Você está na página 1de 120

O COPEIRO DO REI

Ficção cristã

Este livro é uma obra de ficção baseada em


Gênesis 40 e 41. Todo o enredo foi
inspirado pela imaginação do autor. Que o
Espírito Santo te conduza, meu caro leitor,
a uma experiência de leitura deste livro que
te proporcione emoções, sentimentos e,
principalmente, absorver as lições divinas
contidas nas entrelinhas dessa história para
sua vida.

O profeta Natã usou o recurso de


contar uma história para Davi para
convencê-lo do seu pecado e do juízo. Uma
história tem a função de refletir,
emocionar, alertar e ensinar. Além de
conectar pessoas.

Jesus ensinava através de parábolas.


Usava elementos conhecidos pelo seu
público para entrelaçar em suas histórias
os elementos do céu e o verdadeiro
alimento espiritual foi oferecido a quem o
ouvia contar histórias e a quem lê essas
histórias na Bíblia. Quando Jesus conta a
história do filho pródigo, por exemplo,
quanta sabedoria divina se pode extrair
dessa história? Quantos temas podem ser
aprendidos por uma história? Jesus usou
esse recurso de maneira sublime, como
Mestre do conhecimento e da verdade.

Neste livro, a ficção foi construída a


partir de um personagem que realmente
existiu. A Bíblia não cita seu nome, não
conta sua história de vida, mas conta que
sua participação nos planos de Deus
naquela ocasião do relato de Gênesis foi
decisiva. Esse personagem é o chefe dos
copeiros do faraó do Egito, o qual
apresenta José ao faraó para que
interpretasse os seus sonhos.

Desejo que o Senhor esteja conosco


nessa aventura ao ler esta obra de ficção e
que traga à luz do nosso entendimento
todas as interpretações dos sonhos de
Deus para nossas vidas, com grandiosas e
fabulosas cortinas se abrindo diante de
nossos olhos. Que toda palavra vá e
cumpra o propósito para o qual foi enviada.
Capítulo 1:

O governador está te chamando

E o faraó prosseguiu: “Entrego a você [José] agora o


comando de toda a terra do Egito.” (Gênesis 41: 41)

— O governador Zafenate Paneia mandou


chamá-lo. Ele está em seus aposentos e está
sozinho te aguardando. — diz o guarda oficial
do governador ao copeiro real Aglaimorque.

“Eu? Eu não posso ir lá não... ele...


ele...sozinho? Ele vai ordenar me lançarem aos
crocodilos! Demorei dois anos, muito
tempo....” Sussura Aglaimorque consigo
mesmo, após o chamado inesperado do
governador do Egito.

— O.. o... o rei precisa que eu o sirva a


qualquer momento, tenho q estar a postos para
encher seu cálice do bom vinho do Egito e não
posso... — disse o chefe dos copeiros se
sentindo aliviado, acreditando estar dispensado
por sua justificativa inventada no momento.
— Vai ousar desobedecer à ordem do
governador? Esqueceu que ele é o segundo
homem de todo o Egito? Vá imediatamente!
— Disse o servo interrompendo a fala de
Aglaimorque.

Minutos depois nos aposentos do governador:

— Senhor, eu vim ao seu chamado! Deseja


vinho? — sorriu Aglaimorque, sem graça e
muito nervoso.

— Lembra de mim, Aglaimorque? — diz o


governador Zafenate Paneia de costas para o
copeiro.

— Claro que sim senhor, eis o governador de


todo o Egito!

— Lembra onde nos conhecemos? — diz o


governador virando-se lentamente e olhando
com superioridade para o copeiro — Então,
hoje você me serve, mas no passado eu o servi,
interpretei seu sonho, tudo aconteceu
conforme meu Deus me revelou: você foi
reposto ao cargo e, em troca, pedi um favor...

— Eu cumpri senhor! Eu cumpri! Falei ao


Faraó sobre o senhor e seus dons, tanto que
hoje ele o nomeou governador de todo Egito,
não é verdade? Fiz minha parte! — diz o
copeiro Aglaimorque agoniado.

— Mas você só se lembrou depois de dois


anos?! Dois anos?! Foram mais dois anos de
cela imunda, muito trabalho pesado, você só se
lembrou de mim depois de dois anos?! — disse
o governador em tom ameaçador.

Pálido e sem ação, apavorado de medo,


Aglaimorque se cala.

— Me sirva um cálice de vinho! — ordena o


governador Zafenate Paneia.

Nervoso, Aglaimorque se atrapalha e


desequilibra a bandeja, quase derruba a jarra de
vinho. Porém, rapidamente, retoma seu posto
de copeiro servindo vinho ao governador.
— Você sabe o que eu deveria fazer agora que
tenho poder sobre sua vida e sua morte
Aglaimorque? Tive uma ideia e acredito que o
faraó irá concordar com ela... Possivelmente, o
faraó acharia outro copeiro, e você já esteve na
prisão, não seria novidade alguma... dois anos...
dois anos... O que você andou fazendo nesses
dois anos? Enquanto eu estava ainda preso,
nesses últimos dois anos? Será que os
crocodilos do Nilo gostam de vinho? Você
gostaria de servir vinho aos crocodilos?

[...]

José se levanta e em tom solene diz:

— Neste momento eu, governador de todo o


Egito, declaro que Aglaimorque está destituído
do cargo de copeiro do faraó!
Capítulo 2:

Dois anos antes...

[...] O faraó irou-se com os dois oficiais, o chefe dos


copeiros e o chefe dos padeiros, e mandou prendê-los na
casa do capitão da guarda, na prisão que José estava. O
capitão da guarda os deixou aos cuidados de José, que
os servia. (Gênesis 40: 2- 4)

Dois anos antes...

— O que será que vai acontecer conosco


agora? Será que o faraó me condenará aos
crocodilos? Eu não posso ser devorado por
crocodilos, o que meu pai vai pensar? Serei a
vergonha da família inteira por gerações... E
agora, Rimondut?

— Aglaimorque! Se acalme! Vem vindo aí o


encarregado do senhor Potifar. Quer que ele
pense que você está com medo? Então,
silêncio!

Enquanto isso, José empurra a porta da


cela usando a lateral do seu corpo e em cada
mão equilibra uma bandeja com o jantar dos
recém – prisioneiros. O chão da cela é
irregular, cheio de pedregulhos, eis que José
tropeça e quase derruba uma das bandejas...

— Bem se vê que você não fez o treinamento


dos 1042... — comenta Rimondut ao ver José
inexperiente em transportar bandejas.

O padeiro e o copeiro se olham em


cumplicidade e, mesmo tentando, não
suportam segurar a gargalhada ao ver José
atrapalhado com duas bandejas, uma em cada
mão. Riem juntos apontando para José.

Assim que José deposita as respectivas


bandejas nas mesinhas de jantar improvisadas,
José se senta a beira da cama de Aglaimorque e
pergunta sobre o que eles estão rindo.

—Você é estrangeiro? Qual seu nome mesmo?

— José.

— Estranho esse nome, deve ser de uma terra


bem distante... Josépt, Jozuéti... não sei
pronunciar. Mas enfim, estamos rindo do seu
jeito desajeitado de servir as bandejas.
— Jeito desajeitado de fato mesmo. — disse
Rimondut ainda às gargalhadas.

José ainda sem entender, pergunta:

— Vocês falaram de treinamento 1042, o que


é isso?

— Na escola de copeiros reais fazemos um


treinamento que consiste em subir 1042
degraus de uma escadaria lateral à pirâmide que
fica próximo a região de Gósen, lá é mais
quente que essa região do baixo Egito. Então é
um treinamento bem difícil durante a escola de
copeiros, que é a escola mais disputada entre os
jovens que querem ingressar no serviço real,
porque...

“O copeiro do faraó é o único servo que pode


se aproximar à menor distância do rei ao subir
os degraus em direção ao trono para servi-lhe
o vinho. Nem o general do exército tem acesso
tão próximo ao rei. Nem mesmo seus
conselheiros. Somente o copeiro real é
autorizado a estar ao lado do faraó!” —
Rimondut e Aglaimorque recitam o juramento
em coro.

—Vocês dois fizeram esse treinamento?

— Sim! Conhecemos-nos na época da escola


de copeiros!

— Mas ontem me disseram que ele era padeiro


e você o copeiro...

— Adivinha? Eu não passei no treinamento


dos 1042 degraus completo... fui só até a fase
da pena que voou, ah que ódio viu! Maldita
pena! — disse Rimondut — aí ingressei como
padeiro, que é mais fácil porque o faraó nunca
vai ver minha cara, fico na padaria sossegado
assando meus pães e ninguém me incomoda.
— disse o padeiro.

— Pena que voou? — Perguntou José.

— Deixa eu te explicar melhor: — diz o


copeiro Aglaimorque — O treinamento dos
1042 degraus tem várias fases. Na primeira
fase, você sobe os 1042 degraus da escadaria
até encontrar o mestre lá em cima, em seguida
você desce. Nessa fase já alguns jovens
desistem porque são muitos degraus e nem
todos tem condicionamento físico. Na segunda
fase, você carrega uma bandeja e sobe
novamente os 1042 degraus, se encontra com o
mestre e desce a escadaria equilibrando a
bandeja, que não pode cair na travessia. Na
terceira fase, novamente subimos com a
bandeja, sendo que desta vez tem um cálice de
vinho sobre ela. Então, mais uma vez você
sobe a escadaria de 1042 degraus, mantendo o
equilíbrio, depois desce os 1042 degraus sem
derrubar nenhuma gota de vinho do cálice. A
essa altura do treinamento, já sobraram poucos
candidatos para as próximas fases. Na quarta
fase, você coloca sobre a bandeja uma pena, e
faz o trajeto de subida e descida dos degraus
novamente, sendo que a pena deve estar
equilibrada na bandeja, qualquer falta de
atenção a pena voa e, então, você é
desclassificado. Foi nessa fase que ele não
venceu. E ainda tem a quinta fase que consiste
em levar a bandeja, com um cálice cheio de
vinho e você não pode liberar uma gota de
suor sequer durante a subida da escadaria de
1042 degraus. Você tem que controlar a sua
própria oleosidade produzida pelo seu corpo,
uma vez que o copeiro não pode correr o risco
de alguma gota de seu suor cair acidentalmente
no vinho do faraó, porque muda o sabor do
vinho, e chamamos isso de “vinho salgado”.
Uma ofensa ao rei servir um vinho salgado de
suor, entende?

— Você conseguiu fazer tudo isso? — disse


José impressionado.

— Sim! — disse Aglaimorque — Era o sonho


do meu pai que eu fosse copeiro real e me
esforcei para isso. Ele não queria que eu fizesse
parte do exército, nem que eu fosse enviado
para as guerras. Meu pai perdeu uma perna em
uma das guerras em que lutou. Ele ficou bem
rabugento depois da perda dessa perna, agora
ele recebe uma cesta de alimentos do exército
egípcio, mas ele sempre dizia que filho dele não
iria servir ao exército de jeito nenhum, que o
serviço no palácio era melhor pois tinha
estabilidade. Então, eu fui para a escola de
copeiros reais.
— Seu serviço é muito estimado no palácio e
na sociedade egípcia então?

— Sim! Espero voltar a servir vinho ao faraó,


sair desse lugar o mais rápido possível...

— E eu quero voltar pra minha padaria! —


disse o padeiro com a boca cheia do jantar —
Me lembrarei de destinar uns pães bem macios
para os prisioneiros, porque esse que estou
comendo aqui está mais duro que um tijolo de
barro!

— Oh! Sinto muito por isso! O senhor Potifar


me designou a cuidar bem de vocês dois. Eu
servi o melhor pão que temos na prisão para
ambos.

— Não ligue para o que diz, nem está tão ruim


esse pão assim. — disse Aglaimorque fingindo
ser grato pela refeição servida por José.

— Você tem uma mancha branca em algumas


partes da sua mão direita... — disse José ao
observar os dedos da mão direita de
Aglaimorque.
— Eu? Ah sim, essa diferença de tonalidade na
minha mão é porque eu treino servir a bandeja
todos os dias antes do início do meu
expediente. Eu faço uma atadura com tecidos
envolvendo esses dois dedos juntos e outra
atadura envolvendo esses dois outros dedos.
Costumo fazer isso há anos, pois essas ataduras
deixam meus dedos mais rígidos e equilibro
com mais destreza e mais força a bandeja. Mas
apenas para treinamento mesmo. Jamais posso
deixar de treinar! Meu trabalho ecige perfeição!
Acontece que faço isso sob o sol, então fiquei
com esse bronzeado na parte de minha mão
onde não passo a atadura.

— Entendi, a parte branca fica coberta pela


atadura e não fica exposta ao sol. E esse treino
é como se treinasse uma corrida carregando
uma pedra pesada, para depois quando correr
sem o peso da pedra. Dessa forma, fica muito
mais fácil e ágil.

— Isso mesmo!
— Bom, eu vou recolher as bandejas.
Obrigado pela conversa, espero estar sendo
útil.

— Obrigado pelo jantar, José! — disse


Aglaimorque enquanto Rimondut fazia cara de
quem não gostou tanto assim da comida e
menos ainda da presença de José.

José carrega as bandejas com restos de


comida do jantar do padeiro e do copeiro para
fora da cela. Enquanto os dois prisioneiros
deitam na cama e se preparam para dormir.

— Morque! Acho que você está confiando


demais nesse escravo, está abrindo muita
conversa para ele e nem o conhece direito... vai
que ele tem ordens de nos prejudicar... não
confio nele não... ele saiu daqui a noite e nem
teve medo da desproteção noturna, nem um
gato de proteção ele tem... esse escravo é muito
estranho.

— Olha, eu penso que ele deve ser da


confiança do senhor Potifar por aqui. Então,
achei que ele seria um bom ajudante para gente
enquanto estivermos presos. Vai que ele
convence o senhor Potifar de nos libertar, ou
pelo menos não nos lançar aos crocodilos...

— É realmente, pensando bem, o senhor


Potifar o chamou pelo nome quando nos
trouxe para a prisão, então já o conhecia antes...
o que será que José fez para estar preso, sendo
que o capitão da guarda parece gostar dele?
Parece que ele administra tudo na prisão
porque o carcereiro nem se habilitou a nos
receber quando chegamos aqui. Temos mesmo
que ficar mais próximos de José, pois pode ser
nossa chance de liberdade...

— Tenho muito medo do que possa nos


acontecer... Eu estou realmente preocupado...

O chefe dos padeiros e o chefe dos


copeiros vão dormir naquela noite
apreensivos...
Capítulo 3:

Potifar investiga a cena do crime

[...] o faraó irou-se com os dois oficiais, o chefe dos


copeiros e o chefe dos padeiros [...] (Gênesis 40: 2)

— Essa ofensa a minha rainha Gjyrm é como


uma ofensa a mim, o faraó! Rei de todo o
Egito! Investigue esse crime, que foi uma
afronta a minha rainha, isso não pode ficar sem
punição afinal! — ordena o faraó ao capitão da
guarda Potifar.

— Registre nos autos que dois oficiais reais, o


chefe dos padeiros Rimondut e o chefe dos
copeiros Aglaimorque são suspeitos de uma
tentativa de assassinato à rainha do Egito,
rainha Gjyrm, ao tentarem servir alimentos
possivelmente envenenados para a minha
rainha e sua convidada, a rainha da Núbia.
Registre ainda que o capitão da guarda Potifar
fosse direcionado para comandar a
investigação, com todos os seus guardas, sendo
prioridade imediata essa operação. — ordena o
faraó ao escriba real.

Assim, a mando do faraó, o capitão da


guarda Potifar investiga o que aconteceu no
episódio da ofensa feita pelo padeiro e copeiro
reais. Sua linha de investigação permeia em
buscar saber por que razão o chefe dos
copeiros fez um escândalo na frente da rainha e
sua convidada, afirmando com veemência que
elas não comessem e nem bebessem nada que
lhes foi servido naquela ocasião. O que havia
de errado nos pães? Ou no vinho? Seria alguma
espécie de alta traição ou algum plano sórdido
de matar a rainha? O padeiro teve alguma culpa
ou o copeiro? Ou seria um plano de ambos?
Mas por qual motivo?

Assim, Potifar inicia a investigação pela


área externa do palácio. Analisa a mesa onde
haveria a refeição entre as amigas rainhas, mas
nada percebe de suspeito. O local estava limpo,
em perfeitas condições. A ofensa do copeiro
diante das rainhas já ocorrera algumas horas
antes, e os servos já haviam feito a higienização
do ambiente.

— Quem foram os servos que fizeram a


limpeza dessa mesa? — Pergunta Potifar aos
demais servos que estavam próximos a ele na
cena do crime.

— Foram os escravos. Eles levaram todos os


restos de comida para o local em que recolhem
o lixo. Não tem muito tempo, foram para lá
ainda há pouco.

O capitão da guarda chega ao local em


que estavam os escravos encarregados da
limpeza, e ali os encontra separando os
diferentes tipos de lixo para descarte. Encontra
os pães e o vinho que foram servidos na
refeição das rainhas.

— Vocês têm certeza que esses foram os pães


que estavam na mesa da área externa?

— Sim senhor Potifar! Nós acabamos de voltar


de lá com esses restos de comida, estávamos
separando para o descarte correto.
Potifar então analisa os pães e não
encontra nada suspeito. Observa apenas pães
normais, aparentemente da mesma qualidade
dos demais pães servidos à mesa da realeza.
Não havia cheiro estranho, nem aspecto de
contaminação alguma. Também analisa o vinho
e não há qualquer estranheza no líquido.

— Comam! Vocês dois comam os pães! E


vocês dois bebam do vinho! — ordena Potifar
aos quatro escravos que estavam ali.

Enquanto os escravos comiam os restos


dos pães e bebiam o vinho que sobrou, Potifar
os observa com muita atenção. Aguarda por
algum tempo, ainda os observando, e pergunta
se eles sentiram algum mal-estar após se
alimentarem. Nenhum deles relata sentir
sintoma algum.

— Fique de olho nesses quatro escravos! —


ordena Potifar ao seu guarda encarregado —
Não os perca de vista! Quaisquer reações que
algum deles sentir, algum vômito, dor,
incômodo, pode me chamar imediatamente.
Não permita que eles trabalhem mais no dia de
hoje, que fiquem apenas em observação. Pode
colocá-los naquela sala que fica ao lado, está
vazia. Passe o dia todo lá com eles.

— Sim senhor Potifar! — diz o guarda


encarregado, obedecendo à ordem.

Horas depois, Potifar vai a sala onde os


escravos estavam sendo observados e mais uma
vez os interroga por alguma sensação ruim
após comer os restos das refeições das rainhas.

— Senhor Potifar, nenhum de nós sentiu


qualquer tipo de dor ou sintoma diferente! —
responde um dos quatro escravos.

Potifar então conclui que a refeição


servida não estava envenenada, pois não
causou nenhum sintoma nos escravos que se
alimentaram dela. Assim, segue a investigação
com outra linha de suspeita: não era um plano
em conjunto entre o copeiro e o padeiro para
tramar o mal da rainha. Um deles está errado e
o outro é inocente. Se a comida não estava
contaminada, por que o copeiro fez tanto
escândalo diante das rainhas para que elas não
tocassem no alimento? Tudo ainda muito
misterioso…
Capítulo 4:

Aflitos pelos sonhos

Quando José foi vê-los na manhã seguinte, notou que


estavam abatidos. Por isso perguntou aos oficiais do
faraó, que também estavam presos na casa de seu
senhor: “Porque hoje vocês estão com semblante triste?”
(Gênesis 40: 6 e 7)

No dia seguinte, Aglaimorque acorda


com seu leito repleto de seu suor. Enquanto
que Rimondut mantém seu mau humor típico
pela manhã.

— Rimondut, preciso sair daqui, eu não vou


aguentar ficar aqui... tive um sonho essa noite
que me deixou muito abalado e assustado. Eu
não quero decepcionar meu pai sendo
condenado, será que ele já sabe que estou
preso? — desabafa o copeiro.

— Morque, você conseguiu inundar seu leito


de suor, você está muito ansioso. Onde está
agora seu controle de pensamentos ansiosos
para regular a produção de suor? As suas
habilidades que você tanto se orgulha desde a
época da escola de copeiros? Ou será que esse
molhado é outra coisa que estou pensando...
você fez xixi a noite igual menino?! — diz
Rimondut rindo da situação.

— Não fica rindo de mim! Estou mesmo


perturbado, esse pesadelo me deixou aflito!

— Ah! Também tive pesadelo essa noite, estou


rindo para não pensar nisso... — diz o padeiro
também assustado com o sonho da noite
anterior.

— Olá senhores, trouxe o desjejum. É meu


dever serví-los bem! — disse José ao entrar
com a comida para o copeiro e padeiro.

— Josépti, me responde uma dúvida: você saiu


daqui para o outro lado da prisão ontem a
noite? Ficou sem a proteção de Rá na
escuridão! Você tem um gato que o proteja do
escuro? — perguntou Aglaimorque com
dificuldade de pronunciar o nome do escravo
estrangeiro e sem compreender a ausência de
medo da noite em José, que é típica dos
egípcios.

— Eu não tenho medo da noite porque o meu


Deus não dorme nunca, sempre me protege do
mal! — responde José com fé.

— Seu Deus? Lá das suas terras? Qual nome


dele? — pergunta Aglaimorque curioso

— Deus! Ele não tem nome nem aparência,


porém tem muito poder. É o Deus de Abraão,
Isaque e Jacó! Eu sou filho de Jacó, Isaque era
meu avô e Abraão meu bisavô. Meu pai já
lutou com Deus, mas ele não soube me
explicar a aparência dele...

— Seu pai lutou com um deus? Ele realmente


não teria como te contar porque deve ter sido
facilmente vencido nessa batalha! — Engasgou
Rimondut ao ouvir a proeza do pai de José.

— Não, não. Meu pai sobreviveu, ele insistiu


que Deus não fosse embora enquanto não o
abençoasse. Então, Deus feriu apenas a coxa
do meu pai e o abençoou.
— Seu pai lutou com um deus? Que
impressionante isso! Seu pai deve ter sido um
escravo muito audacioso para lutar contra um
deus e vencê-lo.

— Meu pai nunca foi escravo. Ele tem bens,


gados, fortuna na terra de Canaã e uma grande
família. Espero que ele ainda esteja vivo, ele
está muito idoso, não sei se o verei novamente.
Eu fui vendido como escravo pelos meus
irmãos a uma caravana ismaelita e trazido para
o Egito.

— Que irmãos traiçoeiros! — diz Aglaimorque

— Infelizmente... Mas então, não falemos mais


sobre meus problemas, quero apenas
agradá-los. O que posso fazer mais para que
vocês fiquem bem?

— Pede dinheiro para seu pai rico nos libertar


da prisão... — debocha Rimondut da história
familiar de José, desconfiado da veracidade.

— Josépti, ainda não sei pronunciar seu nome.


Eu tive um sonho perturbador essa noite, me
sinto tão indisposto, nem quero comer agora.
— Então, a pronúncia correta é José. Repita
comigo: Jo-sé.

— Jo - sé. Oh! Assim? José.

— Isso mesmo! José! Então me conte seu


sonho que meu Deus me dará a revelação e o
significado dele. Minha família tem dom de
interpretação de sonhos.

— Nossa! Como conseguem interpretar


sonhos? Foi recompensa por vencer a luta
contra deus?

— Não, não. Meu bisavô Abraão teve um


pesadelo uma vez que sonhou que seus
descendentes seriam escravos por 400 anos em
uma terra estrangeira, mas que seriam
libertados pelo poder de Deus.

— Libertados???? Libertados da escravidão?


Impossível! — diz o copeiro real.

— Então, esse sonho nunca se concretizou,


meu bisavô já morreu, enfim. Eu também tive
alguns sonhos na casa de meu pai...
— Sonhos bons ou sonhos de escravidão? —
disse Rimondut com a mão sobre o rosto,
incomodado pela conversa estranha do escravo.

— Sonhei que o sol, a lua e as estrelas se


curvavam perante a mim. E também sonhei
com feixes de trigo dos meus doze irmãos se
curvando diante de mim.

— E significam o que esses sonhos? —


perguntou Rimondut estranhando toda aquela
situação.

— Algum tipo de autoridade que vou exercer


sobre eles, mas também isso nunca aconteceu.
Porém, eu sei que o meu Deus nunca falha na
interpretação de sonhos e se Ele diz, então, eu
acredito que acontecerá!

— Ah! Sem dúvida não é, um escravo preso


sendo uma grande autoridade sobre a família...
nossa uma bela liderança... estou surpreso com
tamanha majestade — Caçoa Rimondut dos
sonhos de José.
— José, nem ouve o que Rimondut fala. Eu
fiquei mesmo interessado na interpretação do
sonho, pode me ajudar com isso?

— Sim, vamos lá me conte o seu sonho...

Então o chefe dos copeiros contou o seu sonho a


José: “Em meu sonho vi diante de mim uma videira,
com três ramos. Ela brotou, floresceu e deu uvas que
amadureciam em cachos. A taça do faraó estava em
minha mão. Peguei as uvas, e as espremi na taça do
faraó, e a entreguei em sua mão.”

Disse-lhe José: “Esta é a interpretação: os três


ramos são três dias. Dentro de três dias o faraó vai
exaltá-lo e restaurá-lo à sua posição, e você servirá a
taça na mão dele, como costumava fazer quando era seu
copeiro. Quando tudo estiver indo bem com você,
lembre-se de mim ao faraó e tire-me da prisão, pois fui
trazido à força da terra dos hebreus, e também aqui
nada fiz para ser jogado neste calabouço.” (Gênesis 40:
9 a 12)
Capítulo 5:

Seu Deus, meu Deus

Ouvindo o chefe dos padeiros essa interpretação


favorável, disse a José: “Eu também tive um sonho:
sobre a minha cabeça havia três cestas de pão branco.
Na cesta de cima havia todo tipo de pães e doces que o
faraó aprecia, mas as aves vinham comer da cesta que
trazia na cabeça.”

E disse José: “Esta é a interpretação: as três


cestas são três dias. Dentro de três dias o faraó vai
decaptá-lo e pendurá-lo numa árvore. E as aves
comerão a sua carne.” (Gênesis 40: 16 e 17)

— O que? Você é um louco! Que loucura é


essa de que serei condenado à morte? — diz
Rimondut enfurecido após ouvir a
interpretação de José sobre seu sonho.

— Calma! — diz Aglaimorque

— Que calma nada! Você está calmo porque


vai viver! E eu vou morrer!
Por um instante Rimondut pausa para
refletir andando de um lado pro outro. De
repente, ele anda mais vagorosamente na
direção de José e o agarra pelo pescoço num
golpe sorrateiro, num instante em que José
estava distraído conversando paralelamente
com Aglaimorque:

— Vamos ver quem vai morrer aqui, escravo!

Aglaimorque grita ao ver a situação e


aparece o carcereiro da prisão. Ele, de imediato,
consegue afastar o padeiro e salva José, que
estava já sem fôlego sendo esganado. O
carcereiro coloca as mãos de Rimondut para
trás e o amarra com uma corda. Abre a cela e
conduz Rimondut para outra cela. O padeiro
grita e ameaça José:

— Eu ainda vou te pegar José! Você vai ver só,


eu vou mandar o faraó cortar sua cabeça com
uma espada! Eu vou destruir você! O capitão
da guarda vai saber que você desejou o mal do
padeiro real! Ele vai te enforcar, seu escravo
miserável, imundo...
Enquanto isso, na cela anterior,
Aglaimorque fica aflito ouvindo as ameaças de
Rimondut.

— José! E agora se ele mata você, ele vai


querer me matar também! Ele vai querer
vingança! Ele... ele...

— ... ele morrerá antes! — diz José emendando


a fala do copeiro. — Fique tranquilo, aquilo
que Deus me revelou sobre o sonho dele vai se
cumprir daqui a três dias. Não tenho dúvidas!
Assim como o seu sonho também acontecerá
da maneira como Deus me permitiu
interpretar. E mais uma vez te peço: lembra-te
de mim quando retomar o seu posto na realeza
e fale a meu respeito para o faraó me libertar.

— José, como você consegue ser tão convicto


disso? Como posso saber se você não se
enganou na interpretação do sonho? Os seus
outros sonhos que você nos contou nenhum
deles se cumpriu! Será que você não se
enganou e eu que serei condenado à morte?
— Você tem uma imaginação para catástrofe
muito grande, caro copeiro. Eu não sou
convicto apenas, eu tenho fé! Meu Deus é o
Deus de Abraão, Isaque e Jacó! O Deus Todo
Poderoso. Se Ele me deu a interpretação
correta e o tempo de se cumprir, vai acontecer
conforme eu disse. Não há o que duvidar! A fé
é o oposto da dúvida.

— Mas o que significa fé? Nunca ouvi essa


palavra em toda minha vida! — questiona
Aglaimorque.

— Fé significa acreditar sem ver, sem duvidar.


A fé fortalece as certezas de que Deus existe e
que em sua soberania me ama e ama a você
também. Que Ele cumpre cada uma das suas
promessas, ainda que demore. Fé é crer que
Deus sabe o que diz e sabe o que faz! —
explica José se expressando com profunda
devoção a Deus. — Meu bisavô Abraão teve
uma prova de fé, onde Deus pediu que ele
sacrificasse seu único filho. Então, ele
obedeceu e foi ao alto do Monte junto com
meu avô Isaque que ainda era criança naquela
época. Essa prova foi muito difícil de ser
cumprida, mas meu bisavô Abraão conseguiu
passar por ela por meio da fé.

— O seu Deus pede que os seus súditos


sacrifiquem seus próprios filhos? Quanta
maldade! Que cruel! — se espanta
Aglaimorque ao ouvir o relato — E, falando
nisso, você não tem filhos, como esse seu Deus
tem acesso a você? Ahn! Não me diga que você
teve coragem de matar algum filho seu no
passado!

— De forma alguma! O meu Deus é amoroso


e não um tirano cruel. Deixe-me continuar a
história do meu bisavô: ele subiu ao Monte
com meu avô Isaque quando ele ainda era
criança e estava prestes a sacrificá-lo mas ouviu
a voz de Deus dizendo para que não fizesse
mal ao menino. Um cabritinho foi sacrificado
no lugar do filho. Meu bisavô foi aprovado pela
sua grande fé, e ainda apresentou a fé ao seu
filho que a manteve por toda sua vida.

— Tem outro ritual mais simples para receber


esse dom da fé? Algo que não envolva morte
de crianças inocentes? Nem ritual que mate
animais porque aqui no Egito isso é
abominável!

— Calma, não fique assustado foi só uma


provação. Um teste como o que você realizou
subindo os 1042 degraus. Mas saiba que Deus
não quer sacrifícios, nem mortes. Ele deseja ser
buscado, obedecido e se revelar com poder a
cada um pessoalmente. Cada pessoa pode ter
experiências extraordinárias com Deus, assim
como meu bisavô Abraão e meu pai Jacó.
Foram experiências diferentes. Assim como eu
sei que estou sendo provado e que Deus
colocou você no meu caminho para realizar
justiça.

— Como você tem acesso ao seu Deus? Como


consegue ter tantas certezas? Eu também
consigo acreditar com tamanha fé Nele? Será
que eu consigo ter certeza de que eu voltarei a
servir ao rei e te farei livre? Quem te garante
que mesmo que eu fale com o faraó sobre você
que ele queira te libertar?

— Podemos fazer uma oração pedindo fé.


— Ahn?

— Oração é falar com Deus como um amigo e


conselheiro; é falar sobre temores, ansiedades,
dúvidas e problemas, assim como também
agradecer ao Criador as coisas boas da vida. A
oração sincera ajuda acrescer na fé, o que é
incompatível com a ansiedade e a incerteza. Fé,
na realidade, significa confiança em Deus.
Quanto mais conhecemos a Deus, por meio da
oração mais desenvolvemos essa confiança e
mais a nossa fé se fortalece. Segure minhas
mãos. Feche os seus olhos.

José começa a orar e pedir ao Senhor:

— Deus de Abraão, Isaque e Jacó! Meu Deus,


te apresento meu amigo Aglaimorque, o
copeiro real do faraó. Ambos estamos aqui no
cárcere, fomos presos injustiçados, somos
inocentes, nada fizemos para merecer estar
nessa prisão. Estamos aqui neste momento
buscando com fé pelos planos futuros que o
Senhor tem para nós. Pai, acrescenta fé ao meu
amigo, permita que ele seja consagrado a teu
servo, grandioso Deus. Mesmo ele sendo
egípcio, sei que podes recebê-lo e adotá-lo
como descendente do teu povo escolhido. Eu
creio com muita fé que o Senhor tem planos
maravilhosos para a vida dele, e já os tem
revelado pois daqui a três dias ele voltará a
trabalhar como copeiro e esse período em que
esteve na prisão nem será mais lembrado.
Afasta desse meu amigo de todo medo que ele
sente, de toda precipitação e ansiedade.
Coloque sua benção sobre a vida dele! Encha-o
de fé e de esperança. Conduz esse teu amado
filho pelo caminho da justiça e da libertação.

Aglaimorque se derrama em lágrimas ao


ouvir a oração de José. Ele recebe a fé em seu
coração e agradece dizendo:

— Deus de José, obrigado pela promessa de


me libertar. Por ter escolhido a mim e não a
outro para ser livre novamente.

— Você está abençoado por Deus agora


Aglaimorque. Confie Nele de todo seu coração.

Aglaimorque finalmente tinha


descoberto que o verdadeiro Deus existe, o
amava e estava ao seu lado, mesmo ele sendo
de outra nação. Saber disso tirou um peso de
suas costas acumulado havia muitos anos.
Expulsou o medo e trouxe esperança. Ele
ainda aprendeu com José muitas coisas
importantes que ajustariam seu foco e o
colocariam no caminho da restauração.

No dia seguinte, José entra na sela de


Aglaimorque e o vê caminhando de um lado
para o outro, simulando segurar uma bandeja
na mão direita.

— Se eu vou voltar a servir o faraó, preciso


voltar a treinar. Não posso perder minha
destreza, tenho que estar apto ao meu cargo
novamente para executar com perfeição.

— Que atitude de fé meu amigo, vou sentar e


assistir você ensaiando seu retorno triunfante.

— Estou aqui pensando: O faraó poderia


deixar você trabalhar na cozinha do palácio
lavando as taças e louças ou recolhendo o lixo
ou sendo ajudante do encarregado do lixo. Já
pensou que fantástico você trabalhando no
palácio?! Por ser estrangeiro, talvez o faraó não
te queira no palácio, mas posso tentar
argumentar de algum jeito para que você tenha
uma vida boa servindo ao rei do Egito. Você
tem algum treinamento na sua terra? Alguma
habilidade ou formação para que possa servir
no palácio? Se tiver como comprovar poderá
conseguir um cargo na limpeza, talvez.

— Meu amigo Aglaimorque, eu fico muito


agradecido com seu empenho em planejar um
trabalho para mim no palácio. Porém, percebo
que você sempre vive com os pensamentos do
futuro. Sempre projeta tudo muito perfeito, em
cada detalhe. Mas, com isso, posso te ensinar
mais uma lição de fé? Os caminhos rumo ao
futuro são desconhecidos para nós, mas
conhecidos por Deus. Nem sempre vai
acontecer do jeito que você acha que será, ou
do jeito que você prefere. Ou o caminho mais
fácil ou mais óbvio. Saiba que os planos de
Deus são maiores que os meus e os seus. O
que Ele tiver que fazer, assim fará. Eu só
preciso acreditar com fé. Acredite com fé
também que logo seremos homens libertados
da prisão.

Alguns momentos depois...

José foi então chamado pelo carcereiro


para realizar suas outras responsabilidades.
Enquanto, Aglaimorque fica refletindo sobre
os novos aprendizados sobre Deus, até que
adormece.

Um homem com vestes brancas toca no


ombro de Aglaimorque e diz “venha comigo”.
De repente, eles aparecem juntos em um belo
campo de cereais. Então, o homem pergunta:

— Porque você está carregando um saco tão


pesado nas costas?

— Que saco? Ah, eu nem percebi que havia


um saco pesado em minhas costas. E por sinal
está bem mais pesado agora que me dei conta
da existência dele.

— Esse saco pesado tem nome: se chama


ansiedade. Vamos lance sobre mim toda a sua
ansiedade.
— Mas o saco é muito pesado, como vou
conseguir lançar? Como você vai conseguir
amparar o saco? Está pesado de mais, acho que
não vai dar certo. E porque razão você quer
que eu lance sobre você a minha ansiedade?

— Confie! Lance sobre mim toda a sua


ansiedade e eu vou cuidar de ti!

Aglaimorque, meio sem jeito puxa o


saco pesado pela abertura de cima, de forma
que o retira das costas, passa por sobre os
ombros e o joga para seus braços, à frente do
seu próprio corpo. Em seguida, com
dificuldade, ele arremessa o saco pesado com
toda sua força, e este foi recebido pelos braços
do homem de vestes brancas.

De repente, Aglaimorque começa a


flutuar pelo campo de cereais lentamente.
Observa do alto aquele homem de vestes
brancas carregando o que antes era o seu fardo
pesado. Ele pousa novamente no chão e vê o
homem sorrindo e dizendo:
— Esse peso não deve te pertencer mais. Você
poderá lançar sobre mim outras vezes esse seu
saco pesado de ansiedade até que você confie
em mim plenamente. Eu te aliviarei! Eu sou o
Príncipe da paz e te ofereço a minha paz, a
minha paz te dou. Receba a minha paz.

Aglaimorque percebe que ainda está na


prisão, no mesmo lugar. Ele se dá conta que
despertou de um lindo sonho.

Lancem sobre ele toda a sua ansiedade, porque ele tem


cuidado de vocês. (1 Pedro 5:7)

Lança o teu fardo sobre o Senhor, e Ele te sustentará;


Ele nunca permitirá que o justo seja abalado. (Salmos
55:22)
Capítulo 6:

Potifar interroga Aglaimorque

O capitão da guarda continua a


investigação sobre a estranha ofensa à rainha
Gjyrm. Ele vai até a prisão onde estavam os
oficiais reais que ofenderam a rainha para
interrogá-los. Antes disso, pede ao carcereiro
que José seja direcionado a outro setor da
prisão enquanto ele estivesse conversando com
os prisioneiros. Potifar diz não desejar ver José.

Potifar inicia o interrogatório com o


padeiro e em seguida, entrevista o copeiro
Aglaimorque. Os oficiais ainda estavam em
celas separadas devido à ocasião da agressão do
padeiro a José.

— Tente se lembrar do que aconteceu no


momento da cena do crime. — interroga o
capitão da guarda ao copeiro real.

— Eu me lembro que, no dia anterior, a rainha


Gjyrm me chamou em seus aposentos e pediu
para servir vinho para ela e sua convidada, a
rainha da Núbia, em uma refeição na área
externa do palácio.

— O que exatamente a rainha Gjyrm te disse?


— diz Potifar que exige detalhamento maior
do ocorrido.

— Ao chegar a seus aposentos, a rainha Gjyrm


me disse que receberia a convidada de honra e
gostaria de serví-la com muita estima. Que
gostaria que eu fosse servi-las pessoalmente.
Eu, de imediato, disse que sim. E, saí dos
aposentos da rainha e fui separar o melhor
vinho e polir as taças.

— Entendi, um serviço de rotina. Correto?

— Isso mesmo.

— E no dia do acontecido? Descreva-me em


detalhes tudo que lembrar. — mais uma vez
Potifar esmiuçando detalhes para sua
investigação.

— Então, eu peguei a bandeja, coloquei a jarra


de vinho e as taças e fui servir as rainhas.
Quando cheguei próximo à mesa, observei os
pães que pareciam ser os mesmos que estavam
na padaria real momentos antes... Eu comecei a
suar e estava inquieto, fiquei nervoso como
nunca antes estivera... Eu derramei suor na taça
de vinho da rainha. Eu nem me reconheço
nesse momento, não condiz com minha
postura de profissional renomado há tantos
anos, parecia mais um estudante medíocre
aprendiz na escola de copeiros reais! Quanto
me sinto um inútil por ter feito isso! Eu acabei
falando demais...

— O que você disse a rainha?

O copeiro se cala, abaixa a cabeça.

— Vamos, o que você disse à rainha?

— Eu tentei avisá-la que os pães estavam


envenenados! Eu acho que vi o padeiro
utilizando uma farinha de trigo estranha para
prepará-los, tempos antes do ocorrido, mas
não tenho certeza disso.

— O padeiro disse que você o está acusando


sem provas e sem motivos. Que ele não esteve
na cena do crime, que estava inocente na
padaria quando foi preso.

— Eu realmente não tenho certeza se vi, me


pareceu que vi, mas não estou certo. Eu não
me controlei diante da rainha, eu acabei
derramando vinho na mesa dela. Eu nunca
derramei uma bandeja em toda minha
formação de copeiros! Nunca! Foi intolerável!
Eu estava diante dela e derramei a bandeja!
Quanta estupidez minha!

— Mais alguém viu os pães estranhos que você


diz que viu anteriormente na padaria?

— Somente eu e o padeiro estávamos na


padaria nessa hora. Eu cheguei a comentar com
ele o aspecto estranho dos pães, mas ele disse
que não via nada, que estava tudo certo. Fiquei
confuso, tenho dúvidas se vi isso mesmo. Ele
disse que não vi, então eu acho que não vi.

— Realmente, Rimondut disse que você falou


para a rainha que os pães estavam estranhos e
ele acabou culpado e preso sem ter culpa. As
histórias que ambos contam parecem ser
compatíveis.

— Eu prejudiquei um oficial real. O que foi


que eu fiz? Quão inútil eu sou! Destruí minha
carreira tão almejada no palácio do faraó e
ainda trouxe um amigo inocente junto.

— Lembre-se de mais detalhes no momento


em que estavam na padaria.

— Eu entrei na padaria e Rimondut estava lá


assando pães, como de costume. Seu filho
estava próximo a ele e me mostrou as
modelagens que ele fazia com os restos de
massa de pão. Ele tem uns dez anos e sempre
está na padaria com o pai, que oferece a ele um
pedaço da massa de pão para brincar de
modelar.

— Filho? Você disse que estavam apenas vocês


dois na padaria.

— Eu me lembrei agora que Sinof estava lá


também! É! Ele estava lá! Ele me mostrou as
esculturas de ovelhas e bois. Ele gostava muito
de me mostrar suas esculturas de bichinhos que
fazia com os restos de massa de pão. Era muito
comum eu entrar na padaria e ele estar
esculpindo, era a sua diversão de criança.
Embora Rimondut não gostasse tanto assim
dessa brincadeira de seu filho. Eu até comentei
que algumas ovelhas que ele modelou com a
massa estavam mais escuras que o normal e ele
disse: “eu peguei farinha daquele saco ali.”
Rimondut, imediatamente, deixou o seu serviço
de sova dos pães e veio me cumprimentar. Me
deu uns tapinhas nas costas e disse que a
minha observação sobre a cor estranha das
esculturas de Sinof não eram bem assim. Era
imaginação de criança, e que eu estava sendo
levado pela fantasia infantil e vendo o mesmo
que Sinof via. Que nada daquilo era realidade.
Até que vi de longe os pães assados com
aspecto parecido com as ovelhinhas do Sinof...
E não disse mais nada a Rimondut. Fiquei com
aquela cena na cabeça o tempo todo e estava
me deixando angustiado. “Mas porque razão
Rimondut serviria pães envenenados para a
rainha Gjyrm? O que ele tinha contra ela?”

— Isso me pareceu um plano de vocês dois!


— Jamais! Eu avisei a rainha! Eu passei a maior
vergonha na frente dela! A rainha Gjyrm
sempre foi tão gentil e amável comigo, eu
tenho o maior prazer de serví-la. Jamais
tentaria algo contra minha rainha!

Potifar estava quase convencido de que


o copeiro estava tramando contra o padeiro,
para criminá-lo injustamente. Até que teve a
ideia continuar a investigar em outro lugar,
porque ainda existia mais um elemento
inesperado...
Capítulo 7:

A peça-chave do mistério

Potifar encontra o filho do padeiro e


decide interrogar o menino sem que o mesmo
percebesse que estava sendo interrogado. Pela
sua atual linha de investigação, o menino seria
peça-chave para desvendar o crime. Potifar
queria confirmar a história que o copeiro o
contou na prisão, e a única pessoa que poderia
comprovar seria o filho do padeiro.

— Olá menino, você é o filho do padeiro


Rimondut, não é?

— Olá senhor, eu sou Sinof, filho do padeiro


sim. Por sinal não sei onde está meu pai e nem
o tio Morque. O senhor sabe onde eles estão?

— Talvez eu saiba, mas antes de te contar isso,


eu queria saber o que você gosta de fazer na
padaria junto ao seu pai?

— Eu faço bichinhos com a massa de pão que


sobra, eu faço assim e assim com minhas
mãozinhas e de repente moldo um bichinho. O
senhor sabia que eu fiz um cavalo, uma ovelha
e uma égua. Quer ver? Estão lá na mesa da
padaria. — responde Sinof, puxando Potifar
pelo braço até a padaria.

— Ah me mostre sim, quero ver.

— Aqui estão! A ovelha é essa aqui, eu gosto


de fazer com a massa de pão azeda e escura,
para ficar diferente. O senhor sabia que a
ovelha fala “méééé”? É o barulho mais
engraçado dos animais que eu acho. — Sinof
mostra suas artes de criança para Potifar, nem
desconfia que se tratava de uma busca por
provas criminais.

O capitão da guarda vasculha a padaria e


a cozinha real. O capitão da guarda verifica os
sacos de trigo e encontra um pequeno saco
com um aspecto estranho, como que o trigo
estivesse com cor diferente e cheiro
apodrecido. O trigo tinha uma cor escurecida,
parecia embolorado.
— Você conhece o copeiro real, Sinof ? Seu
nome é Aglaimorque. — continua
interrogando Potifar ao menino Sinof, sem que
a criança percebesse que era uma investigação
criminal.

— Ah sim, eu o conheço bem, eu o chamo de


tio Morque. Ele é muito legal, ele gostava
muito de ver meus bichinhos de massinha de
pão. Ele gosta de mim. Ele é um segundo pai
para mim. Só não sei onde eles estão, o senhor
disse que talvez saiba, mas não me fala onde
eles estão.

— Sinof, dias atrás, você mostrou para seu tio


Morque os seus bichinhos? E essas ovelhas
escuras? Você começou a fazer desde quando
com essa massa diferente?

— Papai me deu um pouco da massa escura


para modelar, ela está naquele saco que o
senhor viu. Ele assou alguns pães com essa
massa também e colocou aqui no dia que o tio
Morque estava aqui. Essa massa tem cheiro
ruim. Ela é fedorenta. Ainda bem que o papai
jogou fora os pães feitos dessa massa antes de
mandar pra refeição da rainha. Já pensou? A
rainha ia falar: “Eca!”. Assim que o tio Morque
saiu da padaria, meu pai jogou fora esses pães
fedidos. — explica Sinof.

Após essa resposta de Sinof, Potifar


então compreende todo o mistério. Naquele
momento todo o crime foi desvendado por
Potifar. O relato do filho do padeiro foi
definitivo para fechar a investigação. Faltava
apenas avisar ao faraó o resultado das
investigações.

Potifar sente misericórdia pelo menino


Sinof, pois seu pai estava preso e não habia
quem cuidasse dele. Então, Potifar o retira do
palácio antes que corresse algum perigo:

— Vamos menino! Você não pode ficar


sozinho perto do forno de pães. É perigoso
para uma criança. Venha comigo, agora você
vai morar em outro lugar que seja perto dos
animais. Você deseja ir?

— Ah quero sim, não sei se meu pai deixaria,


mas ele sumiu.
— Não se preocupe, eu te levo em segurança
para um lugar bem bonito e com muitos
animais.

Potifar conduz Sinof para fora do


palácio. Ele acredita que alguém por ali
poderia querer fazer mal ao menino devido ao
crime que seu pai cometeu. O palácio não era
mais um local seguro para Sinof.
Capítulo 8 :

A morte do padeiro Rimondut e A


restituição ao cargo de copeiro de
Aglaimorque

Três dias depois era o aniversário do faraó, e ele


ofereceu um banquete a todos os seus conselheiros. Na
presença deles reapresentou o chefe dos copeiros e o chefe
dos padeiros. (Gênesis 40:20)

José vai à cela de Aglaimorque, que está


ainda dormindo. Ele estranha essa atitude do
copeiro real, que sempre se mostrou tão ativo e
desperto. José e o carceireiro conversam:

— Acho que Aglaimorque deve estar muito


ansioso, por isso se entregou ao sono até mais
tarde. Afinal, hoje se completam os três dias do
cumprimento da interpretação dos sonhos
deles. — diz José ao carceireiro.

— Hoje eu não ouvi os gritos do padeiro. —


estranha o carcereiro sobre o comportamento
atípico de Rimondut.
— Ah, você lembra que ele foi acorrentado?
Eu quando estive naquela mesma cela também
já passei pelo mesmo que ele. Chega uma hora
que você cansa de gritar e puxar as correntes
que te prendem, é exaustivo e inútil lutar
contra essas correntes. — lembra José do que
viveu no cárcere, há alguns anos atrás.

enviou um homem adiante deles, José, que foi


vendido como escravo. Machucaram-lhe os pés com
correntes e com ferros prenderam-lhe o pescoço, até
cumprir-se a sua predição, e a palavra do Senhor
confirmar o que dissera. (Salmos 105:17-19)

Aglaimorque acorda aflito e nervoso.


José entra em sua cela para servir sua refeição,
a que seria a última que o chefe dos copeiros
no cárcere.

— José, por favor, me deixe aqui quieto no


meu canto hoje, não estou disposto a
conversar.

— Entendo, você dormiu até mais tarde,


acordou mal humorado. Comportamento
típico de quem está nervoso pois hoje
completam os três dias para acontecer aquilo
que você e o padeiro sonharam. Eu acho que
você não tem razões para estar tão irritado,
uma vez que sairá hoje ainda daqui e vai
retomar ao seu posto de copeiro. Ah! E não
esqueça de mim quando puder falar a meu
respeito com o faraó.

— José, eu queria ter sua tranquilidade. Como


disse, prefiro ficar isolado hoje. E também não
quero comer nada. Está vendo minhas mãos
tremendo? Estou a ponto de explodir de
ansiedade, não estou suportando esperar
acontecer. E se der tudo errado? E se eu for
condenado à morte?

— Posso fazer uma última ajuda por você? —


diz José com sua tranquilidade de sempre e
sabedoria para lidar com situações difíceis.

— Está bem então, se você insiste...

— Sente-se aqui e coloque os dois pés no chão.


Respira fundo. Inspira profundamente o ar
pelo nariz e solta pela boca. Isso. Agora repita
comigo: “Eu estou aqui, eu estou presente, eu
estou em mim.” Agora abra os olhos e me fale
todos os objetos que você está vendo nessa
cela.

— Vejo minha cama, a cama que era de


Rimondut, aquela mesinha, o prato de comida
que você trouxe para mim, as paredes, a grade
da cela.

— Agora coloque as mãos para cima. Segure


este prato quente o máximo que aguentar.

— José, esse prato está quente!

— Segure-o enquanto conseguir suportar esse


calor em suas mãos.

Alguns segundos depois...

— José, já posso soltar o prato? Acho que não


aguento mais.

— Sim, vou retirá-lo de suas mãos. — diz José


retirando o prato que estava nas palmas das
mãos de Aglaimorque. — Como se sente
agora?
— Menos nervoso. Para que você me fez todo
esse processo?

— Quando alguém está muito ansioso, o senso


de raciocínio fica meio bagunçado. Os
pensamentos ficam flutuando e te deixam
muito confuso e nervoso. A maneira de trazer
você “de volta” para a realidade é fazendo você
sentir, ter percepções do real. Como se você
estivesse voltando para a terra, para o
momento presente. Entende? Minha mãe
sempre usava essa técnica para me acalmar
quando eu era pequeno e ficava assustado com
meus irmãos mais velhos.

— Sim, me sinto de verdade mais calmo


mesmo. Você poderia ter me ensinado isso
antes, na época do meu treinamento de
copeiro. Sempre fiquei muito nervoso antes das
provas e dos testes. Aprendi a me controlar na
minha profissão, sabe. Mas quando eu passo
por situações difíceis, que não sei lidar, eu
perco meu controle, fico nervoso, com medo e
assustado. Antes de acontecer alguma coisa já
fico pensando nas piores consequências e no
pior cenário. Sem contar o suor excessivo,
tremedeira, dormir demais ou insônia, falta de
apetite. Uma angústia constante.

— Eu percebi tudo isso em ti quando entrei na


sua cela hoje. Daqui a pouco, você vai estar
diante do faraó servindo o seu vinho, como
sempre fez. Tenho que ajudar ao meu amigo a
ficar calmo para esse momento importante.
Então, esteja preparado para a qualquer
momento ser chamado a comparecer diante do
rei do Egito e ter sua vida de volta. Não
esqueça de mim, por favor, meu amigo.

— José, eu não me esquecerei de ti. Eu


prometo! Pode contar comigo porque o seu
apoio foi fundamental para que aguentasse esse
tempo de prisão que passei. Considero-o um
amigo — diz Aglaiomorque firmando uma
aliança de amizade com José.

— Os planos de Deus estão se cumprindo


diante de nossos olhos! Vamos fazer mais uma
oração juntos? Precisamos estar firmes nos
propósitos de Deus. — propõe José ao seu
amigo copeiro
— Essa oração que você fala, são aquelas
palavras que você diz quando me manda fechar
os olhos e que Deus escuta?

— Isso mesmo. Vamos orar: Deus de Abraão,


Isaque e Jacó. Tu és soberano e teus propósitos
não podem ser frustrados! Estamos diante de
um grande acontecimento revelado por Ti por
meio dos sonhos que o copeiro e também o
padeiro tiveram, os quais foram interpretados
por mim, mediante a capacidade que me deste.
Ó Deus, esse momento nos mostra o quanto
mesmo nas piores situações da vida Tu estarás
conosco, nos amparando e conduzindo para o
caminho da plenitude. Dentro de pouco
tempo, ainda hoje vai acontecer conforme tua
vontade revelada. Peço que mantenha a calma e
a paz para o meu amigo Aglaimorque. Às
vezes, ele se desespera, fica com medo e
irritado. Mas o Senhor pode trazer a paz que
ele tanto precisa. Aumenta a confiança e a fé
do meu amigo, para que sua ansiedade seja
amenizada e não lhe traga prejuízos de
comportamento fora do controle. Peço
também que me mantenha firme nos teus
planos, confiante e aguardando minha
liberdade dessa prisão assim que Aglaimorque
puder falar sobre mim ao faraó. Que assim
seja! Esteja comigo! Esteja com meu amigo
Aglaimorque! Que assim seja!

— Seu Deus é também o meu Deus! Que tudo


seja feito conforme a sua vontade! —
complementa Aglaimorque a oração de José,
demonstrando sua nova e recente fé. — Eu
fico impressionado como você tem o dom de
me deixar tranquilo. Aliás, eu já entendi que
isso vem de uma sabedoria de Deus. Ele me
acalma, parece que estava uma grande
tempestade de areia dentro de mim, mas me
sinto renovado agora. Será que quando eu
estiver lá no palácio, longe de ti, poderei falar
com Deus em oração também?

— Sim, poderá sim! Deus vai ouvir até se você


não usar palavras. Ele vai ouvir seus
pensamentos e até as batidas do seu coração.
Ele vai colher cada lágrima sua em um odre e
vai entender cada sentimento expresso nelas.
Fale com Deus no palácio quando você estiver
nos seus aposentos, feche a porta e entre em
contato com Deus no secreto que Ele te
recompensará. Não se preocupe com o que vai
dizer, seja sincero e faça sua oração com fé,
sem duvidar. — explicou José, fortalecendo seu
amigo na fé ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó.

Horas mais tarde...

Guardas levam os dois prisioneiros de


volta ao palácio. Era aniversário do faraó, e por
costume, nessa época, o faraó perdoa um deles
e condena à morte o outro.

— Minha rainha, ainda não conseguimos os


resultados das investigações da ofensa que
esses homens fizeram a ti. Como poderia eu
ser justo nessa decisão?

— Eu também fico aflita em pensar que


podemos cometer uma injustiça. Mas sabe, eu
tenho apreço pelos serviços de Aglaimorque,
ele sempre foi leal ao reino do Egito. Não há
nenhum relato de nada de errado que ele possa
ter feito. Quanto ao padeiro, pouco o conheço.
Enfim, meu rei, terá que tomar uma decisão no
escuro e arcar com a culpa de alguma possível
injustiça.

— Manterei então meu coração endurecido


nessa decisão. No dia do meu julgamento final,
serei julgado e em um coração endurecido não
há culpa. Ainda assim, me sentiria mais
confortável tendo respostas da investigação,
mas Potifar demora. — afirma o faraó.

— Chegou o momento, meu faraó. Estão


todos aguardando. Que sua decisão seja de
alguma forma correta, que alguma força maior
possa conduzí-lo nesse veredito! — abençoa a
rainha ao faraó, ainda se sentindo preocupada
com a justiça do caso.

Três dias depois era o aniversário do faraó, e ele


ofereceu um banquete a todos os seus conselheiros. Na
presença deles reapresentou o chefe dos copeiros e o chefe
dos padeiros. Restaurou à sua posição o chefe dos
copeiros, de modo que ele voltou a ser aquele que servia
a taça do faraó, mas ao chefe dos padeiros mandou
enforcar, como José lhes dissera em sua interpretação.
(Genesis 40: 20-22)
Poucos momentos depois do anúncio
do faraó, Potifar entra às pressas na sala do
trono e em alta voz afirma que o copeiro era
inocente e o culpado foi mesmo o padeiro. Até
que Potifar percebe seu atraso ao ver que o
copeiro Aglaimorque já estava servindo vinho
ao faraó.

— Meu faraó, mesmo sem ter as


respostas das investigações, você conseguiu ser
justo em sua decisão. Agora eu fico mais
satisfeita porque a justiça foi feita, ainda
mesmo antes de saber a verdade. Depois das
festividades, quero saber mais detalhes sobre
toda a investigação que Potifar fez. Um brinde
ao faraó que por alguma razão desconhecida
conseguiu agir e sua decisão foi correta! — diz
a rainha Gjyrm aliviada por seu esposo não ter
cometido uma injustiça. Não sabendo a rainha
e o faraó que os planos de Deus estavam se
cumprindo conforme sua Soberana vontade.
Assim, seguiu toda a festividade do
aniversário do faraó.
No dia seguinte, Aglaimorque consegue
uma folga em meio a todo serviço real e corre
atrás do capitão da guarda para alguns
esclarecimentos sobre a ofensa ao qual foi
preso, além de perguntar sobre José.

— Senhor Potifar, José foi servo em sua casa,


se me permite lhe falar sobre isso, percebo que
o senhor confia nele e eu também confio nele.
Segundo ele, nada fez para estar na prisão!
Porque ainda o mantém prisioneiro?

— José foi acusado de abusar de minha esposa.


— responde Potifar com firmeza.

— Ele nega que tenha feito isso, e eu acredito


nele! José tem um Deus poderoso que o faz um
homem bom e justo por obediência e amor ao
seu Deus. Além disso, José é muito
competente, mantém todo o serviço do cárcere
organizado e funcionando da melhor forma
possível. O carcereiro confia nele para todo
tipo de tarefa e liderança dentro da prisão.

— Sei muito bem da competência de José


como funcionário. Eu também acredito que ele
não fez nada. Se ele tivesse de fato abusado de
minha esposa, eu não teria menor receio de
matá-lo, sem piedade. Acredito na inocência
dele.

— Eu não consigo entender. Se o senhor sabe


que José é inocente, porque não o liberta?

— Porque eu tenho uma reputação a zelar. Se


outros ouvem dizer que tenho um escravo
suspeito de me trair com minha esposa, fico
mal falado em todo alto e baixo Egito. Tenho
muita afeição por José, o que pude fazer por
ele foi apenas mantê-lo vivo. Afinal, ele diz que
o seu Deus tem planos especiais para a vida
dele, então deixo nas mãos do Deus dos
hebreus essa questão. José foi o melhor servo
que já tive, não posso negar que sua prestação
de serviços foi impecável. Que o Deus que ele
confia possa livrá-lo.

— Potifar, diante disso, peço que solte-o.


Mediante de toda essa verdade, como consegue
manter seu melhor servo preso sabendo de sua
inocência? Solte-o. Ele me pediu para
interceder por ele quando eu fosse liberto do
cárcere.

— Meu caro copeiro, não me dê conselhos.


Sou o capitão da guarda e o que fiz está feito. E
sugiro que você seja bastante esperto para não
comentar com mais ninguém a respeito de
José. E jamais conte a ninguém o que comentei
contigo. — diz o capitão da guarda encerrando
essa conversa.

O chefe dos copeiros fica aflito com a


resposta em tom ameaçador de Potifar. Ele
pensa em José, seu amigo, em uma maneira de
libertá-lo. Mas ao mesmo tempo sente medo de
Potifar, que poderia de alguma forma
prejudicá-lo. Resolve então mudar de assunto:

— Senhor Potifar, mudando de assunto:


eu sei que foi responsável por toda a
investigação do caso da afronta do padeiro à
rainha. Diga-me porque Rimondut fez aquilo?
Eu não consigo entender. O que ele tinha
contra a rainha? — pergunta o chefe dos
copeiros ao capitão da guarda real.
— Elementar, meu caro Aglaimorque: o
padeiro real não tinha absolutamente nada
contra a rainha.

— Então, não entendo! — responde


Aglaimorque confuso com a conclusão da
investigação crimininal de Potifar.

— Ele tinha algo contra você! — afirma


Potifar mostrando convicção. — Veja só,
Rimondut tentou fazer com que você
duvidasse de si mesmo, ficasse confuso e
falasse como um louco diante da rainha. Ele
tentou te prejudicar! Por alguma razão...

— Contra mim? Mas o que ele teria contra


mim? Sempre fomos tão amigos. — questiona
o chefe dos copeiros ainda bastante surpreso e
confuso com a conclusão do caso.

— Eu desconfio do que seja, mas espero que


você mesmo reflita e perceba por si mesmo. Só
posso te dizer que seu amigo de verdade, o
chefe dos padeiros nunca foi. Ele enganou
você! Eu já investiguei muitos crimes contra o
Reino do Egito, mas o que o padeiro tinha
contra você era um forte sentimento ruim...
Reflita com calma que você encontrará
respostas. Não quero dizer diretamente. Não
vou agir como o padeiro que tentou te induzir
pensamentos, pois penso que você poderá
entender com sua própria perspicácia. —
responde Potifar olhando nos olhos de
Aglaimorque e se despedindo dele com um
toque nos ombros.

Aglaimorque fica refletindo sobre a fala


de Potifar. Ele não sabia que por trás de tudo
que aconteceu havia um sórdido plano
maldoso do padeiro Rimondut...
Capítulo 9:

O que o padeiro tinha contra a rainha?

— Tio Morquiiiiiii! — diz Sinof, filho do


padeiro Rimondut, ao ver Aglaimorque
entrando na padaria real.

— Olá Sinof, que animação em me ver. — diz


Aglaimorque enquanto se aproxima do menino
e o abraça.

— Tio Morque, o papai me deu uma sobra da


massa do pão para eu brincar de moldar
bichinhos. Olha o que eu fiz: os cavalinhos e as
éguinhas. Eles tem crina e rabo que eu mesmo
moldei. Eu amo animais! — diz Sinof
apresentando orgulhoso as suas obras de arte
infantis.

— E pelo visto ama esculturas também, belas


obras de arte Sinof! — elogia Aglaimorque ao
animal abstrato, sem formas definidas, criado
pela imaginação da criança.
— Tio Morque, você já viu as éguas do faraó?
Elas são bonitas mesmo? Todo mundo fala o
quanto elas são bonitonas e dizem assim: "Uau!
As éguas do faraó são mesmo bonitas!" Você já
viu? Já viu? — pergunta Sinof

— Quando vou pela estrada que vai pra vinha


eu passo pela cocheira das éguas do faraó.
Realmente elas são bem cuidadas e muito
bonitas, o próprio faraó admira a beleza das
suas éguas.

— Tio Morque, vem aqui deixa eu te contar


um segredo: você sabia que a égua é
cavalo-menina? A fêmea do cavalo é a égua, e
ela sendo bonita deve ter um cavalão bem
bonitão assim para passear ao lado dela não é?
Os cavalos do faraó também são bonitos?

— Sinof! Pare de falar sobre cavalos! —


interrompe o padeiro ao seu filho — Já te disse
isso quantas vezes? Esquece essa ideia de
cavalos, está para ficar obsessivo com isso! Não
quero meu filho numa cocheira escovando
pêlos de animais e limpando suas fezes!
Construa seu futuro em algo melhor meu filho!
— Sim papai! — diz Sinof abaixando a cabeça
em sinal de obediência ao seu pai, o padeiro
real.

No dia seguinte...

O padeiro Rimondut procura pelo famoso


mago Jambres Primeiro, que pouco se
surpreende com sua visita inesperada.

— A que devo a visita, nobre padeiro real?

— De onde você me conhece?

— Deveria reconhecer mais sobre meus


poderes e minha capacidade de saber tudo
sobre o passado, presente e futuro. Minha fama
não é em vão! Afinal, sou o grande mago
Jambres Primeiro! Posso identificar qualquer
pessoa, suas intenções, seus desejos, seus
segredos... — diz o mago rodeando o padeiro e
mostrando trejeitos de magia com as mãos.

— Percebo que está preocupado com seu


futuro. — continua o mago— Quer
modificá-lo? Tenho magias e poções para isso,
o custo é alto, mas nada que não valha o seu
sacrifício.

— Como você sabe disso? Uau! Seus poderes


são mesmo incríveis! — diz o padeiro atônito.

— Não meu caro! Isso é de praxe. Ninguém


me procura no meu recanto secreto para atos
de nobreza. Todos que me procuram usam
trajes de disfarces, não querem ser
identificados, só desejam mesmo usar a magia
para prejudicar alguém e para se dar bem. Nem
preciso adivinhar nada, isso é mais que óbvio.
Mas eu preciso fazer um clima de que sou
poderoso feiticeiro e leio as mentes dos que me
procuram... O meu sucesso como feiticeiro
depende do que acreditam que posso fazer, se
você acha que sou capaz, então você está certo.

— Preciso mesmo de um feitiço que faça meu


filho esquecer o apreço por animais, vai acabar
virando um simples trabalhador braçal e
fedendo a esterco. Ah, também não quero meu
filho sovando massa de pão e suando diante de
um forno de padaria. Quero mais para o futuro
dele, entende?
— General do exército? Ou algo menos
perigoso como Conselheiro do faraó?

— Copeiro real no lugar do Aglaimorque.

— Hum... boa sugestão, a escola de copeiros


reais deve abrir vaga em breve, seu filho poderá
cursar o treinamento e...

— Ah não! Muito sacrificante aquele


treinamento, meu filho não vai conseguir... —
diz o padeiro interrompendo o raciocínio do
mago.

— Vejo em você alguém traumatizado e


projetando traumas no filho que nem sequer
lhe aconteceram... você não acredita na
capacidade dele? Ou porque você fracassou
acha que seu filho também fracassará? Ou você
é apenas um homem frustrado e invejoso?
Adoro os invejosos, sempre me procuram e
trazem bons lucros.

— Vai ajudar ou não? Não tenho muito tempo.


— diz o padeiro já desconcertado com o que
ouviu do mago.
— Vejamos, poderia arrumar uma maneira de
destituir Aglaimorque do seu cargo, quem sabe
fazendo-o parecer louco diante do faraó ou da
rainha. A fama do copeiro real é de que ele
nunca comete erros, então apenas acusá-lo de
alguma falha seria inviável. Ele saindo de cena
pode deixar mais favorável a sua empreitada
com seu filho. Podemos enfeitiçar o mestre da
escola de copeiros para digamos “facilitar” as
indicações e percursos do seu filho. Mas tudo
isso sem que você seja levantado como
suspeito... ora veja esta poção, ela tem um
poder mágico muito misterioso. Eu a chamo de
poção praguejante. Coloque-a secretamente em
uma parte pequena do cultivo da matéria-prima
que atrairá pragas sobre a lavoura e então o
destino se encarregará do resto...

— Eu derramo a poção praguejante na raiz da


videira ou coloco diretamente nos cachos de
uvas? — diz o padeiro concordando com o
plano.

—Ahn, ahn! Você não vai colocar na vinha...


Não! Você não raciocina? Pensei que tivesse
entendido o plano e que fosse mais esperto,
mas vejo que seus miolos foram assados junto
com os pães...

— Não estou entendendo nada, a poção


praguejante não é para sabotar a vinha do
Aglaimorque?

— Agora entendo de fato porque você foi


reprovado na escola de copeiros reais... sua
imaginação para maldades é bastante limitada.
Ai, ai, terei que fazer o duro trabalho de
explicar o plano, mas como feiticeiro de
sumária paciência assim o farei. Falarei com
bastante sutileza para que entenda, preste bem
atenção: Você está ficando louco!! (gritou o
feiticeiro subitamente) Se envenenar a vinha de
Aglaimorque será obvio para descobrirem que
foi uma sabotagem, seu imbecil! Ele tem que
parecer culpado e não sabotado, seu miolo de
pão velho! (pausa para respiração profunda do
feiticeiro e retomada da sua postura centrada,
misteriosa e sutil). Não é isso que você quer
não é nobre padeiro real? Seríamos ambos
descobertos, mas eu consigo me
teletransportar para algum submundo da magia
e escaparei facilmente de qualquer punição. Já
você passaria longos anos fazendo pães com o
barro do chão de uma cela imunda da prisão...

— Que horror! Então, o que faço?

— Coloque a poção praguejante sobre o trigo!

— O que? Que loucura é essa? Vou sabotar


minha própria matéria-prima de trabalho na
padaria? E vou fazer pão com que farinha se o
trigo estiver todo com praga??? — diz o
padeiro perdidamente confuso.

— Mi-o-lo de pão ve-lho! — diz o feiticeiro


em sílabas enquanto bate com alguns
cascudinhos na cabeça do padeiro. — Eu já
disse que a praga é limitada na lavoura, não
atinge toda a plantação de trigo. Apenas uma
parcela pequena da produção equivalente a um
saco de farinha será atingida pela praga, o
restante do trigo estará intacto e da boa
qualidade que os nobres já conhecem.

— E?
— E então, você estará na sua padaria com
esse saco de farinha contaminado. Atraia
Aglaimorque para uma armadilha, deixe que ele
perceba que a farinha de trigo está mofada,
mas faça-o duvidar da própria percepção. Ele
ficará confuso, acabará o acusando de querer
envenenar o faraó ou a rainha. Mas não
conseguirá nem ele mesmo acreditar que
realmente o trigo tinha praga ou não, porque
você o fará duvidar de si mesmo. Então, a
palavra dele perderá a convicção, seus
conselhos não serão mais considerados, sua
sanidade e lucidez serão questionadas... ele
acabará perdendo a confiança do faraó que vai
pensar que ele está se embriagando com o
vinho em pleno horário de serviço. Talvez não,
talvez apenas a rainha pense nessa
possibilidade, as mulheres tem mais
sensibilidade de perceber a loucura nas
pessoas... Enfim, de todo jeito, ele será
destituído da função de copeiro... e você
Rimondut, nesse momento, esteja pronto para
suportar a choradeira dele fingindo ser um
“bom amigo”...
— Hum! Se eu fingir ser amigo dele, posso
conduzi-lo para a sua própria desgraça e
ninguém desconfiará de mim. Entendi o plano!

— Oh! Meu caro, eu não disse isso... fingir ser


amigo de alguém para destruí-lo, quanta
crueldade... — ironiza o feiticeiro

— É, pelo visto, não basta fazer um feitiço


contra alguém, tem que criar todo o enredo
para eu não ser descoberto... — reflete
Rimondut

— Ah, mas que orgulho! Você tem uma mente


fabulosa para maldade! Não é a toa que me
procurou, formaríamos uma boa dupla de
feitiçaria... Ah eu odeio gentinha que acha que
consegue tudo pelo caminho do bem, próprio
esforço e dedicação! Nada pessoal, apenas
porque esse tipo de gente causa um prejuízo
para meus negócios. Já estou eu mesmo com
asco do copeiro real! Atraia Aglaimorque para a
emboscada. Deixe com que ele veja o trigo
estragado apenas uma vez depois dê fim ao
saco de farinha mofada e também aos pães
mofados que voce fizer para enganá-lo....
convença-o de que ele não viu o que viu! O
desenrolar da história ficará por conta do
destino. Pronto, serviço finalizado: custo do
meu serviço 500 moedas de prata e se tudo der
errado nunca nos vimos...

— Entendido! Agora como faço para me


aproximar mais dele sem levantar suspeitas?

— Meu querido cabeça de miolo de pão velho!


Essa parte depende de uma boa encenação e
fingimento. Crie uma intimidade, chame-o por
apelido, divida segredos pessoais com ele,
invente histórias irreais, daquelas bem tristes e
dignas de pena, finja precisar da ajuda dele e
especialmente, ofereça a ele alguma missão
para que ele possa realizar por você, para
fazê-lo pensar que o considera um amigo leal.
Isso o atrairá como uma isca numa ratoeira
atrai um rato. Ah! Que emocionante, adoro
planos malévolos, me deixam todo arrepiado.
Quando finalmente ninguém acreditar nele,
convença-o a treinar um substituto ao cargo de
copeiro real, nada menos que seu filho Sinof!
— Como eu convenço Sinof a seguir a carreira
de copeiro real?

— Ah não! Não me pergunte isso! Vai querer o


que? Quer uma poção para envenená-lo? Que
raio de pai é você que não consegue mandar no
próprio filho? Obrigue-o como um pai deve
fazer, ora! Não precisa de feitiço contra uma
criança, apenas mande e terá que obedecer! Até
eu que tenho os mais poderosos feitiços não
usaria meus poderes contra uma criança. Meu
filho Janinho, eu simplesmente mando e ele
faz! Eu digo a ele: Faça isso Janes! E ele me
obedece. Acredita que ele com três anos de
idade já faz um caniço virar serpente? Ah! É o
orgulho do papai! Meu segundo filho Jambres
Segundo também será desse jeito, mas ele só
nascerá daqui uns cinco anos... Eles serão uma
dupla de magos famosos futuramente no Egito,
já previ.

— Você já sabe como será o futuro de seus


filhos? Como sabe?

— Ah para, por favor! Não tenho que revelar


segredos da minha profissão a você! Sou
excelente no meu trabalho, eu sei tudo do
futuro dos meus filhos. Tanto sei que você me
procurou para ajudar a dar um bom futuro
para o seu filho também. Nada que uma
pequena mágica e um plano maldoso não
sejam capazes de dar uma forcinha para criar
um futuro glorioso para os filhos, não é?
Quando você for pai do copeiro do faraó e
estiver gozando dos prestígios sem precisar de
esforço diário para trabalhar, você se lembrará
das minhas palavras.

Esse foi o plano maléfico que o padeiro real


colocou em prática para sabotar o copeiro
Aglaimorque e tornar seu filho Sinof copeiro
do rei em seu lugar. Porém, os planos de Deus
levaram o padeiro à condenação de morte. E o
copeiro real ainda teria a missão de libertar
José, falando ao seu respeito ao faraó. Os
planos de Deus sempre se cumprem!
Capítulo 10:

Visita ao pai e o vinho do esquecimento

O chefe dos copeiros, porém, não se lembrou de José; ao


contrário, esqueceu-se dele. (Gênesis 40:23)

— Meu pai, como eu estava ansioso para


encontrá-lo! — diz Aglaimorque ao abrir a
porta da casa de seu pai.

— Você demorou muito tempo desde a última


visita ao seu velho pai. O que aconteceu?
Esqueceu do seu pai, seu filho ingrato? — diz
o pai de Aglaimorque com ar ranzinza de
desgosto, olhando o filho com desdém.

— Jamais me esqueço do senhor, meu pai.


Pensava em ti todos os dias na prisão.

— Prisão? Que prisão?

— Pai, eu preciso te contar: eu estive preso por


uns dias, mas já fui restituído ao cargo de
copeiro real. Foi um mal entendido, eu na
verdade sou um grande benfeitor, salvei a vida
da rainha Gjyrm. Estou tão feliz ao te
encontrar. — Aglaimorque se lança ao abraço
do pai, que o rejeita solenemente.

— Pai, foi tudo uma grande confusão, eu não


fiz nada, foi uma armadilha, está sendo tudo
investigado e esclarecido.

— Você sempre foi um inútil, como foi se


deixar cair numa cilada para ser preso? Nem
em meus tempos de guerra eu fui preso pelos
inimigos do reino. Eu não me abatia nem com
as torturas, nem quando minha perna foi
arrancada eu me deixei ser preso pelo exército
adversário. Que vergonha! Um filho
prisioneiro! Quanta decepção!

— Eu não fiz nada, pai. O faraó me trouxe de


volta para trabalhar no palácio como se nada
tivesse acontecido. Vou te contar com detalhes
o que houve...

...

— Você nem viu direito se o pão estava


mesmo envenenado e avisou a rainha todo
nervosinho. Mas que absurdo acusar alguém
sem ter certeza do que viu. E ainda derramou
suor no vinho da rainha?! Derramou vinho
sobre a mesa da rainha?! Tantos anos
investindo na sua educação para se tornar um
grande profissional real e você comete o mais
patético deslize diante da autoridade! Que
vergonha de você! Quanta decepção!
Desapareça daqui e nunca mais apareça! Não
quero a vizinhança comentando que tive um
filho preso! O que pensariam de mim? Que
não sou mais um homem importante no reino
egípcio? Eu não vou destruir minha reputação
de anos servindo em guerras por causa de um
filho estúpido! Prefiro que pensem que você
está ocupado fazendo algo importante e não
tem tempo para me visitar!

— Mas pai, eu...

— Cale-se! Um filho prisioneiro, ah! Quanta


decepção! Ainda me diz que fez uma amizade
com um escravo preso por estupro! Que
história de Deus sem rosto, um deus
estrangeiro, sem nome, sem estátua, sem nada!
Com tantos deuses no Egito, e você me
aparece com um Deus invisível! Ah! Quanta
baboseira inútil! Deve ser por isso que você se
convenceu dessa história, porque você também
é um inútil! Repito pela última vez: some da
minha frente!

Aglaimorque sai aos prantos e se


esconde envergonhado na vinícola. Soluçando
de tanto chorar, se deita próximo a um barril
de produção de vinho e uma gota da bebida foi
derramada próximo ao canto da sua boca. Ele
sente o gosto do vinho e rapidamente pega um
recipiente e abre a torneira do barril, enchendo
esse recipiente de vinho. Aglaimorque bebe o
vinho com rapidez, como se estivesse
engolindo a bebida para diminuir o sofrimento.
Embriaga-se, anda cambaleando pelo
compartimento de tonéis de vinho. Cai no
chão e adormece em sono pesado.

Um vento forte uivante despedaça uma


estátua de barro. Uma fumaça envolve seu
corpo deitado ao chão, deixando-o cada vez
menor. Eis que todo o ambiente fica
esfumaçado. Um elefante se debatendo em
fúria é acorrentado em uma cela solitária, com
correntes nas quatro patas. As correntes o
imobilizam qualquer movimentação do
elefante. Um bebê elefante surge na janela da
cela, e o elefante, ao vê-lo, se esforça para
vencer a força das correntes, mas pouco
consegue se mexer. Debruça a cabeça para fora
da janela da cela e abraça o elefante bebê pela
tromba por alguns segundos, sentindo afeto
por este. O bebê elefante desaparece, e o
elefante adulto chora lágrimas silenciosas. A
cela do elefante, de repente, se encolhe e se
reduz a uma pequena urna de madeira, na qual
há uma placa escrita em ieloglifos: uma grande
missão te espera, não se esqueça de mim. A
imagem de um homem surge ao longe, com
um sol por trás de si e muito trigo ao seu redor.
Eis que a visão parece José nessa imagem em
uma turva neblina e muita luz o envolvendo.

Aglaimorque acorda assustado: — Que


pesadelo estranho!

Uma terrível dor de cabeça o


acompanha ao tentar se levantar. Tontura, dor
no estômago. Mas a dor de cabeça foi o que
mais o incomodou.

— Aí que dor na cabeça! Como eu vim parar


aqui? Quem está balançando o chão? Aí minha
cabeça!

Aglaimorque sai da vinícola


cambaleante, entra no palácio real e logo
procura o mago Jambres Primeiro que estava
no palácio preparando rituais a mando do
faraó.

— Estou com uma dor de cabeça muito forte e


muito estranha? Pode me conseguir um
antídoto ou um remédio?

Jambres Primeiro observa por alguns instantes


o copeiro de alto a baixo, até que, finalmente, o
reconhece:

— Ah! Você não é o copeiro do faraó? Hum,


que estranha essa dor repentina de cabeça, o
que será que houve?

— Não me recordo bem, eu acordei de um


pesadelo e me senti mal assim
— Ah! Está muito nítida essa conta: copeiro
mais vinho mais pesadelo igual a um homem
que se embriagou com o vinho do rei! Ah! Que
coisa feia ein copeiro, sua fama de ser
responsável então não procede tanto assim,
não é? — debocha o feiticeiro

— Eu nunca bebi!

— Ah sim, percebe-se que deve ser sua


primeira ressaca. Mas eu não sei se poderia
confiar nessa ideia, uma vez que sua percepção
da realidade não é boa não é mesmo?! Dizer
para a rainha Gjyrm que o pão estava
envenenado sem ter certeza, oh! Foi o que você
disse não foi? Pão envenenado… quem faria
uma maldade dessa com a rainha tão querida
em todo Egito? Ninguém faria isso, não é
mesmo meu caro copeiro... foi tudo uma ilusão,
você se confundiu, você estava alterado pela
bebida nesse dia, só pode ser isso, não é
mesmo... — enquanto dizia essas palavras, o
mago preparava uma poção e servia a
Aglaimorque, que já estava entontecido pela
ressaca da noite anterior, e ficava cada vez mais
confuso ao ingerir a poção.

— Vamos tome tudinho e logo ficará bom


dessa dor de cabeça. E vê se para de beber
tanto e ficar dando ideias erradas nos ouvidos
da rainha e do faraó. Que credibilidade você
teria quando ela e o faraó souberem que você
se embriaga fora do horário de trabalho? Você
nunca viu nenhum pão envenenado, você
nunca viu pão envenenado...

Aglaimorque sai da presença do mago


ainda em estado de bastante em tontura e dor
de cabeça. A frase de Jambres Primeiro fica
ressoando em sua mente: Você nunca viu pão
envenenado!

— Acho que essa poção de esquecimento


deixará o copeiro bem confuso, ele não vai
lembrar-se de nada do que aconteceu. Assim
espero. Até eu deveria tomar umas gotinhas
dessa poção para esquecer o acordo que fiz
com aquele maldito padeiro
cabeça-de-miolo-mole. Ninguém pode
descobrir que tem dedo meu nessa tramóia
toda... Lamento pelo menininho que vai puxar
carroça mesmo. Com aquele padeiro morto e o
copeiro confuso de suas próprias percepções,
minha honra estará a salvo e minha dinastia se
perpetuará. O padeiro foi se deparar logo com
o Deus de Israel, com esse aí não eu consigo
realizar nenhum feitiço eficaz. Ah mas tudo
bem, com o padeiro morto, o copeiro
esquecido, o escravo prisioneiro adivinhador de
sonhos nada poderá fazer em nome de seu
Deus sem rosto. Um Deus bem poderoso, isso
tenho que reconhecer, mas eu consegui me
desviar de seu poder poderoso. Ah mais uma
vez eu me superando em passar impune, afinal
a culpa é do padeiro mesmo. Ah, eu sou o
máximo, eu sou o maioral, eu que deveria ser o
próprio Osíris e a própria Ísis. A senhora da
justiça Maat haverá de um dia pesar meu
coração mais leve que uma pluma em meu
julgamento final no mundo dos mortos, eu sou
tão inocente, sou o melhor feiticeiro da história
do Egito — pensa o mago consigo mesmo, se
vangloriando por sua astúcia em não ter sido
descoberto por seu envolvimento no caso do
crime do padeiro.
Aglaimorque supera as consequências da
embriaguez no dia seguinte e decide não mais
beber vinho. Porém, os efeitos da poção do
esquecimento o acompanharam por dois anos,
e nesse tempo, o copeiro esqueceu-se de
praticamente tudo que tinha vivido, lembrando
apenas dos seus aspectos profissionais. Assim,
continuou servindo ao faraó e a rainha Gjyrm
como de costume, com todo o seu
profissionalismo impecável.

O chefe dos copeiros esqueceu-se de


José, o amigo que interpretou seu sonho na
prisão. A poção do mago o deixou muito
confuso. As suas lembranças ficaram
embaralhadas. Ele se lembrava de seu pai
orgulhoso de seus feitos, mas, rapidamente
lembrava-se da última briga que tiveram e dos
insultos que ouvira. Lembrou-se
constantemente de que seu pai lhe disse “para
não dar ideias erradas nos ouvidos da rainha."
Na verdade, a poção do esquecimento o deixou
tão confuso que esqueceu que o autor dessa
frase foi o mago Jambres Primeiro, e não seu
pai. Tudo era muito confuso e as cenas ficaram
em recortes fora de lógica na mente do
copeiro. Até que...

Capítulo 11:

Sonhos do faraó

Ao final de dois anos, o faraó teve um sonho. (Gênesis


41:1)

— Vocês sete aqui, vão buscar mais


vinho na vinícula! Depressa! Levem mais sete
tonéis para trazer mais vinho pro palácio!
Sejam rápidos! Não demorem, não percam
tempo no caminho! Não derramem vinho, não
pode faltar vinho ao faraó nesse momento
tenso! — ordena Alglaimorque aos seus
subordinados com muita impulsividade pois
era em um dia de trabalho atípico.

— Vocês outros que estão aqui,


mantenham todas as taças impecavelmente
limpas e prontas para uso. O faraó já quebrou
quatro taças de ouro só nessa manhã! Ele está
irado demais, como nunca vi antes! Deixem
pelo menos todas aquelas taças da prateleira
mais alta devidamente prontas para que eu
possa usá-las a qualquer momento. Sabe-se lá
quantas taças mais o faraó quebrará e precisarei
substituí-las de imediato... Depressa, agilizem
esse serviço! — ordena o chefe dos copeiros
aos demais subordinados.

— Vocês outros, levem mais escravos


para limpar o vinho derramado na sala do
trono! Recolham tudo que estiver pelo chão!
Levem panos limpos e baldes e enxuguem o
vinho que o faraó derramou! Sejam rápidos!
Deixem tudo limpo! Assim que terminarem a
limpeza, saiam imediatamente da sala real, mas
fiquem por perto caso ouçam barulhos de mais
objetos lançados ao chão! — continua nas
ordenanças o chefe dos copeiros aos seus
subordinados naquele dia de muita agonia do
faraó.

Aglaimorque sai da presença dos seus


subordinados e carrega a bandeja com muita
pressa ao encontro do faraó. Ele respira fundo
antes de entrar na sala do trono do faraó, e
finge não demonstrar nervosismo.

— Como assim os magos e adivinhos de


todo Egito não conseguem interpretar os
sonhos que tive? É uma afronta não revelarem
os mistérios dos sonhos ao grande e poderoso
faraó. Eu estou indignado com tamanha
incompetência! Andem revelem esse
significado, eu preciso saber o que está por trás
desses sonhos! Por que ninguém me responde?
— diz o faraó aos gritos enquanto arremessa
mais uma taça de ouro ao chão, derramando o
vinho servido por Aglaimorque.

— Mandem chamar Jambres Primeiro! Com


urgência! — ordena o faraó

— Senhor, o mago Jambres Primeiro está em


rituais em Heliópolis pois foi acometido de
uma peste de piolhos que o mesmo não
conseguiu se livrar nem com toda magia
profunda do Egito! — responde um dos
oficiais reais.
— Ah! Que ódio — se irrita o faraó e lança
mais uma taça cheia de vinho ao chão com
toda raiva.

— Calma meu amado, sirva-se do vinho para


se acalmar. Os magos deverão encontrar logo
uma solução para interpretar os seus sonhos.
Talvez meu amado faraó esteja
pressionando-os demais. Aguarde os
pergaminhos serem lidos pelos sábios, magos e
adivinhos onde deverão encontrar a
interpretação escrita neles logo mais. Enquanto
isso se tranquilize com o vinho. — diz a rainha
para acalmar o faraó deveras nervoso e irritado
de forma surpreendente. Enquanto demonstra
carinho ao faraó, a rainha Gjyrm discretamente
faz um sinal com a cabeça para Aglaimorque
encontrá-la fora da sala do trono.

— Aglaimorque, que situação complicada! O


que vamos fazer? O faraó está irreconhecível
com tamanha fúria. Que sonhos será que
foram esses que o deixaram tão nervoso? —
pergunta a rainha Gjyrm ao chefe dos copeiros
— Minha rainha, com todo respeito, já se
foram seis taças de ouro arremessadas ao
longe! Desse jeito não terei nem vinho mais
para servi-lo, porque o faraó derramou! E as
taças? Ja foram seis taças destruídas desse jeito,
vou ter que servir vinho em cumbucas de
barro!

— Não fale isso nem de brincadeira! O vinho


que você serve será fundamental para
acalmarmos o rei enquanto o mistério dos
sonhos não for revelado! Você é competente
nisso, sei que dará conta. Temos que ganhar
tempo. Enquanto isso Aglaimorque, me ajude a
pensar numa solução para esse caso! Somente
nós dois estaremos na sala do trono hoje,
temos que pensar em algo.

Durante todo aquele dia foram mais de


trinta taças arremessadas ao piso da sala real
com fúria implacável do rei que nao foi
atendido ao pedir a interpretação de seus
sonhos. Até que o faraó ingeriu o vinho e se
acalmou apenas no final do dia. Ele e a rainha
se recolheram aos seus aposentos e foram
dormir. O copeiro real também estava exausto
com o serviço multiplicado daquele dia. Ele se
recolheu e adormeceu.

— Senhor copeiro real, informo não há


mais vinho na vinícula! Já foram enviados
dezenas de escravos com tonéis e não há mais
vinho na produção para ser trazido ao palácio!
O faraó bebeu todo o estoque disponível, fora
a grande parte que derramou de vinho em sua
ira. Não conseguiremos produzir mais vinho
com rapidez, pois a fermentação das uvas
demora até anos para produzir um vinho digno
de servir ao rei.

Aglaimorque entra em desespero e corre


pessoalmente em direção à vinícula. No meio
do caminho, ele vê uma alta palmeira com um
leão preso nela. O leão está preso na palmeira
por pregos, e totalmente ensanguentado. O
chefe dos copeiros se aproxima da palmeira e
de repente, o leão se transfigura em um
homem de vestes brancas que diz:

— Fui traspassado por causa das vossas transgressões,


fui esmagado pelas vossas iniquidades; o castigo que vos
traz a paz está sobre mim, e pelas minhas feridas você
serão curados.

Aglaimorque reconhece que o homem


de branco era o mesmo que o levara aos
campos de cereais, para o qual lançou toda a
sua ansiedade há quase dois anos atrás. O chefe
dos copeiros fica intrigado com a cena do
homem pregado à palmeira que esquece por
um instante da urgência da busca pelo vinho
para acalmar o faraó.

Um raio reluzente cai bem próximo à


palmeira, e faz um grande estrondo seguido de
um clarão. Em seguida, o copeiro e o homem
aparecem às portas da prisão. O homem
oferece vinho ao copeiro e diz “Aquietai-vos e
sabei que eu sou Deus. Serei exaltado entre as nações,
serei exaltado na terra.”

— Deus? Você é o Deus de José! Ele me


falou sobre o seu poder! Quanto tempo eu
estava desmemoriado e esqueci-me disso, nem
me lembrava do meu amigo da prisão.
Num instante, milagrosamente toda a
memória do copeiro foi restaurada.

Aglaimorque acorda com falta de ar


devido ao sonho que acabara de ter. Naquele
momento, o Espírito Santo estava plantando
em seu coração uma semente: precisava agir
apesar do medo. De imediato, ele se levanta e
procura a rainha Gjyrm.

Aglaimorque anda por todo o caminho


ao encontro da rainha bastante convicto e
pensa em voz alta repetidamente:

— José interpreta sonhos, ele poderá


interpretar os sonhos do faraó!

— Rainha, eu acho que consigo uma pessoa


capaz de interpretar os sonhos do faraó! — diz
Aglaimorque esbaforido após o sonho que
tivera e a restauração de sua memória.

— Vamos, o que está esperando? Vá


imediatamente para a sala do trono falar com o
faraó. Já tentamos todos os sábios e adivinhos
do reino, o que custa mais uma tentativa?! —
responde a rainha.
Certa vez o faraó ficou irado com os seus dois
servos e mandou prender-me junto com o chefe dos
padeiros, na casa do capitão da guarda.
Certa noite cada um de nós teve um sonho, e
cada sonho tinha uma interpretação.
Pois bem, havia lá conosco um jovem hebreu,
servo do capitão da guarda. Contamos a ele os nossos
sonhos, e ele os interpretou, dando a cada um de nós a
interpretação do seu próprio sonho.
E tudo aconteceu conforme ele nos dissera: eu
fui restaurado à minha posição e o outro foi enforcado".
O faraó mandou chamar José, que foi trazido
depressa do calabouço. Depois de se barbear e trocar de
roupa, apresentou-se ao faraó.
O faraó disse a José: "Tive um sonho que
ninguém consegue interpretar. Mas ouvi falar que você,
ao ouvir um sonho, é capaz de interpretá-lo".
Respondeu-lhe José: "Isso não depende de mim,
mas Deus dará ao faraó uma resposta favorável".
Então o faraó contou o sonho a José: "Sonhei
que estava de pé, à beira do Nilo, quando saíram do
rio sete vacas, belas e gordas, que começaram a pastar
entre os juncos.
Depois saíram outras sete, raquíticas, muito
feias e magras. Nunca vi vacas tão feias em toda a
terra do Egito. As vacas magras e feias comeram as
sete vacas gordas que tinham aparecido primeiro.
Mesmo depois de havê-las comido, não parecia
que o tivessem feito, pois continuavam tão magras como
antes. Então acordei.
"Depois tive outro sonho: Vi sete espigas de
cereal, cheias e boas, que cresciam num mesmo pé.
Depois delas, brotaram outras sete, murchas e
mirradas, ressequidas pelo vento leste. As espigas
magras engoliram as sete espigas boas. Contei isso aos
magos, mas ninguém foi capaz de explicá-lo".
"O faraó teve um único sonho", disse-lhe José.
"Deus revelou ao faraó o que ele está para fazer.
As sete vacas boas são sete anos, e as sete
espigas boas são também sete anos; trata-se de um único
sonho. As sete vacas magras e feias que surgiram depois
das outras, e as sete espigas mirradas, queimadas pelo
vento leste, são sete anos. Serão sete anos de fome.
"É exatamente como eu disse ao faraó: Deus
mostrou ao faraó aquilo que ele vai fazer.
Sete anos de muita fartura estão para vir sobre
toda a terra do Egito, mas depois virão sete anos de
fome. Então todo o tempo de fartura será esquecido,
pois a fome arruinará a terra.
A fome que virá depois será tão rigorosa que o
tempo de fartura não será mais lembrado na terra.
O sonho veio ao faraó duas vezes porque a
questão já foi decidida por Deus, que se apressa em
realizá-la."Procure agora o faraó um homem criterioso
e sábio e coloque-o no comando da terra do Egito.”
(Gênesis 41: 10-33)

Capítulo 12:

O governador está te chamando


(continuação)

"Abram caminho! " Assim José foi colocado no


comando de toda a terra do Egito.
Disse ainda o faraó a José: "Eu sou o faraó, mas sem a
sua palavra ninguém poderá levantar a mão nem o pé
em todo o Egito". O faraó deu a José o nome de
Zafenate-Panéia. (Genesis 41:43-46)

Continuação da cena do capítulo 1:

[...]

— Mas você só se lembrou depois de dois


anos?! Dois anos?! Foram dois anos de cela
imunda trabalho pesado, você só lembrou de
mim depois de dois anos?! — diz o governador
Zafenate Paneia ao chefe dos copeiros
demonstrando sua insatisfação.

Pálido e sem ação, apavorado


Aglaimorque se cala e abaixa a cabeça.

— Me sirva um cálice de vinho! — ordena o


governador Zafenate Paneia.

Nervoso, Aglaimorque se atrapalha e


desequilibra a bandeja, quase derruba a jarra de
vinho. Porém retoma seu posto de copeiro
servindo vinho ao governador.

— Você sabe o que eu deveria fazer


agora que tenho poder sobre sua vida e sua
morte Aglaimorque? Possivelmente, o Faraó
acharia outro copeiro logo e você já esteve na
prisão, não seria novidade alguma... dois
anos?!... dois anos?!... O que andou fazendo
nesses dois anos? Enquanto eu estava ainda
preso, nesses dois anos? Será que os crocodilos
do Nilo gostam de vinho?

Aglaimorque serve o vinho, enche o


cálice do governador mantendo seu
profissionalismo característico de copeiro do
rei. Embora por dentro esteja em pânico,
preocupado pensando na escolha da punição
que o governador o condenaria. Curiosamente,
Zafenate Paneia passa a taça de prata cheia que
segurava com a mão direita para a mão
esquerda. Depois pega outra taça idêntica à
primeira, e ordena:

— Encha este outro cálice! — ordena o


governador.

Aglaimorque obedece sem questionar,


porém sem entender por que encher duas taças
de vinho, se o governador estava sozinho para
degustar a bebida.

— Agora coloque a bandeja com a jarra


de vinho naquela mesinha ali. Puxe uma
cadeira e sente-se comigo! Brinde comigo!

— Mas Senhor? Como assim? — diz


atônito o copeiro.

— Aglaimorque, meu caro, eu não


sossegaria enquanto não te pregasse essa peça,
só queria ver você finalmente balançando a
bandeja, e vi! Pensei que seria engraçado, mas
não tanto assim — disse o governador às
gargalhadas.

— Ainda não entendo senhor!

— Sente-se — disse o governador —


segure esse cálice de vinho.

O copeiro senta, segura a taça de vinho,


enquanto o governador olha diretamente em
seus olhos e entusiasmado diz:

— Vamos celebrar, pois estávamos


tempos atrás em uma cela na prisão e hoje
estamos juntos brindando no palácio. Sabe
Aglaimorque, eu sempre confiei no meu Deus,
sempre soube que poderia continuar confiando
Nele. Eu sempre soube que eu não era escravo,
que tão pouco fiz nada de errado para estar
naquela prisão sofrendo daquele jeito. Deus
tinha planos incríveis para minha vida:
fazer-me prosperar na terra da minha aflição. E
esses planos de Deus incluíam você! Deus te
levou ao cárcere, também injustamente, para
nos conhecermos e você falar de mim ao faraó.
Quando pedi isso a ti, só imaginava ser liberto
e voltar para minha família, rever o meu pai.
Todavia, Deus me colocou como governador
do Egito com uma missão honrosa de salvar a
nação da fome! Tem noção da tamanha
responsabilidade?! Além disso, salvar outras
nações, promover alimento ao povo de todas as
terras para que nada falte a nenhum dos seus
habitantes. Vamos acabar com a fome de todo
mundo! Faz ideia do que significa isso? Você
também confiou em Deus quando acreditou na
interpretação do sonho que teve na prisão.
Você está incluso nos planos de Deus! Um
egípcio, um estrangeiro nos planos de Deus!
Você não será mais apenas copeiro do faraó,
agora você servirá junto comigo ao meu Deus.
Faremos tudo que ele ordenar e seremos muito
abençoados por Ele. Preciso de ti nessa
jornada, nessa missão, Aglaimorque!

José se levanta e em tom solene diz:

— Neste momento eu, governador de


todo o Egito, declaro que Aiglaimorque está
destituído do cargo de copeiro do faraó! Afinal,
faraó nada mais é que apenas um homem
como nós dois. A partir de agora você servirá...
(hesitante por um instante em seu discurso,
mas logo corrige e retoma a fala) Na verdade,
continuará servindo, ao único Deus verdadeiro
e digno de toda majestade real: o Deus de meu
pai Jacó, meu avó Isaque e meu bisavó Abraão.
O verdadeiro e único Rei. Agora você é
copeiro do Rei!
Capítulo final:

Os anos restaurados

— Meu antigo copeiro tão leal e


dedicado. Saiba que os frutos que estamos
colhendo no Egito hoje se devem ao Deus do
nosso governador Zafenate Paneia que enviou
providência. Sabe, eu sinto que o Deus deles
tem poderes muito maiores que os deuses do
Egito. Aliás, muito benevolente também em se
preocupar com uma nação a qual seu povo
nem pertence. — elogia a rainha Gjyrm ao seu
antigo servo leal.

— Vossa majestade sempre tão sábia nas


palavras. Eu vejo que o Deus de José é o Deus
da prosperidade e provisão. O Deus que muda
vidas, que tem poder pra salvar e transformar.
— responde Aglaimorque fascinado com as
aprendizagens sobre o Deus único de Israel.

— O que mais o governador fala sobre


o seu Deus?
— Que Ele é um Deus único,
verdadeiro e fiel. Que jamais o abandonou nem
nos piores momentos em que esteve na
escravidão e na prisão. Que fez uma aliança
com sua família para formar uma grande nação.
Que tem planos de paz e não de mal, para nos
dar um futuro. Eu tive sonhos com Deus,
acredito que ele sempre esteve comigo
também. — diz o antigo copeiro real, agora
primeiro ministro do governador Zafenate
Panéia.

A rainha olha com insistência para


Aglaimorque, suspirando com ar de admiração:

— Vejo em você um novo homem,


muito mais seguro e menos ansioso. Eu sei que
nessa transformação estão se cumprindo os
planos do Deus do governador em sua vida.
Ah! Fico muito feliz em ver alguém
transformado, e não foi por magia ou rituais,
foi uma transformação muito maior e muito
diferente de tudo que já presenciei. Eu sinto
que não é perene, é uma transformação
persistente. Eu também sinto que não é
superficial, é uma mudança profunda. Você é
um novo homem!

Aglaimorque sorri e agradece ao elogio


da rainha Gjyrm. O antigo copeiro expressou
sua profunda gratidão por ter se rendido ao
Deus de José.

— Interessante que os nomes escolhidos para


os filhos de José refletem essa transformação
que Deus o proporcionou. Sabia disso rainha
Gjyrm?

Ao primeiro, José deu o nome de Manassés, dizendo:


"Deus me fez esquecer todo o meu sofrimento e toda a
casa de meu pai". Ao segundo filho chamou Efraim,
dizendo: "Deus me fez prosperar na terra onde tenho
sofrido". Gênesis 41: 51-52)

— Que incrível! Quem sabe você


também possa ter a dádiva de ter filhos um dia.
Você tem sido tão leal. Estava aqui pensando:
O que eu posso fazer por você em gratidão por
ter sido uma porta aberta para a entrada de
bênçãos no Egito inteiro e nos proporcionado
tantas bondades? Se há algo que eu puder
realizar me diga que assim farei. — diz a rainha
com a mão direita em um dos ombros de
Aglaimorque. A manga de seu vestido toca no
corpo do copeiro real com leveza.

— Rainha Gjyrm, eu já me sinto muito


realizado aqui no Egito. Porém, tem algo
interessante que se a rainha topar minha ideia
eu ficaria muito feliz. — responde
Aglaimorque, com um bom plano em mente.

Horas depois...

— Quem está já batendo em minha


porta com tanta insistência? Calma! Já vou!
Não sabe que eu sou aleijado?! Estou
chegando, tenha paciência!

— Olá, gostaria de falar com o nobre


senhor que serviu em nosso exército por tantos
anos e é pai do melhor copeiro que a realeza
do Egito já teve.

— Rainha Gjyrm?! Vossa majestade em


minha casa?!
— Ah! Que satisfação em conhecê-lo.
Tenho orientações do próprio faraó
diretamente para o senhor...

— Eu mato quem a senhora ou o faraó


precisarem! Vou já pegar minha espada! Ela
está bem escondida desde que saí do exército
mas posso procurá-la imediatamente.

— Não desejo a morte de ninguém, pelo


contrário quero fornecer vida. Vida nova.

— Rainha, me permite expressar a


ignorância deste teu servo, mas não estou
entendendo nada.

— Trouxe um presente, um jantar


completo para você. Sente-se aqui. Vou lavar
os seus pés e te servir. Ah! Sim trouxe um
convidado de honra meu.

— Pai...

O pai do antigo chefe dos copeiros se


surpreende com a atitude da rainha Gjyrm. Ela
serve o jantar a ele e seu filho juntamente com
algumas de suas servas. Ela elogia os serviços e
conquistas de Aglaimorque ao seu pai, que se
sente emocionado ouvindo os relatos. A rainha
descreve quão fundamental foi o papel de
Aglaimorque na prosperidade do Egito, no seu
trabalho junto ao governador e na sua fé ao
Deus vivo.

— Meu filho, que orgulho de você!


Perdoe-me, eu fui injusto com você. Eu te
ofereci o que eu pude dar, mas eu sinto um
amor muito grande por ti.

Pai e filho se abraçam e choram. Nesse


instante, o Espírito Santo convencia a
Aglaimorque que deveria perdoar o seu pai e se
libertar de todas as mágoas.

— Deus de Abraão, Isaque, Jacó e José.


Tu és o meu Deus! Obrigado por essa
reconciliação com meu pai que tanto amo.
Abençoa nossa união.

— Aglaimorque, acrescenta na sua


oração que também é o meu Deus. — diz a
rainha Gjyrm emocionada diante da
restauração familiar.
Sete anos de fartura, e três anos de fome depois...

José recolheu todo o excedente dos sete anos de


fartura no Egito e o armazenou nas cidades. Em cada
cidade ele armazenava o trigo colhido nas lavouras das
redondezas. (Gênesis 41: 48)

Jacó, pai do governador José, foi morar


no Egito e foi apresentado ao faraó. Ele recebe
a região de Gósen para viver.

Perguntou-lhes o faraó: "Em que vocês trabalham? "


Eles lhe responderam: "Teus servos são pastores, como
os nossos antepassados". Disseram-lhe ainda: "Viemos
morar aqui por uns tempos, porque a fome é rigorosa
em Canaã, e os rebanhos de teus servos não têm
pastagem. Agora, por favor, permite que teus servos se
estabeleçam em Gósen". (Gênesis 47:3-4)

Jacó se torna vizinho de um humilde


jovem pastor, de cerca de vinte anos. Ele fica
encantado com todo o gado de Jacó e pede
emprego como pastor de seu rebanho.
— Meu filho disse que os egípcios não
gostam de trabalhar como pastores de ovelhas,
que estranho você ter interesse nesse tipo de
trabalho. — estranhou Jacó o pedido do jovem
pastor.

— Meu senhor, eu sou um egípcio


diferente, eu gosto de animais desde criança.
Mas nem sempre trabalhei como pastor, antes
eu ajudava o meu pai na padaria do palácio.
Mas, enfim, aconteceu uma situação ruim por
lá, que não gosto de lembrar e eu vim morar na
região de Gósen. Eu não entendo porque os
egípicios não gostam de pastores, mas eu
gosto, acredite em mim. Meu nome é Sinof.
—apresenta-se o jovem pastor a Jacó.

O governador Zafenate Paneia e


Aglaimorque chegam a região de Gósen
levando suprimentos para Jacó e todos os seus
setenta parentes. José apresenta seu servo
Aglaimorque à sua família na região de Gósen,
e eis que Sinof aparece nessa ocasião:

— Tio Morque?
— Sinof ? É você mesmo? Como está crescido!
Glória a Deus que pude te reencontrar. Deus
me restaurou o amor do meu pai e agora me
trouxe meu querido Sinof novamente. Quão
grandioso é o Deus de Jacó, quero para sempre
honrar e agradecer por sua bondade.

Eles se abraçam e Aglaimorque descobre


que Sinof agora com vinte anos foi adotado na
família de Israel e vive como pastor de suas
ovelhas. Sinof aprende sobre o Deus de Israel
enquanto trabalha e se encanta pelo Criador.
Dias depois, a rainha Gjyrm presenteia Sinof
com uma das éguas do faraó.

Assim, Jacó e toda sua família se


estabeleceram no Egito, salvando o povo de
Deus da fome. Os planos do Deus de Abraão,
Isaque e Jacó foram cumpridos.

Entrou então Israel no Egito, e Jacó foi viver como


estrangeiro na terra de Cam. E Deus fez multiplicar
seu povo, tornando-o muito mais poderoso que seus
inimigos. (Salmos 105: 23-24)
E Deus falou a Israel por meio de uma visão noturna:
"Jacó! Jacó! " "Eis-me aqui", respondeu ele.
"Eu sou Deus, o Deus de seu pai", disse ele. "Não
tenha medo de descer ao Egito, porque lá farei de você
uma grande nação.
Eu mesmo descerei ao Egito com você e certamente o
trarei de volta. " (Gênesis 46:2-4)

Você também pode gostar