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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO A DISTÂNCIA
ESPECIALIZAÇÃO LATO-SENSU EM GESTÃO EDUCACIONAL

O GESTOR ESCOLAR E OS DESAFIOS


ENFRENTADOS NA FUNÇÃO DE DIREÇÃO

MONOGRAFIA DE ESPECIALIZAÇÃO

Nadia Cristina Nessler

Três Passos, RS, Brasil


2013
2

O GESTOR ESCOLAR E OS DESAFIOS ENFRENTADOS


NA FUNÇÃO DE DIREÇÃO

Nadia Cristina Nessler

Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação a Distância


Especialização Lato-Sensu em Gestão Educacional, da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito
parcial para obtenção do título de
Especialista em Gestão Educacional.

Orientadora: Profª. Ms. Natália Pergher Miranda

Três Passos, RS, Brasil


2013
3

Universidade Federal de Santa Maria


Centro de Educação
Curso de Pós-Graduação a Distancia
Especialização Lato Sensu em Gestão Educacional

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a


monografia de pós-graduação

O GESTOR ESCOLAR E OS DESAFIOS ENFRENTADOS


NA FUNÇÃO DE DIREÇÃO

elaborada por
Nadia Cristina Nessler

como requisito parcial para obtenção do grau de


Especialista em Gestão Educacional

COMISSÃO EXAMINADORA:

________________________________________________
Natália Pergher Miranda
(UFSM/PRESIDENTE/ORIENTADORA)

_________________________________________________
Lúcia Bernadete Fleig Koff, Ms.
(UFSM)

________________________________________________
Maria Elizabete Londero Mousquer, Dra.
(UFSM)

_______________________________________________
Marta Roseli de Azeredo Barichello, Dra.
(UFSM/Suplente)

Três Passos, 30 de novembro de 2013.


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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................. 7
CAPÍTULO 01 - A FUNÇÃO DO GESTOR ESCOLAR NO PAPEL DE
DIRETOR DA ESCOLA PÚBLICA .................................................................. 10
1.1 A gestão do trabalho pedagógico na escola ........................................ 12
1.2 Gestão escolar administrativa ................................................................ 14
1.3 Considerações legais sobre as atribuições do gestor escolar na
função diretiva ................................................................................................ 15

CAPÍTULO 02 - A GESTÃO DEMOCRÁTICA NA EDUCAÇÃO ATRAVÉS DA


AÇÃO/GESTÃO DO DIRETOR ....................................................................... 18
2.1 Aspectos legais da gestão democrática na educação .......................... 19
2.2 Conselho escolar - apoiando o trabalho do diretor........................... 2121
2.3 As eleições de diretores – democracia X conflitos ............................... 23
2.4 Projeto político pedagógico .................................................................... 25
2.5 Participação – eixo norteador ação diretiva na gestão democrática... 26
2.5.1 Objetivo da participação - cooperação coletiva ....................................... 28

CAPÍTULO 03 – METODOLOGIA DA PESQUISA.......................................... 30


3.1 Abordagem da pesquisa .......................................................................... 31
3.1.1 Instrumentos da pesquisa ....................................................................... 32
3.1.2 Análise dos dados e sistematização das informações ............................ 32

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 36

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 38

APÊNDICE ...................................................................................................... 40
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RESUMO

Monografia de Especialização
Curso de Pós-graduação a Distância
Especialização Lato-Sensu em Gestão Educacional
Universidade Federal de Santa Maria

O GESTOR ESCOLAR E OS DESAFIO ENFRENTADOS NA


FUNÇÃO DE DIREÇÃO
AUTORA: NADIA CRISTINA NESSLER
ORIENTADORA: NATALIA PERGHER MIRANDA
Data e Local da Defesa: Três Passos/RS, 30 de novembro de 2013.

Este trabalho tem como tema de pesquisa os desafios do gestor escolar na


função de diretor. O objetivo é definir os principais problemas enfrentados no
dia a dia e que interferem negativamente no trabalho deste profissional. A
metodologia utilizada para a realização desta pesquisa utiliza pressupostos do
estudo de caso, além da observação sistemática e participante. A pesquisa de
campo aconteceu em uma escola pública municipal de ensino fundamental do
município de Três Passos - RS e envolveu o diretor desta instituição. Para este
trabalho, também foram usados como objetos de estudo, principalmente, as
bibliografias de Heloísa Lück, que definem bem a função do gestor escolar em
uma escola democrática, apoiando-se na proposta da participação, como
também outros diversos autores que têm como foco de trabalho a democracia
escolar, através da prática de trabalho do gestor escolar em sua função
diretiva. Conclui-se, através desta pesquisa que ainda temos um longo
caminho a percorrer para que consigamos efetivar uma gestão de ensino mais
democrática e com maior qualidade, uma vez que, problemas como falta de
pessoal e de investimentos ainda são comuns nas escolas públicas de nosso
país.

Palavras-chave: Gestor Escolar. Gestão Democrática. Participação.


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ABSTRACT

Monografia de Especialização
Curso de Pós-graduação a Distância
Especialização Lato-Sensu em Gestão Educacional
Universidade Federal de Santa Maria

O GESTOR ESCOLAR E OS DESAFIO ENFRENTADOS NA


FUNÇÃO DE DIREÇÃO
AUTORA: NADIA CRISTINA NESSLER
ORIENTADORA: NATALIA PERGHER MIRANDA
Data e Local da Defesa: Três Passos/RS, 30 de novembro de 2013.

This work is the subject of research challenges the school manager in the role
of director. The objective is to define the main problems faced in everyday life
and that negatively interfere in the work of this person. The methodology used
for this research uses assumptions of "Case Study", as the systematic
observation and participant. The fieldwork took place in a local public
elementary school in the municipality of Três Passos - RS and involved the
director of this institution. For this work, were also used as objects of study,
especially the bibliographies of Heloise Lück , which define well the function of
the school manager in a democratic school , relying on the proposal of
participation, as well as many other authors who have focused working school
democracy through practical work of the school manager in its policy role. In
conclusion, through this research we still have a long way to go for us to effect a
more democratic and with higher quality management education, since
problems such as lack of staff and investment are still common in the public
schools of our country.

Keywords: School Manager. Democratic Management. Participation.


7

INTRODUÇÃO

As mudanças econômicas, políticas, sociais, culturais, científicas e


tecnológicas no mundo são evidentes e influenciam direta e indiretamente na
organização da sociedade e da educação. Com isso, a função social da escola
também mudou pois, consequentemente cabe a ela formar cidadãos críticos,
reflexivos, autônomos, conscientes de seus direitos e deveres. Também
deverão ser capazes de compreender a realidade em que vivem, preparados
para participar da vida econômica, social e política do país e aptos a contribuir
para a construção de uma sociedade mais justa. A função básica da escola é
garantir a aprendizagem de conhecimentos, habilidades e valores necessários
à socialização do indivíduo. Sendo assim, Heloisa Lück afirma que:

Já é amplamente reconhecido que a qualidade da educação se


assenta sobre a competência de seus profissionais em oferecer para
seus alunos e a sociedade em geral experiências educacionais
formativas e capazes de promover o desenvolvimento de
conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias ao enfrentamento
dos desafios vivenciados em um mundo globalizado, tecnológico,
orientado por um acervo cada vez maior e mais complexo de
informações e por uma busca de qualidade em todas as áreas de
atuação. (2009, p. 12).

A escola, portanto, tem o compromisso de ir além da simples


transmissão do conhecimento sistematizado, preocupando-se em dotar o aluno
da capacidade de buscar informações segundo as exigências de seu campo
profissional ou de acordo com as necessidades de desenvolvimento individual
e social. Precisa preparar os alunos para uma aprendizagem permanente, que
tenha continuidade mesmo após o término de sua vida escolar.
E, para cumprir sua função, a escola deve considerar as práticas da
sociedade, seja ela de natureza social, política, econômica ou cultural. Neste
sentido, é necessário conhecer as expectativas da comunidade onde a escola
está localizada, quais são seus anseios, sua forma de organização,
sobrevivência, costumes, valores... para, a partir daí, auxiliar na compreensão
e na transformação social. Por isso, é preciso ter clareza do homem e do
8

cidadão que se quer formar, realizando práticas pedagógicas comprometidas


com a comunidade, concretizando ações que interfiram no meio e que o façam
evoluir.
Ao se definir a função social que cabe à escola, é importante salientar a
função que cabe ao diretor escolar. Pois, além de manter organizado o trabalho
pedagógico da escola, ele deve ter como principal meta de seu trabalho
atender demandas que provoquem a melhoria na educação como a
organização do espaço escolar, dinheiro e pessoal. De forma a transformar a
escola num espaço que atenda aos anseios da comunidade, dos seus alunos e
de seus profissionais. Dessa forma, contribuindo para que o trabalho da escola
interfira positivamente na construção de um mundo melhor.
O gestor escolar, na função de diretor, precisa desempenhar vários
papéis no ambiente escolar, como a articulação entre todos os setores da
escola, sob todos os aspectos, influenciar positivamente o ambiente, o clima
organizacional da escola, assim como garantir o bom desempenho dos
profissionais que nela atuam e, principalmente, a qualidade do processo de
ensino e aprendizagem. Enfim, o diretor assume funções de natureza
administrativas e pedagógicas.
Este trabalho apresenta, no primeiro capítulo, a função do gestor escolar
no papel de diretor na escola pública, define o que se entende por gestão do
trabalho pedagógico, gestão administrativa e cita as considerações legais que
regulam o trabalho exercido por este profissional.
A gestão do trabalho pedagógico na escola exige do diretor o exercício
de atividades que envolvam e responsabilizem todos os segmentos -
professores, funcionários, alunos, pais e comunidade - com a intenção de
melhorar o trabalho na sala de aula e buscar sucesso na aprendizagem de
todos os alunos.
Na função administrativa, se destacam as atividades de organização e
manutenção de toda a estrutura escolar, como a gestão dos recursos humanos
financeiros, mediação e integração com a comunidade, com o objetivo de
construir um ambiente adequado para o ensino, no qual todos tenham acesso e
possam contribuir na melhoria dos serviços prestados.
No segundo capítulo, discorre-se sobre a gestão democrática na
educação através da ação/gestão do diretor, sob os aspectos legais e ações
9

que visam a construção de um ambiente mais participativo e interativo. A


gestão democrática é apresentada como uma forma de gestão mais atualizada
e eficaz, que tem o compromisso de elaborar, juntamente com todos os
interessados, o PPP - Projeto Político Pedagógico, de formar o Conselho
Escolar (órgão que representa os pais e comunidade dentro da escola) e de
organizar a forma de escolha dos Diretores.
A gestão democrática se efetiva através da participação das pessoas
que fazem parte do ambiente escolar, permite e incentiva a responsabilidade
pelo trabalho escolar, que tem seus reflexos, positivos ou negativos, na
comunidade onde a escola está inserida.
Com base nas designações pedagógicas e administrativas do trabalho
do diretor escolar, o terceiro capítulo apresenta a realidade deste profissional e
descreve as suas demandas, anseios e sua dura realidade no seu espaço de
atuação. Através da pesquisa de campo que aconteceu em uma escola
municipal de ensino fundamental, situada na área urbana do município de Três
Passos - RS, revelam-se as mazelas que contribuem para a não efetivação de
muitas ações dentro da escola, em razão dos poucos recursos que a direção
tem disponíveis. A insuficiência de recursos - pessoais e financeiros, bem como
a estrutura inadequada da escola, são os principais fatores que interferem na
busca pela excelência de atendimento prestado aos educandos. Com isso, a
desejada qualidade na educação torna-se um mero ideal, que faz parte do
imaginário de governos e da população, que exigem das escolas o melhor
trabalho mesmo sendo são pouco atuantes e participantes.
Considerando todas as informações, a direção escolar tem em suas
mãos o desafio de mudar a realidade da educação, mas, dispõe de pouco
pessoal, material e inadequação estrutural para a efetivação de um trabalho
com maior qualidade e integração com a comunidade onde a instituição está
inserida.
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CAPÍTULO 01 - A FUNÇÃO DO GESTOR ESCOLAR NO PAPEL


DE DIRETOR DA ESCOLA PÚBLICA

A ação do diretor escolar será tão limitada quão for limitada sua
concepção sobre educação, a gestão escolar e o seu papel
profissional na liderança e organização da escola. Essa concepção se
constrói a partir do desenvolvimento de referencial de fundamentos
legais e conceituais que embasem e norteiem o seu trabalho. (LÜCK,
2006, p. 15)

O Gestor escolar, como diretor, tem a função de organização e


gerenciamento da escola, juntamente com os que fazem parte do setor
administrativo e pedagógico. Este profissional exerce forte influência não só no
espaço escolar, como também na comunidade, por isso, deve ter como prática
uma atuação democrática, que permita e incentive a participação de todos -
pais, alunos, comunidade, professores e funcionários - na efetivação de ações
que priorizem a busca pela qualidade na educação.
Esse profissional tem, além da responsabilidade de estreitar as relações
com a sociedade, o desafio de comprometer o sistema de ensino do qual a
escola faz parte, na busca por melhorias na educação, nas condições de
trabalho dos profissionais e da vida da comunidade onde a instituição está
inserida. Pois, segundo Lück:

É do diretor da escola a responsabilidade máxima quanto à


consecução eficaz da política educacional do sistema e
desenvolvimento plenos dos objetivos educacionais, organizando,
dinamizando e coordenando todos os esforços nesse sentido e
controlando todos os recursos para tal. (LÜCK, 2004, p.32)

O gestor escolar, em ação diretiva, tem atribuições parecidas com as


dos gestores institucionais de outros segmentos, tanto nos processos de
organização como nos de gestão dos recursos financeiros, materiais e de
pessoal. O sucesso do trabalho do gestor dependerá do nível de entrosamento
de sua equipe, do foco na obtenção de resultados positivos, buscando sempre
melhorar seu trabalho e se necessário provocar mudanças para alcançar seus
objetivos. Na escola não pode ser diferente, a atuação do diretor como
11

dirigente democrático se efetivará com ações que se utilizam da plenitude da


participação de todos.
Com isso, o trabalho do gestor escolar deve estar embasado no
processo de planejamento coletivo, o qual envolve traçar metas e objetivos
claros e atingíveis de forma que a equipe compreenda a importância da
dedicação e responsabilidade no compromisso com o trabalho da escola.
Porém, a atuação responsável de cada integrante do grupo de trabalho
também dependerá da sua própria motivação, e não somente de fatores
externos, como cita Lück:

Deve-se ter em conta que a motivação, o ânimo e a satisfação não


são responsabilidades exclusivas do gestor. Os professores e os
gestores trabalham juntos para melhorarem a qualidade do ambiente,
criando as condições necessárias para o ensino e a aprendizagem
mais eficaz, e identificando e modificando os aspectos do processo
do trabalho, considerados adversários da qualidade do desempenho.
As escolas onde há integração entre os professores tendem a ser
mais eficazes do que aquelas onde os professores se mantêm
profissionalmente isolados (LITTLE, 1997, apud, LÜCK, 2012, p. 26).

Ao gestor, cabe a articulação do trabalho entre os setores administrativo


e pedagógico, além de influenciar positivamente o grupo e promover um
ambiente favorável na conquista dos objetivos.
O número de pessoal e a disponibilidade de material para a realização
das atividades planejadas, a disposição de recursos financeiros suficientes
para a consecução do trabalho, também são fatores fundamentais para o
sucesso do trabalho do diretor. Pois, sem condições financeiras, com falta de
professores, com a escassez de material adequado para ministrar aulas, com
espaços insuficientes para a realização das atividades, fica difícil o
cumprimento de suas atribuições, uma vez que, o sucesso da educação
depende do seu pleno funcionamento. Por isso, a importância de todos os
alunos estarem sendo atendidos de maneira adequada, poderem desfrutar de
materiais atrativos e estar instalados em prédio em bom estado, além de ter
profissionais formados que lhe conduzam ao conhecimento.
A atuação do diretor e sua inspiração servem como orientação do
trabalho escolar, na busca para suprir todas as necessidades da escola e no
exercício de uma liderança positiva, que incentive a todos na realização de um
trabalho com maior excelência.
12

A interação eficaz entre líderes e os seus liderados é a base,


portanto, para a criação da confiança entre ambos. Os líderes tem
que ser confiáveis, previsíveis e justos nas suas relações. Esta, por
sua vez, se faz a partir de um processo de comunicação aberto, pelo
qual os líderes constroem a confiança ao dar poder aos seus
liderados. Ao se trabalhar o desenvolvimento de um estilo eficaz de
relacionamento com liderados, “líderes fortalecem o seu pessoal e a
instituição, podendo criar um legado que irá durar por muito tempo.
(GARDNER, 1986, apud, LÜCK, 2012, p. 41).

Segundo Lück, o tipo de liderança exercida pelo profissional que assume


o compromisso de gerir uma equipe poderá ser capaz de promover mudanças
consideráveis em um grupo de trabalho:

Os gestores escolares, atuando como líderes, são os responsáveis


pela sobrevivência e pelo sucesso de suas organizações. Chamamos
de liderança a um conjunto de fatores associados como, por exemplo,
a dedicação, a visão, os valores, o entusiasmo, a competência e a
integridade expressos por uma pessoa, que inspira os outros a
trabalharem conjuntamente para atingirem objetivos e metas
coletivos. A liderança eficaz é identificada como a capacidade de
influenciar positivamente os grupos e de inspirá-los a se unirem em
ações comuns coordenadas. Os líderes traduzem as nossas
incertezas e nos ajudam a cooperar e trabalhar em conjunto para
tomarmos decisões acertadas. (CHIAVENATO, 1994, apud, LÜCK,
2012, p. 33).

Portanto, o profissional que assume a função de gestor escolar deve, na


função diretiva, primeiramente, desenvolver um trabalho de autoconhecimento,
auto avaliação e reflexão, para que desenvolva em si habilidades e
competências para exercer seu papel com dignidade e competência. Há a
necessidade de ter claros e definidos os seus princípios sobre educação,
participação e democracia, para que enfrente os desafios que surgem e supere
as decepções e insucessos de seu trabalho, para assim transformá-los em
exemplos a serem remodelados e reconstruídos.

1.1 A gestão do trabalho pedagógico na escola

A gestão pedagógica é, de todas as dimensões da gestão escolar, a


mais importante, pois está mais diretamente envolvida com o foco da
escola que é o de promover aprendizagem e formação dos alunos...
13

Constitui-se como a dimensão para a qual todas as demais


convergem, uma vez que esta se refere ao foco principal do ensino
que é a atuação sistemática e intencional de promover a formação e
a aprendizagem dos alunos, como condição para que desenvolvam
as competências sociais e pessoais necessárias para sua inserção
proveitosa na sociedade e no mundo do trabalho, numa relação de
benefício recíproco. Também para que se realizem como seres
humanos e tenham qualidade de vida. (LÜCK, 2006, p. 95).

Em sua função pedagógica, o diretor deve prestar a devida assistência à


sua equipe de trabalho, com ações que respeitem e priorizem os princípios
educacionais planejados e propostos no Projeto Político Pedagógico. Dentre
suas responsabilidades com o grupo, está colocar em prática projetos
escolares que promovam aprendizagem, que facilitem o acesso e a
permanência com sucesso de todos os educandos na escola, que supram as
necessidades e lacunas que interferem na qualidade do ensino ofertado, que
ajam de forma democrática e permitam a participação de todos. Sua liderança
e inspiração interferem e enriquecem os objetivos e princípios educativos
estabelecidos e construídos pela coletividade.
Pois, contribuir com os profissionais em sua função educativa tem como
resultado a sistematização de ações integradas e cooperativas e cria um
ambiente de ajuda mútua. A comunicação deve ser mantida e alimentada
através de ações transparentes e objetivas, com a permissão da contribuição
de todos os membros da equipe escolar e da comunidade. Também, estimular
a inovação e a criatividade, define-se como uma importante atribuição
pedagógica do gestor escolar, na função de diretor.
Sendo assim, o trabalho pedagógico da escola deve estar em constante
movimento, num contínuo aperfeiçoamento para atender os desafios que a
educação enfrenta na era da informação e da tecnologia, para adaptar-se ao
que o mundo espera dos sujeitos atendidos neste espaço, que é social,
integrador e formador.
A orientação do trabalho pedagógico deve acontecer de forma a incluir
todos os profissionais na elaboração das propostas de trabalho que irão
atender a essa demanda educacional. Uma vez que, o nível de envolvimento
dos profissionais dará ao trabalho escolar, o resultado desejado e planejado,
pois o empenho e a dedicação devem estar essencialmente ligados à
14

aprendizagem dos alunos e à formação de cidadãos responsáveis e


conscientes de sua condição humana.

1.2 Gestão escolar administrativa

Em sua função administrativa, é atribuição do diretor escolar a gestão de


pessoas, a organização da escola e a articulação dos recursos financeiros
próprios e/ou públicos da instituição, aplicando-os de forma eficaz e
transparente, prestando contas a toda a comunidade escolar, além de
promover a articulação do trabalho interno da escola com o sistema
educacional ao qual ela pertence, integrando governo, instituição e
comunidade, em prol da qualidade da educação ofertada.
Também é tarefa do gestor assegurar a todos um ambiente limpo e
organizado, zelar pela manutenção de todos os bens da escola e de seu
espaço físico, além de garantir materiais suficientes para o desenvolvimento do
trabalho pedagógico. O diretor deverá coordenar e formular as diretrizes e
normas do funcionamento da escola, bem como não permitir ações ou atos que
não condizem com os objetivos educacionais ou que prejudiquem ou dificultem
o trabalho na escola, sempre com o apoio de sua equipe de trabalho e do
conselho escolar.
O gestor tem também o compromisso de assegurar o acesso dos alunos
e a permanência dos mesmos no espaço escolar, garantindo uma educação de
qualidade e que objetive o sucesso na aprendizagem, dessa forma garantindo
um direito legal do aprendiz, seguindo as normas legais e organizando o ano
letivo com no mínimo 200 dias letivos, e com 800 horas de aula. (BRASIL,
1996).
As responsabilidades legais e éticas do gestor escolar na função de
diretor são inúmeras e consideradas relevantes, principalmente a sua
capacidade de gerir pessoas e de coordenar um pluralismo de ideais e
concepções, que devem ser respeitadas e valorizadas. E, conforme Chiavenato
há cinco pilares importantíssimos que devem ser utilizados na prática gestora:
15

1. Delegação de responsabilidade às pessoas pelo alcance de metas


e resultados;
2. Liberdade para que todas as pessoas escolham métodos e
processo de trabalho;
3. Atividade grupal e solidária, a equipe precisa estar coesa;
4. Participação da equipe nas decisões;
5. Auto avaliação do desempenho da própria equipe; (CHIAVENATO,
2004, p.166).

Assim, o gestor precisa utilizar quatro práticas que repassem segurança


para a sua equipe:

1. Autoridade – dar poder às pessoas para que possam tomar


decisões independentes sobre ações e recursos;
2. Informação – disseminar a informação e facilitar a tomada de
decisões, buscando novos caminhos e soluções;
3. Recompensas – proporcionar incentivos;
4. Competências – ajudar as pessoas a aprender e desenvolver
habilidades e competências para melhor utilizar a informação e a
autoridade. (CHIAVENATO, 2004, p.166).

Portanto, o gestor escolar deve ter habilidades e competências para


administrar o espaço escola, de forma a contribuir na melhoria da
aprendizagem dos alunos, embasando-se nos princípios legais e éticos que
norteiam sua prática.

1.3 Considerações legais sobre as atribuições do gestor escolar na


função diretiva

Uma das competências básicas do diretor escolar é promover na


comunidade escolar o entendimento do papel de todos em relação à
educação e a função social da escola, mediante a adoção de uma
filosofia comum e clareza de uma política educacional, de modo a
haver unidade e efetividade no trabalho de todos. O desenvolvimento
dessa concepção passa pelo estudo contínuo de fundamentos,
princípios e diretrizes educacionais, postos tanto na legislação
educacional, que define os fins da educação brasileira e organiza e
orienta a sua atuação, quanto na literatura educacional de ponta e
atual. (PENIM, 2011, apud, LÜCK, 2006, p. 18).

A comunidade escolar precisa ter conhecimento sobre as atribuições do


diretor escolar, saber o que lhe cabe em sua função, pois, somente assim,
poderá participar e contribuir para melhorar o espaço educativo. E a lei nº
16

10.576 de 14 de novembro de 1995 define as atribuições do gestor escolar do


estado do Rio Grande do Sul, conforme está descrito nos artigos:

Cabe ao gestor:
I – Representar a escola, responsabilizando-se por seu
funcionamento;
II – Coordenar, em consonância com o Conselho Escolar, a
elaboração, a execução e a avaliação do Projeto-administrativo-
financeiro-pedagógico, através do Plano Integrado da Escola,
observadas as políticas públicas da Secretaria da Educação;
III – Coordenar a implementação do Projeto Pedagógico da Escola,
assegurando sua unidade e cumprimento do currículo e do calendário
escolar;
IV – Submeter ao Conselho Escolar, para apreciação e aprovação, o
Plano de Aplicação dos recursos financeiros;
V – Submeter à aprovação da Secretaria da Educação o Plano
Integrado da Escola;
VI – Organizar o quadro de recursos humanos da Escola com as
devidas especificações, submetendo-o à apreciação do Conselho
Escolar e indicar à Secretaria da Educação os recursos humanos
disponíveis para fins de convocação de que trata o art. 56, da Lei
6.672/74, com a redação dada por esta lei, mantendo o respectivo
cadastro atualizado, assim como os registros funcionais dos
servidores lotados na escola;
VII – Submeter ao Conselho Escolar, para exame e parecer, no prazo
regulamentar, a prestação de contas previstas no artigo 73, da lei
6.672/74;
VIII – Divulgar à comunidade escolar a movimentação financeira da
escola;
IX – Coordenar o processo de avaliação das ações pedagógicas e
técnico-administrativo-financeiras desenvolvidas na escolar;
X – Apresentar anualmente ao Conselho Escolar os resultados da
avaliação interna e externa da Escola e as propostas que visam à
melhoria da qualidade do ensino e ao alcance das metas
estabelecidas;
XI – Apresentar, anualmente, à Secretaria da Educação e à
comunidade escolar a avaliação do cumprimento das metas
estabelecidas no Plano Integrado de Escola, a avaliação interna da
Escola e as propostas que visem à melhoria da qualidade do ensino e
ao alcance das metas estabelecidas;
XII – Manter atualizado o tombamento dos bens públicos, zelando,
em conjunto com todos os segmentos da comunidade escolar, pela
sua conservação;
XIII – Cumprir e fazer cumprir a legislação vigente.
(RIO GRANDE DO SUL, 1995).

As atribuições do gestor escolar são descritas por esta lei de forma clara
e específica, uma vez que identifica as ações que devem ser seguidas e
assegura que as propostas educativas sejam cumpridas. Por isso, para que a
escola obtenha os melhores resultados em seu trabalho, é importante e
necessário que todos os participantes da vida escolar conheçam as atribuições
que competem ao gestor escolar.
17

Nesse contexto, cabe colocar, entretanto, que por ser a escola uma
instituição de natureza educativa, ao diretor cabe o papel de garantir
o cumprimento da função educativa que é a razão de ser da escola.
Assim, o diretor de escola, antes de ser um administrador é um
educador (SAVIANI, 1996, p. 208).

Para Lück (2008) o papel do gestor compreende a administração e


gerência de operações estabelecidas em órgãos centrais, sendo de sua
responsabilidade o repasse de informações, o controle e a supervisão. Em
função da gestão democrática, sua atribuição é gerir a dinâmica social,
mobilizar e articular a diversidade, dando consistência e unidade ao trabalho
escolar. Agir com responsabilidade para que consiga promover as
transformações necessárias de relações de poder, de práticas e da
organização escolar. Sendo assim, o diretor é o profissional que cumpre
plenamente essas obrigações e garante que a escola execute o que está
estabelecido em âmbito central ou em hierarquia superior.
O gestor escolar deve organizar a escola, gerir os recursos financeiros,
estruturais ou pessoais, com o compromisso de facilitar e apoiar o trabalho
pedagógico, deve atuar sempre dentro do legal e ético, além de coordenar e
auxiliar todos os profissionais da escola na realização dos objetivos
educacionais.
18

CAPÍTULO 02 - A GESTÃO DEMOCRÁTICA NA EDUCAÇÃO


ATRAVÉS DA AÇÃO/GESTÃO DO DIRETOR

A gestão democrática na educação, em especial a gestão escolar,


através da função do diretor escolar, tem como principal objetivo promover
transparência e participação na gestão da escola, desenvolvendo em todos os
profissionais e comunidade escolar o sentimento de compromisso com a busca
pela qualidade da educação. Conforme Lück:

Entende-se que o trabalho educacional, por sua natureza, demanda


um esforço compartilhado, realizado a partir da participação coletiva e
integrada dos membros de todos os segmentos das unidades de
trabalho envolvidos. (LÜCK, 2011, p. 22).

Dessa forma, efetiva-se a gestão democrática na educação, através da


atuação diretiva em favor do envolvimento de todos na organização da escola,
dando às pessoas espaço e liberdade para pensar e agir, para que, com o uso
de suas habilidades e competências desenvolvam um trabalho cooperativo de
qualidade, valorizando cada ser como sendo único, ao ser parte integrante do
todo.
A descentralização e a democratização da gestão das escolas públicas
teve seu início na década de 80, a partir da Constituição Federal, e tem se
tornado mais forte e encontrado apoio nas reformas educacionais e legislativas.
O movimento concentra-se principalmente na participação da comunidade
escolar na seleção dos gestores; na criação de conselhos escolares com
autoridade deliberativa e poder decisório; na autonomia financeira e
pedagógica, através de repasses financeiros às escolas; e na construção de
um projeto pedagógico que vise garantir o acesso, a permanência dos
educandos e o sucesso da aprendizagem; bem como a construção de um
espaço onde exercite-se plenamente a cidadania.
Heloísa Lück confirma, com a citação abaixo que, todos os esforços na
educação devem ser focados na busca pela qualidade do trabalho educacional,
sendo assim:
19

A gestão educacional dos sistemas de ensino e de suas escolas


constitui uma dimensão e um enfoque de atuação na estruturação
organizada e orientação da ação educacional que objetiva promover
a organização, a mobilização e a articulação de todas as condições
estruturais, funcionais, materiais e humanas necessárias para garantir
o avanço dos processos socioeducacionais. Estes se justificam na
medida em que são orientados para a promoção efetiva da
aprendizagem pelos alunos, de modo a contribuir para que se tornem
capazes de enfrentar adequadamente, dentre outros aspectos, os
desafios da sociedade complexa, globalizada e da economia, que
passa a centrar-se cada vez mais no conhecimento para o seu
desenvolvimento. (LÜCK, 2012, p. 26)

O trabalho do gestor, para realizar a gestão democrática, concentra-se


no processo de envolvimento e participação de todos - professores,
funcionários, alunos, pais e comunidade – na educação escolar. Mas, para isso
é preciso esclarecer e atribuir responsabilidades aos segmentos, para que
dessa forma se consiga efetivar e traçar o caminho a ser seguido, com vistas a
conquistar a educação desejada. Estas ações tornam a prática mais condizente
com a realidade do mundo e da sociedade que temos e queremos.

2.1 Aspectos legais da gestão democrática na educação

Um importante marco na democratização da educação foi a Constituição


Federal de 1988. Ela veio a reforça o movimento de gestão democrática na
educação, o qual teve grande avanço nas décadas de 80 e 90, período em que
se promulgou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº
9.394/96) – LDB, que em seus artigos 14 e 15, contemplou os princípios
norteadores da gestão democrática, in verbis:

Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão


democrática do ensino público na educação básica, de acordo com
as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
I - participação dos profissionais da educação na elaboração do
projeto pedagógico da escola;
II - participação das comunidades escolar e local em conselhos
escolares ou equivalentes.
Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares
públicas de educação básica que os integram progressivos graus de
autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira,
20

observadas as normas gerais de direito financeiro público. (BRASIL,


1996).

Os princípios da gestão democrática, definidos no artigo 15, que


contempla a autonomia delegada, não estão claramente definidos e não
delineiam objetivamente as diretrizes do que vem a ser, apontam apenas o que
é lógico: a participação de todos os envolvidos. Dessa forma, a Constituição
Federal de 1988 já indicava as modificações necessárias para a gestão
educacional, com vistas a qualidade na educação. Em todos os princípios
constitucionais sobre educação, é possível identificar que a qualidade buscada,
tem a ver com o caráter democrático, cooperativo, planejado e responsável da
gestão educacional, orientado pelos princípios citados no artigo 206:

Art. 206 - O ensino será ministrado com base nos seguintes


princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o
pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e
coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na
forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por
concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas;
VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
VII - garantia de padrão de qualidade.
VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da
educação escolar pública, nos termos de lei federal.
Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de trabalhadores
considerados profissionais da educação básica e sobre a fixação de
prazo para a elaboração ou adequação de seus planos de carreira,
no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios. (BRASIL, 1996).

Sob a ótica de Vieira (2009), o planejamento, a elaboração e a execução


de uma proposta pedagógica são as principais atribuições das unidades de
ensino, devendo elas através de sua gestão, trilhar um caminho orientado por
estas finalidades. A proposta pedagógica é o documento que norteia o trabalho
da escola, uma vez que define os caminhos a serem seguidos para conseguir
os objetivos traçados. Por isso, é muito importante que seja muito bem
elaborada e estruturada pela equipe escolar. Também é obrigação da
instituição escolar a gestão das pessoas que fazem parte do quadro de
profissionais. Pois, como a gestão dos recursos financeiros e materiais, a
21

escola precisa gerir o seu maior patrimônio que são as pessoas que trabalham
na unidade de ensino, uma vez que, são elas as responsáveis pela diversidade
de cultura e de ideias surgidas no interior das escolas e geri-las é um dos
grandes desafios diários.
O artigo 18 da LDB define a gestão escolar democrática. E, a
democratização da gestão não se reduz apenas a uma orientação de
atividades escolares com incentivo à participação da comunidade. Os principais
incisos do artigo são:

A gestão democrática constitui princípio fundamental da organização


e da administração das instituições públicas de ensino,
compreendendo:
I - a existência de mecanismos de coparticipação na gestão das
instituições de ensino, com representação dos segmentos que a
integram, incluídos, no caso das instituições destinadas à educação e
ao ensino de crianças e adolescentes, os pais ou responsáveis;
1º - o cumprimento do disposto neste artigo dar-se-á com observância
dos seguintes preceitos:
I - existência de órgãos colegiados e conselhos escolares, com
competência sobre o conjunto de todas as atividades desenvolvidas
pela instituição;
III - avaliação permanente da qualidade de serviços prestados e dos
resultados das atividades educacionais oferecidas à sociedade;
V - utilização de métodos participativos para a escolha de dirigentes,
ressalvado o provimento de cargos por concurso público;
VI - incentivo para a criação de associações de profissionais do
ensino, alunos, ex-alunos e pais, além das de caráter acadêmico,
assegurada sua participação nos processos decisórios internos das
instituições. (BRASIL, 1996).

Portanto, legalmente a gestão democrática pode ser definida através dos


princípios de integração da escola com a família, com a comunidade e com a
sociedade, através da descentralização do poder e com a participação
democrática de todos os segmentos envolvidos no processo educacional,
através de conselhos e comissões.

2.2 Conselho escolar - apoiando o trabalho do diretor

Um dos aspectos que fundamentam a democracia na educação é a


autonomia financeira, que tem como objetivo destinar às escolas recursos que
22

deverão ser utilizados na aquisição de materiais e em melhorias estruturais. O


dinheiro é depositado através de programas como PDDE – Programa Dinheiro
Direto na Escola; MAIS EDUCAÇÃO; PDE – Programa de Desenvolvimento da
Educação, entre outros que podem se aderidos, conforme a disposição dos
sistemas de ensino e da gestão escolar.
Mas, a quantidade de recursos e o valor destinado irão depender das
demanda das escolas e da qualidade da educação ofertada, medida através do
IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. E, caberá ao gestor
destinar os recursos advindos através destes programas, para suprir as
necessidades da escola e fazer as melhorias nos aspectos estruturais e
materiais.
Contudo, a destinação dos recursos não será definida somente pelo
gestor escolar, é por isso, que são constituídos os Conselhos Escolares, com a
participação de pais, professores, funcionários, membros da comunidade e
alunos.
O Conselho Escolar pode interferir e auxiliar os gestores diretores nas
tomadas de decisões quanto a destinação dos recursos e, inclusive no apoio e
auxílio em nível pedagógico. Os conselheiros, em decisões conjuntas, podem
inclusive, sugerir mudanças no quadro de professores e funcionários e exigir da
escola uma atuação social mais eficaz e comprometida com a comunidade.
Segundo Silva, “O Conselho Escolar tem poder deliberativo sobre
questões administrativas, financeiras e pedagógicas. É considerado o órgão
máximo da escola, definidor de políticas implementadas pela direção” (SILVA,
1992, p. 22).
Sendo assim, para que se efetive a democracia, é imprescindível a
participação consciente de cada um dos membros do conselho escolar, pois é
indiscutível o poder de interferir no trabalho escolar, com ações e indicações
que melhorem as condições de aprendizagem dos alunos. Desde que, os
integrantes do conselho tenham conhecimento suficiente sobre o trabalho
pedagógico da escola, sobre as demandas de pessoal e de material e exerçam
com seriedade e competência sua função de definidor de políticas e práticas
educativas.
Os Conselhos Escolares, resguardando os princípios constitucionais, as
normas legais e as diretrizes da Secretaria de Educação, terão funções
23

consultiva, deliberativa e fiscalizadora nas questões pedagógicas,


administrativas e financeiras. Suas atribuições são citadas na Lei nº 11.695 de
10 de novembro de 2001:

I – Elaborar seu próprio regimento;


II – Criar e garantir mecanismos de participação efetiva e democrática
da comunidade escolar na definição do Plano Integrado da Escola;
III – Adendar, sugerir modificações e aprovar o Plano Integrado da
Escola;
IV – Aprovar o plano de aplicação financeira da escola;
V – Apreciar a prestação de contas do Diretor;
VI – Divulgar informações referentes à aplicação dos recursos
financeiros, resultados obtidos e qualidade dos serviços prestados;
VII – Coordenar em conjunto com a direção da escola, o processo de
discussão, elaboração ou alteração do regimento escolar;
VIII – Convocar assembleias gerais dos segmentos da comunidade
escolar;
IX – Encaminhar, quando for o caso, à autoridade competente,
proposta de instauração de sindicância para fins de destituição do
Diretor da escola, em decisão tomada pela maioria absoluta de seus
membros e com razões fundamentas e registradas formalmente;
X – Recorrer a instâncias superiores sobre questões que não se
julgar apto a decidir, e não previstas no regimento escolar;
XI – Analisar os resultados da avaliação interna e externa da escola,
propondo alternativas para a melhoria do seu desempenho;
XII – Analisar e apreciar as questões de interesse da escola a ele
encaminhadas;
XIII – Apoiar a criação e o fortalecimento de entidades
representativas dos segmentos da comunidade escolar (inciso
incluído pela Lei nº 11.695/2001). (RIO GRANDE DO SUL, 2001).

O conselho escolar é um elo entre a comunidade e a escola, pois,


promove com seu trabalho, transparência nas tomadas de decisões e ações do
diretor. O comprometimento, a iniciativa e a colaboração dos membros do
conselho possibilitam a qualificação do trabalho escolar, que expressa-se na
melhoria da aprendizagem dos alunos.

2.3 As eleições de diretores – democracia X conflitos

Outro aspecto que define gestão democrática é a escolha dos gestores


escolares para a função de direção. Esta ação tem a intenção de democratizar
a escolha dos diretores escolares, permitindo à comunidade o poder de
24

decisão em escolher o professor que irá lhes representar e coordenar o


trabalho pedagógico e administrativo da escola.
Conforme afirmam Lück e Parente (2012), a realização de eleição de
diretores teve início na década de 80, por iniciativa dos primeiros governos
estaduais eleitos, após o fim do governo pelo regime militar, como parte de
redemocratização do país. Em 1998, a eleição direta de diretores escolares por
sua comunidade era praticada em 17 estados brasileiros. Atualmente, esse tipo
de escolha já está estabelecido na maioria das escolas públicas, onde pais,
alunos, professores e funcionários escolhem o diretor. Porém, conforme citação
de Lück, abaixo:

Não há, no entanto, resultados gerais e consistentes que demonstrem


a efetividade desses mecanismos na prática de gestão democrática e
construção da autonomia da gestão escolar. Há registros de
situações as mais variadas, como por exemplo: a intensificação do
autoritarismo por diretores eleitos; o esgarçamento da unidade de
orientação pedagógica, em face da formação de grupos de disputa;
ou o enfraquecimento do trabalho pedagógico, tendo em vista o
enfraquecimento da organização, coordenação e controle, além, é
claro, da intensificação de experiências de maior debate das
questões da gestão da escola. (LÜCK, 2012, p. 77).

Essa prática democratiza a escolha. Porém, pode também trazer


prejuízos ao grupo de trabalho, ao gerar mais conflitos do que o necessário.
Pois, as eleições podem desunir a equipe, criando um clima desfavorável à
educação, promovendo inimizades e reações que não condizem com o perfil de
educador. Há portanto, de se repensar a forma de escolha democrática dos
gestores, para que não se prejudique o trabalho pedagógico e administrativo da
escola. Uma vez que:

Cabe lembrar que não é a eleição em si, como evento, que


democratiza, mas sim, o que ela representaria, como parte de um
participativo global, no qual ela corresponderia apenas a um
momento de culminância num processo construtivo e significativo
para a escola. Ao se promover a eleição de dirigentes estar-se-ia
delineando uma proposta de escola, um etilo de gestão e se firmando
compromissos coletivos para levá-los a efeito de forma efetiva.
(LÜCK, 2012, p. 77).

Pois, o papel do dirigente eleito é representar a comunidade que o


escolheu, estando à frente da instituição para atender as necessidades,
25

pensando e agindo coletivamente, realizando ações que contribuam para a


melhoria da educação e interfiram positivamente na realidade local.

2.4 Projeto político pedagógico

O PPP é o instrumento balizador para o fazer educacional e, por


consequência, expressa a prática pedagógica das escolas, dando
direção à gestão e às atividades educacionais, pela explicitação de
seu marco referencial, da educação que se deseja promover, do tipo
de cidadão que pretende formar (GADOTTI E ROMÃO, 1994, apud,
LÜCK, 2006, p. 38).

A elaboração da proposta pedagógica da escola, o PPP, também é


considerada uma importante ação na gestão escolar democrática, através da
orientação e coordenação do diretor. Mas, a gestão democrática na educação
é tarefa de todos - da escola, da família, da sociedade e dos governos – por
isso, é necessário que se estabeleça uma sintonia entre as partes, para que se
efetive a participação de todos no processo educacional, com um trabalho
coletivo em prol do sucesso da educação, tarefa esta que está sob a
responsabilidade do diretor da escola.
Comprometimento, ética e responsabilidade são atitudes que podem
definir o sucesso do trabalho escolar e, a partir desses princípios pode-se
elaborar uma proposta pedagógica com os ideais da escola que temos e que
queremos, e assim traçar metas e objetivos que serão conquistados em
conjunto.
Dessa forma, o PPP, garantirá como o trabalho escolar estará
organizado e democratizado a fim de garantir que todas as crianças aprendam,
tenham acesso e frequentem regularmente as aulas.
Neste documento, que é pedagógico e político, estarão definidas as
propostas educacionais, as concepções de homem e sociedade, o currículo
com seus conteúdos e objetivos, as diferentes formas de avaliação, entre
outros aspectos que definirão o trabalho da escola. Para Lück, é um projeto
elaborado de forma participativa e colaborativa, originado no seio da
26

coletividade docente, funcionários, alunos e pais, que dá uma identidade à


instituição educacional. (LÜCK, 2009, p. 38).
Portanto, a elaboração da proposta pedagógica da escola deverá se dar
de forma democrática, com a participação de todos – professores, funcionários,
alunos, pais - sob a orientação do diretor – com a definição de metas e
objetivos, explicitando a realidade escolar, tendo como foco principal o aluno.
Dessa forma, a escola estará a exercer sua autonomia pedagógica e a
efetivar ações que visem o ensino de qualidade e objetive melhorias na
comunidade em que se atua, através da formação de alunos éticos e
responsáveis com seu próprio desenvolvimento.

2.5 Participação – eixo norteador ação diretiva na gestão democrática

São vários os aspectos que caracterizam uma gestão democrática, mas


a principal é a atuação participativa de todos os segmentos envolvidos na
educação, através do incentivo do gestor escolar. Pois, segundo Lück:

A participação, em seu sentido pleno, caracteriza-se por uma força de


atuação consciente pela qual os membros de uma unidade social
reconhecem e assumem seu poder de influência na determinação da
dinâmica dessa unidade, de sua cultura e de seus resultados, poder
esse resultante de sua competência e vontade de compreender,
decidir e agir sobre questões que lhe são afetas, dando-lhe unidade,
vigor e direcionamento firme. É nesse sentido, portanto, que a
participação assume uma dimensão política de construção de bases
de poder pela autoria que constitui o autêntico sentido de autoridade,
a qual, por sua vez, é qualificada pela participação, tendo em vista
que, pelas intervenções participativas competentes no trabalho,
aumenta a sua competência e capacidade de participação”.
(LIBÂNEO, 2004, apud LÜCK, 2011, p. 29).

Para Heloísa Lück, a gestão participativa é compromisso que deve ser


assimilado e assumido por todos:

Não se pode pensar em estabelecer o processo de participação na


escola apenas parcialmente. Ou ele é considerado como um
processo que atinge a todos os segmentos do estabelecimento de
ensino, ou corresponderá a simples ativismo utilizado para camuflar
um esforço no sentido da manutenção da condição vigente na escola
como um todo, em que uns decidem e outros executam, uns se
27

omitem, outro ocupam o espaço da decisão, ou em que ninguém


decide e o que todos fazem é continuar atuando como sempre
fizeram, sem consideração a resultados e possibilidades de melhoria
e desenvolvimento. (LÜCK, 2011. p. 63).

Assim, a gestão democrática substitui a visão autoritária da


administração escolar, do diretor que tomava para si todas as decisões e
planejamentos, delegando ordens e funções sem preocupar-se com as
opiniões ou sugestões do grupo de trabalho. Este modelo de gestão tem como
principal proposta uma prática participativa, dando voz e vez a todos, pais,
alunos, comunidade, professores e funcionários. Portanto, é independente do
nível hierárquico. Segundo a autora, a participação é de responsabilidade de
cada uma das pessoas envolvidas no trabalho, e cada uma delas tem o poder
de decidir se participa de forma positiva ou não do processo educacional:

Cabe lembrar que toda pessoa tem um poder de influência sobre o


contexto de que faz parte, exercendo-o, independentemente de sua
consciência desse fato e da direção e intenção de sua atividade.
Todavia, a falta de consciência dessa interferência resulta em uma
falta de consciência de poder de participação que tem, do que
decorrem resultados negativos para a organização social e para as
próprias pessoas que constituem os contextos de atuação em
educação. Faltas, omissões, descuidos e incompetência são
aspectos que exercem esse poder negativo, responsável por
fracassos e involuções. (LÜCK, 2011, p. 30)

Por isso, implantar a gestão democrática na escola requer disposição e


diante da sua complexidade, exige também ações imediatas e concretas,
principalmente na função do gestor escolar. Pois, a democracia é exercida com
a atuação participativa de toda a comunidade escolar, com a intervenção do
conselho escolar, acompanhando o trabalho desenvolvido na instituição, com
um trabalho pedagógico voltado ao bem comum, que se preocupa em melhorar
os espaços e a qualidade do ensino ofertado, com professores realizando,
pensando, fazendo, agindo e querendo em equipe, alcançar o sucesso da
aprendizagem de seus alunos.
Uma gestão democrática, como as próprias palavras dizem, promove a
redistribuição de responsabilidades, ideias, participação, ações, e remodela a
prática do planejamento tornando-o uma atividade coletiva, descentralizando as
tomadas de decisões e, desse modo compartilhando-as, incentivando a
participação de todos na elaboração da proposta de trabalho, inovando o
28

trabalho com projetos que atraiam a atenção não só dos professores, mas,
principalmente dos alunos e da comunidade.
Ao definir a gestão democrática, Lück (2006), afirma que uma forma de
conceituá-la é vê-la como um processo de mobilização da competência e da
energia de pessoas coletivamente organizadas para que, por sua participação
ativa e competente, promovam a realização, o mais plenamente possível, dos
objetivos de sua unidade de trabalho, no caso os objetivos educacionais... o
êxito de uma organização social, portanto, depende da mobilização da ação
construtiva conjunta de seus componentes, mediante reciprocidade que cria um
“todo” orientado por uma vontade coletiva.
A construção de uma escola democrática requer tempo e consciência de
mudança. O processo é longo e exige persistência, reflexão constante,
participação efetiva, objetivos claros e principalmente comprometimento com o
trabalho e a qualidade da educação ofertada. Portanto, o diretor/gestor da
escola tem em suas mãos o dever de envolver todas as pessoas participantes
do processo da educação, no planejamento e consecução de ações em prol da
aprendizagem dos educandos, oportunizando que todos participem da
elaboração da proposta pedagógica, da organização do currículo, das
melhorias estruturais, entre tantas outras ações que podem ser compartilhadas
pela direção com sua equipe e com a comunidade escolar.

2.5.1 Objetivo da participação - cooperação coletiva

O principal objetivo da gestão escolar participativa é a cooperação


coletiva, que visa benefícios comuns em prol da melhoria da qualidade do
trabalho educacional.
A participação da equipe no trabalho escolar requer esforço, ética,
responsabilidade, deve ser um compromisso assumido e assimilado por todos.
Mas, é compromisso do gestor escolar dar espaço para que todos possam
decidir sobre o que será melhor para a escola, ao criar um ambiente
estimulador dessa participação e propagar uma visão de conjunto, de
cooperação.
29

Com isso, estar-se-á promovendo um clima de confiança, que valoriza


as diferentes capacidades e aptidões dos participantes, com a prática de dividir
e assumir responsabilidades e desafios. Além disso, é necessário que permita-
se também a participação dos alunos em ações que possam mudar sua forma
de ser e agir no meio escolar, e incentivar as famílias a assumir o compromisso
da educação de seus filhos, fazendo-os participar mais da vida escolar deles e
auxiliando-os a desenvolver suas capacidades.
Heloísa Lück diz que a participação exige esforço coletivo e mútuo em
busca da realização dos objetivos:

A gestão participativa se assenta, portanto, no entendimento de que o


alcance dos objetivos educacionais, em seu sentido amplo, depende
da canalização e do emprego adequado da energia dinâmica das
relações interpessoais ocorrentes no contexto de sistemas de ensino
e escolas, em torno de objetivos educacionais, concebidos e
assumidos por seus membros, de modo a constituir um empenho
coletivo em torno de sua realização. (LÜCK, 2011, pp. 22-23).

Assim, a participação é a ação principal que efetiva a gestão


democrática, através das ações do diretor, cujo objetivo maior é envolver todos
os interessados no processo de desenvolvimento do trabalho educativo.
É imprescindível a participação da comunidade, dos professores, dos
funcionários e dos alunos nas decisões tomadas nos processos educacionais,
pois sem a ação conjunta de todos os envolvidos, a democracia seria apenas
um arranjo para atender interesses pessoais, sem consenso e sem atender as
expectativas dos grupos sociais que ali convivem.
Para Lück (1996), a participação em seu sentido pleno, caracteriza-se
por uma força de atuação consciente, pela qual os membros de uma unidade
social reconhecem e assumem seu poder de exercer influência na
determinação da dinâmica dessa unidade social, de sua cultura e de seus
resultados, poder este resultante de sua competência e vontade de
compreender, decidir e agir em torno de questões que lhe são afeitas.
A participação caracteriza e concretiza a ação democrática da gestão na
escola e onde todos juntos, atuam em busca da qualidade do trabalho
pedagógico e do ambiente escolar. Pois, não há democracia sem a
participação consciente e responsável de todos.
30

CAPÍTULO 03 – A PRÁTICA VIVENCIADA

Este terceiro capítulo descreve a metodologia utilizada no trabalho,


apresentando a natureza da pesquisa, a abordagem, o contexto, as fontes e os
instrumentos de coleta, as técnicas e a análise dos dados.
Pois, pesquisar é investigar, estudar com o fim de descobrir ou
estabelecer fatos ou princípios relativos a um campo de conhecimento. É um
processo minucioso e sistemático; processo de produção de conhecimento
para a compreensão de uma dada realidade.
A pesquisa complementa a atividade de ensino e a atualiza frente à
realidade do mundo e mesmo que seja uma prática teórica, vincula
pensamento e ação.
Sendo assim, nada pode ser teoricamente um problema, se não tiver
sido antes uma dúvida da vida prática. Portanto, a função da pesquisa, por
mais abstrata que nos possa parecer, é uma interpretação do que vivemos.
A pesquisa qualitativa possibilita a utilização do estudo de caso, opção
feita para a condução deste trabalho. Nesse sentido, conforme Minayo (2010),
os casos podem ser indivíduos, programas, instituições ou grupos. A
abordagem do estudo de caso para a análise qualitativa consiste num modo
peculiar de coletar, organizar e analisar os dados. O propósito é reunir
informações inteligíveis, sistemáticas e em profundidade para o caso de
interesse.
A instituição escolar escolhida e pesquisada é pública e municipal, está
localizada na área urbana do município de Três Passos, têm 15 professores
atuando nas diferentes áreas, 06 funcionários, dentre eles: 01 secretária, 04
pessoas na equipe da limpeza e 01 na cozinha. Não tem bibliotecária, nem
monitores que possam auxiliar no trabalho pedagógico. Os professores são
todos graduados, sendo que a maioria possui pós-graduação. A escola oferece
atendimento aos alunos desde a educação infantil até o 9º ano do ensino
fundamental. Além disso, oportuniza a educação integral através do programa
MAIS EDUCAÇÃO.
31

As fontes utilizadas na pesquisa foram divididas em dois itens: o sujeito


e os documentos. O sujeito da pesquisa foi o gestor escolar, na figura do
diretor. Este possui graduação em Educação Física mas, não tem ainda
formação específica para exercer o cargo, está cursando a pós-graduação em
Gestão Educacional pela UFSM. O gestor da escola atua como diretor há 10
meses e já esteve na Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Desporto do
município de Três Passos, como Secretário de Educação.
Os documentos utilizados para dar suporte teórico a esta pesquisa
foram: a Constituição Federal de 1988, a LDB - Lei de Diretrizes e Bases da
Educação, a Lei Estadual nº 10.576/95 - Lei da Gestão Democrática do Ensino
Público do RS - das atribuições do Diretor. Esses documentos deram o
embasamento que auxiliou na definição das atribuições do gestor escolar e da
gestão democrática na educação.

3.1 Abordagem da pesquisa

A metodologia escolhida para a realização desta pesquisa foi o “Estudo


de caso”. Para a realização de um estudo de caso parte-se da convicção do
pesquisador de que ele pode obter informações importantes para o que se
propõe a estudar. Os dados da investigação se entrelaçam com as informações
obtidas através da entrevista, da observação, das impressões e afirmações, ou
seja, toda a informação que tenha sido acumulada sobre o caso particular em
questão.
Nesta pesquisa, a atribuição do gestor escolar e a gestão democrática,
necessitam ser compreendidas através do olhar do diretor de uma escola
pública de ensino fundamental do município de Três Passos. A intenção é
compreender os desafios enfrentados por este profissional em seu dia a dia e
qual o seu entendimento sobre a função que exerce.
Para Minayo (2010), o ciclo da pesquisa nunca se fecha. Ele consiste
em um processo de trabalho em espiral que começa com um problema ou uma
pergunta e termina com um produto provisório capaz de dar origem a novas
32

interrogações. Toda pesquisa produz conhecimentos afirmativos e provoca


mais questões para serem aprofundadas posteriormente.

3.1.1 Instrumentos da pesquisa

Após a definição dos sujeitos e dos documentos que deram o suporte


teórico, foram definidos os instrumentos da pesquisa. Para isso, foi elaborado
um questionário, contendo 20 questões, o qual foi aplicado ao diretor escolhido,
com o objetivo de coletar dados necessários para a viabilização do que estava
sendo proposto.
O questionário foi aplicado de forma que o pesquisado compreendesse o
teor da pesquisa, respondendo sinceramente as questões, de acordo com seu
entendimento sobre o assunto tratado. As questões foram todas respondidas
em forma de entrevista, após visita a escola, com a intenção de recolher dados
suficientes para delinear como o mesmo exerce a função diretiva, compreender
como desenvolve seu trabalho e quais são os maiores desafios enfrentados no
dia a dia da escola em que atua.

3.1.2 Análise dos dados e sistematização das informações

As questões foram elaboradas a partir das pesquisas bibliográficas


realizadas para a construção deste trabalho, com a intenção de compreender a
realidade que encontramos nas escolas públicas, tendo como modelo a gestão
administrativa e pedagógica da direção de uma escola municipal de Três
Passos. Na entrevista obteve-se informações relevantes sobre como acontece
o trabalho de um diretor escolar, seus conhecimentos sobre o cargo e suas
atribuições, suas dificuldades e os problemas enfrentados na rotina diária, que
comprometem o desenvolvimento e o sucesso do seu trabalho.
A escola onde este diretor atua foi fundada recentemente, em 1996, tem
aproximadamente 230 alunos, conta com o trabalho de 15 professores, duas
33

pessoas na equipe gestora, sendo uma na direção e outra na coordenação,


uma secretária, 04 funcionários para a limpeza e 02 que preparam a merenda.
Segundo a direção, há a necessidade de mais funcionárias na limpeza,
em razão do tamanho do prédio da instituição, que é utilizado em todos os seus
espaços por atender aos alunos da manhã também no turno da tarde e da
mesma forma os alunos tarde no turno da manhã, isso porque a Secretaria de
Educação aderiu esta escola ao Programa Federal “Mais Educação” , através
do qual ofertam oficinas de diversas modalidades para todos os educandos
matriculados.
Além disso, sente-se a necessidade de mais um profissional para
atender os alunos, seja um professor ou um funcionário sempre que houver
necessidade, como no caso da falta de um professor ou de um instrutor do
programa, uma vez que é a direção ou a coordenação que assume a turma ou
a oficina, deixando assim de realizar o seu trabalho diretivo. Percebe-se essa
necessidade para que a equipe gestora consiga concretizar as ações de
maneira mais efetiva e atender as demandas que lhe são atribuídas, sempre
em busca do sucesso na aprendizagem dos alunos.
O diretor entrevistado compreende que cabe a ele a organização
pedagógica e administrativa da escola. Mas, que a gestão do pedagógico é
realizada em conjunto com a coordenação, a qual atua mais diretamente com
os docentes.
Na função administrativa, ele está consciente de seu dever fazer com
que todos os setores da escola estejam funcionando bem e de acordo com o
que é legal. Porém, nesta escola há apenas 02 pessoas integrantes da equipe
diretiva, a qual é composta pela Direção e Coordenação. Não há mais pessoas
para auxiliar na supervisão e orientação dos educandos portanto, cabe a
somente a esses dois profissionais, também o trabalho, que é importante para
a resolução de problemas e impasses vividos em sala de aula. Essa
quantidade de pessoal é insuficiente para atender a demanda da escola,
considerando-se que há a necessidade de pelo menos mais um profissional
para atuar na equipe diretiva, para que se efetive um trabalho com maior
qualidade, podendo contemplar mais famílias e alunos que precisam de
orientação em sua vida escolar.
34

A gestão escolar democrática é compreendida como um meio de se


efetivar a participação de todos - professores, funcionários, alunos e pais - no
trabalho escolar, de forma que possam atuar e interferir, de maneira adequada
e positiva, nas tomadas de decisões. Pois, compreende-se que é de suma
importância a participação da família na escola para que se possam sanar as
dificuldades de aprendizagem vivenciadas por muitos alunos. Se a comunidade
estiver envolvida com a escola, poderá auxiliar, na medida do possível, a
encontrar a solução para problemas que interferem no processo de ensino e
aprendizagem.
Para a efetivação de uma gestão mais democrática, nesta escola, há o
CPM - Círculo de Pais e Mestres, composto por representantes dos pais,
funcionários, professores, pela coordenação e direção. Esta organização tem o
compromisso de, conjuntamente, planejar ações de melhoria na instituição,
tanto estruturais como pedagógicas. Mas, cabe ressaltar que é muito
importante saber quais são os assuntos e problemas que serão tratados,
principalmente sua forma de abordagem, para que não prejudiquem as
pessoas envolvidas e não causem mais prejuízos, porque, muitas vezes os
integrantes deste conselho têm pouco conhecimento e também divulgam
informações importantes e sigilosas, tratadas nas reuniões, para pessoas de
outros setores, causando transtornos para a direção e coordenação,
desestabilizando o trabalho da escola.
O Diretor pesquisado afirma que nem sempre consegue realizar as suas
tarefas em tempo hábil, geralmente ficando pendentes diversas atividades que
têm prazo para serem entregues ou que necessitam ser concretizadas para
que outras sejam concluídas.
Os impedimentos surgem das mais variadas fontes, por exemplo:
problemas na infraestrutura do prédio e a necessidade de atender a todos os
pais que comparecem na escola para saber da situação da aprendizagem e do
comportamento dos filhos. Estas duas situações são frequentes, quase diárias,
e acabam por impedir que se concretizem outras tarefas também importantes.
Aparece mais uma vez a necessidade de se ter mais uma pessoa trabalhando
na equipe diretiva ou então de mais um funcionário que possa realizar tarefas
que não demandam de decisões da direção para serem concluídas.
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Outro problema que impede a concretização de muitas ações é a


insuficiência de recursos financeiros, que inviabiliza a realização de muitos
projetos e programas. Como a maioria das famílias da comunidade onde a
escola está inserida é de baixa renda, todo o tipo de contribuição é
desfavorecida, quase inexistente, restando escasso recurso advindo dos
programas federais nos quais a escola está vinculada, e que na maioria das
vezes dificultam os gastos, pois exigem que se adquira material de que a
escola não precisa e impede a compra de outros de que a escola sente maior
necessidade.
Ou seja, são poucas e dificultosas as formas de se gastar as verbas
federais. A mantenedora das instituições municipais de ensino, a Secretaria
Municipal de Educação, também passa por dificuldades financeiras e pelos
mesmos empecilhos para a comprovação de gastos e investimentos
necessários para a melhoria da educação, bem como para a manutenção das
estruturas prediais das instituições. Sendo assim, as escolas públicas passam
por muitos obstáculos para conseguir concretizar planos e projetos para a
melhoria do ensino, da aprendizagem e para a conservação da estrutura física.
Outro grande desafio a ser enfrentado pela direção é a motivação dos
profissionais da educação: influenciá-los e motivá-los requer muita conversa,
estudo e dedicação. Também, valorizar, abrir espaço para sugestões, indicar
caminhos, são ações fundamentais para que possa construir um grupo mais
unido, na busca do sucesso em seu trabalho.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As funções e atribuições do gestor escolar na função de diretor estão


descritas em vários documentos, livros e leis, mas somente na prática
percebemos o que torna um profissional da educação em um gestor
competente, capaz de transformar a realidade da escola onde atua. As
dificuldades enfrentadas em seu dia a dia são entraves difíceis de serem
superados, por isso, este profissional deve ter a consciência de seu próprio
papel dentro do espaço escolar, refletindo e avaliando sobre o seu trabalho
constantemente.
O gestor escolar, como líder de sua equipe de trabalho e representante
da escola frente a comunidade, deve ter a pré-disposição de realizar um
trabalho coletivo, estar aberto ao diálogo com os diferentes grupos existentes
dentro e fora da escola, buscando a maior interação possível em favor da
instituição. A sua postura democrática e de liderança se revela por meio da sua
própria concepção sobre educação e ensino como fontes de solidariedade, de
mudança e emancipação social.
O profissional que atua na direção de uma escola tem a função de
conseguir concretizar o trabalho educacional dispondo de pouco para realizar
muito, superar as constantes faltas de professores e funcionários, suprir a falta
de materiais, reinventar e readequar espaços, atender os anseios dos pais,
além de auxiliar no trabalho pedagógico e construir, com seu grupo, uma
proposta de educação que objetive o sucesso da aprendizagem dos educandos
e a transformação da realidade onde estes vivem.
Por isso, o trabalho do gestor escolar na função de diretor deve ser
realizado com entusiasmo e perseverança, para que aos demais se repasse a
ideia de que juntos - diretor, professores, funcionários, alunos, pais,
comunidade - podem transformar a realidade da escola, superando a faltas e
dificuldades e assim torná-la mais competente e transformadora.
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38

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição Federal da República Federativa do Brasil. Brasília:


Senado Federal, 1988.

___. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e


Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da República Federativa do
Brasil, Brasília, DF, 21 dez. 1996. Disponível em:
portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ ldb.pdf. Acesso em: 15 de set. de 2013.

FREITAS, Dirce Nei Teixeira de. A gestão educacional na interseção das


políticas federal e municipal. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?s
cript=sci_arttext&pid=S0102-25551998000200003. Acesso em: 20 de set. de
2013.

HORA, Dinair Leal da. Gestão Educacional Democrática. Alínea Editora,


2010.

LÜCK, Heloísa. Dimensões da gestão escolar e suas competências.


Curitiba, Editora Positivo, 2009.

___. A Gestão Participativa na Escola. Petrópolis, RJ. Editora Vozes, 2011.

___. Concepções e Processos Democráticos de Gestão Educacional.


Petrópolis, RJ. Editora Vozes, 2012.

LÜCK, Heloísa. FREITAS, Kátia Siqueira de. GIRLING, Robert. KEITH, Sherry.
A Escola Participativa – O Trabalho do Gestor Escolar. Editora Vozes, 2005.

MINAYO, Maria Cecilia de Souza (Org.). Pesquisa Social: teoria, método e


criatividade. São Paulo: Vozes, 2010.

ROSAR, M.F.F. A dialética entre concepção e a prática da "gestão


democrática" no âmbito da educação básica no Brasil. Educação &
Sociedade, Campinas, Dezembro, 1992.
39

VIEIRA, Sofia Lerche. Educação Básica: política e gestão escolar. Líber livro,
fortaleza, 2008.

SANTOS, Boaventura de Souza (org.). Os caminhos da democracia


participativa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.

SAVIANI, Dermeval. Saberes implicados na formação do educador. In:


Formação do Educador: dever do Estado, tarefa da Universidade. BICUDO, M.
A. V.; SILVA JUNIOR, C. A da. (Orgs.), Vl. 1. São Paulo: Editora da
Universidade Estadual Paulista, 1996.

SECRETARIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Lei 10.576 de 14 de


novembro de 1995. Disponível em: www.educacao.rs.gov.br/dados/lei_10.576_
compilado.pdf. Acesso em: 20 de set. de 2013.

SOUSA, Valdinvino Alves de. Gestão Escolar. Disponível em:


http://www.webartigos.com/articles/1509/1/A-Gestao-Escolar/pagina1.html.
Acesso em: 02 de Set. de 2013.
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APÊNDICE
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Apêndice A – Questionário aplicado ao gestor

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA


CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO A DISTÂNCIA
ESPECIALIZAÇÃO LATO-SENSU EM GESTÃO EDUCACIONAL

QUESTIONÁRIO APLICADO AO GESTOR

1. Na sua concepção, quais as funções do gestor escolar?


2. Como está estruturada a equipe gestora da escola onde você atua?
3. O que você compreende por “gestão democrática”?
4. Na sua escola há um conselho escolar estruturado? Como ele funciona?
Quem são os integrantes? Quantos encontros por ano são feitos? Estes
auxiliam na resolução de problemas e na proposta de novas metas?
5. O grupo docente participa da elaboração e executa os planos de trabalho?
De que forma?
6. Como foi construído o PPP de sua escola?
7. A comunidade escolar – pais, alunos, professores e funcionários – tem
acesso ao Regimento e ao PPP da escola? Há a liberdade de interferência dos
mesmos nas tomadas de decisões na escola?
8. Considerando suas ações como gestor, você se considera democrático?
9. Como é feita a escolha da direção em sua escola e quais são os reflexos
produzidos na equipe educacional e comunidade?
10. Você consegue, em tempo hábil, realizar todas as tarefas diárias que lhe
são exigidas? Quais são os impedimentos? - há pessoal suficiente para
trabalhar e colocar em prática o que é necessário?
11. Há professores e funcionários em quantidade suficiente na escola? Que
dificuldades são encontradas com a falta ou insuficiência de pessoal:
12. Sob seu ponto de vista, o que lhe impede de conseguir pôr em prática a
gestão democrática na escola? Quais os maiores problemas enfrentados?
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13. Existe apoio - na resolução de problemas e tomada de decisões - do


sistema de ensino municipal?
14. Os recursos financeiros públicos são suficientes para a manutenção da
escola e concretização dos projetos escolares definidos para o trabalho
pedagógico?
15. Quais os maiores desafios a serem enfrentados e de que forma se
pretende alcançar o sucesso na aprendizagem dos alunos?

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