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MEDITAÇÃO
NA AÇÃO
— O grande despertar da mente —
UNIVERSALISMO
Sumário
Ele recebeu então as instruções deste seu Guru, que as passou, talvez, com
bastante relutância. A prática ascética lhe foi apresentada por um Rishi e
ensinaram-lhe a sentar-se com as pernas cruzadas, a empregar as sete posturas
da Ioga, e a praticar exercícios de respiração iogue. No início as coisas eram tão
novas para ele que representavam quase que um jogo. Ele também apreciava a
sensação de realização por ter finalmente conseguido abandonar os seus bens
mundanos para adotar esse maravilhoso modo de vida. A lembrança da esposa
e do filho e dos pais permanecia forte em sua mente, o que deve ter perturbado
a sua prática de ioga, porém parecia não haver nenhuma maneira de controlar a
mente. Os iogues nunca lhe disseram nada, a não ser que seguisse a prática
ascética.
Depois de alguns anos, Buddha resolveu partir. Em certo sentido ele havia
aprendido muito, porém havia chegado a época de dizer adeus a seus mestres,
os Rishis indianos, e seguir sozinho. Ele se dirigiu a um local bem distante
daquele, embora ainda à margem do rio Nairanjana, e sentou-se sob um pipal
(que também é conhecido como a árvore de Bodhi). Ele permaneceu ali por
longos anos, sentado numa grande pedra, comendo e bebendo muito pouco. Ele
não fez isso porque julgasse necessário seguir a prática de ascetismo rigoroso,
mas porque sentiu que era preciso ficar sozinho e descobrir as coisas por si
mesmo, em vez de seguir o exemplo de outra pessoa. Ele deve ter chegado às
mesmas conclusões por meio de diferentes métodos, porém não é esse o
problema. A questão é que o que quer que alguém esteja tentando aprender, é
necessário que tenha a experiência de modo direto, em vez de extraí-la de livros
ou de mestres, ou apenas com a adaptação a um padrão já estabelecido. Foi
isso que ele descobriu e, nesse sentido, Buddha foi um grande revolucionário na
sua maneira de pensar. Ele negou até mesmo a existência de Brahma, ou Deus,
o Criador do mundo. Ele se propôs a não aceitar nada que não tivesse primeiro
descoberto por si mesmo. Isso não quer dizer que ele tenha menosprezado a
grande e antiga tradição da Índia. Ele a respeitava muito. Sua atitude não era
anarquista em nenhum sentido negativo, nem revolucionária como o comunismo.
Sua revolução era real e positiva. Ele desenvolveu o lado criativo da revolução:
não se trata da tentativa de obter ajuda de nenhuma outra pessoa, mas sim de
descobrir por si próprio. O budismo é talvez a única religião que não está
baseada na revelação de Deus, nem na fé e na devoção a Deus ou a deuses de
qualquer espécie, Isso não significa que Buddha fosse um ateu ou um herege.
Ele nunca discutiu doutrinas teológicas ou filosóficas. Ele ia diretamente ao
âmago do assunto, ou seja, como ver a Verdade. Nunca perdeu tempo com
especulações inúteis.
Buddha descobriu que não existe algo como o “Eu”, o Ego. Poderíamos dizer,
talvez, que não há algo como “sou”, “Eu sou”. Ele descobriu que todos esses
conceitos, idéias, esperanças, receios, emoções e conclusões são criados a
partir dos nossos pensamentos especulativos, das nossas heranças
psicológicas, da nossa educação e assim por diante. Tendemos apenas a
colocá-los todos juntos, o que é causado, em parte, é evidente, pela falta de
qualificação do nosso sistema educacional. Dizem-nos o que pensar, em vez de
nos ensinarem como realizar buscas verdadeiras em nosso íntimo. Dessa forma,
como o ascetismo significa a experiência da dor física, não é de forma alguma
uma parte essencial do budismo. O importante é transcendermos o padrão de
conceitos mentais que formamos. Isso não quer dizer que tenhamos de criar um
novo padrão ou tentar ser particularmente não-convencionais e sempre ficarmos
sem almoçar e tudo o mais. Não temos de virar tudo de cabeça para baixo em
nosso padrão de comportamento e no modo como nos apresentamos às outras
pessoas. Isso também não resolveria especificamente o problema. A única
maneira de resolver o problema é examinando-o por completo. Desse ponto de
vista temos determinado desejo — ou nem mesmo algo tão forte como um desejo
— temos mais um sentimento de desejar se conformar com alguma coisa. Aliás,
nem pensamos sobre isso, somos apenas levados a isso. Dessa forma, é
necessário introduzir a idéia da conscientização. Podemos então nos indagar
todas as vezes, e podemos ir além das meras opiniões e das supostas
conclusões de bom-senso. Temos de aprender a ser cientistas qualificados e a
não aceitarmos nada. Tudo deve ser visto através do nosso próprio microscópio
e temos de chegar às nossas próprias conclusões, e do nosso modo. Até que
façamos isso, não há Salvador, nem Guru, nem bênçãos e orientação que
possam servir de auxílio.
É natural que sempre exista este dilema: se não há ajuda, então o que somos?
Não somos nada? Não estamos tentando atingir algo mais elevado? O que é
esse algo mais elevado? O que é, por exemplo, o estado de buddha? O que é a
Iluminação? Representam algo, não representam? Bem, temo não ser de fato
uma autoridade para responder a isso. Sou apenas um dos viajantes, como
todas as outras pessoas aqui. Porém, a partir da minha experiência própria — e
o meu conhecimento é, como descreve a Escritura —, “como um único grão de
areia no Ganges” — eu diria que quando falamos de coisas “mais elevadas”
predispomo-nos a pensar em termos do nosso próprio ponto de vista, uma
versão maior de nós mesmos. Quando falamos de Deus, inclinamo-nos a pensar
em função da nossa própria imagem, apenas maior, colossal, uma espécie de
expansão de nós mesmos. É como nos olharmos num espelho de aumento:
ainda pensamos em termos de dualidade. Eu estou aqui, Ele está ali. Assim, a
única forma de nos comunicarmos é tentar pedir Sua ajuda. Podemos sentir,
algumas vezes, que estamos entrando em contato, porém de certa forma nunca
podemos realmente nos comunicar dessa maneira. Nunca podemos alcançar a
união com Deus, porque existe um conceito fixo, uma conclusão pré-fabricada,
que já aceitamos e estamos apenas tentando colocar essa coisa enorme num
recipiente menor. Não podemos fazer um camelo passar pelo buraco de uma
agulha, de forma que temos de encontrar outros meios. A única maneira de fazer
isso é retornar à mera simplicidade de nos analisarmos. Isso não é uma questão
de tentarmos ser “religiosos”, ou de assegurar que somos bondosos com o nosso
próximo, ou de dispensar o máximo possível de dinheiro à caridade, embora
essas coisas também possam ser muito boas. O ponto principal é que não
devemos simplesmente aceitar tudo como se fôssemos cegos e tentar colocar
as coisas no escaninho certo, e sim tentar ver tudo primeiro a partir da nossa
experiência.
Isso nos traz à prática da meditação, o que é muito importante. Neste caso o
problema é que normalmente verificamos que os livros, os ensinamentos, as
palestras e assim por diante estão mais preocupados em provar que estão certos
do que em mostrar como a meditação deve ser feita, que é o elemento essencial.
Não estamos particularmente interessados em divulgar os Ensinamentos, mas
sim em fazer uso deles e colocá-los em ação. O mundo está se movendo tão
depressa que não há tempo para provar, mas o que quer que aprendamos,
devemos trazer, cozinhar e comer logo em seguida. A questão como um todo,
então, é que devemos ver com nossos próprios olhos e não aceitar nenhuma
tradição apresentada, como se ela possuísse algum poder mágico inerente. Não
existe nada mágico que possa nos transformar de um momento para outro. No
entanto, como temos uma mente mecanizada, sempre procuramos por algo que
funcione a um leve aperto de um botão. Existe uma grande atração pelo atalho,
e se existir algum método de profundidade que ofereça um caminho rápido,
preferiremos segui-lo a suportar jornadas árduas e práticas difíceis. Vemos
assim a verdadeira importância do ascetismo: a punição não leva a nenhum
lugar, porém algum trabalho manual e esforço físico são necessários. Se formos
a pé a algum lugar, conheceremos perfeitamente o caminho, ao passo que se
formos de automóvel ou de avião praticamente não estaremos ali, tudo se torna
apenas um sonho. De forma semelhante, para podermos ver o padrão contínuo
de desenvolvimento, temos de passar manualmente por ele. Essa é uma das
coisas mais importantes, e é onde a disciplina se torna necessária; temos de nos
disciplinar. Seja na prática da meditação ou na vida do dia-a-dia, existe a
tendência de sermos impacientes. Ao iniciarmos alguma coisa, estamos
inclinados apenas a prová-la e então abandoná-la; nunca temos tempo para
comê-la e digeri-la adequadamente e de observar o efeito posterior. É claro que
temos de experimentar por nós mesmos e descobrir se a coisa é genuína ou útil,
porém antes de descartá-la temos de avançar um pouco mais, de forma que pelo
menos obtenhamos uma experiência direta do estágio preliminar. Isso é
absolutamente necessário.
Foi isso também que Buddha descobriu; e é por isso que ele se sentou e meditou
à margem do Nairanjana durante vários anos, praticamente sem se mover do
lugar. Ele meditou a seu próprio modo, e descobriu que a única resposta era
voltar para o mundo. Quando descobriu o Estado de Vigília da mente, verificou
que levar uma vida ascética e punir a si próprio não ajudava em nada, de forma
que se levantou e foi mendigar algo para comer. A primeira pessoa que
encontrou, perto de Bodhgaya, foi uma mulher muito rica que possuía muitas
vacas. Ela lhe deu um pouco de leite condensado fervido com mel, que ele bebeu
e achou delicioso. Além disso, ele também achou que essa bebida aumentava
de forma sensível a sua saúde e a sua energia e, como resultado, ele pôde
realizar grandes progressos na prática da meditação. O mesmo ocorreu no caso
do grande iogue tibetano, Milarepa. A primeira vez que saiu e recebeu uma
refeição preparada com cuidado percebeu que ela lhe dava novas forças e foi
capaz de meditar de forma adequada.
Buddha, então, olhou à sua volta e procurou um lugar confortável para sentar,
pois havia chegado à conclusão de que sentar numa pedra era muito duro e
doloroso. Um fazendeiro lhe deu um feixe de grama kusa, e Buddha espalhou-a
ao pé de uma árvore em Bodhgaya, sentando-se ali. Ele havia descoberto que
tentar alcançar algo peta força não era a resposta e, na verdade, pela primeira
vez, aceitou o fato de que não havia nada a alcançar. Abandonou completamente
toda ambição; tomou a bebida, sentou-se e acomodou-se da forma mais
confortável possível. Nessa mesma noite, ele por fim atingiu o Sambodhi, o
Estado de total Vigília. Isso contudo não era suficiente; não tinha realmente
superado tudo. Todos os receios ocultos e tentações lhe vieram na forma de
Mara, a Maligna. Em primeiro lugar, Mara enviou as suas belas filhas para seduzi
-Io, porém sem sucesso. Depois vieram as tropas violentas de Mara, a última
tática do Ego. Buddha, porém, já havia atingido o estado de Maitri, a bondade.
Em outras palavras, ele não estava sendo apenas compassivo no sentido de
desprezar Mara como uma tola — pois Mara era a sua própria projeção — porém
tinha atingido o estado da não-resistência, o estado da não-violência, em que se
identificou com Mara. Dizem as Escrituras que cada seta de Mara se transformou
numa chuva de flores que caiu sobre ele. Assim, por fim, o Ego se rendeu e ele
atingiu o Estado de Vigília da mente. Nós mesmos podemos ter uma experiência
desse tipo, talvez num breve lampejo de lucidez e de paz — o estado aberto da
mente — mas isso não é o bastante. Temos de aprender como colocar isso em
ação, temos de utilizar isso como uma espécie de centro a partir do qual
possamos nos expandir. A pessoa tem de criar a situação em torno de si mesmo,
de forma que não tenha de dizer: “Eu sou a pessoa Desperta.” Se alguém tiver
de dizer tal coisa e demonstrá-la verbalmente, essa pessoa não estará Desperta.
Com esse exemplo podemos ver que a linguagem por si só não é o único método
de comunicação. Já existe comunicação antes de dizermos qualquer coisa,
mesmo quando se trata de um simples “Alô”, ou “Como vai você?” De certa
forma, a comunicação também continua depois que terminamos de falar. A
questão toda deve ser conduzida de um modo bastante habilidoso, devemos ser
autênticos e não egocêntricos. Nesse caso, então, o conceito de dualidade
estará ausente e o padrão correto de comunicação será estabelecido. É somente
através da experiência própria de busca que isso pode ser alcançado, e não
através da simples imitação do exemplo de outra pessoa. Nem o ascetismo, nem
qualquer outro padrão pré-concebido fornecerá a resposta. Nós mesmos temos
de efetuar o primeiro movimento em vez de esperar que ele venha do mundo
fenomenal ou de outras pessoas. Se estivermos meditando em casa e morarmos
no meio da High Street, não podemos parar o tráfego apenas porque desejamos
paz e quietude. Podemos, porém, parar a nós mesmos, podemos aceitar o
barulho: o barulho também contém silêncio. Temos de nos concentrar nele e não
esperar nada que venha do exterior, exatamente como fez Buddha. E
precisamos aceitar qualquer situação, enquanto enfrentarmos a situação, ela
sempre se nos apresentará como um veículo e poderemos fazer uso dela. Como
se diz nas Escrituras, “O Dharma é bom no começo, o Dharma é bom no meio e
o Dharma é bom no final”. Em outras palavras, o Dharma nunca se torna
desatualizado, pois fundamentalmente a situação é sempre a mesma.
2
O Adubo da Experiência
e o Campo de Bodhi
Como fazer nascer o Bodhi, o Estado de Vigília da Mente? Existe sempre uma
grande incerteza quando você não sabe como começar e parece estar
perpetuamente preso na torrente da vida. Surge uma pressão constante de
pensamentos, de pensamentos errantes e surgem todas as espécies de
confusões e todos os tipos de desejos. Se você fala em termos do homem da
rua, ele não parece ter nenhuma chance pois, com efeito, nunca é capaz de se
voltar à introspecção; a menos talvez que leia algum livro a respeito do assunto
e sinta o desejo de ingressar num modo de vida disciplinado. Mesmo assim,
parece não haver qualquer chance, nenhum modo de começar. As pessoas
tendem a fazer uma distinção muito acentuada entre a vida espiritual e a vida
cotidiana. Elas rotularão um homem de “mundano” ou “espiritual” e geralmente
fazem uma rápida e rígida divisão entre os dois. Assim sendo, se uma pessoa
falar sobre meditação, consciência e compreensão, a pessoa comum, que nunca
ouviu falar dessas coisas, obviamente não terá uma pista e provavelmente nem
mesmo estará interessada o bastante em ouvir com atenção. Devido a essa
distinção, ela achará quase impossível dar o passo seguinte e não poderá jamais
comunicar-se realmente consigo mesma ou com os outros desse modo
particular. Os Ensinamentos, as Instruções, os escritos místicos, podem ser
todos muito profundos, mas de certa forma essa pessoa nunca é capaz de
penetrá-los e chega assim a uma espécie de beco sem saída. Ou o homem
apresenta “tendências à espiritualidade” ou é uma “pessoa mundana” e parece
não haver nenhuma maneira de transpor essa lacuna. Creio ser este um dos
principais obstáculos ao nascimento do Bodhi. Também pode ocorrer que as
pessoas que se iniciaram no caminho comecem a ter dúvidas e desejem
abandoná-lo. Talvez elas possam pensar que seriam mais felizes se deixassem
a senda e permanecessem agnósticas.
Existe então algo que não flui o suficiente; não se consegue relacionar uma coisa
com a outra, e é isso que impede que façamos nascer o Bodhi. Temos então de
estudar esse problema; temos de fornecer alguma pista para o homem das ruas,
algum modo de descobrir, algum conceito que ele possa entender e que esteja
relacionado com a sua vida e ainda seja parte dela. Naturalmente, não existe
uma palavra mágica ou algo miraculoso que possa mudar de forma repentina o
seu modo de pensar. Gostaríamos que fosse possível dizer algumas palavras
apenas para iluminar alguém, mas mesmo os grandes Mestres como Cristo ou
Buddha foram incapazes de realizar esse milagre. Eles sempre tiveram de
esperar pela oportunidade certa e criar a situação adequada. Se examinássemos
o caráter da pessoa e estudássemos os seus bloqueios e dificuldades,
simplesmente avançaríamos cada vez mais, pois estaríamos tentando desatar
um nó que já está ali, e seriam necessários séculos e séculos para desfazer esse
emaranhado e essa confusão. Temos assim de fazer uma análise, partindo de
outro prisma, e começar simplesmente aceitando o caráter daquela pessoa, que
poderá ser completamente mundana e, então, escolher um aspecto específico
da sua atividade ou da sua mentalidade e utilizá-lo como uma escada, uma
âncora ou um veículo, de uma forma tal que mesmo o homem das ruas seria
capaz de fazer nascer o Bodhi. É ótimo dizer que Buddha foi uma pessoa
Desperta e que ele continua a viver na medida em que a essência de Buddha e
os Seus Ensinamentos — a Lei Universal que tudo permeia — entram em
questão, e é muito bom também tudo falar de Sangha, a mais elevada e a mais
aberta Comunidade capaz de influenciar as coisas. Todavia, a maioria das
pessoas não poderia jamais pensar em refugiar-se nesses ensinamentos. Assim
sendo, de alguma forma temos de encontrar a abordagem adequada. Sempre
descobrimos que uma pessoa tem dentro de si um caráter específico; podem
achar que ela não é inteligente e não tem personalidade, mas cada pessoa, na
verdade, tem sua qualidade particular própria. Pode ser um grande tipo de
violência, ou de preguiça, mas temos de aceitar essa característica específica e
não encará-la necessariamente como uma culpa ou um bloqueio, pois esse é o
Bodhi inerente à pessoa; é a semente, ou melhor, a total potencialidade de dar
à luz — essa pessoa já está impregnada pelo Bodhi. Como determinada
Escritura diz: “Já que a natureza de Buddha permeia todos os seres, não existe
candidato que não seja adequado.”
Nesse sentido, não existe nada que se assemelhe a uma “Doutrina Secreta” ou
um Ensinamento que seja apenas para alguns. No que se refere ao
Ensinamento, ele está sempre aberto; na verdade tão aberto, tão comum e tão
simples que está contido no caráter daquela pessoa específica. Ela poderá estar
habitualmente bêbada, ou ser quase sempre violenta, porém esse caráter é a
sua potencialidade. Para contribuir para o nascimento do Bodhi temos, em
primeiro lugar, de respeitar o caráter dessa pessoa a abrir nossos corações para
a violência nela presente. Devemos, então, procurar entendê-la bem e respeitá-
la de forma que o aspecto energético, dinâmico, da violência possa ser utilizado
como o aspecto de energia da vida espiritual. Desse modo, o primeiro passo é
dado e o elo inicial é formado. Provavelmente a pessoa se sinta muito mal, sente
que está fazendo algo errado, ou que alguma coisa não está correta. Ela poderá
sentir que tem grandes dificuldades, que tem um problema que deseja resolver.
Porém não pode resolvê-lo e, provavelmente, na sua procura por uma solução,
simplesmente substitui por outras atividades aquelas a que renunciou. Portanto,
é através de coisas simples, diretas e comuns na mente e no comportamento da
pessoa que ela chega à obtenção do Estado de Vigília da mente.
Menciona-se, com frequência, nas Escrituras que, sem teorias e sem conceitos,
não podemos sequer começar. Assim, comece com os conceitos e, em seguida,
elabore a teoria. Nesse caso, então, você esgota a teoria e gradualmente ela
cede lugar à sabedoria, ao conhecimento intuitivo e esse conhecimento, por fim,
se une à Realidade. Para começar, então, devemos aceitar e não reagir às
coisas. No caso de querermos ajudar alguém, por exemplo, existem duas
maneiras de fazê-lo: uma é que você deseja ajudá-la porque quer que ela seja
diferente, você gostaria de moldá-la de acordo com a sua idéia, você desejaria
que ela seguisse o seu caminho. Trata-se ainda de Compaixão pelo ego,
Compaixão por um objeto, enfim, Compaixão por resultados que também lhe
trarão benefícios — e isso não é de fato a verdadeira Compaixão. Esse plano de
ajuda a outras pessoas pode ser muito bom; contudo, a abordagem emocional
de querer salvar o mundo e trazer paz não é suficiente; tem de existir mais do
que isso, tem de haver mais profundidade. Dessa forma, temos de começar por
respeitar conceitos e, então, construir a partir daí; embora, na verdade, os
conceitos nos Ensinamentos budistas sejam geralmente encarados como um
obstáculo. Porém, ser um obstáculo não significa que isso evite alguma coisa. É
um obstáculo e também é o Veículo — é tudo. Assim sendo, temos de prestar
especial atenção aos conceitos.
Temos de respeitar o padrão que flui até hoje de todas as nossas vidas passadas
e da primeira parte da nossa vida atual; nelas há um padrão admirável. Já existe
uma corrente muito forte onde muitos regatos se encontram num vale; e esse rio
é muito bom; esse rio contém essa poderosa corrente que corre ao longo dele.
Portanto, em vez de tentar obstruí-la, devemos nos juntar a essa corrente e fazer
uso dela. Isso não significa que devemos continuar a colecionar esses elementos
para sempre. Quem quer que fizesse isso, careceria de consciência e de
sabedoria, não teria compreendido a idéia de ajuntar adubo. Essa pessoa
poderia recolhê-lo e, ao saber que ele existe, por ter tomado conhecimento dele,
alcançar determinado ponto e entender que esse adubo está pronto para ser
usado.
Existem essas duas maneiras possíveis, e talvez possa haver alguma confusão
entre as duas. Contudo, se uma pessoa for habilidosa o suficiente — não
necessariamente inteligente —, porém bastante habilidosa e muitíssimo paciente
para peneirar o seu lixo e estudá-lo por completo, então ela será capaz de usá-
lo. Dessa maneira, voltando ao assunto dos conceitos, que é um exemplo muito
importante, a idéia aí subjacente é desenvolver uma perspectiva positiva e
reconhecer a sua grande riqueza. Após haver reconhecido os nossos conceitos
e as nossas idéias, temos também, num certo sentido, de cultivá-los. Inclinamo-
nos a fazer uma tentativa e depois abandoná-los ou jogá-los fora, porém,
deveríamos cultivá-los, não no sentido de ler mais livros, ou de participar de mais
discussões e debates filosóficos — isso seria o outro caminho, o caminho do
amigo que tinha os negócios — mas simplesmente, desde que já possui riqueza
suficiente, examinar os conceitos, assim como faz uma pessoa que deseja
comprar alguma coisa e tem primeiro de verificar quanto dinheiro possui. É como
voltar aos seus velhos diários, estudá-los e observar suas diferentes fases de
desenvolvimento; ou subir ao sótão, abrir todas as caixas velhas e descobrir as
velhas bonecas e os velhos brinquedos que lhe foram dados quando tinha três
anos, e observá-los e examiná-los com as suas associações. Desse modo, você
chega a uma completa compreensão do que você é, e isso é mais importante do
que a criação contínua. O que importa na Realização não é só tentar conseguir
e entender o Estado de Vigília e fingir não entender o outro lado, porque isso se
torna um modo de enganar-se a si mesmo. Veja bem, você é o seu melhor amigo,
o seu único amigo mais íntimo, você é a melhor companhia para você mesmo.
Conhecemos nossas próprias fraquezas e incoerências, sabemos o quanto já
erramos, sabemos de tudo isso com detalhes, de forma que não adianta fingir
que não sabemos, ou tentar não pensar nesse lado e pensar apenas no lado
bom; isso ainda significaria estarmos guardando o nosso lixo. Se você o
estocasse assim, não teria adubo suficiente para produzir uma colheita nesse
maravilhoso campo de Bodhi. Você deveria então examinar-se e estudar-se com
firmeza retornando à infância e, naturalmente, no caso de você possuir a grande
habilidade de retornar às suas vidas passadas, deveria fazê-lo e tentar
compreendê-las.
Existe também uma história a respeito de Brahma, que veio um dia ouvir Buddha
pregar, e Buddha perguntou: “Quem é você?” Brahma, pela primeira vez,
começou a se observar e a voltar-se para dentro de si mesmo (Brahma
personificando o Ego) e quando pela primeira vez olhou para dentro de si
mesmo, não pôde suportar a visão. Ele disse: “Sou Brahma, o Grande Brahma,
o Supremo Brahma.” Buddha então perguntou: “Por que você vem me ouvir?”
Brahma disse: “Não sei.” Buddha então disse-lhe: “Olhe para o seu passado.”
Brahma, com sua maravilhosa habilidade de ver suas inúmeras vidas passadas,
olhou; e não pôde suportá-lo. Ele simplesmente prostrou-se diante de Buddha e
chorou. Buddha então disse: “Bem executado, bem executado, Brahma! Isso é
bom.” Veja bem, essa era a primeira vez que Brahma havia usado sua
maravilhosa habilidade de vislumbrar o seu passado distante e, assim,
finalmente ele viu as coisas com clareza. Isso não quer dizer que uma pessoa
tenha de sucumbir e se sentir mal a esse respeito, porém é muito importante
verificar e examinar tudo de modo que nada fique inexplorado. Ao começarmos
a partir daí, obtemos uma visão global da questão — como uma vista aérea que
abrange toda a paisagem, todas as árvores, a estrada e todo o resto — sem que
exista coisa alguma para alegarmos que não estamos vendo.
Dessa forma, sua luta constante poderá ser muito lenta, porém Milarepa diz:
“Apresse-se devagar e você chegará logo.” Nessa ocasião, a teoria já não é mais
teoria. Bem, é também uma espécie de imaginação. Inúmeras coisas imaginárias
surgem; e essa imaginação pode até ser um tipo de alucinação, mas novamente,
não a abandonamos. Não encaramos esse tipo de alucinação como uma trilha
errada, como se tivéssemos de voltar ao caminho certo; na verdade, usamos a
imaginação. Assim, a teoria traz a imaginação, que é o começo do conhecimento
intuitivo. Descobrimos, então, que possuímos um grande potencial imaginativo
e, assim, continuamos, gradualmente, passo a passo. No estágio seguinte,
vamos além da imaginação — e isso não é, em absoluto, uma alucinação. Existe
algo em nós que é mais real que a simples imaginação, embora seja por ela
colorido. Esse algo é de certa forma ornamentado por esse tipo de contorno
imaginário mas, ao mesmo tempo, existe alguma coisa nele. É como ler uma
obra de literatura infantil, por exemplo; o livro é escrito para crianças e é
completamente imaginário, mas também existe algo nele. Talvez o autor
simplifique sua experiência, ou tente ser infantil, de modo que encontremos
alguma coisa nele. Aliás, o mesmo é válido para qualquer história. Essa
imaginação não é alucinação apenas, mas sim verdadeira imaginação. Se
olharmos novamente para a teoria, ou se remontarmos aos primeiros passos que
tomamos, tudo poderá parecer um pouco cansativo ou mesmo desnecessário,
mas isso não é verdade. Não perdemos tempo em absoluto.
Você espalhou o adubo sobre o campo de maneira uniforme e agora é chegada
a ocasião de semear e esperar que venha a colheita. Essa é a primeira
preparação, e estamos prontos para descobrir; e a descoberta já está a caminho.
Muitas perguntas gostaríamos de fazer e muitas coisas ainda não estão certas.
Porém, na verdade, não precisamos de fato fazer quaisquer perguntas nesse
estágio; talvez necessitemos apenas de outra pessoa para nos dizer que isso é
assim, embora a resposta já esteja em nós. A pergunta é como a primeira
camada, como a casca da cebola e, quando você a remove, a resposta está ali.
Isso é o que o grande lógico e filósofo do budismo, Asanga, descreveu como “A
Mente Intuitiva”. Na mente intuitiva, se estudarmos a verdadeira lógica,
descobriremos que as respostas — e a atitude do oponente — estão em nós.
Dessa maneira, não temos de procurar a resposta, porque a pergunta já a
contém em si. É uma questão de penetrar mais a fundo nela; esse é o verdadeiro
significado da lógica. Nessa fase alcançamos uma espécie de sentimento; a
imaginação se torna um tipo de sentimento; e, com esse sentimento, é como se
tivéssemos alcançado o vestíbulo.
3
Transmissão
Assim, após toda a sua preparação, você finalmente está pronto para fazer
nascer o Bodhi; e o próximo passo é procurar um Guru, um Mestre, e pedir que
ele lhe mostre o Estado de Vigília — como se ele possuísse a sua riqueza. É
como se alguma outra pessoa estivesse de posse dos seus pertences e você lhe
pedisse que os devolvesse. Bem, é assim mesmo na verdade, porém temos de
passar por esse ritual. Depois que você lhe pedir, o Mestre o instruirá. Isso é o
que sé conhece por “Transmissão”. O termo “Transmissão” ou “Abhisekha” é
usado particularmente nos ensinamentos Vajrayana e nos da Ioga budista. É
muito usado na tradição tibetana e também na tradição Zen. A Transmissão não
significa que o Mestre esteja conferindo o conhecimento dele a você — isso seria
impossível, pois nem mesmo Buddha poderia fazê-lo. O importante, porém, é
que paramos de colecionar ainda mais coisas, e conseguimos jogar fora o que
temos. Para evitar juntar mais coisas, para evitar a sobrecarga do Ego, é
necessário pedir a alguma outra pessoa que nos dê alguma coisa, de maneira
que você sinta que algo está sendo dado a você. Nesse caso, você não encarará
isso como a sua riqueza que lhe está sendo devolvida, e sim como algo muito
precioso que pertence a essa pessoa. Portanto, temos também de ser muito
gratos ao Mestre; e isso é uma grande proteção contra o Ego, pois você não
considerará tudo isso como algo descoberto em você, e sim como algo que outra
pessoa lhe deu. Ela lhe dá esse presente, embora a transmissão não seja, como
já dissemos, algo dado a você, mas simplesmente descoberto em nós mesmos.
Tudo o que o Mestre pode fazer é criar a situação; ele criará a situação correta
e, devido a ela e ao ambiente, a mente do aluno também estará no estado
adequado, por ele já estar ali. É o mesmo que ir ao teatro: as coisas já estão
construídas para você — as poltronas, o palco e assim por diante — de modo
que, mesmo pelo próprio fato de entrar ali, sentimos, de forma, automática, que
estamos participando, de um evento particular. Sempre que vamos a algum lugar
ou participamos de alguma coisa, nós nos tornamos parte dela, porque o
ambiente já está criado. No caso da Transmissão, contudo, a situação pode ser
um tanto quanto diferente, mas ainda existe um determinado ambiente. O Mestre
poderá não utilizar quaisquer palavras; ou talvez ele se estenda demais na
explicação do assunto; ou ele poderá desenvolver algum tipo de cerimônia ou,
ainda, poderá fazer algo bastante ridículo.
Existe a história de Naropa, o Grande Pândita indiano, o Maha Pândita, ou
Grande Pândita da Universidade de Nalanda. Ele foi um dos quatro grandes
pânditas desse período específico da história do budismo e era conhecido como
o Grande Pândita da Índia — do mundo todo, aliás. Ele podia recitar todas as
sagradas Escrituras de cor e conhecia a filosofia e todo o resto, porém não
estava satisfeito consigo mesmo, porque estava simplesmente divulgando o que
havia aprendido; nunca havia, contudo, penetrado a fundo no assunto. Assim
sendo, um dia, quando passeava na sacada da Universidade, ele ouviu um grupo
de pedintes conversando na entrada principal. Ele os ouviu dizer que havia um
grande iogue chamado Tilopa e, quando ouviu esse nome, teve a certeza de que
esse era o Guru adequado para ele, de forma que decidiu procurá-lo. Ele
presenteou essas pessoas com comida e perguntou-lhes onde Tilopa morava.
Elas lhe disseram onde ele vivia. Mesmo assim, entretanto, teve de levar cerca
de doze meses na busca. Cada vez que pensava ter encontrado o lugar correto,
informavam-lhe que fosse a outro local. Finalmente, chegou a uma pequena
aldeia de pescadores e perguntou pelo grande iogue Tilopa. Um dos pescadores
disse: “Bem, eu nada sei a respeito de ‘um Grande iogue’, mas há um Tilopa que
mora perto do rio. Ele é muito preguiçoso e nem sequer pesca, e vive apenas do
que os pescadores jogam fora — as cabeças e as vísceras dos peixes, e tudo o
mais.” Naropa seguiu suas indicações, mas quando chegou ao lugar, tudo o que
viu foi um pedinte, uma figura de aspecto muito suave, que não parecia capaz
nem mesmo de falar. Entretanto, prostrou-se ao chão e pediu o Ensinamento.
Durante três dias Tilopa não disse nada, porém, finalmente inclinou sua cabeça.
Naropa tomou esse movimento como um sinal de que ele o havia aceito como
discípulo. Tilopa então disse: “Siga-me”, e ele o seguiu por doze longos anos e
passou por muitas privações e dificuldades durante essa época. Em determinada
ocasião, Tilopa disse que estava com muita fome. (Menciono isso porque faz
parte da Transmissão; como você vê, ele estava criando o ambiente adequado.)
Ele pediu então a Naropa que encontrasse alguma comida. Ora, Naropa era uma
pessoa muito refinada — havia nascido numa família Brahmin — mas tinha de
levar esse tipo de vida, seguindo o exemplo de Tilopa. Ele se dirigiu, então, a
uma localidade onde celebravam uma festa de casamento, ou alguma festa
especial. Primeiro tentou mendigar, mas era proibido mendigar nesse dia de
festa. Esgueirou-se para a cozinha, roubou uma tigela de sopa; depois fugiu e
levou a sopa para o seu Guru. Tilopa pareceu muito satisfeito; na verdade, era a
primeira vez que Naropa via tal expressão sorridente na face dele. Pensou:
“Bem, isso é maravilhoso. Creio que irei buscar uma segunda tigela.” Tilopa
expressou sua aprovação e disse que gostaria de outra tigela. Dessa vez, porém,
eles pegaram Naropa, o surraram, quebraram as suas pernas e os seus braços,
deixando-o caído no chão, semimorto. Alguns dias mais tarde Tilopa apareceu
dizendo: “Bem, o que há com você? Por que não voltou?” Ele parecia bastante
zangado. Naropa então disse, “Estou morrendo”. O Guru, porém, falou:
“Levante-se! Você não está morrendo, e ainda tem de me seguir durante muitos
anos.” Ele levantou sentindo-se bem e, de fato, nada havia de errado.
Em outra ocasião, eles chegaram a um profundo canal que estava infestado de
sanguessugas. Tilopa disse que desejava ir para o outro lado e pediu a Naropa
que se deitasse sobre o canal servindo de ponte. Ele, então, deitou-se na água.
Depois de Tilopa ter passado por cima dele, Naropa descobriu que o seu corpo
estava coberto por milhares de sanguessugas; e, mais uma vez, foi deixado
caído ali por vários dias. Coisas como essa aconteceram durante todo o tempo
até que, finalmente, em certo dia do último mês do décimo segundo ano, Tilopa
estava sentado ao lado de Naropa. Repentinamente, Tilopa tirou sua sandália e
golpeou o rosto de Naropa com ela. Nesse exato momento os Ensinamentos do
Mahamudra, que significam o Grande Símbolo, surgiram como um relâmpago na
mente de Naropa e ele alcançou a Realização. Depois disso, houve uma grande
festa, e Tilopa lhe disse: “Isso é tudo o que posso lhe mostrar; todos os meus
ensinamentos lhe foram transmitidos. No futuro, se alguma pessoa quiser seguir
o Caminho de Mahamudra, deverá aprender e receber instruções de Naropa.
Naropa é como um segundo Rei depois de mim.” Somente depois disso foi que
Tilopa lhe explicou os Ensinamentos com detalhes.
A fase seguinte é, talvez, uma forma mais profunda de generosidade. O que quer
dizer estarmos preparados para partilhar nossa experiência com os outros. Ora,
isso é algo bastante capcioso porque também existe o perigo de você tentar
ensinar o que aprendeu a outra pessoa; é um assunto um tanto quanto delicado.
Você poderá revelar algo, em parte, devido ao fato de gostar de falar a respeito;
pode ser bastante excitante e, talvez, você saiba mais a respeito dessa coisa do
que a outra pessoa, e deseje exibir-se! Isso é um tanto quanto capcioso.
Entretanto, a codificação desse algo em palavras — o que quer que você tenha
alcançado — e a sua transmissão a outra pessoa é o único modo de se
desenvolver. Isso se aplica de forma específica aos mestres; e para mestres
adiantados, aliás para quaisquer mestres, é necessário não apenas aprender as
coisas e guardá-las, mas sim utilizá-las e coloca-las em ação passando-as
adiante, mas sem a idéia de receber qualquer recompensa. Isso é o que se
conhece como o Dana do Dharma, onde você doa o tempo todo. É natural que
você tenha de ser muito cauteloso para não dar o presente errado para a pessoa
errada. Suponha, por exemplo, que a pessoa não aprecie muito ouvi-lo falar
sobre as suas experiências, especialmente no que diz respeito à meditação, e
assim por diante; e, se você continuar falando sobre isso, não haverá de fato
nenhum Dana. Talvez fosse mais apropriado dar outra coisa a essa pessoa que
não o Dharma. Temos de analisar isso de forma inteligente, clara e sábia; o
Prajna Paramita terá de lidar com isso. Porém, de um modo geral, temos de dar,
se desejamos receber; ocorre um processo contínuo de transformação. Existe
uma tradição no Tibete segundo a qual, se você deseja receber algum
ensinamento ou instrução, em geral terá de dar algum presente ao Guru. Isso
não significa, a propósito, que desejo arrecadar dinheiro da audiência. O conceito
aí subjacente, contudo, é o de que, quando você deseja alguma coisa — “Eu
gostaria de receber o Ensinamento. Quero saber algo” — nesse caso terá de dar
alguma coisa em troca. Isso também traz à baila o fato de você não ser um
pobrezinho completamente dependente de alguém nem se sentir humilhado
apenas por querer ajuda; isso significa que você tem algo de grande para dar.
Na tradição tibetana do budismo, quando as pessoas iam à Índia para traduzir
textos e receber ensinamentos dos Mestres indianos, passavam primeiro cerca
de dois anos recolhendo ouro por todo o Tibete. Elas sempre davam algo antes
de serem instruídas. O que realmente importa, no caso, é que temos de perceber
o valor dos Ensinamentos, embora não possamos em absoluto avalia-los em
termos de riqueza material. Temos, porém, de estar preparados para dar alguma
coisa e uma das mais importantes de todas, naturalmente, é nos desfazermos
do Ego, um dos nossos bens mais preciosos e valiosos. Temos que nos desfazer
dele. Existem determinadas práticas na tradição tibetana, como prostrações, nas
quais, antes que possamos praticar qualquer estágio posterior de meditação,
temos de fazer cem mil prostrações — isso está relacionado com a prática da
ioga budista. A idéia da prostração é render-se, entregar-se, abrir — uma espécie
de processo de esvaziamento, ou preparação do vaso ou recipiente, a fim de
poder receber. Você tem de abrir e esvaziar uma taça que já esteja cheia. Isso
é o que você terá de oferecer e, em seguida, poderá receber tudo intacto com
valor integral, com qualidade total.
Esse tipo de liberdade não pode ser criado por uma outra pessoa ou por uma
autoridade superior. Temos de desenvolver a habilidade de conhecer a situação;
em outras palavras, temos de desenvolver uma consciência panorâmica, uma
percepção que penetra em tudo, conhecer a situação naquele exato momento.
É uma questão de conhecer a situação e de abrir nossos olhos ao momento
presente, e isso não é particularmente uma experiência mística ou qualquer
coisa misteriosa, e sim apenas uma percepção direta, aberta e clara do que
existe agora. Quando uma pessoa é capaz de ver o que existe agora sem deixar-
se influenciar pelo passado ou por qualquer expectativa em relação ao futuro,
vendo apenas o próprio momento do agora, nesse momento então não há mais
barreiras, pois uma barreira só poderia surgir de associações com o passado, ou
de expectativas com relação ao futuro. Desse modo, o momento presente não
tem nenhuma barreira; então a pessoa descobre que dentro dela existe uma
grande energia, uma tremenda força para pôr em prática a paciência. Ela se
transforma num guerreiro. Quando um guerreiro vai para a guerra, ele não pensa
no passado ou nas suas experiências anteriores de guerra, nem pensa nas
consequências com relação ao futuro; apenas a enfrenta e luta, e esse é o modo
correto de ser guerreiro. De forma análoga, quando está ocorrendo um tremendo
conflito, temos de desenvolver essa energia, combinada com a paciência; e isso
é o que se conhece como a paciência correta com o olho que tudo vê: a paciência
com lucidez.
Existe uma história tibetana que conta que havia uma vez cento e um soldados,
um deles bastante jovem, era o filho do comandante. Em certa ocasião, seu pai
lhe disse: “Você parece estar atrasado. Todos os outros já selaram seus cavalos,
e você?” O jovem respondeu, dizendo: “Bem, se cem pessoas podem selar cem
cavalos tão depressa, uma pessoa, por certo, não demorará muito para fazê-lo.”
Contudo, é natural, todos haviam selado seus cavalos ao mesmo tempo, de
forma que ele foi deixado para trás. Assim se esperarmos que a situação exterior
se altere, a situação toda se inverte e descobrimos que estamos sendo
rechaçados por toda parte e derrotados. É como caminhar sobre o gelo. É claro
que, algumas vezes, podemos alterar a situação com determinadas pessoas —
talvez passando por uma série de etapas dolorosas, como fazendo queixas à
pessoa, ou tendo um trabalho enorme para explicar que uma coisa nos perturba
e que outras não são aceitáveis. Porém, quando terminamos de passar por esse
longo processo, a própria meta que estávamos tentando alcançar — ou seja, a
paz e a quietude — já desapareceu há muito tempo, e não conseguimos nada.
A situação toda, portanto, se transforma numa contínua e exaustiva rotina.
Consequentemente, a paciência é o modo de estabelecer o exemplo da paz. Se
desejássemos criar uma atmosfera tranquila em algum lugar, teríamos de
desenvolver a paciência — não apenas suportando a dor, mas vendo o lado
divertido da situação com a qual nos sentimos irritados. Se formos capazes de
ver esse aspecto particular, o aspecto irônico (que também é um aspecto
interessante), então de algum modo a situação deixará de ser irritante e não mais
se intrometerá na nossa qualidade de silêncio. O fato de sermos capazes de
aceitar a circunstância com tranquilidade, com calma, é o primeiro passo no
sentido de criar um clima de paz e uma atmosfera de tranquilidade; nesse caso,
alguém poderá senti-la mesmo sem falar nada.
Onde existe o conceito de um Ser “mais elevado”, exterior, existe também uma
personalidade interior — que é conhecida como “Eu” ou Ego. Nesse caso, a
prática da meditação torna-se um meio de desenvolver a comunicação com um
Ser exterior. Isso significa que nos sentimos inferiores e estamos tentando
estabelecer contato com algo mais elevado. Essa meditação tem por base a
devoção. Essa é uma prática de meditação basicamente interior ou introvertida,
muito conhecida nos ensinamentos hindus, onde a ênfase está no fato de
chegarmos ao estado interior de samadhi, de chegarmos às profundezas do
coração. Encontramos uma técnica semelhante praticada nos ensinamentos
ortodoxos do cristianismo, onde se faz uso da prece do coração e se enfatiza a
concentração no coração. Esse é um modo de nos identificar mos com um Ser
exterior e há a necessidade de nos purificarmos. A crença fundamental é a de
que estamos separados de Deus, mas que ainda existe um elo, que ainda somos
parte Dele. Às vezes surge essa confusão e, para esclarecê-la, temos de
trabalhar interiormente e tentar elevar o padrão de individualidade a um nível
superior de consciência. Essa abordagem utiliza práticas emocionais e
devocionais que visam fazer contato com Deus, com os deuses ou com algum
santo específico. Essas práticas devocionais poderão incluir também a recitação
de mantras.
Esse é o modelo básico desse tipo de meditação, que está baseado em três
fatores fundamentais: primeiro, não se centralizar interiormente; segundo, não
deixar-se dominar por nenhum desejo de se tornar mais elevado; e, terceiro,
identificar-se completamente com o aqui e o agora. Esses três elementos
acompanham todo o período da prática da meditação, desde o início até o
momento da realização.
R. Bem, temos de começar por trabalhar o aspecto relativo, até que, por fim,
esse momento presente absorva tal qualidade de vida que não dependa mais de
um modo relativo de expressar o agora. Poderíamos dizer que esse momento
existe sempre, além da idéia da relatividade. Porém, como todos os conceitos
estão baseados na idéia da relatividade, é impossível descobrir palavras que
transcendam isso. Assim sendo, o agora é a única maneira de ver a coisa de
forma direta. Primeiro, ele está entre o passado e o futuro — é o agora. Depois,
gradualmente, descobrimos que o agora não depende, em absoluto, da
relatividade; descobrimos que o passado não existe, que o futuro não existe e
que tudo acontece agora. De modo semelhante, para expressar o espaço,
poderíamos ter primeiro de criar um vaso e, depois, quebra-lo; aí então veríamos
que o vazio dentro do vaso é o mesmo que o vazio que há do lado de fora. Esse
é todo o sentido dessa técnica. A princípio, o agora, de certa forma, não é
perfeito. Poderíamos até dizer que a meditação não é perfeita, que ela é apenas
uma prática inventada pelo homem. Sentamo-nos, tentamos ficar imóveis,
tentamos nos concentrar na respiração, e assim por diante. Mas, depois de
termos começado dessa forma, descobrimos gradativamente algo além disso.
Desse modo, o esforço que temos de envidar — na descoberta do agora, por
exemplo — não seria perdido, embora, ao mesmo tempo, possamos ver que
esse esforço foi bastante tolo; esse, porém, é o único modo de começar.
R. Isso vem de forma natural, pois não é possível começar sem o Ego; e o Ego
não é essencialmente mau. Na verdade, o bem e o mal não existem em lugar
algum; são coisas secundárias, apenas. O Ego, de certa forma, é uma coisa
falsa, mas não é necessariamente mau. Você tem de começar com o Ego, fazer
uso dele e, a partir daí, ele se desgasta, aos poucos, como um par de sapatos.
Você terá porém, de usá-lo e gastá-lo totalmente, de forma que não seja
preservado. Se, pelo contrário, você tentar colocar o Ego de lado e começar
perfeito, poderá tornar-se cada vez mais perfeito de uma maneira unilateral;
todavia, a mesma quantidade de imperfeição estará se acumulando do outro
lado, do mesmo modo que uma luz intensa cria também uma escuridão intensa.
R. Em que sentido?
R. O Ego, como já disse, é como uma bolha. Até certo ponto é um objeto porque,
embora não exista de fato — trata-se de uma coisa transitória —, na verdade,
mostra-se mais como um objeto do que na realidade o é. Esse é um outro modo
de não tentarmos manter o Ego.
R. É.
R. Sim, é isso mesmo. Em certo sentido, o Ego é sabedoria, porém ele também
é ignorante. Veja bem: quando você perceber que é ignorante, esse será o início
da descoberta da sabedoria — será a própria sabedoria.
R. Bem, meditar é lidar com o objetivo em si. Não que a meditação tenha um
objetivo, mas ela lida com o objetivo. De um modo geral, temos um objetivo em
tudo o que fazemos: algo acontecerá no futuro; logo, o que vou fazer agora é
importante. Tudo está relacionado com isso. Contudo, a idéia da meditação é a
de desenvolver um modo inteiramente novo de lidar com as coisas, de modo a
não ter nenhum objetivo. Na verdade, a meditação lida com a questão da
existência ou não de algo como o objetivo. Quando aprendemos uma maneira
diferente de lidar com a situação, não precisamos mais ter um objetivo. Não
estamos mais nos dirigindo para algum lugar; ou melhor, estamos a caminho e,
ao mesmo tempo, chegamos ao destino. É para isso que a meditação existe.
P. O senhor diria, então, que isso seria uma fusão com a realidade?
R. Sim, porque a realidade está ali o tempo todo. A realidade não é uma entidade
separada, sendo, dessa forma, uma questão de se tornar um com a realidade,
ou de estar na realidade — não de atingir a unidade, mas de identificar-se com
ela. Já somos parte dessa realidade e, assim, tudo o que resta a fazer é eliminar
a dúvida. Nesse caso, descobrimos que estivemos ali o tempo todo.
P. Seria correto descrever isso como a constatação de que o visível não é uma
realidade?
R. Bem, creio que isso nos traz de volta ao problema do Ego, a respeito do qual
estivemos falando. Veja bem: de certa forma, existe algo que podemos chamar
de personalidade, mas não somos realmente indivíduos separados do ambiente,
ou separados dos fenômenos exteriores. É por isso que uma abordagem
diferente se torna necessária. Ao passo que, se fôssemos indivíduos e não
tivéssemos qualquer ligação com o restante das coisas, então não haveria
necessidade de uma técnica diferente que levasse à unidade. A questão é que
existe uma aparência de individualidade, mas essa individualidade está baseada
na relatividade. Se a individualidade existe, a unidade também tem de existir.
R. Não, mas ele é excepcional, e isso é o que importa. É possível que exista um
modo, e, em essência, não podemos transmitir ou conferir nada a ninguém.
Temos de descobrir as coisas dentro de nós mesmos. Assim, em alguns casos
talvez, as pessoas possam fazer isso. Porém, apoiarmo-nos em nós mesmos é
algo de certa forma semelhante ao caráter do Ego, não é? Acabamos por ficar
num terreno um tanto quanto perigoso; tudo poderia facilmente se tornar uma
atividade do Ego, pois já existe o conceito do “Eu” e, então, desejamos nos
apoiar mais nesse aspecto. Creio — e isso poderá parecer pouco mas, na
verdade, é tudo — que aprendemos a nos entregar gradualmente, e que a
rendição do Ego é algo muito grande. O mestre também age como uma espécie
de espelho; ele devolve o nosso próprio reflexo. Pela primeira vez, portanto, você
poderá ver o quão bonito, ou o quão feio você é.
De um modo geral, a instrução da meditação não pode ser fornecida numa aula;
tem de haver um relacionamento pessoal entre mestre e aluno. Existem também
determinadas variantes dentro de cada técnica básica, assim como na
consciência da respiração. Talvez, porém, eu devesse mencionar rapidamente
o método básico de meditação e, então, se você deseja continuar, tenho a
certeza de que poderá fazê-lo e receber outras instruções de um mestre de
meditação.
É natural que esse conhecimento teórico seja muito interessante. Podemos falar
bastante sobre ele — existem muitas palavras envolvidas — e há um grande
prazer em falar sobre ele com as outras pessoas. Podemos passar horas e horas
falando, discutindo e tentando demonstrar nossa teoria e provar sua validade.
Até mesmo desenvolvemos uma espécie de atitude evangélica, tentando
converter outras pessoas à nossa descoberta por estarmos inebriados por ela.
Se você puder ser tão aberto assim, então sem dúvida aprenderá alguma coisa
— isso eu posso garantir, não porque eu seja uma autoridade para dizê-lo, mas
porque se trata de um fato. Isso foi experimentado durante milhares de anos,
testado e posto em prática por todos os grandes Adeptos do passado. Não se
trata de algo que tenha sido conseguido apenas pelo próprio Buddha; trata-se
de algo que tem uma longa tradição de observação, de estudo e de
experimentação por parte de grandes Mestres, como o longo processo de
purificação do ouro pelo bateamento, pela martelagem e pela fusão. Ainda
assim, não é suficiente aceitar isso com base na autoridade de alguém; devemos
ir a fundo e verificar por nós mesmos. Dessa forma, a única coisa que temos a
fazer é colocá-lo em ação e começar a meditar sobre o tema do Prajna que,
nesse caso, é muito importante pois somente o Prajna pode nos libertar da
autocentralização, ou seja, do Ego. Sem o Prajna, os ensinamentos nos
aprisionariam ainda, pois eles simplesmente significariam um acréscimo ao
mundo do samsara, o mundo da confusão. Poderíamos até praticar a meditação,
ler as Escrituras, comparecer às cerimônias; contudo sem o Prajna não haveria
Liberação; sem o Prajna, não seríamos capazes de ver a situação com clareza.
Isso significa que, sem o Prajna, poderíamos iniciar do ponto errado; poderíamos
começar pensando: “Eu gostaria de conseguir tal coisa e, uma vez que eu tenha
aprendido, como ficarei feliz!” Nesse estágio, Prajna significa conhecimento
intuitivo crítico, que é o oposto da ignorância, de ignorar nossa verdadeira
natureza. A ignorância muitas vezes é representada, simbolicamente, por um
porco, porque o porco nunca se volta para trás; apenas funga o tempo todo e
come tudo o que é colocado à sua frente. Assim, Prajna nos torna capazes de
não consumir o que é colocado à nossa frente; pelo contrário, nos torna capazes
de enxergar por meio de um conhecimento intuitivo crítico.
Bem, esses são os métodos pelos os quais a sabedoria, sherab, pode ser
desenvolvida. Ora, a sabedoria enxerga tão longe e tão profundamente que
consegue ver antes do passado e depois do futuro. Em outras palavras, a
sabedoria começa sem cometer erros, porque vê a situação com nitidez. Assim
sendo, pela primeira vez, temos de começar a lidar com as situações sem
incorrer no erro cego de começar a partir do “Eu” — que nem ao menos existe.
Tendo dado esse primeiro passo, descobriremos um conhecimento intuitivo mais
profundo e faremos novas descobertas porque, pela primeira vez, veremos uma
espécie de nova dimensão: descobriremos que podemos chegar de fato ao
resultado final, ao mesmo tempo que percorremos o caminho. Isso só pode
ocorrer quando não existe um “Eu” para começar, quando não há expectativas.
Toda a prática da meditação está baseada nesse fundamento; e, nesse caso,
você pode ver, de forma bem clara, que a meditação não é uma tentativa de
escapar da vida, não é uma tentativa de atingir um estado utópico da mente, não
é uma questão de ginástica mental. A meditação é uma tentativa de ver o que é,
e não há nada de misterioso a respeito dela. Consequentemente, temos de
reduzir tudo à prática da presença imediata do que estivermos fazendo, sem
expectativas, sem julgamentos e sem opiniões. Também não devemos ter em
mente quaisquer conceitos de que estamos envolvidos numa batalha contra o
“demônio”, ou de que estamos lutando ao lado do “bem”. Ao mesmo tempo, não
devemos pensar em termos de limitação, no sentido de não nos ser permitido ter
pensamentos ou mesmo de pensar sobre o “Eu”, porque isso seria o mesmo que
nos confinarmos num lugar tão pequeno que equivaleria a uma extrema forma
de Sila ou disciplina. Existem basicamente dois estágios na prática da
meditação. O primeiro envolve a idéia de nos disciplinarmos para que
desenvolvamos o ponto inicial da meditação; e aqui são empregadas
determinadas técnicas, como a de observar a respiração. No segundo estágio,
transcendemos e enxergamos a realidade que se esconde na técnica da
respiração ou em outra, e, através dela, nos aproximamos da verdadeira
realidade, uma espécie de sentimento de nos tornarmos um com o momento
presente.
Isso poderá parecer um tanto vago. Mas acho que é melhor deixar as coisas
assim porque, em se tratando dos detalhes da meditação, não creio que seja
bom generalizar. Como as técnicas dependem das necessidades da pessoa,
elas só podem ser discutidas individualmente; não podemos administrar aulas
sobre a prática da meditação.