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Carl G. Jung –
As viagens

Carl Jung: um
desbravador de
caminhos
interiores
O mar é como a música; traz
em si e faz a1orar todos os
sonhos da alma. A beleza e a
magni:cência do mar provêm
do fato de impelir-nos a
descer nas profundezas
fecundas de nossa alma, onde
nos defrontamos conosco,
recriando-nos, animando “o
triste deserto do mar”.

Carl Jung, em carta a Emma


Jung, redigida no navio que
partira de Nova York, em 1909.

Pode-se a)rmar que as viagens


realizadas por Carl G. Jung signi)caram,
para ele, além de ocasiões de pesquisa e
projeção internacional, oportunidades de
viajar para dentro de si mesmo. Atento à
maneira como pessoas de diferentes
culturas se relacionavam e mantinham
(ou não) ligação com as divindades e a
natureza, Jung também encontrou,
nessas pessoas tão diferentes, pontos
em comum com aquele que ele próprio
representava: o homem branco europeu.
Algo parecia unir Jung a um índio norte-
americano ou a um africano que vivia em
uma tribo. Ao mesmo tempo, ele não
poderia chegar tão perto desse “outro”
tão distinto. Seus sonhos o alertaram
para o risco de se afastar de sua
identidade. A intuição que Jung teve
sobre o inconsciente coletivo foi
tomando corpo nessas viagens, apoiada,
é claro, pela investigação clínica e pelo
caminho de erudição que o psiquiatra
seguira, que abrangia, entre outros
campos do saber, o estudo das religiões,
dos símbolos milenares e da alquimia.
Clique no ano para navegar:

O começo do século
20 para o jovem
psiquiatra

1900 –  Viagem para Alemanha


Cidades visitadas: Munique e Stuttgart

A primeira das viagens mais conhecidas


de Jung ocorreu em 1900. Ele foi para a
Alemanha, em comemoração à sua
formatura e marcando o início de uma
nova fase de vida: ele deixaria a mãe e a
irmã na Basileia e rumaria para Zurique,
pois começaria a trabalhar na clínica
psiquiátrica Burghölzli, na qual se
destacaria por suas pesquisas da
esquizofrenia, que incluíram a criação do
método de associação livre, que apoiou a
teoria de Sigmund Freud sobre o
inconsciente.

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1902 – Viagem para Fraça e Inglaterra


Cidades Visitadas: Paris, Londres e
Oxford

Antes de casar-se, já noivo de Emma,


Jung teve um ano sabático. Rumou para
Paris sem muito dinheiro disponível.
Trabalhou com Pierre Janet, a cujas
palestras também comparecia.
Observava pacientes nos hospitais, a
miséria que assolava a cidade e as belas
artes simultaneamente. Ia ao museu do
Louvre frequentemente, onde conversava
com os copistas, e às galerias em que
tomou contato com a cultura egípcia,
pela qual se apaixonou.

Na Inglaterra, Jung sentiu emoção


especial ao compartilhar do clima e dos
rituais dos acadêmicos de Oxford, que se
reuniam – somente os homens – para
terem conversas intelectuais.

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1907 – Viagem para Áustria


Cidade Visitada: Viena

Data de 3 de março de 1907 o encontro


de Jung com o fundador da psicanálise
em Viena, para onde Jung foi com a
esposa, Emma, e Ludwig Binswanger,
psicólogo pioneiro na psicologia
existencial. De lá, o casal Jung rumou
para a Hungria e a Itália.

É bem conhecido o fato de que Jung e


Freud conversaram durante treze horas
seguidas por ocasião de seu primeiro
encontro. Jung )cou impressionado com
Freud: “Em sua atitude, nada havia de
trivial”, escreveu muitos anos depois. “Eu
o achei extraordinariamente inteligente,
penetrante, notável sob todos os pontos
de vista.” Freud interpretou o sonho dos
colegas viajantes e eles compareceram à
“reunião de quarta-feira” dos
psicanalistas vienenses.

Com o tempo, contudo, as diferenças


entre os dois começaram a )car claras
para Jung, que a)rmou: “Foi
principalmente sua atitude em relação ao
espírito que me pareceu problemática”.
Além disso, o psiquiatra suíço não
concordava totalmente com a teoria
sexual de Freud.

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1909 – Viagem para Áustria e Estados


Unidos
Cidades Visitadas: Viena e Worcester

Em 1909, quando esteve em Viena, Jung


deparou com um Freud decidido a
demolir os argumentos de Jung sobre os
fenômenos ocultos, mas o suíço deixou
clara sua oposição. Após viver uma
experiência de sincronicidade e, como
descreveu, um “fenômeno catalítico de
exteriorização”, Jung revelou: “Tive o
sentimento de que lhe )zera uma
afronta”.

De acordo com o relato, o psiquiatra,


enquanto debatia com Freud, sentiu seu
abdome queimar, ao mesmo tempo em
que ambos ouviram um estalido da
estante, o que os assustou. Como Freud
estivesse descrente da visão de Jung
sobre o acontecido, este anunciou que o
ruído se repetiria. E assim foi.

No mesmo ano, em agosto, ambos


foram, juntamente com o psicanalista
húngaro Sándor Ferenczi, para as
conferências da Clark University, em
Massachusetts, nos Estados Unidos, na
qual Jung recebeu o título de doutor
“honoris causa”.

Durante essa viagem de sete semanas,


segundo Jung recordou em Memórias,
Sonhos, Remexões, Freud chegou a
desmaiar diante do interesse de Jung
pelos “cadáveres dos pântanos”
alemães. O mestre também não
conseguia penetrar os sonhos de Jung,
que possuíam conteúdo coletivo e
muitos símbolos. Ao mesmo tempo, o
psicanalista austríaco não pôde aceitar a
interpretação de Jung sobre um de seus
sonhos. O )m da relação entre ambos
tornou-se iminente para Jung, ainda que
ele apreciasse as sessões de análise dos
sonhos com Freud e projetasse nele a
imagem do pai.

Jung relatou que sonhara estar em uma


casa de dois andares desconhecida. No
segundo andar, na sala de jantar com
móveis rococó e valiosas pinturas, ele se
via surpreso e satisfeito pelo fato de a
casa ser dele, mas lembrou-se de que
não sabia como era o piso de baixo e,
então, desceu. “Ali tudo era mais antigo.
Esta parte da casa datava do século XV
ou XVI. A instalação era medieval e o
ladrilho, vermelho. Tudo estava
mergulhado na penumbra”, contou Jung.
Desejando conhecer toda a casa, abriu
uma porta pesada e viu uma escada de
pedra que conduzia à adega. Desceu e
atingiu uma sala muito antiga com teto
em abóbada. Examinando as paredes,
descobriu diversas camadas de tijolos e
concluiu que datavam da época romana.
Viu uma argola no piso, puxou-a e
descobriu outra escada. Descendo,
chegou a uma gruta em cujo solo havia
ossadas, pedaços de vasos, vestígios de
uma civilização primitiva e dois crânios
humanos muito velhos.

A sala, para Jung, representava a


consciência. Os andares abaixo, o
inconsciente, bem como níveis de
consciência e épocas ultrapassados.
“Por causa desse sonho, pensei, pela
primeira vez, na existência de um a priori
coletivo da psique pessoal”. Mais tarde,
Jung reconheceu que as imagens do
sonho remetiam a formas do instinto, ou
aos arquétipos.

Quanto às diferenças em relação à


maneira de Freud de interpretar as
imagens, Jung nunca concordou com a
ideia de que o sonho dissimulasse um
signi)cado já existente, pois entendia
que os sonhos “dizem o que podem
dizer”, num processo natural, desprovido
de arbitrariedade.

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Os anos 1910:
rompimento com Freud
e reconhecimento

1910 – Viagem para os Estados Unidos,


Suíça e Norte da Itália
Cidades Visitadas: Chicago, Lago
Constança, Walenstadt, Pávia, Arona,
Tessin, Faido

1911 – Viagem para o Sul da França No


início da década seguinte, em março de
1910, Jung retornou aos Estados Unidos,
oportunidade em que esteve, em
Chicago, com Joseph Medill McCormick,
homem de negócios e político que foi um
de seus pacientes norte-americanos. No
mesmo ano, Jung ainda esteve no lago
Constança (região onde nascera) e em
Walenstadt, na Suíça, e também fez um
passeio de bicicleta pelo Norte da Itália.
Em 1911, viajou pelo sul da França com a
esposa. Voltar ao Topo

1912 / 1913 – Viagem para Suíça, Itália


e Estados Unidos
Cidades Visitadas: São Moritz, Engadina,
Lugano, Ravena, Florença, Pisa, Gênova e
Nova York

Em 1912, após ter estado em São Moritz


e Engadina, na Suíça, passeou
novamente de bicicleta pela Itália, para
localidades diferentes de onde estivera
antes. Em setembro desse ano, viajou a
Nova York, nos Estados Unidos. Realizou
conferências e seminários em diferentes
instituições e deu entrevista ao The New
York Times. Retornou àquela cidade em
março de 1913, ano em que rompeu com
Freud e passou a usar a expressão
Psicologia Analítica para designar seu
campo de atuação e pesquisas. Nessas
temporadas nos Estados Unidos, Jung
visitava pacientes e, cada vez mais, via
seu trabalho ser reconhecido na
academia e fora dela.

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1914 – Viagem para os Estados Unidos,


Suíça e Norte da Itália
Cidades Visitadas: Chicago, Lago
Constança, Walenstadt, Pávia, Arona,
Tessin, Faido

Jung retornou à Itália em março de 1914.


Visitou Ravena, localizada na região da
Emília-Romana, e )cou fascinado com o
monumento funerário de Galla Placidia.
Em agosto, Jung voltou àquele país de
bicicleta. Nunca conseguiu ir a Roma,
embora sempre o desejasse, por ser o
centro de velhas civilizações. Em 1949,
quando tentou retomar esse plano, teve
uma síncope ao comprar a passagem.

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A década de 1920: o
impacto dos povos
primitivos
Hoje, Hórus levantou-se atrás
de uma distante montanha
pálida, sobre uma planície
in:nitamente verde e trigueira,
enquanto um vento poderoso
erguia-se do deserto,
soprando em direção ao mar
azul escuro. Carl Jung, em
carta a Emma Jung, redigida
em Soussa, na Tunísia, em
1920.

1920 – Viagem para África do Norte e


França
Países / Cidades Visitados: Argélia,
Tunísia, Soussa, Sfaz, Saara, Tozeur,
Nefta, Marselha

Em sua primeira viagem à África, em


1920, Jung foi fortemente impactado
pelo contato com a cultura africana. Aos
46 anos, o psiquiatra suíço de tradição
protestante buscava conhecer outras
visões de mundo e ver o homem branco
europeu “remetido num meio
estrangeiro”. Jung observou as pessoas
e sua relação com o tempo e com a
divindade. “Essas pessoas vivem por
seus afetos. […] O eu é desprovido de
qualquer autonomia”, concluiu ele, que
sentiu o efeito poderoso desse contato
sobre as “camadas históricas em nós”.
“No europeu, as coisas não se passam
muito diferentemente; […] Em todo caso,
dispomos de uma certa dose de vontade
e de intenção remetida”, diz o autor em
suas memórias.

Em sua segunda passagem por Túnis,


sonhou que estava numa cidade árabe,
onde havia um forte. Era localizada em
vasta planície e murada em formato
quadrado, contendo quatro portas. O
forte era cercado por um fosso, sobre o
qual havia uma ponte de madeira, que
Jung decidiu transpor, para atingir uma
porta aberta, sombria, em forma de
ferradura. Quando ele estava sobre a
ponte, no meio dela, viu sair pela porta
um árabe de pele escura, elegante, em
veste branca. Era um príncipe, e ele
atacou Jung. Na luta, caíram no fosso e
o árabe tentou afogar o europeu. Jung
lhe disse: “Não, isso já é demais”, e
en)ou a cabeça do príncipe na água, sem
intenção de matá-lo, mas de incapacitá-
lo para a luta. Admirava-o, mas não
queria morrer.

O sonho mudou de cenário e, então, o


jovem árabe estava com Jung já dentro
do forte, num salão todo branco, simples
e octogonal com teto em abóbada. No
chão, um livro aberto, feito de
pergaminho muito branco, escrito em
letras negras que pareciam com a escrita
do Turquistão. “Sentia que era o meu
livro, que eu o havia escrito”, recorda
Jung. Ele disse ao príncipe, que estava
sentado à sua direita, que ele devia ler o
livro, já que perdera a luta. Diante da
recusa do jovem, Jung, então, abraça-o e
obriga-o, de modo paternal e bondoso, a
ler, pois sabia que seria indispensável.

Jung compreendeu que o jovem árabe


simbolizava um mensageiro do Si-
mesmo, vindo do forte que tinha o
formato de uma mandala. Como o Anjo
que tentou matar Jacó, ele queria Jung
morto por não o conhecer. Era o árabe
inconsciente (a parte primitiva da
personalidade) em Jung em oposição ao
eu consciente. Mas era preciso que
conhecesse Jung, daí a obrigação de ler
o livro. O sonho assinalava, ainda, a
possibilidade de vida que foi oculta pela
civilização. “Esse meio árabe, estranho,

totalmente diferente, desperta a


lembrança original de uma pré-história,
época longínqua […] que pensamos ter
esquecido completamente”, pondera
Jung em suas memórias.

Ao retornar para casa, Jung passou por


Marselha, na França.

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1923 – Viagem para Inglaterra


Cidades Visitadas: Sennen, Cornuália

A convite do amigo Peter Baynes,


psicólogo e tradutor de suas obras para
o inglês, Jung foi, em 1923, à Inglaterra,
onde realizou um seminário sobre o
processo de individuação. Aproveitou a
ocasião para visitar os menires
(monumentos de pedra do período
neolítico) da Bretanha.

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1924 – Viagem para Alemanha e


Estados Unidos
Cidades Visitadas: Bremen, Nova York,
Chicago, Novo México, Nova Orleans,
Washington

Em 1924, Jung visitou os índios pueblos


do estado do Novo México, nos Estados
Unidos. No contato com o povo Taos,
conheceu o chefe Ochwiay Biano que
disse considerar os homens brancos
loucos. “Eles dizem que pensam com
suas cabeças”, disse o índio. “Mas
naturalmente! Com o que pensa você?”,
indagou Jung. “Nós pensamos aqui”,
disse o homem, apontando o coração.
Jung tinha, )nalmente, a imagem que
buscava do homem branco, a verdadeira.
Então, concluiu que uma ave de rapina,
como as que se veem em brasões, bem
representava o conquistador branco com
ambições civilizatórias, que aterrorizava
povos pagãos.

Jung, ao investigar a relação daqueles


índios com o sagrado, observou como o
saber, o “racionalismo europeu”, afastava
o homem do mundo mítico. O chefe
índio, pelo contrário, se entendia
representante de um povo do teto do
mundo que fazia o mundo girar, pois,
cada dia, sua religião ajudava o Pai a
atravessar o céu. O Pai, para eles, era o
Sol, fonte de toda vida. “Agimos assim
não só por nós mesmos, mas pelo
mundo inteiro”, explicou Biano.
“Compreendi, então, sobre o que
repousava a dignidade, a certeza serena
do indivíduo isolado”, disse Jung. “Sua
vida tinha sentido cosmológico.”

Voltando à cena urbana, ao retornar à


Europa, Jung passa por Orleans e
Washington, antes de fazer uma palestra
em Nova York, no apartamento da amiga
Kristine Mann.

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1925 – Viagem para Inglaterra Cidades


Visitadas: Londres, Dorset e Wembley Em
julho de 1925, ano em que retornou do
Novo México, Jung completava 50 anos
e visitou uma exposição sobre a África
em Londres, na Inglaterra. No condado
de Dorset, ministrou doze palestras
sobre sonhos e simbolismo. Quando em
Wembley, por ocasião da feira do império
britânico, pensa em visitar o continente
africano, empreitada que teve início em
outubro do mesmo ano, partindo de
Southampton, Inglaterra. 1925 – Viagem
para Inglaterra, Portugal, Espanha,
França, Itália, Egito, Quênia, Uganda e
Sudão Cidades Visitadas: Southampton,
Lisboa, Málaga, Marselha, Gênova, Porto
Said, Mombaça, Kakamégas, Lago Vitória,
Bunambale, Cartum A expedição à África
Oriental, que começou em dezembro de
1925 e durou até abril de 1926, foi
chamada de “Bugishu Psychological
Expedition”, numa referência ao povo que
habita a região do Monte Elgon, que Jung
e seus companheiros, entre eles Peter
Baynes, viriam a conhecer. No Quênia,
Jung soube da morte de ingleses que
tinham feito parte da viagem com ele até
Mombaça, por doenças contraídas na
região. Da janela do trem em que ia de
Mombaça a Nairóbi, Jung avistou um Privacidade - Termos

caçador esguio, apoiado numa longa

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