l de me nt e di s s e
a o nov i ç o:
“ Descul pe mi nha ar r ogânci a. Por f avor , di ga- l he que
Ki t a g a k i de s e j a v ê - l o. ”
O mong e a s s i m o f e z . L og o, o me s t r e a pr ox i mou - s e c om um
s or r i s o e c umpr i me nt ou:
“ Ah, Ki t agaki ! Há quant o t empo! Por f avor , ent r e. ”
Ce r t o di a , o me s t r e Y i - s ha n t oma v a ba nho, ma s a á g ua
e s t a v a mui t o que nt e . E l e pe di u ent ã o a o s e u di s c í pul o que
t r oux e s s e á g ua f r i a . O di s c í pul o e nc he u um ba l de e f oi
de s pe j a ndo- o de v a g a r na t i na de ba nho, e e m de t e r mi na do
mome nt o o me s t r e di s s e :
“ Est á bom, obr i gado. A quent ur a f oi di mi nuí da e agor a
e s t á mui t o a g r a dá v e l . ”
Como s obr ou um pouc o de á g ua no ba l de , o nov i ç o
s i mpl e s me nt e v i r ou- s e e j og ou a á g ua no c hã o, pe r t o da
t i na . O me s t r e a o v e r i s s o g r i t ou pa r a o out r o mong e :
“ Por que f i zest es t al est upi dez?! Tudo t em ut i l i dade.
Por que de s pe r di ç ou a á g ua ? Pode r i a t ê - l a de s pe j a do s ob
uma pl a nt a ou á r v or e , onde pode r i a s e r út i l ! Ou e nt ã o por
que nã o a j og ou num c a nt e i r o de f l or e s ? Nunc a s e e s que ç a :
nã o de v e mos de s pe r di ç a r ne m me s mo uma g ot a de á g ua , ne m
uma f ol ha de g r a ma ! !
“ Tudo nest e mundo é val i oso. ”
Ouv i ndo i s s o, o mong e nov i ç o c ompr e e nde u o s i g ni f i c a do
da v i da . De s de e nt ã o e l e f i c ou c onhe c i do c omo “ Got a
D' á g ua ” .
Ce r t a v e z T a o- k wa ng , um i nt e l e c t ua l budi s t a e e s t udi os o
do Vi j ña pt i ma r a ( i de a l i s mo a bs ol ut o) , a pr ox i mou - s e de um
me s t r e Z e n e pe r g unt ou:
“ Com que at i t ude ment al deve um i ndi ví duo di sci pl i nar -
s e pa r a a l c a nç a r a Ve r da de ? ”
Re s ponde u o me s t r e Z e n: “ Nã o há ne nhuma me nt e a s e r
di s c i pl i na da , ne m qua l que r v e r da de na qua l nós de v e mos
nos di s c i pl i na r . ”
Re pl i c ou o i nt e l e c t ua l :
“ Se não há nenhuma ment e par a ser cont r ol ada e nenhuma
Ve r da de pa r a s e r e ns i na da , por que v os r e uni s t odos os
di a s a os mong e s ? S e nã o t e nho l í ng ua , c omo s e r á pos s í v e l
a c ons e l ha r a out r e m a v i r e m a t é mi m? ”
“ Eu não possuo nem uma pol egada de espaço par a da r ,
por t a nt o onde pos s o c ons e g ui r uma r e uni ã o de mong e s ? E u
nã o pos s uo l í ng ua , c omo pos s o a c ons e l ha r a out r em v i r e m a
mi m? ” r e s ponde u o me s t r e .
O I nt e l e c t ua l e nt ã o e x c l a mou:
“ Como podei s pr of er i r uma t al ment i r a na mi nha
c ar a! ?! ! ”
“ Se não t enho l í ngua, ” r e t or qui u o me s t r e , “ pa r a
a c ons e l ha r os out r os c omo é pos s í v e l pr e g a r uma me nt i r a ? ”
De s e s pe r a do e m c onf us ã o, di s s e T a o - k wa ng :
“ NÃO POSSO SEGUI R VOSSO RACI OCÍ NI O! ! ! ”
“ Nem eu t ampouco. . . ” concl ui u o mest r e.
133. Poeira
134. Carroça
T oda s a s v e z e s que Pa i - c ha ng ( Hy a k uj o) f a z i a pr e l e ç õe s
s obr e o Z e n um v e l ho home m a s a s s i s t i a , de s pe r c e bi do
pe l os mong e s . Ao f i na l de c a da pa l e s t r a , e l e pa r t i a j unt o
c om os mong e s . Ma s um di a e l e pe r ma ne c e u a pós a pa r t i da
de t odos , e Pa i - c ha ng pe r g unt ou- l he :
“ Quem soi s vós?”
O v e l ho r e s ponde u:
“ Não sou um ser humano, mas eu er a um homem quando o
Buddha Ka s hy a pa pr e g ou ne s t e mundo. E u e r a um me s t r e Z e n
e v i v i a ne s t a s mont a nha s . Na que l a é poc a um dos me us
e s t uda nt e s me per g unt ou s e um home m i l umi na do é s uj e i t o à
l e i da Ca us a l i da de . E u l he r e s pondi : ' O home m i l umi na do
nã o é s uj e i t o à l e i da c a us a l i da de . ' De v i do a e s t a
r e s pos t a e v i de nc i a r um a pe g o à um c onc e i t o a bs ol ut o e u
t or ne i - me uma r a pos a por qui nhe nt os r e na s c i me nt os , e eu
a i nda es t ou r ena s c e ndo c omo r a pos a . Pode i s v ós me
r es gat ar de s t a c ondi ç ã o c om s ua s pa l a v r a s e as s i m
l i be r a r - me de um c or po de r a pos a ? Por f a v or , r e s ponde i s :
E s t á o home m i l umi na do s uj e i t o à l e i da c a us a l i da de ? ”
Pa i - c ha ng di s s e :
“ O homem i l umi nado é uno com a l ei da caus a l i da de ” .
Ao ouv i r as pa l a v r a s de Pa i - c ha ng o v e l ho a t i ng i u o
S a t or i .
“ Est ou emanci pado, ” el e di sse, pr est ando homenagem ao
me s t r e c om uma pr of unda i nc l i na ç ã o. “ Nã o s ou ma i s uma
r a pos a , ma s e u de v o de i x a r me u c or po e m me u l oc a l de
r e s i dê nc i a a t r á s de s t a mont a nha . Por f a v or , pe ç o- v os que
r e a l i z e i s me u f une r a l na c ondi ç ã o de um mong e . ” E e nt ã o
de s a pa r e c e u.
No di a s e g ui nt e Pa i - c ha ng de u uma or de m por i nt e r mé di o
do mong e - pr i nc i pa l pa r a que s e pr e pa r a s s e um f une r a l pa r a
um mong e .
“ Mas ni nguém est á mor i bundo no hos pi t a l , ” que s t i ona r a m
os mong e s . “ O que o me s t r e pr e t e nde ? ”
Após o j a nt a r Pa i - c ha ng l i de r ou os mong e s pa r a f or a do
t e mpl o e e m t or no da mont a nha . E m uma c a v e r na e l e e s e u
g r upo de mong e s r e t i r a r a m o c a dá v e r de uma r a pos a e e nt ã o
r e a l i z a r a m o r i t o f une r a l de c r e ma ç ã o.
Na que l a noi t e Pa i - c ha ng f a l ou pa r a s e us mong e s e
c ont ou- l he s a e s t ór i a s obr e a l e i da c a us a l i da de .
Hua ng - po ( Oba k u) , a pós ouv i r a e s t ór i a , pe r g unt ou
ous a da me nt e a Pa i - c ha ng :
“ Eu ent endo que há mui t o t empo at r ás, devi do a uma
c e r t a pe s s oa t e r da do uma r e s pos t a Z e n er r a da e l a t or nou -
s e uma r a pos a por qui nhe nt os r e na s c i me nt os . Ma s e u
pe r g unt a r i a : s e a l g um me s t r e a t ua l f or que s t i ona do mui t a s
v e z e s s obr e v á r i a s pe r g unt a s , e s e e l e s e mpr e de s s e
r e s pos t a s c e r t a s , o que l he a c ont e c e r i a ? ”
Pa i - c ha ng di s s e :
“ Apr oxi me- s e e e u l he di r e i . ”
Oba k u a pr ox i mou- s e e de u r a pi da me nt e um t a pa na f a c e do
me s t r e , por que pe r c e be u f a c i l me nt e que e s s a s e r i a a
r e s pos t a que Pa i - c ha ng pr e t e ndi a l he da r .
Pa i - c ha ng ba t e u pa l ma s e ri u mui t o di a nt e do
di s c e r ni me nt o do out r o, e d i s s e s i mpl e s me nt e :
“ Eu sempr e i magi nei que um Per sa t i vesse bar ba
v e r me l ha , e a g or a e u c onhe ç o um Pe r s a que pos s ui me s mo
uma ba r ba v e r me l ha . ”
Ce r t a v e z , Ky og e n di s s e o s e g ui nt e :
“ Zen é como um homem pendur ado num al t o gal ho de ár vor e
pe l os de nt e s , s obr e um pr e c i pí c i o. S ua s mã os nã o pode m
a l c a nç a r o g a l ho, s e us pé s nã o pode m s e a poi a r e m out r o
r a mo. Um home m s ob a á r v or e l he pe r g unt a : ' Por que
Bodhi dha r ma v e i o pa r a a Chi na da Í ndi a ? ' .
“ Se o homem na ár vor e não r esponder , el e f al ha; e se
e l e o f i z e r , e l e c a i r á e pe r de r á a v i da .
“ Assi m eu l hes per gunt o: O que deve est e homem f azer ?”
Ge t s ua n di s s e a os s e us e s t uda nt e s :
“ Kei chu, o pr i mei r o mest r e- c ons t r ut or de r oda s da
Chi na , f e z dua s r oda s c om 50. r a i os e m c a da . Ag or a ,
s uponha m que v oc ê s r e mov a m o c ubo do c e nt r o da r oda , que
une os r a i os . O que a c ont e c e r i a c om a r oda ? E s e o
pr ópr i o Ke i c hu f i z e s s e i s s o, pode r i a e l e s e r c ha ma do de
me s t r e - c ons t r ut or de r oda s ? ”
Um mong e c ha ma do S e i z e i pe di u a S oz a n, c he i o de a ut o-
pi e da de :
“ Est ou pobr e e mi ser ável . Podes me aj udar ?”
S oz a n c ha mou: “ S e i z e i ? ”
“ Si m, senhor ! ” r espondeu o out r o.
S oz a n di s s e : “ Vós pos s ui s o Z e n, o me l hor v i nho da
Chi na , e v ós j á t e r mi na s t e s de be be r t r ê s c opos c he i os .
Ai nda a s s i m e s t a i s di z e ndo que ne m s e que r s e us l á bi os
f or a m mol ha dos ! ”
T ok us a n f oi a o r e f e i t ór i o do t e mpl o c om s ua t i g e l a na s
mã os , pr ont o pa r a c ome r a l g uma c oi s a . S e ppo e s t a v a
t r a ba l ha ndo c omo o c oz i nhe i r o na que l e di a . Qua ndo v i u
T ok us a n, di s s e :
“ O t ambor das r ef ei ções ai nda não f oi t ocado. Aonde
v a i s c om v os s a t i g e l a ? ”
T ok us a n e nt ã o r e t or nou a o s e us a pos e nt os .
S e ppo f a l ou a Ga nt o s obr e o oc or r i do, e Ga nt o de c l a r ou:
“ O vel ho Tokusan na ver dade ai nda não ent ende a Ver dade
Úl t i ma ! ”
T ok us a n ouv i u o c ome nt á r i o e pe di u pa r a Ga nt o
a pr ox i ma r - s e .
“ Ouvi o que di ssest es, ” el e di sse, “ vós não apr ovai s o
me u Z e n? ”
Ga nt o a dmi t i u i s s o de f or ma i ndi r e t a . T ok us a n nã o di s s e
ma i s na da , a f a s t a ndo- s e c a l ma me nt e .
No di a s e g ui nt e , no mome nt o da pa l e s t r a , T ok us a n
e nt r ou, s e nt ou- s e , e c a l ma me nt e f a l ou s obr e um t e ma de
f or ma c ompl e t a me nt e di f e r e nt e do que nor ma l me nt e f a z i a .
Ga nt o e nt ã o r i u a l t o e ba t e u a s mã os , di z e ndo:
“ Vej o que nosso vel ho mest r e ent ende compl et ament e a
Ve r da de Úl t i ma ! Ni ng ué m e m t oda a Chi na pode s upe r á - l o
ni s s o! ”
Um mong e pe r g unt ou a F uk e t s u:
“ Sem f al ar , sem si l e nc i a r , c omo v ós pode i s e x pr e s s a r a
Ve r da de ? ”
F uk e t s u r e pl i c ou:
“ Eu sempr e me l embr o das pr i maver as no sul da Chi na.
Os pá s s a r os c a nt a m por e nt r e a s i nume r á v e i s e s pé c i e s de
be l a s e c he i r os a s f l or e s . . . ”
E m um s onho Ky oz e n f oi à T e r r a Pur a de Ma i t r e y a . E l e s e
v i u l á s e nt a do no t e r c e i r o a s s e nt o no e s t r a do de
Ma i t r e y a . Al g ué m e nt ã o a nunc i ou:
“ Hoj e aquel e que est á assent ado no t er cei r o t r ono i r á
f a z e r a Or a ç ã o! ”
Ky oz e n l e v a nt ou- s e e ba t e ndo no ma r t e l o, di s s e :
“ A ver dade do ens i na me nt o Ma ha y a na é t r a ns c e nde nt e ,
al ém da s pa l a v r a s e dos pe ns a me nt os ! Vós me
c ompr e e nde i s ? ”
155. “Eu sou Desperto”
Hog e n, do Mos t e i r o S e i r y o, e s t a v a e m v i a s de da r s ua
pa l e s t r a a nt e s do j a nt a r qua ndo pe r c e be u que a c o r t i na de
ba mbu, a ba i x a da pa r a a s e ç ã o de me di t a ç ã o, nã o t i nha s i do
l e v a nt a da . E l e a pont ou pa r a e l a , s e m f a l a r . Doi s mong e s
l e v a nt a r a m- s e da a udi ê nc i a e j unt os a l e v a nt a r a m.
Hog e n, obs e r v a ndo o mome nt o c onc r e t o, di s s e :
“ Os gest os do pr i mei r o monge são cor r et os , ma s nã o os
do s e g undo. ”
Da i ba i pe r g unt ou a Ba s o:
“ O que é Buddha?”
Ba s o di s s e :
“ Est a Ment e é Buddha. ”
159. O Fio
Um f i l ós of o pe r g unt ou a Buddha :
“ Sem pal avr as, sem si l ênci o, podei s vós r evel ar - me a
Ve r da de ? ”
O Buddha pe r ma ne c e u e m s i l ê nc i o.
O f i l ós of o a g r a de c e u pr of unda me nt e e di s s e :
“ Com vossa amável gener osi dade eu escl ar eci mi nha
I l us ã o e pe ne t r e i no v e r da de i r o c a mi nho. ”
Após o f i l ós of o t e r pa r t i do, Ana nda pe r g unt ou a o Buddha
que e l e ha v i a obt i do.
O Buddha r e pl i c ou:
“ Um bom caval o cor r e apenas à vi s ão da sombr a do
c hi c ot e . ”
162. Vivo ou Morto?
O me s t r e Da o- wu e s e u di s c í pul o J i a n- y ua n f or a m pr e s t a r
s e us pê s a me s à f a mí l i a de um a mi g o f a l e c i do. Ao v e r o
e s qui f e mor t uá r i o J i a n- y ua n pe r g unt ou a o s e u me s t r e :
“ O nosso ami go est á vi vo ou mor t o?”
“ Não é possí vel se af i r mar que el e est á vi vo ou mor t o, ”
di s s e o s á bi o s e r e na me nt e . J i a n - y ua n e r a um mong e mui t o
a g r e s s i v o e i mpa c i e nt e . Ao ouv i r t a l r e s pos t a , el e
i ns i s t i u:
“ E por que não podei s me r esponder ?”
O me s t r e r e pl i c ou:
“ Não posso f azer i sso, me é i mpossí vel . ”
J i a n- y ua n f i c ou mui t o a l t e r a do. Gr i t ou e nt ã o pa r a o
s á bi o:
“ Se não me r esponder , eu vou l he bat er ! ! ! ! ! ! ”
“ Poi s ent ão f aça- o. Ai nda a s s i m, nã o pode r e i l he
r e s ponde r , ” di s s e Da o- wu.
O out r o e nt ã o c ome ç ou a ba t e r mui t o no v e l ho s á bi o,
di z e ndo e nl ouque c i do:
“ Que t i po de mest r e és t u?! Possui o Conheci ment o e
r e c us a s a di z e r pa r a t e u di s c í pul o! F a l s o! Me nt i r os o! ”
Após a g r e di r v i ol e nt a me nt e s eu me s t r e , J i a n - y ua n
a ba ndonou- o a o c hã o, de c l a r a ndo:
“ Poi s ent ão não di ga! Vou embor a! ”
De poi s de a l g uns a nos , Da o- wu mor r e u. J i a n- y ua n, que
ha v i a pr oc ur a do out r o mes t r e - c ha ma do S hi - c hua ng , s oube
di s s o e r e s ol v e u f a z e r a me s ma pe r g unt a a o s e u me s t r e
a t ua l :
“ Soube que Dao- wu mor r e u. E s t á e l e r e a l me nt e v i v o ou
mor t o? ”
O s á bi o di s s e s e r e na me nt e :
“ Não é possí vel se af i r mar que el e est á vi vo ou mor t o. ”
Ao ouv i r i s s o, J i a n- y ua n obt e v e o S a t or i . Compr e e nde u
e nt ã o o que Da o- wu qui s l he e ns i na r . No di a s e g ui nt e
J i a n- y ua n f oi enc ont r a do a nda ndo de um l a do a out r o no
s a l ã o de me di t a ç ã o do T e mpl o, s e g ur a ndo uma e nx a da e
pa r e c e ndo pr oc ur a r a l g uma c oi s a . S hi - c hua ng pe r g unt ou-
l he :
“ O que f azes?”
J i a n- y ua n de c l a r ou, f i r me me nt e :
“ Pr ocur o os r e s t os mor t a i s do g r a nde Me s t r e Da o - wu! ”
S hi - c hua ng c ome nt ou:
“ O oceando é vast o, suas ondas br ancas i nundam o céu.
Que r e s t os há pa r a bus c a r ? ”
J i a n- y ua n r e s ponde u:
“ Esf or ço- me na Bus c a da me l hor ma ne i r a que pos s o. ”
L i - k ' u, a l t o of i c i a l do g ov e r no da di na s t i a T ' a ng ,
pe r g unt ou a Na n- c hua n:
“ Há mui t o t empo um homem mant i nha um gans o de nt r o de
uma g a r r a f a . E s t e c r e s c e u t a nt o que nã o podi a ma i s s a i r
da g a r r a f a . O home m de s e j a v a r e t i r á - l o, ma s nã o de s e j a v a
que br a r a g a r r a f a ne m f er i r o g a ns o. Como pode r í e i s f a z e r
c om que s a í s s e da g a r r a f a ne s t a s c ondi ç õe s ? ”
O s á bi o r e pe nt i na me nt e g r i t ou:
“ Li - k ' u! ! ”
L i - k ' u r e s ponde u, a s s us t a do:
“ O que f oi ?! ”
O me s t r e di s s e , a f a s t a ndo- s e :
“ O ganso j á est á f or a. ”
Ce r t o di a , um di s c í pul o pe r g u nt ou a o mong e Pa - l i ng :
“ Há al guma di f er ença ent r e o que di sser am os pat r i ar cas
e o que e s t á e s c r i t o nos S ut r a s s a g r a dos ? ”
O s á bi o r e s ponde u:
“ Quando f i ca f r i o, os f ai sões empol er am- s e nos g a l hos
da s á r v or e s , e os pa t os me r g ul ha m s ob a á g ua . . . ”
Ce r t a v ez , o me s t r e Zen F a - y un di s s e a os s e us
di s c í pul os :
“ Suponham que est ej am em uma si t uação na qual , se
a v a nç a r e m pe r de r ã o o T a o [ o s e nt i do da Vi da ] , se
r e c ua r e m, pe r de r ã o o Mundo [ a v i v ê nc i a Cot i di a na ] , e s e
nã o s e mov e r e m, t e r ã o de mons t r a do uma i g nor â nc i a t ã o
g r a nde qua nt o a de uma pe dr a . O que f a r i a m? ”
Um dos mong e s , c onf us o, di s s e :
“ Nest e caso, como evi t ar par ecer i gnor ant e?”
O Me s t r e r e s ponde u:
“ Abandonem o Apego e a Aver são, e sai bam r eal i zar t odo
s e u pot e nc i a l . ”
“ Mas, ” r epl i cou out r o mong e , ” ne s t e c a s o, c omo e v i t a r
pe r de r o T a o ou o Mundo? ! Ambos s ã o f unda me nt a i s . Como
pode mos ex i s t i r i g nor a nt e s do S e nt i do da Vi da , ou
i g nor a nt e s da ma r a v i l ha da E x i s t ê nc i a Cot i di a na ? ”
O s á bi o de c l a r ou, e nf i m:
“ Avancem e r ecuem ao mesmo t empo, com f l ui dez e
humi l da de ! ”
169. Entender
Os me s t r e s Da - y u e Y u- t a ng a c e i t a r a m o c onv i t e pa r a
e ns i na r um a l t o of i c i a l i mpe r i a l s obr e o Z e n. Ao c he g a r
Y u- t a ng a pr e s s ou- s e e m di z e r , pol i t i c a me nt e :
“ Vós par ecei s um homem i nt el i gent e e r ecept i vo, e i sso
é mui t o bom! Cr e i o que s e r i a s um bom a pr e ndi z Z e n. ”
Ma s Da - y u r e pl i c ou, s e m pr e oc upa r - s e c om s ua v i da de s :
“ O que di zei s?! Est e t ol o pode t er uma al t a posi ção,
ma s nã o pe r c e be r i a o Z e n ne m s e e s t e l he c a í s s e na
c a be ç a ! ”
O of i c i a l , a pós ouv i r os c ome nt á r i os , di s s e :
“ Ouvi ndo o que ouvi , agor a sei o que f azer par a
e nt e nde r o Z e n. ”
A pa r t i r de e nt ã o, t or nou- s e e s t uda nt e s ob a or i e nt a ç ã o
de Da - y u. . .
172. Transitoriedade
Ce r t a v e z um budi s t a l e i g o c ha ma do Pa ng f oi v i s i t a r
Y a o- s ha n. Qua ndo e s t a v a i ndo e mbor a , o me s t r e pe di u a
doi s hós pe de s do mos t e i r o:
“ Por f avor , acompa nhe m- no a t é o por t ã o. ”
Ao s a i r pe l a por t ã o, Pa ng pe r c e be u que c ome ç a v a a
ne v a r . Ma r a v i l ha do, c ome nt ou pa r a s e us c ompa nhe i r os :
“ Ah, que l i ndo, vej am est es f l ocos de neve! Todos
c a i ndo no l ug a r c e r t o! ”
Um dos pr a t i c a nt e s , r i u- s e a r r og a nt e me nt e e r e pl i c ou,
de boc ha do:
“ Ah! E onde dever i am cai r exat ament e f l ocos de neve?”
Pa ng v i r ou- s e e e x c l a mou:
“ I DI OTA! Ol he par a você! Seus ol hos vêem como um cego e
s ua boc a f a l a c omo um mudo! E a i nda s e c ons i de r a um
pr a t i c a nt e Z e n! ”
Koa n: Qua l o de s t i no do que é i mpe r ma ne nt e e r e l a t i v o?
176. Autopiedade
177. Entender
T oz a n pe r g unt ou a s e u me s t r e Ung a n:
“ Quem pode ent ender o ensi nament o das coi sas não
s e ns í v e i s ? ”
Ung a n r e s ponde u:
“ Só as coi sas não sensí vei s pode m e nt e nde r o
e ns i na me nt o da s c oi s a s nã o s e ns í v e i s . ”
T oz a n e nt ã o que s t i onou:
“ Par a assi m me r esponder vós ent endest es ou
e x pe r i me nt a s t e s e s t e e ns i na me nt o? ”
Ung a n a f i r mou:
“ Se eu pudesse ent endê- l o, t u nã o o pode r i a s . ”
Ba s o e s e us t r ê s di s c í pul os , Hy a k uj o, Na ns e n e Chi z u ( o
nome de s t e úl t i mo s i g ni f i c a “ a r ma z é n de S a be dor i a ” ) ,
c ont e mpl a v a m, j unt os , a be l a l ua de Out ono.
Hy a k uj o di s s e :
“ Est a é uma noi t e i deal par a r eal i zar - s e uma c e r i môni a
buddhi s t a ! ”
Na ns e n di s s e :
“ Est a noi t e é per f ei t a pa r a f a z e r z a z e n. ”
Ma s Chi z u na da di s s e . Cont e mpl a v a , c om um s ua v e
s or r i s o, a be l a l ua na que l a l i nda noi t e . . .
O Me s t r e Ba s o e nt ã o c ome nt ou:
“ O Sut r a acabou de pr eencher o “ ar mazén de Sabedor i a” .
De poi s r e t or nou a o Oc e a no, a o Uni v e r s o. . . ”