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AVALIAÇÃO MÉTODOS DA CIÊNCIA

Aluno: Caio Maximus Góes Chagas


Professores: Luiz Mors Cabral e Manuel Gustavo Leitão

INTRODUÇÃO
O texto escolhido para esta avaliação foi um artigo do Jornal “Estado de Minas”, na parte de
“Saúde e Bem Viver”. Seu título é “Homeopatia: a ciência que cura, previne e promove a
saúde” e foi publicado em 17/11/2019.
A Homeopatia é um tipo de terapia medicinal alternativa criado em 1796 pelo médico Samuel
Hahnemann. Na época, o conhecimento sobre microrganismos era ínfimo. A comunidade
médica ocidental acreditava que doenças eram causadas por desequilíbrios de humores, inalação
de maus ares ou até mesmo depravação moral. Os métodos de tratamento de doenças, portanto,
eram tão ineficazes quanto às teorias que os justificavam, tal como sangrias, purgas (evacuação
intensa induzida por laxantes), ingestão de misturas curandeiras e internação em sanatórios,
como o famoso Battle Creek Sanatorium.
Muitas vezes estes tratamentos eram capazes de piorar o quadro dos pacientes. Purgas podiam
causar desidratação e sangrias poderiam futuramente infecionar além de reduzir a quantidade de
sangue disponível no paciente à troco de nada.
Hahnemann estava insatisfeito com a eficácia destes métodos e se dedicou a criar uma nova
corrente de pensamento que fosse contra esta hegemonia do absurdo. Ele surge então, após
algumas experiências próprias, com a ideia de que semelhantes curam semelhantes. Dessa
forma, se a ingestão de uma flor causa efeitos semelhantes a uma doença significa que esta flor
possui alguma substância capaz de curar esta doença específica.
Porém, ingestões em grandes quantidades destes fatores poderiam agravar a doença devido à
soma de seus sintomas aos já presentes sintomas da doença. Para contornar este obstáculo,
Hahnemann sugere que só sejam ingeridas diluições das substâncias em questão.
Hoje já existem diversos estudos científicos e análises lógicas dos experimentos de Hahnemann
que demonstram que a homeopatia não apresenta eficácia consistente ou base teórica sólida o
suficiente para ser tida como ciência. Além disso, existem poucas pesquisas buscando entender
como funciona a homeopatia, tanto ao meu ver por falta de investimento quanto por falta de
interesse dos médicos do ramo. Devido a estas evidências e situações, governos ao redor do
mundo vem reduzindo ou cortando gastos com terapias homeopáticas como no Reino Unido e
no seu Sistema Nacional de Saúde (NHS).
É importante frisar, antes da análise do artigo selecionado, que o método de Hahnemann não
deve ser considerado para seu tempo como algo absurdo. Em 1796 as descobertas que fundaram
a medicina moderna ainda estavam sendo realizadas e o próprio fato de Hahnemann ter se
posicionado contra os métodos de tratamento de doenças nocivos aos pacientes na época já é
algo revolucionário. Mesmo com a homeopatia não tendo eficácia comprovada na cura de
doenças, o simples fato dela buscar substâncias que atacavam a doença especificamente e, mais
importante, de não piorar o quadro dos pacientes tratados contribuiu bastante para a construção
do que conhecemos hoje como medicina.

O ARTIGO
O artigo em questão busca explicar ao leitor de forma sucinta como funciona a prática da
homeopatia com um viés, teoricamente, científico. Ele conta com entrevistas à médicos e
pacientes satisfeitos com a homeopatia e com um resumo do funcionamento e origem da prática.
Infelizmente, há uma falta de citação de referências ou menção à experimentos que testam
medicamentos homeopáticos, tornando o texto incapaz de ser considerado propriamente
científico.
Segundo Karl Popper, o que faz de uma ciência tal é a capacidade de ter suas ideais falseáveis,
ou seja, ter suas leis, teorias ou fórmulas capazes de serem testadas em diferentes localidades e
momentos por distintos indivíduos. Leis, teorias ou fórmulas que por natureza não podem ser
testadas tratam necessariamente de um conhecimento que não se refere ao mundo sensível, ao
mundo que percebemos, que é o que a ciência busca entender. É o caso da religião, por
exemplo, que fala do mundo metafísico, algo além de nossa compreensão mundana e não
tangível por nós.
Este é um dos princípios básicos que circundam a realização de artigos científicos. Um
experimento realizado no Brasil precisa ser descrito detalhadamente de forma que se caso algum
outro pesquisador queira realiza-lo exatamente da mesma forma possa o fazer também. Por isso
são relatadas marcas de equipamentos, constituição de ração de animais de teste, período de
realização do experimento e diversos outros pormenores.
O artigo do Estado de Minas primeiramente não apresenta referências à pesquisas ou relatos
falseáveis de uso da homeopatia em casos clínicos. É citada a possibilidade da homeopatia de
prevenir doenças sem citar nenhum estudo que demonstre esta prevenção. O autor desta matéria
poderia muito bem ter inventado as informações escritas ou retirado-as de experimentos
realizados de forma tendenciosa e ninguém nunca poderia contestar estes testes, já que sem
conhece-los é impossível reproduzi-los. Não há como saber o que é científico ou metafísico sem
a possibilidade de falseabilidade. É impossível, seguindo as ideias de Karl Popper, considerar
este texto como científico devido à esta falha.
O mais próximo que chega de referências é com relatos de casos de pacientes ditos beneficiados
com tratamento por homeopatia. Uma paciente diabética diz que seu bem-estar melhorou após o
uso da homeopatia enquanto outra, que apresentava um quadro de ansiedade, diz que lida
melhor com o quadro graças à homeopatia. Porém, um mero depoimento de como um
medicamento ajudou na cura de sua doença não constitui um caso falseável! Não há dados como
exames de sangue ou histórico médico, gravidade da doença, uso simultâneo de outros
medicamentos e diversas outras informações para que o caso das pessoas citadas possa ser
reproduzido em outras condições.
Os outros diversos erros da reportagem circundam os mesmos temas. Em um trecho, é dito que
“especialistas apontam os aspectos preventivos, curativos e de reequilíbrio do corpo” sem
mencionar pesquisas, nomes dos especialistas ou o que consiste neste conceito de reequilíbrio
do corpo.
Em conclusão, podemos perceber como a matéria mesmo buscando um viés científico peca em
quase tudo que promete cumprir. A falta de referências e experimentos realizados, crucial
tratando de um tema tão polêmico como a homeopatia, torna impossível considera-lo como
perto da Ciência.

Referências:
https://www.britannica.com/science/history-of-medicine/Medicine-in-the-18th-century
http://theappendix.net/issues/2014/4/interpreting-physick-the-familiar-and-foreign-eighteenth-
century-body
https://www.colonialwilliamsburg.org/learn/living-history/five-things-about-18th-century-
medical-history/
https://www.nhs.uk/conditions/homeopathy/
John Henry Clarke (1o de Janeiro de2001). Homeopathy explained
https://www.smithsonianmag.com/smart-news/1800-studies-later-scientists-conclude-
homeopathy-doesnt-work-180954534/

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